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Livro de romance

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Copyright © 2021, Joane Silva

Revisão: Raquel Moreno


Diagramação digital: Joane Silva
Capa: LA Designer Editorial

Silva, Joane
A noiva comprada
1ª Ed.

Brasília - DF, 2021

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua


Portuguesa. Todos os direitos reservados.

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de


qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive
por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da

internet, sem permissão de seu editor.

A violação de direitos autorais é crime previsto na lei nº.

9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares

e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor,


qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera

coincidência. Todos os direitos desta edição reservados pela autora.


AVISO

Este livro contém cenas explícitas de violência contra a

mulher.

Este livro possui linguagem crua e cenas de teor sexual.


Não recomendado para menores de 18 anos.
SINOPSE
Aos vinte e nove anos, John Harper se considera um
presente dos deuses para as mulheres. Sabe que a beleza e o

dinheiro que vêm junto com o seu sobrenome são o seu cartão de
visitas, e não tem qualquer problema de usar todas as armas em
seu favor no jogo da conquista, que muitas vezes não passa de uma

noite.

Ele também sabe que está próximo o dia em que


assumirá a tão sonhada cadeira de CEO da construtora Harper.
John acredita que será fácil, afinal, quem mais poderia tomar o seu
lugar? Certamente, não seria Tales, o primo puxa-saco que não

entendeu que nunca será mais do que a opção número dois em


tudo.

O problema é que nem sempre as coisas saem como o

planejado, e ele percebe que terá que fazer muito mais do que

esperar para chegar no topo, mesmo que signifique ter que mentir
para todos ao dizer que está prestes a se casar com a sua

secretária. Tudo porque a sua avó tem ideias retrógradas a respeito


de casamento, família e todas essas bobagens.
Manuella está se sentindo realizada, porque acaba de

conseguir o emprego dos sonhos no momento em que tudo está


dando errado na sua vida. Mas ela percebe que o sonho pode se

tornar um pesadelo quando o seu chefe a aborda com uma proposta

indecente, porém, irrecusável.

No jogo de amor e poder, em meio a uma relação que era

para ser apenas de fachada, John e Manuella descobrirão que têm


mais em comum do que um contrato com data para acabar.

Um noivado de aparências.

Um plano fadado ao fracasso, uma paixão real e


irresistível.
EPÍGRAFE

“É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais

amar, depois de ter amado.”

Guimarães Rosa
AGRADECIMENTOS

A história do processo de criação deste livro é curiosa.

Primeiro a ideia surgiu, mas, como costuma acontecer na cabeça


maluca de uma autora, outra história explodiu na minha mente e eu
não pude ignorar. E foi assim que nasceu “O bebê do viúvo”. Mas

não é para falar do Donovan e da Sofia que estou escrevendo.

O fato de ter parado a escrita de A noiva comprada fez


com que eu tivesse muita dificuldade de voltar a me conectar
novamente com os personagens, mas acredito que, no fim, eu
contei a história de amor e de força de uma mulher que queria

contar.

Era para ser um enredo fácil e leve, mas não dizem que
os personagens têm voz própria? Então, esses aqui tiveram. Não se

trata apenas de um romance, mas também de assuntos que

precisam ser abertamente debatidos, e espero ter conseguido


passar a mensagem carreta para cada pessoa que estiver lendo

esta obra.

Como uma jornada não se faz sozinha, quero fazer um

carinho e mencionar minhas queridas leitoras, tanto as que estão


comigo desde o início quanto as que chegaram no decorrer de
quase três anos. À minha família e, por fim, mas não menos

importante, ao autor e consumador da minha fé.

Se você está tendo contato com a minha escrita pela

primeira vez, siga-me nas redes sociais para que possamos ficar
mais próximos.

INSTAGRAM: https://bit.ly/autorajoanesilva

WATTPAD: https://bit.ly/joanesilva
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
EPÍLOGO
SOBRE A AUTORA
LEIA TAMBÉM
CAPÍTULO 1

JOHN
Na parede lateral do bar, na frente da Marta, Maria, seja

qual for o seu nome, tenho as minhas calças enroladas até a


metade dos joelhos, enquanto invisto na boceta da vez. O alívio de

que precisava depois de um dia de cão na construtora, e de tomar


uns copos a mais de cerveja.

— Isso, assim mesmo, gato. Me aperta com esse

pauzão... — Ela rosna no meu ouvido, e eu quase me sinto mal por


não ter ideia de qual é o seu nome.

Além do mais, ela até que fode bem para alguém que se
ofereceu no bar como uma desesperada por pau. Tenho espelho em

casa e vejo que sou um presente para o público feminino. Sei como
deixar a mulher que eu quiser se arrastando aos meus pés, então,

no meu estado de espírito normal, não deixaria de ser o caçador


para ser a caça.

No meu estado de espírito normal, eu nem mesmo estaria


pensando enquanto fodo uma mulher em um beco escuro, podendo

ser visto por qualquer pessoa que passe por perto, embora o poste
com a lâmpada piscando seja um aliado para esconder as nossas

identidades.

— Caralho, querida, que bocetinha mais gostosa. Acho

que vou... — interrompo-me quando as palavras fogem e resta


apenas o prazer do momento.

Invisto cada vez mais rápido contra o corpo feminino, não

podendo deixar de pensar que é um bônus que tenha uma boceta e

peitos tão gostosos, porque é difícil aturar a voz insuportável da


Betânia por muito mais tempo.

Quando nós dois gozamos, o alívio que percorre o meu


corpo é equivalente à minha vontade de me livrar de uma vez da...

como é mesmo o nome dela?

Mas o que isso importa?

— Uau, isso foi demais, cara. — Recebo o elogio, mas

não deixo de notar a forma como os seus olhos de águia percorrem

o meu corpo da cabeça aos pés.

E apesar de saber que tenho um corpo legal por baixo do


tecido, não tenho dúvida de que está catalogando o preço de cada

peça de roupa que visto. Do meu relógio no punho e até dos meus

sapatos.
— Por que não terminamos isso na sua casa? —
questiona, e enquanto ouço a proposta absurda, tiro o meu membro

e descarto o preservativo na lixeira que, por obra do acaso, está a

poucos metros de nós.

— Tivemos bons momentos, Marta...

— Mariana! — corrige sem conter a irritação.

— Mas temo que o nosso tempo tenha acabado — aviso

e termino de ajeitar a minha roupa no lugar. — Foi literalmente um

prazer — sussurro no seu ouvido, dou um beijo leve nos seus lábios
e volto para dentro do bar.

Ainda ouço a voz indignada, e esperançosa de que fosse

rolar algo a mais, me chamar. Finjo que não é comigo. A Maria não
é nada com o que eu já não tenha lidado antes. Elas sempre

acreditam que uma boa trepada terminará em compromisso.

Se soubessem que essa palavra me faz correr a léguas

de distância...

— Pensei que não fosse mais voltar — Pietro diz assim

que me sento na cadeira que ocupava antes de ficar impossível de


ignorar os olhares da garota com quem acabei de transar.
— E por que eu não voltaria? — questiono, olhando do

Pietro para o Nicolas.

— Talvez porque saiu daqui há alguns minutos muito bem

acompanhado — Nicolas comenta, mas Pietro, que me conhece há


mais tempo, emenda:

— Parece que a boa companhia já perdeu o seu encanto.

Pietro é o advogado da construtora da minha família, mas


também é o meu melhor amigo e braço direito. Para as mentes

maliciosas, comparsa.

Nicolas é o seu companheiro, um cara mais sério do que

nós dois, ainda bem, mas que está sempre disposto a sair do alto do
seu trono de design de moda renomado para nos acompanhar em

momentos de diversão.

Se alguém me perguntasse, eu diria que a melhor parte

de ter amigos gays é não precisar disputar as mulheres com eles.


Nicolas no máximo fará críticas as suas roupas. Só não faz as

minhas porque é ele mesmo quem as desenha.

Quando eles voltam a conversar como se eu não


estivesse ao lado ouvindo todas as suas bobagens melosas, olho

para o lado, mais especificamente para o bar. Um leve temor de que


a garota não tenha entendido a mensagem e esteja no mesmo lugar

de antes me jogando olhares famintos.

Mas o que eu encontro é alguém diferente. Uma mulher.

Ela está secando um copo, algo nada fino de se ver em um bar


como esse. Está alheia ao som altíssimo e as pessoas à sua volta.

Tem a cabeça baixa, mas algo nela chama a minha


atenção. Uma loucura, porque além de ter acabado de fazer sexo,
não existe nada de especial na garota, pelo menos, nada que eu

esteja conseguindo ver de onde estou.

Volto-me para Nicolas e Pietro, mas o casal está aos

beijos, completamente esquecidos da minha existência. Eu poderia


me levantar e dar uma passeada, ou até mesmo ir embora, já que o

meu amigo esqueceu que tínhamos assuntos para tratar, mas sigo
os meus instintos e caminho para o bar.

Não tem nada a ver com interesse sexual. Talvez seja


uma leve irritabilidade com alguém que parece bem à vontade com

o mundo que lhe cerca. Como se nada à sua volta pudesse lhe
abalar.

Mas o mesmo impulso que me fez levantar me faz


esquecer como se fala. Eu não sei nem mesmo como respirar
quando ela levanta a cabeça e me fita com grandes e expressivos
olhos escuros. Está claro que não se trata de uma garota.

É uma mulher que já deve ter mais de trinta anos, com


cabelos pretos e peitos que não podem ser escondidos, apesar do
que a blusa sem qualquer decote intenciona fazer. Até onde posso

ver de seu corpo atrás do balcão, ela tem um avental amarrado em


volta da cintura, o que me faz concluir que é uma garçonete.

Uma trabalhadora, que interessante.

Não é todos os dias que eu me interesso por uma


garçonete, muito menos presencio um olhar tão pouco interessado

para mim. A morena deve estar pensando que tenho algum


problema mental para estar olhando sem abrir a boca.

— Algum problema? — indaga.

Olha só! Ela tem o narizinho bem em pé para quem é

apenas uma garçonete e, pelo visto, lavadora de copos. Será que


distrair clientes com peitos generosos e rosto perfeito faz parte do

seu trabalho?

— Você está bem? — ela insiste.

— Seu nome. Queria que me dissesse o seu nome —


digo quando me encosto no balcão, assumo o controle da situação e
de mim mesmo. A posição de quem não precisa de muito para
convencer a uma mulher.

E se eu não sabia o porquê de ter sido atraído até aqui


segundos atrás, ver o seu rosto e atitude com um toque de desafio
me faz entender que não importa se acabei de fazer sexo, quero

essa mulher. Acredito que iria querer, mesmo se tivesse trepado


com outras três antes dela.

Além de a sua cara de desdém me desafiar, me pergunto

que homem não iria desejar um monumento desses?

Não é o meu aniversário, mas acho que vou receber o


presente perfeito para finalizar bem a minha noite.

— Não vou responder a essa pergunta.

— Perdão? — falo, porque parece que ela disse alguma

coisa enquanto me perdia em devaneios e planos futuros.

— Não vou responder a essa pergunta — fala, pontuando

cada palavra, como se estivesse lidando com um garotinho. — Eu

não tenho que dizer o meu nome para estranhos que aparecem

para atrapalhar o meu trabalho — fala com frieza e levemente


mordaz. Até parece que estou pedindo para que chupe meu pau,

não perguntando um nome.


Se bem que eu dei uma boa olhada nos seus peitos. Mas

a culpa não é minha, nem sempre posso controlar os meus olhos,


que são atraídos por coisas belas.

— Se me falasse o seu nome, eu te diria o meu e

deixaríamos de ser estranhos. — Tento jogar o meu charme,


embora sinta que estou um pouco enferrujado. Desde a

adolescência que não preciso recorrer a cantadas.

— Eu não quero conhecer você e nem ninguém. Sei bem

como são os homens como você — diz, fazendo pouco caso do


meu interesse, tanto que nem levanta os olhos direito para me olhar.

— E que tipo de homem pensa que sou?

— Você acredita que só porque veste roupas caras pode

ter a mulher que quiser. Que basta um rostinho bonito para


conquistar uma noite de sexo. Sinto te informar que já estou

vacinada, pois lido com situações e pessoas como você todos os

dias.

Com poucas palavras, a garçonete conseguiu definir bem

o que sinto. Mas por que ela fala como se fosse errado eu usar dos

privilégios de ser milionário aos vinte e nove, e com uma bela

aparência se são fatos que sempre facilitaram a minha vida?


— Será que aprendeu a ser gentil e cordial com os

clientes também? — rebato. Se antes queria pegar o número do seu

celular, na pior das hipóteses, agora sinto vontade de irritá-la.

Sento-me na banqueta que fica bem na sua frente e, para


mostrar que está dando pouca importância a mim, a morena

gostosa pega mais uma taça e começa a secá-la.

— Eu posso jurar que você não quis saber o meu nome


apenas por educação — assevera sem levantar os olhos. Uma

pena, porque gosto deles me fulminando.

Será que é assim com todos, ou eu sou privilegiado?

— Você é casada? — A ideia me ocorre, e acabo dando a


ela o que precisava para confirmar que tinha razão, eu queria

mesmo descobrir o caminho mais fácil para entrar na sua calcinha.

— Se não parar de dar em cima de mim, vou reclamar

com o meu chefe. Você está chamando a atenção de todos para


nós, e eu só quero terminar de secar esses malditos copos e ir

embora — diz, parecendo bastante frustrada, e não parece ser

apenas por minha causa.

Agora, prestando mais atenção no seu rosto, vejo mais

do que uma boca carnuda que queria em volta do meu pau. Os seus
olhos são de um castanho escuro intenso, lindos, mas também

marcados com olheiras que nem um quilo de maquiagem poderia


esconder.

Pela primeira vez, nos impressionantes cinco minutos que

nos conhecemos, vejo um traço de vulnerabilidade nessa leoa.

Agora percebo o quanto parece cansada.

— Se eu fosse você, não envolveria ele nisso — aviso,

tentando ser enigmático.

— Por que...

— John Harper! Quem é vivo sempre aparece.

Uma terceira pessoa nos interrompe, e aqui está ele,

Dante Dutra, o dono de tudo isso aqui. O chefe direto da gata arisca,

embora eu duvide que saiba o seu nome, mesmo que já tenha


trepado com ela. Promiscuidade é o sobrenome dele.

— Digo o mesmo a você — falo com ironia, afinal, ele

tinha que aparecer mais vezes no próprio estabelecimento. Mas


irresponsabilidade é o segundo nome de Dante.

— Atrapalho alguma coisa? — questiona, não deixando

de olhar demoradamente para a mulher que está atrás do balcão.


Agora, além de cansada, ela está desconfortável. E não

parece que seja só porque está na presença do chefe.

— Não. Eu só estava aqui puxando assunto, mas parece

que ela tem sérios problemas de comunicação. Não quis dizer o


nome dela e se recusa a me tratar com doçura — brinco, sempre a

olhando. Como não esteve nos momentos em que ficamos a sós,

agora a morena parece abalada.

Tem alguma coisa acontecendo aqui.

— Manuella é assim mesmo — Dante fala, os ombros

dela caem com desânimo e algo a mais. — Uma gata arisca.

Ele joga uma piscadela, a mulher cora como uma virgem.


Não parece o mesmo robô que falava comigo segundos atrás.

— E aqui vai um aviso de amigo, meu caro Harper: se

está tentando conseguir alguma coisa com ela, é melhor esquecer.

— É a minha vez de receber uma piscada odiosa.

Eu também coro, mas é de raiva. Então Dante sai e nos

deixa a sós.

— Pelo visto, existe uma relação que vai além do trabalho


entre vocês — comento.

— Isso não te diz respeito, John Harper.


Quando ela diz isso, me levanto da banqueta e aproximo-

me o máximo que o balcão permite, até que nossos narizes estejam


a ponto de se tocarem. Estendo a mão e seguro o seu braço, que se

arrepia todinho sob os meus dedos. Ela pode agir como a rainha do

gelo, mas não pode fazer isso quando posso sentir que até a sua

respiração mudou com a minha proximidade.

— Espero que tenha ficado claro para você que eu iria

descobrir o seu nome de qualquer forma. Se eu quisesse, poderia

até mesmo fazer com que fosse demitida — falo entredentes, um


tanto quanto abalado pelo cheiro do seu perfume mentolado, pela

boca carnuda e grande, estilo Angelina Jolie.

— Por favor, não faça isso... — pede. Sinto um traço de


humildade.

— Mas eu não farei nada disso, assim como não me

importa mais se seu nome é Manuella ou Francisca. Não fico com

os restos de meus conhecidos. Pelo menos, não conscientemente.

De onde foi que veio isso?

Até o aparecimento do Dante, eu estava levando a minha

tentativa frustrada de flerte numa boa.


— Restos? — Manuella reage, mas me afasto antes que
me agrida fisicamente como os seus olhos fazem.

— Tenha uma boa vida, gata — digo e viro-lhe as costas.

Tenho um sorriso no rosto, mas por dentro estou


frustrado, porque a beleza da mulher me impressionou de verdade.

E seria muito bom passar algumas horas com o pau enterrado nela,

enquanto recebia mais ataques de sua língua ferina.

Ao chegar à mesa, os caras ainda estão fazendo


bobagens apaixonadas, como segurar a mão um do outro em cima

da mesa, mas agora na companhia do Dante.

— É verdade o que o Dante falou? — Pietro nem espera


eu acabar de sentar-me para perguntar.

— Depende do que, e de como ele falou — digo, dando


uma rápida espiada no bar. Todos percebem esse ato, e eu não me

dou ao trabalho de explicar o porquê de estar olhando para uma


mulher bonita.

— Você estava tentando transar com a ex dele? —


Nicolas completa.

Por mais que tenha suspeitado, não gosto da informação.


Dante Dutra é um amigo de longa data, mas é um idiota completo.
Ao lado dele me considero um santo.

— Ela é sua ex? Uma garçonete? — curioso, pergunto.

Não faz o seu estilo namorar com garotas pobres, por


mais maravilhosas que elas sejam. Para ele, no máximo servem
para algumas transas, e não preciso ser muito inteligente para saber

que foi esse o motivo de não ter dado certo.

— Não a conheci aqui no bar. Só está trabalhando como

garçonete há dois meses. Ela pediu, e não pude recusar.

Em se tratando dele, é claro que não pôde. Seja qual for


o motivo do término, está na cara que Dante não estava cem por

cento de acordo e agora quer ficar perto da mulher.

— Fique longe dela, John. Manuella não é mulher para


você — avisa.

— E para você, é? — rebato.

— Isso não vem ao caso. Só saiba que ela é


problemática, mas não vai cair na sua lábia de conquistador barato
— enfatiza, e sorri como se tivesse plena convicção.

A possessividade e a certeza de suas palavras fazem


com que eu sinta vontade de provar o contrário, mas acabo
matando o desejo assim que ele surge, afinal, por que gastar os
meus esforços com essa mulher quando posso ter qualquer outra?

— Fique tranquilo, meu caro, a pureza da sua gata está


segura. Eu não pretendo entrar nisso com você — aviso.

Pietro tem a sobrancelha arqueada, Nicolas parece não


estar me reconhecendo. Eles sabem que eu não fujo a um desafio.

Mas, por alguma razão, o milésimo de segundo em que vi

quão cansada a morena está me fez recuar. Mesmo que eu tenha


ficado muito interessado, mais do que lembro de ter ficado por outra

garota, vou deixá-la em paz.

Já basta que a coitada tenha sido burra o suficiente para


cair no papo de Dante.

— Brindemos por isso — ele diz, bastante satisfeito,


tentando sem sucesso esconder o quanto se sentiu ameaçado.

Ele sabe que suas chances de reconquistar a mulher


seriam nulas se eu tivesse entrado na jogada. E seria fácil, porque

mesmo tendo sido azeda comigo, não estava imune a mim. O seu
corpo tremeu junto ao meu, assim como o meu pau ameaçou rasgar
a minha calça.
Enquanto bebemos e conversamos, vez ou outra olho na
direção do bar. Mas não sou só eu a fazer isso. Dante nem disfarça

o interesse. Se quer tanto a mulher, por que não está mais com ela?

Tenho curiosidade, mas não vou perguntar.

Quando a morena finalmente sai do balcão com uma


bandeja nas mãos, tenho a oportunidade de ver que o corpo todo é

uma delícia. É uma gostosa de alto nível, que faria homens matarem
por ela, vide o Dante, que está me trucidando com o olhar. Ele
deixou de babar na mulher para me observar fazendo isso.

Pau no seu cu!

Não posso tentar levá-la para cama e também não posso

olhar?

Que se foda.

Ela tem as pernas longas e maravilhosas. A saia preta e


curta que usa por baixo do avental faz pouco para esconder a sua
bunda redonda. Não tão grande quanto os seus peitos, mas bonita

igual. A cintura é fina, do tipo que eu poderia envolver por completo


com um braço.

Ela serve várias mesas, e apesar de o bar ter várias


outras garçonetes, cabe a ela vir nos servir. Quando se aproxima, os
seus olhos estão em mim. Nada sedutor, está mais para estacas de

gelos sendo lançadas no meu coração. Consigo até ver a cena de


ela jogando o copo com a bebida em cima da minha cabeça pelo
último insulto.

Mas a gata me surpreende. Ela simplesmente se


aproxima e, com toda elegância e profissionalismo, serve as nossas
bebidas. Quando chega a minha vez, a mulher se curva mais do que

fez com os outros para me servir. Está mais perto também, posso
sentir o calor do seu corpo.

Então Manuella, fico surpreso por lembrar do seu nome,


chega com a boca bem perto do meu ouvido. O meu corpo fica todo

tenso. Os três caras estão nos observando.

— Obrigada... — sussurra, morde de leve o lóbulo da


minha orelha e sai batendo os saltos.

A respiração e a mordida me deixaram pronto, e me


restaram duas opções: ir até ela e gozar na sua boceta, ou fazer

isso aqui na mesa com três marmanjos me olhando. Eles não


perceberam o que aconteceu aqui, perceberam?
CAPÍTULO 2

MANUELLA
Eu nunca fui tão humilhada em toda a minha vida!

Quando vim para o turno de hoje, que começa às cinco horas da


tarde e, na melhor das hipóteses termina às três da madrugada, sabia que

hoje seria uma noite difícil. Não poderia ser tão diferente, depois de um dia de
merda.

Tento sempre manter o bom humor, pois sem ele eu já teria


enlouquecido. Mas não é sempre que consigo manter o sorriso no rosto.
Afastar os caras que pensam que sou presa fácil com sarcasmos e piadas.

No momento em que o vi, sabia que ele não seria como os outros.
A minha reação também me surpreendeu. Estava eu na prazerosa missão de
secar copos. E não, não estou sendo cem por cento sarcástica. É melhor

secar milhares de copos a morder a língua e controlar meus punhos quando


sinto a minha bunda sendo apalpada por desconhecidos.

Quando lavo copos, não corro o risco de ser demitida por agressão,

e o meu trabalho aqui já está arriscado demais para que tenha agressões e
insultos na minha lista de má conduta.

Quando levantei a cabeça e o vi do outro lado do balcão me


olhando, primeiro pensei que era um dos homens mais bonitos que já havia

visto. Já vi muitos deles por aqui e até mais belos que ele, mas nunca uma

presença tão marcante.


Magnetismo. É isso, ele tem um magnetismo nos olhos verdes que

deve deixar muitas mocinhas sem rumo na vida. Mas a minha babação pelo
desconhecido durou apenas alguns segundos. Bastou ele abrir a boca para

que eu caísse na realidade e me colocasse no meu lugar.

Lembrei que não sou mulher para nenhum dos caras que

frequentam esse lugar. Não tenho tempo e nem disposição, e quem me dera
ter percebido isso antes de ter me envolvido com Dante Dutra.

O desconhecido, que me fitou como se pudesse ver por debaixo


das minhas roupas, tinha os cabelos lisos, levemente espetados em todas as

direções e com um tom de loiro escuro. A barba por fazer bem-cuidada me fez
pensar, não posso negar, em qual seria a sensação dela entre as minhas

pernas. O corpo é alto e forte na medida certa. Nada em sua aparência me

causou desagrado.

A personalidade, por outro lado, não poderia ser mais irritante. O

homem passou poucos minutos comigo, mas foi o suficiente para me fazer
perceber que nele tem tudo o que não quero para mim.

Pelas roupas que vestia, e o relógio que parecia caríssimo, é do


tipo que está acostumado a ter todas as mulheres que deseja aos seus pés,
tanto que chegou perguntando o meu nome, e cheio de certeza de que eu iria

falar de bom grado. O seu jeito, que à primeira vista é bem parecido com o do
Dante, fez o meu sangue e coração congelarem.

Depois disso, a sua beleza passou a não ter nenhum efeito sobre
mim. Tudo o que dizia parecia bobagens vazias. Apenas um homem patético,
que jurava que estava arrasando. Titubeei quando ousou e deixou seu rosto

bem próximo do meu. Gostei do seu cheiro e do calor da respiração que, para
o meu desgosto, fez outra coisa além do meu coração pulsar.

Para uma mulher que está carente como eu estou, ser tocada,

mesmo que de maneira superficial, é o suficiente para me deixar maluca.


Quando a mãozona tocou no meu braço, mãos macias de quem não sabe o
que é capinar um lote, todo o meu corpo ganhou vida. Senti o bloco de gelo

em que havia me tornado começar a derreter.

Tive que juntar as pernas para não soltar nenhum som. Foi um

esforço ainda maior manter a mesma expressão de antes, mas, ainda assim,
ele deve ter sentido a minha respiração difícil.

Por um milésimo de segundo, pensei em deixar de lado todo o


cuidado, levá-lo para a salinha de louças para dar e receber um pouco de
prazer. Por um segundo de pura insanidade, pensei em mostrar para ele que
não estava lidando com uma das suas garotas de cabeça oca, que comigo

seria bem diferente.

O problema, ou talvez a minha salvação, é que a vida me fez ser

uma pessoa resistente. Antes de cometer uma loucura, a minha cabeça me


lista todos os motivos que tornam uma ideia ruim.

Em seguida, eu me vi dando tapinha nas minhas costas por não ter


pegado o senhor olhos verdes. Quis me esconder quando Dante apareceu na
nossa frente, quis que alguém me matasse quando vi que eles eram amigos.

Foi ali que percebi que poderia ter sido mais maleável com o cara, que
poderia tê-lo tratado como faço com todos os outros que me abordam com
cantadas e convites explícitos.

Fui seca com o cara e ele poderia simplesmente ter me feito perder
o emprego. Senti-me diminuída e desconfortável sendo olhada pelos dois,
mais pelo senhor olhos verdes, pois sei como manter o outro controlado. Eu

queria não precisar desse trabalho de garçonete. Queria não ter que suportar

o olhar vitorioso.

Sobretudo, queria não ter ouvido sua afirmação, em tom de


ameaça, de que poderia ter conseguido o meu nome de qualquer forma. No

fim, saiu vitorioso com o meu nome, mas sem qualquer intenção de fazer algo

com isso, já que, segundo ele, sou resto de outro homem.

Fiquei recolhida a minha insignificância, impotente e tremendo de

raiva e frustração por não ter feito um terço do que queria com o babaca. Se
não estivesse na posição em que estou, teria mostrado para ele o que faço

com caras do seu tipo.

Conforme fui me acalmando, e pensando com mais clareza no que

aconteceu, acabei chegando à conclusão de que poderia ter sido muito pior.

Ele poderia ter feito queixa de mim para o amigo, e o influenciado a me


mandar embora. E por mais que Dante diga que gosta de mim, e tente reatar

um namoro que nunca daria certo, sei o quanto tem a mente fraca. Não tenho

certeza de que não faria o que o outro pedisse.

Ao voltar a servir mesas, depois de ter passado mais tempo do que

o necessário secando os copos a pedido do gerente, que sempre me dá uma


colher de chá, agradeci a mudança de ares, pois não aguentaria ficar parada

no balcão pensando e correndo o risco de ter que lidar com mais idiotas.

Quando tenho a minha bunda apalpada, ao menos não sou

obrigada a ouvir bobagens.

Servi mesa por mesa, aceitei as gracinhas com mais resignação,

porque estava cansada demais para sequer me irritar. O tempo todo, tive a

sensação de que havia olhos famintos em cima de mim. Não só a sensação,


porque espichava o olhar e o flagrava olhando para a minha bunda.

Quando me deparei com o senhor olhos verdes no balcão, quase

babando nos meus peitos, tive a certeza de que estava ali atrás de sexo,

embora pudesse sentir um cheiro levemente enjoativo vindo dele. Além de


tudo, eu ainda seria a segunda da noite.

Agora que estou sendo obrigada a servir a ele e ao Dante, que não
vai deixar o ocorrido passar em branco, não consigo não me sentir grata,

porque embora tenha feito o mínimo, agiu com decência ao não pedir a minha

cabeça para o amigo. Estou sendo generosa ao tentar esquecer que me


humilhou antes.

É de conhecimento geral que homens têm egos frágeis. Quando se


vêem atingidos, eles pensam em vingança. Esse, se pensou, não a executou.

A parte minha que se sente humilhada e diminuída? Essa eu prefiro deixar de

lado por enquanto.

— As bebidas que os senhores pediram. Três copos com cervejas,

duas águas com gás e gelo.


Com o corpo sendo tomado pelo espírito da vadia burra, fico muito
perto do homem mais bonito da mesa quando chega a vez de colocar a água

com gás na sua frente.

Ele não disfarça o olhar de interesse. Eu aproveito para me curvar

mais do que deveria, dando-lhe uma visão do meu decote. Já que gostou

tanto dos meus seios, talvez essa seja a minha forma de agradecimento por
ter livrado a minha barra, depois de uma situação que ele mesmo provocou.

A ideia era provocar um pouco, mas então sinto o cheiro do seu


sabonete e fica difícil lembrar que sou uma mulher vacinada contra o fogo no

rabo e fraqueza por babacas desse tipo.

— Obrigada... — sussurro. A minha voz sai com uma rouquidão

sexy sem que eu tenha planejado fazer isso. Morder a sua orelha é o ápice da
ousadia.

Quando me ajeito, não tenho coragem de olhar para ele, e nem


para os outros ocupantes da mesa, dentre eles o meu ex.

Será que viram alguma coisa, ou consegui ser discreta?

É a pergunta que me faço quando, nervosa como uma adolescente,

volto para o meu lugar.

Tudo bem, acho que preciso lavar mais uns cem copos para me

acalmar. Estou tremendo de medo e excitação. Sim, excitação.

Como não poderia ser, se agora mesmo estou imaginando-o

mordendo bem mais do que uma orelha?

Parece que a minha vacina contra babacas está vencida.


O problema de decidir agir com inteligência é fazer menos sexo do

que estou acostumada. A falta de sexo está me fazendo tomar atitudes


perigosas. Será que a abstinência também é responsável pelo interesse no rei

dos babacas?

Sim, minhas amigas, esse macho, cujo nome não guardei quando

foi mencionado, é o rei dos babacas. O presidente eleito com honra, e só

precisei de alguns minutos de conversa mole — dele — para chegar a essa


conclusão.

E o que mais atrai a presidente das mulheres que têm dedos

podres? Sim, vocês acertaram.

A boa notícia?

Antes de vir para cá, eu li o horóscopo no jornal que encontrei no

metrô. No meu signo dizia que terei fortuna. Bom, isso pode se tornar verdade

se eu assaltar um banco. Mas também estava escrito que terei uma boa

notícia. A boa notícia é que não precisarei mais ver o presidente dos babacas.

É no que prefiro acreditar, considerando que nunca tinha esbarrado

nele nos dois meses que comecei a trabalhar aqui no bar.

Quanto às bobagens sobre o amor que está por vir, optei por

ignorar. Não é que eu seja uma pessoa cínica que não acredita, apenas não vi

bons exemplos. Além do mais, acredito que o amor entre homem e mulher é
superestimado.

Pelos minutos que seguem, a lavação dos copos faz com que eu
me acalme e esqueça um pouco do macho gostoso e impertinente. Eu não
precisaria estar fazendo esse trabalho, mas Lulu, o gerente, decidiu me deixar

aqui na maior parte do tempo. Não sei se é solidariedade feminina, embora

ele seja um homem gay, ou se não deseja que eu roube todas as atenções.

Se depender de mim, pode ficar com todos para ele.

Os meus olhos traidores espicham até a mesa dos caras. Vejo ele

se levantando para ir embora. Apesar da distância, parece que vi o senhor

presidente piscando para mim.

Poxa, ele poderia passar a mão na minha bunda, e em outras

partes, que eu nem iria achar ruim.

Sabe a mulher gelada que falou com ele? Então, ela é uma farsa

para espantar otários. A diferença é que a minha boceta carente gostou desse

em específico.

— Eu preciso falar com você. — Dante me arranca dos meus

pensamentos.

E lá vamos nós de novo!

— É sobre trabalho? — pergunto com inocência.

— Não. Não é sobre trabalho, gata — fala o que eu já sabia. Dante

tem um sério problema de aceitar um não como resposta.

Um homem mimado que não fui capaz de resistir, e depois me

arrependi.

— Então não temos nada para falar — aviso, voltando a secar o

meu copo.
— Sim, você tem — diz, segura o meu braço de uma forma que

não gosto, e pedi que não fizesse mais. Quando ver a forma como encaro a

sua mão, ele acaba a afastando. — Perdoe-me por isso. Vamos para a minha

sala? As pessoas estão nos olhando.

— Tudo bem. — Acabo me rendendo, seco as minhas mãos e vou

atrás dele.

O Maresias em si é um bar muito sofisticado, grande e, geralmente,

frequentado pela alta sociedade. Os pais do Dante são ricos, então ele não

precisava trabalhar, tanto é que não trabalha. Ele não está aqui todos os dias
e só aparece quando quer me vigiar de perto.

Todas as vezes que penso que foi um erro ter procurado ajuda com
ele, me lembro que eu precisava disso, que não estou em condições de

dispensar, ou escolher melhor um trabalho. Melhor ter que suportar ele a não

ter dinheiro para pagar todas as contas no fim do mês.

Quando chegamos à sua sala grande, arejada e pouco usada, ele

indica o sofá para que eu sente. Nego com a cabeça, pois não acho que

ficarei tempo suficiente para precisar me acomodar.

— Fale logo o que você quer, Dante. Ainda tenho muito trabalho

para fazer antes de terminar o meu turno — aviso, o homem de olhos e

cabelos castanhos dá de ombro e vem para perto de mim.

Perto demais, muito mais do que eu gostaria.

— Prefere lavar centenas de copos, ser apalpada por

engraçadinhos a ficar um tempo aqui comigo? — pergunta como se a ideia


fosse um ultraje.

Ele se acha irresistível, e o fora que dei nele nunca foi superado.
Deve ser por isso que não me deixa seguir com a minha vida sem esbarrar

nele o tempo todo. Até quando não quer, causa incômodo. Dante tinha

mesmo que ser amigo daquele homem. Eu não estava, mas se estivesse

considerando transar com o cara, teria mudado de ideia quando os vi se

cumprimentando.

— Dante, não tenho que preferir nada. Aqui é o meu trabalho. E por

mais que você tenha dificuldade de aceitar, nós não temos mais nada. O

nosso namoro acabou!

— Só porque você quis — rebate.

— Sim, porque eu quis. Porque você me traiu, porque estávamos

sempre brigando, e porque a gente sabe que nunca iríamos dar certo juntos.

Nós dois estamos em fases diferentes das nossas vidas. — Sou tão clara
quanto é possível, não pela primeira vez.

— Eu vi a forma como você e o Harper se olharam no bar. Parecia


que ele iria pular em cima de você a qualquer momento. — O homem muda

de assunto, ignorando por completo tudo que falei antes. — Será que se ele

tivesse avançado o sinal você teria gostado? Sim, porque não parecia que

estava o repelindo o suficiente. — As suas palavras me fazem ficar com ódio.

— Cuidado com o que fala, Dante Dutra. Está me desrespeitando!

E se eu tivesse a fim de dar para o seu amigo, o que você tem a ver com

isso? — ataco. — Você não tem mais nada com a minha vida.
— Manu, por favor... — Mais uma vez, Dante chega perto e segura

o meu braço com firmeza. Eu não sei se ele se dá conta de que costumava
fazer isso com frequência, e nem o quanto sempre me incomodou.

— Solte o meu braço! — Quando faz, olho para o local para

garantir que não ficou avermelhado.

— John Harper não é homem para você, querida. Ele queria

apenas transar e seguir para a próxima. Inclusive, eu o vi fodendo uma garota

do lado de fora, minutos antes de conversar com você.

— Sei me cuidar — aviso. Não sei por que estou incomodada com

a informação que acaba de me dar. Não estava na cara do homem que ele

era um cafajeste? — Se era isso que queria falar, a nossa conversa termina

por aqui.

— Fique longe dele, Manu. — O seu aviso tem tom de ameaça. Eu

saio da sua sala batendo a porta, sem me dar ao trabalho de responder.

E fica cada dia mais claro que pedir ajuda para ele foi uma péssima

ideia. Eu preciso urgentemente arrumar um jeito de pular fora desse barco.

Talvez um novo emprego, que me pague mais do que recebo no atual, seja a
solução dos meus problemas.
— Pode deixar que eu fecho o caixa hoje, Manuella. Você já fez o

suficiente. — Por que tenho a impressão de que ele não está se referindo

apenas ao trabalho?

Mas também não vou reclamar. A noite de hoje foi


movimentadíssima, e estou com o corpo e a mente cansados.

— Boa noite para quem fica. — Pego a minha bolsa e me despeço.

Como todo castigo para pobre é pouco, ainda tenho que ficar na

frente do Maresias esperando o carro de aplicativo chegar. Quando eles


dizem que chegam em cinco minutos, quer dizer que vão chegar em quinze.

— Vem, deixe-me te levar para casa. — Agora parado na calçada


na minha frente, nem percebi de onde ele surgiu, pois estava mexendo no

celular, Dante me dá o sorriso que me fazia derreter, antes de perceber que o

seu charme não compensava as suas falhas.

— Estou bem. Vá para casa — digo. Além do mais, não quero ficar

mais próxima dele do que o extremamente necessário. Assim o cara não vai

me deixar em paz nunca.

— Para de ser teimosa, Manu. Eu posso te levar em casa. É

perigoso para você ficar tão tarde sozinha aqui fora.

Assim que ele termina de falar, quando eu estava prestes a negar a

carona, recebo a notificação do aplicativo, avisando que o motorista vai

demorar dez minutos.

Esperar vinte minutos? Nunca! Ainda tenho que acordar cedo para

resolver um monte de coisas amanhã.


— Tudo bem. Eu vou com você — digo.

No caminho para casa, eu e Dante não nos falamos muito. Pelo

menos ele me conhece bem o suficiente para saber quando não estou de bom

humor. Para melhorar o clima, ele liga o som do carro, mas a música me deixa

prestes a cochilar.

Nos despedimos com um simples boa noite, eu me lembro de

quando dormia no seu apartamento, que era tão perto de tudo.

As luzes da casa estão todas apagadas, então vou direto para o

meu quarto. Ele está mais arrumado do que quando saí. Mamãe sabe que
não gosto quando faz isso, mas hoje estou grata. Nada me fará mais feliz do

que um bom banho, depois uma cama limpinha, cujos lençóis acabaram de

ser trocados.

Quando saio do vapor quente do banheiro, vestindo uma camiseta

folgada, cheirosa e hidratada, deixo que o meu corpo aterrisse na cama. Os

meus olhos estão pesados, mas a minha mente, mesmo cansada, não para.

Me pergunto em que momento da minha vida tudo começou a dar


tão errado. Onde foi parar a garota cheia de sonhos?

No fim, quando me jogo nos braços de Orfeu, os pensamentos de


autopiedade somem, e fica apenas um par de olhos muito verdes. Sonho com

ele pela primeira vez, mas não a última.


CAPÍTULO 3

JOHN
— Bom dia, senhor Harper! Aqui está o seu café duplo

sem açúcar. — Correndo atrás de mim enquanto atravesso o


corredor, a minha secretária consegue me irritar com o barulho que

os seus saltos fazem.

— Obrigado, senhorita Mendonça. — Pego o copo de sua


mão, entro na sala e coloco a pasta sobre a minha mesa. — Quais

são os meus compromissos para hoje? — indago, mas os meus


olhos estão no celular. É sempre bom dar uma olhadinha nas redes

sociais para saber se minhas aventuras não se tornaram públicas e


escandalosas.

— O senhor tem uma reunião às onze horas com os


diretores, às quatorze com os Ribeiro de Castro para discutirem os

detalhes sobre o início da obra do shopping. Às dezessete... — Ela


hesita.

— O que tenho às dezessete? — indago, desconfiado.

— O senhor precisa entrevistar as candidatas para


ocuparem o meu lugar enquanto eu estiver de licença-maternidade.
Sabe que essa é a minha última semana, não sabe?

— Tão rápido?

Eu estou surpreso de como o tempo passou rápido, ou

talvez não esteja preparado para ficar tanto tempo sem a minha

secretária.

Carla Mendonça é uma mulher muito bonita de trinta e

cinco anos. Tentei transar com ela logo que chegou à empresa, mas
a mulher me colocou no meu lugar e, desde então, passaram-se

três anos de parceria. Ela é ótima, e eu não sei como vai ser a

minha vida sem essa mulher.

— O senhor não pode se livrar disso — diz.

— Eu sei, mas não quero ter que perder o meu tempo

com entrevistas — afirmo. — Vamos combinar assim: as candidatas


passam pelo RH. No fim da seleção você me traz uma pasta com o

currículo das três melhores. De toda forma, a escolha final será

minha. Satisfeita?

— Satisfeitíssima. E tome o seu café antes que esfrie —


fala e vira-me as costas. Acho que vou sentir falta dela.

— Senhorita Mendonça, passe na sala do Pietro e peça


para ele vir aqui, por favor.
Sozinho, me recosto na cadeira. De olhos fechados, jogo
a minha cabeça para trás. A verdade é que não acordei direito.

Fiquei mais do que deveria no Maresias. Bebi e não encontrei o que

fui procurar por lá.

Na semana passada levei um fora da mulher mais

gostosa que me lembro. Para piorar, o ex dela, meu amigo de longa

data, apesar de não sermos mais tão próximos, me pediu com todas

as letras para ficar longe dela.

Ele não pôde se segurar, mas sabe que adoro desafios.

O seu pedido, que mais pareceu uma ameaça, aumentou a vontade

de trepar com a mulher de gelo. Por isso, voltei ontem. Eu tinha a

intenção de tentar mais uma vez, embora me dissesse o tempo todo

que estava sendo idiota, e nunca tinha agido daquela forma por
causa de uma boceta qualquer.

Ela estava com o seu avental e saia curta, mas o bar é

bem grande, e a morena de pernas compridas serviu mesas do


outro lado do salão. Preferi observar, ao invés de abordar a gata

arisca mais uma vez, e correr o risco de sair com o meu ego

abalado.

Foi divertido notar as suas caretas para as cantadas que

estava ouvindo dos caras. Às vezes, a morena sorria e falava


alguma coisa. Teve um momento que a vi atrás do balcão sendo

cercada por Dante, e eles pareciam que não estavam se


entendendo bem. Fiquei me perguntando o que de fato existia entre

eles, porque o aviso que deu foi de um cara com ciúme.

Frustrado, e decidido a não me aproximar, aceitei as

investidas de uma ruiva que estava na mesa ao lado da minha. Sem


muita conversa, a chamei para a minha mesa, bebemos e
terminamos a noite transando em um hotel.

— A noite não foi boa?

Quase caio da cadeira com o susto que levo.

Assombração a essa hora da manhã, o que fiz para


merecer?

— Tales, meu querido priminho, a que devo a honra da


sua visita? — O meu sorriso é debochado, porque nós somos tudo,

menos amigos.

Sempre fomos isso, dois homens brigando por espaço.


Quando éramos crianças brigávamos pela bola, quando éramos

adolescentes disputávamos garotas. Hoje a gente briga por algo


muito mais valioso, a construtora Harper, que pertence à família há

gerações.
Ele pensa que existe uma disputa por aqui, mas sei que

não é verdade.

— Vim ver se você está bem, depois do que aconteceu —

fala com falsa preocupação.

— E posso saber o que aconteceu? — Tales tira o

aparelho celular do bolso, mexe por alguns segundos e depois o


joga nas minhas mãos.

A minha bunda branca e calças arriadas até metade das


coxas estão estampadas em todos os perfis de fofoca local. A
imagem mostra claramente um homem e uma mulher fazendo sexo.

Felizmente, não dá para ver o meu rosto, ninguém está afirmando


que sou eu, mas existem as especulações.

Para quem me conhece de verdade, não há dúvida de


que sou eu, considerando que o sinal do lado esquerdo da bunda é

uma herança de família.

— O que quer com isso? — pergunto ao jogar o celular,

com mais força do que o necessário, em sua direção. Tales custa a


impedir que o aparelho faça um galo bem no meio de sua testa.

— Os nossos avós vão amar.

— Você não...
— Já mandei a foto para eles. Boa sorte quando
chegarem de viagem na semana que vem.

A história da nossa família funciona basicamente como a


maioria das que têm muito dinheiro envolvido. Todos nós nos
amamos, mas também fingimos que não faríamos quase tudo por

controle e poder.

Os meus avós paternos, os Harper, herdaram a


construtora de seus avós, e o controle dela foi passando de geração

para geração. Hoje o poder está nas mãos do meu pai, mas por trás
de tudo estão não só os olhos de águia, como as mãos do meu avô,

o senhor Gregory Harper.

Ele é uma raposa velha, mas também é muito

competente. Elevou o nome da Harper em todo o território durante


os anos de gestação e, certamente, não iria dar tudo de mão beijada

para o meu pai. Jonathan é um diretor-presidente mediano, tanto


que, aos 52 anos, pediu que meus avós começassem a procurar um
substituto.

Nunca foi falado abertamente para não deixar um clima


ruim com a tia Marta e o meu primo Tales, mas é de conhecimento

de todos que eu sou o neto preferido, e mais competente, dos meus


avós. A minha mãe sempre dizia isso quando eu era criança. Diz até
hoje, embora eu consiga perceber.

A presidência do grupo, cuja sede passou a ser aqui em


Curitiba, depois que meus avós se mudaram de Washington para o
Brasil com os filhos há um pouco mais de vinte anos, nunca esteve

em disputa, pelo menos, não para mim.

Eu sempre trabalhei duro para ser o diretor-presidente do


grupo Harper. Me formei em engenharia civil, administração, e fiz

diversos cursos de design com o intuito de me preparar para quando

o dia chegasse. Sempre estive certo de que ele chegaria.

De uns tempos para cá, sinto que talvez eu tenha uma

pequena, mas incômoda, pedra no meu sapato. Já tem um tempo

que percebo que Tales ambiciona mais, que não está satisfeito em

ser apenas o terceiro no comando, principalmente por estar abaixo


de mim, que sou o vice-presidente.

Tales não é nada com que eu não possa lidar e, por mais

que tente, é bem óbvio quem de nós dois tem o perfil e a

competência para estar à frente de uma empresa de família tão


grande e milionária. E mesmo se ele fosse um grande problema, eu

não hesitaria em tirá-lo do meu caminho para chegar aonde mereço.

Não nadei tanto para morrer na praia.


Sou capaz de qualquer coisa para ter dinheiro e poder.

— Mandou me chamar? — Ouço Pietro. Olho em volta e


fico surpreso que o Tales tenha saído e eu nem o vi. Meu amigo

abre a porta, e olha para os lados antes de fechá-la. É advogado,

mas age como se nos reuníssemos na minha sala para planejar


crimes.

Não chega a ser isso, mas também não é nada que

queiramos que outras pessoas escutem. Se nos ouvissem,

saberiam que não valemos nem o preço da agulha que costura os


nossos ternos de grife.

— A minha transa foi filmada por algum idiota. — O

assunto que me fez chamá-lo até aqui era referente a trabalho, mas
esse assunto se tornou muito mais urgente.

— Você quer os parabéns pela performance? Eu já vi a

sua bela bunda branca, meu caro. E que bunda, parabéns.

— Obrigado, mas eu não estou atrás de elogios, que o


Nicolas não gostaria de ouvir — provoco.

— Ele sabe que não sou cego.

— Mas ficará sem emprego se não me ajudar a resolver

essa merda! — afirmo e, talvez, a frase contenha um pouco de


drama e exagero.

— De quem é o corpo que vamos ter que esconder?

— Estou falando sério, Pietro! Tem ideia do problema que


posso ter? Não era para isso ter acontecido.

— Olha, não gosto de ser o tio chato que diz “eu avisei”

depois que a merda já aconteceu, mas eu pedi que você fosse mais

cuidadoso nessa sua fome de fazer merda pelo menos três vezes
ao mês. Agora, tem que torcer para o vídeo não ir parar nas mãos

da sua avó.

— E por que exatamente você acha que estou assim,

gênio? Ela já viu! — digo, afrouxando o nó da minha gravata.

Quem inventou isso devia transar de meias. Odeio ter

que usá-las aqui na empresa.

— Tão rápido assim? Eles estão fora do país, cara —


comenta.

Sim, eles estão, mas a vontade que o meu priminho tem

de me foder é grande demais para que possa se segurar. O merda

pensa que com isso vai conseguir algo.

— O Tales mandou o vídeo para eles. Conhecendo-o

como conhecemos, sabemos que ele não está blefando —


constato.

— E o que você pensa em fazer?

— Me diga você — devolvo.

— Tudo bem, vou dizer. — Ele ajeita a postura e a voz. —

Não há nada que possa ser feito. O vídeo é claro, e nele você está

fodendo do lado de fora de um bar com uma mulher que não é nada
sua.

O meu melhor amigo não é conservador, não pensa que

sexo vem atrelado a algum tipo de compromisso, mas a minha avó


é. Para ela, os melhores homens são aqueles que sossegam na

vida, que se casam, têm milhares de filhos e nunca mais olham para

outras mulheres depois que se casam.

Ela segue a filosofia de que um homem casado é um


homem sossegado. E um homem sossegado trabalha com mais

competência.

— Você terá que se casar com a moça do vídeo. Gostou


do meu plano? — Pietro está brincando, mas sinto o meu sangue

congelar nas veias do mesmo jeito.

A questão da família e do casamento é tão enraizada na

mente da minha avó que eu sempre tive aversão a isso. Por alguma
razão muito louca, sempre tive medo de que um dia ela pudesse

chegar com uma noiva para mim. Com vestido branco e tudo, pronta

para me arrastar para o altar.

— Eu não sei nem o nome daquela mulher — aviso.

Mas bem que lembro do nome da morena emburrada do

Dante...

— Bom, aí fica mais difícil para a gente — ele diz.

A gente. Desde que saímos do colégio, Pietro e eu


sempre fomos “a gente”. Os nossos pais são vizinhos até hoje,

então ficou meio impossível não nos tornarmos melhores amigos.

Estudamos o colegial juntos, e apesar de não termos escolhido os


mesmos cursos, ingressamos na mesma universidade.

— Gosto de como você sempre tem ótimas ideias, Pietro.

Aposto que o Nick se apaixonou pela sua inteligência — brinco para

provocá-lo.

Não tem muito o que fazer mesmo nessa situação. Se

tivesse, ele já teria dito. O advogado tem a mente mais maliciosa e

sagaz que já conheci. É com ele que conto para me tirar das
encrencas, porque sempre tem planos excelentes.
— Tudo bem, vamos falar sério agora. Acho que você

está se preocupando demais. Sempre deu os seus deslizes e no


máximo recebeu uma bronca da vovó Érika sobre como se

comportar. Não pense que o seu comportamento da semana

passada irá comprometer a sua chance de chegar à presidência.

— Minhas chances?

— A certeza de que você irá chegar — ele se corrige,

mas não deixa de revirar os olhos para a minha arrogância.

Pietro, ao contrário de mim, vê perigo em tudo. Ele não


acredita que será fácil, apesar da predileção dos velhos. Para ele,

Tales pode ser mais do que uma pequena pedra no meu sapato.

Estou começando a desconfiar que esteja certo.

— Eles chegam de viagem na semana que vem, e os


próximos meses serão dedicados à escolha do sucessor do papai.

Nós temos que estar preparados — aviso, Pietro arqueia a

sobrancelha.

— Diga isso para o seu pau. Tente mantê-lo dentro das


calças e, com certeza, você vencerá na vida — aconselha, mas o

tom é sempre de ironia. — Posso voltar para a minha sala, senhor

futuro diretor-presidente das construtoras Harper?


— Deve. Hoje nós temos duas reuniões, isso você já
deve saber, mas aposto que não sabe que tenho que escolher a

nova secretária — digo, enquanto ele se encaminha para a porta.

Pietro, como um excelente fofoqueiro, se volta para mim.

— A senhorita Mendonça já vai entrar de licença-

maternidade? Espero que o babaca do noivo a peça em casamento,

agora que será pai.

— Você é mesmo um fofoqueiro. Nem eu sabia que a

minha secretária tinha um noivo.

— Ele é um gato, por sinal. Mas tem cara de que não vale

o chão que pisa.

— Chega, Pietro! Pode dar o fora. — O que é que eu

tenho a ver com a vida da minha secretária?

Tudo bem que a Carla é um amor de funcionária, mas ela

é só isso, uma funcionária competente, assim como tem que ser a


sua substituta.

— Faça uma escolha consciente, John. Não precisa ser


uma mulher gostosa que vai te fazer cair em tentação aqui na

empresa. Se isso acontecer, pode dar adeus aos seus objetivos,


porque isso, sim, seria algo que a senhora Érika não perdoaria.
Depois de duas reuniões longas e cansativas, estou
pronto para dar o meu expediente por encerrado mais cedo. Já fiz o
que tinha para hoje, e para que mais serve esse cargo se não para

ter algumas regalias como sair mais cedo?

Que os meus avós nunca me ouçam falando algo assim.


Quando eles estiverem no país, depois de dois anos viajando como

dois adolescentes, terei que bater o ponto no horário como qualquer


outro funcionário.

Começo a juntar as minhas coisas e a arrumar a minha


mesa quando ouço o telefone tocar.

— Pode falar, senhorita Mendonça.

— Eu estou com o currículo das três melhores


candidatas. Posso levar para que dê uma olhada? Não precisa

escolher hoje.

— Tudo bem. Seja rápida, porque estou com um pouco


de pressa — para ir tomar uma boa cerveja, penso, mas não digo.

Trinta segundos depois, ela entra na minha sala com as

pastas. Até parece que tem pressa para se livrar de mim.

Qual é? Eu sou um ótimo chefe!


— Aqui está. Eu dei uma olhada, e acredito que qualquer
uma delas será uma ótima escolha, apesar de ter feito todas as
minhas apostas em uma em especial — fala com um sorrisinho

malicioso.

— E eu posso saber o porquê disso?

— Porque estou com o senhor há anos. Sei bem como


gosta de mulheres bonitas.

Ela não espera a minha resposta, apenas vira as costas e


sai, deixando-me com as pastas na mão.

Primeira: Ana Clara, 25 anos, não tão experiente, mas


formada em administração e vários cursos na área que podem me
ajudar quando as minhas responsabilidades aumentarem.

É solteira, bonita, mas nem tanto. Isso pode ser bom para
mim, pois não preciso que a tentação fique do outro lado da minha
porta, principalmente neste momento.

Segunda: Berenice, 42 anos. Trabalhou em outras

grandes empresas como secretária, e possui cartas de


recomendações. Essa parece que sabe o que fazer, seria uma
excelente escolha. O seu currículo é bem extenso, então passo para

a próxima e última.
Terceira: Manuella Ortega, 32 anos. Acabou de terminar
vários cursos profissionalizantes, incluindo o de secretariado

executivo, recursos humanos e telemarketing. Até semana passada


trabalhava como secretária em um escritório de advocacia.

De todas, o seu currículo com certeza é o mais pobre. Ela


não tem tanta formação, muito menos experiência, então imagino
que deve ter algo nela que impressionou muito os entrevistadores.

Eles são rigorosos na seleção, afinal, queremos os melhores a


altura do bom salário que pagamos.

Bom, acho que já tenho a top 3.

Antes de soltar a folha com desinteresse, os meus olhos

sobem para o topo dela, mais especificamente para o conto


esquerdo.

Manuella Ortega. Aquela Manuella, a morena gostosa e

gelada, que me faz sonhar com seus peitos e pernas longas e


torneadas. Com a sua bunda na saia fajuta que usa como uniforme
de garçonete.

Vendo-a através de uma foto 3x4, e com a possibilidade


que se forma na minha cabeça, não sei o que pulsa mais forte: o
meu coração, ou meu pau.
Bom, acho que já tenho a minha top 1. A minha nova

secretária.
CAPÍTULO 4

MANUELLA
Horas antes...

Quando você se sentir trouxa, lembre-se de mim, que me


demiti do meu último trabalho e, ainda por cima, desisti de cumprir o
aviso prévio, o que significa que não recebi o dinheiro que poderia ter
recebido.

Às vezes, não sou nada sensata. Deixo-me levar pelo estresse


do momento e acabo fazendo merda. Mas a semana passada foi a gota
d’água. Eu era apenas uma secretária de um dos advogados da porcaria
do escritório, mas todos os dez me pediam para passar oferecendo
cafezinho três vezes ao dia.

E não era porque gostavam muito de café, faziam pura e


simplesmente porque queriam me olhar por mais tempo, como se eu

fosse um pedaço de carne exposto em um açougue. Não estou sendo


convencida, quem me dera se o desconforto que eu sentia fosse apenas
invenção de uma mente narcisista.

E o desconforto nem era a pior parte, já que aprendi a relevar

esse tipo de situação no escritório, assim como faço no bar do Dante na

maior parte do tempo. O que me fez cansar, e demorou uns anos para
isso, foram os pedidos que não tinham qualquer relação com o meu
trabalho.

Quando dei por mim, estava pagando boletos das escolas dos

filhos de alguns deles, mentindo para as esposas traídas, que ligavam


para perguntarem dos maridos. E trabalhava para o inimigo quando

escondia as flores para algumas amantes.

Se ao menos ganhasse bem para ser a empregada de todos,


teria aguentado por mais tempo o papel de cúmplice de traição e babá.

Agora estou livre dos velhos safados, mas também na rua da amargura,
cheia de conta para pagar.

Mesmo estando livre há uma semana, continuo acordando às


seis da manhã todos os dias. Fico fritando na cama até a hora de me

levantar, pensando em qual buraco irei me enfiar hoje para procurar um


emprego.

Estou tentando de tudo, até ofícios abaixo da minha

qualificação, que consiste em vários cursinhos profissionalizantes, alguns

feitos a distância. O problema é a pouca experiência, porque acredito


que quem trabalhou em tudo, não trabalhou em nada. Procuro um cargo

de secretária, mas os entrevistadores olham o meu currículo e percebem

que nunca fiquei no mesmo emprego durante muito tempo. Mas não

tenho culpa se todos eram ruins.


— Chega de lamentações, Manuella. Não adianta chorar pelo

leite derramado — sussurro para mim no quarto da casa dos meus pais,

que eu ocupava quando era criança.

Perdi o meu lugar aqui quando me casei sete anos atrás. O

quarto passou para a minha irmã mais nova, mas agora ela está sendo
obrigada a dividi-lo com a irmã de trinta e dois anos, que está divorciada

e falida.

Procuro não pensar que perdi nove anos da minha vida em um

relacionamento fracassado, porque, quando faço isso, chego à conclusão

de que prefiro virar lésbica a ter que voltar a lidar com o sexo oposto.

Da adolescência até os meus 23 anos, tive muitos namorados.

Namoros que duraram anos, outros que não passaram de uma noite de
sexo sem compromisso. Não posso dizer que não curti a minha

juventude, porque estaria mentindo. Dei mais do que chuchu na serra e

nunca estive sozinha.

Sentia que precisava de alguém ao meu lado. Na minha

cabeça, uma pessoa sozinha não se bastava, não era feliz por completo.

Deve ser por isso que transformei o primeiro sapo que

apareceu na minha frente em príncipe encantado.

Lucas sempre foi um homem bonito e charmoso. Aos trinta e


oito anos, a sua beleza parece ter aumentado, mas a parte de dentro

pode jogar fora que está podre.


Ele é professor, e eu o conheci em uma sala de aula. A escola

profissionalizante era frequentada por garotas entre os dezesseis e vinte

anos, mas eu tinha vinte e três.

Ele me achou interessante, já que eu era a única na sala com

quem podia conversar mais do que duas palavras e ser entendido. Eu

achei o máximo que o professor fosse tão jovem e bonito.

A mulher que buscava conhecimento ficou apenas um mês,

dentre os doze que durou o curso, sem transar com o professor. Nos

onze seguintes, fingimos bem que éramos apenas aluna e professor. Se


eu não estivesse tão apaixonada por Lucas, teria percebido que o fato de

ele ter se envolvido comigo, sua aluna, era no mínimo questionável.

Foi um ano de caso clandestino, onde mais transamos do que

conversamos. Ele trabalhava tanto que não tinha tempo para mim.

Quando o curso acabou, namoramos por mais um ano, depois Lucas me

pediu em casamento e eu não hesitei na hora de aceitar.

Os sete anos morando na mesma casa mostraram com

bastante clareza o que os dois anos de namoro não foram capazes.

Morávamos de aluguel em um apartamento perto da escola onde ele

dava aula, mas tínhamos as nossas vidas separadas. Ele, com sua carga

de trabalho, só tinha tempo para mim aos domingos.

Eu trabalhava, mas também tinha que ser dona de casa em

tempo integral. Alguém me culpa por ter começado a ficar cansada


demais para fazer sexo?

A verdade é que o casamento só funcionou nos primeiros dois

anos, depois vieram mais cinco de pouco sexo, pouca comunicação e

comodismo. A pior parte era sentir que a culpa era minha. Eu não era

boa o suficiente.

Lucas e eu não falávamos em separação, ambos insatisfeitos,

mas nenhum disposto a mudar de vida. Ele, sem que tenha sido preciso

uma conversa, resolveu por nós dois quando me traiu com uma de suas

alunas.

Não peguei no flagra, mas a bobinha, querendo tirar a chifruda

do caminho, me mandou as fotos dos dois na cama. É óbvio que ele

negou, mas fui irredutível quando pedi o divórcio, e não aceitei um não

como resposta.

Estamos separados há um pouco mais de um ano, mas

oficialmente divorciada há oito meses.

Percebi que a minha vida havia regredido quando precisei

voltar a morar com a minha mãe e minha irmã. No último ano, o meu pai

sofreu um acidente vascular cerebral e acabou falecendo.

As duas precisaram do meu apoio, por isso estou aqui. O

apoio também é financeiro, porque o papai, com os seus sessenta anos,

era o provedor da casa. Ele sempre trabalhou no comércio para dar o

melhor para mim e para a filha que teve em idade avançada.


Por mais que mamãe sempre tenha costurado para fora, hoje

em dia sou eu quem sustenta a nossa casa. Se já achava o salário do

escritório uma miséria quando era casada e tinha o Lucas para dividir as
despesas, depois da separação e morte do papai, ele passou a ser uma

piada de mau gosto.

O que tenho agora é uma pequena reserva, que não pode

acabar, porque não quero ter que recorrer ao golpe do baú. Por isso

tenho que me levantar, ao invés de ficar me lamentando.

Saio com cuidado para não acordar a Mika. Faço a minha


higiene, e antes mesmo de tomar café, abro o computador na página de

anúncios de emprego. Anoto os cinco melhores, até mesmo aqueles que

são tão bons que não teria a mínima chance de eu ser contratada.

Os dois primeiros me fazem sentir saudade do escritório, além

de torcer para não receber a ligação deles. Não sei qual a necessidade

de mentir tanto no anúncio. O terceiro é bom, bom demais para me

permitir sonhar. A lista de exigências para o cargo era extensa, mas

decidi arriscar. Das vinte candidatas, suponhamos que eu tenha ficado

no top 18. Tenho certeza de que duas ali eram piores do que eu.

Na quarta tentativa, tenho vontade de rir, porque não é

possível que tenha mesmo cogitado a ideia de entrar em um prédio tão

alto e elegante quanto esse. A placa “Grupo Harper” brilha mais do que o
sol. Na portaria, penso pelo menos umas cinco vezes em voltar para

casa.

— Posso te ajudar em alguma coisa, senhorita? — A moça da

recepção é tão bonita e arrumada que poderia ser capa de revista.

— Eu vim para a vaga de secretária — digo com coragem.

Se estou aqui, não custa nada tentar. O não eu já tenho, agora


vou correr atrás da humilhação. Dou uma risadinha, a moça me olha com

a cara de quem se pergunta se sou louca.

— Aguarde ali. — Aponta para algumas cadeiras a frente,

todas ocupadas por umas trinta mulheres. É dessa vez que pego o top
30. — O processo já vai começar, você deve ter lido... — Não, eu não li.

Tinha acabado de acordar.

— Claro que li. Então vou... me sentar com as outras. — Saio


um pouco desconcertada, o salto alto entortando no piso limpo e

escorregadio, e a minha saia justa demais.

Os meus cabelos não deveriam estar soltos. Todas elas estão


com os fios presos.

— Bom dia. Perdoe-me.

Falo as palavras algumas vezes enquanto passo batendo no

joelho das colegas até chegar a única cadeira vazia.


Como ainda não começou, aproveito para ver mais um pouco

a respeito da vaga no celular. Primeiro tomo um susto com a informação


que deveria saber. Se eu conseguisse, trabalharia como secretária do

vice-presidente da empresa. Depois engulo em seco quando leio sobre


as três etapas do processo.

A primeira é com o chefe do RH, a segunda com um tal de

Tales, diretor financeiro e, por último, com a senhorita Mendonça, a atual


secretária do senhor Harper, que está saindo de licença-maternidade.

Bem no final da explicação, em letras pequenas, está escrito que é um


trabalho temporário.

Não que eu tenha algo a dizer sobre isso, pois sou capaz de

apostar que seis meses de trabalho aqui equivaleria a dois anos de


salário nos meus empregos anteriores.

A primeira entrevista me deixa mais tensa, principalmente por

eu ser uma das últimas e por ver os rostos das minhas concorrentes
quando saem da sala. Elas não parecem muito confiantes.

Na minha vez, tento falar sem gaguejar, e não mostrar


nervosismo. O homem careca e sisudo faz perguntas da minha vida

profissional e, finalmente, tenho a chance de gastar o meu inglês fluente.


Um ponto a meu favor. Ele me explica sobre o salário, que para mim

equivale a uma fortuna, sobre a carga horária, e esclarece quais as


responsabilidades que eu teria com o senhor chefão.
Deve ser um senhor fofo!

Quando sou dispensada, finalmente entendo por que todas


que vieram antes de mim saíram cabisbaixas. O senhor RH mantém a

expressão tão neutra que é impossível saber se ele gostou ou não


gostou de mim.

Quando todas são entrevistadas, esperamos mais alguns

minutos de pura tortura. Somos informadas de que quinze de nós irão


para a segunda fase. Para o meu espanto, sou uma delas.

Somos dispensadas para almoçar. O lugar é tão maravilhoso

que recebemos passe livre para comermos de graça no refeitório da


empresa.

As comidas são muito sofisticadas e, por alguns minutos,

enquanto almoço, finjo que sou tão rica e poderosa quanto todos que
estão no salão.

Às duas da tarde começa a segunda rodada com um dos

chefões. Dessa vez, sou uma das primeiras. Surpreendo-me com a


beleza de Tales Harper, e me questiono qual será a aparência do meu

futuro chefe. Olha aí! A confiança começando a aparecer.

O cara pode até ser bonito, mas o ar de prepotência é irritante.


Ele faz perguntas pessoais que extrapolam o profissionalismo, e não
para de olhar para os meus peitos, para as minhas pernas e todo o resto.
Pergunta até mesmo o meu estado civil. Mais uma vez, porque a
pergunta já havia sido feita pelo senhor RH.

Saída da boca dele, a pergunta parece ser um pré-requisito

para o cargo.

Ele me deixa acreditar que tenho chances, ou talvez estivesse

apenas brincando comigo, considerando que o que aconteceu na sala


passou longe de se parecer com uma entrevista.

Apenas oito são selecionadas para a etapa final, eu sou uma delas.

— Boa tarde, senhorita Ortega. Sente-se.

— Obrigada — falo para a senhorita Mendonça, obviamente

grávida.

— Vou ser sincera com você, assim como fui com as outras.
Você passou pela parte mais difícil quando falou com o RH, e embora

não entenda o porquê de o senhor Tales ter se metido no processo, com


certeza sem o consentimento do senhor John, quem vai dizer se você
terá um futuro aqui sou eu. Se vou gostar das candidatas que me

mandaram, porque sei que são competentes. Se não fossem, não teriam
chegado até aqui.
— Entendo — falo.

Deixo de fora a informação de que não sei se o senhor Tales

avaliou a minha competência, enquanto me olhava com malícia e fazia


perguntas pessoais.

— Fale-me de você. Manuella.

A senhorita Mendonça, não sei por que essa gente precisa ser

tão formal, além de bonita, passa um ar de segurança, de mulher forte.


Deve ser por isso, por me identificar com ela, que acabo esquecendo que

isso aqui é uma entrevista, não um papo entre duas amigas. Cinco
minutos depois, quando mal comecei a falar das minhas histórias, ela já

está chorando de rir, enquanto apoia a mão na barriga.

Também dou boas risadas, mas choro um pouco por dentro,


porque sei que esse emprego não será meu. Não é a primeira vez que
sou tombada pela minha língua grande.

— Então quer dizer que você não quer saber mais de


homens? — indaga. Parece não acreditar, mas é porque não se deparou

com um Lucas e um Dante na sua vida.

— Não. Se eu tiver que me casar, será com uma mulher —


afirmo, convicta.

— Não me diga que é lésbica — Carla Mendonça parece

chocada, mas também interessada.


Será que quer que eu crie o seu filho e assuma uma família

com ela? Pelo que falou, o namorado é um traste.

— Ainda não tive a oportunidade de experimentar o sexo,


embora tenha beijado uma amiga quando estava bêbada anos atrás,

mas tenho certeza de que não deve ser pior do que lidar com um homem
— desabafo. Estou tão à vontade que até a minha postura relaxou.

— Com certeza não é pior, Manuella. E aqui entre nós, o meu

chefe é um babaca completo. Se acha a oitava maravilha do mundo, mas


é gente boa.

— Ele é bonito? Não posso ficar perto de homem bonito.

Sempre que acontece, fico burra e esqueço que não transo mais com
homens.

Ela, que já deve ter me descartado e está me vendo como

uma confidente, assim como eu a vejo no momento, faz um relatório


completo do cara. Ele parece tão cafajeste que o meu dedo podre, e

outra parte do meu corpo, pisca.

— Eu gostei muito de você, Manuella Ortega — diz, depois de


trinta minutos de conversa.

— Eu também gostei de você. Espero que me ligue mesmo. —

Aponto para o celular onde acaba de salvar o meu contato. — Agora eu


tenho que ir, porque a luta continua — falo, e me levanto.

— Luta?
— Sim, ainda preciso arrumar um emprego. De que forma eu
irei sustentar a minha futura esposa? — Brinco.

— Manuella, você não vai procurar um emprego.

— Não vou?

— Não. Você era exatamente o que eu estava esperando.

Acho que vai se dar muito bem com o senhor Harper, e embora a
escolha final seja dele, algo que diz que você será a escolhida.

Quando a Mendonça termina, eu só quero sair pulando e

gritando para comemorar. É bom demais para ser verdade, mas parece
que finalmente os meus dias de glória chegaram!
CAPÍTULO 5

MANUELLA
— Mika, abra essa porta, pelo amor de Deus! —

Descabelada, e um pouco tonta por causa do porre de ontem à


noite, esmurro a madeira gasta da porta do único banheiro da casa.

Hoje eu começo na construtora, acordei cedo com dor de


barriga de nervoso, e só preciso usar o banheiro para fazer o
número dois e começar a me arrumar, não precisa ser exatamente

nessa ordem. Estou neste estado há uma semana, desde o dia que
John Harper me escolheu como sua secretária.

Todos os dias eu acordo com medo de olhar o celular e


ver nele alguma ligação, ou mensagem me dispensando. Sei que é

neura da minha cabeça, mas é bom demais para ser verdade. Ainda
não estou acreditando no salário e nem em todos os bônus. A carga

horária perfeita e o fato de não precisar ir trabalhar aos sábados e


domingos me faz querer chorar de alegria.

Ainda não falei com o Dante, mas espero que essa seja a
minha última semana no Maresias. Não posso continuar trabalhando
de garçonete até de madrugada e ainda acordar cedo para o turno

de secretária.

A melhor parte disso tudo? Livrar-me dele.

— Mamãe! Se essa garota não abrir a porra da porta, eu

vou arrombar! — grito para a dona Abigail, que está na sala. Ela
acorda cedo para conseguir dar conta de fazer os consertos das

clientes.

O bom de ter uma mãe costureira é que ela faz a maioria

das minhas roupas.

— Calma, mulher, parece que vai tirar o pai da forca. —

Mika sai toda linda, rebolando a bunda de tanajura.

Aos vinte e cinco anos, a minha irmã mais nova não tem

outra obrigação além de estudar. A nossa mãe se mata em uma


máquina de costura para bancar os seus estudos, mas eu não

reclamo disso, porque vejo que Mika se esforça para fazer valer o

suor da nossa mãe. É muito vaidosa, namora uns três caras ao

mesmo tempo, sem que um saiba do outro, e eu morro de saudade

da vida sem preocupações que levava antes de me casar com o

Lucas.
— Esqueceu que hoje é o meu primeiro dia? — digo para
ela antes de me trancar no banheiro.

Na frente do espelho, depois de usar o vaso, fico


pensando em como me vestir hoje. Quero causar boa impressão,

mas não tão boa assim. Quero que me notem, mas não que babem

em cima de mim.

Sabendo que no meu caso não tem como usar o meio


termo, porque sou muito bonita para passar despercebida, decido ir

mais básica e sem graça possível. Dessa forma o meu chefe não vai

me olhar com cobiça, e eu não serei obrigada a me policiar para não

cair na tentação da carne se for gostoso como a Mendonça falou.

Quando desço do carro de aplicativo e olho para cima,


sinto como se estivesse sido transportada para outro mundo. O

prédio é tão alto e imponente. Pelo pouco que vi na semana

passada, ele está à altura das pessoas que circulam dentro dele.
Diferente da primeira vez em que entrei com as orelhas

baixas, agora estou com o nariz em pé, segurando a pastinha com


os documentos que devo levar no RH para efetivar a minha

contratação. O meu bom dia para a moça da recepção tem um tom


mais firme, afinal, sou o braço direito do chefão.

Tudo bem, talvez eu esteja exagerando um pouco.

— Mantenha os pés no chão, Manuella. É por isso que


Deus não dá asas à cobra.

— Disse alguma coisa? — O homem na frente do


elevador pergunta. Deve ter por volta de cinquenta anos, e ainda é

muito bonito com os seus olhos claros e os fios de cabelos que são
uma mescla de prata e loiro escuro.

— Não. Eu estava falando sozinha — confesso quando


nós dois entramos no elevador.

Não tem ninguém além de nós dois dentro dele. Fico


olhando para cima, sem saber se puxo assunto, ou se permaneço

em silêncio.

— Será que vai chover hoje? — Olho de soslaio para o


lado, o homem parece um pouco desconfortável.
Quem foi que disse que é uma boa ideia puxar assunto

dentro de elevadores? É por isso que tem gente que não gosta. Na
verdade, o silêncio é subestimado demais. Eu adoro ficar em

silêncio.

— Não, a previsão é de trinta graus hoje. Duvido muito

que chova — comenta sem me olhar. Eu poderia só acenar e ficar


em silêncio. O homem só respondeu por educação, depois de muito

pensar se devia se dar ao trabalho, posso apostar.

— Daria para fritar um ovo na calçada. — É, tem gente


que não valoriza o silêncio.

— A senhorita é nova na empresa? É a primeira vez que


te vejo por aqui. Teria lembrado se fosse o caso — diz, eu não sei

se foi um insulto, ou uma cantada.

Deve ser uma cantada, já que me olha da cabeça aos

pés. O brilho de sua aliança está quase cegando os meus olhos.

— Estou começando hoje como secretária — revelo.

— Boa sorte. Você vai precisar.

— Vou? — Pergunto, mas não tenho tempo de ouvir uma

explicação, porque as portas do elevador se abrem no décimo


terceiro andar, o meu andar. Ele apertou para o décimo quarto, o
último andar do prédio.

Saio do elevador e me deparo com um corredor curto,


que tem três salas de cada lado. O piso é acarpetado, o lugar é tão
iluminado quanto um shopping. Do estilo que não dá para saber

quando é dia ou noite, se está chovendo ou fazendo sol.

De longe, percebo que a primeira sala é a do poderoso


chefinho. Na porta de sua sala tem escrito com letras grandes e

garrafais as palavras “John Harper, Vice-diretor”. Me pergunto por


um momento onde eu ficarei, mas tenho a minha pergunta

respondida quando ando alguns passos e me deparo com seis baias


do lado direito do andar.

Ouço telefones tocando e conversas femininas. Elas


parecem animadas e eu as odeio por isso. Quem acorda e fica

animada às oito da manhã? Aposto que todas acordaram às seis e


meia para se arrumarem e ainda chegassem a tempo.

Com a bunda em cima de uma mesa, a fim de conseguir


enxergar todas as outras, Carla Mendonça conversa e gesticula sem
parar. Todas as outras três sorriem de algo que a gestante falou.

Carla para de falar quando me vê parada as observando.


— Venha até aqui, Manuella. Não se faça de tímida,
porque sei que você não é.

Não sou mesmo. Se fosse, não teria a convencido de que


era a melhor para ocupar o seu posto, mesmo que não fosse de
verdade.

— Meninas, essa é a senhorita Manuella Ortega, a nova

secretária do senhor Harper. E como eu estava falando, sinto que


ela vai ser o terror do pobre coitado. — Novamente, todas sorriem

como se tivessem uma piada interna só delas.

Terror do pobre coitado? Por que eu sinto que esse


emprego, por melhor que pareça, foi um presente de grego?

— Olá, meninas — digo, ainda pensativa quanto a última

frase da Carla.

— Manuella, essa é a Teresa, a secretária do senhor


Tales, que é primo do seu chefe. Já te adianto que eles não são

exatamente amigos, mas eu e a Teresa não nos deixamos

influenciar pela rivalidade deles.

— Eu também não vou — apresso-me em dizer, mas já


não gosto do cara pela forma que me tratou na entrevista.
— Sara é secretária de um dos arquitetos mais antigos do

grupo, o senhor João Mendes. E Ana Julie é assistente do


engenheiro Thiago Góes. Com o tempo você vai conhecer cada

uma delas e se tornarão ótimas colegas de trabalho — diz. Acho

fofo o seu jeito de chefe da classe proletária.

— E o senhor Harper, quando poderei conhecê-lo? —

indago. Estou ansiosa para saber com quem terei de lidar.

Pela conversa da senhorita Carla quando fiz a entrevista,

eu terei que ser praticamente a babá do sujeito. Não que faça tanta
diferença, porque, pelo salário que pagam, eu poderia perfeitamente

limpar a bunda dele, ou ajudá-lo a esconder um corpo.

— Ela está ansiosa, meninas. — Uma das mulheres


comenta, as outras trocam olhares maliciosos. — Calma, garota.

Você irá conhecer o chefinho em breve. Boa sorte.

— Boa sorte? — Me volto para a Carla.

— Teresa só está te provocando, não dê ouvidos para


ela. Se te chamei, é porque tenho certeza de que se dará bem com

o senhor Harper sem se enfiar na cama dele. Esse é o único erro

que não pode cometer.


— É claro que não! — Falo com ultraje — Aprendi que

onde se ganha o pão não se come a carne.

Nem se o meu novo chefe fosse o Henry Cavill eu

arriscaria o meu emprego por causa de sexo.

Tá! Se fosse o Henry eu abriria uma exceção, mas só

porque ele é o meu sonho de consumo.

— Foi por isso que te contratei — comenta. Amo saber


que as minhas bobagens me ajudaram dessa vez. — Meninas,

depois vou contar para vocês sobre como a Manuella decidiu virar

lésbica.

— Sério? Se for verdade, eu me candidato para ser o seu


primeiro sexo. — Sara, li o nome no crachá preso a sua blusa

branca, pisca para mim, estica o pescoço e me olha da cabeça aos

pés. — Você é linda demais.

— Obrigada — agradeço, sentindo o meu rosto pegando


fogo de constrangimento. Já pensou se ela decide que vai dar em

cima de mim de verdade?

— Tem certeza de que fez a escolha certa, Mendonça?


Ela pode não querer transar com ele, mas John Harper não vai

resistir — Ana Julia afirma.


— Ele vai resistir, porque está focado na presidência. E

se não resistir, terá uma oponente à altura para colocá-lo no seu


lugar. Não é, Manu?

— Pode contar comigo.

Estou começando a achar que não pode.

— Tudo bem, vamos parar de fofocar! Daqui a pouco os


caras chegam e nos pegam fofocando. Vou tomar um café, e você,

Manuella, tem que ir ao RH. — Aponta para a minha pasta.

Enquanto entrego os documentos e termino o meu


cadastro, o senhor careca do RH fica me olhando estranho. Ele

deve estar se perguntando como eu, dentre todas as candidatas, fui

a selecionada. O processo não é rápido, e já se aproxima das dez

da manhã quando volto para o décimo terceiro andar.

A mesa da Mendonça está vazia, então eu tiro o porta-

retratos com uma foto minha, da minha mãe e minha irmã juntas e

coloco perto do computador. Quando volta do café, Carla se dedica

a me ensinar tudo o que devo saber.

— Entendeu? — pergunta, depois de uma hora falando

sem parar, e rápido o suficiente para eu me perder no meio da


explicação. Algumas vezes disse para tirar dúvidas com as outras

garotas, mas elas já estão focadas em seus próprios afazeres.

— Entendi — minto.

O máximo que entendi é que, se quero ficar até o


contrato acabar, devo ser dócil e leal como o cachorro ao senhor

Harper. Quando ela vai embora, prometendo não voltar aqui antes

do fim da licença, sinto um leve frio na barriga.

Os meus olhos vão para a porta do senhor Harper a cada

cinco minutos, mas ela continua fechada. Estou em dúvida se

chegou quando eu estava no RH, ou se ainda não chegou.

A minha dúvida acaba quinze minutos depois, quando o


telefone começa a tocar.

— Senhorita Ortega, pode vir até aqui, por favor? — A

voz, que não me parece estranha, causa um arrepio da cabeça aos

pés.

Parece voz de sexo, e nem sei se isso existe. Por alguma

razão estou nervosa, e as mulheres não me ajudam quando ficam

me desejando sorte.

O que é isso, um filme de terror?


O homem que se esconde naquela sala é alguma espécie

de monstro?

Não me dou ao trabalho de bater na porta, afinal, se me

chamou é porque está me esperando. Antes de prestar atenção no

homem, que tem a cabeça baixa e ainda não me notou, olho em

volta da sala. Ela não tem nada de mais.

Uma mesa grande, um sofá na lateral e ar-condicionado

em uma temperatura que faz parecer que estamos no polo norte.

Quando volto o olhar para o homem sentado à mesa, já estou sendo


encarada por um par de olhos verdes e um sorriso infame no rosto.

Primeiro eu sinto vontade de desmaiar aqui mesmo,

depois quero sair correndo e, por fim, quero bater na minha cara por

estar tão afetada por ele.

E daí se o meu novo chefe é o homem que tentou transar

comigo enquanto eu trabalhava de garçonete no bar de um ex-

namorado? Se ele me humilhou e depois fez a caridade de não


pedir a minha cabeça para o seu amiguinho?

Qual o problema de eu ter enfiado a minha língua na sua

orelha?

Porra, estou tão ferrada!


— Seja bem-vinda, senhorita Ortega. Eu diria que será
um enorme prazer trabalharmos juntos.

Puta que me pariu! Não pode ser!


CAPÍTULO 6

MANUELLA
O babaca gostoso do bar, mais gostoso do que antes,

vestindo terno e gravata afrouxada, está sentado na minha frente,


esperando que eu recolha o queixo que deixei cair e abra a boca

para dizer alguma coisa. Antes de tomar qualquer atitude, eu olho


para o teto e para os lados, tentando descobrir se não tem alguma
câmera escondida. Quem sabe não caí em uma pegadinha?

— Suponho que você ainda queira o cargo de minha


secretária. Não é por isso que está aqui? — O loiro de olhos

penetrantes e braços forte, consigo ver, mesmo por baixo de tanta


roupa, tem uma das sobrancelhas erguidas.

Ele sabia há dias que eu era a garçonete do Maresias, e


deve ter se divertido bastante.

— Na verdade, vim aceitar a sua proposta irrecusável de


alguns dias atrás — falo com impertinência, mas lembro com quem

estou falando e me recolho. — Esqueça o que acabo de dizer,


senhor Harper. Estou nervosa, mas muito feliz pela oportunidade de

trabalhar em uma empresa como essa.


— Não precisa de tanto formalismo comigo. Pode me

chamar de John — assevera.

— Tudo bem, John — falo sem sentir a menor falta do

“senhor”. — Se não tiver nenhum problema de a gente...

— A gente? — pressiona de propósito.

— De a gente ter tido aquele desentendimento no bar.

Espero que não tenha ficado chateado de ter levado um fora de


mim. Não é que eu não te ache agradável.

— Eu não levei um fora de você! — afirma, continuo


como se não tivesse ouvido. Só quero superar o início

constrangedor e partir para a parte do trabalho.

— Sou grata por ter feito o mínimo, e não ter me

entregado para o Dante — termino e respiro aliviada.

É isso! Assunto superado. O meu alívio dura pouco,

porque o homem se levanta da cadeira e, como se estivesse em

câmera lenta, o vejo abotoando um dos botões de seu terno e vindo

em minha direção. A firmeza da minha voz acaba quando as minhas


pernas ficam fracas. Olho para o homem da cabeça aos pés, e é

impossível que tenha feito isso de maneira discreta.


John não fica para trás, a cada passo que dá para perto
de mim é uma peça de roupa que me sinto perdendo. A tensão

sexual é tão grande que paira no ar. Isso aqui deveria ser apenas o

primeiro contato entre a secretária e o seu chefe.

— Não pedi a sua cabeça porque não valia o estresse e o

esforço. E está equivocada quanto ao fora que pensa que me deu

— diz, já bem perto de mim. — Se eu estivesse mesmo tão

interessado em você quanto acredita que eu estava, Manuella

Ortega, teria terminado aquela noite na minha cama, tomando o

meu pau na bocetinha até se cansar.

Tudo nele, a beleza que chega a ser injusta, o jeito de

quem faz tudo para conseguir o que quer, e que não tem cuidado

com as palavras, faz com que eu o odeie. Mas me odeio ainda mais
por me deixar afetar não só por suas grosserias, mas também por

suas palavras chulas, que fazem o meu corpo arder.

Eu sempre tive a mente no lugar. O meu corpo, por outro


lado, é o meu algoz.

— Está querendo me fazer desistir? Se for, eu...

— Não — ele nega ao me interromper. — Pelo contrário,

nós estamos resolvendo uma questão pessoal entre a gente, para


que ela não atrapalhe o nosso desempenho como uma equipe de

trabalho. Se tivesse dado tanta importância ao que aconteceu


naquela noite, minha cara, você não estaria aqui hoje, considerando

que eu soube quem era você no momento em que coloquei os olhos


no seu currículo.

— Acho que já deixou o seu ponto claro o suficiente, John


Harper. Estou aqui para servi-lo. — Cheia de uma ironia que pode
me custar caro, mas que não posso evitar, faço uma reverência.

Péssima ideia, porque, pelos segundos que dura, fico


com a cabeça bem próxima do seu membro.

— Está mesmo, senhorita Ortega? O seu futuro aqui na


empresa, talvez de forma definitiva em algum outro cargo, se provar

o seu valor, irá depender apenas de você.

— O que isso quer dizer? — questiono. Não vou gostar

da resposta, não tenho dúvida disso.

— Que você tem que ser cem por cento leal a mim em

todos os sentidos. É isso que eu espero de quem se torna um dos


meus olhos e braços dentro desta empresa. Isso aqui, Manuella,
não é brincadeira de criança, e logo vai entender do que estou
falando. — Enquanto fala, John vai andando, até que para atrás de

mim.

Não está me tocando — não ainda —, mas sinto o calor

do seu corpo emanando para o meu. As minhas costas estão


pegando fogo. Os meus braços estão arrepiados, porque este

homem é mais do que aparentava ser.

Pensei que fosse apenas um playboy, mas John Harper


fala e age como um mafioso, a sua fala trouxe a sensação de que

ele, e todos que estão aqui, fazem parte de um esquema criminoso.


Antes mesmo de ponderar no que implicam as suas palavras, falo:

— Serei o que você quiser.

O que o ser humano não faz para colocar um prato de

comida na mesa.

— Será mesmo? E se eu chegar com um corpo?

— Te ajudo a enterrar... — É, essa conversa está


estranha e indo longe demais.

— Gostei da sua disposição — fala mais perto do meu


ouvido. O dedo está sutilmente fazendo carinho no meu braço e eu

deixo.
Nada na nossa conversa parece apropriado, mas nada
sobre a forma como nos conhecemos foi.

Não sei exatamente o que está querendo com a


proximidade que me faz balançar, considerando que deixou claro
que não me quer como amante. Ainda bem para ele, porque seria a

última pessoa com quem eu iria para cama.

Além de ser um babaca, estou desesperada demais para


arriscar o meu lugar aqui por causa de uma noite de sexo, o máximo

que teríamos sem nos matarmos depois.

— Estou aqui para servi-lo, oh, grande mestre.

Sem deboche, Manuella!

— E como faria isso? Está me dizendo que está disposta


a suprir todas as minhas necessidades? — Insinua-se para me
provocar. Odeio a mim mesma por deixar que me afete tanto. Porra!

É só um homem como outro qualquer.

— Se queria uma prostituta, contratou a pessoa errada —

aviso.

Como um animal brincando com a presa antes de devorá-

la, meu novo chefe acaricia o meu braço e chega com o corpo mais
perto do meu.
Insensata de uma forma que sempre fico quando se trata
dele, empino levemente a bunda para trás e sinto a sua dureza.
Considerando a quantidade de vezes que causo essa reação em

homens aleatórios só de passar perto deles, não deveria me


impressionar com esse pau em específico duro por mim.

Incomoda-me um pouco o que está acontecendo aqui,


porque tudo em mim grita que não deveríamos seguir por esse
caminho, que ele não deveria se sentir à vontade para chegar tão

perto e eu não deveria gostar dessa proximidade.

Está tudo errado. E ele é um babaca.

— Mesmo se fosse a prostituta mais cara da cidade,

ainda assim, eu não ficaria com você. Com tantas mulheres por aí,

por que eu iria querer uma que deixou claro o que pensa de mim?

— Sim, você tem toda razão. — A firmeza na forma de


falar faz parecer que estou irritada, mas não estou. A bola está do

meu lado no campo agora, então me viro de frente para o loiro e,

com o rosto próximo ao dele, falo: — Fiz uma promessa há pouco e

vou cumprir pelo tempo que ficarei aqui. Farei tudo o que me pedir,
mas a nossa relação se restringe ao trabalho. Fora daqui, caso

venhamos a nos encontrar, você não será nada além de um homem

qualquer, que não tem direito nenhum de falar nesse tom comigo. A
gente nunca terá mais do que uma relação de trabalho, John Harper

— falo com clareza e convicção, a cabeça contrariando o corpo.

Sei que não deveria estar o atacando dessa forma, e não

teria feito isso se ele não estivesse fazendo o mesmo desde o

momento em que me viu. Se isso fizer com que eu perca o emprego


antes mesmo de começar, foda-se! Ele me irrita!

Não quero ficar mais na sua frente para não dar tempo de

ele pensar um pouco e me dispensar antes que possamos tentar.

Tento me afastar, mas John segura a minha mão e faz com que eu o
encare. Sei que está prestes a me demitir.

JOHN
Não sei onde eu estava com a cabeça quando olhei para

a sua foto naquele currículo e pensei que seria uma boa ideia tê-la
como secretária. Na verdade, a única cabeça que pensou foi a do

meu pau, que não tinha se conformado de não ter se enfiado na

boceta da primeira morena gostosa que o dispensou.

Ela está na minha sala não tem nem dez minutos, mas já
me confrontou como nenhuma outra pessoa sequer cogitou fazer. E

ao invés de me afastar, sinto-me mais interessado pela sua língua


ferina e com o fato de não se importar se sou o seu chefe antes de

abrir a boca para me atacar em resposta ao que sai da minha.

Por falar em boca, abro a minha para dispensá-la umas

três vezes, mas não consigo falar. Deve ser o fato de o meu pau
estar duro, pois apesar de me estressar, Manuella também me

excita.

Pensando bem, é melhor que fique, pois não correrei o


risco de transar com ela, como acabei fazendo com outras

secretárias que tive. Sinto-me um pouco atraído por Manuella,

afinal, é uma gostosa, mas basta que abra a boca para fazer meu
tesão por ela cair oitenta por cento.

Tudo bem que minha intenção era outra até dez minutos

atrás, mas agora vou mantê-la porque não tenho mais tempo para

perder procurando outra pessoa. Além do mais, Manuella e sua


língua ferina me manterão na linha aqui na empresa. Não tem

qualquer chance de ela acabar de quatro, levando o meu pau na

bunda deliciosa.

— Posso ir? — Manuella pergunta, depois de uns cinco


minutos me encarando em silêncio. Tenta fugir, mas seguro a sua

mão com mais firmeza. Vejo como ela olha assustada, então a solto

imediatamente.
— Perdoe-me — digo, Manuella acena com a cabeça. —

Seja bem-vinda.

Decido não responder às suas últimas afirmações,

porque sei que, se eu quisesse problemas, teria implorado para

transar comigo. Vou deixá-la pensando o contrário.

— Quer que eu te traga um cafezinho, ou um chá? —

pergunta com humildade. O ar de profissionalismo que acaba de

assumir nem de longe lembra da impertinência de antes.

— Aqui você não será a moça do café, Manuella. Quero


que isso fique claro.

— Tudo bem. — Parece surpresa. Pergunto a mim

mesmo o que ela tinha que fazer em outros empregos.

— A Mendonça deve ter falado com você sobre o que eu


espero, além do que conversamos minutos atrás, mas eu diria que

só precisa ficar atenta, sentada na sua mesinha e esperando por um

comando meu. Tem a minha agenda, então use o telefone quando

eu tiver um compromisso.

— Mais alguma coisa? — pergunta.

Ela, definitivamente, foi substituída. Que bom, tentação

longe e uma boa relação de trabalho.


— Está dispensada, senhorita Ortega. — Jogo uma

piscadinha, ela nem dá bola, simplesmente vira as costas. Posso

jurar que está rebolando a bunda bonita de propósito.

Eu quase fico vesgo olhando-a caminhar com seus saltos


altos e saia social preta muito justa em seu corpo. Manuella Ortega

é tão bela e elegante que uma roupa comum e sem graça a deixa

com cara de executiva gostosa.

— John, John... Você não vai perder mais uma secretária

porque não consegue segurar o pinto dentro das calças.

Merda! A impertinente havia deixado a porta aberta e

Pietro me flagrou a comendo com os olhos.

— Essa está fora de questão. Me irrita mais do que me

atrai. Além disso, não estou podendo cometer erros. Ortega está

aqui para ser única e exclusivamente a minha secretária — afirmo.

É estranho que ele não tenha se lembrado dela no


Maresias naquela noite. Vai se surpreender quando eu o relembrar

daquela noite.

— Que bom que tem ciência do que deve ou não fazer —


ele fala. Nós dois nos sentamos.

— O que faz aqui?


— Eu sei que devia guardar segredo, mas os seus avós

chegam hoje e pretendem vir à empresa te fazer uma surpresa.

— Que bom, estou com saudades dos meus avós —

comento.

— Agora, a notícia ruim. O seu primo, que se meteu no

processo de contratação da sua secretária para tentar te ferrar, foi


mais esperto e está espalhando para o mundo inteiro que está

namorando, e que pretende pedir a garota em casamento em breve.

Sabe o que isso significa?

— Tales está um passo à minha frente.

É claro que está. A nossa avó adora histórias piegas de

amor.
CAPÍTULO 7

MANUELLA
— Filha. — Tentei passar despercebida pela sala, mas

minha mãe me viu antes de eu entrar no quarto. — Como foi o seu


primeiro dia de trabalho?

— Maravilhoso — resumo tudo a uma única palavra, mas


nem de longe é a verdade.

— Que bom. Agora você pode sair daquele bar. Eu não


estava nem conseguindo dormir nas últimas semanas, preocupada

com você chegando tão tarde em casa.

— Dona Abigail, tenho trinta e dois anos, fiquei sete anos

casada e longe dos seus olhos. Sei me cuidar, não perca seu
precioso sono por minha causa — peço.

— Uma mãe nunca deixa de se preocupar, quando você

tiver filhos, vai entender.

Filhos? Mas eu não vou ter filhos. Penso comigo mesma.

Não ouso falar em voz alta, porque mamãe pode engatar no assunto
e nunca mais sair dele. Nós temos apenas o suficiente para
vivermos com dignidade, mas ela gosta de dizer que uma criança

nessa casa faz falta. Que traria mais alegria para nós três.

— Pois acalme o seu coração, porque daqui a pouco vou

ao Maresias falar com o Dante. Ele não vai ficar nada satisfeito com
a minha saída, principalmente quando souber que estou trabalhando

para o amigo dele.

— Seu novo chefe é amigo daquele seu ex que eu não

gostava?

Ela sempre foi contra o meu namoro com o Dante. Dizia

que um homem como aquele não queria nada sério comigo, que iria
me usar e depois jogar fora. Como o John falou, eu me tornaria os

restos do cara.

Abigail não estava errada, Dante não me ouvia, a gente

não se entendia em outro lugar que não fosse na cama. A minha

carência me fez ficar com ele durante meses, mas poderia

perfeitamente não ter passado de uma noite.

— Eu não te contei? — Ativando o meu modo fofoca,

porque não escondo quase nada da minha mãe, coloco a bolsa de

lado e me sento no sofá.


Acho que tenho tempo para conversar com ela antes de
descansar um pouco, me arrumar e depois sair.

— Não, e eu quero saber de todos os detalhes, mas algo


me diz que você está se metendo em confusão de novo.

E que confusão. Começo contando sobre a forma que

conheci meu atual chefe há alguns dias. Não deixo de fora o fato de

eu ter o dispensado da pior forma possível, mesmo que quisesse


muito dar para ele naquela noite. Mamãe fica horrorizada com o

meu linguajar, mas a vontade de saber de tudo é maior, por isso não

me interrompe.

Falo sobre a forma como o homem falou comigo do

momento em que entrei na sua sala até a minha saída.

— Manuella, eu sei que é um trabalho que vai te pagar

muito bem, que você quer esse dinheiro para me ajudar, mas não

sei se fez bem em continuar perto dessa gente. Do jeito que fala,

esse tal de John Harper não parece ser uma boa pessoa — ela fala,

depois de tudo o que ouviu.

— Ele não é uma boa pessoa, mãe, mas eu também não

sou — afirmo e antecipo do que vou ouvir a seguir.


Por sua causa, comecei a fazer terapia depois da

separação. Abigail simplesmente não sabia lidar com a pessoa que


eu havia me tornado, então tentou terceirizar o serviço. Quando falo

assim, ela deve se perguntar se não estou jogando o pouco dinheiro


que temos fora.

— Eu não gosto quando fala assim de si mesma. Age


como uma mulher forte e dona do próprio nariz, mas, no íntimo, e
apenas para as pessoas que estão perto o suficiente, gosta de se

menosprezar — fala, porque sabe como tocar na ferida.

Mas não estou me menosprezando quando digo que não

sou uma boa pessoa. É apenas a realidade. Nunca precisei


ultrapassar alguns limites para conseguir o que queria, mas farei se
for preciso para proteger a minha mãe e irmã.

— Tenho que ir descansar, dona Abigail. E, se não for


pedir muito, a senhora pode passar uma costura naquela minha saia

de couro? — Peço ao me levantar e pegar a bolsa.

— Qual? Aquela que quase deixa a sua bunda de fora?

— indaga, ácida.

— Essa. Os homens olham tanto quando estou com ela

que as costuras não suportaram e acabaram arrebentando —


brinco.

— Vai precisar dela para hoje? Você está saindo para


pedir demissão, não para uma festa.

— Quero estar bonita quando falar para o Dante que


consegui algo melhor, e não me refiro apenas ao salário.

— Filha...

— Relaxe, mamãe, sei como lidar com John Harper. —

Mando beijo para ela e saio para o quarto.

Eu não sei lidar com John Harper. Pelo menos, não da

maneira que gostaria. Primeiro ele me fez fazer promessas de


lealdade, sem me dar uma dica do que terei que fazer para provar

isso. Depois desdenhou de mim e do interesse que eu sei que teve


no bar. Posso ser um pouco convencida, mas não sou doida.

Depois o homem infernal começou a me tocar como se

pudesse. Eu, fraca, sentindo na dureza do seu pau a falta de


interesse, recuei um pouco e me recompus. Lembrei do meu lugar e
comecei a ser profissional.

O poderoso chefinho é um dos caras mais gostosos e

lindos que tive o prazer de ver. Não se trata da beleza física apenas,
porque gente bonita eu vejo todos os dias. Ele tem um charme a
mais na forma de se portar, de andar e falar. É um tesão. Um
molhador de calcinhas. Mas ele também é irritante, convencido e
insuportavelmente arrogante.

Em minutos, ele aflorou o meu lado que não leva


desaforo para casa, que não fica calada quando sou insultada, mas,

felizmente, consegui me conter. Dei uma resposta a altura do que


ouvi, depois lembrei que não podia perder o emprego. Sinto que, por

mais que ele mexa comigo, seja para irritar ou excitar, o medo de
perder o que conquistei vai sempre me impedir de fazer o que não
devo.

Terei sempre a voz da razão sussurrando no meu ouvido,


e é ela que devo escutar sempre. Todas as vezes que a ignorei me

fodi, mas agora vai ser diferente.

Saí da Harper às seis e meia da tarde, cheguei em casa

às sete da noite. Tirando a conversa com o Harper, o dia foi


tranquilo. Ele não precisou muito de mim, então fiquei na minha
mesa, fazendo o máximo de perguntas para as meninas sobre

trabalho. Às vezes parávamos para fofocar, então já sei da vida de


metade das pessoas que trabalham no prédio.

Sobre o John, não ouvi nada que já não imaginasse. Ele


é um mulherengo que fez algumas secretárias pedirem demissão.
Tudo porque ele não pôde deixar de enfiar o pau nelas e depois
deixar claro que era só uma noite para as pobres tolas.

A conversa ficou interessante quando as meninas falaram


da disputa pela cadeira de diretor-presidente do grupo.
Aparentemente, mesmo que não admita, John tem o primo como

concorrente. Elas me disseram que a briga está apenas começando,


e eu não vejo a hora de provar o meu valor para o chefinho.

Mesmo que não goste dele, não menti quando disse que

serei leal, e vou fazer o que for preciso para que consiga o que quer.

O fato de eu ser muito competitiva deve contar como um ponto a


favor de John Harper.

Depois de tirar um cochilo de uma hora, que me faz

sonhar com a conversa de mais cedo com o meu chefe,

principalmente quando tocou no meu braço e me deixou sentir que


estava excitado, sou eu quem acordo excitada. Tento pensar em

outras coisas por uns quinze minutos, mas de nada adianta.

Uma mulher de trinta e dois anos, acostumada com sexo,

mas que está há meses sem ser tocada, tem perdão por se sentir
tão sensível ao toque de um babaca qualquer. Ela tem licença

poética para pegar o seu brinquedinho de borracha e se tocar até

chegar ao orgasmo pensando no instrumento de seu chefe.


Quando o meu corpo relaxa sobre a cama, finalmente me

levanto para tomar um banho. Fico na ducha morna durante vários


segundos, e sem sentir culpa por ter me masturbado pensando no

meu chefe. Por que me sentiria se farei isso todas as vezes que

pensar nele e em sexo na mesma frase?

O vibrador será um ótimo aliado para me manter na linha

não só com ele, mas com outros modelos parecidos.

Antes de me vestir, faço uma maquiagem mais pesada,

marcando bem os meus olhos castanhos. Passo na boca um batom


vermelho que realça o tom moreno da minha pele. Deixo os meus

cabelos longos, e de ondas naturais soltos. O look que escolho não

é nem um pouco discreto.

Visto um sutiã branco que deixa os meus seios mais

empinados e por cima uma blusa branca levemente transparente.

Coloco a saia curta de couro que dona Abigail havia deixado sobre a

cama enquanto estava no banho. Arrumo a blusa branca por dentro


da saia e tenho um visual com um toque de elegância e

sensualidade.

Finalizo com saltos que me dão mais alguns centímetros


de altura.
Não deveria estar gastando roupas com o Dante, mas é

sempre bom poder mostrar o que ele perdeu por ser tão idiota. Se

eu tivesse percebido o quanto ele poderia ser tóxico e manipulador,


jamais teria olhado em sua direção, principalmente depois de ter

saído de um relacionamento cujo parceiro não me valorizava.

Às dez da noite, depois de mandar uma mensagem para

o Dante marcando um encontro, saio para esperar o carro de


aplicativo no portão.

— Vai para onde tão bonita assim? — O namorado da

vez da Mika pergunta. Eles devem estar vindo de algum motel, já


que nossa mãe não deixa a gente fazer safadezas em casa.

— Ao Maresias. Hoje é dia de me livrar daquele bar e do

Dante — aviso. É assim que me sinto. Fora do seu radar, vou

acabar de vez com as suas esperanças de reatarmos.

— A gente pode ir junto? — Minha irmã pede.

— Não. Boa noite — despeço-me e entro no carro que

acaba de chegar.
Por ser uma segunda-feira, o Maresias não está cheio.
Sento-me em umas das mesas perto da porta, porque quero sentir

de novo a sensação de ser apenas uma cliente, não a garçonete.

Gosto de ficar vendo o povo chegando.

Minutos depois, a minha paz chega ao fim quando uma

voz que conheço chama a minha atenção, mas sou rápida e coloco

o cardápio aberto na frente do meu rosto. John Harper acaba de

entrar. Ele está acompanhado de uma negra lindíssima e dois


homens, que parecem ser um casal. A mão do poderoso chefinho,

ao invés de estar na cintura, está agarrada a bunda da beldade.

Felizmente, eles se sentam o mais distante possível de


onde estou, então não preciso ficar me escondendo para que não

me notem.

Quer dizer...

Dante, que provavelmente estava na sua sala, os avista e

para na mesa para cumprimentar o conhecido. Nunca fui tímida,


mas coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha quando meu

chefe olha para trás e acena discretamente para mim. Segundos


depois, se volta para a mulher que o acompanha e começa a

conversar com ela.

O meu ex-namorado se despede e vem todo sorridente

em minha direção. Acho que o seu amigo não falou que estamos
trabalhando juntos, senão o sorriso já teria desaparecido.

— Oi, gata. O que aconteceu que não veio trabalhar

hoje? — Ele se senta e beija demoradamente o canto da minha


boca. O meu corpo reage pela lembrança de como éramos bons na

cama. O problema era fora dela.

— Eu vim conversar sobre isso com você. Não vou mais

ser garçonete do Maresias. Você sabe que vim porque queria uma
grana extra para as contas da casa, mas consegui um emprego

melhor e não vai dar para conciliar.

— Emprego melhor? — Bom, ele não parece feliz com a

minha conquista.

— No grupo Harper.

— Da família do John? — Ao meu lado, seu corpo fica

tenso.

— Sim. Mais do que isso, sou a nova secretária dele.


CAPÍTULO 8

MANUELLA
— Pare de brincadeira, Manu, esse é o tipo de piada que

não tem graça. — Dante fala isso tudo com um sorriso desdenhoso.

Não muito diferente do Lucas, ele nunca confiou no meu


potencial para nada muito além do emprego de garçonete. Para ele,
deve parecer que estou brincando mesmo.

— Eu não estou fazendo uma piada, Dante — falo, ele


continua com o sorriso idiota no rosto, e eu começo a ficar irritada.

— Uma empresa como o grupo Harper não contrataria


uma mulher sem qualificações como você — diz com convicção.

— E o que sabe sobre as minhas qualificações? —

indago. — Para você eu só sou boa em fazer sexo, não é?

— É o seu maior talento — afirma sem a menor

preocupação se está me machucando, ou não. Ele sempre foi


assim, eu é que nunca tive amor-próprio e continuei na relação

durante meses.

— Eu não vou ficar aqui ouvindo merda de você. Já falei

o que tinha que te dizer. — Quando vou pegar a minha bolsa, ele
segura o meu braço com firmeza em cima da mesa.

— Solte-me, senão eu vou fazer um escândalo aqui! —

falo com os punhos cerrados e o coração acelerado de raiva. Que

cara maluco.

Maluco, mas não burro. Olhando para os lados para


checar se não tem pessoas nos olhando, Dante solta o meu braço.

Eu passo a mão no local para fazer o sangue circular novamente.

— Perdão, querida. Eu não queria...

— Você nunca quis, Dante. Também não quis me


machucar daquela vez em que fomos a uma casa de show. Você

bebeu, e pensou que eu estivesse dando mole para outros homens.

Quando chegamos em casa, no meio de uma discussão, você me


empurrou com força suficiente para quebrar a sua televisão e

machucar as minhas costas — falo magoada.

— Depois disso você terminou comigo, mesmo depois de

eu ter dito que não iria fazer novamente. Eu implorei por perdão,

mas você se manteve irredutível — fala como se eu estivesse

errado de não ter voltado, mesmo depois do que aconteceu. Antes

disso, havia me convencido a perdoar uma traição.


Quando o conheci, Dante era diferente do homem que se
mostrou ao longo do namoro. Mesmo sendo bonito e rico, era um

cara inseguro e ciumento.

— Eu te perdoei, Dante. Tanto perdoei que mantive

contato com você, que vim te pedir ajuda quando precisei, mesmo

que no fundo soubesse que não era uma boa ideia, que poderia

pensar que eu estava querendo voltar para você.

— Sei que queria — diz, tenta me tocar, mas não deixo.

— Nunca quis — afirmo.

A minha mãe sempre me disse que a relação que a gente

tinha não era saudável, que nunca iríamos dar certo, mas eu estava

cega, carente de um pouco de afeto depois da separação. Perto do


Lucas, qualquer sapo viraria príncipe para mim. De alguma forma,

ainda me sinto presa, apesar do que acabo de falar.

— Você o quer. — Olha na direção do meu chefe. — É

por isso que está aqui me dizendo estas coisas.

— Não é nada disso! — falo entredentes, a minha

paciência está por um fio.

— Pensa que eu não noto a forma como ele te olhou, e

como você retribuiu como uma qualquer?


— Você está me ofendendo...

— Eu quero saber quantos dias levará para você vir

correndo de volta com o rabo entre as pernas. Pensa que está

fazendo um bom negócio se entregando para um homem mais rico


e influente, mas ele vai te comer e depois jogar fora.

— Ele não vai me tocar, e mesmo se fosse, você não

teria nada a ver com isso. John Harper é apenas o meu chefe. Não
vou repetir essa merda — assevero, pego a minha bolsa e me

levanto. Ainda bem que estou perto da porta. — Até nunca mais,
Dante. Não volte a me procurar.

— Fugindo? Pensei que fosse cumprimentar o seu chefe


— diz com desdém. Ainda acredita que estou mentindo.

Queria entender o que se passa na cabeça dele para


pensar que eu teria motivos para inventar uma mentira como essa.

Como se ser secretária do diabo fosse motivo de comemoração.

— E quem disse que eu não vou? — Em tom de desafio,

decidindo-me que não vou passar por mentirosa, marcho na direção


da mesa em que ele está. Bufando, provavelmente se dando conta
de que não deveria ter me provocado, Dante vem atrás de mim.

JOHN
Estou com meus amigos, vim acompanhado de uma gata

cujo número estava perdido na minha agenda de contatos, mas a


minha atenção está em uma mesa que nem posso ver daqui. A vi na

hora que entrei, embora tenha tentado se esconder da maneira mais


patética possível.

O que esperava que eu fosse fazer? Que largasse as


pessoas que me acompanham para sentar e bater um papo com

ela? No máximo eu seria educado, embora o seu nariz empinado e


língua grande me façam ter vontade de ser extremamente ácido
com ela.

Hoje na minha sala foi um exemplo. Primeiro, afetado


com a reação do meu corpo, quis a colocar no seu devido lugar.
Depois, quando não foi submissa como deveria, perdi a calma e a

tratei como não costumo tratar outras mulheres.

Não entendo por que ela me afeta. Até dia desses era

apenas uma garçonete que eu quis foder em um lugar qualquer,


agora é a minha secretária, que está mais fora ainda do meu radar,

sobretudo, agora que os meus avós estão de volta para a missão


para a qual estou mais do que preparado.

A minha vinda ao Maresias foi ideia do Pietro. Ele disse


que eu precisava me divertir e clarear os pensamentos antes de
agir. Da forma que fiquei quando soube do joguinho do meu primo
Tales, eu seria capaz de ir até a sua sala esganá-lo. Que tentativa
mais patética de chamar a atenção dos nossos avós para ele.

Por outro lado, apesar de ser patética, não é inválida. A


minha avó acredita em bobagens como o amor. Um homem que

aposenta o pau certamente agradará, embora eu seja contra a ideia


de misturar o pessoal com negócios.

— Você está pensando demais, meu caro — falando por

cima da música ambiente, Pietro alerta. — Se acalme, a sua avó


nem foi na empresa ainda. Temos tempo.

Pensei que fosse hoje e até comprei os chocolates e as


flores que a velha gosta, mas ela acabou adiando.

— Ela deve ir amanhã, e nós temos que estar


preparados. Vovó precisa ver que sou bom no que faço — digo.

— Quanto a isso, não tem com o que se preocupar, nós


somos ótimos — ele diz e bate o copo no meu, fazendo um brinde.

Do nosso lado, seu marido bate papo com a minha acompanhante


sobre moda.

— Você tem razão — digo, então puxo a gata para mais

perto e beijo o seu pescoço.


Hoje é dia de extravasar, de esquecer dos problemas na
empresa e liberar todas as minhas energias em um sexo gostoso e
demorado. Nesta noite, estou a fim de me demorar com mãos e

boca.

— Quer ir para um lugar mais reservado? — falo no

ouvido dela com descrição, esperando que entenda que estou a


chamando para um quarto de hotel.

— Na hora que você quis... — Ela para de falar quando

viro a cabeça para a mulher que está parada em pé na minha frente.

Como estou sentado, os meus olhos ficam na altura da


cintura dela. Para não perder nenhum detalhe, desço um pouco

para as coxas cremosas. Elas estão descobertas, porque a saia de

couro é curta demais. Eu não tenho nada para dizer contra a peça.

Só não está melhor porque não vejo a forma como molda a sua
bunda.

Levanto mais um pouco o olhar e paro na cintura fina,

escondida atrás de uma camisa branca levemente transparente. Um

pouco acima, o sutiã sexy, visível através do tecido, faz a minha


boca salivar e o meu pau sacudir. Fico tenso de uma forma que

ainda não tinha ficado para a minha acompanhante.


Quando chego ao rosto e vejo a maquiagem que diz “me

fode com força”, principalmente a boca, que posso ver perfeitamente


em volta do meu cacete, tenho a sensação de que ela é um elefante

e eu uma formiga. Para não ficar literalmente por baixo, levanto-me

da cadeira.

Porra de mulher gostosa! Insuportável, mas gostosa.

— Algum problema, Ortega? — indago, olhando dela

para o Dante.

Todas as vezes que os vir juntos, vou me questionar o


que uma mulher como ela viu no Dutra. Pelo pouco que vi, e o que

ele falou, ficou nítido que não sabe como lidar com mulheres.

— Nada, só vim cumprimentar o senhor — diz.

A maluca bebeu? Não estava me tratando de maneira


bem desrespeitosa para uma subordinada mais cedo?

— Então é verdade? — Ao lado da Manuella, Dante

pergunta.

— É verdade o quê? Vocês estão bêbados? — Aproximo-

me e observo de pertinho o rosto da morena. Pelo canto de olho,

vejo o Dante ficando tenso.

Ele está com ciúme?


— Levou ela para trabalhar com você? Por que fez isso?

— Dante... — Manuella tenta contê-lo. Olho rapidamente

para o lado e os meus companheiros de mesa nem piscam

observando a cena.

— Vai querer comer a minha namorada agora? Com

tantas mulheres por aí, iguais a esta que trouxe hoje, você teve

coragem de levar a Manuella para o seu covil? Ela disse, mas


pensei que estava falando só para me irritar — diz. O olhar da

minha secretária é de puro ódio.

Está quase saindo fumaça pelas orelhas dela. Imagino

essa braveza toda na cama...

— Ela estava à procura de um emprego, e eu de uma

secretária. O currículo era bom o suficiente, e quer você queira ou

não, a senhorita Ortega é minha agora... Minha secretária. — Algo


na minha fala fez o rosto dela suavizar, embora eu não faça ideia do

que. — Se era só isso, eu estava de saída. Vamos, gata?

— É claro. — Ela diz, se levanta e entrelaça o braço no

meu. Quando tento passar, Dante entra na minha frente.

— Não entre no meu caminho, Harper. Somos amigos,

mas podemos deixar de ser — ameaça.


— É você quem está no meu caminho. E sabe que só

não pego ela se eu não quiser — falo, mas na mesma hora mordo a
língua.

A morena não é um objeto para ser disputada desta

forma, sem que a sua opinião seja levada em consideração. Pela

forma que nos olha, está pensando a mesma coisa.

— Vocês dois, imbecis, parem com isso! — esbraveja.

Eu ia alertá-la sobre o seu tom, mas a sua voz dizendo

que fora da empresa somos iguais ressoa na minha cabeça.

— Eu estava numa boa, foi o Dante que veio aqui me

questionar por decisões que tomo dentro da minha empresa — falo

o óbvio.

— Ele não... esquece! Nós já estamos de saída, não é


Dante?

Por alguma razão, me irrito quando Manuella segura a

mão dele e o leva para longe. Enquanto a mulher ao meu lado fala
alguma coisa, eu fico observando os dois. Conversam gesticulando

muito perto da porta. Ela se aproxima, fala algo perto do ouvido do

Dante e se afasta na direção dos banheiros.


Noto que o homem estava preparado para ir atrás da

morena, mas o seu celular toca e ele sai para atender. Sabia que

era sem noção, mas não a esse ponto. Ele ia mesmo atrás da

garota no banheiro?

— Vamos? — Nina chama, eu olho para ela sem saber o

que fazer. Na verdade, eu sei, mas não quero.

— Espere-me só um instante? Já volto. — Dou um


selinho nos seus lábios e saio. Ela ficará bem na companhia do

casal chiclete.

Pietro fica em silêncio, mas com certeza terá algo a dizer

amanhã, quando chegar à construtora.

Assim que entro no banheiro feminino, vejo a mulher que

me tira do sério de todas as formas olhando no espelho. Parece

estar tentando conter a respiração e a irritação. Ela me vê

encostado na porta pelo reflexo e, através dele, sem se virar para


falar, diz.

— Perdoe-me pelo Dante. Ele só estava sendo um idiota.

Fui até você porque não estava acreditando que eu pudesse ter
conseguido o trabalho.
— E por que ele pensaria que você mentiu? — pergunto

ao me aproximar.

— Eu não quero falar sobre isso com você — finalmente

se volta para mim, olhando-me com a cabeça erguida.

Ela me enche de tesão, e não é só por ser bonita.

— E eu não quero que me envolva nas suas merdas. Da


próxima vez que acontecer, vou te demitir.

— Tudo bem, senhor Harper. Mais alguma coisa? —

Quando fala, com ar de superioridade, meu sangue ferve, então

puxo o seu corpo para junto do meu.

— Por que veio se encontrar com o otário do Dutra? —

questiono-a, mesmo sabendo que não tenho qualquer direito.

— Não é da tua conta!

— Fale.

Mas que porra eu estou fazendo? O que me importa se

veio beber com o ex? Ela não significa nada para mim. É só uma

funcionária.

Mas assim como eu não tinha necessidade de saber

sobre isso, a minha secretária não tinha de me responder e, ainda

assim, ela fará.


— Vim dizer que não vou mais trabalhar aqui no bar,
porque os horários seriam irreconciliáveis. O Dante ficou puto de

ciúme...

— Ciúme de mim? — Eu não fico surpreso, considerando


que o homem deve ter percebido a forma como fiquei interessado

na morena naquela noite.

— Pois, é. Achei que ele estava viajando, nós dois? Nada


a ver — fala, e sorri com desdém. Não consigo parar de olhar para a

boca que nunca chegará perto da minha boca, chego à conclusão.

Será que o brasileiro não pode ter um dia de alegria?

— Não pensou nem por um segundo? — insinuo-me.

O meu ego ainda não superou aquele fora. Eu estava


cheio de expectativas, e ela só pensava em lavar copos.

— Nunca — fala com convicção.

— Diga para os seus peitos. Os bicos estão acesos,

porque você está sentindo o meu pau duro na sua barriga.

— Devo te parabenizar por conseguir sustentar uma


ereção? — pergunta, mas não me abalo. Está entendendo tudo

errado.
— Estou assim por sua causa, não por ela — confesso,
embora me arrependa em seguida.

— Mas vai terminar a noite com ela. — Manuella não fala

como se o fato a chateasse, é só uma constatação.

— Vou, mas foi bom ver a forma como a minha secretária

se veste quando pretende pedir demissão — comento, sabendo que


estou prestes a entrar em um campo minado, mas sem a menor

vontade de retroceder.

Foi assim que agi quando decidi contratá-la, mesmo


sabendo que iria dar ruim.

— Assim como? O que tem com as minhas roupas? —


indaga, tenta se soltar, mas não permito. Gosto de abraçá-la assim.
Ela é pequena, mas ao mesmo tempo tem o tamanho perfeito para

mim.

— São ótimas, mas não é algo que se vista quando quer


dar o fora em um sujeito, seja ele de que tipo for. Parece que

pretendia encontrar com um amante, com quem desejava terminar a


noite quicando no pau.

— Eu não gosto dessa sua boca suja quando fala comigo


— avisa, vejo que está se segurando para não explodir. — Pensa
que é quem?

— Te deixei brava por dizer o óbvio? — provoco ainda

mais. Eu estou latejando por ela neste momento. Será que sente o
mesmo?

Será que o ódio causa tesão? Porque eu sei que está me


odiando agora, e mesmo assim estou tendo dificuldade para parar
de brincar com o fogo.

— Já que estamos fora da construtora, vou dizer o que


penso de você, mas tem que me prometer que não irá me demitir

por causa disso — a espertinha fala, eu tenho a minha resposta,


porque nunca entro em um jogo para perder.

— Prometo. Até que faça algo relacionado ao trabalho,

não vou te demitir.

— Tudo bem, você é um mimado metido. Pensa que


pode ter todas as mulheres aos seus pés, e não aceitou que eu não

quis você. Está com raiva porque queria que eu desse para você, e
não aceita que posso sair daqui e dar a minha boceta para um, dois
ou quatro homens. Posso, porque sou livre para fazer o que quiser

com o meu corpo, e eu te garanto que ele pode querer qualquer um


dos mais de cem homens que aqui estão, incluindo mulheres e o
Dante, menos você.

— Menos eu, não é? — falo com a boca a um centímetro


da sua, puto de raiva pelas coisas que acaba de dizer na minha

cara. Eu pedi, mas não pensei que fosse ir tão longe. — Você está
demitida!

— Por não querer transar com você? — fala com


petulância, amparada por uma promessa que eu não deveria ter
feito.

— Você me quer, Manuella — digo convicto. — Estou


sentindo as reações do seu corpo.

— Não quer... — Antes que tenha a oportunidade de


mentir mais uma vez, seguro com firmeza os cabelos de sua nuca e
esmago seus lábios com a minha boca.

Manuella leva exatos dois segundos para se recuperar do


susto, então, também segurando os meus cabelos — na verdade
está puxando — me beija de volta.

As nossas línguas estão se engalfinhando. Assim como

nós, elas não se entendem, ambas buscam dominar o beijo.


Quando dou uma mordida no seu lábio inferior, Manuella desacelera

e deixa o comando em minhas mãos.

Eu estou na porra do paraíso. Que beijo gostoso, que


língua macia, safada e que sabe como brincar. Quando uma de

suas mãos aperta a minha camisa na tentativa de nos deixar mais


colados, resolvo o problema ao levantá-la com um braço e a colocar
sentada na bancada de mármore do espelho.

Não preciso pedir para que abra as pernas, ela faz isso

voluntariamente. Afasto-me um pouco para ver a sua calcinha


branca e manchada com a sua umidade. A mulher está pingando de
desejo.

Eu me coloco no meio de suas pernas e a beijo


novamente, pensando que poderia fazer isso durante horas.
Quando perdemos o fôlego, desço a boca para o pescoço delgado e

o chupo por uns instantes. Mas Manuella, que parece adorar sexo,
se contorce na bancada, então aproveito para puxar o seu quadril

para a beirada.

Agora é a sua vez de chupar o meu pescoço. A pressão


que faz no lugar está impedindo que o sangue circule, mas manda

respostas direto para o meu pau. Precisando de alívio, começo a


esfregar o meu cacete na sua boceta. Movimentos de sobe e desce
em contato com a calcinha melada.

Manuella está tão entregue que joga a cabeça e o tronco

para trás, enquanto apoia as mãos no granito.

— Mais rápido... Isso, assim... — diz, eu me movo com


mais vigor.

Só queria que estivéssemos sem roupas, que fosse o

meu pau rasgando sua boceta. Caralho, só mais um pouquinho a


gente vai gozar!

Só mais um pouquinho...

— Ei, vocês dois... — Na hora que ouço a voz, me afasto


imediatamente. Manuella pula no chão.

Olho para o espelho e vejo que estou parecendo um


palhaço com a boca toda borrada de batom vermelho.

— Perdoem-me por ter interrompido — a moça fala.

— Não interrompeu, era só uma conversa — Manuella


fala, enquanto limpa a boca furiosamente com as costas das mãos.

Ela dá uma rápida olhada no espelho, depois sai correndo do


banheiro, me deixando duro e constrangido.
Penso em correr atrás dela, mas lembro não só da minha
ereção, mas também do meu rosto borrado de batom.

— Se me der licença. — A moça passa por mim e se


tranca na cabine.

Na frente do espelho, enquanto tento entender o que


aconteceu, pego um pedaço de papel, molho na água e me limpo. O
beijo foi tão longo e intenso que os meus lábios estão latejando.

Ainda bem que fomos interrompidos, porque eu e ela


teríamos feito uma grande besteira. Se fosse antes, a gente podia

virar um ao outro do avesso na cama, mas não agora que ela é a


minha secretária. A menos que eu... Não! Eu não vou tirar o
emprego da garota só porque quero foder com ela.

Quando saio do banheiro, não a vejo em lugar algum, e


não acho isso ruim. Não seria capaz de lidar com ela de novo. Mas
será que foi para casa com o idiota do Dante, depois de termos nos

beijado?

Não, Manuella não seria tão idiota. Se for, também não é

da minha conta.

Ao chegar à mesa, encontro a foda da noite em um papo

animado com os meus amigos, os três alheios ao que aconteceu no


banheiro. Sem muito dizer, pego a mão da negra bonita e a levo
embora do Maresias.

Eu poderia levá-la para casa e dizer que não estou no


clima, mas faço o oposto. No hotel, depois de beber algumas latas

de cerveja, e enquanto transo até a exaustão, tento convencer a


mim mesmo que só estou vendo e pensando na minha secretária
gostosa porque bebi mais do que devia.

Tento me convencer de que não daria tudo para que


fosse a senhorita petulante na cama comigo.
CAPÍTULO 9

MANUELLA
Depois de ontem, e de ter deixado que John me afetasse

mais uma vez, chego à empresa com uma baita ressaca. A minha
cabeça ainda está zonza. Não que eu tenha tido oportunidade de

beber no Maresias, fiz isso em casa mesmo, depois de ter saído


completamente desnorteada do banheiro.

Eu quis pegar um táxi, mas Dante estava na porta de

entrada esperando para me levar até em casa. Poderia ter dito não
depois de tudo pelo que ele me fez passar, mas não estava bem o

suficiente para iniciar mais um embate com o homem que sabe ser
insistente quando quer.

No caminho, quando me perguntou onde eu tinha ido


quando o seu celular tocou, falei apenas a verdade de que tinha ido

ao banheiro. Sobre o que fiz dentro dele, tentei fingir até para mim
mesma que não aconteceu. Bebi no meu quarto algumas latas de

cerveja, enquanto tentava não bater na minha própria cara, mas a

indignação e a vergonha não foram suficientes para apagar o que


aconteceu.
Não é que não tenha sido bom, porque, puta que pariu,

foi bom pra caralho. O homem me pegou com possessividade, fez o


meu corpo inteiro se arrepiar por antecipação e me beijou com

maestria. Na verdade, John me fodeu com a boca e me deixou

molhada muito rápido. Se já tenho facilidade para me excitar, ele


deixou a minha calcinha a ponto de sair correndo do meu corpo.

Naquele momento, depois de juntar a minha carência de


tanto tempo sem ser tocada por um homem com o quão bem o meu

chefe sabe proporcionar um amasso, eu quis dar para ele. Teríamos

transado ali mesmo se aquela santa mulher não tivesse entrado


para nos interromper. Se tivesse demorado mais um pouco, teria

nos pegado trepando.

Puta que pariu! Eu só queria uma provinha, não estava


pensando em todas as minhas resoluções sobre não dar ouvidos

para o meu fogo no rabo, que me coloca em problemas desde que

entendi, ainda na adolescência, que meninos não são apenas

irritantes, que eles têm um brinquedinho entre as pernas que podem

dar alegrias para nós mulheres.

Depois que fui dormir, não bêbada o suficiente, tive

sonhos estranhos com pênis e vaginas voadoras. Acordei uma

bagunça, e ainda não sei como olhar para o poderoso chefinho.


— Bom dia, senhora Luiza — digo para a moça da

recepção, tentando não fazer muito contato visual.

— Você está bem? — indaga, antes que eu esteja longe

o bastante. Aposto que o reboco de maquiagem no rosto não está


escondendo por completo a minha ressaca moral.

— Estou ótima! — digo, efusiva demais, e sigo para os


elevadores.

Enquanto subo para o décimo terceiro andar, espremida

entre várias pessoas, cujos perfumes caros se misturam, agradeço

por ninguém estar disposto a puxar assunto. O meu coração está


levemente acelerado pela perspectiva de ver o senhor Harper, de

olhá-lo depois de tudo, mas não há como fugir disso.

— Bom dia, meninas — digo para Teresa e Ana Júlia

quando chego na minha mesa. Aparentemente, Sara ainda não

chegou.
Elas me olham com cuidado. O que veem é uma saia

social com estampa de giz bem agarrada às minhas curvas, saltos


altos e uma camisa social branca. Os meus cabelos estão presos,

porque olhei no espelho e imaginei que isso poderia me deixar mais


discreta. Hoje não preciso chamar atenção para mim.

— Que cara é essa? — Ana indaga.

— A mesma de ontem — digo e jogo uma piscadela para


ela, que me responde com uma bola de papel na testa. — Está tão

na cara assim? Ontem eu saí daqui e bebi um pouco — falo.

— Parece que não dormiu o suficiente. A noite foi boa?

Parou com a história de que não quer mais saber de paus e


transou? — Teresa questiona. — É uma pena, porque a Sara ainda

tinha esperanças.

— Teresa! Pare de sonhar com o seu casal gay por um

segundo que eu quero ouvir a Manu — Ana pede.

— Ontem, o que aconteceu ontem? — Sara, que chega já

se metendo na conversa, se senta na sua mesa e se vira para nós.

Sentada, e fingindo que procuro algo dentro da minha


bolsa, me questiono como vou despistar as curiosas. Tenho a

impressão de que saberiam se eu mentisse, mas vou correr o risco.


Jamais diria que quase fiz a besteira de trepar com o chefe no dia

em que comecei a trabalhar para ele.

— Estamos achando que a nossa miss Colômbia saiu da

seca, depois de todo o discurso fora paus. — É Teresa quem


responde. — Eu já estava até tendo esperanças de ser convidada

para um trio com vocês duas. Seria uma ótima...

— Fale baixo, Teresa — peço, enquanto faço massagem


na têmpora com os dedos indicadores. — Eu não transei ontem,

mas foi quase. Estão satisfeitas?

— Na verdade, não. Queremos mais detalhes — Sara

pressiona. — Quem foi o cara? Era gostoso?

— Gostoso não seria o suficiente para descrever. Mas

também era o cara errado de todas as formas. — Levemente


empolgada, faço bom uso da cadeira giratória, dou as costas para a

minha mesa e me volto para as fofoqueiras.

Conheci elas ontem, mas parece que faz tempo. São tão

sem noção que acabei me identificando.

— Fale mais — Ana pede, eu me empolgo.

— Ele entrou dentro do banheiro feminino, me colocou


sentada na bancada do espelho e se meteu no meio das minhas
pernas. O primeiro beijo foi a minha perdição — tenho a sensação
de ouvir o som das portas de um dos elevadores abrindo, mas estou
empolgada demais para me importar —, aquela língua habilidosa

chupando a minha, o fato de sentir seu pau roçando em mim. Deu


até calor agora. Eu estava tão molhada que poderia...

— Bom dia, senhoritas. — Uma voz me interrompe. Nós


três voltamos imediatamente para as nossas próprias mesas.

O John, que não parece nem um pouco diferente do que

estava ontem à noite, está na minha frente, olhando-me com a


sobrancelha arqueada.

— Bom dia, John — digo com um sorriso amarelo no


rosto. As outras já estão batendo com os dedos nos teclados,

fingindo que estão trabalhando.

Safadas!

— Bom dia, Manuella. Me acompanhe, por favor — fala,


então segue para a sua sala. Eu não posso deixar de olhar para a

sua bunda e pensar em como ela fica bem com a calça social.

— Já estão se chamando pelos primeiros nomes? —


Uma delas comenta, enquanto pego minha agenda e caneta. Sigo
ele me perguntando o que devo fazer para não perder o emprego,
se é que ainda posso fazer alguma coisa.

— Sente-se, senhorita Manuella — pede quando fecho a


porta atrás de mim.

Ele está sentado atrás da sua mesa, se parecendo tão

poderoso quanto sei que é. Tento ser humilde quando não sou, não

de verdade.

— O senhor...

— Esqueceu-se que pedi para que me chamasse de

John? — indaga sem de fato me olhar, enquanto se entretém com o

seu computador.

— Não esqueci, John — falo.

— Que bom — diz sério, nem parece o cara que estava

com a língua dentro da minha boca algumas horas atrás.

Ele começa a passar comigo todos os seus

compromissos para o dia de hoje. Tudo muito profissional, como se

não tivesse acontecido nada ontem à noite. Eu estou bem satisfeita,

não falar sobre o assunto faz parecer que não aconteceu.

Ao me dispensar, quando estou quase correndo para a

porta respirando aliviada, Harper volta a me chamar. Ao invés de


ficar sentado, o homem vem para perto de mim. Chega bem perto

do meu corpo, me obriga a erguer um pouco a cabeça para ver o


seu rosto. Não existe espaço entre nós dois.

— Sobre ontem... — Sou eu quem começo, mas ele me

interrompe quando coloca dois dedos nos meus lábios.

— Eu gostei muito de beijar você, Manuella. Nunca estive

tão perto de gozar com pouco contato, mas nós dois sabemos que

isso não pode continuar. Não estou dizendo que a culpa é sua,

porque fui eu que fui atrás de você no banheiro, mas não pode
voltar a acontecer. — Enquanto fala, o homem passa a ponta dos

dedos pelos meus lábios. Eu me obrigo a me manter firme, mesmo

que as minhas pernas estejam fraquejando.

— Não vai. Foi um erro, e eu estava muito fragilizada. Por

mais que admita que você beija bem, não posso perder o emprego

aqui — falo.

— Sobre o Dante? — Muda completamente de assunto.

— Não é algo que te diga respeito.

— Dormiu com ele? — Mas qual é o problema desse

homem?
— Não te diz respeito com quem eu durmo, ou deixo de

dormir, chefe — repito. — É insano da sua parte fazer essa pergunta

depois do que acabou de me dizer sobre não repetirmos o que


fizemos ontem.

— Ele gosta de você — diz, eu não entendo por que isso

o incomoda, se é que incomoda.

Há muito tempo deixei de pensar que entendo os


homens.

— Eu não posso fazer nada quanto a isso — falo. — Já

posso ir?

— Ainda não. Eu preciso que venha comigo no almoço


com os clientes da obra do Shopping.

— Mas eu pensei... — Estranho, pois John não havia me

dito que eu deveria ir com ele para esse almoço, enquanto

passávamos a agenda do dia agora há pouco.

— Você será minha sombra, mulher. Se eu for viajar, o

que provavelmente vai acontecer em algum momento, vou precisar

que venha comigo. Você já sabia disso.

— Sabia, sim — digo. Só não sabia que ele seria o meu

chefe, que estar tão perto dele seria uma prova de resistência.
Embora ainda o ache um babaca convencido, o meu

corpo, que não tem muitos critérios, o deseja.

— A gente vai sair às onze e quarenta e cinco. Está

dispensada, Manuella.

Quando saio da sala, finalmente respiro aliviada. A


conversa com ele parece que me tirou anos de vida. Antes de ir

para a minha mesa, enfrentar as meninas e suas perguntas, passo

no banheiro. Na frente do espelho, tento me recompor novamente.

A boa notícia é que ele reagiu bem ao nosso deslize de


ontem à noite e não me colocou no olho da rua. A ruim é que tenho

que estar mais próxima a ele, o que quer dizer que não é impossível

que mais deslizes como o de ontem aconteçam novamente.

Eu estou sensível e necessitada, mas me recuso a


acreditar que tudo isso se deve a ele, por ser tão gostoso. Talvez eu

só precise voltar atrás na minha decisão de me aposentar dos

homens. Para apagar o meu fogo pelo chefe, tenho que transar com
alguém que não seja o meu dedo, porque só ele não está mais

sendo o suficiente.

JOHN
Depois de ontem, de ter a beijado e depois transado com

outra até o esquecimento, ainda me sinto necessitado. Não sei o

que essa mulher tem que desde o momento em que a vi a quis com

loucura.

Sou maduro o suficiente para reconhecer os meus

defeitos, para saber que o fato de ter ouvido um não pela primeira

vez, de não ter conseguido foder com ela, a tornou um desafio para
mim. Não quero, e não posso acreditar que tudo seja desejo.

É claro que ele existe, porque é impossível para um

homem que gosta de mulher não olhar para uma morena tão

gostosa, além de linda, e não pensar em meter até a exaustão na


sua boceta, mas eu já estive com muitas como ela. Manuella é só

uma mulher que não tive a chance de levar para a cama, e isso

acabou se tornando um problema.

Se a situação aqui na empresa fosse outra, se não

estivesse com tanto em jogo, teria transado com ela ontem mesmo.

Agora estou assim, tendo que abdicar de uma foda gostosa, porque

não posso correr o risco de colocar os meus planos em risco. Terei


que fazer como minutos atrás, mandei que fosse embora, quando

queria a colocar em cima da minha mesa e abrir as suas pernas.


Mas eu sei que sou bom, então essa situação não vai

durar por muito tempo. Vou convencer os meus avós e a todos de


que sou o melhor para assumir a presidência, então vou, enfim,

comer a porra da minha secretária, que mesmo sabendo que não

podemos fazer sexo, que diga que não vai acontecer, tem escrito

“me foda, John” na testa.

E eu quero, quero muito foder com a minha secretária

gostosa.
CAPÍTULO 10

JOHN
Quando chegamos ao restaurante sofisticado para a

bendita reunião, a vontade que eu tenho é de virar as costas e


simplesmente ir embora com a porra da mulher que está ao meu

lado. Não tem como fingir que não estou percebendo que a
Manuella não se incomoda com o fato de estar chamando atenção.

O jeito convencido dela, que se parece um pouco comigo,

me faz ver o lado bom de não poder entrar na sua calcinha. Eu iria
ficar louco, pois, ao mesmo tempo que teria instintos assassinos

muitas vezes ao dia, pois seria impossível não sentir ciúme quando
pensasse nesses idiotas batendo punheta pensando nela, me
sentiria o filho da puta mais sortudo do mundo. Talvez, fosse me

sentir envaidecido por tocar no que todos desejam.

Também não julgo os potenciais punheteiros, porque eu


mesmo teria me resolvido com a minha mão se não tivesse saído do

Maresias acompanhado ontem à noite.

— John Harper, sempre pontual — Fagundes se levanta,

assim como todos os outros quatro, para me cumprimentar, mas


seus olhos estão na morena ao meu lado.

Quando olho para ela, Manuella tem um sorriso discreto

para todos os caras que estão na mesa.

— E vocês, meus amigos, sempre esquecem que são

casados — rebato, ácido demais com clientes importantes.


Definitivamente, eu não estou sendo profissional.

— Perdão? — Eric fala, se fazendo de desentendido.

— Não foi nada. Se todos já estão aqui, nós podemos

começar — digo para ver se eles se tocam e focam no que


realmente importa.

Agora é o momento de eu mostrar serviço.

— Você ainda não nos apresentou a sua namorada —


Fagundes fala. É claro que ele não deixaria passar.

— Ela não é minha namorada. Senhores, esta é Manuella

Ortega, a minha nova secretária.

Então começa a sessão de beijos na mão da mulher. O

sorriso continua no seu rosto. Nem parece a fera que rosna para

mim sempre que pode.

Quando a reunião começa, fico entre falar de negócios e

prestar atenção no cheiro da gostosa ao meu lado. Sinto que estou


quase vesgo de tanto subir e descer o olhar. Mulheres bonitas são o
meu ponto fraco, então é impossível não olhar para a porção de

pele macia de suas pernas, que a saia social justa deixou

descoberta.

A perna está levemente aberta, e sempre que viro em sua

direção, ela também se vira para mim. A tensão sexual é tanta que

deve estar afetando o ar. O rádio corredor deve ter feito o seu

trabalho, e a morena descarada já sabe que tenho muito a perder se

me comportar mal ao tentar transar com ela, então se sente à

vontade para me provocar.

Não sei se ela tem ciência disso, mas esse é um jogo

para dois. Posso até não comer a sua boceta do jeito que quero,

mas vou deixá-la pingando por mim. Sedenta a ponto de não


conseguir mais pensar em outra coisa.

— Harper...

— Perdão. Pode repetir a última informação, por favor?

— falo, completamente perdido no assunto.

Isso tudo porque quero mais do que qualquer coisa

aquela cadeira. Imagina como será se eu não puder nem me


concentrar em uma reunião direito por causa de uma mulher que

não posso ter?

A reunião segue por mais alguns minutos, falamos sobre

os planos para o início da obra e todo o cronograma. Ao meu lado,


sem ter aberto a boca para falar, já que seus dentes à mostra fazem

o serviço, Manuella anota tudo no Ipad, embora não seja


necessário, uma vez que guardo tudo na cabeça.

Quando a reunião termina, eu só quero voltar para a

empresa e deixar essa atmosfera estranha. Pela primeira vez, sinto


que não estou cem por cento no controle dos meus atos e

sentimentos, e isso está me incomodando. Como não quero chamar


atenção, não posso recusar uma rodada de drinks, algo que
costuma acontecer ao final de reuniões como essa.

— Conte para a gente, senhorita Manuella, você é


casada? — Paolo, o mais jovem entre nós, pergunta. Ele tem um

sorriso sacana no rosto, como se estivesse a fim de brincar com a


próxima refeição.

Pior é que a sua pergunta não é tão idiota como parece.


Embora eu saiba que não é casada, porque não constava no seu

currículo, e que não está mais com o Dante, nada me garante que
não tem um cara na sua vida. Assim como todos à mesa, espero por

sua resposta.

— Não — diz apenas.

— Namorando? — ele insiste.

— A resposta é realmente importante? — Manuella

rebate e eu fico satisfeito. Parece ser daquelas que não se dobram,


embora eu possa pensar em formas deliciosas de dobrá-la e fazer

com que goste muito.

— Na verdade, não. Mas seria um desperdício que uma

mulher tão...

— Paolo... — aviso entredentes.

— Eu ia dizer fascinante, mas estou achando que você

está muito territorial com a sua secretária...

— Manuella? — Uma voz atrás de nós fala.

Olho para o sujeito em pé. Ele deve ter por volta de trinta
e cinco anos, tem boa aparência, assim como um ótimo gosto,

levando em conta a garota pendurada no seu braço. Ele olha


diretamente para a morena, e não é nada sútil quando afasta a mão

da sua acompanhante.
— Lucas, eu estou no meio de uma reunião de trabalho
— constrangida, Manuella fala, depois vira as costas para ele. É um
sinal para que vá embora, mas o homem não vai.

— Tem certeza? Porque eu estou vendo você bebendo


com um bando de homens — ele fala com a voz mansa, mas o tom

é de acusação. Eu, assim como todos os outros, observo a cena


sem me meter, por enquanto.

— Vá embora, por favor! — A morena pede sem alterar o

tom de voz, mas não esconde a irritação que há por trás da calma.
— Depois eu te ligo.

— Tudo bem, vou ficar esperando, querida. — Satisfeito


por ter conseguido o que queria, o homem vai embora.

Todos ficamos mudos, então ela fala.

— Perdoem-me. Era apenas um fã — brinca, e todos

sorriem como hienas. Ela é ótima. Tê-la ao meu lado em futuras


reuniões será bom, uma maneira de tirar vantagens de algumas

situações.

Ao meu lado no carro, Manuella permanece com um


sorriso de canto, bem satisfeita consigo. Deve ser porque conseguiu

que todos os homens presentes na reunião tenham desejado entrar


na sua boceta. Eu suspeito que ela adora o fato de ser linda e
desejável, mesmo que não pretenda sair com os caras a quem
atinge com o seu sorriso e bunda bonita.

Da minha parte, vou me lembrar de carregá-la comigo


sempre que precisar que clientes assinem papéis que os

comprometam sem lerem.

Ao chegarmos à empresa, noto que a morena intenciona


ir direto para a sua mesa, mas eu a faço notar que os meus planos

são outros. A quero na minha sala, e nem sei exatamente o porquê.

Os olhos das secretárias fofoqueiras estão em nós, mas não me


importo com o que passa pelas suas cabeças.

— Fiz algo que não o agradou? — indaga quando fecha a

porta atrás de si e se senta à minha frente na mesa, ainda agarrada

ao seu fiel Ipad. — Quando voltar para a minha baia, irei enviar as
anotações que fiz da reunião para você — avisa com

profissionalismo.

É uma pena que os meus pensamentos sobre ela não

sejam nada profissionais.

— Você foi bem até demais. Não viu como todos te

olhavam? — Mas é claro que viu.


— Não é como se eu pudesse mandar nos olhos de todos

aqueles caras, assim como não conseguia impedir os babacas que


frequentam o Maresias de me apalparem — assevera. Não passa

batido a sua intenção de me informar que eu sou um dos babacas,

embora não tenha apalpado a sua bunda.

Porra! Para alguém que decidiu que definitivamente não

iria rolar nada entre nós, eu estou pensando em sexo com ela com

mais frequência do que encho os meus pulmões de ar.

— Quem era aquele cara que falou com você? —


questiono, já imaginando a resposta atravessada, mas talvez eu

goste de a provocar. Me excita.

— Com todo o respeito, mas não é da sua conta —


afirma.

— É da minha conta porque sou o seu chefe, e ele

atrapalhou por alguns segundos uma importante reunião de

negócios — aviso.

— Aquele era o Lucas, meu ex-marido — ela fala.

— Faz tempo que se separaram? — Questiono. Manuella

faz uma careta antes de responder.


— Há mais ou menos um ano. E, antes que faça mais

perguntas, posso te dar um relatório completo da minha vida — fala

com ironia, mostrando a Manuella que já conheço um pouco, não a


profissional do ano que estava fingindo ser.

— Por favor, pode começar — digo, mostrando que

podemos os dois jogar esse jogo. Além do mais, estou bastante

curioso.

— Bom, tive um relacionamento que durou nove anos

com aquele homem. O casamento acabou depois que ele comeu a

aluna, mas o casamento já não ia bem das pernas há anos. Nem o


sexo, quando tinha, era satisfatório.

A última parte me interessa, e acho um pecado que uma

mulher aparentemente quente como essa, não tenha tido o sexo de

qualidade que merece.

— Depois de alguns meses conheci o Dante, mas o

nosso namoro durou bem pouco. Desde então, eu decidi que quero

distância dos homens — fala com convicção, uma que não mostrou

quando deixou que eu quase a comesse no banheiro do Maresias.


— Moro com minha mãe e irmã, uso tamanho trinta e oito para

roupas, menos as íntimas, essas têm que ser pequenas, porque não

gosto de calcinhas grandes que ficam entrando na bunda o tempo


todo. Para não ter esse problema, já deixo elas enfiadas na bunda

de uma vez. Ah! Já ia esquecendo, tenho trinta e dois anos de


idade.

A minha secretária gostosa falou tanto que estou tonto,

mas também excitado com a informação sobre o tamanho da sua

calcinha. Tudo o que consigo pensar é em ver as peças, descobrir


se são cheirosas como ela.

Ela é mais velha do que eu.

São apenas três anos, e eu não deveria pensar que isso


é um tesão. Eu devo estar um pouco obcecado, porque tudo sobre a

minha secretária parece excitante, inclusive o fato de ser mais velha

do que eu, de ter tido anos de um único relacionamento fracassado,


porque significa que está pronta para não se apegar, embora tenha

saído com o Dante e acabado de dizer que desistiu dos homens.

Eu não acredito nem por um instante em suas palavras,

não depois de ter tido o seu corpo próximo ao meu, de ter sentido o
seu calor.

— Assustado? — Provoca, mesmo que isso não tem a

menor relevância, porque a nossa relação é apenas profissional. —

Agora que já sabe de tudo sobre mim, até mesmo o que eu não
deveria ter contado, será que posso voltar para a minha mesa? —

pergunta, mas não espera pela resposta para se levantar.

Eu também me levanto e saio de trás da mesa, pois

simplesmente não posso me segurar. Aproximo-me da mulher, que


não recua nem um passo. Acho que Manuella está aprendendo que

fugir torna o desafio ainda maior.

— O que foi? — indaga quando chego bem pertinho. O


cheiro do seu perfume me estimula, embora não precise, porque

falta pouco para que eu goze a troco de nada.

— Você fala demais, e eu não sei se deveria saber como

são as calcinhas que a minha secretária veste, muito menos sobre


como elas devem ficar no seu corpo — digo.

Poderia manter as mãos no lugar, lembrando-me que já

havia decidido recuar, mas eu deveria saber que seria dessa forma

no momento em que decidi mantê-la perto de mim.

— São apenas calcinhas, John Harper. Pedaços de pano

— explica como se não fosse nada, ainda sem mover um passo

sequer para longe de mim.

Será que gosta de me provocar tanto quanto eu gosto de

causar reações nela?


— Pedaços de panos pequenos, que ficam socados

dentro da sua bunda grande, da forma como desejei que o meu pau
estivesse no momento em que te vi pela primeira vez atrás daquele

balcão — confesso, as minhas mãos sobem pelo seu braço, que

está arrepiado, porque mesmo que tente, a minha secretária nunca

foi imune a mim.

— Não deveria falar assim comigo, não depois do que

conversamos, de termos deixado claro que a nossa relação seria

apenas profissional — fala com um tom de voz fraco, enquanto


tenho o meu corpo colado ao seu. Como sou bem mais alto do que

a mulher, a minha ereção está apertada contra a sua barriga.

— Mas a nossa relação é apenas profissional — digo


com cinismo.

— Então, por que o seu pau está duro contra a minha

barriga? — questiona, e tem um bom ponto.

— Porque me falou das suas calcinhas, e eu não consigo


parar de pensar no que está vestindo agora. Não vou mais

conseguir trabalhar, Manuella. Como pôde fazer isso comigo,

sabendo que tenho uma cadeira de presidente pela qual lutar? —

faço a cara do gato de botas, somente para provocar.


— Que pena... — diz, e sei que já mudou a postura,
porque, assim como eu, Manuella sabe que é um erro, mas ela não

consegue resistir por muito tempo. Rapidamente sai do modo

secretária competente e distante e entra no modo provocadora. — O


que eu posso fazer por você? Saiba que estou aqui para te servir, e

jamais te atrapalharia — afirma, e pela minha mente passam várias

maneiras de como pode me servir.

— Que bom ouvir isso — digo ao morder a pontinha da


sua orelha e ouvir o seu gemidinho gostoso.

A essa altura, o meu braço já está em volta da sua

cintura, a abraçando com firmeza. Manuella está entregue nos meus


braços.

— O que quer que eu faça para que se sinta melhor e


não surte por causa de uma calcinha? — Bom, ela não deveria ter

perguntado isso, se quer sair dessa sala andando.

— Primeiro, eu preciso que descreva a sua calcinha —

peço, porque não estava somente a provocando quando disse que


talvez não consiga trabalhar pensando no assunto.

— Ela é vermelha, e bem pequena, porque não gosto

quando marcam a minha saia — sim, o meu pau está dolorido de


tesão —, é de tecido na parte de trás e de renda na parte da frente.
Uma renda transparente, que deixa à mostra a minha...

— Como ela se parece? Tem pelos, ou é completamente

lisinha? — Sei que estou indo longe, mas não consigo parar, não
antes de ter com o que me masturbar daqui a pouco no banheiro,
depois que a deixar ir com a sua virtude intacta.

— Completamente lisa, não gosto de pelos — afirma e

não faz nada quando começo a passar a mão pela sua bunda por
cima da saia, sentindo que a peça é realmente um fio-dental.

Que mulher deliciosa da porra! Eu nunca estive tão a fim

de alguém como estou dela. Transar com a minha secretária tornou-


se o top 1 na minha lista de desejos, simplesmente porque não dá
para negar o magnetismo que nós temos.

— Eu posso tocar? — pergunto, cheio de esperança, ela


olha para a porta com preocupação.

— Será rapidinho, morena. E ninguém entra aqui na

minha sala sem ser anunciado pela minha secretária, que no caso é
você — digo, e Manuella assente.

— Eu não sei o que está acontecendo comigo, mas será


apenas dessa vez, e apenas porque fui em quem começou com isso
— diz, eu fico para explodir de contentamento.

A mão que estava na sua cintura, abraçando o seu corpo

ao meu, continua na cintura. A mão que estava na sua bunda,


analisando a calcinha através do toque, desliza para a frente de sua
saia social. Sem parar de olhar em seus olhos, que mal escondem o

desejo de me dar, curvo um pouco o meu corpo e coloco a mão


entre as suas pernas.

A minha secretária gostosa as afasta de leve, então


começo a subir o tecido que fica justo e deixa o seu corpo uma
visão deliciosa. Quando a minha mão toca a frente da calcinha,

Manu, sim, acho que posso pensar nela como Manu, já que estou
com a mão na sua boceta, tem um leve sobressalto.

— Você está sensível? — pergunto sabendo da resposta,


apenas porque gosto de sentir o quanto mexo com ela.

— Por você... — a voz sai como um mio.

— Há quanto tempo não transa? — questiono,


imaginando o quanto deve ser apertada. Só a ideia de a ter
esfolando o meu pau me faz desejar rasgar as suas roupas,

bagunçar o cabelo tão bem comportado e borrar o seu batom.

— Há meses.
— E não tem vontade? — questiono.

— Eu desisti de paus — fala sem convicção, enquanto

sente o meu cacete na sua barriga. Ele já está babando na ponta,


porque essa conversa está sendo mais estimulante do que deveria.

— Até do meu, que está doido para comer a sua


bocetinha? — falo perto da sua orelha, depois dou mais uma

mordida que a faz cravar as unhas afiadas nos meus braços.

— Não fale mais nada, eu não quero gozar assim... quer


dizer, não quero gozar de jeito nenhum... Ai! — murmura quando a

ponta do meu dedo passa a subir e descer na frente da sua peça,


que está toda molhada.

— Você é uma safada, Manuella. Toda melada e


facilmente estimulada pelas minhas palavras. Quer que eu te toque
aqui? — Pergunto ao pressionar um pouco mais entre os seus

lábios vaginais.

— Quero... — Cede, embora eu note que faz isso contra


o seu lado racional.

Então enfio a mão inteira dentro da calcinha, sentindo-me

muito perto de gozar na calça com o contato direto com o seu sexo,
que está muito molhado por mim. A morena gostosa está assim
porque quer me dar a boceta, da mesma forma que quero a comer

sem ter hora para acabar.

— Delícia. Você é muito gostosa, Manuella — digo, e sem


pensar em mais estímulos, sabendo que está pronta, enfio os dedos

profundamente dentro da sua boceta. Os olhos castanhos ficam


arregalados, mas o corpo logo se ajusta.

Manuella está mordendo o lábio inferior para não gritar,


então eu acabo com o problema ao juntar as nossas cabeças e

beijar a sua boca carnuda. O beijo de língua cheio de fome entra em


sincronia com as penetrações dos meus dedos na boceta quente,
deixando-me perto, muito perto de levá-la para o sofá e a colocar de

quatro para fodermos até cairmos desmaiados.

— John, por favor... me faça gozar... — fala de dentro da


minha boca na trégua que dá de chupar a minha língua com

ganância. A mulher beija tão gostoso que poderia fazer um homem


gozar sem precisar de mais nada, apenas o beijo e o seu cheiro

estimulante seriam o suficiente.

— Farei, morena, mas antes preciso de mais — digo,


então me afasto e pego a sua mão. Ela me segue sem dizer nada,

com os lábios vermelhos e o batom que usava borrado.


Eu a coloco de costas na frente da minha mesa, com as
mãos apoiadas nela. Agora tenho a sua bunda bonita empinada
para mim, apenas para os meus olhos. E que bunda deliciosa, pela

minha mente passam cenas de nós dois juntos, ela me deixando


meter no seu cuzinho.

— O que está fazendo? — Olha-me por cima do ombro, e

parece cheia de expectativa. O desejo a fez se esquecer por


completo das objeções quanto ao que estamos prestes a fazer, e eu
não pretendo parar, mesmo estando ciente de que vamos nos

arrepender depois, principalmente ela.

— Olhando para a sua bunda — falo. — Porque estava


doido para fazer isso. — Eu pressiono o meu membro na sua
bunda, volto a enfiar os dedos na boceta e começo a me esfregar,

passando o meu membro entre os seus lados, e a minha mente se


enche de imagens de mim socando no seu cu até fazê-la gritar.

— Eu estou tão perto, John, enfia com mais força... —

pede, e tudo o que mais quero nesse momento, muito mais do que
encontrar o meu próprio alívio, é senti-la molhando os meus dedos e

saber quais são os sons que deixam a sua boca quando está se
quebrando no prazer.
— Vou fazer você se sentir bem, morena. Depois vou ao
banheiro me masturbar, e enquanto estiver na sua mesa,

completamente relaxada, saiba que estarei em uma cabine, me


tocando e pensando em você.

— Por favor — implora e começa a sentar no meu dedo.

Quando começo a me preparar para fazê-la ver estrelas,


ouço o som da porta sendo aberta e sei que estou muito na merda.

— John Harper. Eu posso saber o que está acontecendo


aqui?!

De todas as pessoas que poderiam me pegar comendo a


minha secretária, a que está na minha frente era a pior opção: a
minha avó.
CAPÍTULO 11

MANUELLA
Nos milésimos de segundos que passam entre estar

sendo masturbada por dedos longos e experientes, um filme de


como cheguei até esse momento passa pela minha cabeça de

maneira acelerada.

Primeiro eu estava convicta de que estava tudo bem


depois das coisas que falamos um para o outro, de que seria fácil

resistir a um corpo perfeito e um rosto mais perfeito ainda, afinal, o


conjunto da obra pertence a um homem que é o rei dos babacas e

não faz a menor questão de esconder isso.

Mas então ele me chamou na sua sala, depois de um

encontro com o idiota do meu ex-marido e eu comecei a falar da


minha calcinha. Caí na minha própria provocação e, quando dei por

mim, estava curvada sobre a sua mesa sendo masturbada, sentindo


prazer como nunca antes senti.

Para a minha vergonha e completa frustração, percebi


que não estava nada firme na minha decisão de não fraquejar por

causa de um pau, pois bastou que visse um duro por mim que caí
como uma “pata”. E eu não posso me enganar, porque sei que teria

transado com o meu chefe aqui mesmo, e depois seria demitida.

Agora, depois de nós dois termos pulado de susto como

água no óleo quente, e a minha roupa estar completamente fora do


lugar, não consigo olhar direito para a senhora elegante, que deve

ter por volta de setenta anos, parada na nossa frente. Ela está

completamente abismada, mas não está mais do que eu, que fui
pega em uma situação tão comprometedora e humilhante.

Não consigo olhar para o lado, porque não quero ver a

cara do meu chefe, e nem comprovar que está ostentando uma

ereção monstra na frente da avó, mas imagino que para ele deve
estar sendo muito mais fácil do que para mim, afinal, é homem e o

herdeiro desse império. Eu sou a secretária, que, aos olhos dela,


não foi capaz de manter as pernas fechadas.

Eu quero que um buraco se abra debaixo dos meus pés


agora mesmo.

— Vovó, eu não esperava a senhora aqui hoje — ele diz,


como se nada do que ela viu tivesse de fato acontecido. Eu queria

mesmo que tivesse sido apenas uma alucinação minha.


O meu chefe se aproxima para beijar a senhora de
cabelos tingidos de loiro, que a fazem parecer que tem vinte anos a

menos, mas ela desvia, caminha para a mesa e coloca a bolsa

grande que carregava em cima.

Ela não olhou para mim... quer dizer, agora está olhando.

Eu desvio o olhar, me perguntando em que momento

posso virar as costas e sair correndo.

— É óbvio que não esperava. Se esperasse, eu não teria

te visto em uma situação tão... — ela procura a palavra —


comprometedora com essa moça.

— Essa moça se chama Manuella — John fala, eu olho

para ele e, de repente, fico tímida. E não é só pela presença da sua


avó.

Ainda não posso acreditar que saímos da posição de


chefe e secretária para as safadezas que estávamos falando um

para o outro, e depois fazendo. Acho que sou uma vadia, e essa

senhora tem toda a razão de estar me olhando como se eu fosse

uma.

— O que foi, meu bem? Já está dando bronca no seu

neto preferido? — Um senhor de cabelos grisalhos, mas muito


bonito e conservado para a idade, entra na sala.

Ele está acompanhado do mesmo homem de meia idade

que encontrei no elevador no primeiro dia. O que me olhou de um

jeito que não condizia com a sua aliança no dedo. Deve ser por isso
que o filho é desse jeito. Sim, devem ser pai e filho, não há como

negar a semelhança física.

— Eu não tenho um neto preferido — ela nega.

— É claro que tem, mamãe — o homem do elevador

rebate. Não sei se ele não lembra de mim, ou se está fingindo que
não.

— Bom, o meu neto preferido, como sempre, não está


sabendo como se comportar — ela diz. Estou dura como uma tora

de pau. John se mantêm de boca fechada de uma forma como


nunca o vi. Sempre tive a impressão de que tem predileção por

estar sempre falando besteiras.

— O que ele fez dessa vez? — o avô do John pergunta,

parecendo não levar tão a sério, seja qual foi a “arte” que o
menininho aprontou.

— Além daquele vídeo fazendo sexo em público? —

Vídeo? Eu olho para o cara como se fosse uma noiva patética


traída, mas nem sei por que isso me surpreende vindo dele.

— Vovó, deixe-me explicar? — ele diz.

Mas o que, em nome de Deus, esse homem pensa que

ainda tem para explicar? Melhor dizer logo que ela não está
perdendo o juízo, que nós dois estávamos nos pegando, e deixar

que me demita por justa causa, ou ele mesmo pode me demitir, para
a humilhação ser maior.

Mas pelo menos vou embora para chorar na minha cama,


que é um lugar quente.

— O seu neto, querido, estava... Não sei nem como


explicar o que vi — diz. Então o pai do John a ajuda.

— Transando. Deve ter sido isso que ela viu — o senhor


fala.

— Está tendo uma reunião de família e ninguém me

chamou? — O cara que participou de uma das etapas da minha


entrevista, e que depois descobri que é o primo com quem John
disputa a cadeira, chega. O circo está armado, e a palhaça vadia

sou eu.

— Tales, quem foi que te chamou até aqui? — John


pergunta. Sinto a irritação na sua voz, como ainda não tinha notado,
mesmo com o flagra da senhora.

— Não me diga que foi pego comendo a...

— Cale a porra dessa boca! — O meu chefe esbraveja,

não o deixando nem mesmo terminar a frase.

— Eu estou cansada da sua falta de responsabilidade,

John. Quando é que você vai crescer? Não pode nem mesmo
respeitar o seu local de trabalho. Quer ser o diretor-presidente, mas

trouxe uma... — Qualquer. Eu sei que é isso que quer dizer.

— A secretária.

— Minha namorada.

John e o primo falam ao mesmo tempo, mas apenas um


deles disse a verdade. Apenas um deles me fez dar um giro de

noventa graus com a cabeça.

O que está acontecendo aqui?

Como assim, namorada?

Eu olho para o meu chefe, o fuzilando com o olhar, mas


ele não faz nada que não seja me presentear com o seu sorriso

sexy de lado, que em momentos como esse é apenas odioso.

— Dá para explicar o que está acontecendo aqui? — A


senhora pede.
— Eu posso, vovó — Tales - que cara chato da porra -
começa, mas é cortado.

— Eu quero ouvir o John — a senhora fala e volta a


atenção para o neto, que chega mais perto de mim e me abraça
pela cintura.

Se antes eu estava me deliciando com o seu toque, agora

tenho vontade de chutá-lo para longe de mim. Sinto que vai


aprontar, e não estou gostando nada disso.

— Ele está certo, gente. Essa é a Manuella Ortega, a

minha secretária, mas também a minha namorada. — As palavras


deixam a sua boca, e elas são como uma sentença de morte para

mim.

O meu corpo todo está tremendo, e tenho a sensação de

que todo mundo está percebendo. John Harper, sem um pingo de


receio, mente para todos e me usa para isso.

— Namorada? Você só pode estar de sacanagem! —

Tales fala com indignação, enquanto todos ficam surpresos com a

notícia, inclusive eu. Mas duvido muito que alguém esteja


acreditando. O primo vai dizer o óbvio, e eu estou louca para ver o

John quebrar a cara, mesmo que signifique que eu também esteja


quebrando a minha. — Ela chegou na empresa não tem nem uma

semana, vovó. Conta outra para enganar os nossos avós, meu caro,
porque essa não cola.

— E quem é que pode mandar no coração? — John dá

de ombro, como se tudo fizesse sentido por isso. — Manuella e eu


não nos conhecemos aqui na empresa. Foi uma coincidência ter

sido contratada para o cargo de secretária temporária, mas a nossa

história veio de antes. A gente só precisou de algumas horas para

nos entregarmos a paixão, não foi, meu amor?

É tão fake que chega a ser engraçado. Tenho vontade de

negar, mas o aperto que John dá discretamente na minha cintura

me faz mentir. Quem sabe ainda seja possível salvar o meu


emprego?

— Foi intenso, e não pudemos resistir. — Não digo

nenhuma mentira quanto a isso, só que estamos longe de sermos

namorados. Na verdade, nos odiamos.

— Vocês não vão acreditar nisso, vão? — Tales insiste.

— Eu não sei se o fato de estar dizendo que essa moça é

a sua namorada, o que me faz concluir que ela também é a pessoa

do vídeo, te dá o direito de ter intimidades com ela no seu horário de


trabalho, querido. — Agora a senhora está sendo mais carinhosa.

Nem parece que estava tão irritada com o comportamento dele até

segundos atrás.

O que mudou?

Essa gente vai me deixar doida.

— Eu sei que foi impróprio, Érika, e prometo que a gente

vai se comportar, não é, meu amor? — O meu chefe, que deixou a


minha calcinha molhada, e agora está mentindo para toda a sua

família sobre algo sério, beija demoradamente o canto da minha

boca.

Pela forma suave como a Érika olha para mim, não está
claro se acredita no que o neto falou, mas é bastante óbvio que quer

acreditar, e que é algo importante para ela. Da minha parte, acredito

ter chegado no meu limite, então, sem saber o que fazer, decido sair
de cena.

— Querido, eu vou fazer aquela ligação sobre a reunião

de mais cedo. Depois a gente se encontra? — Falo, o poderoso

chefinho balança a cabeça e me beija longamente, dando o show


que todos querem ver. — Foi um prazer conhecer a senhora. —

Aproximo-me, beijo a sua mão e depois saio da sala.


Deixei todos no mais completo silêncio, mas duvido que

alguém, além da senhora Érika, tenha acreditado por um segundo


no que o loiro babaca contou. Mas isso não importa. Irritada do jeito

que estou, não ligo nada para o que possa acontecer com ele.

— Garota, mas o que é que está acontecendo na sala de

John Harper? A família resolveu se reunir? — Ana Júlia pergunta,


porque ela, Sara e Teresa me interpelaram antes mesmo de eu

chegar à minha mesa.

Hoje o dia está puxado. Será que não terei um minuto de


paz?

— Meninas, daqui a pouco a gente fofoca. Deixem-me ir

ao banheiro, antes que eu faça o número dois aqui mesmo — minto,


as três franzem o nariz, como se não cagassem, mas pelo menos

me deixam passar.

De fato, vou para o banheiro. Antes de me trancar em

uma cabine durante horas, até que a sensação de que estou em


algum tipo de surto que causa alucinações passe, me posto na

frente do espelho e fico me olhando. Gosto de fazer isso quando

preciso entender o que se passa com a minha cabeça.


Agora, por exemplo, estou entendendo que sou uma

fraca por ter ido tão longe com o meu chefe. Eu devo ter algum

problema. Primeiro, eu não pensei antes de transar com o meu

professor e depois me casar com ele. Agora, deixei o meu chefe,


que já mostrou que não vale um real, depois de mal ter começado a

trabalhar, me beijar a ponto de eu ficar assim, com a boca vermelha

e o batom claramente borrado.

Era essa a imagem que todas aquelas pessoas estavam

vendo?

Antes que eu ligue a torneira e encha minha mão para

molhar o meu rosto, e acalmar o meu sangue que está quente, tanto
pelos amassos quanto pela cena com a família do John, ele aparece

na minha frente.

Se aproxima de mim e, antes que diga qualquer coisa,


levanto a mão e esbofeteio o seu rosto com toda a minha força.

— Não volte a fazer isso — ele diz furioso quando me

abraça pela cintura e aperta o meu corpo no seu. — Acha que é

quem, Manuella Ortega?

— A sua namorada? — Jogo a mentira em sua cara, e o

homem parece cair em si para o fato de não ter qualquer direito de


estar bravo comigo, quando foi ele quem mentiu descaradamente

por nós dois.

— Perdoe-me por aquilo — diz, e me solta. — Eu não

deveria ter te colocado naquela situação, mas neste momento, em

que tem tanto em jogo para mim, não poderia decepcionar a minha

avó e deixar que algo me atrapalhasse. Principalmente algo que...

— É tão pequeno? — Digo, de repente, sentindo-me

inferior.

— Algo que nem se concretizou — ele me corrige, volta


para perto e tenta me abraçar novamente. Fujo, porque isso está

passando dos limites. — Não valeria a pena colocar a minha avó

com os dois pés atrás comigo por transar com a secretária sem de

fato ter transado com você.

— Estou começando a achar que esse emprego, que

parecia dos sonhos, foi um presente de grego. Nem para pedir

desculpas você serve — reclamo, e aproveito para conferir a frente


da sua calça social apertada e justa no corpo.

O homem está calmo, mas lembro-me da sua ereção

gigante marcando o tecido.


— Deixe-me chegar perto que irei pedir perdão como
você merece — fala, me encurrala contra a parede e eu não faço

nada para fugir. — Manuella Ortega, não foi a minha intenção te

colocar naquela situação. Se me perdoar e ficar de boca fechada


por uns dias, até que eu invente uma desculpa para o término do

nosso suposto namoro, eu pago o dobro do seu salário nesse mês

— diz.

Pela facilidade com que faz a proposta, fica claro que


para ele o dinheiro resolve tudo. Se é assim que funciona, acredito

que também posso me adaptar ao seu mundo.

— Será? Não sei... — finjo pensar, mas não sou burra e


sei que esse dinheiro colocaria todas as contas da casa em dia. Mas

além de não ser burra, também sou esperta e decido ir além. — O


dobro do salário e um motorista a minha disposição para ir me

buscar em casa e me levar todos os dias. Não estou a fim de me


desgastar por causa de ônibus ou correr perigo andando com carro
de aplicativo todos os dias — falo.

Eu não sei exatamente em que momento me tornei esse


tipo de pessoa, porque, de repente, a minha raiva passou e estou

tentando chantagear um homem rico e poderoso.


— E se eu não fizer o que quer? — ele pergunta, mas
não parece irritado com a minha tentativa de ser mais esperta.

— Vou contar para a vovó que não sou a sua namorada

coisa nenhuma, que só estava mesmo querendo comer a sua


secretária — falo.

— Você me excita, sabia? — Diz, e enfia o nariz no meu


pescoço. — Esse leve desvio de caráter, que combina perfeitamente

com o meu, me faz sentir vontade de colocar o mundo aos seus pés
— declara e me beija de uma forma que me faz lembrar que a
minha calcinha ainda está molhada.

— John, pare com isso... — Tento o empurrar, mas logo o


puxo de volta para mim. — A gente ainda precisa conversar...

— A gente já conversou — diz, então o afasto de vez.

— Não, nós não conversamos. O seu plano parece muito


bom, mas depois serei eu a pessoa que foi rapidamente descartada
como um sapato velho. Por outro lado, você fica com a sua

reputação de mulherengo intacta?

— A vida é injusta, Manuella. Um dia se ganha e no outro


se perde. No caso, você vai ganhar e perder. Porque terá o seu
motorista e o salário em dobro. Quanto a sua reputação, não será
tão ruim ser a ex-namorada do vice-diretor presidente, que é
madura o suficiente para ter conseguido continuar no grupo, mesmo
depois do término.

— Não serei demitida? — O meu alívio é tão grande que


tenho a sensação de que vou desmaiar.

— Não por isso. Agora, vem aqui que ainda estou te


devendo um orgasmo. — Antes que ele tenha a chance, escapo por

debaixo do seu braço.

— Acho melhor a gente parar com isso! Veja só o que

aconteceu por causa da minha fraqueza. Tudo bem continuarmos


com esse namoro de mentira, que eu espero mesmo que dure
apenas alguns dias, mas não vou ser a sua puta, John. Não serei o

seu lanchinho do meio do expediente, como te deixei pensando que


seria mais cedo — falo, tentando ser firme.

Apesar do fogo entre as pernas, sinto que preciso recuar,

porque tenho a sensação de que, se eu deixar, esse homem vai me


consumir por inteiro, e não terá ninguém para juntar os meus
pedaços depois. Seria muito bom ter momentos de prazer com ele,

que parece saber o que faz, mas sei que correria riscos
desnecessários de querer o que não devo.
— Não fale como se você não fosse gostar disso, mas
tudo bem, se é assim que quer. Já devo ter te dito que não sou o

tipo de homem que implora, e não começarei com você, querida. —


Não há irritação ou sarcasmo na sua voz, apenas uma constatação.

— No entanto, parece estar sempre implorando por mim.


— Eu deveria morder a minha língua para não falar demais.

— Para que esse acordo valha, aja como minha


namorada quando for necessário — pede, preferindo não comentar
a minha alfinetada.

— O que eu digo para as outras secretárias? —


Pergunto, porque só agora a questão surge na minha mente.

— Isso é com você — diz. — Eu não me importo com a


opinião das fofoqueiras. — Fico com vontade de dizer que elas não
são fofoqueiras, mas me lembro que ele não está errado. — Agora

eu tenho que ir, porque eles ainda estão na minha sala. Quando
puder, vá até lá, sinto que ainda não estão acreditando.

Depois que ele sai, eu permaneço inerte, feliz com o

dinheiro a mais e o motorista, mas uma parte muito maior de mim


está com a impressão de que fiz uma besteira.
CAPÍTULO 12

MANUELLA
No portão de casa, a minha mãe e a minha irmã estão

olhando com desconfiança para o carrão com motorista que veio me


buscar e que me traz de volta todos os dias. Eu disse que tenho

essa regalia da mesma forma que todos da empresa têm, como se o


veículo fosse uma van que passasse na casa das outras
secretárias, pegando-as.

É claro que eu não diria para as duas que esse luxo a


qual me permiti na primeira oportunidade que surgiu, foi fruto de um

acordo que as duas considerariam errado em todos os níveis. Eu


estou praticamente me vendendo, se não é o meu corpo, é o meu
nome e a minha reputação, em nome de uns trocados a mais e um

carro na minha porta.

— Tenho que ir, gente — falo, beijo os seus rostos, mas


elas continuam olhando para o carro como se ele fosse uma nave

que veio me abduzir até que viremos a esquina.

— Bom dia, Tito — cumprimento. O homem ruivo tem por

volta de setenta anos, e eu me pergunto o porquê de o John não ter


contratado algum mais jovem e menos calado. Ele mal responde a

qualquer coisa que deixa a minha boca.

— Bom dia, senhorita. — Basicamente, essa é a única

coisa que o homem fala durante as viagens.

Uma semana depois do acordo, tendo conseguido me


adaptar ao trabalho e todo o funcionamento da construtora, as

coisas melhoraram para mim, estão mais calmas do que pareciam

que seriam nos primeiros dias. As três secretárias do andar e eu nos


tornamos amigas, e isso é algo que deixa os dias bem mais

divertidos, embora não esteja lá para me divertir, e sim trabalhar.

E mesmo tendo me entrosado com as garotas, não tive

coragem de contar que o John Harper e eu estamos “namorando”.

Quer dizer, a Sara, que é mais atenta do que as outras,

provavelmente tem notado a interação mais íntima entre o meu

chefe e eu. Com certeza, tem compartilhado as suas desconfianças


com elas.

Não as julgo por pensarem algo, porque eu faria o


mesmo se visse uma delas sendo tratada com carinho pela avó de

seus chefes, se os chefes sempre lançassem piscadelas sacanas

em suas direções, porque é isso que tem acontecido na última

semana.
A senhora Érika está se esforçando para me tratar bem
quando aparece no prédio, o que é basicamente todos os dias. Vejo

no seu rosto que tem desconfianças quanto a esse namoro. Se não

é da veracidade, considerando que nos flagrou aos amassos, é da

seriedade do relacionamento tão repentino que ninguém está

engolindo.

John, por sua vez, tem se comportado muito mais do que

o esperado vindo dele, o que não significa que não faz com que eu

queira tomar um banho gelado todos os dias quando chego em

casa. O poderoso chefinho não me olha como um chefe deveria


olhar para a sua secretária, pelo contrário, parece que tira peça por

peça das minhas roupas quando entro na sua sala.

Ele não disfarça que gosta dos meus seios, e me faz


pensar que não sabe que tenho um rosto que fica em cima do meu

pescoço. Quando viro as costas para sair da sala, sinto-as

queimando pelo seu olhar. Quando me volto para trás, para garantir

que estou com a autoestima em dia, constato que de fato está

olhando para a minha bunda.

Mas o homem não tem feito mais do que isso, e eu fico

relativamente contente, pois pelo menos não tenho que me esforçar

para não cair na tentação de dar a boceta para o meu chefe, que
não iria querer nada além de uma noite. Do jeito que sou dedo

podre, seria perfeitamente capaz de depois ficar como uma


cachorrinha mendigando por mais atenção.

Foi por isso que desisti dos relacionamentos, eu nunca


me dei bem com eles. Um fiasco depois do outro até ter aprendido.

Ao descer na frente do prédio majestoso, despeço-me do

Tito e me distraio com uma mensagem que recebi da minha irmã no


WhatsApp, enquanto caminho sem olhar para onde ando na direção

da portaria.

— Manuella. — Ouço.

Caralho! Eu não acredito que ele tenha vindo até aqui.


Depois de dias, que me fizeram pensar que me deixaria em paz,

Dante volta a atacar.

— Você não deveria ter vindo aqui, cara. Não no meu

local de trabalho — reclamo. — Pensei que não tínhamos mais nada


para falar.

Parece que envelheço dez anos a cada conversa que

tenho com o Dante e, mesmo assim, é como se eu não conseguisse


me livrar dele. Algo sempre me puxa em sua direção. Eu mesma me
saboto, como fiz quando me vi sem saída e fui procurar ajuda com

ele. Foi a primeira pessoa em quem pensei.

— A gente tem que conversar, mas eu não vim para

brigar. Só queria trazer isso para você. — Ele estende as mãos que
estavam escondidas nas suas costas e me entrega um grande

buquê de rosas, presente que não costumava me dar quando


estávamos juntos.

Na verdade, Dante se sentia seguro, mesmo com poucos

meses de relacionamento. Ele sentia que eu não iria o deixar,


porque eu dava essa segurança. Dava tudo o que ele queria e

aceitava as suas palavras.

— Obrigada, mas...

— Não fala nada, querida — pede ao colocar os dedos na


minha boca. Eu olho rapidamente para o lado, para ver se não tem

ninguém nos vendo. — Eu só vim te pedir perdão pela forma como


falei com você no bar, não era a minha intenção — diz.

Mas nunca é a intenção dele. Todos os gritos ou


empurrões, nunca foram por querer. É o que ele diz. Eu acredito que

no fundo o meu ex-namorado é um homem bom, bonito, jovem e


bem-sucedido, mas tem momentos que perde o controle e fica
irreconhecível. Em algum momento, percebi que não poderia viver
com esse seu lado e acabamos terminando.

— Está perdoado. Agora me deixa entrar, porque estou


atrasada — digo, me aproximo e beijo o seu rosto.

— Posso te ligar mais tarde? — Vejo esperança no seu

olhar.

Por mais que eu saiba que sou uma mulher bonita, nunca

vou conseguir entender o que Dante viu em mim que o deixou dessa
forma. Pode ter a mulher que quiser, mas insiste em não me deixar
seguir em frente. Às vezes me pergunto se não sou um desafio, mas

me lembro que ele já me teve.

— Pode — digo e viro as costas.

Não morro de vontade de falar com ele, mas cedi para


que me deixasse entrar de uma vez. Se não fizesse isso, demoraria

alguns minutos para que fosse embora, e não quero uma cena na
frente do meu trabalho.
— Parece que alguém está namorando — Teresa
comenta assim que saio do elevador. O problema é que eu saí por
um e o meu chefe loiro saiu pelo outro e ouviu seu comentário. —

Bom dia, senhor Harper.

— Bom dia, Teresa — ele a cumprimenta, depois olha

para as rosas em minhas mãos. — E você, Manuella, deixe as suas


preciosas rosas na mesa e venha até a minha sala com a agenda —
pede e sai sem me dar um segundo olhar.

Mas o que foi que deu nesse homem? Geralmente, ele

chega de bom humor. Certamente depois de ter se acabado de


fazer sexo com alguma mulher aleatória. John me disse no banheiro

que não precisa correr atrás de ninguém, e não o imagino sendo o

cara que não transa dia sim e no outro também, sempre com

mulheres diferentes. Nunca repetindo.

— Acho que alguém ficou irritado por não ter sido ele

quem mandou as rosas — Ana Júlia para de digitar para fazer o

comentário, enquanto eu coloco as flores em um canto da minha


mesa.

— Não sei do que está falando. — Faço-me de

desentendida.
— Que está bem nítida a tensão sexual entre você e o

seu chefe, que se não estão transando, estão a um passo de


fazerem isso — Sara diz, e eu constato que de fato estavam

desconfiando.

Ainda bem que esse acordo foi feito para durar apenas
alguns dias, e eu estou prestes a cobrar o fim dele para o John. Não

tenho motivos para mentir para elas sobre um namoro que nunca foi

real.

— Vocês estão doidas. Agora, deixem-me ir ver o que o


chefe quer.

— Tomara que não seja fazer de você a primeira refeição

do dia — Sara comenta, olhando-me da cabeça aos pés. Ela não


esconde que sente tesão por mim, mas também não tenta uma

abordagem mais direta. — Mas eu não o julgaria, caso tentasse —

finaliza.

— Mas você não perde a chance, não é, Sara? — Teresa


a repreende. — O foco aqui é o tesão encubado entre os dois.

Eu não fico para ouvir a discussão sobre a minha vida

sexual, apesar de estarem certas quanto a parte da tensão sexual,

isso está longe de ser fingimento.


Nos últimos dias, os meus olhos simplesmente não

puderam sair do homem. Principalmente da frente da sua calça.

Manjo o seu pau quando penso que não está vendo, porque tento
reviver na minha memória como foi a imagem da ereção quase

estourando o zíper por mim.

— Sente-se — ele pede quando entro e fecho a porta.

Sento-me e tento não ficar olhando demais para os seus braços


fortes.

Desde que comecei a trabalhar aqui, convivendo todos os

dias com esse cara gostoso e que tem um ar de que fode bem,
tenho estado mais sensível. A falta de sexo tem se tornado mais

latente. Foram nove anos de um sexo morno, mas, ainda assim,

estava fazendo vez ou outra. Teve o Dante em seguida, e agora

estou há meses sem ver um pau de perto.

Para quem era acostumada, tem parecido que faz uma

eternidade. Ter o homem dos meus sonhos eróticos e o rosto e

corpo das minhas masturbações diárias não tem ajudado em nada.

— Você está com algum problema? — O poderoso


chefinho pergunta, depois de eu ter passado um tempo pensando

na vida sexual que mal tenho.


— Está tudo certo. Quer passar os compromissos

diários? — questiono, ele balança a cabeça e então começamos.

Durante os minutos em que trabalhamos, a pergunta que

não quer calar não deixa de martelar na minha mente. Me pergunto

se devo fazê-la, mas estou doida demais pela resposta, então não

tenho qualquer esperança de que vá me manter calada.

— Era só isso, por enquanto — ele diz, claramente me

dispensando. — Pietro, quando puder, venha até aqui — fala ao

telefone antes que eu saia da sala.

Antes de sequer abrir a porta, volto novamente para a

mesa dele e fico parada de pé o olhando. Será que ele pensa que

sou idiota? Não é possível que tenha se esquecido que o acordo iria
durar pouco. E por que está tão azedo?

— Quem te deu aquelas flores?

— Quando é que esse acordo vai acabar?

Nós dois falamos ao mesmo tempo, mas a sua pergunta


é mais surpreendente, porque não posso acreditar que a sua cara

azeda seja por causa das benditas flores. John nem faz o estilo

ciumento, pior, ele nem tem motivos para sentir ciúme, já que não

temos um namoro de verdade!


— Eu tenho mesmo que te dar satisfação da minha vida?

Pelo que me lembro, nosso acordo, sobre o qual você tem se

mantido mudo e não me disse ainda quando ele vai acabar, é sobre

um namoro de mentira.

— É de mentira — concorda comigo, me pergunto se não

faz isso para me irritar.

— Então, eu posso transar com quem quiser, e receber


flores quantas vezes quiserem me dar. — Faço birra como uma

adolescente, mas o homem me tira da minha paz.

Enquanto estou agoniada, doida para acabar com essa

história de namoro falso para voltarmos para o lado cem por cento
profissional da nossa relação, o loiro parece bem tranquilo, como se

nada disso o abalasse. E não deve abalar mesmo.

— Pode mesmo, mas acho que a gente já conversou

sobre meu território, minhas regras. Se as flores entraram nesse


prédio, então estão no meu território e eu quero saber de quem elas

são, e porque as recebeu — fala com calma e tranquilidade, como

se não estivesse fazendo um esforço para deixar o meu sangue


fervendo.
— Eu vou perder o meu emprego se disser que te odeio?

— indago.

— Não. Eu só não vou acreditar — comenta, se levanta e

já vem invadir o meu espaço.

— Então, eu te odeio — declaro com a voz fraca, quando

o seu cheiro de macho alfa chega em mim antes dele.

— De quem eram as flores? — insiste. O corpo está junto

ao meu, mas não me toca. A última vez foi há sete dias, e os seus

dedos estiveram dentro da minha boceta.

— Do Dante — revelo, e a sua expressão fecha.

Tenho a sensação de que os dois vivem em uma disputa

de mijos.

— Dormiu com ele? — indaga.

— E você, com quem transou ontem à noite? — Rebato.

— Devo te lembrar mais uma vez que o nosso namoro é...

— Não precisa. Mas espero que também possa te

lembrar que esse acordo acaba quando eu disser que acabou, e


estou te dizendo agora que ainda não acabou — diz, eu estou

irritada, enquanto penso em como os seus olhos verdes são bonitos.


— Quando acaba? Estou começando a achar que o
preço desse acordo ficou barato demais, talvez eu precise rever os

meus termos — falo para o irritar, mas bem que poderia fazer com

que sinta no bolso o preço por me fazer de seu fantoche.

— Estou doido para discutir os nossos termos com você.

Se quiser, podemos fazer isso na minha casa mais tarde. Nós dois

estaríamos pelados em cima da cama — fala para me provocar,

aproxima o rosto do meu, mas eu não faço nada para o impedir.


Jamais correria como uma gazela assustada.

— Eu não queria atrapalhar o casal apaixonado... —

Pietro, o advogado, que tem cara de que está sempre tramando


alguma coisa, entra sem avisar. Não que precisasse, já que é o

comparsa do Harper e nunca é anunciado.

Ele sempre foi educado comigo, faz um lindo casal com o

companheiro, que já esteve por aqui uma vez, mas confesso que
tenho medo do cara. Ele tem cara de que é o diabinho que fica
sussurrando no ombro do John, embora ele não seja menos ruim.

— A gente poderia estar transando — o meu chefe fala e


eu o fuzilo com o olhar. Sei que está me provocando, porque duvido

muito que o advogado não saiba do nosso acordo.


— Eu adoraria assistir — o homem comenta.

— Se me derem licença — falo e me apresso para fora


da sala. Sempre que estou do lado de fora, solto uma longa

respiração, porque nunca é fácil entrar no covil de John Harper.

É uma batalha psicológica. Ao mesmo tempo que quero o

matar, quero montar no seu colo.

— Meninas, me digam que estão livres hoje à noite. Eu

preciso me divertir e extravasar! — É a primeira coisa que falo


quando chego à minha mesa.

Tomo a decisão, porque, além de hoje ser sexta, estou a

ponto de explodir de frustração. Preciso sair com alguém totalmente


aleatório que tire John e seus planos mirabolantes da minha cabeça.

JOHN
Sentado à minha frente, meu melhor amigo me olha em

silêncio. Ele ainda não se conforma de eu ter trazido a mulher com


quem quis transar desde o primeiro instante para o meu lado, mas a
sua maior tristeza é não ter sido ele a pessoa quem deu a ideia de

fazer um acordo quando precisava de uma saída perante a minha


avó.
Na hora em que ela nos pegou, vi a minha chance de
ficar com a cadeira de diretor ficando mais distante e, enquanto me
via numa posição inferior ao idiota do Tales, a ideia surgiu. Pensei

rápido e coloquei a Manuella em uma situação que não pediu.

É claro que tive que ir até ela para a acalmar, e imaginei

que poderia me ajudar sem nada em troca, afinal, no seu primeiro


dia me prometeu que seria leal, mas fiz o que pude para garantir
que ficasse calada. Na verdade, faria o dobro para conseguir o que

quero. Quando a gostosa fez a sua exigência simples, quis colocá-la


em cima do balcão do espelho no banheiro e meter fundo na sua
boceta.

Há uma semana Manuella mostrou que é um pouco

parecida comigo, e me deixou ainda mais sedento por ela. Não


aconteceu mais nada entre a gente, mas o desejo ainda está aqui.
Quando transei com mulheres que não são nada para mim durante

os últimos dias, pensei na sua boceta apertada. Quando vi que


recebeu flores, quis ir atrás do idiota que tem chances de a ter antes
de mim.

Eu quero mais do que tudo ser o dono da porra toda no


grupo Harper, porque gosto do poder e aceito a responsabilidade,
mas, de repente, uma boceta de ouro está nublando a minha visão,
e não estou mais conseguindo separar uma coisa da outra.

— Pensando no porquê de ainda não ter conseguido


levar a sua secretária para a cama?

— Sim. Quer dizer, não — Pietro me deixa exasperado,


porque me conhece melhor do que os meus pais e sabe até o que

uma expressão minha significa. — Mais ou menos.

— Cara, eu que sou gay, e enxergo bem, notei que ela é


muito gata, gostosa do jeito que você gosta, mas essa mulher, que é

apenas a sua secretária, e não veja esse comentário como um


preconceito de classes, não tem a vagina de ouro. Tem mulheres

aos montes por aí.

— Eu sei e, inclusive, saí com uma ontem, mas não era a


Manuella. Essa obsessão da porra só vai passar depois que eu

transar com aquela morena.

É isso, estou obcecado, basta conseguir a levar para a


cama ao menos por uma noite para passar. A gente vai seguir em

frente sem isso no nosso caminho depois que acontecer. Tenho


certeza.
— Então faça alguma coisa, porque estou começando a

achar que ela se tornou mais importante para você do que a cadeira
do seu pai.

— Você está enganado — nego com veemência.

— Então, por que estamos falando dela ao invés do que

realmente está em jogo aqui? — indaga como um tapa na minha


cara. Ele tem razão.

— Como está a história do Tales com a tal namorada? —

questiono.

Ele fez a jogada primeiro, então, mesmo que tenha feito


igual em seguida, já está na minha frente. Para o meu azar, a tal

moça é uma amiga de infância, que já havia frequentado a casa da


vovó e ela se lembra da moça. Eu posso apostar um dedo que ele

fez o mesmo que eu, e não está com ela coisa nenhuma.

— Do mesmo jeito que você viu na casa da vovó no fim


de semana. Érika conhece a moça e sente simpatia por ela,

influenciada pela história, que sabemos ser mentirosa, de um amor


de infância. Você, por outro lado, se envolveu repentinamente com
uma desconhecida que havia acabado de contratar. Dê crédito a sua
avó por não estar certa de que esse namoro não é apenas uma
ficada.

Porra! Preciso contar para ele que Manuella acha que o

acordo tem prazo para acabar, que para ela já deveria ter acabado.
Preciso encontrar outra saída.

— Pietro, tem algo que não cheguei a comentar com você


— ele arqueia a sobrancelha, sabendo perfeitamente que vem

merda pela frente. — Propus um acordo de curto prazo para a


Manuella. Antes de você entrar, ela estava me cobrando sobre o
término dele.

— Porra, John. Você nem conseguiu convencer a sua avó


de que é capaz de manter um namoro sério, e nós sabemos que
não é, e já vai anunciar o término? Essa situação só vai complicar

tudo. Era melhor que não tivesse inventado esse namoro. Na


verdade, não teria que ter pensado em algo assim se conseguisse
manter as mãos longe da sua secretária — fala e se levanta.

— O que faço agora? — questiono. Somos uma dupla,


mas ele tem a mente mais perversa quando se trata de armar.

— Você terá que se virar, meu amigo. E eu te aconselho


a dobrar a sua “namorada”, antes que a sua avó comece a pensar
que o Tales não é uma opção tão ruim assim para a presidência.

— Puta que pariu! — Esbravejo quando fico sozinho.

Pietro está certo, eu tenho que fazer alguma coisa para


não acabar ficando em desvantagem.

Pode parecer fútil que um cargo como a presidência


esteja sendo disputado com questões que envolvem

relacionamentos, mas por trás de tudo isso existe uma verdade que
não gostaria de ter que admitir.

A minha avó e todo o conselho diretor sabem que eu sou

o mais indicado, que o meu trabalho tem sido muito melhor do que o
do meu primo, que até a minha capacidade de elevar ainda mais o
grupo por causa da minha personalidade é superior, mas a minha

avó não se importa apenas com isso.

Ela preza pelo lado familiar, pela capacidade que as


pessoas têm de gerir as próprias vidas. Para ela, ter sucesso na

carreira não basta. É um pacote que vem com esposas e filhos. Se


o meu primo tiver isso e provar para ela que é um homem dedicado

a família, ela não se importará que as suas qualidades para ficar


com a cadeira do meu pai sejam medianas.
Mas estou no caminho do priminho, e não vou deixar que
ele me vença. Nunca. Tenho que pensar em uma forma de fazer a

morena ficar do meu lado nessa briga, mesmo que para isso tenha
que cumprir as suas exigências.

Haverá uma mudança de planos, mas sei de antemão


que terei que ter muito cuidado e paciência com o que direi para a
minha secretária. Talvez eu possa prometer o triplo do seu salário,

até que convença a minha avó de que sou, sim, capaz de manter
um relacionamento?

Talvez não precise ir tão longe como o Tales parece


disposto a ir. Eu sou o neto preferido, então, se a Érika tiver ao

menos uma garantia de que no futuro posso me aquietar e formar


uma família de comercial de margarina, tenho certeza de que irá
votar a meu favor na reunião do conselho.

O dia se arrasta e, ao invés de trabalhar em um projeto,


fico com a mente cheia de ideias de como falar com a minha
secretária sobre um novo plano. Ela mal está suportando esse

primeiro e não vê a hora de acabar.

Sinto que não importa o que eu tenha que fazer para que

colabore, eu vou até o fim.

Ao chegar na cobertura em que moro sozinho desde os

meus vinte anos, sou recebido pelo silêncio que valorizo quando
estou aqui. O triplex foi um presente dos meus pais, porque eles não
aguentavam mais a fase em que eu levava garotas diferentes para

casa a cada semana.

Eles queriam se livrar de mim e não os julgo, mas eu


acabei não trazendo nenhuma mulher para cá. Quando encontro

alguém, levo para um hotel ou vou para a casa dela, mas aqui não.
Além de ser o meu refúgio, não gosto da ideia de que pensem que

possa significar que podem ficar para dormir, ou que irei levar café
na cama.

Depois de colocar as chaves em cima da bancada

americana da cozinha, subo para o meu quarto e tomo um banho


demorado. Deito-me para descansar um pouco e ligo o som em um
rock pesado, mas não consigo relaxar. Perto das dez da noite,

decido que hoje não é dia de ficar em casa pensando em


problemas.
Até que seja segunda novamente, vou me divertir!

Arrumo-me rapidamente, pego preservativos e as chaves


do carro e saio de casa. Não ligo para o Pietro e o Nicolas, pois tudo

o que eu não quero é olhar para eles e pensar em trabalho.

Escolho uma casa de shows menor e menos cheia. Ao


chegar, compro o meu ingresso, entro e vou direto para o bar, que
está movimentado. É nele que as pessoas pedem bebidas e

aproveitam para paquerar enquanto a bebida é preparada. Com


sorte, se consegue um passe antes de os copos chegarem.

Eu espero que hoje esteja com sorte, porque quero

apenas encontrar uma companhia e relaxar, enquanto fodo uma


boceta. O perfume gostoso, e que não é desconhecido, chega antes
da dona, que se senta ao meu lado.

Tenho medo de olhar e comprovar de quem se trata,


porque o destino não pode ser tão sacana. Passei o resto do dia

trancado na minha sala para não olhar para a minha secretária,


embora ela estivesse nos meus pensamentos junto com todo o
resto, para agora a encontrar aqui.

— John Harper? — Ela fala, e não tenho outra saída, a


não ser me virar para ela, e sinto que essa noite está apenas
começando.
CAPÍTULO 13

JOHN
O foda é que a morena, que está mais gostosa do que o

normal com o seu vestido vermelho, curto e tomara que caia, veio
de bando com as três secretárias do penúltimo andar do edifício.

Elas sempre acompanharam a minha vida com bastante interesse,


como as boas fofoqueiras que são.

Pergunto-me o que estão pensando do relacionamento

da nova colega delas comigo.

— Meu amor, por que não me avisou que viria com as


suas amigas? Eu poderia ter trazido vocês — digo com alegria e um
sorriso falso no rosto ao abraçá-la pela cintura.

Pelas expressões nos rostos das mulheres, está na cara

que Manuella não contou nada sobre o nosso suposto namoro, e

isso é muito ruim para mim, porque deixa claro que realmente
espera que o acordo acabe de uma vez.

Bom, ela acaba de me dar uma excelente oportunidade.

— Não me diga que não contou para elas? — A morena

está dura e sem reação ao meu lado. Será que não imaginou que
era uma péssima ideia se colocar nessa situação? — Eu sei que fica

sem graça, mas a gente não manda no coração, não é, meninas? —


pergunto e beijo o seu rosto.

— É claro.

— Não, não manda.

— Quem nunca se apaixonou pelo chefe?

As três falam ao mesmo tempo, cada uma com uma

resposta diferente, mas nenhuma que tenha coragem de criticar o

relacionamento, pelo menos, não na minha frente.

— Bom, depois a gente conversa, querida. A gente vai

encontrar uma mesa, enquanto você pede as bebidas e conversa


com o seu namorado. — A secretária do Tales fala, e não sei se

confio nela, afinal, é a secretária dele.

Assim que elas saem, a gata arisca dá uma cotovelada

nas minhas costelas e se afasta. Imagino que vá aproveitar as

próximas horas para me responder de igual para igual, já que não

posso usar o argumento de que sou o seu chefe e estamos na


minha construtora. Aqui, nós somos apenas um homem e uma

mulher.
— Está me seguindo? Não é possível que você, com
tantos lugares melhores para ir, tenha vindo justamente para cá — a

mulher fala, em pé de frente para mim. Eu não me dei ao trabalho

de me levantar, assim a minha cabeça fica na altura do seu decote

profundo.

E que decote. O meu sonho é cair de boca nos seus

peitos e me fartar.

— A minha cabeça fica alguns centímetros mais para

cima — Manuella avisa.

— Perdão, é porque eles estão bem deliciosos nesse

vestido.

— Você ainda não respondeu a minha pergunta —


insiste. Por que ela não chega mais perto, ao invés de ficar batendo

o pé contra o piso? Será que pensa que consegue alguma coisa,

além de me deixar excitado, com essa pose de marrenta? — Aliás,

você não deveria ter contado para as meninas desse suposto

namoro.

— Eu não tenho culpa, porque você não me disse que

era um segredo, e eu não podia adivinhar que elas não sabiam —

digo e a puxo pela cintura para que fique entre as minhas pernas.
Manuella fica surpresa e eu explico. — Elas estão a sua esquerda e

não tiram os olhos da gente.

Óbvio que estou me aproveitando para tocá-la. Eu tenho

poucas certezas, mas uma delas é a de que não existe a


possibilidade de o sexo ficar de fora de um futuro segundo acordo

entre a gente. Seja qual for o plano, a gente terminará transando.

— Agora ficará difícil de fugir da curiosidade delas. Vão


querer saber de todos os detalhes de como aconteceu, sobre como

você é na cama — fala, e mesmo que tente, os seus olhos não


ficam muito longe da minha boca.

Sei que quer me beijar tanto quanto eu quero a beijar.


Vim na intenção de encontrar companhia para esquecer um pouco

da minha secretária, mas aqui está ela, me tentando, como tem feito
desde o dia em que entrou na minha vida.

— Você pode falar daquele nosso encontro na minha


sala, de quando enfiei os dedos na sua boceta e quase te fiz gozar.
Lembra de como foi bom? — Sei que as lembranças estão

passando pela sua mente, porque a sua expressão não mente. — E,


respondendo a sua pergunta, eu não estou te seguindo, foi apenas

uma bela coincidência.


— Veio atrás da transa da noite? — pergunta. — Não que

isso me diga respeito, mas acho muito perigoso. Se você cometer


um deslize, eu serei vista como corna, fora que ficará em maus

lençóis com a sua avó — explica. Agora Manu está tranquila, sendo
abraçada por mim.

Sei que está de olho nas amigas e que se preocupa com


o que elas estão pensando, mas gosta de estar aqui, assim como eu

gosto de abraçá-la. Algo inédito, mas que não causa nenhum


alarde.

Nunca namorei, e nunca me apaixonei, mas isso não tem

nada a ver com ser contra o amor, então, o fato de gostar de tocar
nessa mulher quer dizer que gosto da sua companhia. Que teria um
bom tempo na cama com ela, e não só por causa do sexo. A

conversa também deve ser boa.

— Pode não parecer, mas eu sei ser discreto, Manuella

— aviso. — E você, sabe? Porque imagino que possa ter vindo


atrás de companhia — sondo. Por alguma razão, isso me incomoda.

Pensar em outro homem tendo o que eu não tive, embora


não seja por falta de vontade, faz com que eu deseje socar o

mundo.
— Vim dançar com as minhas amigas, como fariam
outras mulheres em uma noite de sexta-feira, mas também poderia
sair daqui acompanhada, afinal, para todos os efeitos, eu sou uma

mulher livre.

— Pensei que tivesse mudado de ideia quanto a fazer

sexo com homens — comento.

— E com mulheres, será que o meu dono deixa? — ela


me provoca. A ideia me excita, desde que eu estivesse junto vendo

a cena.

— Eu seria convidado? — pergunto, aproximo a cabeça

da dela na intenção de beijar, porque quando estamos assim, as


outras questões, incluindo o fato de que vou precisar dela muito

mais do que pensa, somem da minha mente. Deixo de ser racional.

Mas é Manuella quem recua ao meu toque, colocando a

mão na minha boca. O fato de estar entre as minhas pernas já está


nublando os meus sentidos e eu não posso deixar de dar em cima

da mulher nem por um segundo.

— John, quando a gente se conheceu, eu disse que

conhecia tipos como você, lembra? — Eu aceno positivamente,


achando estranho que esteja trazendo esse assunto a tona
novamente. — Não mudei o meu pensamento de lá até aqui. Você é
um cara podre de rico, que não tem nada a perder na vida, mas eu
tenho muito a perder.

— Por que está falando disso agora? — questiono-a


incomodado.

— Porque eu, desde aquele momento, independente do

que falei, te achei um homem atraente e senti desejo por você. O


fato de ser tão arrogante e mandão não diminui em nada a vontade

louca que tenho de transar com você, mas, como eu disse, sei quem

somos, e não posso colocar em risco o meu futuro por causa de


uma transa de uma noite.

— Então, você só ficaria comigo se junto com a cama

viesse um anel de compromisso? — Eu não deveria estar falando

isso, mas estou.

— Não. Estou querendo dizer que de nenhuma maneira

seria uma boa ideia para a gente ceder a essa atração — diz. Eu

concordo com a morena, inclusive, tentei ignorar a obsessão, mas

só dá certo quando não estou assim, tão perto dela.

— Qual é o seu plano, sair daqui hoje para dar para um

cara qualquer, sabendo que é a mim que deseja? — Não sei por
que, mas tenho a sensação de que estou me parecendo com um

cara despeitado e ciumento.

Pareço-me com o Dante, que sempre foi tão desapegado.

Talvez essa mulher seja uma bruxa jogando o seu feitiço de

sedução.

— Parece um bom plano, é melhor do que cair nas suas

mãos — diz.

O barman começa a colocar as bebidas à nossa frente no

balcão, mas não desviamos a nossa atenção um do outro.

— Espero que seja uma boa caça — falo, mas o gosto do

ciúme na minha boca é amargo.

— Desejo o mesmo a você — assevera e tenta se

afastar, mas eu a abraço de novo contra o meu corpo.

— Elas estão olhando, então acho melhor a gente dar o

que esperam ver.

— Mas... — Antes que a morena faça um novo discurso,


coloco a mão na sua nuca e puxo a sua cabeça para junto da

minha.

O beijo já começa frenético, porque não sei se Manuella e

eu juntos poderíamos ser de outra forma. Mesmo com tudo o que


falou, ela corresponde ao meu beijo e deixa que a minha língua

envolva a sua.

E quando estou assim com essa mulher, tudo desaparece

e ficam apenas as sensações, principalmente a de que não posso


morrer sem antes entrar dentro do seu corpo.

Dramático? Eu sei, mas é assim que me sinto no

momento. De alguma forma, preciso dar um jeito de fazer com que


se esqueça dos seus temores, que queira mandar tudo para o

espaço em nome do desejo, assim como eu estou fazendo.

— John... — fala dentro da minha boca, começando a me

empurrar, mas a sua voz está fraca. O corpo está trêmulo nos meus
braços. — Já chega. A gente precisa parar. — Por fim, consegue

terminar o nosso beijo e, como sempre, a sua boca está

deliciosamente avermelhada, assim como a minha deve estar com


as marcas do seu batom.

— Agora as suas amigas fofoqueiras terão o que

comentar — digo, Manu faz cara feia.

— Elas não são fofoqueiras! — Aponta. — Será que pode


me ajudar a levar os copos?

— É claro, querida — digo, me levanto e a auxilio.


— Depois você ficará fora de nossas vistas, e não deixe

que elas pensem que está me traindo — instrui enquanto


caminhamos para a mesa das secretárias.

— Digo o mesmo a você — falo, mesmo duvidando que

as três vão tornar as coisas tão simples para a gente.

— Bom, meninas, obrigado por terem me dado um tempo

com a minha namorada. Agora, ela é toda de vocês — digo com

simpatia, enquanto ajeito os copos sobre a mesa.

— Imagina, chefe. A gente não seria tão má a ponto de


separarmos um casal, inclusive, se não for demais para você a

convivência com reles mortais, pode sentar com a gente, não é

meninas? — Uma das mulheres fala. Eu olho inocentemente para a


minha suposta namorada, dizendo que a culpa não é minha.

— Ele veio com amigos, meninas. Além do mais, pensei

que essa fosse a nossa noite — Manuella fala, aparentemente

conseguindo escapar.

— Ela tem razão, gente. Mas eu prometo que vou ficar


por perto. Se quiserem, posso levá-las em casa. Sei como a cidade

pode ser perigosa.


Essa é uma forma idiota de garantir que Manuella vá para

casa sozinha. Eu também vou, mas é um sacrifício que posso fazer

em nome da possessividade que não sabia que fazia parte dos

meus defeitos.

— Você é muito gentil, amor — Manuella fala com

carinho, depois me dá um selinho, mas imagino que por dentro

esteja querendo dar tesouradas na minha barriga.

— Até mais tarde, meninas. — Aproveito-me da situação

e dou mais um beijinho na morena.

A noite se mostra uma surpresa para mim, só não

consigo definir se boa ou ruim. No início, eu volto para o balcão do


bar e fico sozinho com o meu suco. Não pedi nada alcoólico, não

depois de ter me oferecido para dar carona para as mulheres,

incluindo a minha morena. É estranho que não consiga sequer


conversar por mais do que cinco segundos com qualquer mulher

que se aproxima de mim.

Logo que elas chegam no ponto em que vão se oferecer

para irmos para um lugar mais discreto, talvez para um quarto de


hotel, eu dou um jeito de dispensar. Eu queria poder dizer a mim

mesmo que estou apenas pensando no contrato, sendo discreto


para não colocar tudo a perder, principalmente quando as suas

amigas estão aqui, mas não posso negar a verdade.

É claro que eu só posso ter contraído algum vírus, porque

nunca fui de agir assim. Gosto muito de mulheres, mas parece que

o meu gosto se tornou mais restrito.

Se ela não for uma gostosa morena, que tem a boca da


Angelina Jolie, e peitos que me pedem para tocá-los, não

despertará o meu interesse, não nesta noite. Eu estou começando a

ficar preocupado com as minhas reações à minha secretária, mas


me sinto mais firme ainda na ideia de que é apenas um desafio, que

quando a provar de todas as formas possíveis, durante uma noite

inteira, essa fixação sem sentido vai passar.

O fato de eu precisar transar com a minha secretária é


um fator de risco para os meus planos, mas sou John Harper, e não

vou deixar que uma coisa atrapalhe a outra. Posso, sim, usá-la para

os meus propósitos, mas também posso desfrutar do seu corpo


tentador, até que saia do meu sangue.

Depois de já não aguentar mais dispensar bocetas,

descubro que essa foi a parte mais fácil da minha noite. O lugar não

é tão grande assim para que eu não possa ver quando a minha
secretária e as outras se levantam da mesa e vão para o meio da
pista de dança que, até então, não está cheia.

No momento em que Manuella começa a dançar,

rebolando a bunda gostosa ao som de um funk proibidão, que fala


sobre meter na boceta, me dou conta de que é possível morrer de

tesão frustrado. A cada movimento que ela faz, o vestido, que já era

curto, sobe mais um pouquinho, deixando as suas pernas grossas e

torneadas à mostra.

Eu estou duro e babando, mas o problema é que oitenta

por cento dos homens presentes aqui também estão. Não tem como

ver uma mulher como ela e não se impressionar. Manuella parece


alheia ao efeito que causa e, para piorar, começa a se esfregar

durante a dança com uma das mulheres.

Todas as outras três secretárias são fascinantes a sua

maneira, mas nenhuma delas nunca chamou a minha atenção como


a morena chama. Todas as três, que estão no penúltimo andar do
edifício do grupo Harper, são importantes demais para que eu

sequer pensasse em olhar para elas.

Mas agora tem uma delas com as mãos em cima da

morena. É uma imagem que jamais passaria pela minha cabeça,


mas que duvido que consiga desver algum dia. Será que a mulher é
lésbica? Ou será que a Manuella é bissexual?

Não, mas é apenas uma dança, não é?

Deve ser por isso que o meu pau está a ponto de


estourar o zíper da minha calça jeans.

Elas estão uma de frente para a outra, a secretária de


cabelos curtos e escuros tem uma mão na cintura da Manu,

enquanto a outra está agarrada no seu peito. Elas esfregam os seus


corpos, enquanto as outras duas gravitam em volta, também
dançando e sorrindo sem parar. A imagem, além de excitante,

também é bonita. É como se formassem um harmonioso conjunto.

Não sei se é errado, mas se for, não importa, pois já sei


que vou direto para o inferno de qualquer forma, mas a minha mente

se enche com imagens de cenas inventadas dessas duas juntas.


Elas sobre uma cama se tocando e eu assistindo. Depois, a
secretária de cabelo curto, preciso decorar o nome delas, porque

sinto que serão importantes para mim, chupando os seios da


morena, enquanto eu chupo a sua boceta.

Ela geme sem parar e implora por mais para nós dois,
porque essa mulher tem cara de que não se contenta com pouco,
que mesmo se não tiver tido tudo o que merece no quesito prazer,
ela vai saber reconhecer e aproveitar quando tiver. Me vejo metendo
sem parar na sua boceta, e a outra mulher sempre lá, a tocando nos

lugares onde não estou.

Quando a música acaba e elas enfim param de se mexer,

isso faz com que as pessoas desviem as suas atenções para outras
coisas, a mulher ousada troca um abraço demorado com a minha
secretária e depois beija o canto da sua boca. O meu pau tem um

sobressalto, mas me pergunto se Manuella sabe o que está


fazendo, ou se está bêbada demais.

Elas voltam para a mesa, e eu passo mais um tempo


apenas observando o movimento de pessoas, ainda excitado como

um adolescente e com imagens da mulher na minha cabeça. Perto


das duas horas da madrugada, eu me aproximo delas, porque as
pessoas começam a irem embora e imagino que já tenham bebido o

suficiente.

Nos segundos que levo para chegar até as mulheres,


procuro não pensar nas vezes em que homens e mulheres

chegaram perto da Manuella, mas, felizmente, foram dispensados.


Procuro não pensar na sua bunda, que deve ter deixado alguns
vesgos e paus duros. Não que ela tenha culpa de ser uma gostosa.
Dante, meu amigo, eu te entendo!

— Estão prontas? — indago ao parar atrás da morena,

abraçá-la pela cintura e enfiar a cabeça no seu pescoço, sentindo o


cheiro do seu perfume e o gosto salgado de sua pele com a ponta

da língua.

É apenas encenação, digo a mim mesmo, e espero que o

álcool não tenha a feito esquecer.

— Mais do que prontas. Essa noite foi divertida, mas


estou cansada — a senhorita mão boba comenta, enquanto as

outras três mantêm um sorriso frouxo na boca.

Agora que estou mais calmo, olho para a mulher e só

consigo sentir inveja dela.

— Então, vamos? — Chamo-as.

Enquanto caminhamos para a saída, chego à conclusão


de que não beberam a ponto de tropeçarem nas próprias pernas.
Estão apenas alegres e sorridentes. A Manu, por exemplo, está feliz

a ponto de deixar-me abraçar a sua cintura sem parecer tensa. É


apenas natural.

Com a minha secretária sentada ao meu lado no banco


do carona, e com as quatro falando bobagens e sorrindo, eu levo de
uma por uma até as suas casas, porque eu saí de casa hoje para

ser o motorista das quatro, e deixo a morena por último.

— Parece que a sua noite foi divertida, não é? —


Comento com a Manu ao parar com o carro na frente da sua casa.

Viro-me em sua direção e tenho a imagem perfeita do seu sorriso


lânguido.

A mulher está levemente alterada e um pouco


descabelada. O suor já secou na sua pele, mas parece que nunca a

vi mais linda.

— Foi uma noite ótima, e eu estava precisando mesmo,


poderoso chefinho... Ops! Não era para você saber do apelido

carinhoso — fala aos risos e cobre a boca com as duas mãos como
uma criança.

Eu também sorrio, e não me incomodo. É a cara dela


colocar apelidos, mas que não sejam ofensivos.

— Que bom que se divertiu, agora, está na hora de entrar

e descansar — digo com custo, porque não queria que a nossa


noite terminasse ainda.

— Mas estou frustrada — emenda a última frase como se


eu não tivesse dito nada. — Você viu aquela dança com a Sara? —
questiona, eu balanço a cabeça. O meu pau salta só pela
lembrança.

— Eu vi — aviso.

— Eu fiquei tão, mas tão excitada que a minha calcinha

está molhada até agora. — Ofego com a sua informação, porque


não era algo que eu tinha necessidade de saber.

— Você quis transar com ela? — sou direto na minha

pergunta.

— Não necessariamente com ela, mas o meu corpo tem


estado bastante sensível depois de você. Fui até aquele lugar para

me divertir, e talvez tivesse saído de lá com alguém para apagar o


meu fogo, se você não tivesse aparecido e jogado mais gasolina.

Que legal, o álcool no sangue está a deixando mais

sincera do que já é.

— Então, você queria transar hoje? — pergunto o óbvio.

— Queria gozar. Ainda quero, e só de pensar que vou


chegar em casa e terei que me trancar no banheiro com o meu pau

de borracha... Vou enfiar ele na minha boceta e fingir que é um


membro de verdade. O seu pau — fala e vem com tudo com o corpo
para cima do meu.
As suas mãos estão no meu peito, mas sinto como se
estivessem mais embaixo.

— Não fale assim, Manu. Você sabe o quanto estou louco


por você, mas não vou me aproveitar, porque vejo que está bêbada
e, em outra situação, estaria fugindo como o diabo da cruz do

desejo que sentimos — digo, fazendo o papel da pessoa


responsável no momento.

— Não pode nem mesmo me fazer gozar com isso? —


Primeiro a mulher dá um sorriso bêbado sexy, depois enfia o meu

dedo indicador e o médio dentro da boca. Chupa-os de uma forma


que me traz o desejo de rasgar o seu vestido aqui mesmo.

Quando deixa de chupar os meus dedos, estou vesgo

olhando para eles, imaginando que estão úmidos pelos fluidos do


seu desejo.

— Eu não sei se...

Porra! Por que é tão difícil fazer o que é certo?

— Por favor, Harper — suplica. A sua mão pequena


começa a descer pelo meu abdômen, porque quer tornar tudo mais
difícil para mim, como se já não estivesse quase impossível.
— Vai acordar arrependida mais tarde e não poderá voltar
atrás — aviso.

— Não importa. Eu só quero me sentir bem, e tem que


ser você — fala ao pegar a minha mão e colocá-la entre as suas

pernas. — Estou ficando cansada.

— Cansada?

— Cansada de precisar resistir a minha vontade de ficar


com você, nem que seja apenas uma vez. De negar que penso

todos os dias nas suas mãos no meu corpo, de como seria bom se,
ao menos uma vez, fizesse um sexo decente.

Porra!

Puta que me pariu!

Eu vou explodir a mim e esse bairro inteiro de tesão!

A mulher que mais quis na vida está admitindo com todas


as letras o que quer. Eu já imaginava, mas é bom ouvir, é bom saber

que estamos em pé de igualdade quanto a esse assunto.

— Sexo decente, é? — falo para a distrair, ainda


relutando.

— Toque-me, sei que quer — diz contra a minha boca,


depois descendo o olhar para o meu colo.
Ela está vendo um pau muito duro marcando a frente da

minha calça. O desejo me vence quando aliso a sua calcinha úmida,


sentindo-a pronta para mim. Eu poderia facilmente penetrá-la agora
mesmo, e seria tão gostoso e fácil...

— É assim que quer? — Provoco-a, e deixo que os meus


dedos ultrapassem a barreira ao afastarem o tecido da peça

pequena para o lado.

— Não. Quero que os enfie profundamente, como fez na

sua sala. Me faça gozar... — implora, eu aproveito que os vidros do


meu carro são mais escuros que o normal, e que não tem ninguém
na rua para fazer algo melhor.

No espaço diminuto do carro, com as suas costas


apoiadas na porta, pressiono o meu corpo no seu, então começo a

lhe dar prazer, enfiando e tirando lentamente dois dedos.

Ansiosa, Manuella segura os cabelos da parte de trás da


minha cabeça e, sem inibições, rebola os quadris, encontrando os

meus dedos a cada estocada.

— Sabia que você é gostoso? — Manuella está falando


tudo o que não teria coragem se não estivesse alcoolizada. — O

homem mais gostoso da cidade me fodendo com os dedos. Devo ter


zerado a vida nesse momento. Que delícia... — Esquece do que
estava falando quando enfio os dedos no seu sexo mais
profundamente e aumento o ritmo das estocadas, quando queria

que fosse o meu pau.

— Você que é linda e gostosa, Manuella Ortega —


declaro, então a beijo, pois a única coisa que quero mais do que os

seus beijos intensos é a sua boceta apertada.

Manuella geme dentro da minha boca e se senta nos


meus dedos. Queria ditar o ritmo, mas aproveito o que tenho e deixo
que tome de mim tanto quanto quiser. Sinto quando está prestes a

gozar, porque os músculos da sua vagina apertam os meus dedos e


fico muito na borda ao imaginar como será quando for o meu
membro.

— John... — ela fala com a boca colada na minha e puxa


com força os meus cabelos quando é tomada por um orgasmo

intenso.

Seu corpo se contorce de prazer, os seus espasmos me


permitem sentir quando uma gota de pré-gozo deixa o meu pau.

Preciso tanto dessa mulher, mas é difícil ter que agir com decência e
deixar que tenha o seu momento, porque agora é tudo dela.
Até que se acalme, continuo com a boca na sua e a
masturbando com os dedos, indo e vindo, agora mais

superficialmente. Quando fica lânguida, e acredito que


suficientemente satisfeita, deixo o seu corpo e me ajeito no meu
banco.

Estou com os dentes trincados e os punhos cerrados,


segurando-me para não tirar o meu membro para fora e bater uma
para ela, gozando nos meus dedos como um adolescente. Ao olhar

para o lado, ela está com os olhos fechados, um meio sorriso no


rosto e respirando profundamente.

Não a interrompo, porque não sei de quantos minutos eu


mesmo precisaria, depois que gozasse para ela.

Quando enfim se ajeita, e eu já estava a ponto de pedi-la


para entrar logo em casa, porque necessito chegar na minha
cobertura para cuidar do meu problema, olha para mim, e o seu

olhar é de pura malícia.

— Está na hora de entrar, querida. Depois desse

orgasmo, vai dormir como um anjo — brinco.

— Você sabe como dar prazer a uma mulher, John


Harper — elogia. Manu bêbada é um bom remédio para a minha
autoestima.

— Sempre que precisar, é só me chamar.

— Mas eu não vou deixar que dirija assim para casa,

corre o risco de bater o carro, e seria uma pena. — Sem aviso, a


mulher gostosa coloca a mão no meu pau duro. Dolorosamente
duro.

Ela dá uma afagada nele, com movimentos de subir e


descer, e depois começa a abrir o botão e o zíper da minha calça.

— Morena, você não precisa fazer isso — digo, mas é


tudo o que mais desejo agora. Só de pensar na sua boquinha no
meu...

— Mas eu quero muito te chupar — declara.

— Mais tarde você vai se odiar por tudo isso que está
fazendo e dizendo — aviso mais uma vez.

— Não quero pensar no depois, só no agora, e agora

quero te chupar — ronrona perto do meu ouvido e me faz sentir


arrepios de prazer.

Eu juro que não estava esperando que fosse ganhar um

boquete quando decidi dar carona para ela e as amigas. Estava


apenas sendo territorial com uma mulher que nem é minha de

verdade.

Não digo mais nada para a impedir, apenas suporto a

agonia de não poder gozar antes mesmo de ela chegar com a boca
perto de mim.

— Ainda bem que esse monstro nunca vai chegar perto


da minha menina. Imagino o estrago que faria. Eu ficaria dias sem
conseguir andar — ela fala, os seus olhos estão arregalados,

enquanto acaricia o meu membro de cima até em baixo.

Felizmente, a natureza me abençoou nessa área e eu a

recompensei usando direito o privilégio de ser bem-dotado. Até


agora, quem o conheceu, sempre voltou em busca de mais.

— Mas seria por uma boa causa — digo, duvidando que

não chegaremos a trepar. O sexo oral será apenas o início de uma


longa foda que teremos quando eu tirar todos os empecilhos do meu
caminho.

— Uma ótima causa...

Para que seja menos desconfortável, afasto o banco um


pouco para trás, dando mais espaço para Manuella se curvar até
que seu rosto esteja na frente da minha calça.

Manuella começa com a cabeça. Ela passa a língua


lentamente, enquanto sinto as minhas entranhas se retorcerem de

prazer. Depois, pouco a pouco, sem demonstrar a menor pressa e


sem piedade do meu estado, a morena começa a engolir o meu

membro.

Está nítido que é muito para ela, mas a safada é


gananciosa e, aos engasgos, com os olhos lacrimejando, me chupa
quase até a base. Manu faz isso algumas vezes, colocando
pressão, passando a língua, e às vezes os dentes, mostrando que
tem certa experiência, até me ter com uma mão segurando no seu

cabelo com firmeza.

Preciso do controle e ela me dá, então começo a erguer o


quadril e a ditar quanto de mim ela irá engolir.

— Que boquinha gulosa essa sua, morena... Você é


perfeita, porra! — O elogio a faz se empolgar e me levar para a
beira do precipício.

— É melhor parar por aqui, gata. Se não quer que eu


goze na sua boca... se afaste — ela continua a chupar, então basta
apenas duas mamadas para que eu murmure o seu nome e comece
a encher a sua boca de porra.

Sem mostrar que sente qualquer incômodo, a garota

engole tudo. Eu despejo e ela engole. Quando acaba, continua me


chupando até soltar o meu membro limpo e mole na minha barriga.
Levo um tempo para me situar na realidade como ela fez, mas
depois que abro os olhos, a puxo para mim e uno as nossas bocas.

Depois do que fizemos, o beijo que trocamos agora é

íntimo e excitante. Beijá-la, depois de ter deixado que mamasse no


meu pau, deixa claro que isso foi só o começo, que com ela eu
quero tudo, me faz pensar que eu farei o que for preciso para
conseguir tê-la para mim.

Eu sempre consigo tudo o que quero, e Manuella tornou-

se um dos meus maiores objetivos, juntamente com o cargo de


diretor-presidente do grupo Harper.

— Eu poderia passar a madrugada toda te beijando,


morena, mas acho que não quero estar aqui quando a ressaca vier
e você se der conta de que fez o que sempre quis, mas não tinha
coragem — falo com a boca colada na sua.

— Gozou e já está me mandando embora? — ela rebate.


— Não, eu posso te levar daqui agora mesmo e te comer
até o dia amanhecer. Você quer? — pergunto, no meu íntimo,
torcendo para que diga sim.

— Melhor não. A gente já fez demais por uma noite —


conclui, dando beijinhos nos meus lábios. — E mesmo que eu me

arrependa, sei que vai acontecer isso, eu gostei de tudo que a gente
fez aqui. Se na segunda eu não puder olhar nos seus olhos, pelo
menos já sabe a verdade. Tenha um bom fim de noite, senhor
Harper.

— Igualmente, senhorita Ortega — sussurro no seu

ouvido e beijo longamente sua boca, antes de deixar que saia do


carro.

Depois que Manuella termina de entrar em casa, eu


arranco com o carro, mas tenho dificuldade de me concentrar na
estrada. A viagem de volta para casa parece bem mais longa do que

realmente é, porque a minha mente está entorpecida pela paixão


dos momentos roubados que tive.

Quando chego à cobertura e entro na ducha gelada, faço


com um sorriso no rosto, pois agora o meu desafio tornou-se muito
maior, mas também mais prazeroso. Eu quero o poder de ser o
mandachuva da construtora, mas também quero a mulher e, de uma
forma que eu mesmo planejarei, unirei os dois. No fim, a vitória terá
um duplo sabor.
CAPÍTULO 14

MANUELLA
Acordo com a sensação de ressaca, embora faça dois

dias que ela de fato me pegou. O meu maior inimigo é mesmo a


ressaca moral, dessa não dá para fugir, tanto que passou dois dias

inteiros me perseguindo sem trégua.

Durmo e acordo me martirizando pelas bebidas a mais


naquela casa de shows, por ter caído na armadilha do John e

permitido que me trouxesse em casa. Me culpo, porque não posso


culpá-lo, já que não me obrigou a chupar o seu pau, ou a deixar que

enfiasse os dedos na minha boceta.

E, apesar disso, de saber que fiz uma grande merda e fui

fraca, quando prometi a mim mesma que não seria, não consigo me
arrepender por completo. De alguma forma, precisava fazer aquilo e

deixar que fizesse comigo. Não estava mais conseguindo viver


direito, porque só pensava que nunca poderia segurar aquele pau

na mão, ou colocar na boca. O principal era o ter na minha vagina,

mas, pelo menos, tive uma prova.


Eu estava altinha, mas não estava inconsciente e sabia

exatamente o que estava fazendo. Se fosse diferente, sei que o


John jamais teria se aproveitado de mim. Estava tão sóbria que, no

dia seguinte ao sexo oral que fiz nele e de John ter me masturbado

no seu carro, acordei lembrando-me com detalhes do que havia


acontecido.

E se o arrependimento não é tão grande como deveria, a


falta de coragem de olhar no seu rosto daqui a pouco será dobrada.

Só de pensar que aquele gato esteve com os dedos na minha...

Há dois dias, quando acordei, depois de ter revivido na

memória o que aconteceu, a primeira coisa que fiz foi revirar o cesto
de roupas para relembrar como era a minha calcinha. Felizmente,

eu havia mesmo saído de casa naquela noite para me divertir e


encontrar um cara para transar, então a minha lingerie era pequena

e sexy.

Sobre o membro do senhor olhos verdes, porra! É maior

do que eu imaginava que pudesse ser quando via apenas por cima

de sua calça. Imaginei o arregaço que faria na minha menina, mas

fui guerreira quando tive que levá-lo com a boca e, em anos de

experiência, foi o melhor sexo oral que já tive.


O homem, que visivelmente é todo bem cuidado e
vaidoso, me deixou com a impressão de que até o seu pau usa

perfume caro, que é lavado três vezes ao dia com sabonete.

— Se não se levantar dessa cama e parar de suspirar, vai

se atrasar — Mika, que também não tirou o cu da cama durante

todo o fim de semana, fala. — Pensa que eu não vi que chegou

mais de três da madrugada na sexta? Aposto que saiu da seca.

Merda! E eu achando que ela iria deixar passar batido

dessa vez.

— Ele era gente boa, pelo menos? — indaga, enquanto

me levanto apressada. A minha irmã mais nova é o remédio contra

a minha preguiça. Ela me faz querer fugir dos lugares em que está.

— Estou perguntando por que você só se envolve com idiotas. Esse

último, por exemplo...

— Eu não quero falar do Dante, irmã — digo e rumo para

o banheiro. — E, para a sua informação, eu não transei com o cara

de sexta. Ainda bem, porque tenho a sensação de que ele é o maior

de todos os idiotas.

— Chupa bem? — indaga.


— Ele não me chupou, mas sabe como fazer uma mulher

gozar com os dedos — grito, porque a porta do banheiro já está


fechada.

Debaixo do jato de água morna, lavo o meu cabelo e


tento esquecer-me do que tem sido o meu pensamento por dois

dias. Aconteceu e foi bom, não posso voltar atrás, e não voltaria se
pudesse, mas posso fazer algo a partir de agora.

Enquanto seco o meu cabelo e faço a maquiagem, penso

no que vou dizer e em como vou olhar para o poderoso chefinho.


Não chego à nenhuma conclusão, mas decido vestir um vestido

menos agarrado ao meu corpo, assim ele não terá motivos para
ficar me secando, e eu não terei que fingir que não percebo as
coisas sujas que passam pela sua cabeça envolvendo nós dois

sobre a sua mesa.

— Não vai tomar café? — Dona Abigail pergunta, eu me

vejo obrigada a parar para pegar um pão de queijo e beber um gole


de café preto quase sem açúcar, do jeito que a minha velha gosta, e

nos obriga a gostar também.

— Pronto, dona Abigail, já estou devidamente alimentada

— digo, beijo o seu rosto e saio de casa.

O Tito é ótimo, porque ele sempre está me esperando

com o carro no portão quando saio de casa. E sabendo exatamente


quando preciso bater o ponto e o quanto tenho problemas com
horário, dá um jeito para que eu chegue na hora certa todos os dias.

É graças ao homem sisudo que ainda não fui demitida


por justa causa. Por isso, e suspeito que também é por causa da

atração que o poderoso chefinho sente por mim. Se fosse outro, eu


já estaria na agência em busca de uma vaga.

Quando paramos na frente do prédio, desço apressada,


acreditando que terei a sorte de chegar antes do meu chefe, mas

me deparo com a senhora elegante saindo do carro na frente do que


vim. É a avó do meu suposto namorado e, de repente, sinto a

necessidade de checar se está tudo bem com o meu cabelo.

Passo a mão rapidamente pelos fios e ajeito a minha

postura, embora ela ainda não tenha me visto. Penso em passar


despercebida, porque não gosto da ideia de estar a enganando com
o seu neto, mas ela frustra os meus planos ao acenar para mim.

Começo a caminhar em sua direção, mas algo estranho


acontece e ela volta para dentro do veículo. Pergunto-me se ela
sentiu o cheiro da mentira que estou contando que não quis nem

mesmo falar comigo. Mas, por via das dúvidas, e para não parecer
mal-educada, paro na frente do seu carro.

Apesar de não gostar da situação, e de achar que o John

e eu merecemos ir para o inferno por essa mentira tão grande,


sempre farei o que for preciso para o ajudar quando a necessidade

surgir. Agora, por exemplo, ele merece que eu tente ser simpática
com a sua querida avó.

E não faço isso por nada que tenha relação com a


incapacidade de mantermos as mãos longe um do outro, mas sim

porque prometi a ele que seria leal. Conquistar a sua avó para que
fique mais disposta a acreditar na gente é um gesto de lealdade,
não é?

— Algum problema? — indago para o motorista dela.


Abaixo o meu corpo para que consiga a ver melhor. A senhora está

respirando calmamente e com a cabeça jogada no encosto do


banco.
— Leve-me para o hospital, Pedro — ela diz, ignorando a
minha presença, mas não a julgo, pois faria o mesmo se tivesse
nessa posição.

Fico num impasse, mas acabo escolhendo fazer o que


acho certo. Sem que ninguém me convide, entro no carro e me

sento ao lado da senhora Érika. Seguro a sua mão com firmeza e


ela aperta a minha de volta.

O motorista fica em silêncio, como se estivesse

acostumado a agir em situações semelhantes há muitos tempo, e

arranca com o carro.

— O que a senhora sente? — pergunto, ela vira

lentamente o rosto em minha direção.

— Tontura, acho que foi uma queda de pressão — fala

baixinho. — Mas não se preocupe, porque não é a primeira vez que


vou parar no hospital, longe disso — aviso.

Quero fazer mais perguntas, mas ela é tão distinta que

tenho medo de ser deselegante, ou de a irritar.

— Eu estou aqui ao seu lado, está bem? — digo para


confortá-la, satisfeita por estarmos indo para o hospital. Lá terão

pessoas que saberão lidar melhor com ela do que eu.


— Você é a namorada do meu neto John — comenta.

Mesmo que não esteja bem, ainda me olha com curiosamente e


certa desconfiança.

— Eu sou, sim. Namorada e secretária — digo.

— Como foi que isso aconteceu? Quer dizer, eu sempre


quis que aquele menino tomasse jeito na vida, mas não via o meu

desejo como uma possibilidade real de acontecer. Ele sempre foi

mulherengo demais. Toda semana era visto com uma mulher

diferente, às vezes, até duas na mesma semana.

Essa não é uma conversa que eu gostaria de estar tendo

agora, nem nunca, na verdade, mas não vou tentar cortá-la, porque

acredito que a conversa pode a distrair do que quer que esteja


sentindo, até que a gente chegue ao hospital.

— Mas até os homens mais inconstantes uma hora tem

que se aquietar, a senhora não acredita nisso?

Por Deus! Como sou uma pessoa horrível. O neto dela


não está mais perto de se aquietar do que estava antes de me

conhecer.

— Sim, eu acredito. O meu Gregory era igual aos nossos


netos antes de se apaixonar, mas depois ele só teve olhos para
mim. Mas você ainda não falou como foi que se conheceram.

— A gente se conheceu em um bar. Ele estava lá com os

amigos e eu era a garçonete. John se aproximou com aquele

charme que a senhora sabe que ele esbanja. Pensou que me


ganharia fácil, mas a gente acabou brigando. E mesmo que eu

tenha negado para ele aquela noite, me senti atraída pelo seu neto.

— Imagino que sim. O John sempre foi muito


determinado, e ele sempre consegue tudo o que quer.

Quando fala assim, sinto os meus braços se arrepiando,

porque o meu chefe deixou claro algumas vezes que quer ficar

comigo.

— Por coincidência do destino, a gente acabou se

encontrando na empresa, depois que eu me candidatei e consegui a

vaga temporária de secretária do John. O resto a senhora já deve


imaginar. A convivência diária fez com que eu não pudesse mais

continuar negando o que queria, então começamos a namorar —

termino de contar a nossa história, que não é totalmente mentirosa.

— Vocês dois foram rápidos mesmo — ela diz e solta a


minha mão. Se ajeita melhor no banco e isso me faz acreditar que
esteja melhor, embora nada na sua aparência passe a impressão de

que ainda esteja se sentindo mal. — Agora eu quero saber de você.

— Tem certeza? Se eu contar, a senhora pode querer que

o seu neto tenha qualquer namorada que não seja eu — falo em

tom de brincadeira, mas é a mais pura verdade.

— Eu tenho certeza de que não é verdade. Algo me diz

que você é a mulher ideal para o meu neto, e a minha intuição

nunca erra.

Durante os próximos dez minutos, conto para a mulher o


que ela não deveria saber, porque eu tenho um sério problema de

manter a minha boca fechada na maior parte do tempo. Falo da

minha fase namoradeira na juventude, do meu relacionamento de


nove anos, que já havia acabado antes mesmo da traição e, por fim,

do meu relacionamento relâmpago com um dos amigos do seu neto.

Falo até do quão problemático foi, um assunto que não gosto de

falar nem com a minha família.

Conto que sou alguns anos mais velha do que o

poderoso chefinho quando estamos na recepção do hospital, e a

senhora parece bastante interessada em tudo o que ouve. Não

parece que quer que o seu neto fique o mais longe possível de mim.
Depois de dar os seus dados na recepção, Érika é

encaminhada para o atendimento com o seu médico e eu fico na

sala de espera aguardando.

Depois de alguns minutos sozinha, depois de ter tomado


uma água, porque a minha garganta estava seca de tanto falar,

lembro-me de que não apareci para trabalhar e nem avisei para o

Harper que a sua avó veio para o hospital.

— Eu espero que tenha uma razão muito boa para que

esteja tão atrasada, Manuella Ortega! — John fala ao telefone assim

que me atende.

— Eu tenho. A sua avó passou mal na frente do prédio e


eu tive que trazê-la para o hospital, mas...

— Eu estou indo para aí. — O homem desliga o telefone

antes que eu tenha tempo de terminar de falar. Não pediu o

endereço, mas imagino que saiba para onde ela veio.

Quinze minutos depois, ele chega e se senta ao meu lado

no banco. Eu olho para o homem bonito e ele não parece nem

metade nervoso do que deveria estar por causa da avó. Antes de


começar a me perguntar se ele tem um coração batendo no peito,

comento.
— Não sei se ouviu bem o que falei, mas eu trouxe a sua

avó para cá. Ela estava se sentindo mal quando nos encontramos
— aviso.

— Eu sei — fala. — Por um momento fiquei muito

preocupado quando me ligou.

— E agora está calmo assim? Não tem coração? — Era


algo de que já suspeitava, mas estamos falando da sua avó, de

quem tanto precisa da aprovação.

— A minha avó está em algum hospital toda semana, e


não é porque está nas últimas. Ela é hipocondríaca — diz, o que

explica a sua aparente calma.

— Quer dizer...

— A dona Érika deve ter sentido algo, afinal, já tem


bastante idade, apesar de fingir que não, mas não é nada tão grave

que mereça alarde. Ela mesma faz isso toda semana ao procurar

por doenças que não tem.

— Acredito que foi uma queda de pressão. E se ela não

tem nada mais sério, deve ter sido por causa do calor — concluo. —

Mas eu me preocupei de verdade.


— Eu sei. E obrigado por ter vindo até aqui, por não ter a
deixado sozinha — ele fala. — O seu gesto fará com que ganhe

muitos pontos com a minha avó. — Embora não tenha sido essa a

minha preocupação quando a ajudei, fico curiosa.

— Por que diz isso? — Pergunto.

— Já faz tempo que todos da família pararam de deixar

os seus afazeres para acompanhar a minha avó ao hospital. O


motorista que está com ela há anos sempre sabe como agir e se é o

caso de ligar para alguém, na hipótese de ser realmente algo mais

sério.

— Ele parecia preocupado quando arrancou com o carro


— aviso.

— E ele iria arriscar em dizer que não era nada de mais?


O homem faz apenas o trabalho dele — diz. — Mas você foi

atenciosa com a minha querida avó, que tem a saúde de ferro, e às


vezes só precisa de atenção. Você deve ter se tornado a pessoa

favorita dela no mundo — fala.

Nós estamos lado a lado na sala de espera do hospital


particular, conversamos de boa, e eu fico contente de ter invadido o

carro da senhora, pois pelo menos não tive que passar pelo
momento forçado de olhar para a cara desse homem depois do que
a gente fez. Quer dizer, nós estamos tendo esse momento agora,
mas está sendo natural, porque o assunto é outro.

— Você deve estar exagerando. Não fiz nada de mais. E,


além disso, não sei se ela está gostando tanto de mim, não depois
do que eu falei — comento.

— E o que foi que você falou? — John se volta para mim,

e agora ele parece preocupado de verdade, porque tudo o que mais


quer é o cargo, e nada pode se colocar no seu caminho até ele.

— Falei sobre como nos conhecemos por alto, mas

menti sobre termos começado a namorar depois que comecei a


trabalhar no grupo. Até aí tudo bem, acho que ela gostou. Depois
disse que sou mais velha que você e que fui casada durante sete

anos. Ah! Érika também sabe que a namorada do neto namorou


antes com o amigo dele — confesso e dou de ombros.

— E pensa que isso fará com que minha avó goste

menos de você? — O loiro me olha com um sorrisinho no rosto.

— E não vai?

— Querida, a minha avó é a senhora mais moderna e


mente aberta que você vai conhecer. Nada do que falou fará com
que goste menos de você, se o fato de ter a trazido até aqui tiver a
impressionado. Você ter sido casada deve estar dando ideias a ela
sobre como saberá lidar comigo — fala.

— Esqueci de dizer para ela que foram experiências


péssimas — brinco. — O meu dedo é podre.

— Nem tanto, já que está comigo agora — o loiro me


provoca.

— Devo te lembrar que não somos um casal de verdade,


e que eu estou apenas esperando que você acabe com essa

mentira? Me sinto mal de mentir para a sua avó. A pobre está


mesmo acreditando que você parou de ser um galinha por minha
causa.

— Calma, Manuella. Eu vou dar um jeito nisso — diz,


mas não sinto firmeza em suas palavras.

— Quando?

— Em breve. Você ficará livre de mim e a minha avó

acreditará que sou perfeitamente capaz de manter um namoro. Só


tenha paciência, por favor?

— John...

— Em nome do orgasmo que te dei na sexta.


— Eu não quero falar sobre aquilo. Além do mais,
também te fiz gozar.

Poxa, Manuella, que bela maneira de fazer o assunto


morrer!

— E foi o melhor boquete que já recebi na vida — ele


elogia.

— Também não tenho do que reclamar de você... — Dou


de ombros, pois o homem não precisa de elogios.

— John Harper, que prazer te ver por aqui. — Um médico

surge para, felizmente, acabar com a conversa.

— Doutor Nuno. Eu sei que o senhor gostou das férias

que tirou de ver o rosto de qualquer membro da minha família


durante o tempo em que vovó esteve fora do país — John brinca ao
abraçar o homem. Eles parecem ser íntimos.

— Imagina, meu caro. Eu adoro os Harper — o homem


afirma. — E quanto a senhora Érika, de fato foi apenas uma queda

de pressão. Ela já fez alguns exames de rotina e, de modo geral,


está tudo bem com a saúde dela, embora tenha me reportado sobre

os sintomas de uma dúzia de doenças diferentes.


— O que foi que te falei? — John pergunta para mim e eu

sorrio sem jeito.

— É a sua namorada? — O médico pergunta.

— Não.

— Sim.

O meu chefe e eu divergimos na nossa resposta e o


homem fica confuso.

— Perdoe ela, doutor. É porque é muito recente, então a

minha querida Manuella ainda não se acostumou. — A forma fofa


que o John fala é patética, e seria brochante se ele fosse assim de

verdade.

— Bom, se você é a namorada, a senhora Érika pediu

para que entre.

— Ela já está liberada, doutor? — John pergunta.

— É claro. No momento, está no quarto se preparando

para sair — avisa e nós dois o seguimos pelo corredor.

Ao entrarmos na sala, a mulher parece estar vendendo

saúde, nem parece que está em um hospital. A avó do meu suposto


namorado é de fato uma mulher forte, apesar da hipocondria.
Ao nos ver, ela deixa de ajeitar as suas joias nos braços e
pede para que o seu neto e eu nos aproximemos da cama onde
está sentada.

— O médico disse que estou bem — ela fala, como se


não acreditasse cem por cento no profissional.

— A senhora sempre está bem, vovó. Ainda bem que eu


já me acostumei com os sustos que gosta de dar em mim.

— Embora queira pensar diferente, eu não sou de ferro,


muito menos imortal, meu neto — Érika fala. Pela forma como John
olha, fica claro que a ama e respeita muito. — E você, minha

querida, foi tão atenciosa comigo. Não sei nem como te agradecer
por ter me feito companhia. Eu sei que a minha família já se cansou
de mim, e que acha que não devem parar as suas vidas por minha

causa...

— Vovó, olha esse drama.

— Mas foi bom ter alguém ao meu lado. Você me distraiu.

— Imagina, senhora. Foi um prazer para mim e, além do

mais, não é como se tivesse falado muito. Deve ter sido uma tortura
ficar me ouvindo falando sem parar nem mesmo para respirar.
Eu nunca aceitei bem, mas acho que a minha mãe está
certa quando diz que sou insegura e que tenho mania de me

depreciar. Nem ao menos consigo receber um elogio e ficar calada.


Tenho a necessidade de rebater a pessoa.

— Foi um prazer te ouvir falando, Manuella. Gostei de

saber mais sobre você, porque ainda não tínhamos tido a


oportunidade, e o fato de me lembrar de tudo, mostra que talvez o
médico esteja certo. Eu não fiquei tão mal assim, foi apenas uma

queda leve de pressão.

— É assim que se fala, dona Érika. A senhora está ótima!


— John se curva e beija as suas mãos.

— Vamos embora, estou cansada de ficar nesse hospital.

já que vão me levar até em casa, quero que aproveitem e esperem


pelo almoço.

— Nós temos que trabalhar, vovó — o poderoso chefinho

avisa, e eu espero que consiga a convencer, porque estamos dando


mais um passo para levar essa ideia maluca de namoro de fachada
longe demais. Não quero ir à casa da avó do cara.

— O trabalho pode esperar, e eu tenho certeza de que o


prédio estará no mesmo lugar quando você e a sua namorada
voltarem. Venha, me ajude a levantar. — John apenas vai, e não
protesta mais sobre o convite para o almoço, sendo que não são

nem dez horas da manhã.

Isso nos dará no mínimo duas horas com a Érika,

correndo o risco de falarmos alguma besteira e sermos


desmascarados.

Ao pararmos na frente da mansão dos Harper, que fica

em um condomínio de luxo, depois de uma viagem em que acabei


relaxando e conversando sobre as viagens para fora do Brasil da
Érika, o loiro me abraça pela cintura, como se estivesse acostumado

a esse gesto e me leva para dentro da residência.

Assim como nas casas que se vê em filmes e novelas, no


núcleo rico, o lugar tem jardim, piscina e churrasqueira. Se de longe
a construção parece impressionante, de perto e pelo lado de dentro

é mais ainda. Os móveis em tons pastéis me fazem olhar para eles


e me perguntar como essa gente tem coragem de usá-los. O sofá,
por exemplo, não merecia suportar o peso de ninguém.
— Algo aqui te impressionou? — John me provoca ao

sussurrar no meu ouvido.

— Tudo — digo, pensando que ele também se

impressionaria se entrasse na minha casa, mas seria pelo motivo


oposto. — Você mora aqui? — pergunto. Atrás de nós, a avó do
meu chefe está falando com uma mulher uniformizada,

provavelmente dando instruções sobre o almoço.

— Não. Tenho o meu próprio apartamento, que gostaria

que você conhecesse. Tenho certeza de que vai gostar — ele


parece estar falando sério por um momento, mas então completa —,
principalmente da minha cama.

— Isso não vai acontecer — digo.

— É claro que vai. Não diga dessa água não beberei,

morena, porque você pode se afogar — ele sussurra no meu ouvido


mais uma vez e me arrepio.

— Eu não vou...

— Prontinho, o almoço já está encaminhado. — A

senhora Érika aparece quando eu ia dar a resposta que o meu chefe


merecia.
Ele falou com uma convicção que quase acreditei que
vou conhecer o seu quarto.

— Agora eu quero que você se sente aqui, minha

querida. Tenho algumas fotos de infância do seu namorado para te


mostrar. — Ela pega a minha mão e deixo que me leve para o sofá.

— Não, vovó, a senhora não pode me envergonhar na


frente da minha gata. Ela vai querer me deixar quando vir o quanto

eu era feio quando criança — John fala e eu o olho com a


sobrancelha arqueada, acreditando que chegou o momento da
minha vingança por todas as vezes que me fez passar raiva.

— Se Manuella vai entrar para a família, ela tem que


conhecer você a fundo, inclusive quando ainda usava fraldas — a
mulher afirma.

Eu, entrar na família Harper? Pobre senhora...

Sento-me em um sofá de dois lugares, em frente ao que

a Érika está e o poderoso chefinho se senta ao meu lado. Ela se


curva sobre a mesa de centro com detalhes dourados e pega uma
pilha de álbuns. Para estar aqui exposto, consigo imaginar a mulher

mostrando essas fotos para cada pessoa que vem até aqui.
Ao meu lado, enquanto começo a folhear o primeiro
álbum, ouvindo a Érika, que fala a história de cada imagem, John

tem o corpo colado ao meu e o braço segurando no meu ombro pelo


encosto do sofá. Passamos a imagem de um casal entrosado para a
sua avó, quando a realidade é que brigamos desde o primeiro

momento.

Pensei que teria algo para provocar o loiro, mas o que


tenho são fotos antigas de um menino lindo. Ele era um pouco mais

loirinho do que é agora, tinha um olhar travesso que se tornou


malicioso, e até nas fotos dá para notar que desde criança ele e o

Tales não se davam bem.

Em mais de uma imagem dá para ver os dois chorando,

agarrados a um único brinquedo.

— Eles sempre foram assim — a senhora afirma. —


Ainda bem que não brigam por namoradas como faziam na

adolescência.

A mulher fala como se brigar por mulher fosse pior do que

a disputa por poder. Será que todo rico tem um parafuso a menos?

— E quando brigávamos, eu sempre ganhava. Teve uma


vez que a namorada dele começou a dar em cima de mim na cara
de pau. Quando fui contar para o idiota, ele zombou e disse que eu

estava mentindo porque queria o provocar. Na semana seguinte, eu


fiquei com a garota e gravei a conversa em que dizia exatamente o
que eu havia revelado a ele.

John se gaba da sua proeza, mas eu só consigo enxergar


o quanto não tem limites quando quer provar algo e não sei se isso
é bom ou ruim.

— Será que foi uma boa ideia contar essa história para a

sua namorada, meu querido? Está mostrando os seus defeitos logo


no início do relacionamento — Érika aponta e John beija o meu
rosto e dá um sorriso charmoso.

Imagino que ele tenha conquistado muitas coisas apenas


com esse sorriso.

— A Manuella conhece os meus defeitos e as minhas

qualidades, vovó. E mesmo assim ela me ama, não é querida? —


Eu engulo em seco e balanço a cabeça confirmando.

Amor? Será que eu sei o que é esse sentimento?

— Bom, já que estão falando de amor, quero que me

digam se pretendem se casar logo.


— O quê? — A minha voz sai esguichada e os meus

olhos devem ter triplicado de tamanho. Para garantir que eu não


faça nenhuma besteira que entregue a mentira, John segura a

minha mão com firmeza.

— Eu estou ficando mais velha, e antes de morrer quero


ter o prazer de segurar um bisneto nos meus braços. — Eu não

posso acreditar no que estou ouvindo.

Era para ser uma mentirinha que duraria no máximo uma

semana, agora estou sendo perguntada sobre casamento e filho.


Ainda não abri a boca, mas a minha cabeça está gritando para o

meu chefe idiota fazer alguma coisa. Será que ele não pode me
ouvir?

— Perdoem-me se estou sendo uma velha intrometida,

mas você nunca me apresentou uma namorada antes, meu neto. E


eu gostei de verdade de você, Manuella. Claro que a gente não se
conhece com um único encontro, mas causou uma boa impressão,

e desejo ver vocês dois mais vezes aqui em casa. Quero


acompanhar de perto esse relacionamento, porque não vou deixar
que esse garoto enrole você.

— Dona Érika, o John e eu... A gente... — começo, mas


não sei exatamente como prosseguir. A única coisa que tenho
certeza é de que não posso continuar com isso, foi longe demais
para algo que havia surgido como uma saída desesperada quando
fomos pegos cometendo uma indiscrição.

— O casamento é o próximo passo, vovó. Pode contar


com isso — ao meu lado, John Harper fala.

Eu fico em choque e sem saber como respirar direito.

Mas enquanto a Érika nos olha maravilhada, só consigo pensar em


uma forma de matar o meu chefe. Ele está indo longe demais, e não
tem nenhuma maneira no inferno de isso terminar bem.

Começo a tremer de raiva, e tenho uma única certeza:


antes que o almoço acabe, vou acabar com essa farsa.
CAPÍTULO 15

JOHN
Eu não sei como ainda estou vivo, depois de ter recebido

olhares assassinos da Manuella.

No momento em que me vi sendo diretamente


pressionado pela minha avó, quando até então ela era mais sutil em
deixar claro o que pensa e o que eu deveria ter para ser mais digno
de me sentar na cadeira que é minha por direito, optei pela saída

que parecia mais fácil e falei o que sabia que ela desejava ouvir.

Nem por um segundo acreditei que ela não sabia que


estava nos pressionando de alguma forma. Isso porque ficou óbvio
que gostou da Manuella e quer prendê-la a mim. Se fosse diferente,

a raposa velha, muitas vezes mais esperta do que eu, faria a minha
suposta namorada desejar nunca mais chegar perto de mim.

Percebi o jogo da minha velha e entrei nele, porque ela


está entre um objetivo que pretendo alcançar. O problema é que

envolvi uma terceira pessoa e ela está querendo a minha cabeça


nesse momento.
Depois do que falei, senti que em vários momentos

estava se segurando para não abrir a boca. Fiquei tenso quando,


durante algumas vezes, percebia que ela iria nos entregar, mas a

minha avó não se deu a oportunidade de saber a verdade. Ela está

muito feliz e fez questão de deixar isso claro para nós dois.

Acredito que Manuella desistiu de acabar com tudo

quando a Érika ligou para uma amiga para contar a novidade de que
o neto finalmente está dando um rumo para a vida amorosa.

Na hora em que o almoço foi servido, Manuella mal tocou

na comida, e ainda estou me perguntando como foi que a senhora

não notou a falta de alegria na expressão da morena, principalmente


depois que falei de casamento. Esperta do jeito que ela é?

Agora nós estamos voltando para a empresa, depois de

termos atuado como um casal para Érika Harper. De vez em

quando, dou uma olhada para o lado, mas Manuella parece nem
estar respirando. Não me olha de jeito nenhum, e estou começando

a ficar com medo.

Será que vai me matar?

— Manu...
— Não fale comigo agora, John Harper — fala
entredentes, e eu não volto a insistir.

Chegamos à construtora alguns minutos depois e


subimos até o penúltimo andar no mais completo silêncio. Dentro do

elevador, olho para a mulher através do espelho, mas não sei dizer

o que se passa pela sua cabeça.

Ao sairmos da caixa metálica, ela nem se dar ao trabalho


de parar para conversar com as amigas, apenas segue para a

minha sala e eu vou atrás como se Manuella fosse a chefe, não eu.

E por mais que o momento seja tenso, aproveito que estou atrás e

dou uma boa conferida em sua bunda.

Hoje o vestido é menos justo do que as saias que gosta

de usar, e aposto que foi intencional, depois do que fizemos no meu

carro há dois dias. Não que essa roupa pouco provocante a torne

menos gostosa.

Quando fecho a porta atrás de nós dois, sinto que estou

um pouco nervoso e não entendo o motivo, afinal, fiz o que poderia

fazer naquela situação. Agora é tentar conter os danos e pensar


rápido para que não acabe estragando tudo com ela e com o resto.
— O que deu em você para mentir daquela forma? —

Pensei que fosse começar gritando, mas Manuella fala com calma
até demais. — Casamento? Você está falando sério, John?!

Qual a resposta certa para essa pergunta?

— Manuella, a gente tem que conversar — aviso.

— A gente deveria ter conversado antes de falar aquilo


para a sua avó. Antes de ter me usado sem antes me perguntar se
eu estava de acordo. E não estou sendo hipócrita, porque o carro e

o salário em dobro serão desfrutados, mas deixar que ela acredite


que haverá um casamento é ir longe demais.

— Você fala como se eu tivesse cometido um crime. Mas


viu como aquela pobre senhora ficou feliz com a notícia? —

pergunto, tentando apelar para o seu lado emocional.

— Um casamento que não vai acontecer, porra! — a

morena esbraveja, e eu não deveria estar achando isso sexy pra


caralho.

Aliás, não existe nada sobre Manuella Ortega que não

chame a minha atenção

— E quem disse que não vai acontecer? — rebato. De

repente, com a gente nessa situação, a minha mente começa a se


encher de ideias.

Ideias malucas, mas que não posso descartar sem antes


pensar bem nelas.

— Você só pode estar enlouquecendo! É claro que não


vai acontecer. Esqueceu que a gente está fingindo, vou repetir

novamente: a gente está fingindo que somos um casal — a minha


secretária fala de maneira compassada, como se eu tivesse um
problema de sanidade mental.

— Manuella, eu sei que está puta e tem motivos para


isso, mas preciso que vá para a sua mesa e me dê um tempo para

pensar em uma saída para tudo isso — digo e me dirijo para a


cadeira atrás da minha mesa.

— Você só pode estar brincando — assevera ao apoiar


as duas mãos na mesa e se curvar sobre ela. Tenho certeza de que

está pensando em uma maneira de passar por cima dessa mesa e


esbofetear a minha cara.

Não duvido nem por um segundo que mereça a sua


indignação, mas também mereço que os meus planos deem certo, e

se o que passa pela minha mente for colocado em prática,


precisarei da minha secretária muito mais do que ela imagina.
De repente, por causa de um almoço que não foi
planejado com a minha avó, assim como não imaginei que a
personalidade da Manu fosse a agradar tanto, começo a vê-la como

uma peça essencial nesse jogo. E o fato de eu estar muito atraído


por ela é apenas um bônus.

— Falei com você. John Harper!

— E eu pedi que me deixasse sozinho. Preciso fazer


algumas ligações, mas prometo que mais tarde te chamo para

conversarmos, tudo bem? Tenho outra proposta para te fazer —


adianto.

Ainda não pensei bem na proposta, mas ela começa a se


formar na minha mente. Antes preciso conversar com o Pietro, que

tem planos mais perigosos, porém, mais eficientes do que os meus.

— A gente não tem o que falar e não estou interessada

em nenhuma proposta sua. Se até o final do dia você não me


chamar aqui para me dizer que merda é que está pensando em

fazer, vou pegar o celular e fazer uma ligação para a sua querida
avó.

— Está me ameaçando? — indago.


— Não. Só estou mostrando que também sei jogar esse
jogo que você criou — ela diz, ajeita a postura, respira fundo e sai
da minha sala.

— Pietro, na minha sala, agora! — Chamo-o, segundos


depois de ter ficado sozinho.

O que estou pensando em fazer é uma loucura até

mesmo para mim, e preciso ouvir o meu amigo e advogado me


dizendo para não tomar uma decisão tão drástica e definitiva.

— Pela sua urgência ao telefone, imagino que fez merda

e quer que eu limpe a sua bunda — Pietro entra falando menos de


cinco minutos depois.

— Aconteceu algumas coisas nos últimos dois dias que

você precisa saber, e não é porque é o meu melhor amigo. Preciso

da sua mente maligna para me ajudar em algo — começo.

— Pela forma que está falando, imagino que vem

armação das grandes.

Falando assim, até parece que passamos a vida de

tramoias, mas a verdade é que, até alguns meses atrás, quando o


meu pai anunciou o desejo de deixar a presidência, as nossas

armações consistiam em eu fazendo merdas do tipo que me fariam


sair em perfis de fofocas com notícias que minha família não

gostaria, e Pietro logo atrás, limpando a minha barra.

Sempre foi assim desde que éramos moleques, mas eu

também o ajudei muito. Por ser um garoto gay, Pietro foi alvo de

algumas piadas preconceituosas, principalmente na nossa


adolescência, mas, de certa forma, o fato de ser meu amigo o

ajudou. Eu era o cara popular do colégio e poucos tinham coragem

de mexer com quem andava comigo.

Era óbvio que havia o risco de eu ser alvo das mesmas


piadas, mas além de ter estado com garotas diferentes mais vezes

do que podiam contar, não me importava com o que fossem pensar

da relação que nós dois tínhamos. Nunca tive dúvida da nossa


amizade, nem mesmo quando tinha licença poética para ser idiota

na fase da adolescência.

— Com essa pausa em que fica olhando para a parede,

imagino que vá me surpreender com o que tem para dizer.

— É sobre a Manuella — digo, ele revira os olhos.

Apesar de não terem tido muita interação, sei que o meu

amigo não tem nada contra a morena.


— Pensei que fosse sobre a disputa pela presidência. O

Tales já está falando em casamento para breve. Dessa vez, ele foi

muito esperto. Agora nós temos que ficar atentos às próximas


contas da construtora para que ele não tenha a chance de pegar as

melhores e tentar impressionar o conselho.

— Calma, cara. Um problema por vez — digo

exasperado. Eu era feliz quando não via o meu primo como uma
pedra no meu sapato.

— Tudo bem, primeiro vamos falar de como você quer

transar com a sua secretária. Esses seus dilemas de hétero me


cansam — Pietro reclama. — Espero que ela já tenha patenteado a

boceta de ouro.

— Não é sobre isso que quero falar. Quer dizer, é, mas

também é sobre a presidência. Não acredito que dá mais para


separar as duas.

— Não? Explica isso melhor.

De repente, a postura e a expressão do advogado

principal do grupo mudam. Eu gosto de como o meu amigo é


competitivo e está sempre pronto para vencer. Nisso a gente
combina bem, e eu não cheguei a ser o principal nome para o maior

cargo do grupo Harper sem a sua ajuda.

Pelos próximos minutos, conto tudo para o Pietro. O

relembro da mentira que inventei quando a Érika flagrou Manu e eu

quase trepando na mesa e do acordo que fizemos. Demoro-me nos

detalhes de como gozamos um pela boca do outro e o homem gira


os olhos para cima.

Chego à parte em que ela levou a minha avó para o

hospital, a forma como a velha nos pressionou sobre o nosso futuro


juntos e a minha fala de que tem um casamento a vista. Pietro sorri

quando digo que estou com medo da morena, que parece

perfeitamente capaz de me matar.

Ao contar do plano que se formou na minha mente há

alguns minutos, ele parece não saber o que dizer, mas acaba se

empolgando e me ajudando quanto aos detalhes burocráticos e a

parte da execução. Eu sabia que o chamar até aqui era a coisa


certa a se fazer.

Agora, parece que temos o plano perfeito, que só

dependerá da colaboração da minha secretária para ser um

sucesso. Depois dele, eu duvido que ainda exista alguma chance


para Tales Harper.
— Meu amigo, essa sua ideia é terrível e bem extrema,

mas é perfeita, porra! — Ele se levanta e comemora, dando socos

no ar.

— Eu sabia que você iria me apoiar nisso — falo,


bastante satisfeito.

— Agora, você tem a missão mais difícil, ou talvez não

seja tanto assim, que é convencer Manuella Ortega a embarcar


nessa história. Torça para que as vantagens que irá oferecer sejam

suficientes para ela — ele diz, tirando-me do meu momento de pura

satisfação.

— Eu vou dar o que ela quiser — afirmo, embora seja


uma fala perigosa, porque não sei o que se passa pela cabeça

morena da minha secretária.

— Boa sorte nessa missão. A sua secretária parece ser

dura na queda, nada como as cabecinhas ocas que costumam cair


na sua teia — fala com satisfação.

Quando Pietro me deixa sozinho, passo um tempo

tentando fazer o que tinha marcado para hoje, dentre algumas


ligações e e-mails para mandar e responder, mas os meus
pensamentos e expectativas estão na Manuella e no que tenho para

lhe propor.

No fim da tarde, depois de ter levantado e a espiado pelo

vidro da porta na sua mesa, e vendo que não está muito sorridente

depois de ter sido deixada de lado durante horas, ligo no seu ramal

e peço para que venha até a minha sala.

Ela já entra batendo os pés, e embora tenha ficado

sentada esse tempo todo, sem muito para fazer, considerando que

não a solicitei nenhuma vez depois que chegamos, parece cansada.

— Antes de vir com as pedras, gostaria de te convidar

para jantar — digo.

— Eu não quero jantar com você, John — ela fala.

— Você sabe que a gente precisa conversar sobre essa


situação, e eu prefiro que não seja aqui. Por favor, não seja tão

cabeça dura. Eu prometo que, depois que ouvir o que tenho para te

dizer, vou deixar que me xingue de tudo que tem vontade. Se quiser,

poderá falar com a minha avó sobre o nosso acordo e ficar livre
dele. Só jante comigo. — Apelo para a humildade.

— Tudo bem, eu vou jantar com você, mas é só porque

estou ansiosa para resolver essa situação de uma vez — ela fala.
— Eu te pego às oito da noite?

— Não. Posso ir com o Tito — fala, eu fico confuso e ela

prossegue —, não saberia como explicar você para a minha mãe e

a minha irmã.

— Tudo bem. Então vou te mandar a localização do

restaurante no celular — aviso. Queria que chegasse mais perto de

mim, mas parece que não está disposta.

— Precisa de mais alguma coisa, chefe? — pergunta


séria.

Eu sei que pisei na bola ao falar aquilo para a minha avó

sem combinar com ela antes, mas não imaginei que fosse ficar
dessa forma.

— Está dispensada. Se quiser, pode ir mais cedo para


casa descansar e se preparar para o nosso jantar. — Jogo uma

piscadela e recebo um dedo erguido em troca antes que deixe a


sala.

Mulher brava. Fico imaginando como deve ser na cama.

MANUELLA
— Está de namorado novo, filha? — A minha mãe deixa o
que está fazendo para falar comigo quando saio arrumada do
quarto.

— Não é um namorado. É apenas um cara que estou


conhecendo melhor — minto. A única coisa que quero no momento

de John Harper é que ele fique o mais longe possível de mim.

— Manuella, na última vez que me disse que estava

conhecendo melhor um homem...

— Não tem com o que se preocupar, mamãe. Eu sei o

que estou fazendo. Aquilo não vai mais voltar a acontecer — digo,
curvo-me para beijar o seu rosto e saio.

John Harper escolheu o melhor restaurante da cidade.

Quando chego, sou levada pelo maître para a mesa onde ele já está
sentado me esperando. Ao parar ao seu lado, dou uma breve
olhada no quanto está bonito no melhor estilo esporte social.

Ele puxa a cadeira para que eu me sente, e já aproveito a


taça na minha frente para tomar um gole generoso de vinho. Hoje o
dia não foi fácil. Não pensei que fosse ser quando acordei sabendo

que iria ter que o encarar, depois do que fizemos, mas mostrou-se
pior.

Além do que o meu chefe havia feito na mansão da sua


avó, falando de um casamento imaginário, que ela já deve estar
planejando, tive que me explicar para as meninas que trabalham
comigo. Elas falaram que não ficaram surpresas, o que me deixou
irritada por ser supostamente mais uma secretária que caiu nas

mãos do chefe, mas ficaram chateadas por eu não ter contado do


namoro.

Passei o resto da tarde inventando detalhes de como foi


que a gente ficou junto pela primeira vez. Se o sexo real entre a
gente fosse como contei, duvido que voltasse a andar novamente

com as pernas fechadas. O fato de elas terem descoberto me


desestabilizou, porque tornou toda a história mais real, mesmo que
não seja.

— Você está linda — o poderoso chefinho elogia ao

entregar o menu na minha mão e abrir o seu.

— Sério? Peguei o vestido mais básico do meu guarda-


roupas — minto.

Hoje eu quis impressionar e coloquei um vestido justo de


um ombro só. Ele é curto, mal chegando na metade das minhas
coxas. Os meus cabelos longos estão soltos, mas fiz babyliss da

metade para as pontas e eles escorrem como cascatas naturais


pelas minhas costas. No rosto, nada além de um rímel e o batom
vermelho.
Me produzi toda para esse jantar e não faço ideia do
porquê de tanto esforço. John não merece. Além do mais, só

existem duas saídas para o jantar de hoje: ou a gente se torna o que


sempre deveríamos ter sido dentro da empresa, ou eu perco o
emprego de vez.

A essa altura, já nem sei qual é a melhor opção.

— Qual é exatamente o motivo de você ter me convidado


para jantar? — indago ao dar o último gole no meu vinho, depois de
um jantar feito em silêncio.

O meu chefe passou esse tempo todo me olhando como


quem ensaiasse para dizer alguma coisa, mas parecia que faltava

coragem, o que é estranho vindo do loiro, que é o homem mais


seguro de si que conheço. E gostoso.

— Sobre o que aconteceu na casa da minha avó, eu sinto

muito — o loiro fala, eu o olho com desconfiança, porque não


parece que está sendo sincero.

Ou será que me tornei desconfiada demais?

— Que bom que entendeu que aquilo foi péssimo. Mas

acho que agora podemos voltar a agir como patrão e empregada,


sem todo o fingimento e a coisa de ficarmos nos agarrando — falo.
Vim puta de raiva, mas talvez recuar seja a melhor saída.

Eu não posso fazer nada contra ele, a não ser xingar até a sua
última geração, então é melhor assegurar que eu não vá para o olho
da rua.

— Eu disse que sentia muito, não que me arrependo. Na


verdade, não me arrependo nenhum pouco — afirma, subindo o
olhar pelo meu decote, parando no meu rosto. — Não te convidei

para jantar apenas para me desculpar.

— Eu deveria imaginar.

— Tenho uma proposta para te fazer — ele começa, eu


me apoio na mesa para me levantar, mas John segura a minha mão.

— Sente-se, por favor — pede, olhando de um lado para


o outro, com medo de estarmos chamando muita atenção. — Você

não vai se arrepender de ficar e me ouvir.

— Seja breve — peço, dando-me por vencida, depois de


ter ficado curiosa. Não consigo nem imaginar o que pode estar

passando por sua cabeça diabólica.

— Melhor do que falar, quero que você leia isso daqui. —

John coloca o que se parece com um contrato em cima da mesa.


— Do que se trata? — indago ao pegar. Numerada, a
pilha de papel tem exatamente quinze folhas.

— Leia.

Ao passar os olhos logo no início da primeira folha e

entender o que ele pretende, sentimentos de choque e incredulidade


tomam conta de mim.

— Você não pode estar falando sério.


CAPÍTULO 16

MANUELLA
Depois da minha pergunta, volto a ler novamente o

documento, apenas para ter certeza de que entendi certo, que a


Manuella Ortega citada sou eu mesma. Ao todo, o contrato tem

trinta cláusulas tão bem elaboradas que eu custo a acreditar que


seja um contrato que se trata de vidas, não de um negócio que
envolva carros e objetos inanimados.

Dentre especificar a forma como devo me portar e me


vestir em determinadas ocasiões, o documento que tem a intenção

de me comprar, como se eu fosse uma prostituta, tem o valor de um


milhão de reais. Sim, para John Harper e sua ambição, eu valho um
milhão de reais.

— Eu não sei nem o que dizer disso aqui — finalmente

falo, apelando para as três aulas de ioga que fiz há um tempo para
manter a minha calma.

— Eu quero que você finja ser a minha noiva pelo prazo


de seis meses, esse é basicamente o ponto principal do acordo que

estou te propondo, Manuella — fala com tranquilidade, como se


para ele fosse comum comprar pessoas no meio de um jantar em

um restaurante qualquer.

— Então, eu teria que adequar a minha vida a sua, me

comportar como se comportaria a noiva de um Harper, e me vestir


como se vestiria a mulher de um herdeiro milionário como você. —

No momento, estou apenas simplificando cláusulas que li nos

malditos papéis.

Para tanto, tomo vários pequenos goles de vinho.


Certamente, a bebida me ajudará a não chorar, porque não sou do

tipo de mulher que chora fácil. Se fosse, não teria tempo para mais

nada, dada as circunstâncias da minha vida.

— Manuella... — Eu coloco a taça em cima da mesa e

prossigo, como se ele não tivesse dito o meu nome.

— Esqueci do mais importante. Esse dinheiro não viria

assim tão fácil, não é? Eu tenho que ser a sua prostituta de luxo

para fazer valer a pena. Se tem o contrato deixando claro que é

apenas um acordo, tem que haver também a cláusula que o sexo


casual entre nós está liberado, mas que somos livres para sairmos

de maneira discreta com outras pessoas, sem riscos de

estragarmos os planos — digo, e bebo mais um gole.


Tudo o que li passa como um livro aberto na frente dos
meus olhos e faz eco na minha mente. O meu chefe quer me

comprar por uma fortuna pelo prazo de seis meses para os seus

interesses profissionais, mas também quer que eu esquente a sua

cama.

E de tudo o que li que me deixa estarrecida, nada me

causa mais desconforto do que saber que pensou em mim para

essa proposta, que tenha abordado o assunto de maneira tão direta

e casual, como se fosse óbvio que eu iria aceitar, como se me

conhecesse o suficiente para imaginar que seria fácil de me


convencer.

Eu, desde o primeiro instante, soube que John Harper era

esse tipo de homem, que passaria por cima de mim na primeira


oportunidade, e deve ser por isso que fui mais firme do que

normalmente sou contra o meu corpo, que sempre o desejou, mas

ter jogado na minha cara o fato de que pensa tão pouco de mim,

como todos sempre pensaram, doí de uma maneira que não pensei

que fosse doer quando o momento chegasse.

Talvez, mesmo que não tenha me dado conta, mesmo

que tenha falado o contrário, esperei dele algo que não é.


— Se é a parte do sexo que te incomoda, a gente pode

tirar. Na verdade, esses são os meus termos, mas estou disposto a


negociar com você algumas cláusulas. Tirar algumas e acrescentar

outras, desde que me ajude nessa — John afirma. Eu olho nos seus
olhos e vejo o quanto está desesperado por isso.

Pensando bem, e deixando a hipocrisia de lado, eu tenho


um pouco de culpa por ele ter chegado a esse ponto comigo, afinal,
dei a impressão de que topava tudo, desde que me pagasse, no

primeiro acordo que fizemos. Na verdade, eu mesma cheguei a


pensar que seria assim, que agarraria a oportunidade quando

surgisse.

Então ela surgiu, e eu estou me sentindo a pior pessoa


do mundo. Talvez o problema não seja o que teria que fazer, e eu

realmente sou uma mulher que faz o que for necessário por uma
vida de conforto, e sim a pessoa quem está me fazendo a proposta.

— John, eu sempre fiz um juízo de você na minha mente,


mas, em algum momento, a minha insistência em gostar dos piores

homens me fez te desejar como nunca desejei homem nenhum,


nem mesmo o que estive casada durante sete anos. Talvez, se você

tivesse apenas me pedido, sem antes vir com esse tipo de contrato,
eu aceitasse. Mas dessa forma...
— Não recuse sem antes pensar um pouco, Manu. Se

quiser, eu posso te dar uma semana, mas pense bem antes de


recusar essa oportunidade excelente que estou te dando de manter

um padrão de vida mais elevado, de dar tudo o que a sua família


poderia querer — o homem apela para o sentimentalismo barato e

me irrita.

— Não ouse envolver a minha família nisso — falo

entredentes. — Sei que está querendo dizer que sem você e seu
dinheiro eu nunca chegaria a lugar algum. É impressionante como
se parece com o Dante. Só podiam ser amigos mesmo.

— Não me compare com outro homem! — exige.

— Eu acho que esse jantar já acabou — falo, limpo a

boca com o guardanapo e pego a minha bolsa.

— Leve o contrato com você — pede, e também se

levanta. Discretamente, John chama o maître, que traz a conta.

— Eu não preciso dele — afirmo.

— Não seja tão impulsiva, mulher — o meu chefe pede.

Imagino que para ele estou sendo bem burra de não estar me
deixando ser comprada tão facilmente. — Se quiser, pode tirar essa

semana de folga para pensar melhor — avisa. O homem está


disposto a tudo. E pelo menos a sua persistência, acho que posso
admirar.

— A resposta é não — aviso, enquanto o loiro coloca


algumas notas em cima da mesa, pega o maldito contrato e me
segue para fora do estabelecimento.

Felizmente, o Tito, que em breve não será mais o meu


motorista, porque essa recusa também deve acabar com o namoro
de mentira, já está me esperando.

— Mas vou aceitar os dias de folga, se estiver tudo bem


para você — digo ao voltar-me para ele.

— Posso segurar as pontas até a próxima semana. —


John parece confiante e lindo, e eu só preciso me afastar dele para

lembrar os motivos pelos quais me deixou tão chateada com o


contrato, e o porquê de ter me recusado a aceitar.

— Não coloque outra no meu lugar. Ainda — peço, mas a


verdade é que não sei se será possível continuar.

Sempre tive medo de perder o que se parece um ótimo


emprego, com uma boa remuneração e colegas de quem gosto
muito, mas a realidade dos fatos é que John e eu sempre fomos

uma bomba-relógio juntos.


— Eu quero você — diz, e não parece que se refere
apenas a vaga de secretária. John dá um passo a mais na minha
direção, mas me afasto e entro no carro.

Se deixasse ele me beijar, confundiria a minha mente, me


faria titubear, mais por ele do que pela grana, na qual prefiro não

pensar. Um milhão de reais acabaria com todos os meus problemas


para sempre.

— Voltou cedo, filha — a minha mãe, que está assistindo


novela, fala quando entro chutando os saltos altos para longe.

— O cara não era tão legal assim — minto para ela,

porque não vou dizer que o meu chefe, com quem eu quase transei

algumas vezes, quer me dar um milhão de reais para enganar a sua


família.

— Estou admirada, porque nenhum deles eram tão legais

assim, e você foi até o fim do mesmo jeito. — O seu tom é de


brincadeira, mas diz apenas a verdade.

A minha mãe volta a sua atenção para a televisão e eu

fico a olhando por um tempo, pensando no quanto ela é honesta e


correta. Nunca recorreu a métodos mais fáceis, e aconselhou a

minha irmã e eu a agirmos da mesma forma.

Se eu aceitasse a proposta do John, ela diria que eu

estaria me prostituindo, mesmo que não houvesse sexo no nosso

acordo durante seis meses. Muito mais do que por mim, não posso
aceitar participar dos planos do meu chefe por causa da minha mãe.

Ela não me olharia mais da mesma forma se eu agisse de maneira

questionável única e exclusivamente por causa da minha ambição.

Depois de alguns minutos, saio da sala para o quarto, e


Abigail está tão entretida na sua novela que nem percebe.

Felizmente, a minha irmã deixou um bilhete na porta avisando que

iria dormir na casa de uma “amiga” e eu tenho o quarto todinho para


mim.

Sem ânimo para fazer mais nada que não seja pensar e

pensar, visto o meu pijama fofo de flanela, escovo os meus dentes,

tiro a maquiagem e prendo os cabelos. Depois eu me deito na cama


e me cubro da cabeça aos pés.

E mesmo que esteja convicta da minha decisão, não

consigo parar de pensar no meu chefe e na sua proposta. Começo a


pensar que a minha vida era mais fácil quando ouvia gracinhas e

era apalpada no Maresias.


JOHN
— Fala, cara. — Com o aparelho no viva-voz, falo com

Pietro, enquanto pico gelo para preparar um drink.

Assim que cheguei, há exatos cinco minutos, arranquei


as roupas que pareciam me sufocar do meu corpo e vesti somente

um short de moletom. Vim para o bar para preparar uma bebida

forte, quem sabe ela não acaba com a minha frustração?

— Pelo seu tom de voz, o jantar com a miss Colômbia


não saiu como o esperado.

— Ela ficou irritada com a proposta e não aceitou —

aviso. — Merda!

— Calma, John. Não é como se o mundo fosse acabar


por causa disso. Você pode arrumar outra forma de chegar no topo.

— Pietro, sempre otimista, e um passo à frente.

— Eu não quero recorrer a nada que não seja a Manuella


Ortega. Preciso que seja ela.

— O que você precisa é transar com essa mulher. Fale

com todas as letras. Fez de uma forma que conseguisse as duas

coisas que mais deseja de uma única vez e não está disposto a
voltar atrás, mesmo que eu tenha dito que incluir sexo no contrato
pegaria mal. — Pietro dá o diagnóstico e acerta em cheio. — O

problema é que nem você pode mudar o pensamento de uma


pessoa se ela não quiser entrar no seu jogo.

— Eu dei o prazo de uma semana para a minha

secretária me responder, ainda tenho esperança de que ela vai

mudar de ideia nesse meio tempo — digo, esperando que esteja


certo.

— Se não tivesse mencionado sexo... — ele fala no seu

tom de “eu avisei”.

— Está equivocado. Teria sido mais fácil se eu tivesse

deixado o sexo e tirado a cláusula do milhão. Ela mesma me disse

que talvez aceitasse por causa do tesão que sentimos um pelo


outro.

Não disse com todas as letras, mas foi o que eu entendi.

— Bom, eu espero que você esteja certo na sua intuição

de que ela vai acabar aceitando, porque o tempo está correndo, e

não quero ver o sorriso feio, porém, vitorioso, do babaca do seu


primo.

— Não verá — garanto, mais decidido do que nunca a

vencer essa disputa.


— Agora eu tenho que desligar, porque tem um gato me

esperando na cama. Boa noite para quem não tem transado — o

advogado fala e corta a ligação.

Não é verdade que não tenho feito sexo. Na verdade, a


minha vida sexual não poderia estar mais ativa. É uma pena que

quantidade não tem relação alguma com qualidade.

Com o drink na mão, vou para o terraço onde mamãe,


que está fora do olho do furacão porque não para em casa por muito

tempo, decorou com plantas e sofás no centro. O jardim aqui é

lindíssimo graças a ela.

Não costumo pensar muito nela, pois o fato de passar


mais tempo fazendo compras fora do Brasil impediu que a gente

fosse próximo, e não foi diferente quando eu era criança. O meu

velho não viaja muito, mas é só porque ainda tem responsabilidades


aqui, e prefere ficar um pouco longe da esposa para traí-la à

vontade.

Sei que ele ama a minha mãe, ou ao menos acredito,

mas não pode se segurar o suficiente para ser fiel. É por isso que
nunca me relacionei, e acredito que sou incapaz de ser fiel, assim

como o meu pai.


Sentindo a brisa da noite, sento-me no sofá que fica no

meio do ambiente e deito a minha cabeça no encosto estofado.


Penso no jantar com a Manu e na sua recusa.

Talvez eu tenha me precipitado na minha abordagem,

mas posso justificar com o fato de ter ficado tão animado com a

ideia que tive que não pude me conter para planejar melhor. Não
pensei na possibilidade de ela dizendo não logo de cara, e de

maneira tão segura.

Pietro está certo, eu posso perfeitamente pensar em algo


melhor, mas tenho os meus motivos para não seguir para o plano B.

Não é só porque minha avó a adora. No fundo, sinto que Manuella é

a pessoa perfeita para surgir ao meu lado.

Eu poderia elencar uma dúzia de motivos, mas o principal


é que ela mexe com algo dentro de mim, mais profundo do que o

fato de o meu pau ficar duro sempre que a vejo. Manuella tem que

ser minha, seja por contrato, ou por não conseguir resistir ao nosso
desejo.
CAPÍTULO 17

MANUELLA
Três dias depois do jantar.

— Não estou querendo me meter na sua vida, filha, mas

não acha que está na hora de atender esse celular? — Mamãe


passa por mim na sala com uma pilha de roupas nas mãos.

Hoje ela tirou o dia para lavar roupas, e eu dei uma ajuda
na hora de torcer, pois ela ainda não aceita a invenção das
máquinas que nos entregam as roupas quase secas.

— Não estou a fim de falar com ninguém — digo,


deitando-me com as pernas para cima no sofá. Até o momento,

estou amando o fato de estar despreocupada em casa, sem quase


nada para fazer, sabendo que ainda tenho um emprego. — Com

certeza deve ser o Dante outra vez.

Mas também pode ser o meu chefe, que tem me


mandado mensagens que costumo ignorar.

— Esse cara é muito insistente, deve ter algum problema


na cabeça — a minha velha comenta e não posso rebater isso.
A minha mãe e minha irmã não pensam bem dele desde

o episódio em que Dante me empurrou e acabei me machucando.


Eu tentei explicar que me feri por acidente no dia daquela

discussão, mas ele nunca mais teve o perdão de ninguém da

família, nem mesmo o meu.

— Logo ele cansa — digo, ela sai e eu pego o celular,

cuja luz estava piscando com notificações tanto de mensagens


quanto de ligações perto da minha cabeça, enquanto eu via um

filme na Netflix em plena tarde de meio de semana.

Ainda espero que mude de ideia.

Seja qual for o problema, a gente pode conversar e

resolver, desde que você diga sim para mim.

Não seria tão ruim se a gente fizesse sexo sem

compromisso, seria? Eu confesso que essa foi a melhor parte

quando pensei nas cláusulas desse contrato. Quero muito ficar

com você.

— Isso porque você disse que não corria atrás de mulher

nenhuma — digo para a tela do celular, depois a bloqueio e coloco

virada para baixo.


Para a minha mãe e minha irmã, justifiquei a minha
estadia em casa com uma viagem do meu chefe, que me deixou

livre e sem nada para fazer no grupo Harper. É claro que a situação

é um pouco estranha, afinal, comecei há poucos dias e já estou de

recesso, mas elas pensam que trabalhar com gente rica é diferente

de trabalhar com os pobres mortais.

Os dias se passam, mas continuo firme na minha

decisão, apesar de, vez ou outra, pensar em como seria andar lado

a lado com alguém como John Harper, deixando que o mundo

inteiro pensasse que seria a sua futura esposa. Esse é o meu lado
fútil falando. O meu lado sensato me lembra que a minha mãe não

merece que eu seja uma interesseira. Ela jamais iria entender.

**

— Mas de onde surgiu isso... — a voz da minha mãe

ecoa de longe, então me espreguiço, dando-me conta de que estava

cochilando. O filme era tão ruim que não manteve os meus olhos
abertos.

— Eu só vim entregar isso, senhora — ouço a voz de um


homem, depois a minha mãe fechando o portão.
— Aconteceu alguma coisa, mamãe? — indago quando

entra parecendo desconcertada. — Quem era no portão?

— Não era nada. Era o rapaz com o talão da conta de

energia. Agora deixe-me ir que ainda não terminei a encomenda


para o aniversário de quinze anos da filha da Janice — fala e vai

para a sua máquina de costura.

Fico com uma pulga atrás da orelha, porque a sensação


de que ela ficou estranha de repente é real, mas acabo deixando o

pensamento de lado. Pego o meu celular, mando uma mensagem


para as meninas da construtora e elas começam a me atualizar

sobre as últimas novidades de lá.

Cinco dias depois do jantar.

— Mana, você não tem sentido que a dona Abigail está


estranha nos últimos dois dias? — Dentro do nosso quarto,

enquanto a minha irmã festeira se arruma para começar a sua noite


de sexta-feira longe de casa, converso com ela.

— Sim. Ela está mais pensativa — Mika fala,


corroborando com o meu achismo.

Desde o momento em que ela falou com um cara no

portão e voltou dizendo que não era nada, senti que não era mais a
mesma. Está mais calada e até mesmo entristecida, mas não

perguntei diretamente, pois quis observar melhor, apenas para que


tivesse certeza de que não era paranoia da minha mente

desocupada desde que o meu chefe me deu uns dias de “folga”,


prefiro pensar.

— Vou falar com ela depois que você sair — comento e


dou uma olhada no celular.

O meu chefe não entrou mais em contato comigo, mas

nem por um minuto acredito que tenha desistido. O seu silêncio só


pode significar que está armando alguma coisa.

— Por que vai esperar que eu saia? — A garota


questiona.

— Porque mamãe se fecha quando se sente


pressionada. Além do mais, não quero que você perca o seu

programa com o namorado da vez por minha causa — comento.

Passa das oito de uma noite de sexta-feira, e já dispensei

os convites das minhas amigas da rua, a maioria casada, e das


meninas do escritório para sair. Eu sempre fui festeira, mas devo

estar com algum problema, pois estou bastante desanimada nos


últimos dias.
A minha vida está precisando de alguma novidade,
porque esse marasmo não combina em nada com a minha
personalidade.

— Por favor, Manu, seja qual for o problema, não deixe


de me contar. Não gosto quando você e a mamãe ficam de

segredinhos — reclama.

— Tudo bem, bebezão — falo, levanto-me da cama e


beijo o seu rosto, olhando-a através do espelho.

Nós somos muito parecidas. A diferença é que Mika é


mais baixa e mais jovem. Eu e mamãe fazemos de tudo para a

poupar dos nossos problemas, porque existe um acordo tácito entre


nós duas que não desejamos que a minha irmã cometa os mesmos

erros que eu cometi.

Assim que a mana sai de casa, e depois que eu tomo um

banho, entro na cozinha e me deparo com o jantar na mesa.

— Filha, fiz a carne que você gosta e agora vou tomar um

banho...

— Sente-se aqui ao meu lado, dona Abigail — peço,


porque a conheço muito bem e está na cara que quer fugir.

— Mas, filha...
— Por favor — insisto. Ela não vai fugir de me dizer o que
está acontecendo. Não dessa vez.

Estou começando a ficar preocupada. Ela nunca me


esconde nada. Mamãe finalmente se senta, me olha por um tempo
sem dizer nada, mas sei que está tentando arrumar uma forma de

me dizer algo.

— Pode me falar o que quiser, mãe. Sinto que tem estado


estranha nos últimos dias. Se for algo mais...

— O homem que atendi naquele dia estava trazendo uma

notificação. O seu pai deu a nossa casa como garantia para um


empréstimo com o banco e não estava pagando as mensalidades

de juros altíssimos. Agora a gente pode não ter onde morar no

futuro, porque o imóvel corre o risco de ir para o leilão.

Tudo o que a minha mãe acaba de dizer é confuso


demais, muita informação, um baque para mim. A nossa casa...

onde nasci e fui criada.

— Mãe, quem foi que te disse isso? Estava escrito na

notificação? — Ela balança a cabeça positivamente. — Onde está


esse papel? Eu preciso lê-lo — peço, a senhora sai e me deixa com

a mente fervilhando.
Aí está! Eu reclamando que a minha vida estava um

marasmo, e agora cai uma bomba em cima das minhas pernas. Mas
não era a esse tipo de agito que me referia.

Ao voltar para a mesa, cujo jantar está esfriando nas

travessas, mas não me importo, pois a minha fome passou, Abigail


coloca o papel na minha frente. Eu começo a lê-lo e, infelizmente,

constato que ela não havia entendido errado o que está escrito aqui.

Papai fez o empréstimo de uma grande quantia em

dinheiro, deu a casa como garantia sem ter como pagar as parcelas
e os juros. Agora, além de não fazer ideia do motivo de ele ter feito

isso, e nem em que aplicou o dinheiro, descubro que estamos em

uma situação complicada.

E eu pensando que a minha única preocupação era

conseguir pagar as contas mensais.

— O que ele fez com dinheiro do empréstimo, mamãe?

— indago. Talvez ela saiba de algo.

— Houve uma época que o seu pai reclamou que os

negócios não iam bem, mas depois de um tempo parou de falar no

assunto e eu presumi que tinham voltado a entrar nos trilhos.


— Eu devia ter percebido — falo. — Com certeza ele

aplicou esse dinheiro na mercearia, por isso estava tão arrumada e

sortida nos últimos meses antes de ele falecer.

O meu velho sempre teve um bom tino para os negócios,


pelo menos eu o via assim até agora, mas o mesmo não se pode

dizer de mim, da minha mãe e da Mika. Depois que ele partiu, a

gente acabou fechando o estabelecimento.

— Não é culpa sua, minha filha. Você se casou e passou

sete anos fora de casa, não tinha a obrigação de ficar de olho no

negócio do seu pai.

— Não, não tinha, mas agora a gente está com um


grande problema, mãe. São muitas prestações atrasadas, e nós não

temos condições de pagar. Se não quitarmos esse débito, a casa vai

à leilão.

— Eu não queria te causar mais uma preocupação.

Talvez, se a gente for ao banco e tentar fazer uma negociação...

— Acalme o seu coração, dona Abigail. Vou arrumar um

jeito de resolver esse problema — falo, mesmo sabendo que não


tenho nada para fazer.
— Não gosto que fale dessa forma, Manuella. Significa

que vai se meter em problemas. Você é a minha filha amada, mas te


conheço bem e sei que não tem limites quando quer alguma coisa.

— Ela está certa. — Prometa para a sua mãe que não vai se meter

em problemas — ela pede.

— Não gosto de mentir para a senhora, e por isso não


vou prometer. Mas posso prometer que vou resolver essa situação,

dona Abigail, e ninguém vai ameaçar tocar nas paredes da nossa

casa — assevero.

— Manuella...

— Vamos jantar? Eu estou morrendo de fome — digo

para acabar com a conversa, apesar de ter perdido totalmente o


apetite.

Depois de conseguir voltar para o quarto, deitei-me de

costas na minha cama e estou há uma hora olhando para o teto,

mas fazendo de tudo para não cair na tentação de pegar o celular.


Eu quero me forçar a pensar que não tenho a mínima ideia do que
fazer para não perdermos a nossa casa no futuro, que não parece

tão distante, mas sei que não é verdade.

Existe, sim, uma saída, uma que estou há cinco dias

dizendo a mim mesma com convicção que não aceitaria, que não
haveria nada que me fizesse dizer sim para o meu chefe babaca. Eu

não me deixaria ser usada da forma como quer me usar, mesmo

que fosse por um milhão de reais, literalmente falando.

Mas agora, por ironia do destino, no pior momento, ou

talvez seja o melhor, surgiu um fato novo, então me vejo indecisa

entre lutar um pouco mais e tentar outra saída, ou me entregar de

vez nas mãos de John Harper.

Deixando a hipocrisia de lado, devo admitir que a minha

mãe tem razão quando fala que não tenho limites no que sou capaz

de fazer para alcançar um objetivo. Dessa vez é por uma boa causa,
e talvez os meus sentimentos, ou o que a minha mãe vai pensar de

mim, não importem mais, não quando não quero que ela perca a

sua casa, que não é apenas um imóvel. É tudo sobre a história da

nossa vida.

E mesmo que relute em aceitar, sei que já tomei a minha

decisão, mas estou enrolando para colocar em prática, porque não

sei se estou preparada para me entregar para John Harper. Só de


pensar já sinto um arrepio, e não tenho a menor dúvida de que será

o maior erro da minha vida.

O tempo passa e o ponteiro do relógio gira, e depois de

mandar uma foto da notificação para uma amiga advogada, e de ela

ter feito uma rápida pesquisa que comprova que de fato não há

como fugir do que está escrito naquele papel, acabo pegando o meu
celular e clicando no contato do meu chefe.

Antes de completar a ligação, desisto e mando uma

mensagem para a Mendonça, pedindo o endereço do nosso chefe.


A gestante fica desconfiada, mas acaba me dando a informação de

que preciso quando digo que tenho que entregar um documento

urgente para o homem.

Com o endereço salvo, apresso-me em tomar um banho.


Visto-me de maneira discreta, porque tudo o que não quero é

chamar atenção para o meu corpo quando estou indo tratar de

negócios.

Sempre solícito, Tito me pega e me leva para o prédio do

meu chefe. Apenas quando já estou na frente do residencial de luxo

que envio uma mensagem pedindo para que libere a minha subida.
— O senhor Harper liberou a sua subida, moça.
Cobertura, torre C — diz o porteiro e depois me fala o código do

elevador.

— Tito, pode me esperar? Não vou demorar mais do que


vinte minutos — aviso e ele acena em concordância.

Quando entro no elevador, tão nervosa que não tenho

capacidade de olhar direito e me impressionar com o quanto o


homem vive bem, sinto que até as minhas axilas estão suando. Eu

não preciso bater na sua porta ou tocar a uma campainha, pois o

homem gostoso está encostado na porta, descalço e sem camisa,

me esperando.

Vendo-o assim, lindo, com os braços fortes e todos os

gominhos do seu abdômen expostos, noto o quanto estava


confiante quando vim parar aqui, nem sequer pensei a possibilidade

bastante alta de que estivesse fora de casa, afinal, é um homem


solteiro e hoje é sexta. Ou talvez...

— Está com alguém aí dentro? — pergunto.

— Não. E mesmo se estivesse, a pessoa sairia para que


você entrasse — afirma. Nem me abalo, porque não se trata de um
galanteio. Ele só está cheio de esperanças de que vai conseguir o
que quer.

— Então me convide para entrar — digo, puxando do

fundo da minha alma a confiança que sempre tive em mim mesma.

— É claro, me desculpa — diz e dá espaço para que eu

entre no seu território. — Eu estou bastante surpreso que tenha


vindo — diz, então indica a sua sala.

A sua cobertura, até onde posso ver, esbanja luxo e bom


gosto, assim como a mansão da sua avó. A diferença é que esse
lugar aqui, cujos móveis caros são todos em tons de preto e azul, é

a cara dele. Se fosse imaginar um lugar para um homem como John


Harper morar, seria bem parecido com esse aqui.

— Gosta do que vê? — ele pergunta com um certo ar de

provocação.

Um apartamento chamando mais atenção do que o seu


tanquinho. Será que o ego enorme suporta esse golpe?

— O seu apartamento é bem bonito — elogio.

— Obrigado, mas tenho certeza de que não veio até aqui


para conhecer onde moro.
O poderoso chefinho está querendo ir direto ao assunto,
e eu agradeço por isso. Quanto mais rápido conversarmos, mais
rápido correrei para longe de sua cama.

— Sente-se, por favor — John segura o meu cotovelo e


me leva para o sofá. Não o de quatro lugares, mas o de dois, que

nos deixa perigosamente próximos quando nos sentamos lado a


lado. — E então?

— Vou aceitar a proposta de fingir que sou a sua mulher


pelo prazo de seis meses. Sou sua, John Harper. Não era isso que
tanto queria?
CAPÍTULO 18

JOHN
Eu sou otimista e confiante na maior parte do tempo, se

não fosse, não estaria na “briga”, pelo topo da cadeia alimentar do


grupo Harper de construtoras, mas nem nos meus momentos de

maior otimismo imaginei que a minha secretária fosse bater na


minha porta para falar tudo o que estava esperando ouvir, embora,
nos últimos dias, estivesse começando a duvidar que iria voltar
atrás.

Agora que disse as palavras certas e está ao meu lado,

linda como sempre, apesar da tentativa de ser discreta, e eu prefira


as suas roupas curtas e coladas, a felicidade que sinto é mais do
que imaginava, enquanto acreditava que esse momento chegaria.

A satisfação é muito mais do que por saber que a sua

resposta facilitará a minha missão de convencer a minha avó de que


sou o melhor no quesito homem na coleira. No quesito melhor

profissional, todos nós sabemos que sou o número um. Estou

satisfeito porque estará mais próxima de mim, e estou ficando mais


fascinado por essa mulher a cada dia que passa.
Manuella e eu tivemos um começo conturbado, e assim

seguimos até agora. Brigamos mais do que tudo, embora exista


uma hierarquia entre a gente, mas algo nessa morena me rouba o

ar e, nos últimos dias, enquanto esperava, não sabia ao certo qual

era o meu maior interesse com o acordo.

— Não vai falar nada? Se tiver mudado de ideia...

— Não! Não mudei de ideia. A oferta ainda está de pé, eu

só não estou acreditando que você finalmente entendeu que essa


era a escolha certa — digo com convicção, mas a minha secretária

parece tensa.

A morena não está feliz como eu estou.

— Essa não era, de maneira nenhuma, a escolha certa —


fala com seriedade, e tem as duas mãos em punhos sobre o colo.

— Se não era a escolha certa, se não está feliz por estar

aqui me dizendo que vai entrar nessa comigo, por que veio? O que

te fez mudar de ideia? — indago. Queria dizer que a resposta não

me importa de verdade, mas não estaria sendo sincero.

Ela não titubeou em negar há alguns dias, e tudo o que

eu tinha era esperança. Agora está aqui, e suas palavras


derrubaram um pouco a minha animação, pois parece que veio à
força.

— O que importa é que vim disposta a aceitar ser a sua


noiva de mentira, o motivo só diz respeito a mim — fala, seca.

— Tudo bem, posso lidar com isso — digo.

Ela deve estar certa. Por que tem que haver um outro

motivo que não seja o dinheiro?

Se está sendo guiada pela ambição, ou por qualquer

outra razão, não me diz respeito.

— Que tal um beijo e um brinde para a gente

comemorar? — pergunto para quebrar o gelo.

— Talvez eu aceite o brinde, mas não agora. Ainda temos


alguns pontos para acertarmos para que essa loucura dê certo —

afirma.

— Alguma cláusula em específico que queira discutir? —

pergunto, doido para ouvi-la, porque sei que é muito inteligente para

deixar que aquele documento fique da forma como foi redigido, sem

nenhum toque seu.

— No contrato você diz que receberei metade do valor

depois nos primeiros três meses, e a segunda metade ao final do


acordo, mas preciso que me dê um adiantamento de duzentos mil

essa semana. Se puder ser assim, eu prometo que farei o meu


melhor para convencer a quem quiser que sou a mulher mais

apaixonada do mundo pelo meu noivo.

— Manuella...

— Por favor, não me pergunte o porquê de eu precisar

desse adiantamento. Pense que usarei o dinheiro para comprar


roupas e sapatos que me transformarão na mulher que está no seu

nível. — Mais uma vez, a minha secretária está tentando fugir de


dar explicações, mas só consegue deixar-me intrigado quanto as

suas razões.

— Eu gosto das suas roupas. Não mude por mim e o

nosso falso relacionamento — assevero. — Esqueça aquela


cláusula.

Eu a redigi da maneira mais genérica e fria possível, que


serviria para qualquer uma que fosse escolhida por mim, mas Manu
não é qualquer uma. Não vou moldá-la, não se gosto de tudo sobre

ela.

— Mesmo que sejam justas e curtas? Que as pessoas do

seu convívio me olhem torto por causa disso? — questiona.


— Você é linda, e tem o corpo perfeito. Para mim, será

uma honra desfilar ao seu lado. O que é bonito tem que ser
mostrado, Manuella, e você é linda pra caralho.

— Obrigada pelo elogio, mas você não vai fugir da minha


resposta — fala e dá uma risadinha. A morena está um pouco mais

à vontade, e essa deve ser a primeira conversa tranquila que


estamos tendo desde o dia em que nos conhecemos.

— É só me passar a conta que o dinheiro estará ainda

hoje em suas mãos — falo. Para mim, dinheiro não é o problema.


Nunca foi, e confio que a minha secretária fará o que for necessário

para convencer a minha avó de que somos um casal apaixonado.

— Tem mais.

— Tenho até medo de perguntar o quê — digo.

Agora que estamos um pouco mais relaxados, lembro-me

que Manuella tem pernas, então os meus olhos começam a passear


pela porção que a sua roupa deixa descoberta.

— Na cláusula nove do contrato você fala sobre

demonstrações de afeto em público. Isso quer dizer o que


exatamente? Estou perguntando por que tenho que me preparar
para não reagir mal a algo que você faça — diz, jogando os cabelos
longos, ondulados e cheirosos para o lado esquerdo do ombro.

— Significa que vou te tocar quando for preciso — e


quando não for também, penso —, e espero que faça o mesmo
comigo. A gente vai fazer tudo para convencer as pessoas quanto a

seriedade da nossa relação. Elas têm que nos olhar e imaginar que
vamos nos casar muito em breve, porque mal conseguimos esperar.

Haverá beijos, abraços e mãos dadas — assevero.

— Tudo bem, acho que posso lidar com tudo isso. Mas o
segundo parágrafo... Eu não gostaria de sair da minha casa para vir

morar com você daqui três meses. Será que não está exagerando?
Afinal, é apenas um noivado, não um casamento — argumenta, mas

eu estava preparado para essa pergunta desde o momento em que


pensei nesse tópico.

— Hoje em dia, é mais do que normal que casais morem


juntos antes de se casarem, muitas vezes nem se casam de
maneira oficial, pois o fato de estarem sob o mesmo teto já fala por

si só. E como a gente não quer que haja dúvida de que nos
amamos, não abro mão que venha morar aqui em casa.

— Sou uma pessoa chata de se conviver. Acordo de mau


humor e sou bagunceira e espaçosa — Manu tenta me dissuadir e a
adoro por isso. Ela é ligeira, mas não mais do que eu.

— Posso lidar com você, um pouco de mau humor

matinal e muita bagunça por aqui — garanto, mas confesso que a


ideia de ter uma mulher morando comigo me assusta um pouco.
Nunca trouxe uma foda para casa, e agora pretendo morar com uma

mulher durante alguns meses. — E não fique pensando muito


agora, porque a gente só vai precisar fazer isso daqui uns meses.

— Tudo bem — ela cede.

— Algo a mais? — questiono, achando sexy o jeito como

a minha secretária morde o lábio inferior quando tenta forçar a


mente a pensar em algo.

— Sobre o sexo, que não merecia ser mencionado em

um contrato, porque fez com que me sentisse uma...

— Não foi a minha intenção. — Coloco a mão gentilmente


em cima dos seus lábios e me aproximo dela, que não fica tensa e

nem ao menos se afasta. Preciso confessar que senti falta dos

nossos embates essa semana, de sentir o meu corpo tenso de

desejo sempre que chega perto de mim como está agora. —


Mencionei sexo para que saiba que quero fazer com você, que
agora que cansei de negar a mim mesmo essa possibilidade,

relações sexuais não serão um problema entre a gente.

— Suponhamos que eu queira...

— Você quer? — apresso-me em garantir. Eu bati o

recorde de dias sem transar na última semana, e seria perfeito se


acabasse com o jejum com a mulher que mais desejo no momento.

— Se eu topar, você deixou claro no contrato que não

precisamos ser exclusivos, desde que haja discrição — aceno

positivamente com a cabeça, me perguntando se não é um ponto


que eu deveria ter mudado, porque a ideia de ela ficar com outro

enquanto estiver comigo me estressa. — Está me dizendo que não

vai criar problemas se eu me relacionar com outro homem em


segredo?

— Os direitos serão iguais, Manu. Você pode, e eu

também posso ficar com outras mulheres. A gente só vai precisar ter

cuidado mesmo — falo. — Mas confesso que no momento estou


interessado em você — afirmo.

Essa conversa está sendo muito melhor do que imaginei

que fosse ser. Estamos deixando tudo bem esclarecido, e agora

Manu termina de entender o que venho mostrando com os meus


toques desde o dia em que coloquei os olhos nos seus peitos: eu a

quero para mim com uma urgência que não tenho desde que deixei

de ser um adolescente.

— Eu ainda preciso pensar se estou bem quanto a parte


do sexo — diz, jogando um balde de água fria na minha cabeça. —

Para você pode ser mais fácil, mas não sei como eu lidaria com

essa situação. Não sei se levaria numa boa se o meu noivo, mesmo
um noivo de mentira, saísse enfiando o pau em mulheres aleatórias.

— A sua fala acende uma alerta para mim, mas gosto que esteja

sendo sincera.

— Acredito que a gente pode discutir melhor essa parte

no futuro. Vamos deixá-la em aberto, se assim for melhor para você

— digo de boa vontade, porque preciso dela.

Sei que a gente vai ficar junto muito em breve, e será nos
meus termos, porque sempre tenho o controle quanto a essa parte

da minha vida.

— Então, é isso. Serei sua pelos próximos seis meses —

diz como quem profere uma sentença de morte.

— Pelos próximos seis meses, seremos parceiros de

trabalho que se apaixonaram, e o mundo nunca terá visto duas


pessoas tão apaixonadas quanto nós dois — falo com convicção,

acreditando que não será difícil fingir que estou na coleira por essa
mulher. Só o fato de nunca ter desistido de entrar na sua boceta já

mostra que é um pouco verdade.

— Cadê o contrato? — ela pergunta.

— Vou fazer as alterações que você pediu e amanhã te

envio, tudo bem?

— É claro.

— Podemos brindar agora? — indago, ela balança a


cabeça com um sorriso discreto, mas ainda nervosa e me levanto

para pegar vinho para nós dois.

Pelo tempo em que me empenho na tarefa, sinto as

minhas costas queimando com o seu olhar curioso. Ao voltar para o


seu lado e entregar o copo, é como se o mundo tivesse voltado a se

alinhar.

Não foi fácil ficar sem ela durante essa semana na


construtora, pois apesar de ter acabado de chegar, a mulher tornou-

se essencial. A contratei por ser gostosa, mas Manuella Ortega é

uma secretária excelente. Felizmente, a minha avó não apareceu e

não tive que explicar a sua ausência.


— Está tudo bem? — pergunto quando vejo a sua mão

tremendo de leve enquanto segura o copo com vinho. Antes de

responder, os seus olhos passeiam rapidamente pelo meu abdômen

despido.

E agora que a parte chata foi resolvida, a tensão sexual

de sempre está de volta.

— Enquanto você preparava as nossas bebidas, comecei


a pensar no que estou fazendo e fiquei nervosa. Não é como se

você fosse qualquer homem. Tem um nome a zelar, e eu sou uma

Zé ninguém, pobre, divorciada e mais velha do que você.

— Não precisa falar assim de si mesma, Manu. Ninguém


vai estranhar o fato de eu ter te escolhido, porque gosto de mulher

bonita, e você é a mais linda que existe. O fato de ser mais velha é

um detalhe que me excita — confesso.

— Excita mesmo?

— Sim, excita — afirmo, me segurando para não avançar

o sinal e colocar tudo a perder. Sinto que ainda estou pisando em

ovos com ela, e enquanto o contrato não for assinado por nós dois,
não ficarei tranquilo. — Tudo sobre você me excita — ainda

confesso.
— É melhor eu ir embora agora. Deixei o Tito me

esperando na portaria — Manuella fala, termina de beber o vinho e


coloca o copo em cima da mesinha de centro.

Ao ficar em pé, apoia a mão no meu peito para se

equilibrar. Provavelmente, sentiu uma leve tontura por ter bebido e

se levantado rápido demais. Eu, que me levantei junto com ela,


seguro no seu braço que tem a mão me tocando e então nós dois

travamos os nossos olhares.

De repente, a atmosfera muda. O ar fica pesado e cheio


de energia sexual. Eu a olho, dizendo através do olhar que a quero

agora na minha cama, ela me olha implorando para que eu rasgue

as suas roupas agora mesmo e acabe com a espera que já dura


tempo demais.

— Por que você não o dispensa e fica mais um pouco? —

E aqui estou eu, pela primeira vez pedindo para que uma mulher

fique na minha casa, e pior, ansioso por uma resposta positiva.


CAPÍTULO 19

MANUELLA
Eu, que tinha acabado de falar para o meu chefe que não

sabia se poderia lidar com a parte que envolve sexo do contrato,


porque acredito mesmo que o meu dedo podre é capaz de me fazer

enxergar mais do que existe entre a gente, estou ouvindo-o pedindo


com todas a letras para que eu fique mais um pouco.

Esse “fique mais um pouco”, poderia muito bem ser:

vamos aproveitar essa noite de sexta, que não temos nada mais
importante para fazer e transar?

— Eu não sei se é uma boa ideia, John — dou a resposta


errada, porque a recusa, que esteve na ponta da minha língua, não

quis sair.

— Só mais um pouquinho, morena. Posso te chamar

assim? Estou treinando — diz.

— Pode chamar do que você quiser — exagero em

minhas palavras, talvez por estar contente com o dinheiro que vai

cair na minha conta, de pensar que vou salvar a casa da minha


mãe.
— E então, você vai ficar? Prometo ser uma boa

companhia. — Eu amo que John implora por mim sempre que pode,
mesmo que não perceba que está contrariando as próprias palavras

quando faz isso.

— O que a gente vai fazer? — Eu nem deveria estar

considerando essa loucura, mas todas as minhas resoluções caem

por terra quando esse loiro gostoso está no mesmo lugar que eu.

— Qualquer coisa. Conversar ou assistir a um filme.


Treinar a intimidade de um casal que está muito apaixonado. O que

você quiser — diz.

— Tudo bem. — Entrego-me, porque sou fácil para esse

homem e sua boca bonita fazendo pedidos irrecusáveis. —Vista

uma camiseta, enquanto eu ligo para a minha mãe e para o

motorista — sugiro.

— Já volto. — Animado, o homem corre, imagino que

seja para o seu quarto, e eu me sento novamente no sofá.

Além de aproveitar para ligar para a minha mãe e avisar

que chegarei tarde, depois de tê-la deixado preocupada quando saí

sem dizer para onde ia, aproveito para me acalmar um pouco. Estou
nervosa de ter aceitado ficar, porque sei que deveria estar a
caminho de casa nesse momento.

Agi com uma maturidade condizente com a minha idade


ao tomar a decisão que tiraria a minha família de problemas, vim

como uma ovelha na fila do abate, e agora estou pronta para cair

nas garras do meu lobo mau particular. A pior parte de me deixar ser

guiada pela vagina é ter consciência disso, e mesmo assim

continuar.

Antes de dar a mim mais um tempo para voltar a razão,

ligo para o Tito e o dispenso. Por falar em Tito...

— O motorista vai continuar comigo? — pergunto quando

ele volta, usando uma camiseta justa, que não faz muito para

esconder a beleza do seu abdômen e braços fortes.

Eita! Homem perfeito!

— Se você quiser, posso até acrescentar essa cláusula

ao nosso contrato — fala divertido ao se sentar ao meu lado. Tão

perto que pode simplesmente me puxar para cima de suas pernas.

Ele acha engraçado a minha questão com o motorista,


mas só quem passou a vida andando de ônibus sabe como é.

— Eu quero. Adoro o Tito, apesar de ele não falar muito.


— Não quer dizer nada. Nos quinze anos em que

trabalhou com a minha mãe mal abria a boca, mas todos sabíamos
que gostava dela — comenta.

— Onde está a sua mãe? — A curiosidade surge, pois ele


ainda não tinha a mencionado, e apesar de o seu pai usar aliança,

nunca vi a mulher na construtora.

— A dona Alicia adora viajar, e passa mais tempo fora do


que aqui, em seu próprio país.

— Não julgo, pois faria o mesmo se fosse rica — digo, e


sinto que ele fica um pouco desconcertado.

— Ela fazia o mesmo quando eu era criança, e coube aos


meus avós me criarem na maior parte do tempo. O Tales tinha a

família perfeita, eu tinha pais desnaturados que não estavam


preparados para serem pais e, mesmo assim, eu os amo — diz de

uma forma tranquila. É um assunto que parece ter sido superado


para o meu chefe. — E sobre viajar, agora você vai poder — afirma,
e agora sou eu quem fico desconfortável, John percebe e muda de

assunto. — Quer comer alguma coisa?

— Eu jantei mais cedo, mas aceito outra bebida — digo,

pois preciso relaxar um pouco mais.


Da forma que penso, até parece que estou sendo

obrigada a estar aqui, mas é quase como se fosse isso. A minha


mente sensata diz que eu deveria ter recusado o convite, o meu

corpo, a parte traiçoeira que sentiu falta dos nossos embates e


incapacidade de ficarmos sem nos tocar nos últimos dias me obriga

a ficar.

O meu chefe, que dá uma olhada para o meu decote que

não mostra quase nada, levanta-se e vai para o bar. E enquanto o


homem não volta, toda a indignação que senti pela proposta que me
fez naquele bar começa a parecer tão distante, que é como se o

sentimento nunca tivesse existido. E não é só porque aceitei, é


porque sempre me sinto dessa forma quando não estamos

brigando.

Um calor entre as pernas, o sangue correndo mais rápido


e mais quente nas minhas veias. Uma urgência que deixa a minha

respiração alterada. É uma atração animal.

— Aqui está, morena — ele me chamando assim é íntimo

demais, mas gosto de como soa, independente dos motivos.

Ele sorri quando tomo tudo de uma vez só e depois faço

uma careta.
— Você precisa relaxar, querida. A gente tem um acordo.
— Por saber que temos um acordo que me sinto nervosa. — É bom
que tenha aceitado ficar, assim a gente pode aproveitar para

conversar e nos tornar mais íntimos, mas não pense que vou pular
em cima de você como uma fera faminta, pronto para te devorar a

qualquer instante — o meu chefe fala, enquanto me olha lentamente


de cima a baixo, dizendo sem palavras que estou pensando certo.

— Não vai? — provoco, cutucando a onça com vara


curta.

— Só se você me pedir. — A mão que estava no encosto

do sofá desce para o meu pescoço, e os seus dedos que acariciam


a minha nuca fazem os pelos que têm ali se arrepiarem.

Caralho!

Caralho!

Caralho!

Eu não posso ser tão fácil assim e ceder ainda hoje. Não

posso! Seria melhor para mim se esse acordo não envolvesse sexo.

— O que você tem para a gente assistir aqui? —

pergunto, cortando o clima com um balde de água fria. — Podemos


começar alinhando os nossos gostos através de filmes e séries,
assim, o mundo a nossa volta não se dará conta de que somos
como água e óleo.

— Você acredita que somos tão diferentes assim? —


Pergunta, a sua mão ainda está na minha nuca. Nunca vou me
esquecer dessa mão ligeira aqui.

— Não faço ideia. Mal nos conhecemos e passamos

metade do nosso tempo discutindo, ou nos pegando — informo.

— O que as suas amigas da empresa sabem sobre a sua

ausência nos últimos dias? — indaga.

— Eu disse que a gente brigou e, portanto, estávamos

dando um tempo de vermos a cara um do outro todos os dias.

— Com isso, você deixou parecendo que não sabemos

separar o profissional da relação pessoal — fala o que eu imaginava

que fosse dizer, mas tenho um bom argumento para isso.

— E quem consegue? Ainda mais no início de um

suposto namoro. Pensei que o fato de deixar essa falta de

maturidade no ar poderia deixar todas acreditando que estamos

mesmo muito envolvidos.

— E porque você faria isso, se estava decidida a não

aceitar o acordo? — questiona.


— Eu passei os últimos dias balançada, afinal, estávamos

falando de um milhão de reais. Então me adiantei, caso fosse


mesmo embarcar nessa loucura — minto. Antes de falar com a

minha mãe, eu tinha certeza de que iria manter a minha recusa.

E como estava com raiva dele, menti para as meninas


com o intuito de deixá-lo malvisto perante elas, apesar de a minha

justificativa anterior fazer muito sentido agora. Quando estão

apaixonadas, as pessoas se tornam idiotas.

— Você é inteligente demais, senhorita Ortega e...

— Já sei, te excita — brinco, e o homem abre o sorriso

molhador de calcinha.

— Tudo sua culpa por ser assim — rebate.

— Perfeita?

— E gostosa pra caralho. — Toda vez que recebo um

elogio seu fico me achando. Não estava acostumada a ouvir afagos

no meu ego de um dos homens mais lindos que o mundo já viu.


Deveria ser pecado ser assim, e ainda ter o pau grande. — Mas

vamos assistir algo, antes que eu comece a ter ideias de coisas

mais interessantes para fazer quanto ao test-drive a respeito da


nossa compatibilidade.
Passamos alguns minutos na Netflix escolhendo um

filme, mas não conseguimos chegar a uma conclusão. Ele gosta de

ação e batalhas sangrentas, eu gosto de drama e comédia


romântica. No fim, acabamos dando play em um filme que une ação,

drama e romance.

Ele apaga as luzes da sala, e apenas a da TV gigante

nos afasta da escuridão completa. Liga o ar-condicionado em uma


temperatura agradável, e sinto que poderia facilmente me

acostumar com uma vida como essa. Nos primeiros vinte minutos,

eu de fato assisto ao filme, e John também parece bastante

interessado, apesar de saber que essa não seria a sua escolha se


eu não estivesse aqui.

Com quarenta e três minutos de tela, John está mais

perto de mim, ele abraça o meu ombro e eu deito a cabeça no seu


peito, como se fosse comum para nós dois ficarmos assim no sofá.

Mais à vontade a cada minuto que passa, e prestando

menos atenção no filme e mais no meu suposto namorado, deixo

que ele deslize a mão para um dos meus seios e a deixe plantada
em cima dele, que tem o bico saliente pelo contato.

A sua outra mão está em cima da minha perna, que está

cruzada sobre a outra no estofado. Não acredito que esteja fazendo


isso para me provocar, provavelmente, nem está se dando conta

que estamos evoluindo para em breve nos fundirmos.

Quando o casal protagonista do filme se beija pela

primeira vez, John enterra o nariz no meu pescoço e eu não só

deixo como o jogo levemente para o lado, dando-o mais espaço.

— Você é tão cheirosa — diz, e o calor de sua respiração

me arrepia.

— Tomei banho — respondo.

— É muito importante gostar de tomar banho, não é? —


pergunta, e morde o meu pescoço de uma maneira que não dói. O

intuito é me fazer sentir prazer.

Acredito que estava errada quando julguei que não

estava consciente da nossa proximidade quanto eu estou.

— O filme. — A minha voz sai fraca e baixa.

— É claro, o filme — fala. A sua mão não está mais

parada no meu peito. Agora, os seus dedos estão provocando o

mamilo duro, deixando-o mais duro ainda.

John e eu ficamos tensos no sofá quando, perto do final

do filme, o casal começa a arrancar as roupas um do outro. E


enquanto acontece, o meu chefe e eu não conseguimos mais fingir

que não estamos sentindo nada.

O meu corpo está tenso de desejo, e sinto que o dele

também está. Com a mão apoiada no seu peito, bem próxima de


onde bate o coração, percebo o seu batendo tão acelerado quanto o

meu. Eu não quero levantar a cabeça e olhar para ele, porque sei

que será o meu fim, mas John me tira a chance de recusar quando
segura o meu queixo e ergue a minha cabeça para si.

A intensidade do desejo cru que vejo na forma como está

me olhando deve estar refletida no meu próprio olhar. A gente não

precisa dizer muito, porque sempre soubemos, desde o início, que


temos todos os motivos para não fazermos isso, mas a vontade que

sempre existiu é impossível de ser ignorada.

— Eu não fiquei aqui para isso — a minha voz soa


estranha quando falo com o rosto muito próximo do seu.

— Sei que não foi, mas deve ter passado pela sua

cabeça que era perigoso demais, não passou? — Aceno

positivamente. — Imaginou que ficaríamos nessa situação muito


rápido, porque tem sido assim quando ocupamos os mesmos

metros quadrados. — A mulher gemendo na TV faz trilha sonora

para a voz bonita do meu chefe.


O seu nariz está tocando no meu, sua mão nunca deixou

de acariciar o meu seio e eu estou a um passo de dar para ele,


porque o quero há muito tempo para seguir resistindo. Aqui, os

motivos já não têm tanta importância, não nesse momento.

— Vamos deixar o contrato e tudo o que existe entre a

gente de lado só por essa noite, morena. Eu quero você, e sei que
me quer da mesma forma. Deixe-me te provar por inteiro, nem que

seja só uma vez. Para que eu não enlouqueça de desejo, preciso te

tirar do meu sangue e dos meus pensamentos, mas sei que isso só
vai acontecer quando te provar, quando te comer de todas as

formas que nos cause prazer. Você vai sentir prazer como nunca

sentiu, querida. Não vai se arrepender.

Enquanto o homem fala sobre tudo o que também estou

sentindo, o incômodo entre as minhas pernas se torna mais intenso.

O meu coração parece que vai explodir, mas eu sei o que quero e o

que vou fazer, independente do que possa acontecer depois.

— Apenas por essa noite, sou sua. — Finalmente,

entrego-me. O seu sorriso sacana e o olhar esfomeado me dizem

que, pelo tempo que durar, serei muito feliz nas suas mãos.
CAPÍTULO 20

JOHN
Eu já tinha tido essa conversa com ela na minha cabeça

uma dúzia de vezes, em todas elas eu fazia promessas de prazer


que sabia que poderia cumprir. Mas agora que falou de verdade que

vai me dar a sua boceta, que tenho o seu corpo em minhas mãos,
sem que esteja querendo fugir, não sei nem por onde começar.

Na verdade, preciso me acalmar antes de começar a

tocá-la como realmente desejo, pois senão sou capaz de atropelar


tudo, acabar antes de começar e não cumprir as promessas que fiz.

Antes de tudo, desligo a TV, e Manuella comenta.

— O filme não estava bom?

— Estava ótimo, mas a única cena que quero ver agora é


a dos nossos corpos se encontrando. O único gemido que quero

ouvir é o seu — digo ao beijar com carinho o canto da sua boca.

Sim, estou sendo carinhoso antes do sexo, algo de que

nunca pude ser acusado. Quando levo uma mulher para a cama,
vou direto para o objetivo final que é fazer sexo. Com Manu é
diferente. Deve ser pelo tanto que me custou chegar até esse

momento.

— E se eu não gemer? — provoca, e eu a puxo para

perto do meu corpo. Manu faz mais e monta em cima das minhas
pernas. O seu vestido sobe até a cintura, deixando suas coxas

visíveis para mim, que não perco tempo e as toco.

— Você não vai gemer, minha linda. Vai gritar — garanto.

— Pedirá para que eu nunca deixe de meter na sua boceta, que


mesmo quando estiver castigada, ela te fará pedir por mais. E eu

vou te dar mais prazer, porque o meu desejo vem crescendo um

pouco mais a cada dia desde a primeira vez em que coloquei os


olhos em cima de você e te quis.

— Você tinha acabado de fazer sexo com outra mulher —

acusa. Agora, os seus braços estão me abraçando no pescoço e as

garras afiadas fazem carícias que deixam até a minha alma


arrepiada.

— O que prova as minhas palavras. Tinha me satisfeito,


mas te olhar fez com que eu sentisse como se não transava há

semanas.
— Apesar das minhas palavras, também te quis. E eu
não estava pensando muito bem dos homens. Tive que me conter

muito para não te puxar para o quartinho de mantimentos e dar o

que você queria — revela.

— Eu senti pelas reações do seu corpo que me desejava

tanto quanto eu te queria — afirmo. — Mas agora não é a hora de

falarmos do passado, morena. Na verdade, não quero falar nada, só

te foder sem sentido — digo, pego a parte de baixo seu vestido e a

minha secretária levanta as mãos para que eu o tire.

Jogo a peça de lado no sofá, e depois volto a minha

atenção para a mulher linda que está sentada em cima das minhas

pernas. O seu corpo perfeito está vestindo calcinha e sutiã pretos,

as peças são simples, tendo em vista as muitas que vi nas mulheres


com quem transei ao longo dos anos, mas são bonitas.

— Você é linda, Manu. Tem o corpo perfeito, e só consigo

pensar no prazer que o meu pau e eu sentiremos quando provarmos


com mãos e com a boca cada pequena parte dele. Diz para mim

que vai ser toda minha. Quero ouvir de novo. — A necessidade

surge e não posso contê-la.

— Todinha sua. Apenas sua por u... — Eu coloco os

dedos sobre a sua boca, antes que diga o resto da frase. A parte
que falou foi o suficiente para mim.

— Minha — reafirmo, e então a beijo.

Seguro os cabelos da parte de trás da sua cabeça, com o

intuito de tornar o encaixe perfeito de nossas bocas, eu tomo o


controle do início do beijo para mim. Começo a provocando com
pequenas mordidas no lábio inferior, colocando a ponta da língua

em contato com a sua, mas a recolhendo quando a mulher tenta a


capturar.

Mas a brincadeira acaba na sua primeira rebolada no


meu pau, que ainda tem a barreira da cueca e da calça moletom.

Ao segurar os cabelos de sua nuca com mais firmeza,


finalmente a beijo como a gente quer. Envolvo as nossas línguas em

um ritmo sensual, e o som que se ouve é o de saliva sendo trocada


e das nossas respirações aceleradas pelo apartamento.

É um beijo duro e puramente sobre sexo que, de


nenhuma maneira, poderia ser julgado como decente o bastante

para ser dado em público. Mas é gostoso, muito gostoso sentir a


maciez da sua boca. A língua chupando a minha com experiência,
porque eu adoro o fato de a minha gata saber o que faz.
E enquanto nos devoramos com a boca, o meu braço

livre segura a sua cintura com firmeza, para que os nossos sexos
nunca percam o contato. Sinto o calor da sua boceta através dos

tecidos das minhas vestimentas, mas não é o suficiente.

Preciso de mais, muito mais do que apenas sentir esse

calor. Eu o quero em mim. Preciso estar dentro dele, e que faça


queimaduras de primeiro grau na minha pele. Mas antes de avançar

para a próxima fase, separo as nossas bocas, e fico levemente


zonzo de tesão quando vejo seus lábios úmidos e avermelhados.

Coloco a boca no seu pescoço e dou uma longa e

esperada chupada no lugar cheiroso e bonito, que tem me tentado


há dias, porque sempre que a via toda arrumadinha, sendo
profissional com os cabelos presos, pensava em como queria

chupar o seu pescoço até deixar a minha marca.

Manuella gosta tanto do que estou fazendo que,

apertando os bicos de seus seios por cima do sutiã em busca de


uma espécie de alívio, joga a cabeça para trás e me dá mais

liberdade. Então eu aproveito o que está sendo dado e não só


chupo, eu mordo e lambo o pescoço bonito, depois passo para o

ombro e o colo, um pouco acima de seus seios.


— Eu vou tirar o seu sutiã, tudo bem? — ela balança a
cabeça dizendo que sim. Livro-me da peça rapidamente e o meu
sangue fica mais quente quando vejo de perto o quanto seus seios

são grandes, empinados, e com os mamilos orgulhosamente duros


para mim.

Os seus peitos são obras de arte, e eu sempre fui o maior


admirador. Me apresentei para as belezas antes mesmo de

conhecer o seu rosto.

Agora, sob o olhar intenso da minha suposta namorada,


primeiro babo na beleza deles, depois seguro com as duas mãos

para sentir o peso, como um adolescente que nunca havia visto um


par de seios antes.

— Você gosta deles, não é? Na maior parte do tempo faz


parecer que não sabe que existe uma cabeça em cima do meu

pescoço — ela brinca, mas está falando a verdade.

— Uma das coisas que mais gosto em você. Já pensei

em como ficariam levando o meu pau entre eles, na minha porra


escorrendo por aqui — toco no vão entre os dois — depois que me
fizessem gozar — revelo para a mulher as minhas fantasias sujas,

que são apenas a ponta do iceberg.


— Eu vou deixar você fazer tudo isso, se quiser — ela
fala.

— É o que eu mais quero no momento, querida. Isso, e


muito mais. Mas antes de ter o banquete completo, antes de gozar
em você, vou tocar com a boca em todo o seu corpo, e vou começar

por eles... — falo, e fito os seus peitos.

— Tire a camisa, porque as coisas estão um pouco


injustas por aqui, e eu quero te ver — pede, eu só levanto os braços

para cima e deixo que me dispa. As suas mãos no meu peitoral

estão quentes.

Deixo um beijo em cima de cada um dos gêmeos, e só

então abocanho o primeiro mamilo moreno, eu o chupo e mordisco,

enquanto belisco o outro com os dedos. Em cima de mim, Manu

começa a deixar escapar alguns gemidos e a se contorcer nas


minhas pernas.

Levo alguns minutos me banqueteando com eles, mas

logo deixa de ser o suficiente e começo a precisar de mais. Então

eu fico em pé com a morena nos meus braços e a deito de costas


no sofá. Tendo a visão de uma deusa que é só minha, fico de

joelhos na sua frente e começo a descer os beijos para a barriga

lisa.
— John, eu acho que posso gozar a qualquer momento.

Você está me torturando... — ela fala, enquanto esfrega uma perna


na outra. — Faça alguma coisa para me aliviar. — A urgência que

sinto na sua voz não me faz parar, então eu deslizo a mão direita

lentamente pela sua barriga até chegar na parte da frente da


calcinha preta e pequena, do jeito que me disse que gosta.

Sem olhar, porque estou empenhado nos beijos na sua

barriga, percebo que Manu está apertando uma perna na outra na

tentativa de se conter, mas eu as afasto com a mão e a enfio dentro


da sua lingerie.

Os meus dedos encontram uma boceta escorregadia de

desejo, porque essa mulher gostosa e fogosa está pingando por


mim.

— Você está toda molhadinha. Diga por quem está assim.

— Com ela, tenho traços de uma possessividade que nunca fizeram

parte da minha personalidade. Tenho a necessidade de a ouvir


falando esse tipo de coisa.

— Por você. Tem sido assim só por você... — sussurra,

arqueando o corpo quando enfio dois dedos inteiros dentro do seu


sexo, que está mais do que preparado para receber o meu pau, que

de tão duro é perfeitamente capaz de furar a boxer e a calça.


Provocando o seu umbigo, começo a enfiar e a tirar os

dedos da sua boceta, a masturbando. Quando o seu corpo começa

a dar sinais de que vai chegar ao ápice do prazer, dou um jeito para
que as suas pernas fiquem em cima dos meus ombros e tiro a

calcinha pequena que usa.

Primeiro passo a língua por toda a boceta, depois a

envolvo com a boca, chupando e ouvindo os sons dos seus


gemidos. O prazer que sinto com o seu gosto na minha boca é

indescritível. Eu desejava mais do que tudo ter uma prova.

Quando ela está prestes a gozar, volto a enfiar os dedos,


e junto com a minha boca a faço gritar pelo meu nome e se quebrar.

Gemendo e se contorcendo, o corpo sofre espasmos enquanto goza

para mim.

— Deliciosa — falo, e tenho dificuldade para a soltar.


Mesmo depois que o seu corpo se acalma, ainda continuo aos seus

pés, beijando o lado de dentro de suas coxas macias e grossas.

Deixando-a linda no sofá, e nem perto do quão

completamente satisfeita ficará quando terminar essa noite, levanto-


me e começo a me livrar das minhas roupas. Manuella me olha

abertamente, primeiro para o meu abdômen, depois para o meu


membro, que pula alegremente para fora da boxer quando me livro

dela.

— Eu quero chupar você — ela avisa.

— Eu também quero que você me chupe, mas não será

agora, querida. No estado em que me encontro, acabaria gozando


na sua boca, e quero fazer isso na sua boceta. Estou morrendo de

tesão aqui.

— Dramático — Manu brinca.

— Apenas um homem que está sedento por você —


declaro.

— Estou aqui.

— Sim, está — digo, curvo o meu corpo e a pego em

meus braços. Enquanto a levo para o meu quarto, procuro não


pensar que ela é a primeira mulher que o conhecerá, a única que se

deitará na cama onde só eu dormi até então.

Eu a deito de costas na minha cama, e ela fica tão bem

que parecia que era a peça que faltava para que o quebra-cabeça
ficasse completo.

Mas que bobagem é essa, porra?!


Não pense nisso, John. Ela é apenas mais uma. A sua

secretária gostosa que será muito útil para os seus planos, apenas

isso.

Não pira!

— Algum problema? — A minha gata pergunta, eu a olho

e todas as bobagens somem da minha mente.

— Tem algo faltando, não acha? — Vou até a gaveta ao


lado da cama e pego preservativos. Jogo uma fileira com cinco

sobre a cama e Manu sorri — Está rindo de mim, garota?

— Da sua confiança.

— Vamos usar todos eles em algum momento — garanto

e subo na cama.

— Mas nem se eu tivesse duas vaginas. Com esse pau

grande, na primeira já estarei assada — ela faz um afago no meu

ego. Beijo-a porque não posso resistir e como forma de


agradecimento.

Com o corpo pairando sobre o da mulher gostosa, a beijo

por um bom tempo, sentindo em cada fibra do meu corpo o prazer


da maciez de sua língua sugando a minha e seus pequenos sons.
Como é do tipo que pega o que quer, Manuella coloca a

mão entre os nossos corpos e segura o meu membro. Ela o


masturba uma, duas e três vezes com gestos de ir e vir, colocando a

força ideal entre os dedos, até que a afasto, porque quero meter na

sua boceta agora mesmo, não gozar em sua mão.

— Abra as pernas para mim, querida — peço, e Manu


faz. Eu olho direto para o sexo, e não preciso tocar novamente para

ter certeza de que está pronta para mim.

Eu me coloco entre as suas pernas e, apoiando o peso


do meu tronco com os braços, passo a cabeça do meu pau entre as

suas dobras. Manu joga a cabeça para trás com os olhos fechados,

sentindo o prazer do contato mais íntimo que já tivemos, assim


como estou sentindo.

Insinuo o quadril para frente e para trás entre os seus

lábios vaginais, apenas sentindo, ainda sem nos dar o que

queremos. E enquanto faço isso, não deixo de olhar para o seu


rosto, para os seus seios, cujos mamilos estão duros, e todo o seu

corpo.

Mesmo antes de começar, sinto que nunca foi tão bom, e

que será o melhor sexo que já tive em tantos anos de vida sexual
ativa. Já está sendo, antes mesmo de se concretizar.
— Tem ideia de quanto tempo esperei por isso? De como
te via em outras mulheres, porque queria que fosse você no lugar

delas? Diz que você sabe, Manuella. Fale, porra! — exijo

entredentes.

— Eu sei que me deseja, John. Soube quando colocou os

olhos nos meus seios na primeira vez que me viu naquele bar. Ali,

eu quis ser tua como nunca havia sido de ninguém. Tudo sobre

você me excita. Nós dois sofremos do mesmo mal, mas agora que
estamos aqui, preciso que comece de uma vez e enfie esse pau em

mim, que acabe com o vazio e a agonia. Me faça sua, chefinho.

— O que quiser, gostosa — digo, então estico a minha


mão e pego o preservativo.

Depois que o coloco, penetro o meu pau até o fim na sua


boceta apertada e escorregadia. Não tem jogos de provocações

agora.

— Caralho, John — Manu grita com a invasão, mas sei

que não é de dor, pelo contrário, assim que me recebe, a gostosa


morena faz movimentos circulares com o quadril, para sentir-me
profundamente socado no seu sexo.
Mas eu firmo o seu quadril sobre a cama com uma mão
e, com as suas pernas em volta dos meus quadris, olhando em seus
olhos escuros, levo o meu próprio tempo a sentindo em mim. Depois

de alguns segundos, tiro calmamente até que fique apenas a


cabeça, e então volto com tudo, fazendo com que o seu corpo seja
içado para cima.

Faço o mesmo, uma, duas, três e tantas vezes que perco


as contas, penetrando-a com força, não deixando que nada fique de
fora. O meu pau fica todo enterrado na sua bocetinha, e tem um

momento em que fico sobre os meus joelhos para ter a imagem do


seu sexo consumindo o meu. É a perfeição.

— Gostosa! Eu sabia que seria assim, porra! — falo, e


bato as nossas coxas. Seguro com possessividade em um dos seus

seios, rolando entre os meus dedos o mamilo duro. — Você é...

— Eu sou o quê? — De repente, a morena tira o controle


das minhas mãos. Ela se levanta, eu seguro-a com firmeza pela

cintura, enquanto ela nos vira e a ajeito em cima das minhas pernas.

— Uma putinha sem pudor, que vai me deixar te comer


até que fique toda assada, que vai tomar o meu pau e pedirá mais e

mais, até que eu não aguente mais te foder, porque ele já estará
esfolado de tanto ser usado — digo.
Agora, as minhas mãos estão agarradas na sua bunda
redonda, enquanto cavalga no meu colo, tomando-me por inteiro. E
ela faz isso com facilidade, gemendo e se dando prazer, enquanto a

sua mão aperta um dos gêmeos. O outro eu levo a boca, e passo a


mamar cheio de fome.

— Então eu sou, porque tudo isso que falou vai


acontecer. Vou te usar hoje, porque me deve e tem que me pagar
por todas as vezes em que me masturbei pensando em você.

Desejando que o pau de borracha fosse o seu... — fala e se senta


sem parar. Nós estamos começando a ficar muito suados, mas não
queremos parar. — Sempre foi por você...

E enquanto ela fala sacanagens e se senta no meu pau,

eu enrolo um punhado de seus cabelos longos no meu punho e a


obrigo a me encarar. Os seus olhos estão pegando fogo e me
queimando. Mas a sua boca rosada me chama, então a beijo, pois

quero provar dela de todas as formas possíveis.

As nossas línguas se consumem, assim como os nossos


sexos, cujas batidas de nossas peles escorregadias de suor fazem

sons pelo quarto.

— Eu estou tão perto... — Manu sussurra, depois que


deixo a boca e passo a chupar seu pescoço, então tento
desacelerar, pois não quero que termine ainda.

— Quero te foder vendo a sua bunda — sussurro no seu

ouvido, junto com uma mordida na orelha. — Fique de quatro,


morena.

A safada sai de cima de mim e se posiciona sem nem


pensar em protestar. Se coloca na posição, eu me ajoelho atrás e

tendo a visão perfeita da sua bunda tentadora, que fez muitos


homens delirarem de vontade, e das dobras da sua boceta.

Antes de voltar a trepar com ela, curvo-me e deixo beijos

em suas costas. Sensível, a minha secretária se arrepia todinha. Eu


imaginava que fosse ser assim, mas agora que a tenho toda nua,

comprovo que tem o corpo perfeito, sem nenhuma mácula. Não há


uma manchinha sequer em sua pele.

Como um garoto que chega a um parque de diversões, e

sob o som de sua respiração acelerada, agarro de mãos cheias os


lados de sua bunda.

— Sua safada! — Dou uma tapa leve do lado esquerdo

quando a mulher dá uma rebolada para me provocar.

Depois de apertar e deixar uma mordida que a faz


protestar e depois gemer quando chupo em cada lado, os abro
minimamente e toco com o dedo mindinho no seu orifício.

— Nem pensar — protesta, mas acredito que faz por


fazer, porque não se afasta um milímetro sequer.

Pelo contrário, quando mantenho o meu dedo, ela insinua


o quadril contra ele, e meu pau duro fica dolorido de vontade.

— Você já fez isso alguma vez? — indago, agora


massageando com a ponta do dedo o orifício anal.

— Fui casada durante...

— Não foi isso que perguntei — digo, dando-me conta de


que não gosto quando fica me lembrando desse fato.

Não quero saber!

— Devo ter feito uma ou duas vezes.

— Manuella... — falo entredentes, e estapeio de leve a


parte de fora de sua coxa.

— Tudo bem, umas cinco vezes, ou mais — afirma, mas


imagino que esteja querendo dizer que não odeia o sexo anal. E por
mais que deteste pensar que outro já conheceu esse paraíso, gosto

de saber que posso ter esperança de que a terei dessa forma


também.
— Vou poder te comer aqui? — pergunto e enfio a ponta
do dedo no seu cuzinho.

— Ai... — O protesto é fraco, e vem junto com o seu

quadril se empinando de encontro ao meu dedo. — Filho de uma


puta! — E sua boca suja dá as caras quando começo a enfiar e tirar
o dedo até a metade dentro do seu orifício.

Eu tenho que me concentrar muito para não gozar ainda,

porque olhar para o meu dedo metendo no seu cu me faz imaginar


como será quando for no meu pau, que está dolorido pela
perspectiva.

— Por que não faz isso de uma vez? — Manu pergunta, e


eu não posso crer que tenha entendido direito.

— Está me pedindo para que foda a sua bunda agora?

Não é possível, seria perfeição demais para uma mulher


só.

— Estou... — confirma e começa a, lentamente, rebolar


no meu dedo. — Faça o que quiser.

— Você não pode dizer isso, mulher — aviso, fico por um


fio de tomar agora o que está sendo oferecido e que quero mais do
que tudo pegar, mas não vou, pois ainda preciso me fartar da sua
boceta quente e apertada. — Eu vou meter sem pena no seu
buraquinho, mas não será hoje — falo, presumindo com isso que

terá mais, apesar de termos dito que seria só essa noite.

Então eu me curvo, pairando sobre o seu corpo e toco no


seu sexo molhado, cujos fluidos de desejo escorrem junto com suor

pelas suas coxas grossas. Acaricio o seu sexo, e depois, sob o seu
olhar, já que tem a cabeça voltada para trás, olhando-me por cima
do ombro, chupo os dedos.

E muito perto de gozar, seguro o meu membro e o pincelo

algumas vezes entre os seus lábios vaginais, antes de meter mais


uma vez até a base na sua boceta. Dessa vez, quando estamos tão
sensíveis e na borda, não tenho o porquê de me conter.

Ao segurar um punhado de cabelos, e olhando fixamente


para as suas costas arqueadas e bunda bonita, penetro a minha
secretária gostosa do jeito que a gente é: intenso, quente e sem

limites.

— Mete com força, chefinho... — pede a sacana em meio


a um gemido. — Me mostre que valeu a pena ter fantasiado tanto

com o momento em que estaria assim com você. Me mostre, vai...


— Essa rebolada que faz com a bunda tentadora é a minha morte,
então meto sem sentido, segurando com força os seus quadris para
que permaneça no lugar.

— Eu vou gozar, John! Só mais um pouco... — avisa, eu


também estou muito perto, então levanto o seu troco e colo as suas

costas no meu peito suado.

Com uma mão no peito e a outra no seu clitóris, beijando-

a de língua, indo e vindo sem parar de penetrá-la, sinto quando o


seu corpo tenciona nos meus braços, e depois começa a sofrer com
espasmos. Ela não grita, porque tenho a boca na sua, mas os sons

de seus gemidos me estimulam.

Por trás, continuo me afundando nela mais algumas

vezes, até que o orgasmo vem intenso e com tudo, tirando as


minhas forças.

— Foda! — berro, e sinto tudo ao mesmo tempo. Sem

forças, mas ainda socando no seu calor enquanto gozo.

E quando o fôlego parece escasso, faço uma manobra


para que Manu se deite de lado na cama. Eu, ainda dentro dela,

entro e saio bem lentamente, com o membro a meio mastro, até que
o prazer se acalme e o meu corpo finalmente se sinta
completamente satisfeito.
Mesmo que não queira, deixo o seu corpo. Livro-me do

preservativo e o descarto em uma pequena lixeira que fica próxima


à minha cama.

— Por que tem uma lixeira aqui?

— Para os papéis que descarto. Gosto de trabalhar na

cama — digo.

— Agora estou imaginando você completamente nu,


trabalhando na cama, chefinho... — diz com um fio de voz e um

sorriso cansado no rosto, porque sexo é cansativo, ainda mais do


jeito que fizemos.

— Não me chame assim, porque fico com vontade de te


pegar novamente, e ainda preciso recuperar as minhas energias —
aviso e, assim como ela, estou parcialmente sentado com as costas

contra a cabeceira da cama. — Foi bom para você? — indago, de


repente, inseguro.

Deve ser porque foi muito mais do que fantasiei. Nada

que passou pela minha mente chegou perto do que é a realidade do


sexo com essa gostosa.

— E para você, foi? — ela olha para mim divertida e com


a sobrancelha bem-feita arqueada.
— Eu perguntei primeiro, querida.

— As fantasias não faziam jus a realidade. Você sabe


como usar um pau, e nunca foi tão bom — diz. Sinto-me

envaidecido, mas contente por ser ela a pessoa que faz o elogio. —
Agora é a sua vez.

— Eu estou tentando calcular quanto tempo falta para


que possa te foder novamente. Quantas vezes você conseguirá me

levar dentro da sua bocetinha ainda essa noite. Isso responde a sua
pergunta? — indago, e a puxo para mim.

Com uma perna sua em cima do meu quadril, aproximo

os nossos rostos, então nos encaramos com intensidade.

— Foi a resposta perfeita. Se tentar, poderá descobrir

muito em breve sobre quantas vezes consigo tomar o seu pau na


minha boceta — fala de maneira aberta, então eu seguro na sua
nuca e a beijo.

Por causa da adrenalina baixa depois do gozo,


começamos um beijo lento e carinhoso demais para os nossos
padrões. Logo nos deitamos, ela de costas e eu entre as suas

pernas mais uma vez.


Pouco tempo depois, estamos transando novamente,
dessa vez mais calmos do que da primeira, porque nem a gente

aguenta tanta intensidade duas vezes seguidas. E quando


chegamos ao ápice pela segunda vez, a minha namorada de
fachada geme o meu nome incontável vezes.

Quando acaba, ficamos conversando e nos provocando


durante um tempo, algo que eu nunca havia feito antes, pois
pensava que era algo que poderia trazer ideias erradas para as

garotas com quem eu saía. Mas acabo de descobrir com a minha


secretária sexy sobre como é boa a conversa despretensiosa pós-

sexo.

Quando Manuella acaba cochilando, e me sinto satisfeito

ao invés de incomodado, escolho acreditar que me sinto assim


porque tenho esperanças de que a noite ainda não acabou, que
antes que o dia amanheça e a realidade bata à nossa porta, Manu

será minha mais uma vez.

E antes de eu mesmo acabar cochilando, decido que

preciso começar a tomar cuidado, porque a nossa performance


deixou bastante claro que somos cem por cento compatíveis na
cama, e não será nada bom que eu me torne um viciado em

Manuella, embora acredite que já esteja acontecendo.


CAPÍTULO 21

MANUELLA
Ao abrir os olhos, estico o meu corpo, do qual pareço

mais consciente do que estive antes e bato com a mão em um peito


duro.

Um peito duro?!

Alarmada, olho para o meu lado, então me lembro que


transei com o meu chefe! Finalmente!

É um erro? Com certeza deve ser, mas foi um erro bom,


do qual não me arrependo nem um pouquinho nesse momento. Eu
transei duas vezes com John Harper, o maior gostoso da cidade. E

mesmo ciente da confusão em que estou nos metendo com o


acordo, e adicionando sexo para piorar, quero mais.

Agora que tive a prova do quanto o homem é bom com o

pau tanto quanto é com as mãos e a língua, o quero mais uma vez.

Mas John está dormindo. Olho para luz da cidade através

da janela que toma toda a parede da frente e noto que ainda é noite.
Deve ser metade da madrugada. Eu devo ter cochilado durante uma

hora mais ou menos, mas já recuperei as energias e o fogo.


Ao deitar-me de lado, com a cabeça sendo sustentada

por uma mão, uso a outra para afastar o pano que cobria metade do
corpo do poderoso chefinho. A minha boca saliva e meu sexo se

aperta só com a imagem do seu membro, que mesmo descansando,

é impressionante.

Quando está duro é uma coisa de louco, mas sou uma

batalhadora que consegui o comportar em mim sem ser arregaçada,


quer dizer, não sei como será quando o dia amanhecer e eu for

tentar caminhar.

Pensar na forma como o encaixe dos nossos corpos foi

perfeito e em como fui tocada por ele é o suficiente para deixar-me


excitada. E quando John metia em mim, ele fazia com tanta energia

que tenho uma ligeira sensação de que ainda está entre as minhas
pernas, metendo sem nunca se cansar.

John quase me levou a loucura quando tocou no lugar de


onde nada deveria entrar, apenas sair, e naquele momento eu

estava disposta a ceder até mesmo ao sexo anal. Não menti quando

disse que já havia feito outras vezes, afinal, fui casada durante

anos, e no início, o meu marido e eu éramos especialmente

aventureiros.
Não era algo que eu gostava de fazer, apesar de sentir
prazer depois da dor, mas tenho certeza de que John fará com que

seja a melhor experiência que já tive. E mesmo que seu membro

seja bem maior do que o do meu ex, quero fazer sexo anal com

esse homem.

Por enquanto, preciso de outra coisa. Arrasto o meu

corpo para pertinho do seu e a mão para o pau do loiro bonito e de

corpo perfeito. É um deus grego em todos os sentidos, e que faz a

minha vagina bater palmas de alegria.

O envolvo entre os meus dedos e começo a masturbá-lo

com calma e paciência, afinal, o homem está dormindo e não quero

que acorde assustado e acabe com a brincadeira. E mesmo

inconsciente, o corpo do meu chefe tem vida própria e seu membro


passa a rapidamente endurecer na minha mão.

Especialmente aventureira, depois de ter tido os melhores

orgasmos da minha vida, me ajeito para ficar com o rosto próximo


do seu pau. É perfeito, grande e cheio de veias, como o resto do

seu corpo. O meu lado devasso apita, então coloco a língua para

fora e lambo delicadamente a cabeça robusta.

O problema é que não sou paciente e nem delicada e,

depois de mal ter começado, engulo o membro grosso o máximo


que consigo. E por mais que o sexo oral seja para o prazer do

parceiro que está recebendo, o que sinto em fazer deve ser tão
grande quanto o dele. Não é a primeira vez que chupo o pau desse

homem, e nem que me sinto pingando com o ato.

John começa a se mexer. Está despertando, eu sinto a

sua respiração mais acelerada e então, com a intenção de levá-lo


ao delírio, como fez comigo quando me chupou, o tomo com mais
rapidez e vigor.

O meu chefe não demora a entrar na festa, e a melhor


parte se inicia quando ele mesmo começa a meter o membro na

minha boca, forçando o quadril para cima e para baixo.

— Você é uma safada, Manuella Ortega. Que bela forma

de acordar o seu homem — diz com a sua típica voz de sexo, que
chamou a minha atenção desde o início.

Meu homem...

Eu queria que fosse mesmo o meu homem. Que mulher

não iria querer?

Quando acho que já foi o suficiente, antes que goze na


minha boca, solto o seu mastro, monto em suas pernas e o coloco

dentro da minha boceta. Com ele deitado de costas, e eu com as


duas mãos apoiadas no seu peito, começo a quicar, sentando-me

fortemente no meu chefe gostoso.

E agora que tomei a iniciativa, eu que vou ter o controle

da transa. Penso nela como uma recompensa por todas as vezes


em que o quis com tanta loucura. Quando o via na empresa, dentro

de sua sala e durante todas as nossas discussões.

Estou sentando-me no seu pau por todas as vezes que


neguei, e disse para mim mesma que nunca iria acontecer. Mas está

acontecendo e é bom. Bom pra caralho!

— Esfola o meu pau com essa boceta gulosa, sua

cachorra! — ele grunhe entredentes.

— Cafajeste — o xingo, e depois passo as minhas unhas

com mais força que o recomendado no seu pescoço. — Gostoso,


você é um gostoso — digo e quico.

— Com mais força, porra! — Ele puxa os meus braços e


eu caio deitada no seu corpo.

John Harper segura os lados dos meus quadris, toma o

controle em suas mãos e passa a arremeter com a força de que


necessito.

— Assim, chefinho...
As nossas pélvis permanecem se chocando por longos
minutos e o som dos nossos corpos é alto. Fico contente, porque
imagino que tem toda privacidade e não tem vizinhos ouvindo o

escândalo que estamos fazendo, principalmente eu.

O loiro goza antes de mim, mas eu faço em seguida. O

bom é que não vou desabar, pois estou com o corpo em cima do
seu, e fico por mais um tempo depois que acaba.

— Acho que chegou o famoso momento de você me

mandar ir embora de sua casa — digo com a voz arrastada. Ainda


estou lânguida por causa do sexo.

John me ouve, mas, antes de me responder, troca as


nossas posições, me deita de costas na cama e fica com o corpo

parcialmente em cima do meu.

— Não vou pedir para que vá embora — diz.

— Não?

— Bom, já que temos um acordo, podemos começar a

treinar para quando vir morar aqui — diz.

— Não vou dormir no seu quarto — afirmo. É perigoso

demais.
— Mas hoje vai — assevera ao beijar o meu pescoço. A
verdade é que, depois de tudo que fizemos, quero ficar.

— Mesmo que tenha te atacado enquanto dormia e


esquecido da camisinha?

Sim, ela foi esquecida, e eu poderia ter nos colocado em

uma situação difícil.

— Você corre o risco de ficar grávida? — indaga,


aparentemente calmo.

— Não, eu tenho um DIU.

— E eu estou limpo. Faço exames esporádicos, então

não tem problema de ter gozado dentro da sua boceta.

— Não tem — digo, e gosto quando me beija com

carinho. Também fico surpresa por ele ter se importado se havia

risco de uma gravidez, mas não com doenças sexualmente


transmissíveis, considerando que não perguntou a respeito dos

meus exames.

Prefiro me iludir e acreditar que se trata de uma prova de

confiança.

Nós ficamos em um namoro preguiçoso, assim como da

primeira vez, durante um bom tempo, até que, não sei em que
momento acontece, acabo dormindo novamente. Dessa vez,

provavelmente tendo notado que eu não aguentaria mais, pois as


primeiras foram intensas, não acordamos para mais uma rodada.

Desperto depois de algumas horas à força, porque a

cama é tão maravilhosa que eu poderia ficar o dia inteiro dormindo


sobre ela. Na verdade, tudo sobre o lugar onde o meu chefe mora

me agrada, e nem é por ser caro, mas sim por ter personalidade,

por parecer que seu dono gosta de estar aqui e convida quem vem

a querer ficar mais um pouco.

Mas acho que o meu convite já está vencido e então,

antes que tenha a chance de ele mesmo dizer, sento-me. Estou

bêbada de sono, e acredito que o meu cérebro se programou para

esse momento.

Meio grogue, me levanto e dou uma olhada para o

homem gostoso, que dorme tão profundamente que não deve

acordar tão cedo. Vejo quando ele se mexe, vira de lado e estica o
braço para onde eu deveria estar. Não encontrando nada, abraça o

travesseiro em que deitei a minha cabeça.

Nem parece que é um homem acostumado a dormir

sozinho...

Não pense nisso, Manuella Ortega!

Balanço a cabeça para expulsar as ideias erradas, e

andando na ponta dos pés para não fazer nenhum barulho, saio do
quarto. Preciso encontrar a minha bolsa e o meu celular. Ao chegar

à sala, saio catando rapidamente as minhas roupas. Olho para

todos os lados à procura de um banheiro, mas acabo desistindo de

tomar banho aqui.

Posso fazer isso em casa quando chegar. É melhor do

que passar pelo momento constrangedor da manhã seguinte. Com

as peças nas mãos, guardo a calcinha e o sutiã dentro da minha


bolsa e opto por colocar apenas o vestido. Antes de sair, mando

uma mensagem para o Tito, sabendo que não precisarei esperar

mais do que dez minutos.

Ele é rápido e estranho, como se fosse um robô.

Ao olhar na tela do celular, noto que ainda são seis e

meia da manhã e, felizmente, a minha mãe também não estará


acordada quando eu chegar em casa.

Tentando não pensar no que fiz, nem em como será


daqui para frente, e ignorando quão sensível o meu corpo está,

passo ligeiramente os dedos pelos meus cabelos. Olho em volta

para ter certeza de que não estou deixando nenhum rastro meu,

nada além da camisinha descartada na sua lixeira.

Na portaria do prédio de luxo, não espero mais do que

dez minutos para que o carro pare para me pegar. Esperei com

certa tranquilidade, pois mesmo se o John acordasse antes da


minha partida, não teria como ele prever a hora em que desci. Além

do mais, eu teria que ser mais presunçosa do que sou para acreditar

que ele iria tentar me impedir de ir embora.

Em casa, e já trancada no meu quarto, felizmente a

minha irmã mais nova dormiu fora, a primeira coisa que faço é

deixar a bolsa e o celular de lado e tirar o meu vestido. Só agora

que estou segura, consigo prestar atenção no meu corpo e em suas


reações.

Enquanto caminho para o banheiro, por exemplo, sinto

que entre as minhas pernas está levemente dolorido, e até o fato de

ter ficado mais tempo do que estou acostumada no dia a dia com
elas abertas deixou os músculos das minhas coxas tensos.
Na frente do espelho, podendo ver melhor, as manchas

de chupadas nos meus seios são gritantes e, quando as toco, é

quase como se pudesse sentir como e quando surgiram. Mas o que

causa horror é subir o olhar mais para cima e ver que existem mais
duas delas no meu pescoço, uma do lado direito e a outra do

esquerdo.

E elas são mais escuras do que as que estão nos meus


peitos. Parece que John queria garantir que todos vissem que elas

estão aqui. Não é possível que o tesão fosse tão grande que deixou

o homem burro, que o fez esquecer o quanto seria impróprio chegar

na empresa toda chupada.

Mas do que estou falando? Eu deixei que me marcasse e,

naquele momento, nem pensei no que viria depois. Quando me

entreguei, finalmente, para o homem que mais desejei na vida, me


entreguei sem reservas e sem pensar no depois.

E mesmo frustrada por ter me deixado ser marcada

dessa forma, não fico remoendo o assunto. Prefiro ser otimista e

acreditar que na segunda, quando chegar à empresa, elas já terão


desaparecido.

Ao entrar debaixo da ducha morna, permito-me reviver

cada detalhe da madrugada. O meu corpo permanece sensível, e


quando toco entre as minhas pernas para lavar cada resquício do

prazer que ele me proporcionou, sinto como se ainda estivesse em


mim. É a mesma sensação de quando uma pessoa fica muito tempo

dentro de uma piscina e quando sai continua por um tempo sentindo

o peso da água.

Ontem a gente falou que seria a única vez. A


oportunidade que demos a nós mesmos de tirarmos a atração sem

sentido dos nossos caminhos. E agora, pela forma como estou me

sentindo, depois de ter o tocado e sido tocada de todas as formas, e


sabendo que permitiria que fizesse muito mais, acredito que foi uma

boa escolha.

É bom que tenhamos estabelecido a regra de somente


uma noite, e foi algo que não teve nenhuma relação com o nosso

iminente acordo, pois da forma como foi perfeito, eu poderia

perfeitamente fazer a burrice de não só me viciar no sexo como me

apegar mais do que deveria ao homem.


CAPÍTULO 22

MANUELLA
— Bom dia, mamãe. — Arrumada para voltar ao trabalho,

depois de uma semana em casa, entro na cozinha e dou um beijo


na cabeça da minha mãe, que está sentada à mesa. — Já estou de

saída.

— Nem pensar, sente-se e tome o seu café com calma.


— Eu poderia protestar, mas ainda tenho alguns minutos para tomar

café e dar um pouco de atenção para ela, que ainda está muito
preocupada.

Sinto-me culpada por ter mantido o silêncio nos últimos


dois dias, mas fiz porque não tinha nada acertado ainda. Através de

mensagens de textos, via WhatsApp, o meu chefe e eu terminamos


de acertar todos os detalhes de como os próximos seis meses, em

que teremos um acordo, vão funcionar.

Discutimos principalmente as cláusulas que eu queria

acrescentar ou tirar, e o principal corte foi referente ao sexo. Algo


nela me incomodava, tudo aquilo sobre a forma como deveríamos

agir, se iríamos ou não sair com outras pessoas. No fim, chegamos


a um consenso de que como já fizemos sexo, a questão ficará em

aberto, embora eu tenha dito para ele ontem mesmo que foi só
aquela vez.

A partir de hoje, o acordo de fingir ser a namorada e


depois noiva do milionário John Harper se tornará mais sério, o

teatro será maior, e eu sinto um frio na barriga só de pensar nisso. O

meu talento para atriz começará a ser posto à prova, mas vou fazer
valer cada centavo, e o poderoso chefinho vai sair dessa como o

diretor-presidente do grupo Harper.

No que depender de mim, ele vai.

— Aconteceu alguma coisa? — Dona Abigail pergunta. —

Está com o olhar perdido.

Ela é muito observadora e soube no sábado que eu havia

dormido com um homem, mas não fez perguntas sobre as marcas

escurecidas no meu pescoço. Não perguntou com quem eu havia

dormido. Na verdade, fora o Dante, que causava preocupação, ela

nunca perguntou. Se atém aos avisos para que eu seja cuidadosa.

— Eu estou bem, dona Abigail. Na verdade, mais do que

bem — digo.
— Eu também estaria se estivesse com o pescoço todo
chupado como você está. A noite de sexta deve ter sido

movimentada, não é, mana? — Mika se senta na cadeira ao meu

lado, e me deixa sem jeito na frente da nossa mãe.

Ela está falando sobre isso desde o momento em que me

viu com as marcas. E não é porque sou uma mulher madura e

divorciada que não fico sem jeito na frente da nossa mãe. Ela não é

careta, eu que sou safada demais e não tenho nem coragem de

pensar nas coisas que John e eu fizemos em uma única madrugada

na frente dela.

— Esquece isso, Mika. Cuide da sua própria vida sexual

— peço. Nossa mãe apenas nos observa.

— Eu cuido até demais. Você sabe disso — fala e passa

o dedo no meu pescoço maquiado.

Dois dias ajudaram a amenizar cinquenta por cento das

evidências, mas ainda são visíveis e nem um quilo de maquiagem

as esconderam totalmente. Já até me imagino aguentando as

provocações das meninas no trabalho.

— Tudo bem então, garota dos três namorados — falo e

nós duas sorrimos.


Mas a nossa mãe não sorrir. Ela não para de pensar no

risco que corre a sua amada casa, e acredito que, agora que o meu
chefe e eu acertamos tudo e só faltam as nossas assinaturas, está

na hora de contar para as duas sobre o que vou fazer, porque não
posso aparecer de um dia para o outro com um milhão na conta
sem dizer como o conquistei.

— Sobre a questão com a casa, tenho que conversar


com vocês — começo. — Não precisam se preocupar, porque não

vamos perder a nossa casa sob hipótese nenhuma — assevero, as


duas me olham com surpresa.

— O que você fez, filha? — Agora, o rosto da minha mãe


é de preocupação. Ainda nem comecei, mas ela já sabe que fiz
besteira.

Mika ainda está apenas curiosa. Para ela, é como se eu


fosse um ídolo. Me admira desde que era novinha e nada do que eu

faço é errado para a minha irmã mais nova, mesmo que seja.

— O meu chefe, de quem vocês devem ter ouvido falar,

porque é impossível que alguém nesta cidade não conheça John


Harper...
— O lindo, loiro e gostoso, John Harper. — A pentelha me

interrompe para suspirar.

— Ele fez uma proposta para mim e eu aceitei — digo,

como se fosse simples. Na verdade, é simples, os sentimentos que


não são.

— Que proposta?

— Um milhão de reais, em troca de fingir durante seis

meses que temos um relacionamento sério. Ele quer que eu minta


para a sua família que serei a futura senhora Harper.

— Nossa! Isso parece enredo de novela — Mika, que


aceita tudo com muita leveza, fala. — Eu faria de graça, desde que
a parte do sexo fosse real... Espera um segundo! Foi o seu chefe

que deixou essas marcas no seu pescoço?

— Isso não importa! — digo, preocupada com o que vejo

no rosto da minha mãe. Mas sabia que a sua reação não seria boa
e, ainda assim, não faria diferente. Tudo que farei é principalmente

por ela e toda uma vida de memórias que tem nesta casa.

— Manuella Ortega, responda ao que a sua irmã


perguntou — a senhora exige, e imagino para onde os seus
pensamentos estão indo, apesar de estarem completamente
equivocados.

Eu não estou me vendendo. Transei com ele porque quis


e não teve nada com o acordo que faremos.

— Sim, eu estive no apartamento dele na sexta para dizer

que aceitava a proposta que havia me feito — digo.

— Você foi se vender — mamãe fala com tristeza.

— Não, eu fui salvar a nossa casa e o nosso futuro.

— Vendendo-se como um objeto? — ela ataca.

— Mãe, deixe a Manu falar. Ela sempre faz o melhor pela


nossa família — Mika me apoia e não é surpresa.

— O fato de ter feito sexo com aquele homem não tem


relação com o contrato. Fiz porque sou uma mulher adulta e tenho
vontades. Eu não estou me vendendo como uma prostituta, como a

senhora pensa, dona Abigail. As coisas serão como acabei de falar:


fingimento. Mas quero que as duas saibam que, se fosse preciso, eu

faria qualquer coisa. Por vocês, faria coisas que não faria nem por
mim mesma.

— Filha, pense bem. Essa gente é tão diferente de você.


Eu sou mãe, e o meu coração me diz que você vai sofrer muito no
meio de toda essa mentira — ela fala e eu sinto um arrepio, porque
mamãe tem a intuição forte. — Deve haver uma outra forma de
quitarmos as prestações atrasadas e continuarmos pagando o

empréstimo.

— Não há, dona Abigail. E mesmo se houvesse, seria

difícil e demorada. Não vou arriscar. Além do mais, o dinheiro que


vou ganhar será suficiente para pagar a dívida e tirar um pouco os
nossos pés da lama — falo, pensando no futuro.

— Não espere que eu te apoie nessa loucura, assim

como não apoiei o namoro com aquele Dante, que começou quando
mal tinha se separado. O tempo não demorou para te mostrar que

eu estava certa.

— E mesmo que não me apoie, vou fazer isso, mãe. Um

dia a senhora vai me entender — digo e pego a minha bolsa,


desistindo de tomar café.

— Eu te entendo, Manu. Faria igual se fosse necessário

— Mika afirma. O seu apoio incondicional é importante para mim.

— Obrigada, querida — beijo o seu rosto e me levanto da


cadeira.
Antes de deixar a cozinha, volto novamente para a minha

mãe e falo.

— Espero que um dia me entenda e me perdoe por

sempre fazer o que a senhora não apoia — falo, engolindo o choro.

Não sou de chorar e não vou fazer isso agora. — A partir de agora,
para todos os efeitos, e sempre que alguém perguntar, sou a

namorada de John Harper, o vice-diretor do grupo Harper de

construtoras.

**

Durante o caminho até a empresa, tento esquecer-me da

conversa difícil, embora esteja aliviada por não estar mais mentindo.

Não contei que o nosso acordo já havia começado, que o motorista


é um fruto dele. Esse eu havia feito por mim, e estou bem com isso.

Não contei porque não havia motivos para contar.

— Você acha que sou uma pessoa péssima e de caráter

duvidoso, Tito? — pergunto para o calado.

— Não. A senhorita é ótima. — E isso é tudo o que o

homem diz.

Se esperava por consolo, não o terei saído da boca do


meu motorista.
Falando nele, Tito consta como umas das cláusulas,

discutidas através de mensagens nos últimos dois dias. Pensei que

fosse haver uma espécie de desconforto entre o meu chefe e eu,


mas nós dois conseguimos superar com maturidade e falamos como

adultos que somos.

Na primeira mensagem, o loiro disse em tom de

brincadeira que sentiu a minha falta na cama ao acordar. Bom, eu


supus que estava brincando, considerando os emojis de carinhas

sorrindo que me mandou.

Mas eu sei que ficou contente por não ter precisado lidar
comigo ao amanhecer. Deveria me agradecer por ter facilitado a sua

vida.

Fui eu quem comecei a falar sobre o contrato e, uma por

uma, repassamos o que poderia ser mudado, excluído ou


acrescentado. Ficou bom para nós dois, e agora estou menos

nervosa do que deveria. No meio de toda a troca de mensagens, o

homem teve tempo para flertar comigo, apesar de eu ainda não ter

certeza se falava sério ou tentava me provocar.

Como fiz durante todo o fim de semana com cada uma

delas, antes de chegar ao edifício desbloqueio o meu aparelho

celular e releio as nossas conversas.


No sábado pela manhã.

Senti falta de uma mulher gostosa, com quem tive


momentos de prazer há algumas horas. Perdeu a oportunidade

de ser acordada com a boceta sendo chupada.

Essa eu não respondi.

Na parte da tarde de sábado.

Esqueci de perguntar, como está a sua bocetinha?

Dolorida? Espero que ainda esteja me sentindo, porque tenho a

sensação de que ainda está quicando no meu pau.

Releio com um sorriso que não deveria estar aqui.

Mal consigo tocar nela. O meu pescoço está todo

chupado. Como vou aparecer assim na segunda?

Enviei. Ele tinha que saber o que fez. Além do mais,


todos saberão quem foi o culpado, já que estamos juntos,

supostamente.

As marcas são ótimas para a minha fama. Sinal de

que dou prazer para a minha mulher.

É estranho como o meu coração sempre erra a batida

quando leio: minha mulher.

Não sou a sua mulher.


Para todos os efeitos, você é, sim.

Releio.

E saiba que você não é a única. Veja só o que fez

comigo, gata selvagem.

Junto com a mensagem, John Harper enviou uma foto em

alta qualidade do seu pescoço, cujo lado direito ostentava as

marcas das minhas quatro unhas. Eu o arranhei, e não me lembro


em que momento do nosso sexo duro fiz.

Devo me desculpar?

A mensagem que mandei foi uma leve provocação. Eu

brincando com o fogo.

Deve fazer mais uma do outro lado.

As palavras vieram acompanhadas de um emoji

piscando. E por mais que quisesse continuar, precisei frear a nós

dois.

Um sorriso besta se abre na minha boca quando me

lembro que o espertinho se aproveitou para tratar do nosso acordo

entre as nossas mensagens sacanas. Em meio as muitas

mensagens que trocamos, existem as que discutimos o nosso futuro


e as cláusulas do contrato, mas os meus olhos não se demoram
nelas, prefiro reviver o prazer que foram as nossas provocações

através desses textos.

Não terá mais uma dessas. A gente disse que seria só

uma vez para tirarmos a atração do nosso sistema.

Você está certa. Acabou!

Não deveria me frustrar por ter aceitado as minhas


palavras fácil demais.

Conseguiu aplacar todo o tesão que sentia por mim

em uma única noite?

Ele mandou em seguida.

Não, e você?

Fui sincera, mais para saber da sua resposta do que pela

predileção de falar sempre a verdade.

Desejo você com mais intensidade do que quando só


imaginava como seria perfeita na cama.

E embora não devesse, gostei muito do que li, apesar de

ter ido contra o que ele havia dito antes sobre ter acabado.

Depois da última mensagem, passei o resto do sábado

sem falar com ele. John também não enviou mais nada.
Apenas ontem à noite, quando já estava preparada para
dormir, mandou três mensagens, bem mais sacanas do que as

anteriores.

Eu fiquei o fim de semana todo em casa.

E por que é importante que eu saiba dessa informação?

Enviei.

Pensei que pudesse vir cuidar do seu namorado.

Porque talvez eu esteja doente. Ou talvez ainda esteja acabado


por causa de certa boceta apertada, gostosa e viciante.

As suas palavras continuam me surpreendendo, pois, por

um momento, acreditei que estivesse levando a sério a conversa de

que agiríamos o mais naturalmente possível, sem falarmos ou


pensarmos em sexo a cada meio minuto.

Sobre os elogios a minha vagina, não é comum, mas eu


gostei. Vindo de alguém que não é só palavras, gosto de tudo,

principalmente se tenho as lembranças de como as palavras fazem


sentido quando ele entra em ação.

Poderia pensar que você está obcecado pela minha

vagina.
Não deveria, mas enviei uma mensagem que o
incentivava a continuar com o assunto.

Mas eu estou. Quer ver?

Eu sabia qual era a resposta certa, no entanto, respondi:

Quero.

A próxima imagem que veio, a que não vou apagar


nunca, foi do seu membro duro, marcando a frente da sua boxer. Só

não entendi por que estava apenas de boxer no sofá. Me perguntei


se o exibido não havia tirado o resto da roupa para mostrar a ereção
para mim.

Por minha causa?

Perguntei, e fiquei excitada só com a possibilidade de que


fosse por mim. Apenas por mim.

Por quem mais seria? Foi a última garota com quem

transei.

Devo dar os parabéns?

Enviei, brincando com o perigo.

Poderia vir aqui dar uma chupada nele, e eu digo se

esperava ou não. Seria um presente pelo bom comportamento.


O pior de tudo foi que eu pensei realmente em ir, e foi o
suficiente para fazer com que acordasse para a realidade. Apesar
do que a interação possa parecer, não somos um casal de

namorados.

Boa noite, chefinho. Até amanhã.

Enquanto releio a mensagem de despedida que enviei,


lembro-me de como foi difícil agir com sensatez, quando queria

muito continuar.

Tenha bons sonhos, morena.

— Senhorita Ortega — ouço a voz do Tito fazendo eco,


então desperto para o mundo à minha volta e percebo que enquanto
estava entretida com as mensagens, chegamos à empresa.

— Eu estava distraída. — Sorrio pelo retrovisor, mas não


sou retribuída. — Tenha um bom dia, Tito — falo ao ajeitar a minha
bolsa no ombro e deixar o carro.

Passo bem rápido pela recepção e entro no elevador sem

olhar direito para as pessoas, porque tenho a impressão de que


todos não só estão vendo as marcas no meu pescoço, que preferi
não cobrir com um lenço, mas que sabem com quem foi que me
diverti na sexta. Mas é uma paranoia minha, porque coloquei tanta
base e pó nas marcas que elas estão praticamente imperceptíveis.

Apenas pessoas muito curiosas, além do próprio John,


notariam elas no meu pescoço.

E por falar em pessoas curiosas...

— Bom dia, miss Colômbia — Ana Júlia é quem primeiro

fala quando ajeito minha bolsa sobre a mesa, mas ambas me olham
com curiosidade.

— Bom dia, meninas — devolvo e, agindo de modo

suspeito, sento e já ligo o computador. Geralmente, perco uma hora


jogando conversa fora com elas. Só quando os assuntos se

esgotam que lembro que estou aqui para trabalhar.

— Nós temos uma fofoca para te contar — Sara começa.

Não imagino o que possa ser, considerando que elas me


contaram tudo sobre a última semana através do grupo que temos
no WhatsApp. Foram os meus momentos de descontração para os

dias em que não fiz nada que não fosse pensar no meu chefe e na
audaciosa proposta.

— O seu chefinho, e espero que seja nosso também em


breve, que o Tales não me ouça, chegou há pouco com um
arranhão nada discreto no pescoço. Como você é a namorada dele,

presumimos que foi você. Se não foi... — Teresa faz uma careta e
deixa o resto da frase no ar.

Se não foi, para elas significa que sou corna. De qualquer

forma, seria impossível, porque não temos nada que o impeça de


transar por aí, além de ter sido a autora da obra de arte.

— Mas é claro que foi ela, meninas. — Atenta, Ana Júlia


pega os óculos e vem para perto de mim. — Licença. — Na minha

frente, a mulher coloca delicadamente a minha cabeça de lado e


analisa o meu pescoço.

Sabe o que falei sobre pessoas curiosas? Então, as

minhas amigas são as pessoas mais curiosas que já conheci.

— O pescoço da Manu está todo chupado — Ana avisa

para as outras, que se levantam de suas cadeiras.

Estou sendo atentamente analisada, como uma peça em


exposição no museu.

— O fim de semana foi bom? — Sara me provoca.

— Mais especificamente, a noite de sexta — falo com um

sorrisinho, afinal, não estou mentindo. Transei mesmo com o meu


suposto namorado.
— Vou fazer uma pergunta, mas só responda se quiser,
afinal, estamos falando do seu namorado — Sara começa, e já sei
que vem constrangimento por aí.

— Pode mandar que hoje eu estou sem papas na língua


— brinco.

— Só hoje? — Teresa rebate e todas sorrimos. É verdade


que me abri para elas como um pavão no primeiro dia que cheguei

aqui.

— Eu quero saber se o pau dele é grande e bonito quanto


o rosto e o resto. — E aí está, a pergunta desconcertante para uma

pessoa tímida, que no caso, não sou eu.

— É tudo isso e muito mais. E se eu soubesse que vocês


tinham interesse de saber como era o pênis do meu namorado, teria

falado desse pequeno — faço aspas com os dedos — detalhe


antes.

— Nunca é tarde demais. Vamos, já pode começar —


Ana me pressiona, mas o telefone toca bem quando eu ia começar
e faz eu e as mulheres em pé na minha frente tomarmos um susto.

— Manuella Ortega, secretária de John H...


— Venha até a minha sala, por favor. — O som da sua
voz faz com que eu me arrepie. É o Tales.

— Algum problema? — pergunto.

— Preciso falar de um assunto importante, e você é

funcionária da empresa, não só do meu primo.

— Só um momento — digo e desligo.

— Que cara é essa?

— O seu chefe me chamou na sala dele — digo ao me


levantar.

Enquanto caminho para a sala do concorrente direto, e


primo do meu namorado para todos os efeitos, sinto-me nervosa,

pois com certeza não está me chamando para dar boas notícias, ou
por sermos muito amigos.

Merda! Vou colocar tudo a perder antes mesmo de


começarmos.
CAPÍTULO 23

JOHN
Eu saio da sala quando a morena está entrando na do

meu primo. O fato me surpreende, ideias de traição e jogo duplo


passam pela minha cabeça, mas logo as dissipo.

A morena não parece ser o tipo de pessoa que joga


baixo. Mas, por via das dúvidas, a sigo e paro com o ouvido bem
perto da porta por onde entrou.

— Embora não trabalhe para você, devo perguntar:

precisa de alguma coisa?

Sinto a petulância e a ironia em suas palavras. E agora

que não são dirigidas a mim, gosto da sua língua ferina, sobretudo,
usada contra esse idiota.

— Sente-se, por favor. — Ouço Tales dizer. Tenho que

me esforçar um pouco, praticamente entrar na sala para ouvir


direito.

Felizmente, a gostosa deixou a porta entreaberta. Aposto


que foi de propósito.

— Estou bem aqui — ela diz.


— Como você parece já ter uma ideia formada sobre

mim, e que de nenhuma forma condiz com a verdade, vou direto ao


ponto.

— Gosto de pessoas diretas.

— Quanto é que o meu primo está te pagando para dizer


que estão namorando? Sim, porque é difícil de acreditar que chegou

aqui ontem e já conquistou John Harper, o homem mais averso a

monogamia que existe.

Isso não é verdade. Só nunca tive motivo para acreditar

que uma mulher era boa o suficiente para ser apresentada para os
meus avós.

— Não que eu ou ele tenhamos que te dar explicações,


mas as pessoas se apaixonam, sabia? Foi o que aconteceu com a

gente. Nos apaixonamos.

— O meu primo, apaixonado por uma secretária... —

Tales dá uma risada desdenhosa, que me faz sentir vontade de

socar a sua cara. Preconceito de classes é tão a cara dele. Mas não

admito que faça isso com a Manuella. — Seja qual for o valor que

ele te prometeu, posso dar o triplo, só me diga quanto, querida.


— Não sei do que você está falando — ela se mantém
firme. E se já não tinha dúvida de sua lealdade, agora tenho a prova

concreta.

— Você sabe que seu nome ficará na lama se for pega

conspirando com o seu chefe, não sabe? Com ele não vai acontecer

nada, já com você...

Porra! Mas quem esse imbecil pensa que é para a


pressionar dessa forma?

— Eu espero não estar atrapalhando a conversa de


vocês — digo ao entrar na sala e abraçar a minha suposta

namorada pela cintura.

Manuella está tensa.

— Aposto que estava ouvindo atrás da porta. É tão a sua

cara fazer esse tipo de coisa, priminho — Tales me provoca.

— Como é a sua cara falar asneiras para a namorada dos

seus concorrentes? — Rebato. — O que você pensa que sabe,

cara? Ela e eu estamos juntos, mesmo que não aceite isso. E, para

que saiba, a vovó adora a minha mulher.

— Quero ver se vai manter a opinião quando eu

desmascarar vocês dois — fala. — Porque mais dia ou menos dia,


isso vai acontecer, e aí, sim, a presidência do grupo estará na palma

da minha mão.

— Não vou ficar aqui ouvindo besteiras! Vamos querida.

— Mantenho-me firme quando saímos, mas estremeci quando fez


ameaças sobre me desmascarar.

Seria o meu fim, ele está certo.

Mas não vai acontecer. Manuella é leal, temos um


contrato, e ela jamais me trairia.

— Vamos para a minha sala — aviso e seguimos.

— Como ficou sabendo que eu estava com ele? —


Indaga quando fecho a porta atrás de nós.

— Estava saindo daqui quando você entrou na sala dele

— explico ao parar na sua frente. Não a toco ainda, embora queira


fazer exatamente isso.

As palavras do Tales a deixaram assustada, sei disso.

— Ouviu tudo o que ele falou, não foi? — A pergunta é

retórica. — Se algo der errado...

— Eu não vou te deixar na mão em hipótese alguma. E

não seremos descobertos, querida. Além de nós dois, apenas o meu


melhor amigo sabe que temos um acordo, e ele jamais me trairia —

garanto e, agora sim, faço carinho nos seus braços.

— Tudo bem — diz e abre um sorriso fraco. — Fraquejei

por meio segundo, mas estou pronta para a guerra. Onde eu


assino? — brinca, totalmente recuperada da tentativa do Tales de

desestabilizá-la.

— Eu estou com o contrato corrigido, e agora quero que


leia ele com bastante atenção, antes de assinar — oriento.

Afasto-me dela, pego a papelada em cima da mesa, uma


caneta e os entrego em suas mãos. Aponto para o sofá e a mulher

me olha com curiosidade.

— Por que tenho que ficar aqui enquanto leio? —

questiona.

— Porque o sofá é mais confortável do que a sua cadeira.

— Tente outra vez, agora a versão verdadeira.

— Porque eu quero te olhar enquanto faz isso. A visão de

suas pernas é a melhor que terei nessa manhã de segunda-feira —


aviso e a morena linda sorri.

Ainda penso constantemente no sexo que fizemos na


sexta, ainda estou frustrado por ela ter ido embora antes que eu
tivesse a chance de convencê-la a passar o fim de semana inteiro
na cama comigo.

— Tudo bem. Vou ficar ali, mas só porque o seu sofá


deve ser muito confortável mesmo — diz e sai rebolando a bunda
grande.

Eu não tiro os olhos até que se sente. Como uma espécie


de uniforme, quase todos os dias da semana a minha secretária
vem trabalhar com suas saias sociais justas, muito justas, camisas,

que na maioria das vezes são brancas, e saltos altíssimos. Aqui


costuma usar maquiagem leve, com exceção do batom vermelho, e

os cabelos presos.

Bem profissional, mas uma profissional gostosa, do tipo

que mora na fantasia dos homens que sonham em comer as suas


secretárias. A minha saiu direto dos meus sonhos eróticos.

Enquanto ela lê com atenção a pilha de folhas, que foi


redigida nos termos exatos que discutimos, até tento trabalhar em

uma das contas mais importantes que o grupo tem no momento, e


que vai me fazer mostrar ainda mais a minha capacidade, mas é
impossível me concentrar tendo a Manuella no meu sofá.
Alheia a mim, pelo menos é o que eu acho, ela morde o
bocal da caneta que lhe dei, e só consigo pensar na sua boca
lambendo o meu pau na sexta. A mulher me acordou no meio da

madrugada para transar. Nem nos meus maiores devaneios


imaginaria uma mulher perfeita assim.

Sei que deveria ter juízo e seguir com a sua ideia de não
envolver mais sexo no nosso acordo, mas eu já havia dito a mim
mesmo que Manuella Ortega seria minha, e ela foi. Foi minha

naquela madrugada intensa, mas não aplacou nem um por cento do

desejo que me consome.

E depois que a experimentei, o vício se tornou maior.

Passei o fim de semana sem procurar outra mulher que não fosse

ela através de mensagens, porque o meu corpo, no momento, está

programado para desejar somente o de Manuella. E não é algo que


me assuste, pois sei que uma hora ou outra vai passar, mesmo que

não seja tão rápido como foi com todas as outras.

E quando passar, nós dois seguiremos com o plano como


dois adultos, pois ela parece ser uma mulher madura e prática o

suficiente para não misturar as coisas. A verdade é que aceitei

aquela bobagem de “apenas uma noite” da boca para fora, porque

estava pensando com a cabeça do pau naquele momento. Mas


agora, e apenas porque queremos, algo que não tem nada a ver

com o contrato, a farei querer que o nosso caso continue.

— Contrato assinado, chefe. — Ouço-a. — Agora é a sua

vez. — Antes que pense em se levantar, saio de trás da minha

mesa, tranco a porta e depois me sento ao seu lado no sofá.

Pego os papéis de suas mãos e, ao lado do seu nome,

finalmente assino o meu, depois coloco os papéis longe.

— Pelo prazo de seis meses, você será minha — digo. —

Minha namorada, e daqui dois meses, noiva.

— Não sente um frio na barriga?

— Não. Mas posso te ajudar com o nervosismo —

começo, pois dois dias foram o suficiente para me deixar com

saudade dela.

— Não imagino como poderia fazer isso.

— Sim, é claro que sabe — digo ao passar a mão pela

sua coxa macia, subindo perigosamente para entre as suas pernas.


Surpreendo-me com o fato de estar deixando.

Acreditava que fosse resistir mais. Ainda bem que estava

errado e sua saudade é tão grande quanto a minha.

— Alguém pode nos ver — diz.


— Eu tranquei a porta.

— Não deveríamos fazer isso aqui e nem em lugar

algum. Vai complicar tudo.

— Talvez eu goste de algo complicado — digo e a beijo.

E apesar do protesto, Manu retribui, deixando que eu

enrole as nossas línguas. Por um tempo, como se não estivéssemos

no nosso local de trabalho, ficamos trocando beijos quentes.

Em algum momento, não sei dizer quando, ela para em


cima das minhas pernas, com os botões da camisa abertos e a saia

justa enrolada na cintura.

— Isso está errado, John. Alguém pode precisar de mim


ou de você... No pescoço, não! Você já fez o suficiente na sexta —

enquanto fala, não para de rebolar em cima do meu cacete duro.

— Você me arranhou — aviso.

— Posso arranhar o seu rosto dessa vez, se não me


deixar sair dessa sala com a dignidade intacta. Transar com o chefe

na sala dele é muito errado — se esfregando em cima de mim,

usando a força que ainda tem para resistir, Manu fala.

— Não sou o seu chefe, sou o seu namorado. — Da

forma como falo, fica parecendo que não acabamos de assinar um


contrato e que o namoro é real.

A minha secretária para o que estava fazendo, olha


dentro dos meus olhos por alguns segundos, e quando penso que

vai me deixar na mão, ela diz:

— Sou uma pessoa horrível, e burra além da conta —


dito isto, a morena segura com firmeza os cabelos da minha nuca e

volta a me beijar. Melhor, volta a me beijar e a se esfregar,

esquecendo-se do protesto de antes.

— Vai foder comigo aqui e agora? — pergunto quando


começa a abrir o botão da minha calça. Tem dificuldade, mas

consegue liberar o meu membro duro sem cair de cima das minhas

pernas.

— Você quer me foder aqui e agora? — Devolve. Esse


seu lado safado me deixa maluco.

Manuella Ortega tem a porra do pacote completo, e eu

devo ter percebido isso quando a importunei no Maresias naquela

noite.

— Passei o fim de semana inteiro querendo isso, querida

— confesso quando afasto a sua calcinha para o lado e toco no seu

sexo molhado e pronto para mim.


— Se masturbou para mim? — pergunta.

— Mais de uma vez. E você?

— Algumas vezes — admite, então segura o meu

membro, o masturba algumas poucas vezes e depois se senta em


cima dele, tomando-o todo dentro de si.

— Caralho! — Esbravejo entredentes, pois a primeira

metida durante a transa é sempre a mais gostosa, pois torna nítida a


sensação de que estou a esticando. A sua boceta se adequando ao

meu pau para me levar. — Puta que pariu!

— É gostoso, não é? — Faz a pergunta provocativa que

não precisa de resposta, mas também faz algo com a musculatura


da vagina, que a faz se apertar em volta do meu cacete.

Fico muito mais justo dentro dela, e é muito, muito

gostoso a ponto de eu poder facilmente gozar sem ao menos dar

uma metida. E quanto mais a mulher me aperta, mas trinco o meu


maxilar, controlando-me para não gozar.

— O que está fazendo?

— Gosta? — A provocadora indaga.

— Muito, porra! Onde foi que... — Não consigo nem falar


direito.
— Uma técnica que treinei — diz.

— Agora relaxe, porque não quero gozar antes de te


comer — peço e a morena obedece. — Pode tomar o meu pau

nessa boceta gulosa, morena — digo.

Para me provocar, porque essa mulher quer a minha

morte, Manu faz movimentos giratórios e lentos, e só depois começa


a sentar em mim.

Com as minhas mãos na sua cintura, ela me fode e tenho

a sensação de que o contrário é mais raro de acontecer. Por incrível


que possa parecer, não me importo. Adoro que ela seja assim,

feroz. Que me domine quando bem entender, mas que me deixe

fazer o mesmo.

— Quero os seus peitos — peço e começo a tirá-los para


fora. A nossa pressa e o fato de estarmos na empresa nos impediu

de tirar as nossas roupas.

— Temos que ser rápidos, John. Não quero que pensem

mal de mim — diz, enquanto quica no meu pau. Gostosa! Nada


como uma rapidinha com essa mulher.

Posso perfeitamente me acostumar.


— Vão pensar que não podemos tirar as mãos um do
outro. Que estamos apaixonados.

— E que você não tem responsabilidade. — Eu poderia

até brochar se não fosse impossível, dado o meu estado de


excitação.

— Então eu vou dar o meu melhor, gata — digo, a seguro

com mais firmeza e a deito de costas no sofá.

Entre as pernas da minha secretária, abocanho um de


seus seios, cubro a sua boca com uma mão para que não nos

denuncie com seus gritos e meto com força e rapidez, chocando as

nossas pélvis

A cadela morde a minha mão, mas não me importo.

Quando estou dentro dela, tudo deixa de existir, até mesmo a dor,
mas não deixo de provocá-la.

— Cadela — sussurro no seu ouvido.

— Hum... — geme e não rebate, já que tem a boca


coberta.

— Por que não estrangula o meu pau como fez na outra

noite? — sugiro. — Faça isso, porque eu poderia perfeitamente


passar mais algum tempo metendo em você sem me cansar. Te
comendo até pingarmos... Porra! Isso, gostosa, aperta o meu pau...
vou gozar.

Quando começo, tiro a mão de sua boca e a beijo, um

beijo sensual, com gosto de desejo. Os seus peitos ficaram de lado,


mas, depois de hoje, acredito que teremos tempo. Ela é minha.
Manuella está nas minhas mãos, no meu sistema e em todo o meu

corpo.

Em busca de apoio enquanto goza junto comigo, aperta


as duas pernas em volta do meu quadril e, completamente colados
um no outro, constato mais uma vez que esse é o melhor sexo que

já fiz, pois Manu e eu somos cem por cento compatíveis. Pelo


menos, no quesito sexo.

E quando acaba, nós nos beijamos de maneira mais

superficial, acalmando as nossas respirações. Com a minha testa


contra a sua, nós dois nos encaramos.

— Foi bom? — questiono, ainda dentro dela.

Vejam bem, eu sei o que faço e como sou bom nisso,


mas preciso de garantias vindo dela, para saber se posso esperar

por mais, porque quero mais.


— Quer elogios? — rebate, ainda me sentindo indo e
vindo lentamente dentro do seu corpo.

— Elogie o meu pau, mulher — brinco.

— Você sabe que entre a gente é bom. Sabíamos que

seria antes mesmo de fazermos. Mas temos que tomar cuidado,


porque não quero... — Ela não termina, pois coloco um dedo em
cima dos seus lábios.

— Não pense muito, querida. Vai dar tudo certo — afirmo.


— A gente é foda junto, não acha? — Ela balança a cabeça, mesmo

que não pareça muito convicta.

Eu dou mais alguns selinhos na sua boca e desfaço a


nossa conexão. Depois a ajudo se levantar, e fico fascinado com o

fato de não ficar nem um pouco desconfortável com o meu esperma


escorrendo por entre as suas pernas.

— Preciso me limpar — diz.

— Venha comigo — chamo-a.

Manu fica surpresa, pois ainda não tinha reparado o


banheiro e o minibar na minha sala. Mas tinha que haver um motivo
para ela ser tão grande, não é?
Enquanto ela está na frente do espelho, dando um jeito
nos cabelos, eu cuido de mim mesmo rapidinho, depois me dedico à

morena. Pego lenços e, atrás de seu corpo, os passo com cuidado


entre as suas pernas. A minha intenção é limpar a bagunça que fiz,
mas sinto o seu corpo, que se torna sensível muito rápido para meu

toque, estremecendo.

— Acho que terei que me livrar dessa calcinha — fala em

um fio de voz, com o olhar ainda preso no meu.

— Não vou conseguir fazer mais nada te imaginando sem

ela.

— O problema será única e exclusivamente seu. — Olha

aí, a língua ferina novamente.

— Você tem razão — digo, então coloco um joelho no


chão e, antes de passar a peça pequena pelas suas pernas, dou

dois beijos, um de cada lado da sua bunda. Ao levantar-me, ajeito a


saia no lugar, depois a vejo colocando a blusa por dentro.

— A calcinha — pede.

— Se quiser tê-la de volta, vai ter que vir pegar, e você

sabe onde — falo.


Não acredito que estou pedindo para uma mulher ir até a

minha cobertura. Na verdade, estou disposto a coagi-la.

Gostei de recebê-la, e não vou pirar, pois isso não deve


significar nada.

— Você não tem medo de brincar com o perigo? Posso

ser uma doida que vai te perseguir em busca de um pedido sério de


casamento, querendo filhos e tudo mais. Como sabe, não estou
ficando mais jovem — diz, e me deixa beijar a sua boca de leve a

cada palavra dita.

— Trinta e dois anos muito bem vividos. E, respondendo


a sua pergunta, eu não tenho medo, porque você é como eu: prática

e nada ligada a esse tipo de coisa. Foi por isso que te quis ao meu
lado nessa disputa. Formamos um bom time.

Eu não tenho certeza de nada do que estou falando,


afinal, há quanto tempo conheço Manuella? Inclusive, é divorciada e
ex-namorada de um amigo meu. Talvez esteja certa. Eu estou

brincando com o fogo.

— É claro, um bom time — ela confirma, então se


desvencilha dos meus braços e volta para a sala. — E pode ficar
com a minha calcinha, tenho muitas parecidas com ela. Não preciso
ir até você para tê-la de volta.

— Mas você vai? — indago. Nem me reconheço, quase

implorando por uma boceta.

— Quem sabe? Nós dois estamos nisso juntos, chefe,


mas sou eu quem mando nas minhas vontades no que diz respeito
ao meu corpo. A gente pode ter um caso, ou nunca mais transar,

sou eu quem decido — ela fala, e não é como se estivesse com


raiva, então abre a porta e deixa a sala.

Surpreso com sua atitude, olho para o sofá e vejo os

papéis com a sua assinatura levemente amassados. O meu estado


de espírito volta a ficar leve, porque eles são a prova de que está
nas minhas mãos e não vai se negar a mim em nenhuma das vezes

que a desejar, porque sei o que quer, e quer o mesmo que eu.

— Essa sala está cheirando a sexo — Pietro fala ao


entrar. — Se você não for um idiota completo para ter trazido uma

mulher até aqui, suponho que tenha transado em cima daquele sofá
com a sua secretária.

— Minha namorada — digo, apenas para que se


acostume com o termo para quando estiver com a minha avó, que o
tem como um neto também.

— É claro, a sua namorada.

— Eu não te chamei. Por que veio?

— Nossa, que grosso! — Pietro e sua sensibilidade. —

Difícil essa vida de ter um hétero top como melhor amigo.

— Deixe de drama, homem — peço. — Aconteceu

alguma coisa? O meu priminho aprontou mais uma?

— Até onde eu sei, vocês dois estão na mesma fase do


jogo. Ambos dando o golpe no qual a vovó quer cair. Quem

convencerá melhor? Isso vai depender de você. — Ele tem razão.


Mas vou ter que contar com o carisma da minha secretária para
continuar conquistando a senhora Érika. — Vim saber se deu tudo

certo. Ela assinou?

— Ali estão os papéis. Preciso que dê mais uma lida para


checar se está tudo certo. — O advogado faz cara de nojo quando
olha para o sofá.

— Eu não vou tocar naquilo — avisa.

— Deixe de besteira, cara. — Vou até o sofá, desamasso


o documento e entrego em sua mão. Pietro os segura com as
pontas dos dedos. — Não vai me dizer que nunca transou com o
seu marido aqui na empresa? — O provoco.

— Por que não pergunta para ele? — diz e sai da sala


batendo os pés. Eu dou uma gargalhada.

Estou muito contente, porque tudo parece estar dando


certo para mim. Fiz a jogada perfeita e, com Manuella ao meu lado,

a subida até o topo será muito, muito prazerosa.


CAPÍTULO 24

MANUELLA
— Devo confessar, estou com inveja de você, mas é uma

inveja do bem — Teresa diz, enquanto arrumo as minhas coisas


para sair no meio do expediente.

— É só um passeio no shopping. — Tento amenizar a


situação, porque é um passeio no meio do meu horário de trabalho
com uma senhora milionária. A avó do meu chefe, o meu suposto

namorado. E não é a primeira vez que algo assim acontece.

Não me sinto bem, mas não posso simplesmente dizer


não para a Érika, embora tenha vontade de fazer, afinal, estou
sendo paga para isso.

— Eu pensei que você seria como todas as outras, Manu,

me perdoe — Sara fala. Ela desistiu de tentar me seduzir, mas não

deixa nunca de lembrar da dança sensual que fizemos no dia em


que John tocou a minha vagina pela primeira vez.

— E como são todas as outras? — Estou me fazendo de

sonsa, porque sei o que acontece com secretárias que abrem as


pernas para os seus chefes.
Teria acontecido comigo se não fosse o contrato? Com

certeza teria acontecido.

— Elas são fodidas na mesa dos caras e depois

dispensadas. — Ana Júlia completa. — E apesar de sabermos que


você é fodida na mesa do chefe, não aconteceu o mesmo que

acontece com todas as outras. Você é a exceção e ele te assumiu.

Mais de um mês de namoro. Nem posso acreditar.

Se elas soubessem da verdade...

— Fazer o que, se o meu charme é irresistível? Até um

homem como John Harper se apaixonou — brinco para amenizar


um pouco o peso que sinto sempre que a enorme mentira que estou

vivendo pesa nos meus ombros.

— Meu sonho era saber se tem mel nessa sua boceta —

Sara fala e pisca com malícia.

— Voltem a trabalhar, eles estão vindo. Menos você,

Manu. É a namorada do chefe. — Agora viradas para os seus

computadores, elas dão risadinhas discretas.

Elas são ótimas por não terem mudado nada comigo,

mesmo que eu seja a suposta namorada de um dos donos desse

império.
— Bom, vovó, vê se não monopoliza muito a minha
namorada, não posso ficar sem ela. — Levanto-me e pego a minha

bolsa antes mesmo de eles chegarem até mim.

Quanto antes sairmos, mais rápido me livro dessa cena

desconfortável para mim.

John se coloca ao meu lado, me abraça e beija

demoradamente o canto da minha boca. Um carinho comum de ele


fazer na frente das pessoas. E apesar do caráter fingido do gesto,

as reações do meu corpo são bem reais.

— Esses jovens de hoje em dia... São intensos demais —

a senhora fala, as minhas amigas balançam a cabeça concordando,

mas concordariam até se a mulher falasse que o céu é verde.

— Volte logo, querida — pede, olhando bem dentro dos

meus olhos. Tenho que prender o olhar no seu, que finge muito bem

que está apaixonado, mesmo querendo desviar.

Sinto dificuldade, mas o nosso acordo está apenas

começando. Um mês se passou desde o dia em que assinei o

contrato e transamos no seu sofá para comemorarmos, mas parece

que foi um ano.


— Não sinta muito a minha falta — digo ao fazer um

carinho no seu rosto bonito e beijar o canto de sua boca como fez
comigo.

Muito perto, a plateia para qual precisamos encenar todos


os dias suspira.

Mas sendo ele quem é, John passa a mão pela minha

bunda quando viro as costas na frente da sua avó.

— Mais respeito, menino! — ela reclama, o homem

apenas sorri.

Érika, que tem a energia de uma jovenzinha, me


convence a bater perna com ela e fazer compras durante duas

horas. Fica o tempo todo tentando me dar presentes, porque, para


ela, tudo que está exposto em qualquer vitrine é a minha cara.

No fim das contas, para não a deixar chateada, acabo


aceitando um vestido belíssimo e o par de brincos. Ambos são

verdes e elegantes. Segundo a avó do meu suposto namorado, são


para serem usados no dia do nosso noivado.
Pois é. Para todos, John e eu estamos juntos há pouco

mais de um mês, mas a senhora já está supondo que a gente vai


ficar noivo. Mal sabe ela que existe uma cláusula que diz que daqui

um mês esse noivado vai acontecer.

E não foi preciso que fizéssemos muito para fazê-la

acreditar no nosso amor. Existe algo em nós dois que faz as


pessoas olharem para a gente e acreditarem na mentira que

estamos contando. Até o momento, tudo está saindo como o


planejado, e não sou mais vista como só um namoro passageiro.

Também pudera. Para um homem que nunca havia

namorado, um mês é uma vida.

Nas últimas quatro semanas, continuei trabalhando como

antes, sendo a secretária que fui contratada para ser e dando tudo
de mim para mostrar serviço, pois sou ingênua o suficiente para
acreditar que John e eu sairemos disso ilesos, que continuarei na

empresa, mesmo que seja a secretária de qualquer outro sócio.

Além de trabalhar, eu dei para o meu chefe. Mas não foi


pouco não. Às vezes ao chegar pela manhã, no horário do almoço,
ou antes de ir embora, quando ficávamos apenas os dois até mais

tarde com a desculpa de muito trabalho acumulado. Fodemos quase


todos os dias nas últimas semanas.
Em cima da sua mesa, montados na cadeira e no sofá.
Até contra a parede de seu escritório nós dois transamos. E como é
bom. Quanto mais a gente faz, melhor fica. Não tem nada a ver com

o nosso acordo, e quando estamos um dentro do outro, é como se


ele não existisse. Somos apenas nós, um homem e uma mulher que

se desejam.

John Harper me satisfez sexualmente. Ele apagou o fogo

que corria nas minhas veias, e voltou a jogar álcool. Compensou os


meses que estava sem sexo e me fez ver que era burrice minha
desistir de paus, afinal, os homens, apesar da maioria não valer

nada, servem para dar prazer as mulheres.

E mesmo que para mim seja exclusivo, que só exista o

meu chefe, porque ele mesmo suga todas as minhas forças com
seu pau mutante, não tenho como saber se o mesmo acontece com
ele. Diariamente, enquanto estamos juntos, seja fazendo sexo ou

não, o pensamento me ocorre.

Eu olho para o deus loiro e me pergunto se no dia

anterior transou com outra mulher. Disposição, eu sei que tem, pois
quis transar comigo depois de ter ficado com outra mulher no dia em

que nos vimos pela primeira vez no Maresias.


Não posso evitar de pensar, de querer que esteja só
comigo e me odeio por isso. Nós não falamos nada sobre
exclusividade, muito pelo contrário. Nas cláusulas, e em todos os

seus parágrafos que ficaram de fora do contrato, John havia dito


que o sexo não seria exclusivo. Bastava que fôssemos discretos.

A cláusula nada mais era do que o seu desejo de ter a


mim sem precisar renunciar às outras. A minha maior frustração é
não poder conter o meu lado possessivo e dedo podre, pois eles me

colocam em risco. O que me consola é que não tenho coragem de

perguntar diretamente para ele se seu pau anda se aventurando por


aí.

É melhor continuar com essa agonia de não saber, mas

preferindo acreditar no pior, a me colocar em problemas por

começar a ver coisas onde não existem. O que existe é um caso e


um contrato, que acaba daqui cinco meses. O que não existe é uma

relação de sexo exclusivo.

Com certeza, é melhor pensar assim.

— Mais uma vez, obrigada pelo presente — depois de um


tempo de silêncio, enquanto voltamos para a construtora com o seu

motorista, falo.
— Não precisa agradecer, dou de coração. Você é

sincera, carinhosa, espontânea e divertida. Uma mulher de verdade,


e gosto muito de você, diferente da outra — elogia, deixando-me

sem jeito.

— Obrigada pelo carinho. Também gosto muito da


senhora. — O que digo é a verdade. Todas as vezes que ela

apareceu na empresa e me levou para sair foram passeios

agradáveis. Com ela e seu espírito jovem, me sinto como se

estivesse com uma amiga da minha idade. Eu falo sobre muitas


coisas e Érika me entende. — E posso saber quem é a outra lá?

— A namorada do meu outro neto. Ela é uma boa moça,

mas é perfeita demais, e parece que está sempre tentando me


bajular. E embora insista em me fazer visitas, não temos assuntos

em comum.

O meu chefe vai gostar de saber dessa informação. Que

a avó dele me adora, já sabe. Mas estamos um passo à frente no


tema namorada favorita. E isso é bom, muito bom. Quando ficarmos

noivos, o chefinho estará praticamente com a bunda sentada na

cadeira de presidente.

É o único detalhe que falta. O voto de sua avó, pois no

quesito profissional competente, ele é o melhor. Eu vejo como se


dedica e como a empresa é muito o que é por causa de sua

competência e mente inteligente acima da média. Tales tentou jogar

baixo porque sabe que de outra forma seria impossível para ele
sequer tentar.

— Por que não aparece com a sua família para um jantar

lá em casa?

O meu coração parece que vai parar de bater quando


pede isso. Não posso envolver a minha mãe e a minha irmã nisso.

Seria demais, e Abigail ainda não engoliu a história direito, apesar

de ter ficado aliviada quando resolvi o problema da casa com o


adiantamento que John me deu.

Ao invés de negar, me obrigo a aceitar.

— Vamos marcar.

De volta à construtora, não dou muita abertura para as

provocações das meninas. Como está perto do horário em que saio


normalmente, e não consigo voltar a me concentrar no trabalho
depois da saída com a Érika, envio uma mensagem para o meu

chefe pedindo autorização para sair alguns minutos mais cedo.

Se o meu pedido inédito parece estranho, ele não

demonstra. Depois de me despedir das garotas, deixo o edifício e

parto para casa. Eu tento levar tudo numa boa, mas em momentos

como o de hoje, que exigem mais do meu controle para não surtar
por estar enganando a todos, fica mais difícil.

Preciso de um tempo para ficar sozinha e me acalmar.

Para lembrar primeiramente o porquê de ter entrado nessa e em


como o dinheiro me ajudará no futuro. Pensar no conforto das

mulheres que amo é o meu principal incentivo.

Antes de ir para casa, passo no shopping, não para


comprar, mas para assistir a um filme sozinha e distrair a minha

mente. No meio da sessão, recebo uma mensagem do Dante.

Ultimamente, ele tem mudado. Tenta ser meu amigo e não falou

mais em reatarmos o nosso namoro.

Não sei se acredito que superou, mas enquanto não está

me incomodando, para mim tudo bem. Respondo às suas

mensagens que, felizmente, não têm sido tão constantes. É mais

fácil aceitar a sua insistência de ficar perto de mim quando não


tenho que manter contato todos os dias.
Lembranças ruins de como o nosso namoro terminou

ficam mais distantes, e me odeio menos por não ter conseguido o

tirar completamente da minha vida.

O ideal era que eu nem mesmo olhasse em sua cara,


mas tenho um misto de medo e dependência pela primeira pessoa

que me olhou depois da separação, mesmo que tenha sido da forma

mais errada possível.

Talvez fosse mais fácil de entender o que acontece

comigo se conseguisse falar com a minha terapeuta, mas existe

algo em tudo o que vivi nos meus últimos relacionamentos que me

causa muita vergonha e me impede de me abrir até mesmo com a


minha mãe.

Quase não presto atenção no que passa na tela, e

quando o filme acaba, como um lanche na área de alimentação e


volto para casa. Enquanto trafegamos, no mais completo silêncio,

penso em como não parece que tenho mais de oitocentos mil reais

na minha conta.

Para quem não tinha nem mil, estou considerando que


sou rica. De toda essa loucura que estou vivendo, pelo menos sei

que vou sair dessa história com mais tranquilidade para o futuro da

minha família.
Assim que o Tito para na frente na minha casa, percebo o

erro que cometi ao dizer para o Dante que estava no cinema, e ao


ter acreditado que o meu chefe havia aceitado tranquilamente que

saí mais cedo e não fui até a sua sala para uma rapidinha.

Saio do veículo, me despeço do Tito e fico sem querer

acreditar no que vejo. Os dois estão no portão da minha casa,


discutindo na frente da minha mãe.

— Se não pararem com isso, vou jogar água quente em

vocês. — Estou tensa, mas me seguro para não sorrir da fala da


minha mãe.

— O que vocês dois estão fazendo aqui? — pergunto.

São dois homens lindos, um loiro e um moreno, mas

apenas um deles tem poder sobre o meu corpo. Me deixa mais fraca
do que já sou, por isso estamos tendo um caso, que sei que não é

certo, e que não existe nenhuma maneira de eu sair intacta dessa

situação.

— Que bom que chegou, Manuella. Dispensa esses dois,


porque não quero confusão na porta da minha casa. Amanhã os

vizinhos falarão que a minha filha tem dois namorados. — Será que
ela não se deu conta ainda que a Mika tem mais de um namorado,
ou prefere ignorar?

A senhora nos deixa a sós. Eu na frente de dois homens,

que se encaram como se fossem se matar.

— Vocês não eram amigos? — O pensamento que me

ocorreu escapa pelos lábios.

— Eu vim ver você — é Dante quem fala o óbvio.

— Você não disse que viria na última mensagem que me


mandou — aviso. Quis me surpreender, e não gostei nenhum

pouco.

— Vocês estão trocando mensagens? — John pergunta e

seu tom é de desdém.

— Estamos, porque somos amigos — Dante fala. — Mas

o que isso tem a ver com você? É apenas o chefe dela.

— Manu não te contou?

— Manu?

— John...

— Nós estamos juntos. Somos namorados há pouco mais


de um mês, não é, querida?
Dante faz cara de horror. John seria capaz de gozar só
pelo prazer de dizer isso. Eu quero que os dois vão para a puta que
pariu.

— Manuella? — O homem moreno me olha, e sei que


está implorando para que eu negue.

— É complicado, Dante. — É o que tenho para dizer. Não


vou confirmar, só para não dar para o meu chefe o gosto de ter

vencido, embora Dante não tenha nada a ver com quem namoro ou
deixo de namorar.

Pensando bem...

Eu odiaria saber que uma amiga minha está namorando o


meu ex-marido.

— Então me explique — pede.

— Ela não tem que se explicar — John fala, e eu o fuzilo

com o olhar.

Se é amigo do Dante, deve saber que às vezes ele é


instável, e não deveria provocar se não quer fazer uma cena aqui na

porta da minha casa.

Então eu me aproximo do meu ex-namorado, suportando


o olhar assassino do suposto atual, e coloco as mãos espalmadas
em cima do seu peito.

— Depois a gente conversa, está bem? — falo.

— Você não pode fazer uma merda dessa. Eu conheço


esse cara. John Harper vai quebrar o seu coração.

Como você quebrou? Sinto vontade de dizer.

— Por favor, vá — peço, ele balança a cabeça, beija o

meu pescoço, não sei por que fez isso, e vai para o seu carro.

Enquanto fico o observando aliviada, apenas para ter


certeza de que está mesmo indo embora, sinto o olhar do meu chefe

queimando as minhas costas.

— O que está fazendo aqui? — pergunto quando me

volto para ele.

— Você saiu mais cedo e achei estranho.

— Não estava a fim de transar hoje — digo.

— Eu não estou aqui por causa do sexo — assevera.

— Saí mais cedo porque estava esgotada, depois de ter


passado algumas horas fingindo-me de namorada apaixonada para
a sua avó. E se veio saber como foi, saiba que eu sou a santa de

sua devoção, mesmo com os meus defeitos. Na verdade, acho que


é bom que eu os tenha, já que não é fã da namorada do seu primo
por ela ser perfeita demais. Nessa você está muito na frente — digo.

— Graças a você. — Ele dá um passo à frente, sei que


quer me agarrar, mas não deixo e me afasto. Hoje não estou bem,

principalmente depois de ter visto o Dante aqui.

— Você já pode ir — digo.

— E vai fazer o quê? Ligar para o Dante voltar? —


pergunta com deboche. Aparentemente, não gostou nada de ter o
visto aqui. — Será que um pau não te satisfaz, e por isso precisa de

dois? Gosta de ser vadia?

Primeiro vem o choque pelo que ouço, depois a reação. A

minha mão voa com toda força no lado esquerdo do seu rosto
perfeito.

No ato, John Harper me agarra apertado com o corpo

colado no seu. Os seus olhos estão faiscando de raiva.

— Não volte a fazer isso, porra! — fala entredentes

contra o meu rosto. — Pensa que é quem?

Não gosto da sua reação, do que vejo, e nem das suas

palavras.
— Você é igual a ele — falo baixinho em choque, mas

duvido que não tenha ouvido. — Talvez seja pior...

— Do que está falando?

— Por favor, me solte e vá embora.

— Manu. Eu não quis te ofender. — O escuto, mas

parece que não compreendo.

— Vá embora! — peço mais uma vez e ele me solta, vira


as costas e parte.

Fico o observando com os olhos ardendo, mas não choro.


Não posso ser fraca assim.

— Está tudo bem, filha? Aqueles homens...

— Depois a gente conversa, mãe. Preciso tomar um

banho.

Debaixo do chuveiro, esfrego a minha pele com força, até


que fique vermelha e ardida, mas parece que nunca deixo de estar

suja.

Todos eles são iguais.

Lucas Avelar.

Dante Dutra.

John Harper.
E eu sou suja.
CAPÍTULO 25

JOHN
— Essa era a cereja do bolo que faltava para concretizar

a sua nomeação. A cada dia que passa, chego mais perto de ser o
melhor amigo, além de advogado, é claro, do diretor-presidente do

grupo Harper — deslumbrado, Pietro fala.

Há dois dias, caiu em minhas mãos um projeto grande e


desafiador para a construção de um edifício de luxo em Gramado.

Na reunião com os contratantes, eu apresentei as melhores ideias e


peguei a conta.

Daqui dois dias terei que viajar para Gramado, e apesar


de tudo estar dando certo para mim, não estou plenamente

satisfeito.

— Que cara é essa? — ele pergunta. — Estou falando

sozinho aqui? Como vocês héteros só pensam nisso, vou


perguntar: Tem transado?

— Não — falo.

— Então está explicado. Mas isso não vai te matar. Logo

a Manu te perdoa — afirma.


— Você deve saber, não é? Na última semana não

desgrudou da mulher. Você é o meu melhor amigo, não dela — falo


como um adolescente com ciúme de amizade. — Pensei que fosse

me ajudar, não ficar do lado dela.

— Sou o seu melhor amigo, por isso conheço os seus

defeitos e sei que quando quer, consegue ser um babaca. Então

confia na minha palavra de que o melhor que tem a fazer é dar um


tempo para a garota.

— Mas eu não fiz nada! — Rebato.

— Ela acha que fez, e é isso que importa, meu amigo.


Podemos voltar para o trabalho? — Ainda bem que ele não me

deixa esquecer do que é o mais importante para mim. —Tudo certo

para a viagem?

— Não. Ainda falta um detalhe. A minha secretária vai

comigo. — Não estava nos planos, mas eu acabei de mudá-los.

— John...

— Ela trabalha para mim e eu preciso que vá comigo —


assevero. — Só estou sendo profissional. — Nenhum de nós dois

acredita nisso.
— É claro que não é porque você quer tentar voltar a
entrar na calcinha dela — provoca. — Ainda não acredito que não

está fazendo sexo aleatório, como sempre fez.

— Muito trabalho. E, por falar nisso, vai fazer o seu —

digo, o advogado se levanta e me deixa sozinho.

Tento fazer o que fazia antes de me reunir com o Pietro,

que era organizar o trabalho que me espera quando voltar da


viagem que durará três dias, mas é só lembrar-me da morena que

perco a minha concentração.

Uma semana se passou depois do episódio com o Dante

na porta de sua casa, e ainda não sei ao certo o que aconteceu

naquele dia.

Fui até a sua casa por causa de um impulso que não

pude frear. Pela primeira vez, fui à casa de uma mulher em busca

de atenção, porque, de repente, passei a me importar com a forma

como ela se despede de mim.

Saiu sem antes entrar aqui para se despedir, sem ter

deixado que eu beijasse a sua boca gostosa, e foi estranho.

O que senti quando vi o Dante atrás dela e a forma

compreensiva como o tratou, embora não devesse estar ali, foi


inédito. Um alarme disparou na minha cabeça e só conseguia

pensar que estava tudo errado naquele momento.

E mesmo que tenha passado dias tentando negar, me

recusando a dar nomes, ficou mais fácil de compreender quando


admiti para mim que senti ciúme. Foi isso, senti ciúme da minha

secretária, a mulher com quem eu deveria apenas manter um


acordo simples e sexo sem compromisso.

Nem mesmo falamos que seríamos exclusivos, embora

não tivesse passado pela minha cabeça que não fosse até aquele
dia. E o mais impressionante nisso é que eu não estive com

nenhuma mulher depois que comecei a transar com a Manuella.

Tento dizer para mim mesmo que é por causa do

trabalho, que a última semana tem me consumido, porque eu estava


empenhado em pegar o projeto, mas sinto que, mesmo se tentasse,
o meu corpo rejeitaria outra boceta que não fosse a da Manu.

Estou viciado e passando por um período de abstinência


forçada há uma semana, então essa viagem será a chance de voltar

a me aproximar da minha suposta namorada, que nunca agiu com


tanto profissionalismo como tem feito nos últimos dias.

Sexo no meio do expediente? Virou uma lenda.


O pior é que sei que cometi um deslize quando a ofendi

por causa do meu ciúme, sem antes ter tentado entender, mas ela
não me deu a chance de pedir desculpas. Sequer fala comigo de

assuntos que não sejam sobre trabalho.

Manuella pensa que será fácil me descartar e voltar a agir

como se nada estivesse acontecendo entre a gente. Mas não vou


permitir que as coisas continuem assim, porque a gente passou um

mês inteiro bem, trabalhando como uma boa dupla e nos pegando
sempre que tínhamos chance e vontade, e foi muito bom.

Quanto ao Dante, não atendeu as ligações que fiz com o

intuito de esclarecermos algumas coisas, em nome da amizade que


tínhamos antes de começarmos a querer a mesma mulher. Espero
que entenda que teve a sua chance e não entre mais no meu

caminho. A nossa amizade, que já não era mais tão próxima mesmo
antes da Manu, pode continuar, desde que entenda que ela é minha

agora.

Sim. As palavras possessivas. Ainda não sei o que existe

entre eles, se é mesmo só uma amizade, ou se ela está transando


com os dois, mas vou assegurar que acabe, porque quando tenho

algo, preciso que seja só meu.

Não divido, muito menos a Manuella.


— Venha até a minha sala, por favor — finalmente faço o
que estava querendo e ligo no ramal da minha secretária.

Quando entra, primeiro olho para as suas pernas bonitas


na saia justa e o colo, que tem feito questão de deixar sem nenhum
decote nos últimos dias. Tudo para ficar menos atraente para mim,

mesmo sabendo que isso é impossível para ela.

— Você não tem nenhuma reunião marcada para as


próximas horas — fala. O seu profissionalismo me faz sentir vontade

de colocá-la em cima da minha mesa e comer a sua boceta com a


boca, enquanto repassa os meus compromissos para o dia.

— Marca aí na sua agenda: viagem daqui dois dias.


Reserve duas passagens — digo ao sair de trás da minha mesa

para chegar mais perto da minha namorada.

Apesar de estar azeda comigo, Manu continua dando

tudo de si para o acordo. A minha avó simplesmente ama a mulher.


Por prezar por pessoas reais, e tendo encontrado alguém assim na

Manu, elas estão se tornando unha e carne.

É algo que causa certa preocupação, pois daqui alguns

meses o nosso suposto namoro vai acabar, e Érika vai ficar muito
chateada. Está apostando tudo no meu casamento com a Manuella.
Quando a ideia me ocorreu, não pensei que elas fossem
se tornar tão próximas.

— Por que duas passagens? — pergunta, curiosa. — Vai


levar uma acompanhante?

Está fazendo a pose de que não se importa, mas sei que

sente ciúme, e por isso vou continuar.

— Vou, sim — afirmo na sua frente.

— Preciso do nome dela para as reservas — avisa. A

ponta da caneta está quase furando a folha.

— Anota aí: Manuella Ortega.

— O quê? — O seu gritinho de surpresa quase estoura


os meus tímpanos. — Eu não vou.

— Não pode se recusar. É o seu trabalho, e não acho que

preciso te lembrar que sabia que precisaria fazer viagens quando te


contratei — relembro-a, apelando para o lado profissional, quando

os meus motivos são pessoais. A sua presença não é

imprescindível, não para os negócios. — A sua presença é

imprescindível.

— Tudo bem, eu vou. Não tem outro jeito — a petulante

fala e dá de ombros. — Estou liberada?


— Eu disse que estava? — provoco, ela cerra o maxilar.

— Não.

— Estou com saudade de você, bebê.

Bebê?

— Bebê?

Estou tão assustado quanto ela com o apelido que


escapou.

— Quando vai me perdoar? — pergunto, a ponto de me

humilhar.

Que fase!

— Quando você pedir perdão.

— Estou tentando, porra! Mas você não deixa. Foge de

mim como se eu estivesse com uma doença contagiosa.

— Tente um pouco mais — diz, e quase surra o meu

rosto com o cabelo quando me vira as costas.

Não me importo de estar vivenciando a mesma cena pela

centésima vez, porque tenho o plano perfeito em mente. Em um


lugar tão belo quanto Gramado, sozinhos e sem um Dante no meu

caminho, vou ter Manu de volta do jeito que quero.

DOIS DIAS DEPOIS


Finalmente!

Nós acabamos de chegar a Gramado. Eu perguntei se

gostaria de ir caminhando até o hotel em que vamos nos hospedar e

a morena, monossilábica, disse que sim. E enquanto observamos


atentos um dos lugares mais bonitos em que estive aqui no Brasil,

acabo a abraçando.

Não planejei tocá-la assim, como se fôssemos


namorados em uma viagem romântica. Aconteceu e foi natural.

— Por que me abraçou? — questiona, mas pelo menos

não tenta se afastar.

— Está frio e o calor humano ajuda. — É a desculpa que


dou, embora não seja completamente mentirosa.

Conforme continuamos caminhando e nos aproximando

do hotel de estilo imperial, ela vai ficando mais relaxada. O clima

está bom, bem friozinho e ideal para um sexo gostoso. Se a gente


não estivesse brigado, diria para ela.

— Boa tarde, reservas para John Harper e Manuella

Ortega — falo na entrada do hotel para a recepcionista.

— Dois quartos. Eu reservei dois quartos — Manuella

assegura.
Não reservou não, amor. Penso comigo mesmo.

Ela não faz ideia, mas eu tinha um plano. Sempre tenho.


Agora cabe a essa moça fazer a sua parte do combinado. Começa

fingindo que está buscando os nossos nomes no sistema.

— Tem certeza de que fez a reserva de dois quartos? —


a mulher pergunta. Eu estou sorrindo por dentro, porque sou um

gênio.

— Tenho! — Diz empertigada.

— Aqui consta apenas um quarto. — É mentira. Eu


paguei para que falasse isso.

— Mas reservei dois quartos. Tenho certeza.

— Perdão, senhorita — a moça fala, fingindo que está

chateada.

— Tudo bem, essas coisas acontecem. Pode deixá-lo

com o que já está reservado e arrumar outro para mim? Posso ficar

em qualquer um. Só preciso de um quarto.

— Nós estamos com lotação máxima — a recepcionista


fala, Manu a fita com um olhar assassino.

— Você está falando sério?


— Querida. A gente pode ficar no mesmo quarto. Não

será o fim do mundo. E prometo que não vou te morder, a menos, é

claro, que você me peça — brinco com ela para que desfaça a cara

amarrada.

— Tudo bem — diz a contragosto. — As chaves. Não me

diga que perdeu.

— Aqui está, a suíte master. — Eu pego o cartão-chave e


nós dois seguimos para os elevadores.

— Eu sinto muito, mas você pediu a suíte master à toa.

Não vai poder levar mulheres para lá comigo na sua cola — fala,

mas não tem nada na sua expressão que demonstre que realmente
sente muito.

— Posso viver com isso — limito-me a falar.

Ela mal sabe que reservei a melhor suíte apenas para

nós dois, porque essa viagem não será dedicada apenas aos
negócios. A presidência da empresa ainda é o mais importante para

mim, e se a minha atração pela Manuella está no meu caminho,

darei um jeito de resolver a situação de uma vez.

A gente vai voltar a ficar junto e tudo será como antes de

eu falar merda para a minha gata.


E daqui a menos de três semanas, a gente vai ficar noivo,

e nesse dia darei os últimos passos rumo ao objetivo final. Tudo o


que eu sempre quis para a minha vida profissional: poder, dinheiro e

prestígio.

E a mulher, com certeza terei tido essa mulher.

Ao entrarmos no quarto, a morena não esconde o brilho


no olhar pela sofisticação que vai da cama estilo medieval à sacada

que faz vista para a bela cidade, mesmo que tenha visto o quarto

quando fez as reservas.

Eu deixo que tenha o seu tempo, que vá até a sacada e

fique gostando da vista. Depois que retorna e finalmente olha para

mim por mais do que dois segundos, nós dois olhamos juntos para a

cama que cabe cinco pessoas, depois um para o outro e de novo


para a cama.

— Acho que vou tomar um banho — diz para fugir.

— Posso ir com você? — Estou provocando, mas

também falando sério.

— Não. Você não pode, chefe — diz, pega a mala e a

puxa para a porta do banheiro.


Acabo de descobrir que amo quando me chama de chefe
em momentos de provocações sexuais e, principalmente, na hora

do sexo, porque me lembra de que estou fodendo com a secretária

gostosa. Mas odeio quando usa a palavra para manter distância de


mim.

Mas está tudo certo, estou aqui para um projeto

importante que vai me ajudar a chegar ao topo, mas também estou

com a mulher que quero para mim, e terei tempo para consertar
tudo entre a gente.
CAPÍTULO 26

JOHN
Eles estão falando e até tento prestar total atenção, mas

estou mais consciente da mulher que está ao meu lado.

Estamos em uma sala com mais sete pessoas além da


gente, e a Manuella é a única mulher. É claro que a reunião está
melhor porque ela se faz presente, porque encantou a todos com o
seu sorriso e jeito carismático quando se apresentou quando

chegamos há um pouco mais de quarenta minutos.

Estamos em Gramado há um dia, e as coisas entre a


gente continuam na mesma. O compromisso mais importante que
tínhamos aqui está acontecendo agora, mas não consigo esquecer

de como me sinto frustrado.

— John Harper.

— Perdão? — falo quando sou chamado atenção. Olho


para o lado e minha secretária parece irritada por causa da minha

dispersão momentânea.

— Queria ouvir mais um pouco sobre as suas ideias

sobre a localização dos elevadores — o presidente da reunião pede,


então começo.

Como se o lapso de atenção não tivesse acontecido,

discorro durante dez minutos sobre o projeto, respondendo de

maneira segura e clara a todas as questões dos contratantes. Por


um tempo, como deve ser, foco apenas no que mais me importa e

esqueço dos problemas pessoais.

A forma como deixo todos contentes e impressionados na

sala quando termino, inclusive a Manuella, é a certeza de que sou


bom no que faço e que nasci para isso. Mas a reunião acaba e me

sinto relaxado enquanto a minha secretária e eu voltamos andando

para o hotel. A reunião ocorreu em uma sala comercial bem próxima


ao nosso hotel.

— Você foi muito bem lá dentro — recebo o seu elogio e

fico mais contente do que ficaria se tivesse partido de qualquer outra

pessoa. — Mesmo se eu não tivesse sido paga para te ajudar, ainda


assim acreditaria que você é a melhor escolha para substituir o seu

pai.

— Obrigado — digo, porque não tenho outra palavra, mas

queria poder abraçá-la, e não é porque está frio.

Acho que esse clima está me deixando doente.


Eu estou sempre muito consciente da sua presença ao
meu lado, observo a forma como é educada e sorrir para as

pessoas que sorriem para ela, mesmo que sejam desconhecidos

que nunca mais verá. São coisas pequenas de sua personalidade e

de cada pequena atitude que me impressionam, porque ela é

diferente de tudo que existe no meu mundo, onde não se tem

tempo. Onde cada pessoa olha somente para si.

Não falamos mais nada até entrarmos novamente no

quarto. E quando nos fechamos no cômodo, ela já começa com a

sua primeira tentativa do dia de fugir de mim. Passou todo o dia de


ontem passeando, e só voltou para o quarto na hora de dormir.

Passei o dia inteiro trabalhando para a reunião que acaba de

acontecer.

— Vou tomar um banho e depois vou patinar no gelo.

Peguei um panfleto mais cedo e é bem perto daqui — diz. — Se

incomoda se eu for?

— Claro que não — digo.

Queria ir com você, mas não fui convidado, penso


frustrado.
A verdade é que eu preciso sair dessa. Não estou mais

conseguindo me reconhecer, e não aconteceu nada de importante


para ter me feito mudar desse jeito, não é?

Estava transando e sendo monogâmico com a minha


secretária e suposta namorada. De repente, ela parece que não

quer mais e está bem com isso. Eu também tenho que ficar, tentar
voltar a ser o mesmo de antes.

Se conseguir algum progresso com Manuella será

maravilhoso, porque curto pra caralho o nosso sexo, e me conheço


o suficiente para saber que não vou desistir. Mas talvez não seja o

caso de ficar tão obcecado. Posso agir como pensei que agiria no
início.

Para transar com Manuella não preciso desistir das


outras bocetas, assim como ela, aparentemente, não desistiu dos
outros caras. Será que já conheceu alguém aqui, e por isso não me

convidou?

E enquanto penso, a minha secretária continua parada na

minha frente, como quem espera ouvir alguma coisa.

— Se for passar o dia fora, leve o cartão da porta, vou

sair hoje à noite — aviso, não a convidando.


Infantil? Talvez.

Mas não é só por isso que não vou chamá-la. A verdade


é que essa mulher e o que desperta em mim me assustam. Por ela

ando pensando e fazendo coisas estranhas típicas de um homem


na coleira.

— Vai chegar tarde? — indaga, eu a olho com a


sobrancelha arqueada, dizendo que não a interessa a hora que vou
chegar. Sou hipócrita, porque quero saber dela. — Só para não me

preocupar.

— Talvez eu durma fora — digo. — Vou deixar que tenha

a sua privacidade — afirmo, e passo para a sala anexa ao quarto.

Fico sentado no sofá respondendo e-mails por um tempo,

fazendo de tudo para não me levantar e ir até ela.

Você não vai fazer isso, John!

Ela é linda, um tesão, e você é louco por ela, mas é


apenas uma mulher.

A sua secretária.

O namoro tem prazo de validade. Quando terminar, e

você ver que ficou tudo bem, vai agradecer por esse afastamento.
Por não ter tentado derrubar as barreiras que ela colocou em torno
de si.

MANUELLA
Ao entrar novamente na suíte, estou me sentindo

exausta. Passei o dia me divertindo, depois de ter acompanhado o


meu chefe na reunião, em que tive a impressão de que a minha

presença não era tão importante como ele fez parecer que seria
quando quis que eu viesse nesta viagem.

Foi divertido, mas não tanto quanto deveria ser se não


estivesse o tempo todo com o idiota do John Harper na cabeça.
Nele e na sua saída, que não sabe se volta hoje ou amanhã.

Depois do que aconteceu no portão de casa com o Dante


e a forma como John falou comigo, chorei por sua causa, e foi algo

que mexeu muito comigo, porque é muito difícil algo me fazer chorar
hoje em dia. Depois dos fracassos tanto na área profissional quanto

na sentimental, prometi a mim mesma que não iria mais chorar.

O fato de o meu chefe ter me atingido tanto fez com que

eu recuasse em seja qual fosse o nome do que rolava entre a gente.


Senti medo depois que as lágrimas secaram, porque percebi que o

risco que estava correndo era muito grande. Apesar da situação e


de não gostar do que estamos fazendo ao enganar a todos que nos
rodeiam, gosto dele e gosto muito.

Poderia dizer a mim mesma que é só por causa do sexo,


que foi ficando melhor a cada encontro que tivemos, mas me
conheço e sei que não é. Estou gostando de quem não deveria

gostar mais uma vez. E a prova disso é que estou aqui sozinha,
enquanto ele foi atrás de outras mulheres.

Mas John está no seu direito, não é? Ele é solteiro e nem

estamos na nossa cidade, cheia de pessoas que nos conhecem e

estão sempre de olho na gente. Desde que seja discreto, pode sair
e transar com quantas mulheres quiser.

Mas por que o meu coração está tão apertado?

Tentando desanuviar os meus pensamentos, arranco a

minha roupa e decido que estou precisando de um bom banho de


banheira. Mas mesmo depois de sair da água perfumada e de

espuma com a pele enrugada, de ir para a sacada com uma taça de

vinho e me sentar no sofá para observar a noite da cidade linda e

fria, pensamentos deprimentes de John com outra não deixam a


minha mente.

Estou com tanto ciúme.


E ainda são nove horas da noite. Depois de uma taça,

com a hora se arrastando, acabo ajeitando a almofada do sofá da


varanda e me deitando de lado.

— Era só o que faltava, a Manuella dedo podre Ortega se

apaixonar por um homem que só pensa em trabalho, que não pode


colocar nada acima da maldita empresa — sussurro para o vento e

depois sorrio com desgosto.

Até parece que seria diferente se não existisse a disputa

no nosso caminho. Estou ao seu lado porque sou útil. Nada mais
que isso. Se não tivesse esquecido, não estaria sofrendo agora.

JOHN
Eu nunca experimentei um beijo tão sem graça. E olha

que a mulher é bonita. Não tanto quanto a que não sai da minha
mente, mas é bonita e desejável.

— Querida, isso não está funcionando — digo ao afastar

as nossas bocas e o seu corpo que estava entre as minhas pernas

aqui no bar.

— A gente pode tentar de novo? — Pergunta. Os olhos

estão cheios de esperança.


O problema é que ela não é a minha primeira tentativa e,

assim como as outras, não senti nada, nem uma leve faísca. Acho

que estou até um pouco bêbado.

— Não. A gente não pode — falo. — Foi um prazer te


conhecer, querida. — Beijo o canto da sua boca e me levanto do

banco.

Se o meu plano era esquecer da morena do cão, ele deu


completamente errado, porque ela atrapalhou a minha noite de

todas as formas possíveis quando não saiu dos meus pensamentos.

Não é nem meia-noite, mas já estou voltando para o hotel.

Apesar de ter feito o mesmo, tenho medo de entrar no


quarto e o encontrar vazio. De perceber que vai deixar que outro

toque no que deveria ser apenas meu. E enquanto o carro de

aplicativo trafega, não me importo de deixar que esses


pensamentos se formem.

Estou louco por Manuella Ortega, e foi preciso algum

álcool no meu sangue para que pudesse admitir.

Ao entrar no nosso quarto, a suíte master que não está


sendo bem usada, me deparo com o mais completo silêncio. Os

lençóis esticados e a cama arrumada.


— Porra!

Ainda bem que tem bebida nesse quarto e que sempre


posso ligar pedindo mais. Vou precisar, enquanto passo pela noite

tentando não pensar nela dando para outro cara. Só de imaginar

tenho instintos assassinos.

Assim que encho um copo com vinho no minibar, ando na

direção da sacada. Quem sabe a bela vista não faz o que a tentativa

de ficar com outras mulheres não fez e eu esqueça a mulher

infernal?

Mas assim que paro no umbral da porta de vidro entre o

quarto e a sacada, olho para o sofá e me deparo com a Manu

deitada em posição fetal. Tem uma taça de vinho no chão, ela veste
apenas calcinha e sutiã, muito sexys, por sinal, e não colocou nem

mesmo uma manta em volta do corpo para o prevenir do frio.

O meu pau começa a ganhar vida, depois de pensar que

tivesse morrido de vez por causa da performance com as mulheres


no bar. Estou surpreso que esteja aqui, contrariando o fato de eu ter

pensado em várias formas de matar qualquer amante seu, mas

também estou com tesão, pois é impossível de ignorar o corpo

perfeito com essas peças pequenas e bonitas.


Sem fazer nenhum barulho, porque não quero acordá-la,

não ainda, sento-me no pequeno espaço que o seu corpo não está

ocupando no sofá. Com cuidado, toco na sua panturrilha, fazendo

um carinho leve.

E enquanto a observo, me dou conta de que gosto de

tudo sobre essa mulher. Sim, mulher, porque Manuella Ortega, com

os seus trinta e dois anos, é toda mulher. Não é como as garotas


mais jovens com quem costumava sair. Ela é tão madura. Tem

apenas três anos a mais do que eu, mas parece ter mais. Não na

aparência, mas nas vivências.

Eu sei que Manuella é uma mulher que tem marcas, que


viveu coisas que gostaria que eu não soubesse, e percebi isso pela

forma como me disse algumas vezes que tinha desistido dos

homens. E enquanto a olho, sinto vontade de saber mais sobre ela.


Do que a machucou, e do que a fez feliz durante os anos em que

não nos conhecíamos.

Eu nunca quis conhecer mais do que o corpo das

mulheres com quem transei, mas a minha secretária, essa mulher


fácil, mas ao mesmo tempo difícil de ler, sempre foi diferente. Deve

ser por isso que me fascina.


— Ei... — A sua voz de sono me chama e eu subo o olhar

para o seu rosto. Coçando os olhos, ela se senta com as costas


contra o apoio de braço do sofá, nem um pouco constrangida de

estar praticamente nua para mim.

Que bom, porque fizemos tanto sexo nas últimas

semanas que já conheço cada curva do seu corpo.

— Eu não queria te acordar — digo.

— Pensei que fosse dormir fora. — Pela forma que fala,

parece que moramos juntos.

— Também pensei — digo, sem parar de olhar para os


seus peitos. Eles estão tão lindos dentro do sutiã azul-bebê. Estou

doendo de desejo por ela nesse momento.

Faz tempo demais da última vez que a toquei.

— O que foi, não conseguiu encontrar nenhuma mulher

que te agradasse? — O seu tom é de despeito. Gosto disso, porque

mostra que não é indiferente. Não que eu acreditasse no contrário.

— Não.

— Exigente?

— Nenhuma era você — confesso. — Por que não chega

mais perto? — Peço, Manu balança a cabeça negando. Então me


aproximo, a pego pela cintura e a sento no meu colo de frente para
mim, uma perna de cada lado do meu quadril.

— Você bebeu, não foi?

— Só um pouquinho. Mas estou sóbrio o suficiente para


saber o que estou fazendo — afirmo. — Sei que o corpo

maravilhoso que tenho nas mãos é o seu. Que o cheiro não poderia

ser de outra mulher — falo e enterro o meu nariz no seu pescoço


por um tempo.

Como é bom segurar o seu corpo cheiroso, quente e

macio. Parece que estou em casa. Quando levanto a cabeça e volto

a olhar para o seu rosto, não consigo ler o que passa pela sua
mente.

— Transou ou beijou outra mulher? — pergunta. — Não,


não me fale. Não é da minha conta.

— Beijei umas três, mas foi só isso. Estava tentando


sentir algo, nem que fosse uma pequena faísca que me fizesse

esquecer de você, que mal estava olhando na minha cara —


confesso.

— Por quê?
— Gosto de estar com você. Pelo sexo, que é
sensacional, mas por outros motivos também. A sua companhia me
agrada.

— Se quer ser meu amigo...

— Eu não quero ser seu amigo — digo.

— Se não quer que eu negue acesso a você, não pode


me tratar daquela forma novamente. O jeito que falou e me olhou

como se eu fosse...

— Só estava com ciúme. — Sou sincero.

— Ciúme de mim?

— De pensar em você com ele, e desde que chegamos

aqui, de imaginar outro homem com as mãos em cima de você. E


não deveria ser assim, não é? — Faço a pergunta retórica,
enquanto as minhas mãos passeiam pela cintura fina.

— Não. A gente tem um contrato. Não somos namorados


de verdade. Não gosto de chorar, mas você me fez chorar naquela
ocasião. Eu fiquei mal antes de dormir aqui no sofá, pensando em

você com outra mulher. — Tudo o que Manuella fala deveria me


assustar, assim como os meus próprios sentimentos e pensamentos
a seu respeito, mas isso não acontece. — A gente não faz bem um
para o outro.

— Não vamos pensar em nada agora, querida. Nós


estamos nesse belo lugar sozinhos e por mais dois dias. Por que a
gente não aproveita e só volta a pensar em problemas em casa?

— Estou com saudade de você também, e te odeio por


ser assim, gostoso e irresistível — diz, mas começa a abrir os

botões da minha camisa.

— Vai me perdoar por ter sido um idiota com você? —

peço ao parar as suas mãos. — Não queria te ofender. Não tinha o


direito de falar daquela forma.

— Eu não estou transando com o Dante e nem com

homem nenhum — fala. Eu queria poder soltar fogos de artifício.

— Eu não estive com outra mulher depois da primeira vez


que transamos — confesso e a surpreendo.

— Está falando sério? — aceno positivamente.

— A sua boceta é viciante, e enquanto estiver com você,


ela será suficiente — digo ao morder de leve o seu lábio inferior.

— Deve estar subindo pelas paredes.


— Gozei pelas minhas mãos duas ou três vezes nos
últimos dias pensando na gente trepando.

— Tadinho... — Ela me provoca ao se mover no meu


colo, tornando a minha vida difícil, e nem posso acreditar que a

tenho assim novamente. Que estou sentindo a sua bunda deliciosa,


que adora se esfregar no meu cacete.

— Já me perdoou? — pergunto.

— Sim. Você não é como eles — diz, eu não entendo o


que quer dizer, apesar de imaginar quem sejam “eles”. — Prefiro

acreditar que não é.

— Eles quem? — indago.

— Isso importa agora? Eu quero você, chefinho —


declara. Sempre que me pede com todas as letras significa que
teremos bons momentos.

— Eu... — hesito, procurando a palavra certa — te adoro.


— Estou olhando dentro dos seus olhos e nunca fui tão sincero com

uma mulher. — Gosto de tudo sobre você.

— Ninguém nunca me falou isso — diz, parece mexida e

percebo que falei no momento errado.


Nós estamos nos entendendo. Tudo vai voltar a ser como

antes e não quero estragar nada com lembranças que a façam ficar
triste.

— Eu estou falando, mas é só porque quero chupar os

seus peitos grandes e depois a sua boceta — provoco-a. Manuella


leva as mãos para trás e abre o fecho do seu sutiã, depois passa
pelos braços e deixa que caia no chão.

Os seus seios estão bem diante dos meus olhos, grandes

e firmes. A minha boca saliva, o meu pau parece ter vida própria de
tão sedento que está. Mas não é só isso, o meu coração também
está disparado e não quero pensar no porquê. Na verdade, não

quero pensar em nada.

A única necessidade que merece a minha atenção é a de


foder o seu corpo até o nosso esgotamento, como quis nos últimos

dias e não pude fazer.

— Por que está assim? — pergunta.

— Assim como?

— Pensativo.

— Me perguntava se sentiu falta de sentar-se assim no


meu pau, porque eu quis você a cada minuto do meu dia — declaro.
— Você com suas roupas apertadas que me tentam e o narizinho
arrebitado. Tão linda...

— Não estou te entendendo, John.

— Eu também não. Acho que estou bêbado — digo para

me justificar, mesmo sabendo que bebi pouco.

— Sim, você está. Nunca foi tão carinhoso comigo.


Sequer demonstrou até hoje que gostava de mim...

Antes que termine de falar, seguro a sua nuca e a beijo.


Essa conversa entre a gente estava ficando estranha. Muitos
sentimentos e questionamentos onde não deveriam existir, pois tudo

entre a gente deveria ser simples.

Mas a sua boca sedenta na minha me faz esquecer de


tudo, menos das sensações, do desejo sexual cru que sinto por

essa mulher. Ela faz sons de gemidos depois de um tempo dentro


da minha boca, então eu, que não me contento, pois nunca tenho

tudo o que quero dela e sempre acreditarei que preciso de mais um


pouco, afasto aos poucos as nossas bocas.

Beijo o seu rosto com carinho, e depois vou distribuindo


pelo pescoço. Adoro beijar no lugar estratégico onde sempre passa
perfume. Sou viciado no seu cheiro, apesar de Manu não ter me
deixado mais chupar o seu pescoço o suficiente para deixar
marcado.

— Você cheira tão bem, querida...

— Um perfume barato.

— O seu perfume — digo, então desço a cabeça e passo


a língua pelos seus mamilos entumecidos. — Depois darei mais um

pouco de atenção para essas duas delícias, mas agora eu não


aguento mais, preciso entrar em você. Gozar sentindo a sua boceta
me apertando... Ei, volte aqui!

Mal tenho tempo de terminar de reclamar, pois a morena


dos peitos perfeitos se levanta e, olhando-me com cara de safada,
amo quando ativa esse modo, se curva lentamente e começa a tirar

a calcinha. Mas ela não faz do jeito comum, é bem devagarinho,


obrigando-me a olhar para as suas curvas, as coxas macias que
adoram me ter entre elas.

Pernas que quero ter sempre abertas para mim, dando-


me livre acesso.

E quando a peça está em suas mãos, ela a joga em mim,


que a pego no ar e a levo ao nariz.
— Senti falta desse cheiro também — digo, então deixo a
peça de lado e a puxo para mim. Com Manu entre as minhas

pernas, começo beijando a sua barriguinha plana, e o fato de estar


sentado torna a posição perfeita para que eu consiga tocar na sua

bunda.

Ah, essa bunda. A quero tanto que nos últimos dias antes
de ela se afastar de mim estava até sonhando com ela. Tudo porque

a minha suposta namorada me provoca. Não corta o meu barato,


deixa que eu toque no seu cuzinho o quanto quiser, eu enfio dois
dedos quando a tenho perto de gozar com o meu membro

mergulhado na sua boceta.

O sexo anal com essa gostosa é a minha maior fantasia


sexual no momento.

— Eu sei no que está pensando — fala e, pelo tom de

sua voz, sei que os meus beijos pela sua barriga e mãos que ainda
estão relativamente inocentes na sua bunda já estão a deixando
sensível e doida para dar para mim.

— E no que estou pensando, senhorita Manuella Ortega?

— Em sexo anal. Acertei?


— Quero o seu cuzinho e sabe disso. Pare de me

castigar, minha linda. — Para amolecer e seu coração de pedra, dou


uma lambida longa na bocetinha, que já está preparada para mim.

— Vou pensar no seu caso, porque ultimamente não tem


sido um bom menino — provoca e rebola na minha mão, que está
entre as suas pernas.

Antes de a penetrar, gosto de sempre deixá-la preparada,


assim a minha invasão se torna mais fácil e menos desconfortável

para ela no início.

Até penso em me fartar com a boca no meu paraíso


particular, mas a minha gata levanta o pezinho bonito e empurra o

meu peito no encosto do estofado. Sei o que quer fazer, na verdade,


a gente está junto há tempo suficiente para sabermos o que o outro

vai fazer em seguida só pela forma de olhar.

A morena se coloca novamente no meio das minhas


pernas e tira a minha camisa. Depois se afasta um pouco e com

paciência abre o botão e zíper da minha calça, depois a tira com


cueca e tudo. O meu pau está duro e livre, alegre e cheio de
expectativa depois de uma longa seca.
Era isso que eu queria, o que estava faltando nos últimos
dias. A mulher, cuja companhia torna os meus dias mais excitantes
de todas as formas, seja pelo sexo, seja pela química que temos

juntos até quando estamos falando sobre o clima.

Manu olha como um sedento no meio do deserto para o


meu membro. E aqui, nessa sacada e com a imagem perfeita que

temos, uma ideia me ocorre.

— Eu quero que você vá até ali. — Aponto para a grade


amadeirada que alcança um pouco abaixo dos seus seios — Apoie
as suas mãos na grade. Quero ver a sua bunda enquanto te fodo.
CAPÍTULO 27

MANUELLA
Quero ver a sua bunda enquanto te fodo.

Parece até uma bela canção, feita especialmente para os

meus ouvidos.

E então é isso. Aqui estou eu, prestes a transar com o

meu chefe novamente, e está tudo bem com isso, porque é o que o
meu corpo deseja, o que eu também desejo. John, apesar da
bagunça que temos em volta de nós, dos planos e das mentiras, é a

leveza que existe na minha vida. E não vou abrir mão dele.
Enquanto puder escolher e for bom para mim, escolherei fazer isso.

Escolherei obedecer aos seus comandos de ir até a


grade. Encostarei o meu corpo nela e esperarei com tesão pelo seu

próximo passo, porque quando fazemos sexo, não importa quem

comanda quem, sempre é bom.

De costas para ele, olhando para as casas de estilo

medieval, para as árvores bonitas e ruas limpas, é como se a cidade

tivesse sido construída ontem, como se ninguém além de nós dois


habitasse esse lugar no momento.
Olho para trás por cima do ombro depois de um minuto

inteiro sem sentir o seu corpo grande, alto e forte no meu. Fico
surpresa, porém, mais excitada ainda quando o vejo sentado no

meio do sofá, bem relaxado e se masturbando enquanto olha para a

minha bunda nua.

A imagem é tão dolorosamente excitante que é preciso

que eu esfregue uma perna na outra para aliviar um pouco a tensão.


Para o provocar, empino um pouco mais a bunda. E depois de uma

semana sem ele, se tentar mais uma vez o sexo anal não vou

impedir, porque quero, e quero muito que aconteça. Só não


aconteceu ainda porque eu estava fazendo charme para que

comesse as paredes de desejo.

— Vai me deixar de fora da festa? — questiono.

— Não faria isso. Você é a principal convidada — diz,

então se levanta e vem lindo, loiro e nu para mim.

Fico até mais disposta quando penso no que falou sobre

eu ser a única ocupando a sua cama no momento. Não estava


sendo uma idiota, como é boa essa percepção.

— Sentiu saudades? — Ele está atrás de mim com um


braço em volta da minha cintura, a outra mão cheia no meu peito e o
cacete entre os lados da minha bunda, movendo-se bem devagar
enquanto fala no meu ouvido.

— Como se fosse um ano sem o ter em mim. — Levo a


mão para trás e finco as unhas na sua bunda, tentando deixar-nos

mais colados, embora seja impossível, dada a situação em que

estamos.

— Agora terá até se fartar, minha safada, porque não


pretendo sair de cima de você durante esses dois dias. Está presa a

mim, e só terá direito a pão, água e sexo.

— Posso viver com isso — digo ao mover o quadril,

provocando o seu pau.

— Que bom que aceita o seu destino, amor. — No meio


das provocações sexuais, a palavra “amor” faz as minhas pernas

ficarem bambas, mas deixo de lado. — Assim será mais fácil e,

certamente, mais prazeroso.

Então John Harper enfia o seu pau grande por trás na

minha boceta. Não vai aos poucos, com calma ou delicadeza. Enfia

todinho com uma única arremetida.

— Seu bruto — reclamo, mas logo emendo —, que

delícia.
John, eu e sexo somos assim: sem delicadeza, mas

gostoso além da razão.

E com o homem as minhas costas, sendo prensada na

grade, me sinto viva. Não me importo com nada, nem com o fato de
estarmos em público, embora estejamos no décimo quinto andar.

— Podem nos ver — digo por dizer. — Que delícia... —

gemo quando passa a meter com força. Do jeito que estava subindo
pelas paredes, depois de vários dias sem transar, ele vai gozar

rápido e me levará junto.

— Quem está passando ali embaixo está vendo que tem

um casal sem pudor fazendo sexo na sacada, mas não podem nos
identificar — fala, e continua metendo e beliscando o meu mamilo

com as pontas dos dedos. — Mas faça como eu, imagine que todos
podem nos ver nesse momento. Que todos saberão que Manuella
Ortega está sendo comida por John Harper, e que somos bons,

muito bons.

— Estou imaginando — digo. Até porque, estamos dando

um show.

Apesar de não dar para identificar, eles veem

perfeitamente o que está acontecendo, pois as pessoas lá embaixo,


as que passam na rua agora, simplesmente param para nos assistir.

Elas parecem fascinadas.

Eu fico com mais tesão, então levo a minha mão para o

seu pescoço e puxo a cabeça do deus loiro. As nossas bocas se


encontram em um beijo puramente sexual, onde as línguas se

buscam com sofreguidão.

— Hum... — gemo uma, duas, três e muitas vezes, e


quanto mais eu gemo, mais John acelera as estocadas. Mais

amassa o meu peito com a mão, mais puxa o meu corpo para o seu.

Estou louca de prazer, na beira de um precipício, mas o

meu homem tem mais planos e eu adoro todos eles. John sai de
mim e me vira de frente. Depois ele me segura com firmeza e enrola

as minhas pernas nos seus quadris.

Sexo olho no olho. Gosto de todas as posições, não são

poucas que experimentamos, mas não há nada como isso. Parece


que as temperaturas dos nossos corpos aumentam ainda mais.

— Gostosa.

— Você também é gostoso, me fode, John... — peço,


então ele faz muito mais. O meu loiro leva a boca até o meu seio
esquerdo e o chupa feito um bebê com fome, mordisca e depois
assopra sem tirar os olhos dos meus.

— Goze para mim? — Pede e leva os dedos para o meu


clitóris. Metendo sem sentido, perseguindo o seu próprio prazer
absoluto, o meu chefe acelera as penetrações, e essa posição

permite que ele vá mais fundo. Eu o sinto em cada terminação do


meu corpo.

— Manuella! — ele grita para o vento quando se derrama

dentro de mim. E sentindo o seu esperma quente e viscoso me


enchendo, além do pau grande que me estica, gozo junto.

Nos abraçamos por um tempo, como fazemos quando


vem forte demais, um sentindo o coração do outro aos murros. Os

suores dos nossos corpos se misturando. E aqui está muito gostoso


por causa do vento frio beijando as nossas peles.

— Eu estava mesmo com saudade de você — diz quando


afasta a cabeça do meu pescoço.

— Eu percebi — brinco, então nos beijamos mais uma


vez, calma e lentamente, com os olhos abertos. Um encarando o

outro, falando tudo e nada ao mesmo tempo, pois não pode ser de
outra forma.
Ficamos tanto tempo nos beijando que ele acaba ficando
animado novamente. Sinto o seu pau endurecendo contra a minha
barriga, e saber que é por mim é o suficiente para me animar mais

uma vez.

Não sei se é o lugar, ou o fato de estarmos fazendo as

“pazes”, mas me sinto especialmente ousada e disposta a fazer tudo


com ele.

— Se me levar para a cama agora, eu posso pensar em

liberar o sexo anal — falo no seu ouvido. John arregala os olhos

surpresos e solta:

— Eu te amo, porra!

Ficamos em silêncio por alguns segundos, mas depois eu

mesma o distraio, porque sei que não é sério, que falou pela

emoção.

— Tem que ser agora, é pegar ou largar.

— Você foi feita para mim, mulher! — Ele beija os meus

lábios e me pega em seus braços. Mais uma vez não dou

importância para às suas palavras. É melhor assim.

O meu chefe me deita de bruços na cama e logo começa

a me beijar. Sei que está me preparando para o que virá a seguir.


Começa pelo meu pescoço, depois vai descendo com carinho e

paciência para as minhas costas, fazendo elogios que toda mulher


merece ouvir não só nesse, mas em todos os momentos.

— Você é linda. O prazer que sinto com você, nunca senti

com mulher nenhuma — diz. — Prometo que vou te fazer gozar


gostoso.

— Sei que vai. Você é o senhor sexo bom — provoco,

John bate na minha bunda.

— Fique quietinha — pede e vai para o banheiro.

— Isso aqui deve servir — fala e joga o óleo corporal na

cama. Depois paira com o corpo sobro o meu, sem colocar seu peso

em mim. Segue me beijando, até que sua mão se coloca entre o

meu quadril e o colchão.

Os seus dedos encontram o meu sexo liso, todo

lambuzado pelo esperma, pois depois que falei do DIU a gente não

transou mais com preservativo. Somos cuidadosos com a nossa


saúde sexual e sabíamos que podíamos confiar um no outro,

mesmo que não tivéssemos falado de exclusividade.

— Gosto de sentir ela assim, melada com a minha porra.


Toda lambuzada de mim, e vai ficar muito mais quando eu gozar no
seu cuzinho — diz as palavras no meu ouvido e acabo de ficar mais

úmida. — Me quer aqui novamente? — pergunta ao enfiar os dedos

na minha vagina. Eu apenas balanço a cabeça.

Todo em mim, John faz apenas o suficiente para me


deixar mais do que pronta, para levar os dedos melados para a

minha bunda. O homem experiente começa com um dedo, depois

passa para dois com cuidado, sem nunca deixar de me acariciar de


outras formas. Como não sou virgem, não sinto medo, mesmo que

seja maior do que o meu parceiro anterior. A vontade latente me faz

agir assim, despreocupada com as minhas próprias pregas.

— Você só precisa relaxar, amor — fala ao pressionar a

ponta robusta do pênis contra o meu orifício anal. — Sabe que no

início vai doer e será desconfortável, mas você vai pedir por mais

depois. Te prometo.

Escolho acreditar em suas palavras, mas em seguida,

quando o seu pau abre passagem, só quero que saia do meu cu.

— Eu vou morrer! — digo em voz alta, segurando nas

cobertas como se fossem botes salva-vidas.

— Não vai, minha linda morena — diz e termina de entrar

queimando. A dor está foda, mas não quero parar. Sei que tem mais
depois, e quero tudo com ele. — Está tudo bem? Não vou me mover

até que me peça — avisa.

Então eu mordo o meu lábio inferior e puxo a respiração

com cuidado até que o meu corpo se habitue minimamente com a

invasão.

Quando sinto que estou pronta, eu mesma mexo o meu

quadril e sem que precise falar mais nada, o meu loiro começa a

sair com calma. Ainda é muito ruim, mas suporto. Depois ele volta

mais devagar ainda. Levamos um tempo assim, e quando já estou


com a testa suada, a dor começa a ceder espaço para o prazer.

Sinto prazer com sua mão entre as minhas pernas,

tocando meu sexo e seu membro penetrando o meu ânus. Aos


poucos, passo a gostar muito, a querer que não seja tão cuidadoso

como no início.

Mas o loiro sabe o que faz. Ele me coloca de quatro no

meio da cama, segura-me pela cintura e, gradativamente, aumenta


o ritmo das estocadas.

— Que delícia de cuzinho, querida... — fala e arremete.

— Vai me deixar gozar nele?


— E onde mais você quiser, sou sua — afirmo, pois me

sinto assim, não me importo com as implicações.

E quando sinto que vou perder a força das minhas

pernas, que vou desabar, o loiro fica mais devagar nas penetrações,
enfia os dedos na minha boceta, intercalando com o membro na

minha bunda e me leva para a beira do precipício.

— Agora você vai gozar, baby — fala, e o meu corpo,


como se tivesse sido programado para obedecer ao seu comando,

reage. Então começo a sofrer espasmos do gozo que vem forte e,

com o sangue pegando fogo, ainda tenho força para o encontrar no

meio das arremetidas, jogando o quadril para trás.

— Gostosa do caralho! — Agora com uma mão

segurando fortemente os cabelos que ficam próximos da minha

nuca, e uma mão segurando com possessividade a minha cintura, o


meu chefe enfia o seu pau pela última vez e vai tão profundamente

que consigo ver estrelas piscando na frente dos meus olhos.

Ele goza e urra o meu nome. Não para de se mover atrás

de mim até que as sensações passem. E quando nós dois nos


acalmamos e eu caio de bruços, o homem ainda está dentro de

mim, indo e vindo preguiçosamente.


John Harper não quer se afastar, e eu também não

desejo que se afaste. Mas é inevitável, então ele se joga deitado de


costas ao meu lado e continuo de bruços sem me mexer.

— Se todas as brigas terminassem assim...

— A gente não brigou — digo, enquanto tento acalmar a

minha respiração.

— Você só deixou de transar comigo porque estava

irritada. Se tivesse sido uma briga, eu teria tido a chance de me

defender e te fazer me perdoar mais rápido.

— Não quero falar e nem lembrar daquilo. O importante é


que estamos aqui, juntos e apreciando um sexo gostoso.

Embora para mim o meu chefe seja mais do que um sexo

gostoso, prefiro o tratar como realmente é, sem ficar pensando nas


vezes em que pareceu necessitar de mim para algo além do sexo e

nas vezes que me chamou de amor. É melhor assim, não posso me

sabotar. Não dessa vez.

— Você tinha razão quando pensou que não precisaria

ter a cláusula sobre sexo no nosso acordo. De qualquer forma,

acabaríamos fazendo — diz, levanta o tronco e beija as minhas

costas.
— Pois é, acabaríamos fazendo de qualquer forma —
digo.

Falarmos sobre o contrato é bom, pois embora tenha sido

maravilhoso o que acabou de acontecer, não posso esquecer o que


realmente tem nos mantido unidos e nem que há prazo para acabar.

— Que qual eu preparar a banheira para a gente?

— Não posso pensar em nada melhor — digo, John beija

de leve os meus lábios e corre para o banheiro.

Fico lânguida, apenas descansando depois de uma

maratona sexual, pois John é o homem mais intenso com quem já

estive desde o início da minha vida sexual. Quando volta, estou


quase dormindo, mas gosto de o sentir me pegando em seus

braços.

John Harper é um homem gentil.

Eu não posso me apaixonar por você. Sei que me

destruiria. Dessa vez, sem chance de conserto.

JOHN
Depois de ter dado banho em uma Manu sonolenta, pois
exigi muito dela e sei que faço isso quando nosso sexo é mais do
que uma rapidinha no meio do expediente, agora a tenho sentada
entre as minhas pernas, com as costas contra o meu peito.

Está mais desperta dentro da água morna, espumada e

cheirosa. Estou fazendo carinhos preguiçosos que nada tem de


sexual na sua barriga.

— Me fale sobre você — peço, e surpreendo até a mim


mesmo. Sou autocentrado e nunca quis saber mais da vida de

qualquer mulher que já esteve comigo.

— Quer mesmo saber, ou está procurando assunto para


que eu não durma? — questiona, e gosto da forma que está

fazendo carinho na mesma mão que acaricia a sua barriga.

— Quer dormir? Se quiser, te coloco na cama agora


mesmo — assevero ao beijar o seu pescoço, pois tenho a

necessidade de estar sempre a tocando de alguma forma.

Terminamos de transar, mas ao invés de me sentir ao


menos um pouco satisfeito, a necessidade aumenta.

— Ainda não — diz. — Se a minha história for chata

demais, me avise que dou uma resumida — brinca. — Mas depois


quero saber mais de você também — afirma.
— Não tem nada de interessante que já não saiba, mas
prometo que conto o que quiser saber.

E assim, colados dentro da banheira grande, ficamos


conversando madrugada adentro. Gosto de ouvir cada pequeno
detalhe de sua vida. Da infância feliz sendo filha única e da chegada

de uma irmã quando estava entrando na fase da adolescência.


Entendo e acho admirável o amor que demonstra sentir pela mãe.

Manuella fala que seria capaz de fazer qualquer coisa


pelas duas, e eu acredito piamente em suas palavras.

Reluta, mas insisto até que me conte sobre os seus


namorados. Ela diz que foram muitos antes de se casar e ficar presa
em uma relação insossa durante nove anos. Não entra na minha

cabeça o que levaria uma mulher tão linda, forte e dona de si a se


submeter a algo que não era bom para ela de nenhuma maneira.

Mas não digo o que penso, afinal, quem sou eu?

Já passou, e graças a idiotice de um homem, ela está


aqui comigo. Um não, dois homens.

Tanto eu quanto ela ficamos um pouco desconfortáveis


quando ela começa a citar o namoro de poucos meses com o Dante

Dutra. Manuella se limita a dizer que ele era um homem bonito que
surgiu na sua vida em um momento que estava na fossa. Fala como
se tivesse sido um erro, e concordo que foi, já que não estão juntos.

Só não entendo o porquê de o tratar bem, mesmo


demonstrando que sente alguma mágoa. Na verdade, há muitas

coisas que não dá para entender da estranha relação, porque


praticamente não fala sobre ela. Rapidamente, Manu muda o tópico
da conversa e tento não me importar, afinal, acabou para Dante

Dutra. E mesmo que não queira aceitar, Manuella está comigo. Pelo
menos por enquanto.

Sempre que falamos sobre o nosso acordo, Manuella não


faz nenhuma questão de dizer qual foi a finalidade que deu para o
dinheiro, se é que deu alguma. Ela não parece ser uma pessoa

movida pelo dinheiro e, vez ou outra, a questão surge na minha


mente. Poderia apostar que existe um bom motivo para ter aceitado

essa farsa.

E mesmo se tiver sido por ambição, não muda em nada o


que sinto por ela, pois eu mesmo sou uma pessoa cheia de

ambições, e faço o que é preciso em nome dela.

— Será que a sua mãe vai gostar de mim? — pergunta.


Agora está sentada em cima das minhas pernas de frente

para mim, e continua não tendo nada sexual nos nossos carinhos.
Acabamos de falar sobre a sua vida. Agora a pauta mudou para
mim.

— Quer a resposta sincera, ou a que soe melhor aos


ouvidos? — brinco, mas não deixo de estar a preparando para o
futuro.

— A verdade. Tenho que estar preparada.

— A dona Alicia Harper é uma mulher de cinquenta anos


que esqueceu de crescer depois que fez vinte anos. Ela gosta de
julgar pela aparência muitas vezes. Gosta de viajar, de carros de

luxo e dinheiro.

— E mesmo assim, você a ama — Manu fala, enquanto

faz carinho na minha nuca.

— Amo, afinal, é a minha mãe. Mas também não posso


dizer que foi a melhor do mundo, pois ela passou mais tempo

viajando do que comigo enquanto eu crescia. Fui criado pelos meus


avós praticamente.

— Pobre menino rico — provoca e beija entre as minhas


sobrancelhas com carinho.
Quando quer, essa mulher é uma fofa. O homem que
tiver a sorte de a ter por mais tempo em sua vida será realizado.

— E quanto a gostar de você, pode ser que estranhe a

escolha que fiz no início — digo.

— Por quê?

— Você é diferente das mulheres com que costumo ser


flagrado por aí. É toda natural. Se eu soubesse que era tão bom,

teria experimentado antes — brinco e ganho um tapa seco no braço.


— É mais velha, embora pareça uma menina, e trabalhadora.
Mamãe nem sabe o significado da palavra trabalho. Depois vai te

amar e apoiar o nosso casamento.

— Espero que não apoie demais, porque estou


preocupada com a sua avó — ela fala.

Realmente, a minha avó gosta muito da minha suposta


noiva, e hoje já não sei se os planos estão mesmo saindo da forma

como deveriam. Por outro lado, posso me preocupar com os


sentimentos da vovó depois que alcançar o meu objetivo.

— O que a gente combinou sobre apenas aproveitar? —


digo, fugindo como posso de assuntos que não são sobre nós dois
nesses poucos dias em que ficaremos sozinhos.
De repente, comecei a sentir a necessidade de apenas
viver o agora. Pensar em trabalho quando for extremamente

necessário.

— Apenas aproveitar, querido — diz e gosto mais do que


deveria do “querido”.

— Nossa, não acredito que a gata de unhas afiadas que


conheci sabe ser carinhosa — a provoco e levo os dedos para as

suas costelas. — Tão irritadinha.

— Porque você merecia!

— Espero que aceite que merece isso também.

Começo a fazer cócegas leves e a sua risada alta faz as


minhas entranhas se revirarem com algo que não sei explicar, mas é

bom e me toca fundo.

E quando, com o dia quase amanhecendo, finalmente


nos deitamos na cama de casal, a gente simplesmente se encaixa.
Ela se deita de lado e eu me posiciono às suas costas, a abraçando

pela cintura. Pela primeira vez, em vinte e nove anos, durmo de


conchinha com uma mulher, mas sinto como se fosse costumeiro.
Uma vida inteira dormindo com o calor do corpo dessa mulher linda.
E durante os dois dias seguintes, cujos compromissos de
trabalho foram curtos e breves, Manu e eu de fato ficamos juntos

sem nos preocuparmos com nada além do momento. Entre


passeios, geralmente pelos locais escolhidos por ela, e dormirmos

abraçados depois do sexo, a viagem foi mais do que parecia que


seria e do que deveria ter sido.

Nos tornamos próximos, e agora que estamos voltando

para casa, lado a lado nos assentos do avião, gostaria de ter ficado
um pouco mais. Descobri como é bom às vezes se permitir apenas
relaxar e aproveitar a companhia de alguém.

— Manu, tenho que fazer uma confissão, mas tem que

prometer que não vai ficar brava comigo — digo quando o avião
decola.

— Se está pedindo, sei que vou ficar. Fale de uma vez, o

que aprontou?

— Eu armei para que a gente dividisse o mesmo quarto


— confesso, a mulher nem parece surpresa ou irritada.

— Eu já suspeitava, porque aquela confusão com os


quartos foi muito estranha — diz.

— E por que eu ainda tenho um pau entre as pernas?


— Porque eu gosto muito dele. Apesar de ter tentado me

enrolar, aviso que não conseguirá, pois sou tão esperta quanto
você, fez por um bom motivo. No fim das contas, amei ter ficado na
suíte com você. — Ela está mansa e com um sorriso tatuado no

rosto.

Mas também, depois de tantos bons passeios e sexo de

qualidade, até eu ficaria assim.

— Já que não está com raiva, por que não se senta aqui

no meu colo rapidinho?

— John, estamos em um avião, temos que manter a


compost... — Antes que tenha chance de terminar o discurso, abro o

seu cinto, a puxo para cima das minhas pernas e a beijo.

Estamos sozinhos em um jatinho particular da família.

Antes de pousarmos, vou foder mais uma vez a sua boceta, porque
preciso aproveitar cada oportunidade que tenho até chegarmos em
casa.

Agora que a viagem acabou, sinto que as próximas


semanas serão bastante agitadas. Está chegando o momento de
grandes movimentos para o xeque-mate, e vou precisar muito da
Manuella como aliada. E por mais que sinta que estou obcecado por
ela, tenho um alvo e ele não mudou de lugar.

Manuella é a mulher perfeita para mim, mas, no

momento, não é a minha prioridade.


CAPÍTULO 28

MANUELLA
— Tem certeza de que não irei passar vergonha, filha? —

A minha mãe, mesmo que saiba que é tudo mentira, quer fazer
bonito na frente da família do meu chefe e suposto namorado.

Ela dedicou as últimas duas semanas para fazer vestidos


perfeitos para nós duas e, ainda assim, está insegura. Não deveria,
pois é a melhor costureira que conheço, e nenhum vestido caro

comprado em uma loja seria mais bonito do que o vermelho tomara


que caia e de comprimento um pouco acima do joelho que fez para

mim.

Deveria estar usando o verde que a senhora Érika me

deu para a ocasião, mas simplesmente não pude sequer pensar em


usá-lo hoje. Espero que ela me entenda.

— A senhora está ótima, mamãe. Nós três estamos —


digo quando saímos do táxi. Dessa vez não trouxe o Tito, pois iria

contra a mentira que conto em casa de que o seu papel é me buscar


e deixar em casa depois do trabalho.
— Espero que esteja certa e tenha aprendido alguma

coisa com essa gente rica, Manu — Mika fala quando olha
deslumbrada para a mansão dos Harper. A mesma reação que tive

quando vi pela primeira vez.

A gente entra. E enquanto elas caminham em silêncio,

observando cada detalhe da propriedade que é uma realidade

completamente diferente da que nós três vivemos, aproveito para


tentar acalmar o meu próprio nervosismo, pois nem de longe estou

tranquila quanto tento mostrar para as duas.

As últimas duas semanas foram uma loucura, e estive me

preparando para esse jantar desde o dia em que John e eu


chegamos de viagem. Assim que me deixou na porta de casa,

depois de quase não ter conseguido desgrudar a boca da minha,


meu chefe avisou que sua avó começaria a pressionar por um jantar

entre as duas famílias.

E foi exatamente o que a Érika fez. Logo na segunda-

feira recebi a sua ligação, dizendo que gostaria de conhecer a

minha mãe e a minha irmã. Deixei a data nas suas mãos e, ao

marcar para hoje, ficou a sensação de que a mulher sabia dos

prazos que o seu neto e eu combinamos para cada passo do nosso

suposto relacionamento.
Ter ido para Gramado com o meu chefe, onde fui feliz
como nunca havia sido, foi como uma espécie de preparação para o

que viria depois, pois foi só colocar os pés na construtora para a

pressão e o peso do que estou fazendo pesasse nos meus ombros.

As minhas amigas são a parte leve da minha rotina. Elas

estão contentes que eu esteja supostamente representando a nossa

classe ao ter fisgado o chefe. Me divirto contando sobre as nossas

aventuras sexuais com detalhes.

Os momentos mais difíceis ficam por conta do Tales.

Esse, sempre que pode, me interpela para me pressionar, para

tentar me fazer confessar que a minha relação com o John não é

real. Não sei se é porque está fazendo o mesmo que o primo, ou se

tem uma intuição muito boa, mas o homem está convicto de que
John e eu estamos armando.

Mas está desesperado, porque está vendo que o John

passou na sua frente, tanto em competência quanto em dar à avó


de ambos o homem supostamente comprometido com o amor que

ela tanto quer.

Sempre que saio de uma conversa séria com Tales, conto

para o poderoso chefinho sobre cada palavra dita e ele me ajuda a


relaxar da melhor maneira que pode. O sexo ajuda mais do que as

palavras garantidoras de que está tudo sob controle.

A pressão constante e a aproximação do desfecho que

John Harper almeja acabam amenizando o impacto que a viagem


causou em mim. É claro que da minha parte existe o vício no sexo

bom, o fascínio pela beleza e inteligência do loiro. A cada dia que


passa, mais perto da beira de um precipício me sinto. Desejo me
jogar, mas saber que para ele é diferente me mantém com os pés

no chão.

Todos os dias, mesmo que a gente se dê bem, que

troquemos mensagens quando não estamos juntos e façamos sexo


constante, ele se mostra mais focado no seu objetivo. E quanto mais
focado John Harper fica, menos chance eu tenho de me esquecer

que não sou nada mais do que o sexo fácil e útil. A sua parceira de
crime. Um meio para o fim.

E quando o fim chegar, sei que está chegando, pois a


empresa já está quase sem presidente, porque o Jonathan não

anda fazendo muito bem o seu trabalho em seus últimos dias no


comando, não estarei ao lado do meu chefe vendo a sua vitória.

Quando ele se aquietar de verdade, como é o sonho da


sua avó, e descobri nas nossas conversas que não é só por causa
da empresa, e sim porque o ama e quer que seja feliz, não serei a

sua escolhida.

O que mais me angustia é que existe uma parte tola

minha que queria estar ao seu lado, que fosse de verdade. Seria tão
menos difícil mentir para essas pessoas se não tivesse caído na

armadilha que nós dois criamos

Minto, e obrigo minha família a fazer o mesmo.

Me perdi em devaneios, e só me dou conta de que


chegamos ao destino quando estamos sendo recebidos de maneira
educada, porém contida, porque os ricos são contidos, pela senhora

Érika.

O meu namorado está ao seu lado, mas logo vem até

mim e me abraça. Ele se acostumou a dar um beijo no meu pescoço


ao final de cada toque, e quando faz assim me esqueço que não é

real.

— Está linda, querida — o elogio é finalizado com uma

olhada lenta da minha cabeça aos pés —, mas prefiro quando não
está vestindo nada — sussurra no meu ouvido.

Nós estamos alheios ao que acontece ao nosso redor, e

cabe a minha família e a sua se apresentarem sem a nossa ajuda.


— Está tudo bem? — pergunta. Deve estar querendo
saber se estou preparada para fazer o papel para o qual estou
sendo bem paga. — Estou te sentindo tensa.

— Não se preocupe, eu sei o que tenho que fazer. Não


farei nada fora do combinado. Sou a sua namorada e estamos

apaixonados — falo com frieza e praticidade, como tem que ser,


jogando bobagens sem propósito sobre sentimentos para o fundo da

mente.

— Manuella...

— Como você está linda — a avó do meu chefe

interrompe, antes que ele tenha chance de dizer mais do que o meu
nome. — Sei que ama a sua namorada e que quer ficar o tempo

todo grudado nela, mas hoje é dia de apresentações, querido — a


senhora fala e me leva com ela.

Enquanto sou levada, olho por cima do ombro. As três


pessoas que estou abandonando são as únicas que sabem sobre a

farsa.

A sala está relativamente cheia, e me surpreendo com o

quanto a família Harper é grande. Logo que me vê, uma mulher


muito bonita com cabelos loiros platinados vem me cumprimentar.
Deve estar na casa dos cinquenta anos e, pela forma curiosa como
me olha, aposto que é a mãe do John.

— Finalmente estou conhecendo uma namorada do meu


filho — ela diz. — Ele está de parabéns, porque você é muito bonita.
Uma mulher de verdade, não como uma das Barbies por quem

costumava se interessar.

— Obrigada, você é muito gentil — digo. Aposto que não


gostaria de ser tratada por “senhora”.

John estava errado, a sua mãe gosta de mim. E mesmo

que os minutos que passamos conversando, onde conto mentiras


convincentes sobre o nosso relacionamento, não sejam longos,

gosto dela também. Como não gostar de uma pessoa tão de bem

com a vida?

O meu chefe, por outro lado, fica incumbido de


apresentar a minha família para os outros membros da sua.

Estamos dando um espetáculo aqui, e a cada sorriso de alegria que

vejo no rosto da senhora Érika, e até no do senhor Gregory, que é

mais contido, pior me sinto.

Com menos de meia hora de show, só quero que ele

acabe. Quero me esconder debaixo das minhas cobertas como uma


criança e só sair quando tudo isso acabar.

Para piorar, o idiota do Tales não tira os olhos de mim.


Sem se aproximar, sem dizer uma palavra, o homem faz com que

eu queira confessar todos os meus pecados. Como se estivesse

lendo os meus pensamentos, como se sentisse o meu desconforto,


o loiro vem para perto de mim.

— Acho que já fiquei tempo demais longe da minha

namorada — ele me abraça e relaxo. É contraditório, pois ao

mesmo tempo que é a causa da minha tensão, John Harper também


é o antídoto para as minhas angústias.

— Demorou, mas escolheu certo, não é, querido?

— Eu sempre acerto, mãe — ele pisca para ela e me leva

para um canto.

Olho em busca da minha mãe e vejo ela em uma

conversa animada com a senhora Érika. Parece que estão se dando

bem e me pergunto se, assim como eu, mamãe se esqueceu de que


é tudo cena. Essas pessoas não farão parte de nossas vidas.

Mika está conversando com um rapaz da sua idade.

Provavelmente tentando fisgar alguém que pague o jantar quando


saírem. Essa menina não tem jeito!
— Parece que o jantar está sendo um sucesso — eu falo.

— Mas você não parece feliz — John rebate.

— Só estou tensa. Pode não parecer, mas não tenho o


costume de mentir. Ainda mais com tanta naturalidade — aviso.

— Quer que eu te ajude a relaxar?

— Não, obrigada — digo, e mesmo assim sou beijada.

John não se importa com as nossas famílias quando me

beija de maneira pouco discreta durante vários minutos. Mas se a


sua intenção era mesmo me ajudar, conseguiu com louvor, pois

enquanto nos beijamos, ou mesmo quando acaba e começamos a

circular de mãos dadas, me sinto muito melhor.

Relaxo e curto como se estivesse em um jantar qualquer

até o momento em que todos os convidados se dirigem para a mesa

de jantar. Antes de mais nada, Érika faz o discurso sobre o motivo


da reunião familiar, e a forma como está feliz é apenas uma prova

do quanto se importa com o neto. Envolver o que John tanto queria

foi a sua forma de fazê-lo se aquietar e pensar em formar uma

família.

Eu não duvido de mais nada.


E depois que a senhora acaba, o meu corpo entra em

transe, pois finalmente chegou a grande cena, o momento mais


importante da noite. O motivo pelo qual o acordo existe.

— Antes de atacarmos a comida, queria falar rapidinho,

vovó — diz, ela acena em concordância. — Eu estou realmente

apaixonado por essa linda mulher. — Não existe motivo para eu


estar sem jeito. — E confesso que estou um pouco surpreso com o

quanto a paixão pode ser urgente. Ela arde no coração e não

permite mais que a pessoa espere.

“Eu não quero esperar, porque tenho certeza do que

desejo. E hoje, mesmo que para o mundo pareça que estou indo

rápido demais, quero pedir a sua mão em casamento. Case-se


comigo, Manuella Ortega. Seja a minha mulher e me torne o homem

mais feliz do mundo”

O silêncio reina, eu não tenho coragem de olhar para as

pessoas. Mas os meus olhos estão ardendo, tem um nó na minha


garganta, porque as suas palavras foram lindas, e quem me dera

fossem reais.

— Eu aceito — digo, então ele tira um anel lindo com

uma pedra de diamante e o coloca no meu dado.


As pessoas aplaudem muito enquanto o loiro me abraça

e beija meus lábios. Quando as palmas acabam, John Harper,

sentado ao meu lado, faz um carinho no meu rosto e diz:

— Eu te amo.

— Eu...

Tento forçar a minha fala, mas as palavras não saem.

Elas não podem sair, porque as valorizo demais para que possa
dizê-las de maneira mentirosa e com o intuito de enganar. Mas ele é

rápido e, ao perceber o meu desconforto, me beija novamente.

O beijo que se inicia serve para desviar a atenção das

pessoas sentadas à mesa. Então é isso, tudo saiu como o


esperado. Como combinamos em cada detalhe e até ensaiamos,

mas não imaginei que fosse ficar tão mexida, provavelmente, da

forma que ficaria se fosse real.

A sua avó não está se aguentando de felicidade, os seus


pais e o resto da família, apesar de surpresos com o pedido

repentino, acreditam piamente que estamos apaixonados o

suficiente para termos pressa.

O jantar parece insosso na minha boca, e depois que

deixamos a mesa e todos voltam a se confraternizar e a nos dar os


parabéns pelo noivado, congelo um sorriso no meu rosto, que não

se desfaz até que a noite termine.

— Eu realmente não esperava, mas confesso que estou

muito contente — Érika fala enquanto nos despedimos. — Espero

que esse casamento não demore para acontecer. Antes de morrer,

quero ver meus bisnetos correndo por essa casa. — Érika fala, e eu
chego no meu limite.

— Vovó, assim a senhora vai assustar a minha noiva —

John fala ao beijar o meu rosto.

— Foi um prazer conhecer toda a família do meu futuro

genro, mas está na nossa hora. A minha filha está cansada, não é

mesmo, querida?

Conhecendo-me como ninguém, Abigail intervém. Além


do mais, é uma excelente atriz, pois ela e o John sequer trocaram

mais do que uma palavra antes de hoje. Pelas circunstâncias,

mamãe nem vai com a cara dele.

— Bastante — digo ao dar um sorriso fraco.

— Tem certeza de que não quer que eu acompanhe

vocês? — indaga.
— Não. E obrigada pelo motorista — beijo os seus lábios
de leve e me afasto com dona Abigail e Mika.

Sei que ele queria ter tido a oportunidade de falar comigo

a sós mais um pouco, mas não tenho condições. Não hoje. A curta
viagem é feita em silêncio. Ao chegarmos em casa, tenho toda a

intenção de ir direto para o quarto, mas a minha mãe não deixa.

— Você está triste, não é?

— Cansada — minto.

— Sente-se aqui, filha — Abigail me puxa para o sofá.

— Vou para o quarto, porque essa noite foi demais —

Mika fala. Ela é tão fora da realidade que é a única pessoa feliz

aqui.

— Você não imaginava que seria assim quando aceitou o

acordo? — A senhora pergunta. — Mentir não é fácil, filha, não para


as pessoas honestas.

— Não é só pela mentira — confesso. — Eu gosto mais


do que deveria daquele homem, mãe. A gente está junto, e mesmo
que eu saiba que não é nada sério, que tenha mantido na minha

mente a verdade de que era só um acordo, acabei me envolvendo


sentimentalmente.
— Manuella, por que você faz isso com você mesma? —
Não gosto da pena que vejo no seu rosto. — Está sempre se
sabotando. Primeiro com aquele casamento fracassado. Depois

com o Dante que te agredia!

— Ele... não foi por mal — ela sabe que esse assunto me
faz mal e, mesmo assim, sempre volta para ele. — Foi um acidente.

Não foi só um acidente. As palavras estão gravadas na

minha mente, mas nunca são as que deixam a minha boca.

— Sempre é um acidente, filha. É isso que homens como


ele querem fazer mulheres como você pensarem.

— Já chega, mãe! — digo e me levanto. — Dessa vez vai


ser diferente, porque John nunca vai saber que gosto dele. O acordo
vai acabar e vou pegar o dinheiro que me dará e sumirei da vida

dessa gente para sempre.

— Faça isso, filha. Estivemos no mesmo jantar e vimos


que aquelas pessoas, apesar de terem sido gentis, não têm nada a

ver com a nossa realidade. John Harper é um perigo que você não
precisa correr, ouça a sua mãe — diz.

— Eu sei — digo, beijo o seu rosto e me retiro para o


quarto.
Felizmente, Mika está entretida com o seu celular, pois
não quero mais falar hoje. Depois de um tempo debaixo da água
morna, deito-me, mas não consigo dormir. Não consigo nem mesmo

chorar, algo de que não reclamaria hoje, não se fosse para aliviar o
peso do meu coração.
CAPÍTULO 29

JOHN
E aqui estou eu, trabalhando no meu escritório em plena

manhã de segunda-feira como todas as outras segundas quando,


de repente...

Caralho! Eu estou noivo. Coloquei uma aliança no dedo


de uma mulher e não estou surtando com isso. É claro que não é
sério, mas, ainda assim, levo a questão mais numa boa do que

pensei. Imaginava que fosse sentir calafrios quando o momento


chegasse, que fosse sofrer só de imaginar tudo em uma realidade

que não fosse fingimento.

Mas a verdade é que eu estou me sentindo lesado. Sabe

aquilo de “ganhou, mas não vai levar?” Estou assim há exatos oito
dias do caralho!

Depois de eu ter preparado Manu para o que viria, assim


que voltamos de Gramado, tudo aconteceu como o esperado, e o

meu teatro ao pedi-la em casamento, um pedido surpresa, para


todos os efeitos, foi digno do Oscar. Eu treinei durante vários dias
aquelas palavras bonitas ditas diante das nossas famílias, mas o

que senti quando as proferi não parecia fingimento.

O que vi nos seus olhos não pareceu fingimento. Manu

estava teoricamente sendo pedida em casamento, mas não


conseguiu esconder a tristeza e a falta de ânimo. Não de mim, que

já a conheço bem. Não da sua família.

Mas como os planos estão dando mais certo do que o

esperado, escolhi fingir que estava vendo coisas onde não tinham.
Acreditei que ela só estava incomodada pela mentira, afinal, e

apesar de nunca ter aberto a boca para reclamar, eu sei que não

gosta do que estamos fazendo.

Por que aceitou o dinheiro? Não sabia que o acordo era

sobre mentir para todos?

Talvez, e só agora dou alguma importância para o

assunto, haja mesmo algum motivo que não seja apenas a ambição

para ela estar comigo nesse acordo de relacionamento de fachada.

O sexo que fazemos é real. Gosto dela de verdade, mas

com certeza não a amo. Falei as palavras de maneira natural e não

ouvi as mesmas saindo de sua boca, embora, devo confessar, tenha


desejado ouvi-las. Também não estou ansioso para me casar e,
ainda assim, não deixo de pensar nela.

O que está acontecendo aqui é só mais um episódio dos


muitos em que paro de fazer algo importante para pensar na minha

noivinha que, mais uma vez, se afastou de mim.

Ela é insuportável e, mesmo assim, tudo o que Manuella

faz tem o poder de me afetar de alguma forma. No momento, por


exemplo, não quero aceitar as suas desculpas para não me deixar

tocá-la nos últimos dias. Está muito arisca e fria, mas o fenômeno só

ocorre quando fala comigo, pois daqui consigo ouvir a sua risada

gostosa com as outras mulheres do andar.

A pior parte é saber que, mesmo que queira, não posso

fazer cobranças, afinal, não temos nada sério. É apenas um caso

que envolve sexo consensual e sem compromisso. Se nos últimos

dias não tem estado disposta, eu deveria aceitar, não é?

Manuella foi o melhor investimento que fiz na minha vida.

Apostei muito no acordo quando a ideia surgiu, mas nem

nos meus melhores sonhos imaginei que ela se tornaria a escolha

perfeita. Tinha que ser Manuella Ortega. E mesmo com tudo dando
certo, tendo quase certeza de que o meu priminho não tem mais

chance alguma, não estou cem por cento satisfeito.

Em outros tempos, eu já teria me cansado de sua boceta

e partido para outra, mas aqui estou eu, frustrado por estar sendo
ignorado. E não é só pelo sexo maravilhoso. Estou sentindo falta de

quando a morena sorria para mim e tornava os meus dias mais


quentes em todos os sentidos.

Percebo que estou sentindo falta das conversas que

tínhamos, que se tornaram tão mais pessoais depois que viajamos


juntos para Gramado.

— Que cara é essa? — A voz do Pietro, e sua figura feia


parada na minha frente, quase me fazem cair da cadeira.

— Que susto, porra!

— Notei que estava longe. Nem notou a minha presença

— diz ao se sentar. Não esperou pelo convite. — O engraçado é


que está acontecendo a mesma coisa com a miss Colômbia.

— Ela te disse alguma coisa? — pergunto, interessado na

conversa, agora que falou sobre a minha secretária.

— Tenho a sua atenção agora, galã? — debocha. Pietro

ama o fato de eu estar na bad.


Nunca me viu perder mais de que um pensamento por

causa de mulher, então a morena infernal surgiu como uma praga e


colocou o meu mundo de ponta-cabeça. Nem sei mais que tipo de

homem sou.

— Fale logo, caralho!

— Como é gentil. — Eu juro que vou matá-lo. — E


respondendo a sua pergunta, ela não disse nada. Nos falamos, mas
não somos melhores amigos — avisa. — Mas eu tenho prestado

atenção naquela mulher nos últimos dias, e ela não tem sido mais a
mesma. Sorri com as outras, mas quando a pego em silêncio noto

um olhar de tristeza.

— Ela está assim desde o jantar em que a pedi em

casamento — falo como se fosse um absurdo.

— É porque nem todos mentem com tanta facilidade

como você, meu amigo. Já pensou que talvez a sua secretária


possa gostar de verdade da sua avó. Pior ainda, que goste de você?

Ele tem um bom ponto.

— Não foi o combinado — falo.

— John, existem riscos nesse tipo de plano, e você sabia


disso. Estamos falando de seres humanos, e seres humanos têm
sentimentos. Até mesmo você.

— O que está querendo insinuar? — Eu sei que não vou

gostar da resposta.

— Está sendo muito afetado pelo charme da sua


secretária, barra noiva de mentira. Gosta dela e não sabe lidar com

esse fato, pois nunca viveu nada parecido antes.

— De que lado você está? — Acho importante questionar

o que acaba de dizer.

Sei que gosto da morena. Constatei isso durante a nossa

viagem. A pergunta é: o quanto gosto dela?

Porra! É apenas uma mulher, que tem uma realidade de

vida tão diferente da minha.

— Estou do seu lado e sempre estarei, mas é por te amar


como um irmão que estou te alertando. Foi bom o que fizemos,

estamos no caminho certo para o objetivo que traçamos, mas não


esqueça do que está ficando pelo caminho, meu amigo.

— Não sabia que tinha um coração — debocho do seu


conselho, típico de quem sabe que a outra pessoa está certa, mas

não quer aceitar.


— Tenho, e amo você. Só fique atento, porque não irei ao
seu socorro quando estiver destruído por causa dessa mulher —
diz.

— Não rogue praga, Pietro. Ela não vai me destruir —


assevero, mas sinto um calafrio pela forma incrédula e preocupada

como me olha. — A única coisa de que sinto falta é da boceta


quente dela — digo, olho para a porta e sinto o meu rosto perdendo
a cor quando a vejo parada me encarando.

Pietro olha para ela, e depois para mim de novo com a

sobrancelha arqueada.

Desgraça pouca é bobagem.

— Perdão por ter aberto sem avisar, mas a sua avó

acabou de me ligar para irmos almoçar juntas. Depois ela virá para

a empresa.

— Tudo bem. Obrigado — digo, olho para o seu dedo e,

por algum motivo, sinto alívio quando vejo o meu anel.

Mas o que eu esperava? Que queimasse, vendesse ou

jogasse fora?

Temos um acordo, porra!

— Ela ouviu. Você sabe, não é? — Pietro fala o óbvio.


— Por que eu não sabia que a minha avó está vindo para

a empresa? — questiono, estranhando esse fato. Quanto a sua


pergunta, prefiro não responder, pois sinto que sempre faço merda

quando se trata dela e me torno a pior versão de mim mesmo.

— Você sabe como a sua velha é imprevisível. E essa


vinda dela até aqui não pode ser coisa boa — o homem me alerta.

— Palpites do que possa ser? — pergunto, então me

atenho ao que realmente importa. A parte da minha vida onde sei

que posso ter total controle.

Deixo de lado todos os pensamentos sobre a morena e

do quanto posso ter a deixado chateada por ter falado daquela

forma. Não era para Manu ter ouvido, até porque, eu menti. Faz
tempo que não é apenas um corpo disponível, acho que nunca foi.

As horas até a chegada da minha avó passam de forma

lenta e torturante. Ela iria me pegar de surpresa, mas a minha

secretária me mandou mensagens durante o almoço das duas,


cumprindo a sua parte no acordo, então faço ideia do que vem fazer

aqui.

Estou nervoso no escritório, já faz cinco minutos que

estava chegando, mas ainda não está aqui.

— Ela está subindo. — Aparentemente nervosa como eu,

e acredito que saiba de algo que não quer me contar, e não posso a

obrigar, Manu entra no escritório para falar comigo. — Boa sorte.

— Vem aqui — peço, ela vem, mas não muito perto. —

Independente do que essa reunião pode significar...

— Aquela cadeira já é sua. Nada do que fizemos foi em

vão.

— E o que vocês dois fizeram?

Por um momento, Manu e eu viramos duas estátuas com

os corpos tensos e sem nos movermos. Mas me obrigo a me


recuperar com o instinto de sobrevivência e pensar rápido em uma

desculpa.

— Como assim, vovó? Nós dois nos dedicamos como a

boa equipe que somos. A senhora deve ter notado, depois do


sucesso que foi a viagem para Gramado e da conta ter caído nas

minhas mãos.
— Eu devo confessar que no quesito competência você é

o melhor — diz. Satisfeito, eu olho para a minha secretária, jogo


uma piscadinha e ela sorri de volta, mas o sorriso não alcança os

seus olhos.

— Bom, vou deixar vocês a sós. Ainda tenho que ver se

está tudo certo com a sala de reuniões.

Assim que Manu sai, a minha avó pergunta:

— Está tudo bem com vocês?

— Sim, por quê? — digo com rapidez.

O que foi que você fez nesse almoço, morena?

— Não sei. A sua noiva estava mais quieta. Gosta de

falar e falou pouco. Está sempre com aqueles dentes bonitos à

mostra, mas hoje mal os vi. — Pelo visto, Manu é mais transparente
do que eu imaginava.

— Vovó, todo mundo tem os seus dias ruins.

— É, talvez você tenha razão. Mas trate bem essa garota.

Dificilmente encontrará alguém como ela outra vez.

Algo me diz que ela tem toda razão.

— Gosta mesmo da minha noiva, não é?


— E não deveria? Ela é sincera, espontânea e gosta do

neto que tenho como um filho. Não teria como não a amar também.

De repente, o remorso pelo que faço vem com força.

— Vovó...

Mas o que penso em fazer? Acabar com o meu sonho por

causa de uma mulher e sentimentalismo barato?

— Vem, vamos para a sala de reuniões. Não tenho todo o

tempo do mundo para ficar aqui.

Na sala, cuja mesa grande redonda tem capacidade para

vinte pessoas sentadas, as exatas vinte que compõem o conselho

diretor, estamos eu, o Tales, a minha avó e o meu pai. Apenas as

pessoas mais interessadas e diretamente envolvidas na troca de


presidente.

Todo o conselho diretor sabia que eu era o sucessor

natural do meu pai, e essa não seria uma escolha difícil se o meu
primo não tivesse saído do seu lugar para tentar roubar o meu. E

como não existe nada que o impeça de sonhar, o seu anseio não

pôde ser ignorado.

Mas, diferente do que veio demonstrando nos últimos

meses, não parece tão confiante de que tem alguma chance contra
mim. A presidência do grupo Harper está quase nas minhas mãos.

O voto favorável da vovó vai apenas confirmar o de todo o conselho


em seguida.

— Qual a razão da reunião repentina, mamãe? — Meu

pai pergunta.

— A minha avó deve ter caído na realidade e visto que


não tem por que pensar, eu sou...

— Cale a boca, Tales. Nem você acredita nessas merdas

— falo.

— Calem-se! Os três. Não fiquem de picuinhas como se


estivessem no pátio da casa de vocês. Essa é uma empresa séria.

— Obedecemos, afinal, temos juízo. — Quanto ao fato de estarmos

reunidos aqui, gostaria de informar que estou pretendendo viajar —


avisa.

— Como assim, dona Érika? — Tales pergunta. Ela

acaba de surpreender a todos nós.

A mulher nem bem voltou ao país.

— Devo dar satisfação da minha vida para os meus netos

e meu filho? — pergunta, ficamos em silêncio. — Foi o que pensei

— fala, aproxima-se da mesa e coloca sua bolsa. A reunião será


rápida, considerando que nem mesmo nos sentamos. — A minha
amiga Lou fará bodas na Grécia e chamou o Gregory e eu para uma

semana de comemorações naquele país maravilhoso. Decidimos ir,

mas não quero deixar a questão da presidência do grupo pendente


antes de partirmos.

— E o que isso quer dizer? — Levanto a questão.

— Que daqui dois dias será a reunião do conselho para a


votação entre vocês dois, meus netos. Eu acredito que, não só

agora como durante todos os anos que se dedicaram à empresa,

tiveram oportunidades de mostrarem os seus valores e o melhor

vencerá. Boa sorte aos dois.

Por essa eu não esperava.

Há um tempo que a minha avó jogou a bomba no meu


colo e, de repente, sabendo que está tão perto, começo a me

perguntar se fiz o suficiente. O horário de expediente já está no fim,


mas não tenho vontade de voltar para casa e ficar com isso nos

meus pensamentos.
Talvez seja melhor mergulhar de cabeça no trabalho até
que fique cansado demais e seja inevitável ir embora. E depois fazer
isso pelos próximos dois dias.

Ouço uma leve batida, e como sei quando se trata da


Manu, peço que entre.

— Deu a minha hora, mas vim saber se ainda precisa de


mim para alguma coisa — diz, toda formal.

Como eu odeio quando começa a se comportar dessa


forma.

— Se a oferta inclui você deixando de ser um bloco de

gelo para se sentar no meu pau, então sim, ainda preciso de você
— falo, me levanto e caminho até ela.

Eu sempre estou caminhando na direção de Manuella

Ortega, e só agora me dou conta disso.

— Não está — diz, não se afasta, mas também não faz


nada que mostre que não quer me ver pelas costas.

— O que mudou desde o dia do nosso noivado?

— Não foi um noivado de verdade — corrige.

— Que seja. Eu fiz alguma coisa para merecer esse


gelo?
— Não fez nada. Mas a gente tinha um caso, não era?
Nunca foi sério e qualquer um de nós dois poderia parar quando
quisesse sem dar satisfação. Eu quis parar — Manu fala de um

modo tão frio, mas nem por um segundo acredito na máscara que
começou a usar nos últimos dias.

Essa mulher é quente como o fogo do inferno. Muito


passional.

— Já está transando com outro?

— E se eu estiver?

— Vou ficar com ciúme — digo.

— Não brinque comigo.

— É você quem gosta de brincar aqui, querida. Insiste


nos seus jogos de esconde. Não fala o que sente ou pensa até que
seja pressionada.

— A sua avó me contou sobre o adiantamento da reunião


com o conselho — ela muda completamente de assunto, ou, talvez,

nem tanto assim. — E tive a oportunidade de ver de perto o quanto


você é bom. E nas partes que não era, a gente deu um jeito de fazer
parecer que você é. Pode comemorar, porque já deu certo.

— Por que não parece feliz?


— Eu estou — mente. — E acredito que a gente não
precisa manter essa farsa durante os quase quatro meses que

faltam para o fim do contrato.

— Perdão? — A sua fala me tira do eixo como nada havia

tirado até hoje.

— Por que manter a mentira por tanto tempo se o objetivo

será alcançado antes? Acredito que a gente precise de apenas mais


um mês para assumir que o nosso noivado não deu certo.

— Você só pode ter enlouquecido — digo entredentes. —

Eu sugiro que cale a boca, porque não quero ouvir mais nada sobre
isso. O contrato será cumprido até o último dia.

— Se for por causa do dinheiro, eu devolvo metade e fico


com a outra parte para recomeçar a minha vida. Saio em definitivo
da sua vida, assumindo toda a culpa pelo nosso término.

— Você não vai sair da minha vida enquanto eu não falar


que pode. E te garanto que não vai poder até o fim do contrato —
assevero.

Ela quer me enlouquecer? Vem falar dessas merdas

quando estou no momento mais importante da minha vida até aqui?


— Por que está fazendo isso comigo? Não pode ser

dispensado? Também não aceitou quando nos conhecemos —


Manuella provoca irritada e, ao mesmo tempo, magoada.

— Você fica até o final. E se não veio chupar o meu pau,

a melhor coisa que sabe fazer, sugiro que saia. — Arrependo-me


assim que as palavras deixam a minha boca, mas não posso voltar
atrás.

Maldito gênio do cão! Ele me leva a dizer coisas no

momento da raiva, geralmente não é nada como me sinto de


verdade.

Se estava estranha comigo por motivos que desconheço,

agora mesmo que não terei mais a oportunidade de estar com ela
novamente. E quando viajo rapidamente com a mente para o futuro,
não consigo imaginar a minha vida sem a sua presença.

O que está acontecendo comigo?

— Eu te odeio! — Diz sem alterar o tom de voz, depois

sai da sala sem derramar uma única lágrima. Outra em seu lugar
estaria em lágrimas depois da forma idiota como agi.

Era só ter explicado de uma forma melhor que não teria


como alterar o contrato. Mas fui pego de surpresa em um momento
em que a minha cabeça já estava quente por causa da preocupação
com a decisão iminente, que vai dizer ou não se terei algo pelo que
tanto lutei.

Cansado dela e da bagunça sem sentido que faz com a


minha cabeça, decido que chegou o momento de tentar relaxar e
esquecer. Que chegou a hora de provar para o meu corpo, mente o

coração que essa mulher não é tão especial e única como parece.

— E aí, cara. Há quanto tempo que a gente não sai junto


— digo ao ligar para o primeiro nome de amigo que aparece na
minha lista de contatos. — Por que não reúne uma galera legal

naquele bar que a gente ia quando éramos mais jovens?

Por “galera legal” me refiro a mulheres. Por “bar” me


refiro a um ambiente onde homens e mulheres podem fazer o que

querem, inclusive transar em público. A única forma de exorcizar


Manuella Ortega de mim é transando com outra, ou outras. Só
assim poderei pensar em libertá-la de mim. Deixar que parta para

nunca mais voltar, sem ter a sensação de que estaria perdendo um


membro do meu corpo.

Mais tarde, descobriria que foi a pior decisão que poderia


ter tomado. Um erro que pode ser irreparável.
CAPÍTULO 30

MANUELLA
Estou orgulhosa de mim mesma e das decisões que ando

tomando, depois de ter quebrado a cara por duas vezes seguidas


com caras que foram péssimos para mim. Talvez eu tenha sido

péssima para eles também e despertei o pior que existia em cada


um.

E mesmo que esteja conseguindo me proteger

minimamente, não estou me sentindo nem um por cento melhor. O


meu lado fraco se sente compelido a pular no colo do loiro diabólico

todas as vezes que me olha com seus olhos claros esfomeados. Ou


melhor, sentia, porque depois de ontem, de ter ouvido suas merdas
duas vezes, estou ainda mais convicta de que fiz a escolha certa

quando decidi colocar distância entre a gente.

Me mantive o mais longe possível depois de ter sentido o


perigo de me machucar quando colocou o anel no meu dedo. As

palavras ofensivas, que fizeram com que me lembrasse do Dante,

abriram um buraco maior no meu coração. Naquele momento,


enquanto o ouvia me reduzindo a uma chupadora de pau, não

conseguia ver diferenças entre ele e o Dante.

E quem me dera poder acreditar que se recusou tão

veementemente a me liberar mais cedo do contrato porque gosta de


mim e deseja ficar perto pelos próximos meses. Não, o John Harper

que eu conheço só pensa nele mesmo e nessa maldita construtora.

Só não muda o nosso acordo porque não aceita se sentir rejeitado.

O fato é que não está engolindo bem o meu afastamento,


talvez porque tenha passado a vida sendo a pessoa que

dispensava, e meu pedido ontem foi visto como uma espécie de

fora.

Ele não sabe que eu daria tudo para que a gente fosse

como um casal normal, que pudéssemos de fato namorar, noivar e

casar. Quem me dera poder sonhar com um John diferente, que me

enxergasse como nenhum homem nunca enxergou. Mas ele não é


diferente do Lucas e do Dante.

Só mudou o endereço e o fato de me fazer sofrer mais


por ele do que pelos outros.

Pedir que me liberasse não foi um ato de desespero,


pensado apenas naquele momento. Não, depois do suposto pedido
de casamento surpresa, e a cada momento de fraqueza, em que
desejei ser mais do que uma mulher que se deixou ser comprada,

quis poder sumir de vez da sua vida, me esconder do fim ruim, e

algo me diz que está muito perto.

No momento em que falei, lembrei do dinheiro e de como

eu merecia ficar com pelo menos metade, pois se tivesse aceitado a

minha sugestão, teríamos cumprido três meses do trato, metade do

tempo estipulado. Com o dinheiro, eu poderia recomeçar de forma

digna e sem carregar o coração apertado no peito. Longe dessa

empresa e dessas pessoas, porque esse aqui não é, de maneira


nenhuma, o meu mundo.

Desde ontem estou tentando não pensar em como será

passar mais três meses posando de noivinha apaixonada do diretor-


presidente, John Harper. E independente dos meus sentimentos

pelo poderoso chefinho, sei que a sua chegada até o topo será

merecida. Estou infeliz, mas pelo menos terei conseguido realizar o

que fui paga para fazer quando tudo acabar.

— Manuella Ortega, o que está acontecendo com você?

A gente está te achando tão triste nos últimos dias. Não pense que

não percebemos — Ana Júlia fala, enquanto arrumamos as nossas

mesas para irmos embora.


Depois de dois dias de clima péssimo entre o meu chefe

e eu, finalmente poderei ir para a minha casa e soltar a minha


respiração. Tenho que descansar e me preparar, porque amanhã

será um dia daqueles.

— Você deveria estar mais feliz tendo esse diamante

enorme no dedo. — Diamante que logo vai deixar o meu dedo e


voltar para o verdadeiro dono, penso.

Sara fica me olhando, esperando que eu decida abrir a

boca. Mas o que tenho para contar?

Entenderiam se eu confessasse que estou mentindo esse

tempo todo? Que o chefinho e eu não temos mais do que um acordo


e sexo sem compromisso que decidi dar um basta porque estava

me apaixonando?

Poderia falar que é uma paixão sem futuro, porque só

volto a minha atenção para homens que não querem nada sério
comigo, ou que me tratam como um lixo.

— Ei, você vai chorar? — As três vêm e me abraçam.

Os meus olhos estão ardendo, mas não vou chorar. Eu


nunca choro.
— Está tudo bem, meninas. Só estou um pouco cansada.

Não é nada fácil ser noiva de John Harper. — É a melhor desculpa


que consigo pensar, então as três se afastam e sorriem.

— Sofrendo por ser mulher de um homem rico. Está aí, o


tipo de problema que eu gostaria de ter — Teresa fala, e apesar de

não ser verdade no meu caso, sorrio junto com elas.

Mas pelo menos acreditam no que digo. Uma por uma,


elas se despedem e deixam a empresa. Eu fico para trás, porque

com a rotina de entrar no escritório do John para fazer sexo depois


do nosso expediente, acabei me acostumando a ser a última das

quatro a sair do prédio.

Enquanto termino de desligar o computador e guardar

meus pertences na bolsa, vez ou outra olho na direção da sala do


John. Ele está trancado trabalhando, e tem sido assim desde o
aviso de sua avó sobre o adiantamento da reunião.

Se a gente não estivesse azedo um com o outro, se tudo

não fosse tão complicado, eu poderia entrar e fazê-lo relaxar de


uma forma que o agradaria muito. Mas não estamos bem, e nem ele
me chamou. Depois da discussão por causa do meu pedido de

encurtar o prazo, mal tem me olhado, e só nos falamos quando o


assunto é sobre trabalho.
A gente já acabou o que não deveria nem ter começado,
e eu deveria estar agradecida por isso. Vou deixar essa empresa e a
vida dele com a minha dignidade minimamente intacta.

Quando me levanto e ajeito a bolsa de couro sintético no


meu ombro, ouço o som leve de passos. Sapatos masculinos

pisando no chão. O meu coração erra a batida, mas logo um balde


de água fria cai na minha cabeça. Não é o John quem está vindo na

minha direção, mas o seu primo otário.

Se estou feliz com a ideia de o meu chefe se tornar o


maioral aqui porque merece, também estou porque significa que

esse sujeito arrogante e chato vai perder. Ele nunca deixou de me


olhar com atenção e desconfiança, mas nunca fez nada que não

fosse me pressionar, o que é muito estranho, dado o seu espírito


competitivo e vontade de ser melhor que o primo.

— Indo embora, Manuella Ortega? — Em pé e com a


bolsa no ombro, será que estou indo embora mesmo?

Uma bela maneira de puxar assunto.

Decido que não vou me dá ao trabalho de responder e,

sem abrir a boca, tento passar, mas ele entra no meu caminho e
segura o meu braço. Eu olho para a sua mão, o homem cai em si e
se afasta.

— Quer me dizer algo importante?

— Eu gosto do seu jeito, sabia? Uma mulher linda e


gostosa com a personalidade forte. São características que fazem

qualquer homem te cobiçar.

— Incluindo você? — Provoco.

Nojento.

— Principalmente eu, que não sou cego e tenho tanto

bom gosto quanto o meu primo mais novo. Você só não é esperta.

Se fosse, teria ficado do meu lado, não do dele. E eu te dei tantas


oportunidades de trocar de lado, não foi? — Indaga, e seu dedo

indicador faz um carinho indesejado no meu rosto.

— Eu sou apaixonada pelo John — afirmo, e não acredito


que esteja muito longe da verdade. — Ele é muito melhor do que

você em todos os sentidos. E sugiro que não volte mais a me

abordar se for para tentar me envenenar contra ele. John e eu... —

hesito antes de falar — nos amamos.

— Sim, com certeza o seu querido noivinho é muito

melhor do que eu. E sim, te ama muito e só tem olhos para você —
diz com malícia e me entrega o envelope pardo que carregava.

— O que é isso? — indago.

— Algo que você precisa ver, espero que se divirta,

querida — fala com falso carinho no tom de voz e passa por mim na

direção dos elevadores. Fico o observando com a batata quente na


mão. Antes de entrar na caixa de aço, diz: — Ainda dá tempo de

fazer a coisa certa.

Assim que fico sozinha novamente, olho para o envelope,

virando-o de um lado para o outro, apenas para constatar que não


tem chance de ter uma bomba dentro dele.

Mais curiosa do que deveria, sempre fui, na verdade,

volto a me aproximar da minha mesa, coloco a bolsa sobre ela e

abro o lacre do envelope.

São fotos, tiro uma pilha que deve contar com umas dez.

Logo na primeira, sinto a dor amarga da traição que não deveria

estar sentindo. Os meus olhos pinicam e eu engulo em seco. A


minha garganta dói a cada imagem que passa diante dos meus

olhos. Uma por uma rindo da minha cara, me mostrando por que

deveria ter me preservado mais.


Enquanto eu me afastava para preservar o que restava

do meu coração, que já apanhou tanto que está calejado, enquanto

sofria em silêncio por ter perdido a capacidade de separar por


completo o que era real do que era mentira, John Harper estava se

divertindo e seguindo a sua vida como sempre fez. Como todo

homem que é solteiro deve fazer.

Nas fotos, o meu chefe estava em um lugar rodeado de


pessoas e bebidas. Parecia sofisticado, do estilo que eu não

colocaria meus pés nem mesmo na calçada. As “pessoas” eram

mais mulheres do que homens. Tanto é que ele conseguiu pegar

duas loiras, exatamente o perfil de mulher que sempre acreditei que


fazia o seu tipo.

As fotos seguem uma sequência e foram organizadas de

maneira lógica para que a suposta chifruda pudesse entender sem


sombra de dúvida sobre o que rolou na ocasião. Imagens em alta

resolução de John beijando uma loira mais jovem, depois ele

beijando duas loiras, sendo que uma estava no seu colo.

E em cada imagem vejo o seu sorriso frouxo, porque


claramente está bêbado. Umas mostram o beijo triplo e nas piores,

as que fazem algo no meu maldito coração partir, ele está jogado no
sofá com o membro de fora, sendo chupado por duas mulheres que

não eram as mesmas do beijo.

Se o que estou sentindo for um indício do fim, acho que

estou morrendo. Tento puxar a respiração, mas meu peito dói pelo

esforço. Na verdade, a minha cabeça começa a latejar, algo com

que convivo há um tempo, pois apesar de não me permitir chorar,


sinto vontade muitas vezes.

E não tem nada de errado com o que vi, não é?

A única errada sou eu por ser tola. Por ter me dado conta
de algo tão simples que era enxergar a realidade como ela era. As

fotos são apenas uma constatação do que eu já sabia. Mesmo na

viagem e em outros momentos em que John Harper parecia que


gostava um pouco de mim, ele só estava enfeitiçado pelo sexo.

E quando parece que sente a necessidade de me ter por

perto, é apenas para ele mesmo ter a chance de me dispensar,

talvez como uma espécie de vingança pelas vezes que me neguei a


ele.

Ergo a cabeça tentando me agarrar a minha dignidade, e

tenho em mim a certeza de que, aos trinta e dois anos, não será
dessa vez que vou morrer por causa de um coração partido. Guardo

as fotos na bolsa e deixo o prédio.

Estou perdida e sem saber como vou continuar ao lado

desse homem depois de tudo, mas não será hoje que vou conseguir
encontrar uma saída.

JOHN
Com a cabeça latejando, depois de ter ficado tanto tempo

com o rosto na frente do computador, levanto-me, estico o meu


corpo e decido ir para casa. Diferente de ontem, não vou ficar até

mais tarde trabalhando para conter a minha ansiedade.

Vou até a garrafa que fica aqui na mesa e tomo um

pequeno gole de whisky. Depois desligo tudo, não arrumo a minha


mesa, porque é uma desculpa para Manu vir até mim amanhã cedo

quando chegar.

Manuella. Eu não quero pensar nela, não depois do que

constatei.

Ao me aproximar da porta, vejo um envelope no chão e

acho muito estranho. Sem pensar duas vezes, o pego e o abro. O

conteúdo dentro dele faz o sangue gelar nas minhas veias, se me


olhasse no espelho, veria o meu rosto pálido.
Essas imagens são muito, mas muito ruins. E o que elas

são além das provas de uma tentativa descuidada e desesperada


de provar para mim mesmo que ela não era tão importante para

mim e que eu não estava gostando pela primeira vez de uma

mulher?

Ele está me fazendo perder o rumo, tanto que me deixei


ser tocado sem me preocupar com as consequências. Eu não

pensei que poderia ser visto por qualquer outra pessoa além do meu

primo.

E enquanto beijava outras bocas, imaginava que era a

dela. Quando tive o meu pau chupado, via os seus olhos me

encarando no rosto das outras mulheres, e quando gozei, depois de


muito me concentrar, foi o seu nome que chamei. Mas a noite

acabou no boquete, porque simplesmente não poderia tentar mais.

Quando cheguei em casa trocando as pernas de tão

bêbado que estava, sorri feito um doido enquanto tomava banho.


Tudo porque me dei conta de que o meu problema era fácil de

resolver. Eu só havia me apaixonado pela minha secretária.

A tentativa frustrada de fazer sexo com outras esclareceu

o que sempre soube, mas não queria aceitar: eu não queria Manu
na minha vida somente por alguns meses, mas por muito tempo.
Sem prazo para acabar.

Ela é linda, inteligente e tem a melhor boceta que já

provei. Juntos, nós somos fodas. Dormi com aquilo na cabeça,


acordei de ressaca e me arrastei até aqui nos últimos dois dias.

E durante os últimos dias, preferi nem olhar muito em sua

direção, pois sinto-me culpado, como se tivesse a traído de alguma


forma. Na verdade, traí, mas foram os meus sentimentos. Não só

por culpa, mas por saber que estou a um passo de ter tudo o que

sempre quis, e que o momento é de cautela e não posso fazer o que

quero e pegá-la para mim.

Depois que acabar, terei tempo e disposição para lutar

pelo que passou a ser o meu segundo maior desejo...

Era o que estava planejando, mas essas fotos podem

acabar com todas as minhas chances.

Se eu recebi essas imagens...

Puta que pariu!

Saio apressado do escritório com a esperança de ainda

encontrá-la na sua mesa, porque sempre sai por último, mas está
vazia. Bato com força no botão do elevador e ele desce lento como
uma lesma.

Assim que, correndo como um doido, chego a entrada

principal do edifício, onde o Tito costuma pegá-la, vejo a cena não


inédita, porém, odiosa. Ao lado do carro, Manuella está conversando
com Dante. Eles parecem que não estão muito amigáveis.

Será que esse cara não cansa de tentar roubar o que é

meu?

Eu ando apressado até eles, mas Dante nota a minha


presença antes dela. Sem tirar os olhos de mim, puxa o seu corpo e

a abraça. O corpo da morena fica inerte, os braços estendidos sem


corresponder. Eu já chego a puxando do agarre dele. Manuella me
olha assustada.

Mas que porra!

— Solte-a — exijo.

— Enlouqueceu, porra?

Dante parte para cima de mim e me empurra, eu o

empurro de volta, prestes a brigar como um moleque na frente da


construtora.
Que se foda! No momento, tudo o que me importa é dar
uma lição nesse filho da puta, que precisa entender que perdeu a
Manuella. Ela é minha agora.

Irado, e morrendo de ciúme, soco o lado esquerdo do seu


rosto e levo um de volta. O gosto de sangue no lábio inferior me faz

enxergar tudo vermelho, e não existe nenhuma chance no mundo


de eu não acabar com esse cara agora mesmo.

— Já chega! — Manuella grita, então nós dois paramos e


a olhamos.

Eu busco o seu olhar, mas ela não retribui, pelo contrário,


vai para o lado do idiota do Dante Dutra. É estranho, porque parece
que tem uma ligação com ele. Uma dependência, mesmo que o

pouco que me disse sobre os dois como casal me faça crer que
terminaram mal.

— Eu aceito a sua carona. Só pare de brigar — pede, o

olhar do cara amolece.

— Manuella, fale comigo, por favor? Eu sei que viu as


fotos — aviso.

— Sim, eu vi. Mas não se preocupe, porque não pretendo

estragar as coisas para você por causa delas. Você é livre para
fazer o que quiser.

Mas do que está falando?

Não tenho chance de perguntar mais nada, porque Dante

entra no carro com ela e parte. Não tive a chance de convencê-la de


que era melhor ir comigo.

Eu não pretendo estragar as coisas para você.

As suas palavras repetem-se na minha mente enquanto


ando na direção do estacionamento. E enquanto dirijo para casa,
quando deixo de pensar apenas em como posso ter estragado tudo

o que já não estava bom de maneira definitiva, finalmente a minha


ficha cai e entendo o que quis dizer.

De maneira surpreendente, fugindo de tudo o que pensei


que fosse a minha prioridade durante todos os últimos anos, só
pensei nela, no que iria pensar de mim e no medo de a perder para

sempre. Até o momento, não havia imaginado que, assim como eu e


ela recebemos as fotos, a minha avó também poderia ter recebido.

E agora, segurando o volante com tanta força que as


juntas dos meus dedos estão brancas, sinto que estou perdendo

tudo de uma única vez: a chance de chegar no topo e a mulher por


quem estou perdidamente apaixonado.
É isso mesmo.

Só pode ser paixão quando a hipótese de perder a minha


morena me afeta muito mais do que a possibilidade de perder a
presidência que nem cheguei a conquistar amanhã.
CAPÍTULO 31

MANUELLA
— Está com uma carinha de que passou a noite toda em

claro — Dona Abigail fala. Estou pronta, ou a mais pronta que posso
estar para encarar o dia de hoje, que promete ser bem agitado no

grupo Harper.

— Eu passei mesmo — falo ao me sentar à mesa. Não


posso sair antes de tomar um café preto para despertar.

— Aconteceu alguma coisa? — indaga.

— A sua filha é burra, dona Abigail. Foi o que aconteceu.


Me apaixonei pelo meu chefe e ontem recebi fotos dele sendo

chupado e beijado por outras mulheres — digo na lata. Não tenho


por que esconder isso. — A senhora estava certa quando foi contra

o acordo. Não tinha como terminar bem. Brinquei com o fogo e me

queimei.

— Você não é burra, é apenas humana. É normal se

apegar, ainda mais quando estava mantendo relações sexuais com

aquele homem desde o início.

— Como a senhora...
— Vi marcas suspeitas no seu pescoço por mais vezes

do que é confortável para uma mãe — fala e eu fico sem jeito.

— Ah. — É tudo o que tenho para dizer.

— E quanto ao que está sentindo, sabe que só você pode

fazer algo por si mesma. Não deixe que situações que não são boas
comandem a sua vida, filha. Não faça como fez com o seu

casamento com o Lucas. Se está sofrendo, apenas dê um basta e

se afaste desse homem que claramente não te dá valor.

— Estou começando a acreditar que não tenho valor

algum.

— Não volte a falar isso. Sabe que não gosto quando se

deprecia, ainda mais por homens que não sabem a joia que você é.

— Eu te amo, mamãe. Sempre tem os melhores


conselhos — digo, ela tem sido o meu ponto de equilíbrio. — Agora

tenho que ir, porque hoje terei um dia daqueles.


E se não veio chupar o meu pau, a melhor coisa que
sabe fazer, sugiro que saia.

As palavras que usou contra mim repetem-se na minha


mente como um disco arranhado e fazem o meu estômago revirar

com algo maior do que o nervosismo pelo papel que terei que fazer

hoje.

Na viagem de ida, olho-me no espelho que tenho em


mãos, checando se a maquiagem e os cabelos estão em perfeito

estado. Como secretária e noiva de John Harper, tenho que ser

impecável. Como uma doida, treino o sorriso no espelho, porque

vou precisar dele. Terei que ficar feliz pelo meu noivo, quando tudo o

que sinto é tristeza.

Terei que beijar e o abraçar, quando quero me afastar e

nunca mais voltar a vê-lo.

A cena de ontem está nítida na minha memória. Tive que

lidar com fotos, John e Dante de uma única vez.

O Dante, que eu estava mandando embora e ameaçando

com uma medida de restrição quando John chegou. Sempre que faz

merda, como a discussão no portão da minha casa com o John, ele


some por uns dias e no máximo manda mensagens educadas de

bom dia e boa noite, que não são respondidas.

E depois que ouviu da boca de John Harper que eu era a

sua namorada, acreditei que tinha me livrado do meu ex para


sempre, mas isso foi até aquela cena. Ele não havia desistido, pois

conhecendo o loiro muito mais do que eu, provavelmente tinha a


convicção de que o namoro não iria durar.

Errado ele não estava, porque as fotos que vi deixaram

claro que o homem não se contenta com uma. Se o namoro fosse


real, provavelmente eu seria corna.

Mas estou cansada de Dante, de John e do mundo. Um


deveria me esquecer, o outro é um filho da puta. Por culpa dele tive

que recorrer mais uma vez ao meu ex. É por isso que ele não
desiste, que pensa que pode me controlar. Quando estou em
apuros, sempre acabo em suas mãos.

Os corredores dessa empresa nunca estiveram tão


movimentados como hoje. Conversas acontecem por todos os
lados, e entre funcionários do baixo escalão acontecem até apostas

sobre quem irá vencer: Tales ou John?

As secretárias sorriem como hienas em suas mesas,

afinal, hoje é praticamente um dia de folga para todas nós.

— Adoro você, Teresa, mas hoje o meu chefe vai ganhar

do seu — falo para Teresa.

— Eu acho tão fofa a forma com ela fala, gente. Nem

parece que quica naquele pau com frequência — Sara devolve a


provocação. — Bom dia, senhor Harper. — Ela emenda em seguida.

— Bom dia, meninas — cumprimenta-a. O fato de eu


estar na fossa por sua causa não me impede de o achar lindo com
seus óculos escuros estilo aviador. Ele fica muito charmoso quando

o tira do rosto todos os dias ao deixar o elevador. — Pode me


acompanhar, querida? — Fala comigo e eu aceno.

Saímos abraçados e as meninas suspiram. É encenação,


Manuella. Tudo sobre esse toque de possessividade é encenação.

Ao adentrarmos a sua sala, ele me solta e me olha com

seriedade.

— Não foi nada apropriado sair daqui com Dante Dutra.


Logo na frente da minha empresa? — Imaginava que iria falar sobre
isso, afinal, os seus planos não podem dar errado. Não importa que
eu tenha acabado de ver as malditas fotos, ou o que tenha sentido.

— Perdoe-me pela indiscrição — falo, embora não


quisesse me desculpar. Na verdade, não sei se queria estar na sua
frente neste momento.

— Para onde foram?

— Isso não é da sua conta. Até onde sei, tem as suas

putas para te satisfazer. Eu também posso dar a minha boceta para


quem quiser comer — digo, ficando rapidamente irritada com a
hipocrisia do homem.

— Muito cuidado com as suas palavras — pede


entredentes ao me puxar para o seu corpo com o braço em torno na

minha cintura. — E não pode dar para ninguém além de mim,


porque é minha. E vou te fazer entender isso logo.

Não sei se é uma promessa ou uma ameaça, mas não


importa.

— Pensa que me comprou com acesso vitalício por


apenas um milhão de reais? Nem eu sou tão barata sim — digo, os
meus olhos ardem, mas sei que não vou chorar. Ele não verá essa

fraqueza.
— Não é. Vale mais do que todo dinheiro do mundo —
declara, deixando-me confusa. — Eu sinto muito pelas merdas que
te falei, eu só estava... — Ele parece ter dificuldade para encontrar

as palavras, então decido ajudá-lo, não porque merece, só quero


não pensar mais no assunto.

Todas as vezes que tento afastar John Harper da imagem


que tenho das péssimas experiências do passado, ele me faz
perceber que não é tão diferente assim.

— Está tudo bem. O momento agora é de pensar na

reunião — falo, o loiro parece cair em si e sua expressão e postura


mudam da água para o vinho, é como se o descontentamento de

segundos atrás por ter me magoado nunca tivesse existido.

É isso. Queria poder me iludir, mas então as imagens

pipocam da minha cabeça e volto para a realidade. Se gostasse de


mim pelo menos um pouco não teria saído com aquelas mulheres.

Não teria deixado que o tocassem.

— Deseje-me sorte — pede.

— Boa sorte — digo.

— Acho que pode fazer mais do que isso — avisa, então

se aproxima da minha boca e me beija. Um toque cheio de fome e


saudade. Me mantenho um pouco tensa e fria, mas parece que

John não se dá conta disso.

Ele começa rápido, indecente e para punir, mas logo

muda. Seus lábios são gentis, macios e carinhosos, então eu

desmorono em seus braços calorosos e tão familiares para mim.


Beija-me como se eu fosse um bem precioso que não pode ser

comprado por nenhum dinheiro do mundo, como disse há pouco.

E quando acaba, ao afastar a sua boca da minha com

beijos leves e carinhosos no meu rosto, me olha com algo que não
sei definir, mas que nunca havia visto no seu rosto. Ao passar o

dedo indicador no lado direito da minha bochecha, sinto que está

úmido.

John Harper se aproxima e beija o meu rosto do lado

onde a lágrima caiu e fico com vontade de chorar mais, porque não

chorar é uma espécie de doença emocional que tenho. De coisas

que não deveria guardar.

— Está acabando. E depois da reunião do conselho a

gente vai poder conversar direito sobre aquelas fotos. Tudo bem? —

Dominada, eu aceno positivamente com a cabeça. — E que a vovó


não tenha recebido aquelas merdas. — Sorri e me abraça. — Que

bom te ter assim.


O meu corpo se entrega e amolece nos seus braços, mas

a minha mente trabalha, cheia de suspeitas. Será que esse abraço e

o beijo de carinho foram para me manipular? Para garantir que não


vou abrir a boca e estragar os seus planos antes de conseguir o que

quer?

É claro! Só pode ser isso. John Harper já deixou bem

claro mais de uma vez quais são as suas prioridades e que faria
qualquer coisa pelo que quer, me manipular como acaba de fazer

deve ter sido fichinha, perto de enganar à avó como nós dois

estamos fazendo há meses.

— John, está me sufocando. — E apesar de sentir que

estava me abraçando apertado demais e que deve significar alguma

coisa, uso o argumento para o afastar de mim.

Não posso ficar mais aqui. Não digo, mas não precisava
ter feito nada para me manipular, porque independentemente da

nossa relação, estou do seu lado e jamais faria qualquer coisa com

a intenção de o prejudicar.

JOHN
Tento conter a sensação de perda e vazio enquanto a
observo deixando a minha sala, rebolando sua bunda grande e
bonita. Ela parece tão calma e resignada que me assusta, porque

prefiro quando deixa o seu gênio forte vir à tona e me enfrenta.

Tê-la assim não é um bom sinal, mas está tudo

acabando. Quando essa bagunça terminar, finalmente poderei me

dedicar a alcançar um novo objetivo: ter a linda Manuella Ortega

todinha para mim.

Agora estou agitado demais com os outros problemas, no

escuro e sem saber o que esperar. Talvez a minha avó já tenha

recebido as malditas fotos e perdi todas as minhas chances. Não


tenho provas, mas tenho quase certeza da autoria das imagens.

Mas fui burro de ter ido àquele bar. As chances de Tales ir

também não eram tão pequenas, considerando que sempre


gostamos do lugar. Uma das únicas coisas em comum que temos.

Estava tão fodido que nem o vi, mas ele me viu e ainda fotografou.

Mereci ouvir as merdas do Pietro quando contei do ocorrido.

Ele está certo de pensar que a culpa será única e


exclusivamente minha se a presidência ficar com o idiota.
Depois de as horas terem se arrastado, finalmente

estamos reunidos na sala de reuniões. Os acionistas e todos que

exercem cargos importantes terminam de entrar e pouco a pouco se

acomodam em seus lugares. Eu estou ao lado da minha avó, na


tentativa de sentir como está o seu humor. Se dará indícios de que

sabe de algo.

Mas ela está como sempre: altiva, como se o mundo


tivesse que se ajoelhar para a aplaudir. Mas também é gentil e cheia

de bons princípios.

O Tales também não sai de perto, considerando que

dedica sua vida a bajular a velha. Se a conhecesse tão bem quanto


eu, saberia que detesta os bajuladores.

— Fiquei sabendo que você teve uma noite agitada um

dia desses. Foram quantas? Quatro? — ele provoca para que todos
ouçam.

— Cale essa boca, idiota! – digo com os punhos

cerrados. Como sempre acontece quando começamos, a vovó sai

da nossa frente. Ela não interfere para ver até onde a gente vai
agindo como moleques de rua, como gosta de dizer.
— Eu não vi a sua noiva. Será que a deixou em casa

dormindo?

— Nunca mais volte a mencionar a Manuella com essa

boca suja — aviso com o maxilar apertado quando avanço sobre ele

e o agarro pelo colarinho.

— Ela gosta de compartilhar? Se for o caso, eu bem que


poderia invadir aquela boc...

— Já chega! — A dona Érika determina ao esbravejar. —

Se já deram o show de vocês, a gente já pode começar a reunião.


— Sem perder a classe, a senhora vai para o seu lugar na cabeceira

da mesa de reuniões e se senta. Os meus pais também estão

presentes, mas eles não têm voz.

Eu tomo o meu lugar, e faço encarando o meu primo, que


mantém o sorriso satisfeito no rosto. Não era para estar confiante

assim, era?

Olho para o Pietro, que está representando o grupo de

advogados da construtora com direito a voz. E entre a nossa troca


de olhares dizemos o mesmo: a gente perdeu.

Com certeza a minha avó recebeu aquelas fotos e já

sabe que não sou o noivo apaixonado e dedicado que queria. Não
sou o homem sério que merece o cargo que todos aqui devem
desejar.

O que me resta agora é juntar a minha dignidade e

esperar pela decisão. No fim das contas, ainda terei uma chance de
consertar a minha relação com a Manu. Se não puder ter tudo, pelo

menos não vou perder a minha morena, que acaba de entrar...

Mas o que ela está fazendo aqui?

É a pergunta que eu e todos aqui devem estar se


fazendo. Menos a minha avó, essa sorri e acena.

— Eu a chamei, senhores. Não se trata somente de uma

secretária. É a mulher com quem o meu neto pretende se casar —


diz. — Uma moça de alma gentil, que tem as qualidades que todo

ser humano deveria ter — a chama com um gesto e Manu, muito


nervosa, para em pé ao seu lado.

Não tem mais nenhuma cadeira para ela se sentar.

Das duas uma: ou minha avó está apaixonada, ou está


jogando conosco antes de nos desmascarar.

— Como estamos aqui por um único motivo, não creio

que iremos nos demorar com a reunião de hoje. — Todos a


observam em silêncio. Eu faço um gesto com a cabeça e ela vem
para o meu lado. Como não poderia ficar o tempo todo em pé,
afinal, esse é o nosso Gran Finale, seja para o bem ou para o mal, e
não quero que esses marmanjos fiquem babando na minha gata, a

coloco sentada em cima das minhas pernas, não me importando se


vou chocar o público formal.

Não é como se estivesse tirando a sua roupa justa para

transarmos na mesa para todos verem. A minha avó nos olha e


parece não se importar. No meu colo, a morena fica tensa, mas logo
relaxa.

Sou eu aqui, meu amor. Nós estamos juntos até o fim.

— O meu querido filho, Jonathan Harper, atual diretor-


presidente do grupo Harper, acredita que chegou o seu momento de
passar a maior responsabilidade que uma pessoa pode ter dentro

do grupo Harper para o seu sucessor. Seria natural passar para o


seu filho, o meu neto John que todos vocês conhecem muito bem.
Mas o meu outro neto, o atual diretor financeiro, também entrou na

disputa pelo cargo, então achei justo fazermos uma votação, ao


invés de formalizar o John como diretor-presidente.

Esse merdinha! Sempre atravessando o meu caminho.


— Seguindo a mesma ordem de sempre, vamos dar
início às votações. — Mesmo suspeitando que vai dar muito ruim, o
meu coração dispara. Eu olho para as mãos da minha morena e ela

está tremendo. Para acalmá-la, entrelaço os nossos dedos.

— Eu amo os meus dois netos, e acredito na

competência de ambos, mas tenho que fazer uma escolha. E por ter
se mostrado dedicado, por ter desejado esse lugar desde que
começou a trabalhar aqui no grupo e, sobretudo, por ter se tornado

um homem de caráter, sério e responsável, o meu voto é no John.

Fico surpreso. Muito surpreso. Olho para a Manuella e ela

parece igual. Olho para o Pietro e ele está com um sorriso confiante
agora. A boa surpresa de ver que ela não viu as fotos não é

suficiente para mascarar o incômodo que estou sentindo, porque o


homem sério e de caráter é uma farsa.

Um homem de caráter não compraria uma noiva com o

intuito de a enganar.

E como o esperado, a maioria dos votos segue o da dona


Érika.

— Por quinze votos a cinco, nomeio o meu neto, John


Harper, o diretor-presidente do grupo de construtoras Harper.
Uma onda de aplausos se inicia, olho direto para o
fracassado do meu primo e jogo uma piscadela. A sua expressão de

desgosto e fúria é impagável. Pelo visto, o seu planinho amador não


deu muito certo.

Gentilmente, levanto Manu das minhas pernas e a abraço


bem forte. Depois, olhando para o fundo dos seus olhos, esperando
que entenda que foi importante para mim por motivos que vão muito

além do que planejei, aproximo as nossas bocas e a beijo com


carinho por um tempo.

Não ouço mais nada que não seja o som das nossas
respirações. Estou mais feliz de estar com essa mulher nos braços
do que pela conquista do que tanto desejei. Pelo que trabalhei duro.

Em que momento tudo mudou?

Mas o som de uma palma solitária me tira do meu

momento com a minha mulher, porque ela se assusta e se afasta de


mim.

— E viva a hipocrisia, senhoras e senhores. Esse John

Harper que a dona Érika tanto elogiou, que está fazendo essa cena
patética, não existe e eu posso provar.

Merda!
CAPÍTULO 32

MANUELLA
Merda!

Ele vai estragar tudo para o John e não podemos fazer

nada. Não mais.

As palavras do Tales deixaram o conselho atento,

esperando e cheio de expectativa.

— Já chega, Tales Harper! Já fez demais por hoje —

Gregory, que raramente interfere em algo, irrita-se com o neto mais


velho.

— Não me diga que o senhor não viu as fotos? Também


está fingindo que não, como a sua querida esposa faz? Mas eu

deveria imaginar que isso aconteceria, afinal, sempre gostou mais


do John e nunca fez questão de esconder isso.

— Não é verdade — Érika se defende. — O seu primo foi


praticamente criado por mim e me dá a atenção que você nunca

deu, Tales. Não me cobre. E o fato de eu ter votado nele não tem
relação com motivos pessoais.
— Um caralho que não. Você, Érika, sempre com ideias

tão bobas e retrógradas a respeito do amor. Como se essas merdas


fossem interferir ou não na competência de trabalho, mas essas

exigências não valeram para o seu querido netinho, não é mesmo?

— Não fale assim com a minha avó, seu babaca — John

ameaça ir para cima do primo, mas Pietro sai do outro lado da mesa

e o segura.

Da minha parte, estou com as pernas bambas e o


coração acelerado enquanto suo frio, pois tenho certeza de que vai

acabar sobrando para mim.

— Fale, senhorita Manuella Ortega, a noiva e a secretária

gostosa e competente que se deixa ser comida no meio dos

expedientes...

— Solte-me, porra! — O meu chefe tenta se desvencilhar,

mas Pietro é mais forte. A menção do meu nome me faz querer sair

correndo da sala.

— Conte para os senhores e senhoras presentes o que

tinha naquele envelope que recebeu ontem, querida. — Ele me

pressiona. Eu olho para o meu chefe, mas nem ele pode me ajudar
nesse momento, então me mantenho calada. — Tudo bem, então
pode deixar que eu conto, ou melhor, mostro.

Todas as cabeças acompanham quando o homem vai até


a mesa e pega um envelope. Ele tira o conteúdo de dentro e quero

morrer, porque sei o que ele tem. Entrega as fotos para alguns, que

as olham em estado de choque. Elas são ruins, muito ruins. E

mesmo que não seja eu nelas, a humilhação que sinto é igual a que

John deve estar sentindo, afinal, estou sendo traída.

Ao olhar para a dona Érika, ela parece decepcionada,

mas não surpresa. A pobre tendo que ver mulheres chupando o pau

do neto...

— E então, querida. Você só tem duas opções aqui:

assumir que foi corna, que o noivo não está tão apaixonado quanto

quer vender, ou que esse noivado nunca foi real. Que ele te pagou

como uma prostituta barata para viver uma mentira.

O ataque me deixa sem reação, mas John reage. Dessa

vez, Pietro não o detém, então ele soca o rosto do primo. Mas o

imbecil não se controla e prossegue.

— A verdade ofende, não é mesmo? Mas só sendo uma

tola romântica como a minha avó para acreditar em um amor tão


repentino. Uma mera secretária morta de fome, sendo que esse aí

sempre gostou das Barbies loiras e artificiais. Seria como acreditar


em contos de fadas. E então, querida, você é uma corna

conformada ou uma puta comprada?

— Basta! — Érika grita. — Essa reunião está encerrada e

a decisão tomada será mantida, mesmo que alguns não aceitem. —


Os seus olhos queimam o neto.

Mas ninguém dá um passo. Todos esperam por um

desfecho. Pela minha resposta depois das fotos e das acusações.

Mas ele não está de todo errado. As fotos não foram

forjadas e vê-las outra vez faz a ferida aberta sangrar ainda mais.
Respiro fundo uma, duas e três vezes. O Tales fez um desafio

malicioso e eu só tenho uma resposta para dar, e não é uma cena,


ou uma tentativa de amenizar a situação para o meu chefe, é
apenas como venho me sentindo desde ontem.

A minha resposta será o ato final, o desfecho para o


teatro que armamos, cujo fim dificilmente seria outro.

John me fez chorar depois de muito tempo sem fazê-lo. E


agora, parece que é impossível voltar a me conter. Com os olhos

cheios, eu não faço um discurso. Na verdade, não digo uma palavra,


apenas ergo a mão e tiro o anel de diamante do meu dedo. Sem

olhar nos olhos do loiro, seguro a sua mão e o fecho dentro dela.

— Não faça isso, Manuella... — A súplica na sua voz faz

parecer que o seu coração está partido, mas me lembro que está
encenando, assim como deve estar pensando que estou fingindo

que fiquei mal porque fui supostamente traída.

Mas o meu coração partido não poderia ser mais real.

— Acabou — falo com a cabeça baixa, pois não posso


olhar em seus olhos, eles me deixam fraca. Me manipulam. Não me
importo com a plateia. — Não volte a me procurar nunca mais —

termino.

Dessa vez eu corro sem olhar para trás, e com as

lágrimas que não derramei durante tanto tempo descendo livres pelo
meu rosto.

— Meu Deus! O que você tem, menina? — Teresa


pergunta quando chego até a minha mesa e começo a pegar todos

os meus pertences e os jogar dentro da bolsa de maneira


apressada.

— Eu tenho que ir embora...


— Foi o seu noivo, ele fez alguma coisa? — Sara
percebe que não tem mais uma aliança no meu dedo.

— John Harper não é o meu noivo, nunca foi! — assevero


alto demais. — Adeus, meninas.

— Como assim, adeus? — As três falam em uníssono.

— Não vou mais voltar a pisar os meus pés nesse lugar


— assevero aos soluços e viro-lhes as costas.

Felizmente, o elevador já está no andar. E quando chego


do lado de fora do edifício, respiro aliviada. É como se um peso

estivesse me deixando. Eu estava muito cansada de tudo isso. Das


mentiras e de me pegar desejando e me apaixonando por alguém
que nunca foi meu de verdade. Mas acabou!

Ele conseguiu tudo o que sempre quis e duvido que o fato


de ter supostamente me traído o faça perder o que conquistou. John

não tem motivos para vir atrás de mim.

— O que faz aqui? — Pergunto com a voz fanha por

causa do choro quando me deparo com o Tito me esperando.

— Estava por aqui e o senhor Harper me pediu para te

acompanhar até sua casa e ficar de olho em você — assevera.


— Não tem nada que ficar de olho em mim, Tito — falo e,
como se fosse uma providência do destino, um táxi para bem atrás
do seu carro. — Foi um prazer ter um motorista legal como você —

falo, beijo o rosto do homem calado e ele cora. — Adeus, Titinho —


despeço-me e entro no táxi.

Chego em casa aos prantos. A minha mãe, que há


tempos não via algo assim, sai de trás da máquina e me abraça no
sofá.

— O que houve, minha filha? — pergunta preocupada.

— Eu... — soluço — deixei o John, a empresa e tudo que


tem relação com aquela gente — outro soluço. — Acabou.

— Foi melhor assim. — Esse é o seu consolo. — Sabe

disso, não sabe?

— Eu sei. Mas por que está doendo tanto?

JOHN
Eu a vi me deixando, e sabia perfeitamente que era de

maneira definitiva. Pior, sabia que o gesto de tirar o anel de noivado

e colocar na minha mão não era cena, assim como o meu pedido

para que não me deixasse não foi. Mas tive que ficar, mesmo que
tudo em mim quisesse correr atrás daquela mulher forte, linda e

gentil. Tive que ficar para tentar conter os danos de alguma forma.

Todos viram a porra das fotos, e duvido muito que não

tenha ao menos um fofoqueiro entre nós que irá espalhar as merdas

que aconteceram pelos corredores do prédio. Mas o que mais me


preocupou, além do fato de Manu ter saído daquela forma, foi o

olhar da minha avó para mim. Não por causa do cargo que havia

acabado de conquistar, mas pela sua certeza de que não mudei

nada, que estou errado nesta história, de uma forma ou de outra.

— Você é um fracassado, Tales — disse para ele assim

que Manu saiu e o burburinho na sala começou. — Tentou me

vencer e não conseguiu, então teve que recorrer aos truques mais
baixos. Mas você continua sendo um perdedor, não é? Só que

agora sob o meu comando — Ele ouviu com os punhos cerrados,

doido para me socar, mas não fez porque tinha que fazer o bom
moço. — E pode ter certeza de que vai ter que engolir a mim e a

minha Manuella, porque ela vai voltar a ser minha.

“Vou comer ela aqui nesta sala, na minha e até mesmo

na sua se eu quiser, afinal, eu posso. Estou no comando”

Agora, depois de uma viagem silenciosa para a mansão

da família com os meus avós do lado, tenho os seus olhares em


mim. Me julgam e esperam que eu me defenda das merdas que o

meu primo falou.

— Então, qual das versões é a verdadeira? — Gregory

indaga. — Apesar de eu não saber qual das duas acusações é pior.

— A pobre moça não merecia o que fez, filho. Ela te ama

tanto — Vovó diz. Está mais preocupada com a Manu do que com

qualquer outra coisa.

Não sei se vai continuar pensando igual quando souber

da verdade.

— A senhora acha?

— O olhar não mente, e a forma como se olham faz


qualquer um acreditar que estão apaixonados. — Eu estou

apaixonado, não é?

Não precisava ter feito uma merda tão grande para


perceber. Aquelas loiras nem sabiam me chupar. Não como a minha

morena. Ela, sim, sabe como...

— Que cara é essa, menino?! — Érika irrita-se quando

me perco em devaneios.

— Perdoem-me. Pode continuar, dona Érika.


— Como eu ia dizendo, não sei mais se minha intuição é

tão boa assim. Alguém que trai no início de uma relação não pode
estar tão apaixonado. Onde foi que errei com você?

— Eu não tenho uma boa explicação para aquelas

malditas fotos. Elas são reais. Eu estava sendo idiota tentando

provar para mim mesmo que ela não era a mulher perfeita para
mim, que eu poderia, sim, deixá-la partir quando...

— O acordo entre vocês acabasse? — Vovó completa.

— Como a senhora sabe? — questiono, sem esconder a


minha surpresa.

— Eu soube desde o início, tanto sobre a sua artimanha

quanto a do seu primo que, de repente, logo quando o pai decidiu

deixar o cargo, surgiram apaixonados. Logo os dois que nunca


levaram mulher nenhuma a sério.

— Então a senhora estava rindo da nossa cara esse

tempo todo?

— Não. Deixei que seguissem com seus planos, mas fiz

porque tinha a esperança de que durante o processo aprendessem

algumas lições. E assim que conheci aquela moça melhor, percebi


que se tivesse uma mulher capaz de te colocar nos eixos, seria ela.

— Essa é a minha avó, sempre sabe de tudo.

Mas não estava errada. Manuella me fez querer me

aquietar, pois no tempo em que estivemos juntos ela me bastou.


Sequer pensei ou senti a necessidade de estar com outra.

— Ela é tão irritante, vovó. Me questiona com frequência.

É orgulhosa demais e me fez suar para a ter como nunca precisei


fazer com mulher alguma. E quando estou com Manuella, os meus

dias se tornam mais quentes, não tenho um momento sequer de

tédio. Isso é estar apaixonado?

— Não creio que exista uma definição melhor para esse


sentimento. O amor é sobre querer estar junto, amar os defeitos e

as qualidades. Sentir que o seu mundo começa e termina naquela

pessoa.

— Eu fiz tudo errado — assevero.

— Eu sei que fez. Te conhecendo como conheço, sei que

colocou a empresa como prioridade, que não a conheceu como

deveria, que não deixou que a moça percebesse minimamente que


a queria de verdade. Que aquele pedido de casamento brega

poderia se tornar realidade.


— Acha que foi brega?

— Mas as palavras foram bonitas — Consola-me. — Isso


não importa agora, porque pela forma como foi embora depois de

ter sido humilhada pelo Tales, ela não vai mais querer olhar para a

sua cara. Eu perdi a esposa ideal para o meu menino.

— Não seja tão dramática, querida. — Ao seu lado, o


vovô pega a mão envelhecida e a beija com carinho. — Não

conhece o nosso menino? Ele vai dar um jeito de reconquistar a

moça. Não vai, meu filho?

— Não existe outra hipótese, vovô. Não consigo sequer

pensar na possibilidade de não ter a Manu na minha vida. Vocês

não sabem como foi aguentar as duas ocasiões em que não me

deixou tocá-la, mas sabia que pelo menos poderia a ter todos os
dias diante dos meus olhos. Que estava acabando e poderia dar

atenção ao plano de conquistá-la de vez.

— Aí está o seu erro, John Harper. Seus erros, na


verdade. Ela deveria ter se tornado a sua prioridade quando se deu

conta que estava começando a ter sentimentos mais profundos. Não

existe isso de fazer planos para conquistar uma mulher. Apenas seja

sincero com ela. Mostre que se importa, a conquiste e se permita


conhecê-la melhor.
— Farei isso, só não corri atrás dela quando saiu porque
não poderia deixar a situação daquela forma com vocês — digo, os

dois arqueiam as sobrancelhas para mim.

Já sei. Tinha que ter corrido atrás da morena. Implorado


para que ficasse, nem que fosse de joelhos.

De joelhos?

É claro. De joelhos.

O que é? Estou aprendendo, caralho! É a primeira vez


que meu apaixono, e espero que seja a última.

— Além do mais, seria pior. Com o gênio que a minha

morena tem, a gente ia ter uma discussão daquelas. A única coisa

boa delas é que geralmente acabamos fazendo sexo.

— A sua avó e eu não queremos saber o que fazem

depois das brigas, John.

— Já basta a gente ter visto aquelas sem-vergonhas com

o seu... enfim. Se a Manuella gosta de você como gosta dela, não


quero nem imaginar o que deve estar sentindo depois de ter visto
aquelas fotos — Érika comenta. Isso porque ela não sabe sobre a

forma como a ofendi quando pediu para encurtar o prazo do nosso


acordo, nem como fui rude quando discuti com o Dante no portão de
sua casa.

Se pudesse, eu voltaria atrás em cada uma daquelas

palavras.

Quanto às fotos, eu não sei o que faria se fosse o

contrário. Mataria o homem com certeza. Mas talvez não. O Dante,


por exemplo, está vivo e bem, mesmo que não deixe a minha gata

em paz. O que acabou foi a amizade, depois que começamos a


disputar a mesma mulher.

— Ela só precisa me ouvir. Não sei bem o que dizer, mas

não vou perder a Manuella, vovó e vovô. Ela é minha, e vai saber
disso ainda hoje — assevero.

— Se quer ouvir um conselho de quem viveu mais e é

mulher, vou te dizer que é melhor dar um tempo para ela assimilar
tudo, para acalmar o coração. E como você mesmo disse, iriam
apenas brigar nesse momento. Aquela moça, para quem a conhece

minimamente, não consegue esconder que já foi muito machucada


na vida. Só dê tempo a ela.

Érika está certa em parte. A minha morena tem uma


espécie de escudo em volta de si, e mesmo que tenha me deixado
chegar muito perto, era como se estivesse esperando que a
qualquer momento eu fosse partir seu coração.

E foi o que acabei fazendo, não é mesmo?

— A senhora esteve muito próxima dela nas últimas

semanas, sabe de algo que eu não sei sobre a Manu? — Questiono,


pois a forma como falou foi realmente muito estranha.

— Mesmo se soubesse, jamais iria trair a confiança dela

contando para você algo que confidenciou somente para mim — diz.
É claro que dona Érika sabe de algo que não sei. — E volto a

repetir: dê um tempo para a moça.

— E o que vou fazer durante esse tempo? — A pergunta


é mais para mim do que para eles.

— Consulte o seu coração e só vá atrás da sua noiva


quando tiver certeza do que sente, quando estiver certo de que
pode a fazer feliz como merece — aconselha.

Mas não preciso desse tempo, não por minha causa, pois

embora tenha a deixado em segundo plano, que tenha sido a minha


prioridade até ter feito uma merda imperdoável, há muito tempo
deixei de lado a ilusão de que era somente um sexo fabuloso e uma

união utilitária.
— Por que não estão decepcionados e brigando comigo?
— Ocorre-me perguntar. — Eu tentei enganar vocês. Paguei um

milhão de reais para que a minha secretária fingisse que era a


minha futura mulher. Fiz porque sabia que vovó bate muito na tecla
sobre homens que constroem famílias e tudo mais. Só pensei que o

fato de ter uma noiva iria me ajudar.

— Você e o seu primo não entenderam que os meus

ideais eram mais sobre vocês do que sobre a empresa. Só quero


ver vocês bem, e sei que estarão bem quando se encontrarem,
quando forem plenamente felizes, assim como nós dois somos há

cinquenta anos — diz e olha para o esposo com adoração.

— Perdoe-me, dona Érika e senhor Gregory — peço. —

Mas vou ser sincero e dizer que não me arrependo. A senhora me


criou e sabe que sou assim. Eu vou até o fim pelo que quero. Além

do mais, não vou me arrepender nunca de algo que me fez ficar


perto da Manuella. De ter a chance de perceber que ela é a mulher
perfeita para mim. Se acreditam que não devo mais ficar com

aquele cargo, se o perder for uma forma de castigo, para mim está
tudo bem — falo, resignado.

— Não peça perdão por ser quem é, John Harper — ela

fala e vovô balança a cabeça apoiando. — O único erro que não


pode cometer é o de pensar que pode brincar com a vida e com os

sentimentos das pessoas. E, respondendo a sua pergunta, você


continua sendo o presidente do grupo, afinal, sempre foi mesmo o
mais competente. — Suas palavras me fazem sorrir. — E quanto ao

castigo, o pior de todos eles será se não conseguir ficar com a


mulher por quem se apaixonou.

A sua fala coloca um peso sobre os meus ombros. Um

medo louco de ser cobrado por ter enganado os meus velhos surge
do além.

— Vamos, meu velho. Preciso descansar um pouco. —


Érika diz e eles vão para o quarto.

Fico na sala sozinho com a cabeça a mil. Nesse


momento eu deveria estar muito feliz em algum lugar comemorando
a minha vitória, no entanto, estou aqui, na sala da casa da família

pensando em uma forma de não perder a minha noiva.

Quando penso nisso, tiro o anel que guardei no bolso da

calça e fico o observando. A joia bonita não deveria estar comigo,


mas sim no dedo da sua dona.

— Eu deveria ter percebido que estava aprontando

alguma coisa, filho. Ter estranhado quando ficou noivo tão rápido de
uma mulher madura, vamos assim dizer.

A forma desdenhosa como fala é a prova do quanto pode


ser falsa quando se propõe. Na frente da Manu a tratou muito bem.

Manu até acreditou que minha mãe havia simpatizado com ela.

— Querida, dê um tempo para o seu filho. O dia de hoje


foi muito puxado para o coitado — Jonathan intervém. Eu me
levanto para ir embora, pois no momento não estou com cabeça

para lidar com os dois.

— E estou dizendo alguma mentira?

— Pois deixe-me contar uma novidade para a senhora,

mamãe: o noivado de mentira vai se tornar real em breve.


Acostume-se com o fato de que terá uma nora linda como a
senhora, a diferença é que ela é natural — digo, jogo uma piscadela

e deixo a mansão.

— Foi você quem pediu — ouço o meu pai.

— Mas eu sou natural.


Tarde da noite, na sacada da minha cobertura com o
aparelho celular em uma mão e um copo de whisky na outra, me

seguro para não ligar para a morena, mas então me lembro das
palavras da minha avó.

Um tempo, ela só precisa de um tempo, mas não muito,

pois nem fodendo que vou deixá-la ir para longe de mim. Antes que
perceba, a minha Manu estará comigo e, aí sim, a gente vai
comemorar junto a conquista.

Serei o chefão e ela será a minha namorada gostosa. Se

quiser, no futuro a gente pode até fingir que ainda é a minha


secretária sexy que vai até mim para me fazer um agrado com a
boca.

O fetiche traz um sorriso a minha boca e, de repente,


estou ansioso e animado para o futuro.

Depois de ignorar o convite dos meus amigos Pietro e

Nicolas para comemorarmos, tomo um banho e me preparo para


dormir, mas fico virando de um lado para o outro na cama. Pego o
celular e, sem conseguir resistir, ligo para a morena.

Ela obviamente não atende, então desisto e respeito o


tempo de que precisa, mesmo que me custe muito não pegar o
carro agora mesmo e bater na sua porta.
CAPÍTULO 33

MANUELLA
— Eu sei que o seu chefe era um gostoso do pau grande,

e que está triste porque não vai mais quicar nele, mas já se
passaram três dias e você não sai da porra dessa cama — Mika,

também deitada na cama do outro lado do quarto que dividimos,


fala. — Ele não te ligou mais?

— Não. Só naquela noite. Desistiu bem fácil, o canalha —

reclamo.

Depois que saí da empresa aos prantos, dediquei minha


vida a chorar por um pau que nem chegou a ser meu de verdade,
embora tenha quicado nele tantas e tantas vezes.

Às vezes sou fraca e olho as suas redes sociais, mas não

encontro nada que não sejam algumas fotos, cujas legendas dizem

com orgulho que agora é o todo poderoso do grupo Harper. O pior é


que o cargo lhe cai bem. Um homem do seu tipo não combina com

nada menos que o melhor.

— Deve estar se preparando para dar o bote.


— Ou então partido para a próxima conquista — digo

com despeito.

— Ainda bem que você desistiu da ideia tola de devolver

o dinheiro para ele — comenta.

— Eu mereço cada centavo, depois das merdas que ouvi


daquele primo idiota — afirmo, mas no fundo estou morrendo de

medo das consequências pelo que fiz, afinal, saí daquela forma da

empresa, não cumpri o contrato e não pretendo devolver a grana.

Além de ter surtado porque vi o homem por quem me

apaixonei sendo chupado por outra e sido humilhada pelo primo


idiota por causa disso, posso ser processada por John Harper. Do

jeito que não tem limites e desconsidera a boceta que comeu até a

exaustão, seria perfeitamente capaz de ter uma atitude como essa.

— E o outro idiota? — indaga.

— Como sempre, um urubu chafurdando na carniça —

digo com desgosto.

— O que a sua terapeuta diz sobre isso?

— O de sempre, e estou começando achar que está

certa. — Até pouco tempo, eu estava tentando acreditar que estava


tudo sob controle, que meu ex-namorado iria acabar entendendo as
minhas recusas e o fato de que não havia mais volta.

Mas eu estava errada, e eram elas quem estavam certas.


A minha mãe, a minha irmã e a minha terapeuta. Nunca foi

saudável. Eu era a vítima, talvez ainda seja, que não se via como

vítima. Não queria enxergar que sempre foi um homem cheio de

problemas.

— Está na hora da medida protetiva? — pergunta com

esperança, eu balanço a cabeça dizendo que sim.

— E voltando ao gostoso mor...

— Não quero falar sobre ele — assevero. — Na verdade,

quero o esquecer.

— E se a gente fizesse uma viagem? — A minha irmã

pula sentada e animada na minha cama. O susto é tão grande que


acabo deixando o meu celular cair.

Estava no grupo que eu e as meninas da empresa

criamos no WhatsApp. Apesar de estarem falando comigo, ainda

não me perdoaram direito por ter mentido, embora entendam em


parte que não era algo que eu pudesse chegar e contar.
Elas contaram que a versão que corre no prédio é a de

que o noivado de John Harper com a secretária acabou por causa


de traição. No momento, todos e todas já viram o seu pau. Não

tenho um pingo de pena por já começar no cargo sendo uma piada.


É a consequência de ter sido um safado.

— Eu estou falando com você! — Mika passa a mão na


frente do meu rosto e paira sobre mim.

— O quê?

— Eu disse que podemos fazer uma viagem para você


conhecer alguns gatinhos e esquecer John Harper.

— Não quero conhecer ninguém — digo com convicção.

Depois de John, duvido que consiga olhar para outro cara


e me interessar por ele. Radical? Talvez, mas isso é porque você
não viu ou sentiu aquele pau dentro de si.

— Mas gosto da ideia da viagem — digo e ela bate


palmas animada. Talvez o meu remédio seja gastar um pouco do
dinheiro que ele me deu. Além do mais, organizar tudo vai distrair a

minha mente. — Uma semana? Tenho que voltar logo e começar a


procurar outro emprego.

— Uma semana.
— Quero um lugar que tenha belas praias — assevero.

— Eu quero o que você quiser, só me leve para conhecer


lugares novos, irmã mais velha.

Um pouco mais animada, embora certo loiro esteja no


fundo da minha mente, porque tenho a sorte de ter uma irmã mais

nova doidinha e cheia de energia, começo a fazer planos com ela e


ficamos entretidas até que vá para a missa com a mamãe, na
paróquia que fica no outro quarteirão.

Mesmo que o meu lado sensato diga para não fazer, eu


acabo mais uma vez com o computador em cima das minhas

pernas, em busca de notícias e fotos do John, algo que já havia feito


mais cedo. Eu sou uma pessoa que não tem conserto, e já me

conformei. A essa hora, em pleno fim de semana, o homem deve


estar em um lugar qualquer com uma de suas putas sugadoras.

Fico olhando fixamente a sua imagem na tela do


computador, pensando em como os seus olhos mudam de cor

quando está no auge do prazer, em como as suas mãos


possessivas pareciam que não queriam deixar de me tocar quando
me seguravam.
Sou interrompida pelo som de palmas no portão. Eu me
levanto muito rápido do sofá, arrumo o meu cabelo e ajeito o short
curto que estava embolado. Abro a porta e corro para o jardim, mas

o meu ânimo some quando vejo que me iludi à toa. Não é o John,
para quem, não tenho vergonha de admitir, eu me entregaria,

mesmo acreditando que só iria me usar. John é um vício para o qual


ainda não encontrei a cura.

— O que faz aqui? — pergunto para o Dante. — Por que


não me mandou uma mensagem avisando que viria? — Ele é a
última pessoa a quem gostaria de ver hoje.

Quando conheci John, ainda estava me recuperando de


Dante. É até contraditório, pois estava trabalhando no seu bar. Mas

é complicado, algo que não poderia explicar, não para quem nunca
passou pela mesma situação.

— Não vai me convidar para entrar? — pergunta.

— Dante, por favor. Não estou muito bem nos últimos

dias...

— Só vim conversar com você — fala. Eu olho para

alguns vizinhos e então deixo que entre. Não quero discutir com
esse homem na frente deles.
Além do mais, será o último aviso que lhe darei para que
me deixe em paz, antes de tomar as medidas cabíveis.

— Entre — digo e dou espaço.

Na sala, o homem olha como se estivesse em outra


galáxia. Deve ser mesmo de doer os olhos ver como vivem as

pessoas que precisam trabalhar duro para colocarem comida na

mesa. Não veio aqui mais do que duas vezes na época que
namorávamos.

— O que quer?

— Fiquei sabendo através do Tales sobre o que

aconteceu com você e o idiota do John Harper. Quer me contar


alguma coisa? — Fala de maneira condescendente, como se eu

fosse uma criança que aprontou e merecesse repreensão.

— Não ouviu o suficiente do Tales?

— Ele falou das fotos, mas também acredita que vocês

dois estavam armando para a coroa, que John tenha te dado

dinheiro para ser dele. Mas eu não acredito nessa versão, afinal, te

conheço. É uma boa menina. Prefiro a versão que foi traída pelo
idiota — fala de um jeito que me faz dar gostosas gargalhadas,

porque o único que me traiu foi ele.


Com John, mesmo que o meu coração diga que não, foi

diferente, porque a gente não estava em um relacionamento sério,


não de verdade. Quando aconteceu a chupada no bar, eu já estava

há dias afastada do loiro.

— Acredite no que quiser — Dou de ombros. — Se era só


isso que...

— Não me peça para ir embora ainda. Preciso que me

diga se foi isso mesmo que aconteceu. Eu deveria ter te protegido

mais do John.

Me protegido? Mas do que é que esse homem está

falando? Enlouqueceu de vez?

Eu não preciso da sua proteção. Preciso de paz!

— Aconteceu que o Tales está certo nas suas


desconfianças, o que não é muito estranho, já que fez o mesmo e

não deu certo. John Harper e eu fizemos um acordo que valeu um

milhão de reais.

— Acordo? Que espécie de acordo? — Dá um passo à

frente e segura o meu braço, mas puxo com força. Não gosto que

me toque.

Não depois de tudo.


— Eu iria ser a noiva dele durante seis meses. Precisava

de mim, e eu queria o dinheiro para a minha mãe não perder a casa

— falo com triunfo, mostrando que não me conhece como pensa,


embora não precisasse revelar a última parte.

— Você se vendeu? — indaga com nojo. — Virou a puta

fixa de John Harper, o que ele quis desde o maldito momento em

que colocou os olhos em cima de você no Maresias e te cobiçou —


cospe sem pensar nos meus sentimentos.

Às vezes eu sinto tanto nojo de mim mesma por ter me

sujeitado a essas coisas, não só com ele, mas com o Lucas durante
sete anos de casamento.

Mas a sua fala faz o meu gênio ruim despertar, e mesmo

sabendo que é uma péssima ideia, falo o que vem na minha mente

para o ferir como fez comigo durante o péssimo relacionamento que


tivemos.

— Sim, eu fui a puta de John Harper durante todos esses

meses — falo e, de uma forma que não tinha notado antes, os seus

olhos furiosos olham para o computador em cima do sofá. A tela


toda está preenchida pela imagem do loiro bonito por quem sou

apaixonada.
Mesmo com todos os seus defeitos, John nunca me olhou

como Dante olha agora. Pelo contrário, me fazia sentir a mulher


mais bonita e capaz do mundo.

— Cale a boca, porra! — exige, e com o pé chuta o

eletrônico, que cai com força no chão e trinca a tela.

Fico assustada e furiosa ao mesmo tempo. A minha

mente volta para o dia em que ele me empurrou e machucou as

minhas costas na televisão por causa de uma briga por ciúme.

— Dei para ele como a vagabunda que você vê em mim,


embora nunca tenha dado motivos. Transei com John Harper

porque ele é gostoso, porque quis e não porque me pagou por isso.

Ele é mais homem do que você e o meu ex-marido juntos.

Quando o tapa forte que sua mão dá fere o meu rosto, e


sinto o gosto metálico de sangue, por um momento não reajo

quando Dante vem para cima de mim e começa a me sacudir, me

xingando dos nomes mais feios possíveis. Então, em um fio de


coragem, que não sei de onde vem, eu miro os seus olhos e grito,

grito muito alto por socorro.

A porta está aberta e a rua movimentada, em questão de

segundos, a sala da minha casa está cheia. Pessoas, que no futuro


não poderei dizer seus nomes, arrancam Dante de perto de mim. Eu

não tenho reação. Não digo uma palavra sequer. Não derramo uma

lágrima, mas sinto o meu corpo tremendo muito.

— Era apenas uma briga de casal. Saiam daqui! — Ele


esbraveja. — Manuella, meu amor, vamos conversar. Não foi a

minha intenção.

Mas nunca foi a sua intenção. Nunca quis me xingar ou


me agredir. O pior é que sempre acreditei que era apenas um

momento de nervosismo, que era uma pessoa boa. Mas agora algo

em mim se rompeu.

— Briga de casal? — A voz de um homem fala indignada.


Deve ser um dos meus vizinhos. — Você vai ter que se resolver com

a polícia, isso sim.

— Eu não estou a fim de problemas para a minha vida,

cara. Ela me provocou e eu reagi — defende-se, mas quando vê


que meu vizinho está falando sério, decide fugir como um covarde

que é. — Depois a gente conversa, querida — diz, eu sequer

levanto o olhar para ele antes que vá embora.

Tem duas mulheres ao meu lado me confortando, sei

quem são, mas estou totalmente alheia a elas e a tudo o que dizem.
Não sei se fazem perguntas ou se me confortam. Só quero ir para a

minha cama e me cobrir. Esconder-me do mundo todo, pois no meio


disso tudo, com o meu lábio partido e rosto queimando, ainda

encontro espaço para sentir vergonha.

— Eu posso saber o que está acontecendo aqui? — A

voz da minha mãe é como um bálsamo. Quando os braços


calorosos da Mika me envolvem, finalmente choro. Um choro

copioso e de soluçar.

— Eu não aguento mais...

Não sei quantas vezes repito estas palavras bem

baixinho e sem parar.

— Aguenta. Você é forte.

Bem de longe, ouço as pessoas falando com a minha


mãe, dizendo o que viram. Elas não precisam de muita informação

para concluírem quem foi o responsável pela agressão. Pela forma

como arde, o meu rosto deve estar muito vermelho. De alguma

forma pegou no meu olho, pois próximo a ele está muito dolorido.

Quando a casa esvazia e ficamos só nós três, a minha

mãe se senta no outro lado do sofá. Sinto-me envergonhada e não

quero olhar para elas. Sempre tentaram abrir os meus olhos, mas
eu sequer queria tocar no assunto. Não queria admitir que estavam
certas e eu errada quando diziam que o relacionamento sempre foi

abusivo, que eu me deixava manipular. E continuei deixando,

mesmo depois que o namoro acabou.

— Olhe para a sua mãe — Abigail pede ao levantar a

minha cabeça e limpar com cuidado o sangue da minha boca. Ao

meu lado, Mika constata o estrago no seu computador de estudos.

— Estou com tanta vergonha — admito aos soluços. —

Eu não deveria ter deixado...

— Querida, não é fácil para quem está vivendo essa

situação. Não se culpe e nem se envergonhe, pois você não fez


nada de errado. Ele fez — fala com firmeza. — Sabe o que tem de

fazer agora, não é?

Eu balanço a cabeça confirmando, e lamentando que

tenha chegado a esse ponto.


Na delegacia, conto como tudo aconteceu, das agressões
que sofri por parte do meu ex-namorado.

Não é fácil falar, se expor e demonstrar fraqueza, pois por

mais que digam que não sou fraca, que milhares de mulheres que
vivem a mesma situação agem da mesma forma, é como me sinto.
Me culpo por ter deixado que chegasse a esse ponto.

A pessoa que me ouve dá-me o suporte necessário, me

instrui sobre qual caminho tomar e, quando saio da delegacia ao


lado da minha mãe e minha irmã, sinto-me mais segura, pois se os
avisos de que não ia ter volta não foram o suficiente, agora a justiça

o impedirá de se aproximar de mim.

Muito provavelmente, Dante será processado e


condenado por lesão corporal em contexto de violência doméstica, e

o fato de ele não poder se aproximar de mim colocará fim a um


círculo vicioso, pois por mais que soubesse que não o queria de
volta, que não sentisse nada por Dante e tivesse mágoa pela forma

como me tratou durante o pouco que durou a relação, um lado meu


estava cego.

Eu o deixava me ferir física e psicologicamente, como

uma espécie de doença que me fazia recorrer ao homem sempre


que tinha problemas, porque ele me fez acreditar que era o meu
salvador, a única pessoa a quem poderia recorrer quando
precisasse de ajuda.

Agora, é como se grilhões estivessem se rompido e,


enquanto volto para casa, sinto-me mais leve. Talvez já fosse a hora
de eu ouvir a minha família e de dar mais abertura para a minha

terapeuta, afinal, foi para falar sobre os meus problemas de


relacionamentos que mamãe me convenceu a iniciar o tratamento. É
o momento de entender que vivi, sim, relacionamentos abusivos

com o meu ex-marido e com o Dante.

— O que quer fazer agora, mana? — Mika pergunta

quando entramos em casa. Antes disso, não tive coragem de olhar


para os lados, pois sei que a fofoca se espalhou e agora os meus

vizinhos estão sentindo pena de mim.

— Só preciso tomar um banho e dormir — digo, sem


querer chorar mais na presença das duas. Não quero essas

expressões de preocupação em seus rostos.

— A mãe vai preparar uma sopa de feijão para você, está


bem?

— Não estou com fome — aviso.


— Não pode ficar sem se alimentar, querida. Tente, pelo
menos? — insiste.

— Tudo bem.

Depois tomo o meu banho, chorando e esfregando a


minha pele com força, como se a água e o sabonete fossem
capazes de apagar tudo o que aconteceu.

Assim que termino de tomar à força o caldo de feijão da


dona Abigail, deito-me e me cubro até o queixo. Agradeço a minha
irmã por não tentar conversar comigo, pois não quero ouvir nada

que não sejam os meus pensamentos.

Martirizando-me, tento me lembrar em que momento

comecei a ser essa pessoa. Na adolescência e até antes de


conhecer o meu ex-marido, tive namoros rápidos, leves e divertidos.

Então veio o Lucas e ele só foi bom para mim no início. O

passar dos anos nos deixou acomodados em uma relação ruim,


mas, olhando para trás, admito que eu tentei muito mais do que ele
consertar o que não tinha conserto. Tentava ser uma boa esposa,

fazer com que valorizasse mais a mim do que a sua sala de aula.

Lucas me tratava com condescendência, eu era como um


objeto que enfeitava a sua casa na maior parte do tempo. Lembro-
me de como a minha beleza sempre chamou atenção por onde quer

que eu passasse, e sempre foi assim. Os homens me cobiçavam e


muitos já fizeram loucuras para me conquistar quando eu era
solteira, mas Lucas me faz parar de ver essa beleza diante do

espelho.

Não era tratada como igual, não era valorizada, mas já


estava com a mente tomada e a alma envenenada, então acreditava

no que me rotulava. O fim do meu casamento aconteceu da pior


forma possível, pois mesmo que tenha feito de tudo pela relação,

não só não recebi nada em troca como fui traída por uma mulher
mais jovem.

O Dante surgiu em seguida. Tão lindo, divertido e rico...

Parecia que era a minha chance de ser feliz, eu me


agarrando a ele como um bote salva-vidas, dizendo a mim mesma

que era, sim, uma mulher linda e desejável, que o Lucas quem havia
perdido quando me traiu e fez o enorme favor de colocar fim ao

casamento de merda que tínhamos.

Mas o Dante era a versão piorada do meu ex-marido.


Lucas ao menos não era extremamente ciumento e possessivo.

Dante duvidava ainda mais de mim e externava que eu era boa para
o sexo, e não muito mais do que isso. Ele começou a me sufocar e
a me xingar nas nossas discussões. A maioria delas foi porque eu
estava supostamente dando mole para outros homens.

Ele me amolecia com o sexo, que era muito bom, e no dia

seguinte ficava tudo bem. Dante me cansou rápido, não suportei a


forma como me sufocava e acabamos terminando. O problema é
que o fim não foi de fato o ponto final da nossa relação. Até hoje, eu

deixei que tivesse poder sobre mim, dizia não, mas não fazia com a
convicção necessária para que desistisse.

Mesmo que tenha sido controlada, ofendida e agredida


antes, estava cega demais para ver que ele não era uma boa

pessoa, que não havia sido um acidente e que a culpa não era
minha por ter o deixado nervoso. Eu deixei Dante e Lucas me
transformarem nessa pessoa cuja casca é bonita, mas por dentro

está tão machucada que não acredita em si mesma.

Tantas coisas poderiam ter sido diferentes na minha vida.


Eu tive chances, mas fiz escolhas, muitas escolhas erradas. E até

com o John, que já não tenho certeza do que se tratam os meus


sentimentos por ele, fiz tudo errado.

Poderia ter freado a paixão e controlado o meu corpo.


Deveria ter deixado o sexo de fora do acordo, pois, no fim, ele
também estava me usando. Na verdade, usamo-nos mutuamente, a
diferença é que não me coloquei no meu lugar. Desejei que
tivéssemos uma chance.

A parte mais quebrada de quem sou desejou que fosse


ele o meu diferente. O homem que poderia me mostrar que relações
podem ser saudáveis.
CAPÍTULO 34

JOHN
Foram quatro dias sem ver a bunda linda da minha

morena gostosa tornando os meus dias melhores, mas parece que


foi há um ano que a vi pela última vez. A saudade e a falta que me

faz é equivalente a esse tempo.

Existe um prazo para organizar tudo em uma empresa


até que um novo diretor-presidente assuma o cargo quando

acontece a troca, mas como foi algo familiar, passado de um pai


para o filho, as formalidades foram dispensadas e, com a

aquiescência do conselho, há dois dias finalmente assumi.

O último andar, com as regalias que o cargo de chefia

merece, agora é todo meu. A sala tem o dobro do tamanho da


minha anterior, tem sofás maiores, banheiro, copeira para me servir

cafezinhos durante o dia e até uma sala que se conecta a minha


para a secretária.

Mas agora eu não tenho mais uma secretária e sinto falta


de mais do que alguém para me dar assistência, sinto falta da

mulher, da minha mulher, porque o que conquistei não faz tanto


sentido sem Manuella ao meu lado. A gente, junto com o Pietro,

forma uma equipe e não quero que uma parte fique faltando.

Há quem diga que eu exagerei, que a bola estava na

minha mão e não precisava ter usado as mesmas armas do Tales,


minha própria avó deixou no ar, mas faria de novo e até mais do que

fiz. Se não fosse pelo cargo, seria para me aproximar da minha

parceira de crime.

E depois da terceira noite sem dormir bem, incomodado


pela ausência da Manu na minha vida e preocupado com a forma

como deixou a sala de reuniões, acabei vindo aqui. Não consegui

respeitar o seu tempo por mais do que quatro dias, porque a


incerteza e a saudade estavam me matando.

Pude comprovar que as pessoas só dão valor às coisas

quando perdem, porque enquanto estava ao meu lado, eu sempre

deixava para depois. Tinha a empresa como minha prioridade, pois


acreditava que muito em breve teria tempo só para a minha morena,

para provar que poderíamos dar certo, e nos moldes que preferisse,

desde que não me privasse do seu corpo e da sua companhia.

Só depois que a vi me dando as costas extremamente

magoada que me dei conta do quão urgentes e profundos eram os


meus sentimentos por ela. Os últimos dias me fizeram desejar que
tivesse sido real, que a morena fosse mesmo a minha noiva.

Nas noites em que senti falta de dormir abraçado com


Manu, da mesma forma que fizemos em Gramado, quis que fosse a

minha mulher como nunca quis nada na vida, nem mesmo a cadeira

da presidência, e não estou exagerando. Sei que é isso, porque não

consigo pensar em nada que não faria para chegar perto de verdade

da minha morena.

Chegar perto de verdade para a conhecer melhor e ver

até onde os nossos sentimentos nos levariam, e sei que tem

sentimentos por mim também, sem nenhum acordo entre a gente,

sem prazo para o fim.

Na frente do portão da sua casa, observo o movimento e

está tudo quieto. Não tem vizinho na porta me espiando e nem um

sinal de que tem gente em casa. Eu saio do carro, e antes que

precise bater palmas ou fazer qualquer outro sinal que denuncie a


minha presença, a minha suposta ex-sogra se aproxima pelo jardim.

— Bom dia, senhora Ortega — cumprimento-a quando


abre o portão. A sua expressão não é muito boa.
Será que também viu as malditas fotos? Não, porque

parece que o mundo todo viu aquilo. Na empresa, estou tendo


dificuldade para conter as fofocas pelo rádio corredor. As amigas da

Manu, nas ocasiões em que as vi, me olharam com curiosidade. Já


devem saber sobre o acordo.

— O que faz aqui a essa hora? — indaga. Como assim a


essa hora?

São seis horas da tarde.

— Eu vim ver a Manuella — sou direto. — Da última vez


que nos vimos, a gente não teve a oportunidade de conversar

direito.

— Eu sei o que aconteceu quando se viram pela última

vez. A minha filha não é de esconder as coisas de mim — avisa. Me


pergunto que tipo de coisa ela conta.

— Por favor, me deixe entrar e falar com ela. A sua filha


precisa ouvir o que tenho para dizer.

Sim, eu vim pronto para implorar. Como disse, não tem

nada que eu não faria por ela nesse momento.

— O que a Manuella precisa é de paz, principalmente

depois de ontem — deixa escapar e fico ainda mais atento às suas


palavras e reações.

— O que aconteceu ontem?

Ela demora um pouco para responder, me analisa, e

espero que esteja chegando à conclusão de que não vou embora


daqui antes de falar com a minha morena, ou ao menos ter notícias

suas. Depois da primeira tentativa de ligação que fiz, me contive. Fiz


para seguir os conselhos da dona Érika, mas também porque sabia
que não iria atender a minha ligação.

— Já que não vai desistir, vou deixar você entrar um


pouquinho. — Sorrio satisfeito, mas a senhora dá o recado. — Mas

é só porque acredito que está na hora de eu ter uma conversa séria


com você.

Eu entro atrás da mulher, que não parece em nada com a


morena. Dona Abigail é baixinha e tem o tom de pele claro. A minha

morena deve ter puxado o falecido pai na aparência.

Pela sala, dá para notar que a casa é humilde, mas é

limpa e bem arrumada. Olho na direção de um dos corredores, me


perguntando onde está a Manuella e em que momento poderei vê-

la.
— Sente-se. — Indica o sofá e eu obedeço. — Não
adianta olhar para os corredores, porque a minha menina não está
em casa.

— Onde Manuella foi?

— Com todo o respeito, mas não é da sua conta. — Pelo

visto, Manuella teve a quem puxar. É exatamente o tipo de resposta


que daria.

— O que estou fazendo aqui, então? Eu preciso mesmo


falar com a Manu. — Tento me levantar, mas ela toca o meu braço,
segurando-me no sofá.

A gente fica se encarando, ambos sérios, mas eu espero,


porque está na cara que não gosta de mim e, ainda assim, quer que

eu fique. Tem algo para me dizer e parece que é importante.


Respeito o seu tempo, então a minha futura sogra começa.

— A Manuella te contou por que aceitou a sua proposta


maluca?

— Não contou, mas isso realmente não me importa. Não


a julgo se foi para comprar roupas e sapatos — assevero.

Digo a verdade, nunca foi uma questão importante para


mim, porque não me importei com o destino do dinheiro que era
dela.

— Ela só aceitou porque estávamos prestes a perder a

nossa casa, depois que o falecido pai deu o imóvel como garantia
de um empréstimo no banco — diz e me surpreende. — A minha
filha pode ter defeitos e fazer escolhas erradas, mas essa escolha

errada de se meter com alguém como você, que tem uma vida
completamente diferente da dela, Manuella não cometeria, não se
tivesse outra saída.

— Eu não fazia ideia.

Meu amor...

— A Manuella, a mulher linda que enche os olhos de


homens como você por onde passa, apesar de parecer forte e

decidida, no fundo não é nada disso. Ela tem problemas, é frágil

emocionalmente e já teve uma série de relacionamentos muito ruins


que a fizeram muito mal. — A voz da senhora está embargada e um

pisca-alerta acende na minha cabeça.

— Por que está me dizendo estas coisas? Eu não estou

reclamando, porque quero conhecê-la melhor, mas não entendo por


que a senhora e porque agora.
— Falo para que veja que precisa a deixar em paz, pois é

do que está precisando no momento. Deixe-a em paz aqui, no lugar


ao qual pertence.

— A sua filha tem um lugar ao meu lado. Eu a quero ao

meu lado — falo com convicção.

— Não, meu rapaz. Você não quer. Pensa que a quer

porque é jovem, e aposto que não tem nem trinta anos ainda. Para

você, a Manuella é um desafio, o diferente que surgiu na sua vida,

mas apenas uma fantasia. — Todas as suas palavras estão me


surrando, mas nem por um instante me pego acreditando que o que

diz é a verdade. — Uma novidade de que logo se cansará, então ela

voltará para mim e a irmã, porque é para onde sempre volta, e


caberá a nós duas juntar os seus cacos.

“E a gente sempre faz isso, porque nessa família existe

amor e união. Independente dos problemas e da forma como ela se

sabota, sempre terá o nosso apoio e proteção contra homens iguais


a você. Vocês dois são tão parecidos...

— Nós dois quem?

— O ex-namorado da minha filha é um homem como

você. Usa roupas de grife, é bonito e pode conquistar com um


sorriso, mas era tóxico para ela.

As suas palavras me ofendem profundamente, porque

nunca fui, ou não quis ser, esse tipo de pessoa na vida da Manu,

muito pelo contrário.

— Aconteceu alguma coisa? — Faço a pergunta mais

importante.

— Nada com que deva se preocupar. E volto a insistir


para que deixe a minha filha viver a vida dela sem a sua presença.

E se o problema for a fortuna, posso pedir para ela...

— Não tem nada a ver com o dinheiro, senhora — digo.

— Eu gosto dela.

— Eu sinto muito, mas...

— Mamãe, eu ouvi vozes. Essa TV não está muito alta?

— A voz melodiosa e sonolenta da morena surge antes dela.

Primeiro, eu olho para os seus pezinhos bonitos e


descalços, depois para as pernas grossas e macias que as minhas

mãos tocaram tantas vezes, abraçadas por um short cinza de

malhar curto. Depois, subo para a barriga plana sem uma gordura
fora de lugar, tudo graças à genética, pois a minha gata não
frequenta academias. Depois miro os peitos, que estão escondidos

por um sutiã vermelho sem uma blusa por cima.

Mas o prazer da visão morre quando o meu olhar alcança

o seu rosto. Primeiro o choque e depois o desgosto. Então vem a

reação quando me levanto e, em um milésimo de segundo, estou na

sua frente. Imediatamente, a minha morena abaixa o olhar, mas eu


seguro delicadamente o seu rosto.

As minhas mãos não estão firmes e me seguro para não

explodir o mundo, porque, de repente, parece que estou no meio de


um pesadelo. Primeiro vem tudo o que a senhora falou, e agora a

vejo assim. O canto esquerdo da sua boca linda que tanto beijei

está inchado e vermelho, com sinais de que sangrou. Perto do seu


olho tem uma mancha roxa e existem vergões na bochecha.

Quando desço para os braços, existem marcas perfeitas de dedos,

como se tivesse sido sacudida com brutalidade.

A bile sobe pela minha garganta, o meu estômago


embrulha e tenho que me segurar para não vomitar. Os meus

punhos estão cerrados e tudo some. Apenas uma pergunta de

resposta simples e urgente fica martelando na minha cabeça.

— Quem fez isso com você? — Meu tom é tão baixo que
não tenho certeza se me escutaram.
Nenhuma das duas responde.

— Quem fez essa merda, porra?! — Dessa vez esbravejo

alto demais. Manuella está apática, nem parece que está

respirando. Ela também parece estar com medo de mim neste


momento, então respiro e abaixo o tom de voz. — Falem comigo,

por favor.

— Foi o ex-namorado dela. O seu amiguinho, Dante


Dutra. Ontem ele veio até aqui e fez isso com ela. E não foi a

primeira vez que a tratou como um lixo.

Dante Dutra, o filho da puta do Dante Dutra.

Eu vou matá-lo!

— Eu preciso ir agora. — Viro-me na direção da porta,


não vendo nada na minha frente.

— John... — A voz da Manu é um sussurro, mas o

suficiente para me puxar para a realidade. — Não faça isso, por


favor.

Imediatamente, eu me volto para ela e a puxo para os

meus braços. Abraço apertado, então seu corpo começa a sacudir


em um choro copioso e sofrido.
Meu pobre amor. Mas eu deveria ter imaginado que

aquele filho da puta não valia nada, que era capaz de fazer uma
covardia dessas, só porque não aceitava perder.

Apenas nesse momento, as palavras que me disse

quando a conheci vem a minha mente. Dante disse que Manuella

era problemática, mas o errado sempre foi ele.

Depois de um tempo, quando a gente se afasta

minimamente, percebo que estamos sozinhos, que mesmo tendo

falado tudo aquilo, a sua mãe teve a delicadeza de sair e nos dar
privacidade. Então eu a abraço pela cintura e a levo para o sofá.

Queria sentá-la em cima das minhas pernas, mas não acredito que

seja o momento para isso, e muito menos que o meu toque seria
bem-vindo.

— Fale comigo, querida — peço, então ela levanta a

cabeça e me encara. Essa imagem do seu rosto, que sempre foi

perfeito, vai me assombrar a vida toda.

— Eu sou isso aqui que está vendo. A que pensa que

conhece não existe. Sempre tive relações ruins, a última foi abusiva,

segundo a minha terapeuta. E até ontem tinha certa dificuldade de

enxergar, porque tem alguma coisa errada comigo. — A forma como


fala de si mesma parte o meu coração, e ela tem razão, essa aqui
na minha frente não parece em nada com a Manu que idealizei na
minha cabeça.

E o engraçado é que, mesmo assim, nada mudou.

Continuo gostando dela e a querendo para mim. Perfeita ou


quebrada, como parece pensar de si mesma, é a mulher que desejo

ao meu lado.

E aqui, com ela na minha frente, tão frágil por causa de


um pedaço de merda covarde, lembranças de como a tratei em

algumas ocasiões voltam à minha mente, então me sinto mal, muito

mal. Um homem pior do que os outros.

Eu também não a valorizei como merecia. Eu a tratei


como um lixo em duas ocasiões específicas que consigo me

lembrar. Não foi a minha prioridade, mesmo que a ame como nunca
amei outra mulher, me igualei a eles.

De repente, não consigo mais ficar tão perto e nem olhar


em seus olhos. Sinto vergonha, os meus olhos estão ardendo.

Então, de costas para ela, respiro fundo e tento contar até dez.

Por favor, só me dê um tempo.

Mas eu sinto a sua mão pequena nas minhas costas, o


toque que não percebi que sentia tanta falta até agora. É como se
fizesse anos desde a última vez.

— Não consegue olhar para mim, não é? — indaga e não


entendo a princípio onde está querendo chegar. — Também estou

com vergonha de me olhar no espelho...

— Por favor, não fale mais — peço ao virar-me de frente,

mais uma vez sendo um idiota, pois ela está muito sensível e
qualquer movimento um pouco mais brusco a faz sobressaltar.

Sustento o seu olhar e não me envergonho que veja que


os meus olhos estão marejados.

— Não tem nada de errado com você, minha linda. Eles...

Nós fomos errados, eu sinto muito.

— Nós? Do que está falando?

— Eu também não fui bom para você, Manu. Será que


não enxerga? Não sou diferente deles... — O meu estômago revira

quando as palavras deixam a minha boca, mas não posso fechar os


meus olhos. — Eu... — Não sei mais o que dizer, mas ela me
surpreende ao me abraçar pela cintura. Tem a orelha contra o meu

peito, imagino que esteja ouvindo as batidas aceleradas do meu


coração.
— Não diga isso. Você é John Harper e não há ninguém
como você. Gosto da Manu que sou quando estou ao seu lado, e
não poderia jamais acreditar de verdade que é como eles, não

quando só o fato de estar ouvindo as batidas do seu coração me


acalma. Quando estou com você me sinto em paz. A nossa loucura

me faz bem — diz, me confortando quando deve ser confortada.

— Me perdoa pelas vezes que fui rude, que te tratei de


uma forma que não merecia e quando não te coloquei em primeiro

lugar. Eu quero ser bom para você, me ensine — peço ao segurar o


seu rosto com as duas mãos e beijar as lágrimas que rolam.

— É claro que eu perdoo — diz e enterra o rosto no meu


peito. Mais uma vez a gente vai para o sofá, mas agora jogo o

cuidado de lado e a sento em cima das minhas pernas.

— Você é uma mulher forte, querida. Não diga mais que

tem algo de errado com você. O que passou, embora não seja o
meu lugar de fala, muitas outras mulheres também passaram e
passam todos os dias, o importante agora é ir à polícia, o manter

afastado...
— Já fiz o que precisava fazer — assevera, e tem
dificuldade de se manter olhando para mim. Sei que está sentindo

vergonha, mas não deveria, não por mim.

E apesar de estar me segurando por ela, a minha mente

ferve de ideias de como vou fazer o desgraçado pagar, porque, sim,


Dante Dutra vai pagar por ter machucado a Manuella. Ele tem que
aprender, e não será doando cestas básicas e prestando serviços

para a comunidade que isso vai acontecer.

— O que está pensando em fazer agora? — questiono,

torcendo para que os seus planos não me incluam longe dela. No


momento, só quero ficar ao seu lado.

— Vou viajar por um tempo... — diz, e hesita — com o


seu dinheiro.

— Esse dinheiro é seu, Manuella Ortega. Todo seu e

nunca precisei que me devolvesse nem um centavo — assevero. —


E você poderia ter me contado o motivo de ter aceitado entrar no
acordo. Senti-me até um pouco desconfortável, porque poderia ter

te dado esse dinheiro. Assim não precisaria ter feito algo que não
queria fazer.
— Não tinha razões para te falar sobre o assunto, e

apesar de o motivo ter surgido, no fundo, eu estava pensando na


possibilidade de aceitar. Queria o dinheiro e queria você — a sua
admissão faz o meu coração aquecer.

— E sobre a viagem? Tem lugar para mim nos seus


planos? — Depois do que acaba de falar, tenho esperanças.

— Não. — É curta e grossa ao jogar o balde de água fria


na minha cabeça, mas eu mereço. — Eu preciso de um tempo para

pensar, John. Colocar a minha cabeça no lugar e entender algumas


coisas sobre mim, pois foi a necessidade de estar em um
relacionamento que me completasse de alguma maneira, o desejo

de ter sempre um homem como muleta que me levou a fazer


escolhas tão ruins.

“Agora, por exemplo, não sei se você não foi uma má

decisão, embora tudo em mim grite que é diferente. Se ficar um


tempo sozinha, como tentava fazer quando te conheci, talvez

descubra a minha força, entenda que posso querer alguém, mas


não necessitar, como se sozinha eu não me bastasse.”

— E o que faço com tudo o que sinto por você? — O que

Manu acaba de dizer parece o correto, e por isso é mais dolorido,


pois embora seja o que deva fazer, sou a pessoa que queria estar
ao seu lado.

— Talvez o distanciamento te faça perceber que seja o

que for que pensa que sente por mim...

— Eu estou apaixonado por você desde o dia em que te


vi lavando copos atrás do balcão daquele maldito bar — assevero.
Manuella deixa escorrer duas grossas lágrimas. — É mais do que

paixão, eu te amo.

— Desejei tanto ouvir essas palavras nas últimas


semanas que nem acredito que está falando para mim. Queria que

fosse diferente, mas no momento não posso te dar nada —


confessa e enterra mais uma vez o nariz no meu pescoço.

— Não estou pedindo que me dê nada agora. Só não me

afaste completamente da sua vida — peço, seguro as mãos


delicadas, tão menores do que as minhas, e dessa vez ela deixa. —
Há tantas coisas que precisamos conversar e acertar, só me diga

que em algum momento a gente vai fazer isso, meu amor. —


Quando o nome carinhoso deixa a minha boca, um sorriso tímido se

insinua na sua.
— Não sei quando vou voltar — avisa. Estou surtando por
dentro só de pensar na saudade.

— Vou te esperar. Será a prova de que os meus


sentimentos por você são verdadeiros — afirmo.

— Com duas mulheres chupando o seu pau? — Ataca,


mostrando o quanto ficou magoada.

— Sem mulheres chupando o meu pau.

— Você é livre para fazer... — Ela para, expira e inspira,


mas as últimas palavras não saem, pois sabe que não quer dizê-las,

embora pense que é o certo a se fazer.

— Como acabei de dizer, vou esperar o tempo que for


preciso até que volte para mim, então a gente vai conversar.

— A gente vai conversar — repete as minhas palavras.

Ficamos em silêncio por um tempo breve, apenas nos


encarando muito próximos. Em algum momento, quando já não é
possível suportar todos os sentimentos que me atropelam, abraço-a

mais apertado sobre as minhas pernas e a beijo com doçura, algo


que pouco fiz em toda a minha vida, nem mesmo com ela.

O beijo longo tem o gosto das lágrimas que derrama, de

tristeza e saudade. Mas entendo que precisa fazer isso e não direi
uma palavra sequer para a impedir, pois não desejo ser como os
outros.

E depois de um último e longo beijo na porta da sua casa,


cujos olhos não podemos fechar, pois eles fazem promessas que as

nossas bocas têm medo de fazer, eu me despeço e parto.

Enquanto dirijo, não consigo mais conter o que estava

guardando enquanto estive em sua casa e sabia que estava


precisando de mim, e então ligo para o Pietro.

— Preciso que consiga um álibi para mim.

— Como assim? Que loucura está pensando em fazer?


— Rapidamente, explico para o meu amigo o que aconteceu.

Apesar das recomendações, Pietro entende as minhas razões.

Ele não pode fazer o que fez e sair ileso. Eu não vou
deixar!
CAPÍTULO 35

MANUELLA
Dois meses depois – Caribe

— Olha esse, mana. Não é possível que tenha ficado

cega — Ao meu lado, a minha irmã reclama quando eu nem levanto


a cabeça para ter uma visão melhor.

Sei do que se trata, e não estou a fim de conhecer o


vigésimo desconhecido, com quem não trocou nenhuma palavra,
por quem se apaixona. Ela parecia eu quando era adolescente e

todos os dias na ida para a escola me apaixonava no ônibus por um


garoto diferente. Eu nunca mais voltava a ver a maioria deles, e a
paixão durava apenas quarenta e cinco minutos de viagem.

A minha irmã, muito maluquinha e desapegada, terminou

com os seus casinhos antes de viajarmos, pois, segundo ela, não

queria levar o peso de um compromisso como bagagem extra. No


fundo, sempre admirei a forma leve como leva seus

relacionamentos.

Queria tanto ter nascido assim...


— Tira esses óculos do rosto e não finja que está

dormindo, irmã! — Ela exige, exasperada.

— Estou tentando, mas você não deixa. Se não tivesse

me feito passar a noite quase toda naquela casa de shows, eu não


estaria caindo de sono — digo e viro as costas para ela na

espreguiçadeira.

— Você está ficando velha e chata! — irrita-se. — Se não

quer conversar, vou dar um mergulho na piscina — fala e me deixa.

Eu quero mesmo ficar sozinha no momento, mas não tem

nenhum motivo a mais por trás do que a necessidade de me


recuperar de ontem. A festa foi boa e acho que bebi e dancei

demais.

Há dois meses, eu e a minha irmã saímos de casa com

as nossas malas. Ela toda animada para conhecer novos lugares,

eu nem tanto. Fazia apenas uma semana do ocorrido com o Dante e

a minha conversa com John Harper. E dois meses depois, já

consigo dormir sem estar chorando, não sinto mais tanta revolta e
tristeza por acreditar que deixei que ele fizesse o que fez.

Eu estava fazendo terapia há alguns meses, e só


comecei porque mamãe me aconselhou depois que me separei do
meu ex-marido. Não posso negar que não levava as consultas a
sério como deveria, e não me sentia à vontade para me abrir, pois

tinha vergonha da pessoa que havia me tornado ao longo dos anos.

E quando comecei a me relacionar com o Dante, me

fechei ainda mais, embora tenha continuado falando com a

profissional pelo menos duas vezes ao mês. Pelo pouco que

deixava escapar, ela sabia, ou imaginava, em que espécie de

relacionamento eu havia entrado. Agia com ela da mesma forma

como fazia com a minha família, mas da forma como podia tentava

me alertar.

Hoje, mesmo que seja através das videochamadas, sinto-

me mais confortável para falar, então acabei aumentando a

frequência das nossas conversas. Ainda me envergonho, mas a


terapeuta disse que é mais comum do que imagino. Ela me faz

entender a cada conversa que é mesmo difícil de aceitar quando se

está em uma relação abusiva, quando se tem que admitir que o

parceiro é, sim, capaz de agredir e até de matar.

E o problema mora justamente no fato de mulheres como

eu saberem que relações assim existem, mas pensarem que nunca

estarão do outro lado. Eu era uma pessoa assim na minha

juventude. Ficava irritada quando ouvia sobre casos de agressão,


de mulheres que apanhavam e ainda ficavam na relação. Para mim,

a saída era fácil. Era só a pessoa terminar a relação com o agressor


e seguir com a vida.

Dentro da estatística, agi exatamente igual, e agora


posso admitir isso. Não é só terminar a relação. Essa é a parte fácil,

o processo final. O mais difícil é aceitar, entender e se libertar. Para


mim, assim como para muitas outras mulheres, o processo é
doloroso, mas estou vivendo ele. Ainda sou uma pessoa que tem

um histórico ruim, ainda carrego marcas na alma que vem de anos,


mas dia após dia estou em processo de desintoxicação e estou

ficando bem.

Todos os dias, seja aqui no Caribe, ou nas praias do


nordeste onde eu e a minha irmã estivemos nos últimos dois meses

de longas férias, e sem data para acabar, curto a minha própria


companhia, provo a mim mesma que um relacionamento tem que

ser um querer, não uma necessidade.

Eu quero John Harper, mas não necessito dele, porque

mesmo com saudade, ainda consigo sorrir, posso ir a uma festa,


dançar e beber até ficar bêbada sem ele. Ainda assim, existem

muitos momentos em que desejo a sua companhia.


Pelo pouco que falamos na nossa última conversa, e

mesmo que estivesse machucada de todas as formas possíveis, ter


percebido que gosta de mim da mesma forma que gosto dele foi

como uma dose de alívio para as minhas dores.

O relacionamento que nem começamos de verdade está

com o futuro em aberto, e mesmo que não seja a minha maior


preocupação no momento, e me policio muito para que não seja em

momentos como esse, quando penso em John Harper, torço para


que esteja cumprindo o que disse que faria e esteja me esperando.

Sei que é querer muito de um homem como ele, mas ter

esperanças não custa nada.

No dia seguinte à sua visita, saiu em todos os noticiários

sobre um ataque que Dante Dutra sofreu em seu apartamento. Ele


foi brutalmente espancado, foi dessa forma que disseram, e embora
não devesse, me senti satisfeita com o acontecido e quem imaginei

como o autor da ação.

Só poderia ter sido o John. Depois me preocupei que


pudesse se meter em problemas, mas me lembrei de quem se
tratava e relaxei. John Harper é ótimo em planejar um crime, e

duvidei que fosse espancar o Dante se não tivesse um plano de


como se safar.
Tem dias que acordo com vontade de pegar o celular e
ligar para o meu ex-chefe, mas então me lembro que preciso desse
tempo e me seguro. Tenho medo de ligar o computador, de colocar

o seu nome na busca e encontrar imagens suas com outras, mas


sempre me surpreendo. Tudo o que sai sobre John tem relação com

o trabalho, e estou feliz que esteja provando que de fato era a


melhor escolha para assumir o cargo.

Tenho falado vez ou outra com a senhora Érika. A


primeira ligação sua que atendi foi difícil, pois estava envergonhada
pelas mentiras que o seu neto e eu havíamos contado, mas então

fui sincera ao revelar como tudo havia acontecido e os meus


motivos. A senhora me entendeu, e mesmo se não tivesse

entendido, gosta muito de mim e disse que ainda tem esperança de


que o neto e eu vamos ficar juntos.

Como aconteceu na primeira vez em que entrei no seu

carro e fomos parar em um hospital, senti-me à vontade para contar


para Érika sobre os meus relacionamentos e ouvi bons conselhos

da avó de John. Nada do que vivi diminuiu o seu desejo de me ter


como mulher do seu neto.

— Já chega! Vamos para a piscina. — A minha irmã


chega me molhando e me puxando pela mão.
O seu ânimo acaba me contagiando e eu a sigo. Sinto
olhares de homens e algumas mulheres em mim. Olhares de cobiça,
que encheriam o loiro de orgulho se estivesse aqui. Ele é do tipo

que acredita que olhar pode, desde que não toque. Saber que
outros desejam o que só ele pode tocar o enche de tesão.

Amanhã é o último dia aqui na ilha, o nosso próximo


destino é a França e não faço ideia de quando essa longa viagem
de cura e descoberta irá acabar. Mas tenho certeza de que estarei

pronta para o que deixei em aberto em casa quando voltar.

Quatro meses depois

— Eu estou só o corpo aqui, porque a alma já foi — falo

ao largar a mala na porta e me jogar no sofá.

— Nem me fale. Viajar é a melhor coisa, mas o cansaço

da volta é proporcional — Mika completa se jogando ao meu lado.

Mamãe, depois de todos os abraços, está parada em pé


à nossa frente com um sorriso de orelha a orelha. Está feliz de ter
as filhas de novo em casa, depois de seis meses de viagem.

Foram seis meses intensos e divertidos em que todos os


dias foram aproveitados e bem vividos. Além do Brasil, Mika e eu

estivemos em mais oito países esbanjando o dinheiro de John. Foi

perfeito, mas estava na hora de voltarmos para casa. Já não estava


mais sendo possível aguentar a saudade.

Tivemos a oportunidade de fazer amizade por cada lugar

onde passamos, e eu voltei com a minha agenda cheia de contatos

de novos amigos. Mas também tive a chance de conhecer homens,


interesses amorosos que ficaram claros, e não senti vontade de ficar

com nenhum deles.

Se não fosse pelo processo pelo qual estava passando,


seria porque tinha um homem na minha mente e coração e nenhum

deles era John Harper. Pensei muito nele. Mesmo que seis meses

seja uma espera longa demais, que eu corra o risco de ter o

perdido, ainda quero voltar a estar com o meu ex-chefe.

Na verdade, é mais do que querer. Depois de tanto

tempo, o meu corpo sente a necessidade de sentir o seu, pois

mesmo que estivesse passando por uma fase difícil, que devesse
ter os meus pensamentos voltados apenas para a minha
recuperação e processo de autoconhecimento, secretamente o

desejei.

Na calada da noite, sozinha em camas de quartos de

hotéis muito diferentes da minha, me toquei e gozei para ele. Nos


meus pensamentos não existia outro além do meu loiro. Eram as

suas mãos, o seu membro grande e corpo pesado em cima do meu.

E quando o avião pousou mais cedo, foi a primeira pessoa que veio
à minha mente. Só consegui pensar que estamos perto novamente.

— Acho que preciso de um banho — digo para as duas e

me levanto. Na verdade, preciso mais do que de um banho.

Tenho que colocar a minha cabeça no lugar e pensar no


que vou fazer daqui em diante. A viagem foi boa, eu consegui

encontrar em mim mesma o que fui buscar, mas a vida tem que

continuar, e dessa vez estou inteira e pronta para tomar as rédeas


do meu próprio destino.

Embaixo da água, faço planos mentais de como será o

reencontro e o que irei falar para o loiro. Mas antes de qualquer

coisa, preciso dormir por uns dois dias seguidos para deixar de me
sentir como um trapo de gente.
E nos dois dias que seguem, me dou ao trabalho apenas

de comer e dormir. Eu e minha irmã perambulamos de pijamas


como duas almas pela casa, cujos corpos não estão mais presentes

há muito tempo.

Mas hoje eu acordei com as energias cem por cento

renovadas, e enquanto tomo um café, abro a minha caixa de


entrada no e-mail, algo que não faço há meses. Dentre as centenas

de mensagens de lojas que mandam ofertas inúteis diárias, tem

uma do grupo Harper, mandada pelo RH.

O documento comunica o meu desligamento definitivo do

grupo. Segue uma série de motivos, mas só consigo pensar que fui

substituída. Não que não devesse, afinal, passei seis meses fora.
Não foram seis dias ou seis semanas, mas não posso evitar de me

sentir estranha.

É como se eu estivesse sendo substituída de todas as

maneiras na vida do John, e não gosto nada da sensação ruim que


estou sentindo. Então decido olhar o mural de avisos no site e leio

que está ocorrendo a seleção para a contratação de uma secretária

executiva para John Harper.

Incomodo-me, mas uma ideia começa a se formar na


minha mente. Uma loucura que não posso resistir. Ele e eu não nos
falamos há seis meses, e nem mesmo através da sua avó soube

notícias pessoais suas, porque assim como eu não perguntava, ela

também não me dizia. Mas se a marca que deixei nele for tão

profunda quanto a que deixou em mim, não terá me esquecido.

— Mendonça? Aqui é a Manuella Ortega — digo ao

telefone quando a secretária do John me atende no segundo toque.

— Eu sei que é você, mulher. Nem faz tanto tempo assim


que nos falamos — diz com a sua alegria de sempre. — Mas estou

curiosa para saber o motivo dessa ligação depois de seis meses.

Depois que a secretária do John saiu de licença-

maternidade, a gente continuou tendo contato através de


mensagens, mas assim como aconteceu com as outras meninas,

me desliguei por completo dela nos últimos meses. Deixei tudo para

trás, porque sabia que ficaria procurando saber da vida do loiro, ou


que me contariam, mesmo se eu não perguntasse.

Naquele momento, tudo o que eu não precisava era de

ficar apegada ao que deixei, mesmo que fosse o John.

— Eu... — começo, mas antes de falar me pergunto se


vou mesmo fazer isso.

— Seja o que for, pode falar — diz.


— Preciso da sua ajuda em algo muito importante, e que

só você pode me ajudar — assevero.

Pelos minutos que seguem, conto para ela o que tenho

em mente, e mesmo que pense que é uma loucura, Carla fica

empolgada para me ajudar, é romântica demais para ficar de fora.

Depois de encerrar a ligação e terminar de tomar um café


caprichado, dedico o meu dia a me preparar para amanhã. Faço as

minhas unhas, arrumo os cabelos, mas não corto muito no

cumprimento. Assim como eu, ele gosta dos meus fios mais longos.
Mas faço umas mechas finas que deixam meu cabelo mais

iluminado e com aparência de ser mais cheio em suas ondas

naturais.

A parte da roupa não é tão difícil, pois John sempre foi


doido nos meus conjuntos sociais e justos no corpo. Segundo ele,

eu era a fantasia real da secretária gostosa que todo homem tem.

Os saltos altíssimos são de lei.

E quando coloco na minha cabeça no travesseiro para

dormir, depois de ter contado para a minha mãe e para a Mika sobre

o meu plano de rever o meu ex-chefe, tento conter a minha

ansiedade. Tenho um pouco de medo do que posso encontrar, mas


preciso fazer isso. Se nada for como estou imaginando, terei que
engolir a decepção e seguir em frente, afinal, ele não me prometeu
casamento antes de eu partir.

Tento pensar que a vida é imprevisível e que o homem

pode perfeitamente estar saindo com alguém cuja identidade a


Mendonça desconhece, mas a hipótese faz as minhas entranhas se

retorcerem. Não é como se eu não tivesse pensado e me iludido

com o homem em todos os dias dos últimos seis meses.

Durante o sono, sonho com uma das muitas vezes em

que a gente fez sexo em cima da sua mesa no escritório.


CAPÍTULO 36

JOHN
— Felizmente, a minha vida sexual está em dia — Pietro

fala enquanto repara nas unhas, fazendo movimentos giratórios na


cadeira. — Eu mesmo não iria me suportar se estivesse com esse

humor do cão.

— Pare de girar, você está me deixando tonto, porra —


assevero.

— Tudo bem, parei! — Ele diz, levantando as mãos em

sinal de rendição.

Eu nunca senti inveja do meu amigo, mas confesso que

nos últimos meses é tudo que tenho sentido, e por isso ando tão
irritadiço. É uma tortura estar perto deles, sempre se tocando e se

encarando com olhares apaixonados, enquanto estou na seca e

pensando em uma mulher que nem tenho certeza de que é real e


não foi apenas fruto da minha imaginação.

Mas nada disso tem mais importância, pois faz algumas

semanas que deixei de me importar com o fato de ela ter sumido por
tanto tempo sem me dar uma notícia sequer. Tudo bem que estava

disposto a esperar, mas não completamente no escuro.

— Sabe que ela pode não voltar, não sabe? — Pietro diz,

me trazendo de volta para a realidade com sua fala e uma bola de


papel amassado na cabeça.

— Eu não me importo mais! — assevero. — Tenho tudo o

que queria, o conselho não para de elogiar a minha atuação nos

primeiros seis meses de gestão, por que eu iria perder o meu tempo
com aquela mulher?

— Mas você está tão na defensiva, senhor Harper. Eu


ainda acho difícil de acreditar que se apaixonou a esse ponto —

comenta.

Ele se aproveita da abertura que está tendo, pois

Manuella não é um tema que entra em discussão com frequência

desde o dia em que saiu da empresa e decidiu se aventurar pelo

mundo. Depois que conversei com a mulher, contei para o meu

melhor amigo sobre como havíamos ficado, mas até para ele a
espera parece longa demais. Não fala com todas as letras, mas sei

que pensa assim.


No fundo, deve estar com pena do idiota aqui. Sei que ela
estava muito quebrada depois do que aquele desgraçado do Dutra

fez, e que apenas cumpri a promessa que fiz a mim mesmo de

respeitar o seu tempo, mas não imaginei que ela fosse ficar fora

durante tanto tempo.

A sensação de estar no escuro é muito ruim.

— Não me importa mais se vai voltar ou não. Manuella


acabou para mim — assevero. Mas pensei assim muitas vezes e

nunca a deixei ir de verdade.

— Vou fingir que acredito, Romeu — ele diz e se levanta

fechando o terno. — Só vim mesmo para te convidar para jantar

comigo e com o Nicolas. Você tem que se animar, Harper. Não

estou te reconhecendo, e mesmo que goste muito da Manu, que a

venere por ter te colocado nos eixos, acredito que passou muito

tempo. A vida dela pode ter seguido, então você tem que seguir a

sua também.

Só agora, e eu sabia que esse momento chegaria,

alguém fala o que todo mundo que sabe da nossa história deve
estar pensando.
— Você está certo — admito. — Vou jantar com vocês,

mas sugiro que vá com calma, porque não sei nem se me lembro de
como beijar na boca — brinco.

Pode parecer mentira, mas o último sexo que fiz foi com
Manuella Ortega. O trabalho, a bagunça que tive que arrumar do

meu pai, me manteve focado e sem tempo para diversão. Mas tenho
que confessar que mesmo quando sobrou tempo me faltou vontade.

— Até mais — ele diz e sai.

Sozinho, jogo a minha cabeça para trás e suspiro alto.


Hoje eu estou particularmente mais sensível do que nos outros dias

de todos os últimos meses. O que tenho com aquela mulher se não


uma promessa de que iria a esperar? A gente nem mesmo chegou a

ter uma relação de verdade.

O fato de eu ter dito que a amava parece não ter

significado nada para ela.

Eu sei que manteve contato através da minha avó, mas

por alguma razão sentia que fazer perguntas seria como trair a
minha palavra de que lhe daria espaço. Logo eu que nunca fui de
seguir regras, e menos ainda de sentir remorso quando quebrava a
cada uma delas. De qualquer forma, a minha avó não me diria nada

sobre Manu, não se ela tivesse pedido para não falar.

Foi ela quem viajou e não voltou mais. A bola do jogo

estava em suas mãos, e poderia muito bem ter pelo menos me dito
que estava bem em algum momento. E mesmo que algo me diga

para não fazer, o meu racional quer que eu siga em frente, pois
seria loucura seguir esperando, não seria?

— Porra de mulher enlouquecedora!

Tendo tomado uma decisão que vai contra a minha


vontade, digo a mim mesmo que só preciso colocar os pensamentos

sobre tudo o que diz respeito a morena de lado e tentar ao menos


dar uma chance de conhecer a companhia que os meus amigos

devem levar nesse jantar.

E quando digo conhecer, é só no sentido bíblico mesmo,

porque Manuella continua sendo a única mulher com quem quis um


relacionamento e sentia que me completava e satisfazia em todos

os sentidos. Pensar em conhecer alguém agora é saber que mesmo


que role alguma coisa, em questão de dias estarei cansado da
companhia da pessoa e do sexo.

Mas chega disso!


Ainda tenho um dia todo de trabalho pela frente, porque
junto com o status e a sensação de poder, vem o suor dobrado. Não
me queixo, porque era o que eu desejava, e é bom ver a empresa

milionária se expandindo e saber que a minha gestão é a


responsável por isso.

Essa parte da minha vida só não está perfeita porque não


tenho uma secretária gostosa, cujas roupas justas me enlouqueciam

todos os dias. Ela me distraia nas horas mais tensas ou ao final dos
expedientes.

— Mendonça, pode vir aqui, por favor? — chamo no

ramal da minha secretária.

Sim, ela voltou. A competente senhorita Mendonça.

Lembro que costumava gostar muito dela, de pensar que não


poderia viver sem sua ajuda, mas tudo mudou. Hoje, o fato de olhar

para a sua cara e ver que não é a morena por quem sou louco me
irrita. Pior que na sua frente tenho que fingir.

Não a verei tanto no futuro, pois o meu contato direto não


será mais com ela. Como se tornou mãe, e sim, fui sensível a ponto
de perceber que não podia mais ficar fazendo o mesmo horário e

tendo as mesmas responsabilidades, acabei rebaixando-a para o


cargo de assistente de secretária.
Ela vai auxiliar a minha secretária executiva. Essa terá
para si toda a responsabilidade, mas contará com a competente
Carla. O seu salário continuará sendo o mesmo, e pela forma como

tem sido doce comigo, tenho certeza de que me tornei uma de suas
pessoas preferidas no mundo.

— Vamos repassar os compromissos do dia? — peço


quando está parada com o Ipad na minha frente. — Os
compromissos que são menos urgentes você pode remarcar para

outro dia. Hoje vou sair mais cedo.

— Não pode!

— Perdão?

Essa mulher anda tão estranha. Desde cedo ela tem me

olhado como se tivesse nascido uma terceira cabeça no meu

pescoço. E ainda não é nem meio-dia.

— Eu quis dizer que não pode sair antes de entrevistar a

última candidata. Eu selecionei uma e quero a sua aprovação.

— Desde que seja competente, qualquer uma que você

escolher terá a minha aprovação.

— Por favor, chefe!


— A escolha está nas suas mãos, Mendonça. Da última

vez selecionou a Manuella e ela era perfeita, assim como tenho


certeza de que a próxima também será — digo.

Sendo sincero, não estou interessado em nada disso.

Tenho coisas mais importantes com as quais me preocupar hoje.

— Tudo bem, se é o que quer. — Aceita fácil a minha

recusa e sai. Tenho a impressão de que está satisfeita demais.

Até o meio da tarde, eu divido o meu tempo com reuniões

e vídeoconferências. Entre elas, uma com o meu primo, que teve


que se contentar em ser o vice-presidente do grupo. Não é algo que

goste, mas tem que aceitar. A gente tenta colocar as diferenças de

lado quando os interesses da empresa da nossa família estão em


jogo, mas não deixo de lembrá-lo que sou superior a ele. Faço

porque não engoli o fato de ter tirado aquelas fotos e as espalhado

em toda a empresa.

Até hoje tenho problemas por causa delas, pois as


pessoas que viram não esquecem do meu pau. Um erro que não me

deixam esquecer.

Perto das seis da tarde, Nicolas liga avisando que está

aqui e quer que eu conheça uma pessoa, a mesma que estará no


jantar que irei na sua casa. Não quero conhecer ninguém, mas não

sou insensível a ponto de dizer isso, ou de os mandar ir embora.

— Quando o Pietro subir, peça para ele vir direto para a

minha sala — aviso ao telefone para a minha secretária.

— A nova secretária está aqui e quero que o senhor a

conheça antes de ir embora.

— Posso ser apresentado para ela depois que o Nicolas


sair. Mas que não seja mais do que cinco minutos — falo e desligo.

Ainda a história da secretária!

Cinco minutos depois, eu estou parado na frente da mesa

com os braços cruzados, apenas esperando que entrem. Quero me


livrar das visitas e ir para a minha casa me preparar para o bendito

jantar.

Quando o homem entra, me deparo com pernas longas e


bonitas. Os meus olhos vão subindo pela cintura fina e, diferente da

Manu, ela é magra como uma modelo de passarela e tem seios

pequenos condizentes com o resto do seu corpo.

O rosto é perfeito, falando como um bom apreciador da


beleza feminina. Os cabelos loiros platinados chegam na altura de

seus ombros e os olhos são de um azul cristalino. A mulher é linda,


e o fato de estar na minha frente me faz lembrar que ela era o tipo

que me atraía antes de eu cair no feitiço de uma morena bocuda.


Sim, eu era doido pelas loiras.

— Pelo visto, gostou da minha irmã — o companheiro do

meu melhor amigo fala sorrindo ao se aproximar com ela de onde

estou.

E desde quando Nicolas tem irmã?

E quanto a gostar dela, não gostei como deveria. Claro

que aprecio a sua beleza, afinal, não sou cego, mas não é como se
eu não visse a hora de ficar sozinho com ela para tirar as suas

roupas. Isso eu sentia com a...

Aquela fodida que não vou mencionar o nome nem em

pensamentos mais. Tudo poderia ter sido diferente.

Tudo!

— Meia-irmã — ela o corrige. — Prazer, sou a Ariel —

apresenta-se, estende a mão e eu beijo a palma.

— Dá no mesmo. Nunca falei dela porque essa mulher


está sempre fora do país — explica. — Esse é o John Harper, o

amigo de quem Pietro e eu te falamos.


— Espero que tenha sido elogios — falo descontraído, ou

tentando ser.

Só posso estar doente. Pela forma aberta como a mulher

me olha, o seu rosto grita “sexo à vista”, mas o meu pau parece
morto. Mas também não é algo com que devo me preocupar, talvez

ele só esteja preferindo as morenas atualmente.

— Nem tanto. Mas com certeza não falaram com justiça


sobre o quanto você é bonito — ela está flertando abertamente.

— Eu não quero interromper vocês, mas estou mesmo

precisando ir ao banheiro. Aquelas batidas que você me convenceu

a beber, irmã... — Eu sei o que o idiota está querendo fazer. Eu


queria pensar em uma forma de dizer que não precisa, que já

podem ir embora.

— Tem um banheiro no canto esquerdo — aviso.

— Prefiro usar o do meu homem — assevera, pisca com


malícia para mim e sai da sala.

Eu tenho uma mulher na minha frente esperando que eu

tome a iniciativa, talvez um esquenta antes do jantar, mas, pela


primeira vez, não sei o que fazer.
Na verdade, até sei, mas não quero. No fundo, não tenho

a menor vontade de seguir em frente e enterrar o que a Manu e eu


poderíamos ter tido. Essa garota não despertou o menor interesse

em mim e, ainda assim, o lado racional me obriga a pelo menos

tentar. Não deixar que aquela mulher dite o que faço ou deixo de

fazer, mesmo com a sua longa ausência.

Quando a moça loira chega mais perto, eu não faço nada

para afastá-la. Quando toca no meu ombro com a intimidade que

não temos, deixo que faça.

Então, é isso. Hora de superar. Quando a moça com

quem mal troquei duas palavras aproxima a cabeça para me beijar,

a porta é aberta e na minha frente está quem eu mais desejei ver


nos últimos meses, mas que não esperava hoje, não depois de tanto

tempo.

— O que veio fazer aqui? — Pergunto com frieza e muita

irritação. De repente, a frustração de todos os dias de saudades


está sendo colocada para fora.
CAPÍTULO 37

MANUELLA
Alguns minutos antes

Cheguei mais cedo para o processo que foi mais fácil do


que da outra vez. Tendo mergulhado de cabeça no meu plano, Carla
Mendonça deu um jeito de garantir que o careca iria me passar para

a segunda fase do processo de contratação. Era lógico que a


segunda fase seria feita por ela, que conhece o serviço e o homem
tanto ou mais do que eu.

As outras duas candidatas foram meras formalidades,


pois apesar de não nos orgulharmos disso, afinal, também queriam

muito a vaga de secretária executiva de John Harper, a gente sabia


que eu seria a escolhida.

Voltar a trabalhar para ele foi mais do que o desejo de ter


novamente um salário na minha conta no final do mês. O meu maior

desejo, acima de qualquer coisa, era poder estar perto do loiro, de


poder o ver todos os dias, mesmo que esteja puto com o meu

afastamento durante tanto tempo. Não o julgo, pois estaria me


sentindo da mesma forma, sobretudo, depois da conversa que

tivemos e a forma como me defendeu do Dante.

E depois que tudo se encaminhou como deveria, subi

para o décimo terceiro andar para rever as minhas amigas. Primeiro


elas me xingaram, mas agora estão me bombardeando de

perguntas sobre o que fiz em todo esse tempo e por onde andei. Eu

respondo com animação enquanto espero o momento de subir e ser


apresentada como a nova secretária do chefão, sem, contudo,

esquecer-me do frio na barriga de nervosismo.

— Eu amei essas mechas no seu cabelo. Ficou mais

linda do que já era — Sara pisca para mim com malícia e eu


retribuo, apenas para provocá-la.

— E veio pronta para o crime — fala Ana ao me medir da

cabeça aos pés.

A saia social de hoje é justa e vermelha, da mesma cor

dos sapatos. A camisa branca de mangas três quartos tem os três

primeiros botões abertos, deixando à mostra uma pequena


insinuação de decote. Os cabelos estão presos em um rabo de

cavalo, porque o homem ama o meu pescoço. O beijou, chupou e

lambeu todas as vezes que o teve ao seu alcance.


A maquiagem é leve, mas o batom é vermelho sangue.
Já que minhas intenções vão além de conquistar a vaga, quero o

meu loiro hipnotizado pela minha boca, que imagine a sua toda suja

de batom quando nos beijarmos. Que pense na visão que terá de

mim de joelhos e engolindo o seu pau.

— Ei! — Teresa gesticula na frente do meu rosto. — A

gente ainda está aqui falando com você.

— Desculpa, meninas. Mas estou nervosa demais —

confesso.

— Se for por causa do John Harper, ele vai cair aos seus

pés quando te ver — Sara avisa e prefiro acreditar. — Aquele

homem sempre foi louco por você. Teve o seu tempo e voltou

quando se sentiu preparada.

— Se gosta mesmo de você, vai te entender — completa

Teresa.

— Estou contando com isso — digo. — A Mendonça está

demorando para me chamar, não acham? Está quase na hora.

— Não é melhor subir de uma vez? — Ana sugere.

— Você tem razão. Vou logo — digo, beijo o rosto de

cada uma e me dirijo para os elevadores.


— Obrigada pelo presente.

— Agarre o seu homem.

— Tente sair da seca.

Ouço-as falando e dou risadas enquanto as portas dos


elevadores se fecham.

O plano foi simples. Assim que vi o anúncio da vaga,


liguei para a Mendonça. Disse que estava interessada de novo e

insinuei que ela poderia mexer os pauzinhos para facilitar a minha


vida, assim como fez da outra vez. A mulher é profissional, ou tenta
ser, e só topou porque sabe que me saí bem enquanto a substituí,

que mesmo tendo um acordo e transado com John, fiz bem o meu
trabalho de secretária.

A meu pedido, ela não contou nada sobre o meu retorno


para o homem, pois a ideia é o pegar de surpresa. Agora que está

perto de acontecer, já não sei se fiz o certo. Sinto medo da rejeição


e de ver que é tarde demais para nós.

— O que aconteceu? — pergunto ao chegar no andar da

presidência. — Estava esperando você pedir para que eu subisse.

— Querida...
— Está nervosa, mas não mais do que eu. Sente as

minhas mãos geladas? — Curvo-me um pouco na sua mesa e deixo


que me toque.

— Houve um imprevisto, uma mudança de plan...

— Só me diga que ele está lá dentro esperando a nova

secretária, que no caso sou eu — peço, e os meus olhos estão


queimando a porta de sua sala. Sinto um orgulho inexplicável de ver
o seu nome nela. A sala da presidência.

— Está, mas... — não a ouço mais e sigo na direção da


porta — ele não está sozinho — ouço quando abro a porta e me

deparo com a cena que não gostaria de ver nem em mil anos.

Primeiro, vejo a cena em que está prestes a beijar outra

mulher, e agora me olha como se me odiasse. Mas eu estou aqui


como uma boba idiota, incapaz de responder a uma pergunta.

— Eu te fiz uma pergunta, garota! — ele fala entredentes


e uma irritação incontida. A loira até sai da sua frente, mas se posta

ao lado, tão perto que me traz ganas de arrancar todos os cabelos


de aplique da sua cabeça loira.

Se controle, Manuella Ortega! Você tem que parar de

tremer como uma boba e falar.


— Sou a nova secretária — digo em um fio de voz. A sua
risada de desdém faz com que eu me sinta uma idiota.

— Mas isso só pode ser uma piada de péssimo gosto.


Que brincadeira é essa? — Cospe.

— Eu devo deixá-los a sós? Vocês se conhecem?

— Sim — digo.

— Não — ele fala ao mesmo tempo.

Os meus olhos ardem. Um misto de tristeza, raiva e


frustração, mas não vou dar a eles esse gostinho de me humilhar,

não mais do que já me sinto.

Como assim não me conhece?

Filho da puta!

— Tudo bem, acho que foi um erro. E me perdoem por ter

os interrompido — digo, fecho a porta com um estrondo e, cega por


causa dos olhos cheios de lágrimas, apresso-me na direção dos
elevadores.

— Manuella, eu sinto muito... — Carla fala ao meu lado.

Eu conto vinte segundos até que um dos elevadores chegue no


andar.
— Está tudo bem — digo, engolindo em seco. — Depois
a gente se fala. — Quando as portas se fecham, eu finalmente
choro.

Acabou. Ele me odeia por ter feito o que era melhor para
mim naquele momento. Eu também vou fazer de tudo para o

esquecer. Se não pôde me entender, significa que nunca gostou de


mim de verdade.

JOHN
— Porra! — Esbravejo quando a porta bate tão alto que a

mulher se afasta.

— Perdão, mas você realmente não conhece aquela

mulher? — Até uma estranha percebeu tudo.

— Conheço muito bem. Eu sou completamente

apaixonado por ela. Eu... Eu a amo — digo pela primeira vez para

outra pessoa, e tinha que ser uma estranha.

— Então vai atrás dela — sugere.

— Eu sinto muito por isso. E diga para o seu irmão que o

jantar está cancelado.

Ao chegar do lado de fora da sala, Carla está parada


sozinha na frente de um dos elevadores.
— Cadê a Manu? — indago, enquanto aperto com

desespero o botão da caixa metálica, como se isso fosse fazer com


que suba mais rápido.

— Ela foi embora — diz, olhando-me com exasperação.

— Aposto que foi um idiota com ela.

— Manuella me deixou sem saber notícias dela durante

seis meses — apesar de estar me justificando, sei que estou todo

errado.

— Ela esperava que você tivesse entendido que


precisava de um tempo depois do que aconteceu. Ela não iria voltar

inteira para você se estivesse o tempo todo em contato.

Eu precisava que alguém de fora me falasse o óbvio?

Não digo nada em resposta às suas palavras, só entro no


elevador e olho ansioso para o painel, enquanto desce devagar

demais para o meu gosto.

Eu a entendi, é claro que entendi. Todos os pensamentos


e palavras erradas que saíram da minha boca foram só a saudade

falando mais alto. Falando não, gritando.

A verdade é que subestimei os meus sentimentos por

Manu. Se tivesse sido diferente, teria a colocado como minha


prioridade antes. Não teria deixado que fosse para longe de mim

com incertezas quanto ao futuro.

Eu passo correndo pela recepção e ninguém entende

nada. Assim que chego na calçada, a vejo de costas mexendo no


celular com a cabeça baixa. É claro que é a minha gata. Eu

reconheceria essa bunda em qualquer lugar do mundo.

O tempo que perco a olhando é o que leva para um carro


se aproximar e ela abrir a porta. Desesperado, a alcanço e a abraço

por trás com firmeza.

— Ei! — A mulher pisa com força no meu pé e eu profiro

os piores xingamentos.

Quando a giro nos meus braços e deixo que veja o meu

rosto, o seu corpo relaxa, mas nem tanto.

— Algum problema aí, moça? Esse homem está te

incomodando? — O motorista do carro que ela pediu pergunta.

— Sim, ele está — a safada fala, mas o meu coração

amolece, porque os seus olhos estão vermelhos por causa das

lágrimas.

Está chorando de ciúme, não é?


Mas o que são algumas lágrimas perto do que fiz com

Dante Dutra por ter nos trazido até aqui?

Foram seis meses afastados, um tempo em que tudo

poderia ter sido diferente.

— Não é verdade. É apenas um desentendimento entre


marido e mulher.

— Moça? — ele insiste.

— Mais ou menos. — Entrega-se quando percebe que

não vou desistir, e muito menos soltá-la. Quer me matar no


momento, mas prefere não fazer uma cena.

— Posso ir?

— Pode. E desculpa pelo incômodo.

Assim que o homem se vai com o carro, primeiro ela olha


em volta para checar se não tem muita gente perambulando perto

da gente, ou nos observando de dentro do prédio. Depois tenta se

soltar sem sucesso. Não quero soltá-la nunca mais, e não é só

porque quero a conter.

— Se não soltar, vou chutar o seu saco — ameaça. — O

que faz aqui? Deveria estar na sua sala comendo a loira oxigenada

— fala com ciúme.


— Você está morrendo de ciúme — digo e beijo por cima

dos seus olhos. Como é bom tê-la assim.

Durante os últimos seis meses, era como se estivesse

faltando cor na minha vida. Ela me deixou e levou embora o seu


calor.

— Não sei o porquê. Você é tão idiota... — fala e deixa os

seus ombros caírem. Os olhos ficam alagados novamente. — Por


que ia beijar ela?

— Não vou falar disso com você aqui na calçada —

aviso. — Vamos para o meu apartamento.

— Não. Eu não vou.

— Sim, você vai — rebato. — Mas antes, me diga por


que veio sem me avisar.

— Queria fazer uma surpresa, mas pelo visto a

surpreendida fui eu. Iria te avisar que sou a nova secretária. — Faz
biquinho com a boca e tenho vontade de morder. — Mas a loira...

— Pelo amor de Deus, mulher! Pare de falar dela, eu nem

sei qual é o nome da irmã do Nicolas — confesso. — Se vier comigo


para conversar, prometo que vou te explicar tudo — digo.

— Só conversar — avisa.
— Tudo bem — concordo, pois diria qualquer coisa para

ficar perto dessa mulher.

A raiva e a frustração sumiram e ficou a saudade que

preciso matar, o desejo que preciso saciar e as palavras que

precisam ser ditas e que foram adiadas por muito tempo.

Elas estão presas na minha garganta.

Caminhamos lado a lado para o estacionamento, e

quando a abraço pela cintura, não sou repelido. Quando beijo o seu

pescoço cheiroso, ela o curva mais para o lado e me dá mais


espaço.

Porra! Era exatamente disso que eu estava precisando.

Do que tanto senti falta. O toque, o cheiro de um no outro e a

intimidade que criamos sem perceber. Mesmo sem termos tido a


conversa, a gente se tornou um casal de verdade há muito tempo.

E enquanto dirijo para casa com ela ao meu lado, como

desejei e me arrependi de não ter feito nada antes que fosse tarde,

o silêncio entre a gente é confortável. Cada um com os seus


pensamentos, mas na expectativa pela conversa, para tantas coisas

que precisam ser esclarecidas. Da minha parte, almejo pelo que virá

depois, pelo momento em que a espera irá acabar.


Ao olhar vez ou outra para o lado, só tenho certeza de
que é real porque o seu cheiro está preenchendo todos os espaços.

Vendo que parece tão bem, uma imagem muito distante da sua

figura frágil e machucada da última vez em que a vi, meus


pensamentos viajam para a noite em que tudo aconteceu.

Eu praticamente voei com o carro e quebrei todas as

regras de condutas no trânsito, enquanto dirigia para o apartamento

do Dante. Ao chegar, não tive dificuldade de ter a minha subida


liberada, tudo porque já havia estado em muitas das festinhas que o

homem fez, então era um rosto conhecido pelo porteiro.

Dei uma desculpa qualquer para que me deixasse subir


sem que tivesse ligado para avisá-lo, mas tive que subornar o

homem com um bom dinheiro para que dissesse que nunca havia
me visto no prédio, caso eu tivesse problemas.

Quando Dante abriu a porta, eu fiquei mais cego de ódio


do que estava antes. Só conseguia ver o covarde que havia
machucado a minha mulher, então avancei sobre ele, dei o primeiro

soco e custei a parar.

Não sou tão mais forte ou mais alto do que o Dante, mas

era um homem cheio de fúria e ele não foi páreo para a minha raiva.
Só deixei o homem quando estava quase desacordado e com o
rosto ensanguentado. Deixei que ficasse claro porque estava
fazendo aquilo, fiz com que desejasse nunca mais voltar a sequer
olhar na direção da minha mulher.

Não precisei do álibi do Pietro, pois tudo o que o Dante


não queria era chegar perto de uma delegacia. Para falar da minha
agressão, teria que dizer que havia agredido a Manuella.

E foi por causa de Manuella Ortega que a nossa amizade

acabou. Uma amizade que jamais fará falta, pois não compactuo
com covardes doentes.

Quando entramos na minha cobertura, Manuella age

como se morasse aqui e se sente completamente à vontade ao se


aproximar do sofá para deixar a sua bolsa. Depois, ela tira os saltos
e para no meio da sala olhando para mim. Faço o mesmo de onde

estou, não perto o suficiente, mas nem fodendo tão perto quanto
quero estar.

Nos encaramos com intensidade, e o que se ouve são os

sons das nossas respirações. As batidas do meu coração estão


altas no meu ouvido, o ar é pura eletricidade, e quando a distância
entre os nossos corpos é completamente eliminada, eu não poderia

dizer quem deu o primeiro passo.


A morena envolve as pernas nos meus quadris e os
braços no meu pescoço. As nossas bocas se encontram e eu faço
um caminho cego para a parede mais próxima. Apoio às suas

costas no concreto, os nossos peitos colados enquanto nos


devoramos com voracidade.

— Meu amor, como eu senti a sua falta... Puta que pariu,


Manuella! — digo contra o seu pescoço, inspirando profundamente
o cheiro do seu perfume, pegando grandes doses dela, depois de

tamanha abstinência. — O que fez comigo? Estou louco por você,


porra! — digo ao dar uma mordida no seu lábio inferior.

Estou faminto, e como uma pessoa faminta, não sei


pegar pequenas doses, preciso de tudo, então as minhas mãos

apertam os seus seios e logo partem para a bunda gostosa,


preocupando-me em subir o resto de sua saia, até que fique toda
enrolada na cintura.

— Te quero, John. Passei todos esses meses te


desejando em segredo, me segurando para não ligar, para não te
pedir que fosse me encontrar... — revela com a voz entrecortada,

enquanto rebola o quadril, esfregando a boceta quente no meu


cacete. — E antes de dormir, me tocava para você. Só para você.
— Mas agora nós estamos juntos, morena, e vou te foder
até o esgotamento. Vou meter tão profundamente em você que não

poderá andar amanhã — falo de dentro da sua boca, provocando a


língua que desejo que mais tarde provoque o meu pau. — Quanta
saudade...

Enfio a mão com tudo dentro da calcinha pequena e


tenho a boceta toda molhada de tesão.

— Como você é safada, senhorita Ortega. Eu mal te


toquei e já está pingando para mim — falo, passo a estocar dois

dedos, enquanto provoco o clitóris durinho. — Vai me deixar te foder


de todas as formas hoje, não vai?

— Você pode tudo. Sou sua — diz, revirando os olhos de


prazer e se sentando nos meus dedos.

— Abra os botões da camisa, gostosa. Quero ver e

chupar os seus peitos — digo, por um momento prendendo o seu


olhar no meu. Quero que veja e sinta quem está com ela agora.
Quem estará no futuro.

Quando os seus peitos estão livres perante o meu rosto,


abocanho um deles o máximo que consigo, então começo a me
divertir mamando e masturbando-a. Quero que goze no meu pau,
mas preciso ter o seu corpo se contorcendo em um gozo que vem

forte. Antes de me meter profundamente, e fazer tudo o que vim


desejando, necessito olhar para o seu rosto e saber que está
gozando para mim.

— Goze, amor. — Como se obedecesse ao meu


comando, Manu crava os dentes do meu ombro e goza. O seu corpo
pequeno se contrai todo, e mesmo se quebrando, ela ainda move os

quadris querendo mais e eu dou. Continuo estocando com os


dedos.

Estou com as bolas roxas, dolorido de tesão, mas


primeiro vou cuidar dela. O seu prazer também é o meu prazer.

— Levante a cabeça e me deixe te ver, querida — peço,


então os seus olhos com custo se fixam nos meus.

— Mais alguém te tocou assim depois de mim? — É uma


pergunta difícil, cuja resposta não sei de desejo ouvir, mas também
não posso evitar.

— Não. Só houve você... — diz com a respiração difícil, a


boceta ainda melando os meus dedos, que saem lentamente.

Diante dos seus olhos, os levo até meus lábios e chupo.


— Como estava com saudade do seu gosto viciante. — A
visão faz os seus olhos ficarem ainda mais escuros, então a morena
toma as rédeas do que quer.

Enquanto a beijo contra a parede, ela leva as mãos entre


os nossos corpos e começa a abrir minha calça. Livra o meu pau
duro, e há quanto tempo ele não fica assim por outra que não seja

ela...

— Quero ele na minha boca — declara, e não acredito


que essa vez sexy seja intencional.

— Não será agora. Quero te comer, gozar dentro de você

até que a minha porra escorra pelas suas coxas. Quero que fique
com a minha marca, porque você é minha, Manuella Ortega.

— E quem mais é sua além de mim? — pergunta,

delicadamente acariciando o meu membro com movimentos de


subir e descer.

— Ninguém. Você é mais do que suficiente, bebê —


declaro e ela sorri. Tão linda. Tão gostosa. Quanta saudade senti
dessa mulher.

E assim como estamos, contra a parede e sem a barreira


do preservativo entre nós, seguro suas coxas enroladas na minha
cintura e entro com tudo nela até o fim. Sei que sou grande, que
pode arder ou algo mais, mas é assim que somos e fazemos. A

minha mulher deliciosa gosta e sempre pede mais.

— Como eu senti falta de me sentir assim, cheia de você


— declara com os olhos fechados e a cabeça jogada para trás

contra a parede. — Tanta saudade do seu cheiro e calor — continua


falando quando começo a me mover, entrando e saindo com força e
rapidez. Dessa vez vai acabar muito rápido, mas tem que ser assim,

depois de tanta espera e medo de não a ter nunca mais. — Do seu


pau esticando-me até o limite, as palavras sujas que me deixam
louca... Me fode, John Harper!

Ouvir tais palavras da mulher dos meus sonhos acaba

comigo, então me torno a minha versão mais intensa. Solto as suas


pernas da minha cintura e a coloco no chão, mais um beijo rápido
chupando sua língua e depois a viro de costas.

— Senti saudade de olhar para essa bunda perfeita, que


até o final da noite vai me deixar comer — assevero e dou um tapa
estalado. O seu corpo tenciona, mas não reclama. Logo estou

passando a mão no lado avermelhado e a morena geme.

Abro os lados da sua bunda, afasto suas pernas e volto a

enfiar tudo na sua boceta.


— Caralho de bocetinha gostosa. — Penetro-a e os
nossos corpos se chocando fazem o som reverberar por toda a sala,

os seus gemidos estão altos, e quanto mais bruto sou, quanto mais
fundo meto, mais a minha safada implora.

— Assim, querido. Mostre-me como sentiu a minha falta.


O que quis fazer comigo e não pôde durante seis meses... —
provoca e joga a bunda ainda mais para trás de encontro ao meu

quadril.

Fora de mim de tanto tesão, no melhor sexo que já fiz,

enrolo os seus cabelos nos meus punhos, encho a outra com seus
peitos e a como sem cuidado, da forma pela qual me implora.

— É bom voltar a me surpreender com quão safada você


é, garota!

Por incontáveis minutos, sempre a ouvindo implorando e

me provocando, com os nossos corpos pingando de suor, mas


retardando o máximo possível a entrega, porque não queremos que
acabe, estoco na sua boceta.

Da parede passamos para o sofá, onde a mulher se senta


no meu pau e esfrega os peitos bonitos no meu rosto, me fodendo
até levar nós dois a um novo orgasmo. Do sofá, passamos a nos
agarrar no tapete da sala, então Manu começa a me enlouquecer

com a boca.

— Boca gostosa — elogio com a mão na parte de trás da

sua cabeça, e erguendo o meu quadril para que tome todo o meu
cacete dentro de sua boca. E ela se esforça, mesmo quando tem os
olhos cheios pelas lágrimas e toda babada.

Jogados no tapete da minha sala, gozo na boca da minha


morena, em seguida a deito de costas e apenas a beijo com calma,

enquanto os nossos corpos se acalmam e as respirações


normalizam.

Com a minha cabeça apoiada na mão para que consiga a

ver melhor, admiro-a em silêncio, apreciando o seu rosto que não


esconde a satisfação sexual. E enquanto a olho, a minha mão

passeia pela barriga e pela coxa lisa.

— Quem era aquela loira? — E chegou o momento das


explicações.

— A irmã do Nicolas, o companheiro do Pietro, você


sabe. Eu havia combinado de jantar com os meninos hoje e ela
estaria presente.
— Por quê? — Está mordida e sinto muita satisfação com
esse fato.

— Porque estava há seis meses sem você, e eles

acreditavam que estava na hora de tentar seguir em frente. — Sou


sincero.

— E o que você pensava sobre isso?

— Estava começando a acreditar que estava sendo um

idiota, que você havia seguido em frente, enquanto eu ficava com a


nossa última conversa na minha cabeça, ansiando pelo momento de
te ter de volta.

Ela se deita de lado, assim como eu estou, e faz um


carinho no meu rosto.

— Eu não deixei de pensar em você um dia sequer nos


últimos meses. Sempre esteve nos meus pensamentos. E me
desculpe se te deixei no escuro, mas não entrei em contato porque

sabia que iria fraquejar. Que, se te ligasse, acabaria pedindo para te


encontrar cedo demais, e eu não poderia te dar nada naquele
momento. Se ficássemos juntos da forma que eu estava,

acabaríamos estragando a chance de algo mais duradouro.


— Eu sei, linda. E mesmo que tenha me sentido
exasperado, irritado, e que tenha pensado em desistir de nós,

sempre soube que fez o certo. Que precisava do seu tempo para
ficar bem. Eu não conheço todas as suas dores, mas as respeito —
afirmo.

— Não via a hora de te rever. Então vi a vaga e tive a


ideia. Planejei tudo junto com a Carla, e você teria uma surpresa
quando visse a nova secretária, mas eu quem fui surpreendida com

você prestes a beijar aquela mulher. — Faz biquinho, e mordo sua


boca com resquícios do batom vermelho.

— Não ia transar com ela — afirmo. Como poderia, se


nem mesmo a desejei? — Quer ser a minha secretária mesmo?

— Só se você quiser.

— Eu acho uma excelente ideia ter a minha morena


desfilando a sua bunda bonita todos os dias para mim.

A sua gargalhada me faz sorrir também, então eu paro


em algum momento e a olho por inteiro. Primeiro essa mulher

complexa faz o meu coração arder, depois, em momentos como


esse, faz com que eu me sinta em paz. Ela traz emoção e agito para
a minha vida.
Tenho nela tudo o que preciso para ser feliz. E, pela

primeira vez, sinto que uma pessoa me basta, não tenho medo de
me cansar e logo ir buscar satisfação em outro lugar. Não tenho
medo de colocar em palavras para mim e nem para ela qual o

significado do que sinto quando estou ao seu lado. Não mais.

— Eu ainda te amo, sabia?


CAPÍTULO 38

MANUELLA
Não sei definir qual é a melhor sensação: a de estar com

o corpo jogado, lânguido depois de ter sido muito bem usado pelo
homem que sabe como me tocar, ou ouvir novamente as palavras

ditas com naturalidade, como se falasse de qualquer outro assunto,


e saber que são verdadeiras.

John Harper, CEO do grupo Harper de construtoras, me

ama. Se declarou, e eu não tenho motivos para não acreditar, pois


ele não repetiria tais palavras se não as sentisse e tivesse certeza.

Agora, eu também não tenho medo de dizê-las, porque sei que


posso viver o nosso relacionamento da forma como ele merece.

— Eu também te amo — devolvo, o meu homem gostoso


me agarra e puxa o meu corpo para o seu. Estamos lado a lado,

colados de cima a baixo. — Muito. No começo, eu acreditava que


seria só sexo, uma atração intensa e impossível de fugir. Mas o

tempo me fez te conhecer e gostar de tudo sobre você, até das

nossas discussões bobas.


— O que a gente vai fazer agora? — pergunta, depois de

um beijo demorado, que começa a me deixar acesa novamente.

— Podemos ir com calma, conhecer melhor um ao outro

— começo.

Escolho com cuidado as palavras, pois apesar de termos


falado de sentimentos grandiosos e duradouros, pelos menos

espero que sejam, estou conhecendo melhor a mim mesma agora,

então falta muito para poder dizer que conheço John Harper.

Um passo de cada vez para não cometer erros

anteriores, digo a mim mesma.

— A gente pode finalmente namorar de verdade —

sugere, e não posso esconder a minha surpresa com suas palavras.

Nunca pensei que esse homem lindo fosse do tipo que


namorava. Deve ser porque nunca tinha amado ninguém como me

ama.

— Que sorrisinho é esse, morena?

— Não é nada — digo. Como é bom poder ouvir que sou

amada e olhar em seus olhos e ver que é sincero. — E quanto a sua

sugestão, não sei se sou digna do grande John Harper, sobretudo,


agora que encabeça a lista dos solteiros mais cobiçados da cidade
— brinco, deixando que a mãozona passeie pela minha bunda, mas
tem um fundo de verdade.

Não é nem questão de baixa autoestima, ou de me


menosprezar como fazia antes, mas estou falando de um membro

da família Harper. A milionária família Harper.

— Não seja modesta. Você é foda, e sou eu quem devo

me sentir envaidecido de ser o homem de uma mulher linda e


inteligente como você. Por onde quer que passe, você chama

atenção, e eu sempre me senti o melhor por saber que era minha.

De mentira, mas era. Agora quero a verdade disso tudo. Namora

comigo, Manu Ortega.

— Namoro — digo, e o beijo mais uma vez. Acabo em

cima de suas pernas. Logo John me pega e me leva em seus

braços para o quarto. — Mas nada de noivado por enquanto —

brinco.

— Um passo de cada vez. Eu aprendi a esperar pelo seu

tempo, meu amor — declara, e sinto um alívio muito grande com

essa conversa.

Quando me beija mais uma vez, não conseguimos mais

parar, fazemos amor sobre a sua cama e, dessa vez, com


sentimentos que vão além do tesão entre nós. É mais intenso,

apesar de nos amarmos sem pressa, tentando adiar ao máximo o


momento da nossa liberação.

A saudade e o fato de termos nos declarado me deixa


mais sensível e consciente dele em mim. Depois de um tempo,

caímos cada um de um lado na cama, suados e satisfeitos depois


da quarta vez.

— E o seu jantar? — indago, faço uma careta e o meu

namorado convencido percebe o meu ciúme.

Namorado.

Eu, namorando John Harper. Vou repetir isso na minha


cabeça até que a minha ficha caia.

— Ele não tem mais razão para acontecer, minha


ciumentinha, mas a gente pode ir se você quiser — provoca.

— Não, quero ficar aqui na cama com você. A sua cama


é a melhor em que já repousei o meu corpo — aviso. Para que me
faça ter a sensação de que me deitei em plumas, deve ter sido

muito cara.

— Se quiser, pode dormir nela todas as noites — fala, eu

viro a cabeça de lado com os olhos arregalados.


Ele falou o que eu acho que falou?

Dando-se conta do que disse, John conserta:

— Perdoe-me, meu amor, não foi isso que eu quis...

— John... — Não digo mais nada, pois o loiro coloca os


dedos delicadamente nos meus lábios.

— É claro que estava tão desesperado de saudade que


te queria ao meu lado vinte e quatro horas por dia, apenas para

garantir que você realmente voltou para mim, mas não vou te
pressionar. Só quero que saiba que as portas desse apartamento

estarão sempre abertas para você. Pode vir a qualquer hora, porque
estarei sempre te esperando — declara e parece que o meu
coração nunca mais vai voltar a bater normalmente.

Gosto da forma como se abriu, de como é corajoso,


porque depois que entendeu e aceitou os sentimentos, não teve

mais medo e se entregou por inteiro para mim.

Quando estávamos longe um do outro, sentia falta de


toda essa intensidade, de como me afogava nos seus olhos claros e

em cada toque de suas mãos no meu corpo, mãos que parecem


que foram criadas para saberem como me tocar.
— Cuidado com o que diz, amor. Posso usar suas
palavras contra você e viver com os pés aqui na sua cobertura. Do
jeito que gosto do seu sofá e da sua cama...

— Que bom que esse apartamento agrada a minha


mulher, assim não terei que procurar outro.

— Sua mulher? — Provoco. — Desde quando é


possessivo?

— Desde que uma morena gostosa atravessou o meu


caminho e me deixou de quatro — diz ao me puxar para cima do
seu corpo. Depois de tanto tempo, tem necessidade de estar com as

mãos em mim sempre.

— Para de me morder! — reclamo aos risos por causa da

sua boca no meu pescoço, apesar de estar pressionando o meu


corpo ainda mais contra o seu. — Estava pensando que a gente vai

se ver todos os dias, já que vou continuar sendo a sua secretária.


Será que isso não vai atrapalhar a nossa relação? Não corremos o

risco de enjoarmos um do outro? — Preciso ouvir a sua resposta,


pois, da minha parte, não existe a menor chance de algo assim
acontecer.
— O máximo que pode acontecer é eu ficar ainda mais
viciado na sua bocetinha.

— A pobre da minha vagina — brinco.

— Ela vai gostar do tratamento VIP que terá, morena —


fala e segura a minha bunda com as mãos cheias. O fato de estar

sentindo o membro duro na minha barriga me deixa excitada, mas a

necessidade de me alimentar fala mais alto.

— A gente não vai fazer isso de novo até que você me dê

algo para comer, chefinho.

O meu aviso o faz pular da cama, pegar a minha mão e,

aos risos, me levar para o banheiro. Tomamos banho juntos no jato


forte de água morna, um limpando o outro com naturalidade, como

se tivéssemos costume de fazer algo assim.

Na verdade, a nossa leveza faz parecer que a gente nem


chegou a se separar por tanto tempo. Uma química que esteve aqui

desde o primeiro momento.

— Pode me contar como foi a sua longa viagem? —

indaga quando estamos sentados à mesa de quatro lugares da sua


cozinha, nos alimentando com a massa que preparei para a gente

com a sua ajuda.


— Não tenho muito o que contar. Me diverti em cada país

que passei com a Mika, dancei até o dia amanhecer em várias


ocasiões e bebi para ficar bêbada. Era bom acordar todos os dias

sem um monte de problemas me esperando.

— Imagino que tenha feito muito sucesso com suas


roupas coladas no corpo e biquínis pequenos que usou. — Faz uma

careta, mas o seu comentário não me incomoda, pois sei que vindo

dele é diferente.

Meu namorado entende que uso as roupas que eu quiser,


que o corpo é meu e sou eu quem dita as regras. Mas, como não

custa nada assegurar, pergunto.

— Não gosta da forma como me visto? — A pergunta me


faz lembrar de como Lucas me criticava de maneira velada e fazia

com que eu me sentisse vulgar muitas vezes. Culpada por gostar de

determinado estilo de roupa.

Dante era diferente. Ele falava de forma aberta, me


culpava pela forma como os homens me olhavam, dizia que eu fazia

de tudo para despertar o interesse de todo ser humano com um pau

entre as pernas.
— Primeiro que não cabe a mim gostar ou desgostar da

forma como se veste. — Resposta certa, meu amor! A minha

terapeuta vai adorar quando eu lhe contar. — Segundo que adoro


tudo em você, especialmente porque sei que vai chamar atenção de

outros homens, que uns vão babar, ter sonhos eróticos e até se

masturbar para você, mas é só minha. Eu faço com você o que eles

querem. Eu tiro suas roupas curtas e justas. Toco nos seus seios da
forma que gosto e te faço gozar — fala e mostra com a ponta do

dedo. Depois sua mão sobe para os fios dos meus cabelos. — Eles

estão lindos.

— Não acredito que reparou.

— Só agora, depois de ter te comido todinha, de ter

assegurado que os seus peitos que amo e a sua bundinha

empinada estão como no dia em que foi se divertir pelo mundo e


deixou o seu pobre homem sozinho.

— Sozinho mesmo? — pergunto, embora ele tenha dito

que não teve ninguém.

Um homem safado como esse... Só deve ser amor


mesmo.
— Com os meus cinco dedos e alguns nudes que me

mandou nas fases do nosso namoro falso em que me deixou te


tocar — confessa sem o menor constrangimento.

— Tenho certeza de que foram boas companhias. — A

gente já terminou de jantar, então pego a mão que está estendida e

me sento no seu colo. — Além das festas e das bebidas, tive


consultas virtuais com a minha terapeuta, consegui ter conversas

completas sobre aqueles episódios e muitos outros nos meus

últimos relacionamentos. Eles tinham comportamentos que davam


todos os indícios de que eram abusivos comigo. Os relacionamentos

eram tóxicos, e eu era a pessoa que não queria enxergar.

“Eu tinha justificativas para tudo, amor. Muitas vezes,


quando o Dante ficava nervoso, eu deixava que me convencesse

que a culpa era minha. Quando Lucas mudou, eu pensava que era

porque tinha deixado de ser uma boa esposa. Aos poucos, e

acredito que o Dante foi o gatilho, despertei para enxergar que tudo
aquilo estava errado e me fazendo mal. Foi um processo difícil, por

isso não pude te procurar, mesmo que tenha desejado todos os

dias.

— Eu juro que te entendo, e está tudo bem, querida. Foi

difícil, mas esperei, porque no fundo sabia que iria voltar para mim.
Agora está aqui e não vou te soltar nunca mais — avisa, e eu

mostro os dentes.

Estou tão feliz com esse reencontro que amanhã estarei

com o maxilar doendo de tanto sorrir, além, é claro, da dor entre as


pernas, pois não estou nem perto de querer dar a noite por

encerrada.

— Eu não quero ser como eles, Manu. O meu desejo é te


fazer sorrir sempre, mesmo que um dia não tenha tantos motivos.

Quero te fazer enxergar cada dia mais o quanto é bonita e forte —

diz com a voz nasalada por um momento quando enterra o nariz no

meu pescoço. — Não estou prometendo perfeição, porque você


deve ter percebido que sou cheio de defeitos, mas, por outro lado,

você me inspira a querer ser melhor e dar o melhor para a nossa

relação.

— Eu sei que dará, John, porque você nunca entra em

nada para perder, não é assim? — Provoco-o, dando uma rebolada

no seu colo. — E só o fato de não querer ser como eles já significa

muito — digo.

Sei que intenções são apenas intenções, mas escolhi

acreditar nos seus sentimentos e em mim mesma, na certeza de


que estou forte e não vou mais me sabotar e deixar que terceiros

me machuquem.

— A forma como acredita em mim me excita, Manuella

Ortega. — A mordida que dá na minha orelha faz o meu corpo se

arrepiar da cabeça aos pés.

É uma pena que os roupões brancos que vestimos sejam


uma barreira.

— E como o meu homem excitado tem se saído na

presidência? Era tudo o que imaginava? — pergunto.

— Era, mas também tem muito trabalho e eu precisei


muitas vezes ficar até mais tarde para conseguir arrumar a bagunça

que o meu pai deixou. A parte boa de muito trabalho foi ter distraído

um pouco a minha mente para não ter pensado em você vinte e


quatro horas por dia — explica, coloca a mão entre os lados do

roupão e começa a brincar distraído com o meu seio, cujos mamilos

muito sensíveis ao seu toque rapidamente endurecem.

— E está entre as minhas responsabilidades manter o


meu chefinho satisfeito? — Instigo-o, lembrando-me de quando

tínhamos o contrato e fazíamos sexo em sua sala, no banheiro e até

no estacionamento.
— Está. E dependendo do quanto me agradar, ganhará
um bônus na sua remuneração no final do mês. Então se esforce

para suprir todas — ele coloca ênfase no “todas” — as

necessidades do seu chefe, meu amor.

— Eu te amo — ele volta a declarar.

Enquanto olho muito de perto para o seu rosto perfeito e

recebo o carinho distraído e despretensioso de sua mão, permito um


pouco de insegurança e incertezas. Não dos meus sentimentos,

porque já tive relações demais para saber quando algo muito

diferente do que já vivi acontece. Mas dos dele, pois apesar de ver

nos seus olhos a sinceridade de tudo o que me falou até aqui,


inclusive, nas suas últimas palavras, não posso fingir que não é tudo

novo para ele.

Não posso fechar os olhos para o fato de ser a sua

primeira relação séria e eu ser a primeira mulher para quem diz “eu
te amo”. A primeira que pede em namoro e até insinuou que quer
morando em sua casa.

É claro que estou feliz por ser a primeira em todas as


fases importantes na vida de qualquer pessoa quando se trata de

relacionamento, mas desejo ser mais do que a primeira, quero ser a


última.
— O que foi, querida? — Ele pergunta, estranhando o
meu silêncio. — Não deveria me dizer três palavrinhas importantes
agora?

— Eu também te amo, chefinho — declaro-me.

Depois disso, John, que desde que chegamos tem me

carregado de um lado para o outro, porque parece que esqueceu


que sei andar, me leva novamente para a sua cama.

Ele leva a garrafa de vinho e taças para o quarto e, entre


uma taça e outra, contamos um para o outro com mais detalhes
sobre o que fizemos e o que pretendemos de agora em diante,

principalmente porque vamos aparecer de mãos dadas na


construtora. Vai ser uma cena e tanto, principalmente porque
ninguém, fora os mais próximos, entende o que aconteceu de fato

entre a gente.

Acho que nem nós dois entendemos cem por cento. De


repente, o que era fingimento se tornou real demais, mesmo que a

gente não falasse abertamente sobre o que sentíamos e queríamos.

Depois que transamos mais uma vez na sua cama, eu

ligo e aviso para a minha mãe não se preocupar, porque não vou
dormir em casa. Por causa do meu histórico, mamãe tem um pé
atrás com a relação que estou começando, sim, ela sabia qual era a
minha intenção quando saí de casa mais cedo, mas está propensa a
gostar e confiar mais no John do que nos outros. Talvez por causa

do carinho com que tratou a avó no dia em que supostamente me


pediu em noivado.

Tudo o que importa para a dona Abigail é a minha


felicidade, deve ser por isso que aguentou tanto tempo de saudade
nos meses em que estive fora. Sabia que era necessário mudar de

ares e recomeçar.

E bastou apenas uma conversa e ela viu no meu rosto

que eu estava bem, que algo havia mudado. Estou em constante


mudança, assim como a vida, mas o meu amor por John apenas

aumentou, e Abigail o enxergou sem que eu tenha precisado falar


dele.

Quando me aconchego nos braços dele para dormir,

exausta de tanto gastar energia, desejo que esse seja apenas o


começo, torço para que a minha intuição esteja certa dessa vez e
que finalmente tenha encontrado um amor que me traga não só

paixão, mas também paz e segurança, afinal, é disso que se trata


uma relação.
CAPÍTULO 39

JOHN
Seis meses depois

Ainda me lembro de todos os detalhes de como foi voltar

para empresa no dia seguinte depois da surpresa que minha


namorada, essas duas palavras têm um sabor especial nos meus
lábios, me fez.

Eu vestia terno e calça azuis, óculos escuros, estilo


aviador, e a minha maior satisfação era estar de mãos dadas com

uma mulher gostosa.

Pode parecer estranho pensar que “gostosa” seja a

palavra que uso neste momento, mas faço por saber que é a
primeira coisa que vem na mente dos homens e das mulheres

quando a veem pela primeira vez. Eu mesmo não pude pensar em

outra palavra para defini-la quando os meus olhos encontraram


primeiramente os seus seios no Maresias.

Mas a mulher é muito mais do que um corpo bonito e

rosto perfeito. O orgulho que senti naquele momento veio da certeza


de que a nossa noite havia sido perfeita, que falamos tudo o que

precisávamos dizer um para o outro e ficamos na mesma página.

Era como se a minha vida tivesse em pausa durante os

seis meses, e só voltou a acontecer normalmente quando a vi


abrindo a porta do meu escritório. E enquanto as pessoas na

entrada do prédio, na recepção e nos elevadores nos fitavam cheias

de surpresa, eu apenas acenava com um sorriso de orelha a orelha.

Estava feliz porque sabia que, mais uma vez, tudo havia
saído como eu queria. Quis a presidência do grupo e consegui.

Desejei com mais intensidade ainda Manuella Ortega, e consegui a

conquistar. Mas, diferente dos meios que usei no âmbito


profissional, com ela joguei limpo.

Mudei a minha tática quando a vi machucada de todas as

formas e tive que renunciar ao que eu queria em primeiro lugar para

priorizar o que a mulher por quem estava apaixonado naquele


momento precisava. Eu não sabia que colocá-la em primeiro lugar

me faria chegar ao dia em que poderia chamá-la de minha.

O reencontro, muito diferente do que ela havia planejado,

toda a conversa e o sexo que fizemos nos levou àquele momento

único. Eu queria mostrar que estava apaixonado. Que a minha

morena, a minha secretária perfeita estava de volta.


Não retaliei a senhorita Mendonça por ter tramado pelas
minhas costas, pois, de um jeito ou de outro, ajudou a minha

morena a encontrar o caminho de volta para mim. Logo no primeiro

dia, nós três conseguimos nos acertar quanto ao funcionamento do

trabalho em equipe, pois de fato a responsabilidade aumentou e

nossa sincronia teria que ser perfeita.

Mendonça, que quis voltar às pressas, interrompendo a

sua licença quando Manu saiu de viagem, tornou-se assistente da

minha namorada, que reassumiu o cargo de secretária. Elas se

entendem entre si e nenhuma fica sobrecarregada. Com as duas ao


meu lado, não havia como não entregar um relatório perfeito dos

meus primeiros passos como diretor-presidente na reunião do

conselho.

E apesar de Carla e Manu dividirem uma sala que fica na

porta ao lado do meu escritório, na prática a minha namorada passa

mais tempo comigo. E não é porque a gente passa todo o

expediente trepando ou nos pegando em cima da minha mesa. É

porque sou o dono da porra toda, faço as minhas regras e gosto de

ter a minha morena para olhar enquanto a gente trabalha.

É claro que já aconteceu de a gente acabar transando na

minha mesa ou contra a parede de vidro que nos dá uma visão


privilegiada da cidade do lado de fora, mas não foi nada que

prejudicasse o meu bom desempenho. Pelo contrário, sexo com a


minha secretária me dá para gás para trabalhar.

E para mostrar que somos inteligentes, a gente


conversou sobre o assunto e sabe que não pode ser sempre assim,

que o fato de estarmos o tempo todo juntos, a cada minuto dos


nossos dias, pode acabar desgastando a relação ou misturando as
coisas, mas combinamos de darmos alguns passos para trás se

percebermos algo errado.

Passaram-se seis meses depois do “eu te amo” dela e do

início do namoro, e as coisas entre a gente não poderiam estar


melhores. Mesmo que não tenha se mudado para a minha casa, eu
entendi que vamos fazer tudo no seu tempo, convenço Manu a

dormir comigo quase todas as noites.

Em todo o meu apartamento têm marcas suas. Se recebo

alguém, não preciso dizer com todas as letras que há uma mulher
na minha vida, basta perceber as escovas lado a lado ou até mesmo

o porta-retratos digital com a nossas fotos.

Hoje a gente veio até a casa da minha avó, porque é o

jantar em que se comemora mais um ano de casamento com o meu


velho. Eles nunca deixam de celebrar, mesmo que estejam juntos há
décadas. Estão presentes a minha sogra e a minha cunhada, o meu

melhor amigo e o seu companheiro, que não me perdoou direito


pelo bolo no jantar e o fora na sua irmã.

E enquanto bebo e finjo que presto atenção no que o meu


casal de amigos fala, observo a minha garota conversando com a

minha mãe, a dona Érika e a sua família. Ela parece a mesma que
conheci, linda e segura de si, mas agora eu sei que não é só uma

máscara por trás de uma alma ferida. Não, aos trinta e três anos,
minha mulher está em sua melhor fase.

Gosta de ser a minha secretária e das responsabilidades

que o cargo traz consigo, tornou-se essencial nesse sentido também


para mim. Mas o que mais a deixa tranquila, e essa preocupação
ficou clara nas primeiras semanas do nosso namoro, é que a

relação que temos é leve.

Existem as brigas bobas e as suas manias de me deixar

até três dias sem sexo quando acha que mereço, mas, na maior
parte do tempo, a gente se dá bem. Não existem cobranças

exageradas de nenhuma das partes.

Mas é óbvio que sou possessivo e tenho ciúme da minha

morena, mas não deixo que seja um problema, afinal, ela é minha, e
é muito comum que eu me sinta envaidecido, porque mesmo que
desperte interesse em outros, é por mim que ela se deixa ser tocada
e beijada. São nos meus braços que dorme todas as noites.

Esse jantar lembra muito o da noite em que a pedi


falsamente para ser a minha esposa, um assunto que acabou se
tornando motivo de piada, e não sem razão, afinal, vejam só até

onde a relação falsa nos trouxe.

— Ela não vai fugir, meu amigo — Pietro fala para


conseguir chamar a minha atenção.

— Só se for para os meus braços, caindo direto no meu


pau — digo só para o provocar.

— Héteros!

— E pensar que teve uma época em que eu pensei que


você tinha enlouquecido por ter aposentado a vida sexual para
esperá-la. Eu nunca disse antes, mas você estava certo, sempre

esteve, e não é novidade — revira os olhos ao fazer o elogio. —


Esperou o tempo necessário, e sei que esperaria mais, mesmo

sofrendo, e no final teria esse sorriso que não deixa o seu rosto.

— Está doente? Nunca te vi me elogiando dessa forma,


irmão — brinco. Na maior parte do tempo, apesar de nos amarmos

como se tivéssemos o mesmo sangue, estamos nos provocando.


— Só queria que soubesse que a sua felicidade é a
minha felicidade, que nunca tinha te visto tão bem como tem estado
desde que assumiu esse amor com a Manu. Ela tinha que aparecer

na sua vida, não poderia ser outra. Só alguém como aquela mulher
— aponta discretamente — seria capaz de colocar John Harper na

linha.

— Um brinde a isso? — subo a minha taça e ele a dele.

— Quanto mel. Ainda bem que você é hétero, John —

Nicolas comenta e eu puxo os dois para um abraço triplo, e nem um

pouco masculino.

— As pessoas estão olhando, John Harper — o

companheiro do meu advogado provoca mais uma vez quando o

solto.

— Elas olharam a vida toda, se perguntando por que eu


não sou gay se o meu melhor amigo é, e sempre caguei para isso.

— No dia em que John Harper se importar com opiniões,

vai chover canivetes do céu — Pietro avisa.

Ele está certo. Por exemplo, não me importo com a


opinião de quem esperava que eu me acertasse com uma Barbie

loira, rica e na casa dos vinte anos, até porque, era com elas que
costumava sair antes de me apaixonar pelo oposto: uma mulher

mais velha, morena, pobre e gostosa.

Vendo-a de longe socializando, nem parece que a minha

mãe é apenas simpática com a minha namorada, mas, sempre que

pode, me pergunta se tenho certeza desse relacionamento. Sei que


para ela eu merecia algo melhor, mas melhor segundo o seu ponto

de vista. Felizmente, não é um problema entre a gente, mesmo

porque, nunca se importou tanto comigo como deveria. Manu é

madura quanto a isso e aceita o que ela tem para oferecer.

O meu pai, que dá umas escorregadas ao se esquecer

que é casado até quando a esposa está presente, trata Manuella

muito bem, mas sei que gosta mais do seu corpo do que das suas
ideias. Ele tenta disfarçar, mas vez ou outra o pego olhando para a

bunda da nora. Manu fala aos risos do primeiro dia em que colocou

os pés na empresa e deu de cara com ele no elevador.

Não seria o Jonathan se não flertasse com uma mulher


bonita.

— Ela está vindo, cara, finja que não estava esse tempo

todo a olhando como um obcecado.


Eu não estou obcecado, não tanto. Os sentimentos estão

apenas mais intensos, pois hoje vou fazer o que há dias venho

planejando, imaginando o que iria dizer e esperando a oportunidade


ideal.

Mesmo que eu tenha desejado isso desde o início, pois

sentia uma urgência muito grande de garantir que não ia mais ficar

longe dela, depois de tantos meses, esperei até sentir que daria a
resposta certa porque queria, não por se sentir pressionada.

Hoje eu sei que Manuella está pronta para o próximo

passo, apenas o primeiro para a vida que estamos todos os dias


construindo juntos.

— Estava percebendo que não tirava os olhos de mim.

Saudades, meu amor? — Pergunta quando me abraça pelo pescoço

e beija de leve os meus lábios.

Hoje ela está mais linda do que nunca. Os cabelos estão

soltos em cascatas onduladas até o meio de suas costas, e o

vestido chega até metade de suas coxas e tem um decote profundo

nas costas. Se eu não estivesse me sentindo particularmente


romântico hoje, estaria duro nesse momento.
— Sempre tenho saudade quando não está perto de mim

— rebato e enterro o meu rosto no seu pescoço.

É um costume que tenho, todas as vezes que passa um

tempo longe, nem que seja alguns metros, a recebo em meus

braços sentindo profundamente o seu cheiro.

— Vamos, querido, vai começar o doce desses dois e não

quero ficar enjoado antes do jantar — Pietro fala, pega a mão do

marido e o leva para longe.

Respiro aliviado. Vejam bem, eu os amo, mas prefiro a


minha mulher.

— Está tudo bem? — ela pergunta em um fio de voz,

sentindo reações físicas com a minha boca no canto da sua, depois

dando uma mordida leve na ponta de sua orelha.

A verdade é que somos muito sensíveis um ao outro, e

sempre será assim. Basta um toque menos superficial que o desejo

começa a dar as caras. Sobre os carinhos em público? As pessoas

que convivem não se importam. Estão acostumadas.

— Mais do que bem. Estou com você agora — afirmo.

— Quem via aquele loiro que só queria sexo de uma noite

não imaginava que ele se tornaria o namorado perfeito — brinca,


mas gosto quando fala assim. Não pelos elogios, mas porque me

deixa saber que estou sendo bom para ela.

Posso falhar na empresa e depois consertar, mas não

posso e não vou falhar com Manuella Ortega. Jamais com ela.

— Mostre-me o quanto sou perfeito mais tarde, quicando

no meu pau.

— Safado, esqueci de acrescentar que o meu namorado


é safado — diz, e então me deixa apenas a tocar. Enquanto à nossa

volta as pessoas bebem, comem e conversam, ficamos namorando

um pouco. Ela me acalma e me distrai a ponto de quase me

esquecer do que vou fazer hoje.

Minutos depois, a gente precisa se separar, pois o jantar

é servido. Os meus avós fazem os seus tradicionais discursos sobre

o amor, companheirismo e a importância de conseguir superar

obstáculos. Hoje, apaixonado, consigo entender melhor e me


importar com as suas palavras.

Depois dos discursos, seguimos para o jantar animado. À

mesa, sentado na minha frente, está o meu primo Tales. Eu jogo


uma piscadinha para ele, apenas para provocar. Olho para o lado e

minha morena está revirando os olhos.


O que posso fazer se gosto de lembrar que, apesar do

seu golpe baixo ao mandar as fotos, eu consegui ficar com a mulher


e com a cadeira que nós dois disputamos? A ele coube o papel de

se contentar com o segundo lugar. O namoro falso? Era falso de

fato e não está com a moça que apresentou a minha avó, não como

um casal. Até onde soube, eram amigos de infância.

Tales é mais babaca do que um dia eu sonhei ser, pois vi

a moça e ela é muito bonita. O idiota é cego, será? Uma amizade

com benefícios não mata ninguém.

Depois que todos se dispersam para mais conversas e

felicitações aos meus avós, decido que chegou o momento. Respiro

fundo, então vou buscar a minha namorada, que estava


conversando com a irmã. A garota gosta de flertar até com o vento,

e me pergunto se ela sabe em que merda pode estar se metendo ao

tentar de todas as formas chamar a atenção do meu primo.

Tales com a irmã da mulher que foi em parte a


responsável por ele ter perdido o que tanto queria? Eu só consigo

pensar em catástrofe e sofrimento. Tenho que conversar com a

minha mulher. A gente tem que impedir isso.

Quando pego a sua mão e a levo para o centro da sala,


abrindo caminho e fazendo cabeças virarem, a morena me olha sem
entender nada.

Não, meu amor, eu não estou ficando maluco.

— Eu queria pedir alguns minutos da atenção de vocês.

Prometo que vai ser rápido — falo, a mão da Manu está ficando
gelada dentro da minha, então a ergo e beijo a palma.

— Amor, o que você vai fazer? — Questiona. Será que

passam pela sua mente as memórias de outra ocasião em que a

gente ensaiou para um momento bem parecido com esse?

— Acredito que grande parte de vocês deve saber como

tudo começou entre mim e a minha namorada, essa mulher linda —

digo, beijo a sua mão mais uma vez e jogo uma piscadinha. Ela sorri
mais tranquila, colocando a sua confiança em mim. É uma surpresa,

mas deve saber que não faria nada que não fosse para vê-la
sorrindo.

— Mas a nossa história começou antes de ela chegar à


empresa para ser a minha secretária e eu a abordar com a proposta

maluca de fingirmos um relacionamento para enganar essa senhora


bondosa. — Aponto para a Érika e olhos se arregalam. Não
esperavam a confirmação dos boatos saindo da minha boca. —

Todo mundo erra, gente. Hoje mesmo eu errei ao amarrar uma


gravata no meu pescoço. Eu a odeio! — Brinco e tiro risadas, até
mesmo da minha gata.

— Como eu ia dizendo... Começou antes. A vi em um bar

e me apaixonei de cara pelos seus peitos — Mais risadas e um


tapinha seu no meu ombro. — E apesar da forma como me tratou, já
adianto que mereci, ela não saiu da minha cabeça. Impressionou-

me mais do que qualquer outra e não deixei mais de pensar em


Manuella Ortega. Mesmo que dissesse a mim mesmo que era só
sexo, no fundo, sempre soube que não era.

— A gente já sabe que você transa, priminho. — Ouço o

deboche de Tales, mas finjo que não. Mika, a traidora, sorri do


idiota.

— Não poderia jamais me arrepender dos meus atos, não

quando eles me fizeram me apaixonar por você, querida. Aquele


acordo, o sexo sem compromisso e todas as vezes que nos
estranhamos no início me fizeram te enxergar de verdade. Olhar

para você e saber, simplesmente saber que precisava ser minha,


pois ficar sem você seria como viver sem uma parte essencial de
quem sou.

“Senti-me sem rumo todas as vezes em que, com razão,


deu passos para trás. Quando foi em busca de si mesma, fui eu
quem me perdi, porque embora não externasse com palavras, te
amava há muito tempo. E hoje, e não, pessoal, dessa vez não é de
mentira, quero dar mais um passo com você. Desejo que a gente

viva o presente, mas que sonhe com um futuro em que seremos


quase como um só”

— O que... — Ela está emocionada com tudo o que


ouviu, eu me aproximo e beijo demoradamente o canto da sua boca
para acalmar nós dois. Sou um exibicionista e tenho zero medo de

falar para o público, mas essa experiência é nova e totalmente


emocionante.

— Esse anel não foi escolhido de maneira aleatória por


outra pessoa. Eu o escolhi pensando que você iria gostar, mesmo

que fosse uma relação de fachada. Diante de todos os nossos


amigos, quero devolver para o seu dedo, e dizer que você é a maior
verdade que existe na minha vida, que um homem cheio de desejos

grandes como eu nunca desejou algo com tanta intensidade como


deseja te chamar de “minha esposa”. Case comigo, Manu?

Com a mão tremendo dentro da minha, assim como os

lábios na sua tentativa de conter as lágrimas, Manu demora alguns


segundos para falar. Sinto-me morrer mil vezes.
— Eu aceito, é claro que aceito, meu amor. Nada me faria
mais feliz do que ser a sua mulher — diz, e então eu finalmente

devolvo o anel de diamante para o seu dedo.

Sob o som de aplausos, a pego em meus braços e a giro

no ar. Termino com um beijo que começa casto, como o momento


pede, depois se torna o que somos: intensos e obscenos.

— Procurem um quarto! — Ouvimos a voz da Mika. Mas


ela não está errada.

Ainda com todos os olhares em cima da gente, afastamos

as nossas bocas. Eu tomo a sua mão na minha, não a levo para o


quarto, mas para o jardim, que no momento está vazio, porque

todos estão reunidos na sala da mansão.

Na lateral da construção, a apoio na primeira parede que


surge no meu campo de visão. Manu e eu temos algo com paredes.

Transar de pé contra uma é uma tradição nossa.

— Você quer mesmo, amor? Preciso saber se aquilo foi


sincero, se está preparada e não falou que sim só porque... — Não

termino o meu surto de insegurança, pois minha noiva impede com


dois dedos finos nos meus lábios.
— Eu ansiava por esse momento, querido. Quero me

casar com você — declara. — No dia em que a gente se


reencontrou, seis meses atrás, depois de termos conversado e nos
amado, eu dormi nos seus braços com a esperança de que fosse

duradouro. De que os “eu te amo” que falamos fossem apenas os


primeiros de muitos. Queria que esse dia chegasse, e que ainda
estivesse me olhando da mesma forma. Então, sim, eu quis aceitar

esse anel de volta, porque com você aprendi o que é um


relacionamento de verdade, que é tempestade, mas também é

calmaria.

— Eu quero te beijar agora e não parar nunca mais —


falo quando as minhas mãos que estavam na cintura fina

escorregam para a bunda. O meu coração está queimando, como


se fosse explodir de tanto amor, paixão e certezas quanto o futuro.

— Beije para sempre se quiser. Sou sua — declara.

Sim, ela é minha.

No futuro, ainda nos lembraremos do jantar em que a


pedi em casamento na mansão da família, e de como nos amamos
em pé contra a parede, trocando juras de amor e palavras sacanas

que fazem parte da gente como um casal.


CAPÍTULO 40

MANUELLA
— O que foi, dona Abigail? Por que está me olhando com

essa cara? — Questiono, deixando a peça de roupa que estava


dobrando sobre a cama. — Vem, sente-se aqui — peço e ela se

senta na cama.

Por alguns minutos, continua apenas me observando sem


responder a minha pergunta. Quando termino de fechar a última

mala, olho para a senhora e ela tem os olhos marejados.

— Por que essa cara, mamãe? — pergunto ao deixar


tudo o que estava fazendo para me sentar ao seu lado. — Não está
feliz? — Indago.

— É claro que estou, mas também estava acostumada

com você morando aqui comigo, depois de tantos anos casada com

aquele traste do Lucas — diz. A sua voz está embargada, e é até


cômico o esforço que faz para não chorar.

Mas eu estou igual, pois embora esteja exultante de

felicidade por estar dando mais um passo tão grande e importante


na minha relação com o meu chefinho, amava a companhia da
minha mãe e da Mika. Vou sentir saudade até da falta de

privacidade.

— Vou sempre visitar vocês duas. Não aja como se eu

fosse mudar de país. Além do mais, pode ir me visitar sempre que


puder, basta me ligar que eu peço para o Tito vir buscar a senhora.

Quando falo do meu motorista ranzinza, nós duas nos

olhamos e damos risadas, quem diria que um dia eu teria um

motorista particular.

— Eu ainda não me acostumei, filha. Motorista particular

parece coisa que só se vê em novelas — diz.

— E quem diria que eu me apaixonaria por um homem

que mora do outro lado da cidade? Não um homem qualquer, mas


um Harper, o herdeiro da família mais respeitada do Estado — digo.

— Logo eu... — As minhas últimas palavras fazem com que mamãe

me olhe de cara feia.

— Você merece. É ele quem tem sorte de ser amado por

uma mulher como você — afirma, porque não tem ninguém que me

ame e acredite mais em mim do que ela. — Vocês viveram

realidades tão diferentes, mas o amor que sentem é sentido por


qualquer pessoa a quilômetros de distância.
Depois de tantos meses, e de o meu noivo ter se
esforçado para mostrar para ela e para a minha irmã que o nosso

relacionamento era sério, ele se tornou uma de suas pessoas

preferidas no mundo. É incrível como ele, mesmo sendo um

milionário, se sente à vontade aqui em casa. Tão diferente dos

outros dois...

— Então não chora, dona Abigail — peço.

— São lágrimas de felicidade, Manu. Um pouco de

saudade, mas de muita felicidade. O meu coração finalmente está

em paz, mas é porque o seu também está. Uma mãe só está feliz

quando os seus filhos também estão. Quando tiver os seus, vai

entender.

As suas palavras me fazem sorrir, bem diferente do que

aconteceu há alguns meses quando falava de netos. Apesar de

querer ter mais um tempo sozinha com o meu amor, a possibilidade

de dar filhos para ele não me assusta. Na verdade, a ideia de


formarmos uma família e dar o bisneto que a Érika tanto quer me faz

sentir um frio na barriga de ansiedade.

— Se eu for metade da mãe que a senhora é, os meus

filhos serão pessoas de sorte — digo, então a abraço.


— Vocês duas, sempre me deixando de fora! — Mika

invade o quarto onde nós duas dormíamos e se joga no meu colo,


beijando o meu rosto e me babando toda.

A minha irmã doidinha, que é feliz à sua própria maneira,


e que foi a responsável por tornar a minha vida mais leve tantas e

tantas vezes me fará falta.

— Tem alguém na sala te esperando, mana — ela fala


depois que desfazemos o nosso abraço triplo e cheio de saudade.

— O Tito entrou? — pergunto surpresa. Não é possível


que depois de tantos meses ele tenha deixado de lado a sua

formalidade boba. Apesar do silêncio, o considero um amigo.

— É claro, o Tito — diz, estranho a sua risada maliciosa,

mas ela é estranha, então não dou muita importância.

— Eu não posso o deixar na sala esperando. Venha,

Mika, me ajude a encher a última mala — peço. — Sem nos darmos


ao trabalho de dobrar as peças, terminamos de encher a quinta

mala com as minhas roupas.

Um dos dias mais felizes da minha vida foi há um mês


quando me pediu em casamento, e agora estou me mudando em

definitivo para o seu apartamento. Nós não poderíamos estar mais


felizes, e como eu já estava praticamente morando com o meu

noivo, decidimos dar o último passo.

Ele passou a insistir no assunto depois do noivado, e

apesar de ter negado durante muito tempo, sabia que fazia por
medo, porque era o que eu queria também.

Com as duas me seguindo, puxando malas pesadas


como eu, entro levemente suada na sala.

— Estou pronta, Tit... Amor? —

O meu coração dispara, um sorriso se abre e então

elimino o espaço e me jogo com tudo em cima dele com braços em


torno do seu pescoço e pernas em volta do seu quadril.

Com as duas mãos enormes e firmes apoiadas na minha


bunda, John Harper se esquece que estamos na frente da minha
família e devora a minha boca. E o seu gosto nos meus lábios tem

sempre o gosto de novidade, há uma oportunidade de me viciar


todos os dias.

— Ainda estamos aqui, gente — ouço a voz da minha

irmã ao fundo, então afasto as nossas bocas. Com relutância, meu


noivo deixa que eu escorregue pelo seu corpo e me coloca no chão,
apesar de não soltar a minha cintura e de aproveitar para um último
beijo no meu pescoço.

— Deus me livre de tanto mel, vocês dois parecem dois


adolescentes bobos — a garota segue falando. Mamãe apenas
observa.

— O que veio fazer aqui? Pensei que o Tito viria — digo.


— Aconteceu alguma coisa com aquele velho ranzinza? — Por um
momento, me preocupo.

— Ele está vendendo saúde — fala. — Eu o dispensei


hoje, porque queria vir te buscar para assegurar que não mudou de

ideia.

— Não tinha a menor chance de isso acontecer, não é

mamãe? Essa mulher passou a semana de um lado para o outro


guardando todos os pertences dela para essa mudança — Mika dá

com a língua nos dentes.

— Doida para se livrar de nós duas — Abigail emenda

sorrindo.

— O que é isso? Um complô das duas contra mim? —


indago.
— Espero que a senhora saiba que vou cuidar da sua
filha, Abigail. Ela é o meu bem mais precioso — John declara.

— Ah, é? Pensei que fosse a cadeira da presidência —


digo, porque não poderia perder a chance de o provocar.

— Só é importante quando estou sentado sobre ela com

você quicando no meu…

— John!

— Perdoem-me, garotas — ele fala com um sorriso

besta. — Vamos?

— Nem pensar. Vocês não saem sem antes jantarem —

mamãe fala.

— Eu não sonharia em recusar um convite desses — diz

meu noivo.

É por isso que mamãe o ama. A forma como é atencioso


e finge que não é obscenamente rico conquista qualquer pessoa,

inclusive as que são propensas a não confiarem muito em homens.

Durante mais de uma hora, enquanto nos banqueteamos

com o delicioso jantar da dona Abigail, conversamos como uma


família que se ama. Entre uma garfada e outra, olho entre as três

pessoas mais importantes da minha vida sem acreditar no quanto a


minha vida mudou. Tantos meses se passaram, mas a ficha ainda

não caiu.

Eu consegui mais do que imaginei ser possível. Quando

queria ser feliz, não chegava nem perto do que tenho hoje com um

homem que parecia incapaz de amar algo além de si mesmo, do


dinheiro e do poder.

— Eu amo você — digo com os olhos marejados ao

abraçá-la, depois de ter enchido o carro do John com as minhas

malas de roupas e objetos pessoais. — Obrigada por tudo.

— Eu faria qualquer coisa por você — declara ao beijar o

meu rosto. — Vai ser feliz, querida.

— Eu vou, mamãe — digo com firmeza, antes de entrar

no carro. Não olho para trás quando John coloca o carro em


movimento.

— Está bem? — ele pergunta. — Não queria que fosse

um momento de tristeza para você.


— Não é tristeza, só um sentimento de nostalgia. Eu

estou muito feliz por estar indo morar com você, amor — assevero,

então John entrelaça os nossos dedos e beija a minha mão.

Não falamos mais nada, mas o silêncio dentro do carro é


confortável.

Ao chegarmos à cobertura, levo as minhas malas direto

para o seu quarto. John se oferece para me ajudar, mas eu


dispenso, porque sei que vai mais atrapalhar com suas mãos bobas

do que ajudar, então o homem diz que vai tomar um banho.

Ele está um pouco cansado, porque hoje ainda é sexta e

ele teve um dia mais agitado do que o habitual na empresa. Embora


eu tenha estado com ele apenas até a hora do almoço, pois fui

liberada para fazer as minhas malas, sou a sua secretária e marquei

as três reuniões que teve mais cedo.

John mudou hábitos por mim, tornou-se o que a sua avó

queria que fosse, mas continua viciado em trabalho. Agora que está

no comando, ele dedica muito esforço para manter a construtora no

topo. Ele é ambicioso e quer muito mais, tem planos para expandir
os negócios e eu estou ao seu lado, o apoiando em tudo.
Enquanto arrumo as minhas roupas no lado que deixou

livre para mim no closet, sinto os seus olhos queimando as minhas


costas, mais especificamente a minha bunda, porque apesar de

estar trabalhando com o notebook na cama, está consciente de

mim. Eu também estou consciente dele, porque não pode ser


diferente quando estamos juntos.

Depois de uma da madrugada, quando ele de fato foca

no que faz, eu finalmente termino de arrumar as minhas coisas.

Estou oficialmente morando com o homem que amo, o


meu futuro marido.

— Ufa! — falo ao passar a mão na testa, que está

levemente suada. Estou na frente dele, que está tão focado no


trabalho que não percebe.

John está com o rosto visivelmente cansado, mas não se

dá conta. Além de amá-lo, também estou aqui para cuidar do meu

homem como ele tem cuidado de mim em cada pequena


necessidade, então tenho uma ideia básica de como fazer com que

deixe o trabalho e descanse.

Entro no banheiro, tomo um banho demorado e depois

hidrato bem todo o meu corpo. Fico indecisa sobre o que vestir,
então decido facilitar a vida do chefinho.

Apareço no umbral da porta em uma pose sexy e faço o

som de um pigarro para fazer com que olhe para mim. Os olhos

cansados e antes focados se tornam maliciosos e vivos quando me


veem usando apenas um roupão branco.

Ele desliga o notebook e o deixa de lado, enquanto

espera pelo meu próximo movimento. Segundo esse homem


gostoso, eu sou uma safada, e ele ama quando faço safadezas para

o enlouquecer.

JOHN
— Tem alguém aqui que está morrendo de saudade de

você. Ela está carente. — Até a sua voz quando está no modo
safada fica mais sexy e afeta diretamente o meu pau.

— Por que não me deixa ver? — peço.

Com ela assim, todos os pensamentos sobre trabalho

desaparecem. A minha mulher, o amor da minha vida, que


finalmente parou de sentir medo e veio morar de vez comigo. Me

sinto mais feliz só de pensar que vou dormir e acordar todos os dias

ao seu lado.
— Quer ver o quê? Isso aqui? — Manu desata o nó do

roupão e fica nua para mim. Sinto-me o homem mais sortudo do


mundo de ter essa delícia toda para mim.

Os meus olhos primeiro se fixam nos seus peitos grandes

e lindos, depois caem na bocetinha apertada e depilada que não

canso de comer. Não preciso mais do que essa visão para sentir o
meu pau duro, latejando de tesão.

— Tão linda e cheirosa. Você já está molhada para mim,

gostosa? — provoco ao acariciar o meu mastro por cima da calça de


flanela que uso para dormir, embora ela termine no chão quase

todas as noites, depois que a gente se despe para transar.

— Estou pegando fogo. E você? Por que não me mostra

o quanto me quer? — provoca, então eu me livro da minha calça e


começo a me masturbar para ela.

— É assim que você quer, linda? — Jogo uma piscadela

e a minha mulher leva os dedos aos lábios vaginais. Ela acaricia


superficialmente a própria boceta e, de onde estou, consigo vê-la

brilhando com os fluidos do seu desejo.

— Gostosa — a palavra escapa dos meus lábios quando

começo a mover a minha mão com mais rapidez. — Venha até aqui
e senta na minha cara, amor. Quero o seu gosto na minha língua —
peço e ela vem.

Minha morena sobe na cama, eu desço um pouco o

corpo na cama e, segurando pela bunda, abocanho a boceta


molhada, me banqueteando como se estivesse há anos sem o meu

sabor preferido na língua.

A minha mulher começa a gemer algo e a rebolar no meu


rosto enquanto chupo e aperto os lados da sua bunda. Ela está

ensandecida, sei que quer gozar, mas não permitirei que faça ainda.

O meu pau está doendo de tesão, e precisa ser esfolado por ela.

— Sente-se no meu pau, amor…

— Eu sento — diz, e de fato senta, mas senta com tudo,

não deixa nada para fora ao engolir o meu pau no seu centro
escaldante.

Quando está empalada, depois que nós dois soltamos um


gemido ruidoso por causa da sensação gostosa, nos encaramos

bem de perto durante alguns segundos.

Então, sem dizer uma palavra, a gente dá o nosso melhor

na corrida pelo prazer completo. Manu começa a sentar com força


no meu pau, esfregando os peitos no meu rosto sem parar. Ela tem
o poder de me levar até o limite enquanto os nossos corpos se
batem sem parar.

— Fica de quatro — peço, e sou atendido na hora. Trepo

com a minha noiva olhando para a sua bunda linda, que fica
avermelhada pelos tapas secos que ela mesma pede em momentos
como esse.

— Na parede, eu quero na parede — prestes a gozar,

ainda tem forças para pedir.

Sem sair de dentro dela, a levo para uma parede e, com


Manu toda aberta, as pernas na minha cintura, a fodo de um jeito

que a faz me sentir mais profundamente, é por isso que gostamos


das paredes.

— Goze para mim, gostosa — peço no seu ouvido. Com

as unhas fincadas nos meus ombros, a minha mulher se desfaz nos


meus braços, tremendo e chamando pelo meu nome. E como eu
amo o som do meu nome saindo de sua boca.

— Porra! Isso fica cada dia melhor — Manu fala baixinho


e me beija enquanto gozo, enchendo a sua boceta com o meu

esperma.

**
— Que bom que você está aqui — digo com o nariz
enterrado no seu pescoço. Nós nos limpamos e estamos deitados
na nossa cama.

— Eu estou sempre aqui — ela rebate.

— Sim, você está, e nunca mais te deixarei ir — afirmo,


pois nunca fui tão feliz como sou depois dela, que se tornou a minha
maior ambição. Tudo o que faço hoje tem relação com ela.

Até mesmo no grupo Harper, faço esforços pelo prestígio,


mas, no fundo, a parte maior de quem sou quer que minha mulher

sinta orgulho de mim.

— Não existe outro lugar para onde eu queira ir —


declara.

Com carinho, desço os meus beijos do ombro para o seu


colo, brinco com os seios e termino com a boca na sua barriga.

Quando subo a boca novamente, um desejo inédito


passa pela minha mente.

— Eu quero isso com você no futuro — declaro e sei que


ela tem ciência do que estou falando.

Nunca imaginei ser pai de uma criança antes desse

momento. Não quis com qualquer outra mulher, apesar do desejo da


vovó, mas ela desperta esse isso em mim.

— Depois que a gente aproveitar o nosso casamento por

um tempo, vamos começar a nossa própria família. Sei que será um


ótimo pai.

— E você uma mãe amorosa, linda e gostosa — digo,


beijo de leve os seus lábios e depois por cima dos olhos escuros e

sonolentos.

— Eu te amo — diz, então se vira de lado, puxando a


minha mão para que a abrace quando nos acomodamos de

conchinha.

— Te amo muito mais — digo sussurrando no seu ouvido.

Sinto que sou a mesma pessoa, mas também um homem


completamente diferente do que era há quase um ano, antes de
conhecer a mulher perfeita para mim. Estou tão distante do John

que não se importava com relacionamentos, que não entendia por


que a avó valorizava tanto o amor.

Ao lado da mulher, sinto-me mais poderoso do que me


senti quando me sentei na cadeira da presidência do grupo Harper.

Hoje, todos os meus esforços estão voltados para manter tudo o


que conquistei, sobretudo, esse amor.
EPÍLOGO

MANUELLA
O dia está lindo. O céu totalmente azul e sem nenhuma

nuvem branca destoando o tom. O dia tinha que ser perfeito para o
meu casamento, e parece que até a natureza está contribuindo para

isso. Não está ventando forte, mas também não está quente às
cinco horas de uma tarde de domingo.

Eu desejei, cheia de amor no peito, mas também de

insegurança, que esse dia chegasse. Que os sentimentos que nos


unem fossem fortes e duradouros o suficiente, e eles foram.

Os últimos oito meses foram felizes, mas também


atípicos, pois eu tinha a missão de planejar e colocar em prática o

meu casamento com John Harper. E como foi bom fazer tudo
sabendo que não precisava me preocupar com dinheiro, pois o meu

noivo era milionário. Pude fazer tudo como qualquer noiva


apaixonada iria querer.

Pensei em uma cerimônia e recepção à beira-mar. E


como estamos falando de um noivo rico, a sua família cedeu a
pequena ilha com uma pousada para férias que eles têm em

Fernando de Noronha.

Os mais de cem convidados estão chegando desde o

início da semana e ocupando os quartos da pousada, além de


quartos em hotéis nas proximidades. Todos parecem hipnotizados

com a beleza da ilha, e minha mãe, que mal havia saído da nossa

cidade, nunca esteve tão feliz, não só por me ver bem, mas por
estar aqui aproveitando cada momento.

Até dois dias atrás, John e eu também estávamos

aproveitando juntos o belo lugar, mas acabamos nos afastando, e

não foi porque brigamos. A minha irmã, junto com as minhas


madrinhas, Helena, Ana Júlia e Sara, deram a ideia que deixou John

irritado. Segundo elas, não transarmos um pouco antes do


casamento deixará a nossa noite de núpcias ainda mais quente.

Não é como se precisássemos de artifícios, mas


concordei, embora tenha sentido falta do calor do meu loiro nas

últimas noites.

No momento, eu estou ao lado da minha mãe no final do

corredor de flores, montado na areia da praia. Há alguns metros, o

meu noivo, vestido com blazer azul e blusa social branca, no estilo

mais praiano possível, me espera em uma tenda cujo teto é de


flores e os lados de tecido branco. Só de olhar para ele e saber que
daqui poucos minutos serei a sua esposa faz o meu coração

disparar.

Depois de meses morando juntos, conhecendo a fundo

defeitos e qualidades um do outro, a cerimônia é uma formalidade

que as nossas famílias, muito mais do que a gente, fazem questão.

O degrau que faltava para enterrar de vez o passado. A cada dia de

felicidade, menos me lembro dos momentos em que fui infeliz com

outras pessoas, e é assim que tem de ser, como se a minha

realidade sempre tivesse sido essa.

Lucas e Dante parecem lembranças de uma vida atrás,

principalmente o Dante, de quem pensei que nunca fosse esquecer.

Imaginei que as lembranças do que fez iriam me assombrar por um


bom tempo, mas o amor que vivo e a forma como sou cuidada não

deixam sobrar tempo para pensamentos que não sejam de alegria.

A última notícia que o meu noivo e eu tivemos foi através


do advogado da família Harper, que nos ligou avisando que o meu

ex-namorado havia sido condenado. É óbvio que não passou um dia

sequer atrás das grades, mas ao menos não tentou mais se

aproximar de mim.
Apenas uma vez aconteceu de nós três nos

encontrarmos em uma festa, mas agimos como se Dante fosse


alguém desconhecido e mantivemos distância. Ele agiu da mesma

forma, mas só o fato de ter estado no mesmo ambiente que ele me


afetou e o meu até então namorado me levou embora o mais rápido
que pôde.

Hoje é o meu dia e não deveria estar perdendo um único


pensamento com esse assunto. Mas ao mesmo tempo é bom, pois

me lembra de onde estou agora e do que estou prestes a fazer.

— Está na hora, filha — minha mãe se posiciona ao meu

lado e avisa. — Sei que não preciso mais desejar que seja feliz,
porque a alegria está estampada nos seus olhos há muito tempo.
Você está conseguindo, minha menina.

Sim, eu consegui. O tempo e o amor correspondido me


fizeram entender que eu não era uma mulher que despertava o pior

nos homens com quem me relacionava. Não mereci nada pelo que
passei, porque eram eles quem não sabiam nada sobre relações

saudáveis, sobre como tratar uma mulher.

Caminho pelo corredor com o meu vestido de noiva

branco de mangas curtas de renda e forro branco por dentro. Ele é


vazado pelo tule da saia. Os meus cabelos mais curtos estão soltos
e enfeitados com pequenos grampos em forma de rosas peroladas.

A minha maquiagem leve combina com o estilo romântico do


vestido, mas não renunciei ao batom vermelho sangue, a minha

marca registrada que deixa o meu amor maluco para o borrar


sempre.

Ao som de um instrumental ao lado da minha mãe, olho


para o lado e as minhas amigas e minha irmã estão lindas com

vestidos iguais no tom lilás. O meu coração bate forte, e nunca


estive tão ansiosa. Uma ansiedade boa pelo desejo que o padre nos
declare marido e mulher de uma vez.

Ao parar comigo na frente do meu noivo, mamãe recebe


o seu abraço, e então se posiciona ao lado dos senhores Harper.
Olho para Érika e mando um beijo para ela. Amo muito os avós do

meu quase marido, e não é só porque eles estiveram do nosso lado


desde o início.

— Você está perfeita, querida. — Não menos nervoso do


que eu, John beija a minha mão. — Não parece que hoje as horas

não passavam rápidas o suficiente?

— Tive a mesma impressão — afirmo.


— Estou com saudade de você nos meus braços todas
as noites — ele se aproxima um pouco mais e fala no meu ouvido.

— A partir de hoje, nunca mais vamos dormir separados


— garanto.

— Quando vocês quiserem, a gente pode começar —

exasperado, o sacerdote que irá celebrar a cerimônia interrompe o


nosso namoro.

O discurso é longo, mas só desvio o meu foco do John


quando chega o momento de trocarmos as nossas alianças. Todos
os dias a gente fala e mostra o quão real é o nosso amor, então,

sem termos combinado previamente, renunciamos aos votos. E


quando trocamos alianças, apenas duas palavras necessitam ser

ditas.

— Para sempre — ouço.

— Para sempre — digo de volta.

Quando nos beijamos, sinto como se o tempo tivesse

congelado e eu queria poder eternizá-lo na minha mente. O


momento em que nos tornamos marido e mulher.

JOHN
Três anos depois
Para que um homem seja feliz de verdade, ele precisa de
quatro coisas. Deveriam ser três, mas você vai entender quando eu
citar todas.

Primeiro, precisa de alguém para amar, mas não um


amor morno, tem que ser aquele que completa e faz o coração

arder. Esse é o principal ponto entre os quatro. O segundo é o


dinheiro e o terceiro é o poder, sempre gostei dos dois. Para mim,
um não vive sem o outro e, durante muito tempo, a minha vida foi

guiada pelas duas espécies de ambição.

Hoje, dinheiro e poder têm a companhia do amor, e eu


poderia muito bem parar por aqui, porque só com os três já teria a

vida que qualquer homem poderia querer. Mas sempre fui ambicioso

e quis mais. Algo que se tornou essencial e não posso viver sem.

Uma amante.

Sim, eu tenho uma amante, e a mantenho desde antes do

meu casamento, que aconteceu há três anos em uma tarde perfeita

na praia. Nesse dia, eu me senti realizado, o homem mais feliz do

mundo. Depois da cerimônia, aconteceu a festa que durou até


metade da madrugada.
A minha mulherzinha e eu só fomos para o nosso quarto

às três da manhã. Estávamos bêbados e não fizemos amor em


nenhuma das três vezes em que fizemos sexo até o sol raiar.

Fodemos como animais no cio, entre risos, declarações de amor e

sacanagens faladas ao pé do ouvido. Ela até liberou o cuzinho na


noite de núpcias, um presente que queria, mas não estava

esperando.

Mas voltando à amante, porque não é o momento de

pensar na minha esposa, devo repetir que ela é muito importante


para mim. E se a amante for uma secretária gostosa, que sempre

entra aqui para fazer com que eu me sinta bem, melhor ainda. Se

todos os homens ricos, poderosos e casados soubessem a beleza


que é ter uma secretária que faz jornada dupla, teriam uma.

— Boa tarde, querida. — No meu escritório, girando a

minha cadeira de um lado para o outro, falo ao telefone no ramal da


secretária. — Espero que esteja usando aquela calcinha que me

deixa louco de tesão. Se não estiver aqui em cinco segundos, vou

descontar do seu salário.

— Quanta pressa. — A linda e sensual mulher já entra


passando a chave na porta, pois sabe exatamente o que fazer

depois de tantos anos. O tempo não foi capaz de diminuir a vontade


constante que tenho dela, mas nos últimos meses tudo está mais

intenso. — É assim com a sua esposa também? — provoca.

Os meus olhos sobem dos seus pés, passam pelas

coxas, que daqui a pouco estarão em volta da minha cintura, e


sobem da barriga para os peitos, que estão cada dia mais deliciosos

e maiores. Ultimamente, ela tem usado vestidos mais leves e soltos

para vir trabalhar, mas eles não deixam de ser sensuais, pois se não
são agarrados ao corpo, são curtos e decotados.

— Não mencione a minha mulher! — Exijo, saio de trás

da minha mesa e vou até a gostosa. Pego-a e coloco sentada com


as pernas afastadas em cima da minha mesa. — Você é apenas a

secretária gostosa que ganha um bônus ao final de cada mês para

me deixar te comer quando eu quiser — falo. A minha mão está na

frente da sua calcinha, começando a prepará-la para me ter dentro


da sua boceta muito em breve.

— Sendo paga para transar com o meu chefe, isso é tão

sujo e errado. — Errado seria não me aproveitar da sorte que tenho,

penso.

— Eu te amo — falo, esquecendo-me da nossa fantasia

do poderoso chefão e da sua secretária gostosa. — Eu também te

amo, minha menina — declaro, curvo o meu corpo e beijo a sua


barriga ainda discreta de quatro meses. Por enquanto, estamos

aproveitando sozinhos a novidade, mas já está ficando impossível


de esconder.

Aposto que as suas amigas, as secretárias curiosas do

andar de baixo, já sabem.

— Não sou mais a secretária amante que transa com o

chefe? — brinca.

A verdade é que esta é apenas mais uma de nossas

brincadeiras, que continuam tão instigantes quanto no início, depois


de três anos casados e de uma filha a caminho. Foi concebida de

maneira planejada, depois que a minha mulher decidiu tirar o DIU.

Ela me confidenciou que acreditava que nunca iria querer ter filhos,
mas o desejo surgiu um pouco depois de termos completado um

ano de casados.

— Agora eu quero a minha esposinha. A secretária

gostosa pode vir depois — declaro.

— Eu também amo você — devolve a minha declaração


e me beija.

Como eu falei, tenho tudo o que preciso para ser

completo nas minhas mãos agora. E sabe o que falei sobre dinheiro
e poder? Esquece! Eu gosto dos dois, mas poderia viver sem nada

disso, e até mesmo começar do zero, desde que tivesse a minha

esposa, que também é a minha amante e a mãe da minha bebê.

A noiva comprada, a mulher da minha vida.

Fim!
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EM BREVE
CASADOS POR VINGANÇA – A história de Tales e

Mika
SOBRE A AUTORA

É maranhense de 29 anos, mora em Brasília, Distrito

Federal. No seu apartamento, ao lado dos pais e um sobrinho,

mergulha no mundo da imaginação escrevendo livros de romances


eróticos, comédias românticas e dramas. Com quase 3 anos de

carreira, conta com 11 títulos lançados na Amazon e mais de 50


milhões de páginas lidas pelo kindle. Títulos como O tutor, vendida
para Gabriel e Marcada por mim tornaram-se Best-seller na

Amazon.

**

Acompanhe mais informações sobre outros títulos da


autora nas redes sociais.

INSTAGRAM: https://bit.ly/autorajoanesilva

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SINOPSE

“Ele faz com que eu me sinta indefesa. Tudo nele me

afasta. Tudo me atrai”

Tendo nascido com um problema na perna que torna a


sua vida mais difícil, Sofia se vê obrigada a ir morar com a tia e as

primas quando perde seu pai, a única pessoa que a amava


incondicionalmente.

Cheia de sonhos e ilusões, a garota de vinte e dois anos


conhecerá Donovan Magno, um homem frio e cruel, que é

considerado o dono de toda a região, inclusive das terras em que a


sua tia mora.

Aos trinta e seis anos, depois de ter perdido a mulher de

sua vida, Donovan é incapaz de amar. Vive pela responsabilidade

que tem com o filho de um ano, embora não consiga deixar de o


culpar pela morte da mãe. Ele terá todas as suas certezas

questionadas depois da chegada de Sofia à cidade. Ela é um perigo

para o seu coração, o faz desejar ser mais do que uma casca.

“Ela é a calmaria, eu sou a tempestade. Juntos, somos a


ruína, mas também a cura um do outro.”
PRÓLOGO

Na penumbra em que me encontro, sinto a paz que só

um momento como esse poderia trazer. Lá fora tem bebida,

conversas e confusão. Aqui tem eu, a minha solidão e o barulho dos


meus pensamentos. Eu odeio ter que fazer isso, que a minha

profissão me obrigue a fingir.

Fingir que estou bem, que a minha vida tem algum


sentido, que me importo com o que sai da boca daquele bando de
idiotas. Lembro-me como se fosse hoje do dia em que tudo acabou.

O olhar dos médicos, e o último suspiro. A percepção de que a


minha vida havia acabado.

O ódio de perceber que não poderia ir embora como ela

fez. Não, eu não podia, e ainda não posso fazer isso. Regina deixou

uma responsabilidade para mim. Uma vida que só tinha a mim. Uma
vida que ainda é completamente dependente, mas ele não poderia

ter nascido com uma sorte pior do que essa.

Como esperar afeto, carinho e cuidado de um coração


oco? Como sentir que é amado se mal posso olhar no seu rosto, se

não consigo ficar mais do que alguns minutos na sua presença?


Não deveria ter sido assim. A vida não deveria ter sido

uma cadela, mas foi. Agora o som de música me corta como uma
navalha. As vozes despertam o que de pior existe na minha alma.

Sinto vontade de correr para longe e me isolar, mas também de sair

e berrar com todos eles para que saiam da minha maldita casa.

Perto da janela, observando o pátio do casarão,


enquanto alguns casais se escondem atrás do chafariz para

namorarem, sinto o meu corpo em estado de alerta quando ouço a

porta sendo aberta de maneira discreta. É uma pequena fresta de


luz, depois a mesma penumbra de um escritório sendo iluminado

apenas pela luz da lua.

Tudo o que tenho são as sensações. Um cheiro


adocicado que atiça os meus sentidos. O ruído baixinho de soluços.

Passos leves e levemente arrastados até o centro do cômodo.

A pessoa ainda não me viu, pois tem as duas mãos


cobrindo o rosto, então posso aproveitar para analisar melhor a

situação. Para pensar em como agir para expulsar o invasor. Ele

não deveria estar aqui. Ninguém além de mim pode invadir esse

espaço.
Compelido por algo que não sei explicar, mas
certamente um pouco de curiosidade, me afasto da janela sem fazer

barulho. Pé ante pé, caminho até onde a pessoa está e me posto à

sua frente. Pela sombra e pelo cheiro, concluo que se trata de uma

mulher. Deve ter por volta de um metro e setenta de altura, mas

ainda assim é bem mais baixa do que os meus um e noventa.

Quando sente a minha presença, ela se empertiga e

abaixa as mãos. Não sei qual a expressão que carrega no rosto. Se

está com medo ou assustada, mas sinto que é corajosa por ainda

não ter saído correndo depois de ter sido flagrada onde não deveria

estar.

Mal entendo o que eu mesmo estou sentindo, pois, pela


primeira vez em anos, é mais do que o sentimento de tédio. É uma

mistura de insatisfação por ter companhia, quando fiz de tudo para

ficar sozinho no dia do aniversário da morte da minha esposa, e

curiosidade.

Quem deixaria uma festa badalada como a que acontece

lá fora para se esconder aqui dentro?

— Por que você está chorando? — pergunto em um fio

de voz. O som sai rouco, como se eu não tivesse o costume de


falar. A verdade é que falo mais do que gostaria.

A pessoa não me responde com palavras, mas vejo pela

sombra a sua cabeça balançando de um lado para o outro em sinal

de negação.

— Você não deveria estar aqui, e também não deveria

chorar — falo, sem saber o que está acontecendo comigo para


ainda não ter acendido a luz e a colocado para fora daqui. É o que

teria feito por muito menos.

— Você está no escuro. — O som de sua voz sai

nasalada por causa do choro. — Por quê?

— Isso não te diz respeito, seja lá quem você for —

assevero. — Gostaria que saísse do meu escritório e da minha


casa. Uma pessoa que não entende onde é o seu lugar não deveria

sair de casa — digo de maneira dura.

— Eu não tenho um lugar. — Ouço-a sussurrar. Quando

vai virar as costas, seguro o seu braço e a puxo novamente. Seu


corpo colide no meu.

— O que foi que disse? — indago.


— Nada. Solte-me... — A sua fala é fraca. Quando

coloca a mão no meu peito com a intenção de me afastar, quase me


lembro que tenho um coração batendo. O fato de ele querer bater

em outro ritmo faz o meu peito doer.

— Quem é você e o que faz aqui?

A despeito da minha falta de vontade com o mundo,


saber dessa informação se tornou importante.

— Não sou ninguém. Esqueça que estive aqui, que esse


encontro aconteceu — ela pede, mas parece impossível atender a

seu pedido.

Pela primeira vez em meses, algo ou alguém me

interessa. Não vou deixar que acabe tão facilmente.

— Mas aconteceu, e não vou deixar que saia assim.


Será que você é como as garotas idiotas e interesseiras desta
cidade que não entendem que não quero nada com elas?

— Não sou — defende-se. Fala mais alto. Não está mais


chorando. Pelo contrário, sinto um tom de irritação.

— Sim, você é! — digo. Não sei o que acontece comigo,


mas acabo colando o seu corpo ainda mais no meu.
Ela precisa de uma lição, depois disso nunca mais vai
tentar brincar com o fogo. Quando grudo os meus lábios no seus, a
intenção é de punir, mas a maciez da sua boca é como um soco no

meu estômago.

Primeiro aconteceu com a empregada mais jovem, que


me faz lembrar de quando eu tinha um coração, que me faz sangrar
de saudade da mulher que eu amava. Agora esse beijo em uma

desconhecida.

O que está acontecendo comigo?

Quando seu corpo amolece nos meus braços, e o som


de um pequeno gemido ressoa na minha mente, volto para a minha

realidade e afasto o corpo feminino do meu. O problema é que uso


mais força do que deveria e ela acaba no chão.

Tento me aproximar, mas a mulher encolhe as pernas e


fica em pé sozinha. Com a cabeça e o coração a mil, viro as costas
e volto para perto da janela. Não quero mais olhar para a sua

sombra, ou sentir a sua presença.

Com as mãos nos meus lábios, que ainda estão


formigando, ouço a porta sendo batida. Tudo vai embora, mas o

cheiro, as sensações e a presença marcante ficam. Sou o mesmo


de minutos atrás, mas ainda sinto o calor de um corpo nos meus
braços. A maciez de um beijo inexperiente, que durou apenas
alguns segundos.

Não faço a menor ideia de quem seja a desconhecida,

de qual a sua idade, se é solteira ou casada, mas tenho a certeza


de que ela, e nada do que acaba de acontecer, importam, afinal, o
meu tempo passou. Amei e fui amado, mas perdi tudo. Não vejo
mais como voltar a ser feliz. O meu corpo pode até voltar a buscar

satisfação em outros corpos, mas o meu coração, esse sempre

estará vazio.

Um movimento no pátio chama a minha atenção.


Quando chego mais perto da janela para espiar melhor, vejo que se

trata da sobrinha da minha governanta, a nova empregada da casa.

Ela está sentada no chafariz com a cabeça baixa, e a forma como


os seus ombros sacodem deixa claro que está chorando muito. Ela

não deveria estar sozinha, e eu não deveria pensar que algo nela

lembra da minha falecida esposa, não se quero me manter afastado.


SINOPSE

Pode o amor causar dor?

Aos 19 anos, Ella leva uma vida simples e tranquila e o


fato de viver com tão pouco não é capaz de apagar o brilho no seu

olhar, pois acredita que o seu lugar é onde está o seu coração. Mas
tudo muda depois da chegada de Diego Estrada, filho do maior dono
de terras da região, um homem frio e misterioso que não faz
questão de ser cordial com quem está à sua volta. Sua chegada do

transforma o mundo de Ella conhece e sua inocência deixa de


existir.

O seu toque causa mácula, a sua voz provoca medo e,

principalmente, a sua alma e o seu olhar lhe despertam arrepios.

Aos 30 anos, Diego pensa ter perdido tudo, até mesmo

um pouco da sua humanidade, e voltar para o lugar do qual partiu

tantos anos atrás lhe causa muito mais do que incômodo. Quando
ele conhece a bela e inocente Ella, a bondade e a ingenuidade da

moça provinciana perturbam-no e trazem à tona desejos que há


muito tempo estavam adormecidos.

Pode o amor curar?


Medo e dor. Paixão e erotismo, esta não é uma simples

história de amor.
PRÓLOGO

— Chegou atrasada, mocinha — a senhora de 65 anos

me repreende na porta da igreja, a única paróquia existente em uma

vila que só não foi totalmente esquecida no mapa por ficar perto da
maior fazenda da região e que também é a maior fornecedora de

rosas da cidade de Santa Rita.

A fazenda do senhor Luiz Estrada é próspera e nada é


tão belo quanto os roseirais que estão plantados em terras férteis e
que parecem infinitas. Por causa da fazenda, muitos aqui têm

emprego e condições de colocar comida na mesa.

— Por que, vovó? Está acontecendo alguma festa aí


dentro? — Da escada, tento espiar o interior da igreja, mas o sol

forte do lado de fora me dá a impressão de que está tudo escuro no

interior da pequena paróquia.

— Um velório — fala, com espantosa naturalidade, e se

eu não estivesse me segurando no corrimão de madeira

envelhecida, teria saído rolando pelos cinco degraus que separam a


porta da paróquia da calçada de paralelepípedo.
Como pode a minha avó estar tão satisfeita em falar que

os moradores da cidade estão participando de um velório?

Eu sei que é uma vila pacata e que nada acontece nesse


lugar, mas, ainda assim, um velório não deveria causar esse tipo de

sentimento. Se a dona Ester está assim, sendo geralmente a mais

sábia do lugar, não quero imaginar como estará o resto dos


moradores.

Será que eles pelo menos sabem quem é a pessoa que

faleceu? Aliás, como é um lugar pequeno, presumo que deva ser


alguém de fora, já que todos se conhecem e não se teve notícia de

nenhum falecimento.

Deus! Que pensamentos mórbidos para se ter em plena

manhã de outono.

— Quem faleceu? — indago.

— Bem... — O fato da minha avó parar para pensar já

responde o que eu queria saber. Não, eles não fazem ideia de quem

está ali, ou melhor, podem até saber, mas não conhecem a história

da pessoa, não têm intimidade com a família do morto e não se

importam em saber. Para todos, o mais importante é ter um evento

para comparecer, mesmo que seja um tipo peculiar de evento.


— Onde está o vovô? — Mais uma vez tento espiar, pois,
se tem uma coisa que ainda não sei controlar, é a curiosidade. Não

que algum dos meus vizinhos saiba.

— Onde mais ele estaria, criança? — com as mãos na

cintura, a senhora ainda jovem para a sua idade me questiona.

— No campo? — É uma constatação óbvia, uma vez que

o meu avô é um dos melhores funcionários do campo do senhor

Luiz.

Ele tem um amor tão grande pela terra, por cada muda

plantada, que realmente não é difícil encontrá-lo por lá. O meu avô,
assim como dezenas de outros homens, é responsável pelo

belíssimo campo de rosas brancas e vermelhas e girassóis.

Tanto a cidade de Santa Rita quanto a Vila das Flores

são conhecidas Brasil afora pelo cultivo e revenda das mais belas

flores da região. O negócio do fazendeiro Luiz Estrada movimenta a

cidade e suas flores estão em todos os lugares, seja enfeitando a


igreja ou o restaurante ou à venda na floricultura e na lojinha de

presentes.

Desde pequena, o meu maior prazer é ficar na fazenda,

observando os campos, que parecem intermináveis. A natureza me


fascina, as flores me encantam e, principalmente, o perfume delas

aquece a minha alma, mantendo vivas a minha alegria e a


esperança de que um dia sempre será melhor que o outro. Isso faz

com que eu acredite na magia do amor, da bondade e na beleza dos


sonhos.

Nos meus 17 anos, pouco vi e vivi da vida e mal conheço


algo fora da pequena vila, mas, ainda assim, acredito no amor e no

lado bom de todas as coisas, pois é impossível viver em um lugar


como esse, sentir a presença de uma força muito maior do que os

nossos olhos podem ver e simplesmente não acreditar.

— Sim, minha criança, no campo e, por favor, não vá até


lá atrapalhar os trabalhadores. Deixe para ir ao final do dia, quando

não tiver mais ninguém por lá — aconselha, sabendo e tendo


entendido que nada pode me afastar daquele campo. Desde muito

pequena, ele é a paixão da minha vida e, se pudesse, trabalharia


com o meu avô, colhendo as flores que tanto amo. Tenho um
carinho por todas, mas as rosas brancas exercem um fascínio

incomum sobre mim.

Como só homens trabalham nos roseirais, junto o útil ao


agradável ao colher as rosas e os girassóis que, por alguma razão,
não são considerados bons o suficiente para a venda e,

acompanhada da minha cesta de palha, corto-os com a minha


inseparável tesourinha e vendo-os na praça. Às vezes, ofereço-os

na porta dos estabelecimentos comerciais para aqueles que não


têm condições de comprá-los pelo valor normal.

Aqui na vila, assim como na cidade, as flores são


valorizadas como merecem, já que são o cartão de visitas da cidade

e a principal fonte de renda dos moradores.

— Estou entediada, vovó — reclamo, olhando para todos

os lados da praça e vendo-a vazia como não costuma ficar.

— Aos 17 anos, eu também era como você, ficava o

tempo todo procurando coisas para fazer — relembra, olhando para


a movimentação na porta da paróquia. As pessoas começam a sair

e me pergunto como tanta gente coube em um espaço tão pequeno.

Com figuras conhecidas e outras não tão notórias, vejo


um aglomerado se formar e me chama a atenção a presença do seu

Luiz, todo vestido de preto e, no rosto, óculos escuros. O homem


sempre pareceu ser uma figura inatingível, mas, ainda assim, é

gentil e bondoso com todos da vila.


— Por que o senhor Luiz está aqui? — indago, mas logo
somos interrompidas pelas amigas da minha avó, que se aproximam
para contar a última fofoca.

Aproveitando-me da situação, pego a minha cesta, que

havia colocado na calçada enquanto conversava com a minha avó,


e, de fininho, me afasto da praça. Vou até a minha casa, pego a
bicicleta e, com um sorriso no rosto, vou para o campo.

O perfume das flores me dá boas-vindas, a beleza delas


enche os meus olhos e o milagre de sua existência aquece o meu

coração. Minhas mãos acariciam as rosas, meu nariz se aproxima


para sentir o aroma e, quando a maciez das pétalas toca o meu
rosto, chega o momento em que eu me perco. Uma a uma, toca-as

antes de separá-las e colocar na minha cesta.

O tempo passa sem que eu me dê conta e o dia começa


a dar lugar à noite. Olho para a cesta, vejo que já tenho rosas

suficientes e estou me preparando para deixar o campo quando


ouço um barulho estranho.

Sem que eu saiba de onde vem e de quem se trata, ouço

o choro de alguém. Um homem, o choro sofrido pertence a um


homem, disso não tenho dúvidas. A escuridão que começa a cobrir
o campo aberto torna difícil a minha visão, mas tudo o que o meu
coração quer é se aproximar e levar embora a dor do homem que
chora de uma maneira tão dolorida que é quase como o rugido de

um leão ferido.

Cegamente e sentindo que, logo hoje, a noite está caindo


mais rápido, caminho por entre os corredores de flores, olhando de
um lado para o outro e guiando-me pelo som do choro copioso. Ao
longe, avisto uma silhueta, uma sombra alta e, como eu pensava,

pertence a um homem.

Pisando de leve na terra fofa para não o assustar, me

vejo cada vez mais perto dele. No meu interior, existe um misto de
sentimentos e o que predomina é a forte sensação de que preciso

fazer isso, de que esse homem precisa de alento. Ele não pode

sofrer tanto em um cenário tão belo como esse.

— Vá embora daqui. — A voz é baixa e rouca, como se


ele não tivesse o costume de falar com frequência. — Me deixe

sozinho ou você irá se arrepender.

Sua ameaça faz com que eu trema de medo, mas o


receio não é maior que o meu desejo de chegar perto dele para

saber por que chora e sofre tanto.


— Eu não vou — falo com firmeza e ele não diz mais

nada.

Às suas costas, vendo apenas a sombra por causa da

escuridão quase completa, reparo nas suas roupas e, por elas, fica

claro que ele não é daqui. Trata-se de alguém em quem eu nunca

pus os olhos e continuo sem conhecer, já que ele não se vira para
me olhar de frente.

Não que eu o esteja julgando por isso, é ele quem sofre

aqui e sou eu quem invade o seu espaço pessoal e não respeita o


seu momento.

O homem leva as duas mãos ao rosto e, como se tivesse

decidido que não valia a pena pausar o seu momento de dor por

causa uma intrusa, volta a chorar com mais intensidade. Seu corpo
todo treme e, como se uma força me atraísse, chego mais perto, o

mais perto que posso, e levo as minhas mãos aos seus ombros.

Ele primeiro fica tenso, mas não faz nenhum movimento

para me repelir, apenas continua a chorar, o que começa a me


angustiar por não conseguir imaginar o que abalou um homem tão

alto e forte como ele.


Passando de todos os limites, minhas mãos começam

vagarosamente a descer, passam por entre os seus braços e se

fincam na altura do seu peito. Minha palma pousa perto do seu


coração e eu estranhamente sinto um alívio por escutá-lo batendo

contra a minha mão. O leão ferido, mais uma vez, não faz nada para

me afastar ou repelir a minha ousadia. Quando minha cabeça se

deita nas suas costas, meu corpo se encosta no seu e minhas mãos
sentem com mais intensidade as batidas do seu coração. Da minha

boca, sai a única frase possível para um momento como esse:

— Eu sinto muito.

É com surpresa que sinto o seu primeiro movimento e o


momento em que ele leva as mãos até as minhas e entrelaça os

nossos dedos. Ainda na altura do seu peito, o homem aperta as

minhas mãos pequenas demais entre as suas, o que chega a


machucar, já que no meu dedo anelar existe um anel que eu sempre

uso.

Ele aceita o meu conforto, mesmo sem saber quem eu

sou e eu o conforto, mesmo sem saber quem ele é. Chora mais


contido e baixinho, sem nunca soltar a minha mão e eu, como se

estivesse absorvendo parte da sua dor, também começo a chorar.


Não consigo entender por que estou tão triste por ele, mas sei que

para algumas coisas não existe explicação.

O tempo passa e não há como quantificá-lo, nenhuma

palavra é dita e, no meio do roseiral e do perfume das flores, existe

um homem e uma garota, dois desconhecidos unidos por uma força

maior, a força da dor e da compaixão.

Quando eu já estava começando a acreditar que

passaria a eternidade sentindo as batidas do seu coração e ouvindo

o som da sua respiração, o leão ferido, sem nome e sem rosto, fala:

— Obrigado. — A voz me causa arrepios, um tipo


diferente de arrepio que nada tem a ver com o temor que a sua voz

me causou da primeira vez. Quando, lentamente, vai descendo as

nossas mãos ainda unidas, ele termina: — Adeus, garota das flores.

De maneira inesperada, ele se afasta e começa a andar

com passos mais largos do que eu sou capaz de reproduzir. Quando

começo a gritar para que não fuja, como um animal acuado, o

desconhecido começa a correr. Ele desaparece e meu estado de


choque e solidão faz com que eu me pergunte o que foi que acabou

de acontecer.
Solto a respiração, que não sabia que estava presa, olho

em volta e, quando a brisa provoca um arrepio em mim, levanto a

mão bem diante dos meus olhos, notando os meus dedos vazios. O

anel da minha família já não está na minha mão esquerda.

Ele se foi, levou uma lembrança minha e não deixou

nada em troca, nada que me faça crer que tudo isso foi real, nada

que tornasse a minha história, no mínimo, aceitável, caso fosse

contá-la aos meus avós para que eles acreditassem que não foi
somente uma fantasia ou um sonho romântico inventado pela minha

mente.

No meu íntimo, guardei com carinho o encontro inusitado


e de algum modo especial para mim. A noite em que, no meu lugar

preferido, vi e toquei em um homem sem rosto. Sem nunca

esquecer, fantasiei que significou mais do que realmente foi, apenas

para mais tarde descobrir que seria melhor se eu nunca o tivesse


conhecido.
SINOPSE

O que acontece depois do “felizes para sempre”?

Herdeiro de um império milionário, Antônio Orsini é um

homem que vive de aparências. Frio e atormentado por fantasmas


do passado, ele espera pelo dia em que sentirá que pertence a

algum lugar, onde sua vida não será uma mentira completa. Tudo
muda quando se envolve com Beatriz, uma garota 20 anos mais
jovem, inocente demais para um homem marcado como ele.

A paixão que os une é intensa. A dependência física e

emocional que um desenvolve pelo outro pode ser mais perigosa do


que eles imaginam.

Eles são felizes por quase 1 ano, até que um terrível

acidente muda o rumo das suas vidas.

Uma gravidez inesperada.

Um homem cujas memórias recentes são completamente


apagadas.

A descoberta de segredos que colocam em dúvida o

amor que parecia indestrutível.


Até que ponto vale a pena lutar por um amor perdido?
PRÓLOGO

Desde sempre, eu a via andando de um lado para o outro

com os seus cabelos escuros ao vento, agindo como se o mundo

fosse dela e nada importasse. No começo, eu só a olhava e achava


engraçadinha, mas logo o interesse se intensificou. Paro de vê-la

como uma menina, para enxergá-la como uma mulher de corpo


perfeito.

Quando a oportunidade apareceu, fugi do Rio para o


lugar onde a realidade é bem diferente e era tudo do que eu estava

precisando. Um pouco de paz, longe do agito da cidade e do


trabalho, que basicamente consistia em limpar as merdas dos

riquinhos inconsequentes.

Não esperava gostar tanto de Santa Rita e foi uma

surpresa perceber que tinham muitas coisas a se fazer em uma


fazenda como a do meu amigo, Diego Estrada. Um homem cheio de

problemas, mas que tem conseguido se reerguer desde que se

apaixonou por uma garota que é o seu total oposto. A linda e alegre
Ella, era tudo do que ele precisava e eu não poderia estar mais feliz

pelo meu amigo. O homem merece um pouco de alegria e eu já não


sabia como fazê-lo enxergar que não tinha a culpa que acreditava

ter, por todas as merdas que aconteceram na sua vida.

Não vi como um problema o pedido para que ficasse de


olho na sua mulher pelo tempo que precisaria ficar fora, cuidando-se

para enfim se curar de tudo que o perturbava. Ficar em Santa Rita

significava que poderia ver a garota se eu quisesse. Ela havia se


tornado uma obsessão para mim e usá-la para saber coisas a

respeito da Ella foi apenas uma desculpa que dei a mim mesmo

para conseguir chegar perto.

Nem por um segundo Beatriz foi enganada a respeito do

que pensava ser as minhas intenções para me aproximar. Sabia que

queria falar sobre a sua amiga e decidiu jogar comigo. E que jogo
delicioso. Eu perguntava e a garota leal só dava respostas vagas e

sem importância. Fingia que não sabia o que eu queria e eu fingia

que só queria investigar.

A cada encontro que não tinha nada de acidental na

praça, Beatriz dava um jeito de ser mais provocante. Sem medo da

rejeição, se insinuava e eu, sem nem um escrúpulo, não me

importava de ser velho demais para ela, que tinha acabado de fazer

18 anos. Para mim bastou a informação de que não era menor de


idade para seguir os meus instintos sexuais com alguém que,
apesar da pouca idade, demonstrava ter bastante experiência com

homens.

Começamos com um beijo atrás da loja de carnes e

continuamos assim: beijos muito quentes pelos cantos da vila. Bia

não parecia se preocupar em ser surpreendida e eu menos ainda.


Quando já não dava mais para segurar, acabamos transando no

quarto que eu ocupava na fazenda. Quando meti pela primeira vez,

não pude acreditar que estava com uma virgem. Ela era tão safada,

como poderia ainda ser virgem?

Mas a verdade é que era e eu não pude me conter.

Continuei a trepar com a moça e bem satisfeito de ser o primeiro. Já


tinha transado com mulheres de todos os tipos e idades no clube do

qual sou sócio, mas com uma virgem foi uma experiência inédita e

muito gostosa.

Por um tempo — bem pouco, para ser sincero —


acreditei que o meu vício na sua boceta apertada era justificado pela

novidade de estar com uma garota tão jovem e a quem eu poderia

ensinar muitas coisas, mas estava muito enganado. Durante alguns


meses ficamos juntos sem assumirmos nada. Rótulos não existiam,

apenas um casal transando sempre que tinha a oportunidade.

De uma forma como nunca imaginei que fosse acontecer,

me vi desejando duas coisas: ficar em Santa Rita com mais


frequência e ter mais certeza do que a novinha era para mim.

Depois do casamento dos nossos amigos, em que fomos


padrinhos, acabei por me dar conta de que era muito mais do que

tesão, que estava muito mais apaixonado do que queria admitir.


Como poderia não estar, se fiquei meses com ela, quando nunca
tinha saído mais do que três vezes com a mesma mulher? Era um

solteirão convicto, mas a minha baixinha linda e jovem me fez sentir


vontade de pendurar as chuteiras e foi o que fiz.

Não sai da minha cabeça a sua reação quando a levei

com os olhos vendados para a casinha que havia comprado. A


minha Bia ficou feliz porque para ela significava que eu ficaria por
mais tempo em Santa Rita e não precisaríamos mais ficar pulando

de cama em cama para ficarmos juntos. Porém, feliz e emocionada


mesmo ela ficou quando disse que a casa não era só para mim. Eu

a pedi em namoro, chamei-a para morar comigo e ela não titubeou


em aceitar.
Na sua casa, ela não teve dificuldade em falar para os

pais que estava indo morar com o namorado antes de se casar, eles
aceitaram numa boa, tanto que eu cheguei a achar bizarro. Os seus

velhos, que não são tão mais velhos do que eu, são good vibes
demais, o que me faz ter a impressão de que estão sempre

dopados. Não é à toa que a minha baixinha se tornou tão dona de


si.

— Sabia que você fica ainda mais gostoso quando está


assim, com esse ar pensativo, tio?

Eu estou no nosso quarto, desfazendo uma mala, depois


de uma viagem de três dias para o Rio e acredito que a viagem ao
passado seja por causa da saudade pelos poucos dias distantes da

minha menina. A minha empresa de segurança privada e


investigação particular continua sendo no Rio de Janeiro, vez ou

outra, preciso ir até lá e não posso, de maneira alguma, levar a


minha mulher comigo.

— Tio? Essa ereção enorme te faz pensar que sou o seu


tio, sua atrevida? — Eu a pego entre os meus braços, esfrego-me

nela como um desesperado e o sorriso divertido logo some do seu


rosto.
— Parece que alguém aqui estava morrendo de saudade
— diz quando a jogo na cama e caio por cima. Faço com cuidado,
porque ela é muito pequena e delicada para alguém do meu porte

físico.

As suas pernas macias me envolvem e sentir o calor da


sua boceta contra o tecido torna ainda maior a satisfação de estar
em casa.

— Estava louco de saudade de você, amor.

— E eu de você, meu gigante.

Quando ela me beija, sinto como se tivesse voltado a


Santa Rita só para isso. Eu era um boêmio. Tinha mulheres aos

meus pés e por muitos anos vivi e busquei isso. Em algum momento
a mesmice do trabalho e mulheres indo e vindo deixaram de ser

suficientes, me vi precisando de novos ares, de ver gente nova. Aqui


em Santa Rita eu conheci a minha Beatriz e então não precisei
conhecer mais ninguém.

Minha menina trouxe o que parecia faltar e hoje, como

acontece dia após dia nos vários meses em que passamos juntos,
estou apaixonado, amando e sendo amado.

— Te amo, Beatriz.
— Te amo, Antônio.

Embora o que sentimos um pelo outro esteja claro, pela

primeira vez, com os nossos corpos lânguidos e suados sobre a


cama, usamos essas duas palavras para nos declararmos. Sei que

será a primeira vez de muitas, que, como os nossos amigos e


qualquer casal normal, seguiremos o caminho natural de casamento
e filhos. Eu sei que ela está bem com isso.

O nosso romance é só mais um dos que devem ter

nascido sob o céu de Santa Rita, um lugar que parece

especialmente propício para o amor. Talvez a magia esteja nas

flores.
SINOPSE

Marina sempre viveu uma vida perfeita, cercada de luxos

e mimos. Até que, aos seus 17 anos, uma tragédia muda o rumo de

sua vida: a perda de seu pai, único parente vivo e pessoa que ela
mais ama, deixando-a desamparada e sozinha no mundo. E, para

completar o pesadelo em que passa a viver, a garota se vê obrigada


a viver sob a tutela de Erick Estevan, melhor amigo de seu pai, de
quem guarda antigas e profundas mágoas.

Erick vê seu mundo inteiro virar do avesso com a

chegada da filha de seu falecido melhor amigo aos seus cuidados.


Tendo sua vida inteira planejada, a adição inesperada não seria um

problema, se não fosse o doentio desejo que sente pela garota que
viu crescer.

Marina é agora uma linda e proibida mulher, que


assombra seus pensamentos e desperta sentimentos que o homem

tanto luta para suprimir.

Na batalha entre obrigação e desejo, será a razão capaz


de definir o que é certo e errado?
PRÓLOGO

— Aguente firme, meu amor — peço ao fazer carinho no

seu rosto pálido. — Vai ficar tudo bem. Prometo. — Ela ainda tenta
abrir um sorriso, mas falha miseravelmente. — E você sabe que

costumo cumprir com as minhas promessas.

— Erick, o meu tempo está acabando... — diz num fio de


voz, e tenho vontade de tapar os ouvidos com as mãos apenas para
não ouvir a frase tão definitiva saindo da sua boca, que já está

ressecada e sem vida. — Você precisa prometer...

— Não fala nada, amor — imploro, com a voz embargada


pelas lágrimas.

— Promete que vai ser feliz, que quando eu partir, você

vai refazer a sua vida? — Marina diz e faz força para formar as

frases.

— Prometo que nós vamos ser felizes — respondo,

enfático. — Você vai ficar boa e nós vamos nos casar e um dia

teremos nossos bebês, lembra? Você prometeu, linda. — Tento


sorrir para ela.
— Eu fui muito feliz com você, do jeito que um dia sonhei

e achei que não seria possível realizar — afirma com a voz quase
sumindo e os olhos mais baixos. — Eu sempre vou te amar, de onde

estiver, estarei olhando por você. Te amo... — são suas últimas

palavras antes de perder a consciência.

— Não, Marina — imploro, desesperado. — Não faz isso,


olha para mim. Eu não vou deixar você ir, nunca! — afirmo.

Cuidadosamente, desço meu corpo sobre o seu, até

sentir minha camiseta ser ensopada com o sangue pegajoso e


quente. Selo os nossos lábios, pela última vez.
SINOPSE

De uma família feliz e bem estruturada, Luana Aguiar viu

o mundo à sua volta desmoronar quando perdeu a mãe. A garota

então ficou aos cuidados do pai, um homem que não soube superar
a perda da esposa e acabou se entregando a vícios que seriam a

sua ruína. Vícios que o levaram a colocá-la nas mãos de Gabriel


Souto, um homem impiedoso e sem coração, como muitos dizem. A
fama de Daniel Souto o precede e, sem que tenha escolha, a jovem

se vê presa ao seu mundo sombrio, cercada de mistérios e luxúria.

Gabriel Souto não pede, ele toma para si, esse é o seu
lema de vida. Não seria diferente quando o assunto é o seu desejo

de arranjar uma esposa para tornar-se um homem respeitado


perante a alta sociedade, que não enxerga além do que quer ver. A
oportunidade surge quando o tolo Júlio Aguiar faz a pior aposta da

sua vida e entrega de bandeja exatamente o que ele estava

procurando, poupando-lhe o trabalho de ir à caça.

Uma relação nascida do ódio, um desejo que não pode


ser reprimido e um reencontro inesperado. Será que o amor

conseguirá florescer em corações tão inóspitos?


PRÓLOGO

— Estou presa, é isso? — pergunta, irritada, encurralada

entre o meu corpo e a parede do espaçoso e luxuoso quarto da

minha propriedade. Para ela, aquele lugar significa o próprio inferno


na terra, ou pelo menos o que ela pensa ser o inferno.

Se soubesse que lá é muito pior do que as pessoas


imaginam... Estive no inferno e garanto que ter labaredas
queimando a pele é brincadeira de criança perto do que vi e vivi.

— Isso. Se este é o seu conceito de prisão; então, sim,

você está presa a mim e a essa casa. Acostume-se, meu bem...

— Não me chame de meu bem — diz, lançando-me um


olhar de desprezo, o que só a deixa mais linda. Aos meus olhos,

parece uma ratinha assustada e, de forma doentia, fico excitado por

vê-la assim, nas minhas mãos. Sei que posso fazer o que quiser
com seu corpo e suas vontades. Posso moldá-la da forma que eu

quiser, como for conveniente para mim. — Não sou o seu bem.

— Você é o que eu quiser que seja. Esqueceu que te

comprei em uma mesa de apostas? — Na verdade, não foi bem


uma compra, está mais para o pagamento de uma dívida, mas, na
prática, isso não importa. Não quando o resultado é o mesmo: a

bela Luana Aguiar em minhas mãos. Toda minha para fazer o que
eu quiser. — Não aja como se tivesse poder de decisão, pois não

tem. E quanto antes você entender isso, melhor.

— Eu te odeio, Gabriel — afirma, fria.

Ao invés de me assustar, sua declaração me excita. Não


posso resistir a este jogo.

— Não quero o seu amor, garota. — Enquanto falo, me

aproximo do seu corpo colado à parede e seus olhos crescem de

tamanho a cada passo que dou. Como uma gatinha assustada, seu

rosto não consegue esconder o temor por causa da minha


proximidade. — Sinta-se à vontade para continuar me odiando,

posso viver com isso.

— Não se aproxime de mim, Gabriel. Você me assusta.

— Está praticamente implorando, percebendo que foi uma péssima


ideia trazer o seu namorado para dentro da nossa casa.

Agora ela está encurralada entre mim e a parede do

quarto que, por enquanto, é só dela. Digo por enquanto, pois não sei

quanto tempo irei resistir ao tesão e ao desejo doentio que começo

a nutrir por ela. No fundo, sei que não serei capaz de me manter tão
longe da gostosa, não quando a quero como jamais quis alguém —
mesmo detestando-a com a mesma intensidade.

Raiva e desejo. A melhor e a pior decisão. Com ela, vou

de um extremo para outro, mas ainda assim não posso deixar de me

sentir estimulado ao seu lado. Considerando toda essa bagunça,

talvez seja melhor não sentir nada e ficar só com a insatisfação.


Mas o perigo que ela traz consigo bate de frente com tudo o que sou

e preciso ser. E a atração que sinto pelo perigo é mais forte do que

eu, muito mais forte.

— Você está mesmo assustada? — Toco seus braços e

sinto-os arrepiados. Os pelinhos, que estão de pé, não são capazes

de esconder seu nervosismo. E o que, para ela, é medo; para mim,


é excitação. — Por que sinto a sua respiração ofegante? — Estou

com o corpo levemente curvado sobre o dela e as palavras são

sussurradas no seu ouvido. — Se quer que eu te beije novamente, é

só pedir, bebê. Juro que não pensarei mal de você por isso. Posso

te dar o que quiser, desde que se comporte e faça tudo o que eu

quero.

— Então quer que eu seja sua escrava, que não tenha

voz e faça apenas o que você ordenar? — É sarcástica, mas se a


intenção é me irritar, ela certamente está fazendo isso da maneira

errada.

— Vejo que estamos começando a nos entender, Luana.

Saboreio o seu nome nos meus lábios e imagino o


momento em que o chamarei, enquanto como a sua boceta. Com

certeza, ela estará muito molhada, pegando fogo de tesão e me


receberá quando eu socar sem dó no seu calor apertado. Um corpo

que me deixou babando como um cachorro louco por um pedaço de


carne desde a primeira visão que tive da garota que se apresentou
com sete pedras nas mãos. Ali, soube que nada me faria desistir de

tê-la para mim. Mesmo se o seu pai não tivesse sido tão burro, eu
faria qualquer coisa para ter uma prova do corpo apetitoso e da

boca carnuda feita para envolver o meu pau até ter os lábios
esticados pelo esforço de abarcar a minha espessura.

— Prefiro morrer a ter essa boca suja sobre a minha ou


essas mãos imundas no meu corpo. Sinto nojo de você, Gabriel

Souto. Pensar na possibilidade de ser obrigada a fazer sexo com


você me deixa doente. — Cospe cheia de raiva, deixando

transparecer o desprezo que vejo no rosto de muita gente. Ela é


apenas mais uma.
— Então, se prepare para morrer, sua vadiazinha.

Agora o meu corpo está colado ao dela, que se encolhe,

e o cheiro do seu medo é excitante. É isso que quero. Não quero


amor ou declarações de devoção. O importante é ela ser perfeita
para os meus planos e, se a boceta quente e os seios grandes

vierem no pacote, não irei reclamar. Luana será como todas as


outras, somente uma boceta para aliviar a tensão dos meus dias. A

única diferença é que não precisarei ir tão longe para encontrar


alívio, pois o terei dentro da minha própria casa.

— Você vai dar para mim quantas vezes eu quiser te


comer. Fará sem reclamar e sabe por quê? — Suas mãos estão
espalmadas no meu peito, mas não como uma tentativa de apoio ou

carinho. Luana quer me afastar para longe dela, enquanto tudo o


que quero é me afundar no seu sexo e descobrir se é tão boa

quanto parece. — Você deve estar com a calcinha gotejando de


desejo por baixo desse vestido. Apesar do que sua boca diz, seu

corpo tem reações contrárias e quer que eu te toque como você


nunca foi tocada por aquele moleque que se diz seu namorado.
Aliás, ele é mais um que precisarei tirar do meu caminho, se for

necessário.
— Não abra essa boca para falar o nome do Gustavo. —
A defesa vem rápida e ferrenha, o que ameaça despertar o animal
adormecido que há dentro de mim. — Ele é o homem que você

jamais será, é um cara decente.

— Tão decente que está apaixonado por uma mulher que


foi vendida como uma prostituta — falo para machucá-la e consigo o
intento, pois a sua mão voa direto na direção do meu rosto e só não

o atinge em cheio porque sou rápido o suficiente para frear a ação


dela.

— Atreva-se a fazer isso novamente e não gostará das


consequências — ameaço e a garota tem os olhos arregalados ao
fitar-me, a respiração errática e o rosto distorcido pela cólera e o

ódio que não podem ser disfarçados.

— Vai fazer o que, seu monstro? Me bater? — Furiosa, a


gostosa empina o narizinho arrebitado e tudo o que eu quero no

momento é rasgar suas roupas e fodê-la até que cale a porra da


boca e pare de me afrontar, ainda mais por causa de outro homem.

Será que ainda não percebe que agora é minha mulher?

Que não existirá outro homem que não seja eu na sua vida?

— Vou fazer isso.


Sem o controle que me orgulho de ter, puxo-a pela
cintura e, sem aviso, beijo sua boca. Um beijo que encontra
resistência e acaba rápido demais quando ela morde com força o

meu lábio inferior.

Assustado por um segundo, dou dois passos para trás e


toco a minha boca com o dedo. Quando vejo o filete de segue, a
fúria varre o meu corpo e ela mal tem tempo de correr, pois eu já a
tenho novamente contra a parede. Desta vez, envolvo sua cintura

com um braço, enquanto o outro agarra a parte de trás dos seus

cabelos, segurando com firmeza a sua cabeça para que não tenha

como fugir ou se esquivar.

Com a língua, invado a boca macia e, com o gosto

metálico de sangue, tomo o que é meu, exijo respostas e, sem que

tenha qualquer chance, a minha esposinha corresponde ao chupar a


minha língua para dentro da sua boca e permitir que eu imite o seu

gesto. A garota está mole nos meus braços e, se agisse movido

pela fama que tenho e na qual ela parece acreditar, poderia me

aproveitar disso, arrancar as nossas roupas e realizar o desejo que


venho alimentando desde o momento em que coloquei os olhos

nela. Mas como nem tudo é o que parece, ajo diferente.


— Gostosa demais.

Aos poucos, vou diminuindo a intensidade e, com uma


forte mordida no seu lábio inferior, obrigo-me a parar.

— Gabriel...

Quando a minha esposa abre os olhos, eles estão

anuviados pelo desejo que não é capaz de refrear.

— Quando você quiser, minha esposa, é só pedir que eu

virei e, com prazer, darei o que você quer. Seu corpo e seus desejos

me pertencem e quanto antes aceitar isso, melhor será para nós

dois.

— Isso nunca irá acontecer. Eu amo o meu namorado —

insiste em colocar outro homem entre nós dois, o que é

extremamente irritante. Luana não entende que quanto mais ela

toca no nome do tal namorado, mais irritado fico e quando isso


acontece, todos os envolvidos sofrem as consequências.

— Você não tem um namorado, querida, tem um marido.

Sou o seu dono e quando quiser apagar o seu fogo, já sabe onde
me encontrar.
Com um ar espantado, ela encara o meu rosto. Eu

abaixo vagarosamente os meus olhos para frente da minha calça e,

propositalmente, manjo o meu pau muito duro e louco de vontade.

— Seu imbecil!

Agora, muito furiosa, Luana vira-se para trás, pega o

abajur que estava sobre a mesa de cabeceira e arremessa-o na

minha direção. Se eu não fosse um homem ágil e bem treinado, os

estilhaços de vidro teriam acertado minhas costas em vez da porta


que consegui fechar a tempo.

Fora do quarto, ouço quando Luana começa a chorar. A

mulher chora e xinga como um homem. No meu rosto, um sorriso

satisfeito se abre e, sem que haja sombra de dúvidas, sei que esse
arranjo será muito proveitoso e que será um prazer domar essa

fera.

Por quanto tempo? Isso só o meu corpo dirá. Se


depender da fome que tenho por ela, duvido que o meu desejo

acabe logo. A garota é uma bocuda, gosta de me desafiar, mas

talvez essa seja a razão de tamanha atração. Uma febre que


explorarei até me sentir satisfeito. Quando acontecer, ela
permanecerá na minha vida, pois comer sua boceta não foi o

principal motivo para eu ter me casado com ela.

Luana Aguiar é uma ajuda providencial que veio na hora

certa e como não sou de perder as oportunidades que caem no meu

colo, ela servirá perfeitamente para meus intentos. Amor e todas as

bobagens românticas ficarão fora da equação. Se não tive isso com


a minha família, certamente não esperarei de uma mulher que me

odeia e que, se pudesse, obrigaria seu corpo a não querer o meu

como demostrou desejar agora.

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