Saúde Mental
Saúde Mental
Saúde Mental
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4
1 ASPECTOS CONCEITUAIS....................................................................... 5
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 49
Prezado aluno!
Bons estudos!
1 ASPECTOS CONCEITUAIS
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correspondem às manifestações do distúrbio no paciente. Comportamentos que vão
além do preconizado pela cultura atual também são considerados indícios de doença.
Nos Estados Unidos, no século XIX, a vontade de fugir ou a falta de motivação para o
trabalho forçado era diagnosticada como "histeria" e "histeria etíope", duas "doenças"
tratadas com folga.
Por fim, em 1948, a Organização Mundial da Saúde – OMS, forja o seguinte
conceito: Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não
apenas a ausência de doença. Tal concepção amplia os horizontes do que significa
saúde, pois se baseia em um tripé físico, biológico, psicológico, mental e
social/cultural. Também amplia a consciência de saúde, mudando o paradigma
puramente curativo que se concentra apenas no tratamento de doenças para a
importância da prevenção de doenças, promoção da saúde e reabilitação.
Assim, para existir saúde a nível individual e coletivo, torna-se imprescindível a
existência de saneamento básico, o acesso à alimentação saudável, as políticas de
imunização, o acesso a lazer e atividade física, a educação em saúde, dentre outros
(TAVARES, 2019).
O governo brasileiro e o Ministério da Saúde não têm uma definição autoral de
saúde ou de saúde mental, mas a Constituição Federal de 1988 assegura a
universalidade da assistência em saúde em seu art. 196:
Esse direito representa uma ruptura com os modelos de saúde adotados até
então, no qual o acesso aos serviços de saúde eram exclusividade dos trabalhadores
com carteira de trabalho assinada e seus dependentes. Também assegura que não
deverá ocorrer qualquer forma de exclusão por classe social, etnia, idade, credo,
orientação sexual, naturalidade ou quaisquer outros motivos. Uma crítica ao art. 196
argumenta que ele coloca o cidadão em uma posição passiva e infantilizada, como se
a saúde fosse um bem concreto que pudesse ser dado a alguém sem exigir nenhuma
ação por parte do indivíduo.
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O Estado pode fornecer assistência, promoção e educação em saúde, pode
promover acesso à alimentação balanceada e barata, fomentar a prática de atividades
físicas, garantir saneamento básico, realizar imunização e prevenção de agravos,
entre outros. No entanto, o indivíduo deve ser solidariamente responsável pela sua
própria saúde, pois só ele tem o dever de praticar os hábitos de vida recomendados
para garantir a sua saúde física e mental.
O conceito de saúde e de saúde mental é dinâmico e reflete o momento
histórico de sua construção. Atualmente, vivemos em uma era que almeja a percepção
holística e integrativa da saúde, incorporando diversas visões sobre a saúde e
concretizado no conceito de saúde proposto pela Organização Mundial da Saúde
(OMS). Não se trata de uma superação ou evolução dos modelos anteriores, mas,
sim, da valorização e integração deles. Existem críticas a este conceito proposto pela
OMS.
Uma delas seria de que o conceito é idealizado e utópico, já que o completo
bem-estar físico, mental e social é inatingível a qualquer ser humano. Ninguém pode
ser considerado saudável se o conceito de saúde for interpretado de forma concreta
e literal. Alternativamente, pode-se interpretar que cada indivíduo está em um
processo de saúde/doença contínuo e mutável. Outra crítica se refere à possibilidade
de o conceito fomentar um Estado excessivamente paternalista e intervencionista,
podendo assumir posturas autoritárias justificadas pela busca do completo bem-estar
social (TAVARES, 2019).
Ainda de acordo com o autor supracitado, diferentes culturas e indivíduos
podem ter ideias diferentes sobre quais elementos constituem o bem-estar social, não
é somente no campo teórico que encontraremos implicações da caracterização da
saúde mental. As óticas previamente explanadas podem ser percebidas no cotidiano
clínico ao se entrevistar clientes e seus familiares. Os mais diversos sintomas
psiquiátricos podem ser interpretados como possessão demoníaca, encosto, falta de
Deus no coração ou outras explicações de cunho religioso, direcionando o tratamento
à reza, sessões de descarrego, exorcismo ou cirurgia espiritual. Tal interpretação tem
potencial de ser nociva ao cliente caso o afaste ou atrase o início de intervenções com
embasamento científico.
Comportamentos que se desviam significativamente das expectativas culturais
ainda podem ser caracterizados como doença mental. O transtorno de personalidade
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dependente, por exemplo, é caracterizado por uma tomada de decisão diária
extremamente difícil, desacordo com outras pessoas, tomada de iniciativa e se
considerar uma pessoa autônoma e independente.
Uma mulher com tais traços seria considerada portadora de transtorno mental
na cultura ocidental do século XXI, porém, teria status de esposa exemplar pela sua
submissão ao marido em culturas muçulmanas tradicionais. Devemos tomar o cuidado
de não posicionar a compreensão biológica da saúde como modelo correto ou
absoluto. Essa visão trouxe inquestionáveis avanços a todas as áreas da medicina.
Entretanto, sua utilização de forma única e restrita resultou em décadas de
aplicação do modelo biomédico, hospitalocêntrico, curativista e centrado no
especialista. Suas limitações são claras na psiquiatria e na medicina psicossomática,
mas mesmo doenças de etiologia inquestionavelmente biológica devem ser avaliadas
sob a ótica biopsicossocial.
Uma parasitose, por exemplo, não deve ser tratada exclusivamente com a
prescrição de anti-helmínticos. Também deve ser realizada educação em saúde sobre
lavagem de mãos, higiene pessoal, cuidados com alimentos, verificação de acesso a
água tratada e saneamento básico, rastreio de familiares e envolvimento dos pais em
todo o processo de tratamento (TAVARES, 2019).
Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmar que não existe uma
definição específica, ou oficial, para a saúde mental, tem-se o uso dessa expressão
para a descrição de níveis de qualidade de vida cognitiva e emocional, acrescida pelas
capacidades funcionais de se relacionar com o mundo e a sociedade (TAVARES,
2019).
Conforme proposto por Cordioli et al. (2005), a verificação do estado mental é
uma forma de pesquisa sistemática que aborda sinais e sintomas que podem indicar
mudanças na função mental durante uma entrevista psiquiátrica. Apesar disso, os
autores alertam que esse exame do estado mental deve fazer parte do exame clínico
do paciente, não sendo realizado exclusivamente por psiquiatras, pois pode trazer à
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tona indícios importantes de transtornos neurológicos, metabólicos, de intoxicações
ou de efeitos de uso de drogas.
Essas avaliações do paciente são realizadas principalmente por meio de
entrevistas, sendo assim, deverá ser realizada conjuntamente com uma observação
cuidadosa do indivíduo, onde, as informações recebidas durante a entrevista podem
ser extremamente valiosas para a compreensão da dinâmica emocional do paciente,
o que auxiliará na intervenção e no planejamento de ações de tratamento mais
adequadas, independentemente do adoecimento que o motivou a buscar
acompanhamento de saúde. Porém, vale ressaltar que o diagnóstico efetivo de um
transtorno psicológico, e/ou uma psicopatologia, deverá ser realizado com a
complementação de instrumentos e feita por profissionais bem capacitados
(DALGALARRONDO, 2019).
As funções psíquicas são analisadas por ordem, mas deve-se destacar que
essa separação é apenas uma estratégia de abordagem, pois, como mostra
Dalgalarrondo (2019), não existem funções e variações psíquicas distintas, as
alterações mentais são divididas em compartimentos. Quando uma “parte” adoece,
todo o indivíduo adoece. Dalgalarrondo (2019) apresenta a seguir as funções
psíquicas avaliadas no exame do estado mental que mais afetam os principais grupos
de transtornos: psicoorgânicos, de humor e personalidade e psicóticos (Quadro 1):
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Linguagem**
*Também nos quadros
afetivos (mania,
principalmente).
**Também nas psicoses
Fonte: Adaptado de Dalgalarrondo (2019).
Consciência.
Atenção.
Sensopercepção.
Orientação.
Memória.
Inteligência.
Afetividade.
Pensamento.
Juízo crítico.
Conduta.
Linguagem.
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Eu: desenvolve-se na criança, de forma progressiva, ao longo do primeiro ano
de vida, formando a percepção de ser único, relativamente autônomo e
separado dos demais indivíduos e objetos.
Self: juntamente com a percepção do Eu, a percepção de self tem seu início na
infância e pode ser considerado como a soma e tudo o que possa ser chamado
de “seu” no sentido mais íntimo.
Além das funções mentais, tem-se a divisão, assim como anteriormente citado,
para fins didáticos e de melhor compreensão do quadro dos pacientes e as divisões
das funções psicofisiológicas, que são definidas pela correlação entre os fenômenos
psíquicos e fisiológicos que ocorrem no indivíduo. As funções psicofisiológicas são
divididas, conforme apresentado por Cordioli et al. (2005), em: Sono; apetite;
sexualidade.
A entrevista é o principal meio de análise das funções psíquicas por meio do
exame mental, ao realizá-la deverão ser avaliados alguns aspectos que o examinador
terá que observar, analisar e registrar primariamente.
As ilusões podem ser auditivas, por exemplo, quando o indivíduo escuta seu
nome ser chamado ou ouve palavras significativas para si, ou podem ser táteis, como
no caso de membros fantasmas, no qual o indivíduo que teve algum membro
amputado pode ter sensações locais como coceira, dor e formigamento.
Para Cordioli et al. (2005) a saúde mental possui três aspectos importantes
relativos à função mental do pensamento os quais devem ser avaliados, conforme se
observa a seguir:
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O curso está interligado pelo número de ideias e pela velocidade com que se
movem no pensamento. Em termos de quantidade, pode-se dizer que é
abundante ou raro. Quanto à velocidade, ela pode ser classificada como rápida,
lenta ou travada.
Portanto, temos que o delírio pode ser definido como uma ideia falsa ou uma
crença irreal pertencente à alteração da função mental do pensamento,
apresentam que as ideias supervalorizadas, que incluem os delírios, podem
ser do tipo persecutórias ou paranoides. (CORDIOLI et al, 2005)
Cordioli et al. (2005) orienta que nos casos mencionados, o indivíduo acredita
estar sendo perseguido ou observado, por exemplo. Existem alguns tipos específicos
de delírio, que são melhores expostos a seguir:
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estressantes, passando por aqueles que envolvem incidentes na vida do indivíduo,
incluindo a perda de um ente querido, um acidente grave, entre outros. Assim, Ávila
(2015) menciona que esses fenômenos, de uma maneira geral, podem ser
considerados como o campo de estudo das perturbações mentais, assim, um estudo
dos transtornos que afetam as funções cognitivas, afetivas e de atitudes dos
indivíduos.
Cordioli et al. (2005) menciona ainda que é importante destacar que os
transtornos mentais são influenciados por questões culturais às quais o indivíduo é
trazido, ressaltando que a saúde mental é relevante nos campos de pesquisa em
saúde geral, pois se relacionam intimamente com a saúde humana presente. Além do
mais, o mesmo autor também mostra que uma pessoa considerada mentalmente
saudável é aquela que é capaz de se adaptar às mudanças cotidianas, resolver
problemas que surgem para continuar realizando suas atividades diárias com
competência e, assim, ser capaz de estabelecer metas e aproveitar a vida.
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de base, poderão ocasionar diversos prejuízos, como sociais e profissionais, e
alterações no sistema neuroimunoendócrino. Podendo ser estes prejuízos
comportamentais divididos em internalizantes e externalizantes (Quadro 2):
Quadro 2 - Comportamentos que podem ser apresentados na vida adulta de
crianças que sofreram estresse precoce:
Internalizantes Externalizantes
Ansiedade Agressividade
Depressão Delinquência
Queixas somáticas Comportamentos sexuais inadequados
ou prejudiciais
Inibição
Fonte: Adaptado de TAVARES (2019).
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Outro transtorno relacionado a trauma e a estressores especificado, além das
situações de psicopatologias que se apresentam de maneira geral à
população, podemos destacar, também, aquelas recorrentes associadas às
profissões que estão constantemente expostas a situações de violência,
exposição a agressividade, hostilidade e tragédias, que causam desgastes
físicos e emocionais aos que trabalham (GERMANO et al. 2018).
Grupo I:
O trabalho é considerado como uma causa necessária ao aparecimento de uma
doença.
Grupo II:
O trabalho é considerado como um fator que pode contribuir, porém não é uma
condição necessária.
Grupo III:
O trabalho é o principal provocador de um distúrbio preexistente, porém latente, ou
um agravador de uma doença já estabelecida.
Fonte: Adaptado de GERMANO et al. (2018).
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inferir que a psicopatia tem duas formas principais de se expressar, uma por motivos
orgânicos e outra relacionada ao meio em que o indivíduo é inserido.
Em ambos os casos, a identificação de alterações na função mental, podem
causar: delírios, alucinações entre outros, deve ser analisada cuidadosamente por
meio de métodos de teste, sendo realizado por meio de entrevista que irá determinar
tais alterações, sendo promovida por profissionais especialistas, os quais serão
responsáveis pelo diagnóstico efetivo de um problema de saúde mental, que será
encaminhado quando necessário a outros profissionais de saúde, juntamente com as
devidas informações fornecidas para melhor identificar e direcionar os tratamentos.
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Quadro 4 - Higiene do sono:
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Quadro 5 - Critérios de normalidade:
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A decisão da normalidade e da doença
fica a cargo da percepção do próprio
Normalidade subjetiva. indivíduo. Critério falho em qualquer
caso de transtorno mental com baixo
insight, como ocorre na esquizofrenia e
fase maníaca do transtorno bipolar.
O patológico acontece na medida em
que produz sofrimento para o próprio
indivíduo e/ou seu grupo social. A
Normalidade funcional. disfuncionalidade se dá por prejuízos
acadêmicos, laborais, conjugais,
familiares e sociais.
A doença mental seria a perda de
liberdade existencial, a fossilização das
possibilidades existenciais. O normal
Normalidade como liberdade. dispõe de senso de realidade, senso de
humor, tem capacidade de relativizar os
problemas e encontrar prazer na
realidade.
Fonte: Adaptado de TAVARES (2019).
Diferentemente do que ocorre em outras áreas da saúde, não existe uma única
teoria ou um único agente etiológico que explique o fenômeno dos transtornos
mentais. Sendo assim, é importante que o profissional psiquiátrico conheça os
diferentes referenciais teóricos, apresentados a seguir (Quadro 6):
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Conceito de psicopatologia Descrição
O interesse está na forma das alterações
Psicopatologia descritiva. psíquicas, na estrutura dos sintomas e
na sua presença ou ausência.
O foco está no conteúdo das vivências,
na experiência individual, nos
Psicopatologia dinâmica. movimentos internos e nos desejos e
temores do indivíduo, os quais não são
necessariamente classificáveis.
O adoecimento ocorre por falhas no
cérebro, com processos neuroquímicos
Psicopatologia Biológica. desregulado provocando os sintomas
clínicos.
O indivíduo é visto como uma "existência
singular", que é essencialmente histórico
e humano, apenas habitando o corpo
Psicopatologia existencial. biológico. O adoecimento se dá como
uma forma trágica de ser no mundo, uma
existência dolorosa para si e para os
outros.
A doença se dá por meio de
comportamentos disfuncionais
Psicopatologia comportamental realizados por representações cognitivas
cognitivista. disfuncionais, aprendidas e reforçadas
pelas experiência pessoal e
sociofamiliar.
Para a psicanálise, o ser humano é
dominado por conflitos e desejos
Psicopatologia psicanalítica. inconscientes. A doença se dá pela
interação entre tais conflitos com as
normais culturais e com a possibilidade
de satisfação desses desejos.
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As doenças mentais são compreendidas
como específicas e individualizadas e
são constituídas por um conjunto de
Psicopatologia categorial. sinais e sintomas específicos, havendo
uma fronteira nítida entre cada
transtorno mental.
Este modelo é antagônico à
psicopatologia categorial, argumentando
ser mais próximo da realidade, pois o
conjunto de queixas apresentadas pelos
Psicopatologia dimensional. indivíduos dificilmente se enquadram
exclusivamente em uma categoria. Cria-
se então o “espectro bipolar”, “espectro
da esquizofrenia”, etc.
Os transtornos mentais seriam
comportamentos desviantes que surgem
Psicopatologia sociocultural. a partir da discriminação, da pobreza, da
migração, do estresse, da
desmoralização, etc.
Fonte: Adaptado de TAVARES (2019).
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mental. Qualquer modelo de doença mental será, inevitavelmente, limitado e
incompleto.
A classificação das doenças mentais foi realizada por um conselho de
especialistas da associação américa de psiquiatria e publicado no Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, do inglês Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders), que atualmente se encontra em sua quinta edição (DSM-
5), lançada em 2013. A classificação internacional das doenças (CID) segue modelo
semelhante ao DSM.
O conselho elaborador do DSM optou por utilizar o conceito psicopatológico
categorial: cada transtorno mental é descrito como um conjunto de sinais e sintomas
descritos ao longo de determinados critérios diagnósticos. Utilizam-se diferentes
conceitos de normalidade, com predomínio da normalidade funcional, ou seja:
transtorno mental que surge assim que surgem sinais e sintomas levando a limitações
objetivas no trabalho, na vida conjugal, nas relações familiares, no desempenho
acadêmico e na vida social ou pelo menos sofrimento psicológico subjetivo.
Os sintomas que levam a esse sofrimento nominado clinicamente significativo
podem ser experiências vivenciadas na normalidade como tristeza, medo ou
ansiedade, porém em intensidade, frequência e duração exacerbados. Também
podem ocorrer sintomas que normalmente não ocorrem na normalidade, como é o
caso das alucinações e delírios. Vale ressaltar que qualquer experiência que faça
parte de um contexto religioso, cultural ou político-partidário nunca pode ser
considerada sintoma ou doença mental.
Uma desvantagem do diagnóstico categorial é que os transtornos mentais nem
sempre se enquadram completamente nas fronteiras de um único transtorno. Por
exemplo, aquele que padece de depressão frequentemente terá queixas relacionadas
à ansiedade, podendo ou não se enquadrar em um diagnóstico adicional. Além disso,
alguns transtornos mentais ocorrem juntos com mais frequência do que
individualmente, como é o caso dos transtornos de personalidade. Estatisticamente,
se as comorbidades psiquiátricas são mais frequentes do que um único diagnóstico,
deve-se inferir que os dois transtornos são, na verdade, manifestações de uma única
doença, e não de dois ou mais diagnósticos separados.
Como os critérios diagnósticos foram definidos por um conselho de
especialistas, eles são vulneráveis a falhas e vieses humanos. Grupos de pesquisa
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tentam classificar os transtornos mentais de acordo com um mecanismo
etiopatogênico biológico subjacente como disfunção do sistema serotoninérgico,
noradrenérgico, etc.
Apesar de tais limitações, optou-se pelo diagnóstico categorial por conta de
uma série de vantagens. Primeiramente, ele permite uniformizar o diagnóstico
psiquiátrico ao redor do mundo, possibilitando a troca de informações confiáveis por
pesquisadores e profissionais de saúde. Sem uma padronização diagnóstica não seria
possível comparar os achados de um estudo com outro já que cada um utilizou
critérios distintos para classificar os enfermos.
Também permite a realização de pesquisas clínicas sobre a efetividade do
tratamento medicamentoso ou não medicamentoso, levantamento de dados
estatísticos e epidemiológicos e investigação de mecanismos fisiopatogênicos. Sem
embasamento científico, a psiquiatria não seria diferente do curandeirismo. Vale
ressaltar que a realização de um diagnóstico formal é apenas uma parte da avaliação
psiquiátrica.
Os demais elementos excluídos do diagnóstico podem e devem ser avaliados
na prática clínica. Assim, o profissional deve investigar o contexto sociocultural, os
relacionamentos familiares, as percepções do cliente sobre o próprio adoecimento e
as características psicológicas podendo utilizar o referencial psicanalítico, cognitivo
comportamental, interpessoal, sistêmico, etc.
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capítulo, você vai ver como são constituídos os conceitos de educação e promoção
em saúde e a maneira como eles se aplicam na saúde mental.
Verá, ainda, as ações governamentais e a estruturação básica dos centros de
tratamentos especializados de atendimento psicossocial. Além disso, serão
apresentadas as ações esperadas do profissional e da equipe de saúde na atuação
em saúde mental e saúde da família.
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práticas profissionais, deverá agregar maior conhecimento dos profissionais que
atuam nos setores de saúde, de forma a gerar melhorias nas ações que qualificam os
processos de trabalho, levando em consideração a realidade regional de onde se
inserem.
Os conceitos de promoção em saúde são definidos por aspectos
comportamentais, de estilo de vida e hábitos regulares, condições sociais e
ambientais onde o indivíduo está inserido, se apropriando dos conhecimentos
necessários para melhorar sua qualidade de vida atual, seja com a manutenção ou
com a mudança de hábitos. A promoção em saúde visa a tornar o paciente um sujeito
ativo e responsabilizado por seus cuidados e ações que propiciem uma melhoria em
sua qualidade de vida, na presença ou não de doenças ativas, sejam estas de ordem
física ou mental.
Nas comunidades, essas ações de promoção em saúde são normalmente
realizadas nas unidades básicas de atendimento e têm grandes vantagens, pois
conseguem direcionar as atividades para um grupo de pessoas em uma área definida,
em que já existe o conhecimento por parte dos profissionais sobre as condições
sociais locais. Dessa maneira, é possível avaliar quais doenças crônicas são
prevalentes e quais formas de ação trarão resultados mais expressivos para que os
paciente/moradores locais sejam atraídos para a responsabilidade de serem ativos
em seus processos de mudança e melhoria.
Além disso, as unidades básicas e suas equipes são capazes de oferecer
acesso universal para as orientações, tanto relacionadas com estilos saudáveis de
vida quanto prevenção e cuidados relacionados às doenças crônicas ou
transmissíveis (VAZ; FURTADO, 2007 apud KESSLER et al. 2018).
Além dos serviços oferecidos pelas unidades básicas, existem outros centros
de ajuda vinculados que podem e devem ser utilizados quando existem situações mais
específicas. Quando ocorre a verificação que o problema maior do paciente está
vinculado a questões de saúde mental, existem os CAPSs, que apresentam ações
especializadas para esses casos, tanto relacionados aos transtornos mentais
orgânicos quanto aos de dependência de substâncias psicoativas, e que têm
atendimentos direcionados para todas as faixas etárias.
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Para melhor compreender como as ações são realizadas, é interessante saber,
primeiramente, como são constituídos os serviços de saúde mental regidos pela
Política Nacional de Saúde Mental.
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5.3 O que são os Centros de Atenção Psicossocial?
CAPS I
Voltado para regiões com população entre 20 e 70 mil habitantes. Atendem todas
as faixas etárias e todos os tipos de transtornos mentais, incluindo álcool e drogas.
CAPS II
Voltado para regiões com população entre 70 e 200 mil habitantes. Atendem todas
as faixas etárias e todos os tipos de transtornos mentais, incluindo álcool e drogas.
CAPS i II
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Voltado para regiões com população de cerca de 200 mil habitantes. Atendem
crianças e adolescentes afetados por todos os tipos de transtornos mentais,
incluindo álcool e drogas.
CAPS III
Voltado para regiões com população acima de 200 mil habitantes. Têm atendimento
permanente (24 horas), incluindo acolhimento noturno e permanência em
observação, com até cinco vagas. Atendem todas as faixas etárias e todos os tipos
de transtornos mentais, incluindo álcool e drogas. A permanência de um mesmo
paciente no acolhimento noturno é limitada a sete dias corridos ou 10 dias
intercalados em um período de 30 dias.
CAPS AD (Álcool e Drogas) II
Voltado para regiões com população superior a 70 mil habitantes. Atendem todas
as faixas etárias exclusivamente para os casos de abuso de substâncias
psicoativas, como álcool e drogas. Atendem cinco dias por semana, em dois turnos,
ao menos, e devem manter de dois a quatro leitos para observação.
CAPS AD III
Têm as mesmas características do CAPS III, porém são voltados exclusivamente
para o atendimento aos usuários de álcool e drogas.
Fonte: Adaptado de TAVARES (2019).
31
5.4 Quais são as principais ações do profissional em saúde mental nos
Centros de Atenção Psicossociais?
32
Para Sadock et al. (2017) alguns transtornos, como déficit de atenção, somente
poderão ser diagnosticados quando existirem situações em que haja a necessidade
de manutenção da atenção, como no caso das escolas. Em decorrência da
variabilidade de apresentações de transtornos mentais em crianças e adolescentes,
diversas ações e serviços são propostos, visando reconhecer e adequar tratamentos
correspondentes à complexidade de cada situação (BRASIL, 2014).
Conforme apresentado pela OMS (2014), a RAPS tem componentes estruturais
de atendimento. Quando se trata dos cuidados de crianças e adolescentes, alguns
destes assumem papeis mais efetivos. No atendimento de atenção básica, dentro das
UBS, as ações de promoção de saúde mental apresentam pontos positivos a serem
destacados, como a proximidade das unidades com as famílias, as escolas e os
centros de convivência que integram o território de atuação.
Isso gera maior vínculo, efetivando os trabalhos de prevenção e cuidados dos
transtornos mentais, bem como auxilia na redução de danos aos casos de
envolvimento com álcool e drogas. Além disso, a UBS tem papel importante no fluxo
de encaminhamento aos outros componentes da RAPS, como os CAPS.
Ainda em relação à atenção básica, as equipes que atuam nos serviços de
Consultório de Rua têm um poder de atuação sobre aqueles que não estão no
ambiente escolar, pois as ações são itinerantes, direcionadas ao público em situação
de rua. A abordagem de crianças e adolescentes, nesses casos, além de estar
condizente com o princípio da proteção integral, tratada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, tem papel de geração de vínculo com os serviços, pois se demonstra
disponível para o acolhimento destes e suas demandas.
Quando se trata de atenção psicossocial estratégica, o CAPS tem papel
especial, conforme mostrado anteriormente. Qualquer modalidade de CAPS é capaz
de receber e auxiliar crianças e adolescentes, porém o CAPS i II tem um
direcionamento exclusivo para esse público (BRASIL, 2014 apud BRASIL, 2018).
Inúmeras vezes o atendimento de urgência e emergência nos transtornos
mentais infanto-juvenis também se faz necessário. Crianças e jovens estão sujeitos a
situações de urgência tanto por conta de transtornos mentais orgânicos como em
decorrência do abuso de substâncias psicoativas, como álcool e drogas.
Nesses casos, o atendimento pode ocorrer por meio de qualquer um dos pontos
de atenção da rede de urgência: SAMU 192, UPA 24 horas, unidades hospitalares de
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atenção à urgência/pronto socorro, UBS, entre outros. Nos casos em que existe a
necessidade de internação hospitalar, é assegurado à criança o direito de permanecer
com acompanhante, mesmo que esta esteja em situação de privação de liberdade,
como nos casos de cumprimento de medidas socioeducativas (BRASIL, 2014).
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realizar o encaminhamento ao serviço especializado, após o tratamento, o paciente
retornará para seus atendimentos de rotina em sua unidade de referência.
Os profissionais da saúde da família, conhecendo o indivíduo, sua comunidade
e seus hábitos, tornam-se protagonistas para auxiliar nos tratamentos de saúde
mental. São eles que irão auxiliar a manutenção, junto com o serviço especializado,
das mudanças de vida, tanto para doenças crônicas ou orgânicas como para aqueles
casos de abuso de álcool e outras drogas (VAZ; FURTADO, 2007 apud KESSLER et
al. 2018). Veja o (Quadro 8) a seguir:
Conduzir entrevistas
Facilitar o acesso à avaliação médica. Reconhecer os principais sinais e sintomas,
orientando e referenciando para assistência clínica ou psiquiátrica.
Escuta ativa
Compreender o paciente. Compreender o modo como vê seus problemas.
Instrumentos de triagem
Para identificação de abuso de substâncias psicoativas. Para identificação de
transtornos mentais orgânicos, como demência e depressão.
Promover ações preventivas e de auxílio ao tratamento
Direcionadas às populações de risco de sua região de atuação. Para auxiliar o
paciente a ser autônomo no controle de suas ações.
Orientação medicamentosa
Encorajar a adesão ao tratamento. Avaliar respostas de tratamento e efeitos
colaterais.
Planos de cuidados
Programar e gerenciar planos de cuidados terapêuticos. Instituir tratamentos de
apoio como terapias comportamentais e plano de redução de danos.
Fonte: Adaptado de TAVARES (2019).
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Validação, pois entende-se a necessidade de validar uma escala antes de usá-la em
uma pesquisa. Muitos pesquisadores percebem que além de simplesmente traduzir
um instrumento, uma escala também deve ser validada antes de aplicá-la em um
idioma/ambiente diferente do original.
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desvantagens. Um aspecto a ser considerado é o custo associado ao seu uso, tempo
do paciente e do clínico, necessidades de treinamento, custos de aquisição de
equipamentos e materiais e equipamentos associados. Assim, o uso indiscriminado
de instrumentos pode levar à detecção inadequada de muitos casos em que não há
real necessidade de tratamento. Portanto, é necessário considerar os custos e
benefícios da adoção de uma determinada escala ao considerar todos os participantes
da pesquisa.
A construção deve seguir princípios teóricos que se supõem adequados, e a
ferramenta geradora deve ter fortes propriedades psicométricas. Dentre as
propriedades atribuídas às escalas de avaliação, destacam-se a confiabilidade e a
validade. A confiabilidade refere-se à qualidade de uma medição em relação à sua
precisão, ou seja, quanto mais confiável for um dispositivo, menor será o erro devido
ao viés ou ao acaso.
Confiabilidade, reprodutibilidade e estabilidade da escala são termos
equivalentes, garantindo que os efeitos de uma intervenção sejam registrados
adequadamente. Essas propriedades são especialmente importantes no caso de
ensaios clínicos cujas conclusões dependem da confiabilidade de medidas repetidas.
A validade refere-se à capacidade de um instrumento de medir o que deve medir. Os
pesquisadores devem certificar que a escala pode de fato medir o impacto de
interesse, ou seja, a estrutura medida pela escala. Confiabilidade e validade foram
determinadas usando diferentes metodologias.
Um instrumento que apresenta boa evidência de qualidades psicométricas em
seu idioma original pode ter suas propriedades alteradas e prejudicadas ao ser
traduzido para outro idioma. A maioria das escalas usadas no Brasil são feitas em
inglês. As primeiras aqui adotadas foram traduzidas e aplicadas em pesquisas sem
estudos formais de sua qualidade. Talvez, a necessidade de atuação competitiva em
nível internacional no campo da psicofisiologia tenha levado pesquisadores brasileiros
a optar por utilizar ferramentas ainda não validadas em nosso país. Por exemplo, a
Escala de Declínio de Hamilton, amplamente utilizada desde a década de 1980, só
recentemente (em 2014) recebeu seu merecido reconhecimento doméstico.
A simples tradução de um instrumento, muitas vezes não é adequada ou
suficiente para começar a usá-lo. Expressões idiomáticas sem semelhanças
linguísticas e culturais devem ser adaptadas ao português brasileiro, bem como à
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cultura local e comportamentos socialmente aceitáveis. Além disso, a apresentação
clínica, o curso e o prognóstico de muitos transtornos psiquiátricos podem ser
influenciados por fatores socioculturais.
O instrumento final, após processos de tradução e adaptação transcultural,
ainda necessita de estudos adicionais de validação no novo ambiente para que sua
equivalência possa ser estabelecida na população alvo. Solicitar a validação
transcultural de uma ferramenta é um processo demorado e trabalhoso, mas
necessário.
40
do otimismo inicial quanto ao potencial desses instrumentos. (GORENSTEIN;
WANG; HUNGERBÜHLER, 2016)
42
estratégias têm sido propostas para melhorar a detecção de doenças mentais, são
elas:
46
“casos”. Entretanto, os instrumentos de triagem não servem para fazer diagnósticos
psiquiátricos, e sobrepõem-se de forma imperfeita aos critérios diagnósticos.
Para evidenciar a validade das triagens, um instrumento diagnóstico robusto
deve ser adicionado como o critério comparativo, ou o padrão-ouro. Portanto, é muito
importante conhecer a sensibilidade, a especificidade e o valor preditivo positivo (VPP)
da ferramenta de triagem em comparação ao instrumento padrão.
O equilíbrio entre a sensibilidade e a especificidade permite determinar o limiar
para o ponto de corte. Tanto a especificidade como a sensibilidade são chamadas de
indicadores de validade do instrumento, sendo dependentes da efetividade do padrão-
ouro. Assim, à medida que o limiar para um teste positivo aumenta, diminui a
frequência dos casos falsos positivos, melhorando sua especificidade.
Contrariamente, quando se diminui tal frequência, melhora-se a sensibilidade
do instrumento de triagem (os verdadeiros positivos). Como a maioria das ferramentas
diagnósticas é imperfeita, a escolha do padrão-ouro delimita as fronteiras do
desempenho de um instrumento de triagem.
O VPP fornece a probabilidade de alguém pontuar positivamente em um teste
e ser de fato positivo para o caso. Esse indicador depende da prevalência dos casos
positivos. À medida que cai a prevalência, cai também o VPP, porque cresce o número
de falsos positivos quando há poucos casos positivos na população. Por exemplo,
para transtornos raros na comunidade, como quadros psicóticos (em torno de 1%), o
VPP tende a ser bastante baixo (bem menor que 10%), de modo que um programa
de triagem é pouco eficaz para detectar psicose na comunidade.
Diversos instrumentos são construídos para identificar esses transtornos
comuns (entre 10 e 20%), com muito sucesso. Exemplos bem documentados de
instrumentos de triagem são o General Health Questionnaire (GHQ-12), o Self-
Reporting Questionnaire (SRQ-20), o Questionário de Morbidade Psiquiátrica de
Adultos (QMPA), o Kessler’s Distress Questionnaire (K6/K10) e o Patient Health
Questionnaire (PHQ-9), entre outros.
O GHQ-12 foi construído por Goldberg e Hux-ley a partir da visão teórica sobre
a continuidade entre saúde e doença nos centros de atenção primária. Esses autores
estavam interessados nos transtornos mentais comuns, com sintomas não psicóticos,
como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e
queixas somáticas.
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Com o objetivo de avaliar os transtornos mentais comuns em países em
desenvolvimento, a Organização Mundial da Saúde criou o SRQ. Esse instrumento foi
concebido para utilização em países onde o nível de alfabetização pode comprometer
o uso de questionários de autoavaliação. Sua principal versão reúne 20 itens com
respostas tipo “sim” ou “não” sobre sintomas físicos e emocionais.
O SRQ-20 destaca-se como um dos instrumentos de triagem de morbidade
psiquiátrica mais populares nos serviços de atenção primária de brasileiros. Sua
utilidade deve-se ao formato simples e de fácil aplicação. Diferentemente do GHQ e
do SRQ, que contêm perguntas inespecíficas para transtornos psiquiátricos, o QMPA
é um questionário composto apenas por itens que abrangem os sinais e sintomas mais
frequentes das doenças mentais, além de questões sobre tratamento psiquiátrico e
uso de psicofármacos.
O QMPA de 45 questões dicotômicas foi validado com dados populacionais e
mostrou sensibilidade entre 75 e 93%, especificidade entre 53 e 94% e coeficiente
kappa de 0,88. Trata-se de um dos poucos instrumentos de rastreamento construídos
em português e foi utilizado no Estudo Multicêntrico Brasileiro em várias cidades.
Entretanto, instrumentos consagrados, como o SRQ, ou novos, como o PHQ-9
e o K6/K10, com dados comparáveis transculturalmente, têm sido preferidos pelos
pesquisadores brasileiros.
O PHQ-9 constitui uma versão simples do PRIME-MD, sendo formulado com o
intuito de detectar depressão nos centros de atenção primária. Trata-se de um
instrumento de rápida aplicação (alguns minutos), apresenta nove questões ordinais
de autoavaliação (variando entre 0 e 3) e é acoplado ao sistema DSM, favorecendo
seu uso em estudos epidemiológicos. Além de rastreamento, o PHQ-9 também
permite monitorar e avaliar a gravidade da depressão. Sua utilidade tem conquistado
muitos adeptos, e o instrumento tem recebido merecida validação em diversos
estudos brasileiros.
O questionário K6/K10 foi concebido por R. C. Kessler, da Universidade de
Harvard. Após estudos psicométricos dos instrumentos psicopatológicos existentes, o
instrumento foi reduzido à versão de 6 ou 10 itens; deve ser pontuado em uma escala
ordinal (“tempo todo” a “nunca”, variando de 1 a 5) para os sintomas mais importantes
nos últimos 30 dias. Foi utilizado em vários estudos epidemiológicos nacionais e
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internacionais. Há tradução para o português, mas suas evidências psicométricas de
validade ainda não foram publicadas.
6.5 Limitações
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
49
centros primários apresentam pelo menos um transtorno mental, enquanto outros 9%
apresentam condições subsindrômicas.
Muitas vezes, a ocorrência de sintomas psiquiátricos é relatada pelos pacientes
como sintomas somáticos. Identificar essas condições com instrumentos simples,
rápidos e de baixo custo pode beneficiar a maioria dos pacientes. A presença de
sintomas depressivos ou ansiosos pode representar um desafio para o clínico:
podendo ser primários ou secundários, a doença ou uso de medicamentos ou
comórbidos.
Apesar dos avanços no diagnóstico e na classificação dos transtornos
psiquiátricos e da crescente evolução das estratégias de educação médica continuada
dos profissionais da saúde, muitos transtornos mentais permanecem não detectados
ou sem tratamento adequado. Nessa perspectiva, o aprimoramento das entrevistas
diagnósticas pode auxiliar a compreensão das condições psiquiátricas, seja em
ambiente de pesquisa, seja no de prática clínica.
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8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GERMANO, R. R. A et al. Psicopatologia no trabalho do policial militar de Goiás.
2018. 15 f. TCC (Graduação) - Curso de Curso de Formação de Praças, Comando da
Academia da Polícia Militar de Goiás, Goiás, 2018.
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VAZ, A. C. M; FURTADO, J. P. Os Centros De Atenção Psicossocial (CAPS) sob a
óptica das Unidades Básicas De Saúde (UBS). In: ENCONTRO LATINO AMERICANO
DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 11. e ENCONTRO LATINO AMERICANO DE PÓS-
GRADUAÇÃO. 2007. Anais... São José dos Campos: Universidade do Vale do
Paraíba, 2007.
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