Copyright © 2021, Joane Silva
Revisão: Raquel Moreno
Diagramação digital: Joane Silva
Capa: LA Designer Editorial
Silva, Joane
A noiva comprada
1ª Ed.
Brasília - DF, 2021
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua
Portuguesa. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de
qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive
por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da
internet, sem permissão de seu editor.
A violação de direitos autorais é crime previsto na lei nº.
9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares
e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor,
qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera
coincidência. Todos os direitos desta edição reservados pela autora.
AVISO
Este livro contém cenas explícitas de violência contra a
mulher.
Este livro possui linguagem crua e cenas de teor sexual.
Não recomendado para menores de 18 anos.
SINOPSE
Aos vinte e nove anos, John Harper se considera um
presente dos deuses para as mulheres. Sabe que a beleza e o
dinheiro que vêm junto com o seu sobrenome são o seu cartão de
visitas, e não tem qualquer problema de usar todas as armas em
seu favor no jogo da conquista, que muitas vezes não passa de uma
noite.
Ele também sabe que está próximo o dia em que
assumirá a tão sonhada cadeira de CEO da construtora Harper.
John acredita que será fácil, afinal, quem mais poderia tomar o seu
lugar? Certamente, não seria Tales, o primo puxa-saco que não
entendeu que nunca será mais do que a opção número dois em
tudo.
O problema é que nem sempre as coisas saem como o
planejado, e ele percebe que terá que fazer muito mais do que
esperar para chegar no topo, mesmo que signifique ter que mentir
para todos ao dizer que está prestes a se casar com a sua
secretária. Tudo porque a sua avó tem ideias retrógradas a respeito
de casamento, família e todas essas bobagens.
Manuella está se sentindo realizada, porque acaba de
conseguir o emprego dos sonhos no momento em que tudo está
dando errado na sua vida. Mas ela percebe que o sonho pode se
tornar um pesadelo quando o seu chefe a aborda com uma proposta
indecente, porém, irrecusável.
No jogo de amor e poder, em meio a uma relação que era
para ser apenas de fachada, John e Manuella descobrirão que têm
mais em comum do que um contrato com data para acabar.
Um noivado de aparências.
Um plano fadado ao fracasso, uma paixão real e
irresistível.
EPÍGRAFE
“É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais
amar, depois de ter amado.”
Guimarães Rosa
AGRADECIMENTOS
A história do processo de criação deste livro é curiosa.
Primeiro a ideia surgiu, mas, como costuma acontecer na cabeça
maluca de uma autora, outra história explodiu na minha mente e eu
não pude ignorar. E foi assim que nasceu “O bebê do viúvo”. Mas
não é para falar do Donovan e da Sofia que estou escrevendo.
O fato de ter parado a escrita de A noiva comprada fez
com que eu tivesse muita dificuldade de voltar a me conectar
novamente com os personagens, mas acredito que, no fim, eu
contei a história de amor e de força de uma mulher que queria
contar.
Era para ser um enredo fácil e leve, mas não dizem que
os personagens têm voz própria? Então, esses aqui tiveram. Não se
trata apenas de um romance, mas também de assuntos que
precisam ser abertamente debatidos, e espero ter conseguido
passar a mensagem carreta para cada pessoa que estiver lendo
esta obra.
Como uma jornada não se faz sozinha, quero fazer um
carinho e mencionar minhas queridas leitoras, tanto as que estão
comigo desde o início quanto as que chegaram no decorrer de
quase três anos. À minha família e, por fim, mas não menos
importante, ao autor e consumador da minha fé.
Se você está tendo contato com a minha escrita pela
primeira vez, siga-me nas redes sociais para que possamos ficar
mais próximos.
INSTAGRAM: https://bit.ly/autorajoanesilva
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
EPÍLOGO
SOBRE A AUTORA
LEIA TAMBÉM
CAPÍTULO 1
JOHN
Na parede lateral do bar, na frente da Marta, Maria, seja
qual for o seu nome, tenho as minhas calças enroladas até a
metade dos joelhos, enquanto invisto na boceta da vez. O alívio de
que precisava depois de um dia de cão na construtora, e de tomar
uns copos a mais de cerveja.
— Isso, assim mesmo, gato. Me aperta com esse
pauzão... — Ela rosna no meu ouvido, e eu quase me sinto mal por
não ter ideia de qual é o seu nome.
Além do mais, ela até que fode bem para alguém que se
ofereceu no bar como uma desesperada por pau. Tenho espelho em
casa e vejo que sou um presente para o público feminino. Sei como
deixar a mulher que eu quiser se arrastando aos meus pés, então,
no meu estado de espírito normal, não deixaria de ser o caçador
para ser a caça.
No meu estado de espírito normal, eu nem mesmo estaria
pensando enquanto fodo uma mulher em um beco escuro, podendo
ser visto por qualquer pessoa que passe por perto, embora o poste
com a lâmpada piscando seja um aliado para esconder as nossas
identidades.
— Caralho, querida, que bocetinha mais gostosa. Acho
que vou... — interrompo-me quando as palavras fogem e resta
apenas o prazer do momento.
Invisto cada vez mais rápido contra o corpo feminino, não
podendo deixar de pensar que é um bônus que tenha uma boceta e
peitos tão gostosos, porque é difícil aturar a voz insuportável da
Betânia por muito mais tempo.
Quando nós dois gozamos, o alívio que percorre o meu
corpo é equivalente à minha vontade de me livrar de uma vez da...
como é mesmo o nome dela?
Mas o que isso importa?
— Uau, isso foi demais, cara. — Recebo o elogio, mas
não deixo de notar a forma como os seus olhos de águia percorrem
o meu corpo da cabeça aos pés.
E apesar de saber que tenho um corpo legal por baixo do
tecido, não tenho dúvida de que está catalogando o preço de cada
peça de roupa que visto. Do meu relógio no punho e até dos meus
sapatos.
— Por que não terminamos isso na sua casa? —
questiona, e enquanto ouço a proposta absurda, tiro o meu membro
e descarto o preservativo na lixeira que, por obra do acaso, está a
poucos metros de nós.
— Tivemos bons momentos, Marta...
— Mariana! — corrige sem conter a irritação.
— Mas temo que o nosso tempo tenha acabado — aviso
e termino de ajeitar a minha roupa no lugar. — Foi literalmente um
prazer — sussurro no seu ouvido, dou um beijo leve nos seus lábios
e volto para dentro do bar.
Ainda ouço a voz indignada, e esperançosa de que fosse
rolar algo a mais, me chamar. Finjo que não é comigo. A Maria não
é nada com o que eu já não tenha lidado antes. Elas sempre
acreditam que uma boa trepada terminará em compromisso.
Se soubessem que essa palavra me faz correr a léguas
de distância...
— Pensei que não fosse mais voltar — Pietro diz assim
que me sento na cadeira que ocupava antes de ficar impossível de
ignorar os olhares da garota com quem acabei de transar.
— E por que eu não voltaria? — questiono, olhando do
Pietro para o Nicolas.
— Talvez porque saiu daqui há alguns minutos muito bem
acompanhado — Nicolas comenta, mas Pietro, que me conhece há
mais tempo, emenda:
— Parece que a boa companhia já perdeu o seu encanto.
Pietro é o advogado da construtora da minha família, mas
também é o meu melhor amigo e braço direito. Para as mentes
maliciosas, comparsa.
Nicolas é o seu companheiro, um cara mais sério do que
nós dois, ainda bem, mas que está sempre disposto a sair do alto do
seu trono de design de moda renomado para nos acompanhar em
momentos de diversão.
Se alguém me perguntasse, eu diria que a melhor parte
de ter amigos gays é não precisar disputar as mulheres com eles.
Nicolas no máximo fará críticas as suas roupas. Só não faz as
minhas porque é ele mesmo quem as desenha.
Quando eles voltam a conversar como se eu não
estivesse ao lado ouvindo todas as suas bobagens melosas, olho
para o lado, mais especificamente para o bar. Um leve temor de que
a garota não tenha entendido a mensagem e esteja no mesmo lugar
de antes me jogando olhares famintos.
Mas o que eu encontro é alguém diferente. Uma mulher.
Ela está secando um copo, algo nada fino de se ver em um bar
como esse. Está alheia ao som altíssimo e as pessoas à sua volta.
Tem a cabeça baixa, mas algo nela chama a minha
atenção. Uma loucura, porque além de ter acabado de fazer sexo,
não existe nada de especial na garota, pelo menos, nada que eu
esteja conseguindo ver de onde estou.
Volto-me para Nicolas e Pietro, mas o casal está aos
beijos, completamente esquecidos da minha existência. Eu poderia
me levantar e dar uma passeada, ou até mesmo ir embora, já que o
meu amigo esqueceu que tínhamos assuntos para tratar, mas sigo
os meus instintos e caminho para o bar.
Não tem nada a ver com interesse sexual. Talvez seja
uma leve irritabilidade com alguém que parece bem à vontade com
o mundo que lhe cerca. Como se nada à sua volta pudesse lhe
abalar.
Mas o mesmo impulso que me fez levantar me faz
esquecer como se fala. Eu não sei nem mesmo como respirar
quando ela levanta a cabeça e me fita com grandes e expressivos
olhos escuros. Está claro que não se trata de uma garota.
É uma mulher que já deve ter mais de trinta anos, com
cabelos pretos e peitos que não podem ser escondidos, apesar do
que a blusa sem qualquer decote intenciona fazer. Até onde posso
ver de seu corpo atrás do balcão, ela tem um avental amarrado em
volta da cintura, o que me faz concluir que é uma garçonete.
Uma trabalhadora, que interessante.
Não é todos os dias que eu me interesso por uma
garçonete, muito menos presencio um olhar tão pouco interessado
para mim. A morena deve estar pensando que tenho algum
problema mental para estar olhando sem abrir a boca.
— Algum problema? — indaga.
Olha só! Ela tem o narizinho bem em pé para quem é
apenas uma garçonete e, pelo visto, lavadora de copos. Será que
distrair clientes com peitos generosos e rosto perfeito faz parte do
seu trabalho?
— Você está bem? — ela insiste.
— Seu nome. Queria que me dissesse o seu nome —
digo quando me encosto no balcão, assumo o controle da situação e
de mim mesmo. A posição de quem não precisa de muito para
convencer a uma mulher.
E se eu não sabia o porquê de ter sido atraído até aqui
segundos atrás, ver o seu rosto e atitude com um toque de desafio
me faz entender que não importa se acabei de fazer sexo, quero
essa mulher. Acredito que iria querer, mesmo se tivesse trepado
com outras três antes dela.
Além de a sua cara de desdém me desafiar, me pergunto
que homem não iria desejar um monumento desses?
Não é o meu aniversário, mas acho que vou receber o
presente perfeito para finalizar bem a minha noite.
— Não vou responder a essa pergunta.
— Perdão? — falo, porque parece que ela disse alguma
coisa enquanto me perdia em devaneios e planos futuros.
— Não vou responder a essa pergunta — fala, pontuando
cada palavra, como se estivesse lidando com um garotinho. — Eu
não tenho que dizer o meu nome para estranhos que aparecem
para atrapalhar o meu trabalho — fala com frieza e levemente
mordaz. Até parece que estou pedindo para que chupe meu pau,
não perguntando um nome.
Se bem que eu dei uma boa olhada nos seus peitos. Mas
a culpa não é minha, nem sempre posso controlar os meus olhos,
que são atraídos por coisas belas.
— Se me falasse o seu nome, eu te diria o meu e
deixaríamos de ser estranhos. — Tento jogar o meu charme,
embora sinta que estou um pouco enferrujado. Desde a
adolescência que não preciso recorrer a cantadas.
— Eu não quero conhecer você e nem ninguém. Sei bem
como são os homens como você — diz, fazendo pouco caso do
meu interesse, tanto que nem levanta os olhos direito para me olhar.
— E que tipo de homem pensa que sou?
— Você acredita que só porque veste roupas caras pode
ter a mulher que quiser. Que basta um rostinho bonito para
conquistar uma noite de sexo. Sinto te informar que já estou
vacinada, pois lido com situações e pessoas como você todos os
dias.
Com poucas palavras, a garçonete conseguiu definir bem
o que sinto. Mas por que ela fala como se fosse errado eu usar dos
privilégios de ser milionário aos vinte e nove, e com uma bela
aparência se são fatos que sempre facilitaram a minha vida?
— Será que aprendeu a ser gentil e cordial com os
clientes também? — rebato. Se antes queria pegar o número do seu
celular, na pior das hipóteses, agora sinto vontade de irritá-la.
Sento-me na banqueta que fica bem na sua frente e, para
mostrar que está dando pouca importância a mim, a morena
gostosa pega mais uma taça e começa a secá-la.
— Eu posso jurar que você não quis saber o meu nome
apenas por educação — assevera sem levantar os olhos. Uma
pena, porque gosto deles me fulminando.
Será que é assim com todos, ou eu sou privilegiado?
— Você é casada? — A ideia me ocorre, e acabo dando a
ela o que precisava para confirmar que tinha razão, eu queria
mesmo descobrir o caminho mais fácil para entrar na sua calcinha.
— Se não parar de dar em cima de mim, vou reclamar
com o meu chefe. Você está chamando a atenção de todos para
nós, e eu só quero terminar de secar esses malditos copos e ir
embora — diz, parecendo bastante frustrada, e não parece ser
apenas por minha causa.
Agora, prestando mais atenção no seu rosto, vejo mais
do que uma boca carnuda que queria em volta do meu pau. Os seus
olhos são de um castanho escuro intenso, lindos, mas também
marcados com olheiras que nem um quilo de maquiagem poderia
esconder.
Pela primeira vez, nos impressionantes cinco minutos que
nos conhecemos, vejo um traço de vulnerabilidade nessa leoa.
Agora percebo o quanto parece cansada.
— Se eu fosse você, não envolveria ele nisso — aviso,
tentando ser enigmático.
— Por que...
— John Harper! Quem é vivo sempre aparece.
Uma terceira pessoa nos interrompe, e aqui está ele,
Dante Dutra, o dono de tudo isso aqui. O chefe direto da gata arisca,
embora eu duvide que saiba o seu nome, mesmo que já tenha
trepado com ela. Promiscuidade é o sobrenome dele.
— Digo o mesmo a você — falo com ironia, afinal, ele
tinha que aparecer mais vezes no próprio estabelecimento. Mas
irresponsabilidade é o segundo nome de Dante.
— Atrapalho alguma coisa? — questiona, não deixando
de olhar demoradamente para a mulher que está atrás do balcão.
Agora, além de cansada, ela está desconfortável. E não
parece que seja só porque está na presença do chefe.
— Não. Eu só estava aqui puxando assunto, mas parece
que ela tem sérios problemas de comunicação. Não quis dizer o
nome dela e se recusa a me tratar com doçura — brinco, sempre a
olhando. Como não esteve nos momentos em que ficamos a sós,
agora a morena parece abalada.
Tem alguma coisa acontecendo aqui.
— Manuella é assim mesmo — Dante fala, os ombros
dela caem com desânimo e algo a mais. — Uma gata arisca.
Ele joga uma piscadela, a mulher cora como uma virgem.
Não parece o mesmo robô que falava comigo segundos atrás.
— E aqui vai um aviso de amigo, meu caro Harper: se
está tentando conseguir alguma coisa com ela, é melhor esquecer.
— É a minha vez de receber uma piscada odiosa.
Eu também coro, mas é de raiva. Então Dante sai e nos
deixa a sós.
— Pelo visto, existe uma relação que vai além do trabalho
entre vocês — comento.
— Isso não te diz respeito, John Harper.
Quando ela diz isso, me levanto da banqueta e aproximo-
me o máximo que o balcão permite, até que nossos narizes estejam
a ponto de se tocarem. Estendo a mão e seguro o seu braço, que se
arrepia todinho sob os meus dedos. Ela pode agir como a rainha do
gelo, mas não pode fazer isso quando posso sentir que até a sua
respiração mudou com a minha proximidade.
— Espero que tenha ficado claro para você que eu iria
descobrir o seu nome de qualquer forma. Se eu quisesse, poderia
até mesmo fazer com que fosse demitida — falo entredentes, um
tanto quanto abalado pelo cheiro do seu perfume mentolado, pela
boca carnuda e grande, estilo Angelina Jolie.
— Por favor, não faça isso... — pede. Sinto um traço de
humildade.
— Mas eu não farei nada disso, assim como não me
importa mais se seu nome é Manuella ou Francisca. Não fico com
os restos de meus conhecidos. Pelo menos, não conscientemente.
De onde foi que veio isso?
Até o aparecimento do Dante, eu estava levando a minha
tentativa frustrada de flerte numa boa.
— Restos? — Manuella reage, mas me afasto antes que
me agrida fisicamente como os seus olhos fazem.
— Tenha uma boa vida, gata — digo e viro-lhe as costas.
Tenho um sorriso no rosto, mas por dentro estou
frustrado, porque a beleza da mulher me impressionou de verdade.
E seria muito bom passar algumas horas com o pau enterrado nela,
enquanto recebia mais ataques de sua língua ferina.
Ao chegar à mesa, os caras ainda estão fazendo
bobagens apaixonadas, como segurar a mão um do outro em cima
da mesa, mas agora na companhia do Dante.
— É verdade o que o Dante falou? — Pietro nem espera
eu acabar de sentar-me para perguntar.
— Depende do que, e de como ele falou — digo, dando
uma rápida espiada no bar. Todos percebem esse ato, e eu não me
dou ao trabalho de explicar o porquê de estar olhando para uma
mulher bonita.
— Você estava tentando transar com a ex dele? —
Nicolas completa.
Por mais que tenha suspeitado, não gosto da informação.
Dante Dutra é um amigo de longa data, mas é um idiota completo.
Ao lado dele me considero um santo.
— Ela é sua ex? Uma garçonete? — curioso, pergunto.
Não faz o seu estilo namorar com garotas pobres, por
mais maravilhosas que elas sejam. Para ele, no máximo servem
para algumas transas, e não preciso ser muito inteligente para saber
que foi esse o motivo de não ter dado certo.
— Não a conheci aqui no bar. Só está trabalhando como
garçonete há dois meses. Ela pediu, e não pude recusar.
Em se tratando dele, é claro que não pôde. Seja qual for
o motivo do término, está na cara que Dante não estava cem por
cento de acordo e agora quer ficar perto da mulher.
— Fique longe dela, John. Manuella não é mulher para
você — avisa.
— E para você, é? — rebato.
— Isso não vem ao caso. Só saiba que ela é
problemática, mas não vai cair na sua lábia de conquistador barato
— enfatiza, e sorri como se tivesse plena convicção.
A possessividade e a certeza de suas palavras fazem
com que eu sinta vontade de provar o contrário, mas acabo
matando o desejo assim que ele surge, afinal, por que gastar os
meus esforços com essa mulher quando posso ter qualquer outra?
— Fique tranquilo, meu caro, a pureza da sua gata está
segura. Eu não pretendo entrar nisso com você — aviso.
Pietro tem a sobrancelha arqueada, Nicolas parece não
estar me reconhecendo. Eles sabem que eu não fujo a um desafio.
Mas, por alguma razão, o milésimo de segundo em que vi
quão cansada a morena está me fez recuar. Mesmo que eu tenha
ficado muito interessado, mais do que lembro de ter ficado por outra
garota, vou deixá-la em paz.
Já basta que a coitada tenha sido burra o suficiente para
cair no papo de Dante.
— Brindemos por isso — ele diz, bastante satisfeito,
tentando sem sucesso esconder o quanto se sentiu ameaçado.
Ele sabe que suas chances de reconquistar a mulher
seriam nulas se eu tivesse entrado na jogada. E seria fácil, porque
mesmo tendo sido azeda comigo, não estava imune a mim. O seu
corpo tremeu junto ao meu, assim como o meu pau ameaçou rasgar
a minha calça.
Enquanto bebemos e conversamos, vez ou outra olho na
direção do bar. Mas não sou só eu a fazer isso. Dante nem disfarça
o interesse. Se quer tanto a mulher, por que não está mais com ela?
Tenho curiosidade, mas não vou perguntar.
Quando a morena finalmente sai do balcão com uma
bandeja nas mãos, tenho a oportunidade de ver que o corpo todo é
uma delícia. É uma gostosa de alto nível, que faria homens matarem
por ela, vide o Dante, que está me trucidando com o olhar. Ele
deixou de babar na mulher para me observar fazendo isso.
Pau no seu cu!
Não posso tentar levá-la para cama e também não posso
olhar?
Que se foda.
Ela tem as pernas longas e maravilhosas. A saia preta e
curta que usa por baixo do avental faz pouco para esconder a sua
bunda redonda. Não tão grande quanto os seus peitos, mas bonita
igual. A cintura é fina, do tipo que eu poderia envolver por completo
com um braço.
Ela serve várias mesas, e apesar de o bar ter várias
outras garçonetes, cabe a ela vir nos servir. Quando se aproxima, os
seus olhos estão em mim. Nada sedutor, está mais para estacas de
gelos sendo lançadas no meu coração. Consigo até ver a cena de
ela jogando o copo com a bebida em cima da minha cabeça pelo
último insulto.
Mas a gata me surpreende. Ela simplesmente se
aproxima e, com toda elegância e profissionalismo, serve as nossas
bebidas. Quando chega a minha vez, a mulher se curva mais do que
fez com os outros para me servir. Está mais perto também, posso
sentir o calor do seu corpo.
Então Manuella, fico surpreso por lembrar do seu nome,
chega com a boca bem perto do meu ouvido. O meu corpo fica todo
tenso. Os três caras estão nos observando.
— Obrigada... — sussurra, morde de leve o lóbulo da
minha orelha e sai batendo os saltos.
A respiração e a mordida me deixaram pronto, e me
restaram duas opções: ir até ela e gozar na sua boceta, ou fazer
isso aqui na mesa com três marmanjos me olhando. Eles não
perceberam o que aconteceu aqui, perceberam?
CAPÍTULO 2
MANUELLA
Eu nunca fui tão humilhada em toda a minha vida!
Quando vim para o turno de hoje, que começa às cinco horas da
tarde e, na melhor das hipóteses termina às três da madrugada, sabia que
hoje seria uma noite difícil. Não poderia ser tão diferente, depois de um dia de
merda.
Tento sempre manter o bom humor, pois sem ele eu já teria
enlouquecido. Mas não é sempre que consigo manter o sorriso no rosto.
Afastar os caras que pensam que sou presa fácil com sarcasmos e piadas.
No momento em que o vi, sabia que ele não seria como os outros.
A minha reação também me surpreendeu. Estava eu na prazerosa missão de
secar copos. E não, não estou sendo cem por cento sarcástica. É melhor
secar milhares de copos a morder a língua e controlar meus punhos quando
sinto a minha bunda sendo apalpada por desconhecidos.
Quando lavo copos, não corro o risco de ser demitida por agressão,
e o meu trabalho aqui já está arriscado demais para que tenha agressões e
insultos na minha lista de má conduta.
Quando levantei a cabeça e o vi do outro lado do balcão me
olhando, primeiro pensei que era um dos homens mais bonitos que já havia
visto. Já vi muitos deles por aqui e até mais belos que ele, mas nunca uma
presença tão marcante.
Magnetismo. É isso, ele tem um magnetismo nos olhos verdes que
deve deixar muitas mocinhas sem rumo na vida. Mas a minha babação pelo
desconhecido durou apenas alguns segundos. Bastou ele abrir a boca para
que eu caísse na realidade e me colocasse no meu lugar.
Lembrei que não sou mulher para nenhum dos caras que
frequentam esse lugar. Não tenho tempo e nem disposição, e quem me dera
ter percebido isso antes de ter me envolvido com Dante Dutra.
O desconhecido, que me fitou como se pudesse ver por debaixo
das minhas roupas, tinha os cabelos lisos, levemente espetados em todas as
direções e com um tom de loiro escuro. A barba por fazer bem-cuidada me fez
pensar, não posso negar, em qual seria a sensação dela entre as minhas
pernas. O corpo é alto e forte na medida certa. Nada em sua aparência me
causou desagrado.
A personalidade, por outro lado, não poderia ser mais irritante. O
homem passou poucos minutos comigo, mas foi o suficiente para me fazer
perceber que nele tem tudo o que não quero para mim.
Pelas roupas que vestia, e o relógio que parecia caríssimo, é do
tipo que está acostumado a ter todas as mulheres que deseja aos seus pés,
tanto que chegou perguntando o meu nome, e cheio de certeza de que eu iria
falar de bom grado. O seu jeito, que à primeira vista é bem parecido com o do
Dante, fez o meu sangue e coração congelarem.
Depois disso, a sua beleza passou a não ter nenhum efeito sobre
mim. Tudo o que dizia parecia bobagens vazias. Apenas um homem patético,
que jurava que estava arrasando. Titubeei quando ousou e deixou seu rosto
bem próximo do meu. Gostei do seu cheiro e do calor da respiração que, para
o meu desgosto, fez outra coisa além do meu coração pulsar.
Para uma mulher que está carente como eu estou, ser tocada,
mesmo que de maneira superficial, é o suficiente para me deixar maluca.
Quando a mãozona tocou no meu braço, mãos macias de quem não sabe o
que é capinar um lote, todo o meu corpo ganhou vida. Senti o bloco de gelo
em que havia me tornado começar a derreter.
Tive que juntar as pernas para não soltar nenhum som. Foi um
esforço ainda maior manter a mesma expressão de antes, mas, ainda assim,
ele deve ter sentido a minha respiração difícil.
Por um milésimo de segundo, pensei em deixar de lado todo o
cuidado, levá-lo para a salinha de louças para dar e receber um pouco de
prazer. Por um segundo de pura insanidade, pensei em mostrar para ele que
não estava lidando com uma das suas garotas de cabeça oca, que comigo
seria bem diferente.
O problema, ou talvez a minha salvação, é que a vida me fez ser
uma pessoa resistente. Antes de cometer uma loucura, a minha cabeça me
lista todos os motivos que tornam uma ideia ruim.
Em seguida, eu me vi dando tapinha nas minhas costas por não ter
pegado o senhor olhos verdes. Quis me esconder quando Dante apareceu na
nossa frente, quis que alguém me matasse quando vi que eles eram amigos.
Foi ali que percebi que poderia ter sido mais maleável com o cara, que
poderia tê-lo tratado como faço com todos os outros que me abordam com
cantadas e convites explícitos.
Fui seca com o cara e ele poderia simplesmente ter me feito perder
o emprego. Senti-me diminuída e desconfortável sendo olhada pelos dois,
mais pelo senhor olhos verdes, pois sei como manter o outro controlado. Eu
queria não precisar desse trabalho de garçonete. Queria não ter que suportar
o olhar vitorioso.
Sobretudo, queria não ter ouvido sua afirmação, em tom de
ameaça, de que poderia ter conseguido o meu nome de qualquer forma. No
fim, saiu vitorioso com o meu nome, mas sem qualquer intenção de fazer algo
com isso, já que, segundo ele, sou resto de outro homem.
Fiquei recolhida a minha insignificância, impotente e tremendo de
raiva e frustração por não ter feito um terço do que queria com o babaca. Se
não estivesse na posição em que estou, teria mostrado para ele o que faço
com caras do seu tipo.
Conforme fui me acalmando, e pensando com mais clareza no que
aconteceu, acabei chegando à conclusão de que poderia ter sido muito pior.
Ele poderia ter feito queixa de mim para o amigo, e o influenciado a me
mandar embora. E por mais que Dante diga que gosta de mim, e tente reatar
um namoro que nunca daria certo, sei o quanto tem a mente fraca. Não tenho
certeza de que não faria o que o outro pedisse.
Ao voltar a servir mesas, depois de ter passado mais tempo do que
o necessário secando os copos a pedido do gerente, que sempre me dá uma
colher de chá, agradeci a mudança de ares, pois não aguentaria ficar parada
no balcão pensando e correndo o risco de ter que lidar com mais idiotas.
Quando tenho a minha bunda apalpada, ao menos não sou
obrigada a ouvir bobagens.
Servi mesa por mesa, aceitei as gracinhas com mais resignação,
porque estava cansada demais para sequer me irritar. O tempo todo, tive a
sensação de que havia olhos famintos em cima de mim. Não só a sensação,
porque espichava o olhar e o flagrava olhando para a minha bunda.
Quando me deparei com o senhor olhos verdes no balcão, quase
babando nos meus peitos, tive a certeza de que estava ali atrás de sexo,
embora pudesse sentir um cheiro levemente enjoativo vindo dele. Além de
tudo, eu ainda seria a segunda da noite.
Agora que estou sendo obrigada a servir a ele e ao Dante, que não
vai deixar o ocorrido passar em branco, não consigo não me sentir grata,
porque embora tenha feito o mínimo, agiu com decência ao não pedir a minha
cabeça para o amigo. Estou sendo generosa ao tentar esquecer que me
humilhou antes.
É de conhecimento geral que homens têm egos frágeis. Quando se
vêem atingidos, eles pensam em vingança. Esse, se pensou, não a executou.
A parte minha que se sente humilhada e diminuída? Essa eu prefiro deixar de
lado por enquanto.
— As bebidas que os senhores pediram. Três copos com cervejas,
duas águas com gás e gelo.
Com o corpo sendo tomado pelo espírito da vadia burra, fico muito
perto do homem mais bonito da mesa quando chega a vez de colocar a água
com gás na sua frente.
Ele não disfarça o olhar de interesse. Eu aproveito para me curvar
mais do que deveria, dando-lhe uma visão do meu decote. Já que gostou
tanto dos meus seios, talvez essa seja a minha forma de agradecimento por
ter livrado a minha barra, depois de uma situação que ele mesmo provocou.
A ideia era provocar um pouco, mas então sinto o cheiro do seu
sabonete e fica difícil lembrar que sou uma mulher vacinada contra o fogo no
rabo e fraqueza por babacas desse tipo.
— Obrigada... — sussurro. A minha voz sai com uma rouquidão
sexy sem que eu tenha planejado fazer isso. Morder a sua orelha é o ápice da
ousadia.
Quando me ajeito, não tenho coragem de olhar para ele, e nem
para os outros ocupantes da mesa, dentre eles o meu ex.
Será que viram alguma coisa, ou consegui ser discreta?
É a pergunta que me faço quando, nervosa como uma adolescente,
volto para o meu lugar.
Tudo bem, acho que preciso lavar mais uns cem copos para me
acalmar. Estou tremendo de medo e excitação. Sim, excitação.
Como não poderia ser, se agora mesmo estou imaginando-o
mordendo bem mais do que uma orelha?
Parece que a minha vacina contra babacas está vencida.
O problema de decidir agir com inteligência é fazer menos sexo do
que estou acostumada. A falta de sexo está me fazendo tomar atitudes
perigosas. Será que a abstinência também é responsável pelo interesse no rei
dos babacas?
Sim, minhas amigas, esse macho, cujo nome não guardei quando
foi mencionado, é o rei dos babacas. O presidente eleito com honra, e só
precisei de alguns minutos de conversa mole — dele — para chegar a essa
conclusão.
E o que mais atrai a presidente das mulheres que têm dedos
podres? Sim, vocês acertaram.
A boa notícia?
Antes de vir para cá, eu li o horóscopo no jornal que encontrei no
metrô. No meu signo dizia que terei fortuna. Bom, isso pode se tornar verdade
se eu assaltar um banco. Mas também estava escrito que terei uma boa
notícia. A boa notícia é que não precisarei mais ver o presidente dos babacas.
É no que prefiro acreditar, considerando que nunca tinha esbarrado
nele nos dois meses que comecei a trabalhar aqui no bar.
Quanto às bobagens sobre o amor que está por vir, optei por
ignorar. Não é que eu seja uma pessoa cínica que não acredita, apenas não vi
bons exemplos. Além do mais, acredito que o amor entre homem e mulher é
superestimado.
Pelos minutos que seguem, a lavação dos copos faz com que eu
me acalme e esqueça um pouco do macho gostoso e impertinente. Eu não
precisaria estar fazendo esse trabalho, mas Lulu, o gerente, decidiu me deixar
aqui na maior parte do tempo. Não sei se é solidariedade feminina, embora
ele seja um homem gay, ou se não deseja que eu roube todas as atenções.
Se depender de mim, pode ficar com todos para ele.
Os meus olhos traidores espicham até a mesa dos caras. Vejo ele
se levantando para ir embora. Apesar da distância, parece que vi o senhor
presidente piscando para mim.
Poxa, ele poderia passar a mão na minha bunda, e em outras
partes, que eu nem iria achar ruim.
Sabe a mulher gelada que falou com ele? Então, ela é uma farsa
para espantar otários. A diferença é que a minha boceta carente gostou desse
em específico.
— Eu preciso falar com você. — Dante me arranca dos meus
pensamentos.
E lá vamos nós de novo!
— É sobre trabalho? — pergunto com inocência.
— Não. Não é sobre trabalho, gata — fala o que eu já sabia. Dante
tem um sério problema de aceitar um não como resposta.
Um homem mimado que não fui capaz de resistir, e depois me
arrependi.
— Então não temos nada para falar — aviso, voltando a secar o
meu copo.
— Sim, você tem — diz, segura o meu braço de uma forma que
não gosto, e pedi que não fizesse mais. Quando ver a forma como encaro a
sua mão, ele acaba a afastando. — Perdoe-me por isso. Vamos para a minha
sala? As pessoas estão nos olhando.
— Tudo bem. — Acabo me rendendo, seco as minhas mãos e vou
atrás dele.
O Maresias em si é um bar muito sofisticado, grande e, geralmente,
frequentado pela alta sociedade. Os pais do Dante são ricos, então ele não
precisava trabalhar, tanto é que não trabalha. Ele não está aqui todos os dias
e só aparece quando quer me vigiar de perto.
Todas as vezes que penso que foi um erro ter procurado ajuda com
ele, me lembro que eu precisava disso, que não estou em condições de
dispensar, ou escolher melhor um trabalho. Melhor ter que suportar ele a não
ter dinheiro para pagar todas as contas no fim do mês.
Quando chegamos à sua sala grande, arejada e pouco usada, ele
indica o sofá para que eu sente. Nego com a cabeça, pois não acho que
ficarei tempo suficiente para precisar me acomodar.
— Fale logo o que você quer, Dante. Ainda tenho muito trabalho
para fazer antes de terminar o meu turno — aviso, o homem de olhos e
cabelos castanhos dá de ombro e vem para perto de mim.
Perto demais, muito mais do que eu gostaria.
— Prefere lavar centenas de copos, ser apalpada por
engraçadinhos a ficar um tempo aqui comigo? — pergunta como se a ideia
fosse um ultraje.
Ele se acha irresistível, e o fora que dei nele nunca foi superado.
Deve ser por isso que não me deixa seguir com a minha vida sem esbarrar
nele o tempo todo. Até quando não quer, causa incômodo. Dante tinha
mesmo que ser amigo daquele homem. Eu não estava, mas se estivesse
considerando transar com o cara, teria mudado de ideia quando os vi se
cumprimentando.
— Dante, não tenho que preferir nada. Aqui é o meu trabalho. E por
mais que você tenha dificuldade de aceitar, nós não temos mais nada. O
nosso namoro acabou!
— Só porque você quis — rebate.
— Sim, porque eu quis. Porque você me traiu, porque estávamos
sempre brigando, e porque a gente sabe que nunca iríamos dar certo juntos.
Nós dois estamos em fases diferentes das nossas vidas. — Sou tão clara
quanto é possível, não pela primeira vez.
— Eu vi a forma como você e o Harper se olharam no bar. Parecia
que ele iria pular em cima de você a qualquer momento. — O homem muda
de assunto, ignorando por completo tudo que falei antes. — Será que se ele
tivesse avançado o sinal você teria gostado? Sim, porque não parecia que
estava o repelindo o suficiente. — As suas palavras me fazem ficar com ódio.
— Cuidado com o que fala, Dante Dutra. Está me desrespeitando!
E se eu tivesse a fim de dar para o seu amigo, o que você tem a ver com
isso? — ataco. — Você não tem mais nada com a minha vida.
— Manu, por favor... — Mais uma vez, Dante chega perto e segura
o meu braço com firmeza. Eu não sei se ele se dá conta de que costumava
fazer isso com frequência, e nem o quanto sempre me incomodou.
— Solte o meu braço! — Quando faz, olho para o local para
garantir que não ficou avermelhado.
— John Harper não é homem para você, querida. Ele queria
apenas transar e seguir para a próxima. Inclusive, eu o vi fodendo uma garota
do lado de fora, minutos antes de conversar com você.
— Sei me cuidar — aviso. Não sei por que estou incomodada com
a informação que acaba de me dar. Não estava na cara do homem que ele
era um cafajeste? — Se era isso que queria falar, a nossa conversa termina
por aqui.
— Fique longe dele, Manu. — O seu aviso tem tom de ameaça. Eu
saio da sua sala batendo a porta, sem me dar ao trabalho de responder.
E fica cada dia mais claro que pedir ajuda para ele foi uma péssima
ideia. Eu preciso urgentemente arrumar um jeito de pular fora desse barco.
Talvez um novo emprego, que me pague mais do que recebo no atual, seja a
solução dos meus problemas.
— Pode deixar que eu fecho o caixa hoje, Manuella. Você já fez o
suficiente. — Por que tenho a impressão de que ele não está se referindo
apenas ao trabalho?
Mas também não vou reclamar. A noite de hoje foi
movimentadíssima, e estou com o corpo e a mente cansados.
— Boa noite para quem fica. — Pego a minha bolsa e me despeço.
Como todo castigo para pobre é pouco, ainda tenho que ficar na
frente do Maresias esperando o carro de aplicativo chegar. Quando eles
dizem que chegam em cinco minutos, quer dizer que vão chegar em quinze.
— Vem, deixe-me te levar para casa. — Agora parado na calçada
na minha frente, nem percebi de onde ele surgiu, pois estava mexendo no
celular, Dante me dá o sorriso que me fazia derreter, antes de perceber que o
seu charme não compensava as suas falhas.
— Estou bem. Vá para casa — digo. Além do mais, não quero ficar
mais próxima dele do que o extremamente necessário. Assim o cara não vai
me deixar em paz nunca.
— Para de ser teimosa, Manu. Eu posso te levar em casa. É
perigoso para você ficar tão tarde sozinha aqui fora.
Assim que ele termina de falar, quando eu estava prestes a negar a
carona, recebo a notificação do aplicativo, avisando que o motorista vai
demorar dez minutos.
Esperar vinte minutos? Nunca! Ainda tenho que acordar cedo para
resolver um monte de coisas amanhã.
— Tudo bem. Eu vou com você — digo.
No caminho para casa, eu e Dante não nos falamos muito. Pelo
menos ele me conhece bem o suficiente para saber quando não estou de bom
humor. Para melhorar o clima, ele liga o som do carro, mas a música me deixa
prestes a cochilar.
Nos despedimos com um simples boa noite, eu me lembro de
quando dormia no seu apartamento, que era tão perto de tudo.
As luzes da casa estão todas apagadas, então vou direto para o
meu quarto. Ele está mais arrumado do que quando saí. Mamãe sabe que
não gosto quando faz isso, mas hoje estou grata. Nada me fará mais feliz do
que um bom banho, depois uma cama limpinha, cujos lençóis acabaram de
ser trocados.
Quando saio do vapor quente do banheiro, vestindo uma camiseta
folgada, cheirosa e hidratada, deixo que o meu corpo aterrisse na cama. Os
meus olhos estão pesados, mas a minha mente, mesmo cansada, não para.
Me pergunto em que momento da minha vida tudo começou a dar
tão errado. Onde foi parar a garota cheia de sonhos?
No fim, quando me jogo nos braços de Orfeu, os pensamentos de
autopiedade somem, e fica apenas um par de olhos muito verdes. Sonho com
ele pela primeira vez, mas não a última.
CAPÍTULO 3
JOHN
— Bom dia, senhor Harper! Aqui está o seu café duplo
sem açúcar. — Correndo atrás de mim enquanto atravesso o
corredor, a minha secretária consegue me irritar com o barulho que
os seus saltos fazem.
— Obrigado, senhorita Mendonça. — Pego o copo de sua
mão, entro na sala e coloco a pasta sobre a minha mesa. — Quais
são os meus compromissos para hoje? — indago, mas os meus
olhos estão no celular. É sempre bom dar uma olhadinha nas redes
sociais para saber se minhas aventuras não se tornaram públicas e
escandalosas.
— O senhor tem uma reunião às onze horas com os
diretores, às quatorze com os Ribeiro de Castro para discutirem os
detalhes sobre o início da obra do shopping. Às dezessete... — Ela
hesita.
— O que tenho às dezessete? — indago, desconfiado.
— O senhor precisa entrevistar as candidatas para
ocuparem o meu lugar enquanto eu estiver de licença-maternidade.
Sabe que essa é a minha última semana, não sabe?
— Tão rápido?
Eu estou surpreso de como o tempo passou rápido, ou
talvez não esteja preparado para ficar tanto tempo sem a minha
secretária.
Carla Mendonça é uma mulher muito bonita de trinta e
cinco anos. Tentei transar com ela logo que chegou à empresa, mas
a mulher me colocou no meu lugar e, desde então, passaram-se
três anos de parceria. Ela é ótima, e eu não sei como vai ser a
minha vida sem essa mulher.
— O senhor não pode se livrar disso — diz.
— Eu sei, mas não quero ter que perder o meu tempo
com entrevistas — afirmo. — Vamos combinar assim: as candidatas
passam pelo RH. No fim da seleção você me traz uma pasta com o
currículo das três melhores. De toda forma, a escolha final será
minha. Satisfeita?
— Satisfeitíssima. E tome o seu café antes que esfrie —
fala e vira-me as costas. Acho que vou sentir falta dela.
— Senhorita Mendonça, passe na sala do Pietro e peça
para ele vir aqui, por favor.
Sozinho, me recosto na cadeira. De olhos fechados, jogo
a minha cabeça para trás. A verdade é que não acordei direito.
Fiquei mais do que deveria no Maresias. Bebi e não encontrei o que
fui procurar por lá.
Na semana passada levei um fora da mulher mais
gostosa que me lembro. Para piorar, o ex dela, meu amigo de longa
data, apesar de não sermos mais tão próximos, me pediu com todas
as letras para ficar longe dela.
Ele não pôde se segurar, mas sabe que adoro desafios.
O seu pedido, que mais pareceu uma ameaça, aumentou a vontade
de trepar com a mulher de gelo. Por isso, voltei ontem. Eu tinha a
intenção de tentar mais uma vez, embora me dissesse o tempo todo
que estava sendo idiota, e nunca tinha agido daquela forma por
causa de uma boceta qualquer.
Ela estava com o seu avental e saia curta, mas o bar é
bem grande, e a morena de pernas compridas serviu mesas do
outro lado do salão. Preferi observar, ao invés de abordar a gata
arisca mais uma vez, e correr o risco de sair com o meu ego
abalado.
Foi divertido notar as suas caretas para as cantadas que
estava ouvindo dos caras. Às vezes, a morena sorria e falava
alguma coisa. Teve um momento que a vi atrás do balcão sendo
cercada por Dante, e eles pareciam que não estavam se
entendendo bem. Fiquei me perguntando o que de fato existia entre
eles, porque o aviso que deu foi de um cara com ciúme.
Frustrado, e decidido a não me aproximar, aceitei as
investidas de uma ruiva que estava na mesa ao lado da minha. Sem
muita conversa, a chamei para a minha mesa, bebemos e
terminamos a noite transando em um hotel.
— A noite não foi boa?
Quase caio da cadeira com o susto que levo.
Assombração a essa hora da manhã, o que fiz para
merecer?
— Tales, meu querido priminho, a que devo a honra da
sua visita? — O meu sorriso é debochado, porque nós somos tudo,
menos amigos.
Sempre fomos isso, dois homens brigando por espaço.
Quando éramos crianças brigávamos pela bola, quando éramos
adolescentes disputávamos garotas. Hoje a gente briga por algo
muito mais valioso, a construtora Harper, que pertence à família há
gerações.
Ele pensa que existe uma disputa por aqui, mas sei que
não é verdade.
— Vim ver se você está bem, depois do que aconteceu —
fala com falsa preocupação.
— E posso saber o que aconteceu? — Tales tira o
aparelho celular do bolso, mexe por alguns segundos e depois o
joga nas minhas mãos.
A minha bunda branca e calças arriadas até metade das
coxas estão estampadas em todos os perfis de fofoca local. A
imagem mostra claramente um homem e uma mulher fazendo sexo.
Felizmente, não dá para ver o meu rosto, ninguém está afirmando
que sou eu, mas existem as especulações.
Para quem me conhece de verdade, não há dúvida de
que sou eu, considerando que o sinal do lado esquerdo da bunda é
uma herança de família.
— O que quer com isso? — pergunto ao jogar o celular,
com mais força do que o necessário, em sua direção. Tales custa a
impedir que o aparelho faça um galo bem no meio de sua testa.
— Os nossos avós vão amar.
— Você não...
— Já mandei a foto para eles. Boa sorte quando
chegarem de viagem na semana que vem.
A história da nossa família funciona basicamente como a
maioria das que têm muito dinheiro envolvido. Todos nós nos
amamos, mas também fingimos que não faríamos quase tudo por
controle e poder.
Os meus avós paternos, os Harper, herdaram a
construtora de seus avós, e o controle dela foi passando de geração
para geração. Hoje o poder está nas mãos do meu pai, mas por trás
de tudo estão não só os olhos de águia, como as mãos do meu avô,
o senhor Gregory Harper.
Ele é uma raposa velha, mas também é muito
competente. Elevou o nome da Harper em todo o território durante
os anos de gestação e, certamente, não iria dar tudo de mão beijada
para o meu pai. Jonathan é um diretor-presidente mediano, tanto
que, aos 52 anos, pediu que meus avós começassem a procurar um
substituto.
Nunca foi falado abertamente para não deixar um clima
ruim com a tia Marta e o meu primo Tales, mas é de conhecimento
de todos que eu sou o neto preferido, e mais competente, dos meus
avós. A minha mãe sempre dizia isso quando eu era criança. Diz até
hoje, embora eu consiga perceber.
A presidência do grupo, cuja sede passou a ser aqui em
Curitiba, depois que meus avós se mudaram de Washington para o
Brasil com os filhos há um pouco mais de vinte anos, nunca esteve
em disputa, pelo menos, não para mim.
Eu sempre trabalhei duro para ser o diretor-presidente do
grupo Harper. Me formei em engenharia civil, administração, e fiz
diversos cursos de design com o intuito de me preparar para quando
o dia chegasse. Sempre estive certo de que ele chegaria.
De uns tempos para cá, sinto que talvez eu tenha uma
pequena, mas incômoda, pedra no meu sapato. Já tem um tempo
que percebo que Tales ambiciona mais, que não está satisfeito em
ser apenas o terceiro no comando, principalmente por estar abaixo
de mim, que sou o vice-presidente.
Tales não é nada com que eu não possa lidar e, por mais
que tente, é bem óbvio quem de nós dois tem o perfil e a
competência para estar à frente de uma empresa de família tão
grande e milionária. E mesmo se ele fosse um grande problema, eu
não hesitaria em tirá-lo do meu caminho para chegar aonde mereço.
Não nadei tanto para morrer na praia.
Sou capaz de qualquer coisa para ter dinheiro e poder.
— Mandou me chamar? — Ouço Pietro. Olho em volta e
fico surpreso que o Tales tenha saído e eu nem o vi. Meu amigo
abre a porta, e olha para os lados antes de fechá-la. É advogado,
mas age como se nos reuníssemos na minha sala para planejar
crimes.
Não chega a ser isso, mas também não é nada que
queiramos que outras pessoas escutem. Se nos ouvissem,
saberiam que não valemos nem o preço da agulha que costura os
nossos ternos de grife.
— A minha transa foi filmada por algum idiota. — O
assunto que me fez chamá-lo até aqui era referente a trabalho, mas
esse assunto se tornou muito mais urgente.
— Você quer os parabéns pela performance? Eu já vi a
sua bela bunda branca, meu caro. E que bunda, parabéns.
— Obrigado, mas eu não estou atrás de elogios, que o
Nicolas não gostaria de ouvir — provoco.
— Ele sabe que não sou cego.
— Mas ficará sem emprego se não me ajudar a resolver
essa merda! — afirmo e, talvez, a frase contenha um pouco de
drama e exagero.
— De quem é o corpo que vamos ter que esconder?
— Estou falando sério, Pietro! Tem ideia do problema que
posso ter? Não era para isso ter acontecido.
— Olha, não gosto de ser o tio chato que diz “eu avisei”
depois que a merda já aconteceu, mas eu pedi que você fosse mais
cuidadoso nessa sua fome de fazer merda pelo menos três vezes
ao mês. Agora, tem que torcer para o vídeo não ir parar nas mãos
da sua avó.
— E por que exatamente você acha que estou assim,
gênio? Ela já viu! — digo, afrouxando o nó da minha gravata.
Quem inventou isso devia transar de meias. Odeio ter
que usá-las aqui na empresa.
— Tão rápido assim? Eles estão fora do país, cara —
comenta.
Sim, eles estão, mas a vontade que o meu priminho tem
de me foder é grande demais para que possa se segurar. O merda
pensa que com isso vai conseguir algo.
— O Tales mandou o vídeo para eles. Conhecendo-o
como conhecemos, sabemos que ele não está blefando —
constato.
— E o que você pensa em fazer?
— Me diga você — devolvo.
— Tudo bem, vou dizer. — Ele ajeita a postura e a voz. —
Não há nada que possa ser feito. O vídeo é claro, e nele você está
fodendo do lado de fora de um bar com uma mulher que não é nada
sua.
O meu melhor amigo não é conservador, não pensa que
sexo vem atrelado a algum tipo de compromisso, mas a minha avó
é. Para ela, os melhores homens são aqueles que sossegam na
vida, que se casam, têm milhares de filhos e nunca mais olham para
outras mulheres depois que se casam.
Ela segue a filosofia de que um homem casado é um
homem sossegado. E um homem sossegado trabalha com mais
competência.
— Você terá que se casar com a moça do vídeo. Gostou
do meu plano? — Pietro está brincando, mas sinto o meu sangue
congelar nas veias do mesmo jeito.
A questão da família e do casamento é tão enraizada na
mente da minha avó que eu sempre tive aversão a isso. Por alguma
razão muito louca, sempre tive medo de que um dia ela pudesse
chegar com uma noiva para mim. Com vestido branco e tudo, pronta
para me arrastar para o altar.
— Eu não sei nem o nome daquela mulher — aviso.
Mas bem que lembro do nome da morena emburrada do
Dante...
— Bom, aí fica mais difícil para a gente — ele diz.
A gente. Desde que saímos do colégio, Pietro e eu
sempre fomos “a gente”. Os nossos pais são vizinhos até hoje,
então ficou meio impossível não nos tornarmos melhores amigos.
Estudamos o colegial juntos, e apesar de não termos escolhido os
mesmos cursos, ingressamos na mesma universidade.
— Gosto de como você sempre tem ótimas ideias, Pietro.
Aposto que o Nick se apaixonou pela sua inteligência — brinco para
provocá-lo.
Não tem muito o que fazer mesmo nessa situação. Se
tivesse, ele já teria dito. O advogado tem a mente mais maliciosa e
sagaz que já conheci. É com ele que conto para me tirar das
encrencas, porque sempre tem planos excelentes.
— Tudo bem, vamos falar sério agora. Acho que você
está se preocupando demais. Sempre deu os seus deslizes e no
máximo recebeu uma bronca da vovó Érika sobre como se
comportar. Não pense que o seu comportamento da semana
passada irá comprometer a sua chance de chegar à presidência.
— Minhas chances?
— A certeza de que você irá chegar — ele se corrige,
mas não deixa de revirar os olhos para a minha arrogância.
Pietro, ao contrário de mim, vê perigo em tudo. Ele não
acredita que será fácil, apesar da predileção dos velhos. Para ele,
Tales pode ser mais do que uma pequena pedra no meu sapato.
Estou começando a desconfiar que esteja certo.
— Eles chegam de viagem na semana que vem, e os
próximos meses serão dedicados à escolha do sucessor do papai.
Nós temos que estar preparados — aviso, Pietro arqueia a
sobrancelha.
— Diga isso para o seu pau. Tente mantê-lo dentro das
calças e, com certeza, você vencerá na vida — aconselha, mas o
tom é sempre de ironia. — Posso voltar para a minha sala, senhor
futuro diretor-presidente das construtoras Harper?
— Deve. Hoje nós temos duas reuniões, isso você já
deve saber, mas aposto que não sabe que tenho que escolher a
nova secretária — digo, enquanto ele se encaminha para a porta.
Pietro, como um excelente fofoqueiro, se volta para mim.
— A senhorita Mendonça já vai entrar de licença-
maternidade? Espero que o babaca do noivo a peça em casamento,
agora que será pai.
— Você é mesmo um fofoqueiro. Nem eu sabia que a
minha secretária tinha um noivo.
— Ele é um gato, por sinal. Mas tem cara de que não vale
o chão que pisa.
— Chega, Pietro! Pode dar o fora. — O que é que eu
tenho a ver com a vida da minha secretária?
Tudo bem que a Carla é um amor de funcionária, mas ela
é só isso, uma funcionária competente, assim como tem que ser a
sua substituta.
— Faça uma escolha consciente, John. Não precisa ser
uma mulher gostosa que vai te fazer cair em tentação aqui na
empresa. Se isso acontecer, pode dar adeus aos seus objetivos,
porque isso, sim, seria algo que a senhora Érika não perdoaria.
Depois de duas reuniões longas e cansativas, estou
pronto para dar o meu expediente por encerrado mais cedo. Já fiz o
que tinha para hoje, e para que mais serve esse cargo se não para
ter algumas regalias como sair mais cedo?
Que os meus avós nunca me ouçam falando algo assim.
Quando eles estiverem no país, depois de dois anos viajando como
dois adolescentes, terei que bater o ponto no horário como qualquer
outro funcionário.
Começo a juntar as minhas coisas e a arrumar a minha
mesa quando ouço o telefone tocar.
— Pode falar, senhorita Mendonça.
— Eu estou com o currículo das três melhores
candidatas. Posso levar para que dê uma olhada? Não precisa
escolher hoje.
— Tudo bem. Seja rápida, porque estou com um pouco
de pressa — para ir tomar uma boa cerveja, penso, mas não digo.
Trinta segundos depois, ela entra na minha sala com as
pastas. Até parece que tem pressa para se livrar de mim.
Qual é? Eu sou um ótimo chefe!
— Aqui está. Eu dei uma olhada, e acredito que qualquer
uma delas será uma ótima escolha, apesar de ter feito todas as
minhas apostas em uma em especial — fala com um sorrisinho
malicioso.
— E eu posso saber o porquê disso?
— Porque estou com o senhor há anos. Sei bem como
gosta de mulheres bonitas.
Ela não espera a minha resposta, apenas vira as costas e
sai, deixando-me com as pastas na mão.
Primeira: Ana Clara, 25 anos, não tão experiente, mas
formada em administração e vários cursos na área que podem me
ajudar quando as minhas responsabilidades aumentarem.
É solteira, bonita, mas nem tanto. Isso pode ser bom para
mim, pois não preciso que a tentação fique do outro lado da minha
porta, principalmente neste momento.
Segunda: Berenice, 42 anos. Trabalhou em outras
grandes empresas como secretária, e possui cartas de
recomendações. Essa parece que sabe o que fazer, seria uma
excelente escolha. O seu currículo é bem extenso, então passo para
a próxima e última.
Terceira: Manuella Ortega, 32 anos. Acabou de terminar
vários cursos profissionalizantes, incluindo o de secretariado
executivo, recursos humanos e telemarketing. Até semana passada
trabalhava como secretária em um escritório de advocacia.
De todas, o seu currículo com certeza é o mais pobre. Ela
não tem tanta formação, muito menos experiência, então imagino
que deve ter algo nela que impressionou muito os entrevistadores.
Eles são rigorosos na seleção, afinal, queremos os melhores a
altura do bom salário que pagamos.
Bom, acho que já tenho a top 3.
Antes de soltar a folha com desinteresse, os meus olhos
sobem para o topo dela, mais especificamente para o conto
esquerdo.
Manuella Ortega. Aquela Manuella, a morena gostosa e
gelada, que me faz sonhar com seus peitos e pernas longas e
torneadas. Com a sua bunda na saia fajuta que usa como uniforme
de garçonete.
Vendo-a através de uma foto 3x4, e com a possibilidade
que se forma na minha cabeça, não sei o que pulsa mais forte: o
meu coração, ou meu pau.
Bom, acho que já tenho a minha top 1. A minha nova
secretária.
CAPÍTULO 4
MANUELLA
Horas antes...
Quando você se sentir trouxa, lembre-se de mim, que me
demiti do meu último trabalho e, ainda por cima, desisti de cumprir o
aviso prévio, o que significa que não recebi o dinheiro que poderia ter
recebido.
Às vezes, não sou nada sensata. Deixo-me levar pelo estresse
do momento e acabo fazendo merda. Mas a semana passada foi a gota
d’água. Eu era apenas uma secretária de um dos advogados da porcaria
do escritório, mas todos os dez me pediam para passar oferecendo
cafezinho três vezes ao dia.
E não era porque gostavam muito de café, faziam pura e
simplesmente porque queriam me olhar por mais tempo, como se eu
fosse um pedaço de carne exposto em um açougue. Não estou sendo
convencida, quem me dera se o desconforto que eu sentia fosse apenas
invenção de uma mente narcisista.
E o desconforto nem era a pior parte, já que aprendi a relevar
esse tipo de situação no escritório, assim como faço no bar do Dante na
maior parte do tempo. O que me fez cansar, e demorou uns anos para
isso, foram os pedidos que não tinham qualquer relação com o meu
trabalho.
Quando dei por mim, estava pagando boletos das escolas dos
filhos de alguns deles, mentindo para as esposas traídas, que ligavam
para perguntarem dos maridos. E trabalhava para o inimigo quando
escondia as flores para algumas amantes.
Se ao menos ganhasse bem para ser a empregada de todos,
teria aguentado por mais tempo o papel de cúmplice de traição e babá.
Agora estou livre dos velhos safados, mas também na rua da amargura,
cheia de conta para pagar.
Mesmo estando livre há uma semana, continuo acordando às
seis da manhã todos os dias. Fico fritando na cama até a hora de me
levantar, pensando em qual buraco irei me enfiar hoje para procurar um
emprego.
Estou tentando de tudo, até ofícios abaixo da minha
qualificação, que consiste em vários cursinhos profissionalizantes, alguns
feitos a distância. O problema é a pouca experiência, porque acredito
que quem trabalhou em tudo, não trabalhou em nada. Procuro um cargo
de secretária, mas os entrevistadores olham o meu currículo e percebem
que nunca fiquei no mesmo emprego durante muito tempo. Mas não
tenho culpa se todos eram ruins.
— Chega de lamentações, Manuella. Não adianta chorar pelo
leite derramado — sussurro para mim no quarto da casa dos meus pais,
que eu ocupava quando era criança.
Perdi o meu lugar aqui quando me casei sete anos atrás. O
quarto passou para a minha irmã mais nova, mas agora ela está sendo
obrigada a dividi-lo com a irmã de trinta e dois anos, que está divorciada
e falida.
Procuro não pensar que perdi nove anos da minha vida em um
relacionamento fracassado, porque, quando faço isso, chego à conclusão
de que prefiro virar lésbica a ter que voltar a lidar com o sexo oposto.
Da adolescência até os meus 23 anos, tive muitos namorados.
Namoros que duraram anos, outros que não passaram de uma noite de
sexo sem compromisso. Não posso dizer que não curti a minha
juventude, porque estaria mentindo. Dei mais do que chuchu na serra e
nunca estive sozinha.
Sentia que precisava de alguém ao meu lado. Na minha
cabeça, uma pessoa sozinha não se bastava, não era feliz por completo.
Deve ser por isso que transformei o primeiro sapo que
apareceu na minha frente em príncipe encantado.
Lucas sempre foi um homem bonito e charmoso. Aos trinta e
oito anos, a sua beleza parece ter aumentado, mas a parte de dentro
pode jogar fora que está podre.
Ele é professor, e eu o conheci em uma sala de aula. A escola
profissionalizante era frequentada por garotas entre os dezesseis e vinte
anos, mas eu tinha vinte e três.
Ele me achou interessante, já que eu era a única na sala com
quem podia conversar mais do que duas palavras e ser entendido. Eu
achei o máximo que o professor fosse tão jovem e bonito.
A mulher que buscava conhecimento ficou apenas um mês,
dentre os doze que durou o curso, sem transar com o professor. Nos
onze seguintes, fingimos bem que éramos apenas aluna e professor. Se
eu não estivesse tão apaixonada por Lucas, teria percebido que o fato de
ele ter se envolvido comigo, sua aluna, era no mínimo questionável.
Foi um ano de caso clandestino, onde mais transamos do que
conversamos. Ele trabalhava tanto que não tinha tempo para mim.
Quando o curso acabou, namoramos por mais um ano, depois Lucas me
pediu em casamento e eu não hesitei na hora de aceitar.
Os sete anos morando na mesma casa mostraram com
bastante clareza o que os dois anos de namoro não foram capazes.
Morávamos de aluguel em um apartamento perto da escola onde ele
dava aula, mas tínhamos as nossas vidas separadas. Ele, com sua carga
de trabalho, só tinha tempo para mim aos domingos.
Eu trabalhava, mas também tinha que ser dona de casa em
tempo integral. Alguém me culpa por ter começado a ficar cansada
demais para fazer sexo?
A verdade é que o casamento só funcionou nos primeiros dois
anos, depois vieram mais cinco de pouco sexo, pouca comunicação e
comodismo. A pior parte era sentir que a culpa era minha. Eu não era
boa o suficiente.
Lucas e eu não falávamos em separação, ambos insatisfeitos,
mas nenhum disposto a mudar de vida. Ele, sem que tenha sido preciso
uma conversa, resolveu por nós dois quando me traiu com uma de suas
alunas.
Não peguei no flagra, mas a bobinha, querendo tirar a chifruda
do caminho, me mandou as fotos dos dois na cama. É óbvio que ele
negou, mas fui irredutível quando pedi o divórcio, e não aceitei um não
como resposta.
Estamos separados há um pouco mais de um ano, mas
oficialmente divorciada há oito meses.
Percebi que a minha vida havia regredido quando precisei
voltar a morar com a minha mãe e minha irmã. No último ano, o meu pai
sofreu um acidente vascular cerebral e acabou falecendo.
As duas precisaram do meu apoio, por isso estou aqui. O
apoio também é financeiro, porque o papai, com os seus sessenta anos,
era o provedor da casa. Ele sempre trabalhou no comércio para dar o
melhor para mim e para a filha que teve em idade avançada.
Por mais que mamãe sempre tenha costurado para fora, hoje
em dia sou eu quem sustenta a nossa casa. Se já achava o salário do
escritório uma miséria quando era casada e tinha o Lucas para dividir as
despesas, depois da separação e morte do papai, ele passou a ser uma
piada de mau gosto.
O que tenho agora é uma pequena reserva, que não pode
acabar, porque não quero ter que recorrer ao golpe do baú. Por isso
tenho que me levantar, ao invés de ficar me lamentando.
Saio com cuidado para não acordar a Mika. Faço a minha
higiene, e antes mesmo de tomar café, abro o computador na página de
anúncios de emprego. Anoto os cinco melhores, até mesmo aqueles que
são tão bons que não teria a mínima chance de eu ser contratada.
Os dois primeiros me fazem sentir saudade do escritório, além
de torcer para não receber a ligação deles. Não sei qual a necessidade
de mentir tanto no anúncio. O terceiro é bom, bom demais para me
permitir sonhar. A lista de exigências para o cargo era extensa, mas
decidi arriscar. Das vinte candidatas, suponhamos que eu tenha ficado
no top 18. Tenho certeza de que duas ali eram piores do que eu.
Na quarta tentativa, tenho vontade de rir, porque não é
possível que tenha mesmo cogitado a ideia de entrar em um prédio tão
alto e elegante quanto esse. A placa “Grupo Harper” brilha mais do que o
sol. Na portaria, penso pelo menos umas cinco vezes em voltar para
casa.
— Posso te ajudar em alguma coisa, senhorita? — A moça da
recepção é tão bonita e arrumada que poderia ser capa de revista.
— Eu vim para a vaga de secretária — digo com coragem.
Se estou aqui, não custa nada tentar. O não eu já tenho, agora
vou correr atrás da humilhação. Dou uma risadinha, a moça me olha com
a cara de quem se pergunta se sou louca.
— Aguarde ali. — Aponta para algumas cadeiras a frente,
todas ocupadas por umas trinta mulheres. É dessa vez que pego o top
30. — O processo já vai começar, você deve ter lido... — Não, eu não li.
Tinha acabado de acordar.
— Claro que li. Então vou... me sentar com as outras. — Saio
um pouco desconcertada, o salto alto entortando no piso limpo e
escorregadio, e a minha saia justa demais.
Os meus cabelos não deveriam estar soltos. Todas elas estão
com os fios presos.
— Bom dia. Perdoe-me.
Falo as palavras algumas vezes enquanto passo batendo no
joelho das colegas até chegar a única cadeira vazia.
Como ainda não começou, aproveito para ver mais um pouco
a respeito da vaga no celular. Primeiro tomo um susto com a informação
que deveria saber. Se eu conseguisse, trabalharia como secretária do
vice-presidente da empresa. Depois engulo em seco quando leio sobre
as três etapas do processo.
A primeira é com o chefe do RH, a segunda com um tal de
Tales, diretor financeiro e, por último, com a senhorita Mendonça, a atual
secretária do senhor Harper, que está saindo de licença-maternidade.
Bem no final da explicação, em letras pequenas, está escrito que é um
trabalho temporário.
Não que eu tenha algo a dizer sobre isso, pois sou capaz de
apostar que seis meses de trabalho aqui equivaleria a dois anos de
salário nos meus empregos anteriores.
A primeira entrevista me deixa mais tensa, principalmente por
eu ser uma das últimas e por ver os rostos das minhas concorrentes
quando saem da sala. Elas não parecem muito confiantes.
Na minha vez, tento falar sem gaguejar, e não mostrar
nervosismo. O homem careca e sisudo faz perguntas da minha vida
profissional e, finalmente, tenho a chance de gastar o meu inglês fluente.
Um ponto a meu favor. Ele me explica sobre o salário, que para mim
equivale a uma fortuna, sobre a carga horária, e esclarece quais as
responsabilidades que eu teria com o senhor chefão.
Deve ser um senhor fofo!
Quando sou dispensada, finalmente entendo por que todas
que vieram antes de mim saíram cabisbaixas. O senhor RH mantém a
expressão tão neutra que é impossível saber se ele gostou ou não
gostou de mim.
Quando todas são entrevistadas, esperamos mais alguns
minutos de pura tortura. Somos informadas de que quinze de nós irão
para a segunda fase. Para o meu espanto, sou uma delas.
Somos dispensadas para almoçar. O lugar é tão maravilhoso
que recebemos passe livre para comermos de graça no refeitório da
empresa.
As comidas são muito sofisticadas e, por alguns minutos,
enquanto almoço, finjo que sou tão rica e poderosa quanto todos que
estão no salão.
Às duas da tarde começa a segunda rodada com um dos
chefões. Dessa vez, sou uma das primeiras. Surpreendo-me com a
beleza de Tales Harper, e me questiono qual será a aparência do meu
futuro chefe. Olha aí! A confiança começando a aparecer.
O cara pode até ser bonito, mas o ar de prepotência é irritante.
Ele faz perguntas pessoais que extrapolam o profissionalismo, e não
para de olhar para os meus peitos, para as minhas pernas e todo o resto.
Pergunta até mesmo o meu estado civil. Mais uma vez, porque a
pergunta já havia sido feita pelo senhor RH.
Saída da boca dele, a pergunta parece ser um pré-requisito
para o cargo.
Ele me deixa acreditar que tenho chances, ou talvez estivesse
apenas brincando comigo, considerando que o que aconteceu na sala
passou longe de se parecer com uma entrevista.
Apenas oito são selecionadas para a etapa final, eu sou uma delas.
— Boa tarde, senhorita Ortega. Sente-se.
— Obrigada — falo para a senhorita Mendonça, obviamente
grávida.
— Vou ser sincera com você, assim como fui com as outras.
Você passou pela parte mais difícil quando falou com o RH, e embora
não entenda o porquê de o senhor Tales ter se metido no processo, com
certeza sem o consentimento do senhor John, quem vai dizer se você
terá um futuro aqui sou eu. Se vou gostar das candidatas que me
mandaram, porque sei que são competentes. Se não fossem, não teriam
chegado até aqui.
— Entendo — falo.
Deixo de fora a informação de que não sei se o senhor Tales
avaliou a minha competência, enquanto me olhava com malícia e fazia
perguntas pessoais.
— Fale-me de você. Manuella.
A senhorita Mendonça, não sei por que essa gente precisa ser
tão formal, além de bonita, passa um ar de segurança, de mulher forte.
Deve ser por isso, por me identificar com ela, que acabo esquecendo que
isso aqui é uma entrevista, não um papo entre duas amigas. Cinco
minutos depois, quando mal comecei a falar das minhas histórias, ela já
está chorando de rir, enquanto apoia a mão na barriga.
Também dou boas risadas, mas choro um pouco por dentro,
porque sei que esse emprego não será meu. Não é a primeira vez que
sou tombada pela minha língua grande.
— Então quer dizer que você não quer saber mais de
homens? — indaga. Parece não acreditar, mas é porque não se deparou
com um Lucas e um Dante na sua vida.
— Não. Se eu tiver que me casar, será com uma mulher —
afirmo, convicta.
— Não me diga que é lésbica — Carla Mendonça parece
chocada, mas também interessada.
Será que quer que eu crie o seu filho e assuma uma família
com ela? Pelo que falou, o namorado é um traste.
— Ainda não tive a oportunidade de experimentar o sexo,
embora tenha beijado uma amiga quando estava bêbada anos atrás,
mas tenho certeza de que não deve ser pior do que lidar com um homem
— desabafo. Estou tão à vontade que até a minha postura relaxou.
— Com certeza não é pior, Manuella. E aqui entre nós, o meu
chefe é um babaca completo. Se acha a oitava maravilha do mundo, mas
é gente boa.
— Ele é bonito? Não posso ficar perto de homem bonito.
Sempre que acontece, fico burra e esqueço que não transo mais com
homens.
Ela, que já deve ter me descartado e está me vendo como
uma confidente, assim como eu a vejo no momento, faz um relatório
completo do cara. Ele parece tão cafajeste que o meu dedo podre, e
outra parte do meu corpo, pisca.
— Eu gostei muito de você, Manuella Ortega — diz, depois de
trinta minutos de conversa.
— Eu também gostei de você. Espero que me ligue mesmo. —
Aponto para o celular onde acaba de salvar o meu contato. — Agora eu
tenho que ir, porque a luta continua — falo, e me levanto.
— Luta?
— Sim, ainda preciso arrumar um emprego. De que forma eu
irei sustentar a minha futura esposa? — Brinco.
— Manuella, você não vai procurar um emprego.
— Não vou?
— Não. Você era exatamente o que eu estava esperando.
Acho que vai se dar muito bem com o senhor Harper, e embora a
escolha final seja dele, algo que diz que você será a escolhida.
Quando a Mendonça termina, eu só quero sair pulando e
gritando para comemorar. É bom demais para ser verdade, mas parece
que finalmente os meus dias de glória chegaram!
CAPÍTULO 5
MANUELLA
— Mika, abra essa porta, pelo amor de Deus! —
Descabelada, e um pouco tonta por causa do porre de ontem à
noite, esmurro a madeira gasta da porta do único banheiro da casa.
Hoje eu começo na construtora, acordei cedo com dor de
barriga de nervoso, e só preciso usar o banheiro para fazer o
número dois e começar a me arrumar, não precisa ser exatamente
nessa ordem. Estou neste estado há uma semana, desde o dia que
John Harper me escolheu como sua secretária.
Todos os dias eu acordo com medo de olhar o celular e
ver nele alguma ligação, ou mensagem me dispensando. Sei que é
neura da minha cabeça, mas é bom demais para ser verdade. Ainda
não estou acreditando no salário e nem em todos os bônus. A carga
horária perfeita e o fato de não precisar ir trabalhar aos sábados e
domingos me faz querer chorar de alegria.
Ainda não falei com o Dante, mas espero que essa seja a
minha última semana no Maresias. Não posso continuar trabalhando
de garçonete até de madrugada e ainda acordar cedo para o turno
de secretária.
A melhor parte disso tudo? Livrar-me dele.
— Mamãe! Se essa garota não abrir a porra da porta, eu
vou arrombar! — grito para a dona Abigail, que está na sala. Ela
acorda cedo para conseguir dar conta de fazer os consertos das
clientes.
O bom de ter uma mãe costureira é que ela faz a maioria
das minhas roupas.
— Calma, mulher, parece que vai tirar o pai da forca. —
Mika sai toda linda, rebolando a bunda de tanajura.
Aos vinte e cinco anos, a minha irmã mais nova não tem
outra obrigação além de estudar. A nossa mãe se mata em uma
máquina de costura para bancar os seus estudos, mas eu não
reclamo disso, porque vejo que Mika se esforça para fazer valer o
suor da nossa mãe. É muito vaidosa, namora uns três caras ao
mesmo tempo, sem que um saiba do outro, e eu morro de saudade
da vida sem preocupações que levava antes de me casar com o
Lucas.
— Esqueceu que hoje é o meu primeiro dia? — digo para
ela antes de me trancar no banheiro.
Na frente do espelho, depois de usar o vaso, fico
pensando em como me vestir hoje. Quero causar boa impressão,
mas não tão boa assim. Quero que me notem, mas não que babem
em cima de mim.
Sabendo que no meu caso não tem como usar o meio
termo, porque sou muito bonita para passar despercebida, decido ir
mais básica e sem graça possível. Dessa forma o meu chefe não vai
me olhar com cobiça, e eu não serei obrigada a me policiar para não
cair na tentação da carne se for gostoso como a Mendonça falou.
Quando desço do carro de aplicativo e olho para cima,
sinto como se estivesse sido transportada para outro mundo. O
prédio é tão alto e imponente. Pelo pouco que vi na semana
passada, ele está à altura das pessoas que circulam dentro dele.
Diferente da primeira vez em que entrei com as orelhas
baixas, agora estou com o nariz em pé, segurando a pastinha com
os documentos que devo levar no RH para efetivar a minha
contratação. O meu bom dia para a moça da recepção tem um tom
mais firme, afinal, sou o braço direito do chefão.
Tudo bem, talvez eu esteja exagerando um pouco.
— Mantenha os pés no chão, Manuella. É por isso que
Deus não dá asas à cobra.
— Disse alguma coisa? — O homem na frente do
elevador pergunta. Deve ter por volta de cinquenta anos, e ainda é
muito bonito com os seus olhos claros e os fios de cabelos que são
uma mescla de prata e loiro escuro.
— Não. Eu estava falando sozinha — confesso quando
nós dois entramos no elevador.
Não tem ninguém além de nós dois dentro dele. Fico
olhando para cima, sem saber se puxo assunto, ou se permaneço
em silêncio.
— Será que vai chover hoje? — Olho de soslaio para o
lado, o homem parece um pouco desconfortável.
Quem foi que disse que é uma boa ideia puxar assunto
dentro de elevadores? É por isso que tem gente que não gosta. Na
verdade, o silêncio é subestimado demais. Eu adoro ficar em
silêncio.
— Não, a previsão é de trinta graus hoje. Duvido muito
que chova — comenta sem me olhar. Eu poderia só acenar e ficar
em silêncio. O homem só respondeu por educação, depois de muito
pensar se devia se dar ao trabalho, posso apostar.
— Daria para fritar um ovo na calçada. — É, tem gente
que não valoriza o silêncio.
— A senhorita é nova na empresa? É a primeira vez que
te vejo por aqui. Teria lembrado se fosse o caso — diz, eu não sei
se foi um insulto, ou uma cantada.
Deve ser uma cantada, já que me olha da cabeça aos
pés. O brilho de sua aliança está quase cegando os meus olhos.
— Estou começando hoje como secretária — revelo.
— Boa sorte. Você vai precisar.
— Vou? — Pergunto, mas não tenho tempo de ouvir uma
explicação, porque as portas do elevador se abrem no décimo
terceiro andar, o meu andar. Ele apertou para o décimo quarto, o
último andar do prédio.
Saio do elevador e me deparo com um corredor curto,
que tem três salas de cada lado. O piso é acarpetado, o lugar é tão
iluminado quanto um shopping. Do estilo que não dá para saber
quando é dia ou noite, se está chovendo ou fazendo sol.
De longe, percebo que a primeira sala é a do poderoso
chefinho. Na porta de sua sala tem escrito com letras grandes e
garrafais as palavras “John Harper, Vice-diretor”. Me pergunto por
um momento onde eu ficarei, mas tenho a minha pergunta
respondida quando ando alguns passos e me deparo com seis baias
do lado direito do andar.
Ouço telefones tocando e conversas femininas. Elas
parecem animadas e eu as odeio por isso. Quem acorda e fica
animada às oito da manhã? Aposto que todas acordaram às seis e
meia para se arrumarem e ainda chegassem a tempo.
Com a bunda em cima de uma mesa, a fim de conseguir
enxergar todas as outras, Carla Mendonça conversa e gesticula sem
parar. Todas as outras três sorriem de algo que a gestante falou.
Carla para de falar quando me vê parada as observando.
— Venha até aqui, Manuella. Não se faça de tímida,
porque sei que você não é.
Não sou mesmo. Se fosse, não teria a convencido de que
era a melhor para ocupar o seu posto, mesmo que não fosse de
verdade.
— Meninas, essa é a senhorita Manuella Ortega, a nova
secretária do senhor Harper. E como eu estava falando, sinto que
ela vai ser o terror do pobre coitado. — Novamente, todas sorriem
como se tivessem uma piada interna só delas.
Terror do pobre coitado? Por que eu sinto que esse
emprego, por melhor que pareça, foi um presente de grego?
— Olá, meninas — digo, ainda pensativa quanto a última
frase da Carla.
— Manuella, essa é a Teresa, a secretária do senhor
Tales, que é primo do seu chefe. Já te adianto que eles não são
exatamente amigos, mas eu e a Teresa não nos deixamos
influenciar pela rivalidade deles.
— Eu também não vou — apresso-me em dizer, mas já
não gosto do cara pela forma que me tratou na entrevista.
— Sara é secretária de um dos arquitetos mais antigos do
grupo, o senhor João Mendes. E Ana Julie é assistente do
engenheiro Thiago Góes. Com o tempo você vai conhecer cada
uma delas e se tornarão ótimas colegas de trabalho — diz. Acho
fofo o seu jeito de chefe da classe proletária.
— E o senhor Harper, quando poderei conhecê-lo? —
indago. Estou ansiosa para saber com quem terei de lidar.
Pela conversa da senhorita Carla quando fiz a entrevista,
eu terei que ser praticamente a babá do sujeito. Não que faça tanta
diferença, porque, pelo salário que pagam, eu poderia perfeitamente
limpar a bunda dele, ou ajudá-lo a esconder um corpo.
— Ela está ansiosa, meninas. — Uma das mulheres
comenta, as outras trocam olhares maliciosos. — Calma, garota.
Você irá conhecer o chefinho em breve. Boa sorte.
— Boa sorte? — Me volto para a Carla.
— Teresa só está te provocando, não dê ouvidos para
ela. Se te chamei, é porque tenho certeza de que se dará bem com
o senhor Harper sem se enfiar na cama dele. Esse é o único erro
que não pode cometer.
— É claro que não! — Falo com ultraje — Aprendi que
onde se ganha o pão não se come a carne.
Nem se o meu novo chefe fosse o Henry Cavill eu
arriscaria o meu emprego por causa de sexo.
Tá! Se fosse o Henry eu abriria uma exceção, mas só
porque ele é o meu sonho de consumo.
— Foi por isso que te contratei — comenta. Amo saber
que as minhas bobagens me ajudaram dessa vez. — Meninas,
depois vou contar para vocês sobre como a Manuella decidiu virar
lésbica.
— Sério? Se for verdade, eu me candidato para ser o seu
primeiro sexo. — Sara, li o nome no crachá preso a sua blusa
branca, pisca para mim, estica o pescoço e me olha da cabeça aos
pés. — Você é linda demais.
— Obrigada — agradeço, sentindo o meu rosto pegando
fogo de constrangimento. Já pensou se ela decide que vai dar em
cima de mim de verdade?
— Tem certeza de que fez a escolha certa, Mendonça?
Ela pode não querer transar com ele, mas John Harper não vai
resistir — Ana Julia afirma.
— Ele vai resistir, porque está focado na presidência. E
se não resistir, terá uma oponente à altura para colocá-lo no seu
lugar. Não é, Manu?
— Pode contar comigo.
Estou começando a achar que não pode.
— Tudo bem, vamos parar de fofocar! Daqui a pouco os
caras chegam e nos pegam fofocando. Vou tomar um café, e você,
Manuella, tem que ir ao RH. — Aponta para a minha pasta.
Enquanto entrego os documentos e termino o meu
cadastro, o senhor careca do RH fica me olhando estranho. Ele
deve estar se perguntando como eu, dentre todas as candidatas, fui
a selecionada. O processo não é rápido, e já se aproxima das dez
da manhã quando volto para o décimo terceiro andar.
A mesa da Mendonça está vazia, então eu tiro o porta-
retratos com uma foto minha, da minha mãe e minha irmã juntas e
coloco perto do computador. Quando volta do café, Carla se dedica
a me ensinar tudo o que devo saber.
— Entendeu? — pergunta, depois de uma hora falando
sem parar, e rápido o suficiente para eu me perder no meio da
explicação. Algumas vezes disse para tirar dúvidas com as outras
garotas, mas elas já estão focadas em seus próprios afazeres.
— Entendi — minto.
O máximo que entendi é que, se quero ficar até o
contrato acabar, devo ser dócil e leal como o cachorro ao senhor
Harper. Quando ela vai embora, prometendo não voltar aqui antes
do fim da licença, sinto um leve frio na barriga.
Os meus olhos vão para a porta do senhor Harper a cada
cinco minutos, mas ela continua fechada. Estou em dúvida se
chegou quando eu estava no RH, ou se ainda não chegou.
A minha dúvida acaba quinze minutos depois, quando o
telefone começa a tocar.
— Senhorita Ortega, pode vir até aqui, por favor? — A
voz, que não me parece estranha, causa um arrepio da cabeça aos
pés.
Parece voz de sexo, e nem sei se isso existe. Por alguma
razão estou nervosa, e as mulheres não me ajudam quando ficam
me desejando sorte.
O que é isso, um filme de terror?
O homem que se esconde naquela sala é alguma espécie
de monstro?
Não me dou ao trabalho de bater na porta, afinal, se me
chamou é porque está me esperando. Antes de prestar atenção no
homem, que tem a cabeça baixa e ainda não me notou, olho em
volta da sala. Ela não tem nada de mais.
Uma mesa grande, um sofá na lateral e ar-condicionado
em uma temperatura que faz parecer que estamos no polo norte.
Quando volto o olhar para o homem sentado à mesa, já estou sendo
encarada por um par de olhos verdes e um sorriso infame no rosto.
Primeiro eu sinto vontade de desmaiar aqui mesmo,
depois quero sair correndo e, por fim, quero bater na minha cara por
estar tão afetada por ele.
E daí se o meu novo chefe é o homem que tentou transar
comigo enquanto eu trabalhava de garçonete no bar de um ex-
namorado? Se ele me humilhou e depois fez a caridade de não
pedir a minha cabeça para o seu amiguinho?
Qual o problema de eu ter enfiado a minha língua na sua
orelha?
Porra, estou tão ferrada!
— Seja bem-vinda, senhorita Ortega. Eu diria que será
um enorme prazer trabalharmos juntos.
Puta que me pariu! Não pode ser!
CAPÍTULO 6
MANUELLA
O babaca gostoso do bar, mais gostoso do que antes,
vestindo terno e gravata afrouxada, está sentado na minha frente,
esperando que eu recolha o queixo que deixei cair e abra a boca
para dizer alguma coisa. Antes de tomar qualquer atitude, eu olho
para o teto e para os lados, tentando descobrir se não tem alguma
câmera escondida. Quem sabe não caí em uma pegadinha?
— Suponho que você ainda queira o cargo de minha
secretária. Não é por isso que está aqui? — O loiro de olhos
penetrantes e braços forte, consigo ver, mesmo por baixo de tanta
roupa, tem uma das sobrancelhas erguidas.
Ele sabia há dias que eu era a garçonete do Maresias, e
deve ter se divertido bastante.
— Na verdade, vim aceitar a sua proposta irrecusável de
alguns dias atrás — falo com impertinência, mas lembro com quem
estou falando e me recolho. — Esqueça o que acabo de dizer,
senhor Harper. Estou nervosa, mas muito feliz pela oportunidade de
trabalhar em uma empresa como essa.
— Não precisa de tanto formalismo comigo. Pode me
chamar de John — assevera.
— Tudo bem, John — falo sem sentir a menor falta do
“senhor”. — Se não tiver nenhum problema de a gente...
— A gente? — pressiona de propósito.
— De a gente ter tido aquele desentendimento no bar.
Espero que não tenha ficado chateado de ter levado um fora de
mim. Não é que eu não te ache agradável.
— Eu não levei um fora de você! — afirma, continuo
como se não tivesse ouvido. Só quero superar o início
constrangedor e partir para a parte do trabalho.
— Sou grata por ter feito o mínimo, e não ter me
entregado para o Dante — termino e respiro aliviada.
É isso! Assunto superado. O meu alívio dura pouco,
porque o homem se levanta da cadeira e, como se estivesse em
câmera lenta, o vejo abotoando um dos botões de seu terno e vindo
em minha direção. A firmeza da minha voz acaba quando as minhas
pernas ficam fracas. Olho para o homem da cabeça aos pés, e é
impossível que tenha feito isso de maneira discreta.
John não fica para trás, a cada passo que dá para perto
de mim é uma peça de roupa que me sinto perdendo. A tensão
sexual é tão grande que paira no ar. Isso aqui deveria ser apenas o
primeiro contato entre a secretária e o seu chefe.
— Não pedi a sua cabeça porque não valia o estresse e o
esforço. E está equivocada quanto ao fora que pensa que me deu
— diz, já bem perto de mim. — Se eu estivesse mesmo tão
interessado em você quanto acredita que eu estava, Manuella
Ortega, teria terminado aquela noite na minha cama, tomando o
meu pau na bocetinha até se cansar.
Tudo nele, a beleza que chega a ser injusta, o jeito de
quem faz tudo para conseguir o que quer, e que não tem cuidado
com as palavras, faz com que eu o odeie. Mas me odeio ainda mais
por me deixar afetar não só por suas grosserias, mas também por
suas palavras chulas, que fazem o meu corpo arder.
Eu sempre tive a mente no lugar. O meu corpo, por outro
lado, é o meu algoz.
— Está querendo me fazer desistir? Se for, eu...
— Não — ele nega ao me interromper. — Pelo contrário,
nós estamos resolvendo uma questão pessoal entre a gente, para
que ela não atrapalhe o nosso desempenho como uma equipe de
trabalho. Se tivesse dado tanta importância ao que aconteceu
naquela noite, minha cara, você não estaria aqui hoje, considerando
que eu soube quem era você no momento em que coloquei os olhos
no seu currículo.
— Acho que já deixou o seu ponto claro o suficiente, John
Harper. Estou aqui para servi-lo. — Cheia de uma ironia que pode
me custar caro, mas que não posso evitar, faço uma reverência.
Péssima ideia, porque, pelos segundos que dura, fico
com a cabeça bem próxima do seu membro.
— Está mesmo, senhorita Ortega? O seu futuro aqui na
empresa, talvez de forma definitiva em algum outro cargo, se provar
o seu valor, irá depender apenas de você.
— O que isso quer dizer? — questiono. Não vou gostar
da resposta, não tenho dúvida disso.
— Que você tem que ser cem por cento leal a mim em
todos os sentidos. É isso que eu espero de quem se torna um dos
meus olhos e braços dentro desta empresa. Isso aqui, Manuella,
não é brincadeira de criança, e logo vai entender do que estou
falando. — Enquanto fala, John vai andando, até que para atrás de
mim.
Não está me tocando — não ainda —, mas sinto o calor
do seu corpo emanando para o meu. As minhas costas estão
pegando fogo. Os meus braços estão arrepiados, porque este
homem é mais do que aparentava ser.
Pensei que fosse apenas um playboy, mas John Harper
fala e age como um mafioso, a sua fala trouxe a sensação de que
ele, e todos que estão aqui, fazem parte de um esquema criminoso.
Antes mesmo de ponderar no que implicam as suas palavras, falo:
— Serei o que você quiser.
O que o ser humano não faz para colocar um prato de
comida na mesa.
— Será mesmo? E se eu chegar com um corpo?
— Te ajudo a enterrar... — É, essa conversa está
estranha e indo longe demais.
— Gostei da sua disposição — fala mais perto do meu
ouvido. O dedo está sutilmente fazendo carinho no meu braço e eu
deixo.
Nada na nossa conversa parece apropriado, mas nada
sobre a forma como nos conhecemos foi.
Não sei exatamente o que está querendo com a
proximidade que me faz balançar, considerando que deixou claro
que não me quer como amante. Ainda bem para ele, porque seria a
última pessoa com quem eu iria para cama.
Além de ser um babaca, estou desesperada demais para
arriscar o meu lugar aqui por causa de uma noite de sexo, o máximo
que teríamos sem nos matarmos depois.
— Estou aqui para servi-lo, oh, grande mestre.
Sem deboche, Manuella!
— E como faria isso? Está me dizendo que está disposta
a suprir todas as minhas necessidades? — Insinua-se para me
provocar. Odeio a mim mesma por deixar que me afete tanto. Porra!
É só um homem como outro qualquer.
— Se queria uma prostituta, contratou a pessoa errada —
aviso.
Como um animal brincando com a presa antes de devorá-
la, meu novo chefe acaricia o meu braço e chega com o corpo mais
perto do meu.
Insensata de uma forma que sempre fico quando se trata
dele, empino levemente a bunda para trás e sinto a sua dureza.
Considerando a quantidade de vezes que causo essa reação em
homens aleatórios só de passar perto deles, não deveria me
impressionar com esse pau em específico duro por mim.
Incomoda-me um pouco o que está acontecendo aqui,
porque tudo em mim grita que não deveríamos seguir por esse
caminho, que ele não deveria se sentir à vontade para chegar tão
perto e eu não deveria gostar dessa proximidade.
Está tudo errado. E ele é um babaca.
— Mesmo se fosse a prostituta mais cara da cidade,
ainda assim, eu não ficaria com você. Com tantas mulheres por aí,
por que eu iria querer uma que deixou claro o que pensa de mim?
— Sim, você tem toda razão. — A firmeza na forma de
falar faz parecer que estou irritada, mas não estou. A bola está do
meu lado no campo agora, então me viro de frente para o loiro e,
com o rosto próximo ao dele, falo: — Fiz uma promessa há pouco e
vou cumprir pelo tempo que ficarei aqui. Farei tudo o que me pedir,
mas a nossa relação se restringe ao trabalho. Fora daqui, caso
venhamos a nos encontrar, você não será nada além de um homem
qualquer, que não tem direito nenhum de falar nesse tom comigo. A
gente nunca terá mais do que uma relação de trabalho, John Harper
— falo com clareza e convicção, a cabeça contrariando o corpo.
Sei que não deveria estar o atacando dessa forma, e não
teria feito isso se ele não estivesse fazendo o mesmo desde o
momento em que me viu. Se isso fizer com que eu perca o emprego
antes mesmo de começar, foda-se! Ele me irrita!
Não quero ficar mais na sua frente para não dar tempo de
ele pensar um pouco e me dispensar antes que possamos tentar.
Tento me afastar, mas John segura a minha mão e faz com que eu o
encare. Sei que está prestes a me demitir.
JOHN
Não sei onde eu estava com a cabeça quando olhei para
a sua foto naquele currículo e pensei que seria uma boa ideia tê-la
como secretária. Na verdade, a única cabeça que pensou foi a do
meu pau, que não tinha se conformado de não ter se enfiado na
boceta da primeira morena gostosa que o dispensou.
Ela está na minha sala não tem nem dez minutos, mas já
me confrontou como nenhuma outra pessoa sequer cogitou fazer. E
ao invés de me afastar, sinto-me mais interessado pela sua língua
ferina e com o fato de não se importar se sou o seu chefe antes de
abrir a boca para me atacar em resposta ao que sai da minha.
Por falar em boca, abro a minha para dispensá-la umas
três vezes, mas não consigo falar. Deve ser o fato de o meu pau
estar duro, pois apesar de me estressar, Manuella também me
excita.
Pensando bem, é melhor que fique, pois não correrei o
risco de transar com ela, como acabei fazendo com outras
secretárias que tive. Sinto-me um pouco atraído por Manuella,
afinal, é uma gostosa, mas basta que abra a boca para fazer meu
tesão por ela cair oitenta por cento.
Tudo bem que minha intenção era outra até dez minutos
atrás, mas agora vou mantê-la porque não tenho mais tempo para
perder procurando outra pessoa. Além do mais, Manuella e sua
língua ferina me manterão na linha aqui na empresa. Não tem
qualquer chance de ela acabar de quatro, levando o meu pau na
bunda deliciosa.
— Posso ir? — Manuella pergunta, depois de uns cinco
minutos me encarando em silêncio. Tenta fugir, mas seguro a sua
mão com mais firmeza. Vejo como ela olha assustada, então a solto
imediatamente.
— Perdoe-me — digo, Manuella acena com a cabeça. —
Seja bem-vinda.
Decido não responder às suas últimas afirmações,
porque sei que, se eu quisesse problemas, teria implorado para
transar comigo. Vou deixá-la pensando o contrário.
— Quer que eu te traga um cafezinho, ou um chá? —
pergunta com humildade. O ar de profissionalismo que acaba de
assumir nem de longe lembra da impertinência de antes.
— Aqui você não será a moça do café, Manuella. Quero
que isso fique claro.
— Tudo bem. — Parece surpresa. Pergunto a mim
mesmo o que ela tinha que fazer em outros empregos.
— A Mendonça deve ter falado com você sobre o que eu
espero, além do que conversamos minutos atrás, mas eu diria que
só precisa ficar atenta, sentada na sua mesinha e esperando por um
comando meu. Tem a minha agenda, então use o telefone quando
eu tiver um compromisso.
— Mais alguma coisa? — pergunta.
Ela, definitivamente, foi substituída. Que bom, tentação
longe e uma boa relação de trabalho.
— Está dispensada, senhorita Ortega. — Jogo uma
piscadinha, ela nem dá bola, simplesmente vira as costas. Posso
jurar que está rebolando a bunda bonita de propósito.
Eu quase fico vesgo olhando-a caminhar com seus saltos
altos e saia social preta muito justa em seu corpo. Manuella Ortega
é tão bela e elegante que uma roupa comum e sem graça a deixa
com cara de executiva gostosa.
— John, John... Você não vai perder mais uma secretária
porque não consegue segurar o pinto dentro das calças.
Merda! A impertinente havia deixado a porta aberta e
Pietro me flagrou a comendo com os olhos.
— Essa está fora de questão. Me irrita mais do que me
atrai. Além disso, não estou podendo cometer erros. Ortega está
aqui para ser única e exclusivamente a minha secretária — afirmo.
É estranho que ele não tenha se lembrado dela no
Maresias naquela noite. Vai se surpreender quando eu o relembrar
daquela noite.
— Que bom que tem ciência do que deve ou não fazer —
ele fala. Nós dois nos sentamos.
— O que faz aqui?
— Eu sei que devia guardar segredo, mas os seus avós
chegam hoje e pretendem vir à empresa te fazer uma surpresa.
— Que bom, estou com saudades dos meus avós —
comento.
— Agora, a notícia ruim. O seu primo, que se meteu no
processo de contratação da sua secretária para tentar te ferrar, foi
mais esperto e está espalhando para o mundo inteiro que está
namorando, e que pretende pedir a garota em casamento em breve.
Sabe o que isso significa?
— Tales está um passo à minha frente.
É claro que está. A nossa avó adora histórias piegas de
amor.
CAPÍTULO 7
MANUELLA
— Filha. — Tentei passar despercebida pela sala, mas
minha mãe me viu antes de eu entrar no quarto. — Como foi o seu
primeiro dia de trabalho?
— Maravilhoso — resumo tudo a uma única palavra, mas
nem de longe é a verdade.
— Que bom. Agora você pode sair daquele bar. Eu não
estava nem conseguindo dormir nas últimas semanas, preocupada
com você chegando tão tarde em casa.
— Dona Abigail, tenho trinta e dois anos, fiquei sete anos
casada e longe dos seus olhos. Sei me cuidar, não perca seu
precioso sono por minha causa — peço.
— Uma mãe nunca deixa de se preocupar, quando você
tiver filhos, vai entender.
Filhos? Mas eu não vou ter filhos. Penso comigo mesma.
Não ouso falar em voz alta, porque mamãe pode engatar no assunto
e nunca mais sair dele. Nós temos apenas o suficiente para
vivermos com dignidade, mas ela gosta de dizer que uma criança
nessa casa faz falta. Que traria mais alegria para nós três.
— Pois acalme o seu coração, porque daqui a pouco vou
ao Maresias falar com o Dante. Ele não vai ficar nada satisfeito com
a minha saída, principalmente quando souber que estou trabalhando
para o amigo dele.
— Seu novo chefe é amigo daquele seu ex que eu não
gostava?
Ela sempre foi contra o meu namoro com o Dante. Dizia
que um homem como aquele não queria nada sério comigo, que iria
me usar e depois jogar fora. Como o John falou, eu me tornaria os
restos do cara.
Abigail não estava errada, Dante não me ouvia, a gente
não se entendia em outro lugar que não fosse na cama. A minha
carência me fez ficar com ele durante meses, mas poderia
perfeitamente não ter passado de uma noite.
— Eu não te contei? — Ativando o meu modo fofoca,
porque não escondo quase nada da minha mãe, coloco a bolsa de
lado e me sento no sofá.
Acho que tenho tempo para conversar com ela antes de
descansar um pouco, me arrumar e depois sair.
— Não, e eu quero saber de todos os detalhes, mas algo
me diz que você está se metendo em confusão de novo.
E que confusão. Começo contando sobre a forma que
conheci meu atual chefe há alguns dias. Não deixo de fora o fato de
eu ter o dispensado da pior forma possível, mesmo que quisesse
muito dar para ele naquela noite. Mamãe fica horrorizada com o
meu linguajar, mas a vontade de saber de tudo é maior, por isso não
me interrompe.
Falo sobre a forma como o homem falou comigo do
momento em que entrei na sua sala até a minha saída.
— Manuella, eu sei que é um trabalho que vai te pagar
muito bem, que você quer esse dinheiro para me ajudar, mas não
sei se fez bem em continuar perto dessa gente. Do jeito que fala,
esse tal de John Harper não parece ser uma boa pessoa — ela fala,
depois de tudo o que ouviu.
— Ele não é uma boa pessoa, mãe, mas eu também não
sou — afirmo e antecipo do que vou ouvir a seguir.
Por sua causa, comecei a fazer terapia depois da
separação. Abigail simplesmente não sabia lidar com a pessoa que
eu havia me tornado, então tentou terceirizar o serviço. Quando falo
assim, ela deve se perguntar se não estou jogando o pouco dinheiro
que temos fora.
— Eu não gosto quando fala assim de si mesma. Age
como uma mulher forte e dona do próprio nariz, mas, no íntimo, e
apenas para as pessoas que estão perto o suficiente, gosta de se
menosprezar — fala, porque sabe como tocar na ferida.
Mas não estou me menosprezando quando digo que não
sou uma boa pessoa. É apenas a realidade. Nunca precisei
ultrapassar alguns limites para conseguir o que queria, mas farei se
for preciso para proteger a minha mãe e irmã.
— Tenho que ir descansar, dona Abigail. E, se não for
pedir muito, a senhora pode passar uma costura naquela minha saia
de couro? — Peço ao me levantar e pegar a bolsa.
— Qual? Aquela que quase deixa a sua bunda de fora?
— indaga, ácida.
— Essa. Os homens olham tanto quando estou com ela
que as costuras não suportaram e acabaram arrebentando —
brinco.
— Vai precisar dela para hoje? Você está saindo para
pedir demissão, não para uma festa.
— Quero estar bonita quando falar para o Dante que
consegui algo melhor, e não me refiro apenas ao salário.
— Filha...
— Relaxe, mamãe, sei como lidar com John Harper. —
Mando beijo para ela e saio para o quarto.
Eu não sei lidar com John Harper. Pelo menos, não da
maneira que gostaria. Primeiro ele me fez fazer promessas de
lealdade, sem me dar uma dica do que terei que fazer para provar
isso. Depois desdenhou de mim e do interesse que eu sei que teve
no bar. Posso ser um pouco convencida, mas não sou doida.
Depois o homem infernal começou a me tocar como se
pudesse. Eu, fraca, sentindo na dureza do seu pau a falta de
interesse, recuei um pouco e me recompus. Lembrei do meu lugar e
comecei a ser profissional.
O poderoso chefinho é um dos caras mais gostosos e
lindos que tive o prazer de ver. Não se trata da beleza física apenas,
porque gente bonita eu vejo todos os dias. Ele tem um charme a
mais na forma de se portar, de andar e falar. É um tesão. Um
molhador de calcinhas. Mas ele também é irritante, convencido e
insuportavelmente arrogante.
Em minutos, ele aflorou o meu lado que não leva
desaforo para casa, que não fica calada quando sou insultada, mas,
felizmente, consegui me conter. Dei uma resposta a altura do que
ouvi, depois lembrei que não podia perder o emprego. Sinto que, por
mais que ele mexa comigo, seja para irritar ou excitar, o medo de
perder o que conquistei vai sempre me impedir de fazer o que não
devo.
Terei sempre a voz da razão sussurrando no meu ouvido,
e é ela que devo escutar sempre. Todas as vezes que a ignorei me
fodi, mas agora vai ser diferente.
Saí da Harper às seis e meia da tarde, cheguei em casa
às sete da noite. Tirando a conversa com o Harper, o dia foi
tranquilo. Ele não precisou muito de mim, então fiquei na minha
mesa, fazendo o máximo de perguntas para as meninas sobre
trabalho. Às vezes parávamos para fofocar, então já sei da vida de
metade das pessoas que trabalham no prédio.
Sobre o John, não ouvi nada que já não imaginasse. Ele
é um mulherengo que fez algumas secretárias pedirem demissão.
Tudo porque ele não pôde deixar de enfiar o pau nelas e depois
deixar claro que era só uma noite para as pobres tolas.
A conversa ficou interessante quando as meninas falaram
da disputa pela cadeira de diretor-presidente do grupo.
Aparentemente, mesmo que não admita, John tem o primo como
concorrente. Elas me disseram que a briga está apenas começando,
e eu não vejo a hora de provar o meu valor para o chefinho.
Mesmo que não goste dele, não menti quando disse que
serei leal, e vou fazer o que for preciso para que consiga o que quer.
O fato de eu ser muito competitiva deve contar como um ponto a
favor de John Harper.
Depois de tirar um cochilo de uma hora, que me faz
sonhar com a conversa de mais cedo com o meu chefe,
principalmente quando tocou no meu braço e me deixou sentir que
estava excitado, sou eu quem acordo excitada. Tento pensar em
outras coisas por uns quinze minutos, mas de nada adianta.
Uma mulher de trinta e dois anos, acostumada com sexo,
mas que está há meses sem ser tocada, tem perdão por se sentir
tão sensível ao toque de um babaca qualquer. Ela tem licença
poética para pegar o seu brinquedinho de borracha e se tocar até
chegar ao orgasmo pensando no instrumento de seu chefe.
Quando o meu corpo relaxa sobre a cama, finalmente me
levanto para tomar um banho. Fico na ducha morna durante vários
segundos, e sem sentir culpa por ter me masturbado pensando no
meu chefe. Por que me sentiria se farei isso todas as vezes que
pensar nele e em sexo na mesma frase?
O vibrador será um ótimo aliado para me manter na linha
não só com ele, mas com outros modelos parecidos.
Antes de me vestir, faço uma maquiagem mais pesada,
marcando bem os meus olhos castanhos. Passo na boca um batom
vermelho que realça o tom moreno da minha pele. Deixo os meus
cabelos longos, e de ondas naturais soltos. O look que escolho não
é nem um pouco discreto.
Visto um sutiã branco que deixa os meus seios mais
empinados e por cima uma blusa branca levemente transparente.
Coloco a saia curta de couro que dona Abigail havia deixado sobre a
cama enquanto estava no banho. Arrumo a blusa branca por dentro
da saia e tenho um visual com um toque de elegância e
sensualidade.
Finalizo com saltos que me dão mais alguns centímetros
de altura.
Não deveria estar gastando roupas com o Dante, mas é
sempre bom poder mostrar o que ele perdeu por ser tão idiota. Se
eu tivesse percebido o quanto ele poderia ser tóxico e manipulador,
jamais teria olhado em sua direção, principalmente depois de ter
saído de um relacionamento cujo parceiro não me valorizava.
Às dez da noite, depois de mandar uma mensagem para
o Dante marcando um encontro, saio para esperar o carro de
aplicativo no portão.
— Vai para onde tão bonita assim? — O namorado da
vez da Mika pergunta. Eles devem estar vindo de algum motel, já
que nossa mãe não deixa a gente fazer safadezas em casa.
— Ao Maresias. Hoje é dia de me livrar daquele bar e do
Dante — aviso. É assim que me sinto. Fora do seu radar, vou
acabar de vez com as suas esperanças de reatarmos.
— A gente pode ir junto? — Minha irmã pede.
— Não. Boa noite — despeço-me e entro no carro que
acaba de chegar.
Por ser uma segunda-feira, o Maresias não está cheio.
Sento-me em umas das mesas perto da porta, porque quero sentir
de novo a sensação de ser apenas uma cliente, não a garçonete.
Gosto de ficar vendo o povo chegando.
Minutos depois, a minha paz chega ao fim quando uma
voz que conheço chama a minha atenção, mas sou rápida e coloco
o cardápio aberto na frente do meu rosto. John Harper acaba de
entrar. Ele está acompanhado de uma negra lindíssima e dois
homens, que parecem ser um casal. A mão do poderoso chefinho,
ao invés de estar na cintura, está agarrada a bunda da beldade.
Felizmente, eles se sentam o mais distante possível de
onde estou, então não preciso ficar me escondendo para que não
me notem.
Quer dizer...
Dante, que provavelmente estava na sua sala, os avista e
para na mesa para cumprimentar o conhecido. Nunca fui tímida,
mas coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha quando meu
chefe olha para trás e acena discretamente para mim. Segundos
depois, se volta para a mulher que o acompanha e começa a
conversar com ela.
O meu ex-namorado se despede e vem todo sorridente
em minha direção. Acho que o seu amigo não falou que estamos
trabalhando juntos, senão o sorriso já teria desaparecido.
— Oi, gata. O que aconteceu que não veio trabalhar
hoje? — Ele se senta e beija demoradamente o canto da minha
boca. O meu corpo reage pela lembrança de como éramos bons na
cama. O problema era fora dela.
— Eu vim conversar sobre isso com você. Não vou mais
ser garçonete do Maresias. Você sabe que vim porque queria uma
grana extra para as contas da casa, mas consegui um emprego
melhor e não vai dar para conciliar.
— Emprego melhor? — Bom, ele não parece feliz com a
minha conquista.
— No grupo Harper.
— Da família do John? — Ao meu lado, seu corpo fica
tenso.
— Sim. Mais do que isso, sou a nova secretária dele.
CAPÍTULO 8
MANUELLA
— Pare de brincadeira, Manu, esse é o tipo de piada que
não tem graça. — Dante fala isso tudo com um sorriso desdenhoso.
Não muito diferente do Lucas, ele nunca confiou no meu
potencial para nada muito além do emprego de garçonete. Para ele,
deve parecer que estou brincando mesmo.
— Eu não estou fazendo uma piada, Dante — falo, ele
continua com o sorriso idiota no rosto, e eu começo a ficar irritada.
— Uma empresa como o grupo Harper não contrataria
uma mulher sem qualificações como você — diz com convicção.
— E o que sabe sobre as minhas qualificações? —
indago. — Para você eu só sou boa em fazer sexo, não é?
— É o seu maior talento — afirma sem a menor
preocupação se está me machucando, ou não. Ele sempre foi
assim, eu é que nunca tive amor-próprio e continuei na relação
durante meses.
— Eu não vou ficar aqui ouvindo merda de você. Já falei
o que tinha que te dizer. — Quando vou pegar a minha bolsa, ele
segura o meu braço com firmeza em cima da mesa.
— Solte-me, senão eu vou fazer um escândalo aqui! —
falo com os punhos cerrados e o coração acelerado de raiva. Que
cara maluco.
Maluco, mas não burro. Olhando para os lados para
checar se não tem pessoas nos olhando, Dante solta o meu braço.
Eu passo a mão no local para fazer o sangue circular novamente.
— Perdão, querida. Eu não queria...
— Você nunca quis, Dante. Também não quis me
machucar daquela vez em que fomos a uma casa de show. Você
bebeu, e pensou que eu estivesse dando mole para outros homens.
Quando chegamos em casa, no meio de uma discussão, você me
empurrou com força suficiente para quebrar a sua televisão e
machucar as minhas costas — falo magoada.
— Depois disso você terminou comigo, mesmo depois de
eu ter dito que não iria fazer novamente. Eu implorei por perdão,
mas você se manteve irredutível — fala como se eu estivesse
errado de não ter voltado, mesmo depois do que aconteceu. Antes
disso, havia me convencido a perdoar uma traição.
Quando o conheci, Dante era diferente do homem que se
mostrou ao longo do namoro. Mesmo sendo bonito e rico, era um
cara inseguro e ciumento.
— Eu te perdoei, Dante. Tanto perdoei que mantive
contato com você, que vim te pedir ajuda quando precisei, mesmo
que no fundo soubesse que não era uma boa ideia, que poderia
pensar que eu estava querendo voltar para você.
— Sei que queria — diz, tenta me tocar, mas não deixo.
— Nunca quis — afirmo.
A minha mãe sempre me disse que a relação que a gente
tinha não era saudável, que nunca iríamos dar certo, mas eu estava
cega, carente de um pouco de afeto depois da separação. Perto do
Lucas, qualquer sapo viraria príncipe para mim. De alguma forma,
ainda me sinto presa, apesar do que acabo de falar.
— Você o quer. — Olha na direção do meu chefe. — É
por isso que está aqui me dizendo estas coisas.
— Não é nada disso! — falo entredentes, a minha
paciência está por um fio.
— Pensa que eu não noto a forma como ele te olhou, e
como você retribuiu como uma qualquer?
— Você está me ofendendo...
— Eu quero saber quantos dias levará para você vir
correndo de volta com o rabo entre as pernas. Pensa que está
fazendo um bom negócio se entregando para um homem mais rico
e influente, mas ele vai te comer e depois jogar fora.
— Ele não vai me tocar, e mesmo se fosse, você não
teria nada a ver com isso. John Harper é apenas o meu chefe. Não
vou repetir essa merda — assevero, pego a minha bolsa e me
levanto. Ainda bem que estou perto da porta. — Até nunca mais,
Dante. Não volte a me procurar.
— Fugindo? Pensei que fosse cumprimentar o seu chefe
— diz com desdém. Ainda acredita que estou mentindo.
Queria entender o que se passa na cabeça dele para
pensar que eu teria motivos para inventar uma mentira como essa.
Como se ser secretária do diabo fosse motivo de comemoração.
— E quem disse que eu não vou? — Em tom de desafio,
decidindo-me que não vou passar por mentirosa, marcho na direção
da mesa em que ele está. Bufando, provavelmente se dando conta
de que não deveria ter me provocado, Dante vem atrás de mim.
JOHN
Estou com meus amigos, vim acompanhado de uma gata
cujo número estava perdido na minha agenda de contatos, mas a
minha atenção está em uma mesa que nem posso ver daqui. A vi na
hora que entrei, embora tenha tentado se esconder da maneira mais
patética possível.
O que esperava que eu fosse fazer? Que largasse as
pessoas que me acompanham para sentar e bater um papo com
ela? No máximo eu seria educado, embora o seu nariz empinado e
língua grande me façam ter vontade de ser extremamente ácido
com ela.
Hoje na minha sala foi um exemplo. Primeiro, afetado
com a reação do meu corpo, quis a colocar no seu devido lugar.
Depois, quando não foi submissa como deveria, perdi a calma e a
tratei como não costumo tratar outras mulheres.
Não entendo por que ela me afeta. Até dia desses era
apenas uma garçonete que eu quis foder em um lugar qualquer,
agora é a minha secretária, que está mais fora ainda do meu radar,
sobretudo, agora que os meus avós estão de volta para a missão
para a qual estou mais do que preparado.
A minha vinda ao Maresias foi ideia do Pietro. Ele disse
que eu precisava me divertir e clarear os pensamentos antes de
agir. Da forma que fiquei quando soube do joguinho do meu primo
Tales, eu seria capaz de ir até a sua sala esganá-lo. Que tentativa
mais patética de chamar a atenção dos nossos avós para ele.
Por outro lado, apesar de ser patética, não é inválida. A
minha avó acredita em bobagens como o amor. Um homem que
aposenta o pau certamente agradará, embora eu seja contra a ideia
de misturar o pessoal com negócios.
— Você está pensando demais, meu caro — falando por
cima da música ambiente, Pietro alerta. — Se acalme, a sua avó
nem foi na empresa ainda. Temos tempo.
Pensei que fosse hoje e até comprei os chocolates e as
flores que a velha gosta, mas ela acabou adiando.
— Ela deve ir amanhã, e nós temos que estar
preparados. Vovó precisa ver que sou bom no que faço — digo.
— Quanto a isso, não tem com o que se preocupar, nós
somos ótimos — ele diz e bate o copo no meu, fazendo um brinde.
Do nosso lado, seu marido bate papo com a minha acompanhante
sobre moda.
— Você tem razão — digo, então puxo a gata para mais
perto e beijo o seu pescoço.
Hoje é dia de extravasar, de esquecer dos problemas na
empresa e liberar todas as minhas energias em um sexo gostoso e
demorado. Nesta noite, estou a fim de me demorar com mãos e
boca.
— Quer ir para um lugar mais reservado? — falo no
ouvido dela com descrição, esperando que entenda que estou a
chamando para um quarto de hotel.
— Na hora que você quis... — Ela para de falar quando
viro a cabeça para a mulher que está parada em pé na minha frente.
Como estou sentado, os meus olhos ficam na altura da
cintura dela. Para não perder nenhum detalhe, desço um pouco
para as coxas cremosas. Elas estão descobertas, porque a saia de
couro é curta demais. Eu não tenho nada para dizer contra a peça.
Só não está melhor porque não vejo a forma como molda a sua
bunda.
Levanto mais um pouco o olhar e paro na cintura fina,
escondida atrás de uma camisa branca levemente transparente. Um
pouco acima, o sutiã sexy, visível através do tecido, faz a minha
boca salivar e o meu pau sacudir. Fico tenso de uma forma que
ainda não tinha ficado para a minha acompanhante.
Quando chego ao rosto e vejo a maquiagem que diz “me
fode com força”, principalmente a boca, que posso ver perfeitamente
em volta do meu cacete, tenho a sensação de que ela é um elefante
e eu uma formiga. Para não ficar literalmente por baixo, levanto-me
da cadeira.
Porra de mulher gostosa! Insuportável, mas gostosa.
— Algum problema, Ortega? — indago, olhando dela
para o Dante.
Todas as vezes que os vir juntos, vou me questionar o
que uma mulher como ela viu no Dutra. Pelo pouco que vi, e o que
ele falou, ficou nítido que não sabe como lidar com mulheres.
— Nada, só vim cumprimentar o senhor — diz.
A maluca bebeu? Não estava me tratando de maneira
bem desrespeitosa para uma subordinada mais cedo?
— Então é verdade? — Ao lado da Manuella, Dante
pergunta.
— É verdade o quê? Vocês estão bêbados? — Aproximo-
me e observo de pertinho o rosto da morena. Pelo canto de olho,
vejo o Dante ficando tenso.
Ele está com ciúme?
— Levou ela para trabalhar com você? Por que fez isso?
— Dante... — Manuella tenta contê-lo. Olho rapidamente
para o lado e os meus companheiros de mesa nem piscam
observando a cena.
— Vai querer comer a minha namorada agora? Com
tantas mulheres por aí, iguais a esta que trouxe hoje, você teve
coragem de levar a Manuella para o seu covil? Ela disse, mas
pensei que estava falando só para me irritar — diz. O olhar da
minha secretária é de puro ódio.
Está quase saindo fumaça pelas orelhas dela. Imagino
essa braveza toda na cama...
— Ela estava à procura de um emprego, e eu de uma
secretária. O currículo era bom o suficiente, e quer você queira ou
não, a senhorita Ortega é minha agora... Minha secretária. — Algo
na minha fala fez o rosto dela suavizar, embora eu não faça ideia do
que. — Se era só isso, eu estava de saída. Vamos, gata?
— É claro. — Ela diz, se levanta e entrelaça o braço no
meu. Quando tento passar, Dante entra na minha frente.
— Não entre no meu caminho, Harper. Somos amigos,
mas podemos deixar de ser — ameaça.
— É você quem está no meu caminho. E sabe que só
não pego ela se eu não quiser — falo, mas na mesma hora mordo a
língua.
A morena não é um objeto para ser disputada desta
forma, sem que a sua opinião seja levada em consideração. Pela
forma que nos olha, está pensando a mesma coisa.
— Vocês dois, imbecis, parem com isso! — esbraveja.
Eu ia alertá-la sobre o seu tom, mas a sua voz dizendo
que fora da empresa somos iguais ressoa na minha cabeça.
— Eu estava numa boa, foi o Dante que veio aqui me
questionar por decisões que tomo dentro da minha empresa — falo
o óbvio.
— Ele não... esquece! Nós já estamos de saída, não é
Dante?
Por alguma razão, me irrito quando Manuella segura a
mão dele e o leva para longe. Enquanto a mulher ao meu lado fala
alguma coisa, eu fico observando os dois. Conversam gesticulando
muito perto da porta. Ela se aproxima, fala algo perto do ouvido do
Dante e se afasta na direção dos banheiros.
Noto que o homem estava preparado para ir atrás da
morena, mas o seu celular toca e ele sai para atender. Sabia que
era sem noção, mas não a esse ponto. Ele ia mesmo atrás da
garota no banheiro?
— Vamos? — Nina chama, eu olho para ela sem saber o
que fazer. Na verdade, eu sei, mas não quero.
— Espere-me só um instante? Já volto. — Dou um
selinho nos seus lábios e saio. Ela ficará bem na companhia do
casal chiclete.
Pietro fica em silêncio, mas com certeza terá algo a dizer
amanhã, quando chegar à construtora.
Assim que entro no banheiro feminino, vejo a mulher que
me tira do sério de todas as formas olhando no espelho. Parece
estar tentando conter a respiração e a irritação. Ela me vê
encostado na porta pelo reflexo e, através dele, sem se virar para
falar, diz.
— Perdoe-me pelo Dante. Ele só estava sendo um idiota.
Fui até você porque não estava acreditando que eu pudesse ter
conseguido o trabalho.
— E por que ele pensaria que você mentiu? — pergunto
ao me aproximar.
— Eu não quero falar sobre isso com você — finalmente
se volta para mim, olhando-me com a cabeça erguida.
Ela me enche de tesão, e não é só por ser bonita.
— E eu não quero que me envolva nas suas merdas. Da
próxima vez que acontecer, vou te demitir.
— Tudo bem, senhor Harper. Mais alguma coisa? —
Quando fala, com ar de superioridade, meu sangue ferve, então
puxo o seu corpo para junto do meu.
— Por que veio se encontrar com o otário do Dutra? —
questiono-a, mesmo sabendo que não tenho qualquer direito.
— Não é da tua conta!
— Fale.
Mas que porra eu estou fazendo? O que me importa se
veio beber com o ex? Ela não significa nada para mim. É só uma
funcionária.
Mas assim como eu não tinha necessidade de saber
sobre isso, a minha secretária não tinha de me responder e, ainda
assim, ela fará.
— Vim dizer que não vou mais trabalhar aqui no bar,
porque os horários seriam irreconciliáveis. O Dante ficou puto de
ciúme...
— Ciúme de mim? — Eu não fico surpreso, considerando
que o homem deve ter percebido a forma como fiquei interessado
na morena naquela noite.
— Pois, é. Achei que ele estava viajando, nós dois? Nada
a ver — fala, e sorri com desdém. Não consigo parar de olhar para a
boca que nunca chegará perto da minha boca, chego à conclusão.
Será que o brasileiro não pode ter um dia de alegria?
— Não pensou nem por um segundo? — insinuo-me.
O meu ego ainda não superou aquele fora. Eu estava
cheio de expectativas, e ela só pensava em lavar copos.
— Nunca — fala com convicção.
— Diga para os seus peitos. Os bicos estão acesos,
porque você está sentindo o meu pau duro na sua barriga.
— Devo te parabenizar por conseguir sustentar uma
ereção? — pergunta, mas não me abalo. Está entendendo tudo
errado.
— Estou assim por sua causa, não por ela — confesso,
embora me arrependa em seguida.
— Mas vai terminar a noite com ela. — Manuella não fala
como se o fato a chateasse, é só uma constatação.
— Vou, mas foi bom ver a forma como a minha secretária
se veste quando pretende pedir demissão — comento, sabendo que
estou prestes a entrar em um campo minado, mas sem a menor
vontade de retroceder.
Foi assim que agi quando decidi contratá-la, mesmo
sabendo que iria dar ruim.
— Assim como? O que tem com as minhas roupas? —
indaga, tenta se soltar, mas não permito. Gosto de abraçá-la assim.
Ela é pequena, mas ao mesmo tempo tem o tamanho perfeito para
mim.
— São ótimas, mas não é algo que se vista quando quer
dar o fora em um sujeito, seja ele de que tipo for. Parece que
pretendia encontrar com um amante, com quem desejava terminar a
noite quicando no pau.
— Eu não gosto dessa sua boca suja quando fala comigo
— avisa, vejo que está se segurando para não explodir. — Pensa
que é quem?
— Te deixei brava por dizer o óbvio? — provoco ainda
mais. Eu estou latejando por ela neste momento. Será que sente o
mesmo?
Será que o ódio causa tesão? Porque eu sei que está me
odiando agora, e mesmo assim estou tendo dificuldade para parar
de brincar com o fogo.
— Já que estamos fora da construtora, vou dizer o que
penso de você, mas tem que me prometer que não irá me demitir
por causa disso — a espertinha fala, eu tenho a minha resposta,
porque nunca entro em um jogo para perder.
— Prometo. Até que faça algo relacionado ao trabalho,
não vou te demitir.
— Tudo bem, você é um mimado metido. Pensa que
pode ter todas as mulheres aos seus pés, e não aceitou que eu não
quis você. Está com raiva porque queria que eu desse para você, e
não aceita que posso sair daqui e dar a minha boceta para um, dois
ou quatro homens. Posso, porque sou livre para fazer o que quiser
com o meu corpo, e eu te garanto que ele pode querer qualquer um
dos mais de cem homens que aqui estão, incluindo mulheres e o
Dante, menos você.
— Menos eu, não é? — falo com a boca a um centímetro
da sua, puto de raiva pelas coisas que acaba de dizer na minha
cara. Eu pedi, mas não pensei que fosse ir tão longe. — Você está
demitida!
— Por não querer transar com você? — fala com
petulância, amparada por uma promessa que eu não deveria ter
feito.
— Você me quer, Manuella — digo convicto. — Estou
sentindo as reações do seu corpo.
— Não quer... — Antes que tenha a oportunidade de
mentir mais uma vez, seguro com firmeza os cabelos de sua nuca e
esmago seus lábios com a minha boca.
Manuella leva exatos dois segundos para se recuperar do
susto, então, também segurando os meus cabelos — na verdade
está puxando — me beija de volta.
As nossas línguas estão se engalfinhando. Assim como
nós, elas não se entendem, ambas buscam dominar o beijo.
Quando dou uma mordida no seu lábio inferior, Manuella desacelera
e deixa o comando em minhas mãos.
Eu estou na porra do paraíso. Que beijo gostoso, que
língua macia, safada e que sabe como brincar. Quando uma de
suas mãos aperta a minha camisa na tentativa de nos deixar mais
colados, resolvo o problema ao levantá-la com um braço e a colocar
sentada na bancada de mármore do espelho.
Não preciso pedir para que abra as pernas, ela faz isso
voluntariamente. Afasto-me um pouco para ver a sua calcinha
branca e manchada com a sua umidade. A mulher está pingando de
desejo.
Eu me coloco no meio de suas pernas e a beijo
novamente, pensando que poderia fazer isso durante horas.
Quando perdemos o fôlego, desço a boca para o pescoço delgado e
o chupo por uns instantes. Mas Manuella, que parece adorar sexo,
se contorce na bancada, então aproveito para puxar o seu quadril
para a beirada.
Agora é a sua vez de chupar o meu pescoço. A pressão
que faz no lugar está impedindo que o sangue circule, mas manda
respostas direto para o meu pau. Precisando de alívio, começo a
esfregar o meu cacete na sua boceta. Movimentos de sobe e desce
em contato com a calcinha melada.
Manuella está tão entregue que joga a cabeça e o tronco
para trás, enquanto apoia as mãos no granito.
— Mais rápido... Isso, assim... — diz, eu me movo com
mais vigor.
Só queria que estivéssemos sem roupas, que fosse o
meu pau rasgando sua boceta. Caralho, só mais um pouquinho a
gente vai gozar!
Só mais um pouquinho...
— Ei, vocês dois... — Na hora que ouço a voz, me afasto
imediatamente. Manuella pula no chão.
Olho para o espelho e vejo que estou parecendo um
palhaço com a boca toda borrada de batom vermelho.
— Perdoem-me por ter interrompido — a moça fala.
— Não interrompeu, era só uma conversa — Manuella
fala, enquanto limpa a boca furiosamente com as costas das mãos.
Ela dá uma rápida olhada no espelho, depois sai correndo do
banheiro, me deixando duro e constrangido.
Penso em correr atrás dela, mas lembro não só da minha
ereção, mas também do meu rosto borrado de batom.
— Se me der licença. — A moça passa por mim e se
tranca na cabine.
Na frente do espelho, enquanto tento entender o que
aconteceu, pego um pedaço de papel, molho na água e me limpo. O
beijo foi tão longo e intenso que os meus lábios estão latejando.
Ainda bem que fomos interrompidos, porque eu e ela
teríamos feito uma grande besteira. Se fosse antes, a gente podia
virar um ao outro do avesso na cama, mas não agora que ela é a
minha secretária. A menos que eu... Não! Eu não vou tirar o
emprego da garota só porque quero foder com ela.
Quando saio do banheiro, não a vejo em lugar algum, e
não acho isso ruim. Não seria capaz de lidar com ela de novo. Mas
será que foi para casa com o idiota do Dante, depois de termos nos
beijado?
Não, Manuella não seria tão idiota. Se for, também não é
da minha conta.
Ao chegar à mesa, encontro a foda da noite em um papo
animado com os meus amigos, os três alheios ao que aconteceu no
banheiro. Sem muito dizer, pego a mão da negra bonita e a levo
embora do Maresias.
Eu poderia levá-la para casa e dizer que não estou no
clima, mas faço o oposto. No hotel, depois de beber algumas latas
de cerveja, e enquanto transo até a exaustão, tento convencer a
mim mesmo que só estou vendo e pensando na minha secretária
gostosa porque bebi mais do que devia.
Tento me convencer de que não daria tudo para que
fosse a senhorita petulante na cama comigo.
CAPÍTULO 9
MANUELLA
Depois de ontem, e de ter deixado que John me afetasse
mais uma vez, chego à empresa com uma baita ressaca. A minha
cabeça ainda está zonza. Não que eu tenha tido oportunidade de
beber no Maresias, fiz isso em casa mesmo, depois de ter saído
completamente desnorteada do banheiro.
Eu quis pegar um táxi, mas Dante estava na porta de
entrada esperando para me levar até em casa. Poderia ter dito não
depois de tudo pelo que ele me fez passar, mas não estava bem o
suficiente para iniciar mais um embate com o homem que sabe ser
insistente quando quer.
No caminho, quando me perguntou onde eu tinha ido
quando o seu celular tocou, falei apenas a verdade de que tinha ido
ao banheiro. Sobre o que fiz dentro dele, tentei fingir até para mim
mesma que não aconteceu. Bebi no meu quarto algumas latas de
cerveja, enquanto tentava não bater na minha própria cara, mas a
indignação e a vergonha não foram suficientes para apagar o que
aconteceu.
Não é que não tenha sido bom, porque, puta que pariu,
foi bom pra caralho. O homem me pegou com possessividade, fez o
meu corpo inteiro se arrepiar por antecipação e me beijou com
maestria. Na verdade, John me fodeu com a boca e me deixou
molhada muito rápido. Se já tenho facilidade para me excitar, ele
deixou a minha calcinha a ponto de sair correndo do meu corpo.
Naquele momento, depois de juntar a minha carência de
tanto tempo sem ser tocada por um homem com o quão bem o meu
chefe sabe proporcionar um amasso, eu quis dar para ele. Teríamos
transado ali mesmo se aquela santa mulher não tivesse entrado
para nos interromper. Se tivesse demorado mais um pouco, teria
nos pegado trepando.
Puta que pariu! Eu só queria uma provinha, não estava
pensando em todas as minhas resoluções sobre não dar ouvidos
para o meu fogo no rabo, que me coloca em problemas desde que
entendi, ainda na adolescência, que meninos não são apenas
irritantes, que eles têm um brinquedinho entre as pernas que podem
dar alegrias para nós mulheres.
Depois que fui dormir, não bêbada o suficiente, tive
sonhos estranhos com pênis e vaginas voadoras. Acordei uma
bagunça, e ainda não sei como olhar para o poderoso chefinho.
— Bom dia, senhora Luiza — digo para a moça da
recepção, tentando não fazer muito contato visual.
— Você está bem? — indaga, antes que eu esteja longe
o bastante. Aposto que o reboco de maquiagem no rosto não está
escondendo por completo a minha ressaca moral.
— Estou ótima! — digo, efusiva demais, e sigo para os
elevadores.
Enquanto subo para o décimo terceiro andar, espremida
entre várias pessoas, cujos perfumes caros se misturam, agradeço
por ninguém estar disposto a puxar assunto. O meu coração está
levemente acelerado pela perspectiva de ver o senhor Harper, de
olhá-lo depois de tudo, mas não há como fugir disso.
— Bom dia, meninas — digo para Teresa e Ana Júlia
quando chego na minha mesa. Aparentemente, Sara ainda não
chegou.
Elas me olham com cuidado. O que veem é uma saia
social com estampa de giz bem agarrada às minhas curvas, saltos
altos e uma camisa social branca. Os meus cabelos estão presos,
porque olhei no espelho e imaginei que isso poderia me deixar mais
discreta. Hoje não preciso chamar atenção para mim.
— Que cara é essa? — Ana indaga.
— A mesma de ontem — digo e jogo uma piscadela para
ela, que me responde com uma bola de papel na testa. — Está tão
na cara assim? Ontem eu saí daqui e bebi um pouco — falo.
— Parece que não dormiu o suficiente. A noite foi boa?
Parou com a história de que não quer mais saber de paus e
transou? — Teresa questiona. — É uma pena, porque a Sara ainda
tinha esperanças.
— Teresa! Pare de sonhar com o seu casal gay por um
segundo que eu quero ouvir a Manu — Ana pede.
— Ontem, o que aconteceu ontem? — Sara, que chega já
se metendo na conversa, se senta na sua mesa e se vira para nós.
Sentada, e fingindo que procuro algo dentro da minha
bolsa, me questiono como vou despistar as curiosas. Tenho a
impressão de que saberiam se eu mentisse, mas vou correr o risco.
Jamais diria que quase fiz a besteira de trepar com o chefe no dia
em que comecei a trabalhar para ele.
— Estamos achando que a nossa miss Colômbia saiu da
seca, depois de todo o discurso fora paus. — É Teresa quem
responde. — Eu já estava até tendo esperanças de ser convidada
para um trio com vocês duas. Seria uma ótima...
— Fale baixo, Teresa — peço, enquanto faço massagem
na têmpora com os dedos indicadores. — Eu não transei ontem,
mas foi quase. Estão satisfeitas?
— Na verdade, não. Queremos mais detalhes — Sara
pressiona. — Quem foi o cara? Era gostoso?
— Gostoso não seria o suficiente para descrever. Mas
também era o cara errado de todas as formas. — Levemente
empolgada, faço bom uso da cadeira giratória, dou as costas para a
minha mesa e me volto para as fofoqueiras.
Conheci elas ontem, mas parece que faz tempo. São tão
sem noção que acabei me identificando.
— Fale mais — Ana pede, eu me empolgo.
— Ele entrou dentro do banheiro feminino, me colocou
sentada na bancada do espelho e se meteu no meio das minhas
pernas. O primeiro beijo foi a minha perdição — tenho a sensação
de ouvir o som das portas de um dos elevadores abrindo, mas estou
empolgada demais para me importar —, aquela língua habilidosa
chupando a minha, o fato de sentir seu pau roçando em mim. Deu
até calor agora. Eu estava tão molhada que poderia...
— Bom dia, senhoritas. — Uma voz me interrompe. Nós
três voltamos imediatamente para as nossas próprias mesas.
O John, que não parece nem um pouco diferente do que
estava ontem à noite, está na minha frente, olhando-me com a
sobrancelha arqueada.
— Bom dia, John — digo com um sorriso amarelo no
rosto. As outras já estão batendo com os dedos nos teclados,
fingindo que estão trabalhando.
Safadas!
— Bom dia, Manuella. Me acompanhe, por favor — fala,
então segue para a sua sala. Eu não posso deixar de olhar para a
sua bunda e pensar em como ela fica bem com a calça social.
— Já estão se chamando pelos primeiros nomes? —
Uma delas comenta, enquanto pego minha agenda e caneta. Sigo
ele me perguntando o que devo fazer para não perder o emprego,
se é que ainda posso fazer alguma coisa.
— Sente-se, senhorita Manuella — pede quando fecho a
porta atrás de mim.
Ele está sentado atrás da sua mesa, se parecendo tão
poderoso quanto sei que é. Tento ser humilde quando não sou, não
de verdade.
— O senhor...
— Esqueceu-se que pedi para que me chamasse de
John? — indaga sem de fato me olhar, enquanto se entretém com o
seu computador.
— Não esqueci, John — falo.
— Que bom — diz sério, nem parece o cara que estava
com a língua dentro da minha boca algumas horas atrás.
Ele começa a passar comigo todos os seus
compromissos para o dia de hoje. Tudo muito profissional, como se
não tivesse acontecido nada ontem à noite. Eu estou bem satisfeita,
não falar sobre o assunto faz parecer que não aconteceu.
Ao me dispensar, quando estou quase correndo para a
porta respirando aliviada, Harper volta a me chamar. Ao invés de
ficar sentado, o homem vem para perto de mim. Chega bem perto
do meu corpo, me obriga a erguer um pouco a cabeça para ver o
seu rosto. Não existe espaço entre nós dois.
— Sobre ontem... — Sou eu quem começo, mas ele me
interrompe quando coloca dois dedos nos meus lábios.
— Eu gostei muito de beijar você, Manuella. Nunca estive
tão perto de gozar com pouco contato, mas nós dois sabemos que
isso não pode continuar. Não estou dizendo que a culpa é sua,
porque fui eu que fui atrás de você no banheiro, mas não pode
voltar a acontecer. — Enquanto fala, o homem passa a ponta dos
dedos pelos meus lábios. Eu me obrigo a me manter firme, mesmo
que as minhas pernas estejam fraquejando.
— Não vai. Foi um erro, e eu estava muito fragilizada. Por
mais que admita que você beija bem, não posso perder o emprego
aqui — falo.
— Sobre o Dante? — Muda completamente de assunto.
— Não é algo que te diga respeito.
— Dormiu com ele? — Mas qual é o problema desse
homem?
— Não te diz respeito com quem eu durmo, ou deixo de
dormir, chefe — repito. — É insano da sua parte fazer essa pergunta
depois do que acabou de me dizer sobre não repetirmos o que
fizemos ontem.
— Ele gosta de você — diz, eu não entendo por que isso
o incomoda, se é que incomoda.
Há muito tempo deixei de pensar que entendo os
homens.
— Eu não posso fazer nada quanto a isso — falo. — Já
posso ir?
— Ainda não. Eu preciso que venha comigo no almoço
com os clientes da obra do Shopping.
— Mas eu pensei... — Estranho, pois John não havia me
dito que eu deveria ir com ele para esse almoço, enquanto
passávamos a agenda do dia agora há pouco.
— Você será minha sombra, mulher. Se eu for viajar, o
que provavelmente vai acontecer em algum momento, vou precisar
que venha comigo. Você já sabia disso.
— Sabia, sim — digo. Só não sabia que ele seria o meu
chefe, que estar tão perto dele seria uma prova de resistência.
Embora ainda o ache um babaca convencido, o meu
corpo, que não tem muitos critérios, o deseja.
— A gente vai sair às onze e quarenta e cinco. Está
dispensada, Manuella.
Quando saio da sala, finalmente respiro aliviada. A
conversa com ele parece que me tirou anos de vida. Antes de ir
para a minha mesa, enfrentar as meninas e suas perguntas, passo
no banheiro. Na frente do espelho, tento me recompor novamente.
A boa notícia é que ele reagiu bem ao nosso deslize de
ontem à noite e não me colocou no olho da rua. A ruim é que tenho
que estar mais próxima a ele, o que quer dizer que não é impossível
que mais deslizes como o de ontem aconteçam novamente.
Eu estou sensível e necessitada, mas me recuso a
acreditar que tudo isso se deve a ele, por ser tão gostoso. Talvez eu
só precise voltar atrás na minha decisão de me aposentar dos
homens. Para apagar o meu fogo pelo chefe, tenho que transar com
alguém que não seja o meu dedo, porque só ele não está mais
sendo o suficiente.
JOHN
Depois de ontem, de ter a beijado e depois transado com
outra até o esquecimento, ainda me sinto necessitado. Não sei o
que essa mulher tem que desde o momento em que a vi a quis com
loucura.
Sou maduro o suficiente para reconhecer os meus
defeitos, para saber que o fato de ter ouvido um não pela primeira
vez, de não ter conseguido foder com ela, a tornou um desafio para
mim. Não quero, e não posso acreditar que tudo seja desejo.
É claro que ele existe, porque é impossível para um
homem que gosta de mulher não olhar para uma morena tão
gostosa, além de linda, e não pensar em meter até a exaustão na
sua boceta, mas eu já estive com muitas como ela. Manuella é só
uma mulher que não tive a chance de levar para a cama, e isso
acabou se tornando um problema.
Se a situação aqui na empresa fosse outra, se não
estivesse com tanto em jogo, teria transado com ela ontem mesmo.
Agora estou assim, tendo que abdicar de uma foda gostosa, porque
não posso correr o risco de colocar os meus planos em risco. Terei
que fazer como minutos atrás, mandei que fosse embora, quando
queria a colocar em cima da minha mesa e abrir as suas pernas.
Mas eu sei que sou bom, então essa situação não vai
durar por muito tempo. Vou convencer os meus avós e a todos de
que sou o melhor para assumir a presidência, então vou, enfim,
comer a porra da minha secretária, que mesmo sabendo que não
podemos fazer sexo, que diga que não vai acontecer, tem escrito
“me foda, John” na testa.
E eu quero, quero muito foder com a minha secretária
gostosa.
CAPÍTULO 10
JOHN
Quando chegamos ao restaurante sofisticado para a
bendita reunião, a vontade que eu tenho é de virar as costas e
simplesmente ir embora com a porra da mulher que está ao meu
lado. Não tem como fingir que não estou percebendo que a
Manuella não se incomoda com o fato de estar chamando atenção.
O jeito convencido dela, que se parece um pouco comigo,
me faz ver o lado bom de não poder entrar na sua calcinha. Eu iria
ficar louco, pois, ao mesmo tempo que teria instintos assassinos
muitas vezes ao dia, pois seria impossível não sentir ciúme quando
pensasse nesses idiotas batendo punheta pensando nela, me
sentiria o filho da puta mais sortudo do mundo. Talvez, fosse me
sentir envaidecido por tocar no que todos desejam.
Também não julgo os potenciais punheteiros, porque eu
mesmo teria me resolvido com a minha mão se não tivesse saído do
Maresias acompanhado ontem à noite.
— John Harper, sempre pontual — Fagundes se levanta,
assim como todos os outros quatro, para me cumprimentar, mas
seus olhos estão na morena ao meu lado.
Quando olho para ela, Manuella tem um sorriso discreto
para todos os caras que estão na mesa.
— E vocês, meus amigos, sempre esquecem que são
casados — rebato, ácido demais com clientes importantes.
Definitivamente, eu não estou sendo profissional.
— Perdão? — Eric fala, se fazendo de desentendido.
— Não foi nada. Se todos já estão aqui, nós podemos
começar — digo para ver se eles se tocam e focam no que
realmente importa.
Agora é o momento de eu mostrar serviço.
— Você ainda não nos apresentou a sua namorada —
Fagundes fala. É claro que ele não deixaria passar.
— Ela não é minha namorada. Senhores, esta é Manuella
Ortega, a minha nova secretária.
Então começa a sessão de beijos na mão da mulher. O
sorriso continua no seu rosto. Nem parece a fera que rosna para
mim sempre que pode.
Quando a reunião começa, fico entre falar de negócios e
prestar atenção no cheiro da gostosa ao meu lado. Sinto que estou
quase vesgo de tanto subir e descer o olhar. Mulheres bonitas são o
meu ponto fraco, então é impossível não olhar para a porção de
pele macia de suas pernas, que a saia social justa deixou
descoberta.
A perna está levemente aberta, e sempre que viro em sua
direção, ela também se vira para mim. A tensão sexual é tanta que
deve estar afetando o ar. O rádio corredor deve ter feito o seu
trabalho, e a morena descarada já sabe que tenho muito a perder se
me comportar mal ao tentar transar com ela, então se sente à
vontade para me provocar.
Não sei se ela tem ciência disso, mas esse é um jogo
para dois. Posso até não comer a sua boceta do jeito que quero,
mas vou deixá-la pingando por mim. Sedenta a ponto de não
conseguir mais pensar em outra coisa.
— Harper...
— Perdão. Pode repetir a última informação, por favor?
— falo, completamente perdido no assunto.
Isso tudo porque quero mais do que qualquer coisa
aquela cadeira. Imagina como será se eu não puder nem me
concentrar em uma reunião direito por causa de uma mulher que
não posso ter?
A reunião segue por mais alguns minutos, falamos sobre
os planos para o início da obra e todo o cronograma. Ao meu lado,
sem ter aberto a boca para falar, já que seus dentes à mostra fazem
o serviço, Manuella anota tudo no Ipad, embora não seja
necessário, uma vez que guardo tudo na cabeça.
Quando a reunião termina, eu só quero voltar para a
empresa e deixar essa atmosfera estranha. Pela primeira vez, sinto
que não estou cem por cento no controle dos meus atos e
sentimentos, e isso está me incomodando. Como não quero chamar
atenção, não posso recusar uma rodada de drinks, algo que
costuma acontecer ao final de reuniões como essa.
— Conte para a gente, senhorita Manuella, você é
casada? — Paolo, o mais jovem entre nós, pergunta. Ele tem um
sorriso sacana no rosto, como se estivesse a fim de brincar com a
próxima refeição.
Pior é que a sua pergunta não é tão idiota como parece.
Embora eu saiba que não é casada, porque não constava no seu
currículo, e que não está mais com o Dante, nada me garante que
não tem um cara na sua vida. Assim como todos à mesa, espero por
sua resposta.
— Não — diz apenas.
— Namorando? — ele insiste.
— A resposta é realmente importante? — Manuella
rebate e eu fico satisfeito. Parece ser daquelas que não se dobram,
embora eu possa pensar em formas deliciosas de dobrá-la e fazer
com que goste muito.
— Na verdade, não. Mas seria um desperdício que uma
mulher tão...
— Paolo... — aviso entredentes.
— Eu ia dizer fascinante, mas estou achando que você
está muito territorial com a sua secretária...
— Manuella? — Uma voz atrás de nós fala.
Olho para o sujeito em pé. Ele deve ter por volta de trinta
e cinco anos, tem boa aparência, assim como um ótimo gosto,
levando em conta a garota pendurada no seu braço. Ele olha
diretamente para a morena, e não é nada sútil quando afasta a mão
da sua acompanhante.
— Lucas, eu estou no meio de uma reunião de trabalho
— constrangida, Manuella fala, depois vira as costas para ele. É um
sinal para que vá embora, mas o homem não vai.
— Tem certeza? Porque eu estou vendo você bebendo
com um bando de homens — ele fala com a voz mansa, mas o tom
é de acusação. Eu, assim como todos os outros, observo a cena
sem me meter, por enquanto.
— Vá embora, por favor! — A morena pede sem alterar o
tom de voz, mas não esconde a irritação que há por trás da calma.
— Depois eu te ligo.
— Tudo bem, vou ficar esperando, querida. — Satisfeito
por ter conseguido o que queria, o homem vai embora.
Todos ficamos mudos, então ela fala.
— Perdoem-me. Era apenas um fã — brinca, e todos
sorriem como hienas. Ela é ótima. Tê-la ao meu lado em futuras
reuniões será bom, uma maneira de tirar vantagens de algumas
situações.
Ao meu lado no carro, Manuella permanece com um
sorriso de canto, bem satisfeita consigo. Deve ser porque conseguiu
que todos os homens presentes na reunião tenham desejado entrar
na sua boceta. Eu suspeito que ela adora o fato de ser linda e
desejável, mesmo que não pretenda sair com os caras a quem
atinge com o seu sorriso e bunda bonita.
Da minha parte, vou me lembrar de carregá-la comigo
sempre que precisar que clientes assinem papéis que os
comprometam sem lerem.
Ao chegarmos à empresa, noto que a morena intenciona
ir direto para a sua mesa, mas eu a faço notar que os meus planos
são outros. A quero na minha sala, e nem sei exatamente o porquê.
Os olhos das secretárias fofoqueiras estão em nós, mas não me
importo com o que passa pelas suas cabeças.
— Fiz algo que não o agradou? — indaga quando fecha a
porta atrás de si e se senta à minha frente na mesa, ainda agarrada
ao seu fiel Ipad. — Quando voltar para a minha baia, irei enviar as
anotações que fiz da reunião para você — avisa com
profissionalismo.
É uma pena que os meus pensamentos sobre ela não
sejam nada profissionais.
— Você foi bem até demais. Não viu como todos te
olhavam? — Mas é claro que viu.
— Não é como se eu pudesse mandar nos olhos de todos
aqueles caras, assim como não conseguia impedir os babacas que
frequentam o Maresias de me apalparem — assevera. Não passa
batido a sua intenção de me informar que eu sou um dos babacas,
embora não tenha apalpado a sua bunda.
Porra! Para alguém que decidiu que definitivamente não
iria rolar nada entre nós, eu estou pensando em sexo com ela com
mais frequência do que encho os meus pulmões de ar.
— Quem era aquele cara que falou com você? —
questiono, já imaginando a resposta atravessada, mas talvez eu
goste de a provocar. Me excita.
— Com todo o respeito, mas não é da sua conta —
afirma.
— É da minha conta porque sou o seu chefe, e ele
atrapalhou por alguns segundos uma importante reunião de
negócios — aviso.
— Aquele era o Lucas, meu ex-marido — ela fala.
— Faz tempo que se separaram? — Questiono. Manuella
faz uma careta antes de responder.
— Há mais ou menos um ano. E, antes que faça mais
perguntas, posso te dar um relatório completo da minha vida — fala
com ironia, mostrando a Manuella que já conheço um pouco, não a
profissional do ano que estava fingindo ser.
— Por favor, pode começar — digo, mostrando que
podemos os dois jogar esse jogo. Além do mais, estou bastante
curioso.
— Bom, tive um relacionamento que durou nove anos
com aquele homem. O casamento acabou depois que ele comeu a
aluna, mas o casamento já não ia bem das pernas há anos. Nem o
sexo, quando tinha, era satisfatório.
A última parte me interessa, e acho um pecado que uma
mulher aparentemente quente como essa, não tenha tido o sexo de
qualidade que merece.
— Depois de alguns meses conheci o Dante, mas o
nosso namoro durou bem pouco. Desde então, eu decidi que quero
distância dos homens — fala com convicção, uma que não mostrou
quando deixou que eu quase a comesse no banheiro do Maresias.
— Moro com minha mãe e irmã, uso tamanho trinta e oito para
roupas, menos as íntimas, essas têm que ser pequenas, porque não
gosto de calcinhas grandes que ficam entrando na bunda o tempo
todo. Para não ter esse problema, já deixo elas enfiadas na bunda
de uma vez. Ah! Já ia esquecendo, tenho trinta e dois anos de
idade.
A minha secretária gostosa falou tanto que estou tonto,
mas também excitado com a informação sobre o tamanho da sua
calcinha. Tudo o que consigo pensar é em ver as peças, descobrir
se são cheirosas como ela.
Ela é mais velha do que eu.
São apenas três anos, e eu não deveria pensar que isso
é um tesão. Eu devo estar um pouco obcecado, porque tudo sobre a
minha secretária parece excitante, inclusive o fato de ser mais velha
do que eu, de ter tido anos de um único relacionamento fracassado,
porque significa que está pronta para não se apegar, embora tenha
saído com o Dante e acabado de dizer que desistiu dos homens.
Eu não acredito nem por um instante em suas palavras,
não depois de ter tido o seu corpo próximo ao meu, de ter sentido o
seu calor.
— Assustado? — Provoca, mesmo que isso não tem a
menor relevância, porque a nossa relação é apenas profissional. —
Agora que já sabe de tudo sobre mim, até mesmo o que eu não
deveria ter contado, será que posso voltar para a minha mesa? —
pergunta, mas não espera pela resposta para se levantar.
Eu também me levanto e saio de trás da mesa, pois
simplesmente não posso me segurar. Aproximo-me da mulher, que
não recua nem um passo. Acho que Manuella está aprendendo que
fugir torna o desafio ainda maior.
— O que foi? — indaga quando chego bem pertinho. O
cheiro do seu perfume me estimula, embora não precise, porque
falta pouco para que eu goze a troco de nada.
— Você fala demais, e eu não sei se deveria saber como
são as calcinhas que a minha secretária veste, muito menos sobre
como elas devem ficar no seu corpo — digo.
Poderia manter as mãos no lugar, lembrando-me que já
havia decidido recuar, mas eu deveria saber que seria dessa forma
no momento em que decidi mantê-la perto de mim.
— São apenas calcinhas, John Harper. Pedaços de pano
— explica como se não fosse nada, ainda sem mover um passo
sequer para longe de mim.
Será que gosta de me provocar tanto quanto eu gosto de
causar reações nela?
— Pedaços de panos pequenos, que ficam socados
dentro da sua bunda grande, da forma como desejei que o meu pau
estivesse no momento em que te vi pela primeira vez atrás daquele
balcão — confesso, as minhas mãos sobem pelo seu braço, que
está arrepiado, porque mesmo que tente, a minha secretária nunca
foi imune a mim.
— Não deveria falar assim comigo, não depois do que
conversamos, de termos deixado claro que a nossa relação seria
apenas profissional — fala com um tom de voz fraco, enquanto
tenho o meu corpo colado ao seu. Como sou bem mais alto do que
a mulher, a minha ereção está apertada contra a sua barriga.
— Mas a nossa relação é apenas profissional — digo
com cinismo.
— Então, por que o seu pau está duro contra a minha
barriga? — questiona, e tem um bom ponto.
— Porque me falou das suas calcinhas, e eu não consigo
parar de pensar no que está vestindo agora. Não vou mais
conseguir trabalhar, Manuella. Como pôde fazer isso comigo,
sabendo que tenho uma cadeira de presidente pela qual lutar? —
faço a cara do gato de botas, somente para provocar.
— Que pena... — diz, e sei que já mudou a postura,
porque, assim como eu, Manuella sabe que é um erro, mas ela não
consegue resistir por muito tempo. Rapidamente sai do modo
secretária competente e distante e entra no modo provocadora. — O
que eu posso fazer por você? Saiba que estou aqui para te servir, e
jamais te atrapalharia — afirma, e pela minha mente passam várias
maneiras de como pode me servir.
— Que bom ouvir isso — digo ao morder a pontinha da
sua orelha e ouvir o seu gemidinho gostoso.
A essa altura, o meu braço já está em volta da sua
cintura, a abraçando com firmeza. Manuella está entregue nos meus
braços.
— O que quer que eu faça para que se sinta melhor e
não surte por causa de uma calcinha? — Bom, ela não deveria ter
perguntado isso, se quer sair dessa sala andando.
— Primeiro, eu preciso que descreva a sua calcinha —
peço, porque não estava somente a provocando quando disse que
talvez não consiga trabalhar pensando no assunto.
— Ela é vermelha, e bem pequena, porque não gosto
quando marcam a minha saia — sim, o meu pau está dolorido de
tesão —, é de tecido na parte de trás e de renda na parte da frente.
Uma renda transparente, que deixa à mostra a minha...
— Como ela se parece? Tem pelos, ou é completamente
lisinha? — Sei que estou indo longe, mas não consigo parar, não
antes de ter com o que me masturbar daqui a pouco no banheiro,
depois que a deixar ir com a sua virtude intacta.
— Completamente lisa, não gosto de pelos — afirma e
não faz nada quando começo a passar a mão pela sua bunda por
cima da saia, sentindo que a peça é realmente um fio-dental.
Que mulher deliciosa da porra! Eu nunca estive tão a fim
de alguém como estou dela. Transar com a minha secretária tornou-
se o top 1 na minha lista de desejos, simplesmente porque não dá
para negar o magnetismo que nós temos.
— Eu posso tocar? — pergunto, cheio de esperança, ela
olha para a porta com preocupação.
— Será rapidinho, morena. E ninguém entra aqui na
minha sala sem ser anunciado pela minha secretária, que no caso é
você — digo, e Manuella assente.
— Eu não sei o que está acontecendo comigo, mas será
apenas dessa vez, e apenas porque fui em quem começou com isso
— diz, eu fico para explodir de contentamento.
A mão que estava na sua cintura, abraçando o seu corpo
ao meu, continua na cintura. A mão que estava na sua bunda,
analisando a calcinha através do toque, desliza para a frente de sua
saia social. Sem parar de olhar em seus olhos, que mal escondem o
desejo de me dar, curvo um pouco o meu corpo e coloco a mão
entre as suas pernas.
A minha secretária gostosa as afasta de leve, então
começo a subir o tecido que fica justo e deixa o seu corpo uma
visão deliciosa. Quando a minha mão toca a frente da calcinha,
Manu, sim, acho que posso pensar nela como Manu, já que estou
com a mão na sua boceta, tem um leve sobressalto.
— Você está sensível? — pergunto sabendo da resposta,
apenas porque gosto de sentir o quanto mexo com ela.
— Por você... — a voz sai como um mio.
— Há quanto tempo não transa? — questiono,
imaginando o quanto deve ser apertada. Só a ideia de a ter
esfolando o meu pau me faz desejar rasgar as suas roupas,
bagunçar o cabelo tão bem comportado e borrar o seu batom.
— Há meses.
— E não tem vontade? — questiono.
— Eu desisti de paus — fala sem convicção, enquanto
sente o meu cacete na sua barriga. Ele já está babando na ponta,
porque essa conversa está sendo mais estimulante do que deveria.
— Até do meu, que está doido para comer a sua
bocetinha? — falo perto da sua orelha, depois dou mais uma
mordida que a faz cravar as unhas afiadas nos meus braços.
— Não fale mais nada, eu não quero gozar assim... quer
dizer, não quero gozar de jeito nenhum... Ai! — murmura quando a
ponta do meu dedo passa a subir e descer na frente da sua peça,
que está toda molhada.
— Você é uma safada, Manuella. Toda melada e
facilmente estimulada pelas minhas palavras. Quer que eu te toque
aqui? — Pergunto ao pressionar um pouco mais entre os seus
lábios vaginais.
— Quero... — Cede, embora eu note que faz isso contra
o seu lado racional.
Então enfio a mão inteira dentro da calcinha, sentindo-me
muito perto de gozar na calça com o contato direto com o seu sexo,
que está muito molhado por mim. A morena gostosa está assim
porque quer me dar a boceta, da mesma forma que quero a comer
sem ter hora para acabar.
— Delícia. Você é muito gostosa, Manuella — digo, e sem
pensar em mais estímulos, sabendo que está pronta, enfio os dedos
profundamente dentro da sua boceta. Os olhos castanhos ficam
arregalados, mas o corpo logo se ajusta.
Manuella está mordendo o lábio inferior para não gritar,
então eu acabo com o problema ao juntar as nossas cabeças e
beijar a sua boca carnuda. O beijo de língua cheio de fome entra em
sincronia com as penetrações dos meus dedos na boceta quente,
deixando-me perto, muito perto de levá-la para o sofá e a colocar de
quatro para fodermos até cairmos desmaiados.
— John, por favor... me faça gozar... — fala de dentro da
minha boca na trégua que dá de chupar a minha língua com
ganância. A mulher beija tão gostoso que poderia fazer um homem
gozar sem precisar de mais nada, apenas o beijo e o seu cheiro
estimulante seriam o suficiente.
— Farei, morena, mas antes preciso de mais — digo,
então me afasto e pego a sua mão. Ela me segue sem dizer nada,
com os lábios vermelhos e o batom que usava borrado.
Eu a coloco de costas na frente da minha mesa, com as
mãos apoiadas nela. Agora tenho a sua bunda bonita empinada
para mim, apenas para os meus olhos. E que bunda deliciosa, pela
minha mente passam cenas de nós dois juntos, ela me deixando
meter no seu cuzinho.
— O que está fazendo? — Olha-me por cima do ombro, e
parece cheia de expectativa. O desejo a fez se esquecer por
completo das objeções quanto ao que estamos prestes a fazer, e eu
não pretendo parar, mesmo estando ciente de que vamos nos
arrepender depois, principalmente ela.
— Olhando para a sua bunda — falo. — Porque estava
doido para fazer isso. — Eu pressiono o meu membro na sua
bunda, volto a enfiar os dedos na boceta e começo a me esfregar,
passando o meu membro entre os seus lados, e a minha mente se
enche de imagens de mim socando no seu cu até fazê-la gritar.
— Eu estou tão perto, John, enfia com mais força... —
pede, e tudo o que mais quero nesse momento, muito mais do que
encontrar o meu próprio alívio, é senti-la molhando os meus dedos e
saber quais são os sons que deixam a sua boca quando está se
quebrando no prazer.
— Vou fazer você se sentir bem, morena. Depois vou ao
banheiro me masturbar, e enquanto estiver na sua mesa,
completamente relaxada, saiba que estarei em uma cabine, me
tocando e pensando em você.
— Por favor — implora e começa a sentar no meu dedo.
Quando começo a me preparar para fazê-la ver estrelas,
ouço o som da porta sendo aberta e sei que estou muito na merda.
— John Harper. Eu posso saber o que está acontecendo
aqui?!
De todas as pessoas que poderiam me pegar comendo a
minha secretária, a que está na minha frente era a pior opção: a
minha avó.
CAPÍTULO 11
MANUELLA
Nos milésimos de segundos que passam entre estar
sendo masturbada por dedos longos e experientes, um filme de
como cheguei até esse momento passa pela minha cabeça de
maneira acelerada.
Primeiro eu estava convicta de que estava tudo bem
depois das coisas que falamos um para o outro, de que seria fácil
resistir a um corpo perfeito e um rosto mais perfeito ainda, afinal, o
conjunto da obra pertence a um homem que é o rei dos babacas e
não faz a menor questão de esconder isso.
Mas então ele me chamou na sua sala, depois de um
encontro com o idiota do meu ex-marido e eu comecei a falar da
minha calcinha. Caí na minha própria provocação e, quando dei por
mim, estava curvada sobre a sua mesa sendo masturbada, sentindo
prazer como nunca antes senti.
Para a minha vergonha e completa frustração, percebi
que não estava nada firme na minha decisão de não fraquejar por
causa de um pau, pois bastou que visse um duro por mim que caí
como uma “pata”. E eu não posso me enganar, porque sei que teria
transado com o meu chefe aqui mesmo, e depois seria demitida.
Agora, depois de nós dois termos pulado de susto como
água no óleo quente, e a minha roupa estar completamente fora do
lugar, não consigo olhar direito para a senhora elegante, que deve
ter por volta de setenta anos, parada na nossa frente. Ela está
completamente abismada, mas não está mais do que eu, que fui
pega em uma situação tão comprometedora e humilhante.
Não consigo olhar para o lado, porque não quero ver a
cara do meu chefe, e nem comprovar que está ostentando uma
ereção monstra na frente da avó, mas imagino que para ele deve
estar sendo muito mais fácil do que para mim, afinal, é homem e o
herdeiro desse império. Eu sou a secretária, que, aos olhos dela,
não foi capaz de manter as pernas fechadas.
Eu quero que um buraco se abra debaixo dos meus pés
agora mesmo.
— Vovó, eu não esperava a senhora aqui hoje — ele diz,
como se nada do que ela viu tivesse de fato acontecido. Eu queria
mesmo que tivesse sido apenas uma alucinação minha.
O meu chefe se aproxima para beijar a senhora de
cabelos tingidos de loiro, que a fazem parecer que tem vinte anos a
menos, mas ela desvia, caminha para a mesa e coloca a bolsa
grande que carregava em cima.
Ela não olhou para mim... quer dizer, agora está olhando.
Eu desvio o olhar, me perguntando em que momento
posso virar as costas e sair correndo.
— É óbvio que não esperava. Se esperasse, eu não teria
te visto em uma situação tão... — ela procura a palavra —
comprometedora com essa moça.
— Essa moça se chama Manuella — John fala, eu olho
para ele e, de repente, fico tímida. E não é só pela presença da sua
avó.
Ainda não posso acreditar que saímos da posição de
chefe e secretária para as safadezas que estávamos falando um
para o outro, e depois fazendo. Acho que sou uma vadia, e essa
senhora tem toda a razão de estar me olhando como se eu fosse
uma.
— O que foi, meu bem? Já está dando bronca no seu
neto preferido? — Um senhor de cabelos grisalhos, mas muito
bonito e conservado para a idade, entra na sala.
Ele está acompanhado do mesmo homem de meia idade
que encontrei no elevador no primeiro dia. O que me olhou de um
jeito que não condizia com a sua aliança no dedo. Deve ser por isso
que o filho é desse jeito. Sim, devem ser pai e filho, não há como
negar a semelhança física.
— Eu não tenho um neto preferido — ela nega.
— É claro que tem, mamãe — o homem do elevador
rebate. Não sei se ele não lembra de mim, ou se está fingindo que
não.
— Bom, o meu neto preferido, como sempre, não está
sabendo como se comportar — ela diz. Estou dura como uma tora
de pau. John se mantêm de boca fechada de uma forma como
nunca o vi. Sempre tive a impressão de que tem predileção por
estar sempre falando besteiras.
— O que ele fez dessa vez? — o avô do John pergunta,
parecendo não levar tão a sério, seja qual foi a “arte” que o
menininho aprontou.
— Além daquele vídeo fazendo sexo em público? —
Vídeo? Eu olho para o cara como se fosse uma noiva patética
traída, mas nem sei por que isso me surpreende vindo dele.
— Vovó, deixe-me explicar? — ele diz.
Mas o que, em nome de Deus, esse homem pensa que
ainda tem para explicar? Melhor dizer logo que ela não está
perdendo o juízo, que nós dois estávamos nos pegando, e deixar
que me demita por justa causa, ou ele mesmo pode me demitir, para
a humilhação ser maior.
Mas pelo menos vou embora para chorar na minha cama,
que é um lugar quente.
— O seu neto, querido, estava... Não sei nem como
explicar o que vi — diz. Então o pai do John a ajuda.
— Transando. Deve ter sido isso que ela viu — o senhor
fala.
— Está tendo uma reunião de família e ninguém me
chamou? — O cara que participou de uma das etapas da minha
entrevista, e que depois descobri que é o primo com quem John
disputa a cadeira, chega. O circo está armado, e a palhaça vadia
sou eu.
— Tales, quem foi que te chamou até aqui? — John
pergunta. Sinto a irritação na sua voz, como ainda não tinha notado,
mesmo com o flagra da senhora.
— Não me diga que foi pego comendo a...
— Cale a porra dessa boca! — O meu chefe esbraveja,
não o deixando nem mesmo terminar a frase.
— Eu estou cansada da sua falta de responsabilidade,
John. Quando é que você vai crescer? Não pode nem mesmo
respeitar o seu local de trabalho. Quer ser o diretor-presidente, mas
trouxe uma... — Qualquer. Eu sei que é isso que quer dizer.
— A secretária.
— Minha namorada.
John e o primo falam ao mesmo tempo, mas apenas um
deles disse a verdade. Apenas um deles me fez dar um giro de
noventa graus com a cabeça.
O que está acontecendo aqui?
Como assim, namorada?
Eu olho para o meu chefe, o fuzilando com o olhar, mas
ele não faz nada que não seja me presentear com o seu sorriso
sexy de lado, que em momentos como esse é apenas odioso.
— Dá para explicar o que está acontecendo aqui? — A
senhora pede.
— Eu posso, vovó — Tales - que cara chato da porra -
começa, mas é cortado.
— Eu quero ouvir o John — a senhora fala e volta a
atenção para o neto, que chega mais perto de mim e me abraça
pela cintura.
Se antes eu estava me deliciando com o seu toque, agora
tenho vontade de chutá-lo para longe de mim. Sinto que vai
aprontar, e não estou gostando nada disso.
— Ele está certo, gente. Essa é a Manuella Ortega, a
minha secretária, mas também a minha namorada. — As palavras
deixam a sua boca, e elas são como uma sentença de morte para
mim.
O meu corpo todo está tremendo, e tenho a sensação de
que todo mundo está percebendo. John Harper, sem um pingo de
receio, mente para todos e me usa para isso.
— Namorada? Você só pode estar de sacanagem! —
Tales fala com indignação, enquanto todos ficam surpresos com a
notícia, inclusive eu. Mas duvido muito que alguém esteja
acreditando. O primo vai dizer o óbvio, e eu estou louca para ver o
John quebrar a cara, mesmo que signifique que eu também esteja
quebrando a minha. — Ela chegou na empresa não tem nem uma
semana, vovó. Conta outra para enganar os nossos avós, meu caro,
porque essa não cola.
— E quem é que pode mandar no coração? — John dá
de ombro, como se tudo fizesse sentido por isso. — Manuella e eu
não nos conhecemos aqui na empresa. Foi uma coincidência ter
sido contratada para o cargo de secretária temporária, mas a nossa
história veio de antes. A gente só precisou de algumas horas para
nos entregarmos a paixão, não foi, meu amor?
É tão fake que chega a ser engraçado. Tenho vontade de
negar, mas o aperto que John dá discretamente na minha cintura
me faz mentir. Quem sabe ainda seja possível salvar o meu
emprego?
— Foi intenso, e não pudemos resistir. — Não digo
nenhuma mentira quanto a isso, só que estamos longe de sermos
namorados. Na verdade, nos odiamos.
— Vocês não vão acreditar nisso, vão? — Tales insiste.
— Eu não sei se o fato de estar dizendo que essa moça é
a sua namorada, o que me faz concluir que ela também é a pessoa
do vídeo, te dá o direito de ter intimidades com ela no seu horário de
trabalho, querido. — Agora a senhora está sendo mais carinhosa.
Nem parece que estava tão irritada com o comportamento dele até
segundos atrás.
O que mudou?
Essa gente vai me deixar doida.
— Eu sei que foi impróprio, Érika, e prometo que a gente
vai se comportar, não é, meu amor? — O meu chefe, que deixou a
minha calcinha molhada, e agora está mentindo para toda a sua
família sobre algo sério, beija demoradamente o canto da minha
boca.
Pela forma suave como a Érika olha para mim, não está
claro se acredita no que o neto falou, mas é bastante óbvio que quer
acreditar, e que é algo importante para ela. Da minha parte, acredito
ter chegado no meu limite, então, sem saber o que fazer, decido sair
de cena.
— Querido, eu vou fazer aquela ligação sobre a reunião
de mais cedo. Depois a gente se encontra? — Falo, o poderoso
chefinho balança a cabeça e me beija longamente, dando o show
que todos querem ver. — Foi um prazer conhecer a senhora. —
Aproximo-me, beijo a sua mão e depois saio da sala.
Deixei todos no mais completo silêncio, mas duvido que
alguém, além da senhora Érika, tenha acreditado por um segundo
no que o loiro babaca contou. Mas isso não importa. Irritada do jeito
que estou, não ligo nada para o que possa acontecer com ele.
— Garota, mas o que é que está acontecendo na sala de
John Harper? A família resolveu se reunir? — Ana Júlia pergunta,
porque ela, Sara e Teresa me interpelaram antes mesmo de eu
chegar à minha mesa.
Hoje o dia está puxado. Será que não terei um minuto de
paz?
— Meninas, daqui a pouco a gente fofoca. Deixem-me ir
ao banheiro, antes que eu faça o número dois aqui mesmo — minto,
as três franzem o nariz, como se não cagassem, mas pelo menos
me deixam passar.
De fato, vou para o banheiro. Antes de me trancar em
uma cabine durante horas, até que a sensação de que estou em
algum tipo de surto que causa alucinações passe, me posto na
frente do espelho e fico me olhando. Gosto de fazer isso quando
preciso entender o que se passa com a minha cabeça.
Agora, por exemplo, estou entendendo que sou uma
fraca por ter ido tão longe com o meu chefe. Eu devo ter algum
problema. Primeiro, eu não pensei antes de transar com o meu
professor e depois me casar com ele. Agora, deixei o meu chefe,
que já mostrou que não vale um real, depois de mal ter começado a
trabalhar, me beijar a ponto de eu ficar assim, com a boca vermelha
e o batom claramente borrado.
Era essa a imagem que todas aquelas pessoas estavam
vendo?
Antes que eu ligue a torneira e encha minha mão para
molhar o meu rosto, e acalmar o meu sangue que está quente, tanto
pelos amassos quanto pela cena com a família do John, ele aparece
na minha frente.
Se aproxima de mim e, antes que diga qualquer coisa,
levanto a mão e esbofeteio o seu rosto com toda a minha força.
— Não volte a fazer isso — ele diz furioso quando me
abraça pela cintura e aperta o meu corpo no seu. — Acha que é
quem, Manuella Ortega?
— A sua namorada? — Jogo a mentira em sua cara, e o
homem parece cair em si para o fato de não ter qualquer direito de
estar bravo comigo, quando foi ele quem mentiu descaradamente
por nós dois.
— Perdoe-me por aquilo — diz, e me solta. — Eu não
deveria ter te colocado naquela situação, mas neste momento, em
que tem tanto em jogo para mim, não poderia decepcionar a minha
avó e deixar que algo me atrapalhasse. Principalmente algo que...
— É tão pequeno? — Digo, de repente, sentindo-me
inferior.
— Algo que nem se concretizou — ele me corrige, volta
para perto e tenta me abraçar novamente. Fujo, porque isso está
passando dos limites. — Não valeria a pena colocar a minha avó
com os dois pés atrás comigo por transar com a secretária sem de
fato ter transado com você.
— Estou começando a achar que esse emprego, que
parecia dos sonhos, foi um presente de grego. Nem para pedir
desculpas você serve — reclamo, e aproveito para conferir a frente
da sua calça social apertada e justa no corpo.
O homem está calmo, mas lembro-me da sua ereção
gigante marcando o tecido.
— Deixe-me chegar perto que irei pedir perdão como
você merece — fala, me encurrala contra a parede e eu não faço
nada para fugir. — Manuella Ortega, não foi a minha intenção te
colocar naquela situação. Se me perdoar e ficar de boca fechada
por uns dias, até que eu invente uma desculpa para o término do
nosso suposto namoro, eu pago o dobro do seu salário nesse mês
— diz.
Pela facilidade com que faz a proposta, fica claro que
para ele o dinheiro resolve tudo. Se é assim que funciona, acredito
que também posso me adaptar ao seu mundo.
— Será? Não sei... — finjo pensar, mas não sou burra e
sei que esse dinheiro colocaria todas as contas da casa em dia. Mas
além de não ser burra, também sou esperta e decido ir além. — O
dobro do salário e um motorista a minha disposição para ir me
buscar em casa e me levar todos os dias. Não estou a fim de me
desgastar por causa de ônibus ou correr perigo andando com carro
de aplicativo todos os dias — falo.
Eu não sei exatamente em que momento me tornei esse
tipo de pessoa, porque, de repente, a minha raiva passou e estou
tentando chantagear um homem rico e poderoso.
— E se eu não fizer o que quer? — ele pergunta, mas
não parece irritado com a minha tentativa de ser mais esperta.
— Vou contar para a vovó que não sou a sua namorada
coisa nenhuma, que só estava mesmo querendo comer a sua
secretária — falo.
— Você me excita, sabia? — Diz, e enfia o nariz no meu
pescoço. — Esse leve desvio de caráter, que combina perfeitamente
com o meu, me faz sentir vontade de colocar o mundo aos seus pés
— declara e me beija de uma forma que me faz lembrar que a
minha calcinha ainda está molhada.
— John, pare com isso... — Tento o empurrar, mas logo o
puxo de volta para mim. — A gente ainda precisa conversar...
— A gente já conversou — diz, então o afasto de vez.
— Não, nós não conversamos. O seu plano parece muito
bom, mas depois serei eu a pessoa que foi rapidamente descartada
como um sapato velho. Por outro lado, você fica com a sua
reputação de mulherengo intacta?
— A vida é injusta, Manuella. Um dia se ganha e no outro
se perde. No caso, você vai ganhar e perder. Porque terá o seu
motorista e o salário em dobro. Quanto a sua reputação, não será
tão ruim ser a ex-namorada do vice-diretor presidente, que é
madura o suficiente para ter conseguido continuar no grupo, mesmo
depois do término.
— Não serei demitida? — O meu alívio é tão grande que
tenho a sensação de que vou desmaiar.
— Não por isso. Agora, vem aqui que ainda estou te
devendo um orgasmo. — Antes que ele tenha a chance, escapo por
debaixo do seu braço.
— Acho melhor a gente parar com isso! Veja só o que
aconteceu por causa da minha fraqueza. Tudo bem continuarmos
com esse namoro de mentira, que eu espero mesmo que dure
apenas alguns dias, mas não vou ser a sua puta, John. Não serei o
seu lanchinho do meio do expediente, como te deixei pensando que
seria mais cedo — falo, tentando ser firme.
Apesar do fogo entre as pernas, sinto que preciso recuar,
porque tenho a sensação de que, se eu deixar, esse homem vai me
consumir por inteiro, e não terá ninguém para juntar os meus
pedaços depois. Seria muito bom ter momentos de prazer com ele,
que parece saber o que faz, mas sei que correria riscos
desnecessários de querer o que não devo.
— Não fale como se você não fosse gostar disso, mas
tudo bem, se é assim que quer. Já devo ter te dito que não sou o
tipo de homem que implora, e não começarei com você, querida. —
Não há irritação ou sarcasmo na sua voz, apenas uma constatação.
— No entanto, parece estar sempre implorando por mim.
— Eu deveria morder a minha língua para não falar demais.
— Para que esse acordo valha, aja como minha
namorada quando for necessário — pede, preferindo não comentar
a minha alfinetada.
— O que eu digo para as outras secretárias? —
Pergunto, porque só agora a questão surge na minha mente.
— Isso é com você — diz. — Eu não me importo com a
opinião das fofoqueiras. — Fico com vontade de dizer que elas não
são fofoqueiras, mas me lembro que ele não está errado. — Agora
eu tenho que ir, porque eles ainda estão na minha sala. Quando
puder, vá até lá, sinto que ainda não estão acreditando.
Depois que ele sai, eu permaneço inerte, feliz com o
dinheiro a mais e o motorista, mas uma parte muito maior de mim
está com a impressão de que fiz uma besteira.
CAPÍTULO 12
MANUELLA
No portão de casa, a minha mãe e a minha irmã estão
olhando com desconfiança para o carrão com motorista que veio me
buscar e que me traz de volta todos os dias. Eu disse que tenho
essa regalia da mesma forma que todos da empresa têm, como se o
veículo fosse uma van que passasse na casa das outras
secretárias, pegando-as.
É claro que eu não diria para as duas que esse luxo a
qual me permiti na primeira oportunidade que surgiu, foi fruto de um
acordo que as duas considerariam errado em todos os níveis. Eu
estou praticamente me vendendo, se não é o meu corpo, é o meu
nome e a minha reputação, em nome de uns trocados a mais e um
carro na minha porta.
— Tenho que ir, gente — falo, beijo os seus rostos, mas
elas continuam olhando para o carro como se ele fosse uma nave
que veio me abduzir até que viremos a esquina.
— Bom dia, Tito — cumprimento. O homem ruivo tem por
volta de setenta anos, e eu me pergunto o porquê de o John não ter
contratado algum mais jovem e menos calado. Ele mal responde a
qualquer coisa que deixa a minha boca.
— Bom dia, senhorita. — Basicamente, essa é a única
coisa que o homem fala durante as viagens.
Uma semana depois do acordo, tendo conseguido me
adaptar ao trabalho e todo o funcionamento da construtora, as
coisas melhoraram para mim, estão mais calmas do que pareciam
que seriam nos primeiros dias. As três secretárias do andar e eu nos
tornamos amigas, e isso é algo que deixa os dias bem mais
divertidos, embora não esteja lá para me divertir, e sim trabalhar.
E mesmo tendo me entrosado com as garotas, não tive
coragem de contar que o John Harper e eu estamos “namorando”.
Quer dizer, a Sara, que é mais atenta do que as outras,
provavelmente tem notado a interação mais íntima entre o meu
chefe e eu. Com certeza, tem compartilhado as suas desconfianças
com elas.
Não as julgo por pensarem algo, porque eu faria o
mesmo se visse uma delas sendo tratada com carinho pela avó de
seus chefes, se os chefes sempre lançassem piscadelas sacanas
em suas direções, porque é isso que tem acontecido na última
semana.
A senhora Érika está se esforçando para me tratar bem
quando aparece no prédio, o que é basicamente todos os dias. Vejo
no seu rosto que tem desconfianças quanto a esse namoro. Se não
é da veracidade, considerando que nos flagrou aos amassos, é da
seriedade do relacionamento tão repentino que ninguém está
engolindo.
John, por sua vez, tem se comportado muito mais do que
o esperado vindo dele, o que não significa que não faz com que eu
queira tomar um banho gelado todos os dias quando chego em
casa. O poderoso chefinho não me olha como um chefe deveria
olhar para a sua secretária, pelo contrário, parece que tira peça por
peça das minhas roupas quando entro na sua sala.
Ele não disfarça que gosta dos meus seios, e me faz
pensar que não sabe que tenho um rosto que fica em cima do meu
pescoço. Quando viro as costas para sair da sala, sinto-as
queimando pelo seu olhar. Quando me volto para trás, para garantir
que estou com a autoestima em dia, constato que de fato está
olhando para a minha bunda.
Mas o homem não tem feito mais do que isso, e eu fico
relativamente contente, pois pelo menos não tenho que me esforçar
para não cair na tentação de dar a boceta para o meu chefe, que
não iria querer nada além de uma noite. Do jeito que sou dedo
podre, seria perfeitamente capaz de depois ficar como uma
cachorrinha mendigando por mais atenção.
Foi por isso que desisti dos relacionamentos, eu nunca
me dei bem com eles. Um fiasco depois do outro até ter aprendido.
Ao descer na frente do prédio majestoso, despeço-me do
Tito e me distraio com uma mensagem que recebi da minha irmã no
WhatsApp, enquanto caminho sem olhar para onde ando na direção
da portaria.
— Manuella. — Ouço.
Caralho! Eu não acredito que ele tenha vindo até aqui.
Depois de dias, que me fizeram pensar que me deixaria em paz,
Dante volta a atacar.
— Você não deveria ter vindo aqui, cara. Não no meu
local de trabalho — reclamo. — Pensei que não tínhamos mais nada
para falar.
Parece que envelheço dez anos a cada conversa que
tenho com o Dante e, mesmo assim, é como se eu não conseguisse
me livrar dele. Algo sempre me puxa em sua direção. Eu mesma me
saboto, como fiz quando me vi sem saída e fui procurar ajuda com
ele. Foi a primeira pessoa em quem pensei.
— A gente tem que conversar, mas eu não vim para
brigar. Só queria trazer isso para você. — Ele estende as mãos que
estavam escondidas nas suas costas e me entrega um grande
buquê de rosas, presente que não costumava me dar quando
estávamos juntos.
Na verdade, Dante se sentia seguro, mesmo com poucos
meses de relacionamento. Ele sentia que eu não iria o deixar,
porque eu dava essa segurança. Dava tudo o que ele queria e
aceitava as suas palavras.
— Obrigada, mas...
— Não fala nada, querida — pede ao colocar os dedos na
minha boca. Eu olho rapidamente para o lado, para ver se não tem
ninguém nos vendo. — Eu só vim te pedir perdão pela forma como
falei com você no bar, não era a minha intenção — diz.
Mas nunca é a intenção dele. Todos os gritos ou
empurrões, nunca foram por querer. É o que ele diz. Eu acredito que
no fundo o meu ex-namorado é um homem bom, bonito, jovem e
bem-sucedido, mas tem momentos que perde o controle e fica
irreconhecível. Em algum momento, percebi que não poderia viver
com esse seu lado e acabamos terminando.
— Está perdoado. Agora me deixa entrar, porque estou
atrasada — digo, me aproximo e beijo o seu rosto.
— Posso te ligar mais tarde? — Vejo esperança no seu
olhar.
Por mais que eu saiba que sou uma mulher bonita, nunca
vou conseguir entender o que Dante viu em mim que o deixou dessa
forma. Pode ter a mulher que quiser, mas insiste em não me deixar
seguir em frente. Às vezes me pergunto se não sou um desafio, mas
me lembro que ele já me teve.
— Pode — digo e viro as costas.
Não morro de vontade de falar com ele, mas cedi para
que me deixasse entrar de uma vez. Se não fizesse isso, demoraria
alguns minutos para que fosse embora, e não quero uma cena na
frente do meu trabalho.
— Parece que alguém está namorando — Teresa
comenta assim que saio do elevador. O problema é que eu saí por
um e o meu chefe loiro saiu pelo outro e ouviu seu comentário. —
Bom dia, senhor Harper.
— Bom dia, Teresa — ele a cumprimenta, depois olha
para as rosas em minhas mãos. — E você, Manuella, deixe as suas
preciosas rosas na mesa e venha até a minha sala com a agenda —
pede e sai sem me dar um segundo olhar.
Mas o que foi que deu nesse homem? Geralmente, ele
chega de bom humor. Certamente depois de ter se acabado de
fazer sexo com alguma mulher aleatória. John me disse no banheiro
que não precisa correr atrás de ninguém, e não o imagino sendo o
cara que não transa dia sim e no outro também, sempre com
mulheres diferentes. Nunca repetindo.
— Acho que alguém ficou irritado por não ter sido ele
quem mandou as rosas — Ana Júlia para de digitar para fazer o
comentário, enquanto eu coloco as flores em um canto da minha
mesa.
— Não sei do que está falando. — Faço-me de
desentendida.
— Que está bem nítida a tensão sexual entre você e o
seu chefe, que se não estão transando, estão a um passo de
fazerem isso — Sara diz, e eu constato que de fato estavam
desconfiando.
Ainda bem que esse acordo foi feito para durar apenas
alguns dias, e eu estou prestes a cobrar o fim dele para o John. Não
tenho motivos para mentir para elas sobre um namoro que nunca foi
real.
— Vocês estão doidas. Agora, deixem-me ir ver o que o
chefe quer.
— Tomara que não seja fazer de você a primeira refeição
do dia — Sara comenta, olhando-me da cabeça aos pés. Ela não
esconde que sente tesão por mim, mas também não tenta uma
abordagem mais direta. — Mas eu não o julgaria, caso tentasse —
finaliza.
— Mas você não perde a chance, não é, Sara? — Teresa
a repreende. — O foco aqui é o tesão encubado entre os dois.
Eu não fico para ouvir a discussão sobre a minha vida
sexual, apesar de estarem certas quanto a parte da tensão sexual,
isso está longe de ser fingimento.
Nos últimos dias, os meus olhos simplesmente não
puderam sair do homem. Principalmente da frente da sua calça.
Manjo o seu pau quando penso que não está vendo, porque tento
reviver na minha memória como foi a imagem da ereção quase
estourando o zíper por mim.
— Sente-se — ele pede quando entro e fecho a porta.
Sento-me e tento não ficar olhando demais para os seus braços
fortes.
Desde que comecei a trabalhar aqui, convivendo todos os
dias com esse cara gostoso e que tem um ar de que fode bem,
tenho estado mais sensível. A falta de sexo tem se tornado mais
latente. Foram nove anos de um sexo morno, mas, ainda assim,
estava fazendo vez ou outra. Teve o Dante em seguida, e agora
estou há meses sem ver um pau de perto.
Para quem era acostumada, tem parecido que faz uma
eternidade. Ter o homem dos meus sonhos eróticos e o rosto e
corpo das minhas masturbações diárias não tem ajudado em nada.
— Você está com algum problema? — O poderoso
chefinho pergunta, depois de eu ter passado um tempo pensando
na vida sexual que mal tenho.
— Está tudo certo. Quer passar os compromissos
diários? — questiono, ele balança a cabeça e então começamos.
Durante os minutos em que trabalhamos, a pergunta que
não quer calar não deixa de martelar na minha mente. Me pergunto
se devo fazê-la, mas estou doida demais pela resposta, então não
tenho qualquer esperança de que vá me manter calada.
— Era só isso, por enquanto — ele diz, claramente me
dispensando. — Pietro, quando puder, venha até aqui — fala ao
telefone antes que eu saia da sala.
Antes de sequer abrir a porta, volto novamente para a
mesa dele e fico parada de pé o olhando. Será que ele pensa que
sou idiota? Não é possível que tenha se esquecido que o acordo iria
durar pouco. E por que está tão azedo?
— Quem te deu aquelas flores?
— Quando é que esse acordo vai acabar?
Nós dois falamos ao mesmo tempo, mas a sua pergunta
é mais surpreendente, porque não posso acreditar que a sua cara
azeda seja por causa das benditas flores. John nem faz o estilo
ciumento, pior, ele nem tem motivos para sentir ciúme, já que não
temos um namoro de verdade!
— Eu tenho mesmo que te dar satisfação da minha vida?
Pelo que me lembro, nosso acordo, sobre o qual você tem se
mantido mudo e não me disse ainda quando ele vai acabar, é sobre
um namoro de mentira.
— É de mentira — concorda comigo, me pergunto se não
faz isso para me irritar.
— Então, eu posso transar com quem quiser, e receber
flores quantas vezes quiserem me dar. — Faço birra como uma
adolescente, mas o homem me tira da minha paz.
Enquanto estou agoniada, doida para acabar com essa
história de namoro falso para voltarmos para o lado cem por cento
profissional da nossa relação, o loiro parece bem tranquilo, como se
nada disso o abalasse. E não deve abalar mesmo.
— Pode mesmo, mas acho que a gente já conversou
sobre meu território, minhas regras. Se as flores entraram nesse
prédio, então estão no meu território e eu quero saber de quem elas
são, e porque as recebeu — fala com calma e tranquilidade, como
se não estivesse fazendo um esforço para deixar o meu sangue
fervendo.
— Eu vou perder o meu emprego se disser que te odeio?
— indago.
— Não. Eu só não vou acreditar — comenta, se levanta e
já vem invadir o meu espaço.
— Então, eu te odeio — declaro com a voz fraca, quando
o seu cheiro de macho alfa chega em mim antes dele.
— De quem eram as flores? — insiste. O corpo está junto
ao meu, mas não me toca. A última vez foi há sete dias, e os seus
dedos estiveram dentro da minha boceta.
— Do Dante — revelo, e a sua expressão fecha.
Tenho a sensação de que os dois vivem em uma disputa
de mijos.
— Dormiu com ele? — indaga.
— E você, com quem transou ontem à noite? — Rebato.
— Devo te lembrar mais uma vez que o nosso namoro é...
— Não precisa. Mas espero que também possa te
lembrar que esse acordo acaba quando eu disser que acabou, e
estou te dizendo agora que ainda não acabou — diz, eu estou
irritada, enquanto penso em como os seus olhos verdes são bonitos.
— Quando acaba? Estou começando a achar que o
preço desse acordo ficou barato demais, talvez eu precise rever os
meus termos — falo para o irritar, mas bem que poderia fazer com
que sinta no bolso o preço por me fazer de seu fantoche.
— Estou doido para discutir os nossos termos com você.
Se quiser, podemos fazer isso na minha casa mais tarde. Nós dois
estaríamos pelados em cima da cama — fala para me provocar,
aproxima o rosto do meu, mas eu não faço nada para o impedir.
Jamais correria como uma gazela assustada.
— Eu não queria atrapalhar o casal apaixonado... —
Pietro, o advogado, que tem cara de que está sempre tramando
alguma coisa, entra sem avisar. Não que precisasse, já que é o
comparsa do Harper e nunca é anunciado.
Ele sempre foi educado comigo, faz um lindo casal com o
companheiro, que já esteve por aqui uma vez, mas confesso que
tenho medo do cara. Ele tem cara de que é o diabinho que fica
sussurrando no ombro do John, embora ele não seja menos ruim.
— A gente poderia estar transando — o meu chefe fala e
eu o fuzilo com o olhar. Sei que está me provocando, porque duvido
muito que o advogado não saiba do nosso acordo.
— Eu adoraria assistir — o homem comenta.
— Se me derem licença — falo e me apresso para fora
da sala. Sempre que estou do lado de fora, solto uma longa
respiração, porque nunca é fácil entrar no covil de John Harper.
É uma batalha psicológica. Ao mesmo tempo que quero o
matar, quero montar no seu colo.
— Meninas, me digam que estão livres hoje à noite. Eu
preciso me divertir e extravasar! — É a primeira coisa que falo
quando chego à minha mesa.
Tomo a decisão, porque, além de hoje ser sexta, estou a
ponto de explodir de frustração. Preciso sair com alguém totalmente
aleatório que tire John e seus planos mirabolantes da minha cabeça.
JOHN
Sentado à minha frente, meu melhor amigo me olha em
silêncio. Ele ainda não se conforma de eu ter trazido a mulher com
quem quis transar desde o primeiro instante para o meu lado, mas a
sua maior tristeza é não ter sido ele a pessoa quem deu a ideia de
fazer um acordo quando precisava de uma saída perante a minha
avó.
Na hora em que ela nos pegou, vi a minha chance de
ficar com a cadeira de diretor ficando mais distante e, enquanto me
via numa posição inferior ao idiota do Tales, a ideia surgiu. Pensei
rápido e coloquei a Manuella em uma situação que não pediu.
É claro que tive que ir até ela para a acalmar, e imaginei
que poderia me ajudar sem nada em troca, afinal, no seu primeiro
dia me prometeu que seria leal, mas fiz o que pude para garantir
que ficasse calada. Na verdade, faria o dobro para conseguir o que
quero. Quando a gostosa fez a sua exigência simples, quis colocá-la
em cima do balcão do espelho no banheiro e meter fundo na sua
boceta.
Há uma semana Manuella mostrou que é um pouco
parecida comigo, e me deixou ainda mais sedento por ela. Não
aconteceu mais nada entre a gente, mas o desejo ainda está aqui.
Quando transei com mulheres que não são nada para mim durante
os últimos dias, pensei na sua boceta apertada. Quando vi que
recebeu flores, quis ir atrás do idiota que tem chances de a ter antes
de mim.
Eu quero mais do que tudo ser o dono da porra toda no
grupo Harper, porque gosto do poder e aceito a responsabilidade,
mas, de repente, uma boceta de ouro está nublando a minha visão,
e não estou mais conseguindo separar uma coisa da outra.
— Pensando no porquê de ainda não ter conseguido
levar a sua secretária para a cama?
— Sim. Quer dizer, não — Pietro me deixa exasperado,
porque me conhece melhor do que os meus pais e sabe até o que
uma expressão minha significa. — Mais ou menos.
— Cara, eu que sou gay, e enxergo bem, notei que ela é
muito gata, gostosa do jeito que você gosta, mas essa mulher, que é
apenas a sua secretária, e não veja esse comentário como um
preconceito de classes, não tem a vagina de ouro. Tem mulheres
aos montes por aí.
— Eu sei e, inclusive, saí com uma ontem, mas não era a
Manuella. Essa obsessão da porra só vai passar depois que eu
transar com aquela morena.
É isso, estou obcecado, basta conseguir a levar para a
cama ao menos por uma noite para passar. A gente vai seguir em
frente sem isso no nosso caminho depois que acontecer. Tenho
certeza.
— Então faça alguma coisa, porque estou começando a
achar que ela se tornou mais importante para você do que a cadeira
do seu pai.
— Você está enganado — nego com veemência.
— Então, por que estamos falando dela ao invés do que
realmente está em jogo aqui? — indaga como um tapa na minha
cara. Ele tem razão.
— Como está a história do Tales com a tal namorada? —
questiono.
Ele fez a jogada primeiro, então, mesmo que tenha feito
igual em seguida, já está na minha frente. Para o meu azar, a tal
moça é uma amiga de infância, que já havia frequentado a casa da
vovó e ela se lembra da moça. Eu posso apostar um dedo que ele
fez o mesmo que eu, e não está com ela coisa nenhuma.
— Do mesmo jeito que você viu na casa da vovó no fim
de semana. Érika conhece a moça e sente simpatia por ela,
influenciada pela história, que sabemos ser mentirosa, de um amor
de infância. Você, por outro lado, se envolveu repentinamente com
uma desconhecida que havia acabado de contratar. Dê crédito a sua
avó por não estar certa de que esse namoro não é apenas uma
ficada.
Porra! Preciso contar para ele que Manuella acha que o
acordo tem prazo para acabar, que para ela já deveria ter acabado.
Preciso encontrar outra saída.
— Pietro, tem algo que não cheguei a comentar com você
— ele arqueia a sobrancelha, sabendo perfeitamente que vem
merda pela frente. — Propus um acordo de curto prazo para a
Manuella. Antes de você entrar, ela estava me cobrando sobre o
término dele.
— Porra, John. Você nem conseguiu convencer a sua avó
de que é capaz de manter um namoro sério, e nós sabemos que
não é, e já vai anunciar o término? Essa situação só vai complicar
tudo. Era melhor que não tivesse inventado esse namoro. Na
verdade, não teria que ter pensado em algo assim se conseguisse
manter as mãos longe da sua secretária — fala e se levanta.
— O que faço agora? — questiono. Somos uma dupla,
mas ele tem a mente mais perversa quando se trata de armar.
— Você terá que se virar, meu amigo. E eu te aconselho
a dobrar a sua “namorada”, antes que a sua avó comece a pensar
que o Tales não é uma opção tão ruim assim para a presidência.
— Puta que pariu! — Esbravejo quando fico sozinho.
Pietro está certo, eu tenho que fazer alguma coisa para
não acabar ficando em desvantagem.
Pode parecer fútil que um cargo como a presidência
esteja sendo disputado com questões que envolvem
relacionamentos, mas por trás de tudo isso existe uma verdade que
não gostaria de ter que admitir.
A minha avó e todo o conselho diretor sabem que eu sou
o mais indicado, que o meu trabalho tem sido muito melhor do que o
do meu primo, que até a minha capacidade de elevar ainda mais o
grupo por causa da minha personalidade é superior, mas a minha
avó não se importa apenas com isso.
Ela preza pelo lado familiar, pela capacidade que as
pessoas têm de gerir as próprias vidas. Para ela, ter sucesso na
carreira não basta. É um pacote que vem com esposas e filhos. Se
o meu primo tiver isso e provar para ela que é um homem dedicado
a família, ela não se importará que as suas qualidades para ficar
com a cadeira do meu pai sejam medianas.
Mas estou no caminho do priminho, e não vou deixar que
ele me vença. Nunca. Tenho que pensar em uma forma de fazer a
morena ficar do meu lado nessa briga, mesmo que para isso tenha
que cumprir as suas exigências.
Haverá uma mudança de planos, mas sei de antemão
que terei que ter muito cuidado e paciência com o que direi para a
minha secretária. Talvez eu possa prometer o triplo do seu salário,
até que convença a minha avó de que sou, sim, capaz de manter
um relacionamento?
Talvez não precise ir tão longe como o Tales parece
disposto a ir. Eu sou o neto preferido, então, se a Érika tiver ao
menos uma garantia de que no futuro posso me aquietar e formar
uma família de comercial de margarina, tenho certeza de que irá
votar a meu favor na reunião do conselho.
O dia se arrasta e, ao invés de trabalhar em um projeto,
fico com a mente cheia de ideias de como falar com a minha
secretária sobre um novo plano. Ela mal está suportando esse
primeiro e não vê a hora de acabar.
Sinto que não importa o que eu tenha que fazer para que
colabore, eu vou até o fim.
Ao chegar na cobertura em que moro sozinho desde os
meus vinte anos, sou recebido pelo silêncio que valorizo quando
estou aqui. O triplex foi um presente dos meus pais, porque eles não
aguentavam mais a fase em que eu levava garotas diferentes para
casa a cada semana.
Eles queriam se livrar de mim e não os julgo, mas eu
acabei não trazendo nenhuma mulher para cá. Quando encontro
alguém, levo para um hotel ou vou para a casa dela, mas aqui não.
Além de ser o meu refúgio, não gosto da ideia de que pensem que
possa significar que podem ficar para dormir, ou que irei levar café
na cama.
Depois de colocar as chaves em cima da bancada
americana da cozinha, subo para o meu quarto e tomo um banho
demorado. Deito-me para descansar um pouco e ligo o som em um
rock pesado, mas não consigo relaxar. Perto das dez da noite,
decido que hoje não é dia de ficar em casa pensando em
problemas.
Até que seja segunda novamente, vou me divertir!
Arrumo-me rapidamente, pego preservativos e as chaves
do carro e saio de casa. Não ligo para o Pietro e o Nicolas, pois tudo
o que eu não quero é olhar para eles e pensar em trabalho.
Escolho uma casa de shows menor e menos cheia. Ao
chegar, compro o meu ingresso, entro e vou direto para o bar, que
está movimentado. É nele que as pessoas pedem bebidas e
aproveitam para paquerar enquanto a bebida é preparada. Com
sorte, se consegue um passe antes de os copos chegarem.
Eu espero que hoje esteja com sorte, porque quero
apenas encontrar uma companhia e relaxar, enquanto fodo uma
boceta. O perfume gostoso, e que não é desconhecido, chega antes
da dona, que se senta ao meu lado.
Tenho medo de olhar e comprovar de quem se trata,
porque o destino não pode ser tão sacana. Passei o resto do dia
trancado na minha sala para não olhar para a minha secretária,
embora ela estivesse nos meus pensamentos junto com todo o
resto, para agora a encontrar aqui.
— John Harper? — Ela fala, e não tenho outra saída, a
não ser me virar para ela, e sinto que essa noite está apenas
começando.
CAPÍTULO 13
JOHN
O foda é que a morena, que está mais gostosa do que o
normal com o seu vestido vermelho, curto e tomara que caia, veio
de bando com as três secretárias do penúltimo andar do edifício.
Elas sempre acompanharam a minha vida com bastante interesse,
como as boas fofoqueiras que são.
Pergunto-me o que estão pensando do relacionamento
da nova colega delas comigo.
— Meu amor, por que não me avisou que viria com as
suas amigas? Eu poderia ter trazido vocês — digo com alegria e um
sorriso falso no rosto ao abraçá-la pela cintura.
Pelas expressões nos rostos das mulheres, está na cara
que Manuella não contou nada sobre o nosso suposto namoro, e
isso é muito ruim para mim, porque deixa claro que realmente
espera que o acordo acabe de uma vez.
Bom, ela acaba de me dar uma excelente oportunidade.
— Não me diga que não contou para elas? — A morena
está dura e sem reação ao meu lado. Será que não imaginou que
era uma péssima ideia se colocar nessa situação? — Eu sei que fica
sem graça, mas a gente não manda no coração, não é, meninas? —
pergunto e beijo o seu rosto.
— É claro.
— Não, não manda.
— Quem nunca se apaixonou pelo chefe?
As três falam ao mesmo tempo, cada uma com uma
resposta diferente, mas nenhuma que tenha coragem de criticar o
relacionamento, pelo menos, não na minha frente.
— Bom, depois a gente conversa, querida. A gente vai
encontrar uma mesa, enquanto você pede as bebidas e conversa
com o seu namorado. — A secretária do Tales fala, e não sei se
confio nela, afinal, é a secretária dele.
Assim que elas saem, a gata arisca dá uma cotovelada
nas minhas costelas e se afasta. Imagino que vá aproveitar as
próximas horas para me responder de igual para igual, já que não
posso usar o argumento de que sou o seu chefe e estamos na
minha construtora. Aqui, nós somos apenas um homem e uma
mulher.
— Está me seguindo? Não é possível que você, com
tantos lugares melhores para ir, tenha vindo justamente para cá — a
mulher fala, em pé de frente para mim. Eu não me dei ao trabalho
de me levantar, assim a minha cabeça fica na altura do seu decote
profundo.
E que decote. O meu sonho é cair de boca nos seus
peitos e me fartar.
— A minha cabeça fica alguns centímetros mais para
cima — Manuella avisa.
— Perdão, é porque eles estão bem deliciosos nesse
vestido.
— Você ainda não respondeu a minha pergunta —
insiste. Por que ela não chega mais perto, ao invés de ficar batendo
o pé contra o piso? Será que pensa que consegue alguma coisa,
além de me deixar excitado, com essa pose de marrenta? — Aliás,
você não deveria ter contado para as meninas desse suposto
namoro.
— Eu não tenho culpa, porque você não me disse que
era um segredo, e eu não podia adivinhar que elas não sabiam —
digo e a puxo pela cintura para que fique entre as minhas pernas.
Manuella fica surpresa e eu explico. — Elas estão a sua esquerda e
não tiram os olhos da gente.
Óbvio que estou me aproveitando para tocá-la. Eu tenho
poucas certezas, mas uma delas é a de que não existe a
possibilidade de o sexo ficar de fora de um futuro segundo acordo
entre a gente. Seja qual for o plano, a gente terminará transando.
— Agora ficará difícil de fugir da curiosidade delas. Vão
querer saber de todos os detalhes de como aconteceu, sobre como
você é na cama — fala, e mesmo que tente, os seus olhos não
ficam muito longe da minha boca.
Sei que quer me beijar tanto quanto eu quero a beijar.
Vim na intenção de encontrar companhia para esquecer um pouco
da minha secretária, mas aqui está ela, me tentando, como tem feito
desde o dia em que entrou na minha vida.
— Você pode falar daquele nosso encontro na minha
sala, de quando enfiei os dedos na sua boceta e quase te fiz gozar.
Lembra de como foi bom? — Sei que as lembranças estão
passando pela sua mente, porque a sua expressão não mente. — E,
respondendo a sua pergunta, eu não estou te seguindo, foi apenas
uma bela coincidência.
— Veio atrás da transa da noite? — pergunta. — Não que
isso me diga respeito, mas acho muito perigoso. Se você cometer
um deslize, eu serei vista como corna, fora que ficará em maus
lençóis com a sua avó — explica. Agora Manu está tranquila, sendo
abraçada por mim.
Sei que está de olho nas amigas e que se preocupa com
o que elas estão pensando, mas gosta de estar aqui, assim como eu
gosto de abraçá-la. Algo inédito, mas que não causa nenhum
alarde.
Nunca namorei, e nunca me apaixonei, mas isso não tem
nada a ver com ser contra o amor, então, o fato de gostar de tocar
nessa mulher quer dizer que gosto da sua companhia. Que teria um
bom tempo na cama com ela, e não só por causa do sexo. A
conversa também deve ser boa.
— Pode não parecer, mas eu sei ser discreto, Manuella
— aviso. — E você, sabe? Porque imagino que possa ter vindo
atrás de companhia — sondo. Por alguma razão, isso me incomoda.
Pensar em outro homem tendo o que eu não tive, embora
não seja por falta de vontade, faz com que eu deseje socar o
mundo.
— Vim dançar com as minhas amigas, como fariam
outras mulheres em uma noite de sexta-feira, mas também poderia
sair daqui acompanhada, afinal, para todos os efeitos, eu sou uma
mulher livre.
— Pensei que tivesse mudado de ideia quanto a fazer
sexo com homens — comento.
— E com mulheres, será que o meu dono deixa? — ela
me provoca. A ideia me excita, desde que eu estivesse junto vendo
a cena.
— Eu seria convidado? — pergunto, aproximo a cabeça
da dela na intenção de beijar, porque quando estamos assim, as
outras questões, incluindo o fato de que vou precisar dela muito
mais do que pensa, somem da minha mente. Deixo de ser racional.
Mas é Manuella quem recua ao meu toque, colocando a
mão na minha boca. O fato de estar entre as minhas pernas já está
nublando os meus sentidos e eu não posso deixar de dar em cima
da mulher nem por um segundo.
— John, quando a gente se conheceu, eu disse que
conhecia tipos como você, lembra? — Eu aceno positivamente,
achando estranho que esteja trazendo esse assunto a tona
novamente. — Não mudei o meu pensamento de lá até aqui. Você é
um cara podre de rico, que não tem nada a perder na vida, mas eu
tenho muito a perder.
— Por que está falando disso agora? — questiono-a
incomodado.
— Porque eu, desde aquele momento, independente do
que falei, te achei um homem atraente e senti desejo por você. O
fato de ser tão arrogante e mandão não diminui em nada a vontade
louca que tenho de transar com você, mas, como eu disse, sei quem
somos, e não posso colocar em risco o meu futuro por causa de
uma transa de uma noite.
— Então, você só ficaria comigo se junto com a cama
viesse um anel de compromisso? — Eu não deveria estar falando
isso, mas estou.
— Não. Estou querendo dizer que de nenhuma maneira
seria uma boa ideia para a gente ceder a essa atração — diz. Eu
concordo com a morena, inclusive, tentei ignorar a obsessão, mas
só dá certo quando não estou assim, tão perto dela.
— Qual é o seu plano, sair daqui hoje para dar para um
cara qualquer, sabendo que é a mim que deseja? — Não sei por
que, mas tenho a sensação de que estou me parecendo com um
cara despeitado e ciumento.
Pareço-me com o Dante, que sempre foi tão desapegado.
Talvez essa mulher seja uma bruxa jogando o seu feitiço de
sedução.
— Parece um bom plano, é melhor do que cair nas suas
mãos — diz.
O barman começa a colocar as bebidas à nossa frente no
balcão, mas não desviamos a nossa atenção um do outro.
— Espero que seja uma boa caça — falo, mas o gosto do
ciúme na minha boca é amargo.
— Desejo o mesmo a você — assevera e tenta se
afastar, mas eu a abraço de novo contra o meu corpo.
— Elas estão olhando, então acho melhor a gente dar o
que esperam ver.
— Mas... — Antes que a morena faça um novo discurso,
coloco a mão na sua nuca e puxo a sua cabeça para junto da
minha.
O beijo já começa frenético, porque não sei se Manuella e
eu juntos poderíamos ser de outra forma. Mesmo com tudo o que
falou, ela corresponde ao meu beijo e deixa que a minha língua
envolva a sua.
E quando estou assim com essa mulher, tudo desaparece
e ficam apenas as sensações, principalmente a de que não posso
morrer sem antes entrar dentro do seu corpo.
Dramático? Eu sei, mas é assim que me sinto no
momento. De alguma forma, preciso dar um jeito de fazer com que
se esqueça dos seus temores, que queira mandar tudo para o
espaço em nome do desejo, assim como eu estou fazendo.
— John... — fala dentro da minha boca, começando a me
empurrar, mas a sua voz está fraca. O corpo está trêmulo nos meus
braços. — Já chega. A gente precisa parar. — Por fim, consegue
terminar o nosso beijo e, como sempre, a sua boca está
deliciosamente avermelhada, assim como a minha deve estar com
as marcas do seu batom.
— Agora as suas amigas fofoqueiras terão o que
comentar — digo, Manu faz cara feia.
— Elas não são fofoqueiras! — Aponta. — Será que pode
me ajudar a levar os copos?
— É claro, querida — digo, me levanto e a auxilio.
— Depois você ficará fora de nossas vistas, e não deixe
que elas pensem que está me traindo — instrui enquanto
caminhamos para a mesa das secretárias.
— Digo o mesmo a você — falo, mesmo duvidando que
as três vão tornar as coisas tão simples para a gente.
— Bom, meninas, obrigado por terem me dado um tempo
com a minha namorada. Agora, ela é toda de vocês — digo com
simpatia, enquanto ajeito os copos sobre a mesa.
— Imagina, chefe. A gente não seria tão má a ponto de
separarmos um casal, inclusive, se não for demais para você a
convivência com reles mortais, pode sentar com a gente, não é
meninas? — Uma das mulheres fala. Eu olho inocentemente para a
minha suposta namorada, dizendo que a culpa não é minha.
— Ele veio com amigos, meninas. Além do mais, pensei
que essa fosse a nossa noite — Manuella fala, aparentemente
conseguindo escapar.
— Ela tem razão, gente. Mas eu prometo que vou ficar
por perto. Se quiserem, posso levá-las em casa. Sei como a cidade
pode ser perigosa.
Essa é uma forma idiota de garantir que Manuella vá para
casa sozinha. Eu também vou, mas é um sacrifício que posso fazer
em nome da possessividade que não sabia que fazia parte dos
meus defeitos.
— Você é muito gentil, amor — Manuella fala com
carinho, depois me dá um selinho, mas imagino que por dentro
esteja querendo dar tesouradas na minha barriga.
— Até mais tarde, meninas. — Aproveito-me da situação
e dou mais um beijinho na morena.
A noite se mostra uma surpresa para mim, só não
consigo definir se boa ou ruim. No início, eu volto para o balcão do
bar e fico sozinho com o meu suco. Não pedi nada alcoólico, não
depois de ter me oferecido para dar carona para as mulheres,
incluindo a minha morena. É estranho que não consiga sequer
conversar por mais do que cinco segundos com qualquer mulher
que se aproxima de mim.
Logo que elas chegam no ponto em que vão se oferecer
para irmos para um lugar mais discreto, talvez para um quarto de
hotel, eu dou um jeito de dispensar. Eu queria poder dizer a mim
mesmo que estou apenas pensando no contrato, sendo discreto
para não colocar tudo a perder, principalmente quando as suas
amigas estão aqui, mas não posso negar a verdade.
É claro que eu só posso ter contraído algum vírus, porque
nunca fui de agir assim. Gosto muito de mulheres, mas parece que
o meu gosto se tornou mais restrito.
Se ela não for uma gostosa morena, que tem a boca da
Angelina Jolie, e peitos que me pedem para tocá-los, não
despertará o meu interesse, não nesta noite. Eu estou começando a
ficar preocupado com as minhas reações à minha secretária, mas
me sinto mais firme ainda na ideia de que é apenas um desafio, que
quando a provar de todas as formas possíveis, durante uma noite
inteira, essa fixação sem sentido vai passar.
O fato de eu precisar transar com a minha secretária é
um fator de risco para os meus planos, mas sou John Harper, e não
vou deixar que uma coisa atrapalhe a outra. Posso, sim, usá-la para
os meus propósitos, mas também posso desfrutar do seu corpo
tentador, até que saia do meu sangue.
Depois de já não aguentar mais dispensar bocetas,
descubro que essa foi a parte mais fácil da minha noite. O lugar não
é tão grande assim para que eu não possa ver quando a minha
secretária e as outras se levantam da mesa e vão para o meio da
pista de dança que, até então, não está cheia.
No momento em que Manuella começa a dançar,
rebolando a bunda gostosa ao som de um funk proibidão, que fala
sobre meter na boceta, me dou conta de que é possível morrer de
tesão frustrado. A cada movimento que ela faz, o vestido, que já era
curto, sobe mais um pouquinho, deixando as suas pernas grossas e
torneadas à mostra.
Eu estou duro e babando, mas o problema é que oitenta
por cento dos homens presentes aqui também estão. Não tem como
ver uma mulher como ela e não se impressionar. Manuella parece
alheia ao efeito que causa e, para piorar, começa a se esfregar
durante a dança com uma das mulheres.
Todas as outras três secretárias são fascinantes a sua
maneira, mas nenhuma delas nunca chamou a minha atenção como
a morena chama. Todas as três, que estão no penúltimo andar do
edifício do grupo Harper, são importantes demais para que eu
sequer pensasse em olhar para elas.
Mas agora tem uma delas com as mãos em cima da
morena. É uma imagem que jamais passaria pela minha cabeça,
mas que duvido que consiga desver algum dia. Será que a mulher é
lésbica? Ou será que a Manuella é bissexual?
Não, mas é apenas uma dança, não é?
Deve ser por isso que o meu pau está a ponto de
estourar o zíper da minha calça jeans.
Elas estão uma de frente para a outra, a secretária de
cabelos curtos e escuros tem uma mão na cintura da Manu,
enquanto a outra está agarrada no seu peito. Elas esfregam os seus
corpos, enquanto as outras duas gravitam em volta, também
dançando e sorrindo sem parar. A imagem, além de excitante,
também é bonita. É como se formassem um harmonioso conjunto.
Não sei se é errado, mas se for, não importa, pois já sei
que vou direto para o inferno de qualquer forma, mas a minha mente
se enche com imagens de cenas inventadas dessas duas juntas.
Elas sobre uma cama se tocando e eu assistindo. Depois, a
secretária de cabelo curto, preciso decorar o nome delas, porque
sinto que serão importantes para mim, chupando os seios da
morena, enquanto eu chupo a sua boceta.
Ela geme sem parar e implora por mais para nós dois,
porque essa mulher tem cara de que não se contenta com pouco,
que mesmo se não tiver tido tudo o que merece no quesito prazer,
ela vai saber reconhecer e aproveitar quando tiver. Me vejo metendo
sem parar na sua boceta, e a outra mulher sempre lá, a tocando nos
lugares onde não estou.
Quando a música acaba e elas enfim param de se mexer,
isso faz com que as pessoas desviem as suas atenções para outras
coisas, a mulher ousada troca um abraço demorado com a minha
secretária e depois beija o canto da sua boca. O meu pau tem um
sobressalto, mas me pergunto se Manuella sabe o que está
fazendo, ou se está bêbada demais.
Elas voltam para a mesa, e eu passo mais um tempo
apenas observando o movimento de pessoas, ainda excitado como
um adolescente e com imagens da mulher na minha cabeça. Perto
das duas horas da madrugada, eu me aproximo delas, porque as
pessoas começam a irem embora e imagino que já tenham bebido o
suficiente.
Nos segundos que levo para chegar até as mulheres,
procuro não pensar nas vezes em que homens e mulheres
chegaram perto da Manuella, mas, felizmente, foram dispensados.
Procuro não pensar na sua bunda, que deve ter deixado alguns
vesgos e paus duros. Não que ela tenha culpa de ser uma gostosa.
Dante, meu amigo, eu te entendo!
— Estão prontas? — indago ao parar atrás da morena,
abraçá-la pela cintura e enfiar a cabeça no seu pescoço, sentindo o
cheiro do seu perfume e o gosto salgado de sua pele com a ponta
da língua.
É apenas encenação, digo a mim mesmo, e espero que o
álcool não tenha a feito esquecer.
— Mais do que prontas. Essa noite foi divertida, mas
estou cansada — a senhorita mão boba comenta, enquanto as
outras três mantêm um sorriso frouxo na boca.
Agora que estou mais calmo, olho para a mulher e só
consigo sentir inveja dela.
— Então, vamos? — Chamo-as.
Enquanto caminhamos para a saída, chego à conclusão
de que não beberam a ponto de tropeçarem nas próprias pernas.
Estão apenas alegres e sorridentes. A Manu, por exemplo, está feliz
a ponto de deixar-me abraçar a sua cintura sem parecer tensa. É
apenas natural.
Com a minha secretária sentada ao meu lado no banco
do carona, e com as quatro falando bobagens e sorrindo, eu levo de
uma por uma até as suas casas, porque eu saí de casa hoje para
ser o motorista das quatro, e deixo a morena por último.
— Parece que a sua noite foi divertida, não é? —
Comento com a Manu ao parar com o carro na frente da sua casa.
Viro-me em sua direção e tenho a imagem perfeita do seu sorriso
lânguido.
A mulher está levemente alterada e um pouco
descabelada. O suor já secou na sua pele, mas parece que nunca a
vi mais linda.
— Foi uma noite ótima, e eu estava precisando mesmo,
poderoso chefinho... Ops! Não era para você saber do apelido
carinhoso — fala aos risos e cobre a boca com as duas mãos como
uma criança.
Eu também sorrio, e não me incomodo. É a cara dela
colocar apelidos, mas que não sejam ofensivos.
— Que bom que se divertiu, agora, está na hora de entrar
e descansar — digo com custo, porque não queria que a nossa
noite terminasse ainda.
— Mas estou frustrada — emenda a última frase como se
eu não tivesse dito nada. — Você viu aquela dança com a Sara? —
questiona, eu balanço a cabeça. O meu pau salta só pela
lembrança.
— Eu vi — aviso.
— Eu fiquei tão, mas tão excitada que a minha calcinha
está molhada até agora. — Ofego com a sua informação, porque
não era algo que eu tinha necessidade de saber.
— Você quis transar com ela? — sou direto na minha
pergunta.
— Não necessariamente com ela, mas o meu corpo tem
estado bastante sensível depois de você. Fui até aquele lugar para
me divertir, e talvez tivesse saído de lá com alguém para apagar o
meu fogo, se você não tivesse aparecido e jogado mais gasolina.
Que legal, o álcool no sangue está a deixando mais
sincera do que já é.
— Então, você queria transar hoje? — pergunto o óbvio.
— Queria gozar. Ainda quero, e só de pensar que vou
chegar em casa e terei que me trancar no banheiro com o meu pau
de borracha... Vou enfiar ele na minha boceta e fingir que é um
membro de verdade. O seu pau — fala e vem com tudo com o corpo
para cima do meu.
As suas mãos estão no meu peito, mas sinto como se
estivessem mais embaixo.
— Não fale assim, Manu. Você sabe o quanto estou louco
por você, mas não vou me aproveitar, porque vejo que está bêbada
e, em outra situação, estaria fugindo como o diabo da cruz do
desejo que sentimos — digo, fazendo o papel da pessoa
responsável no momento.
— Não pode nem mesmo me fazer gozar com isso? —
Primeiro a mulher dá um sorriso bêbado sexy, depois enfia o meu
dedo indicador e o médio dentro da boca. Chupa-os de uma forma
que me traz o desejo de rasgar o seu vestido aqui mesmo.
Quando deixa de chupar os meus dedos, estou vesgo
olhando para eles, imaginando que estão úmidos pelos fluidos do
seu desejo.
— Eu não sei se...
Porra! Por que é tão difícil fazer o que é certo?
— Por favor, Harper — suplica. A sua mão pequena
começa a descer pelo meu abdômen, porque quer tornar tudo mais
difícil para mim, como se já não estivesse quase impossível.
— Vai acordar arrependida mais tarde e não poderá voltar
atrás — aviso.
— Não importa. Eu só quero me sentir bem, e tem que
ser você — fala ao pegar a minha mão e colocá-la entre as suas
pernas. — Estou ficando cansada.
— Cansada?
— Cansada de precisar resistir a minha vontade de ficar
com você, nem que seja apenas uma vez. De negar que penso
todos os dias nas suas mãos no meu corpo, de como seria bom se,
ao menos uma vez, fizesse um sexo decente.
Porra!
Puta que me pariu!
Eu vou explodir a mim e esse bairro inteiro de tesão!
A mulher que mais quis na vida está admitindo com todas
as letras o que quer. Eu já imaginava, mas é bom ouvir, é bom saber
que estamos em pé de igualdade quanto a esse assunto.
— Sexo decente, é? — falo para a distrair, ainda
relutando.
— Toque-me, sei que quer — diz contra a minha boca,
depois descendo o olhar para o meu colo.
Ela está vendo um pau muito duro marcando a frente da
minha calça. O desejo me vence quando aliso a sua calcinha úmida,
sentindo-a pronta para mim. Eu poderia facilmente penetrá-la agora
mesmo, e seria tão gostoso e fácil...
— É assim que quer? — Provoco-a, e deixo que os meus
dedos ultrapassem a barreira ao afastarem o tecido da peça
pequena para o lado.
— Não. Quero que os enfie profundamente, como fez na
sua sala. Me faça gozar... — implora, eu aproveito que os vidros do
meu carro são mais escuros que o normal, e que não tem ninguém
na rua para fazer algo melhor.
No espaço diminuto do carro, com as suas costas
apoiadas na porta, pressiono o meu corpo no seu, então começo a
lhe dar prazer, enfiando e tirando lentamente dois dedos.
Ansiosa, Manuella segura os cabelos da parte de trás da
minha cabeça e, sem inibições, rebola os quadris, encontrando os
meus dedos a cada estocada.
— Sabia que você é gostoso? — Manuella está falando
tudo o que não teria coragem se não estivesse alcoolizada. — O
homem mais gostoso da cidade me fodendo com os dedos. Devo ter
zerado a vida nesse momento. Que delícia... — Esquece do que
estava falando quando enfio os dedos no seu sexo mais
profundamente e aumento o ritmo das estocadas, quando queria
que fosse o meu pau.
— Você que é linda e gostosa, Manuella Ortega —
declaro, então a beijo, pois a única coisa que quero mais do que os
seus beijos intensos é a sua boceta apertada.
Manuella geme dentro da minha boca e se senta nos
meus dedos. Queria ditar o ritmo, mas aproveito o que tenho e deixo
que tome de mim tanto quanto quiser. Sinto quando está prestes a
gozar, porque os músculos da sua vagina apertam os meus dedos e
fico muito na borda ao imaginar como será quando for o meu
membro.
— John... — ela fala com a boca colada na minha e puxa
com força os meus cabelos quando é tomada por um orgasmo
intenso.
Seu corpo se contorce de prazer, os seus espasmos me
permitem sentir quando uma gota de pré-gozo deixa o meu pau.
Preciso tanto dessa mulher, mas é difícil ter que agir com decência e
deixar que tenha o seu momento, porque agora é tudo dela.
Até que se acalme, continuo com a boca na sua e a
masturbando com os dedos, indo e vindo, agora mais
superficialmente. Quando fica lânguida, e acredito que
suficientemente satisfeita, deixo o seu corpo e me ajeito no meu
banco.
Estou com os dentes trincados e os punhos cerrados,
segurando-me para não tirar o meu membro para fora e bater uma
para ela, gozando nos meus dedos como um adolescente. Ao olhar
para o lado, ela está com os olhos fechados, um meio sorriso no
rosto e respirando profundamente.
Não a interrompo, porque não sei de quantos minutos eu
mesmo precisaria, depois que gozasse para ela.
Quando enfim se ajeita, e eu já estava a ponto de pedi-la
para entrar logo em casa, porque necessito chegar na minha
cobertura para cuidar do meu problema, olha para mim, e o seu
olhar é de pura malícia.
— Está na hora de entrar, querida. Depois desse
orgasmo, vai dormir como um anjo — brinco.
— Você sabe como dar prazer a uma mulher, John
Harper — elogia. Manu bêbada é um bom remédio para a minha
autoestima.
— Sempre que precisar, é só me chamar.
— Mas eu não vou deixar que dirija assim para casa,
corre o risco de bater o carro, e seria uma pena. — Sem aviso, a
mulher gostosa coloca a mão no meu pau duro. Dolorosamente
duro.
Ela dá uma afagada nele, com movimentos de subir e
descer, e depois começa a abrir o botão e o zíper da minha calça.
— Morena, você não precisa fazer isso — digo, mas é
tudo o que mais desejo agora. Só de pensar na sua boquinha no
meu...
— Mas eu quero muito te chupar — declara.
— Mais tarde você vai se odiar por tudo isso que está
fazendo e dizendo — aviso mais uma vez.
— Não quero pensar no depois, só no agora, e agora
quero te chupar — ronrona perto do meu ouvido e me faz sentir
arrepios de prazer.
Eu juro que não estava esperando que fosse ganhar um
boquete quando decidi dar carona para ela e as amigas. Estava
apenas sendo territorial com uma mulher que nem é minha de
verdade.
Não digo mais nada para a impedir, apenas suporto a
agonia de não poder gozar antes mesmo de ela chegar com a boca
perto de mim.
— Ainda bem que esse monstro nunca vai chegar perto
da minha menina. Imagino o estrago que faria. Eu ficaria dias sem
conseguir andar — ela fala, os seus olhos estão arregalados,
enquanto acaricia o meu membro de cima até em baixo.
Felizmente, a natureza me abençoou nessa área e eu a
recompensei usando direito o privilégio de ser bem-dotado. Até
agora, quem o conheceu, sempre voltou em busca de mais.
— Mas seria por uma boa causa — digo, duvidando que
não chegaremos a trepar. O sexo oral será apenas o início de uma
longa foda que teremos quando eu tirar todos os empecilhos do meu
caminho.
— Uma ótima causa...
Para que seja menos desconfortável, afasto o banco um
pouco para trás, dando mais espaço para Manuella se curvar até
que seu rosto esteja na frente da minha calça.
Manuella começa com a cabeça. Ela passa a língua
lentamente, enquanto sinto as minhas entranhas se retorcerem de
prazer. Depois, pouco a pouco, sem demonstrar a menor pressa e
sem piedade do meu estado, a morena começa a engolir o meu
membro.
Está nítido que é muito para ela, mas a safada é
gananciosa e, aos engasgos, com os olhos lacrimejando, me chupa
quase até a base. Manu faz isso algumas vezes, colocando
pressão, passando a língua, e às vezes os dentes, mostrando que
tem certa experiência, até me ter com uma mão segurando no seu
cabelo com firmeza.
Preciso do controle e ela me dá, então começo a erguer o
quadril e a ditar quanto de mim ela irá engolir.
— Que boquinha gulosa essa sua, morena... Você é
perfeita, porra! — O elogio a faz se empolgar e me levar para a
beira do precipício.
— É melhor parar por aqui, gata. Se não quer que eu
goze na sua boca... se afaste — ela continua a chupar, então basta
apenas duas mamadas para que eu murmure o seu nome e comece
a encher a sua boca de porra.
Sem mostrar que sente qualquer incômodo, a garota
engole tudo. Eu despejo e ela engole. Quando acaba, continua me
chupando até soltar o meu membro limpo e mole na minha barriga.
Levo um tempo para me situar na realidade como ela fez, mas
depois que abro os olhos, a puxo para mim e uno as nossas bocas.
Depois do que fizemos, o beijo que trocamos agora é
íntimo e excitante. Beijá-la, depois de ter deixado que mamasse no
meu pau, deixa claro que isso foi só o começo, que com ela eu
quero tudo, me faz pensar que eu farei o que for preciso para
conseguir tê-la para mim.
Eu sempre consigo tudo o que quero, e Manuella tornou-
se um dos meus maiores objetivos, juntamente com o cargo de
diretor-presidente do grupo Harper.
— Eu poderia passar a madrugada toda te beijando,
morena, mas acho que não quero estar aqui quando a ressaca vier
e você se der conta de que fez o que sempre quis, mas não tinha
coragem — falo com a boca colada na sua.
— Gozou e já está me mandando embora? — ela rebate.
— Não, eu posso te levar daqui agora mesmo e te comer
até o dia amanhecer. Você quer? — pergunto, no meu íntimo,
torcendo para que diga sim.
— Melhor não. A gente já fez demais por uma noite —
conclui, dando beijinhos nos meus lábios. — E mesmo que eu me
arrependa, sei que vai acontecer isso, eu gostei de tudo que a gente
fez aqui. Se na segunda eu não puder olhar nos seus olhos, pelo
menos já sabe a verdade. Tenha um bom fim de noite, senhor
Harper.
— Igualmente, senhorita Ortega — sussurro no seu
ouvido e beijo longamente sua boca, antes de deixar que saia do
carro.
Depois que Manuella termina de entrar em casa, eu
arranco com o carro, mas tenho dificuldade de me concentrar na
estrada. A viagem de volta para casa parece bem mais longa do que
realmente é, porque a minha mente está entorpecida pela paixão
dos momentos roubados que tive.
Quando chego à cobertura e entro na ducha gelada, faço
com um sorriso no rosto, pois agora o meu desafio tornou-se muito
maior, mas também mais prazeroso. Eu quero o poder de ser o
mandachuva da construtora, mas também quero a mulher e, de uma
forma que eu mesmo planejarei, unirei os dois. No fim, a vitória terá
um duplo sabor.
CAPÍTULO 14
MANUELLA
Acordo com a sensação de ressaca, embora faça dois
dias que ela de fato me pegou. O meu maior inimigo é mesmo a
ressaca moral, dessa não dá para fugir, tanto que passou dois dias
inteiros me perseguindo sem trégua.
Durmo e acordo me martirizando pelas bebidas a mais
naquela casa de shows, por ter caído na armadilha do John e
permitido que me trouxesse em casa. Me culpo, porque não posso
culpá-lo, já que não me obrigou a chupar o seu pau, ou a deixar que
enfiasse os dedos na minha boceta.
E, apesar disso, de saber que fiz uma grande merda e fui
fraca, quando prometi a mim mesma que não seria, não consigo me
arrepender por completo. De alguma forma, precisava fazer aquilo e
deixar que fizesse comigo. Não estava mais conseguindo viver
direito, porque só pensava que nunca poderia segurar aquele pau
na mão, ou colocar na boca. O principal era o ter na minha vagina,
mas, pelo menos, tive uma prova.
Eu estava altinha, mas não estava inconsciente e sabia
exatamente o que estava fazendo. Se fosse diferente, sei que o
John jamais teria se aproveitado de mim. Estava tão sóbria que, no
dia seguinte ao sexo oral que fiz nele e de John ter me masturbado
no seu carro, acordei lembrando-me com detalhes do que havia
acontecido.
E se o arrependimento não é tão grande como deveria, a
falta de coragem de olhar no seu rosto daqui a pouco será dobrada.
Só de pensar que aquele gato esteve com os dedos na minha...
Há dois dias, quando acordei, depois de ter revivido na
memória o que aconteceu, a primeira coisa que fiz foi revirar o cesto
de roupas para relembrar como era a minha calcinha. Felizmente,
eu havia mesmo saído de casa naquela noite para me divertir e
encontrar um cara para transar, então a minha lingerie era pequena
e sexy.
Sobre o membro do senhor olhos verdes, porra! É maior
do que eu imaginava que pudesse ser quando via apenas por cima
de sua calça. Imaginei o arregaço que faria na minha menina, mas
fui guerreira quando tive que levá-lo com a boca e, em anos de
experiência, foi o melhor sexo oral que já tive.
O homem, que visivelmente é todo bem cuidado e
vaidoso, me deixou com a impressão de que até o seu pau usa
perfume caro, que é lavado três vezes ao dia com sabonete.
— Se não se levantar dessa cama e parar de suspirar, vai
se atrasar — Mika, que também não tirou o cu da cama durante
todo o fim de semana, fala. — Pensa que eu não vi que chegou
mais de três da madrugada na sexta? Aposto que saiu da seca.
Merda! E eu achando que ela iria deixar passar batido
dessa vez.
— Ele era gente boa, pelo menos? — indaga, enquanto
me levanto apressada. A minha irmã mais nova é o remédio contra
a minha preguiça. Ela me faz querer fugir dos lugares em que está.
— Estou perguntando por que você só se envolve com idiotas. Esse
último, por exemplo...
— Eu não quero falar do Dante, irmã — digo e rumo para
o banheiro. — E, para a sua informação, eu não transei com o cara
de sexta. Ainda bem, porque tenho a sensação de que ele é o maior
de todos os idiotas.
— Chupa bem? — indaga.
— Ele não me chupou, mas sabe como fazer uma mulher
gozar com os dedos — grito, porque a porta do banheiro já está
fechada.
Debaixo do jato de água morna, lavo o meu cabelo e
tento esquecer-me do que tem sido o meu pensamento por dois
dias. Aconteceu e foi bom, não posso voltar atrás, e não voltaria se
pudesse, mas posso fazer algo a partir de agora.
Enquanto seco o meu cabelo e faço a maquiagem, penso
no que vou dizer e em como vou olhar para o poderoso chefinho.
Não chego à nenhuma conclusão, mas decido vestir um vestido
menos agarrado ao meu corpo, assim ele não terá motivos para
ficar me secando, e eu não terei que fingir que não percebo as
coisas sujas que passam pela sua cabeça envolvendo nós dois
sobre a sua mesa.
— Não vai tomar café? — Dona Abigail pergunta, eu me
vejo obrigada a parar para pegar um pão de queijo e beber um gole
de café preto quase sem açúcar, do jeito que a minha velha gosta, e
nos obriga a gostar também.
— Pronto, dona Abigail, já estou devidamente alimentada
— digo, beijo o seu rosto e saio de casa.
O Tito é ótimo, porque ele sempre está me esperando
com o carro no portão quando saio de casa. E sabendo exatamente
quando preciso bater o ponto e o quanto tenho problemas com
horário, dá um jeito para que eu chegue na hora certa todos os dias.
É graças ao homem sisudo que ainda não fui demitida
por justa causa. Por isso, e suspeito que também é por causa da
atração que o poderoso chefinho sente por mim. Se fosse outro, eu
já estaria na agência em busca de uma vaga.
Quando paramos na frente do prédio, desço apressada,
acreditando que terei a sorte de chegar antes do meu chefe, mas
me deparo com a senhora elegante saindo do carro na frente do que
vim. É a avó do meu suposto namorado e, de repente, sinto a
necessidade de checar se está tudo bem com o meu cabelo.
Passo a mão rapidamente pelos fios e ajeito a minha
postura, embora ela ainda não tenha me visto. Penso em passar
despercebida, porque não gosto da ideia de estar a enganando com
o seu neto, mas ela frustra os meus planos ao acenar para mim.
Começo a caminhar em sua direção, mas algo estranho
acontece e ela volta para dentro do veículo. Pergunto-me se ela
sentiu o cheiro da mentira que estou contando que não quis nem
mesmo falar comigo. Mas, por via das dúvidas, e para não parecer
mal-educada, paro na frente do seu carro.
Apesar de não gostar da situação, e de achar que o John
e eu merecemos ir para o inferno por essa mentira tão grande,
sempre farei o que for preciso para o ajudar quando a necessidade
surgir. Agora, por exemplo, ele merece que eu tente ser simpática
com a sua querida avó.
E não faço isso por nada que tenha relação com a
incapacidade de mantermos as mãos longe um do outro, mas sim
porque prometi a ele que seria leal. Conquistar a sua avó para que
fique mais disposta a acreditar na gente é um gesto de lealdade,
não é?
— Algum problema? — indago para o motorista dela.
Abaixo o meu corpo para que consiga a ver melhor. A senhora está
respirando calmamente e com a cabeça jogada no encosto do
banco.
— Leve-me para o hospital, Pedro — ela diz, ignorando a
minha presença, mas não a julgo, pois faria o mesmo se tivesse
nessa posição.
Fico num impasse, mas acabo escolhendo fazer o que
acho certo. Sem que ninguém me convide, entro no carro e me
sento ao lado da senhora Érika. Seguro a sua mão com firmeza e
ela aperta a minha de volta.
O motorista fica em silêncio, como se estivesse
acostumado a agir em situações semelhantes há muitos tempo, e
arranca com o carro.
— O que a senhora sente? — pergunto, ela vira
lentamente o rosto em minha direção.
— Tontura, acho que foi uma queda de pressão — fala
baixinho. — Mas não se preocupe, porque não é a primeira vez que
vou parar no hospital, longe disso — aviso.
Quero fazer mais perguntas, mas ela é tão distinta que
tenho medo de ser deselegante, ou de a irritar.
— Eu estou aqui ao seu lado, está bem? — digo para
confortá-la, satisfeita por estarmos indo para o hospital. Lá terão
pessoas que saberão lidar melhor com ela do que eu.
— Você é a namorada do meu neto John — comenta.
Mesmo que não esteja bem, ainda me olha com curiosamente e
certa desconfiança.
— Eu sou, sim. Namorada e secretária — digo.
— Como foi que isso aconteceu? Quer dizer, eu sempre
quis que aquele menino tomasse jeito na vida, mas não via o meu
desejo como uma possibilidade real de acontecer. Ele sempre foi
mulherengo demais. Toda semana era visto com uma mulher
diferente, às vezes, até duas na mesma semana.
Essa não é uma conversa que eu gostaria de estar tendo
agora, nem nunca, na verdade, mas não vou tentar cortá-la, porque
acredito que a conversa pode a distrair do que quer que esteja
sentindo, até que a gente chegue ao hospital.
— Mas até os homens mais inconstantes uma hora tem
que se aquietar, a senhora não acredita nisso?
Por Deus! Como sou uma pessoa horrível. O neto dela
não está mais perto de se aquietar do que estava antes de me
conhecer.
— Sim, eu acredito. O meu Gregory era igual aos nossos
netos antes de se apaixonar, mas depois ele só teve olhos para
mim. Mas você ainda não falou como foi que se conheceram.
— A gente se conheceu em um bar. Ele estava lá com os
amigos e eu era a garçonete. John se aproximou com aquele
charme que a senhora sabe que ele esbanja. Pensou que me
ganharia fácil, mas a gente acabou brigando. E mesmo que eu
tenha negado para ele aquela noite, me senti atraída pelo seu neto.
— Imagino que sim. O John sempre foi muito
determinado, e ele sempre consegue tudo o que quer.
Quando fala assim, sinto os meus braços se arrepiando,
porque o meu chefe deixou claro algumas vezes que quer ficar
comigo.
— Por coincidência do destino, a gente acabou se
encontrando na empresa, depois que eu me candidatei e consegui a
vaga temporária de secretária do John. O resto a senhora já deve
imaginar. A convivência diária fez com que eu não pudesse mais
continuar negando o que queria, então começamos a namorar —
termino de contar a nossa história, que não é totalmente mentirosa.
— Vocês dois foram rápidos mesmo — ela diz e solta a
minha mão. Se ajeita melhor no banco e isso me faz acreditar que
esteja melhor, embora nada na sua aparência passe a impressão de
que ainda esteja se sentindo mal. — Agora eu quero saber de você.
— Tem certeza? Se eu contar, a senhora pode querer que
o seu neto tenha qualquer namorada que não seja eu — falo em
tom de brincadeira, mas é a mais pura verdade.
— Eu tenho certeza de que não é verdade. Algo me diz
que você é a mulher ideal para o meu neto, e a minha intuição
nunca erra.
Durante os próximos dez minutos, conto para a mulher o
que ela não deveria saber, porque eu tenho um sério problema de
manter a minha boca fechada na maior parte do tempo. Falo da
minha fase namoradeira na juventude, do meu relacionamento de
nove anos, que já havia acabado antes mesmo da traição e, por fim,
do meu relacionamento relâmpago com um dos amigos do seu neto.
Falo até do quão problemático foi, um assunto que não gosto de
falar nem com a minha família.
Conto que sou alguns anos mais velha do que o
poderoso chefinho quando estamos na recepção do hospital, e a
senhora parece bastante interessada em tudo o que ouve. Não
parece que quer que o seu neto fique o mais longe possível de mim.
Depois de dar os seus dados na recepção, Érika é
encaminhada para o atendimento com o seu médico e eu fico na
sala de espera aguardando.
Depois de alguns minutos sozinha, depois de ter tomado
uma água, porque a minha garganta estava seca de tanto falar,
lembro-me de que não apareci para trabalhar e nem avisei para o
Harper que a sua avó veio para o hospital.
— Eu espero que tenha uma razão muito boa para que
esteja tão atrasada, Manuella Ortega! — John fala ao telefone assim
que me atende.
— Eu tenho. A sua avó passou mal na frente do prédio e
eu tive que trazê-la para o hospital, mas...
— Eu estou indo para aí. — O homem desliga o telefone
antes que eu tenha tempo de terminar de falar. Não pediu o
endereço, mas imagino que saiba para onde ela veio.
Quinze minutos depois, ele chega e se senta ao meu lado
no banco. Eu olho para o homem bonito e ele não parece nem
metade nervoso do que deveria estar por causa da avó. Antes de
começar a me perguntar se ele tem um coração batendo no peito,
comento.
— Não sei se ouviu bem o que falei, mas eu trouxe a sua
avó para cá. Ela estava se sentindo mal quando nos encontramos
— aviso.
— Eu sei — fala. — Por um momento fiquei muito
preocupado quando me ligou.
— E agora está calmo assim? Não tem coração? — Era
algo de que já suspeitava, mas estamos falando da sua avó, de
quem tanto precisa da aprovação.
— A minha avó está em algum hospital toda semana, e
não é porque está nas últimas. Ela é hipocondríaca — diz, o que
explica a sua aparente calma.
— Quer dizer...
— A dona Érika deve ter sentido algo, afinal, já tem
bastante idade, apesar de fingir que não, mas não é nada tão grave
que mereça alarde. Ela mesma faz isso toda semana ao procurar
por doenças que não tem.
— Acredito que foi uma queda de pressão. E se ela não
tem nada mais sério, deve ter sido por causa do calor — concluo. —
Mas eu me preocupei de verdade.
— Eu sei. E obrigado por ter vindo até aqui, por não ter a
deixado sozinha — ele fala. — O seu gesto fará com que ganhe
muitos pontos com a minha avó. — Embora não tenha sido essa a
minha preocupação quando a ajudei, fico curiosa.
— Por que diz isso? — Pergunto.
— Já faz tempo que todos da família pararam de deixar
os seus afazeres para acompanhar a minha avó ao hospital. O
motorista que está com ela há anos sempre sabe como agir e se é o
caso de ligar para alguém, na hipótese de ser realmente algo mais
sério.
— Ele parecia preocupado quando arrancou com o carro
— aviso.
— E ele iria arriscar em dizer que não era nada de mais?
O homem faz apenas o trabalho dele — diz. — Mas você foi
atenciosa com a minha querida avó, que tem a saúde de ferro, e às
vezes só precisa de atenção. Você deve ter se tornado a pessoa
favorita dela no mundo — fala.
Nós estamos lado a lado na sala de espera do hospital
particular, conversamos de boa, e eu fico contente de ter invadido o
carro da senhora, pois pelo menos não tive que passar pelo
momento forçado de olhar para a cara desse homem depois do que
a gente fez. Quer dizer, nós estamos tendo esse momento agora,
mas está sendo natural, porque o assunto é outro.
— Você deve estar exagerando. Não fiz nada de mais. E,
além disso, não sei se ela está gostando tanto de mim, não depois
do que eu falei — comento.
— E o que foi que você falou? — John se volta para mim,
e agora ele parece preocupado de verdade, porque tudo o que mais
quer é o cargo, e nada pode se colocar no seu caminho até ele.
— Falei sobre como nos conhecemos por alto, mas
menti sobre termos começado a namorar depois que comecei a
trabalhar no grupo. Até aí tudo bem, acho que ela gostou. Depois
disse que sou mais velha que você e que fui casada durante sete
anos. Ah! Érika também sabe que a namorada do neto namorou
antes com o amigo dele — confesso e dou de ombros.
— E pensa que isso fará com que minha avó goste
menos de você? — O loiro me olha com um sorrisinho no rosto.
— E não vai?
— Querida, a minha avó é a senhora mais moderna e
mente aberta que você vai conhecer. Nada do que falou fará com
que goste menos de você, se o fato de ter a trazido até aqui tiver a
impressionado. Você ter sido casada deve estar dando ideias a ela
sobre como saberá lidar comigo — fala.
— Esqueci de dizer para ela que foram experiências
péssimas — brinco. — O meu dedo é podre.
— Nem tanto, já que está comigo agora — o loiro me
provoca.
— Devo te lembrar que não somos um casal de verdade,
e que eu estou apenas esperando que você acabe com essa
mentira? Me sinto mal de mentir para a sua avó. A pobre está
mesmo acreditando que você parou de ser um galinha por minha
causa.
— Calma, Manuella. Eu vou dar um jeito nisso — diz,
mas não sinto firmeza em suas palavras.
— Quando?
— Em breve. Você ficará livre de mim e a minha avó
acreditará que sou perfeitamente capaz de manter um namoro. Só
tenha paciência, por favor?
— John...
— Em nome do orgasmo que te dei na sexta.
— Eu não quero falar sobre aquilo. Além do mais,
também te fiz gozar.
Poxa, Manuella, que bela maneira de fazer o assunto
morrer!
— E foi o melhor boquete que já recebi na vida — ele
elogia.
— Também não tenho do que reclamar de você... — Dou
de ombros, pois o homem não precisa de elogios.
— John Harper, que prazer te ver por aqui. — Um médico
surge para, felizmente, acabar com a conversa.
— Doutor Nuno. Eu sei que o senhor gostou das férias
que tirou de ver o rosto de qualquer membro da minha família
durante o tempo em que vovó esteve fora do país — John brinca ao
abraçar o homem. Eles parecem ser íntimos.
— Imagina, meu caro. Eu adoro os Harper — o homem
afirma. — E quanto a senhora Érika, de fato foi apenas uma queda
de pressão. Ela já fez alguns exames de rotina e, de modo geral,
está tudo bem com a saúde dela, embora tenha me reportado sobre
os sintomas de uma dúzia de doenças diferentes.
— O que foi que te falei? — John pergunta para mim e eu
sorrio sem jeito.
— É a sua namorada? — O médico pergunta.
— Não.
— Sim.
O meu chefe e eu divergimos na nossa resposta e o
homem fica confuso.
— Perdoe ela, doutor. É porque é muito recente, então a
minha querida Manuella ainda não se acostumou. — A forma fofa
que o John fala é patética, e seria brochante se ele fosse assim de
verdade.
— Bom, se você é a namorada, a senhora Érika pediu
para que entre.
— Ela já está liberada, doutor? — John pergunta.
— É claro. No momento, está no quarto se preparando
para sair — avisa e nós dois o seguimos pelo corredor.
Ao entrarmos na sala, a mulher parece estar vendendo
saúde, nem parece que está em um hospital. A avó do meu suposto
namorado é de fato uma mulher forte, apesar da hipocondria.
Ao nos ver, ela deixa de ajeitar as suas joias nos braços e
pede para que o seu neto e eu nos aproximemos da cama onde
está sentada.
— O médico disse que estou bem — ela fala, como se
não acreditasse cem por cento no profissional.
— A senhora sempre está bem, vovó. Ainda bem que eu
já me acostumei com os sustos que gosta de dar em mim.
— Embora queira pensar diferente, eu não sou de ferro,
muito menos imortal, meu neto — Érika fala. Pela forma como John
olha, fica claro que a ama e respeita muito. — E você, minha
querida, foi tão atenciosa comigo. Não sei nem como te agradecer
por ter me feito companhia. Eu sei que a minha família já se cansou
de mim, e que acha que não devem parar as suas vidas por minha
causa...
— Vovó, olha esse drama.
— Mas foi bom ter alguém ao meu lado. Você me distraiu.
— Imagina, senhora. Foi um prazer para mim e, além do
mais, não é como se tivesse falado muito. Deve ter sido uma tortura
ficar me ouvindo falando sem parar nem mesmo para respirar.
Eu nunca aceitei bem, mas acho que a minha mãe está
certa quando diz que sou insegura e que tenho mania de me
depreciar. Nem ao menos consigo receber um elogio e ficar calada.
Tenho a necessidade de rebater a pessoa.
— Foi um prazer te ouvir falando, Manuella. Gostei de
saber mais sobre você, porque ainda não tínhamos tido a
oportunidade, e o fato de me lembrar de tudo, mostra que talvez o
médico esteja certo. Eu não fiquei tão mal assim, foi apenas uma
queda leve de pressão.
— É assim que se fala, dona Érika. A senhora está ótima!
— John se curva e beija as suas mãos.
— Vamos embora, estou cansada de ficar nesse hospital.
já que vão me levar até em casa, quero que aproveitem e esperem
pelo almoço.
— Nós temos que trabalhar, vovó — o poderoso chefinho
avisa, e eu espero que consiga a convencer, porque estamos dando
mais um passo para levar essa ideia maluca de namoro de fachada
longe demais. Não quero ir à casa da avó do cara.
— O trabalho pode esperar, e eu tenho certeza de que o
prédio estará no mesmo lugar quando você e a sua namorada
voltarem. Venha, me ajude a levantar. — John apenas vai, e não
protesta mais sobre o convite para o almoço, sendo que não são
nem dez horas da manhã.
Isso nos dará no mínimo duas horas com a Érika,
correndo o risco de falarmos alguma besteira e sermos
desmascarados.
Ao pararmos na frente da mansão dos Harper, que fica
em um condomínio de luxo, depois de uma viagem em que acabei
relaxando e conversando sobre as viagens para fora do Brasil da
Érika, o loiro me abraça pela cintura, como se estivesse acostumado
a esse gesto e me leva para dentro da residência.
Assim como nas casas que se vê em filmes e novelas, no
núcleo rico, o lugar tem jardim, piscina e churrasqueira. Se de longe
a construção parece impressionante, de perto e pelo lado de dentro
é mais ainda. Os móveis em tons pastéis me fazem olhar para eles
e me perguntar como essa gente tem coragem de usá-los. O sofá,
por exemplo, não merecia suportar o peso de ninguém.
— Algo aqui te impressionou? — John me provoca ao
sussurrar no meu ouvido.
— Tudo — digo, pensando que ele também se
impressionaria se entrasse na minha casa, mas seria pelo motivo
oposto. — Você mora aqui? — pergunto. Atrás de nós, a avó do
meu chefe está falando com uma mulher uniformizada,
provavelmente dando instruções sobre o almoço.
— Não. Tenho o meu próprio apartamento, que gostaria
que você conhecesse. Tenho certeza de que vai gostar — ele
parece estar falando sério por um momento, mas então completa —,
principalmente da minha cama.
— Isso não vai acontecer — digo.
— É claro que vai. Não diga dessa água não beberei,
morena, porque você pode se afogar — ele sussurra no meu ouvido
mais uma vez e me arrepio.
— Eu não vou...
— Prontinho, o almoço já está encaminhado. — A
senhora Érika aparece quando eu ia dar a resposta que o meu chefe
merecia.
Ele falou com uma convicção que quase acreditei que
vou conhecer o seu quarto.
— Agora eu quero que você se sente aqui, minha
querida. Tenho algumas fotos de infância do seu namorado para te
mostrar. — Ela pega a minha mão e deixo que me leve para o sofá.
— Não, vovó, a senhora não pode me envergonhar na
frente da minha gata. Ela vai querer me deixar quando vir o quanto
eu era feio quando criança — John fala e eu o olho com a
sobrancelha arqueada, acreditando que chegou o momento da
minha vingança por todas as vezes que me fez passar raiva.
— Se Manuella vai entrar para a família, ela tem que
conhecer você a fundo, inclusive quando ainda usava fraldas — a
mulher afirma.
Eu, entrar na família Harper? Pobre senhora...
Sento-me em um sofá de dois lugares, em frente ao que
a Érika está e o poderoso chefinho se senta ao meu lado. Ela se
curva sobre a mesa de centro com detalhes dourados e pega uma
pilha de álbuns. Para estar aqui exposto, consigo imaginar a mulher
mostrando essas fotos para cada pessoa que vem até aqui.
Ao meu lado, enquanto começo a folhear o primeiro
álbum, ouvindo a Érika, que fala a história de cada imagem, John
tem o corpo colado ao meu e o braço segurando no meu ombro pelo
encosto do sofá. Passamos a imagem de um casal entrosado para a
sua avó, quando a realidade é que brigamos desde o primeiro
momento.
Pensei que teria algo para provocar o loiro, mas o que
tenho são fotos antigas de um menino lindo. Ele era um pouco mais
loirinho do que é agora, tinha um olhar travesso que se tornou
malicioso, e até nas fotos dá para notar que desde criança ele e o
Tales não se davam bem.
Em mais de uma imagem dá para ver os dois chorando,
agarrados a um único brinquedo.
— Eles sempre foram assim — a senhora afirma. —
Ainda bem que não brigam por namoradas como faziam na
adolescência.
A mulher fala como se brigar por mulher fosse pior do que
a disputa por poder. Será que todo rico tem um parafuso a menos?
— E quando brigávamos, eu sempre ganhava. Teve uma
vez que a namorada dele começou a dar em cima de mim na cara
de pau. Quando fui contar para o idiota, ele zombou e disse que eu
estava mentindo porque queria o provocar. Na semana seguinte, eu
fiquei com a garota e gravei a conversa em que dizia exatamente o
que eu havia revelado a ele.
John se gaba da sua proeza, mas eu só consigo enxergar
o quanto não tem limites quando quer provar algo e não sei se isso
é bom ou ruim.
— Será que foi uma boa ideia contar essa história para a
sua namorada, meu querido? Está mostrando os seus defeitos logo
no início do relacionamento — Érika aponta e John beija o meu
rosto e dá um sorriso charmoso.
Imagino que ele tenha conquistado muitas coisas apenas
com esse sorriso.
— A Manuella conhece os meus defeitos e as minhas
qualidades, vovó. E mesmo assim ela me ama, não é querida? —
Eu engulo em seco e balanço a cabeça confirmando.
Amor? Será que eu sei o que é esse sentimento?
— Bom, já que estão falando de amor, quero que me
digam se pretendem se casar logo.
— O quê? — A minha voz sai esguichada e os meus
olhos devem ter triplicado de tamanho. Para garantir que eu não
faça nenhuma besteira que entregue a mentira, John segura a
minha mão com firmeza.
— Eu estou ficando mais velha, e antes de morrer quero
ter o prazer de segurar um bisneto nos meus braços. — Eu não
posso acreditar no que estou ouvindo.
Era para ser uma mentirinha que duraria no máximo uma
semana, agora estou sendo perguntada sobre casamento e filho.
Ainda não abri a boca, mas a minha cabeça está gritando para o
meu chefe idiota fazer alguma coisa. Será que ele não pode me
ouvir?
— Perdoem-me se estou sendo uma velha intrometida,
mas você nunca me apresentou uma namorada antes, meu neto. E
eu gostei de verdade de você, Manuella. Claro que a gente não se
conhece com um único encontro, mas causou uma boa impressão,
e desejo ver vocês dois mais vezes aqui em casa. Quero
acompanhar de perto esse relacionamento, porque não vou deixar
que esse garoto enrole você.
— Dona Érika, o John e eu... A gente... — começo, mas
não sei exatamente como prosseguir. A única coisa que tenho
certeza é de que não posso continuar com isso, foi longe demais
para algo que havia surgido como uma saída desesperada quando
fomos pegos cometendo uma indiscrição.
— O casamento é o próximo passo, vovó. Pode contar
com isso — ao meu lado, John Harper fala.
Eu fico em choque e sem saber como respirar direito.
Mas enquanto a Érika nos olha maravilhada, só consigo pensar em
uma forma de matar o meu chefe. Ele está indo longe demais, e não
tem nenhuma maneira no inferno de isso terminar bem.
Começo a tremer de raiva, e tenho uma única certeza:
antes que o almoço acabe, vou acabar com essa farsa.
CAPÍTULO 15
JOHN
Eu não sei como ainda estou vivo, depois de ter recebido
olhares assassinos da Manuella.
No momento em que me vi sendo diretamente
pressionado pela minha avó, quando até então ela era mais sutil em
deixar claro o que pensa e o que eu deveria ter para ser mais digno
de me sentar na cadeira que é minha por direito, optei pela saída
que parecia mais fácil e falei o que sabia que ela desejava ouvir.
Nem por um segundo acreditei que ela não sabia que
estava nos pressionando de alguma forma. Isso porque ficou óbvio
que gostou da Manuella e quer prendê-la a mim. Se fosse diferente,
a raposa velha, muitas vezes mais esperta do que eu, faria a minha
suposta namorada desejar nunca mais chegar perto de mim.
Percebi o jogo da minha velha e entrei nele, porque ela
está entre um objetivo que pretendo alcançar. O problema é que
envolvi uma terceira pessoa e ela está querendo a minha cabeça
nesse momento.
Depois do que falei, senti que em vários momentos
estava se segurando para não abrir a boca. Fiquei tenso quando,
durante algumas vezes, percebia que ela iria nos entregar, mas a
minha avó não se deu a oportunidade de saber a verdade. Ela está
muito feliz e fez questão de deixar isso claro para nós dois.
Acredito que Manuella desistiu de acabar com tudo
quando a Érika ligou para uma amiga para contar a novidade de que
o neto finalmente está dando um rumo para a vida amorosa.
Na hora em que o almoço foi servido, Manuella mal tocou
na comida, e ainda estou me perguntando como foi que a senhora
não notou a falta de alegria na expressão da morena, principalmente
depois que falei de casamento. Esperta do jeito que ela é?
Agora nós estamos voltando para a empresa, depois de
termos atuado como um casal para Érika Harper. De vez em
quando, dou uma olhada para o lado, mas Manuella parece nem
estar respirando. Não me olha de jeito nenhum, e estou começando
a ficar com medo.
Será que vai me matar?
— Manu...
— Não fale comigo agora, John Harper — fala
entredentes, e eu não volto a insistir.
Chegamos à construtora alguns minutos depois e
subimos até o penúltimo andar no mais completo silêncio. Dentro do
elevador, olho para a mulher através do espelho, mas não sei dizer
o que se passa pela sua cabeça.
Ao sairmos da caixa metálica, ela nem se dar ao trabalho
de parar para conversar com as amigas, apenas segue para a
minha sala e eu vou atrás como se Manuella fosse a chefe, não eu.
E por mais que o momento seja tenso, aproveito que estou atrás e
dou uma boa conferida em sua bunda.
Hoje o vestido é menos justo do que as saias que gosta
de usar, e aposto que foi intencional, depois do que fizemos no meu
carro há dois dias. Não que essa roupa pouco provocante a torne
menos gostosa.
Quando fecho a porta atrás de nós dois, sinto que estou
um pouco nervoso e não entendo o motivo, afinal, fiz o que poderia
fazer naquela situação. Agora é tentar conter os danos e pensar
rápido para que não acabe estragando tudo com ela e com o resto.
— O que deu em você para mentir daquela forma? —
Pensei que fosse começar gritando, mas Manuella fala com calma
até demais. — Casamento? Você está falando sério, John?!
Qual a resposta certa para essa pergunta?
— Manuella, a gente tem que conversar — aviso.
— A gente deveria ter conversado antes de falar aquilo
para a sua avó. Antes de ter me usado sem antes me perguntar se
eu estava de acordo. E não estou sendo hipócrita, porque o carro e
o salário em dobro serão desfrutados, mas deixar que ela acredite
que haverá um casamento é ir longe demais.
— Você fala como se eu tivesse cometido um crime. Mas
viu como aquela pobre senhora ficou feliz com a notícia? —
pergunto, tentando apelar para o seu lado emocional.
— Um casamento que não vai acontecer, porra! — a
morena esbraveja, e eu não deveria estar achando isso sexy pra
caralho.
Aliás, não existe nada sobre Manuella Ortega que não
chame a minha atenção
— E quem disse que não vai acontecer? — rebato. De
repente, com a gente nessa situação, a minha mente começa a se
encher de ideias.
Ideias malucas, mas que não posso descartar sem antes
pensar bem nelas.
— Você só pode estar enlouquecendo! É claro que não
vai acontecer. Esqueceu que a gente está fingindo, vou repetir
novamente: a gente está fingindo que somos um casal — a minha
secretária fala de maneira compassada, como se eu tivesse um
problema de sanidade mental.
— Manuella, eu sei que está puta e tem motivos para
isso, mas preciso que vá para a sua mesa e me dê um tempo para
pensar em uma saída para tudo isso — digo e me dirijo para a
cadeira atrás da minha mesa.
— Você só pode estar brincando — assevera ao apoiar
as duas mãos na mesa e se curvar sobre ela. Tenho certeza de que
está pensando em uma maneira de passar por cima dessa mesa e
esbofetear a minha cara.
Não duvido nem por um segundo que mereça a sua
indignação, mas também mereço que os meus planos deem certo, e
se o que passa pela minha mente for colocado em prática,
precisarei da minha secretária muito mais do que ela imagina.
De repente, por causa de um almoço que não foi
planejado com a minha avó, assim como não imaginei que a
personalidade da Manu fosse a agradar tanto, começo a vê-la como
uma peça essencial nesse jogo. E o fato de eu estar muito atraído
por ela é apenas um bônus.
— Falei com você. John Harper!
— E eu pedi que me deixasse sozinho. Preciso fazer
algumas ligações, mas prometo que mais tarde te chamo para
conversarmos, tudo bem? Tenho outra proposta para te fazer —
adianto.
Ainda não pensei bem na proposta, mas ela começa a se
formar na minha mente. Antes preciso conversar com o Pietro, que
tem planos mais perigosos, porém, mais eficientes do que os meus.
— A gente não tem o que falar e não estou interessada
em nenhuma proposta sua. Se até o final do dia você não me
chamar aqui para me dizer que merda é que está pensando em
fazer, vou pegar o celular e fazer uma ligação para a sua querida
avó.
— Está me ameaçando? — indago.
— Não. Só estou mostrando que também sei jogar esse
jogo que você criou — ela diz, ajeita a postura, respira fundo e sai
da minha sala.
— Pietro, na minha sala, agora! — Chamo-o, segundos
depois de ter ficado sozinho.
O que estou pensando em fazer é uma loucura até
mesmo para mim, e preciso ouvir o meu amigo e advogado me
dizendo para não tomar uma decisão tão drástica e definitiva.
— Pela sua urgência ao telefone, imagino que fez merda
e quer que eu limpe a sua bunda — Pietro entra falando menos de
cinco minutos depois.
— Aconteceu algumas coisas nos últimos dois dias que
você precisa saber, e não é porque é o meu melhor amigo. Preciso
da sua mente maligna para me ajudar em algo — começo.
— Pela forma que está falando, imagino que vem
armação das grandes.
Falando assim, até parece que passamos a vida de
tramoias, mas a verdade é que, até alguns meses atrás, quando o
meu pai anunciou o desejo de deixar a presidência, as nossas
armações consistiam em eu fazendo merdas do tipo que me fariam
sair em perfis de fofocas com notícias que minha família não
gostaria, e Pietro logo atrás, limpando a minha barra.
Sempre foi assim desde que éramos moleques, mas eu
também o ajudei muito. Por ser um garoto gay, Pietro foi alvo de
algumas piadas preconceituosas, principalmente na nossa
adolescência, mas, de certa forma, o fato de ser meu amigo o
ajudou. Eu era o cara popular do colégio e poucos tinham coragem
de mexer com quem andava comigo.
Era óbvio que havia o risco de eu ser alvo das mesmas
piadas, mas além de ter estado com garotas diferentes mais vezes
do que podiam contar, não me importava com o que fossem pensar
da relação que nós dois tínhamos. Nunca tive dúvida da nossa
amizade, nem mesmo quando tinha licença poética para ser idiota
na fase da adolescência.
— Com essa pausa em que fica olhando para a parede,
imagino que vá me surpreender com o que tem para dizer.
— É sobre a Manuella — digo, ele revira os olhos.
Apesar de não terem tido muita interação, sei que o meu
amigo não tem nada contra a morena.
— Pensei que fosse sobre a disputa pela presidência. O
Tales já está falando em casamento para breve. Dessa vez, ele foi
muito esperto. Agora nós temos que ficar atentos às próximas
contas da construtora para que ele não tenha a chance de pegar as
melhores e tentar impressionar o conselho.
— Calma, cara. Um problema por vez — digo
exasperado. Eu era feliz quando não via o meu primo como uma
pedra no meu sapato.
— Tudo bem, primeiro vamos falar de como você quer
transar com a sua secretária. Esses seus dilemas de hétero me
cansam — Pietro reclama. — Espero que ela já tenha patenteado a
boceta de ouro.
— Não é sobre isso que quero falar. Quer dizer, é, mas
também é sobre a presidência. Não acredito que dá mais para
separar as duas.
— Não? Explica isso melhor.
De repente, a postura e a expressão do advogado
principal do grupo mudam. Eu gosto de como o meu amigo é
competitivo e está sempre pronto para vencer. Nisso a gente
combina bem, e eu não cheguei a ser o principal nome para o maior
cargo do grupo Harper sem a sua ajuda.
Pelos próximos minutos, conto tudo para o Pietro. O
relembro da mentira que inventei quando a Érika flagrou Manu e eu
quase trepando na mesa e do acordo que fizemos. Demoro-me nos
detalhes de como gozamos um pela boca do outro e o homem gira
os olhos para cima.
Chego à parte em que ela levou a minha avó para o
hospital, a forma como a velha nos pressionou sobre o nosso futuro
juntos e a minha fala de que tem um casamento a vista. Pietro sorri
quando digo que estou com medo da morena, que parece
perfeitamente capaz de me matar.
Ao contar do plano que se formou na minha mente há
alguns minutos, ele parece não saber o que dizer, mas acaba se
empolgando e me ajudando quanto aos detalhes burocráticos e a
parte da execução. Eu sabia que o chamar até aqui era a coisa
certa a se fazer.
Agora, parece que temos o plano perfeito, que só
dependerá da colaboração da minha secretária para ser um
sucesso. Depois dele, eu duvido que ainda exista alguma chance
para Tales Harper.
— Meu amigo, essa sua ideia é terrível e bem extrema,
mas é perfeita, porra! — Ele se levanta e comemora, dando socos
no ar.
— Eu sabia que você iria me apoiar nisso — falo,
bastante satisfeito.
— Agora, você tem a missão mais difícil, ou talvez não
seja tanto assim, que é convencer Manuella Ortega a embarcar
nessa história. Torça para que as vantagens que irá oferecer sejam
suficientes para ela — ele diz, tirando-me do meu momento de pura
satisfação.
— Eu vou dar o que ela quiser — afirmo, embora seja
uma fala perigosa, porque não sei o que se passa pela cabeça
morena da minha secretária.
— Boa sorte nessa missão. A sua secretária parece ser
dura na queda, nada como as cabecinhas ocas que costumam cair
na sua teia — fala com satisfação.
Quando Pietro me deixa sozinho, passo um tempo
tentando fazer o que tinha marcado para hoje, dentre algumas
ligações e e-mails para mandar e responder, mas os meus
pensamentos e expectativas estão na Manuella e no que tenho para
lhe propor.
No fim da tarde, depois de ter levantado e a espiado pelo
vidro da porta na sua mesa, e vendo que não está muito sorridente
depois de ter sido deixada de lado durante horas, ligo no seu ramal
e peço para que venha até a minha sala.
Ela já entra batendo os pés, e embora tenha ficado
sentada esse tempo todo, sem muito para fazer, considerando que
não a solicitei nenhuma vez depois que chegamos, parece cansada.
— Antes de vir com as pedras, gostaria de te convidar
para jantar — digo.
— Eu não quero jantar com você, John — ela fala.
— Você sabe que a gente precisa conversar sobre essa
situação, e eu prefiro que não seja aqui. Por favor, não seja tão
cabeça dura. Eu prometo que, depois que ouvir o que tenho para te
dizer, vou deixar que me xingue de tudo que tem vontade. Se quiser,
poderá falar com a minha avó sobre o nosso acordo e ficar livre
dele. Só jante comigo. — Apelo para a humildade.
— Tudo bem, eu vou jantar com você, mas é só porque
estou ansiosa para resolver essa situação de uma vez — ela fala.
— Eu te pego às oito da noite?
— Não. Posso ir com o Tito — fala, eu fico confuso e ela
prossegue —, não saberia como explicar você para a minha mãe e
a minha irmã.
— Tudo bem. Então vou te mandar a localização do
restaurante no celular — aviso. Queria que chegasse mais perto de
mim, mas parece que não está disposta.
— Precisa de mais alguma coisa, chefe? — pergunta
séria.
Eu sei que pisei na bola ao falar aquilo para a minha avó
sem combinar com ela antes, mas não imaginei que fosse ficar
dessa forma.
— Está dispensada. Se quiser, pode ir mais cedo para
casa descansar e se preparar para o nosso jantar. — Jogo uma
piscadela e recebo um dedo erguido em troca antes que deixe a
sala.
Mulher brava. Fico imaginando como deve ser na cama.
MANUELLA
— Está de namorado novo, filha? — A minha mãe deixa o
que está fazendo para falar comigo quando saio arrumada do
quarto.
— Não é um namorado. É apenas um cara que estou
conhecendo melhor — minto. A única coisa que quero no momento
de John Harper é que ele fique o mais longe possível de mim.
— Manuella, na última vez que me disse que estava
conhecendo melhor um homem...
— Não tem com o que se preocupar, mamãe. Eu sei o
que estou fazendo. Aquilo não vai mais voltar a acontecer — digo,
curvo-me para beijar o seu rosto e saio.
John Harper escolheu o melhor restaurante da cidade.
Quando chego, sou levada pelo maître para a mesa onde ele já está
sentado me esperando. Ao parar ao seu lado, dou uma breve
olhada no quanto está bonito no melhor estilo esporte social.
Ele puxa a cadeira para que eu me sente, e já aproveito a
taça na minha frente para tomar um gole generoso de vinho. Hoje o
dia não foi fácil. Não pensei que fosse ser quando acordei sabendo
que iria ter que o encarar, depois do que fizemos, mas mostrou-se
pior.
Além do que o meu chefe havia feito na mansão da sua
avó, falando de um casamento imaginário, que ela já deve estar
planejando, tive que me explicar para as meninas que trabalham
comigo. Elas falaram que não ficaram surpresas, o que me deixou
irritada por ser supostamente mais uma secretária que caiu nas
mãos do chefe, mas ficaram chateadas por eu não ter contado do
namoro.
Passei o resto da tarde inventando detalhes de como foi
que a gente ficou junto pela primeira vez. Se o sexo real entre a
gente fosse como contei, duvido que voltasse a andar novamente
com as pernas fechadas. O fato de elas terem descoberto me
desestabilizou, porque tornou toda a história mais real, mesmo que
não seja.
— Você está linda — o poderoso chefinho elogia ao
entregar o menu na minha mão e abrir o seu.
— Sério? Peguei o vestido mais básico do meu guarda-
roupas — minto.
Hoje eu quis impressionar e coloquei um vestido justo de
um ombro só. Ele é curto, mal chegando na metade das minhas
coxas. Os meus cabelos longos estão soltos, mas fiz babyliss da
metade para as pontas e eles escorrem como cascatas naturais
pelas minhas costas. No rosto, nada além de um rímel e o batom
vermelho.
Me produzi toda para esse jantar e não faço ideia do
porquê de tanto esforço. John não merece. Além do mais, só
existem duas saídas para o jantar de hoje: ou a gente se torna o que
sempre deveríamos ter sido dentro da empresa, ou eu perco o
emprego de vez.
A essa altura, já nem sei qual é a melhor opção.
— Qual é exatamente o motivo de você ter me convidado
para jantar? — indago ao dar o último gole no meu vinho, depois de
um jantar feito em silêncio.
O meu chefe passou esse tempo todo me olhando como
quem ensaiasse para dizer alguma coisa, mas parecia que faltava
coragem, o que é estranho vindo do loiro, que é o homem mais
seguro de si que conheço. E gostoso.
— Sobre o que aconteceu na casa da minha avó, eu sinto
muito — o loiro fala, eu o olho com desconfiança, porque não
parece que está sendo sincero.
Ou será que me tornei desconfiada demais?
— Que bom que entendeu que aquilo foi péssimo. Mas
acho que agora podemos voltar a agir como patrão e empregada,
sem todo o fingimento e a coisa de ficarmos nos agarrando — falo.
Vim puta de raiva, mas talvez recuar seja a melhor saída.
Eu não posso fazer nada contra ele, a não ser xingar até a sua
última geração, então é melhor assegurar que eu não vá para o olho
da rua.
— Eu disse que sentia muito, não que me arrependo. Na
verdade, não me arrependo nenhum pouco — afirma, subindo o
olhar pelo meu decote, parando no meu rosto. — Não te convidei
para jantar apenas para me desculpar.
— Eu deveria imaginar.
— Tenho uma proposta para te fazer — ele começa, eu
me apoio na mesa para me levantar, mas John segura a minha mão.
— Sente-se, por favor — pede, olhando de um lado para
o outro, com medo de estarmos chamando muita atenção. — Você
não vai se arrepender de ficar e me ouvir.
— Seja breve — peço, dando-me por vencida, depois de
ter ficado curiosa. Não consigo nem imaginar o que pode estar
passando por sua cabeça diabólica.
— Melhor do que falar, quero que você leia isso daqui. —
John coloca o que se parece com um contrato em cima da mesa.
— Do que se trata? — indago ao pegar. Numerada, a
pilha de papel tem exatamente quinze folhas.
— Leia.
Ao passar os olhos logo no início da primeira folha e
entender o que ele pretende, sentimentos de choque e incredulidade
tomam conta de mim.
— Você não pode estar falando sério.
CAPÍTULO 16
MANUELLA
Depois da minha pergunta, volto a ler novamente o
documento, apenas para ter certeza de que entendi certo, que a
Manuella Ortega citada sou eu mesma. Ao todo, o contrato tem
trinta cláusulas tão bem elaboradas que eu custo a acreditar que
seja um contrato que se trata de vidas, não de um negócio que
envolva carros e objetos inanimados.
Dentre especificar a forma como devo me portar e me
vestir em determinadas ocasiões, o documento que tem a intenção
de me comprar, como se eu fosse uma prostituta, tem o valor de um
milhão de reais. Sim, para John Harper e sua ambição, eu valho um
milhão de reais.
— Eu não sei nem o que dizer disso aqui — finalmente
falo, apelando para as três aulas de ioga que fiz há um tempo para
manter a minha calma.
— Eu quero que você finja ser a minha noiva pelo prazo
de seis meses, esse é basicamente o ponto principal do acordo que
estou te propondo, Manuella — fala com tranquilidade, como se
para ele fosse comum comprar pessoas no meio de um jantar em
um restaurante qualquer.
— Então, eu teria que adequar a minha vida a sua, me
comportar como se comportaria a noiva de um Harper, e me vestir
como se vestiria a mulher de um herdeiro milionário como você. —
No momento, estou apenas simplificando cláusulas que li nos
malditos papéis.
Para tanto, tomo vários pequenos goles de vinho.
Certamente, a bebida me ajudará a não chorar, porque não sou do
tipo de mulher que chora fácil. Se fosse, não teria tempo para mais
nada, dada as circunstâncias da minha vida.
— Manuella... — Eu coloco a taça em cima da mesa e
prossigo, como se ele não tivesse dito o meu nome.
— Esqueci do mais importante. Esse dinheiro não viria
assim tão fácil, não é? Eu tenho que ser a sua prostituta de luxo
para fazer valer a pena. Se tem o contrato deixando claro que é
apenas um acordo, tem que haver também a cláusula que o sexo
casual entre nós está liberado, mas que somos livres para sairmos
de maneira discreta com outras pessoas, sem riscos de
estragarmos os planos — digo, e bebo mais um gole.
Tudo o que li passa como um livro aberto na frente dos
meus olhos e faz eco na minha mente. O meu chefe quer me
comprar por uma fortuna pelo prazo de seis meses para os seus
interesses profissionais, mas também quer que eu esquente a sua
cama.
E de tudo o que li que me deixa estarrecida, nada me
causa mais desconforto do que saber que pensou em mim para
essa proposta, que tenha abordado o assunto de maneira tão direta
e casual, como se fosse óbvio que eu iria aceitar, como se me
conhecesse o suficiente para imaginar que seria fácil de me
convencer.
Eu, desde o primeiro instante, soube que John Harper era
esse tipo de homem, que passaria por cima de mim na primeira
oportunidade, e deve ser por isso que fui mais firme do que
normalmente sou contra o meu corpo, que sempre o desejou, mas
ter jogado na minha cara o fato de que pensa tão pouco de mim,
como todos sempre pensaram, doí de uma maneira que não pensei
que fosse doer quando o momento chegasse.
Talvez, mesmo que não tenha me dado conta, mesmo
que tenha falado o contrário, esperei dele algo que não é.
— Se é a parte do sexo que te incomoda, a gente pode
tirar. Na verdade, esses são os meus termos, mas estou disposto a
negociar com você algumas cláusulas. Tirar algumas e acrescentar
outras, desde que me ajude nessa — John afirma. Eu olho nos seus
olhos e vejo o quanto está desesperado por isso.
Pensando bem, e deixando a hipocrisia de lado, eu tenho
um pouco de culpa por ele ter chegado a esse ponto comigo, afinal,
dei a impressão de que topava tudo, desde que me pagasse, no
primeiro acordo que fizemos. Na verdade, eu mesma cheguei a
pensar que seria assim, que agarraria a oportunidade quando
surgisse.
Então ela surgiu, e eu estou me sentindo a pior pessoa
do mundo. Talvez o problema não seja o que teria que fazer, e eu
realmente sou uma mulher que faz o que for necessário por uma
vida de conforto, e sim a pessoa quem está me fazendo a proposta.
— John, eu sempre fiz um juízo de você na minha mente,
mas, em algum momento, a minha insistência em gostar dos piores
homens me fez te desejar como nunca desejei homem nenhum,
nem mesmo o que estive casada durante sete anos. Talvez, se você
tivesse apenas me pedido, sem antes vir com esse tipo de contrato,
eu aceitasse. Mas dessa forma...
— Não recuse sem antes pensar um pouco, Manu. Se
quiser, eu posso te dar uma semana, mas pense bem antes de
recusar essa oportunidade excelente que estou te dando de manter
um padrão de vida mais elevado, de dar tudo o que a sua família
poderia querer — o homem apela para o sentimentalismo barato e
me irrita.
— Não ouse envolver a minha família nisso — falo
entredentes. — Sei que está querendo dizer que sem você e seu
dinheiro eu nunca chegaria a lugar algum. É impressionante como
se parece com o Dante. Só podiam ser amigos mesmo.
— Não me compare com outro homem! — exige.
— Eu acho que esse jantar já acabou — falo, limpo a
boca com o guardanapo e pego a minha bolsa.
— Leve o contrato com você — pede, e também se
levanta. Discretamente, John chama o maître, que traz a conta.
— Eu não preciso dele — afirmo.
— Não seja tão impulsiva, mulher — o meu chefe pede.
Imagino que para ele estou sendo bem burra de não estar me
deixando ser comprada tão facilmente. — Se quiser, pode tirar essa
semana de folga para pensar melhor — avisa. O homem está
disposto a tudo. E pelo menos a sua persistência, acho que posso
admirar.
— A resposta é não — aviso, enquanto o loiro coloca
algumas notas em cima da mesa, pega o maldito contrato e me
segue para fora do estabelecimento.
Felizmente, o Tito, que em breve não será mais o meu
motorista, porque essa recusa também deve acabar com o namoro
de mentira, já está me esperando.
— Mas vou aceitar os dias de folga, se estiver tudo bem
para você — digo ao voltar-me para ele.
— Posso segurar as pontas até a próxima semana. —
John parece confiante e lindo, e eu só preciso me afastar dele para
lembrar os motivos pelos quais me deixou tão chateada com o
contrato, e o porquê de ter me recusado a aceitar.
— Não coloque outra no meu lugar. Ainda — peço, mas a
verdade é que não sei se será possível continuar.
Sempre tive medo de perder o que se parece um ótimo
emprego, com uma boa remuneração e colegas de quem gosto
muito, mas a realidade dos fatos é que John e eu sempre fomos
uma bomba-relógio juntos.
— Eu quero você — diz, e não parece que se refere
apenas a vaga de secretária. John dá um passo a mais na minha
direção, mas me afasto e entro no carro.
Se deixasse ele me beijar, confundiria a minha mente, me
faria titubear, mais por ele do que pela grana, na qual prefiro não
pensar. Um milhão de reais acabaria com todos os meus problemas
para sempre.
— Voltou cedo, filha — a minha mãe, que está assistindo
novela, fala quando entro chutando os saltos altos para longe.
— O cara não era tão legal assim — minto para ela,
porque não vou dizer que o meu chefe, com quem eu quase transei
algumas vezes, quer me dar um milhão de reais para enganar a sua
família.
— Estou admirada, porque nenhum deles eram tão legais
assim, e você foi até o fim do mesmo jeito. — O seu tom é de
brincadeira, mas diz apenas a verdade.
A minha mãe volta a sua atenção para a televisão e eu
fico a olhando por um tempo, pensando no quanto ela é honesta e
correta. Nunca recorreu a métodos mais fáceis, e aconselhou a
minha irmã e eu a agirmos da mesma forma.
Se eu aceitasse a proposta do John, ela diria que eu
estaria me prostituindo, mesmo que não houvesse sexo no nosso
acordo durante seis meses. Muito mais do que por mim, não posso
aceitar participar dos planos do meu chefe por causa da minha mãe.
Ela não me olharia mais da mesma forma se eu agisse de maneira
questionável única e exclusivamente por causa da minha ambição.
Depois de alguns minutos, saio da sala para o quarto, e
Abigail está tão entretida na sua novela que nem percebe.
Felizmente, a minha irmã deixou um bilhete na porta avisando que
iria dormir na casa de uma “amiga” e eu tenho o quarto todinho para
mim.
Sem ânimo para fazer mais nada que não seja pensar e
pensar, visto o meu pijama fofo de flanela, escovo os meus dentes,
tiro a maquiagem e prendo os cabelos. Depois eu me deito na cama
e me cubro da cabeça aos pés.
E mesmo que esteja convicta da minha decisão, não
consigo parar de pensar no meu chefe e na sua proposta. Começo a
pensar que a minha vida era mais fácil quando ouvia gracinhas e
era apalpada no Maresias.
JOHN
— Fala, cara. — Com o aparelho no viva-voz, falo com
Pietro, enquanto pico gelo para preparar um drink.
Assim que cheguei, há exatos cinco minutos, arranquei
as roupas que pareciam me sufocar do meu corpo e vesti somente
um short de moletom. Vim para o bar para preparar uma bebida
forte, quem sabe ela não acaba com a minha frustração?
— Pelo seu tom de voz, o jantar com a miss Colômbia
não saiu como o esperado.
— Ela ficou irritada com a proposta e não aceitou —
aviso. — Merda!
— Calma, John. Não é como se o mundo fosse acabar
por causa disso. Você pode arrumar outra forma de chegar no topo.
— Pietro, sempre otimista, e um passo à frente.
— Eu não quero recorrer a nada que não seja a Manuella
Ortega. Preciso que seja ela.
— O que você precisa é transar com essa mulher. Fale
com todas as letras. Fez de uma forma que conseguisse as duas
coisas que mais deseja de uma única vez e não está disposto a
voltar atrás, mesmo que eu tenha dito que incluir sexo no contrato
pegaria mal. — Pietro dá o diagnóstico e acerta em cheio. — O
problema é que nem você pode mudar o pensamento de uma
pessoa se ela não quiser entrar no seu jogo.
— Eu dei o prazo de uma semana para a minha
secretária me responder, ainda tenho esperança de que ela vai
mudar de ideia nesse meio tempo — digo, esperando que esteja
certo.
— Se não tivesse mencionado sexo... — ele fala no seu
tom de “eu avisei”.
— Está equivocado. Teria sido mais fácil se eu tivesse
deixado o sexo e tirado a cláusula do milhão. Ela mesma me disse
que talvez aceitasse por causa do tesão que sentimos um pelo
outro.
Não disse com todas as letras, mas foi o que eu entendi.
— Bom, eu espero que você esteja certo na sua intuição
de que ela vai acabar aceitando, porque o tempo está correndo, e
não quero ver o sorriso feio, porém, vitorioso, do babaca do seu
primo.
— Não verá — garanto, mais decidido do que nunca a
vencer essa disputa.
— Agora eu tenho que desligar, porque tem um gato me
esperando na cama. Boa noite para quem não tem transado — o
advogado fala e corta a ligação.
Não é verdade que não tenho feito sexo. Na verdade, a
minha vida sexual não poderia estar mais ativa. É uma pena que
quantidade não tem relação alguma com qualidade.
Com o drink na mão, vou para o terraço onde mamãe,
que está fora do olho do furacão porque não para em casa por muito
tempo, decorou com plantas e sofás no centro. O jardim aqui é
lindíssimo graças a ela.
Não costumo pensar muito nela, pois o fato de passar
mais tempo fazendo compras fora do Brasil impediu que a gente
fosse próximo, e não foi diferente quando eu era criança. O meu
velho não viaja muito, mas é só porque ainda tem responsabilidades
aqui, e prefere ficar um pouco longe da esposa para traí-la à
vontade.
Sei que ele ama a minha mãe, ou ao menos acredito,
mas não pode se segurar o suficiente para ser fiel. É por isso que
nunca me relacionei, e acredito que sou incapaz de ser fiel, assim
como o meu pai.
Sentindo a brisa da noite, sento-me no sofá que fica no
meio do ambiente e deito a minha cabeça no encosto estofado.
Penso no jantar com a Manu e na sua recusa.
Talvez eu tenha me precipitado na minha abordagem,
mas posso justificar com o fato de ter ficado tão animado com a
ideia que tive que não pude me conter para planejar melhor. Não
pensei na possibilidade de ela dizendo não logo de cara, e de
maneira tão segura.
Pietro está certo, eu posso perfeitamente pensar em algo
melhor, mas tenho os meus motivos para não seguir para o plano B.
Não é só porque minha avó a adora. No fundo, sinto que Manuella é
a pessoa perfeita para surgir ao meu lado.
Eu poderia elencar uma dúzia de motivos, mas o principal
é que ela mexe com algo dentro de mim, mais profundo do que o
fato de o meu pau ficar duro sempre que a vejo. Manuella tem que
ser minha, seja por contrato, ou por não conseguir resistir ao nosso
desejo.
CAPÍTULO 17
MANUELLA
Três dias depois do jantar.
— Não estou querendo me meter na sua vida, filha, mas
não acha que está na hora de atender esse celular? — Mamãe
passa por mim na sala com uma pilha de roupas nas mãos.
Hoje ela tirou o dia para lavar roupas, e eu dei uma ajuda
na hora de torcer, pois ela ainda não aceita a invenção das
máquinas que nos entregam as roupas quase secas.
— Não estou a fim de falar com ninguém — digo,
deitando-me com as pernas para cima no sofá. Até o momento,
estou amando o fato de estar despreocupada em casa, sem quase
nada para fazer, sabendo que ainda tenho um emprego. — Com
certeza deve ser o Dante outra vez.
Mas também pode ser o meu chefe, que tem me
mandado mensagens que costumo ignorar.
— Esse cara é muito insistente, deve ter algum problema
na cabeça — a minha velha comenta e não posso rebater isso.
A minha mãe e minha irmã não pensam bem dele desde
o episódio em que Dante me empurrou e acabei me machucando.
Eu tentei explicar que me feri por acidente no dia daquela
discussão, mas ele nunca mais teve o perdão de ninguém da
família, nem mesmo o meu.
— Logo ele cansa — digo, ela sai e eu pego o celular,
cuja luz estava piscando com notificações tanto de mensagens
quanto de ligações perto da minha cabeça, enquanto eu via um
filme na Netflix em plena tarde de meio de semana.
Ainda espero que mude de ideia.
Seja qual for o problema, a gente pode conversar e
resolver, desde que você diga sim para mim.
Não seria tão ruim se a gente fizesse sexo sem
compromisso, seria? Eu confesso que essa foi a melhor parte
quando pensei nas cláusulas desse contrato. Quero muito ficar
com você.
— Isso porque você disse que não corria atrás de mulher
nenhuma — digo para a tela do celular, depois a bloqueio e coloco
virada para baixo.
Para a minha mãe e minha irmã, justifiquei a minha
estadia em casa com uma viagem do meu chefe, que me deixou
livre e sem nada para fazer no grupo Harper. É claro que a situação
é um pouco estranha, afinal, comecei há poucos dias e já estou de
recesso, mas elas pensam que trabalhar com gente rica é diferente
de trabalhar com os pobres mortais.
Os dias se passam, mas continuo firme na minha
decisão, apesar de, vez ou outra, pensar em como seria andar lado
a lado com alguém como John Harper, deixando que o mundo
inteiro pensasse que seria a sua futura esposa. Esse é o meu lado
fútil falando. O meu lado sensato me lembra que a minha mãe não
merece que eu seja uma interesseira. Ela jamais iria entender.
**
— Mas de onde surgiu isso... — a voz da minha mãe
ecoa de longe, então me espreguiço, dando-me conta de que estava
cochilando. O filme era tão ruim que não manteve os meus olhos
abertos.
— Eu só vim entregar isso, senhora — ouço a voz de um
homem, depois a minha mãe fechando o portão.
— Aconteceu alguma coisa, mamãe? — indago quando
entra parecendo desconcertada. — Quem era no portão?
— Não era nada. Era o rapaz com o talão da conta de
energia. Agora deixe-me ir que ainda não terminei a encomenda
para o aniversário de quinze anos da filha da Janice — fala e vai
para a sua máquina de costura.
Fico com uma pulga atrás da orelha, porque a sensação
de que ela ficou estranha de repente é real, mas acabo deixando o
pensamento de lado. Pego o meu celular, mando uma mensagem
para as meninas da construtora e elas começam a me atualizar
sobre as últimas novidades de lá.
Cinco dias depois do jantar.
— Mana, você não tem sentido que a dona Abigail está
estranha nos últimos dois dias? — Dentro do nosso quarto,
enquanto a minha irmã festeira se arruma para começar a sua noite
de sexta-feira longe de casa, converso com ela.
— Sim. Ela está mais pensativa — Mika fala,
corroborando com o meu achismo.
Desde o momento em que ela falou com um cara no
portão e voltou dizendo que não era nada, senti que não era mais a
mesma. Está mais calada e até mesmo entristecida, mas não
perguntei diretamente, pois quis observar melhor, apenas para que
tivesse certeza de que não era paranoia da minha mente
desocupada desde que o meu chefe me deu uns dias de “folga”,
prefiro pensar.
— Vou falar com ela depois que você sair — comento e
dou uma olhada no celular.
O meu chefe não entrou mais em contato comigo, mas
nem por um minuto acredito que tenha desistido. O seu silêncio só
pode significar que está armando alguma coisa.
— Por que vai esperar que eu saia? — A garota
questiona.
— Porque mamãe se fecha quando se sente
pressionada. Além do mais, não quero que você perca o seu
programa com o namorado da vez por minha causa — comento.
Passa das oito de uma noite de sexta-feira, e já dispensei
os convites das minhas amigas da rua, a maioria casada, e das
meninas do escritório para sair. Eu sempre fui festeira, mas devo
estar com algum problema, pois estou bastante desanimada nos
últimos dias.
A minha vida está precisando de alguma novidade,
porque esse marasmo não combina em nada com a minha
personalidade.
— Por favor, Manu, seja qual for o problema, não deixe
de me contar. Não gosto quando você e a mamãe ficam de
segredinhos — reclama.
— Tudo bem, bebezão — falo, levanto-me da cama e
beijo o seu rosto, olhando-a através do espelho.
Nós somos muito parecidas. A diferença é que Mika é
mais baixa e mais jovem. Eu e mamãe fazemos de tudo para a
poupar dos nossos problemas, porque existe um acordo tácito entre
nós duas que não desejamos que a minha irmã cometa os mesmos
erros que eu cometi.
Assim que a mana sai de casa, e depois que eu tomo um
banho, entro na cozinha e me deparo com o jantar na mesa.
— Filha, fiz a carne que você gosta e agora vou tomar um
banho...
— Sente-se aqui ao meu lado, dona Abigail — peço,
porque a conheço muito bem e está na cara que quer fugir.
— Mas, filha...
— Por favor — insisto. Ela não vai fugir de me dizer o que
está acontecendo. Não dessa vez.
Estou começando a ficar preocupada. Ela nunca me
esconde nada. Mamãe finalmente se senta, me olha por um tempo
sem dizer nada, mas sei que está tentando arrumar uma forma de
me dizer algo.
— Pode me falar o que quiser, mãe. Sinto que tem estado
estranha nos últimos dias. Se for algo mais...
— O homem que atendi naquele dia estava trazendo uma
notificação. O seu pai deu a nossa casa como garantia para um
empréstimo com o banco e não estava pagando as mensalidades
de juros altíssimos. Agora a gente pode não ter onde morar no
futuro, porque o imóvel corre o risco de ir para o leilão.
Tudo o que a minha mãe acaba de dizer é confuso
demais, muita informação, um baque para mim. A nossa casa...
onde nasci e fui criada.
— Mãe, quem foi que te disse isso? Estava escrito na
notificação? — Ela balança a cabeça positivamente. — Onde está
esse papel? Eu preciso lê-lo — peço, a senhora sai e me deixa com
a mente fervilhando.
Aí está! Eu reclamando que a minha vida estava um
marasmo, e agora cai uma bomba em cima das minhas pernas. Mas
não era a esse tipo de agito que me referia.
Ao voltar para a mesa, cujo jantar está esfriando nas
travessas, mas não me importo, pois a minha fome passou, Abigail
coloca o papel na minha frente. Eu começo a lê-lo e, infelizmente,
constato que ela não havia entendido errado o que está escrito aqui.
Papai fez o empréstimo de uma grande quantia em
dinheiro, deu a casa como garantia sem ter como pagar as parcelas
e os juros. Agora, além de não fazer ideia do motivo de ele ter feito
isso, e nem em que aplicou o dinheiro, descubro que estamos em
uma situação complicada.
E eu pensando que a minha única preocupação era
conseguir pagar as contas mensais.
— O que ele fez com dinheiro do empréstimo, mamãe?
— indago. Talvez ela saiba de algo.
— Houve uma época que o seu pai reclamou que os
negócios não iam bem, mas depois de um tempo parou de falar no
assunto e eu presumi que tinham voltado a entrar nos trilhos.
— Eu devia ter percebido — falo. — Com certeza ele
aplicou esse dinheiro na mercearia, por isso estava tão arrumada e
sortida nos últimos meses antes de ele falecer.
O meu velho sempre teve um bom tino para os negócios,
pelo menos eu o via assim até agora, mas o mesmo não se pode
dizer de mim, da minha mãe e da Mika. Depois que ele partiu, a
gente acabou fechando o estabelecimento.
— Não é culpa sua, minha filha. Você se casou e passou
sete anos fora de casa, não tinha a obrigação de ficar de olho no
negócio do seu pai.
— Não, não tinha, mas agora a gente está com um
grande problema, mãe. São muitas prestações atrasadas, e nós não
temos condições de pagar. Se não quitarmos esse débito, a casa vai
à leilão.
— Eu não queria te causar mais uma preocupação.
Talvez, se a gente for ao banco e tentar fazer uma negociação...
— Acalme o seu coração, dona Abigail. Vou arrumar um
jeito de resolver esse problema — falo, mesmo sabendo que não
tenho nada para fazer.
— Não gosto que fale dessa forma, Manuella. Significa
que vai se meter em problemas. Você é a minha filha amada, mas te
conheço bem e sei que não tem limites quando quer alguma coisa.
— Ela está certa. — Prometa para a sua mãe que não vai se meter
em problemas — ela pede.
— Não gosto de mentir para a senhora, e por isso não
vou prometer. Mas posso prometer que vou resolver essa situação,
dona Abigail, e ninguém vai ameaçar tocar nas paredes da nossa
casa — assevero.
— Manuella...
— Vamos jantar? Eu estou morrendo de fome — digo
para acabar com a conversa, apesar de ter perdido totalmente o
apetite.
Depois de conseguir voltar para o quarto, deitei-me de
costas na minha cama e estou há uma hora olhando para o teto,
mas fazendo de tudo para não cair na tentação de pegar o celular.
Eu quero me forçar a pensar que não tenho a mínima ideia do que
fazer para não perdermos a nossa casa no futuro, que não parece
tão distante, mas sei que não é verdade.
Existe, sim, uma saída, uma que estou há cinco dias
dizendo a mim mesma com convicção que não aceitaria, que não
haveria nada que me fizesse dizer sim para o meu chefe babaca. Eu
não me deixaria ser usada da forma como quer me usar, mesmo
que fosse por um milhão de reais, literalmente falando.
Mas agora, por ironia do destino, no pior momento, ou
talvez seja o melhor, surgiu um fato novo, então me vejo indecisa
entre lutar um pouco mais e tentar outra saída, ou me entregar de
vez nas mãos de John Harper.
Deixando a hipocrisia de lado, devo admitir que a minha
mãe tem razão quando fala que não tenho limites no que sou capaz
de fazer para alcançar um objetivo. Dessa vez é por uma boa causa,
e talvez os meus sentimentos, ou o que a minha mãe vai pensar de
mim, não importem mais, não quando não quero que ela perca a
sua casa, que não é apenas um imóvel. É tudo sobre a história da
nossa vida.
E mesmo que relute em aceitar, sei que já tomei a minha
decisão, mas estou enrolando para colocar em prática, porque não
sei se estou preparada para me entregar para John Harper. Só de
pensar já sinto um arrepio, e não tenho a menor dúvida de que será
o maior erro da minha vida.
O tempo passa e o ponteiro do relógio gira, e depois de
mandar uma foto da notificação para uma amiga advogada, e de ela
ter feito uma rápida pesquisa que comprova que de fato não há
como fugir do que está escrito naquele papel, acabo pegando o meu
celular e clicando no contato do meu chefe.
Antes de completar a ligação, desisto e mando uma
mensagem para a Mendonça, pedindo o endereço do nosso chefe.
A gestante fica desconfiada, mas acaba me dando a informação de
que preciso quando digo que tenho que entregar um documento
urgente para o homem.
Com o endereço salvo, apresso-me em tomar um banho.
Visto-me de maneira discreta, porque tudo o que não quero é
chamar atenção para o meu corpo quando estou indo tratar de
negócios.
Sempre solícito, Tito me pega e me leva para o prédio do
meu chefe. Apenas quando já estou na frente do residencial de luxo
que envio uma mensagem pedindo para que libere a minha subida.
— O senhor Harper liberou a sua subida, moça.
Cobertura, torre C — diz o porteiro e depois me fala o código do
elevador.
— Tito, pode me esperar? Não vou demorar mais do que
vinte minutos — aviso e ele acena em concordância.
Quando entro no elevador, tão nervosa que não tenho
capacidade de olhar direito e me impressionar com o quanto o
homem vive bem, sinto que até as minhas axilas estão suando. Eu
não preciso bater na sua porta ou tocar a uma campainha, pois o
homem gostoso está encostado na porta, descalço e sem camisa,
me esperando.
Vendo-o assim, lindo, com os braços fortes e todos os
gominhos do seu abdômen expostos, noto o quanto estava
confiante quando vim parar aqui, nem sequer pensei a possibilidade
bastante alta de que estivesse fora de casa, afinal, é um homem
solteiro e hoje é sexta. Ou talvez...
— Está com alguém aí dentro? — pergunto.
— Não. E mesmo se estivesse, a pessoa sairia para que
você entrasse — afirma. Nem me abalo, porque não se trata de um
galanteio. Ele só está cheio de esperanças de que vai conseguir o
que quer.
— Então me convide para entrar — digo, puxando do
fundo da minha alma a confiança que sempre tive em mim mesma.
— É claro, me desculpa — diz e dá espaço para que eu
entre no seu território. — Eu estou bastante surpreso que tenha
vindo — diz, então indica a sua sala.
A sua cobertura, até onde posso ver, esbanja luxo e bom
gosto, assim como a mansão da sua avó. A diferença é que esse
lugar aqui, cujos móveis caros são todos em tons de preto e azul, é
a cara dele. Se fosse imaginar um lugar para um homem como John
Harper morar, seria bem parecido com esse aqui.
— Gosta do que vê? — ele pergunta com um certo ar de
provocação.
Um apartamento chamando mais atenção do que o seu
tanquinho. Será que o ego enorme suporta esse golpe?
— O seu apartamento é bem bonito — elogio.
— Obrigado, mas tenho certeza de que não veio até aqui
para conhecer onde moro.
O poderoso chefinho está querendo ir direto ao assunto,
e eu agradeço por isso. Quanto mais rápido conversarmos, mais
rápido correrei para longe de sua cama.
— Sente-se, por favor — John segura o meu cotovelo e
me leva para o sofá. Não o de quatro lugares, mas o de dois, que
nos deixa perigosamente próximos quando nos sentamos lado a
lado. — E então?
— Vou aceitar a proposta de fingir que sou a sua mulher
pelo prazo de seis meses. Sou sua, John Harper. Não era isso que
tanto queria?
CAPÍTULO 18
JOHN
Eu sou otimista e confiante na maior parte do tempo, se
não fosse, não estaria na “briga”, pelo topo da cadeia alimentar do
grupo Harper de construtoras, mas nem nos meus momentos de
maior otimismo imaginei que a minha secretária fosse bater na
minha porta para falar tudo o que estava esperando ouvir, embora,
nos últimos dias, estivesse começando a duvidar que iria voltar
atrás.
Agora que disse as palavras certas e está ao meu lado,
linda como sempre, apesar da tentativa de ser discreta, e eu prefira
as suas roupas curtas e coladas, a felicidade que sinto é mais do
que imaginava, enquanto acreditava que esse momento chegaria.
A satisfação é muito mais do que por saber que a sua
resposta facilitará a minha missão de convencer a minha avó de que
sou o melhor no quesito homem na coleira. No quesito melhor
profissional, todos nós sabemos que sou o número um. Estou
satisfeito porque estará mais próxima de mim, e estou ficando mais
fascinado por essa mulher a cada dia que passa.
Manuella e eu tivemos um começo conturbado, e assim
seguimos até agora. Brigamos mais do que tudo, embora exista
uma hierarquia entre a gente, mas algo nessa morena me rouba o
ar e, nos últimos dias, enquanto esperava, não sabia ao certo qual
era o meu maior interesse com o acordo.
— Não vai falar nada? Se tiver mudado de ideia...
— Não! Não mudei de ideia. A oferta ainda está de pé, eu
só não estou acreditando que você finalmente entendeu que essa
era a escolha certa — digo com convicção, mas a minha secretária
parece tensa.
A morena não está feliz como eu estou.
— Essa não era, de maneira nenhuma, a escolha certa —
fala com seriedade, e tem as duas mãos em punhos sobre o colo.
— Se não era a escolha certa, se não está feliz por estar
aqui me dizendo que vai entrar nessa comigo, por que veio? O que
te fez mudar de ideia? — indago. Queria dizer que a resposta não
me importa de verdade, mas não estaria sendo sincero.
Ela não titubeou em negar há alguns dias, e tudo o que
eu tinha era esperança. Agora está aqui, e suas palavras
derrubaram um pouco a minha animação, pois parece que veio à
força.
— O que importa é que vim disposta a aceitar ser a sua
noiva de mentira, o motivo só diz respeito a mim — fala, seca.
— Tudo bem, posso lidar com isso — digo.
Ela deve estar certa. Por que tem que haver um outro
motivo que não seja o dinheiro?
Se está sendo guiada pela ambição, ou por qualquer
outra razão, não me diz respeito.
— Que tal um beijo e um brinde para a gente
comemorar? — pergunto para quebrar o gelo.
— Talvez eu aceite o brinde, mas não agora. Ainda temos
alguns pontos para acertarmos para que essa loucura dê certo —
afirma.
— Alguma cláusula em específico que queira discutir? —
pergunto, doido para ouvi-la, porque sei que é muito inteligente para
deixar que aquele documento fique da forma como foi redigido, sem
nenhum toque seu.
— No contrato você diz que receberei metade do valor
depois nos primeiros três meses, e a segunda metade ao final do
acordo, mas preciso que me dê um adiantamento de duzentos mil
essa semana. Se puder ser assim, eu prometo que farei o meu
melhor para convencer a quem quiser que sou a mulher mais
apaixonada do mundo pelo meu noivo.
— Manuella...
— Por favor, não me pergunte o porquê de eu precisar
desse adiantamento. Pense que usarei o dinheiro para comprar
roupas e sapatos que me transformarão na mulher que está no seu
nível. — Mais uma vez, a minha secretária está tentando fugir de
dar explicações, mas só consegue deixar-me intrigado quanto as
suas razões.
— Eu gosto das suas roupas. Não mude por mim e o
nosso falso relacionamento — assevero. — Esqueça aquela
cláusula.
Eu a redigi da maneira mais genérica e fria possível, que
serviria para qualquer uma que fosse escolhida por mim, mas Manu
não é qualquer uma. Não vou moldá-la, não se gosto de tudo sobre
ela.
— Mesmo que sejam justas e curtas? Que as pessoas do
seu convívio me olhem torto por causa disso? — questiona.
— Você é linda, e tem o corpo perfeito. Para mim, será
uma honra desfilar ao seu lado. O que é bonito tem que ser
mostrado, Manuella, e você é linda pra caralho.
— Obrigada pelo elogio, mas você não vai fugir da minha
resposta — fala e dá uma risadinha. A morena está um pouco mais
à vontade, e essa deve ser a primeira conversa tranquila que
estamos tendo desde o dia em que nos conhecemos.
— É só me passar a conta que o dinheiro estará ainda
hoje em suas mãos — falo. Para mim, dinheiro não é o problema.
Nunca foi, e confio que a minha secretária fará o que for necessário
para convencer a minha avó de que somos um casal apaixonado.
— Tem mais.
— Tenho até medo de perguntar o quê — digo.
Agora que estamos um pouco mais relaxados, lembro-me
que Manuella tem pernas, então os meus olhos começam a passear
pela porção que a sua roupa deixa descoberta.
— Na cláusula nove do contrato você fala sobre
demonstrações de afeto em público. Isso quer dizer o que
exatamente? Estou perguntando por que tenho que me preparar
para não reagir mal a algo que você faça — diz, jogando os cabelos
longos, ondulados e cheirosos para o lado esquerdo do ombro.
— Significa que vou te tocar quando for preciso — e
quando não for também, penso —, e espero que faça o mesmo
comigo. A gente vai fazer tudo para convencer as pessoas quanto a
seriedade da nossa relação. Elas têm que nos olhar e imaginar que
vamos nos casar muito em breve, porque mal conseguimos esperar.
Haverá beijos, abraços e mãos dadas — assevero.
— Tudo bem, acho que posso lidar com tudo isso. Mas o
segundo parágrafo... Eu não gostaria de sair da minha casa para vir
morar com você daqui três meses. Será que não está exagerando?
Afinal, é apenas um noivado, não um casamento — argumenta, mas
eu estava preparado para essa pergunta desde o momento em que
pensei nesse tópico.
— Hoje em dia, é mais do que normal que casais morem
juntos antes de se casarem, muitas vezes nem se casam de
maneira oficial, pois o fato de estarem sob o mesmo teto já fala por
si só. E como a gente não quer que haja dúvida de que nos
amamos, não abro mão que venha morar aqui em casa.
— Sou uma pessoa chata de se conviver. Acordo de mau
humor e sou bagunceira e espaçosa — Manu tenta me dissuadir e a
adoro por isso. Ela é ligeira, mas não mais do que eu.
— Posso lidar com você, um pouco de mau humor
matinal e muita bagunça por aqui — garanto, mas confesso que a
ideia de ter uma mulher morando comigo me assusta um pouco.
Nunca trouxe uma foda para casa, e agora pretendo morar com uma
mulher durante alguns meses. — E não fique pensando muito
agora, porque a gente só vai precisar fazer isso daqui uns meses.
— Tudo bem — ela cede.
— Algo a mais? — questiono, achando sexy o jeito como
a minha secretária morde o lábio inferior quando tenta forçar a
mente a pensar em algo.
— Sobre o sexo, que não merecia ser mencionado em
um contrato, porque fez com que me sentisse uma...
— Não foi a minha intenção. — Coloco a mão gentilmente
em cima dos seus lábios e me aproximo dela, que não fica tensa e
nem ao menos se afasta. Preciso confessar que senti falta dos
nossos embates essa semana, de sentir o meu corpo tenso de
desejo sempre que chega perto de mim como está agora. —
Mencionei sexo para que saiba que quero fazer com você, que
agora que cansei de negar a mim mesmo essa possibilidade,
relações sexuais não serão um problema entre a gente.
— Suponhamos que eu queira...
— Você quer? — apresso-me em garantir. Eu bati o
recorde de dias sem transar na última semana, e seria perfeito se
acabasse com o jejum com a mulher que mais desejo no momento.
— Se eu topar, você deixou claro no contrato que não
precisamos ser exclusivos, desde que haja discrição — aceno
positivamente com a cabeça, me perguntando se não é um ponto
que eu deveria ter mudado, porque a ideia de ela ficar com outro
enquanto estiver comigo me estressa. — Está me dizendo que não
vai criar problemas se eu me relacionar com outro homem em
segredo?
— Os direitos serão iguais, Manu. Você pode, e eu
também posso ficar com outras mulheres. A gente só vai precisar ter
cuidado mesmo — falo. — Mas confesso que no momento estou
interessado em você — afirmo.
Essa conversa está sendo muito melhor do que imaginei
que fosse ser. Estamos deixando tudo bem esclarecido, e agora
Manu termina de entender o que venho mostrando com os meus
toques desde o dia em que coloquei os olhos nos seus peitos: eu a
quero para mim com uma urgência que não tenho desde que deixei
de ser um adolescente.
— Eu ainda preciso pensar se estou bem quanto a parte
do sexo — diz, jogando um balde de água fria na minha cabeça. —
Para você pode ser mais fácil, mas não sei como eu lidaria com
essa situação. Não sei se levaria numa boa se o meu noivo, mesmo
um noivo de mentira, saísse enfiando o pau em mulheres aleatórias.
— A sua fala acende uma alerta para mim, mas gosto que esteja
sendo sincera.
— Acredito que a gente pode discutir melhor essa parte
no futuro. Vamos deixá-la em aberto, se assim for melhor para você
— digo de boa vontade, porque preciso dela.
Sei que a gente vai ficar junto muito em breve, e será nos
meus termos, porque sempre tenho o controle quanto a essa parte
da minha vida.
— Então, é isso. Serei sua pelos próximos seis meses —
diz como quem profere uma sentença de morte.
— Pelos próximos seis meses, seremos parceiros de
trabalho que se apaixonaram, e o mundo nunca terá visto duas
pessoas tão apaixonadas quanto nós dois — falo com convicção,
acreditando que não será difícil fingir que estou na coleira por essa
mulher. Só o fato de nunca ter desistido de entrar na sua boceta já
mostra que é um pouco verdade.
— Cadê o contrato? — ela pergunta.
— Vou fazer as alterações que você pediu e amanhã te
envio, tudo bem?
— É claro.
— Podemos brindar agora? — indago, ela balança a
cabeça com um sorriso discreto, mas ainda nervosa e me levanto
para pegar vinho para nós dois.
Pelo tempo em que me empenho na tarefa, sinto as
minhas costas queimando com o seu olhar curioso. Ao voltar para o
seu lado e entregar o copo, é como se o mundo tivesse voltado a se
alinhar.
Não foi fácil ficar sem ela durante essa semana na
construtora, pois apesar de ter acabado de chegar, a mulher tornou-
se essencial. A contratei por ser gostosa, mas Manuella Ortega é
uma secretária excelente. Felizmente, a minha avó não apareceu e
não tive que explicar a sua ausência.
— Está tudo bem? — pergunto quando vejo a sua mão
tremendo de leve enquanto segura o copo com vinho. Antes de
responder, os seus olhos passeiam rapidamente pelo meu abdômen
despido.
E agora que a parte chata foi resolvida, a tensão sexual
de sempre está de volta.
— Enquanto você preparava as nossas bebidas, comecei
a pensar no que estou fazendo e fiquei nervosa. Não é como se
você fosse qualquer homem. Tem um nome a zelar, e eu sou uma
Zé ninguém, pobre, divorciada e mais velha do que você.
— Não precisa falar assim de si mesma, Manu. Ninguém
vai estranhar o fato de eu ter te escolhido, porque gosto de mulher
bonita, e você é a mais linda que existe. O fato de ser mais velha é
um detalhe que me excita — confesso.
— Excita mesmo?
— Sim, excita — afirmo, me segurando para não avançar
o sinal e colocar tudo a perder. Sinto que ainda estou pisando em
ovos com ela, e enquanto o contrato não for assinado por nós dois,
não ficarei tranquilo. — Tudo sobre você me excita — ainda
confesso.
— É melhor eu ir embora agora. Deixei o Tito me
esperando na portaria — Manuella fala, termina de beber o vinho e
coloca o copo em cima da mesinha de centro.
Ao ficar em pé, apoia a mão no meu peito para se
equilibrar. Provavelmente, sentiu uma leve tontura por ter bebido e
se levantado rápido demais. Eu, que me levantei junto com ela,
seguro no seu braço que tem a mão me tocando e então nós dois
travamos os nossos olhares.
De repente, a atmosfera muda. O ar fica pesado e cheio
de energia sexual. Eu a olho, dizendo através do olhar que a quero
agora na minha cama, ela me olha implorando para que eu rasgue
as suas roupas agora mesmo e acabe com a espera que já dura
tempo demais.
— Por que você não o dispensa e fica mais um pouco? —
E aqui estou eu, pela primeira vez pedindo para que uma mulher
fique na minha casa, e pior, ansioso por uma resposta positiva.
CAPÍTULO 19
MANUELLA
Eu, que tinha acabado de falar para o meu chefe que não
sabia se poderia lidar com a parte que envolve sexo do contrato,
porque acredito mesmo que o meu dedo podre é capaz de me fazer
enxergar mais do que existe entre a gente, estou ouvindo-o pedindo
com todas a letras para que eu fique mais um pouco.
Esse “fique mais um pouco”, poderia muito bem ser:
vamos aproveitar essa noite de sexta, que não temos nada mais
importante para fazer e transar?
— Eu não sei se é uma boa ideia, John — dou a resposta
errada, porque a recusa, que esteve na ponta da minha língua, não
quis sair.
— Só mais um pouquinho, morena. Posso te chamar
assim? Estou treinando — diz.
— Pode chamar do que você quiser — exagero em
minhas palavras, talvez por estar contente com o dinheiro que vai
cair na minha conta, de pensar que vou salvar a casa da minha
mãe.
— E então, você vai ficar? Prometo ser uma boa
companhia. — Eu amo que John implora por mim sempre que pode,
mesmo que não perceba que está contrariando as próprias palavras
quando faz isso.
— O que a gente vai fazer? — Eu nem deveria estar
considerando essa loucura, mas todas as minhas resoluções caem
por terra quando esse loiro gostoso está no mesmo lugar que eu.
— Qualquer coisa. Conversar ou assistir a um filme.
Treinar a intimidade de um casal que está muito apaixonado. O que
você quiser — diz.
— Tudo bem. — Entrego-me, porque sou fácil para esse
homem e sua boca bonita fazendo pedidos irrecusáveis. —Vista
uma camiseta, enquanto eu ligo para a minha mãe e para o
motorista — sugiro.
— Já volto. — Animado, o homem corre, imagino que
seja para o seu quarto, e eu me sento novamente no sofá.
Além de aproveitar para ligar para a minha mãe e avisar
que chegarei tarde, depois de tê-la deixado preocupada quando saí
sem dizer para onde ia, aproveito para me acalmar um pouco. Estou
nervosa de ter aceitado ficar, porque sei que deveria estar a
caminho de casa nesse momento.
Agi com uma maturidade condizente com a minha idade
ao tomar a decisão que tiraria a minha família de problemas, vim
como uma ovelha na fila do abate, e agora estou pronta para cair
nas garras do meu lobo mau particular. A pior parte de me deixar ser
guiada pela vagina é ter consciência disso, e mesmo assim
continuar.
Antes de dar a mim mais um tempo para voltar a razão,
ligo para o Tito e o dispenso. Por falar em Tito...
— O motorista vai continuar comigo? — pergunto quando
ele volta, usando uma camiseta justa, que não faz muito para
esconder a beleza do seu abdômen e braços fortes.
Eita! Homem perfeito!
— Se você quiser, posso até acrescentar essa cláusula
ao nosso contrato — fala divertido ao se sentar ao meu lado. Tão
perto que pode simplesmente me puxar para cima de suas pernas.
Ele acha engraçado a minha questão com o motorista,
mas só quem passou a vida andando de ônibus sabe como é.
— Eu quero. Adoro o Tito, apesar de ele não falar muito.
— Não quer dizer nada. Nos quinze anos em que
trabalhou com a minha mãe mal abria a boca, mas todos sabíamos
que gostava dela — comenta.
— Onde está a sua mãe? — A curiosidade surge, pois ele
ainda não tinha a mencionado, e apesar de o seu pai usar aliança,
nunca vi a mulher na construtora.
— A dona Alicia adora viajar, e passa mais tempo fora do
que aqui, em seu próprio país.
— Não julgo, pois faria o mesmo se fosse rica — digo, e
sinto que ele fica um pouco desconcertado.
— Ela fazia o mesmo quando eu era criança, e coube aos
meus avós me criarem na maior parte do tempo. O Tales tinha a
família perfeita, eu tinha pais desnaturados que não estavam
preparados para serem pais e, mesmo assim, eu os amo — diz de
uma forma tranquila. É um assunto que parece ter sido superado
para o meu chefe. — E sobre viajar, agora você vai poder — afirma,
e agora sou eu quem fico desconfortável, John percebe e muda de
assunto. — Quer comer alguma coisa?
— Eu jantei mais cedo, mas aceito outra bebida — digo,
pois preciso relaxar um pouco mais.
Da forma que penso, até parece que estou sendo
obrigada a estar aqui, mas é quase como se fosse isso. A minha
mente sensata diz que eu deveria ter recusado o convite, o meu
corpo, a parte traiçoeira que sentiu falta dos nossos embates e
incapacidade de ficarmos sem nos tocar nos últimos dias me obriga
a ficar.
O meu chefe, que dá uma olhada para o meu decote que
não mostra quase nada, levanta-se e vai para o bar. E enquanto o
homem não volta, toda a indignação que senti pela proposta que me
fez naquele bar começa a parecer tão distante, que é como se o
sentimento nunca tivesse existido. E não é só porque aceitei, é
porque sempre me sinto dessa forma quando não estamos
brigando.
Um calor entre as pernas, o sangue correndo mais rápido
e mais quente nas minhas veias. Uma urgência que deixa a minha
respiração alterada. É uma atração animal.
— Aqui está, morena — ele me chamando assim é íntimo
demais, mas gosto de como soa, independente dos motivos.
Ele sorri quando tomo tudo de uma vez só e depois faço
uma careta.
— Você precisa relaxar, querida. A gente tem um acordo.
— Por saber que temos um acordo que me sinto nervosa. — É bom
que tenha aceitado ficar, assim a gente pode aproveitar para
conversar e nos tornar mais íntimos, mas não pense que vou pular
em cima de você como uma fera faminta, pronto para te devorar a
qualquer instante — o meu chefe fala, enquanto me olha lentamente
de cima a baixo, dizendo sem palavras que estou pensando certo.
— Não vai? — provoco, cutucando a onça com vara
curta.
— Só se você me pedir. — A mão que estava no encosto
do sofá desce para o meu pescoço, e os seus dedos que acariciam
a minha nuca fazem os pelos que têm ali se arrepiarem.
Caralho!
Caralho!
Caralho!
Eu não posso ser tão fácil assim e ceder ainda hoje. Não
posso! Seria melhor para mim se esse acordo não envolvesse sexo.
— O que você tem para a gente assistir aqui? —
pergunto, cortando o clima com um balde de água fria. — Podemos
começar alinhando os nossos gostos através de filmes e séries,
assim, o mundo a nossa volta não se dará conta de que somos
como água e óleo.
— Você acredita que somos tão diferentes assim? —
Pergunta, a sua mão ainda está na minha nuca. Nunca vou me
esquecer dessa mão ligeira aqui.
— Não faço ideia. Mal nos conhecemos e passamos
metade do nosso tempo discutindo, ou nos pegando — informo.
— O que as suas amigas da empresa sabem sobre a sua
ausência nos últimos dias? — indaga.
— Eu disse que a gente brigou e, portanto, estávamos
dando um tempo de vermos a cara um do outro todos os dias.
— Com isso, você deixou parecendo que não sabemos
separar o profissional da relação pessoal — fala o que eu imaginava
que fosse dizer, mas tenho um bom argumento para isso.
— E quem consegue? Ainda mais no início de um
suposto namoro. Pensei que o fato de deixar essa falta de
maturidade no ar poderia deixar todas acreditando que estamos
mesmo muito envolvidos.
— E porque você faria isso, se estava decidida a não
aceitar o acordo? — questiona.
— Eu passei os últimos dias balançada, afinal, estávamos
falando de um milhão de reais. Então me adiantei, caso fosse
mesmo embarcar nessa loucura — minto. Antes de falar com a
minha mãe, eu tinha certeza de que iria manter a minha recusa.
E como estava com raiva dele, menti para as meninas
com o intuito de deixá-lo malvisto perante elas, apesar de a minha
justificativa anterior fazer muito sentido agora. Quando estão
apaixonadas, as pessoas se tornam idiotas.
— Você é inteligente demais, senhorita Ortega e...
— Já sei, te excita — brinco, e o homem abre o sorriso
molhador de calcinha.
— Tudo sua culpa por ser assim — rebate.
— Perfeita?
— E gostosa pra caralho. — Toda vez que recebo um
elogio seu fico me achando. Não estava acostumada a ouvir afagos
no meu ego de um dos homens mais lindos que o mundo já viu.
Deveria ser pecado ser assim, e ainda ter o pau grande. — Mas
vamos assistir algo, antes que eu comece a ter ideias de coisas
mais interessantes para fazer quanto ao test-drive a respeito da
nossa compatibilidade.
Passamos alguns minutos na Netflix escolhendo um
filme, mas não conseguimos chegar a uma conclusão. Ele gosta de
ação e batalhas sangrentas, eu gosto de drama e comédia
romântica. No fim, acabamos dando play em um filme que une ação,
drama e romance.
Ele apaga as luzes da sala, e apenas a da TV gigante
nos afasta da escuridão completa. Liga o ar-condicionado em uma
temperatura agradável, e sinto que poderia facilmente me
acostumar com uma vida como essa. Nos primeiros vinte minutos,
eu de fato assisto ao filme, e John também parece bastante
interessado, apesar de saber que essa não seria a sua escolha se
eu não estivesse aqui.
Com quarenta e três minutos de tela, John está mais
perto de mim, ele abraça o meu ombro e eu deito a cabeça no seu
peito, como se fosse comum para nós dois ficarmos assim no sofá.
Mais à vontade a cada minuto que passa, e prestando
menos atenção no filme e mais no meu suposto namorado, deixo
que ele deslize a mão para um dos meus seios e a deixe plantada
em cima dele, que tem o bico saliente pelo contato.
A sua outra mão está em cima da minha perna, que está
cruzada sobre a outra no estofado. Não acredito que esteja fazendo
isso para me provocar, provavelmente, nem está se dando conta
que estamos evoluindo para em breve nos fundirmos.
Quando o casal protagonista do filme se beija pela
primeira vez, John enterra o nariz no meu pescoço e eu não só
deixo como o jogo levemente para o lado, dando-o mais espaço.
— Você é tão cheirosa — diz, e o calor de sua respiração
me arrepia.
— Tomei banho — respondo.
— É muito importante gostar de tomar banho, não é? —
pergunta, e morde o meu pescoço de uma maneira que não dói. O
intuito é me fazer sentir prazer.
Acredito que estava errada quando julguei que não
estava consciente da nossa proximidade quanto eu estou.
— O filme. — A minha voz sai fraca e baixa.
— É claro, o filme — fala. A sua mão não está mais
parada no meu peito. Agora, os seus dedos estão provocando o
mamilo duro, deixando-o mais duro ainda.
John e eu ficamos tensos no sofá quando, perto do final
do filme, o casal começa a arrancar as roupas um do outro. E
enquanto acontece, o meu chefe e eu não conseguimos mais fingir
que não estamos sentindo nada.
O meu corpo está tenso de desejo, e sinto que o dele
também está. Com a mão apoiada no seu peito, bem próxima de
onde bate o coração, percebo o seu batendo tão acelerado quanto o
meu. Eu não quero levantar a cabeça e olhar para ele, porque sei
que será o meu fim, mas John me tira a chance de recusar quando
segura o meu queixo e ergue a minha cabeça para si.
A intensidade do desejo cru que vejo na forma como está
me olhando deve estar refletida no meu próprio olhar. A gente não
precisa dizer muito, porque sempre soubemos, desde o início, que
temos todos os motivos para não fazermos isso, mas a vontade que
sempre existiu é impossível de ser ignorada.
— Eu não fiquei aqui para isso — a minha voz soa
estranha quando falo com o rosto muito próximo do seu.
— Sei que não foi, mas deve ter passado pela sua
cabeça que era perigoso demais, não passou? — Aceno
positivamente. — Imaginou que ficaríamos nessa situação muito
rápido, porque tem sido assim quando ocupamos os mesmos
metros quadrados. — A mulher gemendo na TV faz trilha sonora
para a voz bonita do meu chefe.
O seu nariz está tocando no meu, sua mão nunca deixou
de acariciar o meu seio e eu estou a um passo de dar para ele,
porque o quero há muito tempo para seguir resistindo. Aqui, os
motivos já não têm tanta importância, não nesse momento.
— Vamos deixar o contrato e tudo o que existe entre a
gente de lado só por essa noite, morena. Eu quero você, e sei que
me quer da mesma forma. Deixe-me te provar por inteiro, nem que
seja só uma vez. Para que eu não enlouqueça de desejo, preciso te
tirar do meu sangue e dos meus pensamentos, mas sei que isso só
vai acontecer quando te provar, quando te comer de todas as
formas que nos cause prazer. Você vai sentir prazer como nunca
sentiu, querida. Não vai se arrepender.
Enquanto o homem fala sobre tudo o que também estou
sentindo, o incômodo entre as minhas pernas se torna mais intenso.
O meu coração parece que vai explodir, mas eu sei o que quero e o
que vou fazer, independente do que possa acontecer depois.
— Apenas por essa noite, sou sua. — Finalmente,
entrego-me. O seu sorriso sacana e o olhar esfomeado me dizem
que, pelo tempo que durar, serei muito feliz nas suas mãos.
CAPÍTULO 20
JOHN
Eu já tinha tido essa conversa com ela na minha cabeça
uma dúzia de vezes, em todas elas eu fazia promessas de prazer
que sabia que poderia cumprir. Mas agora que falou de verdade que
vai me dar a sua boceta, que tenho o seu corpo em minhas mãos,
sem que esteja querendo fugir, não sei nem por onde começar.
Na verdade, preciso me acalmar antes de começar a
tocá-la como realmente desejo, pois senão sou capaz de atropelar
tudo, acabar antes de começar e não cumprir as promessas que fiz.
Antes de tudo, desligo a TV, e Manuella comenta.
— O filme não estava bom?
— Estava ótimo, mas a única cena que quero ver agora é
a dos nossos corpos se encontrando. O único gemido que quero
ouvir é o seu — digo ao beijar com carinho o canto da sua boca.
Sim, estou sendo carinhoso antes do sexo, algo de que
nunca pude ser acusado. Quando levo uma mulher para a cama,
vou direto para o objetivo final que é fazer sexo. Com Manu é
diferente. Deve ser pelo tanto que me custou chegar até esse
momento.
— E se eu não gemer? — provoca, e eu a puxo para
perto do meu corpo. Manu faz mais e monta em cima das minhas
pernas. O seu vestido sobe até a cintura, deixando suas coxas
visíveis para mim, que não perco tempo e as toco.
— Você não vai gemer, minha linda. Vai gritar — garanto.
— Pedirá para que eu nunca deixe de meter na sua boceta, que
mesmo quando estiver castigada, ela te fará pedir por mais. E eu
vou te dar mais prazer, porque o meu desejo vem crescendo um
pouco mais a cada dia desde a primeira vez em que coloquei os
olhos em cima de você e te quis.
— Você tinha acabado de fazer sexo com outra mulher —
acusa. Agora, os seus braços estão me abraçando no pescoço e as
garras afiadas fazem carícias que deixam até a minha alma
arrepiada.
— O que prova as minhas palavras. Tinha me satisfeito,
mas te olhar fez com que eu sentisse como se não transava há
semanas.
— Apesar das minhas palavras, também te quis. E eu
não estava pensando muito bem dos homens. Tive que me conter
muito para não te puxar para o quartinho de mantimentos e dar o
que você queria — revela.
— Eu senti pelas reações do seu corpo que me desejava
tanto quanto eu te queria — afirmo. — Mas agora não é a hora de
falarmos do passado, morena. Na verdade, não quero falar nada, só
te foder sem sentido — digo, pego a parte de baixo seu vestido e a
minha secretária levanta as mãos para que eu o tire.
Jogo a peça de lado no sofá, e depois volto a minha
atenção para a mulher linda que está sentada em cima das minhas
pernas. O seu corpo perfeito está vestindo calcinha e sutiã pretos,
as peças são simples, tendo em vista as muitas que vi nas mulheres
com quem transei ao longo dos anos, mas são bonitas.
— Você é linda, Manu. Tem o corpo perfeito, e só consigo
pensar no prazer que o meu pau e eu sentiremos quando provarmos
com mãos e com a boca cada pequena parte dele. Diz para mim
que vai ser toda minha. Quero ouvir de novo. — A necessidade
surge e não posso contê-la.
— Todinha sua. Apenas sua por u... — Eu coloco os
dedos sobre a sua boca, antes que diga o resto da frase. A parte
que falou foi o suficiente para mim.
— Minha — reafirmo, e então a beijo.
Seguro os cabelos da parte de trás da sua cabeça, com o
intuito de tornar o encaixe perfeito de nossas bocas, eu tomo o
controle do início do beijo para mim. Começo a provocando com
pequenas mordidas no lábio inferior, colocando a ponta da língua
em contato com a sua, mas a recolhendo quando a mulher tenta a
capturar.
Mas a brincadeira acaba na sua primeira rebolada no
meu pau, que ainda tem a barreira da cueca e da calça moletom.
Ao segurar os cabelos de sua nuca com mais firmeza,
finalmente a beijo como a gente quer. Envolvo as nossas línguas em
um ritmo sensual, e o som que se ouve é o de saliva sendo trocada
e das nossas respirações aceleradas pelo apartamento.
É um beijo duro e puramente sobre sexo que, de
nenhuma maneira, poderia ser julgado como decente o bastante
para ser dado em público. Mas é gostoso, muito gostoso sentir a
maciez da sua boca. A língua chupando a minha com experiência,
porque eu adoro o fato de a minha gata saber o que faz.
E enquanto nos devoramos com a boca, o meu braço
livre segura a sua cintura com firmeza, para que os nossos sexos
nunca percam o contato. Sinto o calor da sua boceta através dos
tecidos das minhas vestimentas, mas não é o suficiente.
Preciso de mais, muito mais do que apenas sentir esse
calor. Eu o quero em mim. Preciso estar dentro dele, e que faça
queimaduras de primeiro grau na minha pele. Mas antes de avançar
para a próxima fase, separo as nossas bocas, e fico levemente
zonzo de tesão quando vejo seus lábios úmidos e avermelhados.
Coloco a boca no seu pescoço e dou uma longa e
esperada chupada no lugar cheiroso e bonito, que tem me tentado
há dias, porque sempre que a via toda arrumadinha, sendo
profissional com os cabelos presos, pensava em como queria
chupar o seu pescoço até deixar a minha marca.
Manuella gosta tanto do que estou fazendo que,
apertando os bicos de seus seios por cima do sutiã em busca de
uma espécie de alívio, joga a cabeça para trás e me dá mais
liberdade. Então eu aproveito o que está sendo dado e não só
chupo, eu mordo e lambo o pescoço bonito, depois passo para o
ombro e o colo, um pouco acima de seus seios.
— Eu vou tirar o seu sutiã, tudo bem? — ela balança a
cabeça dizendo que sim. Livro-me da peça rapidamente e o meu
sangue fica mais quente quando vejo de perto o quanto seus seios
são grandes, empinados, e com os mamilos orgulhosamente duros
para mim.
Os seus peitos são obras de arte, e eu sempre fui o maior
admirador. Me apresentei para as belezas antes mesmo de
conhecer o seu rosto.
Agora, sob o olhar intenso da minha suposta namorada,
primeiro babo na beleza deles, depois seguro com as duas mãos
para sentir o peso, como um adolescente que nunca havia visto um
par de seios antes.
— Você gosta deles, não é? Na maior parte do tempo faz
parecer que não sabe que existe uma cabeça em cima do meu
pescoço — ela brinca, mas está falando a verdade.
— Uma das coisas que mais gosto em você. Já pensei
em como ficariam levando o meu pau entre eles, na minha porra
escorrendo por aqui — toco no vão entre os dois — depois que me
fizessem gozar — revelo para a mulher as minhas fantasias sujas,
que são apenas a ponta do iceberg.
— Eu vou deixar você fazer tudo isso, se quiser — ela
fala.
— É o que eu mais quero no momento, querida. Isso, e
muito mais. Mas antes de ter o banquete completo, antes de gozar
em você, vou tocar com a boca em todo o seu corpo, e vou começar
por eles... — falo, e fito os seus peitos.
— Tire a camisa, porque as coisas estão um pouco
injustas por aqui, e eu quero te ver — pede, eu só levanto os braços
para cima e deixo que me dispa. As suas mãos no meu peitoral
estão quentes.
Deixo um beijo em cima de cada um dos gêmeos, e só
então abocanho o primeiro mamilo moreno, eu o chupo e mordisco,
enquanto belisco o outro com os dedos. Em cima de mim, Manu
começa a deixar escapar alguns gemidos e a se contorcer nas
minhas pernas.
Levo alguns minutos me banqueteando com eles, mas
logo deixa de ser o suficiente e começo a precisar de mais. Então
eu fico em pé com a morena nos meus braços e a deito de costas
no sofá. Tendo a visão de uma deusa que é só minha, fico de
joelhos na sua frente e começo a descer os beijos para a barriga
lisa.
— John, eu acho que posso gozar a qualquer momento.
Você está me torturando... — ela fala, enquanto esfrega uma perna
na outra. — Faça alguma coisa para me aliviar. — A urgência que
sinto na sua voz não me faz parar, então eu deslizo a mão direita
lentamente pela sua barriga até chegar na parte da frente da
calcinha preta e pequena, do jeito que me disse que gosta.
Sem olhar, porque estou empenhado nos beijos na sua
barriga, percebo que Manu está apertando uma perna na outra na
tentativa de se conter, mas eu as afasto com a mão e a enfio dentro
da sua lingerie.
Os meus dedos encontram uma boceta escorregadia de
desejo, porque essa mulher gostosa e fogosa está pingando por
mim.
— Você está toda molhadinha. Diga por quem está assim.
— Com ela, tenho traços de uma possessividade que nunca fizeram
parte da minha personalidade. Tenho a necessidade de a ouvir
falando esse tipo de coisa.
— Por você. Tem sido assim só por você... — sussurra,
arqueando o corpo quando enfio dois dedos inteiros dentro do seu
sexo, que está mais do que preparado para receber o meu pau, que
de tão duro é perfeitamente capaz de furar a boxer e a calça.
Provocando o seu umbigo, começo a enfiar e a tirar os
dedos da sua boceta, a masturbando. Quando o seu corpo começa
a dar sinais de que vai chegar ao ápice do prazer, dou um jeito para
que as suas pernas fiquem em cima dos meus ombros e tiro a
calcinha pequena que usa.
Primeiro passo a língua por toda a boceta, depois a
envolvo com a boca, chupando e ouvindo os sons dos seus
gemidos. O prazer que sinto com o seu gosto na minha boca é
indescritível. Eu desejava mais do que tudo ter uma prova.
Quando ela está prestes a gozar, volto a enfiar os dedos,
e junto com a minha boca a faço gritar pelo meu nome e se quebrar.
Gemendo e se contorcendo, o corpo sofre espasmos enquanto goza
para mim.
— Deliciosa — falo, e tenho dificuldade para a soltar.
Mesmo depois que o seu corpo se acalma, ainda continuo aos seus
pés, beijando o lado de dentro de suas coxas macias e grossas.
Deixando-a linda no sofá, e nem perto do quão
completamente satisfeita ficará quando terminar essa noite, levanto-
me e começo a me livrar das minhas roupas. Manuella me olha
abertamente, primeiro para o meu abdômen, depois para o meu
membro, que pula alegremente para fora da boxer quando me livro
dela.
— Eu quero chupar você — ela avisa.
— Eu também quero que você me chupe, mas não será
agora, querida. No estado em que me encontro, acabaria gozando
na sua boca, e quero fazer isso na sua boceta. Estou morrendo de
tesão aqui.
— Dramático — Manu brinca.
— Apenas um homem que está sedento por você —
declaro.
— Estou aqui.
— Sim, está — digo, curvo o meu corpo e a pego em
meus braços. Enquanto a levo para o meu quarto, procuro não
pensar que ela é a primeira mulher que o conhecerá, a única que se
deitará na cama onde só eu dormi até então.
Eu a deito de costas na minha cama, e ela fica tão bem
que parecia que era a peça que faltava para que o quebra-cabeça
ficasse completo.
Mas que bobagem é essa, porra?!
Não pense nisso, John. Ela é apenas mais uma. A sua
secretária gostosa que será muito útil para os seus planos, apenas
isso.
Não pira!
— Algum problema? — A minha gata pergunta, eu a olho
e todas as bobagens somem da minha mente.
— Tem algo faltando, não acha? — Vou até a gaveta ao
lado da cama e pego preservativos. Jogo uma fileira com cinco
sobre a cama e Manu sorri — Está rindo de mim, garota?
— Da sua confiança.
— Vamos usar todos eles em algum momento — garanto
e subo na cama.
— Mas nem se eu tivesse duas vaginas. Com esse pau
grande, na primeira já estarei assada — ela faz um afago no meu
ego. Beijo-a porque não posso resistir e como forma de
agradecimento.
Com o corpo pairando sobre o da mulher gostosa, a beijo
por um bom tempo, sentindo em cada fibra do meu corpo o prazer
da maciez de sua língua sugando a minha e seus pequenos sons.
Como é do tipo que pega o que quer, Manuella coloca a
mão entre os nossos corpos e segura o meu membro. Ela o
masturba uma, duas e três vezes com gestos de ir e vir, colocando a
força ideal entre os dedos, até que a afasto, porque quero meter na
sua boceta agora mesmo, não gozar em sua mão.
— Abra as pernas para mim, querida — peço, e Manu
faz. Eu olho direto para o sexo, e não preciso tocar novamente para
ter certeza de que está pronta para mim.
Eu me coloco entre as suas pernas e, apoiando o peso
do meu tronco com os braços, passo a cabeça do meu pau entre as
suas dobras. Manu joga a cabeça para trás com os olhos fechados,
sentindo o prazer do contato mais íntimo que já tivemos, assim
como estou sentindo.
Insinuo o quadril para frente e para trás entre os seus
lábios vaginais, apenas sentindo, ainda sem nos dar o que
queremos. E enquanto faço isso, não deixo de olhar para o seu
rosto, para os seus seios, cujos mamilos estão duros, e todo o seu
corpo.
Mesmo antes de começar, sinto que nunca foi tão bom, e
que será o melhor sexo que já tive em tantos anos de vida sexual
ativa. Já está sendo, antes mesmo de se concretizar.
— Tem ideia de quanto tempo esperei por isso? De como
te via em outras mulheres, porque queria que fosse você no lugar
delas? Diz que você sabe, Manuella. Fale, porra! — exijo
entredentes.
— Eu sei que me deseja, John. Soube quando colocou os
olhos nos meus seios na primeira vez que me viu naquele bar. Ali,
eu quis ser tua como nunca havia sido de ninguém. Tudo sobre
você me excita. Nós dois sofremos do mesmo mal, mas agora que
estamos aqui, preciso que comece de uma vez e enfie esse pau em
mim, que acabe com o vazio e a agonia. Me faça sua, chefinho.
— O que quiser, gostosa — digo, então estico a minha
mão e pego o preservativo.
Depois que o coloco, penetro o meu pau até o fim na sua
boceta apertada e escorregadia. Não tem jogos de provocações
agora.
— Caralho, John — Manu grita com a invasão, mas sei
que não é de dor, pelo contrário, assim que me recebe, a gostosa
morena faz movimentos circulares com o quadril, para sentir-me
profundamente socado no seu sexo.
Mas eu firmo o seu quadril sobre a cama com uma mão
e, com as suas pernas em volta dos meus quadris, olhando em seus
olhos escuros, levo o meu próprio tempo a sentindo em mim. Depois
de alguns segundos, tiro calmamente até que fique apenas a
cabeça, e então volto com tudo, fazendo com que o seu corpo seja
içado para cima.
Faço o mesmo, uma, duas, três e tantas vezes que perco
as contas, penetrando-a com força, não deixando que nada fique de
fora. O meu pau fica todo enterrado na sua bocetinha, e tem um
momento em que fico sobre os meus joelhos para ter a imagem do
seu sexo consumindo o meu. É a perfeição.
— Gostosa! Eu sabia que seria assim, porra! — falo, e
bato as nossas coxas. Seguro com possessividade em um dos seus
seios, rolando entre os meus dedos o mamilo duro. — Você é...
— Eu sou o quê? — De repente, a morena tira o controle
das minhas mãos. Ela se levanta, eu seguro-a com firmeza pela
cintura, enquanto ela nos vira e a ajeito em cima das minhas pernas.
— Uma putinha sem pudor, que vai me deixar te comer
até que fique toda assada, que vai tomar o meu pau e pedirá mais e
mais, até que eu não aguente mais te foder, porque ele já estará
esfolado de tanto ser usado — digo.
Agora, as minhas mãos estão agarradas na sua bunda
redonda, enquanto cavalga no meu colo, tomando-me por inteiro. E
ela faz isso com facilidade, gemendo e se dando prazer, enquanto a
sua mão aperta um dos gêmeos. O outro eu levo a boca, e passo a
mamar cheio de fome.
— Então eu sou, porque tudo isso que falou vai
acontecer. Vou te usar hoje, porque me deve e tem que me pagar
por todas as vezes em que me masturbei pensando em você.
Desejando que o pau de borracha fosse o seu... — fala e se senta
sem parar. Nós estamos começando a ficar muito suados, mas não
queremos parar. — Sempre foi por você...
E enquanto ela fala sacanagens e se senta no meu pau,
eu enrolo um punhado de seus cabelos longos no meu punho e a
obrigo a me encarar. Os seus olhos estão pegando fogo e me
queimando. Mas a sua boca rosada me chama, então a beijo, pois
quero provar dela de todas as formas possíveis.
As nossas línguas se consumem, assim como os nossos
sexos, cujas batidas de nossas peles escorregadias de suor fazem
sons pelo quarto.
— Eu estou tão perto... — Manu sussurra, depois que
deixo a boca e passo a chupar seu pescoço, então tento
desacelerar, pois não quero que termine ainda.
— Quero te foder vendo a sua bunda — sussurro no seu
ouvido, junto com uma mordida na orelha. — Fique de quatro,
morena.
A safada sai de cima de mim e se posiciona sem nem
pensar em protestar. Se coloca na posição, eu me ajoelho atrás e
tendo a visão perfeita da sua bunda tentadora, que fez muitos
homens delirarem de vontade, e das dobras da sua boceta.
Antes de voltar a trepar com ela, curvo-me e deixo beijos
em suas costas. Sensível, a minha secretária se arrepia todinha. Eu
imaginava que fosse ser assim, mas agora que a tenho toda nua,
comprovo que tem o corpo perfeito, sem nenhuma mácula. Não há
uma manchinha sequer em sua pele.
Como um garoto que chega a um parque de diversões, e
sob o som de sua respiração acelerada, agarro de mãos cheias os
lados de sua bunda.
— Sua safada! — Dou uma tapa leve do lado esquerdo
quando a mulher dá uma rebolada para me provocar.
Depois de apertar e deixar uma mordida que a faz
protestar e depois gemer quando chupo em cada lado, os abro
minimamente e toco com o dedo mindinho no seu orifício.
— Nem pensar — protesta, mas acredito que faz por
fazer, porque não se afasta um milímetro sequer.
Pelo contrário, quando mantenho o meu dedo, ela insinua
o quadril contra ele, e meu pau duro fica dolorido de vontade.
— Você já fez isso alguma vez? — indago, agora
massageando com a ponta do dedo o orifício anal.
— Fui casada durante...
— Não foi isso que perguntei — digo, dando-me conta de
que não gosto quando fica me lembrando desse fato.
Não quero saber!
— Devo ter feito uma ou duas vezes.
— Manuella... — falo entredentes, e estapeio de leve a
parte de fora de sua coxa.
— Tudo bem, umas cinco vezes, ou mais — afirma, mas
imagino que esteja querendo dizer que não odeia o sexo anal. E por
mais que deteste pensar que outro já conheceu esse paraíso, gosto
de saber que posso ter esperança de que a terei dessa forma
também.
— Vou poder te comer aqui? — pergunto e enfio a ponta
do dedo no seu cuzinho.
— Ai... — O protesto é fraco, e vem junto com o seu
quadril se empinando de encontro ao meu dedo. — Filho de uma
puta! — E sua boca suja dá as caras quando começo a enfiar e tirar
o dedo até a metade dentro do seu orifício.
Eu tenho que me concentrar muito para não gozar ainda,
porque olhar para o meu dedo metendo no seu cu me faz imaginar
como será quando for no meu pau, que está dolorido pela
perspectiva.
— Por que não faz isso de uma vez? — Manu pergunta, e
eu não posso crer que tenha entendido direito.
— Está me pedindo para que foda a sua bunda agora?
Não é possível, seria perfeição demais para uma mulher
só.
— Estou... — confirma e começa a, lentamente, rebolar
no meu dedo. — Faça o que quiser.
— Você não pode dizer isso, mulher — aviso, fico por um
fio de tomar agora o que está sendo oferecido e que quero mais do
que tudo pegar, mas não vou, pois ainda preciso me fartar da sua
boceta quente e apertada. — Eu vou meter sem pena no seu
buraquinho, mas não será hoje — falo, presumindo com isso que
terá mais, apesar de termos dito que seria só essa noite.
Então eu me curvo, pairando sobre o seu corpo e toco no
seu sexo molhado, cujos fluidos de desejo escorrem junto com suor
pelas suas coxas grossas. Acaricio o seu sexo, e depois, sob o seu
olhar, já que tem a cabeça voltada para trás, olhando-me por cima
do ombro, chupo os dedos.
E muito perto de gozar, seguro o meu membro e o pincelo
algumas vezes entre os seus lábios vaginais, antes de meter mais
uma vez até a base na sua boceta. Dessa vez, quando estamos tão
sensíveis e na borda, não tenho o porquê de me conter.
Ao segurar um punhado de cabelos, e olhando fixamente
para as suas costas arqueadas e bunda bonita, penetro a minha
secretária gostosa do jeito que a gente é: intenso, quente e sem
limites.
— Mete com força, chefinho... — pede a sacana em meio
a um gemido. — Me mostre que valeu a pena ter fantasiado tanto
com o momento em que estaria assim com você. Me mostre, vai...
— Essa rebolada que faz com a bunda tentadora é a minha morte,
então meto sem sentido, segurando com força os seus quadris para
que permaneça no lugar.
— Eu vou gozar, John! Só mais um pouco... — avisa, eu
também estou muito perto, então levanto o seu troco e colo as suas
costas no meu peito suado.
Com uma mão no peito e a outra no seu clitóris, beijando-
a de língua, indo e vindo sem parar de penetrá-la, sinto quando o
seu corpo tenciona nos meus braços, e depois começa a sofrer com
espasmos. Ela não grita, porque tenho a boca na sua, mas os sons
de seus gemidos me estimulam.
Por trás, continuo me afundando nela mais algumas
vezes, até que o orgasmo vem intenso e com tudo, tirando as
minhas forças.
— Foda! — berro, e sinto tudo ao mesmo tempo. Sem
forças, mas ainda socando no seu calor enquanto gozo.
E quando o fôlego parece escasso, faço uma manobra
para que Manu se deite de lado na cama. Eu, ainda dentro dela,
entro e saio bem lentamente, com o membro a meio mastro, até que
o prazer se acalme e o meu corpo finalmente se sinta
completamente satisfeito.
Mesmo que não queira, deixo o seu corpo. Livro-me do
preservativo e o descarto em uma pequena lixeira que fica próxima
à minha cama.
— Por que tem uma lixeira aqui?
— Para os papéis que descarto. Gosto de trabalhar na
cama — digo.
— Agora estou imaginando você completamente nu,
trabalhando na cama, chefinho... — diz com um fio de voz e um
sorriso cansado no rosto, porque sexo é cansativo, ainda mais do
jeito que fizemos.
— Não me chame assim, porque fico com vontade de te
pegar novamente, e ainda preciso recuperar as minhas energias —
aviso e, assim como ela, estou parcialmente sentado com as costas
contra a cabeceira da cama. — Foi bom para você? — indago, de
repente, inseguro.
Deve ser porque foi muito mais do que fantasiei. Nada
que passou pela minha mente chegou perto do que é a realidade do
sexo com essa gostosa.
— E para você, foi? — ela olha para mim divertida e com
a sobrancelha bem-feita arqueada.
— Eu perguntei primeiro, querida.
— As fantasias não faziam jus a realidade. Você sabe
como usar um pau, e nunca foi tão bom — diz. Sinto-me
envaidecido, mas contente por ser ela a pessoa que faz o elogio. —
Agora é a sua vez.
— Eu estou tentando calcular quanto tempo falta para
que possa te foder novamente. Quantas vezes você conseguirá me
levar dentro da sua bocetinha ainda essa noite. Isso responde a sua
pergunta? — indago, e a puxo para mim.
Com uma perna sua em cima do meu quadril, aproximo
os nossos rostos, então nos encaramos com intensidade.
— Foi a resposta perfeita. Se tentar, poderá descobrir
muito em breve sobre quantas vezes consigo tomar o seu pau na
minha boceta — fala de maneira aberta, então eu seguro na sua
nuca e a beijo.
Por causa da adrenalina baixa depois do gozo,
começamos um beijo lento e carinhoso demais para os nossos
padrões. Logo nos deitamos, ela de costas e eu entre as suas
pernas mais uma vez.
Pouco tempo depois, estamos transando novamente,
dessa vez mais calmos do que da primeira, porque nem a gente
aguenta tanta intensidade duas vezes seguidas. E quando
chegamos ao ápice pela segunda vez, a minha namorada de
fachada geme o meu nome incontável vezes.
Quando acaba, ficamos conversando e nos provocando
durante um tempo, algo que eu nunca havia feito antes, pois
pensava que era algo que poderia trazer ideias erradas para as
garotas com quem eu saía. Mas acabo de descobrir com a minha
secretária sexy sobre como é boa a conversa despretensiosa pós-
sexo.
Quando Manuella acaba cochilando, e me sinto satisfeito
ao invés de incomodado, escolho acreditar que me sinto assim
porque tenho esperanças de que a noite ainda não acabou, que
antes que o dia amanheça e a realidade bata à nossa porta, Manu
será minha mais uma vez.
E antes de eu mesmo acabar cochilando, decido que
preciso começar a tomar cuidado, porque a nossa performance
deixou bastante claro que somos cem por cento compatíveis na
cama, e não será nada bom que eu me torne um viciado em
Manuella, embora acredite que já esteja acontecendo.
CAPÍTULO 21
MANUELLA
Ao abrir os olhos, estico o meu corpo, do qual pareço
mais consciente do que estive antes e bato com a mão em um peito
duro.
Um peito duro?!
Alarmada, olho para o meu lado, então me lembro que
transei com o meu chefe! Finalmente!
É um erro? Com certeza deve ser, mas foi um erro bom,
do qual não me arrependo nem um pouquinho nesse momento. Eu
transei duas vezes com John Harper, o maior gostoso da cidade. E
mesmo ciente da confusão em que estou nos metendo com o
acordo, e adicionando sexo para piorar, quero mais.
Agora que tive a prova do quanto o homem é bom com o
pau tanto quanto é com as mãos e a língua, o quero mais uma vez.
Mas John está dormindo. Olho para luz da cidade através
da janela que toma toda a parede da frente e noto que ainda é noite.
Deve ser metade da madrugada. Eu devo ter cochilado durante uma
hora mais ou menos, mas já recuperei as energias e o fogo.
Ao deitar-me de lado, com a cabeça sendo sustentada
por uma mão, uso a outra para afastar o pano que cobria metade do
corpo do poderoso chefinho. A minha boca saliva e meu sexo se
aperta só com a imagem do seu membro, que mesmo descansando,
é impressionante.
Quando está duro é uma coisa de louco, mas sou uma
batalhadora que consegui o comportar em mim sem ser arregaçada,
quer dizer, não sei como será quando o dia amanhecer e eu for
tentar caminhar.
Pensar na forma como o encaixe dos nossos corpos foi
perfeito e em como fui tocada por ele é o suficiente para deixar-me
excitada. E quando John metia em mim, ele fazia com tanta energia
que tenho uma ligeira sensação de que ainda está entre as minhas
pernas, metendo sem nunca se cansar.
John quase me levou a loucura quando tocou no lugar de
onde nada deveria entrar, apenas sair, e naquele momento eu
estava disposta a ceder até mesmo ao sexo anal. Não menti quando
disse que já havia feito outras vezes, afinal, fui casada durante
anos, e no início, o meu marido e eu éramos especialmente
aventureiros.
Não era algo que eu gostava de fazer, apesar de sentir
prazer depois da dor, mas tenho certeza de que John fará com que
seja a melhor experiência que já tive. E mesmo que seu membro
seja bem maior do que o do meu ex, quero fazer sexo anal com
esse homem.
Por enquanto, preciso de outra coisa. Arrasto o meu
corpo para pertinho do seu e a mão para o pau do loiro bonito e de
corpo perfeito. É um deus grego em todos os sentidos, e que faz a
minha vagina bater palmas de alegria.
O envolvo entre os meus dedos e começo a masturbá-lo
com calma e paciência, afinal, o homem está dormindo e não quero
que acorde assustado e acabe com a brincadeira. E mesmo
inconsciente, o corpo do meu chefe tem vida própria e seu membro
passa a rapidamente endurecer na minha mão.
Especialmente aventureira, depois de ter tido os melhores
orgasmos da minha vida, me ajeito para ficar com o rosto próximo
do seu pau. É perfeito, grande e cheio de veias, como o resto do
seu corpo. O meu lado devasso apita, então coloco a língua para
fora e lambo delicadamente a cabeça robusta.
O problema é que não sou paciente e nem delicada e,
depois de mal ter começado, engulo o membro grosso o máximo
que consigo. E por mais que o sexo oral seja para o prazer do
parceiro que está recebendo, o que sinto em fazer deve ser tão
grande quanto o dele. Não é a primeira vez que chupo o pau desse
homem, e nem que me sinto pingando com o ato.
John começa a se mexer. Está despertando, eu sinto a
sua respiração mais acelerada e então, com a intenção de levá-lo
ao delírio, como fez comigo quando me chupou, o tomo com mais
rapidez e vigor.
O meu chefe não demora a entrar na festa, e a melhor
parte se inicia quando ele mesmo começa a meter o membro na
minha boca, forçando o quadril para cima e para baixo.
— Você é uma safada, Manuella Ortega. Que bela forma
de acordar o seu homem — diz com a sua típica voz de sexo, que
chamou a minha atenção desde o início.
Meu homem...
Eu queria que fosse mesmo o meu homem. Que mulher
não iria querer?
Quando acho que já foi o suficiente, antes que goze na
minha boca, solto o seu mastro, monto em suas pernas e o coloco
dentro da minha boceta. Com ele deitado de costas, e eu com as
duas mãos apoiadas no seu peito, começo a quicar, sentando-me
fortemente no meu chefe gostoso.
E agora que tomei a iniciativa, eu que vou ter o controle
da transa. Penso nela como uma recompensa por todas as vezes
em que o quis com tanta loucura. Quando o via na empresa, dentro
de sua sala e durante todas as nossas discussões.
Estou sentando-me no seu pau por todas as vezes que
neguei, e disse para mim mesma que nunca iria acontecer. Mas está
acontecendo e é bom. Bom pra caralho!
— Esfola o meu pau com essa boceta gulosa, sua
cachorra! — ele grunhe entredentes.
— Cafajeste — o xingo, e depois passo as minhas unhas
com mais força que o recomendado no seu pescoço. — Gostoso,
você é um gostoso — digo e quico.
— Com mais força, porra! — Ele puxa os meus braços e
eu caio deitada no seu corpo.
John Harper segura os lados dos meus quadris, toma o
controle em suas mãos e passa a arremeter com a força de que
necessito.
— Assim, chefinho...
As nossas pélvis permanecem se chocando por longos
minutos e o som dos nossos corpos é alto. Fico contente, porque
imagino que tem toda privacidade e não tem vizinhos ouvindo o
escândalo que estamos fazendo, principalmente eu.
O loiro goza antes de mim, mas eu faço em seguida. O
bom é que não vou desabar, pois estou com o corpo em cima do
seu, e fico por mais um tempo depois que acaba.
— Acho que chegou o famoso momento de você me
mandar ir embora de sua casa — digo com a voz arrastada. Ainda
estou lânguida por causa do sexo.
John me ouve, mas, antes de me responder, troca as
nossas posições, me deita de costas na cama e fica com o corpo
parcialmente em cima do meu.
— Não vou pedir para que vá embora — diz.
— Não?
— Bom, já que temos um acordo, podemos começar a
treinar para quando vir morar aqui — diz.
— Não vou dormir no seu quarto — afirmo. É perigoso
demais.
— Mas hoje vai — assevera ao beijar o meu pescoço. A
verdade é que, depois de tudo que fizemos, quero ficar.
— Mesmo que tenha te atacado enquanto dormia e
esquecido da camisinha?
Sim, ela foi esquecida, e eu poderia ter nos colocado em
uma situação difícil.
— Você corre o risco de ficar grávida? — indaga,
aparentemente calmo.
— Não, eu tenho um DIU.
— E eu estou limpo. Faço exames esporádicos, então
não tem problema de ter gozado dentro da sua boceta.
— Não tem — digo, e gosto quando me beija com
carinho. Também fico surpresa por ele ter se importado se havia
risco de uma gravidez, mas não com doenças sexualmente
transmissíveis, considerando que não perguntou a respeito dos
meus exames.
Prefiro me iludir e acreditar que se trata de uma prova de
confiança.
Nós ficamos em um namoro preguiçoso, assim como da
primeira vez, durante um bom tempo, até que, não sei em que
momento acontece, acabo dormindo novamente. Dessa vez,
provavelmente tendo notado que eu não aguentaria mais, pois as
primeiras foram intensas, não acordamos para mais uma rodada.
Desperto depois de algumas horas à força, porque a
cama é tão maravilhosa que eu poderia ficar o dia inteiro dormindo
sobre ela. Na verdade, tudo sobre o lugar onde o meu chefe mora
me agrada, e nem é por ser caro, mas sim por ter personalidade,
por parecer que seu dono gosta de estar aqui e convida quem vem
a querer ficar mais um pouco.
Mas acho que o meu convite já está vencido e então,
antes que tenha a chance de ele mesmo dizer, sento-me. Estou
bêbada de sono, e acredito que o meu cérebro se programou para
esse momento.
Meio grogue, me levanto e dou uma olhada para o
homem gostoso, que dorme tão profundamente que não deve
acordar tão cedo. Vejo quando ele se mexe, vira de lado e estica o
braço para onde eu deveria estar. Não encontrando nada, abraça o
travesseiro em que deitei a minha cabeça.
Nem parece que é um homem acostumado a dormir
sozinho...
Não pense nisso, Manuella Ortega!
Balanço a cabeça para expulsar as ideias erradas, e
andando na ponta dos pés para não fazer nenhum barulho, saio do
quarto. Preciso encontrar a minha bolsa e o meu celular. Ao chegar
à sala, saio catando rapidamente as minhas roupas. Olho para
todos os lados à procura de um banheiro, mas acabo desistindo de
tomar banho aqui.
Posso fazer isso em casa quando chegar. É melhor do
que passar pelo momento constrangedor da manhã seguinte. Com
as peças nas mãos, guardo a calcinha e o sutiã dentro da minha
bolsa e opto por colocar apenas o vestido. Antes de sair, mando
uma mensagem para o Tito, sabendo que não precisarei esperar
mais do que dez minutos.
Ele é rápido e estranho, como se fosse um robô.
Ao olhar na tela do celular, noto que ainda são seis e
meia da manhã e, felizmente, a minha mãe também não estará
acordada quando eu chegar em casa.
Tentando não pensar no que fiz, nem em como será
daqui para frente, e ignorando quão sensível o meu corpo está,
passo ligeiramente os dedos pelos meus cabelos. Olho em volta
para ter certeza de que não estou deixando nenhum rastro meu,
nada além da camisinha descartada na sua lixeira.
Na portaria do prédio de luxo, não espero mais do que
dez minutos para que o carro pare para me pegar. Esperei com
certa tranquilidade, pois mesmo se o John acordasse antes da
minha partida, não teria como ele prever a hora em que desci. Além
do mais, eu teria que ser mais presunçosa do que sou para acreditar
que ele iria tentar me impedir de ir embora.
Em casa, e já trancada no meu quarto, felizmente a
minha irmã mais nova dormiu fora, a primeira coisa que faço é
deixar a bolsa e o celular de lado e tirar o meu vestido. Só agora
que estou segura, consigo prestar atenção no meu corpo e em suas
reações.
Enquanto caminho para o banheiro, por exemplo, sinto
que entre as minhas pernas está levemente dolorido, e até o fato de
ter ficado mais tempo do que estou acostumada no dia a dia com
elas abertas deixou os músculos das minhas coxas tensos.
Na frente do espelho, podendo ver melhor, as manchas
de chupadas nos meus seios são gritantes e, quando as toco, é
quase como se pudesse sentir como e quando surgiram. Mas o que
causa horror é subir o olhar mais para cima e ver que existem mais
duas delas no meu pescoço, uma do lado direito e a outra do
esquerdo.
E elas são mais escuras do que as que estão nos meus
peitos. Parece que John queria garantir que todos vissem que elas
estão aqui. Não é possível que o tesão fosse tão grande que deixou
o homem burro, que o fez esquecer o quanto seria impróprio chegar
na empresa toda chupada.
Mas do que estou falando? Eu deixei que me marcasse e,
naquele momento, nem pensei no que viria depois. Quando me
entreguei, finalmente, para o homem que mais desejei na vida, me
entreguei sem reservas e sem pensar no depois.
E mesmo frustrada por ter me deixado ser marcada
dessa forma, não fico remoendo o assunto. Prefiro ser otimista e
acreditar que na segunda, quando chegar à empresa, elas já terão
desaparecido.
Ao entrar debaixo da ducha morna, permito-me reviver
cada detalhe da madrugada. O meu corpo permanece sensível, e
quando toco entre as minhas pernas para lavar cada resquício do
prazer que ele me proporcionou, sinto como se ainda estivesse em
mim. É a mesma sensação de quando uma pessoa fica muito tempo
dentro de uma piscina e quando sai continua por um tempo sentindo
o peso da água.
Ontem a gente falou que seria a única vez. A
oportunidade que demos a nós mesmos de tirarmos a atração sem
sentido dos nossos caminhos. E agora, pela forma como estou me
sentindo, depois de ter o tocado e sido tocada de todas as formas, e
sabendo que permitiria que fizesse muito mais, acredito que foi uma
boa escolha.
É bom que tenhamos estabelecido a regra de somente
uma noite, e foi algo que não teve nenhuma relação com o nosso
iminente acordo, pois da forma como foi perfeito, eu poderia
perfeitamente fazer a burrice de não só me viciar no sexo como me
apegar mais do que deveria ao homem.
CAPÍTULO 22
MANUELLA
— Bom dia, mamãe. — Arrumada para voltar ao trabalho,
depois de uma semana em casa, entro na cozinha e dou um beijo
na cabeça da minha mãe, que está sentada à mesa. — Já estou de
saída.
— Nem pensar, sente-se e tome o seu café com calma.
— Eu poderia protestar, mas ainda tenho alguns minutos para tomar
café e dar um pouco de atenção para ela, que ainda está muito
preocupada.
Sinto-me culpada por ter mantido o silêncio nos últimos
dois dias, mas fiz porque não tinha nada acertado ainda. Através de
mensagens de textos, via WhatsApp, o meu chefe e eu terminamos
de acertar todos os detalhes de como os próximos seis meses, em
que teremos um acordo, vão funcionar.
Discutimos principalmente as cláusulas que eu queria
acrescentar ou tirar, e o principal corte foi referente ao sexo. Algo
nela me incomodava, tudo aquilo sobre a forma como deveríamos
agir, se iríamos ou não sair com outras pessoas. No fim, chegamos
a um consenso de que como já fizemos sexo, a questão ficará em
aberto, embora eu tenha dito para ele ontem mesmo que foi só
aquela vez.
A partir de hoje, o acordo de fingir ser a namorada e
depois noiva do milionário John Harper se tornará mais sério, o
teatro será maior, e eu sinto um frio na barriga só de pensar nisso. O
meu talento para atriz começará a ser posto à prova, mas vou fazer
valer cada centavo, e o poderoso chefinho vai sair dessa como o
diretor-presidente do grupo Harper.
No que depender de mim, ele vai.
— Aconteceu alguma coisa? — Dona Abigail pergunta. —
Está com o olhar perdido.
Ela é muito observadora e soube no sábado que eu havia
dormido com um homem, mas não fez perguntas sobre as marcas
escurecidas no meu pescoço. Não perguntou com quem eu havia
dormido. Na verdade, fora o Dante, que causava preocupação, ela
nunca perguntou. Se atém aos avisos para que eu seja cuidadosa.
— Eu estou bem, dona Abigail. Na verdade, mais do que
bem — digo.
— Eu também estaria se estivesse com o pescoço todo
chupado como você está. A noite de sexta deve ter sido
movimentada, não é, mana? — Mika se senta na cadeira ao meu
lado, e me deixa sem jeito na frente da nossa mãe.
Ela está falando sobre isso desde o momento em que me
viu com as marcas. E não é porque sou uma mulher madura e
divorciada que não fico sem jeito na frente da nossa mãe. Ela não é
careta, eu que sou safada demais e não tenho nem coragem de
pensar nas coisas que John e eu fizemos em uma única madrugada
na frente dela.
— Esquece isso, Mika. Cuide da sua própria vida sexual
— peço. Nossa mãe apenas nos observa.
— Eu cuido até demais. Você sabe disso — fala e passa
o dedo no meu pescoço maquiado.
Dois dias ajudaram a amenizar cinquenta por cento das
evidências, mas ainda são visíveis e nem um quilo de maquiagem
as esconderam totalmente. Já até me imagino aguentando as
provocações das meninas no trabalho.
— Tudo bem então, garota dos três namorados — falo e
nós duas sorrimos.
Mas a nossa mãe não sorrir. Ela não para de pensar no
risco que corre a sua amada casa, e acredito que, agora que o meu
chefe e eu acertamos tudo e só faltam as nossas assinaturas, está
na hora de contar para as duas sobre o que vou fazer, porque não
posso aparecer de um dia para o outro com um milhão na conta
sem dizer como o conquistei.
— Sobre a questão com a casa, tenho que conversar
com vocês — começo. — Não precisam se preocupar, porque não
vamos perder a nossa casa sob hipótese nenhuma — assevero, as
duas me olham com surpresa.
— O que você fez, filha? — Agora, o rosto da minha mãe
é de preocupação. Ainda nem comecei, mas ela já sabe que fiz
besteira.
Mika ainda está apenas curiosa. Para ela, é como se eu
fosse um ídolo. Me admira desde que era novinha e nada do que eu
faço é errado para a minha irmã mais nova, mesmo que seja.
— O meu chefe, de quem vocês devem ter ouvido falar,
porque é impossível que alguém nesta cidade não conheça John
Harper...
— O lindo, loiro e gostoso, John Harper. — A pentelha me
interrompe para suspirar.
— Ele fez uma proposta para mim e eu aceitei — digo,
como se fosse simples. Na verdade, é simples, os sentimentos que
não são.
— Que proposta?
— Um milhão de reais, em troca de fingir durante seis
meses que temos um relacionamento sério. Ele quer que eu minta
para a sua família que serei a futura senhora Harper.
— Nossa! Isso parece enredo de novela — Mika, que
aceita tudo com muita leveza, fala. — Eu faria de graça, desde que
a parte do sexo fosse real... Espera um segundo! Foi o seu chefe
que deixou essas marcas no seu pescoço?
— Isso não importa! — digo, preocupada com o que vejo
no rosto da minha mãe. Mas sabia que a sua reação não seria boa
e, ainda assim, não faria diferente. Tudo que farei é principalmente
por ela e toda uma vida de memórias que tem nesta casa.
— Manuella Ortega, responda ao que a sua irmã
perguntou — a senhora exige, e imagino para onde os seus
pensamentos estão indo, apesar de estarem completamente
equivocados.
Eu não estou me vendendo. Transei com ele porque quis
e não teve nada com o acordo que faremos.
— Sim, eu estive no apartamento dele na sexta para dizer
que aceitava a proposta que havia me feito — digo.
— Você foi se vender — mamãe fala com tristeza.
— Não, eu fui salvar a nossa casa e o nosso futuro.
— Vendendo-se como um objeto? — ela ataca.
— Mãe, deixe a Manu falar. Ela sempre faz o melhor pela
nossa família — Mika me apoia e não é surpresa.
— O fato de ter feito sexo com aquele homem não tem
relação com o contrato. Fiz porque sou uma mulher adulta e tenho
vontades. Eu não estou me vendendo como uma prostituta, como a
senhora pensa, dona Abigail. As coisas serão como acabei de falar:
fingimento. Mas quero que as duas saibam que, se fosse preciso, eu
faria qualquer coisa. Por vocês, faria coisas que não faria nem por
mim mesma.
— Filha, pense bem. Essa gente é tão diferente de você.
Eu sou mãe, e o meu coração me diz que você vai sofrer muito no
meio de toda essa mentira — ela fala e eu sinto um arrepio, porque
mamãe tem a intuição forte. — Deve haver uma outra forma de
quitarmos as prestações atrasadas e continuarmos pagando o
empréstimo.
— Não há, dona Abigail. E mesmo se houvesse, seria
difícil e demorada. Não vou arriscar. Além do mais, o dinheiro que
vou ganhar será suficiente para pagar a dívida e tirar um pouco os
nossos pés da lama — falo, pensando no futuro.
— Não espere que eu te apoie nessa loucura, assim
como não apoiei o namoro com aquele Dante, que começou quando
mal tinha se separado. O tempo não demorou para te mostrar que
eu estava certa.
— E mesmo que não me apoie, vou fazer isso, mãe. Um
dia a senhora vai me entender — digo e pego a minha bolsa,
desistindo de tomar café.
— Eu te entendo, Manu. Faria igual se fosse necessário
— Mika afirma. O seu apoio incondicional é importante para mim.
— Obrigada, querida — beijo o seu rosto e me levanto da
cadeira.
Antes de deixar a cozinha, volto novamente para a minha
mãe e falo.
— Espero que um dia me entenda e me perdoe por
sempre fazer o que a senhora não apoia — falo, engolindo o choro.
Não sou de chorar e não vou fazer isso agora. — A partir de agora,
para todos os efeitos, e sempre que alguém perguntar, sou a
namorada de John Harper, o vice-diretor do grupo Harper de
construtoras.
**
Durante o caminho até a empresa, tento esquecer-me da
conversa difícil, embora esteja aliviada por não estar mais mentindo.
Não contei que o nosso acordo já havia começado, que o motorista
é um fruto dele. Esse eu havia feito por mim, e estou bem com isso.
Não contei porque não havia motivos para contar.
— Você acha que sou uma pessoa péssima e de caráter
duvidoso, Tito? — pergunto para o calado.
— Não. A senhorita é ótima. — E isso é tudo o que o
homem diz.
Se esperava por consolo, não o terei saído da boca do
meu motorista.
Falando nele, Tito consta como umas das cláusulas,
discutidas através de mensagens nos últimos dois dias. Pensei que
fosse haver uma espécie de desconforto entre o meu chefe e eu,
mas nós dois conseguimos superar com maturidade e falamos como
adultos que somos.
Na primeira mensagem, o loiro disse em tom de
brincadeira que sentiu a minha falta na cama ao acordar. Bom, eu
supus que estava brincando, considerando os emojis de carinhas
sorrindo que me mandou.
Mas eu sei que ficou contente por não ter precisado lidar
comigo ao amanhecer. Deveria me agradecer por ter facilitado a sua
vida.
Fui eu quem comecei a falar sobre o contrato e, uma por
uma, repassamos o que poderia ser mudado, excluído ou
acrescentado. Ficou bom para nós dois, e agora estou menos
nervosa do que deveria. No meio de toda a troca de mensagens, o
homem teve tempo para flertar comigo, apesar de eu ainda não ter
certeza se falava sério ou tentava me provocar.
Como fiz durante todo o fim de semana com cada uma
delas, antes de chegar ao edifício desbloqueio o meu aparelho
celular e releio as nossas conversas.
No sábado pela manhã.
Senti falta de uma mulher gostosa, com quem tive
momentos de prazer há algumas horas. Perdeu a oportunidade
de ser acordada com a boceta sendo chupada.
Essa eu não respondi.
Na parte da tarde de sábado.
Esqueci de perguntar, como está a sua bocetinha?
Dolorida? Espero que ainda esteja me sentindo, porque tenho a
sensação de que ainda está quicando no meu pau.
Releio com um sorriso que não deveria estar aqui.
Mal consigo tocar nela. O meu pescoço está todo
chupado. Como vou aparecer assim na segunda?
Enviei. Ele tinha que saber o que fez. Além do mais,
todos saberão quem foi o culpado, já que estamos juntos,
supostamente.
As marcas são ótimas para a minha fama. Sinal de
que dou prazer para a minha mulher.
É estranho como o meu coração sempre erra a batida
quando leio: minha mulher.
Não sou a sua mulher.
Para todos os efeitos, você é, sim.
Releio.
E saiba que você não é a única. Veja só o que fez
comigo, gata selvagem.
Junto com a mensagem, John Harper enviou uma foto em
alta qualidade do seu pescoço, cujo lado direito ostentava as
marcas das minhas quatro unhas. Eu o arranhei, e não me lembro
em que momento do nosso sexo duro fiz.
Devo me desculpar?
A mensagem que mandei foi uma leve provocação. Eu
brincando com o fogo.
Deve fazer mais uma do outro lado.
As palavras vieram acompanhadas de um emoji
piscando. E por mais que quisesse continuar, precisei frear a nós
dois.
Um sorriso besta se abre na minha boca quando me
lembro que o espertinho se aproveitou para tratar do nosso acordo
entre as nossas mensagens sacanas. Em meio as muitas
mensagens que trocamos, existem as que discutimos o nosso futuro
e as cláusulas do contrato, mas os meus olhos não se demoram
nelas, prefiro reviver o prazer que foram as nossas provocações
através desses textos.
Não terá mais uma dessas. A gente disse que seria só
uma vez para tirarmos a atração do nosso sistema.
Você está certa. Acabou!
Não deveria me frustrar por ter aceitado as minhas
palavras fácil demais.
Conseguiu aplacar todo o tesão que sentia por mim
em uma única noite?
Ele mandou em seguida.
Não, e você?
Fui sincera, mais para saber da sua resposta do que pela
predileção de falar sempre a verdade.
Desejo você com mais intensidade do que quando só
imaginava como seria perfeita na cama.
E embora não devesse, gostei muito do que li, apesar de
ter ido contra o que ele havia dito antes sobre ter acabado.
Depois da última mensagem, passei o resto do sábado
sem falar com ele. John também não enviou mais nada.
Apenas ontem à noite, quando já estava preparada para
dormir, mandou três mensagens, bem mais sacanas do que as
anteriores.
Eu fiquei o fim de semana todo em casa.
E por que é importante que eu saiba dessa informação?
Enviei.
Pensei que pudesse vir cuidar do seu namorado.
Porque talvez eu esteja doente. Ou talvez ainda esteja acabado
por causa de certa boceta apertada, gostosa e viciante.
As suas palavras continuam me surpreendendo, pois, por
um momento, acreditei que estivesse levando a sério a conversa de
que agiríamos o mais naturalmente possível, sem falarmos ou
pensarmos em sexo a cada meio minuto.
Sobre os elogios a minha vagina, não é comum, mas eu
gostei. Vindo de alguém que não é só palavras, gosto de tudo,
principalmente se tenho as lembranças de como as palavras fazem
sentido quando ele entra em ação.
Poderia pensar que você está obcecado pela minha
vagina.
Não deveria, mas enviei uma mensagem que o
incentivava a continuar com o assunto.
Mas eu estou. Quer ver?
Eu sabia qual era a resposta certa, no entanto, respondi:
Quero.
A próxima imagem que veio, a que não vou apagar
nunca, foi do seu membro duro, marcando a frente da sua boxer. Só
não entendi por que estava apenas de boxer no sofá. Me perguntei
se o exibido não havia tirado o resto da roupa para mostrar a ereção
para mim.
Por minha causa?
Perguntei, e fiquei excitada só com a possibilidade de que
fosse por mim. Apenas por mim.
Por quem mais seria? Foi a última garota com quem
transei.
Devo dar os parabéns?
Enviei, brincando com o perigo.
Poderia vir aqui dar uma chupada nele, e eu digo se
esperava ou não. Seria um presente pelo bom comportamento.
O pior de tudo foi que eu pensei realmente em ir, e foi o
suficiente para fazer com que acordasse para a realidade. Apesar
do que a interação possa parecer, não somos um casal de
namorados.
Boa noite, chefinho. Até amanhã.
Enquanto releio a mensagem de despedida que enviei,
lembro-me de como foi difícil agir com sensatez, quando queria
muito continuar.
Tenha bons sonhos, morena.
— Senhorita Ortega — ouço a voz do Tito fazendo eco,
então desperto para o mundo à minha volta e percebo que enquanto
estava entretida com as mensagens, chegamos à empresa.
— Eu estava distraída. — Sorrio pelo retrovisor, mas não
sou retribuída. — Tenha um bom dia, Tito — falo ao ajeitar a minha
bolsa no ombro e deixar o carro.
Passo bem rápido pela recepção e entro no elevador sem
olhar direito para as pessoas, porque tenho a impressão de que
todos não só estão vendo as marcas no meu pescoço, que preferi
não cobrir com um lenço, mas que sabem com quem foi que me
diverti na sexta. Mas é uma paranoia minha, porque coloquei tanta
base e pó nas marcas que elas estão praticamente imperceptíveis.
Apenas pessoas muito curiosas, além do próprio John,
notariam elas no meu pescoço.
E por falar em pessoas curiosas...
— Bom dia, miss Colômbia — Ana Júlia é quem primeiro
fala quando ajeito minha bolsa sobre a mesa, mas ambas me olham
com curiosidade.
— Bom dia, meninas — devolvo e, agindo de modo
suspeito, sento e já ligo o computador. Geralmente, perco uma hora
jogando conversa fora com elas. Só quando os assuntos se
esgotam que lembro que estou aqui para trabalhar.
— Nós temos uma fofoca para te contar — Sara começa.
Não imagino o que possa ser, considerando que elas me
contaram tudo sobre a última semana através do grupo que temos
no WhatsApp. Foram os meus momentos de descontração para os
dias em que não fiz nada que não fosse pensar no meu chefe e na
audaciosa proposta.
— O seu chefinho, e espero que seja nosso também em
breve, que o Tales não me ouça, chegou há pouco com um
arranhão nada discreto no pescoço. Como você é a namorada dele,
presumimos que foi você. Se não foi... — Teresa faz uma careta e
deixa o resto da frase no ar.
Se não foi, para elas significa que sou corna. De qualquer
forma, seria impossível, porque não temos nada que o impeça de
transar por aí, além de ter sido a autora da obra de arte.
— Mas é claro que foi ela, meninas. — Atenta, Ana Júlia
pega os óculos e vem para perto de mim. — Licença. — Na minha
frente, a mulher coloca delicadamente a minha cabeça de lado e
analisa o meu pescoço.
Sabe o que falei sobre pessoas curiosas? Então, as
minhas amigas são as pessoas mais curiosas que já conheci.
— O pescoço da Manu está todo chupado — Ana avisa
para as outras, que se levantam de suas cadeiras.
Estou sendo atentamente analisada, como uma peça em
exposição no museu.
— O fim de semana foi bom? — Sara me provoca.
— Mais especificamente, a noite de sexta — falo com um
sorrisinho, afinal, não estou mentindo. Transei mesmo com o meu
suposto namorado.
— Vou fazer uma pergunta, mas só responda se quiser,
afinal, estamos falando do seu namorado — Sara começa, e já sei
que vem constrangimento por aí.
— Pode mandar que hoje eu estou sem papas na língua
— brinco.
— Só hoje? — Teresa rebate e todas sorrimos. É verdade
que me abri para elas como um pavão no primeiro dia que cheguei
aqui.
— Eu quero saber se o pau dele é grande e bonito quanto
o rosto e o resto. — E aí está, a pergunta desconcertante para uma
pessoa tímida, que no caso, não sou eu.
— É tudo isso e muito mais. E se eu soubesse que vocês
tinham interesse de saber como era o pênis do meu namorado, teria
falado desse pequeno — faço aspas com os dedos — detalhe
antes.
— Nunca é tarde demais. Vamos, já pode começar —
Ana me pressiona, mas o telefone toca bem quando eu ia começar
e faz eu e as mulheres em pé na minha frente tomarmos um susto.
— Manuella Ortega, secretária de John H...
— Venha até a minha sala, por favor. — O som da sua
voz faz com que eu me arrepie. É o Tales.
— Algum problema? — pergunto.
— Preciso falar de um assunto importante, e você é
funcionária da empresa, não só do meu primo.
— Só um momento — digo e desligo.
— Que cara é essa?
— O seu chefe me chamou na sala dele — digo ao me
levantar.
Enquanto caminho para a sala do concorrente direto, e
primo do meu namorado para todos os efeitos, sinto-me nervosa,
pois com certeza não está me chamando para dar boas notícias, ou
por sermos muito amigos.
Merda! Vou colocar tudo a perder antes mesmo de
começarmos.
CAPÍTULO 23
JOHN
Eu saio da sala quando a morena está entrando na do
meu primo. O fato me surpreende, ideias de traição e jogo duplo
passam pela minha cabeça, mas logo as dissipo.
A morena não parece ser o tipo de pessoa que joga
baixo. Mas, por via das dúvidas, a sigo e paro com o ouvido bem
perto da porta por onde entrou.
— Embora não trabalhe para você, devo perguntar:
precisa de alguma coisa?
Sinto a petulância e a ironia em suas palavras. E agora
que não são dirigidas a mim, gosto da sua língua ferina, sobretudo,
usada contra esse idiota.
— Sente-se, por favor. — Ouço Tales dizer. Tenho que
me esforçar um pouco, praticamente entrar na sala para ouvir
direito.
Felizmente, a gostosa deixou a porta entreaberta. Aposto
que foi de propósito.
— Estou bem aqui — ela diz.
— Como você parece já ter uma ideia formada sobre
mim, e que de nenhuma forma condiz com a verdade, vou direto ao
ponto.
— Gosto de pessoas diretas.
— Quanto é que o meu primo está te pagando para dizer
que estão namorando? Sim, porque é difícil de acreditar que chegou
aqui ontem e já conquistou John Harper, o homem mais averso a
monogamia que existe.
Isso não é verdade. Só nunca tive motivo para acreditar
que uma mulher era boa o suficiente para ser apresentada para os
meus avós.
— Não que eu ou ele tenhamos que te dar explicações,
mas as pessoas se apaixonam, sabia? Foi o que aconteceu com a
gente. Nos apaixonamos.
— O meu primo, apaixonado por uma secretária... —
Tales dá uma risada desdenhosa, que me faz sentir vontade de
socar a sua cara. Preconceito de classes é tão a cara dele. Mas não
admito que faça isso com a Manuella. — Seja qual for o valor que
ele te prometeu, posso dar o triplo, só me diga quanto, querida.
— Não sei do que você está falando — ela se mantém
firme. E se já não tinha dúvida de sua lealdade, agora tenho a prova
concreta.
— Você sabe que seu nome ficará na lama se for pega
conspirando com o seu chefe, não sabe? Com ele não vai acontecer
nada, já com você...
Porra! Mas quem esse imbecil pensa que é para a
pressionar dessa forma?
— Eu espero não estar atrapalhando a conversa de
vocês — digo ao entrar na sala e abraçar a minha suposta
namorada pela cintura.
Manuella está tensa.
— Aposto que estava ouvindo atrás da porta. É tão a sua
cara fazer esse tipo de coisa, priminho — Tales me provoca.
— Como é a sua cara falar asneiras para a namorada dos
seus concorrentes? — Rebato. — O que você pensa que sabe,
cara? Ela e eu estamos juntos, mesmo que não aceite isso. E, para
que saiba, a vovó adora a minha mulher.
— Quero ver se vai manter a opinião quando eu
desmascarar vocês dois — fala. — Porque mais dia ou menos dia,
isso vai acontecer, e aí, sim, a presidência do grupo estará na palma
da minha mão.
— Não vou ficar aqui ouvindo besteiras! Vamos querida.
— Mantenho-me firme quando saímos, mas estremeci quando fez
ameaças sobre me desmascarar.
Seria o meu fim, ele está certo.
Mas não vai acontecer. Manuella é leal, temos um
contrato, e ela jamais me trairia.
— Vamos para a minha sala — aviso e seguimos.
— Como ficou sabendo que eu estava com ele? —
Indaga quando fecho a porta atrás de nós.
— Estava saindo daqui quando você entrou na sala dele
— explico ao parar na sua frente. Não a toco ainda, embora queira
fazer exatamente isso.
As palavras do Tales a deixaram assustada, sei disso.
— Ouviu tudo o que ele falou, não foi? — A pergunta é
retórica. — Se algo der errado...
— Eu não vou te deixar na mão em hipótese alguma. E
não seremos descobertos, querida. Além de nós dois, apenas o meu
melhor amigo sabe que temos um acordo, e ele jamais me trairia —
garanto e, agora sim, faço carinho nos seus braços.
— Tudo bem — diz e abre um sorriso fraco. — Fraquejei
por meio segundo, mas estou pronta para a guerra. Onde eu
assino? — brinca, totalmente recuperada da tentativa do Tales de
desestabilizá-la.
— Eu estou com o contrato corrigido, e agora quero que
leia ele com bastante atenção, antes de assinar — oriento.
Afasto-me dela, pego a papelada em cima da mesa, uma
caneta e os entrego em suas mãos. Aponto para o sofá e a mulher
me olha com curiosidade.
— Por que tenho que ficar aqui enquanto leio? —
questiona.
— Porque o sofá é mais confortável do que a sua cadeira.
— Tente outra vez, agora a versão verdadeira.
— Porque eu quero te olhar enquanto faz isso. A visão de
suas pernas é a melhor que terei nessa manhã de segunda-feira —
aviso e a morena linda sorri.
Ainda penso constantemente no sexo que fizemos na
sexta, ainda estou frustrado por ela ter ido embora antes que eu
tivesse a chance de convencê-la a passar o fim de semana inteiro
na cama comigo.
— Tudo bem. Vou ficar ali, mas só porque o seu sofá
deve ser muito confortável mesmo — diz e sai rebolando a bunda
grande.
Eu não tiro os olhos até que se sente. Como uma espécie
de uniforme, quase todos os dias da semana a minha secretária
vem trabalhar com suas saias sociais justas, muito justas, camisas,
que na maioria das vezes são brancas, e saltos altíssimos. Aqui
costuma usar maquiagem leve, com exceção do batom vermelho, e
os cabelos presos.
Bem profissional, mas uma profissional gostosa, do tipo
que mora na fantasia dos homens que sonham em comer as suas
secretárias. A minha saiu direto dos meus sonhos eróticos.
Enquanto ela lê com atenção a pilha de folhas, que foi
redigida nos termos exatos que discutimos, até tento trabalhar em
uma das contas mais importantes que o grupo tem no momento, e
que vai me fazer mostrar ainda mais a minha capacidade, mas é
impossível me concentrar tendo a Manuella no meu sofá.
Alheia a mim, pelo menos é o que eu acho, ela morde o
bocal da caneta que lhe dei, e só consigo pensar na sua boca
lambendo o meu pau na sexta. A mulher me acordou no meio da
madrugada para transar. Nem nos meus maiores devaneios
imaginaria uma mulher perfeita assim.
Sei que deveria ter juízo e seguir com a sua ideia de não
envolver mais sexo no nosso acordo, mas eu já havia dito a mim
mesmo que Manuella Ortega seria minha, e ela foi. Foi minha
naquela madrugada intensa, mas não aplacou nem um por cento do
desejo que me consome.
E depois que a experimentei, o vício se tornou maior.
Passei o fim de semana sem procurar outra mulher que não fosse
ela através de mensagens, porque o meu corpo, no momento, está
programado para desejar somente o de Manuella. E não é algo que
me assuste, pois sei que uma hora ou outra vai passar, mesmo que
não seja tão rápido como foi com todas as outras.
E quando passar, nós dois seguiremos com o plano como
dois adultos, pois ela parece ser uma mulher madura e prática o
suficiente para não misturar as coisas. A verdade é que aceitei
aquela bobagem de “apenas uma noite” da boca para fora, porque
estava pensando com a cabeça do pau naquele momento. Mas
agora, e apenas porque queremos, algo que não tem nada a ver
com o contrato, a farei querer que o nosso caso continue.
— Contrato assinado, chefe. — Ouço-a. — Agora é a sua
vez. — Antes que pense em se levantar, saio de trás da minha
mesa, tranco a porta e depois me sento ao seu lado no sofá.
Pego os papéis de suas mãos e, ao lado do seu nome,
finalmente assino o meu, depois coloco os papéis longe.
— Pelo prazo de seis meses, você será minha — digo. —
Minha namorada, e daqui dois meses, noiva.
— Não sente um frio na barriga?
— Não. Mas posso te ajudar com o nervosismo —
começo, pois dois dias foram o suficiente para me deixar com
saudade dela.
— Não imagino como poderia fazer isso.
— Sim, é claro que sabe — digo ao passar a mão pela
sua coxa macia, subindo perigosamente para entre as suas pernas.
Surpreendo-me com o fato de estar deixando.
Acreditava que fosse resistir mais. Ainda bem que estava
errado e sua saudade é tão grande quanto a minha.
— Alguém pode nos ver — diz.
— Eu tranquei a porta.
— Não deveríamos fazer isso aqui e nem em lugar
algum. Vai complicar tudo.
— Talvez eu goste de algo complicado — digo e a beijo.
E apesar do protesto, Manu retribui, deixando que eu
enrole as nossas línguas. Por um tempo, como se não estivéssemos
no nosso local de trabalho, ficamos trocando beijos quentes.
Em algum momento, não sei dizer quando, ela para em
cima das minhas pernas, com os botões da camisa abertos e a saia
justa enrolada na cintura.
— Isso está errado, John. Alguém pode precisar de mim
ou de você... No pescoço, não! Você já fez o suficiente na sexta —
enquanto fala, não para de rebolar em cima do meu cacete duro.
— Você me arranhou — aviso.
— Posso arranhar o seu rosto dessa vez, se não me
deixar sair dessa sala com a dignidade intacta. Transar com o chefe
na sala dele é muito errado — se esfregando em cima de mim,
usando a força que ainda tem para resistir, Manu fala.
— Não sou o seu chefe, sou o seu namorado. — Da
forma como falo, fica parecendo que não acabamos de assinar um
contrato e que o namoro é real.
A minha secretária para o que estava fazendo, olha
dentro dos meus olhos por alguns segundos, e quando penso que
vai me deixar na mão, ela diz:
— Sou uma pessoa horrível, e burra além da conta —
dito isto, a morena segura com firmeza os cabelos da minha nuca e
volta a me beijar. Melhor, volta a me beijar e a se esfregar,
esquecendo-se do protesto de antes.
— Vai foder comigo aqui e agora? — pergunto quando
começa a abrir o botão da minha calça. Tem dificuldade, mas
consegue liberar o meu membro duro sem cair de cima das minhas
pernas.
— Você quer me foder aqui e agora? — Devolve. Esse
seu lado safado me deixa maluco.
Manuella Ortega tem a porra do pacote completo, e eu
devo ter percebido isso quando a importunei no Maresias naquela
noite.
— Passei o fim de semana inteiro querendo isso, querida
— confesso quando afasto a sua calcinha para o lado e toco no seu
sexo molhado e pronto para mim.
— Se masturbou para mim? — pergunta.
— Mais de uma vez. E você?
— Algumas vezes — admite, então segura o meu
membro, o masturba algumas poucas vezes e depois se senta em
cima dele, tomando-o todo dentro de si.
— Caralho! — Esbravejo entredentes, pois a primeira
metida durante a transa é sempre a mais gostosa, pois torna nítida a
sensação de que estou a esticando. A sua boceta se adequando ao
meu pau para me levar. — Puta que pariu!
— É gostoso, não é? — Faz a pergunta provocativa que
não precisa de resposta, mas também faz algo com a musculatura
da vagina, que a faz se apertar em volta do meu cacete.
Fico muito mais justo dentro dela, e é muito, muito
gostoso a ponto de eu poder facilmente gozar sem ao menos dar
uma metida. E quanto mais a mulher me aperta, mas trinco o meu
maxilar, controlando-me para não gozar.
— O que está fazendo?
— Gosta? — A provocadora indaga.
— Muito, porra! Onde foi que... — Não consigo nem falar
direito.
— Uma técnica que treinei — diz.
— Agora relaxe, porque não quero gozar antes de te
comer — peço e a morena obedece. — Pode tomar o meu pau
nessa boceta gulosa, morena — digo.
Para me provocar, porque essa mulher quer a minha
morte, Manu faz movimentos giratórios e lentos, e só depois começa
a sentar em mim.
Com as minhas mãos na sua cintura, ela me fode e tenho
a sensação de que o contrário é mais raro de acontecer. Por incrível
que possa parecer, não me importo. Adoro que ela seja assim,
feroz. Que me domine quando bem entender, mas que me deixe
fazer o mesmo.
— Quero os seus peitos — peço e começo a tirá-los para
fora. A nossa pressa e o fato de estarmos na empresa nos impediu
de tirar as nossas roupas.
— Temos que ser rápidos, John. Não quero que pensem
mal de mim — diz, enquanto quica no meu pau. Gostosa! Nada
como uma rapidinha com essa mulher.
Posso perfeitamente me acostumar.
— Vão pensar que não podemos tirar as mãos um do
outro. Que estamos apaixonados.
— E que você não tem responsabilidade. — Eu poderia
até brochar se não fosse impossível, dado o meu estado de
excitação.
— Então eu vou dar o meu melhor, gata — digo, a seguro
com mais firmeza e a deito de costas no sofá.
Entre as pernas da minha secretária, abocanho um de
seus seios, cubro a sua boca com uma mão para que não nos
denuncie com seus gritos e meto com força e rapidez, chocando as
nossas pélvis
A cadela morde a minha mão, mas não me importo.
Quando estou dentro dela, tudo deixa de existir, até mesmo a dor,
mas não deixo de provocá-la.
— Cadela — sussurro no seu ouvido.
— Hum... — geme e não rebate, já que tem a boca
coberta.
— Por que não estrangula o meu pau como fez na outra
noite? — sugiro. — Faça isso, porque eu poderia perfeitamente
passar mais algum tempo metendo em você sem me cansar. Te
comendo até pingarmos... Porra! Isso, gostosa, aperta o meu pau...
vou gozar.
Quando começo, tiro a mão de sua boca e a beijo, um
beijo sensual, com gosto de desejo. Os seus peitos ficaram de lado,
mas, depois de hoje, acredito que teremos tempo. Ela é minha.
Manuella está nas minhas mãos, no meu sistema e em todo o meu
corpo.
Em busca de apoio enquanto goza junto comigo, aperta
as duas pernas em volta do meu quadril e, completamente colados
um no outro, constato mais uma vez que esse é o melhor sexo que
já fiz, pois Manu e eu somos cem por cento compatíveis. Pelo
menos, no quesito sexo.
E quando acaba, nós nos beijamos de maneira mais
superficial, acalmando as nossas respirações. Com a minha testa
contra a sua, nós dois nos encaramos.
— Foi bom? — questiono, ainda dentro dela.
Vejam bem, eu sei o que faço e como sou bom nisso,
mas preciso de garantias vindo dela, para saber se posso esperar
por mais, porque quero mais.
— Quer elogios? — rebate, ainda me sentindo indo e
vindo lentamente dentro do seu corpo.
— Elogie o meu pau, mulher — brinco.
— Você sabe que entre a gente é bom. Sabíamos que
seria antes mesmo de fazermos. Mas temos que tomar cuidado,
porque não quero... — Ela não termina, pois coloco um dedo em
cima dos seus lábios.
— Não pense muito, querida. Vai dar tudo certo — afirmo.
— A gente é foda junto, não acha? — Ela balança a cabeça, mesmo
que não pareça muito convicta.
Eu dou mais alguns selinhos na sua boca e desfaço a
nossa conexão. Depois a ajudo se levantar, e fico fascinado com o
fato de não ficar nem um pouco desconfortável com o meu esperma
escorrendo por entre as suas pernas.
— Preciso me limpar — diz.
— Venha comigo — chamo-a.
Manu fica surpresa, pois ainda não tinha reparado o
banheiro e o minibar na minha sala. Mas tinha que haver um motivo
para ela ser tão grande, não é?
Enquanto ela está na frente do espelho, dando um jeito
nos cabelos, eu cuido de mim mesmo rapidinho, depois me dedico à
morena. Pego lenços e, atrás de seu corpo, os passo com cuidado
entre as suas pernas. A minha intenção é limpar a bagunça que fiz,
mas sinto o seu corpo, que se torna sensível muito rápido para meu
toque, estremecendo.
— Acho que terei que me livrar dessa calcinha — fala em
um fio de voz, com o olhar ainda preso no meu.
— Não vou conseguir fazer mais nada te imaginando sem
ela.
— O problema será única e exclusivamente seu. — Olha
aí, a língua ferina novamente.
— Você tem razão — digo, então coloco um joelho no
chão e, antes de passar a peça pequena pelas suas pernas, dou
dois beijos, um de cada lado da sua bunda. Ao levantar-me, ajeito a
saia no lugar, depois a vejo colocando a blusa por dentro.
— A calcinha — pede.
— Se quiser tê-la de volta, vai ter que vir pegar, e você
sabe onde — falo.
Não acredito que estou pedindo para uma mulher ir até a
minha cobertura. Na verdade, estou disposto a coagi-la.
Gostei de recebê-la, e não vou pirar, pois isso não deve
significar nada.
— Você não tem medo de brincar com o perigo? Posso
ser uma doida que vai te perseguir em busca de um pedido sério de
casamento, querendo filhos e tudo mais. Como sabe, não estou
ficando mais jovem — diz, e me deixa beijar a sua boca de leve a
cada palavra dita.
— Trinta e dois anos muito bem vividos. E, respondendo
a sua pergunta, eu não tenho medo, porque você é como eu: prática
e nada ligada a esse tipo de coisa. Foi por isso que te quis ao meu
lado nessa disputa. Formamos um bom time.
Eu não tenho certeza de nada do que estou falando,
afinal, há quanto tempo conheço Manuella? Inclusive, é divorciada e
ex-namorada de um amigo meu. Talvez esteja certa. Eu estou
brincando com o fogo.
— É claro, um bom time — ela confirma, então se
desvencilha dos meus braços e volta para a sala. — E pode ficar
com a minha calcinha, tenho muitas parecidas com ela. Não preciso
ir até você para tê-la de volta.
— Mas você vai? — indago. Nem me reconheço, quase
implorando por uma boceta.
— Quem sabe? Nós dois estamos nisso juntos, chefe,
mas sou eu quem mando nas minhas vontades no que diz respeito
ao meu corpo. A gente pode ter um caso, ou nunca mais transar,
sou eu quem decido — ela fala, e não é como se estivesse com
raiva, então abre a porta e deixa a sala.
Surpreso com sua atitude, olho para o sofá e vejo os
papéis com a sua assinatura levemente amassados. O meu estado
de espírito volta a ficar leve, porque eles são a prova de que está
nas minhas mãos e não vai se negar a mim em nenhuma das vezes
que a desejar, porque sei o que quer, e quer o mesmo que eu.
— Essa sala está cheirando a sexo — Pietro fala ao
entrar. — Se você não for um idiota completo para ter trazido uma
mulher até aqui, suponho que tenha transado em cima daquele sofá
com a sua secretária.
— Minha namorada — digo, apenas para que se
acostume com o termo para quando estiver com a minha avó, que o
tem como um neto também.
— É claro, a sua namorada.
— Eu não te chamei. Por que veio?
— Nossa, que grosso! — Pietro e sua sensibilidade. —
Difícil essa vida de ter um hétero top como melhor amigo.
— Deixe de drama, homem — peço. — Aconteceu
alguma coisa? O meu priminho aprontou mais uma?
— Até onde eu sei, vocês dois estão na mesma fase do
jogo. Ambos dando o golpe no qual a vovó quer cair. Quem
convencerá melhor? Isso vai depender de você. — Ele tem razão.
Mas vou ter que contar com o carisma da minha secretária para
continuar conquistando a senhora Érika. — Vim saber se deu tudo
certo. Ela assinou?
— Ali estão os papéis. Preciso que dê mais uma lida para
checar se está tudo certo. — O advogado faz cara de nojo quando
olha para o sofá.
— Eu não vou tocar naquilo — avisa.
— Deixe de besteira, cara. — Vou até o sofá, desamasso
o documento e entrego em sua mão. Pietro os segura com as
pontas dos dedos. — Não vai me dizer que nunca transou com o
seu marido aqui na empresa? — O provoco.
— Por que não pergunta para ele? — diz e sai da sala
batendo os pés. Eu dou uma gargalhada.
Estou muito contente, porque tudo parece estar dando
certo para mim. Fiz a jogada perfeita e, com Manuella ao meu lado,
a subida até o topo será muito, muito prazerosa.
CAPÍTULO 24
MANUELLA
— Devo confessar, estou com inveja de você, mas é uma
inveja do bem — Teresa diz, enquanto arrumo as minhas coisas
para sair no meio do expediente.
— É só um passeio no shopping. — Tento amenizar a
situação, porque é um passeio no meio do meu horário de trabalho
com uma senhora milionária. A avó do meu chefe, o meu suposto
namorado. E não é a primeira vez que algo assim acontece.
Não me sinto bem, mas não posso simplesmente dizer
não para a Érika, embora tenha vontade de fazer, afinal, estou
sendo paga para isso.
— Eu pensei que você seria como todas as outras, Manu,
me perdoe — Sara fala. Ela desistiu de tentar me seduzir, mas não
deixa nunca de lembrar da dança sensual que fizemos no dia em
que John tocou a minha vagina pela primeira vez.
— E como são todas as outras? — Estou me fazendo de
sonsa, porque sei o que acontece com secretárias que abrem as
pernas para os seus chefes.
Teria acontecido comigo se não fosse o contrato? Com
certeza teria acontecido.
— Elas são fodidas na mesa dos caras e depois
dispensadas. — Ana Júlia completa. — E apesar de sabermos que
você é fodida na mesa do chefe, não aconteceu o mesmo que
acontece com todas as outras. Você é a exceção e ele te assumiu.
Mais de um mês de namoro. Nem posso acreditar.
Se elas soubessem da verdade...
— Fazer o que, se o meu charme é irresistível? Até um
homem como John Harper se apaixonou — brinco para amenizar
um pouco o peso que sinto sempre que a enorme mentira que estou
vivendo pesa nos meus ombros.
— Meu sonho era saber se tem mel nessa sua boceta —
Sara fala e pisca com malícia.
— Voltem a trabalhar, eles estão vindo. Menos você,
Manu. É a namorada do chefe. — Agora viradas para os seus
computadores, elas dão risadinhas discretas.
Elas são ótimas por não terem mudado nada comigo,
mesmo que eu seja a suposta namorada de um dos donos desse
império.
— Bom, vovó, vê se não monopoliza muito a minha
namorada, não posso ficar sem ela. — Levanto-me e pego a minha
bolsa antes mesmo de eles chegarem até mim.
Quanto antes sairmos, mais rápido me livro dessa cena
desconfortável para mim.
John se coloca ao meu lado, me abraça e beija
demoradamente o canto da minha boca. Um carinho comum de ele
fazer na frente das pessoas. E apesar do caráter fingido do gesto,
as reações do meu corpo são bem reais.
— Esses jovens de hoje em dia... São intensos demais —
a senhora fala, as minhas amigas balançam a cabeça concordando,
mas concordariam até se a mulher falasse que o céu é verde.
— Volte logo, querida — pede, olhando bem dentro dos
meus olhos. Tenho que prender o olhar no seu, que finge muito bem
que está apaixonado, mesmo querendo desviar.
Sinto dificuldade, mas o nosso acordo está apenas
começando. Um mês se passou desde o dia em que assinei o
contrato e transamos no seu sofá para comemorarmos, mas parece
que foi um ano.
— Não sinta muito a minha falta — digo ao fazer um
carinho no seu rosto bonito e beijar o canto de sua boca como fez
comigo.
Muito perto, a plateia para qual precisamos encenar todos
os dias suspira.
Mas sendo ele quem é, John passa a mão pela minha
bunda quando viro as costas na frente da sua avó.
— Mais respeito, menino! — ela reclama, o homem
apenas sorri.
Érika, que tem a energia de uma jovenzinha, me
convence a bater perna com ela e fazer compras durante duas
horas. Fica o tempo todo tentando me dar presentes, porque, para
ela, tudo que está exposto em qualquer vitrine é a minha cara.
No fim das contas, para não a deixar chateada, acabo
aceitando um vestido belíssimo e o par de brincos. Ambos são
verdes e elegantes. Segundo a avó do meu suposto namorado, são
para serem usados no dia do nosso noivado.
Pois é. Para todos, John e eu estamos juntos há pouco
mais de um mês, mas a senhora já está supondo que a gente vai
ficar noivo. Mal sabe ela que existe uma cláusula que diz que daqui
um mês esse noivado vai acontecer.
E não foi preciso que fizéssemos muito para fazê-la
acreditar no nosso amor. Existe algo em nós dois que faz as
pessoas olharem para a gente e acreditarem na mentira que
estamos contando. Até o momento, tudo está saindo como o
planejado, e não sou mais vista como só um namoro passageiro.
Também pudera. Para um homem que nunca havia
namorado, um mês é uma vida.
Nas últimas quatro semanas, continuei trabalhando como
antes, sendo a secretária que fui contratada para ser e dando tudo
de mim para mostrar serviço, pois sou ingênua o suficiente para
acreditar que John e eu sairemos disso ilesos, que continuarei na
empresa, mesmo que seja a secretária de qualquer outro sócio.
Além de trabalhar, eu dei para o meu chefe. Mas não foi
pouco não. Às vezes ao chegar pela manhã, no horário do almoço,
ou antes de ir embora, quando ficávamos apenas os dois até mais
tarde com a desculpa de muito trabalho acumulado. Fodemos quase
todos os dias nas últimas semanas.
Em cima da sua mesa, montados na cadeira e no sofá.
Até contra a parede de seu escritório nós dois transamos. E como é
bom. Quanto mais a gente faz, melhor fica. Não tem nada a ver com
o nosso acordo, e quando estamos um dentro do outro, é como se
ele não existisse. Somos apenas nós, um homem e uma mulher que
se desejam.
John Harper me satisfez sexualmente. Ele apagou o fogo
que corria nas minhas veias, e voltou a jogar álcool. Compensou os
meses que estava sem sexo e me fez ver que era burrice minha
desistir de paus, afinal, os homens, apesar da maioria não valer
nada, servem para dar prazer as mulheres.
E mesmo que para mim seja exclusivo, que só exista o
meu chefe, porque ele mesmo suga todas as minhas forças com
seu pau mutante, não tenho como saber se o mesmo acontece com
ele. Diariamente, enquanto estamos juntos, seja fazendo sexo ou
não, o pensamento me ocorre.
Eu olho para o deus loiro e me pergunto se no dia
anterior transou com outra mulher. Disposição, eu sei que tem, pois
quis transar comigo depois de ter ficado com outra mulher no dia em
que nos vimos pela primeira vez no Maresias.
Não posso evitar de pensar, de querer que esteja só
comigo e me odeio por isso. Nós não falamos nada sobre
exclusividade, muito pelo contrário. Nas cláusulas, e em todos os
seus parágrafos que ficaram de fora do contrato, John havia dito
que o sexo não seria exclusivo. Bastava que fôssemos discretos.
A cláusula nada mais era do que o seu desejo de ter a
mim sem precisar renunciar às outras. A minha maior frustração é
não poder conter o meu lado possessivo e dedo podre, pois eles me
colocam em risco. O que me consola é que não tenho coragem de
perguntar diretamente para ele se seu pau anda se aventurando por
aí.
É melhor continuar com essa agonia de não saber, mas
preferindo acreditar no pior, a me colocar em problemas por
começar a ver coisas onde não existem. O que existe é um caso e
um contrato, que acaba daqui cinco meses. O que não existe é uma
relação de sexo exclusivo.
Com certeza, é melhor pensar assim.
— Mais uma vez, obrigada pelo presente — depois de um
tempo de silêncio, enquanto voltamos para a construtora com o seu
motorista, falo.
— Não precisa agradecer, dou de coração. Você é
sincera, carinhosa, espontânea e divertida. Uma mulher de verdade,
e gosto muito de você, diferente da outra — elogia, deixando-me
sem jeito.
— Obrigada pelo carinho. Também gosto muito da
senhora. — O que digo é a verdade. Todas as vezes que ela
apareceu na empresa e me levou para sair foram passeios
agradáveis. Com ela e seu espírito jovem, me sinto como se
estivesse com uma amiga da minha idade. Eu falo sobre muitas
coisas e Érika me entende. — E posso saber quem é a outra lá?
— A namorada do meu outro neto. Ela é uma boa moça,
mas é perfeita demais, e parece que está sempre tentando me
bajular. E embora insista em me fazer visitas, não temos assuntos
em comum.
O meu chefe vai gostar de saber dessa informação. Que
a avó dele me adora, já sabe. Mas estamos um passo à frente no
tema namorada favorita. E isso é bom, muito bom. Quando ficarmos
noivos, o chefinho estará praticamente com a bunda sentada na
cadeira de presidente.
É o único detalhe que falta. O voto de sua avó, pois no
quesito profissional competente, ele é o melhor. Eu vejo como se
dedica e como a empresa é muito o que é por causa de sua
competência e mente inteligente acima da média. Tales tentou jogar
baixo porque sabe que de outra forma seria impossível para ele
sequer tentar.
— Por que não aparece com a sua família para um jantar
lá em casa?
O meu coração parece que vai parar de bater quando
pede isso. Não posso envolver a minha mãe e a minha irmã nisso.
Seria demais, e Abigail ainda não engoliu a história direito, apesar
de ter ficado aliviada quando resolvi o problema da casa com o
adiantamento que John me deu.
Ao invés de negar, me obrigo a aceitar.
— Vamos marcar.
De volta à construtora, não dou muita abertura para as
provocações das meninas. Como está perto do horário em que saio
normalmente, e não consigo voltar a me concentrar no trabalho
depois da saída com a Érika, envio uma mensagem para o meu
chefe pedindo autorização para sair alguns minutos mais cedo.
Se o meu pedido inédito parece estranho, ele não
demonstra. Depois de me despedir das garotas, deixo o edifício e
parto para casa. Eu tento levar tudo numa boa, mas em momentos
como o de hoje, que exigem mais do meu controle para não surtar
por estar enganando a todos, fica mais difícil.
Preciso de um tempo para ficar sozinha e me acalmar.
Para lembrar primeiramente o porquê de ter entrado nessa e em
como o dinheiro me ajudará no futuro. Pensar no conforto das
mulheres que amo é o meu principal incentivo.
Antes de ir para casa, passo no shopping, não para
comprar, mas para assistir a um filme sozinha e distrair a minha
mente. No meio da sessão, recebo uma mensagem do Dante.
Ultimamente, ele tem mudado. Tenta ser meu amigo e não falou
mais em reatarmos o nosso namoro.
Não sei se acredito que superou, mas enquanto não está
me incomodando, para mim tudo bem. Respondo às suas
mensagens que, felizmente, não têm sido tão constantes. É mais
fácil aceitar a sua insistência de ficar perto de mim quando não
tenho que manter contato todos os dias.
Lembranças ruins de como o nosso namoro terminou
ficam mais distantes, e me odeio menos por não ter conseguido o
tirar completamente da minha vida.
O ideal era que eu nem mesmo olhasse em sua cara,
mas tenho um misto de medo e dependência pela primeira pessoa
que me olhou depois da separação, mesmo que tenha sido da forma
mais errada possível.
Talvez fosse mais fácil de entender o que acontece
comigo se conseguisse falar com a minha terapeuta, mas existe
algo em tudo o que vivi nos meus últimos relacionamentos que me
causa muita vergonha e me impede de me abrir até mesmo com a
minha mãe.
Quase não presto atenção no que passa na tela, e
quando o filme acaba, como um lanche na área de alimentação e
volto para casa. Enquanto trafegamos, no mais completo silêncio,
penso em como não parece que tenho mais de oitocentos mil reais
na minha conta.
Para quem não tinha nem mil, estou considerando que
sou rica. De toda essa loucura que estou vivendo, pelo menos sei
que vou sair dessa história com mais tranquilidade para o futuro da
minha família.
Assim que o Tito para na frente na minha casa, percebo o
erro que cometi ao dizer para o Dante que estava no cinema, e ao
ter acreditado que o meu chefe havia aceitado tranquilamente que
saí mais cedo e não fui até a sua sala para uma rapidinha.
Saio do veículo, me despeço do Tito e fico sem querer
acreditar no que vejo. Os dois estão no portão da minha casa,
discutindo na frente da minha mãe.
— Se não pararem com isso, vou jogar água quente em
vocês. — Estou tensa, mas me seguro para não sorrir da fala da
minha mãe.
— O que vocês dois estão fazendo aqui? — pergunto.
São dois homens lindos, um loiro e um moreno, mas
apenas um deles tem poder sobre o meu corpo. Me deixa mais fraca
do que já sou, por isso estamos tendo um caso, que sei que não é
certo, e que não existe nenhuma maneira de eu sair intacta dessa
situação.
— Que bom que chegou, Manuella. Dispensa esses dois,
porque não quero confusão na porta da minha casa. Amanhã os
vizinhos falarão que a minha filha tem dois namorados. — Será que
ela não se deu conta ainda que a Mika tem mais de um namorado,
ou prefere ignorar?
A senhora nos deixa a sós. Eu na frente de dois homens,
que se encaram como se fossem se matar.
— Vocês não eram amigos? — O pensamento que me
ocorreu escapa pelos lábios.
— Eu vim ver você — é Dante quem fala o óbvio.
— Você não disse que viria na última mensagem que me
mandou — aviso. Quis me surpreender, e não gostei nenhum
pouco.
— Vocês estão trocando mensagens? — John pergunta e
seu tom é de desdém.
— Estamos, porque somos amigos — Dante fala. — Mas
o que isso tem a ver com você? É apenas o chefe dela.
— Manu não te contou?
— Manu?
— John...
— Nós estamos juntos. Somos namorados há pouco mais
de um mês, não é, querida?
Dante faz cara de horror. John seria capaz de gozar só
pelo prazer de dizer isso. Eu quero que os dois vão para a puta que
pariu.
— Manuella? — O homem moreno me olha, e sei que
está implorando para que eu negue.
— É complicado, Dante. — É o que tenho para dizer. Não
vou confirmar, só para não dar para o meu chefe o gosto de ter
vencido, embora Dante não tenha nada a ver com quem namoro ou
deixo de namorar.
Pensando bem...
Eu odiaria saber que uma amiga minha está namorando o
meu ex-marido.
— Então me explique — pede.
— Ela não tem que se explicar — John fala, e eu o fuzilo
com o olhar.
Se é amigo do Dante, deve saber que às vezes ele é
instável, e não deveria provocar se não quer fazer uma cena aqui na
porta da minha casa.
Então eu me aproximo do meu ex-namorado, suportando
o olhar assassino do suposto atual, e coloco as mãos espalmadas
em cima do seu peito.
— Depois a gente conversa, está bem? — falo.
— Você não pode fazer uma merda dessa. Eu conheço
esse cara. John Harper vai quebrar o seu coração.
Como você quebrou? Sinto vontade de dizer.
— Por favor, vá — peço, ele balança a cabeça, beija o
meu pescoço, não sei por que fez isso, e vai para o seu carro.
Enquanto fico o observando aliviada, apenas para ter
certeza de que está mesmo indo embora, sinto o olhar do meu chefe
queimando as minhas costas.
— O que está fazendo aqui? — pergunto quando me
volto para ele.
— Você saiu mais cedo e achei estranho.
— Não estava a fim de transar hoje — digo.
— Eu não estou aqui por causa do sexo — assevera.
— Saí mais cedo porque estava esgotada, depois de ter
passado algumas horas fingindo-me de namorada apaixonada para
a sua avó. E se veio saber como foi, saiba que eu sou a santa de
sua devoção, mesmo com os meus defeitos. Na verdade, acho que
é bom que eu os tenha, já que não é fã da namorada do seu primo
por ela ser perfeita demais. Nessa você está muito na frente — digo.
— Graças a você. — Ele dá um passo à frente, sei que
quer me agarrar, mas não deixo e me afasto. Hoje não estou bem,
principalmente depois de ter visto o Dante aqui.
— Você já pode ir — digo.
— E vai fazer o quê? Ligar para o Dante voltar? —
pergunta com deboche. Aparentemente, não gostou nada de ter o
visto aqui. — Será que um pau não te satisfaz, e por isso precisa de
dois? Gosta de ser vadia?
Primeiro vem o choque pelo que ouço, depois a reação. A
minha mão voa com toda força no lado esquerdo do seu rosto
perfeito.
No ato, John Harper me agarra apertado com o corpo
colado no seu. Os seus olhos estão faiscando de raiva.
— Não volte a fazer isso, porra! — fala entredentes
contra o meu rosto. — Pensa que é quem?
Não gosto da sua reação, do que vejo, e nem das suas
palavras.
— Você é igual a ele — falo baixinho em choque, mas
duvido que não tenha ouvido. — Talvez seja pior...
— Do que está falando?
— Por favor, me solte e vá embora.
— Manu. Eu não quis te ofender. — O escuto, mas
parece que não compreendo.
— Vá embora! — peço mais uma vez e ele me solta, vira
as costas e parte.
Fico o observando com os olhos ardendo, mas não choro.
Não posso ser fraca assim.
— Está tudo bem, filha? Aqueles homens...
— Depois a gente conversa, mãe. Preciso tomar um
banho.
Debaixo do chuveiro, esfrego a minha pele com força, até
que fique vermelha e ardida, mas parece que nunca deixo de estar
suja.
Todos eles são iguais.
Lucas Avelar.
Dante Dutra.
John Harper.
E eu sou suja.
CAPÍTULO 25
JOHN
— Essa era a cereja do bolo que faltava para concretizar
a sua nomeação. A cada dia que passa, chego mais perto de ser o
melhor amigo, além de advogado, é claro, do diretor-presidente do
grupo Harper — deslumbrado, Pietro fala.
Há dois dias, caiu em minhas mãos um projeto grande e
desafiador para a construção de um edifício de luxo em Gramado.
Na reunião com os contratantes, eu apresentei as melhores ideias e
peguei a conta.
Daqui dois dias terei que viajar para Gramado, e apesar
de tudo estar dando certo para mim, não estou plenamente
satisfeito.
— Que cara é essa? — ele pergunta. — Estou falando
sozinho aqui? Como vocês héteros só pensam nisso, vou
perguntar: Tem transado?
— Não — falo.
— Então está explicado. Mas isso não vai te matar. Logo
a Manu te perdoa — afirma.
— Você deve saber, não é? Na última semana não
desgrudou da mulher. Você é o meu melhor amigo, não dela — falo
como um adolescente com ciúme de amizade. — Pensei que fosse
me ajudar, não ficar do lado dela.
— Sou o seu melhor amigo, por isso conheço os seus
defeitos e sei que quando quer, consegue ser um babaca. Então
confia na minha palavra de que o melhor que tem a fazer é dar um
tempo para a garota.
— Mas eu não fiz nada! — Rebato.
— Ela acha que fez, e é isso que importa, meu amigo.
Podemos voltar para o trabalho? — Ainda bem que ele não me
deixa esquecer do que é o mais importante para mim. —Tudo certo
para a viagem?
— Não. Ainda falta um detalhe. A minha secretária vai
comigo. — Não estava nos planos, mas eu acabei de mudá-los.
— John...
— Ela trabalha para mim e eu preciso que vá comigo —
assevero. — Só estou sendo profissional. — Nenhum de nós dois
acredita nisso.
— É claro que não é porque você quer tentar voltar a
entrar na calcinha dela — provoca. — Ainda não acredito que não
está fazendo sexo aleatório, como sempre fez.
— Muito trabalho. E, por falar nisso, vai fazer o seu —
digo, o advogado se levanta e me deixa sozinho.
Tento fazer o que fazia antes de me reunir com o Pietro,
que era organizar o trabalho que me espera quando voltar da
viagem que durará três dias, mas é só lembrar-me da morena que
perco a minha concentração.
Uma semana se passou depois do episódio com o Dante
na porta de sua casa, e ainda não sei ao certo o que aconteceu
naquele dia.
Fui até a sua casa por causa de um impulso que não
pude frear. Pela primeira vez, fui à casa de uma mulher em busca
de atenção, porque, de repente, passei a me importar com a forma
como ela se despede de mim.
Saiu sem antes entrar aqui para se despedir, sem ter
deixado que eu beijasse a sua boca gostosa, e foi estranho.
O que senti quando vi o Dante atrás dela e a forma
compreensiva como o tratou, embora não devesse estar ali, foi
inédito. Um alarme disparou na minha cabeça e só conseguia
pensar que estava tudo errado naquele momento.
E mesmo que tenha passado dias tentando negar, me
recusando a dar nomes, ficou mais fácil de compreender quando
admiti para mim que senti ciúme. Foi isso, senti ciúme da minha
secretária, a mulher com quem eu deveria apenas manter um
acordo simples e sexo sem compromisso.
Nem mesmo falamos que seríamos exclusivos, embora
não tivesse passado pela minha cabeça que não fosse até aquele
dia. E o mais impressionante nisso é que eu não estive com
nenhuma mulher depois que comecei a transar com a Manuella.
Tento dizer para mim mesmo que é por causa do
trabalho, que a última semana tem me consumido, porque eu estava
empenhado em pegar o projeto, mas sinto que, mesmo se tentasse,
o meu corpo rejeitaria outra boceta que não fosse a da Manu.
Estou viciado e passando por um período de abstinência
forçada há uma semana, então essa viagem será a chance de voltar
a me aproximar da minha suposta namorada, que nunca agiu com
tanto profissionalismo como tem feito nos últimos dias.
Sexo no meio do expediente? Virou uma lenda.
O pior é que sei que cometi um deslize quando a ofendi
por causa do meu ciúme, sem antes ter tentado entender, mas ela
não me deu a chance de pedir desculpas. Sequer fala comigo de
assuntos que não sejam sobre trabalho.
Manuella pensa que será fácil me descartar e voltar a agir
como se nada estivesse acontecendo entre a gente. Mas não vou
permitir que as coisas continuem assim, porque a gente passou um
mês inteiro bem, trabalhando como uma boa dupla e nos pegando
sempre que tínhamos chance e vontade, e foi muito bom.
Quanto ao Dante, não atendeu as ligações que fiz com o
intuito de esclarecermos algumas coisas, em nome da amizade que
tínhamos antes de começarmos a querer a mesma mulher. Espero
que entenda que teve a sua chance e não entre mais no meu
caminho. A nossa amizade, que já não era mais tão próxima mesmo
antes da Manu, pode continuar, desde que entenda que ela é minha
agora.
Sim. As palavras possessivas. Ainda não sei o que existe
entre eles, se é mesmo só uma amizade, ou se ela está transando
com os dois, mas vou assegurar que acabe, porque quando tenho
algo, preciso que seja só meu.
Não divido, muito menos a Manuella.
— Venha até a minha sala, por favor — finalmente faço o
que estava querendo e ligo no ramal da minha secretária.
Quando entra, primeiro olho para as suas pernas bonitas
na saia justa e o colo, que tem feito questão de deixar sem nenhum
decote nos últimos dias. Tudo para ficar menos atraente para mim,
mesmo sabendo que isso é impossível para ela.
— Você não tem nenhuma reunião marcada para as
próximas horas — fala. O seu profissionalismo me faz sentir vontade
de colocá-la em cima da minha mesa e comer a sua boceta com a
boca, enquanto repassa os meus compromissos para o dia.
— Marca aí na sua agenda: viagem daqui dois dias.
Reserve duas passagens — digo ao sair de trás da minha mesa
para chegar mais perto da minha namorada.
Apesar de estar azeda comigo, Manu continua dando
tudo de si para o acordo. A minha avó simplesmente ama a mulher.
Por prezar por pessoas reais, e tendo encontrado alguém assim na
Manu, elas estão se tornando unha e carne.
É algo que causa certa preocupação, pois daqui alguns
meses o nosso suposto namoro vai acabar, e Érika vai ficar muito
chateada. Está apostando tudo no meu casamento com a Manuella.
Quando a ideia me ocorreu, não pensei que elas fossem
se tornar tão próximas.
— Por que duas passagens? — pergunta, curiosa. — Vai
levar uma acompanhante?
Está fazendo a pose de que não se importa, mas sei que
sente ciúme, e por isso vou continuar.
— Vou, sim — afirmo na sua frente.
— Preciso do nome dela para as reservas — avisa. A
ponta da caneta está quase furando a folha.
— Anota aí: Manuella Ortega.
— O quê? — O seu gritinho de surpresa quase estoura
os meus tímpanos. — Eu não vou.
— Não pode se recusar. É o seu trabalho, e não acho que
preciso te lembrar que sabia que precisaria fazer viagens quando te
contratei — relembro-a, apelando para o lado profissional, quando
os meus motivos são pessoais. A sua presença não é
imprescindível, não para os negócios. — A sua presença é
imprescindível.
— Tudo bem, eu vou. Não tem outro jeito — a petulante
fala e dá de ombros. — Estou liberada?
— Eu disse que estava? — provoco, ela cerra o maxilar.
— Não.
— Estou com saudade de você, bebê.
Bebê?
— Bebê?
Estou tão assustado quanto ela com o apelido que
escapou.
— Quando vai me perdoar? — pergunto, a ponto de me
humilhar.
Que fase!
— Quando você pedir perdão.
— Estou tentando, porra! Mas você não deixa. Foge de
mim como se eu estivesse com uma doença contagiosa.
— Tente um pouco mais — diz, e quase surra o meu
rosto com o cabelo quando me vira as costas.
Não me importo de estar vivenciando a mesma cena pela
centésima vez, porque tenho o plano perfeito em mente. Em um
lugar tão belo quanto Gramado, sozinhos e sem um Dante no meu
caminho, vou ter Manu de volta do jeito que quero.
DOIS DIAS DEPOIS
Finalmente!
Nós acabamos de chegar a Gramado. Eu perguntei se
gostaria de ir caminhando até o hotel em que vamos nos hospedar e
a morena, monossilábica, disse que sim. E enquanto observamos
atentos um dos lugares mais bonitos em que estive aqui no Brasil,
acabo a abraçando.
Não planejei tocá-la assim, como se fôssemos
namorados em uma viagem romântica. Aconteceu e foi natural.
— Por que me abraçou? — questiona, mas pelo menos
não tenta se afastar.
— Está frio e o calor humano ajuda. — É a desculpa que
dou, embora não seja completamente mentirosa.
Conforme continuamos caminhando e nos aproximando
do hotel de estilo imperial, ela vai ficando mais relaxada. O clima
está bom, bem friozinho e ideal para um sexo gostoso. Se a gente
não estivesse brigado, diria para ela.
— Boa tarde, reservas para John Harper e Manuella
Ortega — falo na entrada do hotel para a recepcionista.
— Dois quartos. Eu reservei dois quartos — Manuella
assegura.
Não reservou não, amor. Penso comigo mesmo.
Ela não faz ideia, mas eu tinha um plano. Sempre tenho.
Agora cabe a essa moça fazer a sua parte do combinado. Começa
fingindo que está buscando os nossos nomes no sistema.
— Tem certeza de que fez a reserva de dois quartos? —
a mulher pergunta. Eu estou sorrindo por dentro, porque sou um
gênio.
— Tenho! — Diz empertigada.
— Aqui consta apenas um quarto. — É mentira. Eu
paguei para que falasse isso.
— Mas reservei dois quartos. Tenho certeza.
— Perdão, senhorita — a moça fala, fingindo que está
chateada.
— Tudo bem, essas coisas acontecem. Pode deixá-lo
com o que já está reservado e arrumar outro para mim? Posso ficar
em qualquer um. Só preciso de um quarto.
— Nós estamos com lotação máxima — a recepcionista
fala, Manu a fita com um olhar assassino.
— Você está falando sério?
— Querida. A gente pode ficar no mesmo quarto. Não
será o fim do mundo. E prometo que não vou te morder, a menos, é
claro, que você me peça — brinco com ela para que desfaça a cara
amarrada.
— Tudo bem — diz a contragosto. — As chaves. Não me
diga que perdeu.
— Aqui está, a suíte master. — Eu pego o cartão-chave e
nós dois seguimos para os elevadores.
— Eu sinto muito, mas você pediu a suíte master à toa.
Não vai poder levar mulheres para lá comigo na sua cola — fala,
mas não tem nada na sua expressão que demonstre que realmente
sente muito.
— Posso viver com isso — limito-me a falar.
Ela mal sabe que reservei a melhor suíte apenas para
nós dois, porque essa viagem não será dedicada apenas aos
negócios. A presidência da empresa ainda é o mais importante para
mim, e se a minha atração pela Manuella está no meu caminho,
darei um jeito de resolver a situação de uma vez.
A gente vai voltar a ficar junto e tudo será como antes de
eu falar merda para a minha gata.
E daqui a menos de três semanas, a gente vai ficar noivo,
e nesse dia darei os últimos passos rumo ao objetivo final. Tudo o
que eu sempre quis para a minha vida profissional: poder, dinheiro e
prestígio.
E a mulher, com certeza terei tido essa mulher.
Ao entrarmos no quarto, a morena não esconde o brilho
no olhar pela sofisticação que vai da cama estilo medieval à sacada
que faz vista para a bela cidade, mesmo que tenha visto o quarto
quando fez as reservas.
Eu deixo que tenha o seu tempo, que vá até a sacada e
fique gostando da vista. Depois que retorna e finalmente olha para
mim por mais do que dois segundos, nós dois olhamos juntos para a
cama que cabe cinco pessoas, depois um para o outro e de novo
para a cama.
— Acho que vou tomar um banho — diz para fugir.
— Posso ir com você? — Estou provocando, mas
também falando sério.
— Não. Você não pode, chefe — diz, pega a mala e a
puxa para a porta do banheiro.
Acabo de descobrir que amo quando me chama de chefe
em momentos de provocações sexuais e, principalmente, na hora
do sexo, porque me lembra de que estou fodendo com a secretária
gostosa. Mas odeio quando usa a palavra para manter distância de
mim.
Mas está tudo certo, estou aqui para um projeto
importante que vai me ajudar a chegar ao topo, mas também estou
com a mulher que quero para mim, e terei tempo para consertar
tudo entre a gente.
CAPÍTULO 26
JOHN
Eles estão falando e até tento prestar total atenção, mas
estou mais consciente da mulher que está ao meu lado.
Estamos em uma sala com mais sete pessoas além da
gente, e a Manuella é a única mulher. É claro que a reunião está
melhor porque ela se faz presente, porque encantou a todos com o
seu sorriso e jeito carismático quando se apresentou quando
chegamos há um pouco mais de quarenta minutos.
Estamos em Gramado há um dia, e as coisas entre a
gente continuam na mesma. O compromisso mais importante que
tínhamos aqui está acontecendo agora, mas não consigo esquecer
de como me sinto frustrado.
— John Harper.
— Perdão? — falo quando sou chamado atenção. Olho
para o lado e minha secretária parece irritada por causa da minha
dispersão momentânea.
— Queria ouvir mais um pouco sobre as suas ideias
sobre a localização dos elevadores — o presidente da reunião pede,
então começo.
Como se o lapso de atenção não tivesse acontecido,
discorro durante dez minutos sobre o projeto, respondendo de
maneira segura e clara a todas as questões dos contratantes. Por
um tempo, como deve ser, foco apenas no que mais me importa e
esqueço dos problemas pessoais.
A forma como deixo todos contentes e impressionados na
sala quando termino, inclusive a Manuella, é a certeza de que sou
bom no que faço e que nasci para isso. Mas a reunião acaba e me
sinto relaxado enquanto a minha secretária e eu voltamos andando
para o hotel. A reunião ocorreu em uma sala comercial bem próxima
ao nosso hotel.
— Você foi muito bem lá dentro — recebo o seu elogio e
fico mais contente do que ficaria se tivesse partido de qualquer outra
pessoa. — Mesmo se eu não tivesse sido paga para te ajudar, ainda
assim acreditaria que você é a melhor escolha para substituir o seu
pai.
— Obrigado — digo, porque não tenho outra palavra, mas
queria poder abraçá-la, e não é porque está frio.
Acho que esse clima está me deixando doente.
Eu estou sempre muito consciente da sua presença ao
meu lado, observo a forma como é educada e sorrir para as
pessoas que sorriem para ela, mesmo que sejam desconhecidos
que nunca mais verá. São coisas pequenas de sua personalidade e
de cada pequena atitude que me impressionam, porque ela é
diferente de tudo que existe no meu mundo, onde não se tem
tempo. Onde cada pessoa olha somente para si.
Não falamos mais nada até entrarmos novamente no
quarto. E quando nos fechamos no cômodo, ela já começa com a
sua primeira tentativa do dia de fugir de mim. Passou todo o dia de
ontem passeando, e só voltou para o quarto na hora de dormir.
Passei o dia inteiro trabalhando para a reunião que acaba de
acontecer.
— Vou tomar um banho e depois vou patinar no gelo.
Peguei um panfleto mais cedo e é bem perto daqui — diz. — Se
incomoda se eu for?
— Claro que não — digo.
Queria ir com você, mas não fui convidado, penso
frustrado.
A verdade é que eu preciso sair dessa. Não estou mais
conseguindo me reconhecer, e não aconteceu nada de importante
para ter me feito mudar desse jeito, não é?
Estava transando e sendo monogâmico com a minha
secretária e suposta namorada. De repente, ela parece que não
quer mais e está bem com isso. Eu também tenho que ficar, tentar
voltar a ser o mesmo de antes.
Se conseguir algum progresso com Manuella será
maravilhoso, porque curto pra caralho o nosso sexo, e me conheço
o suficiente para saber que não vou desistir. Mas talvez não seja o
caso de ficar tão obcecado. Posso agir como pensei que agiria no
início.
Para transar com Manuella não preciso desistir das
outras bocetas, assim como ela, aparentemente, não desistiu dos
outros caras. Será que já conheceu alguém aqui, e por isso não me
convidou?
E enquanto penso, a minha secretária continua parada na
minha frente, como quem espera ouvir alguma coisa.
— Se for passar o dia fora, leve o cartão da porta, vou
sair hoje à noite — aviso, não a convidando.
Infantil? Talvez.
Mas não é só por isso que não vou chamá-la. A verdade
é que essa mulher e o que desperta em mim me assustam. Por ela
ando pensando e fazendo coisas estranhas típicas de um homem
na coleira.
— Vai chegar tarde? — indaga, eu a olho com a
sobrancelha arqueada, dizendo que não a interessa a hora que vou
chegar. Sou hipócrita, porque quero saber dela. — Só para não me
preocupar.
— Talvez eu durma fora — digo. — Vou deixar que tenha
a sua privacidade — afirmo, e passo para a sala anexa ao quarto.
Fico sentado no sofá respondendo e-mails por um tempo,
fazendo de tudo para não me levantar e ir até ela.
Você não vai fazer isso, John!
Ela é linda, um tesão, e você é louco por ela, mas é
apenas uma mulher.
A sua secretária.
O namoro tem prazo de validade. Quando terminar, e
você ver que ficou tudo bem, vai agradecer por esse afastamento.
Por não ter tentado derrubar as barreiras que ela colocou em torno
de si.
MANUELLA
Ao entrar novamente na suíte, estou me sentindo
exausta. Passei o dia me divertindo, depois de ter acompanhado o
meu chefe na reunião, em que tive a impressão de que a minha
presença não era tão importante como ele fez parecer que seria
quando quis que eu viesse nesta viagem.
Foi divertido, mas não tanto quanto deveria ser se não
estivesse o tempo todo com o idiota do John Harper na cabeça.
Nele e na sua saída, que não sabe se volta hoje ou amanhã.
Depois do que aconteceu no portão de casa com o Dante
e a forma como John falou comigo, chorei por sua causa, e foi algo
que mexeu muito comigo, porque é muito difícil algo me fazer chorar
hoje em dia. Depois dos fracassos tanto na área profissional quanto
na sentimental, prometi a mim mesma que não iria mais chorar.
O fato de o meu chefe ter me atingido tanto fez com que
eu recuasse em seja qual fosse o nome do que rolava entre a gente.
Senti medo depois que as lágrimas secaram, porque percebi que o
risco que estava correndo era muito grande. Apesar da situação e
de não gostar do que estamos fazendo ao enganar a todos que nos
rodeiam, gosto dele e gosto muito.
Poderia dizer a mim mesma que é só por causa do sexo,
que foi ficando melhor a cada encontro que tivemos, mas me
conheço e sei que não é. Estou gostando de quem não deveria
gostar mais uma vez. E a prova disso é que estou aqui sozinha,
enquanto ele foi atrás de outras mulheres.
Mas John está no seu direito, não é? Ele é solteiro e nem
estamos na nossa cidade, cheia de pessoas que nos conhecem e
estão sempre de olho na gente. Desde que seja discreto, pode sair
e transar com quantas mulheres quiser.
Mas por que o meu coração está tão apertado?
Tentando desanuviar os meus pensamentos, arranco a
minha roupa e decido que estou precisando de um bom banho de
banheira. Mas mesmo depois de sair da água perfumada e de
espuma com a pele enrugada, de ir para a sacada com uma taça de
vinho e me sentar no sofá para observar a noite da cidade linda e
fria, pensamentos deprimentes de John com outra não deixam a
minha mente.
Estou com tanto ciúme.
E ainda são nove horas da noite. Depois de uma taça,
com a hora se arrastando, acabo ajeitando a almofada do sofá da
varanda e me deitando de lado.
— Era só o que faltava, a Manuella dedo podre Ortega se
apaixonar por um homem que só pensa em trabalho, que não pode
colocar nada acima da maldita empresa — sussurro para o vento e
depois sorrio com desgosto.
Até parece que seria diferente se não existisse a disputa
no nosso caminho. Estou ao seu lado porque sou útil. Nada mais
que isso. Se não tivesse esquecido, não estaria sofrendo agora.
JOHN
Eu nunca experimentei um beijo tão sem graça. E olha
que a mulher é bonita. Não tanto quanto a que não sai da minha
mente, mas é bonita e desejável.
— Querida, isso não está funcionando — digo ao afastar
as nossas bocas e o seu corpo que estava entre as minhas pernas
aqui no bar.
— A gente pode tentar de novo? — Pergunta. Os olhos
estão cheios de esperança.
O problema é que ela não é a minha primeira tentativa e,
assim como as outras, não senti nada, nem uma leve faísca. Acho
que estou até um pouco bêbado.
— Não. A gente não pode — falo. — Foi um prazer te
conhecer, querida. — Beijo o canto da sua boca e me levanto do
banco.
Se o meu plano era esquecer da morena do cão, ele deu
completamente errado, porque ela atrapalhou a minha noite de
todas as formas possíveis quando não saiu dos meus pensamentos.
Não é nem meia-noite, mas já estou voltando para o hotel.
Apesar de ter feito o mesmo, tenho medo de entrar no
quarto e o encontrar vazio. De perceber que vai deixar que outro
toque no que deveria ser apenas meu. E enquanto o carro de
aplicativo trafega, não me importo de deixar que esses
pensamentos se formem.
Estou louco por Manuella Ortega, e foi preciso algum
álcool no meu sangue para que pudesse admitir.
Ao entrar no nosso quarto, a suíte master que não está
sendo bem usada, me deparo com o mais completo silêncio. Os
lençóis esticados e a cama arrumada.
— Porra!
Ainda bem que tem bebida nesse quarto e que sempre
posso ligar pedindo mais. Vou precisar, enquanto passo pela noite
tentando não pensar nela dando para outro cara. Só de imaginar
tenho instintos assassinos.
Assim que encho um copo com vinho no minibar, ando na
direção da sacada. Quem sabe a bela vista não faz o que a tentativa
de ficar com outras mulheres não fez e eu esqueça a mulher
infernal?
Mas assim que paro no umbral da porta de vidro entre o
quarto e a sacada, olho para o sofá e me deparo com a Manu
deitada em posição fetal. Tem uma taça de vinho no chão, ela veste
apenas calcinha e sutiã, muito sexys, por sinal, e não colocou nem
mesmo uma manta em volta do corpo para o prevenir do frio.
O meu pau começa a ganhar vida, depois de pensar que
tivesse morrido de vez por causa da performance com as mulheres
no bar. Estou surpreso que esteja aqui, contrariando o fato de eu ter
pensado em várias formas de matar qualquer amante seu, mas
também estou com tesão, pois é impossível de ignorar o corpo
perfeito com essas peças pequenas e bonitas.
Sem fazer nenhum barulho, porque não quero acordá-la,
não ainda, sento-me no pequeno espaço que o seu corpo não está
ocupando no sofá. Com cuidado, toco na sua panturrilha, fazendo
um carinho leve.
E enquanto a observo, me dou conta de que gosto de
tudo sobre essa mulher. Sim, mulher, porque Manuella Ortega, com
os seus trinta e dois anos, é toda mulher. Não é como as garotas
mais jovens com quem costumava sair. Ela é tão madura. Tem
apenas três anos a mais do que eu, mas parece ter mais. Não na
aparência, mas nas vivências.
Eu sei que Manuella é uma mulher que tem marcas, que
viveu coisas que gostaria que eu não soubesse, e percebi isso pela
forma como me disse algumas vezes que tinha desistido dos
homens. E enquanto a olho, sinto vontade de saber mais sobre ela.
Do que a machucou, e do que a fez feliz durante os anos em que
não nos conhecíamos.
Eu nunca quis conhecer mais do que o corpo das
mulheres com quem transei, mas a minha secretária, essa mulher
fácil, mas ao mesmo tempo difícil de ler, sempre foi diferente. Deve
ser por isso que me fascina.
— Ei... — A sua voz de sono me chama e eu subo o olhar
para o seu rosto. Coçando os olhos, ela se senta com as costas
contra o apoio de braço do sofá, nem um pouco constrangida de
estar praticamente nua para mim.
Que bom, porque fizemos tanto sexo nas últimas
semanas que já conheço cada curva do seu corpo.
— Eu não queria te acordar — digo.
— Pensei que fosse dormir fora. — Pela forma que fala,
parece que moramos juntos.
— Também pensei — digo, sem parar de olhar para os
seus peitos. Eles estão tão lindos dentro do sutiã azul-bebê. Estou
doendo de desejo por ela nesse momento.
Faz tempo demais da última vez que a toquei.
— O que foi, não conseguiu encontrar nenhuma mulher
que te agradasse? — O seu tom é de despeito. Gosto disso, porque
mostra que não é indiferente. Não que eu acreditasse no contrário.
— Não.
— Exigente?
— Nenhuma era você — confesso. — Por que não chega
mais perto? — Peço, Manu balança a cabeça negando. Então me
aproximo, a pego pela cintura e a sento no meu colo de frente para
mim, uma perna de cada lado do meu quadril.
— Você bebeu, não foi?
— Só um pouquinho. Mas estou sóbrio o suficiente para
saber o que estou fazendo — afirmo. — Sei que o corpo
maravilhoso que tenho nas mãos é o seu. Que o cheiro não poderia
ser de outra mulher — falo e enterro o meu nariz no seu pescoço
por um tempo.
Como é bom segurar o seu corpo cheiroso, quente e
macio. Parece que estou em casa. Quando levanto a cabeça e volto
a olhar para o seu rosto, não consigo ler o que passa pela sua
mente.
— Transou ou beijou outra mulher? — pergunta. — Não,
não me fale. Não é da minha conta.
— Beijei umas três, mas foi só isso. Estava tentando
sentir algo, nem que fosse uma pequena faísca que me fizesse
esquecer de você, que mal estava olhando na minha cara —
confesso.
— Por quê?
— Gosto de estar com você. Pelo sexo, que é
sensacional, mas por outros motivos também. A sua companhia me
agrada.
— Se quer ser meu amigo...
— Eu não quero ser seu amigo — digo.
— Se não quer que eu negue acesso a você, não pode
me tratar daquela forma novamente. O jeito que falou e me olhou
como se eu fosse...
— Só estava com ciúme. — Sou sincero.
— Ciúme de mim?
— De pensar em você com ele, e desde que chegamos
aqui, de imaginar outro homem com as mãos em cima de você. E
não deveria ser assim, não é? — Faço a pergunta retórica,
enquanto as minhas mãos passeiam pela cintura fina.
— Não. A gente tem um contrato. Não somos namorados
de verdade. Não gosto de chorar, mas você me fez chorar naquela
ocasião. Eu fiquei mal antes de dormir aqui no sofá, pensando em
você com outra mulher. — Tudo o que Manuella fala deveria me
assustar, assim como os meus próprios sentimentos e pensamentos
a seu respeito, mas isso não acontece. — A gente não faz bem um
para o outro.
— Não vamos pensar em nada agora, querida. Nós
estamos nesse belo lugar sozinhos e por mais dois dias. Por que a
gente não aproveita e só volta a pensar em problemas em casa?
— Estou com saudade de você também, e te odeio por
ser assim, gostoso e irresistível — diz, mas começa a abrir os
botões da minha camisa.
— Vai me perdoar por ter sido um idiota com você? —
peço ao parar as suas mãos. — Não queria te ofender. Não tinha o
direito de falar daquela forma.
— Eu não estou transando com o Dante e nem com
homem nenhum — fala. Eu queria poder soltar fogos de artifício.
— Eu não estive com outra mulher depois da primeira vez
que transamos — confesso e a surpreendo.
— Está falando sério? — aceno positivamente.
— A sua boceta é viciante, e enquanto estiver com você,
ela será suficiente — digo ao morder de leve o seu lábio inferior.
— Deve estar subindo pelas paredes.
— Gozei pelas minhas mãos duas ou três vezes nos
últimos dias pensando na gente trepando.
— Tadinho... — Ela me provoca ao se mover no meu
colo, tornando a minha vida difícil, e nem posso acreditar que a
tenho assim novamente. Que estou sentindo a sua bunda deliciosa,
que adora se esfregar no meu cacete.
— Já me perdoou? — pergunto.
— Sim. Você não é como eles — diz, eu não entendo o
que quer dizer, apesar de imaginar quem sejam “eles”. — Prefiro
acreditar que não é.
— Eles quem? — indago.
— Isso importa agora? Eu quero você, chefinho —
declara. Sempre que me pede com todas as letras significa que
teremos bons momentos.
— Eu... — hesito, procurando a palavra certa — te adoro.
— Estou olhando dentro dos seus olhos e nunca fui tão sincero com
uma mulher. — Gosto de tudo sobre você.
— Ninguém nunca me falou isso — diz, parece mexida e
percebo que falei no momento errado.
Nós estamos nos entendendo. Tudo vai voltar a ser como
antes e não quero estragar nada com lembranças que a façam ficar
triste.
— Eu estou falando, mas é só porque quero chupar os
seus peitos grandes e depois a sua boceta — provoco-a. Manuella
leva as mãos para trás e abre o fecho do seu sutiã, depois passa
pelos braços e deixa que caia no chão.
Os seus seios estão bem diante dos meus olhos, grandes
e firmes. A minha boca saliva, o meu pau parece ter vida própria de
tão sedento que está. Mas não é só isso, o meu coração também
está disparado e não quero pensar no porquê. Na verdade, não
quero pensar em nada.
A única necessidade que merece a minha atenção é a de
foder o seu corpo até o nosso esgotamento, como quis nos últimos
dias e não pude fazer.
— Por que está assim? — pergunta.
— Assim como?
— Pensativo.
— Me perguntava se sentiu falta de sentar-se assim no
meu pau, porque eu quis você a cada minuto do meu dia — declaro.
— Você com suas roupas apertadas que me tentam e o narizinho
arrebitado. Tão linda...
— Não estou te entendendo, John.
— Eu também não. Acho que estou bêbado — digo para
me justificar, mesmo sabendo que bebi pouco.
— Sim, você está. Nunca foi tão carinhoso comigo.
Sequer demonstrou até hoje que gostava de mim...
Antes que termine de falar, seguro a sua nuca e a beijo.
Essa conversa entre a gente estava ficando estranha. Muitos
sentimentos e questionamentos onde não deveriam existir, pois tudo
entre a gente deveria ser simples.
Mas a sua boca sedenta na minha me faz esquecer de
tudo, menos das sensações, do desejo sexual cru que sinto por
essa mulher. Ela faz sons de gemidos depois de um tempo dentro
da minha boca, então eu, que não me contento, pois nunca tenho
tudo o que quero dela e sempre acreditarei que preciso de mais um
pouco, afasto aos poucos as nossas bocas.
Beijo o seu rosto com carinho, e depois vou distribuindo
pelo pescoço. Adoro beijar no lugar estratégico onde sempre passa
perfume. Sou viciado no seu cheiro, apesar de Manu não ter me
deixado mais chupar o seu pescoço o suficiente para deixar
marcado.
— Você cheira tão bem, querida...
— Um perfume barato.
— O seu perfume — digo, então desço a cabeça e passo
a língua pelos seus mamilos entumecidos. — Depois darei mais um
pouco de atenção para essas duas delícias, mas agora eu não
aguento mais, preciso entrar em você. Gozar sentindo a sua boceta
me apertando... Ei, volte aqui!
Mal tenho tempo de terminar de reclamar, pois a morena
dos peitos perfeitos se levanta e, olhando-me com cara de safada,
amo quando ativa esse modo, se curva lentamente e começa a tirar
a calcinha. Mas ela não faz do jeito comum, é bem devagarinho,
obrigando-me a olhar para as suas curvas, as coxas macias que
adoram me ter entre elas.
Pernas que quero ter sempre abertas para mim, dando-
me livre acesso.
E quando a peça está em suas mãos, ela a joga em mim,
que a pego no ar e a levo ao nariz.
— Senti falta desse cheiro também — digo, então deixo a
peça de lado e a puxo para mim. Com Manu entre as minhas
pernas, começo beijando a sua barriguinha plana, e o fato de estar
sentado torna a posição perfeita para que eu consiga tocar na sua
bunda.
Ah, essa bunda. A quero tanto que nos últimos dias antes
de ela se afastar de mim estava até sonhando com ela. Tudo porque
a minha suposta namorada me provoca. Não corta o meu barato,
deixa que eu toque no seu cuzinho o quanto quiser, eu enfio dois
dedos quando a tenho perto de gozar com o meu membro
mergulhado na sua boceta.
O sexo anal com essa gostosa é a minha maior fantasia
sexual no momento.
— Eu sei no que está pensando — fala e, pelo tom de
sua voz, sei que os meus beijos pela sua barriga e mãos que ainda
estão relativamente inocentes na sua bunda já estão a deixando
sensível e doida para dar para mim.
— E no que estou pensando, senhorita Manuella Ortega?
— Em sexo anal. Acertei?
— Quero o seu cuzinho e sabe disso. Pare de me
castigar, minha linda. — Para amolecer e seu coração de pedra, dou
uma lambida longa na bocetinha, que já está preparada para mim.
— Vou pensar no seu caso, porque ultimamente não tem
sido um bom menino — provoca e rebola na minha mão, que está
entre as suas pernas.
Antes de a penetrar, gosto de sempre deixá-la preparada,
assim a minha invasão se torna mais fácil e menos desconfortável
para ela no início.
Até penso em me fartar com a boca no meu paraíso
particular, mas a minha gata levanta o pezinho bonito e empurra o
meu peito no encosto do estofado. Sei o que quer fazer, na verdade,
a gente está junto há tempo suficiente para sabermos o que o outro
vai fazer em seguida só pela forma de olhar.
A morena se coloca novamente no meio das minhas
pernas e tira a minha camisa. Depois se afasta um pouco e com
paciência abre o botão e zíper da minha calça, depois a tira com
cueca e tudo. O meu pau está duro e livre, alegre e cheio de
expectativa depois de uma longa seca.
Era isso que eu queria, o que estava faltando nos últimos
dias. A mulher, cuja companhia torna os meus dias mais excitantes
de todas as formas, seja pelo sexo, seja pela química que temos
juntos até quando estamos falando sobre o clima.
Manu olha como um sedento no meio do deserto para o
meu membro. E aqui, nessa sacada e com a imagem perfeita que
temos, uma ideia me ocorre.
— Eu quero que você vá até ali. — Aponto para a grade
amadeirada que alcança um pouco abaixo dos seus seios — Apoie
as suas mãos na grade. Quero ver a sua bunda enquanto te fodo.
CAPÍTULO 27
MANUELLA
Quero ver a sua bunda enquanto te fodo.
Parece até uma bela canção, feita especialmente para os
meus ouvidos.
E então é isso. Aqui estou eu, prestes a transar com o
meu chefe novamente, e está tudo bem com isso, porque é o que o
meu corpo deseja, o que eu também desejo. John, apesar da
bagunça que temos em volta de nós, dos planos e das mentiras, é a
leveza que existe na minha vida. E não vou abrir mão dele.
Enquanto puder escolher e for bom para mim, escolherei fazer isso.
Escolherei obedecer aos seus comandos de ir até a
grade. Encostarei o meu corpo nela e esperarei com tesão pelo seu
próximo passo, porque quando fazemos sexo, não importa quem
comanda quem, sempre é bom.
De costas para ele, olhando para as casas de estilo
medieval, para as árvores bonitas e ruas limpas, é como se a cidade
tivesse sido construída ontem, como se ninguém além de nós dois
habitasse esse lugar no momento.
Olho para trás por cima do ombro depois de um minuto
inteiro sem sentir o seu corpo grande, alto e forte no meu. Fico
surpresa, porém, mais excitada ainda quando o vejo sentado no
meio do sofá, bem relaxado e se masturbando enquanto olha para a
minha bunda nua.
A imagem é tão dolorosamente excitante que é preciso
que eu esfregue uma perna na outra para aliviar um pouco a tensão.
Para o provocar, empino um pouco mais a bunda. E depois de uma
semana sem ele, se tentar mais uma vez o sexo anal não vou
impedir, porque quero, e quero muito que aconteça. Só não
aconteceu ainda porque eu estava fazendo charme para que
comesse as paredes de desejo.
— Vai me deixar de fora da festa? — questiono.
— Não faria isso. Você é a principal convidada — diz,
então se levanta e vem lindo, loiro e nu para mim.
Fico até mais disposta quando penso no que falou sobre
eu ser a única ocupando a sua cama no momento. Não estava
sendo uma idiota, como é boa essa percepção.
— Sentiu saudades? — Ele está atrás de mim com um
braço em volta da minha cintura, a outra mão cheia no meu peito e o
cacete entre os lados da minha bunda, movendo-se bem devagar
enquanto fala no meu ouvido.
— Como se fosse um ano sem o ter em mim. — Levo a
mão para trás e finco as unhas na sua bunda, tentando deixar-nos
mais colados, embora seja impossível, dada a situação em que
estamos.
— Agora terá até se fartar, minha safada, porque não
pretendo sair de cima de você durante esses dois dias. Está presa a
mim, e só terá direito a pão, água e sexo.
— Posso viver com isso — digo ao mover o quadril,
provocando o seu pau.
— Que bom que aceita o seu destino, amor. — No meio
das provocações sexuais, a palavra “amor” faz as minhas pernas
ficarem bambas, mas deixo de lado. — Assim será mais fácil e,
certamente, mais prazeroso.
Então John Harper enfia o seu pau grande por trás na
minha boceta. Não vai aos poucos, com calma ou delicadeza. Enfia
todinho com uma única arremetida.
— Seu bruto — reclamo, mas logo emendo —, que
delícia.
John, eu e sexo somos assim: sem delicadeza, mas
gostoso além da razão.
E com o homem as minhas costas, sendo prensada na
grade, me sinto viva. Não me importo com nada, nem com o fato de
estarmos em público, embora estejamos no décimo quinto andar.
— Podem nos ver — digo por dizer. — Que delícia... —
gemo quando passa a meter com força. Do jeito que estava subindo
pelas paredes, depois de vários dias sem transar, ele vai gozar
rápido e me levará junto.
— Quem está passando ali embaixo está vendo que tem
um casal sem pudor fazendo sexo na sacada, mas não podem nos
identificar — fala, e continua metendo e beliscando o meu mamilo
com as pontas dos dedos. — Mas faça como eu, imagine que todos
podem nos ver nesse momento. Que todos saberão que Manuella
Ortega está sendo comida por John Harper, e que somos bons,
muito bons.
— Estou imaginando — digo. Até porque, estamos dando
um show.
Apesar de não dar para identificar, eles veem
perfeitamente o que está acontecendo, pois as pessoas lá embaixo,
as que passam na rua agora, simplesmente param para nos assistir.
Elas parecem fascinadas.
Eu fico com mais tesão, então levo a minha mão para o
seu pescoço e puxo a cabeça do deus loiro. As nossas bocas se
encontram em um beijo puramente sexual, onde as línguas se
buscam com sofreguidão.
— Hum... — gemo uma, duas, três e muitas vezes, e
quanto mais eu gemo, mais John acelera as estocadas. Mais
amassa o meu peito com a mão, mais puxa o meu corpo para o seu.
Estou louca de prazer, na beira de um precipício, mas o
meu homem tem mais planos e eu adoro todos eles. John sai de
mim e me vira de frente. Depois ele me segura com firmeza e enrola
as minhas pernas nos seus quadris.
Sexo olho no olho. Gosto de todas as posições, não são
poucas que experimentamos, mas não há nada como isso. Parece
que as temperaturas dos nossos corpos aumentam ainda mais.
— Gostosa.
— Você também é gostoso, me fode, John... — peço,
então ele faz muito mais. O meu loiro leva a boca até o meu seio
esquerdo e o chupa feito um bebê com fome, mordisca e depois
assopra sem tirar os olhos dos meus.
— Goze para mim? — Pede e leva os dedos para o meu
clitóris. Metendo sem sentido, perseguindo o seu próprio prazer
absoluto, o meu chefe acelera as penetrações, e essa posição
permite que ele vá mais fundo. Eu o sinto em cada terminação do
meu corpo.
— Manuella! — ele grita para o vento quando se derrama
dentro de mim. E sentindo o seu esperma quente e viscoso me
enchendo, além do pau grande que me estica, gozo junto.
Nos abraçamos por um tempo, como fazemos quando
vem forte demais, um sentindo o coração do outro aos murros. Os
suores dos nossos corpos se misturando. E aqui está muito gostoso
por causa do vento frio beijando as nossas peles.
— Eu estava mesmo com saudade de você — diz quando
afasta a cabeça do meu pescoço.
— Eu percebi — brinco, então nos beijamos mais uma
vez, calma e lentamente, com os olhos abertos. Um encarando o
outro, falando tudo e nada ao mesmo tempo, pois não pode ser de
outra forma.
Ficamos tanto tempo nos beijando que ele acaba ficando
animado novamente. Sinto o seu pau endurecendo contra a minha
barriga, e saber que é por mim é o suficiente para me animar mais
uma vez.
Não sei se é o lugar, ou o fato de estarmos fazendo as
“pazes”, mas me sinto especialmente ousada e disposta a fazer tudo
com ele.
— Se me levar para a cama agora, eu posso pensar em
liberar o sexo anal — falo no seu ouvido. John arregala os olhos
surpresos e solta:
— Eu te amo, porra!
Ficamos em silêncio por alguns segundos, mas depois eu
mesma o distraio, porque sei que não é sério, que falou pela
emoção.
— Tem que ser agora, é pegar ou largar.
— Você foi feita para mim, mulher! — Ele beija os meus
lábios e me pega em seus braços. Mais uma vez não dou
importância para às suas palavras. É melhor assim.
O meu chefe me deita de bruços na cama e logo começa
a me beijar. Sei que está me preparando para o que virá a seguir.
Começa pelo meu pescoço, depois vai descendo com carinho e
paciência para as minhas costas, fazendo elogios que toda mulher
merece ouvir não só nesse, mas em todos os momentos.
— Você é linda. O prazer que sinto com você, nunca senti
com mulher nenhuma — diz. — Prometo que vou te fazer gozar
gostoso.
— Sei que vai. Você é o senhor sexo bom — provoco,
John bate na minha bunda.
— Fique quietinha — pede e vai para o banheiro.
— Isso aqui deve servir — fala e joga o óleo corporal na
cama. Depois paira com o corpo sobro o meu, sem colocar seu peso
em mim. Segue me beijando, até que sua mão se coloca entre o
meu quadril e o colchão.
Os seus dedos encontram o meu sexo liso, todo
lambuzado pelo esperma, pois depois que falei do DIU a gente não
transou mais com preservativo. Somos cuidadosos com a nossa
saúde sexual e sabíamos que podíamos confiar um no outro,
mesmo que não tivéssemos falado de exclusividade.
— Gosto de sentir ela assim, melada com a minha porra.
Toda lambuzada de mim, e vai ficar muito mais quando eu gozar no
seu cuzinho — diz as palavras no meu ouvido e acabo de ficar mais
úmida. — Me quer aqui novamente? — pergunta ao enfiar os dedos
na minha vagina. Eu apenas balanço a cabeça.
Todo em mim, John faz apenas o suficiente para me
deixar mais do que pronta, para levar os dedos melados para a
minha bunda. O homem experiente começa com um dedo, depois
passa para dois com cuidado, sem nunca deixar de me acariciar de
outras formas. Como não sou virgem, não sinto medo, mesmo que
seja maior do que o meu parceiro anterior. A vontade latente me faz
agir assim, despreocupada com as minhas próprias pregas.
— Você só precisa relaxar, amor — fala ao pressionar a
ponta robusta do pênis contra o meu orifício anal. — Sabe que no
início vai doer e será desconfortável, mas você vai pedir por mais
depois. Te prometo.
Escolho acreditar em suas palavras, mas em seguida,
quando o seu pau abre passagem, só quero que saia do meu cu.
— Eu vou morrer! — digo em voz alta, segurando nas
cobertas como se fossem botes salva-vidas.
— Não vai, minha linda morena — diz e termina de entrar
queimando. A dor está foda, mas não quero parar. Sei que tem mais
depois, e quero tudo com ele. — Está tudo bem? Não vou me mover
até que me peça — avisa.
Então eu mordo o meu lábio inferior e puxo a respiração
com cuidado até que o meu corpo se habitue minimamente com a
invasão.
Quando sinto que estou pronta, eu mesma mexo o meu
quadril e sem que precise falar mais nada, o meu loiro começa a
sair com calma. Ainda é muito ruim, mas suporto. Depois ele volta
mais devagar ainda. Levamos um tempo assim, e quando já estou
com a testa suada, a dor começa a ceder espaço para o prazer.
Sinto prazer com sua mão entre as minhas pernas,
tocando meu sexo e seu membro penetrando o meu ânus. Aos
poucos, passo a gostar muito, a querer que não seja tão cuidadoso
como no início.
Mas o loiro sabe o que faz. Ele me coloca de quatro no
meio da cama, segura-me pela cintura e, gradativamente, aumenta
o ritmo das estocadas.
— Que delícia de cuzinho, querida... — fala e arremete.
— Vai me deixar gozar nele?
— E onde mais você quiser, sou sua — afirmo, pois me
sinto assim, não me importo com as implicações.
E quando sinto que vou perder a força das minhas
pernas, que vou desabar, o loiro fica mais devagar nas penetrações,
enfia os dedos na minha boceta, intercalando com o membro na
minha bunda e me leva para a beira do precipício.
— Agora você vai gozar, baby — fala, e o meu corpo,
como se tivesse sido programado para obedecer ao seu comando,
reage. Então começo a sofrer espasmos do gozo que vem forte e,
com o sangue pegando fogo, ainda tenho força para o encontrar no
meio das arremetidas, jogando o quadril para trás.
— Gostosa do caralho! — Agora com uma mão
segurando fortemente os cabelos que ficam próximos da minha
nuca, e uma mão segurando com possessividade a minha cintura, o
meu chefe enfia o seu pau pela última vez e vai tão profundamente
que consigo ver estrelas piscando na frente dos meus olhos.
Ele goza e urra o meu nome. Não para de se mover atrás
de mim até que as sensações passem. E quando nós dois nos
acalmamos e eu caio de bruços, o homem ainda está dentro de
mim, indo e vindo preguiçosamente.
John Harper não quer se afastar, e eu também não
desejo que se afaste. Mas é inevitável, então ele se joga deitado de
costas ao meu lado e continuo de bruços sem me mexer.
— Se todas as brigas terminassem assim...
— A gente não brigou — digo, enquanto tento acalmar a
minha respiração.
— Você só deixou de transar comigo porque estava
irritada. Se tivesse sido uma briga, eu teria tido a chance de me
defender e te fazer me perdoar mais rápido.
— Não quero falar e nem lembrar daquilo. O importante é
que estamos aqui, juntos e apreciando um sexo gostoso.
Embora para mim o meu chefe seja mais do que um sexo
gostoso, prefiro o tratar como realmente é, sem ficar pensando nas
vezes em que pareceu necessitar de mim para algo além do sexo e
nas vezes que me chamou de amor. É melhor assim, não posso me
sabotar. Não dessa vez.
— Você tinha razão quando pensou que não precisaria
ter a cláusula sobre sexo no nosso acordo. De qualquer forma,
acabaríamos fazendo — diz, levanta o tronco e beija as minhas
costas.
— Pois é, acabaríamos fazendo de qualquer forma —
digo.
Falarmos sobre o contrato é bom, pois embora tenha sido
maravilhoso o que acabou de acontecer, não posso esquecer o que
realmente tem nos mantido unidos e nem que há prazo para acabar.
— Que qual eu preparar a banheira para a gente?
— Não posso pensar em nada melhor — digo, John beija
de leve os meus lábios e corre para o banheiro.
Fico lânguida, apenas descansando depois de uma
maratona sexual, pois John é o homem mais intenso com quem já
estive desde o início da minha vida sexual. Quando volta, estou
quase dormindo, mas gosto de o sentir me pegando em seus
braços.
John Harper é um homem gentil.
Eu não posso me apaixonar por você. Sei que me
destruiria. Dessa vez, sem chance de conserto.
JOHN
Depois de ter dado banho em uma Manu sonolenta, pois
exigi muito dela e sei que faço isso quando nosso sexo é mais do
que uma rapidinha no meio do expediente, agora a tenho sentada
entre as minhas pernas, com as costas contra o meu peito.
Está mais desperta dentro da água morna, espumada e
cheirosa. Estou fazendo carinhos preguiçosos que nada tem de
sexual na sua barriga.
— Me fale sobre você — peço, e surpreendo até a mim
mesmo. Sou autocentrado e nunca quis saber mais da vida de
qualquer mulher que já esteve comigo.
— Quer mesmo saber, ou está procurando assunto para
que eu não durma? — questiona, e gosto da forma que está
fazendo carinho na mesma mão que acaricia a sua barriga.
— Quer dormir? Se quiser, te coloco na cama agora
mesmo — assevero ao beijar o seu pescoço, pois tenho a
necessidade de estar sempre a tocando de alguma forma.
Terminamos de transar, mas ao invés de me sentir ao
menos um pouco satisfeito, a necessidade aumenta.
— Ainda não — diz. — Se a minha história for chata
demais, me avise que dou uma resumida — brinca. — Mas depois
quero saber mais de você também — afirma.
— Não tem nada de interessante que já não saiba, mas
prometo que conto o que quiser saber.
E assim, colados dentro da banheira grande, ficamos
conversando madrugada adentro. Gosto de ouvir cada pequeno
detalhe de sua vida. Da infância feliz sendo filha única e da chegada
de uma irmã quando estava entrando na fase da adolescência.
Entendo e acho admirável o amor que demonstra sentir pela mãe.
Manuella fala que seria capaz de fazer qualquer coisa
pelas duas, e eu acredito piamente em suas palavras.
Reluta, mas insisto até que me conte sobre os seus
namorados. Ela diz que foram muitos antes de se casar e ficar presa
em uma relação insossa durante nove anos. Não entra na minha
cabeça o que levaria uma mulher tão linda, forte e dona de si a se
submeter a algo que não era bom para ela de nenhuma maneira.
Mas não digo o que penso, afinal, quem sou eu?
Já passou, e graças a idiotice de um homem, ela está
aqui comigo. Um não, dois homens.
Tanto eu quanto ela ficamos um pouco desconfortáveis
quando ela começa a citar o namoro de poucos meses com o Dante
Dutra. Manuella se limita a dizer que ele era um homem bonito que
surgiu na sua vida em um momento que estava na fossa. Fala como
se tivesse sido um erro, e concordo que foi, já que não estão juntos.
Só não entendo o porquê de o tratar bem, mesmo
demonstrando que sente alguma mágoa. Na verdade, há muitas
coisas que não dá para entender da estranha relação, porque
praticamente não fala sobre ela. Rapidamente, Manu muda o tópico
da conversa e tento não me importar, afinal, acabou para Dante
Dutra. E mesmo que não queira aceitar, Manuella está comigo. Pelo
menos por enquanto.
Sempre que falamos sobre o nosso acordo, Manuella não
faz nenhuma questão de dizer qual foi a finalidade que deu para o
dinheiro, se é que deu alguma. Ela não parece ser uma pessoa
movida pelo dinheiro e, vez ou outra, a questão surge na minha
mente. Poderia apostar que existe um bom motivo para ter aceitado
essa farsa.
E mesmo se tiver sido por ambição, não muda em nada o
que sinto por ela, pois eu mesmo sou uma pessoa cheia de
ambições, e faço o que é preciso em nome dela.
— Será que a sua mãe vai gostar de mim? — pergunta.
Agora está sentada em cima das minhas pernas de frente
para mim, e continua não tendo nada sexual nos nossos carinhos.
Acabamos de falar sobre a sua vida. Agora a pauta mudou para
mim.
— Quer a resposta sincera, ou a que soe melhor aos
ouvidos? — brinco, mas não deixo de estar a preparando para o
futuro.
— A verdade. Tenho que estar preparada.
— A dona Alicia Harper é uma mulher de cinquenta anos
que esqueceu de crescer depois que fez vinte anos. Ela gosta de
julgar pela aparência muitas vezes. Gosta de viajar, de carros de
luxo e dinheiro.
— E mesmo assim, você a ama — Manu fala, enquanto
faz carinho na minha nuca.
— Amo, afinal, é a minha mãe. Mas também não posso
dizer que foi a melhor do mundo, pois ela passou mais tempo
viajando do que comigo enquanto eu crescia. Fui criado pelos meus
avós praticamente.
— Pobre menino rico — provoca e beija entre as minhas
sobrancelhas com carinho.
Quando quer, essa mulher é uma fofa. O homem que
tiver a sorte de a ter por mais tempo em sua vida será realizado.
— E quanto a gostar de você, pode ser que estranhe a
escolha que fiz no início — digo.
— Por quê?
— Você é diferente das mulheres com que costumo ser
flagrado por aí. É toda natural. Se eu soubesse que era tão bom,
teria experimentado antes — brinco e ganho um tapa seco no braço.
— É mais velha, embora pareça uma menina, e trabalhadora.
Mamãe nem sabe o significado da palavra trabalho. Depois vai te
amar e apoiar o nosso casamento.
— Espero que não apoie demais, porque estou
preocupada com a sua avó — ela fala.
Realmente, a minha avó gosta muito da minha suposta
noiva, e hoje já não sei se os planos estão mesmo saindo da forma
como deveriam. Por outro lado, posso me preocupar com os
sentimentos da vovó depois que alcançar o meu objetivo.
— O que a gente combinou sobre apenas aproveitar? —
digo, fugindo como posso de assuntos que não são sobre nós dois
nesses poucos dias em que ficaremos sozinhos.
De repente, comecei a sentir a necessidade de apenas
viver o agora. Pensar em trabalho quando for extremamente
necessário.
— Apenas aproveitar, querido — diz e gosto mais do que
deveria do “querido”.
— Nossa, não acredito que a gata de unhas afiadas que
conheci sabe ser carinhosa — a provoco e levo os dedos para as
suas costelas. — Tão irritadinha.
— Porque você merecia!
— Espero que aceite que merece isso também.
Começo a fazer cócegas leves e a sua risada alta faz as
minhas entranhas se revirarem com algo que não sei explicar, mas é
bom e me toca fundo.
E quando, com o dia quase amanhecendo, finalmente
nos deitamos na cama de casal, a gente simplesmente se encaixa.
Ela se deita de lado e eu me posiciono às suas costas, a abraçando
pela cintura. Pela primeira vez, em vinte e nove anos, durmo de
conchinha com uma mulher, mas sinto como se fosse costumeiro.
Uma vida inteira dormindo com o calor do corpo dessa mulher linda.
E durante os dois dias seguintes, cujos compromissos de
trabalho foram curtos e breves, Manu e eu de fato ficamos juntos
sem nos preocuparmos com nada além do momento. Entre
passeios, geralmente pelos locais escolhidos por ela, e dormirmos
abraçados depois do sexo, a viagem foi mais do que parecia que
seria e do que deveria ter sido.
Nos tornamos próximos, e agora que estamos voltando
para casa, lado a lado nos assentos do avião, gostaria de ter ficado
um pouco mais. Descobri como é bom às vezes se permitir apenas
relaxar e aproveitar a companhia de alguém.
— Manu, tenho que fazer uma confissão, mas tem que
prometer que não vai ficar brava comigo — digo quando o avião
decola.
— Se está pedindo, sei que vou ficar. Fale de uma vez, o
que aprontou?
— Eu armei para que a gente dividisse o mesmo quarto
— confesso, a mulher nem parece surpresa ou irritada.
— Eu já suspeitava, porque aquela confusão com os
quartos foi muito estranha — diz.
— E por que eu ainda tenho um pau entre as pernas?
— Porque eu gosto muito dele. Apesar de ter tentado me
enrolar, aviso que não conseguirá, pois sou tão esperta quanto
você, fez por um bom motivo. No fim das contas, amei ter ficado na
suíte com você. — Ela está mansa e com um sorriso tatuado no
rosto.
Mas também, depois de tantos bons passeios e sexo de
qualidade, até eu ficaria assim.
— Já que não está com raiva, por que não se senta aqui
no meu colo rapidinho?
— John, estamos em um avião, temos que manter a
compost... — Antes que tenha chance de terminar o discurso, abro o
seu cinto, a puxo para cima das minhas pernas e a beijo.
Estamos sozinhos em um jatinho particular da família.
Antes de pousarmos, vou foder mais uma vez a sua boceta, porque
preciso aproveitar cada oportunidade que tenho até chegarmos em
casa.
Agora que a viagem acabou, sinto que as próximas
semanas serão bastante agitadas. Está chegando o momento de
grandes movimentos para o xeque-mate, e vou precisar muito da
Manuella como aliada. E por mais que sinta que estou obcecado por
ela, tenho um alvo e ele não mudou de lugar.
Manuella é a mulher perfeita para mim, mas, no
momento, não é a minha prioridade.
CAPÍTULO 28
MANUELLA
— Tem certeza de que não irei passar vergonha, filha? —
A minha mãe, mesmo que saiba que é tudo mentira, quer fazer
bonito na frente da família do meu chefe e suposto namorado.
Ela dedicou as últimas duas semanas para fazer vestidos
perfeitos para nós duas e, ainda assim, está insegura. Não deveria,
pois é a melhor costureira que conheço, e nenhum vestido caro
comprado em uma loja seria mais bonito do que o vermelho tomara
que caia e de comprimento um pouco acima do joelho que fez para
mim.
Deveria estar usando o verde que a senhora Érika me
deu para a ocasião, mas simplesmente não pude sequer pensar em
usá-lo hoje. Espero que ela me entenda.
— A senhora está ótima, mamãe. Nós três estamos —
digo quando saímos do táxi. Dessa vez não trouxe o Tito, pois iria
contra a mentira que conto em casa de que o seu papel é me buscar
e deixar em casa depois do trabalho.
— Espero que esteja certa e tenha aprendido alguma
coisa com essa gente rica, Manu — Mika fala quando olha
deslumbrada para a mansão dos Harper. A mesma reação que tive
quando vi pela primeira vez.
A gente entra. E enquanto elas caminham em silêncio,
observando cada detalhe da propriedade que é uma realidade
completamente diferente da que nós três vivemos, aproveito para
tentar acalmar o meu próprio nervosismo, pois nem de longe estou
tranquila quanto tento mostrar para as duas.
As últimas duas semanas foram uma loucura, e estive me
preparando para esse jantar desde o dia em que John e eu
chegamos de viagem. Assim que me deixou na porta de casa,
depois de quase não ter conseguido desgrudar a boca da minha,
meu chefe avisou que sua avó começaria a pressionar por um jantar
entre as duas famílias.
E foi exatamente o que a Érika fez. Logo na segunda-
feira recebi a sua ligação, dizendo que gostaria de conhecer a
minha mãe e a minha irmã. Deixei a data nas suas mãos e, ao
marcar para hoje, ficou a sensação de que a mulher sabia dos
prazos que o seu neto e eu combinamos para cada passo do nosso
suposto relacionamento.
Ter ido para Gramado com o meu chefe, onde fui feliz
como nunca havia sido, foi como uma espécie de preparação para o
que viria depois, pois foi só colocar os pés na construtora para a
pressão e o peso do que estou fazendo pesasse nos meus ombros.
As minhas amigas são a parte leve da minha rotina. Elas
estão contentes que eu esteja supostamente representando a nossa
classe ao ter fisgado o chefe. Me divirto contando sobre as nossas
aventuras sexuais com detalhes.
Os momentos mais difíceis ficam por conta do Tales.
Esse, sempre que pode, me interpela para me pressionar, para
tentar me fazer confessar que a minha relação com o John não é
real. Não sei se é porque está fazendo o mesmo que o primo, ou se
tem uma intuição muito boa, mas o homem está convicto de que
John e eu estamos armando.
Mas está desesperado, porque está vendo que o John
passou na sua frente, tanto em competência quanto em dar à avó
de ambos o homem supostamente comprometido com o amor que
ela tanto quer.
Sempre que saio de uma conversa séria com Tales, conto
para o poderoso chefinho sobre cada palavra dita e ele me ajuda a
relaxar da melhor maneira que pode. O sexo ajuda mais do que as
palavras garantidoras de que está tudo sob controle.
A pressão constante e a aproximação do desfecho que
John Harper almeja acabam amenizando o impacto que a viagem
causou em mim. É claro que da minha parte existe o vício no sexo
bom, o fascínio pela beleza e inteligência do loiro. A cada dia que
passa, mais perto da beira de um precipício me sinto. Desejo me
jogar, mas saber que para ele é diferente me mantém com os pés
no chão.
Todos os dias, mesmo que a gente se dê bem, que
troquemos mensagens quando não estamos juntos e façamos sexo
constante, ele se mostra mais focado no seu objetivo. E quanto mais
focado John Harper fica, menos chance eu tenho de me esquecer
que não sou nada mais do que o sexo fácil e útil. A sua parceira de
crime. Um meio para o fim.
E quando o fim chegar, sei que está chegando, pois a
empresa já está quase sem presidente, porque o Jonathan não
anda fazendo muito bem o seu trabalho em seus últimos dias no
comando, não estarei ao lado do meu chefe vendo a sua vitória.
Quando ele se aquietar de verdade, como é o sonho da
sua avó, e descobri nas nossas conversas que não é só por causa
da empresa, e sim porque o ama e quer que seja feliz, não serei a
sua escolhida.
O que mais me angustia é que existe uma parte tola
minha que queria estar ao seu lado, que fosse de verdade. Seria tão
menos difícil mentir para essas pessoas se não tivesse caído na
armadilha que nós dois criamos
Minto, e obrigo minha família a fazer o mesmo.
Me perdi em devaneios, e só me dou conta de que
chegamos ao destino quando estamos sendo recebidos de maneira
educada, porém contida, porque os ricos são contidos, pela senhora
Érika.
O meu namorado está ao seu lado, mas logo vem até
mim e me abraça. Ele se acostumou a dar um beijo no meu pescoço
ao final de cada toque, e quando faz assim me esqueço que não é
real.
— Está linda, querida — o elogio é finalizado com uma
olhada lenta da minha cabeça aos pés —, mas prefiro quando não
está vestindo nada — sussurra no meu ouvido.
Nós estamos alheios ao que acontece ao nosso redor, e
cabe a minha família e a sua se apresentarem sem a nossa ajuda.
— Está tudo bem? — pergunta. Deve estar querendo
saber se estou preparada para fazer o papel para o qual estou
sendo bem paga. — Estou te sentindo tensa.
— Não se preocupe, eu sei o que tenho que fazer. Não
farei nada fora do combinado. Sou a sua namorada e estamos
apaixonados — falo com frieza e praticidade, como tem que ser,
jogando bobagens sem propósito sobre sentimentos para o fundo da
mente.
— Manuella...
— Como você está linda — a avó do meu chefe
interrompe, antes que ele tenha chance de dizer mais do que o meu
nome. — Sei que ama a sua namorada e que quer ficar o tempo
todo grudado nela, mas hoje é dia de apresentações, querido — a
senhora fala e me leva com ela.
Enquanto sou levada, olho por cima do ombro. As três
pessoas que estou abandonando são as únicas que sabem sobre a
farsa.
A sala está relativamente cheia, e me surpreendo com o
quanto a família Harper é grande. Logo que me vê, uma mulher
muito bonita com cabelos loiros platinados vem me cumprimentar.
Deve estar na casa dos cinquenta anos e, pela forma curiosa como
me olha, aposto que é a mãe do John.
— Finalmente estou conhecendo uma namorada do meu
filho — ela diz. — Ele está de parabéns, porque você é muito bonita.
Uma mulher de verdade, não como uma das Barbies por quem
costumava se interessar.
— Obrigada, você é muito gentil — digo. Aposto que não
gostaria de ser tratada por “senhora”.
John estava errado, a sua mãe gosta de mim. E mesmo
que os minutos que passamos conversando, onde conto mentiras
convincentes sobre o nosso relacionamento, não sejam longos,
gosto dela também. Como não gostar de uma pessoa tão de bem
com a vida?
O meu chefe, por outro lado, fica incumbido de
apresentar a minha família para os outros membros da sua.
Estamos dando um espetáculo aqui, e a cada sorriso de alegria que
vejo no rosto da senhora Érika, e até no do senhor Gregory, que é
mais contido, pior me sinto.
Com menos de meia hora de show, só quero que ele
acabe. Quero me esconder debaixo das minhas cobertas como uma
criança e só sair quando tudo isso acabar.
Para piorar, o idiota do Tales não tira os olhos de mim.
Sem se aproximar, sem dizer uma palavra, o homem faz com que
eu queira confessar todos os meus pecados. Como se estivesse
lendo os meus pensamentos, como se sentisse o meu desconforto,
o loiro vem para perto de mim.
— Acho que já fiquei tempo demais longe da minha
namorada — ele me abraça e relaxo. É contraditório, pois ao
mesmo tempo que é a causa da minha tensão, John Harper também
é o antídoto para as minhas angústias.
— Demorou, mas escolheu certo, não é, querido?
— Eu sempre acerto, mãe — ele pisca para ela e me leva
para um canto.
Olho em busca da minha mãe e vejo ela em uma
conversa animada com a senhora Érika. Parece que estão se dando
bem e me pergunto se, assim como eu, mamãe se esqueceu de que
é tudo cena. Essas pessoas não farão parte de nossas vidas.
Mika está conversando com um rapaz da sua idade.
Provavelmente tentando fisgar alguém que pague o jantar quando
saírem. Essa menina não tem jeito!
— Parece que o jantar está sendo um sucesso — eu falo.
— Mas você não parece feliz — John rebate.
— Só estou tensa. Pode não parecer, mas não tenho o
costume de mentir. Ainda mais com tanta naturalidade — aviso.
— Quer que eu te ajude a relaxar?
— Não, obrigada — digo, e mesmo assim sou beijada.
John não se importa com as nossas famílias quando me
beija de maneira pouco discreta durante vários minutos. Mas se a
sua intenção era mesmo me ajudar, conseguiu com louvor, pois
enquanto nos beijamos, ou mesmo quando acaba e começamos a
circular de mãos dadas, me sinto muito melhor.
Relaxo e curto como se estivesse em um jantar qualquer
até o momento em que todos os convidados se dirigem para a mesa
de jantar. Antes de mais nada, Érika faz o discurso sobre o motivo
da reunião familiar, e a forma como está feliz é apenas uma prova
do quanto se importa com o neto. Envolver o que John tanto queria
foi a sua forma de fazê-lo se aquietar e pensar em formar uma
família.
Eu não duvido de mais nada.
E depois que a senhora acaba, o meu corpo entra em
transe, pois finalmente chegou a grande cena, o momento mais
importante da noite. O motivo pelo qual o acordo existe.
— Antes de atacarmos a comida, queria falar rapidinho,
vovó — diz, ela acena em concordância. — Eu estou realmente
apaixonado por essa linda mulher. — Não existe motivo para eu
estar sem jeito. — E confesso que estou um pouco surpreso com o
quanto a paixão pode ser urgente. Ela arde no coração e não
permite mais que a pessoa espere.
“Eu não quero esperar, porque tenho certeza do que
desejo. E hoje, mesmo que para o mundo pareça que estou indo
rápido demais, quero pedir a sua mão em casamento. Case-se
comigo, Manuella Ortega. Seja a minha mulher e me torne o homem
mais feliz do mundo”
O silêncio reina, eu não tenho coragem de olhar para as
pessoas. Mas os meus olhos estão ardendo, tem um nó na minha
garganta, porque as suas palavras foram lindas, e quem me dera
fossem reais.
— Eu aceito — digo, então ele tira um anel lindo com
uma pedra de diamante e o coloca no meu dado.
As pessoas aplaudem muito enquanto o loiro me abraça
e beija meus lábios. Quando as palmas acabam, John Harper,
sentado ao meu lado, faz um carinho no meu rosto e diz:
— Eu te amo.
— Eu...
Tento forçar a minha fala, mas as palavras não saem.
Elas não podem sair, porque as valorizo demais para que possa
dizê-las de maneira mentirosa e com o intuito de enganar. Mas ele é
rápido e, ao perceber o meu desconforto, me beija novamente.
O beijo que se inicia serve para desviar a atenção das
pessoas sentadas à mesa. Então é isso, tudo saiu como o
esperado. Como combinamos em cada detalhe e até ensaiamos,
mas não imaginei que fosse ficar tão mexida, provavelmente, da
forma que ficaria se fosse real.
A sua avó não está se aguentando de felicidade, os seus
pais e o resto da família, apesar de surpresos com o pedido
repentino, acreditam piamente que estamos apaixonados o
suficiente para termos pressa.
O jantar parece insosso na minha boca, e depois que
deixamos a mesa e todos voltam a se confraternizar e a nos dar os
parabéns pelo noivado, congelo um sorriso no meu rosto, que não
se desfaz até que a noite termine.
— Eu realmente não esperava, mas confesso que estou
muito contente — Érika fala enquanto nos despedimos. — Espero
que esse casamento não demore para acontecer. Antes de morrer,
quero ver meus bisnetos correndo por essa casa. — Érika fala, e eu
chego no meu limite.
— Vovó, assim a senhora vai assustar a minha noiva —
John fala ao beijar o meu rosto.
— Foi um prazer conhecer toda a família do meu futuro
genro, mas está na nossa hora. A minha filha está cansada, não é
mesmo, querida?
Conhecendo-me como ninguém, Abigail intervém. Além
do mais, é uma excelente atriz, pois ela e o John sequer trocaram
mais do que uma palavra antes de hoje. Pelas circunstâncias,
mamãe nem vai com a cara dele.
— Bastante — digo ao dar um sorriso fraco.
— Tem certeza de que não quer que eu acompanhe
vocês? — indaga.
— Não. E obrigada pelo motorista — beijo os seus lábios
de leve e me afasto com dona Abigail e Mika.
Sei que ele queria ter tido a oportunidade de falar comigo
a sós mais um pouco, mas não tenho condições. Não hoje. A curta
viagem é feita em silêncio. Ao chegarmos em casa, tenho toda a
intenção de ir direto para o quarto, mas a minha mãe não deixa.
— Você está triste, não é?
— Cansada — minto.
— Sente-se aqui, filha — Abigail me puxa para o sofá.
— Vou para o quarto, porque essa noite foi demais —
Mika fala. Ela é tão fora da realidade que é a única pessoa feliz
aqui.
— Você não imaginava que seria assim quando aceitou o
acordo? — A senhora pergunta. — Mentir não é fácil, filha, não para
as pessoas honestas.
— Não é só pela mentira — confesso. — Eu gosto mais
do que deveria daquele homem, mãe. A gente está junto, e mesmo
que eu saiba que não é nada sério, que tenha mantido na minha
mente a verdade de que era só um acordo, acabei me envolvendo
sentimentalmente.
— Manuella, por que você faz isso com você mesma? —
Não gosto da pena que vejo no seu rosto. — Está sempre se
sabotando. Primeiro com aquele casamento fracassado. Depois
com o Dante que te agredia!
— Ele... não foi por mal — ela sabe que esse assunto me
faz mal e, mesmo assim, sempre volta para ele. — Foi um acidente.
Não foi só um acidente. As palavras estão gravadas na
minha mente, mas nunca são as que deixam a minha boca.
— Sempre é um acidente, filha. É isso que homens como
ele querem fazer mulheres como você pensarem.
— Já chega, mãe! — digo e me levanto. — Dessa vez vai
ser diferente, porque John nunca vai saber que gosto dele. O acordo
vai acabar e vou pegar o dinheiro que me dará e sumirei da vida
dessa gente para sempre.
— Faça isso, filha. Estivemos no mesmo jantar e vimos
que aquelas pessoas, apesar de terem sido gentis, não têm nada a
ver com a nossa realidade. John Harper é um perigo que você não
precisa correr, ouça a sua mãe — diz.
— Eu sei — digo, beijo o seu rosto e me retiro para o
quarto.
Felizmente, Mika está entretida com o seu celular, pois
não quero mais falar hoje. Depois de um tempo debaixo da água
morna, deito-me, mas não consigo dormir. Não consigo nem mesmo
chorar, algo de que não reclamaria hoje, não se fosse para aliviar o
peso do meu coração.
CAPÍTULO 29
JOHN
E aqui estou eu, trabalhando no meu escritório em plena
manhã de segunda-feira como todas as outras segundas quando,
de repente...
Caralho! Eu estou noivo. Coloquei uma aliança no dedo
de uma mulher e não estou surtando com isso. É claro que não é
sério, mas, ainda assim, levo a questão mais numa boa do que
pensei. Imaginava que fosse sentir calafrios quando o momento
chegasse, que fosse sofrer só de imaginar tudo em uma realidade
que não fosse fingimento.
Mas a verdade é que eu estou me sentindo lesado. Sabe
aquilo de “ganhou, mas não vai levar?” Estou assim há exatos oito
dias do caralho!
Depois de eu ter preparado Manu para o que viria, assim
que voltamos de Gramado, tudo aconteceu como o esperado, e o
meu teatro ao pedi-la em casamento, um pedido surpresa, para
todos os efeitos, foi digno do Oscar. Eu treinei durante vários dias
aquelas palavras bonitas ditas diante das nossas famílias, mas o
que senti quando as proferi não parecia fingimento.
O que vi nos seus olhos não pareceu fingimento. Manu
estava teoricamente sendo pedida em casamento, mas não
conseguiu esconder a tristeza e a falta de ânimo. Não de mim, que
já a conheço bem. Não da sua família.
Mas como os planos estão dando mais certo do que o
esperado, escolhi fingir que estava vendo coisas onde não tinham.
Acreditei que ela só estava incomodada pela mentira, afinal, e
apesar de nunca ter aberto a boca para reclamar, eu sei que não
gosta do que estamos fazendo.
Por que aceitou o dinheiro? Não sabia que o acordo era
sobre mentir para todos?
Talvez, e só agora dou alguma importância para o
assunto, haja mesmo algum motivo que não seja apenas a ambição
para ela estar comigo nesse acordo de relacionamento de fachada.
O sexo que fazemos é real. Gosto dela de verdade, mas
com certeza não a amo. Falei as palavras de maneira natural e não
ouvi as mesmas saindo de sua boca, embora, devo confessar, tenha
desejado ouvi-las. Também não estou ansioso para me casar e,
ainda assim, não deixo de pensar nela.
O que está acontecendo aqui é só mais um episódio dos
muitos em que paro de fazer algo importante para pensar na minha
noivinha que, mais uma vez, se afastou de mim.
Ela é insuportável e, mesmo assim, tudo o que Manuella
faz tem o poder de me afetar de alguma forma. No momento, por
exemplo, não quero aceitar as suas desculpas para não me deixar
tocá-la nos últimos dias. Está muito arisca e fria, mas o fenômeno só
ocorre quando fala comigo, pois daqui consigo ouvir a sua risada
gostosa com as outras mulheres do andar.
A pior parte é saber que, mesmo que queira, não posso
fazer cobranças, afinal, não temos nada sério. É apenas um caso
que envolve sexo consensual e sem compromisso. Se nos últimos
dias não tem estado disposta, eu deveria aceitar, não é?
Manuella foi o melhor investimento que fiz na minha vida.
Apostei muito no acordo quando a ideia surgiu, mas nem
nos meus melhores sonhos imaginei que ela se tornaria a escolha
perfeita. Tinha que ser Manuella Ortega. E mesmo com tudo dando
certo, tendo quase certeza de que o meu priminho não tem mais
chance alguma, não estou cem por cento satisfeito.
Em outros tempos, eu já teria me cansado de sua boceta
e partido para outra, mas aqui estou eu, frustrado por estar sendo
ignorado. E não é só pelo sexo maravilhoso. Estou sentindo falta de
quando a morena sorria para mim e tornava os meus dias mais
quentes em todos os sentidos.
Percebo que estou sentindo falta das conversas que
tínhamos, que se tornaram tão mais pessoais depois que viajamos
juntos para Gramado.
— Que cara é essa? — A voz do Pietro, e sua figura feia
parada na minha frente, quase me fazem cair da cadeira.
— Que susto, porra!
— Notei que estava longe. Nem notou a minha presença
— diz ao se sentar. Não esperou pelo convite. — O engraçado é
que está acontecendo a mesma coisa com a miss Colômbia.
— Ela te disse alguma coisa? — pergunto, interessado na
conversa, agora que falou sobre a minha secretária.
— Tenho a sua atenção agora, galã? — debocha. Pietro
ama o fato de eu estar na bad.
Nunca me viu perder mais de que um pensamento por
causa de mulher, então a morena infernal surgiu como uma praga e
colocou o meu mundo de ponta-cabeça. Nem sei mais que tipo de
homem sou.
— Fale logo, caralho!
— Como é gentil. — Eu juro que vou matá-lo. — E
respondendo a sua pergunta, ela não disse nada. Nos falamos, mas
não somos melhores amigos — avisa. — Mas eu tenho prestado
atenção naquela mulher nos últimos dias, e ela não tem sido mais a
mesma. Sorri com as outras, mas quando a pego em silêncio noto
um olhar de tristeza.
— Ela está assim desde o jantar em que a pedi em
casamento — falo como se fosse um absurdo.
— É porque nem todos mentem com tanta facilidade
como você, meu amigo. Já pensou que talvez a sua secretária
possa gostar de verdade da sua avó. Pior ainda, que goste de você?
Ele tem um bom ponto.
— Não foi o combinado — falo.
— John, existem riscos nesse tipo de plano, e você sabia
disso. Estamos falando de seres humanos, e seres humanos têm
sentimentos. Até mesmo você.
— O que está querendo insinuar? — Eu sei que não vou
gostar da resposta.
— Está sendo muito afetado pelo charme da sua
secretária, barra noiva de mentira. Gosta dela e não sabe lidar com
esse fato, pois nunca viveu nada parecido antes.
— De que lado você está? — Acho importante questionar
o que acaba de dizer.
Sei que gosto da morena. Constatei isso durante a nossa
viagem. A pergunta é: o quanto gosto dela?
Porra! É apenas uma mulher, que tem uma realidade de
vida tão diferente da minha.
— Estou do seu lado e sempre estarei, mas é por te amar
como um irmão que estou te alertando. Foi bom o que fizemos,
estamos no caminho certo para o objetivo que traçamos, mas não
esqueça do que está ficando pelo caminho, meu amigo.
— Não sabia que tinha um coração — debocho do seu
conselho, típico de quem sabe que a outra pessoa está certa, mas
não quer aceitar.
— Tenho, e amo você. Só fique atento, porque não irei ao
seu socorro quando estiver destruído por causa dessa mulher —
diz.
— Não rogue praga, Pietro. Ela não vai me destruir —
assevero, mas sinto um calafrio pela forma incrédula e preocupada
como me olha. — A única coisa de que sinto falta é da boceta
quente dela — digo, olho para a porta e sinto o meu rosto perdendo
a cor quando a vejo parada me encarando.
Pietro olha para ela, e depois para mim de novo com a
sobrancelha arqueada.
Desgraça pouca é bobagem.
— Perdão por ter aberto sem avisar, mas a sua avó
acabou de me ligar para irmos almoçar juntas. Depois ela virá para
a empresa.
— Tudo bem. Obrigado — digo, olho para o seu dedo e,
por algum motivo, sinto alívio quando vejo o meu anel.
Mas o que eu esperava? Que queimasse, vendesse ou
jogasse fora?
Temos um acordo, porra!
— Ela ouviu. Você sabe, não é? — Pietro fala o óbvio.
— Por que eu não sabia que a minha avó está vindo para
a empresa? — questiono, estranhando esse fato. Quanto a sua
pergunta, prefiro não responder, pois sinto que sempre faço merda
quando se trata dela e me torno a pior versão de mim mesmo.
— Você sabe como a sua velha é imprevisível. E essa
vinda dela até aqui não pode ser coisa boa — o homem me alerta.
— Palpites do que possa ser? — pergunto, então me
atenho ao que realmente importa. A parte da minha vida onde sei
que posso ter total controle.
Deixo de lado todos os pensamentos sobre a morena e
do quanto posso ter a deixado chateada por ter falado daquela
forma. Não era para Manu ter ouvido, até porque, eu menti. Faz
tempo que não é apenas um corpo disponível, acho que nunca foi.
As horas até a chegada da minha avó passam de forma
lenta e torturante. Ela iria me pegar de surpresa, mas a minha
secretária me mandou mensagens durante o almoço das duas,
cumprindo a sua parte no acordo, então faço ideia do que vem fazer
aqui.
Estou nervoso no escritório, já faz cinco minutos que
estava chegando, mas ainda não está aqui.
— Ela está subindo. — Aparentemente nervosa como eu,
e acredito que saiba de algo que não quer me contar, e não posso a
obrigar, Manu entra no escritório para falar comigo. — Boa sorte.
— Vem aqui — peço, ela vem, mas não muito perto. —
Independente do que essa reunião pode significar...
— Aquela cadeira já é sua. Nada do que fizemos foi em
vão.
— E o que vocês dois fizeram?
Por um momento, Manu e eu viramos duas estátuas com
os corpos tensos e sem nos movermos. Mas me obrigo a me
recuperar com o instinto de sobrevivência e pensar rápido em uma
desculpa.
— Como assim, vovó? Nós dois nos dedicamos como a
boa equipe que somos. A senhora deve ter notado, depois do
sucesso que foi a viagem para Gramado e da conta ter caído nas
minhas mãos.
— Eu devo confessar que no quesito competência você é
o melhor — diz. Satisfeito, eu olho para a minha secretária, jogo
uma piscadinha e ela sorri de volta, mas o sorriso não alcança os
seus olhos.
— Bom, vou deixar vocês a sós. Ainda tenho que ver se
está tudo certo com a sala de reuniões.
Assim que Manu sai, a minha avó pergunta:
— Está tudo bem com vocês?
— Sim, por quê? — digo com rapidez.
O que foi que você fez nesse almoço, morena?
— Não sei. A sua noiva estava mais quieta. Gosta de
falar e falou pouco. Está sempre com aqueles dentes bonitos à
mostra, mas hoje mal os vi. — Pelo visto, Manu é mais transparente
do que eu imaginava.
— Vovó, todo mundo tem os seus dias ruins.
— É, talvez você tenha razão. Mas trate bem essa garota.
Dificilmente encontrará alguém como ela outra vez.
Algo me diz que ela tem toda razão.
— Gosta mesmo da minha noiva, não é?
— E não deveria? Ela é sincera, espontânea e gosta do
neto que tenho como um filho. Não teria como não a amar também.
De repente, o remorso pelo que faço vem com força.
— Vovó...
Mas o que penso em fazer? Acabar com o meu sonho por
causa de uma mulher e sentimentalismo barato?
— Vem, vamos para a sala de reuniões. Não tenho todo o
tempo do mundo para ficar aqui.
Na sala, cuja mesa grande redonda tem capacidade para
vinte pessoas sentadas, as exatas vinte que compõem o conselho
diretor, estamos eu, o Tales, a minha avó e o meu pai. Apenas as
pessoas mais interessadas e diretamente envolvidas na troca de
presidente.
Todo o conselho diretor sabia que eu era o sucessor
natural do meu pai, e essa não seria uma escolha difícil se o meu
primo não tivesse saído do seu lugar para tentar roubar o meu. E
como não existe nada que o impeça de sonhar, o seu anseio não
pôde ser ignorado.
Mas, diferente do que veio demonstrando nos últimos
meses, não parece tão confiante de que tem alguma chance contra
mim. A presidência do grupo Harper está quase nas minhas mãos.
O voto favorável da vovó vai apenas confirmar o de todo o conselho
em seguida.
— Qual a razão da reunião repentina, mamãe? — Meu
pai pergunta.
— A minha avó deve ter caído na realidade e visto que
não tem por que pensar, eu sou...
— Cale a boca, Tales. Nem você acredita nessas merdas
— falo.
— Calem-se! Os três. Não fiquem de picuinhas como se
estivessem no pátio da casa de vocês. Essa é uma empresa séria.
— Obedecemos, afinal, temos juízo. — Quanto ao fato de estarmos
reunidos aqui, gostaria de informar que estou pretendendo viajar —
avisa.
— Como assim, dona Érika? — Tales pergunta. Ela
acaba de surpreender a todos nós.
A mulher nem bem voltou ao país.
— Devo dar satisfação da minha vida para os meus netos
e meu filho? — pergunta, ficamos em silêncio. — Foi o que pensei
— fala, aproxima-se da mesa e coloca sua bolsa. A reunião será
rápida, considerando que nem mesmo nos sentamos. — A minha
amiga Lou fará bodas na Grécia e chamou o Gregory e eu para uma
semana de comemorações naquele país maravilhoso. Decidimos ir,
mas não quero deixar a questão da presidência do grupo pendente
antes de partirmos.
— E o que isso quer dizer? — Levanto a questão.
— Que daqui dois dias será a reunião do conselho para a
votação entre vocês dois, meus netos. Eu acredito que, não só
agora como durante todos os anos que se dedicaram à empresa,
tiveram oportunidades de mostrarem os seus valores e o melhor
vencerá. Boa sorte aos dois.
Por essa eu não esperava.
Há um tempo que a minha avó jogou a bomba no meu
colo e, de repente, sabendo que está tão perto, começo a me
perguntar se fiz o suficiente. O horário de expediente já está no fim,
mas não tenho vontade de voltar para casa e ficar com isso nos
meus pensamentos.
Talvez seja melhor mergulhar de cabeça no trabalho até
que fique cansado demais e seja inevitável ir embora. E depois fazer
isso pelos próximos dois dias.
Ouço uma leve batida, e como sei quando se trata da
Manu, peço que entre.
— Deu a minha hora, mas vim saber se ainda precisa de
mim para alguma coisa — diz, toda formal.
Como eu odeio quando começa a se comportar dessa
forma.
— Se a oferta inclui você deixando de ser um bloco de
gelo para se sentar no meu pau, então sim, ainda preciso de você
— falo, me levanto e caminho até ela.
Eu sempre estou caminhando na direção de Manuella
Ortega, e só agora me dou conta disso.
— Não está — diz, não se afasta, mas também não faz
nada que mostre que não quer me ver pelas costas.
— O que mudou desde o dia do nosso noivado?
— Não foi um noivado de verdade — corrige.
— Que seja. Eu fiz alguma coisa para merecer esse
gelo?
— Não fez nada. Mas a gente tinha um caso, não era?
Nunca foi sério e qualquer um de nós dois poderia parar quando
quisesse sem dar satisfação. Eu quis parar — Manu fala de um
modo tão frio, mas nem por um segundo acredito na máscara que
começou a usar nos últimos dias.
Essa mulher é quente como o fogo do inferno. Muito
passional.
— Já está transando com outro?
— E se eu estiver?
— Vou ficar com ciúme — digo.
— Não brinque comigo.
— É você quem gosta de brincar aqui, querida. Insiste
nos seus jogos de esconde. Não fala o que sente ou pensa até que
seja pressionada.
— A sua avó me contou sobre o adiantamento da reunião
com o conselho — ela muda completamente de assunto, ou, talvez,
nem tanto assim. — E tive a oportunidade de ver de perto o quanto
você é bom. E nas partes que não era, a gente deu um jeito de fazer
parecer que você é. Pode comemorar, porque já deu certo.
— Por que não parece feliz?
— Eu estou — mente. — E acredito que a gente não
precisa manter essa farsa durante os quase quatro meses que
faltam para o fim do contrato.
— Perdão? — A sua fala me tira do eixo como nada havia
tirado até hoje.
— Por que manter a mentira por tanto tempo se o objetivo
será alcançado antes? Acredito que a gente precise de apenas mais
um mês para assumir que o nosso noivado não deu certo.
— Você só pode ter enlouquecido — digo entredentes. —
Eu sugiro que cale a boca, porque não quero ouvir mais nada sobre
isso. O contrato será cumprido até o último dia.
— Se for por causa do dinheiro, eu devolvo metade e fico
com a outra parte para recomeçar a minha vida. Saio em definitivo
da sua vida, assumindo toda a culpa pelo nosso término.
— Você não vai sair da minha vida enquanto eu não falar
que pode. E te garanto que não vai poder até o fim do contrato —
assevero.
Ela quer me enlouquecer? Vem falar dessas merdas
quando estou no momento mais importante da minha vida até aqui?
— Por que está fazendo isso comigo? Não pode ser
dispensado? Também não aceitou quando nos conhecemos —
Manuella provoca irritada e, ao mesmo tempo, magoada.
— Você fica até o final. E se não veio chupar o meu pau,
a melhor coisa que sabe fazer, sugiro que saia. — Arrependo-me
assim que as palavras deixam a minha boca, mas não posso voltar
atrás.
Maldito gênio do cão! Ele me leva a dizer coisas no
momento da raiva, geralmente não é nada como me sinto de
verdade.
Se estava estranha comigo por motivos que desconheço,
agora mesmo que não terei mais a oportunidade de estar com ela
novamente. E quando viajo rapidamente com a mente para o futuro,
não consigo imaginar a minha vida sem a sua presença.
O que está acontecendo comigo?
— Eu te odeio! — Diz sem alterar o tom de voz, depois
sai da sala sem derramar uma única lágrima. Outra em seu lugar
estaria em lágrimas depois da forma idiota como agi.
Era só ter explicado de uma forma melhor que não teria
como alterar o contrato. Mas fui pego de surpresa em um momento
em que a minha cabeça já estava quente por causa da preocupação
com a decisão iminente, que vai dizer ou não se terei algo pelo que
tanto lutei.
Cansado dela e da bagunça sem sentido que faz com a
minha cabeça, decido que chegou o momento de tentar relaxar e
esquecer. Que chegou a hora de provar para o meu corpo, mente o
coração que essa mulher não é tão especial e única como parece.
— E aí, cara. Há quanto tempo que a gente não sai junto
— digo ao ligar para o primeiro nome de amigo que aparece na
minha lista de contatos. — Por que não reúne uma galera legal
naquele bar que a gente ia quando éramos mais jovens?
Por “galera legal” me refiro a mulheres. Por “bar” me
refiro a um ambiente onde homens e mulheres podem fazer o que
querem, inclusive transar em público. A única forma de exorcizar
Manuella Ortega de mim é transando com outra, ou outras. Só
assim poderei pensar em libertá-la de mim. Deixar que parta para
nunca mais voltar, sem ter a sensação de que estaria perdendo um
membro do meu corpo.
Mais tarde, descobriria que foi a pior decisão que poderia
ter tomado. Um erro que pode ser irreparável.
CAPÍTULO 30
MANUELLA
Estou orgulhosa de mim mesma e das decisões que ando
tomando, depois de ter quebrado a cara por duas vezes seguidas
com caras que foram péssimos para mim. Talvez eu tenha sido
péssima para eles também e despertei o pior que existia em cada
um.
E mesmo que esteja conseguindo me proteger
minimamente, não estou me sentindo nem um por cento melhor. O
meu lado fraco se sente compelido a pular no colo do loiro diabólico
todas as vezes que me olha com seus olhos claros esfomeados. Ou
melhor, sentia, porque depois de ontem, de ter ouvido suas merdas
duas vezes, estou ainda mais convicta de que fiz a escolha certa
quando decidi colocar distância entre a gente.
Me mantive o mais longe possível depois de ter sentido o
perigo de me machucar quando colocou o anel no meu dedo. As
palavras ofensivas, que fizeram com que me lembrasse do Dante,
abriram um buraco maior no meu coração. Naquele momento,
enquanto o ouvia me reduzindo a uma chupadora de pau, não
conseguia ver diferenças entre ele e o Dante.
E quem me dera poder acreditar que se recusou tão
veementemente a me liberar mais cedo do contrato porque gosta de
mim e deseja ficar perto pelos próximos meses. Não, o John Harper
que eu conheço só pensa nele mesmo e nessa maldita construtora.
Só não muda o nosso acordo porque não aceita se sentir rejeitado.
O fato é que não está engolindo bem o meu afastamento,
talvez porque tenha passado a vida sendo a pessoa que
dispensava, e meu pedido ontem foi visto como uma espécie de
fora.
Ele não sabe que eu daria tudo para que a gente fosse
como um casal normal, que pudéssemos de fato namorar, noivar e
casar. Quem me dera poder sonhar com um John diferente, que me
enxergasse como nenhum homem nunca enxergou. Mas ele não é
diferente do Lucas e do Dante.
Só mudou o endereço e o fato de me fazer sofrer mais
por ele do que pelos outros.
Pedir que me liberasse não foi um ato de desespero,
pensado apenas naquele momento. Não, depois do suposto pedido
de casamento surpresa, e a cada momento de fraqueza, em que
desejei ser mais do que uma mulher que se deixou ser comprada,
quis poder sumir de vez da sua vida, me esconder do fim ruim, e
algo me diz que está muito perto.
No momento em que falei, lembrei do dinheiro e de como
eu merecia ficar com pelo menos metade, pois se tivesse aceitado a
minha sugestão, teríamos cumprido três meses do trato, metade do
tempo estipulado. Com o dinheiro, eu poderia recomeçar de forma
digna e sem carregar o coração apertado no peito. Longe dessa
empresa e dessas pessoas, porque esse aqui não é, de maneira
nenhuma, o meu mundo.
Desde ontem estou tentando não pensar em como será
passar mais três meses posando de noivinha apaixonada do diretor-
presidente, John Harper. E independente dos meus sentimentos
pelo poderoso chefinho, sei que a sua chegada até o topo será
merecida. Estou infeliz, mas pelo menos terei conseguido realizar o
que fui paga para fazer quando tudo acabar.
— Manuella Ortega, o que está acontecendo com você?
A gente está te achando tão triste nos últimos dias. Não pense que
não percebemos — Ana Júlia fala, enquanto arrumamos as nossas
mesas para irmos embora.
Depois de dois dias de clima péssimo entre o meu chefe
e eu, finalmente poderei ir para a minha casa e soltar a minha
respiração. Tenho que descansar e me preparar, porque amanhã
será um dia daqueles.
— Você deveria estar mais feliz tendo esse diamante
enorme no dedo. — Diamante que logo vai deixar o meu dedo e
voltar para o verdadeiro dono, penso.
Sara fica me olhando, esperando que eu decida abrir a
boca. Mas o que tenho para contar?
Entenderiam se eu confessasse que estou mentindo esse
tempo todo? Que o chefinho e eu não temos mais do que um acordo
e sexo sem compromisso que decidi dar um basta porque estava
me apaixonando?
Poderia falar que é uma paixão sem futuro, porque só
volto a minha atenção para homens que não querem nada sério
comigo, ou que me tratam como um lixo.
— Ei, você vai chorar? — As três vêm e me abraçam.
Os meus olhos estão ardendo, mas não vou chorar. Eu
nunca choro.
— Está tudo bem, meninas. Só estou um pouco cansada.
Não é nada fácil ser noiva de John Harper. — É a melhor desculpa
que consigo pensar, então as três se afastam e sorriem.
— Sofrendo por ser mulher de um homem rico. Está aí, o
tipo de problema que eu gostaria de ter — Teresa fala, e apesar de
não ser verdade no meu caso, sorrio junto com elas.
Mas pelo menos acreditam no que digo. Uma por uma,
elas se despedem e deixam a empresa. Eu fico para trás, porque
com a rotina de entrar no escritório do John para fazer sexo depois
do nosso expediente, acabei me acostumando a ser a última das
quatro a sair do prédio.
Enquanto termino de desligar o computador e guardar
meus pertences na bolsa, vez ou outra olho na direção da sala do
John. Ele está trancado trabalhando, e tem sido assim desde o
aviso de sua avó sobre o adiantamento da reunião.
Se a gente não estivesse azedo um com o outro, se tudo
não fosse tão complicado, eu poderia entrar e fazê-lo relaxar de
uma forma que o agradaria muito. Mas não estamos bem, e nem ele
me chamou. Depois da discussão por causa do meu pedido de
encurtar o prazo, mal tem me olhado, e só nos falamos quando o
assunto é sobre trabalho.
A gente já acabou o que não deveria nem ter começado,
e eu deveria estar agradecida por isso. Vou deixar essa empresa e a
vida dele com a minha dignidade minimamente intacta.
Quando me levanto e ajeito a bolsa de couro sintético no
meu ombro, ouço o som leve de passos. Sapatos masculinos
pisando no chão. O meu coração erra a batida, mas logo um balde
de água fria cai na minha cabeça. Não é o John quem está vindo na
minha direção, mas o seu primo otário.
Se estou feliz com a ideia de o meu chefe se tornar o
maioral aqui porque merece, também estou porque significa que
esse sujeito arrogante e chato vai perder. Ele nunca deixou de me
olhar com atenção e desconfiança, mas nunca fez nada que não
fosse me pressionar, o que é muito estranho, dado o seu espírito
competitivo e vontade de ser melhor que o primo.
— Indo embora, Manuella Ortega? — Em pé e com a
bolsa no ombro, será que estou indo embora mesmo?
Uma bela maneira de puxar assunto.
Decido que não vou me dá ao trabalho de responder e,
sem abrir a boca, tento passar, mas ele entra no meu caminho e
segura o meu braço. Eu olho para a sua mão, o homem cai em si e
se afasta.
— Quer me dizer algo importante?
— Eu gosto do seu jeito, sabia? Uma mulher linda e
gostosa com a personalidade forte. São características que fazem
qualquer homem te cobiçar.
— Incluindo você? — Provoco.
Nojento.
— Principalmente eu, que não sou cego e tenho tanto
bom gosto quanto o meu primo mais novo. Você só não é esperta.
Se fosse, teria ficado do meu lado, não do dele. E eu te dei tantas
oportunidades de trocar de lado, não foi? — Indaga, e seu dedo
indicador faz um carinho indesejado no meu rosto.
— Eu sou apaixonada pelo John — afirmo, e não acredito
que esteja muito longe da verdade. — Ele é muito melhor do que
você em todos os sentidos. E sugiro que não volte mais a me
abordar se for para tentar me envenenar contra ele. John e eu... —
hesito antes de falar — nos amamos.
— Sim, com certeza o seu querido noivinho é muito
melhor do que eu. E sim, te ama muito e só tem olhos para você —
diz com malícia e me entrega o envelope pardo que carregava.
— O que é isso? — indago.
— Algo que você precisa ver, espero que se divirta,
querida — fala com falso carinho no tom de voz e passa por mim na
direção dos elevadores. Fico o observando com a batata quente na
mão. Antes de entrar na caixa de aço, diz: — Ainda dá tempo de
fazer a coisa certa.
Assim que fico sozinha novamente, olho para o envelope,
virando-o de um lado para o outro, apenas para constatar que não
tem chance de ter uma bomba dentro dele.
Mais curiosa do que deveria, sempre fui, na verdade,
volto a me aproximar da minha mesa, coloco a bolsa sobre ela e
abro o lacre do envelope.
São fotos, tiro uma pilha que deve contar com umas dez.
Logo na primeira, sinto a dor amarga da traição que não deveria
estar sentindo. Os meus olhos pinicam e eu engulo em seco. A
minha garganta dói a cada imagem que passa diante dos meus
olhos. Uma por uma rindo da minha cara, me mostrando por que
deveria ter me preservado mais.
Enquanto eu me afastava para preservar o que restava
do meu coração, que já apanhou tanto que está calejado, enquanto
sofria em silêncio por ter perdido a capacidade de separar por
completo o que era real do que era mentira, John Harper estava se
divertindo e seguindo a sua vida como sempre fez. Como todo
homem que é solteiro deve fazer.
Nas fotos, o meu chefe estava em um lugar rodeado de
pessoas e bebidas. Parecia sofisticado, do estilo que eu não
colocaria meus pés nem mesmo na calçada. As “pessoas” eram
mais mulheres do que homens. Tanto é que ele conseguiu pegar
duas loiras, exatamente o perfil de mulher que sempre acreditei que
fazia o seu tipo.
As fotos seguem uma sequência e foram organizadas de
maneira lógica para que a suposta chifruda pudesse entender sem
sombra de dúvida sobre o que rolou na ocasião. Imagens em alta
resolução de John beijando uma loira mais jovem, depois ele
beijando duas loiras, sendo que uma estava no seu colo.
E em cada imagem vejo o seu sorriso frouxo, porque
claramente está bêbado. Umas mostram o beijo triplo e nas piores,
as que fazem algo no meu maldito coração partir, ele está jogado no
sofá com o membro de fora, sendo chupado por duas mulheres que
não eram as mesmas do beijo.
Se o que estou sentindo for um indício do fim, acho que
estou morrendo. Tento puxar a respiração, mas meu peito dói pelo
esforço. Na verdade, a minha cabeça começa a latejar, algo com
que convivo há um tempo, pois apesar de não me permitir chorar,
sinto vontade muitas vezes.
E não tem nada de errado com o que vi, não é?
A única errada sou eu por ser tola. Por ter me dado conta
de algo tão simples que era enxergar a realidade como ela era. As
fotos são apenas uma constatação do que eu já sabia. Mesmo na
viagem e em outros momentos em que John Harper parecia que
gostava um pouco de mim, ele só estava enfeitiçado pelo sexo.
E quando parece que sente a necessidade de me ter por
perto, é apenas para ele mesmo ter a chance de me dispensar,
talvez como uma espécie de vingança pelas vezes que me neguei a
ele.
Ergo a cabeça tentando me agarrar a minha dignidade, e
tenho em mim a certeza de que, aos trinta e dois anos, não será
dessa vez que vou morrer por causa de um coração partido. Guardo
as fotos na bolsa e deixo o prédio.
Estou perdida e sem saber como vou continuar ao lado
desse homem depois de tudo, mas não será hoje que vou conseguir
encontrar uma saída.
JOHN
Com a cabeça latejando, depois de ter ficado tanto tempo
com o rosto na frente do computador, levanto-me, estico o meu
corpo e decido ir para casa. Diferente de ontem, não vou ficar até
mais tarde trabalhando para conter a minha ansiedade.
Vou até a garrafa que fica aqui na mesa e tomo um
pequeno gole de whisky. Depois desligo tudo, não arrumo a minha
mesa, porque é uma desculpa para Manu vir até mim amanhã cedo
quando chegar.
Manuella. Eu não quero pensar nela, não depois do que
constatei.
Ao me aproximar da porta, vejo um envelope no chão e
acho muito estranho. Sem pensar duas vezes, o pego e o abro. O
conteúdo dentro dele faz o sangue gelar nas minhas veias, se me
olhasse no espelho, veria o meu rosto pálido.
Essas imagens são muito, mas muito ruins. E o que elas
são além das provas de uma tentativa descuidada e desesperada
de provar para mim mesmo que ela não era tão importante para
mim e que eu não estava gostando pela primeira vez de uma
mulher?
Ele está me fazendo perder o rumo, tanto que me deixei
ser tocado sem me preocupar com as consequências. Eu não
pensei que poderia ser visto por qualquer outra pessoa além do meu
primo.
E enquanto beijava outras bocas, imaginava que era a
dela. Quando tive o meu pau chupado, via os seus olhos me
encarando no rosto das outras mulheres, e quando gozei, depois de
muito me concentrar, foi o seu nome que chamei. Mas a noite
acabou no boquete, porque simplesmente não poderia tentar mais.
Quando cheguei em casa trocando as pernas de tão
bêbado que estava, sorri feito um doido enquanto tomava banho.
Tudo porque me dei conta de que o meu problema era fácil de
resolver. Eu só havia me apaixonado pela minha secretária.
A tentativa frustrada de fazer sexo com outras esclareceu
o que sempre soube, mas não queria aceitar: eu não queria Manu
na minha vida somente por alguns meses, mas por muito tempo.
Sem prazo para acabar.
Ela é linda, inteligente e tem a melhor boceta que já
provei. Juntos, nós somos fodas. Dormi com aquilo na cabeça,
acordei de ressaca e me arrastei até aqui nos últimos dois dias.
E durante os últimos dias, preferi nem olhar muito em sua
direção, pois sinto-me culpado, como se tivesse a traído de alguma
forma. Na verdade, traí, mas foram os meus sentimentos. Não só
por culpa, mas por saber que estou a um passo de ter tudo o que
sempre quis, e que o momento é de cautela e não posso fazer o que
quero e pegá-la para mim.
Depois que acabar, terei tempo e disposição para lutar
pelo que passou a ser o meu segundo maior desejo...
Era o que estava planejando, mas essas fotos podem
acabar com todas as minhas chances.
Se eu recebi essas imagens...
Puta que pariu!
Saio apressado do escritório com a esperança de ainda
encontrá-la na sua mesa, porque sempre sai por último, mas está
vazia. Bato com força no botão do elevador e ele desce lento como
uma lesma.
Assim que, correndo como um doido, chego a entrada
principal do edifício, onde o Tito costuma pegá-la, vejo a cena não
inédita, porém, odiosa. Ao lado do carro, Manuella está conversando
com Dante. Eles parecem que não estão muito amigáveis.
Será que esse cara não cansa de tentar roubar o que é
meu?
Eu ando apressado até eles, mas Dante nota a minha
presença antes dela. Sem tirar os olhos de mim, puxa o seu corpo e
a abraça. O corpo da morena fica inerte, os braços estendidos sem
corresponder. Eu já chego a puxando do agarre dele. Manuella me
olha assustada.
Mas que porra!
— Solte-a — exijo.
— Enlouqueceu, porra?
Dante parte para cima de mim e me empurra, eu o
empurro de volta, prestes a brigar como um moleque na frente da
construtora.
Que se foda! No momento, tudo o que me importa é dar
uma lição nesse filho da puta, que precisa entender que perdeu a
Manuella. Ela é minha agora.
Irado, e morrendo de ciúme, soco o lado esquerdo do seu
rosto e levo um de volta. O gosto de sangue no lábio inferior me faz
enxergar tudo vermelho, e não existe nenhuma chance no mundo
de eu não acabar com esse cara agora mesmo.
— Já chega! — Manuella grita, então nós dois paramos e
a olhamos.
Eu busco o seu olhar, mas ela não retribui, pelo contrário,
vai para o lado do idiota do Dante Dutra. É estranho, porque parece
que tem uma ligação com ele. Uma dependência, mesmo que o
pouco que me disse sobre os dois como casal me faça crer que
terminaram mal.
— Eu aceito a sua carona. Só pare de brigar — pede, o
olhar do cara amolece.
— Manuella, fale comigo, por favor? Eu sei que viu as
fotos — aviso.
— Sim, eu vi. Mas não se preocupe, porque não pretendo
estragar as coisas para você por causa delas. Você é livre para
fazer o que quiser.
Mas do que está falando?
Não tenho chance de perguntar mais nada, porque Dante
entra no carro com ela e parte. Não tive a chance de convencê-la de
que era melhor ir comigo.
Eu não pretendo estragar as coisas para você.
As suas palavras repetem-se na minha mente enquanto
ando na direção do estacionamento. E enquanto dirijo para casa,
quando deixo de pensar apenas em como posso ter estragado tudo
o que já não estava bom de maneira definitiva, finalmente a minha
ficha cai e entendo o que quis dizer.
De maneira surpreendente, fugindo de tudo o que pensei
que fosse a minha prioridade durante todos os últimos anos, só
pensei nela, no que iria pensar de mim e no medo de a perder para
sempre. Até o momento, não havia imaginado que, assim como eu e
ela recebemos as fotos, a minha avó também poderia ter recebido.
E agora, segurando o volante com tanta força que as
juntas dos meus dedos estão brancas, sinto que estou perdendo
tudo de uma única vez: a chance de chegar no topo e a mulher por
quem estou perdidamente apaixonado.
É isso mesmo.
Só pode ser paixão quando a hipótese de perder a minha
morena me afeta muito mais do que a possibilidade de perder a
presidência que nem cheguei a conquistar amanhã.
CAPÍTULO 31
MANUELLA
— Está com uma carinha de que passou a noite toda em
claro — Dona Abigail fala. Estou pronta, ou a mais pronta que posso
estar para encarar o dia de hoje, que promete ser bem agitado no
grupo Harper.
— Eu passei mesmo — falo ao me sentar à mesa. Não
posso sair antes de tomar um café preto para despertar.
— Aconteceu alguma coisa? — indaga.
— A sua filha é burra, dona Abigail. Foi o que aconteceu.
Me apaixonei pelo meu chefe e ontem recebi fotos dele sendo
chupado e beijado por outras mulheres — digo na lata. Não tenho
por que esconder isso. — A senhora estava certa quando foi contra
o acordo. Não tinha como terminar bem. Brinquei com o fogo e me
queimei.
— Você não é burra, é apenas humana. É normal se
apegar, ainda mais quando estava mantendo relações sexuais com
aquele homem desde o início.
— Como a senhora...
— Vi marcas suspeitas no seu pescoço por mais vezes
do que é confortável para uma mãe — fala e eu fico sem jeito.
— Ah. — É tudo o que tenho para dizer.
— E quanto ao que está sentindo, sabe que só você pode
fazer algo por si mesma. Não deixe que situações que não são boas
comandem a sua vida, filha. Não faça como fez com o seu
casamento com o Lucas. Se está sofrendo, apenas dê um basta e
se afaste desse homem que claramente não te dá valor.
— Estou começando a acreditar que não tenho valor
algum.
— Não volte a falar isso. Sabe que não gosto quando se
deprecia, ainda mais por homens que não sabem a joia que você é.
— Eu te amo, mamãe. Sempre tem os melhores
conselhos — digo, ela tem sido o meu ponto de equilíbrio. — Agora
tenho que ir, porque hoje terei um dia daqueles.
E se não veio chupar o meu pau, a melhor coisa que
sabe fazer, sugiro que saia.
As palavras que usou contra mim repetem-se na minha
mente como um disco arranhado e fazem o meu estômago revirar
com algo maior do que o nervosismo pelo papel que terei que fazer
hoje.
Na viagem de ida, olho-me no espelho que tenho em
mãos, checando se a maquiagem e os cabelos estão em perfeito
estado. Como secretária e noiva de John Harper, tenho que ser
impecável. Como uma doida, treino o sorriso no espelho, porque
vou precisar dele. Terei que ficar feliz pelo meu noivo, quando tudo o
que sinto é tristeza.
Terei que beijar e o abraçar, quando quero me afastar e
nunca mais voltar a vê-lo.
A cena de ontem está nítida na minha memória. Tive que
lidar com fotos, John e Dante de uma única vez.
O Dante, que eu estava mandando embora e ameaçando
com uma medida de restrição quando John chegou. Sempre que faz
merda, como a discussão no portão da minha casa com o John, ele
some por uns dias e no máximo manda mensagens educadas de
bom dia e boa noite, que não são respondidas.
E depois que ouviu da boca de John Harper que eu era a
sua namorada, acreditei que tinha me livrado do meu ex para
sempre, mas isso foi até aquela cena. Ele não havia desistido, pois
conhecendo o loiro muito mais do que eu, provavelmente tinha a
convicção de que o namoro não iria durar.
Errado ele não estava, porque as fotos que vi deixaram
claro que o homem não se contenta com uma. Se o namoro fosse
real, provavelmente eu seria corna.
Mas estou cansada de Dante, de John e do mundo. Um
deveria me esquecer, o outro é um filho da puta. Por culpa dele tive
que recorrer mais uma vez ao meu ex. É por isso que ele não
desiste, que pensa que pode me controlar. Quando estou em
apuros, sempre acabo em suas mãos.
Os corredores dessa empresa nunca estiveram tão
movimentados como hoje. Conversas acontecem por todos os
lados, e entre funcionários do baixo escalão acontecem até apostas
sobre quem irá vencer: Tales ou John?
As secretárias sorriem como hienas em suas mesas,
afinal, hoje é praticamente um dia de folga para todas nós.
— Adoro você, Teresa, mas hoje o meu chefe vai ganhar
do seu — falo para Teresa.
— Eu acho tão fofa a forma com ela fala, gente. Nem
parece que quica naquele pau com frequência — Sara devolve a
provocação. — Bom dia, senhor Harper. — Ela emenda em seguida.
— Bom dia, meninas — cumprimenta-a. O fato de eu
estar na fossa por sua causa não me impede de o achar lindo com
seus óculos escuros estilo aviador. Ele fica muito charmoso quando
o tira do rosto todos os dias ao deixar o elevador. — Pode me
acompanhar, querida? — Fala comigo e eu aceno.
Saímos abraçados e as meninas suspiram. É encenação,
Manuella. Tudo sobre esse toque de possessividade é encenação.
Ao adentrarmos a sua sala, ele me solta e me olha com
seriedade.
— Não foi nada apropriado sair daqui com Dante Dutra.
Logo na frente da minha empresa? — Imaginava que iria falar sobre
isso, afinal, os seus planos não podem dar errado. Não importa que
eu tenha acabado de ver as malditas fotos, ou o que tenha sentido.
— Perdoe-me pela indiscrição — falo, embora não
quisesse me desculpar. Na verdade, não sei se queria estar na sua
frente neste momento.
— Para onde foram?
— Isso não é da sua conta. Até onde sei, tem as suas
putas para te satisfazer. Eu também posso dar a minha boceta para
quem quiser comer — digo, ficando rapidamente irritada com a
hipocrisia do homem.
— Muito cuidado com as suas palavras — pede
entredentes ao me puxar para o seu corpo com o braço em torno na
minha cintura. — E não pode dar para ninguém além de mim,
porque é minha. E vou te fazer entender isso logo.
Não sei se é uma promessa ou uma ameaça, mas não
importa.
— Pensa que me comprou com acesso vitalício por
apenas um milhão de reais? Nem eu sou tão barata sim — digo, os
meus olhos ardem, mas sei que não vou chorar. Ele não verá essa
fraqueza.
— Não é. Vale mais do que todo dinheiro do mundo —
declara, deixando-me confusa. — Eu sinto muito pelas merdas que
te falei, eu só estava... — Ele parece ter dificuldade para encontrar
as palavras, então decido ajudá-lo, não porque merece, só quero
não pensar mais no assunto.
Todas as vezes que tento afastar John Harper da imagem
que tenho das péssimas experiências do passado, ele me faz
perceber que não é tão diferente assim.
— Está tudo bem. O momento agora é de pensar na
reunião — falo, o loiro parece cair em si e sua expressão e postura
mudam da água para o vinho, é como se o descontentamento de
segundos atrás por ter me magoado nunca tivesse existido.
É isso. Queria poder me iludir, mas então as imagens
pipocam da minha cabeça e volto para a realidade. Se gostasse de
mim pelo menos um pouco não teria saído com aquelas mulheres.
Não teria deixado que o tocassem.
— Deseje-me sorte — pede.
— Boa sorte — digo.
— Acho que pode fazer mais do que isso — avisa, então
se aproxima da minha boca e me beija. Um toque cheio de fome e
saudade. Me mantenho um pouco tensa e fria, mas parece que
John não se dá conta disso.
Ele começa rápido, indecente e para punir, mas logo
muda. Seus lábios são gentis, macios e carinhosos, então eu
desmorono em seus braços calorosos e tão familiares para mim.
Beija-me como se eu fosse um bem precioso que não pode ser
comprado por nenhum dinheiro do mundo, como disse há pouco.
E quando acaba, ao afastar a sua boca da minha com
beijos leves e carinhosos no meu rosto, me olha com algo que não
sei definir, mas que nunca havia visto no seu rosto. Ao passar o
dedo indicador no lado direito da minha bochecha, sinto que está
úmido.
John Harper se aproxima e beija o meu rosto do lado
onde a lágrima caiu e fico com vontade de chorar mais, porque não
chorar é uma espécie de doença emocional que tenho. De coisas
que não deveria guardar.
— Está acabando. E depois da reunião do conselho a
gente vai poder conversar direito sobre aquelas fotos. Tudo bem? —
Dominada, eu aceno positivamente com a cabeça. — E que a vovó
não tenha recebido aquelas merdas. — Sorri e me abraça. — Que
bom te ter assim.
O meu corpo se entrega e amolece nos seus braços, mas
a minha mente trabalha, cheia de suspeitas. Será que esse abraço e
o beijo de carinho foram para me manipular? Para garantir que não
vou abrir a boca e estragar os seus planos antes de conseguir o que
quer?
É claro! Só pode ser isso. John Harper já deixou bem
claro mais de uma vez quais são as suas prioridades e que faria
qualquer coisa pelo que quer, me manipular como acaba de fazer
deve ter sido fichinha, perto de enganar à avó como nós dois
estamos fazendo há meses.
— John, está me sufocando. — E apesar de sentir que
estava me abraçando apertado demais e que deve significar alguma
coisa, uso o argumento para o afastar de mim.
Não posso ficar mais aqui. Não digo, mas não precisava
ter feito nada para me manipular, porque independentemente da
nossa relação, estou do seu lado e jamais faria qualquer coisa com
a intenção de o prejudicar.
JOHN
Tento conter a sensação de perda e vazio enquanto a
observo deixando a minha sala, rebolando sua bunda grande e
bonita. Ela parece tão calma e resignada que me assusta, porque
prefiro quando deixa o seu gênio forte vir à tona e me enfrenta.
Tê-la assim não é um bom sinal, mas está tudo
acabando. Quando essa bagunça terminar, finalmente poderei me
dedicar a alcançar um novo objetivo: ter a linda Manuella Ortega
todinha para mim.
Agora estou agitado demais com os outros problemas, no
escuro e sem saber o que esperar. Talvez a minha avó já tenha
recebido as malditas fotos e perdi todas as minhas chances. Não
tenho provas, mas tenho quase certeza da autoria das imagens.
Mas fui burro de ter ido àquele bar. As chances de Tales ir
também não eram tão pequenas, considerando que sempre
gostamos do lugar. Uma das únicas coisas em comum que temos.
Estava tão fodido que nem o vi, mas ele me viu e ainda fotografou.
Mereci ouvir as merdas do Pietro quando contei do ocorrido.
Ele está certo de pensar que a culpa será única e
exclusivamente minha se a presidência ficar com o idiota.
Depois de as horas terem se arrastado, finalmente
estamos reunidos na sala de reuniões. Os acionistas e todos que
exercem cargos importantes terminam de entrar e pouco a pouco se
acomodam em seus lugares. Eu estou ao lado da minha avó, na
tentativa de sentir como está o seu humor. Se dará indícios de que
sabe de algo.
Mas ela está como sempre: altiva, como se o mundo
tivesse que se ajoelhar para a aplaudir. Mas também é gentil e cheia
de bons princípios.
O Tales também não sai de perto, considerando que
dedica sua vida a bajular a velha. Se a conhecesse tão bem quanto
eu, saberia que detesta os bajuladores.
— Fiquei sabendo que você teve uma noite agitada um
dia desses. Foram quantas? Quatro? — ele provoca para que todos
ouçam.
— Cale essa boca, idiota! – digo com os punhos
cerrados. Como sempre acontece quando começamos, a vovó sai
da nossa frente. Ela não interfere para ver até onde a gente vai
agindo como moleques de rua, como gosta de dizer.
— Eu não vi a sua noiva. Será que a deixou em casa
dormindo?
— Nunca mais volte a mencionar a Manuella com essa
boca suja — aviso com o maxilar apertado quando avanço sobre ele
e o agarro pelo colarinho.
— Ela gosta de compartilhar? Se for o caso, eu bem que
poderia invadir aquela boc...
— Já chega! — A dona Érika determina ao esbravejar. —
Se já deram o show de vocês, a gente já pode começar a reunião.
— Sem perder a classe, a senhora vai para o seu lugar na cabeceira
da mesa de reuniões e se senta. Os meus pais também estão
presentes, mas eles não têm voz.
Eu tomo o meu lugar, e faço encarando o meu primo, que
mantém o sorriso satisfeito no rosto. Não era para estar confiante
assim, era?
Olho para o Pietro, que está representando o grupo de
advogados da construtora com direito a voz. E entre a nossa troca
de olhares dizemos o mesmo: a gente perdeu.
Com certeza a minha avó recebeu aquelas fotos e já
sabe que não sou o noivo apaixonado e dedicado que queria. Não
sou o homem sério que merece o cargo que todos aqui devem
desejar.
O que me resta agora é juntar a minha dignidade e
esperar pela decisão. No fim das contas, ainda terei uma chance de
consertar a minha relação com a Manu. Se não puder ter tudo, pelo
menos não vou perder a minha morena, que acaba de entrar...
Mas o que ela está fazendo aqui?
É a pergunta que eu e todos aqui devem estar se
fazendo. Menos a minha avó, essa sorri e acena.
— Eu a chamei, senhores. Não se trata somente de uma
secretária. É a mulher com quem o meu neto pretende se casar —
diz. — Uma moça de alma gentil, que tem as qualidades que todo
ser humano deveria ter — a chama com um gesto e Manu, muito
nervosa, para em pé ao seu lado.
Não tem mais nenhuma cadeira para ela se sentar.
Das duas uma: ou minha avó está apaixonada, ou está
jogando conosco antes de nos desmascarar.
— Como estamos aqui por um único motivo, não creio
que iremos nos demorar com a reunião de hoje. — Todos a
observam em silêncio. Eu faço um gesto com a cabeça e ela vem
para o meu lado. Como não poderia ficar o tempo todo em pé,
afinal, esse é o nosso Gran Finale, seja para o bem ou para o mal, e
não quero que esses marmanjos fiquem babando na minha gata, a
coloco sentada em cima das minhas pernas, não me importando se
vou chocar o público formal.
Não é como se estivesse tirando a sua roupa justa para
transarmos na mesa para todos verem. A minha avó nos olha e
parece não se importar. No meu colo, a morena fica tensa, mas logo
relaxa.
Sou eu aqui, meu amor. Nós estamos juntos até o fim.
— O meu querido filho, Jonathan Harper, atual diretor-
presidente do grupo Harper, acredita que chegou o seu momento de
passar a maior responsabilidade que uma pessoa pode ter dentro
do grupo Harper para o seu sucessor. Seria natural passar para o
seu filho, o meu neto John que todos vocês conhecem muito bem.
Mas o meu outro neto, o atual diretor financeiro, também entrou na
disputa pelo cargo, então achei justo fazermos uma votação, ao
invés de formalizar o John como diretor-presidente.
Esse merdinha! Sempre atravessando o meu caminho.
— Seguindo a mesma ordem de sempre, vamos dar
início às votações. — Mesmo suspeitando que vai dar muito ruim, o
meu coração dispara. Eu olho para as mãos da minha morena e ela
está tremendo. Para acalmá-la, entrelaço os nossos dedos.
— Eu amo os meus dois netos, e acredito na
competência de ambos, mas tenho que fazer uma escolha. E por ter
se mostrado dedicado, por ter desejado esse lugar desde que
começou a trabalhar aqui no grupo e, sobretudo, por ter se tornado
um homem de caráter, sério e responsável, o meu voto é no John.
Fico surpreso. Muito surpreso. Olho para a Manuella e ela
parece igual. Olho para o Pietro e ele está com um sorriso confiante
agora. A boa surpresa de ver que ela não viu as fotos não é
suficiente para mascarar o incômodo que estou sentindo, porque o
homem sério e de caráter é uma farsa.
Um homem de caráter não compraria uma noiva com o
intuito de a enganar.
E como o esperado, a maioria dos votos segue o da dona
Érika.
— Por quinze votos a cinco, nomeio o meu neto, John
Harper, o diretor-presidente do grupo de construtoras Harper.
Uma onda de aplausos se inicia, olho direto para o
fracassado do meu primo e jogo uma piscadela. A sua expressão de
desgosto e fúria é impagável. Pelo visto, o seu planinho amador não
deu muito certo.
Gentilmente, levanto Manu das minhas pernas e a abraço
bem forte. Depois, olhando para o fundo dos seus olhos, esperando
que entenda que foi importante para mim por motivos que vão muito
além do que planejei, aproximo as nossas bocas e a beijo com
carinho por um tempo.
Não ouço mais nada que não seja o som das nossas
respirações. Estou mais feliz de estar com essa mulher nos braços
do que pela conquista do que tanto desejei. Pelo que trabalhei duro.
Em que momento tudo mudou?
Mas o som de uma palma solitária me tira do meu
momento com a minha mulher, porque ela se assusta e se afasta de
mim.
— E viva a hipocrisia, senhoras e senhores. Esse John
Harper que a dona Érika tanto elogiou, que está fazendo essa cena
patética, não existe e eu posso provar.
Merda!
CAPÍTULO 32
MANUELLA
Merda!
Ele vai estragar tudo para o John e não podemos fazer
nada. Não mais.
As palavras do Tales deixaram o conselho atento,
esperando e cheio de expectativa.
— Já chega, Tales Harper! Já fez demais por hoje —
Gregory, que raramente interfere em algo, irrita-se com o neto mais
velho.
— Não me diga que o senhor não viu as fotos? Também
está fingindo que não, como a sua querida esposa faz? Mas eu
deveria imaginar que isso aconteceria, afinal, sempre gostou mais
do John e nunca fez questão de esconder isso.
— Não é verdade — Érika se defende. — O seu primo foi
praticamente criado por mim e me dá a atenção que você nunca
deu, Tales. Não me cobre. E o fato de eu ter votado nele não tem
relação com motivos pessoais.
— Um caralho que não. Você, Érika, sempre com ideias
tão bobas e retrógradas a respeito do amor. Como se essas merdas
fossem interferir ou não na competência de trabalho, mas essas
exigências não valeram para o seu querido netinho, não é mesmo?
— Não fale assim com a minha avó, seu babaca — John
ameaça ir para cima do primo, mas Pietro sai do outro lado da mesa
e o segura.
Da minha parte, estou com as pernas bambas e o
coração acelerado enquanto suo frio, pois tenho certeza de que vai
acabar sobrando para mim.
— Fale, senhorita Manuella Ortega, a noiva e a secretária
gostosa e competente que se deixa ser comida no meio dos
expedientes...
— Solte-me, porra! — O meu chefe tenta se desvencilhar,
mas Pietro é mais forte. A menção do meu nome me faz querer sair
correndo da sala.
— Conte para os senhores e senhoras presentes o que
tinha naquele envelope que recebeu ontem, querida. — Ele me
pressiona. Eu olho para o meu chefe, mas nem ele pode me ajudar
nesse momento, então me mantenho calada. — Tudo bem, então
pode deixar que eu conto, ou melhor, mostro.
Todas as cabeças acompanham quando o homem vai até
a mesa e pega um envelope. Ele tira o conteúdo de dentro e quero
morrer, porque sei o que ele tem. Entrega as fotos para alguns, que
as olham em estado de choque. Elas são ruins, muito ruins. E
mesmo que não seja eu nelas, a humilhação que sinto é igual a que
John deve estar sentindo, afinal, estou sendo traída.
Ao olhar para a dona Érika, ela parece decepcionada,
mas não surpresa. A pobre tendo que ver mulheres chupando o pau
do neto...
— E então, querida. Você só tem duas opções aqui:
assumir que foi corna, que o noivo não está tão apaixonado quanto
quer vender, ou que esse noivado nunca foi real. Que ele te pagou
como uma prostituta barata para viver uma mentira.
O ataque me deixa sem reação, mas John reage. Dessa
vez, Pietro não o detém, então ele soca o rosto do primo. Mas o
imbecil não se controla e prossegue.
— A verdade ofende, não é mesmo? Mas só sendo uma
tola romântica como a minha avó para acreditar em um amor tão
repentino. Uma mera secretária morta de fome, sendo que esse aí
sempre gostou das Barbies loiras e artificiais. Seria como acreditar
em contos de fadas. E então, querida, você é uma corna
conformada ou uma puta comprada?
— Basta! — Érika grita. — Essa reunião está encerrada e
a decisão tomada será mantida, mesmo que alguns não aceitem. —
Os seus olhos queimam o neto.
Mas ninguém dá um passo. Todos esperam por um
desfecho. Pela minha resposta depois das fotos e das acusações.
Mas ele não está de todo errado. As fotos não foram
forjadas e vê-las outra vez faz a ferida aberta sangrar ainda mais.
Respiro fundo uma, duas e três vezes. O Tales fez um desafio
malicioso e eu só tenho uma resposta para dar, e não é uma cena,
ou uma tentativa de amenizar a situação para o meu chefe, é
apenas como venho me sentindo desde ontem.
A minha resposta será o ato final, o desfecho para o
teatro que armamos, cujo fim dificilmente seria outro.
John me fez chorar depois de muito tempo sem fazê-lo. E
agora, parece que é impossível voltar a me conter. Com os olhos
cheios, eu não faço um discurso. Na verdade, não digo uma palavra,
apenas ergo a mão e tiro o anel de diamante do meu dedo. Sem
olhar nos olhos do loiro, seguro a sua mão e o fecho dentro dela.
— Não faça isso, Manuella... — A súplica na sua voz faz
parecer que o seu coração está partido, mas me lembro que está
encenando, assim como deve estar pensando que estou fingindo
que fiquei mal porque fui supostamente traída.
Mas o meu coração partido não poderia ser mais real.
— Acabou — falo com a cabeça baixa, pois não posso
olhar em seus olhos, eles me deixam fraca. Me manipulam. Não me
importo com a plateia. — Não volte a me procurar nunca mais —
termino.
Dessa vez eu corro sem olhar para trás, e com as
lágrimas que não derramei durante tanto tempo descendo livres pelo
meu rosto.
— Meu Deus! O que você tem, menina? — Teresa
pergunta quando chego até a minha mesa e começo a pegar todos
os meus pertences e os jogar dentro da bolsa de maneira
apressada.
— Eu tenho que ir embora...
— Foi o seu noivo, ele fez alguma coisa? — Sara
percebe que não tem mais uma aliança no meu dedo.
— John Harper não é o meu noivo, nunca foi! — assevero
alto demais. — Adeus, meninas.
— Como assim, adeus? — As três falam em uníssono.
— Não vou mais voltar a pisar os meus pés nesse lugar
— assevero aos soluços e viro-lhes as costas.
Felizmente, o elevador já está no andar. E quando chego
do lado de fora do edifício, respiro aliviada. É como se um peso
estivesse me deixando. Eu estava muito cansada de tudo isso. Das
mentiras e de me pegar desejando e me apaixonando por alguém
que nunca foi meu de verdade. Mas acabou!
Ele conseguiu tudo o que sempre quis e duvido que o fato
de ter supostamente me traído o faça perder o que conquistou. John
não tem motivos para vir atrás de mim.
— O que faz aqui? — Pergunto com a voz fanha por
causa do choro quando me deparo com o Tito me esperando.
— Estava por aqui e o senhor Harper me pediu para te
acompanhar até sua casa e ficar de olho em você — assevera.
— Não tem nada que ficar de olho em mim, Tito — falo e,
como se fosse uma providência do destino, um táxi para bem atrás
do seu carro. — Foi um prazer ter um motorista legal como você —
falo, beijo o rosto do homem calado e ele cora. — Adeus, Titinho —
despeço-me e entro no táxi.
Chego em casa aos prantos. A minha mãe, que há
tempos não via algo assim, sai de trás da máquina e me abraça no
sofá.
— O que houve, minha filha? — pergunta preocupada.
— Eu... — soluço — deixei o John, a empresa e tudo que
tem relação com aquela gente — outro soluço. — Acabou.
— Foi melhor assim. — Esse é o seu consolo. — Sabe
disso, não sabe?
— Eu sei. Mas por que está doendo tanto?
JOHN
Eu a vi me deixando, e sabia perfeitamente que era de
maneira definitiva. Pior, sabia que o gesto de tirar o anel de noivado
e colocar na minha mão não era cena, assim como o meu pedido
para que não me deixasse não foi. Mas tive que ficar, mesmo que
tudo em mim quisesse correr atrás daquela mulher forte, linda e
gentil. Tive que ficar para tentar conter os danos de alguma forma.
Todos viram a porra das fotos, e duvido muito que não
tenha ao menos um fofoqueiro entre nós que irá espalhar as merdas
que aconteceram pelos corredores do prédio. Mas o que mais me
preocupou, além do fato de Manu ter saído daquela forma, foi o
olhar da minha avó para mim. Não por causa do cargo que havia
acabado de conquistar, mas pela sua certeza de que não mudei
nada, que estou errado nesta história, de uma forma ou de outra.
— Você é um fracassado, Tales — disse para ele assim
que Manu saiu e o burburinho na sala começou. — Tentou me
vencer e não conseguiu, então teve que recorrer aos truques mais
baixos. Mas você continua sendo um perdedor, não é? Só que
agora sob o meu comando — Ele ouviu com os punhos cerrados,
doido para me socar, mas não fez porque tinha que fazer o bom
moço. — E pode ter certeza de que vai ter que engolir a mim e a
minha Manuella, porque ela vai voltar a ser minha.
“Vou comer ela aqui nesta sala, na minha e até mesmo
na sua se eu quiser, afinal, eu posso. Estou no comando”
Agora, depois de uma viagem silenciosa para a mansão
da família com os meus avós do lado, tenho os seus olhares em
mim. Me julgam e esperam que eu me defenda das merdas que o
meu primo falou.
— Então, qual das versões é a verdadeira? — Gregory
indaga. — Apesar de eu não saber qual das duas acusações é pior.
— A pobre moça não merecia o que fez, filho. Ela te ama
tanto — Vovó diz. Está mais preocupada com a Manu do que com
qualquer outra coisa.
Não sei se vai continuar pensando igual quando souber
da verdade.
— A senhora acha?
— O olhar não mente, e a forma como se olham faz
qualquer um acreditar que estão apaixonados. — Eu estou
apaixonado, não é?
Não precisava ter feito uma merda tão grande para
perceber. Aquelas loiras nem sabiam me chupar. Não como a minha
morena. Ela, sim, sabe como...
— Que cara é essa, menino?! — Érika irrita-se quando
me perco em devaneios.
— Perdoem-me. Pode continuar, dona Érika.
— Como eu ia dizendo, não sei mais se minha intuição é
tão boa assim. Alguém que trai no início de uma relação não pode
estar tão apaixonado. Onde foi que errei com você?
— Eu não tenho uma boa explicação para aquelas
malditas fotos. Elas são reais. Eu estava sendo idiota tentando
provar para mim mesmo que ela não era a mulher perfeita para
mim, que eu poderia, sim, deixá-la partir quando...
— O acordo entre vocês acabasse? — Vovó completa.
— Como a senhora sabe? — questiono, sem esconder a
minha surpresa.
— Eu soube desde o início, tanto sobre a sua artimanha
quanto a do seu primo que, de repente, logo quando o pai decidiu
deixar o cargo, surgiram apaixonados. Logo os dois que nunca
levaram mulher nenhuma a sério.
— Então a senhora estava rindo da nossa cara esse
tempo todo?
— Não. Deixei que seguissem com seus planos, mas fiz
porque tinha a esperança de que durante o processo aprendessem
algumas lições. E assim que conheci aquela moça melhor, percebi
que se tivesse uma mulher capaz de te colocar nos eixos, seria ela.
— Essa é a minha avó, sempre sabe de tudo.
Mas não estava errada. Manuella me fez querer me
aquietar, pois no tempo em que estivemos juntos ela me bastou.
Sequer pensei ou senti a necessidade de estar com outra.
— Ela é tão irritante, vovó. Me questiona com frequência.
É orgulhosa demais e me fez suar para a ter como nunca precisei
fazer com mulher alguma. E quando estou com Manuella, os meus
dias se tornam mais quentes, não tenho um momento sequer de
tédio. Isso é estar apaixonado?
— Não creio que exista uma definição melhor para esse
sentimento. O amor é sobre querer estar junto, amar os defeitos e
as qualidades. Sentir que o seu mundo começa e termina naquela
pessoa.
— Eu fiz tudo errado — assevero.
— Eu sei que fez. Te conhecendo como conheço, sei que
colocou a empresa como prioridade, que não a conheceu como
deveria, que não deixou que a moça percebesse minimamente que
a queria de verdade. Que aquele pedido de casamento brega
poderia se tornar realidade.
— Acha que foi brega?
— Mas as palavras foram bonitas — Consola-me. — Isso
não importa agora, porque pela forma como foi embora depois de
ter sido humilhada pelo Tales, ela não vai mais querer olhar para a
sua cara. Eu perdi a esposa ideal para o meu menino.
— Não seja tão dramática, querida. — Ao seu lado, o
vovô pega a mão envelhecida e a beija com carinho. — Não
conhece o nosso menino? Ele vai dar um jeito de reconquistar a
moça. Não vai, meu filho?
— Não existe outra hipótese, vovô. Não consigo sequer
pensar na possibilidade de não ter a Manu na minha vida. Vocês
não sabem como foi aguentar as duas ocasiões em que não me
deixou tocá-la, mas sabia que pelo menos poderia a ter todos os
dias diante dos meus olhos. Que estava acabando e poderia dar
atenção ao plano de conquistá-la de vez.
— Aí está o seu erro, John Harper. Seus erros, na
verdade. Ela deveria ter se tornado a sua prioridade quando se deu
conta que estava começando a ter sentimentos mais profundos. Não
existe isso de fazer planos para conquistar uma mulher. Apenas seja
sincero com ela. Mostre que se importa, a conquiste e se permita
conhecê-la melhor.
— Farei isso, só não corri atrás dela quando saiu porque
não poderia deixar a situação daquela forma com vocês — digo, os
dois arqueiam as sobrancelhas para mim.
Já sei. Tinha que ter corrido atrás da morena. Implorado
para que ficasse, nem que fosse de joelhos.
De joelhos?
É claro. De joelhos.
O que é? Estou aprendendo, caralho! É a primeira vez
que meu apaixono, e espero que seja a última.
— Além do mais, seria pior. Com o gênio que a minha
morena tem, a gente ia ter uma discussão daquelas. A única coisa
boa delas é que geralmente acabamos fazendo sexo.
— A sua avó e eu não queremos saber o que fazem
depois das brigas, John.
— Já basta a gente ter visto aquelas sem-vergonhas com
o seu... enfim. Se a Manuella gosta de você como gosta dela, não
quero nem imaginar o que deve estar sentindo depois de ter visto
aquelas fotos — Érika comenta. Isso porque ela não sabe sobre a
forma como a ofendi quando pediu para encurtar o prazo do nosso
acordo, nem como fui rude quando discuti com o Dante no portão de
sua casa.
Se pudesse, eu voltaria atrás em cada uma daquelas
palavras.
Quanto às fotos, eu não sei o que faria se fosse o
contrário. Mataria o homem com certeza. Mas talvez não. O Dante,
por exemplo, está vivo e bem, mesmo que não deixe a minha gata
em paz. O que acabou foi a amizade, depois que começamos a
disputar a mesma mulher.
— Ela só precisa me ouvir. Não sei bem o que dizer, mas
não vou perder a Manuella, vovó e vovô. Ela é minha, e vai saber
disso ainda hoje — assevero.
— Se quer ouvir um conselho de quem viveu mais e é
mulher, vou te dizer que é melhor dar um tempo para ela assimilar
tudo, para acalmar o coração. E como você mesmo disse, iriam
apenas brigar nesse momento. Aquela moça, para quem a conhece
minimamente, não consegue esconder que já foi muito machucada
na vida. Só dê tempo a ela.
Érika está certa em parte. A minha morena tem uma
espécie de escudo em volta de si, e mesmo que tenha me deixado
chegar muito perto, era como se estivesse esperando que a
qualquer momento eu fosse partir seu coração.
E foi o que acabei fazendo, não é mesmo?
— A senhora esteve muito próxima dela nas últimas
semanas, sabe de algo que eu não sei sobre a Manu? — Questiono,
pois a forma como falou foi realmente muito estranha.
— Mesmo se soubesse, jamais iria trair a confiança dela
contando para você algo que confidenciou somente para mim — diz.
É claro que dona Érika sabe de algo que não sei. — E volto a
repetir: dê um tempo para a moça.
— E o que vou fazer durante esse tempo? — A pergunta
é mais para mim do que para eles.
— Consulte o seu coração e só vá atrás da sua noiva
quando tiver certeza do que sente, quando estiver certo de que
pode a fazer feliz como merece — aconselha.
Mas não preciso desse tempo, não por minha causa, pois
embora tenha a deixado em segundo plano, que tenha sido a minha
prioridade até ter feito uma merda imperdoável, há muito tempo
deixei de lado a ilusão de que era somente um sexo fabuloso e uma
união utilitária.
— Por que não estão decepcionados e brigando comigo?
— Ocorre-me perguntar. — Eu tentei enganar vocês. Paguei um
milhão de reais para que a minha secretária fingisse que era a
minha futura mulher. Fiz porque sabia que vovó bate muito na tecla
sobre homens que constroem famílias e tudo mais. Só pensei que o
fato de ter uma noiva iria me ajudar.
— Você e o seu primo não entenderam que os meus
ideais eram mais sobre vocês do que sobre a empresa. Só quero
ver vocês bem, e sei que estarão bem quando se encontrarem,
quando forem plenamente felizes, assim como nós dois somos há
cinquenta anos — diz e olha para o esposo com adoração.
— Perdoe-me, dona Érika e senhor Gregory — peço. —
Mas vou ser sincero e dizer que não me arrependo. A senhora me
criou e sabe que sou assim. Eu vou até o fim pelo que quero. Além
do mais, não vou me arrepender nunca de algo que me fez ficar
perto da Manuella. De ter a chance de perceber que ela é a mulher
perfeita para mim. Se acreditam que não devo mais ficar com
aquele cargo, se o perder for uma forma de castigo, para mim está
tudo bem — falo, resignado.
— Não peça perdão por ser quem é, John Harper — ela
fala e vovô balança a cabeça apoiando. — O único erro que não
pode cometer é o de pensar que pode brincar com a vida e com os
sentimentos das pessoas. E, respondendo a sua pergunta, você
continua sendo o presidente do grupo, afinal, sempre foi mesmo o
mais competente. — Suas palavras me fazem sorrir. — E quanto ao
castigo, o pior de todos eles será se não conseguir ficar com a
mulher por quem se apaixonou.
A sua fala coloca um peso sobre os meus ombros. Um
medo louco de ser cobrado por ter enganado os meus velhos surge
do além.
— Vamos, meu velho. Preciso descansar um pouco. —
Érika diz e eles vão para o quarto.
Fico na sala sozinho com a cabeça a mil. Nesse
momento eu deveria estar muito feliz em algum lugar comemorando
a minha vitória, no entanto, estou aqui, na sala da casa da família
pensando em uma forma de não perder a minha noiva.
Quando penso nisso, tiro o anel que guardei no bolso da
calça e fico o observando. A joia bonita não deveria estar comigo,
mas sim no dedo da sua dona.
— Eu deveria ter percebido que estava aprontando
alguma coisa, filho. Ter estranhado quando ficou noivo tão rápido de
uma mulher madura, vamos assim dizer.
A forma desdenhosa como fala é a prova do quanto pode
ser falsa quando se propõe. Na frente da Manu a tratou muito bem.
Manu até acreditou que minha mãe havia simpatizado com ela.
— Querida, dê um tempo para o seu filho. O dia de hoje
foi muito puxado para o coitado — Jonathan intervém. Eu me
levanto para ir embora, pois no momento não estou com cabeça
para lidar com os dois.
— E estou dizendo alguma mentira?
— Pois deixe-me contar uma novidade para a senhora,
mamãe: o noivado de mentira vai se tornar real em breve.
Acostume-se com o fato de que terá uma nora linda como a
senhora, a diferença é que ela é natural — digo, jogo uma piscadela
e deixo a mansão.
— Foi você quem pediu — ouço o meu pai.
— Mas eu sou natural.
Tarde da noite, na sacada da minha cobertura com o
aparelho celular em uma mão e um copo de whisky na outra, me
seguro para não ligar para a morena, mas então me lembro das
palavras da minha avó.
Um tempo, ela só precisa de um tempo, mas não muito,
pois nem fodendo que vou deixá-la ir para longe de mim. Antes que
perceba, a minha Manu estará comigo e, aí sim, a gente vai
comemorar junto a conquista.
Serei o chefão e ela será a minha namorada gostosa. Se
quiser, no futuro a gente pode até fingir que ainda é a minha
secretária sexy que vai até mim para me fazer um agrado com a
boca.
O fetiche traz um sorriso a minha boca e, de repente,
estou ansioso e animado para o futuro.
Depois de ignorar o convite dos meus amigos Pietro e
Nicolas para comemorarmos, tomo um banho e me preparo para
dormir, mas fico virando de um lado para o outro na cama. Pego o
celular e, sem conseguir resistir, ligo para a morena.
Ela obviamente não atende, então desisto e respeito o
tempo de que precisa, mesmo que me custe muito não pegar o
carro agora mesmo e bater na sua porta.
CAPÍTULO 33
MANUELLA
— Eu sei que o seu chefe era um gostoso do pau grande,
e que está triste porque não vai mais quicar nele, mas já se
passaram três dias e você não sai da porra dessa cama — Mika,
também deitada na cama do outro lado do quarto que dividimos,
fala. — Ele não te ligou mais?
— Não. Só naquela noite. Desistiu bem fácil, o canalha —
reclamo.
Depois que saí da empresa aos prantos, dediquei minha
vida a chorar por um pau que nem chegou a ser meu de verdade,
embora tenha quicado nele tantas e tantas vezes.
Às vezes sou fraca e olho as suas redes sociais, mas não
encontro nada que não sejam algumas fotos, cujas legendas dizem
com orgulho que agora é o todo poderoso do grupo Harper. O pior é
que o cargo lhe cai bem. Um homem do seu tipo não combina com
nada menos que o melhor.
— Deve estar se preparando para dar o bote.
— Ou então partido para a próxima conquista — digo
com despeito.
— Ainda bem que você desistiu da ideia tola de devolver
o dinheiro para ele — comenta.
— Eu mereço cada centavo, depois das merdas que ouvi
daquele primo idiota — afirmo, mas no fundo estou morrendo de
medo das consequências pelo que fiz, afinal, saí daquela forma da
empresa, não cumpri o contrato e não pretendo devolver a grana.
Além de ter surtado porque vi o homem por quem me
apaixonei sendo chupado por outra e sido humilhada pelo primo
idiota por causa disso, posso ser processada por John Harper. Do
jeito que não tem limites e desconsidera a boceta que comeu até a
exaustão, seria perfeitamente capaz de ter uma atitude como essa.
— E o outro idiota? — indaga.
— Como sempre, um urubu chafurdando na carniça —
digo com desgosto.
— O que a sua terapeuta diz sobre isso?
— O de sempre, e estou começando achar que está
certa. — Até pouco tempo, eu estava tentando acreditar que estava
tudo sob controle, que meu ex-namorado iria acabar entendendo as
minhas recusas e o fato de que não havia mais volta.
Mas eu estava errada, e eram elas quem estavam certas.
A minha mãe, a minha irmã e a minha terapeuta. Nunca foi
saudável. Eu era a vítima, talvez ainda seja, que não se via como
vítima. Não queria enxergar que sempre foi um homem cheio de
problemas.
— Está na hora da medida protetiva? — pergunta com
esperança, eu balanço a cabeça dizendo que sim.
— E voltando ao gostoso mor...
— Não quero falar sobre ele — assevero. — Na verdade,
quero o esquecer.
— E se a gente fizesse uma viagem? — A minha irmã
pula sentada e animada na minha cama. O susto é tão grande que
acabo deixando o meu celular cair.
Estava no grupo que eu e as meninas da empresa
criamos no WhatsApp. Apesar de estarem falando comigo, ainda
não me perdoaram direito por ter mentido, embora entendam em
parte que não era algo que eu pudesse chegar e contar.
Elas contaram que a versão que corre no prédio é a de
que o noivado de John Harper com a secretária acabou por causa
de traição. No momento, todos e todas já viram o seu pau. Não
tenho um pingo de pena por já começar no cargo sendo uma piada.
É a consequência de ter sido um safado.
— Eu estou falando com você! — Mika passa a mão na
frente do meu rosto e paira sobre mim.
— O quê?
— Eu disse que podemos fazer uma viagem para você
conhecer alguns gatinhos e esquecer John Harper.
— Não quero conhecer ninguém — digo com convicção.
Depois de John, duvido que consiga olhar para outro cara
e me interessar por ele. Radical? Talvez, mas isso é porque você
não viu ou sentiu aquele pau dentro de si.
— Mas gosto da ideia da viagem — digo e ela bate
palmas animada. Talvez o meu remédio seja gastar um pouco do
dinheiro que ele me deu. Além do mais, organizar tudo vai distrair a
minha mente. — Uma semana? Tenho que voltar logo e começar a
procurar outro emprego.
— Uma semana.
— Quero um lugar que tenha belas praias — assevero.
— Eu quero o que você quiser, só me leve para conhecer
lugares novos, irmã mais velha.
Um pouco mais animada, embora certo loiro esteja no
fundo da minha mente, porque tenho a sorte de ter uma irmã mais
nova doidinha e cheia de energia, começo a fazer planos com ela e
ficamos entretidas até que vá para a missa com a mamãe, na
paróquia que fica no outro quarteirão.
Mesmo que o meu lado sensato diga para não fazer, eu
acabo mais uma vez com o computador em cima das minhas
pernas, em busca de notícias e fotos do John, algo que já havia feito
mais cedo. Eu sou uma pessoa que não tem conserto, e já me
conformei. A essa hora, em pleno fim de semana, o homem deve
estar em um lugar qualquer com uma de suas putas sugadoras.
Fico olhando fixamente a sua imagem na tela do
computador, pensando em como os seus olhos mudam de cor
quando está no auge do prazer, em como as suas mãos
possessivas pareciam que não queriam deixar de me tocar quando
me seguravam.
Sou interrompida pelo som de palmas no portão. Eu me
levanto muito rápido do sofá, arrumo o meu cabelo e ajeito o short
curto que estava embolado. Abro a porta e corro para o jardim, mas
o meu ânimo some quando vejo que me iludi à toa. Não é o John,
para quem, não tenho vergonha de admitir, eu me entregaria,
mesmo acreditando que só iria me usar. John é um vício para o qual
ainda não encontrei a cura.
— O que faz aqui? — pergunto para o Dante. — Por que
não me mandou uma mensagem avisando que viria? — Ele é a
última pessoa a quem gostaria de ver hoje.
Quando conheci John, ainda estava me recuperando de
Dante. É até contraditório, pois estava trabalhando no seu bar. Mas
é complicado, algo que não poderia explicar, não para quem nunca
passou pela mesma situação.
— Não vai me convidar para entrar? — pergunta.
— Dante, por favor. Não estou muito bem nos últimos
dias...
— Só vim conversar com você — fala. Eu olho para
alguns vizinhos e então deixo que entre. Não quero discutir com
esse homem na frente deles.
Além do mais, será o último aviso que lhe darei para que
me deixe em paz, antes de tomar as medidas cabíveis.
— Entre — digo e dou espaço.
Na sala, o homem olha como se estivesse em outra
galáxia. Deve ser mesmo de doer os olhos ver como vivem as
pessoas que precisam trabalhar duro para colocarem comida na
mesa. Não veio aqui mais do que duas vezes na época que
namorávamos.
— O que quer?
— Fiquei sabendo através do Tales sobre o que
aconteceu com você e o idiota do John Harper. Quer me contar
alguma coisa? — Fala de maneira condescendente, como se eu
fosse uma criança que aprontou e merecesse repreensão.
— Não ouviu o suficiente do Tales?
— Ele falou das fotos, mas também acredita que vocês
dois estavam armando para a coroa, que John tenha te dado
dinheiro para ser dele. Mas eu não acredito nessa versão, afinal, te
conheço. É uma boa menina. Prefiro a versão que foi traída pelo
idiota — fala de um jeito que me faz dar gostosas gargalhadas,
porque o único que me traiu foi ele.
Com John, mesmo que o meu coração diga que não, foi
diferente, porque a gente não estava em um relacionamento sério,
não de verdade. Quando aconteceu a chupada no bar, eu já estava
há dias afastada do loiro.
— Acredite no que quiser — Dou de ombros. — Se era só
isso que...
— Não me peça para ir embora ainda. Preciso que me
diga se foi isso mesmo que aconteceu. Eu deveria ter te protegido
mais do John.
Me protegido? Mas do que é que esse homem está
falando? Enlouqueceu de vez?
Eu não preciso da sua proteção. Preciso de paz!
— Aconteceu que o Tales está certo nas suas
desconfianças, o que não é muito estranho, já que fez o mesmo e
não deu certo. John Harper e eu fizemos um acordo que valeu um
milhão de reais.
— Acordo? Que espécie de acordo? — Dá um passo à
frente e segura o meu braço, mas puxo com força. Não gosto que
me toque.
Não depois de tudo.
— Eu iria ser a noiva dele durante seis meses. Precisava
de mim, e eu queria o dinheiro para a minha mãe não perder a casa
— falo com triunfo, mostrando que não me conhece como pensa,
embora não precisasse revelar a última parte.
— Você se vendeu? — indaga com nojo. — Virou a puta
fixa de John Harper, o que ele quis desde o maldito momento em
que colocou os olhos em cima de você no Maresias e te cobiçou —
cospe sem pensar nos meus sentimentos.
Às vezes eu sinto tanto nojo de mim mesma por ter me
sujeitado a essas coisas, não só com ele, mas com o Lucas durante
sete anos de casamento.
Mas a sua fala faz o meu gênio ruim despertar, e mesmo
sabendo que é uma péssima ideia, falo o que vem na minha mente
para o ferir como fez comigo durante o péssimo relacionamento que
tivemos.
— Sim, eu fui a puta de John Harper durante todos esses
meses — falo e, de uma forma que não tinha notado antes, os seus
olhos furiosos olham para o computador em cima do sofá. A tela
toda está preenchida pela imagem do loiro bonito por quem sou
apaixonada.
Mesmo com todos os seus defeitos, John nunca me olhou
como Dante olha agora. Pelo contrário, me fazia sentir a mulher
mais bonita e capaz do mundo.
— Cale a boca, porra! — exige, e com o pé chuta o
eletrônico, que cai com força no chão e trinca a tela.
Fico assustada e furiosa ao mesmo tempo. A minha
mente volta para o dia em que ele me empurrou e machucou as
minhas costas na televisão por causa de uma briga por ciúme.
— Dei para ele como a vagabunda que você vê em mim,
embora nunca tenha dado motivos. Transei com John Harper
porque ele é gostoso, porque quis e não porque me pagou por isso.
Ele é mais homem do que você e o meu ex-marido juntos.
Quando o tapa forte que sua mão dá fere o meu rosto, e
sinto o gosto metálico de sangue, por um momento não reajo
quando Dante vem para cima de mim e começa a me sacudir, me
xingando dos nomes mais feios possíveis. Então, em um fio de
coragem, que não sei de onde vem, eu miro os seus olhos e grito,
grito muito alto por socorro.
A porta está aberta e a rua movimentada, em questão de
segundos, a sala da minha casa está cheia. Pessoas, que no futuro
não poderei dizer seus nomes, arrancam Dante de perto de mim. Eu
não tenho reação. Não digo uma palavra sequer. Não derramo uma
lágrima, mas sinto o meu corpo tremendo muito.
— Era apenas uma briga de casal. Saiam daqui! — Ele
esbraveja. — Manuella, meu amor, vamos conversar. Não foi a
minha intenção.
Mas nunca foi a sua intenção. Nunca quis me xingar ou
me agredir. O pior é que sempre acreditei que era apenas um
momento de nervosismo, que era uma pessoa boa. Mas agora algo
em mim se rompeu.
— Briga de casal? — A voz de um homem fala indignada.
Deve ser um dos meus vizinhos. — Você vai ter que se resolver com
a polícia, isso sim.
— Eu não estou a fim de problemas para a minha vida,
cara. Ela me provocou e eu reagi — defende-se, mas quando vê
que meu vizinho está falando sério, decide fugir como um covarde
que é. — Depois a gente conversa, querida — diz, eu sequer
levanto o olhar para ele antes que vá embora.
Tem duas mulheres ao meu lado me confortando, sei
quem são, mas estou totalmente alheia a elas e a tudo o que dizem.
Não sei se fazem perguntas ou se me confortam. Só quero ir para a
minha cama e me cobrir. Esconder-me do mundo todo, pois no meio
disso tudo, com o meu lábio partido e rosto queimando, ainda
encontro espaço para sentir vergonha.
— Eu posso saber o que está acontecendo aqui? — A
voz da minha mãe é como um bálsamo. Quando os braços
calorosos da Mika me envolvem, finalmente choro. Um choro
copioso e de soluçar.
— Eu não aguento mais...
Não sei quantas vezes repito estas palavras bem
baixinho e sem parar.
— Aguenta. Você é forte.
Bem de longe, ouço as pessoas falando com a minha
mãe, dizendo o que viram. Elas não precisam de muita informação
para concluírem quem foi o responsável pela agressão. Pela forma
como arde, o meu rosto deve estar muito vermelho. De alguma
forma pegou no meu olho, pois próximo a ele está muito dolorido.
Quando a casa esvazia e ficamos só nós três, a minha
mãe se senta no outro lado do sofá. Sinto-me envergonhada e não
quero olhar para elas. Sempre tentaram abrir os meus olhos, mas
eu sequer queria tocar no assunto. Não queria admitir que estavam
certas e eu errada quando diziam que o relacionamento sempre foi
abusivo, que eu me deixava manipular. E continuei deixando,
mesmo depois que o namoro acabou.
— Olhe para a sua mãe — Abigail pede ao levantar a
minha cabeça e limpar com cuidado o sangue da minha boca. Ao
meu lado, Mika constata o estrago no seu computador de estudos.
— Estou com tanta vergonha — admito aos soluços. —
Eu não deveria ter deixado...
— Querida, não é fácil para quem está vivendo essa
situação. Não se culpe e nem se envergonhe, pois você não fez
nada de errado. Ele fez — fala com firmeza. — Sabe o que tem de
fazer agora, não é?
Eu balanço a cabeça confirmando, e lamentando que
tenha chegado a esse ponto.
Na delegacia, conto como tudo aconteceu, das agressões
que sofri por parte do meu ex-namorado.
Não é fácil falar, se expor e demonstrar fraqueza, pois por
mais que digam que não sou fraca, que milhares de mulheres que
vivem a mesma situação agem da mesma forma, é como me sinto.
Me culpo por ter deixado que chegasse a esse ponto.
A pessoa que me ouve dá-me o suporte necessário, me
instrui sobre qual caminho tomar e, quando saio da delegacia ao
lado da minha mãe e minha irmã, sinto-me mais segura, pois se os
avisos de que não ia ter volta não foram o suficiente, agora a justiça
o impedirá de se aproximar de mim.
Muito provavelmente, Dante será processado e
condenado por lesão corporal em contexto de violência doméstica, e
o fato de ele não poder se aproximar de mim colocará fim a um
círculo vicioso, pois por mais que soubesse que não o queria de
volta, que não sentisse nada por Dante e tivesse mágoa pela forma
como me tratou durante o pouco que durou a relação, um lado meu
estava cego.
Eu o deixava me ferir física e psicologicamente, como
uma espécie de doença que me fazia recorrer ao homem sempre
que tinha problemas, porque ele me fez acreditar que era o meu
salvador, a única pessoa a quem poderia recorrer quando
precisasse de ajuda.
Agora, é como se grilhões estivessem se rompido e,
enquanto volto para casa, sinto-me mais leve. Talvez já fosse a hora
de eu ouvir a minha família e de dar mais abertura para a minha
terapeuta, afinal, foi para falar sobre os meus problemas de
relacionamentos que mamãe me convenceu a iniciar o tratamento. É
o momento de entender que vivi, sim, relacionamentos abusivos
com o meu ex-marido e com o Dante.
— O que quer fazer agora, mana? — Mika pergunta
quando entramos em casa. Antes disso, não tive coragem de olhar
para os lados, pois sei que a fofoca se espalhou e agora os meus
vizinhos estão sentindo pena de mim.
— Só preciso tomar um banho e dormir — digo, sem
querer chorar mais na presença das duas. Não quero essas
expressões de preocupação em seus rostos.
— A mãe vai preparar uma sopa de feijão para você, está
bem?
— Não estou com fome — aviso.
— Não pode ficar sem se alimentar, querida. Tente, pelo
menos? — insiste.
— Tudo bem.
Depois tomo o meu banho, chorando e esfregando a
minha pele com força, como se a água e o sabonete fossem
capazes de apagar tudo o que aconteceu.
Assim que termino de tomar à força o caldo de feijão da
dona Abigail, deito-me e me cubro até o queixo. Agradeço a minha
irmã por não tentar conversar comigo, pois não quero ouvir nada
que não sejam os meus pensamentos.
Martirizando-me, tento me lembrar em que momento
comecei a ser essa pessoa. Na adolescência e até antes de
conhecer o meu ex-marido, tive namoros rápidos, leves e divertidos.
Então veio o Lucas e ele só foi bom para mim no início. O
passar dos anos nos deixou acomodados em uma relação ruim,
mas, olhando para trás, admito que eu tentei muito mais do que ele
consertar o que não tinha conserto. Tentava ser uma boa esposa,
fazer com que valorizasse mais a mim do que a sua sala de aula.
Lucas me tratava com condescendência, eu era como um
objeto que enfeitava a sua casa na maior parte do tempo. Lembro-
me de como a minha beleza sempre chamou atenção por onde quer
que eu passasse, e sempre foi assim. Os homens me cobiçavam e
muitos já fizeram loucuras para me conquistar quando eu era
solteira, mas Lucas me faz parar de ver essa beleza diante do
espelho.
Não era tratada como igual, não era valorizada, mas já
estava com a mente tomada e a alma envenenada, então acreditava
no que me rotulava. O fim do meu casamento aconteceu da pior
forma possível, pois mesmo que tenha feito de tudo pela relação,
não só não recebi nada em troca como fui traída por uma mulher
mais jovem.
O Dante surgiu em seguida. Tão lindo, divertido e rico...
Parecia que era a minha chance de ser feliz, eu me
agarrando a ele como um bote salva-vidas, dizendo a mim mesma
que era, sim, uma mulher linda e desejável, que o Lucas quem havia
perdido quando me traiu e fez o enorme favor de colocar fim ao
casamento de merda que tínhamos.
Mas o Dante era a versão piorada do meu ex-marido.
Lucas ao menos não era extremamente ciumento e possessivo.
Dante duvidava ainda mais de mim e externava que eu era boa para
o sexo, e não muito mais do que isso. Ele começou a me sufocar e
a me xingar nas nossas discussões. A maioria delas foi porque eu
estava supostamente dando mole para outros homens.
Ele me amolecia com o sexo, que era muito bom, e no dia
seguinte ficava tudo bem. Dante me cansou rápido, não suportei a
forma como me sufocava e acabamos terminando. O problema é
que o fim não foi de fato o ponto final da nossa relação. Até hoje, eu
deixei que tivesse poder sobre mim, dizia não, mas não fazia com a
convicção necessária para que desistisse.
Mesmo que tenha sido controlada, ofendida e agredida
antes, estava cega demais para ver que ele não era uma boa
pessoa, que não havia sido um acidente e que a culpa não era
minha por ter o deixado nervoso. Eu deixei Dante e Lucas me
transformarem nessa pessoa cuja casca é bonita, mas por dentro
está tão machucada que não acredita em si mesma.
Tantas coisas poderiam ter sido diferentes na minha vida.
Eu tive chances, mas fiz escolhas, muitas escolhas erradas. E até
com o John, que já não tenho certeza do que se tratam os meus
sentimentos por ele, fiz tudo errado.
Poderia ter freado a paixão e controlado o meu corpo.
Deveria ter deixado o sexo de fora do acordo, pois, no fim, ele
também estava me usando. Na verdade, usamo-nos mutuamente, a
diferença é que não me coloquei no meu lugar. Desejei que
tivéssemos uma chance.
A parte mais quebrada de quem sou desejou que fosse
ele o meu diferente. O homem que poderia me mostrar que relações
podem ser saudáveis.
CAPÍTULO 34
JOHN
Foram quatro dias sem ver a bunda linda da minha
morena gostosa tornando os meus dias melhores, mas parece que
foi há um ano que a vi pela última vez. A saudade e a falta que me
faz é equivalente a esse tempo.
Existe um prazo para organizar tudo em uma empresa
até que um novo diretor-presidente assuma o cargo quando
acontece a troca, mas como foi algo familiar, passado de um pai
para o filho, as formalidades foram dispensadas e, com a
aquiescência do conselho, há dois dias finalmente assumi.
O último andar, com as regalias que o cargo de chefia
merece, agora é todo meu. A sala tem o dobro do tamanho da
minha anterior, tem sofás maiores, banheiro, copeira para me servir
cafezinhos durante o dia e até uma sala que se conecta a minha
para a secretária.
Mas agora eu não tenho mais uma secretária e sinto falta
de mais do que alguém para me dar assistência, sinto falta da
mulher, da minha mulher, porque o que conquistei não faz tanto
sentido sem Manuella ao meu lado. A gente, junto com o Pietro,
forma uma equipe e não quero que uma parte fique faltando.
Há quem diga que eu exagerei, que a bola estava na
minha mão e não precisava ter usado as mesmas armas do Tales,
minha própria avó deixou no ar, mas faria de novo e até mais do que
fiz. Se não fosse pelo cargo, seria para me aproximar da minha
parceira de crime.
E depois da terceira noite sem dormir bem, incomodado
pela ausência da Manu na minha vida e preocupado com a forma
como deixou a sala de reuniões, acabei vindo aqui. Não consegui
respeitar o seu tempo por mais do que quatro dias, porque a
incerteza e a saudade estavam me matando.
Pude comprovar que as pessoas só dão valor às coisas
quando perdem, porque enquanto estava ao meu lado, eu sempre
deixava para depois. Tinha a empresa como minha prioridade, pois
acreditava que muito em breve teria tempo só para a minha morena,
para provar que poderíamos dar certo, e nos moldes que preferisse,
desde que não me privasse do seu corpo e da sua companhia.
Só depois que a vi me dando as costas extremamente
magoada que me dei conta do quão urgentes e profundos eram os
meus sentimentos por ela. Os últimos dias me fizeram desejar que
tivesse sido real, que a morena fosse mesmo a minha noiva.
Nas noites em que senti falta de dormir abraçado com
Manu, da mesma forma que fizemos em Gramado, quis que fosse a
minha mulher como nunca quis nada na vida, nem mesmo a cadeira
da presidência, e não estou exagerando. Sei que é isso, porque não
consigo pensar em nada que não faria para chegar perto de verdade
da minha morena.
Chegar perto de verdade para a conhecer melhor e ver
até onde os nossos sentimentos nos levariam, e sei que tem
sentimentos por mim também, sem nenhum acordo entre a gente,
sem prazo para o fim.
Na frente do portão da sua casa, observo o movimento e
está tudo quieto. Não tem vizinho na porta me espiando e nem um
sinal de que tem gente em casa. Eu saio do carro, e antes que
precise bater palmas ou fazer qualquer outro sinal que denuncie a
minha presença, a minha suposta ex-sogra se aproxima pelo jardim.
— Bom dia, senhora Ortega — cumprimento-a quando
abre o portão. A sua expressão não é muito boa.
Será que também viu as malditas fotos? Não, porque
parece que o mundo todo viu aquilo. Na empresa, estou tendo
dificuldade para conter as fofocas pelo rádio corredor. As amigas da
Manu, nas ocasiões em que as vi, me olharam com curiosidade. Já
devem saber sobre o acordo.
— O que faz aqui a essa hora? — indaga. Como assim a
essa hora?
São seis horas da tarde.
— Eu vim ver a Manuella — sou direto. — Da última vez
que nos vimos, a gente não teve a oportunidade de conversar
direito.
— Eu sei o que aconteceu quando se viram pela última
vez. A minha filha não é de esconder as coisas de mim — avisa. Me
pergunto que tipo de coisa ela conta.
— Por favor, me deixe entrar e falar com ela. A sua filha
precisa ouvir o que tenho para dizer.
Sim, eu vim pronto para implorar. Como disse, não tem
nada que eu não faria por ela nesse momento.
— O que a Manuella precisa é de paz, principalmente
depois de ontem — deixa escapar e fico ainda mais atento às suas
palavras e reações.
— O que aconteceu ontem?
Ela demora um pouco para responder, me analisa, e
espero que esteja chegando à conclusão de que não vou embora
daqui antes de falar com a minha morena, ou ao menos ter notícias
suas. Depois da primeira tentativa de ligação que fiz, me contive. Fiz
para seguir os conselhos da dona Érika, mas também porque sabia
que não iria atender a minha ligação.
— Já que não vai desistir, vou deixar você entrar um
pouquinho. — Sorrio satisfeito, mas a senhora dá o recado. — Mas
é só porque acredito que está na hora de eu ter uma conversa séria
com você.
Eu entro atrás da mulher, que não parece em nada com a
morena. Dona Abigail é baixinha e tem o tom de pele claro. A minha
morena deve ter puxado o falecido pai na aparência.
Pela sala, dá para notar que a casa é humilde, mas é
limpa e bem arrumada. Olho na direção de um dos corredores, me
perguntando onde está a Manuella e em que momento poderei vê-
la.
— Sente-se. — Indica o sofá e eu obedeço. — Não
adianta olhar para os corredores, porque a minha menina não está
em casa.
— Onde Manuella foi?
— Com todo o respeito, mas não é da sua conta. — Pelo
visto, Manuella teve a quem puxar. É exatamente o tipo de resposta
que daria.
— O que estou fazendo aqui, então? Eu preciso mesmo
falar com a Manu. — Tento me levantar, mas ela toca o meu braço,
segurando-me no sofá.
A gente fica se encarando, ambos sérios, mas eu espero,
porque está na cara que não gosta de mim e, ainda assim, quer que
eu fique. Tem algo para me dizer e parece que é importante.
Respeito o seu tempo, então a minha futura sogra começa.
— A Manuella te contou por que aceitou a sua proposta
maluca?
— Não contou, mas isso realmente não me importa. Não
a julgo se foi para comprar roupas e sapatos — assevero.
Digo a verdade, nunca foi uma questão importante para
mim, porque não me importei com o destino do dinheiro que era
dela.
— Ela só aceitou porque estávamos prestes a perder a
nossa casa, depois que o falecido pai deu o imóvel como garantia
de um empréstimo no banco — diz e me surpreende. — A minha
filha pode ter defeitos e fazer escolhas erradas, mas essa escolha
errada de se meter com alguém como você, que tem uma vida
completamente diferente da dela, Manuella não cometeria, não se
tivesse outra saída.
— Eu não fazia ideia.
Meu amor...
— A Manuella, a mulher linda que enche os olhos de
homens como você por onde passa, apesar de parecer forte e
decidida, no fundo não é nada disso. Ela tem problemas, é frágil
emocionalmente e já teve uma série de relacionamentos muito ruins
que a fizeram muito mal. — A voz da senhora está embargada e um
pisca-alerta acende na minha cabeça.
— Por que está me dizendo estas coisas? Eu não estou
reclamando, porque quero conhecê-la melhor, mas não entendo por
que a senhora e porque agora.
— Falo para que veja que precisa a deixar em paz, pois é
do que está precisando no momento. Deixe-a em paz aqui, no lugar
ao qual pertence.
— A sua filha tem um lugar ao meu lado. Eu a quero ao
meu lado — falo com convicção.
— Não, meu rapaz. Você não quer. Pensa que a quer
porque é jovem, e aposto que não tem nem trinta anos ainda. Para
você, a Manuella é um desafio, o diferente que surgiu na sua vida,
mas apenas uma fantasia. — Todas as suas palavras estão me
surrando, mas nem por um instante me pego acreditando que o que
diz é a verdade. — Uma novidade de que logo se cansará, então ela
voltará para mim e a irmã, porque é para onde sempre volta, e
caberá a nós duas juntar os seus cacos.
“E a gente sempre faz isso, porque nessa família existe
amor e união. Independente dos problemas e da forma como ela se
sabota, sempre terá o nosso apoio e proteção contra homens iguais
a você. Vocês dois são tão parecidos...
— Nós dois quem?
— O ex-namorado da minha filha é um homem como
você. Usa roupas de grife, é bonito e pode conquistar com um
sorriso, mas era tóxico para ela.
As suas palavras me ofendem profundamente, porque
nunca fui, ou não quis ser, esse tipo de pessoa na vida da Manu,
muito pelo contrário.
— Aconteceu alguma coisa? — Faço a pergunta mais
importante.
— Nada com que deva se preocupar. E volto a insistir
para que deixe a minha filha viver a vida dela sem a sua presença.
E se o problema for a fortuna, posso pedir para ela...
— Não tem nada a ver com o dinheiro, senhora — digo.
— Eu gosto dela.
— Eu sinto muito, mas...
— Mamãe, eu ouvi vozes. Essa TV não está muito alta?
— A voz melodiosa e sonolenta da morena surge antes dela.
Primeiro, eu olho para os seus pezinhos bonitos e
descalços, depois para as pernas grossas e macias que as minhas
mãos tocaram tantas vezes, abraçadas por um short cinza de
malhar curto. Depois, subo para a barriga plana sem uma gordura
fora de lugar, tudo graças à genética, pois a minha gata não
frequenta academias. Depois miro os peitos, que estão escondidos
por um sutiã vermelho sem uma blusa por cima.
Mas o prazer da visão morre quando o meu olhar alcança
o seu rosto. Primeiro o choque e depois o desgosto. Então vem a
reação quando me levanto e, em um milésimo de segundo, estou na
sua frente. Imediatamente, a minha morena abaixa o olhar, mas eu
seguro delicadamente o seu rosto.
As minhas mãos não estão firmes e me seguro para não
explodir o mundo, porque, de repente, parece que estou no meio de
um pesadelo. Primeiro vem tudo o que a senhora falou, e agora a
vejo assim. O canto esquerdo da sua boca linda que tanto beijei
está inchado e vermelho, com sinais de que sangrou. Perto do seu
olho tem uma mancha roxa e existem vergões na bochecha.
Quando desço para os braços, existem marcas perfeitas de dedos,
como se tivesse sido sacudida com brutalidade.
A bile sobe pela minha garganta, o meu estômago
embrulha e tenho que me segurar para não vomitar. Os meus
punhos estão cerrados e tudo some. Apenas uma pergunta de
resposta simples e urgente fica martelando na minha cabeça.
— Quem fez isso com você? — Meu tom é tão baixo que
não tenho certeza se me escutaram.
Nenhuma das duas responde.
— Quem fez essa merda, porra?! — Dessa vez esbravejo
alto demais. Manuella está apática, nem parece que está
respirando. Ela também parece estar com medo de mim neste
momento, então respiro e abaixo o tom de voz. — Falem comigo,
por favor.
— Foi o ex-namorado dela. O seu amiguinho, Dante
Dutra. Ontem ele veio até aqui e fez isso com ela. E não foi a
primeira vez que a tratou como um lixo.
Dante Dutra, o filho da puta do Dante Dutra.
Eu vou matá-lo!
— Eu preciso ir agora. — Viro-me na direção da porta,
não vendo nada na minha frente.
— John... — A voz da Manu é um sussurro, mas o
suficiente para me puxar para a realidade. — Não faça isso, por
favor.
Imediatamente, eu me volto para ela e a puxo para os
meus braços. Abraço apertado, então seu corpo começa a sacudir
em um choro copioso e sofrido.
Meu pobre amor. Mas eu deveria ter imaginado que
aquele filho da puta não valia nada, que era capaz de fazer uma
covardia dessas, só porque não aceitava perder.
Apenas nesse momento, as palavras que me disse
quando a conheci vem a minha mente. Dante disse que Manuella
era problemática, mas o errado sempre foi ele.
Depois de um tempo, quando a gente se afasta
minimamente, percebo que estamos sozinhos, que mesmo tendo
falado tudo aquilo, a sua mãe teve a delicadeza de sair e nos dar
privacidade. Então eu a abraço pela cintura e a levo para o sofá.
Queria sentá-la em cima das minhas pernas, mas não acredito que
seja o momento para isso, e muito menos que o meu toque seria
bem-vindo.
— Fale comigo, querida — peço, então ela levanta a
cabeça e me encara. Essa imagem do seu rosto, que sempre foi
perfeito, vai me assombrar a vida toda.
— Eu sou isso aqui que está vendo. A que pensa que
conhece não existe. Sempre tive relações ruins, a última foi abusiva,
segundo a minha terapeuta. E até ontem tinha certa dificuldade de
enxergar, porque tem alguma coisa errada comigo. — A forma como
fala de si mesma parte o meu coração, e ela tem razão, essa aqui
na minha frente não parece em nada com a Manu que idealizei na
minha cabeça.
E o engraçado é que, mesmo assim, nada mudou.
Continuo gostando dela e a querendo para mim. Perfeita ou
quebrada, como parece pensar de si mesma, é a mulher que desejo
ao meu lado.
E aqui, com ela na minha frente, tão frágil por causa de
um pedaço de merda covarde, lembranças de como a tratei em
algumas ocasiões voltam à minha mente, então me sinto mal, muito
mal. Um homem pior do que os outros.
Eu também não a valorizei como merecia. Eu a tratei
como um lixo em duas ocasiões específicas que consigo me
lembrar. Não foi a minha prioridade, mesmo que a ame como nunca
amei outra mulher, me igualei a eles.
De repente, não consigo mais ficar tão perto e nem olhar
em seus olhos. Sinto vergonha, os meus olhos estão ardendo.
Então, de costas para ela, respiro fundo e tento contar até dez.
Por favor, só me dê um tempo.
Mas eu sinto a sua mão pequena nas minhas costas, o
toque que não percebi que sentia tanta falta até agora. É como se
fizesse anos desde a última vez.
— Não consegue olhar para mim, não é? — indaga e não
entendo a princípio onde está querendo chegar. — Também estou
com vergonha de me olhar no espelho...
— Por favor, não fale mais — peço ao virar-me de frente,
mais uma vez sendo um idiota, pois ela está muito sensível e
qualquer movimento um pouco mais brusco a faz sobressaltar.
Sustento o seu olhar e não me envergonho que veja que
os meus olhos estão marejados.
— Não tem nada de errado com você, minha linda. Eles...
Nós fomos errados, eu sinto muito.
— Nós? Do que está falando?
— Eu também não fui bom para você, Manu. Será que
não enxerga? Não sou diferente deles... — O meu estômago revira
quando as palavras deixam a minha boca, mas não posso fechar os
meus olhos. — Eu... — Não sei mais o que dizer, mas ela me
surpreende ao me abraçar pela cintura. Tem a orelha contra o meu
peito, imagino que esteja ouvindo as batidas aceleradas do meu
coração.
— Não diga isso. Você é John Harper e não há ninguém
como você. Gosto da Manu que sou quando estou ao seu lado, e
não poderia jamais acreditar de verdade que é como eles, não
quando só o fato de estar ouvindo as batidas do seu coração me
acalma. Quando estou com você me sinto em paz. A nossa loucura
me faz bem — diz, me confortando quando deve ser confortada.
— Me perdoa pelas vezes que fui rude, que te tratei de
uma forma que não merecia e quando não te coloquei em primeiro
lugar. Eu quero ser bom para você, me ensine — peço ao segurar o
seu rosto com as duas mãos e beijar as lágrimas que rolam.
— É claro que eu perdoo — diz e enterra o rosto no meu
peito. Mais uma vez a gente vai para o sofá, mas agora jogo o
cuidado de lado e a sento em cima das minhas pernas.
— Você é uma mulher forte, querida. Não diga mais que
tem algo de errado com você. O que passou, embora não seja o
meu lugar de fala, muitas outras mulheres também passaram e
passam todos os dias, o importante agora é ir à polícia, o manter
afastado...
— Já fiz o que precisava fazer — assevera, e tem
dificuldade de se manter olhando para mim. Sei que está sentindo
vergonha, mas não deveria, não por mim.
E apesar de estar me segurando por ela, a minha mente
ferve de ideias de como vou fazer o desgraçado pagar, porque, sim,
Dante Dutra vai pagar por ter machucado a Manuella. Ele tem que
aprender, e não será doando cestas básicas e prestando serviços
para a comunidade que isso vai acontecer.
— O que está pensando em fazer agora? — questiono,
torcendo para que os seus planos não me incluam longe dela. No
momento, só quero ficar ao seu lado.
— Vou viajar por um tempo... — diz, e hesita — com o
seu dinheiro.
— Esse dinheiro é seu, Manuella Ortega. Todo seu e
nunca precisei que me devolvesse nem um centavo — assevero. —
E você poderia ter me contado o motivo de ter aceitado entrar no
acordo. Senti-me até um pouco desconfortável, porque poderia ter
te dado esse dinheiro. Assim não precisaria ter feito algo que não
queria fazer.
— Não tinha razões para te falar sobre o assunto, e
apesar de o motivo ter surgido, no fundo, eu estava pensando na
possibilidade de aceitar. Queria o dinheiro e queria você — a sua
admissão faz o meu coração aquecer.
— E sobre a viagem? Tem lugar para mim nos seus
planos? — Depois do que acaba de falar, tenho esperanças.
— Não. — É curta e grossa ao jogar o balde de água fria
na minha cabeça, mas eu mereço. — Eu preciso de um tempo para
pensar, John. Colocar a minha cabeça no lugar e entender algumas
coisas sobre mim, pois foi a necessidade de estar em um
relacionamento que me completasse de alguma maneira, o desejo
de ter sempre um homem como muleta que me levou a fazer
escolhas tão ruins.
“Agora, por exemplo, não sei se você não foi uma má
decisão, embora tudo em mim grite que é diferente. Se ficar um
tempo sozinha, como tentava fazer quando te conheci, talvez
descubra a minha força, entenda que posso querer alguém, mas
não necessitar, como se sozinha eu não me bastasse.”
— E o que faço com tudo o que sinto por você? — O que
Manu acaba de dizer parece o correto, e por isso é mais dolorido,
pois embora seja o que deva fazer, sou a pessoa que queria estar
ao seu lado.
— Talvez o distanciamento te faça perceber que seja o
que for que pensa que sente por mim...
— Eu estou apaixonado por você desde o dia em que te
vi lavando copos atrás do balcão daquele maldito bar — assevero.
Manuella deixa escorrer duas grossas lágrimas. — É mais do que
paixão, eu te amo.
— Desejei tanto ouvir essas palavras nas últimas
semanas que nem acredito que está falando para mim. Queria que
fosse diferente, mas no momento não posso te dar nada —
confessa e enterra mais uma vez o nariz no meu pescoço.
— Não estou pedindo que me dê nada agora. Só não me
afaste completamente da sua vida — peço, seguro as mãos
delicadas, tão menores do que as minhas, e dessa vez ela deixa. —
Há tantas coisas que precisamos conversar e acertar, só me diga
que em algum momento a gente vai fazer isso, meu amor. —
Quando o nome carinhoso deixa a minha boca, um sorriso tímido se
insinua na sua.
— Não sei quando vou voltar — avisa. Estou surtando por
dentro só de pensar na saudade.
— Vou te esperar. Será a prova de que os meus
sentimentos por você são verdadeiros — afirmo.
— Com duas mulheres chupando o seu pau? — Ataca,
mostrando o quanto ficou magoada.
— Sem mulheres chupando o meu pau.
— Você é livre para fazer... — Ela para, expira e inspira,
mas as últimas palavras não saem, pois sabe que não quer dizê-las,
embora pense que é o certo a se fazer.
— Como acabei de dizer, vou esperar o tempo que for
preciso até que volte para mim, então a gente vai conversar.
— A gente vai conversar — repete as minhas palavras.
Ficamos em silêncio por um tempo breve, apenas nos
encarando muito próximos. Em algum momento, quando já não é
possível suportar todos os sentimentos que me atropelam, abraço-a
mais apertado sobre as minhas pernas e a beijo com doçura, algo
que pouco fiz em toda a minha vida, nem mesmo com ela.
O beijo longo tem o gosto das lágrimas que derrama, de
tristeza e saudade. Mas entendo que precisa fazer isso e não direi
uma palavra sequer para a impedir, pois não desejo ser como os
outros.
E depois de um último e longo beijo na porta da sua casa,
cujos olhos não podemos fechar, pois eles fazem promessas que as
nossas bocas têm medo de fazer, eu me despeço e parto.
Enquanto dirijo, não consigo mais conter o que estava
guardando enquanto estive em sua casa e sabia que estava
precisando de mim, e então ligo para o Pietro.
— Preciso que consiga um álibi para mim.
— Como assim? Que loucura está pensando em fazer?
— Rapidamente, explico para o meu amigo o que aconteceu.
Apesar das recomendações, Pietro entende as minhas razões.
Ele não pode fazer o que fez e sair ileso. Eu não vou
deixar!
CAPÍTULO 35
MANUELLA
Dois meses depois – Caribe
— Olha esse, mana. Não é possível que tenha ficado
cega — Ao meu lado, a minha irmã reclama quando eu nem levanto
a cabeça para ter uma visão melhor.
Sei do que se trata, e não estou a fim de conhecer o
vigésimo desconhecido, com quem não trocou nenhuma palavra,
por quem se apaixona. Ela parecia eu quando era adolescente e
todos os dias na ida para a escola me apaixonava no ônibus por um
garoto diferente. Eu nunca mais voltava a ver a maioria deles, e a
paixão durava apenas quarenta e cinco minutos de viagem.
A minha irmã, muito maluquinha e desapegada, terminou
com os seus casinhos antes de viajarmos, pois, segundo ela, não
queria levar o peso de um compromisso como bagagem extra. No
fundo, sempre admirei a forma leve como leva seus
relacionamentos.
Queria tanto ter nascido assim...
— Tira esses óculos do rosto e não finja que está
dormindo, irmã! — Ela exige, exasperada.
— Estou tentando, mas você não deixa. Se não tivesse
me feito passar a noite quase toda naquela casa de shows, eu não
estaria caindo de sono — digo e viro as costas para ela na
espreguiçadeira.
— Você está ficando velha e chata! — irrita-se. — Se não
quer conversar, vou dar um mergulho na piscina — fala e me deixa.
Eu quero mesmo ficar sozinha no momento, mas não tem
nenhum motivo a mais por trás do que a necessidade de me
recuperar de ontem. A festa foi boa e acho que bebi e dancei
demais.
Há dois meses, eu e a minha irmã saímos de casa com
as nossas malas. Ela toda animada para conhecer novos lugares,
eu nem tanto. Fazia apenas uma semana do ocorrido com o Dante e
a minha conversa com John Harper. E dois meses depois, já
consigo dormir sem estar chorando, não sinto mais tanta revolta e
tristeza por acreditar que deixei que ele fizesse o que fez.
Eu estava fazendo terapia há alguns meses, e só
comecei porque mamãe me aconselhou depois que me separei do
meu ex-marido. Não posso negar que não levava as consultas a
sério como deveria, e não me sentia à vontade para me abrir, pois
tinha vergonha da pessoa que havia me tornado ao longo dos anos.
E quando comecei a me relacionar com o Dante, me
fechei ainda mais, embora tenha continuado falando com a
profissional pelo menos duas vezes ao mês. Pelo pouco que
deixava escapar, ela sabia, ou imaginava, em que espécie de
relacionamento eu havia entrado. Agia com ela da mesma forma
como fazia com a minha família, mas da forma como podia tentava
me alertar.
Hoje, mesmo que seja através das videochamadas, sinto-
me mais confortável para falar, então acabei aumentando a
frequência das nossas conversas. Ainda me envergonho, mas a
terapeuta disse que é mais comum do que imagino. Ela me faz
entender a cada conversa que é mesmo difícil de aceitar quando se
está em uma relação abusiva, quando se tem que admitir que o
parceiro é, sim, capaz de agredir e até de matar.
E o problema mora justamente no fato de mulheres como
eu saberem que relações assim existem, mas pensarem que nunca
estarão do outro lado. Eu era uma pessoa assim na minha
juventude. Ficava irritada quando ouvia sobre casos de agressão,
de mulheres que apanhavam e ainda ficavam na relação. Para mim,
a saída era fácil. Era só a pessoa terminar a relação com o agressor
e seguir com a vida.
Dentro da estatística, agi exatamente igual, e agora
posso admitir isso. Não é só terminar a relação. Essa é a parte fácil,
o processo final. O mais difícil é aceitar, entender e se libertar. Para
mim, assim como para muitas outras mulheres, o processo é
doloroso, mas estou vivendo ele. Ainda sou uma pessoa que tem
um histórico ruim, ainda carrego marcas na alma que vem de anos,
mas dia após dia estou em processo de desintoxicação e estou
ficando bem.
Todos os dias, seja aqui no Caribe, ou nas praias do
nordeste onde eu e a minha irmã estivemos nos últimos dois meses
de longas férias, e sem data para acabar, curto a minha própria
companhia, provo a mim mesma que um relacionamento tem que
ser um querer, não uma necessidade.
Eu quero John Harper, mas não necessito dele, porque
mesmo com saudade, ainda consigo sorrir, posso ir a uma festa,
dançar e beber até ficar bêbada sem ele. Ainda assim, existem
muitos momentos em que desejo a sua companhia.
Pelo pouco que falamos na nossa última conversa, e
mesmo que estivesse machucada de todas as formas possíveis, ter
percebido que gosta de mim da mesma forma que gosto dele foi
como uma dose de alívio para as minhas dores.
O relacionamento que nem começamos de verdade está
com o futuro em aberto, e mesmo que não seja a minha maior
preocupação no momento, e me policio muito para que não seja em
momentos como esse, quando penso em John Harper, torço para
que esteja cumprindo o que disse que faria e esteja me esperando.
Sei que é querer muito de um homem como ele, mas ter
esperanças não custa nada.
No dia seguinte à sua visita, saiu em todos os noticiários
sobre um ataque que Dante Dutra sofreu em seu apartamento. Ele
foi brutalmente espancado, foi dessa forma que disseram, e embora
não devesse, me senti satisfeita com o acontecido e quem imaginei
como o autor da ação.
Só poderia ter sido o John. Depois me preocupei que
pudesse se meter em problemas, mas me lembrei de quem se
tratava e relaxei. John Harper é ótimo em planejar um crime, e
duvidei que fosse espancar o Dante se não tivesse um plano de
como se safar.
Tem dias que acordo com vontade de pegar o celular e
ligar para o meu ex-chefe, mas então me lembro que preciso desse
tempo e me seguro. Tenho medo de ligar o computador, de colocar
o seu nome na busca e encontrar imagens suas com outras, mas
sempre me surpreendo. Tudo o que sai sobre John tem relação com
o trabalho, e estou feliz que esteja provando que de fato era a
melhor escolha para assumir o cargo.
Tenho falado vez ou outra com a senhora Érika. A
primeira ligação sua que atendi foi difícil, pois estava envergonhada
pelas mentiras que o seu neto e eu havíamos contado, mas então
fui sincera ao revelar como tudo havia acontecido e os meus
motivos. A senhora me entendeu, e mesmo se não tivesse
entendido, gosta muito de mim e disse que ainda tem esperança de
que o neto e eu vamos ficar juntos.
Como aconteceu na primeira vez em que entrei no seu
carro e fomos parar em um hospital, senti-me à vontade para contar
para Érika sobre os meus relacionamentos e ouvi bons conselhos
da avó de John. Nada do que vivi diminuiu o seu desejo de me ter
como mulher do seu neto.
— Já chega! Vamos para a piscina. — A minha irmã
chega me molhando e me puxando pela mão.
O seu ânimo acaba me contagiando e eu a sigo. Sinto
olhares de homens e algumas mulheres em mim. Olhares de cobiça,
que encheriam o loiro de orgulho se estivesse aqui. Ele é do tipo
que acredita que olhar pode, desde que não toque. Saber que
outros desejam o que só ele pode tocar o enche de tesão.
Amanhã é o último dia aqui na ilha, o nosso próximo
destino é a França e não faço ideia de quando essa longa viagem
de cura e descoberta irá acabar. Mas tenho certeza de que estarei
pronta para o que deixei em aberto em casa quando voltar.
Quatro meses depois
— Eu estou só o corpo aqui, porque a alma já foi — falo
ao largar a mala na porta e me jogar no sofá.
— Nem me fale. Viajar é a melhor coisa, mas o cansaço
da volta é proporcional — Mika completa se jogando ao meu lado.
Mamãe, depois de todos os abraços, está parada em pé
à nossa frente com um sorriso de orelha a orelha. Está feliz de ter
as filhas de novo em casa, depois de seis meses de viagem.
Foram seis meses intensos e divertidos em que todos os
dias foram aproveitados e bem vividos. Além do Brasil, Mika e eu
estivemos em mais oito países esbanjando o dinheiro de John. Foi
perfeito, mas estava na hora de voltarmos para casa. Já não estava
mais sendo possível aguentar a saudade.
Tivemos a oportunidade de fazer amizade por cada lugar
onde passamos, e eu voltei com a minha agenda cheia de contatos
de novos amigos. Mas também tive a chance de conhecer homens,
interesses amorosos que ficaram claros, e não senti vontade de ficar
com nenhum deles.
Se não fosse pelo processo pelo qual estava passando,
seria porque tinha um homem na minha mente e coração e nenhum
deles era John Harper. Pensei muito nele. Mesmo que seis meses
seja uma espera longa demais, que eu corra o risco de ter o
perdido, ainda quero voltar a estar com o meu ex-chefe.
Na verdade, é mais do que querer. Depois de tanto
tempo, o meu corpo sente a necessidade de sentir o seu, pois
mesmo que estivesse passando por uma fase difícil, que devesse
ter os meus pensamentos voltados apenas para a minha
recuperação e processo de autoconhecimento, secretamente o
desejei.
Na calada da noite, sozinha em camas de quartos de
hotéis muito diferentes da minha, me toquei e gozei para ele. Nos
meus pensamentos não existia outro além do meu loiro. Eram as
suas mãos, o seu membro grande e corpo pesado em cima do meu.
E quando o avião pousou mais cedo, foi a primeira pessoa que veio
à minha mente. Só consegui pensar que estamos perto novamente.
— Acho que preciso de um banho — digo para as duas e
me levanto. Na verdade, preciso mais do que de um banho.
Tenho que colocar a minha cabeça no lugar e pensar no
que vou fazer daqui em diante. A viagem foi boa, eu consegui
encontrar em mim mesma o que fui buscar, mas a vida tem que
continuar, e dessa vez estou inteira e pronta para tomar as rédeas
do meu próprio destino.
Embaixo da água, faço planos mentais de como será o
reencontro e o que irei falar para o loiro. Mas antes de qualquer
coisa, preciso dormir por uns dois dias seguidos para deixar de me
sentir como um trapo de gente.
E nos dois dias que seguem, me dou ao trabalho apenas
de comer e dormir. Eu e minha irmã perambulamos de pijamas
como duas almas pela casa, cujos corpos não estão mais presentes
há muito tempo.
Mas hoje eu acordei com as energias cem por cento
renovadas, e enquanto tomo um café, abro a minha caixa de
entrada no e-mail, algo que não faço há meses. Dentre as centenas
de mensagens de lojas que mandam ofertas inúteis diárias, tem
uma do grupo Harper, mandada pelo RH.
O documento comunica o meu desligamento definitivo do
grupo. Segue uma série de motivos, mas só consigo pensar que fui
substituída. Não que não devesse, afinal, passei seis meses fora.
Não foram seis dias ou seis semanas, mas não posso evitar de me
sentir estranha.
É como se eu estivesse sendo substituída de todas as
maneiras na vida do John, e não gosto nada da sensação ruim que
estou sentindo. Então decido olhar o mural de avisos no site e leio
que está ocorrendo a seleção para a contratação de uma secretária
executiva para John Harper.
Incomodo-me, mas uma ideia começa a se formar na
minha mente. Uma loucura que não posso resistir. Ele e eu não nos
falamos há seis meses, e nem mesmo através da sua avó soube
notícias pessoais suas, porque assim como eu não perguntava, ela
também não me dizia. Mas se a marca que deixei nele for tão
profunda quanto a que deixou em mim, não terá me esquecido.
— Mendonça? Aqui é a Manuella Ortega — digo ao
telefone quando a secretária do John me atende no segundo toque.
— Eu sei que é você, mulher. Nem faz tanto tempo assim
que nos falamos — diz com a sua alegria de sempre. — Mas estou
curiosa para saber o motivo dessa ligação depois de seis meses.
Depois que a secretária do John saiu de licença-
maternidade, a gente continuou tendo contato através de
mensagens, mas assim como aconteceu com as outras meninas,
me desliguei por completo dela nos últimos meses. Deixei tudo para
trás, porque sabia que ficaria procurando saber da vida do loiro, ou
que me contariam, mesmo se eu não perguntasse.
Naquele momento, tudo o que eu não precisava era de
ficar apegada ao que deixei, mesmo que fosse o John.
— Eu... — começo, mas antes de falar me pergunto se
vou mesmo fazer isso.
— Seja o que for, pode falar — diz.
— Preciso da sua ajuda em algo muito importante, e que
só você pode me ajudar — assevero.
Pelos minutos que seguem, conto para ela o que tenho
em mente, e mesmo que pense que é uma loucura, Carla fica
empolgada para me ajudar, é romântica demais para ficar de fora.
Depois de encerrar a ligação e terminar de tomar um café
caprichado, dedico o meu dia a me preparar para amanhã. Faço as
minhas unhas, arrumo os cabelos, mas não corto muito no
cumprimento. Assim como eu, ele gosta dos meus fios mais longos.
Mas faço umas mechas finas que deixam meu cabelo mais
iluminado e com aparência de ser mais cheio em suas ondas
naturais.
A parte da roupa não é tão difícil, pois John sempre foi
doido nos meus conjuntos sociais e justos no corpo. Segundo ele,
eu era a fantasia real da secretária gostosa que todo homem tem.
Os saltos altíssimos são de lei.
E quando coloco na minha cabeça no travesseiro para
dormir, depois de ter contado para a minha mãe e para a Mika sobre
o meu plano de rever o meu ex-chefe, tento conter a minha
ansiedade. Tenho um pouco de medo do que posso encontrar, mas
preciso fazer isso. Se nada for como estou imaginando, terei que
engolir a decepção e seguir em frente, afinal, ele não me prometeu
casamento antes de eu partir.
Tento pensar que a vida é imprevisível e que o homem
pode perfeitamente estar saindo com alguém cuja identidade a
Mendonça desconhece, mas a hipótese faz as minhas entranhas se
retorcerem. Não é como se eu não tivesse pensado e me iludido
com o homem em todos os dias dos últimos seis meses.
Durante o sono, sonho com uma das muitas vezes em
que a gente fez sexo em cima da sua mesa no escritório.
CAPÍTULO 36
JOHN
— Felizmente, a minha vida sexual está em dia — Pietro
fala enquanto repara nas unhas, fazendo movimentos giratórios na
cadeira. — Eu mesmo não iria me suportar se estivesse com esse
humor do cão.
— Pare de girar, você está me deixando tonto, porra —
assevero.
— Tudo bem, parei! — Ele diz, levantando as mãos em
sinal de rendição.
Eu nunca senti inveja do meu amigo, mas confesso que
nos últimos meses é tudo que tenho sentido, e por isso ando tão
irritadiço. É uma tortura estar perto deles, sempre se tocando e se
encarando com olhares apaixonados, enquanto estou na seca e
pensando em uma mulher que nem tenho certeza de que é real e
não foi apenas fruto da minha imaginação.
Mas nada disso tem mais importância, pois faz algumas
semanas que deixei de me importar com o fato de ela ter sumido por
tanto tempo sem me dar uma notícia sequer. Tudo bem que estava
disposto a esperar, mas não completamente no escuro.
— Sabe que ela pode não voltar, não sabe? — Pietro diz,
me trazendo de volta para a realidade com sua fala e uma bola de
papel amassado na cabeça.
— Eu não me importo mais! — assevero. — Tenho tudo o
que queria, o conselho não para de elogiar a minha atuação nos
primeiros seis meses de gestão, por que eu iria perder o meu tempo
com aquela mulher?
— Mas você está tão na defensiva, senhor Harper. Eu
ainda acho difícil de acreditar que se apaixonou a esse ponto —
comenta.
Ele se aproveita da abertura que está tendo, pois
Manuella não é um tema que entra em discussão com frequência
desde o dia em que saiu da empresa e decidiu se aventurar pelo
mundo. Depois que conversei com a mulher, contei para o meu
melhor amigo sobre como havíamos ficado, mas até para ele a
espera parece longa demais. Não fala com todas as letras, mas sei
que pensa assim.
No fundo, deve estar com pena do idiota aqui. Sei que ela
estava muito quebrada depois do que aquele desgraçado do Dutra
fez, e que apenas cumpri a promessa que fiz a mim mesmo de
respeitar o seu tempo, mas não imaginei que ela fosse ficar fora
durante tanto tempo.
A sensação de estar no escuro é muito ruim.
— Não me importa mais se vai voltar ou não. Manuella
acabou para mim — assevero. Mas pensei assim muitas vezes e
nunca a deixei ir de verdade.
— Vou fingir que acredito, Romeu — ele diz e se levanta
fechando o terno. — Só vim mesmo para te convidar para jantar
comigo e com o Nicolas. Você tem que se animar, Harper. Não
estou te reconhecendo, e mesmo que goste muito da Manu, que a
venere por ter te colocado nos eixos, acredito que passou muito
tempo. A vida dela pode ter seguido, então você tem que seguir a
sua também.
Só agora, e eu sabia que esse momento chegaria,
alguém fala o que todo mundo que sabe da nossa história deve
estar pensando.
— Você está certo — admito. — Vou jantar com vocês,
mas sugiro que vá com calma, porque não sei nem se me lembro de
como beijar na boca — brinco.
Pode parecer mentira, mas o último sexo que fiz foi com
Manuella Ortega. O trabalho, a bagunça que tive que arrumar do
meu pai, me manteve focado e sem tempo para diversão. Mas tenho
que confessar que mesmo quando sobrou tempo me faltou vontade.
— Até mais — ele diz e sai.
Sozinho, jogo a minha cabeça para trás e suspiro alto.
Hoje eu estou particularmente mais sensível do que nos outros dias
de todos os últimos meses. O que tenho com aquela mulher se não
uma promessa de que iria a esperar? A gente nem mesmo chegou a
ter uma relação de verdade.
O fato de eu ter dito que a amava parece não ter
significado nada para ela.
Eu sei que manteve contato através da minha avó, mas
por alguma razão sentia que fazer perguntas seria como trair a
minha palavra de que lhe daria espaço. Logo eu que nunca fui de
seguir regras, e menos ainda de sentir remorso quando quebrava a
cada uma delas. De qualquer forma, a minha avó não me diria nada
sobre Manu, não se ela tivesse pedido para não falar.
Foi ela quem viajou e não voltou mais. A bola do jogo
estava em suas mãos, e poderia muito bem ter pelo menos me dito
que estava bem em algum momento. E mesmo que algo me diga
para não fazer, o meu racional quer que eu siga em frente, pois
seria loucura seguir esperando, não seria?
— Porra de mulher enlouquecedora!
Tendo tomado uma decisão que vai contra a minha
vontade, digo a mim mesmo que só preciso colocar os pensamentos
sobre tudo o que diz respeito a morena de lado e tentar ao menos
dar uma chance de conhecer a companhia que os meus amigos
devem levar nesse jantar.
E quando digo conhecer, é só no sentido bíblico mesmo,
porque Manuella continua sendo a única mulher com quem quis um
relacionamento e sentia que me completava e satisfazia em todos
os sentidos. Pensar em conhecer alguém agora é saber que mesmo
que role alguma coisa, em questão de dias estarei cansado da
companhia da pessoa e do sexo.
Mas chega disso!
Ainda tenho um dia todo de trabalho pela frente, porque
junto com o status e a sensação de poder, vem o suor dobrado. Não
me queixo, porque era o que eu desejava, e é bom ver a empresa
milionária se expandindo e saber que a minha gestão é a
responsável por isso.
Essa parte da minha vida só não está perfeita porque não
tenho uma secretária gostosa, cujas roupas justas me enlouqueciam
todos os dias. Ela me distraia nas horas mais tensas ou ao final dos
expedientes.
— Mendonça, pode vir aqui, por favor? — chamo no
ramal da minha secretária.
Sim, ela voltou. A competente senhorita Mendonça.
Lembro que costumava gostar muito dela, de pensar que não
poderia viver sem sua ajuda, mas tudo mudou. Hoje, o fato de olhar
para a sua cara e ver que não é a morena por quem sou louco me
irrita. Pior que na sua frente tenho que fingir.
Não a verei tanto no futuro, pois o meu contato direto não
será mais com ela. Como se tornou mãe, e sim, fui sensível a ponto
de perceber que não podia mais ficar fazendo o mesmo horário e
tendo as mesmas responsabilidades, acabei rebaixando-a para o
cargo de assistente de secretária.
Ela vai auxiliar a minha secretária executiva. Essa terá
para si toda a responsabilidade, mas contará com a competente
Carla. O seu salário continuará sendo o mesmo, e pela forma como
tem sido doce comigo, tenho certeza de que me tornei uma de suas
pessoas preferidas no mundo.
— Vamos repassar os compromissos do dia? — peço
quando está parada com o Ipad na minha frente. — Os
compromissos que são menos urgentes você pode remarcar para
outro dia. Hoje vou sair mais cedo.
— Não pode!
— Perdão?
Essa mulher anda tão estranha. Desde cedo ela tem me
olhado como se tivesse nascido uma terceira cabeça no meu
pescoço. E ainda não é nem meio-dia.
— Eu quis dizer que não pode sair antes de entrevistar a
última candidata. Eu selecionei uma e quero a sua aprovação.
— Desde que seja competente, qualquer uma que você
escolher terá a minha aprovação.
— Por favor, chefe!
— A escolha está nas suas mãos, Mendonça. Da última
vez selecionou a Manuella e ela era perfeita, assim como tenho
certeza de que a próxima também será — digo.
Sendo sincero, não estou interessado em nada disso.
Tenho coisas mais importantes com as quais me preocupar hoje.
— Tudo bem, se é o que quer. — Aceita fácil a minha
recusa e sai. Tenho a impressão de que está satisfeita demais.
Até o meio da tarde, eu divido o meu tempo com reuniões
e vídeoconferências. Entre elas, uma com o meu primo, que teve
que se contentar em ser o vice-presidente do grupo. Não é algo que
goste, mas tem que aceitar. A gente tenta colocar as diferenças de
lado quando os interesses da empresa da nossa família estão em
jogo, mas não deixo de lembrá-lo que sou superior a ele. Faço
porque não engoli o fato de ter tirado aquelas fotos e as espalhado
em toda a empresa.
Até hoje tenho problemas por causa delas, pois as
pessoas que viram não esquecem do meu pau. Um erro que não me
deixam esquecer.
Perto das seis da tarde, Nicolas liga avisando que está
aqui e quer que eu conheça uma pessoa, a mesma que estará no
jantar que irei na sua casa. Não quero conhecer ninguém, mas não
sou insensível a ponto de dizer isso, ou de os mandar ir embora.
— Quando o Pietro subir, peça para ele vir direto para a
minha sala — aviso ao telefone para a minha secretária.
— A nova secretária está aqui e quero que o senhor a
conheça antes de ir embora.
— Posso ser apresentado para ela depois que o Nicolas
sair. Mas que não seja mais do que cinco minutos — falo e desligo.
Ainda a história da secretária!
Cinco minutos depois, eu estou parado na frente da mesa
com os braços cruzados, apenas esperando que entrem. Quero me
livrar das visitas e ir para a minha casa me preparar para o bendito
jantar.
Quando o homem entra, me deparo com pernas longas e
bonitas. Os meus olhos vão subindo pela cintura fina e, diferente da
Manu, ela é magra como uma modelo de passarela e tem seios
pequenos condizentes com o resto do seu corpo.
O rosto é perfeito, falando como um bom apreciador da
beleza feminina. Os cabelos loiros platinados chegam na altura de
seus ombros e os olhos são de um azul cristalino. A mulher é linda,
e o fato de estar na minha frente me faz lembrar que ela era o tipo
que me atraía antes de eu cair no feitiço de uma morena bocuda.
Sim, eu era doido pelas loiras.
— Pelo visto, gostou da minha irmã — o companheiro do
meu melhor amigo fala sorrindo ao se aproximar com ela de onde
estou.
E desde quando Nicolas tem irmã?
E quanto a gostar dela, não gostei como deveria. Claro
que aprecio a sua beleza, afinal, não sou cego, mas não é como se
eu não visse a hora de ficar sozinho com ela para tirar as suas
roupas. Isso eu sentia com a...
Aquela fodida que não vou mencionar o nome nem em
pensamentos mais. Tudo poderia ter sido diferente.
Tudo!
— Meia-irmã — ela o corrige. — Prazer, sou a Ariel —
apresenta-se, estende a mão e eu beijo a palma.
— Dá no mesmo. Nunca falei dela porque essa mulher
está sempre fora do país — explica. — Esse é o John Harper, o
amigo de quem Pietro e eu te falamos.
— Espero que tenha sido elogios — falo descontraído, ou
tentando ser.
Só posso estar doente. Pela forma aberta como a mulher
me olha, o seu rosto grita “sexo à vista”, mas o meu pau parece
morto. Mas também não é algo com que devo me preocupar, talvez
ele só esteja preferindo as morenas atualmente.
— Nem tanto. Mas com certeza não falaram com justiça
sobre o quanto você é bonito — ela está flertando abertamente.
— Eu não quero interromper vocês, mas estou mesmo
precisando ir ao banheiro. Aquelas batidas que você me convenceu
a beber, irmã... — Eu sei o que o idiota está querendo fazer. Eu
queria pensar em uma forma de dizer que não precisa, que já
podem ir embora.
— Tem um banheiro no canto esquerdo — aviso.
— Prefiro usar o do meu homem — assevera, pisca com
malícia para mim e sai da sala.
Eu tenho uma mulher na minha frente esperando que eu
tome a iniciativa, talvez um esquenta antes do jantar, mas, pela
primeira vez, não sei o que fazer.
Na verdade, até sei, mas não quero. No fundo, não tenho
a menor vontade de seguir em frente e enterrar o que a Manu e eu
poderíamos ter tido. Essa garota não despertou o menor interesse
em mim e, ainda assim, o lado racional me obriga a pelo menos
tentar. Não deixar que aquela mulher dite o que faço ou deixo de
fazer, mesmo com a sua longa ausência.
Quando a moça loira chega mais perto, eu não faço nada
para afastá-la. Quando toca no meu ombro com a intimidade que
não temos, deixo que faça.
Então, é isso. Hora de superar. Quando a moça com
quem mal troquei duas palavras aproxima a cabeça para me beijar,
a porta é aberta e na minha frente está quem eu mais desejei ver
nos últimos meses, mas que não esperava hoje, não depois de tanto
tempo.
— O que veio fazer aqui? — Pergunto com frieza e muita
irritação. De repente, a frustração de todos os dias de saudades
está sendo colocada para fora.
CAPÍTULO 37
MANUELLA
Alguns minutos antes
Cheguei mais cedo para o processo que foi mais fácil do
que da outra vez. Tendo mergulhado de cabeça no meu plano, Carla
Mendonça deu um jeito de garantir que o careca iria me passar para
a segunda fase do processo de contratação. Era lógico que a
segunda fase seria feita por ela, que conhece o serviço e o homem
tanto ou mais do que eu.
As outras duas candidatas foram meras formalidades,
pois apesar de não nos orgulharmos disso, afinal, também queriam
muito a vaga de secretária executiva de John Harper, a gente sabia
que eu seria a escolhida.
Voltar a trabalhar para ele foi mais do que o desejo de ter
novamente um salário na minha conta no final do mês. O meu maior
desejo, acima de qualquer coisa, era poder estar perto do loiro, de
poder o ver todos os dias, mesmo que esteja puto com o meu
afastamento durante tanto tempo. Não o julgo, pois estaria me
sentindo da mesma forma, sobretudo, depois da conversa que
tivemos e a forma como me defendeu do Dante.
E depois que tudo se encaminhou como deveria, subi
para o décimo terceiro andar para rever as minhas amigas. Primeiro
elas me xingaram, mas agora estão me bombardeando de
perguntas sobre o que fiz em todo esse tempo e por onde andei. Eu
respondo com animação enquanto espero o momento de subir e ser
apresentada como a nova secretária do chefão, sem, contudo,
esquecer-me do frio na barriga de nervosismo.
— Eu amei essas mechas no seu cabelo. Ficou mais
linda do que já era — Sara pisca para mim com malícia e eu
retribuo, apenas para provocá-la.
— E veio pronta para o crime — fala Ana ao me medir da
cabeça aos pés.
A saia social de hoje é justa e vermelha, da mesma cor
dos sapatos. A camisa branca de mangas três quartos tem os três
primeiros botões abertos, deixando à mostra uma pequena
insinuação de decote. Os cabelos estão presos em um rabo de
cavalo, porque o homem ama o meu pescoço. O beijou, chupou e
lambeu todas as vezes que o teve ao seu alcance.
A maquiagem é leve, mas o batom é vermelho sangue.
Já que minhas intenções vão além de conquistar a vaga, quero o
meu loiro hipnotizado pela minha boca, que imagine a sua toda suja
de batom quando nos beijarmos. Que pense na visão que terá de
mim de joelhos e engolindo o seu pau.
— Ei! — Teresa gesticula na frente do meu rosto. — A
gente ainda está aqui falando com você.
— Desculpa, meninas. Mas estou nervosa demais —
confesso.
— Se for por causa do John Harper, ele vai cair aos seus
pés quando te ver — Sara avisa e prefiro acreditar. — Aquele
homem sempre foi louco por você. Teve o seu tempo e voltou
quando se sentiu preparada.
— Se gosta mesmo de você, vai te entender — completa
Teresa.
— Estou contando com isso — digo. — A Mendonça está
demorando para me chamar, não acham? Está quase na hora.
— Não é melhor subir de uma vez? — Ana sugere.
— Você tem razão. Vou logo — digo, beijo o rosto de
cada uma e me dirijo para os elevadores.
— Obrigada pelo presente.
— Agarre o seu homem.
— Tente sair da seca.
Ouço-as falando e dou risadas enquanto as portas dos
elevadores se fecham.
O plano foi simples. Assim que vi o anúncio da vaga,
liguei para a Mendonça. Disse que estava interessada de novo e
insinuei que ela poderia mexer os pauzinhos para facilitar a minha
vida, assim como fez da outra vez. A mulher é profissional, ou tenta
ser, e só topou porque sabe que me saí bem enquanto a substituí,
que mesmo tendo um acordo e transado com John, fiz bem o meu
trabalho de secretária.
A meu pedido, ela não contou nada sobre o meu retorno
para o homem, pois a ideia é o pegar de surpresa. Agora que está
perto de acontecer, já não sei se fiz o certo. Sinto medo da rejeição
e de ver que é tarde demais para nós.
— O que aconteceu? — pergunto ao chegar no andar da
presidência. — Estava esperando você pedir para que eu subisse.
— Querida...
— Está nervosa, mas não mais do que eu. Sente as
minhas mãos geladas? — Curvo-me um pouco na sua mesa e deixo
que me toque.
— Houve um imprevisto, uma mudança de plan...
— Só me diga que ele está lá dentro esperando a nova
secretária, que no caso sou eu — peço, e os meus olhos estão
queimando a porta de sua sala. Sinto um orgulho inexplicável de ver
o seu nome nela. A sala da presidência.
— Está, mas... — não a ouço mais e sigo na direção da
porta — ele não está sozinho — ouço quando abro a porta e me
deparo com a cena que não gostaria de ver nem em mil anos.
Primeiro, vejo a cena em que está prestes a beijar outra
mulher, e agora me olha como se me odiasse. Mas eu estou aqui
como uma boba idiota, incapaz de responder a uma pergunta.
— Eu te fiz uma pergunta, garota! — ele fala entredentes
e uma irritação incontida. A loira até sai da sua frente, mas se posta
ao lado, tão perto que me traz ganas de arrancar todos os cabelos
de aplique da sua cabeça loira.
Se controle, Manuella Ortega! Você tem que parar de
tremer como uma boba e falar.
— Sou a nova secretária — digo em um fio de voz. A sua
risada de desdém faz com que eu me sinta uma idiota.
— Mas isso só pode ser uma piada de péssimo gosto.
Que brincadeira é essa? — Cospe.
— Eu devo deixá-los a sós? Vocês se conhecem?
— Sim — digo.
— Não — ele fala ao mesmo tempo.
Os meus olhos ardem. Um misto de tristeza, raiva e
frustração, mas não vou dar a eles esse gostinho de me humilhar,
não mais do que já me sinto.
Como assim não me conhece?
Filho da puta!
— Tudo bem, acho que foi um erro. E me perdoem por ter
os interrompido — digo, fecho a porta com um estrondo e, cega por
causa dos olhos cheios de lágrimas, apresso-me na direção dos
elevadores.
— Manuella, eu sinto muito... — Carla fala ao meu lado.
Eu conto vinte segundos até que um dos elevadores chegue no
andar.
— Está tudo bem — digo, engolindo em seco. — Depois
a gente se fala. — Quando as portas se fecham, eu finalmente
choro.
Acabou. Ele me odeia por ter feito o que era melhor para
mim naquele momento. Eu também vou fazer de tudo para o
esquecer. Se não pôde me entender, significa que nunca gostou de
mim de verdade.
JOHN
— Porra! — Esbravejo quando a porta bate tão alto que a
mulher se afasta.
— Perdão, mas você realmente não conhece aquela
mulher? — Até uma estranha percebeu tudo.
— Conheço muito bem. Eu sou completamente
apaixonado por ela. Eu... Eu a amo — digo pela primeira vez para
outra pessoa, e tinha que ser uma estranha.
— Então vai atrás dela — sugere.
— Eu sinto muito por isso. E diga para o seu irmão que o
jantar está cancelado.
Ao chegar do lado de fora da sala, Carla está parada
sozinha na frente de um dos elevadores.
— Cadê a Manu? — indago, enquanto aperto com
desespero o botão da caixa metálica, como se isso fosse fazer com
que suba mais rápido.
— Ela foi embora — diz, olhando-me com exasperação.
— Aposto que foi um idiota com ela.
— Manuella me deixou sem saber notícias dela durante
seis meses — apesar de estar me justificando, sei que estou todo
errado.
— Ela esperava que você tivesse entendido que
precisava de um tempo depois do que aconteceu. Ela não iria voltar
inteira para você se estivesse o tempo todo em contato.
Eu precisava que alguém de fora me falasse o óbvio?
Não digo nada em resposta às suas palavras, só entro no
elevador e olho ansioso para o painel, enquanto desce devagar
demais para o meu gosto.
Eu a entendi, é claro que entendi. Todos os pensamentos
e palavras erradas que saíram da minha boca foram só a saudade
falando mais alto. Falando não, gritando.
A verdade é que subestimei os meus sentimentos por
Manu. Se tivesse sido diferente, teria a colocado como minha
prioridade antes. Não teria deixado que fosse para longe de mim
com incertezas quanto ao futuro.
Eu passo correndo pela recepção e ninguém entende
nada. Assim que chego na calçada, a vejo de costas mexendo no
celular com a cabeça baixa. É claro que é a minha gata. Eu
reconheceria essa bunda em qualquer lugar do mundo.
O tempo que perco a olhando é o que leva para um carro
se aproximar e ela abrir a porta. Desesperado, a alcanço e a abraço
por trás com firmeza.
— Ei! — A mulher pisa com força no meu pé e eu profiro
os piores xingamentos.
Quando a giro nos meus braços e deixo que veja o meu
rosto, o seu corpo relaxa, mas nem tanto.
— Algum problema aí, moça? Esse homem está te
incomodando? — O motorista do carro que ela pediu pergunta.
— Sim, ele está — a safada fala, mas o meu coração
amolece, porque os seus olhos estão vermelhos por causa das
lágrimas.
Está chorando de ciúme, não é?
Mas o que são algumas lágrimas perto do que fiz com
Dante Dutra por ter nos trazido até aqui?
Foram seis meses afastados, um tempo em que tudo
poderia ter sido diferente.
— Não é verdade. É apenas um desentendimento entre
marido e mulher.
— Moça? — ele insiste.
— Mais ou menos. — Entrega-se quando percebe que
não vou desistir, e muito menos soltá-la. Quer me matar no
momento, mas prefere não fazer uma cena.
— Posso ir?
— Pode. E desculpa pelo incômodo.
Assim que o homem se vai com o carro, primeiro ela olha
em volta para checar se não tem muita gente perambulando perto
da gente, ou nos observando de dentro do prédio. Depois tenta se
soltar sem sucesso. Não quero soltá-la nunca mais, e não é só
porque quero a conter.
— Se não soltar, vou chutar o seu saco — ameaça. — O
que faz aqui? Deveria estar na sua sala comendo a loira oxigenada
— fala com ciúme.
— Você está morrendo de ciúme — digo e beijo por cima
dos seus olhos. Como é bom tê-la assim.
Durante os últimos seis meses, era como se estivesse
faltando cor na minha vida. Ela me deixou e levou embora o seu
calor.
— Não sei o porquê. Você é tão idiota... — fala e deixa os
seus ombros caírem. Os olhos ficam alagados novamente. — Por
que ia beijar ela?
— Não vou falar disso com você aqui na calçada —
aviso. — Vamos para o meu apartamento.
— Não. Eu não vou.
— Sim, você vai — rebato. — Mas antes, me diga por
que veio sem me avisar.
— Queria fazer uma surpresa, mas pelo visto a
surpreendida fui eu. Iria te avisar que sou a nova secretária. — Faz
biquinho com a boca e tenho vontade de morder. — Mas a loira...
— Pelo amor de Deus, mulher! Pare de falar dela, eu nem
sei qual é o nome da irmã do Nicolas — confesso. — Se vier comigo
para conversar, prometo que vou te explicar tudo — digo.
— Só conversar — avisa.
— Tudo bem — concordo, pois diria qualquer coisa para
ficar perto dessa mulher.
A raiva e a frustração sumiram e ficou a saudade que
preciso matar, o desejo que preciso saciar e as palavras que
precisam ser ditas e que foram adiadas por muito tempo.
Elas estão presas na minha garganta.
Caminhamos lado a lado para o estacionamento, e
quando a abraço pela cintura, não sou repelido. Quando beijo o seu
pescoço cheiroso, ela o curva mais para o lado e me dá mais
espaço.
Porra! Era exatamente disso que eu estava precisando.
Do que tanto senti falta. O toque, o cheiro de um no outro e a
intimidade que criamos sem perceber. Mesmo sem termos tido a
conversa, a gente se tornou um casal de verdade há muito tempo.
E enquanto dirijo para casa com ela ao meu lado, como
desejei e me arrependi de não ter feito nada antes que fosse tarde,
o silêncio entre a gente é confortável. Cada um com os seus
pensamentos, mas na expectativa pela conversa, para tantas coisas
que precisam ser esclarecidas. Da minha parte, almejo pelo que virá
depois, pelo momento em que a espera irá acabar.
Ao olhar vez ou outra para o lado, só tenho certeza de
que é real porque o seu cheiro está preenchendo todos os espaços.
Vendo que parece tão bem, uma imagem muito distante da sua
figura frágil e machucada da última vez em que a vi, meus
pensamentos viajam para a noite em que tudo aconteceu.
Eu praticamente voei com o carro e quebrei todas as
regras de condutas no trânsito, enquanto dirigia para o apartamento
do Dante. Ao chegar, não tive dificuldade de ter a minha subida
liberada, tudo porque já havia estado em muitas das festinhas que o
homem fez, então era um rosto conhecido pelo porteiro.
Dei uma desculpa qualquer para que me deixasse subir
sem que tivesse ligado para avisá-lo, mas tive que subornar o
homem com um bom dinheiro para que dissesse que nunca havia
me visto no prédio, caso eu tivesse problemas.
Quando Dante abriu a porta, eu fiquei mais cego de ódio
do que estava antes. Só conseguia ver o covarde que havia
machucado a minha mulher, então avancei sobre ele, dei o primeiro
soco e custei a parar.
Não sou tão mais forte ou mais alto do que o Dante, mas
era um homem cheio de fúria e ele não foi páreo para a minha raiva.
Só deixei o homem quando estava quase desacordado e com o
rosto ensanguentado. Deixei que ficasse claro porque estava
fazendo aquilo, fiz com que desejasse nunca mais voltar a sequer
olhar na direção da minha mulher.
Não precisei do álibi do Pietro, pois tudo o que o Dante
não queria era chegar perto de uma delegacia. Para falar da minha
agressão, teria que dizer que havia agredido a Manuella.
E foi por causa de Manuella Ortega que a nossa amizade
acabou. Uma amizade que jamais fará falta, pois não compactuo
com covardes doentes.
Quando entramos na minha cobertura, Manuella age
como se morasse aqui e se sente completamente à vontade ao se
aproximar do sofá para deixar a sua bolsa. Depois, ela tira os saltos
e para no meio da sala olhando para mim. Faço o mesmo de onde
estou, não perto o suficiente, mas nem fodendo tão perto quanto
quero estar.
Nos encaramos com intensidade, e o que se ouve são os
sons das nossas respirações. As batidas do meu coração estão
altas no meu ouvido, o ar é pura eletricidade, e quando a distância
entre os nossos corpos é completamente eliminada, eu não poderia
dizer quem deu o primeiro passo.
A morena envolve as pernas nos meus quadris e os
braços no meu pescoço. As nossas bocas se encontram e eu faço
um caminho cego para a parede mais próxima. Apoio às suas
costas no concreto, os nossos peitos colados enquanto nos
devoramos com voracidade.
— Meu amor, como eu senti a sua falta... Puta que pariu,
Manuella! — digo contra o seu pescoço, inspirando profundamente
o cheiro do seu perfume, pegando grandes doses dela, depois de
tamanha abstinência. — O que fez comigo? Estou louco por você,
porra! — digo ao dar uma mordida no seu lábio inferior.
Estou faminto, e como uma pessoa faminta, não sei
pegar pequenas doses, preciso de tudo, então as minhas mãos
apertam os seus seios e logo partem para a bunda gostosa,
preocupando-me em subir o resto de sua saia, até que fique toda
enrolada na cintura.
— Te quero, John. Passei todos esses meses te
desejando em segredo, me segurando para não ligar, para não te
pedir que fosse me encontrar... — revela com a voz entrecortada,
enquanto rebola o quadril, esfregando a boceta quente no meu
cacete. — E antes de dormir, me tocava para você. Só para você.
— Mas agora nós estamos juntos, morena, e vou te foder
até o esgotamento. Vou meter tão profundamente em você que não
poderá andar amanhã — falo de dentro da sua boca, provocando a
língua que desejo que mais tarde provoque o meu pau. — Quanta
saudade...
Enfio a mão com tudo dentro da calcinha pequena e
tenho a boceta toda molhada de tesão.
— Como você é safada, senhorita Ortega. Eu mal te
toquei e já está pingando para mim — falo, passo a estocar dois
dedos, enquanto provoco o clitóris durinho. — Vai me deixar te foder
de todas as formas hoje, não vai?
— Você pode tudo. Sou sua — diz, revirando os olhos de
prazer e se sentando nos meus dedos.
— Abra os botões da camisa, gostosa. Quero ver e
chupar os seus peitos — digo, por um momento prendendo o seu
olhar no meu. Quero que veja e sinta quem está com ela agora.
Quem estará no futuro.
Quando os seus peitos estão livres perante o meu rosto,
abocanho um deles o máximo que consigo, então começo a me
divertir mamando e masturbando-a. Quero que goze no meu pau,
mas preciso ter o seu corpo se contorcendo em um gozo que vem
forte. Antes de me meter profundamente, e fazer tudo o que vim
desejando, necessito olhar para o seu rosto e saber que está
gozando para mim.
— Goze, amor. — Como se obedecesse ao meu
comando, Manu crava os dentes do meu ombro e goza. O seu corpo
pequeno se contrai todo, e mesmo se quebrando, ela ainda move os
quadris querendo mais e eu dou. Continuo estocando com os
dedos.
Estou com as bolas roxas, dolorido de tesão, mas
primeiro vou cuidar dela. O seu prazer também é o meu prazer.
— Levante a cabeça e me deixe te ver, querida — peço,
então os seus olhos com custo se fixam nos meus.
— Mais alguém te tocou assim depois de mim? — É uma
pergunta difícil, cuja resposta não sei de desejo ouvir, mas também
não posso evitar.
— Não. Só houve você... — diz com a respiração difícil, a
boceta ainda melando os meus dedos, que saem lentamente.
Diante dos seus olhos, os levo até meus lábios e chupo.
— Como estava com saudade do seu gosto viciante. — A
visão faz os seus olhos ficarem ainda mais escuros, então a morena
toma as rédeas do que quer.
Enquanto a beijo contra a parede, ela leva as mãos entre
os nossos corpos e começa a abrir minha calça. Livra o meu pau
duro, e há quanto tempo ele não fica assim por outra que não seja
ela...
— Quero ele na minha boca — declara, e não acredito
que essa vez sexy seja intencional.
— Não será agora. Quero te comer, gozar dentro de você
até que a minha porra escorra pelas suas coxas. Quero que fique
com a minha marca, porque você é minha, Manuella Ortega.
— E quem mais é sua além de mim? — pergunta,
delicadamente acariciando o meu membro com movimentos de
subir e descer.
— Ninguém. Você é mais do que suficiente, bebê —
declaro e ela sorri. Tão linda. Tão gostosa. Quanta saudade senti
dessa mulher.
E assim como estamos, contra a parede e sem a barreira
do preservativo entre nós, seguro suas coxas enroladas na minha
cintura e entro com tudo nela até o fim. Sei que sou grande, que
pode arder ou algo mais, mas é assim que somos e fazemos. A
minha mulher deliciosa gosta e sempre pede mais.
— Como eu senti falta de me sentir assim, cheia de você
— declara com os olhos fechados e a cabeça jogada para trás
contra a parede. — Tanta saudade do seu cheiro e calor — continua
falando quando começo a me mover, entrando e saindo com força e
rapidez. Dessa vez vai acabar muito rápido, mas tem que ser assim,
depois de tanta espera e medo de não a ter nunca mais. — Do seu
pau esticando-me até o limite, as palavras sujas que me deixam
louca... Me fode, John Harper!
Ouvir tais palavras da mulher dos meus sonhos acaba
comigo, então me torno a minha versão mais intensa. Solto as suas
pernas da minha cintura e a coloco no chão, mais um beijo rápido
chupando sua língua e depois a viro de costas.
— Senti saudade de olhar para essa bunda perfeita, que
até o final da noite vai me deixar comer — assevero e dou um tapa
estalado. O seu corpo tenciona, mas não reclama. Logo estou
passando a mão no lado avermelhado e a morena geme.
Abro os lados da sua bunda, afasto suas pernas e volto a
enfiar tudo na sua boceta.
— Caralho de bocetinha gostosa. — Penetro-a e os
nossos corpos se chocando fazem o som reverberar por toda a sala,
os seus gemidos estão altos, e quanto mais bruto sou, quanto mais
fundo meto, mais a minha safada implora.
— Assim, querido. Mostre-me como sentiu a minha falta.
O que quis fazer comigo e não pôde durante seis meses... —
provoca e joga a bunda ainda mais para trás de encontro ao meu
quadril.
Fora de mim de tanto tesão, no melhor sexo que já fiz,
enrolo os seus cabelos nos meus punhos, encho a outra com seus
peitos e a como sem cuidado, da forma pela qual me implora.
— É bom voltar a me surpreender com quão safada você
é, garota!
Por incontáveis minutos, sempre a ouvindo implorando e
me provocando, com os nossos corpos pingando de suor, mas
retardando o máximo possível a entrega, porque não queremos que
acabe, estoco na sua boceta.
Da parede passamos para o sofá, onde a mulher se senta
no meu pau e esfrega os peitos bonitos no meu rosto, me fodendo
até levar nós dois a um novo orgasmo. Do sofá, passamos a nos
agarrar no tapete da sala, então Manu começa a me enlouquecer
com a boca.
— Boca gostosa — elogio com a mão na parte de trás da
sua cabeça, e erguendo o meu quadril para que tome todo o meu
cacete dentro de sua boca. E ela se esforça, mesmo quando tem os
olhos cheios pelas lágrimas e toda babada.
Jogados no tapete da minha sala, gozo na boca da minha
morena, em seguida a deito de costas e apenas a beijo com calma,
enquanto os nossos corpos se acalmam e as respirações
normalizam.
Com a minha cabeça apoiada na mão para que consiga a
ver melhor, admiro-a em silêncio, apreciando o seu rosto que não
esconde a satisfação sexual. E enquanto a olho, a minha mão
passeia pela barriga e pela coxa lisa.
— Quem era aquela loira? — E chegou o momento das
explicações.
— A irmã do Nicolas, o companheiro do Pietro, você
sabe. Eu havia combinado de jantar com os meninos hoje e ela
estaria presente.
— Por quê? — Está mordida e sinto muita satisfação com
esse fato.
— Porque estava há seis meses sem você, e eles
acreditavam que estava na hora de tentar seguir em frente. — Sou
sincero.
— E o que você pensava sobre isso?
— Estava começando a acreditar que estava sendo um
idiota, que você havia seguido em frente, enquanto eu ficava com a
nossa última conversa na minha cabeça, ansiando pelo momento de
te ter de volta.
Ela se deita de lado, assim como eu estou, e faz um
carinho no meu rosto.
— Eu não deixei de pensar em você um dia sequer nos
últimos meses. Sempre esteve nos meus pensamentos. E me
desculpe se te deixei no escuro, mas não entrei em contato porque
sabia que iria fraquejar. Que, se te ligasse, acabaria pedindo para te
encontrar cedo demais, e eu não poderia te dar nada naquele
momento. Se ficássemos juntos da forma que eu estava,
acabaríamos estragando a chance de algo mais duradouro.
— Eu sei, linda. E mesmo que tenha me sentido
exasperado, irritado, e que tenha pensado em desistir de nós,
sempre soube que fez o certo. Que precisava do seu tempo para
ficar bem. Eu não conheço todas as suas dores, mas as respeito —
afirmo.
— Não via a hora de te rever. Então vi a vaga e tive a
ideia. Planejei tudo junto com a Carla, e você teria uma surpresa
quando visse a nova secretária, mas eu quem fui surpreendida com
você prestes a beijar aquela mulher. — Faz biquinho, e mordo sua
boca com resquícios do batom vermelho.
— Não ia transar com ela — afirmo. Como poderia, se
nem mesmo a desejei? — Quer ser a minha secretária mesmo?
— Só se você quiser.
— Eu acho uma excelente ideia ter a minha morena
desfilando a sua bunda bonita todos os dias para mim.
A sua gargalhada me faz sorrir também, então eu paro
em algum momento e a olho por inteiro. Primeiro essa mulher
complexa faz o meu coração arder, depois, em momentos como
esse, faz com que eu me sinta em paz. Ela traz emoção e agito para
a minha vida.
Tenho nela tudo o que preciso para ser feliz. E, pela
primeira vez, sinto que uma pessoa me basta, não tenho medo de
me cansar e logo ir buscar satisfação em outro lugar. Não tenho
medo de colocar em palavras para mim e nem para ela qual o
significado do que sinto quando estou ao seu lado. Não mais.
— Eu ainda te amo, sabia?
CAPÍTULO 38
MANUELLA
Não sei definir qual é a melhor sensação: a de estar com
o corpo jogado, lânguido depois de ter sido muito bem usado pelo
homem que sabe como me tocar, ou ouvir novamente as palavras
ditas com naturalidade, como se falasse de qualquer outro assunto,
e saber que são verdadeiras.
John Harper, CEO do grupo Harper de construtoras, me
ama. Se declarou, e eu não tenho motivos para não acreditar, pois
ele não repetiria tais palavras se não as sentisse e tivesse certeza.
Agora, eu também não tenho medo de dizê-las, porque sei que
posso viver o nosso relacionamento da forma como ele merece.
— Eu também te amo — devolvo, o meu homem gostoso
me agarra e puxa o meu corpo para o seu. Estamos lado a lado,
colados de cima a baixo. — Muito. No começo, eu acreditava que
seria só sexo, uma atração intensa e impossível de fugir. Mas o
tempo me fez te conhecer e gostar de tudo sobre você, até das
nossas discussões bobas.
— O que a gente vai fazer agora? — pergunta, depois de
um beijo demorado, que começa a me deixar acesa novamente.
— Podemos ir com calma, conhecer melhor um ao outro
— começo.
Escolho com cuidado as palavras, pois apesar de termos
falado de sentimentos grandiosos e duradouros, pelos menos
espero que sejam, estou conhecendo melhor a mim mesma agora,
então falta muito para poder dizer que conheço John Harper.
Um passo de cada vez para não cometer erros
anteriores, digo a mim mesma.
— A gente pode finalmente namorar de verdade —
sugere, e não posso esconder a minha surpresa com suas palavras.
Nunca pensei que esse homem lindo fosse do tipo que
namorava. Deve ser porque nunca tinha amado ninguém como me
ama.
— Que sorrisinho é esse, morena?
— Não é nada — digo. Como é bom poder ouvir que sou
amada e olhar em seus olhos e ver que é sincero. — E quanto a sua
sugestão, não sei se sou digna do grande John Harper, sobretudo,
agora que encabeça a lista dos solteiros mais cobiçados da cidade
— brinco, deixando que a mãozona passeie pela minha bunda, mas
tem um fundo de verdade.
Não é nem questão de baixa autoestima, ou de me
menosprezar como fazia antes, mas estou falando de um membro
da família Harper. A milionária família Harper.
— Não seja modesta. Você é foda, e sou eu quem devo
me sentir envaidecido de ser o homem de uma mulher linda e
inteligente como você. Por onde quer que passe, você chama
atenção, e eu sempre me senti o melhor por saber que era minha.
De mentira, mas era. Agora quero a verdade disso tudo. Namora
comigo, Manu Ortega.
— Namoro — digo, e o beijo mais uma vez. Acabo em
cima de suas pernas. Logo John me pega e me leva em seus
braços para o quarto. — Mas nada de noivado por enquanto —
brinco.
— Um passo de cada vez. Eu aprendi a esperar pelo seu
tempo, meu amor — declara, e sinto um alívio muito grande com
essa conversa.
Quando me beija mais uma vez, não conseguimos mais
parar, fazemos amor sobre a sua cama e, dessa vez, com
sentimentos que vão além do tesão entre nós. É mais intenso,
apesar de nos amarmos sem pressa, tentando adiar ao máximo o
momento da nossa liberação.
A saudade e o fato de termos nos declarado me deixa
mais sensível e consciente dele em mim. Depois de um tempo,
caímos cada um de um lado na cama, suados e satisfeitos depois
da quarta vez.
— E o seu jantar? — indago, faço uma careta e o meu
namorado convencido percebe o meu ciúme.
Namorado.
Eu, namorando John Harper. Vou repetir isso na minha
cabeça até que a minha ficha caia.
— Ele não tem mais razão para acontecer, minha
ciumentinha, mas a gente pode ir se você quiser — provoca.
— Não, quero ficar aqui na cama com você. A sua cama
é a melhor em que já repousei o meu corpo — aviso. Para que me
faça ter a sensação de que me deitei em plumas, deve ter sido
muito cara.
— Se quiser, pode dormir nela todas as noites — fala, eu
viro a cabeça de lado com os olhos arregalados.
Ele falou o que eu acho que falou?
Dando-se conta do que disse, John conserta:
— Perdoe-me, meu amor, não foi isso que eu quis...
— John... — Não digo mais nada, pois o loiro coloca os
dedos delicadamente nos meus lábios.
— É claro que estava tão desesperado de saudade que
te queria ao meu lado vinte e quatro horas por dia, apenas para
garantir que você realmente voltou para mim, mas não vou te
pressionar. Só quero que saiba que as portas desse apartamento
estarão sempre abertas para você. Pode vir a qualquer hora, porque
estarei sempre te esperando — declara e parece que o meu
coração nunca mais vai voltar a bater normalmente.
Gosto da forma como se abriu, de como é corajoso,
porque depois que entendeu e aceitou os sentimentos, não teve
mais medo e se entregou por inteiro para mim.
Quando estávamos longe um do outro, sentia falta de
toda essa intensidade, de como me afogava nos seus olhos claros e
em cada toque de suas mãos no meu corpo, mãos que parecem
que foram criadas para saberem como me tocar.
— Cuidado com o que diz, amor. Posso usar suas
palavras contra você e viver com os pés aqui na sua cobertura. Do
jeito que gosto do seu sofá e da sua cama...
— Que bom que esse apartamento agrada a minha
mulher, assim não terei que procurar outro.
— Sua mulher? — Provoco. — Desde quando é
possessivo?
— Desde que uma morena gostosa atravessou o meu
caminho e me deixou de quatro — diz ao me puxar para cima do
seu corpo. Depois de tanto tempo, tem necessidade de estar com as
mãos em mim sempre.
— Para de me morder! — reclamo aos risos por causa da
sua boca no meu pescoço, apesar de estar pressionando o meu
corpo ainda mais contra o seu. — Estava pensando que a gente vai
se ver todos os dias, já que vou continuar sendo a sua secretária.
Será que isso não vai atrapalhar a nossa relação? Não corremos o
risco de enjoarmos um do outro? — Preciso ouvir a sua resposta,
pois, da minha parte, não existe a menor chance de algo assim
acontecer.
— O máximo que pode acontecer é eu ficar ainda mais
viciado na sua bocetinha.
— A pobre da minha vagina — brinco.
— Ela vai gostar do tratamento VIP que terá, morena —
fala e segura a minha bunda com as mãos cheias. O fato de estar
sentindo o membro duro na minha barriga me deixa excitada, mas a
necessidade de me alimentar fala mais alto.
— A gente não vai fazer isso de novo até que você me dê
algo para comer, chefinho.
O meu aviso o faz pular da cama, pegar a minha mão e,
aos risos, me levar para o banheiro. Tomamos banho juntos no jato
forte de água morna, um limpando o outro com naturalidade, como
se tivéssemos costume de fazer algo assim.
Na verdade, a nossa leveza faz parecer que a gente nem
chegou a se separar por tanto tempo. Uma química que esteve aqui
desde o primeiro momento.
— Pode me contar como foi a sua longa viagem? —
indaga quando estamos sentados à mesa de quatro lugares da sua
cozinha, nos alimentando com a massa que preparei para a gente
com a sua ajuda.
— Não tenho muito o que contar. Me diverti em cada país
que passei com a Mika, dancei até o dia amanhecer em várias
ocasiões e bebi para ficar bêbada. Era bom acordar todos os dias
sem um monte de problemas me esperando.
— Imagino que tenha feito muito sucesso com suas
roupas coladas no corpo e biquínis pequenos que usou. — Faz uma
careta, mas o seu comentário não me incomoda, pois sei que vindo
dele é diferente.
Meu namorado entende que uso as roupas que eu quiser,
que o corpo é meu e sou eu quem dita as regras. Mas, como não
custa nada assegurar, pergunto.
— Não gosta da forma como me visto? — A pergunta me
faz lembrar de como Lucas me criticava de maneira velada e fazia
com que eu me sentisse vulgar muitas vezes. Culpada por gostar de
determinado estilo de roupa.
Dante era diferente. Ele falava de forma aberta, me
culpava pela forma como os homens me olhavam, dizia que eu fazia
de tudo para despertar o interesse de todo ser humano com um pau
entre as pernas.
— Primeiro que não cabe a mim gostar ou desgostar da
forma como se veste. — Resposta certa, meu amor! A minha
terapeuta vai adorar quando eu lhe contar. — Segundo que adoro
tudo em você, especialmente porque sei que vai chamar atenção de
outros homens, que uns vão babar, ter sonhos eróticos e até se
masturbar para você, mas é só minha. Eu faço com você o que eles
querem. Eu tiro suas roupas curtas e justas. Toco nos seus seios da
forma que gosto e te faço gozar — fala e mostra com a ponta do
dedo. Depois sua mão sobe para os fios dos meus cabelos. — Eles
estão lindos.
— Não acredito que reparou.
— Só agora, depois de ter te comido todinha, de ter
assegurado que os seus peitos que amo e a sua bundinha
empinada estão como no dia em que foi se divertir pelo mundo e
deixou o seu pobre homem sozinho.
— Sozinho mesmo? — pergunto, embora ele tenha dito
que não teve ninguém.
Um homem safado como esse... Só deve ser amor
mesmo.
— Com os meus cinco dedos e alguns nudes que me
mandou nas fases do nosso namoro falso em que me deixou te
tocar — confessa sem o menor constrangimento.
— Tenho certeza de que foram boas companhias. — A
gente já terminou de jantar, então pego a mão que está estendida e
me sento no seu colo. — Além das festas e das bebidas, tive
consultas virtuais com a minha terapeuta, consegui ter conversas
completas sobre aqueles episódios e muitos outros nos meus
últimos relacionamentos. Eles tinham comportamentos que davam
todos os indícios de que eram abusivos comigo. Os relacionamentos
eram tóxicos, e eu era a pessoa que não queria enxergar.
“Eu tinha justificativas para tudo, amor. Muitas vezes,
quando o Dante ficava nervoso, eu deixava que me convencesse
que a culpa era minha. Quando Lucas mudou, eu pensava que era
porque tinha deixado de ser uma boa esposa. Aos poucos, e
acredito que o Dante foi o gatilho, despertei para enxergar que tudo
aquilo estava errado e me fazendo mal. Foi um processo difícil, por
isso não pude te procurar, mesmo que tenha desejado todos os
dias.
— Eu juro que te entendo, e está tudo bem, querida. Foi
difícil, mas esperei, porque no fundo sabia que iria voltar para mim.
Agora está aqui e não vou te soltar nunca mais — avisa, e eu
mostro os dentes.
Estou tão feliz com esse reencontro que amanhã estarei
com o maxilar doendo de tanto sorrir, além, é claro, da dor entre as
pernas, pois não estou nem perto de querer dar a noite por
encerrada.
— Eu não quero ser como eles, Manu. O meu desejo é te
fazer sorrir sempre, mesmo que um dia não tenha tantos motivos.
Quero te fazer enxergar cada dia mais o quanto é bonita e forte —
diz com a voz nasalada por um momento quando enterra o nariz no
meu pescoço. — Não estou prometendo perfeição, porque você
deve ter percebido que sou cheio de defeitos, mas, por outro lado,
você me inspira a querer ser melhor e dar o melhor para a nossa
relação.
— Eu sei que dará, John, porque você nunca entra em
nada para perder, não é assim? — Provoco-o, dando uma rebolada
no seu colo. — E só o fato de não querer ser como eles já significa
muito — digo.
Sei que intenções são apenas intenções, mas escolhi
acreditar nos seus sentimentos e em mim mesma, na certeza de
que estou forte e não vou mais me sabotar e deixar que terceiros
me machuquem.
— A forma como acredita em mim me excita, Manuella
Ortega. — A mordida que dá na minha orelha faz o meu corpo se
arrepiar da cabeça aos pés.
É uma pena que os roupões brancos que vestimos sejam
uma barreira.
— E como o meu homem excitado tem se saído na
presidência? Era tudo o que imaginava? — pergunto.
— Era, mas também tem muito trabalho e eu precisei
muitas vezes ficar até mais tarde para conseguir arrumar a bagunça
que o meu pai deixou. A parte boa de muito trabalho foi ter distraído
um pouco a minha mente para não ter pensado em você vinte e
quatro horas por dia — explica, coloca a mão entre os lados do
roupão e começa a brincar distraído com o meu seio, cujos mamilos
muito sensíveis ao seu toque rapidamente endurecem.
— E está entre as minhas responsabilidades manter o
meu chefinho satisfeito? — Instigo-o, lembrando-me de quando
tínhamos o contrato e fazíamos sexo em sua sala, no banheiro e até
no estacionamento.
— Está. E dependendo do quanto me agradar, ganhará
um bônus na sua remuneração no final do mês. Então se esforce
para suprir todas — ele coloca ênfase no “todas” — as
necessidades do seu chefe, meu amor.
— Eu te amo — ele volta a declarar.
Enquanto olho muito de perto para o seu rosto perfeito e
recebo o carinho distraído e despretensioso de sua mão, permito um
pouco de insegurança e incertezas. Não dos meus sentimentos,
porque já tive relações demais para saber quando algo muito
diferente do que já vivi acontece. Mas dos dele, pois apesar de ver
nos seus olhos a sinceridade de tudo o que me falou até aqui,
inclusive, nas suas últimas palavras, não posso fingir que não é tudo
novo para ele.
Não posso fechar os olhos para o fato de ser a sua
primeira relação séria e eu ser a primeira mulher para quem diz “eu
te amo”. A primeira que pede em namoro e até insinuou que quer
morando em sua casa.
É claro que estou feliz por ser a primeira em todas as
fases importantes na vida de qualquer pessoa quando se trata de
relacionamento, mas desejo ser mais do que a primeira, quero ser a
última.
— O que foi, querida? — Ele pergunta, estranhando o
meu silêncio. — Não deveria me dizer três palavrinhas importantes
agora?
— Eu também te amo, chefinho — declaro-me.
Depois disso, John, que desde que chegamos tem me
carregado de um lado para o outro, porque parece que esqueceu
que sei andar, me leva novamente para a sua cama.
Ele leva a garrafa de vinho e taças para o quarto e, entre
uma taça e outra, contamos um para o outro com mais detalhes
sobre o que fizemos e o que pretendemos de agora em diante,
principalmente porque vamos aparecer de mãos dadas na
construtora. Vai ser uma cena e tanto, principalmente porque
ninguém, fora os mais próximos, entende o que aconteceu de fato
entre a gente.
Acho que nem nós dois entendemos cem por cento. De
repente, o que era fingimento se tornou real demais, mesmo que a
gente não falasse abertamente sobre o que sentíamos e queríamos.
Depois que transamos mais uma vez na sua cama, eu
ligo e aviso para a minha mãe não se preocupar, porque não vou
dormir em casa. Por causa do meu histórico, mamãe tem um pé
atrás com a relação que estou começando, sim, ela sabia qual era a
minha intenção quando saí de casa mais cedo, mas está propensa a
gostar e confiar mais no John do que nos outros. Talvez por causa
do carinho com que tratou a avó no dia em que supostamente me
pediu em noivado.
Tudo o que importa para a dona Abigail é a minha
felicidade, deve ser por isso que aguentou tanto tempo de saudade
nos meses em que estive fora. Sabia que era necessário mudar de
ares e recomeçar.
E bastou apenas uma conversa e ela viu no meu rosto
que eu estava bem, que algo havia mudado. Estou em constante
mudança, assim como a vida, mas o meu amor por John apenas
aumentou, e Abigail o enxergou sem que eu tenha precisado falar
dele.
Quando me aconchego nos braços dele para dormir,
exausta de tanto gastar energia, desejo que esse seja apenas o
começo, torço para que a minha intuição esteja certa dessa vez e
que finalmente tenha encontrado um amor que me traga não só
paixão, mas também paz e segurança, afinal, é disso que se trata
uma relação.
CAPÍTULO 39
JOHN
Seis meses depois
Ainda me lembro de todos os detalhes de como foi voltar
para empresa no dia seguinte depois da surpresa que minha
namorada, essas duas palavras têm um sabor especial nos meus
lábios, me fez.
Eu vestia terno e calça azuis, óculos escuros, estilo
aviador, e a minha maior satisfação era estar de mãos dadas com
uma mulher gostosa.
Pode parecer estranho pensar que “gostosa” seja a
palavra que uso neste momento, mas faço por saber que é a
primeira coisa que vem na mente dos homens e das mulheres
quando a veem pela primeira vez. Eu mesmo não pude pensar em
outra palavra para defini-la quando os meus olhos encontraram
primeiramente os seus seios no Maresias.
Mas a mulher é muito mais do que um corpo bonito e
rosto perfeito. O orgulho que senti naquele momento veio da certeza
de que a nossa noite havia sido perfeita, que falamos tudo o que
precisávamos dizer um para o outro e ficamos na mesma página.
Era como se a minha vida tivesse em pausa durante os
seis meses, e só voltou a acontecer normalmente quando a vi
abrindo a porta do meu escritório. E enquanto as pessoas na
entrada do prédio, na recepção e nos elevadores nos fitavam cheias
de surpresa, eu apenas acenava com um sorriso de orelha a orelha.
Estava feliz porque sabia que, mais uma vez, tudo havia
saído como eu queria. Quis a presidência do grupo e consegui.
Desejei com mais intensidade ainda Manuella Ortega, e consegui a
conquistar. Mas, diferente dos meios que usei no âmbito
profissional, com ela joguei limpo.
Mudei a minha tática quando a vi machucada de todas as
formas e tive que renunciar ao que eu queria em primeiro lugar para
priorizar o que a mulher por quem estava apaixonado naquele
momento precisava. Eu não sabia que colocá-la em primeiro lugar
me faria chegar ao dia em que poderia chamá-la de minha.
O reencontro, muito diferente do que ela havia planejado,
toda a conversa e o sexo que fizemos nos levou àquele momento
único. Eu queria mostrar que estava apaixonado. Que a minha
morena, a minha secretária perfeita estava de volta.
Não retaliei a senhorita Mendonça por ter tramado pelas
minhas costas, pois, de um jeito ou de outro, ajudou a minha
morena a encontrar o caminho de volta para mim. Logo no primeiro
dia, nós três conseguimos nos acertar quanto ao funcionamento do
trabalho em equipe, pois de fato a responsabilidade aumentou e
nossa sincronia teria que ser perfeita.
Mendonça, que quis voltar às pressas, interrompendo a
sua licença quando Manu saiu de viagem, tornou-se assistente da
minha namorada, que reassumiu o cargo de secretária. Elas se
entendem entre si e nenhuma fica sobrecarregada. Com as duas ao
meu lado, não havia como não entregar um relatório perfeito dos
meus primeiros passos como diretor-presidente na reunião do
conselho.
E apesar de Carla e Manu dividirem uma sala que fica na
porta ao lado do meu escritório, na prática a minha namorada passa
mais tempo comigo. E não é porque a gente passa todo o
expediente trepando ou nos pegando em cima da minha mesa. É
porque sou o dono da porra toda, faço as minhas regras e gosto de
ter a minha morena para olhar enquanto a gente trabalha.
É claro que já aconteceu de a gente acabar transando na
minha mesa ou contra a parede de vidro que nos dá uma visão
privilegiada da cidade do lado de fora, mas não foi nada que
prejudicasse o meu bom desempenho. Pelo contrário, sexo com a
minha secretária me dá para gás para trabalhar.
E para mostrar que somos inteligentes, a gente
conversou sobre o assunto e sabe que não pode ser sempre assim,
que o fato de estarmos o tempo todo juntos, a cada minuto dos
nossos dias, pode acabar desgastando a relação ou misturando as
coisas, mas combinamos de darmos alguns passos para trás se
percebermos algo errado.
Passaram-se seis meses depois do “eu te amo” dela e do
início do namoro, e as coisas entre a gente não poderiam estar
melhores. Mesmo que não tenha se mudado para a minha casa, eu
entendi que vamos fazer tudo no seu tempo, convenço Manu a
dormir comigo quase todas as noites.
Em todo o meu apartamento têm marcas suas. Se recebo
alguém, não preciso dizer com todas as letras que há uma mulher
na minha vida, basta perceber as escovas lado a lado ou até mesmo
o porta-retratos digital com a nossas fotos.
Hoje a gente veio até a casa da minha avó, porque é o
jantar em que se comemora mais um ano de casamento com o meu
velho. Eles nunca deixam de celebrar, mesmo que estejam juntos há
décadas. Estão presentes a minha sogra e a minha cunhada, o meu
melhor amigo e o seu companheiro, que não me perdoou direito
pelo bolo no jantar e o fora na sua irmã.
E enquanto bebo e finjo que presto atenção no que o meu
casal de amigos fala, observo a minha garota conversando com a
minha mãe, a dona Érika e a sua família. Ela parece a mesma que
conheci, linda e segura de si, mas agora eu sei que não é só uma
máscara por trás de uma alma ferida. Não, aos trinta e três anos,
minha mulher está em sua melhor fase.
Gosta de ser a minha secretária e das responsabilidades
que o cargo traz consigo, tornou-se essencial nesse sentido também
para mim. Mas o que mais a deixa tranquila, e essa preocupação
ficou clara nas primeiras semanas do nosso namoro, é que a
relação que temos é leve.
Existem as brigas bobas e as suas manias de me deixar
até três dias sem sexo quando acha que mereço, mas, na maior
parte do tempo, a gente se dá bem. Não existem cobranças
exageradas de nenhuma das partes.
Mas é óbvio que sou possessivo e tenho ciúme da minha
morena, mas não deixo que seja um problema, afinal, ela é minha, e
é muito comum que eu me sinta envaidecido, porque mesmo que
desperte interesse em outros, é por mim que ela se deixa ser tocada
e beijada. São nos meus braços que dorme todas as noites.
Esse jantar lembra muito o da noite em que a pedi
falsamente para ser a minha esposa, um assunto que acabou se
tornando motivo de piada, e não sem razão, afinal, vejam só até
onde a relação falsa nos trouxe.
— Ela não vai fugir, meu amigo — Pietro fala para
conseguir chamar a minha atenção.
— Só se for para os meus braços, caindo direto no meu
pau — digo só para o provocar.
— Héteros!
— E pensar que teve uma época em que eu pensei que
você tinha enlouquecido por ter aposentado a vida sexual para
esperá-la. Eu nunca disse antes, mas você estava certo, sempre
esteve, e não é novidade — revira os olhos ao fazer o elogio. —
Esperou o tempo necessário, e sei que esperaria mais, mesmo
sofrendo, e no final teria esse sorriso que não deixa o seu rosto.
— Está doente? Nunca te vi me elogiando dessa forma,
irmão — brinco. Na maior parte do tempo, apesar de nos amarmos
como se tivéssemos o mesmo sangue, estamos nos provocando.
— Só queria que soubesse que a sua felicidade é a
minha felicidade, que nunca tinha te visto tão bem como tem estado
desde que assumiu esse amor com a Manu. Ela tinha que aparecer
na sua vida, não poderia ser outra. Só alguém como aquela mulher
— aponta discretamente — seria capaz de colocar John Harper na
linha.
— Um brinde a isso? — subo a minha taça e ele a dele.
— Quanto mel. Ainda bem que você é hétero, John —
Nicolas comenta e eu puxo os dois para um abraço triplo, e nem um
pouco masculino.
— As pessoas estão olhando, John Harper — o
companheiro do meu advogado provoca mais uma vez quando o
solto.
— Elas olharam a vida toda, se perguntando por que eu
não sou gay se o meu melhor amigo é, e sempre caguei para isso.
— No dia em que John Harper se importar com opiniões,
vai chover canivetes do céu — Pietro avisa.
Ele está certo. Por exemplo, não me importo com a
opinião de quem esperava que eu me acertasse com uma Barbie
loira, rica e na casa dos vinte anos, até porque, era com elas que
costumava sair antes de me apaixonar pelo oposto: uma mulher
mais velha, morena, pobre e gostosa.
Vendo-a de longe socializando, nem parece que a minha
mãe é apenas simpática com a minha namorada, mas, sempre que
pode, me pergunta se tenho certeza desse relacionamento. Sei que
para ela eu merecia algo melhor, mas melhor segundo o seu ponto
de vista. Felizmente, não é um problema entre a gente, mesmo
porque, nunca se importou tanto comigo como deveria. Manu é
madura quanto a isso e aceita o que ela tem para oferecer.
O meu pai, que dá umas escorregadas ao se esquecer
que é casado até quando a esposa está presente, trata Manuella
muito bem, mas sei que gosta mais do seu corpo do que das suas
ideias. Ele tenta disfarçar, mas vez ou outra o pego olhando para a
bunda da nora. Manu fala aos risos do primeiro dia em que colocou
os pés na empresa e deu de cara com ele no elevador.
Não seria o Jonathan se não flertasse com uma mulher
bonita.
— Ela está vindo, cara, finja que não estava esse tempo
todo a olhando como um obcecado.
Eu não estou obcecado, não tanto. Os sentimentos estão
apenas mais intensos, pois hoje vou fazer o que há dias venho
planejando, imaginando o que iria dizer e esperando a oportunidade
ideal.
Mesmo que eu tenha desejado isso desde o início, pois
sentia uma urgência muito grande de garantir que não ia mais ficar
longe dela, depois de tantos meses, esperei até sentir que daria a
resposta certa porque queria, não por se sentir pressionada.
Hoje eu sei que Manuella está pronta para o próximo
passo, apenas o primeiro para a vida que estamos todos os dias
construindo juntos.
— Estava percebendo que não tirava os olhos de mim.
Saudades, meu amor? — Pergunta quando me abraça pelo pescoço
e beija de leve os meus lábios.
Hoje ela está mais linda do que nunca. Os cabelos estão
soltos em cascatas onduladas até o meio de suas costas, e o
vestido chega até metade de suas coxas e tem um decote profundo
nas costas. Se eu não estivesse me sentindo particularmente
romântico hoje, estaria duro nesse momento.
— Sempre tenho saudade quando não está perto de mim
— rebato e enterro o meu rosto no seu pescoço.
É um costume que tenho, todas as vezes que passa um
tempo longe, nem que seja alguns metros, a recebo em meus
braços sentindo profundamente o seu cheiro.
— Vamos, querido, vai começar o doce desses dois e não
quero ficar enjoado antes do jantar — Pietro fala, pega a mão do
marido e o leva para longe.
Respiro aliviado. Vejam bem, eu os amo, mas prefiro a
minha mulher.
— Está tudo bem? — ela pergunta em um fio de voz,
sentindo reações físicas com a minha boca no canto da sua, depois
dando uma mordida leve na ponta de sua orelha.
A verdade é que somos muito sensíveis um ao outro, e
sempre será assim. Basta um toque menos superficial que o desejo
começa a dar as caras. Sobre os carinhos em público? As pessoas
que convivem não se importam. Estão acostumadas.
— Mais do que bem. Estou com você agora — afirmo.
— Quem via aquele loiro que só queria sexo de uma noite
não imaginava que ele se tornaria o namorado perfeito — brinca,
mas gosto quando fala assim. Não pelos elogios, mas porque me
deixa saber que estou sendo bom para ela.
Posso falhar na empresa e depois consertar, mas não
posso e não vou falhar com Manuella Ortega. Jamais com ela.
— Mostre-me o quanto sou perfeito mais tarde, quicando
no meu pau.
— Safado, esqueci de acrescentar que o meu namorado
é safado — diz, e então me deixa apenas a tocar. Enquanto à nossa
volta as pessoas bebem, comem e conversam, ficamos namorando
um pouco. Ela me acalma e me distrai a ponto de quase me
esquecer do que vou fazer hoje.
Minutos depois, a gente precisa se separar, pois o jantar
é servido. Os meus avós fazem os seus tradicionais discursos sobre
o amor, companheirismo e a importância de conseguir superar
obstáculos. Hoje, apaixonado, consigo entender melhor e me
importar com as suas palavras.
Depois dos discursos, seguimos para o jantar animado. À
mesa, sentado na minha frente, está o meu primo Tales. Eu jogo
uma piscadinha para ele, apenas para provocar. Olho para o lado e
minha morena está revirando os olhos.
O que posso fazer se gosto de lembrar que, apesar do
seu golpe baixo ao mandar as fotos, eu consegui ficar com a mulher
e com a cadeira que nós dois disputamos? A ele coube o papel de
se contentar com o segundo lugar. O namoro falso? Era falso de
fato e não está com a moça que apresentou a minha avó, não como
um casal. Até onde soube, eram amigos de infância.
Tales é mais babaca do que um dia eu sonhei ser, pois vi
a moça e ela é muito bonita. O idiota é cego, será? Uma amizade
com benefícios não mata ninguém.
Depois que todos se dispersam para mais conversas e
felicitações aos meus avós, decido que chegou o momento. Respiro
fundo, então vou buscar a minha namorada, que estava
conversando com a irmã. A garota gosta de flertar até com o vento,
e me pergunto se ela sabe em que merda pode estar se metendo ao
tentar de todas as formas chamar a atenção do meu primo.
Tales com a irmã da mulher que foi em parte a
responsável por ele ter perdido o que tanto queria? Eu só consigo
pensar em catástrofe e sofrimento. Tenho que conversar com a
minha mulher. A gente tem que impedir isso.
Quando pego a sua mão e a levo para o centro da sala,
abrindo caminho e fazendo cabeças virarem, a morena me olha sem
entender nada.
Não, meu amor, eu não estou ficando maluco.
— Eu queria pedir alguns minutos da atenção de vocês.
Prometo que vai ser rápido — falo, a mão da Manu está ficando
gelada dentro da minha, então a ergo e beijo a palma.
— Amor, o que você vai fazer? — Questiona. Será que
passam pela sua mente as memórias de outra ocasião em que a
gente ensaiou para um momento bem parecido com esse?
— Acredito que grande parte de vocês deve saber como
tudo começou entre mim e a minha namorada, essa mulher linda —
digo, beijo a sua mão mais uma vez e jogo uma piscadinha. Ela sorri
mais tranquila, colocando a sua confiança em mim. É uma surpresa,
mas deve saber que não faria nada que não fosse para vê-la
sorrindo.
— Mas a nossa história começou antes de ela chegar à
empresa para ser a minha secretária e eu a abordar com a proposta
maluca de fingirmos um relacionamento para enganar essa senhora
bondosa. — Aponto para a Érika e olhos se arregalam. Não
esperavam a confirmação dos boatos saindo da minha boca. —
Todo mundo erra, gente. Hoje mesmo eu errei ao amarrar uma
gravata no meu pescoço. Eu a odeio! — Brinco e tiro risadas, até
mesmo da minha gata.
— Como eu ia dizendo... Começou antes. A vi em um bar
e me apaixonei de cara pelos seus peitos — Mais risadas e um
tapinha seu no meu ombro. — E apesar da forma como me tratou, já
adianto que mereci, ela não saiu da minha cabeça. Impressionou-
me mais do que qualquer outra e não deixei mais de pensar em
Manuella Ortega. Mesmo que dissesse a mim mesmo que era só
sexo, no fundo, sempre soube que não era.
— A gente já sabe que você transa, priminho. — Ouço o
deboche de Tales, mas finjo que não. Mika, a traidora, sorri do
idiota.
— Não poderia jamais me arrepender dos meus atos, não
quando eles me fizeram me apaixonar por você, querida. Aquele
acordo, o sexo sem compromisso e todas as vezes que nos
estranhamos no início me fizeram te enxergar de verdade. Olhar
para você e saber, simplesmente saber que precisava ser minha,
pois ficar sem você seria como viver sem uma parte essencial de
quem sou.
“Senti-me sem rumo todas as vezes em que, com razão,
deu passos para trás. Quando foi em busca de si mesma, fui eu
quem me perdi, porque embora não externasse com palavras, te
amava há muito tempo. E hoje, e não, pessoal, dessa vez não é de
mentira, quero dar mais um passo com você. Desejo que a gente
viva o presente, mas que sonhe com um futuro em que seremos
quase como um só”
— O que... — Ela está emocionada com tudo o que
ouviu, eu me aproximo e beijo demoradamente o canto da sua boca
para acalmar nós dois. Sou um exibicionista e tenho zero medo de
falar para o público, mas essa experiência é nova e totalmente
emocionante.
— Esse anel não foi escolhido de maneira aleatória por
outra pessoa. Eu o escolhi pensando que você iria gostar, mesmo
que fosse uma relação de fachada. Diante de todos os nossos
amigos, quero devolver para o seu dedo, e dizer que você é a maior
verdade que existe na minha vida, que um homem cheio de desejos
grandes como eu nunca desejou algo com tanta intensidade como
deseja te chamar de “minha esposa”. Case comigo, Manu?
Com a mão tremendo dentro da minha, assim como os
lábios na sua tentativa de conter as lágrimas, Manu demora alguns
segundos para falar. Sinto-me morrer mil vezes.
— Eu aceito, é claro que aceito, meu amor. Nada me faria
mais feliz do que ser a sua mulher — diz, e então eu finalmente
devolvo o anel de diamante para o seu dedo.
Sob o som de aplausos, a pego em meus braços e a giro
no ar. Termino com um beijo que começa casto, como o momento
pede, depois se torna o que somos: intensos e obscenos.
— Procurem um quarto! — Ouvimos a voz da Mika. Mas
ela não está errada.
Ainda com todos os olhares em cima da gente, afastamos
as nossas bocas. Eu tomo a sua mão na minha, não a levo para o
quarto, mas para o jardim, que no momento está vazio, porque
todos estão reunidos na sala da mansão.
Na lateral da construção, a apoio na primeira parede que
surge no meu campo de visão. Manu e eu temos algo com paredes.
Transar de pé contra uma é uma tradição nossa.
— Você quer mesmo, amor? Preciso saber se aquilo foi
sincero, se está preparada e não falou que sim só porque... — Não
termino o meu surto de insegurança, pois minha noiva impede com
dois dedos finos nos meus lábios.
— Eu ansiava por esse momento, querido. Quero me
casar com você — declara. — No dia em que a gente se
reencontrou, seis meses atrás, depois de termos conversado e nos
amado, eu dormi nos seus braços com a esperança de que fosse
duradouro. De que os “eu te amo” que falamos fossem apenas os
primeiros de muitos. Queria que esse dia chegasse, e que ainda
estivesse me olhando da mesma forma. Então, sim, eu quis aceitar
esse anel de volta, porque com você aprendi o que é um
relacionamento de verdade, que é tempestade, mas também é
calmaria.
— Eu quero te beijar agora e não parar nunca mais —
falo quando as minhas mãos que estavam na cintura fina
escorregam para a bunda. O meu coração está queimando, como
se fosse explodir de tanto amor, paixão e certezas quanto o futuro.
— Beije para sempre se quiser. Sou sua — declara.
Sim, ela é minha.
No futuro, ainda nos lembraremos do jantar em que a
pedi em casamento na mansão da família, e de como nos amamos
em pé contra a parede, trocando juras de amor e palavras sacanas
que fazem parte da gente como um casal.
CAPÍTULO 40
MANUELLA
— O que foi, dona Abigail? Por que está me olhando com
essa cara? — Questiono, deixando a peça de roupa que estava
dobrando sobre a cama. — Vem, sente-se aqui — peço e ela se
senta na cama.
Por alguns minutos, continua apenas me observando sem
responder a minha pergunta. Quando termino de fechar a última
mala, olho para a senhora e ela tem os olhos marejados.
— Por que essa cara, mamãe? — pergunto ao deixar
tudo o que estava fazendo para me sentar ao seu lado. — Não está
feliz? — Indago.
— É claro que estou, mas também estava acostumada
com você morando aqui comigo, depois de tantos anos casada com
aquele traste do Lucas — diz. A sua voz está embargada, e é até
cômico o esforço que faz para não chorar.
Mas eu estou igual, pois embora esteja exultante de
felicidade por estar dando mais um passo tão grande e importante
na minha relação com o meu chefinho, amava a companhia da
minha mãe e da Mika. Vou sentir saudade até da falta de
privacidade.
— Vou sempre visitar vocês duas. Não aja como se eu
fosse mudar de país. Além do mais, pode ir me visitar sempre que
puder, basta me ligar que eu peço para o Tito vir buscar a senhora.
Quando falo do meu motorista ranzinza, nós duas nos
olhamos e damos risadas, quem diria que um dia eu teria um
motorista particular.
— Eu ainda não me acostumei, filha. Motorista particular
parece coisa que só se vê em novelas — diz.
— E quem diria que eu me apaixonaria por um homem
que mora do outro lado da cidade? Não um homem qualquer, mas
um Harper, o herdeiro da família mais respeitada do Estado — digo.
— Logo eu... — As minhas últimas palavras fazem com que mamãe
me olhe de cara feia.
— Você merece. É ele quem tem sorte de ser amado por
uma mulher como você — afirma, porque não tem ninguém que me
ame e acredite mais em mim do que ela. — Vocês viveram
realidades tão diferentes, mas o amor que sentem é sentido por
qualquer pessoa a quilômetros de distância.
Depois de tantos meses, e de o meu noivo ter se
esforçado para mostrar para ela e para a minha irmã que o nosso
relacionamento era sério, ele se tornou uma de suas pessoas
preferidas no mundo. É incrível como ele, mesmo sendo um
milionário, se sente à vontade aqui em casa. Tão diferente dos
outros dois...
— Então não chora, dona Abigail — peço.
— São lágrimas de felicidade, Manu. Um pouco de
saudade, mas de muita felicidade. O meu coração finalmente está
em paz, mas é porque o seu também está. Uma mãe só está feliz
quando os seus filhos também estão. Quando tiver os seus, vai
entender.
As suas palavras me fazem sorrir, bem diferente do que
aconteceu há alguns meses quando falava de netos. Apesar de
querer ter mais um tempo sozinha com o meu amor, a possibilidade
de dar filhos para ele não me assusta. Na verdade, a ideia de
formarmos uma família e dar o bisneto que a Érika tanto quer me faz
sentir um frio na barriga de ansiedade.
— Se eu for metade da mãe que a senhora é, os meus
filhos serão pessoas de sorte — digo, então a abraço.
— Vocês duas, sempre me deixando de fora! — Mika
invade o quarto onde nós duas dormíamos e se joga no meu colo,
beijando o meu rosto e me babando toda.
A minha irmã doidinha, que é feliz à sua própria maneira,
e que foi a responsável por tornar a minha vida mais leve tantas e
tantas vezes me fará falta.
— Tem alguém na sala te esperando, mana — ela fala
depois que desfazemos o nosso abraço triplo e cheio de saudade.
— O Tito entrou? — pergunto surpresa. Não é possível
que depois de tantos meses ele tenha deixado de lado a sua
formalidade boba. Apesar do silêncio, o considero um amigo.
— É claro, o Tito — diz, estranho a sua risada maliciosa,
mas ela é estranha, então não dou muita importância.
— Eu não posso o deixar na sala esperando. Venha,
Mika, me ajude a encher a última mala — peço. — Sem nos darmos
ao trabalho de dobrar as peças, terminamos de encher a quinta
mala com as minhas roupas.
Um dos dias mais felizes da minha vida foi há um mês
quando me pediu em casamento, e agora estou me mudando em
definitivo para o seu apartamento. Nós não poderíamos estar mais
felizes, e como eu já estava praticamente morando com o meu
noivo, decidimos dar o último passo.
Ele passou a insistir no assunto depois do noivado, e
apesar de ter negado durante muito tempo, sabia que fazia por
medo, porque era o que eu queria também.
Com as duas me seguindo, puxando malas pesadas
como eu, entro levemente suada na sala.
— Estou pronta, Tit... Amor? —
O meu coração dispara, um sorriso se abre e então
elimino o espaço e me jogo com tudo em cima dele com braços em
torno do seu pescoço e pernas em volta do seu quadril.
Com as duas mãos enormes e firmes apoiadas na minha
bunda, John Harper se esquece que estamos na frente da minha
família e devora a minha boca. E o seu gosto nos meus lábios tem
sempre o gosto de novidade, há uma oportunidade de me viciar
todos os dias.
— Ainda estamos aqui, gente — ouço a voz da minha
irmã ao fundo, então afasto as nossas bocas. Com relutância, meu
noivo deixa que eu escorregue pelo seu corpo e me coloca no chão,
apesar de não soltar a minha cintura e de aproveitar para um último
beijo no meu pescoço.
— Deus me livre de tanto mel, vocês dois parecem dois
adolescentes bobos — a garota segue falando. Mamãe apenas
observa.
— O que veio fazer aqui? Pensei que o Tito viria — digo.
— Aconteceu alguma coisa com aquele velho ranzinza? — Por um
momento, me preocupo.
— Ele está vendendo saúde — fala. — Eu o dispensei
hoje, porque queria vir te buscar para assegurar que não mudou de
ideia.
— Não tinha a menor chance de isso acontecer, não é
mamãe? Essa mulher passou a semana de um lado para o outro
guardando todos os pertences dela para essa mudança — Mika dá
com a língua nos dentes.
— Doida para se livrar de nós duas — Abigail emenda
sorrindo.
— O que é isso? Um complô das duas contra mim? —
indago.
— Espero que a senhora saiba que vou cuidar da sua
filha, Abigail. Ela é o meu bem mais precioso — John declara.
— Ah, é? Pensei que fosse a cadeira da presidência —
digo, porque não poderia perder a chance de o provocar.
— Só é importante quando estou sentado sobre ela com
você quicando no meu…
— John!
— Perdoem-me, garotas — ele fala com um sorriso
besta. — Vamos?
— Nem pensar. Vocês não saem sem antes jantarem —
mamãe fala.
— Eu não sonharia em recusar um convite desses — diz
meu noivo.
É por isso que mamãe o ama. A forma como é atencioso
e finge que não é obscenamente rico conquista qualquer pessoa,
inclusive as que são propensas a não confiarem muito em homens.
Durante mais de uma hora, enquanto nos banqueteamos
com o delicioso jantar da dona Abigail, conversamos como uma
família que se ama. Entre uma garfada e outra, olho entre as três
pessoas mais importantes da minha vida sem acreditar no quanto a
minha vida mudou. Tantos meses se passaram, mas a ficha ainda
não caiu.
Eu consegui mais do que imaginei ser possível. Quando
queria ser feliz, não chegava nem perto do que tenho hoje com um
homem que parecia incapaz de amar algo além de si mesmo, do
dinheiro e do poder.
— Eu amo você — digo com os olhos marejados ao
abraçá-la, depois de ter enchido o carro do John com as minhas
malas de roupas e objetos pessoais. — Obrigada por tudo.
— Eu faria qualquer coisa por você — declara ao beijar o
meu rosto. — Vai ser feliz, querida.
— Eu vou, mamãe — digo com firmeza, antes de entrar
no carro. Não olho para trás quando John coloca o carro em
movimento.
— Está bem? — ele pergunta. — Não queria que fosse
um momento de tristeza para você.
— Não é tristeza, só um sentimento de nostalgia. Eu
estou muito feliz por estar indo morar com você, amor — assevero,
então John entrelaça os nossos dedos e beija a minha mão.
Não falamos mais nada, mas o silêncio dentro do carro é
confortável.
Ao chegarmos à cobertura, levo as minhas malas direto
para o seu quarto. John se oferece para me ajudar, mas eu
dispenso, porque sei que vai mais atrapalhar com suas mãos bobas
do que ajudar, então o homem diz que vai tomar um banho.
Ele está um pouco cansado, porque hoje ainda é sexta e
ele teve um dia mais agitado do que o habitual na empresa. Embora
eu tenha estado com ele apenas até a hora do almoço, pois fui
liberada para fazer as minhas malas, sou a sua secretária e marquei
as três reuniões que teve mais cedo.
John mudou hábitos por mim, tornou-se o que a sua avó
queria que fosse, mas continua viciado em trabalho. Agora que está
no comando, ele dedica muito esforço para manter a construtora no
topo. Ele é ambicioso e quer muito mais, tem planos para expandir
os negócios e eu estou ao seu lado, o apoiando em tudo.
Enquanto arrumo as minhas roupas no lado que deixou
livre para mim no closet, sinto os seus olhos queimando as minhas
costas, mais especificamente a minha bunda, porque apesar de
estar trabalhando com o notebook na cama, está consciente de
mim. Eu também estou consciente dele, porque não pode ser
diferente quando estamos juntos.
Depois de uma da madrugada, quando ele de fato foca
no que faz, eu finalmente termino de arrumar as minhas coisas.
Estou oficialmente morando com o homem que amo, o
meu futuro marido.
— Ufa! — falo ao passar a mão na testa, que está
levemente suada. Estou na frente dele, que está tão focado no
trabalho que não percebe.
John está com o rosto visivelmente cansado, mas não se
dá conta. Além de amá-lo, também estou aqui para cuidar do meu
homem como ele tem cuidado de mim em cada pequena
necessidade, então tenho uma ideia básica de como fazer com que
deixe o trabalho e descanse.
Entro no banheiro, tomo um banho demorado e depois
hidrato bem todo o meu corpo. Fico indecisa sobre o que vestir,
então decido facilitar a vida do chefinho.
Apareço no umbral da porta em uma pose sexy e faço o
som de um pigarro para fazer com que olhe para mim. Os olhos
cansados e antes focados se tornam maliciosos e vivos quando me
veem usando apenas um roupão branco.
Ele desliga o notebook e o deixa de lado, enquanto
espera pelo meu próximo movimento. Segundo esse homem
gostoso, eu sou uma safada, e ele ama quando faço safadezas para
o enlouquecer.
JOHN
— Tem alguém aqui que está morrendo de saudade de
você. Ela está carente. — Até a sua voz quando está no modo
safada fica mais sexy e afeta diretamente o meu pau.
— Por que não me deixa ver? — peço.
Com ela assim, todos os pensamentos sobre trabalho
desaparecem. A minha mulher, o amor da minha vida, que
finalmente parou de sentir medo e veio morar de vez comigo. Me
sinto mais feliz só de pensar que vou dormir e acordar todos os dias
ao seu lado.
— Quer ver o quê? Isso aqui? — Manu desata o nó do
roupão e fica nua para mim. Sinto-me o homem mais sortudo do
mundo de ter essa delícia toda para mim.
Os meus olhos primeiro se fixam nos seus peitos grandes
e lindos, depois caem na bocetinha apertada e depilada que não
canso de comer. Não preciso mais do que essa visão para sentir o
meu pau duro, latejando de tesão.
— Tão linda e cheirosa. Você já está molhada para mim,
gostosa? — provoco ao acariciar o meu mastro por cima da calça de
flanela que uso para dormir, embora ela termine no chão quase
todas as noites, depois que a gente se despe para transar.
— Estou pegando fogo. E você? Por que não me mostra
o quanto me quer? — provoca, então eu me livro da minha calça e
começo a me masturbar para ela.
— É assim que você quer, linda? — Jogo uma piscadela
e a minha mulher leva os dedos aos lábios vaginais. Ela acaricia
superficialmente a própria boceta e, de onde estou, consigo vê-la
brilhando com os fluidos do seu desejo.
— Gostosa — a palavra escapa dos meus lábios quando
começo a mover a minha mão com mais rapidez. — Venha até aqui
e senta na minha cara, amor. Quero o seu gosto na minha língua —
peço e ela vem.
Minha morena sobe na cama, eu desço um pouco o
corpo na cama e, segurando pela bunda, abocanho a boceta
molhada, me banqueteando como se estivesse há anos sem o meu
sabor preferido na língua.
A minha mulher começa a gemer algo e a rebolar no meu
rosto enquanto chupo e aperto os lados da sua bunda. Ela está
ensandecida, sei que quer gozar, mas não permitirei que faça ainda.
O meu pau está doendo de tesão, e precisa ser esfolado por ela.
— Sente-se no meu pau, amor…
— Eu sento — diz, e de fato senta, mas senta com tudo,
não deixa nada para fora ao engolir o meu pau no seu centro
escaldante.
Quando está empalada, depois que nós dois soltamos um
gemido ruidoso por causa da sensação gostosa, nos encaramos
bem de perto durante alguns segundos.
Então, sem dizer uma palavra, a gente dá o nosso melhor
na corrida pelo prazer completo. Manu começa a sentar com força
no meu pau, esfregando os peitos no meu rosto sem parar. Ela tem
o poder de me levar até o limite enquanto os nossos corpos se
batem sem parar.
— Fica de quatro — peço, e sou atendido na hora. Trepo
com a minha noiva olhando para a sua bunda linda, que fica
avermelhada pelos tapas secos que ela mesma pede em momentos
como esse.
— Na parede, eu quero na parede — prestes a gozar,
ainda tem forças para pedir.
Sem sair de dentro dela, a levo para uma parede e, com
Manu toda aberta, as pernas na minha cintura, a fodo de um jeito
que a faz me sentir mais profundamente, é por isso que gostamos
das paredes.
— Goze para mim, gostosa — peço no seu ouvido. Com
as unhas fincadas nos meus ombros, a minha mulher se desfaz nos
meus braços, tremendo e chamando pelo meu nome. E como eu
amo o som do meu nome saindo de sua boca.
— Porra! Isso fica cada dia melhor — Manu fala baixinho
e me beija enquanto gozo, enchendo a sua boceta com o meu
esperma.
**
— Que bom que você está aqui — digo com o nariz
enterrado no seu pescoço. Nós nos limpamos e estamos deitados
na nossa cama.
— Eu estou sempre aqui — ela rebate.
— Sim, você está, e nunca mais te deixarei ir — afirmo,
pois nunca fui tão feliz como sou depois dela, que se tornou a minha
maior ambição. Tudo o que faço hoje tem relação com ela.
Até mesmo no grupo Harper, faço esforços pelo prestígio,
mas, no fundo, a parte maior de quem sou quer que minha mulher
sinta orgulho de mim.
— Não existe outro lugar para onde eu queira ir —
declara.
Com carinho, desço os meus beijos do ombro para o seu
colo, brinco com os seios e termino com a boca na sua barriga.
Quando subo a boca novamente, um desejo inédito
passa pela minha mente.
— Eu quero isso com você no futuro — declaro e sei que
ela tem ciência do que estou falando.
Nunca imaginei ser pai de uma criança antes desse
momento. Não quis com qualquer outra mulher, apesar do desejo da
vovó, mas ela desperta esse isso em mim.
— Depois que a gente aproveitar o nosso casamento por
um tempo, vamos começar a nossa própria família. Sei que será um
ótimo pai.
— E você uma mãe amorosa, linda e gostosa — digo,
beijo de leve os seus lábios e depois por cima dos olhos escuros e
sonolentos.
— Eu te amo — diz, então se vira de lado, puxando a
minha mão para que a abrace quando nos acomodamos de
conchinha.
— Te amo muito mais — digo sussurrando no seu ouvido.
Sinto que sou a mesma pessoa, mas também um homem
completamente diferente do que era há quase um ano, antes de
conhecer a mulher perfeita para mim. Estou tão distante do John
que não se importava com relacionamentos, que não entendia por
que a avó valorizava tanto o amor.
Ao lado da mulher, sinto-me mais poderoso do que me
senti quando me sentei na cadeira da presidência do grupo Harper.
Hoje, todos os meus esforços estão voltados para manter tudo o
que conquistei, sobretudo, esse amor.
EPÍLOGO
MANUELLA
O dia está lindo. O céu totalmente azul e sem nenhuma
nuvem branca destoando o tom. O dia tinha que ser perfeito para o
meu casamento, e parece que até a natureza está contribuindo para
isso. Não está ventando forte, mas também não está quente às
cinco horas de uma tarde de domingo.
Eu desejei, cheia de amor no peito, mas também de
insegurança, que esse dia chegasse. Que os sentimentos que nos
unem fossem fortes e duradouros o suficiente, e eles foram.
Os últimos oito meses foram felizes, mas também
atípicos, pois eu tinha a missão de planejar e colocar em prática o
meu casamento com John Harper. E como foi bom fazer tudo
sabendo que não precisava me preocupar com dinheiro, pois o meu
noivo era milionário. Pude fazer tudo como qualquer noiva
apaixonada iria querer.
Pensei em uma cerimônia e recepção à beira-mar. E
como estamos falando de um noivo rico, a sua família cedeu a
pequena ilha com uma pousada para férias que eles têm em
Fernando de Noronha.
Os mais de cem convidados estão chegando desde o
início da semana e ocupando os quartos da pousada, além de
quartos em hotéis nas proximidades. Todos parecem hipnotizados
com a beleza da ilha, e minha mãe, que mal havia saído da nossa
cidade, nunca esteve tão feliz, não só por me ver bem, mas por
estar aqui aproveitando cada momento.
Até dois dias atrás, John e eu também estávamos
aproveitando juntos o belo lugar, mas acabamos nos afastando, e
não foi porque brigamos. A minha irmã, junto com as minhas
madrinhas, Helena, Ana Júlia e Sara, deram a ideia que deixou John
irritado. Segundo elas, não transarmos um pouco antes do
casamento deixará a nossa noite de núpcias ainda mais quente.
Não é como se precisássemos de artifícios, mas
concordei, embora tenha sentido falta do calor do meu loiro nas
últimas noites.
No momento, eu estou ao lado da minha mãe no final do
corredor de flores, montado na areia da praia. Há alguns metros, o
meu noivo, vestido com blazer azul e blusa social branca, no estilo
mais praiano possível, me espera em uma tenda cujo teto é de
flores e os lados de tecido branco. Só de olhar para ele e saber que
daqui poucos minutos serei a sua esposa faz o meu coração
disparar.
Depois de meses morando juntos, conhecendo a fundo
defeitos e qualidades um do outro, a cerimônia é uma formalidade
que as nossas famílias, muito mais do que a gente, fazem questão.
O degrau que faltava para enterrar de vez o passado. A cada dia de
felicidade, menos me lembro dos momentos em que fui infeliz com
outras pessoas, e é assim que tem de ser, como se a minha
realidade sempre tivesse sido essa.
Lucas e Dante parecem lembranças de uma vida atrás,
principalmente o Dante, de quem pensei que nunca fosse esquecer.
Imaginei que as lembranças do que fez iriam me assombrar por um
bom tempo, mas o amor que vivo e a forma como sou cuidada não
deixam sobrar tempo para pensamentos que não sejam de alegria.
A última notícia que o meu noivo e eu tivemos foi através
do advogado da família Harper, que nos ligou avisando que o meu
ex-namorado havia sido condenado. É óbvio que não passou um dia
sequer atrás das grades, mas ao menos não tentou mais se
aproximar de mim.
Apenas uma vez aconteceu de nós três nos
encontrarmos em uma festa, mas agimos como se Dante fosse
alguém desconhecido e mantivemos distância. Ele agiu da mesma
forma, mas só o fato de ter estado no mesmo ambiente que ele me
afetou e o meu até então namorado me levou embora o mais rápido
que pôde.
Hoje é o meu dia e não deveria estar perdendo um único
pensamento com esse assunto. Mas ao mesmo tempo é bom, pois
me lembra de onde estou agora e do que estou prestes a fazer.
— Está na hora, filha — minha mãe se posiciona ao meu
lado e avisa. — Sei que não preciso mais desejar que seja feliz,
porque a alegria está estampada nos seus olhos há muito tempo.
Você está conseguindo, minha menina.
Sim, eu consegui. O tempo e o amor correspondido me
fizeram entender que eu não era uma mulher que despertava o pior
nos homens com quem me relacionava. Não mereci nada pelo que
passei, porque eram eles quem não sabiam nada sobre relações
saudáveis, sobre como tratar uma mulher.
Caminho pelo corredor com o meu vestido de noiva
branco de mangas curtas de renda e forro branco por dentro. Ele é
vazado pelo tule da saia. Os meus cabelos mais curtos estão soltos
e enfeitados com pequenos grampos em forma de rosas peroladas.
A minha maquiagem leve combina com o estilo romântico do
vestido, mas não renunciei ao batom vermelho sangue, a minha
marca registrada que deixa o meu amor maluco para o borrar
sempre.
Ao som de um instrumental ao lado da minha mãe, olho
para o lado e as minhas amigas e minha irmã estão lindas com
vestidos iguais no tom lilás. O meu coração bate forte, e nunca
estive tão ansiosa. Uma ansiedade boa pelo desejo que o padre nos
declare marido e mulher de uma vez.
Ao parar comigo na frente do meu noivo, mamãe recebe
o seu abraço, e então se posiciona ao lado dos senhores Harper.
Olho para Érika e mando um beijo para ela. Amo muito os avós do
meu quase marido, e não é só porque eles estiveram do nosso lado
desde o início.
— Você está perfeita, querida. — Não menos nervoso do
que eu, John beija a minha mão. — Não parece que hoje as horas
não passavam rápidas o suficiente?
— Tive a mesma impressão — afirmo.
— Estou com saudade de você nos meus braços todas
as noites — ele se aproxima um pouco mais e fala no meu ouvido.
— A partir de hoje, nunca mais vamos dormir separados
— garanto.
— Quando vocês quiserem, a gente pode começar —
exasperado, o sacerdote que irá celebrar a cerimônia interrompe o
nosso namoro.
O discurso é longo, mas só desvio o meu foco do John
quando chega o momento de trocarmos as nossas alianças. Todos
os dias a gente fala e mostra o quão real é o nosso amor, então,
sem termos combinado previamente, renunciamos aos votos. E
quando trocamos alianças, apenas duas palavras necessitam ser
ditas.
— Para sempre — ouço.
— Para sempre — digo de volta.
Quando nos beijamos, sinto como se o tempo tivesse
congelado e eu queria poder eternizá-lo na minha mente. O
momento em que nos tornamos marido e mulher.
JOHN
Três anos depois
Para que um homem seja feliz de verdade, ele precisa de
quatro coisas. Deveriam ser três, mas você vai entender quando eu
citar todas.
Primeiro, precisa de alguém para amar, mas não um
amor morno, tem que ser aquele que completa e faz o coração
arder. Esse é o principal ponto entre os quatro. O segundo é o
dinheiro e o terceiro é o poder, sempre gostei dos dois. Para mim,
um não vive sem o outro e, durante muito tempo, a minha vida foi
guiada pelas duas espécies de ambição.
Hoje, dinheiro e poder têm a companhia do amor, e eu
poderia muito bem parar por aqui, porque só com os três já teria a
vida que qualquer homem poderia querer. Mas sempre fui ambicioso
e quis mais. Algo que se tornou essencial e não posso viver sem.
Uma amante.
Sim, eu tenho uma amante, e a mantenho desde antes do
meu casamento, que aconteceu há três anos em uma tarde perfeita
na praia. Nesse dia, eu me senti realizado, o homem mais feliz do
mundo. Depois da cerimônia, aconteceu a festa que durou até
metade da madrugada.
A minha mulherzinha e eu só fomos para o nosso quarto
às três da manhã. Estávamos bêbados e não fizemos amor em
nenhuma das três vezes em que fizemos sexo até o sol raiar.
Fodemos como animais no cio, entre risos, declarações de amor e
sacanagens faladas ao pé do ouvido. Ela até liberou o cuzinho na
noite de núpcias, um presente que queria, mas não estava
esperando.
Mas voltando à amante, porque não é o momento de
pensar na minha esposa, devo repetir que ela é muito importante
para mim. E se a amante for uma secretária gostosa, que sempre
entra aqui para fazer com que eu me sinta bem, melhor ainda. Se
todos os homens ricos, poderosos e casados soubessem a beleza
que é ter uma secretária que faz jornada dupla, teriam uma.
— Boa tarde, querida. — No meu escritório, girando a
minha cadeira de um lado para o outro, falo ao telefone no ramal da
secretária. — Espero que esteja usando aquela calcinha que me
deixa louco de tesão. Se não estiver aqui em cinco segundos, vou
descontar do seu salário.
— Quanta pressa. — A linda e sensual mulher já entra
passando a chave na porta, pois sabe exatamente o que fazer
depois de tantos anos. O tempo não foi capaz de diminuir a vontade
constante que tenho dela, mas nos últimos meses tudo está mais
intenso. — É assim com a sua esposa também? — provoca.
Os meus olhos sobem dos seus pés, passam pelas
coxas, que daqui a pouco estarão em volta da minha cintura, e
sobem da barriga para os peitos, que estão cada dia mais deliciosos
e maiores. Ultimamente, ela tem usado vestidos mais leves e soltos
para vir trabalhar, mas eles não deixam de ser sensuais, pois se não
são agarrados ao corpo, são curtos e decotados.
— Não mencione a minha mulher! — Exijo, saio de trás
da minha mesa e vou até a gostosa. Pego-a e coloco sentada com
as pernas afastadas em cima da minha mesa. — Você é apenas a
secretária gostosa que ganha um bônus ao final de cada mês para
me deixar te comer quando eu quiser — falo. A minha mão está na
frente da sua calcinha, começando a prepará-la para me ter dentro
da sua boceta muito em breve.
— Sendo paga para transar com o meu chefe, isso é tão
sujo e errado. — Errado seria não me aproveitar da sorte que tenho,
penso.
— Eu te amo — falo, esquecendo-me da nossa fantasia
do poderoso chefão e da sua secretária gostosa. — Eu também te
amo, minha menina — declaro, curvo o meu corpo e beijo a sua
barriga ainda discreta de quatro meses. Por enquanto, estamos
aproveitando sozinhos a novidade, mas já está ficando impossível
de esconder.
Aposto que as suas amigas, as secretárias curiosas do
andar de baixo, já sabem.
— Não sou mais a secretária amante que transa com o
chefe? — brinca.
A verdade é que esta é apenas mais uma de nossas
brincadeiras, que continuam tão instigantes quanto no início, depois
de três anos casados e de uma filha a caminho. Foi concebida de
maneira planejada, depois que a minha mulher decidiu tirar o DIU.
Ela me confidenciou que acreditava que nunca iria querer ter filhos,
mas o desejo surgiu um pouco depois de termos completado um
ano de casados.
— Agora eu quero a minha esposinha. A secretária
gostosa pode vir depois — declaro.
— Eu também amo você — devolve a minha declaração
e me beija.
Como eu falei, tenho tudo o que preciso para ser
completo nas minhas mãos agora. E sabe o que falei sobre dinheiro
e poder? Esquece! Eu gosto dos dois, mas poderia viver sem nada
disso, e até mesmo começar do zero, desde que tivesse a minha
esposa, que também é a minha amante e a mãe da minha bebê.
A noiva comprada, a mulher da minha vida.
Fim!
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EM BREVE
CASADOS POR VINGANÇA – A história de Tales e
Mika
SOBRE A AUTORA
É maranhense de 29 anos, mora em Brasília, Distrito
Federal. No seu apartamento, ao lado dos pais e um sobrinho,
mergulha no mundo da imaginação escrevendo livros de romances
eróticos, comédias românticas e dramas. Com quase 3 anos de
carreira, conta com 11 títulos lançados na Amazon e mais de 50
milhões de páginas lidas pelo kindle. Títulos como O tutor, vendida
para Gabriel e Marcada por mim tornaram-se Best-seller na
Amazon.
**
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autora nas redes sociais.
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SINOPSE
“Ele faz com que eu me sinta indefesa. Tudo nele me
afasta. Tudo me atrai”
Tendo nascido com um problema na perna que torna a
sua vida mais difícil, Sofia se vê obrigada a ir morar com a tia e as
primas quando perde seu pai, a única pessoa que a amava
incondicionalmente.
Cheia de sonhos e ilusões, a garota de vinte e dois anos
conhecerá Donovan Magno, um homem frio e cruel, que é
considerado o dono de toda a região, inclusive das terras em que a
sua tia mora.
Aos trinta e seis anos, depois de ter perdido a mulher de
sua vida, Donovan é incapaz de amar. Vive pela responsabilidade
que tem com o filho de um ano, embora não consiga deixar de o
culpar pela morte da mãe. Ele terá todas as suas certezas
questionadas depois da chegada de Sofia à cidade. Ela é um perigo
para o seu coração, o faz desejar ser mais do que uma casca.
“Ela é a calmaria, eu sou a tempestade. Juntos, somos a
ruína, mas também a cura um do outro.”
PRÓLOGO
Na penumbra em que me encontro, sinto a paz que só
um momento como esse poderia trazer. Lá fora tem bebida,
conversas e confusão. Aqui tem eu, a minha solidão e o barulho dos
meus pensamentos. Eu odeio ter que fazer isso, que a minha
profissão me obrigue a fingir.
Fingir que estou bem, que a minha vida tem algum
sentido, que me importo com o que sai da boca daquele bando de
idiotas. Lembro-me como se fosse hoje do dia em que tudo acabou.
O olhar dos médicos, e o último suspiro. A percepção de que a
minha vida havia acabado.
O ódio de perceber que não poderia ir embora como ela
fez. Não, eu não podia, e ainda não posso fazer isso. Regina deixou
uma responsabilidade para mim. Uma vida que só tinha a mim. Uma
vida que ainda é completamente dependente, mas ele não poderia
ter nascido com uma sorte pior do que essa.
Como esperar afeto, carinho e cuidado de um coração
oco? Como sentir que é amado se mal posso olhar no seu rosto, se
não consigo ficar mais do que alguns minutos na sua presença?
Não deveria ter sido assim. A vida não deveria ter sido
uma cadela, mas foi. Agora o som de música me corta como uma
navalha. As vozes despertam o que de pior existe na minha alma.
Sinto vontade de correr para longe e me isolar, mas também de sair
e berrar com todos eles para que saiam da minha maldita casa.
Perto da janela, observando o pátio do casarão,
enquanto alguns casais se escondem atrás do chafariz para
namorarem, sinto o meu corpo em estado de alerta quando ouço a
porta sendo aberta de maneira discreta. É uma pequena fresta de
luz, depois a mesma penumbra de um escritório sendo iluminado
apenas pela luz da lua.
Tudo o que tenho são as sensações. Um cheiro
adocicado que atiça os meus sentidos. O ruído baixinho de soluços.
Passos leves e levemente arrastados até o centro do cômodo.
A pessoa ainda não me viu, pois tem as duas mãos
cobrindo o rosto, então posso aproveitar para analisar melhor a
situação. Para pensar em como agir para expulsar o invasor. Ele
não deveria estar aqui. Ninguém além de mim pode invadir esse
espaço.
Compelido por algo que não sei explicar, mas
certamente um pouco de curiosidade, me afasto da janela sem fazer
barulho. Pé ante pé, caminho até onde a pessoa está e me posto à
sua frente. Pela sombra e pelo cheiro, concluo que se trata de uma
mulher. Deve ter por volta de um metro e setenta de altura, mas
ainda assim é bem mais baixa do que os meus um e noventa.
Quando sente a minha presença, ela se empertiga e
abaixa as mãos. Não sei qual a expressão que carrega no rosto. Se
está com medo ou assustada, mas sinto que é corajosa por ainda
não ter saído correndo depois de ter sido flagrada onde não deveria
estar.
Mal entendo o que eu mesmo estou sentindo, pois, pela
primeira vez em anos, é mais do que o sentimento de tédio. É uma
mistura de insatisfação por ter companhia, quando fiz de tudo para
ficar sozinho no dia do aniversário da morte da minha esposa, e
curiosidade.
Quem deixaria uma festa badalada como a que acontece
lá fora para se esconder aqui dentro?
— Por que você está chorando? — pergunto em um fio
de voz. O som sai rouco, como se eu não tivesse o costume de
falar. A verdade é que falo mais do que gostaria.
A pessoa não me responde com palavras, mas vejo pela
sombra a sua cabeça balançando de um lado para o outro em sinal
de negação.
— Você não deveria estar aqui, e também não deveria
chorar — falo, sem saber o que está acontecendo comigo para
ainda não ter acendido a luz e a colocado para fora daqui. É o que
teria feito por muito menos.
— Você está no escuro. — O som de sua voz sai
nasalada por causa do choro. — Por quê?
— Isso não te diz respeito, seja lá quem você for —
assevero. — Gostaria que saísse do meu escritório e da minha
casa. Uma pessoa que não entende onde é o seu lugar não deveria
sair de casa — digo de maneira dura.
— Eu não tenho um lugar. — Ouço-a sussurrar. Quando
vai virar as costas, seguro o seu braço e a puxo novamente. Seu
corpo colide no meu.
— O que foi que disse? — indago.
— Nada. Solte-me... — A sua fala é fraca. Quando
coloca a mão no meu peito com a intenção de me afastar, quase me
lembro que tenho um coração batendo. O fato de ele querer bater
em outro ritmo faz o meu peito doer.
— Quem é você e o que faz aqui?
A despeito da minha falta de vontade com o mundo,
saber dessa informação se tornou importante.
— Não sou ninguém. Esqueça que estive aqui, que esse
encontro aconteceu — ela pede, mas parece impossível atender a
seu pedido.
Pela primeira vez em meses, algo ou alguém me
interessa. Não vou deixar que acabe tão facilmente.
— Mas aconteceu, e não vou deixar que saia assim.
Será que você é como as garotas idiotas e interesseiras desta
cidade que não entendem que não quero nada com elas?
— Não sou — defende-se. Fala mais alto. Não está mais
chorando. Pelo contrário, sinto um tom de irritação.
— Sim, você é! — digo. Não sei o que acontece comigo,
mas acabo colando o seu corpo ainda mais no meu.
Ela precisa de uma lição, depois disso nunca mais vai
tentar brincar com o fogo. Quando grudo os meus lábios no seus, a
intenção é de punir, mas a maciez da sua boca é como um soco no
meu estômago.
Primeiro aconteceu com a empregada mais jovem, que
me faz lembrar de quando eu tinha um coração, que me faz sangrar
de saudade da mulher que eu amava. Agora esse beijo em uma
desconhecida.
O que está acontecendo comigo?
Quando seu corpo amolece nos meus braços, e o som
de um pequeno gemido ressoa na minha mente, volto para a minha
realidade e afasto o corpo feminino do meu. O problema é que uso
mais força do que deveria e ela acaba no chão.
Tento me aproximar, mas a mulher encolhe as pernas e
fica em pé sozinha. Com a cabeça e o coração a mil, viro as costas
e volto para perto da janela. Não quero mais olhar para a sua
sombra, ou sentir a sua presença.
Com as mãos nos meus lábios, que ainda estão
formigando, ouço a porta sendo batida. Tudo vai embora, mas o
cheiro, as sensações e a presença marcante ficam. Sou o mesmo
de minutos atrás, mas ainda sinto o calor de um corpo nos meus
braços. A maciez de um beijo inexperiente, que durou apenas
alguns segundos.
Não faço a menor ideia de quem seja a desconhecida,
de qual a sua idade, se é solteira ou casada, mas tenho a certeza
de que ela, e nada do que acaba de acontecer, importam, afinal, o
meu tempo passou. Amei e fui amado, mas perdi tudo. Não vejo
mais como voltar a ser feliz. O meu corpo pode até voltar a buscar
satisfação em outros corpos, mas o meu coração, esse sempre
estará vazio.
Um movimento no pátio chama a minha atenção.
Quando chego mais perto da janela para espiar melhor, vejo que se
trata da sobrinha da minha governanta, a nova empregada da casa.
Ela está sentada no chafariz com a cabeça baixa, e a forma como
os seus ombros sacodem deixa claro que está chorando muito. Ela
não deveria estar sozinha, e eu não deveria pensar que algo nela
lembra da minha falecida esposa, não se quero me manter afastado.
SINOPSE
Pode o amor causar dor?
Aos 19 anos, Ella leva uma vida simples e tranquila e o
fato de viver com tão pouco não é capaz de apagar o brilho no seu
olhar, pois acredita que o seu lugar é onde está o seu coração. Mas
tudo muda depois da chegada de Diego Estrada, filho do maior dono
de terras da região, um homem frio e misterioso que não faz
questão de ser cordial com quem está à sua volta. Sua chegada do
transforma o mundo de Ella conhece e sua inocência deixa de
existir.
O seu toque causa mácula, a sua voz provoca medo e,
principalmente, a sua alma e o seu olhar lhe despertam arrepios.
Aos 30 anos, Diego pensa ter perdido tudo, até mesmo
um pouco da sua humanidade, e voltar para o lugar do qual partiu
tantos anos atrás lhe causa muito mais do que incômodo. Quando
ele conhece a bela e inocente Ella, a bondade e a ingenuidade da
moça provinciana perturbam-no e trazem à tona desejos que há
muito tempo estavam adormecidos.
Pode o amor curar?
Medo e dor. Paixão e erotismo, esta não é uma simples
história de amor.
PRÓLOGO
— Chegou atrasada, mocinha — a senhora de 65 anos
me repreende na porta da igreja, a única paróquia existente em uma
vila que só não foi totalmente esquecida no mapa por ficar perto da
maior fazenda da região e que também é a maior fornecedora de
rosas da cidade de Santa Rita.
A fazenda do senhor Luiz Estrada é próspera e nada é
tão belo quanto os roseirais que estão plantados em terras férteis e
que parecem infinitas. Por causa da fazenda, muitos aqui têm
emprego e condições de colocar comida na mesa.
— Por que, vovó? Está acontecendo alguma festa aí
dentro? — Da escada, tento espiar o interior da igreja, mas o sol
forte do lado de fora me dá a impressão de que está tudo escuro no
interior da pequena paróquia.
— Um velório — fala, com espantosa naturalidade, e se
eu não estivesse me segurando no corrimão de madeira
envelhecida, teria saído rolando pelos cinco degraus que separam a
porta da paróquia da calçada de paralelepípedo.
Como pode a minha avó estar tão satisfeita em falar que
os moradores da cidade estão participando de um velório?
Eu sei que é uma vila pacata e que nada acontece nesse
lugar, mas, ainda assim, um velório não deveria causar esse tipo de
sentimento. Se a dona Ester está assim, sendo geralmente a mais
sábia do lugar, não quero imaginar como estará o resto dos
moradores.
Será que eles pelo menos sabem quem é a pessoa que
faleceu? Aliás, como é um lugar pequeno, presumo que deva ser
alguém de fora, já que todos se conhecem e não se teve notícia de
nenhum falecimento.
Deus! Que pensamentos mórbidos para se ter em plena
manhã de outono.
— Quem faleceu? — indago.
— Bem... — O fato da minha avó parar para pensar já
responde o que eu queria saber. Não, eles não fazem ideia de quem
está ali, ou melhor, podem até saber, mas não conhecem a história
da pessoa, não têm intimidade com a família do morto e não se
importam em saber. Para todos, o mais importante é ter um evento
para comparecer, mesmo que seja um tipo peculiar de evento.
— Onde está o vovô? — Mais uma vez tento espiar, pois,
se tem uma coisa que ainda não sei controlar, é a curiosidade. Não
que algum dos meus vizinhos saiba.
— Onde mais ele estaria, criança? — com as mãos na
cintura, a senhora ainda jovem para a sua idade me questiona.
— No campo? — É uma constatação óbvia, uma vez que
o meu avô é um dos melhores funcionários do campo do senhor
Luiz.
Ele tem um amor tão grande pela terra, por cada muda
plantada, que realmente não é difícil encontrá-lo por lá. O meu avô,
assim como dezenas de outros homens, é responsável pelo
belíssimo campo de rosas brancas e vermelhas e girassóis.
Tanto a cidade de Santa Rita quanto a Vila das Flores
são conhecidas Brasil afora pelo cultivo e revenda das mais belas
flores da região. O negócio do fazendeiro Luiz Estrada movimenta a
cidade e suas flores estão em todos os lugares, seja enfeitando a
igreja ou o restaurante ou à venda na floricultura e na lojinha de
presentes.
Desde pequena, o meu maior prazer é ficar na fazenda,
observando os campos, que parecem intermináveis. A natureza me
fascina, as flores me encantam e, principalmente, o perfume delas
aquece a minha alma, mantendo vivas a minha alegria e a
esperança de que um dia sempre será melhor que o outro. Isso faz
com que eu acredite na magia do amor, da bondade e na beleza dos
sonhos.
Nos meus 17 anos, pouco vi e vivi da vida e mal conheço
algo fora da pequena vila, mas, ainda assim, acredito no amor e no
lado bom de todas as coisas, pois é impossível viver em um lugar
como esse, sentir a presença de uma força muito maior do que os
nossos olhos podem ver e simplesmente não acreditar.
— Sim, minha criança, no campo e, por favor, não vá até
lá atrapalhar os trabalhadores. Deixe para ir ao final do dia, quando
não tiver mais ninguém por lá — aconselha, sabendo e tendo
entendido que nada pode me afastar daquele campo. Desde muito
pequena, ele é a paixão da minha vida e, se pudesse, trabalharia
com o meu avô, colhendo as flores que tanto amo. Tenho um
carinho por todas, mas as rosas brancas exercem um fascínio
incomum sobre mim.
Como só homens trabalham nos roseirais, junto o útil ao
agradável ao colher as rosas e os girassóis que, por alguma razão,
não são considerados bons o suficiente para a venda e,
acompanhada da minha cesta de palha, corto-os com a minha
inseparável tesourinha e vendo-os na praça. Às vezes, ofereço-os
na porta dos estabelecimentos comerciais para aqueles que não
têm condições de comprá-los pelo valor normal.
Aqui na vila, assim como na cidade, as flores são
valorizadas como merecem, já que são o cartão de visitas da cidade
e a principal fonte de renda dos moradores.
— Estou entediada, vovó — reclamo, olhando para todos
os lados da praça e vendo-a vazia como não costuma ficar.
— Aos 17 anos, eu também era como você, ficava o
tempo todo procurando coisas para fazer — relembra, olhando para
a movimentação na porta da paróquia. As pessoas começam a sair
e me pergunto como tanta gente coube em um espaço tão pequeno.
Com figuras conhecidas e outras não tão notórias, vejo
um aglomerado se formar e me chama a atenção a presença do seu
Luiz, todo vestido de preto e, no rosto, óculos escuros. O homem
sempre pareceu ser uma figura inatingível, mas, ainda assim, é
gentil e bondoso com todos da vila.
— Por que o senhor Luiz está aqui? — indago, mas logo
somos interrompidas pelas amigas da minha avó, que se aproximam
para contar a última fofoca.
Aproveitando-me da situação, pego a minha cesta, que
havia colocado na calçada enquanto conversava com a minha avó,
e, de fininho, me afasto da praça. Vou até a minha casa, pego a
bicicleta e, com um sorriso no rosto, vou para o campo.
O perfume das flores me dá boas-vindas, a beleza delas
enche os meus olhos e o milagre de sua existência aquece o meu
coração. Minhas mãos acariciam as rosas, meu nariz se aproxima
para sentir o aroma e, quando a maciez das pétalas toca o meu
rosto, chega o momento em que eu me perco. Uma a uma, toca-as
antes de separá-las e colocar na minha cesta.
O tempo passa sem que eu me dê conta e o dia começa
a dar lugar à noite. Olho para a cesta, vejo que já tenho rosas
suficientes e estou me preparando para deixar o campo quando
ouço um barulho estranho.
Sem que eu saiba de onde vem e de quem se trata, ouço
o choro de alguém. Um homem, o choro sofrido pertence a um
homem, disso não tenho dúvidas. A escuridão que começa a cobrir
o campo aberto torna difícil a minha visão, mas tudo o que o meu
coração quer é se aproximar e levar embora a dor do homem que
chora de uma maneira tão dolorida que é quase como o rugido de
um leão ferido.
Cegamente e sentindo que, logo hoje, a noite está caindo
mais rápido, caminho por entre os corredores de flores, olhando de
um lado para o outro e guiando-me pelo som do choro copioso. Ao
longe, avisto uma silhueta, uma sombra alta e, como eu pensava,
pertence a um homem.
Pisando de leve na terra fofa para não o assustar, me
vejo cada vez mais perto dele. No meu interior, existe um misto de
sentimentos e o que predomina é a forte sensação de que preciso
fazer isso, de que esse homem precisa de alento. Ele não pode
sofrer tanto em um cenário tão belo como esse.
— Vá embora daqui. — A voz é baixa e rouca, como se
ele não tivesse o costume de falar com frequência. — Me deixe
sozinho ou você irá se arrepender.
Sua ameaça faz com que eu trema de medo, mas o
receio não é maior que o meu desejo de chegar perto dele para
saber por que chora e sofre tanto.
— Eu não vou — falo com firmeza e ele não diz mais
nada.
Às suas costas, vendo apenas a sombra por causa da
escuridão quase completa, reparo nas suas roupas e, por elas, fica
claro que ele não é daqui. Trata-se de alguém em quem eu nunca
pus os olhos e continuo sem conhecer, já que ele não se vira para
me olhar de frente.
Não que eu o esteja julgando por isso, é ele quem sofre
aqui e sou eu quem invade o seu espaço pessoal e não respeita o
seu momento.
O homem leva as duas mãos ao rosto e, como se tivesse
decidido que não valia a pena pausar o seu momento de dor por
causa uma intrusa, volta a chorar com mais intensidade. Seu corpo
todo treme e, como se uma força me atraísse, chego mais perto, o
mais perto que posso, e levo as minhas mãos aos seus ombros.
Ele primeiro fica tenso, mas não faz nenhum movimento
para me repelir, apenas continua a chorar, o que começa a me
angustiar por não conseguir imaginar o que abalou um homem tão
alto e forte como ele.
Passando de todos os limites, minhas mãos começam
vagarosamente a descer, passam por entre os seus braços e se
fincam na altura do seu peito. Minha palma pousa perto do seu
coração e eu estranhamente sinto um alívio por escutá-lo batendo
contra a minha mão. O leão ferido, mais uma vez, não faz nada para
me afastar ou repelir a minha ousadia. Quando minha cabeça se
deita nas suas costas, meu corpo se encosta no seu e minhas mãos
sentem com mais intensidade as batidas do seu coração. Da minha
boca, sai a única frase possível para um momento como esse:
— Eu sinto muito.
É com surpresa que sinto o seu primeiro movimento e o
momento em que ele leva as mãos até as minhas e entrelaça os
nossos dedos. Ainda na altura do seu peito, o homem aperta as
minhas mãos pequenas demais entre as suas, o que chega a
machucar, já que no meu dedo anelar existe um anel que eu sempre
uso.
Ele aceita o meu conforto, mesmo sem saber quem eu
sou e eu o conforto, mesmo sem saber quem ele é. Chora mais
contido e baixinho, sem nunca soltar a minha mão e eu, como se
estivesse absorvendo parte da sua dor, também começo a chorar.
Não consigo entender por que estou tão triste por ele, mas sei que
para algumas coisas não existe explicação.
O tempo passa e não há como quantificá-lo, nenhuma
palavra é dita e, no meio do roseiral e do perfume das flores, existe
um homem e uma garota, dois desconhecidos unidos por uma força
maior, a força da dor e da compaixão.
Quando eu já estava começando a acreditar que
passaria a eternidade sentindo as batidas do seu coração e ouvindo
o som da sua respiração, o leão ferido, sem nome e sem rosto, fala:
— Obrigado. — A voz me causa arrepios, um tipo
diferente de arrepio que nada tem a ver com o temor que a sua voz
me causou da primeira vez. Quando, lentamente, vai descendo as
nossas mãos ainda unidas, ele termina: — Adeus, garota das flores.
De maneira inesperada, ele se afasta e começa a andar
com passos mais largos do que eu sou capaz de reproduzir. Quando
começo a gritar para que não fuja, como um animal acuado, o
desconhecido começa a correr. Ele desaparece e meu estado de
choque e solidão faz com que eu me pergunte o que foi que acabou
de acontecer.
Solto a respiração, que não sabia que estava presa, olho
em volta e, quando a brisa provoca um arrepio em mim, levanto a
mão bem diante dos meus olhos, notando os meus dedos vazios. O
anel da minha família já não está na minha mão esquerda.
Ele se foi, levou uma lembrança minha e não deixou
nada em troca, nada que me faça crer que tudo isso foi real, nada
que tornasse a minha história, no mínimo, aceitável, caso fosse
contá-la aos meus avós para que eles acreditassem que não foi
somente uma fantasia ou um sonho romântico inventado pela minha
mente.
No meu íntimo, guardei com carinho o encontro inusitado
e de algum modo especial para mim. A noite em que, no meu lugar
preferido, vi e toquei em um homem sem rosto. Sem nunca
esquecer, fantasiei que significou mais do que realmente foi, apenas
para mais tarde descobrir que seria melhor se eu nunca o tivesse
conhecido.
SINOPSE
O que acontece depois do “felizes para sempre”?
Herdeiro de um império milionário, Antônio Orsini é um
homem que vive de aparências. Frio e atormentado por fantasmas
do passado, ele espera pelo dia em que sentirá que pertence a
algum lugar, onde sua vida não será uma mentira completa. Tudo
muda quando se envolve com Beatriz, uma garota 20 anos mais
jovem, inocente demais para um homem marcado como ele.
A paixão que os une é intensa. A dependência física e
emocional que um desenvolve pelo outro pode ser mais perigosa do
que eles imaginam.
Eles são felizes por quase 1 ano, até que um terrível
acidente muda o rumo das suas vidas.
Uma gravidez inesperada.
Um homem cujas memórias recentes são completamente
apagadas.
A descoberta de segredos que colocam em dúvida o
amor que parecia indestrutível.
Até que ponto vale a pena lutar por um amor perdido?
PRÓLOGO
Desde sempre, eu a via andando de um lado para o outro
com os seus cabelos escuros ao vento, agindo como se o mundo
fosse dela e nada importasse. No começo, eu só a olhava e achava
engraçadinha, mas logo o interesse se intensificou. Paro de vê-la
como uma menina, para enxergá-la como uma mulher de corpo
perfeito.
Quando a oportunidade apareceu, fugi do Rio para o
lugar onde a realidade é bem diferente e era tudo do que eu estava
precisando. Um pouco de paz, longe do agito da cidade e do
trabalho, que basicamente consistia em limpar as merdas dos
riquinhos inconsequentes.
Não esperava gostar tanto de Santa Rita e foi uma
surpresa perceber que tinham muitas coisas a se fazer em uma
fazenda como a do meu amigo, Diego Estrada. Um homem cheio de
problemas, mas que tem conseguido se reerguer desde que se
apaixonou por uma garota que é o seu total oposto. A linda e alegre
Ella, era tudo do que ele precisava e eu não poderia estar mais feliz
pelo meu amigo. O homem merece um pouco de alegria e eu já não
sabia como fazê-lo enxergar que não tinha a culpa que acreditava
ter, por todas as merdas que aconteceram na sua vida.
Não vi como um problema o pedido para que ficasse de
olho na sua mulher pelo tempo que precisaria ficar fora, cuidando-se
para enfim se curar de tudo que o perturbava. Ficar em Santa Rita
significava que poderia ver a garota se eu quisesse. Ela havia se
tornado uma obsessão para mim e usá-la para saber coisas a
respeito da Ella foi apenas uma desculpa que dei a mim mesmo
para conseguir chegar perto.
Nem por um segundo Beatriz foi enganada a respeito do
que pensava ser as minhas intenções para me aproximar. Sabia que
queria falar sobre a sua amiga e decidiu jogar comigo. E que jogo
delicioso. Eu perguntava e a garota leal só dava respostas vagas e
sem importância. Fingia que não sabia o que eu queria e eu fingia
que só queria investigar.
A cada encontro que não tinha nada de acidental na
praça, Beatriz dava um jeito de ser mais provocante. Sem medo da
rejeição, se insinuava e eu, sem nem um escrúpulo, não me
importava de ser velho demais para ela, que tinha acabado de fazer
18 anos. Para mim bastou a informação de que não era menor de
idade para seguir os meus instintos sexuais com alguém que,
apesar da pouca idade, demonstrava ter bastante experiência com
homens.
Começamos com um beijo atrás da loja de carnes e
continuamos assim: beijos muito quentes pelos cantos da vila. Bia
não parecia se preocupar em ser surpreendida e eu menos ainda.
Quando já não dava mais para segurar, acabamos transando no
quarto que eu ocupava na fazenda. Quando meti pela primeira vez,
não pude acreditar que estava com uma virgem. Ela era tão safada,
como poderia ainda ser virgem?
Mas a verdade é que era e eu não pude me conter.
Continuei a trepar com a moça e bem satisfeito de ser o primeiro. Já
tinha transado com mulheres de todos os tipos e idades no clube do
qual sou sócio, mas com uma virgem foi uma experiência inédita e
muito gostosa.
Por um tempo — bem pouco, para ser sincero —
acreditei que o meu vício na sua boceta apertada era justificado pela
novidade de estar com uma garota tão jovem e a quem eu poderia
ensinar muitas coisas, mas estava muito enganado. Durante alguns
meses ficamos juntos sem assumirmos nada. Rótulos não existiam,
apenas um casal transando sempre que tinha a oportunidade.
De uma forma como nunca imaginei que fosse acontecer,
me vi desejando duas coisas: ficar em Santa Rita com mais
frequência e ter mais certeza do que a novinha era para mim.
Depois do casamento dos nossos amigos, em que fomos
padrinhos, acabei por me dar conta de que era muito mais do que
tesão, que estava muito mais apaixonado do que queria admitir.
Como poderia não estar, se fiquei meses com ela, quando nunca
tinha saído mais do que três vezes com a mesma mulher? Era um
solteirão convicto, mas a minha baixinha linda e jovem me fez sentir
vontade de pendurar as chuteiras e foi o que fiz.
Não sai da minha cabeça a sua reação quando a levei
com os olhos vendados para a casinha que havia comprado. A
minha Bia ficou feliz porque para ela significava que eu ficaria por
mais tempo em Santa Rita e não precisaríamos mais ficar pulando
de cama em cama para ficarmos juntos. Porém, feliz e emocionada
mesmo ela ficou quando disse que a casa não era só para mim. Eu
a pedi em namoro, chamei-a para morar comigo e ela não titubeou
em aceitar.
Na sua casa, ela não teve dificuldade em falar para os
pais que estava indo morar com o namorado antes de se casar, eles
aceitaram numa boa, tanto que eu cheguei a achar bizarro. Os seus
velhos, que não são tão mais velhos do que eu, são good vibes
demais, o que me faz ter a impressão de que estão sempre
dopados. Não é à toa que a minha baixinha se tornou tão dona de
si.
— Sabia que você fica ainda mais gostoso quando está
assim, com esse ar pensativo, tio?
Eu estou no nosso quarto, desfazendo uma mala, depois
de uma viagem de três dias para o Rio e acredito que a viagem ao
passado seja por causa da saudade pelos poucos dias distantes da
minha menina. A minha empresa de segurança privada e
investigação particular continua sendo no Rio de Janeiro, vez ou
outra, preciso ir até lá e não posso, de maneira alguma, levar a
minha mulher comigo.
— Tio? Essa ereção enorme te faz pensar que sou o seu
tio, sua atrevida? — Eu a pego entre os meus braços, esfrego-me
nela como um desesperado e o sorriso divertido logo some do seu
rosto.
— Parece que alguém aqui estava morrendo de saudade
— diz quando a jogo na cama e caio por cima. Faço com cuidado,
porque ela é muito pequena e delicada para alguém do meu porte
físico.
As suas pernas macias me envolvem e sentir o calor da
sua boceta contra o tecido torna ainda maior a satisfação de estar
em casa.
— Estava louco de saudade de você, amor.
— E eu de você, meu gigante.
Quando ela me beija, sinto como se tivesse voltado a
Santa Rita só para isso. Eu era um boêmio. Tinha mulheres aos
meus pés e por muitos anos vivi e busquei isso. Em algum momento
a mesmice do trabalho e mulheres indo e vindo deixaram de ser
suficientes, me vi precisando de novos ares, de ver gente nova. Aqui
em Santa Rita eu conheci a minha Beatriz e então não precisei
conhecer mais ninguém.
Minha menina trouxe o que parecia faltar e hoje, como
acontece dia após dia nos vários meses em que passamos juntos,
estou apaixonado, amando e sendo amado.
— Te amo, Beatriz.
— Te amo, Antônio.
Embora o que sentimos um pelo outro esteja claro, pela
primeira vez, com os nossos corpos lânguidos e suados sobre a
cama, usamos essas duas palavras para nos declararmos. Sei que
será a primeira vez de muitas, que, como os nossos amigos e
qualquer casal normal, seguiremos o caminho natural de casamento
e filhos. Eu sei que ela está bem com isso.
O nosso romance é só mais um dos que devem ter
nascido sob o céu de Santa Rita, um lugar que parece
especialmente propício para o amor. Talvez a magia esteja nas
flores.
SINOPSE
Marina sempre viveu uma vida perfeita, cercada de luxos
e mimos. Até que, aos seus 17 anos, uma tragédia muda o rumo de
sua vida: a perda de seu pai, único parente vivo e pessoa que ela
mais ama, deixando-a desamparada e sozinha no mundo. E, para
completar o pesadelo em que passa a viver, a garota se vê obrigada
a viver sob a tutela de Erick Estevan, melhor amigo de seu pai, de
quem guarda antigas e profundas mágoas.
Erick vê seu mundo inteiro virar do avesso com a
chegada da filha de seu falecido melhor amigo aos seus cuidados.
Tendo sua vida inteira planejada, a adição inesperada não seria um
problema, se não fosse o doentio desejo que sente pela garota que
viu crescer.
Marina é agora uma linda e proibida mulher, que
assombra seus pensamentos e desperta sentimentos que o homem
tanto luta para suprimir.
Na batalha entre obrigação e desejo, será a razão capaz
de definir o que é certo e errado?
PRÓLOGO
— Aguente firme, meu amor — peço ao fazer carinho no
seu rosto pálido. — Vai ficar tudo bem. Prometo. — Ela ainda tenta
abrir um sorriso, mas falha miseravelmente. — E você sabe que
costumo cumprir com as minhas promessas.
— Erick, o meu tempo está acabando... — diz num fio de
voz, e tenho vontade de tapar os ouvidos com as mãos apenas para
não ouvir a frase tão definitiva saindo da sua boca, que já está
ressecada e sem vida. — Você precisa prometer...
— Não fala nada, amor — imploro, com a voz embargada
pelas lágrimas.
— Promete que vai ser feliz, que quando eu partir, você
vai refazer a sua vida? — Marina diz e faz força para formar as
frases.
— Prometo que nós vamos ser felizes — respondo,
enfático. — Você vai ficar boa e nós vamos nos casar e um dia
teremos nossos bebês, lembra? Você prometeu, linda. — Tento
sorrir para ela.
— Eu fui muito feliz com você, do jeito que um dia sonhei
e achei que não seria possível realizar — afirma com a voz quase
sumindo e os olhos mais baixos. — Eu sempre vou te amar, de onde
estiver, estarei olhando por você. Te amo... — são suas últimas
palavras antes de perder a consciência.
— Não, Marina — imploro, desesperado. — Não faz isso,
olha para mim. Eu não vou deixar você ir, nunca! — afirmo.
Cuidadosamente, desço meu corpo sobre o seu, até
sentir minha camiseta ser ensopada com o sangue pegajoso e
quente. Selo os nossos lábios, pela última vez.
SINOPSE
De uma família feliz e bem estruturada, Luana Aguiar viu
o mundo à sua volta desmoronar quando perdeu a mãe. A garota
então ficou aos cuidados do pai, um homem que não soube superar
a perda da esposa e acabou se entregando a vícios que seriam a
sua ruína. Vícios que o levaram a colocá-la nas mãos de Gabriel
Souto, um homem impiedoso e sem coração, como muitos dizem. A
fama de Daniel Souto o precede e, sem que tenha escolha, a jovem
se vê presa ao seu mundo sombrio, cercada de mistérios e luxúria.
Gabriel Souto não pede, ele toma para si, esse é o seu
lema de vida. Não seria diferente quando o assunto é o seu desejo
de arranjar uma esposa para tornar-se um homem respeitado
perante a alta sociedade, que não enxerga além do que quer ver. A
oportunidade surge quando o tolo Júlio Aguiar faz a pior aposta da
sua vida e entrega de bandeja exatamente o que ele estava
procurando, poupando-lhe o trabalho de ir à caça.
Uma relação nascida do ódio, um desejo que não pode
ser reprimido e um reencontro inesperado. Será que o amor
conseguirá florescer em corações tão inóspitos?
PRÓLOGO
— Estou presa, é isso? — pergunta, irritada, encurralada
entre o meu corpo e a parede do espaçoso e luxuoso quarto da
minha propriedade. Para ela, aquele lugar significa o próprio inferno
na terra, ou pelo menos o que ela pensa ser o inferno.
Se soubesse que lá é muito pior do que as pessoas
imaginam... Estive no inferno e garanto que ter labaredas
queimando a pele é brincadeira de criança perto do que vi e vivi.
— Isso. Se este é o seu conceito de prisão; então, sim,
você está presa a mim e a essa casa. Acostume-se, meu bem...
— Não me chame de meu bem — diz, lançando-me um
olhar de desprezo, o que só a deixa mais linda. Aos meus olhos,
parece uma ratinha assustada e, de forma doentia, fico excitado por
vê-la assim, nas minhas mãos. Sei que posso fazer o que quiser
com seu corpo e suas vontades. Posso moldá-la da forma que eu
quiser, como for conveniente para mim. — Não sou o seu bem.
— Você é o que eu quiser que seja. Esqueceu que te
comprei em uma mesa de apostas? — Na verdade, não foi bem
uma compra, está mais para o pagamento de uma dívida, mas, na
prática, isso não importa. Não quando o resultado é o mesmo: a
bela Luana Aguiar em minhas mãos. Toda minha para fazer o que
eu quiser. — Não aja como se tivesse poder de decisão, pois não
tem. E quanto antes você entender isso, melhor.
— Eu te odeio, Gabriel — afirma, fria.
Ao invés de me assustar, sua declaração me excita. Não
posso resistir a este jogo.
— Não quero o seu amor, garota. — Enquanto falo, me
aproximo do seu corpo colado à parede e seus olhos crescem de
tamanho a cada passo que dou. Como uma gatinha assustada, seu
rosto não consegue esconder o temor por causa da minha
proximidade. — Sinta-se à vontade para continuar me odiando,
posso viver com isso.
— Não se aproxime de mim, Gabriel. Você me assusta.
— Está praticamente implorando, percebendo que foi uma péssima
ideia trazer o seu namorado para dentro da nossa casa.
Agora ela está encurralada entre mim e a parede do
quarto que, por enquanto, é só dela. Digo por enquanto, pois não sei
quanto tempo irei resistir ao tesão e ao desejo doentio que começo
a nutrir por ela. No fundo, sei que não serei capaz de me manter tão
longe da gostosa, não quando a quero como jamais quis alguém —
mesmo detestando-a com a mesma intensidade.
Raiva e desejo. A melhor e a pior decisão. Com ela, vou
de um extremo para outro, mas ainda assim não posso deixar de me
sentir estimulado ao seu lado. Considerando toda essa bagunça,
talvez seja melhor não sentir nada e ficar só com a insatisfação.
Mas o perigo que ela traz consigo bate de frente com tudo o que sou
e preciso ser. E a atração que sinto pelo perigo é mais forte do que
eu, muito mais forte.
— Você está mesmo assustada? — Toco seus braços e
sinto-os arrepiados. Os pelinhos, que estão de pé, não são capazes
de esconder seu nervosismo. E o que, para ela, é medo; para mim,
é excitação. — Por que sinto a sua respiração ofegante? — Estou
com o corpo levemente curvado sobre o dela e as palavras são
sussurradas no seu ouvido. — Se quer que eu te beije novamente, é
só pedir, bebê. Juro que não pensarei mal de você por isso. Posso
te dar o que quiser, desde que se comporte e faça tudo o que eu
quero.
— Então quer que eu seja sua escrava, que não tenha
voz e faça apenas o que você ordenar? — É sarcástica, mas se a
intenção é me irritar, ela certamente está fazendo isso da maneira
errada.
— Vejo que estamos começando a nos entender, Luana.
Saboreio o seu nome nos meus lábios e imagino o
momento em que o chamarei, enquanto como a sua boceta. Com
certeza, ela estará muito molhada, pegando fogo de tesão e me
receberá quando eu socar sem dó no seu calor apertado. Um corpo
que me deixou babando como um cachorro louco por um pedaço de
carne desde a primeira visão que tive da garota que se apresentou
com sete pedras nas mãos. Ali, soube que nada me faria desistir de
tê-la para mim. Mesmo se o seu pai não tivesse sido tão burro, eu
faria qualquer coisa para ter uma prova do corpo apetitoso e da
boca carnuda feita para envolver o meu pau até ter os lábios
esticados pelo esforço de abarcar a minha espessura.
— Prefiro morrer a ter essa boca suja sobre a minha ou
essas mãos imundas no meu corpo. Sinto nojo de você, Gabriel
Souto. Pensar na possibilidade de ser obrigada a fazer sexo com
você me deixa doente. — Cospe cheia de raiva, deixando
transparecer o desprezo que vejo no rosto de muita gente. Ela é
apenas mais uma.
— Então, se prepare para morrer, sua vadiazinha.
Agora o meu corpo está colado ao dela, que se encolhe,
e o cheiro do seu medo é excitante. É isso que quero. Não quero
amor ou declarações de devoção. O importante é ela ser perfeita
para os meus planos e, se a boceta quente e os seios grandes
vierem no pacote, não irei reclamar. Luana será como todas as
outras, somente uma boceta para aliviar a tensão dos meus dias. A
única diferença é que não precisarei ir tão longe para encontrar
alívio, pois o terei dentro da minha própria casa.
— Você vai dar para mim quantas vezes eu quiser te
comer. Fará sem reclamar e sabe por quê? — Suas mãos estão
espalmadas no meu peito, mas não como uma tentativa de apoio ou
carinho. Luana quer me afastar para longe dela, enquanto tudo o
que quero é me afundar no seu sexo e descobrir se é tão boa
quanto parece. — Você deve estar com a calcinha gotejando de
desejo por baixo desse vestido. Apesar do que sua boca diz, seu
corpo tem reações contrárias e quer que eu te toque como você
nunca foi tocada por aquele moleque que se diz seu namorado.
Aliás, ele é mais um que precisarei tirar do meu caminho, se for
necessário.
— Não abra essa boca para falar o nome do Gustavo. —
A defesa vem rápida e ferrenha, o que ameaça despertar o animal
adormecido que há dentro de mim. — Ele é o homem que você
jamais será, é um cara decente.
— Tão decente que está apaixonado por uma mulher que
foi vendida como uma prostituta — falo para machucá-la e consigo o
intento, pois a sua mão voa direto na direção do meu rosto e só não
o atinge em cheio porque sou rápido o suficiente para frear a ação
dela.
— Atreva-se a fazer isso novamente e não gostará das
consequências — ameaço e a garota tem os olhos arregalados ao
fitar-me, a respiração errática e o rosto distorcido pela cólera e o
ódio que não podem ser disfarçados.
— Vai fazer o que, seu monstro? Me bater? — Furiosa, a
gostosa empina o narizinho arrebitado e tudo o que eu quero no
momento é rasgar suas roupas e fodê-la até que cale a porra da
boca e pare de me afrontar, ainda mais por causa de outro homem.
Será que ainda não percebe que agora é minha mulher?
Que não existirá outro homem que não seja eu na sua vida?
— Vou fazer isso.
Sem o controle que me orgulho de ter, puxo-a pela
cintura e, sem aviso, beijo sua boca. Um beijo que encontra
resistência e acaba rápido demais quando ela morde com força o
meu lábio inferior.
Assustado por um segundo, dou dois passos para trás e
toco a minha boca com o dedo. Quando vejo o filete de segue, a
fúria varre o meu corpo e ela mal tem tempo de correr, pois eu já a
tenho novamente contra a parede. Desta vez, envolvo sua cintura
com um braço, enquanto o outro agarra a parte de trás dos seus
cabelos, segurando com firmeza a sua cabeça para que não tenha
como fugir ou se esquivar.
Com a língua, invado a boca macia e, com o gosto
metálico de sangue, tomo o que é meu, exijo respostas e, sem que
tenha qualquer chance, a minha esposinha corresponde ao chupar a
minha língua para dentro da sua boca e permitir que eu imite o seu
gesto. A garota está mole nos meus braços e, se agisse movido
pela fama que tenho e na qual ela parece acreditar, poderia me
aproveitar disso, arrancar as nossas roupas e realizar o desejo que
venho alimentando desde o momento em que coloquei os olhos
nela. Mas como nem tudo é o que parece, ajo diferente.
— Gostosa demais.
Aos poucos, vou diminuindo a intensidade e, com uma
forte mordida no seu lábio inferior, obrigo-me a parar.
— Gabriel...
Quando a minha esposa abre os olhos, eles estão
anuviados pelo desejo que não é capaz de refrear.
— Quando você quiser, minha esposa, é só pedir que eu
virei e, com prazer, darei o que você quer. Seu corpo e seus desejos
me pertencem e quanto antes aceitar isso, melhor será para nós
dois.
— Isso nunca irá acontecer. Eu amo o meu namorado —
insiste em colocar outro homem entre nós dois, o que é
extremamente irritante. Luana não entende que quanto mais ela
toca no nome do tal namorado, mais irritado fico e quando isso
acontece, todos os envolvidos sofrem as consequências.
— Você não tem um namorado, querida, tem um marido.
Sou o seu dono e quando quiser apagar o seu fogo, já sabe onde
me encontrar.
Com um ar espantado, ela encara o meu rosto. Eu
abaixo vagarosamente os meus olhos para frente da minha calça e,
propositalmente, manjo o meu pau muito duro e louco de vontade.
— Seu imbecil!
Agora, muito furiosa, Luana vira-se para trás, pega o
abajur que estava sobre a mesa de cabeceira e arremessa-o na
minha direção. Se eu não fosse um homem ágil e bem treinado, os
estilhaços de vidro teriam acertado minhas costas em vez da porta
que consegui fechar a tempo.
Fora do quarto, ouço quando Luana começa a chorar. A
mulher chora e xinga como um homem. No meu rosto, um sorriso
satisfeito se abre e, sem que haja sombra de dúvidas, sei que esse
arranjo será muito proveitoso e que será um prazer domar essa
fera.
Por quanto tempo? Isso só o meu corpo dirá. Se
depender da fome que tenho por ela, duvido que o meu desejo
acabe logo. A garota é uma bocuda, gosta de me desafiar, mas
talvez essa seja a razão de tamanha atração. Uma febre que
explorarei até me sentir satisfeito. Quando acontecer, ela
permanecerá na minha vida, pois comer sua boceta não foi o
principal motivo para eu ter me casado com ela.
Luana Aguiar é uma ajuda providencial que veio na hora
certa e como não sou de perder as oportunidades que caem no meu
colo, ela servirá perfeitamente para meus intentos. Amor e todas as
bobagens românticas ficarão fora da equação. Se não tive isso com
a minha família, certamente não esperarei de uma mulher que me
odeia e que, se pudesse, obrigaria seu corpo a não querer o meu
como demostrou desejar agora.