Decisao+534 2024 1

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Decisão 00534/2024-1 - 1ª Câmara

Processo: 06487/2023-9
Classificação: Atos Sujeitos a Registro - Aposentadoria
UG: IPVV - Instituto de Previdência de Vila Velha
Relator: Donato Volkers Moutinho
Interessado: MARIA ROSANA SPALENZA

ATOS SUJEITOS A REGISTRO – APOSENTADORIA


– REGISTRO – CIÊNCIA – ARQUIVAMENTO.

Os processos de controle externo nos quais é apreciada


a legalidade de atos sujeitos a registro possuem
natureza de fiscalização, como estabelece o art. 50,
inciso II, alínea “a”, da Lei Complementar Estadual 621,
de 8 de março de 2012;
Como em toda a atuação fiscalizadora, a análise
efetuada pelo Tribunal no caso da apreciação da
legalidade dos atos sujeitos a registro tem um escopo
definido, que é selecionado tendo em conta os
elementos mais relevantes que originam o direito e o
SEBASTIAO CARLOS RANNA

risco de não conformidades, a fim de se identificar


22/03/2024 16:40

possíveis ilegalidades;
Assinado por

DE MACEDO
DECISÃO TC- 534/2024
rn/mcm

É o próprio Tribunal quem define quais documentos e


informações – bem como o seu formato e o modo de
envio –, devem lhe ser encaminhados com vistas à
apreciação da legalidade dos atos sujeitos a registro;
A eventual ausência de informações que, embora não
previstas no ato normativo específico que regulamenta
o encaminhamento dos atos sujeitos a registro ao
Tribunal, o Ministério Público junto ao Tribunal reputa
como relevantes, sem comprovação de situação que
pudesse indicar ausência de cumprimento dos requisitos
para a concessão do benefício, incorreção na fixação de
seu valor ou qualquer ilegalidade material, não impede
o registro do ato cuja legalidade é apreciada;
Apresentados, pelo instituto de previdência, os
documentos e informações previstos no ato normativo
específico; e efetuado o exame, nos moldes
normatizados pelo próprio Tribunal, sem a identificação
de ilegalidades; considera-se cumpridos os requisitos
legais e constitucionais para a concessão de benefício
previdenciário, de modo que o ato administrativo
respectivo deve ser registrado pela Corte de Contas.

A RELATOR EXMO. SR. CONSELHEIRO SUBSTITUTO DONATO VOLKERS


MOUTINHO:

RELATÓRIO

Trata-se do ato de concessão inicial de aposentadoria voluntária à Sra. Maria


Rosana Spalenza a partir de 28 de abril de 2023, consubstanciado na
Portaria 91/2023 (doc. 3), com fundamento no art. 10, § 7º, da Emenda
Constitucional (EC) 103, de 12 de novembro de 2019, c/c a redação anterior do
art. 40, § 1°, inciso III, alínea “b”, da Constituição Federal de 1988 (CF/1988), e
art. 59 e 90 da Lei Complementar (LC) 22, de 27 de janeiro de 2012, do município de

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Vila Velha, que se submete à apreciação deste Tribunal de Contas do Estado do


Espírito Santo (TCEES) para fins de registro.

A unidade técnica se manifestou pelo registro através da Instrução Técnica


Conclusiva (ITC) 3453/2023 (doc. 6). Por outro lado, o Ministério Público junto ao
TCEES (MPC) se manifestou pela remessa dos autos à unidade técnica – para
análise da legalidade do ato de admissão da interessada e respectivo edital de
concurso – e propôs a realização de diligência ao órgão de origem, por meio do
Parecer MPC 215/2023 (doc. 9), no qual o procurador de contas, em síntese, alega
serem irregulares: (a) a fundamentação legal incompleta do ato; (b) a ausência do
requerimento do interessado solicitando a concessão do benefício; (c) a falta de
documentação comprobatória da idade do beneficiário; e (d) a não evidenciação
plena da legalidade da fixação dos proventos.

Em seguida, os autos vieram ao relator para a emissão de relatório e proposta de


voto.

É o relatório.

FUNDAMENTOS

Trata-se de ato de concessão inicial de aposentadoria, encaminhado ao TCEES com


vistas à apreciação de sua legalidade, para fins de registro, com fundamento no art.
71, inciso III, da CF/1988.

A interessada aposentou-se no cargo de Professor – PA – Séries Iniciais, Nível V,


Faixa 8. Contava, na data da aposentadoria, com 66 anos, 6 meses e 19 dias de
idade e 17 anos, 8 meses e 27 dias de tempo de contribuição (doc. 2).

Na data em que cumpriu os requisitos, a saber, em 18 de agosto de 2018 (doc. 2), o


município de Vila Velha ainda não havia promovido as alterações exigidas pela
EC 103/2019, na legislação interna relacionada ao respectivo regime próprio de
previdência social. Em consequência, aplicam-se à aposentadoria em exame as
disposições constitucionais e infraconstitucionais anteriores à data de entrada em
vigor da referida Emenda.

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Logo, a interessada preenche todos os requisitos exigidos pela redação anterior à


EC 103/2019 do art. 40, § 1º, inciso III, alínea “b”, da CF/1988, quais sejam, para
mulher: idade mínima de 60 anos, 10 anos de efetivo exercício no serviço público e
5 anos de efetivo exercício no cargo em que se deu a aposentadoria.

Os proventos integrais foram calculados com base na média dos 80% maiores
salários de contribuição e no tempo de contribuição, observado o salário-mínimo
vigente e a última remuneração como limites mínimo e máximo, respectivamente, e
fixados no valor de R$ 1.726,37, conforme detalhado na referida ITC (doc. 6).

Apesar dessas informações e em divergência com a unidade técnica, o procurador


de contas requereu a remessa dos autos para análise da unidade técnica da
legalidade do ato de admissão da interessada e respectivo edital de concurso e a
expedição de determinação para realização de diligência ao órgão de origem do ato
de concessão inicial de aposentadoria examinado, ante a suposta presença das
irregularidades indicadas no relatório deste voto.

Do exame das supostas irregularidades (a), (b), (c) e (d), nota-se que as razões
ministeriais se fundamentam na ausência de apontamento de normas e de envio ao
TCEES de documentos e informações que, segundo o procurador de contas,
deveriam compor o ato de concessão inicial do benefício e a sua remessa para
registro.

Neste ponto, é importante destacar a competência de apreciação de legalidade, para


fins de registro, dos atos de concessão inicial de aposentadoria, atribuída aos
tribunais de contas pelo art. 71, inciso III, da CF/1988, é exercida pelo TCEES em
processos cuja natureza é de fiscalização, como estabelece o art. 50, inciso II,
alínea “a”, da LC 621/2012.

Em consequência, como em toda a atuação fiscalizadora, a análise perpetuada pelo


Tribunal tem um escopo definido, cujos elementos são averiguados pela unidade
técnica competente. Esse escopo, no caso dos atos de concessão de benefícios
previdenciários, é selecionado tendo em conta os elementos mais relevantes que
originam o direito e o risco de não conformidades, a fim de identificar possíveis
ilegalidades.

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Além disso, deve-se ter em mente que a fiscalização efetuada pelo TCEES na
concessão de benefícios não se esgota no registro dos atos concessórios. Na
realidade, com base no art. 71, inciso IV, da CF/1988, o Tribunal pode programar e
realizar auditorias e outras fiscalizações que tenham como objeto a concessão de
aposentadoria, reformas, reservas e pensões. Dessa maneira, cabe a Corte avaliar a
relevância e os riscos associados a tais atos administrativos e definir sua estratégia
de controle.

Nesse contexto, é o próprio TCEES quem define quais documentos e informações –


bem como o seu formato e o modo de envio –, devem lhe ser encaminhados com
vistas à apreciação da legalidade dos atos sujeitos a registro. Assim, por força do
art. 20- B, § 4º, da Instrução Normativa (IN) TC 68, de 8 de dezembro de 2020, os
atos de concessão inicial de aposentadorias, reformas e reservas devem ser
encaminhados ao Tribunal nos moldes exigidos pela Anexo VII da referida IN.

Na sistemática atual, tais informações e documentos são recebidos nesta Corte por
meio do módulo “Concessão de Benefícios” do sistema “Controle Integrado de
Dados do Espírito Santo” (CidadES). Cada remessa é imediatamente submetida a
centenas de verificações automatizadas, desenvolvidas pelos auditores de controle
externo do TCEES com base nos requisitos exigidos pela legislação para a
concessão de benefícios previdenciários. Há, inclusive, procedimentos eletrônicos
de confirmação de informações disponíveis tanto em bases de dados externas,
acessíveis ao Tribunal por meio de acordos com outras instituições, quanto em
outros módulos do CidadES, como o “Admissão de Pessoal”, o “Folha de
Pagamento” e o “Contas”.

Dessa forma, a tecnologia potencializa a atividade da unidade técnica competente e


a instrução técnica – com o relatório, a análise fundamentada e a conclusão com as
propostas de encaminhamento – é emitida a partir da interação do auditor com o
CidadES, na qual os controles automatizados tanto subsidiam quanto são
confirmados pela averiguação do profissional de auditoria do setor público.

É importante, ainda, registrar que o CidadES Concessão de Benefícios é alvo


permanente de esforços para o seu aperfeiçoamento, com a identificação de mais
informações a serem recebidas e o desenvolvimento de novos pontos de controle e

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consistências, com a finalidade de sofisticar e tornar mais eficiente a apreciação da


legalidade dos atos sujeitos a registro pelo Tribunal. O empenho da equipe nesse
propósito de evolução é evidenciado pelas várias alterações que o Anexo VII da IN
TC 68/2020 sofreu nos últimos anos.

No caso em tela, como evidencia a ITC 3453/2023 (doc. 6), o Núcleo de Controle
Externo de Registro de Atos de Pessoal (NRP) cumpriu tais requisitos, na medida
em que, com o apoio do CidadES, analisou os elementos necessários para a
concessão do benefício, o cálculo dos proventos e a formalização do ato concessor.
Nessa análise, não constatou a ocorrência de quaisquer ilegalidades e, em
consequência, propôs o registro do ato administrativo.

Dessa forma, a unidade técnica, que possui competência, capacidade, expertise


técnica e suporte tecnológico para a análise dos atos de pessoal sujeitos a registro,
efetuou o exame nos moldes normatizados pelo próprio Tribunal e reputou
suficientes os elementos colacionados nos autos, em cumprimento a IN TC 68/2020,
para fins de registro.

Por outro lado, o procurador de contas entende que a falta de expressa menção a
determinados dispositivos normativos no ato concessor e a não apresentação de
documentos que sequer são exigidos pela IN TC 68/2020 implica em automática
ilegalidade do ato concessor do benefício. Contudo, não aponta – e muito menos
comprova – nenhuma situação que pudesse indicar ausência de cumprimento dos
requisitos para a concessão da aposentadoria examinada, incorreção na fixação do
valor do benefício ou qualquer ilegalidade material no benefício concedido, razão
pela qual sua posição não deve prosperar.

Aliás, para algumas das informações cuja verificação o procurador entende ser
imprescindível a apresentação de documentos, a verificação é realizada pelo
CidadES eletronicamente, mediante circularização com outras bases de dados. Por
exemplo, em seu parecer, aponta a impossibilidade de comprovação de atendimento
ao requisito da idade, por falta de apresentação de documentação comprobatório.
Porém, como registra a unidade técnica na seção 3.1 da ITC (doc. 6), “O nome, sexo
e data de nascimento do agente público declarados pela UG, cuja concessão do

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benefício é objeto de análise dos presentes autos, são idênticos aos existentes no
cadastro de pessoas físicas mantido pela Receita Federal”.

Noutro exemplo, quando alega que a legalidade da fixação dos proventos não está
plenamente evidenciada, o procurador parece desconsiderar que, graças ao
CidadES Folha de Pagamento e ao CidadES Contas, o Tribunal recebe
mensalmente as informações referentes ao pagamento e à composição da
remuneração de todos os agentes públicos estaduais e municipais, incluindo,
conforme o caso, os subsídios, vencimentos, adicionais e outras gratificações. A
partir dessas informações, o CidadES Concessão de Benefícios verifica se há
divergências dentre as diferentes informações apresentadas, mediante
procedimentos que seriam inviáveis caso precisassem ser realizados manualmente,
a partir de documentos apresentados pelo instituto.

A eventual falta de informações que, embora não previstas no ato normativo


específico que regulamenta o encaminhamento dos atos sujeitos a registro ao
TCEES, o procurador de contas reputa como relevantes não implica na ilegalidade
da concessão do benefício previdenciário. Ao contrário, a denegação do registro,
prevista no art. 117, inciso II, da LC 621/2012, somente deve ocorrer quando
comprovada a existência de ilegalidade, tendo em conta o escopo de análise
definido pelo Tribunal.

Adicionalmente, esta Corte de Contas tem, reiteradamente, entendido que a


eventual ausência ou incompletude de informações ou indicação específica da base
legal do vencimento ou de rubricas componentes do ato concessório ou da planilha
de fixação dos proventos não seriam suficientes para denegar o registro do ato
concessor. Nesse sentido, por exemplo, têm-se os seguintes julgados:

Acordão TC 1061/2022 – Plenário. Excerto 314/2022-2.


PEDIDO DE REEXAME – PROVENTOS DE
APOSENTADORIA – NÃO PROVIMENTO AO
RECURSO – ARQUIVAR.
Cumpridos os requisitos legais e constitucionais para
a concessão de aposentadoria, o ato administrativo
respectivo deve ser registrado pela Corte de Contas.

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[...]
[...] Primeiramente, com relação à ausência da fundamentação
legal das rubricas e de demonstração dos suportes fáticos
relativos às gratificações incorporadas aos proventos,
fundamenta-se o douto representante do Parquet de Contas na
IN/TC 31/2014, alterada pela IN/TC 62/2020, que estabelece
que o protocolo deverá conter o original do ato concessório,
constando os dispositivos legais da aposentadoria e o amparo
legal da fixação dos proventos.
[...]
No mesmo sentido, o Ministério Público de Contas - quando as
irregularidades do ato concessório limitam-se à insuficiência de
fundamentação do ato concessório e à ausência de indicação da
base legal dos vencimentos ou do Adicional de Tempo de
Serviço - tem opinado pelo registro do ato e expedição de
recomendações.
[...] Vê-se, portanto, que não há impedimento para o registro do
ato concessório em face dessas irregularidades, bastando que
sejam adotadas as recomendações supracitadas, o que já foi
feito pela Decisão n.º 4074/2021 – Segunda Câmara, ora
impugnada.
Não há, dessa forma, um vício grave e, estando claro o
objeto e os motivos que justificam a existência do ato
concessório, deve-se adotar o princípio do formalismo
moderado (art. 52, Lei Orgânica do TCEES), a fim de garantir
assim celeridade e a duração razoável do processo.
[...] Ante o exposto, acompanhando parcialmente a área técnica
para CONHECER o recurso e NÃO ACOLHER a preliminar de
nulidade, e divergindo, quanto ao mérito, da Instrução Técnica
de Recurso n.º 00250/2022-6 e do Ministério Público de Contas,
para NEGAR PROVIMENTO ao recurso, proponho VOTO no
sentido de que o Colegiado aprove a minuta de deliberação que
submeto à apreciação. (grifo nosso).

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Acórdão 938/2023 - Plenário


PEDIDO DE REEXAME – PROVENTOS DE
APOSENTADORIA – NÃO PROVIMENTO AO
RECURSO – ARQUIVAR
1. Cumpridos os requisitos constitucionais e legais
para a concessão de benefício previdenciário, não
havendo vício grave, em observância aos princípios
do formalismo moderado, da celeridade processual e
da segurança jurídica, contidos no art. 52 da Lei
Complementar 621/2012, o ato administrativo
respectivo deve ser registrado pela Corte de Contas.
[...]
No mérito, como já informado, o Representante do Parquet,
defende que a decisão recorrida deve ser reformada para que
para que seja negado registro à Portaria n. 125/2019, sob os
seguintes fundamentos:
(a) omitem-se dispositivos constitucionais e legais que
regulamentam a concessão da aposentadoria e a fixação e
revisão dos proventos (a Portaria não menciona o art. 2º da EC
47/2005 e o art. 10 § 7º da EC 103/2019);
(b) a legalidade da fixação dos proventos não está plenamente
evidenciada em razão da ausência e/ou parcial informação na
planilha de fixação do fundamento legal que demonstre o valor
atualizado de parcelas que compõem o respectivo cálculo e/ou
que autoriza a incorporação destas à remuneração do servidor.
Cinge-se a controvérsia, portanto, a uma possível insuficiência
de fundamentação no ato concessório e na planilha de fixação.
No que concerne à ausência de informações que se afiguram
importantes para a completude da análise do ato, relativas à
forma de fixação e revisão do respectivo benefício, bem como a
"necessidade de retificação da planilha de fixação de proventos
para que faça constar o completo suporte legal da rubrica
"vencimento", assim como todas as leis posteriores que tenham
modificado o seu valor", este Tribunal de Contas já vem

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entendendo pela inexistência de vício grave capaz de justificar a


negativa de registro, com base no princípio do formalismo
moderado, a exemplo do seguinte precedente:
[...]
É preciso esclarecer, de plano, que não há indícios nos autos da
ocorrência de irregularidades de ordem material na concessão
do benefício, e tampouco são levantadas nas razões recursais,
o que se questiona são incompletudes na elaboração do ato
concessor e na elaboração da tabela de fixação dos proventos.
[...]
Dessa forma, a decisão deve ser mantida por seus próprios
fundamentos, haja vista o preenchimento dos requisitos
constitucionais e legais para concessão do benefício.
Não havendo, portanto, um vício grave e estando claro o objeto
e os motivos que justificam a existência do ato concessório,
deve-se adotar o princípio do formalismo moderado (art. 52, Lei
Orgânica do TCEES), a fim de garantir assim celeridade e a
duração razoável do processo, evitando-se males maiores, tais
como a decadência do poder-dever de analisar o ato
concessório (STF - Tema 445) ou o atraso para a compensação
previdenciária por parte da origem, quando for o caso.
Ante o exposto, divergindo da área técnica e do Ministério
Público de Contas, proponho VOTO no sentido de que o
Colegiado aprove a minuta de deliberação que submeto à
apreciação.

Aliás, em casos semelhantes, o Plenário do Tribunal tem entendimento firme em


pela aplicação dos princípios do formalismo moderado e da segurança jurídica,
esculpidos no art. 52 da LC 621/2012, de modo a permitir o registro do ato
concessor, como evidenciam os seguintes recentes exemplos de aplicação dessa
tese: Acórdão TC 910/2023 - Plenário (Processo TC 1624/2023), Acórdão
TC 885/2023 - Plenário (Processo TC 1444/2023), Acórdão TC 912/2023 - Plenário
(Processo TC 2631/2023), Acórdão TC 795/2023 - Plenário (Processo
TC 1317/2023) e Acórdão 930/2023 - Plenário (Processo TC 1313/2023). De fato,

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não seria adequado que o legalismo exacerbado, o qual se atém a forma e não ao
conteúdo do ato administrativo, prevalecesse sobre os princípios do formalismo
moderado e da segurança jurídica.

Os fundamentos anteriormente apresentados se aplicam às supostas irregularidades


(a), (b), (c) e (d) apontadas pelo procurador de contas. Considerando que a unidade
verificou o cumprimento dos requisitos de direito e de fato para a concessão inicial
de aposentadoria, e tendo em conta o atual panorama no registro de atos de
pessoal, que reconhece os princípios da segurança jurídica, boa-fé, razoabilidade e
proteção da confiança legítima, a não apresentação de outras informações, não
exigidas pelo Tribunal, não seria suficiente para a denegação do registro do ato
concessório.

Na verdade, a análise dos documentos e informações enviados ao TCEES, em


cumprimento à IN TC 68/2020, é suficiente para a apreciação da legalidade do ato
de concessão inicial de aposentadoria, inclusive quanto ao valor dos proventos.
Esse é o posicionamento, também, adotado pelo Tribunal nos citados julgados, na
qual diante da ausência de vício grave capaz de justificar a negativa do registro, o
registro deve ser realizado, com fundamento no princípio do formalismo moderado.

Em relação à remessa dos autos para análise da unidade técnica da legalidade do


ato de admissão da interessada e respectivo edital de concurso, importante frisar
que se trata do Concurso Público 1/2006 do município de Vila Velha, cuja publicação
do edital ocorreu em 24 de novembro de 2006 e foi homologado em 21 de maio de
2007, com validade de 30 meses, passível de uma única prorrogação.

Logo, evidencia-se que o edital perdeu validade há mais de década, não sendo
razoável exigir sua análise com o fito de conferir o registro de aposentadoria de
servidor admitido naquele concurso. Tampouco poderia algum vício em cláusula
editalícia privar o servidor admitido e aprovado em concurso público, agora,
aposentado, de usufruir dos seus direitos previdenciários, após décadas de
contribuição.

O procurado de contas ainda aponta a ilegalidade da concessão de aposentadoria


ante a ausência do registro do ato admissional do servidor público, sendo necessário
a realização do competente registro da admissão.

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É certo que o regime próprio de previdência abrange, exclusivamente, servidor


público titular de cargo eletivo, o inativo e seus dependentes. Assim, é imperiosa a
aprovação em concurso público para ocupar cargo efetivo e ingressar no regime,
nos termos do art. 37, inciso II, c/c o art. 40 da CF/1988.

A IN TC 31, de 2 de setembro de 2014, disciplina normas de remessa e apreciação


dos atos de admissão e de concessões de aposentadorias. Porém, em face da
implementação do módulo “Concessões de Benefícios”, o art. 20- B, § 4º, da IN
TC 68/2020 estabeleceu que os atos de concessão inicial de aposentadorias,
reformas e reservas, expedidos a partir de 1º de julho de 2022, devem ser
encaminhados ao Tribunal nos moldes exigidos pela referida IN. Por outro lado, no
caso de atos expedidos antes dessa data, o encaminhamento deve observar as
exigências previstas na IN TC 31/2014.

Percebe-se que a IN TC 68/2020 conferiu apenas a forma de encaminhamento das


informações necessárias para a realização do registro do ato concessor e aplicação
de penalidades pelo seu não envio. Indo além, a IN TC 31/2014 disciplinou a
apreciação dos atos de concessão de aposentadoria, pensão, reforma e reserva, ao
estatuir, através do art. 14, § 3º, da IN TC 31/2014, a não obrigatoriedade de
apreciação da admissão efetivadas anteriormente a sua vigência para registro de
aposentadoria, nos seguintes termos:

Art. 14. Expirado o prazo de validade do concurso, o processo


principal, será novamente remetido ao Tribunal de Contas, no
prazo de 30 dias, para apreciação e decisão final sobre o
procedimento, ouvindo-se neste caso o Ministério Público junto
ao Tribunal de Contas.
[...]
§ 3º As admissões efetivadas após a entrada em vigor desta
Instrução Normativa deverão ser previamente apreciadas para o
registro da posterior aposentadoria, transferência para a
reserva, reforma, e eventual pensão.

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Logo, deve ser adotada a sistemática de análise prevista no transcrito § 3º para atos
de aposentadoria, reserva ou reforma, cujo ato de admissão do segurado tenha
ocorrido antes da vigência da IN TC 31/2014.

No caso dos autos, a admissão da segurada ocorreu em 11 de agosto de 2008, em


decorrência da Portaria 421, de 8 de agosto de 2008 (doc. 3, p. 6, do Processo
TC 4356/2023). Em virtude de atraso do município, a admissão somente foi
encaminhada ao TCEES em 2023, de modo que o seu envio se regeu pela IN
TC 68/2020. Apesar disso, tendo sido efetivada antes da entrada em vigor da IN TC
31/2014, aplica-se à apreciação de sua legalidade o seu art. 14, § 3º.

Logo, o encaminhamento da aposentadoria na forma da IN TC 68/2020 não afasta a


aplicabilidade do art. 14, § 3º, da IN TC 31/2014 ao caso. Inclusive, há reiterada e
pacífica jurisprudência do TCEES quanto aplicação do art. 14, § 3º, da IN 31/2014
nos processos de registro por aposentadoria, pensão ou reforma. Por exemplo, em
recente julgado, apoiado na manifestação da unidade técnica, o Plenário
fundamentou o Acórdão 912/2023 - Plenário da seguinte maneira:

A - Da ausência de registro do ato admissional


No primeiro tópico de sua peça recursal sustenta, em síntese, o
Ministério Público de Contas que o fato do processo de
admissão da aposentanda estar pendente de análise por esta
Corte constituir-se-ia em impeditivo ao registro do ato de
aposentadoria.
Quanto a esta alegação, entendemos que não assiste razão ao
Recorrente eis que, conforme bem asseverado na Decisão TC
709/2023-Segunda Câmara, esta Corte tem entendimento
pacificado no sentido de que “[...] a ausência de registro do ato
admissional editado antes da IN/TC 31/2014 não obsta ao
registro da aposentadoria ou pensão ou outro benefício
posterior, mas somente as admissões ocorridas após a vigência
da referida norma”.
A propósito, o art. 14, § 3º, da Instrução Normativa TC 31/2014
dispõe que as admissões ocorridas a partir de sua vigência
devem ser apreciadas pelo TCEES previamente ao registro da

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aposentadoria, inexistindo, portanto, tal obrigação em relação às


admissões ocorridas antes de sua vigência, tal como ocorreu no
presente caso concreto.
Com efeito, é fato que o controle das remessas dos processos
de admissão e dos respectivos concursos públicos faz parte das
obrigações das Cortes de Contas, cabendo a elas, por
intermédio de seus setores competentes, promover auditorias e
apenar os gestores omissos, na forma dos dispositivos
regulamentares. Todavia, ponderamos no sentido de que não é
possível concluir que tais circunstâncias sejam condições
imprescindíveis ao registro dos atos de aposentadoria, em
especial se contrariarem o previsto no art. 14, § 3º, da Instrução
Normativa TC 31/2014, o qual não impõe tal obrigação a casos
anteriores a sua vigência.
[...]
Desse modo, conclui-se que a ausência da análise prévia, por
esta Corte, do ato de admissão da senhora Angela Maria Pina
Pinto, não é fato impeditivo ao registro de sua aposentadoria,
devendo ser improvido o presente recurso quanto a este ponto.

De forma semelhante, consta expressamente na ementa do Acordão TC 77/2022 -


Plenário que o registro do ato admissional só é obrigatório para admissões
posteriores a entrada em vigor da IN TC 31/2014, nos seguintes termos:

PEDIDO DE REEXAME – APOSENTADORIA SEM REGISTRO


ANTERIOR DE ADMISSÃO – NÃO PROVIMENTO AO
RECURSO – ARQUIVAR
1. Cumpridos os requisitos legais e constitucionais para a
concessão de aposentadoria, o ato administrativo respectivo
deve ser registrado pela Corte de Contas.
2. Somente nos casos de admissão em data posterior à entrada
em vigor da Instrução Normativa TC 31/2014 torna-se
obrigatória a apreciação prévia da admissão para o registro da
aposentadoria.

Assinado digitalmente. Conferência em www.tcees.tc.br Identificador: FECC4-96303-4A40B


DECISÃO TC- 534/2024
rn/mcm

Em igual sentido, vide, por exemplo: Acórdão TC 946/2023 - Plenário (Processo


TC 2559/2023), Acórdão TC 850/2023 - Plenário (Processo TC 1454/2023), Decisão
TC 175/2021 - 1ª Câmara (Processo TC 9160/2013) e Decisão TC 703/2021 - 1ª
Câmara (Processo TC 872/2017).

Acrescenta-se que o Processo TC 4356/2023, que trata da admissão da segurada,


conforme a ITC 2681/2023, foi objeto de análise pela unidade técnica, que opinou
pelo seu registro. Assim, a diligência pleiteada pelo MPC deve ser indeferida.

Ante o exposto, existentes os elementos comprobatórios de que a segurada foi


aprovada em concurso público e devidamente nomeada, a ausência do seu registro
de admissão não obstaculiza o direito de receber o benefício decorrente de
aposentadoria.

Portanto, considerando os fundamentos expostos, aliados à jurisprudência acima


colacionada, deve-se considerar descabidas as supostas irregularidades (a), (b), (c)
e (d) apontadas pelo MPC. Logo, não demonstrada qualquer ilegalidade, nem
comprovada qualquer omissão, tampouco é necessária a expedição de
determinação ou recomendação.

Assim, considerando que a documentação acostada aos autos e o fundamento legal


do ato concessório evidenciam a regularidade do ato examinado, assiste razão à
unidade técnica que se manifestou pelo registro do ato. Portanto, deve o referido ato
ser registrado pelo Tribunal.

Assinado digitalmente. Conferência em www.tcees.tc.br Identificador: FECC4-96303-4A40B


DECISÃO TC- 534/2024
rn/mcm

Proposta de deliberação

Ante o exposto, acompanho o entendimento da unidade técnica, divirjo do Ministério


Público junto ao TCEES e proponho VOTO no sentido de que o Colegiado aprove a
minuta de deliberação que submeto à apreciação:

DONATO VOLKERS MOUTINHO

Conselheiro Substituto

Relator

1. DECISÃO TC- 534/2024-1

VISTOS, relatados e discutidos estes autos, os conselheiros do Tribunal de Contas


do Estado do Espírito Santo, reunidos em sessão da Primeira Câmara, ante as
razões expostas pelo relator, DECIDEM:

1.1. REGISTRAR o ato de concessão inicial de aposentadoria da Sra. Maria Rosana


Spalenza, a partir de 28 de abril de 2023, com os proventos fixados no valor de R$
1.726,37 (mil, setecentos e vinte e seis reais e trinta e sete centavos),
consubstanciado na Portaria 91/2023 do Instituto de Previdência de Vila Velha (IPVV);

1.2. Dar CIÊNCIA aos interessados e ao Ministério Público junto ao Tribunal, na forma
regimental.

1.3. ARQUIVAR os autos após o trânsito em julgado.

2. Unânime.

3. Data da Sessão: 08/03/2024 – 9ª Sessão Ordinária da 1ª Câmara.

4. Especificação do quórum:

4.1. Conselheiros: Sebastião Carlos Ranna de Macedo (presidente) e Sérgio Aboudib


Ferreira Pinto.

Assinado digitalmente. Conferência em www.tcees.tc.br Identificador: FECC4-96303-4A40B


DECISÃO TC- 534/2024
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4.2. Conselheiro Substituto: Donato Volkers Moutinho (relator/ em substituição)

5. Membro do Ministério Público de Contas: procurador de contas em substituição ao


procurador geral Heron Carlos Gomes de Oliveira.

CONSELHEIRO SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO


Presidente

Assinado digitalmente. Conferência em www.tcees.tc.br Identificador: FECC4-96303-4A40B

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