Revista Educacao 161
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Conselho Superior
Ma. Irani Rupolo - Presidente
Me. Mario Sundermann - Vice-Presidente
Ma. Claudia Chesini - Secretária
Conselheiros
Dr. Gilberto Gonçalves Garcia
Me. Iranilson Correia de Lima
Profa. Ivanise Soares da Silva
Me. João Batista Gomes de Lima
Me. Joaquim Giovani Mol Guimarães
Dr. Josafá Carlos de Siqueira
Profa. Márcia Edvirges Pereira dos Santos
Diretoria Nacional
Dr. Paulo Fossatti - Diretor Presidente
Dra. Adair Aparecida Sberga - Diretora 1ª Vice-Presidente
Me. Natalino Guilherme de Sousa - 2º Vice-Presidente
Es. Marli Araújo da Silva - Diretora 1ª Secretária
Dr. Maurício da Silva Ferreira - Diretor 2º Secretário
Es. Roberto Duarte Rosalino - Diretor 1º Tesoureiro
Dr. Claudino Gilz - Diretor 2º Tesoureiro
Secretário Executivo
Es. James Pinheiro dos Santos
Conselho Editorial
Dra. Hildegard Susana Jung - Universidade La Salle de Canoas, Brasil
Dr. Luiz Síveres - Universidade Católica de Brasília/UCB, Brasil
Dra. Marisa Claudia Jacometo Durante - Faculdade La Salle Lucas do Rio Verde/Brasil
PhD. Nilo Agostini – Universidade São Francisco, Brasil
Dr. Sérgio Rogério Azevedo Junqueira - GPER - Serviços Educacionais/Brasil
Comitê Editorial
Dr. Adolfo Ignácio Calderón - Pontifícia Universidade Católica de Campinas/Brasil
Dra. Angela Ales Bello - Pontificia Università Lateranense/Vaticano
Dra. Azucena de la Concepcion Ochoa Cervantes - Universidad Autonoma de Queretaro/México
Dra. Cristina Costa Lobo - Universidade Portucalense Infante D. Henrique/Portugal
Dra. Elaine Conte - Universidade La Salle de Canoas/Brasil
Dra. Ivone Yared - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/Brasil
Dra. Jamylle Rebouças Ouverney - Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Paraíba/Brasil
Dra. Joana Paulin Romanowski - Pontifícia Universidade Católica do Paraná/Brasil
Dr. João Casqueira Cardoso - Universidade Fernando Pessoa/Portugal
Dra. Joelma Ana Gutiérrez Espíndula - Universidade Federal de Roraima/Brasil
Dr. Luiz Síveres - Universidade Católica de Brasília/Brasil
Dr. Mario Sandoval - Universidade Católica do Chile/Chile
Dra. Marisa Claudia Jacometo Durante - Faculdade La Salle Lucas do Rio Verde/Brasil
Dra. Meire Silva Botelho de Oliveira - Faculdade Salesiana Dom Bosco e Universidade do
Estado do Amazonas/Brasil
Dr. Miguel Mahfoud - Universidade Federal de Minas Gerais/Brasil
Dra. Romilda Teodora Ens - Pontifícia Universidade Católica do Paraná/Brasil
Dr. Ronaldo Zacharias - Centro Universitário Salesiano de São Paulo/Brasil
Dra. Ruth Pavan - Universidade Católica Dom Bosco/Brasil
Dra. Sônia Maria de Souza Bonelli - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/Brasil
Dr. Wellington de Oliveira - Centro Universitário Teresa D’Ávila/Brasil
Equipe Editorial
Es. James Pinheiro dos Santos - Associação Nacional de Educação Católica/Brasil
Ma. Roberta Valéria Guedes de Limas - Associação Nacional de Educação Católica/Brasil
Es. Fabiana Deflon dos Santos Gonçalves - Associação Nacional de Educação Católica/Brasil
Endereço Eletrônico
[email protected]
8 Editorial
DOSSIÊ
Prezado(a) leitor(a),
8 Editorial
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rumos para “realmar” a economia mundial. Os autores destacam o encontro que
ocorreráEDITORIAL
em Assis com o Papa Francisco e os jovens do mundo inteiro, assim
como discussões em torno do desenvolvimento econômico, do capitalismo e do
extrativismo, que são abordados na Encíclica Laudato Si’.
O terceiro artigo, Educação Ambiental à luz da Ecologia Integral: convergências
conceituais e possibilidades pedagógicas, convida o leitor a se inteirar de uma discussão
leve e bastante consistente. Partindo do conceito de Ecologia Integral, o texto
afirma que a Encíclica Laudato Si’ oferece uma perspectiva da questão ambien-
tal alicerçada na relação indissociável entre as dimensões natural e humana. A
narrativa traz elementos para a educação ambiental que visam proporcionar
aos estudantes possibilidades de uma reflexão integradora quanto à questão
socioambiental.
O quarto e último texto da seção Dossiê, Aproximações à agroecologia escolar:
princípios e práticas, traz uma pesquisa que contextualiza o tema da agroecologia
escolar, destacando seus princípios e práticas com crianças e adolescentes. Vale
ressaltar que a pesquisa se fundamenta, principalmente, em autores como Mama-
ni, Leff, Luzuriaga, Martinez-Madrid e Eugenio. O estudo aponta que os valores
constitutivos das práticas agroecológicas estão alinhados à concepção de Ecolo-
gia Integral e que a sua incorporação nos itinerários pedagógicas beneficiam o
desenvolvimento da consciência ecológica das crianças e dos adolescentes.
Na Seção de Artigos de Demanda Contínua, o primeiro texto, Entre narci-
sismos e personalismos: a defesa do humanismo solidário na contemporaneidade, é um con-
vite a todos para refletir acerca de suas atitudes, a partir de discussões em torno
das patologias sociais no âmbito da contemporaneidade, que se revelam como
distintos narcisismos. O autor utiliza a metodologia da pesquisa qualitativa de
cunho bibliográfico, com bases epistemológicas da teoria crítica, do persona-
lismo, da sociologia contemporânea, como Jürgen Habermas, Axel Honneth,
Zygmunt Bauman, Emmanuel Mounier e o Papa Francisco na sua renomada
Encíclica Laudato Si’, com o intuito de diagnosticar os principais sintomas da cri-
se contemporânea. O texto propõe o personalismo como caminho fundamental
para a concretização do humanismo integral e solidário.
Editorial
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O segundo texto, A produção de sentido em jovens secundaristas à luz da teoria
de Viktor Frank, apresenta o estudo acerca da produção de sentido na vida de
jovens secundaristas do Ensino Médio. Com a metodologia qualitativa, por meio
da aplicação de um questionário em escala Likert, de questões abertas, de diário
de campo e da revisão de literatura, principalmente em Viktor Frankl e seus
comentadores, fez-se a coleta de dados. Com isso, pôde-se alcançar o objetivo
de analisar fatores intervenientes nas escolhas pessoais e profissionais dos estu-
dantes de uma escola estadual do Sul do Brasil. Os resultados concluíram que
os jovens buscam apoio em familiares para tomada de decisão pessoal e profis-
sional; exercem o exercício de relativa autonomia e responsabilidade diante dos
desafios da vida profissional; têm capacidade de fazer escolhas, mesmo na ad-
versidade; atribuem sentido no exercício da autonomia, da responsabilidade, da
dor e da alegria nas escolhas; sentem necessidade de formação continuada para
consolidar a produção de sentido para o que fazem. Vale frisar que o texto traz
diversos aspectos interessantes, em especial quanto à importância da educação
para a produção de sentido na vida.
No terceiro texto dessa seção, Educação Profissional e Tecnológica, uma janela de
oportunidades, os autores trazem uma análise do panorama da Educação Profissio-
nal e Tecnológica (EPT) de nível médio no país e comentam sobre sua expansão
e potencialidade diante das alterações demográficas em curso e em termos de
aprendizagem significativa. Também elucidam os resultados das pesquisas pro-
duzidas no âmbito do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP) e
apresentam a educação profissional como “uma janela de oportunidades aber-
ta”, a partir da reforma do Ensino Médio no Brasil.
Por fim, o quarto e último texto dessa seção, A gestão escolar e a gestão da sala
de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC, apresenta uma pesquisa bibliográfica
de caráter qualitativo, com um recorte dos últimos 5 anos de artigos e legislações
acerca da temática Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e suas inter-relações
com a gestão escolar e a gestão da sala de aula. A pesquisa promove a investigação
acerca dos desafios e das possibilidades que estão presentes na sala de aula e na
gestão da escola, a partir dos novos contextos apresentados pela BNCC. As refle-
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Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 8-11, jan./jun. 2020
xões levantadas no texto contribuem para a implementação de ações pedagógicas
em consonância com a BNCC, a fim de assegurar a aprendizagem dos estudantes.
Por meio de chamada pública para a submissão de artigos, conforme divul-
gado no sítio da ANEC e nas redes sociais, a Revista recebeu 22 artigos. O proces-
so de suas avaliações foi realizado com a participação de 33 avaliadores, oriundos
de diversas instituições de Ensino Superior, com expertise em ensino, pesquisa e
extensão na referida temática apresentada. Concluídos os processos de seleção e a
avaliação, 8 artigos integram o presente número, que compõem e complementam
o dossiê temático. Na capa e contracapa, figuram imagens de livros que represen-
tam a Educação Católica em seus diversos aspectos. Aos que contribuíram para a
realização deste número, autores e avaliadores ad hoc, um sincero e cordial agrade-
cimento. Na oportunidade, o Comitê desta Revista manifesta seu reconhecimento
e estima aos membros do Conselho Superior e da Diretoria da ANEC pela con-
fiança e pelo apoio na publicação desta Revista da Educação Católica do Brasil,
que dissemina ideias, reflexões e formação científica.
Boa leitura e bom proveito!
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DOSSIÊ
Abstract: The climatic emergency and the worsening of inequalities across the planet
shed light on the problem surrounding Economic Sciences, with the aim of finding
feasible answers that can solve current problems. After a series of manifestations by
the Catholic Church for an integral human development and care for ecosystems, Pope
Francis called on young economists, researchers and entrepreneurs to come together in
Assisi, Italy, in order to discuss a new way of looking at and practicing economics. The
expectation is that the discussions will result in theoretical contributions and practical
solutions to environmental, social, and economic demands, in search of “good living”.
This article, therefore, analysed the confluences between The Economy of Francis,
Ecological Economics and guidelines such as the 2030 Agenda for Sustainable Develo-
Introdução
Para discorrer acerca da Igreja Católica e sua relação com as questões so-
cioeconômicas, deve-se partir do pressuposto de que a instituição
Por sua vez, Sachs (2017, p. 2573) avalia que, além das similaridades entre
a Laudato Si’ e a Agenda 2030, o posicionamento eclesiástico chega a ser ainda
mais ambicioso que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável:
Economia Ecológica
Agradecimento
Submissão: 15/04/2020
Revisão: 17/05/2020
Aprovado: 20/05/2020
Referências
Abstract: Pope Francis’ proposal opens up a huge space for discussion in contempo-
rary society with The Economy of Francesco and Clara. Pope Francis has invited young
people from all over the world to discuss the direction of the world economy, in an invi-
tation called to “re-animate” the economy. The meeting, which will take place in Assisi,
will open a huge range of discussions around development, capitalism, extractivism,
moving on to the central transition debate in the encyclical Laudato Si’. The stages that
make up the discussion develop a look at the financialization of the global economy, its
aspect of domination of human subjectivity and with that, its dehumanization, focusing
efforts on a new culture proposed by the Global Compact on Education.
Keywords: Pope Francis. Economy. Education. Laudato Si’. Youth. Catholic Church.
A convivência na multipolaridade
O que a educação tem a ver com a formação para a cidadania? Onde esta-
ria a intersecção entre educar e repensar a economia necessária, a Economia de
Francisco e Clara?
Comecemos pela tarefa central dos processos educativos.
Há quem tenha sugerido que a educação tem por finalidade socializar ou
introduzir os educandos no mundo dos adultos, das regras e códigos estabeleci-
dos. Essa é a proposta que encontramos em Émile Durkheim (1975), que che-
gou a sugerir que a pessoa jovem deveria aderir aos valores vigentes por vontade
própria, por meio da educação. Na prática, um dos trabalhos vitais do educador
seria a de motivar a “submissão consentida” do educando, criando um caminho
Mas, afinal, por que o risco, enquanto ato pedagógico? Papa Francisco, em
um outro encontro, realizado em 21 de agosto de 2013, ao falar para professores
do colégio japonês Seibu Gakuen Bunri Junior High School de Saitama, explicita
sua leitura sobre o movimento de encontro aos jovens. Esse movimento é uma
Submissão: 25/03/2020
Revisão: 20/04/2020
Aprovação: 25/04/2020
Notas
1 Educador e sociólogo, atua com movimentos populares e religiosos na Zona Leste de São
Paulo. É consultor do Instituto Cultiva. Faz parte da Coordenação da ABEFC – Articulação
Brasileira pela Economia de Francisco e Clara. E-mail: [email protected]
2 Sociólogo, mestre e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Assessor de movimentos populares e sindicais no Brasil. É presidente do Insti-
tuto Cultiva e membro da Coordenação da ABEFC – Articulação Brasileira pela Economia de
Francisco e Clara, e também da Articulação Brasileira pelo Pacto Educativo Global.
Referências
Resumo: Por meio do conceito de Ecologia Integral, a Encíclica Laudato Si’ oferece
uma perspectiva da questão ambiental alicerçada na relação indissociável entre as di-
mensões natural e humana. Tal perspectiva alinha-se à vertente crítica, transformadora e
emancipatória da educação ambiental. Cotejando a leitura da Encíclica com aportes te-
óricos da educação ambiental, o presente trabalho investiga a importância da conversão
ecológica individual e coletiva, concluindo pela preponderância da dimensão coletiva
no enfrentamento da crise socioambiental contemporânea. Nesta perspectiva, são apre-
sentadas duas sugestões de temas geradores (áreas naturais protegidas e água) a serem
desenvolvidas em contexto escolar, visando proporcionar aos educandos elementos que
possibilitem uma reflexão integradora sobre a questão socioambiental.
Palavras-chave: Ecologia Integral. Educação ambiental. Laudato Si’.
Abstract: Through the concept of Integral Ecology, the Encyclical Laudato Si’ offers a pers-
pective of the environmental issue based on the inseparable relationship between natural
and human dimensions. This perspective is in line with the critical, transformative and eman-
cipatory current of Environmental Education. Comparing the content of the Encyclical
with theoretical contributions from Environmental Education field, this paper investigates
the importance of individual and collective ecological conversion, concluding by the pre-
ponderance of the collective dimension in facing the contemporary socio-environmental
crisis. In this perspective, two suggestions of generator themes are presented (natural pro-
tected areas and water) to be developed in the school context, aiming to provide students
with elements that allow an integrative reflection on the socio-environmental issue.
Keywords: Integral Ecology. Environmental education. Laudato Si’.
Resumen: A través del concepto de Ecología Integral, la Encíclica Laudato Si’ ofrece una
perspectiva del tema ambiental con base en la relación inseparable entre las dimensiones na-
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tural y humana. Esta perspectiva está en línea con el aspecto crítico, transformador y emanci-
patorio de la Educación Ambiental. Comparando la lectura de la Encíclica con las contribu-
ciones teóricas del campo de la Educación Ambiental, este artículo investiga la importancia
de la conversión ecológica individual y colectiva, concluyendo por la preponderancia de la
dimensión colectiva al enfrentar la crisis socioambiental contemporánea. En esta perspec-
tiva, se presentan dos sugerencias de temas generadores (áreas naturales protegidas y agua)
que pueden ser desarrollados en el contexto escolar, con el objetivo de proporcionar a los
estudiantes elementos que permitan una reflexión integradora sobre el tema socioambiental.
Palabras clave: Ecología Integral. Educación ambiental. Laudato Si’.
COELHO, B.H.S.
[...] para se resolver uma situação tão complexa como esta que o
mundo atual enfrenta, não basta que cada um seja melhor. [...]
Aos problemas sociais responde-se não com a mera soma
de bens individuais, mas com redes comunitárias: “As exi-
gências desta obra serão tão grandes, que as possibilidades das
iniciativas individuais e a cooperação dos particulares, formados
de maneira individualista, não serão capazes de lhes dar resposta.
Será necessária uma união de forças e uma unidade de contribui-
ções”5. A conversão ecológica, que se requer para criar um
dinamismo de mudança duradoura, é também uma conver-
são comunitária.
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Diante do grande desafio de reorientar a percepção hegemônica (indi-
vidualista e comportamentalista) sobre a problemática ambiental – perspectiva
essa alinhada à ideologia do sistema político-econômico vigente na sociedade
hodierna, que supervaloriza a iniciativa individual (o mito do self-made man) e a
supremacia do mercado na estruturação das relações sociais –, o Papa Francisco
(2015, n. 215) identifica o importante papel sociocultural da educação, enfati-
zando que também nesse campo é necessária uma reorientação paradigmática:
COELHO, B.H.S.
COELHO, B.H.S.
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Sugestões de temas geradores e atividades pedagógicas
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da trilha e/ou esporadicamente durante a atividade, de modo a serenar a agitação
do grupo e proporcionar uma maior concentração.
Em relação à dimensão natural (ecológica stricto sensu), é importante desta-
car quais espécies mais notáveis da fauna e da flora local são protegidas pela exis-
tência da unidade de conservação. Além disso, devem ser abordados conceitos
referentes aos serviços ambientais (PARRON et al., 2015) que aquele ambiente
natural presta à sociedade, por exemplo, a importância do ecossistema para a
regulação do clima local e a relação entre a cobertura florestal protegida com a
manutenção das águas de rios e nascentes. A identificação dos principais servi-
ços ambientais que a unidade de conservação visitada oferece deve ser objeto de
estudo prévio do professor, de modo a melhor instruir a turma em sua apropria-
da identificação e análise.
No que se refere à dimensão social, é importante que, além dos elementos
biológicos estudados, dê-se também atenção ao histórico de criação do parque
ou reserva estudado. Neste ponto, o ideal seria contar com o relato de algum téc-
nico ou servidor da unidade de conservação para explicar à turma quais foram
os motivos que levaram à criação da unidade de conservação, contextualizando
o momento histórico do estabelecimento oficial da área protegida. Para apro-
fundar o debate entre as relações dos aspectos ambientais e sociais da unidade
de conservação, algumas perguntas orientadoras podem ser empregadas: “Quais
são os bairros que fazem fronteira com o parque?”; “Quais são as condições so-
cioeconômicas desses bairros?”; “Qual deve ser o perfil das pessoas que visitam
este parque?”; “Como este parque influencia a economia local?”; “Há atividades
econômicas no entorno que são prejudiciais à conservação ambiental?”.
Quanto à dimensão política (exercício da cidadania), é recomendado, ao
final da atividade, o emprego da pergunta orientadora: “A quem pertence este
parque?” ou “Quem é o dono deste parque?”. Na discussão subsequente, devem
ser exploradas as ideias de pertencimento coletivo daquela área pública (o enten-
dimento da área como “bem comum”, para benefício de toda a sociedade) e da
importância do engajamento social em sua defesa e conservação, enfatizando a
responsabilidade de todos e de cada um nesse sentido.
Posteriormente à atividade de campo, é recomendado, como reforço pedagó-
gico, a reflexão em sala de aula sobre a visita, incluindo relatos individuais sobre a vi-
vência realizada (“Como você se sentiu durante a atividade? O que ficou de relevante
após a experiência?”) e exposição das melhores fotos registradas em campo.
COELHO, B.H.S.
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cisternas para uso doméstico e/ou comunitário, que armazenam as águas das
chuvas durante os curtos períodos de maior pluviosidade, garantindo o abasteci-
mento nos períodos de estiagem – foi medida suficiente, alicerçada em políticas
sociais, para minorar o impacto histórico da seca nessas comunidades sertanejas
(PASSADOR; PASSADOR, 2010). Esse é um exemplo notável da capacidade
humana em responder com solidariedade e inteligência aos problemas socioam-
bientais enfrentados. Se, indubitavelmente, a sociedade moderna é responsável
pela crescente degradação ambiental planetária, ao mesmo é o próprio ser huma-
no que carrega consigo também o potencial de recuperação do que foi degrada-
do. É fundamental que o educador ambiental reconheça e denuncie, criticamen-
te, os descaminhos civilizatórios que geram a poluição e a degradação, sem se
esquecer de anunciar os exemplos – não são poucos! – que apontam em sentido
contrário, ou seja, que evidenciem também a capacidade humana de regenera-
ção e correção de rumos. Cabe ao educador ambiental, portanto, trabalhar com
atenção o binômio denúncia-anúncio, de modo a proporcionar aos educandos o
desenvolvimento de sua consciência crítica, sem pessimismo ou desalento diante
da realidade encontrada, vislumbrando que, apesar das dificuldades impostas,
há caminhos alternativos, que inspiram esperança e levam à ação consciente e
transformadora8.
Outro exemplo notável da capacidade humana em recuperar a natureza
degradada, com ênfase na questão da água, é o caso do reflorestamento da flo-
resta da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro. Na segunda metade do século XIX,
a então capital imperial do Brasil começou a atravessar problemas de abasteci-
mento de água. As nascentes e os córregos que desciam do maciço da Tijuca para
a área central da cidade – por meio de sofisticado sistema de adução, composto
de um aqueduto sobre a icônica construção dos Arcos da Lapa – começaram a
secar, em razão da acelerada conversão de florestas em fazendas de café, que à
época se constituía no principal item de exportação da economia brasileira. Deu-
-se início, então, a um arrojado e visionário programa de recuperação de áreas
degradadas. Grande parte das fazendas foram nacionalizadas e replantadas com
espécies nativas da Mata Atlântica. Após poucas décadas, o volume das águas foi
restituído, dando fim ao problema de escassez hídrica e compondo a exuberante
floresta da Tijuca, posteriormente convertida em parque nacional, que viria a
alcançar o posto de maior floresta urbana do planeta. O mais notável desse caso
pioneiro de restauração ambiental, com base na relação água-floresta, reside no
fato de que a mão de obra empenhada em tão grandiosa missão foi composta
de apenas seis homens! Seis homens escravizados, que, por meio de seu trabalho
diligente, converteram cerca de 3 mil hectares de solo exposto em uma densa
floresta tropical (DRUMMOND, 1998). Hoje, em póstuma homenagem, esses
trabalhadores são lembrados por uma estátua instalada na entrada do centro de
visitantes do Parque Nacional da Tijuca. Tal exemplo remete a uma reflexão:
COELHO, B.H.S.
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repensar sobre a questão da água, além da dimensão individual, é imprescindível
envolver a dimensão socioeconômica.
Daí se desdobra outro importante tema para reflexão: como os indivíduos
podem se envolver em questões ambientais coletivas e sociais? Em outras pa-
lavras, como passamos da responsabilidade individual para a responsabilidade
comunitária? No processo pedagógico de reflexão sobre essas indagações de-
vem ser abordados conceitos como participação social e cidadania. A questão da
água e, por extensão, a questão ambiental impelem para além do individual e do
privado, rumo ao coletivo e ao comum. Neste sentido, convém apresentar aos
educandos o papel dos conselhos e comitês de políticas públicas, como espaços
preferenciais para o exercício da cidadania e, especificamente, do controle social
acerca das questões ambientais públicas (GOHN, 2010). São exemplos desses
fóruns de participação social os Conselhos de Unidades de Conservação, Con-
selhos de Bacias Hidrográficas e Conselhos Municipais de Meio Ambiente; co-
legiados compostos de entidades governamentais e da sociedade civil, aos quais
deve ser facultada a participação e o acompanhamento de todos cidadãos inte-
ressados e nos quais as questões ambientais relevantes ao conjunto da sociedade
devem ser partilhadas entre o poder público e a coletividade (COELHO, 2017;
ICMBio, 2014; GOHN, 2011). É importante trazer exemplos do funcionamento
de tais conselhos para a realidade do aluno, priorizando aqueles mais próximos
ao contexto social no qual a escola esteja inserida. Dependendo do grau de inte-
resse da turma nessa questão e da funcionalidade logística, pode ser considerada
uma atividade de campo em que os alunos possam acompanhar como ouvintes
uma reunião formal de algum desses conselhos, desenvolvendo, anteriormente
e posteriormente à reunião, reflexões sobre assuntos específicos discutidos no
conselho, como o licenciamento de alguma obra com potencial poluidor ou o
sistema de saneamento municipal.
Outra possibilidade de aplicação de metodologia ativa para abordar o tema
gerador água é o júri simulado (ALBUQUERQUE; VICENTINI; PIPITONE,
2015). Casos reais ou hipotéticos de conflitos pelo uso da água – como o uso
empresarial das águas de um rio, as quais também tenham a função de abasteci-
mento público, ou a privatização de sistemas de saneamento público – podem
ser empregados. A turma é dividida entre as duas partes em conflito (por exem-
plo, advogados da empresa que defendem a necessidade de crescimento econô-
mico e geração de empregos locais vs. “promotores” que questionam a poluição
hídrica decorrente da atividade empresarial), e cabe ao professor a condição de
“juiz”, moderando os debates. Tal atividade envolve: a) a pesquisa e a preparação
dos argumentos de cada parte; b) a realização do júri simulado, propriamente
dito, incluindo a confrontação de argumentos das partes e o “veredito” do juiz/
professor; e c) discussão em grupo sobre os resultados da atividade. Essa ati-
vidade permite desenvolver criticamente, com os alunos, a tensão dialética do
COELHO, B.H.S.
COELHO, B.H.S.
Educação ambiental à luz da Ecologia Integral: convergências conceituais e possibilidades pedagógicas
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 57-73, jan./jun. 2020 69
o amor na vida social – nos planos político, econômico, cultural
– fazendo dele a norma constante e suprema do agir”. Neste
contexto, juntamente com a importância dos pequenos gestos
diários, o amor social impele-nos a pensar em grandes estra-
tégias que detenham eficazmente a degradação ambiental
e incentivem uma cultura do cuidado que permeie toda a
sociedade (FRANCISCO, 2015, n. 231, grifos nossos).
Submissão: 13/01/2020
Revisão: 14/02/2020
Aprovação: 06/03/2020
Notas
1 Doutor em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) (2017). Mestre em Planejamento Ambiental pela UFRJ (2002). Graduado
em Ciências Biológicas (Bacharelado Cum Laude em Ecologia) pela UFRJ (1999). Pesquisador do
Laboratório de Investigação em Educação, Ambiente e Sociedade (LIEAS/UFRJ). Professor de
Ecoteologia do Instituto Teológico Franciscano (ITF). E-mail: [email protected]
2 De acordo com os filósofos Sean Esbjörn-Hargens e Michael Zimmerman (2009), o primeiro
emprego do termo “Ecologia Integral” em toda a literatura especializada internacional se deve
ao teólogo brasileiro Leonardo Boff, em seu livro “Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres”
(BOFF, 1995).
3 Em chave teológica, o Papa Francisco associa as premissas da Ecologia Integral à figura de São
Francisco de Assis: “Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza,
a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior” (2015, n. 10). A
espiritualidade franciscana constitui uma das categorias conceituais estruturantes da Laudato Si’,
assim como o envolvimento ecumênico, a crítica ao capitalismo predatório e a ênfase na respon-
sabilidade humana.
4 A este respeito, afirma Francisco (2015, n. 218) que “a conversão integral da pessoa [...] exige
também reconhecer os próprios erros, pecados, vícios ou negligências, e arrepender-se de cora-
ção, mudar a partir de dentro”. No intuito de oferecer exemplos concretos sobre comportamen-
tos individuais que contribuam para a conversão ecológica, o Papa aponta que: “A educação na
responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e
importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o
consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer,
tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo
veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias... Tudo isso faz parte
de uma criatividade generosa e dignificante, que põe a descoberto o melhor do ser humano”
(FRANCISCO, 2015, n. 211).
5 Romano Guardini, Das Ende der Neuzeit (Würzburg 1965), 72.
6 Conforme a Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei nº 9.795/99, “a
educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo
estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em
caráter formal e não-formal” (BRASIL, 1999, s/p). As atividades sugeridas neste artigo estão
voltadas mais adequadamente à aplicação em turmas de Ensino Médio, dada a necessidade de
conhecimentos básicos prévios – tanto das ciências naturais quanto sociais –, e à faixa etária
dos alunos envolvidos, considerando o grau necessário de desenvolvimento pedagógico e cog-
COELHO, B.H.S.
Referências
COELHO, B.H.S.
Educação ambiental à luz da Ecologia Integral: convergências conceituais e possibilidades pedagógicas
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 57-73, jan./jun. 2020 71
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COELHO, B.H.S.
COELHO, B.H.S.
Educação ambiental à luz da Ecologia Integral: convergências conceituais e possibilidades pedagógicas
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 57-73, jan./jun. 2020 73
DOSSIÊ
Abstract: The research contextualizes the issue of school agroecology, highlighting its prin-
ciples and practices with children and adolescents. Defines agroecology as a set of knowle-
dge of native peoples and family farmers about their relationship with nature and with the
production practices of life. In this sense, it highlights the values that agroecology enhances
in the perspective of food sovereignty and people’s health. It emphasizes agroecological
knowledge based on examples of initiative of people, communities and institutions, and
highlights its approaches to the school environment. It points out school agroecology prac-
tices, highlighting their meaning and their possibilities of realization. He comments on the
experience of children who are custodians of native seeds and of agroecological gardens in
schools. The research is exploratory in nature and relies on bibliographic sources, mostly due
to the systematization of school agroecology practices that they record. The study points
out that the constitutive values of agroecological practices are aligned with the conception
of integral ecology, and that their integration into the pedagogical training itineraries is bene-
ficial for the development of the ecological awareness of children and adolescents.
Keywords: Agroecology. School. Ecology.
CONTRERAS, H.S.H.
Considerações preliminares
“O meu livro é a natureza.
A terra e todos os seres criados são as páginas do livro
que procuro ler quando quero ler a palavra de Deus”.
Monge Antão2
CONTRERAS, H.S.H.
Aproximações à agroecologia escolar: princípios e práticas
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 74-85, jan./jun. 2020 75
o fruto é produto da convergência de muitas forças e energias,
não somente da ação mecânica do semear; para que a semente se
converta em fruto, muitos seres contribuíram com suas forças: o
sol, a lua, a chuva, a terra, a água, as minhocas, o vento etc. (MA-
MANI, 2010, p. 69, tradução nossa).
CONTRERAS, H.S.H.
CONTRERAS, H.S.H.
Aproximações à agroecologia escolar: princípios e práticas
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 74-85, jan./jun. 2020 77
Agroecologia escolar
“Uma boa educação escolar em tenra idade coloca sementes
que podem produzir efeitos durante toda a vida”.
Papa Francisco (2015, n. 213)
CONTRERAS, H.S.H.
Por sua vez, esses grupos estão ligados à comunidade e/ou redes que
fortalecem e ampliam essas iniciativas locais, promovendo encontros e espaços
de trocas (OLIVEIRA et al., 2016) entre as “famílias guardiãs” (OLANDA,
2015), que ressaltam o direito à alimentação saudável e à soberania alimentar.
CONTRERAS, H.S.H.
Aproximações à agroecologia escolar: princípios e práticas
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 74-85, jan./jun. 2020 79
Cabe ainda comentar a organização dessas famílias na criação de “casas comu-
nitárias de sementes”, que visam reafirmar uma posição contrária às “sementes
corporativas” (BARBOSA, 2014).
Apoiadas nessas iniciativas, escolas organizam experiências concretas fun-
damentadas na filosofia permacultural e nas técnicas de agricultura agroecoló-
gica, com o objetivo de que os alunos se apropriem do território, desenvolvam
hábitos saudáveis, valorizem os alimentos produzidos pelos camponeses e ex-
pressem a vontade de defender as plantas nativas (SANTANA CÁRDENAS;
DURANGO CARDOZA, 2018). Exemplos dessas experiências são as hortas
agroecológicas, que, alinhadas às aprendizagens curriculares, contribuem para o
desenvolvimento de valores e atitudes sociais e de educação alimentar, alcançan-
do até as famílias dos estudantes. Bellenda et al. (2015, p. 4) destacam as apren-
dizagens atitudinais que docentes sinalizaram das práticas pedagógicas na horta:
CONTRERAS, H.S.H.
Considerações finais
CONTRERAS, H.S.H.
Aproximações à agroecologia escolar: princípios e práticas
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 74-85, jan./jun. 2020 81
árvores, milho, água...). Essa relação de cuidado fraterno é fundamental para o
desenvolvimento da consciência ecológica das crianças, que expressam vontade
de proteger a natureza para elas e para as outras crianças que precisam dela no
futuro.
Na intenção de oportunizar essas experiências de cuidado é que as ativi-
dades agroecológicas integram os saberes dos povos nativos, valorizando uma
dimensão ecológica preocupada com a justiça, a cultura, a economia solidária e
o bem comum. Aproximar os saberes agroecológicos à formação escolar das
crianças e adolescentes é uma forma de oportunizar a eles uma experiência con-
creta e coletiva de relação com a natureza.
Submissão: 10/02/2020
Revisão: 24/04/2020
Aprovação: 27/04/2020
Notas
1 Licenciado em Filosofia e Pedagogia. Mestre em Educação. Atua como docente na Faculdade Pa-
dre João Bagozzi. Membro do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Pedagogia, Pedagogia
Social e Educação Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Assessor da área de
Ensino Religioso e Pastoral Escolar da SM. E-mail: [email protected]
2 Citado por Barros (2016, p. 18).
3 Um exemplo dessa experiência educativa comunitária foi a da Escola-Ayllu de Warisata (1931-
1940) na Bolívia. As práticas de ensino não estavam somente dentro das salas de aula, mas tam-
bém fora delas, e sob a direção das Ulakas e Amaut’as (avôs e avós sábios) (MAMANI, 2010).
4 Cf. Papa Francisco (2015).
5 Cf. Animação “Comida que alimenta” (2015).
6 Cf. http://www.abai.eco.br/.
7 O tabuleiro do jogo, as cartas do jogo e as instruções podem ser solicitados à equipe da Asso-
ciação Brasileira de Amparo à Infância (ABAI).
Referências
CONTRERAS, H.S.H.
CONTRERAS, H.S.H.
Aproximações à agroecologia escolar: princípios e práticas
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CONTRERAS, H.S.H.
CONTRERAS, H.S.H.
Aproximações à agroecologia escolar: princípios e práticas
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ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA
Resumo: Este artigo tem o objetivo de discutir sobre as patologias sociais no âmbito da
contemporaneidade que se revelam como distintos narcisismos e propor o personalis-
mo como caminho fundamental para a concretização do humanismo integral. Para essa
finalidade, servimo-nos de algumas bases epistemológicas da teoria crítica, do perso-
nalismo, da sociologia contemporânea, como Jürgen Habermas (2018), Axel Honneth
(2009), Zygmunt Bauman e Leonidas Donskis (2014), Emmanuel Mounier (2004) e o
Papa Francisco na sua renomada Encíclica Laudato Si’, para citar os principais, com o
intuito de diagnosticar os principais sintomas da crise contemporânea e esboçar uma
saída a partir do humanismo integral e solidário. A metodologia utilizada norteia-se por
uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico, de um estudo acurado das fontes, e os
resultados mais salientes estão no diagnóstico de que vivemos em sociedades marcadas
por patologias sociais que se refletem em profundas feridas narcísicas, cujo antídoto
principal é o resgate urgente de uma Ecologia Integral e humana.
Palavras-chave: Narcisismo. Personalismo. Humanismo solidário.
Abstract: This article aims to discuss social pathologies in the context of contempo-
rary times that reveal themselves as distinct narcissisms, and to propose Personalism
as a fundamental path for the realization of Integral Humanism. For this purpose,
we use some epistemological bases of Critical Theory, Personalism, contemporary
Sociology, such as Jürgen Habermas (2018), Axel Honneth (2009), Zygmunt Bauman
(2014), Emmanuel Mounier and Leonidas Donskis (2004) and Pope Francis in his re-
nowned Encyclical Laudato Si’, to name the main ones, in order to diagnose the main
symptoms of the contemporary crisis and outline a way out of Integral and Solidary
Humanism. The methodology used is guided by a qualitative research of bibliogra-
phic nature, an accurate study of the sources and the most outstanding results are in
the diagnosis that we live in societies marked by social pathologies that are reflected
in deep narcissistic wounds, whose main antidote is urgent rescue of an Integral and
Human Ecology.
Keywords: Narcissism. Personalism. Solidary humanism.
MENEZES, A.A.
Resumen: Este artículo tiene como objetivo discutir las patologías sociales en el
contexto actual, que se revelan como narcisismos distintos, y proponer el persona-
lismo como un camino fundamental para la realización del humanismo integral. Para
ello, utilizamos algunas bases epistemológicas de la teoría crítica, el personalismo y
la sociología contemporánea, como Jürgen Habermas (2018), Axel Honneth (2009),
Zygmunt Bauman y Leonidas Donskis (2014), Emmanuel Mounier (2004) y el Papa
Francisco en su reconocida encíclica Laudato Si’, para nombrar los principales, con
el fin de diagnosticar los principales síntomas de la crisis contemporánea y esbozar
una salida a partir del humanismo integral y solidario. La metodología utilizada se
guía por una investigación cualitativa de naturaleza bibliográfica, un estudio preciso
de las fuentes y los resultados más destacados están en el diagnóstico de que vivimos
en sociedades marcadas por patologías sociales que se reflejan en profundas heridas
narcisistas, cuyo antídoto principal es el urgente rescate de una Ecología Integral y
Humana.
Palabras clave: Narcisismo. Personalismo. Humanismo solidario.
Considerações iniciais
MENEZES, A.A.
Entre narcisismos e personalismos: a defesa do humanismo solidário na contemporaneidade
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 86-102, jan./jun. 2020 87
Narcisismos contemporâneos: globalização da indiferença e pato-
logias sociais
MENEZES, A.A.
MENEZES, A.A.
Entre narcisismos e personalismos: a defesa do humanismo solidário na contemporaneidade
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Bartolomeu I na referida Encíclica Patriarcal (2019), a vida da Igreja é “uma
ecologia vivida” no sentido das nossas diversidades culturais, étnicas e religiosas.
De fato, a vida do planeta está ameaçada justamente pela falta de respeito
e cuidado com a sua existência enquanto diversidade étnica, cultural e social. O
que ocorreu no Brasil, em Brumadinho, Minas Gerais, em 2019, é um exemplo
clássico dessa realidade. Não foram apenas mais de 259 pessoas mortas e 11
desaparecidas, mas milhares de anfíbios, répteis, seres vertebrados e invertebra-
dos – fala-se de 11 toneladas de peixes (FREITAS; ALMEIDA, 2020). Ou seja,
todo um ecossistema ameaçado e devastado por uma política econômica que é
regulada pela lógica dos mercados. E agora, todo o drama atual da pandemia do
coronavírus que nos faz repensar os nossos estilos de vida, as nossas formas de
sociabilidade humana, as regras econômicas de um capitalismo avançado que se
esgotou.
Em entrevista à Revista Ponto e Vírgula da PUC de São Paulo, Sassen
(2015, p. 174) afirma que:
MENEZES, A.A.
Essa afirmação nos faz pensar que o cuidado não é um imperativo nos tem-
pos atuais. Vivemos verdadeiras ambiguidades que nos conduzem a profundas
indeterminações no campo prático-estético, prático-moral e prático-normativo.
MENEZES, A.A.
Entre narcisismos e personalismos: a defesa do humanismo solidário na contemporaneidade
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De fato, estamos perdendo sensivelmente esse olhar cuidadoso que possibilita
uma visão integral das realidades profundamente humanas. Consequentemente,
percebemos as relações fraturadas, alquebradas por instituições extremamente
autoritárias, verticalizadas e antidemocráticas que pulverizam e liquidificam. Se-
gundo Bauman e Donskis (2014), o sentido moral e ético das relações humanas
possui centralidade que deveria passar pelo respeito: ao outro, às diversidades
étnico-culturais, às bionarrativas e às construções autobiográficas. Percebe-se
globalmente um recrudescimento das atmosferas democráticas, de sociedades
que estão se perdendo em anomias, em legitimidade das suas próprias identida-
des individuais e coletivas.
Habermas (2018) percebe todo esse movimento de perda exponencial da
sensibilidade para com as diferenças nas atuais democracias: a ausência de uma
cultura pública democrática que assegure aos sujeitos os seus direitos e as suas li-
berdades em um contexto de crescente multiculturalismo, em uma concepção de
Estados pós-nacionais. O que está em causa aqui, na ótica de Habermas (2018),
é a interpretação e aplicação de uma política do reconhecimento que esteja sen-
sível às minorias “natas”, sobretudo em sociedades pluriétnicas e multiculturais
nas quais vivemos contemporaneamente.
Veja-se toda a crise hodierna com a morte do jovem negro, George
Floyd, nos Estados Unidos, em um ato de profundo desrespeito e tirania con-
tra a vida humana. Deve-se salientar, neste sentido, que uma interpretação
liberal ou neoliberal da política econômica obstaculiza uma política de reco-
nhecimento com profunda sensibilidade para com as diferenças, pensando em
contextos culturais diversos e com distintas formas de vida, amparadas em
diversas tradições socioculturais.
O problema percebido por Habermas com bastante agudeza é que, geral-
mente, a “maioria”, em uma interpretação liberal, impõe regras e costumes às
minorias “natas”, que ficam à mercê da “vontade geral” e, assim, impedidas de
viver à sua própria cultura, língua, tradições e costumes, tratando-se aqui de um
multiculturalismo fraco, em que as diferenças não são respaldas e asseguradas
pelo Estado de direito democrático.
Por sua vez, uma interpretação mais comunitarista, ao modo de Taylor
(2011), percebe-se uma maior sensibilidade para com as diferenças em um contexto
de um maior reconhecimento: “a coexistência em igualdade de direitos de diversas
comunidades étnicas, grupos linguísticos, confissões e formas de vida não pode ser
comprada ao preço da fragmentação da sociedade” (HABERMAS, 2018, p. 254). A
maior denúncia da interpretação comunitarista é que “a cultura da maioria precisa
se livrar de sua fusão com a cultura política geral” (HABERMAS, 2018, p. 254).
No contexto brasileiro, atualmente isso se aplica às regras econômicas
adotadas pelo sistema neoliberal, no qual há o livre mercado, ou seja, a inter-
pretação neoliberal é de soterrar as minorias “natas” no Brasil, como indígenas,
MENEZES, A.A.
MENEZES, A.A.
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O trabalho de Adorno e Horkheimer (1997) é muito contundente ao diag-
nosticar e denunciar as mazelas produzidas pelo fenômeno nazista. A tentativa
é de perceber a coexistência entre paranoia e narcisismo, ligando-se às falsas
projeções, derivadas da falsa certeza da autonomia e da identidade. Em síntese,
os mecanismos narcísicos representam um movimento de eleição da supressão
das diferenças (eleição dos objetos de preconceito) em sociedades totalitárias.
No Brasil, essa eleição dos objetos de preconceito vem se acentuando cada
vez mais. Reflete-se uma vida social mais dominada pela lógica do capital, o que
gera profundas desigualdades étnicas, políticas e socioculturais. Percebe-se uma re-
gressão dos comportamentos racionais, do ethos mais significativo. Esse processo
de regressão tem postulado uma sociedade sociopata, retomando a análise freudia-
na na relação entre o eu ideal e o ideal do eu, já que se percebe na figura narcísica
o excesso e a falta de um eu. Portanto, nas imagens societárias atuais, constatam-se
essas relações conflituosas e coordenadas por um excesso de violência.
Freud (2010), em “O mal-estar na civilização”, aponta para essa brutal reali-
dade. Esta onda de violência e fascismo crescente no Brasil liga-se a uma relação de
promiscuidade entre violência e poder; liga-se a um narcisismo patológico, auto-
destrutivo e que vomita violência e indiferença, sobretudo para com os tais objetos
de preconceito: quilombolas, indígenas, favelados, sem-teto, sem-terra, mulheres.
É uma cultura do ódio que gera uma obsessão e uma compulsão pela destruição
daquilo que é diferente. É só ver o movimento crescente do feminicídio no Brasil.
Neste sentido, os intelectuais da Escola de Frankfurt trouxeram uma contribuição
sui generis, ou seja, perceberam no movimento nazifascista a obsessão pela lógica da
identidade em oposição à diversidade, à diferença.
O propósito nazifascista era de destruir de forma obstinada as diferenças
étnicas, culturais e sociais. Percebendo o Brasil de hoje, estamos imersos no
mesmo dilema. O terror e a apatia são as linguagens utilizadas pelo sistema neo-
liberal para criar um clima de apavoramento e imobilização socais.
A globalização da indiferença é percebida sensivelmente hoje no mundo.
No Brasil, de modo especial, reflete-se na cultura dos maus-tratos para com ido-
sos, crianças e minorias “natas” (mulheres, negros, indígenas).
Já faz um tempo que Honneth (2009) vem discutindo acerca de uma nova
gramática moral a partir dos conflitos sociais. A problemática levantada por ele
é a de pensar no contexto das sociedades complexas e suas discrepâncias socio-
econômicas e socioculturais. De fato, o rigor da sua análise perpassa as tramas
das sociedades regidas pelo capitalismo que, de uma forma preponderante, im-
põe regras econômicas e morais e produz identidades e sociedades portadoras
de grandes patologias sociais, doenças crônicas que se revelam no cotidiano das
pessoas, em suas vidas rotineiras.
As suas análises fundam-se no jovem Hegel de Jena e em Georg Herbert
Mead, além de servir-se da psicanálise de Donald Winnicott (2019). De fato, a
MENEZES, A.A.
MENEZES, A.A.
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Péguy e Henri Bergson. Além do mais, frequentou os círculos de estudos pro-
postos por Jacques Maritain. Neste sentido, Mounier está na raiz do pensamento
personalista contemporâneo.
Segundo Mounier (2004, p. 57), a pessoa se abre aos outros e ao mun-
do; ela, “diferentemente das coisas”, é caracterizada pela pulsação de uma vida
secreta, da qual parece derramar incessantemente a sua riqueza. É o momento
do “recolhimento em si”. Para Mounier (2004), o ser humano pode viver como
uma coisa, mas estará sempre inquieto, no desejo de separar-se das coisas, de
entender-se para além delas, ou seja, precisará de modo fundamental desse reco-
lhimento para não se confundir com o tumulto exterior; fugir dos imediatismos
momentâneos, de uma vida sem memória, sem projeto, da própria exterioridade
e vulgaridade.
Segundo Marcel (apud MOUNIER, 2004, p. 59), “a pessoa não é uma coi-
sa que se pode encontrar no fundo das análises, ou uma combinação definível
de aspectos. Se fosse uma súmula, poderia ser inventariada: mas é, exatamente,
o não inventariável”.
O personalismo construiu uma oposição ao individualismo, ao narcisismo.
Enquanto este último mantém o ser humano centrado em si mesmo, a primeira
preocupação do personalismo é a busca do descentramento, pois é a partir daqui
que o ser humano se abre para uma tríplice perspectiva: para o mundo objetivo
das coisas, para o mundo social das normas e para o mundo subjetivo, das emo-
ções e dos sentimentos.
A pessoa, segundo o personalismo, surge como uma presença aberta para
as outras pessoas e para o mundo. Nesse sentido, de forma exemplar, o Papa
João Paulo II, na Encíclica Fides et Ratio, afirma:
MENEZES, A.A.
MENEZES, A.A.
Entre narcisismos e personalismos: a defesa do humanismo solidário na contemporaneidade
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tamo-nos quando libertamos os outros, engajando-nos historicamente para que
as pessoas não se destruam em suas realidades humanas, pessoais e sociais. Toda
a tradição personalista cultivou o desejo e se engajou para que nenhuma ordem
política ou sistema econômico destrua o nosso gosto de sermos pessoas. É uma
tarefa árdua em um contexto em que as políticas econômicas e os sistemas finan-
ceiros colocam como via de regra o lucro em detrimento da realização profunda
das pessoas.
O quarto ato original é dar. Na percepção de Mounier (2004, p. 47),
MENEZES, A.A.
Considerações finais
MENEZES, A.A.
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Os narcisismos contemporâneos revelam sintomas maiores que envolvem
as dinâmicas societárias e que fraturam as mais diferentes sociabilidades, ou seja,
quando os acordos ou contratos sociais são rompidos ou quebrados, as manifes-
tações surgem e pululam de todas as partes do planeta. Estamos escrevendo este
artigo em um momento em que o mundo se opõe de forma veemente contra o
racismo, a partir da morte do afro-americano George Floyd e do menino Miguel,
negro e pobre, morto em Recife, ao ser deixado no elevador, pela própria patroa
de sua mãe. São reflexos de uma cultura que carrega a ferida narcísica, das autor-
referencialidades, que expõem os efeitos de uma supremacia branca, preconcei-
tuosa e autoritária. São os resquícios de uma cultura dominada pelos signos da
barbárie; de anulação e sujeição dos que são diferentes de mim.
Por outro lado, existem os movimentos personalistas, que acreditam e
defendem no âmbito da democracia os valores incontestes da pessoa humana.
Movimentos e grupos que se articulam para a promoção da dignidade humana
em busca da defesa de uma democracia radical que se pauta pelos princípios dos
direitos fundamentais.
A proposta do artigo é pensar na tradição personalista a partir de um dos
seus grandes expoentes, Emmanuel Mounier. A tentativa de Mounier é de nos
fazer repensar todos os sistemas de sociabilidade, lógicas econômicas e orga-
nizações humanas que devem se pautar pelo objetivo maior de realização das
pessoas humanas em sua integralidade e inteireza.
Na ótica de Mounier, Sartre percebeu apenas que o olhar do outro nos
desnuda, nos despe. Viu no outro uma presença que usurpa, despoja e escraviza.
A perspectiva de Mounier é perceber o outro como alguém que me perturba,
introduz uma desordem nas minhas convicções e modos, arranca-me do meu
sono egocentrista. No âmago dessa compreensão, a relação interpessoal positiva
é uma provocação recíproca, uma mútua fecundação.
A aposta deste artigo é de nos ajudar a repensar a concepção de pessoa
humana. O Papa Francisco o fez, de forma muito lúcida, na Encíclica Laudato
Si’, quando entende e compreende a pessoa como ecologia humana e integral.
Submissão:15/05/2020
Revisão: 16/06/2020
Aprovação: 25/06/2020
Notas
1 Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (1998). Bacharel em Teo-
logia pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), campus Pio XI (2002). Mestre
em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (2005). Doutor em Ciências da Educa-
ção pela Universidade do Porto/Portugal (2009). Pós-doutorando em Ciências da Linguagem
pela Universidade Católica de Pernambuco e pela Universidade de Valência/Espanha (2019).
MENEZES, A.A.
Referências
MENEZES, A.A.
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MENEZES, A.A.
The production of sense in young high school students in the light of Viktor
Frankl’s theory
Abstract: This study addresses the theme of the production of meaning in the lives of
young high school students. It aims to analyze intervening factors in the personal and
professional choices of students of a state school in southern Brazil. With a qualitative
methodology to a data collection, it takes place through a questionnaire on a Lickert
Scale and open questions, in addition to the field diary and literature review, mainly
in Viktor Frankl and his commentators. The material analysis considers Bardin in his
proposal for Content Analysis. The results show young people who seek support from
family members for personal and professional decision-making; exercise of relative au-
tonomy and responsibility in the face of the challenges of professional life; ability to
make choices, even in adversity; desire for meaning in the exercise of autonomy, res-
ponsibility and the pain and joy of choices; need for continuing education to consolida-
Introdução
Metodologia
Nesse sentido, o autor Frankl (1995) explica que o indivíduo não só deve
ser levado à consciência da responsabilidade, mas também deve experimentar
sua responsabilidade específica diante de tarefas específicas, ou seja, é necessário
que haja escolha diante das possibilidades. Experimentando sua responsabilida-
de, a consciência de responsabilidade do indivíduo o levará ao desenvolvimento
mais amplo possível.
Os dados evidenciam que 23,5% dos indivíduos não procuraram orientação
de seus familiares em suas escolhas e 41,2% optaram por procurar orientação.
Dessa forma, evidencia-se uma menor autonomia desse grupo quanto às escolhas.
Os alunos que não se posicionaram faziam parte do grupo que demonstrava pouca
autonomia: 35,5%. De acordo com Pereira (2015), as dinâmicas que determinam
o controle das escolhas dos indivíduos e que permitem a compreensão de seu
empoderamento possibilitam a transformação dos automatismos em autonomia.
Em outras palavras, a partir do momento em que o sujeito se torna capaz de com-
preender seus desejos em relação às suas escolhas e se apodera da responsabilidade
por escolher por si mesmo é que haverá transformações da sua própria história.
Essa questão tem como objetivo averiguar a visão dos participantes sobre
seu futuro. Frankl (1995) nos diz que o ritmo da vida atual está acelerado, e como
Segundo Frankl (1995), para cada caso se busca o sentido, cuja realização
é exigida e também está reservada a cada indivíduo. Portanto, cada situação da
qual é exigida uma escolha é acompanhada de uma busca de sentido. De acordo
com a alternativa escolhida, mostra-se inevitável a responsabilidade de escolha
e sentido pessoal, mesmo porque, muitas vezes, a vida exige fazer coisas de que
não gostamos, mas que são necessárias.
Constatamos que 35,3% dos respondentes nem sempre escolhiam fazer
aquilo que gostariam e 64,7% sempre escolhiam fazer o que gostariam, mos-
trando que possuíam maior autonomia para escolher o que gostavam ou não de
fazer, mesmo diante das adversidades que a vida apresentava. Conforme Silvei-
ra e Mahfoud (2008, p. 573): “Como os momentos são transitórios, precisa-se
vivenciar a atitude mais sensata, sem perder a chance de concretizá-la”. Desta
forma, os indivíduos, a cada escolha, mostram-se cada vez mais protagonistas
de suas próprias histórias, uma vez que revelam por meio de suas escolhas seu
verdadeiro self (eu).
Sobre esse tema, Frankl (1995) descreve que o homem “se” decide, e toda
decisão é autodecisão, e ela, em todos os casos, é autoconfiguração. O homem
dá forma ao seu destino, à pessoa que “é”, configurando o caráter que tem e,
da mesma maneira, caracterizando a personalidade em que se transforma. Por
meio disso, entendemos que o homem determina sua trajetória com base em
suas escolhas e responsabilidades, e esse “destino” não se configura como prede-
terminado, mas sim como resultado de suas decisões. Nas respostas, apuramos
que 52,9% dos jovens acreditavam que podiam realizar suas próprias escolhas
e 35,3% pensavam que os acontecimentos em suas vidas eram como destino
predeterminado. Com esses resultados, entendemos que a maioria dos sujeitos
da pesquisa tende a responsabilizar-se pelas consequências de suas escolhas, não
considerando o destino como algo escolhido para si por uma força maior, sem a
possibilidade de mudança ou alternativa para tal. Contudo, ainda temos um gru-
po significativo que necessita trabalhar sua autonomia e responsabilidade pelos
acontecimentos e escolhas de suas vidas. Segundo Silveira e Mahfoud (2008),
Considerações finais
Submissão: 03/02/2020
Revisão: 27/02/2020
Aprovação: 15/03/2020
Notas
1 Graduado em Psicologia pela Universidade La Salle. Pós-graduado em Orientação Escolar pela
Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI). E-mail: [email protected]
2 Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS)
(2009). Pós-doutor em Ciências da Educação e pesquisador associado da Universidade do Algar-
ve (2011). Graduado em Filosofia (1993) e em Psicologia (1997) pela Universidade do Vale do
Rio dos Sinos. Especialista em Administração Escolar pela Unilasalle Canoas/RS (1999). Mestre
em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
(2002). Consultor ad hoc do CNPq. Coordenador do projeto de pesquisa “Gestão das universida-
des brasileiras para a inovação: cenários, oportunidades e estratégias”.
3 Dimensão espiritual do homem, palavra derivada do grego nous (espírito).
Resumo: O texto analisa o panorama da EPT de nível médio no país, sua expansão
recente, sua potencialidade diante das alterações demográficas em curso e em termos
de aprendizagem significativa. Trazendo resultados de pesquisas produzidas no INEP,
procura-se apresentar a ideia de que a educação profissional deve aproveitar a janela de
oportunidades aberta com as recentes alterações no Ensino Médio brasileiro.
Palavras-chave: Educação Profissional e Tecnológica.
Abstract: The text analyzes the panorama of medium level professional education in
the country, its recent expansion, its potential in the face of ongoing demographic
changes and in terms of significant learning. Bringing results of research produced at
INEP, it seeks to present the idea that professional education should take advantage of
the window of opportunities opened with the recent changes in Brazilian high school.
Keywords: Technical and vocational education at secondary level.
Introdução
Entre todos os tipos de curso4 da EPT, nenhum tem tanta visibilidade nes-
se campo quanto a educação profissional técnica de nível médio, nos termos dos
art. 36-B e art. 36-C da LDB de 1996, mais comumente conhecida como “cursos
técnicos”, de orientação tipicamente vocacional e voltada para o mundo do tra-
balho. É ofertada na forma subsequente, para quem já concluiu o Ensino Médio,
e na forma articulada, para os que ainda frequentam esse nível de ensino. Para a
oferta articulada, há duas alternativas: a primeira é a integrada, na mesma insti-
tuição de ensino, com matrícula única para cada aluno; a outra é a concomitante,
com matrículas distintas para cada curso, na mesma ou em outra instituição de
ensino, mediante projeto pedagógico unificado. Essas ofertas poderão realizar-se
na idade própria, no Ensino Médio regular, ou na modalidade de Educação de
Jovens e Adultos (EJA) (BRASIL, 2012a, 2012b).
Um levantamento com as informações coletadas nos censos da Educa-
ção Básica do INEP revela que a EPT de nível médio apresentou crescimento
expressivo nos últimos anos, saltando de 1.007.237 matrículas em 2007 para
1.886.167 em 2014, um crescimento de 87,26% em apenas 7 anos. Após sensível
redução em 2015 e 2016, as matrículas voltaram a crescer, retomando o cenário
de desenvolvimento acentuado (Gráfico 1).
Fonte: elaborado pelos autores com base nas informações dos censos escolares da Educação
Básica (2007-2018).
Gráfico 7 – Renda per capita dos egressos, por tipo de Ensino Médio e por
região, Brasil, 2017.
Nota: a tabela se apresenta em escala de cores: quanto mais vermelho, menor a nota; quanto mais
verde, maior a nota.
Fonte: elaborada pelos autores a partir dos resultados do ENEM 2014.
Submissão: 29/01/2020
Revisão: 19/02/2020
Aprovação: 25/03/2020
Notas
Referências
Abstract: The research deals with the challenges and possibilities that are present in the
classroom, in the management of the school from the new contexts presented by the
new National Common Curricular Base (BNCC). The objective of the research is to
present reflections on how school management and classroom management can con-
tribute to implementing pedagogical actions in line with the BNCC, in order to ensure
student learning. Examining this question, the qualitative research was carried out from
a bibliographic cut of the last 5 years in articles and legislation that deal with the BNCC
theme and its interrelationships with school management and classroom management.
As findings, this work suggests that it is essential to reflect on the fact that, on a natio-
nal basis, as a character of educational reform, by itself, it is limited, and that school
management and classroom management are factors important and inseparable from
RIBEIRO, M.D.
142 A gestão escolar e a gestão da sala de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 142-157, jan./jun. 2020
the new competencies proposed by the base. This way, the school management of the
classroom must be considered, in order to expand the students’ learning to implement
the BNCC.
Keywords: School management. Classroom management. BNCC.
Introdução
RIBEIRO, M.D.
A gestão escolar e a gestão da sala de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 142-157, jan./jun. 2020 143
as competências e diretrizes são comuns, os currículos são diversos.
O segundo se refere ao foco do currículo. Ao dizer que os conteúdos
curriculares estão a serviço do desenvolvimento de competências, a
LDB orienta a definição das aprendizagens essenciais, e não apenas
dos conteúdos mínimos a ser ensinados (BRASIL, 2018, p. 11).
RIBEIRO, M.D.
144 A gestão escolar e a gestão da sala de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 142-157, jan./jun. 2020
referência. Por outro lado, vale destacar que uma base nacional, com caráter de
reforma educacional, por si só, é limitada. Uma universalização na educação
atrela-se a questões multidimensionais que envolvem aspectos culturais, sociais,
econômicos, educacionais, entre outros. São determinantes complexos que se
entrelaçam, e a BNCC apresenta-se como um deles.
Nesse aspecto, Mészáros (2005, p. 25) adverte que “uma reformulação
significativa da educação é inconcebível sem a correspondente transformação do
quadro social, no qual, as práticas educacionais da sociedade devem cumprir as
suas vitais e historicamente importantes funções de mudanças”. Transformar a
educação e as relações na gestão escolar e na sala de aula caminha junto com re-
formas estruturais na sociedade. No entanto, a BNCC faz parte de um contexto
de mudanças, com propostas na esfera educacional.
Por conseguinte, o planejamento escolar será norteado pela organização
da BNCC, que aponta como direitos de aprendizagem aspectos debatidos em
todo o território nacional, e que foram traduzidos em 10 competências gerais;
em 117 objetivos de aprendizagem e desenvolvimento; em 35 competências es-
pecíficas de áreas; em 49 competências específicas de componentes curriculares;
em 1.303 habilidades, agrupadas em 81 conjuntos (BRASIL, 2018). Assim, en-
tende-se ser estratégico buscar responder: como a gestão escolar e a gestão da
sala de aula podem contribuir para implementar novas metodologias pedagógi-
cas em consonância com a BNCC, a fim de assegurar os direitos de aprendiza-
gem dos estudantes?
A estrutura da BNCC traz os fundamentos perfilados de modo a explicitar
as competências que os alunos devem desenvolver ao longo de toda a Educação
Básica e em cada etapa da escolaridade, como expressão dos direitos de apren-
dizagem e desenvolvimento de todos os estudantes (BRASIL, 2018). Acrescen-
ta-se que, na BNCC,
RIBEIRO, M.D.
A gestão escolar e a gestão da sala de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 142-157, jan./jun. 2020 145
Aprovada em um debate acirrado entre críticos e apoiadores, a BNCC
desafia a escola e o professor a uma transformação. Parece existir a ideia de um
novo educador para esse cenário provocado a perceber-se aprendiz, não detentor
único do saber. Revela-se imperioso pensar em educador mediador, que indica
caminhos, que orienta e auxilia, que é capaz de deixar o aluno trilhar a sua via de
modo singular, na construção do conhecimento, rumo a um mundo cercado de
incertezas, tecnologias e desafios. E ainda, uma gestão escolar capaz de oferecer
a toda a comunidade condições para transformar as bases educacionais vigentes.
Referenciais teóricos
RIBEIRO, M.D.
146 A gestão escolar e a gestão da sala de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 142-157, jan./jun. 2020
Concerne à gestão escolar assegurar um clima escolar que valorize a for-
mação, a busca pelo conhecimento, o protagonismo do estudante, a mobilização
de recursos, o respeito a saberes vivenciados, a evolução das aprendizagens, en-
frentando problemas e tendo atitudes eticamente responsáveis, diante das situ-
ações complexas vividas no ambiente escolar. À gestão escolar cabe, de acordo
com Lück (2000, 2009), a responsabilidade do planejamento, da organização,
da liderança, da orientação, da mediação, da coordenação e do monitoramento,
além da avaliação dos processos necessários à efetividade das ações educacionais
e das políticas públicas.
Acrescenta-se que a gestão escolar, diante das mudanças que a BNCC pro-
põe, carece estar atenta, com sua equipe, a alguns aspectos, segundo Hallinger e
Heck (1996): fornecer orientação a todo o grupo escolar; definir a missão para a
escola; propor o planejamento, a coordenação e a avaliação do ensino, bem como
o currículo a nível escolar; promover e participar ativamente na formação e na
aprendizagem de professores; propor o conhecimento de políticas educacionais
internas e externas à escola; promover um ambiente favorável à aprendizagem.
A gestão pedagógica, ou sua dimensão pedagógica, à luz da nova BNCC,
precisa se sobressair em relação aos fazeres burocráticos. É fundamental assegu-
rar que, apesar de as atribuições administrativas serem parte da rotina da gestão
escolar, as tarefas de natureza pedagógica possam dar rumo à escola. No que
tange à gestão escolar em relação ao pedagógico, Libâneo (2001) entende que a
escola não é uma estrutura totalmente objetiva nem objetivamente mensurável,
pois depende das experiências subjetivas, das interações sociais e é construída
pelos seus próprios membros.
Pensar em um novo currículo, que toma como referência competências e
habilidades amparadas na BNCC, desafia a gestão escolar a refletir sobre suas
posições políticas e concepções de homem e sociedade, de professor, de estu-
dante e de toda a dinâmica da sala de aula. O modo como a sala de aula se or-
ganiza e se estrutura tem um caráter pedagógico ímpar quando a transformação
social, o protagonismo estudantil e a emancipação fazem parte do currículo, o
que implica uma base político-pedagógica das relações estabelecidas entre gestão
escolar e gestão de sala de aula.
Por outro lado, em que pesem as diferentes e divergentes posturas acerca
de que todas as unidades escolares devam seguir orientações pedagógicas nacio-
nais e que as metas de aprendizagem devam ser garantidas em seus aspectos pe-
dagógicos com a BNCC, a gestão da escola tem como atribuição a implementa-
ção do documento. Os movimentos favoráveis à BNCC partem do pressuposto
de que sua efetivação pode estar associada à melhoria da educação e à redução
das desigualdades educacionais, que os educadores e a sociedade, em geral, sejam
participantes da formação escolar de seus cidadãos, e que a BNCC passa a ser
um documento indispensável ao educador, à escola e à sociedade.
RIBEIRO, M.D.
A gestão escolar e a gestão da sala de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 142-157, jan./jun. 2020 147
Sendo uma política pública de abrangência nacional, o referido documen-
to deve nortear a educação, de modo a convergir os esforços e os investimentos.
Nesse sentido, a fim de colaborar com a gestão, foi elaborado um Guia de Im-
plementação da BNCC, um trabalho colaborativo entre Ministério da Educa-
ção (MEC), Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED), União
Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), União dos Con-
selhos Municipais de Educação (UNCME) e Fórum Nacional dos Conselhos
Estaduais de Educação (FNCEE). O guia apresenta sete dimensões que visam
orientar a implementação da BNCC, tais como: estruturação da governança da
implementação; estudo das referências curriculares; orientação, em linhas gerais,
do trabalho da gestão escolar.
Cabe considerar que, apesar de não ser unanimidade, a BNCC revela-se
como oportunidade para a escola dar robustez à formulação de estratégias e
práticas, voltadas para assegurar a efetivação e o acompanhamento da aprendi-
zagem dos estudantes. Ainda, esses cenários de mudanças abrem espaços para
que os conselhos escolares e os grupos colegiados de pais e estudantes possam
articular e participar da elaboração da proposta pedagógica da escola, de forma
democrática e contextualizada à BNCC. A participação de todos na gestão esco-
lar reforça a gestão democrática e pode, de alguma forma, contribuir para maior
autonomia pedagógica da escola. Nesse prisma, a BNCC indica que o currículo e
as decisões resultam de um processo de envolvimento e participação das famílias
e da comunidade e, por isso, é importante:
RIBEIRO, M.D.
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Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 142-157, jan./jun. 2020
criar e disponibilizar materiais de orientação para os professores,
bem como manter processos permanentes de formação docente
que possibilitem contínuo aperfeiçoamento dos processos de en-
sino e aprendizagem;
manter processos contínuos de aprendizagem sobre gestão peda-
gógica e curricular para os demais educadores, no âmbito das esco-
las e sistemas de ensino (BRASIL, 2018, p. 16-17).
RIBEIRO, M.D.
A gestão escolar e a gestão da sala de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 142-157, jan./jun. 2020 149
De outro modo, Slavin (2004) destaca que uma instrução eficaz não se limita
a um bom ensino, e a dinâmica mais importante na educação é a interação entre
professor e aluno. As estratégias de gestão, tanto do ambiente de sala de aula como
do relacionamento com os alunos, são determinantes para mobilizá-los no alcance
das aprendizagens. O educador, assim, permite ampliar sua percepção de tempos,
rotinas, espaços, a fim de apresentar-se como mediador da aprendizagem.
A propósito, a gestão da sala de aula também acarreta uma reflexão acer-
ca da formação inicial e continuada que contemple a BNCC, visto que novas
definições de recursos didáticos pressupõem novas metodologias e estratégias.
Dessa forma, a gestão da sala de aula, à guisa da BNCC, reforça o fato de que
dominar apenas conteúdos isolados não é o suficiente para o currículo em ques-
tão. Assim, mostra-se urgente dar centralidade à postura de educadores aptos
a criar um ambiente educativo, rico em estratégias socioafetivas, metodologias
ativas, integração entre teoria e prática, cuidando para que as características cul-
turais, socioambientais e econômicas da localidade estejam contempladas em
uma abordagem de desenvolvimento de competências e habilidades necessárias
ao mundo contemporâneo, o que é retratado pela BNCC.
Além disso, deve-se garantir que os princípios e propósitos do projeto
educativo da escola estejam explícitos ao que a BNCC define e sejam refletidos
a partir de um debate democrático entre educadores e, se possível, entre escola
e a sociedade, em especial com os pais. O currículo faz sentido ao contexto
regional e local. Uma gestão da sala de aula com foco na BNCC pode apresen-
tar-se bem-sucedida e eficaz quando busca dar confluência destas três dimen-
sões: a organização do ambiente, as aprendizagens e as relações interpessoais
estabelecidas (SANTOS, 2001).
Diante de mudanças profundas, de fato, os educadores não podem estar
alheios, mas inseridos nas transformações. Nesse contexto, ainda que cercados
ou não de tecnologias, games, revoluções informatizadas, somente os docentes
podem escolher como ensinar, como relacionar-se com seus alunos e como dar
sentido à sala de aula. E, nessa lógica, Shulman (1986) separa três categorias de
conhecimentos que estão presentes no desenvolvimento cognitivo do profes-
sor e na sua atuação: subject knowledge matter (conhecimento do conteúdo da
matéria ensinada), pedagogical knowledge matter (conhecimento pedagógico da
matéria) e curricular knowledge (conhecimento curricular). Esses conhecimen-
tos se complementam para integrar a gestão de sala de aula.
Mas como a gestão da sala de aula pode se apresentar no contexto da
BNCC? Em educação não existem receitas mágicas. A ação docente no espaço
de sala de aula está associada aos contextos da prática e da organização do tra-
balho escolar em linhas gerais por documentos norteadores, da produção, da
transformação, da mobilização de saberes, da relação com os estudantes, mas,
sobretudo, da efetiva prática docente. Para o educador, gerir a sala de aula passa
RIBEIRO, M.D.
150 A gestão escolar e a gestão da sala de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 142-157, jan./jun. 2020
por interligar todos esses contextos. Isso requer fazer escolhas relacionadas ao
currículo proposto, tendo como base as condições da escola e da gestão escolar,
ao perfil do estudante, às rotinas e práticas de seus pares, mas sem perder de vista
a importância das aprendizagens dos discentes.
Nesse conjunto de questões, ao considerar o estudante como elemento
central do processo de ensino e aprendizagem, e pensar na BNCC como indi-
cadora do desenvolvimento e da aprendizagem de todas as crianças, jovens e
adultos, e como fonte de sentido da ação educativa, a gestão da sala de aula pode
contribuir ao versar, em seus eixos de pesquisas, sobre a expectativa do professor
em relação à aprendizagem do aluno e a mobilização de estratégias para alcançar
esse objetivo (SAMMONS, 1999).
Ao alinhar esse aspecto à BNCC, espera-se que a ação educativa seja di-
recionada à gestão de uma sala de aula comprometida com as aprendizagens.
Para Marzano (2008), variadas pesquisas apontam que o sucesso dos alunos está
vinculado à boa gestão do docente. O autor orienta ser necessário que o educa-
dor tenha estratégias concretas de gestão da sala de aula, por ser ele quem faz a
organização do espaço e do tempo em sala, quem define, na prática, o conteúdo,
as competências e habilidades (mesmo que dependa de diretrizes ou parâmetros
governamentais), quem indica os materiais, os recursos, as metodologias efetiva-
das em cada aula. As escolhas dos docentes têm forte impacto nos resultados de
aprendizagem e, sobretudo, na implementação de qualquer currículo.
A gestão da sala de aula, na perspectiva da BNCC, apresenta-se nesta pes-
quisa interligada e vinculada aos procedimentos e rotinas eficientes para o ensi-
no. A garantia da aprendizagem faz uma chamada aos docentes, no sentido de
ampliarem seus planos de aula para habilidades e competências que ultrapassem
o ensino cognitivo, de conteúdos descontextualizados e isolados, vincularem
suas aulas às questões socioemocionais, procurarem intensificar o protagonismo
dos alunos, levando-os a:
RIBEIRO, M.D.
A gestão escolar e a gestão da sala de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 142-157, jan./jun. 2020 151
Método
Ainda em relação à busca, ela foi realizada utilizando o site SciELO Brasil,
por ser uma das bases do programa SciELO/FAPESP, apoiado pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Asso-
ciação Brasileira de Editores Científicos (ABEC), e ainda por ser possuidor de
comitê consultivo, infraestrutura e capacidade de comunicação e avaliação dos
seus resultados veiculados por periódicos de qualidade crescente no Brasil, pu-
blicados em acesso aberto. Os descritores de busca foram: BNCC e Base Nacio-
nal Comum Curricular; gestão escolar e BNCC; gestão da sala de aula e BNCC.
Foram selecionados apenas trabalhos com livre acesso.
Os artigos-chave foram, primeiramente, separados a partir de seus resu-
mos e, posteriormente, lidos. A seleção tomou como base os objetivos da pes-
quisa, e, feitas a seleção e a catalogação dos artigos, ainda se buscou extrair todos
os artigos que não possuíam aderência com a pesquisa, para, por fim, na última
filtragem, por meio da leitura dos resumos e das palavras chave dos artigos, se-
parar os textos para leitura completa, como ensina Treinta et al. (2011). A partir
da leitura completa, a intencionalidade da busca guiou-se em responder como, a
partir da BNCC, a gestão escolar e a gestão da sala de aula devem se organizar e
promover novas possibilidades para a implementação da BNCC, considerando
seus contextos e a adoção de competências e habilidades. O estudo investigou
e selecionou três artigos que versavam sobre a questão do problema e, a partir
deles, categorizou os achados em dois grupos: a gestão escolar e a BNCC; e a
sala de aula e a BNCC.
RIBEIRO, M.D.
152 A gestão escolar e a gestão da sala de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC
Rev. Educ., Brasília, ano 43, n. 161, p. 142-157, jan./jun. 2020
Dos achados
RIBEIRO, M.D.
A gestão escolar e a gestão da sala de aula: desafios e possibilidades a partir da BNCC
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Por outro lado, destaca-se que os processos de gestão não estão isolados
das competências da BNCC, e isso pressupõe um trabalho compartilhado, não
isolado, a ser desenvolvido na sala de aula e nos projetos de toda escola. Nesse
cenário, a gestão escolar aparece como parte importante ao orientar o desenvol-
vimento de cada turma em relação aos componentes e competências do currícu-
lo e, consequentemente, à escola e à sala de aula.
As possibilidades de implementação da BNCC, a partir da gestão da sala
de aula e da gestão escolar, indicam que a escola pode ampliar os estudos sobre
BNCC e o currículo, discutir sobre propostas de ações e projetos pedagógicos
e fortalecer as ações de formação continuada com foco nas aprendizagens dos
estudantes.
Considerações finais
RIBEIRO, M.D.
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cada escola. E essas realidades diversas, com o documento posto, precisam aten-
der a processos de inserção da gestão escolar. E a sala de aula, na qual ocorrem
a formação docente, os projetos pedagógicos e toda a organização curricular,
orienta-se a partir do protagonismo dos estudantes. Trata-se de uma mudança
desafiadora para o Brasil, onde a educação ainda é organizada em grades rígidas,
predefinidas há décadas.
A BNCC, por esse ângulo, insere a escola em um processo de fazer novas
escolhas, as quais, para Tardif (2002), dependem das experiências dos professo-
res, dos gestores, de seus conhecimentos, do compromisso com o que fazem e
de suas representações a respeito dos estudantes.
Por fim, ainda em fase de implementação, a BNCC e suas implicações
acerca da gestão escolar e da sala de aula ainda necessitam de aprofundamentos
por meio de estudos e de pesquisas para que possam responder com mais robus-
tez de que forma, quais ações e como a gestão escolar e a gestão da sala de aula
podem contribuir para implementar ações pedagógicas em consonância com a
BNCC, a fim de assegurar a aprendizagem dos estudantes.
Assim, dar vida à nova BNCC passa por entender que os educadores, a
escola e o seu currículo podem se apresentar em uma nova postura que leve em
consideração a historicidade de cada sujeito e o desvincule de modelos desuma-
nizados, reprodutores de exclusão, aliados a mudanças que agreguem valor social
à educação, e que, segundo Ribeiro (2018), seja uma postura de coragem e de es-
colha feita por quem pensa na educação, por quem faz a educação e, sobretudo,
por quem vive e acredita em novos horizontes para o ensino.
Submissão: 29/01/2020
Revisado: 03/03/2020
Aprovado: 15/04/2020
Notas
1 Professora na Secretaria de Educação do Distrito Federal. Mestre em Educação. Doutoranda
pela Universidade Católica de Brasília. Diretora na Diretoria de Ensino Fundamental na Subse-
cretaria de Educação Básica do Distrito Federal. Pós-graduada em Educação no Sistema Peni-
tenciário e Especialista em Gestão Escolar. E-mail: [email protected]
Referências
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