67196-Texto Do Artigo-292937-2-10-20210406
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https://doi.org/10.5007/2177-5230.2021.e67196
Abstract: The traditional groups that inhabit the Northeastern region, especially the
rural ones, of the Caatinga Semi-Arid region, have an empirical knowledge, which is
passed on between generations, maintaining a link with the medicinal flora. The
study aimed to carry out a floristic survey of medicinal plants, native and exotic
species used by residents of Parari-PB, as well as a study of the socio-economic
condition of the population. Semi-structured interviews were conducted, investigating
which vegetables are grown by families and the socioeconomic situation. The
population of the municipality consists mainly of farmers, retirees, and municipal civil
servants. Regarding medicinal plants, 13 botanical families were used to control
respiratory, gastrointestinal, and urinary disorders. Also, the therapeutic indications of
the plants made by the raizeiros are scientifically proven.
Keywords: Phytotherapy. Caatinga. Medicines.
Introdução
A população tradicional, principalmente os moradores da zona rural, possui
uma interação forte com o meio à sua volta, desde a antiguidade. Estas populações
são detentoras de conhecimentos milenares, que são repassados de geração para
geração. A partir deste conhecimento empírico, os indivíduos que detém o
conhecimento, contribuem na descoberta de novas drogas com princípios ativos
para o tratamento e cura de enfermidades, através do uso de plantas (VÁSQUEZ;
MENDONÇA; NODA, 2014; COSTA; MARINHO, 2016; ARAÚJO; LIMA, 2019).
Os grupos tradicionais que habitam a região Nordeste, principalmente os da
zona rural, da região Semiárida da Caatinga, como quilombos, população indígena e
camponeses, ou seja, pequenos produtores que vivem de agricultura familiar, detêm
um conhecimento empírico, o qual é repassado entre gerações, mantendo um
vínculo com a flora medicinal inserida no bioma Caatinga. Essa forma de usar as
plantas como medicamento é algo característico, principalmente das comunidades
de baixa renda (TEIXEIRA; MELO, 2006; NETO, 2014; SANTOS et al., 2016; SILVA
et al., 2019).
O resgate do conhecimento relacionado à medicina tradicional é de grande
relevância para manter e valorizar a cultura de comunidades tradicionais, além de
servir como ferramenta para uso como recurso terapêutico. A necessidade de
resgatar o conhecimento popular acerca do uso de plantas medicinais é indiscutível,
uma vez que o uso desta prática se caracteriza como um dos principais recursos
terapêuticos para o tratamento de diversas doenças, de muitas comunidades e
etnias (ARNOUS et al., 2013; ARAÚJO, 2017; BRAVO FILHO et al., 2018).
A partir da constatação científica sobre a eficácia das plantas no tratamento de
doenças, o interesse acerca da sua utilização, como forma medicamentosa, tem se
mostrado crescente; este fato pode ser estendido para a sociedade, com potencial
interesse industrial e lucrativo (FARNSWORTH, 1988; AMOROZO, 2002; SABÓIA et
al., 2018).
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Área de estudo
Materiais e métodos
Coleta Etnobotânica
Para a coleta de dados referentes à etnobotânica foram aplicados 20
questionários semiestruturados, visando identificar o uso e o conhecimento das
espécies de plantas indicadas de uso popular, por moradores na faixa etária entre
40 e 80 anos, classificados de acordo com a ocupação de trabalho. Foi utilizada a
técnica de amostragem seguindo metodologia de Bailey (1994), chamada “bola de
neve” (snowball), onde o primeiro especialista entrevistado indica o próximo, e assim
por diante, até chegar ao final do estudo, no qual todos os especialistas da
comunidade sejam entrevistados. Nesta etapa buscou-se obter informações sobre o
potencial medicinal e as características botânicas das plantas utilizadas.
O questionário padronizado foi utilizado para identificar as espécies vegetais:
o nome vulgar da planta, a enfermidade a ser tratada, a origem da planta, a parte
utilizada, a forma de utilização e a posologia (quantas vezes ao dia e tempo de uso).
Foi utilizada a técnica da turnê-guiada, na qual o mantenedor é convidado a
fazer uma caminhada pelo quintal durante a entrevista, fornecendo informações
específicas sobre as plantas ali estabelecidas, informando a finalidade de uso da
espécie (ALBUQUERQUE; LUCENA, 2004). No processo de identificação, um
taxonomista foi consultado e a identificação ocorreu através de fotografias.
Ao final, foram elaboradas duas listas florísticas, uma com espécies nativas e
outra com espécies exóticas; cada tabela contém dados da família botânica, com
nomes científicos, nomes vernáculos, o hábito da planta e a indicação
medicamentosa. Dados como: nome científico, hábito e família foram conseguidos
na base de dados online do Missouri Botanical Garden - W3 Tropicos e Herbário
Virtual da Flora e dos Fungos - REFLORA. A lista florística foi elaborada com base
no Angiosperm Phylogeny Group (APG) IV (2016), além dos nomes populares, das
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Resultados e Discussão
Levantamento sociocultural
A partir dos dados obtidos nas entrevistas verificou-se que, das 20 entrevistas,
80% (14) corresponderam ao gênero feminino e 20% (06) ao gênero masculino.
Devido ao homem “chefe de casa” estar no trabalho, como agricultor, as mulheres
detêm do conhecimento popular, que foi passado por suas mães, tias e avós, como
foi registrado nas entrevistas. É possível observar que na agricultura familiar, a
mulher possui uma significativa contribuição, pois, além de participar de atividades
agrícolas, também assume uma postura de auxiliadora e mantenedora da saúde
familiar, envolvendo-se nos conhecimentos de sintomas e curas.
Em um estudo semelhante ao de Nascimento e Gonçalves (2013) e Cruz
(2017), avaliando o cultivo e o consumo de plantas medicinais cultivadas em quintais
urbanos no município de Campina do Monte Alegre, em São Paulo e em Breu
Branco no Pará, também prevaleceu o maior conhecimento entre as mulheres, que
está mais voltado ao cultivo e a utilização de plantas medicinais.
Com base nos questionários foi registrado que o grau de escolaridade dos
entrevistados variou entre analfabetismo (15%), ensino fundamental incompleto
(60%), fundamental completo (12,5%), médio incompleto (5%), médio completo
(5%), e nenhum com ensino superior. Percebe-se uma maioria de pessoas com
ensino fundamental incompleto, o que denota uma baixa escolaridade dos
envolvidos no estudo. Todavia, ter baixa escolaridade não significa que o indivíduo
não conhece sobre o cultivo e a utilização de determinadas plantas, pois tal saber
pode ter sido a ele repassado de forma oral pelos familiares e por pessoas da
comunidade.
Por ser o município mais rural que urbano, estes indivíduos vivem na cidade e
desenvolvem atividades de agricultura familiar na zona rural. Os entrevistados que
não são aposentados são agricultores e donas de casa. A renda mensal dos
entrevistados é de um salário mínimo (82,5%), sendo relevante informar a
porcentagem de pessoas com renda de até dois salários mínimos (17,5%), (BRASIL,
2017). Nestes domicílios residem mais de três pessoas. Contudo, o conhecimento
sobre as plantas medicinais se sobressai junto àqueles que têm maior escolaridade
(Tabela 1).
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Feminino 80
Gênero
Masculino 5
Analfabeto 15
Ensino fundamental incompleto 60
Ensino fundamental completo 12,5
Escolaridade
Ensino médio incompleto 5
Ensino médio completo 5
Ensino superior 0
Tabela 2 - Amostragem sócio cultural dos entrevistados, quanto a preferência sobre o uso
de Plantas Medicinais do Povoado de Parari-PB.
Informações mais relevantes Entrevistados: (N=20) Porcentagem
Uso de medicamentos por falta
Preferência dos entrevistados de opção terapêutica
pelo uso de plantas como Uso associado entre plantas e
35
terapia, em relação aos medicamentos industrializados.
medicamentos industrializados Uso exclusivo de plantas
medicinais
Origem do conhecimento do
uso de plantas medicinais dos Avó, mãe e idosos 37
entrevistados
.
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Levantamento Etnobotânico
Neste estudo foi dada ênfase tanto às plantas nativas, quanto às exóticas.
Foi realizado o levantamento florístico no município de Parari, que resultou no
conhecimento de 31 espécies, pertencentes a 11 famílias, sendo 17 espécies da
Caatinga (Tabela 3) e 12 exóticas (Tabela 4). Dentre as espécies da Caatinga, as
famílias com maior representatividade foram: Fabaceae (Leguminosae), com quatro
espécies, seguida por Anacardiaceae com três espécies e Malvaceae com duas
espécies. As famílias Olacaceae, Meliaceae, Sapotoceae, Cactaceae, Apocynaceae,
Burseraceae e Rhamnaceae aparecem com apenas uma espécie em cada.
Em estudo desenvolvido por Agra et al. (2007) na região do Cariri Paraibano,
70 espécies vegetais foram indicadas como medicinais. Destas, 13 foram
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Considerações finais
Referências
AGRA, M. F. Medicinal and poisonous diversity of the flora of “Cariri paraibano”. Brazilian
Journal of Ethnopharmacology, v. 111, p. 383–395, 2017.
FERREIRA, L. B. et al. Etnobotânica das plantas medicinais cultivadas nos quintais do bairro
de Algodoal em Abaetetuba/PA. Revista Fitos, v. 10, p. 220-372, 2017.
SILVA, A. B. et al. Extrato etanólico das folhas de Raphanus sativus L. var. oleifera Metzg
(nabo forrageiro): efeitos anti-hiperglicêmico, antidislipidêmico e antioxidante em ratos com
Diabetes Mellitus tipo 1. Revista Fitos, v.13, p. 38-48, 2019.
NOTAS DE AUTOR
CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA
Amanda Miguel de Araújo - Concepção. Coleta de dados em campo, Elaboração do manuscrito, revisão e
aprovação da versão final do trabalho
Erimágna de Morais Rodrigues –Tratamento de dados, Participação ativa da discussão dos resultados;
Revisão e aprovação da versão final do trabalho.
Débora Coelho Moura- Coleta de dados em campo, Tratamento de dados, Participação ativa da discussão dos
resultados; Revisão e aprovação da versão final do trabalho
FINANCIAMENTO
Erimágna de Morais Rodrigues agradece a CAPES pela concessão de bolsa de doutorado sob nº
88887.497186/2020-00.
CONFLITO DE INTERESSES
Não se aplica.
LICENÇA DE USO
Este artigo está licenciado sob a Licença Creative Commons CC-BY. Com essa licença você pode compartilhar,
adaptar, criar para qualquer fim, desde que atribua a autoria da obra.
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ARAÚJO, RODRIGUES, MOURA
HISTÓRICO
Recebido em: 23-08-2019
Aprovado em: 03-10-2020