Saúde e Sociedade No Caminho Da Enfermagem Lucas Fontes
Saúde e Sociedade No Caminho Da Enfermagem Lucas Fontes
Saúde e Sociedade No Caminho Da Enfermagem Lucas Fontes
Saúde da Família
Modalidade a Distância
Módulo 2
GOVERNO FEDERAL
Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Saúde José Gomes Temporão
Secretario de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) Francisco Eduardo de Campos
Diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES) Ana Estela Haddad
Coordenador Geral de Ações Estratégicas em Educação na Saúde Sigisfredo Luis Brenelli
Responsável Técnico pelo Projeto UNA-SUS Vinícius de Araújo Oliveira
Consultora do Projeto UNA-SUS Lina Barreto
COMITÊ GESTOR
Coordenador Geral do Projeto Carlos Alberto Justo da Silva
Coordenadora do Curso Elza Berger Salema Coelho
Coordenadora Pedagógica Kenya Schmidt Reibnitz
Coordenadora Executiva Rosângela Leonor Goulart
Coordenadora Interinstitucional Sheila Rubia Lindner
Coordenador de Tutoria Antonio Fernando Boing
EQUIPE EaD
Alexandra Crispim Boing
Antonio Fernando Boing
Eleonora Milano Falcão Vieira,
Fátima Büchele
Marialice de Mores
Sheila Rubia Lindner
AUTORES
Marta Inez Machado Verdi Drª
Marco Aurélio Da Ros Dr.
Luiz Roberto Agea Cutolo Dr.
REVISORES
Marco Aurélio de Anselmo Peres
Sandra Noemi de Cuccurulo Caponi
UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS - UNA-SUS
Saúde e Sociedade
Eixo 1
Reconhecimento da Realidade
Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
2010
© 2010 todos os direitos de reprodução são reservados à Universidade Federal
de Santa Catarina. Somente será permitida a reprodução parcial ou total desta
publicação, desde que citada a fonte.
ISBN - 978-85-61682-39-2
ISBN: 978-85-61682-39-2
CDU: 361.1
COMISSÃO EDITORIAL
Elza Berger Salema Coelho, Kenya Schmidt Reibnitz,
Marialice de Mores, Eleonora Milano Falcão Vieira
Ementa
Objetivos
Unidades de Conteúdo:
Módulo 2
1 Ludwick Fleck (1896-
1 MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE 1961) – médico e biólogo
polonês que criou ,na
década de 1930, o
Nesta unidade, estudaremos as diferentes formas de pensar a conceito de “pensamento
saúde, como promover a saúde, o modelo biomédico e o modelo coletivo” ou estilo de
da determinação social da doença, bem com discutiremos a pensamento, fundamental
promoção da saúde. Seus objetivos neste estudo são os de refletir nas áreas de História,
criticamente sobre as diferentes formas de pensar o processo saúde Filosofia e Sociologia da
doença, identificar as características do modelo biomédico e sua Ciência, pois possibilita
influência hegemônica nas práticas de saúde, conhecer o modelo da a compreensão de como
determinação social da doença em contraponto ao modelo biomédico as ideias científicas se
e refletir sobre a influência das relações sociais na constituição destes modificam ao longo do
modelos de saúde. tempo.
Quando falamos em modelos conceituais em saúde, está implícito que 2 Thomas Kuhn (1922-1996)
existem diferentes conceitos que determinam diferentes maneiras de – físico norte-americano,
ver o que é ou como se promove a saúde (ou se tratam as doenças). autor de A Estrutura das
Essas diferentes maneiras de ver propiciam pensamentos e práticas Revoluções Científicas,
diferenciadas, mais ou menos eficientes, mais ou menos científicas, na qual aponta o enfoque
mais ou menos onerosas, fragmentadas ou não. Então, vamos historicista de ciência,
desenvolver com vocês essas duas questões que se colocam: a considerando fundamentais
primeira, sobre as diferentes formas de ver a saúde, e a segunda, os aspectos históricos e
sobre os modelos conceituais em saúde. sociológicos que rodeiam
a atividade científica como
próprios da ciência e não
1.1 A Epistemologia da Saúde: as Diversas somente os aspectos
Formas de Pensar a Saúde lógicos e empíricos.
Este raciocínio é ditado por um jeito de ver, que pode ser questionado
de diversas maneiras:
4.000
3.500
taxa de mortalidade (por milhão)
2.000
1.500
Quimioterapia
1.000 Vacina BCG
100
1840 1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970
Gráfico 1: Gráfico de Mckewon - tuberculose respiratória, taxa de mortalidade anual média Inglaterra e Gales
Fonte: Mckewon e Lowe, 1981.
ATENÇÃO: Isto não significa que devemos jogar fora este conhecimento
adquirido (bactérias, vacinas, antibióticos, etc.).
O marco teórico conceitual da biomedicina tem sua origem no modelo 5 Abraham Flexner
capitalista norte-americano. Tal modelo foi chamado de modelo (1866-1959) – educador
flexneriano, porque Flexner5 foi quem centralizou uma pesquisa nos norte-americano que, na
EUA, em 1910, concluindo que o bom modelo de ensino de medicina década de 1910, com o
deveria ser o da Rockfeller Foundation. Este modelo tem sido bastante Relatório de uma pesquisa
analisado e descrito, mas é importante que se reflita sobre cada uma sobre o ensino da medicina,
de suas características, porque nosso ensino nos cursos da área da provocou a reforma da
saúde, e nossa prática, ainda estão muito vinculados a ele. Veja as educação médica nos
características do modelo flexneriano com atenção no quadro 4: Estados Unidos.
Esse modelo conceitual em saúde apresenta uma nova forma de ver 6 Rudolf Ludwig Karl Virchow
o processo saúde-doença. Tal forma tem sua origem na Europa, no (1821-1902) – médico
século XIX, num movimento chamado de Movimento de Medicina alemão considerado
Social. Virchow, um dos médico-sociais (depois veio a ser conhecido mentor da medicina social
também como patologista), afirmava que as pessoas adoecem e, posteriormente, “pai”
e morrem em função do jeito que vivem. E este jeito de viver é da patologia, além de
determinado social-cultural e economicamente (caracterizando o antropólogo e político liberal
contexto de aparecimento da doença). (Partido Livre-Pensador
Alemão).
Em 1848, Virchow6 elaborou, junto com Neumann7, a lei da
Saúde Pública da Prússia, na qual diz que compete ao Estado
a responsabilidade sobre a saúde das pessoas. Que este deve 8 Salomon Neumann (1819-
promover a saúde e combater e tratar a doença, para todos, ou seja, 1908) – médico
saúde: direito de todos, dever do Estado. Aliás, foi esse movimento estatístico alemão.
que inspirou a nossa construção do SUS.
Virchow conseguiu, sem conhecer a bactéria, nem antibióticos, 8 Henry Sigerist (1891-
terminar com a epidemia de febre tifoide na região da Silésia (Polônia) 1957) – filho de pais
com a mudança da carga horária de trabalho, de 16 para10 horas suíços, nasceu em Paris
diárias, melhores condições de saneamento nas fábricas (abriu e formou-se em Medicina
janelas), proibição de trabalho para menores (de 4 para 12 anos), pela Universidade de
maior salário (mais dinheiro para comprar comida para os filhos), Zurique. Foi professor de
alimentação adequada e a construção de casas populares próximas História da Medicina nas
às fábricas. Universidades de Zurique,
Leipzig e, posteriormente, na
Universidade
Pense na sua prática de saúde e procure identificar se as diferentes John’s Hopkins.
características do modelo biomédico influenciam as ações desenvolvidas
junto aos sujeitos, às famílias e à comunidade.
9 Georges Canguilhem (1904-
1995) – nasceu no sul da
França, percorreu a carreira
acadêmica em instituições
O movimento de medicina social foi hegemônico na Europa entre de ensino e pesquisa
1830 e 1870, quando ascende a teoria pasteuriana unicausal. A partir francesas como filósofo. Sua
daí, há um declínio, só persistindo residualmente em alguns países, tese de doutorado, defendida
como a Itália, até a Segunda Guerra Mundial. no curso de Medicina,
feito posteriormente à
No mundo, as ideias de determinação social foram retomadas por licenciatura em Filosofia,
Henry Sigerist8 (1942) e Georges Canguilhem9 (1943/1968), mas foi impressa sob o título O
ficaram restritas na área das ciências sociais, pouco modificando a normal e o patológico.
tendência norte-americana, do modelo unicausal (flexneriano).
É importante salientar que há uma vertente minoritária que procura 10 Carta de Ottawa
superar as ambiguidades da Carta de Ottawa10, colocando Documento emblemático
em destaque conceitos como “empowerment comunitário” e no movimento da
“empowerment education”. Nesse contexto, saúde deve ser Promoção da Saúde
entendida como a capacidade para viver a vida de modo autônomo, resultante da I
reflexivo e socialmente responsável, cujo núcleo de intervenção Conferência Internacional
do setor da saúde deve ser em torno dos “serviços e territórios”. sobre Promoção da Saúde
Entender saúde através da politização das práticas sanitárias, tendo realizada na cidade de
como objetivo a produção de bens e serviços, a produção de sujeitos Ottawa, Canadá, em
(usuários e trabalhadores) e a democratização institucional. 1986. Neste documento,
Promoção da saúde
Nesta perspectiva, a promoção da saúde deve incluir o consiste em proporcionar
fortalecimento da democracia e a intervenção sobre o ambiente. A aos povos os meios
promoção da saúde é objeto de diferentes instâncias de decisões necessários para melhorar
e, destacadamente, do aparelho estatal, que deve organizar um a sua saúde e exercer um
conjunto de políticas públicas de natureza estrutural (econômicas e maior controle sobre a
infraestruturais) e sociais (saúde, educação, habitação, etc.). mesma. São apresentados
como campos de
ação da promoção
da saúde: políticas
públicas saudáveis,
ambientes favoráveis à
saúde, fortalecimento
da ação comunitária,
desenvolvimento de
habilidades e atitudes
pessoais e reorientação
do sistema de saúde.
REFERÊNCIAS