História Da Televisão - Teoria e Prática
História Da Televisão - Teoria e Prática
História Da Televisão - Teoria e Prática
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Trabalho apresentado ao NP 07 – Comunicação Audiovisual, do IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa do
Intercom.
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Jornalista, Doutor em Literatura Brasileira pela PUC-RJ e professor-adjunto da Escola de Comunicação da
UFRJ, onde integra o NEPCOM (Núcleo de Estudos e Projetos em Comunicação), e edita a revista Eco-Pós,
publicação semestral da Pós-Graduação em Comunicação e Cultura. E-mail: [email protected].
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tenciona responder, em sintonia com a nova historiografia do cinema e sua insatisfação com
os relatos psicanalíticos abstratos, ahistóricos e universalizadores da relação texto/sujeito.
Um dos marcos da área é a análise de Spigel (1992) a respeito de como as famílias brancas
de classe média aprenderam a conviver com a televisão como um objeto e um meio
doméstico, nos Estados Unidos do pós-guerra. Dignos de notas são, também, neste campo,
os trabalhos de Grimson et al (1999), Longo Elía (1999) e Varela (1999), que investigam a
primeira década da TV na Argentina, realçando as estratégias adotadas para tornar a nova
tecnologia familiar (nas diversas acepções do termo). Os vestígios da construção gradual do
vínculo da audiência com a televisão são descobertos a partir da leitura da imprensa da
época (jornais, revistas técnicas e culturais, de espetáculo e de atualidade) e da recuperação
da memória (por intermédio de entrevistas abertas de tipo biográfico e de análise qualitativa
de cartas) de pessoas que vivenciaram a pré-história do meio.
Clark 1988; Loredo 2000; Silva Júnior 2001), submetidos ao trabalho de inflexão, seleção
ou transmutação da memória (Girardet 1987; Ong 1983).
Concorre, ainda, para o juízo enganoso acerca do “alto nível cultural da
programação”, a teima em confundir capital econômico e capital cultural, na hora de inferir
o gosto da audiência. Para entender a heterogeneidade das atrações levadas ao ar, já na
“fase elitista”, não basta, porém, relativizar o gosto dos afortunados proprietários de
televisor, que não desperdiçavam a chance de pavonear seu novo símbolo de status – “Hoje,
na Paulicéia, entre os elegantes da sociedade, existe uma nova fórmula de convite, para os
encontros da tarde: Célia Maria telefona a Maria da Glória dizendo: – Venha tomar chá
comigo e assistir à televisão” (O Cruzeiro, 28/10/1950: 37-38). É preciso considerar,
também, o interesse precoce das emissoras em seduzir um contingente populacional que se
familiarizava com a TV por intermédio de seu consumo em espaços públicos:
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Informações e comentários extraídos de Gazeta de Notícias, 02/06/1939: 9; idem, 04/06/1939: 1, 20; Jornal
do Comércio, 03/06/1939: 7; idem, 04/06/1939: 9; Jornal do Brasil, 03/06/1939: 13; idem, 04/06/1939: 7;
Correio da Manhã, 04/06/1939: 4; O Jornal, 04/06/1939: 7; Revista da Semana, 10/06/1939: 24; Revista
Carioca, 10/06/1939: 34-35; Diário de Notícias, 15/06/1939: 4; Jornal das Moças, 15/06/1939: 22; Cine-
Rádio-Jornal, 15/06/1939: 3; e Careta, 08/07/1939: 38 e 43.
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