Anne Kelly de Souza Machado Borges - TCC Eng. Civil CTRN 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE TECNOLOGIA E RECURSOS NATURAIS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS DE FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X


E ANÁLISE TERMODIFERENCIAL E TERMOGRAVIMÉTRICA
PARA CARACTERIZAÇÃO DE CIMENTOS PORTLAND

ANNE KELLY DE SOUZA MACHADO BORGES

Orientadora: PhD. Ana Maria Gonçalves Duarte Mendonça.

Campina Grande-PB, 30/Julho/2018.


UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS DE FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X E ANÁLISE
TERMODIFERENCIAL E TERMOGRAVIMÉTRICA PARA CARACTERIZAÇÃO DE
CIMENTOS PORTLAND

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Campina Grande-PB, 30/07/2018


UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE TECNOLOGIA E RECURSOS NATURAIS
UNIDADE ACADÊMICA DE ENGENHARIA CIVIL

ANNE KELLY DE SOUZA MACHADO BORGES

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade Federal de
Campina Grande como requisito para
obtenção do grau de bacharel em
Engenharia Civil.
Área de habilitação: Materiais de
Construção.

Orientador: PhD. Ana Maria Gonçalves Duarte Mendonça

CAMPINA GRANDE – PB

Julho/2018
AGRADECIMENTOS

Primeiramente eu preciso agradecer à Deus, por sempre pôr em


meu caminho as pessoas certas para todas as situações, e que todas elas me
guiaram pelo caminho do bem. Agradeço aos meus pais, Gilvânia Moreira de
Souza e Marcos Antônio Machado Borges, pelas lutas diárias na tentativa de
mudar os rumos da nossa história e por depositarem essa confiança em mim.
Especialmente, agradeço ao meu padrinho Felismar Nunes Reis, por ter me
proporciona essa conquista, pois sem sua generosidade, nada disso teria sido
possível. A todos os meus amigos que durante essa jornada, contribuíram de
alguma forma, mas principalmente agradeço à Adriana Albuquerque Ferreiro e
Mila Thaís Rezende e Silva, pois foram as que sempre estiveram comigo em
todas as situações, me dando força, principalmente nos momentos mais difíceis.
Não poderia deixar de agradecer à professora Ana Maria Gonçalves Duarte
Mendonça, que com toda a sua dedicação e sensibilidade me deu todo suporte
à realização desse trabalho.
DEDICATÓRIA

Dedico aos meus pais e ao meu


padrinho que, diante de todas as
dificuldades, tornaram esse sonho
possível. Dedico também à minha
professora orientadora Ana Maria
Gonçalves Duarte Mendonça, por
sua disponibilidade e sua atenção
durante a realização desse trabalho.
Epígrafe

"O mundo da habilidade e o mundo


da ciência são mundos diferentes,
cuja fronteira não é suficientemente
definida"

Lichtenstein, Norberto B.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Cristais de silicato de cálcio hidratado (C-S-H). ................................ 22


Figura 2: Placas hexagonais de hidróxido de cálcio......................................... 22
Figura 3: Placas hexagonais de hidróxido de cálcio. ........................................ 23
Figura 4: Silos verticais. ................................................................................... 26
Figura 5: Moinhos de cru verticais. .................................................................. 26
Figura 6: Definição de nomenclatura. ............................................................... 27
Figura 7: Fluxograma das etapas da pesquisa................................................. 31
Figura 8: Equipamento utilizado para realização do ensaio de DTA e TG ....... 32
Figura 9: Equipamento utilizado para realização dos ensaios de fluorescência
de raios-X ......................................................................................................... 33
Figura 10: Curvas de análise térmica do Cimento CPV - ARI .......................... 34
Figura 11: Curvas de análise térmica do Cimento CPIV – RS ......................... 35
Figura 12: Curvas de análise térmica do Cimento CPII-E ................................ 35
Figura 13: Curvas de análise térmica do Cimento CPIII ................................... 36
LISTA DE TABELA

Tabela 1: Principais compostos do cimento e evolução da resistência. ........... 21


Tabela 2: Fluorescência de raios-x dos cimentos Portland em estudo ............ 37
LISTA DE SIMBOLOS E ABREVIATURAS

CP Cimento Portland

ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

CSH Silicato de cálcio hidratado

Ca(OH)2 Hidróxido de cálcio

DTA Análise termodiferencial.

TG Termogravimétrica.

C3A Tri-cálcio Aluminato

C3S Silicato tricálcico

C2S Silicato dicálcico

Mpa Megapascal

J Joule

J/g Joule por grama

CaO Óxido de Cálcio

NBR Norma Brasileira


RESUMO

Cimento Portland é a denominação utilizada mundialmente para o insumo


empregado na construção civil, tendo suas propriedades de início e fim de pega,
finura, resistência, durabilidade, etc, definidas por sua composição química,
atribuindo a este, alguns usos específicos. A caracterização química de um
material é importante devido a necessidade de seleção adequada baseada no
desempenho do sistema em estudo, podendo descrever aspectos de
composição, estrutura, visando principalmente estimar o desempenho no
período de vida útil do material, minimizando a possibilidade de degradação e
falhas indesejáveis durante a utilização do produto. Neste estudo foram
coletados quatro tipos de cimentos Portland, beneficiados em peneira ABNT 200
(abertura de 0,074mm) e submetidos aos ensaios através de análise
termodiferencial e termogravimétrica e fluorescência de raios-x, identificando o
comportamento térmico dos cimentos Portland frente a elevação da temperatura
e foi determinada que composição química majoritária de todas as amostras é o
Óxido de Cálcio(CaO), assim como os demais constituintes. Observou-se que os
resultados obtidos corroboram com as normas técnicas e estudos existentes,
indicando que as perdas de massa ocorrem em faixas de temperatura fixas e
que é muito importante a caracterização minuciosa do cimento, por permitir
reconhecer o comportamento de elementos e componentes produzidos com
esse material.
Palavras-chave: aglomerante, caracterização, propriedades.
ABSTRACT

Portland cement is the name used worldwide for the input used in construction,
having its properties of start and endding of casting, fineness, strength, durability,
etc., defined by its chemical composition, attributing to it some specific uses. The
chemical characterization of a material is important due to the need of adequate
selection based on the performance of the studied system, being able to describe
aspects of composition, structure, aiming mainly to estimate the performance
during the useful life of the material, minimizing the possibility of degradation and
undesirable faults during the use of the product. In this study four types of
Portland cements were collected in the ABNT 200 sieve (0.074 mm aperture) and
submitted to the tests through thermody- gravimetric and thermogravimetric
analysis and x-ray fluorescence, identifying the behavior of Portland cements
against temperature rise and it was determined that the major chemical
composition of all samples is Calcium Oxide (CaO), as well as the other
constituents. It was observed that the results obtained corroborate with the
technical norms and existing studies, indicating indicating that mass losses occur
in fixed temperature ranges and that it is very important the detailed
characterization of the cement, since it allows to recognize the behavior of
elements and components produced with this material.

Keywords: binder; characterization; properties


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 14

1.1. JUSTIFICATIVA .................................................................................. 15

1.2. HIPÓTESE DA PESQUISA ................................................................. 16

1.3. OBJETIVOS ........................................................................................ 16

1.3.1. Objetivo Geral ............................................................................... 16

1.3.2. Objetivos Específicos ................................................................... 16

1.4. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC


16

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................ 18

2.1. PRODUÇÃO DO CIMENTO (CLÍNQUER) .......................................... 18

2.2. MECANISMOS DE REAÇÃO E PRODUTOS DE HIDRATAÇÃO ....... 20

2.3. PROPRIEDADES DOS CIMENTOS ................................................... 23

2.3.1. Densidade .................................................................................... 23

2.3.2. Finura ........................................................................................... 24

2.3.3. Tempo de pega............................................................................. 24

2.3.4. Resistência ................................................................................... 24

2.4.1. Extração da matéria prima ............................................................ 25

2.4.2. Britagem ....................................................................................... 25

2.4.3. Moedura e mistura ........................................................................ 25

2.4.4. Queima, moagem e expedição ..................................................... 27

2.5. CLASSIFICAÇÃO DO CIMENTO PORTLAND ................................... 27

2.5.1. CPII-Z – Cimento Portland composto com pozolana .................... 28

2.5.2. CP II E – Cimento Portland composto com escória ...................... 28

2.5.3. CP II F – Cimento Portland composto com Fíler........................... 28

2.5.4. CP III – Cimento Portland de Alto Forno ....................................... 28

2.5.5. CP IV – Cimento Portland pozolânico ........................................... 29


2.5.6. CP V-ARI – Cimento Portland de alta resistência inicial ............... 29

2.5.7. CP- RS – Cimento Portland resistente a sulfatos ......................... 29

2.5.8. CP-BC – Cimento Portland de baixo calor de hidratação ............. 30

2.5.9. CPB - Cimento Portland Branco ................................................... 30

3. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 31

3.1. MATERIAIS ......................................................................................... 31

3.2. METODOLOGIA ................................................................................. 31

3.2.1 Coleta e seleção dos Cimentos Portland ...................................... 32

3.2.3 Caracterização química dos cimentos Portland utilizados neste


estudo 32

3.2.3.1 Analise Térmica Diferencial (DTA) e Termogravimétrica (TG) ....... 32

3.2.3.2 Fluorescência de raios-x ............................................................... 33

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................. 34

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA PESQUISAS


FUTURAS ........................................................................................................ 39

5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 39

5.2 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ................................... 39

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 40
14

1. INTRODUÇÃO

É crescente o interesse pela área de análise e caracterização de


materiais devido à necessidade de seleção adequada do material baseado no
desempenho do sistema em estudo. Dependendo das solicitações a que o
material ou sistema será submetido, a caracterização poderá abranger a
avaliação de propriedades mecânicas, elétricas, bioatividade, imunogenicidade,
eletrônicas, magnéticas, ópticas, químicas, térmicas e até mesmos a
combinação de duas ou mais destas propriedades (OREFICE et al., 2006).

O cimento Portland é um produto que se obtém pela pulverização do


clínquer, constituído essencialmente por silicatos de cálcio hidráulicos, a que não
se fizeram adições subsequentes, exceto a de água e/ou a de sulfato de cálcio
bruto, além de outros materiais, que podem ser intercominuídos com o clínquer,
em teor que não exceda a 1,0 %.

Segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, no Brasil, o


cimento começou a ser produzido em escala industrial a partir de 1926. Na
década de 70, a produção cresceu intensamente, com uma elevação do patamar
de 9,8 milhões de toneladas por ano para 27,2 milhões de toneladas no início
dos anos 80, período em que a recessão da economia nacional provocou queda
no consumo.

Atualmente, o cimento é o material de construção mais utilizado no


mundo, sendo componente básico de concretos e argamassas. E, o
conhecimento de sua composição química e mineralógica, permite obter
propriedades físicas e mecânicas específicas.

A caracterização de um material descreve os aspectos de composição e


estrutura (incluindo defeitos), dentro de um contexto de relevância para um
processo, produto ou propriedade em "particular” e visa principalmente estimar
o desempenho no período de “vida útil” do material, minimizando a possibilidade
de degradação e falhas indesejáveis durante a utilização do produto.

O desenvolvimento sistemático de novos materiais depende fortemente


de sua caracterização em diversos níveis de resolução (VAN VLACK, 1997).
Estrutura, microestrutura e geometria de defeitos, assim como composição
15

química e distribuição espacial são parâmetros importantes para se determinar


o comportamento de materiais em aplicações específicas (AMELINCKX et al.,
2007).

Caracterizar um material, consiste em analisar o seu comportamento no


tocante as suas partículas sub-atômicas, aos seus átomos, aos seus arranjos
atômicos e, finalmente, ao nível macroscópico, apresentando assim, dados
sobre suas características básicas e também sobre o processamento até o
momento de ser empregado (SCHACKELFORD,1995).

1.1. JUSTIFICATIVA

Os materiais estão intimamente ligados à existência e a evolução da


espécie humana e desde o início da civilização são usados com o objetivo de
melhorar a qualidade de vida do ser humano. Para que estes sejam utilizados na
construção civil, devem atender as exigências físicas e mecânicas de acordo
com a normalização, como resistência, durabilidade, trabalhabilidade, dentre
outras, visto que, o setor da construção civil necessita oferecer para o mercado,
materiais que tenham boa qualidade e vida útil.

Neste sentido, como o Cimento Portland é o elemento mais utilizado na


construção civil, o conhecimento de suas propriedades químicas e
microestruturais são necessárias para compreender o comportamento e as
propriedades de produtos que o tenham em sua composição, deste modo, a
realização deste estudo é de fundamental importância para justificar o
comportamento físico e mecânico dos elementos e artefatos da construção civil
que tem como componente o cimento Portland.

Desse modo, para atender às exigências, uma caracterização


microestrutural desejável envolve a determinação da estrutura cristalina,
composição química, quantidade, tamanho, forma e distribuição das fases. A
determinação da natureza, densidade e distribuição dos defeitos cristalinos
também é em muitos casos necessária. Além disso, a orientação preferencial
das fases (textura e microtextura) e suas diferenças de orientação também têm
estreita relação com o comportamento mecânico dos materiais e os constituintes
16

presentes na sua microestrutura apresentam estruturas diferenciadas e exigem


um número diversificado de técnicas para a sua análise e compreensão.

1.2. HIPÓTESE DA PESQUISA

Considera-se a seguinte afirmativa: “O cimento Portland possui


características químicas e térmicas muito distintas e significativas de
fundamental importância para as propriedades de concretos e argamassas”.
Partindo-se dessa afirmação, faz-se necessário o desenvolvimento de pesquisas
que possibilitam a caracterização de cada tipo de cimento, possibilitando uma
melhor compreensão das propriedades físicas e mecânicas de concretos,
argamassa e outros produtos que fazem uso de cimento em sua composição.

1.3. OBJETIVOS

1.3.1. Objetivo Geral

Realizar a caracterização química de cimentos Portland, CPII-E, CPIII,


CPIV, CPV.

1.3.2. Objetivos Específicos

 Determinar a composição química dos cimentos Portland através do


ensaio de Fluorescência de Raio – X.

 Investigar o comportamento térmico dos cimentos Portland através das


curvas termogravimétricas e termodiferenciais frente à elevação da
temperatura.

1.4. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC

O texto deste Trabalho de Conclusão de Curso encontra-se em um


volume único distribuído da seguinte forma:
17

Introdução – Introdução, Justificativa, Hipótese da pesquisa, Objetivos da


Pesquisa e Organização do Projeto.

Fundamentação Teórica – São abordados assuntos relacionados aos tipos de


cimentos que fazem parte desse estudo. O conteúdo é referente à composição,
os mecanismos de reações, propriedades, metodologia de produção,
classificação e aplicação prática de cada tipo de cimento.

Materiais e Métodos – São apresentados os materiais utilizados na pesquisa e


relatados aspectos considerados importantes sobre os procedimentos da etapa
experimental.

Resultados e Discussões – São apresentados os resultados obtidos para a


caracterização dos cimentos em estudo.

Considerações Finais e sugestões para pesquisas futuras – São apresentadas


as considerações sobre o estudo, bem como sugere-se estudos
complementares para maior aprofundamento

Por fim, estão as Referências, onde serão listadas as pesquisas citadas


neste estudo.
18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O cimento Portland é um produto de uso consagrado na indústria da


construção civil. Segundo a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP
2002) é o material de construção de mais extenso uso no mundo.

Por definição, o cimento é um “aglomerante hidráulico resultante da


mistura homogênea, clínquer Portland, gesso e adições normatizadas finamente
moídas” (MARTINS et al., 2008).

Segundo Bauer (2005) o cimento Portland é obtido pela pulverização de


clinker constituído essencialmente de silicatos hidratados de cálcio, com uma
certa proporção de sulfato de cálcio natural, contendo, eventualmente, adições
de certas substancias que modificam suas propriedades ou facilitam seu
emprego.

De acordo a ABCP, uma das melhores maneiras de conhecer as


características e propriedades dos diversos tipos de Cimento Portland é estudar
sua composição.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) reconhece 11 tipos


de cimento e embora todos sejam indicados para uso geral na construção civil,
há diferenças entre eles. Estas diferenças se dão de acordo com a proporção de
clínquer e sulfatos de cálcio, material carbonático e de adições presentes em sua
composição e podem diferir também em função de propriedades intrínsecas a
cada tipo de cimento.

2.1. PRODUÇÃO DO CIMENTO (CLÍNQUER)


É o resultado da calcinação da mistura de calcário e argila e outros
componentes químicos como silício, alumínio e ferro. Ele é matéria prima básica
comum a todos os tipos de cimento.

Este material em pó tem a peculiaridade de desenvolver uma reação


química em presença de água, na qual ele, primeiramente, torna-se pastoso e,
em seguida, endurece, adquirindo elevada resistência a durabilidade. Essa
característica adquirida é que faz dele um ligante hidráulico muito resistente
(MODRO, 2008).
19

Para que o cimento apresente as propriedades desejáveis para uso em


concreto, argamassa, faz-se necessário o uso de componentes, como:

 Gesso: É uma família de aglomerantes simples constituídos de sulfatos


mais ou menos hidratados e anidros de cálcio, obtido a partir do
aquecimento da gipsita. Este tem como função básica controlar o tempo
de pega, isto é, o início do endurecimento do clínquer moído quando
misturado com água. Caso não se adicionasse o gesso à moagem do
clínquer, o cimento, quando entrasse em contato com a água, endureceria
quase que instantaneamente, o que inviabilizaria seu uso nas obras e por
isso é uma adição presente em todos os tipos de cimento Portland (ABCP,
2002).

 Escória de alto forno: São obtidas nas indústrias siderúrgicas durante a


produção de ferro. Quando resfriada lentamente, a escória se cristaliza,
tomando uma forma mineralógica e química estável, sem atividade
aglomerante (JOHN, 1995). Entretanto, se a temperatura for reduzida
bruscamente, não há tempo para formação de cristais, transformando-se
em estrutura vítrea, com poder aglomerante. Antigamente, as escórias de
alto-forno eram consideradas como um material sem maior utilidade, até
ser descoberto que elas, quando na presença de água, reagem e
desenvolvem características aglomerantes de forma muito semelhante à
do clínquer. A escória, por ter baixo calor de hidratação, faz com que as
reações liberem menos calor, fazendo dela um aglomerante ideal para
evitar problemas de durabilidade de concretos. Essa descoberta tornou
possível adicionar a escória de alto-forno à moagem do clínquer com
gesso, e obter como resultados, melhoria de algumas propriedades, como
maior durabilidade e maior resistência final.

 Material Pozolânico: Os materiais pozolânicos são rochas vulcânicas ou


matérias orgânicas fossilizadas encontradas na natureza, certos tipos de
argilas queimadas em elevadas temperaturas (550ºC a 900ºC) e
derivados da queima de carvão mineral nas usinas termelétricas, entre
outros (ABCP, 2002). São materiais silicosos ou sílico-aluminosos que,
por si sós, possuem pouca ou nenhuma atividade aglomerante, mas que,
20

quando finamente divididos e na presença da água, reagem com o


hidróxido de cálcio à temperatura ambiente para formar compostos com
propriedades aglomerantes.

 Materiais carbonáticos: Os materiais carbonáticos são moídos e


calcinados para formar o material fíller que possui uma granulometria
muito fina. Esse material serve para ocupar os espaços vazios entre as
demais partículas do cimento, servindo como um lubrificante entre as
partículas do cimento. A adição desse componente proporciona uma
melhor trabalhabilidade assim com diminui a permeabilidade das
argamassas.

2.2. MECANISMOS DE REAÇÃO E PRODUTOS DE HIDRATAÇÃO

Os compostos anidros do cimento Portland reagem com a água, num


processo conhecido por hidrólise, dando origem a compostos hidratados de duas
categorias: compostos cristalinos e o gel.

Segundo Varela (2008), resumidamente, o que ocorre é que um grão de


cimento que tenha cerca de 50 µ de diâmetro médio, entrando em contato com
a água, começa, no fim de algum tempo, a apresentar, em sua superfície, sinais
de atividade química, pelo aparecimento de cristais que vão crescendo
lentamente e pela formação de uma substancia gelatinosa que o envolve. O
componente que se forma inicialmente possui uma porcentagem muito elevada
de água e é designada por gel.

Os compostos cristalinos, para desenvolverem-se, necessitam da


presença de água, que em tempo exíguo é inteiramente transformada em gel. O
processo de desenvolvimento dos cristais se faz retirando a água do gel instável,
que à medida que vai perdendo água, transforma-se em gel estável e torna-se
responsável, em grande parte, pelas propriedades mecânicas de resistência das
pastas hidratadas – endurecidas.

Em uma análise mais detalhada, detecta-se que os principais


compostos, silicatos tricálcicos e dicálcicos, durante a reação com água, liberam
hidróxido de cálcio (CaOH2).
21

Os cristais que se formam apresentam-se com formas alongadas,


prismáticas, ou em agulhas de monossilicatos de cálcio hidratados e de
aluminatos hidratados.

Esses cristais aciculares acabam se entrelaçando à medida que avança


o processo de hidratação, criando a estrutura que vai assegurar a resistência
típica das pastas, argamassas e concretos. Os espaços vazios são preenchidos
principalmente pelo gel, hidróxido de cálcio e água.

Inicialmente o aluminato entra em atividade e, logo a seguir, o C 3S;


esses dois elementos, para se hidratarem, retiram a água que necessitam do gel
instável e a formação de cristais hidratados se inicia.

À medida que o tempo passa, o gel vai cedendo cada vez mais água até
transformar-se, como já foi dito, em gel estável, como uma estrutura sub-
cristalina que impede a saída de novas quantidades de água (VARELA, 2008).
A Tabela 2 apresenta os principais compostos do cimento, bem como a atuação
destes na evolução da resistência de concretos e argamassas.

Tabela 1: Principais compostos do cimento e evolução da resistência.

Tempo C3A C3S C2S


3 horas 4,35 1,68 -
1 dia - 2,25 0,28
3 dias 5,68 - -
7 dias - 4,32 0,62
28 dias 5,68 4,44 0,83
5 meses - - 3,5
FONTE: Varela (2008).

Desta forma, conforme apresentado na Tabela 1, evidencia que a


resistência do cimento Portland:

a) Até os 3 dias: é assegurada pela hidratação dos aluminatos e silicatos


tricálcicos;
b) Até os 7 dias: praticamente pelo aumento da hidratação de C3S;
c) Até os 28 dias: continua a hidratação do C3S responsável pelo
aumento de resistência, com pequena contribuição; e,
d) Acima de 28 dias: o aumento de resistência passa a ser devido à
hidratação de C2S.
22

Mehta e Monteiro (2008) citam os principais produtos das reações de


hidratação do cimento (sólidos da pasta):

 Silicato de cálcio hidratado (C-S-H): estruturas pequenas e


fibrilares que constituem de 50 a 60% do volume dos sólidos da pasta, com
morfologia variando de fibras pouco cristalinas até redes reticulares. A excelente
resistência mecânica e química do material é atribuída principalmente às forças
de Van der Waals. A Figura 1 ilustra uma micrografia do cimento apresentando
cristais de silicato de cálcio hidratado.

Figura 1: Cristais de silicato de cálcio hidratado (C-S-H).

FONTE: Alizadeh (2011).

 Hidróxido de cálcio [Ca(OH)2]: os grandes cristais de hidróxido


de cálcio (portlandita) constituem de 20 a 25% do volume de sólidos da pasta,
tendendo a formar cristais grandes sob forma de prismas hexagonais, cuja
morfologia depende da disponibilidade de espaço, temperatura de hidratação e
impurezas do sistema. A Figura 2 ilustra as placas hexagonais de hidróxido de
cálcio.

Figura 2: Placas hexagonais de hidróxido de cálcio.

FONTE: Alizadeh (2011).


23

 Sulfoaluminato de cálcio: ocupa de 15 a 20% do volume de sólidos na


pasta. Durantes os primeiros estágios da hidratação, a relação iônica
sulfato/alumina favorece a formação de trissulfoaluminato de cálcio hidratado
(etringita), na forma de cristais prismáticos aciculares (formato de agulha).
 A etringita se transforma eventualmente em monossulfoaluminato de
cálcio hidratado que cristaliza em placas hexagonais. A Figura 3 ilustra a etringita
em formato de agulhas.

Figura 3: Placas hexagonais de hidróxido de cálcio.

FONTE: Alizadeh (2011).

 Grãos de clinquer não hidratado: em idades avançadas, devido à falta


de espaço disponível, a hidratação in loco de partículas do clinquer resulta na
formação de um produto de hidratação muito denso, de morfologia parecida com
a partícula do clinquer original.

2.3. PROPRIEDADES DOS CIMENTOS

2.3.1. Densidade

A densidade absoluta do cimento Portland é usualmente considerada


3,15, embora, na verdade possa variar para valores ligeiramente inferiores. Nas
compactações usuais de armazenamento e manuseio do produto, a densidade
aparente do mesmo é da ordem de 1,5. Na pasta do cimento, a densidade é um
valor variável com o tempo, aumentando à medida que progride o processo de
24

hidratação. Tal fenômeno é conhecido como retração, esta ocorre nas pastas,
argamassas e concretos (BAUER, 2012).

2.3.2. Finura

O índice de finura é a propriedade relacionada à dimensão dos grãos do


produto e está diretamente ligada ao seu desempenho, isto é, quanto maior for
a finura, menor será sua exsudação e os tipos de segregação que ocorrem com
o mesmo, melhorando a sua resistência e elevando sua trabalhabilidade,
impermeabilidade e coesão dos concretos feitos a partir dele.

Exsudação é o fenômeno migratório da água existente na composição


para a superfície deste material, pelo efeito conjunto da diferença de densidades
entre o cimento e a água e o grau de permeabilidade que prevalece na pasta,
levando consigo uma nata de cimento. Isto provoca no concreto uma fraca
ligação entre seus materiais, deixando-o suscetível a uma segregação.

2.3.3. Tempo de pega

A Norma Brasileira NBR NM 65:2003 – Cimento Portland –


Determinação do tempo de pega, utiliza a pasta de consistência normal (NM
43:2002) e o aparelho de Vicat para determinar o conceito de tempo de início e
fim de pega. Início de pega é, em condições de ensaio normalizadas, o intervalo
de tempo transcorrido desde a adição de água ao cimento até o momento em
que a agulha de Vicat correspondente penetra na pasta até uma distância de (4
± 1) mm da placa base. Já o fim de pega, este tempo ocorre quando a agulha
estabiliza a 0,5 mm na pasta.

Na prática, os tempos de pega referem-se às etapas do processo de


endurecimento, solidificação ou enrijecimento do cimento e, em consequência,
do concreto.

2.3.4. Resistência

Essa propriedade é determinada sob o aspecto de argamassa e está


mais relacionada com o comportamento do cimento quando utilizado na prática.

A resistência mecânica dos cimentos é determinada pela ruptura à


compressão de corpos de prova realizados com argamassas. Para o Brasil, a
25

norma utilizada para esse ensaio é a NBR 7215 – Cimento Portland –


Determinação da resistência à compressão.

2.4. PROCESSO DE PRODUÇÃO DO CIMENTO

O processo de fabricação de cimento é feito basicamente através das


seguintes etapas: extração, britagem, armazenamento, dosagem, moinho de
cru, silos de homogeneização, cozedura, resfriador e embalagem.

2.4.1. Extração da matéria prima

O calcário é a principal matéria prima para a fabricação do cimento e


pode ser encontrado em jazidas subterrâneas ou a céu aberto, situação mais
comum no Brasil. A extração da matéria-prima se faz pela técnica usual de
exploração de pedreiras com uso de explosivos, quando se trata de rochas, por
escavação, segundo a técnica usual de movimentação de terras, quando se trata
de argila, e por dragagens, quando é o caso.

2.4.2. Britagem

O processo de britagem tem como propósito, reduzir a granulometria da


rocha até tamanhos convenientes para o processamento industrial. Os materiais
britados são encaminhados a depósitos, onde são processados segundo duas
linhas principais de operação: via seca e via úmida.

2.4.3. Moedura e mistura

No processamento por via seca, a matéria-prima é inicialmente


conduzida a uma estufa, onde é convenientemente secada. Depois os materiais
são proporcionados e conduzidos aos moinhos e silos (Figura 4), onde se
reduzem a grãos de pequeno tamanho em mistura homogênea e são feitas as
eventuais correções e aguardam o momento de ser conduzida ao forno para a
queima.
26

Figura 4: Silos verticais.

FONTE: http://static.paraiba.pb.gov.br/2014/02/fabrica-de-cimento-elizabath-em-alhandra-foto-
antonio-david-19.jpg

No processo por via úmida, a argila natural é matéria-prima e é


inicialmente misturada com água, formando uma lama. O calcário britado
proveniente dos silos é proporcionado e misturado com essa lama e conduzido
para os moinhos (Figura 5) e reduzido a grãos de tamanho muito pequeno. A
mistura, devidamente controlada e homogeneizada, é conduzida para os silos
de armazenamento do cru.

Figura 5: Moinhos de cru verticais.

FONTE: http://www.gebr-pfeiffer.com/en/products/mvr-vertical-roller-mill-multidrive/
27

2.4.4. Queima, moagem e expedição

A operação de queima da mistura crua é controlada por combustão a


níveis de temperaturas elevados o suficiente para a transformação química que
conduz a produção do clinquer, subsequentemente resfriado. O resfriamento é,
talvez, a mais importante fase na fabricação do cimento. O clinquer resfriado é
conduzido a depósitos apropriados de onde partirá para a moagem. Após a
moagem, o material pulverizado é conduzido para separadores de ar onde serão
retirados os grãos de maiores dimensões e posteriormente ensacados e
transportados.

2.5. CLASSIFICAÇÃO DO CIMENTO PORTLAND

Os cimentos Portland normalizados são designados pela sigla e pela


classe de resistência. A sigla corresponde ao prefixo CP acrescido do algarismo
romano I ou II, sendo as classes de resistência indicadas pelos números 25, 32
e 40, como mostra a Figura 6. As classes de resistência apontam os valores
mínimos de resistência à compressão (expressos em megapascal – MPa),
garantidos pelos fabricantes, após 28 dias de cura (ABCP, 2002).

Figura 6: Definição de nomenclatura.

FONTE: Martins et al. (2008).

Atualmente, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)


reconhece 11 tipos de cimento onde cada um apresenta composições diferentes
de forma a fornecer aos concreto e argamassas características distintas, como
28

maior trabalhabilidade, durabilidade, resistência, etc. Neste projeto, serão


estudados os seguintes tipos: CPII-Z, CPII-E, CPII-F, CPIII, CPIV, CPV, CP-RS,
CPBC, CPB.

2.5.1. CPII-Z – Cimento Portland composto com pozolana

O CPII-Z-32, é um tipo de cimento composto com adição de material


pozolânico variando de 6% a 14% em massa, o que confere ao cimento menor
permeabilidade, sendo ideal para diversas possibilidades de aplicação, como por
exemplo, obras subterrâneas. Suas propriedades atendem desde estruturas em
concreto armado até argamassas de assentamento e revestimento, concreto
massa e concreto para pavimento, sendo um dos cimentos mais utilizados no
Brasil.

2.5.2. CP II E – Cimento Portland composto com escória

A adição de escória granulada de alto-forno lhe confere a propriedade


de baixo calor de hidratação. O CP II-E é composto de 94% à 56% de
clínquer+gesso e 6% à 34% de escória. Ele é recomendado para estruturas que
exijam um desprendimento de calor moderadamente lento. Seu uso, portanto, é
mais indicado em lançamentos maciços de concreto, onde o grande volume da
concretagem e a superfície relativamente pequena reduzem a capacidade de
resfriamento da massa. Este cimento também apresenta melhor resistência ao
ataque dos sulfatos contidos no solo.

2.5.3. CP II F – Cimento Portland composto com Fíler

Assim como os demais cimentos Portland compostos, o CP-II-F-32 é um


tipo de cimento para uso e aplicação em geral. Suas propriedades atendem
desde estruturas em concreto armado até argamassas de assentamento e
revestimento, concreto massa e concreto para pavimento, porém não é o mais
indicado para aplicação em meios muito agressivos.

2.5.4. CP III – Cimento Portland de Alto Forno

Apresenta maior impermeabilidade e durabilidade, além de baixo calor


de hidratação, assim como alta resistência à expansão devido à reação álcali-
agregado, além de ser resistente a sulfatos. É um cimento que pode ter aplicação
geral, mas é particularmente vantajoso em obras de concreto-massa, tais como
29

barragens, obras em ambientes agressivos como tubos e canaletas para


condução de esgotos e efluentes industriais.

O CPIII é o cimento mais ecológico de todos os produzidos no Brasil,


pois além da preservação das jazidas naturais de calcário e menor lançamento
de CO2 na atmosfera, aproveita o rejeito das siderúrgicas, a escória.

2.5.5. CP IV – Cimento Portland pozolânico

O cimento Portland Pozolânico tem baixo calor de hidratação, o que o


torna bastante recomendável na concretagem de grandes volumes e sob
temperaturas elevadas. Além disso, o alto teor de pozolana, entre 15 e 50%,
proporciona estabilidade no uso com agregados reativos e em ambientes de
ataque ácido, em especial de ataque por sulfatos. É altamente eficiente em
argamassas de assentamento e revestimento, em concreto magro, concreto
armado, concreto para pavimentos e solo-cimento.

2.5.6. CP V-ARI – Cimento Portland de alta resistência inicial

O cimento Portland de alta resistência inicial (CP V – ARI) tem a


peculiaridade de atingir altas resistências já nos primeiros dias da aplicação. O
desenvolvimento da alta resistência inicial é conseguido pela utilização de uma
dosagem diferente de calcário e argila na produção do clinquer, bem como pela
moagem mais fina do cimento, de modo que, ao reagir com a água, ele adquira
elevadas resistências, com maior velocidade.

É largamente utilizado em produção industrial de artefatos, onde se


exige deforma rápida, concreto protendido pré e pós-tensionado, pisos
industriais e argamassa armada. Devido ao alto calor de hidratação, não é
indicado para concreto massa. Contém adição de até 5% de fíler calcário. A
ausência de pozolana não o recomenda para concretos com agregados reativos.

2.5.7. CP- RS – Cimento Portland resistente a sulfatos

Como o próprio nome já diz, é o que tem a propriedade de oferecer


resistência aos meios agressivos sulfatados, tais como os encontrados nas
redes de esgotos de águas servidas ou industriais, na água do mar e em alguns
tipos de solos.
30

2.5.8. CP-BC – Cimento Portland de baixo calor de hidratação

Diz respeito a uma categoria extra que os cimentos anteriores podem


alcançar se tiverem baixo calor de hidratação. Tem a propriedade de retardar o
desprendimento de calor em grandes peças, evitando o aparecimento de
fissuras de origem térmica.

De acordo com a ABNT NBR 13116:1994, os CP-BC’s são aqueles que


geram até 260 J/g e até 300 J/g aos 3 dias e 7 dias de hidratação
respectivamente, e podem ser qualquer um dos tipos básicos.

2.5.9. CPB - Cimento Portland Branco

Sua principal característica é ser da cor branca. A coloração é atingida


pela utilização de matérias-primas com baixo teor de óxidos de manganês e
ferro, além de caulim no lugar da argila.

Pode ser usado como cimento estrutural ou não estrutural em rejuntes


de cerâmicas.
31

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. MATERIAIS
Para realização deste estudo foram utilizados os seguintes tipos de cimento:

 Cimento Portland CPV – ARI: Cimento de Alta Resistência Inicial, da


marca Zebu, cedido por empresa local;
 Cimento Portland CP IV 32 RS: Cimento resistente a sulfatos, possui
adição de pozolana, fabricado pela Poty, empresa Votorantim Cimentos
S/A, localizada em Paulista-PE;
 Cimento Portland CP II E 32: Cimento composto por escória granulada de
alto forno, da marca Cimpor, cedido pela empresa InterCement;
 Cimento Portland CP III 40 R S: Cimento resistente a sulfatos, apresenta
escória granulada de alto-forno em sua composição, marca Cimpor,
cedido pela empresa InterCement, localizado em João Pessoa-PB;

3.2. METODOLOGIA

Para realização deste estudo foram utilizadas três etapas distintas. A


Figura 7 ilustra o fluxograma das etapas da pesquisa.

Figura 7: Fluxograma das etapas da pesquisa

Análise termodiferencial (DTA) e


termogravimétrica (TG)

Coleta e beneficiamento dos


cimentos

Fluorescencia de raios-x
32

3.2.1 Coleta e seleção dos Cimentos Portland

Nesta etapa foi realizada a coleta de quatro tipos de Cimentos Portland,


a saber: Cimento CPV – ARI, Cimento CPII E 32, Cimento CP III, Cimento CPIV
RS.

3.2.2 Beneficiamento dos Cimentos Portland utilizados neste estudo

Foi realizado o beneficiamento em peneira nº 200 (0,074mm) de acordo


com a ABNT NBR 11579:2012 e acondicionamento em porta amostra específico
para o material, objetivando impedir o contato com a umidade.

3.2.3 Caracterização química dos cimentos Portland utilizados neste estudo


Foram realizados ensaios de caracterização química e mineralógica do
cimento Portland, destacando-se: Fluorescência de raios-x- EDX, e análise
termodiferencial e termogravimétrica.

3.2.3.1 Analise Térmica Diferencial (DTA) e Termogravimétrica (TG)


As análises térmicas diferenciais (DTA) e termogravimétricas (TG) dos
cimentos Portland foram realizadas em equipamento BP Engenharia, Modelo RB
3000, operando a 12,5ºC/min. A temperatura máxima utilizada nas análises
térmicas será de 1000ºC e o padrão utilizado nos ensaios de DTA foi o óxido de
alumínio (Al2O3) calcinado. A Figura 8 ilustra o equipamento utilizado para
realização do ensaio.

Figura 8: Equipamento utilizado para realização do ensaio de DTA e TG


33

3.2.3.2 Fluorescência de raios-x

As análises dor fluorescência de raios-x foram realizadas em


equipamento EDX 720 da Shimadzu, objetivando identificar a composição
química majoritária para os cimentos em estudo. A Figura 9 ilustra o
equipamento utilizado para realização dos ensaios de fluorescência de raios-X.

Figura 9: Equipamento utilizado para realização dos ensaios de fluorescência de


raios-X

Os ensaios de caracterização química e mineralógica dos cimentos em


estudo foram realizados no Laboratório de Caracterização dos Materiais do
Departamento de Engenharia de Materiais da UFCG.
34

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DOS CIMENTOS EM ESTUDO.

4.1.1 Análise Termodiferencial-DTA e termogravimétrica-TG dos Cimentos


Portland em estudo

A Figura 10 ilustra as curvas de análise térmica do Cimento CPV – ARI,


utilizado neste estudo.

Figura 10: Curvas de análise térmica do Cimento CPV - ARI

Conforme resultados obtidos, verifica-se a presença de um pico intenso


em aproximadamente 105°C, correspondente a perda de água livre e combinada
presente no cimento; pico endotérmico a 432°C, correspondente a desidratação
da Portlandita e pico endotérmico em 672°C correspondente a decomposição do
Carbonato de Cálcio (CaCO3 em CaO + CO2 - desidratação). De acordo com a
curva termogravimétrica do cimento CPV ARI, observou-se uma perda de massa
de 3,58%.

A Figura 11 ilustra as curvas de análise térmica do Cimento CPIV-RS,


utilizado neste estudo.
35

Figura 11: Curvas de análise térmica do Cimento CPIV – RS

De acordo com os resultados obtidos, verifica-se a ocorrência de pico


exotérmico em 109°C, referente a perda de água livre; pico exotérmico a
420°C proveniente da decomposição do hidróxido de cálcio e pico exotérmico
em 635°C correspondente a decomposição do carbonato de cálcio. A curva
termogravimétrica indica uma perda de massa total de 4,30%.

A Figura 12 ilustra as curvas de análise térmica do Cimento CPII-E,


utilizado neste estudo.

Figura 12: Curvas de análise térmica do Cimento CPII-E


36

Conforme resultados obtidos e ilustrados na Figura 13 a existência de


um pico a 98°C, correspondente à água livre e adsorvida; Pico exotérmico a
423ºC referente a decomposição do hidróxido de cálcio formado
provavelmente durante o período de estocagem do material, corroborando os
resultados obtidos por (TAYLOR, 2003; NASCIMENTO, 2006); pico
exotérmico a temperatura de 670°C, correspondente a decomposição do
carbonato de cálcio (CaCO3 em CaO + CO2), obtendo-se uma perda de massa
total de 10,82%, conforme curva termogravimétrica.

A Figura 13 ilustra as curvas de análise térmica do Cimento CPIII,


utilizado neste estudo.

Figura 13: Curvas de análise térmica do Cimento CPIII

Conforme resultados ilustrados na Figura 13, observa-se a presença de


pico exotérmico por volta de 106°C, correspondente a perda de água livre de
material, totalizando uma perda de massa de 1,5%; pequeno pico exotérmico
aproximadamente a temperatura de 419°C, referente a decomposição
do Ca(OH)2, com perda de massa de 0,54% e pico exotérmico em 634°C,
referente ao processo de descarbonatação (CaCO3 em CaO + CO2),
proporcionando uma perda de massa de 2,02%.

A curva termogravimétrica do cimento em estudo indica uma perda de


massa total de 3,61% equivalente a 0,152mg do material.
37

Esses resultados corroboram os estudos realizados por de Taylor (2003),


que menciona que para o cimento anidro, as perdas de massa ocorrem
geralmente acontecem nos seguintes intervalos de temperatura: entre 100oC e
200oC correspondem à decomposição do gesso; as que acontecem entre 400 oC
e 500oC corresponde a decomposição do hidróxido de cálcio; e entre 500oC e
800oC a decomposição do CaCO3.

4.1.2 Fluorescência de raios-x – EDX dos Cimentos Portland em estudo

A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos para a fluorescência de


raios-x dos cimentos Portland em estudo.

Tabela 2: Fluorescência de raios-x dos cimentos Portland em estudo

Cimentos Determinações (%)


PF CaO SiO2 Al2O3 SO3 Fe2O3 MgO K2O Outros
3% 64,505 16,987 6,879 3,372 2,688 0,856 1,269 0,404
CPV - ARI
CP IV 0,70
3,82 45,68 29,11 9,75 2,95 1,87 4,30 1,84
CP III 0,66
3,30 59,12 21,15 6,63 3,17 3,15 2,25 0,57
CP II E 0,54
10,63 62,32 12,87 4,25 3,44 2,75 2,23 1,01
CPE 0,74
1,08 62,37 20,64 4,19 2,81 3,19 2,48 0,53

De acordo com os resultados apresentados na Tabela 2, verifica-se que


o cimento CPV - ARI é constituído por óxido de cálcio (64,505%), óxido de silício
(16,987%), óxido de alumínio (6,879%), SO3 (3,372%), Fe2O3 (2,688%) e baixos
teores de K2O (1,269%).

Para o cimento CPIV observa-se uma composição majoritária de CaO


(45,6%), óxido de silício (29,11%) e Al2O3 com (9,75%) e teores de MgO (4,3%)
e SO3 (2,95%), co perda de massa de 3,82%.

Observa-se que o cimento CP III, é constituído por uma maior


quantidade de óxido de cálcio (59,12%), 21,15% de dióxido de silício (SiO2).
Apresenta 6,63% de Al2O3; 3,17% de SO3; 3,15% de Fe2O3; 2,23% de MgO e
1,55% dos demais óxidos.
38

Verifica-se que o cimento CP II E, é constituído basicamente de óxido de


cálcio (CaO) com 62,35%, dióxido de silício (SiO2) com 12,84%. A perda ao fogo
(massa total do cimento, calculada pela diferença entre a massa a 105ºC e a
1.000ºC (TOLEDO FILHO e FAIRBAIRN, 2006) foi superior ao especificado por
norma. Esta característica pode estar associada ao grau de carbonatação e
hidratação do óxido de cálcio e de magnésio livres devido a exposição
atmosférica (NEVILLE, 1995) e podem estar associados à deterioração durante
o armazenamento do cimento ou utilização de clínquer demasiado alterado por
armazenamento prolongado no exterior (COUTINHO, 2006). Pode ser atribuído
também a perda devido à descarbonatação de algum carbonato de cálcio, que
por falha no processo de fabricação do cimento, porventura ocasionou
deficiências no produto.
Neste caso, não se pode atribuir a elevada perda ao fogo apresentada
pelo CP II E à umidade decorrente da falta de cuidados no armazenamento, pois
o mesmo encontrava-se acondicionado em sacos plásticos e dentro de baldes
plástico vedados, além de não apresentarem sinais de hidratação como a
formação de grumos.
Conforme resultados obtidos, observa-se que a cal (CaO) é o
componente maioritário para todos os cimentos em estudo, apresentando-se em
maior quantidade estando de acordo com as especificações das normas
vigentes.
39

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos objetivos propostos e nos resultados obtidos neste


estudo, pode considerar que:

 Para a análise térmica: observou-se que todas as amostras apresentaram


perdas de massa dentro de uma mesma faixa de temperatura, bem como
as perdas de massa ocorreram para três estágios distintos;
 Para a composição química dos cimentos em estudo, observou-se que a
cal (CaO) é o componente maioritário para todos, estando de acordo com
as especificações das normas vigentes.
 A importância de uma caracterização química mais profunda, reside no
fato de conhecer todos os componentes químicos de cada tipo de cimento
em estudo, permitindo deste modo justificar o comportamento físico e
mecânico de concretos, argamassas e artefatos produzidos com cimento
Portland.

5.2 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

 Caracterizar mineralogicamente os cimentos estudados nesta pesquisa;


 Realizar a caracterização química e mineralógica dos demais tipos de
cimento não contemplados neste estudo.
40

REFERÊNCIAS

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Materiais pozolânicos – Especificação. Rio de Janeiro, 1992.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11579 -
Cimento Portland — Determinação do índice de finura por meio da peneira 75
μm (nº 200). Rio de Janeiro, 2012.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13116 –
Cimento Portland de baixo calor de hidratação. Rio de Janeiro, 1994.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NM 65 - Cimento
Portland - Determinação do tempo de pega. Rio de Janeiro, 2003.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7215 –
Cimento Portland – Determinação da resistência à compressão. Rio de Janeiro,
1995.
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METHA, P. K., MONTEIRO, P. J. M. Concreto – Microestrutura, Propriedades e
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