AT1 M3 Deontologia

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Propriedade de Norte Vida - Associação para a Promoção da Saúde

Sebenta – Área Tecnológica I

Módulo III – Ética e Deontologia do/a Técnico/a de Apoio


Psicossocial

“Aprendamos a viver juntos como irmãos porque, se assim não for, morreremos juntos como
idiotas.” (Martin Luther King)

Professora – Rita Valinho


2022/2023

REG.003.01_REGISTO BRANCO LOGOS


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Módulo 3 – Ética e Deontologia do Técnico de Apoio Psicossocial

Objetivos

No final deste módulo os alunos deverão ser capazes de:

• Compreender o conceito de ética, valores e deontologia e o seu âmbito;


• Equacionar a questão dos direitos humanos e da cidadania, como catalisado-
res do desenvolvimento humano e dos valores em questão;
• Compreender melhor a dinâmica das relações interpessoais para saber agir
em contextos profissionais;
• Lidar positivamente e com lucidez com os conceitos de tolerância, indiferença,
respeito e responsabilidade;
• Compreender a função do Técnico de Apoio Psicossocial e o seu código de-
ontológico.

Índice
1. Os Conceitos .................................................................................................................................... 3
1.1. Ética e Moral.................................................................................................................................. 4
1.2. Valores ............................................................................................................................................ 5
1.3. Deontologia ................................................................................................................................... 7
2. Questões Levantadas pela Ética ................................................................................................. 9
2.1. O Bem e o Mal, os Fins e os Meios ......................................................................................... 9
2.2. Ciência, Técnica e Ética ........................................................................................................... 11
3. A Dignidade da pessoa humana ............................................................................................... 12
3.1. As leis ........................................................................................................................................... 12
3.2. Os Direitos do Homem ............................................................................................................. 14
4. Não vivemos sós ........................................................................................................................... 16
4.1. Relações interpessoais ............................................................................................................ 17
4.2. Relações Laborais ..................................................................................................................... 18
5. Contributo para a Definição de um Código Deontológico do Técnico de Apoio
Psicossocial ........................................................................................................................................ 19
5.1Formas de Atuação do Técnico de Apoio Psicossocial – Estatuto ................................ 20
5.2 Direitos e Deveres....................................................................................................................... 21

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1. Os Conceitos

É provável que já tenhas ouvido falar de questões como a ética e os valores e


associado a elas questões deontológicas levantadas por determinadas profis-
sões (medicina, advocacia, jornalismo, etc.).
A preparação para o exercício de uma atividade profissional implica necessaria-
mente uma reflexão sobre a conduta, ou seja, os comportamentos, atitudes, va-
lores, a adotar no exercício dessa profissão.
Assim, transversal a qualquer atividade profissional está a necessidade de se
refletir sobre o papel a desempenhar e os valores que devem sustentar essa
atuação.
O que se pretende com este módulo, é proporcionar um momento de “paragem”
para que esclareças os pressupostos que suportam a deontologia do técnico de
Apoio Psicossocial e reflitas sobre os valores que devem estar na base desta
atividade profissional.
A verdade é que a nossa intenção enquanto trabalhadores deverá ser a de “fa-
zermos o melhor possível”, ou seja, desenvolvermos o nosso trabalho de forma
ética, com base em valores e princípios que do ponto de vista moral sejam cor-
retos, e que correspondam à deontologia definida para o desempenho dessa
atividade profissional.
Tudo isto parece evidente e faz parte das nossas noções quotidianas, mas a
verdade é que nem sempre se torna claro qual a atitude a tomar e nem sempre
é fácil ponderar qual o comportamento a adotar enquanto profissional (pois nem
sempre o que faríamos em termos pessoais é necessariamente o mais correto
em termos profissionais).
Deste modo, o que significam verdadeiramente estes conceitos? O que é que
realmente se entende por ética? Será que é possível considerar que os valores
pessoais são aqueles que asseguram um comportamento ético? Quem define o
que é correto ou incorreto? E afinal o que é a deontologia de uma profissão? O
técnico de Apoio Psicossocial apresenta um código deontológico?
Durante este módulo espera-se que reflitas sobre as questões relacionadas com
este tema, que surgirão ao longo da tua formação.

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1.1. Ética e Moral

No decurso da nossa vida vamos fazendo escolhas, definindo dessa forma o


nosso caminho.
Há escolhas que parecem simples de fazer, que não ocupam muito do nosso
tempo, como por exemplo o que vou vestir ou o que vou comer. No entanto, há
outras que se revelam mais complexas, pelo carácter subjetivo e determinante
que assumem.
Assim, é fundamental estarmos conscientes de que há certas coisas que nos
convém e outras não e isto implica saber distinguir o bem do mal. Mas o que
torna certas decisões difíceis é precisamente fazer essa distinção; saber clara-
mente o que de positivo e negativo poderá acarretar a nossa escolha, pois, nem
sempre essa perceção é evidente.
Por exemplo, se mentir parece à partida um comportamento reprovável, será que
essa opinião se mantém se a mentira acontecer para proteger alguém do possí-
vel sofrimento?
Deste modo, a ação humana implica necessariamente uma forma de estar na
vida e de ver o Mundo, logo, a ação humana apresenta necessariamente uma
dimensão ética.
Esta dimensão ética estabelece uma relação com a moral, considerando-se a
moral como um conjunto de regras de conduta reconhecidas como válidas num
determinado tempo e espaço. Deste modo, a ética pode encontrar-se com a mo-
ral na medida em que é a ética que reflete sobre a moral estabelecida (porque é
que consideramos válidas determinadas regras e condutas e não outras?).
Sendo a ética uma reflexão sobre a moral, cabe-lhe a ela indagar e aprofundar
sobre as opções dos seres humanos, na procura de justificações para o saber
viver!

Podemos viver de muitas maneiras, mas há maneiras que não deixam viver.
Savater (1991)

O mau parece às vezes tornar-se mais ou menos bom e o bom tem em certas ocasiões
a aparência de mau.
Savater (1991)

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Atividades

1. Para um primeiro conhecimento sobre o significado dos conceitos pode ajudar uma ida ao
dicionário. Procura no dicionário o significado dos termos ética e moral, bem como a origem
destas palavras.
2. Lê as duas caixas de texto anteriores. Procura refletir sobre o que dizem e desenvolve um
texto de 10 linhas que articule o conceito de ética e moral.

1.2. Valores

Na definição dos conceitos de ética e moral, falamos na questão dos valores,


referindo-nos à forma como as pessoas levam a sua vida, ou seja, remetendo
para aquilo que as pessoas valorizam e com base nisso fazem as suas escolhas.
Constantemente fazemos avaliações sobre o que nos rodeia: gosto, não gosto;
concordo, não concordo; está certo, está errado.
As nossas opiniões são determinadas pelo quadro de valores em que acredita-
mos, logo os valores influenciam o modo de vida dos seres humanos.
É possível compreender assim, que um valor não corresponde a um objeto (em-
bora às vezes nos refiramos aos objetos como valores) e diz antes respeito à
qualidade que é atribuída às coisas, às ideias, às situações. Assim, os valores
têm a função de orientar as nossas escolhas e opções.
Se compararmos formas de pensar de diferentes culturas, reconhecemos que
elas apresentam modos de vida muito diferentes e valorizam coisas diferentes.
De facto, os valores, sendo criações culturais tal como defendia Nietzsche, são
variáveis e subjetivos, tendo em conta o tempo e o espaço, variando também de
pessoa para pessoa. Assim, a novas necessidades corresponde muitas vezes a
emergência de novos valores. Deste modo, os valores identificam os ideais de
uma sociedade.

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A verdadeira divindade do homem branco é o metal redondo e o papel forte a que ele chama
dinheiro. Quando se fala a um Europeu do Deus do Amor, ele faz uma careta e sorri. (…). Muitos
há que pelo dinheiro sacrificam o riso, a honra, a consciência, a felicidade e até mesmo mulher e
filhos. (…)
No Mundo dos Brancos, a importância de um homem não é determinada nem pela sua bravura,
nem pela sua coragem, nem pelo fulgor do seu espírito, mas sim pela quantidade de dinheiro que
possui ou que é capaz de ganhar por dia (…).
Tuiavii (1999)

Atividade

1. O documento anterior é um excerto da obra, “o Papalagui” de Tuiavii. Esta obra diz respeito a uma
reflexão que um membro de uma tribo indígena faz sobre a condição de vida do homem do mundo
ocidentalizado, apresentando assim os seus contrastes e diferenças culturais a nível dos seus valo-
res éticos e morais. Dessa forma sugere um questionamento sobre o rumo das sociedades urbanas
e industrializadas e sobre o quadro de valores vigente.
Procura interpreta-lo e identifica as principais diferenças de valores assumidas pelas duas culturas.

Existem vários aspetos sobre os valores que ajudam a compreensão da sua na-
tureza e das suas características:
- todos os Valores apresentam um pólo positivo e um pólo negativo (ex. be-
leza/fealdade; fidelidade/infidelidade; riqueza/pobreza);
- os valores não se encontram todos no mesmo patamar de importância, sendo
que se pode falar que exista uma hierarquia de valores, ou seja, apresentam-se
ordenados do mais importante para o menos importante;
- os valores são absolutos, ou sejam existem em todas as culturas;
- os valores são subjetivos, variando o que é valorizado, de acordo com o es-
paço, tempo, características e necessidades;
- apresentam uma componente afetiva, pois a crença num valor não é necessa-
riamente uma opção racional;
Atualmente, fala-se na existência de uma crise de valores, na medida em que se
sente um vazio na capacidade crítica, de participação, de crença em ideais e
ideias, por parte dos cidadãos.
A verdade é que o crescimento das sociedades indústrias e urbanas parece fo-
mentar a importância de valores económicos, competitivos, individualistas, logo,
talvez mais do que uma crise de valores, se possa falar numa mudança no pa-
radigma ideológico, sendo que os valores se têm vindo a alterar.

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O trabalho da Animação Sociocultural e por conseguinte do técnico de Apoio
Psicossocial, procura precisamente fazer não esquecer a importância da solida-
riedade, do comunitarismo e da coletividade, da capacidade crítica, motivando
os indivíduos para uma cidadania ativa e participativa.

Atividades
1- Procura fazer a tua hierarquia de valores, ou seja, ordenar os teus valores do mais
importante para o que menos valorizas.
2- Atualmente ouve-se falar da “crise de valores” e que as novas gerações apresentam
um vazio ideológico (tendo surgido o termo “geração rasca” a este propósito). No entanto,
questiona-se também se essas novas gerações não serão antes gerações “à rasca”, na
medida em que enfrentam diversos problemas numa sociedade dominada pelo consu-
mismo, individualismo, etc.

Proposta de Trabalho
1.Com base nos diferentes temas que te sugerimos, procura organizar um debate na sala
de aula. No fim da discussão das ideias, reflete sobre os diferentes valores que estiveram
na base da opinião de cada um.
Temas: o aborto; a eutanásia; a legalização das drogas;
2. Consulta o projeto educativo da tua escola e procura perceber quais os valores peda-
gógicos que estão na sua base.

1.3. Deontologia

Foi dito que a ética se dedica à reflexão sobre as escolhas morais, procurando
a sua justificação racional. Logo, esse trabalho da ética é feito não só relativa-
mente às questões individuais, mas também às questões profissionais, ou seja,
é possível falar-se numa ética profissional, ou deontologia profissional.
A palavra deontologia tem origem grega, sendo que deon significa "dever, obri-
gação" e logos (logia), "ciência", considerando-se então com um ramo da ética
cujo objeto de estudo são os fundamentos do dever e as normas morais.
Assim, a deontologia profissional dedica-se à reflexão e definição das normas
(direitos e deveres) que regem determinada atividade profissional, sendo que
essas orientações se baseiam em princípios éticos.

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Estas normas de conduta, para além de refletirem a qualidade moral das ações
dos profissionais, também dizem respeito à correção dessas ações perante a
sociedade onde é exercida.
De facto, grande parte das profissões já apresentam um código deontológico, ou
seja, um documento criado pelas ordens profissionais ou associações, onde es-
tão estipulados os princípios orientadores dessa profissão, de forma a defender
os interesses da comunidade, salvaguardar o profissional e honrar a profissão.
Existem códigos deontológicos com carácter normativo e vinculativo, ou seja,
que obrigam os profissionais de determinada atividade a cumprir com rigor os
princípios estabelecidos. Por outro lado, há códigos deontológicos cuja função
principal será a regulação profissional sendo exclusivamente um instrumento
consultivo.
Os códigos têm de estar de acordo com a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, de modo a garantir que não haja perigo de abusos por parte de deter-
minado grupo sobre a sociedade em geral. No entanto, o código deontológico
não se sobrepõe ao enquadramento legal definido para cada nação.
Deste modo, um Código deontológico, mais do que procurar defender os inte-
resses e os direitos de determinada classe profissional, deve preocupar-se em
dar orientações sobre modos de ser, de pensar e de agir que tornem mais moral
e mais eficiente a ação dessa classe relativamente aos cidadãos.
Por vezes, surgem-nos dilemas morais relativamente à nossa atuação enquanto
profissionais, e nesses momentos questionamos as orientações definidas no có-
digo deontológico da nossa profissão. O documento 13 e 14 permite-te refletir
um pouco sobre isto.
No ponto 5 iremos falar sobre as orientações que regem o trabalho do técnico
de Apoio Psicossocial, e procurar contribuir para a construção de uma proposta
de um código deontológico desta área profissional.
CÓDIGO DEONTOLÓGICO DOS PSICÓLOGOS DOC. 13
SNP e SPP. 1978
CAPÍTULO VIII
Sigilo profissional
Art.º 31º- Constitui obrigação indeclinável do psicólogo a salvaguarda do sigilo acerca de ele-
mentos que tenha recolhido no exercício da sua atividade profissional ou dos sues estudos de
investigação desde que seja de algum modo identificável a pessoa a quem se referem, salva-
guardando o disposto no art.º 37º.

Um psicólogo acompanha um paciente, que ao longo da terapia lhe comunica que é seropo-
sitivo, mas que mantém relações sexuais sem revelar ao parceiro a sua condição de saúde.

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2. Questões Levantadas pela Ética

2.1. O Bem e o Mal, os Fins e os Meios

Como pudeste perceber, cada cultura e/ou sociedade apresenta um quadro de


regras, normas, valores e condutas, aceites como válidas e que de certa forma
orientam o comportamento dos seres humanos (a moral). Essa orientação, à
partida, sugere que o caminho seja na perspetiva do bem, negando o que é con-
siderado errado. Na cultura Portuguesa, por exemplo, é comummente aceite que
não se deve roubar, matar, magoar prejudicar os outros, mentir, etc. (ver docu-
mento 1).
No entanto, tendo em conta os objetivos a atingir, muitas vezes o caminho esco-
lhido pode por em causa esta premissa do bem e do mal.
A este propósito, já com certeza ouviste a expressão: “os fins justificam os meios”
ou o seu contrário. Com ela, estamos a questionar até que ponto as nossas in-
tenções podem justificar os processos que escolhemos para as atingir.
Por exemplo, se pensarmos numa guerra, que tem como objetivo questões de
poder (territorial, religioso, económico, etc.), será que se pode compreender as
milhares de mortes de civis inocentes? E por outro lado, se for feita uma revolu-
ção que tem como objetivo acabar com um regime repressivo e violento, e no
decorrer dessa revolta acontecerem também mortes de cidadãos, será que neste
caso elas são mais “justificáveis”?
Avançando ainda com mais alguns exemplos que te podem ajudar a refletir sobre
esta questão, atenta nos seguintes cenários: Foste convidado(a) para uma festa
de um amigo(a) e os teus pais, à partida, não te deixarão ir. Queres muito ir a
essa festa e por isso resolves mentir aos teus pais, dizendo que nessa noite tens
que ir para casa de um(a) colega fazer um trabalho para uma disciplina. Neste
caso, a mentira será justificável? Quebrar a relação de confiança familiar, enco-
brir dos teus pais o teu verdadeiro paradeiro correndo o risco de que algo te
possa acontecer, etc., são questões importantes que devem ser tidas em conta
antes de se tomar essa decisão.
Mas será que existe alguma situação em que mentir (meio) justifique o fim? En-
tão vejamos: Vives num prédio e sabes que a tua vizinha de cima sofre de vio-
lência doméstica e de maus tratos. Um dia, ela toca à tua porta, com sinais de

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agressão e pede para se esconder em tua casa, pois o seu companheiro está
descontrolado e quer fazer-lhe mal. Acedes ao pedido e passado um pouco o
companheiro dela vem a tua casa procura-la. Tu, mentes, dizendo que não sabes
de nada, que não conheces o paradeiro da sua companheira. Será que neste
caso o meio justifica o fim?
A resposta à questão “Os fins justificam os meios?” será sempre circunstancial,
dependendo de quais os fins que se pretendem atingir e de quais os meios utili-
zados.
Com isto não devemos pensar que existem tantas morais quanto pessoas, por-
que naturalmente as nossas escolhas vão ser influenciadas pelo padrão moral
vigente e que nos foi transmitido culturalmente, através da educação. Logo, ire-
mos sempre refletir sobre o caminho escolhido, enquadrando-o, ou não, no qua-
dro moral estabelecido.
Também na tua vida profissional irás viver alguns destes dilemas e nem sempre
será fácil encontrares uma resposta segura. Disso falaremos mais à frente…

Atividades
1 - Organiza um debate em torno de diversos dilemas morais, auscultando as opiniões de
todos e refletindo sobre a questão dos fins e dos meios.
Podes encontrar os teus próprios dilemas para discussão ou debater sobre o que te sugerimos
aqui:

2 - Andas no 12º ano e vais realizar o teu último teste. A conclusão do teu curso está depen-
dente da positiva a esse momento de avaliação, sendo que para ti é fundamental acabares o
curso pois precisas de começar a trabalhar para ajudares os teus pais na difícil situação eco-
nómica pela qual estão a passar. Há um colega teu que te diz que sabe onde é que o professor
tem um exemplar do teste e sugere-te que vás lá “rouba-lo” para tirares uma cópia.
O que fazer?

3 - “Sob o argumento de que os judeus seriam responsáveis pela situação de crise vivida na
Alemanha e baseado no pressuposto de que os homens não são iguais, havendo raças su-
periores, milhares de homens, mulheres e crianças foram submetidos a uma violenta discri-
minação que ficou conhecida como o Holocausto.

“Tanto a virtude como o vício estão em nosso poder. Com efeito, sempre que está em nosso
poder fazer, está-o também não fazer, e sempre que está em nosso poder o não, está-o tam-
bém o sim, de maneira que se está em nosso poder agir quando é belo fazê-lo, estará em
nosso poder não agir quando é vergonhoso.” Aristóteles, citado por Savater (1991)

Lê e reflete sobre os dois parágrafos anteriores.

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4 - Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), na sua obra, “Do contrato social”, concebe o Ho-
mem como um ser naturalmente bom sendo a sociedade (determinada pela política) que cor-
rompe o ser humano.
Procura explicar de que forma a sociedade poderá corromper o ser humano (tal como refere
o parágrafo).
4.1. - Qual é afinal a responsabilidade que possuímos sobre as nossos ações?

2.2. Ciência, Técnica e Ética

Atualmente considera-se que a ciência, aliada à técnica é a principal responsável


pelo progresso da humanidade.
De facto, o desenvolvimento científico e tecnológico tem permitido a descoberta
de soluções para diversos problemas, assegurando uma melhoria da qualidade
de vida.
O desenvolvimento na área da saúde tem descoberto inúmeras curas e trata-
mentos para doenças graves, o desenvolvimento tecnológico tem permitido su-
perar algumas dificuldades relativas ao esgotamento dos recursos, a engenharia
permite ultrapassar as fronteiras naturais, etc.
De facto, a ciência tem transformado completamente a nossa vida, a natureza e
o mundo.
À ideia de que a ciência é a única capaz de nos fazer conhecer o Mundo e de
domina-lo, dá-se o nome de cientismo. Deste modo, a técnica considera todos
os seres humanos como sujeitos passíveis de exploração e de instrumentaliza-
ção, ou seja, considera-os um objeto a dominar e a explorar.
Assim, é inevitável questionarmos se a ciência e a técnica só nos têm trazido
benefícios, pois são vários os exemplos do impacto nocivo do seu desenvolvi-
mento (ver documento 6).
Existem diversas questões éticas levantadas pelo desenvolvimento técnico-cien-
tífico, nomeadamente no que diz respeito à relação que estabelecemos com a
natureza, com os outros, com a cultura e com os valores (ver documento 7). Por
isso mesmo, não devemos ignorar os limites da ciência, sendo que a ciência
deverá existir para servir o homem, no alcance dos seus objetivos basilares: li-
berdade e dignidade!

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Deste modo, também no exercício das nossas profissões devemos refletir sobre
esta questão, na medida em que somos todos responsáveis por não nos deixar-
mos iludir pela desmesurada ambição científica, devendo retirar dela o que de
realmente for positivo para a busca da felicidade e dignidade humana.

Atividade
1. Concordas com a afirmação “Não existe uma má ciência; existe sim uma má utilização
da ciência.”? Justifica a tua resposta.

Proposta de Trabalho
1. Divide a turma em grupos, sendo que cada um deve preparar uma apresentação su-
bordinada ao tema “Os limites da ciência: ciência, técnica e ética”.
Sugerimos-te algumas questões atuais que podem estar na base da reflexão dos traba-
lhos de grupo: clonagem; energia nuclear; alimentos transgénicos; bio arte, etc.

3. A Dignidade da pessoa humana

3.1. As leis

Anteriormente chegamos à conclusão de que a ética reflete sobre a ação hu-


mana, sendo esse o seu objetivo. No entanto, isto não significa que as regras de
convivência, as normas de conduta social, etc., sejam definidas pela ética.
Sabemos, porém, que numa sociedade existem padrões de comportamento, ou
seja, normas sociais que regulam as ações dos indivíduos, pois o homem é um
ser social e cultural e ultrapassa o comportamento instintivo e inato, havendo
intencionalidade nas suas ações.
A inexistência de regras e normas sociais, poderia levar-nos a pensar num caos
social, na medida em que cada um agiria em prol do alcance dos seus objetivos
pessoais, pondo em causa o bem-estar social. De facto, as relações entre as
pessoas, entre os grupos e entre as nações não são lineares, apresentam pro-
blemas, são complexas.
Sobre isto já refletimos um pouco anteriormente, nomeadamente na discussão
sobre os fins e os meios. Ficamos a perceber que a nossa intencionalidade indi-
vidual, não pode esquecer o bem-estar dos outros e por isso mesmo, existe um
conjunto de regras sociais estabelecidas, a que chamamos leis (definidas pelo

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Direito), que têm como função regulamentar o comportamento humano e dessa
forma harmonizar os interesses e regular os conflitos entre os indivíduos (manu-
tenção da ordem pública).
Deste modo, as leis, ao contrário da moral, apresentam um carácter de obriga-
toriedade, sendo que, perante o seu incumprimento, existe um conjunto de san-
ções e punições definidas (ver documento que se segue).

Artigo 210.º - Roubo


1 - Quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outra pessoa, subtrair, ou
constranger a que lhe seja entregue, coisa móvel alheia, por meio de violência contra uma
pessoa, de ameaça com perigo iminente para a vida ou para a integridade física, ou pondo-a
na impossibilidade de resistir, é punido com pena de prisão de um a oito anos.
2 - A pena é a de prisão de três a quinze anos se:
a) Qualquer dos agentes produzir perigo para a vida da vítima ou lhe infligir, pelo menos por
negligência, ofensa à integridade física grave; ou
b) Se verificarem, singular ou cumulativamente, quaisquer requisitos referidos nos n.ºs 1 e 2
do artigo 204.º, sendo correspondentemente aplicável o disposto no n.º 4 do mesmo artigo.
3 - Se do facto resultar a morte de outra pessoa, o agente é punido com pena de prisão de
oito a dezasseis anos.
Código Penal

No entanto, por vezes pode haver um conflito entre a nossa consciência moral e
o estipulado legalmente. Tendo em conta esta questão, nas sociedades ociden-
tais, criou-se o conceito de “objeção de consciência” que possibilita o não cum-
primento de alguns atos previstos na lei (ver documento que se seguem).
Também nos contextos de trabalho é fundamental que as leis não sejam esque-
cidas, pois estas à partida orientam a relação estabelecida entre profissional e
utente e salvaguardam os direitos fundamentais de uns e outros.

É considerado como objetor de consciência, quem por motivos de ordem filosófica, ética, moral
ou religiosa, esteja convicto de que lhe não é legítimo obedecer a uma ordem específica, por
considerar que atenta contra a vida, a dignidade da pessoa humana ou contra o Código Deon-
tológico.

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Aborto: mais de 1.300 médicos são objetores de consciência
Mais de 1.300 médicos em Portugal são atualmente objetores de consciência na questão da inter-
rupção voluntária da gravidez (IVG), segundo dados da Ordem dos Médicos (OM). (…)
Na altura, a Ordem apontou para a necessidade de ter um registo dos médicos objetores de cons-
ciência, lembrando ainda que há diferentes situações de objeção entre os clínicos: objetores em
relação ao aborto a pedido da mulher que não o são, por exemplo, em relação às interrupções de
gravidez em caso de violação. (…)
A legislação que veio despenalizar o aborto a pedido da mulher até às 10 semanas de gestação
estabelece que a objeção de consciência tem de ser manifestada em documento escrito.
Determina ainda que os médicos objetores devem «assegurar o encaminhamento da mulher grá-
vida» que solicitar a IVG para «os serviços competentes dentro dos prazos legais».
Lusa/ SOL, 16 de maio, 2011

Constituição: conjunto das leis fundamentais do Estado; fixa os direitos e deveres fundamentais dos
seus membros a que todos os códigos jurídicos se devem subordinar.

3.2. Os Direitos do Homem

Tal como referido anteriormente, as leis apresentam um carácter de responsabi-


lidade de prestarmos contas pelos nossos atos e intenções perante a sociedade
civil, que implicará ao mesmo tempo uma relação com a nossa responsabilidade
moral.
A necessidade de se regulamentar a ação humana prende-se com a pretensão
das sociedades ocidentais democráticas garantirem direitos básicos aos seus
cidadãos, nomeadamente de liberdade, justiça social e igualdade. É o Estado
que tem a responsabilidade de garantir estes valores (valores ético-políticos),
tratando todos os seres humanos como iguais, em relação aos direitos e deve-
res, assegurando, deste modo, a dignidade humana.
Assim, independentemente das diferenças existentes entre todos os cidadãos
(sexuais, etnia, competências, estatuto socioeconómico, etc.), pretende-se atu-
almente que o acesso às mesmas oportunidades seja garantido, através da pro-
moção de medidas que corrijam as desigualdades e promovam a equidade.
O conceito de dignidade humana não tem assim tanto tempo, embora a reflexão
sobre a condição humana seja transversal há própria existência do homem.
Vários documentos refletem essa preocupação, documentos esses que procu-
raram regular a vida humana. Alguns desses exemplos são o código de Hamu-
rábi (1700 a.c.) e os dez mandamentos (Lei definida por Deus - ver documento
8). Mas foi com a Revolução Francesa a 1789 que se consagraram os direitos

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humanos, numa primeira versão daquilo que é hoje a Declaração Universal dos
Direitos Humanos.
Assim, ao longo da história, as diferentes crises vividas como consequência dos
factos e acontecimentos sociais e económicos (revolução industrial, 1ª e 2ª
guerra Mundial, etc.), levam a uma sucessiva reivindicação de direitos e à pro-
funda reflexão sobre a condição humana.
Deste modo, e de forma a garantir que nenhum ser humano voltasse a ser sub-
metido a situações de sofrimento e indignidade profunda, como tinha acontecido
por exemplo durante o Holocausto, em 1948 a Organização das Nações Unidas
aprova a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Este não é um documento que representa obrigatoriedade legal, mas serve como
instrumento orientador para a elaboração de alguns documentos como as cons-
tituições e códigos deontológicos profissionais e como forma de sustentar os va-
lores de atuação das diferentes nações.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos apresenta-se como o ideal co-
mum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que
cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Decla-
ração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a
esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de carácter
nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observân-
cia universal e efetiva.
Este programa dos direitos humanos tem vindo também a acompanhar a evolu-
ção dos tempos, sendo que a nova geração de direitos diz respeito as outras
questões, tais como ambientais e culturais.
Inspirados ainda neste documento, foram criados outros, que especificam os di-
reitos de vários grupos, nomeadamente os direitos da criança, do idoso, etc.
A verdade é que atualmente ainda são violados muitos dos direitos definidos da
Declaração Universal (ver documento 11) e a intervenção a este nível nem sem-
pre é fácil e eficaz.
Enquanto futuro técnico de Apoio Psicossocial é fundamental que estejas bem
consciente do conceito de dignidade humana e justiça social, na medida em que
todo o teu trabalho terá como objetivo último, isso mesmo. Assim, a tua atitude
profissional deverá ir ao encontro destes princípios e direitos básicos, garantindo
o verdadeiro respeito pela pessoa humana.

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Atividades:
1. Faz uma análise exaustiva do documento da Declaração Universal dos direitos do Ho-
mem. Após essa análise procura identificar quais os principais direitos civis, políticos,
económicos, sociais e culturais nele presentes.
2. Consideras que este documento continua a estar atualizado? Acrescentarias mais al-
gumas orientações? Quais?
3. Analisa o documento 11 e procura identificar quais os direitos violados na situação
representada.

4. Não vivemos sós

O Homem é um ser social e cultural por excelência, sendo que a sua sobrevi-
vência depende da existência dos outros seres humanos. Assim, as respostas
dadas pelo homem são culturais, na medida em que são aprendidas através da
relação com os outros no seu processo de socialização (ver documento 1).
A verdade, é que este viver em sociedade pode provocar, por vezes, um conflito
de interesses, ou seja, podem existir incompatibilidades a nível das motivações,
intenções, vontades, crenças, ambições, etc. de cada um.
Por isso mesmo, já falamos das regras, leis, normas, valores, que regulam, con-
dicionam e influenciam as relações que se estabelecem entre os diferentes su-
jeitos, no campo das relações sociais.
É porque não vivemos sós, que precisamos de ter absoluta consciência das nos-
sas ações e das suas possíveis consequências. Só somos sujeitos ético-morais
se soubermos o que fazemos, conhecermos as causas da nossa ação e a es-
sência dos valores morais. E só assim somos livres, no sentido em que temos a
liberdade de decidir de que forma queremos agir e que caminho queremos se-
guir.
O homem estabelece diferentes tipos de relações, nos diferentes contextos em
que se move (contextos pessoais, profissionais, familiares), sendo que deve pro-
curar pautar o seu comportamento pelo conjunto de valores morais pessoais, na
sua articulação constante com as leis definidas e com os direitos que asseguram
a dignidade e o respeito por todos os seres humanos.

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A andorinha faz o seu ninho da mesma forma como há milhares de anos;(…) o leão caça da
mesma maneira desde que surgiu à face do mundo. Nunca quaisquer destes animais apren-
deram a fazer o seu ninho, (…) a caçar ou até mesmo o simples andar. Nascem “aprendi-
dos”, atuam e comportam-se por instinto. Não necessitam de viver em sociedade para proce-
derem como procedem. (…)
O Homem, pelo contrário, quando nasce, quase que se pode dizer que começa do nada.
Tem de aprender tudo e tem de ir, a pouco e pouco, integrando-se no que o rodeia. Assim,
aprende a andar, a falar, a ler, a escrever, a vestir-se, a comportar-se para o seu seme-
lhante, enfim, a sentir e a pensar, segundo os padrões do seu grupo. Vai fazendo uma
aprendizagem e participando do património coletivo, da herança social, de um cabedal de
elementos que constitui “um todo complexo que abraça conhecimentos, crenças, artes, mo-
ral, leis, costumes e outras capacidades, adquiridas pelo homem como parte integrante da
sociedade”.
A. Mesquitela, citado por Aleixo, F., Maia, M. (2003)

4.1. Relações interpessoais

De facto, não vivemos, nem poderíamos viver sós! Assim, a vida em sociedade
implica conviver e interagir com o nosso semelhante. Viver em sociedade gera
as chamadas relações interpessoais, estas emergentes da atracão/empatia,
positiva ou negativa, que um sujeito sente por outro e da capacidade de comu-
nicação que surge entre as pessoas.
Não há processos unilaterais na interacção humana: tudo que acontece no rela-
cionamento interpessoal decorre de duas fontes: o Eu e os Outros.
Cada um de nós assume diferentes tipos de relações, dependendo do contexto,
do grau de intimidade, do objetivo dessa relação, entre outros. Estabelecemos
relações interpessoais no contexto familiar, escolar, amoroso, profissional, etc.
As relações estabelecidas entre uns e outros podem adotar duas formas. Man-
terem-se harmoniosas, permitindo um trabalho de cooperação e de esforço para
o alcance de objetivos comuns, ou assumirem-se como conflituosas, havendo
uma tensão entre os diferentes interesses, conduzindo à desintegração e ao in-
sucesso da relação.
Não há dúvida que gerir estas relações de forma harmoniosa e produtiva, é um
desafio permanente, mas há regras que regulam o comportamento em socie-
dade, tal como já foi referido.
O técnico de Apoio Psicossocial poderá ter um importante papel a este nível,
podendo assumir-se como um mediador das relações que se apresentarem dis-
funcionais. A este propósito aprendes-te no módulo 3, algumas técnicas de rela-
cionamento interpessoal.

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Uma relação de trabalho, não é mais do que uma relação interpessoal, sendo
que é importante estar consciente de que, ora seja com os nossos colegas de
profissão, ora seja com os utentes/clientes, há sempre objetivos comuns, sendo
do interesse de todos o sucesso dessa relação!

4.2. Relações Laborais

Uma relação profissional é também uma relação interpessoal e implica sempre


a interacção entre duas entidades: os utentes/clientes e os técnicos/profissio-
nais, e os técnicos/profissionais com os seus colegas de trabalho.
É fundamental que esta relação se sustente pelos princípios de respeito, igual-
dade, tolerância, entre outros, que temos vindo a falar.
Um utente/cliente, ao usufruir de um serviço, possui um conjunto de direitos,
mas também de deveres, assim como o profissional, que deve reger a sua atu-
ação pelas orientações estipuladas no seu código deontológico.
Uma relação laboral/profissional deve então ter em conta os objetivos claros
dessa relação, que surge exclusivamente pela troca entre um serviço prestado
e uma determinada forma de retribuição. Mesmo quando o trabalho é feito vo-
luntariamente, esta ideia deve ser mantida, na medida em que o voluntário deve
assumir as suas funções com profissionalismo, rigor e correção.
Um trabalhador ou técnico de determinada área deve, ao longo da sua experiên-
cia profissional, refletir e tomar consciência do seu papel profissional, da relação
estabelecida com os clientes e da importância do seu papel e postura assumida
nessa mesma interacção.
Proposta de Trabalho
Faz uma entrevista a um profissional de uma área à tua escolha (preferencialmente uma
área que implique relação com clientes/utentes). Essa entrevista deverá ter como objetivo es-
sencial perceber a forma como o trabalhador perspetiva a sua relação com os utentes/clien-
tes.
Poderás estruturar o teu guião com base nas seguintes perguntas:
– O que mais gosta na sua profissão? – Considera-se um bom trabalhador? Porquê? – Gosta
da interacção que tem que estabelecer com as pessoas? Porquê? – Já teve algum tipo de
conflito ou problema com algum cliente/utente? – Se sim, pode explicar um pouco o sucedido
e de que forma lidou com a situação? – Quais os valores que considera fundamentais para o
exercício da sua profissão? – etc.

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5. Contributo para a Definição de um Código Deontológico do Téc-
nico de Apoio Psicossocial

Até ao momento foi feito um enquadramento de vários conceitos que se mostram


fundamentais para compreender efetivamente a relação de trabalho que o téc-
nico deverá assumir junto das populações com quem trabalha.
Estamos agora em condições para iniciar o nosso contributo para a definição de
um Código Deontológico específico do técnico de Apoio Psicossocial, já que este
ainda não existe.
Devido à semelhança de alguns âmbitos e formas de atuação, existem alguns
códigos deontológicos de outras profissões que têm servido de base e de modelo
para o técnico de Apoio Psicossocial, como é o caso do dos Educadores Sociais
(ver documento 2). De todo o modo, poderá reconhecer-se como importante a
existência de um código deontológico próprio para este técnico, e por isso
mesmo, ser-te-á lançado o desafio de poderes contribuir para a sua construção.
No entanto, antes de nos debruçarmos concretamente sobre o exercício profis-
sional do técnico de Apoio Psicossocial e quais os princípios orientadores desta
função, é importante perceber as diferentes formas de atuação que este pode
adquirir, bem como conhecer os direitos e deveres que estão “em jogo” na rela-
ção estabelecida entre o técnico e o utente.

Perfil e competências do Educador Social

O educador social e um agente de mudança social que utiliza estratégias de intervenção


educativa. Agem na inclusão social e nas inadaptações sociais e no favorecimento das auto-
nomias e do bem-estar social. Contribui para o desenvolvimento comunitário, para a cons-
trução de projetos de vida, envolve-se nas necessidades formativas da população em diver-
sos contextos e desenvolve a adaptação socio-laboral. Atende também a grupos sociais
com vivencias de risco.
Desempenha funções educativas, reeducativas, informativas, de orientação, de animação,
gestão, desenvolvimento local, desenho de projetos, intervenção, mediação, entre outras.

Atividade

1. Antes de iniciares a reflexão sobre o Código Deontológico do técnico de Apoio Psicosso-


cial, elabora uma lista dos princípios que te parecem fundamentais constar nesse docu-
mento.

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5.1Formas de Atuação do Técnico de Apoio Psicossocial – Estatuto

Um técnico de Apoio Psicossocial pode exercer a sua profissão de duas formas:


profissional ou voluntária.
Um técnico profissional é aquele que possui formação própria e desenvolve o
seu trabalho com base em métodos e estratégias adequadas, estudadas e pla-
nificadas de forma a dar resposta aos objetivos definidos. Estabelece uma rela-
ção estreita com a instituição e a população com quem trabalha, sendo que a
sua relação se centra nestas duas entidades. O seu trabalho deverá ser remu-
nerado com base no que está estipulado para o estatuto profissional que as-
sume.
No entanto, tendo em conta o carácter humano desta profissão, é comum assis-
tir-se a pessoas que voluntariamente se dedicam a desempenhar muitas das
funções assumidas pelo técnico de Apoio Psicossocial. Deste modo, podemos
falar na existência de técnicos de Apoio Psicossocial voluntários.
O técnico voluntário é alguém, que podendo não ter formação específica na área,
apresenta uma intencionalidade clara em relação ao grupo/pessoas com quem
vai trabalhar e dedica parte do seu tempo a desenvolver tarefas e projetos de
intervenção social. Este trabalho não é remunerado, sendo que a recompensa
do trabalho desenvolvido é o bem-estar consigo próprio devido à sua atitude al-
truísta e solidária.
O trabalho voluntário é extremamente válido e tem ganho especial relevância
atualmente, devido ao crescimento de alguns fenómenos sociais desfavoráveis,
nomeadamente a pobreza, desemprego, exclusão social.
No entanto, para uma intervenção eficaz, é necessário contrariar a intervenção
difusa, ou seja, a ideia de que o sucesso das intervenções só depende da boa
vontade, da disponibilidade e do idealismo do técnico.
Deste modo, voluntário ou profissional, cada técnico de Apoio Psicossocial, deve
estabelecer um equilíbrio entre as exigências da sua profissão (expectativas,
ética profissional, princípios, capacidades e competências), as exigências da ins-
tituição na qual atua (direitos e obrigações, política e cultura institucional, priori-
dades, recursos, etc.) e com a comunidade destinatária (interesses, necessida-
des, problemas, idiossincrasias, etc.).

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Proposta de trabalho

1. Convida um voluntário para ir à tua sala de aula falar um pouco sobre a sua experiência.
Elabora um conjunto de perguntas para lhe colocares, nomeadamente:
- qual a motivação e recompensa do seu trabalho enquanto voluntário?
- qual o sentido de responsabilidade que assume no trabalho que desenvolve;
- etc.

5.2 Direitos e Deveres

- Dos utentes/clientes
Qualquer serviço prestado implica a existência de uma carta de direitos e deve-
res dos utentes/clientes desse serviço, determinados por legislação específica.
Como utentes/clientes de qualquer serviço é importante que sejamos conhece-
dores desse documento, de forma a podermos defender os nossos interesses e
adequarmos a nossa postura e exigência ao serviço em questão.
No que diz respeito aos serviços de apoio social e de saúde, é possível encontrar
um conjunto de direitos e deveres que são comuns:
O utente/cliente deverá ter direito a:
- Privacidade e confidencialidade;
- Respeito e dignidade (independentemente da sua opção religiosa, política, so-
cial, sexual, do seu género ou etnia);
- Liberdade de escolha e de reclamação;
- Verdade e à informação.

O utente/cliente deverá ter o dever de:


- Estabelecer relações de respeito e dignidade com todos os técnicos e demais
utentes;
- Colaborar com o tratamento/serviço prestado;
- Efetuar o respetivo pagamento do serviço usufruído.

Como é possível verificares, estes direitos e deveres básicos vão ao encontro


daquilo que se define como essencial para o bem-estar humano e para o funci-
onamento harmonioso e respeitador das relações interpessoais.

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Direitos e Deveres do utente do serviço nacional de saúde
Direitos
1. O utente tem direito a ser tratado com cortesia e no respeito pela dignidade humana.
2. O utente tem direito a receber informações sobre a promoção da Saúde e cuidados preventi-
vos, curativos, de reabilitação e terminais, apropriados ao seu estado de Saúde.
3. O utente tem direito a não ser discriminado, nem na base do sexo, da raça ou etnia, da con-
dição socioeconómica, da religião, das suas opções políticas ou ideológicas, nem ainda da do-
ença de que padecem.
4. O utente tem direito à confidencialidade de toda a informação clínica e elementos identificati-
vos que lhe respeitam.
5. O utente tem direito à privacidade na prestação de todo e qualquer cato médico. (…)
10. O utente tem direito por si, ou por quem o represente, a apresentar sugestões e reclamações.
(…)

Deveres
2. O utente tem o dever de fornecer aos profissionais de saúde todas as informações necessá-
rias para obtenção de um correto diagnóstico e adequado tratamento.
3. O utente tem o dever de respeitar os direitos dos outros utentes. (...)
5. O utente tem o dever de respeitar as regras de funcionamento dos Serviços de Saúde.
6. O utente tem o dever de utilizar os serviços de saúde de forma apropriada e de colaborar
ativamente na redução de gastos desnecessários. (…)
8. O utente tem o dever de pagar taxas moderadoras dentro das suas possibilidades económi-
cas.

Ainda sobre as pessoas que usufruem e/ou necessitam de um determinado ser-


viço de saúde ou social, atualmente discute-se qual a nomenclatura mais apro-
priada para os designar. De facto, ao longo deste módulo, reparas-te que a pa-
lavra utente veio sempre acompanhada pela palavra cliente, por residir precisa-
mente aí a questão. Se por um lado o utente é quem usufrui de um determinado
serviço, por outro lado, ele também efetua um pagamento sobre esse serviço,
residindo aí a justificação de alguns para considerarem que a denominação cli-
ente é mais apropriada. Outros preocupam-se com o carácter apenas “adminis-
trativo “que encerra o conceito cliente, considerando que nos serviços sociais e
de saúde não se deve esquecer o lado humano da relação.
Independentemente das questões conceptuais, o importante é que qualquer ser-
viço seja prestado de forma ética, com base nos princípios orientadores funda-
mentais ao bem-estar de todos os envolvidos.

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(…)
Antes havia “utentes”, agora há “clientes”.
Nas instituições de solidariedade social, nos lares de idosos, nos centros para deficientes, os
utentes passam, muitos já passaram a “clientes”. Numa linguagem modernaça utilizada sem
consultar dicionários, que técnicos, ávidos de modernices, aceitam facilmente.
Por este andar, os alunos das escolas passam a “clientes” da escola. Os “utentes” dos cen-
tros de saúde passam a “clientes” dos serviços de saúde. Nos transportes da cidade, os
“utentes” passam a “clientes”. Tudo numa linguagem modernaça.
O dicionário diz que “cliente é pessoa que compra algo”, “cliente é a pessoa que adquire pro-
duto à venda”, que “paga o que recebe em troca”. Mas as instituições, as escolas, são pres-
tadoras de serviços. O Estado atribui recursos financeiros em função dos serviços prestados.
Não há negócio, nada se vende e nada se compra. E os serviços não andam ao sabor da
concorrência, não funcionam pelas leis do mercado.(…)
http://tiagotiagolas.blogspot.com, consultado a 30 de Maio de 2011

Atividade

1. Procura conhecer os teus direitos e deveres enquanto aluno (pode ajudar a consulta do
regulamento interno da tua escola).
2. Analisando os textos anteriores formula a tua própria opinião relativamente ao uso da ter-
minologia utente/cliente, no que diz respeito aos serviços sociais e de saúde.

- Do Técnico de Apoio Psicossocial

Não só os utentes/clientes têm direitos e deveres, como também o profissional


de determinada área deve reger o seu trabalho por um conjunto de princípios.
No que diz respeito ao técnico de Apoio Psicossocial, os seus direitos e deveres
podem ser definidos com base nos direitos e deveres gerais definidos para qual-
quer atividade profissional, sendo que se apresenta de seguida um resumo dos
mais relevantes:

Direitos do técnico de Apoio Psicossocial:


- Ser tratado com respeito, dignidade e justiça (no que diz respeito à remunera-
ção, horários de trabalho, condições de higiene e segurança, etc.);
- Igualdade de oportunidades;
- Liberdade de reivindicação e de reclamação;
- Ser informado de decisões e informações que lhe digam respeito.

Deveres do técnico de Apoio Psicossocial:


- Respeitar o empregador e os colegas de trabalho, bem como utentes/clientes;

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- Ser assíduo e pontual;
- Realizar o seu trabalho com zelo, lealdade e profissionalismo;
- Cumprir as regras e normas de segurança relativas à higiene e segurança no
trabalho.

Assim, o técnico de Apoio Psicossocial, de forma a orientar a sua ação enquanto


profissional, não deverá esquecer as competências pessoais e sociais funda-
mentais ao seu perfil (analisadas ao longo do módulo 2 no teu primeiro ano do
curso), relacionando-as com os seus direitos e deveres, bem como com os valo-
res transversais ao exercício da sua profissão.
Reconhece-se como importante a existência de um código deontológico que re-
gule a atuação do técnico de Apoio Psicossocial, e ser-te-á proposto, na ativi-
dade complementar deste módulo, que reflitas e contribuas para a sua definição.
No entanto, é importante não esquecer que o fundamental é, enquanto técnico
da área social e da saúde, não te desvies do quadro de valores base que deve
sustentar este trabalho, nomeadamente a solidariedade, o respeito, a igualdade,
a justiça, a liberdade, a humanidade e todos os valores que pressuponham a
dignidade do ser humano!
Sem dúvida que estes valores vão totalmente ao encontro do objetivo máximo
do trabalho do técnico de Apoio Psicossocial, que se prende com a promoção de
uma melhor qualidade de vida das pessoas e comunidades.
Em jeito de conclusão, a deontologia do técnico de Apoio Psicossocial deverá
ter em conta os valores e ideais do técnico, bem como os da população com que
está a trabalhar, conjugados com os princípios que regulam as relações huma-
nas, nomeadamente as leis, direitos e deveres, tudo isto articulado numa pers-
petiva do saber viver!

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Bibliografia / Outros Recursos

Cunha, P.(1996). Ética e Educação. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa.


Drucker, P. (1993). Sociedade Pós-capitalista. Lisboa: Difusão Cultural.
Erasmo, D. (1978). A Civilidade Pueril. Lisboa: Editorial Estampa.
Comissão Europeia (1995). Livro Branco sobre a Educação e a Formação, En-
sinar e Aprender, rumo à
sociedade cognitiva. Luxemburgo: Comissão Europeia.
Magalhães, J. (2001). A “Carta sobre a Tolerância” no seu contexto Filosófico.
Lisboa: Contraponto
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2001). Relató-
rio do Desenvolvimento
Humano para 2001. Lisboa: Trinova Editora.
Savater, F. (2000). Ética para um Jovem. Lisboa: Editorial Presença.

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