Historia Moderna

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História Moderna

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Bem vindo(a)!

Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo aos seus estudos sobre a História Moderna.
Nesta apostila você irá estudar assuntos e acontecimentos referentes a este período
da História. Só para constar, e lembrá-lo(a), a separação cronológica da ciência
histórica consiste em: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade
Contemporânea, a qual estamos presenciando. Portanto, a Idade Moderna sucede a
Idade Média e precede a Idade Contemporânea. Até os dias atuais há um debate
sobre quando se inicia o período Moderno e quando ele termina, no entanto, há o
consenso em algumas datas: a Queda de Constantinopla, em 1453, e a Revolução
Francesa, em 1789.

Mas, você pode se perguntar, por que estudar História Moderna? Neste período os
indivíduos produziram diversos avanços em várias áreas. Presenciamos o
nascimento da modernidade. Diversas instituições que até hoje existem foram
desenvolvidas e aperfeiçoadas na Idade Moderna: por exemplo, na política temos os
Estados Modernos, início dos estados nacionais, dos países e da burocracia política
que existe hoje. O Renascimento, o Iluminismo e a Reforma Protestante são o
conjunto de ideias e re exões que irão colocar à prova muitos dos dogmas e ideias
hegemônicas da Idade Média, permitindo uma expansão do saber, da
racionalização, da espiritualidade e do intelecto humano, constituindo o nosso
modelo de pensamento até os dias atuais.

Os exemplos de algumas instituições citadas são os temas de estudo desta apostila.


Na Unidade I vamos conhecer sobre o Humanismo, Renascimento e o Estado
Moderno. O professor Herculanum Ghirello Pires explica como a leitura e o
renascimento dos clássicos, isto é, dos estudos dos antigos lósofos greco-romanos
foi importante para a expansão das ideias e possibilidades de modelos de vida
diferentes, mais humanos, mais racionais. Essas novas formas de organização da
vida vão produzir novas formas de organização política: assim nasce o Estado
Moderno e o Mercantilismo.

Já na Unidade II você irá saber mais sobre a Reforma Protestante. O professor


Saulo Justiniano demonstra os principais aspectos das Transformações Religiosas
na Modernidade. Quais os impactos da reforma, não só no campo religioso, mas
também no social e político da Europa. Contextualizando-a com os aspectos sociais
e econômicos do nal da Idade Média. E situando os diferentes tipos de reforma e
de religiosidade que surgiram do rompimento com a Igreja Católica.

Na sequência, na Unidade III falaremos a respeito do Iluminismo e a Emancipação


das Treze Colônias. O professor Willian Carlos Larini discorre inicialmente sobre os
conceitos iluministas que tiveram considerável preponderância no século XVIII e os
pensadores que as formularam. Relacionando-o ao processo de emancipação das
treze colônias inglesas que levaria a constituição dos Estados Unidos no século XVIII.
Neste tópico são abordados os diferentes acontecimentos, circunstâncias políticas e
econômicas que fariam os habitantes das 13 colônias inglesas na América
amotinaram-se em oposição a Grã-Bretanha e como se deu o êxito belicoso dos
colonos em relação à nação europeia.

Em nossa Unidade IV vamos nalizar o conteúdo dessa disciplina com a Revolução


Francesa no nal do século XVIII. O professor William Carlos Larini expõe a
conjuntura sociopolítica problemática da França antes do começo da insurreição
dos franceses que se opunham à monarquia e às camadas sociais que tinham
certas regalias. Assim como o período mais violento da Revolução Francesa, regido
principalmente por Maximilien de Robespierre, que levaria à morte por decapitação
vários franceses. É igualmente analisado neste tópico a etapa nal do processo
revolucionário francês que possibilitaria a subida de Napoleão Bonaparte como
soberano.

Caro(a) aluno(a), desejamos bons estudos!

Sumário
Essa disciplina é composta por 4 unidades, antes de prosseguir é necessário que
você leia a apresentação e assista ao vídeo de boas vindas. Ao termino da quarta da
unidade, assista ao vídeo de considerações nais.

Unidade 1 Unidade 2 Unidade 3 Unidade 4


Humanismo, Transformações O Iluminismo e A Revolução
Renascimento e Religiosas na a Emancipação Francesa
Estado Moderno Modernidade das Treze
Colônias
Inglesas
Unidade 1
Humanismo,
Renascimento e Estado
Moderno

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Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Introdução
Olá, caro(a) aluno(a). Nesta unidade você verá sobre Humanismo, Renascimento e
Estado Moderno. Eles são caracterizados por mudanças sociais e os primeiros
acontecimentos que traçam um hiato entre a Idade Média e a Idade Moderna. Antes
de mais nada, devemos lembrar que o período posterior à Antiguidade, conhecido
como a Idade Média (V – XV), teve uma longa duração, em quase mil anos de sua
dinâmica e queda apresentou diversos aspectos comuns em quase todos os séculos,
assim como, concomitantemente, ocorreram mudanças em sua estrutura. Na Baixa
Idade Média (XI – XV), o período medieval se viu em meio a mudanças rápidas, as
quais o poder político da Igreja não podia conter as alterações sociais, culturais, mas
principalmente as econômicas que passaram a se con gurar, aos poucos, nas
condições que dariam forma ao Humanismo, Renascimento e o Estado Moderno.

Esses acontecimentos vão marcar a história e dar uma con guração a novos modos
de vida e organização social. Tais acontecimentos e novas formas de vida irão
inaugurar um novo período, que denominamos de Idade Moderna. Alguns
historiadores atribuem o início desse período à queda da cidade de Constantinopla,
em 1453, até a Tomada da Bastilha durante a Revolução Francesa, em 1789.

Fato é que foi um período de intensa produção social, econômica e cultural, onde
sentimos a in uência desses eventos até hoje: o Humanismo permitiu ao ser
humano se interrogar sobre o seu lugar na terra e os dogmas da Igreja; o
Renascimento foi um retorno aos clássicos, à loso a, a uma nova maneira de vida,
que permitiu um renascer social, comercial e cotidiano na Europa; e, por m, o
Estado Moderno foi a instituição que promoveu a criação das nações, identidades
nacionais, o aperfeiçoamento da máquina burocrática estatal e organização social.
Portanto, sem eles, a concepção de vida que temos hoje provavelmente seria
diferente.

Plano de Estudo
Humanismo

Renascimento

Estado Moderno
Objetivos de Aprendizagem
Conceituar e contextualizar o
Humanismo, Renascimento e Estado
Moderno

Compreender a importância desses


acontecimentos para os dias de hoje

Estabelecer a importância
econômica, social, política e cultural
de ambos
Humanismo

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Podemos caracterizar o Humanismo em três principais aspectos:
antropocentrismo, racionalidade e o cienti cismo. Esses aspectos só foram
possíveis graças a um retorno às obras clássicas de loso a e de literatura presentes
na antiguidade, na Grécia e em Roma. A partir da leitura dessas obras o ser humano
pode se distanciar cada vez mais dos dogmas da Igreja que tinham mais a função
de organizar a sociedade, pautada nas leis de tradição da Idade Média, do que uma
função espiritual.

Essas leituras não foram feitas de uma vez ou em um único período. Aos poucos, os
sábios do período medieval, principalmente monges da Igreja, foram tendo acesso a
esses manuscritos e confeccionando traduções deles. Podemos classi car em dois
momentos: “O primeiro foi na época de Carlos Magno (747 - 814), quando autores
latinos foram muito lidos e copiados, inspirando fortemente a produção literária da
época carolíngia” (FUNARI, 2019, p. 10), principalmente para função educacional,
pedagógica (CHARLE; VERGER, 1996). O segundo, “no século XII, auge do medievo
houve novo retorno aos antigos, dessa vez com os aportes da literatura grega, seja
de forma direta (vinda de Bizâncio), seja por meio da leitura das traduções árabes de
autores antigos” (FUNARI, 2019, p. 10).
E no mesmo século (XII), “esses
textos passaram a ser cada vez mais
procurados e difundiu-se, a partir da
Itália, a ideia de que eles
representavam algo diferente da
cultura contemporânea (do período):
eram a herança escrita dos antigos”
(GUARINELLO, 2018, p. 18). As
cruzadas aguçaram essa ebulição
europeia pelo saber, pois possibilitou
aos europeus o contato com os
árabes e o seu aparato intelectual.
Os árabes produziam traduções dos
antigos autores e sábios do mundo
grego. Por exemplo, Averrois (1126 -
1198), lósofo árabe que teceu
comentários à obra de Aristóteles e
Platão, comentários que, em
seguida, foram usados na Europa e
por cristãos (LEVENE, 2013).

Mas, essas leituras ainda cavam sob


o conhecimento dos homens de
letras e sábios da época. Elas só vão
passar a ser do conhecimento de
todos, do povo, com o advento e a
divulgação da imprensa, no século
XIV. Assim, “os grandes livros do
‘mundo antigo’ foram reeditados e
voltaram à vida. Autores como
Homero, Virgílio, Aristóteles,
Plutarco, Tito Lívio, Tácito e muitos
outros (GUARINELLO, 2018, p. 18)
passaram a fazer parte dos círculos e
discussões no oeste europeu.

@wikimedia

E a queda de Constantinopla para os turcos, no século XV, acentuou a redescoberta


de textos gregos, pois nessas bibliotecas havia um manancial de manuscritos desses
sábios antigos. A partir daí, começam a surgir as inovações, invenções, e mudanças
que irão transformar a base do pensamento dos seres humanos e a sociedade
Antropocentrismo
O impacto dessas leituras veio com a noção de antropocentrismo, quando o
homem passa a se colocar no centro do mundo. Ele passa a ser a medida de todas
as coisas. Capaz de escolher o próprio destino. Agora, as perguntas partiam dele
para interpretar o seu ser, e não mais de um dogma, de Deus ou da Igreja. O homem
se tornará livre para pensar, mais uma vez, para fazer seus movimentos, suas
técnicas, e, de suma importância, a sua arte: o Homem Vitruviano de Da Vinci ( gura
que está no início desta seção) é um dos melhores exemplos do antropocentrismo
na arte e na sociedade.

Sendo o centro do mundo, ele consegue agora se perguntar sobre questões


relevantes a sua ocupação na sociedade. Questões que interpretem o ser humano,
não mais uma condição metafísica ou uma interpretação sobrenatural da vida. Para
alguns historiadores e psicólogos, é neste momento que nós temos a invenção do
psicológico (FIGUEIREDO, 2017), a emergência do indivíduo (DUBY, 2009) e
aumento da individualidade e dos desejos e vontades pessoais de cada um. O
homem havia obtido sua liberdade.

Racionalidade e Cienti cismo


Com o homem no centro do mundo e das atenções, as questões feitas sobre a
existência do ser humano passam a ter respostas baseadas na racionalidade e no
cienti cismo, ao contrário da Idade Média, em que muitas interpretações sobre a
vida eram pautadas em dogmas e em forças metafísicas. Exemplo disso é Leonardo
da Vinci e seus estudos em diversos campos, na arte, na física, na geometria entre
outros.
Em suma, uma interiorização maior,
daí o nome humanismo, nos
tornamos seres humanos capazes
de pensarmos sobre nós: nossas
ocupações, nossas emoções, nossos
sentimentos; criamos consciência
sobre nós e sobre os outros. Isso é
expresso na arte, como veremos.

Portanto, podemos a rmar que o


humanismo é um processo
intelectual e cultural que tem seu
início por volta do século VIII na
Europa medieval, com as primeiras
traduções de obras clássicas antigas,
que eclode no século XIV e XV. O
resultado da absorvição de todo esse
conhecimento são as mudanças nas
bases do pensamento e estímulos
que organizavam a sociedade
feudal, e que agora com essas
inovações, passam a organizar a
sociedade moderna.

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REFLITA
“Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida”

- Sêneca
Renascimento

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
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Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
In uenciados pela cultura humanista, os sábios do período interagem cada vez mais
com as obras clássicas. A Europa presencia um renascer da cultura e revalorização
da antiguidade entre os séculos XIV e XVI. Daí vem a origem do nome
Renascimento. Esse movimento artístico e cientí co foi in uenciado pelo
humanismo e eclodiu na Itália, em suas agitadas cidades comerciais: Milão, Gênova,
Pisa e Veneza. A obra A Criação de Adão (desenho apresentado), de Michelangelo, é
um exemplo do pensamento humanista: agora no centro do universo, o homem
passa a (quase) tocar as mãos de Deus, do criador.

Essas cidades mantinham rotas comerciais com o oriente. Como já explicado na


seção anterior, os árabes foram responsáveis por muitas traduções de textos
clássicos. Portanto, desse intenso contato entre ambos surgem novas técnicas,
processos e invenções. O resultado disso se vê na arte e na arquitetura do
renascimento.

A Perspectiva na Arte
De acordo com o historiador alemão Hans Belting (2012), os árabes, sem estarem
submetidos aos dogmas da Igreja, encontram um terreno fértil para o
aperfeiçoamento da matemática, geometria e astronomia. Ainda segundo Belting
(2012), outra justi cativa para o avanço nos estudos árabes, que também tem a ver
com a religião, é o fato de que eles encaravam esses estudos como uma forma de
glori car a Alá. Dessa forma, adoravam a Alá por meio da matemática, geometria,
física, isso possibilitou os enormes avanços nesses campos.

De acordo com o historiador alemão Hans Belting (2012), os árabes, sem estarem
submetidos aos dogmas da Igreja, encontram um terreno fértil para o
aperfeiçoamento da matemática, geometria e astronomia. Ainda segundo Belting
(2012), outra justi cativa para o avanço nos estudos árabes, que também tem a ver
com a religião, é o fato de que eles encaravam esses estudos como uma forma de
glori car a Alá. Dessa forma, adoravam a Alá por meio da matemática, geometria,
física, isso possibilitou os enormes avanços nesses campos.

Um dos estudos árabes mais profícuos e frutíferos foram os estudos sobre a


perspectiva. Para eles, não era possível prestar objetividade ou duplicar uma
representação física, isso era como se fosse um pecado. Alhacén (965 - 1040),
revolucionou a ótica antiga com a câmera escura, uma espécie de aparelho óptico,
uma caixa escura, que consiste no recebimento de luz e reprodução de uma
imagem, através dessa câmera e desses estudos Alhacén escreve seu tratado,
conhecido como perspectiva (BELTING, 2012).

Pode parecer que não, mas quando essa perspectiva veio para o ocidente, para
Florença, isso revolucionou a arte e a maneira de pensar dos renascentistas. Com a
perspectiva era possível produzir desenhos antes impensáveis. Era capaz de
produzir construções antes impensáveis. E da imagem, da arte, para sua dimensão
cultural, a perspectiva muda o pensamento. Um salto quântico que moveu seu
olhar para a imagem, como para o sujeito que a olha (BELTING, 2012). Ela, a
perspectiva, permite um dos aspectos centrais do antropocentrismo, a visão de si
como a visão do outro. Para Hans Belting (2012), tanto o humanismo quanto o
renascimento só foram possíveis com o advento da perspectiva.

Daí, nas cidades italianas, surgia a gura dos mecenas, “burgueses ricos que
buscavam projeção social ao nalizar e viabilizar a produção artística na região”
(ALVES; OLIVEIRA, 2016, p. 192). Isso possibilitou o desenvolvimento da arte
renascentista, pois esses ricos comerciantes encomendavam obras e esculturas dos
artistas, como também construção de grandes obras, como palácios e
monumentos. Até hoje, a representação do ser humano, referencial de estética, do
realismo, tem sua referência na arte renascentista, como, por exemplo, as obras de
Caravaggio (1571 - 1610).

Revolução Cientí ca
A racionalidade característica do humanismo provocará uma revolução cientí ca
durante o renascimento. “Entre os séculos XVI e XVII, uma série de descobertas,
experiências cientí cas e re exões losó cas mudou radicalmente a maneira como
as pessoas viam a natureza e o conhecimento” (ALVES; OLIVEIRA, 2016). O diferencial
dessas descobertas era que elas eram produzidas de maneira empírica: através da
observação e de uma possível experimentação. Ao contrário dos dogmas da Igreja.

Essas descobertas formam o início da ciência moderna. Podemos citar alguns


exemplos dessas: o heliocentrismo, teoria que argumenta que a Terra gira em torno
do Sol, em contrapartida ao geocentrismo, teoria defendida pela Igreja, em que a
Terra seria o centro do universo. Foi em 1543 que o “astrônomo e matemático
polonês Nicolau Copérnico Sobre a revolução dos orbes celestes, com base em
cálculos matemáticos e observações astronômicas” (ALVES; OLIVEIRA, 2016, p. 193).

Com o italiano Galileu Galilei, no século XVII, esses cálculos de Copérnico puderam
ser provados de forma empírica. Isso porque Galileu aperfeiçoou o telescópio. “Com
o uso do telescópio, o alemão Johannes Kepler, na mesma época, descobriu que os
planetas se moviam em torno do Sol, em órbitas elípticas, e não circulares, e que sua
velocidade era proporcional a sua distância em relação ao Sol” (ALVES; OLIVEIRA,
2016, p. 193).

Na educação essas mudanças foram sentidas: “no Renascimento, con gurou-se um


ideal de homem, completo, multifacetado, cujo objetivo era desenvolver
harmonicamente todas as facetas da sua personalidade. Esse homem universal
deveria ter cultura e erudição” (ALVES; OLIVEIRA, 2016, p. 191).

As Grandes Navegações
Um dos maiores re exos dessas inovações tecnológicas foi a possibilidade de
navegar em alto mar. Os portugueses foram os primeiros a conseguir essa proeza.
Em 1415, conquistam a cidade de Ceuta, no norte da África. Ainda era uma pequena
rota, mas inaugura o período das Grandes Navegações.

Mais tarde, e por alguns motivos – como domínio do comércio mediterrâneo pelos
sagazes venezianos e genoveses (DE LEMPS, 2015) e o monopólio de produção dos
árabes em relação a esses produtos (como açúcar, canela e cravo) –, tanto os
portugueses quanto os espanhóis “desejavam encontrar um caminho alternativo
para as Índias, visando, principalmente, ao comércio de especiarias, até então
dominado pelos venezianos, afetando diretamente seus concorrentes italianos”
(MAGALHÃES, 1997, p. 193), que desde o século XIV, também passaram a apoiar e
nanciar pesquisas e viagens ibéricas.

Grande parte dos insumos, sejam


vindos do além mar ou do Oriente
Próximo e suas regiões fronteiriças,
além de servirem às mesas, aos
hábitos e usos dos europeus,
também serviam como elemento de
diferenciação social. Dessa forma, a
busca por esses artigos, seja pela
combinação de seus valores sociais
ou econômicos, passa a ser cada vez
maior. “No mundo dos ricos, porém,
a quantidade não é tudo. O
re namento do preparo das
comidas, exóticas ou estranhas, é
acompanhado, na maior parte das
vezes, por verdadeiras arquiteturas
culinárias” (CALANCA, 2008, p. 108).

Assim, “muitos bons historiadores


consideraram a cozinha que utilizava
a especiaria como uma forma de
distinção social” (FLANDRIN, 2015, p.
479).

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Neste sentido, com as Grandes Navegações e a descoberta das Índias Ocidentais, no


século XV, os europeus acabam criando laços comerciais e expandindo seu poderio
comercial ao Novo Mundo. Com a América, vieram também alguns produtos que
passaram a ser, e a oferecer, uma simbologia de distinção ao cardápio e usos dos
europeus, como o tabaco e o cacau. Logo, esse espaço recém colonizado começou a
servir para atender à demanda do Velho Mundo por tais produtos. “A partir do século
XVI, mercadores, empreendedores e colonos europeus organizam no Novo Mundo
economias agrícolas orientadas para a satisfação de uma demanda crescente de
gêneros de consumo tropicais” (CALANCA, 2008, p. 108). Tais produtos iriam
corresponder às vontades e desejos da aristocracia e de parte da burguesia
europeia. Essas mercadorias passaram a ser incorporadas no dia a dia, nos usos
cotidianos dos europeus.

Em suma, temos que ter em mente, que foi um momento de ebulição e inovação
cientí ca, diretamente ligado ao humanismo e ao antropocentrismo, do homem no
centro do mundo. Possibilitando um renascimento da cultura clássica na Europa,
provocando mudanças na organização social. Possibilitando uma civilização do
Renascimento (DELUMEAU, 1983).

REFLITA
“O objetivo mais alto do artista consiste em exprimir na sionomia e nos
movimentos do corpo as paixões da alma”

- Leonardo da Vinci
Estado Moderno

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Podemos a rmar que o Humanismo e o Renascimento foram processos que
classi camos como sendo parte das mudanças na sociedade obtidas no campo da
cultura, do social, da mentalidade e do conhecimento. Já o Estado Moderno seria o
impacto dessas mudanças, mas voltado para o campo político e econômico do
período: podemos de ni-lo como sendo a junção do rei com os comerciantes, a
burguesia nascente.

Por volta do século XI, no início da


Baixa Idade Média, a Europa
conhece um grande avanço
material, tecnológico e populacional.
O sistema trienal de plantio, o uso de
cavalos no arado e a charrua são
algumas delas. Mas, a “ética
paternalista cristã”, que era a
sociedade repartida em três ordens
(os que trabalham, os que guerreiam
e os que oram), em conjunto com as
ideias pertencentes a Igreja, não
permitiam que o lucro se colocasse
acima da caridade e das boas ações
(HUNT; SHERMAN, 2017). A usura,
que era a forma de empréstimo com
juros, não era permitida (LE GOFF,
2007).

Mesmo, ainda, não priorizando o


lucro, essa melhora na produção
permite aos camponeses
comercializar o excedente. Poucos
eram os artefatos que precisavam
ser comprados, talvez sal e ferro
(HUBERMAN, 1980). As feiras
começam a surgir nos extraburgos
das cidades. Pois ali os mercadores
paravam para descansar e se
abastecer também. Primeiramente,
feiras semanais de troca de
excedente. Depois, grandes feiras
anuais. Passa a surgir a gura do
comerciante e mercador.

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A Figura do Mercador e o
Consumo
Esses mercadores e comerciantes se instalam nesses extraburgos e por ali se
mantêm. As cidades começam a se tornar palco das vendas e das trocas, onde “se
concentra também os prazeres, os da festa, o dos diálogos na rua” (LE GOFF, 1998, p.
25). Fora dos burgos, a vida se torna mais uida e dinâmica. A política do
arrendamento de terras, imposta pelos senhores feudais e pelo rei, da qual o
imposto pago pelos camponeses a esses senhores por meio das banalidades
(impostos medievais do senhor feudal sob os servos) e de uma taxa de sua produção
tem uma perda de efeito. Às margens da cidade, o dinheiro, por meio das moedas,
começa a deliberar um valor de troca.

A partir desse período, séculos XI e XII, as relações comerciais estáticas e de baixa


frequência começaram a se desenvolver. Um dos principais motivos para essa
mudança econômica medieval foi a realização das cruzadas e aumento
demográ co da Europa no século X. As cruzadas desempenharam papel crucial no
surgimento do mercador, pois muitos europeus se lançaram em território oriental
para combater os muçulmanos e reconquistar a Terra Santa, com o objetivo, em
geral, de conquistas terras, riqueza e títulos e a remissão dos pecados e garantia de
salvação por parte da Igreja.

Todavia, ao m de cada cruzada os soldados que voltavam almejavam o luxo e


requinte do oriente, as especiarias necessárias na preparação de alimentos mais
saborosos, adornos nos, seda, entre outras mercadorias orientais que interessavam
aos ocidentais. Desse modo, e com excedente de produção agrícola, os séculos XI e
XII são marcados pela realização de feiras locais, geralmente anuais em centros
maiores, e semanais em localidades pequenas. Tendo um aumento considerável do
consumo.
ATENÇÃO
O desenvolvimento das feiras foi o ponto inicial para a criação da gura
do mercador, que viria a adquirir considerável autonomia nos séculos
seguintes. As feiras eram realizadas nos arredores da cidade. Estas
últimas tinham forti cações circundando-as, denominadas como
burgos, em que os mercadores se instalavam para descansar de suas
viagens, adquirir provisões, entre outras necessidades. Com a realização
de feiras com maior frequência e consequentemente com o aumento
de comerciantes nos arredores dos burgos, instituiu-se os extraburgos,
aqueles que cavam aquém dos burgos das cidades, seus habitantes,
os comerciantes, não tardaram a ser conhecidos como burgueses, os
que vivem nos burgos.

Com o aumento da demanda de mercadorias, as feiras semanais, assim como as


anuais, passaram a ser realizadas com maior frequência. As feiras anuais que
duravam alguns meses, agora duravam permanentemente o ano todo, as semanais,
de dois dias na semana, realizaram-se quase durante a semana inteira. Existiam leis
próprias das feiras, tribunais especí cos, até policiamento exclusivo para essas
eventualidades, se ocorressem con itos nestas, eram seus policiais que levavam os
sujeitos em con ito ao tribunal da feira, para serem julgados com suas próprias leis.

Os senhores feudais, inicialmente, não viam nas feiras algo prejudicial ao seu poder,
pelo contrário elas rendiam muito para estes. Dessa maneira, eles ofereciam aos
comerciantes alguns privilégios para comercializar no feudo/cidade sob seu
domínio. Eram ofertados aos comerciantes proteção em caso de saque, baixas ou
nenhuma taxa de transporte pelas vias comerciais, e pequenos impostos populares
entre comerciantes, os quais eram julgados justos. Mas, apesar da garantia de
passagem livre para comercializar, ocorriam furtos, tanto por senhores feudais,
quanto por ladrões comuns.

Diante das di culdades encontradas pelos comerciantes, aos poucos, eles se


organizaram em guildas (espécie de corporações de ofício), para assegurarem sua
segurança no transporte das mercadorias até as feiras, quando eles chegavam nelas,
permaneciam em grupos, conquistando negócios mais produtivos e lucrativos. Após
a formação das corporações de mercadores, estas ganharam força considerável
dentro das cidades, quem não pertencia a uma corporação não conseguia
comercializar com sucesso. Em algumas cidades, só era permitido aos que não
pertenciam a uma guilda comercializar, quando nenhum comerciante da guilda da
cidade comercializasse mais, ou seja, quem não pertencia a uma corporação tinha
maus negócios.
No decorrer das atividades comerciais das feiras, as cidades, concomitantemente
ampliaram-se, muitos camponeses viam nas cidades a oportunidade de libertação
das obrigações para com os senhores feudais, pois após um ano da estadia de um
camponês ou escravo nas cidades, sem que fosse feita nenhuma reclamação de sua
posse, o camponês ou escravo passaria a ser considerado um homem livre. Dessa
maneira, houve um êxodo rural em grande escala, aumentando a extensão das
cidades crescentes, proporcionando a estas artesãos e artistas, mestres sapateiros,
ferreiros, marceneiros e adores, que viriam, posteriormente a se organizarem em
corporações, separadas pelas funções realizadas por cada artesão (HUBERMAN,
1980).

Os comerciantes passam a exercer grande in uência política, conquistaram,


posteriormente, papéis políticos importantes no interior das cidades. Os primeiros
direitos conquistados entre os comerciantes foram os de livre comércio, taxas
comerciais reduzidas e proteções contra furtos, como já citado anteriormente. Mas
apenas essas conquistas não atendiam à demanda econômica crescente. Além
desse fator, consideremos que os comerciantes adquiriram muitos lucros com seus
negócios, ou seja, quem detinha o poder, quanto aos tesouros, eram eles, assim, eles
detinham o controle sobre a escolha de funcionários das cidades, quando não, os
próprios comerciantes assumiram os cargos públicos.

Os senhores feudais, acostumados com o poder absoluto sobre os feudos, tentaram


resistir à concessão de direitos aos comerciantes, todavia, as corporações já
dispunham de muita in uência, e geralmente os próprios senhores feudais
dependiam das atividades comerciais dos mercadores, principalmente a respeito
das transações bancária e aquisição de moedas para a troca nas feiras. Nessa
perspectiva, o dinheiro, a moeda, passa a ter um grande valor na sociedade, ele
passa a ser cada vez mais requisitado e exercer valor de troca (compra e venda). Em
contrapartida ao valor da terra, que era de onde o senhor feudal obtinha seu poder.
Mas de que valia tanto a terra se ele não tinha dinheiro, que é, agora, o que passa
permear as relações sociais?

Nesse cenário, os senhores feudais passaram a ser “obrigados” a vender parte de


suas terras para os cidadãos com grandes posses, possibilitando aos proprietários
usufruírem da terra a seu gosto, podendo revender ela se desejasse. Assim, os
comerciantes que já dispunham de cargos políticos nas cidades, adquiriam o poder
sobre o uso da terra.

Assim, as corporações comerciais detinham grandes poderes, elas organizavam os


setores políticos das cidades, escolhiam funcionários de con ança, ou assumiam os
postos seus próprios “associados”. Dessa maneira, o mercador passou a ser uma
gura essencial no joguete político e econômico do novo Estado que se con gurava,
a burguesia emergente, posteriormente junto com a gura do rei, dominariam o
aparelho econômico e político europeu. As grandes famílias de banqueiros
assumiram os postos de grupos cada vez mais in uentes e ricos do período, os
governantes, como reis, condes e senhores feudais necessitavam de seus
nanciamentos para empreender guerras ou forti car as defesas do reino, cando
em dívida com essas famílias. O parlamento dos países e cidades passam a ter cada
vez mais in uência desses mercadores. Assim, o mercador emergiu como gura
crucial na dinâmica e estrutura do Estado Moderno: em suma, o rei entrava com o
aparato e o prestígio político e o mercado com as nanças, economias.

A Corte
Essa busca pelo novo, pelo requinte, pelo belo, que leva a individualidade teve seu
protótipo nos primórdios das cortes e nos mosteiros, no século XII (DUBY, 2009) . Lá,
nas cortes, também se inicia o jogo da sedução, o amor cortês, que leva a
competição e dessa forma um tenta produzir um efeito melhor que o outro, para
ganhar tal concurso de amor. Esse luxo, “obreiro infatigável do primeiro capitalismo
moderno, começaria exatamente com as cortes principescas do Ocidente de que a
corte pontifícia de Avignon foi o protótipo” (BRAUDEL , 1970, p. 147).

De acordo com Norbert Elias (2011 a) houve uma mudança nos hábitos e nos
comportamentos desde o século XII: do protótipo das Cortes cavalheirescas que vão
civilizar as pessoas do feudo. No século XII já havia manuais que indicavam decoro
social, principalmente à mesa. Esse decoro sugeria o jeito de se sentar, pegar nos
talheres e de se portar. Comer e beber passa a designar distinção social, que envolve
requinte e luxo.

Esse processo civilizador modi ca os gestos corporais, decoro social e o luxo, que
passam a ser as marcas da distinção entre a Corte, que era constituída por membros
da aristocracia, e a plebe, constituída pela população trabalhadora e a baixa
burguesia, que eram os burgueses mais pobres. Essa Corte passa a ser o mecanismo
de diálogo do rei com a aristocracia e a alta burguesia. Através dela, o rei fazia
acordos políticos: e em troca ofertava títulos e posições de prestígio social na
sociedade cortesã. De certa forma, a Corte funciona como uma ferramenta, um
aparato que auxiliava o rei nas decisões e tomadas políticas de acordo com o
interesse das partes envolvidas (ELIAS, 2001). Daí o tripé das instituições que dará a
estrutura política. Portanto, o ideal do rei, é o rei SOL

Nascimento do Estado
De acordo com Norbert Elias (2001), o Estado Moderno surge do interesse e da
negociação entre: rei, nobreza e burguesia. O rei representa a centralização do
poder político, tomada das decisões em conjunto com os interesses da aristocracia e
alta burguesia; a nobreza, composta por antigos senhores feudais, representa os
exércitos, a força militar, a princípio, ela cedia seus homens para o rei em tempos de
guerra; e a burguesia representava o estado, ela nanciava as guerras, expedições e
empreitadas econômicas do Estado.
Dessa junção de interesses nasce o Estado Moderno absolutista. O maior exemplo
de estado absolutista é Luís XIV (imagem no início da seção), que reinou entre 1643 a
171. Ficou conhecido como o Rei Sol, com sua famosa frase: “O Estado sou Eu”, que
indicava que acima dele não havia ninguém, apenas o Sol.

Mas o processo de uni cação francês começa com Luís VI, no século XII, que,
lutando contra uns senhores feudais e negociando com outros, conseguiu
concentrar o poder em suas mãos e submetê-los ao seu mando. A partir daí seus
descendentes irão cada vez mais monopolizar a força e as decisões nas mãos do rei
(ELIAS, 2001).

No século XIV, na França, a cobrança de impostos passa a ser institucionalizada.


Segundo Phillipe Wolff (1986), esse momento é importante, pois o Estado passa a
adquirir feições próprias, se constituindo como uma instituição, obtendo recursos
para gerir seus interesses, como expedições para obter lucros e um exército próprio
para as guerras, não precisando mais dos empréstimos de senhores feudais.

O Mercantilismo
O mercantilismo é o modelo econômico do Estado Moderno. As decisões comerciais
eram tomadas pelo rei, isso signi cava que a economia se mantinha atrelada a suas
vontades, assim como a as decisões políticas.

Metalismo é a crença na qual quanto mais ouro e prata uma nação possuísse, mais
rica ela seria. Com base nessa crença, procurava-se acumular metais preciosos no
país, também conhecido como bulionismo. Balança comercial favorável é o
princípio que vinha do metalismo. Veja por que: na época, o dinheiro era feito de
ouro e prata; assim, a forma de reter ouro e prata em um país era exportar o máximo
e importar o mínimo, mantendo-se, assim, a balança comercial favorável, em suma,
precisava exportar mais do que importar manufaturados

Protecionismo é o incentivo à indústria interna, ao comércio e à manufatura


nacionais, protegendo-os da concorrência estrangeira. Deste modo, havia o
aumento dos impostos sobre os produtos estrangeiros a m de torná-los mais caros,
favorecendo os similares nacionais. E o exclusivo colonial consistia na obrigação
que a colônia tinha de comercializar exclusivamente com sua metrópole. Por
exemplo, os colonos do Brasil podiam comercializar apenas com Portugal, que era
sua metrópole (HUBERMAN, 1980).
SAIBA MAIS
Você sabia que os gregos e os romanos já pensavam de maneira
semelhante a nós? Na verdade, esse é o re exo da in uência que o
pensamento deles tem sobre os dias atuais: somos nós que pensamos
de maneira similar a eles. Prova disso, é que o lósofo ateniense
Sócrates já losofava sobre o que é o amor, em O Banquete, durante o
século IV a. C. E o lósofo romano Sêneca já falava sobre ansiedade e
como ter uma vida plena em, Sobre a brevidade da vida, no século I a.C.
Ao olho nu, podemos pensar que essas questões só dizem respeito a
nós, nossa sociedade e aos dias atuais. Esse é um dos motivos do
porquê essas obras foram tão importantes para o humanismo e o
renascimento.

Fonte: JAEGER, Werner, 2013

SAIBA MAIS
Hoje em dia quando pensamos em ter uma pro ssão, seguir um
trabalho para a vida, na maioria dos casos, pensamos em estudar e nos
especializar em uma área especí ca. Não era assim no século XVI. Por
exemplo, você conseguiria enquadrar Leonardo da Vinci em uma única
pro ssão? Naquele momento, o ideal era o homem completo, que
entendesse das diversas áreas, diversas artes: física, química, artes,
matemática, biologia e assim por diante. Quem dominasse mais áreas
do saber estava o mais perto de se tornar o homem completo

Fonte: ROSSI, Paolo. 1997


Conclusão - Unidade 1

Caro(a) aluno(a), devemos ter em mente que qualquer conclusão de nitiva é


precipitada. Até hoje os estudos históricos sobre a Idade Moderna estão avaliando e
reavaliando o impacto do Humanismo, Renascimento e Estado Moderno para a
humanidade ocidental. Mas podemos ter a certeza de a rmar que essas instituições
estabeleceram novas formas de pensamento e organização social.

Não é à toa que a Idade Moderna leva esse nome: moderna. A modernidade surge
neste período. A individualidade, o pensamento cientí co e a forma de organização e
política em que as sociedades ocidentais repousam hoje em dia, são in uenciados
por essas instituições, esses acontecimentos desse período.

LEITURA COMPLEMENTAR
Para saber mais sobre o Estado Moderno:

ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista: São Paulo: Brasiliense

Para saber mais sobre o mercantilismo:

DEYON, Pierre. O mercantilismo. São Paulo: Perspectiva, 1992.

Para saber mais sobre a cultura do Renascimento:

BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália: um ensaio. Editora


Companhia das Letras, 2009.
Livro

Filme
Unidade 2
Transformações Religiosas
na Modernidade

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Introdução
Olá, aluno(a). Seja bem-vindo(a) a mais uma unidade da apostila de História
Moderna. Neste capítulo intitulado Transformações religiosas na modernidade,
estudaremos questões de extrema importância para se compreender as nuances do
período da História denominado Idade Moderna.

Iniciamos a unidade fazendo uma retrospectiva sobre as questões de produção na


Europa durante a baixa Idade Média e como o renascimento comercial e urbano
ocasionou uma crise sanitária do século XIV, conhecida como Peste Negra. Apesar
de ter sido responsável pela dizimação de 1/3 da Europa, a recuperação demográ ca
da Peste foi tão rápida, que causou outra crise, a de abastecimento. A produção de
alimentos não acompanhou o crescimento populacional e isso causou fome, miséria
e medo.

Nesse contexto de medo, a Europa passou por grandes transformações na questão


religiosa que desembocaram na Reforma Protestante, em primeiro momento
liderado pelo monge agostiniano Martinho Lutero, mas que posteriormente foi
apropriado como instrumento político contra os interesses do papado pela nobreza
da época.

Após apresentar um pequeno per l dos reformadores e suas principais


contribuições, no nal da unidade traçamos os principais acontecimentos envoltos à
questão política da Europa após o impacto do surgimento do protestantismo e
como a Igreja Católica Apostólica Romana restabeleceu sua superioridade no
mundo moderno.

Bons estudos!

Plano de Estudo
Economia

As transformações religiosas na
Europa e a Reforma Protestante

A reforma luterana

A “reforma inglesa”
A reforma calvinista

Situação política na Europa pós-


reforma

A contrarreforma ou reforma
católica

Objetivos de Aprendizagem
Compreender as questões econômicas
em nais da Idade Média e início da
Idade Moderna.

Conceituar as diferentes Reformas


Protestantes.

Entender a Reforma em seu aspecto


religioso, político e social.
Economia

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Os séculos que sucederam o XI foram, historicamente, conhecidos como Baixa Idade
Média, este momento em grande medida, é marcado pelos renascimentos urbano e
comercial e pelo surgimento de um novo segmento social, a burguesia.

É nesse período que as antigas relações de servidão no interior do feudo, pautadas


no ideal de Suserania e Vassalagem, dão lugar a uma vida mercantil e pujante,
marcada pela possibilidade de ascensão econômica.

Os centros urbanos se tornaram a encarnação dessas transformações históricas,


impulsionando o renascimento comercial possibilitado pelo desenvolvimento de
técnicas produtivas fortemente marcadas pelo uso do arado de rodas e da difusão
de moinhos de vento e hidráulicos (VAINFAS, 2010).

As cidades eram verdadeiros centros mercantis, o abrigo de marcadores, artesãos e


toda espécie de gente que buscava ascensão social, impossibilitado pela antiga vida
feudal. De fato, o ar da cidade libertava.

Os anos que se seguiram contaram com um impressionante aumento demográ co.


A população europeia ocidental, que, no início do século XI, contabilizava cerca de
22,1 milhões de habitantes, saltou para 25,8 milhões (FRANCO JUNIOR; ANDRADE
FILHO, 1993), um crescimento signi cativo que não parou, chegando a 50% entre os
anos de 1200 a 1300. Os medievalistas Hilário Franco Júnior e Ruy de Oliveira
Andrade Filho nos mostram um crescimento populacional de 34,65 milhões de
habitantes no início do XIII para 50,33 milhões, cem anos depois (FRANCO JUNIOR;
ANDRADE FILHO, 1993).

De fato, o apogeu dessa nova realidade que se descortinava diante dos europeus,
encontrou seu auge no século XIV. As estruturas sociais que engatinhavam no início
da Baixa Idade Média encontraram maturidade no XIV, que já contava com uma
burguesia que se aliava a nobreza em suas pretensões mercantis, possibilitado pelo
comércio de longa distância que desenvolveu rotas de navegação entre o
mediterrâneo e o mar negro, chegando a Constantinopla, principal acesso as
especiarias do Oriente.

Além desse pujante desenvolvimento comercial e crescimento demográ co, o início


do XIV fora marcado pelas chuvas intensas, as quais ocasionaram perda signi cativa
na produção alimentícia. Tais fatores elevaram, consideravelmente, o preço dos
alimentos básicos da dieta do homem medieval, como o trigo utilizado na
fabricação de pães.

Não havia oferta para suprir a imensa demanda de citadinos e camponeses


famintos, por isso, os anos de 1315 a 1317 são, historicamente, lembrados como os
anos da “grande fome” (VAINFAS, 2010), que conferiu aos que sobreviveram
enfraquecimento e baixa imunidade contra toda sorte de moléstias que pudessem
vir a atacar.
A principal moléstia desse tempo, sem dúvida, foi a Peste Negra, que dizimou parte
da população europeia daquele tempo. O comércio com o Oriente, marcado,
principalmente, pelas rotas que ligavam o Mediterrâneo ao Mar Negro,
possivelmente tenha sido o propulsor deste evento. Acredita-se que “embarcações
originárias de entrepostos comerciais genoveses no mar negro tenha trazido o mal
para a Europa” (VAINFAS, 2010, p. 143). A única certeza é que a Peste seguia as rotas
comerciais europeias, chegando a se alastrar por todo continente ainda na primeira
metade do XIV.

Figura 1 - Homem e mulheres com a peste bubônica com seus bubões


característicos em seus corpos, pintura medieval de uma Bíblia em língua alemã
de 1411 de Toggenburg, Suíça.

Fonte: wikipedia

A contabilidade convencional sobre a Peste Negra aponta para a perda de um terço


da população europeia. A população inglesa, por exemplo, estimada em 3,7 milhões
de habitantes em 1348, caiu de forma drástica para 2,25 milhões trinta anos depois
(VAINFAS, 2010). A Peste, atenuada por curtos intervalos, prosseguiu implacável
adentrando o século XV.
O crescimento demográ co foi retomado em meados do século XV, no entanto,
ainda se via os ecos da Peste por muito tempo. A vida na Europa voltou a se
recuperar a partir da segunda metade do século XV, como mostra-nos Tom Scott
(2009, p. 18), no capítulo dedicado à Economia, na obra O Século XVI, que:

Até 1470, a vida econômica da Europa Ocidental tenha sido dominada


por fatores que determinavam uma contração, tendo como aspecto
principal o catastró co declínio demográ co da segunda metade do
século XIV, cuja recuperação não começou antes da segunda metade
do século XV, na melhor das hipóteses.

Como atestado por Scott (2009), a população europeia voltou a crescer durante os
períodos de calmaria da Peste, chamados de calmaria porque ainda era possível ver
alguns surtos da moléstia até meados do século XVI.

A volta do crescimento populacional ocorrida na segunda metade do XV trouxe um


saldo impressionante, segundo Jan de Vries (apud SCOTT, 2009, p. 36), de “60,9
milhões de habitantes na Europa em 1500”, no entanto, esse rápido crescimento
populacional gerou outro grande problema, a chamada Revolução dos Preços
(CAMERON, 2009).

Os anos nais do século XV foram marcados pela escassez das terras produtivas e,
consequentemente, pelo abastecimento de alimentos que não acompanharam,
com a mesma agilidade, as transformações demográ cas do continente, com isso,
houve um desequilíbrio entre população e recursos.

Esse desequilíbrio trouxe um aumento considerável no preço dos mais diversos


gêneros alimentícios, gerando uma grande segregação e desigualdade, dando
origem a uma massa de esfomeados, que, muitas vezes, mesmo trabalhando, não
conseguiam fazer com que os seus salários acompanhassem a alta dos preços
(SCOTT, 2009).

O que se podia observar era um crescente número de indigentes nas cidades que se
viam apegados à religiosidade como única forma de salvação, esperando dos céus a
ajuda que os tiraria daquele sofrimento.
As Transformações
Religiosas na Europa e a
Reforma Protestante

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Todos os fatos e acontecimentos, econômicos, políticos e territoriais, zeram com
que o início da Idade Moderna fosse um período marcado também por agitações no
campo religioso. Enquanto a Idade Média foi marcada, em grande medida, pelo
poder centralizador da Igreja, detentora o cial da religiosidade cristã, a
modernidade trouxe uma crise desses valores. Se no início do século XVI todos, ou
grande parte, dos europeus se sentiam participantes de uma única igreja que era
universal (CAMERON, 2009), na segunda metade deste mesmo século, pelo menos
três ramos a mais de pretensos cristianismos se estabeleceram no cenário europeu.

A reforma protestante empreendida por Lutero e seus seguidores coroou um


período de intensas transformações na cristandade ocidental, visto que a Igreja
Católica dos tempos modernos não tinha mais o mesmo vigor que a marcou
durante a Idade Média, quando foi conhecida como a grande senhora feudal.

O mundo em transformação era, em grande medida, consequência das alianças


entre monarcas e burgueses, que possibilitaram o surgimento de uma nova política
pouco dependente dos interesses da Igreja, a historiogra a convencionou chamá-
los Estados Nacionais Modernos. Nos Estados Modernos, o monarca era o próprio
representante de Deus na terra, como a rma o padre Jacques Bossuet, na França do
século XVI, minimizando o poder da Igreja e separando a Monarquia da Instituição
Igreja Católica, mas não do cristianismo que dava legitimidade às suas ações.

Podemos apontar outras questões que contribuíram para a crise da cristandade


como o cenário de profunda desesperança, marcado ainda pelos estragos
ocasionados pela moléstia da Peste Negra e a maneira como parte dos religiosos
viviam nesse contexto. Destacarei brevemente três papas que viveram entre o nal
do século XV e início do século XVI.
O primeiro que vamos retratar é o
aragonês Rodrigo Bórgia, arcebispo
de Valência, que se tornou Papa em
1492, com o nome de Alexandre VI,
ou Papa Bórgia, como foi chamado
por seus contemporâneos. Os
Bórgias era uma família nobre e rica
do meio rural na Espanha medieval,
que teve seu apogeu marcado pela
eleição de Alonso Bórgia, tio
materno de Rodrigo, ao papado em
1455, como o nome de Papa Calisto
III. A carreira eclesiástica de Rodrigo
se iniciou em 1456, quando seu tio o
tornou cardeal, estudou Direito na
faculdade de Bolonha, terminando o
curso em apenas um ano, diferente
dos cinco convencionais, sendo
acusado de ter comprado o diploma
(BOWN, 2013).

Rodrigo era um exímio político e


muito competente nos negócios,
fazendo aumentar ano após ano sua
fortuna, como nos relata Stephen
Bown (2013, p. 135): “Em 1490, dizia-se
que Bórgia tinha mais ouro que
todos os demais cardeais somados”.
Suas habilidades zeram com que
Pio II o ordenasse vice-chanceler, um
cargo de suma importância que só
estava abaixo do Papa.
Figura 2: Rodrigo Bórgia - Papa Alexandre VI | Fonte:
wikipedia

Bórgia, apesar de homem da Igreja, teve ao menos quatro lhos e usava os recursos
da Igreja para sustentá-los. Os mais famosos foram César e Lucrécia, o primeiro, tem
papel importante na história da loso a-política moderna, pois a famosa obra “O
Príncipe” escrita Nicolau Maquiavel foi baseada em sua postura “violenta e
inescrupulosa” (BOWN, 2013, p. 136).
Figura 3: Palazzo Bórgia - Roma, Itália

Fonte. wikipedia

No famoso Palazzo Bórgia, como cou conhecida sua mansão, eram realizadas
festas suntuosas, com banquetes, bailes e jantares marcados por talheres de ouro,
iguarias e dançarinas exóticas (BOWN, 2013). Apesar de uma amante o cial, digo
amante porque já era vedado o direito de um clérigo se casar, Rodrigo mantinha
tantas outras, com os mesmos luxos que rodeavam seu palácio em Roma.

Em 1492, após a morte de Inocêncio VIII, Rodrigo por meio de muito ouro, que
possibilitou in ndáveis compras de votos, se elegeu Papa, com o nome, como já
citado, de Alexandre VI. Uma das primeiras ações de Alexandre foi a nomeação de
César, seu lho, apesar das características já destacadas, a Cardeal Arcebispo de
Valência, posto que cara vago após sua eleição ao papado.

Ser Papa não fez mudar a postura de Rodrigo, levando para o Vaticano suas famosas
festas e orgias. Um mestre de cerimônia escreveu em seu diário, em 30 de outubro
de 1501, que:
[...] cinquenta prostitutas divertiram Alexandre, César, Lucrécia e seu
séquito. “As mulheres depois do banquete, dançaram nuas. Em uma
dança, elas tinham de correr nuas entre as velas acesas e apanhar
nozes no chão”. Alexandre e Lucrécia, depois de assistir à dança das
participantes nuas, distribuíram prêmios de roupas de seda aos
servidores do Vaticano que tivessem mantido o maior número de
relações carnais com as cortesãs (BOWN, 2013, p. 136).

Ainda como Papa, leiloou diversos cargos da administração eclesiástica entre as


grandes famílias burguesas da Itália e deixava aos cuidados de Lucrécia, sua lha,
“com quem se diz que Alexandre teve ligações incestuosas” (BOWN, 2013, p. 136), os
negócios da Igreja quando estava fora de Roma. Conta-se ainda que o Papa Bórgia
“mandou prender, executar e envenenar vários de seus colegas, ou suborno e pilhou
as propriedades de outros” (BOWN, 2013, p. 137).

Alexandre VI morreu em 1503 aos 72 anos de idade. Não se sabe exatamente o


motivo de sua morte, para alguns por conta da malária (BOWN, 2013), doença
comum em Roma nesta época, para outros por acidente, pois tomou o veneno que
era destinado a outra pessoa (DREHER, 2007). Após a morte de Alexandre, assumiu o
papado Francesco Todeschini-Piccolomini, como Pio III, que não permitiu “a
tradicional missa no funeral do antecessor, alegando: ‘É blasfêmia rezar pelos
condenados’” (BOWL, 2013, p. 148).

Rodrigo tinha muitos inimigos dentro e fora da Igreja, o mais famoso foi Giuliano
della Rovere, cardeal arcebispo de Avinhão. No entanto, é importante esclarecer que
sua oposição à Bórgia não se fazia pelos métodos empregados pelo Papa, mas pela
ambição que tinha de assumir o cargo.
O ponti cado de Pio III foi
brevíssimo, tendo durado apenas 27
dias, neste mesmo ano foi eleito pelo
colégio dos cardeais Giuliano della
Rovere como Papa Júlio II. Assim
como Alexandre VI, seu cargo foi
comprado com muito ouro.

A Igreja, sob liderança de Júlio II,


assumiu características bélicas, para
ele “a salvação da Igreja estava na
política e na guerra” (DREHER, 2017,
p. 187). Ficou marcado nos anais da
História como o Terrível, pois agia
mais como um chefe político e
militar do que um líder religioso. Sob
seu comando a Igreja aumentou os
territórios dos estados pontifícios, ou
seja, estados que estavam sob
controle da Igreja, destruiu a Basílica
de São Pedro e iniciou a construção
da atual.

O ponti cado de Pio III foi


brevíssimo, tendo durado apenas 27
dias, neste mesmo ano foi eleito pelo
colégio dos cardeais Giuliano della
Rovere como Papa Júlio II. Assim
como Alexandre VI, seu cargo foi
comprado com muito ouro.

Figura 4: Pio III | Fonte. wikipedia

A Igreja, sob liderança de Júlio II, assumiu características bélicas, para ele “a salvação
da Igreja estava na política e na guerra” (DREHER, 2017, p. 187). Ficou marcado nos
anais da História como o Terrível, pois agia mais como um chefe político e militar do
que um líder religioso. Sob seu comando a Igreja aumentou os territórios dos
estados pontifícios, ou seja, estados que estavam sob controle da Igreja, destruiu a
Basílica de São Pedro e iniciou a construção da atual.

Júlio II morreu em 1513, passando o centro de Roma para o cardeal Giovanni de


Médicis, que se tornou Papa, assumindo o título de Leão X.

Leão X, diferente de seus antecessores, foi um papa ligado às questões intelectuais


que circundavam a Península Itálica de seu tempo, era um defensor do Humanismo,
altamente letrado e comprometido com o desenvolvimento da cultura
renascentista. Depois da eleição, quando foi assumir de nitivamente o ponti cado,
fez uma grande procissão pelas ruas de Roma e estendeu uma grande faixa, onde
podia ser lido: “Outrora governou Vênus, depois Marte; agora Palas Atenas detém o
cetro” (DREHER, 2007, p. 187). Explicando a faixa, Martin Norberto Dreher (2007)
escreveu:

Com Vênus fazia-se referência a Alexandre VI, com Marte a Júlio II, com
Palas Atenas saudava-se Leão X como mecenas e benfeitor de
humanistas e artistas. A frase também descreve o caráter mundano e a
frivolidade do ponti cado de Leão X, durante o qual Lutero iniciou seu
movimento (p. 187).

As analogias aos deuses da mitologia grega era uma característica marcante do


renascimento cultural, que tem esse nome pois pretendia fazer renascer a cultura
clássica, grega e romana, que, segundo seus defensores, havia desaparecido durante
a Idade das Trevas, como chamavam a Idade Média.
O ponti cado de Leão X não foi
marcado pelos banquetes e orgias
de Alexandre VI, muito menos pelas
intensas atividades bélicas de Júlio II,
mas pela “leviandade e
esbanjamento em busca de
hedonismo” (DREHER, 2007, p. 187).
Sua história papal cou marcada
pela construção da nova Basílica de
São Pedro, que, por mais que não
tivesse começado em seu turno,
recaiu sobre si o encargo. Para tanto,
seria necessária uma quantia
signi cativa para o término de tão
grandiosa e audaciosa obra, assim,
iniciou-se uma venda de
indulgências sem precedente.

Foi em 1515, que Leão X lançou a bula


papal para a construção da Basílica
em Roma, mandando grandes
persuasores para as mais longínquas
regiões da Europa para a coleta das
ofertas. A liberação de Indulgência,
ou seja, perdão de pecados, foi uma
prática comum ao longo da Idade
Média, essa que geralmente era
dada a pessoas que, por algum
motivo, seja por lutas contra os
in éis e em favor da fé, ou mesmo
benfeitorias à Igreja de Cristo, ou ao
povo de Deus, passou a ser vendida
sem a menor restrição, bastava
pagar para tirar algum ancestral do
purgatório ou se livrar dos mais
inescrupulosos pecados.

Figura 5: Leão X | Fonte. wikipedia

O mais famoso coletor de dinheiro em prol da indulgência foi João Tetzel, “um frade
dominicano que chegava às cidades alemãs saudado pelo som dos sinos das igrejas
e fazia sermões convincentes” (BLAINEY, 2012, p. 174). Como forma de coerção, Tetzel
usava peças teatrais, em que os personagens eram consumidos pelo fogo do
inferno, ou mesmo agonizando no purgatório. Sabe-se hoje que homens, como o
dominicano em questão, trabalhavam para ricas famílias alemãs, que cavam com
parte dos ganhos e mandava outra para Roma (BLAINEY, 2012).
Foi a teologia do medo pregada por Tetzel que desencadeou em um jovem padre e
professor de Teologia da Universidade Wittenberg, na Saxônia, um sentimento de
revolta sem precedentes. Esse padre, chamado Martinho Lutero, escreveu em
fevereiro de 1517: “Ah, os perigos do nosso tempo! Ah, os padres sonolentos!” e em
outubro do mesmo ano apontou ser um “absurdo que o tilintar de uma moeda na
caixa de coleta liberasse uma alma do doloroso purgatório” (BLAINEY, 2012, p. 174).
No último dia deste mês, dia de Todos os Santos, Lutero pregou 95 Teses, um
documento de argumentação geral com parágrafos numerados, na Igreja do castelo
de Wittenberg. O documento era objeções contra a cobrança de indulgência,
simonia e preceitos seguidos pela Igreja o cial.
A Reforma Luterana

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Martinho Lutero nasceu em 1483, descendia de uma família modesta de Eisleben na
região da Saxônia na atual Alemanha, seu pai um administrador de minas, alcançou
certa prosperidade em seus negócios, fato que o fez, em um momento em que a
vida acadêmica era reservada à nobreza ou à alta burguesia, enviar seu lho para a
Universidade Erfurt. Iniciou seus estudos aos 17 anos e aos 21 já era Mestre em
Teologia, em 1505 iniciou o curso de Direito na mesma Universidade, mas não
concluiu, optando, neste mesmo ano, pela vida monástica na Ordem dos
Agostinianos.

Em 1507 foi ordenado sacerdote e um ano depois passou a lecionar Teologia na


Universidade de Wittenberg, onde obteve, em 1512, o título de Doutor em Bíblia, dois
anos após exerceu a função de vigário agostiniano, sendo autoridade maior sobre
alguns monastérios na Saxônia.

Conta-se na história, que deve ser analisada com cuidado pelos leitores, visto que a
maioria das biogra as são organizadas com certa passionalidade, que em 1510
Lutero foi pela primeira vez a Roma, a sede da cristandade. Diz-se que cou
maravilhado com a formosura da cidade, seguindo todos os scripts de uma romaria
a cidade papal, visitou os lugares sagrados, pagou penitência e rezou pelas almas de
seus ancestrais no purgatório.

Conta-se, também, que a viagem o deixou perturbado, pois os vícios e a ostentação


de Roma nada tinha a ver com a devoção modesta das Igrejas que conhecia no
Norte da Alemanha, apesar de viver em um contexto em que os mosteiros "abrigava
um bocado de luxúria e excessos de comida e bebida. Em um mosteiro visitado por
ele, cada monge consumia duas canecas de cerveja e 1 litro de vinho às refeições”
(BLAINEY, 2012, p. 172). De nitivamente, esse episódio não pode ser ignorado na
biogra a do reformador.

Para além de uma vida religiosa pura e simples com seus afazeres diários enquanto
monge, Lutero cou famoso por estudos bíblicos relativos às questões vinculadas ao
pecado e ao perdão. Como profundo estudante da Bíblia, o monge chegou à
conclusão de que o perdão dos pecados e a salvação da alma estava no
relacionamento sincero entre o crente e Deus, baseado na verdadeira fé,
independente das obras. Essa teologia luterana cou conhecida como Justi cação
pela Fé. Essa foi uma das primeiras bandeiras levantadas pelo então vigário
agostiniano e que desencadeou uma série de críticas à instituição milenar católica.

Se, para Lutero, a salvação vinha pela fé em Deus, não havia sentido algum o
pagamento pela indulgência. Diante desse contexto de extrema consonância com
os preceitos bíblicos, chegou a Saxônia Tetzel, sua oratória, seu teatro e
principalmente seu poder de persuasão. Neste contexto, para conter os ânimos da
pobre multidão que se viu obrigada a dar o que não tinha, Lutero xou as famosas
95 teses na Igreja de Wittenburg.

Lutero já era um famoso orador, excelente professor e um intelectual de relevância


na Europa do século XVI e depois do episódio das 95 teses sua fama alcançou
patamares ainda maiores, chegando seus escritos a serem impressos em regiões
fora da Alemanha, como a Basiléia, na atual Suíça, e Estrasburgo, na atual França.

As pregações de Martinho Lutero, cada vez mais in amadas contra a Igreja e o clero,
trouxeram algumas consequências, como prisões e disciplinas eclesiásticas, mas ao
mesmo tempo angariavam uma imensa quantidade de seguidores, que ia das
classes baixas à nobreza, que via no discurso do monge, uma possibilidade de se
libertar dos pagamentos de dízimo a Roma, ou mesmo de se apoderar dos grandes
latifúndios que estavam sob jurisdição da Santa Sé.

Era claro no discurso de Lutero o caráter nacionalista, como em escritos em que


bradara: “Pobre de nós, alemães. Fomos enganados! [...] o glorioso povo teutônico
deve deixar de ser fantoche do pontí ce romano” (BLAINEY, 2012, p. 175), ou ainda
colocar em xeque, a autoridade papal, alegando não ter o pontí ce “poder sobre o
céu, o inferno e o purgatório, ou sobre a eliminação do pecado” (BLAINEY, 2012, p.
175).
SAIBA MAIS
Seguem algumas teses das 95 pregadas na Igreja do Castelo de
Wittenberg em 31 de outubro de 1517.

6. [...] O papa não pode remitir culpa alguma senão declarando e


con rmando que ela foi perdoada por Deus, ou, sem dúvida, remitindo-
a nos casos reservados para si; se estes forem desprezados, a culpa
permanecerá por inteiro.

23. [...] Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém,
ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.

24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente


ludibriada por essa magní ca e indistinta promessa de absolvição da
pena.

32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres,


aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de
indulgência.

81. [...] Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja
fácil, nem para os homens doutos, defender a dignidade do papa contra
calúnias ou perguntas, sem dúvida argutas, dos leigos.

82. Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por causa do
santíssimo amor e da extrema necessidade das almas - o que seria a
mais justa de todas as causas -, se redime um número in nito de almas
por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica - que é
uma causa tão insigni cante?

86 [...] por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos
Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma
basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres
éis?

Fonte: Portal Luteranos (2017).


Figura 6 - Martinho Lutero (1483-1546), retrato por Lucas Cranach, 1529

Fonte. wikipedia

Lutero, de um lobo solitário do interior da Europa, se tornou, em 1520, uma força


difícil de ignorar. Mas como a Igreja poderia ser tão desatenta ao avanço da
pregação luterana? A resposta poderia ser que a Igreja vivenciava uma crise político-
institucional sem precedentes, a Santa Sé estava preocupada com o avanço turco-
otomano no oriente-médio e leste europeu, com as disputas de poder entre as
famílias Valois, da França e Habsburgo, que tinha sob seu controle grande parte da
Europa e a perda signi cativa de poder do papa nas decisões políticas, passando
paulatinamente para os reis e os príncipes. Diante destas questões globais, ca fácil
entender a morosidade papal frente ao “problema” luterano (DREHER, 2007).
En m, Lutero foi formalmente excomungado da Igreja em 3 de janeiro de 1521, pela
bula Decet Romanum Ponti cem, expedida por Leão X. Depois da excomunhão
o cial, Lutero foi convocado a ir a Roma para ser julgado, o que nunca aconteceu,
pois seu el defensor Frederico III, o sábio, príncipe da Saxônia, impediu que lá fosse
julgado (BLAINEY, 2012), ao contrário foi instaurada uma reunião na cidade de
Wörms em território alemão para seu julgamento, essas reuniões aconteciam
esporadicamente, contava com representantes do clero, a nobreza da região que
envolvia o Sagrado Império Romano Germânico e era sempre presidida pelo
Sagrado Imperador, que na época era Carlos V, da casa de Habsburgo. Essas
reuniões recebiam o nome de Dieta.

Em Wörms, Lutero rea rmou seus posicionamentos, fez sua autodefesa em latim e
terminou com as seguintes palavras, ditas em alemão: “Que Deus me ajude. Amém”
(BLAINEY, 2012, p. 176). O reformador, orientado por Frederico III, não esperou a
reunião acabar e se retirou para o palácio de Wartburg, onde passou algum tempo,
ao que parece até a poeira baixar, a questão é que não baixou, e a cada dia
aumentavam os seguidores da causa luterana.

Protegida por Frederico III, o sábio, e de forte conotação nacionalista, a reforma


empreendida por Lutero oresceu, igrejas luteranas disseminaram na Europa ao
ponto de que em menos de 30 anos monarcas de reinos, como Dinamarca, Suécia,
Noruega e Transilvânia, já tinham aderido à causa.

Lutero casou-se com a ex-freira Catarina Von Bora, teve uma vida marcada por uma
produção literária de grandes proporções. Entre seus escritos importantes, atacou os
judeus europeus, em sua obra Sobre os judeus e suas mentiras, de 1543, defendeu a
autoridade política dos reis e príncipes, em sua obra Sobre a autoridade secular, de
1523, e traduziu a Bíblia Sagrada para o Alemão em 1534, um fato inédito, visto que
existiam algumas traduções do novo testamento em língua vernácula, mas a Bíblia
inteira era escrita em latim, fato que impedia os leigos desconhecedores dessa
língua, já considerada morta, de terem acesso às escrituras sagradas.

Até o m de sua vida defendeu a justi cação pela fé (salvação pela fé), o sacerdócio
universal de todos os crentes (livre interpretação das escrituras) e a famoso slogan:
solus Christus, sola Gratia, sola Fides, sola Scriptura (só o Cristo, só a Graça, só a Fé e
só a Escritura).

Lutero morreu em Eisleben, a mesma cidade onde nasceu, em fevereiro de 1546.


REFLITA
“Segundo Lutero, Deus não é um juiz in exível. Ele doa aos pecadores a
salvação pela graça, baseada na fé e por mérito exclusivo de Cristo. Isso
exige a substituição da ritualidade descaradamente exterior pela íntima
edi cação pessoal; do poder temporal do papado pelo poder eterno do
verbo divino, revelado através da Bíblia; da intermediação dos ministros
do culto pela leitura e interpretação individuais das Sagradas Escrituras”
(DE MASI, 2014, p.237). Na atualidade, podemos considerar as práticas
que regeram a Reforma vivas nas Igrejas protestantes brasileiras?
A Reforma Inglesa

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Para compreender as transformações religiosas na Inglaterra no século XVI é de
extrema importância compreender a política real britânica na passagem do século
XV para o século XVI.

Ao longo e após um con ito encarniçado entre França e Inglaterra, conhecido como
Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453, apesar do nome a Guerra durou 116 anos), as
sucessões dinásticas ao trono inglês estavam restritas a duas famílias reais,
Lancaster e York, que se alternavam no trono. Enquanto uma reclamava o direito ao
trono a outra exercia o poder de maneira a tentar eliminar seus adversários, isso se
dava de forma inversamente proporcional. Esse período da História Inglesa cou
conhecido como Guerra das Rosas (1455 – 1485).

Enquanto os con itos internos ocorriam, uma terceira via foi apresentada no seio da
família Lancaster, essa via foi representada por Henrique, que em 1485 derrotou o rei
Ricardo III, da dinastia de York, na batalha de Market Bosworth e, no mesmo ano,
casou-se com Elisabeth de York, sobrinha de Ricardo, se consolidou rei da Inglaterra,
inaugurando uma vertente dinástica conhecida como Família Tudor.

Henrique VII, como cou conhecido, entendia claramente que as uniões


matrimoniais poderiam ser instrumentos diplomáticos, de expansão e coalizão
contra futuros inimigos, diante disso, casou sua lha, Margarida, com o rei da
Escócia, Jaime IV, e Arthur, herdeiro do trono inglês, com Catarina, lha do rei
Fernando, da Espanha.

O casamento de Arthur e Catarina, no nal de 1501, foi recebido com grandes honras
e expectativas, tanto que o “dote espanhol atingiu a soma enorme de 200 mil
coroas” (MAINKA, 2007a, p. 131).

Apesar da grande expectativa, o casamento do herdeiro do trono inglês durou


apenas cinco meses. Arthur morreu de repente em abril de 1502, com apenas 15
anos de idade. Para não perder o acordo com o monarca espanhol Henrique VII,
tratou de buscar a anulação do casamento de Arthur e formalizar uma união com
seu lho mais novo, Henrique, que na época tinha apenas 11 anos.
O casamento de Henrique e
Catarina foi formalizado apenas em
1509, ano em que se tornou rei da
Inglaterra, após a morte do pai, se
consolidando como Henrique VIII.
Muitas foram as tentativas de
Henrique e Catarina para consolidar
um herdeiro que pudesse assumir o
trono inglês após sua morte, no
entanto, dos cinco partos, apenas
um bebê vingou. Os cinco partos
foram de meninas, fato que
preocupava Henrique, que, como
sinal de virilidade, esperava um
herdeiro masculino. Henrique, como
convencionalmente era pensado no
século XVI, acreditava que o
“problema” do nascimento de
meninas estava na mulher, hoje a
ciência moderna avalia que a
de nição do sexo do bebê é em
grande medida in uenciada pelo
gene masculino.

Outra questão que assombrava


Henrique VIII em relação ao
casamento era o fato de estar
casado com a esposa de seu irmão.
Como citado por Michael Maurer
(apud MAINKA, 2007a, p. 134) “Para
um contemporâneo teologicamente
formado, como Henrique, era quase
inevitável atribuir o trecho da Bíblia
(Lev 20) a si mesmo, no qual é
ameaçado car sem lhos quem
casa com a mulher do seu irmão”.

Henrique VIII acreditava que a única


forma de dar conta desse
“problema” era a anulação do
casamento, diante disso iniciou uma
série de pedidos para a anulação do
casamento junto à Santa Sé. O papa
não pensava na possibilidade da
suspensão do matrimônio por
motivos óbvios, não queria
problemas com a Espanha e não
queria maiores discórdias com o
Imperador Carlos V, que era
sobrinho de Catarina.

Figura 7: Henrique VIII | Fonte: wikipedia

Figura 8: Catarina de Aragão

Fonte: wikipedia

Enquanto o matrimônio não era suspenso, setores da burguesia e da nobreza


inglesa tomavam contato com a Reforma de Lutero e imaginavam a possibilidade
de desvincular-se da Igreja Romana, que detinha parte dos impostos pagos (no caso
da burguesia e do campesinato) e vastas extensões territoriais no reino.
Em 1529, o parlamento reunido em Westminster, decretou a subordinação da Igreja
ao Estado inglês. A partir de 1530, fez com que o clero jurasse delidade ao rei acima
dos interesses de Roma, quem não jurasse seria condenado à morte. Esses
juramentos se tornaram obrigatórios depois de Thomas Cromwell, conselheiro de
Henrique VIII, que informava à câmara baixa que “havia descoberto que os clérigos
eram apenas ‘meio’ súditos, devido ao fato de eles prestarem juramento de
obediência ao papado” (MAINKA, 2007a, p. 136).

O parlamento, que cou reunido em Westminster até 1534, ainda conseguiu abolir
as canatas, uma taxa de um terço pago a Roma pela receita anual. Em janeiro de
1533 Thomas Cranmer foi nomeado arcebispo de Canterbury, o principal da
Inglaterra. Neste mesmo mês, fez o casamento de Henrique VIII e a jovem dama de
honra Ana Bolena, que já se encontrava grávida.

Em março de 1533, uma lei

[...] proibiu, em questões referentes aos matrimônios ou aos


testamentos, recursos dos tribunais arcebispais aos tribunais em Roma.
Com essa lei, o Direito Canônico cava subordinado à coroa inglesa. O
Arcebispo de Canterbury foi nomeado à instância mais alta para todo o
reino da Inglaterra (MAINKA, 2007a, p. 137).

Com essa lei, chamada Act of Restraint of Appeals, em tradução livre “ato de
restrição de apelações”, os direitos da Igreja Romana foram totalmente abolidos do
território inglês. Em 23 de maio de 1533, o casamento de Henrique VIII de Catarina de
Aragão foi declarado ilegítimo e perdeu a validade. Em contrapartida, o casamento
com Ana Bolena fora considerado legítimo e o futuro herdeiro, como detentor do
direito de privilégio na sucessão do trono.
Em setembro de 1534, Henrique VIII
foi excomungado da Igreja Católica
pelo papa Clemente VII e, em 30 de
agosto de 1535, o papa Paulo III
reforçou a excomunhão anterior, que
foi de nitivamente publicada em
1538.

Ana Bolena deu à luz outra menina,


batizada de Elizabeth, que
posteriormente reinou por 45 anos.
Agora Henrique tinha duas lhas,
Maria, do casamento com Catarina, e
Elizabeth; não alcançando seu
objetivo primeiro. Henrique viria a
casar mais quatro vezes, sendo que
da terceira esposa, Jane Seymour,
teve um herdeiro varão, Eduardo.

Em 1534, Henrique VIII publicou o


Ato de Supremacia, inaugurando
de nitivamente a Igreja Nacional
Inglesa, conhecida como Igreja
Anglicana.
Figura 9: Ana Bolena - Elizabeth (1533-36) | Fonte:
wikipedia

Em setembro de 1534, Henrique VIII foi excomungado da Igreja Católica pelo papa
Clemente VII e, em 30 de agosto de 1535, o papa Paulo III reforçou a excomunhão
anterior, que foi de nitivamente publicada em 1538.

Ana Bolena deu à luz outra menina, batizada de Elizabeth, que posteriormente
reinou por 45 anos. Agora Henrique tinha duas lhas, Maria, do casamento com
Catarina, e Elizabeth; não alcançando seu objetivo primeiro. Henrique viria a casar
mais quatro vezes, sendo que da terceira esposa, Jane Seymour, teve um herdeiro
varão, Eduardo.

Em 1534, Henrique VIII publicou o Ato de Supremacia, inaugurando de nitivamente


a Igreja Nacional Inglesa, conhecida como Igreja Anglicana.
Figura 10 - REINO UNIDO - CIRCA, 1997: selo postal inglês em homenagem ao Rei
Henrique VIII

Fonte: Shutterstock

A Igreja que nascia era na prática, “um catolicismo sem papa” (MAINKA, 2007a, p.
140), Henrique e seus seguidores mantiveram, em primeiro momento, os mesmos
princípios católicos, no entanto a historiogra a tradicional trata o movimento inglês
como reformista, pois aconteceu como consequência da reforma iniciada nos
principados alemães.

A Igreja Anglicana, ainda sofreu algumas transformações importantes durante o


reinado da lha de Henrique VIII, Elizabeth I, aproximando-se às perspectivas
calvinistas, mas, de forma geral, os anglicanos ainda se assemelham aos católicos
romanos. Ainda hoje a autoridade máxima da Igreja é a rainha da Inglaterra e os
preceitos religiosos são ordenados segundo a visão do arcebispo de Canterbury.
A Reforma Calvinista

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
A reforma iniciada por João Calvino, em Genebra, foi tão importante quanto a de
Lutero, mas o protestantismo calvinista imprimiu algo que o sociólogo Max Weber
(2006) chamou de “Ética Protestante”, que contribuiu para o desenvolvimento do
que o autor chamou de “Espírito do Capitalismo”, também essa modalidade
teológica protestante foi majoritária entre os colonizadores dos Estados Unidos da
América.

De forma geral, não existe uma Igreja com o nome calvinista tal como a luterana, o
próprio João Calvino não era simpático a este termo. Nos diversos países onde se
estabeleceram recebem nomes distintos, como huguenotes na França,
Presbiterianos na Escócia e Puritanos na Inglaterra.
João Calvino nasceu em Noyon,
cidade do norte da França, em 1509,
lho de um importante promotor da
igreja local e uma burguesia
enriquecida, em 1521, passou a
receber uma pensão da diocese
local, que lhe bene ciou pelos 13
anos seguintes.

Em 1523, foi para Paris estudar Latim


e Teologia e, em 1528, passou a
estudar leis, na Universidade de
Orléans. Dali segue para Bourges,
onde também estudou grego e, em
1531, ano da morte de seu pai – sua
mãe morrera quando tinha apenas 5
anos –, regressa a Paris. Seus
biógrafos atribuem sua conversão à
fé protestante em 1533 e foi acusado
de coautor do discurso proferido por
Nicholas Cop, reitor da Universidade
de Paris em favor da fé reformada,
diante do clima criado entre seus
colegas, foge para Angoulême e, no
ano seguinte, regressa a Noyon,
onde abdica do benefício
eclesiástico.

Em 1536, Calvino termina e publica


sua obra-prima, Instituição da
Religião Cristã. Conhecida como
Institutas, foi escrito primeiro em
Latim e depois ganhou uma versão
em francês, foi a principal obra da
teologia calvinista, onde se encontra
parte signi cativa de suas
tendências religiosas.

Figura 11: João Calvino | Fonte: wikipedia

Entre 1536 e 1537 foi convidado por um amigo, Guillaume Farel, a assumir a reforma
na cidade-estado de Genebra, na atual Suíça. Atuaram como pregadores durante
dois anos na cidade, no entanto, entre 1538 e 1541, pregara apenas para alguns,
porque foi expulso da cidade (BLAINEY, 2012; ENCICLOPÉDIA BARSA, 1995), para
outros, porém, pregou porque foi convidado por outro amigo. Se mudou para
Estrasburgo, onde foi pastor de uma pequena igreja de refugiados franceses.
Retornou a Genebra em 1541 e, ao longo dos anos seguintes, tornou-se o homem
mais importante da cidade.

O temperamento de Calvino era calculista e reservado, em contraste


com o de Lutero, ardente e emotivo. Firmemente convencido de que
deveria pôr em prática sua religião, tentou transformar Genebra num
Estado onde o governo teria a exclusiva nalidade de fazê-la observar.
Os cidadãos deveriam fazer uma pro ssão de fé e viver de acordo com
a mesma (ENCICLOPÉDIA BARSA, 1995, p. 508).

É interessante perceber que, apesar da Reforma do século XVI ter se iniciado com
Lutero, Calvino se diferencia em questões como a extrema reverência nas
celebrações e a total não devoção a imagens e santos, além da total abdicação das
bebidas, de jogos, a assistência aos pobres, a proibição das danças e trocas públicas
de carícias e o não uso de instrumentos musicais nas celebrações. Sobre este último
ponto, Blainey (2012, p. 198) explica que “A ideia parece severa demais, mas os
visitantes estrangeiros que entravam na ampla igreja de Genebra e ouviam
centenas de pessoas cantando juntas cavam pasmos, ao perceber tanta força e
sinceridade”.

Sem dúvida a principal marca da doutrina calvinista foi a teologia da predestinação,


pela qual atribui as ações da vida no mundo em total e absoluta vontade do criador.
Deste modo, Deus, em seu in nito poder, já predestinou o futuro da humanidade,
sendo a vida uma corrida, cujo m já foi decidido por Ele. O próprio Deus sabe se os
homens foram predestinados à vida eterna ou à condenação.

Não há possibilidade de saber se somos salvos, ou condenados, mas a justeza e


integridade com a qual levamos a vida nos dá pistas sobre o futuro que nos espera.
Muitos burgueses aderiram à causa
calvinista, pois diferente do que era
pregado pela igreja romana que
condenava o lucro, para Calvino as
aquisições nanceiras ou não,
advém de Deus, é Ele quem
proporciona por meio do empenho
do exercício de suas funções.

Max Weber (2006), sociólogo do


século XIX e início do XX, em sua
obra A Ética Protestante e o Espírito
do Capitalismo, atribui ao ideal
protestante de trabalho e riqueza
como importante para o
desenvolvimento do capitalismo,
tanto que os países que adotaram o
protestantismo, baseados em uma
“ética” religiosa calvinista obtiveram
sucesso econômico, sendo hoje as
maiores potências mundiais.

Calvino se tornou, depois da morte


de Lutero, o principal líder
protestante da Europa. Faleceu em
Genebra em 1564, foi enterrado sem
pompa e majestade, num túmulo
simples com as iniciais de seu nome.

Figura 12: Max Weber | Fonte: wikipedia


SAIBA MAIS
A Reforma não pode ser explicada a partir de um único acontecimento
ou a partir de um único acontecimento ou a partir da ação de uma
única pessoa. Queremos a rmar categoricamente que a Reforma não
iniciou com a divulgação das 95 teses de Lutero, em 31 de outubro de
1517. Muito antes de Lutero haviam sido criadas situações, haviam sido
difundidas ideias, despertados sentimentos que provocaram e
possibilitaram o com o con ito com a Igreja de então. Podemos até
dizer que tais sentimentos estavam a exigir o que acabou acontecendo
no século XVI.

Interessante é observar aqui um pequeno aspecto de grandes


consequências. Na Idade Média surgiu, nos Países Baixos, movimento
designado devotio moderna. Seus principais difusores foram os Irmãos
da Vida Comum, pessoas que queriam viver a fé cristã sem se aliarem a
Ocamismo ou a Tomismo ou à mística. Queriam ser cristãos na vida
comum, simples. Um dos mais conhecidos é Thomas Kempis (1379/80 –
1471), autor da Imitação de Cristo. Eram copistas ou, simplesmente,
professores. Entre os alunos dos Irmãos da Vida Comum encontramos
Erasmo de Roterdã, Adriano de Utrecht (1459 – 1522), preceptor de
Carlos V e mais tarde Papa Adriano VI (em 1522/23), Nicolau Copérnico
(1473 – 1543), Martinho Lutero. Inácio de Loyola foi profundamente
in uenciado por Tomas Kempis e muitos dos primeiros inacianos foram
Irmãos da Vida Comum. São muitos os antecedentes da Reforma.

Fonte: Dreher (2007, p. 183).


Situação Política na Europa
Pós-reforma

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
O contexto europeu nos anos que marcaram a expansão da Reforma foi
de nitivamente notado pelas lutas políticas, entre as poderosas famílias de
Habsburgo e Valois, pela real ameaça Otomana no oriente, pela volta do
crescimento populacional após o decréscimo do século XIV e pelos medos
escatológicos que pairavam sobre as classes menos favorecidas da Europa.

Como já posto, o sucesso da Reforma talvez estivesse nessas questões apresentadas.


Enquanto o papa mediava as políticas de grandes proporções, Lutero e seus
séquitos oresciam na pregação de uma nova modalidade de fé cristã, que, de
forma geral, era mais simples e compreensível às classes populares, diferente de
toda pompa católica e de intermináveis homilias em latim.

As disputas entre Valois e Habsburgo chegaram a momentos bem delicados,


quando em 1527, o imperador Carlos V decretou o famoso Sacco di Roma (Saque de
Roma), uma retaliação contra o apoio do papa ao monarca francês. A cidade foi
invadida por soldados que “estavam sem soldo e com fome” (ARNAUT DE TOLEDO,
2007, p. 112), já se pode imaginar o quão trágico foi este episódio no seio da
cristandade, um monarca católico, decreta a invasão ao centro do papado.

No Sagrado Império Romano Germânico, governado por Carlos V, era um


conglomerado de principados com algumas características feudais, o imperador era
a autoridade máxima dentro do território, mas cada príncipe legislava sobre
questões locais, o poder imperial era requerido em momentos singulares, quando se
tratava de questões gerais.

Explicado isso, é importante esclarecer que o imperador era católico, mas muitos
príncipes tinham aderido à causa luterana. Em 1526 foi realizada a Primeira Dieta de
Espira, no qual decidiu-se que cada monarca local poderia escolher a religião que
seria praticada em seus territórios. Essa decisão revogou a Dieta de Worms de 1521,
que obrigava a expulsão de Lutero e dos luteranos dos territórios do Império, fato
que nunca foi totalmente concluído, mas, em 1529, uma nova Dieta foi convocada
em Espira, esta, no entanto, revogou o acordo de 1526 e recolocava em vigor o
acordo de 1521.

Diante dessa nova resolução, alguns príncipes e governantes de cidades


independentes que já tinham assumido a posição luterana, deixam a reunião em
forma de protesto, não aderindo à nova determinação. Desse momento em diante
as comunidades cristãs não católicas da Europa receberam o nome de Protestantes,
derivado da postura assumida pelos príncipes em Espira (ARNAUT DE TOLEDO,
2007; DREHER, 2007; MAINKA, 2007b).
Em 1530, líderes protestantes
apresentaram na Dieta de
Augsburgo um documento redigido
por Filipe Melanchton, uma espécie
de braço direito de Lutero, a
con ssão Augustana ou con ssão
de Augsburgo, na qual apresentava
de forma clara os preceitos da fé
reformada, se tornando o primeiro
credo evangélico. Cézar de Alencar
Arnaut de Toledo (2007, p. 113)
escreve que: “Apesar da proibição de
divulgação pelo próprio Imperador
Carlos V, o texto da Confessio
augustana, como cou conhecido,
foi assumido pelas comunidades
que aderiram à nova fé nos
territórios da Alemanha”.

Em 1531, príncipes protestantes se


unem na chamada Liga de
Escalmada, se colocando contrários
aos desígnios imperiais e selando
uma forte oposição à unidade do
Sagrado Império, formando um
governo autônomo e isso foi
recebido com grande preocupação
entre as autoridades. Carlos V não
podia controlar uma rebelião interna
e ao mesmo tempo impedir os
avanços turcos, que neste momento
era um importante aliado de
Francisco I de Valois, rei da França.
Diante destas questões, em 1532,
Carlos V propõe a Paz de
Nuremberg, que rmava um acordo
entre protestantes e católicos,
possibilitando o “livre exercício da
fé”', até “a realização de um concílio”
(ARNAUT DE TOLEDO, 2007, p. 113).

Figura 13: Filipe Melanchton


Fonte: wikipedia
A reforma religiosa atingiu grandes patamares na Europa e diferente do que seus
detratores pensaram, seus efeitos foram irreversíveis. Já na década de 50, do século
XVI, muitos reinos europeus já tinham aderido à causa protestante, dentre eles
Suécia, Noruega, Dinamarca, principados alemães, Transilvânia, cidades-estados
suíços, Países-Baixos (posteriormente Holanda) e a Inglaterra, sem contar os
conglomerados protestantes no sul da França e a burguesia calvinista nos mais
diversos estados católicos.
A Contrarreforma ou
Reforma Católica

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
A m de garantir o domínio católico e impedir a proliferação de correntes religiosas
dissonantes, três instituições tiveram importante papel. A Inquisição, a Companhia
de Jesus e o Concílio de Trento foram as respostas encontradas pelo papado para
reconquistar a hegemonia perdida.

O Tribunal da Santa Inquisição foi criado no século XIII. Em primeiro momento


buscou-se perseguir e minar as in uências dos hereges cátaros, principalmente em
regiões da atual Alemanha. Os meios utilizados como pena pelo tribunal iam de
prisão à condenação na fogueira dos culpados. Seus juízes, clérigos católicos,
julgavam a partir das práticas que, aos olhos da Bíblia ou da tradição, eram vistas
como incompatíveis com o ordenamento religioso da época.

Mesmo sem deixar de existir, a in uência da Inquisição medieval durou até início do
século XV, quando diminuíram os incidentes das heresias cristãs, mas ainda neste
século teremos o início da chamada inquisição moderna. Nos reinos de Castela e
Aragão, os reis católicos, Isabel e Fernando, pedem ao Papa uma nova permissão
para perseguir outros hereges, os Conversos. Conversos era o nome dado a Judeus e
Muçulmanos que haviam se convertido ao catolicismo para fugir da intolerância
praticada principalmente pelo Estado.

A conversão desses era muitas vezes circunstancial e eles continuavam a praticar


sua fé antiga em segredo. O Papa permitiu a instauração do Tribunal do Santo Ofício
da Inquisição e, em 1481, o frade dominicano Tomás de Torquemada se torna o
Inquisidor Geral da Espanha e ca conhecido por seus contemporâneos como o
“Martelo dos Hereges”.

O Santo Ofício abriu possibilidades para a perseguição dos protestantes em


território espanhol, por isso, lá, como em Portugal, onde o Tribunal foi instaurado em
1536, o protestantismo não alcançou grande in uência. O Tribunal do Santo Ofício
em ambos os países só foi abolido no século XIX.

SAIBA MAIS
Além de Espanha e Portugal, tribunais inquisitoriais foram instaurados
nos Países Baixos, em 1523, e reforçado na Península Itálica, em 1542.
Esses dois tribunais foram estruturados com função de combater os
hereges protestantes. Muitos foram os Luteranos e Calvinistas que
foram atirados ao fogo por causa de suas convicções religiosas.
Na esteira da Inquisição, em 1559, o Papa Paulo IV estabelece a lista de livros
proibidos, o Index Librorum Prohibitorum. Neste contexto, centenas de livros foram
considerados literatura herege e queimados.

Outra arma da Igreja contra o que chamaram de heresia luterana, termo genérico
para todos os protestantes, foi a Companhia de Jesus. Fundada em 1534, em Paris,
pelo nobre basco Inácio de Loyola, a Ordem Jesuíta, como cou conhecida, tinha por
objetivo levar ao mundo à fé católica. Muito inteligentes, os jesuítas eram versados
em diversos idiomas, conheciam os preceitos básicos das ciências da época e
aprendiam não temer o desconhecido por amor a Cristo e à Santa Igreja.

Os jesuítas foram enviados para diversas regiões do globo, desde as Américas, até o
extremo oriente. São nomes importantes da Ordem os jesuítas José de Anchieta,
que fundou o Colégio de São Paulo, António Vieira, exímio orador e conselheiro real,
e o espanhol Francisco Xavier, que levou a fé católica para a Índia, China e Japão.

Os jesuítas são lembrados como grandes educadores, construindo escolas por todos
os lugares por onde passavam. Nas Américas, essas escolas tinham por objetivo a
catequização dos gentios, como chamavam os indígenas. Também caram
conhecidos como grandes empreendedores, comprando e construindo engenhos
de açúcar, de onde tiravam grande parte do sustento.
Fonte: Wikimedia

Apesar de terem sido perseguidos em determinados momentos da história, o papel


dos jesuítas na universalização da fé católica é inegável. Chegando antes dos
missionários protestantes, onde os jesuítas estiveram, o catolicismo prevaleceu por
muito tempo, como no Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. Inclusive esse último
país deu ao mundo o primeiro Papa não europeu, que é também o primeiro Sumo
Pontí ce pertencente à Cia de Jesus.

Entre 1545 e 1563 foi organizado o 19° Concílio Ecumênico da Igreja Católica, que
entrou para a história como Concílio de Trento, apesar da cidade italiana de Trento
não ter sido a única sede das atividades. A ideia do Concílio, que foi iniciada durante
o papado de Paulo III, mas que foi presidido por Paulo IV e Pio IV, era a reforma da
Igreja e a rea rmação da doutrina.

Em termos de rea rmação da doutrina católica cou de nido, a justi cação pela fé,
a supremacia das escrituras e da tradição, a rea rmação dos sacramentos, a
doutrina do purgatório, o culto aos santos e a liberação de indulgências. Já em
relação à reforma da Igreja, o Concílio determinou a condenação dos abusos do
clero e passou a recomendar que os sacerdotes passassem a explicar a missa aos
éis, visto que até aquele momento as cerimônias eram em latim, com os padres de
costas para o público. Algumas sugestões foram rejeitadas no Concílio, dentre elas o
casamento dos sacerdotes.

REFLITA
Ao rea rmar com autoridade o dogma, o concílio (de Trento) pôs termo
às indecisões que tinham nascido das teses novas, circulando já antes
do aparecimento de Lutero, e das divergências entre os reformadores.
Além disso, a necessidade de unidade, a busca de segurança num
mundo onde as referências tinham sido abaladas levaram os indecisos
a ligar-se mais fortemente à Igreja tradicional (Católica) e aos seus
costumes.

Fonte: Baumgartner (2000).


Conclusão - Unidade 2

Nesta unidade aprendemos sobre a economia e a religião na Idade Moderna. Apesar


de ser um tema complexo, as transformações vivenciadas neste período deixaram
marcas profundas na contemporaneidade. O protestantismo é hoje a segunda maior
vertente cristã do mundo e tem apresentado altos índices de crescimento, o que
pode fazer com que as ideias iniciadas por Martinho Lutero se tornem, em cerca de 20
anos, a maior vertente do cristianismo em número de adeptos, ultrapassando os
católicos romanos.

Também vimos nesta unidade como a Igreja Católica se reestruturou e rea rmou sua
soberania ao longo da História. Como um organismo vivo, a instituição compreendeu
com seus erros a necessidade de se reinventar.

É necessária a compreensão de que este tema não se esgota aqui, as dicas de leituras
e vídeos apresentados ao longo do capítulo são de extrema importância para obter
outras visões sobre o assunto. É importante compreender que quando nos detemos
ao estudo da História, estaremos sempre em movimento e novas leituras sempre
serão necessárias, a m de reciclar nosso saber.

Leitura Complementar
Leitura fundamental sobre a maneira como se estrutura o pensamento protestante
calvinista e como essa forma in uenciou o capitalismo moderno:

WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo:


Companhia das Letras, 2006.

Texto importante para compreender o posicionamento de Lutero diante do governo


civil e compreender suas relações com o mundo político da época:
LUTERO, Martinho. Sobre a autoridade secular. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

Tese importante para compreender a ação educacional da Cia de Jesus no Império


Português:

COSTA, Célio Juvenal. A Racionalidade jesuítica em tempos de arredondamento do


mundo: o Império Português (1540-1599). Piracicaba: UNIMEP-Tese (Doutorado em
Educação) (2004).

Livro
Filme
Unidade 3
O Iluminismo e a
Emancipação das Treze
Colônias Inglesas

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Introdução
Nesta unidade visamos apresentar para você, estudante, um contexto geral em
relação ao Iluminismo na Europa e ao processo de emancipação dos Estados Unidos
em relação à Inglaterra no século XVIII. Provavelmente você já deve ter ouvido falar
desses temas referentes à História Moderna que possuem interligação. É possível
compreender a revolução estadunidense sem ter um entendimento pleno em
relação ao que foi o Iluminismo, mas será muito mais interessante para você,
estudante, alcançar a relação entre essas duas temáticas.

O Iluminismo não engloba apenas a História, sendo abordado também em outras


áreas das Ciências Humanas, originando até hoje centenas de estudos e obras
realizadas por pesquisadores. Existem milhares de exemplos que poderíamos
mencionar sobre as consequências do Iluminismo na contemporaneidade. Quando
ligamos a televisão ou acessamos os portais da internet com notícias que envolvem
política brasileira ou internacional, podemos observar como ideias originadas pelos
pensadores iluministas ainda impactam a realidade atual. Visamos discorrer sobre
os iluministas relevantes e exempli car para você, prezado(a) aluno(a), o que foi o
Iluminismo.

No que se refere à emancipação dos Estados Unidos, possivelmente você já deve ter
visto em alguma obra cultural estadunidense (seja um romance histórico, lme ou
série) que faz referência ao Quatro de Julho, data importantíssima para os
estadunidenses, sendo equivalente, de alguma forma, ao Sete de Setembro no
Brasil. Ambas as datas evocam a liberdade alcançada pelos países americanos em
relação a metrópoles europeias. No tópico nal desta unidade visamos enfatizar, de
forma clara, como se decorreu o con ito da emancipação das Trezes Colônias
Inglesas, evento histórico que culminaria na constituição de um governo
democrático, o primeiro do continente americano.

Plano de Estudo
As origens do Iluminismo

Pensadores Iluministas

Impacto Teórico e Político do


Iluminismo

A Emancipação das Treze


Colônias Inglesas
Objetivos de Aprendizagem
Conceituar e contextualizar o Iluminismo e o
processo de emancipação dos Estados
Unidos

Compreender a concepção de diferentes


pensadores iluministas e os fatores que
condicionaram o con ito de emancipação
dos Estados Unidos contra a Inglaterra.

Estabelecer a importância das ideias


iluministas e os princípios que
condicionaram a construção dos Estados
Unidos como nação.
As Origens do Iluminismo

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Fortes (1985, p. 8) de ne o Iluminismo como um “movimento cultural prodigioso
que domina a Europa Ocidental – especialmente a França, a Inglaterra e a Alemanha
– dos dois últimos decênios do século XVII até mais ou menos 1780 [...]”. Na
concepção iluminista decorria-se uma “convicção no progresso do conhecimento
humano, na racionalidade, na riqueza e no controle sobre a natureza” (HOBSBAWM,
1977, p. 36 - 37). Tal concepção

“[...] não visa mais a Deus, mas aos homens. Nesse sentido, o
pensamento das Luzes é um humanismo ou, se preferirmos, um
antropocentrismo. Não é mais necessário, como pediam os teólogos,
estar sempre pronto a sacri car o amor das criaturas ao do Criador; é
possível contentar-se com amar outros seres humanos. Seja o que for a
vida no além, o homem deve dar um sentido à sua existência terrena. A
busca da felicidade substitui a da salvação (TODOROV, 2008, p. 20).

Os conceitos iluministas foram guiados “por numerosos indivíduos que, longe de


estarem de acordo entre si, estão constantemente engajados em ásperas
discussões, de país a país e também em cada país” (TODOROV, 2008, p. 14). Como
menciona Fortes (1985, p. 14), o Iluminismo era “um movimento de ideias que se
manifesta através de uma grande variedade de obras distintas, mas que, no entanto,
participam de um “espírito” comum”.
Figura 1 - Francis Bacon

Fonte: wikipedia

Fortes (1985, p. 24) faz menção a três eruditos que foram muito importantes na
gênese do Iluminismo, o primeiro deles é o pensador inglês “Francis Bacon (1561-
1627), autor de obras fundamentais tais como o Novum Organum, verdadeiro
manifesto inaugural do método experimental que acabará por dominar o curso dos
novos conhecimentos”.

Quanto aos outros dois pensadores:

“[...] Descartes (1596-1650) e Locke (1632-1704) participam do mesmo


espírito: o primeiro, com o seu Discurso sobre o Método e suas
Meditações Metafísicas assenta as bases de uma rigorosa loso a
“racionalista” que faz da “luz natural” – a metáfora é de Descartes – de
que toda criatura dispõe a instância última sobre a qual deverá ser
edi cado qualquer sistema de conhecimento; o segundo, com o seu
Ensaio sobre o Entendimento Humano, faz da experiência a fonte de
todo conhecimento, submetendo o intelecto humano a uma minuciosa
dissecação (FORTES, 1985, p. 24).

Os conceitos originados por estes três autores europeus foram essenciais no período
de difusão das concepções iluministas (FORTES, 1985).
Fortes (1985) refere-se a uma ocorrência de grande impacto, próxima do nal do
século XVII, em que a interpretação dos cosmos, que era preponderante, é
subvertida. Então, se origina

[...] à explicação do movimento dos corpos por meio da teoria da


atração universal formulada pelo inglês Sir Isaac Newton, cujos
Principia Philosophiae Naturalis, publicados em 1687, constituem, na
opinião unânime dos historiadores, a carta de alforria dos tempos
modernos. A hipótese explicativa de Newton constitui uma aplicação
concreta e brilhante para um problema particular de física do novo
método cientí co e abre, nestas condições, perspectivas auspiciosas
para o conhecimento humano (FORTES, 1985, p. 26).

Anteriormente, com a visão sacra, as perguntas complexas envolvendo os seres


humanos eram alcançadas nos respectivos vocábulos sagrados anunciados na
Bíblia. Era preciso que os indivíduos empregassem sua percepção e erudição com a
nalidade de ter uma interpretação mais acertada de determinados segmentos dos
textos sacros, a nal, as explicações presentes nestes textos não eram
constantemente inteligíveis, porém, de modo algum, a inteligência humana seria o
aspecto preponderante em tal processo, sendo usualmente um auxiliar da doutrina
religiosa (FORTES, 1985).

Em contrapartida, na concepção iluminista

o que se rejeita é a submissão da sociedade ou do indivíduo a preceitos


cuja única legitimidade advém daquilo que uma tradição atribui aos
deuses ou aos ancestrais; não é mais a autoridade do passado que deve
orientar a vida dos homens, mas seu projeto para o futuro (TODOROV,
2008, p. 15).

Contudo os pensadores iluministas não visavam renunciar os credos, “mas conduzir


a uma atitude de tolerância e à defesa da liberdade de consciência” (TODOROV,
2008, p. 16).

Caro(a) aluno(a), torna-se necessário considerar que “com características peculiares


na França, na Inglaterra ou na Alemanha, assistimos, nos séculos XVII e XVIII, à
aceleração do lento e complexo processo de transição do modo de produção feudal
para o modo capitalista de produção [...]” (FORTES, 1985, p. 15). Neste contexto, a
antiga nobreza que tinha grande preponderância governamental e nanceira teve
seu lugar ocupado pelos burgueses, que ascendem socialmente nesse período. É
importante entender tal processo, pois os eruditos iluministas seriam – mesmo que
indiretamente – ligados de alguma forma a camada social burguesa (FORTES, 1985).
Pensadores Iluministas

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Fortes (1985, p. 30) menciona dois pensadores iluministas de grande relevância:

Dois nomes dominam desde a sua primeira metade o cenário do


século XVIII, constituindo os principais representantes da primeira
“geração” do Iluminismo: Montesquieu e Voltaire. O Espírito das Leis, a
obra-prima de Montesquieu, de 1748. Voltaire, por sua vez, que publica
somente em 1756 o fundamental Ensaio sobre os Costumes, já havia
conquistado um lugar de nitivo na galeria dos grandes nomes da
literatura francesa desde os anos 20.

Estes dois autores tiveram uma signi cativa atuação na época em que viveram, as
gerações futuras também foram inspiradas por estes iluministas (FORTES, 1985).

Figura 2: Montesquieu

Fonte: wikipedia

Fortes (1985, p. 30) menciona dois pensadores iluministas de grande relevância:


Dois nomes dominam desde a sua primeira metade o cenário do
século XVIII, constituindo os principais representantes da primeira
“geração” do Iluminismo: Montesquieu e Voltaire. O Espírito das Leis, a
obra-prima de Montesquieu, de 1748. Voltaire, por sua vez, que publica
somente em 1756 o fundamental Ensaio sobre os Costumes, já havia
conquistado um lugar de nitivo na galeria dos grandes nomes da
literatura francesa desde os anos 20.

Estes dois autores tiveram uma signi cativa atuação na época em que viveram, as
gerações futuras também foram inspiradas por estes iluministas (FORTES, 1985).

O primeiro, de origem francesa, era denominado “Charles-Louis de Secondat, senhor


de La Brède e barão de Montesquieu, nascido em 1689 e morto em 1755” (FORTES,
1985, p. 30-31). Montesquieu originou vários escritos eruditos no decorrer de sua vida,
porém seu trabalho de maior impacto é denominado O Espírito das Leis (FORTES,
1985).

Com esta produção, o intelectual francês iniciou “uma análise de ciência política”
(FORTES, 1985, p. 36). Um dos cernes da obra de Montesquieu consiste na recusa que
as normas que regem distintas populações sejam consideradas legítimas ou
ilegítimas, porém, tais normas são relativamente apropriadas às particularidades das
diferentes populações e das condições dos períodos e locais onde foram
constituídas (FORTES, 1985).

Em tal concepção, “a forma de governo não é a única variável a ser considerada.


Deve-se levar em conta igualmente outras relações assim como o ‘espírito’ particular
de cada povo e de cada época” (FORTES, 1985, p. 36).

Estimado(a) aluno(a), é essencial perceber a inovação do pensamento do iluminista


francês em seu trabalho, ele tem uma visão:

“[...] inaugural, como Marx ou Freud, fruto do novo espírito cientí co,
que o barão surpreenderá a realidade social. Até então o complexo
universo das coisas humanas, a variada dimensão dos fatos sociais não
era senão um fator subalterno do real desprovido de autonomia. A
realidade política era um território subordinado ao da Moral e a ela se
chegava ao término de uma cadeia de deduções. Descobre-se agora
um novo objeto autônomo de estudos. Abre-se caminho para
observação metódica dos fatos sociais, sem ideias preconcebidas
(FORTES, 1985, p. 38).

Contudo, em relação a concepção dos fundamentos governamentais exercidas pelo


intelectual francês é incorreto enquadrá-lo como se fosse insurgente. Montesquieu
era a favor de um reinado com poderes limitados (FORTES, 1985). Prezado aluno, no
que se refere ao livro O Espírito das Leis de Montesquieu, é importante ressaltar que
em um dos segmentos deste trabalho teórico é originada “a célebre teoria da
separação e distinção dos poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário” (FORTES,
1985, p. 39).

Com relação a Voltaire (1694-1778),


ele não efetuou um trabalho
metódico equiparado à obra central
de Montesquieu. Os conceitos
originados por este autor francês
encontram-se dispersos em várias
produções diversi cadas, sendo
fundamentalmente um notável
amotinador e divulgador da
mentalidade iluminista. A
denominação verídica do iluminista
era François Marie Arouet, sendo
originário da capital francesa
(FORTES, 1985).

Fortes (1985, p. 41) menciona que


após esplêndida pro ssão escrita,
com idade avançada, Voltaire passa
a ter “uma atuação política intensa,
tornando-se um verdadeiro apóstolo
da tolerância e celebrizando-se pelas
polêmicas em que se envolve”.

Figura 3: Voltaire | Fonte: wikipedia

Com relação a Voltaire (1694-1778), ele não efetuou um trabalho metódico


equiparado à obra central de Montesquieu. Os conceitos originados por este autor
francês encontram-se dispersos em várias produções diversi cadas, sendo
fundamentalmente um notável amotinador e divulgador da mentalidade iluminista.
A denominação verídica do iluminista era François Marie Arouet, sendo originário da
capital francesa (FORTES, 1985).

Fortes (1985, p. 41) menciona que após esplêndida pro ssão escrita, com idade
avançada, Voltaire passa a ter “uma atuação política intensa, tornando-se um
verdadeiro apóstolo da tolerância e celebrizando-se pelas polêmicas em que se
envolve”.

No que concerne ao aspecto religioso, o iluminista criticava a discriminação que


tinha por base a fé. Ele investia contra a crendice irrestrita, e no credo sobre as
dádivas que se acreditavam ter origem divina e que o onipotente fosse caracterizado
como um ser humano, contudo ele não acreditava que o soberano divino fosse
irreal, ele admitia sua relevância julgando ser um preceito elucidativo essencial e
de nitivo da totalidade dos cosmos. O francês se opunha à soberania incontestável
do pontí ce e desaprovava também os padres (FORTES, 1985).

No que se refere a administração governamental,

[...] Voltaire é um reformista moderado e pragmático. A “liberdade” e a


“propriedade” privada, uma sustentando a outra, são os dois pilares da
sua política. [...] Sua política é uma política concreta e quotidiana, tendo
lutado por reformas administrativas e civis: proibição das prisões
arbitrárias, supressão da tortura e da pena de morte, supressão do
processo judicial secreto, unidade da legislação, melhor recebimento
de impostos e garantia da liberdade de pensamento e expressão
(FORTES, 1985, p. 43).

Contudo, o fragmento do trabalho do iluminista que tem grande singularidade e


relevância é voltado para o conhecimento histórico. Os conceitos formulados por
Voltaire com relação à averiguação que tem como enfoque a história, encontram-se
ainda na contemporaneidade, assunto primário comum na erudição historiográ ca
(FORTES, 1985).

O autor francês tinha como

Sua grande preocupação, na descrição dos fatos e levantamento das


fontes do passado, é a “exatidão”. Por outro lado, ele rompe com a
história até então praticada, que é amontoado de árvores genealógicas
travestidas de relato histórico. Os historiadores em geral preocupam-se
com a evolução de uma família. Outro ponto de vista que ele repudia é
o exclusivamente militar: chega de histórias que são simples datas
comemorativas dos feitos de alguns militares. Preocupa-se Voltaire
com “povos”, buscando determinar o espírito do tempo e o “espírito das
nações”. Propõe uma história que abrange o conjunto das atividades
humanas, o movimento de preços e salários, as grandes invenções (o
moinho de vento, a lareira, os óculos) (FORTES, 1985, p. 44).

Na perspectiva do autor francês, a essência dos homens, sendo única, se aprimora


lentamente por meio de distintas fases, avançando com destino a realização do
esplendor, do sobrepujamento das crendices, do triunfo dos povos (FORTES, 1985).
Outra gura de grande relevância no
Iluminismo é Jean-Jacques
Rousseau. Diferentemente de outros
pensadores do século XVIII, o
intelectual suíço a rmava
constantemente acreditar no
cristianismo, não questionava a
soberania e existência de Deus do
jeito que era relatado nas escrituras
sagradas (FORTES, 1985).

No célebre trabalho do autor suíço,


denominado Discurso sobre a
Origem da Desigualdade entre os
Homens, ele aborda as ocorrências
históricas que envolvem os seres
humanos e suas vinculações
diversas, sendo que elas
ocasionaram várias problemáticas,
por exemplo, a pobreza extrema da
camada populacional e a
exuberância dos regentes e da
classe burguesa. Rousseau negava
que tal acentuado desequilíbrio
entre diferentes estratos sociais era
um processo congênito (FORTES,
1985).

Figura 4: Jean-Jacques Rousseau. | Fonte: wikipedia

Fortes (1985, p. 69) menciona que o erudito suíço acreditava que, para os seres
humanos adquirirem um bem-estar, deveriam instituir “um contrato de tal forma
que as diferentes soberanias e liberdades que se juntam permaneçam
inde nidamente livres e soberanas”. Tzvetan Todorov (2008, p. 19) discorre
brevemente sobre o conceito de soberania no período de difusão do Iluminismo,
sendo um “princípio já antigo que recebe aqui um novo conteúdo: a fonte de todo
poder está no povo, e nada é superior à vontade geral”.

Prezado(a) aluno(a), no prosseguimento, discorremos sobre os impactos dos


conceitos originados pelos eruditos iluministas.
Impacto Teórico e Político
do Iluminismo

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
O iluminismo teve como seu âmago “a França e sua capital, Paris. Paris, aliás, é a
grande metrópole do século XVIII, não apenas do ponto de vista cultural” (FORTES,
1985, p. 46). Mas isto não quer dizer que o movimento Iluminista compreendia
apenas o território francês, manifestou-se também nas principais cidades de
diferentes nações europeias (FORTES, 1985).

De acordo com Fortes (1985, p. 47), sobre o Iluminismo francês e os preceitos


iluministas de forma geral é necessário mencionar a sublime obra Enciclopédia, que
foi inicialmente lançada na capital francesa “em 1751, seu título completo era o
seguinte: Enciclopédia ou Dicionário Raciocinado das Ciências, das Artes e dos
Ofícios, por uma Sociedade de Homens de Letras”. Este trabalho voltava-se
principalmente “às ciências, às artes e aos ofícios e busca mostrar as ligações que se
estabelecem entre seus diferentes setores” (FORTES, 1985, p. 47).

Figura 5 - Frederico II

Fonte: wikipedia

O iluminismo teve como seu âmago “a França e sua capital, Paris. Paris, aliás, é a
grande metrópole do século XVIII, não apenas do ponto de vista cultural” (FORTES,
1985, p. 46). Mas isto não quer dizer que o movimento Iluminista compreendia
apenas o território francês, manifestou-se também nas principais cidades de
diferentes nações europeias (FORTES, 1985).

De acordo com Fortes (1985, p. 47), sobre o Iluminismo francês e os


preceitos iluministas de forma geral é necessário mencionar a sublime
obra Enciclopédia, que foi inicialmente lançada na capital francesa “em
1751, seu título completo era o seguinte: Enciclopédia ou Dicionário
Raciocinado das Ciências, das Artes e dos Ofícios, por uma Sociedade
de Homens de Letras”. Este trabalho voltava-se principalmente “às
ciências, às artes e aos ofícios e busca mostrar as ligações que se
estabelecem entre seus diferentes setores” (FORTES, 1985, p. 47).

Fortes (1985) menciona que com a nalidade de se efetuar este grandioso trabalho
no século XVIII,

[...] foram convocados os espíritos mais brilhantes da época, além de


especialistas das mais diversas matérias e pro ssionais liberais, como
advogados e médias. O principal organizador da Enciclopédia, sua
verdadeira “alma”, que a ela dedicou a maior parte de sua vida, foi
Diderot[1]. O conjunto da obra compreende trinta e cinco volumes,
sendo 17 volumes de texto, mais 11 de ilustrações, além de 4 volumes
suplementares de texto e um de ilustrações, completados por dois
volumes de índice geral. Sua publicação estende-se de 1751 a 1780,
dividindo-se em duas fases: de 1751 a 1757, a primeira, e a segunda de
1762 a 1772 (FORTES, 1985, p. 47-48).

CONCEITUANDO
[1] Denis Diderot (1713-1784) erudito de maior importância na
Enciclopédia. Ele tinha maior audácia que Voltaire manifestando uma
determinada descrença no soberano divino. Ele defendia que os ser
humano não era distinto de outras criaturas dos cosmos, tudo seria
composto por corpos formados de átomos e concebidos de acordo com
as normas absolutas o qual mandavam no mundo natural. Mas ele era
mais contido no que se refere à inovação na administração
governamental (FORTES, 1985).
Junto aos múltiplos autores que compõem este trabalho incluem-se: Montesquieu
que teve uma participação mais singela no compilado de escritos e Voltaire que
escreveu vários textos opinativos sobre diferentes temáticas. Enciclopédia é um
trabalho muito relevante, pois é uma manifestação dos conceitos fundamentais no
que diz respeito a classe burguesa na época de difusão do Iluminismo, em tal
compilados de escritos é possível encontrar conhecimentos essenciais relativos à
administração governamental e loso a que eram discutidos entre eruditos
europeus no período (FORTES, 1985).

Além da França, a Inglaterra também foi um fundamental cerne das ideias


iluministas no continente europeu. Os Pensadores ingleses advogavam pela
racionalidade (deísmo), eles eram a favor de

“uma religião racional” e uma ideia de divindade apoiada


exclusivamente na razão, eles dão grande impulso à crítica da religião
tradicional. São os primeiros a introduzir a ideia de uma “religião
natural” que fará enorme número de seguidores em todos os países no
século XVIII (FORTES, 1985, p. 59).

Um pensador do século XVII que teve grande importância na Grã-Bretanha no


período de difusão do iluminismo foi John Locke. As ideias formuladas pelo teórico
tiveram grande impacto sobre relevantes iluministas ingleses que são denominados:
George Berkeley e David Hume (FORTES, 1985).
Também foram fundamentais no
século XVIII na Inglaterra “Adam
Smith (1723-1790) e o de Bentham
(1748-1832). Ao primeiro devemos
balbuciar uma nova ciência, a
Economia Política, destinada a
causar uma grande revolução
teórica quando submetida à crítica
de Karl Marx no século seguinte”
(FORTES, 1985, p. 63-64).

Em relação a Smith (que originou a


obra A Riqueza das Nações) e no
que concerne aos entendimentos
inovadores relativos ao aspecto
econômico, no século XVIII se
propaga a ideia que “a economia
deve ser liberada das obrigações
arbitrárias e permitir a livre
circulação dos bens; deve fundar-se
sobre o valor do trabalho e do
esforço individual em vez de encher-
se de privilégios e de hierarquias
vindos do passado” (TODOROV,
2008, p. 19-20).

No século XVIII, no que se refere à


atuação governamental, líderes
experimentaram executar, na
realidade, a intensa profusão de
ideias iluministas que se decorriam
naquele período. No século seguinte,
os estudiosos de história
denominaram tal processo de
Despotismo Esclarecido (FORTES,
1985).

Figura 6 - Adam Smith | Fonte: wikipedia

Entre “todos os ‘déspotas esclarecidos’, o mais representativo é, sem dúvida, o


célebre Frederico II (1712-1786) da Prússia. Também conhecido como Frederico, o
Grande” (FORTES, 1985, p, 76). Esse governante europeu
[...] não é um rei como outro qualquer. É um rei que pensa. Rei- lósofo,
já que é um rei que, além de rei, losofa, caso raro na história. Que se
interessa pelo debate de ideias. Que incentiva e protege as artes. Para
a sua corte convergem lósofos em desespero, literatos caídos em
desgraça e artistas miseráveis (FORTE, 1985, p. 76).

Frederico II tinha amizade com os iluministas e produziu vários trabalhos eruditos,


sendo possível encaixá-lo na mentalidade do século XVIII. Contudo, a in uência das
ideias iluministas sobre governantes europeus não cava apenas na teoria, sendo
que deveriam também ser efetuadas na realidade, os reinantes deveriam se apoiar
em uma política que tivesse por base a erudição e a lógica, como, por exemplo,
Frederico II impulsionou o melhoramento de localidades prussianas que eram
retrógradas. O monarca regeu por mais de quatro décadas, tendo como enfoque
central a prosperidade nanceira (FORTES, 1985).

Neste período, a nação alemã

[...] não é uma nação uni cada e a Prússia é uma das suas regiões
principais e autônomas. Seu atraso, mesmo em termos do século VIII, e
comparativamente à situação da França e da Grã-Bretanha, os dois
grandes países europeus que se encontram à frente de todo o
processo, é dos maiores. O mesmo acontece com a Europa Central e
Oriental. Ou seja, o mesmo acontece com a Áustria, nação pertencente
ao então inteiramente decadente Sacro Império Romano-Germânico,
que também se encontra em grande atraso. O mesmo acontece com a
Rússia de então, o imenso império dos czares perdido na longínqua
periferia oriental do centro parisiense (FORTE, 1985, p. 78).

Nas localidades europeias mencionadas anteriormente se sucederam


acontecimentos semelhantes ao que se passou no território prussiano com seu
soberano no século XVIII. No território russo, que era uma localidade muito
retrógrada, uma gigantesca nação que ainda tinha por base o feudalismo na qual
lacaios padeciam justamente grandes opressões em relação aos in uentes
proprietários de terras, se decorreria um processo semelhante. Em tal contexto,
desponta a soberana Catarina II que governou a nação russa na segunda metade do
século XVIII (FORTES, 1985). A monarca

[...] desempenhou também um papel análogo ao de Frederico.


Funcionou igualmente como agente modernizador. Nas “diretrizes”
que enviou a uma Assembleia de deputados em 1767, Catarina copiou
em grande parte O Espírito das Leis de Montesquieu. A intervenção do
Estado, presidido por Catarina, produziu, por outro lado, grandes
transformações no país, produzindo, por exemplo, a edi cação de um
grande parque industrial de minas e metalurgia de ferro e cobre na
imensa região dos montes Urais (FORTES, 1985, p. 79).
Os conceitos iluministas também alcançaram o novo mundo, em particular na
nação estadunidense, inspirando a elaboração e emancipação do país norte
americano (FORTES, 1985). O pensador inglês John Locke inspirou grandemente as
ações revoltosas dos habitantes das possessões inglesas na américa do norte
(KARNAL, 2007). No prosseguimento, discorremos sobre o processo de emancipação
das trezes colônias no século XVIII.
A Emancipação das Treze
Colônias Inglesas

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
A ocupação britânica na

[...] América do Norte, particularmente das colônias setentrionais, não


foi feita mediante um plano sistemático. Em parte, pelas características
das colônias, em parte pela própria situação da Inglaterra no século
XVII com suas crises internas, as colônias gozavam de certa autonomia
(KARNAL, 2007, p. 70).

No século XVIII, tal conjuntura se alteraria, o poder do rei passaria a ser restringido
pelo parlamento na Grã-Bretanha, o cenário governamental inglês passaria a ser
mais constante em tal contexto. A classe burguesa passaria a ter mais
preponderância e fomentaria o amplo crescimento nanceiro. Nesse período, as
possessões britânicas na parte do norte do continente americano passaram a ser
consideradas relevantes, pois elas nutriam o sistema econômico industrializado da
Grã-Bretanha que passava a ser vigente nesta época (KARNAL, 2007).

Figura 7 - Bandeira Estadunidense Original

Fonte: @stockvault em freepik

No nal do século XVII e durante o século seguinte se decorreram vários con itos
belicosos no continente europeu e no novo mundo (KARNAL, 2007). Tais con itos
ocasionaram:
[...] maior presença de tropas britânicas na América, causando
inúmeros atritos. Os acordos ao nal dessas guerras nem sempre foram
favoráveis aos colonos. Por m, guerras como a dos Sete Anos, mesmo
terminando com a vitória da Inglaterra, implicaram altos gastos. Eram
inúmeras as vozes no Parlamento da Inglaterra que desejavam ver as
colônias da América colaborando para o pagamento desses gastos
(KARNAL, 2007, p. 71).

Em tal contexto, os habitantes das trezes colônias tiveram acréscimos nos tributos
que pagavam, desta forma as autoridades britânicas supriram nanceiramente a
adição de tropas que mandavam. Os residentes das possessões inglesas na américa,
estavam em uma conjuntura problemática, tendo que custear soldados que tinham
sido mandados com a intenção de refreá-los (KARNAL, 2007).

Depois de frear duramente uma revolta indígena, ocasionada por con itos dos
residentes das colônias (que visavam estender seus territórios em locais habitados
por nativos norte-americanos) com os nativos, a autoridade britânica representada
pelo monarca Jorge III, garantiu pôr edito em 1763 o predomínio dos nativos em
determinados territórios (KARNAL, 2007).

Leandro Karnal (2007, p. 72) menciona que normalmente

[...] pouco considerada, a declaração de 1763 é uma causa


importantíssima para a revolta colonial contra a Inglaterra. Importante,
em primeiro lugar, porque fere os interesses de expansão dos colonos.
Tanto os que exploravam as peles como os que plantavam fumo viam
nestas ricas terras, que o decreto agora reconhecia como indígena,
uma ótima oportunidade de ganho. Importante também porque
representava uma mudança grande da Coroa inglesa em relação às
colônias da América: o início de uma política de interferência nos
assuntos internos dos colonos. O ano de 1763 marcou uma mudança na
história das relações entre a Inglaterra e suas colônias.

Karnal (2007, p. 72-73) menciona que no ano seguinte a medida restritiva sobre os
territórios indígenas foi instituída uma norma que diminuía os tributos em relação
ao melaço produzido em outros países, porém determinava tributos extras “sobre o
açúcar, artigos de luxo, vinhos, café, seda, roupas brancas. Desde 1733 havia lei
semelhante, no entanto os impostos sobre os produtos perdiam-se na ine ciência
das alfândegas inglesas nas colônias”.

Incomodava mais os habitantes das colônias a determinação da Grã-Bretanha que a


norma tributária fosse efetivada do que a própria regra em si. Teria se originado na
Nova Escócia um tribunal que tinha alçada em relação a possessões inglesas no
continente americano, que podia penalizar as pessoas que se negassem em acatar
as normas (KARNAL, 2007). Neste período, o reinado inglês “queria fazer as colônias
cumprirem a sua função de colônias: engrandecimento da metrópole” (KARNAL,
2007, p. 73).

Os habitantes da colônia tiveram uma resposta rápida, foi feito um escrito por um
indivíduo denominado James Otis, que procurava demonstrar porque a norma
tributária negava um preceito que era habitual na Grã-Bretanha na qual “para
alguém pagar um imposto (taxação) esta pessoa deve ter votado num
representante que julgou e aprovou este imposto (representação)” (KARNAL, 2007, p.
73). Karnal (2007) menciona que os residentes das colônias também promoveram
bloqueios de mercadorias provenientes da Grã-Bretanha.

Ainda em
[...] 1764 o governo
inglês baixa a Lei da
Moeda, proibindo a
emissão de papéis de
crédito na colônia,
que, até então, eram
usados como moeda.
O comandante do
exército britânico na
América, general
Thomas Gage,
sugeria e fazia
aprovar no mesmo
ano a Lei de
Hospedagem. Esta lei
determinava as
formas como os
colonos deveriam
abrigar os soldados
da Inglaterra na
América e fornecer-
lhes alimentoMais
uma vez, a Lei de
Hospedagem e da
Moeda revelam
mudanças na política
inglesa. O objetivo
claro da Lei da Moeda
era restringir a
autonomia das
colônias. A lei da
Hospedagem
desejava, em última
análise, tornar as
colônias mais baratas
para o tesouro inglês
(KARNAL, 2007, p. 73-
74).

Freepik

De acordo com o historiador brasileiro, apenas em 1765 percebeu-se maior


obstinação contra as normas inglesas, quando é instituída uma norma tributária (Lei
do Selo) em “que todos os contratos, jornais, cartazes e documentos públicos fossem
taxados” (KARNAL, 2007, p. 74).

Essa norma tributária teve grande impacto, se efetuaram manifestações contrárias


em diferentes localidades nas treze colônias, sendo que guras que representavam
as autoridades britânicas foram hostilizadas no processo (KARNAL, 2007).
Devido à

[...] Lei do Selo, a Coroa havia incomodado a elite das colônias. A reação
foi grande, assustando os agentes do tesouro da Inglaterra. Houve um
movimento de boicote ao comércio inglês; no verão de 1765 decaiu o
comércio com a Inglaterra em 600 mil libras. Em quase todas as
colônias os agentes do tesouro inglês eram impossibilitados de colocar
os selos nos documentos. A reação era generalizada. Em 1766, o
Parlamento inglês viu-se obrigado a abolir a odiada lei. Os colonos
haviam demonstrado sua força. A Inglaterra retrocedia para avançar
mais, logo em seguida (KARNAL, 2007, p. 74-75).

No ano de 1767 foram ordenadas, por uma autoridade política britânica, normas que
tributavam diferentes mercadorias, se visou também indicar pessoas que teriam
como função conter o trá co ilegal de produtos nos domínios ingleses na América
do Norte. Tais normas (Atos Townshend) ocasionaram mais queixas, recusa em
relação a produtos provenientes da Inglaterra e a rmações que contestavam as
ações instituídas pelos governantes britânicos. As normas de 1767 também foram
anuladas, mas ocasionaram uma grave ocorrência (KARNAL, 2007).

Na localidade estadunidense de

[...] Boston, quase ao mesmo tempo em que se deu a anulação dos Atos
Twnshend, um choque entre americanos e soldados ingleses tornaria
as relações entre as duas partes muito difíceis. Protestando contra os
soldados, um grupo de colonos havia atirado bolas de neve contra o
quartel. O comandante, assustado, mandara os soldados defenderem o
prédio. Os soldados acabaram disparando sobre os manifestantes.
Cinco colonos morreram. Seis outros colonos foram feridos, mas
conseguiram sobreviver. Era 5 de março de 1770. O “massacre de
Boston”, como cou conhecido, foi usado largamente como
propaganda dos que eram adeptos da separação. Um desenho com a
cena do massacre percorreu a colônia. O cheiro da guerra começava a
car mais forte (KARNAL, 2007, p. 76).

Após a ocorrência de Boston, as tensões entre os habitantes da colônia e os


britânicos não diminuíram nos anos posteriores. O prosseguimento das políticas
britânicas em relação às suas possessões na América do Norte fez os habitantes das
colônias formarem “o Congresso Continental da Filadél a, mais tarde conhecido
como Primeiro Congresso Continental. Representantes de quase todas as colônias
(com exceção à Geórgia), acabaram elaborando uma petição ao rei Jorge,
protestando contra as medidas” (KARNAL, 2007, p. 82).

Leandro Karnal (2007, p. 76) menciona também sobre um protesto dos habitantes
das treze colônias diante de uma imposição inglesa sobre o consumo de chá “na
noite de 16 de dezembro de 1773, 150 colonos disfarçados de Índios atacaram três
navios no porto de Boston e atiraram o chá ao mar. Era a Boston Tea Party (Festa do
Chá de Boston). Cerca de 340 caixas de chá foram arremessadas ao mar”.

Diante das demandas dos habitantes das trezes colônias, a Grã-Bretanha teve uma
postura ambivalente, buscou favorecer os habitantes da colônia, mas também
houve um acréscimo de tropas britânicas no continente americano. Essa adição
bélica teve como consequência con itos iniciais em localidades da colônia (KARNAL,
2007).

Com relação ao processo de emancipação dos Estados Unidos em relação à


Inglaterra é essencial destacar

[...] que não havia na América do Norte, de forma alguma, uma nação
uni cada contra a Inglaterra. Na verdade, as 13 colônias não se uniram
por um sentimento nacional, mas por um sentimento antibritânico. Era
o crescente ódio à Inglaterra, não o amor aos Estados Unidos (que nem
existiam ainda) que tornava forte o movimento pela independência.
Mesmo assim, esse sentimento a favor da independência não foi
unânime desde o princípio. [...] o sul era mais resistente à ideia da
separação. E tanto entre as elites do norte como as do sul, outro medo
era forte: o de que um movimento pela independência acabasse
virando um con ito interno incontrolável, em que os negros ou pobres
acabassem interpretando os ideias de liberdade como aplicáveis
também a eles.

Na verdade, as elites latifundiárias ou comerciantes das colônias


resistiram bastante à separação, aceitando a somente quando cou
claro que a metrópole desejava prejudicar seus interesses econômicos
(KARNAL, 2007, p. 81).

No ano de 1776, mandatários das treze colônias juntadas novamente na Filadél a


são a favor da emancipação e incumbem “uma comissão de redigir a Declaração da
Independência. A Declaração ca pronta dois dias depois, em 04 de julho” (KARNAL,
2007, p. 85). Um dos responsáveis do escrito emancipatório com grande relevância
foi Thomas Jefferson (KARNAL, 2007).

O escrito relativo à independência teve um impacto positivo sobre grande parte dos
habitantes das colônias, contudo, batalhar com os ingleses pela emancipação não
seria algo simples. Foi necessário que as trezes colônias se envolvessem em um
con ito belicoso contra a Grã-Bretanha para assegurar sua emancipação, as tropas
insurgentes foram lideradas por George Washington (KARNAL, 2007).

O con ito pela emancipação dos Estados Unidos


[...] foi uma sucessão de batalhas que ora favoreciam os britânicos, ora
os colonos. Vitórias dos colonos – como em Saratoga – permitiram que
o embaixador das colônias, Benjamin Franklin, conquistasse em
de nitivo o apoio espanhol e francês. A França enviou exército e
marinha, sob o comando do marquês de Lafayette e do general
Rochambeau. A Holanda também aproveitou a guerra para atacar
possessões inglesas, ainda que a princípio não reconhecesse a
independência das colônias. As rivalidades europeias, desta vez, eram
canalizadas a favor dos colonos.

As entradas da França e da Espanha alteram os rumos da guerra. O


con ito havia se deslocado para o sul. Em 19 de outubro de 1781, as
tropas de colonos e seus aliados obtêm a vitória decisiva em Yorktown
na Virgínia. Dois anos após a vitória de Washington, em 1783, pelo
Tratado de Paris a França recebia o Senegal na África e algumas ilhas
das Antilhas; a Espanha recebia a ilha de Minorca no Mediterrâneo e
territórios da Flórida e, pela primeira vez, um país da Europa reconhecia
e independência de uma colônia (KARNAL, 2007, p. 88).

Algo inédito sucedeu, uma possessão europeia no continente europeu se tornara


autônoma. Consequentemente, necessitava-se fundar uma nação baseada em
fundamentos que fossem modernos na época. A multiplicidade de colônias era uma
adversidade, o con ito em relação aos britânicos juntou os habitantes das diferentes
colônias. Vencido o adversário conciliador, sobraram as di culdades na
administração governamental. A demora para se elaborar um texto constitucional
também atrapalhava o seguimento do processo político (KARNAL, 2007).

Conciliação sobre “um governo central forte ou liberdade para as colônias agirem de
forma mais autônoma? Esse problema fora levantado ainda antes da independência
e permaneceu mal resolvido até o século XIX, acabando por gerar a Guerra Civil
Americana” (KARNAL, 2007, p. 91-92).

Levou-se três anos (entre 1787 e 1790) para o escrito constitucional estadunidense
ser aprovado politicamente (KARNAL, 2007). Tal texto originou

[...] uma república federalista presidencial. O governo da colônia (agora


estado) procura equilibrar-se com o governo federal. Além disso, os
poderes, estão, dentro da tradição ensinada pelo lósofo Montesquieu,
divididos em Executivo, Legislativo e Judiciário.

Por seu caráter bastante amplo, a carta magna dos Estados Unidos assegurou a sua
durabilidade. Ao contrário da primeira constituição brasileira, de 1824, a constituição
norte-americana estabelece princípios gerais e su cientemente vagos para
garantirem sua estabilidade e permanência. À Suprema Corte dos Estados Unidos
caberá, no futuro, o papel de interpretar a constituição e decidir sobre a
constitucionalidade ou não das leis estaduais e das decisões presidenciais (KARNAL,
2007, p. 92).
Os Estados Unidos visaram fundamentar seu suporte legal “na ideia de
representatividade popular, ainda que o conceito de povo fosse, nesse momento,
extremamente limitado” (KARNAL, 2007, p. 92). Grande parcela das pessoas que
habitavam o território estadunidense achava-se omitida da atuação governamental.
Tomemos por exemplo os nativos norte-americanos que não foram bene ciados
com a emancipação das treze colônias perante a Grã-Bretanha, porque cresceu a
ameaça de invasão em relação a áreas onde eles habitavam (KARNAL, 2007).

A independência estadunidense também não teve grande signi cância em relação


aos afrodescendentes que eram escravizados nos Estados Unidos. Ocorreram mais
escapatórias no decorrer do con ito de emancipação, contudo não houve
prerrogativa por nenhum dos lados que batalhavam no con ito belicoso pela
soberania estadunidense em torná-lo uma con agração que envolvesse os cativos
contra os proprietários de terras (KARNAL, 2007).

Mesmo apresentando problemas,

[...] o movimento de independência signi cava um fato histórico novo e


fundamental: a promulgação da soberania “popular” como elemento
su cientemente forte para mudar e derrubar formas estabelecidas de
governo, e da capacidade, tão inspirada em Locke, de romper o elo
entre governantes e governados quando os primeiros não garantissem
aos cidadãos seus direitos fundamentais. Existia uma rme defesa da
liberdade, a princípio limitada, mas que se foi estendendo em diversas
áreas (KARNAL, 2007, p. 94-95).

O historiador brasileiro menciona que uma nação afetada pela emancipação das
trezes colônias inglesas foi a França que era governada pelo monarca Luís XVI.
Tropas francesas que batalharam no con ito emancipatório estadunidense
retornaram para o seu país de origem “com ideias de liberdade e república. Haviam
lutado contra uma tirania na América e, de volta à pátria, reencontravam um
soberano absoluto. No entanto, só 13 anos depois de independência norte-
americana, esse germe de liberdade fruti cará na França” (KARNAL, 2007, p. 94).

Na próxima unidade discorreremos sobre o processo revolucionário no território


francês.
SAIBA MAIS
Na contemporaneidade para que medicamentos, vacinas e outros
produtos possam ser disponíveis para a utilização humana, necessitam
passar por um processo de testagem criterioso. Igualmente, no campo
da medicina, cientistas trabalham constantemente na busca de novos
tratamentos para doenças graves por meio de pesquisas e
experimentações.

Caro estudante, você sabia que tais avanços que nos parecem
normativos atualmente, fazem parte de um processo histórico gradual?
O período em que os eruditos iluministas (como Francis Bacon)
desenvolveram suas ideias faz parte também de tal processo, na qual a
gênese da experimentação cientí ca teve seu princípio.

Você sabia que para certos indivíduos foram legados o papel de


progenitores da nação estadunidense? Eles são os denominados
Founding Fathers (Pais Fundadores). Tais homens são representados no
dinheiro dos Estados Unidos, sendo George Washington e Benjamin
Franklin os com maior notoriedade (KARNAL, 2007).

Em 2020 ocorreu a 59ª eleição presidencial dos Estados Unidos que


elegeu o candidato do partido democrata Joe Biden, e novamente na
mídia internacional foi debatido o sistema eleitoral presidencial
estadunidense em decorrência das suas particularidades.

O governante designado primeiramente para o cargo presidencial por


tal sistema eleitoral foi George Washington. Sua vitória “era um fato
mais ou menos óbvio. Era o único a contar com apoio em quase todos
os estados. Um colégio eleitoral constituído de eleitores por estados,
deu maioria de votos a Washington e a vice-presidência a John Adams”
(KARNAL, 2007, p. 92).
REFLITA
A árvore da liberdade deve ser regada de quando em quando com o
sangue dos patriotas e dos tiranos. É o seu adubo natural”

- Thomas Jefferson
Conclusão - Unidade 3

Prezado(a) aluno(a), chegamos ao nal desta unidade. Esperamos ter contribuído


para o seu entendimento em relação ao Iluminismo e ao processo de emancipação
dos Estados Unidos. No que refere ao Iluminismo, mesmo que nesse período tenha se
iniciado um processo de objeção à religiosidade e engrandecimento da lógica é
evidente que isso não levou ao completo aniquilamento das crenças no ocidente.

Mesmo que o ateísmo seja um movimento crescente em diferentes localidades do


mundo, instituições religiosas, como a própria Igreja Católica, ainda tem uma
signi cância, mas elas necessitaram se readequar diante das transformações
sociopolíticas que sucederam no decorrer dos séculos, os eruditos das luzes
contribuíram para tal processo repensando o papel dos credos nas sociedades
europeias onde estavam inseridos.

No que concerne ao campo governamental é perceptível que mesmo depois de


múltiplos séculos as concepções dos autores iluministas ainda podem ter uma
consonância com a realidade atual. Por exemplo, no que se refere a Rousseau, mesmo
tendo passado muito tempo desde que o autor formulou suas ideias, a desigualdade
social continua (mesmo que em proporções diferentes) sendo um problema
recorrente de muitos países. Mesmo as ideias de um autor como Montesquieu
podem ser aplicadas à contemporaneidade, se pensarmos como ainda é necessário
se originar novas normas governamentais para atender as transformações sociais que
se decorrem em diferentes nações.

No que se refere à emancipação das treze colônias em relação à formação da nação


estadunidense, ainda hoje nos Estados Unidos existe um processo de idealização
associado a tal ocorrência histórica. Mas por trás de todo o engrandecimento histórico
existe um processo mais complexo a ser evidenciado. É interessante ponderar que se
a Inglaterra tivesse tido uma postura mais adequada em relação às colônias norte-
americanas, talvez a maior potência econômica do mundo na atualidade teria sido
protagonista de uma história diferente.
REFLITA
Uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que
possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha de se
vender a alguém”

- Jean-Jacques Rousseau

Leitura Complementar
Material interessante para o estudante que queira ter contato com uma obra de um
pensador Iluminista:

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da


desigualdade entre os homens precedido de Discurso sobre as ciências e as artes.
São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Estudo relevante para o estudante que tem por interesse ter uma melhor
compreensão sobre a elaboração do texto constitucional dos Estados Unidos:

BENTES, Fernando Ramalho Ney Montenegro. A separação de poderes da revolução


americana à constituição dos Estados Unidos: o debate entre os projetos
constitucionais de Jefferson, Madison e Hamilton. 2006. 96 f. Dissertação (Mestrado
em Direito) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
Livro

Filme
Unidade 4
A Revolução Francesa

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Introdução
Caro(a) aluno(a), todos os anos é celebrado pelos franceses o processo revolucionário
que se sucedeu em sua nação no século XVIII. Tal acontecimento histórico já foi
analisado por muitos historiadores, sendo abordado em romances históricos e
retratado em múltiplas longas-metragens que enfocaram seus diversos aspectos,
aparecendo até mesmo em um jogo de vídeo game em 2014. Figuras históricas
como Luís XVI, Maria Antonieta e Robespierre se tornaram eternizadas na história,
provocando nas pessoas sentimentos diversos. Locais que foram palco de tal evento
do passado, como o Palácio de Versalhes em Paris, continuam recebendo até hoje
franceses e pessoas de outros países que buscam captar resquícios daquele período
histórico.

Nas próximas páginas temos como objetivo explanar para você os fatores que
condicionaram o processo revolucionário francês e suas diferentes etapas. É curioso
que uma época da França que tenha durado aproximadamente uma década seja
muito mais lembrada e debatida do que outros momentos da história do país
europeu. Tal momento histórico se torna mais complexo, na medida em que se
constatam as múltiplas minúcias que ele possui e os diversos indivíduos ligados a
ele.

Nesta unidade temos por intenção que você, aluno(a), compreenda a Revolução
Francesa de acordo com o contexto histórico em que ela ocorreu. Nada seria mais
errôneo do que abordar um período histórico distante do passado de acordo com
nossos parâmetros atuais, por mais estranhos e brutais que eles possam parecer.
Provavelmente muitas pessoas até hoje se impactam com o que se decorreu na
última década do século XVIII na França. Contudo, mesmo que a Revolução
Francesa seja um acontecimento histórico notável, ela talvez não seja tão anormal,
se pensarmos na conjuntura do mundo no século XVIII.

Plano de Estudo
Reino Francês em Con ito No
Século XVIII

O Início Da Insurreição Na França

A Desestruturação do Reinado
Francês

Os Estágios Finais do Processo


Revolucionário Francês
Objetivos de Aprendizagem
Compreender a conjuntura francesa
antes do processo revolucionário.

Explanar as etapas iniciais da


Revolução Francesa desde a derrocada
da monarquia em 1789.

Explicar as fases republicana e do


Terror do processo revolucionário
francês.
Reino Francês em Con ito
no Século XVIII

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
No que se refere à Revolução Francesa, no princípio os insurgentes franceses
denominaram de Antigo Regime o que romperam com seu levante. Tal regime
referia-se ao governo monárquico francês, que tinha como comandante o soberano
Luís XVI que era casado com Maria Antonieta (VOVELLE, 2007).

O rei francês foi incapaz, durante sua administração, de conservar, em cargos,


auxiliares políticos que eram e cientes, e também de adotar medidas
remodeladoras sugeridas por tais guras. Isto ocorreu, pois os mais bene ciados da
sociedade recusavam vigorosamente mudanças, e se decorria uma recessão intensa
na França (VOVELLE, 2007).

Vovelle (2007, p. 12) menciona que


Na França Antigo
Regime não havia
igualdade; a
sociedade estava
dividida em ordens,
que tinham mais ou
menos privilégios: à
frente vinha o clero, a
Igreja Católica, a
única que tinha o
direito de ensinar a
religião, mas que
também era muito
rica em terras e
rendas. Mais ricos
ainda eram os
aristocratas, que
compunham a ordem
da nobreza. Eram
proprietários de pelo
menos um quarto das
terras, favorecidos por
privilégios honorí cos
e também scais.
Orgulhosos de seus
títulos, serviam nos
exércitos do rei, mas
na maior parte do
tempo cavam sem
fazer nada em seus
castelos ou na cidade,
sendo que os mais
notáveis moravam na
corte do rei, em
Versalhes. Entre eles
havia alguns muito
ricos e outros menos.
Alguns haviam
conquistado seus
títulos de nobreza
adquirindo um cargo
de magistrado: era a
nobreza togada.

@artista em freepik

O “clero e nobreza constituíam as ordens privilegiadas da sociedade. Este estado de


coisas mantinha-se e justi ca-se pela concepção feudal, segundo a qual ao clero
cabia às funções religiosas e educacionais e à nobreza as militares e políticas”
(FLORENZANO, 1981, p. 17).
As pessoas que não faziam parte da nobreza cumpriam ofícios campestres,
manufatureiros e mercantis. Os trabalhadores rurais, os artí ces e a classe média
compunham o terceiro estrato da sociedade francesa, era prerrogativa deles a
prestação tributária e era negado a eles regalias (FLORENZANO, 1981).

Pelo que relata Vovelle (2007, p. 13), os trabalhadores rurais franceses na época que
antecede a insurreição, tinham mais liberdade se comparado ao passado, contudo
ainda permaneciam com deveres, e tributos “eram os direitos feudais e de senhorio,
pagos em dinheiro ou em espécie, os quais às vezes eram muitos pesados, como a
“jugada” – após a colheita, os enviados do senhor recolhiam dos campos um feixe
em cada dez, ou em cada doze ou catorze”. Mesmo que a época medieval tivesse
terminado, o sistema feudal (mesmo que transformado) perdurava na França
(FLORENZANO, 1981).

No decorrer do século XVIII, os estratos mais altos da sociedade francesa dominaram


completamente os mecanismos governamentais, clericais e militares. Em tal
conjuntura a classe média (burgueses) que não desistia de acender socialmente,
passava a ser in uenciada por conceitos iluministas (FLORENZANO, 1981).

O conceito das luzes fundamento “no racionalismo, individualismo e liberdade


absoluta do homem, ao criticar todos os fundamentos em que assentava o Antigo
Regime, revelava as suas contradições e as tornava transparentes aos olhos de um
número cada vez maior de pessoas” (FLORENZANO, 1981, p. 24).

Florenzano (1981, p. 24-25) menciona que a a rmação de

[...] que os lósofos iluministas foram uma das causas da revolução é


verdadeira na medida em que elaboraram, a nível teórico, um novo
projeto social. Mas deve se considerar que, embora o Iluminismo
enquanto tal fosse revolucionário, a maioria, senão todos, os lósofos
eram reformistas. Acreditavam que o Estado, através da ação
esclarecida do Príncipe, seria capaz de realizar as reformas necessárias
que conduziriam a sociedade no caminho do progresso e da razão. Ora,
na França, a incapacidade da monarquia absolutista em realizar as
reformas que a burguesia exigia, cada vez com mais determinação, foi
fatal para sua sobrevivência.

Os burgueses franceses no século XVIII se bene ciaram grandemente perante a um


crescimento nanceiro, fruto de prósperas atividades mercantis navais, em tal
conjuntura os burgueses passaram a apresentar pretensões diferenciadas
(VOVELLE, 2007).

Distintos setores da classe burguesa visavam que se tivesse maior autonomia


mercantil na França, e percebendo que não ocorreria a implementação de medidas
inovadoras na economia, passaram a se opor ao sistema governamental vigente. Em
setores medianos da classe burguesa, principalmente de trabalhadores autônomos,
aumentava igualmente a insatisfação perante o reinado soberano e se tornava mais
forte a crença que era necessário de se efetuar transformações na França
(FLORENZANO, 1981).

O desagrado tornava-se igualmente maior “entre os camponeses, sobre cujos


ombros recaía todo o peso da brutal exploração da nobreza, do clero e do Estado”
(FLORENZANO, 1981, p. 25). Por um longo período, a conjuntura no meio rural
francês tendia a levar a uma insurreição, a estabilidade só era garantida em
decorrência da junção das camadas sociais dominantes e da coibição estatal e
clerical (FLORENZANO, 1981).

Vovelle (2007, p. 13-15) menciona que os trabalhadores rurais franceses

[...] se mobilizavam para defender seus direitos, que os nobres tinham a


tendência de usurpar, chegando às vezes a se revoltar: em especial nas
épocas de escassez, para protestar contra o alto preço do pão. E eles
não eram os únicos, pois tanto para os operários das cidades quanto
para eles o pão era o alimento principal, consumindo metade do salário
diário de uma família. [...] No grande reino da França, com 28 milhões
de habitantes, havia planícies férteis como nos arredores de Paris, e
regiões muito mais pobres, nas montanhas, por exemplo. Por toda
parte, porém, o trigo para fazer pão era uma necessidade básica:
bastava o tempo provocar uma ou várias colheitas ruins para que o
preço disparasse, a miséria se instalasse e a revolta explodisse; é o que
se chama de “agitação popular”. Embora essas crises e a mortalidade
causada por elas houvessem diminuído no século XVIII, elas
continuavam existindo, e foi isso que aconteceu em 1788 e 1789: às
vésperas da Revolução, explodem revoltas em várias províncias e as
cidades se agitam.

A pobreza extrema na França, no nal do século XVIII, impulsionou tanto o meio


rural quanto o urbano a se revoltar. Contudo a pobreza não era a única demanda da
camada populacional (VOVELLE, 2007).

De acordo com Vovelle (2007, p. 19) os endinheirados na França e os mais


desprovidos visavam revidar contra “o sistema feudal – ou com aquilo que sobrou
dele –, e a revolução camponesa irá convergir, ao menos durante certo tempo, com a
dos burgueses das cidades”. Caro(a) aluno(a), no prosseguimento discorreremos
mais detalhadamente como se sucedeu o processo revolucionário francês.
O Início da Insurreição na
França

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
A sucessão de di culdades que ocasionaram a insurreição na França teve como
ponto de partida o ano de 1787, época em que o reinado francês enfrentava uma
grave crise monetária, em tal contexto era necessária uma renovação na
organização tributária do governo monárquico (FLORENZANO, 1981).

Vovelle (2007, p. 23) menciona que o reinado francês

[...] não tinha previsões rigorosas de gasto – o que conhecemos como


orçamento: dessa forma, o próprio rei podia lançar mão diretamente
dos impostos para atender às necessidades de seu padrão de vida e do
da corte de Versalhes. Dizia-se que a rainha Maria Antonieta era uma
perdulária. O luxo dos privilegiados era uma ofensa à miséria dos
pobres.
Figura 2 - Marie-Antoinette

Fonte: wikipedia

A sucessão de di culdades que ocasionaram a insurreição na França teve como


ponto de partida o ano de 1787, época em que o reinado francês enfrentava uma
grave crise monetária, em tal contexto era necessária uma renovação na
organização tributária do governo monárquico (FLORENZANO, 1981).

Vovelle (2007, p. 23) menciona que o reinado francês


[...] não tinha previsões rigorosas de gasto – o que conhecemos como
orçamento: dessa forma, o próprio rei podia lançar mão diretamente
dos impostos para atender às necessidades de seu padrão de vida e do
da corte de Versalhes. Dizia-se que a rainha Maria Antonieta era uma
perdulária. O luxo dos privilegiados era uma ofensa à miséria dos
pobres.

A crise monetária se tornou mais acentuada depois do con ito de emancipação


estadunidense, tal problema tinha dimensões graves de difícil resolução (VOVELLE,
2012). Os custos altos do reinado da França devido ao con ito no continente
americano, enfraqueceram as já combalidas nanças francesas. Os ganhos
conseguidos depois do con ito não foram su cientes para remediar o desequilíbrio
econômico francês (KARNAL, 2007).

Vovelle (2012, p. 18) menciona sobre a inadequação do monarca Luís XVI perante o
contexto caótico da França no nal do século XVIII:

No trono desde 1774, bonachão, mas, sem dúvida, pouco talentoso, Luís XVI não é o
homem adequado para a situação, e a personalidade da rainha Maria Antonieta, por
intermédio da qual o perigoso grupo de pressão da aristocracia exerce sua
in uência, não facilita as coisas. Mas é evidente que, numa situação em que tantos
fatores essenciais estão em jogo, a personalidade de um só – ainda que seja o rei –
não poderia mudar o rumo das coisas.

No ano de 1787, o monarca francês, visando que um plano de mudança tributária,


feito por seus auxiliares políticos, fosse avaliado, “convocou uma Assembleia de
Notáveis (órgão corporativo composto por “deputados”, escolhidos pelo rei entre as
três ordens, e cuja função consistia em assessorar o monarca; a última vez que este
órgão havia sido convocado fora em 1627) [...]” (FLORENZANO, 1981, p. 34).

Essa Assembleia nega as mudanças tributárias propostas. Em 1788, o parlamento da


capital francesa também rejeita o plano de modi cações referentes à tributação e
requeria que o monarca francês mandasse formar os Estados Gerais com o objetivo
de se validar as mudanças tributárias (FLORENZANO, 1981). Vovelle (2007, p. 26)
menciona que formar “os Estados Gerais era um modo antigo de o rei consultar seus
súditos, ou, ao menos, os representantes das três ordens: fazia mais de dois séculos
que ocorreu a última reunião”.
De acordo com Florenzano (1981, p.
34), essa investida dos aristocratas
que buscavam ter o controle sobre a
administração governamental
francesa “culminava em 1787-88
numa verdadeira “revolta
nobiliárquica” ou “revolução
aristocrática [...]”. Usufruindo
brevemente do suporte da camada
populacional, o grupo mais
bene ciado da sociedade francesa
impediu quaisquer medidas
remodeladoras durante a recessão
que se acentuava na França
(VOVELLE, 2007).

Florenzano (1981, p. 34) menciona


que estando incapacitado, o
monarca francês, determina “para
maio de 1789 a abertura dos Estados
Gerais”. De acordo com Coggiola
(2013, p. 290) na elaboração de tal
assembleia, se zeram “os
tradicionais cahiers de doléances,
cadernos de queixas, onde se
registravam as reivindicações das
três ordens”. Em tais escritos, os
estratos mais baixos da sociedade
francesa “relatavam suas misérias de
maneira frequentemente
emocionante, sendo às vezes
“teleguiados” por pessoas instruídas
que faziam passar reivindicações
mais gerais” (VOVELLE, 2007, p. 26).

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Os representantes (escolhidos em 1789 pelos três diferentes grupos sociais da


França) nos Estados Gerais tinham concordância em um único tema, eles buscavam
diminuir a soberania[1] do rei, tinham como inspiração ao que se passara na Grã-
Bretanha sendo também in uenciados pelo modelo político estadunidense
(COGGIOLA, 2013).
CONCEITUANDO
[1] Luís XVI era um governante absolutista, tal sistema de governo foi
explicado na Unidade I.

Coggiola (2013, p. 291-292) descreve como se decorreu a assembleia dos Estados


Gerais, evento que agitou a camada populacional francesa:

No dia 5 de maio de 1789, o rei mandou abrir a sessão inaugural dos


Estados Gerais e, em seu discurso, advertiu que não se deveria tratar de
política, isto é, da limitação do poder real, mas apenas da reorganização
nanceira do reino e do sistema tributário. O clero e a nobreza
tentaram diversas manobras para conter o ímpeto reformista do
Terceiro Estado, cujos representantes compareceram à Assembleia
presentando as reclamações do povo (os cahiers de doléances). A
maioria dos deputados da nobreza e do clero queria que as eleições
fossem por estado (clero, um voto; nobreza, um voto; povo, um voto),
pois assim garantiriam a continuidade de seus privilégios.

O Terceiro Estado queria, ao contrário, que a votação fosse individual,


por deputado, porque contando com os votos do baixo clero e da
nobreza liberal, conseguiria reformar o sistema tributário do reino e
impor reformas políticas. Ante a crise política, Luís XVI tentou dissolver
os Estados Gerais, impedindo a entrada dos deputados das três ordens
na sala das sessões. Os representantes do Terceiro Estado rebelaram-se
e invadiram a sala do jogo da péla (uma espécie de tênis de quadra),
em 15 de junho de 1789, e transformaram-se em Assembleia Nacional,
jurando só se separar após a votação de uma Constituição para a
França (Serment du Jeu de Paume, Juramento da Sala do Jogo da
Péla). Em 9 de julho de 1789, juntamente com deputados do baixo clero
e da nobreza “esclarecida”, o Terceiro Estado autoproclamou-se
Assembleia Nacional Constituinte.

A formação da Assembleia Constituinte fez o monarca Luís XVI adotar ações


extremas, como afastar do cargo um auxiliar político denominado Necker, que era
famoso devido a sua visão remodeladora (COGGIOLA, 2013).

Coggiola (2013, p. 292) relata que nos estratos mais altos a adversidade no governo
monárquico se sucederá grandemente, e nos estratos mais inferiores da sociedade
francesa a insatisfação estava presente, “só faltava que estes últimos tomassem a
iniciativa política para que uma revolução acontecesse. E assim foi feito: em resposta
ao rei, a população de Paris, em 12 de julho, se mobilizou e tomou as ruas da cidade”.
Os aristocratas visavam, por meio da realização dos Estados Gerais, enfraquecer
integralmente a soberania política do rei (FLORENZANO, 1981). Contudo,

[...] na prática, o cálculo da aristocracia revelou-se um verdadeiro


suicídio político para ela e para o regime que a representava, e isto
basicamente por duas razões. A primeira, porque a aristocracia
subestimou perigosamente a força e a capacidade políticas do Terceiro
Estado. Em segundo, porque como a época coincidia, [...] com uma
conjuntura econômica de crise, com suas sequelas de fome e
desemprego, o estado de espírito dos pobres do campo e das cidades
era de desespero e revolta (FLORENZANO, 1981, p. 35 - 36).

O monarca Luís XVI visou encerrar a assembleia de representantes que se formara


para originar uma constituição, contudo ele foi incapacitado pela revolta do povo na
capital francesa, que também ocorreriam em diferentes localidades urbanas e sobre
o meio rural (COGGIOLA, 2013).
A Desestruturação do
Reinado Francês

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Nos dias 13 e 14 de julho de 1789, o centro urbano parisiense foi dominado por
múltiplas pessoas que protestavam, as forças militares se ausentaram, as tropas
foram in uenciadas por conceitos inovadores tendo vários dos seus integrantes,
consentido perante as demandas do povo que protestava (FLORENZANO, 1981).

Figura 3 - A tomada da Bastilha, 1789

Fonte: wikipedia

Nos dias 13 e 14 de julho de 1789, o centro urbano parisiense foi dominado por
múltiplas pessoas que protestavam, as forças militares se ausentaram, as tropas
foram in uenciadas por conceitos inovadores tendo vários dos seus integrantes,
consentido perante as demandas do povo que protestava (FLORENZANO, 1981).

Vovelle (2007, p. 31-32) menciona sobre a tomada da Bastilha durante as revoltas na


capital francesa:
[...] Em busca de armas, no dia 14 de julho os parisienses invadiram a
Bastilha, antiga fortaleza medieval que se tornará uma prisão do
Estado. [...] É lá que o rei prendia, sem julgamento, aqueles que o rei
prendia, sem julgamento, aqueles que o contrariavam. Escritores,
jornalistas (chamados de pan etários), autores de textos proibidos,
indivíduos de mau comportamento, também, a pedido da família.
Bastava uma carta régia com a ordem de prisão, sem acusação precisa
nem processo. Ela se tornará o símbolo da arbitrariedade do rei. A bem
da verdade, é preciso dizer que em julho de 1789 a prisão estava quase
vazia, só havia meia dúzia de presos. Não eram eles que as pessoas
queriam, e sim as armas. Uma multidão armada, composta sobretudo
por artesãos e populares, além de soldados – os guardas do rei –,
dirigiu-se à Bastilha: o diretor recusou-se a abrir os portões, houve uma
batalha que provocou numerosas mortes entre os atacantes, mas eles
acabaram se impondo e assassinando o diretor.

A tomada da Bastilha é um evento muito signi cativo. Quando os representantes


que formavam a assembleia constituinte se viram intimidados, os habitantes da
capital francesa se manifestaram, tal ocorrência histórica representava o processo
de insurreição, que começava brutalmente (VOVELLE, 2007).

De acordo com Coggiola (2013, p. 294), se sucederam aos motins na capital francesa,
agitações no meio rural que ocorrem “com maior violência ainda: os camponeses
endividados ou empobrecidos saquearam as propriedades feudais remanescentes,
invadiram e queimaram os castelos e cartórios, para destruir os títulos de
propriedade das terras”.

Florenzano (1981, p. 41-42) menciona que:

[...] a revolta popular e camponesa assustaram a burguesia e a


Assembléia, pois, enquanto os primeiros saqueavam depósitos,
armazéns, etc., apropriando-se de tudo o que pudessem encontrar, a
revolta camponesa, ao destruir a propriedade feudal, ameaçava
destruir a propriedade em geral, ou seja, da própria burguesia. Por isso,
a burguesia, para controlar as massas populares urbanas, organizou,
desde a primeira hora da revolução, primeiro em Paris e depois em
todas as outras cidades, uma guarda nacional (força militar) para se
defender menos das forças do Absolutismo do que das forças
populares; e a Assembléia, para sustar a revolução camponesa, fez
votar, na histórica sessão de 4 de agosto, a extinção do Velho Regime e
o m do feudalismo. [...] Ainda como repercussão da revolução popular
e também como tributo, sincero reconheça-se, às idéias iluministas, a
Assembléia faz aprovar em 26 de agosto a famosa Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão.

Com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão se visava manifestar


o cialmente o conjunto de fundamentos essenciais que dariam suporte a formação
de um moderno modelo de coletividade (FLORENZANO, 1981).
Devido “aos acontecimentos, o rei capitulou e reconheceu, ou ngiu reconhecer, o
fato consumado – a realidade da Assembléia Nacional Constituinte” (FLORENZANO,
1981, p. 40).

A França seguia com um governante monárquico, contudo seu poder político


passaria a ser limitado, seu cargo não tinha mais uma base divina, passaria a ser
legitimado pelos habitantes da nação francesa. Seria necessário que o monarca
acatasse o escrito constitucional, conjunto de leis que regulamentaria as
organizações governamentais considerando no processo os desejos dos franceses
que eram atribuídos aos políticos escolhidos pela camada populacional (VOVELLE,
2007).

Levados “de Versalhes no dia 6 de outubro de 1789 por um cortejo de mulheres, a


família real encontra-se agora em Paris, no Palácio das Tulherias” (VOVELLE, 2007, p.
41). A associação, agora responsável pela administração na França, se junta na
capital perto de onde residiam os monarcas iniciando sua prática governamental
(VOVELLE, 2007).

Caro(a) aluno(a), com relação ainda à Declaração dos Direitos do Homem e do


Cidadão, Coggiola (2013, p. 294) menciona que neste escrito, que seria o princípio do
texto constitucional da França, originaram-se

[...] os ideais da revolução, sintetizados em três princípios: "Liberdade,


Igualdade, Fraternidade" (Liberté, Egalité, Fraternité). Inspirada na
“Declaração de Independência” dos EUA e divulgada em 26 de agosto,
a Declaração (à qual não foi estranha a ação do embaixador dos EUA
em Paris, o futuro presidente norte-americano Thomas Jefferson) foi
uma síntese do pensamento iluminista liberal, defendia o direito de
todos à liberdade, à propriedade, à igualdade – igualdade só jurídica,
citoyenneté, não social nem econômica – e de resistência à opressão. O
nascimento, a tradição e o sangue já não poderiam distinguir
socialmente os homens. Na prática, tais critérios eram substituídos pelo
dinheiro e pela propriedade. Todos os homens foram declarados iguais
por nascimento perante a Lei, a França foi virada de pernas para o ar, o
mundo inteiro tremeu diante das “notícias francesas”.

Na Assembleia Nacional Constituinte havia o predomínio de representantes políticos


visando manter o reinado francês, contanto que o seu poder estivesse contido
constitucionalmente (GRESPAN, 2008). Deste modo “a Assembléia oscila entre um
projeto de reformas quase que exclusivamente jurídicas e políticas e outro de
reformas também de cunho social e econômico” (GRESPAN, 2008, p. 86).

A assembleia necessitava solucionar os problemas econômicos deixados pela


monarquia. Com esse propósito se teve como objetivo comercializar os domínios do
clero na França, que eram muito prósperos. Desta forma, igualmente se solucionaria
outra adversidade, pois precisava-se decidir qual seria a função da Instituição
religiosa no governo que se formara, ela seria submetida a um texto constitucional
(FLORENZANO, 1981).
Grespan (2008, p. 86) menciona que no princípio se visou vender os territórios da
igreja

em pequenos lotes a baixo preço, depois os lotes foram novamente


reunidos e os preços cam inacessíveis para o camponês. Quem se
bene cia do con sco são os grandes proprietários, aristocratas e
burgueses. A tensão no meio rural se agrava com essa decepção, e
novos levantes ocorrem em 1790 e 1791

Ao mesmo tempo, a maioria dos indivíduos ligados à aristocracia se negavam a


desistir dos seus privilégios, era muito difícil conciliar os distintos estratos sociais da
França em torno de uma mesma causa. Em tal conjuntura, a administração política
ponderada, que regeu inicialmente o processo revolucionário, demonstrava-se
impraticável, tal situação prejudicava a delicada estabilidade governamental
(GRESPAN, 2008).

No período em que da revolução, a denominada “contra-revolução já está ativa e


organizada: os príncipes e nobres que partiram para o exterior conspiravam contra o
novo regime organizando complôs no interior do país, apoiados pelos reis da Europa
monárquica” (VOVELLE, 2007, p. 57).

Grespan (2008, p. 87) menciona que o monarca francês também

[...] não queria se submeter à Constituição e às mudanças que estavam


ocorrendo. Ele planeja uma fuga de Paris para algum lugar próximo à
fronteira, onde receberia ajuda de outros países europeus, alarmados
com os acontecimentos na França, que também os ameaçavam de
certo modo. No dia 21 de junho de 1791, Luís XVI e sua família escapam,
mas são reconhecidos um pouco adiante, na localidade de Varennes, e
trazidos de volta à capital. A situação se complica muito com esse fato.
Cooperando com austríacos, ingleses e prussianos, o rei parecia
culpado a seu próprio país. Surgem já algumas vozes que pedem sua
renúncia, e até as que reivindicam o m da monarquia, com a
instalação de uma república.

Contudo, as reivindicações republicanas são contidas pela facção ponderada da


Assembleia, que ainda detinha poder no período em que o texto constitucional
francês é concluído (GRESPAN, 2008). Com a legitimação de tal escrito, a sociedade
francesa “foi dividida em cidadãos ativos e passivos, segundo pagassem ou não
impostos. Somente os primeiros, que pagavam impostos e possuíam dinheiro ou
propriedades, participavam da vida política: era o voto censitário” (COGGIOLA, 2013,
p. 298).

Caro(a) aluno(a), é necessário entender que a situação seguia apreensiva na França,


trabalhadores rurais permaneciam inquietos, e os habitantes da capital francesa
encontravam-se exaltados, se seguia a carência de alimentos, sendo que as medidas
políticas adotadas não eram su cientes para o povo (GRESPAN, 2008).

Grespan (2008, p. 87) aponta que se opondo aos revoltosos, a facção ponderada da
Assembleia Constituinte manda “que a Guarda Nacional comandada por La Fayette
reprimisse a reunião popular convocada em 17 de julho para discutir no Campo de
Marte a renúncia de Luís XVI. As tropas abriram fogo contra a multidão e cerca de 50
pessoas foram mortas”.

Grespan (2008, p. 87) aponta que se


opondo aos revoltosos, a facção
ponderada da Assembleia
Constituinte manda “que a Guarda
Nacional comandada por La Fayette
reprimisse a reunião popular
convocada em 17 de julho para
discutir no Campo de Marte a
renúncia de Luís XVI. As tropas
abriram fogo contra a multidão e
cerca de 50 pessoas foram mortas”.

Muitas pessoas favoráveis ao sistema


republicano são encarceradas na
França. A ocorrência de julho de 1791
assinala uma ruptura na junção, que
era presente no meio insurgente
francês. A suspeita recairia sobre os
ponderados da Assembleia
Constituinte, o comprometimento
de tais guras com a causa
revolucionária seria questionado
(GRESPAN, 2008).

Figura 4 - Marquês de Lafayette | Fonte: wikipedia

Grespan (2008, p. 89) explica sobre as divergências políticas presentes no contexto


revolucionário francês:
A Revolução não conhecia partidos políticos no sentido atual do termo.
Os deputados das assembleias eram, por princípio, representantes
individuais dos seus eleitores. Mas espontaneamente se formavam os
chamados “clubes”, diferenciando as opiniões e os programas daqueles
que tomavam parte nos acontecimentos, e que geralmente adotavam
a denominação do lugar em que se reuniam: os “cordeliers”, no salão
do convento franciscano de Paris; os “jacobinos” no salão da ordem
desse mesmo nome. E durante as discussões ocorridas nesses clubes,
surgiam novas diferenças. Assim, os moderados da Assembleia, que
inicialmente faziam parte do clube jacobino, acabaram divergindo da
ala esquerda e formaram outro clube, o dos “feullants”, nome dado aos
monges da ordem cistersense, em cujo convento passaram a reunir-se.
Cordeliers e jacobinos constituem a esquerda desde o m de 1791, em
oposição aos feuillants, maioria que queria a monarquia parlamentar e
a permanência de uma aristocracia não-feudal.

De acordo com Grespan (2008, p. 87-89), diante do acontecimento de julho de 1791


numa votação que visava formar uma “nova Assembleia, caram de fora nobres e
clérigos conservadores, sendo escolhidos apenas representantes das ideias liberais,
como maioria absoluta, além de uma ala esquerda mais numerosa”.

No momento em que “a nova Assembleia – que substitui a Constituinte com o nome


de Assembleia Legislativa, encarregada de fazer as leis – se reúne no dia 1 de outubro
de 1791, todos se vêm diante de uma decisão crucial [...]” (VOVELLE, 2007, p. 60).

A Assembleia precisava de nir se a França se envolveria num con ito belicoso, pois
soberanos de nações europeias entenderam que o modelo de insurreição que se
sucedia no território francês poderia ser arriscado, e após a frustrada fuga do rei da
França os governantes monárquicos aumentaram suas intimidações (VOVELLE,
2007).

Em tal contexto, a nação francesa cou fragmentada, Luís XVI e seus apoiadores
eram a favor do con ito, porque acreditavam que o reino francês seria dominado
sem di culdades na disputa belicosa. Os representantes políticos franceses mais
ponderados eram contra a guerra, porque eles julgavam ser um embuste (VOVELLE,
2007).

Se decorre uma cisão entre “duas personalidades do movimento revolucionário:


Brissot, jornalista e deputado, que assume na Assembleia a liderança dos
‘brissotistas’ (mais tarde ‘girondinos’) contra Robespierre, democrata respeitado, o
'Incorruptível''' (VOVELLE, 2007, p. 61).

Brissot era a favor do con ito com as nações europeias, pois por meio da disputa
belicosa ele esperava que se revelasse as verdadeiras intenções de Luís XVI e que a
França se ampliasse no continente europeu, Robespierre relutava pois acreditava
que o con ito seria perigoso (VOVELLE, 2007).
Brissot acaba vencendo e “no dia 20 de abril de 1792, Luís XVI encaminha, por
intermédio de seus ministros, a declaração de guerra ao imperador, que receberá o
apoio do rei da Prússia (e da Rússia)” (VOVELLE, 2007, p. 61).

O princípio do con ito belicoso decorreu-se terrivelmente. Muitos comandantes


militares franceses tinham fugido da França e as tropas se encontravam
desordenadas, e milícias que foram formadas eram inábeis. Os limites territoriais da
França acabaram sendo conquistados (VOVELLE, 2007).

Grespan (2008, p. 90) menciona que diante das

[...] derrotas sofridas pelos franceses nos primeiros meses da guerra


foram atribuídas à falta de vontade dos nobres em lutar contra os
inimigos da Revolução, associando-se também a Luís XVI, cuja tentativa
de fuga no ano anterior era percebida como vontade de aliar-se aos
estrangeiros que buscavam justamente intervir para acabar com a
Revolução e devolver-lhe o poder absoluto.

Quando as descon anças aumentaram, conjugando-se à decepção com o governo


dos moderados, a população de Paris explodiu de ódio ao rei e à nobreza: no dia 10
de agosto d 1792, ela ataca e toma o Palácio Real das Tulherias, destituindo e
aprisionando Luís XV. É o m da monarquia e a instituição da república.

Um reinado europeu que sucedera por séculos era derrubado. A camada


populacional francesa tinha uma conquista. Com maior capacitação e disposição, os
franceses tinham percebido o seu poder. A vontade popular era re etida por meio
da ação dos sans-culotte (VOVELLE, 2007).

Os sans-culotte era um conjunto de indivíduos politicamente ativos que recebiam


essa denominação pois “a roupa deles é diferente: em vez do calção até o joelho e
das meias usadas pelos burgueses e aristocratas, eles vestem uma calça
(geralmente listrada) – é daí apelido, inicialmente depreciativo, mas que depois será
motivo de orgulho para eles” (VOVELLE, 2007, p. 65).
Os Estágios Finais do
Processo Revolucionário
Francês

AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Depois de instituída a república, aboliu-se o método de votação anterior que
diferenciava as pessoas (ativos/passivos) pela sua renda. Se formou uma associação
política para decretar leis no lugar da Assembleia do antecedente (GRESPAN, 2008).

Grespan (2008) menciona que a denominada Convenção Nacional

[...] foi eleita e se reuniu no mês de setembro de 1792, declarando uma


nova fase da Revolução. Melhor dito, para ela a Revolução de fato
começava ali, com a república. Por isso, ela decidiu estabelecer um
novo calendário, o que de fato só foi aprovado um ano depois, mas
xado retroativamente para começar no dia 22 de setembro de 1792.
Além da data o cial do início dos trabalhos da Convenção, este é o
último dia do verão no hemisfério norte (GRESPAN, 2008, 91).

Figura 5 - Maximilien Robespierre

Fonte: wikipedia

Depois de instituída a república, aboliu-se o método de votação anterior que


diferenciava as pessoas (ativos/passivos) pela sua renda. Se formou uma associação
política para decretar leis no lugar da Assembleia do antecedente (GRESPAN, 2008).
Grespan (2008) menciona que a denominada Convenção Nacional

[...] foi eleita e se reuniu no mês de setembro de 1792, declarando uma


nova fase da Revolução. Melhor dito, para ela a Revolução de fato
começava ali, com a república. Por isso, ela decidiu estabelecer um
novo calendário, o que de fato só foi aprovado um ano depois, mas
xado retroativamente para começar no dia 22 de setembro de 1792.
Além da data o cial do início dos trabalhos da Convenção, este é o
último dia do verão no hemisfério norte (GRESPAN, 2008, 91).

Depois de formada, a associação republicana se fragmenta velozmente em


conjuntos de representantes políticos com ideias opostas. No campo político, a
direita estavam os denominados girondinos, representantes políticos que
integravam a classe burguesa e que tiveram atuação no processo da insurreição,
mas que visavam concluí-lo, pois temiam que a mobilização do povo que era
encabeçada pelos sans-culotte os sobrepujasse (VOVELLE, 2007).

Na esquerda estavam os opositores dos girondinos:

[...] os partidários da Montanha, também são de origem burguesa, mas


estavam convencidos de que a Revolução só daria certo caso se
apoiasse no movimento popular e levasse em conta suas aspirações.
Apesar do nome, eles não vêm de nenhuma região de montanha; o
que acontece é que eles se instalaram nos bancos que cavam na
parte mais alta da sala onde transcorriam as sessões (VOVELLE, 2007, p.
70).

No nal do ano de 1792, a audiência que decidiria o destino do monarca francês Luís
XVI, separa as distintas facções que formavam a associação política (GRESPAN,
2008).

De acordo com Grespan (2008, p. 94), os representantes políticos girondinos visavam


“salvar o rei, enquanto os mais radicais pediam sua condenação e execução, o que
acaba acontecendo: em 21 de janeiro de 1793, Luís XVI é guilhotinado, num ato de
radicalização calculado para fazer avançar o projeto social da Revolução”. Caro(a)
aluno(a), mesmo depois da morte de Luís XVI a situação não se torna estável na
França.

Em consequência da morte do rei francês, o con ito com as nações europeias se


agrava e acaba suscitando a implementação de atitudes políticas extraordinárias.
Seria formado o denominado Comitê de Salvação Pública, instituído para cuidar das
investidas das tropas invasoras e também de revoltas que emergiam no meio rural
em oposição ao governo insurgente (GRESPAN, 2008).
Coggiola (2013, p. 307) menciona que inferior ao Comitê de Salvação Pública “vinha o
Comité de Segurança Geral, que cuidava da segurança interna, e a seguir o Tribunal
Revolucionário, que julgava os opositores da revolução em procedimentos
sumários”. Neste período, os representantes políticos da Montanha (Jacobinos)
devido à perda de in uência dos girondinos e auxiliados por diferentes movimentos
populares conseguiram ascender politicamente (COGGIOLA, 2013).

Maximilien de Robespierre, importante integrante das Montanhas, nesse período


passara a controlar plenamente a esfera governamental causando no processo a
morte dos indivíduos que eram opositores políticos, começava a época mais atroz
do processo revolucionário francês (GRESPAN, 2008).

Vovelle (2007, p. 74) menciona sobre esta época do processo revolucionário na qual o
Terror teria grande predominância:

O Terror, que se tornou o cial durante certo tempo, é o instrumento


usado para reprimir a contra-revolução. Prendem-se os cidadãos
considerados suspeitos e institui-se um Tribunal Revolucionário em
Paris, que julga de maneira sumária e envia milhares de pessoas à
guilhotina: depois do rei, a rainha Maria Antonieta, aristocratas,
sobretudo, mas também negociantes ricos, padres e pessoas simples
das regiões em con ito.

Na época do Terror se refrearam violentamente as insurreições contra a república


que decorreram em localidades urbanas e rurais na França. Se fazem múltiplos
instrumentos de decapitação para executar muitas pessoas que eram contrárias ao
governo vigente. Consequentemente, os girondinos, tidos como desleais ao
processo de insurreição, são sentenciados à morte. Posteriormente, mesmo os
indivíduos que, em teoria, eram alinhados politicamente ao governo são mortos por
discordarem do governo autoritário de Robespierre, como Georges Jacques Danton
(GRESPAN, 2008).

De acordo com Grespan (2008, p. 95), no quinto mês do ano de 1792 Robespierre
“conseguira realizar seu programa político, concentrando o poder no Comitê de
Salvação Pública, em detrimento inclusive da Convenção e das organizações
populares”.

O governante autoritário francês durante a época do terror agiria como se “suas


ideias e suas práticas políticas especí cas como a “salvação pública”, como as únicas
ideias e práticas que correspondam aos interesses universais do povo, da pátria, da
revolução” (GRESPAN, 2008, p. 95).

Prezado(a) aluno(a), é necessário entender que mesmo uma das épocas mais
brutais do processo revolucionário francês não foi desprovida de nenhum mérito a
ser considerado. Como menciona o historiador francês Michel Vovelle (2007, p. 76),
os insurgentes franceses jacobinos que compunham a Montanha possuíam:
[...] um grande ideal: fundar a República regenerando seus cidadãos.
Eles tentam implantar uma pedagogia republicana por meio de textos
e do discurso. Não perdem de vista a construção do ideal democrático:
e é durante esse período que a Convenção decreta o m da escravidão
nas colônias francesas, dando continuidade à mensagem de
emancipação da Declaração dos Direitos do Homem.

A administração governamental revolucionária igualmente adotou medidas que


visavam atender os mais pobres, aos indivíduos que estavam em condição de
miséria e mulheres cujos maridos haviam falecido nos con itos belicosos (VOVELLE,
2007).

Grespan (2008, p. 96) menciona que na conjuntura brutal do “‘Terror’ foi por m
aniquilado o antigo regime, com sua aristocracia feudal, seus monopólios
econômicos, seus entraves ao desenvolvimento do capitalismo”. O próprio
Robespierre almejava uma forma de coletividade como maior liberdade nanceira
(GRESPAN, 2008). Caro(a) aluno(a), no prosseguimento discorreremos sobre o
desfecho do processo revolucionário francês.

O governo autoritário da época do Terror dizimou adversários de diferentes estratos


políticos. Contudo, no primeiro semestre do ano de 1794, os representantes políticos
que governavam continuaram sendo ameaçados por uma progressiva
desaprovação de pessoas a qual achavam a administração política muito extrema e
havia também indivíduos que acreditavam que o governo não fora ousado o
bastante (GRESPAN, 2008). Esse

[...] duplo movimento que possibilitou a derrubada de Robespierre no


famoso golpe do 9 de Termidor, data no calendário da Revolução que
corresponde ao 27 de julho de 1794.

De fato, não foi todo o Comitê da Salvação Pública que caiu neste dia.
Ao contrário, alguns dos seus próprios membros se voltaram contra
Robespierre e Saint-Just, acusando-os de pretenderam impor um
despotismo bem pouco esclarecido. A esses dissidentes se juntaram
deputados de várias facções da Convenção, também com a mesma
acusação. E quando, já no dia seguinte ao golpe, Robespierre e seus
companheiros foram guilhotinados, a temida reação dos sans-cullottes
mostrou-se nula. Houve até populares que manifestaram sua
aprovação ao que estava acontecendo (GRESPAN, 2008, p. 98).

Posteriormente, a forma de governo mais à direita (tendo por base a posição dos
girondinos) passa novamente a ter predominância na França, encabeçada por
representantes políticos mais ponderados. Assim é escrito mais um texto
constitucional, que garante os direitos de posse de senhores sobre amplos domínios
e mais uma vez a maior parte da camada populacional francesa não é considerada
no processo eleitoral (GRESPAN, 2008). “A Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão que segue a Constituição é bem menos ousada que a de 1789 além de
acompanhada por uma declaração dos deveres, e não só dos direitos” (GRESPAN,
2008, p. 101).

Esse governo com ações políticas mais comedidas incentivaria grupos que eram
ligados à monarquia e que buscavam ascender novamente politicamente
(GRESPAN, 2008). Neste contexto o governo republicano “se mantém um tanto
precariamente sob o governo de um órgão executivo colegiado de cinco membros,
chamado de “Diretório”, instituído em outubro de 1795” (GRESPAN, 2008, p. 102).

No ano de 1795 os indivíduos que formavam os sans-culottes tentaram se rebelar


algumas vezes em oposição ao governo que se estabelece, contudo impediram eles
sem grandes di culdades. No ano seguinte uma trama encabeçada por jacobinos
remanescentes também foi freada (FLORENZANO, 1981).

O con ito belicoso da França com nações europeias continuou, e ocasionou no


processo um decrescimento nanceiro (GRESPAN, 2008). Atacada

[...] de fora e de dentro pelos monarquistas, e sem poder recorrer ao


apoio popular, a república teve de ser defendida por um general
vitorioso: Napoleão Bonaparte, que se proclama cônsul – bem ao gosto
do culto a Roma – com o golpe de 18 de Brumário, o dia 9 de novembro
de 1799. O Diretório é derrubado para manter a república, que será
derrubada a seu turno, porém, pelo próprio Bonaparte, quando se
coroar Imperador, em dezembro de 1804. Mas, a essa altura, a
Revolução há muito havia acabado (GRESPAN, 2008, p. 102).

Caro(a) aluno(a), Napoleão Bonaparte é uma gura histórica grandemente


conhecida. O período em que ele comandou a França poderá ser explorado em
outras unidades, já que é uma época de grande relevância histórica.
SAIBA MAIS
Um instrumento brutal foi recorrente no processo revolucionário
francês. Em decorrência das ações de um representante político
denominado Guillotin passou a ser utilizado um aparelho para executar
pessoas que tivessem cometidos crimes, com a denominada guilhotina
se arrancava a cabeça rapidamente (VOVELLE, 2007). Provavelmente
você já deve ter ouvido falar sobre a guilhotina, já que ela foi recorrente
durante o processo revolucionário.

Caro aluno um dos importantes iluministas do século XVIII Charles-


Louis de Seconda denominado “Montesquieu será amplamente
utilizado e admirado pelos revolucionários de 89. Marat[1] , por exemplo,
não hesitará em proclamar que Montesquieu é o maior homem do
século” (FORTES, 1985, p. 39). Contudo como menciona Fortes (1985) o
erudito francês era a leal aristocracia, mas seus escritos eram
ambivalentes. Talvez o conde erudito não aprovasse como se sucedeu a
insurgência na nação francesa no nal do século XVIII. Tal aparente
contradição não é um fato isolado da história.

[1] Representante político jacobino que foi morto por uma monarquista.

REFLITA
Não é por um povo que combatemos, mas pelo universo. Não pelos que
vivem hoje, mas por todos aqueles que existirão

- Maximilien de Robespierre
Conclusão - Unidade 4

Prezado(a) aluno(a), esperamos que ao nal desta unidade você tenha compreendido
as diferentes etapas do processo revolucionário da França no nal do século XVIII,
acontecimento que completou 230 anos desde o seu início. A Revolução Francesa é
uma temática histórica muito instigante, tanto para estudiosos de história quanto
para pessoas que não pertencem ao meio acadêmico. Caso este assunto tenha lhe
causado interesse, existem muitas obras publicadas no Brasil que podem lhe trazer
diferentes visões sobre tal ocorrência. Independentemente de qual sejam as
temáticas históricas, elas podem se tornar mais fascinantes, quanto maior
aprofundamento se efetuar sobre elas.

É evidente que a Revolução Francesa pode ser analisada em diferentes óticas,


podendo existir aqueles que só enxergam suas máculas, os que veem apenas suas
virtudes e os que são mais criteriosos e que tentam compreender a conjuntura da
época, buscando as diferentes posições dos indivíduos envolvidos no processo
histórico. É evidente que, mesmo tendo se preservado os relatos do período, é difícil
nos colocarmos no lugar das pessoas que viveram naquela época na França num
momento tão conturbado. É interessante ressaltar que mesmo que o mundo tenha
sofrido transformações desde o processo revolucionário francês, a camada
populacional em diferentes países continua tendo sua relevância quando decidem
exercer o direito de manifestação. Como exemplo podemos citar os protestos do povo
chileno, ocorridos no ano de 2019, que, de alguma forma, impactaram politicamente o
país latino-americano.

Ainda no que se refere à revolução francesa, acreditamos que seja relevante apontar
que ela impactaria diretamente a história brasileira se pensarmos que o processo de
insurreição na França ocasionaria a escalada de Napoleão que, posteriormente com
suas ações belicosas na Europa, faria com que os monarcas portugueses fugissem
para o Brasil, o que levaria a modi cações internas no território brasileiro.
REFLITA
Todo o homem luta com mais bravura pelos seus interesses do que pelos
seus direitos

- Napoleão Bonaparte

Leitura Complementar
Artigo interessante para o estudante que tiver interesse em ter contato com uma
análise diferenciada sobre a Revolução Francesa:

SCHIMIDT, J. F. As mulheres na Revolução Francesa. Revista Thema. Rio Grande do


Sul, v 9, n.2, p. 01-19, jun. 2012.

Obra relevante para o estudante que busca ter contato com uma análise
aprofundada sobre A Revolução Francesa:

HOBSBAWM, Eric J. A Revolução Francesa. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

Livro
Filme
Considerações Finais

Olá, querido(a) aluno(a). Chegamos ao m da apostila de História Moderna. Ao longo


deste trabalho apresentamos diversas temáticas que contribuíram
signi cativamente para a formação do mundo ocidental. Desde a constituição dos
Estados Modernos, passando pela Reforma Protestante, Iluminismo, Independência
da América Inglesa, chegando à Revolução Francesa de 1789, marco inicial da
contemporaneidade.

Longe de esgotar as temáticas sobre História Moderna, apresentamos nesta obra as


questões fundamentais deste curto e intenso período da História da humanidade.
Foram pouco mais de 300 anos marcados pelo orescimento das principais
instituições que regem o mundo do ponto de vista político, religioso e losó co.

Tratamos da uni cação dos Estados Nacionais depois de séculos marcados pela
desagregação política e apresentamos a importância do renascimento cultural na
vida intelectual europeia, possibilitando o surgimento de um pensamento crítico
que propiciou a crítica de Lutero à Igreja Católica, o surgimento das ideias
iluministas e as revoluções na América e na Europa.

As temáticas aqui apresentadas são apenas noções preliminares e introdutórias na


vasta historiogra a sobre o período moderno, a partir dessas contribuições vocês
poderão se aprofundar e se especializar caso se interessem. Para tanto, a bibliogra a
de cada unidade e as dicas de leitura podem ser um pontapé inicial para futuras
pesquisas.

Esperamos que o material seja claro e que instigue ainda mais o conhecimento
histórico.

Atenciosamente,

Os autores.

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