Processo Civil – FDUP – 2016/17
RG 15/12/2016
Tempestividade da intervenção principal provocada para regularização da
instância (318.º, 1, a))
Obs. A razão de fundo para admitir o chamamento a todo o tempo – e, por isso,
mesmo depois de terminada a fase dos articulados – é a legítima cognoscibilidade a todo
o tempo, pelo julgador, da preterição das regras de legitimidade plural.
Se a todo o tempo, mesmo ao momento da sentença final, deve o julgador começar
por conhecer “das questões processuais que possam determinar a absolvição da instância”
(608.º, 1) e se, fazendo-o, a instância se pode renovar caso aquele cuja presença haja sido
preterida seja chamado mesmo após o despacho ou a sentença de absolvição (261.º), então
será de admitir o chamamento a todo o momento, para obstar a uma (inútil) absolvição.
Cf. tb. o ac. da RG de 5/04/2011, publicado na Colectânea de Jurisprudência, 2.º,
296.
- Tratando-se de dedução do incidente de intervenção principal provocada, por
iniciativa do A., com fundamento em litisconsórcio voluntário ou pluralidade subjectiva
subsidiária (316.º, 2), diferente entendimento se haverá de sufragar, pois que não marca
presença o interesse na regularização da instância. Em tal caso, será apenas de entender
que a fase dos articulados, para efeitos do art. 318.º, 1, b), termina com a prática do
primeiro acto da fase subsequente (despacho pré-saneador: art. 590.º, 2). Cf. o ac. RE
19/05/2016: MATA RIBEIRO (Proc. 127/14.1T8ALR-A.E1). De tal forma, obtém-se o
importante efeito útil de permitir que o A. adapte as partes subjectivas da instância aos
elementos avançados pelo Réu na contestação.
TR 11-III-2017
Acórdãos TRG Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães
Processo: 21/13.3TBVPA.G1
Relator: HELENA MELO
Descritores: INTERVENÇÃO PRINCIPAL PROVOCADA
TEMPESTIVIDADE
Nº do Documento: RG
Data do Acordão: 15-12-2016
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: APELAÇÃO
Decisão: PROCEDENTE
Indicações Eventuais: 1ª SECÇÃO CÍVEL
Sumário: O artº 261º do CPC deve ser interpretado no sentido de possibilitar o
chamamento após a fase dos articulados e antes ainda da decisão
quanto à legitimidade, quando o incidente é deduzido pelo autor ou
pelo reconvinte, pois que a ressalva, na parte final do artº 318º, nº 1º, a)
do CPC permite esta interpretação que o princípio de economia
processual pressupõe.
Decisão Texto Integral: Acordam em conferência no Tribunal da Relação de Guimarães:
I - Relatório
B., habilitada nos presentes autos em substituição do primitivo autor,
entretanto falecido, veio interpor recurso do despacho da Mma. Juiza a
quo que indeferiu o incidente de intervenção principal provocada de
C., por extemporâneo.
.
Apresentou as seguintes conclusões:
1.C. intentou uma acção com processo comum e forma sumária contra
D., E. e Fundo de Garantia Automóvel, com o fim de efetivar a
responsabilidade civil decorrente de acidente de viação e, por este
meio obter a condenação dos Réus à restituição dos danos por si
sofridos como consequência do mesmo.
2.A propriedade do veículo causador do sinistro encontrava-se, à data
dos factos, registado a favor de D., sendo o respectivo condutor E..
3.Todavia, em contestação D. veio dizer que à data dos factos já não
era proprietário do veículo automóvel que deu origem ao sinistro por o
ter alienado a C., que à data do sinistro ainda se encontrava em prazo
para promover o respetivo registo de propriedade, nos termos da cópia
da declaração de venda que juntou ao respetivo articulado.
4.O veículo automóvel em apreço não possuía à data do sinistro seguro
de responsabilidade civil automóvel.
5.Por registo via citius datado 09.09.2015 o autor foi notificado do
seguinte despacho:
“Estando em causa acção a correr termos sob a forma de processo
declarativo sumário, impõe-se, antes do mais, harmonizar e adequar tal
processado às regras do novo processo civil.
Desta feita, concede-se o prazo de 10 dias às partes para, querendo,
indicarem os seus elementos de prova (artº. 5.º, n.º 4, da lei 41/2013).”
6.Em 24 de Setembro de 2015 o mandatário forense do autor vem
informar os autos que o autor faleceu no dia 11 de Agosto de 2013.
7.Em 22 de Janeiro de 2016 B., ora recorrente e filha do autor falecido,
veio aos autos requerer a respetiva habilitação de Herdeiros.
8.Por decisão datada de 10 de Março de 2016, transitada em julgado, a
ora recorrente foi admitida a intervir nos autos e na qualidade de
sucessora do primitivo autor.
9.A habilitada, ora recorrente, requereu em 22 de Abril de 2016 a
intervenção provocada de G., a intervir na ação como Réu, de modo a
assegurar definitivamente a legitimidade passiva para a efectivação da
responsabilidade civil decorrente do acidente de viação em causa nos
presentes autos.
10.Foi proferido o seguinte despacho de não admissão:
Findo os articulados, entrou-se na fase do saneamento dos autos onde
foi proferido despacho a 07.09.2015 de harmonização dos termos
processuais dos autos ao novo processo civil introduzido pela Lei
41/2013, permitindo às partes apresentação de (outros) meios de prova
que não haviam sido apresentados com os articulados.
As partes usaram de tal faculdade, incluindo o autor.
II. Dispõe o art.º 316 n.º 2 do CPC e o art.º 318.º n.º 1 al. b) que,
querendo dirigir pedido nos termos do art.º 39.º do CPC, o autor pode
provocar a intervenção de terceiro, desde que o faça até ao termo da
fase dos articulados.
Ora, in casu, tendo em conta que, pelo menos, desde 07.09.2015 estão
os autos na fase do seu saneamento e que o pedido de intervenção
provocada foi efectuado a 22.04.2016, tem de se concluir pela sua
manifesta inoportunidade (extemporaneidade).
Acresce que o incidente, ainda que autónomo, não poderia correr
termos por apenso, antes sim nos próprios autos.
III. Destarte, por extemporânea, indefere-se liminarmente a requerida
intervenção principal provocada.
(…)
11.Salvo melhor entendimento, no caso dos autos estão reunidos todos
os pressupostos de facto e de direito exigidos para que o tribunal a quo
deferisse o requerimento de intervenção principal provocada requerida
pela apelante.
12.Reportando-nos desde logo quanto ao prazo para suscitar a
intervenção principal provocada, divergindo do entendimento seguido
na decisão sob recurso, não se nos configura que aquando da dedução
do incidente de intervenção provocada de G. pela Recorrente tivesse
sido já sido elaborado despacho saneador, não se mostra que fosse
manifestamente extemporânea, sendo certo que o terceiro chamado
sempre poderia se defender em articulado próprio.
13.Dispõe o artigo 316.º do CPC (introduzido pela Lei 41/2013):
1 - Ocorrendo preterição de litisconsórcio necessário, qualquer das
partes pode chamar a juízo o interessado com legitimidade para intervir
na causa, seja como seu associado, seja como associado da parte
contrária.
2 - Nos casos de litisconsórcio voluntário, pode o autor provocar a
intervenção de algum litisconsorte do réu que não haja demandado
inicialmente ou de terceiro contra quem pretenda dirigir o pedido nos
termos do artigo 39.º.
3 - O chamamento pode ainda ser deduzido por iniciativa do réu
quando este:
a) Mostre interesse atendível em chamar a intervir outros litisconsortes
voluntários, sujeitos passivos da relação material controvertida;
b) Pretenda provocar a intervenção de possíveis contitulares do direito
invocado pelo autor.
14.Nos termos plasmados no artigo 39.º do CPC:
É admitida a dedução subsidiária do mesmo pedido, ou a dedução de
pedido subsidiário, por autor ou contra réu diverso do que demanda ou
é demandado a título principal, no caso de dúvida fundamentada sobre
o sujeito da relação controvertida.
15.Quanto à oportunidade para a dedução do incidente dispõe o artigo
318.º do CPC:
1 - O chamamento para intervenção só pode ser requerido:
a) No caso de ocorrer preterição do litisconsórcio necessário, até ao
termo da fase dos articulados, sem prejuízo do disposto no artigo 261.º;
b) Nas situações previstas no n.º 2 do artigo 316.º, até ao termo da fase
dos articulados;
c) Nos casos previstos no n.º 3 do artigo 316.º e no artigo anterior, na
contestação ou, não pretendendo o réu contestar, em requerimento
apresentado no prazo de que dispõe para o efeito.
2 - Ouvida a parte contrária, decide-se da admissibilidade do
chamamento.
16.Entende o tribunal a quo que o despacho proferido em 07.09.2015
de harmonização dos termos processuais dos autos ao novo processo
civil introduzido pela Lei 41/2013 se insere a fase do saneamento dos
autos.
17.Salvo melhor entendimento, nos presentes autos não houve ainda
despacho pré-saneador, saneador e audiência prévia aquando do pedido
de intervenção provocada não estavam os autos na fase do saneamento.
18.Aquelas fases processuais são as que, de acordo com o NCPC, as
fases posteriores aos articulados.
19.Logo, estaríamos ainda na fase dos articulados uma vez que
enquanto não se entrar efectivamente noutra fase, estaremos ainda em
fase anterior.
20.No caso em apreço, no exercício do contraditório, veio o Réu D.
dizer que à data dos factos, 08 de Janeiro de 2010, já não era
proprietário do veículo automóvel marca Fiat, modelo Uno com a
matrícula ..-..-AL, que deu origem ao sinistro. Mais diz na sua
contestação que procedeu à alienação do referido veículo a G. e, para
tanto, apresentou cópia da declaração de venda.
21.A Recorrente foi totalmente surpreendida com a posição do co-Réu
D. em relação à factualidade por si alegada nos presentes autos, sendo
essa factualidade trazida validado a causa e a oportunidade do
chamamento.
22.Os presentes autos de processo sumário, agora comum, não
admitem outros articulados.
23.Para o pedido de intervenção principal provocada de G. indicou-se a
matéria articulada pelo co-réu D. na sua contestação.
24.Aquando do chamamento não importa averiguar do mérito no
concerne à responsabilidade do chamado, mas tão só se foi alegada
uma causa que baste para esse chamamento.
25.O pedido de intervenção vem na sequência da posição do co-réu
relativamente aos factos alegados pelo A. e ao pedido formulado.
26.Por outro lado, o despacho saneador destina-se, além do mais, a
conhecer das exceções dilatórias que hajam sido suscitadas pelas partes
ou que perante os elementos constantes dos autos deva apreciar
oficiosamente.
Dispõe o artigo 595.º nº 1 al. a):
1 - O despacho saneador destina-se a:
b) Conhecer das exceções dilatórias e nulidades processuais que hajam
sido suscitadas pelas partes, ou que, face aos elementos constantes dos
autos, deva apreciar oficiosamente;”
27.Por conseguinte, trata-se de uma exceção dilatória que deve ser
apreciada oficiosamente, devendo o tribunal a quo chamar G. a intervir
nos autos a título principal.
28.O NCPC é informado pelo principio de prevalência da substancia
sobre a forma no sentido de que, a ser instado, o Tribunal deve através
de mecanismos de adequação processual fazer o que estiver ao seu
alcance para ditar uma sentença de mérito e evitar as de forma.
29.A recorrente quer evitar, o mais possível, uma sentença que não
conheça do mérito da causa.
30.E o efeito útil da ação só pode ser conseguido se estiverem ou
forem chamados todos os possíveis responsáveis de modo a assegurar e
a cumprir o conceito de legitimidade passiva que a lei sobre a
responsabilidade civil automóvel exige.
31.Pelo exposto, o douto despacho recorrido violou/fez errada
interpretação do disposto nos artigos 39.º, 316.º, 318.º e 595 n.º 1 al. a)
do CPC.
II – Objecto do recurso
Considerando que:
. o objecto do recurso está delimitado pelas conclusões contidas nas
alegações dos recorrentes, estando vedado a este Tribunal conhecer de
matérias nelas não incluídas a não ser que as mesmas sejam de
conhecimento oficioso; e,
. os recursos não visam criar decisões sobre matéria nova, sendo o seu
acto, em princípio delimitado pelo conteúdo do acto recorrido,
a questão a decidir é a seguinte:
se o incidente de intervenção principal foi deduzido tempestivamente.
III – Fundamentação
É a seguinte a factualidade a considerar com base na documentação
junta aos presentes autos de recurso em separado:
.1. H. veio instaurar acção sob a forma de processo sumário contra D.,
E. e Fundo de Garantia Automóvel, alegando que no dia 8 de Janeiro, o
veículo de sua propriedade de matrícula …-..-GN se encontrava
estacionado na Rua…, em Guimarães e foi destruído em virtude do
incêndio que deflagrou no veículo estacionado à sua direita,
paralelamente, de matrícula ..-..-AL, propriedade do 1º R. e conduzido
habitualmente pelo 2º R.
.2. Na contestação que deduziu o 1º R. invocou que à data do sinistro
já tinha vendido o veículo a G. que ainda não o tinha registado,
juntando cópia da declaração de venda.
.3. Por decisão datada de 10 de Março de 2016, transitada em julgado,
a ora recorrente foi admitida a intervir nos autos, na qualidade de
sucessora do primitivo autor.
.4. Em 07.09.2015 foi proferido despacho de harmonização dos termos
processuais dos autos ao novo processo civil introduzido pela Lei
41/2013, tendo as partes sido notificadas para a apresentação de
(outros) meios de prova que não tivessem apresentado com os
articulados.
.5. As partes usaram de tal faculdade, incluindo o autor.
.6. A A. veio deduzir o incidente de intervenção principal do G. em
22.04.2016.
Nos termos do artº 62º nº 1 do DL 291/2007, de 21 de Agosto, as
acções destinadas à efectivação de responsabilidade civil decorrente de
acidente de viação, quando o responsável seja conhecido e não
beneficie de seguro válido e eficaz são propostas contra o Fundo de
Garantia Automóvel e o responsável civil, sob pena de ilegitimidade.
É pois um caso e litisconsórcio necessário passivo, cuja preterição
acarreta a ilegitimidade e a absolvição da instância.
A intervenção principal implica, quando admitida, a modificação
subjectiva da instância (artº 262º, al. b) do CPC), mediante a
constituição de novo sujeito processual na posição de autor ou réu, em
litisconsórcio ou coligação com os autores ou réus primitivos.
Dispõem o art.º 316.º n.º1 e o art.º 318.º n.º1 al. a), ambos do CPC, que
qualquer das partes pode provocar a intervenção de terceiro, desde que
o faça até ao termo da fase dos articulados, no caso de ocorrer
preterição de litisconsórcio necessário, sem prejuízo do disposto no
artigo 261º.
Entende a apelante que, como não tinha sido ainda proferido despacho
saneador, estava em tempo para deduzir o incidente de intervenção,
pois que não pode considerar-se finda a fase dos articulados.
Com a entrada em vigor do CPC aprovado pela L 41/2013, de 26/06
foi suprimida a forma de processo sumário. O artº 5º, nº 1 do diploma
que aprovou o CPC estabeleceu a aplicação imediata do novo Código
às acções declarativas pendentes e nos termos do nº 4 do artº 5º,
estatuiu-se que, nas acções que, na data da entrada em vigor da lei se
encontrassem na fase dos articulados, deveriam as partes terminada
esta fase, ser notificadas para, em 15 dias, apresentarem os
requerimentos probatórios ou alterarem os que hajam apresentado, o
que foi determinado por despacho de 07.09.2015.
Ora, por termo da fase dos articulados tem que se entender o momento
em que deixa de ser possível a apresentação do último articulado
previsto na lei. Tem que estar definido um momento certo para esta
apresentação, não podendo estar dependente da maior ou menor
celeridade, em função do volume processual de cada juiz, na prolação
do despacho saneador.
Efectivamente, tal como refere a Mma Juíza, quando a A. vem suscitar
o incidente já estava terminada a fase de articulados que no caso,
tratando-se de processo sumário, previa apenas a possibilidade de
contestação e de resposta à contestação.
No entanto, o artº 318º, nº 1, a) parte final do CPC contém uma
excepção à regra de que o incidente tem que ser deduzido até ao termo
da fase dos articulados, permitindo ainda o chamamento nos casos
previstos no artº 261º do CPC.
E o artº 261º do CPC dispõe que até ao trânsito em julgado da decisão
que julgue ilegítima alguma das partes por não estar em juízo
determinada pessoa pode o autor ou o reconvinte chamar essa pessoa a
intervir nos termos do artº 321º do CPC.
Trata-se de uma faculdade permitida apenas ao autor e ao reconvinte,
excluindo-se o réu não reconvinte e os terceiros já admitidos a intervir.
Com a revisão de 1995-1996 o chamamento de terceiro para integração
do litisconsórcio necessário passou a ser admitido em face de qualquer
decisão que se pronuncie pela ilegitimidade de qualquer das partes por
ele não estar em juízo.
Ora, se é possível deduzir o incidente de intervenção principal
provocada por preterição de litisconsórcio necessário, mesmo depois
de ter sido proferido despacho saneador que julgue ilegítima alguma
das partes por não estar em juízo determinada pessoa e mesmo depois
do trânsito em julgado do despacho que julgue ilegítima alguma das
partes e ponha termo ao processo (artº 325º nº 2 do CPC), este artigo
tem de ser interpretado no sentido de possibilitar o chamamento após a
fase dos articulados e antes ainda da decisão quanto à legitimidade,
quando o incidente é deduzido pelo autor (como é o caso) ou pelo
reconvinte. A ressalva, no artº 318º, nº 1º, a) do CPC permite esta
interpretação que o princípio de economia processual pressupõe
(conforme defendem José Lebre de Freitas e outros, Código de
Processo Civil anotado, 1º volume, Coimbra Editora, 1999, anotação
ao artº 269º do CPC, na redacção do DL 180/96, de 25/09, que mantém
plena actualidade, pois que o actual artº 261º do CPC reproduz o texto
anterior com a mera actualização da remissão).
Efectivamente, não faz qualquer sentido que, tendo terminado a fase
dos articulados e não tendo ainda sido proferido despacho saneador, a
A. tenha que ficar a aguardar que os RR. sejam declarados parte
ilegítima, por preterição de litisconsórcio necessário passivo, para
deduzir o incidente de intervenção principal provocada do actual dono
do veículo (no mesmo sentido se entendeu no acórdão do STJ, de
05.12.2002, proferido no proc.02A2479, acessível em www.dgsi.pt,
onde se discutia a possibilidade de dedução do incidente de
intervenção principal provocada pela A., chamando à lide a mulher do
R., já depois de ter sido proferido saneador, no qual o R. foi julgado
parte legítima (desacompanhado da R. mulher) e onde se defendeu ser
de admitir o incidente pois que “seria contraditório admitir-se a
regularização mesmo depois de transitar em julgado a decisão e não se
admitir a intervenção como modo de impedir a declaração de
ilegitimidade” no caso, na sentença, por já ter sido proferido despacho
saneador (entendeu-se que a declaração genérica de legitimidade no
despacho saneador, não impedia que a legitimidade voltasse a ser
apreciada).
Assim, deve o presente incidente ser admitido, por ter sido deduzido
tempestivamente, face ao que dispõe a parte final do art 261º nº 1 do
CPC ex vi do artº 318º, nº 1, alínea a), parte final.
Sumário:
O artº 261º do CPC deve ser interpretado no sentido de possibilitar o
chamamento após a fase dos articulados e antes ainda da decisão
quanto à legitimidade, quando o incidente é deduzido pelo autor ou
pelo reconvinte, pois que a ressalva, na parte final do artº 318º, nº 1º, a)
do CPC permite esta interpretação que o princípio de economia
processual pressupõe.
IV – Decisão
Pelo exposto, acordam os juízes deste Tribunal em julgar procedente a
apelação e revogam, em consequência o despacho recorrido,
considerando tempestiva a dedução do incidente, devendo os autos
prosseguir.
Custas pelos apelados.
Notifique.
Guimarães, 15 de Dezembro de 2016
Helena Gomes de Melo
Higina Orvalho Castelo
João Peres Coelho