Saúde e Sociedade No Caminho Da Enfermagem Lucas Fontes

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Especialização em UNA-SUS

Saúde da Família
Modalidade a Distância

Eixo I - Reconhecimento da Realidade

Módulo 2: Saúde e Sociedade


Saúde e Sociedade

Módulo 2
GOVERNO FEDERAL
Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Saúde José Gomes Temporão
Secretario de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) Francisco Eduardo de Campos
Diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES) Ana Estela Haddad
Coordenador Geral de Ações Estratégicas em Educação na Saúde Sigisfredo Luis Brenelli
Responsável Técnico pelo Projeto UNA-SUS Vinícius de Araújo Oliveira
Consultora do Projeto UNA-SUS Lina Barreto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


Reitor Álvaro Toubes Prata
Vice-Reitor Carlos Alberto Justo da Silva
Pró-Reitora de Pós-Graduação Maria Lúcia de Barros Camargo
Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão Débora Peres Menezes

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


Diretora Kenya Schmidt Reibnitz
Vice-Diretor Arício Treitinger

DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA


Chefe do Departamento Walter Ferreira de Oliveira
Subchefe do Departamento Jane Maria de Souza Philippi
Coordenadora do Curso Elza Berger Salema Coelho

COMITÊ GESTOR
Coordenador Geral do Projeto Carlos Alberto Justo da Silva
Coordenadora do Curso Elza Berger Salema Coelho
Coordenadora Pedagógica Kenya Schmidt Reibnitz
Coordenadora Executiva Rosângela Leonor Goulart
Coordenadora Interinstitucional Sheila Rubia Lindner
Coordenador de Tutoria Antonio Fernando Boing

EQUIPE EaD
Alexandra Crispim Boing
Antonio Fernando Boing
Eleonora Milano Falcão Vieira,
Fátima Büchele
Marialice de Mores
Sheila Rubia Lindner

AUTORES
Marta Inez Machado Verdi Drª
Marco Aurélio Da Ros Dr.
Luiz Roberto Agea Cutolo Dr.

REVISORES
Marco Aurélio de Anselmo Peres
Sandra Noemi de Cuccurulo Caponi
UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS - UNA-SUS

Saúde e Sociedade

Eixo 1
Reconhecimento da Realidade

Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
2010
© 2010 todos os direitos de reprodução são reservados à Universidade Federal
de Santa Catarina. Somente será permitida a reprodução parcial ou total desta
publicação, desde que citada a fonte.
ISBN - 978-85-61682-39-2

Edição, distribuição e informações:


Universidade Federal de Santa Catarina
Campus Universitário 88040-900 Trindade – Florianópolis - SC
Disponível em: www.unasus.ufsc.br

Ficha catalográfica elaborada pela Escola de Saúde Pública de Santa Catarina


Bibliotecária responsável: Eliane Maria Stuart Garcez – CRB 14/074

U588i Universidade Aberta do SUS.


Saúde e sociedade [Recurso eletrônico] / Universidade Aberta do
SUS; Marta Inez Machado Verdi, Marco Aurélio Da Ros, Luiz Roberto
Agea Cutolo. – Florianópolis : UFSC, 2010.

87 p. (Eixo 1. Reconhecimento da Realidade)

Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br

Conteúdo do Módulo 2. - Modelos conceituais em saúde. – A


organização social e sua influência no processo saúde-doença. – A
construção do SUS no contexto das políticas públicas. – Atenção
primária da saúde, atenção básica da saúde e a estratégia saúde da
família. – A família contemporânea.

ISBN: 978-85-61682-39-2

1 Saúde da família. 2. Políticas públicas de saúde. 3. SUS. 4.Processo


saúde-doença. I. UNA-SUS. II. Verdi, Marta Inez Machado. III. Da Ros,
Marco Aurélio. IV. Cutolo, Luiz Roberto Agea. V. Título. VI. Série.

CDU: 361.1

COMISSÃO EDITORIAL
Elza Berger Salema Coelho, Kenya Schmidt Reibnitz,
Marialice de Mores, Eleonora Milano Falcão Vieira

EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL


Coordenação de Design Instrucional Fernanda Pires Teixeira
Design Instrucional Isabel Maria Barreiros Luclktenberg
Revisão Textual Ana Lúcia P. do Amaral
Coordenação de Design Gráfico Giovana Schuelter
Design Gráfico André Rodrigues da Silva, Felipe Augusto Franke, Lais Barboza
Ilustrações Aurino Manoel dos Santos Neto, Rafaella Volkmann Paschoal
Design de Capa André Rodrigues da Silva, Felipe Augusto Franke, Rafaella Volkmann Paschoal
Projeto Editorial André Rodrigues da Silva, Felipe Augusto Franke, Rafaella Volkmann Paschoal
Revisão Geral Eliane Maria Stuart Garcez
SUMÁRIO

Unidade 1Modelos conceituais em saúde. .................................. 13


1.1 A Epistemologia da Saúde: as Diversas
Formas de Pensar a Saúde............................................................ 13
1.2 Modelo Biomédico........................................................................ 17
1.3 Modelo de Determinação Social da Doença................................... 19
1.4 Promoção da Saúde...................................................................... 21
Referências. ........................................................................ 25

Unidade 2 A organização social e sua influência


no processo saúde-doença...................................................... 27

2.1 A Oganização da Sociedade Influencia


O Processo Saúde-Doença............................................................ 27
2.2 Um Pouco da História da Sociedade Brasileira............................... 29
Referências. ........................................................................ 34

Unidade 3 A construção do SUS no contexto das


políticas públicas.................................................................. 37
3.1 Premissas Iniciais......................................................................... 37
3.2 Condições para Instalação do Modelo Brasileiro............................ 39
3.2.1 O Início................................................................................. 39
3.2.3 Retrocesso do Ensino: Último Passo....................................... 41
3.2.5 Novas Forças Nascentes: o Movimento pela Reforma Sanitária.......42
3.3 Ventos de Mudança....................................................................... 43
3.4 O SUS........................................................................................... 45
3.5 As Políticas Atuais......................................................................... 46
3.6 De 2004 a 2009............................................................................ 49
Referências. ........................................................................ 52
Unidade 4 Atenção Primária da Saúde,
Atenção Básica da Saúde e a Estratégia Saúde da Família............ 55
4.1 Hora de Brincar com as Palavras................................................... 55
4.2 Tudo Bem! Mas o Que é APS, Afinal?............................................. 56
4.3 Características, Eixos e Diretrizes da APS...................................... 59
4.3.1 Orientação para a Comunidade.............................................. 59
4.3.2 Primeiro Contato................................................................... 60
4.3.3 Acessibilidade....................................................................... 61
4.3.4 Longitudinalidade.................................................................. 62
4.3.5 Integralidade......................................................................... 62
4.3.6 Coordenação do Cuidado....................................................... 64
4.4 APS Para Quê? Por Que APS?........................................................ 65
4.5 E o Que o Brasil Tem a Ver Com Isso?
E a Estratégia Saúde da Família?............................................. 66
4.5.1 A Estratégia Saúde da Família como Atenção
Primária da Saúde Ampliada.................................................. 66
4.5.3 A Equipe de Saúde da Família e suas Atribuições................... 69
4.5.4 Requisitos para a formação da Equipe de Saúde da Família..... 71
Referências. ........................................................................ 74
Unidade Complementar A família contemporânea......................... 77
5.1 Premissas Iniciais Sobre a Concepção de Família.......................... 78
5.2 Construção Histórico-Social das Concepções de Família............... 79
5.3 Família na Transição Demográfica Brasileira, Características e
Desigualdades Socioeconômicas................................................... 80
Referências. ........................................................................ 84
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO

Antes de iniciarmos os estudos referentes ao módulo 2 – Saúde e


Sociedade, é importante reconhecermos que o trabalho na Estratégia
Saúde da Família (ESF) é um processo complexo no que se refere a
saberes, práticas e relações envolvidas. Isto requer que o processo
seja construído na articulação de bases teóricas (o conhecimento),
de bases metodológicas (métodos e técnicas) e de bases éticas.
O processo de trabalho na ESF exige, como ponto de partida, o
reconhecimento da realidade onde se insere, portanto, o território de
atuação sob responsabilidade da equipe de saúde da família, onde
sujeitos sociais e famílias vivem e interagem.

Precisamos conhecer a realidade da comunidade para o trabalho na


ESF, tanto em termos contextuais (a partir de informações da realidade
demográfica, epidemiológica, social, política e cultural) como em termos
conceituais (os modos de ver e conceber a realidade). Assim, este
módulo pretende refletir com você sobre a estreita relação entre saúde
e sociedade na realidade do trabalho da equipe de saúde da família.

De qual realidade falamos?

De qual tipo de reconhecimento falamos?

É importante dizer que a opção teórico-metodológica que percorre os


conteúdos desenvolvidos neste módulo é um determinado modo de
ver a realidade, ou seja, a vemos como um processo histórico-social
em permanente transformação, o que possibilita pensarmos numa
sociedade que pode mudar para melhor. Portanto, pensamos que
a realidade contextual de que falamos abrange desde sua unidade
social mais micro – os sujeitos e a família – até as relações sociais
mais amplas, em nível macro, como, por exemplo, o processo de
globalização na sociedade. Portanto, propomos que, ao pensar na
realidade dos sujeitos e das famílias, pensemos sempre nas suas
inter-relações e mesmo num contexto político, social e cultural.

Da mesma forma, a proposta que apresentamos, não só neste módulo


mas em todo curso, indica claramente para um posicionamento
crítico ante o conhecimento já construído, saberes já instituídos,
modos hegemônicos de ver a realidade. Isto quer dizer que propomos
conhecer a realidade, sim, porém de modo crítico, questionador e
criativo.

Nosso objetivo é que seu estudo seja um processo de construção


cotidiana ativo, participativo e crítico, no sentido de você se tornar
sujeito da construção do próprio saber, de você se apropriar da
realidade e ir além, empoderando-se neste contexto, de modo a
capacitar-se para a transformação dessa realidade em direção a uma
sociedade e um sistema de saúde mais justo, mais equitativo, digno
e cidadão.

Assim, convidamos você a entrar no mundo das ideias, práticas,


conflitos, desafios e realizações que compõem os marcos conceitual
e contextual da Estratégia Saúde da Família, do SUS e da sociedade
brasileira.

Ementa

Modelos conceituais em saúde: modelo biomédico, determinação


social da doença e promoção da saúde. A organização da sociedade
em que vivemos. Políticas de saúde e a construção do SUS numa
perspectiva histórica. Os modelos de Atenção Primária à Saúde,
Atenção Básica e Estratégia Saúde da Família.

Objetivos

a) Conhecer os diferentes modelos conceituais em saúde e sua


relação com o trabalho na Estratégia Saúde da Família;

b) Entender como ocorreu a construção da sociedade em que


vivemos na atualidade e sua interação com a saúde;

c) Compreender o processo de construção das políticas de saúde


e do SUS, numa perspectiva histórico-social;

d) Compreender a Estratégia Saúde da Família, em termos


conceituais e contextuais, sua estratégia operacional, bem como
os modelos de atenção primária da saúde e atenção básica.

Carga horária: 30hs.

Unidades de Conteúdo:

Unidade 1: Modelos Conceituais em Saúde.

Unidade 2: A Sociedade em que Vivemos.

Unidade 3: A Construção do SUS no Contexto das Políticas


Públicas.

Unidade 4: Atenção Primária da Saúde, Atenção Básica e


Estratégia Saúde da Família.

Unidade Complementar: A Família Contemporânea


PALAVRAS DOS PROFESSORES

Caros profissionais, sabemos que desenvolver um processo de


trabalho em saúde junto às pessoas, às famílias e às comunidades,
num contexto de desigualdades sociais como o nosso, para que se
promova a saúde e o SUS dê certo, é uma árdua tarefa. Para isso,
não bastam os saberes e práticas tradicionais; como dizia David
Capistrano, este exercício requer ir muito além da sabedoria e da
técnica, pressupõe uma férrea persistência e mesmo pertinácia.

Neste sentido, acreditando no potencial de mudança de todos e de


cada um e na sua capacidade de criar e transformar a realidade,
propomos, ao longo deste módulo, um percurso desafiador que
instigue você a ver com “outros olhos” a realidade de seu trabalho,
a pensar múltiplas e diferentes explicações para os processos que
ali ocorrem (a saúde, a doença, o trabalho, a vida da comunidade)
e a produzir em equipe diferentes respostas para os problemas
evidenciados.

Saúde e sociedade podem ser compreendidas como indissociáveis,


dependendo do modo como entendemos que a doença e a saúde
são produzidas. Se a crença é de que a doença vai muito além
do corpo biológico, certamente as relações sociais terão papel
fundamental e, portanto, as ações de saúde devem considerar a
multiplicidade de fatores que produzem estes processos. Pensar a
saúde e a sociedade intimamente ligadas perpassa toda a maneira
como vamos construir nosso conhecimento, nossas práticas, nossas
ações, as políticas, enfim, a nossa contribuição para a efetivação do
SUS e da Estratégia Saúde da Família.

É nessa perspectiva que preparamos este estudo para você.

Marta Inez Machado Verdi, Dra.


Marco Aurélio da Ros, Dr.
Luiz Roberto Agea Cutolo, Dr.
Unidade 1

Módulo 2
1 Ludwick Fleck (1896-
1 MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE 1961) – médico e biólogo
polonês que criou ,na
década de 1930, o
Nesta unidade, estudaremos as diferentes formas de pensar a conceito de “pensamento
saúde, como promover a saúde, o modelo biomédico e o modelo coletivo” ou estilo de
da determinação social da doença, bem com discutiremos a pensamento, fundamental
promoção da saúde. Seus objetivos neste estudo são os de refletir nas áreas de História,
criticamente sobre as diferentes formas de pensar o processo saúde Filosofia e Sociologia da
doença, identificar as características do modelo biomédico e sua Ciência, pois possibilita
influência hegemônica nas práticas de saúde, conhecer o modelo da a compreensão de como
determinação social da doença em contraponto ao modelo biomédico as ideias científicas se
e refletir sobre a influência das relações sociais na constituição destes modificam ao longo do
modelos de saúde. tempo.

Quando falamos em modelos conceituais em saúde, está implícito que 2 Thomas Kuhn (1922-1996)
existem diferentes conceitos que determinam diferentes maneiras de – físico norte-americano,
ver o que é ou como se promove a saúde (ou se tratam as doenças). autor de A Estrutura das
Essas diferentes maneiras de ver propiciam pensamentos e práticas Revoluções Científicas,
diferenciadas, mais ou menos eficientes, mais ou menos científicas, na qual aponta o enfoque
mais ou menos onerosas, fragmentadas ou não. Então, vamos historicista de ciência,
desenvolver com vocês essas duas questões que se colocam: a considerando fundamentais
primeira, sobre as diferentes formas de ver a saúde, e a segunda, os aspectos históricos e
sobre os modelos conceituais em saúde. sociológicos que rodeiam
a atividade científica como
próprios da ciência e não
1.1 A Epistemologia da Saúde: as Diversas somente os aspectos
Formas de Pensar a Saúde lógicos e empíricos.

A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a 3 Jean Piaget (1896-


validade do conhecimento (daí também se designar por filosofia do 1980) – biólogo e
conhecimento). Ela se relaciona ainda com a metafísica, a lógica e o psicólogo suíço, dedicou-
empirismo, uma vez que avalia a consistência lógica da teoria e sua se às pesquisas em
coesão fatual. Epistemologia e Educação,
revolucionando as
A respeito das diferentes formas de ver o que é, ou como se faz a saúde, concepções de inteligência
a discussão que se coloca é epistemológica. Há uma epistemologia e desenvolvimento
chamada construtivista, que diz que o conhecimento/a ciência é cognitivo, investigando a
um processo, ou seja, está constantemente mudando – está em natureza e a gênese do
construção. Sofre um período de harmonia das ilusões (Fleck1), ou de conhecimento nos seus
ciência normal (Kuhn2), ou de estabilidade (Piaget3), ou de continuidade processos e estágios de
(Bachelard4) e evolui para que os dados instabilizadores/anormais/ desenvolvimento.
desarmônicos rompam epistemologicamente mudando a ciência
antiga. É colocado um novo estilo de pensamento/paradigma para ser 4 Gaston Bachelard (1884-
a verdade provisória da nova ciência que acumula o velho e com isso 1962) – filósofo e poeta
traz o princípio do conhecimento máximo. Isto parece muito mais uma francês, cujo trabalho
discussão filosófico-sociológica, mas ela é básica para que se entenda acadêmico objetivou o
a saúde. estudo do significado
epistemológico da ciência.

Unidade 1 – Modelos conceituais em saúde 13


Um exemplo interessante, extraído do Gestalt (da psicologia), para
discutirmos um pouco mais sobre esse tema, pode ser a leitura de três
letras: A-I3-C. Após isso, a leitura de três números: I2,I3,I4. A pergunta
é: o que significa o I3?
Bom, num contexto de letras, é a letra bê, num contexto de números, é
o número treze. Logo, eu vejo as coisas dentro de um contexto. Naquela
realidade de números não me é dada outra coisa senão ver o treze.

Continuemos o raciocínio do significado das coisas num determinado


contexto, agora aproximando da questão da saúde. Pois bem, na
saúde-doença, podemos vivenciar a mesma situação do exemplo
apresentado anteriormente. Se eu penso sobre a tuberculose, dentro
de um jeito de pensar, posso pensar que é uma doença causada
por uma bactéria (mycobacterium tuberculosis); que, com o advento
do microscópio, conseguimos localizar a sua causa; e que, com
a invenção dos antibióticos, passamos a tratá-la definitivamente.
Mais que isso, com a vacina, passamos a evitar que as pessoas se
contaminem com a bactéria e fiquem doentes.

Este raciocínio é ditado por um jeito de ver, que pode ser questionado
de diversas maneiras:

É possível uma pessoa ter a bactéria e não ter a doença?

Pode a vacina não funcionar?

E o antibiótico pode não resolver?

Se lidamos com todas as certezas anteriores, como a doença voltou


a crescer na humanidade?

Que coisas não estão explicadas com a equação bactéria-exames-


remédios-vacinas?

O gráfico 1 assinala a mortalidade por tuberculose entre 1870 e 1970.


Notamos que temos uma diagonal quase reta de diminuição. Alguns
fatos, entretanto, são notáveis: a descoberta do bacilo em 1882, a do
antibiótico contra a tuberculose em 1942 e a vacina eficaz na década
de 1960, ou seja, a marcha da diminuição não foi impactada por
esses eventos. A tuberculose no mundo diminuiu por outros motivos
(MCKEWON e LOWE, 1981 apud COSTA, 1988).

14 Verdi, Da Ros, Cutolo Saúde e sociedade


Gráfico I
Tuberculose Respiratória, Taxa de Mortalidade Anual Média Inglaterra e Gales

4.000

3.500
taxa de mortalidade (por milhão)

3.000 Identificação do bacilo


da tuberculose
2.500

2.000

1.500
Quimioterapia
1.000 Vacina BCG

100

1840 1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970

Gráfico 1: Gráfico de Mckewon - tuberculose respiratória, taxa de mortalidade anual média Inglaterra e Gales
Fonte: Mckewon e Lowe, 1981.

ATENÇÃO: Isto não significa que devemos jogar fora este conhecimento
adquirido (bactérias, vacinas, antibióticos, etc.).

Então, na lógica da teoria do conhecimento máximo, teremos que


repensar como a tuberculose diminuiu. Ou seja, para tratar individualmente
ou prevenir a doença numa determinada faixa etária, o diagnóstico, o
remédio e a vacina são fundamentais, mas, quando pensamos numa
coletividade, aparecem outras variáveis que devem ser pensadas.

O que ocorreu na Inglaterra entre 1870 e 1970 que possa estar


relacionado à diminuição de mortes por tuberculose?

Nesse período, surgiram serviços públicos de saúde, melhores


condições para a classe trabalhadora, com melhorias nas condições
salariais/econômicas, habitações melhores, projetos de saneamento
e urbanização, empoderamento das classes populares, ampliação
da democracia; questões que significam promoção da saúde e
prevenção de doenças, bem como a ampliação da qualidade
de vida. Com esses dados, já podemos ver a realidade de
outra maneira.

Portanto, a primeira maneira de ver/conceber o processo saúde-


doença é definida como biomédica e a segunda como modo de
determinação social da doença, ou seja, estes são dois modelos
conceituais em saúde.

Unidade 1 – Modelos conceituais em saúde 15


Se for verdade que não podemos absolutizar a determinação social
na hora de executar um tratamento individual, também é verdade
que, se quisermos efetivamente ser profissionais de saúde, e não
de doença, temos que começar a pensar de outro jeito, a ver as
coisas de outra forma. A maneira biomédica nos foi imposta de tal
modo e está tão incorporada ao nosso jeito de ver que nos sentimos
desconfortáveis de pensar em mudar. Este sentimento, de incômodo,
é o que nos permite crescer na ciência; caso contrário, só repetiremos
o I3 sem enxergar o B ou outros signos possíveis.

Temos então, bipolarmente no quadro 2, dois modelos conceituais


em saúde:

modelo hegemônico, considerado avançado durante


Biomédico muito tempo (até a década de 1970).

um novo entendimento do processo saúde-doença que


é determinado pelo modo como o homem se apropria da
Determinação social natureza por meio do processo de trabalho em deter-
minado momento histórico e em determinadas relações
sociais de produção.

Quadro 2: Modelos Conceituais em saúde

Isto significa que podemos e devemos, para além de nossas atividades


e de nossa necessária educação/saúde, promover a saúde – o que
humaniza o contato com os usuários, seja através da consulta ou outra
ação de saúde, porque vai permitir saber, por exemplo, o modo de vida
dos sujeitos que interagimos e cuidamos.

Entretanto, antes de conhecermos melhor estes dois modelos, é


importante registrar que o pensamento sobre o que é saúde e doença
já se verificava há muitos séculos, antes mesmo das explicações
científicas. Contando brevemente essa história, podemos apontar
alguns momentos importantes no quadro 3:

16 Verdi, Da Ros, Cutolo Saúde e sociedade


a doença era atribuída a causas externas cuja explica-
ção estava em fatores sobrenaturais, para posteriormente
Na antiguidade vincular-se ao caráter religioso , envolvendo a igreja como
local e os sacerdotes como mediadores da cura.

surge a teoria Hipocrática, que centrava nos fatores ex-


Na Grécia antiga ternos ambientais (clima, geografia, alimentação, trabalho
excessivo) as causas das doenças.

sob forte influência do cristianismo, a doença toma sentido


Na Idade Média místico religioso (castigo), e a cura é buscada em poderes
miraculosos (relíquias, amuletos, água benta, exorcismo).

surgiu a teoria miasmática, cuja explicação da doen-


ça estava nas partículas invisíveis, os miasmas. Surge
No período do
também,a teoria social da Medicina com alguns revolu-
Renascimento cionários como Virchow e Neumann que buscam a ex-
plicação da doença nas condições de vida e de trabalho.

a partir das descobertas bacteriológicas, o conceito de


No século XIX doença muda novamente, agora centrando a procura da
causa em um agente causal de origem bacteriológica.

a insuficiência da teoria unicausal da doença abre espaço


para a formulação de explicações multicausais, de caráter
No século XX biologicista e a-histórico, numa concepção reducionista
do social.

Quadro 3: Evolução do conceito saúde-doença

1.2 Modelo Biomédico

O marco teórico conceitual da biomedicina tem sua origem no modelo 5 Abraham Flexner
capitalista norte-americano. Tal modelo foi chamado de modelo (1866-1959) – educador
flexneriano, porque Flexner5 foi quem centralizou uma pesquisa nos norte-americano que, na
EUA, em 1910, concluindo que o bom modelo de ensino de medicina década de 1910, com o
deveria ser o da Rockfeller Foundation. Este modelo tem sido bastante Relatório de uma pesquisa
analisado e descrito, mas é importante que se reflita sobre cada uma sobre o ensino da medicina,
de suas características, porque nosso ensino nos cursos da área da provocou a reforma da
saúde, e nossa prática, ainda estão muito vinculados a ele. Veja as educação médica nos
características do modelo flexneriano com atenção no quadro 4: Estados Unidos.

Unidade 1 – Modelos conceituais em saúde 17


Positivismo Tem a verdade científica

Ensino com ênfase na anatomia,


estudando segmentos do humano,
Fragmentação/Especialização dando origem às múltiplas
especialidades médicas

Considera o corpo humano como


Mecanicismo uma máquina

As doenças são causadas sempre


Biologicismo por um agente causal (biológico,
físico, químico)

Centraliza os processos de diag-


Tecnificação nóstico e cura nos procedimentos
e equipamentos tecnológicos

Focaliza no indivíduo, negando os


Individualismo grupos sociais e comunidade

Dá ênfase à cura das doenças, em


Curativismo detrimento da promoção da saúde,
e da prevenção das doenças

O melhor ambiente para tratar as


doenças é o hospital, porque tem
Hospitalocêntrico todos os exames acessíveis e se
administra medicamentos nas ho-
ras certas

Quadro 4: Características do modelo flexneriano

Além dessas características, o modelo biomédico nega a saúde pública, a


saúde mental e as ciências sociais, bem como não considera científicos e
válidos outros modelos de saúde, como a homeopatia. O conhecimento
e a prática de saúde são centralizados no profissional médico.

Isto tem como consequência uma posição autoritária, unidisciplinar


e com intenso uso do aparato que lucra com a doença: hospitais,
exames, remédios, medicina altamente especializada - o chamado
complexo médico-industrial.

18 Verdi, Da Ros, Cutolo Saúde e sociedade


1.3 Modelo de Determinação Social da Doença

Esse modelo conceitual em saúde apresenta uma nova forma de ver 6 Rudolf Ludwig Karl Virchow
o processo saúde-doença. Tal forma tem sua origem na Europa, no (1821-1902) – médico
século XIX, num movimento chamado de Movimento de Medicina alemão considerado
Social. Virchow, um dos médico-sociais (depois veio a ser conhecido mentor da medicina social
também como patologista), afirmava que as pessoas adoecem e, posteriormente, “pai”
e morrem em função do jeito que vivem. E este jeito de viver é da patologia, além de
determinado social-cultural e economicamente (caracterizando o antropólogo e político liberal
contexto de aparecimento da doença). (Partido Livre-Pensador
Alemão).
Em 1848, Virchow6 elaborou, junto com Neumann7, a lei da
Saúde Pública da Prússia, na qual diz que compete ao Estado
a responsabilidade sobre a saúde das pessoas. Que este deve 8 Salomon Neumann (1819-
promover a saúde e combater e tratar a doença, para todos, ou seja, 1908) – médico
saúde: direito de todos, dever do Estado. Aliás, foi esse movimento estatístico alemão.
que inspirou a nossa construção do SUS.

Virchow conseguiu, sem conhecer a bactéria, nem antibióticos, 8 Henry Sigerist (1891-
terminar com a epidemia de febre tifoide na região da Silésia (Polônia) 1957) – filho de pais
com a mudança da carga horária de trabalho, de 16 para10 horas suíços, nasceu em Paris
diárias, melhores condições de saneamento nas fábricas (abriu e formou-se em Medicina
janelas), proibição de trabalho para menores (de 4 para 12 anos), pela Universidade de
maior salário (mais dinheiro para comprar comida para os filhos), Zurique. Foi professor de
alimentação adequada e a construção de casas populares próximas História da Medicina nas
às fábricas. Universidades de Zurique,
Leipzig e, posteriormente, na
Universidade
Pense na sua prática de saúde e procure identificar se as diferentes John’s Hopkins.
características do modelo biomédico influenciam as ações desenvolvidas
junto aos sujeitos, às famílias e à comunidade.
9 Georges Canguilhem (1904-
1995) – nasceu no sul da
França, percorreu a carreira
acadêmica em instituições
O movimento de medicina social foi hegemônico na Europa entre de ensino e pesquisa
1830 e 1870, quando ascende a teoria pasteuriana unicausal. A partir francesas como filósofo. Sua
daí, há um declínio, só persistindo residualmente em alguns países, tese de doutorado, defendida
como a Itália, até a Segunda Guerra Mundial. no curso de Medicina,
feito posteriormente à
No mundo, as ideias de determinação social foram retomadas por licenciatura em Filosofia,
Henry Sigerist8 (1942) e Georges Canguilhem9 (1943/1968), mas foi impressa sob o título O
ficaram restritas na área das ciências sociais, pouco modificando a normal e o patológico.
tendência norte-americana, do modelo unicausal (flexneriano).

Unidade 1 – Modelos conceituais em saúde 19


Em 1942, Sigerist dizia que o médico tem quatro grandes tarefas:
promover saúde, prevenir doenças, restabelecer o doente e reabilitá-
lo. E que promover saúde era ter condições de vida, trabalho,
educação, cultura física, distração e descanso, chamando políticos,
sindicatos, indústrias, educadores e médicos para essa tarefa.

O modelo da determinação social da doença não nega a atenção


individual quando necessária, mas ela é contextualizada numa
relação entre cidadãos.

Para sintetizar esta discussão de qual modelo é mais apropriado à


realidade atual, podemos utilizar o quadro 5 de Da Ros (2004), que
mostra as diferenças entre o modelo da determinação social e o
modelo biomédico.

Determinação Social da Doença X Modelo Biomédico


Movimento pela Reforma Valorização do
x
Sanitária Complexo Industrial
Verdade como Provisoriedade –
x
processo verdade absoluta
Valorização da psicologia e do Valorização da célula e da
x
cultural química
Valorização da atuação multi-
x Todo poder do médico
profissional/interdisciplinar
Valorização da pessoa como Valorização do conhecimento
x
um todo fragmentado
Permeabilidade/humildade x Onipotência
Flexibilidade x Rigidez
Pensamento crítico político x Alienação
Centro de saúde/comunidade x Hospital / Indivíduo
Inclui promoção da saúde x Só trata o doente
Educação como relação
Educação como médico-sujeito
sujeito-sujeito, na relação x
e o paciente como objeto
médico-paciente
Fechamento para outras racio-
Flexibilidade para outras
x nalidades (chamadas de char-
racionalidades médicas
latanismo)
Valorização da saúde pública x Negação da saúde pública
Determinação Social x Determinação Biológica
Modelo Saúde Coletiva
x Modelo Biomédico/Flexneriano
brasileira

Responsabilidade do Social x Culpabilização individual

Quadro 5: Diferênça entre modelo da determinação social da doença e modelo biomédico


Fonte: DA ROS, 2004

20 Verdi, Da Ros, Cutolo Saúde e sociedade


1.4 Promoção da Saúde

Tratando de promoção da saúde, também temos diferentes modelos


conceituais: um proposto pela saúde coletiva brasileira e outros,
oriundos do Canadá. Desde o relatório Lalonde, publicado em 1974,
no Canadá, e mais especificamente após a Conferência Internacional
de Promoção à Saúde em 1986, em Ottawa, o entendimento de
promoção da saúde rompeu com o modelo de níveis de prevenção
de Leavell e Clark, sustentado durante décadas.

O modelo de Leavell e Clark, proposto originalmente para explicar


a História Natural da Doença apresenta três níveis de prevenção:
primário, secundário e terciário. No nível primário que defendia a
existência de um nível primário de prevenção, é apresentada como
uma das ações a promoção da saúde. é importante ressaltar que
nesse modelo o foco central é a prevenção da doença. Assim, o
modelo trata, na verdade, de doença e não de saúde. E a promoção
da qual falamos, trata de saúde que não é o contrário de doença.

Os modelos de promoção da saúde oriundos do Canadá, segundo


Carvalho (2008), têm em comum a afirmação do social, já que
apresentam a determinação do processo saúde-doença, a busca de
superação do modelo biomédico e o compromisso de saúde como
direito de cidadania. Isto inclui diversos conceitos novos, que estão
no coração da Estratégia Saúde da Família, mas que não fizeram
parte dos nossos currículos tradicionais, tais como: tecnologia-leve,
coprodução de sujeitos e, mesmo, cidadania. Os “óculos” colocados
pela biomedicina impedem que os profissionais de saúde vejam todo
esse universo de promover saúde.

Esta questão é tão marcada que, até muito recentemente, a promoção


da saúde pouco constava, ou sequer aparecia, como conteúdo nos
currículos dos cursos da área da saúde como enfermagem, odontologia,
medicina, entre outros.

Para Buss (2003), de um modo geral, as formulações de promoção


da saúde podem ser reunidas em duas grandes tendências. Vejamos
o quadro 6:

Unidade 1 – Modelos conceituais em saúde 21


Uma das características desta tendência é o seu
enfoque fortemente comportamental, expresso por
meio de ações de saúde que visam à transformação
de hábitos e estilos de vida dos indivíduos, consi-
derando o ambiente familiar, bem como o contexto
cultural em que vivem. Nesta ótica, a promoção da
saúde tende a priorizar aspectos educativos ligados
a fatores de riscos comportamentais individuais, e,
portanto, processo potencialmente controlado pelos
A primeira, centrada no próprios indivíduos.
comportamento dos indivíduos Esta tendência se aproxima muito do modelo pre-
e seus estilos de vida: ventivo. As similaridades entre a promoção da saúde
e a prevenção de doenças nos mostra que prevenir
é vigiar, antecipar acontecimentos indesejáveis em
populações consideradas de risco, enquanto que
promover a saúde, quando não se trata de controlar
politicamente as condições sanitárias, de trabalho e
de vida da população em geral, mas quando busca
criar hábitos saudáveis, é também uma vigilância.
Uma vigilância que cada um de nós deve exercer so-
bre si mesmo (VERDI; CAPONI, 2005).

Esta tendência, identificada por Buss (2003) como


mais moderna, considera fundamental o papel pro-
tagonista dos determinantes gerais sobre as condi-
ções de saúde, cujo amplo espectro de fatores está
diretamente relacionado com a qualidade de vida
individual e coletiva.
A segunda, dirigida a um
enfoque mais amplo de Logo, promover a saúde implica considerar um
desenvolvimento de políticas padrão adequado de alimentação, de habitação e de
saneamento, boas condições de trabalho, acesso à
públicas e condições favorá-
educação, ambiente físico limpo, apoio social para
veis à saúde famílias e indivíduos e estilo de vida responsável.
Promover a saúde envolve, também, dirigir o olhar
ao coletivo de indivíduos e ao ambiente em todas as
dimensões, física, social, política, econômica e cultu-
ral. Por fim, promover a saúde implica uma aborda-
gem mais ampla da questão da saúde na sociedade.

Quadro 6: Tendências para discussão da promoção da saúde.

Como tínhamos afirmado antes, as tendências para a discussão


de promoção da saúde têm em comum a importância do social.
A divergência é no entendimento do significado deste social, em
relação ao lócus de priorização das ações em saúde e a perspectiva
com que se trabalha o tema sujeito.

22 Verdi, Da Ros, Cutolo Saúde e sociedade


A promoção da saúde canadense apresenta uma maior heterogeneidade de
correntes, sendo marcada por um arcabouço teórico estrutural funcionalista e
discutindo com superficialidade temas como sistema de atenção e prática clínica.
Além disso, constitui-se como um movimento profissional/burocrático, envolvendo
principalmente academia e burocracia estatal. Os profissionais de saúde têm
uma participação marginal no desenho e implementação desta abordagem, o que
facilita a manutenção da dualidade de saberes e práticas no campo da saúde.
(CARVALHO, 2008, p. 1).

É importante salientar que há uma vertente minoritária que procura 10 Carta de Ottawa
superar as ambiguidades da Carta de Ottawa10, colocando Documento emblemático
em destaque conceitos como “empowerment comunitário” e no movimento da
“empowerment education”. Nesse contexto, saúde deve ser Promoção da Saúde
entendida como a capacidade para viver a vida de modo autônomo, resultante da I
reflexivo e socialmente responsável, cujo núcleo de intervenção Conferência Internacional
do setor da saúde deve ser em torno dos “serviços e territórios”. sobre Promoção da Saúde
Entender saúde através da politização das práticas sanitárias, tendo realizada na cidade de
como objetivo a produção de bens e serviços, a produção de sujeitos Ottawa, Canadá, em
(usuários e trabalhadores) e a democratização institucional. 1986. Neste documento,
Promoção da saúde
Nesta perspectiva, a promoção da saúde deve incluir o consiste em proporcionar
fortalecimento da democracia e a intervenção sobre o ambiente. A aos povos os meios
promoção da saúde é objeto de diferentes instâncias de decisões necessários para melhorar
e, destacadamente, do aparelho estatal, que deve organizar um a sua saúde e exercer um
conjunto de políticas públicas de natureza estrutural (econômicas e maior controle sobre a
infraestruturais) e sociais (saúde, educação, habitação, etc.). mesma. São apresentados
como campos de
ação da promoção
da saúde: políticas
públicas saudáveis,
ambientes favoráveis à
saúde, fortalecimento
da ação comunitária,
desenvolvimento de
habilidades e atitudes
pessoais e reorientação
do sistema de saúde.

Unidade 1 – Modelos conceituais em saúde 23


Saiba mais

Sobre epistemologia na saúde:


CAMARGO JUNIOR., K. Biomedicina, saber e ciência: uma abordagem
crítica. São Paulo: Hucitec, 2003.
DA ROS, M. A. Estilos de pensamento em saúde pública: um estudo
da produção da FSP e ENSP/FIOCRUZ, entre 1948 e 1994, a partir
da epistemologia de Ludwik Fleck. 2000. 207 f. Tese (Doutorado em
Educação)-Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2000.

Sobre a evolução histórica do conceito de saúde-doença:


BARATA, R. de C. B. A historicidade do conceito de causa. Rio de
Janeiro: ABRASCO, 1985.
LAURELL, A. C. A saúde-doença como processo social. In: NUNES, E.
Medicina social: aspectos históricos e teóricos. São Paulo: Global,
1983. p. 1-22.
LEAVELL, H.; CLARK, E. G. (Orgs.). Medicina preventiva. São Paulo:
McGraw-Hill, 1976.
SCLIAR, M. Do mágico ao social: a trajetória da saúde pública. Porto
Alegre: L & PM, 1987.

Sobre promoção da saúde:


CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. de. Promoção da saúde: conceitos,
reflexões e tendências. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003.

Sobre determinação social da doença, assista o filme:


GERMINAL Produção de Claude Berri; Pierre Grunstein; Bodo Scriba.
Direção de Claude Berri. França, 1993. 1 DVD (170 min). Baseado na
novela “Germinal” de Émile Zola. (Figura 7)

Figura 7: Filme sobre determinação social


da saúde.
Fonte: GERMINAL, 1993

24 Verdi, Da Ros, Cutolo Saúde e sociedade


SÍNTESE DA UNIDADE

Nesta unidade, refletimos acerca da existência de modos diferentes


de pensar saúde, que acabam constituindo seus diferentes modelos
conceituais. É importante enfatizar que o tema modelos conceituais
em saúde não se esgota aqui. Várias vezes estaremos retomando a
questão do nosso modelo conceitual, da forma de ver (I3? ou B?) e
de promoção/educação em saúde.

Seus objetivos de aprendizagem nesta unidade foram: refletir


criticamente sobre as diferentes formas de pensar o processo saúde-
doença; identificar as características do modelo biomédico e sua
influência hegemônica nas práticas de saúde; conhecer o modelo da
determinação social da doença em contraponto ao modelo biomédico
e refletir sobre a influência das relações sociais na constituição destes
modelos de saúde, analisando a sociedade em que vivemos.

Você avalia que atingiu esses objetivos?

REFERÊNCIAS

BUSS, P. Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. In:


CZERESNIA, D. F. C. M. (Org.). Promoção da saúde: conceitos, reflexões,
tendências. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003. p.15-38.

CARVALHO , S. R. Modelos teóricos conceituais da promoção à saúde


canadense e da saúde coletiva brasileira. São Paulo: USP, 2008. Disponivel
em: <http://www.fsp.usp.br/cepedoc/trabalhos/trabalho181.htm>

COSTA, D. C. Comentários sobre a tendência secular da tuberculose.


Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 4, n. 4, out./dez. 1988.

DA ROS. M. A. A ideologia nos cursos de medicina. In: MARINS, J. J. N. et


al. Educação médica em transformação: instrumentos para a construção
de novas realidades. São Paulo: Hucitec, 2004. p. 245-266

MCKEWON, T.; LOWE, C. R. Introductíon a la medicina social. México:


Siglo Veintiuno, 1981.

Unidade 1 – Modelos conceituais em saúde 25

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