Hemoderivados (Hemotransfusão)
Hemoderivados (Hemotransfusão)
Hemoderivados (Hemotransfusão)
sanguíneo que não faz parte de seu organismo, ele humanos possuem anticorpos contra antígenos ABO
desenvolve anticorpos contra aquele antígeno. Este diferentes dos seus, isto é:
processo é conhecido como aloimunização, e os
• Indivíduos com sangue tipo A possuem
anticorpos formados são chamados de aloanticorpos.
anticorpos anti-B.
É a existência desses aloanticorpos no soro que
explica a aglutinação de um sangue de tipo diferente. • Indivíduos com sangue tipo B possuem
anticorpos anti-A.
Para a maioria dos tipos sanguíneos, a aloimunização • Portadores de sangue tipo AB não possuem
só acontece após uma primeira transfusão de sangue nenhum desses anticorpos.
não compatível ou gestação (se o feto possuir • Portadores de sangue tipo O apresentam os
antígenos diferentes da mãe). Para outros, no dois anticorpos (anti-A e anti-B).
entanto, a aloimunização é dita natural, pois micro- • Indivíduos com sangue OBombay possuem
organismos ubíquos no meio ambiente secretam três anticorpos (anti-H, anti-A e anti-B).
substâncias que "mimetizam" seus antígenos, e todas
as pessoas acabam desenvolvendo (logo no início da Assim, quem tem sangue tipo A não pode receber
vida) aloanticorpos direcionados contra aqueles sangue tipo B ou AB (pois o anti-B promoverá
antígenos que não possuem (podem apresentar aglutinação), e quem tem sangue tipo B não pode
reação já na primeira transfusão). receber sangue tipo A ou AB (por causa do anti-A). Por
outro lado, quem tem sangue tipo AB (ausência de
Isso explica porquê o grupo sanguíneo "mais anti-A e anti-B) pode receber todos os tipos
importante" para a medicina transfusional é o ABO: sanguíneos ("receptor universal"), ao passo que o
além de sua carga antigênica ser quantitativamente sangue tipo O (ausência dos antígenos A e B) pode ser
grande no sangue humano, trata-se do grupo para o doado para todos os indivíduos ("doador universal"),
qual a aloimunização natural ocorre com mais exceto para os portadores do sangue tipo OBombay.
frequência e intensidade! Logo, a compatibilidade Estes, por possuírem anticorpos anti-H, só podem
ABO é o primeiro pré-requisito para uma transfusão receber transfusão de sangue tipo OBombay.
bem-sucedida!!!
O segundo grupo sanguíneo de importância é o Rh. Já
Existem cinco tipos sanguíneos dentro deste grupo: foram descritos mais de 40 antígenos dentro deste
grupo, porém, na imensa maioria das pessoas, apenas
• O grupo A é definido por um carboidrato (N-
cinco desses antígenos costumam ser encontrados em
acetilgalactosamina) ligado à substância H
combinações variadas. O principal é o antígeno D,
presente na superfície celular.
pois sua presença define a "positividade" do Rh, e sua
• O grupo B é definido por outro carboidrato
ausência define a "negatividade" do Rh. Quem não
(galactose) ligado à mesma substância H.
possui o antígeno D (Rh negativo) desenvolve uma
• O grupo AB é aquele onde ambos os
PODEROSA ALOIMUNIZAÇÃO se vier a receber sangue
carboidratos estão presentes.
Rh positivo ou tiver uma gestação com feto Rh
• E no grupo O nenhum desses carboidratos é
positivo (surgimento de IgG anti-D no sangue). Nessa
encontrado (existe apenas a substância H).
primeira exposição nenhuma reação adversa é
• No raríssimo grupo OBombay (< 0,1% das
notada, porém, exposições subsequentes resultarão
pessoas) é a própria substância H que está
em reação hemolítica transfusional ou doença
ausente e, por conseguinte, os antígenos A e
hemolítica perinatal (a IgG é capaz de cruzar a
B também não são encontrados.
placenta), respectivamente.
TESTAGEM PRÉ-TRANSFUSIONAL:
Os três testes feitos de rotina são: (1) tipagem O restante é submetido à centrifugação rápida,
sanguínea; (2) screening de aloanticorpos; (3) prova gerando 01 unidade de concentrado de plaquetas e
cruzada. 01 unidade de plasma fresco, que então é congelado
em até 8h a fim de se evitar a degradação dos fatores
Tipagem sanguínea:
de coagulação, obtém-se assim o 01 unidade de
É feita em duas etapas. Plasma Fresco Congelado (PFC).
Na primeira (forward type), amostras de sangue do O PFC pode ser reaquecido lentamente, o que faz suas
paciente são misturadas a diversos "antissoros" (isto principais proteínas se precipitarem. Com uma nova
é, soros contendo anti-A, anti-B ou anti-D), de modo a centrifugação, aquelas proteínas são separadas e
identificar o ABO e o Rh (a ocorrência de aglutinação obtém-se o crioprecipitado (rico em fibrinogênio,
da amostra revela a existência do antígeno em fator VIII e fator de von Willebrand), que pode ser
questão). novamente congelado.
Na segunda etapa (reverse type), o soro do paciente é Em certas ocasiões apenas as plaquetas são coletadas
misturado com hemácias de diferentes tipos ABO, na doação. Isso é feito por meio de aférese: um
permitindo a identificação das isoaglutininas aparelho especial separa as plaquetas dos demais
presentes em seu sangue. componentes do sangue, os quais são devolvidos à
circulação do paciente. Com este procedimento
As duas etapas são essenciais para dar consistência à obtém-se o Concentrado de Plaquetas de Doador
tipagem ABO, na medida em que, evidentemente, elas Único (CPDU), mais conhecido como "plaquetas por
têm que ser concordantes. aférese".
HEMOCOMPONENTES:
A doença enxerto versus hospedeiro transfusional As bolsas de hemácias são armazenadas sob
acarreta péssimo prognóstico, sendo geralmente refrigeração a 4ºC, e alguns hemocomponentes (ex.:
resistente ao tratamento imunossupressor e plasma) são mantidos a -18ºC. Logo, uma infusão IV
citotóxico. "às pressas" , principalmente quando em grande
quantidade, como numa hemotransfusão maciça
Os sinais e sintomas se iniciam 8-10 dias após a (troca da volemia por concentrados de hemácias,
transfusão, com o óbito acontecendo após 3-4 geralmente > 8-10 bolsas em 24h), pode gerar
semanas. hipotermia.
- Púrpura pós-transfusional = - Distúrbios eletrolíticos e acido-básicos =
Caracteriza-se pelo surgimento de trombocitopenia Com o passar do tempo, é natural que o K+ extravase
progressiva 7-10 dias após uma transfusão de das células armazenadas nas bolsas de sangue. Assim,
plaquetas, incidindo tipicamente em mulheres. a hemotransfusão de bolsas "mais velhas"
(principalmente quando maciça) pode acarretar
Seu mecanismo é a formação, pelo sistema imune do
hipercalemia.
receptor, de anticorpos direcionados contra antígenos
das plaquetas exógenas (geralmente o anti-HPA-1a). Tais indivíduos só devem receber hemácias "frescas"
Esses anticorpos acabam exercendo reatividade ou "lavadas" (o processo de lavagem, ao remover o
cruzada contra antígenos semelhantes encontrados plasma, elimina o excesso de potássio no interior da
nas plaquetas nativas do receptor, gerando um tipo bolsa).
de "PTI induzida por transfusão". Tal como acontece
na PTI, novas transfusões de plaqueta agravam ainda O citrato é comumente empregado como
mais o processo, e por isso devem ser evitadas! anticoagulante na conservação do CHA, pois o citrato
é um quelante de cálcio. Na vigência de uma
O tratamento consiste em imunoglobulina humana transfusão maciça existe risco de hipocalcemia aguda
intravenosa (bloqueio à destruição das plaquetas (parestesia perioral e de extremidades, tetania, crise
opsonizadas no baço), podendo-se associar convulsiva). No corpo, o citrato é convertido em
plasmaférese nos casos mais graves (remoção dos bicarbonato, o que pode ocasionar alcalose
autoanticorpos antiplaqueta). metabólica.
Reações não imunes: - Trombocitopenia e coagulopatia dilucionais =
- Sobrecarga circulatória associada à transfusão Numa hemotransfusão maciça pode surgir
(TACO) = trombocitopenia, já que as bolsas de CHA não contêm
plaquetas (e um grande volume de CHA acaba
"diluindo" as plaquetas circulantes no intravascular do caso dos receptores de transplante de órgãos sólidos,
paciente). já foi demonstrado que a chance de rejeição ao
enxerto diminui. O mecanismo seria a liberação de
Como o CHA tem apenas 20% de plasma, uma
citocinas imunomodulatórias pelos leucócitos
hemotransfusão maciça pode "diluir" os fatores
presentes no hemoderivado.
circulantes, reduzindo a capacidade de formar
coágulos (hemostasia secundária). - Sepse bacteriana =
Quando o quadro já está instalado deve-se lançar mão O quadro clínico é de sepse grave/choque séptico
dos quelantes de ferro (substâncias que aumentam a FULMINANTE, podendo começar no início da
eliminação de ferro na urina), como a deferoxamina transfusão ou mesmo horas após.
(parenteral) ou o moderno deferasirox (oral). O
O tratamento consiste na interrupção imediata da
resultado, no entanto, costuma ser insatisfatório
transfusão, aliado a medidas de suporte conforme a
quando já existem lesões crônicas dos órgãos-alvo.
necessidade e antibioticoterapia empírica de amplo
- Episódios hipotensivos = espectro. O diagnóstico é confirmado pela
concordância nos resultados da cultura do
Quando o receptor é usuário de IECA (ex.: captopril) remanescente da bolsa e da hemocultura do paciente.
existe risco de hipotensão arterial induzida pela
hemotransfusão! A explicação é que, assim como no ALTERNATIVAS À HEMOTRANSFUSÃO:
caso do K+, com um tempo de armazenamento
Sempre que possível, na ausência de
prolongado ocorre acúmulo de bradicinina no interior
contraindicações, devemos tentar o tratamento
da bolsa. A ECA, além de converter a angiotensina I
conservador de potenciais candidatos à
em angiotensina II, funciona também como uma
hemotransfusão, utilizando fatores estimuladores da
cininase (enzima que degrada a bradicinina). Logo, ao
hematopoiese (ex.: eritropoetina recombinante, GM-
receberem uma hemotransfusão esses doentes
CSF, análogos da trombopoietina).
podem ter seus níveis de bradicinina (uma citocina
vasodilatadora) subitamente aumentados, o que INDICAÇÕES:
reduz a resistência vascular periférica e a pressão
arterial. A conduta é conservadora. CONCENTRADO DE HEMÁCIAS (CH):
De um modo geral, isso será necessário com Hb < 7 • Intoxicação por cumarínicos.
g/dl ou Ht < 21% num paciente previamente hígido, e • Insuficiência hepática.
com Hb < 9 g/dl ou Ht < 27%, para os portadores de • CIVD – Coagulação Intravascular Disseminada.
comorbidades crônicas (cardiorrespiratórias e/ou • PTT – Púrpura Trombocitopênica Trombótica.
cerebrovasculares). • Coagulopatias hereditárias (exceto hemofilia
A).
• Cada 01 unidade de CH eleva a hemoglobina
em 1 g/dl (o hematócrito aumenta, Na presença dos distúrbios acima, o PFC só estará
proporcionalmente, em 3%). indicado se: (1) houver sangramento por
coagulopatia; ou (2) se o paciente for submetido a
CONCENTRADO DE PLAQUETAS:
procedimento invasivo e tiver um coagulograma com
INR > 1,5, atividade de protrombina < 50% ou PTTa >
55s (relação > 1,5).
CRIOPRECIPITADO: