Capítulo - 01 - Introdução

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Setembro de 2022

I – INTRODUÇÃO

1.1 – Enquadramento Legal

A Assembleia da República, ao abrigo do disposto na alínea l) do n.º 2 do artigo 178 da


Constituição da República de Moçambique (CRM), deliberou sobre o Plano Económico e
Social (PES) de 2021, pela Resolução n.º 82/2020, de 31 de Dezembro e, no exercício da sua
competência estatuída na alínea m) do n.º 2 do mesmo artigo, aprovou o correspondente
Orçamento do Estado (OE), pela Lei n.º 19/2020, de 31 de Dezembro.
Em cumprimento do disposto no n.º 2 do artigo 51 da Lei n.º 14/2020, de 23 de Dezembro,
que estabelece os princípios e normas de organização e funcionamento do Sistema de
Administração Financeira do Estado (SISTAFE), o Governo, após executar o Plano
Económico e Social e o Orçamento do Estado de 2021, no exercício das competências a si
atribuídas pela alínea e) do n.º 1 do artigo 203 da Constituição, elaborou a Conta Geral do
Estado correspondente, que a submeteu, ao Tribunal Administrativo, no dia 29 de Abril de
2022.
Pelo estatuído na alínea a) do n.º 2 do artigo 229 da Constituição da República e nos termos
da alínea a) do n.º 1 do artigo 14 da Lei n.º 14/2014, de 14 de Agosto, alterada e republicada
pela Lei n.º 8/2015, de 6 de Outubro, compete ao Tribunal Administrativo emitir o Relatório e
o Parecer sobre a Conta Geral do Estado, que os remete à Assembleia da República, até ao dia
30 de Setembro do ano seguinte àquele a que a Conta Geral do Estado respeite (n.º 3 do artigo
51 da Lei n.º 14/2020, de 23 de Dezembro).
A Lei do SISTAFE e seu regulamento, aprovado pelo Decreto n.º 26/2021, de 3 Maio,
inserem o novo modelo de governação descentralizada provincial e prevêem a inclusão, no
Orçamento do Estado, dos limites da despesa dos Órgãos de Governação Descentralizada
Provincial (OGDP) e dos Orgãos de Representação do Estado na Província ( OREP ).
No presente exercício, há a assinalar os seguintes momentos que tiveram impacto na
elaboração e execução do Orçamento do Estado deste ano:
a) a aprovação do Regulamernto do SISTAFE;
b) a implementação de vários instrumentos legais aprovados em 2019, relativos ao
funcionamento dos órgãos de governação descentralizada, nomeadamente:
i. Lei n.º 4/2019, de 31 de Maio, que estabelece os princípios, as normas de
organização, as competências e o funcionamento dos órgãos executivos de
governação descentralizada provincial e o Decreto n.º 64/2020, de 7 de Agosto,
que a regulamenta;
ii. Lei n.º 5/2019, de 31 de Maio, que estabelece o quadro legal da tutela do
Estado sobre os órgãos de governação descentralizada provincial e das
autarquias locais;
iii. Lei n.º 6/2019, de 31 de Maio, que estabelece o quadro legal sobre a
organização, composição e o funcionamento da Assembleia Provincial;
iv. Lei n.º 7/2019, de 31 de Maio, que estabelece o quadro Legal sobre a
organização e o funcionamento dos órgãos de representação do Estado na
província e o Decreto n.º 63/2020, de 7 de Agosto, que a regulamenta; e
v. Lei n.º 16/2019, de 24 de Setembro, que define o regime financeiro e
patrimonial dos órgãos de governação descentralizada provincial e o Decreto
n.º 95/2020, de 2 de Novembro, que a regulamenta;

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RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2021
Setembro de 2022

vi. Lei n.º 15/2019, de 24 de Setembro, que estabelece o quadro legal sobre a
organização e o funcionamento da Representação do Estado na Cidade de
Maputo e o Decreto n.º 65/2020, de 7 de Agosto, que a regulamenta.

1.2– Metodologia

No quadro das suas responsabilidades constitucionais e tendo em vista a elaboração do


presente Relatório sobre a Conta Geral do Estado relativa ao exercício económico de 2021, o
Tribunal Administrativo fiscalizou a execução orçamental do ano, analisou a Conta, efectuou
auditorias e solicitou informações complementares a diversos órgãos e instituições do Estado.
Das auditorias realizadas foram enviadas 63 relatórios às entidades fiscalizadas, que
exerceram o direito do contraditório e outras instituições pronunciaram-se sobre as
constatações, em resposta a pedidos de informação e/ou esclarecimentos que lhes foram
endereçados.
Com base nas auditorias e na análise da Conta recebida do Governo, o Tribunal
Administrativo emitiu o Relatório Preliminar sobre a mesma, que o remeteu ao Executivo, no
dia 22 de Julho do corrente ano, para o exercício do direito do contraditório e o Governo,
submeteu o seu pronunciamento, no dia 22 de Agosto do presente ano, cumprindo, deste
modo, o prazo de 30 dias que lhe fora concedido pelo TA. As respostas do Executivo constam
do presente Relatório.

1.3- Condicionantes

A realização das auditorias, no âmbito da análise da Conta Geral do Estado que é objecto do
presente Relatório, continuou a ser parcialmente condicionada pelas limitações impostas no
quadro da luta contra a disseminação da Pandemia da Covid-19, tendo parte das acções de
fiscalizaçao da execução do Orçamento do Estado sido efectuadas com base em documentos e
informações solicitados às entidades.
Por outro lado, os recursos financeiros alocados ao Tribunal Administrativo não foram
suficientes para cobrir as 120 auditorias e outras acções planificadas, tendo sido realizadas
somente 63 auditorias. Outrossim, a disponibilização tardia dos fundos impactou,
negativamente, no cumprimento do plano das actividades inseridas no processo da emissão do
Relatório sobre a Conta Geral do Estado relativa ao exercício económico de 2021.

1.4 – Conta Geral do Estado

Segundo o disposto no artigo 48 da Lei do SISTAFE “A Conta Geral do Estado tem por
objecto evidenciar a execução do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado,
apresentar a posição financeira, o desempenho financeiro, programático e fluxos de caixa do
exercício, bem como a avaliação do desempenho dos órgãos e instituições do Estado e
entidades descentralizadas, no fim do exercício”.
O artigo 49 da mesma lei preceitua que na elaboração da CGE, devem ser observados os
princípios e regras consagrados, designadamente, a clareza, exactidão e simplicidade, de
modo a possibilitar a sua análise económica e financeira, com base em princípios e regras de
contabilidade em vigor, aplicáveis à Administração Pública.
Relativamente ao conteúdo e estrutura, segundo estabelece o n.º 1 do artigo 50 da citada lei, a
CGE deve conter a seguinte informação básica:
a) O relatório do Governo sobre os resultados de execução do Plano Económico e Social
e Orçamento do Estado, referente ao exercício económico compreendendo:

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(i) análise sumária dos principais indicadores macro-económicos previstos e


atingidos;
(ii) análise detalhada sobre as medidas implementadas relativas às políticas
orçamental, fiscal, monetária e cambial e da balança de pagamentos;
(iii) análise das transacções, factos e eventos que afectaram a posição financeira, o
desempenho financeiro, os fluxos de caixa e a execução orçamental no período de
relato;
(iv) o financiamento global do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado,
com discriminação por fontes de financiamento; e
(v) os mapas de execução do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado,
comparativos entre as previsões orçamentais e a receita cobrada e daquelas com a
despesa liquidada ou paga, segundo os classificadores.
b) As demonstrações financeiras do Estado, compreendendo:
(i) o balanço;
(ii) a demonstração de resultados;
(iii) a demonstração dos fluxos de caixa;
(iv) a demonstração das variações no património líquido e;
(v) as notas anexas.
c) As demonstrações orçamentais do Estado, incluindo dos órgãos de governação
descentralizada, compreendendo os mapas globais e mapas resumo da execução
orçamental das receitas e despesas, comparadas com o orçamento anual aprovado.
Ainda nos termos do n.º 2 do artigo 50 da lei supracitada, o Governo deve apresentar, como
anexo à Conta Geral do Estado, o mapa resumo do património do Estado.

1.5 – Estrutura do Relatório

De acordo com o n.º 2 do artigo 14 da Lei n.º 14/2014, de 14 de Agosto, alterada e


republicada pela Lei n.º 8/2015, de 6 de Outubro, no parecer sobre a Conta Geral do Estado, o
Tribunal Administrativo aprecia, designadamente, as matérias seguintes:
a) a actividade financeira do Estado no ano a que a Conta se reporta, nos domínios
patrimonial, das receitas e despesas;
b) o cumprimento da Lei do Orçamento e legislação complementar;
c) o inventário do património do Estado e;
d) as subvenções, subsídios, benefícios fiscais, créditos e outras formas de apoio
concedidos, directa ou indirectamente.
Em cumprimento destes comandos legais, o Tribunal Administrativo procede à análise da
Conta Geral do Estado relativa ao exercício económico de 2021 e sobre a mesma emite o
presente Relatório.
O Relatório sobre a Conta Geral do Estado de 2021 é composto por onze capítulos cuja
designação e conteúdos são apresentados adiante.
A indicação dos capítulos é feita em numeração romana a que se acresce, na paginação e
designação dos quadros e gráficos, a numeração em algarismos árabes.
Os capítulos deste Relatório são, sumariamente, os seguintes:

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Capítulo I – Introdução – na qual se faz o enquadramento legal do Orçamento, da Conta Geral


do Estado e do Relatório e Parecer do Tribunal Administrativo sobre esta, e apresenta-se a
metodologia usada na análise da Conta, a designação e os conteúdos de cada capítulo.
Capítulo II - Evolução dos Indicadores Macroeconómicos – que trata das projecções
macroeconómicas consideradas na elaboração do Orçamento do Estado, para 2021, e da
evolução da relação das receitas arrecadadas e das despesas efectuadas, em valores
constantes, com o Produto Interno Bruto (PIB), o resultado do exercício e faz-se, igualmente,
a comparação deste ano com os do período de 2017 a 2021.
Capítulo III – Processo Orçamental – em que são analisados os montantes do Orçamento de
2021, aprovado pela Assembleia da República, através da Lei n.º 19/2020, de 31 de
Dezembro, bem como a autorização dada ao Governo pelo artigo 7 desta lei, para proceder à
transferência de dotações orçamentais dos órgãos e instituições do Estado e fazer
movimentações de verbas entre as Prioridades e os Pilares do Plano Económico e Social, em
atenção à delegação de competências prevista no Decreto n.º 3/2021, de 8 de Fevereiro.
Capítulo IV – Receita – que estabelece a comparação entre a receita prevista e a
efectivamente arrecadada, no exercício, bem como procede à análise global da mesma. Nele
apresenta-se, igualmente, a evolução histórica das receitas do Estado, no período 2017 a 2021,
e os subsídios e benefícios fiscais concedidos.
Capítulo V – Indústrias Extractivas – no qual se apresentam os investimentos neste sector e o
ponto de situação da certificação dos custos recuperáveis. É igualmente feita a análise das
receitas das indústrias do petróleo e gás e do carvão, abordam-se os aspectos de segurança e
meio ambiente, atinentes à extracção e transporte do carvão e a alocação e aplicação de 2.75%
das receitas das insdústrias extractivas às comunidades onde estão implantados os
empreendimentos.
Capítulo VI – Despesa – que tem por objecto a análise da despesa nas duas componentes do
Orçamento (Funcionamento e Investimento), segundo os limites estabelecidos na Lei
Orçamental, bem como da sua evolução, no período de 2017 a 2021.
Capítulo VII – Movimento de Fundos – que trata dos fluxos financeiros da Conta Única do
Tesouro e o correspondente circuito documental; nele determinam-se os saldos daquela conta
e de outras do Tesouro e do Património.
Capítulo VIII- Operações Relacionadas com o Património Financeiro do Estado – que aborda
as operações financeiras do Estado, nomeadamente as participações em sociedades,
saneamento financeiro de empresas e empréstimos por acordos de retrocessão.
Capítulo IX- Dívida Pública – que trata das obrigações financeiras assumidas com entidades
públicas e privadas, dentro e fora do território nacional, em virtude de leis, contratos, acordos
e a realização de operações de crédito contraído pelo Estado.
Capítulo X – Património do Estado – em que se faz a apreciação do processo de inventariação
dos bens do Estado, sua avaliação, amortização e verificação dos dados contidos no Anexo
Informativo 7 da Conta Geral do Estado – Inventário do Património do Estado, os quais são
comparados com os apurados nas auditorias realizadas a diversas entidades públicas e com
informações adicionais recolhidas por este Tribunal, na Direcção Nacional do Património do
Estado e outras entidades.
Capítulo XI – Operações de Tesouraria – no qual se procede à apreciação das operações extra-
orçamentais efectuadas pela Tesouraria e seu registo no sistema de contabilização da
actividade financeira do Estado, bem como a comparação dos dados da Conta com os
resultados obtidos na auditoria realizada à Direcção Nacional do Tesouro.

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Na CGE em análise, para a contabilidade orçamental, o registo contabilístico adoptado é o


regime misto, aplicando-se, para as receitas, o regime de caixa e para as despesas, o regime de
competência, nos termos do número 1 do artigo 38 da Lei do SISTAFE..
O critério que deve ser utilizado para os registos dos actos e factos administrativos, no âmbito
do SISTAFE, é o princípio digráfico ou método das partidas dobradas (artigo 37 da Lei do
SISTAFE). Segundo este método, para cada lançamento a débito em uma conta, deve haver
um lançamento correspondente ao crédito em outra conta, de que resultará um equilíbrio nas
contas, com o valor total lançado nas contas a débito a corresponder ao montante total lançado
nas contas a crédito. A não aplicação deste critério, decorridos 19 anos após ter sido
legalmente estabelecido e o abandono do sistema dos Livros Obrigatórios, contribuem para a
ocorrência de falhas e imprecisões na contabilidade pública.

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