A Quiropaxia Na Construção Da Saúde Coletiva Autor Thiana Paula Schmidt Dos Santos
A Quiropaxia Na Construção Da Saúde Coletiva Autor Thiana Paula Schmidt Dos Santos
A Quiropaxia Na Construção Da Saúde Coletiva Autor Thiana Paula Schmidt Dos Santos
CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
NÍVEL MESTRADO
São Leopoldo
2008
1
São Leopoldo
2008
2
AGRADECIMENTOS
Em especial à professora doutora Lucilda Selli, pela orientação, pelo carinho, pelo
amparo e pela compreensão. Agradeço por todos os ensinamentos de vida que levarei
em meu coração para sempre.
Ao meu esposo Dailor, meu maior incentivador, amor, melhor amigo e companheiro de
vida.
Aos quiropraxistas que participaram desta pesquisa e que tão gentilmente concederam
as entrevistas.
Aos meus amigos e amigas queridas, sem os quais, a vida não valeria a pena, em
especial Marta e Ranieli, que já passaram e estão passando por esta mesma jornada.
À Nossa Senhora, por segurar minha mão e guiar-me pelo caminho da vida nos
momentos mais difíceis.
4
“Heaven knows we need never be ashamed of our tears, for they are rain upon the
blinding dust of earth, overlying our hard hearts”
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo conhecer, a partir de entrevistas realizadas com
quiropraxistas, o seu conceito de saúde coletiva, a relação que estabelecem entre quiropraxia e
saúde coletiva, bem como possíveis espaços de atuação dos mesmos nesta área. O estudo
caracterizou-se como exploratório com abordagem qualitativa através da análise de conteúdo.
Participaram da pesquisa 15 quiropraxistas graduados, atuando na profissão há no mínimo
dois anos e residentes na região Metropolitana de Porto Alegre, Vale do Sinos e Serra
Gaúcha. A coleta de dados se deu em julho de 2008 através de entrevista semi-estruturada. Os
resultados indicam que os quiropraxistas entrevistados apresentam um bom conhecimento a
respeito do conceito de saúde coletiva. Estes profissionais apontaram a relação entre
quiropraxia e saúde coletiva, com destaque para ações de cunho preventivo e educativo, bem
como sinalizaram diversos espaços para a possível atuação do quiropraxista em saúde
coletiva, principalmente o Sistema Único de Saúde. Ainda, destacaram a necessidade de se
avançar da prática em consultório particular para espaços que correspondam ao sistema de
saúde vigente com enfoque para espaços de atuação multidisciplinar. Apesar do conhecimento
sobre o que é saúde coletiva, da identificação da estreita relação entre quiropraxia e saúde
coletiva e da visualização de possíveis espaços de atuação do quiropraxista nesta área,
concluiu-se que a invisibilidade social do quiropraxista e o não reconhecimento como
profissional da área da saúde, influenciam sua prática tornando-a reclusa ao consultório,
centralizada na figura do paciente e restrita a indivíduos com poder aquisitivo.
ABSTRACT
The present research study aimed at verifying, through interviews carried out with
chiropractors, what their concept of collective health is; the relationship between collective
health and chiropractic, as well as possible areas in collective health in which chiropractors
can be engaged in. This is an exploratory research with a qualitative approach carried out
through content analysis. Fifteen chiropractors who had been practicing for a minimum of two
years in the Porto Alegre Metropolitan area, in the Sinos Valley and Mountains region in
Southern Brazil, participated on the research. The data was collected in July 2008, by the use
of a semi-structured interview. A good concept of what collective health is was verified
among the chiropractors. They were also able to establish an important relationship between
collective health and chiropractic, mainly related to preventive and educational measures, as
well as to envision several possible areas in which chiropractors can engage in regarding
collective health, not only private practice, but also other environments. They have indicated
the current health system e multidisciplinary settings as main work environments for
chiropractors in collective health. Although chiropractors present a good knowledge about
collective heath, the lack of work opportunities for chiropractors in the health system results
in a patient centered practice focused on intervention, distanced from measures towards
collective health, which ends up reproducing the biomedical model.
LISTA DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
PROJETO DE PESQUISA...................................................................................10
Introdução.............................................................................................................. 11
1. Problematização............................................................................................... 16
2. Tema..................................................................................................................19
3. Delimitação do Tema....................................................................................... 19
4. Fundamentação Teórica.................................................................................. 20
4.1. A Racionalidade Médica e a Medicina
Tradicional, Complementar e Alternativa....................................................... 20
4.2. Quiropraxia............................................................................................... 27
4.3. Quiropraxia e Saúde Coletiva................................................................... 37
5. Problema de Pesquisa...................................................................................... 40
6. Pressuposto....................................................................................................... 40
7. Objetivos........................................................................................................... 41
7.1. Objetivo Geral.......................................................................................... 41
7.2. Objetivos Específicos............................................................................... 41
8. Metodologia...................................................................................................... 41
8.1. Caracterização da Pesquisa.......................................................................41
8.2. Grupo de Estudo....................................................................................... 42
8.3. Local e Período......................................................................................... 43
8.4. Instrumentos de Coleta de Dados............................................................. 43
8.5. Instrumentos de Análise de Dados........................................................... 44
8.6. Aspectos éticos......................................................................................... 45
9. Cronograma..................................................................................................... 46
10. Orçamento........................................................................................................ 47
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 49
APÊNDICES.......................................................................................................... 58
Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido................................. 59
Apêndice B – Roteiro para a entrevista.................................................................. 61
9
ANEXOS................................................................................................................. 63
Anexo A – Atestado de Defesa de Qualificação de Projeto de Pesquisa................ 64
Anexo B – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro
Universitário Feevale............................................................................................... 66
RELATÓRIO DE PESQUISA............................................................................. 68
1. Trajetória Metodológica................................................................................. 69
1.1. O Método.................................................................................................. 69
1.2. O Contato com os Quiropraxistas.............................................................69
1.3. A Coleta de Dados: Entrevistas................................................................ 70
2. Análise e Discussão dos Resultados................................................................ 71
2.1. Quem são os quiropraxistas entrevistados................................................ 71
2.2. Categorias de análise................................................................................ 72
2.2.1. Primeira Categoria: O Conceito de Saúde Coletiva........................ 72
2.2.2. Segunda Categoria: A Relação Quiropraxia e Saúde Coletiva........ 83
2.2.3. Terceira Categoria: Áreas de Atuação do Quiropraxista em
Saúde Coletiva............................................................................................. 97
ARTIGO................................................................................................................. 115
10
PROJETO DE PESQUISA
ABRIL, 2008.
11
INTRODUÇÃO
Dentre essas novas abordagens que emergiram nos últimos anos, pode-se destacar
algumas que são consideradas relativamente recentes no cenário da saúde brasileira,
como é o caso da acupuntura, fitoterapia e homeopatia, que recentemente receberam,
através da Portaria 971 do Ministério da Saúde, de 03/05/2006, autorização para a sua
utilização nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2006a).
12
Existe, entretanto, uma profissão que reclama um espaço próprio no campo da saúde
no Brasil: a quiropraxia. Em fase de regulamentação legislativa (FRAGA, 2001), conta
ela, atualmente, com dois cursos de graduação oferecidos pelo Centro Universitário
Feevale em Novo Hamburgo/RS e pela Universidade Anhembi Morumbi/SP,
devidamente reconhecidos pelo Ministério da Educação (BRASIL, 2006b).
Tal realidade, aliada às experiências que tive durante o período no qual cursei a
disciplina de Saúde Pública no curso de graduação em quiropraxia, fizeram com que
nascesse em mim a idéia de realizar um projeto de pesquisa que contemplasse os
assuntos “quiropraxia” e “saúde coletiva”. Até o momento de cursar a disciplina, não
havia tido contato prévio com questões referentes à saúde coletiva, saúde pública, SUS,
princípios do SUS e tantos outros termos que hoje me são familiares.
Por ser a única aluna que não pertencia ao curso de enfermagem, freqüentemente a
docente me convidava a compartilhar as experiências da quiropraxia dentro da saúde
coletiva, porém sempre a deixava desapontada com minha repetida colocação:
“Professora, a quiropraxia não faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS) e também
não sei como ela pode contribuir para a saúde coletiva”. Certo dia a docente me chamou
para conversar e perguntou: “Thiana, saúde coletiva não é somente o SUS. Como a
quiropraxia espera ser plenamente reconhecida como profissão da área da saúde em
nosso país, e até mesmo mundialmente, se a mesma não contempla questões
relacionadas à saúde coletiva?”.
Nos Estados Unidos, a dor lombar representa 21% do total das compensações que
são destinadas às doenças do trabalho, sendo que ela atinge jovens e adultos que se
encontram no período de maior produtividade de suas vidas. No Brasil, a morbidade
representa a segunda causa de demanda em consultas médicas na rede de serviços de
saúde, sendo expressivo o número de indivíduos precocemente incapacitados para o
trabalho (BRASIL, 2001).
1. PROBLEMATIZAÇÃO
Assim, faz-se importante atentar para o fato de que um dos princípios essenciais da
quiropraxia é o princípio do holismo. O propósito do tratamento quiroprático não é
apenas aliviar um sintoma ou tratar uma das causas deste sintoma, mas também
proporcionar cuidados holísticos, abordando o paciente como um todo (CHAPMAN-
SMITH, 2001).
Esta concepção vem ao encontro do discurso atual em saúde coletiva voltado para a
promoção da saúde, que abre espaço para legitimar outras formas de conhecimento,
além do modelo biomédico, e integrar outras racionalidades médicas (CARVALHO,
1996).
Tal constatação vai contra a proposta de saúde do país, uma vez que esta preconiza
profissionais com um perfil capaz de viabilizar e implementar projetos, ações e serviços
de saúde integrais e equânimes, que avancem do modelo biomédico, hospitalocêntrico,
para um modelo voltado para a saúde coletiva (BRASIL, 2003b).
Tal fato pode ocorrer, pois, por ainda ser uma profissão nova na área da saúde, a
quiropraxia tem se dedicado ao longo dos últimos anos principalmente a realizar
pesquisas de cunho quantitativo que comprovem a eficiência científica da profissão,
deixando de lado outras questões, dentre elas a saúde coletiva.
2. TEMA
3. DELIMITAÇÃO DO TEMA
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Histórico
concebiam a unidade orgânica dos seres vivos, onde a doença apresentava-se como
expressão de alterações globais do organismo em interação com o seu meio físico e
social (LUZ, 1988).
A partir do século XVII até o século XIX, a tendência vitalista passa a ser superada
pela ciência médica, que estabelece o seu postulado no racionalismo moderno e
estrutura o novo método de investigação, defendido por Descartes, o qual envolvia a
descrição matemática da natureza e o método analítico de raciocínio. Esta perspectiva
provocou uma mudança radical na noção de um universo orgânico, vivo e espiritual,
que foi substituída pela visão do mundo como se fosse uma máquina, metáfora esta que
permanece dominante na era moderna (CAPRA, 1997).
A cura não é mais compreendida como um fenômeno no qual estão envolvidos uma
interação complexa entre os aspectos físicos, psicológicos, sociais e ambientais dos
indivíduos, esta é substituída pela mera cessação de sintomas. O vitalismo, que era
levado em consideração antes do século XV, apresenta-se deslocado diante desta
racionalidade, não encontrado mais um espaço epistemológico (CAPRA, 1997; LUZ,
1988).
morfologia do modelo científico corre o risco de ser considerada não científica, portanto
não verdadeira (LUZ, 1988).
O resultado desta pesquisa foi o famoso Relatório Flexner, publicado em 1910, que
balizou o ensino da medicina nesse país, através de rigorosas diretrizes que ainda hoje
são obedecidas. A partir do relatório, a escola de medicina deveria fazer parte de uma
universidade com corpo docente permanente e dedicado ao ensino e à pesquisa. O
objetivo principal era a formação dos acadêmicos e a pesquisa relacionada às doenças,
não a assistência aos doentes (PAGLIOSA; DA ROS, 2008).
Diante desta realidade, torna-se necessário uma nova visão de mundo que tenha
como principal foco não mais a fragmentação da realidade e a especialização
profissional, mas uma construção holística do ser humano e dos processos à ele
atrelados.
24
Este movimento tem recebido atenção por parte da Organização Mundial da Saúde
(OMS) e apresenta-se ativo dentro e fora do sistema de saúde, sendo implantado nos
diversos campos do saber. De acordo com a OMS, saúde resulta em um estado completo
bem-estar físico, mental, social e espiritual e não meramente a ausência de doenças ou
enfermidades”, revelando a natureza holística da saúde.
Esse modelo contempla o ser humano como um sistema de forças energéticas, bem
como de estruturas físicas e atividade bioquímica. A partir deste enfoque, a saúde
apresenta uma definição “positiva”, entendida como resultado de um equilíbrio
individual. A estrutura física é essencial, mas a premissa reducionista de que não há
25
nada mais além dessa estrutura acaba por ignorar as forças que animam a forma física
(DUNFORD; ELDIN, 2001).
A comunidade holística e a saúde coletiva são aliadas naturais, apesar de talvez não
o reconhecerem. Ambas rejeitam o reducionismo do modelo biomédico. Ao invés,
profissionais holísticos e profissionais da saúde coletiva enfatizam a prevenção de
doenças e a importância de se olhar para as pessoas como parte de uma comunidade e
não como máquinas humanas individuais. Tais concordâncias filosóficas profundas
poderiam formar a base para uma aliança benéfica mútua entre estas duas comunidades
(HYMAN, 2007).
4.2. Quiropraxia
A manipulação articular parece sempre ter sido parte da medicina chinesa. Desde o
início ela estava ligada a massagem, apenas recentemente é que ela foi separada e
apresentada como uma disciplina distinta. Assim como em outras áreas geográficas, seu
uso era baseado nos resultados de achados empíricos e foi perpetuada de geração em
geração através de heranças culturais e ensinamentos a discípulos, conseqüentemente, a
documentação inicial de seu uso é fragmentada (NG, 1986).
Assim como todas as formas de artes curativas, a manipulação teve seus períodos de
exaltação, como durante a dinastia Tang, e períodos durantes os quais ela não teve tanto
prestígio. Especialmente nos períodos em que foi largamente utilizada, ela foi usada não
apenas para fins curativos, mas também como auxiliar na prevenção de doenças,
entretanto, a maior parte de seu uso pode ter sido massagem ou alguma espécie de
trabalho em tecido mole (NG, 1986).
Apesar de “The Compleat Bone-Setter” ter sido escrito durante um período no qual
médicos ainda usavam manipulação, o livro meramente recomendava seu uso, porém
não a ensinava. A maior parte do treinamento era através do contato com um professor
(ANDERSON, 1983).
Até o século XVIII, a manipulação vertebral era ubíqua e sua utilização não era
seriamente questionada. Lomax (1977) atribui a perda de seu prestígio entre médicos
devido à cárie óssea de origem tuberculosa na coluna vertebral, freqüentemente
diagnosticada durante esse período. Médicos famosos, como sir Percival Pott,
acreditavam que todas as deformidades da coluna eram causadas pelas cáries e assim,
não deveriam ser manipuladas. Eles consideravam tal ato como má prática médica,
deixando claro que o tratamento preferido para deformidades na coluna deveria ser
descanso e ulceração local induzida (LOMAX, 1977).
Nem todos historiadores concordam com Lomax sobre o motivo pelo qual a
manipulação perdeu sua popularidade, eles apenas concordam que ela realmente a
perdeu. Johan Schultes, que faleceu em 1645 foi o último autor publicado a ensinar a
manipulação vertebral como parte da medicina regular. Apesar da descontinuação da
manipulação da coluna por médicos ter transcorrido por um período de mais de cem
anos, nenhuma evidência de seu uso após o fim do século XVII pode ser encontrada.
Johannes Fossgreen sugere que outra causa pode ter sido o medo de contato contagioso
(ANDERSON, 1983).
Tal argumento é apoiado por evidências de médicos nos séculos XVII e XVIII, que
se distanciavam de seus pacientes em face do surgimento de doenças contagiosas tais
como a altamente virulenta forma de sífilis trazida de volta à Europa das Américas por
aventureiros que haviam introduzido a varíola aos índios americanos (WILLIS, 2003).
D.D. Palmer estava estudando e praticando a chamada cura magnética desde 1889 e
sua evolução da cura magnética para a quiropraxia foi gradual. Ele havia estudado os
campos da anatomia, fisiologia, neurologia e patologia e usou seu conhecimento
extensivo para desenvolver a teoria para explicar seus sucessos clínicos. A cura
magnética era uma espécie de cura de energia envolvendo o posicionar das mãos, que
pode também ter feito uso de massagem e manipulação de vários tipos (GAUCHER-
PESLHERBE, 1995a).
Quando D.D. Palmer aplicou sua recém desenvolvida técnica a outros pacientes, ele
observou que outras disfunções respondiam aos empurrões que ele usava para
reposicionar vértebras. Um de seus pacientes apresentava um problema cardíaco que
havia falhado em responder positivamente ao tratamento médico usual. D.D. Palmer
examinou a coluna do paciente e encontrou a quarta vértebra torácica deslocada. Ele
então teorizou que ela pudesse estar exercendo pressão contra os nervos que enervavam
o coração (REDWOOD, CLEVELAND, 2003).
32
Após D.D. Palmer ter ajustado este segmento da coluna de seu paciente, o mesmo
experimentou alívio de seus sintomas. Desta segunda tentativa, D.D. Palmer começou a
pensar que se duas doenças, tão distintas como a surdez e problemas cardíacos,
surgissem a partir do “pinçamento” dos nervos, então outras doenças poderiam surgir
devido a uma causa similar (WILLIS, 2003).
D.D. Palmer aceitou seu primeiro aluno em 1897 e logo estudantes estavam se
graduando de sua “Palmer School of Infirmary”, mais tarde renomeada “Palmer School
of Chiropractic” (PSC) para praticar e ensinar quiropraxia.
Em 1903, D.D. Palmer e seu filho B.J. Palmer criaram uma parceria que deveria
continuar até 1906. Naquele ano, D.D. Palmer foi processado e julgado culpado no
condado de Scott, no estado americano de Iowa, de praticar medicina sem licença. Após
tal episódio ele vendeu sua cota da “Palmer School of Chiropractic” para seu filho e
mudou-se para o oeste, onde abriu escolas nos estados de Oklahoma, Oregon e
Califórnia. Após deixar Davenport, D.D. Palmer reuniu uma coleção de seus escritos em
sua obra de 1000 páginas intitulada “The Chiropractor’s Adjuster: A Textbook of the
Science, Art, and Philosophy of Chiropractic for Students and Practitioners” em 1910
(REDWOOD, CLEVELAND, 2003).
A quiropraxia foi apenas um dos vários novos grupos de curandeiros que surgiram
no final do século XIX, entre curandeiros com ervas, homeopatas, curandeiros
magnéticos, etc. Com o passar dos anos ela se mostrou ser uma das mais fortes
sobreviventes dentre as abordagens acima referidas e hoje é ensinada e praticada em
todo mundo (CHAPMAN-SMITH, 2001).
área da saúde, com filosofia e técnicas próprias. Algumas destas pesquisas e relatórios
são descritos a seguir.
Em 1994 a “U.S. Agency for Health Care Policy and Research” lançou o “Clinical
Guidelines Number 14: Acute Low Back Problems in Adults”, que concluiu que a
manipulação da coluna é um dos tratamentos mais eficazes e seguros para a dor lombar
(BIGOS, et al., 1994).
A quiropraxia atualmente
Não somente restrita aos quadros de dor, a prática quiroprática tem revelado outras
aplicabilidades e possibilidades em que sua abordagem tem o potencial de promover o
36
bem-estar do indivíduo. Para que todo este potencial da profissão possa ser maximizado,
a formação acadêmica adequada torna-se imprescindível, como recomenda a
Organização Mundial da Saúde (WHO, 2005).
5. PROBLEMA DE PESQUISA
6. PRESSUPOSTO
7. OBJETIVOS
8. METODOLOGIA
A análise de conteúdo tem como objetivo chegar a inferências lógicas tendo como
base as unidades de codificação ou de registro que organizam os dados coletados em
categorias. Está relacionada com a lingüística, pois procura conhecer aquilo que
encontra-se por trás das palavras e trabalha a palavra ou a prática da língua realizada por
emissores e estes, por usa vez, expressam significados. A compreensão da linguagem
como expressão da realidade ou como significado é o ponto de partida para que sejam
originadas as unidades de registro e para que sejam elaboradas categorias de acordo
com os objetivos da pesquisa (BARDIN, 2007).
45
9. CRONOGRAMA
10. ORÇAMENTO
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58
APÊNDICES
59
APÊNDICE A
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
60
APÊNDICE B
Roteiro para a entrevista
62
UNISINOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
Entrevista nº:_______
• Nome:___________________________________________________________
• Idade: ____________
• Sexo:____
• Estado civil:___________
• Renda: ( ) 0 à 3 salários mínimos
( ) 4 à 6 salários mínimos
( ) 7 à 10 salários mínimos
( ) Acima de 10 salários mínimos
• Formação acadêmica:
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
ENTREVISTA
ANEXOS
64
ANEXO A
Atestado de Defesa de Qualificação de Projeto de Dissertação
65
66
ANEXO B
Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Feevale
67
68
RELATÓRIO DE PESQUISA
DEZEMBRO, 2008.
69
1. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
1.1. O Método
Após a aprovação desta pesquisa por uma banca examinadora (ANEXO A), a
mesma foi submetida para avaliação de um Comitê de Ética em Pesquisa e devidamente
aprovada sob número de processo 4.06.03.08.1043 (ANEXO B). A coleta de dados
iniciou-se apenas após os participantes terem lido e assinado em duas vias o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. As entrevistas para esta pesquisa foram realizadas
em local e horário acertados conforme a disponibilidade do quiropraxista, bem como
foram gravadas utilizando-se um gravador digital, apenas mediante autorização dos
participantes. As entrevistas foram posteriormente transcritas na íntegra para leitura e
análise e transferidas do gravador digital para um computador. Cada entrevista foi salva
como um arquivo distinto, identificado numericamente e salvo posteriormente em CD,
identificados numericamente, de acordo com o número da entrevista que continham.
Este material será guardado pela pesquisadora por um período de cinco anos após o
término da pesquisa e posteriormente será destruído. A pesquisadora manterá sigilo
sobre o seu conteúdo, utilizará as informações apenas para a pesquisa em questão, para
a produção de artigos científicos e garantirá a confidencialidade e o anonimato dos
participantes.
Após a realização das entrevistas, ocorreu a ordenação dos dados, que, segundo
Minayo (2007), inclui as seguintes etapas:
A realização desta fase fornece ao pesquisador uma visão horizontal de seus achados
de campo. Este trabalho pode ser compreendido como um processo hermenêutico, no
71
qual se toma o material empírico como um conjunto que deve ser tecnicamente
trabalhado (MINAYO, 2007).
Quanto à renda, 66,66% indicaram receber entre quatro a seis salários mínimos; 20% entre
sete a dez salários mínimos; um quiropraxista relatou renda de três salários mínimos e um
outro alegou renda superior a dez salários mínimos. Quanto ao tempo de atuação profissional,
60% dos entrevistados atuam há dois anos e meio como quiropraxista; 33,33% há três anos e
apenas um entrevistado trabalha há três anos e meio como quiropraxista (6,66%).
“... abrange todo o coletivo... não só os problemas de saúde, mas como esses
problemas vão atingir a própria população”.
“Eu consegui ter algumas idéias, traçar algumas idéias de coisas que eu
acabei percebendo que poderiam ser. O que seria saúde coletiva no meu
ponto de vista, a saúde coletiva seria uma abordagem da saúde coletiva
da sociedade. Essa saúde coletiva poderia estar enfocando vários
segmentos da saúde, como saneamento, até a parte de educação, focada
principalmente no bem-estar social, físico e psicológico da pessoa que é
a definição de saúde segundo a OMS” (Azaléia).
Entende-se que a saúde coletiva tradicionalmente volta seu olhar para as populações
vulneráveis, uma vez que estas encontram-se fragilizadas e suscetíveis a agravos de
saúde. Entretanto, deve-se atentar para o fato de que as ações em saúde coletiva
contemplam o sujeito coletivo, sem distinção, seja ela qual for.
75
“... são profissionais ou uma clínica multidisciplinar que envolve várias áreas de
pesquisa...”
No entanto, estudos mostram que a quiropraxia aos poucos vai conquistando seu
espaço, apesar de apresentar-se como uma profissão nova no cenário da saúde atual,
sendo que o interesse da população pela profissão cresce cada vez mais. Juntamente
76
É importante ter presente que o campo da saúde coletiva fornece suporte às práticas
de distintas categorias e atores sociais face às problemáticas de saúde/doença e da
organização da assistência. Portanto, pode-se compreendê-la como um campo voltado
para a produção de saberes e conhecimentos acerca do objeto saúde e onde operam
distintas disciplinas que o contemplam, sob vários ângulos (PAIM; ALMEIDA FILHO,
2000).
“Na verdade eu não entendo muita coisa, mais ou menos o que diz o
nome, a saúde da população em geral é essa a primeira coisa que eu
penso quando se pensa em saúde coletiva, apesar de eu não conhecer
muito a área de atuação... pensando em saúde coletiva, ela abrange a
77
O mesmo entrevistado prossegue em sua fala, indicando que esta visão do ser
humano como um todo permite ao profissional realizar ações de cunho multidisciplinar:
“... às vezes a causa física... vem de uma séria de fatores... então às vezes a
atuação também precisa de outro profissional”.
“... o profissional que atende tem que estar ciente de todas essas
vertentes do paciente, porque às vezes a causa física não vem de um
transtorno orgânico, vem de toda uma série de fatores que estão
abalados,a atuação tem que visar isso também, então as vezes a atuação
também precisa de outro profissional” (Tulipa).
O paradigma holístico apresenta-se como base de uma nova visão de mundo cujo
principal motivo é, não mais a fragmentação da realidade e a especialização
profissional, mas a construção integradora de uma realidade. Doença e cura são, nesse
sentido, considerados fenômenos complexos que, para serem dimensionados, exigem
uma perspectiva que inclua aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais, ambientais
e espirituais. A medicina científica ocidental moderna, ao focalizar apenas os aspectos
biológicos, propõe uma prática parcial e reducionista, uma perspectiva estreita que
necessita ser ampliada para dar conta dos problemas engendrados pelos fenômenos da
saúde e da doença (QUEIROZ, 2000).
A comunidade holística e a saúde coletiva são aliadas naturais, apesar de talvez não
o reconhecerem. Ambas rejeitam o reducionismo do modelo biomédico. Ao invés,
profissionais holísticos e profissionais da saúde coletiva enfatizam a prevenção de
79
Dentro deste contexto, destaca-se a atual proposta de saúde do país, que preconiza
profissionais com um perfil capaz de viabilizar e implementar projetos, ações e serviços
de saúde integrais e equânimes, que avancem do modelo biomédico para um modelo
voltado para a saúde coletiva (BRASIL, 2003b).
A maioria dos quiropraxistas compreende o que é saúde coletiva, mas é preciso ter
presente que muitos a entendem de modo abrangente, como saúde da população, saúde
da população vulnerável. Através de suas falas os profissionais demonstraram que em
sua prática o paciente ainda é o alvo principal das ações, deixando de lado o sujeito
coletivo preconizado pela saúde coletiva e apresentando uma visão cartesiana, ainda
relacionada à especialização:
“Saúde coletiva, eu não sei ao certo, mas o que vem na minha cabeça é
em prol do paciente abrangendo várias áreas da saúde, em prol da
saúde do paciente, pra melhora do paciente. Então ela pode abranger
várias áreas específicas da saúde, como a quiropraxia, a parte
odontológica, parte de traumatologia, parte de psicologia, várias áreas
da saúde. Acho que seria isso” (Jasmin).
A saúde coletiva prioriza seu interesse no sujeito coletivo, não no “paciente”. Por
ter sua prática atual centralizada principalmente na figura do paciente, a quiropraxia
tem dificuldades para estabelecer qual sua conexão com a saúde coletiva. Tal
constatação é prejudicial tanto para a população quanto para a profissão, que deixa de
80
realizar ações de cunho coletivo e acaba por não mostrar sua relevância, deixando de se
firmar dentro do cenário de saúde atual (BAIRD, 2002).
A presente categoria de análise teve como objetivo identificar através da análise dos
dados traduzidos pelos quiropraxistas entrevistados a relação entre quiropraxia e saúde
coletiva. A falta ou carência de conhecimentos relacionados à saúde coletiva pode
limitar não somente a inserção da profissão na proposta de saúde vigente, mas também
o reconhecimento da quiropraxia como profissão da área da saúde (HAWK et al.,
2004).
Foi possível constatar a partir dos dados levantados que a maioria dos participantes
do estudo relacionou a quiropraxia à saúde coletiva sinalizando a importância do papel
da profissão em ações voltadas para a prevenção e promoção de saúde:
Assim, o passo inicial para que a integração entre quiropraxia e saúde coletiva
ocorra é trazer novamente a atenção da profissão para prevenção e promoção de saúde,
uma vez que os profissionais devem estar cientes e contribuir para prioridades em saúde
85
A educação em saúde passa a ser o elo integrador entre o saber técnico e o saber
popular marcado por uma colaboração mútua que atinge e reorienta a diversidade de
práticas realizada nos serviços de saúde. Mais do que um componente da atenção
primária a saúde, exerce função de encorajamento e apoio para que pessoas e grupos
sociais assumam maior controle sobre sua saúde e suas vidas (VASCONCELOS,
2001).
“... o ideal seria... inserir a quiropraxia... como uma parte da saúde básica.”
“...as pessoas só vem quando elas não podem mais. Porque o ideal seria
o dia que a gente conseguisse inserir a quiropraxia como um cuidado
básico, como cuidado, enfim, como uma parte da saúde básica. As
pessoas saberem identificar os problemas que a gente pode tratar e
virem no início...” (Violeta).
“... eu acho que teria que entrar no sistema de saúde como o SUS, seria
uma boa, não só em planos particulares, mas pra toda população em
geral. Acho que essa seria uma boa forma de implantar a quiropraxia”
(Jasmin).
Esta visão ampliada da atuação do quiropraxista pode ser percebida na fala a seguir:
“... ajudando essa pessoa a estar melhor com sua saúde, ela automaticamente fica
melhor para a sociedade, pra família, pro trabalho...”
“... estar atuante em áreas públicas. Eu acho que é isso que nos falta”.
“... você tem que ter uma certa condição de poder pagar... no consultório a gente
trabalha com pessoas que têm condições de pagar”.
“... muitos médicos de uma forma geral ainda são muito desinformados...”
“Eu sou uma das pessoas que com certeza gostaria de atender pelo
SUS... Para socializar e trazer informação de uma forma geral, porque
muitos médicos de uma forma geral ainda são muito desinformados, as
pessoas contra-indicam um negócio que é comprovadamente eficaz”
(Dália).
“...a quiropraxia ainda não está difundida, tanto na população em geral quanto
na área médica....”
“...as outras áreas da saúde elas não vêem a quiropraxia como uma
forma de tratamento, é uma coisa muito isolada ainda a área da
quiropraxia... ela ainda não é vista adequadamente, ela não tem o
potencial dela como ela deveria ter... a quiropraxia ainda não está
difundida, tanto na população em geral quanto na área da saúde, eu
acho que tem também muita política no meio tentando barrar a
quiropraxia pra que ela [não] se implante adequadamente no sistema de
saúde” (Jamin).
A participação na saúde coletiva faz com que profissionais tentem atingir todos os
envolvidos no processo (usuários, profissionais, gestores, etc), assim, compreensão
construída a respeito de uma área do conhecimento é essencial. Infelizmente, a
percepção que se tem a respeito da quiropraxia é freqüentemente imprecisa, baseada em
informações antigas ou incorretas. Algumas pessoas acreditam que os quiropraxistas
modernos apenas “estalam” as costas e que a quiropraxia possui pouca validação
científica (JONHSON et al., 2008).
quiropraxistas detêm sua prática em tratar doenças e sintomas, centrando sua atuação
cada vez mais na figura do paciente (BAIRD, 2002).
As falas a seguir expressam esta problemática, uma vez que relacionam a relação do
quiropraxista com a saúde coletiva no âmbito da intervenção:
“... a gente acaba não trabalhando muito com a saúde das pessoas, a
gente acaba trabalhando mais com a pessoa doente, vamos usar esse
termo...” (Tulipa).
Tal constatação vai contra a proposta de saúde do país, uma vez que ela preconiza
profissionais com um perfil capaz de viabilizar e implementar projetos, ações e serviços
de saúde integrais e equânimes, que avancem do modelo hospitalocêntrico para um
modelo voltado para a saúde coletiva (BRASIL, 2003b).
Tudo que diz respeito e está relacionado à saúde da população em geral diz respeito
à saúde coletiva (PAIM, 1992). Assim, o meio ambiente, o saneamento básico, as
condições de trabalho, a promoção da saúde, a prevenção de doenças, a educação e a
informação em saúde são exemplos de diversos temas relacionados à saúde coletiva
(AKERMAN; FEUERWERKER, 2006).
“Redução de custos...”
As questões de saúde atuais supõem uma visão mais ampla e integral da saúde da
população com o emprego de meios terapêuticos mais universais e menos caros, com
uso de tecnologia mais simples que possam assegurar práticas adequadas de promoção
e recuperação da saúde, além de políticas públicas de infra-estruturas e saneamento e
educação em saúde.
Os gastos gerados pela dor nas costas aumentaram 65% nos últimos 10 anos,
configurando-se como um importante problema de saúde pública. A dor nas costas é a
100
terceira causa mais comum para que adultos procurem atendimento médico. A dor na
coluna não tratada pode levar a depressão, incapacidade funcional, comprometimento
da qualidade de vida e aumento na utilização de medicação analgésica (MARTIN et al.,
2008).
Tal reconhecimento torna-se relevante uma vez que a Unidade Básica de Saúde
configura-se como porta de entrada do usuário ao sistema de saúde. Deste modo, os
101
quiropraxistas indicam a Unidade Básica de Saúde como espaço privilegiado para sua
atuação.
Através dos dados analisados, foi possível constatar que o enfoque principal do
trabalho do quiropraxista, tanto nas Unidades Básicas de Saúde quanto nos outros
espaços referidos, seria enquanto educador em saúde e seu importante papel na
prevenção de agravos à mesma:
Assim, faz-se importante atentar para o fato de que um dos princípios essenciais da
quiropraxia é o princípio do holismo. O propósito do tratamento quiroprático não é
apenas aliviar um sintoma ou tratar uma das causas deste sintoma, mas também
103
Esta concepção vem ao encontro do discurso atual em saúde coletiva voltado para a
promoção da saúde, que abre espaço para legitimar outras formas de conhecimento,
além do modelo biomédico, e integrar outras racionalidades médicas (CARVALHO,
1996).
A comunidade holística e a saúde coletiva são aliadas naturais, apesar de talvez não
o reconhecerem. Ambas rejeitam o reducionismo do modelo biomédico. Ao invés,
profissionais holísticos e profissionais da saúde coletiva enfatizam a prevenção de
doenças e a importância de se olhar para as pessoas como parte de uma comunidade e
não como máquinas humanas individuais. Tais concordâncias filosóficas profundas
poderiam formar a base para uma aliança benéfica mútua entre estas duas comunidades
(HYMAN, 2007).
“Eu acho que a forma que ela mais ia atuar seria no tratamento que a
quiropraxia faz o benefício, tratamento da coluna, da estrutura óssea, da
coluna e tudo mais, mas eu acho que ele também poderia fazer a parte
administrativa, poderia ajudar dando palestras, acho super importante
promover palestrsr tanto na parte de funcionários quanto pra parte da
população em geral” (Jasmin).
Um dos entrevistados até mesmo critica a sua formação voltada muito para a
técnica:
Os profissionais da saúde tendem a não possuir o perfil adequado para atuar na nova
lógica que se deseja para o sistema de saúde, através da priorização de ações de cunho
preventivo e educacional. O profissional egresso pela maioria das universidades
atualmente apresenta um enfoque biologicista centrado em sua especialidade
(AMORETTI, 2005).
A quiropraxia precisa estar atenta para não reproduzir em sua prática o modelo
biomédico que tanto critica, colocando em risco a filosofia holística de sua prática e
provocando uma possível fragmentação dos elementos de sua terapêutica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que a fala dos quiropraxistas não condiz com a sua prática atual, uma
vez que se constata um distanciamento do que acreditam e pensam do que realmente
realizam e concretizam em sua atuação. Desta maneira, acabam por reproduzir em sua
prática o tão criticado modelo biomédico e deixam de lado o sujeito coletivo priorizado
pela saúde coletiva, bem como a visão holística preconizada pela filosofia quiroprática.
A falta de espaço para a quiropraxia no sistema de saúde vigente foi sinalizada pelos
entrevistados, sendo que esta resulta em uma atuação do quiropraxista centrada no
consultório privado em uma prática voltada para a mera resolução de problemas. Esta
realidade gera uma situação de deslocamento e isolamento do profissional, pois o
mesmo acaba por não ser conhecido, bem como reconhecido pelos outros profissionais
da área da saúde e pela população.
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ARTIGO
Correspondência:
Thiana Paula Schmidt dos Santos
Rua Avaí, 438/301
93315-090 Novo Hamburgo, RS, Brasil
E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
OBJECTIVE: To verify, through interviews carried out with chiropractors, what their
concept of collective health is; the relationship between collective health and
chiropractic, as well as possible areas in collective health in which chiropractors can
be engaged in.
participated on the research. The data was collected in July 2008, by the use of a
semi-structured interview.
RESULTS: A good concept of what collective health is was verified among the
chiropractors. They were also able to establish an important relationship between
collective health and chiropractic, mainly related to preventive and educational
actions, as well as to envision several possible areas in which chiropractors can
engage in regarding collective health, not only private practice, but also other
environments. They have indicated the current health system e multidisciplinary
settings as main work environments for chiropractors in collective health.
INTRODUÇÃO
Tal constatação vai contra a proposta de saúde do país, uma vez que esta preconiza
profissionais com um perfil capaz de viabilizar e implementar projetos, ações e
serviços de saúde integrais e equânimes, que avancem do modelo,hospitalocêntrico,
para um modelo voltado para a saúde coletiva6.
MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
tempo de atuação profissional, 60% dos entrevistados atuam há dois anos e meio
como quiropraxista, 33,33% há três anos e um entrevistado trabalha há três anos e
meio como quiropraxista (6,66%).
Tal constatação apresenta-se como relevante, uma vez que a saúde coletiva
aproxima profissionais de diversas áreas do conhecimento que possuem
ferramentas de trabalho distintas. A vasta diversidade da área é rica no que diz
respeito a alternativas de abordagem das diferentes facetas daquilo que se
apresenta como o ponto de convergência de interesse: a saúde das populações5.
O paradigma holístico apresenta-se como base de uma nova visão de mundo cujo
principal motivo é não mais a fragmentação da realidade e a especialização
profissional, mas a construção integradora de uma realidade. Doença e cura são
considerados fenômenos complexos que exigem uma perspectiva que inclua
aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais, ambientais e espirituais21.
Dentro deste contexto, destaca-se a atual proposta de saúde do país, que preconiza
profissionais com um perfil capaz de viabilizar e implementar projetos, ações e
serviços de saúde integrais e equânimes, que avancem do modelo biomédico para o
modelo voltado para a saúde coletiva6.
Para isto, o profissional deve possuir um olhar ampliado quanto à relação quiropraxia
e Saúde Coletiva, uma vez que ela se dá em todos os níveis de atenção, tendo
como meta o sujeito coletivo.
Assim, o passo inicial para que a integração entre quiropraxia e saúde coletiva
ocorra é trazer novamente a atenção da profissão para prevenção e promoção de
saúde, uma vez que os profissionais devem estar cientes e contribuir para
prioridades em saúde dentro do sistema de saúde onde se inserem com o intuito de
prevenir doenças e promover saúde15.
“... explicar formas adequadas no trabalho, como dormir, como sentar no carro...”
“... o ideal seria trabalhar principalmente na prevenção, na educação...”
A educação em saúde passa a ser o elo integrador entre o saber técnico e o saber
popular marcado por uma colaboração mútua que atinge e reorienta a diversidade
de práticas realizada nos serviços de saúde. Mais do que um componente da
123
Tudo que diz respeito e está relacionado à saúde da população em geral diz respeito
à saúde coletiva19. Assim, o meio ambiente, o saneamento básico, as condições de
trabalho, a promoção da saúde, a prevenção de doenças, a educação e a
informação em saúde são exemplos de diversos temas relacionados à saúde
coletiva1.
124
“Redução de custos...”
“... tratamento de baixo custo...”
Os gastos gerados pela dor nas costas aumentaram 65% nos últimos 10 anos. A dor
nas costas é a terceira causa mais comum para que adultos procurem atendimento
médico. A dor na coluna não tratada pode levar a depressão, incapacidade
funcional, comprometimento da qualidade de vida e aumento na utilização de
medicação analgésica17.
Tal reconhecimento torna-se relevante uma vez que a Unidade Básica de Saúde
configura-se como porta de entrada do usuário ao sistema de saúde. Deste modo,
os quiropraxistas indicam a mesma como espaço privilegiado para sua atuação.
125
Através dos dados analisados, foi possível constatar que o enfoque principal do
trabalho do quiropraxista, tanto nas Unidades Básicas de Saúde quanto nos outros
espaços referidos, seria enquanto educador em saúde e seu importante papel na
prevenção de agravos à mesma:
Observa-se, então, que a quiropraxia precisa estar atenta para não reproduzir em
sua prática o tão criticado modelo biomédico, colocando em risco a filosofia holística
de sua prática e provocando uma possível fragmentação dos elementos de sua
terapêutica.
126
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se que a fala dos quiropraxistas não condiz com a sua prática atual, uma
vez que se identifica um distanciamento entre o que acreditam e pensam do que
realmente realizam em sua atuação. Desta maneira, acabam por reproduzir em sua
prática o tão criticado modelo biomédico e deixam de lado o sujeito coletivo
priorizado pela saúde coletiva, bem como a visão holística preconizada pela filosofia
quiroprática.
REFERÊNCIAS
16. JOHNSON C et al. Chiropractic and public health: current state and future
vision. Journal of Physiological and Manipulative Therapeutics. 2008;(31):397-
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17. MARTIN BI et al. Expenditures and health status among adults with back and
neck problems. JAMA. 2008;(299):656-64.
20. PAIM JS, ALMEIDA FILHO NA. Saúde coletiva: uma “nova saúde pública”
ou campo aberto a novos paradigmas? Rev. Saúde Pública. 1998;32(4):299-
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22. SARNAT RL, WINTERSTEIN J, CAMBRON JA. Clinical utilization and cost
outcomes from an integrative medicine independent physician association: an
additional 3-year update. Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics.
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