17082022152735A História Do Brasil para Quem Tem Pressa-47-53

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muito comum até os dias de hoje.

A disputa entre grupos político-partidários ou


grupos econômicos não visa formar uma unidade com vistas à construção de um
projeto de nação comum a toda a sociedade, mas, sim, projetos particulares ou
de classe. O boicote ou a sabotagem de uns contra os outros afeta a todos, e o
país e o povo vão soçobrando numa espécie de limbo, ardendo na fogueira das
vaidades do poder.
O SEGUNDO REINADO NO BRASIL: D. PEDRO II EM 1840, COM O GOLPE DA
MAIORIDADE, D. PEDRO II ASSUME O TRONO DO BRASIL AOS 15 ANOS DE IDADE.
JÁ NOS ANOS INICIAIS, ENFRENTA SEU BATISMO DE FOGO, OU SEJA, TEVE DE
CONTEMPORIZAR INTERESSES DIAMETRALMENTE OPOSTOS DE BRASILEIROS E
INGLESES. A PRESSÃO DA INGLATERRA PARA A SUPRESSÃO DO TRÁFICO DE
ESCRAVOS E PARA O FIM DA ESCRAVIDÃO NO PAÍS SE JUSTIFICA PELO FATO DE QUE A
SUBSTITUIÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO PELO ASSALARIADO ABRIRIA UM AMPLO
MERCADO CONSUMIDOR. ERA NESSA FATIA QUE OS INGLESES ESTAVAM DE OLHO.
ENTRETANTO, HAVIA UM PROBLEMA: JUSTAMENTE OS INGLESES ERAM OS MAIORES
IMPORTADORES DO CAFÉ BRASILEIRO, E QUANTO MAIS IMPORTAVAM, MAIS LENHA
LANÇAVAM NA FOGUEIRA DO TRÁFICO NEGREIRO. DE OUTRO LADO, AS MAIORES
FORTUNAS DO PAÍS, E CONSEQUENTEMENTE O PODER, ESTAVAM NAS MÃOS DESTAS
DUAS CLASSES SOCIAIS — A DE TRAFICANTES DE ESCRAVOS E A DA OLIGARQUIA DO
CAFÉ. O IMPERADOR NÃO PODIA NEM PENSAR EM MEXER NESSES DOIS SETORES.
QUALQUER MEDIDA QUE IMPLICASSE PERDAS AFIARIA A GUILHOTINA. EM 1845, A
INGLATERRA APROVA A BILL ABERDEEN, LEI QUE PROIBIA O TRÁFICO DE ESCRAVOS
N O ATLÂNTICO SUL. A VISTA GROSSA DO GOVERNO BRASILEIRO TORNOU-A
INÓCUA. NO ANO DE 1846, A ENTRADA DE ESCRAVOS NO BRASIL SALTOU DE 20
PARA 50 MIL; EM 1847, PARA 56 MIL; E, EM 1848, PARA 60 MIL.
O BARÃO DE MAUÁ IRINEU EVANGELISTA DE SOUZA É UM DOS PERSONAGENS
MAIS IMPORTANTES DO SEGUNDO REINADO NO BRASIL, JUNTAMENTE COM O
DUQUE DE CAXIAS. MAUÁ HAVIA RETORNADO DA INGLATERRA EM 1840, COM A
CABEÇA FERVILHANDO DE IDEIAS. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL HAVIA ACABADO DE
EXPLODIR POR LÁ, E O VELHO MERCANTILISMO DE OUTRORA ESTAVA SENDO
SUBSTITUÍDO PELA INDÚSTRIA E PELA PRODUÇÃO DE BENS DE CONSUMO. POR TODO
LADO, BROTAVAM FÁBRICAS, FUNDIÇÕES, ESTRADAS DE FERRO, BANCOS…
QUANDO CHEGOU AO BRASIL, O BARÃO DE MAUÁ ENCONTROU UM PAÍS
EXTREMAMENTE DEPENDENTE DA EXPORTAÇÃO DE COMMODITIES. NO DECÊNIO
1821-1830, O AÇÚCAR RESPONDIA POR 30,1% DAS NOSSAS EXPORTAÇÕES, ENQUANTO
O CAFÉ, POR 18,4%. À MEDIDA QUE A ECONOMIA BRASILEIRA VAI SE
CONCENTRANDO NA MONOCULTURA CAFEEIRA, O QUADRO SE ALTERA. NO
DECÊNIO 1831-1840, O CAFÉ PASSA A RESPONDER POR 43,8% DAS EXPORTAÇÕES
BRASILEIRAS. NO CURTO E NO LONGO PRAZOS, SE O PAÍS QUISESSE TORNAR-SE
GRANDE EM MATÉRIA DE NEGÓCIOS, PRECISAVA DIVERSIFICAR SUA ECONOMIA.
Na contramão de tudo, Mauá abre 17 empresas em parceria com
investidores ingleses. Tinha bancos, estradas de ferro, a maior fábrica do país,
uma fundição, uma companhia de navegação, empresas de comércio exterior,
mineradoras, usinas de gás etc. Em 1867, Mauá era dono da maior fortuna
particular do Brasil: cerca de 60 milhões de dólares. O imperador sabia que a
economia brasileira deveria iniciar urgentemente um processo de diversificação;
os empreendimentos de Mauá abriram os olhos do imperador para novas
possibilidades, novos caminhos para a economia brasileira. O Brasil que surge
na segunda metade do século XIX será, em grande parte, fruto do trabalho e da
imaginação de Mauá.
A L E I EUSÉBIO DE QUEIRÓS A L E I EUSÉBIO DE QUEIRÓS (1850), QUE
EXTINGUIA O TRÁFICO DE ESCRAVOS NO BRASIL, FOI FRUTO DE UMA ASTUCIOSA
NEGOCIAÇÃO ENTRE O IMPERADOR, POLÍTICOS LIGADOS A ELE, O BARÃO DE MAUÁ
E OS TRAFICANTES. PARA EVITAR UMA CRISE POLÍTICA QUE PODERIA ATÉ RESULTAR
NO FIM DA MONARQUIA, O BARÃO DE MAUÁ OPERACIONALIZA A TRANSIÇÃO DE
FORMA MAGISTRAL. COMEÇA POR FUNDAR UM BANCO, CHAMADO BANCO DO
BRASIL, EM 1851. O BB VAI TRANSFORMAR A RUÍNA IMINENTE DE UMA CLASSE
SOCIAL EM UMA OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO INFINITAMENTE MELHOR. DE
TRAFICANTES, ESSES SENHORES TORNARAM-SE RENTISTAS, AGIOTAS. LIVRARAM-SE
DE UM DUPLO PROBLEMA QUE OS AFLIGIA: O PRIMEIRO, ECONÔMICO, JÁ QUE, COM
A INTROMISSÃO DOS INGLESES, O TRÁFICO NEGREIRO TORNAVA-SE CADA VEZ MAIS
UM NEGÓCIO ARRISCADO E SUJEITO A PREJUÍZOS ENORMES; O SEGUNDO, MORAL,
POIS JÁ HAVIA UM SETOR DA SOCIEDADE QUE NÃO VIA COM BONS OLHOS A
QUESTÃO DA ESCRAVIDÃO, QUE JÁ TINHA SIDO CONDENADA MUNDO AFORA. EM
TEMPOS NEBULOSOS, A INTERVENÇÃO DE MAUÁ FOI MAIS QUE CIRÚRGICA; FOI
PROVIDENCIAL. COM ESSE CAPITAL CONVERGINDO PARA AS FORÇAS PRODUTIVAS
DO PAÍS, AS IMPORTAÇÕES DA INGLATERRA AUMENTARAM EM 57% DE 1851 PARA
1852. AS RECEITAS DO TESOURO COM OS IMPOSTOS DE IMPORTAÇÃO SALTARAM
30% NO MESMO PERÍODO. AS DUAS FRENTES QUE PARECIAM ESTAR A CAMINHO DE
UMA COLISÃO FRONTAL — O IMPERADOR E OS TRAFICANTES DE ESCRAVOS —
SAÍRAM RINDO À TOA. E NO BRASIL, QUANDO O GOVERNO E AS ELITES
ECONÔMICAS ESTÃO SATISFEITOS, VIVE-SE NO MELHOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS.
SÃO MAUÁ.
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB) COM O TEMPO,
POLÍTICOS LIBERAIS E CONSERVADORES DESCOBRIRAM QUE A ESTABILIDADE
POLÍTICA DO PAÍS ERA BENÉFICA PARA AMBAS AS PARTES. O AUMENTO GRADATIVO
DAS EXPORTAÇÕES DE CAFÉ NA DÉCADA DE 1840 IA RECUPERANDO A COMBALIDA
ECONOMIA NACIONAL.
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi o centro irradiador a partir
do qual se buscou formatar uma identidade para o Brasil. Essa identidade, no
entanto, não passava pela diversidade do país, formada por índios, negros e
europeus. Ao contrário, procurou negá-los. No instituto, forjou-se a primeira
história do Brasil. Nessa história, a civilização europeia e cristã era o modelo
absoluto, em detrimento de toda a diversidade religiosa e cultural que dominava
o país, oriunda da miscigenação. Historiadores do IHGB propunham como
saída para o Brasil, no longo prazo, o branqueamento da população. O fim da
escravidão e o incremento de políticas de imigração levariam a um processo de
branqueamento benéfico para o futuro do país. A principal obra publicada por
esse instituto foi História geral do Brasil, de Francisco Adolfo Varnhagen. Sua
visão vai desembocar em outro exemplar dessa fauna eugenista: Raimundo Nina
Rodrigues, que, no final do século XIX, escreveu Mestiçagem, degenerescência e
crime, em que atribuía aos mestiços uma propensão maior à indolência, ao ócio,
à promiscuidade e ao crime. Num país constituído de mestiços, essa era uma
condenação geral do povo brasileiro. O desserviço desses senhores será
responsável por tornar o Brasil — ainda nos dia de hoje — uma das sociedades
mais preconceituosas, excludentes e autoritárias do mundo. Para o imperador e
para a Monarquia, o que interessava, de fato, era a justificação da permanência
do regime monárquico que, como europeia, era o grande agente civilizatório.
Vencido o período conturbado (Primeiro Reinado e Regência), de fortes
contestações à Monarquia, essas teses caíam como luvas nas mãos dos monarcas,
e o IHGB acabou por se tornar uma espécie de agência de marketing do
imperador.
O NOVO MUNDO A PARTIR DAS GRANDES MUDANÇAS SOCIAIS E ECONÔMICAS
EM CONSEQUÊNCIA DA L EI EUSÉBIO DE QUEIRÓS, O BRASIL VIVERÁ UM SURTO
DESENVOLVIMENTISTA. UMA VERDADEIRA REVOLUÇÃO NA DIVERSIFICAÇÃO DE
SUAS ATIVIDADES PRODUTIVAS. TALVEZ O MAIOR JÁ EXPERIMENTADO DESDE 1808
(COM A CHEGADA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA). EM 1851, O INÍCIO DO
MOVIMENTO REGULAR DA CONSTITUIÇÃO DE EMPRESAS E SOCIEDADES ANÔNIMAS;
EM 1852, A INAUGURAÇÃO DA PRIMEIRA LINHA TELEGRÁFICA, NA CIDADE DO RIO
DE JANEIRO; EM 1854, A ABERTURA AO TRÁFEGO DA PRIMEIRA LINHA DE ESTRADAS
DE FERRO DO PAÍS, TAMBÉM NO RIO DE JANEIRO. SEGUNDO SÉRGIO BUARQUE DE
HOLANDA, “O CAMINHO ABERTO POR SEMELHANTES TRANSFORMAÇÕES SÓ
PODERIA LEVAR, LOGICAMENTE, A UMA LIQUIDAÇÃO MAIS OU MENOS RÁPIDA DE
NOSSA VELHA HERANÇA RURAL E COLONIAL, OU SEJA, DA RIQUEZA QUE SE FUNDA
NO EMPREGO DO BRAÇO ESCRAVO E NA EXPLORAÇÃO PERDULÁRIA DAS TERRAS DE
LAVOURA”.
18 A PARTIR DESSE MOMENTO, O INCENTIVO AO COMÉRCIO, AO
DESENVOLVIMENTO URBANO E AOS PROFISSIONAIS LIBERAIS VAI CRIAR UM NOVO
TIPO DE ELITE NO PAÍS. COM O TEMPO, ESSA NOVA ELITE PASSA A RIVALIZAR COM A
ANTIGA, RURALISTA, ESCRAVOCRATA, LATIFUNDIÁRIA, QUE TOMAVA CONTA DO
PODER. A HISTÓRIA DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX NO BRASIL SERÁ, EM
GRANDE PARTE, DE UM LADO, A HISTÓRIA DA ASCENSÃO DESSA NOVA ELITE, DE
OUTRO, A CRISE DA VELHA ELITE BRASILEIRA, E A MONARQUIA NO MEIO, COMO O
FIEL DA BALANÇA.
A GUERRA DO PARAGUAI EM 1864, TEM INÍCIO A GUERRA DO
PARAGUAI. A
DISPUTA GIRAVA EM TORNO DA QUESTÃO DE O PAÍS NÃO TER SAÍDA PARA O MAR.
ERA, INICIALMENTE, UM CONFLITO BÉLICO ENTRE A TRÍPLICE ALIANÇA —
BRASIL, ARGENTINA E URUGUAI — E O PARAGUAI COM SUAS AMBIÇÕES
EXPANSIONISTAS. MAS, PARA O BRASIL E PARA O IMPERADOR D. PEDRO II
PARTICULARMENTE, HAVIA UM ELEMENTO IMPORTANTE DA POLÍTICA INTERNA NO
CONTEXTO DA GUERRA: O MOMENTO EM QUE O IMPERADOR VAI PROCURAR FIRMAR
SEU GENRO, O CONDE D’EU, NA POLÍTICA BRASILEIRA. MUITO INSEGURO COM A
HERDEIRA DO TRONO, A JOVEM PRINCESA ISABEL, O IMPERADOR QUERIA TORNAR A
FIGURA DO CONDE D’EU PALATÁVEL PARA A ELITE POLÍTICA BRASILEIRA QUE NÃO
DIGERIA O FATO DE ELE SER FRANCÊS E TER UM PENSAMENTO LIBERAL. EM 1869,
CAXIAS TOMA ASSUNÇÃO. O PRESIDENTE DO PARAGUAI (PARA OS BRASILEIROS,
UM TIRANO SANGUINÁRIO), SOLANO LÓPEZ, HAVIA FUGIDO, MAS, MESMO ASSIM,
EXISTIA UMA PRESSÃO ENORME PARA QUE A GUERRA FOSSE ENCERRADA. O PRÓPRIO
CAXIAS SE DESLIGOU DO COMANDO DAS TROPAS. A GUERRA SE ENCERRARIA UM
ANO DEPOIS, EM MARÇO DE 1870, COM A MORTE DE LÓPEZ E O EXÉRCITO
BRASILEIRO SOB O COMANDO DE GASTÃO DE ORLÉANS E BRAGANÇA, O CONDE
D’EU.
A PRINCESA ISABEL: HERDEIRA PRESUNTIVA DO TRONO DESDE 1863,
QUANDO OS ESTADOS UNIDOS HAVIAM DECLARADO O FIM DA ESCRAVIDÃO, O
BRASIL TINHA SE TORNADO UM DOS ÚNICOS PAÍSES DO OCIDENTE A TOLERÁ-LA,
FATO QUE COLOCAVA O PAÍS E O IMPERADOR EM SITUAÇÃO CONSTRANGEDORA NAS
RELAÇÕES INTERNACIONAIS. EM 1867, A JUNTA FRANCESA PARA A EMANCIPAÇÃO
ENVIOU UMA CARTA APELANDO AO IMPERADOR PARA QUE RESOLVESSE A QUESTÃO
D A ESCRAVIDÃO. NA FALA DO TRONO, O IMPERADOR DETONA UMA BOMBA, “A
ESCRAVIDÃO NO IMPÉRIO NÃO PODE DEIXAR DE MERECER VOSSA CONSIDERAÇÃO

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