O Teatro Como Linguagem No Ensino de História - Relato de Experiência
O Teatro Como Linguagem No Ensino de História - Relato de Experiência
O Teatro Como Linguagem No Ensino de História - Relato de Experiência
Abstract: What justifies this proposed research development in the Professional Master's
Program in UFG-RC history is to think of theater as a possibility to work proposed themes in
school curricula to address the issues in an interesting, productive and enjoyable way. The aim
is to explore the creative ability of students and teachers, who can make use of
interdisciplinarity to the production of knowledge in teaching history.
Keywords: History teaching; theater; representations; practices
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Professora de História na Escola Municipal Profº Domingos Pimentel de Ulhôa
Mestranda em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG) Regional-Catalão.
Graduada em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Nesse sentido, os métodos tradicionais usados pela escola não são suficientes
para avaliar o desempenho intelectual dos estudantes que, na maioria das vezes, é
confundido com a memorização. Por essa razão, escola e professores não devem ver sua
função esgotada na informação.
Em vista dessa insuficiência, os desafios com os alunos eram e são: como
ensinar História abordando o processo de aprendizagem e contrapondo a memorização?
Para responder tal questão, decidimos experimentar, reinventar, maneiras de ensinar a
partir das aulas de História, tendo como objetivos construir novos caminhos de
comunicação com os estudantes e recolocar a escola como um espaço de
transformações.
O como fazer é a principal questão. Talvez discutir projetos, trocar ideias,
pensar e repensar criticamente o valor da escola, dos professores na vida dos alunos.
Isso provoca ansiedade. Aparecem os riscos na caminhada, retrocessos, avanços,
descobertas possíveis de vir a surgir uma nova educação e uma nova escola, apesar de
dificuldades e obstáculos.
Cremos que a união entre História e a arte do teatro se configura como sendo
um possível caminho, de modo a ser necessário ousar os passos, reescrever as diferentes
e variáveis metodologias voltadas para a formação dos sujeitos de modo a priorizar o
desenvolvimento das capacidades cognitivas e corporais.
Torna-se necessário, então, buscar outros espaços, que não sejam somente a
sala de aula, porque História não se faz somente entre quatro paredes. Segundo Leandro
Karnal, “Inovação não é o uso de meios eletrônicos em sala, inovação é uma atitude
interna que atinge os que nos cercam”. (2016, p. 140)
Dessa forma, o teatro pode ser apontado como um recurso didático viável para
se exercer a vida escolar, ajudando os estudantes a ampliar horizontes culturais, a perder
a timidez, colocar-se no lugar do outro, interessar-se mais por textos e autores variados
e priorizar o trabalho em grupo sob a orientação do professor.
É importante ressaltar que nós, professores de História, temos um papel
fundamental na formação da consciência histórica dos alunos, por meio da ampliação
da relação ensino- aprendizagem, bem como na busca por incorporar diferentes
linguagens ao processo educativo.
Com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/1996), a arte foi
reconhecida como área de conhecimento no currículo escolar, possibilitando ao teatro
Figuras 2: Jogo do espelho e Jogo da Explosão de alegria e tristeza Fonte: Acervo da autora.
Escola Municipal Prof. Domingos Pimentel de Ulhôa (2001)
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Por diversos motivos, somente em 2017 pudemos submeter a pesquisa à apreciação do Conselho de
Ética da Universidade Federal de Goiás, exigência para desenvolvimento de pesquisas com fontes vivas.
Porém como na escola esse trabalho estava dentro de suas normativas, e como sendo minha
responsabilidade como docente, essas fontes foram usadas na pesquisa.
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Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz – Prefeitura Municipal de
Uberlândia
Figuras 3: Ensaios da peça A Lei e o Rei. Escola Municipal Domingos Pimentel de Ulhôa
(2001). Fonte: Acervo da autora
bom que o povo leia muito. Quarta lei: os alunos terão oito
meses por ano. Quinta lei. (O rei vai saindo com Hediondo
atrás anotando) (...)
(...) REI: Férias, Hediondo! Um grande monarca como eu
precisa de férias de vez em quando! O que é que tem?
HEDIONDO: Oligonos, o nono, pode se rebelar, ouvi dizer
que ele anda pelas ruas falando ao povo!
REI: Ah, ah, ah, Oligonos, o Nono é um chato falador! Tão
chato e tão falador que ninguém mais o ouve! E ele vai se
rebelar com quê?
Com paus e pedras? Nós temos a guarda! É só mais um
imposto!
Quero viajar e preciso de muito dinheiro! Não vejo a hora de ganhar
milhares de sacos de ouro! Ah, eu amo, adoro, venero ouro! (FROTA,
1995)
Figura 5: Convite da peça teatral A Lei e o Rei. Teatro Rondon Pacheco. (2001)
Fonte: acervo da autora.
houve um equilíbrio entre roupas do período imperial brasileiro e traços modernos que
foram adaptados em função da limitação de recursos materiais para sua confecção.
As coreografias apresentadas no decorrer da peça deram mais graça ao
“espetáculo”. Tendo como suporte sonoro, principalmente, músicas do repertório
nacional, escolhidas com objetivos específicos para cada uma. A primeira foi A ponte
sobre o rio Kwai (Malcolm Arnold), durante a qual as alunas dançavam marchando
para a apresentação de dois personagens da peça chamados de Lindomais e Belamenos.
A segunda foi Que país é este, da banda Legião Urbana. O objetivo foi mostrar a classe
menos favorecida do país sendo explorada pelo rei. A última música foi Que rei sou eu,
de Eduardo Dusek, cujo objetivo foi encerrar a peça que enfoca reis e corrupção, com o
olhar que cada um tem sobre o “rei” que está dentro de cada um de nós. Além das
músicas integrantes das coreografias, outras músicas também constituíram a
sonoplastia da peça.
Figuras 06: Coreografias da peça teatral A Lei e o Rei. (Teatro Rondon pacheco,2001)
Fonte: Acervo da autora
“Este sonho que começou há tempos atrás, foi tomando forma e beleza e hoje contagiou
a todos nós”. Os resultados produtivos desta experiência nos deram força para lutarmos
pela implantação do projeto “Teatro na Escola”, nos próximos anos, pois nos
enriqueceu como profissionais, e, apesar das dificuldades, limitações de recursos, falta
de experiência profissional com o teatro, ousamos sair das quatro paredes de uma sala
de aula e corrermos atrás de alternativas que levassem os alunos a analisarem,
criticarem, se inter-relacionarem, ocupando, de forma mais produtiva, os seus horários
ociosos e aprendendo a representar de maneira prazerosa e descontraída.
O teatro nos possibilita trabalhar temáticas propostas nos currículos de uma
forma prazerosa para nós professoras e jovens alunos, cujos hormônios estão à flor da
pele e os neurônios com ideias borbulhando; eles sentem-se à vontade e interessados na
representação do lúdico. A capacidade criadora está no ser, mas é preciso ensiná-lo a
liberá-la. Para os professores, trata-se de um desafio deferente, porque nos ajudou a
diminuir as aulas expositivas somente com livros didáticos e com exercícios que nem
sempre possibilitam a reflexão crítica do contexto vivido, portanto, são desafios que,
mesmo sem recursos materiais, mobilizam a ousadia e vontade de mudar aa formas de
ensinar e aprender. O ensino/aprendizagem enrijecido, que na sua essência ainda
continua estruturado num sistema tradicional e muitas vezes autoritário, já não
responde aos anseios de quem está na escola.
Então o desejo, a motivação e a busca constante do conhecimento
contrariaram a estagnação. Realmente, foi uma guerra na qual quem venceu foi o que
move o ser humano para a vida, a constante busca para a transformação pessoal,
política, cultural e social. Teatro é vida. Acreditamos que, através dessa parceria, seja
possível o ser humano sentir-se mais humano. Enfim, é urgente termos a coragem de
experimentar outras metodologias para o ensino/ aprendizagem.
O trabalho foi apresentado na Escola Municipal Profº. Domingos Pimentel de
Ulhôa, no Teatro Rondon Pacheco, em Uberlândia, no Centro de Estudos e Projetos
Educacionais Julieta Diniz e no Congresso de História em 2002.
Uma apresentação na escola não foi concluída devido a problemas com a
chuva, que inundou o pátio da escola, e tivemos que interromper a apresentação. Os
alunos, professores, direção da escola e representantes da Secretaria Municipal de
Educação, com a presença do Secretário de Educação, José Eugênio Diniz Bastos, e sua
assessora, Maria Elita de Andrade Melo Barcelos, ficaram muito sensibilizados com o
acontecimento. Mas a garra e a vontade de mostrar essa peça, que fizemos com tanta
Fato e Versões, Coxim: MS, v. 09, n. 16, PP 84-112. Set-Dez 2016
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Mencionamos ainda que a peça é uma comédia e que eles se saíram muito bem.
Nesse sentido, perguntamos a eles se a peça teria sido mais difícil se fosse um drama.
Eles assim responderam:
- Para mim, foi uma coisa que nunca imaginei fazer, porque sou
muito feminina, eu gosto de brinco, colar, pulseiras e chega no teatro e
aí tive que colocar bigode, coisa que eu nunca imaginei que ia pôr, foi
assim uma coisa diferente, mas eu quis fazer. A minha prima disse:
você tem certeza? Eu tenho, porque eu acho que tudo é pela arte. Não
importa se você vai fazer o papel de pobre, de rico, de homem, de
mulher. O que importa é se você se sente bem com aquele papel. Eu
amei.
- Ficou até engraçado, pelo fato de ser comédia e a gente vestir de
homem, nossas mães falaram que de homem a gente só tinha a cara,
porque estávamos rebolando do mesmo jeito (Registrada por escrito e
gravado em vídeo alunos (as) de7ª e 8ª séries, 2001).
- Eu moro longe e tinha que vir a pé para os ensaios, então meu pai
disse: ou você estuda ou faz teatro e eu respondi: vou fazer os dois,
então tive que fazer os deveres a noite para meu pai me deixar fazer.
- A maior dificuldade para mim, foi com a prefeitura, porque eles são
cheios de falar, ah nós ajudamos; ah nós queremos isso, aquilo, para
as escolas se tornarem melhores, mas, quando pedimos verba e ajuda
percebemos que a realidade não é aquilo que a gente esperava e no
final das contas, a gente vai ver que o máximo que eles fazem é
comparecer depois de tudo pronto.
que envolva educação ambiental e ensino de História não é uma tarefa fácil, porque, em
geral, os profissionais da área de História estão mal preparados para enfrentar o debate
ambiental.
Nesse caso, o professor deve ter conhecimento sobre os conceitos e métodos de
sua disciplina escolar para poder dialogar com os colegas de outras disciplinas, para isso
o professor deve organizar e sistematizar as informações que possam prover aos alunos
uma visão de conjunto.
Pensando em unir Geografia e História, discutimos como seria abordar os
conteúdos históricos sobre o meio ambiente e, nesta discussão, percebemos que essas
duas disciplinas têm muitas aproximações, por exemplo, o conteúdo sobre revolução
industrial, trabalhando e fazendo uma análise crítica com os alunos, mostrando que já
nas primeiras indústrias a exploração ambiental foi desenfreada pelo capitalismo.
Nessa perspectiva, é fundamental que os professores de História façam a
relação passado e presente, compartilhando com os alunos os desastrosos problemas
ambientais no espaço e tempo na sociedade atual. Podemos relacionar também a
questão da poluição da água dos rios, do ar, do consumismo industrial, que leva ao
crescimento populacional galopante dos centros urbanos sem estruturas para melhorar a
qualidade de vida de milhares de seres humanos, que são constantemente desrespeitados
e, com isto, sofrem pelas condições climáticas, responsáveis por crises econômicas
devido ao avanço de epidemias, chuvas que destroem construções e plantações e alagam
cidades.
Podemos refletir que existe uma constante luta do homem com a natureza com
o objetivo de explorá-la, provocando destruição, em nome do desenvolvimento
econômico e produção de riquezas. Em contrapartida, há grupos que lutam para
preservar o meio ambiente no tempo e no espaço.
Na educação, podemos fazer um trabalho mais elaborado sobre tempo histórico
e espaço geográfico com um projeto interdisciplinar, principalmente em História e
Geografia, para realizar o estudo do meio com trabalhos elaborados com o objetivo de
motivar e provocar nos alunos as observações necessárias para uma possível mudança
de comportamento ambiental no sentido de preservar para conhecer - do contrário, não
haverá uma natureza melhor.
Num trabalho interdisciplinar do estudo do meio ambiente é o foco, e claro,
não é necessário trabalhar de uma forma idêntica para todas as disciplinas. As
Figuras 08: Apresentação da peça teatral Criação e Destruição do Mundo (Escola Municipal
Prof. Domingos Pimentel de Ulhôa, 2002). Fonte: Acervo da autora
Na construção desse processo de ser professor e ensinar História que passe pela
experiência vivida, podemos entender que a História é uma construção da experiência
do passado, nos mostrando a possibilidade de resgate da História, a partir de qualquer
tema ou objeto do nosso cotidiano e do nosso referencial de cultura e também para as
transformações menos perceptíveis. Isso porque a experiência humana não se manifesta
somente nas lutas políticas e de classe, mas também nos sentimentos, valores, imagens,
ritos, crenças, hábitos; enfim, é necessário resgatar fios, tecer tramas de sentidos
conferidos ao mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS