Degustacao Adeus Direito Tecnologia e Trabalho

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ORGANIZADORES

Viviane VIDIGAL Oscar KROST


AUTORES

Adriana Goulart de Sena Orsini Mariana Cavarra Bortolon Varejão


Amanda Martins Rosa Andrade Maurício Branco
Ana Carolina Reis Paes Leme Nirsan Grillo Gomes Dambrós
Ana Paula Silva Campos Miskulin Oscar Krost
Carolina Marzola Hirata Platon Teixeira de Azevedo Neto
Carolina Santos Regiane Pereira Silva da Cunha
Fabrício Lima Silva Roberta Silveira Zanetti
Gustavo Silveira Borges Teresa Coelho Moreira
Larissa Matos Vitor Filgueiras
Marcos Paulo da Silva Oliveira Viviane Vidigal
Maria Beatriz Vieira da Silva Gubert Xerxes Gusmão
Adeus Direito, Tecnologia e Trabalho (?) - Volume III
© Orgs.: Viviane Vidigal, Oscar Krost
EDITORA MIZUNO 2023
Revisão: Viviane Vidigal, Oscar Krost

Catalogação na publicação
Elaborada por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166
A233 Adeus direito, tecnologia e trabalho / Organizadores Viviane Vidigal, Oscar Krost. – Leme-SP: Mizuno, 2023.

Autores: Viviane Vidigal, Oscar Krost, Adriana Goulart De Sena Orsini, Amanda Martins Rosa Andrade,
Ana Carolina Reis Paes Leme, Ana Paula Silva Campos Miskulin, Carolina Marzola Hirata, Carolina San-
tos, Fabrício Lima Silva, Gustavo Silveira Borges, Larissa Matos, Marcos Paulo Da Silva Oliveira, Maria
Beatriz Vieira Da Silva Gubert, Mariana Cavarra Bortolon Varejão, Maurício Branco, Nirsan Grillo Gomes
Dambrós, Oscar Krost, Platon Teixeira De Azevedo Neto, Regiane Pereira Silva Da Cunha, Roberta
Silveira Zanetti, Teresa Coelho Moreira, Vitor Filgueiras, Viviane Vidigal, Xerxes Gusmão.

(Direito, tecnologia e trabalho, V. 3)

328 p.; 14 X 21 cm

ISBN 978-65-5526-648-1

1. Direito. 2. Tecnologia. 3. Trabalho. I. Vidigal, Viviane (Organizadora). II. Krost, Oscar (Organizador).
III. Título.
CDD 340
Índice para catálogo sistemático
I. Direito

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Todos os direitos desta edição reservados à


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Impresso no Brasil
Printed in Brazil
PREFÁCIO
“Se pudesse, esquecia-se de ser emotivo, gostava de acreditar que a vida
podia existir apenas como para uma máquina de trabalho perfeita, incumbida
de uma tarefa muito definida, com erro reduzido e já previsto, e com isso
atender ao mais certeiro objetivo (...), retirar daí a felicidade das máquinas,
uma espécie de contínuo funcionamento sem avarias ou interrupções. A feli-
cidade das máquinas, para não sentir senão através do alcance constante de
cada meta, sempre tão definida e cumprida quanto seria de esperar de si. As
botas suspendiam-se e ele começara a balançá-las muito lentamente, como
a criar um embalo, e talvez pudesse chorar.”
(Valter Hugo Mãe. O apocalipse dos trabalhadores.
São Paulo: Biblioteca Azul, 2017).

A obra que ora chega às mãos do leitor/da leitora é o terceiro


volume de uma sequência de livros organizados por Oscar Krost e
Viviane Vidigal a respeito da relevante intersecção entre o Direito, o
Trabalho e a Tecnologia. Concretiza-se, nela, o esforço de congregar
um conjunto de pesquisas e reflexões a respeito do tema, produzidas
por pesquisadores e pesquisadoras vinculados/as a diferentes Univer-
sidades, trajetórias profissionais e abordagens teórico-metodológicas.
Os artigos reunidos convergem no sentido de enfrentar os desa-
fios que são colocados pelas transformações tecnológicas nas relações
sociais, os quais envolvem dimensões produtivas, comunicativas e cul-
turais, que afetam sobremaneira aqueles e aquelas que vivem do tra-
balho, repaginado a partir de novas mediações e interações por meio
de aparatos tecnológicos.
É relevante o propósito coletivo de compreender a tecnologia
não como elemento dotado, em si, de determinantes sobre a vida
social: muito pelo contrário, como instrumento que é, criado por seres
humanos para seres humanos, a tecnologia se coloca nas relações sociais
a serviço das estruturas de poder e de produção, que se impõem ante-
riormente aos avanços tecnológicos e que, por meio deles, se reafir-
mam, atribuindo-lhes sentido a partir de perspectivas ideológicas e inte-
resses específicos.
ADEUS DIREITO, TECNOLOGIA E TRABALHO (?)

Nesse sentido, o papel de uma construção jurídica e regulatória


concernida aos sentidos de proteção ao trabalho, que parta da pre-
missa da persistência do conflito capital e trabalho, das assimetrias das
relações laborais (mal disfarçadas em novos arranjos e formatos) e da
demanda pela mediação estatal nesse conflito, em perspectiva limita-
dora da exploração e garantidora de velhos (e novos) direitos àqueles
e àquelas que vivem do trabalho, se reafirma a partir de leituras críti-
cas dos usos e impactos das tecnologias nas relações de trabalho.
Destaca-se na obra o seleto conjunto de artigos dedicados a
refletir sobre a questão dos trabalhadores e trabalhadoras controlados
por empresas-plataformas digitais, sob diversas dimensões desse
novo modo de ser do trabalho: desde os sentidos político-jurídicos
dessa forma de trabalho, a partir da problematização da narrativa
empresarial que busca afastar de relações dessa natureza o caráter de
exploração do trabalho, como encontramos no artigo de Vitor Filgueiras
e Maurício Branco, bem como no texto apresentado por Nirsan Dambrós,
passando pelas nuances da gestão e, por conseguinte, da subordinação
do trabalho no contexto da plataformização - com as consistentes
abordagens de Viviane Vidigal, Xerxes Gusmão e Teresa Moreira eviden-
ciam - até aspectos relacionados à invisibilização das microtarefas e às
estratégias de manipulação jurisprudencial praticadas pelas empresas-
-plataformas no intuito de se furtar à regulação do trabalho, como
demonstram respectivamente, os artigos de Amanda Martins Rosa
Andrade, Regiane Pereira Silva da Cunha e Roberta Silveira Zanetti e
de Adriana Goulart de Sena Orsini e Ana Carolina Reis Paes Leme.
A matéria tem feito parte das preocupações e da agenda pública,
sobretudo diante da iminência de uma resposta regulatória específica
no contexto brasileiro, anunciada pelo Governo iniciado em 2023. Na
esteira do que já foi encaminhado pela regulação do trabalho em
diversos outros países que experienciam a avalanche de trabalho pla-
taformizado, a pressão pública e social, manifestada sobretudo pela
organização coletiva dos trabalhadores/as, tem colocado em evidência
a necessidade de regulação do trabalho controlado pelas plataformas,
com garantia de direitos e proteção social a esses sujeitos. Nesse sen-
tido, as importantes preocupações de Marcos Paulo da Silva Oliveira,
ao acenar para uma governança global dessa modalidade de labor.

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PREFÁCIO

A obra oferece, ainda, um conjunto de artigos voltados a novas


temáticas advindas da tecnologia, desafiando o direito do trabalho a
uma atitude responsiva aos cenários e às novas dimensões criadas
pelas interações tecnológicas, mas que, ao mesmo tempo, não perca
de vista o seu mister protetivo no intuito de balancear as velhas rela-
ções desiguais estabelecidas entre capital e trabalho.
Entre novas expressões das relações laborais promovidas pela
tecnologia, tem-se o fenômeno do trabalho dos nômades digitais,
abordado por Carolina Santos; a faceta do poder diretivo manifestada
pelas redes sociais e a demanda pela imposição de limites compatíveis
com essas manifestações, como trazido por Oscar Krost; o uso de
dados de geolocalização como elemento de prova, bem como os limites
necessários a esse uso em face dos direitos fundamentais, na leitura de
Mariana Varejão e Ana Paula Miskulin; e o metaverso enquanto possí-
vel lugar do trabalho, conforme interessante ensaio de Maria Beatriz
Vieira da Silva Gubert e Gustavo Silveira Borges, que pensam os limites
e possibilidades do direito do trabalho para e pelo metaverso.
Ainda em relação ao uso dos dados e aos sentidos que a eles
são emprestados diante das novas tecnologias, a aproximação entre
os avanços contidos no marco regulatório da LGPD e o direito do tra-
balho, a partir da perspectiva da compliance, são pensados por Larissa
Matos e Fabrício Lima Silva. Carolina Hirata, por seu turno, oferece
discussão sobre a utilização da “online dispute resolution” no processo
do trabalho, a evidenciar os impactos da tecnologia também na atuação
da institucionalidade encarregada da regulação judicial do trabalho.
Por fim, porém pensando o futuro, a questão pendente da regu-
lamentação da proteção em face da automação é trazida no texto de
Platon Teixeira de Azevedo Neto, que invoca a densidade das diretrizes
protetivas da Constituição de 1988 como caminho social e coletivo
para o enfrentamento dos desafios engendrados pela tecnologia.
A obra é finalizada com o provocante artigo de Viviane Vidigal
que, explorando a essência contraditória do trabalho humano - o qual
guarda em si o lócus da opressão de classes e, ao mesmo tempo, a potên-
cia rebelde e transformadora do trabalho que cria e recria o mundo -,
analisa a possibilidade de apropriação das estratégias empresariais de
gamificação pelos trabalhadores, em favor da sua própria resistência.

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ADEUS DIREITO, TECNOLOGIA E TRABALHO (?)

Assim, aponta-se para a disputa de sentidos pensada desde o


início da obra e que atravessa todo o conjunto, de alguma maneira: a
disputa por um sentido e por usos da tecnologia que se desenvolvam
em respeito à vida humana, à dignidade e à possibilidade de constru-
ção de relações sociais menos desiguais e violentas. Fazendo uso da
tecnologia, mas sem descurar da agência de uma sociedade democrá-
tica na definição de seus vetores e sentidos, talvez possamos, como
ensina Valter Hugo Mãe na passagem emprestada na epígrafe, não
apenas criar máquinas de trabalho perfeitas, mas, sim, atentar para
nossas fragilidades humanas, com perspectivas de dignidade e justiça.

Brasília, 16 de março de 2023.

Renata Queiroz Dutra


Professora Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (Graduação e
Pós-Graduação). Doutora em Direito pela UnB.
Presidente da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (2022-2023)

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Apresentação ou despedida (?)

O suspense de quem interroga, de forma entreaberta, dissimulado


pelas entrelinhas dos parêntesis a justificar a dúvida.
Questionamento sobre rumos do direito, tecnologia e trabalho:
adeus?
Embora existam vozes anunciando o fim do trabalho humano,
há outras que negam veementemente tal previsão. E entre elas, nós,
sabedores de que máquinas não geram mais valor, apenas pessoas o
fazem. E sem elas, o capital não se reproduz, inviabilizando o sistema
capitalista. A tecnologia, portanto, potencializa o valor.
Explorar ou proteger?
Escolhas. Decisões. Opções.
Políticas e econômicas. Apenas, posteriormente, juridicamente
revestidas.
O capitalista escolhe com a tecnologia hiperexplorar o trabalho
humano. Será assim sempre?
Dúvidas.
Para isso foi criada a coleção “Direito, Tecnologia e Trabalho”: criar
dúvidas onde havia certeza, provocar a reflexão e permitir a mudança
do eixo dos debates.
Quanto à coleção resta a pergunta: adeus?
Ficará assim mesmo com interrogação porque parece que não
está, de fato, se despedindo.
Afinal, “verba volant, scripta manent” (as palavras voam, os escri-
tos permanecem).

Campinas/Blumenau, março de 2023.

Viviane Vidigal & Oscar Krost


sumário

SUBORDINAÇÃO DIGITAL E SUBORDINAÇÃO NUVEM: UM


CONCEITO E UMA METÁFORA........................................................... 13
Viviane Vidigal

A SUBORDINAÇÃO IMERSIVA DO TRABALHADOR EM PLATA-


FORMAS DIGITAIS..................................................................................... 30
Xerxes Gusmão

DE OLHOS BEM ABERTOS: A GESTÃO ALGORÍTMICA DO


TRABALHO.................................................................................................. 47
Teresa Coelho Moreira

HORA DE ACORDAR DO PESADELO: “PLATAFORMAS DIGI-


TAIS” NÃO SÃO PLATAFORMAS DIGITAIS..................................... 68
Vitor Filgueiras | Maurício Branco

O MUNDO ENCANTADO DO TRABALHO DE PLATAFORMA:


DO FETICHE AO DESENCANTO.......................................................... 79
Nirsan Grillo Gomes Dambrós

DESVENDANDO TÊMIS: CONTRIBUIÇÃO DA ACADEMIA PARA


UMA JURISPRUDÊNCIA QUE NÃO SE DEIXE MANIPULAR..... 98
Adriana Goulart de Sena Orsini | Ana Carolina Reis Paes Leme

A INVISIBILIDADE DOS TRABALHADORES PLATAFORMIZADOS


DE MICROTAREFAS.................................................................................... 123
Amanda Martins Rosa Andrade | Regiane Pereira Silva da Cunha |
Roberta Silveira Zanetti

GOVERNANÇA GLOBAL SOBRE O TRABALHO POR APLICATI-


VOS E A PERTINÊNCIA DE UM ESTATUTO PARA O TRABA-
LHADOR PLATAFORMIZADO NO BRASIL...................................... 142
Marcos Paulo da Silva Oliveira

TRABALHADOR NÔMADE DIGITAL: OS DIREITOS TRABA-


LHISTAS DO TRABALHADOR NÔMADE DIGITAL À LUZ DO
DIREITO INTERNACIONAL E NACIONAL........................................ 167
Carolina Santos
PODER DIRETIVO E REDES SOCIAIS: REFLEXÕES SOBRE
PARÂMETROS E RESPONSABILIDADES......................................... 183
Oscar Krost

A PROTEÇÃO DE DADOS E A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRA-


MA DE CONFORMIDADE À LGPD: PROBLEMAS PRÁTICOS E
POSSÍVEIS SOLUÇÕES........................................................................... 207
Larissa Matos | Fabrício Lima Silva

PROVA DE GEOLOCALIZAÇÃO: LIMITES FRENTE AOS DIREITOS


FUNDAMENTAIS......................................................................................... 227
Mariana Cavarra Bortolon Varejão | Ana Paula Silva Campos Miskulin

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E EMPÍRICOS PARA A UTILIZAÇÃO


DA ONLINE DISPUTE RESOLUTION NO PROCESSO DO
TRABALHO.................................................................................................. 248
Carolina Marzola Hirata

O FUTURO DO EMPREGO NO BRASIL E A NECESSÁRIA REGU-


LAMENTAÇÃO DA PROTEÇÃO EM FACE DA AUTOMAÇÃO... 277
Platon Teixeira de Azevedo Neto

METAVERSO E RELAÇÕES DE TRABALHO: UM NOVO MUNDO?... 297


Maria Beatriz Vieira da Silva Gubert | Gustavo Silveira Borges

QUEBRANDO A BANCA: GAMIFICAÇÃO COMO RESISTÊNCIA.... 315


Viviane Vidigal
SUBORDINAÇÃO DIGITAL E SUBORDINAÇÃO NUVEM:
UM CONCEITO E UMA METÁFORA

Viviane Vidigal1

Quando Alice, de Lewis Carrol, atravessa o espelho, depois de


dialogar com as peças de xadrez, ela conhece um personagem curioso,
um ovo, mas que não gosta que o chamem do que ele é, apenas res-
ponde pelo nome de Humpty Dumpty e tem o hábito de criar pala-
vras novas, que Alice nunca ouviu, como “desaniversário”, ou dá as
existentes novos significados. “Quando uso uma palavra”, diz Humpty
Dumpty em tom levemente sarcástico, “ela significa o que eu quero
que signifique”. A questão é, retruca Alice, “se você pode fazer as
palavras terem significados tão diferentes” (CARROLL, 2009).
A palavra latina tripalium, que deu origem ao termo “trabalho”,
na Roma antiga, era o nome que se dava não só a um instrumento de
tortura, mas também a uma espécie de arado e a uma máquina de
bater o trigo (VIANA, 2021. p. 21).
Uma nuvem pode ser um ambiente de TI que abstrai, agrupa e
compartilha recursos escaláveis em uma rede. A computação em
nuvem, ou cloud2, modificou o cenário digital por permitir o uso de
ferramentas online remotamente. Nuvem pode ser também um/a tra-
balhador/a que fez o cadastro em uma empresa-plataforma para rea-
lizar entregas. Porém, o significado mais longevo de nuvem3 talvez

1 Professora Universitária e Pesquisadora. Doutoranda e Mestra em Sociologia


pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Pós-graduada em Direito
do Trabalho e Pós-graduada em Direito Penal. Coordenadora do Núcleo
Temático de Filosofia e Sociologia da Escola Superior de Advocacia ESA/OAB-SP.
É integrante do grupo de pesquisa Mundo do Trabalho e suas Metamorfoses
sob a coordenação do prof. Ricardo Antunes. Integrante do grupo de pesquisa
Trabalho e Capital sob a coordenação do prof. Jorge Souto Maior. Integrante do
núcleo de estudos "O Trabalho Além do Direito do Trabalho", sob a coordenação
do prof. Guilherme Feliciano. E-mail: [email protected].
2 Informação disponível em: https://www.redhat.com/pt-br/topics/cloud
3 Informação disponível em: https://rodriguesdorea.wordpress.com/?s=nuvem
ADEUS DIREITO, TECNOLOGIA E TRABALHO (?)

seja aglomerado visível de partículas de água nos estados líquido e/ou


de gelo. Esses aglomerados, que ficam suspensos na atmosfera, podem
conter também partículas de poeiras, fumaças e vapores.
Enquanto operadores do Direito, em um país que não é o “das
maravilhas”, ao atravessar a neblina que enevoa as análises, pensamos
no mundo digital de cloud, algoritmos, aplicativos, plataformas, smart-
phones, dados, internet, cada vez mais presente no trabalho contem-
porâneo, e precisamos lembrar que nenhum desses elementos existi-
ria se ausente interação com a atividade humana e tampouco com o
trabalho humano. Ou seja, inexiste qualquer trabalho digital sem base
de trabalho vivo. Há vínculo necessário entre o trabalho digital e tra-
balho manual para a produção de valor, não sendo possível separar o
trabalho digital de sua parte imprescindível que é o trabalho vivo
(ANTUNES, BASSO, PEROCCO, 2021).
Essa noção é importante para que se possa compreender a
subordinação digital. A subordinação digital é ancorada e estruturada
a partir da intensa atividade de trabalho humano, de trabalho vivo.
Digitais são os meios pelos quais são exercidos o controle.

O controle digital
Na passagem da “sociedade da disciplina” para a “sociedade do
controle” (DELEUZE, 1990), os átomos deslocam-se para os bits
(CHAVES JUNIOR, 2017). Como explica José Eduardo Resende Chaves
Júnior, “ao controle já não interessa o confinamento dentro da fábrica,
dentro de uma jornada fixa, dentro de uma disciplina linear, de um vín-
culo jurídico estável, mas, sim, de um vínculo etéreo, nas nuvens”
(...). Na sociedade do controle “o trabalho com vínculos precários
pode ser organizado facilmente, desde que esses vínculos sejam
contínuos, plugados, on line, virtuais” (CHAVES JUNIOR, 2017).
As práticas de controle sobre o trabalho adotadas no capitalismo,
onde as plataformas digitais tem enorme capacidade de análise de
dados, permitem um controle mais agudo sobre os processos de traba-
lho, ao mesmo tempo que causam a ilusão de serem mais frouxas a
quem está submetida a elas (MODA, 2020). Foram criados novos meca-
nismos de controle que não impõem força mas minam a resistência,
permitindo uma gestão ainda mais eficiente. Aumentou-se o controle

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SUBORDINAÇÃO DIGITAL E SUBORDINAÇÃO NUVEM
Viviane Vidigal

sobre o trabalho, com as empresas-plataforma determinando o exato


conteúdo e formato dos contratos.
Daniela Muradas Reis e Eugênio Delmaestro Corassa explicam que
a tecnologia da informação e comunicação permite às empresas-plata-
forma terem acesso a um grande contingente de trabalhadores sem a
necessidade de contato direto, determinando as regras do negócio, e
verificando o desempenho do trabalho pelas notas dadas pelos usuá-
rios. A partir de todas as informações que lhe são apresentadas o
algortimo organiza toda a atividade (REIS, CORASSA, 2017).
Os motoristas e passageiros são perfilados e diversos cálculos
algorítmicos modulam e antecipam seus comportamentos, ação que
segue ocorrendo durante toda a realização do serviço (AMORIM;
GROHMANN, 2021). Os dados captados e analisados com este acom-
panhamento constante de cada trabalhador e usuário conectados à pla-
taforma é o que permite a Uber realizar o gerenciamento algorítmico
sobre o trabalhador individual e coletivo à ela subordinados (LE ET AL,
2015; ROSENBLAT, STARK, 2016 apud MODA, 2020).
O gerenciamento algoritmo, caracterizado pelas “as práticas de
supervisão, governança e controle conduzidas por softwares sobre o
trabalhador coletivo” (MÖHLMANN; ZALMANSON, 2017, p. 4), é a
forma utilizada pelas empresas para atualizarem a gerência taylorista
(MODA, 2020). No taylorismo era função da gerencia destinar a cada
trabalhador uma tarefa específica, bem como a maneira pela qual
deveria ser realizada. Na atualidade os cálculos algorítmicos, realiza-
dos a partir dos dados gerados pelos trabalhadores e usuários e anali-
sados pelo aplicativo, automatizam este processo, prescrevendo de
maneira exata e em tempo real como a atividade de cada trabalhador
deve ser desempenhada. A novidade é que o acompanhamento sobre
como as tarefas estão sendo realizadas passa a ocorrer de forma ime-
diata, punindo todo e qualquer desvio do que foi estipulado pela
gerência algorítmica (MODA, 2020). O acompanhamento sobre o tra-
balho passa a ocorrer de forma mais precisa e em tempo real (WOO-
DCOCK,2020 apud. AMORIM; GROHMANN, 2021). O gerente de
Taylor deu lugar ao gerente Algoritmo que não dá bom dia ao traba-
lhador, diz você está “online” “parceiro” e depois o pune, deixando-o
“off-line” se ele não obedecer aos comandos, para enfim, desligá-lo.

15
ADEUS DIREITO, TECNOLOGIA E TRABALHO (?)

Antes das atuais tecnologias que modificaram a forma de controle


foram previstas figuras no passado, com as quais podemos comparar
o controle digital em determinados aspectos. George Orwell escre-
veu o livro “1984” criando a figura onipresente e onividente do “Big
Brother” que possuía um grande olho e poderia ver todos os cantos
(ORWELL, 2003). O algoritmo das empresas-plataforma revisita essas
características.
Revisita também, conforme propõe Venco (2003, p. 67), caracte-
rísticas do Panóptico, projeto arquitetônico idealizado pelo filósofo uti-
litarista Jeremy Bentham no século XIX. O panóptico nas palavras de
Focault é uma “máquina de dissociar o par ver-ser visto: no anel perifé-
rico, se é totalmente visto, sem nunca ver; na torre central, vê-se tudo,
sem nunca ser visto” (FOUCAULT, 2018, p. 195). Não obstante, se
substituirmos a figura do vigia, pessoa humana em uma torre com visão
periférica, pelo algoritmo, a ideia central permanece. Há o algoritmo
que controla e tudo vê, e principalmente aquele/a que está sendo con-
trolado/a não enxerga a pessoa do controlador, portanto, podendo
compreender a técnica como neutra.
Woodcock (2020) pontua que no trabalho para empresas-plata-
formas o panóptico é atualizado e aprofundado, originando o “panóp-
tico algorítmico”, pois a utilização da tecnologia GPS e a conexão de
banda larga à internet permitem que os dados acerca do trabalho sejam
coletados de forma mais granular, o que possibilita aumentar o nível de
vigilância, podendo ser realizado com trabalhadores/as dispersos/as
pelo mundo (WOODCOCK, 2020). Shoshana Zuboff (2018) repercute
a imbricação entre vigilância, perda da privacidade e controle. Pelas pla-
taformas digitais os acessos e as ações realizadas são registradas com
frequência, assim como acontece nas atividades de navegação realiza-
das em sites da Internet (BRAZIL, 2017). Provavelmente seja, como
mencionado por Santos e Ferreira (2008), “o espaço mais controlado
que o ser humano já construiu”.
Entende Carelli (2017, p. 355) que a consolidação do controle
realizado pelas empresas-plataforma revela um direcionamento ainda
mais intenso, por comandos ou por programação. O autor esclarece
que se trata de uma “direção por objetivos”, pois:

16
SUBORDINAÇÃO DIGITAL E SUBORDINAÇÃO NUVEM
Viviane Vidigal

A partir da programação, da estipulação de regras e comandos


preordenados e mutáveis pelo seu programador, ao trabalhador é
incumbida a capacidade de reagir em tempo real aos sinais que lhe
são emitidos para realizar os objetivos assinalados pelo programa.
Os trabalhadores, nesse novo modelo, devem estar mobilizados
e disponíveis à realização dos objetivos que lhe são consignados.
(CARELLI, 2017, p. 355).

Para manter os(as) trabalhadores(as) sob constante controle e


estrita submissão aos padrões impostos, as empresas possuem de
mecanismos de “reputação digital”. Explica Abilio (2017) que o con-
trole sobre o trabalho é transferido para a multidão de consumidores,
que avaliam os/as profissionais a cada serviço demandado. A certifica-
ção sobre o trabalho vem agora da esfera do consumo, por meio
dessa espécie de gerente coletivo que fiscaliza permanentemente o
trabalhador (ABILIO, 2017).
No trabalhado plataformizado o controle de qualidade foi desas-
sociado das empresas, passando a ser de responsabilidade dos/as traba-
lhadores/as e dos/as consumidores/as do serviço (AMORIM; MODA,
2020). Ao criar um sistema de controle de qualidade desligado da estru-
tura organizativa da empresa, ela diminui a sua responsabilidade e
coloca maior peso na autoimposição dos/as trabalhadores/as sobre as
suas práticas, com o risco deles se submeterem a maiores níveis de
constrangimentos em seu cotidiano (MODA, 2020).
Os/as motoristas confiam na avaliação dos/as consumidores/as
que é realizada de uma forma paralela ao Estado. O/a consumidor/a
confia na avaliação da multidão. Verificamos a credibilidade da marca
a partir da multidão. Esse controle é denominado por Surowiecki
(2004) de “sabedoria da multidão”. Para avaliar o trabalho dos/as
motoristas os/as usuários/as lhes atribuíem pontos que recebem o
nome mais agradável de “estrelinhas”.
Tom Slee chama o sistema de reputação de “chefe do inferno”,
“um errático, mal humorado e não confiável gerente que pode te des-
pedir a qualquer momento, em segundos, sem contestação” (SLEE,
Tom, 2017, p. 101). Esse sistema coloca os(as) trabalhadores(as) em
estágio probatório perpétuo, sem garantia de nada.

17
ADEUS DIREITO, TECNOLOGIA E TRABALHO (?)

Essa pressão advinda da nota dada pelos usuários tem explicação


lógica. Paulo diz que a Uber controla suas notas, revelando o exercício
do poder punitivo da empresa (desligamento), caso o regramento não
seja cumprido, se for mal avaliado com nota inferior a mínima estipu-
lado pela Uber para sua região. De acordo com o entrevistado:

é levado em consideração a média de cada cidade. Se não me


engano, em Campinas se o motorista tiver média inferior a 4,65 em
um total de 5. A Uber divulga a média de cada cidade em seu site”.

Assim, conforme o número de estrelas recebidas, a cada viagem


realizada, poderá o motorista da Uber permanecer com o acesso libe-
rado ao aplicativo e continuar trabalhando, ou, comumente sem aviso
prévio, ser provisoriamente desligado, caso não alcance os pontos míni-
mos fixados pela empresa ou até poderá o algoritmo da Uber, segundo
as programações somente por ela compreendidos e completamente
estranhas ao motorista, colocar fim ao contrato, desligando o trabalha-
dor (TEODORO; SILVA, ANTONIETA, 2017). Embora se trate de um
sistema de avaliação mútua, pois os usuários também são avaliados
pelos motoristas, as consequências para os trabalhadores são muito
mais penosas que para os consumidores da Uber. A desconexão defini-
tiva dos motoristas resulta no encerramento do contrato firmado sem
que para as partes, segundo os termos contratuais ajustados, reste
nenhuma obrigação jurídica (TEODORO; SILVA, ANTONIETA, 2017).
Caso o/a passageiro/a precise reportar algum incidente, a Uber
conta com uma equipe de suporte ao/à usuário/a que analisa caso a
caso. É fato ainda que, na hipótese de haver reclamações, a Uber se
encarrega exclusivamente do controle diretivo da prestação do ser-
viço, disponibilizando uma equipe de suporte ao usuário, impedindo a
formação de um vínculo pessoal entre motorista e passageiro/a, res-
pondendo ela mesma às queixas dos/as passageiros/as, o que ressalta
igualmente a supressão da livre iniciativa dos/as motoristas no exercí-
cio de sua atividade laboral, no que tange às avalições recebidas (TEO-
DORO; SILVA, ANTONIETA, 2017).
O fato de os/as trabalhadores/as terem de se comportar con-
forme as diretrizes da empresa, esforçando-se para fazer do transporte

18
SUBORDINAÇÃO DIGITAL E SUBORDINAÇÃO NUVEM
Viviane Vidigal

uma experiência agradável para o/a usuário/a da Uber – o que se deno-


mina por trabalho emocional –, não é considerado como atividade pro-
dutiva e é colocado como invisível pela estrutura posta (CHERRY, 2016
apud. KAKIL, 2019, p. 161).
Outra questão relevante que aparece na entrevista de Bernardo
e que parece-nos ajudar a tipificar o controle e a configuração do exer-
cício do poder diretivo por parte da empresa pode ser constatada na
proibição por parte da Uber de que os motoristas recusem certo limite
de chamadas pelo aplicativo. O motorista na realidade precisa realizar
uma quantidade mínima de corridas a fim de se manter associado ao
serviço. Assim, caso não realize pelo menos uma corrida por mês ou
recuse mais de 10% de chamados, o/a trabalhador/a é suspenso/a tem-
porariamente ou até mesmo desligado/a (SANTINO, 2016). Muitos/as
entrevistados/as relataram recusar chamadas quando estão em áreas de
risco e, que apesar da recusa ser justificada por segurança pessoal, ela é
um ato punido discricionariamente pela empresa.

Vidigal — E você pode ficar recusando corrida à vontade?


Bernardo — As empresas permitem o cancelamento e aconse-
lham ao mesmo tempo manter uma taxa de cancelamento baixa.
Nada mais justo, pois um sistema onde há muito cancelamento,
por consequência ele se torna um serviço sem confiabilidade.
Acontece em qualquer relação, se eu contrato uma diarista para
limpar minha casa e ela mais faltar do que comparecer, logica-
mente iria em busca de outra que não me deixasse na mão.
Vidigal — Você sabe se tem um limite pra cancelamento? Se a
empresa te desliga se passar disso?
Bernardo-Limite existe e ele não é completamente claro, pode
ser que eu não tenha lido essa parte no contrato. Mas de todo
modo, se o motorista abusa, a Uber envia algumas mensagens
para melhorar. Em caso de não ocorrer a melhora, o motorista
pode ser banido por infringir uma determinada cláusula contra-
tual. A Cabify inclusive deixa de pagar alguns incentivos quando o
motorista cancela ou não aceita mais de 10% das chamadas.
Vidigal — E existem outras penalidades fora o desligamento.
Você sabe quais motivos ensejam elas?

19
ADEUS DIREITO, TECNOLOGIA E TRABALHO (?)

Bernardo — A Uber pode suspender a conta por até um tempo,


até 3 vezes, por causa de nota baixa. Se não ocorrer a melhora há
o banimento. Segundo a empresa, ela fornece dicas e um curso
de reciclagem para dar chance de recuperação para o motorista.
Casos graves, como assédio, podem causar na exclusão imediata.
Homofobia, assédio sexual e moral, acismo, não tem nem motivos
de dar chance para o motorista. (Bernardo, 25 de abril de 2018)

Desse excerto, podemos verificar que nem todas as regras são


claras para o motorista4. Isso é apurado também em outras entrevis-
tas. Nas redes sociais há inúmeros relatos de motoristas que foram
surpreendidos/as por bloqueios ou que foram desligados/as da Uber
de forma repentina e sem serem informados/as dos motivos. Tais rela-
tos têm como marca um sentimento de injustiça e se assemelham à
dispensa sem justa causa. Outros/as narram que a empresa pune
quem entrega cartões com telefone pessoal para usuários/as da Uber
ou realiza qualquer outra tentativa de realizar transporte particular
“por fora”.
Motoristas que foram excluídos e não tinham cancelamentos,
com boas avaliações, ao questionarem a empresa o motivo da exclu-
são da plataforma, obtiveram a resposta que a Uber não podia dizer o
motivo, alegando simplesmente mal-uso da plataforma. Infere-se que
a empresa pode punir motoristas através de regras próprias e por
eles/as desconhecidas.
Notam-se, portanto, os mecanismos de controle sobre o traba-
lho que a empresa estabelece ao construir continuamente normas e
regras que não são informadas ou negociadas com o/a motorista.

A “peça digital”
Os(as) trabalhadores(as) recebem remuneração por cada cor-
rida realizada. Trata-se do “salário” por unidade de obra (VIDIGAL,
2021). Retendo o que denomina “taxa de serviço” sobre o preço das
corridas, a Uber utiliza-se do mais tradicional modo capitalista de pro-
dução e reprodução de riqueza – a extração do excedente da força de

4 Informação disponível em: https://www.uber.com/pt-BR/drive/resources/regras.


Acesso em: 21 ago. 2018.

20
SUBORDINAÇÃO DIGITAL E SUBORDINAÇÃO NUVEM
Viviane Vidigal

trabalho (TEODORO, SILVA, ANTONIETA, 2017). A taxa cobrada é


calculada pelo próprio aplicativo e leva em consideração a quilometra-
gem percorrida e o tempo permanecido dentro do automóvel. A
empresa não fornece a metodologia utilizada para a fixação dos valo-
res do serviço, não apontado as variáveis utilizadas e o funcionamento
de seu algoritmo. Entretanto, incontroverso que este sistema é deter-
minado unilateralmente por ela (BABOIN, 2017).
A empresa Uber, no mês de julho de 2018, implementou um
novo modelo pelo qual o/a passageiro/a continuará pagando pela esti-
mativa da viagem, calculada antes de o trajeto ser percorrido (NEGRÃO,
2018). No entanto, o(a) motorista é remunerado(a) pela distância e
tempo reais do percurso – não em porcentagem. Até então, motoristas
do UberX e UberSelect tinham que pagar taxa fixa de 25%, enquanto
a UberBlack cobrava 20%. O novo sistema de cobrança, a apelidada
“taxa flutuante”, vem causando discórdia, conforme narra o entrevis-
tado: “Hoje com a taxa flutuante pode ser cobrado do motorista de
25% a 50%. Parece zueira, mas não é, daqui a pouco a gente vai tá
pagando pra trabalhar” (Bruno, 10 de agosto de 2018).
No âmbito jurídico, Murilo Oliveira (2021) defende que a pre-
cificação e sua consectária ausência de liberdade econômica repre-
senta, por si só, a situação de dependência do trabalhador, a qual deve
ser adjetivada como econômica, a fim de explicitar seu fundamento
extrajurídico. Isto é, quando a empresa-plataforma decide precificar o
trabalho alheio ela manifesta controle próprio da posição jurídica de
empregador (OLIVEIRA, 2021).
Esse modelo remuneratório reedita uma forma antiga de paga-
mento: o salário por peça que, a despeito de não ser hegemônico na
sociedade contemporânea, seguiu existindo em alguns ramos produ-
tivos em coexistência com o salário por tempo. A gestão por platafor-
mas digitais ao automatizar o controle, permite a proliferação do tra-
balho por peça (VIDIGAL, 2022), cunhado por Veena Dubal como
salário por peça digital (DUBAL, 2020).
Em “O Capital” pode-se encontrar pistas preciosas para enten-
der tanto a dialética do trabalho, quanto a problematização do salário
por peça: a remuneração do/a trabalhador/a depende não de sua

21
ADEUS DIREITO, TECNOLOGIA E TRABALHO (?)

jornada, mas de sua produção. No século XIX, Marx (2013) já assina-


lava a tendência a uma opacidade ainda maior da relação entre capital
e trabalho quando mediada pela remuneração por peça.
A passagem da medida do salário por tempo de trabalho para o
salário por peça materializa uma transferência do controle sobre o
tempo e a produtividade do trabalho para o/a próprio/a trabalhador/a
(ABILIO, 2011). Com o pagamento por peça o custo da ociosidade é
jogado ao(a) trabalhador(a). Marx (2013) explica que ao remunerar não
pelo tempo, mas pela quantidade produzida, favorece um aumento
tanto da extensão do tempo de trabalho como de sua intensidade:

Dado o salário por peça, é naturalmente do interesse pessoal do


trabalhador aplicar sua força de trabalho o mais intensamente possí-
vel, o que facilita ao capitalista elevar o grau normal de intensidade.
Do mesmo modo, é interesse pessoal do trabalhador prolongar a
jornada de trabalho, pois com isso sobe seu salário diário ou sema-
nal (MARX, 2013, p. 141).

Dessa forma, a intensificação do trabalho, objetivo de toda gestão


capitalista, seria obtida através do salário por peça. O salário por peça
permite ao capitalista maior ganho de produtividade.
Marx (2013) ainda ressaltava que o salário por peça favorece o
desenvolvimento da individualidade, do sentimento de liberdade e de
autonomia dos/as trabalhadores/as. Nesse sentido, Callum Cant
(2019) define o salário por peça como parte constituinte e fundamen-
tal do sistema de controle do trabalho, pois este permitiria que as
empresas-plataformas dispensassem um sistema de disciplina do tra-
balho com supervisores humanos. Para o autor, essa forma de salário
facilita que os/as trabalhadores/as se vejam como “chefes de si”, con-
forme é do interesse dos capitalistas que exploram esse trabalho e a
classificação dos/as trabalhadores/as como autônomos/as não seria
meramente uma forma do capitalista de se eximir dos direitos traba-
lhistas e de seus respectivos custos. O status de trabalhador(a) autô-
nomo(a) seria fundamental para permitir o sistema de salário por
peça, sem nenhum salário fixo e sem necessidade do pagamento de
um salário mínimo, sendo fundamental ao próprio sistema de controle
e gestão do trabalho.

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SUBORDINAÇÃO DIGITAL E SUBORDINAÇÃO NUVEM
Viviane Vidigal

Elementos caracterizadores do controle digital


São muitos elementos caracterizadores do controle digital que
foram encontrados na pesquisa, os quais sistematizo:

1. Ingresso. A empresa determina quem pode trabalhar. Estipu-


lando exigências do carro, antecedentes criminais, etc.
2. Atividade. A empresa determina o conteúdo da atividade. No
caso, transporte individual de passageiros.
3. Atividade. A empresa determina como a atividade deve ser
realizada. Há um script de comportamento, denominado
“sugestões”. Há o envio de mensagens enviadas ao/à moto-
rista, com orientações e sugestões.
4. Atividade. A empresa escolhe qual motorista realizará aquela
atividade para qual consumidor. Há mecanismos de vigilância
que proíbem vínculo direto entre o/a trabalhador/a e o/a
consumidor/a.
5. Atividade. A empresa escolhe qual o trajeto da corrida.
6. Alocação. A empresa determina quais as regras de alocação
dos chamados, de critérios na distribuição de chamados.
7. Avaliação. A empresa determina os critérios de influência da
avaliação do/a motorista feita pelos/as consumidores/as sobre
a alocação de chamados, a fixação do preço e a manutenção
no trabalho.
8. Avaliação. A existência de mecanismos de avaliação do moto-
rista é instituto de coerção.
9. Precificação. A empresa determina o valor da corrida.
10. Precificação. A empresa determina a porcentagem do valor a
ser retido e a ser repassado para quem trabalha.
11. Gamificação. A empresa determina as regras dos bônus,
metas e desafios. Induzindo o/a trabalhador/a a ficar a dispo-
sição e trabalhar por mais tempo.
12. Gamificação. A empresa determina as regras da “tarifa dinâ-
mica”. Induzindo o/a trabalhador/a a se deslocar para o local
que ela quer, na hora que ela quer.
13. Advertências.
14. Bloqueio branco.
15. Bloqueio comum.
16. Desligamento. A empresa-plataforma estabelece os critérios
para suspensão e/ou exclusão.
17. Controle de dados. A empresa controla os dados sobre a
velocidade, o número de frenagens, o desvio da rota proposta

23
ADEUS DIREITO, TECNOLOGIA E TRABALHO (?)

pelo aplicativo, a gravação de som ambiental, e o rastrea-


mento por geolocalização.
18. Propriedade dos dados. A empresa é a única detendora de
dados.
19. Conhecimento do conteúdo do contrato. Quem trabalha não
tem acesso ao total conteúdo do contrato, apenas a empresa
tem conhecimento de todos os termos.
20. Regulamento. A empresa-plataforma regulamenta a relação
de trabalho nos “termos e condições de uso”.
21. Alteração unilateral do contrato. A empresa pode alterar qual-
quer critério, a qualquer momento colocando quem trabalha
em situação vulnerável.

Facetas do poder empregatício reveladas


O poder empregatício positivado no art. 2º da CLT tem diversas
facetas (ou dimensões): poder diretivo/organizacional, poder regula-
mentar, poder fiscalizatório/vigilância e poder disciplinar (DELGADO,
2018, p. 786-794). As empresas-plataforma além de organizarem e diri-
girem o trabalho realizado, regulamentam todo o serviço como pode se
verificar nos “termos e condições de uso”, fiscalizam toda a prestação
de serviços por meios digitais e exercem o poder disciplinar por meio
de advertências, bloqueios e desligamentos. Portanto, é encontrado o
poder empregatício em todas as suas facetas (CARELLI, 2020). Trata-se
do poder empregatício exercido por meios telemáticos.

Subordinação digital: o conceito


Estabelecidos os contornos do controle digital na organização do
trabalho, o que significa falar de subordinação digital? Quais são seus
efetivos mecanismos de funcionamento? E qual seu real significado?
Digital é, pois, a subordinação que se manifesta pela inserção
(ou input) do(a) trabalhador(a) na dinâmica de organização da empre-
sa-plataforma, que controla o trabalho por meios digitais. Subordina-
ção digital, é um liame jurídico que vincula o(a) empregado(a) ao(à)
empregador(a), pela via informacional digital no processo produtivo.
A tecnologia atual permite um controle mais acentuado dos ritmos e
tempos, mas de aparência fluída e frouxa a quem se controla.

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SUBORDINAÇÃO DIGITAL E SUBORDINAÇÃO NUVEM
Viviane Vidigal

O controle digital vai além da supervisão dos(as) trabalhado-


res(as), está também relacionado à superação da resistência, seja pela
alteração dos léxicos, seja pela linguagem gamificada para emular a
intensificação do trabalho e o aumento da produção, ou pelas ordens
e diretrizes embutidas no algoritmo, que não são facilmente identificá-
veis dada a sua invisibilidade e o seu imaginário de neutralidade e obje-
tividade.
A subordinação digital é mais uma faceta da subordinação jurí-
dica, integrando o movimento de expansão e alargamento do sujeito
protetivo do Direito do Trabalho. Dessa forma, não se trata de um
conceito excludente e substitutivo, mas inclusivo e adicional. Tal qual
as formas de organizar trabalho são coexistentes e não se substituíram
por completo, apresentando entre elas continuidades e rupturas.

Subordinação nuvem: a metáfora


Uma metáfora, figura de linguagem na qual se faz uso de com-
parações subjetivas, por características comuns entre conceitos ou
ideias para se referir a algo de forma indireta, de acordo com Lakoff e
Johnson (1980), vai muito além da dimensão diminuta das palavras,
pois age como elemento estruturante do pensamento e da ação, ou
seja, o ser humano não apenas se expressa por metáfora, mas tam-
bém interpreta e experimenta o mundo metaforicamente (LAKOFF;
JOHNSON, apud.SATUF, 2016). Na ciência, as metáforas adquirem
caráter epistêmico (SATUF, 2016).
A metáfora que proponho não existiria sem a minha interlocu-
ção com Ana Carolina Reis Paes Leme. Foi em “Da máquina à nuvem”
que li que “primeiro, veio o carvão. Com a sua queima, ele aqueceu a
água, que virou vapor e empurrou o pistão. O pistão pôde mover a
primeira máquina e assima humanidade converteu uma nuvem de
vapor em movimento. Nos dia de hoje, com a internet, a nuvem de
vapor da máquina industrial se tornou uma nuvem de bits, (...) uma
nuvem de dados” (LEME, 2019). Em seu livro é traçado o caminho da
organização fordista-taylorista até como diz a a autora à “organização
uberista”, centrada na nuvem (LEME, 2019, p.27).
Embora Carolina não tenha criado a metáfora para a explicar a
subordinação no capitalismo de plataforma, são suas palavras e ideias,

25
ADEUS DIREITO, TECNOLOGIA E TRABALHO (?)

em conjunto com as da poesia musicada que ela ganhou de presente de


Leonardo Wandelli5, que impulsionaram as minhas, as quais virão a seguir.
A nuvem se apresenta como metáfora para pensar e agir em
um contexto cada vez digital e dependente de linguagem algorítmica.
Há uma dimensão fundamental nesta metáfora, pois ela permite inte-
grar o digital com a natureza. A nuvem é um elemento natural consti-
tuído pela condensação de minúsculas partículas de água nos estados
líquido e/ou de gelo. Esses aglomerados, que ficam suspensos na
atmosfera, podem conter também partículas de poeiras, fumaças e
vapores de água e, quando se torna metáfora, estimula uma aborda-
gem da ligação entre o material e o imaterial (SATUF, 2016).
Para organizar o trabalho nesse formato é necessária uma
nuvem de trabalhadores/as. Chamados por Marx (2013) como exer-
cícito de reserva.
Uma nuvem está dispersa em todo lugar, como o controle na
dispersão de David Harvey (2013).
Nas nuvens, estão as partículas de água, tais como os dados,
amarzenados.
As nuvens podem conter também partículas de poeiras, fuma-
ças e vapores de água em composição heterogênea, tal como podem
ser as atividades no capitalismo de plataforma.
A nuvem parece estar de passagem, assim como acreditam os/
as trabalhadores/as serem suas atividades passageiras.
As nuvens flutuam distantes do chão (de fábrica).
Uma nuvem tem alta visibilidade e imaterialidade aparente, tal
qual as empresas-plataforma.
Na nuvem, quando as partículas se aproximam, a aparente ima-
terialidade ganha materialidade, vira chuva. Quando os/as trabalha-
dores/as se aproximam, criando vínculos de solidariedade, a classe em
si, ganha consciência, vira classe para si.

5 “Tudo que é sólido desmancha no ar. Tudo que é nuvem um dia foi mar. Uma
nuvem me levou para voar. Num mundo que já não era. Era da nuvem, que era!
Condensado sem deleite. Condensado de gente, que não chove, nem sangra,
coagula.Tudo que é nuvem um dia foi mar.Mar vermelho, batido em clara de
neve.Chantilly de gente. Era nuvem passageira. Eu pensava que voava, avoado.
Perdia o chão e não caía, flutuava. Tudo que é sólido desmancha no ar. Disponí-
vel em: https://www.youtube.com/watch?v=VvgeArllRig&feature=youtu.be

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SUBORDINAÇÃO DIGITAL E SUBORDINAÇÃO NUVEM
Viviane Vidigal

E a subordinação digital? Parece rarefeita, parece imaterial,


parece dispersa, mas está em todo lugar, o tempo todo. Na era da
nuvem, é nuvem.

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