CAT Samuel Trecho
CAT Samuel Trecho
CAT Samuel Trecho
1 e 2smauel
Antigo Testamento Antigo Testamento
(...) considero esta obra um comentário teológico (ou, se preferir,
um comentário expositivo). Ele não é um comentário devocional ou
homilético. Dispus a exposição na forma homilética porque penso que
ela ajuda na assimilação e na coerência. Porém tais exposições não são
sermões, ainda que haja ilustração, aplicação e exortação. Acredito
que o comentarista, não menos que o pregador, tem o direito e o dever
Os escritores dirão: Por que não de fazer algo com a verdade e as reivindicações de vida do texto. Eu me
Ana não é a primeira mulher estéril
consigo escrever assim? Acadêmicos, declararei culpado por ter pregado sobre muitas passagens de Samuel, mencionada nas Escrituras. (Ela),
por que não sou tão lido? Exposito- mas isso frequentemente foi feito de uma forma diferente do que portanto, compartilha de uma comu-
res, por que eu não vi tudo isso? E os aparece neste comentário. nhão de esterilidade. E é frequente-
leitores se unirão em louvor unâni- mente nessa comunhão que têm início
Do PREFÁCIO
me a um grande banquete de verdade novos capítulos na história de Yah-
bíblica tão digerível, adornado com weh com seu povo – começa com nada.
tantas ilustrações adequadas e sem- A tendência de Deus é fazer da nossa
pre focado no Deus de toda graça. Já Dale Ralph Davis foi pastor da Woodland Presbyterian Church, em inabilidade total o seu ponto de par-
perdi a conta das vezes que parei de Hattiesburg, Mississippi. Anteriormente, ele ensinou Antigo Testamento tida. A nossa desesperança e o nosso
ler para orar e louvar – e certamen- no Reformed Theological Seminary, em Jackson, Mississippi. Além de THE desamparo não são uma barreira a sua
ISBN 978-85-7622-972-8
9 788576 229728
Conselho editorial
Cláudio Marra (Presidente)
Christian Brially Tavares de Medeiros Produção editorial
Giuliano Letieri Coccaro Tradução
Joel Theodoro da Fonseca Jr Edmilson Ribeiro
Misael Batista do Nascimento Revisão
Pedro Lucas Dulci Pereira Paulo Corrêa Arantes
Tarcízio José de Freitas Carvalho Mariana Ferreira de Toledo
Victor Alexandre Nascimento Ximenes Wilton Lima
Editoração e capa
Felipe Marques
A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus “símbolos de fé”, que apresentam o
modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de West-
minster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional, cuida-
mos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às
vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua
publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos
de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser
encontrada nos mencionados símbolos de fé.
Olhando o coração
Advento de 1992
1
Não fui capaz de traçar o reconhecimento desses resumos para além de Thenius; ver C. F. D.
Erdmann, The Books of Samuel, Lange’s Commentary on the Holy Scriptures, no vol. 3, Sa-
muel–Kings (1877; ed. reimpr.; Grand Rapids: Zondervan, 1960), p. 18-20. Brevard S. Childs
(Introduction to the Old Testament as Scripture [Filadélfia: Fortress, 1979], p. 267, 271-272)
reconhece um pouco de sua importância estrutural, mas H. M. Wolf (“Samuel, 1 and 2”, ZPEB
5:254-264) é o único que encontrei que permite a essa estrutura governar seu uso do material.
Há, incidentalmente, algumas boas correspondências em 1–2Samuel como um todo; e.g., a casa
de Deus em Siló, no início (1Sm 1) corresponde ao futuro local da casa de Deus em Jerusalém,
no final (2Sm 24; cf. 1Cr 21.1–22.1); e uma importante passagem sobre o reino perto do início
(1Sm 2.1-10) e perto do fim (2Sm 23.1-7).
2
Não sabemos a data nem o(s) autor(es) de 1 e 2Samuel. Alguns estudiosos defendem uma his-
tória composicional muito complexa que coloca qualquer coisa como a forma atual do texto no
exílio babilônico ou depois dele (ver Georg Fohrer, Introduction to the Old Testament [Nashville:
Abingdon, 1968], p. 217-26). Outros defendem que, com exceção de pequenas alterações (como
a nota de 1Sm 27.6b?), “os livros parecem datar de perto do final do reinado de Davi” (William
Sanford LaSor, David Allan Hubbard, e Frederic William Bush, Old Testament Survey: The Mes-
sage, Form, and Background of the Old Testament [Grand Rapids: Eerdmans, 1982], p. 229). Ver
também Wolf, “Samuel, 1 e 2”, p. 261.
Um profeta da graça
de Deus
1Samuel 1–7
BERÇO E REINO
(1Sm 1.1–2.10)
1
O nome é Ramataim-Zofim no texto hebraico tradicional (v. 1). “Ramataim” significa “alturas du-
plas”; muitos pensam que o difícil “zofim” deveria ser ligeiramente alterado para ler zufita(s), cujo
elemento distinguiria o Elcana de Ramá do de Benjamim. Por isso ele é apelidado de Zufite Ramá.
Alguns localizariam o lugar em Rentis, aproximadamente 15 quilômetros a nordeste de Lida, nas
encostas ocidentais da região montanhosa de Efraim. Ver W. H. Morton, “Ramá”, IDB 4:8.
2
Nós podemos adicionar a história da sunamita (2Rs 4.8-37) a esse registro.
3
A concepção virginal e o nascimento de Jesus devem ser adicionados a essa série. Embora dife-
rente quanto ao tipo, é semelhante quanto à “dificuldade”. Gabriel realçou a improbabilidade da
gravidez de Isabel como um incentivo para a fé de Maria (Lc 1.36), e a alusão ao caso de Sara
(Lc 1.37 reflete Gn 18.14) para apoio adicional. O nascimento virginal, então, não é mero dogma,
mas também um sinal de que a salvação é um ato inteiramente de Deus!
4
O versículo 5 é difícil. Não podemos ter certeza sobre como considerar m*n*h a^j^T a^PP*y]
m. Se isso significa “uma porção dupla”, o versículo estaria dizendo que Elcana dava a Ana
“uma porção dupla porque ele amava Ana”. Caso se siga a Septuaginta (LXX) o versículo afirma
que ele daria a Ana “uma única porção – todavia ele amava Ana”. Ver S. R. Driver, Notes on
the Hebrew Text and the Topography of the Books of Samuel, 2a ed. (1913; ed. reimpr., Winona
Lake, Ind.: Alpha, 1984), p. 7-8. As discussões mais recentes não acrescentaram maior certeza.
5
Para esse último, ver C. F. D. Erdmann, The Books of Samuel, Lange’s Commentary on the Holy
Scriptures, no vol. 3, Samuel—Kings (1877; ed. reimpr.; Grand Rapids: Zondervan, 1960), p. 49.
6
John E. Hartley, TWOT, 2:750. Ver também Walther Eichrodt, Theology of the Old Testament,
Old Testament Library (Filadélfia: Westminster, 1961), 1:192-94.
7
“Navalha alguma” – esta criança deve ser vista como um novo Sansão? Compare Juízes 13.3-5
e minha discussão em Judges: Such a Great Salvation (reimp. Fearn: Christian Focus, 2000),
p. 173n.
8
A maioria das traduções inglesas seguem a LXX e a Siríaca no versículo 24, lendo “um touro
de três anos de idade”, uma leitura que reúne apoio indireto do versículo 25a, em que é dito
explicitamente que apenas um touro foi abatido. Podemos ser um pouco otimistas para com os
Por essa criança eu orei, e Yahweh concedeu-me meu pedido que lhe
pedi; e eu também devolvo o que pedi a Yahweh; todos os dias que ele
viver ele é alguém que foi pedido a Yahweh.9
“três touros” do texto hebraico tradicional. R. Payne Smith aponta para o fato de que o efa de
farinha de Ana era de aproximadamente três vezes o que era exigido como uma oferta de cereais
para um novilho, de acordo com Números 15.9 (1Sm, The Pulpit Commentary [Londres: Funk
e Wagnalls, s.d.], p. 13; também G. J. Wenham, The Book of Leviticus, The New International
Commentary on the Old Testament [Grand Rapids: Eerdmans, 1979], p. 79). Três novilhos iriam
constituir (quase) uma oferta extravagante – mas não impossível, considerando a riqueza de
Elcana (ele podia sustentar duas esposas) e a gratidão de Ana.
9
Essa é a tradução de Smith, 1Samuel, 13, com ligeiras modificações. Smith comentou: “A con-
jugação traduzida ‘para devolver o que foi pedido’ literalmente significa ‘fazer solicitar’, e assim
dar ou emprestar qualquer coisa pedida. O sentido aqui exige a restituição por Ana daquilo pelo
que ela havia orado (comp. Êx 12.35-36), mas que ela havia pedido não para si mesma, e sim
para que pudesse dedicar ao serviço de Jeová”.
10
“Samuel” provavelmente significa “nome de Deus” ou “seu nome é Deus”. O ponto, contudo,
da declaração de Ana, no versículo 20, não está no jogo de palavras Samuel – v`a^l (pedir),
pois as palavras de Yahweh são enfáticas no hebraico e trazem o ponto principal de Ana (veja
P. Kyle McCarter Jr., 1Samuel, The Anchor Bible [Garden City, N.Y.: Doubleday, 1980], p. 62,
e Lyle M. Eslinger, Kingship of God in Crisis: A Close Reading of 1Samuel 1–12 [Sheffield:
Almond, 1985], p. 83), a saber, que o seu filho é um presente do Deus que havia fechado o seu
ventre (v. 5-6).
1
Meu coração se gloria em Yahweh,
a minha força é levantada ao alto em Yahweh,
minha boca se abre amplamente contra meus inimigos,
4
Os arcos dos poderosos guerreiros jazem despedaçados,
mas os que estavam para cair se unem em força.
5
Aqueles que estão satisfeitos alugam-se a si mesmos para obter pão,
mas os famintos cessaram de passar forme.
Sete nasceram à estéril
mas a que tem muitos filhos fica ineficaz.
6
Yahweh mata e dá vida,
faz descer ao Seol, então ela faz subir.
7
Yahweh empobrece e enriquece,
abate – também exalta.
8
Ele levanta os pobres do pó,
ele levanta os necessitados do monte de cinzas
para fazê-los sentar com os príncipes,
e ele os faz herdar um lugar de honra,
porque os fundamentos da terra são de Yahweh
e ele colocou o mundo sobre eles.
Ana passa do particular (v. 1-3) para o geral (v. 4-8). O que Yahweh
fez por Ana simplesmente reflete a tendência dos seus caminhos. Quando
João Calvino sofreu a morte de sua esposa, Idelette, ele escreveu a seu
amigo William Farel: “Que o Senhor Jesus [...] me sustente [...] sob essa
pesada aflição, que certamente me teria dominado, não tivesse ele, que
levanta o prostrado, fortalece os fracos e reanima o cansado, estendido
a mão do céu para mim”.11 Calvino estava dizendo que ele certamente
teria sido esmagado, mas ele conhecia um Senhor que levanta o pros-
trado, fortalece o fraco e reanima o cansado – e que o Senhor havia agido
novamente no caráter na aflição de Calvino. É isso que Ana está dizendo
aqui. Eu estava pronta para cair e Yahweh me deu força. Eu era estéril e
ele me fez frutífera; eu era pobre e ele me fez rica. Porém isso não é real-
mente surpreendente, pois é exatamente assim que Yahweh é (v. 4-8)!
Os horizontes se ampliam, a visão se expande nos versículos 9-10. Nós
passamos da experiência de Ana (v. 1-3) para a maneira como Yahweh
governa (v. 4-8) e, então, para como será quando Yahweh governar plena,
completa e visivelmente (v. 9-10). Isto é, nós passamos da microssalva-
ção e dos caminhos característicos de Yahweh para a “macrossalvação”.
9
Ele guardará os pés dos seus pactuados,
mas os perversos serão silenciados na escuridão,
porque não é pela força que um homem pode conquistar.
10
Yahweh – aqueles que lutam com ele serão despedaçados;
ele trovejará contra eles nos céus.
Yahweh julgará os confins da terra –
que ele dê força ao seu rei;
e que ele erga o poder de seu ungido.12
11
Thea B. Van Halsema, This Was John Calvin (Grand Rapids: Baker, 1959), p. 155.
12
As duas últimas linhas devem ser traduzidas como um desejo ou uma oração. Os verbos são
imperfeitos com um w^w simples, quase certa indicação do modo não indicativo (um ponto
outrora defendido em um seminário por J. J. Owens). As versões em inglês, de forma uniforme,
traduzem essas linhas como declarações. No entanto, Ralph W. Klein (1Sm, Word Biblical Com-
mentary [Waco: Word, 1983], p. 13) e McCarter (1Sm, p. 68) as traduzem de modo subjuntivo.
13
Os comentaristas, quase uniformemente, negam que esse salmo seja de Ana por causa do
versículo 10b – ou, pelo menos, eles negam a ela o versículo 10b, porque Israel não tinha rei
na época de Ana; consequentemente ela não teria falado de “rei” ou de “ungido” de Yahweh.
A opinião comum é que o compilador colocou um salmo um pouco mais adiante – um tanto
apropriadamente para dizer a verdade – na boca de Ana (e.g., Hans Wilhelm Hertzberg, I &
I1Samuel, The Old Testament Library [Filadélfia: Westminster, 1964], p. 29, 31). Entretanto,
a suposição de que alguém deve ter a experiência histórica de reinado antes de fazer alusão a
ele não é à prova d’água. Na verdade, ela é um bocado frágil. A. F. Kirkpatrick há muito tempo
apontou para o fato de que “o discurso sobre rei” não era impossível na boca de Ana: “A ideia de
um rei não era completamente nova à mente israelita. A promessa a Abraão falava de reis entre a
sua posteridade (Gn 17.6): a legislação mosaica prescreve o método de eleição e o dever do rei
(Dt 17.14-20): Gideão foi convidado a estabelecer uma monarquia hereditária (Jz 8.22). A unção
também era reconhecida como o rito regular de admissão ao ofício (Jz 9.8). Em meio à anarquia
prevalecente e a crescente desintegração da nação, em meio à corrupção interna e ao ataque ex-
terno, o desejo por um rei provavelmente foi tomando forma definitiva na mente popular” (The
First Book of Samuel, The Cambridge Bible for Schools and Colleges [Cambridge: Cambridge
University Press, 1896], p. 55-56). Robert P. Gordon (I & I1Samuel: A Commentary [Grand Ra-
pids: Zondervan, 1986], p. 23) admitiria que o salmo é de Ana, mas vê a oração do versículo 10b
como um adendo posterior, assim como o salmo 51.18-19 pode ser a parte principal do salmo 51.
Sobre a função da canção de Ana nos livros de Samuel, ver Brevard S. Childs, Introduction to the
Old Testament as Scripture (Filadélfia: Fortress, 1979), p. 272-273; Eslinger, Kingship of God
in Crisis, p. 99-102, 110-112; e Willem A. VanGemeren, The Progress of Redemption (Grand
Rapids: Zondervan, Academie Books, 1988), p. 206-207, 215-216.
14
Van Halsema, This Was John Calvin, p. 59-60, 76-78.
PARA ESTUDO
1. Histórias bíblicas sobre mulheres estéreis, a quem Deus deu filhos,
nos encorajam em nossas situações “impossíveis”. Considere a re-
levância disso para você nesta fase da sua vida com Deus.
2. Eu sempre corro o risco de substituir a dependência no “Deus do
impossível” pela dependência de “artifícios humanos”?
3. “O nosso desespero [...] pode ser outro prelúdio para uma obra
poderosa de Deus.” Procure ilustrações disso na Escritura e na
experiência.
4. Considere o lugar da lógica na oração. Que tal: “Senhor, tu dis-
seste..., portanto, por favor, faça isso!”?
5. Qual é a sua maior preocupação para com os seus filhos, netos,
sobrinhas, sobrinhos – fama, prosperidade ou piedade?
1 e 2smauel
Antigo Testamento Antigo Testamento
(...) considero esta obra um comentário teológico (ou, se preferir,
um comentário expositivo). Ele não é um comentário devocional ou
homilético. Dispus a exposição na forma homilética porque penso que
ela ajuda na assimilação e na coerência. Porém tais exposições não são
sermões, ainda que haja ilustração, aplicação e exortação. Acredito
que o comentarista, não menos que o pregador, tem o direito e o dever
Os escritores dirão: Por que não de fazer algo com a verdade e as reivindicações de vida do texto. Eu me
Ana não é a primeira mulher estéril
consigo escrever assim? Acadêmicos, declararei culpado por ter pregado sobre muitas passagens de Samuel, mencionada nas Escrituras. (Ela),
por que não sou tão lido? Exposito- mas isso frequentemente foi feito de uma forma diferente do que portanto, compartilha de uma comu-
res, por que eu não vi tudo isso? E os aparece neste comentário. nhão de esterilidade. E é frequente-
leitores se unirão em louvor unâni- mente nessa comunhão que têm início
Do PREFÁCIO
me a um grande banquete de verdade novos capítulos na história de Yah-
bíblica tão digerível, adornado com weh com seu povo – começa com nada.
tantas ilustrações adequadas e sem- A tendência de Deus é fazer da nossa
pre focado no Deus de toda graça. Já Dale Ralph Davis foi pastor da Woodland Presbyterian Church, em inabilidade total o seu ponto de par-
perdi a conta das vezes que parei de Hattiesburg, Mississippi. Anteriormente, ele ensinou Antigo Testamento tida. A nossa desesperança e o nosso
ler para orar e louvar – e certamen- no Reformed Theological Seminary, em Jackson, Mississippi. Além de THE desamparo não são uma barreira a sua
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