Apelação - MATHEUS SALES

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA 14º DE RELAÇÃO DE

CONSUMO DA COMARCA DE SALVADOR – BA.

Autos do processo nº 8124168-51.2022.8.05.0001

MATHEUS SALES SANTOS FREITAS, já


devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, em que
litiga com a BANCO SANTANDER S.A vem perante Vossa Excelência
para, tempestivamente, interpor RECURSO DE APELAÇÃO, pelas
razões de fato e de direito a seguir aduzidas.

O recorrente é beneficiário dos benefícios da


gratuidade, conforme deferido na sentença sob o ID nº 321637546.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Salvador, 07 de dezembro de 2022.

GABRIEL DA CUNHA BOMFIM


OAB/BA 33.864
RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

RECORRENTE: MATHEUS SALES SANTOS FREITAS


RECORRIDA: BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A.

JUÍZO DE ORIGEM – 14º DE RELAÇÃO DE CONSUMO DA COMARCA


DE SALVADOR – BA.
JUIZA SENTENCIANTE – DRA. JÚNIA ARAÚJO RIBEIRO DIAS

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA


COLENDA CÂMARA

DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS

O recorrente ajuizou AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA,
REPETIÇÃO DO INDÉBITO E CONDENAÇÃO EM DANOS MORAIS em
face da recorrida, alegando, em síntese, que foi surpreendido com
descontos inicialmente de R$633,42 (seiscentos e trinta e três reais e
quarenta e dois centavos) e depois dois descontos de R$ 671,63
(seiscentos e setenta e um reais e sessenta e três centavos), sendo o
primeiro desconto em 13/08/2021. Segundo desconto em
01/10/2021, terceiro desconto em 01/11/2021, referentes a
empréstimo de R$1.056,00.

Regularmente citado, o recorrido ofereceu a


contestação, alegando que o pacto foi efetivamente firmado pelo
recorrente.
Réplica apresentada sob o ID nº 295289081 .

A ação foi julgada improcedente, pelo seguintes


fundamentos: “(...) O feito reclama o julgamento antecipado,
na forma do art. 355, I do CPC. Cuidam os autos da afirmada
inexigibilidade do débito mencionado, alegando a parte autora
que não firmou o contrato respectivo. Demonstrada pela parte
Ré, no entanto, que a pactuação, mediante validação de
credenciais pessoais do Autor (ID/senha/biometria) para
acesso ao Internet Banking, ainda se prestou à quitação do
contrato de empréstimo antes efetuado pelo Autor, de nº
320000768460, ao contrato de cartão de crédito nº
660000975320 e ao cheque especial nº 000010561932. Nesse
compasso, forçoso reconhecer que voluntariamente aderiu ao
contrato, obtendo o proveito pactuado. Por consequência, não
prosperam os pedidos formulados. Ante o exposto e
considerando o que mais dos autos consta, julgo
IMPROCEDENTES os pedidos”.

A r. sentença deve ser integralmente reformada.

DA REFORMA DA SENTENÇA - FALHA NA PRESTAÇÃO DE


SERVIÇOS DO RECORRIDO. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO BANCÁRIA. APLICAÇÃO DA
SÚMULA Nº 479 DO STJ.

A D. Juíza julgou a ação improcedente sob o


fundamento que voluntariamente aderiu ao contrato, obtendo o
proveito pactuado, conforme segue:
“(...) O feito reclama o julgamento
antecipado, na forma do art. 355, I do CPC. Cuidam os autos
da afirmada inexigibilidade do débito mencionado, alegando a
parte autora que não firmou o contrato respectivo.
Demonstrada pela parte Ré, no entanto, que a pactuação,
mediante validação de credenciais pessoais do Autor
(ID/senha/biometria) para acesso ao Internet Banking, ainda
se prestou à quitação do contrato de empréstimo antes
efetuado pelo Autor, de nº 320000768460, ao contrato de
cartão de crédito nº 660000975320 e ao cheque especial nº
000010561932. Nesse compasso, forçoso reconhecer que
voluntariamente aderiu ao contrato, obtendo o proveito
pactuado. Por consequência, não prosperam os pedidos
formulados. Ante o exposto e considerando o que mais dos
autos consta, julgo IMPROCEDENTES os pedidos”.

TODAVIA, NÃO HÁ COMPROVAÇÃO NOS


AUTOS QUE O RECORRENTE CONTRATOU EMPRÉSTIMO JUNTO
AO BANCO RECORRIDO.

As movimentações ilustradas em peça


contestatória, se refletem nas infundadas tentativas do recorrente de
resolver a situação de forma amistosa, mesmo este estando
totalmente prejudicado, pois o desconto era advindo do seu próprio
salário.

Vejamos Excelências, se o suposto empréstimo


trouxesse algum benefício ao recorrente, não haveria interesse deste
de ingressar com a presente ação.
No caso sub judice, houve falha na prestação de
serviços da recorrida, de modo que o recorrente sofreu um grave
abalo financeiro.

Conforme dito, o recorrente foi surpreendido com


descontos inicialmente de R$633,42 (seiscentos e trinta e três reais e
quarenta e dois centavos) e depois dois descontos de R$ 671,63
(seiscentos e setenta e um reais e sessenta e três centavos), sendo o
primeiro desconto em 13/08/2021. Segundo desconto em
01/10/2021, terceiro desconto em 01/11/2021, referentes a
empréstimo de R$1.056,00.

Não houve qualquer precaução nas atividades da


empresa recorrida, que pelo risco da atividade deveria tomar os
cuidados necessários para evitar este tipo de ocorrência.

O risco inerente à atividade exige da empresa


maior agilidade e cautela no gerenciamento destes dados, gerando o
dever de RESSARCIR TODOS OS PREJUÍZOS ao agir de forma
imprudente e negligente.

Trata-se de inequívoca RESPONSABILIDADE


OBJETIVA das instituições financeiras, mormente o risco da atividade,
respondendo pelos danos causados aos seus clientes, mesmo quando
relacionados a fraudes ou delitos atribuídos a terceiros.

Destarte, é cristalino o nexo de causalidade entre


a conduta (descontos indevidos de valores) e os danos causados à
ora apelada, restando evidenciada a falha na prestação de serviços
do apelante, visto que, de forma negligente e descuidada, permitiu a
contratação sem diligenciar a idoneidade do contratante.

Assim, atendidos os pressupostos da


responsabilidade civil, surge a obrigação de reparar o dano, que se
apresentam in re ipsa, ou seja, decorrentes do próprio evento
danoso.

Ao lecionar a matéria, o ilustre Desembargador


Sérgio Cavalieri Filho destaca: "Todo aquele que se disponha a
exercer alguma atividade no mercado de consumo tem o dever
de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens e
serviços fornecidos, independentemente de culpa. Esse dever
é imanente ao dever de obediência às normas técnicas e de
segurança, bem como aos critérios de lealdade, que perante
os bens e serviços ofertados, quer perante os destinatários
dessas ofertas. A responsabilidade decorre do simples fato de
dispor-se alguém a realizar atividade de produzir, estocar,
distribuir e comercializar produtos ou executar determinados
serviços. O fornecedor passa a ser o garante dos produtos e
serviços que oferece no mercado, respondendo pela qualidade
e segurança dos mesmos." (Programa de Responsabilidade Civil,
8ª ed., Ed. Atlas S/A, pág.172).

A questão, que é tão comum, vem sendo


disciplinada pelo que dispõe a Súmula nº 479 do Colendo Superior
Tribunal de Justiça, a saber:
“As instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno
relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito
das operações bancárias”.

Outrossim, é de entendimento deste Egrégio


Tribunal de Justiça: “APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO
CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO NÃO
CONTRATADO PELA AUTORA. OCORRÊNCIA DE FRAUDE.
DESCONTOS INDEVIDOS NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
INSTITUIÇÃO BANCÁRIA QUE AGIU COM DESÍDIA AO
CONFERIR A DOCUMENTAÇÃO E OS DADOS PESSOAIS
APRESENTADOS NO MOMENTO DA CONTRATAÇÃO DO
EMPRÉSTIMO. TEORIA DO RISCO DO EMPREENDIMENTO.
DANO MORAL IN RE IPSA. APLICABILIDADE DAS SÚMULAS
479 DO STJ. QUANTUM INDENIZATÓRIO R$ 5.000,00.
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. A
temática dos autos envolve responsabilidade objetiva da
instituição bancária (art. 14, do CDC), face aos defeitos
relativos à prestação de serviços. 2. Da análise dos
documentos presentes nos autos, Cédula de Crédito Bancário
(fls. 26/30) e o comprovante de saque (fls. 93) vislumbra-se
indícios de fraude. Isto porque o endereço constante no
contrato difere do informado pela autora, assim como,
comprova que o saque foi realizado por terceiro, estranho à
suposta relação contratual atribuída às partes. 3. Destarte, é
cristalino o nexo de causalidade entre a conduta (descontos
indevidos de valores no benefício de aposentadoria) e os
danos causados à ora apelada, restando evidenciada a falha
na prestação de serviços do apelante, visto que, de forma
negligente e descuidada, permitiu a contratação sem
diligenciar a idoneidade do contratante. Assim, atendidos os
pressupostos da responsabilidade civil, surge a obrigação de
reparar o dano, que se apresentam in re ipsa, ou seja,
decorrentes do próprio evento danoso. 4. Com efeito, o
Egrégio Superior Tribunal de Justiça pacificou tal
entendimento ao editar a Súmula 479, in verbis: "As
instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos
gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias."
5. Quanto ao valor da indenização, o montante da condenação,
estipulado em R$ 5.000,00, não comporta redução,
mostrando-se condizente com os contratempos causados e
adequado às peculiaridades do caso concreto, mormente por
tratar-se de pessoa que percebe modestos rendimentos,
sendo tais desfalques aptos a comprometer a subsistência da
autora, observados os princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, atendidos os aspectos preventivos e
pedagógicos necessários a repelir e evitar tais práticas lesivas
aos consumidores. (TJ-BA - APL: 00026406120138050080,
Relator: JOANICE MARIA GUIMARAES DE JESUS, TERCEIRA CAMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 17/07/2019)

Resta evidente que não foram protegidos os


interesses econômicos do recorrente, mas de forma contrária, o
prejudicou economicamente.
Citando o Código de Defesa do Consumidor CDC,
que profere in verbis: Art. 4º: A Política Nacional das Relações
de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades
dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e
segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a
melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência
e harmonia das relações de consumo [...]” (Redação dada pela
Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

A priori, o consumidor tem direito a um serviço de


qualidade, adequado e eficaz. É dever do fornecedor, proporcionar ao
consumidor este serviço, não o fazendo incidirá em práticas abusivas.

Data vênia, o respeito é premissa básica de


conduta numa relação entre o consumidor e o fornecedor e cabe ao
Estado assegurar ao consumidor que está sofrendo danos em face do
fornecedor a devida providência legal.

Os danos morais, na definição de Wilson Melo da


Silva “são lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural
de direito em seu patrimônio ideal, entendendo-se por
patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja
suscetível de valor econômico‟, aqueles são chamados „danos
da alma‟, na feliz expressão do Apóstolo João, ou, como
doutrina Yussef Said Cahali “o sofrimento experimentado por
alguém, no corpo ou no espírito, ocasionado por outrem,
direta ou indiretamente”, sendo de Sílvio Rodrigues, a lição de ser
o mesmo “a dor, a mágoa, a tristeza infligida injustamente a
outrem” (Direito Civil, v. I, p. 145), e de Pontes de Miranda,
magistral como sempre, a lição de que “sempre que há dano, isto
é, desvantagem no corpo, na psique, na vida, na saúde, na
honra, no nome, no crédito, no bem-estar ou no patrimônio,
nasce o direito a indenização” (Tratado de Direito Privado, t.
XXXI, p. 181) – grifo nosso.

A nossa carta magna é taxativa ao afirmar em seu


art.5º, inciso X a seguinte redação: “São invioláveis a intimidade,
a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação.”

Ademais, prevê o artigo 6º do Código de Defesa do


Consumidor: “Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VI - a
efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos.”

Coadunando com esse entendimento temos a


jurisprudência dos Tribunais, que é dominante no sentido do dever de
reparação por dano moral, EM ESPECIAL NOS CASOS DE
EMPRÉSTIMOS NÃO CONTRATADOS.

Ademais, estamos diante de notório desvio


produtivo caracterizado pela perda do tempo que lhe seria útil ao
descanso, lazer ou de forma produtiva, acaba sendo destinado na
solução de problemas de causas alheias à sua responsabilidade e
vontade.
A perda de tempo de vida útil do consumidor, em
razão da falha da prestação do serviço não constitui mero
aborrecimento do cotidiano, mas verdadeiro impacto negativo em sua
vida, devendo ser INDENIZADO.

Não se trata de mero dissabor, aborrecimento,


mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada e que, no dizer de
Sérgio Cavalieri Filho, "fazem parte da normalidade do nosso
dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no
ambiente familiar, tais situações não são intensas e
duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do
indivíduo." (in Responsabilidade Civil", pág. 105).

Dessa forma, a r. sentença deve ser reformada,


sendo a ação julgada totalmente procedente, condenando o recorrido
a declarar a inexistência do débito fundado em contrato de
empréstimo, bem como ao pagamento de indenização a título de
danos morais a parte autora, tendo em vista o grave abalo emocional
e situação de nervosismo causada, no valor de R$ 20.000,00 (vinte
mil reais).

DO PEDIDO

Diante do exposto, pede o recebimento e


processamento das razões recursais, devendo a r. sentença sob
ataque ser integralmente reformada, condenado a recorrida ao
pagamento das custas e despesas processuais, bem como honorários
advocatícios a serem arbitrados por Vossas Excelências.
Eventuais dispositivos constitucionais e
infraconstitucionais aqui apontados devem ser tidos como
prequestionados para efeito de eventual interposição de apelo
extremo.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Salvador, 07 de dezembro de 2022.

GABRIEL DA CUNHA BOMFIM


OAB/BA 33.864

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