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RESUMO
INTRODUÇÃO
1,2
Estudantes do curso Técnico em Administração Integrado ao Médio do Instituto Federal de Educação do
Tocantins, Campus Gurupi. 1 [email protected] ; 2 [email protected]
3
Doutora em Ciências Sociais pela Unicamp e Professora do Instituto Federal de Educação do Tocantins,
Campus Gurupi. [email protected]
A Constituição Brasileira de 1988 no Artigo 3, inciso IV, defende que a República
Federativa do Brasil tem por objetivo fundamental “promover o bem estar de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Contudo, reflexos da inferiorização do negro no período colonial podem ser observados na
sociedade contemporânea em ações que se remetem, principalmente, à elevada taxa de
violência contra os negros e ao racismo estrutural que perdura em nossa sociedade.
Nesse contexto, é imprescindível discorrer sobre Florestan Fernandes (1983, pp. 11-
13) que desconstruiu a ideia de que o Brasil seria um paraíso racial, onde não existia
discriminação pelo fato do país ter se tornado uma democracia. Nesse contexto, Fernandes
constatou que os negros foram marginalizados pela elite após o processo de abolição da
escravidão e a mesma criou a falsa teoria da democracia racial na tentativa de se evadir da
responsabilidade de integrar o negro na sociedade, o que, segundo o autor, deixou “a massa dos
ex-escra-vos, dos libertos e dos ingênuos à própria sorte, como se eles fossem um simples
bagaço do antigo sistema de produção”( FERNANDES, 1983, p. 13).
Sob essa perspectiva, o Brasil é um país onde o negro ainda é discriminado e sofre
preconceito, fato evidenciado pelos altos índices de homicídios e de crimes motivados por
racismo contra os negros, ações consequentes de uma mentalidade ainda retrógrada de uma
parte da população brasileira que não reconhece a participação e, sobretudo, o sofrimento do
negro no processo histórico-social brasileiro.
A valorização da vida e da importância do negro é instrumento essencial para
consolidação de uma sociedade igualitária e multicultural, na qual a violência e o racismo contra
pessoas de pele mais escura não sejam destaques, mas sejam completamente extirpados.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE), a população de pele
de cor mais escura (pretos e pardos) representou 54,9%, em 2016, mais da metade da população
brasileira, no entanto ainda perdura o preconceito e a violência racial. A cultura negra foi e
ainda é extremamente importante para a formação do Brasil contemporâneo, apesar de ser
discriminada por uma parte da sociedade, pelo fato da mesma desconhecer e se negar a respeitar
crenças e tradições que diferem de suas próprias concepções.
A população negra ainda é marginalizada e excluída socialmente. De acordo com uma
pesquisa feita pela pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
(SEPPIR) e pelo Senado Federal (2012), 56% da população brasileira concorda com a
afirmação de que “a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte
de um jovem branco”, o que denota a desvalorização da vida de pessoas negras na sociedade
brasileira.
É imprescindível reconhecer a importância da vida, principalmente dos negros, devido ao
preocupante aumento nos índices de violência contra a população negra, além de buscar
compreender que cada morte é um prejuízo para o conjunto social no qual estamos imersos,
pois cada indivíduo contribui para a construção do todo que é a nossa sociedade,
principalmente o povo negro que exerceu e exerce grande influência na formação da cultura
brasileira.
Assim, infere-se um dos principais objetivos deste ensaio: atender a necessidade de
escrever textos e artigos de modo a contribuir no descortinamento do Mito da Democracia
Racial, tão bem analisado por Florestan Fernandes (1983) materializados no racismo e na
violência cotidiana sobre a população negra deste país. Ademais, buscamos mostrar a
importância da vida do povo negro que sofre com a violência e racismo dentro da sociedade
atual.
METODOLOGIA
2
“The intentional use of physical force or power, threatened or actual, against oneself, another person, or against
a group or community, that either results in or has a high likelihood of resulting in injury, death, psychological
harm,maldevelopment or deprivation.” Tradução dos autores.
As pessoas o fazem de forma consciente e inconsciente ao tentar se referir aos negros como
inferiores em qualquer aspecto.
Para Ribeiro (1989, p. 225), “a característica distintiva do racismo brasileiro é que ele
não incide sobre a origem racial das pessoas, mas sobre a cor de sua pele”. Dessa forma,
no Brasil, é pregado o processo de branqueamento do negro para que ele possa ser respeitado e
aceito pela população, ganhando a possibilidade de uma ascensão social. O autor complementa
isso afirmando que “a definição brasileira de negro não pode corresponder a um artista ou
a um profissional exitoso”. Com isso, pode-se perceber que ser negro no senso comum é
sinônimo de ter subempregos, ser desvalorizado e marginalizado.
Nesse ínterim, percebe-se que o ato de ser racista vai contra os princípios básicos
estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e nega algumas
características que expressam a essência da nossa espécie como a generosidade, compaixão e
empatia. Além disso, o racismo é um crime que afronta vários artigos da Constituição Federal
de 1988, principalmente os artigos 1º, § 3 referentes à “dignidade da pessoa humana” e 5ª que
defende o princípio da inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade” (grifo nosso).
Para entender o contexto desse artigo, é necessário estabelecer a relação entre racismo
e violência. Segundo Jorge da Silva, cientista político, em uma entrevista à Universidade
Federal de Fluminense (2016), “o racismo tem forte presença não só na prática da violência,
mas também nas formas como o poder público resolve enfrentá-la, pois, na aplicação de
políticas contra a violência criminal o próprio Estado tem um viés fortemente
racista”(Adaptado)3. Ao discorrer sobre essa questão, o cientista se refere ao fato de o Brasil
ter raízes históricas racistas, porque seu processo de colonização foi baseado na exploração da
mão de obra escrava dos negros e após o término do trabalho cativo o negro foi marginalizado
ficando propenso ao racismo que se dá através da violência contra o mesmo, até por meio da
instituição que deveria protegê-lo, o Estado.
3
Violência e racismo: uma relação calcada em problemas estruturais: entrevista com Silvio de
Almeida, realizada por Renata Cunha.
Ainda, conforme Almeida (2018, p.14), “o racismo fornece o sentido, a lógica e as
tecnologias para todas as formas de desigualdade e violência que moldam a vida social
contemporânea”. Assim, esse é um mal intrínseco na sociedade que faz parte de todas as
relações cotidianas, sejam as mesmas em qualquer ambiente. Por conseguinte, a conjuntura
social brasileira sofre interferência direta do racismo histórico-social na crescente violência
contra a população negra.
No que se refere à importância do povo negro, faz-se mister afirmar que “o
homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo
processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas
gerações que o antecederam”(LARAIA, 1995 p. 25). Neste contexto, devemos nos remeter à
participação da cultura negra na formação do povo Brasileiro, pois é evidente que o Brasil atual
é resultado de uma grande participação desse povo, mesmo que eles tenham sido trazidos ao
nosso país coercitivamente e tratados como escória por serem escravos.
Sobre a escravidão Darcy Ribeiro Discorre:
A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz
de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista.
Ela é que incandesce, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a
torturar, seviciar e machucar os pobres que lhes caem às mãos. Ela, porém,
provocando crescente indignação nos dará forças, amanhã, para conter os
possessos e criar aqui uma sociedade solidária (1995. p.120).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
Diante do exposto, percebe-se que a violência e racismo contra os negros é uma
realidade constantemente presente no Brasil, sendo perpetuada através da desvalorização da
vida das pessoas negras, refletida nos altos índices de homicídios sofridos por esse povo. Desta
forma, percebe-se que, atualmente, os negros são as vítimas do regime escravista que perpetuou
no território brasileiro durante mais de 280 anos e considerava-os seres inferiores, imagem que
ainda não foi completamente extirpada no imaginário popular.
Contudo, observa-se que é inaceitável que a vida de um negro não seja de igual valor
ao de um não negro e que haja um genocídio da população negra na sociedade brasileira. É
preciso reconhecer a importância dos negros na sociedade contemporânea e as consequências
do racismo e da violência, provando a inveracidade do Mito da Democracia Racial, de forma a
conscientizar a população e reduzir ações preconceituosas que só trazem prejuízos à sociedade.
Assim, as entidades estatais devem promover medidas para acabar, senão mitigar, os
índices crescentes de homicídios de negros, além de estimular, por meio de campanhas e
parcerias com os meios de comunicação, a extirpação da apatia e indiferença da sociedade em
relação à existência de crimes que atentam contra a vida da população negra.
Não se termina a discussão por agora, pois as relações raciais estão presentes em
qualquer sociedade e delas podem vir várias análises, como a violência discorrida neste ensaio.
Portanto, encerra-se aqui com a chamada oriunda da campanha “Vidas Negras”, promovida
pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2017: todos os brasileiros e brasileiras estão
convidados a entrar no debate, promover e apoiar ações contra a violência racial. Por fim,
vidas negras importam e têm de ser valorizadas.
REFERÊNCIAS
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