Arquétipo
Arquétipo
Arquétipo
Arquétipo (do grego ἀρχή - arché: "princípio", "posição superior"; τύπος - tipós: "marca", "tipo") é um
conceito que representa o primeiro modelo de algo, protótipo, ou antigas impressões sobre algo.[1] É
explorado em diversos campos de estudo, como a filosofia, psicologia e a narratologia.
Na filosofia, o termo archetypos é usado por filósofos neoplatônicos, como Plotino, que segundo a
concepção de Platão, designa as ideias como modelos originários de todas as coisas existentes.[1] Ele é
recorrente também entre médio platônicos, como nas cartas de Cícero e em Plutarco.[2][3] Na filosofia teísta
(crença em Deus) e vertentes, através da confluência entre neoplatonismo, ou platonismo cristão, e o
cristianismo (aspectos espirituais e cosmológicos platônicos) o termo indica: ideias (primordiais) da mente
de Deus.[1] Esta difundido por Santo Agostinho, provavelmente por influência dos escritos do filósofo
neoplatônico Porfírio de Tiro, discípulo de Plotino.
Na psicologia analítica, é um conceito do suíço Carl Gustav Jung para se referir a conjuntos de imagens
psicoides primordiais que dão sentido aos complexos mentais e às histórias passadas entre gerações,
formando o conhecimento e o imaginário do inconsciente coletivo;[4] agem como estruturas inatas,
imateriais, com que os fenômenos psíquicos tendem a se moldar, e servem de matriz para a expressão e
desenvolvimento da psique. Também é associado a experiências universais, como nascimento e morte.[4]
Jung cita precedentes do uso do termo entre Plotino, Fílon, Ireneu, Dionísio Areopagita e o Corpus
Hermeticum.[5]
Platonismo
As origens da hipótese arquetípica datam de Platão. As ideias de Platão ou os chamados eidos platônicos
eram formas mentais puras que foram impressas na alma antes de nascer no mundo. Alguns filósofos
também traduzem o arquétipo como "essência", a fim de evitar confusão com relação à conceitualização das
Formas por Platão.[6] Embora seja tentador pensar nas Formas como entidades mentais (ideias) que existem
apenas em nossa mente, o filósofo insistiu que elas são independentes de quaisquer mentes (atuais).[6] As
Ideias seriam coletivos no sentido de incorporarem as características fundamentais de uma coisa (qualidade
universal) e não suas peculiaridades específicas (particulares).
No diálogo Parmênides de Platão, as Ideias primordiais são chamadas na narrativa por Sócrates de
"paradigmas" (paradeigmata):[7]
Plotino utiliza tanto paradeigma (παράδειγμα) quanto archetypos (ἀρχέτυπον) para se referir às Formas.[7]
No século XVII, Sir Thomas Browne e Francis Bacon empregam a palavra "arquétipo" em seus escritos;
Browne em The Garden of Cyrus (1658) tentou descrever arquétipos ao usar nomes próprios simbólicos.
Carl Gustav Jung identificou as ideias platônicas como a versão filosófica daquilo que ele incorporou como
arquétipos do inconsciente.[8]
Psicologia analítica
Para Jung, arquétipo é uma espécie de imagem primordial - apriorística - incrustada profundamente no
inconsciente coletivo da humanidade, refletindo-se (projetando-se) em diversos aspectos da vida humana,
como sonhos e até mesmo narrativas. Ele explica que "no concernente aos conteúdos do inconsciente
coletivo, estamos tratando de tipos arcaicos - ou melhor - primordiais, isto é, de imagens universais que
existiram desde os tempos mais remotos".[9]
Jung deduz que as "imagens primordiais" - outro nome para arquétipos - se originam de uma constante
repetição de uma mesma experiência, durante muitas gerações. Eles são as tendências estruturantes e
invisíveis dos símbolos. Por serem anteriores e mais abrangentes que a consciência do ego, os arquétipos
criam imagens ou visões que balanceiam alguns aspectos da atitude consciente do sujeito. Funcionam como
centros autônomos que tendem a produzir, em cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas
experiências. Eles se encontram entrelaçados na psique, sendo praticamente impossível isolá-los, bem como
a seus sentidos. Porém, apesar desta mistura, cada arquétipo constitui uma unidade que pode ser apreendida
intuitivamente.[10]
É importante ressaltar, todavia, que os arquétipos não possuem formas fixas ou pré-definidas. Segundo
Jung:[10]
Embora haja uma variedade de categorizações de arquétipos, a configuração de Jung é talvez a mais
conhecida e serve como base para muitos outros modelos. Os quatro principais arquétipos a emergir de sua
obra, que Jung denomina originalmente imagens primordiais, incluem a anima/animus, o Si-mesmo, a
Sombra e a Persona. Além disso, Jung se referiu às imagens do Herói, do Espírito ou Velho Sábio, da
Criança, da Mãe e da Donzela.[11] Ele acreditava que cada mente humana retém esses entendimentos
inconscientes básicos da condição humana e do conhecimento coletivo de nossa espécie na construção do
inconsciente coletivo. O núcleo de um complexo é um arquétipo que atrai experiências relacionadas ao seu
tema. Ele poderá, então, tornar-se consciente por meio destas experiências associadas.
Tornaram-se popularizados também contemporaneamente os modelos neo-arquetípicos, como o dos 12
tipos propostos por Carol S. Pearson e Hugh Marr:[12]
Autonomia
Embora todos os arquétipos possam ser considerados como sistemas dinâmicos autônomos, alguns deles
evoluíram tão profundamente que se pode justificar seu tratamento como sistemas separados da
personalidade, dentre eles a persona, a anima (lê-se "ânima" em português do Brasil), o animus (lê-se
"ânimus" em português do Brasil) e a sombra. Chamamos de instinto aos impulsos fisiológicos percebidos
pelos sentidos. Mas, ao mesmo tempo, estes instintos podem também manifestar-se como fantasias e revelar,
muitas vezes, a sua presença apenas através de imagens simbólicas. São estas manifestações que revelam a
presença dos arquétipos, os quais as dirigem. A sua origem não é conhecida, e eles se repetem em qualquer
época e em qualquer lugar do mundo - mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão por
descendência direta ou por "fecundações cruzadas" resultantes da migração.
Publicidade
Mais tarde, em 1900, um psicólogo vienense chamado Dr. Ernest Dichter pegou essas construções
psicológicas e as aplicou ao marketing. Dichter mudou-se para Nova York por volta de 1939 e enviou a
todas as agências de publicidade da Madison Avenue uma carta com sua nova descoberta. Ele descobriu
que a aplicação desses temas universais aos produtos promovia uma descoberta mais fácil e uma maior
lealdade às marcas.[13]
Os arquétipos revelam papéis compartilhados entre sociedades universais, como o papel da mãe em suas
relações naturais com todos os membros da família. Esse arquétipo pode criar uma imagem compartilhada,
definida por muitos estereótipos que não se separaram da estrutura tradicional, biológica, religiosa e
mítica.[14]
Narratologia
Jung constatou que, além de elementos tipicamente ligados à psique, como os sonhos, os arquétipos do
inconsciente coletivo também se expressam através de narrativas, destacando e estudando especialmente o
mito e o conto de fada. Ele diz:[15]
Não foi senão até o trabalho do crítico literário canadense Northrop Frye que a crítica arquetípica foi
teorizada em termos puramente literários. A principal obra de Frye para lidar com arquétipos é Anatomia da
Crítica (1957), mas seu ensaio "Os Arquétipos da Literatura" é um precursor do livro. A tese de Frye em
"Os arquétipos da literatura" permanece praticamente inalterada em Anatomia da Crítica. O trabalho de
Frye ajudou a substituir a Nova Crítica como o principal modo de analisar textos literários, antes de dar
lugar ao estruturalismo e à semiótica.[19][20][21]
As obras de Jung e Frye foram consideradas desbravadoras nos estudos literários. O impacto deles
estimulou o desenvolvimento de tipologias universais para heróis e marcos poéticos.[3] Outros estudiosos,
como Maud Bodkin (que escreveu em 1934 Padrões Arquetípicos de Poesia, a primeira obra sobre crítica
literária arquetípica), Morris Philipson, Joseph Campbell e Christopher Vogler, considerando a definição
junguiana, também sugerem interpretações a respeito da expressão dos diversos arquétipos em uma
narrativa, independente de seu caráter fantástico ou não, e considera-se que críticos como Harold Bloom e
Helen Vendler adaptaram as ideias arquetípicas.[3] Para Campbell, os arquétipos fazem parte de todo ser
humano, como órgãos de um corpo, fenômenos biológicos.[22]
Vogler, por sua vez, influenciado pela obra de Vladimir Propp, que observa a narrativa a partir de funções
desempenhadas pelos personagens, sugere que os arquétipos sejam tomados como máscaras das quais os
personagens de uma história dispõem, utilizando-as temporariamente conforme a necessidade do andamento
do enredo.[23]
1. Superando o Monstro
2. Da Miséria à Riqueza
3. A Busca
4. Viagem e Retorno
5. Comédia
6. Tragédia
7. Renascimento
Ver também
Distinção tipo-espécime
Alegoria da Caverna
Estereótipo
Archive for Research in Archetypal
Symbolism Filosofia perene
Clichê Modelo mental
Complexo (psicologia) Monomito
Curador ferido Personificação
Psicologia arquetípica
Bibliografia
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Vogler, Christopher (2006). A jornada do escritor: estruturas míticas para escritores (https://b
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OCLC 57131450 (https://www.worldcat.org/oclc/57131450)
Leitura adicional
Gewehr, Rodrigo Barros (2019). «Entre filosofia e ciência: o problema do naturalismo na psicologia de Carl
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Psicologia USP. 30. ISSN 0103-6564. doi:10.1590/0103-6564e20160020
Ligações externas
Saindo da Matrix - Arquétipos (http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2007/09/arquetipo
s.html)
Rocha Filho, J. B. Física e Psicologia. EDIPUCRS, 2007, 4a. ed.
Mateus, Samuel (2012), O Arquétipo Publicitário (https://www.academia.edu/3248755/O_Arq
uetipo_Publicitario), Famecos, vol.19, n3, pp. 630–643
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