Producao Integrada Tomate Tutorado Modulo 3 Apostila Compressed

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PRODUÇÃO INTEGRADA DO

TOMATEIRO TUTORADO
Subsídios para Produção Integrada

Laércio Zambolim
Alice Maria Quezado-Duval
Universidade Federal De Viçosa
Reitor: Demetrius David da Silva
Vice-Reitora: Rejane Nascentes

Coordenadoria de Educação
Aberta e a Distância
Diretor: Francisco de Assis Carvalho Pinto

Organizadores: Laércio Zambolim e


Alice Maria Quezado-Duval

Edição de Conteúdo e CopyDesk:


João Batista Mota
Layout:
Lucas Kato e Taiane Souza
Editoração Eletrônica:
Stéfany Peron e Juliana Dias

Ficha Catalográfica elaborada pela Seção de Catalogação e Classificação da


Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa - Campus Viçosa

P964 Produção integrada do tomateiro tutorado [recurso eletrônico]/


2022 Laércio Zambolim, Alice Maria Quezado-Duval, organizadores--
Viçosa, MG: UFV, CEAD, 2022
1 livro eletrônico (315p.): il. color.

Inclui bibliografia.

1. Tomate - Cultivo. 2. Tomate - Doenças e pragas - Controle.


3. Tomate - Fisiologia pós-colheita. 4. Fungicidas. I. Zambolim, Laércio,
1947-. II. Quezado-Duval, Alice Maria, 1965-. III. Universidade Federal
de Viçosa. Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância..

CDD 22. ed. 635.642

Bibliotecária responsável: Bruna Silva - CRB 6/2552

Este obra está licenciada com uma Licença


Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Sumário
1. Introdução 7
2. Grupos varietais e cultivares 14
3. Produção de mudas 33
4. Instalação da lavoura 50
5. Manejo de plantas 53
6. Fertilidade do solo e nutrição de plantas 68
7. Irrigação 102
8. Doenças e seu controle 117
9. Fungicidas empregados na cultura 174
10. Sistemas de alerta de doenças de plantas 188
11. Sistema de alerta do tomateiro em santa catarina 209
12. Pragas e seu controle 216
13. Recomendações para uso de agrotóxicos no controle de insetos e ácaros
pragas243
14. Tecnologia de aplicação de Agrotóxicos 252
15. Colheita e pós-colheita 274
16. Classificação 285
17. Embalagens e comercialização 295
Autores
Contribuições das equipes multidisciplinares das seguintes instituições: Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária - Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças (Embrapa Hortaliças) e Centro
Nacional de Pesquisa do Meio Ambiente (Embrapa Meio-Ambiente); Empresa de Pesquisa Agro-
pecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Estacão Experimental de Caçador; Univer-
sidade Federal de Viçosa (UFV); Universidade Federal de Goiás (UFG) - Escola de Agronomia, Se-
tor de Horticultura; Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Universidade Estadual de Goiás
(UEG) - Campus Anápolis de Ciências Exatas e Tecnológicas Henrique Santillo; Agência Goiana de
Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater-GO) - Campo Experimental
Nativas do Cerrado e Instituto Federal Goiano (IF Goiano) - Campus Iporá.

Capítulo 1. Introdução
Autores: Abadia dos Reis Nascimento, Luiz Fernandes Cardoso Campos, Roberto Gomes Vital,
Zeuxis Rosa Evangelista e Jordana Guimarães Neves. Instituição: UFG

Capítulo 2. Grupos varietais e cultivares


Autores: Abadia dos Reis Nascimento, Raquel Cintra de Faria, Mariana Vieira Nascimento e
Maria Gláucia Dourado Furquim. Instituição: UFG

Capítulo 3. Produção de mudas


Autores: Marçal Henrique Amici Jorge e Raphael Augusto de Castro e Melo. Instituição:
Embrapa Hortaliças

Capítulo 4. Instalação da lavoura


Autores: Janice Valmorbida, Anderson Fernando Wamser e Fernando Pereira Monteiro. Institui-
ção: Epagri - Estação Experimental de Caçador.

Capítulo 5. Manejo de plantas


Autores: Anderson Fernando Wamser, Janice Valmorbida e Fernando Pereira Monteiro. Institui-
ção: Epagri - Estação Experimental de Caçador.

Capítulo 6. Fertilidade do solo e nutrição de plantas


Autores: Leandro Hahn e Juscimar Silva. Instituições: Epagri - Estação Experimental de Caçador;
Embrapa Hortaliças.

Capítulo 7. Irrigação
Autores: Marcos Brandão Braga, Anderson Luiz Feltrim e Lino Carlos Borges. Instituições: Em-
brapa Hortaliças; Epagri - Estação Experimental de Caçador; Emater-GO - Campo Experimental
Nativas do Cerrado.

4
Capítulo 8. Doenças e seu controle
Autores: Alice Maria Quezado-Duval, Alice Kazuko Inoue-Nagata, Ailton Reis, Fernando Perei-
ra Monteiro, Jadir Borges Pinheiro e Carlos Alberto Lopes. Instituições: Embrapa Hortaliças e
Epagri - Estação Experimental de Caçador.

Capítulo 9. Fungicidas empregados na cultura


Autor: Laércio Zambolim. Instituição: UFV

Capítulo 10. Sistemas de alerta de doecças de plantas


Autores: Laércio Zambolim e Waldir Cintra de Jesus Júnior. Instituição: UFV, UFSCar

Capítulo 11. Sistemas de alerta do tomateiro em Santa Catarina


Autores: Guilherme Mallmann e Walter Ferreira Becker. Instituição: Epagri - Estação Experimen-
tal de Caçador.

Capítulo 12. Pragas e seu controle


Autores: Miguel Michereff Filho e Juracy Caldeira Lins Junior. Instituições: Embrapa Hortaliças;
Epagri - Estação Experimental de Caçador.

Capítulo 13. Recomendações para uso de agrotóxicos no controle de insetos


e ácaros pragas
Autores: Juracy Caldeira Lins Junior e Miguel Michereff Filho. Instituições: Epagri - Estação Ex-
perimental de Caçador; Embrapa Hortaliças.

Capítulo 14. Tecnologia de aplicação de defensivos


Autores: Aldemir Chaim. Instituição: Embrapa Meio Ambiente.

Capítulo 15. Colheita e pós-colheita


Autores: Abadia dos Reis Nascimento, Cristiane Maria Ascari Morgado, Luis Carlos Cunha Júnior.
Instituições: UFG; UEG - Campus Anápolis de Ciências Exatas e tecnológicas - Henrique Santillo.

Capítulo 16. Classificação


Autores: Abadia dos Reis Nascimento, Maria Gláucia Dourado Furquim, Mariana Vieira Nas-
cimento, Raquel Cintra de Faria, Cristiane Maria Ascari Morgado e Macelle Amanda Silva
Guimarães. Instituições: UFG; UEG - Campus Anápolis de Ciências Exatas e Tecnológicas
Henrique Santillo.

Capítulo 17. Embalagens e comercialização


Autores: Abadia dos Reis Nascimento, Cristiane Maria Ascari Morgado, Luis Carlos Cunha
Júnior. Instituições: UFG

5
Significado dos ícones da apostila
Para facilitar o seu estudo e a compreensão imediata do conteúdo apresentado, ao longo de todas as
apostilas, você vai encontrar essas pequenas figuras ao lado do texto. Elas têm o objetivo de chamar a
sua atenção para determinados trechos do conteúdo, com uma função específica, como apresentamos a
seguir.

Õ Texto-destaque:
são definições, conceitos ou afirmações importantes às quais você deve estar
atento.

Glossário:

a Informações pertinentes ao texto, para situá-lo melhor sobre determinado termo,


autor, entidade, fato ou época, que você pode desconhecer.

Saiba mais:

Ì Se você quiser complementar ou aprofundar o conteúdo apresentado na apostila, tem a


opção de links na internet, onde pode obter vídeos, sites ou artigos relacionados ao
tema.

Ñ
Prática Profissional:
Quando vir este ícone, você deve refletir sobre os aspectos apontados, relacio-
nando-os com a sua prática profissional e cotidiana.

6
1
1. Introdução
Abadia dos Reis Nascimento1, Luiz Fernandes Cardoso Campos1,
Roberto Gomes Vital1, Zeuxis Rosa Evangelista1, Jordana Guimarães Neves1
1
Universidade Federal de Goiás. Escola de Agronomia - Setor de Horticultura,
[email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]; [email protected]

1. APRESENTAÇÃO
O tomate (Solanum lycopersicum L.) é uma hortaliça-fruto amplamente cultivada no Brasil e em
diversos países do mundo. De acordo com dados da Food and Ag2riculture Organization (FAO),
em 2018, o Brasil ocupou a décima posição no ranking da produção de tomate em nível mundial,
com 2,27% de participação. China, Índia, Estados Unidos e Turquia ocuparam as primeiras posi-
ções, respondendo por aproximadamente 34,04%, 10,70%, 6,97% e 6,71%, respectivamente.
Até 2016, o Brasil ocupava a nona posição, mas foi superado pelo México a partir de 2017. A
produção mundial de tomate foi 163,1 milhões de toneladas em 2012 e 181,05 milhões em 2018,
uma variação de 10,95% (FAOSTAT, 2020) (Tabela 1).

TABELA 1. Produção de tomate (toneladas), nos principais países produtores, entre 2012 e 2018
PAÍSES 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
China 48.057.200 50.552.200 52.477.884 55.767.476 57.463.955 59.514.773 61.631.581
Índia 18.653.000 18.227.000 18.735.910 16.385.000 18.732.000 20.708.000 19.377.000
EUA 14.478.750 13.828.580 15.875.000 14.580.440 12.936.420 10.910.990 12.612.139
Turquia 11.350.000 11.820.000 11.850.000 12.615.000 12.600.000 12.750.000 12.150.000
Egito 8.625.219 8.290.551 8.288.043 7.737.827 7.320.714 7.297.108 6.624.733
Irã 5.566.962 5.757.447 6.362.902 6.013.142 5.828.557 6.177.290 6.577.109
Itália 5.592.302 5.321.249 5.624.245 6.410.249 6.437.572 6.015.868 5.798.103
Espanha 4.046.400 3.776.800 4.888.880 4.832.700 5.233.542 5.163.466 4.768.595
México 3.433.567 3.282.583 3.536.305 3.782.314 4.047.171 4.243.058 4.559.375
Brasil 3.873.985 4.187.646 4.302.777 4.187.729 4.167.629 4.230.150 4.110.242
Outros 39.503.743 40.251.808 42.919.837 45.189.165 44.740.841 45.290.692 42.848.022
TOTAL 163.181.128 165.295.864 174.861.783 177.501.042 179.508.401 182.301.395 181.056.899
Fonte: FAOSTAT, 2020.

7
Õ Com relação à área colhida, em 2018, o ranking também foi liderado pela Chi-
na (21,82%), Índia (16,49%) e Nigéria (12,76%), que representaram juntos mais
2,4 milhões de hectares, 51,07% da área colhida mundialmente, com os demais
países representando 48,93% da área colhida. O Brasil ocupa a 15ª colocação com
uma área de 57.134 ha colhidos, em 2018. No período de 2012 a 2018, houve uma
redução de 0,77% da área colhida com tomate (FAOSTAT, 2020) (Tabela 2).

TABELA 2. Área colhida (ha) com tomate dos principais países produtores - 2012 a 2018

PAÍSES 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

China 949.510 980.100 988.891 1.010.412 1.015.480 1.028.454 1.040.126


Índia 907.000 880.000 882.030 767.000 774.000 797.000 786.000
Nigéria 469.000 517.400 541.800 557.500 619.172 589.254 608.116
Turquia 189.202 189.122 183.029 192.847 189.142 187.070 176.430
Egito 216.395 205.276 214.016 196.853 184.972 182.444 161.702
Irã 150.386 151.283 158.702 151.946 149.235 153.735 158.991
EUA 152.690 152.410 163.380 162.980 142.260 126.070 130.280
Rússia 117.657 119.830 118.421 117.767 118.451 114.300 82.366
Camarões 79.408 69.903 76.304 82.370 92.626 105.561 93.762
Itália 98.210 95.191 103.171 107.187 103.940 99.750 97.092
Outros 1.474.266 1.488.272 1.480.337 1.468.900 1.455.915 1.464.746 1.432.009
TOTAL 4.803.724 4.848.787 4.910.081 4.815.762 4.845.193 4.848.384 4.766.874
Fonte: FAOSTAT, 2020.

O mundo inteiro consome tomate, mas nem sempre a demanda do país é suficiente, o que
exige a compra de frutos produzidos em outros países. Em 2018, foram exportadas 8.262.050 to-
neladas, das quais 21,8% foram produzidas no México, seguido dos Países Baixos (20,5%) e Espa-
nha (12,8%) (Tabela 3). Já no que se refere às importações do fruto, em 2018, foram importadas
7.361.455 toneladas. A maior parte deles foi importada pelos Estados Unidos (24,3%), Alemanha
(15,6) e Rússia (8,1%) (AGRIANUAL, 2020) (Tabela 4).
A maior parte da produção brasileira de tomate tutorado, fresco ou congelado, tem como des-
tino o Uruguai: em 2018, o país comprou 75,8% do volume produzido. O restante da produção,
desde 2015, é comercializado para outros países vizinhos do Brasil, como Argentina e Paraguai.
Outra forma de exportação do tomate é o seu suco. A forma processada é geralmente exportada
para o Reino Unido e para as Ilhas Marshall, dentre outros países. O Brasil ainda importa uma por-
centagem de tomate para suprimento da demanda. Em 2018, este volume foi de 686 toneladas
advindas da Argentina - país que, desde 2016, exporta frutos para o Brasil (AGRIANUAL, 2020)
(Tabela 5).

8
TABELA 3. Exportações mundiais de tomate de 2015 a 2018
2015 2016 2017 2018
PAÍSES VALOR VOLUME VALOR VOLUME VALOR VOLUME VALOR VOLUME
(US$) (t) (US$) (t) (US$) (t) (US$) (t)
México 1.813.882 1.560.588 2.133.256 1.748.858 1.955.480 1.742.623 2.298.856 1.831.838
Países Baixos
1.708.192 1.031.685 1.727.723 1.068.421 1.960.984 1.089.240 1.927.120 1.090.039
(Holanda)
Espanha 1.067.722 949.998 1.055.455 907.615 1.114.228 809.528 1.104.881 812.572
Irã 151.496 452.502 144.091 518.163 140.503 524.055 218.148 591.787
Turquia 365.292 541.089 239.875 485.963 290.147 525.769 289.975 530.343
Marrocos 430.338 390.719 503.313 516.049 586.695 528.409 528.662 525.856
Afeganistão* 3.935 15.710 21.888 81.206 0 0 94.850 397.997
Jordão 333.264 419.292 256.629 361.439 224.205 282.271 168.409 257.889
França 347.859 242.919 353.819 247.532 375.255 230.586 369.775 223.557
Bélgica 284.956 232.404 285.857 220.425 303.896 218.107 283.231 220.153
Outros 1.810.239 2.058.709 1.935.404 2.088.984 1.974.085 1.773.804 1.954.653 1.780.021
TOTAL 8.317.177 7.107.413 8.657.309 8.244.656 8.921.479 7.724.391 9.292.291 8.262.050
Fonte: AGRIANUAL, 2020.

TABELA 4. Importações mundiais de tomate de 2015 a 2018


2015 2016 2017 2018
PAÍSES VALOR VOLUME VALOR VOLUME VALOR VOLUME VALOR VOLUME
(US$) (t) (US$) (t) (US$) (t) (US$) (t)
Estados
2.030.234 1.573.219 2.362.853 1.786.348 2.272.435 1.788.815 2.486.067 1.856.197
Unidos
Alemanha 1.303.995 757.307 1.313.628 742.801 1.485.425 733.923 1.483.052 733.068
Federação
681.999 671.274 492.202 464.555 558.745 515.862 629.841 577.735
Russa
França 619.520 543.926 636.072 540.616 695.091 507.270 705.642 524.098
Reino Unido 645.875 402.745 615.299 402.771 671.428 398.787 702.551 411.403
Afeganistão* 0 0 0 0 0 0 26.371 392.557
Países Baixos
246.144 183.640 301.181 221.845 335.204 220.952 323.487 230.384
(Holanda)
Canadá 313.054 201.511 345.955 217.651 331.341 212.834 321.931 227.925
Paquistão 90.293 262.251 120.786 233.305 29.444 56.338 29.301 181.605
Espanha 166.847 168.510 113.378 144.897 135.403 188.319 145.236 157.201
Outros 2.305.691 2.343.030 2.270.943 2.300.515 2.429.034 2.243.615 2.300.264 2.069.281
TOTAL 8.353.652 7.107.413 8.572.296 7.055.304 8.943.550 6.867.309 9.153.743 7.361.455
Fonte: AGRIANUAL, 2020.

9
TABELA 5. Preço pago e volume das exportações e importações da produção brasileira de tomate - 2015 a 2019
A - EXPORTAÇÕES TOMATE FRUTO *
2015 2016 2017 2018 2019**
PAÍSES
M US$ Tonelada M US$ Tonelada M US$ Tonelada M US$ Tonelada M US$ Tonelada
Uruguai 0 0 1.130 1.443 23 24 196 21.892 12 23
Argentina 30 48 854 1.851 1.924 5.192 2015 6.720 50 33
Paraguai 22 150 202 1.461 196 1.195 33 172 0 0
Argélia 0 0 0 0 0 0 6 23 0 0
Outros 0 0 0 0 1 1 79 57 244 147
TOTAL 52 198 2.186 4.755 2.144 6.412 2.329 28.864 306 202

B - EXPORTAÇÕES SUCO DE TOMATE


2015 2016 2017 2018 2019
PAÍSES
M US$ Tonelada M US$ Tonelada M US$ Tonelada M US$ Tonelada M US$ Tonelada
Reino
0 0 0 0 0 0 1 1 4 2
Unido
Marshall,
0 0 0 0 0 0 1 1 3 3
Ilhas
Chipre 0 0 0 0 0 0 1 1 2 1
Outros 0 0 0 0 0 0 5 4 14 13
TOTAL 0 0 0 0 0 0 8 7 22 19

C - IMPORTAÇÕES
2015 2016 2017 2018 2019
PAÍSES
M US$ Tonelada M US$ Tonelada M US$ Tonelada M US$ Tonelada M US$ Tonelada
Argentina 0 0 19 43 66 62 558 686 667 798
Total 0 0 19 43 66 62 558 686 667 798
Fonte: AGRIANUAL, 2020.

O segmento de mesa representa atualmente em torno de 63% da produção de tomate no


Brasil (HORTIFRUTI BRASIL, 2020). Disponível o ano todo, com maior ou menor volume, de acordo
com a região produtora e sazonalidade das safras, a espécie é cultivada em praticamente todo o
território nacional (CONAB, 2016). O tomateiro totalizou em 2019 cerca de 57,8 mil ha e produção
de 4,1 milhões de toneladas.

Õ A produção agrícola de tomate no Brasil tem maior importância nas regiões do


Sudeste (representando 39,53% da área colhida e 42,14% da quantidade produzi-
da) e Centro-Oeste (representando 24,79% da área colhida e 32,50% da quantida-
de produzida) (INDICADORES IBGE, 2020) (Tabela 6).

O rendimento médio da cultura no Brasil é de 70.511 kg/ha e as maiores produtividades são re-
gistradas nas regiões Centro-Oeste (92,4 t/ha) e Sudeste (57,9 t/ha). As demais regiões apresentam
produtividade abaixo de 57,9 t/ha (Tabela 6).

10
TABELA 6. Produção e área colhida de tomate nas regiões do Brasil, 2019
ÁREA COLHIDA QUANTIDADE PRODUZIDA PRODUTIVIDADE
REGIÃO
ha % TOTAL (t) % (kg/ha)
Norte 521 0,90 11.820 0,29 22.687
Nordeste 11.421 19,76 518.644 12,72 45.411
Sudeste 22.853 39,53 1.717.618 42,14 75.159
Sul 8.681 15,02 503.054 12,34 57.949
Centro-Oeste 14.329 24,79 1.324.754 32,50 92.453
BRASIL 57.805 100 4.075.890 100 70.511
Fonte: Indicadores IBGE (2020).

Goiás, São Paulo e Minas Gerais concentram 65,6% da produção nacional e 54,76% da área
colhida do país. Em 2019, Goiás alcançou 31,65% da participação na produção nacional (1,2 mi
t), seguido por São Paulo (860.600 t) e Minas Gerais (523.525 t) (Tabela 7). Em Goiás, o maior
produtor do país, o rendimento médio da cultura do tomateiro é de 93,9 t/ha-1, em São Paulo
78,9 t/ha-1 e em Minas Gerais 74,6 t/ha-1. Os demais Estados apresentam produtividade média
abaixo de 69,3 t/ha-1 (Tabela 7).

TABELA 7. Produção e área colhida de tomate dos principais estados - 2019


ÁREA COLHIDA QUANTIDADE PRODUZIDA PRODUTIVIDADE
ESTADO
ha % TOTAL (t) % (kg/ha)
Goiás 13.739 23,77 1.290.134 31,65 93.903
São Paulo 10.900 18,86 860.600 21,11 78.954
Minas Gerais 7.012 12,13 523.525 12,84 74.661
Bahia 6.740 11,66 275.800 6,77 40.920
Paraná 4.091 7,08 236.955 5,81 57.921
Espírito Santo 2.583 4,47 170.042 4,17 65.831
Rio de Janeiro 2.358 4,08 163.451 4,01 69.318
Santa Catarina 2.469 4,27 161.928 3,97 65.584
Ceará 2.436 4,21 157.059 3,85 64.474
Rio Grande do Sul 2.121 3,67 104.171 2,56 49.114
Outros estados 3.356 5,81 132.225 3,24 39.400
BRASIL 57.805 100 4.075.890 100 70.511
Fonte: Indicadores IBGE (2020).

A produção e a comercialização de tomate desempenham um papel importante na economia


de Goiás (QUINTANILHA, TAVARES, CORCIOLI, 2019). Apesar de o estado ser o maior produtor de
tomate do Brasil, quando se faz a separação por segmento de mercado, observa-se que o estado
de São Paulo é o maior produtor de tomate de mesa. Em Goiás, a maior participação é do segmen-
to de tomate rasteiro (Tomate para processamento industrial), com 96,1%, em 2017, que corres-
pondeu a uma área de 15.635 ha cultivados, enquanto a participação do tomate de mesa foi de
apenas 3,9%, com uma área de 672 ha (IMB, 2020) (Tabela 8).
Entre os principais estados produtores de tomate para consumo in natura, destacam-se
São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Paraná e Santa Catarina (CONAB, 2016). Em São Paulo o
segmento de tomate de mesa representou, em 2019, 76,5% da produção (676.380 t), em uma

11
área cultivada de 8.674 há. Já o segmento de tomate industrial representou 23,5% da produção
estadual, em uma área de 2.494 ha (IEA, 2020) (Tabela 9).
TABELA 8 – Produção, área colhida e participação dos segmentos de tomate de Goiás - 2010 e 2017
PRODUÇÃO
TOMATE DE MESA TOMATE INDUSTRIAL
ANO TOTAL
PRODUÇÃO (t.) (%) PRODUÇÃO (t.) (%)
2012 84.932 7,3 1.072.146 92,7 1.157.078
2013 70.959 5,4 1.246.648 94,6 1.317.607
2014 70.147 6,6 985.190 93,4 1.055.337
2015 62.089 6,8 850.887 93,2 912.976
2016 51.305 5,5 883.353 94,5 934.658
2017 50.000 3,9 1.248.088 96,1 1.298.088

AREA
TOMATE DE MESA TOMATE INDUSTRIAL
ANO TOTAL
ÁREA (ha) (%) ÁREA (ha) (%)
2012 1.099 7,8 12.929 92,2 14.028
2013 921 5,9 14.758 94,1 15.679
2014 895 7,6 10.825 92,4 11.720
2015 809 7,6 9.844 92,4 10.653
2016 675 5,9 10.777 94,1 11.452
2017 672 4,1 15.635 95,9 16.307
Fonte: IMB (2020).

TABELA 9 – Produção, área colhida e participação dos segmentos de tomate no Estado de São Paulo - 2017 a 2019
PRODUÇÃO
TOMATE DE MESA TOMATE INDUSTRIAL
ANO TOTAL
PRODUÇÃO (t.) (%) PRODUÇÃO (t.) (%)
2017 720.884 72,8 269.784 27,2 990.668
2018 684.191 72,9 254.759 27,1 938.950
2019 676.380 76,5 207.765 23,5 884.145

AREA
TOMATE DE MESA TOMATE INDUSTRIAL
ANO TOTAL
ÁREA (ha) (%) ÁREA (ha) (%)
2017 9.823 74,2 3.414 25,8 13.237
2018 8.887 72,8 3.318 27,2 12.204
2019 8.674 77,7 2.494 22,3 11.167
Fonte: IEA (2020).

12
2. Referências
AGRIANUAL. Anuário da Agricultura Brasileira. 25.ed. São Paulo: FNP Consultoria &
Agroinformativos, 2020, 416p.
CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Compêndio de Estudos Conab/Companhia
Nacional de Abastecimento. v.21, Brasília: Conab, 2016, 22p.
FAOSTAT. FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations. FAOSTAT Crops, 2020.
Disponível em: <http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC>. Acesso em: 01 set. 2020.
HORTIFRUTI BRASIL. Especial Tomate. Piracicaba, SP: Cepea/Esalq, ed. especial, v. 19, n. 201, jun.
2020. Disponível em: <https://www.hfbrasil.org.br/br/revista/acessar/completo/especial-
tomate-impactos-covid-19-nos-curto-e-medio-prazos.aspx>. Acesso em: 02 set. 2020.
IEA - Instituto de Economia Agrícola. Estatísticas da Produção Paulista. Secretaria de Agricultura
e Abastecimento, Governo do Estado de São Paulo, 2020. Disponível em: <http://ciagri.iea.
sp.gov.br/nia1/subjetiva.aspx?cod_sis=1&idioma=1>. Acesso em: 8 set. 2020.
IMB - Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos. Estatísticas Municipais
- Séries Históricas. Secretaria de Estado da Economia, Governo do Estado de Goiás, 2020.
Disponível em: <https://www.imb.go.gov.br/index.php?option=com_content&view=article
&id=91&Itemid=219>. Acesso em: 8 set. 2020.
INDICADORES IBGE. Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, Estatística da Produção
Agrícola, julho 2020. Brasília: IBGE, 2020. 93 p. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.
br/visualizacao/periodicos/2415/epag_2020_jul.pdf>. Acesso em: 2 set. 2020.
QUINTANILHA, K. T.; TAVARES, É. B.; CORCIOLI, G. Mapeamento do fluxo dos tomates comercializados
no CEASA - Goiás em 2017 e 2018. Research, Society and Development, v. 8, n. 10,
e138101199, 2019. (DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v8i10.1199)

13
2
2. Grupos varietais e cultivares
Abadia dos Reis Nascimento1, Raquel Cintra de Faria1, Mariana Vieira Nascimen-
to1, Maria Gláucia Dourado Furquim2.
1
Universidade Federal de Goiás. Escola de Agronomia - Setor de Horticultura
[email protected]; [email protected]; [email protected]
2Instituto Federal Goiano - Campus Iporá
[email protected].

1. Introdução
No Brasil, a produção de tomate (Solanum lycopersicum L.) apresenta importante função so-
cial e econômica no agronegócio de hortaliças, sendo cultivado nas diferentes regiões da fede-
ração. Em termos de produção, os estados de Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Bahia respondem
por 72,12% da produção de tomate, apresentando as respectivas participações, 29,20%, 22,44%,
13,14% e 7,34% para as cadeias produtivas para fins de processamento e consumo fresco (LSPA, 2020).
É necessário ressaltar que esses dados sobre área cultivada e volume de produção se referem
ao tomate industrial (rasteiro) e para consumo fresco (geralmente tutorado) em conjunto. Toda-
via, fatores de ordem técnica e mercadológica reforçam as diferenças entre as cadeias produtivas
e os sistemas de plantio, categorizados em tutorado ou rasteiro. Essas particularidades acerca da
forma de plantio variam conforme os tipos de tomate e sua destinação final.
A planta com hábito de crescimento determinado tem hastes com desenvolvimento vegeta-
tivo limitado e uniforme, cujos frutos, geralmente, são processados. Já a cultivar com hábito de
crescimento indeterminado carece de intensivos tratos culturais, como tutoramento e poda para
a produção de frutos para mesa (FILGUEIRA, 2007; ALVARENGA, 2013).

Tecnicamente, desde 1930, o tomate é classificado como uma hortaliça-fruto (FIL-

Õ GUEIRA, 2007). Essa classificação está relacionada ao fato de que a parte utilizável
e comerciável é o fruto, que é morfologicamente, do tipo baga. Esses frutos são
carnosos e podem ser constituídos de dois lóculos (biloculares), três lóculos (trilo-
culares) ou mais (pluriloculares). Existe ainda uma grande variabilidade de formas
e tamanhos, desde os menores e redondos até os grandes de formas variadas. Essa
variabilidade é efeito dos processos de crescimento diferenciado, que ocorrem
durante a formação do ovário ou após a antese, durante a formação do fruto, sendo
geneticamente controlada, de acordo com a variedade (MINAMI & MELLO, 2017).

Características genéticas também determinam, por exemplo, resistência às pragas que acome-
tem a cultura (patógenos que tem o tomateiro como hospedeiro, insetos-praga e plantas parasi-
tas, como a Cuscuta sp.) e outras especificidades agronômicas. Programas de melhoramento têm

14
explorado a diversidade genética do gênero, que contempla, além da espécie domesticada So-
lanum lycopersicum, outras selvagens, como S. lycopersicum var. cerasiforme L., S. pimpinellifollium
L., S. pennellii Correl, S. peruvianum L., S. cheesmaniae (L. Riley) Forberg, etc. Dessa forma, a biotec-
nologia vem sendo utilizada com sucesso para o estudo da diversidade genética, caracterização e
avaliação de bancos de germoplasma.

1.1. Grupos e cultivares


Atualmente, existem cerca de 1500 cultivares de tomate registradas no MAPA, das quais a
maioria híbrida com alto potencial genético, com diferentes hábitos de crescimento, nos segmen-
tos de processamento industrial e de mesa (NICK; SILVA & BORÉM, 2018). Para a comercialização in
natura, o fruto é classificado na Ceagesp em oblongo (alongado) e redondo consoante o formato
e diâmetro longitudinal que está relacionado ao grupo da cultivar (CEAGESP, 2021) (Figura 1).

Figura 1 – Guia de variedades


Fonte: Ceagesp (2021)

Na década de 1940, os tomates cultivados no Brasil eram divididos em apenas três grupos:
• Frutos grandes, que apresentavam massa maior que 160g;
• Frutos médios, com massa entre 90 e 160g, e
• Frutos pequenos, com massa menor que 90g.

Carmo e Caliman (2010) ressaltaram que o agrupamento das cultivares e híbridos de tomate
destinados ao consumo in natura é polêmico e regionalizado. Dada a variabilidade, Alvarenga
(2013) distinguiu, de forma mais didática, os grupos varietais de tomate em cinco: Santa Cruz, Ca-
qui, Salada, Saladete (Italiano) e Minitomate (Figura 2). Já Nick, Silva e Borém (2018) consideraram
quatro grupos no segmento mesa: Santa Cruz, Salada, Italiano e Minitomates.

15
Filgueira (2007), além de dividir os grupos como os demais autores, acrescentou o grupo
agroindustrial. Esse grupo varietal refere-se à cultura rasteira, cujo hábito de crescimento é deter-
minado, com frutos destinados ao processamento, apresentando formato predominantemente
oblongo e “alta resistência ao transporte, inclusive a granel; coloração vermelha intensa e distri-
buída uniformemente pelo fruto; elevado teor de sólidos solúveis, e teor adequado de ácido”.
No entanto, destaca-se que, em algumas regiões brasileiras, há a produção em cultivo rasteiro
de tomate de mesa, o que integra o grupo agroindustrial aos grupos varietais de tomate para mesa.

A B

C D E

Figura 2. Grupos varietais Caqui (A), Salada (B), Saladete (C), Santa Cruz (D) e Minitomate (E)
Fotos: Raquel Cintra de Faria

16
É importante destacar que as empresas detentoras dos materiais genéticos também têm o seu
próprio agrupamento de cultivares, como é o caso da empresa Blueseeds, que, no segmento mesa,
estão divididas em oito grupos: salada, saladete, italiano, caqui, cereja, grape, santa clara e ugly.

Considerando as divisões em grupos varietais já consagrados na literatura, conforme estudos de


Alvarenga (2013) e Filgueira (2007), assim como os termos popularmente empregados para designar os
frutos em termos de comercialização, consoante características visuais e mercadológicas, sugere-se a
categorização dos grupos em:
• Santa Cruz (I);
• Salada (II),
• Caqui (III);
• Saladete/Italiano (IV),
• Minitomate (V), e
• Rasteiro/Indústria (VI).

Sendo a incorporação do tomate rasteiro como mesa, pela produção e comercialização da


cultura especialmente na região Nordeste e outros municípios de São Paulo, Goiás para fins
de consumo fresco.
Segundo a Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM), Ofício n°
022/2017, as cinco principais empresas associadas produtoras de sementes de tomate são: Agris-
tar do Brasil Ltda, Syngenta, Monsoy Ltda, Blue Seeds do Brasil e Sakata Seed. Nesse sentido, por
meio de consulta em catálogos de produtos disponibilizados por essas empresas, assim como
consultas nos sites e informações repassadas por pesquisadores, buscou-se identificar os materiais
que elas têm disponíveis no mercado de híbridos dos diferentes grupos varietais (Salada, Caqui,
saladete/Italiano, minitomate e rasteiro/Indústria), bem como algumas características, como resis-
tência e demais aspectos do fruto, apresentados nas tabelas 1 a 6, a seguir.

1.2. Grupo Santa Cruz


As características dos grupos varietais do tomate de mesa podem ser descritas considerando
os aspectos visuais e genéticos. O tipo Santa Cruz representa um marco no segmento varietal,
pela aceitação por parte de produtores e consumidores, proporcionando liderança no mercado
brasileiro de tomate de mesa por décadas. Sua origem genética não transcorre de programa
de melhoramento genético para este fim; é decorrente do cruzamento natural das variedades
Redondo Japonês e Rei Humberto, no interior de São Paulo, que selecionados se disseminaram
pelo país (MELO, 2017).
Os frutos são oblongos (Figura 3), com diâmetro transversal menor que diâmetro longitudinal,
variando de 80 a 220g, com dois ou três lóculos, resistentes ao manuseio e elevada produtivida-
de (FILGUEIRA, 2007; ALVARENGA, 2013). As cultivares desse grupo têm reduzida participação no
mercado de tomate de mesa atual, com os híbridos que apresentam a característica genética de
longa vida estrutural (MELO, 2017). De acordo com Alvarenga (2013), têm qualidade gustativa
superior aos do grupo salada, alcançando, assim, melhor valorização de mercado.

17
A B

Figura 3. Híbridos de tomate do grupo Santa Cruz, Débora Max (A) e Laura (B)
Fotos: Raquel C. de Faria

TABELA 1. Genótipos comerciais de sementes de tomate, do grupo varietal Santa Cruz


PLANTA FRUTO
Híbrido/
EMPRESA Hábito de Ciclo Massa Cor da
Cultivar Resistência Tipo
crescimento (dias) média (g) casca

Vd: 1, Fol:1, 2, Mi:1, 2, 3 e 4 e Mj;


Carina TY I 105 - 200 Vermelho
ToSRV1
Vd: 1, Fol:1, 2 e 3, Mi:1, 2 e 3, e Mj e
Carina Star I 105 - 200 Vermelho
Pst; TSWV
Sakata Débora Vd: 1, Fol: 1 e 2, Mi: 1, 2, 3 e 4 e Mj,
I - - 180 Vermelho
Victory TSWV
Veloster I Vd: 1 e Fol: 1 e 2 - - 190 Vermelho
Carina
I Vd: 1 e 2, Mi: 1, 2, 3 e 4 e Mj; ToSRV - - 170 Vermelho
Golden
(Continua)

18
TABELA 1. Genótipos comerciais de sementes de tomate, do grupo varietal Santa Cruz (Continuação)
PLANTA FRUTO
Híbrido/
EMPRESA Hábito de Ciclo Massa Cor da
Cultivar Resistência Tipo
crescimento (dias) média (g) casca
Santa
I V, PVY, Fol: 1 100 a 120 Santa Cruz 180 Vermelho
Clara
Horticeres
Tomate
I TYLCV,TSWV, Va , Mi , Fol - - - Vermelho
Híb. EliTY
Seminis TYLCV, Pst: 0, TSWV, Aal, Fol: 0,1, Va,
Cienaga I 75 a 80 Longa vida 180 a 200 Vermelho
(Bayer) Vd: 0
Topseed Fol: 0-2, Ma, Mi, Mj, TMV, TSWV,
Santyno F1 - 115 - 220 Vermelho
(agristar) TYLCV, Va e Vd
BS Santa
I V: 1, Fol: 1 e 2, Mi, TMV e TSWV Tardio 140 a 180 Vermelho
ISC0045 Clara
BlueSeeds
BS Santa
I V:1, Fol:1 e 2, PM, Mi, TMV, TSWV Tardio 140 a 180 Vermelho
ISC0050 Clara
1
Abreviações: Aal (Alternaria alternata f. sp. Lycopersici); As (Alternaria solani); PVY (Potato virus Y); CMV (Cucumber mosaic
virus); ToMV (Tomato mosaic virus); TYLCM (Tomato yellow leaf curl virus); TMV (Tobacco mosaic virus); PeMV (Pepper mottle
virus); TMV (Tobacco moisaic virus); TSWV (Tomato spotted wilt virus); TYLCV (Tomato yellow leaf curl virus); ToTV (Tomato
torrato virus); P (Pseudomonas); Pc (Phytophthora capsici); Pp (Phytophthora paraitica); Pst (Pseudomonas syringae pv. Tomato);
Fol 1, 2 e 3 (Fusarium oxysporum f. sp. Lycopersici raças 1, 2 e 2); Fc (Fusarium crown); Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5 (Cladosporium fulvum
raças Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5); V (Verticillium); ( Vd (Verticillium dahliae); Va (Verticillium albo-atrum); Mi (Meloidogyne incognita);
Mj (Meloidogyne javanica); Ma (Meloidogyne arenaria); Ss (Stemphyllium solani); Si (Silvering); Sbl (Stemphylium botryosum
f. sp. Lycopersici); Sl (Stemphylium lycopersici); Xc (Xanthomonas campestris); Xcv (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria);
On (Oidium lycopersicum (novo Oidium neolycopersic)); Lt (Leveillula taurica); D (Determinado); I (Indeterminado).

1.3. Grupo Salada


O grupo Salada (também nomeado popularmente como Longa-vida, Tomatão ou Bifão) apre-
senta hábito de crescimento indeterminado, embora tenha cultivares disponíveis de porte de-
terminado. São frutos grandes, variando a massa média de 200g a 400g, ou mais, para aqueles
comerciáveis, e são confundidos com as variedades do grupo Caqui. Tipicamente, apresentam
formato globular ou ainda achatado e podem ser triloculares ou pluriloculares, com coloração
vermelha ou rosada (Figuras 4 e 5).
“Quanto ao sabor, à maioria das cultivares e híbridos apresentam os frutos menos ácidos que
os tomates do grupo Santa Cruz” (ALVARENGA, 2004, p. 48). São consumidos em saladas e também
utilizados na montagem de pratos, como pizzas e sanduíches.
Atualmente, é o grupo varietal mais produzido no Brasil. Juntamente com o Saladete, são os
mais comercializados em rede de supermercados e sacolões populares, fazendo parte quase dia-
riamente da composição da alimentação básica dos brasileiros na forma de produto fresco.

19
A B

Figura 4. Híbridos de tomate do grupo Salada, Paronnty (A) e Spartus (B)


Fotos: Raquel C. de Faria

Figura 5. Disposição em cacho de frutos de tomate do híbrido Paronnty, do grupo varietal Salada
Foto: Raquel C. de Faria

20
TABELA 2 – Genótipos comerciais de sementes de tomate, do grupo varietal Salada
EMPRESA: Sakata
PLANTA FRUTO
HÍBRIDO/
CULTIVAR Háb. Ciclo Massa Cor da
Resistência Tipo
cresc.* (dias) Média casca
Natália I Vd:1, Fol:1 e 2, ToMV estirpe Tm1, Mi :1, 2, 3 e 4 e Mj1 110 Longa vida 230 Vermelho
Pietra I Vd:1, Fol:1 e 2, ToMV estirpe Tm1, Mi:1, 2, 3 e 4 e Mj 115 Longa vida 230 Vermelho
Santy I Vd:1, Fol:1 e 2, ToMV estirpe Tm1, Mi:1, 2, 3 e 4 e Mj; TSWV, ToSRV 100 230 Vermelho
Valerin I Vd: 1, Fol: 1 e 2, ToMV estirpe Tm1, Mi:1, 2, 3 e 4 e Mj, TSWV, ToSRV 105 Longa vida 240 Vermelho
Ivete I Vd :1, Fol: 1 e 2, ToMV estirpe Tm1, Mi:1,2,3 e 4, Mj, ToSRV - - 230 Vermelho
Lumi I Vd:1, Fol: 1 e 2, Mi: 1,2,3 e 4, Mj e ToMV - - 240 Vermelho
Conquistador I Vd:1, Fol: 1 e 2, ToMV estirpe Tm1, Mi:1, 2, 3e 4 e Mj; TSWV - - 250 Vermelho
Sophia I Vd:1, Fol: 1, 2 e 3 e ToMV estirpe Tm1 - - 230 Vermelho
Debora Max I Vd :1, Fol: 1 e 2, Mi:1,2,3 e 4 e Mj - - 180 Vermelho
Petros I Vd:1, Fol: 1 e 2, ToMV estirpe Tm1, Mi: 1, 2, 3 e 4 e Mj - - 260 Vermelho
Totty I Vd:1, ToMV, estirpe Tm1, Fol:1- 2, Pst, Mi: 1, 2, 3 e 4 e Mj - - 230 Vermelho
Gislani I Vd:1, Fol:1, 2 e 3, ToMV, estirpe Tm1, Mi:1, 2, 3 e 4 e Mj e ToSRV 115 - 230 Vermelho
Colono I Vd :1, Fol:1 e 2, ToMV, estirpe Tm1, Mi:1, 2, 3 e 4 e Mj, Ss, As - - 280 Vermelho

EMPRESA: Horticeres
PLANTA FRUTO
HÍBRIDO/
CULTIVAR Háb. Ciclo Massa Cor da
Resistência Tipo
cresc.* (dias) Média casca
Tomate Salada I -
Runner I ToMV, TSWV, Va , Fol:1 e 2, Ma, Mi, Mj, Pf e Pm - Arredondado 220 a 250 Vermelho

EMPRESA: Seminis (Bayer)


PLANTA FRUTO
HÍBRIDO/
CULTIVAR Háb. Ciclo Massa Cor da
Resistência Tipo
cresc.* (dias) Média casca
Compack I ToMV: 0 e 2, TSWV, Fol:0 e 1, For, Va, Vd:0, Mi, Mj, Ma. 75-80 _ 220 a 250 Vermelho
Coronel
I ToMV: 0 e 2, TSWV, Fol: 1 e 2, Sbl/Sl/Ss, Va, Vd:0, Ma, Mi e Mj. - - 200 a 230 Vermelho
(SVTH0361)
SV2444TH I ToMV: 0-2, TSWV, Fol: 0-1, Sbl/Sl/Ss, Va, Vd: 0 e TYLCV - Redondo 220 a 240 Vermelho

EMPRESA: Syngenta
PLANTA FRUTO
HÍBRIDO/
CULTIVAR Háb. Ciclo Massa
Resistência Tipo Cor da casca
cresc.* (dias) Média
Paronema - TSWV, TYLCV, Fol: 1 e 2, V:A e D, TMV e TOMV 100 Longa Vida 200 Vermelho
Paronoxy - TSWV, TYLCV, Fol: 1, 2 e 3, V: A e D, TMV, TOMV 105 Longa Vida 220 Vermelho
Paronset - TSWV, Fol: 1 e 2, V:A e D 100 Longa Vida 220 Vermelho
Dylla I TSWV, TYLCV, Fol: 1, 2 e 3, V:A e D, TMV, TOMV 100 Longa Vida 230 Vermelho Intenso
Paronnty I TSWV, TYLC, Fol: 1 e 2, V:A e D, N 100 Longa Vida 220 Vermelho

21
TABELA 2 – Genótipos comerciais de sementes de tomate, do grupo varietal Salada (Continuação)
EMPRESA: Topseed (Agristar)

PLANTA FRUTO
HÍBRIDO/
CULTIVAR Háb. Ciclo Massa
Resistência Tipo Cor da casca
cresc.* (dias) Média
Dominador F1 I Fol: 0,1, For, Ma, Mi, Mj, ToMV, TYLCV, Va e Vd 120 Redondo 230 Vermelho intenso
Ducatto F1 - Fol: 0,1, Ma, Mi, Mj, TMV, TSWV, Ss Va e Vd 110 Redondo 220 Vermelho
Gladiador F1 I Fol: 0,1, For, Ma, Mi, Mj, ToMV, TYLCV, Va e Vd 110 Redondo 225 Vermelho intenso
Itaipava F1 I Fol: 0,1, Mi, Mj, TMV, TSWV, Va e Vd 106 - 240 Vermelho
Predador F1 I Fol: 0,1, For, Ma, Mi, Mj, Pf, TMV, ToMV, TSWV, TYLCV, Va e Vd 115 Redondo 230 Vermelho
Protheus F1 - Fol: 0 e 2, Pf, Ma, Mi, Mj, Ss, TMV, TSWV, TYLCV, Va e Vd 110 Redondo 240 Vermelho
Rally F1 I Fol: 0,1, Pf, Ma, Mi, Mj, ToMV, TSWV, Va e Vd 110 Redondo 400 Vermelho
Serato F1 I Fol: 0,1, For, Ma, Mi, Mj, On, ToMV, TSWV, Va e Vd 110 Redondo 250 Vermelho
Tyson F1 I Fol: 0 e 2, TMV, TSWV, TYLCV, Va e Vd 106 Redondo 220 Vermelho
Vento F1 I Fol: 0 e 1, Lt, Ma, Mi, Mj, Pf, TMV, Va e Vd 110 Redondo 235 Vermelho
Apolo F1 D Fol: 1, Pf, ToMV, TYLCV, Va e Vd 110 - 475 Vermelho

EMPRESA: BlueSeeds

PLANTA FRUTO
HÍBRIDO/
CULTIVAR Háb. Ciclo Massa Cor da
Resistência Tipo
cresc.* (dias) Média casca
BS DS0060 D V:1, Fol: 1 e 2, Mi, TMV e TSWV Tardio 220 a 260 Vermelho
BS IS0002 I V:1, Fol: 1 e 2, Mi, TMV e TYLCM Precoce 210 a 230 Vermelho
BS IS0003 I V:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, TMV e TYLCM Precoce 240 a 260 Vermelho
BS IS0008 I V:1, Fol: 1 e 2, Mi, TMV e TSWV Precoce 230 a 250 Vermelho
BS IS0035 I V:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, TMV e TYLCM Precoce 200 a 240 Vermelho
BS IS0082 I V:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, TMV, TSWV e TYLCM Médio 230 a 260 Vermelho
BS ISP0024 I V:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, TMV Médio 210 a 230 Pink
Ibatã I Fol: 1 e 2, Mi, TMV Precoce Longa vida 240 a 260 Vermelho
Jordana I V:1, Fol: 1 e 2, Fc, N, TMV e TSWV Tardio Longa vida 220 a 240 Vermelho
Pataxó I V:1, Fol: 1 e 2, Mi, TMV Médio 200 a 220 Vermelho
*Hab. cresc: Hábito de crescimento
1
Abreviações: Aal (Alternaria alternata f. sp. Lycopersici); As (Alternaria solani); PVY (Potato virus Y); CMV (Cucumber mosaic
virus); ToMV (Tomato mosaic virus); TYLCM (Tomato yellow leaf curl virus); TMV (Tobacco mosaic virus); PeMV (Pepper mottle
virus); TMV (Tobacco moisaic virus); TSWV (Tomato spotted wilt virus); TYLCV (Tomato yellow leaf curl virus); ToTV (Tomato
torrato virus); P (Pseudomonas); Pc (Phytophthora capsici); Pp (Phytophthora paraitica); Pst (Pseudomonas syringae pv. Tomato);
Fol 1, 2 e 3 (Fusarium oxysporum f. sp. Lycopersici raças 1, 2 e 2); Fc (Fusarium crown); Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5 (Cladosporium fulvum
raças Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5); V (Verticillium); ( Vd (Verticillium dahliae); Va (Verticillium albo-atrum); Mi (Meloidogyne incognita);
Mj (Meloidogyne javanica); Ma (Meloidogyne arenaria); Ss (Stemphyllium solani); Si (Silvering); Sbl (Stemphylium botryosum
f. sp. Lycopersici); Sl (Stemphylium lycopersici); Xc (Xanthomonas campestris); Xcv (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria);
On (Oidium lycopersicum (novo Oidium neolycopersic)); Lt (Leveillula taurica); D (Determinado); I (Indeterminado).

22
1.4. Grupo Caqui
Dentre seus aspectos característicos, destacamos o fato de o fruto ser plurilocular; de ta-
manho graúdo, com até 700g; formato globular achatado; consistência mole; textura inferior
aos demais grupos varietais, e, na sua maioria, apresenta coloração vermelha. Pode apresentar
diferentes colorações, como amarelo e roxo (Figura 6), apesar de serem incomuns nos centros
de comercialização no Brasil.
Popularmente conhecida em algumas regiões como Maçã, Tomatão ou Tomate Gaúcho, a
planta deste grupo é de crescimento indeterminado, requerendo maior intensidade em tratos
culturais, especialmente pela fragilidade do fruto, em termos de manuseio (EMBRAPA, 2020). Mais
sensíveis ao transporte e manuseio inadequados, em virtude do tamanho, são também mais sus-
cetíveis a anomalias fisiológicas graves. De acordo com Filgueira (2007), o fruto alcança maior
valor de mercado pela qualidade gustativa e menor escala de produção, sendo utilizado exclusi-
vamente em salada, para fins de consumo.
TABELA 3 – Genótipos comerciais de sementes de tomate, do grupo varietal Caqui
EMPRESA: BlueSeeds
PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Massa Cor da
Resistência Tipo
cresc.* (dias) média(g) casca
BS IEG0047 D Fol:1 e 2, N, TMV, TSWV e TYLCM1 Médio Caqui 600 a 1000 Vermelho
BS IU0025 I V:1, Fol: 1, 2 e 3, TMV, TSWV e TYLCM Médio UGLY 300 a 500 Vermelho
Supremo R I V: 1, Fol: 1 e 2, Mi, TMV, TSWV e TYLCM Médio Caqui 600 a 1000 Vermelho
Yapussú I V:1, Fol:1 e 2, Mi, TMV, TSWV e TYLCM Médio Caqui 600 a 800 Vermelho
*Hab. cresc: Hábito de crescimento
1
Abreviações: Aal (Alternaria alternata f. sp. Lycopersici); As (Alternaria solani); PVY (Potato virus Y); CMV (Cucumber mosaic
virus); ToMV (Tomato mosaic virus); TYLCM (Tomato yellow leaf curl virus); TMV (Tobacco mosaic virus); PeMV (Pepper mottle
virus); TMV (Tobacco moisaic virus); TSWV (Tomato spotted wilt virus); TYLCV (Tomato yellow leaf curl virus); ToTV (Tomato
torrato virus); P (Pseudomonas); Pc (Phytophthora capsici); Pp (Phytophthora paraitica); Pst (Pseudomonas syringae pv. Tomato);
Fol 1, 2 e 3 (Fusarium oxysporum f. sp. Lycopersici raças 1, 2 e 2); Fc (Fusarium crown); Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5 (Cladosporium fulvum
raças Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5); V (Verticillium); ( Vd (Verticillium dahliae); Va (Verticillium albo-atrum); Mi (Meloidogyne incognita);
Mj (Meloidogyne javanica); Ma (Meloidogyne arenaria); Ss (Stemphyllium solani); Si (Silvering); Sbl (Stemphylium botryosum
f. sp. Lycopersici); Sl (Stemphylium lycopersici); Xc (Xanthomonas campestris); Xcv (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria);
On (Oidium lycopersicum (novo Oidium neolycopersic)); Lt (Leveillula taurica); D (Determinado); I (Indeterminado).

Figura 6. Variedade de tomate do grupo Caqui, fruto plurilocular, com coloração roxa
Foto: Mariana Vieira Nascimento

23
1.5. Grupo Saladete (Italiano)
Verifica-se como características deste grupo a polpa espessa, biloculares ou triloculares, com
formato alongado (diâmetro longitudinal maior que o transversal) e cor vermelha, assemelhan-
do-se ao tomate para indústria. Algumas cultivares são pontiagudas (Figura 7). Estão disponíveis
híbridos de hábitos de crescimento determinado e indeterminado, que podem ser cultivados tan-
to em campo aberto quanto em ambiente protegido. São considerados a mais nova cultivar no
mercado para mesa, com alta competitividade com o grupo salada, angariando a preferência do
consumidor. Os híbridos apresentam alto potencial produtivo e valor agregado em sua produção,
além de terem se destacado devido ao sabor adocicado e aroma agradável. Oferecem múltiplas
possibilidades de uso culinário (salada, molhos ou tomate seco).

A B

Figura 7. Híbridos de tomate do grupo Saladete, Totalle (A) e Guará (B)


Fotos: Raquel Cintra de Faria

TABELA 4 – Genótipos comerciais de sementes de tomate, do grupo varietal Saladete


EMPRESA: Sakata
PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Tipo Cor da
Resistência Massa
cresc.* (dias) Média (g) casca
Tyna I Vd:1, Fol:1 e 2, Pst, Mi:1, 2, 3 e 4 e Mj e ToSRV1 105 Longa vida 190 Vermelho
Giuliana I Vd: 1, Fol:1, Mi:1, 2, 3 e 4 e Mj 105 Longa vida 210 Vermelho
Ravena I Vd:1, Fol:1, 2 e 3, Mi:1, 2, 3 e 4, e Mj e Ss, TSWV 110 Longa vida 200 Vermelho
Grazianni I Vd: 1, Fol:1, 2 e 3, ToMV estirpe Tm1, TSWV e ToSRV 115 Longa vida 190 Vermelho
Matinella I Vd:1, Fol:1 e 2, Mi:1, 2, 3 e 4 e Mj - Oval/alongado 200 Vermelho
(Continua)

24
TABELA 4 – Genótipos comerciais de sementes de tomate, do grupo varietal Saladete (Continuação)
EMPRESA: Sakata
PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Tipo Cor da
Resistência Massa
cresc.* (dias) Média (g) casca
Mariana I Vd 1, Fol 1 e 2, Mi:1, 2, 3 e 4, Mj, Ss e As - - 190 Vermelho
Milagros I Vd:1, Fol:1 e 2, Mi:1, 2, 3 e 4, Mj e As, TSWV - - 115 Vermelho
Mariaty I Vd: 1, Fol: 1 e 2, Mi: 1, 2, 3 e 4, Mj e Ss; ToSRV - - 170 Vermelho
Jamacaru I Vd:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi:1, 2, 3 e 4, Mj, Ss, Pst e ToMV. - - 190 Vermelho

EMPRESA: Horticeres
PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Tipo
Resistência Massa Cor da casca
cresc.* (dias) Média (g)
HS 1188 I Fol: 1, 2 e 3, ToMV, Va 100-120 Alongado 140 a 170 Vermelho intenso
Tomate Italiano I -
Tomate Híb.
D TYLCV, Mi, Va, Vd, Fol:1 e 2 - - - Vermelho intenso
Vitalino

EMPRESA: Seminis (Bayer)


PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Tipo
Resistência Massa Cor da casca
cresc.* (dias) Média (g)
SM16 D Aal, Fol: 1 e 2, Sbl/Sl/Ss, Va, Vd: 1; Pst: 0, Ma, Mi, Mj 105-115 Pera 140 a 160 Vermelho
SV2333TJ I ToMV: 0 e 2, Fol:1 e 2, Sbl/Sl/Ss, Va, Vd: 1, TYLCV - - 160 a 180 Vermelho intenso
TY 2006 D ToMV: 0 e 2, Aal, Fol: 0, Sbl/Sl/Ss, Va, Vd: 0; TYLCV; Ma; Mi; Mj 95-110 - 180 Vermelho

EMPRESA: Syngenta
PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Tipo
Resistência Massa Cor da casca
cresc.* (dias) Média (g)
Caniati - TSWV, TMV, Fol: 1 e 2, V: A e D, Mi 97 Longa Vida 110 Vermelho Intenso
Gênova - TSWV, TYLCV, Fol: 1, 2 e 3, V: A e D, TMV e TOMV 105 Longa Vida 120 Vermelho Intenso
(Continua)

25
TABELA 4 – Genótipos comerciais de sementes de tomate, do grupo varietal Saladete (Continuação)

EMPRESA: Topseed (agristar)


PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Tipo Cor da
Resistência Massa
cresc.* (dias) Média (g) casca
Imola F1 I Fol: 0 e 2, Mi, ToMV, TYLCV, Va e Vd 110 Italiano 200 Vermelho
Milão F1 I Fol: 0 e 2, N, ToMV, TYLCV, TSWV, Va e Vd 107 Italiano 175 Vermelho
Candieiro F1 D Fol: 0 e 1, Ma, Mi, Mj, ToMV, TSWV, TYLCV, Va e Vd 105 Italiano 160 Vermelho
Vermelho
Lampião F1 D Fol: 0 e 2, N ToMV, TYLCV, Va e Vd 106 - 170
intenso

EMPRESA: BlueSeeds
PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Tipo Cor da
Resistência Massa
cresc.* (dias) Média (g) casca
BSDI001 D V:1, Fol: 1, 2 e 3, TSWV, TYLCM Médio Italiano 160 a 180 Vermelho
BSDI0021 D V:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi e TSWV 140 a 160
BS DI0037 D V: 1, F: 1, 2 e 3, N, Pst, TSWV e TYLCM Médio Saladete 160 a 180 Vermelho
BS DI0038 D V: 1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, Pst, TMV, TSWV e TYLCM Médio Saladete 160 a 180 Vermelho
BS DI0083 D V:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, TSWV e TYLCM e Pst Médio Saladete 180 a 220 Vermelho
BS DIA0026 D V: 1, Fol: 1 e 2 e Fc. Precoce Italiano 180 a 220 Amarelo

EMPRESA: BlueSeeds
PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Tipo Cor da
Resistência Massa
cresc.* (dias) Média (g) casca
BS II0004 I V: 1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, TMV e TYLCM Tardio Italiano 180 a 220 Vermelho
BS II0011 I V: 1, Fol:1, 2 e 3, Mi, Pst TMV, TSWV e TYLCM Médio Saladete 180 a 220 Vermelho
BS II0012 I V:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, Pst, TMV, TSWV e TYLCM Médio Saladete 180 a 220 Vermelho
BS II0019 I V:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, Pst, TMV, TSWV e TYLCM Médio Saladete 170 a 180 Vermelho
BS II0020 I V:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, Pst, TMV, TSWV e TYLCM Médio Saladete 170 a 180 Vermelho
Caeté D V: 1, Fol: 1 e 2, TMV, TSWV e TYLCM Precoce Saladete 200 a 220 Vermelho
Guacá I V:1, Fol: 1 e 2, Mi, Pst e TMV Médio Saladete 180 a 200 Vermelho
Kaiapó I V:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, TSWV e TYLCM Médio Italiano 200 a 220 Vermelho
Kátia D V: 1, Fol: 1 e 2 e Pst Médio Italiano 160 a 180 Vermelho

26
TABELA 4 – Genótipos comerciais de sementes de tomate, do grupo varietal Saladete (Continuação)

EMPRESA: BlueSeeds
PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Tipo Cor da
Resistência Ciclo (dias) Massa
cresc.* Média (g) casca
Netuno I V:1,Fol: 1 e 2, Mi e TMV Tardio longa vida Italiano/ 160 a 180 Vermelho
Plutão I V:1, Fol: 1 e 2, Mi e TMV Médio longa vida Italiano/ 210 a 230 Vermelho
Saturno I V: 1, Fol: 1 e 2, Mi e TMV Precoce Saladete 180 a 220 Vermelho
Vênus D V:1, Fol: 1, 2 e 3, Mi, TMV e TSWV Médio Italiano 200 a 230 Vermelho
*Hab. cresc: Hábito de crescimento
1
Abreviações: Aal (Alternaria alternata f. sp. Lycopersici); As (Alternaria solani); PVY (Potato virus Y); CMV (Cucumber mosaic
virus); ToMV (Tomato mosaic virus); TYLCM (Tomato yellow leaf curl virus); TMV (Tobacco mosaic virus); PeMV (Pepper mottle
virus); TMV (Tobacco moisaic virus); TSWV (Tomato spotted wilt virus); TYLCV (Tomato yellow leaf curl virus); ToTV (Tomato
torrato virus); P (Pseudomonas); Pc (Phytophthora capsici); Pp (Phytophthora paraitica); Pst (Pseudomonas syringae pv. Tomato);
Fol 1, 2 e 3 (Fusarium oxysporum f. sp. Lycopersici raças 1, 2 e 2); Fc (Fusarium crown); Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5 (Cladosporium fulvum
raças Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5); V (Verticillium); ( Vd (Verticillium dahliae); Va (Verticillium albo-atrum); Mi (Meloidogyne incognita);
Mj (Meloidogyne javanica); Ma (Meloidogyne arenaria); Ss (Stemphyllium solani); Si (Silvering); Sbl (Stemphylium botryosum
f. sp. Lycopersici); Sl (Stemphylium lycopersici); Xc (Xanthomonas campestris); Xcv (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria);
On (Oidium lycopersicum (novo Oidium neolycopersic)); Lt (Leveillula taurica); D (Determinado); I (Indeterminado).

1.6. Grupo Minitomate (Cereja)


O grupo Cereja pode ser igualmente denominado de Minitomate, pelo tamanho reduzido dos
frutos, com massa média de 10 a 50g, biloculares ou triloculares e uma grande diversidade de
formatos e cores (Figuras 8 a 10). Atualmente, encontram-se materiais distintos do tomate ce-
reja tradicional, quanto a formato e coloração, o que viabiliza o uso da nomenclatura “mini”. São
disseminados e cultivados em diferentes regiões do planeta.

Figura 8. Variabilidade de tomate dentro do grupo varietal Minitomate


Foto: Raquel Cintra de Faria

O plantio de minitomates é um nicho de mercado. As produções em escala comercial, na


grande maioria, são sob cultivo protegido. Os híbridos comerciais apresentam elevada produti-
vidade, com mais de 20 frutos por penca. No Brasil, o formato alongado e a coloração vermelho
intenso, com peso médio de 10 a 20g detém o mercado. O custo de produção é mais elevado,
com alta tecnologia no controle de irrigação e aplicação de fertilizantes e agrotóxicos. Atual-
mente, os frutos podem ser comercializados também na forma de pencas - um atrativo visual
para os consumidores de todas as idades.

27
A utilização dos minitomates abrange uma culinária requintada; são considerados um produto
gourmet. Os frutos são mais adocicados e têm alto teor de sólidos solúveis do que aqueles dos
demais grupos. Podem ser consumidos como fruta, tira-gosto, saladas, molhos e como acompa-
nhamento em pratos finos. Quando o assunto é diversidade de cores, podem ser encontrados de
coloração vermelha, amarela, roxa, marrom, rosa e alaranjada, quando maduros. Quanto ao for-
mato, alguns se assemelham à pera e pitanga, podendo ser ainda redondos, alongados, ovoides,
obovoides e periformes (NICK; SILVA & BORÉM, 2018).

Figura 9. Variedades de tomate do grupo Minitomate: Pera amarelo (A); Sweet Heaven (B); BPV (C) e Roxo
(D)
Fotos: Raquel Cintra de Faria

A B

Figura 10. Frutos de tomate do grupo Minitomate da variedade Pera Amarelo (A) e Vermelho (B)
Fotos: Raquel Cintra de Faria

28
TABELA 5. Genótipos comerciais de sementes de tomate do grupo varietal Minitomate
EMPRESA: Sakata
PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Massa
Resistência Tipo Cor da casca
cresc.* (dias) média (g)
Sweet Dreams I Vd: 1, Fol: 1 e 2, ToMV estirpe Tm11 - Cherry 20 -
Sweet Italian I Vd: 1, Fol: 1 e 2 e ToMV estirpe Tm1 - - 60 Vermelho intenso
Sweet Heaven I Fol: 1, ToMV estirpe Tm1 e Ss 90 - 15 Vermelho

EMPRESA: Horticeres
PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Massa Cor da
Resistência Tipo
cresc.* (dias) média (g) casca
Cereja Vermelho D - 20 Vermelho
Red Sugar I TMV, V, Fol: 1 e 2 e Mi - Alongado 20 Vermelho
Bubble Candy I TMV, V, Fol: 1, 2 - Alongado (Grape) 15 Vermelho
Penca Rita DRC 107 I TMV, Ff 0-5, V, Fol: 1 e 2 - Arredondado 20 Vermelho

EMPRESA: Seminis (Bayer)

PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Massa
Resistência Tipo Cor da casca
cresc.* (dias) média(g)
Cupido I TMV: 0 e 2, Fol: 1 e 3, VA, Vd: 1; Ma; Mi; Mj. 75 a 80 Grape 12-15 Vermelho
DRC 564 I ToMV: 0 e 2, TSWV, Fol: 0 e 1, VA, Vd: 0; Ma; Mi; Mj. - Cocktail 18-22 Vermelho
DSC2015 I ToMV: 0 e 2, Aal: A e E, Fol:1 e 2, Pst: 0 - Grape 14-16 Vermelho
Santawest I Fol; TYLCV - Grape 15-20 Vermelho intenso

EMPRESA: BlueSeeds

PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Massa Cor da
Resistência Tipo
cresc.* (dias) média (g) casca
Abiru D Fol:1 e 2. Precoce Grape 20 a 24 Vermelho
BSDCR0028 D V:1, Fol:1 e 2, Mi, TMV e TYLCM Precoce Cereja 20 a 24 Vermelho
BSDGR0017 D V: 1, Fol:1 e 2, TSWV e TYLCM Precoce Grape 22 a 26 Vermelho
BSDGR0022 D V:1, Fol: 1 e TMV. Precoce Grape 25 a 35 Vermelho
BS IGR0023 I V:1, Fol: 1, Pst, TMV e TSWV Precoce Grape 26 a 32 Vermelho
BS IGR0048 I - Precoce Grape 10 a 18 -
BS IGR0049 I V:1 e Fol: 1 Precoce Grape 14 a 22 -
Baby Italiano I V:1, Fol: 1 e 2, Mi e TMV Precoce Italiano 60 a 80 Vermelho
Essaí I V: 1, Fol:1 e TMV Precoce Cereja 25 a 30 Alaranjado
Guaraci I Fol:1 e TMV Precoce Grape 28 a 32 Vermelho
(Continua)

29
TABELA 5. Genótipos comerciais de sementes de tomate do grupo varietal Minitomate (Continuação)
EMPRESA: BlueSeeds

PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Massa Cor da
Resistência Tipo
cresc.* (dias) média (g) casca
Iraí D Fol: 1 Precoce Grape 20 a 26 Amarelo
BS IGR0023 I Fol: 1 e TMV Precoce Grape 26 a 30 Vermelho
Pori I Fol: 1 e TMV Precoce Cereja 24 a 28 Vermelho
Upyra I V:1, Fol: 1 e 2, Mi e TMV Precoce Grape 24 a 30 Alaranjado
Ytaí I V: 1, Fol: 1 e 2, Mi e TMV Precoce Cereja 18 a 22 Vermelho
Yuti D V: 1 e Fol:1 e 2. Precoce Cereja 22 a 26 Amarelo
*Hab. cresc: Hábito de crescimento
1
Abreviações: Aal (Alternaria alternata f. sp. lycopersici); As (Alternaria solani); PVY (Potato virus Y); CMV (Cucumber mosaic
virus); ToMV (Tomato mosaic virus); TYLCM (Tomato yellow leaf curl virus); TMV (Tobacco mosaic virus); PeMV (Pepper mottle
virus); TMV (Tobacco moisaic virus); TSWV (Tomato spotted wilt virus); TYLCV (Tomato yellow leaf curl virus); ToTV (Tomato
torrato virus); P (Pseudomonas); Pc (Phytophthora capsici); Pp (Phytophthora paraitica); Pst (Pseudomonas syringae pv. Tomato);
Fol 1, 2 e 3 (Fusarium oxysporum f. sp. Lycopersici raças 1, 2 e 2); Fc (Fusarium crown); Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5 (Cladosporium fulvum
raças Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5); V (Verticillium); ( Vd (Verticillium dahliae); Va (Verticillium albo-atrum); Mi (Meloidogyne incognita);
Mj (Meloidogyne javanica); Ma (Meloidogyne arenaria); Ss (Stemphyllium solani); Si (Silvering); Sbl (Stemphylium botryosum
f. sp. Lycopersici); Sl (Stemphylium lycopersici); Xc (Xanthomonas campestris); Xcv (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria);
On (Oidium lycopersicum (novo Oidium neolycopersic)); Lt (Leveillula taurica); D (Determinado); I (Indeterminado).

1.7. Grupo Industrial


As plantas que se enquadram neste grupo têm sua arquitetura características distintas das
apresentadas nos grupos anteriores. Isso porque apresentam hábito de crescimento determinado,
maior ramificação e menor porte, o que, por sua vez, dispensa a adoção de poda, amarrio e tuto-
ramento, possibilitando menor custo de produção. As cultivares deste grupo são predominante-
mente destinadas para fins de processamento, demandando que os frutos sejam mais firmes, para
suportar as operações mecanizadas de campo e o transporte a granel. O peso médio dos frutos
varia entre 70 e 80g, com adequado teor de ácido cítrico, em detrimento do elevado teor de sólido
solúvel - características necessárias para o maior rendimento na agroindústria.
Os frutos têm coloração vermelha intensa, e dois tipos de formato, sendo piriforme e oblongo,
com destaque atualmente para cultivares híbridas em formato oblongo. Têm-se verificado ainda,
a introdução no mercado de híbridos com frutos biloculares e forma oblongo-alongado, de favo-
rável aceitação no mercado para consumo fresco em algumas regiões do país (FILGUEIRA, 2007).

TABELA 6 – Genótipos comerciais de sementes de tomate, do grupo varietal industrial

EMPRESA: Horticeres

Híbrido/ PLANTA FRUTO


Cultivar Háb. cresc.* Resistência Ciclo (dias) Tipo Massa média (g) Cor da casca
Saladete Determinado D - Achatado 100 Vermelho
(Continua)

30
TABELA 6 – Genótipos comerciais de sementes de tomate, do grupo varietal industrial (Continuação)

EMPRESA: Seminis (Bayer)


PLANTA FRUTO
Híbrido/
Cultivar Háb. Ciclo Massa Cor da
Resistência Tipo
cresc.* (dias) média (g) casca
AP529 D Aal, Fol: 1 e 2, Sbl, Ss, Va,Vd: 11 120 Pera 120 a 130 Vermelho
AP533 D Aal, Fol: 1 e 2, Sbl, Ss, Va, Vd: 3 Pst: 0, Xc: 1 e Ma, Mi, Mj 125 a 130 Pera 120 a 130 Vermelho

EMPRESA: BlueSeeds

Híbrido/ PLANTA FRUTO


Cultivar Háb. cresc.* Resistência Ciclo (dias) Tipo Massa média (g) Cor da casca
BA5630 D V, Fol:1 e 2 e Mi, Pst e Xc 110 a 115 75 a 85 Vermelho
BSP0031 D V, Fol: 1, 2 e 3, Mi e TSWV, Pst e Xc. 115 a 120 80 a 85 Vermelho
BSP0032 D Pst e Xc, V, Fol: 1 e 2, Mi e TSWV 110 a 115 95 a 110 Vermelho
BSP0033 D V, Fol: 1 e 2, Mi e TSWV, Pst e Xc. 115 a 125 90 a 110 Vermelho
BSP0034 D V, Fol: 1 e 2, Mi e TSWV, TYLCV, PsT e Xc. 115 a 125 110 a 120 Vermelho
BSP0086 D V, Fol: 1 e 2, Mi e TSWV, PsT e Xc. 115 a 120 85 a 90 Vermelho
BSP0087 D V, Fol: 1, 2 e 3, Mi e TSWV, P, Xc, Xcv 120 a130 90 a 95 Vermelho
BSP0088 D V, Fol: 1 e 2, Mi e TSWV, P, Xc e Xcv 110 a 120 90 a 95 Vermelho
BSP0089 D V, Fol: 1 e 2, Mi, TSWV e TYLCV, P, Xc e Xcv 115 a 125 85 a 90 Vermelho
F0574 D V, Fol: 1 e 2, Mi e TSWV 115 a 120 85 a 90 Vermelho
*Hab. cresc: Hábito de crescimento
1
Abreviações: Aal (Alternaria alternata f. sp. Lycopersici); As (Alternaria solani); PVY (Potato virus Y); CMV (Cucumber mosaic
virus); ToMV (Tomato mosaic virus); TYLCM (Tomato yellow leaf curl virus); TMV (Tobacco mosaic virus); PeMV (Pepper mottle
virus); TMV (Tobacco moisaic virus); TSWV (Tomato spotted wilt virus); TYLCV (Tomato yellow leaf curl virus); ToTV (Tomato
torrato virus); P (Pseudomonas); Pc (Phytophthora capsici); Pp (Phytophthora paraitica); Pst (Pseudomonas syringae pv. Tomato);
Fol 1, 2 e 3 (Fusarium oxysporum f. sp. Lycopersici raças 1, 2 e 2); Fc (Fusarium crown); Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5 (Cladosporium fulvum
raças Ff 0, 1, 2, 3, 4 e 5); V (Verticillium); ( Vd (Verticillium dahliae); Va (Verticillium albo-atrum); Mi (Meloidogyne incognita);
Mj (Meloidogyne javanica); Ma (Meloidogyne arenaria); Ss (Stemphyllium solani); Si (Silvering); Sbl (Stemphylium botryosum
f. sp. Lycopersici); Sl (Stemphylium lycopersici); Xc (Xanthomonas campestris); Xcv (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria);
On (Oidium lycopersicum (novo Oidium neolycopersic)); Lt (Leveillula taurica); D (Determinado); I (Indeterminado).

Cabe mencionar que o mercado de sementes é dinâmico, pautado na pesquisa e desenvol-


vimento de materiais que atendam às demandas dos produtores, ao mesmo tempo em que res-
guarde os atributos apreciados pelos consumidores, com grande competitividade e diversidade
de portfólio. Assim, por meio dos programas de melhoramento, busca-se obter maior resistência
a pragas e doenças; maior produtividade por planta; adaptabilidade às diferentes regiões do país,
e aumento da “vida de prateleira” dos frutos. Verifica-se, ainda, o lançamento de variedades com
formato, tamanho, coloração e sabor diferenciados, considerados produtos gourmet.

31
2. Referências
ALVARENGA, F.A.R. Tomate: produção em campo, em casa de vegetação e em hidroponia.
Lavras: Editora UFLA, 2004, 400p.
ALVARENGA, F.A.R. Tomate: produção em campo, em casa de vegetação e hidroponia. 2ª ed.
rev. e ampl., Lavras: Editora Universitária de Lavras, 2013, 455p.
CARMO, C.A.S.; CALIMAN, L.F. Clima, época de plantio e cultivar. Instituto Capixaba de Pesquisa,
Assistência Técnica e Extensão Rural, Tomate. Vitória: INCAPER, 2010, 67p.
CEAGESP - Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo. Tomate: Guia de
identificação Solanum lycopersicum L. Disponível em: <http://www.ceagesp.gov.br/
entrepostos/servicos-entrepostagem/hortiescolha/tomate/>. Acesso em: 27 fev. 2021.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Levantamento Sistemático da
Produção Agrícola - LSPA. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema IBGE de
Recuperação Automática – SIDRA. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/home/lspa/
brasil. Acesso em: 20 set. 2020.
FILGUEIRA, F.A.R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na
produção de hortaliças. 3ª ed., Viçosa: Ed. UFV, 2007, 422p.
MELO, P.C.T. de. Desenvolvimento tecnológico para cultivo de tomateiro de mesa em condições
agroecológicas tropicais e subtropicais. Tese de Livre Docência. Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz. Piracicaba, 2017. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/livredocencia/11/tde-30012017-150140/pt-br.php>. Acesso em: 5 abr. 2020.
MINAMI, K.; MELLO, S.C. Fisiologia e nutrição do tomateiro. Curitiba: SENAR AR/PR, 2017, 1200p.
NICK, C.; SILVA, D.J.H.; BORÉM, A. Tomate: do plantio à colheita. Viçosa, Ed. UFV, 2018, 237p.

32
3
3. Produção de mudas
Marçal Henrique Amici Jorge1 e Raphael Augusto de Castro e Melo1
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Centro Nacional de Pesquisa de
1

Hortaliças [email protected]; [email protected].

1. Introdução
A área cultivada com tomate no Brasil, em 2018, foi de 59.726 hectares com uma produção de
4.084.910 de toneladas (IBGE/LSPA, 2019). Para que a PI de tomate seja efetivada nas diferentes re-
giões, a qualidade das mudas é um fator primordial no processo produtivo. Como exemplo de sua
importância na cadeia de valor dessa hortaliça, em 2016, houve um faturamento total de US$18,68
milhões apenas com a produção de mudas, além de US$60,51 milhões com sementes de tomate
para mesa (CNA, 2017). Trata-se de uma atividade de caráter altamente técnico, realizada por vivei-
ristas que atuam como fornecedores de plântulas com elevado padrão fisiológico e sanitário, que se
torna cada dia mais evidentes (Figura 1). Nesse aspecto, os insumos utilizados e o manejo adotado
são decisivos para o sucesso dessa etapa que antecede a produção no campo (Jorge et al., 2016).

A B

Figura 1. Produção de mudas de tomate. Vista das mudas em bandejas (A). Detalhe de barra de irrigação em funcionamento
(B)
Fotos: Marçal H. A. Jorge

2. Aspectos técnicos da produção de mudas de tomate


Um viveiro profissional que atenda às necessidades técnicas e ao que rege a legislação vigente
deve contar com um conjunto de estruturas e equipamentos (Figura 2). Cada uma dessas catego-
rias varia grandemente em função da localização geográfica, nível tecnológico adotado/dispo-

33
nível e escala de produção. Ao se estabelecer um novo empreendimento associado à produção
integrada (PI), recomenda-se aos responsáveis técnicos o planejamento detalhado desses compo-
nentes, conforme consta em Lima et al. (2016).
A B C

Figura 2. Estrutura de um viveiro comercial de produção de mudas de tomate. Escritório (A). Trator
empilhador em parte externa aos telados (B). Galpão para semeadura (C)
Fotos: Marçal H. A. Jorge

3. Qualidade da água
A qualidade da água impacta sobremaneira o desenvolvimento das plantas, especialmente
quando em sistemas sem solo (substrato e, certamente, é um dos insumos mais críticos da produ-
ção em viveiros (Ingram, 2014a).

Õ Fontes de água superficiais, como rios, córregos, açudes ou reservatórios pluvio-


sos, não são recomendadas para a produção de mudas. É indicado, portanto, o
uso de poços semiartesianos que utilizam água subterrânea (Lima et al., 2016).

Os riscos de utilização de águas e sua contaminação requerem cuidados referentes aos indica-
dores de qualidade, amostragem para análise, classificação e medidas de tratamento (Marouelli
et al., 2014). Alguns dos parâmetros analisados rotineiramente por laboratórios, suas unidades e
valores normais são apresentados na Tabela 1.

TABELA 1. Principais parâmetros utilizados na avaliação da qualidade da água para irrigação


PARÂMETRO SÍMBOLO UNIDADE VALORES NORMAIS
Salinidade (teor de sais)
Condutividade elétrica CEa dS m-1 (25ºC) 0-3
Sais dissolvidos totais SDT mg L-1
0 - 2000
Cátions e ânions
Cálcio Ca++ mmolcL-1 0 - 20
Magnesio Mg ++
mmolcL -1
0-5
(Continua)

34
TABELA 1. Principais parâmetros utilizados na avaliação da qualidade da água para irrigação
(Continuação)
PARÂMETRO SÍMBOLO UNIDADE VALORES NORMAIS
Sódio Na+ mmolcL-1 0 - 40
Cloreto Cl- mmolcL-1 0 - 30
Sulfato SO4- mmolcL-1 0 - 20
Carbonato CO3- mmolcL-1 0 - 0,1
Bicarbonato HCO3- mmolcL-1 0 - 10
Nutrientes
Nitrogênio - Nitrato N-NO3- mgL-1 0 - 10
Nitrogênio - Amônio NNH4+ mgL-1 0-5
Fósforo - Fosfato P-PO43- mgL-1 0-1
Potássio K+ mgL-1 0-2
Outros
Acidez Ph - 6,0 - 8,0
Boro B mgL-1 0-2
Relação de adsorção de sódio RASº (mmolcL-1) 0 - 15
¹Fonte: Amorim et al (2008); UCCC (1974); Ayers e Westcot (1994). dS m (deciSiemens por metros) = mmho
-1

cm-1; mg L-1 miligramas por litro) = partes por milhão (ppm), mmolL-1 (milimol carga por litro) = meq L-1
(miliequivalente por litro). 2N-NO3- significa que se deve determinar o NO3- e expressá-lo como equivalente químico
do N. Analogamente para N-NH4+ se determinará o NH4+ e expressá-lo na forma de equivalente químico de N
elementar. O mesmo procedimento deve ser utilizado para expressar o Fósforo. Fonte: Holanda et al. (2016)

Em sistemas de irrigação localizada, como na produção de mudas de tomate em pequenos


vasos (“mudão”), é necessária a atenção quanto a alguns parâmetros e inclusão de outros. Os rela-
cionados à salinidade devem ser manejados, prevenindo-se quanto ao entupimento de emissores
(Holanda et al., 2016). Alguns parâmetros químicos da água são detalhados por Ingram (2014b) e
podem ser utilizados como referência para manejo.
A contaminação física da água com areia, restos vegetais, insetos, entre outros, pode ser eli-
minada pela filtração, realizada antes de sua colocação em reservatórios. Quando houver conta-
minação biológica, deve-se utilizar a cloração, adicionando de 5 mg L-1 a 20 mg L-1 de cloro ativo,
por meio de bombeamento por dispositivo do tipo venturi ou bombas injetoras pneumáticas, o
que auxiliará na precipitação de Fe+2 e Mn antes da filtragem (Testezlaf, 2009). Isso implica no uso
de pelo menos dois reservatórios (Figura 3): um com a água a ser tratada e outro que a receberá
após tratamento. Não é recomendada a cloração diretamente no local de captação, por risco de
contaminação ambiental (Lima et al., 2016).

35
A B

Figura 3. Armazenamento de água captada para suprimento de um viveiro de produção de mudas de tomate (A e B)
Fotos: Marçal H. A. Jorge

4. Qualidade do substrato
As condições físicas e químicas do substrato devem prover adequado armazenamento de
água e nutrientes para as plantas, enquanto mantém boa aeração (Maher et al., 2009). Substratos
diversos devem apresentar estabilidade de comportamento para seu manejo, permitir armazena-
mento (Figura 4), ter pouca atividade biológica, ser previsíveis quanto à dinâmica de nutrientes, à
ausência de pragas, às sementes de plantas daninhas, aos agentes patogênicos e de substâncias
inibidoras de crescimento ou prejudiciais às plantas (Furlani, 2015).

A B

Figura 4. Galpões de armazenamento de substrato adequados em viveiros de produção de mudas de tomate (A e B)


Fotos: Marçal H. A. Jorge

36
Ì
SAIBA MAIS: As definições e normas sobre as especificações e as garantias, as tolerâncias, o registro,
a embalagem e a rotulagem dos substratos para plantas constam da Instrução Normativa n.º 14 (IN
n.º 14), de 15 de dezembro de 2004 (BRASIL, 2004). Você pode acessar Essa IN, na íntegra, pelo link:
https://abcsem.com.br/upload/arquivos/IN_14_-_2004%281%29.pdf

Õ No Brasil, os substratos mais utilizados para a produção de mudas de tomate são


constituídos basicamente por dois tipos de materiais vegetais: a fibra de coco e
a casca de pinus, resultantes do aproveitamento de resíduos da indústria ou de
subprodutos do consumo humano. A adição de outros materiais orgânicos ou mi-
nerais como turfa de esfagno, casca de arroz carbonizada, vermiculita, corretivos
e fertilizantes, em pequenas quantidades, auxilia na retenção de água, aeração,
poder tampão e disponibilidade inicial de nutrientes (Lima et al., 2016).

A escolha do substrato deve priorizar suas características físicas, em função do manejo de água
(capacidade de retenção – CRA - e aeração/porosidade), enquanto que suas características quími-
cas (pH e CE) são consideradas, levando-se em conta o manejo para fornecimento de nutrientes
em quantidades adequadas (nem insuficiência, nem excesso de nutrientes), especialmente nitro-
gênio, para evitar crescimento acima do padrão do viveiro e atender as necessidades do mercado
ao qual as mudas serão destinadas.
A CRA dos substratos comerciais utilizados para mudas de tomateiro no país varia de 60% a
200%. Dessa forma, os turnos ou calendário de irrigação devem estabelecer um equilíbrio entre a
água disponível para as plantas e o espaço de aeração para o desenvolvimento das raízes, evitan-
do reduzir a oxigenação e dificultar seu desenvolvimento.
Valores de pH do substrato considerados adequados para mudas de tomateiro variam de 5,6
a 6,2. Para a CE, a depender do método de extração, os valores podem variar de 0,9 mS cm-1 a 1.3
mS cm-1, pela metodologia da pasta saturada, e de 1,3 mS cm-1 a 2,0 mS cm-1 , com o método Pour-
-Thru (Torres et al., 2016; Whipker et al., 2018). Tais métodos, ainda que não oficiais, são utilizados
em outros países. Em pesquisas nacionais, apresentam boa correlação com o método 1:5 (v/v)
preconizado no âmbito da Instrução Normativa nº 17 do MAPA. A CE do método 1:5, obrigatória
no rótulo de substratos comerciais brasileiros, via de regra, varia de 0,5 mS cm-1 a 1,2 mS cm-1.

5. Qualidade das sementes


As sementes utilizadas na produção de mudas de tomate por viveiros especializados devem
apresentar qualidade satisfatória quanto aos atributos físicos, fisiológicos, sanitários e genéticos.
O somatório de todos esses atributos definirá a qualidade, relevante ao processo de produção de
mudas, bem como para o sucesso em campo. Lotes de sementes com elevada qualidade apresen-
tam altas taxas de germinação e emergência de plântulas normais (Figura 5), com estruturas de
parte aérea e raízes bem formadas, dentro dos padrões determinados pelos viveiristas.

37
A B

Figura 5. Detalhes do padrão de emergência de plântulas (A e B) e vista das mudas de tomate com
desenvolvimento uniforme em um viveiro comercial
Fotos: Marçal H. A. Jorge

Lotes de sementes contaminados por patógenos são um problema de ocorrência comum, mas
considerado de difícil detecção ou de medidas preventivas. Os mais frequentes são os fungos e
bactérias, que podem estar presentes tanto aderidos à superfície externa como em tecidos inter-
nos das sementes, ou mesmo misturados ao lote. As mudas contaminadas produzidas no viveiro
(caso não expressem sintomas, ou mesmo expressando, mas não sejam detectadas e descartadas)
trarão problemas no campo de produção e acarretarão prejuízos.

Õ
Ainda que na maioria dos casos, sementes sejam comercializadas com tratamen-
to químico visando fungos patogênicos, lotes devem ser guardados (amostra)
para análise posterior para acionamento/medidas cabíveis relativas às empresas.
A uniformidade dos lotes de mudas produzidas está diretamente relacionada à
qualidade das sementes. Lotes de sementes de qualidade indesejável já demons-
tram problemas na fase de emergência (em casos mais graves os problemas já
aparecem na germinação) e, na maioria dos casos, não há tempo hábil para corri-
gir as falhas com repicagens ou ressemeadura.

38
Os padrões de identidade e qualidade de comercialização são os estabelecidos pelo MAPA, por
meio do amparo legal da Lei 10.711 (de 5 de agosto de 2003), do Decreto 5.153 (de 23 de julho de
2004) e das Instruções Normativas números 9 (de 2 de junho de 2005), 24 (de 16 de dezembro de
2005), 25 (27 de junho de 2017) e 42 (de 17 de setembro de 2019). Informações de rótulo são de
fundamental importância para conhecimento das características da(s) cultivar(es) e tomadas de
decisões durante seu manejo, que se inicia na semeadura.

6. Recipientes (bandejas)
O sistema de produção de mudas de tomate amplamente utilizado por parte dos viveiros
especializados é o de bandejas multicelulares, pois facilitam sobremaneira a obtenção de lotes
de mudas com alta qualidade. O tipo de bandeja pode variar conforme as características do pro-
dutor de mudas e do demandante (produtor) (Figura 6), com volumes de célula normalmente
variando de 11 ml a 30 ml. Pode ser de plástico rígido ou flexível e células com geometria tra-
pezoidal, cônica ou cilíndrica.

A B

Figura 6. Pilhas de bandejas multicelulares descartáveis (A) e reutilizáveis (B) utilizadas na produção de
mudas de tomate
Fotos: Marçal H. A. Jorge

Há também a produção em recipientes de maior volume, no caso dos chamados mudões. Essa
diversidade de número e formatos de células reflete diretamente, tanto nas características e quan-
tidade de outros insumos (por exemplo, o substrato. Seu rendimento (enchimento) pode chegar a
uma diferença de 25%), como na quantidade de mudas produzidas no viveiro, que pode variar de
1.245 a 2.554 por m2, ou seja, uma diferença de mais de 50%.
A maioria dos viveiros que reutiliza suas bandejas tem estrutura própria de limpeza e de-
sinfecção, uma vez que a introdução de pragas e doenças, via bandejas retornadas, no vivei-
ro, é uma preocupação constante. Por isso, muitos viveiristas optam por bandejas descartáveis
justamente para eliminar este problema. Nesse caso, a estrutura de limpeza e desinfecção se torna
desnecessária, com economia de mão de obra, tempo e, principalmente, água.

39
7. Manejo fitossanitário
Vários fitopatógenos que causam doenças ao tomateiro podem estar presentes nas sementes
e, assim, serem transmitidos às mudas. Podem alcançar as mudas a partir de alguma fonte exter-
na, como também ocorrer em relação aos insetos-pragas. Dessa forma, para garantir a qualidade
sanitária das mudas, é imprescindível que haja um bom manejo de doenças e artrópodes-praga
nas diferentes etapas de produção (Koch; Menten, 2016; Cardoso et al., 2016).

Uma das medidas mais eficientes de controle é evitar a entrada do inóculo inicial da doença e de
insetos no viveiro. Nesse contexto, algumas medidas preventivas são práticas simples, mas efetivas num
processo integrado de manejo do viveiro, como:
• a restrição da entrada e trânsito na área de produção de mudas apenas aos trabalhadores;
• instalação de antecâmara para acesso ao viveiro;
• utilização de sementes e substratos isentos de patógenos;
• desinfecção de ferramentas e bandejas (com cloro ativo e produtos à base de ácidos/peróxidos,
geralmente diluídos em concentração que varia de 0,5% a 1,0%, para imersão das ferramentas
e bandejas);
• utilização de água de boa qualidade (de preferência, analisada para verificar a qualidade micro-
biológica);
• uso de telas antiafídeos para fechamento lateral de estruturas (como referência, a malha de
0,239 mm estabelecida pela Instrução Normativa nº 6 de 2011 da Agência Goiana de Defesa
Agropecuária - Agrodefesa);
• eliminação de plantas daninhas nas áreas do viveiro e externas;
• manuseio mínimo de mudas, com prévia higienização das mãos com água e sabão, seguido de
álcool, além da proibição de fumar (pela transmissão do vírus do mosaico do fumo – TMV);
• descarte adequado de bandejas, mudas e materiais passíveis de contaminação (Koch; Menten,
2016; McAvoy; Ozores-Hampton, 2019).

Por terem efeito mais rápido, agrotóxicos são comumente utilizados quando uma doença ou pra-
ga já está instalada e as medidas preventivas falham ou não são suficientes. A rotação de produtos,
com modos de ação e ingredientes ativos distintos, é importante para que não haja indução de resis-
tências e perda da sua eficácia ao longo do tempo. Muitos produtores, em função dessa conjuntura,
têm migrado para um uso racional combinando-os com produtos biológicos, que ganharam espaço
no mercado nos últimos anos, pela possibilidade de registro para um alvo determinado, por terem
rápida degradação, baixa fitotoxicidade e ação rápida (Koch; Menten, 2016).
Como exemplos de produtos com ampla adoção em viveiros, têm-se o fungo Trichoderma spp.
para controle biológicos de patógenos associados ao tombamento de mudas (damping-off), como
Rhizoctonia, Phytium, Fusarium e Sclerotinia; a liberação de parasitoides de ovos do gênero Tricho-
gramma e a aplicação de Bacillus thurigiensis para controle de lagartas; outros Bacilllus, como o B.
subtilis, B. puimilus e B. amyloliquefaciens para o controle de doenças; a Beauveria bassiana, que tem
ação sobre diversos insetos, e a aplicação/inundação de ácaros predadores junto ao material de co-
bertura das bandejas, tais como Stratiolaelaps scimitus para controle de fungus gnats (Bradysia spp.).

40
Em relação aos biológicos, em geral, estão limitados ao fornecimento por poucas empresas,
o que interfere em seu custo (que pode ser muito superior aos químicos em alguns casos). Além
disso, nem sempre atuam na eliminação total das pragas e doenças, mantendo-os em população
baixa ou em supressão (Koch; Menten, 2016).
Na produção de algumas espécies, tem-se o uso de técnicas/sistemas de amostragem e de ín-
dices populacionais para a tomada de decisão. Entretanto, mesmo com uma gama de armadilhas
(luminosas, adesivas, feromônios) e sensores (molhamento foliar, variáveis ambientais, entre ou-
tros), para a produção de mudas de tomateiro ainda não há critérios definidos ou regulamentados
por órgãos oficiais, apenas resultados de pesquisas pontuais. Assim, viveiros profissionais têm uti-
lizado um conjunto de procedimentos voltados a suas necessidades/peculiaridades, elaborados
com base na experiência (planilhas e instrumentos de avaliação) e em fatores como a observação
do desenvolvimento das plântulas.

8. Processo de formação de mudas


A qualidade das mudas é definida por um conjunto de fatores, os quais são interdependentes. O
grau de adoção tecnológica de equipamentos de semeadura automatizados e a identificação eletrôni-
ca de lotes por código de barras, por exemplo, vão depender do nível de investimento do viveirista.

Õ O tempo requerido para formação de mudas de tomateiro varia de 3 a 6 semanas


(ciclos mais longos são esperados para plantas enxertadas pela necessidade de se-
meadura prévia da cultivar porta-enxerto, ou para formação de mudas em conten-
tores de maior volume, quando se almeja que apresentem o primeiro cacho já em
formação), dependendo das condições de temperatura e luz (Kubota et al., 2018).

Entre os fatores que afetam os processos fisiológicos das plantas e a ambiência de estruturas,
como as estufas onde são produzidas mudas, a luz solar (radiação) é um dos principais, embora
muitas vezes seja desdenhado e/ou manejado de forma incorreta (Lopez et al., 2017). No Brasil, a
radiação solar incidente em determinados períodos do ano pode ser considerada excessiva para
o cultivo de tomate em algumas localidades, por exemplo, na região Nordeste (Rocha, 2007), e
insuficiente para locais na região Sul (Buriol et al., 2000; Beckmann et al., 2006).
Por serem condições climáticas contrastantes, pelas dimensões continentais do país, esses cul-
tivos careceriam de intervenções de manejo ou de mudanças estruturais, por meio da utilização
de filmes plásticos com diferentes materiais e espessuras, telas (de sombreamento ou fotosseleti-
vas), painéis evaporativos (pad e fan), ventiladores, aberturas zenitais (janelas e vãos entre arcos),
diferentes alturas do pé direito, entre outras (Figura 7).

41
A B

Figura 7. Detalhe de plástico azul e tela lateral fotosseletiva (A) e da altura do pé direito em dois tipos de
estufa de teto em arco (B)
Fotos: Marçal H. A. Jorge

A tomada de decisão referente ao manejo, na maioria das situações, é feita com base em pro-
cedimentos empíricos (ex.: sensação térmica dentro da estufa) ou com instrumentos de baixa pre-
cisão ou inadequados (luxímetros ou sensores de temperatura simples, que determinarão a aber-
tura ou fechamento de telas). É importante que produtores e técnicos entendam as limitações
dessas unidades. As unidades (lux ou candela) desses instrumentos fornecem a intensidade de luz
instantânea (no momento em que está sendo realizada a medição). Portanto, essa única medição
não representa, com precisão, a quantidade de luz que as plantas recebem durante o dia, pois os
níveis de luz natural mudam continuamente (Torres; Lopez, 2016).
As unidades fotométricas são baseadas na quantidade de luz visível, que é detectada pelo olho
humano (principalmente luz verde), não sendo adequadas para indicar o nível de luz disponível
para fotossíntese em plantas (Torres; Lopez, 2016). Ainda que existam fatores de conversão entre
medidas, eles não são adequados, e mudam conforme o instrumento (marca/modelo), bem como
o ambiente. Portanto, não podem ser extrapolados, carecendo de uma calibração local com ins-
trumento (sensor) correto.
A radiação fotossinteticamente ativa (PAR em inglês ou RFA em português) é a luz com compri-
mento de onda entre 400 nm a 700 nm (nanômetros), medida com instrumentos específicos (sen-
sores de RFA ou sensores quânticos), que têm alto grau de precisão, porém custam muito acima
do valor de luxímetros. Para mudas de tomateiro, após medição com sensor PAR, sugere-se a con-
versão em integral de luz diária (ILD ou DLI em inglês) e seu manejo, para que possam prover um
mínimo de 6 mol.m-2.d-1 e máximo de 12 mol.m-2.d-1 de luz durante sua formação. Procedimentos
para a medição, conversões e valores referentes à ILD são encontrados em Torres & Lopez (2016).
O aumento da temperatura no ambiente de produção, advindo das inadequações de manejo
da luz/ambiente, também é fator relevante. Ele interfere tanto na velocidade de germinação das
sementes, como no crescimento e desenvolvimento das mudas. Temperaturas altas irão acelerar o
processo germinativo, e em baixas, o inverso pode acontecer. Em ambos os casos, extremos de tem-

42
peratura podem tanto induzir uma dormência secundária como inibir totalmente a germinação. Por
isso, a estrutura de produção deve ser eficiente em manter a temperatura dentro de uma faixa ideal,
que ficaria entre 20oC e 25oC, com extremos que não ultrapassassem os 13oC de mínima, pois abaixo
desse valor não há germinação (Heuvelink; Okello, 2018), nem os 35oC de máxima, respectivamente.

Õ A profundidade de semeadura e a umidade do substrato também são fatores que


podem comprometer a uniformidade da produção. Sementes de tomate geral-
mente são semeadas a uma profundidade de 6 mm a 12 mm (Santos; Salamé-
-Donoso, 2018) e germinam entre 2 e 5 dias após semeadura. O processo pode
ser tanto manual como mecânico (misturador mecânico com descarregador na
máquina de semeadura).

Como nos estádios iniciais a umidade tem papel fundamental, os viveiristas têm administrado
esse fator de acordo com as condições do ambiente de produção. Devem-se cobrir as sementes
com o próprio substrato, com uma camada fina de vermiculita média ou com malhas/mantas, cui-
dando para que não se tornem obstáculo para o desenvolvimento normal da parte aérea. Produ-
tores também optam por câmaras de germinação, por alguns dias, antes do início da emergência,
onde se controla a temperatura e a umidade do substrato (Figura 8)

A B C

Figura 8. Pilhas de bandejas multicelulares semeadas (A) prontas para serem levadas para a câmara
de germinação (B) e subsequente transporte para o viveiro e distribuição nas bancadas (C)
Fotos: Marçal H. A. Jorge

A partir do momento em que as bandejas são levadas para o viveiro, considera-se que o pro-
cesso germinativo das sementes já foi finalizado. Todo processo de produção de mudas é tec-
nicamente dividido em quatro estádios (Figura 9), que sofrem diferenciações, sendo necessário
atender as exigências das suas plântulas. Os detalhes são apresentados, de forma resumida, com
adaptação das recomendações de Lima et al (2016):
• Estádio I: Semeadura até a emissão da radicela: cuidados na irrigação, mantendo-se a
umidade do substrato próxima a CRA e condições ambientais controladas (umidade acima
de 80% e temperatura de ≈ 28oC);
• Estádio II: Emissão da radicela até a expansão do cotilédone: utilização de telas de som-
breamento ou fotosseletivas para melhoria da ambiência após as bandejas serem levadas

43
para o viveiro, evitando radiação solar excessiva. Valores de ILD de 6 mol.m-2.d-1 a 8 mol.m-2.d-1
podem ser utilizados, havendo retirada das telas quando 30% das plântulas emergirem. Rea-
lizar irrigações diárias, de baixa intensidade e, quando necessários, tratamentos preventivos
com agrotóxicos para doenças fúngicas;
• Estádio III: Expansão do cotilédone até o aparecimento do primeiro par de folhas ver-
dadeiras: aplicação de regulador de crescimento (80% das plântulas com primeiro par de
folhas e comprimento de 2 mm a 5 mm. Realizar a primeira fertirrigação com CE, variando
de 0,8 mS cm-1 a 1,2 mS cm-1, e aplicação de agrotóxicos para manejo de insetos sugadores e
patógenos associados a tombamento (damping off). Ao final dessa fase, as irrigações podem
se tornar mais frequentes e de maior intensidade, de acordo com as condições climáticas;
• Estádio IV: Primeiro par de folhas até o pleno desenvolvimento vegetativo (muda pron-
ta para o transplantio): as irrigações devem ser frequentes e regulares entre os lotes para
garantir uniformidade das mudas, seu enrijecimento e enraizamento. Ao final dessa fase,
de 2 a 3 fertirrigações semanais (CE variando de 2,0 mS cm-1 a 2,5 mS cm-1) são necessárias
para nutrição adequada e equilíbrio de seu crescimento vegetativo, satisfatório para as
condições de transplantio. As relações de macronutrientes utilizados devem estar próximas
a 1N:1/5P:1K:1Ca:1/Mg, podendo-se utilizar 250 mg L-1 de S sem problemas e manter a pro-
porção de N amoniacal e N nítrico de 25% e 75%, respectivamente.

Figura 9. Estágios de uma plântula de tomate (de I a III)


Fonte: adaptado de Papadopoulos (1991)

Como parâmetro para programas de nutrição de plântulas no viveiro, valores de faixas de suficiência
para análise foliar de mudas de tomateiro podem ser utilizados conforme a Tabela 2 (Whipker et al., 2018).

44
TABELA 2. Faixa recomendada para interpretação de análise de folhas de mudas de tomateiro
ELEMENTO FAIXA DE SUFICIÊNCIA¹
Nitrogênio (%) 3,0 – 5,0
Fósforo (%) 0,3 – 0,6
Potássio (%) 3,0 – 5,0
Cálcio (%) 1,0 – 2,0
Magnésio (%) 0,3 – 0,5
Enxofre (%) 0,3 – 0,8
Ferro (ppm ou mg kg ) -1
40 – 100
Manganês (ppm ou mg kg ) -1
40 – 100
Zinco (ppm ou mg kg ) -1
25 – 40
Cobre (ppm ou mg kg ) -1
5 – 15
Boro (ppm ou mg kg ) -1
25 – 40
Molibdênio (ppm ou mg kg ) -1
0,2 – 0,6
¹Para tomateiros de crescimento indeterminado com 5 folhas verdadeiras. Os
valores representam folhas recém-maduras com pecíolo.

Exemplos de soluções nutritivas utilizadas para fertirrigação de mudas de tomateiro podem


ser encontrados em Araújo (2006), Trani & Carrijo (2011), Lima et al. (2016) e Santos et al. (2017).
Os ajustes de concentração, fertilizantes a serem utilizados em sua formulação e estádios de
aplicação dependerão de uma série de variáveis, como: substrato (ex.: inerte), cultivar (ex.: pre-
coce e indeterminada), fatores ambientais (ex.: temperatura), qualidade da água (ex.: pH = 5,5),
tipo de irrigação (ex.: barra suspensa), entre outros. Portanto, devem ser ajustados de acordo
com as necessidades do viveirista e ao longo do tempo, com o auxílio de análises de folha/subs-
trato e de profissionais especialistas.

8.1. Mudas com maior volume de substrato (mudão) e enxertia


Mudas produzidas em bandejas com maior volume por célula, tubetes ou vasos pequenos
(Figura 10) têm sido uma estratégia para evitar perdas de plântulas, seja por patógenos (majorita-
riamente viroses), seja por estresses diversos, atribuídas ao maior tempo no viveiro em condições
protegidas e pelo sistema radicular vigoroso (Cardoso et al., 2016). Tais mudas permanecem, pelo
menos, por 20 dias a mais na estrutura do viveiro, porém atribui-se uma redução do início do ciclo
de colheita em até 30 dias. A decisão por utilizar essas mudas deve levar em conta o histórico de
ocorrência de problemas fitossanitários, o escalonamento de áreas para produção considerando
seu maior ciclo, o custo individual e a disponibilidade delas nas diferentes regiões (atrelado a des-
pesas como frete, entre outras).
Para a enxertia de tomateiro visando ao manejo de doenças do solo, há uma série de híbridos do
tipo porta-enxerto com diferentes resistências e/ou imunidade disponíveis no mercado. Além de
levar em conta o(s) patógeno(s) presente(s) na área e sua compatibilidade com a cultivar (Figura 10),
outras características devem ser consideradas pelo viveirista, tais como: vigor e rusticidade; condi-
ções morfológicas ótimas para a realização da enxertia (tamanho do hipocótilo, consistência, entre
outras) e não afetar desfavoravelmente a qualidade dos frutos (Peil, 2003). Não havendo a presença
de patógenos de solo, a viabilidade econômica e o desempenho agronômico de mudas enxertadas
necessitam ser avaliados localmente. Avaliando cinco porta-enxertos em sistema de cultivo orgâ-

45
nico e convencional de tomate sob condições protegidas no DF, Batistella (2017) não observou au-
mento da produção e melhor resultado econômico em comparação a mudas pé-franco.

A B

Figura 10. Tipos de mudão de tomate – sem (A) e com enxertia (B)
Fotos: GardnersWorld e Alexandra Tursi – UVM Food Feed (Imagens retiradas de: https://learn.uvm.
edufoodsystemsblog/2012/05/01/tomatoes-are-growing-in-vermont-greenhouses/grafted-tomato-seedlings-
1/e https://www.gardenersworld.com/how-to/grow-plants/how-to-pot-on-tomato-seedlings/)

8.2. Cuidados no plantio das mudas


De acordo com Lima et al (2016), devem ser observados alguns pontos importantes para o melhor
aproveitamento das mudas na formação e condução de campos de produção de elevado padrão:
• gerenciar a descarga das mudas em lugar adequado e evitar colocá-las direto no chão (solo);
• realizar a avaliação da sanidade e da qualidade das mudas recebidas;
• proceder uma contagem de falhas e bandejas com desuniformidade para posterior confron-
to com as informações de qualidade do viveiro;
• realizar a irrigação das mudas, caso não sejam transplantadas no mesmo dia (ne-
cessidade de estocagem);
• realizar com o máximo de cuidado o transporte/deslocamento das mudas entre o lugar de
descarga e o local de transplante propriamente dito;
• checar a umidade do solo antes das mudas serem transplantadas e a adubação de plantio,
com relação a profundidade e distribuição.

46
9. Referências
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em: < http://www.agrodefesa.go.gov.br/publicacoes/sanidade-vegetal/programas-1/488-
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Acesso em: 1 set. 2020.

49
4
4. Instalação da lavoura
Janice Valmorbida, Anderson Fernando Wamser,
Fernando Pereira Monteiro.
1
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa e Extensão Rural de Santa
Catarina-Estacão Experimental de Caçador
[email protected]; [email protected];
[email protected]

1. Escolha da área
A escolha da área é um aspecto importante da gestão da propriedade agrícola. As normas téc-
nicas específicas para a Produção Integrada de tomate tutorado recomendam ter croqui, planta
baixa ou foto aérea da propriedade e tornam obrigatório apresentar as coordenadas geográficas
e identificação do uso da terra (BRASIL, 2016).

Õ A área deve ser ondulada suave, com declividades inferiores a 12%, evitando-se,
assim, problemas de pressão no sistema de irrigação e/ou fertirrigação por gote-
jamento. O local deve ter disponibilidade de água adequada e o acesso à lavoura
deve ser fácil e em qualquer condição climática. A exposição do terreno deve ser
preferencialmente de face norte, permitindo a livre circulação do ar e máxima
insolação. Se possível, estar protegido por quebra-ventos, pelo menos, do lado
dos ventos dominantes. Deve-se evitar as áreas frias, sombreadas e úmidas para
não favorecer as doenças.

É condição obrigatória respeitar a legislação vigente do meio ambiente em relação às Áreas de


Preservação Permanentes (APP) e Áreas de Reserva Legais (ARL). Além desse aspecto, deve-se identi-
ficar os talhões para registro de informações da Produção Integrada, cada um com a mesma varieda-
de, idade e tratos culturais, conforme estabelecido na Portaria nº 443 do Inmetro (INMETRO, 2012).
O tomate prefere solos profundos, friáveis, bem drenados e com altos teores de matéria or-
gânica. Evitar solos compactados ou sujeitos a encharcamentos periódicos, o que favorece in-
tensamente as doenças fúngicas e bacterianas do solo, áreas que tenham sido cultivadas com
solanáceas (tomate, tabaco, batata, pimentão, berinjela, etc.) nos últimos três anos ou terreno com
alta infestação de plantas espontâneas da família das solanáceas ou outras que sirvam de sobre-
vivência para patógenos causadores de doenças do tomate.
Para uma eficiente absorção de água e nutrientes pelas plantas, é necessário um sistema
radicular bem desenvolvido, para o qual devem existir boas características químicas, físicas e
biológicas no solo. Sob o ponto de vista físico do solo, as características podem ser melhoradas
pela subsolagem e aração profunda ou pelo emprego do plantio direto na palha já consolidado.

50
Já sob o ponto de vista químico do solo, este pode ser melhorado pela calagem e adubação.
Essas ações, juntamente com outras medidas de manejo, favorecem o aumento da população
microbiológica benéfica do solo.

2. Preparo do solo
O preparo do solo tem por objetivo melhorar as condições físicas e químicas do solo, bem
como facilitar o plantio. Isso significa realizar a incorporação dos corretivos da acidez em quanti-
dades e na profundidade adequadas e melhorar as condições físicas do solo. Este preparo do solo
deve ser feito, no mínimo, com 90 dias de antecedência ao plantio.
É muito importante observar a qualidade e a profundidade do solo. Afinal, o êxito da la-
voura estará condicionado às condições adequadas do solo, como ausência de compactação
e áreas de boa drenagem.

As etapas no preparo do solo, para uma boa lavoura de tomate, em geral, compreendem:
• a aplicação da metade da dose total de calcário;
• subsolagem do terreno até a profundidade de 40 cm;
• limpeza do terreno, retirando raízes, tocos e pedras;
• primeira aração na profundidade de correção pretendida de 20 cm, seguida de gradagem;
• aplicação do restante do calcário;
• segunda aração e gradagem;
• semeadura do adubo verde (aveia preta, branca ou outra cobertura verde);
• e, por fim, uma gradagem leve para incorporação das sementes de cobertura.

Alternativamente, a semeadura poderá ser feita com semeadeiras de grãos miúdos, principal-
mente em sistemas já consolidados de plantio direto do tomate.

3. Marcação para o plantio


O sistema de cultivo de tomate precisa garantir a preservação ambiental e utilizar um con-
junto de práticas preconizadas no Sistema de Produção Integrada do Tomate Tutorado de Mesa
(Sispit), com o mínimo de revolvimento do solo. Este conjunto inclui o preparo do solo de cul-
tivo sobre a cobertura verde ou cobertura morta, irrigação por gotejamento e a adubação de
cobertura por fertirrigação.
O cultivo sobre cobertura verde (palhada) é uma técnica que propicia o maior controle de ero-
são e diminuição de respingo do solo, reduzindo a propagação de doenças, além das melhorias
na condição de umidade e de população microbiana benéfica no solo. Quando o plantio é feito
sobre cobertura vegetal, os sulcos para a adubação e o plantio devem ser preparados cerca de
duas ou três semanas antes do plantio, para melhor incorporação e mistura dos adubos químicos
ou orgânicos, que ficarão concentrados nos sulcos.

51
Ressalta-se que a semeadura da planta de cobertura deve ser planejada para que o plantio do
tomate ocorra quando ela se encontrar em estádio de acamamento. As coberturas devem ter alta
relação C:N para permitir que a palhada se mantenha até o final da safra do tomate.
No sul do Brasil, onde o tomate é cultivado no verão, a principal planta de cobertura utilizada
é a aveia preta, com o acamamento na fase de grão leitoso (aproximadamente 120 dias após a
semeadura). Não é necessária sua dessecação, pois é tombada pelo movimento das máquinas e
trabalhadores. Em locais com cultivo no inverno, as plantas de cobertura podem ser dessecadas,
trituradas ou acamadas. Como exemplo, cita-se a crotalária, o milho e o milheto.
A abertura dos sulcos é realizada por implemento próprio ou adaptado. Ajusta-se uma lâmina
que corta a palhada e rasga o solo, tornando-o apto a receber a muda de tomate.
É importante destacar que o sistema de plantio sobre cobertura vegetal para a cultura do to-
mate é uma técnica de grande utilidade para a preservação do solo. Isso porque está associada ao
uso racional e eficiente da irrigação por gotejamento e fertirrigação, à utilização de tratos culturais
baseados em critérios técnicos definidos e ao adequado manejo pela mínima mobilização mecâ-
nica da superfície do solo, procurando mantê-lo coberto por cultivos sucessivos durante todo o
ano, por meio de uma rotação de cultura racional.

4. Referências
BRANCO, R. B. F.; BOLONHEZI, D.; SALLES, F. A.; BALIEIRO, G.; SUGUINO, E.; MINAMI, W. S.; NAHAS, E.
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www.academicjournals.org/AJAR>. Acesso em: 20 jun. 2020. DOI: 10.5897/AJAR12.1256.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e abastecimento. Instrução Normativa no. 42 de 9 de
novembro de 2016. Normas Técnicas Específicas para a Produção Integrada de Tomate
Tutorado. Brasília (DF): Diário Oficial da União, 14 nov. 2016, ed. 218, seção 1.
HAHN, L.; SUZUKI, A. Manejo de solo, adubação e nutrição de plantas. In: BECKER, W.F. (Coord.);
WAMSER, A.F.; FELTRIM, A.L.; SUZUKI, A.; ASNTOS, J.P.; VALMORBIDA, J. HAHN, L.; MARCUZZO,
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INMETRO. Portaria nº 443, de 23 de novembro de 2011. Requisitos de avaliação da conformidade
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do Brasil, Brasília, DF, 27 dez. 2012.
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na Região do Alto Vale do Rio do Peixe. Florianópolis: Epagri, 2008, 78p. (Epagri. Sistemas
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VALMORBIDA, J.; WAMSER, A. F.; SANTIN, B. L.; ENDER, M. Métodos de manejo e plantas de cobertura do
solo para o cultivo do tomateiro tutorado. Agropecuária Catarinense, v. 33, n. 2, p.76-81, 2020.

52
5
5. Manejo de plantas
Anderson Fernando Wamser1, Janice Valmorbida1, Fernando Pereira Monteiro1
1
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
- Estação Experimental de Caçador(Epagri)
[email protected],
[email protected],
[email protected].

1. Introdução
O manejo da planta no sistema de produção integrada de tomate consiste em práticas que
modifiquem o seu crescimento normal, com o objetivo de controlar o crescimento vegetativo,
melhorar a distribuição da radiação solar e a ventilação no dossel, as condições fitossanitárias
e a produtividade e qualidade de frutos. Assim, o sucesso das outras práticas culturais, como o
manejo fitossanitário e a nutrição de plantas, depende da forma como é efetuado o manejo das
plantas ao longo do ciclo.

2. Mudas
Segundo as Normas Técnicas Específicas para a Produção Integrada de Tomate Tutorado (Bra-
sil, 2016), para sementes e mudas, é obrigatório utilizar mudas próprias ou adquiridas com regis-
tro de procedência e com certificado fitossanitário, conforme legislação vigente. É recomendado
utilizar mudas de propagação vegetativa (mudas de brotos) apenas se forem oriundas de viveiros
próprios, protegidos e com certificação sanitária. Aliado a isso, é proibido transitar com material
propagativo sem autorização e utilizar mudas provenientes de propagação vegetativa de áreas de
produção comercial.

Õ A produção de mudas se constitui numa das etapas mais importantes do sistema


produtivo de tomate. As mudas de tomateiro devem ser adquiridas de produto-
res especializados e idôneos, com certificado fitossanitário, a fim de assegurar a
alta qualidade em termos fisiológicos e fitossanitários. Elas devem ser produzidas
preferencialmente em bandejas de poliestireno expandido (isopor) ou de plásti-
co. Bandejas desse material têm se mostrado eficientes nas etapas de semeadura,
manuseio, produção, controle fitossanitário e nutricional e no transplante das
mudas de tomate. As bandejas são leves, de fácil manuseio, comportam um gran-
de número de unidades, ocupam pouco espaço para a sua produção e proporcio-
nam mudas com torrão. Além disso, destacam-se pela economia de substrato e
melhor utilização da área de viveiro.

53
Há vários modelos de bandejas de poliestireno expandido e de plástico com diversos números
de células (72, 128, 200 e 288), todas padronizadas no tamanho de 68 x 34cm, com as profundida-
des e os volumes das células inversamente proporcionais, ao número das células por bandeja; ou
seja, quanto maior o número de células por bandeja, menor é sua profundidade, por conseguinte
menor o volume de substrato por célula. Para a produção de mudas de tomateiro, as bandejas de
200 e de 288 células são as mais indicadas.
Na produção de mudas em bandejas, o tamanho da célula e o tipo de substrato são fatores
que influenciam no desenvolvimento, na arquitetura do sistema radicular e no estado nutricional
das mudas - o maior volume de substrato por célula é mais favorável às mudas. Mudas muito pe-
quenas, com apenas duas folhas e pouco volume radicular, acarretam atraso do início da colheita,
devido ao lento crescimento inicial, gerando prejuízo na produção final.
O substrato deve apresentar ótimas propriedades físicas e teores adequados de nutrientes,
além de facilitar a retirada das mudas das células, em ponto de transplante, com torrão. Segundo
as Normas Técnicas (Brasil, 2016), é obrigatório utilizar substrato isento de insetos-praga, patóge-
nos e plantas daninhas.

3. Plantio
As Normas Técnicas (Brasil, 2016) especificam que é obrigatório identificar os talhões para
registro de informações da Produção Integrada, cada um com a mesma variedade, idade e
tratos culturais, utilizando-se espaçamentos, conforme recomendação técnica de cultivares
para cada região.
As mudas podem ser plantadas no local definitivo aproximadamente 30 dias após a semea-
dura, quando tiverem duas a três folhas definitivas e altura de 8 a 12cm. Devem ser eliminadas
aquelas que não apresentem bom aspecto ou estejam malformadas e/ou doentes.
O plantio das mudas deve ser realizado, preferencialmente, em dias nublados e à tarde, quan-
do o período de luz direta é mais curto. Assim, durante a noite, devido ao sereno e à temperatura
mais baixa, as mudas se recuperam, favorecendo o enraizamento. Salienta-se que a irrigação dos
sulcos de plantio antes e logo depois do transplante é uma operação imprescindível para o suces-
so no enraizamento das mudas. Por isso, é importante que o sistema de irrigação esteja implanta-
do antes do plantio das mudas.
A colocação das plantas nos sulcos de plantio deverá ser na mesma profundidade em que se
encontram nas células das bandejas, evitando o contato com adubos químicos e ferimentos nas
raízes das mudas (Figura 1A). O plantio das mudas pode ser realizado manualmente ou utilizando
plantadeiras manuais (Figura 1B). Em ambos os casos, deve-se tomar o cuidado de garantir o com-
pleto contato do torrão das mudas com o solo. O replantio, quando necessário, deve ser realizado
até, no máximo, oito dias após o primeiro plantio, substituindo as plantas mortas ou que apre-
sentem desenvolvimento anormal. Salienta-se que, ao produzir ou adquirir as mudas, o produtor
deve prever, ao menos, 10% de replantio.

54
4. Espaçamento e densidade de plantas
Entende-se por espaçamento de plantas o intervalo entre fileiras; já densidade de plantas é o
espaço deixado entre as plantas dentro das fileiras de uma lavoura. O espaçamento e a densidade
são aspectos tecnológicos que definem a população na área e o arranjo de plantas nas fileiras.
Podem interferir no controle fitossanitário, nas operações técnicas a serem realizadas na lavoura
e, consequentemente, na rentabilidade.

A B

Figura 1. Altura correta da muda após ser plantada no sulco ou cova de plantio (A) e utilização de
plantadeira manual no plantio das mudas de tomate (B)
Fotos: Acervo Epagri

Na Produção Integrada do tomate, no qual o tomateiro é conduzido na vertical, os espaça-


mentos entre sulcos (fileiras) de plantio podem variar de 0,8 a 2,4m e os espaçamentos entre as
plantas na fileira de 0,4 a 0,7m. O espaçamento entre fileiras depende, principalmente, do sistema
de pulverização que se queira adotar. Caso se use pulverizador, barra vertical ou turbinado, aco-
plado ao trator, são recomendadas fileiras duplas espaçadas internamente de 0,8 a 1,0m e de 2,2 a
2,4m entre cada conjunto de fileiras duplas (Figuras 2A e 2B). Deve-se lembrar de que é entre cada
conjunto de fileiras que passará o trator com o pulverizador para aplicar as caldas com fungicidas
e inseticidas. Quando a aplicação dos agrotóxicos é feita com canetas de pulverização acopladas à
motobomba acoplada ao trator, as fileiras podem ficar expostas em fileiras individuais espaçadas
entre elas de 1,25 a 1,50m (Figuras 2C e 2D). Salientando-se que a condução das plantas sempre
deve ser na vertical.

Õ O espaçamento entre as plantas na fileira vai depender, basicamente, da cultivar,


do número de hastes por planta e da preferência do tomaticultor. No geral, o
espaçamento entre plantas deve ser ajustado para que se obtenha de 11 a 13 mil
plantas por hectare, conduzidas com duas hastes por planta.

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Os espaçamentos entre plantas conduzidas com duas hastes podem variar de acordo com o
enfolhamento da cultivar utilizada. Para a condução de uma haste por planta, os espaçamentos
entre plantas podem ser reduzidos pela metade.

A B

C D

Figura 2. Arranjo de plantas em fileiras duplas de plantas tutoradas verticalmente para a pulverização
tratorizada (A e B) e arranjo de plantas em fileiras simples de plantas tutoradas verticalmente para a
pulverização manual com “canetas” (C e D)
Fotos: Acervo Epagri

5. Tutoramento
O tutoramento do tomateiro consiste em fornecer suporte às plantas durante o seu cres-
cimento, evitando o contato delas com o solo, aumentando a ventilação e a iluminação ao
longo do dossel, facilitando os tratos culturais e diminuindo as curvas em “S” nos caules

56
próximo do solo. Assim, a planta se desenvolve em melhores condições fitossanitárias, co-
laborando para o prolongamento do período de produção, aumentando a quantidade e a
qualidade dos frutos.

5.1. Tutoramento vertical


No tutoramento vertical, preconizado no Sistema de Produção Integrada de Tomate, as plantas
são conduzidas perpendicularmente ao solo em tutores de essências florestais, usualmente em
estacas de bambu ou em fitilhos plásticos. Os principais métodos de tutoramento vertical são:
• o vertical com bambu ou outras essências florestais (Figura 3A);
• o vertical com fitilho (Figura 3B), e
• o método denominado “mexicano” (Figura 3C).

A B

C D

Figura 3. Métodos de tutoramento de plantas vertical com bambu (A), vertical com fitilho (B), vertical
“mexicano” (C) e cruzado ou “V” invertido (D)
Fotos: Acervo Epagri

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No método “mexicano”, as plantas são conduzidas verticalmente entre fitilhos que ficam dis-
postos horizontalmente nos dois lados das plantas, à medida que as hastes crescem (Figura 4A),
e que são amarrados em essências florestais ou estacas de bambu, dispostas ao longo da fileira
de plantio a cada seis plantas (Figura 4B). Nesse caso, dispensa-se o uso de palanques/mourões.
Esse sistema de tutoramento, também denominado de meia-estaca, é indicado para cultivares
que apresentam hábito de crescimento determinado, especialmente as pertencentes aos grupos
varietais salada e saladete em cultivos a campo aberto.
Para montagem desse método, mourões de aproximadamente 1,3 a 1,8m de altura são fixa-
dos nas extremidades das linhas de plantio. Fitilhos plásticos são colocados horizontalmente
a cada 30 cm, ao longo do desenvolvimento da planta, e estacas de bambu são fixadas a cada
três metros para dar suporte aos fitilhos e plantas (Alvarenga, 2013; Nick et al., 2018). No vertical
com bambu e vertical com fitilho, as plantas são amarradas nos tutores dispostos verticalmente
(Figuras 3C e 3D, respectivamente).

A B

C D

Figura 4. Detalhe do amarrio de plantas nos sistemas de tutoramento vertical “mexicano” (A-B), com
estacas de bambu (C) e com fitilho (D)
Fotos: Acervo Epagri.

No tutoramento vertical, a aplicação dos defensivos é mais eficiente nos dois lados das plantas ao longo
das filas e há melhores distribuições de radiação solar e ventilação ao longo do dossel das plantas, contribuindo
para a menor incidência de insetos-praga e doenças, em comparação ao tutoramento cruzado (Figura 3D).

58
5.2. Implantações do método de tutoramento de plantas
A implantação do tutoramento de plantas, principalmente a fixação dos mourões, deve ser
realizada, preferencialmente, antes do plantio, para evitar danos às mudas por pisoteio ou pelo
manuseio dos materiais (mourões, arame, estacas de bambu, etc.), porém, depois de feitos o sulco
de adubação e adubação de base.
No tutoramento vertical com estacas de bambu, são recomendadas varas com aproximada-
mente 2,2m de comprimento, que devem ser dispostas ao lado de cada planta. As estacas, leve-
mente enterradas no solo, são amarradas em um fio de arame galvanizado nº 14 ou nº 16, que fica
a 1,5-1,8m acima do nível do solo, amarrado aos mourões de 2,0m de altura, situados nas extremi-
dades e aos mourões ou às cruzetas de bambu grosso ao longo das fileiras.

Õ Caso sejam reutilizados os tutores de essências florestais do ano anterior, deve-


-se proceder a desinfestação por imersão dos tutores numa solução com 5% de
cobre ou 1% de hipoclorito de sódio. Os tutores devem ficar imersos nesta solu-
ção por alguns minutos. Para o tratamento de arames utilizados no ano anterior,
devem ser evitados produtos cúpricos. Um método prático é mergulhar os ara-
mes em água fervente durante 10 minutos.

No tutoramento vertical com fitilho, o fio de arame nº 14 ou 16 deve ficar na altura a que se
pretende conduzir as plantas. Os fitilhos, um para cada haste, são presos no arame e na base da
planta. O espaçamento entre mourões para o método de tutoramento vertical com fitilho deve
ser menor do que o com bambu, para evitar que o arame se curve com o peso das plantas. Os
mourões de cada extremidade das fileiras, no método de tutoramento vertical com fitilho, devem
ser enterrados numa maior profundidade, visto que a maior parte do peso das plantas das fileiras
está concentrada neles.
O uso de fitilho em substituição ao bambu reduz tempo e mão de obra na instalação e na
condução das plantas.

O sistema de tutoramento também é mais barato do que o tutoramento com bambu. A seguir, estão
detalhados alguns cuidados na instalação deste sistema de tutoramento.
• Fixar os mourões mestres (2 m do solo), nas duas extremidades das fileiras de plantas, com fir-
meza a pelo menos 60 cm no solo;
• Os arames de sustentação dos fitilhos, presos aos palanques, devem ser lisos, de nº 14, e forte-
mente tensionados para manter os fitilhos esticados;
• Nas linhas de plantas, deve ser colocado um palanque ou cruzeta a cada 8 m e, entre eles, algu-
mas varas de bambu grossas, dispostas em cada lado das fileiras, para auxiliar na sustentação
do arame e, consequentemente, das plantas;
• O tutoramento, propriamente dito, deve ser iniciado quando as plantas alcançarem cerca
de 30cm de altura;
• Os fitilhos devem ter aproximadamente 5m para a condução das duas hastes de cada planta;
• A amarração deve ser feita na base da planta, abraçando as primeiras folhas, a fim de não cau-
sar o estrangulamento do caule. Na base de cada planta, amarra-se o centro do fitilho, de modo
que fique metade do seu comprimento disponível para cada haste. Já as extremidades do fiti-

59
lho são fixadas no arame com um nó tipo “laço”, deixando-os levemente esticados;
• O fitilho deve ser enrolado nas hastes, uma a duas vezes por semana, acompanhando o cresci-
mento da planta, juntamente com a operação da desbrota das plantas. Salienta-se, entretanto,
que o método de tutoramento com bambu proporciona maior produtividade comercial de
frutos, em relação aos métodos de tutoramento vertical com fitilho e “mexicano” (Figura 5)

Figura 5. Ganhos de produtividade (%) dos métodos de tutoramento vertical, em relação ao cruzado
Fonte: Wamser et al., 2007.

6. Método de condução
As plantas podem ser conduzidas com duas ou uma haste guia por planta. A condução de duas
hastes por planta é feita mantendo o broto imediatamente abaixo do primeiro cacho e retirando
os demais, tanto da haste principal como da segunda haste (Figura 6A).
Já na condução de uma haste por planta retiram-se todos os brotos laterais da haste princi-
pal, ajustando o espaçamento entre plantas para a metade do espaçamento utilizado na con-
dução de duas hastes por planta. Embora a produtividade comercial de frutos seja maior com
a condução de uma haste por planta, a necessidade de mudas por área é o dobro, em relação à
condução de duas hastes.

60
A B

Figura 6. Planta de tomate no momento da definição da segunda haste (A): seta amarela indica o broto
mais vigoroso, logo abaixo do primeiro cacho, comparando com os demais brotos menos vigorosos (setas
azuis). (B) Detalhe da retirada do broto mantendo cerca de dois centímetros de altura do caule conforme
indicado pela seta vermelha (B)
Fotos: Acervo Epagri

7. Desbrota
A desbrota é a retirada dos brotos que surgem nas axilas das folhas, às vezes no ápice dos raci-
mos (cachos) ou, até mesmo, nas folhas e frutos. Deve ser realizada para controlar o crescimento
vegetativo acentuado do tomateiro. É uma prática fundamental para as cultivares de tomate de
crescimento indeterminado, as quais devem ficar com duas hastes, mas, em casos especiais, de-
pendendo do espaçamento, da densidade e da cultivar, com somente uma haste.
Os brotos laterais devem ser eliminados manualmente quando atingirem 3 a 10 cm de com-
primento, quebrando-os e destacando-os a cerca de 2 a 3 centímetros de altura (Figura 6B). A
manutenção de parte do broto na planta promove a rápida cicatrização do ferimento no tecido,
desfavorecendo a entrada de patógenos no sistema vascular principal das hastes.

Õ A desbrota deve ser realizada de uma a duas vezes por semana. Após cada des-
brota, deve-se pulverizar fungicida à base de cobre. A desbrota não deve ser
realizada em dias de chuva ou com orvalho. Plantas com sintomas de virose não
devem ser desbrotadas, a fim de evitar a disseminação de doenças. Não se deve
fumar (tabagismo) durante esta prática cultural, para que não ocorra a contami-
nação pelo vírus do mosaico do tabaco.

8. Amarrio
Nos métodos de tutoramento com bambu, as hastes do tomateiro devem ser amarradas nos
tutores a cada 25-30cm. O amarrio é feito com fitilho em forma de “8”, com folga, e nunca imediata-
mente abaixo do cacho, para que não ocorram perdas de frutos por estrangulamento (Figura 4C).

61
No método de tutoramento vertical com fitilho, as hastes são enroladas nos fitilhos à medida que
crescem (Figura 4D). Já no método de tutoramento “mexicano” as hastes vão crescendo apoiadas
nos fitilhos dispostos lateralmente e apoiadas umas nas outras, dispensando o amarrio (Figura 4A).

9. Poda apical ou desponte


Consiste em se podar o ápice das hastes de produção da planta quando elas ultrapassarem a
altura do tutor ou cada haste tiver de seis a sete cachos de frutos formados. Devem-se deixar duas
a três folhas acima do último cacho para favorecer o nível de fonte de fotoassimilados para o de-
senvolvimento dos frutos. Esta prática auxilia no crescimento dos frutos dos cachos mais altos. É
realizado para controlar o desenvolvimento vegetativo acentuado do tomateiro, manter robustez
da planta, aumentar o tamanho de frutos e propiciar a maturação precoce dos frutos.
Ao se deixar um menor número de cachos por planta, o desponte ou poda apical traz benefí-
cios à cultura do tomateiro, tais como: redução do ciclo, facilidade de execução dos tratos cultu-
rais, aumento da massa média dos frutos, redução e maior segurança na aplicação de agrotóxicos.
Além disso, a limitação do número de cachos por planta é uma prática recomendada principal-
mente nos cultivos, cujas condições ambientais limitem o crescimento da planta do tomateiro e,
em consequência, o número de cachos produtivos.

10. Desfolha
A prática de eliminação das folhas mais velhas é indicada para melhorar o arejamento, a ilu-
minação e o controle fitossanitário. Entretanto, não deve ser muito severa, porque as folhas são
fontes de suprimento de energia à planta.
As folhas velhas da parte inferior da planta devem ser retiradas mantendo-se 2-3cm de pecíolo.
Pode-se manter até três folhas logo abaixo do cacho ainda produtivo da planta, dependendo das
suas condições fitossanitárias. Esta prática contribui na diminuição da disseminação de doenças e
evita o contato ou a proximidade das folhas com o solo, dificultando, consequentemente, a entrada
de doenças bacterianas pelos respingos de chuva. Recomenda-se a sua realização em dias secos.
Após a desfolha, os cortes dos pecíolos devem ser pulverizados com produtos à base de cobre.
A retirada das folhas baixeiras é eficiente para reduzir a área foliar lesionada por doenças, o
que pode significar menor severidade e diminuição de inóculo na área de cultivo. A desfolha leve
favorece a produtividade pelo aumento fitossanitário das plantas de tomate.

11. Raleio de frutos


O tomateiro pode ser dividido em unidades fonte-dreno. As folhas são fontes de fotoassimila-
dos e os frutos são os principais drenos. Os fotoassimilados das folhas podem ser translocados para
qualquer fruto, dependendo das condições fitossanitárias da planta. Como os frutos são drenos me-
tabólicos fortes, os fotoassimilados são translocados preferencialmente a eles. A relação fonte-dreno
pode exercer influência nas variações da produção por planta, bem como no tamanho e massa in-
dividual dos frutos. Assim, o raleio de frutos é uma técnica cultural que pode alterar a relação fonte-
-dreno, propiciando aumento da produtividade comercial, no tamanho e na massa média dos frutos.

62
É necessário destacar que a resposta à técnica de raleio de frutos dos cachos de tomate é diversa
entre as cultivares. Os cachos (racimos) florais, principalmente, de cultivares com cachos ramificados,
têm excessiva produção de frutos. Assim, os frutos terminais/apicais (Figura 7A), menores e defa-
sados, devem ser retirados logo no início do desenvolvimento para favorecer o maior crescimento
daqueles remanescentes. Algumas cultivares apresentam cachos simples e com número de frutos
definidos, dispensando a prática para esta finalidade. Frutos com doenças (Figura 7B), danificados
por insetos-praga (Figura 7C), com distúrbios fisiológicos (Figuras 7D e 7E) e malformados também
devem ser retirados logo após a constatação do problema e depositados longe da lavoura.

A B C

D E

Figura 7. Raleio de frutos defasados (indicado pela seta) (A), com doença (B), com ataque de insetos-
praga (C), com podridão apical (D) e com lóculo aberto (E)
Fotos: Acervo Epagri

Õ A prática do raleio também favorece o maior crescimento dos frutos sadios re-
manescentes e elimina fontes de inóculo de doenças e, por conseguinte, propicia
maior produtividade comercial e massa média de frutos. Por outro lado, sem a
efetuação do raleio, o tomateiro apresenta maior número de frutos por planta,
podendo inclusive haver maior produtividade, porém, frutos com menor massa
média, isto é, com menor valor comercial.

63
12. Uso de porta-enxertos
A enxertia é a união de duas porções de tecido vegetal vivo, representada pela união morfológica
e fisiológica dessas partes, visando ao crescimento e desenvolvimento de uma única planta. O uso
de porta-enxertos permite a utilização sucessiva das mesmas áreas para o cultivo do tomateiro.
Os porta-enxertos são utilizados na cultura do tomateiro com diferentes propósitos:
• controle de doenças - vários trabalhos têm demonstrado a superioridade dos porta-en-
xertos no manejo de patógenos de solo, como Ralstonia solanacearum (Figura 8), Fusarium
oxysporum f. sp. lycopercisi, raças 1, 2 e 3, Meloidogyne incognita, Meloidogyne mayaguensis,
Meloidogyne arenaria e Meloidogyne javanica, Verticillium dahliae e Verticillium albo-atrum;
• tolerância a temperaturas adversas - plantas enxertadas podem tolerar melhor tempera-
turas subótimas, como 14,6oC;
• tolerância à salinidade do solo - a enxertia aumenta a tolerância de tomates ao sal, por
limitar o transporte de sódio e cloreto para a parte aérea;
• promoção do vigor - o uso de porta-enxertos que promovem o vigor pode influenciar positi-
vamente a produtividade do cultivar de tomate, se comparado ao mesmo material pé-franco;
• redução de desordens fisiológicas das plantas - as trocas gasosas podem ser afetadas por
doenças, como a murcha bacteriana. Mas nas plantas enxertadas essa desordem fisiológica
pode ser menor se comparada ao pé-franco, e
• produção de frutos de melhor qualidade - a forma, cor, textura da casca ou da polpa, e teor
de sólidos solúveis podem ser influenciados pelo porta-enxerto.

O porta-enxerto deve reunir algumas características importantes para ser considerado pro-
missor: deve ter resistência à doença que se pretende controlar; vigor; rusticidade; bom nível de
compatibilidade com o cultivar enxertado; condições morfológicas ótimas para a realização da
enxertia, e não afetar a qualidade. Um porta-enxerto vigoroso faz com que a planta enxertada
também seja vigorosa.
Recomenda-se semear o enxerto aos 10 a 13 dias após a semeadura do porta-enxerto. Varia-
ções quanto ao período adequado para a semeadura podem ser encontradas devido às condições
climáticas, principalmente à temperatura. No entanto, outros autores afirmam que a semeadura
de ambos pode ser realizada no mesmo dia. De fato, existem pequenas variações no período ideal
para realizar a enxertia, devido às condições de cultivo.
O tipo de enxertia mais utilizado é o método de fenda simples, o qual consiste no uso de porta-
-enxertos no estádio de cinco a seis folhas, sendo o ponto de enxertia realizado na terceira folha.

Õ Após o plantio, cuidados adicionais são necessários quando o porta-enxerto é


destinado ao controle de doenças de solo. Isso porque, na região de união entre
“cavalo” e “cavaleiro”, podem surgir raízes que entram em contato com o solo
contaminado por patógenos (Figura 8). Por essa razão, o “achego” de terra ou
“amontoa” é uma prática incompatível com o uso de porta-enxertos destinados
ao controle de doenças de solo. Devido à formação dessas raízes, plantios profun-
dos também devem ser evitados, de modo que a cicatriz da enxertia fique o mais
distante possível do solo. Uma cobertura vegetal também pode servir de interfa-
ce entre o solo contaminado e a cicatriz da enxertia.

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Figura 8. Produção de raízes adventícias no ponto de união entre enxerto e porta-enxerto
Fotos: Janice Valmorbida

13. Referências
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Editora Universitária de Lavras, 2013, 455p.
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67
6
6. Fertilidade do solo e nutrição de
plantas
Leandro Hahn1 e Juscimar Silva2
1
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina -
Estação Experimental de Caçador
[email protected]
2
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças
[email protected].

1. Introdução
O manejo da fertilidade do solo e a nutrição do tomateiro são áreas importantes para o bom
desempenho do cultivo no Sistema de Produção Integrada do Tomate Tutorado de Mesa (Sispit). A
tomada de decisão sobre a correção do solo, a adubação no plantio e a fertirrigação é fundamenta-
da principalmente na análise química do solo. Para isso, utiliza-se como auxílio a análise do tecido
vegetal e a curva de acúmulo de nutrientes e matéria seca das plantas. Como o tomateiro é culti-
vado em diferentes regiões do país, o uso destas ferramentas é fundamental para aumentarmos as
probabilidades de respostas às adubações que terão reflexos diretos nos ganhos de produtividade.
Embora localizadas nas faixas tropical e subtropical do globo, nas quais os processos de in-
temperismo dos solos são mais acentuados, levando ao seu empobrecimento químico, as áreas
tradicionalmente produtoras de tomate já apresentam seus solos com fertilidade construída. Ao
longo de vários anos de cultivo e a partir do uso de doses altas e continuadas de adubos, os teo-
res de nutrientes disponíveis no solo ficam próximos do valor de nível crítico, às vezes, atingindo
valores bem acima.
Assim, as recomendações de adubação devem ser aperfeiçoadas, levando-se em consideração,
além dos teores de nutrientes disponíveis no solo, outras variáveis importantes para o manejo
mais assertivo, mais equilibrado da nutrição, como, por exemplo, a taxa de extração e exportação
de nutrientes pelo tomateiro.
O papel da matéria orgânica do solo (MOS) na qualidade química, física e biológica do solo deve
ser destacada e, por isso, as práticas de manejo que visam à sua preservação ou complementação
são fundamentais. Para isso, as técnicas de plantio direto ou o cultivo com o mínimo de revolvimen-
to do solo são essenciais para a manutenção da MOS e as características químicas e físicas dele.

Õ A forma de restituição dos nutrientes ao solo com vistas a promover uma correta
nutrição do tomateiro deve estar sempre atrelada a práticas de manejo que visem
aumentar a eficiência da adubação, minimizando as perdas que podem ocorrer pelas
interações do nutriente com os minerais do solo, pela volatilização ou pela lixiviação.

68
Nesse sentido, o parcelamento da adubação em cobertura por meio da fertirrigação é uma
prática a ser implantada por técnicos e produtores. Tanto o tomate em cultivo a campo quanto
em ambiente protegido pode ser fertirrigado, tendo em vista o aumento da eficiência no uso dos
nutrientes pelas plantas e o menor risco de poluição ambiental.

2. Manejo do solo
O solo para o cultivo do tomateiro deve ser preparado de forma a permitir o crescimento das
plantas, por meio do bom desenvolvimento radicular. Devido ao trânsito de implementos agrí-
colas nas áreas de produção, a perda da qualidade física é verificada ao longo do tempo. A com-
pactação do solo é a variável física que merece destaque, uma vez que pode limitar o desenvolvi-
mento radicular, favorecer o acúmulo superficial de água e limitar o fluxo difusivo de nutrientes
ao longo do perfil do solo.
Para preservar a qualidade física, na estratégia de manejo do solo deve-se optar por métodos
conservacionistas, caracterizados por preparos com mínimo ou nulo revolvimento. No primeiro
caso, por exemplo, são utilizados implementos sobre os resíduos da cultura anterior, com o revol-
vimento mínimo necessário para o cultivo seguinte.
Por isso, antes de iniciar o cultivo e decidir qual o preparo a ser adotado, recomenda-se fazer
uma avaliação das condições físicas do solo, para verificar se há camadas de solo compactadas,
principalmente nas profundidades superiores a 30 cm. Constatada a presença de camadas com-
pactadas, deve-se lançar mão de escarificadores ou subsoladores (Figura 1).

Figura 1. Subsolagem para descompactação do solo


Foto: Leandro Hahn

Solos compactados têm o movimento de água reduzido ao longo do perfil, devido à dimi-
nuição da porosidade. Essa alteração no fluxo difusivo afeta sobremaneira a mobilidade de nu-
trientes. Por isso, é importante o monitoramento periódico da área cultivada, por exemplo, com
avaliações a cada 3 ou 4 ciclos de preparo.

69
As recomendações anteriores são importantes mesmo que na área seja adotado o sistema de
plantio com elevação de canteiros, com ou sem cobertura com mulch de plástico.

3. Preparo do solo
O preparo tem por objetivo melhorar as condições físicas e químicas do solo, bem como faci-
litar o plantio. Isso significa realizar a incorporação dos corretivos da acidez em quantidades e na
profundidade adequadas e melhorar as condições físicas do solo. O preparo do solo deve ser feito,
no mínimo, com 90 dias de antecedência ao plantio.

As etapas no preparo do solo, para uma boa lavoura de tomate, em geral, compreendem:
• a aplicação da metade da dose total de calcário;
• subsolagem do terreno até a profundidade de 40 cm;
• limpeza do terreno, retirando raízes, tocos e pedras;
• primeira aração na profundidade de correção pretendida de 20 cm, seguida de gradagem;
• aplicação do restante do calcário;
• segunda aração e gradagem;
• semeadura da cobertura vegetal;
• e, por fim, uma gradagem leve para incorporação das sementes da cobertura vegetal.

O sistema de cultivo de tomate precisa garantir a preservação ambiental e utilizar um con-


junto de práticas preconizadas no Sispit. Nesse sistema, utiliza-se o preparo do solo de cultivo
sobre a cobertura verde ou cobertura morta, irrigação por gotejamento e a adubação de cober-
tura por fertirrigação. O cultivo sobre cobertura verde ou palha é uma técnica que propicia o
maior controle de erosão e diminuição de respingo do solo, evitando o favorecimento da propa-
gação de doenças, além das plantas terem melhorias na condição de umidade e de população
microbiana benéfica no solo.

Õ Quando o plantio é feito sobre cobertura vegetal, os sulcos para a adubação e


o plantio devem ser preparados de duas a três semanas antes do plantio, para
melhor incorporação e mistura dos adubos minerais ou orgânicos, que ficarão
concentrados nos sulcos. Ressalta-se a semeadura da cobertura vegetal deve
ser planejada para que o plantio do tomate ocorra quando a cultura se encontra
na fase final do crescimento. Nessa fase, não é necessária sua dessecação, pois é
tombada pelo movimento das máquinas e trabalhadores.

É importante destacar que o sistema de plantio do tomate sobre cobertura vegetal é uma técnica
de grande utilidade para a preservação do solo. Isto porque está associada ao uso racional e eficiente da
irrigação por gotejamento e fertirrigação, à utilização de tratos culturais baseados em critérios técnicos
definidos e ao adequado manejo pela mínima mobilização mecânica da superfície do solo, procurando
mantê-lo coberto por cultivos sucessivos durante todo o ano através de uma rotação de cultura racional.

70
No Sul do Brasil, a cobertura vegetal com aveia é a melhor indicação para o cultivo do tomate
na safra de verão (Figura 2). Sementes de aveia estão facilmente disponíveis a baixo custo; a cul-
tura é de rápido desenvolvimento no inverno e de longa persistência no tomate, pela alta relação
carbono/nitrogênio do resíduo. Nessa cobertura, o tomate é implantado com abertura de sulcos,
necessitando de uma máquina com disco de corte da palhada e um sulcador. Alternativamente,
quando o solo já está com a fertilidade e a acidez corrigidas, todo o fertilizante da hortaliça pode
ser aplicado na implantação da planta de cobertura, em área total ou em sulcos que receberão as
plantas de tomate (Figura 3). Nesse caso, há muito pouco ou nenhum revolvimento do solo.

Figura 2. Máquina tracionada por trator para corte da palhada e demarcação das linhas de plantio de
tomate em plantio direto
Fotos: Leandro Hahn

Figura 3. Implantação de tomate direto na palha, sem abertura de sulcos


Fotos: Leandro Hahn

Já nos cultivos de tomate no período de inverno, o milheto é a cobertura vegetal de verão


comumente mais utilizada pelos produtores (Figura 4). Tanto o milheto quanto a aveia como cul-
turas de cobertura são preferenciais, por serem gramíneas e, quando manejadas na fase do flores-
cimento em diante, permanecem sobre o solo até a colheita do tomate. Dessa maneira, protegem
o solo contra a perda de solo, água e nutrientes em quase todo o ciclo do tomate.
Na Epagri, Estação Experimental de Caçador, comparou-se em duas safras a produção de toma-
te implantada nos sistemas de plantio convencional e plantio direto em quatro coberturas de solo
(aveia, nabo, aveia consorciada com nabo e pousio). Verificou-se que a produtividade de frutos
comerciais e Extra AA (os de maior calibre e valor comercial) e a massa média dos frutos foram

71
superiores no plantio direto de tomate em comparação ao plantio convencional (Tabela 1). As
plantas de cobertura de solo de inverno, aveia, nabo, aveia + nabo ou o pousio, não interferiram
nos parâmetros de produção. Nesse caso, sugere-se o uso da aveia por permitir uma cobertura
mais prolongada do solo.

A B

Figura 4. Área com cobertura do solo com milheto, antes de ser dessecada para plantio direto (A);
Milheto tombado para transplante das mudas de tomate em plantio direto (B)
Fotos: Leandro Hahn

TABELA 1. Produtividade de frutos do tomateiro e massa média de frutos em função do sistema de


plantio e da cobertura de solo de inverno
Massa média
NÍVEIS DOS ------- PRODUTIVIDADE DE FRUTOS (t ha-1) --------
de frutos
FATORES
Total Comercial Extra AA Extra A Descarte Comercial (g)
SISTEMA DE PLANTIO
Plantio convencional 104,3 ns
97,3 B 77,2 B 20,0 A 6,9ns 196,5 A
Plantio direto 109,0 102,8 A 85,1 A 17,7 B 6,1 200,2 B
COBERTURA DE SOLO DE INVERNO
Aveia + Nabo 110,2
ns
103,8ns 85,5ns 18,4ns 6,4ns 200,3ns
Aveia 105,0 98,4 80,3 18,0 6,6 198,2
Nabo 107,7 101,1 80,9 20,2 6,6 198,5
Pousio 103,7 97,2 78,2 18,9 6,6 196,5
Média 106,7 100,2 81,3 18,9 6,5 198,4
ns: não significativo.
Fonte: Walmorbida et al. (2020).

72
4. Correção do solo
O tomateiro está entre as espécies cultivadas que apresenta as maiores demandas por nutrien-
tes por área produzida. O fornecimento de nutrientes nas quantidades adequadas é fundamental
para se atingir o máximo potencial produtivo do tomateiro e deve ser realizado de maneira equi-
librada, visando atender à demanda da planta. Devem-se evitar os excessos, já que esses insumos
podem representar, em alguns casos, até 50% do custo de produção.
A adição ou a restituição ao solo de nutrientes exportados pela cultura pode se dar por meio
de técnicas agrícolas convencionais, como calagem e uso de fertilizantes, ou a partir de soluções
nutritivas balanceadas, no caso da produção por sistemas sem solo.
Para o cultivo do tomateiro direto no solo, a análise química é uma ferramenta-chave para
avaliar a disponibilidade de nutrientes, auxiliar na tomada de decisão referente às quantidades
de corretivos e nutrientes a serem adicionadas, bem como corrigir os possíveis desequilíbrios nu-
tricionais causados pelo uso excessivo de um ou mais fertilizantes - muito comum em áreas de
cultivo de hortaliças.

Õ O manejo mais assertivo da fertilidade do solo passa por uma boa amostragem; ou
seja, a quantidade de amostras simples a ser coletada deve ser suficiente para re-
presentar a fertilidade média da área amostrada. Para isso, considerando as variabi-
lidades que podem ocorrer a longas e a médias distâncias, deve-se dividir a proprie-
dade em subáreas de produção (unidade de amostragem, talhão, gleba, etc.).

Os talhões ou glebas devem ser delimitados considerando as características similares, como


o histórico de cultivo da área, uniformidade em relação à vegetação, à posição topográfica e às
características perceptíveis do solo (cor e textura). Após a definição da unidade de amostragem,
sejam quantas forem necessárias, para cada uma deve-se retirar entre 20 e 30 amostras simples
(subamostras). A coleta deve ocorrer de maneira aleatória, percorrendo toda a área e respeitando
a camada de amostragem que, em geral, faz-se de 0,00 a 20,0 cm de profundidade.
Em regiões onde é adotado o plantio direto, a profundidade de amostragem do solo é menor,
às vezes ocorrendo até os 10 cm, em razão da concentração de nutrientes nas camadas superfi-
ciais do solo. No entanto, recomenda-se amostrar também a camada de 10 a 20 cm de profun-
didade para identificar a necessidade de incorporação de corretivos da acidez. Novamente, essa
incorporação deverá ser feita antes da implantação da cobertura vegetal.
A coleta de solos em camadas mais profundas (até 40 cm) é incentivada, pois permite verificar
possíveis impedimentos químicos que poderiam limitar o desenvolvimento das raízes.
Depois de coletadas, as amostras simples devem ser bem misturadas para a obtenção da uma
amostra composta, a qual deverá ser enviada, com maior brevidade possível, para laboratório com
selo de proficiência em análises de solo. A partir do laudo técnico, serão estimadas as quantidades
de corretivos e de fertilizantes.

73
4.1. calagem
A prática da calagem visa ajustar o pH do solo para uma faixa de valores na qual os nutrientes,
presentes na solução do solo, possam estar prontamente passíveis de absorção pela planta e redu-
zir a atividade do alumínio trocável (Al3+), que é prejudicial ao tomateiro. Além disso, a maioria dos
corretivos de acidez são as fontes mais baratas para o suprimento de cálcio (Ca) e magnésio (Mg).

Õ A necessidade de calagem (NC) pode ser estimada por diferentes métodos e


devem ser respeitados os critérios regionais. Como exemplo, no estado de Minas
Gerais e em outras regiões, utiliza-se o método da Neutralização do Al trocável
e elevação dos teores de Ca2+ e Mg2+. Já no estado de São Paulo é considerada a
Saturação por Bases. Não obstante a determinação da quantidade de corretivos,
para obter os efeitos desejáveis da calagem, deve-se considerar ainda a época de
aplicação, o tipo e a forma de incorporação do calcário.

• Método de neutralização do Al3+ e elevação dos teores de Ca2+ e Mg2+

Utilizado na maioria dos estados brasileiros, em especial em Minas Gerais, neste método, a
NC é calculada a partir de duas equações que se somam e o resultado, depois de ajustado consi-
derando o poder relativo de neutralização total (PRNT) do corretivo, equivale a quantidade a ser
adicionada ao solo.

NC = Necessidade de calcário, em t ha-1;


Y = variável relacionada à capacidade tampão do solo e que pode ser definida de acordo com a
textura do solo (Tabela 2);
Al3+ = acidez trocável, em cmolc dm-3;
mt = saturação máxima por Al tolerada, m = 5%;
t = capacidade de troca catiônica efetiva (CTCefetiva), em cmolc dm-3;
X = disponibilidade de Ca e Mg requerida pelo tomateiro, X = 3;
Ca2+ + Mg2+ = teores trocáveis de Ca e Mg, em cmolc dm-3.

O resultado negativo nos colchetes deve ser substituído por zero para dar continuidade ao cálculo.

TABELA 2. Valores de Y em função da textura e porcentagem de argila do solo


TEXTURA DO SOLO TEOR DE ARGILA (%) Y
Arenosa 0 – 15 0,0 – 1,0
Média 15 – 35 1,0 – 2,0
Argilosa 35 – 60 2,0 – 3,0
Muito argilosa > 60 3,0 – 4,0
Fonte: Alvarez e Ribeiro (1999).

74
Considerando que o tomateiro é sensível ao Al3+ presente na solução do solo e que apresenta alta
demanda por Ca e Mg, pode-se adotar o valor mt = 0 e X = 3. Adicionalmente, dividindo o valor da NC
pela fração do PRNT do corretivo, podemos calcular a quantidade de calcário (QC) da seguinte maneira:

• Método da saturação por bases

Uso mais difundido no estado de São Paulo, esta recomendação é baseada na relação existente
entre o pH e a saturação por bases. Assim, procura-se elevar a saturação por bases (V) do solo para
o valor recomendado para o tomateiro, no caso de 70% da capacidade de troca de cátions (CTC
pH 7,0 ou T).

NC = Necessidade de calcário, em t ha-1;


T = capacidade de troca catiônica a pH 7,0, estimada pela soma de bases e acidez potencial [SB
+ (H+Al)], determinadas pela análise do solo, em cmolc dm-3;
V2 = porcentagem de saturação por bases recomendada, para o tomateiro (70%);
V1 = saturação por bases atual do solo, em %, estimado por: V1 = (100 x SB/T); sendo SB = Ca2+ +
Mg2+ + K + Na, em cmolc dm-3

De maneira simplificada e corrigindo a NC pela fração do PRNT do corretivo, a quantidade de


calcário (QC) é calculada da seguinte maneira:

• Método SMP

Para as condições do RS e SC, são utilizadas as recomendações de calagem da Comissão de


Química e Fertilidade do Solo – RS/SC (CQFS-RS/SC, 2016) -, as quais são baseadas no índice SMP.
Neste método, a acidez potencial (H+Al) é estimada pela medição do pH de equilíbrio da mistura
solo: solução SMP, a qual relaciona-se à quantidade de calcário necessária para correção da acidez
do solo, para que o solo atinja pH em água igual a 6,0.
As quantidades de corretivo a serem usadas, segundo a recomendação do índice SMP (Tabela
3), referem-se à aplicação de calcário e correção na camada de 0–20 cm de profundidade do solo.
Para uma boa reatividade do corretivo, este deve ser bem misturado ao solo. Sugere-se que quan-
tidades superiores de 8 a 10 t ha-1 sejam parceladas e aplicadas em duas etapas, possibilitando,
assim, a melhor distribuição e incorporação na camada de solo a ser corrigida.

75
TABELA 3. Recomendações de calagem (calcário com PRNT 100%) com base no índice SMP, para a
correção elevar o pH em água do solo a 6,0 (camada de 0 a 20 cm) nos estados do Rio Grande do Sul e
Santa Catarina (Continuação)
ÍNDICE SMP CALCÁRIO (t ha-1) ÍNDICE SMP CALCÁRIO (t ha-1)
≤ 4,4 21,0 5,8 4,2
4,5 17,3 5,9 3,7
4,6 15,1 6,0 3,2
4,7 13,3 6,1 2,7
4,8 11,9 6,2 2,2
4,9 10,7 6,3 1,8
5,0 9,9 6,4 1,4
5,1 9,1 6,5 1,1
5,2 8,3 6,6 0,8
5,3 7,5 6,7 0,5
5,4 6,8 6,8 0,3
5,5 6,1 6,9 0,2
5,6 5,4 ≥ 7,0 0,0
5,7 4,8
Fonte: CQFS-RS/SC (2016).

Independentemente do método utilizado para estimar a NC, o resultado obtido equivale à


quantidade de materiais corretivos – carbonatos, óxidos, hidróxidos e silicatos – a ser incorporada
por hectare de solo, na camada de 0 a 20 cm de profundidade. Caso haja alteração na camada
amostrada (0 a 10 cm de profundidade, por exemplo), a QC deverá ser corrigida, proporcional-
mente, para evitar especialmente a supercalagem.
Recomenda-se que a escolha do corretivo seja feita em função do PRNT, o qual deve ser de,
no mínimo, 45%, conforme legislação vigente, do preço do transporte e do tipo de equipamento
disponível de aplicação.

Õ Considerando que a cultura do tomate é muito exigente em cálcio, na escolha do


corretivo, recomenda-se optar por produtos que, após a reação no solo, resultem
numa relação Ca/Mg igual ou superior a 3. Isso pode ser obtido pela aplicação de
mais de uma fonte de corretivo. Uma opção é aplicar 50% da dose na forma de
calcário dolomítico e 50% na forma de calcário calcítico. A lama ou borra de cal,
subproduto da indústria de papel, é um corretivo calcítico que pode ser usado,
com o devido cuidado por ser um produto corrosivo.

Devido às diferentes fontes e composição química dos corretivos, deve-se ter atenção quan-
to aos teores de MgO deles e fazer uso de corretivos com teores mais elevados desse nutriente,
como os calcários dolomíticos. É recomendado sempre ajustar os teores de Mg2+ para acima de 1,0
cmolc dm-3. Em situações favoráveis ao uso do calcário calcítico ou de óxidos - CaO ou hidróxidos
– Ca(OH)2 de Ca, o Mg deverá ser adicionado via outras fontes, como sulfatos, carbonatos e óxidos.
Solos com teores de Mg baixo (Mg2+ < 0,8 cmolc dm-3) recomenda-se aplicar de 100 a 120 kg ha-1
de sulfato de Mg, no sulco, junto dos outros fertilizantes.

76
Ao lançar mão do uso de CaO ou Ca(OH)2 em detrimento do calcário, é importante que a apli-
cação seja feita com bastante antecedência, pois são corretivos muito reativos e sua dissolução
gera calor que pode afetar o desenvolvimento da planta, caso a aplicação seja muito próxima da
data de cultivo.
O calcário pode ser aplicado a lanço, porém com boa antecedência do plantio, para permitir
que as reações de solubilização se processem e o propósito da calagem seja atingido. Depois
de aplicado, ele deve ser incorporado por meio de aração, considerando sistema de cultivo con-
servacionista. Para melhor efeito da calagem, o solo deve estar com umidade superior a 80% da
capacidade de campo.

4.2. Uso do gesso agrícola


O gesso agrícola é um subproduto industrial proveniente da acidulação da rocha fosfatada
para produção do ácido fosfórico. É empregado nas lavouras como condicionador do solo, pois
auxilia na redução dos teores tóxicos de Al3+, principalmente nas camadas mais profundas do solo.
Adicionalmente, pode ser fonte de Ca (16%) e enxofre (13%), pois esses elementos nutrientes es-
tão presentes na sua composição.
O uso do gesso agrícola é mais difundido nas áreas de cultivo de grãos (espécies anuais) e de
culturas perenes, porém, os ganhos de produtividade, observados especialmente nos solos de
Cerrado brasileiro, encorajam seu uso na tomaticultura.
As fórmulas para o cálculo da necessidade de gesso (NG) são variáveis e podem ser estimadas
em função do teor de argila, da concentração de fósforo remanescente (P-rem), bem como pela
saturação por bases e CTC do solo. As fórmulas mais usuais são:
• ou

• ou

A aplicação de gesso deve ser feita em área total e não há necessidade de sua incorporação.
No entanto, devido ao seu efeito residual prolongado, novas aplicações devem ser feitas sempre
fundamentadas na análise química do solo em subsuperfície.

4.3. Matéria Orgânica do Solo


A MOS participa de diferentes processos nos solos e, mesmo em pequenas quantidades, na
maioria inferior a 2,0 dag kg-1, estão presentes em diferentes frações ativas, como os ácidos húmi-
cos e fúlvicos. Essas frações são as que contribuem para aumento da capacidade de troca catiô-
nica, notadamente em solos arenosos e muito intemperizados, atuando na retenção e disponibi-
lização de nutrientes, melhoria na retenção de umidade, retenção e complexação de poluentes,
estruturação do solo e manutenção de biodiversidade, entre outras reações.
Apesar disso, na maioria das áreas de produção do tomateiro, a adição de compostos orgâni-
cos nos solos é realizada com foco maior no aproveitamento da sua ação como condicionadora
do solo e fonte de energia para os microrganismos do solo. Em menor importância, é utilizada
também como fonte de nutrientes ou como meio de incrementar as frações ativas do solo. No
último caso, seria necessário aplicar fontes orgânicas já humificadas.

77
As diferentes práticas de cultivo conservacionistas, principalmente o plantio

Õ direto, são eficientes para manutenção e incremento da MOS. Fazem parte


desta estratégia para aumentar o estoque de carbono nos solos a manuten-
ção da palhada, o revolvimento mínimo do solo, a rotação de culturas utili-
zando espécies fixadoras de nitrogênio (N) e outras cuja palhada é rica em
carbono (gramíneas, por exemplo).

Em áreas com baixo teor de MOS (< 2,0 dag kg-1), recomenda-se complementar a adubação
aplicando na área total 20 a 30 t ha-1 de esterco de curral, previamente curtido ou composto orgâ-
nico, ou a décima parte dessa dose (2 a 3 t ha-1) na forma de esterco de aves. Recomenda-se anali-
sar quimicamente o adubo orgânico para verificar a sua composição e quantificar a contribuição
dos nutrientes incorporados com a dose que está sendo utilizada.
O adubo orgânico pode ser utilizado também a lanço em toda a área antes do plantio da co-
bertura verde, principalmente em regiões com baixa fertilidade natural do solo. Adicionalmente, o
cultivo de plantas de cobertura do solo anteriores ao tomate tem um impacto positivo no aumen-
to da MOS. Esta técnica deve ser preconizada quando se busca a melhoria de propriedades físicas,
químicas e biológicas do solo.

4.4. Adubação do Tomateiro


As doses de fertilizantes minerais, necessárias para atingir a produtividade de máxima eficiên-
cia econômica, devem ser estimadas considerando os teores de nutrientes obtidos na análise
química e a classe textural do solo, e o potencial de produção da cultivar a ser plantada. Adicio-
nalmente, o histórico de manejo da área deve ser levado em consideração, uma vez que alguns
nutrientes podem apresentar os teores residuais elevados, em especial P, K e micronutrientes.
Nos cultivos diretos no solo, os elementos nutrientes Ca e Mg são adicionados via calagem, já
que os calcários comumente utilizados no Brasil (dolomíticos e calcíticos) apresentam esses dois
nutrientes em sua composição. Já os demais nutrientes essenciais ao tomateiro devem ser aplica-
dos de acordo com a classe de fertilidade de cada um, constantes nos manuais ou boletins infor-
mativos das principais regiões produtoras de tomate. A partir da definição da classe de fertilidade
do solo – muito baixa, baixa, média, alta ou muito alta –, recorrem-se às tabelas de recomendação
de adubação mineral de plantio e de cobertura para o cultivo do tomateiro.
É importante estar atento quanto ao método de análise utilizado, o qual pode alterar sobre-
maneira a interpretação dos níveis de fertilidade do solo. No estado de São Paulo, por exemplo,
os teores disponíveis de P e K são determinados pelo método da resina catiônica/aniônica (mista),
enquanto em outros estados é utilizado o extrator Mehlich-1. Isto se torna problemático quando
não se dispõe de tabelas de conversão nos teores dos elementos extraídos por diferentes méto-
dos.
É importante reforçar a identificação da composição granulométrica ou a textura do solo para
melhor prever a interação dos nutrientes com a fase sólida do solo. Nas áreas de cultivo nas quais
o solo apresenta textura arenosa ou média (teor de argila menor que 400 g kg-1) e baixa CTC, as
adubações com N e K devem se parceladas para evitar perdas por lixiviação. Já para os solos de
textura mais argilosa, a localização dos nutrientes na linha de plantio é outra prática recomenda-
da, principalmente para as fontes mais solúveis de fertilizantes, principalmente os que contêm P
em sua formulação, como o nitrofosfato (MAP ou DAP) ou o superfosfato triplo ou simples.

78
Õ O posicionamento do fertilizante é fundamental para manter os níveis de
nutrientes disponíveis em zonas mais próximas ao sistema radicular para favorecer
a absorção pela cultura e minimizar a sua interação com os coloides do solo. Deve-
-se ter cuidado com os riscos de efeito salino dos fertilizantes, os quais, em muitos
casos, têm sido responsáveis pela redução da população de plantas na lavoura,
devido ao aumento abrupto da condutividade elétrica (CE) da solução do solo.

5. Adubação de plantio
a adubação de plantio é realizada a partir do uso de formulações, contendo diferentes pro-
porções de N, P2O5 e K2O, ou uso de fertilizantes simples com apenas um nutriente. Em geral, na
escolha da fonte de fertilizantes formulada, é considerada a concentração de P2O5 da formulação,
uma vez que o fósforo (P) é o nutriente mais limitante nos solos tropicais, sob o ponto de vista
de produção. No solo, o P está presente nas formas H2PO4- e HPO42- que são as espécies químicas
absorvidas pelas plantas. Essas moléculas são muito reativas e a disponibilidades delas para as
plantas reduz com o tempo, seja por precipitação, devido à interação com outros íons, como o Ca,
seja por adsorção aos coloides do solo.

5.1. Adubação de plantio para o sul do Brasil


Pela interpretação dos resultados da análise de solo para P e K, adotada pela CQFS-RS/SC (2016),
os valores de P (Tabela 4) e K (Tabela 5) extraíveis do solo são interpretados em cinco faixas. O limi-
te inferior da faixa ‘alto’ corresponde ao nível crítico do nutriente no solo. Isso significa que, abaixo
do nível crítico, aumentam as possibilidades de resposta da cultura à aplicação desses nutrientes.
Devido à influência da argila na disponibilidade de fósforo às plantas, para a maioria das culturas
existem quatro classes de interpretação dos teores nos solos em função da porcentagem de argila.
Para a interpretação dos teores do K, existem três classes de acordo com a CTC do solo a pH 7,0.

TABELA 4. Interpretação do teor de fósforo do solo


extraído pelo método Mehlich-1, conforme o teor de argila
CLASSE DE SOLO CONFORME O TEOR DE ARGILA (1,2)
INTERPRETAÇÃO 1 2 3 4
------------------------------------- mg dm --------------------------------
-3

Muito baixo ≤3,0 ≤4,0 ≤6,0 ≤10,0


Baixo 3,1 – 6,0 4,1 – 8,0 6,1 – 12,0 10,1 – 20,0
Médio 6,1 – 9,0 8,1 – 12,0 12,1 – 18,0 20,1 – 30,0
Alto 9,1 – 12,0 12,1 – 24,0 18,1 – 36,0 30,1 – 60,0
Muito alto >12,0 >24,0 >36,0 >60,0
(1)
Teores de argila: classe 1 = >60%; classe 2 = 60 a 41%; classe 3 = 40 a 21%; classe 4 = ≤20%.
(2)
Caso a análise tenha sido feita por Mehlich-3, transformar previamente os teores em “equivalentes Mehlich-1”,
conforme equação PM1 = PM3/(2-(0,02 x argila)).
Fonte: CQFS-RS/SC (2016).

79
TABELA 5. Interpretação do teor de potássio, conforme as classes de CTC do solo a pH 7,0
CTCpH 7,0 DO SOLO (1)
INTERPRETAÇÃO ≤7,5 7,6 – 15,0 15,1 – 30,0 > 30,0
------------------------------- mg dm de K -----------------------------
-3

Muito baixo ≤20 ≤30 ≤40 ≤45


Baixo 21 – 40 31 - 60 41 - 80 46 – 90
Médio 41 - 60 61 - 90 81 – 120 91 – 135
Alto 61 - 120 91 - 180 121 -240 136 – 270
Muito alto >120 >180 >240 > 270
(1)
Caso a análise tenha sido feita por Mehlich-3, transformar previamente os teores
em “equivalentes Mehlich-1”, conforme equação KM1 = KM3 x 0,83.
Fonte: CQFS-RS/SC (2016).

A quantidade de adubo nitrogenado, fosfatado e potássico recomendada para a cultura do to-


mate, é definida utilizando as faixas de interpretações dos teores desses nutrientes no solo (CQFS-
-RS/SC, 2016). As recomendações das quantidades de adubos para a cultura são definidas segun-
do os trabalhos experimentais da Epagri – Estação Experimental de Caçador (Tabelas 6, 7 e 8).

TABELA 6. Porcentagem de adubação na base e em cobertura para o Sistema de Produção Integrada


de Tomate de Mesa (Sispit) para Sul do Brasil
ADUBAÇÃO DE BASE ADUBAÇÃO DE COBERTURA
NUTRIENTE NO SULCO DE PLANTIO EM FERTIRRIGAÇÃO
-------------------------------- % da dose total -------------------------------
N 10 90
P2O5 100 0
K2O 5 95
Boro 100 0

TABELA 7. Recomendação da adubação nitrogenada, de acordo com o potencial máximo de produção


a partir da interpretação do teor de matéria orgânica do solo para o Sistema de Produção Integrada
de Tomate de Mesa (Sispit) para Sul do Brasil
TEOR DE MATÉRIA ORGÂNICA NO SOLO (%) NITROGÊNIO TOTAL (kg ha-1)
< 2,5 700
2,6 a 3,5 600
3,6 a 5,0 500
> 5,0 400

80
TABELA 8. Recomendações de adubação fosfatada e potássica, de acordo com o potencial máximo
de produção a partir da interpretação da análise de solo para o Sistema de Produção Integrada de
Tomate de Mesa (Sispit) para o Sul do Brasil
FÓSFORO POTÁSSIO
TEOR NO SOLO
kg ha-1 de P2O5 kg ha-1 de K2O
Muito baixo 1000 1100
Baixo 800 900
Médio 600 700
Alto 400 500
Muito alto 300 400

Na adubação de base, é recomendada a aplicação no sulco de corte da palhada nas seguintes


proporções: para o N, 10% da dose total do adubo nitrogenado; no caso do P, a dose total de P na
base ou ½ dose, de acordo com a interpretação do resultado de análise. Se a interpretação indicar
teores muito baixos ou baixos, que são doses elevadas de adubos fosfatados, recomenda-se a apli-
cação em duas etapas: a primeira ½ dose aplicada a lanço em toda a área por ocasião do preparo
do solo no plantio da aveia e a outra ½ dose aplicada na base no sulco de plantio do tomate.
Para a adubação de K, recomenda-se aplicar 5% da dose total do adubo potássico (Tabela 8). A
aplicação poderá ser feita com o equipamento de corte e sulcador ou a lanço, sob o sulco. Se a in-
corporação for mais profunda, com o equipamento de corte, não há necessidade de efetuar uma
prática de mistura. Se a aplicação for a lanço sob a linha do sulco, efetua-se uma prática de mistura
dos adubos de forma manual ou mecanizada, para evitar a queima das raízes em contato direto
com os adubos aplicados na linha. Essa prática deve ser efetuada de preferência 10 dias antes do
plantio. Recomenda-se ainda aplicar nesta adubação de base, o micronutriente boro (3-5 kg ha-1),
utilizando 30-50 kg ha-1 de bórax (Tabela 6) também na linha no sulco de plantio.
Como fontes da adubação nitrogenada, poderão ser utilizados diferentes adubos formulados
ou simples: ureia, sulfato de amônia, nitrato de amônio, MAP ou DAP. Deve-se sempre optar por
aquele adubo que ofereça melhor custo-benefício por unidade de nutriente. Se a opção for pelo
uso da ureia, observe para que o solo esteja úmido, ou efetue a prática da incorporação logo
após a aplicação, para evitar perdas por volatilização. O P deve sempre ser aplicado na fórmula
de fosfatos solúveis (superfosfato simples ou triplo, MAP, DAP). Se for usado formulado, calcule
a quantidade aplicada e complemente com adubos simples. Os fosfatos naturais não devem ser
utilizados para a cultura do tomate, devido à sua baixa solubilidade e baixa eficiência. O cloreto
de K é a principal fonte de adubo potássico na base. Se for usado o adubo formulado, calcule a
quantidade aplicada e complemente com o cloreto de K.

5.2. Adubação de plantio para outras regiões


Como estratégia de adubação, para o P, recomenda-se aplicar no plantio de 80% a 100% da quan-
tidade calculada. Já para o N e o K, as quantidades dependem do histórico da área e teores dispo-
níveis no solo. Além disso, esses nutrientes podem ser perdidos por volatilização ou por lixiviação.
Nas condições do Cerrado brasileiro, é sabido que há uma carência de micronutrientes, em especial
de boro (B) e zinco (Zn) e, por isso, deve-se redobrar os cuidados quanto ao suprimento correto desses
elementos. As quantidades recomendadas de B e Zn giram em torno de 1 a 3 kg ha-1 e de 3 a 5 kg ha-1,
respectivamente, e podem ser adicionadas no plantio na forma de sais solúveis, óxido ou silicatos.

81
Considerando que a demanda inicial do tomateiro por N e K é baixa, as quantida-

Õ des a serem aplicadas no plantio variam de 40% a 60% do total calculado. Algu-
mas áreas produtivas, em que os solos já apresentam fertilidade construída e os
teores disponíveis de K estão acima de 100 mg dm-3, não adicionam esse nutrien-
te na adubação de base, optando por parcelar toda a quantidade recomendada
na adubação de cobertura.

A restituição do enxofre (S) exportado pela cultura é outro ponto crucial para o alcance de
altas produtividades. Sintomas de deficiência de S têm sido frequentes nas lavouras de toma-
te, por causa do uso continuado de formulações concentradas de NPK, como a 04:30:10 ou a
04:30:16. De maneira geral, o teor de S menor que 5,0 mg dm-3 é considerado baixo e, portanto,
sua correção se faz necessária.
A adubação com S pode ser feita via aplicação de gesso agrícola ou outras fontes que conte-
nham o nutriente, como o sulfato de magnésio. Uma alternativa que tem sido utilizada nas lavou-
ras é aplicar proporções diferenciadas de fontes menos e mais concentradas em P, como a adição
de uma parte do P como 04:14:08 e a outra como 04:30:10. A primeira formulação contém S pro-
venientes do sulfato de amônio e do superfosfato simples utilizados na mistura.
Outra opção interessante é aplicar parte da adubação fosfatada na forma de termofosfato
magnesiano, no sulco de plantio. Essa prática fornece quantidades significativas de Ca, Mg, silí-
cio (Si) e micronutrientes.
O uso de fontes simples ou individuais de fertilizantes (ureia, cloreto de potássio, superfosfato
triplo, dentre outros) é menos comum e a decisão dessa forma de adubação deve considerar os
custos dos fertilizantes e das operações de aplicações dos insumos.

6. Adubação de cobertura
As adubações de cobertura visam complementar as quantidades de nutrientes requeridas pela
cultura ao longo do seu ciclo vegetativo e que não foram aplicadas no momento do plantio, para
evitar perdas ou alteração da CE do solo.

6.1. Adubação de cobertura do tomate para o sul do Brasil


A adubação de cobertura para o tomate cultivado nessa região basicamente é composta de
N, 90% da dose total, e K, 95% da dose total (Tabela 6), que serão aplicados em fertirrigação, de
acordo com o cálculo da curva de absorção. Na Tabela 9 é apresentada uma sugestão de distribui-
ção de N e K fracionado em 20 semanas de cultivo. A distribuição desses nutrientes pode variar
de acordo com a curva de absorção de cada híbrido de tomate. O início ocorre aos 21 dias ou na
3ª semana após o transplante, quando se aplicou 10% e 5% do requerimento de N e K2O, respec-
tivamente, no plantio.
As fertirrigações podem iniciar já na primeira semana, se não for aplicado N e K no transplante,
como quando se utiliza superfosfato triplo ou simples no sulco. A adubação de cobertura é efetu-
ada em fertirrigação, em apenas uma aplicação semanal, ou até duas, quando as doses recomen-

82
dadas são mais altas. O processo de injeção do adubo na linha de gotejamento pode ser feito por
válvulas de sucção (scruguel) ou por injeção sobre pressão de bombas hidráulicas.
Deve-se observar que a mangueira gotejadora tenha uma uniformidade de pressão, e que o adu-
bo tenha uma uniformidade de distribuição na sua aplicação. Em áreas de desníveis, é necessário
subdividir em setores para a uniformidade de pressão e precisão da distribuição do adubo com ho-
mogeneidade ou usar mangueira gotejadora autopropelido. Outro aspecto importante na fertirri-
gação são os sistemas de filtros para que não haja entupimento da mangueira de gotejamento.

TABELA 9. Porcentagem semanal para o cálculo da quantidade de N e K na adubação de cobertura no


Sistema de Produção Integrada de Tomate de Mesa (Sispit) no Sul do Brasil, por semana, após o plantio

SEMANAS DIAS APÓS PLANTIO N (%) K2O (%)

Plantio 0 10,0 5,0


1ª 7 0,0 0,0
2ª 14 0,0 0,0
3ª 21 1,5 0,5
4ª 28 2,5 2,5
5ª 35 3,5 2,8
6ª 42 4,0 3,7
7ª 49 4,5 4,0
8ª 56 5,2 5,8
9ª 63 8,5 9,2
10ª 70 9,2 12,1
11ª 77 10,2 12,5
12ª 84 10,0 10,1
13ª 91 9,2 9,1
14ª 98 8,1 8,3
15ª 105 7,0 6,5
16ª 112 6,0 5,0
17ª 119 3,5 3,1
18ª 126 3,3 2,5
19ª 133 2,5 1,1
20ª 140 1,0 1,1
TOTAL - 100 100

Õ O comportamento da curva de requerimento por N no tomate é maior e mais


acentuado na fase inicial e, com aumento gradual, até a décima ou décima-
primeira semana, quando se tem o pico máximo, e diminuição gradual até a vigé-
sima semana. Comportamento semelhante se verifica para o K, com um requeri-
mento mais lento na fase inicial; pico máximo entre a décima e décima-primeira
semana, e uma diminuição gradual até próximo ao fim do ciclo.

83
Com a distribuição dos fertilizantes de acordo com a demanda das plantas, assegura-se o seu
crescimento equilibrado, com distribuição adequada entre a estrutura vegetativa e reprodutiva
(Figura 5), formação de um bom número de frutos de maior calibre por penca, além de uma distri-
buição uniforme dos frutos na planta. Por fim, garantem-se frutos de maior calibre no terço final
da planta, denominado de ponteiro (Figura 6).

Figura 5. Plantas de tomate com adequado fornecimento de nutrientes via adubação de plantio e
fertirrigação mostrando adequado crescimento vegetativo e bom estado nutricional
Foto: Leandro Hahn

Figura 6. Plantas de tomate com adequado estado nutricional, garantindo frutos de maior calibre no
terço final (ponteiro)
Foto: Leandro Hahn

84
As fontes de adubos usadas em fertirrigação são geralmente o nitrato de amônio, nitrato de
cálcio, ureia, nitrato de potássio ou cloreto de K branco. Podem-se usar adubos formulados de
maior solubilidade, embora em experimentos conduzidos na Estação Experimental de Caçador
não tenham apresentado diferenças para as fontes tradicionais, desde que a concentração do
nutriente seja a mesma. Portanto, a escolha da fonte de adubo deve levar em consideração as
características de maior facilidade no preparo da calda (solubilidade, limpeza, etc.) e o custo do
adubo por unidade de nutriente.

6.2. Adubação de cobertura para outras regiões


Sob o ponto de vista prático, são utilizadas também as formulações, porém mais concentradas
em N e K, como a 20:00:20 ou 20:05:20.
Geralmente, as adubações de cobertura se iniciam aos 20 – 25 dias após transplantio das mu-
das. Este período coincide com o início de florescimento do tomateiro. As quantidades restantes
de adubo podem ser adicionadas a cada 15 dias, considerando um total de 4 a 5 aplicações.
Considerando que no período de frutificação há uma demanda mais acentuada por Ca, é
aconselhável que parte do N seja adicionado na forma de nitrato de cálcio – Ca(NO3)2. A deficiên-
cia de cálcio pode ser devida à baixa concentração de Ca na solução do solo, pelo baixo forneci-
mento de água ou condições de dias seguidos de alta nebulosidade, quando a planta reduz sua
evapotranspiração devido à alta umidade relativa.
A fertirrigação é a maneira mais eficiente para fornecer os nutrientes ao longo do período
de cultivo e, para isso, devem ser utilizados saís específicos. Além da maior eficiência de uso de
água e nutrientes pela planta, essa prática permite a adição de outros nutrientes em cobertura,
como o Ca e os micronutrientes, em especial o B. Esta técnica consiste na aplicação dos nutrientes
diluídos na água de irrigação. É o método mais eficiente e econômico de aplicar os fertilizantes,
principalmente por meio de sistema de irrigação localizada, como o gotejamento. Adicionalmen-
te, a aplicação parcelada dos fertilizantes nos momentos de maior demanda da cultura apresenta
como vantagens: redução das perdas por lixiviação, evita a contaminação do lençol freático e de
reservatórios de água superficiais e subterrâneas.
A eficiência da fertirrigação está condicionada às características do solo, da água, dos fertilizantes
e da taxa de acúmulo de nutrientes da cultura. Informações mais detalhadas sobre os diferentes sis-
temas de irrigação podem ser consultadas no capítulo que trata especificamente desse tema.
Salienta-se que as doses a serem aplicadas devem sempre ser estimadas em função da análise
química do solo, das classes de produtividade esperadas e do acúmulo de nutrientes.
Como exemplo do planejamento da fertirrigação, na Tabela 10 está a distribuição da demanda
de N e K do tomateiro (cv Santa Clara) ao longo do ciclo produtivo. Os valores mais altos coincidem
com o período de maior absorção. Após calculada a dose do fertilizante para todo ciclo produtivo,
pode-se fazer a distribuição proporcional às quantidades a serem fornecidas via fertirrigação, uti-
lizando as porcentagens demandadas pelo tomateiro.
Recomendamos que sempre se busque utilizar as curvas de acúmulo de nutrientes para a
cultivar de interesse e, principalmente, que as recomendações sejam para as mesmas condições
edafoclimáticas onde será realizado o cultivo. Não havendo estudos dessa natureza, pode-se utili-
zar essa recomendação como guia e vai se ajustando conforme a experiência de campo.

85
Para fertirrigação via gotejamento, sugere-se aplicar de 10% a 20% da recomendação total de
N e K em pré-plantio, para suprir uma reserva de nutrientes no solo e favorecer o desenvolvimento
inicial do cultivo. O restante é fornecido via fertirrigação à medida que as plantas se desenvolvem.
Se os teores de K estiverem muito elevados, a adubação poderá ser realizada apenas por cobertura.

Õ A ocorrência de podridão apical e a necessidade de pulverizações foliares com


cálcio podem ser eliminadas, aplicando-se parte do cálcio via fertirrigação du-
rante o florescimento e a frutificação. Para solos arenosos, a fertirrigação deve ser
realizada a cada 1 ou 2 dias; para solos argilosos pode-se adotar uma frequência
de 1 a 2 vezes por semana.

TABELA 10. Variação da necessidade de N e K do tomateiro (C.V. Santa Clara) em função da idade da planta
NUTRIENTE
IDADE DA PLANTA (DIAS
N K
APÓS O TRANSPLANTIO)
%
12 4,1 2,0
24 9,0 5,5
36 16,6 13,3
48 22,9 23,9
60 21,4 26,3
72 13,9 17,1
84 7,0 7,7
95 3,1 2,9
105 1,3 1,0
120 0,5 0,3
Fonte: Fayad et al. (2002)

Deve-se utilizar fertilizantes específicos para a fertirrigação, pois são de alta solubilidade e pu-
reza. Os principais fertilizantes utilizados são: cloreto de cálcio, cloreto de potássio, monofosfato
de potássio, nitrato de cálcio, nitrato de potássio, sulfato de amônio, sulfato de potássio e ureia,
além dos micronutrientes em formulação ou individualmente - a maioria à base de sulfatos. O cál-
cio não deve ser aplicado em água contendo bicarbonato quando os valores estão acima de 400
mg L-1 ou ser injetado simultaneamente com fertilizantes à base de sulfatos ou fosfatos, sob o risco
de precipitar e causar entupimento de tubulações e emissores.

6.3. Escolha de fertilizantes


• Fertilizantes solúveis
Ainda são as principais fontes de adubos utilizadas nas lavouras. Além dos critérios técnicos
para estimar as quantidades necessárias para o tomateiro, as fontes solúveis requerem a adoção
de técnicas de manejo para aumentar eficiência de uso dos nutrientes. De maneira geral, a escolha
da fonte a ser utilizada deverá levar em consideração o custo por nutriente adicionado e a eficiên-
cia da adubação, que está diretamente relacionada às reações com o solo.

86
Para a adubação nitrogenada, é importante conhecer as particularidades das fontes utilizadas.
A ureia é o adubo mais utilizado, em especial nas adubações de cobertura, porém o seu manejo
requer cuidados para minimizar a perda de N, devido à volatilização da amônia (NH3). Ao aplicá-la,
deve-se realizar a sua incorporação ao solo, mantendo-o úmido. Valor elevado de pH do solo pode
contribuir para perda de N, portanto, muita atenção deve ser dada a calagem.
As fontes nítricas de N são mais estáveis que a as amoniacais, ou seja, menos passíveis de vo-
latilização, porém, em solos arenosos, poderá ocorrer a lixiviação do nitrato. O parcelamento da
adubação é a principal forma de minimizar essa forma de perda.
As fontes solúveis de P, como o superfosfato simples (SSP) ou triplo (ST), MAP e DAP, ao se
solubilizarem, devido ao contato com a umidade do solo, liberam o ânion fosfato que interagem
prontamente com os minerais do solo ou outros íons, podendo ficar imóveis por processo de ad-
sorção e/ou precipitação, respectivamente. Por isso, é importante a localização do adubo na linha
de plantio, mais próximo do sistema radicular.
A maneira mais eficiente de aplicação de P é de forma localizada, no sulco de plantio do toma-
te. Aplicações parceladas de P via fertirrigação devem ser realizadas em solos com baixa capacida-
de de retenção de P, como solos arenosos. Neste caso, recomendam-se fontes solúveis de P, como
MAP purificado e ácido fosfórico, e aplicações até 80 dias após o transplante, quando praticamen-
te toda planta de tomate é formada estruturalmente.
Os adubos fontes de K comportam-se de maneira similar às fontes nítricas do ponto de vista de
perdas por lixiviação. Porém, a depender da fonte, os fertilizantes potássicos podem aumentar a
CE do solo, tornando-o salino. Para evitar a salinização do solo, é muito importante avaliar o índice
salino do fertilizante ou evitar a adição de quantidades muito elevadas numa única vez.
Tecnologias para aumentar a eficiência dos adubos têm sido buscadas, com relativo sucesso.
Algumas estratégias têm sido utilizadas para minimizar a perda de nutrientes, como o revestimento
dos grãos com polímeros para controlar a solubilidade, inibidores da urease, etc. Contudo, a relação
entre a eficiência da adubação e o custo dessa fonte deverá ser considerada frente a outras opções.

• Fertilizantes organominerais
São produzidos por tecnologia que combina fontes orgânicas e minerais no mesmo produto;
ou seja, não se trata da aplicação de uma fonte orgânica e uma mineral no plantio.
Os fertilizantes organominerais (FOM) estão na categoria dos fertilizantes de eficiência aumen-
tada e o uso deles tem crescido anualmente devido às repostas agronômicas favoráveis. A maioria
dos FOM são fontes de P, embora sejam oferecidas também fontes com os demais nutrientes,
inclusive com micronutrientes.

Õ A presença da matéria orgânica no grão protege o fertilizante mineral, estando


a sua disponibilização condicionada à oxidação dela pelos microrganismos do
solo. Isso reduz os problemas de adsorção do fosfato, as perdas por lixiviação e o
potencial de salinização do solo.

O custo do FOM também deve ser considerado na tomada de decisão de qual fonte utilizar.

87
• Biofertilizantes
O uso desses insumos tem crescido anualmente, principalmente na complementação da adu-
bação. São misturas simples ou complexas de diferentes materiais – ácidos orgânicos, extratos ve-
getais, aminoácidos, dentro outros – ou produzidos por meio de processos nanotecnológicos e, em
ambos os casos, apresentam um ou mais nutrientes. Esses materiais apresentam bioatividade e os
principais benefícios observados são: desenvolvimento radicular, aumento da área foliar, aumento
na absorção de nutrientes e regulação de enzimas importantes para o metabolismo vegetal.
A utilização de biofertilizantes no tomateiro se justifica se auferir em ganhos de produtividade
ou para minimizar a sua perda quando a cultura experimentar condições de estresse abiótico,
como restrição hídrica, excessos de sais, extremos de temperatura, dentre outros.

7. Nutrição do tomateiro

7.1. Função dos nutrientes requeridos na nutrição do tomate


Como a maioria das espécies vegetais, o tomateiro necessita que os elementos químicos es-
senciais estejam presentes em quantidades e proporções adequadas para o alcance do potencial
produtivo de máxima eficiência econômica. Dentre eles, o carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio
(O) são obtidos da atmosfera ou da molécula da água. Já os demais N, P, K, Ca, Mg, S, B, Zn, cloro
(Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo) e níquel (Ni) devem ser fornecidos por
fontes externas.
A disponibilidade e a absorção dos nutrientes devem ocorrer em proporções adequadas, via
solução do solo, solução nutritiva, ou como suplementação via foliar, uma vez que cada um tem
uma função específica no metabolismo das plantas. Desequilíbrios em suas proporções podem
causar deficiência ou excesso de um ou mais nutrientes, causando limitações ao desenvolvimento
das plantas ou mesmo a morte delas.
No interior da planta, os nutrientes são agrupados conforme o seu padrão de mobilidade ou
distribuição, podendo ser baixo, moderado ou alto. O conhecimento desses padrões pode auxiliar
na diagnose visual para identificação de qual elemento químico está causando o(s) sintoma(s) de
deficiência observado (Figura 7).

88
Figura 7. Fluxograma diagnóstico para auxiliar a identificação de deficiências comuns de nutrientes

• Nitrogênio
É elemento estrutural e componente de vitaminas e aminoácidos formadores de proteínas,
enzimas e sistemas energéticos da planta. O fornecimento adequado de N está relacionado à pro-
dução de folhas e ramos bem desenvolvidos. A deficiência de N afeta a síntese de clorofila, redu-
zindo o desenvolvimento foliar e a eficiência fotossintética. Isto limita a planta de realizar funções
essenciais, como a absorção de nutrientes, resultando em crescimento reduzido e queda de pro-
dutividade (Figura 8).
As principais formas de absorção do N pelo tomateiro são o amônio (NH4+) e o nitrato (NO3-).
Estas duas formas são bastante móveis no interior da planta e, por isso, os sintomas de deficiência
são observados nas folhas mais velhas, baixeiras.

Õ A deficiência de N ocorre quando há suprimento insuficiente de fertilizantes


nitrogenados no plantio, baixo teor de matéria orgânica no solo, deficiência de
molibdênio, compactação do solo, lixiviação intensa e seca prolongada. Já em
doses elevadas pode ocorrer uma produção excessiva de folhas, maior incidência
de pragas e doenças, formação de frutos ocos e defeituosos e, em alguns casos,
afetar a qualidade e maturação tardia dos frutos.

89
Figura 8. Plantas de tomate sem adubação de N, mostrando crescimento reduzido, amarelecimento e
senescência das folhas, além de frutos com baixo calibre
Foto: Leandro Hahn

• Fósforo
É fundamental para processos importantes na planta, principalmente os de transferência de
energia, divisão e crescimento celular. Teores adequados de P favorecem o crescimento radicular,
melhoram a qualidade e aumento dos frutos, sendo vital para à produção de sementes.
Plantas de tomate deficientes em P apresentam crescimento limitado, principalmente após o
transplante das mudas (Figura 9). Em plantas bem desenvolvidas, os sintomas de deficiência ocor-
rem nas partes mais velhas, devido à sua alta mobilidade. Os sintomas são folhas com coloração
púrpura ou avermelhada (arroxeada) relacionada com o acúmulo de antocianina. A deficiência de
P reduz a floração e retarda a maturação dos frutos.
Efeitos negativos diretos no desenvolvimento do tomateiro, devido a adubações ou teores
excessivos de P, não têm sido relatados, porém essa condição pode induzir a deficiência em Zn
devido a reações de precipitação.

90
Figura 9. Plantas de tomate cultivadas em solo com baixos teores e sem adubação de P, mostrando
crescimento reduzido, e baixo pegamento de frutos
Foto: Leandro Hahn

• Potássio
As funções do K no crescimento do tomateiro estão associadas à regulação osmótica (dentro
do vacúolo, por exemplo), manutenção do equilíbrio eletroquímico no interior das células e seus
compartimentos e regulação de atividades enzimáticas. Diferente de outros nutrientes, o K não
faz parte de estruturas orgânicas e sua participação está associada à ativação de enzimas do me-
tabolismo de carboidratos e proteínas, bem como está intimamente relacionado à qualidade dos
frutos. É o nutriente mais absorvido pelas plantas de tomate e mais exportado pelos frutos.
Altamente móvel no interior da planta, semelhante ao relatado para o N e o P, a deficiência de
K se expressa nas folhas mais velhas: ela se caracteriza por amarelecimento entre as nervuras das
folhas, acompanhada de necrose das pontas e margens das folhas. O amarelecimento das folhas
ocorre das extremidades para o centro.

Õ Embora muito raro, o excesso de K no solo, leva ao acúmulo nas folhas mais ve-
lhas, causando desidratação nas células vizinhas e o rompimento de membrana
nas células, provocando o aparecimento de manchas necróticas nas folhas (Figura
10B). Além disso, pode ocasionar frutos ocos (Figura 10A) e rachados e interagir
negativamente na absorção de outros nutrientes, como cálcio e magnésio, e, con-
sequentemente, causar desequilíbrios nutricionais na planta.

91
A B

Figura 10. Sintomas de deficiência de potássio em tomate: Cavidade interna oca no fruto (A) e folhas
velhas com amarelecimento e necrose das bordas (B)
Foto: Acervo Embrapa Hortaliças

• Cálcio
Está presente principalmente na parede celular e, por isso, seu papel é estrutural na célula da
planta. Sua presença em níveis adequados pode ter efeitos positivos diretos sobre os tomates
após a colheita, como minimizar a perda de água e aumento da vida de prateleira dos frutos, e,
muito possivelmente, melhorar a resistência ao transporte.
Em geral, os solos são muito pobres em Ca e sua movimentação no solo se dá por fluxo de mas-
sas, ou seja, depende da presença de água no solo para ser absorvido pelas raízes. A planta o absorve
na forma de cátion Ca2+ e depois de absorvido o íon é transportado no xilema e parte no floema.
Em razão da baixa mobilidade do Ca no floema, sua distribuição na planta é muito limitada e,
portanto, os sintomas são visíveis nas folhas mais jovens da planta, nos frutos e no crescimento
reduzido do sistema radicular. Nas folhas, é possível observar pontos quebradiços e aspecto de
queimaduras nas suas pontas. A isso dá-se o nome de queimadura de ponteiro ou tip burn. Situa-
ções nas quais ocorrem o rápido crescimento do fruto e a baixa absorção de Ca são favoráveis ao
aparecimento dos sintomas de deficiência, caracterizados pelo apodrecimento da parte inferior
do fruto – podridão apical ou fundo preto (Figura 11).
O aparecimento dos sintomas de deficiência de Ca pode estar associado a: teores trocáveis
inferiores ao nível crítico, irregularidade no fornecimento de água, uso de cultivares sensíveis, uso
de doses elevadas de fertilizantes potássios e nitrogenados, principalmente os amoniacais e altas
taxas de crescimento e transpiração.

92
A B C

Figura 11. Sintomas de deficiência de cálcio em tomate: Podridão apical no fruto (A e B)


e Necrose interna do fruto ou coração-preto (C)
Foto: acervo da Embrapa Hortaliças

• Magnésio
Está relacionado diretamente com a fotossíntese, uma vez que está presente na molécula da
clorofila, tendo também um papel estrutural.
O teor de Mg trocável no solo é muito baixo e a planta o absorve da solução do solo na forma
de cátion Mg2+. A presença excessiva dos íons K+, Ca2+, NH4+ e Mn2+ na solução do solo pode limitar
sua absorção pela planta.
A distribuição do Mg no interior da planta é moderada e ocorre via xilema e floema. Os sin-
tomas de deficiência são observados nas folhas mais baixas e caracterizados pela ocorrência de
clorose entre as nervuras. Esse padrão de deficiência é denominado amarelo-baixeiro (Figura 12).
Recomenda-se manter os teores de Mg2+ sempre acima de 1,0 cmolc dm-3 com vistas a induzir
a formação do par iônico MgHPO4, para aumentar a eficiência das plantas em absorver o fosfato.

Figura 12. Sintomas de deficiência de magnésio em folhas de tomate: amarelecimento das regiões
internervais das folhas velhas
Foto: Leandro Hahn

• Enxofre
Está presente nas proteínas, uma vez que são componentes de alguns aminoácidos, vitaminas
e hormônios da planta. No solo, está presente nas formas orgânica e inorgânica e o sulfato (SO42-)
é a principal forma absorvida pelas plantas. Depois de absorvido, o SO42- é reduzido e incorporado
aos compostos orgânicos da planta.

93
Os sintomas de deficiência de S são similares ao da falta de N, porém, devido à sua moderada
translocação no interior da planta, eles aparecem nas folhas jovens, recém-desenvolvidas. Em ge-
ral, as lâminas inferiores das folhas apresentam-se uniformemente amareladas ou cloróticas.
O uso de formulações mais concentradas de fertilizantes NPK são as principais causas da redu-
ção dos teores disponíveis de S. Os baixos teores de MOS e secas prolongadas também explicam
os baixos teores de S no solo, em especial naqueles de fertilidade construída. No solo, teores acima
de 10 mg dm-3 são considerados adequados para o tomate.

• Micronutrientes
Os teores de Fe e Mn se apresentam disponíveis em quantidades adequadas na maioria dos
solos brasileiros. Já o B, Cu, Mo, Ni, e Zn são deficientes e a restituição deles deve fazer parte do
programa de adubação do tomateiro, especialmente o B e Zn.
O pH do solo afeta a disponibilidade dos micronutrientes na solução do solo, portanto, deve-se
ter cuidado com o excesso de corretivos da acidez. Com exceção do Mo e do Cl, os demais micro-
nutrientes têm a sua disponibilidade limitada com o aumento do pH.
Do ponto de vista econômico, o B seguramente é o micronutriente mais relevante para o toma-
teiro. Sua função na planta está associada à formação dos frutos, desde o florescimento, crescimen-
to do tubo polínico e frutificação. Sua deficiência afeta o crescimento do fruto e pode reduzir seu
padrão comercial, devido ao surgimento de rachaduras no pedúnculo. Além disso, pode apresentar
também abortamento floral e lóculo aberto e escurecimento no interior dos frutos (Figura 13).
O B apresenta interação sinérgica com Ca, pois auxilia na sua absorção e metabolismo. Ambos
participam da formação da pectina das membranas celulares, na absorção de água, no metabolis-
mo de glicídios e transporte de carboidratos.
A disponibilidade do B para as plantas depende da sua interação com os argilominerais, ma-
téria orgânica e óxidos de Fe e Al do solo. O ácido bórico (H3BO3) e o ânion borato (B(OH)4) são as
principais formas químicas absorvidas pela planta.

Õ Os fatores que condicionam o aparecimento dos sintomas de deficiência de B


são: calagem excessiva, índice de precipitação elevado e irrigação em excesso. A
textura do solo influencia também no comportamento do B, já que, em solos de
textura arenosa, ele pode ser facilmente lixiviado, enquanto para solos de textura
argilosa, sua mobilidade é pequena.

O papel do Zn na nutrição de plantas é de cofator enzimático de vários processos metabólicos,


como síntese de auxinas e outros hormônios vegetais relacionados ao crescimento. Por causa
disso e devido à baixa mobilidade no interior da planta, a deficiência de Zn caracteriza-se pelo
encurtamento dos entrenós, deformação e clorose das folhas e, quando é intensa, redução no
tamanho das folhas.

94
A B C

Figura 13. Sintomas de deficiência de boro em tomate. Rachaduras nos frutos (lóculos abertos) (A e B) e encurtamento dos
internódios e afinamento do talo, inclusive com rachaduras (C)
Fotos: Leandro Hahn

7.2. Acúmulo de nutrientes pelo tomateiro


Estre as espécies cultivadas, o tomateiro está entre as mais exigentes em nutrientes. Para atin-
gir elevadas produtividades, em muitos casos podendo ultrapassar as 200 t/ha, o tomateiro preci-
sa extrair do solo ou retirar da solução nutritiva quantidades elevadas de nutrientes.
Para conhecer a demanda nutricional do tomateiro, utiliza-se a marcha de absorção de nu-
trientes da cultivar. A partir dessa informação é possível montar um programa de manejo da fer-
tilidade e nutrição do tomateiro, considerando sua demanda nos diferentes estádios fenológicos.
É possível encontrar na literatura, ou obter com as empresas detentoras dos cultivares e híbridos
de tomate, curvas de absorção de nutrientes para os principais grupos de tomate cultivos no país.
As quantidades e as proporções dos nutrientes absorvidos dependem de características intrín-
secas do tomateiro, como, também, dos fatores externos que condicionam o processo – sistema e
época de cultivo, tipo de solo, concentração de nutrientes disponível, temperatura, luminosidade,
umidade relativa, dentre outras.
De maneira geral, os nutrientes mais requeridos pelo tomateiro durante todo o período
de cultivo apresentam a sequência: macronutrientes = K > N > Ca > S > P > Mg; micronu-
trientes: Cu, Mn, Fe, B e Zn.
O K e N sempre ocupam as primeiras posições e o período de máxima absorção deles ocorre
entre os 100 e 120 dias após transplantio (DAT). Isso justifica também a necessidade do parcela-
mento das adubações com NK, além da possível perda de nutrientes. É importante ter atenção
quanto a maior absorção de Ca e S em relação ao P.
A partir do tratamento matemático dos dados da curva de absorção de nutrientes é obtida a
taxa de absorção diária (mg planta-1 dia-1) e o período de máxima absorção. Estas duas informa-
ções são fundamentais para manejo da fertirrigação.

95
TABELA 11. Quantidades elevadas de nutrientes absorvida (kg ha-1) e portagem alocada nos frutos (%).
Valores entre parênteses indicam o intervalo de valores observados para diferentes cultivares
NUTRIENTE ABSORÇÃO FRUTO
-------------- kg ha -------------
-1
------------ % ---------
N 234,7 (206 – 306) 66,3 (55 - 84)
P 44,2 (30 – 68,5) 70,0 (54 - 86)
K 307,3 (264 – 360) 65,3 (55 - 80)
S 38,8 (29,2 – 49) 9,8 (5 - 21)
Ca 144,6 (85,2 – 202) 31,3 (20 - 63)
Mg 31,8 (26,5 – 40) 25,7 (20 - 34)
Fe 2,2 (1,41 – 3,2) 43,0 (23 - 63)
Mn 1,2 (0,34 – 2,1) 3,2 (3,0 - 3,4)
Zn 1,6 (0,69 – 3,4) 22,5 (20 - 25)
B 0,9 (0,5 – 1,2) --

100
Nitrogênio (N)
Fósforo (P)
Potássio (K)
80 Cálcio (Ca)
Magnésio (Mg)
Taxa de acúmulo (kg/ha)

60

40

20

0 20 40 60 80 100 120 140 160

Dias após transplantio

Figura 14. Taxa de acúmulo a cada 14 dias de macronutrientes de um híbrido de tomate estimada pela
curva de absorção em função da idade da planta
Fonte: Hahn et al. (2019)

7.3. Diagnose do estado nutricional do tomate


As folhas são as melhores indicadoras do estado nutricional do tomateiro, uma vez que há
uma correlação clara entre o crescimento e a produtividade da cultura com os teores de nutrien-
tes nos tecidos. Assim, a análise química das folhas-índices é uma ferramenta importante para

96
o diagnóstico e prognóstico do balanço nutricional da planta, pois possibilita a correção da de-
ficiência ou de excesso de determinado nutriente ocasionado, por exemplo, por desequilíbrios
ocorridos durante a adubação.

Õ Similar à amostragem para análise química do solo, para a diagnose foliar é preciso
seguir as recomendações regionais de amostragem e obedecer estritamente à fase
fenológica do tomateiro para amostrar as folhas e para interpretar os resultados,
utilizando valores de referência. Além dos valores de referência, é recomendado
balizar o resultado da análise foliar com a análise de solo e o histórico de adubação
da área. A Tabela 12 apresenta faixas de teores adequados de macronutrientes e mi-
cronutrientes em folhas de tomateiro para diferentes estados produtores.

A recomendação da análise foliar do tomate é por amostragem de folhas completas (limbo


com pecíolo): coletar a quarta folha completamente expandida da haste principal a partir da pon-
ta, por ocasião do 1º fruto maduro (Figura 15). Cada amostra deverá ser composta de, aproxima-
damente, 25 plantas, dependendo da homogeneidade. Cada amostra representa uma condição
nutricional. Assim, folhas com sintomas de deficiência nutricional não devem ser misturadas com
aquelas normais. Cada amostra deve ser constituída de folhas de plantas da mesma idade e da
mesma cultivar. As folhas que compõem a amostra devem estar livres de doenças e de danos
causados por insetos.

Figura 15. Coleta da quarta folha completamente expandida da haste principal a partir da ponta, por
ocasião do 1º fruto maduro, para diagnose do estado nutricional do tomate
Foto: Leandro Hahn

Na amostragem de folhas na maturação do primeiro fruto, eventuais problemas nutricionais


já ocorreram, e sua correção se torna tardia. Para coletas realizadas anteriormente a este período,
não existem padrões disponíveis para interpretação, devendo o produtor valer-se de análise visu-
al ou comparar os resultados da análise foliar de plantas com sintomas de deficiência com resulta-
dos da análise foliar de plantas bem nutridas.

97
TABELA 12. Faixas de teores adequados de macronutrientes e micronutrientes em folhas de tomateiro
adotadas em diferentes estados produtores

MACRONUTRIENTE MICRONUTRIENTE
--------------------------- g kg --------------------------
-1
------------------------- mg kg-1 -------------------------

N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn

MG1/
26,4 5,9 91,8 27,4 4,9 41 66 103 134
Limbo

MG1/
4,59 5,6 57,2 44,0 5,0 40 268 290 37
Pecíolo

100 –
SP2/ 40 – 60 4–8 30 - 50 15 – 30 4-7 3-7 30 – 100 5 - 15 50 – 250 30 - 100
300

RS/SC 40-60 4-8 30-50 14 - 40 4-8 3 - 10 30-100 5-15 100-300 50-250 30-100

Fonte: 1/ Cantarutti et al. (2007); 2/Raij (2019); CQFS-RS/SC (2004).

8. Referências
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CANTARUTTI, R.B.; BARROS, N.F.; MARTINEZ, H.E.P.; NOVAIS, R.F. Avalição da fertilidade do solo
e recomendação de fertilizantes. In.: NOVAIS, R.F.; ALVAREZ V., V.H.; BARROS, N.F.; FONTES,
R.L.F.; CANTARUTTI, R.B.; NEVES, J.C.L. (editores). Fertilidade do Solo. Viçosa, MG, Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo, p.92-132, 2007.
DECHEN, A.R.; NACHTIGALL, G.R. Elementos requeridos à nutrição de plantas. In.: NOVAIS, R.F.;
ALVAREZ V., V.H.; BARROS, N.F.; FONTES, R.L.F.; CANTARUTTI, R.B.; NEVES, J.C.L. (editores).
Fertilidade do Solo. Viçosa, MG, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, p.92-132, 2007.
FAYAD, J.A.; FONTES, P.C.R.; CARDOSO, A.A.; FINGER, L.F.; FERREIRA, F.A. Crescimento e produção
do tomateiro cultivado sob condições de campo e de ambiente protegido. Horticultura
Brasileira, Brasília, v.19, n.3, p.232-237, 2001.
FONTES, R.R. Recomendação para uso de corretivos, matéria orgânica e fertilizantes para
hortaliças - DF, 1ª aproximação – EMATER-DF/CNPH, Brasília-DF, 1987, 50p.
FONTES, R.R. Solo e nutrição da planta. In: SILVA, J.B.C; GIORDANO, L.B. (editores). Tomates
para processamento industrial. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de
Tecnologia, Embrapa Hortaliças, p. 22-35, 2000.
HAHN, L.; FELTRIM, A.L.; BERNARDI, M.; DAL BOSCO, P.; MOREIRA, M. Análise de crescimento e
marcha de absorção de nutrientes em plantas de tomate fertirrigado híbrido ‘Coronel’.
Florianópolis: Epagri, 2019, 21p. (Relatório de Pesquisa).
OLSON, S.M; SIMONNE, E.H.; STALL, W.M.; VALLAD, G.E.; WEBB, S.E.; MCAVOY, E.J. SMITH, S.A.
Pepper production in Florida. In.: Olson, S.M.; Santos, B. (editors). The vegetable production

98
handbook for Florida 2010 - 2011. p. 211-226, 2010.
RAIJ, B. VAN; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A.; FURLANI, A.M.C. eds. Recomendação adubação e
calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed. Campinas, Instituto Agronômico e Fundação
IAC, 1997. 285p. (Boletim Técnico, 100)
SOUSA, D.M.G. Acidez do solo e sua correção. In: NOVAIS, F.R. et al. Fertilidade do solo. Viçosa,
MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, p.205-274, 2007.
SOUSA, D. M. G.de; LOBATO, E.; REIN, T. A. Uso do gesso agrícola nos solos do Cerrado. 2a. ed.
Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 2005, 18p. (Embrapa Cerrados. Circular Técnica 32). Disponível
em: <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/568533/1/cirtec32.pdf>.
Acesso em: 25 jun. 2008.
VITTI, G.C.; LUZ, P. H.de C.; MALAVOLTA, E.; DIAS, A.S.; SERRANO, C.G. de E. Uso do gesso em
sistemas de produção agrícola. Piracicaba: GAPE, 2008, 104p.
VALMORBIDA, J.; WAMSER, A. F.; SANTIN, B.L.; ENDER, M. Métodos de manejo e plantas de cobertura
do solo para o cultivo do tomateiro tutorado. Agropecuária Catarinense, v. 33, p. 76-81,
2020.

Informações complementares
TABELA 1. Principais conversões de unidades utilizadas na fertilidade do solo

DE PARA CONVERSÃO

mg/dm3 kg/ha mg/dm3 x 2


% = dag/kg g/dm3, g/kg e g/L % (dag/kg) x 10
ppm mg/kg , mg/dm e mg/L
3 3
ppm x 1
meq/100 cm 3
mmolc/dm 3
meq/100 cm3 x 10
cmolc/dm3 mmolc/dm3 cmolc/dm3 x 10
K (cmolc/dm3) K (mg/dm3) K (cmolc/dm3) x 0,391
Na (cmolc/dm3) Na (mg/dm3) Na (cmolc/dm3) x 0,230
Ca (cmolc/dm3) Ca (mg/dm3) Ca (cmolc/dm3) x 0,200
Mg (cmolc/dm3) Mg (mg/dm3) Mg (cmolc/dm3) x 0,120
K 2O K K2O x 0,83
P2O5 P P2O5 x 0,437
CaO Ca CaO x 0,715
MgO Mg MgO x 0,602

99
Banco de imagem

Deficiência boro – Rachadura na região do pedúnculo

Deficiência de Mg – Amarelecimento entre as nervuras

100
A B
Planta de tomate em fase inicial. A – Planta bem nutrida; B – Planta com deficiência de N
Clorose generalizada principalmente nas folhas mais velhas
Fotos: Juscimar Silva

Deficiência de Ca – Podridão Estilar / Podridão Apical / Fundo Preto


Fotos: Juscimar Silva

101
7
7. Irrigação
Marcos Brandão Braga 1, Anderson Luiz Feltrim2, Lino Carlos Borges3
1
Embrapa Hortaliças
[email protected]
2
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina -
Estação Experimental de Caçador,
[email protected]
3
Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater-GO),
[email protected].

1. Introdução
Existem basicamente três métodos de irrigação no tomate tutorado:
• irrigação por aspersão, irrigação por superfície (sulco) e localizada (gotejamento).
• Irrigação por aspersão: seu uso não é recomendável, pois favorece o aparecimento de do-
enças foliares. Além disso, lava os produtos fitossanitários aplicados na parte aérea, o que
pode provocar perdas significativas na produção e na qualidade dos frutos.
• Irrigação por sulco: por mais que se faça dentro das normas técnicas, é pouco eficiente. Pode
apresentar perdas de mais de 40% da água por escoamento no final do sulco e por percolação
profunda, além de ser um agente da erosão do solo, principalmente em áreas declivosas.
• Irrigação localizada por gotejamento: se bem dimensionada, é a mais eficiente. Isso por-
que, neste sistema, aplica-se água diretamente ao solo, em uma faixa ou ponto na linha de
plantio, gerando economia de água/energia, sem provocar o molhamento foliar. Devido
principalmente a esses fatores, é o sistema recomendado para a irrigação na Produção
Integrada de tomate.

Adicionalmente ao sistema de irrigação por gotejamento, há necessidade de adoção de estra-


tégias para o manejo adequado de água, de forma a racionalizar seu uso, minimizar o gasto de
energia e reduzir a incidência de doenças e os impactos ambientais degradantes.
A irrigação localizada por gotejamento é a maneira indicada de se repor o consumo hídrico da
cultura. As características desse sistema são:
• a aplicação pontual da água no solo,
• a alta frequência de irrigação,
• a aplicação de pequenas vazões, e,
• principalmente, a alta uniformidade de aplicação de água, alcançando alta eficiência.

Com a aplicação pontual de água, somente uma parte do solo é molhada. Com isso, há uma
redução na evaporação direta da água do solo, devido à menor percentagem de área molhada e
de sombreamento da área molhada.

102
Õ Para maximizar a produtividade e gerar um produto de qualidade, é necessário o
conhecimento das necessidades hídricas do tomate nas regiões em que é culti-
vado. Os fatores: cultivar, estádio de desenvolvimento da cultura, espaçamento
entre plantas e clima da região, dentre outros, podem ser usados para definir as
necessidades hídricas da cultura de tomate.

O aspecto mais importante relacionado ao manejo da água é a determinação da quantidade


correta e o momento certo de realizar a irrigação, para evitar que ocorra perda de água por per-
colação e lixiviação de nutrientes, impedindo que a planta expresse seu potencial produtivo, seja
pelo excesso ou falta de água.
O manejo da irrigação, aliado às práticas agrícolas preestabelecidas pelo Sistema de Produção
Integrada de Tomate (Sispit), constitui base para a sustentabilidade da produção. Um bom sistema
de manejo da irrigação deve levar em consideração: época de plantio, espaçamento, característi-
cas de desenvolvimento das culturas, sistema de irrigação, variáveis meteorológicas diárias, análi-
ses fitopatológicas e entomológicas, adubação, plantas daninhas, manejo da cultura, colheita, etc.
Deve também observar a interação de todos os fatores de condução da cultura com as caracterís-
ticas de cada propriedade.
Diante disso, políticas públicas de uso dos recursos hídricos, juntamente com a utilização cor-
reta da irrigação, de forma a manejar eficientemente a água e os fertilizantes, são essenciais para
a manutenção do equilíbrio entre a produção agrícola e o meio ambiente. Dessa forma, o estudo
de princípios básicos para a realização de um bom manejo de água e fertilizantes é imprescindível
para a sustentação do ambiente.
Atualmente, na região de Caçador (SC), no Alto Vale do Rio do Peixe, os produtores adotam um
turno de regra fixo, variando de 1 a 3 dias. Por outro lado, não utilizam nenhum sistema de moni-
toramento para a determinação da real necessidade de água da cultura do tomate. Geralmente, o
monitoramento para se tomar a decisão da irrigação é feito de forma empírica, com observações
visuais da umidade do solo, além da experiência dos técnicos e produtores.

2. Irrigação por gotejamento


A irrigação por gotejamento, como prática agrícola, permite a aplicação de adubos via água de
irrigação (fertirrigação). Portanto, em relação à adubação convencional, apresenta maior eficiên-
cia na aplicação dos nutrientes, economia de mão de obra, melhor trânsito na cultura e, principal-
mente, melhor adequação na quantidade e época de fornecimento de nutrientes.
Quando bem dimensionado, esse sistema tem condições de controlar com maior precisão as
aplicações de água e adubos ao longo de todo o ciclo da cultura, em comparação com o uso de
irrigação por aspersão ou por superfície. Além disso, a irrigação por gotejamento pode proporcio-
nar um incremento de produtividade e uma economia de água entre 30% e 50%, em comparação
aos demais sistemas. A água aplicada, via gotejamento, diretamente no solo, sem molhar a folha-
gem e os frutos, contribui também para a diminuição da incidência de doenças na parte aérea e
do apodrecimento de frutos, propiciando uma redução de até 60% no uso de fungicidas.
O inadequado dimensionamento do sistema de irrigação pode resultar na distribuição desu-
niforme dos adubos na área. Igualmente, as reações químicas dos adubos injetados neste sistema
podem causar a corrosão de equipamentos, a precipitação de adubos, e, principalmente quando

103
as misturas e/ou as fontes são inadequadas, podem diminuir a vida útil e ocasionar desunifor-
midade da irrigação na área de cultivo. Por outro lado, o manejo incorreto da fertirrigação pode
ocasionar a salinização do solo, pelo excesso de sais (cloretos, sulfatos, bicarbonatos, nitratos e
boratos de sódio, magnésio, cálcio, etc.). Assim, recomenda-se usar produtos indicados para fertir-
rigação e seguir orientações técnicas de como proceder ao manejo dessas aplicações.
O estudo e o monitoramento das condições edafoclimáticas durante o desenvolvimento da
cultura permitem aplicar, com alta precisão, a quantidade requerida de água no momento ade-
quado, a partir de alguns instrumentos de medida e de controle instalados no campo.

Õ Após o plantio das mudas, as necessidades hídricas totais para a cultura do toma-
te no campo, com 90 a 120 dias, são de 400 a 600 mm, mas o excesso durante o
período de floração provoca o aumento das quedas das flores e redução do cres-
cimento. Igualmente variações de umidade do solo podem causar desbalancea-
mento de cálcio, podridão apical e rachaduras nos frutos. Os inícios da frutifica-
ção e do desenvolvimento dos frutos são os estágios da cultura que apresentam
maior sensibilidade à deficiência de água no solo.

A irrigação, apesar de ser cada vez mais utilizada pelos produtores, ainda é feita sem controle
técnico científico. São raros aqueles que fazem uso de equipamentos e de indicadores da necessi-
dade hídrica da cultura (tensiômetros, tanque classe “A”). Quando não são realizadas corretamen-
te, algumas metodologias de estimativas da quantidade de água a ser aplicada podem provocar
danos indesejáveis, como a salinização do solo, a baixa produtividade, o aumento de doenças
fúngicas e a qualidade inferior de frutos, além do desperdício de água.
Para o manejo adequado da água de irrigação, é necessário o controle da umidade do solo e/
ou o conhecimento da evapotranspiração durante o ciclo de desenvolvimento da cultura. Para
tanto, é indispensável que os parâmetros relacionados às plantas, ao solo e ao clima sejam conhe-
cidos para que seja determinado o momento (quando) e qual a quantidade de água a ser aplicada.
Dessa forma, o manejo da aplicação de água adequado é essencial para o sucesso da atividade.

3. Manejo da irrigação por gotejamento com base no solo


a estrutura física é o fator determinante que irá definir a umidade do solo, que influenciará di-
retamente o volume de água nele armazenado. Logo, é de suma importância o conhecimento da
estrutura física e da umidade do solo. Eles são fundamentais para estudos do movimento e dispo-
nibilidade da água no solo, bem como a época e a quantidade de água a ser aplicada em irrigação.
Para viabilizar o manejo de irrigação e possibilitar o cálculo da estimativa da lâmina de água
a ser utilizado em cada turno de rega, são necessárias algumas informações importantes, como:
profundidade efetiva do sistema radicular, potencial de água crítico para as culturas, capacidade
de campo, ponto de murcha permanente e curva de retenção. A curva de retenção de água no
solo é essencial para quem maneja usando a tensão de água no solo (tensiometria).
• Profundidade efetiva das raízes: compreende a camada desde a superfície do solo até
onde se concentra a maior parte das raízes absorventes ou finas. Tal informação é importante
não somente para a determinação da lâmina de irrigação, mas também para a instalação de

104
sensores para o monitoramento da água no solo no controle das irrigações. A profundidade
efetiva do sistema radicular é onde se concentra em torno de 80% do total de raízes absor-
ventes (finas) da cultura.
• Potencial de água crítico para uma cultura: indica o valor até o qual as irrigações devem
ser realizadas sem que ocorram prejuízos à produtividade/qualidade, e, por isso determina o
momento de irrigação.
• Capacidade de campo (Cc): o solo funciona como um reservatório de água, o qual tem
como limite máximo a Cc, ou seja, a quantidade de água que o solo pode reter contra a ace-
leração gravitacional. Esse ponto evita a lixiviação de nutrientes, o escoamento superficial e
a percolação profunda.
• Ponto de murcha permanente (Pm): nesse ponto, a água existente no solo não está mais
disponível às plantas, pois a força de retenção exercida pelo solo sobre a água é maior que a
capacidade da planta em absorvê-la.
• Curva de retenção de água no solo: em um solo homogêneo, para cada valor de umidade
(θ), existe um valor correspondente de potencial de água no solo (ψ). A elaboração de um
gráfico, com essas variáveis, se denomina curva de retenção de água no solo. As coletas das
amostras de solo para a determinação da curva de retenção de água devem ser preferencial-
mente indeformadas. Devem ser coletadas por meio de anéis volumétricos que mantenham
sua estrutura. Isso porque, apesar da textura ser o principal fator que influencia na retenção
de água no solo, a estrutura também exerce bastante influência, sobretudo na faixa compre-
endida entre 0 e 100 kPa - a mais importante para manejo as irrigações.

A coleta das amostras de solo para a determinação da curva de retenção pode ser feita em dife-
rentes camadas, preferencialmente nos primeiros 0,20 m (camada mais arável), sendo a profundi-
dade efetiva do sistema radicular do tomate de 0,40 m, a curva de retenção deve ser determinada
nas duas camadas (0 a 0,20m e 0,20m a 0,40m). Entretanto o manejo da irrigação deve se basear
na camada de 0 - 20 cm na fase inicial e na soma das duas camadas na fase de maior desenvolvi-
mento vegetativo, floração/frutificação e produção.
O uso da curva de retenção para o manejo da irrigação é bastante simples. A irrigação é efetua-
da quando o solo atinge um potencial ou umidade que prejudique o desenvolvimento da cultura
e, dessa forma, o monitoramento no campo é constante. Para a determinação do potencial de
água no solo, são utilizados tensiômetros em vários pontos na lavoura. Com auxílio de um ten-
símetro, faz-se a leitura instantânea da tensão. Normalmente, em cultivos de tomate de mesa, as
tensões críticas de irrigação variam de 15 a 25kPa. Valores menores de tensões (15kPa) são usados
por alguns dias (10 a 20 dias), até o pagamento definitivo das mudas transplantadas. Após esse
período, pode-se passar a trabalhar com limites críticos de 25 kPa.
Determinado o momento da irrigação, calcula-se a quantidade de água a ser reposta pela
seguinte equação:

LL= (θcc - θi)*Z

Onde:
LL = Lâmina liquida de irrigação (mm),
θcc = Umidade na capacidade de campo (cm3 cm-3),

105
θi = Umidade de irrigação correspondente ao potencial mínimo (máxima tensão ou tensão críti-
ca) de água no solo preestabelecido para a cultura (cm3cm-3),
Z = Profundidade efetiva do sistema radicular (mm).

Na Figura 1, temos um exemplo prático de utilização da curva de retenção de água no solo


para manejo da irrigação, em uma área experimental cultivada com tomate de mesa tutorado.

Figura 1. Curva de retenção de água do solo, umidade base volume.


Fonte: Becker et al. 2016

A curva representa a camada da profundidade efetiva do sistema radicular da cultura do toma-


teiro em pleno desenvolvimento (Z= 400 mm). Admitindo a tensão na capacidade de campo (θcc)
igual a 10 kPa, obtém-se, através da equação do gráfico, uma umidade na capacidade de campo
igual a 44,65 % (θ cc = 0,4465 cm3 cm-3).
Considerando a tensão de irrigação (θ i) igual 25 kPa, obtém-se uma umidade de irrigação igual
a 41,83 % (θ i = 0,4183 cm3.cm-3). Substituindo os valores de Z, θ cc e θ i na equação LL= (θ cc - θ i)*Z,
tem-se uma lâmina de irrigação LL = 11,3 mm.
A lâmina de água determinada pela curva de retenção é a lâmina líquida a ser aplicada, porém,
como nenhum sistema de irrigação tem 100% de eficiência, deve-se fazer a correção e aplicar uma
lâmina bruta de irrigação.
A eficiência de irrigação é um conceito largamente utilizado, tanto em projetos quanto no
manejo de sistemas de irrigação. O conceito de eficiência abrange dois aspectos básicos: a uni-
formidade de aplicação e as perdas, que podem ocorrer durante a operação do sistema. Para que
a eficiência possa atingir valores altos, é necessário que as perdas durante a operação sejam as
menores possíveis e que haja a maior uniformidade de aplicação e distribuição da água na área.
A uniformidade de aplicação de água, em sistemas de irrigação por gotejamento, pode ser
expressa por meio de vários coeficientes. Destacam-se aí o Coeficiente de Uniformidade de Chris-
tiansen (CUC) e o Coeficiente de Uniformidade de Distribuição (CUD) (Bernardo et al., 2019). Para
os sistemas de irrigação localizada, é mais frequente o uso do CUD, pois possibilita uma medida
mais restrita, dando maior peso às plantas que recebem menos água.

106
Õ A determinação de eficiência de distribuição de água do sistema é feita no campo
com o auxílio de um recipiente, um cronômetro e uma proveta - de preferência
com precisão de 1 a 2 mL. A aferição da vazão dos gotejadores deve ser realizada
no início, meio e fim do tubo gotejador e em diferentes pontos da lavoura, in-
cluindo obrigatoriamente aqueles mais altos e baixos.

Uma forma de evitar variações na pressão entre pontos altos e baixos na linha lateral são uti-
lizados tubos ou fitas gotejadoras autocompensantes. Ressalta-se que sempre deve observar os
limites de pressão de trabalho fornecida pelos fabricantes. Outro fator de baixa uniformidade de
aplicação é o alto coeficiente de variação de fabricação, entre as marcas de tubos/fita gotejadora
e/ou entupimento dos gotejadores. A lâmina bruta de irrigação é definida pela seguinte equação:

Lb=LL/Ea

Onde:
Lb= Lâmina bruta de irrigação (mm),
LL= Lâmina líquida de irrigação (LRN – lâmina real necessária) (mm).
Ea= Eficiência do sistema (decimal).

Admitindo que a eficiência do sistema de irrigação por gotejamento é de 90% (0,9), tem-se
uma lâmina bruta de irrigação de 12,5 mm.
Entretanto, no gotejamento, apenas uma fração da área do solo é molhada. Por isso, este va-
lor de lâmina bruta (Lb) deve ser diminuído, multiplicado por um fator Pa (percentagem de área
molhada - decimal). O fator Pa é função do tipo do solo, espaçamento entre linhas laterais e vazão
dos gotejadores e do tempo de aplicação da lâmina de irrigação. A percentagem de área molhada
deve ser determinada no campo. Considerando um valor médio de Pa de 65%, tem-se uma lâmina
final (Lf = Lb x Pa (decimal) a ser aplicada de 8,1 mm (8,1 L.m-2).

4. Equipamento para a medição da tensão de água no solo


no uso de qualquer instrumento para monitoramento da umidade do solo, deve-se escolher
cuidadosamente o local de instalação, pois esses aparelhos refletem medidas pontuais. Para a
cultura do tomate, os sensores devem ser instalados cerca de 10 a 20 cm ao lado do tubo/fita de
gotejamento, sempre dentro da área molhada.
A uniformidade de distribuição de água da irrigação e textura do solo influi no número de
sensores a serem instalados em uma área irrigada. Em sistemas com distribuição uniforme, o nú-
mero de sensores pode ser menor quando comparado a sistemas menos eficientes; em áreas com
sistemas com baixa uniformidade (gotejamento < 75%), pode comprometer a prática efetiva do
manejo adequado das irrigações.
No uso de tensiômetros para manejo das irrigações, a recomendação geral deve utilizar mais
de uma estação de controle para e estas deverão ser implantadas em locais que recebam a lâmina
média de água aplicada pelo equipamento, normalmente, em um solo homogêneo usa-se por ta-

107
lhão mínimo de três estações de monitoramento (tensiômetros). O local de instalação deve ser de
fácil acesso e ser representativo do tipo de solo e do desenvolvimento da cultura da área irrigada.
Isso quer dizer que, se a planta próxima ao sensor morrer ou apresentar um desenvolvimento mui-
to inferior ao resto da lavoura, os equipamentos deverão ser realocados próximos a uma planta
sadia e em pleno desenvolvimento.
Depois de instalados, os equipamentos devem evitar o pisoteio excessivo ao redor deles. Em
cada estação de controle, deverão ser instalados, ao menos, dois sensores em profundidades di-
ferentes: um na profundidade correspondente ao centro das raízes (50% da profundidade efetiva
- PeS) e o segundo imediatamente abaixo do sistema radicular. Como sugestão pode ser instalada
de uma a três estações por hectare dependendo da uniformidade (textura) do solo da área.
Em irrigações por gotejamento, os sensores de umidade devem ser instalados de 10 a 15 cm de
distância do emissor, dependendo da dimensão do bulbo e/ou faixa molhada.

Õ O tensiômetro é o equipamento mais utilizado para a aferição da tensão de água


no solo (Figura 2A), por ser simples e de fácil operação. É constituído de toco de
tubo de PVC de ½ polegada, tendo na extremidade inferior uma cápsula porosa e
na parte superior uma tampa de borracha (tensiômetro de punção). Entre o tubo
de PVC e a rolha, há um tubo acrílico, no qual se pode observar o nível de água
dentro do tensiômetro. A extremidade com a cápsula porosa deve ser enterrada
no solo até 50% da profundidade efetiva do sistema radicular, para o tensiômetro,
que indicará o momento de irrigar, e outra imediatamente abaixo da PeS. Após
instalação deve-se completar o tubo com água (destilada ou fervida), onde o ar
é expulso para fora do tensiômetro. Imediatamente, no interior do tubo (tensiô-
metro), forma-se uma pressão atmosférica efetiva igual a zero. Dessa forma, existe
uma tendência natural do tensiômetro (maior potencial água) perder água para o
solo (menor potencial água), até estabelecer-se o equilíbrio.

À medida que o tensiômetro vai perdendo água para o solo, cria-se um vácuo em seu interior
equivalente à tensão da água no solo, tornando o potencial de água dentro do tensiômetro igual
ao potencial de água no solo (potencial matricial). Normalmente, a medição do potencial da água
(tensão) e dependendo do tipo de tensiômetro usado, pode ser feito diretamente no vacuômetro
acoplado (Figura 2A) e com tensímetro digital (Figura 2B) ou analógico (Figura 2C) de agulha, caso
use tensiômetros com vedação de borracha siliconada - tensiômetro de punção (Figura 2D).
A agulha dentro do “cilindro” do tensímetro (aparelho leitura tensão) serve para espetar a bor-
racha siliconada do tensiômetro de punção, e a leitura do valor da tensão é mostrada no visor do
aparelho. É recomendável não encher totalmente o tensiômetro de água para seu funcionamento,
a fim de evitar o contato da agulha do tensímetro com a água no momento da aferição da tensão.
Outro detalhe: sugere-se, sempre que puder (semestralmente), proceder à calibração do tensíme-
tro, uma vez que as células de cargas presentes no equipamento, muitas vezes, com o uso perdem
a calibração ou já vêm descalibradas.

108
A B C D

Figura 2. Tensiômetro com vacuômetro (A), tensímetro digital de punção (B), tensímetro analógico de
punção (C) e tensiômetro de punção (D)
Fotos: Marcos Braga

5. Manejo de irrigação com base em dados climáticos


este manejo tem como principal objetivo determinar a evapotranspiração da cultura (ETc), que
corresponde à quantidade de água evapotranspirada para atmosfera por uma cultura em condi-
ções normais de cultivo. Em razão das dificuldades de obter uma medida direta da ETc, é feita uma
medida indireta a partir da evapotranspiração de referência (ETo) e do coeficiente da cultura (Kc).
A ETo corresponde à evapotranspiração de uma superfície gramada (8-15cm). Hoje, também,
usa-se o conceito empírico da evapotranspiração de uma cultura fictícia que se desenvolve sem
restrições hídricas/nutricionais etc. O Kc integra as características da cultura, além das condições
edafoclimática e de cultivo do local. O Kc é um coeficiente adimensional dado pela relação entre
a ETc e a ETo e pode variar de acordo os estádios fenológicos da planta. Dessa forma, para a maior
precisão na determinação do ETc, é necessário determinar o Kc da região ou escolher um Kc em
que as condições edafoclimáticas são semelhantes às características da região do cultivo.
Os valores de ETo podem ser estimados usando dados de estações meteorológicas, aplicando
a equação padrão FAO de Penman-Monteith (Allen et al., 1998). Também, pode-se obter de dados
da evaporação do Tanque Classe A (Bernardo et al., 2019). A instalação desse tanque deve ser
acompanhada por técnicos, pois exige a pratica de uma série de normas, que se não cumpridas,
podem subestimar ou superestimar a ETo.

109
Para fins didáticos e de manejo da água de irrigação, o ciclo do tomate pode ser dividido nos se-
guintes estádios:
• estádio inicial (1 a 10 dias após transplantio - DAT);
• estádio de desenvolvimento (DAT – 11 a 30 dias);
• estádio de intermediário (DAT- 31 a 60 dias);
• estádio final (DAT- 61 a 90 dias), e
• estádio da colheita (DAT- 90 até final).
Os valores médios de Kc nesses estádios, para condições de regas por gotejamento, sem e com co-
bertura de mulching plástico, são apresentados na Tabela 1.

TABELA 1. Coeficientes de cultura (Kc) para tomate, conforme o sistema de irrigação e presença
de cobertura do solo com filme de polietileno (mulching), durante os diferentes estádios de
desenvolvimento da cultura e sistema de irrigação por gotejamento

Estádio (1) Gotejamento (2) Gotejamento com mulching (2)


Inicial (I) 0,40 0,20
Vegetativo (II) 0,75 0,55
Floração/frutificação (III) 1,10 0,90
Maturação/produção plena (IV) 0,80 0,65
(1)
Estádio I: transplantio até pleno pegamento de mudas; II: pegamento até florescimento pleno;
III: do florescimento até frutificação plena; IV: maturação frutos até última colheita.
(2)
Kc para gotejamento já integram os coeficientes de ajustes para compensar a menor perda de água por evaporação.
Fonte: adaptado de Carrijo e Marouelli (2002); Marouelli et al. (2011).

Com os dados de ETo e Kc, estima-se a ETc por meio da fórmula:


ETc=Kc*ETo
Onde:
ETc= Evapotranspiração da cultura (mm dia-1)
ETo= Evapotranspiração de referência (mm dia-1)
Kc= Coeficiente da cultura (adimensional)

Para a estimativa da lâmina de água, via dados climáticos e balanço de água, a LRN poderá ser
calculada usando a seguinte equação:

Em que LRN é a lâmina real de água necessária (mm) e Pe é a precipitação efetiva no período
considerado, caso em cultivo aberto. Deve-se condiderar, para efeito de manejo das irrigações,
que se estiver irrigando por gotejamento (molha uma parte da superfície do solo) deve-se consi-
derar nesta equação o fator área molhada (Am), que irá reduzir a lâmina aplicada.

110
Onde:
LRN = Lâmina real necessária (lâmina líquida de irrigação) (mm),
ETc = Evapotranspiração da cultura (mm dia-1),
Pe = Precipitação efetiva (mm dia-1),
n = Número de dias entre duas irrigações consecutivas (turno de rega fixo ou variável).

Nesse caso, também se deve considerar, para definir a lâmina bruta de aplicação, a eficiên-
cia do sistema (Ea).
Determinada a lâmina bruta de irrigação, calcula-se o tempo de irrigação pela seguinte equação:

Onde:
Ti= Tempo de irrigação em minutos
ETc= Evapotranspiração da cultura (mm dia-1)
SI= Espaçamento entre linhas (m)
Sg= Espaçamento entre gotejadores (m)
Ea= Eficiência do sistema (decimal)
Qg= Vazão do gotejador (L h-1)

6. Manejo de irrigação utilizando o Irrigas®


O Irrigas® é uma tecnologia simples desenvolvida pela Embrapa e tem como função básica indicar se
o solo está úmido ou seco. É de fácil uso e manutenção, pois não necessita de acrescentar água em seu
interior, nem equipamento especial para fazer a leitura e a instalação. Assim, é uma tecnologia de grande
ajuda ao agricultor no manejo diário da irrigação, podendo definir quando e quanto irrigar (Marouelli et
al., 2015). Comparado ao tensiômetro, o Irrigas® é durável, de custo relativamente baixo, de fácil
instalação e leitura, além de não requerer manutenção.
O Irrigas® é composto de duas partes principais: uma cápsula porosa (cerâmica) e uma cuba de leitura
(cilindro), conectadas por um tubo plástico flexível (Figura 3).

Figura 3. Estrutura básica de um Irrigas®


Ilustração: Marcos Braga

111
A cápsula porosa é a parte que irá para dentro do solo, na metade da profundidade efetiva do sistema
radicular da planta (50% da profundidade radicular); uma parte do tubo flexível ficará para dentro do solo
e outra para fora. A cuba ficará fora do solo e é onde se realizam as leituras diárias do sensor.
Os modelos de Irrigas® disponíveis no mercado são três: o de 15 kPa, 25 kPa e 40 kPa. O kPa é
apenas uma unidade de medida de pressão, que para o Irrigas® corresponde à força com que a água fica
retida nos poros da cápsula ou do solo. Logicamente, isso tem relação direta com o diâmetro dos poros das
cápsulas: se os poros são maiores, a água vai ficar retida com pouca força; se os poros são menores, a água
ficará retida com mais força. Assim, os poros das cápsulas dos modelos de Irrigas® são diferentes: maiores
no modelo Irrigas® de 15kPa e menores no de 40kPa.
Nota-se que o Irrigas® não é um tensiômetro, uma vez que são leituras estanques. Quando a
força que a água está retida nas cápsulas é rompida, o Irrigas® dá a leitura (sensor aberto); ou seja,
há necessidade de efetuar irrigação. Mais explicitamente, o Irrigas® não define a qualquer tempo
o valor da tensão de água no solo, como faz uma tensiômetro.

Õ Para a instalação em campo (solo), sugere-se que, antes, os sensores Irrigas®


passem por um teste simples. Ele consiste em fazer uma leitura do sensor após
ser colocado dentro de um vasilhame com água, por um tempo de 15 a 30
segundos. Após esse tempo, teste a leitura (Figura 4). Se a leitura indicar sensor
aberto (água subindo por dentro da cuba), o aparelho está com defeito e não
deve ser instalado. Caso indique sensor fechado (água não sobe na cuba), pode
ser instalado no campo.

A B

Figura 4. Teste sensor Irrigas®. Imersão da cápsula porosa em um vasilhame (A). Imersão da cuba para
leitura (B)
Fotos: Waldir Marouelli

A instalação do Irrigas® é similar à dos tensiômetros, considerando os aspectos de local, distri-


buição, e deve ser colocado no solo durante todo o ciclo da cultura (Figura 5).

112
Figura 5. Instalação sensor Irrigas®
Fonte: Marouelli et al., 2015

Na figura 5, uma bateria de sensores Irrigas® é composta por dois sensores Irrigas® instalados
no perfil do solo, próximos ao sistema radicular: um no meio da profundidade efetiva da raiz da
cultura (este irá indicar o momento de irrigar); o segundo sensor fica abaixo do sistema radicular
(indicará se as irrigações estão excessivas). Isso significa que, se após as irrigações esse sensor ler
sempre “sensor fechado”, vai indicar que o tempo de irrigação (Ti) usado está alto e que o produtor
irrigante deve diminuir o Ti nas próximas irrigações. Assim, o irrigante vai ajustando as lâminas de
irrigação ao longo do tempo e do estádio de desenvolvimento da cultura.
O sensor pode ser instalado na distância de 0,10 a 0,25 m da planta (sistema irrigação por go-
tejamento), sempre dentro dá área molhada. Não se esquece de que a profundidade de instalação
do Irrigas® acompanha o crescimento do sistema radicular das plantas, igualmente, como se faz
no manejo quando usa os tensiômetros.
A instalação pode ser realizada com o auxílio de cavador, não se esquecendo de acondicionar
a cápsula porosa na horizontal (Figura 06). Normalmente, uma hora após a instalação o sensor
irrigas® entra em equilíbrio com a umidade do solo, permitindo, assim, efetuar as leituras.

A B C D

Figura 6. Instalação sensor Irrigas®. Instrumentos empregados (A); Cavador/sensor (B); Sensor na
vertical (C); Sensores instalados (D)
Fotos: Waldir Marouelli e Marcos Braga.

113
No Irrigas® em solo úmido, a água retida preenche os poros da cápsula impedindo a passagem
do ar, assim se diz que o sensor está fechado (água não sobe na cuba); não precisa de irrigação.
Caso contrário, diz-se que o sensor está aberto (água sobe na cuba); a área necessita de irrigação.
Normalmente, instalam-se três baterias de sensor Irrigas® por área de cultivo, nas quais as plan-
tas devem estar no mesmo estádio de desenvolvimento e sob o mesmo sistema de irrigação.
Quando na mesma área mais de um sensor Irrigas® indicador do momento de irrigar der leitura
aberta, deve-se efetuar o processo de irrigação.
Marouelli et al. (2015) definem quais modelos de Irrigas® devem ser usados para cada cultura,
em função do sistema de irrigação usado. Para o cultivo de tomate, é proposto o modelo de 25kPa
para sistema de irrigação por gotejamento. Embora esse valor seja ideal para mais de ¾ do ciclo
da cultura do tomate, notou-se no campo, principalmente em solos de textura arenosa a mediana,
que as irrigações com 25kPa durante os primeiros 10 dias do transplante de mudas de tomate,
ocorreram perdas no pegamento das mudas, necessitando mais replantio. Assim, sugere-se que,
até o pegamento das mudas transplantadas, manejar as irrigações com o sensor de 15kPa; após o
pegamento, manejar as irrigações com o sensor de 25kPa.

Õ Recomenda-se efetuar leituras dos Irrigas® instalados na área de uma a três vezes
ao dia. Normalmente, as leituras são feitas no período da manhã. Porém, reco-
menda-se repetir as leituras à tarde, já que o sensor pode marcar uma demanda
de irrigação nesse período e, assim, passar toda a tarde e a noite sem que a planta
receba água no momento adequado. A depender do estádio de desenvolvimento
da cultura e condições edafoclimáticas, isso virá a afetar o desenvolvimento das
plantas, principalmente, no período do pegamento de mudas.

O Irrigas® não possibilita determinar o valor exato da tensão de água no solo. No entanto,
permite informar se a tensão está acima ou abaixo da tensão de referência da cápsula porosa.
Isso possibilita ao irrigante definir o tempo de irrigação em um sistema dinâmico de checagem
dos sensores e dos tempos de irrigação, aumentando e ou diminuindo o Ti ao longo do ciclo da
cultura, conforme demanda hídrica da planta. Hoje já existe um sistema Irrigas® automático, que
permite determinar não só o momento de irrigar, mas também estimar o tempo das irrigações.

7. Manejo de irrigação utilizando o


método do tato-aparência
O método do tato-aparência (MTA) é relativamente antigo e, quando bem aplicado, pode ser
eficiente nos manejos das irrigações, principalmente em solos com textura média a argila. Para ter
uma boa eficiência no uso do MTA, faz-se necessário o treinamento dos usuários, uma vez que se
usa o tato (mãos) na estimativa da água disponível no solo (AD).
Klocke & Fischaback (1984) relatam que a AD, a partir de uma amostra de solo, pode ser avalia-
da sem uso de qualquer tipo de sensor. Assim, permite obter informações suficientes para indicar
ou não a necessidade de irrigar um cultivo, desde que a amostra do solo para a análise seja retira-
da na adequada profundidade. Ou seja, a profundidade onde se concentram os maiores volumes
de raízes. Para tanto, é necessário um guia interpretativo para a estimativa da AD.

114
Ì SAIBA MAIS Marouelli & Braga (2016) publicaram um guia prático para a estimativa da AD, levando
em consideração a maioria dos tipos de solos (textura) encontrados no Brasil e as principais
hortaliças cultivadas. É um guia autoexplicativo e visual, que, ao final, possibilita ainda estimar a
lâmina de irrigação e o tempo necessário para sua aplicação. Ele está disponível gratuitamente na
página da Embrapa na internet. Outra opção está no link: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/
Repositorio/guia_irrigas_000gul1eg9u02wx7ha0g934vgtvpy9xo.pdf.

8. Considerações finais
o tomate apresenta um consumo de água diferenciado ao longo do seu ciclo, sendo que a
exigência aumenta com o período de desenvolvimento dos frutos. Como é uma cultura que res-
ponde positivamente à aplicação de água, a prática da irrigação é de suma importância para a
obtenção de uma maior produção de frutos de melhor qualidade.
Neste breve relato sobre manejo de irrigação, foram apresentados somente quatro metodolo-
gias para manejo: três baseadas no solo (tensiometria, Irrigas® e tato-aparência) e outro através
de dados agroclimáticos.
Pode-se usar também a interação de métodos como: definir lâmina de irrigação com dados
agroclimáticos e o momento de irrigar com os outros. Assim, a definição de métodos cabe ao téc-
nico e ao produtor escolher o mais adequado para uso na propriedade, levando em consideração
a condição edafoclimática da região, a disponibilidade de dados agroclimáticos e a situação eco-
nômica e social dos produtores.

9. Referências
ALLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration: guidelines for
computing crop water requirements. Rome: FAO, 1998, 328p. (Irrigation and Drainage
Papers, 56)
ALVARENGA MAR. Cultura do tomateiro. Lavras: UFLA. 2000, 91p. (Textos Acadêmicos 2)
BERNARDO, S.; MANTOVANI, E. C.; SILVA, D. D.; SOARES, A. A. Manual de irrigação. 9. ed. Viçosa:
Ed. UFV, 2019, 545p.
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116
8
8. Doenças e seu controle
Alice Maria Quezado-Duval1; Alice Kazuko Inoue-Nagata1; Ailton Reis1; Fernando
Pereira Monteiro2; Jadir Borges Pinheiro1; Carlos Alberto Lopes1
1
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças
[email protected]; [email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]
2
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina -
Estação Experimental de Caçador
[email protected].

1. Introdução
As doenças do tomateiro têm sido grande entrave à produção nacional de frutos, em quanti-
dade e qualidade, que satisfaçam às necessidades do produtor e dos consumidores. São causadas
por fatores bióticos (por exemplo, fungos, oomicetos, bactérias, nematoides e vírus), ou podem
ser de origem abiótica, ou distúrbios fisiológicos, provocados por excesso ou deficiência mineral,
fitotoxicidade de produtos químicos, desbalanço hídrico, entre outros.

As perdas provocadas por essas doenças ou distúrbios dependem de vários fatores, resumidos na
figura do triângulo da doença (Figura 1), formado por:
1) Grau de virulência ou agressividade do patógeno,
2) Nível de resistência da variedade cultivada, e
3) Condições ambientais mais ou menos favoráveis à doença.

O conhecimento de cada um dos componentes desses três fatores e suas interações é a base
para que medidas de controle possam ser planejadas, desde a escolha da área, da variedade e da
época de plantio até a fase de pós-colheita, visando à prevenção das doenças e a mitigação dos
seus danos, quando da sua ocorrência, seguindo os conceitos da Produção Integrada. Esse pla-
nejamento é essencial para permitir a rastreabilidade, condição que deverá se estabelecer como
exigência para comercialização do produto.

Õ Atenção especial deve ser dada ao controle por meio da aplicação de produtos
de proteção fitossanitária, de modo que, mesmo sendo aplicados quando houver
necessidade, atenda às boas práticas de uso, tais como: registro no MAPA, perío-
do de carência, nível de toxicidade, impacto ambiental e segurança do aplicador,
entre outras.

117
Figura 1. O triângulo da doença (Adaptado de Agrios, 2005)

2. Doenças causadas por bactérias

2.1. Mancha bacteriana


Xanthomonas vesicatoria, X. euvesicatoria pv. euvesicatoria, X. euvesicatoria pv. perforans
e X. hortorum pv. gardneri
Quatro espécies do gênero Xanthomonas podem causar a mancha bacteriana do tomateiro e
são atualmente denominadas: X. vesicatoria, X. euvesicatoria pv. euvesicatoria, X. euvesicatoria pv.
perforans e X. hortorum pv. gardneri. As duas últimas têm sido as mais encontradas nas lavouras
de tomate do país e mostram adaptabilidade térmica diferencial, de modo que X. euvesicatoria pv.
perforans tem ocorrido em condições de temperaturas mais elevadas e X. hortorum pv. gardneri
nas regiões serranas de clima mais ameno.
Além disso, X. euvesicatoria pv. perforans se apresenta como duas raças: T3 e T4, respectiva-
mente, de acordo com a interação de incompatibilidade (resistência) ou compatibilidade (do-
ença) em relação a genótipos do tomateiro portando o gene de resistência Xv3. Segundo os
levantamentos realizados no país, a primeira predomina, mas uma ocorrência da segunda foi
verificada em lavoura em São Paulo.
A mancha bacteriana pode ocorrer desde a fase de produção de mudas, já que essas bacté-
rias podem ser transmitidas por sementes infectadas. Nesse ambiente, a disseminação da doença
pode ser favorecida pela irrigação por superfície, que propicia molhamento foliar contínuo e res-
pingos que carregam as células bacterianas de uma muda à outra. Da mesma forma, no campo, a
doença é favorecida nos períodos de alta umidade relativa, chuvas e/ou irrigação por pivô central.
Pode também ocorrer em plantas voluntárias de tomate que emergem espontaneamente
a partir das sementes de frutos não colhidos ou descartados por ocasião da colheita nas áreas
de plantio. Outras plantas espontâneas, como o joá-de-capote (Nicandra physalodes) e a maria-
-pretinha (Solanum americanum), que são também hospedeiras reconhecidas das Xanthomonas
da mancha bacteriana do tomateiro, potencialmente podem ser fontes de inóculo para uma
epidemia da doença.

118
Os sintomas da mancha bacteriana nas mudas já podem se manifestar nos cotilédones e, assim
como nas folhas, inicialmente se revelam como pequenas áreas de aspecto encharcado (anasarca)
(Figuras 2A e B). Essas áreas progridem para lesões marrons de formato irregular, que também
ocorrem nas bordas das folhas, que podem apresentar clorose (Figura 2C). Com a coalescência
das lesões, ocorre seca generalizada das folhas, comprometendo a área fotossintetizante da plan-
ta, levando à redução da produção (Figura 2D). As lesões podem se formar também em outras
partes aéreas da planta, como hastes, pedúnculos, flores, sépalas e frutos (Figura 3). Nos frutos os
sintomas se iniciam como áreas menores esbranquiçadas (Figura 3), que se confundem com os do
cancro bacteriano, mas tornam-se corticosos com o tempo.
Os sintomas provocados pela infecção por X. euvesicatoria pv. perforans são um pouco
diferenciados, já que as lesões podem apresentar centro acinzentado, que, por vezes, são confundidos
com os da septoriose, que se destacam provocando furos nas folhas – daí, o nome dado à espécie
(Figura 4). Nos frutos, as lesões tendem a ser menores ou inexistentes, que, por sua vez podem ser
confundidas com as da pinta bacteriana. Ressalta-se, porém, que lesões menores em frutos podem
ser uma resposta da cultivar à doença, independentemente da espécie da bactéria.

• Controle
Várias medidas preventivas devem ser consideradas visando ao controle da mancha bacteria-
na, como: emprego de mudas sadias; evitar plantio escalonado adjacente; realizar cultivos em am-
biente protegido nas épocas chuvosa; uso de rotação de cultivos; evitar deixar frutos remanes-
centes de colheita anterior, e proceder a eliminação dos restos culturais e das plantas voluntárias,
principalmente se a doença for detectada.
Durante a condução da lavoura, pode-se lançar mão de produtos de proteção fitossanitária
registrados para o tomateiro e indicadas para Xanthomonas. Formulações à base de cobre têm
sido as mais utilizadas tradicionalmente, mas seu uso intensivo pode levar à seleção de estirpes
insensíveis a esse princípio ativo. As diferentes fontes de cobre são: vermelho (óxido cuproso),
azuis (hidróxido de cobre e sulfato de cobre) e verde (oxicloreto de cobre), e misturas feitas com
mancozebe, popularmente chamada de pasta.
Outros ativos presentes em formulações registradas para o tomateiro com indicação para Xan-
thomonas são a famoxadona, os indutores de resistência acibenzolar-S-methyl (ASM) ), o polissa-
carídeo lamarina, o extrato de Melaleuca alternifolia e o biológico Bacillus spp. Para os dois últimos
ainda não há muitos trabalhos de pesquisa específicos publicados, considerando o complexo
Xanthomonas-tomateiro. No entanto, formulações com registro e indicação para Xanthomonas
podem ser empregadas em programas de integração de ativos e, dessa forma, potencialmente
mitigar os danos provocados pela doença, preservando a eficiência do cobre.

119
A B

C D

Figura 2. Início das lesões de mancha bacteriana em cotilédones de mudas (A) e folha (B). Sintomas no
limbo e bordas das folhas (C) e seca generalizada e plantas em estádio avançado da doença (D)
Fotos: Alice M. Quezado-Duval

A B D

Figura 3. Sintomas da mancha bacteriana em frutos (A e B) e em pedúnculos e sépalas (C e D)


Fotos: Alice M. Quezado-Duval

120
A B C

Figura 4. Sintomas típicos da mancha bacteriana causada por Xanthomonas euvesicatoria pv. perforans em
folhas. Folhas com perfurações (A e B). Lesões com centro acinzentado que lembram as de septoriose (C)
Fotos: Alice M. Quezado-Duval

2.2. Pinta bacteriana


Pseudomonas syringae pv. tomato
A pinta bacteriana tem ocorrido em regiões de altitude, onde predominam temperaturas ame-
nas e alta umidade, e, desse modo, detectadas, por vezes, juntamente com X. cynarae pv. gardneri.
Como as Xanthomonas do tomateiro, Pseudomonas syringae pv. tomato pode ser transmitida pela
semente e tem sua dispersão e infecção favorecidas por respingos de chuva ou de água de irriga-
ção e molhamento foliar, respectivamente.
Nas folhas, os sintomas se iniciam como áreas encharcadas escuras que se tornam necróticas,
podendo ocorrer clorose (Figura 5). Toda a parte aérea pode ser afetada (Figura 5). No caule, os sin-
tomas podem ser acentuados pelos ferimentos provocados pelo atrito dos fitilhos. Flores e frutos
em formação podem cair quando afetados.
Cultivares portando o gene Pto mostram resistência qualitativa (completa) à doença, quando
causada pela raça 0 da bactéria, que é a predominante, não se tendo registro da raça 1 no país.
Caso a cultivar não seja portadora do gene Pto, o indutor de resistência ASM e uma formulação à
base de oxicloreto de cobre têm registro com indicação para o controle desse patógeno.

121
Figura 5. Sintomas da pinta bacteriana. Encharcamento visto da superfície abaxial do folíolo (A). Necrose
nos bordos da folha (B). Sintoma no limbo com halo amarelado (C). Pintas no fruto (D). Lesões na haste
em ferimentos causados pelo fitilho de amarrio (E)
Fotos: Alice M. Quezado-Duval

2.3. Outras bacterioses foliares


Pseudomonas cichorii, P. syringae pv. syringae
Pseudomonas cichorii e P. syringae pv. syringae podem também infectar folhas do tomateiro,
causando as doenças denominadas queima bacteriana e mancha syringae, respectivamente, me-
nos conhecidas do que a mancha e a pinta bacteriana. Enquanto para a queima bacteriana há
alguns poucos registros de ocorrência no país em tomate cultivado em regiões de altitude e/ou de
clima mais ameno, a segunda tem passado despercebida, obtida eventualmente em isolamentos
onde predominam outras espécies. A ocorrência simultânea com a pinta bacteriana, bem como
da mancha bacteriana causada por X. hortorum pv. gardneri, que são favorecidas pelas mesmas
condições climáticas, dificulta precisar a extensão de sua importância para os cultivos do toma-
teiro. Como as demais bacterioses foliares, são passíveis de transmissão por sementes infectadas
e favorecidas nos períodos chuvosos, de formação de orvalho e molhamento foliar prolongado.
A caracterização dos sintomas dessas doenças no campo ainda não está bem definida, mas tem-se
observado a formação de lesões necróticas irregulares por ocasião de inoculações artificiais (Figura 6).

122
Em relação ao controle, por serem menos conhecidas não constam como alvo de nenhum produto
registrado. Devem ser adotadas as medidas gerais de controle para as demais bacterioses foliares.

A B

Figura 6. Lesões necróticas em folíolos de tomateiro causadas por inoculação artificial de Pseudomonas
cichorii (A) e P. syringae pv. syringae (B)
Fotos: Alice M. Quezado-Duval

2.4. Murcha bacteriana


Ralstonia solanacearum e R. pseudosolanacearum

A murcha bacteriana é uma das doenças mais comuns e devastadoras do tomateiro cultivado
sob condições de alta temperatura e alta umidade - situações que ocorrem com frequência em
cultivo a céu aberto nas regiões Norte e Nordeste, e durante o verão chuvoso em outras partes do
Brasil. Em adição, causa grandes perdas também em cultivos protegidos, no quais é comum se en-
contrar temperaturas altas e o plantio sucessivo de solanáceas, sem a devida rotação de culturas.

123
É causada por duas espécies de Ralstonia, R. solanacearum, de distribuição geral no país, e R.
pseudosolanacearum, de recente posicionamento taxonômico equivalente à biovar 3 de R. sola-
nacearum, e que é adaptada a climas mais quentes encontrados com mais frequência nas Regi-
ões Norte e Nordeste. Outras denominações taxonômicas no gênero são “biovares” (com base em
testes bioquímicos de utilização de um conjunto de açúcares e álcoois), “filotipos” (designados
pelo uso de PCR multiplex, agrupa isolados relacionados à sua origem geográfica) e “sequevares”
(usadas para designar grupos infrassubespecíficos, baseados no sequenciamento de genes asso-
ciados à patogenicidade, em especial o de endoglucanase).
A doença aparece geralmente em reboleiras que coincidem com áreas de maior umidade do
solo ou em local onde havia plantas cultivadas ou daninhas hospedeiras contaminadas com a
bactéria. Plantas infectadas inicialmente apresentam flacidez das folhas mais novas nos períodos
mais quentes do dia (Figura 7A), podendo recuperar a turgidez à noite ou em períodos frios.
À medida que a doença evolui, a planta toda murcha (Figura 7B), permanecendo verde,
diferentemente de outras causadas por fungos. Pelo fato de as murchas causadas por R. solanace-
arum e pelos fungos Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici e Verticillium spp. também apresentarem
escurecimento vascular do caule na base da planta (Figura 7C), uma forma adicional de diferenciar
a murcha bacteriana de outras é a realização do “teste do copo” (Figura 7D). Ele consiste em mer-
gulhar em um copo transparente com água limpa uma pequena porção (cerca de 5 cm) da parte
inferior do caule de planta doente, de preferência apresentando escurecimento vascular. Pode-se
usar um clipes para fixar o segmento do caule ao frasco. A presença, após poucos minutos, de um
filete leitoso saindo do tecido doente em direção ao fundo do copo indica a presença da murcha
bacteriana.

Figura 7. Sintomas da murcha bacteriana em tomateiro. Plantas murchas em reboleira (A). Planta sadia
(tomateiro da esquerda) e sintoma inicial de murcha dos foliolos na parte superior da planta (tomateiro
da direita) (B). Escurecimento vascular na base do caule e topo da raiz (C). Teste do copo, mostrando a
exsudação bacteriana (D).
Fotos: Carlos A. Lopes, A e C; Fernando P. Monteiro, B; e Alice M. Quezado-Duval, D

124
• Controle
A murcha bacteriana é nativa em muitas regiões brasileiras e pode permanecer no solo por
muitos anos, associada à rizosfera ou infectando um grande número de espécies hospedeiras.
Ainda não se dispõe de uma tecnologia que, por si só, seja capaz de controlar a murcha bacteria-
na. Assim, torna-se necessário o uso do controle integrado; ou seja, o uso de várias medidas que
podem se complementar para evitar perdas na produção.
Não existem cultivares de tomate que podem ser consideradas resistentes, embora algumas
sejam menos suscetíveis que outras. No entanto, existem híbridos comerciais com alto grau de
resistência que são usados como porta-enxertos, em combinações com cultivares que produzem
frutos de valor comercial. Essa medida, no entanto, não terá sua eficácia totalmente comprovada
em caso de alta população do patógeno no solo e sob condições altamente favoráveis à doença.
Ademais, o “achego de terra” ou “amontoa” são práticas incompatíveis com o uso de porta-en-
xerto, pois fazem com que o solo entre em contato com o material da copa, suscetível à doença.
Assim, quando usada, deve ser acompanhada de medidas auxiliares de controle, tais como: rota-
ção de culturas; plantio em terrenos não muito contaminados; evitar terrenos de baixadas ou mal
drenados sujeitos ao encharcamento, bem como plantios em verões quentes e chuvosos; manejo
da água de irrigação; controle de hospedeiras alternativas, como a maria-pretinha, controle de
nematoides e insetos de solo que provocam ferimentos nas raízes, além de evitar o trânsito de
máquinas e veículos de áreas contaminadas para outras regiões.

2.5. Cancro bacteriano


Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis
O cancro bacteriano é uma doença com potencial de provocar perdas significativas em toma-
teiro cultivado para mesa. Sua ocorrência, no entanto, não é constante; pode passar despercebida
por alguns anos, para, então, surgir e atingir intensidade devastadora. Essa inconstância é atri-
buída à presença de condições climáticas favoráveis em combinação com o uso de sementes e
mudas infectadas.
É causada pela bactéria Gram negativa Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis, que é
favorecida por temperaturas de 18°C a 25°C e alta umidade do ar. É transmitida pela semente, o
que torna muito eficiente a sua dispersão a longas distâncias. Após instalada na lavoura, sua disse-
minação se dá por respingos de água sobre as lesões e pelo manuseio das plantas nas operações
de amarrio, desbaste, pulverizações e colheita.
A sintomatologia do cancro bacteriano é bastante complexa, pois algumas formas de manifes-
tação podem ser confundidas com sintomas de outras doenças e distúrbios fisiológicos. É variável
em função da idade da planta, por ocasião da infecção, do órgão da infectado, da cultivar e das
condições ambientais.
Em geral, os prim'eiros sintomas aparecem com a formação dos primeiros cachos, quando se
observa murcha de folíolos na metade inferior da planta - às vezes, de um lado só da folha. Quan-
do essas folhas secam, a planta fica com aspecto de “queima” (Figura 8A) pela necrose que se inicia
nas bordas (Figura 8B).
A murcha decorre de invasão sistêmica da bactéria, que compromete, total ou parcialmente,
a condução de água pelo xilema (e células adjacentes). Isso pode ser comprovado ao se observar
escurecimento dos vasos, de cor amarelada a princípio (Figura 8C). Esse sintoma pode ser con-

125
fundido com o de outras doenças vasculares causadas por fungos vasculares, como espécies de
Fusarium e Verticillium, e pela bactéria Ralstonia spp., e mesmo de deficiência hídrica e distúrbios
nutricionais. Nessa fase, é comum observar a queda de frutos pela infecção dos pedúnculos ou
pelo desbalanço do ácido abscísico.
Os sintomas mais típicos, entretanto, se manifestam nos frutos, como lesões redondas esbran-
quiçadas, que depois escurecem a partir das bordas, dando à lesão o aspecto de olho de perdiz ou
olho de passarinho (Figura 8D).

A B

C D

Figura 8. Sintomas do cancro bacteriano em tomateiro. Plantas com murcha e necrose foliar (A). Folhas
com necrose nas bordas (B). Escurecimento vascular, de cor amarela a marrom (C). Manchas nos frutos,
conhecidas como olho de perdiz ou olho de passarinho (D)
Fotos: Carlos A. Lopes

• Controle
O controle do cancro bacteriano requer um conjunto de medidas que visam evitar a entrada
do patógeno na lavoura e, caso venha a estar presente, que não cause muitos danos. Não existem
cultivares de tomate com um grau adequado de resistência que permita negligenciar as outras
medidas complementares de controle.

126
Inicialmente, e não exclusivamente para o cancro bacteriano, é necessário que as sementes
sejam de boa qualidade; ou seja, produzidas de acordo com as boas práticas de cultivo que ga-
rantam sua sanidade. Por isso, deve-se adquirir sementes de empresas idôneas, em vez de usar
semente própria ou de origem desconhecida. O local de plantio deve ser analisado com cuidado,
evitando-se áreas vizinhas a campos contaminados ou que tenham sido cultivados recentemente
com o tomateiro. A qualidade da água de irrigação deve levar em conta, entre outros fatores, a au-
sência do patógeno. Assim, a água coletada abaixo de lavouras velhas corre grande risco de estar
contaminada com patógenos.
Em geral, lavouras irrigadas por gotejamento correm menos risco de desenvolverem o cancro
bacteriano, pelo fato de não promoverem o molhamento da parte aérea, que está sujeita a in-
fecções secundárias pela dispersão de células bacterianas pelo impacto das gotas. As células do
agente causador do cancro bacteriano podem permanecer viáveis por longo tempo em várias su-
perfícies. Em especial, podem contaminar estacas e servirem como fontes de inóculo no próximo
cultivo. Assim, quando reutilizadas, as estacas devem passar por desinfestação pelo calor e pelo
tratamento com produtos químicos, sob orientação de um profissional da área. Esse problema
pode ser solucionado pelo uso de tutoramento com fitilhos novos.
É importante também que o contato com as plantas nunca deve ser feito após o manuseio ou
visitas (nas operações de amarrio, desbrota, irrigação, pulverização, preparo do solo e capinas)
a áreas com plantas sintomáticas. O controle químico do cancro bacteriano pode ser eficaz no
caso de infecções localizadas, mas não quando ocorre infecção sistêmica. Assim, recomenda-se
a aplicação de produtos bactericidas, desde que registrados no MAPA, com a função de proteger
os sítios de infecção, o principal deles sendo os ferimentos provocados pela desbrota e amarrio.
A rotação de culturas, recomendada para os patógenos de solo, também é eficaz como medida
auxiliar no controle do cancro bacteriano.

2.6. Talo oco e podridão mole


Pectobacterium spp. e Dickeya spp.
O talo oco e a podridão mole são as principais manifestações do ataque das bactérias pecto-
líticas, capazes de produzir enzimas que comprometem a integridade das células do hospedei-
ro, fazendo com que os órgãos afetados fiquem amolecidos. Dentre elas, as mais importantes
são as espécies dos gêneros Pectobacterium e Dickeya, amplamente encontradas em solos em
que se cultiva o tomate e muitas outras espécies olerícolas, como batata, cenoura, mandioqui-
nha-salsa e brássicas.
O talo oco e a podridão mole são destrutivas especialmente em lavouras sujeitas a alta umida-
de e alta temperatura, que ocorrem com frequência durante verões chuvosos e cultivos protegi-
dos submetidos a irrigações excessivas. São favorecidas também pela presença de ferimentos na
planta, de natureza física ou provocados por insetos, que são necessários para que essas bactérias
penetrem nos tecidos e iniciem o processo infeccioso.
O primeiro sintoma do talo oco é o amarelecimento e murcha das folhas, seguido de murcha
total ou parcial, que evolui para a seca e morte da planta (Figura 9A). Diferentemente das murchas
vasculares, as plantas afetadas pelo talo oco apresentam escurecimento externo no caule, provo-
cado pelo apodrecimento dos tecidos próximos ao redor do ponto de infecção, que é normalmen-
te associado a um ferimento (Figura 9B).

127
O nome talo oco é derivado do apodrecimento da medula, que faz com que o caule das plantas
afetadas ceda sob pressão dos dedos, evidenciando uma podridão interna do tecido (Figura 9C).
Sob condições muito favoráveis à doença, a bactéria desenvolve-se também na parte exterior do
caule, produzindo podridão mole, escorregadia ao tato. O nome podridão mole se refere princi-
palmente ao sintoma nos frutos durante o cultivo ou em pós-colheita que, quando danificados
ou perfurados por insetos, ficam sujeitos à infecção pela bactéria com uma decomposição aquosa
rápida (Figura 9D).

B C D

Figura 9. Sintomas do talo oco e podridão mole em tomateiro. Plantas mortas pela destruição do caule
(A). Necrose externa a partir de um ponto de ferimento no caule (B). Medula desintegrada (D). Podridão
mole em fruto, a partir de ferimento por broca (D)
Fotos: Carlos A. Lopes

128
• Controle
O controle do talo oco e da podridão mole é um caso clássico para exemplificar a relevância do
manejo integrado, pois não existem medidas que, individualmente, sejam capazes de amenizar
a contento os danos causados por elas. A medida mais eficaz parece ser a escolha da época de
plantio, evitando cultivos que estejam expostos a altas temperaturas e umidades. No entanto, por
questões comerciais, isso nem sempre é possível, o que faz com que medidas complementares
sejam rigorosamente seguidas quando essas condições ocorrerem.
Em especial para cultivos em campo aberto, deve ser feita uma escolha de áreas que não sejam
sujeitas a encharcamentos, preferindo solos com menos teor de argila e não compactados. Em cul-
tivo protegido, a irrigação deve ser bem manejada em termos de método de irrigação e lâmina de
água aplicada, além de manter a estrutura bem ventilada e a densidade de plantas adequada para
reduzir a umidade no dossel da planta. Deve-se atentar também para que as plantas tenham adu-
bação equilibrada. Em especial, evitar excesso de nitrogênio, que provoca o excesso de folhagem,
facilitando a manutenção indesejada da umidade no dossel, além de tornar a planta mais sensível
a ferimentos provocados pela quebra de tecidos pelo vento ou manuseio. Este tipo de ferimento, e
aqueles por outras causas, como ataque de insetos – que devem ser controlados conforme instru-
ções dessa publicação, ou causados pela desbrota e colheita -, propiciam a entrada da bactéria.
Sempre que possível, as plantas devem ser manuseadas em período seco para reduzir as chan-
ces de transmissão dos patógenos. Como essas pectobactérias atacam muitas outras espécies de
plantas, a rotação de culturas - preconizada para o controle de várias doenças causadas principal-
mente por patógenos de solo - deve ser feita de preferência com gramíneas, por períodos tanto
mais prolongados quanto maior for o grau de infestação do solo.

2.7. Necrose da medula


Pseudomonas corrugata, Pseudomonas mediterranea, Pseudomonas viridiflava
É uma doença vascular com maior prevalência no Sul e no Sudeste do país, tendo sido registra-
da uma ocorrência em Goiás. Com ocorrência simultânea com outras bacterioses foliares, como o
talo oco e a murchadeira, e devido à maior dificuldade de procedimentos de isolamento e identi-
ficação, sua importância no país para a cultura do tomateiro não está bem definida.
A necrose da medula foi inicialmente associada apenas à espécie P. corrugata, que foi pos-
teriormente considerada dois tipos distintos, phenon A e phenon B, passando o segundo ao
status de espécie, denominada P. mediterranea, observada no estado de São Paulo. No Brasil,
sua ocorrência tem sido associada a adubações nitrogenadas em excesso. Uma terceira espécie,
P. viridiflava, foi identificada como agente etiológico dessa doença em tomateiros no estado
de Santa Catarina. Há relatos de outras espécies de Pseudomonas (Pseudomonas agglomerans,
Pseudomonas marginalis, P. cichorii, Pseudomonas fluorescens) e até de Xanthomonas euvesicato-
ria pv. perforans) associadas a sintomas vasculares semelhantes em outros países, levando a crer
que se trata de um complexo de espécies.
Os sintomas geralmente são percebidos em plantas em fase de colheita, que podem se apresentar
amareladas, e/ou murchas e morrerem. Ao corte longitudinal do caule de plantas doentes, verifica-se es-
curecimento da medula (Figura 10), o que difere da sintomatologia do talo-oco, que leva à desintegração
desse tecido. Plantas nessas condições apresentam raízes adventícias em profusão. Rotação de culturas e
emprego de adubação equilibrada são recomendadas para áreas com histórico de ocorrência da doença.

129
A B

Figura 10. Corte longitudinal do caule mostrando os sintomas da necrose da medula em tomateiros.
Caule de tomateiro sadio (A). Caule de tomateiro com necrose da medula (B)
Fotos: Fernando P. Monteiro

3. Doenças causadas por fungos e oomicetos

3.1. Tombamento de mudas


Rhizoctonia solani, Pythium spp., Phytophthora spp., Fusarium spp., Sclerotium rolfsii.
O tombamento de mudas ou damping-off está presente em todos os locais onde se cultiva
tomate. Geralmente, ocorre durante a produção de mudas, em fase de pré ou de pós-emergência,
mas pode se manifestar também após o plantio das mudas até que elas se estabeleçam no cam-
po. Devido ao grande potencial destrutivo dos patógenos causadores, dependendo dos níveis de
contaminação de sementes e da infestação do solo ou da água, a doença poderá acarretar falhas
significativas no estande da cultura, seja em viveiros ou no campo.
A doença pode ocorrer em fase de pré ou pós-emergência. No primeiro caso, geralmente, o
patógeno infecta a semente durante a germinação, causando podridão da semente ou da radí-
cula, e a plântula não emerge. Já no segundo, o ataque do patógeno ocorre na base do caule,
provocando lesões deprimidas, com aspecto amolecido e escuro, levando à constrição do caule e
tombamento (Figura 11). Pode ocorrer antes ou após o plantio das mudas. Seja em viveiros como
no campo (Figura 11), o estande de plantas pode ser severamente comprometido pela doença.
Há algumas particularidades na sintomatologia ao se considerar a etiologia do patógeno en-
volvido na infecção de pós-emergência. Quando é causado por Pythium spp. ou Phytophthora

130
spp., inicialmente as mudas apresentam uma lesão escura e aquosa nas raízes e na base do caule
que se desenvolve de forma ascendente, culminando na podridão total do colo, levando ao tom-
bamento e morte da planta. Quando é causado por R. solani, por exemplo, de igual modo, ocorre
podridão de raiz e colo. No entanto, a lesão não é de aspecto aquoso. E no caso de ataques tardios,
a planta geralmente não morre, mas tem seu desenvolvimento prejudicado.
A doença é favorecida por umidade elevada do solo, condição que pode ser acarretada por
chuvas ou irrigações excessivas, principalmente em solos compactados sujeitos ao encharcamen-
to. O adensamento de plantas pode ser também um importante fator no agravamento da doença,
por propiciar microclima mais úmido. A disseminação dos propágulos dos patógenos que causam
a doença pode ocorrer por meio do uso de implementos infestados, bem como de mudas conta-
minadas, e ainda pela água, ao se tratar de Pythium e Phytophthora.
No caso de não haver hospedeiro disponível, Pythium spp. sobrevive saprofiticamente ou em
dormência através dos oósporos ou clamidósporos. Ao se estabelecer condições favoráveis, o oós-
poro germina, dando origem aos esporângios do qual se forma a vesícula, na qual os zoósporos
são diferenciados. Os zoósporos apresentam motilidade em filmes de água e são atraídos por
exsudatos do hospedeiro.
O ciclo de vida de Phytophthora é bastante parecido ao de Pythium, porém os zoósporos são
diferenciados diretamente no esporângio. Rhizoctonia, na ausência de hospedeiro, pode sobrevi-
ver saprofiticamente no solo, ou em estádio de dormência, como micélio e escleródios. O fungo
apresenta uma caraterística marcante em suas hifas: elas se ramificam em ângulo reto. Além disso,
não têm esporos sexuais.
A temperatura ideal é um fator que depende muito do patógeno, Pythium aphanidermatum e
P. myriotylum se desenvolvem melhor em temperaturas acima de 30°C, enquanto que P. ultimum
em temperaturas inferiores a 20°C. Rhizoctonia solani tem melhor desenvolvimento com tempe-
ratura entre 15º e 18°C.

• Controle
O controle do tombamento de mudas é difícil por se tratar de uma doença provocada por
fungos saprofíticos de comum ocorrência no solo. Ao lado disso, produz estruturas de resistên-
cia, como oósporos (oomicetos), clamidósporos (Fusarium spp.) e escleródios (R. solani e S. rolfsii),
que sobrevivem em estado de dormência por longos períodos. Não há cultivares comerciais de
tomate resistentes à Pythium spp., Phytophthora spp. e Rhizoctonia spp. Nesse sentido, o manejo
da doença deve se apoiar em um conjunto de medidas, principalmente embasadas em práticas
culturais adequadas, uso de fungicidas e de agentes de biocontrole.
Com relação às práticas culturais, é sempre importante evitar o excesso de umidade do solo.
Deve ainda evitar plantio em solos com baixa capacidade de drenagem, bem como a irrigação
com água de qualidade é imprescindível, visto que Pythium e Phytophthora vivem em ambiente
aquático. A utilização de sementes de boa qualidade é uma conduta crucial. Quando se adquirem
sementes não tratadas, recomenda-se tratá-las com fungicidas registrados.
Sempre que possível, deve-se priorizar a aquisição de mudas oriundas de viveiros especializa-
dos, com condições controladas, pois a produção em canteiros preparados no campo pode ficar
comprometida. Isso porque as mudas ficam mais expostas à infecção por patógenos já existentes
no solo. As mudas devem ser produzidas em bandejas contendo substrato esterilizado.

131
Com relação ao controle químico, há somente um fungicida com registro no MAPA, cujo prin-
cípio ativo é o Metam-sódico, que pode ser aplicado no solo. Esse fungicida é classificado como
altamente perigoso ao ambiente. Para Phytophthora e Rhizoctonia não há fungicidas registrados.
Diante da dificuldade de encontrar fungicidas registrados e por apresentarem pouca eficiência e
alto potencial destrutivo ao meio ambiente, a utilização de métodos alternativos, como o controle
biológico, se torna uma opção mais viável.
Nesse sentido, a utilização de cepas de Trichoderma spp. pode ser interessante. Esse fungo é
bastante citado como um agente biocontrolador de patógenos causadores de tombamento, que
apresentam estruturas consideradas difíceis de serem atacadas por outros microrganismos. A sua
utilização tem proporcionado reduções significativas dos danos causados por Pythium sp. e R. solani.
Outro agente bastante conhecido é Bacillus subtilis. A bactéria tem sistema secretor bastante
desenvolvido, produz metabólitos secundários que apresentam amplo espectro de atividade an-
tibiótica. Plantas de tomate tratadas com B. subtilis tiveram eficácia de controle da podridão por
Rhizoctonia de 20,65% e de 35,23% em casa de vegetação e em campo, respectivamente.

A B

Figura 11. Tombamento em mudas de tomateiro em bandeja no telado (A) e no campo (B)
Fotos: Ailton Reis

3.2. Murcha de Fusarium


Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici
Em tomateiro, a murcha de Fusarium é uma doença devastadora que está presente na maioria
das regiões de produção, com relatos em pelo menos 32 países. A murcha de Fusarium se en-
contra presente na maioria das regiões produtoras de tomate e, historicamente, vem causando
grandes prejuízos aos tomaticultores.
No Brasil, todas as raças fisiológicas do patógeno já se encontram estabelecidas. Atualmente,
a maioria das cultivares de tomateiro cultivadas apresenta resistência às raças 1 e 2. Com o apare-

132
cimento da raça fisiológica 3 em áreas de produção de tomate de mesa (inicialmente no Espírito
Santo e, posteriormente ,em outros estados), a doença voltou a fazer parte dos principais proble-
mas fitossanitários da tomaticultura brasileira. Entretanto, a raça 3 ainda não foi relatada no Sul do
país e nas regiões de plantio de tomateiro rasteiro nos cerrados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
A doença ocorre em qualquer fase de desenvolvimento da cultura, sendo mais comum em
plantas adultas a partir do florescimento e frutificação. Em plantas adultas, os sintomas são ob-
servados em reboleiras. Inicialmente, se observa o amarelecimento intenso das folhas mais ve-
lhas, que gradualmente murcham e apresentam necrose marginal ou total do limbo (Figura 12).
Com o progresso da doença, este amarelecimento aumenta de forma ascendente até atingir as
folhas mais novas. Nesta condição, os frutos não se desenvolvem, amadurecem ainda pequenos
ou caem prematuramente.
É comum a murcha ou o amarelecimento aparecerem apenas em um dos lados da planta ou
das folhas. Plantas doentes apresentam crescimento reduzido. Com o comprometimento total do
sistema vascular da planta, esta murcha se torna definitiva e morre. Quando o caule de plantas
com sintomas visíveis é cortado no sentido longitudinal, observa-se coloração marrom caracterís-
tica na região do xilema, mais intensa na base do caule, enquanto a medula não apresenta nenhu-
ma anormalidade (Figura 12).
O patógeno é disperso principalmente pela movimentação do solo e escoamento de água de
chuva e irrigação. Pode ser introduzido em novas áreas por meio do uso de mudas, máquinas e
ferramentas agrícolas contaminadas. O patógeno também pode estar presente nas sementes. O
fungo sobrevive no solo e em restos culturais na forma de clamidósporos por até oito anos, na
ausência do hospedeiro. Temperaturas entre 21°C e 33°C (ótima de 28°C) e alta umidade no solo
favorecem o desenvolvimento do patógeno.
Na presença de água, os esporos germinam e penetram por aberturas naturais das raízes da
planta, formadas pela emissão de raízes laterais, ferimentos provocados pelo atrito das raízes com
o solo, insetos, nematoides e tratos culturais. Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici penetra a epi-
derme da raiz, posteriormente se dispersa através do tecido vascular, invade os vasos do xilema da
planta, resultando no seu entupimento, impedindo a translocação de água e causando sintomas
típicos de murcha.

• Controle
A maioria das cultivares de tomateiro cultivadas no Brasil é resistente às raças 1 e 2 de F. oxys-
porum f. sp. lycopersici. Por outro lado, existe grande preocupação com relação à raça 3, tendo em
vista o número muito restrito de cultivares comerciais ou porta-enxertos resistentes a esta raça.
Assim, recomendam-se outras medidas de controle da doença, tais como o uso de sementes e
mudas sadias, plantio em áreas indenes e o tratamento de sementes com fungicidas.
A solarização do solo e a rotação com culturas não hospedeiras, preferencialmente gramíneas,
por pelo menos cinco anos, embora contribuam para a redução da população do patógeno no
solo, são de custo elevado e eficiência limitada, devido à persistência do fungo no solo.
Outras medidas culturais, como: calagem do solo, visando aumentar o pH para 6,5 a 6,8; im-
pedimento da drenagem de água de local infestado para novas áreas de plantio; eliminação dos
restos culturais, diminuindo, assim, o inóculo inicial para o próximo ciclo da cultura, manipulação
da fertilidade do solo (evitar o uso excessivo de fósforo e magnésio; usar nitrogênio na forma

133
de nitrato, evitando a forma amoniacal), e emprego de compostos orgânicos, visando aumentar
a microflora antagonista são recomendadas como medidas complementares. Em áreas onde o
patógeno já se encontra estabelecido, um dos métodos mais eficazes é o controle genético, por
meio do plantio de cultivares resistentes.

A B

Figura 12. Sintomas de murcha e amarelecimento de folhas (A) e escurecimento vascular (B) em
tomateiro, causados por Fusarium oxysporum f. sp. Lycopersici
Fotos: Ailton Reis

3.3. Murcha de Verticillium


Verticillium dahliae
A murcha de Verticillium é uma das doenças vasculares mais devastadoras causadas por es-
pécies do gênero Verticillium, que afetam quase 400 plantas hospedeiras, incluídas as principais
culturas agrícolas, ornamentais, e plantações de árvores, principalmente em regiões de climas
temperados e subtropicais. No Brasil, a doença é particularmente importante nas regiões Sul e
Sudeste, ocorrendo esporadicamente em áreas de maiores altitudes nas no Centro-Oeste e Nor-
deste. Ainda não se tem registro desta doença no Norte do país.
Até recentemente, a murcha de Verticillium não era relatada como causa de grandes prejuízos
aos tomaticultores brasileiros, uma vez que a maioria das cultivares comerciais apresenta resistên-
cia à raça 1 do patógeno. Entretanto, o estabelecimento e a disseminação de uma nova raça (raça
2) nas principais regiões produtoras de tomate vêm causando grandes prejuízos aos produtores.
Os sintomas da murcha de Verticillium do tomateiro podem variar, dependendo da cultivar plan-
tada, da nutrição da planta e das condições ambientais. Podem ser confundidos com os sintomas da
murcha de Fusarium e de outras doenças vasculares, porém progridem de maneira mais lenta.

134
Geralmente, o primeiro indício da doença é uma murcha moderada das plantas nas horas mais
quentes do dia, com a recuperação da turgidez no período da noite. À medida que a doença evo-
lui, uma clorose seguida de necrose se desenvolve nas margens dos folíolos das folhas inferiores
(Figura 13). Os folíolos passam a apresentar lesões típicas em formato semelhante ao da letra “V”,
que se estreitam da margem para o centro do folíolo (Figura 13).
As plantas atacadas pela murcha de Verticillium apresentam uma descoloração do sistema vas-
cular. Esta descoloração é menos evidente que aquelas que ocorrem no caso da murcha-bacte-
riana e a murcha de Fusarium (Figura 13). O escurecimento vascular é mais facilmente observado
nas partes mais baixas do caule e diminui na porção superior do caule. Em geral, não aparece nos
pecíolos. Os sintomas da doença se tornam mais evidentes quando a planta está em fase de plena
produção de frutos. Em variedades altamente suscetíveis, a doença pode levar à murcha total e
à morte da planta. Entretanto, na maioria das vezes, as plantas não morrem e apresentam menor
desenvolvimento e redução no número e/ou tamanho dos frutos.
Verticillium dahliae é um fungo altamente polífago, amplamente distribuído nas regiões agrí-
colas do mundo, e cuja reprodução sexual não é conhecida. O patógeno encontra-se bastante
disseminado no território brasileiro, infectando principalmente tomate, berinjela, jiló, algodão,
morango, quiabo, entre outras hospedeiras. Além disso, infecta e causa doença em várias espécies
de plantas nativas e invasoras. Todos esses aspectos epidemiológicos devem ser levados em con-
sideração. Isso porque o fungo tem apresentado uma alta plasticidade, sendo capaz de infectar
uma ampla gama de plantas hospedeiras, o que pode torná-lo um patógeno muito importante
em tomate, bem como em outras hortaliças.

A B C

Figura 13. Sintomas de murcha de folhas (A), necrose em “V” em folíolos (B) e descoloração vascular (C)
em plantas de tomate, causados por Verticillium dahliae
Fotos: Ailton Reis

São conhecidas duas raças do patógeno: 1 e 2. A identificação da raça é feita com o uso de
cultivares diferenciadoras e marcadores moleculares:
• Isolados que causam doença apenas em cultivares que não contêm o gene de resistência Ve
pertencem à raça 1.

135
• Isolados que causam doença em cultivares com e sem o gene Ve pertencem à raça 2.

A doença é favorecida por temperaturas amenas (22 a 25oC) e solos levemente ácidos a neu-
tros. O ótimo de umidade para o desenvolvimento da planta também favorece o desenvolvimen-
to da doença. A penetração do fungo nas raízes das plantas hospedeiras ocorre principalmente
através de ferimentos. Após a penetração, o fungo invade e coloniza os vasos do xilema, de forma
ascendente. Conforme a planta doente envelhece, o fungo torna-se saprofítico e coloniza os teci-
dos senescentes. Durante a colonização, o fungo forma microescleródios, estruturas de resistência
do patógeno, favorecidas por temperaturas entre 10 a 20oC. O fungo sobrevive por muitos anos
nesta forma dormente, como micélio ou conídios no sistema vascular de plantas perenes.
A dispersão de propágulos a curtas distâncias pode ocorrer por escoamento de água, especial-
mente irrigação por inundação, por meio de máquinas e equipamentos contaminados, folhas infec-
tadas e pelo vento. A dispersão do fungo a longas distâncias, pode ocorrer por meio de sementes e
mudas contaminadas ou infectadas. A sobrevivência ocorre no solo, onde o fungo pode permanecer
viável por longos períodos na forma de clamidósporos e/ou microescleródios. Além disso, também
pode sobreviver em restos de cultura ou infectando plantas voluntárias e invasoras.

• Controle
A resistência genética tem sido a medida de controle mais adequada para a maioria das doen-
ças vasculares, incluindo as causadas por Verticillium. Em tomateiro, o controle da murcha causada
pela raça 1 tem sido feito por meio do uso de variedades resistentes portadoras do gene Ve. Em-
bora não haja cultivares comerciais disponíveis com resistência à raça 2, no Japão, as cultivares de
porta-enxerto “Aibou” e “Ganbarune-Karis” têm sido relatados e cultivados como resistentes a iso-
lados de V. dahliae raça 2. Esses relatos de identificação de fontes de resistência, porém, parecem
ser instáveis em campos comercias de tomate. Portanto, ainda não foi transferida para linhagens
e cultivares com boas características agronômicas.
Recomenda-se fazer um controle rigoroso de plantas daninhas e voluntárias dentro e/ou pró-
ximas aos telados de cultivo e nas lavouras a campo. Deve-se considerar o histórico de plantação
de culturas, assim como o histórico epidemiológico da murcha de Verticillium no local.
Algumas sugestões:
• Os restos culturais de lavouras velhas de tomateiro e de outras hortaliças devem ser destruí-
dos, antes de um novo período de cultivo.
• A adubação correta das plantas também auxilia no controle da doença, pois possibilita uma
maior “tolerância” aos efeitos adversos da infecção.
• A biofumigação do solo ou a solarização podem ser métodos de controle efetivos, entretan-
to, em nível comercial essas estratégias se aplicam a pequenas áreas ou telados.
• A rotação de culturas pode auxiliar no controle da doença, mas esta técnica é limitada, devi-
do ao grande número de hospedeiras do fungo e a capacidade do patógeno de sobreviver
no solo, na forma de microescleródios, por um período de tempo muito prolongado. Espé-
cies de monocotiledôneas aparecem como as mais indicadas em sistemas de rotação. Para o
tomate, é preferivel uma rotação com milho, soja, alfafa, crucíferas ou arroz, por pelo menos
três anos. Entretanto, embora vários microrganismos tenham demonstrado eficácia contra a
murcha de Verticillium, a maioria deles ainda não foi correlacionada com a atividade in vivo
e não há evidências de que desempenhe um papel in planta.

136
3.4. Mofo branco
Sclerotinia sclerotiorum
O mofo branco é uma importante doença do tomateiro no Brasil, principalmente no tomatei-
ro cultivado para processamento industrial. É favorecida por temperaturas amenas e umidade
elevada. Encontra-se amplamente disseminada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Quanto
às perdas, tem sido observado que maiores níveis ocorrem em plantios de tomate destinados a
indústria, por serem geralmente de hábito prostrado, o que promove maior proximidade da folha-
gem e frutos com o solo, favorecendo o estabelecimento da doença.
A doença pode surgir em reboleiras ou em plantas isoladas, geralmente, a partir da fase de
floração. No cultivo do tomate rasteiro, por exemplo, o ataque pode ser bastante severo, devido
à superfície do solo ficar quase que completamente coberta. O patógeno pode atacar todos os
órgãos aéreos da planta, mas frequentemente o caule é acometido.
Os sintomas se iniciam com a destruição do tecido do caule de aproximadamente 10 a 15
cm do solo, o que provoca o surgimento de lesões aquosas, que se formam devido à destruição
de componentes da parede celular por enzimas celulases, hemicelulases e pectinases. As lesões
apresentam tamanho variável, podendo levar à constrição completa da haste; o tecido se torna
necrótico e dificulta a passagem de água e nutrientes, o que repercute em murcha e seca da parte
aérea. Lesões avançadas no caule apresentam coloração palha a esbranquiçada (Figura 14).
Com a evolução da doença, os ramos são colonizados pelo patógeno, o conteúdo interno dos
ramos é destruído, onde se formam escleródios após 7 ou 10 dias da infecção. Em condição de ele-
vada umidade do solo e do ar, sinais do patógeno (micélio branco cotonoso e escleródios) podem se
desenvolver sobre as áreas lesionadas. Os frutos, quando atacados, se rompem rapidamente, exibin-
do podridão aquosa, com possível frutificação de estruturas do patógeno na superfície (Figura 14).
Sclerotinia sclerotiorum é o fungo causador do mofo branco em tomateiro no Brasil. É ampla-
mente distribuído ao redor do mundo e um patógeno bastante polífago. Os escleródios são a sua
estrutura de sobrevivência, que pode sobreviver por vários anos no solo. Inicialmente, apresen-
tam coloração branca e, posteriormente, se tornam negros, de formato irregular, e tamanho que
pode variar de acordo com o hospedeiro.
Os escleródios podem germinar de duas maneiras: carpogênica ou miceliogênica. Na carpo-
gênica, ocorre a formação de um a vários apotécios, onde uma única unidade é capaz de produzir
mais de 2 milhões de ascósporos. Eles podem germinar na superfície de um tecido saudável, mas
requer um filme de água e nutrientes de uma fonte exógena. Na miceliogênica, ocorre o desen-
volvimento de hifas, que irão infectar o hospedeiro a partir da penetração pela cutícula da planta,
utilizando-se de arsenal enzimático, força via apressórios ou por meio dos estômatos.

137
A B

Figura 14. Sintomas de podridão em caule (A) e em fruto (B) de tomate, causados por Sclerotinia
sclerotiorum
Fotos: Hélcio Costa

Em condições de temperatura entre 10º e 21°C e alta umidade, os escleródios germinam e de-
senvolvem os apotécios. A germinação dos ascósporos ocorre em condições de elevada umidade
e temperatura entre 5-10°C; já a germinação miceliogênica requer temperatura de 15°-25°C.
Outras condições que favorecem a germinação são: o pH do solo entre 6,0 e 9,7, fotoperíodo
mínimo de 8 horas, alta densidade de plantio e períodos prolongados de precipitação. A dispersão
do patógeno pode ocorrer por meio do transporte aéreo dos ascósporos e pela água de irrigação.

• Controle
Infelizmente, ainda não há cultivares de tomate resistentes à doença. A dificuldade para de-
senvolver linhagens resistentes a esse patógeno se deve ao fato da resistência ser parcial, com
moderada a baixa herdabilidade.
Portanto, o manejo da doença deve se apoiar em um conjunto de medidas, podendo-se lançar
mão de práticas culturais, fungicidas, substâncias indutoras de resistência e agentes de biocontrole.
Algumas práticas culturais que podem auxiliar no manejo são:
• menor densidade de plantio;
• controle da irrigação;
• desinfestação de implementos utilizados em áreas contaminadas, e aração profunda, de
modo a inverter as camadas do solo.

138
A rotação de cultura, embora possa contribuir, é limitada, devido às poucas espécies de
interesse econômico que não sejam hospedeiras. Entretanto, gramíneas, como milho, trigo
e arroz, podem ser opções, auxiliando na redução do inóculo inicial em solos contaminados.
Além do mais, as gramíneas podem ainda ser utilizadas como cobertura morta, contribuindo
para a destruição dos escleródios presentes no solo, seja pelos resíduos resultantes da de-
composição, barreira mecânica imposta, ou devido ao aumento da densidade populacional
de microrganismos antagonistas.
O plantio de cultivares de tomate mais eretas também pode ser útil, pois permite maior aera-
ção do microambiente formado sob a folhagem. Pulverizações preventivas com fungicidas são
recomendadas, durante o período vegetativo ou reprodutivo, contribuindo para a redução do
número de escleródios.
Apesar de os fungicidas serem importantes ferramentas no manejo do mofo branco, devem
ser utilizados com muito critério, pois podem levar à seleção de populações de fungos resistentes,
além de serem potencialmente perigosos ao meio ambiente. No Brasil, os fungicidas recomen-
dados para utilização com registro no MAPA têm como princípio ativo fluazinam, procimidona,
tiofanato metílico, fluazinam com tiofanato metílico e ciprodinil com fludioxonil.
O controle biológico pode ser um item importante num programa de manejo da doença. Mui-
tos fungos e bactérias já foram relatados como agentes antagonistas de S. sclerotiorum. Os gê-
neros de fungos mais utilizados, são: Gliocladium, Coniothyrium, Trichoderma e Paecilomyces. As
bactérias mais comumente usadas são Bacillus e Streptomyces.

3.5. Podridão de Sclerotium


Sclerotium rolfsii sin. Athelia rolfsii
Ocorre sob condições de alta umidade do solo e temperaturas elevadas, entre 25°C e 35°C. A
doença aparece em pequenas reboleiras ou em plantas isoladas, as quais exibem sintomas de mur-
cha (Figura 15) ou enfezamento, em consequência de necrose na região do colo, quase sempre cir-
cunscrevendo o caule. Com o progresso da doença, as raízes apodrecem. O patógeno pode atacar
frutos em contato com o solo contaminado e provocar seu colapso. Em condições de alta umidade,
verifica-se crescimento micelial branco sobre os tecidos doentes em caules (Figura 15) e frutos, onde
geralmente são formados pequenos e numerosos escleródios esféricos de coloração branca no iní-
cio e depois pardo-escura. Esses escleródios permitem o diagnóstico preciso da doença.
O fungo pode permanecer viável no solo, na forma de escleródio, por até cinco anos. Entretan-
to, pode resistir por muito mais tempo, infectando outras espécies de plantas, destacando-se as
fabáceas, solanáceas, apiáceas e asteráceas.
A ocorrência da podridão de Sclerotium pode ser minimizada evitando-se o plantio em áreas
contaminadas e o excesso de umidade no solo; realizando a rotação de culturas, preferencialmen-
te com gramíneas, e com o planejamento da época de plantio, de forma que a frutificação e a
colheita não coincidam com o período chuvoso.

139
A B

Figura 15. Sintomas de murcha (A) e presença de micélio branco sobre a lesão em colo de tomateiro (B),
causados por Sclerotium rolfsii
Fotos: Carlos A. Lopes

3.6. Podridão do colo e raiz


Fusarium oxysporum f. sp. radicis lycopersici
Além de F. oxysporum f. sp. lycopersici (FOL), o tomate também é infectado por F. oxysporum f.
sp. radicis-lycopersici (FORL), que é o agente causal da podridão da raiz e do colo - patógeno rela-
tado no Brasil recentemente. Entretanto, sua ocorrência ainda tem sido esporádica, não causan-
do grandes prejuízos aos produtores de tomate. Por outro lado, tem potencial de se tornar uma
praga importante da cultura, principalmente nas áreas mais frias do país, já que é mais prevalente
em regiões produtoras de tomate com climas amenos ou em altitudes elevadas. É uma doença
mais problemática em tomateiros cultivados em condições protegidas, especialmente se forem
em solo ou substrato esterilizado com perdas variando de 20%-60%.
A diferenciação da podridão de raiz e do colo (causada por FORL) para a murcha de Fusarium
em condições de campo é feita principalmente pelo tipo de sintoma que induzem no tomate
(murcha vascular versus podridão de raiz e da coroa) (Figura 16). Outra diferença marcante entre
FORL e FOL é a faixa de temperatura ideal necessária para cada patógeno causar a doença. FOL é
favorecido por temperaturas quentes (25–27o C), enquanto FORL é um problema mais sério em
climas amenos (15–20o C). Não há relatos de raças FORL, sendo o gene de resistência, que confere
resistência à doença (Frl), dominante e eficaz contra todas as variantes deste patógeno.

140
Figura 16. Sintomas de podridão de raiz e colo em planta de tomate, causada por Fusarium oxysporum f.
sp. radicis-lycopersici
Foto: Ailton Reis

3.7. Requeima
Phytophthora infestans
A requeima, também conhecida como mela, é considerada a doença de parte aérea mais des-
trutiva do tomateiro, devido à velocidade com que o patógeno se multiplica e dispersa e com que
queima os órgãos aéreos das plantas. Encontra-se distribuída em praticamente todas as áreas
onde se produz tomate no mundo. Regiões de clima ameno e de elevada umidade relativa do ar,
principalmente no período chuvoso, são extremamente favoráveis à sua ocorrência, o que torna
o cultivo do tomate produtivamente insustentável nestas condições, em razão dos danos e dos
altos custos de controle da doença.
A requeima pode ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento do tomateiro e afetar severa-
mente todos os órgãos da parte aérea da planta. Os primeiros sintomas geralmente ocorrem na
metade superior da planta. Nos folíolos, eles aparecem na forma de pequenas manchas enchar-
cadas de coloração verde-escura e formato indefinido. As lesões podem aumentar rapidamente
de tamanho e atingir grande parte do limbo foliar, onde os tecidos afetados adquirem coloração
marrom-pálida e tornam-se necróticos com aspecto de queima (Figura 17).
Lesões semelhantes podem ocorrer no caule, pecíolos e no ráquis. Neles, as lesões são escuras,
geralmente superficiais, irregulares, quebradiças e podem resultar na morte da porção acima da
lesão (Figura 17), devido ao anelamento desses órgãos. Nos frutos, podem ocorrer manchas de co-
loração marrom parda, de aspecto oleoso e consistência firme. Podem aumentar de tamanho até
atingir toda a superfície do fruto, sem causar a queda (Figura 17). Em condições de alta umidade
relativa, verifica-se a formação de micélio esbranquiçado e a formação de estruturas reprodutivas do
patógeno sobre caules, pecíolos, frutos e principalmente sobre a face inferior das folhas (Figura 17).

141
A B C

D E

Figura 17. Sintomas de queima de folhas, mancha necrótica em folha (A, B), esporulação do patógeno na
face inferior (C), em fruto do tomateiro (D) e podridão em caule (E), causados por Phytophthora infestans
Fotos: Ailton Reis

A requeima do tomateiro é causada pelo oomiceto Phytophthora infestans. Em condições de


alta umidade relativa (acima de 90%) e temperaturas moderadas (10-24°C), o patógeno produz
esporângios e esporangióforos. A germinação dos esporângios pode ocorrer diretamente em
temperaturas moderadas (18-24°C), formando um único tubo germinativo; ou indiretamente, em
temperaturas mais baixas (8-18°C), quando são produzidos em torno de oito zoósporos biflage-
lados (esporos móveis). Os zoósporos se locomovem por meio de um filme sobre a superfície do
hospedeiro, onde incitam, germinam e penetram no tecido por meio de apressórios.
Em períodos frios e de alta umidade relativa, a quantidade de inóculo é muito maior e novas in-
fecções do patógeno podem ocorrem em curto espaço de tempo (3-5 dias), levando a epidemias
severas após vários ciclos sucessivos do patógeno. Em temperaturas elevadas e baixa umidade,
pode produzir oósporos (estruturas de resistência), que têm papel importante na sobrevivência
do patógeno. No entanto, não se sabe se isso realmente ocorre no Brasil. Temperaturas superiores
a 30°C são desfavoráveis à ocorrência da requeima. O patógeno sobrevive principalmente em
restos culturais do tomateiro e da batata, como folhas, hastes, frutos e tubérculos infectados, e se
dissemina pelos respingos da chuva, ventos fortes e implementos agrícolas contaminados (quan-
do há produção de oósporos e persistência deles no solo).

142
• Controle
Todas as cultivares de tomateiro disponíveis no mercado são suscetíveis à requeima, o que faz
do controle químico o método mais eficiente empregado pelos agricultores. Quando as condições
ambientais estão favoráveis ao desenvolvimento da doença, recomenda-se aplicações periódicas de
fungicidas de contato registrados no MAPA para a cultura. O período de proteção desses produtos
varia de quatro a oito dias, porém, estão sujeitos à remoção pela ação das chuvas e irrigação.
Após a detecção dos primeiros sintomas da requeima, recomenda-se a aplicação de fungicidas
sistêmicos, porque eles oferecem proteção entre 10 e 14 dias. A aplicação de fungicidas deve ser
realizada de forma sequencial, com produtos de contato, a partir da emergência do tomateiro e
posterior aplicação de produtos sistêmicos nas fases de crescimento vegetativo e frutificação.
É recomendável que as aplicações preventivas sejam baseadas em informações climáticas lo-
cais, adquiridas em um sistema de previsão de doenças. A alternância de ingredientes ativos e mo-
dos de ação é importante para prevenir a seleção de patógenos resistentes, visto que o patógeno
apresenta alta variabilidade genética - inúmeras raças fisiológicas já foram descritas.
Como medidas culturais, recomenda-se evitar o plantio em áreas de baixada, sujeitas à ocor-
rência e permanência de neblina por longos períodos ou em solos mal drenados; evitar, ao má-
ximo, o plantio escalonado na mesma propriedade, ou seja, plantios novos próximos de outros
ainda em produção, bem como próximos de lavouras abandonadas; irrigar preferencialmente por
gotejamento; incorporação imediata de restos culturais no solo, e rotação de cultura com gramí-
neas ou plantas não hospedeiras.
Existem sistemas de previsão de doenças capazes de monitorar e prever a ocorrência da re-
queima nas lavouras, com base em informações meteorológicas locais, de forma a orientar os
agricultores a aplicar os fungicidas em épocas de maior risco de ocorrência.
No Brasil, entretanto, tal tecnologia só tem sido adotada por produtores de Santa Catarina. O
acesso aos sistemas de alerta é feito via página do Agroconnect – EPAGRI-CIRAM, seguindo os
seguintes passos:
• Selecionar em “Atividade Agropecuária” a cultura do Tomate;
• Selecionar o alerta fitossanitário de interesse (requeima, pinta preta, septoriose ou
mancha bacteriana);
• Posicionar o cursor sobre a estação meteorológica mais próxima de sua área de plantio e
observar a coloração do círculo, que pode ser: Verde (sem risco), Amarelo (risco leve), Laran-
ja (risco moderado), vermelho (risco severo) ou azul (alerta de precipitação maior ou igual
a 25mm). Quando estiver em vermelho é necessário pulverizar e em azul recomenda-se a
reaplicação dos fungicidas por conta do alto volume de chuva. Ao clicar na estação meteoro-
lógica de interesse, é possível acompanhar na “Tabela do alerta fitossanitário” o histórico de
alertas emitidos.

O uso do sistema de alerta PrevReq auxilia na tomada de decisão para a realização das pulve-
rizações contra a requeima. Esse sistema de alerta é uma adaptação feita por Becker (2005; 2011)
dos modelos de Wallin (1962) e MacHardy (1979), que foi validada para região do Alto Vale do Rio
do Peixe. Utiliza dados agroclimáticos de temperatura mínima e média, precipitação acumulada
durante 10 dias, umidade relativa e molhamento foliar provenientes das estações metereológicas
localizadas na região para gerar os alertas.

143
3.8. Pinta preta ou mancha de alternaria
Alternaria linariae (sin. A. tomatophila)
A pinta-preta ou mancha de Alternaria está presente em praticamente todas as regiões de
produção de tomate do país. A doença apresenta alto potencial destrutivo, em condições de altas
temperaturas (25º-30°C) e umidade relativa, mas pode ocorrer em regiões de clima semiárido, nas
quais a umidade proporcionada pela irrigação permite o desenvolvimento do patógeno.
A incidência da pinta-preta é mais comum em cultivos de tomateiros a céu aberto, sujeitos a
chuvas, mas de pouca importância em cultivos protegidos no Brasil. A doença pode causar gran-
des prejuízos econômicos, devido à severa destruição foliar, que afeta a produtividade, tamanho
e número de frutos.
Em mudas, geralmente oriundas de sementes contaminadas, o patógeno incide na região do
caule próximo ao solo, causando o anelamento e, consequentemente, a morte das plantas. Em
plantas adultas, a doença ocorre em toda parte aérea.
Os sintomas iniciais da doença são observados nas folhas mais velhas, na forma de pequenas
lesões necróticas, de coloração marrom-escura a preta, com bordos bem definidos, de formatos
mais ou menos circulares, com a presença de anéis concêntricos e halo amarelado (Figura 18).
Com o progresso da doença, as lesões aumentam rapidamente de tamanho, e em número, com
a destruição total das folhas pela coalescência das lesões. Em condições ambientais favoráveis,
progride de forma ascendente e atinge as folhas novas, causando severa destruição foliar (Figura
18). Em consequência, os frutos ficam expostos e sujeitos à queima pela radiação solar, tornan-
do-se impróprios para a comercialização. No caule e pecíolos as lesões são escuras, alongadas,
circulares, ligeiramente deprimidas e apresentam anéis concêntricos bem evidentes, semelhante
aos observados nas folhas (Figura 18).
Nos frutos, as lesões são consideravelmente maiores, escuras e deprimidas, onde se observa a
presença típica de anéis concêntricos, que geralmente se localizam na região peduncular (Figura
18). Normalmente, os frutos atacados caem no solo. Manchas pardo-escuras também podem ser
observadas nos pedicelos e cálices das flores e frutos infectados. Em condições de alta temperatu-
ra e umidade, as lesões são recobertas por micélio e frutificações do patógeno de aspecto escuro
e aveludado.
A B C

Figura 18. Sintomas de mancha arredondada, com anéis concêntricos e halo amarelado, em folha de
tomateiro (A), desfolha (B) e podridão em fruto (C), causados por Alternaria linariae
Fotos: Ailton Reis

144
Os conídios do fungo são dispersos principalmente pelo vento, chuva ou irrigação, insetos,
trabalhadores e implementos agrícolas. Sementes contaminadas podem dispersar o patógeno a
longas distâncias e constituem-se fonte de inóculo inicial. O patógeno sobrevive entre estações
de cultivo em restos culturais infectados, em plantas voluntárias de tomateiro ou em outras sola-
náceas, como batata e berinjela - embora haja uma aparente especificidade ao hospedeiro.
Os conídios caracterizam-se por serem altamente resistentes a baixos níveis de umidade, po-
dendo permanecer viáveis por até dois anos nessas condições. A germinação dos conídios ocorre
em ampla faixa de temperatura (6-32°C), tendo como ótimas temperaturas entre 28º e 30°C.
A presença de água livre na folha ou umidade relativa superior a 90% são essenciais para os
processos de germinação e infecção do patógeno. Nessas condições, a germinação ocorre em
menos de duas horas. A infecção tem início com a penetração das hifas diretamente através da
cutícula ou ferimentos após a formação de apressório. Em condições de campo, os sintomas são
visíveis de dois a cinco dias após a infecção.
A ocorrência de epidemias severas da doença está associada a temperaturas noturnas modera-
das, elevada umidade relativa e chuvas ou irrigações frequentes, que favorecem a esporulação do
patógeno. O aumento de suscetibilidade à doença está geralmente associado a tecidos maduros
com maior frequência durante a fase de frutificação.

• Controle
São recomendados para o manejo da doença: utilização de sementes e mudas sadias; rotação
de culturas com plantas não hospedeiras, preferencialmente gramíneas, por dois ou três anos; in-
corporação de restos culturais imediatamente após a colheita; eliminação de hospedeiros (batata
e berinjela); adubação equilibrada visando manter o crescimento vigoroso das plantas; cobertura
do solo com palhada; e irrigação preferencialmente por gotejamento.
Atualmente, não existem cultivares comerciais de tomate resistentes à pinta-preta disponíveis
no Brasil, o que faz da utilização de fungicidas uma das principais medidas de controle da doença.
Aplicações de fungicidas cúpricos devem ser realizadas a partir do início do período vegetativo.
Ao observar maiores incidências da doença, recomenda-se a aplicação de fungicidas sistêmicos
alternada com fungicidas protetores.
O uso do sistema de alerta Previpp, que auxilia na tomada de decisão para a realização das
pulverizações, tem sido uma prática empregada por produtores de Santa Catarina. Esse sistema
de alerta é uma adaptação do modelo TOM-CAST (Pitblado, 1992), que foi validado para a região
do Alto Vale do Rio do Peixe e utiliza dados agroclimáticos de temperatura média e molhamento
foliar (chuva ou orvalho), provenientes das estações meteorológicas localizadas na região para
gerar os alertas.

3.9. Septoriose ou mancha de septoria


Septoria lycopersici
A ocorrência da septoriose ou mancha de Septoria, nos últimos anos, aumentou significativa-
mente nas regiões produtoras de tomate no Brasil, principalmente em sistemas de produção a
céu aberto. Períodos quentes e chuvosos são extremamente favoráveis a epidemias da doença,

145
condições em que o patógeno causa uma severa desfolha das plantas e reduz significativamente a
produtividade e a qualidade dos frutos. Dependendo da severidade da doença, as perdas podem
chegar a 100% em consequência da morte das plantas.
A septoriose ocorre em qualquer fase de desenvolvimento do tomateiro. Os sintomas são obser-
vados inicialmente nas folhas baixeiras, na forma de pequenas e numerosas manchas encharcadas,
de formato mais ou menos circular e elíptico, medindo de 1 a 3 mm de diâmetro. À medida que a
doença se desenvolve, as lesões adquirem coloração marrom, acinzentada no centro e apresentam
bordas escurecidas, circundadas com um estreito halo amarelado, podendo atingir 5 mm de diâme-
tro ou mais (Figura 19). No centro das lesões, quando em condições de alta umidade, observa-se a
presença de pequenos pontos pretos, que consistem em frutificações do patógeno (picnídios).
Lesões menores, escuras e sem a presença de halos amarelado podem ocorrer no caule, hastes,
pecíolo, cálice e flores de plantas afetadas, raramente nos frutos. Com o tempo a doença progride
de forma ascendente na planta, com início nas folhas baixeiras em direção às folhas mais novas (Fi-
gura 19). As lesões coalescem, as folhas amarelecem, secam e caem, causando desfolha acentuada
das plantas. Em consequência, plantas severamente afetadas produzem frutos menores, sujeitos à
queimadura pela exposição direta aos raios solares.

A B

Figura 19. Sintomas de manchas foliares (A) e queima das folhas baixeiras de tomateiro (B), causados por
Septoria lycopersici
Fotos: Ailton Reis

A doença é causada pelo fungo Septoria lycopersici. No centro das lesões, o fungo produz nu-
merosos picnídios negros, nos quais são formados conidióforos e conídios hialinos. Na presença
de água, os conídios são liberados em cirros hialinos, de forma aglutinada entre si por substância
mucilaginosa. Embora não seja habitante do solo, o patógeno pode persistir de uma estação de
cultivo para outra em restos culturais.
A dispersão do patógeno se dá principalmente pelo impacto de gotas de água da chuva, asso-
ciadas a ventos fortes - embora também seja disperso por insetos, máquinas, ferramentas agrícolas
e sementes contaminadas. Períodos prolongados de temperaturas entre 20º e 25°C, alta umidade

146
relativa e chuvas constantes são extremamente favoráveis ao desenvolvimento da doença. Na
presença de molhamento foliar, os conídios germinam em aproximadamente 48 horas e pene-
tram através dos estômatos. Seis dias após a infecção, são observadas as primeiras lesões, com a
formação dos picnídios após 4 a 8 dias.

• Controle
Atualmente, no Brasil, não existem cultivares ou híbridos comerciais de tomate com níveis sa-
tisfatórios de resistência à septoriose. Dessa forma, o controle químico com a aplicação de fungi-
cidas protetores e sistêmicos tem sido o método mais eficaz contra a doença. Fungicidas registra-
dos devem ser aplicados em intervalos regulares de 7 a 14 dias, tão logo se observe os primeiros
sintomas da doença ou, particularmente, quando as condições ambientais estiverem favoráveis
ao seu desenvolvimento e disseminação.
O uso do sistema de alerta PreviSep, que auxilia na tomada de decisão para a realização das
pulverizações, tem sido uma prática empregada por produtores de Santa Catarina. Esse sistema é
uma adaptação do modelo TOM-CAST (Pitblado, 1992), que foi validado para a região do Alto Vale
do Rio do Peixe em Santa Catarina, e utiliza dados agroclimáticos de temperatura e molhamento
foliar provenientes das estações metereológicas localizadas na região para gerar os alertas.
Práticas culturais também podem ser adotadas visando reduzir a doença, tais como: plantio de
sementes e mudas livres do patógeno; rotação de culturas por períodos superiores a um ou dois
anos; destruição ou incorporação de restos culturais imediatamente após a colheita; controle de
tigueras; irrigação por gotejamento; evitar os tratos culturais quando as folhas do tomateiro esti-
verem molhadas; uso de mulch; e adubação equilibrada.

3.10. Mancha de estenfílio


Stemphylium spp. (S. lycopersici e S. solani)
A mancha de estenfílio voltou a ser uma importante doença do tomateiro estaqueado no Bra-
sil, podendo ser extremamente destrutiva. Ela reduz a área foliar fotossintetizante, comprome-
tendo a sua produtividade. Sua importância tinha diminuído há alguns anos, devido ao uso de
cultivares resistentes e às aplicações periódicas de fungicidas para controle do complexo de do-
enças foliares. Entretanto, há algum tempo tem-se observado epidemias severas dessa doença em
lavouras comerciais em todas as principais regiões produtoras de tomate de mesa do Brasil. Isto
se deve principalmente ao fato de os principais híbridos de tomate comercializados no país não
serem resistentes à doença, uma vez que foram desenvolvidos em outros países, onde a doença
não é importante.
A mancha de estenfílio pode ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento do tomateiro.
Entretanto, os sintomas ocorrem com mais frequência nas folhas superiores, principalmente nas
fases de florescimento e frutificação da planta. O sintoma mais comum da doença é a formação de
lesões foliares pequenas, marrom-escuras, de formato irregular (Figura 20).
Ao contrário da pinta-preta, da septoriose e da mancha-bacteriana, que são mais evidentes nas
folhas mais velhas, a mancha de estenfílio afeta principalmente as folhas novas de plantas adultas.
Inicialmente, as lesões são pequenas, encharcadas e visíveis na parte de baixo das folhas podendo
ser confundidas com as manchas provocadas por outras doenças, como a pinta-preta (Alternaria
tomatophila), mancha-alvo (Corynespora cassiicola), pinta-bacteriana (Pseudomonas seringae pv.

147
tomato) ou mancha-bacteriana (Xanthomonas spp.). À medida que as manchas crescem, podem
coalescer, e a sua parte central se desprender de o restante do tecido foliar, conferindo um aspec-
to rasgado ou furado à lesão (Figura 20).
Os frutos do tomateiro não são atacados, mas, sob condições favoráveis à doença, podem apa-
recer pequenas lesões nos tecidos mais jovens do caule e nos pedúnculos das flores e frutos. Nas
folhas mais velhas, as manchas tendem a aumentar de tamanho, chegando a atingir mais de 4
mm de diâmetro, ocasião em que são confundidas com as manchas de pinta-preta. Além disso, as
folhas atacadas podem tornar-se amarelas, necrosadas e caírem.

A B

Figura 20. Sintomas de manchas foliares irregulares e escuras (A) e perfurações em folhas de tomate (B),
causados por Stemphylium sp.
Fotos: Ailton Reis

No Brasil, a mancha de Stemphylium do tomateiro pode ser causada por duas espécies do
gênero Stemphylium: S. solani e S. lycopersici. Entretanto, trabalhos recentes desenvolvidos na Em-
brapa Hortaliças têm demonstrado que a S. lycopersici é mais prevalente e foi encontrada numa
maior gama de hospedeiros e regiões geográficas. Dentre as hospedeiras naturais destas espécies
de Stemphylium, estão a berinjela, o jiló, o pimentão e as pimentas do gênero Capsicum.
Stemphylium lycopersici e S. solani podem sobreviver, de um ano para outro, em restos de cultu-
ra, em plantas voluntárias ou associadas a outras hospedeiras, inclusive plantas daninhas. A maio-
ria das solanáceas, cultivadas ou invasoras, é suscetível ao patógeno e podem servir de fontes de
inóculo. Na lavoura e entre lavouras, a dispersão de esporos dos patógenos se dá principalmente
por meio do vento. Mudas e sementes contaminadas também podem ser importantes dissemina-
dores destes fungos a longas distâncias. Temperaturas na faixa de 24º - 27oC e alta umidade do ar
favorecem a ocorrência de epidemias da doença.

148
• Controle
A medida mais eficiente e mais econômica de controle da mancha de estenfílio do tomateiro é
o uso de cultivares resistentes. Esta resistência é controlada por um gene dominante (gene Sm) e,
por isso, relativamente fácil de ser incorporado em cultivares de tomateiro. Entretanto, atualmen-
te, menos de 10% das cultivares encontradas no comércio no Brasil são resistentes à doença (vide
catálogos das empresas de sementes).
Quando não for possível utilizar uma cultivar resistente, outras medidas de controle podem
ser empregadas, tais como: aplicação preventiva de fungicidas registrados no Ministério da Agri-
cultura, de preferência de forma preventiva; rotação de culturas, evitando espécies hospedeiras
dos patógenos; evitar plantios próximos a lavouras mais velhas de tomateiro ou de outras plantas
hospedeiras; eliminar restos de cultura logo após a última colheita; eliminar e/ou pulverizar plan-
tas hospedeiras daninhas, nativas ou espontâneas que estejam nas proximidades da lavoura de
tomateiro; evitar irrigações muito frequentes, quando esta for por aspersão; utilizar sementes e
mudas de boa qualidade.

3.11. Mancha de Corynenspora


Corynespora cassiicola
A mancha de Corynespora ou mancha-alvo é uma doença da parte aérea do tomateiro, muito
importante na região Norte e em algumas áreas produtoras do Nordeste. Até pouco tempo, era
praticamente ausente nas outras regiões produtoras de tomate do país. É típica de clima tropical
úmido, mas de ocorrência muito rara e pouco severa em regiões de clima tropical de altitude
ou subtropical. Entretanto, nos últimos anos, quando ocorreram chuvas intensas e temperaturas
mais altas que o normal no Centro Oeste e Sudeste, observaram-se epidemias de mancha-alvo em
lavouras comerciais de tomate indústria e de mesa em Goiás e Minas Gerais.
Além disso, também foram observadas epidemias da doença em tomate sob cultivo protegido
nos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul. Essas epidemias foram particularmente preocupan-
tes, porque o patógeno atacou principalmente os frutos, causando prejuízos diretos aos produ-
tores. A mancha-alvo é uma doença do tomateiro com alto potencial de se tornar uma ameaça à
tomaticultura do Centro-Sul do país, uma vez que mudanças climáticas têm ocorrido.
Os sintomas da mancha-alvo podem ser confundidos com os da pinta-preta, causada por Al-
ternaria linariae, ou da mancha e pinta-bacteriana, causadas pelas bactérias Xanthomonas spp.
e Pseudomonas syringae pv. tomato, respectivamente. Inicialmente são observadas manchas pe-
quenas e aquosas na superfície da folha. Estas aumentam de tamanho, tornam-se circulares e
adquirem coloração marrom-clara. As manchas são circundadas por um halo clorótico (Figura 21)
e se diferenciam daquelas da pinta-preta devido à ausência de anéis concêntricos.
Em ramos e pecíolos, os sintomas são caracterizados por manchas amarronzadas e alongadas. Nos
frutos, inicialmente são observadas pontuações marrom-escuras e circulares. Elas aumentam e tor-
nam-se marrons, com um centro mais claro, e podem rachar, formando verdadeiras “crateras”. Os frutos
maduros desenvolvem lesões circulares marrons, com o centro mais claro, que racham (Figura 21).

149
A B

Figura 21. Sintomas de manchas foliares (A) e lesões em frutos de tomate (B), causados por Corynespora
cassiicola
Fotos: Ailton Reis

O agente causador da mancha-alvo do tomateiro é Corynespora cassiicola. Este fungo ataca


uma ampla gama de hospedeiras, que vão de hortaliças, espécies frutíferas e grandes culturas or-
namentais a algumas plantas invasoras. No Centro-Sul do país, este patógeno já era considerado
um grande problema para os produtores de pepino em estufas, nas quais as temperaturas são
mais elevadas que no campo e há a possibilidade de manutenção de alta umidade internamente.
A doença é mais problemática sob temperaturas de 25º a 32ºC. Para que ocorram epidemias
severas da doença são necessários longos períodos de chuvas e alta umidade relativa (entre 16 e
44 horas). O patógeno sobrevive em restos culturais, em sementes contaminadas e em diversas
plantas hospedeiras. A longa distância, a disseminação é feita pela semente, e, a curta distância,
principalmente pelo vento.

• Controle
Não existem cultivares comerciais de tomate resistentes à doença, nem fungicidas registrados
no MAPA para o seu controle. Entretanto, a maioria dos fungicidas utilizados para o controle da
pinta-preta e da mancha de Stemphylium também têm efeito sobre C. cassiicola. A destruição de
lavouras velhas, eliminação de plantas invasoras e de restos de cultura e rotação de culturas são
outras medidas que podem auxiliar no controle da doença.

150
3.12. Oídios
Oidium neolycopersici e Oidiopsis haplophylli
O oídio, também conhecido como “cinza”, é uma doença bastante comum do tomateiro. Mes-
mo não sendo considerada das mais destrutivas, tem merecido maior atenção dos tomaticultores
pelo fato de estar ganhando importância com o aumento do cultivo do tomateiro sob condições
protegidas. Isso porque, nelas, geralmente, a temperatura é mais elevada e as plantas ficam abri-
gadas das chuvas. A doença também tem sido observada com frequência em cultivos de tomatei-
ro irrigados por gotejamento, conduzidos nas épocas secas do ano, quando não ocorre a lavagem
das folhas pela água das chuvas.
A principal característica do oídio causado por O. neolycopersici, o oídio-adaxial, é a presença
abundante de estruturas assexuais (micélio, conidióforos e conídios) do fungo nas superfícies su-
perior e inferior das folhas, evidenciando a aparência de um pó branco e fino na folhagem. Tanto
as folhas velhas como as novas são atacadas indiscriminadamente, e o ataque intenso causa clo-
rose e necrose foliar (Figura 22). Em cultivares muito suscetíveis e sob condições muito favoráveis,
também ataca pecíolos, caule e cálices das plantas.
Quando a doença é causada por O. haplophylli, ou oídio-abaxial, a massa pulverulenta normal-
mente não é tão facilmente observada. Nesse caso, ocorrem manchas amareladas na superfície
adaxial das folhas, que progridem para necrose a partir do centro das lesões - sintomas que po-
dem ser confundidos com os de outras doenças, como a pinta-preta (Figura 22). Quando o ataque
é intenso, toda a folha pode secar. Os sintomas e as estruturas do fungo são encontrados princi-
palmente nas folhas mais velhas (Lopes et al., 2005; Jones et al., 2014; Inoue-Nagata et al., 2016).
Sob o mesmo nome de oídio, a doença é causada por duas espécies de fungo: Oidium neolyco-
persici e Oidiopsis haplophylli (sin. Oidiopsis taurica, teleomorfo = Leveilula taurica). Ambas têm distri-
buição generalizada no Brasil, embora a segunda tenha um círculo de hospedeiras bem mais amplo.
O fato pouco comum de uma mesma doença ser causada por duas espécies fúngicas provo-
cando sintomas distintos levou à reflexão sobre a necessidade de nomeá-las de forma diferente.
Nesse caso, foram propostas as denominações de oídio-adaxial para a doença causada por O.
neolycopersici e de oídio-abaxial quando causada por O. haplophylli.

151
A B

Figura 22. Sintomas de manchas brancas (A) e clorose e necrose sobre folhas de tomate (B), causador por
Oidium neolycopersici e Oidiopsis haplophylli, respectivamente
Foto: Ailton Reis

Oidium neolycopersici apresenta conídios elípticos, hialinos e isolados sobre conidióforos cur-
tos, hialinos e não ramificados. A característica de apresentar apenas um conídio por conidióforo
distingue a espécie O. neolycopersici de O. lycopersici - outro patógeno que causa a mesma doença,
ainda não relatado no Brasil. O micélio é superficial e cresce sobre a epiderme das folhas, prefe-
rencialmente na sua face superior. A absorção dos nutrientes de hospedeiro é feita por meio de
haustórios, estruturas especializadas para fixação e absorção de nutrientes da planta. Essa espécie
tem uma gama de hospedeiros mais restrita que O. haplophylli, porém, é capaz de atacar outras
plantas, inclusive de outras famílias botânicas que não Solanaceae.
Oidiopsis haplophylli é um parasita obrigatório, que apresenta micélio endofítico e epifítico. Os
conidióforos são hialinos e emergem dos estômatos, sendo alguns deles subdivididos em dois ou
três ramos. Os conídios são hialinos e de dois formatos: piriformes (primários) e cilíndricos (secun-
dários). A forma perfeita do patógeno ainda não foi encontrada no Brasil. Esta espécie é extrema-
mente polífaga e relatada como patógeno de mais de 200 espécies de plantas.
Os dois patógenos podem causar oídio em tomateiro numa ampla faixa de temperatura, que
pode variar de 10oC a 35oC, no caso de O. haplophylli. A faixa de temperatura para ocorrência do
oídio de O. neolycopersici ainda não está bem clara, mas a doença é registrada em verões e inver-
nos secos. Assim, a temperatura não é fator ambiental limitante à doença, que é favorecida por
umidades baixas, menor que 60%. Uma vez que ambos são parasitas obrigatórios e não se tem
encontrado suas formas perfeitas no Brasil, acredita-se que a sua sobrevivência ocorra em plantas
voluntárias e em outras hospedeiras. A curta e média distâncias, a disseminação ocorre princi-
palmente pelo vento. Estes patógenos apresentaram uma dispersão rápida entre os diferentes
continentes e acredita-se que isto tenha ocorrido por meio do comércio internacional de plantas
ornamentais. Não se tem confirmação da sua veiculação por sementes.

152
• Controle
Apesar da existência de boas fontes de resistência no germoplasma do tomateiro, no Brasil,
ainda não existem cultivares comerciais resistentes às duas formas de oídio. Uma exceção é a cul-
tivar BRS-Zamir, que é resistente ao O. neolycopersici.
A irrigação por aspersão, principalmente a microaspersão, e a chuva desalojam os esporos das
folhas e auxiliam no controle da doença. Na instalação de novos cultivos, principalmente sob con-
dições protegidas, deve ser levado em conta o isolamento, pela distância ou barreiras físicas, de
plantas de tomate, pimentão ou outras hospedeiras atacadas pela doença. Isso porque os esporos
do fungo são eficientemente disseminados pelo vento.
A medida mais eficiente de controle tem sido o emprego de fungicidas aplicados preventiva-
mente ou após o aparecimento dos primeiros sintomas. Não existem fungicidas registrados para
o controle da doença e no MAPA (AGROFIT) para a cultura do tomateiro. Entretanto, vários fungi-
cidas, principalmente triazois e estrobirulinas registrados para controle de outras doenças foliares
do tomateiro, têm efeito sobre os oídios.

3.13. Mancha de Cladosporium


Passalora fulva (sin. Cladosporium fulvum e Fulvia fulva)
A mancha de Cladosporium é uma doença que se tornou importante, nos últimos anos, na
maioria de cultivos de tomateiro em ambientes protegidos e estufas, onde longos períodos de
alta umidade relativa e temperaturas moderadas são frequentes. Contudo, pode ocorrer, ocasio-
nalmente, em cultivos a céu aberto.
O fungo pode atacar toda a parte aérea das plantas, mas ocorre com maior frequência nas
folhas e no caule. Os sintomas manifestam-se inicialmente nas folhas mais velhas, onde são obser-
vadas manchas de coloração verde-pálida ou clorótica, com margens pouco definidas na superfí-
cie superior (Figura 23). Na superfície inferior da folha, correspondente à clorose, são observadas
manchas de formato e tamanho irregulares, com produção de massa de esporos de coloração
verde-oliva (Figura 23). Com o progresso da doença, as manchas coalescem. Se a severidade for
suficiente, a folha seca e cai, causando a desfolha da planta. Lesões também ocorrem eventual-
mente no caule e pecíolo do tomateiro.
O patógeno sobrevive de forma saprofítica em restos culturais e no solo, na forma de conídios ou
escleródios, e é facilmente disseminado pelo vento ou, a longas distâncias, por sementes contami-
nadas. O manuseio das plantas e ferramentas durante os tratos culturais também contribuem para a
disseminação da doença. Períodos prolongados com temperaturas entre 21°C e 25°C e alta umidade
relativa são extremamente favoráveis à ocorrência da doença, pois tem importância significativa
para os processos de penetração, crescimento das lesões e esporulação. Na presença de umidade, os
esporos germinam e penetram no hospedeiro via estômatos, sem a formação de apressórios.

153
A B

Figura 23. Sintomas de manchas cloróticas sobre folhas de tomate (A) e crescimento de coloração verde-
oliva na face inferior das lesões (B), causados por Passalora fulva
Fotos: Ailton Reis

• Controle
A principal forma de controle da mancha de Cladosporium consiste no plantio de cultivares
resistentes. Atualmente, muitas delas já apresentam resistência a diferentes raças do patógeno,
principalmente à raça 2. Aplicações de fungicidas registrados no MAPA são recomendadas quando
as condições ambientais estiverem propícias à ocorrência da doença.
Outras medidas culturais podem ser adotadas, como a manutenção do bom arejamento das
plantas, evitando-se plantios muito adensados; controle da irrigação, de modo a reduzir a umi-
dade relativa do ar; uso de sementes sadias; destruição dos restos culturais imediatamente após
a colheita; solarização do solo dentro de estufas, e adubação equilibrada, evitando o excesso de
potássio e nitrogênio.

4. Doenças causadas por vírus


Os vírus são patógenos submicroscópicos que causam prejuízos sérios para a tomaticultura
brasileira. Os tomateiros são seriamente afetados por viroses em todo o mundo, particularmente
no Brasil. Vários são os fatores que contribuem para que as viroses sejam importantes para a cul-
tura, como o cultivo continuado durante todo o ano, a presença de vetores em abundância, a exis-
tência de hospedeiros alternativos e plantas voluntárias nas áreas de produção e a inexistência de
produtos que possam ser aplicados para curar uma planta doente.
Aqui, serão abordadas as viroses mais importantes para a cultura do tomateiro no Brasil: 1.
Mosaico dourado do tomateiro; 2. Vira-cabeça do tomateiro; 3. Amarelão do tomateiro e 4. Pinhei-
rinho ou fogo mexicano.

154
4.1. Mosaico dourado do tomateiro
Tomato severe rugose virus (ToSRV) e o tomato mottle leaf curl virus (ToMoLCV).
A doença denominada mosaico dourado do tomateiro também é conhecida como geminivi-
rose e begomovirose. É uma das doenças mais importantes para o tomateiro, devido à alta inci-
dência, que está relacionada com a dificuldade de controle de moscas-brancas - seu vetor. Como
a incidência é alta em épocas de pico populacional de moscas-brancas, em certas regiões não é
possível o plantio de cultivares suscetíveis.
Alta incidência também é observada em época de baixa populacional do vetor, o que está re-
lacionado com a taxa de moscas-brancas virulíferas; ou seja, de moscas-brancas capazes de trans-
mitir o vírus. As perdas podem ser muito altas se a infecção ocorrer em plantas novas. Os sintomas
consistem em clareamento de nervuras, clorose entre as nervuras, enrolamento foliar, mosaico,
manchas necróticas e nanismo (Figuras 24 e 25). O reconhecimento de uma planta suscetível in-
fectada não é difícil, pois, em geral, se vê uma clorose intensa e a planta fica com folhas quase
douradas (Figura 25A).
No entanto, há muitas variações na expressão de sintomas e o produtor precisa ficar atento
para não confundir com outras viroses, principalmente o amarelão do tomateiro. Para o mosaico
dourado, os sintomas são mais aparentes em folhas jovens (Figura 24), enquanto que, para o Ama-
relão (Figura 29) nas folhas, os sintomas são mais comuns nas mais maduras.
Existem vários begomovírus que causam a virose, mas os dois vírus mais amplamente distribuí-
dos no Brasil são o tomato severe rugose virus (ToSRV) e o tomato mottle leaf curl virus (ToMoL-
CV). Não há como identificar as espécies pela análise de sintomas, nem há diferenças relevantes
no modo de realizar o manejo dos distintos vírus. Eles são transmitidos por moscas-brancas (Bemi-
sia tabaci, Figura 25C), das quais existem basicamente três espécies importantes como vetoras de
begomovírus no Brasil: New World (NW ou biótipo A), Middle East-Asia Minor 1 (MEAM1 ou bióti-
po B) e Mediterranean (MED ou biótipo Q). Elas são morfologicamente idênticas e diferenciadas
a partir de testes em laboratório. No entanto, podem apresentar características comportamentais
diferentes, influenciando a expansão da doença nas áreas de produção.
Antes da década de 1990, com a presença do NW, não havia relatos importantes do mosaico
dourado em tomateiro. A virose passou a ser relevante a partir da introdução de MEAM1 no início
daquela década e causou a ampla dispersão do mosaico dourado do tomateiro no país. Com a re-
cente entrada de MED e a sua capacidade de colonizar bem as plantas ornamentais e pimenteiras,
é possível que problemas sérios sejam relatados no futuro nessas culturas.

• Controle
É comum o controle químico frequente contra moscas-brancas em áreas de produção de
tomate. Apesar das várias opções de princípios ativos para o controle de moscas-brancas,
esses insetos continuam sendo problemáticos para a cultura, tendo relatos de populações que
adquiriram resistência aos principais inseticidas. O mosaico dourado pode ser dispersado entre
plantas dentro da lavoura, mas é importante que se evite a dispersão primária, que consiste em
controlar a mosca-branca virulífera que vem de fora, de outra lavoura. Portanto, esforços devem
ser feitos para se conhecer as lavouras dos vizinhos dentro da área agrícola e buscar a diminuição
da taxa de infecção das plantas, com a redução da entrada do inseto virulífero.

155
Os begomovírus não são transmitidos por sementes. As mudas devem ser preparadas em
viveiros telados e evitando-se a entrada de insetos vetores. Existe oferta de cultivares com
resistência à infecção pelos begomovírus (Figura 25D). Normalmente, o fator de resistência é des-
crito nos panfletos das cultivares, como Ty, indicando que apresentam resistência em nível mode-
rado à infecção. Não são conhecidos cultivares com imunidade à infecção por begomovírus.

A B C

Figura 24. Plantas de tomateiro com sintomas de mosaico dourado do tomateiro, como nanismo,
enrolamento foliar, mosaico e clorose internerval (A); enrolamento foliar no topo da planta e clorose
internerval (B); e clareamento de nervuras e clorose internerval (C)
Fotos: Alice K. Inoue-Nagata

A B C D

Figura 25. Tomateiro infectado com begomovírus, mostrando mosaico amarelo (A) e clorose entre as
nervuras com necrose (B). Os begomovírus são transmitidos pela mosca-branca Bemisia tabaci (C).
Tomateiro com resistência à infecção por begomovírus apresenta sintomas suaves de mosqueado e
manchas cloróticas (D)
Fotos: Alice K. Inoue-Nagata

Como recomendações de manejo, os produtores de uma região devem planejar o plantio da


lavoura, preferencialmente em conjunto, e verificar se a região tem restrição quanto ao plantio
de tomateiro. Existe um período de vazio sanitário para o tomateiro com o objetivo de reduzir os
prejuízos causados pelo mosaico dourado do tomateiro e a mosca-branca. Esse vazio sanitário é
de dois meses (dezembro e janeiro) para cultivo de tomateiro rasteiro em Goiás, sendo válido para
cultivo de tomateiro estaqueado em alguns municípios de Goiás.
Antes do plantio, é importante realizar: bom preparo de solo, com revolvimento profundo;
adubação de acordo com a fertilidade do solo, e irrigação em níveis adequados. Essa medidas são
recomendadas também para as demais viroses e doenças descritas neste capítulo.

156
Quanto às cultivares, conheça a suscetibilidade dos materiais à infecção por begomovírus e
plante os mais resistentes. Use aquelas que apresentam o gene Ty no seu portfólio de resistência.
No plantio, recomenda-se ainda usar mudas sadias e vigorosas, produzidas em telados e isoladas
da área de produção (Figura 26A).
Elas devem ser protegidas com inseticidas para repelir as moscas-brancas antes de pousarem
nas plantas. Esse procedimento é importante durante o primeiro mês de cultivo. Deve-se escolher
o local de plantio, em área sem histórico de ocorrência do mosaico dourado. Deve-se plantar lon-
ge de lavouras de tomateiro, pimenteira, batateira, soja e feijão (Figura 26C), que são hospedeiras
de moscas-brancas e dos begomovírus.
É importante analisar a paisagem agrícola para realizar o plantio, compreendendo os riscos e as
fontes do vírus e vetores. Quanto ao controle de possíveis fontes de vírus, elimine joá-de-capote
(Nicandra physalodes), figueira-do-inferno (Datura stramonium) e leiteiro (Euphorbia heterophylla)
da área de produção, assim como remova plantas voluntárias (Figura 26B). Controle a população
de moscas-brancas na lavoura e principalmente fora dela, evitando a entrada de moscas-brancas
virulíferas. Imediatamente após a colheita, destrua restos culturais. Inseticidas devem ser aplica-
dos para eliminação da mosca-branca antes da destruição dos restos culturais. Para o próximo
plantio, planeje e realize a rotação de culturas com plantas não hospedeiras de moscas-brancas e
begomovírus, como as gramíneas.

A B C

Figura 26. Exemplos de medidas de manejo de viroses. Deve-se usar mudas de tomateiro sadias e
vigorosas, produzidas em telados protegidos de insetos (A). Eliminar plantas espontâneas (tigueras) das
áreas de produção (B). Não plantar mudas novas perto de plantas de tomateiro velhas e doentes (C)
Fotos: Alice K. Inoue-Nagata

4.2. Vira-cabeça do tomateiro


Tomato spotted wilt virus (TSWV), tomato chlorotic spot virus (TCSV), groundnut rings-
pot virus (GRSV) e chrysanthemum stem necrosis virus (CSNV)
O vira-cabeça do tomateiro é uma das doenças mais sérias da cultura do tomateiro, devido à se-
veridade dos sintomas. Uma planta infectada em fase nova apresenta sintomas fortes e normalmen-
te a doença leva à sua morte. Os sintomas iniciam-se com manchas marrons pequenas, que crescem
formando extensas áreas de necrose nas folhas mais jovens e também no caule (Figura 27A e 27B).
As plantas podem se apresentar arroxeadas ou bronzeadas (com aspecto amarronzado).
O topo da planta pode crescer de forma irregular e virar para baixo – foi esse sintoma que deu
origem ao nome da doença. A necrose atinge todo o topo da planta, limitando o seu crescimento
ou causando a sua morte (Figura 27C). Se a infecção ocorrer em planta mais madura, os sintomas
de necrose podem ser vistos em um ramo, mas sem atingir a planta inteira.

157
Os frutos da planta infectada apresentam manchas arredondadas ou irregulares, cloróticas
(amareladas) ou necróticas, com ou sem deformação dos frutos (Figura 28A). Algumas vezes, uma
planta com sintoma severo pode se recuperar e novas folhas serem produzidas sem sintomas ou
com sintoma de mosaico. Em geral, o sintoma é muito severo e a produção de frutos é insignifi-
cante, portanto, é recomendado a remoção de plantas doentes da lavoura.
São quatro os vírus que causam a doença no Brasil: tomato spotted wilt virus (TSWV), tomato
chlorotic spot virus (TCSV), groundnut ringspot virus (GRSV) e chrysanthemum stem necrosis vi-
rus (CSNV). Esses vírus são conhecidos como tospovírus. Não é possível identificar o vírus a partir
dos sintomas que eles causam nas plantas e não há diferença no manejo de acordo com o vírus. A
identificação da espécie só pode ser feita com testes laboratoriais.
O vírus não é transmitido por sementes, mas por tripes: insetos minúsculos, com asas franja-
das e pouca capacidade de vôo (Figura 28B). Esses insetos apresentam uma fase larval, em que as
larvas se alimentam nas folhas e flores de plantas. Quando uma larva se alimenta em uma planta
infectada por um tospovírus, este adquire o vírus, que circula e multiplica-se no corpo do inseto.
Posteriormente, o vírus se acumula no inseto que passa a ser transmissor do vírus, normalmente
na fase adulta. Assim, apenas a larva adquire o vírus e o adulto não virulífero não tem a capacidade
de se tornar transmissor, mesmo se alimentando em planta infectada.

A B C

Figura 27. Tomateiro infectado por tospovírus apresentando sintomas iniciais de pontos necróticos nas
folhas novas (A), que depois evoluem para lesões mais extensas (B) e podem levar à morte do ponteiro (C)
Fotos: Alice K. Inoue-Nagata

158
A B

Figura 28. A doença vira cabeça do tomateiro é caracterizada por causar manchas circulares cloróticas ou
necróticas em frutos que muito comumente ficam deformados (A). Os tospovírus são transmitidos por
tripes, que facilmente são observados em flores (B)
Fotos: Alice K. Inoue-Nagata

• Controle
Há uma farta oferta de cultivares com resistência aos tospovírus. Normalmente, a resistência
é descrita como Sw ou Sw5, que é o nome do gene de resistência. Essa resistência é do tipo imu-
nidade e as plantas com o gene não se infectam com o tospovírus. O gene é efetivo contra os
tospovírus do Brasil. No entanto, pode existir uma variação da suscetibilidade de acordo com al-
guns fatores, como alta temperatura, alta pressão de tripes transmissores e outros mecanismos,
levando à ocorrência esporádica de plantas infectadas na lavoura.
Em outros países, já foram detectados casos de materiais com resistência sendo infectados
com tospovírus com capacidade de vencer a resistência proporcionada pelo gene de resistência.
No Brasil, ainda não foi relatado nenhum caso de falha do gene de resistência, como observado na
Itália, Espanha, EUA e China. Em casos de alta população de tripes transmissores presentes em flo-
res, foram observados frutos com sintomas em plantas com resistência e sem sintomas nas folhas.
Quanto às cultivares, é preciso conhecer a suscetibilidade dos materiais à infecção por tospoví-
rus e plantar as mais resistentes. Usar aquelas que apresentam Sw no seu portfólio de resistência.
Sempre usar mudas sadias e vigorosas, produzidas em telados e isolados da área de produção
(Figura 26A). Aplicar inseticidas nas mudas para repelir os tripes antes de pousarem nas plantas é
importante, principalmente durante o primeiro mês de cultivo.
Deve-se escolher a área de cultivo, buscando por locais sem histórico de ocorrência do vira-
-cabeça do tomateiro. Plante longe de lavouras de tomateiro, pimenteira, batateira, alface, amen-
doim e melancia (Figura 26C), que podem atuar como fontes de vírus e de tripes. Portanto, analise
a paisagem agrícola para realizar o plantio, a fim de evitar a movimentação do tripes virulífero
entre as lavouras mais velhas para as mais novas ou mesmo das plantas daninhas. Elimine joá-
-de-capote (Nicandra physalodes), figueira-do-inferno (Datura stramonium) e beldroega (Portulaca
oleracea) da área de produção, assim como plantas voluntárias (Figura 26B) - potenciais fontes de
vírus e do tripes. Deve-se controlar a população de tripes na lavoura e fora da lavoura, evitando a
entrada de tripes virulíferos.

159
No caso do vira-cabeça, recomenda-se realizar o “roguing”, que consiste em eliminar plantas
doentes e usar saco plástico para colocar as plantas doentes para evitar a distribuição dos tripes
durante o procedimento. Plantas doentes devem ser destruídas longe da lavoura. É importante
não visitar lavouras novas após visitar lavouras mais velhas e com plantas doentes. Destruir os res-
tos culturais imediatamente após a colheita, sendo que se deve aplicar inseticida para eliminação
dos tripes antes da remoção das plantas. Planejar o próximo plantio e realizar rotação de culturas
com plantas não hospedeiras de tripes e tospovírus.

4.3. Amarelão do tomateiro


Tomato chlorosis virus (ToCV)
A doença amarelão do tomateiro e o mosaico dourado estão entre as principais doenças com
maior ocorrência. Essa alta incidência está relacionada à dificuldade de controle do seu vetor, a
mosca-branca (consultar a descrição do mosaico dourado do tomateiro para informações sobre a
mosca-branca em tomateiro).
A doença é caracterizada por sintoma de clorose entre as nervuras, visível nas folhas mais ve-
lhas (Figura 29). As folhas ficam enroladas e quebradiças. Com o avanço da doença, as folhas da
parte mediana também podem apresentar sintomas do tipo mosaico. Como os sintomas são de
clorose e mais comuns em folhas mais velhas, a doença pode ser confundida com distúrbios nutri-
cionais, como deficiência de magnésio, e não ser percebida. Não há sintomas nos frutos. As perdas
podem ser tão sérias como aqueles causadas por begomovírus.

A B

Figura 29. O crinivirus tomato chlorosis vírus causa em tomateiro manchas cloróticas, normalmente
observadas em folhas mais maduras (A, B).
Fotos: Alice K. Inoue-Nagata

O vírus causador é o crinivírus tomato chlorosis virus (ToCV), que infecta as células do floe-
ma e cujos sintomas normalmente são vistos somente em plantas mais velhas, mesmo quando
a infecção é precoce. Assim como ocorre com o mosaico dourado, deve-se evitar a entrada de
moscas-brancas virulíferas na lavoura. Não há cultivares com reconhecida resistência à infecção
pelo crinivírus; os produtores devem se esforçar para o manejo preventivo.

160
• Controle
Para um bom manejo do amarelão, planeje o plantio da lavoura, junto com os produtores da
região, e realize bom preparo de solo, com revolvimento profundo; adubação de acordo com a
fertilidade do solo, e irrigação em níveis adequados. Sempre use mudas sadias e vigorosas, produ-
zidas em telados e isoladas da área de produção (Figura 26A).
Deve-se aplicar inseticidas nas mudas para repelir as moscas-brancas antes de pousarem nas
plantas. Esse procedimento é importante principalmente durante o primeiro mês de cultivo.
Selecione o local de plantio, de modo a buscar por locais sem histórico de ocorrência do ama-
relão do tomateiro. Plante longe de lavouras de tomateiro, pimenteira, batateira (Figura 26C), que
atuam como fonte do vírus e do vetor. Analise a paisagem agrícola para realizar o plantio. Reco-
menda-se eliminar joá-de-capote (Nicandra physalodes), caruru (Amaranthus spp.) e maria-pre-
tinha (Solanum americanum) da área de produção, assim como plantas voluntárias (Figura 26B).
Deve-se controlar ainda a população de moscas-brancas na lavoura e principalmente fora dela,
evitando a entrada de moscas-brancas virulíferas.
Destrua restos culturais imediatamente após a colheita, aplicando inseticida para eliminação
da mosca-branca antes da destruição dos restos culturais. Planeje o próximo plantio e realize rota-
ção de culturas com plantas não hospedeiras de moscas-brancas e crinivírus, como as gramíneas.

4.4. Fogo mexicano


Potato virus Y - PVY
Doenças causadas pelo vírus Y da batata (potato virus Y - PVY) eram comuns em tomateiro no
Brasil, que eram chamadas de Pinheirinho. Na década de 1980, Dr. Hiroshi Nagai, melhorista do
Instituto Agronômico de Campinas, desenvolveu cultivares de tomateiro com resistência à infec-
ção por PVY. Desde então, não tinha havido problemas sérios de PVY no país.
Entretanto, nos últimos anos, há relatos crescentes de uma doença caracterizada por extensa
necrose das folhas, que é diferente do vira-cabeça do tomateiro. O sintoma de necrose é tão seve-
ro que está sendo chamado de fogo mexicano: as plantas ficam com aspecto de queimadas.
Os sintomas iniciam-se nas folhas medianas, com pequenas manchas marrons visíveis na parte
de baixo da folha (Figura 30A). Com o tempo, a mancha cresce e fica visível na parte de cima da
folha. Com a evolução da doença, grandes áreas da folha ficam tomadas pela necrose (Figura 30B)
e os sintomas passam a ser vistos nas folhas mais novas. Há intenso comprometimento da planta.
Não há sintomas nos frutos, mas há menor produção.
A doença é causada por PVY e é transmitida por pulgões (Figura 30C). Uma rápida picada é
suficiente para a transmissão do vírus, portanto, o controle químico do vetor não é recomendado
para ser realizado na lavoura. Não se tem relato de o vírus ser transmitido por sementes. As culti-
vares comerciais não apresentam a informação se são resistentes à infecção por PVY. Portanto, não
se conhece o comportamento das cultivares comerciais frente aos isolados de PVY.

161
A B C

Figura 30. O fogo mexicano do tomateiro é causado por potato virus Y, sendo a doença caracterizada por
aparecimento de manchas necróticas primeiramente observadas na parte de baixo das folhas (A), que
evoluem tomando toda a folha (B). O vírus é transmitido por pulgões que podem estar presentes em
plantas daninhas em local próxima a lavouras (C)
Fotos: Alice K. Inoue-Nagata

Para um bom manejo da doença, planeje o plantio da lavoura, junto com os produtores da
região, e realize o bom preparo de solo, com revolvimento profundo; adubação de acordo com a
fertilidade do solo, e irrigação em níveis adequados. Quanto às cultivares, conheça a suscetibilida-
de dos materiais à infecção por PVY e plante as mais resistentes. Sempre use mudas sadias e vigo-
rosas, produzidas em telados e isoladas da área de produção (Figura 26A). Aplique inseticidas nas
mudas para repelir os pulgões antes de pousarem nas plantas. Esse procedimento é importante
durante o primeiro mês de cultivo.
Selecione a área de plantio, buscando por locais sem histórico de ocorrência do fogo mexica-
no. Deve-se plantar longe de lavouras de tomateiro, pimenteira e batateira (Figura 26C) - poten-
ciais fontes de vírus e de vetor. Analise a paisagem agrícola para realizar o plantio. Elimine plantas
voluntárias da área de produção (Figura 26B). Deve-se também controlar a população de pulgões
na lavoura e fora da lavoura, evitando a entrada daqueles virulíferos. Destrua os restos culturais
logo após a colheita, mas, antes, aplique inseticida para a eliminação dos pulgões. Planejeo próxi-
mo plantio e realize a rotação de culturas com plantas não hospedeiras de pulgões e PVY.

5. Doenças causadas por nematoides


mais de 34 espécies de nematoides já foram encontradas associadas ao tomateiro no mundo;
porém, poucas espécies são de importância econômica. As principais espécies que causam danos
expressivos à tomaticultura são os nematoides-das-galhas (Meloidogyne spp.), seguido pelo ne-
matoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus spp.). Em casos isolados, há relatos de Rotylenchulus
reniformis e alguns tricodorídeos causando problemas econômicos, porém de menor intensidade.
Esporadicamente, são relatadas espécies nos gêneros Aphelenchoides, Ditylenchus, Globodera, He-
licotylenchus, Heterodera, Nacobbus, Longidorus, Radopholus, Tylenchorhynchus e Xiphinema.

162
5.1. Nematoide-das-galhas
Meloidogyne spp.
Os nematoides-das-galhas, Meloidogyne incognita, M. javanica, M. arenaria e M. hapla, são as
espécies com maior distribuição em tomateiro. Podem ocorrer em vários tipos de solo, mas em ge-
ral causam prejuízos econômicos com maior intensidade em regiões quentes e que apresentam
solos arenosos e com baixos teores de matéria orgânica.
Outras espécies de nematoide-das-galhas têm ocorrido também em áreas de tomaticultura
como M. ethiopica e M. morocciensis, embora relatos de danos causados por essas espécies sejam
escassos na literatura. Nos últimos anos, porém, a espécie de nematoide-das-galhas que tem cau-
sado problemas em várias culturas no Brasil e no mundo, inclusive na cultura do tomateiro, é M.
enterolobii (sin.: M. mayaguensis).
O principal sintoma observado nas raízes devido à infestação pelo nematoide-das-galhas (Me-
loidogyne spp.) é a presença de inchaços de forma arredondada e irregular ao longo do sistema
radicular, denominados de galhas (Figura 31A). M. hapla geralmente induz galhas pequenas e
discretas, enquanto M. incognita, M. arenaria, M. javanica e M. enterolobii causam galhas grandes
e irregulares. Essas lesões podem sofrer rápido apodrecimento em face da invasão de patógenos
secundários, tais como Sclerotium rolfsii, Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici, Verticillium sp. e Rals-
tonia solanacearum. Como consequência, o transporte de nutrientes e de sais minerais das raízes
para a parte aérea das plantas é afetado, resultando em deficiências nutricionais (Figura 31B) e
murchas (Figura 31C). A distribuição das plantas com sintomas no campo normalmente se apre-
senta na forma de reboleiras de formato irregular com plantas raquíticas, murchas e amarelecidas
(Figura 31D).
A B

C D

Figura 31. Sitomas causados pelo nematoide-das-galhas em tomateiro. Galhas causadas por Meloidogyne
spp. (A). Tomateiro com sintomas de deficiência nutricional (B). Idem com sintomas de murcha (C).
Reboleira observada em campo de produção (D)
Fotos: Ailton Reis e Jadir B. Pinheiro

163
O nematoide-das-galhas tem uma ampla gama de hospedeiros entre plantas cultivadas. Na
entressafra, se as condições ambientais forem favoráveis, eles podem sobreviver em diversas plan-
tas infestantes, como a falsa-serralha (Emilia sonchifolia), joá-bravo (Solanum sisymbriifolium), ca-
ruru (Amaranthus spp.), arrebenta-cavalo (Solanum aculeatissimum), melão-de-São-Caetano (Mo-
mordica charantia), entre outras (Figura 32).
A B C

D E

Figura 32. Raízes de plantas daninhas infectadas por Meloidogyne spp. Beldoegra (Portulaca oleraceae)
(A). Erva-de-macaé (Leonorus sibiricus) (B). Caruru (Amaranthus hybridus var. patulus) (C). Mentrasto
(Ageratum conyzoides) (D). Joá-de-Capote (Nicandra physaloides) (E)
Fotos: Jadir B. Pinheiro

As espécies do nematoide-das-galhas são parasitas obrigatórios de raízes e de caules subterrâ-


neos. São móveis no solo, e os estádios de desenvolvimento vermiformes ou juvenis de segundo
estádio (J2) são as formas de vida que infestam as raízes de tomateiro. Ao penetrarem nas raízes,
movimentam-se para as proximidades dos vasos condutores e se tornam sedentários.
Com o seu desenvolvimento no interior das raízes até a fase adulta, passam por sucessivas
ecdises (troca de cutícula ou revestimento externo do corpo dos nematoides) e alterações na sua
forma, passando da fase vermiforme para a forma referida como “salsicha”, até se tornarem adul-
tos, sendo que as fêmeas apresentam formato de “cabaça” ou “piriforme”.
Enquanto se desenvolvem, em resposta à introdução de substâncias produzidas pelas suas
glândulas esofagianas nos tecidos das raízes da planta, ocorre aumento no tamanho e no número
das células das raízes parasitadas, resultando na formação das galhas. Na fase adulta, os machos
geralmente saem da raiz e não mais parasitam a planta; são vermiformes e não se alimentam. Já
a fêmea continua seu desenvolvimento e, posteriormente, produz uma massa de ovos que geral-
mente permanece fora da raiz, com possibilidade de ser vista a olho nu. Essa massa pode conter
de 500 até mais de 2.000 ovos, envolvidos por uma substância gelatinosa que os protege contra
dessecação e outras condições desfavoráveis. Dentro de cada ovo ocorre a formação do juvenil de
primeiro estádio (J1), que sofre uma ecdise e se transforma em J2, ainda no interior do ovo. Este

164
representa a forma infectiva que eclode do ovo, vai para o solo ou ataca diretamente uma raiz,
passando por mais três ecdises até chegar à fase adulta, completando assim o ciclo em torno de
21 a 45 dias, dependendo das condições climáticas e da espécie de nematoide envolvida, com
possibilidades de ser completado até em 70 dias no inverno (Figura 33).

Figura 33. Ciclo de Vida do Nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.) em tomateiro


Fonte: V. Reyes

Os J2 e os ovos são estádios de sobrevivência para as espécies de Meloidogyne e podem sobre-


viver no solo com umidade adequada. Podem também entrar em estado de dormência em con-
dições desfavoráveis, ou seja, quando o solo estiver seco e sem plantas hospedeiras, de tomateiro
ou outras espécies vegetais. Em climas quentes, quatro ou cinco gerações do nematoide podem
se desenvolver em uma única estação de crescimento do tomateiro.
A sobrevivência do nematoide-das-galhas e o sucesso da conclusão do ciclo de vida depen-
dem do crescimento bem-sucedido da planta hospedeira e das condições ambientais. Os machos
participam menos no ciclo de vida em relação às fêmeas, uma vez que a maioria das espécies se
reproduz por partenogênese, sem haver a necessidade de copulação. Devido ao fato de os ne-
matoides se moverem lentamente no solo, sua principal forma de disseminação é a passiva, dada
pela movimentação do solo, água, implementos agrícolas contaminados, homem e animais nas
áreas de cultivo e, principalmente, por mudas de tomateiro contaminadas.

• Controle
O controle geralmente é realizado pela integração de várias práticas, que vão desde a produção
das mudas sadias até a escolha da área de plantio. Vale ressaltar que cultivares comerciais de toma-
teiro portadoras do gene Mi, com resistência a M. incognita, M. javanica e M. arenaria, devem ser utili-
zadas sempre que disponível. Este gene confere à planta capacidade de limitar a reprodução dessas
espécies de Meloidogyne em tomateiro com reduções das densidades populacionais de nematoides

165
no solo, número e tamanho das galhas, bem como nas perdas do rendimento da cultura. Contudo,
essa resistência pode ser ineficaz em temperaturas elevadas do solo (acima de 30°C) e, muitas vezes,
não conferem resistência a populações geograficamente isoladas do nematoide.
Vale ressaltar que, apesar da existência de cultivares de tomateiros resistentes, as espécies de
nematoides-das-galhas prevalecentes no Brasil ainda causam prejuízos à cultura. Em tomateiro
para processamento industrial, praticamente todas as cultivares disponíveis são híbridos impor-
tados, sendo a grande maioria resistente. Entretanto, algumas espécies e raças de Meloidogyne
têm a habilidade de “quebrar” a resistência conferida pelo gene Mi, como M. enterolobii, que tem
disseminado por praticamente todo território brasileiro e vem causando danos a diversas culturas,
principalmente em cultivares de tomateiro portadoras do gene Mi. Não se conhece, até o presente
momento, cultivares resistentes a M. enterolobii.
Dentre as principais medidas de controle para o nematoide-das-galhas, destacam-se: a preven-
ção, com destaque para a escolha da área de plantio sem histórico de ocorrência de nematoides
e cuidados na produção e aquisição de mudas, rotação de culturas com gramíneas (por exemplo,
com cultivares resistentes de milho, milheto e sorgo), uso de plantas antagonistas (Crotalaria spec-
tabilis, Crotalaria juncea e mucunas, etc.), uso de matéria orgânica, solarização do solo associado
à biofumigação, eliminação de restos culturais e, principalmente, a utilização de cultivares resis-
tentes. O alqueive, que consiste em manter o solo sem plantas hospedeiras ou qualquer tipo de
vegetação, com revolvimento do solo por meio de aração ou gradagem em intervalos de tempo,
constitui em excelente medida de manejo.

5.2. Nematoide-das-lesões-radiculares
Pratylenchus spp.
No Brasil, as espécies de Pratylenchus mais importantes são P. brachyurus, P. zea e P. coffeae, con-
siderando as perdas e danos causados, bem como a distribuição geográfica e o número de espé-
cies vegetais hospedeiras. Os danos causados por espécies do gênero Pratylenchus são distintos
quando comparados com aqueles provocados pelos nematoides-das-galhas, basicamente devido
às diferenças nos seus ciclos de vida.
O nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus spp.) tem sido relatado causando danos se-
veros em diversas culturas de importância econômica, como soja, feijão, algodão, milho, espe-
cialmente na região de Cerrados. Recentemente, vem sendo considerado como grande ameaça
a hortaliças, principalmente ao tomateiro. A intensificação dos cultivos e o plantio em extensas
áreas no país, a ausência de rotação de culturas e a rotação ou sucessão de plantas hospedeiras
vêm elevando a sua importância nos últimos anos.
Os sintomas causados por nematoides do gênero Pratylenchus não são específicos, podendo
ser facilmente confundidos com os causados por outros patógenos ou deficiências nutricionais.
O principal sintoma é a presença de intensas lesões escuras (necróticas) nas raízes e radicelas das
plantas parasitadas. As plantas doentes normalmente se manifestam em reboleiras na lavoura.
Fungos e bactérias podem penetrar nessas lesões, potencializando os danos e, consequentemen-
te, o apodrecimento nas raízes. Além disso, podem apresentar atraso no desenvolvimento, com
drástica redução de crescimento em relação às demais.
São endoparasitos migradores que causam danos nas raízes, devido à alimentação, movimenta-
ção ativa e liberação de enzimas e toxinas no córtex radicular. Centenas de plantas daninhas são hos-

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pedeiras dos nematoides-das-lesões-radiculares, principalmente dentro da família das gramíneas
(Poaceae), que podem contribuir para manutenção e aumento dos níveis populacionais no campo.
Um dos principais fatores responsáveis pela distribuição e disseminação de nematoides do
gênero Pratylenchus é a textura do solo. Solos com textura arenosa ou média geralmente favo-
recem a maioria das espécies do gênero. Outro fator importante que favorece o ciclo de vida do
nematoide-das-lesões radiculares é a umidade do solo, onde estudos indicam que 70% a 80% da
capacidade de campo representam condição ótima para várias atividades do nematoide.

• Controle
A rotação de culturas com espécies não hospedeiras é considerada um dos métodos mais pro-
missores de manejo. Crotalárias, especialmente Crotalaria spectabilis e cravo-de-defunto (Tagetes
spp.), constituem boas opções para o uso em rotação de culturas, pois reduzem os níveis popu-
lacionais do nematoide após um período de cultivo. Porém, existem poucas opções de culturas
para essa prática, devido à sua ampla gama de hospedeiros. O alqueive é outra prática importante
para o controle desses nematoides. O excesso de adubação nitrogenada e de irrigação podem
aumentar os danos de Pratylenchus e, portanto, devem ser evitados.

6. Outros nematoides

6.1. Nematoide reniforme


Rotylenchulus reniformis
O nematoide reniforme tem ampla gama de hospedeiras e é relatado em áreas tropicais e sub-
tropicais de diversos países, inclusive no Brasil. Ocorre principalmente em áreas com cultivo de
algodão, soja, maracujá e, dentre as hortaliças, pode causar problemas à alface, melancia, melão,
coentro e tomate.
Áreas com manchas irregulares e plantas cloróticas dentro do campo são indícios da presença
deste patógeno. O nematoide causa destruição de células da epiderme das raízes de plantas, re-
sultando em lesões necróticas pequenas e crescimento reduzido da planta, amarelecimento da
folhagem e murcha. Plantas altamente infestadas com sistemas radiculares pobres desenvolvem
sintomas de deficiência mineral, devido à sua absorção limitada pelas raízes debilitadas.

• Controle
O manejo do nematoide reniforme é difícil, pois ele é capaz de persistir no solo por longos perí-
odos, na ausência de hospedeiros. Estádios móveis de R. reniformis podem sobreviver no solo por,
pelo menos, seis meses com temperatura bastante variável. A utilização de pousio como medida
de controle pode não ser uma opção viável.
Apesar da ampla gama de hospedeiras de R. reniformis, a rotação de culturas para o controle
da doença pode ser útil. Plantas não hospedeiras, como crotalárias e cravo de defunto, quando in-
corporadas em esquemas de rotação no sistema de cultivo de tomate, podem auxiliar na redução
dos níveis populacionais desse patógeno.

167
6.2. Trichodorídeos
Trichodorus spp. e Paratrichodorus spp.
Espécies de Trichodorus e Paratrichodorus estão distribuídas por todo o mundo e apresentam
ampla gama de hospedeiros. Em estudos sobre sua gama de hospedeiros realizado em casa-de-
-vegetação e campo, plantas em mais de 40 gêneros com importância econômica foram relatadas
como hospedeiras, o que limita a utilização da rotação de culturas para seu controle.
São formas ectoparasitas de hábito migrador, que medem de 0,5 a 0,9 mm de comprimento.
Os tricodorídeos são nematoides relativamente roliços, arredondados em ambas as extremidades,
conhecidos como nematoides em forma de charuto. Os juvenis e adultos de Trichodorídeos ata-
cam as raízes novas, onde se alimentam na epiderme delas, causando paralisação do crescimento
apical. Os sintomas nas raízes resultam da sua preferência pelos ápices radiculares, onde adultos
podem ser encontrados em grande número, e pelos tecidos do meristema, próximo das extremi-
dades radiculares. O crescimento das raízes é paralisado devido ao comprometimento das células,
dando origem ao aumento de volume das extremidades, necroses e paralisação do crescimento
das raízes secundárias. Tal efeito traduz-se em numerosas raízes curtas e grossas, também desig-
nadas de raízes-anãs ou em coto.
Além dos sintomas nas raízes das plantas, também são observados sintomas reflexos na parte
aérea, como manchas, devido às deficiências nutricionais. Os sintomas normalmente aparecem
em reboleiras de formato circular ou irregular. Vale ressaltar que algumas espécies são capazes de
transmitir vírus (tobravírus), causando, portanto, danos diretos pelo seu parasitismo nas raízes e
indiretos pela veiculação do vírus de plantas doentes para as sadias.
Ocorrem em solos arenosos e leves, de textura não muito fina, não sendo geralmente encon-
trados em solos que contenham muita argila. Várias estratégias têm sido usadas na tentativa de
controlar os tricodorídeos. A primeira refere-se, naturalmente, à prevenção da disseminação do
nematoide para novas áreas, evitando a sua dispersão, que pode ocorrer pelo vento e água e por
aderência do solo a máquinas agrícolas, calçados, animais e plantas.
Outras medidas culturais incluem: revolvimento do solo antes do plantio (alqueive), devido à
sensibilidade dos tricodorídeos aos danos físicos e à seca do solo; alagamento, e solarização do
solo. A utilização de mudas contaminadas é, provavelmente, o principal meio de dispersão dos
nematoides. Assim, recomenda-se que seja prestada a devida atenção na produção das mudas.

7. Referências:

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Links das palestras do ciclo de palestras manejo fitossanitário do tomateiro

Realização: Embrapa Hortaliças, de 14/09 a 14/10/2020.


Palestra 1. Embrapa Hortaliças e o manejo de viroses em tomateiro (Alice K. Inoue-Nagata)
https://youtu.be/sgDHRSl-FeI
Palestra 2. Manejo de doenças causadas por fungos e oomicetos da parte aérea do tomateiro (Valdir
Lourenço Jr.)
https://youtu.be/nbTgf6CdmcY
Palestra 3. Manejo de doenças causadas por fungos e oomicetos da parte radicular do tomateiro
(Ailton Reis)
https://youtu.be/CChRRIZ99FM
Palestra 4. Manejo sustentável de nematoides no tomateiro (Jadir Borges Pinheiro)
https://youtu.be/Hb5RjnglreE
Palestra 5. Manejo integrado de pragas do tomateiro (Miguel Michereff Filho)
https://youtu.be/sdcFpyylUh4
Palestra 6. Bacterioses foliares do tomateiro (Alice M. Quezado-Duval)
https://youtu.be/0pPAp-NPq94
Palestra 7. Embrapa Hortaliças e o manejo de bacterioses vasculares e pectolíticas do tomateiro
(Carlos Alberto Lopes)
https://youtu.be/zDe7QL931N4
Palestra 8. Resistência genética contra doenças e pragas (Leonardo Silva Boiteux)
https://youtu.be/gbyWo798a5Y

173
9
9. Fungicidas empregados na cultura
Laércio Zambolim
Universidade Federal de Viçosa
1

1. Introdução
No Brasil, em 2019, para tratar 1,6 bilhão de hectares cultivados, o mercado de defensivos agrí-
colas movimentou cerca de US$ 13,7 bilhões, contra os US$ 12,9 bilhões observados em 2018. Os
fungicidas movimentaram 31%; os inseticidas, 29%; seguidos pelos herbicidas, com 27%, e insu-
mos para o tratamento de sementes e outros com 12% do total efetivamente aplicado no Brasil.
O estado que mais aplicou defensivos agrícolas foi o maior produtor nacional de grãos: o Mato
Grosso (24%). A seguir, nesta lista, vieram Rio Grande do Sul e Santa Catarina (12%), Paraná (12%),
São Paulo (11%), região do Matopiba (10%), Goiás/DF (9%), MG (8%) e Mato Grosso do Sul (8%)
(AENDA, 2019).

a
Matopiba: região formada por áreas majoritariamente de Cerrado, nos
estados do MAranhão, TOcantins, PIauí e BAhia, para onde a agricultura
se expandiu a partir da segunda metade dos anos 1980. Produz de tubér-
culos a frutas, passando pela pecuária, mas se destaca mesmo é no cultivo
de grãos e fibras, especialmente soja, milho e algodão (Fonte: https://www.
embrapa.br/tema-matopiba).

Cerca de um terço da produção mundial de alimentos é perdido em alguma fase do proces-


so produtivo, pela ocorrência de doenças, insetos-pragas e plantas invasoras. Essas perdas em
cultivos de países em desenvolvimento (40%-50%) evidenciam-se normalmente maiores do que
naqueles conduzidos em países industrializados (10%-15%).
No Brasil, a causa mais provável para a maior intensidade de danos decorre de seu clima, pre-
dominantemente tropical, ou seja, caracterizado por temperatura e umidade relativa (UR) do ar
elevadas durante a maior parte do ano agrícola (Oerke et al., 1994; Waard; Andrade; Machado,
2001). Também há que se considerar que novas tecnologias permitiram a expansão da área agri-
cultável - a maior extensão da América Latina - e trouxeram a possibilidade da condução de até
três safras ao ano, pela inexistência de invernos rigorosos, como se observam na maioria dos gran-
des produtores agrícolas da Europa e da América do Norte.

2. Importância dos fungicidas no controle de doenças


As doenças são de ocorrência comum em plantas, tendo muitas vezes um impacto econômico
significativo no rendimento e na qualidade das culturas.

174
Daí, o Manejo Integrado de Doenças (MID) assume grande importância como componente
essencial na produção agrícola (Cooper; Dobson, 2007).

De forma geral, existem inúmeras razões para o uso de fungicidas:


• controlar uma doença durante a fase de estabelecimento e desenvolvimento de uma cultura;
• evitar que culturas de interesse alimentar produzam menos, porque suas folhas, necessárias
para a realização da fotossíntese, estão afetadas pela doença;
• eliminar ou reduzir a população de fungos fitopatogênicos em sementes e partes vegetativas
com fungicidas sistêmicos + protetores;
• manter o potencial produtivo das culturas e reduzir os danos cosméticos (prejuízo à aparência
do produto final). Tais danos podem afetar a parte comestível de uma cultura ou, no caso das
ornamentais, sua atratividade, o que, em ambos os casos, pode reduzir significativamente o
valor de mercado do produto final;
• aumentar o período de armazenagem e a qualidade do produto e das plantas colhidas. Al-
gumas das grandes perdas ocasionadas por doenças ocorrem na pós-colheita. Os fungos fre-
quentemente inutilizam frutos, plantas hortícolas, tubérculos e sementes armazenados. Um
pequeno grupo de fungos que infectam grãos produz toxinas (micotoxinas) capazes de causar
doenças
graves, ou mesmo a morte, em seres humanos e animais, quando o nível é
muito alto.

Os fungicidas, por exemplo, têm sido utilizados para reduzir a contaminação de grãos de trigo
afetados pela giberela ou fusariose do trigo. No
entanto, a maior parte dos fungicidas desenvolvidos até agora não tem sido suficientemente
efetiva no controle de micotoxinas associadas à maioria das doenças causadas por fungos (Edu-
ards; Goodley, 2010).

3. Classificação dos fungicidas quanto à


ação sobre fungos fitopatogênicos
De acordo com o modo de ação sobre os patógenos de plantas, os fungicidas são
classificados em:
• fungicidas protetores, residuais, imóveis ou de multissítios: são aqueles que, ao serem
aplicados nos órgãos aéreos, não são absorvidos nem translocados. Caracterizam-se pela
pouca solubilidade em água. Seus resíduos permanecem na superfície da planta no local
onde foram depositados. Tais resíduos na superfície foliar são degradados com o tempo, por
ação de hidrólise, fotólise e temperatura. Também são chamados não sistêmicos. Ex.: oxiclo-
reto de cobre, mancozeb, chlorothalonil (Zambolim, 2008b; Santos, 2016);
• fungicidas de contato: são aqueles que, uma vez aplicados, matam fungos por contato, na
superfície de folhas e outros órgãos das plantas. Ao contrário dos protetores, são solúveis
em água e não deixam resíduos na superfície do vegetal. Exemplos típicos são os produtos

175
à base de enxofre em pó, que são solúveis em água, e a calda sulfocálcica, ainda usada no
controle de doenças em fruteiras temperadas no inverno (Zambolim, 2008b; Santos, 2016);
• fungicidas penetrantes, locossistêmicos ou translaminares: são os que, após a atomiza-
ção, penetram na epiderme e cutícula e movem-se da face superior para a inferior da folha.
A maioria dos fungicidas do grupo químico das estrobilurinas, com exceção da azoxistrobina
(considerado fungicida sistêmico), apresenta ação de superfície e translaminar. Ex.: piraclos-
trobina, trifloxistrobina (Zambolim, 2008b; Santos, 2016);
• fungicidas sistêmicos ou sítio-específicos: são aqueles que, após a atomização, penetram
na epiderme e cutícula e movem-se da face superior para a inferior da folha (movimento
translaminar), nos espaços intercelulares e no xilema. O sentido da translocação será sempre
via rota da transpiração, do terço inferior para o ápice das plantas e da base para o ápice das
folhas sentido acropetal). Certas formulações de fungicidas e inseticidas, quando aplicadas
ao solo úmido, são absorvidas pelas raízes e translocam de forma ascendente, no sentido
da rota da transpiração, pelo xilema. Ex.: cyproconazole + tiametoxan no controle da ferru-
gem do cafeeiro e do bicho-mineiro. A translocação via floema no simplasto, se ocorre, não
é eficiente no controle de doenças de plantas. Quando se atomiza um fungicida sistêmico
no terço superior de plantas de soja ou de café, não se controla a ferrugem no terço inferior
dessas plantas, pela não translocação eficiente no floema. Além disso, não se controla fungos
fitopatogênicos do sistema radicular pela atomização de fungicidas na parte área das plantas
(Zambolim, 2008b; Santos, 2016). A literatura, entretanto, cita que o fungicida Fosetyl-Al mo-
vimenta-se na planta no sentido basipetal no floema em plantas de citros (Waard; Andrade;
Machado, 2001);
• mesostêmicos: os fungicidas mesostêmicos pertencem ao grupo das estrobilurinas, que são
moléculas químicas com alta afinidade com a superfície foliar da planta, e são absorvidos
pelas camadas de cera das folhas. São redistribuídos na superfície da planta pelo movimento
superficial da fase de vapor e de redeposição. Penetram no tecido da planta e têm atividade
translaminar. Não se movimentam no sistema vascular (Zambolim, 2008b; Santos, 2016). São
absorvidos na superfície da planta e redistribuídos pela fase de vapor - translocação transla-
minar –, mas não são translocados pelo sistema vascular. Ex. piraclostrobina, trifloxistrobina,
azoxistrobina;
• indutores de resistência: a resistência adquirida sistêmica (SAR - Systemic Acquired Resis-
tance) refere-se às reações sistêmicas de defesa que ocorrem após uma infecção localizada
em folhas por um patógeno. Muitos compostos químicos induzem a uma resposta da planta,
conhecida como resistência sistêmica adquirida (SAR, sigla em inglês de Systemic Acquired
Resistance). Estes indutores de SAR basicamente mimetizam sinais químicos nas plantas que
ativam os mecanismos de defesa, tais como a produção de parede celular mais espessa e pro-
teínas antifúngicas. Folhas e raízes após serem tratadas com um composto indutor levam a
planta a produzir respostas morfológicas, fisiológicas e bioquímicas que retardam o processo
infeccioso e o desenvolvimento da doença em seus tecidos (AGRIOS, 2005). A possível exis-
tência de uma substância capaz de ativar a SAR estimulou a busca de ativadores sintéticos
de resistência para uso prático na proteção de plantas. DCINA (ácido 2,6-dicloroisonicotínico
e seu éster metílico) e mais tarde ASM (acibenzolar-S-metil (S-metilbenzo [1,2,3] tiadiazole-
-7-carbotioato)) foram descobertos e o ASM foi desenvolvido comercialmente sob o nome
BION®, ACTIGARD™ e BOOST®. A indução da SAR aumentou a resistência a vários patógenos,
incluindo Ascochyta fabae e Uromyces viciae-fabae em feijões e Meloidogyne incognita e Rals-
tonia solanacearum em tomateiros (SILLERO et al.,2012). Foi sugerido que a SAR é mais eficaz

176
contra patógenos biotróficos e hemibiotróficos, mas não contra patógenos necrotróficos,
pois estimula a via SA (Glazebrook, 2005). Inoculações repetidas podem aumentar o nível
de resistência, mas pode levar vários dias para que a SAR se desenvolva em toda a planta
hospedeira (Kut, 1982). O emprego dos compostos que induzem resistência sistêmica em
plantas no controle de doenças de plantas, na prática, em condições de campo, não tem sido
satisfatório. Além disso, a utilidade dos indutores de SAR tem sido limitada até agora, uma
vez que muitos patógenos são capazes de superar tais defesas.

4. Produtos comerciais e formulações de fungicidas


Após o desenvolvimento de um componente ou ingrediente ativo com ação fungicida, faz-se
necessária sua formulação em um produto comercial cuja aplicação seja viável. A escolha do tipo
de formulação baseia-se no perfil do ingrediente ativo e tem como características físico-químicas
específicas seu ponto de fusão, sua estabilidade química e sua solubilidade em água ou solvente
(Waard; Andrade; Machado, 2001).

SAIBA MAIS : A lista oficial organizada e atualizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), contendo produtos formulados, produtos técnicos, rol de pragas (incluídas

Ì aí as doenças) e ingredientes ativos dos fungicidas registrados para uso agrícola no Brasil, encontra-
se disponível para consulta em: http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons
(BRASIL, 2020).

As formulações fungicidas podem conter ingredientes diversos, tais como: ingredientes ativos,
solventes, compostos carreadores, surfactantes, estabilizantes, aditivos, agentes umectantes, óleo
mineral ou vegetal, agentes antiespumantes, agentes adesivos e corantes. Além disso, as formula-
ções podem ser líquidas ou sólidas (ZAMBOLIM, 2008a).

4.1. Formulações líquidas


• Concentrado Solúvel (CS): formulação composta por ingredientes ativos (20%-70%), umec-
tante/ativador biológico, anticongelante, água ou solvente polar miscível em água. O umec-
tante está ligado à presença do ativador biológico para melhorar a retenção e penetração
do ingredientes ativos na camada cuticular das plantas. Apresenta desvantagens quanto à
instabilidade tanto dos ingredientes ativos e instabilidade como em baixa temperatura.
• Suspensão Concentrada (SC) ou Flowable (F): formulação constituída por ingredientes ati-
vos (5%-45%), umectante, dispersante, agente de suspensão, antigel, antiespumante, água
ou líquido orgânico (solvente). Não contém solventes orgânicos, pode apresentar menores
problemas com toxicidade e inflamabilidade, mas requer que os ingredientes ativos apresen-
tem boa estabilidade química na água.
• Concentrado Emulsionável (CE): composto por ingredientes ativos (20%-60%), solvente
não miscível em água, emulsificante e antiespumante. O componente ativo, misturado em
água e aplicado, apresenta-se como pequenas gotículas de emulsão e permanece como re-
síduo na lavoura por evaporação. Suas desvantagens são a quantidade elevada de solventes
requeridos e alta toxicidade e fitotoxicidade.

177
4.2. Formulações sólidas
• Pó Molhável (PM): formulação composta por ingredientes ativos (10%-80%), umectante,
dispersante, antiespumante, inertes/carga. Formulações em pó molhável são preparadas
misturando-se os ingredientes ativos com o umectante, dispersante e inertes. As vantagens
são: tolerância a baixas temperaturas, não utiliza solventes e apresenta baixa fitotoxicida-
de. As desvantagens são: dificuldade para misturar em tanque, baixa compatibilidade com
outras formulações, produção de poeira durante elaboração e aplicação (perigoso para ina-
lação e contato com os olhos). Um bom exemplo de formulação PM é a que é rapidamente
dispersa em partículas muito pequenas, uniformes e que não se precipita com facilidade.
• Grânulos dispersíveis em água (GrDA): formulação composta por ingredientes ativos
(50%-90%), umectante, dispersante, antiespumante, inertes/carga. Como vantagens, citam-
-se: fluidez, não produz poeira, baixa fitotoxicidade, embalagem reduzida, maior segurança
no transporte, menor perigo dermatológico pelo menor contato, longa estabilidade em altas
e baixas temperaturas. Suas desvantagens incluem: baixa densidade, qualidade do produto
é sensível às variações do processo e da matéria-prima. Os grânulos podem ser dispersos di-
retamente sobre o alvo e tornam-se ativos somente após liberarem o componente ativo por
desintegração dos grânulos e difusão no solo.
• Pó Seco (PS): composta por ingredientes ativos (elevada porcentagem) e um carreador. O
formulado final resulta em uma mistura finamente moída desses componentes. A quanti-
dade de ingredientes ativos é geralmente baixa. Um exemplo é o pó de enxofre usado no
controle de míldios pulverulentos e ácaros.

5. Absorção e translocação dos fungicidas pela planta


A absorção de fungicidas em folhas, sementes e frutos de plantas herbáceas apresenta as mes-
mas dificuldades por terem cutículas semelhantes. Já as raízes não apresentam barreiras como
aquelas existentes em outras partes da planta. A velocidade de absorção de fungicidas depende
tanto das características inerentes aos ingredientes ativos aplicados, quanto da constituição da
epiderme vegetal que recebe os produtos.

Õ A principal barreira à penetração de fungicidas através da cutícula são os lipídios


intracuticulares. Desse modo, entre culturas e mesmo entre cultivares as taxas de
penetração variam de acordo com a proporção de lipídios intracuticulares (REIS
et al. (2001). A absorção do ingrediente ativo do fungicida varia mesmo dentro do
mesmo grupo químico (ZAMBOLIM, 2008b).

Outro fator que interfere na absorção de fungicidas é o espectro de gotas utilizado na pulve-
rização. Gotas de menor diâmetro mediano volumétrico (DMV) favorecem a maior velocidade de
absorção dos fungicidas, pois proporcionam maior número de gotas por centímetro quadrado de
área foliar e, consequentemente, cobrem maior área específica (Lenz et al., 2012). Quanto maior e
mais rápida for a absorção dos fungicidas, menores serão as perdas decorrentes das intempéries
e, por consequência, maior será a eficácia dos produtos.
Na translocação, fungicidas podem ou não aderir às paredes do xilema. Dependendo de suas
propriedades físico-químicas, o fungicida poderá até translocar pelo floema. Entretanto, isso não

178
quer dizer que o produto será eficiente no controle de doenças (Zambolim; Venâncio; Oliveira,
2007; Zambolim, 2008b).
Os fungicidas sistêmicos são aqueles que penetram nas folhas e raízes, sendo posteriormente
translocados pelo sistema vascular da planta no sentido da rota da transpiração no xilema. Além
da capacidade de translocação do local de aplicação para outras partes da planta, a sistemicidade
implica na ausência de fitotoxicidade e na atuação fungitóxica dentro dos tecidos da planta (Zam-
bolim; Venâncio; Oliveira, 2007; Zambolim 2008a).
O movimento de agroquímicos em plantas envolve três estádios:
• entrada nos espaços livres dos tecidos;
• movimento ascendente no apoplasto. No apoplasto, ocorre o transporte a curta distân-
cia nos espaços intercelulares e a longa distância dentro do lúmen dos vasos e traqueíde-
os do xilema, de forma passiva (Zambolim, 2008a, b). A maioria dos fungicidas sistêmicos
transloca-se apoplasticamente e segue a rota de transpiração das plantas. Quando aplicados
ao solo, determinados fungicidas e inseticidas são absorvidos pelos radiculares. Em condi-
ções de alta umidade, translocam-se pela rota da transpiração, via xilema, até as folhas novas
pela corrente respiratória (ex.: grupo dos triazóis). A penetração do fungicida no xilema está
associada à lipofilicidade e/ou solubilidade do produto em relação às membranas vegetais
(Zambolim, 2008b);
• quanto ao movimento no simplasto, quimicamente o ingrediente ativo do fungicida
pode ser detectado no floema. O transporte no simplasto é realizado à curta distância, de
célula para célula, pelos plasmodesmas, e, à longa distância, pelas células especializadas do
floema (Crowdy, 1973). Mas seu efeito prático no controle de doenças de plantas é quase
desprezível.

Os fungicidas que alcançam o xilema pela aplicação via foliar, a princípio, também são capazes
de permear os tubos crivados do floema. Porém, os fungicidas que penetram no floema também
podem escoar de volta ao xilema e mover-se com o fluxo da transpiração.

Õ A concentração do fungicida no floema depende, parcialmente, da sua habilida-


de em permear as membranas do simplasto até os tubos crivados na região foliar,
enquanto seu efluxo para o apoplasto é limitado (KLEIER, 1988). O movimento via
floema, ou basipetal, difícilmente ocorre. Compostos ácidos fracos, geralmente
herbicidas, são praticamente os únicos agroquímicos translocados a longas dis-
tâncias via floema (TORRES, 2009).

A maioria dos fungicidas não se move de forma descendente após a aplicação foliar (exceção
para o fungicida fosfonato, Fosetyl-Al, como já citado), embora seja um atributo desejável para
controlar doenças que incidem na parte inferior das plantas. Portanto, não há como aplicar o fun-
gicida na parte aérea, para controlar uma doença nas raízes ou mesmo no terço inferior da planta.
A afinidade com a água é normalmente expressa pela solubilidade em água, ao passo que a
afinidade por substâncias lipofílicas é normalmente estimada com base no comportamento de
sua distribuição num sistema bifásico líquido-líquido, denominado coeficiente de partição octa-
nol-água (Kow) (Oliveira JR.; Bacarin, 2011).

179
O Kow é importante, porque influencia no transporte de uma molécula orgânica após sua apli-
cação, representando o balanço entre suas propriedades hidrofílicas e lipofílicas (Silva; Fay, 2004):
• Se Kow > 1 (um) - o composto tem mais afinidade pelo octanol que pela água, o que o carac-
teriza como sendo pouco polar ou lipofílico.
• Se Kow < 1 - o composto é polar, tendo maior afinidade pela água, ou seja, apresenta baixa
lipofilicidade (Torres, 2009).

Normalmente, o valor do coeficiente de partição varia entre 100 e 100 milhões e, para evitar
valores muito altos, Kow é normalmente expresso como Log Kow, apresentando valores entre 2 e
7 para a maioria dos compostos de interesse e não tem unidade (Silva; Fay, 2004). Quando o pro-
duto é aplicado na face superior das folhas, o ingrediente ativo pode ser translocado para a face
inferior (local de penetração de alguns fungos) em um movimento translaminar. Já a face inferior
das folhas quase sempre não é atingida em aplicações normais. Alguns fungicidas do grupo dos
inibidores de quinona (QoIs) se ligam fortemente à cutícula, onde a maior parte do ingrediente
ativo pode ser encontrada.
Estudos de absorção e translocação com três fungicidas, realizados mais recentemente em soja
e videira, demonstraram que: a absorção do epoxiconazol foi substancialmente maior nos folíolos
de soja em comparação com as folhas da videira.
A absorção do epoxiconazol pelos folíolos da soja foi alta desde o início - 41% às 3 horas após
a aplicação (haa) - e manteve-se relativamente constante; na videira a absorção inicial foi baixa
(10% às 3 haa), porém foi aumentando com o transcorrer das horas (40% às 72 haa). Na média
geral das horas, comparando-se as duas culturas, o epoxiconazol foi absorvido 102% a mais pelos
folíolos da soja.
A absorção da piraclostrobina, em números absolutos, também foi maior na soja. À semelhan-
ça do epoxiconazol, a absorção da piraclostrobina pelos folíolos da soja manteve-se relativamente
constante. Na videira, houve um aumento progressivo com o passar das horas. Na média geral das
horas, a piraclostrobina foi absorvida 22% a mais pelos folíolos da soja em comparação com as
folhas da videira.
O fluxapiroxade foi substancialmente mais absorvido pelos folíolos da soja do que pelas folhas
da videira. Ao contrário do epoxiconazol e da piraclostrobina, o fluxapiroxade teve sua absorção
aumentada progressivamente no transcorrer das horas, para ambas as culturas. Também na soja
e na videira, notou-se aumento significativo da absorção do fluxapiroxade a partir de 24 haa. O
aumento médio da absorção do fluxapiroxade pelos folíolos da soja em relação à folha da videira
foi de 197%.

Õ As maiores absorções, na média de todas as avaliações, em ordem decrescente


foram: em soja, piraclostrobina (~47%) > soja, epoxiconazol (~42%) > videira, pi-
raclostrobina (~38%) > soja, fluxapiroxade (~33%) > videira, epoxiconazol (~21%)
> videira, fluxapiroxade (~11%) (Santos, 2016).

O fungicida fluxapiroxade permaneceu, na maioria das vezes, 66% para a soja e 81% para a vi-
deira, na parte externa das folhas. Demonstrou, portanto, que este produto tem também um alto
potencial como fungicida protetor e que, por consequência, seria bastante eficiente em aplicações
preventivas. Para ambas as culturas, a absorção do fluxapiroxade é crescente com o transcorrer

180
do tempo e, portanto, isto também lhe confere a este um efeito curativo. Daí para determinados
fungicidas sistêmicos, os depósitos na superfície da folha desempenham um papel importante,
porque garantem uma penetração contínua do produto dentro da folha.
A translocação do epoxiconazol foi semelhante para ambas as culturas (soja e videira), 3 e 9
haa, diferindo-se a partir de 24 haa, com maior translocação sendo observada nas plantas de soja.
Em média, a piraclostrobina foi translocada 209% a mais nas mudas da videira.
A translocação do fluxapiroxade foi maior nas mudas da videira 3 haa, não diferindo a partir de
então das plantas de soja. A translocação a longa distância foi baixa, menos de 1%, para todos os
fungicidas, nas culturas testadas. Na cultura da soja existe uma tendência de aumento da trans-
locação com o decorrer das horas, para os fungicidas epoxiconazol e fluxapiroxade, diferente da
videira, que não apresentou este mesmo tipo de comportamento.
A piraclostrobina teve uma translocação muito limitada e mais ou menos constante durante o
tempo de avaliação.
Em resumo, os fungicidas epoxiconazol e fluxapiroxade translocaram-se predominantemente
no sentido acropetal. Por sua vez, a piraclostrobina não apresentou translocação a longas distân-
cias. Dentre os fungicidas avaliados, a
sistemicidade foi alta para o epoxiconazol, intermediária para o fluxapiroxade e baixa para a
piraclostrobina.
A adição do adjuvante óleo mineral ao fluxapiroxade promoveu maior e mais rápida absorção
e translocação do fungicida nas plantas de soja. A absorção teve aumento médio de 31% durante
todo o período avaliado, e 63% nas primeiras 24 haa, enquanto que, a translocação teve aumento
médio de 139%, quando comparado ao fluxapiroxade aplicado isoladamente (SANTOS, 2016).

5.1. RESISTÊNCIA DE FUNGOS AOS FUNGICIDAS


A resistência aos fungicidas é uma característica estável e herdável que resulta numa redução
na sensibilidade do a determinado fungicida. Esta habilidade é obtida por meio de processos evo-
lutivos. Fungicidas com modo de ação sítio-específico têm alto risco para o desenvolvimento de
resistência em relação aos fungicidas de múltiplo-sítio.

Õ Quando a resistência ao fungicida resulta de um gene de efeito maior, as subpo-


pulações do patógeno são sensíveis ou altamente resistentes ao agroquímico. A
resistência neste caso resulta na total perda de controle da doença que não pode
ser recuperada, mesmo utilizando altas doses ou maior frequência de aplicação
do fungicida. Este tipo é normalmente referido como “resistência qualitativa”
(Zambolim et al., 2007).

Quando a resistência é resultado da alteração de muitos genes, os isolados do patógeno exi-


bem um gradiente de sensibilidade ao fungicida, dependendo do número de alterações nos ge-
nes. A variação da sensibilidade apresenta um continuum dentro da população do fungo. A resis-
tência, nesse caso, é vista como uma perda do controle da doença, que pode ser recuperada pelo
uso de aplicações mais frequentes de fungicidas protetores. A seleção, a longo prazo, para a resis-
tência do patógeno pela repetição de aplicações, pode, eventualmente, resultar na incapacidade

181
de controlar adequadamente a doença, mesmo quando menores intervalos entre aplicações são
utilizados. Este tipo é comumente conhecido como “resistência quantitativa”.

Ì SAIBA MAIS: Comentários abrangendo diversos patossistemas sobre o risco de resistência dos
fungicidas estão incluídos no site do FRAC: http://www.frac.info/frac/ em “Publications”.

Isolados fúngicos, que são resistentes a um fungicida sítio-específico, algumas vezes, resistem
também a outros fungicidas com mecanismo bioquímico de ação semelhante, mesmo quando
os isolados não tenham sido expostos aos outros fungicidas. Este tipo de resistência é conhecido
como “resistência cruzada”. Fungicidas do mesmo mecanismo de ação tendem a exibir resistência
cruzada.
Ocasionalmente, resistência cruzada negativa ocorre entre fungicidas com mecanismo de ação
diferentes. Isso porque as mudanças genéticas que conferem resistência a um fungicida podem
fazer com que o isolado resistente se torne mais sensível a outro fungicida (Zambolim et al., 2007).
Os fungicidas que atuam em sítio-específico (sistêmicos e mesostêmicos) só devem ser em-
pregados em duas ou, no máximo, quatro aplicações durante o ciclo da cultura, desde que os
mecanismos de ação sejam diferentes. O manejo da resistência aos fungicidas é muito importante
para estender o período de tempo que um fungicida sítio-específico é efetivo. A meta primária do
manejo de resistência é retardar o desenvolvimento, ao invés de lidar com os isolados resistentes
após eles estes terem sido selecionados.
Portanto, os programas de manejo de resistência precisam ser implementados quando um
fungicida de alto risco (sítio-específico) torna-se disponível para uso comercial. O objetivo do ma-
nejo de resistência aos fungicidas é minimizar o uso de um fungicida de alto risco, sem compro-
meter o controle da doença. Isto é acompanhado pelo uso do fungicida de alto risco com outros
fungicidas denominados multissítios e outras medidas de controle, como o uso de cultivares re-
sistentes e medidas culturais.

Õ Fungicidas de alto risco devem ser utilizados na dose recomendada e em interva-


los de aplicação, de acordo com a bula. Além disso, devem ser aplicados em alter-
nância com outros fungicidas, com diferentes mecanismos bioquímicos de ação,
alternados com fungicidas protetores (multissítios) e/ou misturados (formulados)
com produtos sítio-específicos com multissítios.

6. Fungicidas empregados para a cultura do tomateiro


Na Tabela 1, estão os principais fungicidas registrados para o controle das doenças do tomatei-
ro. São eles: do grupo dos triazóis, o difenoconazol e o metconazol; do grupo Fenilamida (Acyla-
nalinas), o Metalaxyl; do grupo Carbamato, o Cloridrato de propomocarb; do grupo Mandelamida,
o Mandipropamida; do grupo morfolina, o dimetomorfe; do grupo Estrobilurinas, o Fenamidona
(Imidazolinona) e Famoxadona (Azolidinadiona); do grupo Acetamida, o curzate; do grupo Benza-
mida, o Fluopicolida.

182
Tais fungicidas atuam na biossíntese do ergosterol - componente importante na parede celu-
lar dos fungos. Há inúmeras espécies de fungos resistentes aos fungicidas desse grupo. Portanto,
eles não devem ser recomendados isoladamente no controle das doenças do tomateiro. Misturas
e alternâncias com produtos protetores são apontadas como estratégia antirresistência.

TABELA 1. Fungicidas recomendados para a cultura do tomateiro


FUNGICIDAS RECOMENDADOS PARA A CULTURA DO TOMATE
DOENÇA FUNGICIDA E DOSE DECISÃO DE APLICAÇÃO
Difenoconazol cis-trans-3- Iniciar as aplicações quando aparecerem os primeiros
chloro-4-[4-methyl-2-(1H-1,2,4- sintomas das doenças, que podem ocorrer em qualquer
Pinta preta Alternaria solani
triazol-1-ylmethyl)-1,3-dioxolan- estágio de desenvolvimento da cultura.
Septoriose
2-yl]phenyl 4-chlorophenyl ether Repetir as aplicações a cada 7 dias, sempre que
Septoria lycipersici
250 g/L (25% m/v) houver condições favoráveis para o desenvolvimento
50 mL/100 L de água Aplicação das doenças: chuvas e altas temperaturas. Realizar no
terrestre: 200 a 800 L/ ha máximo 3 aplicações com o produto por safra.
Requeima
(Phytophthora infestans)
Clorotalonil Iniciar as aplicações logo aos primeiros sintomas das
Pinta-preta
Tetrachloroisophthalonitrile (500 doenças e repetir se o clima for favorável
(Alternaria solani) Septoriose
g/L (50% m/v) Utilizar volume de calda de 500 a 1000 L/ha (aplicação
(Septoria lycopersici) Mancha-
300 mL/ha terrestre) e 30 a 40 L/ha (aplicação aérea).
de-Stemphylium (Stemphylium
solani)
Aplicar conforme o desenvolvimento das plantas. O
início das aplicações deve ser feito de forma totalmente
Requeima
preventiva. Em tomate envarado, iniciar as aplicações
Phytophthora infestans
Acibenzolar-s-metílico quando as plantas ultrapassarem a altura do primeiro
Pinta preta
S-methyl benzo[1,2,3] thiadiazole- amarrio. Em tomate rasteiro, iniciar as aplicações
Alternaria solani
7-carbothioic quando a cultura atingir cerca de 30 dias de idade.
Mancha bacteriana
500 g/kg (50% m/m) Reaplicar a cada 5-7 dias, totalizando no máximo 10
Xanthomonas vesicatoria
aplicações/safra. O produto não substitui as aplicações
Pinta bacteriana Pseudomonas
estabelecidas para o manejo fitossanitário da cultura,
syringae pv. tomato
as quais devem ser mantidas. O produto só deve ser
aplicado em mistura com fungicidas protetores.
Metalaxil-M
Mmethyl N-methoxyacetyl-N-2,6- Recomenda-se sempre aplicações preventivas,
xylyl-D-alaninate.....40 g/L (4% independentemente do estádio de desenvolvimento
m/v) + da cultura (nesse caso, aproximadamente a partir
Requeima Phytophthora dos 30-40 dias após o transplante das mudas),
infestans Clorotalonil repetindo-se caso persistam condições favoráveis ao
Tetrachloroisophthalonitrile 400 desenvolvimento da doença, intercalar com aplicações
g/L (40% m/v) de produtos protetores. Realizar no máximo 3-4
300 mL/100 L aplicações por ciclo da cultura.
600 a 1000 L/há
(Continua)

183
TABELA 1. Fungicidas recomendados para a cultura do tomateiro (Continuação)
FUNGICIDAS RECOMENDADOS PARA A CULTURA DO TOMATE
DOENÇA FUNGICIDA E DOSE DECISÃO DE APLICAÇÃO
Metalaxil
A aplicação deve ser sempre preventiva,
M - Methyl N-methoxyacethyl-N-2,6-
independentemente do estádio de desenvolvimento
xylyl-D-alaninate com o isômero S
Requeima da cultura. Iniciar as aplicações 15 dias após o
40 g/kg (4% m/m) +
Phytophthora transplantio, repetindo, se o clima for favorável.
Mancozeb
infestans Intercalar produtos protetores
Manganese ethylenebis
Condições favoráveis à doença - chuva/garoa seguida
(dithiocarbamate) (polymeric) complex
de queda de temperatura. Realizar até 4 aplicações.
with zinc salt 640 g/kg (64 % m/m)
600 L/ha por ciclo da cultura.
300 g/100 L
Requeima
Phytophthora Dimetomorfe + Mancozebe (90 + Aplicar de 700 a 1000 litros de calda por hectare até o
infestans 600) g.i.a/kg; 400 g p.c/100 L d’água início da frutificação

Mancha foliar Metconazol (90 g.i.a/L) - 50 a 100 mL /


Volume de calda 600 L/ha. Aplicar quando surgir os
Septoria 100 L d’água
primeiros sintomas da doença.
lycopersici
Dimetomorfe - (EZ)-4-[3-(4-
Requeima chlorophenyl) - 3-(3,4-dimethoxy
Volume de calda 600 L/ha; aplicar quando o clima for
Phytophthora phenyl)acryloyl] morpholoine 100
favorável à doença, mas, no máximo, 4 vezes durante o
infestans g/L (10% m/v) + Clorotalonil -
ciclo da cultura.
Tetrachloroisophtalonitrile 500 g/L (50%
m/v) – 300 mL p.c./100 L d’água
Requeima Metiram - Zinc ammoniate
Phytophthora ethylenebis(dithiocarbamate)-
Aplicar preventivamente de 500 a 1000 litros por
infestans poly(ethylenethiuram disulfide) 700 g/kg
hectare até seis vezes durante o ciclo da cultura.
Pinta preta - (70% m/m) – 3,0 kg/há – 300 g p.c./100L
Alternaria solani água
Mancozeb - manganese
ethylenebis(dithiocarbamate) (polymeric)
complex with zinc salt 640 g/kg (64,0% Realizar as aplicações sempre preventivamente,
Requeima
m/m) + quando houver condições favoráveis à ocorrência da
Phytophthora
Cimoxanil - 1-(2-cyano-2- doença (temperaturas amenas e alta umidade). Utilizar
infestans
methoxyiminoacetyl)-3-ethylurea 80 g/kg a maior dose e o menor intervalo de aplicação em
(8,0% m/m) condições altamente favoráveis à doença.
2,0 a 3,0 kg/ha ou 200 a 300 g/100 Litros
de água
Cimoxanil - 1-(2-cyano-2-
methoxyiminoacetyl)-3-ethylurea 80 g/kg
Volume de calda: 600 a 1000L de água/há. Realizar,
(8,0% m/m) +
no máximo, 12 aplicações durante o ciclo da cultura
Mancozebe - manganese
Requeima sempre que houver condições favoráveis à Requeima
ethylenebis(dithiocarbamate) (polymeric)
Phytophthora (temperaturas amenas e alta umidade), a intervalos de
complex with zinc salt 640 g/kg (64,0%
infestans 5 a 7 dias. Utilizar a maior dose e o menor intervalo de
m/m)
aplicação em condições altamente favoráveis à doença.
2,0 a 3,0 kg/ha ou 200 a 300 g/100 litros
Recomenda-se também intercalar com fungicidas
de água do produto formulado ou 1,44 a
mancozeb e clorothalonil.
2,16 kg/ha ou 144 a 216 g/100 litros de
água de ingredientes ativos.
(Continua)

184
TABELA 1. Fungicidas recomendados para a cultura do tomateiro (Continuação)
FUNGICIDAS RECOMENDADOS PARA A CULTURA DO TOMATE
DOENÇA FUNGICIDA E DOSE DECISÃO DE APLICAÇÃO
Pinta preta Alternaria
Mancozebe - Manganese Iniciar as aplicações após o transplante. As aplicações devem ser
solani
ethylenebis(dithiocarbamate) sempre preventivas. O número máximo de aplicações por ciclo da
Requeima Phytophthora
(polymeric) complex with zinc cultura: 12 Intervalo de aplicação: 5 - 7 dias, utilizando o menor
infestans
salt 800 g/kg (80,0% m/m) intervalo em condições altamente favoráveis para as doenças
Septoriose Septoria
3,0 kg/ha Volume de Calda: - Aplicação Terrestre: 800 - 1000 L/ha.
lycopersici
Realizar, no máximo, onze aplicações em intervalos de 5 - 7 dias.
Cimoxanil e Famoxadona, que apresentam mecanismos de
ação desconhecida e inibidor da quinona externa no complexo
III, pertencentes aos Grupos DESC e C3, segundo classificação
internacional do FRAC (Comitê de Ação à Resistência de
Fungicidas), respectivamente. O uso sucessivo de fungicidas do
mesmo mecanismo de ação para o controle do mesmo alvo pode
contribuir para o aumento da população de fungos causadores de
Requeima Phytophthora doenças resistentes a esse mecanismo de ação, levando à perda
infestans Cimoxanil 300g/kg + de eficiência do produto e consequente prejuízo. Como prática de
Pinta preta Alternaria Famaxadona 225 g/kg manejo de resistência e para evitar os problemas com a resistência
solani 0,6 L/há dos fungicidas, seguem algumas recomendações:
• Alternância de fungicidas com mecanismos de ação distintos do
Grupo DESC e C3 para o controle do mesmo alvo, sempre que
possível;
. Adotar outras práticas de redução da população de patógenos,
seguindo as boas práticas agrícolas, tais como rotação de culturas,
controles culturais, cultivares com gene de resistência quando
disponíveis, etc;
• Utilizar as recomendações de dose e modo de aplicação de
acordo com a bula do produto.
Requeima
Cloridrato de Aplicar de acordo com as condições climáticas. Sob condições de
Phytophthora
Propamocarb + temperatura amena e alta umidade relativa, a mistura deve ser
infestans
Fenamidona - 2,0 L/ha aplicada.

Mistura que apresenta fungicida protetor clorothalonil que elimina a


Requeima
possibilidade de surgimento de mutantes resistentes na população
Phytophthora Mandipropamida +
do fungo.
infestans Clorothalonil - 2,5 L/ha
Sob condições de temperatura amena e alta umidade relativa, a
mistura deve ser aplicada.
Cloridrato de
Requeima Phytophthora
promamocarbe 625 g/L +
infestans Aplicar de acordo com o clima. Gato de calda 50 – 1000 L/ha.
Fluopicolida 62,5 g/L.
1,25 – 1,5 Kg/ha
Fonte: BRASIL, 2020

7. CONCLUSÃO
O controle químico de doenças de plantas pelo emprego de fungicidas está inserido no Ma-
nejo Integrado de Doenças. Seu uso na agricultura somente deve ser recomendado de acordo
com critérios técnicos levando em consideração o clima, a incidência e/ou a severidade, o estádio
fenológico, e deve ser uma das últimas opções a ser adotada.

185
Em se tratando de doenças agressivas, os fungicidas têm papel fundamental para manter o
potencial produtivo das culturas, principalmente na cultura do tomateiro. A requeima do tomate
não tem variedades resistentes. A aplicação no tomateiro deve recair em produtos com menor
toxicidade possível, que causem menor agressão ao meio ambiente, que sejam inócuos a insetos
e microrganismos benéficos, que sejam biodegradáveis e eficientes.
Além disso, a escolha por qual produto utilizar deve levar em consideração sua polaridade e
suas propriedades físico-químicas (S, PV, Kow e pKa). Ao se empregar fungicidas sistêmicos com
modo de ação específico, torna-se necessário utilizar estratégias antirresistência. É fato que há
quase 20 anos não surge um novo grupo químico de fungicidas no mercado. Daí torna-se impres-
cindível o emprego de práticas culturais no tomateiro e sempre levar em consideração a tempera-
tura, chuva, umidade relativa, incidência e severidade das doenças e jamais empregar calendário
fixo nas atomizações.

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Curitiba: Omnipax, p.215-41. 2011. 11 Sistemas de alerta de doenças de plantas.

187
10
10. Sistemas de alerta de doenças de
plantas
Laércio Zambolim1 & Waldir Cintra de Jesus Junior2

1. Introdução
O crescimento populacional tem exigido, cada vez mais, a maior produção de alimentos, que,
além de atender ao mercado interno, possa gerar superávit visando à exportação. A maior produ-
ção de alimentos pode ser atingida por meio de uma proteção vegetal mais eficiente, permitindo
que as plantas expressem seu potencial produtivo. Porém, se não houver um manejo adequado
das doenças, tem-se a redução na produtividade da cultura, que geralmente acarreta danos e per-
das, levando, em muitos casos, ao endividamento e, talvez, até ao abandono da atividade agrícola.
Tal redução pode ser na quantidade ou qualidade dos alimentos produzidos.

Õ De modo geral, quanto maior for a severidade causada por doenças foliares,
menor será a produção. O patógeno sob condições climáticas favoráveis causa o
surgimento da doença, que, na maioria dos casos, reduz a área foliar, o que leva
a planta hospedeira a captar menor quantidade de fotoassimilados para o cresci-
mento, manutenção e produção (Rivera Hernández et al. 2007).

Há inúmeros relatos demonstrando a eficiência dos fungicidas no manejo de doenças de plan-


tas. Costa et al. (2002) relataram redução da ordem de 97% na severidade da requeima da batata
quando se empregaram aplicações alternadas de fungicidas sistêmicos e protetores. A produção
do tratamento onde se aplicou fungicidas foi de 26,8 t ha-1, enquanto que a testemunha (sem
aplicação de fungicida) produziu apenas 8,4 t ha-1. Outros relatos de redução na produtividade
(com e sem aplicação de fungicidas) da batateira, em relação à requeima, variaram de 6,7 t ha-1
a 24,8 t ha-1 (Tófoli et al., 2005; Bosco et al., 2009); para o tomateiro a redução foi de 57,0 e 62,1 t
ha-1, respectivamente (Duarte et al., 2007a; Duarte et al., 2007b).
Apesar da eficiência, muitas vezes, os fungicidas são utilizados de forma indiscriminada, o que
tem levado ao uso excessivo e abusivo, criando outros problemas, como contaminação dos ali-
mentos produzidos (resíduos de fungicidas em frutos e outros órgãos vegetais), riscos a saúde dos
consumidores e aplicadores (intoxicações), aumento do custo de produção, poluição ambiental,
lixiviação dos excessos de produtos pulverizados, surgimento de isolados resistentes do patóge-
no, entre outros (Barreto et al., 2004; Zambolim et al., 1990).
No caso das culturas do tomate e da batata, há relatos de realização de mais de 30 pulveriza-
ções por ciclo da cultura. Além disso, as pulverizações são feitas sem a observação de nenhum
critério de ocorrência do patógeno ou de condições ambientais favoráveis à doença (25). Dessa

188
maneira, o custo de produção torna-se onerado além de propiciar o surgimento desses proble-
mas. Todas essas implicações têm sido motivo de preocupação e levado à procura crescente por
práticas e estratégias racionais de manejo das doenças, além da busca por fungicidas de menor
custo e toxicidade (20,28).
Várias medidas têm sido estudadas, visando tornar as culturas mais rentáveis e otimizar o uso
de produtos químicos para o controle das doenças. Dentre essas medidas, o emprego de sistemas
de alerta de doenças tem se destacado como alternativa para otimizar o uso de fungicidas, dado
que leva em consideração a biologia do patógeno e suas interações com as variáveis climáticas.
Dentre os resultados obtidos com a aplicação de sistemas de alerta de doenças, destacam-se:
a possibilidade de maior lucro ao produtor, o decréscimo do risco de ocorrência de epidemias, a
redução da poluição ambiental, a determinação do momento adequado para aplicação de fungi-
cidas e a redução do número de pulverizações.

Õ A meta dos sistemas de alerta é determinar o momento adequado de aplicação


de fungicidas em função do monitoramento das condições favoráveis ao desen-
volvimento do patógeno, aumentando a eficiência das aplicações.

Uma das estratégias mais eficientes de manejo de doenças fúngicas em plantas é por meio de
aplicações de fungicidas. Se bem realizada, essa ação reduz significativamente o efeito dos pató-
genos sobre as plantas. Em função disso e com grande aversão ao risco da perda de suas lavouras,
de uma forma geral, agricultores aplicam quantidade excessiva de defensivos agrícolas, para o
controle de doenças fúngicas.
As aplicações de defensivos agrícolas, geralmente, são feitas de forma sistemática, seguindo-
-se um calendário fixo, que não considera a favorabilidade do ambiente, a ocorrência de doenças
e a resistência genética da planta. A favorabilidade é detectada pelo monitoramento das condi-
ções microclimáticas. O fato de se aplicar fungicidas, baseando-se em calendários, tem grande
apelo por parte dos produtores, pelo fato de se organizar os horários das aplicações, reduzindo o
risco de danos à cultura (VALE et al.,1999).
Inúmeros são os relatos de sucesso no controle de doenças ao se considerar a favorabilidade
do clima, determinando se o ambiente está ou não favorável à ocorrência de doenças.
Duarte et al. (2007a) compararam a aplicação de fungicidas para controle da requeima do to-
mateiro com base no calendário fixo e sistemas de alerta, tendo verificado diferença na produtivi-
dade de 35,3 t ha-1 a favor do emprego do sistema de alerta. Tal diferença se deve à alta favorabi-
lidade de ocorrência da doença, a qual não é considerada quando se emprega um calendário fixo
de aplicações. Tais resultados demonstram a aplicabilidade dos sistemas de alerta, que permitem
racionalização do uso de fungicidas.
Como vantagens do sistema de alerta obtém-se o controle mais eficiente da doença, uso ra-
cional dos agroquímicos, menor agressão ao meio ambiente, menor quantidade de resíduos nos
produtos agrícolas e até redução no custo de controle. A ideia do uso de calendário de aplicação
de fungicidas deve ser abolida à medida que os conhecimentos dos modelos de aviso estiverem
disponíveis.

189
2. Conceito de sistemas de alerta
O sistema de alerta auxilia na tomada de decisão, permitindo determinar o momento adequa-
do para iniciar as aplicações de fungicidas, assim como o intervalo entre as aplicações. Portanto,
permite otimizar o emprego de fungicidas na agricultura.
Alguns autores o denominam de sistema de previsão. Porém, não se recomenda utilizar esse
termo, visto que tal denominação sugere que se conheça o futuro. Recomenda-se, assim, utilizar
o termo alerta ou aviso. Tais sistemas têm por base os dados de molhamento foliar, temperatu-
ra do ar, umidade relativa e precipitação meteorológica, que, em conjunto, dão subsídio para a
determinação do valor de severidade da doença (VSD). Tais elementos meteorológicos são mais
facilmente quantificados em estações meteorológicas automáticas (BARRETO et al., 2004).

O que se espera alcançar com o emprego de um sistema de alerta?


• Menor ocorrência de epidemias severas.
• Maior lucro para o agricultor.
• Redução do número de aplicações de fungicidas.
• Determinação dos melhores momentos de aplicação.
• Maior produtividade, com custos mais baixos de produção.
• Menor poluição ambiental devido à racionalização no emprego dos defensivos químicos.

Para que um sistema de alerta de doença possa ser caracterizado como acurado e confiável, é
necessário que tenha sido desenvolvido com atenção a três fatores importantes: tecnologia su-
ficiente para detectar as doenças nas plantas; adequada compreensão que o ambiente e o hos-
pedeiro exercem sobre o desenvolvimento do patógeno e da doença, e o conhecimento sobre a
dinâmica da atuação do patógeno sobre a cultura (Fry 1982).
Confiabilidade, custo, importância, simplicidade e utilidade são os atributos mais importantes
em um sistema de alerta de doenças em plantas (Barreto et al., 2004). Para que o sistema seja
confiável, é necessário que ele tenha sido testado e validado com sólidos dados climáticos e bio-
lógicos na região de interesse.
Destque Outro atributo importante em um sistema de alerta de doenças em plantas é a sua
simplicidade: quanto menos complexo for, maior será sua aceitação pelos agricultores. O atributo
importância diz respeito aos danos que a doença causa à cultura: quanto maior o dano que uma
doença pode causar, maior será sua aceitação (Reis & Wordell Filho, 2004).

3. Bases para o desenvolvimento de sistemas de alerta


Para o desenvolvimento de sistemas de alerta de doenças, deve-se conhecer o patógeno, o
hospedeiro e o meio ambiente no qual o modelo será implantado. Em relação ao patógeno, deve-
-se conhecer o período de incubação, a forma de sobrevivência, as raças predominantes e virulên-
cia, formas de dispersão e local de penetração do patógeno no hospedeiro.

190
Do hospedeiro, são requeridos os seguintes tipos de informações: nível de resistência, exten-
são da cultura, densidade de plantas por área, espaçamento, estado nutricional, disponibilidade
de diferentes cultivares e arquitetura da planta. Para o meio ambiente, leve em consideração: tem-
peratura, umidade relativa, molhamento foliar, precipitação pluviométrica, altitude, tipo de solo,
tipo de irrigação, época de plantio, local de plantio, nível de fertilidade e pH do solo. Portanto, com
conhecimento de tais fatores, é possível o desenvolvimento de um modelo mais apropriado para
cada relação patógeno-hospedeiro.
Um sistema de alerta de doenças mais complexo demanda o emprego de estações meteoro-
lógicas (Figura 1), para que se possa medir a temperatura, umidade relativa, molhamento foliar e
precipitação pluviométrica. Para sistemas mais simples, são requeridos medidor de temperatura,
de precipitação pluviométrica ou de umidade relativa.
Na prática, quanto menos sofisticado o sistema, maior será a probabilidade de aceitação pelos
produtores. Portanto, com tanta variação climática que vem ocorrendo em todas as regiões do
país, a tendência hoje é desenvolver e incentivar o uso dos modelos mais simples.

Figura 1. Estação de aviso fitossanitário


Os patossistemas mais indicados para que se possa implantar um sistema de alerta são aqueles
em que o clima apresenta efeito marcante sobre o desenvolvimento da epidemia.
Por exemplo: para o míldio da videira, é requerido alta umidade relativa do ar para que ocorra
doença. Portanto, em condições de baixa umidade relativa, a doença dificilmente vai atingir níveis
de controle. As antracnoses de fruteiras tropicais, como o mamoeiro, a goiabeira e a mangueira,
são mais severas se houver precipitação pluviométrica por vários dias. Dessa maneira, na ausência
de chuva, a doença não atingirá o nível de ação.
Algumas características devem ser levadas em consideração para a implantação de um sistema
de alerta:
• doença que causa danos econômicos.
• doença em que a condição climática passa ser limitante para sua ocorrência.
• doenças com características mais epidêmicas do que endêmicas.

191
• disponibilidade de equipamentos de medição do clima eficientes.
• confiança e simplicidade do sistema.
• abandono do calendário de aplicação.
• assumir “riscos”.
• conhecimento do patossistema (características do patógeno e da planta hospedeira).
• sistema eficiente de comunicação do aviso fitossanitário.
• sistema abrangente.
• convivência com certo nível de doença na cultura (nível de equilíbrio) no final do ciclo.
• disponibilidade de fungicidas eficientes para atomização.
• custo relativamente baixo de todo o sistema.
• disponibilidade de assistência técnica.
• pessoas treinadas para manuseio dos aparelhos e interpretar os dados climáticos.

Para as doenças cujas condições climáticas são sempre favoráveis à sua ocorrência, o controle
com fungicidas baseados no sistema de alerta pode não trazer benefício em relação ao calendário
fixo de aplicação.
Quando a temperatura média for muito baixa ou muito alta, o sistema de alerta pode trazer
benefícios com grande economia de fungicidas e, consequentemente, do custo de produção e
menor quantidade de resíduos nos vegetais. Tais temperaturas extremas, geralmente, não são
favoráveis à maioria dos fungos fitopatogênicos. A requeima (Phytophthora infestans) é favorecida
por temperaturas moderadas, na faixa de 14º-20oC, e molhamento foliar superior a 10 horas, po-
dendo ocorrer até no verão - estação que predomina clima quente e alta precipitação pluviomé-
trica. Em temperaturas acima de 28oC, dificilmente ocorre a requeima.
Outra característica muito importante para que o sistema de alerta seja implantado numa cul-
tura diz respeito ao período de incubação do patógeno na planta hospedeira. No caso da requei-
ma, por exemplo, o período de incubação do fungo nos tecidos da planta varia de 48 a 72 horas,
sob condições climáticas favoráveis, o que faz com que os produtores utilizem grande número
de aplicações de fungicidas (cerca de 15 a 30 por ciclo de produção). Dessa maneira, o sistema
de alerta pode ser muito útil para que as atomizações sejam feitas somente quando as condições
climáticas forem favoráveis à doença.
Para doenças que demandam poucas aplicações de fungicidas (duas a três aplicações, no má-
ximo, por ciclo, dependendo da extensão da área cultivada), o sistema de alerta pode não ser
tão útil. Para pequenas áreas (abaixo de 0,5 ha) de cultivo de hortaliças, dificilmente o sistema de
alerta será utilizado.
São conhecidos inúmeros modelos de alerta implantados com sucesso no país. Um dos mais
tradicionais é o modelo de alerta da sarna da macieira, em Santa Catarina, que emprega a Tabela
de Mills (1944), modificada por JONES et al. (1984). Essa tabela leva em consideração o período de
molhamento foliar necessário para que ocorra infecção primária com ascósporos, em diferentes
temperaturas, e o tempo necessário para o aparecimento das lesões (período de incubação). Os
conídios, para causarem infecção, requerem cerca de dois terços do tempo de molhamento foliar
em relação aos ascósporos (Boneti e Katsurayama, Epagri, Santa Catarina).

192
4. Sistema de alerta utilizando o colpan 40
O Colpan 40 é um aparelho que foi desenvolvido na Universidade de Passo Fundo (RS), pela
equipe do professor Erley Melo Reis, em parceria com a Elomed - Comércio e Indústria de Equipa-
mentos Eletrônicos Ltda. É constituído por um circuito eletrônico que opera com um coletor solar
e uma bateria de 9 volts (Figura 2).
O aparelho integra dados de temperatura média e de molhamento foliar, utilizando a Tabela
de Wallin (1962), oriundos de uma estação meteorológica, localizada no campo de cultivo. Os da-
dos climáticos, após serem gravados e integrados na memória do aparelho, dão origem a valores
cumulativos de severidade da doença (VSD). São registrados de 0 a 4 unidades de diárias de favo-
rabilidade da doença: 0 – condição não favorável - e 4 – condição altamente favorável à ocorrência
da doença. Esse sistema foi validado para a requeima e pinta-preta do tomateiro e da batateira, na
Universidade Federal de Viçosa.
Com base nos resultados obtidos, concluiu-se que para a requeima do tomateiro, os VSDs acu-
mulados entre 8 e 10 demandavam a primeira aplicação das plantas com fungicida sistêmico for-
mulado com protetor. A segunda aplicação era feita quando se acumulava valores múltiplos de 8
a 10, ou seja, 16 a 20 VSDs, e assim por diante.
Para requeima da batateira, os VSDs acumulados entre 10 e 12 demandavam a primeira atomi-
zação das plantas, com fungicida sistêmico formulado com protetor. A segunda aplicação era feita
quando se acumulava múltiplos de 10 a 12, ou seja, 20 a 24 VSDs, e assim por diante.

Figura 2. Foto demonstrativa do equipamento COLPAN 40, mostrando no visor o valor de VSD da doença
O equipamento COLPAN 40 nos campos de cultivo deve ser acoplado a uma estação meteoro-
lógica interligada a sensores de temperatura e molhamento foliar (Figura 3).

193
Figura 3. Foto demonstrativa do equipamento COLPAN 40 acoplado à estação meteorológica
automatizada instalada em um campo de produção de batata
Na década de 1980, foram desenvolvidos na Unesp-Jaboticabal, pela equipe do professor Mo-
desto Barreto, e na Embrapa Hortaliças outros sistemas de alerta para a requeima do tomateiro.
Entretanto, há grande potencial para implantação de sistemas de aviso em diversas culturas,
tais como a soja (para as doenças de final de ciclo e ferrugem); feijoeiro (para a mancha angular e
mofo branco); videira (para o mildio); cebola (para o míldio); trigo (para a giberela); arroz (para a
brusone); cafeeiro (para a ferrugem); batata (para a pinta-preta); mamão (para a antranose), dado
que essas culturas geralmente são cultivadas em grande escala e as doenças citadas são altamen-
te influenciadas pelas condições climáticas.

5. Estudos de caso

• Pinta preta - Alternaria solani


Vários sistemas de alerta têm sido desenvolvidos para a pinta preta (Alternaria solani) do to-
mateiro, mas os três mais utilizados são FAST, TOMCAST e CUFAST (Tabela 1). Os três modelos fo-

194
ram elaborados a partir de modelos empíricos, indicando, com base nas variáveis microclimáticas,
quando há ocorrência de condições favoráveis à formação dos conidióforos e conídios de A. solani
e, portanto, maiores riscos de aumento da doença.

TABELA 1. Sistemas de alerta para a pinta preta, características do sistema, resultados gerados com
emprego dos sistemas
SISTEMA CARACTERÍSTICA DO PROGRAMA RESULTADO AUTOR
Redução de até 30% no número
de aplicações de fungicidas. Madden et al.,
FAST – EUA Determina os períodos favoráveis do clima
Economia da ordem de US $ (1978)
56.00 – 123.00/ha
Pitblado
Duração do molhamento foliar e temperatura
(1988, 1992);
TOMCAST – EUA média do ar. Atomizar a cada 20 unidades de
Gleason et al.,
VSDs
(1995).
Utiliza a chuva, horas de UR> 90% e UR
CUFAST Sistema
mínima, em dois dias consecutivos, para estimar Economia de 20%-30% dos Zinter &
adaptado do FAST da
a duração do período de MF. A aplicação gastos com fungicidas, em Sandiam, (1990)
Universidade de Cornell.
de fungicida deve ser feita se as condições uma área de 400 ha de tomate Sandlan & Zitter,
Economia 20%-30% de
climáticas da última semana tiverem sido muito industrial (1989-1992) (1993)
gastos com fungicidas
favoráveis para o desenvolvimento da doença.

• Sistema FAST
O sistema FAST incorpora dois modelos empíricos para determinar períodos em que as con-
dições do ambiente são favoráveis ao desenvolvimento da doença. Os modelos foram derivados
da síntese de trabalhos anteriores e utilizam variáveis microclimáticas arbitrariamente escolhidas
para caracterizar as relações entre A. solani e microclima favorável.
- Primeiro modelo - conhecido como modelo de orvalho, a duração do período de molhamen-
to foliar e a temperatura média do ar durante o molhamento são combinadas para derivarem os
valores diários de severidade (VSD) (Tabela 2). De acordo com o modelo, o valor de VSD aumenta
à medida que a duração do período de molhamento foliar aumenta e, para um dado valor de
VSD, um número menor de horas de molhamento foliar é necessário à medida que a temperatura
aumenta. Os intervalos de temperatura utilizados neste modelo correspondem às temperaturas
necessárias para a formação de conidióforos e conídios de A. solani.
- Segundo modelo - o da chuva, gera valores diários de taxas de severidade (R) a partir de
medições de três variáveis meteorológicas (chuva, temperatura e umidade relativa) (Tabela 3). Os
valores de R, que variam de 0 (condições não favoráveis à formação de esporos e à infecção) a 3
(condições altamente favoráveis à formação de esporos e à infecção), são baseados na tempera-
tura média do ar, maior ou menor que 22oC, dos últimos cinco dias, no total de horas de umidade
relativa do ar maior que 90% dos últimos cinco dias e no total de chuva, maior ou menor que 25
mm, dos últimos sete dias (Madden et al., 1978).

195
TABELA 2. Valores de severidade de doença (VSD), em função da duração do período de molhamento
foliar e da temperatura média do ar
VALORES DE SEVERIDADE DA DOENÇA (VSD1)
TEMPERATURA MÉDIA (ºC)
0 1 2 3 4
13,0 – 17,5 0–6h 7 – 15 16 – 20 21+
17,6 – 20,5 0–3 4–8 9 – 15 16 – 22 23+
20,6 – 25,5 0–2 3–5 6 – 12 13 – 20 21+
25,6 – 29,5 0–3 4–8 9 – 15 16 – 22 23+
1
Os valores de severidade (VSD) variam de 0 (condições de ambiente desfavoráveis ao
desenvolvimento da doença) a 4 (condições de maior favorabilidade).
Fonte: Madden et al., 1978.

TABELA 3. Taxa de severidade de doença (S) em função da temperatura média do ar, da umidade
relativa maior que 90% e total de chuva

TEMPERATURA MÉDIA (ºC)a HORAS COM UR > 90%b TOTAL DE CHUVASC Sd


< 22 < 60 < 25 0
> 22 < 60 < 25 0
< 22 > 60 < 25 1
< 22 < 60 > 25 1
< 22 > 60 > 25 1
> 22 > 60 < 25 2
> 22 < 60 > 25 2
> 22 > 60 > 25 3
Temperatura média do ar para os últimos 5 dias (oC); Horas de umidade relativa maior que 90%, nos
a b

últimos 5 dias; cTotal de chuva nos últimos sete dias (mm); dValores da taxa de severidade de doença.
Fonte: Madden et al., 1978

O sistema FAST analisa os dados climáticos diários e mantém um registro da severidade total
(ST) obtida do modelo de orvalho, dos valores cumulativos de VSD durante os últimos sete dias e
dos valores cumulativos de S durante cinco dias. Com base neste registro, a primeira aplicação é
recomendada quando ST alcançar o nível crítico de 35 e as plantas estiverem no campo por pelo
menos 35 dias. Subsequentemente, as aplicações de fungicidas são feitas quando S exceder limi-
tes predeterminados ou forem iguais a estes (Madden et al., 1978).

• Sistema TOMCAST
O sistema TOMCAST é uma versão modificada e simplificada do modelo FAST. Para tanto, o mo-
delo de chuva foi eliminado do FAST e os valores de severidade da doença (VSD) foram calculados,
com base no modelo de orvalho.
O TOMCAST utiliza a combinação da duração do período de molhamento foliar com a tempe-
ratura média do ar durante o molhamento foliar (modelo de orvalho do FAST), para recomendar o
início e os intervalos de aplicação de fungicidas. A combinação destas duas variáveis microclimá-
ticas fornece valores de severidade de doença (VSD) que variam de 0 (que indica não haver risco
da doença) a 4 (alto risco). Os VSDs são acumulados até atingirem o limite crítico de 35, quando é

196
feita a primeira pulverização; a contagem diária dos VSDs é, então, reiniciada a partir de zero e as
pulverizações subsequentes são realizadas a cada acúmulo de 20 VSDs.

• Modelo CUFAST
O modelo CUFAST é uma modificação do FAST proposto por Sandlan & Zitter, 1993. O modelo
básico altera os limiares de tomada de decisão sobre quando pulverizar e não utiliza a duração
do período de molhamento foliar, por considerá-lo difícil de ser implementado, em programas de
manejo. A duração do período de molhamento foliar é calculada nesse modelo, por um método
desenvolvido na Universidade de Cornell, por J.R. Pelletier.

Õ Destque Esse método utiliza a chuva, horas de umidade relativa maior que 90%
e umidade relativa mínima, em dois dias consecutivos, para estimar a duração
do período de molhamento foliar. Nesse sistema, são determinados o início e os
intervalos das aplicações de fungicidas.

Conforme os dados climáticos, o programa fornece as seguintes informações:


• Ação 1 - não aplicar fungicida, coletar dados climáticos e consultar o programa CUFAST den-
tro dos próximos cinco dias. A doença não deverá ser problema a menos que haja acúmulo
de valores de severidade na última semana;
• Ação 2 - não aplicar fungicida, se já houve alguma aplicação nos últimos sete dias. Por outro
lado, aplicar fungicida, tão logo quanto possível, se nenhuma aplicação tiver sido feita nos
últimos sete dias. A doença tem alta probabilidade de se desenvolver ou poderá já estar
ocorrendo no campo. As condições climáticas da última semana têm sido muito favoráveis
para o desenvolvimento da doença. A próxima consulta ao programa deverá ocorrer nos
próximos cinco dias.

6. Estudo de caso

• Requeima (Phytophthora infestans)


O programa BLITECAST é um sistema de alerta que combina dois outros anteriores, envolven-
do a precipitação e a temperaturas diárias (Hyre 1954; Wallin, 1962) (Tabela 4).

TABELA 4. Sistema BLITECAST


A requeima surgirá 7 - 14 dias, após 10 dias de chuva favorável.
Hyre Dia favorável é quando a temperatura média dos últimos 5 dias estiver entre 7,2º e 25,5 ºC
e a precipitação pluviométrica dos últimos 10 dias for maior ou igual a 30 mm.
Wallin Pela Tabela de Wallin, a requeima ocorrerá 7 - 14 dias após a favorabilidade ³ 18.

Para utilização do sistema, são necessárias coletas diárias dos dados climáticos, que são forne-
cidos ao computador e, por meio deles o programa formula um diagnóstico de favorabilidade do
ambiente à requeima.

197
Quando um dos limites for atingido, as pulverizações seguintes são recomendadas de acor-
do com uma matriz que relaciona os valores de severidade acumulados no período de sete dias
(Wallin, 1962) e o total de dias favoráveis nesse período (Hyre, 1954) (Tabela 5).

TABELA 5. Favorabilidade em função da temperatura e umidade relativa


VALORES DE FAVORABILIDADE
Temperatura média no período
HORAS DE UMIDADE RELATIVA MAIOR OU IGUAL A 90%
de UR maior ou igual a 90%
0 1 2 3 4
7,2 – 11,6 15 16 – 18 19 – 21 22 – 24 24 +
11,7 – 15,0 12 13 – 15 16 – 18 19 – 21 22 +
5,1 – 26,6 9 10 – 12 13 – 15 16 – 18 19 +
Fonte: Wallin, 1962

Quando a temperatura média estiver na faixa de 7, 2 a 11,6 e se o número de horas de umidade


relativa for maior ou igual a 90%, o sistema acumula 2 unidades de favorabilidade; se a tempera-
tura média estiver na faixa de 5,1 a 26,6 e se o número de horas de umidade relativa for maior ou
igual a 90%, o sistema acumulará 1 unidade de favorabilidade.
O sistema BLITECAST combina os sistemas de Hyre e Wallin.
A primeira atomização ocorrerá quando houver:
• 10 dias favoráveis ou 18 unidades de favorabilidade.
Novas atomizações ocorrerão conforme a Tabela 6.

TABELA 6. Recomendação de pulverização relacionando


dias favoráveis e valores de severidade da doença
VALORES DE SEVERIDADE NOS ÚLTIMOS 7 DIAS
DIAS FAVORÁVEIS NOS
ÚLTIMOS 7 DIAS
3 3 4 5 6 >6
<5 1 -1 0 1 1 2
>4 1 0 1 2 2 2

-1 = Não favorável; 1 = Favorável; 0 = Ficar atento; 2 = Muito favorável.

O sistema proposto por Wallin (1962) permite analisar as possibilidades de ocorrência da re-
queima, com base na umidade relativa e temperatura média. Esse sistema prevê a ocorrência ini-
cial, através da soma de valores diários de severidade da doença (VSD), que são valores arbitrários
obtidos por meio de uma matriz, que combina os dados diários de umidade relativa do ar e tem-
peratura (Tabela 6). O início da doença é previsto de 7 a 14 dias após o acúmulo de 18 unidades
de severidade.
O sistema BLITECAST foi testado em vários países, em ensaios de campo, com a cultura do
tomate e da batata, visando sua validação (Sanches 1997; Rocha 1998; Duarte e Zambolim 2014).
Segundo esses autores, o sistema mostrou-se adequado e proporcionou reduções significativas
no número de aplicações de fungicidas e no custo de produção das culturas.

198
7. Aplicabilidade dos sistemas de alerta
Na Tabela 7, encontram-se os principais trabalhos de sistemas de alerta validados a partir da
década de 1960.

TABELA 7 – Exemplos de alguns sistemas de alerta validados


DOENÇA/
SISTEMA BASES DO SISTEMA AUTOR
PATÓGENO
Sistema baseado na temperatura e molhamento foliar.
Pinta preta do tomateiro Testemunha 18 aplicações Andrade
Sistema TOMCAST
Alternaria solani Chlorothalonil (1996)
VSD 25 – duas aplicações
Sistema baseado na temperatura e MF*.
Sistema Requeima da batata Costa et al.
VSDs 12 e 14 apresentaram maior eficiência em prever a
Wallin Phytophthora infestans (2002)
ocorrência de epidemias de requeima.
Sistema Requeima do tomate Sistema baseado no VSD = 10 reduziu uma aplicação de Duarte et al.,
Wallin Phytophthora infestans fungicida sistêmico. (2007)
Redução do número de pulverizações 42,8% e 60,7% para VSD
Sistemas Wallin e Requeima do tomate Becker et al.
igual a 8 e 10, respectivamente, com o sistema de alerta do
Mc Hardy Phytophthora infestans (2008)
Colpam 40® e de 39,2% com o de McHardy.
*MF – molhamento foliar.

8. Outros exemplos de sistemas de alerta

8.1. TOMCAST
A aplicabilidade do sistema de alerta TOMCAST foi avaliada por Andrade (1996) em três ensaios
de campo, realizados em diferentes épocas do ano, visando ao controle da pinta preta do toma-
teiro. Chlorothalonil e uma mistura de nutrientes, contendo cobre, zinco, boro, magnésio, cálcio e
potássio, denominada Calda Viçosa, foi aplicada quando os valores de severidade de doença (VSD)
atingiram 15 e 25, respectivamente, na forma isolada e alternada, totalizando sete tratamentos.
Com base nos resultados, verificou-se que o sistema TOMCAST pode ser usado para se esta-
belecer um manejo adequado da pinta preta, com reduzido número de aplicações de fungicidas.
Quando as condições microclimáticas foram desfavoráveis à doença, realizaram-se 18 pulveri-
zações nas parcelas submetidas aos tratamentos semanais e apenas duas e quatro naquelas em
que as pulverizações foram realizadas de acordo com o TOMCAST, sem que isso resultasse em
perda significativa na produção.

8.2. WALLIN Modificado


Com o objetivo de adequar um sistema de alerta para uso criterioso do controle químico da
requeima da batateira, Costa et al. (2002) conduziram ensaios em condição de campo, na Univer-
sidade Federal de Viçosa, com a cultivar Bintje. Os fungicidas dimetomorfe, cimoxanil, mancozeb e
clorotalonil foram associados com diferentes esquemas de pulverização, baseados no sistema de
alerta modificado de Wallin (1962) e no sistema tradicional de controle da requeima.

199
Os tratamentos consistiram de aplicações de:
• dimetomorfe de acordo com o valor de severidade da doença (VSD) -12 + clorotalonil sema-
nalmente;
• dimetomorfe de acordo com VSD -14 + clorotalonil semanalmente;
• dimetomorfe de acordo com VSD -16 + clorotalonil semanalmente;
• fungicidas protetores mancozeb, clorotalonil e oxicloreto de cobre alternados a cada sete
dias;
• fungicidas mancozeb, dimetomorfe, clorotalonil e cimoxanil, alternados a cada sete dias;
• dimetomorfe + clorotalonil de acordo com VSD -12; e
• testemunha (sem aplicação). Os resultados mostraram que, dependendo das condições cli-
máticas prevalecentes, foi possível reduzir o número de pulverizações com fungicida sistê-
mico, sem que houvesse redução na produção. Os tratamentos baseados nos sistemas de
alerta foram eficientes no controle da requeima, proporcionando valores de severidade e
taxas iguais e/ou inferiores aos obtidos com o uso do sistema convencional de controle. Os
autores ressaltam que os VSDs devem ser ajustados para cada cultivar e condições climáti-
cas locais, para seu uso em diferentes localidades. Para as condições climáticas da região de
Viçosa (MG), VSDs iguais a 12 e 14 apresentaram maior eficiência em prever a ocorrência de
epidemias de requeima.

8.3. Conceito de graus-dia na previsão de doenças


O conceito de graus-dia (GD) baseia-se no fato de que a taxa de desenvolvimento de uma es-
pécie vegetal está intimamente relacionada à temperatura. Esse conceito pressupõe a existência
de temperaturas inferiores e superiores, aquém ou além das quais a planta não se desenvolve (ou
o faz em taxas muito reduzidas) (Pereira et al., 2002).
Cada espécie vegetal (ou mesmo variedade) apresenta temperaturas basais características,
que podem variar em função da idade ou do estádio fenológico da planta. Considerando que, nas
condições brasileiras, as temperaturas médias não chegam a atingir níveis tão elevados que ultra-
passem a temperatura base superior (TB), considera-se no cálculo do GD somente a temperatura
base inferior (Tb). Nesse caso, o valor diário de GD (GDi) será dado pela relação:

GDi = Tmedi - Tb
onde Tmedi é a temperatura média do ar em ºC no dia i.
Para que a cultura atinja uma de suas fases fenológicas ou de maturação, é necessário que
acumule a constante térmica, que será dada pelo total de GDi acumulados (GDA) ao longo da fase
ou ciclo. A indicação da exigência, em graus-dia, para se cumprir determinado estádio de desen-
volvimento, é mais útil do que o tempo cronológico (idade, em dias), pois o GDA representa um
índice estável e geral, válido para qualquer região (Pereira et al., 2002).
Empregando raciocínio análogo, o controle de doenças pode ser feito com base no GDA, como
fizeram Franc et al. (1988) para A. solani em batata. Os autores verificaram que, para a região do
Colorado, nos Estados Unidos, valor igual ou superior a 7,2ºC, a partir da data de plantio, pode ser
utilizado na previsão do início dos ciclos secundários do patógeno. Com base nessa informação,
um GDA entre 361 e 625 é requerido para a expressão dos primeiros sintomas, dependendo do
local.

200
É possível, portanto, empregar o GDA na determinação do início da pulverização. Para tal é ne-
cessário determinar os valores específicos de GDA para cada localidade. De acordo com os auto-
res, a utilização de valores de GDA para a determinação do momento adequado da pulverização,
reflete a interrelação de numerosas variáveis, como data de plantio, amplitude de temperatura na
área considerada e desenvolvimento da cultura. A previsão baseada em GDA dá mais tempo ao
produtor para agir, em comparação com outros métodos empregados na mesma cultura, como a
utilização de armadilhas caça-esporos.

8.4. Sensor de molhamento foliar


No monitoramento do microclima, os elementos meteorológicos mais importantes a serem
considerados no desenvolvimento de doenças na parte aérea das plantas são a temperatura am-
biente, a umidade relativa do ar e a duração do período de molhamento foliar (Reis; Bresolin,
2004).
A quantificação exata do molhamento foliar por estações meteorológicas automáticas é um
problema enfrentado no estudo de doenças (Figura 3). O monitoramento foliar, embora não seja
fácil de ser mensurado com exatidão, é extremamente importante nos sistemas de alerta de do-
enças.

Figura 4. Estação meteorológica instalada na Fazenda São Pedro, em Mucugê, BA


Fonte: Finholdt, Mantovani, Zambolim, 2013

Finholdt, Mantovani & Zambolim (2013) configuram a estação meteorológica no modo ‘DPM
Sobreposto’ para calcular a duração do período de molhamento foliar, com base em três sensores
(Figuras 4 e 5). Eles estão expostos na base, meio e topo do dossel da cultura do tomate e da ba-
tata.
Inicialmente, foram colocados os três sensores numa mesma altura (próximos ao solo) quando
a cultura foi implantada. Conforme as plantas cresceram, subiam-se os sensores do meio e do
topo do dossel, sempre mantendo o sensor do topo acima do dossel e o sensor do meio do dossel
a uma altura média da planta. Os sensores da base e do meio sempre ficaram cobertos pelas folhas
da planta.

201
Figura 5. Posicionamento de sensores na base, no meio e no topo de plantas de tomate
Fonte: Finholdt, Mantovani, Zambolim, 2013.

Figura 6. Posicionamento de sensores na base, no meio e no topo de plantas de batata


Fonte: Finholdt, Mantovani, Zambolim, 2013.

Representando o molhamento foliar real de uma planta, os sensores quantificam o tempo em


que a planta permanece molhada diariamente, seja por orvalho, irrigação, chuva ou qualquer ou-
tro meio que possa molhar as folhas das plantas.

202
Õ Um dos problemas que pode inviabilizar a implementação dos sistemas de alerta
de doença em plantas é a alta variabilidade encontrada entre os sensores de mo-
lhamento foliar. Muitas vezes, para os mesmos sensores, encontram-se diversos
valores de molhamento foliar.

Dessa forma, para viabilizar os sistemas de alerta, desenvolveram-se sensores de molhamento


foliar priorizando uma boa repetibilidade nos valores de suas medições. Todos os sensores têm
um elemento sensível, eletrônico ou mecânico, que mensura determinado estado físico de algu-
ma variável meteorológica.
Os sensores eletrônicos de temperatura são baseados em termorresistências, termopares ou
sensores eletrônicos (diodos, transistores, circuitos integrados). Os sensores de umidade relativa
do ar têm elementos sensíveis com base em polímeros capacitivos ou materiais resistivos (Thoma-
zini; Albuquerque, 2007).
Os sensores de molhamento foliar podem ser categorizados em dispositivos estáticos, mecâ-
nicos ou eletrônicos.
• Dispositivo estático: é rudimentar, com baixo custo e geralmente apenas informa se a
superfície está molhada ou seca.
• Dispositivos mecânicos: geralmente são mais complexos, medindo o molhamento foliar
por meio do peso ou do comprimento de algum material. É registrado o molhamento foliar
em papel, por meio de penas com tinta.
• Dispositivos eletrônicos: geralmente medem o molhamento foliar por meio da resistên-
cia ou capacitância de determinado material. Dessa forma, estão sendo mais amplamente
utilizados, pela facilidade de se monitorar, registrar, processar e, até mesmo, fazer uma aná-
lise completa nos dados de molhamento foliar em campo (WMO, 1992).
O sensor eletrônico de molhamento foliar mais utilizado atualmente é o sensor de folha arti-
ficial. Como o próprio nome sugere, ele simula uma folha em seu formato e posicionamento. É
constituído por uma placa de circuito impresso, feita de fibra de vidro e com eletrodos de cobre.
A DPM medida nos sensores é alterada pela densidade populacional da cultura e também pe-
las características morfológicas da superfície das plantas, que pode ser pilosa, glabra ou cerosa
(Laione; Wordell Filho, 2004). Como essas características são diferentes para cada tipo de planta,
torna-se importante trabalhar o albedo do sensor, com diferentes cores de pintura, para que ele
tenha uma reflexão de radiação solar próxima à da planta.
Além do albedo, a pintura aumenta a sensibilidade do sensor em detectar pequenas gotículas
de água, reduzindo o coeficiente de variação da leitura. Segundo Sentelhas (2004), pintar o sensor
de molhamento foliar com tinta látex branca reduz de 67% para 9% o coeficiente de variação das
medidas realizadas em período de chuva.
Quanto ao posicionamento do sensor, é melhor que ele seja colocado a uma altura de 30 cm,
com um ângulo de 30º, estando sua face voltada para o sul, sendo esse posicionamento recomen-
dado como padrão para fins agrometeorológicos. O posicionamento correto do sensor de mo-
lhamento foliar é importante na medição da DPM, representando melhor as observações visuais
quando posicionado no topo das culturas. Porém, a DPM pode não ser bem estimada pelo posi-
cionamento padrão, quando se trata de culturas, que se tornam mais úmidas no interior da copa.
Nesse caso, recomenda-se utilizar um sensor dentro e outro no topo da planta (Sentelhas, 2004).

203
Apesar dos avanços relatados, a quantificação exata do molhamento foliar é hoje um dos
maiores problemas enfrentados no estudo de sistemas de alerta. De nada vale medir e registrar
corretamente um elemento meteorológico se a medição não estiver sendo realizada no local cer-
to, da forma adequada e com o sensor correto. Mesmo com tanta tecnologia, ainda se tem grande
variabilidade em suas medições.
A determinação do período de molhamento foliar é realizada em grande parte nos trabalhos
de epidemiologia de doenças de plantas, por meio do somatório dos momentos em que a umi-
dade relativa do ar estiver acima de 90% - metodologia essa que subestima os dados reais de mo-
lhamento foliar (Sentelhas, 2004; Streck, 2006). Dessa forma, para não subestimar o molhamento
foliar, a melhor forma é realizar a medição diretamente com sensores de DPM.
Um dos sensores mais utilizados para medição do molhamento foliar é o sensor plano que
mede resistência elétrica. Tal sensor tem baixa resistência elétrica quando está totalmente molha-
do e alta quando está seco, não deixando, assim, passar nenhuma corrente elétrica pelo circuito
condicionador de sinais.
Porém, quando o sensor eletrônico de DPM é comercializado, geralmente não é pintado, ten-
do, assim, um maior coeficiente de variação, além de resultar em uma menor confiabilidade de
suas medições. Nessa condição, o alto coeficiente de variação é proporcionado pelo distancia-
mento entre as trilhas elétricas do sensor que, dependendo da uniformidade da distribuição das
microgotículas espalhadas sobre o sensor, fecha ou não o circuito. Isso faz com que, em sensores
do mesmo tipo e expostos em um mesmo ambiente, tenham medições de molhado e seco ao
mesmo instante. Para reduzir esse problema, faz-se necessária a pintura dos sensores para que
haja o espalhamento das microgotículas sobre a placa, sensibilizando o sensor mesmo com gotí-
culas muito pequenas (Sentelhas, 2004).
Entretanto, com base nos trabalhos desenvolvidos por Finholdt, Mantovani & Zambolim (2012),
verificou-se que o diferente posicionamento de três sensores idênticos no dossel da cultura da
batata resultou em diferença significativa na quantidade de aplicações realizadas durante todo o
ciclo da cultura, sendo o total de 20, 17 e 16, para a base, meio e topo do dossel, respectivamente.
Quando os autores consideraram a determinação do DPM com base no método da umidade rela-
tiva, apenas 11 aplicações foram requeridas, fato que mostra o quanto esse método subestima as
medições dos sensores.
Por outro lado, no método “Sobreposto”, totalizaram-se 21 aplicações durante o experimento,
comparando com as aplicações dos sensores individuais, aumentou-se em apenas uma aplicação
com relação ao sensor da base, que foi de 20 aplicações. Embora os autores tenham determinado
que o sensor de molhamento foliar instalado na parte inferior do dossel das plantas apresenta
maior representatividade, recomenda-se a utilização de três placas instaladas nas partes inferior,
intermediária e no topo do dossel, em função da variabilidade do microclima das lavouras. O mo-
lhamento foliar na base do dossel é mais representativo quando o solo está muito úmido, e no
topo quando o solo está mais seco.

9. Conclusão
O sistema de alerta de epidemias é uma ferramenta que vem sendo incorporada ao manejo
integrado de doenças, nos patossistemas, nos quais se conhecem a biologia e a epidemiologia do
patógeno. Tais sistemas têm-se tornado um poderoso e respeitado componente da epidemiolo-
gia quantitativa.

204
Destque Entretanto, muitos modelos de alerta de doenças de plantas não têm atendido às
expectativas de que teriam o papel principal no manejo. Entre as diversas razões, encontra-se a
premissa de que um modelo de alerta faça projeções dos principais eventos a serem considerados
no desenvolvimento das doenças, o que a maioria dos modelos de alerta não faz. A possibilidade
de se utilizarem prognósticos de tempo e clima como entrada em modelos de alerta permitirá que
um sistema possa realmente prever situações de risco.
Com a melhoria da qualidade dos prognósticos de tempo, uma estimativa mais exata de variá-
veis importantes para modelos de doenças de plantas, tais como precipitação, umidade relativa e
temperatura do ar, torna-se possível prever a ocorrência ou não de epidemias severas.
Os sistemas de aviso podem ser usados para se estabelecer controle efetivo, em condições
favoráveis ao desenvolvimento de doenças, principalmente em cultivares de plantas com mode-
rada a alta resistência horizontal. Desse modo, a probabilidade de sucesso do sistema de alerta
aumenta, podendo ser obtida expressiva redução no número de aplicações de fungicidas. Com a
mudança das condições climáticas, que vem acontecendo em muitas regiões agrícolas, tais siste-
mas tendem a aumentar de importância, por se basearem exclusivamente nos componentes do
clima, como umidade relativa, molhamento foliar, temperatura e precipitação pluviométrica.

10. Referências
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208
11
11. Sistema de alerta do tomateiro em
santa catarina
Guilherme Mallmann1 e Walter Ferreira Becker1,2
1Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina -
Estação Experimental de Caçador, 2Aposentado.
[email protected]; [email protected]

1. Introdução
Santa Catarina é o sétimo estado mais importante na produção de tomate no Brasil. Contribui,
segundo dados da PAM/IBGE de 2019, com 4,5% da área total plantada e 4% da produção total nacional.
A tomaticultura no Estado é uma atividade de forte participação da agricultura familiar, com 87% dos
estabelecimentos agropecuários envolvidos pertencendo a essa categoria. A principal microrregião
produtora do Estado é a de Joaçaba, com 56% da produção total catarinense. Os municípios de Caçador e
Lebon Régis são os destaques dessa região, com o plantio de 450 ha e 400 ha, respectivamente, na safra de
2019/20 (Luca, 2020).
O período de cultivo nesta região se estende entre setembro a abril, com temperaturas médias entre
19 e 20ºC e precipitações pluviométricas bem distribuídas neste período (média 157 mm/mês), criando
condições ao desenvolvimento de epidemias para as principais doenças foliares do tomate. O controle
destas doenças atualmente é realizado basicamente com aplicação de fungicidas e, muitas vezes a
aplicação destes produtos é efetuada sem critérios técnicos. Os sistemas de previsão para o tomateiro
rasteiro e tutorado são de largo uso em outros países (Campbell; Madden, 1990; Sikora et al., 2002), porém
incipientes no Brasil.
Os tomaticultores de Santa Catarina, desde o ano de 2004, dispõem do auxílio do sistema de alerta de
doenças para a tomada de decisão do momento propício de realizar o controle das doenças. O sistema
realiza o monitoramento de favorabilidade climática para requeima, pinta preta, septoriose e mancha
bacteriana. Esta tecnologia está disponível na plataforma Agroconnect no site da Epagri/Ciram (https://
ciram.epagri.sc.gov.br/agroconnect/). Na região do Alto Vale do Rio do Peixe (AVRP), produtores e técnicos
previamente cadastrados, recebem diariamente os avisos fitossanitários através de aplicativo de celular.

2. Doenças monitoradas
• Requeima
O sistema de previsão para a requeima do tomateiro (PrevReq) foi desenvolvido na Epagri - Estação
Experimental da Epagri em Caçador-SC e avaliado por um período de cinco anos.
Os modelos de Wallin (1962) e McHardy (1979) modificados e adaptados por Becker (2005; 2011)
para a região do AVRP consistem no monitoramento diário da condição de requeima (CR) estimada pela
temperatura mínima do dia > 7,2 °C, temperatura média de 5 dias ≤ 25,5 °C, precipitação acumulada de
10 dias ≥ 30mm, período de molhamento foliar e de umidade relativa > 85%. Essas variáveis são utilizadas
para gerar o alerta de requeima pelo sistema Agroconnect, disponibilizado em tempo real na página do
Ciram por meio de informações meteorológicas captadas e transmitidas em tempo real pelas estações
agrometeorológicas localizadas nas regiões produtoras de tomate.

209
O primeiro alerta ocorrerá quando houver acumulado 10 dias consecutivos da condição de requeima
(CR) favoráveis (figura 1) e, para os alertas subsequentes (figura 2) quando atingir oito valores de severidade
(8VSD) conforme Tabela 1.

Tabela 1. Valores de severidade da doença (VSD) para várias combinações de temperatura média e
umidade relativa ≥ 85% (horas).
Temperatura Horas de umidade relativa maior ou igual a 85%, para gerar o VSD de:
média ºC 0 1 2 3 4
7 a 11 14 h 18 h 21 h 24 h > 24 h
12 a 15 11 h 15 h 18 h 21 h > 21 h
> 15 9h 12 h 15 h 18 h > 18 h
Adaptado de Wallin, 1962
Ao aviso de alerta a planta deverá ser imediatamente pulverizada, salvo se outro aviso ocorrer dentro
do período de ação daquele fungicida pulverizado. Se ocorrer precipitação maior ou igual a 25mm nas
últimas 24 horas (Figura 2), a pulverização deverá ser refeita, caso o produto utilizado seja um fungicida de
contato. Para a escolha do fungicida adequado consulte um engenheiro agrônomo e a grade de agrotóxicos
permitidos para a cultura.

Figura 1. Print screen da página do Agroconnect indicando o primeiro alerta de requeima com 10 dias
consecutivos de condição favorável para a doença (CR10).
Foto: Guilherme Mallmann

Figura 2. Print screen da página do Agroconnect indicando para a estação meteorológica os dados de
alertas para Requeima com SVSD=8.
Foto: Guilherme Mallmann

210
• Pinta Preta
O sistema de alerta para a Pinta Preta do tomateiro (Previpp) é uma adaptação do modelo TOM-CAST
(Pitblado, 1992) e validado para região AVRP. A temperatura média e o período de molhamento foliar
(chuva ou orvalho) determinam diariamente o valor de severidade da doença (VSD) de zero (sem risco de
doença) até o valor 4 (alto risco da doença) dependendo da combinação entre a temperatura e a duração
(horas do molhamento) (Tabela 2).

Tabela 2. Valores de severidade da doença (VSD) para várias combinações de temperatura média e
período de molhamento foliar (horas).
Duração do molhamento foliar (horas) para gerar o VSD de:
T. média °C 0 1 2 3 4
13-17,5 0-6h 7-15h 16-20h 21h+
17,6-20,5 0-3h 4-8h 9-15h 16-22h 23h+
20,6-25,5 0-2h 3-5h 6-12h 13-20h 21h+
25,6-29,5 0-3h 4-8h 9-5h 16-22h 23h+
Fonte: Madden et. al., 1998
Esses dados são operacionalizados em duas etapas: primeiro considera-se o somatório do VSD
totalizando o valor 35 (VSD=35) para gerar o primeiro alerta. Neste ponto, o sistema é zerado e inicia a
geração dos alertas subsequentes, que ocorrem quando o valor diário de severidade da doença (VSD)
acumulado atinge o valor 25 (VSD=25). A cada alerta o sistema é zerado e inicia nova contagem acumulativa
do VSD (Figura 3).

Figura 3. Print screen da página do Agroconnect informando para a estação meteorológica os dados
de alerta para pinta preta.
Foto: Guilherme Mallmann.

• Septoriose
O sistema de alerta para septoriose (PrevSep), também é uma adaptação do modelo TOM-CAST
(Pitblado, 1992) e validado para região do Alto Vale do Rio do Peixe. Os dados agroclimáticos de temperatura
e molhamento foliar provenientes de estações agrometeorológicas, são utilizados para gerar os avisos
de alerta. Assim como mencionado para pinta preta, a temperatura média durante o período (horas) de
molhamento foliar (chuva ou orvalho) determina diariamente o valor de severidade da doença (VSD)
de zero (sem risco da doença) até o valor 4 (alto risco da doença) dependendo da combinação entre a
temperatura e a duração (horas) do molhamento (Tabela 2).

211
Para a ocorrência do alerta é considerado o somatório do VSD totalizando o valor 20 (VSD=20) indicativo
da pulverização. Neste ponto, o sistema é zerado e reinicia nova contagem acumulativa do VSD (Figura 4).

Figura 4. Print screen da página do Agroconnect informando para a estação meteorológica os dados de
alerta para septoriose com SVSD=20.
Foto: Guilherme Mallmann

• Mancha Bacteriana
No Sistema de Previsão da Mancha Bacteriana foi utilizado o modelo descrito por Marcuzzo
et al. (2009b) em: SE = 0,0001538 * {[(x-8)2,4855647 * ((32-x)0,7091962)} * {[0,64289/(1+21,26122
* exp (-0,12435*y)}, em que SE= Severidade estimada (% de severidade em folhas/100); x = tem-
peratura média diária (°C); y = molhamento foliar (h). As informações de temperatura média e
período de molhamento foliar também são provenientes de estações agroclimáticas automáticas
que enviam os dados agroclimáticos de hora em hora para o banco de dados do Ciram. O alerta
para mancha bacteriana ocorre quando a severidade estimada for maior ou igual a 10 (SE ≥ 10),
momento indicado para pulverização.

Figura 5. Print screen da página do Agroconnect informando para a estação meteorológica os dados de
alerta para Mancha Bacteriana com VSD=10.
Foto: Guilherme Mallmann

212
3. Como acessar o sistema de alerta
na plataforma agroconnect
Ao acessar a página do Ciram – Agroconnect https://ciram.epagri.sc.gov.br/agroconnect/ (figura 6),
primeiramente selecione “Atividade Agropecuária”: Tomate> “Alerta Fitossanitário”, selecione uma das
quatro doenças monitoradas: Requeima, Pinta Preta Septoriose ou Mancha Bacteriana, na sequencia digite
o nome do município na “lupa” e, por fim selecione a estação meteorológica mais próxima da sua área de
plantio (figura 7). Após clicar na estação meteorológica selecione “Alerta Fitossanitário (tabela)”, na tabela
Dados Alerta observamos que as cores sinalizam as condições favoráveis ou não a doença. Assim: Verde
= sem risco, Amarelo = risco leve, Laranja = risco moderado, Vermelho = risco severo, Azul = alerta de
precipitação ≥ 25mm (Figuras 2, 3, 4 e 5).

Figura 6. Print screen da tela de acesso ao Agroconnect (https://ciram.epagri.sc.gov.br/agroconnect/#).


Foto: Guilherme Mallmann

Figura 7. Print screen da tela do Agroconnect, indicando como selecionar a Atividade Agropecuária, a
Localidade (município) e a Estação Meteorológica.
Foto: Guilherme Mallmann

213
4. Impacto da utilização do sistema de
alerta de doenças em santa catarina
O indicativo do momento de aplicação de defensivos agrícolas, por meio do sistema de alerta
para o controle de doenças do tomateiro, auxilia no manejo mais preciso das doenças. Como esta
tecnologia estabelece o momento correto das pulverizações, estas ocorrem somente quando in-
dicadas, reduzindo assim o custo com a compra e aplicação de produtos.
O sistema de alerta foi adequado e adaptado às condições locais pela Epagri de Caçador e está
atualmente disponível para todos os produtores que tiverem interesse em aplicá-lo, adequando o
modelo ao local de utilização. Porém, os principais usuários são um grupo de aproximadamente
150 produtores da região de Caçador-SC, no Sistema de Produção Integrada de Tomate (SISPIT),
que combina tecnologias avançadas e boas práticas agrícolas para produção de alimentos segu-
ros e de qualidade. Tais produtores recebem alertas via celular com informações dos avisos fitos-
sanitários de ocorrência das principais doenças foliares de tomate.
Resultados de pesquisa demonstraram que os produtores que utilizam o sistema de alerta
de doenças na sua integralidade, reduziram em até 60% a utilização de fungicidas nas áreas de
tomate região do Alto Vale do Rio do Peixe, principalmente em anos com baixa precipitação plu-
viométrica, sem afetar a produtividade e qualidade dos frutos.

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Miguel Michereff Filho1 e Juracy Caldeira Lins Júnior2
1
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças,
[email protected].
2
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina -
Estação Experimental de Caçador,
[email protected]

1. Manejo integrado de pragas (mip)


A sustentabilidade da agricultura implica, necessariamente, na resolução de problemas rela-
cionados à ocorrência de pragas, com base na conservação dos ecursos naturais, aumento da
diversidade biológica, redução no uso de agrotóxicos, maximização da produção, viabilidade eco-
nômica e preservação da saúde humana, ao longo do tempo e das gerações.
Neste contexto, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) mostra-se como uma alternativa economicamente viável e
mais compatível com as premissas da sustentabilidade.

O MIP é uma filosofia de controle de pragas, que tem como princípios:


• Manter os níveis populacionais das pragas abaixo do nível de dano econômico (NDE), ou seja,
em níveis de infestação e de perdas na produção que sejam toleráveis pelos agricultores, me-
diante a adoção planejada e simultânea de diferentes técnicas ou métodos de controle compa-
tíveis entre si, de forma econômica e harmoniosa com o meio ambiente;
• Preservar e/ou incrementar os fatores de mortalidade natural, com ênfase nos agentes de con-
trole biológico, por meio do uso planejado de práticas para conservação da biodiversidade e
dos serviços ecológicos do agroecossistema;
• Racionalizar o uso de agrotóxicos, mediante a tomada de decisão sobre o momento mais ade-
quado de controlar as pragas, com base em parâmetros econômicos, ecológicos e sociais asso-
ciados à cadeia de valor da cultura agrícola envolvida; e
• Garantir a produção, com baixo custo e com o menor risco possível de perdas econômicas.

A filosofia do MIP se materializa em um sistema de controle de pragas e, para sua adoção em uma cultura, é ne-
cessário reconhecer as pragas e suas injúrias na planta, bem como os inimigos naturais dessas pragas; saber o período
(estádio fenológico) mais sensível da cultura em relação ao ataque das pragas-alvo; conhecer a biologia e a ecologia
dessas pragas; realizar o monitoramento de pragas e inimigos naturais mediante amostragens periódicas no cultivo;
dominar os mecanismos envolvidos na tomada de decisão para controle das pragas, além de saber selecionar e
planejar o uso dos métodos (táticas) de controle disponíveis.

216
Õ Dentre esses conhecimentos, estão: o manejo do ambiente de cultivo (controles
cultural, físico e mecânico), o controle legislativo, o controle por comportamento,
a resistência de plantas (incluindo plantas geneticamente modificadas – OGM), o
controle biológico (ação de predadores, parasitoides e patógenos de artrópodes),
a manipulação genética de pragas, o controle alternativo e, quando necessário e
apropriado, o controle químico com produtos seletivos em favor dos organismos
benéficos e de baixa toxicidade ao homem. As bases e a estrutura do MIP estão
representadas na Figura 1.

Figura 1. Bases e estrutura do manejo integrado de pragas (MIP). Adaptado de Gonzalez (1971)
Arte: Miguel Michereff Filho

No MIP, a tomada de decisão de controle é baseada em sistemas de amostragem (monitora-


mento de pragas) e em índices de tomada de decisão predeterminados para as pragas e a cultura,
os quais se encontram disponibilizados em várias publicações nacionais especializadas.
A maneira mais eficiente e econômica para se prevenir os danos ocasionados por insetos e áca-
ros pragas consiste no monitoramento periódico da cultura, o qual permite detectar o início da in-
festação, determinar o local de entrada das pragas no cultivo, identificar como estão distribuídos
os focos de infestação e estimar a densidade populacional das pragas e seus danos. A ocorrência
das pragas conforme a fenologia do tomateiro pode ser observada na Figura 2 e deve ser levada
em consideração quando for realizado o monitoramento.

217
Figura 2. Fenologia do tomateiro tutorado e ocorrência de pragas Adaptado de Zucchi et al. (1993).
Arte: Miguel Michereff Filho

As amostragens devem ser realizadas semanalmente e, em épocas de alta infestação, duas


vezes por semana, durante todo o ciclo do tomateiro tutorado; ou seja, tanto no viveiro de mu-
das, como no cultivo definitivo (campo aberto ou cultivo protegido), logo após o transplante das
mudas.
A amostragem no cultivo pode ser realizada de forma direta, por meio da contagem do núme-
ro de insetos e/ou ácaros presentes sobre as plantas ou da quantificação de suas injúrias às folhas
ou frutos, ou ainda de forma indireta, por meio do uso de armadilhas (Figura 3). Diferentes técni-
cas de amostragem (inspeção) devem ser utilizadas na cultura do tomateiro, conforme a biologia,
o comportamento e o tipo de injúrias ocasionadas pelas pragas-alvo (Figuras 3 e 4).
Recomenda-se que a inspeção na lavoura seja feita em quatro pontos escolhidos aleatoria-
mente, contendo cinco plantas cada um, sequenciadas na linha de plantio, totalizando 20 plantas/
área ou talhão de até 1,0 ha. Em áreas superiores, amostrar mais 20 plantas/ha.

218
Figura 3. Posições estratégicas na planta e nos arredores para o monitoramento de pragas do tomateiro
tutorado
Arte: Miguel Michereff Filho

A cada inspeção devem ser amostradas plantas distintas, realizando o caminhamento (deslo-
camento e inspeção) em zigue-zague, percorrendo as bordaduras e o centro da área.
No monitoramento por meio de armadilhas, elas devem ser instaladas dentro do viveiro de
mudas antes da semeadura e no cultivo antes do transplante das mudas. As armadilhas devem ser
distribuídas ao longo da bordadura e no interior da lavoura, de modo que os dados obtidos sejam
representativos de toda a área cultivada.
Uma vez conhecido o nível de infestação ou de injúria da praga no cultivo, também é impor-
tante avaliar a população e/ou a ação dos inimigos naturais (parasitismo e predação), visando
obter subsídios para previsão da tendência populacional da praga.

Õ Todas as informações sobre infestação das pragas e ocorrência de inimigos


naturais devem ser registradas em uma ficha de monitoramento. A partir desses
dados, é possível efetuar a tomada de decisão sobre a necessidade de contro-
le (geralmente pulverizar ou não um agrotóxico, ou liberar ou não um inimigo
natural no cultivo). Portanto, uma determinada praga só será controlada quando
seu nível populacional ou intensidade de ataque for igual ou maior que o nível de
controle (NC). Na prática, utiliza-se o NC como guia para adoção de medidas de
manejo curativo (principalmente controle químico).

Informações sobre a descrição e o ciclo biológico da praga, os sintomas de infestação e injúrias,


as técnicas de amostragem e o nível de controle (NC) serão apresentados a seguir para as princi-
pais pragas-alvo do tomateiro.

219
1.1. Pragas do tomateiro
Diferentemente do sistema tradicional de controle de pragas (convencional), no MIP, um inseto
ou ácaro fitófago somente é considerado praga quando causa dano econômico, ou seja, quando
pode causar prejuízo financeiro igual ou superior ao custo do seu controle.
Para facilitar o reconhecimento das pragas do tomateiro e seu manejo, os insetos e ácaros fitó-
fagos podem ser reunidos em dois grupos distintos: pragas chaves e secundárias.
• Pragas-chave da cultura do tomateiro: são aquelas espécies de insetos e ácaros fitófagos
que, frequentemente, provocam danos econômicos, exigindo adoção criteriosa e integra-
da de medidas de controle.
• Pragas secundárias ou ocasionais: são aquelas que, embora possam causar injúria ao
tomateiro, só provocam prejuízos esporadicamente e, quando isso ocorre, verifica-se em
áreas localizadas e em determinado período. Além disso, a maior ou menor importância
de cada praga varia de acordo com a região, a época de cultivo e o sistema de produção.

A B

C D

E F

Figura 4. Técnicas de amostragem (inspeção) adotadas no monitoramento de pragas do tomateiro tutorado.


Batedura do ponteiro da planta em bandeja branca (A); inspeção visual das folhas/folíolos (B); Inspeção
visual de flores (C); inspeção visual de frutos (D); armadilhas atrativas (amarela e azul) adesivas (E) e
armadilha modelo Delta, iscada com feromônio sexual sintético, para captura de mariposas machos (F)
Fotos: M. Michereff Filho (A e B) e I. Lüdke (C-F)

220
SAIBA MAIS Para obter informações mais detalhadas e imagens das pragas e dos inimigos naturais
Ì encontrados em cultivos de tomateiro, recomenda-se consultar as publicações técnicas da Embrapa
Hortaliças “Documentos 169 e 175” de 2019, os quais podem ser baixados gratuitamente e cujas
referências estão disponibilizadas no final deste capítulo. Link: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.
br/handle/doc/1121616

2. Pragas-chaves

2.1. Vetores de vírus


Moscas-brancas
Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) (Hemiptera: Aleyrodidae)
Trialeurodes vaporariorum Westwood, 1856
Ciclo biológico: ovo, ninfa e adulto. Duração – 14 a 27 dias.
Sintomas de ataque e injúrias: Adultos e ninfas (Figuras 5 A-B) sugam a seiva e reduzem o
vigor das plantas; na alimentação injetam toxinas que causam anomalias nos frutos (amadureci-
mento irregular, polpa descolorida, esponjosa e sem sabor) (Figura 6 A); excretam substância açu-
carada (honeydew) que favorece a formação de fumagina (lâmina fina e preta) nas folhas (Figura 6
B) e frutos e transmitem vírus.
No Brasil, já foram detectadas quatro espécies crípticas do complexo B. tabaci.
• São duas invasoras: Middle East-Asia Minor 1 - MEAM1 (também denominada biótipo B) e
Mediterranean – MED (biótipo Q), e duas espécies nativas: New World 1 - NW1 (biótipo A)
e New World 2.
A espécie MEAM1 é prevalente, amplamente distribuída no país e destaca-se como praga-
-chave do tomateiro. As espécies do complexo B. tabaci são vetores de vírus causadores do mo-
saico-amarelo ou geminivirose (Tomato severe rugose virus - ToSRV e Tomato yellow vein streak
virus - ToYVSV, dentre outros) e do amarelão ou crinivirose (Tomato chlorosis virus – ToCV). Já a
mosca-branca T. vaporariorum ocorre principalmente nas regiões elevadas e/ou de clima ameno e
transmite o vírus causador da crinivirose (Tomato chlorosis virus – ToCV).
As moscas-brancas são pragas com alta relevância em lavoura de tomateiro e exigem moni-
toramento rigoroso na fase de viveiro e nos primeiros 40 dias após o transplantio, em razão da
transmissão de vírus.
A B

Figura 5. Mosca-branca (Bemisia tabaci). Adulto (A); Ninfa (B)


Fotos: M. Michereff Filho

221
A B

Figura 6. Sintomas de infestação da mosca-branca (Bemisia tabaci). Maturação irregular de frutos (A);
Fumagina na folha (B)
Fotos: Alexandre Pinho de Moura

Amostragem:
• Inspeção da face ventral (abaxial) de uma folha expandida do terço superior da planta em
busca de adultos, num total de 20 plantas por área ou talhão;
• Contagem do número de adultos capturados em armadilha adesiva de coloração amarela,
considerando no mínimo 20 armadilhas por área ou talhão.
Nível de controle:
• Em média, 1(um) adulto por planta;
• Detecção de adultos capturados nas armadilhas.

2.2. Tripes
Frankliniella schultzei (Trybom, 1910) (Thysanoptera: Thripidae)
F. occidentalis (Pergande, 1895)
Thrips tabaci Lindeman, 1889
T. palmi Karny, 1925
Ciclo biológico: ovo, larva, pupa e adulto. Duração – 12 a 25 dias.
Sintomas de ataque e injúrias: Adultos e larvas (Figuras 7 A-B) perfuram os tecidos vegetais
e sugam o conteúdo das células; a região atacada apresenta pequenas manchas irregulares de
coloração esbranquiçada ou prateada, com presença de pontuações escuras (gotículas fecais). O
principal dano deve-se à transmissão de vírus causadores do vira-cabeça-do-tomateiro (Tomato
spotted wilt virus - TSWV; Groundnut ringspot virus - GRSV e Tomato chlorotic spot virus – TCSV), por
larvas e adultos. Praga com alta relevância na fase de viveiro e nos primeiros 45 dias após o plantio
das mudas no campo, em decorrência da transmissão de vírus. Frankliniella schultzei é o principal
transmissor.
Amostragem:
• Agitação ou batedura de um ponteiro da planta sobre um recipiente plástico de fundo
branco para a quantificação de insetos (adultos e larvas), num total de 20 plantas por área
ou talhão;

222
• Contar o número de adultos capturados em armadilhas adesivas de coloração amarela e
azul, considerando no mínimo 20 armadilhas por área ou talhão;
• Inspeção de uma inflorescência do terço superior da planta em busca de adultos, com lupa
de bolso de 20 vezes de aumento.

A B

Figura 7. Tripes (Frankliniella schultzei). Adulto (A); Larva (B)


Fotos: M. Michereff Filho

Nível de controle:
• Em média, 1(um) adulto por planta (ponteiro e/ou inflorescência inspecionada);
• Detecção de adultos capturados nas armadilhas.

2.3. Pulgões
Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae)
Macrosiphum euphorbiae (Thomas, 1878)
Myzus persicae (Sulzer, 1776)
Ciclo biológico: ninfa e adulto. Duração – 5 a 15 dias.
Sintomas de ataque e injúrias: Adultos (Figuras 8 A-B) e ninfas sugam a seiva e injetam de
toxinas nas plantas; sua excreção favorece a formação de fumagina nas folhas; adultos e ninfas
transmitem os vírus causadores do topo amarelo do tomateiro (Tomato yellow top virus – ToYTV;
estirpe de Potato leafroll virus – PLRV), amarelo baixeiro (Tomato bottom leaf yellow virus – TBLYV;
estirpe de Potato leafroll virus – PLRV), fogo-mexicano (Potato virus Y – PVY) e o mosaico-amarelo
(Pepper yellow mosaic vírus – PepYMV). Infestam plantas no viveiro de mudas e na lavoura após o
transplantio. Tanto os pulgões como as viroses têm baixa incidência e relevância nos cultivos de
tomateiro sob controle rigoroso de moscas-brancas e tripes.

223
A B

Figura 8. Pulgões. Adulto áptero de Myzus persicae (A); Adulto áptero de Aphis gossypii (B)
Fotos: M. Michereff Filho

Amostragem:
• Agitação ou batedura de um ponteiro da planta sobre um recipiente plástico de fundo
branco para a quantificação de insetos (adultos alados e ápteros e ninfas), num total de 20
plantas por área ou talhão;
• Contar o número de adultos capturados em armadilhas adesivas de coloração amarela,
considerando no mínimo 20 armadilhas por área ou talhão.
Nível de controle:
• Em média, 1(um) adulto por planta (ponteiro);
• Detecção de adultos capturados nas armadilhas.

3. Broqueadores de frutos

3.1. Traça-do-tomateiro
Tuta absoluta (Meyrick, 1917) (Lepidoptera: Gelechiidae)
Ciclo biológico: ovo, larva, pupa e adulto. Duração – 25 a 40 dias.
Sintomas de ataque e injúrias: A mariposa deposita os ovos (Figuras 9 A-B) isoladamente em
folhas jovens, flores e frutos pequenos dos terços superior e médio da planta. A lagarta (Figura 9C)
abre uma galeria (mina) larga dentro do folíolo, deixando fezes em seu interior (Figura 10A); per-
fura os ponteiros (gemas apicais) e brotações (Figura 10 B); ataca botões florais e broqueia o fruto
(Figura 10C). Os frutos atacados apresentam perfurações de coloração escura e galerias junto à
região do cálice, com a presença de fezes. Alta infestação pode causar seca das folhas e aborto de
flores e de frutos pequenos (Figura 10D). Praga chave da cultura, da fase de mudas em viveiro até
a colheita dos frutos.

224
A B C

Figura 9. Traça-do-tomateiro (Tuta absoluta). Adulto (A); ovo B); lagarta (C)
Fotos: Moisés Lopes Fernandes, José Luiz Pereira e Miguel Michereff Filho (A, B e C, respectivamente)

Figura 10. Sintomas de infestação da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta). Galeria alargada no folíolo com
lagarta e detritos (fezes) pretos (A); perfuração de ramo, com detritos pretos (B); broqueamento de fruto
(C), e ataque severo, com secamento das folhas minadas (D)
Fotos: Miguel Michereff Filho (A-C) e Ítalo Rocha Guedes (D)

225
Amostragem:
• Agitação ou batedura de um ponteiro da planta sobre um recipiente plástico de fundo
branco para a quantificação de lagartas, num total de 20 plantas por área ou talhão;
• Inspeção de uma folha expandida do terço superior com mina (galeria) e de uma folha do
terço médio da mesma planta em busca de lagartas vivas;
• Inspeção de cinco frutos por planta com diâmetro de até 2cm, preferencialmente na mes-
ma penca, em busca de ovos, lagartas vivas e sinais de ataque;
• Contagem do número de mariposas capturadas em armadilha iscada com feromônio se-
xual sintético da espécie, a partir das 10h, considerando no mínimo duas armadilhas por
hectare.
Nível de controle: (baseado no que for atingido primeiro)
• 20% de ponteiros com presença de lagarta viva na batedura;
• 20% de folhas com larvas vivas;
• 5% de plantas com ovos, lagartas vivas ou sinais de ataque nos frutos;
Captura acumulada de 10 machos por armadilha, em média, ao longo da semana.

3.2. Broca-pequena-do-fruto
Neoleucinodes elegantalis (Guenée, 1854) (Lepidoptera: Crambidae)
Ciclo biológico: ovo, larva, pupa e adulto. Duração – 30 a 50 dias.
Sintomas de ataque e injúrias: A mariposa (Figura 11 A) deposita os ovos isoladamente ou
em grupo, no pecíolo, cálice e na face inferior das sépalas ou na lateral do fruto pequeno. A lagarta
(Figura 11 B) broqueia o fruto. Ao nascer, raspa a superfície dos frutos e perfura o pericarpo, dei-
xando uma pequena cicatriz escura. A lagarta se desenvolve dentro do fruto, alimentando-se da
polpa e sementes (Figura 11 C e D). Ao final da fase larval, o inseto abandona o fruto e o orifício
de saída da lagarta possibilita a entrada de umidade, insetos (pequenos besouros e moscas) e
microrganismos saprófitos, que causam o apodrecimento do fruto atacado, inutilizando-o para o
mercado de frutos frescos e para o processamento industrial. Praga-chave da cultura a partir do
florescimento, principalmente no cultivo de tomate de mesa em campo aberto, em clima com
umidade relativa superior a 50%.

226
A B

C D

Figura 11. Broca-pequena-do-fruto (Neoleucinodes elegantalis). Adulto (A); lagarta (B); danos nos frutos que indicam a
infestação do tomateiro pela praga (C e D)
Fotos: Moises Lopes Fernandes (A e B) e Alexandre Pinho de Moura (C e D)

Amostragem:
• Inspeção de uma penca por planta, com frutos de até 2cm de diâmetro, em busca de ovos
e sinais de ataque das lagartas, num total de 20 plantas por área ou talhão;
• Contagem do número de mariposas capturadas em armadilha iscada com feromônio se-
xual sintético da espécie, a partir das 10h, considerando no mínimo duas armadilhas por
hectare.
Nível de controle: (baseado no que for atingido primeiro)
• 3% de pencas com ovos ou sinais de ataque nos frutos;
• Captura de 1 (um) macho por semana, na média das armadilhas.

4. PRAGAS SECUNDÁRIAS

4.1. Mosca-minadora
Liriomyza huidobrensis (Blanchard, 1926) (Diptera: Agromyzidae)
L. sativae (Blanchard, 1938)
L. trifolii (Burgess, 1880)
Ciclo biológico: ovo, larva, pupa e adulto. Duração – 14 a 30 dias.

227
Sintomas de ataque e injúrias: A fêmea (Figura 12 A) deposita o ovo dentro do tecido do folí-
olo (postura endofítica). A larva (Figura 12 B) abre galeria ou mina translúcida, estreita e irregular,
em forma de serpentina no folíolo (Figura 12 C). Alta infestação provoca necrose e secamento dos
folíolos e desfolha precoce, com impacto negativo na produção e qualidade dos frutos.
Amostragem:
• Inspeção de uma folha do terço médio com mina (galeria) por planta, em busca de lagartas
vivas, num total de 20 plantas por área ou talhão.
Nível de controle:
• 25% das folhas minadas com presença de larvas vivas ou presença do inseto em 10% das
plantas amostradas.

A B C

Figura 12. Mosca-minadora (Liriomyza spp.). Adulto (A); larva (B); galerias estreitas, em forma de
serpentina no folíolo (C)
Fotos: Jorge Anderson Guimarães

4.2. Lagarta-militar (complexo Spodoptera)


Spodoptera eridania Stoll, 1781 (Lepidoptera: Noctuidae)
Spodoptera cosmioides Walker 1858
Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797)
Ciclo biológico: ovo, larva, pupa e adulto. Duração – 21 a 46 dias.
Sintomas de ataque e injúrias: A mariposa (Figuras 13A-C) deposita os ovos em grupo (mas-
sa) e coberto por escamas (Figura 14), na face ventral (abaxial) das folhas baixeiras. A lagarta (Fi-
guras 15A-C) pode seccionar as plantas rente ao solo e matá-las logo após o transplantio (como
a lagarta-rosca); quando nova, a lagarta raspa a face inferior do folíolo, tornando-o rendilhado
(Figura 16A). Posteriormente, a lagarta broqueia os frutos (principal dano), os quais apresentam

228
grandes perfurações próximas ao cálice (Figura 16B). O ataque aos frutos inicia-se do terço inferior
(folhas baixeiras e primeiros cachos) para o ápice da copa da planta. Surtos frequentes ocorrem na
região Centro-Oeste, na transição entre as estações seca e chuvosa do ano.

A B C

Figura 13. Lagarta-militar (complexo Spodoptera). Adultos com as asas abertas, apresentando manchas
características da espécie. Macho de S. eridania (A); fêmea de S. cosmioides (B); macho de S. frugiperda (C)
Fotos: Alexandre Specht (A e C) e Moises Lopes Fernandes (B)

A B

Figura 14. Lagarta-militar (complexo Spodoptera). Grupo de ovos com coloração esverdeada ou
alaranjada, depositados em camadas, na face inferior do folíolo e com escamas da mariposa
Fotos: Alexandre Specht (A) e Moises Lopes Fernandes (B)

A B C

Figura 15. Lagarta-militar (complexo Spodoptera). Aspecto do inseto no final da fase larval da espécie. S.
eridania (A); S. cosmioides (B); S. frugiperda (C)
Fotos: Alexandre Pinho de Moura (A), Moises Lopes Fernandes (B) e Alexandre Specht (C)

229
A B

Figura 16. Sintomas de infestação da lagarta-militar (similar para as três espécies de Spodoptera). Folíolos
rendilhados, nas folhas mais velhas (baixeiras) (A); fruto broqueado (B)
Fotos: Alexandre Pinho de Moura

Amostragem:
• Inspeção da face ventral (abaxial) de uma folha do terço inferior (baixeira) da planta em
busca de massas de ovos e lagartas pequenas, num total de 20 plantas por área ou talhão.
• Inspeção de cinco frutos por planta com diâmetro de até 2cm, preferencialmente na mes-
ma penca, em busca de lagartas vivas e sinais de ataque.
Nível de controle:
• 10% de plantas como massas de ovos;
• 3% de pencas com lagartas ou sinais de ataque nos frutos.

4.3. Lagarta-falsa-medideira (complexo Plusiinae)


Chrysodeixis includens (Walker, [1858]) (Lepidoptera: Noctuidae)
Trichoplusia ni Hübner, 1802
Rachiplusia nu (Guenée, 1852)
Ciclo biológico: ovo, larva, pupa e adulto. Duração – 21 a 40 dias.
Sintomas de ataque e injúrias: A mariposa (Figura 17A) deposita o ovo isoladamente na face
inferior de folíolos das folhas novas, brotações e flores. A lagarta (Figura 17B) inicialmente causa
desfolha acentuada no terço superior da planta e quando desenvolvida ataca os frutos ainda ver-
des, nos quais deixa vários orifícios e pode se alimentar de grande parte da polpa (Figura 17C). A
espécie C. includens é a principal Plusiinae que infesta cultivos de tomateiro nas regiões Centro-
-Oeste e Nordeste brasileiras. Rachiplusia nu tem maior ocorrência na região Sul brasileira.
Amostragem:
• Agitação ou batedura de um ponteiro da planta sobre um recipiente plástico de fundo
branco para a quantificação de lagartas;

230
• Inspeção de cinco frutos por planta, preferencialmente na mesma penca, em busca de la-
gartas vivas e sinais de ataque.
Nível de controle:
• 1 (uma) lagarta por ponteiro, em média, ou 20% dos ponteiros com lagartas;
• 3% de pencas com lagartas ou sinais de ataque nos frutos.
A B C

Figura 17. Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens). Adulto com as asas em repouso (A); lagarta
(B) e fruto severamente broqueado pela praga (C)
Fotos: Moises Lopes Fernandes, Miguel Michereff Filho e Raphael Augusto de Castro e Melo (A-C, respectivamente)

4.4. Broca-grande (complexo Heliothinae)


Helicoverpa armigera (Hübner, [1808]) (Lepidoptera: Noctuidae)
H. zea (Boddie, 1850)
Chloridea virescens (Fabricius, 1777)
Ciclo biológico: ovo, larva, pupa e adulto. Duração – 35 a 60 dias.
Sintomas de ataque e injúrias: A mariposa (Figura 18A e B) deposita o ovo isoladamente
na folha logo acima da inflorescência ou diretamente nas flores (sépalas e pétalas) e nos frutos
pequenos. A lagarta (Figura 19A) ataca folhas, ramos, brotações, ponteiros, flores e frutos. Atua
principalmente como broqueadora de frutos. Perfura os frutos, alimenta-se da polpa e deixa gran-
des orifícios (Figura 19B). Esses orifícios de alimentação tornam o fruto suscetível à infestação por
pequenos besouros e larvas de moscas e a infecções secundárias por microrganismos saprófitos,
os quais promovem o apodrecimento do fruto. Em alta infestação, a lagarta de Helicoverpa spp.
pode permanecer dentro do fruto até a pupação.

A B

Figura 18. Broca-grande. Adulto de Helicoverpa armigera (A); Adulto de Chloridea virescens (B)
Fotos: Moises Lopes Fernandes

231
A B

Figura 19. Broca-grande. Lagarta de Helicoverpa armigera (A); fruto broqueado (B), com grandes orifícios
Fotos: Moises Lopes Fernandes

Amostragem:
• Inspeção de uma folha do terço superior da planta, próxima a uma inflorescência, em bus-
ca de ovos e lagartas pequenas;
• Inspeção de cinco frutos por planta, preferencialmente na mesma penca, em busca de
ovos e sinais de ataque das lagartas, num total de 20 plantas por área ou talhão.
Nível de controle:
• Presença de ovos ou lagartas em circulação, em 3% das pencas de frutos e/ou das folhas
inspecionadas.

4.5. Ácaro-do-bronzeamento
Aculops lycopersici (Massee, 1937) (Acari: Eriophyidae)
Ciclo biológico: ovo, imaturo (larva e ninfa) e adulto. Duração – 6 dias.
Sintomas de ataque e injúrias: O adulto (Figura 20A) e as formas imaturas perfuram as células
da epiderme vegetal com seu aparelho bucal e sugam o conteúdo que extravasa. As folhas ataca-
das ficam amareladas, bronzeadas, levemente retorcidas, com aspecto brilhante na face inferior
e secam sem murchar; a infestação também é detectada pelo bronzeamento da base dos ramos
(Figura 20B), frutos pequenos e bronzeados ou com pele áspera e queimada (escaldadura) pelo
sol (Figura 20C). A infestação inicia-se nas folhas mais velhas, ou seja, do terço inferior em direção
ao ápice das plantas. Alta infestação pode reduzir substancialmente a produção ou causar a morte
da planta. Maior relevância em cultivos de tomate tutorado sob ambiente protegido (estufa), em
condições de clima quente e seco.
Amostragem:
• Inspeção de uma folha do terço médio da planta, para detecção de sintomas de ataque e
presença de ácaros; detecção dos ácaros somente possível com lupa com aumento de 40
vezes ou mais.

232
Nível de controle:
• 10 % de folhas sintomáticas e com presença de ácaros.

A B C

Figura 20. Ácaro-do-bronzeamento (Aculops lycopersici). Adulto (A); bronzeamento dos ramos (B) e fruto
com epiderme áspera e queimada pela exposição ao sol (C)
Fotos: Miguel Michereff Filho (A e B) e Juracy Caldeira Lins Jr (C)

4.6. Ácaro-rajado
Tetranychus urticae (Koch, 1836) (Acari: Tetranychidae)
Ciclo biológico: ovo, imaturos (larva e ninfa) e adulto. Duração – 7 a 21 dias.
Sintomas de ataque e injúrias: O adulto (Figura 21A) e as formas imaturas (Figura 21B) perfu-
ram as células da epiderme vegetal com seu aparelho bucal (quelíceras modificadas em forma de
estiletes) e sugam o conteúdo que extravasa (Figura 21C). Alojam-se na face inferior dos folíolos,
sendo protegidos pela teia produzida pelos ácaros adultos. A face superior do folíolo inicialmente
apresenta pontuações cloróticas (amarelo-esbranquiçadas), que posteriormente se unem, ficam
marrom-avermelhadas e secam, causando a senescência da folha. A infestação inicia-se nas fo-
lhas mais velhas, ou seja, do terço inferior em direção ao ápice das plantas. Alta infestação causa
redução da fotossíntese, perda de vigor da planta, desfolha precoce, redução da produção e a
ocorrência de frutos com superfície áspera e queimada (escaldadura) pela exposição ao sol. Maior
relevância em cultivos de tomate tutorado sob ambiente protegido (estufa), em regiões de clima
quente e seco.

233
A B C

Figura 21. Ácaro-rajado (Tetranychus urticae). Fêmea adulta (A); ovos, formas imaturas e teia (B); Injúria na
face inferior do folíolo de tomateiro causada pela alimentação da praga (C)
Fotos: Miguel Michereff Filho

Amostragem:
• Inspeção de uma folha do terço médio da planta, para detecção dos sintomas de ataque e
a presença de ácaros.
Nível de controle:
• 10 % de folhas com presença de ácaros.

5. CONTROLE DE PRAGAS

5.1. Controle de vetores


• Implantar barreiras vivas (capim elefante, milheto ou cana-de-açúcar) ao redor do cultivo, no
intuito de retardar a infestação dos insetos vetores;
• Usar cultivares de tomateiro com genes de resistência às viroses;
• Produzir as mudas em local protegido com tela antiafídeo (viveiro) (Figura 22A), distante de
cultivos infestados com moscas-brancas, tripes, pulgões e viroses associadas e longe do local
definitivo de plantio. Outra opção é a aquisição de mudas de procedência confiável;
• Evitar o estabelecimento de áreas novas de plantio próximo a lavouras de tomateiro mais
velhas e com viroses;
• Garantir o isolamento dos talhões por data e área, evitando o escalonamento de plantio;
• Plantar os talhões no sentido contrário ao vento, do mais velho para o mais novo, para desfa-
vorecer o deslocamento das pragas dos talhões velhos para os novos;
• Realizar a adubação química, conforme análise de solo ou foliar e requerimentos da cultura,
evitando-se o excesso de nitrogênio;
• Utilizar cobertura do solo com superfície refletora de raios ultravioletas (casca de arroz, palha

234
ou mulch plástico de coloração prateada ou aluminizada), para dificultar a colonização dos
vetores (Figura 22B);
• Selecionar mudas sadias e vigorosas para o transplantio;
• Em localidades com histórico de alta incidência de viroses (mosaico-dourado, amarelão e
vira-cabeça) associadas a moscas-brancas e tripes, deve-se efetuar o tratamento de mudas
com inseticidas de ação sistêmica (imersão de bandejas ou via esguicho), dois dias antes do
transplantio;
• Transplantar somente mudas com mais de 21 dias de idade (Figura 22C);
• Adequar a época de plantio para a região, de maneira que coincida com o período de bai-
xa infestação de moscas-brancas, tripes e pulgões no campo (preferencialmente na estação
chuvosa);
• Destruir plantas hospedeiras alternativas (ervas daninhas, tigueras e plantas silvestres) de
dentro da área de cultivo e também de suas proximidades, visando eliminar fontes dos vírus
e/ou dos vetores e que podem atuar como reservatório para infecção da cultura;
• Adotar o controle químico de vetores com base no monitoramento e ao atingir o nível de
controle (NC). Evitar a aplicação preventiva e calendarizada de inseticidas após o transplantio
do tomateiro;
• Empregar a irrigação por aspersão, com gotas grandes, por poucas horas no dia, e apenas
algumas vezes na semana, para controle mecânico de tripes e pulgões (Figura 22D);
• Manejar adequadamente a irrigação para evitar o estresse hídrico e favorecer o estabeleci-
mento rápido das plantas (Figura 22E);
• Eliminar plantas de tomateiro com viroses e descartá-las longe do cultivo;
• Destruir e incorporar os restos culturais logo após a última colheita;
• Destruir cultivos de tomateiro abandonados;
• Realizar a rotação de culturas com plantas não hospedeiras de moscas-brancas, tripes, pul-
gões e dos vírus associados (evitar a sucessão com solanáceas, cucurbitáceas e leguminosas);
• Para o controle de moscas-brancas e pulgões, visando exclusivamente a redução de sua in-
festação em regiões de baixa incidência de viroses, pode-se utilizar:
• 1) óleo mineral, óleo vegetal emulsionável ou inseticida botânico a base de óleo de nim (Aza-
dirachta indica A. Juss), na concentração de 0,25% (250 ml para 100 litros de água);
• 2) inseticidas biológicos a base dos fungos entomopatogênicos Isaria (= Cordyceps) spp., Le-
canicillium (= Akanthomyces) spp. e Beauveria bassiana (Balsamo) Vuillemin, 1912, quando a
umidade relativa do ar for superior a 70% e 3) suspensão de sabões ou detergente neutro
com água;
• No caso da doença “vira-cabeça”, o uso de inseticidas químicos (com ação sistêmica ou de
contato) para controle de tripes (larvas e adultos) pode reduzir a incidência dessa virose des-
de que sejam adotados os procedimentos técnicos recomendados para a aplicação dos pro-
dutos e logo no início da infestação dos insetos adultos nas bordaduras do cultivo. Em caso
de baixa incidência de viroses, também pode-se empregar o inseticida botânico à base de
nim pulverizado na parte aérea do tomateiro. Fungos entomopatogênicos, utilizados isola-
damente, não propiciam controle eficaz de tripes e redução do “vira-cabeça”;
• O uso de inseticidas químicos e de óleos (mineral ou vegetal emulsionável) para controle de
pulgões não é eficaz para impedir a transmissão dos vírus (ToYTV; TBLYV; PVY e PepYMV) no
cultivo e a sua disseminação dentro da área de plantio. Esses insetos vetores são capazes de

235
transmitir o vírus em poucos segundos, com uma simples picada de prova, antes mesmo de
sofrerem a ação dos inseticidas e óleos.
• Usar, quando necessário, inseticida com seletividade em favor dos inimigos naturais e poli-
nizadores e
• Fazer a rotação de inseticidas conforme o modo de ação.

A B E

C D

Figura 22. Medidas para o controle de pragas vetores de vírus. Viveiro telado com mudas de tomateiro
em desenvolvimento (A). Cobertura do solo nas entrelinhas com palha de capim-elefante Napier (B).
Transplantio de mudas de tomateiro com idade superior a 21 dias para tolerar estresses bióticos e
abióticos no ambiente de cultivo (C). Irrigação por aspersão como método de controle mecânico de
pragas em cultivo de tomateiro (D). Manejo da irrigação do tomateiro através da leitura da tensão do solo
a 20 e 40 cm de profundidade
Fotos: Alice Kazuko Inoue-Nagata (A e C), Waldir Aparecido Marouelli (B e D) e
Juracy Caldeira Lins Jr (E)

5.2. Controle de broqueadores de frutos


• Implantar barreiras vivas (capim elefante, milheto ou cana-de-açúcar) ao redor do cultivo, no
intuito de retardar a infestação;
• Evitar o estabelecimento de áreas novas de plantio próximo a lavouras de tomateiro, jiloeiro,
berinjela e pimentão;
• Produzir as mudas em locais protegidos com tela, distantes de campos infestados com bro-
cas e longe do local definitivo de plantio;
• Plantar os talhões no sentido contrário ao vento, do mais velho para o mais novo, para desfa-
vorecer o deslocamento das pragas dos talhões velhos para os novos;
• Destruir plantas hospedeiras de brocas (tigueras de tomateiro, ervas daninhas, e plantas sil-
vestres) que estejam dentro da área de cultivo e também nas suas proximidades;
• Em cultivos com até 2.500 plantas, efetuar o ensacamento de inflorescências (logo após a

236
polinização) ou pencas (Figura 23), mantendo-se as embalagens até a colheita;
• Empregar a irrigação por aspersão, com gotas grandes, por poucas horas no dia e apenas
algumas vezes na semana, para controle mecânico de ovos e lagartas da traça-do-tomateiro;
• Retirar os frutos atacados que permanecem nas plantas;
• Coletar frutos caídos no chão e enterrá-los em trincheira, longe do cultivo para evitar novas
infestações (Figura 24A);
• Destruir e incorporar os restos culturais, logo após a última colheita (Figura 24B e C);
• Destruir cultivos abandonados;
• Realizar a rotação de culturas com plantas não hospedeiras das brocas (evitar tomateiro, jilo-
eiro, berinjela, pimentão, grão-de-bico, milho e soja);
• Utilizar inseticidas químicos específicos para a espécie-alvo, que sejam registrados para o
tomateiro, aqueles menos tóxicos ao homem e seletivos em favor dos inimigos naturais e po-
linizadores; como alternativa, pulverizar óleo de sementes de nim na concentração de 0,25%
(volume/volume) na calda;
• Fazer a rotação de inseticidas conforme o modo de ação; e
• Adotar o controle biológico mediante liberação inundativa (massal) do parasitoide de ovos
Trichogramma preciosum Riley, 1879 (Figura 25) em combinação com inseticida biológico à
base da bactéria Bacillus thuringiensis (Berliner, 1915) ou inseticidas químicos seletivos a esse
parasitoide, tanto em cultivos sob campo aberto como em ambiente protegido (para T. abso-
luta, N. elegantalis, H. armigera, H. zea e C. virescens).

A B C

Figura 23. Ensacamento de inflorescências e pencas para proteção contra infestação de lagartas
broqueadoras de frutos. Frutos ensacados em plástico polipropileno microperfurado (A). Frutos
ensacados em sacos de papel (B e C)
Fotos: Janaína Pereira dos Santos (A) e José Ronaldo de Macedo (B e C)

237
A B C

Figura 24. Frutos caídos no solo após o ataque de pragas e abandono do cultivo (A). Remoção e
destruição de restos culturais para redução dos focos de infestação de pragas (B e C)
Fotos: Alice Kazuko Inoue-Nagata (A e C) e Miguel Michereff Filho (B)

Figura 25. Estaca com pedaço de cartela contendo ovos parasitados por Trichogramma pretiosum, como
forma de liberação inundativa do inimigo natural no cultivo de tomateiro tutorado
Foto: Miguel Michereff Filho

6. Controle de outras pragas (secundárias)


Além dos métodos de controle citados para vetores e broqueadores de frutos, recomendam-se
algumas medidas complementares como:
• Utilizar placas ou faixas adesivas de coloração amarela, para a captura massal de mosca-mi-
nadora (Liriomyza spp.) e vaquinhas (Diabrotica spp.);
• Utilizar armadilhas confeccionadas com garrafas tipo PET, contendo atrativo alimentar como
sementes, raízes, caules e frutos de Cayaponia tayuya (Vell.) Cogniaux (tajujá ou taiuiá) ou
Lagenaria siceraria (Molina) Standl. (porongo ou cabaça) para captura massal de vaquinhas
(Figura 26);
• Evitar o estabelecimento de áreas novas de plantio próximo a lavouras de tomateiro, jiloeiro,
berinjela, pimentão, feijoeiro, soja e mamona;
• Empregar a irrigação por aspersão, com gotas grandes, por poucas horas no dia, e três vezes
na semana, para controle mecânico do ácaro-rajado (T. urticae) e do ácaro-do-bronzeamento
(A. lycopercisi);

238
• Evitar a adoção de pulverizações preventivas e calendarizadas de inseticidas e acaricidas quí-
micos, para preservação de inimigos naturais no cultivo e no entorno da lavoura, e
• Utilizar inseticidas químicos específicos para a espécie-alvo, que sejam registrados para o to-
mateiro e aqueles menos tóxicos ao homem; como alternativa, pulverizar óleo de sementes
de nim na concentração de 0,25% (volume/volume) na calda.

Figura 26. Armadilha de garrafa PET com isca de tajujá para coleta massal de adultos de vaquinhas
(Diabrotica spp.)
Foto: Janaína Pereira dos Santos

SAIBA MAIS: A lista completa e atualizada dos inseticidas, químicos e biológicos para
Ì pragas da cultura do tomateiro pode ser consultada no AGROFIT, no seguinte endereço:
http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons.

É importante reforçar ao produtor que não considere apenas o controle químico como única
forma de controle das pragas. O uso de inseticidas e acaricidas sempre deve estar associado
a outros métodos de controle. Para A utilização de inseticidas e acaricidas químicos, várias
precauções devem ser tomadas para se alcançar a eficiência de controle desejada, causar o mínimo
de desequilíbrio biológico e evitar a seleção de populações de pragas resistentes aos produtos.
Recomendações detalhadas sobre o controle químico estão disponibilizadas no capítulo 12.

7. Referências
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de controle dos principais grupos de ácaros e insetos-praga em hortaliças no Brasil. In:
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Brasil. In: ZAMBOLIM, L.; LOPES, C. A.; PICANÇO, M. C.; COSTA, H. (Ed.). Manejo
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Epagri, Cap. 11, p.105-124, 2016.
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VILLAS-BÔAS, G.L.; CASTELO BRANCO, M. Manejo integrado da mosca branca (Bemisia tabaci
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ZUCCHI, R. A.; SILVEIRA NETO, S.; NAKANO, O. Guia de identificação de pragas agrícolas.
Piracicaba: FEALQ, 1993. 139p.

242
13
13. Recomendações para uso de
agrotóxicos no controle de insetos e
ácaros pragas
Juracy Caldeira Lins Junior1 e Miguel Michereff Filho2
1
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina -
Estação Experimental de Caçador
[email protected].
2
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças
[email protected]

1. Introdução
O controle químico com uso de inseticidas e acaricidas sintéticos não deve ser utilizado como
único método de controle de pragas dentro do sistema de produção integrada de tomate. A apli-
cação de inseticidas de forma calendarizada deve ser evitada e, portanto, o controle só deve ser
realizado quando as pragas atingirem o nível de controle. Inseticidas químicos utilizados de forma
indiscriminada e sem critérios técnicos podem acarretar sérios problemas, como o surgimento
de populações de insetos e ácaros resistentes; a eliminação de inimigos naturais e polinizadores;
intoxicações de pessoas no campo; resíduos nos alimentos, além de provocar contaminação am-
biental.
Para minimizar tais problemas, no sistema de produção integrada de tomate, o produtor deve
buscar a integração de métodos apropriados para manter a população das pragas abaixo do ní-
vel de dano. Dentre esses métodos, preconiza-se o monitoramento das pragas e a utilização das
diversas táticas disponíveis, como o controle químico com inseticidas, o controle biológico com
predadores, parasitoides e microrganismos patogênicos (fungos, bactérias e vírus), o controle
cultural, o uso de inseticidas botânicos, caldas fitoprotetoras (calda bordalesa, calda sulfocálcica,
etc.), entre outros.
Mesmo quando um bom programa de controle biológico para determinada praga for estabe-
lecido, pode haver momentos em que seja necessária a aplicação de um inseticida ou acaricida
sintético. Entretanto, ao utilizar esses produtos, o agricultor deve estar ciente dos riscos (princi-
palmente devido à sua toxicidade para seres humanos, bem como ao meio ambiente) e seguir as
recomendações técnicas específicas.

2. Recomendações para o uso de inseticidas e acaricidas


De um modo geral, as recomendações para o uso de inseticidas e acaricidas dentro do Sistema
de Produção Integrada de Tomate são apresentadas a seguir.

243
2.1. Escolha corretamente o inseticida/acaricida
O produto a ser aplicado só deve ser escolhido após a correta identificação do inseto ou áca-
ro-praga. É fundamental identificar qual estágio do ciclo de vida que ele se encontra e conhecer a
sua biologia, pois, muitas vezes, um inseticida que é eficaz contra a fase jovem (imaturo) do inseto
ou ácaro apresenta baixa eficiência no controle dos adultos.
O hábito do inseto também tem influência direta na escolha do inseticida. Por exemplo, inseti-
cidas sistêmicos serão mais eficazes no controle de insetos que vivem dentro dos tecidos vegetais
ou aqueles insetos que se alimentam na parte inferior das folhas, sugando a seiva das plantas
(sugadores). Já os inseticidas de contato serão mais indicados para controlar insetos que se en-
contram sobre a folhagem, como lagartas e coleópteros. Inseticidas sistêmicos aplicados na par-
te aérea, em algumas situações específicas, também podem compensar a falta de cobertura da
vegetação, como resultado das limitações da tecnologia de aplicação e garantir a eficiência de
controle da praga.

Õ No momento de escolher o produto a ser aplicado, o agricultor deve optar, sem-


pre que possível, por aqueles que tenham ação específica contra a praga identifi-
cada. Devem ser evitados produtos com largo espectro de ação, ou seja, aqueles
que têm ação tóxica sobre uma ampla faixa de insetos e ácaros. Tais produtos
causam desequilíbrios biológicos que podem resultar em surtos (explosões po-
pulacionais) de pragas secundárias.

Também é importante dar preferência aos inseticidas que sejam seletivos: aqueles produtos
que tenham mais efeito sobre as pragas e menos sobre os inimigos naturais. Cabe ressaltar que a
seletividade varia de acordo com o tipo de inseticida, a forma de aplicação, condições de cultivo
e de ambiente, o tipo de cultura, a forma de aplicação, a praga visada, a dosagem utilizada e a
formulação do produto.
Atualmente, existem aplicativos específicos para consulta, sites de empresas fabricantes de in-
sumos biológicos (biofábricas) e de instituições de ensino e pesquisa que disponibilizam informa-
ções sobre seletividade e compatibilidade entre agrotóxicos e organismos benéficos.
Outro parâmetro importante relacionado à escolha do inseticida é o intervalo de segurança,
que também é conhecido como período de carência do produto. A carência é definida como o
período entre a última aplicação do produto e a colheita. Obviamente, inseticidas com períodos
de carência longo não devem ser utilizados se a colheita dos frutos estiver próxima ou já tiver sido
iniciada; caso contrário, os frutos que forem colhidos nos dias seguintes ao tratamento apresenta-
rão altos níveis de resíduos, colocando em risco a saúde dos consumidores.
A toxicidade do inseticida é outro aspecto relevante a ser considerado. É sempre aconselhável
tentar usar produtos com baixa toxicidade (faixas verde e azul), para proteger a saúde do agricul-
tor, e também aqueles que têm o menor impacto no meio ambiente. Por exemplo, a toxicidade
aguda dos piretroides ao homem e mamíferos em geral não é tão alta. Entretanto, esta classe de
produtos tem uma toxicidade ambiental muito alta e sua aplicação matará praticamente todos os
inimigos naturais, polinizadores e muitos outros organismos não-alvo (principalmente peixes e
organismos aquáticos).

244
Por fim, o inseticida ou acaricida escolhido deve ter registro no Ministério da Agricultura, Pecu-
ária e Abastecimento (MAPA) para a cultura do tomateiro.

SAIBA MAIS: A lista completa e atualizada dos inseticidas químicos e biológicos para pragas do
Ì tomateiro pode ser consultada no Agrofit: http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_
agrofit_cons.

2.2. Use a quantidade adequada de inseticida/acaricida


Depois de escolhido o inseticida/acaricida, o agricultor deve ler atentamente a bula do pro-
duto para conferir a dose correta a ser aplicada. Muitos produtos apresentam faixas de dose para
uma determinada praga. Nesses casos, a dose a ser utilizada vai depender do tamanho ou do es-
tágio de desenvolvimento da praga e o quanto a população está alta ou baixa.
Aplicar inseticida acima da dose recomendada, além de ser um desperdício de dinheiro, sig-
nifica um impacto desnecessário no meio ambiente. Por outro lado, aplicar inseticidas abaixo da
dose recomendada pode resultar em falhas no controle e contribuir para o desenvolvimento de
populações da praga resistentes.
É de fundamental importância que a quantidade de produto a ser aplicado seja precisa. Para
tanto, a utilização de vasilhames graduados, tais como copos, baldes e provetas, são muito úteis
para a medição de produtos líquidos. Uma balança de precisão é indispensável para medir pro-
dutos com formulação sólida. A medição precisa é essencial para a eficácia dos produtos contra a
praga-alvo. Além disso, a utilização da dose correta garante que os resíduos nos alimentos este-
jam dentro dos limites de segurança aos consumidores, proporciona o uso eficiente de inseticidas
e dinheiro, e não causa fitotoxicidade.

Õ É importante não exceder as doses estabelecidas na bula do produto. Tanto a su-


perdosagem, como a subdosagem podem favorecer a evolução da resistência aos
agrotóxicos. Se a dose máxima recomendada não estiver controlando as pragas,
investigue os motivos das falhas. Eles podem ser, por exemplo: pouca cobertura
na pulverização, equipamentos desregulados ou resistência da população da
praga ao inseticida.

2.3. Aplique o inseticida/acaricida no momento correto


Determinar o melhor momento para aplicar o controle químico é uma tarefa muito dinâmica.
No campo, cada situação é diferente e não há regras gerais para decidir se e quando pulverizar.
O controle tardio é umas das principais razões para o insucesso no manejo de pragas. Por esse
motivo, o agricultor deve monitorar regularmente o plantio para observar a presença e o aumento
populacional de insetos e ácaros-pragas na lavoura.
Em muitos casos, a presença reduzida de uma praga pode ser tolerada. O agricultor deverá
aplicar inseticidas somente quando a sua população aumentar significativamente e não houver
ocorrência de inimigos naturais na área. No entanto, quando se tratar de pragas vetores de viroses
(tripes e moscas-brancas principalmente), o agricultor deverá fazer o controle antes que a popu-
lação desses insetos aumente.

245
Os técnicos e agricultores devem conhecer a biologia da praga para que a aplicação do inse-
ticida ou acaricida seja dirigida para os estágios mais vulneráveis da praga. Alguns estágios de
desenvolvimento de insetos e ácaros, como o estágio de ovo, raramente são controlados pelos
inseticidas. Larvas ou ninfas jovens são mais facilmente controladas e requerem menos inseticida
do que larvas grandes ou insetos adultos.
Os inseticidas, geralmente, não afetam as pupas, pelo fato de muitas delas estarem protegidas
por casulos ou escondidas no solo ou em partes da planta nas quais os inseticidas não as atingem.
Além disso, também é de suma importância que os agricultores e técnicos conheçam o compor-
tamento e capacidade das pragas em danificar a cultura.

Õ O monitoramento deve ser realizado pelo menos uma vez por semana, cami-
nhando em meio à cultura e verificando as diferentes partes das plantas quanto à
presença de pragas, inimigos naturais e sintomas de doenças. Vistoriar de 10 a 20
plantas por glebas de 1.000 m2 é o suficiente. É importante registrar o número de
pragas e inimigos naturais encontrados, pois a manutenção de registros é a única
maneira de saber se o problema está aumentando ou não.

Se o número de insetos-praga não aumentou de uma semana para a outra, isso significa que
seus inimigos naturais ou outras causas estão impedindo que a população da praga aumente e,
portanto, não há necessidade, por enquanto, de usar inseticidas. No sistema de produção inte-
grada de tomate, as pulverizações devem ser realizadas somente quando a população das pragas
atingir o nível de controle.

SAIBA MAIS: Para saber o nível de controle das principais pragas do tomateiro, consulte o capítulo
14 desta apostila.

As aplicações de inseticidas devem ser realizadas, preferencialmente, no final da tarde ou à noi-


te, quando as temperaturas começam a diminuir, a fim de evitar a evaporação rápida do produto
aplicado. Além disso, o risco de fitointoxicação é maior quando os inseticidas e acaricidas são apli-
cados nos horários mais quentes do dia. Pelo mesmo motivo, deve-se evitar fazer pulverizações
quando as plantas se encontram em estresse hídrico.

2.4. Aplique os inseticidas/acaricidas corretamente


Uma vez que a praga atingiu o nível de controle e o agricultor optou por realizar o controle
químico com inseticidas, a aplicação desses produtos deve ser feita de forma adequada e no mo-
mento correto.
Não adianta nada seguir todas as recomendações descritas anteriormente e, em seguida, fazer
uma pulverização malfeita, sem seguir os preceitos técnicos para essa operação. Muitas vezes,
as principais falhas no controle de pragas estão mais relacionadas ao processo de aplicação dos
inseticidas do que ao produto em si. As informações técnicas sobre a tecnologia de aplicação dos
agrotóxicos são abordadas no capítulo 14.

246
2.5. Rotacione inseticidas/acaricidas com modos de ação diferentes
Populações de insetos e ácaros-pragas podem apresentar resistência à maioria dos inseticidas
e acaricidas utilizados nos cultivos. Isso ocorre principalmente quando há grande pressão de se-
leção nas populações dessas pragas, em razão do uso incorreto e abusivo dos produtos químicos.

Õ Para evitar o desenvolvimento da resistência, os produtores são constantemente


incentivados a seguir um plano de manejo com os inseticidas/acaricidas que se
baseia na rotação de produtos com modo de ação distintos. Uma síntese dos mo-
dos de ação e dos grupos químicos dos principais inseticidas e acaricidas utiliza-
dos para controle de pragas do tomateiro é apresentada na Figura 1.

Figura 1. Modos de ação e grupos químicos dos principais inseticidas e acaricidas utilizados no controle
de pragas do tomateiro
Arte: Thaíse K. R. Dias

De um modo geral, para implementar um plano de manejo da resistência, técnicos e agriculto-


res devem se basear nas recomendações apresentadas a seguir:
• Passo 1. Aprenda sobre o sistema de classificação dos modos de ação de inseticidas pro-
posto pelo Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas (www.irac-br.org). Nele cada modo
de ação é representado por um código distinto, simbolizado por um número ou por um

247
número e uma letra. No rótulo e na bula de todos os inseticidas e acaricidas, é possível
encontrar esse código logo abaixo do nome do ingrediente ativo, como mostra a Figura 2.

Figura 2. Exemplo de um rótulo de inseticida destacando o código do modo de ação do produto


Fonte: Agrofit

Esse sistema é muito mais simples de usar do que tentar lembrar a qual grupo químico cada
produto pertence (por exemplo, organofosforados, diacilhidrazinas, benzoilureias, diamidas).
A resistência dos insetos ou ácaros a um produto em um grupo químico geralmente causa
resistência a todos os outros produtos relacionados, ou seja, aqueles que pertencem ao mesmo
grupo químico e têm o mesmo número de grupo estampado no rótulo. Por exemplo, é muito alta
a probabilidade de uma população de insetos resistentes à deltametrina (piretroide, grupo 3A)
também ser resistente a outros piretroides, como a lambda-cialotrina, betaciflutrina, etofenproxi
(todas pertencentes ao grupo 3A).
O uso repetido, por tempo prolongado (semanas a meses consecutivos), de um único produto
ou de produtos com o mesmo código de modo de ação para o controle de insetos e ácaros fitófa-
gos selecionará uma proporção cada vez maior de indivíduos na população que, geneticamente,
serão menos suscetíveis aos ingredientes ativos utilizados. Se o produtor não mudar de atitude,
esse fenômeno ocorrerá continuamente e a população de pragas gradualmente se tornará mais
e mais resistente, até a ocorrência de redução expressiva da eficiência de controle a campo ou
de nenhum controle, mesmo quando o produto é aplicado de acordo com as recomendações da
bula.
Para evitar ou mitigar a resistência aos agrotóxicos, sempre que possível, deve-se utilizar o
mesmo modo de ação em apenas uma geração da praga-alvo, pois isso reduzirá a pressão de se-
leção em favor de indivíduos resistentes. Por convenção, uma geração corresponderia à duração
média do ciclo biológico da espécie (de ovo a adulto ou de ninfa a adulto). A frequência das aplica-
ções dentro desse período também não poderá ser elevada, não ultrapassando uma pulverização
por semana, assim como deve ser respeitada a quantidade máxima recomendada de aplicações
do produto durante o ciclo ou safra da cultura, conforme informações apresentadas na bula. Um
exemplo prático de rotação de inseticidas com diferentes modos de ação é apresentado na Figura
3.

248
Figura 3. Esquema de rotação de inseticidas para o controle da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta)
levando em consideração o ciclo biológico da praga (ovo a adulto) ou tempo de uma geração que
corresponde a 28 dias. Dentro desse intervalo, podem ser feitas até quatro aplicações do mesmo
inseticida antes de trocar o modo de ação do produto
Arte: Thaíse K. R. Dias

Na Tabela 1 é apresentado o tempo médio para troca do modo de ação dos inseticidas consi-
derando o ciclo biológico da praga (ovo-adulto ou ninfa-adulto).
• Passo 2. Crie uma lista de inseticidas e acaricidas que você costuma utilizar durante a
safra, separando-os pelo código do modo de ação e pelas pragas que podem aparecer na
sua lavoura. Faça as pulverizações tomando o cuidado para que produtos com o mesmo
código não se
• jam aplicados consecutivamente (preferencialmente não mais que três aplicações de um
mesmo produto para cada praga).

Õ Lembre-se: sempre rotacione produtos com códigos de modo de ação diferentes.


Tome cuidado com aqueles produtos que apresentam em sua formulação mistu-
ra de ingredientes ativos.

249
TABELA 1. Tempo necessário para a troca do modo de ação do inseticida/acaricida em função do tipo
de praga do tomateiro
PRAGA TROCAR O MODO DE AÇÃO A CADA
Pulgões 7 DIAS
Ácaro-do-bronzeamento 7 dias
Ácaro-branco 7 dias
Ácaro-rajado 10 dias
Tripes 12 dias
Mosca-branca 21 dias
Mosca-minadora 21 dias
Traça, broca-pequena, broca-grande e demais lagartas 28 dias

Certifique-se de que o produto inseticida/acaricida aplicado na sequência tenha um código


de modo de ação diferente dos que foram aplicados anteriormente (produto com mistura de i.a.)
(Figura 4).

Figura 4. Sequências corretas e incorretas de aplicação de inseticidas levando em consideração o código


do modo de ação escrito no rótulo do produto
Adaptado de IRAC-BR

• Passo 3. Aplique o produto na dose correta, no momento certo e utilize equipamentos de


pulverização devidamente calibrados.
• Passo 4. A etapa mais importante: siga a sequência planejada de aplicações de inseticidas/
acaricidas e mantenha registros dessas aplicações no caderno de campo. Anote também
se o controle da praga foi satisfatório ou não. Esses registros ajudarão a determinar se pos-
síveis falhas no controle foram devidas ao aumento da tolerância das pragas aos produtos,
a problemas na mistura e/ou aplicação, ou algum outro fator.

250
3. Referências
IRAC. Arthropod pesticide resistance database. Michigan State University. Disponível em: <
http://www.pesticideresistance.org/display.php?page=species&arId=41>. Acesso em: 01
dez. 2020.
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MARCUZZO, L.L; MUELLER, S. Sistema de produção integrada para o tomate tutorado
em Santa Catarina. Florianópolis: Epagri, 2016, 153p.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. AGROFIT. Sistemas de Agrotóxicos
Fitossanitários. Brasília, DF: MAPA, [2018]. Disponível em: <http://extranet. agricultura.gov.
br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acesso em: 20 dez. 2020.
DENT, D. Insect pest management. 2. ed. Wallingford: CABI Publishing, 2000, 410p.
DITTAR, P.; FREEMAN, J.; PARET, M.; SMITH, H. Vegetable production handbook of Florida - 2019-
2020. Gainesville: University of Florida, Institute of Food and Agricultural Sciences, 2019,
411p.
EHLER, L.E. Perspective integrated pest management (IPM): definition, historical development and
implementation, and other IPM. Pest Management Science, v. 62, p. 787-789, 2006.
IRAC-BR. Mode of action classification and insecticide resistance management. 2017, 26p.
Disponível em: < https://docs.wixstatic.com/ugd/2bed6c_0942c97d407e4a5eaa83467af2f7
9d47.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2020.
IRAC-BR. Rótulo com mais informação: mais eficiência no manejo da resistência. s/d. Disponível
em: <https://92813ac4-b3b4-47f4-a8b3-43c4292d561c.filesusr.com/ugd/2bed6c_8ee808fc
e5274781838b2bbf961458ab.pdf>. Acesso em: 5 ago. 2020.
MOURA, A.P.; MICHEREFF FILHO, M.; GUIMARÃES, J.A.; LIZ, R.S. Manejo integrado de pragas do
tomateiro para processamento industrial. Brasília: Embrapa (Circular Técnica 129), 2014,
24p.
PAPINI, S.; ANDREA, M.M.; LUCHINI, L.C. Segurança ambiental no controle químico de pragas e
vetores. São Paulo: Editora Atheneu, 2014, 308p.
WALGENBACH, J.F. Integrated pest management strategies for field-grown tomatoes. In:
WAKIL, W.; BRUST, G.E; PERRING, T.M. (Eds.) Suitable management of arthropod pests of
tomato. New York: Academic Press, 2017. p. 323-339.

251
14
14. Tecnologia de aplicação de
Agrotóxicos
Aldemir Chaim1
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Centro Nacional de Pesquisa do Meio-Ambiente [email protected]
1

1. Introdução
Apesar de apresentar resultados de controle eficaz, a aplicação de defensivos é um processo
relativamente ineficiente, pois em alguns casos mais de 50% dos produtos aplicados não che-
gam ao alvo. Vários são os fatores que influenciam na aplicação de defensivos, envolvendo, entre
outros aspectos: as próprias recomendações dos fabricantes, a geração de gotas, as condições
micrometeorológicas, os bicos de pulverização, os tipos de alvo, a adequação dos pulverizadores.
Neste curso, são apresentadas abordagens simples dos principais fatores que afetam a eficiên-
cia das aplicações, bem como uma proposta de calibração de pulverização passo a passo.

2. Eficiência de aplicação de agrotóxicos


Tanto no Brasil como no exterior, não existem informações definitivas sobre os desperdícios
que ocorrem durante as pulverizações de agrotóxicos. Algumas informações disponibilizadas na
literatura internacional apontam que as aplicações de defensivos são extremamente ineficientes,
mas são fundamentadas apenas em fatos teóricos; ou seja, são baseadas nas doses teóricas de
defensivos necessárias para controle de populações das pragas que produzem dano econômico.
Estudos com um novo método de determinação de volume depositado por meio de análise
de gotas, desenvolvido por Chaim et al. (1999a), testado em um experimento com pulverização
aérea de herbicidas (Pessoa & Chaim, 1999), demonstraram perdas em torno de 50% do volume
de calda aplicado. Chaim et al. (1999d) verificaram que os resultados das perdas de defensivos
pulverizados em culturas como feijão e tomate, foram elevados (Tabela 1).

TABELA 1. Eficiência da pulverização na distribuição de AGROTÓXICOS, nas culturas de feijão e tomate


CULTURA ALTURA DAS PLANTAS (cm) PLANTA 1 SOLO1 DERIVA1
Feijão 15 12 73 15
Feijão 35 44 41 15
Feijão 60 41 34 25
Tomate 40 36 28 35
Tomate 70 52 14 34
1
Valores expressos em porcentagem de ingrediente ativo, em relação ao total aplicado.
Fonte: Chaim et al., 1999

252
Nas culturas de porte rasteiro, devido às características intrínsecas da forma de aplicação, exis-
te uma clara tendência de a deposição se concentrar na região do ponteiro das plantas. Numa
comparação de deposição proporcionados diferentes bicos de pulverização, na cultura do algo-
dão, Scramin et al., (2002) observaram que a deposição média foi significativamente decrescente
da região apical (45%) para mediana (18%) e desta para a basal (7%). Esses resultados foram se-
melhantes aos obtidos por Chaim et al. (2000) para a cultura do feijão, onde também as perdas de
defensivo aplicado ficaram em torno de 77%.
A distribuição dos defensivos em culturas de porte arbustivo foi observada em diferentes está-
dios de crescimento da cultura do tomate estaqueado (Chaim et al. 1999b). De certa forma, a cul-
tura do tomate estaqueado serve como exemplo de pulverizações nas quais se aplicam grandes
volumes de calda (Tabela 2).

TABELA 2. Distribuição percentual de AGROTÓXICO, estimada para a cultura de tomate cultivada nos
campos experimentais de Jaguariúna
ALTURA DAS PLANTAS (cm) PLANTAS SOLO DERIVA
50 24 39 37
110 35 20 45
160 41 29 30

Fonte: Chaim et al., 1999b.

3. Fatores que afetam a eficiência da aplicação


O objetivo principal de uma pulverização é aplicar a quantidade mínima de ingrediente ativo
sobre o alvo, obtendo o máximo de eficiência sem contaminar as áreas adjacentes - não alvo.

Õ Os defensivos precisam ser aplicados em áreas atacadas por pragas-doenças e


plantas daninhas. O aumento da contaminação do meio ambiente, devido à deri-
va de produtos químicos tóxicos, tem causado frequentes condenações às pulve-
rizações, principalmente quando os efeitos são visíveis.

As perdas que ocorrem durante as aplicações de agrotóxicos são originadas por um conjunto
de causas. Nas pulverizações com grandes volumes de calda, muitas gotas caem entre as folha-
gens das plantas, especialmente nos espaços entre as linhas da cultura e entre as plantas, atingin-
do o solo. Uma grande quantidade de gotas atinge as folhas, coalescendo-se e formando gotas
maiores, que não conseguem mais ficar retidas, escorrendo para as partes inferiores das plantas e
caindo finalmente no solo (Courshee, 1960).
A pulverização com intenção de molhar totalmente as plantas ainda é muito praticada atu-
almente, apesar de ter sido “inventada” no século XIX. Na prática, o que acontece nesse tipos de
aplicação é que, uma vez que se inicia o escorrimento, a retenção dos produtos químicos pelas
folhas é menor do que se a pulverização fosse interrompida exatamente antes do início do escorri-
mento. Esse ponto dificilmente é conseguido e a quantidade de produto químico retida nas folhas
é proporcional à concentração da calda e independe do volume aplicado. Se o objetivo for reduzir

253
o volume de aplicação, exigir-se-á uma produção e distribuição adequadas de gotas e, nesse caso,
as perdas por evaporação e deriva podem ser acentuadas.
Atualmente, as recomendações contidas nos rótulos das embalagens dos defensivos deixam
a seleção do volume de aplicação a critério do aplicador. Algumas recomendações dão opções
entre 200 e 1.000 litros de calda por hectare. Na prática, o usuário utiliza um mesmo volume para
uma grande variedade de pragas e para os vários estádios de crescimento da cultura. Quando a
cultura se apresenta com pequena quantidade de folhas, o volume aplicado pode ser excessivo
e, por outro lado, quando as plantas já estão desenvolvidas, o volume pode ser insuficiente para
fornecer uma boa cobertura da cultura (Matthews, 1982).
O volume de aplicação depende do tipo de tratamento que se deseja executar, mas apresenta
uma forte relação com o tamanho das gotas produzidas pelos bicos, o qual determina a distri-
buição do defensivo no alvo. Pouca atenção tem sido dada ao tamanho das gotas e uma grande
variedade de bicos tem sido utilizada ao longo dos anos.
A maioria dos bicos produz um espectro de gotas de tamanhos variados e, em muitos casos, as
gotas grandes se chocam com as folhas mais expostas e não conseguem penetrar para se deposi-
tar nas superfícies “escondidas” do vegetal. Essa deposição externa pode se dar em tal intensidade
que acaba escorrendo para o solo, produzindo o que é denominado “endoderiva”. Por outro lado,
se não houver uma calibração adequada da tecnologia de aplicação, as gotas pequenas, que são
mais adequadas para penetração entre as folhas da planta, podem ser levadas pelo vento para
fora da área tratada, provocando a exoderiva. Além disso, são mais sensíveis à evaporação. O ta-
manho de gota ótimo é aquele que promove o máximo de deposição de produto no alvo, com um
mínimo de contaminação do meio ambiente (Himel, 1969 e Himel & Moore,1969).

Õ Para compensar as perdas que ocorrem durante as aplicações, as dosagens apli-


cadas são extremamente superestimadas. Por exemplo, Brown (1951) já afirmava
que para matar um determinado inseto era necessário apenas 0,0003 miligrama
de um determinado produto. Para controlar uma população de 1.000.000 de
indivíduos (que promoviam dano econômico na cultura), seriam necessários
apenas 30 miligramas do mesmo produto. Apesar disso, nas aplicações efetuadas
no campo eram utilizadas mais de 3.000 vezes a dose necessária, para obter um
controle adequado.

A eficiência do movimento da gota em direção do alvo é influenciada, tanto pelo processo de


aplicação, como pelas características da formulação do produto. Nessa fase, a gota é influenciada
pelas condições da natureza, como a temperatura, umidade relativa do ar, velocidade vertical e
horizontal do vento, turbulência do ar e pressão atmosférica.

3.1. Pulverização ou geração de gotas


São necessários poucos gramas de ingrediente ativo para controlar os problemas fitossanitá-
rios em uma determinada área. Na maioria dos casos, os ingredientes ativos não apresentam as
características físicas necessárias para serem aplicados, diretamente, com os equipamentos co-
merciais. Assim, esses ingredientes ativos recebem a adição de uma série de adjuvantes, estabele-
cendo uma “formulação”.

254
Numa questão puramente física e matemática, dispõe-se de um pequeno volume para ser
espalhado em uma grande área. Dessa forma, a grande maioria das formulações é desenvolvida
para ser diluída novamente em água. Mesmo com a diluição em água, o volume final ainda é
insuficiente, para que o produto químico entre em contato com toda área de superfície do alvo.
É necessário, portanto, aumentar a superfície do líquido, para que ele possa ser espalhado, uni-
formemente na área alvo. A única maneira de se aumentar a superfície do líquido, para que ele
possa ser distribuído uniformemente numa grande área, é por meio da sua divisão, em partículas
líquidas, denominadas gotas.
O número de gotas que podem ser produzidas com determinado volume de líquido é inversa-
mente proporcional ao seu diâmetro, elevado ao cubo. De acordo com Matthews (1982), o núme-
ro médio de gotas que se deposita por centímetro quadrado em uma superfície plana pode ser
calculado por:
3
6
0
 100 
n= ×  ×Q
π  d 
onde
n = número médio de gotas que se deposita por cm2,
d = diâmetro da gota (mm),
Q = litros por hectare.

Assim, a densidade teórica de gotas do mesmo tamanho obtidas quando se pulveriza um litro
por hectare, assumindo que a superfície é plana, é dada na Tabela 3.

TABELA 3. Densidade teórica de gotas quando se pulveriza um litro por hectare


DIÂMETRO DAS GOTAS (µm) NÚMERO DE GOTAS POR cm2
10 19.999
20 2.387
50 153
100 19
200 2,4
400 0,298
1000 0,019
Fonte: Matthews, 1982

3.2. Tamanho das gotas


As pulverizações produzem um grande número de gotas - pequenas esferas de líquido, sendo
a maioria menor que 0,5 mm. O tamanho das gotas é muito importante para os agrotóxicos serem
aplicados eficientemente com um mínimo de contaminação do meio ambiente. As pulverizações
dos agrotóxicos são normalmente classificadas de acordo com o tamanho das gotas (Tabela 4).

255
TABELA 4. Classificação das pulverizações de acordo com o tamanho das gotas
DIÂMETRO MEDIANO VOLUMÉTRICO (µm) CLASSIFICAÇÃO DA PULVERIZAÇÃO
<50 Aerossol
51-100 Neblina
101-200 Pulverização fina
201-400 Pulverização média
>400 Pulverização grossa
>500 Garoa
Fonte: Matthews, 1982

A pulverização aerossol é adequada para pulverização sob deriva, contra insetos voadores.
Algumas gotas aerossóis - 30 a 50 µm - e neblina são ideais para tratamento de folhagens em
aplicações com volumes ultrabaixos - menos de 5,0 L/ha. Quando é necessário reduzir a deriva, as
pulverizações média e grossa são as mais adequadas, independentemente do volume aplicado.
A pulverização fina é adequada quando é necessário um ajuste entre reduzir a deriva e promover
uma boa cobertura.
O tamanho das gotas é expresso como um diâmetro de uma gota em voo, medido em micrô-
metros (µm) - um micrômetro é 1/1000 mm. As gotas, quando se chocam com os alvos, se espa-
lham, deixando de ser uma esfera e, assim, fornecem uma falsa impressão do seu tamanho origi-
nal. A intensidade do espalhamento depende da formulação e da natureza da superfície do alvo.

Õ A maioria dos dispositivos usados para a pulverização não consegue produzir go-
tas de um único tamanho. Entretanto, dentro de uma pulverização convencional,
existe uma variação do tamanho das gotas, referido como espectro de gotas, e é
importante a compreensão do tamanho das gotas e a relação com sua recupera-
ção pelo alvo. Os espectros de gotas são categorizados de acordo com o tamanho
médio de suas partículas. Os dois padrões internacionais utilizados para definir os
espectros são o diâmetro mediano volumétrico e diâmetro mediano numérico.

• Parâmetros de tamanho das gotas - VMD e NMD


O parâmetro mais comum utilizado para expressar o tamanho das gotas é o diâmetro mediano
volumétrico -VMD. Nesse caso, soma-se o volume de todas as gotas de uma amostra representa-
tiva, e o VMD é o diâmetro daquela gota que divide a amostra em duas partes iguais, de maneira
que metade do volume é composto por gotas menores que o VMD, e a outra metade contém
gotas maiores. Nesse caso, poucas gotas grandes podem ser responsáveis por uma grande pro-
porção do volume total da amostra, o que aumenta o valor do VMD, que sozinho não serve para
indicar a variação do tamanho das gotas.
Outro parâmetro é o diâmetro mediano numérico – NMD: basta dividir a amostra de gotas
em duas partes iguais pelo número, sem referência aos seus volumes, de maneira que metade do
número de gotas seja menor que o NMD e a outra metade maior. Esse parâmetro enfatiza as gotas
menores, as quais quase sempre estão em maior proporção numa amostra.
Pelo fato de o VMD e o NMD serem afetados por proporções de gotas grandes e pequenas
respectivamente, a relação entre os dois parâmetros é utilizada para expressar o grau de unifor-

256
midade dos tamanhos. A relação entre VMD e NMD fornece um indicativo da uniformidade do
espectro, de maneira que o tamanho das gotas é mais uniforme, quanto mais próxima de 1 estiver
essa relação.
VMD e NMD são medidas úteis para a caracterização das pulverizações, mas elas dão apenas
uma pequena indicação da variedade de gotas presentes. Apesar disso, não existe outro meio
para quantificá-las. Contudo, a relação VMD/NMD é, muitas vezes, utilizada como um guia - como
um pequeno número de grandes gotas contém mais líquido que um grande número de pequenas
gotas, o VMD é sempre maior que o NMD. Essa relação dá uma indicação da variação do tamanho
das gotas.

• Relação entre o tamanho das gotas e o alvo de aplicação


Existe uma diversidade muito grande de alvos para as aplicações de agrotóxicos. Como os
agrotóxicos são biologicamente muito ativos, a eficiência da aplicação pode ser melhorada se for
selecionado um tamanho ótimo de gota, para aumentar a quantidade de produto que atinge e
adere ao alvo. É necessária pesquisa para definir o tamanho ótimo de gota para cada tipo de alvo,
entretanto, Matthews (1982) apresenta uma tabela com algumas generalizações (Tabela 5).

TABELA 5. Tamanho ótimo de gotas para alguns tipos de alvo


ALVOS TAMANHO DE GOTAS (µm)
Insetos em voo 10-15
Insetos em folhagem 30-50
Folhagens 10-100
Solos ou para reduzir deriva 250 500
Fonte: Matthews, 1982

A seleção do tamanho das gotas deve ser bastante criteriosa. Por exemplo, imaginando-se que
uma gota de 50 µm tem a dose letal de um inseticida para determinado inseto, uma gota de 200
µm teria uma dose 64 vezes maior. Entretanto, se as duas gotas fossem perdidas, a gota maior
desperdiçaria 64 vezes mais produto que a menor.

• Coleta das gotas pelos alvos


As gotas são coletadas na superfície dos insetos ou das plantas por sedimentação ou impacto,
sendo este último mais importante para gotas aerossóis (<50 µm). A deposição por impacto é
proporcionada por uma interação complexa entre tamanho e velocidade das gotas e tamanho do
alvo. Em geral, a eficiência da coleta aumenta, proporcionalmente, com o aumento da velocidade
relativa e tamanho da gota, e diminui à medida que aumenta o tamanho do alvo. Uma gota de 10
µm, submetida à ação de um fluxo de ar constante, conseguiria se desviar de uma laranja colocada
na sua trajetória. Entretanto, provavelmente, não conseguiria se desviar de um fino fio de cabelo.
O impacto das gotas sobre as folhas depende muito da posição da sua superfície em relação
à trajetória das gotas. Uma grande parte das gotas é coletada pelas folhas que estão balançando
pela ação da turbulência do ar. Entretanto, se a velocidade do vento for muito grande - e isso
ocorre em muitos casos, em pulverizações com equipamentos que produzem correntes de ar em
alta velocidade -, a folha pode assumir uma posição paralela ao jato de ar, de forma que apresente
uma área mínima para interceptar as gotas.

257
A superfície dos alvos pode afetar sensivelmente a deposição, como no caso das superfícies
pilosas ou serosas, que não conseguem reter as gotas. Nesse caso, é necessário adicionar algum
produto que reduza a tensão superficial da calda de pulverização, para melhorar o molhamento
ou espalhamento e a adesão das gotas.

• Densidade da deposição
Quando se pratica a pulverização com grandes volumes de calda, o desejo é promover uma
cobertura completa das plantas - e isso nem sempre é conseguido. Para se reduzir o volume de
aplicação, existe a necessidade de se aplicar gotas de forma dispersa e, exceto em poucos casos, o
controle não tem sido tão bom como o conseguido com a aplicação de grandes volumes.
Para se aplicar pequenos volumes de calda, é necessário conhecer a densidade, distribuição e
tamanho das gotas que se depositam no alvo, de maneira que a quantidade do ingrediente ativo
do defensivo seja suficiente para um controle efetivo do problema fitossanitário. Na aplicação
de produtos sistêmicos, a distribuição de gotas não influencia o resultado do controle, porque o
produto é absorvido pelas plantas e redistribuído, através do seu sistema de circulação de seiva.
Entretanto, quando o produto tem ação de contato, a densidade e a distribuição afetam sen-
sivelmente o resultado do controle. Insetos que apresentam grande mobilidade, como as cigar-
rinhas e algumas espécies de lagartas, podem ser facilmente controlados sem uma cobertura
completa dos alvos. Mas, para insetos minadores de folhas e algumas espécies de cochonilhas, a
cobertura tem que ser bastante uniforme. Por exemplo, alguns trabalhos têm demonstrado que
é necessária a deposição de uma gota, com pelo menos 100 µm de VMD, por milímetro quadrado
de folha, para o controle de determinada cochonilha em citros.
O controle de doenças fúngicas, sem uma cobertura completa, pode parecer impossível, des-
de que a hifa do fungo penetre na folha no local da deposição do esporo. Entretanto, Matthews
(1982) reportou que cada gota tem uma zona de influência fungicida, de maneira que, se as gotas
estiverem distribuídas dentro de distâncias adequadas, a proteção é muito boa, principalmente
com uma densidade de 80 gotas por centímetro quadrado de folha.

• Dinâmica das gotas


A deposição das gotas de pesticidas sobre um alvo definido é sujeita a uma série de influências
de parâmetros. As influências provocadas pela velocidade do vento e temperatura podem ser
parcialmente controladas pela escolha do momento da aplicação. Entretanto, outros fatores estão
fora de controle - como a estabilidade atmosférica, turbulência, umidade relativa, eficiência de
coleta de gotas pela cultura. O conhecimento do mecanismo dessas influências, associado com
a presente geração de produtos químicos, equipamentos e técnicas, auxilia o planejamento das
aplicações para obtenção de máxima eficiência.

• Trajetória das gotas


Durante a pulverização, as gotas passam por alguns tipos de influência, que determinam se
elas atingem o alvo ou são levadas pela deriva. A importância relativa dessas influências depende-
rá do tipo da aplicação, do sistema de pulverização e das condições micrometeorológicas, durante
a aplicação.
• Influência do equipamento: A sedimentação das gotas é afetada pela velocidade com
que elas são projetadas para o alvo, pela turbulência criada pelo próprio jato ou vento
provocado pelo equipamento.

258
• Influência do microclima: A partir do momento que a gota está livre da influência do
equipamento, ela será afetada pelas condições de turbulência e ventos predominantes.
Dependendo da velocidade do vento e da altura da cultura, as turbulências podem ser
maiores, iguais ou menores que a velocidade média de sedimentação do espectro das
gotas. Dentro das culturas - com exceção das florestas onde a folhagem é densa -, a velo-
cidade média do vento é muito baixa e as gotas acima de 45 µm tendem a sedimentar-se
sobre as superfícies.

Õ Durante todos os estágios de sua trajetória, o tamanho das gotas sofrerá uma
diminuição devido à evaporação. Nesse caso, a temperatura e umidade relati-
va devem ser consideradas, principalmente para as pulverizações baseadas em
água. O objetivo do estudo da dispersão das gotas é compreender a interação de
todos esses processos, para se fazer previsões dos depósitos sobre os alvos, não
alvos e deriva. Determinadas discussões sobre dispersão de gotas e particulados
envolvem alguns conhecimentos de aspectos fundamentais em física.

• Evaporação das gotas


A evaporação ocorre quando a energia é transportada para uma superfície em evaporação e
se a pressão de vapor do ar estiver abaixo de um valor de saturação. A pressão de vapor saturado
aumenta com a temperatura. A variação do estado de líquido para vapor requer energia para ser
gasta na expansão das atrações intermoleculares das partículas de água.
Essa energia é geralmente fornecida pela radiação solar e suplementada pela remoção de calor
do meio envolvente, causando uma aparente perda de calor, e uma consequente queda de tem-
peratura. O calor latente de vaporização para evaporar um grama de água em 0º C é 600 cal. A taxa
de evaporação depende de uma série de fatores, mas os dois mais importantes são a diferença
entre a pressão de saturação de vapor da água e a pressão de vapor do ar, e a existência de um
fornecimento contínuo de energia para a superfície. A velocidade do vento pode também afetar a
taxa de evaporação, porque o vento é geralmente associado com a importação de ar fresco e não
saturado, o qual absorverá a umidade disponível.
A perda de líquido de uma pulverização por evaporação depende muito da temperatura e
umidade relativa, mas também da composição da calda e do tamanho das gotas. A temperatura
e umidade relativa são incontroláveis e podem ser alteradas apenas pela seleção do momento da
aplicação, de acordo com as variações diurnas do local da aplicação.
Para complicar o problema, a velocidade de sedimentação - ou velocidade terminal - também
diminui à medida que as gotas ficam mais pequenas. Isso indica que o tempo para a gota atingir
a cultura fica mais longo, o que, por sua vez, aumenta o tempo disponível para a evaporação. Se
a evaporação atingir o ponto em que o líquido evapora totalmente, uma partícula de resíduo do
material ativo ficará flutuando no ar e poderá ser levada, pela ação da deriva, a distancias consi-
deráveis, antes de se depositar.
A Tabela 6 apresenta o tempo de vida e a distância de queda das gotas em ar parado em di-
ferentes condições de temperatura e umidade relativa. Pode ser observado que à medida que
aumenta a diferença entre as temperaturas dos termômetros de bulbo seco e úmido (depressão
psicrométrica), a taxa de evaporação aumenta consideravelmente.

259
TABELA 6. Tempo de vida e distância de queda de gotas, em ar parado, em diferentes condições de
temperatura e umidade relativa
T=200 C T=250 C T=300 C
Tamanho original
∆T=2,2 ∆T=4,0 ∆T=7,7
da gota
UR=80% UR=72% UR=50%
(µm) t(s) D(m) t(s) D(m) t(s) D(m)
30 5 0,07 3 0,04 1 0,02
50 14 0,30 8 0,29 4 0,15
70 28 2,05 15 1,13 8 0,58
100 57 8,52 31 4,69 16 2,44
150 128 43,14 70 23,73 37 12,33
200 227 136,36 125 75,00 65 38,96
300 511 690,34 281 379,69 146 197,24
400 909 2181,81 500 1200,00 290 623,37
t= segundos, D= metros e ∆T= diferença de temperatura entre termômetros de bulbo seco e úmido.

A evaporação de gotas pode ser considerada como o principal fator determinante da eficiência
da aplicação de defensivos, pois quando empregam caldas diluídas em água, as pulverizações
com gotas menores que 60 µm evaporam tão rapidamente, que seria impossível utilizá-las, sob
determinadas condições micrometeorológicas.
A velocidade com que as gotas diminuem de tamanho é muito grande sob as condições tro-
picais. Assim, Johnstone & Johnstone (1977) recomendam que as pulverizações de formulações
baseadas em água, em 20 a 50 L/há, com 200 a 250 µm, devem cessar quando ∆T (diferença entre
as temperaturas de bulbo úmido e seco de um psicrômetro) exceder 8oC ou a temperatura do
bulbo seco superar 36oC.
Uma gota em queda livre atinge uma velocidade constante (velocidade terminal)- quando as
forças do arrasto aerodinâmico contrabalancem a força gravitacional. Para as gotas usadas nor-
malmente nas pulverizações agrícolas, essa velocidade é alcançada dentro de 2 metros do ponto
de emissão. A Tabela 7 mostra as velocidades terminais para as diferentes faixas de tamanhos de
gotas normalmente encontradas e para líquidos com densidade igual a 1.
TABELA 7. Velocidade terminal de gotas de diferentes tamanhos
TAMANHO DAS GOTAS (µm) VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO (m.s-1)
20 0,012
40 0,047
60 0,102
80 0,175
100 0,270
120 0,355
160 0,536
200 0,705
250 0,940
(Continua

260
TABELA 7. Velocidade terminal de gotas de diferentes tamanhos (Continuação)
TAMANHO DAS GOTAS (µm) VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO (m.s-1)
300 1,150
350 1,200
400 1,630
500 2,080
Fonte: Johnstone & Johnstone, 1977

Õ O conhecimento da velocidade terminal de queda de uma gota é importante,


porque, quanto menor o tamanho da gota, mais tempo ela gastará para se depo-
sitar, ficando durante esse período sujeita à ação da evaporação e do arraste pelo
vento para fora da área alvo, originando a “deriva”.

A deriva perigosa é o movimento do produto químico para fora da área intencionada e é origi-
nada pelo fato de que as gotas, após serem emitidas pelo bico de pulverização, flutuam no vento
por determinado período. As gotas pequenas, que têm maior relação da superfície/peso e menor
velocidade de queda, apresentarão consequentemente maior distância de deriva.
Quantick (1985b) apresenta uma tabela indicando a distância de deriva de gotas de diferentes
tamanhos (Tabela 8). O perigo da deriva é proporcionado pela possibilidade de que o produto
químico aplicado atinja outras culturas. A extensão do perigo da deriva depende, evidentemente,
da toxicidade do produto aplicado. Por outro lado, a deriva causa perda do produto e reduz a efi-
ciência da aplicação.

TABELA 8. Distância da deriva de gotas liberadas a 3 metros de altura, em um vento de velocidade


constante de 1,34 metro por segundo, assumindo que não ocorra evaporação
DIÂMETRO DA GOTA (µm) DISTÂNCIA DA DERIVA (m)
500 2,1
200 4,9
100 15,25
30 152,50
15 610,00
Fonte: Quantick, 1985

3.3. Processos de geração de gotas


Todos os pulverizadores têm três pontos em comum:
a) armazenam o líquido em um recipiente ou “tanque”;
b) apresentam um sistema de alimentação por gravidade ou bombas de pressão; e
c) necessitam de bicos de pulverização.
O bico é, estritamente, o final de um conduto pelo qual o líquido emerge na forma de jato. Nes-
te tópico em particular, o termo bico é usado com um sentido mais amplo e pode ser qualquer dis-
positivo pelo qual o líquido é emitido, quebrado em gotas e dispersado a determinada distância.

261
O propósito geral da pulverização é aumentar a área de superfície de uma massa líquida para
facilitar a ação de determinados processos físicos ou químicos. Na agricultura, o processo pode ser
o de dispersar um volume de líquido em determinado volume de ar; ou de dispersar o volume em
uma grande área, de maneira que a área de superfície expandida do líquido seja transferida para
uma área plana, representada pelas folhas das plantas ou solo.
A pulverização ou quebra do líquido em gotas é, primeiramente, uma função da aplicação de
uma força, maior que a força de tensão superficial do líquido, para criar uma superfície extrema-
mente expandida na forma de gotas.
Este fenômeno demanda energia, e o dispositivo usado para quebra do líquido - o bico - tem,
na maioria dos casos, sua potência fornecida por máquinas. Os bicos de pulverização têm sido
classificados, de acordo com a fonte de energia para produção de gotas, em:
1) bicos de energia centrífuga ou bicos centrífugos;
2) bicos de energia gasosa ou bicos pneumáticos; e
3) bicos de energia elétrica ou bicos eletrohidrodinâmicos;
4) bicos de energia hidráulica ou bicos hidráulicos.
Para cultura do tomate tutorado, os interesses se concentram em dois tipos específicos.

• Bicos pneumáticos
Para se transformar um líquido em gotas, é necessário transformá-lo numa lâmina muito fina
e, em seguida, promover a aceleração dessa lâmina até uma velocidade muito grande, de tal ma-
neira que o choque do líquido em alta velocidade com o meio gasoso da atmosfera, relativamente
parado, provoca a sua ruptura em gotas. Pode-se dizer que as gotas são formadas pela diferença
relativa de velocidade entre o líquido e o ar. Partindo dessa premissa, outra maneira para se gerar
gotas é aumentar a velocidade do ar em relação ao líquido.
É exatamente esse o princípio empregado nos bicos pneumáticos, cuja invenção é muito antiga,
pois Rose (1963) descreveu que um inventor pediu patente para um dispositivo que utilizava esse
processo em 1845, o qual foi muito utilizado em aplicações de defensivos no final do século XIX.
Na agricultura, este tipo de bico tem sido utilizado, basicamente, em alguns modelos de pulve-
rizadores motorizados costais e em alguns tipos de equipamentos tratorizados, como os “canhões”.
Seria a mais adequada tecnologia para aplicação de produtos na cultura do tomate tutorado, pois
alia produção de gotas pequenas com vento para auxiliar a penetração do dossel das plantas.
Certamente, reduziria drasticamente o volume de calda necessário para controle efetivo dos pro-
blemas fitossanitários da cultura. Entretanto, os equipamentos que existem no mercado são ina-
dequados, pois os atomizadores costais motorizados são superdimensionados em potência, além
de apresentarem vento muito potente que poderia danificar flores e ramos tenros.

• Bicos hidráulicos
Os bicos hidráulicos extraem a energia para a pulverização da pressão a que o líquido é subme-
tido e, atualmente, são os mais utilizados no mundo, para aplicação de defensivos. Uma bomba
hidráulica ou tanques pressurizados são utilizados para suprir a energia necessária para a pulveri-
zação. Eles podem ser subdivididos em grupos, que basicamente descrevem as características do
jato emitido. Assim, existem bicos de jato cônico-cheio, bicos de jato cônico-vazio e bicos de
jato em leque.

262
A B C

Figura 1. Jatos cone cheio (A), cone vazio (B) e leque (C)
Fonte: Chaim, 2009

O bico de jato cônico conta com um dispositivo interno com uma ou mais aberturas, o qual em
inglês é denominado de core, e, em português, recebe uma série de outras denominações, como
caracol, difusor ou núcleo. Esse dispositivo tem como finalidade promover uma rotação do líquido
em uma pequena câmara antes do orifício de saída. A rotação do líquido faz com que ele saia tan-
genciando a borda circular do orifício, na forma de uma fina lâmina em formato cônico, que, com
a expansão, se rompe em gotas. Em muitos casos, dependendo da pressão exercida e do diâmetro
do orifício de saída, a lâmina não se forma, e o jato de gotas já emerge diretamente da ponta do
bico. Um bico cone é constituído de diferentes peças (Figura 2A).
Nos bicos de jato em leque, que são amplamente utilizados na aplicação de herbicidas ou
pulverização em superfícies planas, o líquido é forçado a passar por um orifício de forma elíptica
ou retangular. Esses bicos trabalham geralmente com pressões inferiores, em relação aos cônicos,
e existem opções para se trabalhar em uma ampla gama de vazões e ângulos de pulverização
(Figura 2B).

A B

Figura 2. Constituição dos bicos cônicos (A) e leques (B). Os algarismos indicam, para (A): 1- corpo, 2-
filtro, 3 - núcleo, 4 - disco, 5 – capa; para (B): 1 - corpo, 2- filtro, 3 - ponta, 4 - capa. No tipo leque, onde o
jato é originário de um orifício elíptico da ponta (3). No tipo bico leque o jato é originário de um orifício
elíptico da ponta (3)
Fonte: Chaim, 2009

263
Como a maioria dos herbicidas é aplicada à superfície do solo, ficou arraigada a crença de que
bico leque é para usar nessa aplicação. Entretanto, ele é indicado também para aplicar inseticidas
e fungicidas ao solo, bem como na cultura do tomate tutorado e outras praticadas em estufas,
pois a escolha do bico é em função do alvo.
Deve ser considerado que, no bico cônico, o líquido desperdiça energia quando efetua a ro-
tação antes de sair pela ponta. Por isso, o jato não tem velocidade suficiente para penetrar nas
regiões inferiores das plantas. Neste caso, quando o alvo se situa no interior das plantas, um bico
leque de ângulo de jato mais estreito poderá oferecer maiores vantagens de penetração do que
o bico cone, porque seu jato atinge maior velocidade, gerando turbulências desejáveis para me-
lhorar a deposição.

Õ Existem vários outros tipos de bicos, mas, para a cultura do tomate tutorado, o
bico leque é o mais utilizado, em equipamentos de alta pressão e vazão, para que
a calda tóxica consiga algum grau de penetração no dossel das plantas.

No Brasil, são comercializadas diferentes marcas de bicos de pulverização e, nesse caso, cada
fabricante adota uma nomenclatura diferente para a identificação de seus bicos, de acordo com a
vazão, o ângulo de jato, a cor de ponta, o material de fabricação, etc.
Assim, o usuário deverá requisitar as tabelas de bicos de sua marca preferida ao seu fornecedor
e escolher aquele que levará em consideração o tipo de calda que será utilizada, o tamanho das
gotas adequadas ao alvo, vazão, pressão de trabalho, tipo de equipamento em que o bico será uti-
lizado, etc. Contudo, o grau de cobertura no alvo e tamanho de gotas necessários para o controle
do problema fitossanitário deverão ser os parâmetros para a escolha adequada do bico.

4. Regulagem de pulverizadores
Geralmente, o tomate tutorado é tratado com pulverizador estacionário com longas manguei-
ras para condução da calda e lanças manuais com bicos leques. Para vencer as longas distâncias
e garantir algum grau de penetração de gotas no dossel das plantas, a aplicação é feita sob alta
pressão.
Uma vez que o tanque do pulverizador devidamente enxaguado seja abastecido com água
limpa, deve-se verificar o funcionamento da máquina, se não há eventuais vazamentos, e se os
componentes estão funcionando a contento. Equipar o pulverizador com os bicos apropriados é
um dos pontos mais cruciais nesta fase. Para isso, deve ser feita a investigação sobre o hábito da
praga, doença ou erva daninha para verificar qual o tamanho ideal de gotas para o seu controle. O
pulverizador deve ser levado até o local de trabalho e várias opções de bicos devem ser testadas
para se decidir por aquele que melhor atenda aos requisitos do tratamento, isto é, o que melhor
coloca o produto no alvo, sem perda por escorrimento nem por deriva.
Deve ser muito bem observada a movimentação da lança com perfeita sintonia da velocidade
de deslocamento. A lança é movimentada verticalmente e, se não houver sintonia com o desloca-
mento horizontal, regiões do ponteiro e do baixeiro das plantas poderiam não ser atingidas, pois
o ziguezague da lança deixaria regiões sem cobertura.

264
Existe uma diferença entre “regulagem de equipamentos de pulverização” e “calibração de
aplicação de agrotóxicos”.
• Regulagem: todo o enfoque é para a máquina, onde se colocam os bicos que produzem as
gotas mais adequadas para controlar o problema fitossanitário; regula-se a direção dos ja-
tos de gotas; a altura de pulverização; a pressão de trabalho recomendada pelos fabrican-
tes dos bicos; verificam-se os filtros dos bicos; checa-se a relação entre marchas do trator e
velocidades, enfim, efetua-se a manutenção geral da máquina.
• Calibração: é feita a aferição da deposição no alvo da aplicação. Essa aferição deve ser
realizada mediante a conhecimento do tamanho e densidade de gotas necessária para o
controle fitossanitário. Só após a calibração, o volume de calda consumido será conhecido.
Como o desejo é colocar a quantidade correta de defensivos no alvo, sem desperdícios,
não se deve calibrar um equipamento para aplicar XX litros de calda por hectare - o volume
de calda consumido é resultado da calibração e não uma meta a ser alcançada.

Õ Assim, calibração deve ser definida como a “otimização da deposição de defensi-


vos no alvo, com o menor consumo possível de calda”.

5. Calibração de pulverização
Um fator extremamente importante para o sucesso do tratamento fitossanitário de diferentes
culturas é a calibração dos pulverizadores, que serão utilizados para as aplicações dos agrotóxicos.
Seu objetivo é colocar a quantidade correta do defensivo no alvo, no local onde ocorre o ataque
dos problemas fitossanitários, com o menor consumo de calda. Se houver uma deposição eficien-
te, o controle será mais efetivo e o número de aplicações poderá ser reduzido.
Dentre os pulverizadores, existem alguns que são mais utilizados para aplicar os agrotóxicos
em culturas de porte rasteiro, arbustivo ou arbóreo, que são escolhidos em função da área culti-
vada e, principalmente, do poder aquisitivo do agricultor. Equipamentos, como os pulverizadores
costais ou aqueles que a aplicação é realizada por lanças manuais, produzem gotas que são arre-
messadas exclusivamente pela força da pressão hidráulica. Esses equipamentos devem ser utiliza-
dos preferencialmente em pequenas áreas de cultivo ou quando a cultura se encontra nas etapas
iniciais do desenvolvimento da massa foliar.
Para cultura de porte arbustivo e arbóreo, os equipamentos que utilizam com cortina de ar se-
riam indicados para todas as etapas de desenvolvimento da cultura, porque o jato de ar auxilia na
deposição das gotas. Entretanto, quando a cultura se encontra com a área foliar pequena, é conve-
niente desligar alguns bicos ou aumentar a velocidade de deslocamento da máquina para reduzir
o consumo de calda. No caso de culturas de porte rasteiro, também seria conveniente aumentar a
velocidade de deslocamento da máquina nas etapas iniciais de desenvolvimento da cultura.

5.1. Passos para calibração de pulverização para aplicação de


defensivos
Para facilitar a compreensão de todos os passos para a calibração de qualquer tipo de pulve-
rização, serão adotadas neste tópico culturas arbustivas e arbóreas, como, por exemplo, a videira

265
cultivada em latada e a cultura da maçã. Nesse caso, para controle de uma doença nessas culturas,
os passos seriam os seguintes:

1) Observação do grau de deposição de gotas nos principais locais de ocorrência das


pragas e doenças
A observação da deposição pode ser realizada com uso de cartões sensíveis à água, que são
cartões de papel, impregnados com o corante azul de bromofenol, que na sua forma não ionizada
apresenta coloração amarela, disponíveis no mercado.
Entretanto, na impossibilidade de adquirir os cartões, eles poderão ser fabricados pelo usuário.
Deverá ser preparada uma solução contendo um grama de azul de bromofenol, dissolvido em 20
mililitros de acetona e diluído em 180 mililitros de tolueno. Devem ser selecionados cartões de
papel (com alguma rigidez) que apresentem uma superfície polida brilhante, que impeça a trans-
locação da solução. A solução deverá ser passada com algodão preso em uma haste de madeira
ou outro material sobre a superfície brilhante do papel, que adquirirá uma coloração amarelada.
Nessa situação, as gotas de água quando atingem a superfície tratada, produzem manchas azuis,
que apresentam um bom contraste com o fundo amarelo e podem ser facilmente visualizadas.
Na impossibilidade de obtenção e fabricação do cartão sensível à água, poderá ser utilizado
algum corante na calda de pulverização. Assim, as gotas poderão ser observadas diretamente nas
folhas das plantas ou em alvos artificiais constituídos de papel comum, com coloração que inten-
sifique o contraste das manchas. Há ainda produtos fluorescentes que podem ser observados com
iluminação de luz ultravioleta (luz negra).
No caso do exemplo da parreira, como a pulverização é realizada debaixo da latada e orientada
verticalmente para cima, os alvos poderiam ser distribuídos em três regiões:
• região basal onde ficam os cachos,
• região intermediária, e
• região superior (sobre a latada), porque certamente receberão deposições diferentes.
Os alvos da região inferior receberão uma deposição muito intensa, já que o bico de pulveriza-
ção se desloca muito próximo deles, mas fornecem informação importante, se comparados com
aqueles colocados na região mediana e superior do caramanchão, permitindo avaliar o grau de
dificuldade de penetração das gotas.
Normalmente, gotas grandes (maiores do que 0,25 mm de diâmetro) tendem a depositar-se
nas primeiras camadas de folhas, enquanto que as pequenas (menores do que 0,15 mm de diâ-
metro) conseguem atingir as camadas das folhas menos expostas. Como o tamanho das gotas é
influenciado pela vazão do bico e pela pressão de trabalho, esses parâmetros devem ser testados
em conjunto com diferentes velocidades de aplicação, até que a pulverização dê o resultado es-
perado na cobertura.
A calibração deve ser realizada mediante a utilização de padrões de tamanhos e densidade
de gotas que devem ser selecionados para alvos característicos. Matthews (1982) apresenta uma
generalização dos tamanhos de gotas que devem ser utilizados para alvos específicos (Tabela 6).
Na prática, não é recomendável utilizar as gotas menores do que 100 micrômetros recomendadas
por Matthews (1982). Dessa forma, os padrões de tamanhos de gotas ilustrados na Figura 3 pode-
riam ser utilizados.

266
200 µm 200 µm 300 µm 300 µm 400 µm 400 µm
130 260 38 76 20 30
gotas/cm² gotas/cm² gotas/cm² gotas/cm² gotas/cm² gotas/cm²

Figura 3. Padrões de tamanho e densidade de gotas de pulverização. O tamanho das gotas é o VMD e
medido e classificado pelo programa “GOTAS”, desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente & Embrapa
Informática Agropecuária. Imagens recuperadas de amostras originais, que fornecem apenas aspectos
visuais de deposição, pois algumas manchas podem ter sido alteradas entre a captura e a transposição
para o texto
Fonte: Chaim, 2009

No folheto fornecido pela fabricante do cartão sensível a água, é apresentada uma tabela com
padrões de densidade de deposição para alguns tipos de alvo (Tabela 9).

TABELA 9. Padrões de densidades de deposição mínimas


para alguns tipos de pulverização
TIPO DE PULVERIZAÇÃO DENSIDADE DE GOTAS (nº/cm²)
Inseticidas 20-30
Herbicidas em pré emergência 20-30
Herbicidas de contato 30-40
Fungicidas 50-70
Fonte: Chaim, 2009

Normalmente, para o caso de controle de doenças, deposições com densidade superior a 70


gotas por centímetro quadrado são consideradas como as mais adequadas para aplicações de
fungicidas. Assim, considerando os padrões apresentado na Figura 3, gotas entre 200 e 300 µm
poderiam ser utilizadas nas pulverizações. Portanto, não seria necessário molhar totalmente as
folhas ao ponto de escorrimento, porque essa condição de pulverização exigiria elevado volume
de calda e seria extremamente desperdiçadora.

2) Avaliação da vazão do equipamento


Assim que o padrão de deposição seja atingido, seria necessário calcular a vazão dos pulveri-
zadores que poderá ser obtida de duas maneiras diferentes:

267
a) Método direto
Consiste em pulverizar durante um minuto coletando o líquido em algum tipo de recipiente e
medir o volume pulverizado com algum utensílio graduado. É indicado quando existe facilidade
de coletar o líquido pulverizado e, principalmente, se o agricultor dispõe de algum utensílio com
graduações para medir volume, como as provetas. Entretanto, as provetas são caras e não são
facilmente encontradas nas pequenas cooperativas que comercializam insumos agropecuários.
Nesse caso, o agricultor deve se utilizar do método indireto.
b) Método indireto
Consiste em colocar um volume conhecido dentro do tanque do equipamento, pulverizar até
o esgotamento, cronometrando o tempo consumido para este procedimento. Essa informação é
importante para especificação na aquisição de bicos novos. Na compra, deve ser especificada a
vazão desejada na pressão de trabalho que se pretende utilizar. Exemplo de especificação: bico
leque, ângulo de 80o, com vazão de 1,54 litros/min, numa pressão de 10 kg/cm² (ou 150 lbf/pol²).

Para um pulverizador estacionário, por exemplo, estes seriam os passos:


• Adicionar 20 litros de água (bem medidos) no tanque do pulverizador;
• Acionar o pulverizador selecionando ou rotação do motor usualmente utilizada na pulveriza-
ção;
• Cronometrar o tempo que se gasta para pulverizar os 20 litros (por exemplo = 3 minutos e 15
segundos);
• Converter o tempo para “segundos” = (3 x 60) + 15 = 180 + 15 = 195 segundos.
• Dividir os 20 litros pelo tempo em segundos = 20/195 = 0,10256 litros/segundo.
• Multiplicar o valor por 60 para obtenção da vazão em litros/min:
• Vazão = 0,10256 X 60 = 6,15 litros/minuto
• Caso necessário, dividir a vazão da máquina pelo número de bicos da lança. Exemplo para lan-
ça com 4 bicos:
Vazão/bico= 6,16/8 = 1,54 L/min.

3) Medição da velocidade de deslocamento da lança durante uma pulverização

a) com uma trena marcar um percurso de 50 metros;


b) afastar o aplicador do local demarcado a uma distância tal que seja suficiente para imprimir
velocidade constante durante a passagem pelo início da região demarcada;
c) disparar o cronômetro no momento em que o aplicador atingir a marca inicial. Desligar o
cronômetro no momento que atingir a marca final dos 50 metros. Anotar o tempo gasto e repetir
a operação.
Se, por exemplo, o aplicador demorou 40 segundos para percorrer os 50 metros. Para se conhe-
cer em “metros por minuto” dividir os metros caminhados pelos segundos consumidos = 50/40 =
1,25 m/s. Para transformar em minutos multiplicar por 60:
Velocidade = 1,25 X 60 = 75 m/min

268
4) Cálculo da distância percorrida para tratar um hectare
Supondo que a faixa de aplicação do pulverizador é de um metro e considerando um hectare
como um quadrado de 100 metros de lateral.
O número de passadas será:
P = 100/1,0 = 100
Como em cada passada o aplicador percorre linha de 100 metros, com 100 linhas, será percor-
rido:
L= P x 100 = 100 X 100 = 10.000 metros

5) Cálculo do tempo que será gasto para tratar o hectare


O tempo será a distância percorrida (10000 m/ha) dividida pela velocidade de aplicação (75 m/
min):
Tempo consumido/ha = 10000/75 = 133,3 minutos/ha

6) Cálculo do volume de calda que será gasto para tratar 1 ha


Volume de calda gasto será obtido multiplicando-se a vazão do pulverizador (6,15 litros/min)
pelo tempo que se gasta para a pulverização (133,3 min/ha):
Volume consumido/ha = 6,2 X 133,3 = 826 litros/ha

7) Cálculo da quantidade de defensivos que deverá ser colocada no tanque do pulveri-


zador
Normalmente, as embalagens dos agrotóxicos podem apresentar recomendação de dosagem
em duas formas:
a) na forma de XX a YY gramas de produto/ha ou XX a YY mililitros/ha
b) na forma de XX gramas de produto por 100 litros ou XX mililitros de produto por 100 litros,
com recomendação de um volume de calda mínimo, que deve ser utilizado para controle eficiente
de pragas e doenças.
A recomendação apresentada na forma de XX gramas ou mililitros/100 litros é amplamente
utilizada pelos agricultores, devido à facilidade dos cálculos para preparo da calda. Entretanto,
essa recomendação só deve ser utilizada quando se empregam grandes volumes de calda, ou
seja, acima de 500 litros por hectare, obedecendo à recomendação do fabricante do defensivo.
Para o exemplo de consumo de 826 litros de calda/ha, o agricultor deverá utilizar uma recomen-
dação que especifique a dosagem do defensivo em gramas ou mililitros por litro.

• Exemplo:
Supondo que o agricultor utilizará um fungicida para controle de uma determinada doença.
No rótulo ou bula da embalagem, o agricultor encontra a recomendação de dosagem de 100 a
300 mL/100L do produto comercial. Devido às características da cultura e do elevado risco de
infestação da doença, o agricultor optou por aplicar a dosagem de 250 mililitros do produto co-
mercial 100 litros de calda. Considerando que a área cultivada pelo agricultor é de 5 ha e que o
equipamento devidamente calibrado aplica um volume de calda equivalente a 826 L/ha, o con-
sumo total de calda para tratar a cultura será: 5x 826 = 4130 litros. Supondo que a capacidade do

269
tanque do pulverizador é de 2000 Litros, ele devera preparar dois tanques de 2000 litros mais um
com 130 litros.
Assim, nos preparos de 2000 litros seriam colocados: 2000L/100L=20 X 250mL=5000mL ou 5 li-
tros do defensivo. Para os 160 litros de calda restantes, seriam colocados: 160L/100L=1,6 X 250mL
= 400mL

6. Cuidados gerais e manutenção de


equipamentos de aplicação
*Exigir do representante do fabricante do seu equipamento o manual de instruções referentes
à montagem, à manutenção e à garantia.
* Dispor sempre do manual de instruções do equipamento de pulverização para obtenção de
informações sobre as causas das deficiências de funcionamento. Em muitos casos, as soluções de
problemas de funcionamento são simples.
* Seguir as orientações dos fabricantes quanto às recomendações de manutenção do pulveri-
zador, atendendo aos períodos de lubrificações, trocas de correias, etc.

6.1. Antes da pulverização da cultura


* O Verifique se o tanque do pulverizador está limpo.
* Coloque água limpa no tanque e faço funcionar o equipamento
* Caso exista vazamento, conserte-o. Peças com defeito devem ser substituídas.
* Verifique se não há vazamento ou entupimento dos bicos e mangueiras.
* Observe se o jato formado está correto. Se necessário retirar o bico e limpar com urna escova
ou pincel, destinado exclusivamente a essa finalidade. Nunca desentupir o bico de pulverização
com a boca, nem usar arame, prego ou grampo para isso.

6.2. Após a o período de pulverização


* Esvazie totalmente o tanque em local seguro - ideal e repassar algum local da cultura com
as sobras da calda do tanque. Para evitar esse desperdício, prepare apenas a quantidade de calda
necessária para tratar a área.
* Lave o exterior e interior da máquina com detergente.
* Aplique uma solução de 80% de óleo lubrificante e 20% de óleo diesel, nas partes metálicas
do equipamento para evitar a corrosão.

6.3. Utilização de equipamentos de proteção individual


O grau de exposição das diferentes regiões do corpo varia com o método de aplicação empre-
gado e a natureza do alvo tratado, em diversos pontos do corpo do aplicador.
• Pulverizador costal - quando utilizado em cultura de porte baixo, promove pesado conta-
minação das pernas do aplicador. Entretanto, quando usado em culturas envaradas, como

270
o tomate e parreira, ou culturas de porte médio, como o fumo e café, o aplicador necessita
deslocar-se dentro de uma névoa de gotas em suspensão no ar, contaminando as regiões
mais elevados do corpo.
• Pulverizador estacionário - quando utilizado em tomate estaqueado com 100 cm de al-
tura, a contaminação é distribuída nas regiões das coxas, barriga e ombros. Em tomateiro
com 160 cm de altura, ocorre contaminação generalizada nas regiões do corpo, mas a re-
gião do pescoço é muito atingida.
• Pulverizadores tipo pistola - utilizados em citros ou outras fruteiras de grande porte, de-
pendendo do espaçamento e porte da cultura, proporcionam contaminação nas regiões
do cabeça, braços, tórax e abdômen do aplicador.
• Pulverizador tratorizado de barra - apresenta um risco muito pequeno ao aplicador (tra-
torista), quando usado em culturas de porte inferior a 50 cm. Entretanto, à medida que o
porte da cultura aumenta, o risco de contaminação do aplicador aumenta.
• Pulverizador tratorizado turbinado (ventilador) - largamente empregado em culturas
de porte arbustivo e arbóreo, promove uma contaminação relevante nas regiões da cabeça
e ombros do aplicador, devido à deriva das gotículas.

6.4. Como evitar a contaminação ambiental


* Não manuseie produtos fitossanitários no interior ou nas proximidades de residências, esco-
las, crianças ou pessoas não envolvidas no trabalho e perto de fontes de água ou beira de córrego/
rio/canais.
* Nunca prepare a calda em ambiente fechado. Proceda à preparação da calda em local venti-
lado.
* Efetue sempre a regulagem do seu equipamento e calibração da pulverização.
* Não pulverize quando o vento estiver muito forte. Evite a deriva.
* Use sempre equipamentos de proteção individual.
* A temperatura e a umidade relativa do ar influenciam na evaporação das gotas, na movimen-
tação das massas de ar e na sustentação de gotas no ar. Assim, para evitar perdas por evaporação,
as aplicações devem ser realizadas nas horas mais frescas do dia, isto é, pela manhã e ao entonte-
cer.
* Toda água de lavagem de equipamentos de aplicação e de proteção individual deverá ser
descartada em local que não ofereça risco ao meio ambiente.
* Durante o preparo da calda, efetue a tríplice lavagem da embalagem e destine para descarte.
* Observe rigorosamente o intervalo entre a última aplicação e a colheita (período de carência).
* Recomenda-se a manutenção de faixas de isolamento dentro das áreas cultivadas (de 1,5 a
2,0 m) ou plantio de ‘quebra-vento’, para minimizar a deriva (caso houver) e para servir de abrigo
dos organismos considerados inimigos naturais.

271
7. Referências
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8. Glossário
Alvo - Aquilo que foi escolhido para ser atingido pelas gotas da pulverização (plantas, face
inferior das folhas, ponteiros das plantas, colo das plantas, trocos, organismos nocivos, planta da-
ninha, solo, etc.).
Calda - Mistura da água com a formulação do defensivo na concentração para a aplicação.
Calibração - aferição mediante padrões, da densidade e tamanho das gotas depositadas nos
alvos.
Deriva - Desvio em relação ao alvo, da trajetória das gotas liberadas pela pulverização.
Dosagem - Qualquer relação que envolva dose, expressa em quantidade de material por uni-
dade de peso, volume comprimento ou área.
Dose - Quantidade de defensivo expressa em unidade de peso ou volume.
Endoderiva - Movimento das gotas da pulverização dentro da área pulverizada.
Exoderiva - Movimento das gotas de pulverização para fora da área pulverizada.
Faixa de aplicação - Largura da área tratada relativa a uma passada do equipamento aplica-
dor.
Perda - Quantidade de material aplicado que não é retida pelo alvo, expressa em porcenta-
gem.
Tratamento fitossanitário - Operação envolvendo uma ou mais aplicações de produtos ou
processos químicos, físicos mecânicos ou biológicos para defesa fitossanitária.
Vazão - Quantidade de material que flui por unidade de tempo.
Volume de aplicação - Volume de calda aplicado por unidade de área, comprimento, peso ou
volume.

273
15
15. Colheita e pós-colheita
Abadia dos Reis Nascimento1, Cristiane Maria Ascari Morgado2, Luis Carlos
Cunha Júnior1
1
Universidade Federal de Goiás - Escola de Agronomia, Setor de Horticultura
[email protected]; [email protected]
1
Universidade Estadual de Goiás - Campus Anápolis de
Ciências Exatas e Tecnológicas Henrique Santillo
[email protected]

1. Introdução
o tomate é um fruto pertencente à família Solanaceae, considerado como uma das principais
hortaliças consumidas no mundo (Tilahun et al., 2018). Seus frutos são classificados em dois gru-
pos: climatéricos e não climatéricos. Quando o etileno foi descoberto, ele foi incorporado aos
conceitos consagrados de pós-colheita, como refrigeração, embalagem, entre outros, por ser
considerado o hormônio responsável pela maturação (Godoy-Beltrame, 2012; Bron e Jacomino,
2007). Diante disso, o tomate é considerado um fruto climatérico, ou seja, é capaz de completar a
maturação mesmo depois de colhido (Mueller, 2016).

Õ É importante entender as diferenças entre esses dois grupos de frutos, e para isso,
é necessário compreender os eventos de desenvolvimento dos frutos (Figura 1).
Conhecer as fases do ciclo vital das hortaliças-fruto é essencial para se estabelecer
o ponto ideal de colheita e para a aplicação de tecnologias que possam retardar
ou reduzir a atividade fisiológica e aumentar seu período de conservação (Rosa et
al., 2018).

O desenvolvimento dos frutos se inicia devido à intensa divisão celular da parede do ovário ou
de outras partes da flor, seguida da expansão celular e crescimento rápido em tamanho. Os frutos
são normalmente imaturos e as células e tecidos se diferenciam com funções específicas em cada
espécie para acúmulo de substâncias de reserva, que normalmente são taninos, compostos fenó-
licos, amido, açúcares e ácidos orgânicos.
Já a fase de maturação é aquela na qual o fruto atinge a maturidade fisiológica, ou seja, quando
os frutos estão prontos para serem colhidos. Quando o fruto está nessa fase, as mudanças na co-
loração são visíveis, devido à biossíntese de pigmentos e degradação da clorofila, ocorrendo tam-
bém mudanças na textura e no sabor. Quanto à textura, enzimas agem na degradação da parede
celular, tornando a polpa mais macia. Já em relação ao sabor, que é uma percepção sensorial, ele é
atribuído ao equilíbrio entre ácidos orgânicos e açúcares, por meio da degradação de substâncias
de reserva, que na maioria dos casos é o amido.

274
A última fase é a senescência dos frutos, processo de envelhecimento, no qual ocorre reações
de degradação. É indesejável, sob o ponto de vista da conservação, e estudos pós-colheita são
realizados com o objetivo de retardar este evento e evitar perdas (Tessmer, 2020). A senescência é
marcada pelo colapso celular, seguido da morte das células.

Figura 1. Eventos de desenvolvimento do tomate (climatérico)


Fonte: Tessmer, M. A. (Adaptado a partir da imagem de frutos de Brummel, 2006)

2. Colheita
No caso de frutos climatéricos, como o tomate, a colheita normalmente é realizada quando os
frutos atingem a maturidade fisiológica. Este é o momento em que o tomate atinge seu tamanho
máximo e as transformações estruturais, bioquímicas e fisiológicas ligadas à maturação passam a
ocorrer, ligados à planta-mãe ou não. Após esse período, não ocorre mais aumento no tamanho
do fruto (Chitarra & Chitarra, 2005).
Na maturidade fisiológica, o tomate é denominado verde-maduro, ou seja, os frutos apresen-
tam coloração interna e externa verde. Tal estádio é reconhecido na prática pela mudança de
coloração externa, passando de um verde opaco para um verde mais brilhante, e se um corte com
uma lâmina afiada for feito, não é possível ferir a semente, e o interior do fruto se apresenta com
um aspecto gelatinoso (Alvarenga et al., 2013).

Õ A determinação do ponto de colheita do tomate para mesa geralmente depen-


de da distância entre o local de produção e o mercado atacadista e/ou varejista,
além do tempo que o fruto requer, desde o comerciante até chegar ao consumi-
dor (Alvarenga et al., 2013). Além disso, outro ponto importante a ser conside-
rado é o preço que está sendo comercializado o tomate no mercado. Esse fator
econômico é crucial para o produtor, visto que se o preço estiver elevado e os
frutos tiverem alcançado um padrão comercializável, ele provavelmente efetuará
a colheita de sua safra, independentemente do estádio de maturação.

275
A decisão da colheita engloba também aspectos como as condições climáticas e econômicas,
quando nem sempre a melhor ocasião de coleta coincide com a melhor qualidade encontrada no
campo. Nesse sentido, a execução da retirada dos frutos do campo de modo prematuro ou tardio
requer adaptações no manejo pós-colheita, podendo afetar a qualidade oferecida ao consumidor
(Ferreira et al., 2017). A colheita das cultivares de tomate existentes no mercado brasileiro é reali-
zada periodicamente, ou seja, de duas a três vezes por semana, em média, 70 ou 120 dias após o
transplantio das mudas.
A colheita do tomate pode ser feita de duas maneiras: manual ou por meio de equipamentos
de auxílio.
• Colheita manual - modo de colheita utilizada para frutos de mesa. É baseada na experi-
ência do colhedor, sobretudo em termos de visão e tato. É importante que o colhedor seja
bem treinado para utilizar os sentidos da visão, tato e olfato, além de causar menos injúrias
aos frutos (Mueller, 2016).
• Os frutos são colhidos por meio de uma leve torção, destacando-se o pedúnculo e o cálice.
Após a colheita, os tomates são colocados em sacolas usadas a tiracolo, cestos ou carrinhos
de mão (Figura 2), os quais agilizam o trabalho ao serem movidos em fileiras (Alvarenga et
al., 2013). Durante a colheita, recomenda-se a retirada da área de todos os frutos que apre-
sentarem injúrias mecânicas, brocados e/ou danificados, para que eles não se transformem
em focos de pragas e doenças.
• Colheita auxiliada - é aquela em que equipamentos são utilizados para fornecer me-
lhores condições de trabalho ao colhedor. Pode proporcionar maior rapidez no processo
e melhor conservação do produto. Tais equipamentos são comumente usados nos Esta-
dos Unidos, Canadá, Itália, Espanha, Austrália e Israel. No Brasil, já existem alguns tipos de
equipamentos disponíveis, porém são pouco utilizados. Seu principal objetivo é diminuir o
esforço e a energia necessários para executar cada operação e reduzir possíveis danos aos
colhedores (Mueller, 2016).
A colheita auxiliada para tomate de mesa é um desafio, visto que o fruto é cultivado com tuto-
ramento, ou seja, estaqueado ou envarado, caracterizado por colheitas múltiplas (Cançado Júnior
et al., 2003). Diante disso, a Universidade Estadual de Campinas desenvolveu a unidade móvel de
auxílio à colheita (Unimac) com o objetivo de colher, beneficiar, classificar e embalar o tomate de
mesa no campo, reformulando o sistema tradicional existente desde a colheita até o consumidor
final. O equipamento Unimac (Figura 3) consiste em uma plataforma móvel de 7,63 metros de
comprimento por 3,60 metros de altura, autopropelida, que se movimenta em campo realizando
as operações de colheita,

276
Figura 2. Colheita manual de tomates com auxílio de carrinho de mão
Foto: Abadia dos Reis Nascimento

beneficiamento, classificação e embalagem (Ferreira et al., 2007). Em funcionamento, o equi-


pamento abrange três ruas de cultivo, com uma capacidade estimada de duas toneladas/hora de
trabalho, baseando-se na produção média em campo para tomate de mesa (Ferreira, 2011).

Figura 3. No sentido horário: visão frontal e traseira do equipamento com detalhamento das esteiras de abastecimento
Fonte: Ferreira, 2011

Sanches et al. (2006) avaliaram a utilização de um dispositivo de auxílio (Figuras 4 e 5) à colhei-


ta de tomates, sugerindo a realização de colheitas múltiplas e em condições adaptadas às utiliza-
das em campo, variando o número de colhedores. O intuito era diminuir o tempo requerido para
a colheita, assim como o manuseio e a incidência de danos físicos. Entre os métodos de colheita
avaliados, os sistemas auxiliados mostraram-se mais eficientes, apresentando maior aproveita-
mento percentual e maior produtividade horária.

277
Figura 4. Croqui da vista lateral e superior do dispositivo de auxílio à colheita com suas respectivas
dimensões (cm)
Fonte: Sanchez et al., 2006

Figura 5. Dispositivo de auxílio à colheita com assentos acoplados para dois colhedores
Fonte: Sanchez et al., 2006

No campo, as operações de colheita e manipulação dos frutos devem ser realizadas com cui-
dado, para reduzir danos mecânicos provenientes da queda do tomate nas caixas e/ou nos sacos
de colheita. Cada pequena queda ou impacto é cumulativo e colabora para a diminuição da qua-

278
lidade final do fruto. Assim, além da manipulação mais cuidadosa, é muito importante que seja
minimizada a frequência com que o produto é manuseado (Rosa et al., 2018).

Õ Outro ponto recomendável é que a colheita dos tomates seja realizada em horá-
rios com temperatura mais branda, de preferência no período da manhã. Entre-
tanto, existem produtores que fazem a colheita durante todo o dia (Alvarenga et
al., 2013). Após a colheita, os frutos devem ser transportados para o galpão de
embalagem, o mais rápido possível, onde serão selecionados, lavados, classifica-
dos, embalados e, posteriormente, comercializados (Alvarenga et al., 2013).

Lana et al. (2014) desenvolveram uma unidade móvel para sombreamento, cuja finalidade é
auxiliar na colheita de hortaliças, as quais podem ser deslocadas para a sombra à medida que vão
sendo colhidas. Além disso, algumas etapas (seleção e embalagem) do beneficiamento (que serão
descritas a seguir) podem ser feitas colocando-se uma mesa ou bancada sob a estrutura. Esta uni-
dade de sombreamento, além da proteção dos frutos quanto ao sol, proporciona um ambiente de
trabalho mais confortável tanto para o produtor rural quanto para seus funcionários.

3. Pós-colheita
O Brasil é o oitavo maior produtor mundial de tomate, produzindo cerca de três milhões de
tonelada/ano. É considerada a segunda mais importante cultura entre todas as hortaliças cultiva-
das em nível nacional (Cunha et al., 2018; Menezes et al., 2017). Contudo, se o manuseio durante
e após a colheita não for realizado de maneira correta, uma porcentagem significativa dessa pro-
dução é descartada, devido aos danos ocorridos durante o transporte, embalagens inadequadas,
exposição do produto a temperatura e umidade inadequadas.
Aliado a isso, as expressivas perdas do tomate são favorecidas, visto que o fruto é muito pe-
recível após a colheita e por apresentar uma vida útil de aproximadamente uma semana quando
maduro (Oliveira, 2017).

Õ Assim, é importante que os cuidados com a cultura se iniciem antes da colheita,


obedecendo às Boas Práticas Agrícolas; ou seja, escolha da área de plantio (livre
de contaminantes e conhecimento do histórico da área), cultivares resistentes à
pragas e doenças, preparo do solo, manejo dos tratos culturais, principalmente
com a desbrota das plantas na época da frutificação, para que não ocorra injúrias
nos frutos.

Além disso, as operações de colheita e de manuseio no campo devem ser feitas com muito
cuidado, com o objetivo de proteger os frutos contra injúrias mecânicas, as quais podem resultar
de quedas do produto nas cestas ou sacolas de colheita e batidas das caixas contra superfícies.
Cada pequena queda ou impacto pode ser cumulativo e contribui para a diminuição da qualidade
final do produto (Chitarra & Chitarra, 2005). Tomando-se os devidos cuidados, a qualidade senso-
rial, nutricional e microbiológica dos frutos é garantida, além da redução das perdas, as quais são
responsáveis pela redução da disponibilidade e aumento do preço (Rosa et al., 2018).

279
Após a colheita, os frutos passam pelos processos de:
• Seleção - retirada de frutos com defeitos, como frutos doentes e machucados, e
• Classificação - quanto ao calibre e estádio de maturação.
Os frutos são submetidos a alguns tipos de manuseio, para conferir-lhes melhor aparência,
conservação e maior valor de comercialização. O preparo dos frutos colhidos pode ser feito no
campo, em barracões, galpões ou, até mesmo, no mercado de destino. No início do beneficia-
mento (processo que inclui todas as etapas, até o armazenamento), um processo de seleção é
realizado com frequência, em que frutos com anomalias de diversas naturezas são retirados. Tais
anomalias incluem:
- forma muito irregular;
- cor ou tamanho discrepante;
- aderências ou irregularidades superficiais evidentes;
- ação de insetos e pragas, ou
- presença de corpos estranhos ao fruto em processo (Rosa et al., 2018; Mueller, 2016).
Na fase de recepção dos frutos, eles são inspecionados, selecionados e, posteriormente, pré-
-resfriados. O pré-resfriamento corresponde à remoção rápida do calor dos produtos recém-co-
lhidos (calor de campo), antes de serem armazenados, processados ou transportados para locais
distantes. A finalidade é diminuir a atividade metabólica dos tecidos, a qual é reduzida de duas a
três vezes para cada 10ºC de redução da temperatura (Chitarra & Chitarra, 2005).
No caso do tomate, por ser bastante perecível, deve ser resfriado logo após a colheita. Esse
processo pode ser feito ainda no campo, para manter o frescor, reduzindo a perda de umidade e
murchamento, além de preservar as características do flavor (sabor e aroma) (Chitarra & Chitarra,
2005).

Õ A seleção dos frutos pode ser realizada mais de uma vez, a fim de garantir a
qualidade final do produto. Essa etapa pode começar ainda na área de colheita,
retirando frutos com defeitos severos, injúrias ou doenças, diminuindo o tempo
e o capital gasto no manuseio de tomates que não poderão ser comercializados
(Rosa et al., 2018). A separação dos frutos nas unidades de beneficiamento pode
acontecer de forma automática, em função das propriedades físicas diferenciadas
dos corpos a serem separados, ou de forma manual (Figura 6), devido ao largo
espectro de irregularidades que pode haver em determinados produtos (Mueller,
2016).

280
Figura 6. Seleção dos tomates após a lavagem, antes de caírem na máquina de classificação na Ceasa-
Goiânia
Foto: Abadia dos Reis Nascimento

Após a separação, os frutos podem ser submetidos a um processo de higienização, o qual inclui
as etapas de lavagem (Figura 7) e sanitização, com a finalidade de remover contaminantes de sua
superfície e melhorar seu aspecto visual. Nessa etapa, podem ser incluídas ainda a limpeza (feita
por meio da lavagem com água, com ou sem escovação, para eliminar grosseiramente os resíduos
em contato com a superfície) e o enxágue, para retirar os resquícios de solução sanitizante - caso
ela tenha sido utilizada.
A sanitização normalmente é feita com produtos à base de cloro, que permitirão a redução da
carga microbiológica superficial. Posteriormente, os frutos passam pela etapa de secagem, com
ventilação aérea ou por vibração (Rosa et al., 2018; Mueller, 2016).
O processo de beneficiamento geralmente é concluído com as operações de pesagem, emba-
lagem e rotulagem, para que, posteriormente, o produto possa ser armazenado ou imediatamen-
te comercializado.

Figura 7. Lavagem dos frutos de tomate na Ceasa-Goiânia


Foto: Abadia dos Reis Nascimento

281
No caso do armazenamento, o uso da refrigeração (Figura 8) é um dos principais métodos de
conservação utilizados em hortaliças. Isso porque leva à diminuição do metabolismo celular, re-
duzindo a deterioração (Vasconcelos & Melo Filho, 2010).

Para o tomate, a temperatura ideal para o armazenamento varia conforme o estádio de maturação:
• frutos verdes - devem ser armazenados em temperaturas em torno de 13oC,
• frutos parcialmente maduros - em torno de 10ºC, e
• frutos maduros - podem ser armazenados em temperaturas de 8ºC (Luengo & Calbo, 2001).

Todavia, na maioria das propriedades, o tomate é colhido no estádio de maturação inicial (co-
loração verde), exibindo qualidade inferior quando comparado com aqueles colhidos no estádio
de maturação mais avançado. Entretanto, esse processo é realizado com o objetivo de oferecer
melhores condições para o transporte e conservação pós-colheita em temperatura ambiente
(Henz & Moretti, 2005).

Figura 8. Armazenamento de tomates fisiologicamente desenvolvidos na temperatura de 13º a 17oC, na


Ceasa-Goiânia
Foto: Abadia dos Reis Nascimento

Conservar as hortaliças em condições adequadas para o transporte, o armazenamento, a distri-


buição, a comercialização e o consumo é tão essencial quanto produzir bem. Assim, escolher a téc-
nica pós-colheita mais adequada implica no conhecimento da fisiologia do fruto, além da logística
de toda a cadeia, com a finalidade de impedir o manuseio incorreto e os problemas decorrentes
de transporte e de armazenamento deficientes.

Õ Além do conhecimento da fisiologia do fruto, outras tecnologias pós-colheita po-


dem ser empregadas, como: o uso das embalagens com atmosfera modificada; o
armazenamento em atmosfera controlada; a aplicação de revestimentos comestí-
veis; a rastreabilidade, além da obtenção de produtos melhorados geneticamente
para aumentar a qualidade sensorial e nutricional.

282
4. Referências
ALVARENGA, M. A. R.; COELHO, F. S.; SOUZA, R. A. M. Colheita e pós-colheita. In: ALVARENGA, M.
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VASCONCELOS, M. A. S.; MELO FILHO, A. B. Conservação de alimentos, 130p., EDUFRPE, 2010,
ISBN: 978-85-7946-072-2.

284
16
16. Classificação
Abadia dos Reis Nascimento1, Maria Gláucia Dourado Furquim1, Mariana Vieira
Nascimento1, Raquel Cintra de Faria1, Cristiane Maria Ascari Morgado2, Macelle
Amanda Silva Guimarães1
1
Universidade Federal de Goiás
[email protected]; [email protected]; nascimento_mariana1@
hotmail.com; [email protected]; [email protected];
2
Instituto Federal Goiano - Campus Iporá, 3Universidade Estadual de Goiás - Campus
Anápolis de Ciências Exatas e Tecnológicas Henrique Santillo
[email protected].

A inclusão de parâmetros de classificação é uma atividade importante para organizar e auxiliar


a comercialização de hortaliças e frutas. Na tomaticultura, a classificação dos frutos ocorre basica-
mente por dois modelos:
- um de forma manual, utilizando-se, na maioria das vezes, uma mesa de madeira inclinada
(Figura 1), e
- o outro mecanizado, por meio de máquinas classificadoras. Nesse modelo, os tomates são
descarregados para lavagem e, em seguida, percorrem uma esteira onde seguirão para a platafor-
ma de classificação por cor e calibre (Figura 2).
A forma de classificação está ligada diretamente ao perfil dos produtores. A classificação dos
tomates, após a colheita, é de grande importância, já que a busca por adoção de regras claras
permite transparência no processo de comercialização. Do contrário, seria difícil ter confiabilidade
nas transações comerciais na ausência de um sistema de classificação eficiente.

Õ Segundo o anuário Hortifruti Brasil (2016), existem produtores que colhem e


comercializam diretamente com o atacadista ou colhem e levam para um classifi-
cador, e produtores que possuem estrutura própria de classificação. Aqueles que
não têm máquinas de classificação própria recorrem a uma breve separação dos
tomates por grupo (Salada, Santa Cruz, Italiano, Rasteiro e Cereja) e uma avalia-
ção subjetiva da classe quanto ao tamanho (Tamanho 1A, 2A e 3A) e coloração
(verde, colorido e maduro). Esta forma de padronização é baseada “no olho” e na
experiência do produtor. É uma classificação que pode ter falhas e ser ruim para o
produtor e para toda a cadeia.

Os produtores que utilizam equipamentos automatizados conseguem maior rapidez e padro-


nização dos frutos classificados. Essas máquinas classificam os produtos eletronicamente quanto
ao diâmetro, peso e coloração. Assim, com a chegada dessas máquinas de classificação do tomate,
ocorreu grande mudança na tomaticultura nacional, com a modificação do procedimento utili-
zado para a classificação. Permitiu ainda melhor controle da qualidade e a formação de grandes
volumes do produto para remessa aos mercados.

285
Figura 1. Classificador manual na lavoura de tomate
Foto: Raquel Cintra de Faria e Macelle Amanda Silva Guimarães

286
A B

D E

Figura 2. Classificação mecanizada de tomates na Ceasa-Goiânia (GO): Esteira para descarregamento (A);
Esteira de lavagem (B); Retiradas de frutos com defeitos após descarregamento e lavagem (C);
Classificação por calibre e Frutos coloridos (D) e Classificação por calibre e Frutos verdes Frutos verdes (E)
Fotos: Abadia dos Reis Nascimento.

287
Para a regularização das classificações realizadas nos frutos de tomate, o Ministério da Agricul-
tura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), na Instrução Normativa (IN) número 33, de 18 de julho de
2018, classifica os tomates em calibres e em categorias.
Por meio do maior diâmetro transversal dos frutos, os tomates são classificados em faixas de
calibres expressa em milímetros (Tabela 1).

TABELA 1. Calibres (mm) para fruto de tomate de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA)
CALIBRES MAIOR DIÂMETRO TRANSVERSAL DO FRUTO (mm)
1 (*) Menor que 35
2 Maior ou igual a 35 e menor que 50
3 Maior ou igual a 50 e menor que 70
4 Maior ou igual a 70 e menor que 100
5 Maior ou igual a 100
(*) Exclusivo para tomate cereja ou cherry

SAIBA MAIS: Você pode conferir, na íntegra, a IN nº33, de 2018, neste link: https://www.in.gov.br/
materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/34026746/do1-2018-07-25-instrucao-normativa-n-
33-de-18-de-julho-de-2018--34026719

Segundo a normativa, para os tomates com diâmetro maior que 35 mm, a diferença máxima
permitida entre os frutos de maior e menor diâmetro contidos numa mesma embalagem será de
15 mm. Quanto ao calibre de 1 a 5, será permitida a tolerância total de 10% em número ou em
peso de tomates que não cumpram com esses requisitos, e devem permanecer aos calibres infe-
rior ou superior.
A tolerância para o número de embalagens não poderá exceder a 20% das embalagens amos-
tradas, quando o número for igual ou superior a 100. As embalagens do lote que não se enquadra-
rem nas disposições referentes às tolerâncias de calibres devem ser reclassificadas e etiquetadas
novamente para adequação ao calibre correspondente. A classificação por calibre não se aplica
aos tomates em rácimos, àqueles comercializados a granel no varejo, nem é obrigatória para os
frutos da Categoria 2.

Quanto à classificação por categoria, a normativa classifica os tomates em três categorias de


acordo com os limites de tolerância de defeitos (Tabela 2):
• Categoria Extra ou Cat. Extra;
• Categoria 1 ou I, ou Cat. 1 ou I;
• Categoria 2 ou II, ou Cat. 2 ou II.

A normativa considera como fora de categoria o lote de tomates que apresentar os percentuais
de tolerância de defeitos graves isoladamente, o total de defeitos graves, ou o total de defeitos
leves que excedam os limites máximos estabelecidos para a Categoria 2 (Tabela 2). Deverão ser
reclassificados para efeito de enquadramento na categoria.

288
TABELA 2. Limites máximos de tolerâncias de defeitos por categoria, expressos em percentual de
unidades (tomates) na amostra
DEFEITOS GRAVES TOTAL DE DEFEITOS
CATEGORIAS Dano por
Dano
Podridão Imaturo Queimado geada ou Passado Graves Leves
Profundo
dano por frio
Extra 1 1 1 1 1 1 2 5
Categoria 1 1 3 1 2 2 3 4 10
Categoria 2 2 5 2 3 4 5 7 15

No caso da impossibilidade de reclassificação para enquadramento em uma das categorias, o


lote não poderá ser destinado ao consumo in natura. Será desclassificado e considerado impró-
prio para o consumo humano, com sua comercialização interna proibida, o lote de tomates que
apresentar uma ou mais das situações indicadas como:
• mau estado de conservação, incluindo dano generalizado por frio ou por altas temperaturas,
assim como qualquer outro fator que resulte em deterioração generalizada do produto;
• mais de 10% de podridão ou mais de 30% de frutos passados; e
• odor estranho, impróprio ao produto, que o inviabilize para o consumo humano.

Não será permitida a mistura de tomates de diferentes formatos dentro de uma mesma emba-
lagem. Se ocorrer tal situação, o lote deverá ser beneficiado novamente.
O processo de classificação do tomate, portanto, é parametrizado por normativa que congrega
critérios técnicos para a separação do produto em lotes, consoante características mensuráveis
quanti e qualitativamente, no sentido de promover a transparência na comercialização e adequa-
da precificação do produto.
Nesse sentido, a CEAGESP publicou a cartilha de classificação do tomate, na qual apresenta,
de forma simples e intuitiva, as etapas que compõem a classificação e a padronização do produ-
to, traduzindo numa perspectiva aplicável à realidade de quem produz e de quem vende o que
está regulamentado em Lei, conforme preconizado pelo MAPA e pelo Programa Brasileiro para a
Modernização da Horticultura (PBMH), vinculado à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais
de São Paulo (CEAGESP) cujas atividades contemplam a elaboração de normas de classificação e
parâmetros de qualidade para frutas e hortaliças frescas (CEAGESP, 2020).
Inicialmente, segundo apresentam as Normas de Classificação do Tomate da CEAGESP e con-
forme exige o governo federal, deve-se fazer a identificação por meio do rótulo, do produtor,
produto e suas especificidades, atendendo às normas de classificação.
Posteriormente, são avaliadas as características das cultivares conforme grupo às quais perten-
cem, sendo considerado nesta fase aspectos como: formato, coloração e durabilidade do fruto em
normal ou longa vida, a ser informado pelo fornecedor do material genético ao produtor (opcio-
nal).

• Formato
Quanto ao campo formato, o tomate de mesa é categorizado em cinco grupos varietais, con-
siderando os distintos aspectos de cada fruto e da relação comprimento dividido pelo diâmetro
equatorial.

289
Os grupos varietais são nomeados respectivamente em:
• Caqui (I) menor que 0,90,
• Saladete (II) entre 0,90 e 1,00,
• Santa Cruz (III) entre 1,00 e 1,15,
• Italiano (IV) maior que 1,15, e
• Cereja (V) menor que 39 mm.

• Coloração
Por sua vez, a coloração sinaliza o estágio de maturação do fruto, definido em quatro grupos:
vermelho, rosado, laranja e amarelo. Ademais, como a cor remete ao amadurecimento do tomate
e consequente mudanças nas características sensoriais do produto, ao mesmo tempo em que é
utilizado como fator de decisão para o consumidor no ato da compra, objetiva-se garantir uma
maturação homogênea.

Observa-se, portanto, a coloração da casca, que norteia a divisão em 3 subgrupos:


• Pintado (I) - para tomate com o ápice amarelecendo;
• Colorido (II) - para tomate com cor intermediária entre o subgrupo I e 90% da cor final, e
• Maduro (III) - quando o tomate apresentar 90% da cor final.

Cabe ressaltar que, conforme prevê a normativa, há a possibilidade de até 20% de produto de
subgrupo diferente, desde que seja de subgrupo superior ou inferior ao informado no rótulo.

• Classe
No item Classe, estão elencados os critérios para separação dos frutos mediante tamanho, ou
seja, diâmetro equatorial em mm que variam de: maior ou igual a 40 até 50 para a classe 40, até
maior que 100 mm para a classe 100, sendo estabelecidos intervalos de 10 mm entre classes. As-
sim, as classes são apresentadas respectivamente por: 0 quando o tamanho é menor que 40mm
e 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100. O agrupamento do tomate, conforme o fator Classe, proporciona
maior uniformidade na seleção do produto em termos visuais, por definir o tamanho como fator
de referência. De acordo com a norma, é tolerável até 10% de frutos de outra classe misturado ao
declarado no rótulo, desde que inferior ou superior ao que consta informado.

• Categoria
O compilado de parâmetros para assegurar a qualidade do tomate de mesa no ato da classifi-
cação está expresso no item Categoria, estando associado à máxima ausência de defeitos. Nesse
sentido, são definidos os limites de defeitos leves e graves permitidos em porcentagem por cate-
goria, uma vez que a existência deles desvaloriza o produto.

Õ São considerados defeitos graves aqueles que comprometem a aparência, con-


servação e qualidade do produto, como: podridão, podridão apical, cancro,
passado, ferida no ombro radial ou rachaduras radiais, ferida no ombro circular
ou rachaduras circulares, dano por frio, queimado de sol, virose, dano profundo,
imaturo e ocado.

290
Por sua vez, os defeitos leves comprometem a aparência do produto e, consequentemente, a
sua valoração. São eles: deformado, amassado e manchas. Particularmente a desvalorização de-
corrente das manchas depende da intensidade presente no fruto, se subdividindo em dois tipos
de manchas: a profunda e a difusa. A mancha profunda nível 1 ocorre quando a área total for entre
0,25cm² e 1,0 cm² da casca afetada; já a mancha profunda nível 2 é quando a área total da casca
afetada for superior a 1,0 cm². A mancha difusa nível 1 refere-se à ocorrência de 5 a 15 pontuações;
e a mancha difusa nível 2, quando são mais de 15 pontuações no tomate.
Em síntese, a CEAGESP estabelece como limite tolerável em porcentagem (%) na categoria Ex-
tra, I, II e III, para o defeito podridão, respectivamente: 0, 1, 2 e 3. Já para os demais defeitos graves
são: 0, 2, 5 e 10, considerando a mesma categoria. Isso totaliza como permitido para os defeitos
graves: 0%, 2%, 5% e 10%. Quanto aos defeitos leves, são aceitos em porcentagem para as cate-
gorias Extra, I, II e III, os seguintes valores: 5%, 10%, 20% e 100%, sendo estes os mesmos valores
toleráveis quando realizado o somatório total de defeitos leves e graves.
No que se refere às manchas, analisando as categorias Extra, I, II e III, são limitadas às respecti-
vas porcentagens: 1, 5, 100 e 100 para manchas profundas nível 1; e 0, 1, 10 e 100 para as manchas
profundas nível 2. Para as manchas difusas, tendo as mesmas categorias como referência, é acei-
tável as seguintes porcentagens: 1, 5, 10 e 100 para a mancha difusa nível 1; e 0, 1, 10 e 100 para a
mancha difusa nível 2.
Vale mencionar que o estabelecimento de normas no ato de selecionar e classificar os fru-
tos, compreende requisito obrigatório no processo de comercialização, vislumbrando assegurar a
qualidade e sanidade do produto que chega à mesa do consumidor, e adequada remuneração ao
produtor, consoante atributos do produto que ele oferece. Dessa forma, observa-se que as orien-
tações da CEAGESP acerca do processo de classificação do tomate, embora ancoradas na IN n°33,
apresentam, de maneira prática, as etapas do processo de classificação em si, numa perspectiva
adequada à realidade do produtor e do mercado.
Conforme a Tabela 3, diferentemente da denominação estabelecida nos grupos varietais men-
cionada no capítulo Grupos varietais e cultivares desta apostila, os termos empregados para a co-
mercialização sinalizam as características do fruto, assim como a denominação popularmente em-
pregada que estão alinhadas aos aspectos que são observados em cada grupo. De acordo com as
informações disponibilizadas pela Ceagesp-SP, quanto aos grupos varietais de tomate comercia-
lizados, observa-se a utilização das denominações consideradas “antiga” e os grupos de mercado,
como recurso para facilitar a identificação e comercialização dos frutos (Tabela 3).

TABELA 3. Principais grupos varietais de tomate comercializadas na Ceagesp


GRAU DE EMBALAGEM E PESO
GRUPO DE MERCADO DENOMINAÇÃO ANTIGA
CONSISTÊNCIA* MAIS COMUNS
Comprido 3 Italiano, Andréa Madeira, papelão e plástico 20 kg
Oblongo 2 Grupo Santa Cruz, Débora Madeira, papelão e plástico 20 kg
Achatado 1 Carmen Madeira, papelão e plástico 20 kg
Caqui 2 Caqui Madeira, papelão e plástico 20 kg
Mini 2 Cereja, Grape Madeira, papelão e plástico 20 kg
*Quanto menor o grau de consistência, maior a facilidade de liberação de água.
Fonte: CEAGESP (2020).

291
Embora as normas do PBMH estejam em vigência desde 2004, a adesão é modesta, por não
se mostrar compatível com a realidade do setor atacadista. Para dinamizar o processo de comer-
cialização, definiu regras denominadas “grupos de mercado” que classificam os frutos em: Santa
Cruz, Caqui, Salada, Saladete (Italiano) e Mini, sendo alguns frutos destes grupos apresentados na
Figura 3 (ALVARENGA, 2013; MELO, 2017).

Figura 3. Frutos de tomate dos grupos varietais Santa Cruz, Italiano, Saladete e Salada (da esquerda para
a direita)
Fonte: Melo (2017, p. 29)

De acordo com levantamento realizado no portal eletrônico das centrais de abastecimento dos
principais estados produtores de tomate para consumo fresco, verificou-se que a nomenclatura
utilizada para designar o fruto é variada e incorpora outros aspectos de classificação, comumente
encontrada no campo de cotação diária, e nos relatórios anualmente emitidos pelos centros de
comercialização. Nesse sentido, é possível identificar as variações na denominação de mercado,
em termos regionais (Tabela 4).

TABELA 4. Terminologia de mercado usada nas principais CEASAs do país, 2020


CENTRAL DE ABASTECIMENTO DE REFERÊNCIA TERMINOLOGIA DO PRODUTO
Tomate Cereja
Tomate Sweet grape
Tomate Italiano Extra AA
Tomate Italiano Extra A
Ceasaminas Tomate Longa Vida Extra AA
Tomate Longa Vida Extra A
Tomate Maça Extra A
Tomate Maça Extra
Tomate Maça especial
(Continuação)

292
TABELA 4. Terminologia de mercado usada nas principais CEASAs do país, 2020 (Continuação)
CENTRAL DE ABASTECIMENTO DE REFERÊNCIA TERMINOLOGIA DO PRODUTO
Tomate Achatado Extra A
Tomate Achatado AA
Tomate Achatado AAA
Tomate Caqui Extra AA
Tomate Cereja Extra AA
Tomate Holandês
Ceagesp - SP Tomate Italiano Extra A
Tomate Italiano Extra AA
Tomate Italiano Extra AAA
Tomate Oblongo Extra A
Tomate Oblongo Extra AA
Tomate Oblongo Extra AAA
Tomate Sweet Grape
Tomate Cereja
Tomate Cereja
Ceasa – Goiânia/GO Tomate Longa Vida
Tomate Salada
Tomate Saladete
Tomate Extra A
Tomate Extra AA
Tomate Cereja
Tomate Cereja Extra AA
Ceasa – Salvador/BA
Tomate Longa Vida Extra A
Tomate Longa Vida Extra AA
Tomate Rasteiro Extra AA
Tomate Saladete Extra AA
Tomate Extra
Tomate Especial
Tomate Primeira
Ceasa – Brasília/DF
Tomate Cereja Bandeja
Tomate Salada (caqui)
Tomate Italiano
Tomate Cereja
Tomate Cereja Extra AA
Tomate Longa Vida Extra A
Tomate Longa Vida Extra AA
Ceasa – Curitiba/PR
Caqui/ Salada Extra AA
Rasteiro Extra AA
Saladete Extra AA
Holandês Extra AA
Fonte: Dados da pesquisa (2020).

293
A classificação dos frutos do tomateiro é uma rotina importante para a cadeia produtiva de to-
mate, que pode ser realizada no campo e nos locais de beneficiamento. É uma maneira de padro-
nizar os frutos que facilitará a comercialização, para o comprador e vendedor, tanto no comércio
externo como interno. A classificação também contribui para melhorar o preço e agregar valor
ao produto. O consumidor, por sua vez, paga o preço equivalente ao tipo do produto que está
classificado.

1. Referências
ALVARENGA, F.A.R. Tomate: produção em campo, em casa de vegetação e hidroponia. 2ª. ed.
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www.ceasa.go.gov.br/indicadores/cotacoes/2-institucional/958-cota%C3%A7%C3%B5es-
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CEASA-PR. Centrais de Abastecimento do Paraná S.A. Cotação Diária de Preços. Disponível em:
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CEASA-DF. Centrais de Abastecimento do Distrito Federal. Informações de Mercado. Disponível
em: <http://www.ceasa.df.gov.br/informacoes-de-mercado/>. Acesso em: 27 fev. 2021.
CEASA-BA. Centrais de Abastecimento da Bahia. Listagem de Cotações. Disponível em: < http://
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HORTIFRUTI BRASIL. 2016. Quais os padrões dos nossos HFs? Disponível em: <https://www.
hfbrasil.org.br/br/revista/acessar/completo/padronizacao-dos-hfs.aspx#:~:text=O%20
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294
17
17. Embalagens e comercialização
Abadia dos Reis Nascimento1, Cristiane Maria Ascari Morgado2, Luis Carlos
Cunha Junior1
1
Universidade Federal de Goiás
[email protected]; [email protected]
2
Universidade Estadual de Goiás - Campus Anápolis de Ciências
Exatas e Tecnológicas Henrique Santillo
[email protected]

1. Introdução
Conforme a instrução normativa nº 33, de 18 de julho de 2018, a embalagem é definida como
recipiente, pacote ou envoltório destinado a proteger e conservar o produto, facilitar o seu trans-
porte e manuseio, permitindo a devida identificação. Ainda com base nessa instrução normativa,
os tomates devem ser armazenados em lugares ou locais cobertos, limpos, secos, ventilados, com
dimensões de acordo com os volumes a serem acondicionados, com o objetivo de impedir defei-
tos prejudiciais à sua qualidade e conservação.
A instrução normativa nº 009, de 12 de novembro de 2002, estabelece no Art. 1º que as em-
balagens destinadas ao acondicionamento de produtos hortícolas in natura devem atender, sem
prejuízo das exigências dispostas nas demais legislações específicas, aos seguintes requisitos:
• as dimensões externas devem permitir empilhamento, preferencialmente, em palete (pallet)
com medidas de 1,00 m por 1,20 m;
• devem ser mantidas íntegras e higienizadas;
• podem ser descartáveis ou retornáveis; as retornáveis devem ser resistentes ao manuseio
a que se destinam, às operações de higienização e não devem se constituir em veículos de
contaminação;
• devem estar de acordo com as disposições específicas referentes às Boas Práticas de Fabrica-
ção, ao uso apropriado e às normas higiênico-sanitárias relativas a alimentos;
• as informações obrigatórias de marcação ou rotulagem, referentes às indicações quantitati-
vas, qualitativas e a outras exigidas para o produto devem estar de acordo com as legislações
específicas estabelecidas pelos órgãos oficiais envolvidos.

A rotulagem dos alimentos embalados é obrigatória e é regulamentada pela legislação brasi-


leira por órgãos, como o Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Mi-
nistério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) (Machado, 2021).

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Õ Os equipamentos e recipientes que são utilizados nos diversos processos produ-
tivos não devem constituir um risco à saúde. Os recipientes que são reutilizáveis
devem ser fabricados de material que permita a limpeza e desinfecção completa.
Uma vez usados com matérias tóxicas, não devem ser utilizados posteriormente
para alimentos ou ingredientes alimentares sem que sofram desinfecção (Brasil,
1997).

O uso de embalagens corretamente elaboradas para os produtos perecíveis pode contribuir,


consideravelmente, para a manutenção de sua qualidade, em decorrência da redução dos danos
físicos, contribuindo para a redução das perdas (Chitarra & Chitarra, 2005).

2. Embalagem para colheita e transporte


Segundo Alvarenga et al. (2013), os tomates devem ser armazenados em embalagens paleti-
záveis, novas, limpas, secas e que não transmitam sabores ou odores estranhos ao produto, com
peso líquido de até 22 kg, exceto para o tomate tipo cereja ou cherry, para os quais se admitirá
até 4 kg - o que difere de Brasil (2018), que permite até 10 kg para tomate cereja. Ainda, para cada
embalagem, é permitido até 8% a mais ou 2% a menos do peso indicado.
Normalmente, os tipos utilizados no período que compreende do campo ao beneficiamento
são caixas de plásticas (Figura 1) ou de madeira tipo “K”. As caixas tipo “K” têm medidas internas de
495 mm de comprimento, 230 mm de largura e 355 mm de altura, com 5 mm de tolerância. Elas
são rústicas, bem resistentes ao manuseio e transporte (Alvarenga et al., 2013).
Entretanto, Andreuccetti et al. (2005) relataram que, na Companhia de Entrepostos e Arma-
zéns, o tomate de mesa comercializado recebe manuseio intenso e as embalagens mais utilizadas
são de madeira, mas não são adequadas, por se mostrarem altamente prejudiciais aos tomates.
A B

Figura 1. Caixas de madeira tipo “K” usada em tomates (A) e danos observados pelo mal
acondicionamento (B)
Fotos: Carlos Alberto Lopes

Cabe ressaltar que a caixa tipo “K” de madeira foi concebida, durante a Segunda Guerra Mun-
dial, para transportar suprimento inflamável (dois galões de querosene). Depois foi adaptada e
utilizada até hoje para transporte de produtos hortícolas, com duas principais desvantagens: os

296
problemas de ordem sanitária (por ser em sua maioria de madeira) e perdas no transporte, devido
à dificuldade de paletização (Topel, 1981).

Õ Uma alternativa à caixa de madeira são as caixas de plástico (Figura 2), que apre-
sentam medidas de 550 cm de comprimento, 360 cm de largura e 300 cm de
altura. Normalmente, são fabricadas com polietileno de alta densidade (PEAD),
que, além de apresentar baixo custo, têm boa resistência mecânica e tolerância
ao uso, quando são expostas continuamente ao sol, como na ocasião da colheita
e transporte no caminhão.

Além disso, podem ser fornecidas com gravações personalizadas, por meio de um sistema à
base de calor, que impede que o nome do proprietário seja removido dela, evitando extravios
dentro da cadeia de produção.

A B

Figura 2. Caixas de plástico para tomates acomodando diferentes tipos de frutos: salada (A) e saladete (B)
Fotos: Abadia dos Reis Nascimento

Considerando também os problemas da caixa “K” e visando reduzir as injúrias aos tomates,
Vilela e Luengo (2002) desenvolveram um novo modelo de caixa de plástico para acomodação
dos frutos de tomate da colheita à comercialização. Essa embalagem, denominada caixa Embrapa
(Figura 2), apresenta as seguintes características: produzida em plástico, volume interno de 26.000
cm3 e dimensões de 50 cm de comprimento, 23 cm de altura e 30 cm de largura, para transportar
em média 13 kg de tomate.

297
A B

Figura 3. Caixa Embrapa para colheita e transporte de tomates desenvolvida pela Embrapa (A), que
podem ser empilhadas com encaixes sem propiciar danos aos frutos (B)
Fonte: Vilela & Luengo, 2002

Algumas centrais de abastecimento (Goiânia, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, entre outras)
adotaram o “Banco de Caixas” (Central de Caixa). Visa atender a demanda da legislação quanto
à higienização, visto que as caixas podem ser foco de contaminação por patógenos, que podem
ser transmitidos de lavoura para lavoura. O Banco de Caixas é uma unidade criada para vender
ou alugar, receber, higienizar, estocar e entregar embalagens plásticas padronizadas dentro das
normas exigidas pela lei.
Essa central é um novo e moderno sistema logístico, que além da modificação do material das
caixas, a empresa fará a sua estocagem, limpeza e higienização. Com isso, haverá a utilização de
embalagens de material totalmente reciclável; redução do volume de embalagens em circulação;
redução do desperdício por danos mecânicos nos produtos; redução do custo da embalagem no
preço final, devido à maior durabilidade da caixa plástica e economia na aquisição das caixas, visto
que dispensa estoques; prevenção da contaminação de pragas nas lavouras.
Oliveira et al. (2012) relataram que embalagens paletizáveis (Figura 4) e que proporcionam
um adequado empilhamento foram atributos de qualidade que, além de ser comum em todas as
classificações, se mostraram importantes na cadeia de atacadistas da Ceagesp. Os mesmos auto-
res ainda relataram sobre frutos sem presença de danos superficiais de casca e sobre a proteção
adequada da embalagem contra danos mecânicos, que são importantes para maiores preços dos
produtos - explicação da diferenciação de preços.

298
Figura 4. Embalagens paletizáveis para tomates
Fotos: Abadia dos Reis Nascimento

3. Embalagem para comercialização


A embalagem ideal para comercialização é aquela que mantém a qualidade do produto em
níveis aceitáveis durante o armazenamento e, principalmente, durante a comercialização - é nes-
sa fase que o fruto é mais manipulado, ocorrendo grandes perdas.

Õ Como definição, tem-se que: “a embalagem deve proteger o que vende e vender
o que protege”. Esta definição exprime a verdadeira e simples função dos vá-
rios tipos e formas de embalagem (CABRAL et al., 1984). Mas a embalagem para
comercialização serve também como barreira física para o produto armazenado,
diminuindo o risco de contaminação, perda de massa e auxiliando na redução da
respiração (Mosca & Vicentini, 2000; Chitarra & Chitarra, 2005).

A embalagem de comercialização, além de ser uma barreira física, também serve como mo-
dificador de atmosfera de armazenamento. Normalmente, a atmosfera modificada é conseguida
por meio do uso de embalagens que permitem a troca seletiva dos gases do seu interior com a
atmosfera externa. Isso porque a atmosfera de dentro da embalagem é modificada pela elevação

299
do nível de dióxido de carbono (CO2) e diminuição no de oxigênio (O2), o que acarreta redução na
taxa respiratória do produto, elevando a vida útil dele.
Os principais requisitos aos materiais plásticos para embalagem são, no mínimo: controle na
transferência de gases e de vapor de água (umidade); proteção contra agentes biológicos, danos
mecânicos e físicos e tolerância às condições ambientais e de armazenamento. Além disso, deve-
rão seguir as normas legislativas, de compatibilidade e utilidade com o produto, incluindo a pos-
sibilidade de preparação para o consumo e se adequar aos costumes do comércio (WILEY, 1997).
Alguns estudos têm sido realizados para a avaliação de embalagens para a melhor preservação
da integridade dos frutos de tomate. Segundo Rinaldi et al. (2011), as embalagens mais adequadas
para conservar tomates da cv. Dominador (Agristar do Brasil), do segmento salada, são bandejas
de poliestireno expandido ,revestidas com filme flexível de PVC que mantiveram as características
físico-químicas e reduziram a perda de massa quando comparados aos frutos sem embalagem.
Em outro estudo, Sandri et al. (2015) observaram que os frutos dos minitomates cultivar Sweet
Grape (Sakata Seed Sudamérica) submetidos aos tratamentos PVC (filme de policloreto de vinila)
e LDPE (polietileno de baixa densidade) alcançaram vida útil de 33 dias de armazenamento
Quanto à comercialização direta ao consumidor final, o comerciante pode utilizar embalagens
próprias, que podem ser redinhas (Rede Plástica), bandejas de isopor envoltas em filme de plásti-
co, entre outras, que são geralmente etiquetadas com dados do fornecedor e procuram ser atra-
tivas aos consumidores (Brasil, 2018). Nas figuras 5 e 6 são apresentadas algumas dessas embala-
gens, utilizadas no Brasil (Figura 5) e na Califórnia (EUA).
A exposição dos frutos para a comercialização em estabelecimentos também pode ser à granel,
com frutos destacados na base do pedúnculo ou ainda mantendo os cachos originais de diferen-
tes quantidades de frutos, de acordo com a cultivar, com suas sépalas e porções de pedúnculos,
acomodados diretamente em gôndolas ou em bandejas, conforme observado na Califórnia-EUA
(Figura 7). Vale ressaltar ainda que, em alguns estabelecimentos comerciais, o consumidor pode
levar sua própria embalagem para transportador os frutos adquiridos.

300
A B

C D

Figura 5. Diferentes embalagens utilizadas na comercialização de tomates no Brasil: Redinhas (Rede


Plástica) (A), bandejas envoltas em filmes de plástico (B), bandejas de plástico transparente com tampa (C)
e a rede de espuma composta por polietileno expandido, ideal para acomodação de unidades (D)
Fotos: Abadia dos Reis Nascimento

Figura 6. Diferentes embalagens e comercialização de tomates observadas em supermercado, na


Califórnia, em 2019
Fotos: Abadia dos Reis Nascimento

301
A B

Figura 7. Comercialização de tomates à granel: frutos destacados na base do pedúnculo (A) e frutos
destacados mantendo suas sépalas e porções do pedúnculo, com cachos de diferentes quantidades de
frutos, acondicionados em bandejas, em supermercado na Califórnia, 2019
Fotos: Abadia dos Reis Nascimento

4. Rotulagem
As embalagens devem ser rotuladas de forma legível, em lugar de fácil visualização e de difí-
cil remoção. A rotulagem ou marcação nas embalagens deverá assegurar informações corretas,
claras, precisas e no idioma do país de destino, contendo, no mínimo, as informações relativas a:
• a) identificação do produto e de seu responsável: Denominação de venda do produto; For-
mato: no caso de o produto não estar visível do exterior da embalagem, deverá identificar-se
o seu formato; Nome e endereço do embalador, importador, exportador, incluindo suas iden-
tificações como pessoas físicas ou jurídicas, conforme o caso; Conteúdo líquido; Identificação
do lote (responsabilidade do embalador).
• b) classificação: Calibre, que pode ser um código ou intervalo de diâmetro correspondente;
Categoria.
• c) Data do acondicionamento.
• d) País de origem.
• e) Região de origem (opcional).

Õ A rotulagem auxilia o consumidor na escolha do produto, mostrando as condutas


positivas do agricultor externado para o consumidor, atributos que podem ser
identificados por meio da marca. Junto à rotulagem, a marca proporciona o forta-
lecimento entre a relação consumidor e produtor (Buainain et al., 2018).

A marca também pode contribuir para novos segmentos de mercado, assim garantindo a de-
manda do produto para o produtor, conseguindo mitigar os riscos e custos de produção, por man-
ter um mercado cativo, além de auxiliar na regulação de preços, tornando os produtos competiti-
vos e aumentado a geração de renda (BUAINAIN et al, 2015).

302
5. Referências
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