Teorico
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Revisão Textual:
Thais Tardivo Stringaci
Pontos Críticos na Manipulação e
Formas Farmacêuticas Inovadoras
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Desenvolver a análise crítica para avaliação das associações interessantes e possíveis incom-
patibilidades entre as matérias-primas;
• Desenvolver a habilidade técnica para a produção de diferentes formas farmacêuticas.
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adequado para uso imediato, conforme testes indicativos de estabilidade definidos
pelo fabricante do IFA, mantidas as Condições de Armazenamento preestabelecidas.
Daremos ênfase aos medicamentos manipulados, exemplificando algumas das incompa-
tibilidades mais comumente observadas, e para isso citamos a RDC nº 67/2007 (BRASIL,
2007), que estabelece os seguintes parâmetros quanto à estabilidade e prazo de validade:
• A determinação do prazo de validade deve ser baseada na avaliação físico-química
das drogas e considerações sob re a sua estabilidade, devendo o prazo de validade
deve ser vinculado ao período do tratamento, preferencialmente;
• Como fontes de informações sobre estabilidade físico-química das drogas, cita-se
referências de compêndios oficiais, recomendações de fornecedores e publicações
em revistas indexadas;
• Na interpretação das informações sobre estabilidade das drogas, devem ser consi-
deradas todas as condições de armazenamento e conservação;
• Os recipientes atóxicos, compatíveis físico-quimicamente com a composição do seu
conteúdo, devendo manter a sua qualidade e estabilidade físico-química e microbio-
lógica durante o seu armazenamento e transporte.
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Nesse ponto, temos que nos lembrar de que, embora os excipientes sejam considera-
dos inertes do ponto de vista de não exercerem ação terapêutica, citamos os seguintes
fatores a serem analisados:
• Incompatíveis entre si e entre fármacos;
• Influência na extensão e velocidade da absorção de um fármaco.
Portanto, a seleção do adjuvante farmacotécnico em via oral, por exemplo, deve ser
feita cuidadosamente durante o pré-estudo de formulação, considerando:
• A sua classificação pelo sistema de classificação biofarmacêutica (SCB), citada em
outras unidades de farmacotécnica, a qual divide os fármacos e excipientes base-
ados em suas propriedades de solubilidade em meio aquoso, simulando o fluído
biológico gastrointestinal e a permeabilidade intestinal;
• A quantidade do excipiente absorvente, que deve ser suficiente para prevenir a
liquefação de substâncias eflorescentes, higroscópicas e com baixo ponto de fu-
são, sem promover o ressecamento de cápsulas gelatinosas duras utilizadas como
forma farmacêutica;
• As características do excipiente, pois alguns, como o amido, contêm grande quan-
tidade de água;
• O material de composição de embalagem adequado, de forma a evitar a permea-
bilidade de umidade através do polímero, e com tampa hermética ou bem fechada.
Exemplos de excipientes que podem ser utilizados em conjunto, formando uma for-
mulação de excipiente são:
• Celulose microcristalina, que apresenta baixa captação da umidade, insolúvel em
água, também considerado agente desagregante, e possui bom fluxo na operação
de encapsulação;
• Dióxido de silício coloidal, com a função dessecante – absorvente – e deslizante,
favorecendo a não aderência nas placas de encapsular e escoamento dos pós da
preparação na operação de encapsulamento;
• Croscarmelose sódica, agente desintegrante, deslizante e dessecante;
• Estearato de magnésio, agente lubrificante, reduz a adesão entre partículas de pós
e partes metálicas de equipamentos;
• Silicato de magnésio, agente absorvente;
• Thompson e Davidow (2013) citam o carbonato de magnésio e óxido de magnésio
como agentes absorventes de primeira escolha na prevenção de liquefação de mis-
turas eutéticas, por possuírem elevado ponto de fusão.
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Importante!
A adição de lubrificantes – substâncias hidrofóbicas – deve ser utilizada com cautela,
pois, embora a sua função na preparação seja melhorar o deslizamento da preparação
nos equipamentos e utensílios utilizados na manipulação, a concentração utilizada re-
tarda a molhabilidade e a consequente absorção do fármaco.
Perceba que a escolha de excipientes não deve ser aleatória, deve ser baseada em
estudos que embasem o seu uso, conforme citado acima, e na própria bula da especia-
lidade farmacêutica de um determinado fármaco podemos encontrar essa informação,
pois vimos que, além da estabilidade do produto farmacêutico, a biodisponibilidade pode
ser afetada, e consequente efeito terapêutico alterado ou tóxico pode ocorrer.
O amido é usado como um dos componentes nas fórmulas de excipiente, como agen-
te diluente para formas farmacêuticas sólidas. Entretanto, é higroscópico e contém água
em sua molécula, devendo-se optar por outro diluente em composições com fármacos
higroscópicos e misturas eutéticas. É muito utilizado como aglutinante na compressão
de comprimidos.
Vários pacientes epiléticos que haviam sido previamente estabilizados com cápsulas
de fenitoína sódica contendo sulfato de cálcio di-hidratado como diluente desenvolveram
manifestações clínicas de sobredose de fenitoína após a troca apenas do diluente pela
lactose, um excipiente hidrossolúvel.
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Portanto, quando o sulfato de cálcio di-hidratado foi substituído por lactose, sem
qualquer alteração na quantidade de fármaco em cada cápsula ou na frequência de
administração, obteve-se uma biodisponibilidade aumentada de fenitoína. Em vários pa-
cientes, os níveis plasmáticos elevados excederam a concentração máxima segura para
a fenitoína e produziram efeitos colaterais tóxicos.
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Um parâmetro que influencia diretamente a estabilidade das emulsões é a presença de
ativos com carga oposta ao tensoativo iônico, isto é, pode acarretar incompatibilidade.
Uma característica importante das emulsões aniônicas é a incompatibilidade com ácidos
e cátions como amônia (NH4+), portanto, pode influenciar na estabilidade de uma
preparação conforme os ativos incorporados.
Lactose__________________________________ 60%
Amido___________________________________ 30%
Frutose___________________________________ 10%
Benzoato de sódio_____________________________ 0,2%
Solução alcoólica de PVP (polivinilpirrolidona) 8%___________ q.s.
Solução de gelatina 0,25 %________________________ q.s.
Fármaco ou princípio ativo__________________ concentração prescrita
A lactose e o amido são os diluentes, sendo que a lactose está em maior concentra-
ção devido à sua solubilidade em solução aquosa – salivar, nesse caso –, facilitando a
solubilização da preparação na saliva.
O edulcorante é a frutose, lembrando que, para pacientes diabéticos, deve ser substituído
por sacarina, aspartame ou outro edulcorante que não promova aumento de glicemia.
Cápsulas sublinguais
Em contrapartida aos tabletes sublinguais, há alguns anos estão disponíveis cápsu-
las compostas por matéria-prima vegetal – goma fermentada de tapioca, formada por
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Importante!
Lembrando que a compatibilidade da composição da cápsula deve ser avaliada com
os componentes da formulação (fármaco ou suplemento + excipientes), bem como a
alteração do tipo de cápsula – de cápsula gelatinosa para tapiocaps® – administrada
por via oral, pois a alteração de concentração e tempo de absorção está diretamente
relacionada à biodisponibilidade do fármaco.
Dessa forma, a utilização da tapiocaps® em preparações com fármacos por via oral deve
estar condicionada a estudos e ensaios rigorosos.
Nota: os tabletes sublinguais também possuem limite de dose de ativos por unidade
posológica, de acordo com a formulação e peso permitidos pelas tableteiras.
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Cápsulas vegetais para aplicação vaginal
O uso de tapiocaps® para a via de administração vaginal permite a viabilidade de
administração de ativos sólidos em pó, como os probióticos, contendo lactobacilos in-
dicados em casos de infecção fúngica recorrente, como candidíase, e estabilização da
microbiota e consequente pH do meio vaginal.
Filmes orodispersíveis
De acordo com a “Farmacopeia Brasileira” (BRASIL, 2019a), o comprimido oro-
dispersível (COD) – dissolução rápida – é o comprimido que desintegra ou dissolve
rapidamente quando colocado sobre a língua. Também o encontramos com a sigla ODT
(Oro Dispersible Tablete).
O filme orodispersível (FOD) é um dos exemplos de uma forma farmacêutica inova-
dora e versátil, sendo de fácil e prática administração.
Tescarollo et al. (2017) os caracterizam como filmes poliméricos finos e flexíveis desen-
volvidos para a administração de fármacos por via oral, que podem superar as dificuldades
de deglutição associadas às formas farmacêuticas sólidas como comprimidos e cápsulas.
As formas farmacêuticas orodispersíveis são compostas por polímeros formadores
de filme, plastificantes, agente estimulante da saliva e demais excipientes muito conhe-
cidos, como aromatizantes, corantes, estabilizadores, espessantes, potencializadores da
permeação e desintegrantes.
O filme orodispersível é uma opção mais atual e inovadora, e ambos – comprimidos
e filmes orodispersíveis – possuem as seguintes vantagens:
• Dissolução mais rápida ao entrar em contato com a língua;
• Desnecessário o uso de água para administrar o medicamento;
• Adesão do paciente ao tratamento;
• Melhor adaptação a paciente com dificuldades em deglutir.
Entretanto, o filme orodispersível (FOD), conhecido também como strip oral, não
necessita de secagem em estufa. A degradação no trato gastrointestinal e o efeito de
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primeira passagem podem ser evitados devido à fina camada rapidamente solubilizada e
absorvida na mucosa oral, conforme descrito por Bala et al. (2013).
O filme também possui maior área de contato com a mucosa em relação ao compri-
mido orodispersível devido às suas dimensões, e alguns fármacos e suplementos, como
vitamina C, podem ser administrados de forma sublingual, possuindo absorção mais
rápida devido a alta irrigação nessa região.
Filmes dispersíveis para medicamentos de venda livre para males menores, como
controle da dor e enjoo, são comercializados nos mercados dos Estados Unidos, assim
como algumas empresas estão utilizando tecnologia de entrega transdérmica de medi-
camentos para desenvolver formatos de filme fino.
O filme de dissolução oral é um filme fino com uma área de 1 a 20 cm² (depende da
dose e da carga do medicamento) contendo o medicamento e é formado por polímeros
comestíveis e excipientes como estabilizantes, edulcorantes e flavorizantes. Os medica-
mentos podem ser carregados com uma dose única de 30 mg, segundo Bala et al. (2013).
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Figura 1 – Chocolate medicamentoso ou nutracêutico
Fonte: Reprodução
As bases de goma contêm cerca de 10% p/p de gelatina como espessante, com adi-
ção de conservantes e edulcorantes, como a sacarina e flavorizantes, de forma a garantir
a palatabilidade das bases. São moldáveis para possuírem forma e peso padronizado,
devendo ter textura apropriada e de fácil mastigação.
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Figura 3 – Gomas
Fonte: Divulgação
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Filmes
Orodispersíveis 1
https://youtu.be/8rJzQ1eylWY
Orodispersíveis 2
https://youtu.be/34ErSoTJRNY
Orodispersíveis 3
https://youtu.be/k0AzgAWHbUI
Leitura
Relatório técnico: desempenho da linha de excipientes celulomax para cápsulas duras
Formulações de excipientes adquiridos por fornecedores de insumos para formas farma-
cêuticas viabilizadas em cápsulas gelatinosas duras.
https://bit.ly/3njeqO3
Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento
https://bit.ly/3yYdaly
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Referências
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________. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução de
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realização de Estudos de Estabilidade de insumos farmacêuticos ativos e medicamentos,
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