A BNCC e A Educação Escolar Indígena Na Bahia
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RESUMO
Este artigo apresenta um estudo sobre os níveis de adesão aos pressupostos da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) e das diretrizes da modalidade Educação Escolar Indígena no currículo municipal. Por
meio de uma pesquisa qualitativa realizada com base na análise documental e no estudo de caso do
documento curricular do município de Itamaraju (Bahia), do Ensino Fundamental, identificaram-se alguns
níveis de consonância aos parâmetros da BNCC e aos marcos legais e pedagógicos da educação escolar
indígena, sobretudo, a respeito da inclusão do componente curricular Língua Materna (Patxohã) do povo
Pataxó do sul da Bahia.
Palavras-chave: BNCC; Educação Escolar Indígena; Políticas Educacionais; Língua Materna; Povo Pataxó.
ABSTRACT
This article presents a study on the levels of adherence to the Nacional Curricular Common Base (BNCC)
assumptions and the guidelines for the Indigenous School Education modality in the municipal curriculum.
Through qualitative research carried out based on documentary analysis and the case study of the
curriculum document of the municipality of Itamaraju (Bahia), for Elementary Education, some levels of
consonance with the BNCC parameters and the legal and pedagogical frameworks of the indigenous school
education, above all, regarding the inclusion of the curricular component Mother Tongue (Patxohã) of the
Pataxó people of southern Bahia.
Keywords: BNCC; Indigenous School Education; Educational Policies; Mother tongue; Pataxó people.
RESUMEN
Este artículo presenta un estudio sobre los niveles de adhesión a los supuestos de la Base Nacional Común
Curricular (BNCC) y los lineamientos de la modalidad de Educación Escolar Indígena en el currículo
municipal. A través de una investigación cualitativa realizada a partir del análisis documental y el estudio de
1Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-doutoranda do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), com bolsa de Pós-doutorado Sênior do CNPq.
Pesquisadora do Centro Internacional de Pesquisa ATOPOS (USP). Endereço para correspondência: Praça Amadeu
Amaral n. 116, Bairro: Bela Vista, São Paulo, SP, CEP: 01327-010. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4157-9608. E-mail:
[email protected].
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DOI: https://doi.org/10.26694/rles.v28i56.4865
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caso del documento curricular del municipio de Itamaraju (Bahía), para la Educación Primaria, se
identificaron algunos niveles de consonancia con los parámetros del BNCC y los marcos legales y
pedagógicos de la educación escolar indígena. sobre todo, en lo que respecta a la inclusión del componente
curricular Lengua Materna (Patxohã) del pueblo Pataxó del sur de Bahía.
Palabras clave: BNCC; Educación Escolar Indígena; Políticas Educativas; Lengua materna; Pueblo Pataxó.
INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta um estudo no qual se procurou interrogar-se “de que forma
os currículos municipais atendem à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e aos
princípios da Educação Escolar Indígena?” Esta pergunta é fundamental para
aprofundarmos, de fato, nas investigações sobre os efeitos produzidos pela BNCC nos
currículos. Para respondê-la de forma circunstanciada, este artigo apresenta a análise do
documento referencial curricular de Itamaraju (Bahia), do Ensino Fundamental, por meio
da investigação dos níveis de sua consonância aos parâmetros da BNCC e aos marcos
legais e pedagógicos da Educação Escolar Indígena. A escolha desta experiência ocorreu
após a realização do mapeamento de currículos municipais com escolas indígenas na
região do Nordeste2.
O artigo está dividido em quatro partes. A primeira parte contém os marcos legais
e pedagógicos da Educação Escolar Indígena do país. Na segunda, pontua-se a
modalidade na Base Nacional Comum Curricular. Na terceira, contextualizam-se os povos
indígenas do Nordeste e a educação escolar indígena na região. Na quarta e última, tem-
se a análise dos dados, do documento referencial curricular de Itamaraju (BA), segundo
os parâmetros da BNCC, e os marcos legais e pedagógicos da Educação Escolar Indígena.
2A pesquisa de cunho qualitativo da qual resultou este artigo valeu-se da revisão dos marcos legais e pedagógicos da
educação escolar indígena, do levantamento dos dados da escola indígena de Itamaraju no Censo Escolar 2021 no site
do Inep (https://inepdata.inep.gov.br/) e do acesso ao currículo municipal por meio de contato via e-mail com a
Secretaria Municipal de Educação de Itamaraju.
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3O modelo integracionista tem origem nas missões jesuíticas do século XVI até na parceria entre a Fundação Nacional
do Índio com a Summer Institute of Linguistics no século XX, modelo este voltado à conversão dos povos indígenas ao
cristianismo e à anulação das suas culturas e práticas rituais (LEIVAS e tal, 2014). Intuito também estatal em “integrar”
os povos indígenas à comunidade nacional, vide o Estatuto do Índio (1973), cujo Art. 50 dispõe que o objetivo da
educação escolar indígena é a integração na “comunidade nacional”.
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demais escolas do sistema pelo respeito à diversidade cultural e à língua materna, e pela
interculturalidade.
Em 1999, as Diretrizes para a Política Nacional da Educação Escolar Indígena,
aprovadas pelo Parecer nº 14/99 (14/09) da Câmara Básica do Conselho Nacional de
Educação, fundamentavam a educação indígena, determinando a estrutura e o
funcionamento da escola indígena. E foram elaboradas pelo Comitê Nacional de
Educação Indígena, criado pelo MEC e composto por representantes de órgãos
governamentais e não governamentais, representantes dos povos indígenas e de seus
professores. A seguir, a Resolução nº 3/99, preparada pela Câmara Básica do Conselho
Nacional de Educação e publicada em 17 de setembro de 1999, fixou as Diretrizes
Nacionais para o funcionamento das escolas indígenas, criando a categoria “escola
indígena”, reconhecendo-lhe “a condição de escolas com normas e ordenamentos
jurídicos próprios” (BRASIL, 1999), garantindo-lhe autonomia pedagógica e curricular.
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4As críticas de Knapp e Martins (2017) são muito precisas sobre a não efetivação dos Territórios Etnoeducacionais, a
ausência de diretrizes específicas para os níveis de ensino etc.
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5 As dez competências gerais abrangem: "1. Conhecimento que ajuda o aluno compreender e fazer intervenções na
realidade; 2. Pensamento científico, crítico e criativo que serve para problematizar e criar soluções; 3. Repertório
cultural que promova a participação em criações artístico-culturais; 4. Comunicação que busque auxiliar o aluno a se
expressar e a compartilhar informações; 5. Cultura digital para que haja a utilização de tecnologias digitais de
informação; 6. Autogestão que desenvolva a capacidade de fazer escolhas; 7. Argumentação de maneira que a opinião
emitida tenha embasamento em fatos; 8. Autoconhecimento e autocuidado que promovam em bom cuidado da
própria saúde física e mental; 9. Empatia e cooperação para que o respeito com outro seja praticado e 10. Autonomia,
de forma que as decisões tomadas tenham princípios éticos e sustentáveis" (BNCC, 2017, p. 9-10).
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6 Gersem José dos Santos Luciano é indígena da etnia Baniwa, graduado em Filosofia, mestre e doutor em Antropologia
Social. Atualmente é professor associado no Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília. Além de
professor, é gestor e pesquisador em educação escolar indígena. Foi conselheiro no Conselho Nacional de Educação
(2006/2008 e 2016/2020) e secretário Municipal de Educação de São Gabriel da Cachoeira/AM (1997-1999). Gersem
Luciano participou ativamente das discussões durante a elaboração da BNCC como conselheiro do CNE, ao contrário da
tese de Militão (2022), que aponta a ausência de indígenas no processo de elaboração da base. O autor assina em
alguns textos ora com o sobrenome "Luciano", ora "Baniwa" (nome do seu povo).
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Essa BNCC para a educação escolar indígena não é a melhor, mas é a possível.
Conseguiu-se manter as legislações anteriores e reafirmar a especificidade da
educação escolar indígena pautada nos princípios de uma escola específica e
diferenciada, da interculturalidade, bilinguismo/multilinguismo, organização
comunitária. Cabe agora os indígenas e a comunidade cobrarem junto aos
municípios e estados a inclusão, de fato, desses princípios em seus currículos e
projetos políticos pedagógicos.
7 Fala registrada no webinário do evento “Seminários de Estudos”, cujo tema foi “O parecer do CNE sobre a Educação
Escolar Indígena na BNCC e aplicabilidade nas escolas indígenas”, iniciativa do Fórum Nacional de Educação Escolar
Indígena (FNEEI) e do Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena do Amazonas (FOREEIA). Link de acesso ao evento:
https://www.youtube.com/watch?v=556hflH4-eg&t=5842s.
8 Esta lista é aproximada e resulta do cruzamento de dados do ISA (2023) e da Funai. O estado Piauí tem presença
indígena e, em agosto de 2020 (Lei estadual n° 7.389/2000), a comunidade Serra Grande, dos índios Kariri, em
Queimada Nova, se tornou a primeira terra indígena demarcada no estado.
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Uma das formas mais notórias de dominação desses povos indígenas [do
Nordeste] se processou por meio de projetos de educação, que, disciplinadores,
salvacionistas e assimiladores, tiveram início nos aldeamentos administrados por
missões religiosas.
9 O total compreende escolas indígenas em localização diferenciada (terras indígenas e área remanescente de
quilombos), localização não diferenciada e assentamentos (Maranhão).
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[...] foi realizada uma grande mobilização nos 27 Territórios de Identidade, com
as comunidades educativas, para subsidiar a elaboração da primeira versão do
DCRB, envolvendo e orientando as equipes técnicas no processo de estudo e
discussão do Documento Curricular Referencial da Bahia para a Educação Infantil
e Ensino Fundamental. Desse modo, somaram-se mais de 24 mil contribuições
durante a realização da Escuta Inspiracional, tornando legítimo o processo de
construção e a materialidade do referido documento no Estado da Bahia. Foi
realizada uma consulta pública, sob orientações da equipe de trabalho formada
por: duas coordenadoras estaduais, uma representante da SEC, uma
representante da UNDIME-BA, uma coordenadora da etapa da Educação Infantil
e duas coordenadoras da etapa do Ensino Fundamental, três redatores da
Educação Infantil, 19 redatores do Ensino Fundamental, além de profissionais
colaboradores com representação de todos os Territórios de Identidade.
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10 "Os dados do SIASI registram, para 2010, 11.436 habitantes (sendo 5.839 homens e 5.597 mulheres), distribuídos pelas
aldeias Barra Velha, Aldeia Velha, Boca da Mata, Meio da Mata, Imbiriba, localizadas em Porto Seguro; Pé do Monte,
Trevo do Parque, Guaxuma, Corumbauzinho e Aldeia Nova, estabelecidas em Itamaraju; Coroa Vermelha e Mata
Medonha, em Santa Cruz de Cabrália e, por fim, Águas Belas, Craveiro, Tauá, Tibá, Córrego do Ouro, Cahy e Alegria
Nova no Prado, totalizando 19 aldeias (ISA, 2022).
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retomar sua língua originária, dada por extinta em meados do século passado (BOMFIM,
2017).
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Povos indígenas da Bahia com destaque o extremo sul baiano; Índios Pataxós
do Parque Nacional do Monte Pascoal e seus hábitos culturais e sociais.
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É reconhecido o direito de o Povo Pataxó decidir por tipo de organização curricular mais
adequado (por série anual, período, ciclo etc.).
Em geral, no documento curricular o Povo Pataxó é citado como parte importante
da identidade do território do município. Ainda que, na página 579, na habilidade do
componente curricular da Geografia, emprega-se o termo “tribo” para se referir a outros
povos indígenas, expressão pejorativa e anacrônica para se referir a essas alteridades
ameríndias.
Conclui-se que embora se tenha a inserção das diretrizes da modalidade nos
componentes curriculares: Língua Materna Patxôhã, Língua Portuguesa, Arte, História,
Ciências, Matemática, Educação Física e Ensino Religioso, não se apresentam as diretrizes
da educação escolar indígena nas competências gerais, tampouco há a indicação de
contratação de especialistas portadores de notório saber (conforme previsto na Portaria
MEC n. 01 1.061/2013), ainda que se mencione a importância de políticas de formação de
profissionais da educação. Destaca-se, nesse currículo, que há a inclusão da perspectiva e
da pedagogia Pataxó por meio da consideração do lúdico, da brincadeira e do modo de
viver no processo pedagógico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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12 Com exceção do componente curricular específico (Língua Materna) que não apresentou os códigos alfanuméricos.
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espaço fundamental de resistência cultural, sendo marca indelével dos povos indígenas
situados no Nordeste brasileiro.
É preciso destacar que, mediante esta análise, não se conseguiu alcançar a
realidade dos projetos políticos pedagógicos da escola indígena, cujo estudo certamente
complementaria os dados aqui analisados. Há a necessidade de verificar na ponta (ou
seja, na escola indígena) de que maneira este novo currículo da Educação Básica, no caso
analisado, Ensino Fundamental, expressa, de fato, os referenciais e as concepções
pedagógicas dos povos indígenas. Os currículos são “referenciais”, “abertos” e “em
construção”, somente numa escala micro, ou seja, no projeto político pedagógico (PPP) e
no ambiente escolar, será possível analisar o descolamento, a inadequação ou a
adequação curricular para as realidades às quais se prestam. No entanto, tal análise micro
dos PPPs das escolas municipais, sobretudo, da única escola indígena municipal,
extrapola os objetivos propostos neste artigo.
De qualquer maneira, este documento curricular é um referencial fundamental
tanto para a Escola Municipal Indígena Pataxó Trevo do Parque Nacional do Monte
Pascoal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (até 5º ano), quanto para as outras 54
escolas de Ensino Fundamental presentes no município. É um capítulo de
reconhecimento da luta do povo Pataxó e de outras lideranças e povos que continuam a
reescrever e a protagonizar os embates e lutas na arena desafiadora da educação no país.
REFERÊNCIAS
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DOI: https://doi.org/10.26694/rles.v28i56.4865
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https://doi.org/10.26694/rles.v26i52.3132. Acesso em: 03 nov. 2023.
Sites Consultados
InepData
https://inepdata.inep.gov.br/
IBGE - Cidades
https://cidades.ibge.gov.br/
HISTÓRICO
Submetido: 30 de Set. de 2023.
Aprovado: 20 de Nov. de 2023.
Publicado: 15 de Jan. de 2024.
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