Acordao - 2024-06-20T123412.571
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5ª CÂMARA CÍVEL
I - RELATÓRIO
Cuida-se de ação monitória movida por Copel Distribuição S.A. contra Milton Lima Bonifácio.
Segundo consta da inicial, o réu inadimpliu faturas de energia elétrica relativas aos meses de
fevereiro a maio de 2007, no importe de R$ 4.795,21 (quatro mil, setecentos e noventa e cinco
reais e vinte e um centavos).
Assim, seguindo o rito da ação monitória, a autora requereu fosse ordenado o pagamento de
R$ 8.615,41 (oito mil, seiscentos e quinze reais e quarenta e um centavos), valores
correspondentes ao débito principal atualizado até 24/02/2011, com multa moratória de 2%,
juros moratórios de 1% a.m. e correção monetária pelo INPC.
O réu compareceu aos autos espontaneamente por meio da Defensoria Pública, requerendo a
concessão do benefício da Justiça Gratuita (mov. 1.2, p. 26).
A autora requereu a declaração de revelia do réu, pelo não oferecimento de resposta dentro
do prazo legal (mov. 1.3, p. 12).
A COPEL acusou a ausência de oposição à ação monitória, razão pela qual propugnou pela
conversão do mandado de pagamento em título executivo judicial, inaugurando-se a fase de
cumprimento de sentença (mov. 5.1). Ainda, apresentou planilha de cálculo com os valores
atualizados do débito, no montante de R$ 28.683,31 (vinte e oito mil, seiscentos e oitenta e três
reais e trinta e um centavos) - mov. 5.2.
Os autos seguiram conclusos ao Exmo. Juiz Thiago Flôres Carvalho, que reconheceu a
constituição de título executivo judicial. Na mesma decisão, determinou que a correção
monetária, pelo IPCA-E, seria contada do vencimento de cada fatura, e que os juros
moratórios, de 1% a.m., incidiriam desde a citação (mov. 10.1).
Opostos embargos de declaração pela COPEL (mov. 15.1), inteiramente rejeitados (mov.
34.1).
A autora pediu a reforma do decisum, para que os juros moratórios sejam contabilizados desde
o vencimento (art. 397, CC), e para que a correção monetária tenha como índice o INPC,
aplicável às tarifas de energia elétrica à época do inadimplemento (mov. 39.1).
É o relatório.
II - VOTO E FUNDAMENTAÇÃO
Cuida-se de ação de cobrança, processada pelo rito monitório, que conta com a COPEL
DISTRIBUIÇÃO S.A. no polo ativo e MILTON LIMA BONIFÁCIO no polo passivo.
A sentença, de lavra do Exmo. Juiz Thiago Flôres Carvalho, condenou o réu ao pagamento de
4 faturas de energia elétrica, inadimplidas entre os meses de fevereiro e maio de 2007, com
correção monetária pelo IPCA-E desde cada vencimento e juros moratórios de 1% a.m.
contados da citação. Ainda, arbitrou os honorários advocatícios em R$ 3.000,00 (três mil
reais).
Ambas as partes recorreram. A autora, para que o débito seja corrigido pelo INPC/IBGE, com
juros moratórios de 1% a.m. contados do vencimento, e não da citação. O réu, para que lhe
sejam concedidos os benefícios da Justiça Gratuita (JG), com a consequente suspensão da
exigibilidade dos encargos sucumbenciais.
Contudo, no presente caso, os débitos dizem respeito aos meses de fevereiro a maio de 2007.
E a Resolução 456/2000 da ANEEL, então vigente, não contém disposição semelhante. O art.
89, que versa sobre encargos moratórios, trata apenas sobre multa:
Assim, no silêncio dos atos normativos aplicáveis ao setor, entende-se por bem manter o
IPCA-E, índice este que, aliás, vem sendo aplicado por esta Câmara de forma geral, dada a
sua capacidade de preservar o poder da moeda contra o fenômeno inflacionário.
No que concerne aos juros moratórios, estabelece o art. 397 do CCB/02 que: “O
inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em
mora o devedor”.
“... quando a obrigação é positiva (dar ou fazer) e líquida (de valor certo),
com data fixada para o pagamento, seu descumprimento acarreta,
automaticamente (ipso iure), sem necessidade de qualquer providência do
credor, a mora do devedor (ex re), segundo a máxima romana dies
interpellat pro homine (o dia do vencimento interpela pelo homem, isto é,
interpela o devedor, pelo credor”. (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito
Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações. 13ª Edição. Editora
Saraiva. Ano: 2016. P.: 388).
A partir do momento em que o réu inadimpliu cada fatura, ele automaticamente entrou em
estado de mora, pois o vencimento interpela pelo homem (dies interpellat pro homine),
dispensando qualquer providência do credor (mora ex re).
Em reforço, o CPC/15, quando diz que a citação constitui o devedor em mora, excetua
expressamente o caso do art. 397 do CCB/02 (obrigação positiva, líquida e a termo).
Observe-se:
Art. 240, CPC. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo
competente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em
mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).
Veja-se que o réu tem seus interesses custodiados pela Defensoria Pública do Estado do
Paraná (mov. 1.2, p. 28), instituição responsável pela representação jurídica dos necessitados,
conforme dicção do art. 134 da CF:
Se o réu está sendo representado pela Defensoria Pública, é porque comprovou seu estado de
hipossuficiência financeira, tendo passado pelo criterioso processo de triagem da
instituição que o representa. Inúmeros precedentes desta Câmara apontam neste sentido. A
propósito:
Assim, a concessão dos benefícios da Justiça Gratuita é medida de absoluto rigor, tendo como
consequência a suspensão da exigibilidade dos encargos sucumbenciais (art. 98, §3º do
CPC).
Logo, como a parte não pode ser prejudicada pela falta do Poder Judiciário, o reconhecimento
do benefício deve retroagir à data do primeiro requerimento (mov. 1.2, p. 26), abrangendo os
encargos sucumbenciais estipulados na sentença.
III - DISPOSITIVO
Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 5ª Câmara Cível do TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso I
(COPEL) e provimento ao recurso II (consumidor).
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Renato Braga Bettega (relator), com voto, e
dele participaram Juiz Subst. 2ºgrau Marcelo Wallbach Silva e Desembargador Carlos Mansur
Arida.
03 de dezembro de 2021
Relator