Avaliação Da Desvalorização Da Moeda Angolana - Custódio Congo

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Campus Universitário de Viana

Universidade Jean Piaget de Angola


(Criada pelo Decreto nº 44-A/01 de 6 de Julho de 2001)

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

MONOGRAFIA

AVALIAÇÃO DA DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA E O SEU


IMPACTO NAS EMPRESAS NACIONAIS: CASO DA
EMPRESA NOSSA SEGUROS

Nome do estudante: Custódio Ramiro da Costa Congo

Licenciatura: Economia e Gestão

Opção: Contabilidade e Finanças

Orientador: Doutor Samora Machel Januário e Silva

Viana, Novembro de 2019


Campus Universitário de Viana

Universidade Jean Piaget de Angola


(Criada pelo Decreto nº 44-A/01 de 6 de Julho de 2001)

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

MONOGRAFIA

AVALIAÇÃO DA DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA E O SEU


IMPACTO NAS EMPRESAS NACIONAIS: CASO DA
EMPRESA NOSSA SEGUROS

Custódio Ramiro da Costa Congo

Economia e Gestão

Contabilidade e Finanças
EPÍGRAFE
«A escolha da sua profissão será a decisão económica mais importante que cada qual
irá tomar»

Nordhaus & Samuelson, 2005

iii
DEDICATÓRIA

Esta obra é dedicada primeiramente à Dona Hortência da Costa, minha mãe a quem eu
muito amo, pela forte influência que teve sobre a minha educação, ao João da Costa, meu
segundo pai, pelo crédito a mim investido, à minha linda e amada esposa, com quem eu tenho
partilhado a minha vida na alegria e na tristeza, à minha filha, que tem servido de motivação
para continuar a caminhar, dedico também este trabalho ao meu grupo académico
denominado, os Phd`s que de forma directa auxiliaram na realização do presente projecto.

iv
AGRADECIMENTOS

O meu agradecimento é direccionado primeiramente à Deus todo-poderoso pelo fôlego


de vida e por ter redireccionado a minha vida ao caminho do sucesso.

À minha família, designadamente, mãe, esposa, irmãos, filha e amigos por contribuírem
directa ou indirectamente, para realização deste projecto.

Em específico, agradeço ao meu Irmão João da Costa, meu segundo pai, pelo suporte
técnico e financeiro a favor da minha formação.

Não devo deixar de agradecer também o meu orientador, Doutor Samora Machel
Januário e Silva, por ter disponibilizado tempo, paciência e o seu vasto conhecimento para
realização do presente trabalho.

Em geral, meus agradecimentos vão também para o elenco de docentes da faculdade de


ciências sociais da Unipiaget e em específico aos docentes do curso de Economia e Gestão
que no decorrer da minha formação contribuíram significativa para que eu tivesse êxito no
final do curso.

O meu muito obrigado…

v
DECLARAÇÃO DE AUTOR

Declaro que este trabalho escrito foi levado a cabo de acordo com os regulamentos da
Universidade Jean Piaget de Angola (Unipiaget) e em particular do regulamento de
elaboração de trabalho de fim de curso. O trabalho é original excepto onde indicado por
referência especial no texto.

Quaisquer visões expressas são as do autor e não representam, de modo algum


quaisquer visões da Unipiaget. Este trabalho, no todo ou em parte, não foi apresentado para
avaliação noutras instituições de Ensino Superior nacionais ou estrangeiras.

Mais informo que a norma seguida para elaboração do trabalho escrito é a Norma APA.

Assinatura:

__________________________________________________________________

Data ___/___/____

vi
RESUMO

Na perspectiva de compreender os motivos que levam um país a desvalorizar a sua moeda


face à moeda estrangeira, e também compreender as operacionalidades desta desvalorização,
esquematizamos o presente trabalho por três capítulos. No primeiro capítulo, fez-se um estudo
minucioso das principais contribuições literárias com o objectivo de mostrar em histórico os
diferentes comportamentos da desvalorização cambial em diferentes economias, onde
verificamos que o impacto da desvalorização da moeda nos países de economia emergente
difere do seu impacto em países de economia em desenvolvimento. O segundo capítulo
ocupa-se, exclusivamente, dos procedimentos metodológicos a nível científico. No último
capítulo, primeiramente fez-se uma avaliação do impacto da desvalorização da moeda na
empresa NOSSA seguros tendo como base a análise comparativa dos resultados financeiros
relativos aos anos de 2017 e 2018, onde verificou-se que a desvalorização tem causado
maioritariamente efeitos negativos para as demonstrações financeiras, traduzindo-se em
diminuição nas receitas de prémios, aumento nos custos com sinistros e custos operacionais.
Posteriormente, fez-se uma análise da balança de pagamento de Angola no período de 2017 e
2018 para dar resposta a um dos objectivos específicos e responder as hipóteses levantadas, o
que nos permitiu observar o impacto da desvalorização na balança confirmando assim, que
realmente a desvalorização reduz as importações e faz parte de uma das medidas de estímulo
para as exportações.

Palavras-Chave: Taxa de câmbio; Desvalorização da moeda; Balança de pagamento.

vii
ABSTRACT

In order to understand the motives that lead a country to devalue its currency in the face of
foreign currency, and also to understand the operationalities of this devaluation, we
schematize the present work for three chapters, in the first chapter, A thorough study of the
main literary contributions was made in order to show in history the different behaviors of
exchange devaluation in different economies, where we found that the impact of currency
devaluation in the countries of Emerging economy differs from its impact on developing
countries. The second chapter deals exclusively with the methodological procedures at the
scientific level. In the last chapter, we first made an assessment of the impact of currency
devaluation in NOSSA Seguros, company based on comparative analysis of the financial
results for the years 2017 and 2018, where it was found that the devaluation has caused
mostly chances effects. To the financial statements, resulting in a decrease in premium
income, an increase in claims cost and operating costs. Subsequently, an analysis of Angola`s
balance of payments in 2017 and 2018 was carried out to meet one of the specific objectives
and to respond to the hypothesis raised, which allowed us to observe the impact of the
devaluation on the balance, thus confirming that the devaluation actually reduces imports and
is part of one the export stimulus measure.

Keywords: Exchange rate; Devaluation of the currency; Balance of payment.

viii
ÍNDICE

EPÍGRAFE ........................................................................................................................... iii


DEDICATÓRIA ................................................................................................................... iv
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................... v

DECLARAÇÃO DE AUTOR ............................................................................................... vi


RESUMO ............................................................................................................................ vii
ABSTRACT ....................................................................................................................... viii
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14
Identificação do problema .................................................................................................... 15
Objectivos do estudo ............................................................................................................ 15
Objectivo geral .................................................................................................................... 15

Objectivos específicos.......................................................................................................... 15
Importância do estudo .......................................................................................................... 15
Delimitação do estudo .......................................................................................................... 16
Definição de conceitos ......................................................................................................... 16
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA ....................................... 18
1.1. Políticas macroeconómica ......................................................................................... 18

1.2. Política cambial ......................................................................................................... 19


1.3. Regimes cambiais ...................................................................................................... 20
1.4. Teoria da desvalorização ........................................................................................... 23
1.4.1. Aumento dos preços............................................................................................... 25
1.4.2. Desestímulo aos investimentos............................................................................... 26
1.5. Balança de pagamento ............................................................................................... 27

1.6. A desvalorização da moeda e o equilibrio da balança de pagamento .......................... 29


CAPÍTULO 2 – OPÇÕES METODOLÓGICAS DO ESTUDO ........................................... 32
2.1. Método de investigação ............................................................................................. 32
2.2. Hipóteses................................................................................................................... 32
2.3. Variáveis ................................................................................................................... 33

ix
2.3.1. Variável Independente ........................................................................................... 33

2.3.2. Variável Dependente .............................................................................................. 33


2.4. Objecto de estudo ...................................................................................................... 34
2.5. Instrumento de investigação ...................................................................................... 34
2.6. Processamento e tratamento da informação ............................................................... 34
CAPÍTULO 3 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE CRÍTICA DOS RESULTADOS............. 35

3.1. A situação da desvalorização da moeda angolana ....................................................... 35

3.2. O impacto da desvalorização da moeda na empresa nossa seguros ............................. 38


3.2.1. Caracterização da NOSSA Seguros ........................................................................ 38
3.2.2. O impacto da desvalorização nas contas da NOSSA Seguros ................................. 38
3.2.2.1. Impacto em Prémios Brutos................................................................................ 39

3.2.2.2. Impacto nas despesas .......................................................................................... 40


3.2.2.3. Impacto nos Investimentos ................................................................................. 42
3.3. O impacto da desvalorização da moeda nas contas da balança de pagamento ............. 44
3.3.1. Conta corrente ....................................................................................................... 46
3.3.1.1. Conta de bens ..................................................................................................... 47
3.2.1.2. Conta de Serviços ............................................................................................... 50

3.2.1.3. Rendimento primário .......................................................................................... 51


3.2.1.4. Rendimentos secundários ................................................................................... 51
3.2.2. Conta capital e financeira ....................................................................................... 52
3.2.2.1. Conta capital ...................................................................................................... 52
3.2.2.2. Conta financeira ................................................................................................. 52
3.2.3. Erros e omissões .................................................................................................... 52

CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 53
RECOMENDAÇÕES .......................................................................................................... 55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 56

x
INDÍCE DE TABELAS
Tabela 1: O governo pode remediar as deficiências do mercado ........................................... 18
Tabela 2: Evolução dos principais indicadores 2017 - 2018.................................................. 36
Tabela 3: Prémios Brutos ..................................................................................................... 39
Tabela 4: Custo com sinistros............................................................................................... 40
Tabela 5: Despesas por tipologia .......................................................................................... 40
Tabela 6: Provisões técnicas do seguro directo ..................................................................... 42
Tabela 7: Avaliação da flutuação cambial ............................................................................ 44
Tabela 8: Apresentação analítica da balança de pagamento 2016-2018................................. 45
Tabela 9: Composição das exportações 2017-2018............................................................... 48
Tabela 10: Importações por categoria de produtos ................................................................ 50

xi
INDÍCE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Impacto da desvalorização nas demonstrações de resultados 2017-2018 .............. 41


Gráfico 2: Conta corrente ..................................................................................................... 46
Gráfico 3: Conta de bens ...................................................................................................... 47
Gráfico 4: Evolução nas exportações de outros produtos não-petrolifero .............................. 49
Gráfico 5: Importação de serviços ........................................................................................ 51

xii
INDÍCE DE FIGURAS

Figura 1: Alternativas de regimes cambiais .......................................................................... 22


Figura 2: Estrutura da balança de pagamento........................................................................ 28

xiii
INTRODUÇÃO
Já há alguns anos que a economia vem relatar histórico de alguns países que por
motivos diversos começam a deparar-se com défices recorrentes na balança de pagamento,
por longos períodos sucessivos. Esta situação de défices sucessivos conduzem a economia a
um crescimento contínuo das suas dívidas externas, situação que não é sustentável por muito
tempo.

As dívidas externas elevam-se a um certo nível, os credores externos suspeitam uma


incapacidade (por parte do país devedor) de honrar os seus compromissos. Sendo assim,
optam por deixar de conceder novos empréstimos, exigindo também o reembolso dos antigos,
caso em que o país vê-se obrigado a ter excedente de modo a superar esta incapacidade, ou
seja, buscando medidas para alterar de forma estrutural o saldo da balança corrente e passar a
ter um equilíbrio ou excedente. Porém, o desequilíbrio da balança de pagamento cria
problemas de défices constantes, inflação e desvalorização.

A economia de Angola não está à margem destes fenómenos e tem enfrentado grandes
debilidades nos últimos anos.

A implementação da política de desvalorização da moeda tornou ainda mais difícil a


situação financeira das empresas nacionais e outras implantadas por via de investimento
estrangeiro e joint venture.

Tendo em conta esta situação, propõe-se a elaboração de um estudo para avaliar a


desvalorização da moeda, as contas das empresas nacionais, quer a nível qualitativo ou a nível
quantitativo.

Assim, este trabalho aborda questões, essencialmente, analíticas, nas quais


preestabeleço as teorias fundamentais da desvalorização e busco as principais contribuições
literárias para cada uma das suas abordagens.

Com as teorias da desvalorização da moeda poderemos perceber o seu real efeito sobre
o crescimento económico e em particular avaliar o seu impacto nas empresas nacionais, com o
seu histórico estudar episódios claramente identificáveis sobre as variáveis macroeconómicas
mais relevantes, com o objectivo de identificar as principais operacionalidades.

14
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

Com o actual problema da desvalorização da moeda em Angola, especificamente a


subida generalizada dos preços dos produtos, tendo em conta que maior parte dos produtos
consumido internamente são importados, torna-se ainda mais difícil para as famílias, pois para
importamos precisamos de moeda estrangeira e é sabido que a desvalorização da moeda
nacional torna a moeda estrangeira mais cara. Todavia é importante a formulação de uma
questão científica de modo a tornar a pesquisa mais estruturada, sendo assim, formulamos o
seguinte problema: Quais são os motivos que levam um país a desvalorizar a sua moeda face
a moeda estrangeira?

OBJECTIVOS DO ESTUDO

É sabido que no âmbito científico, os objectivos da pesquisa mostram as intenções


propostas pelo pesquisador e permitem identificar as possibilidades de conseguir os resultados
mediante o caso em estudo. Sendo assim, o presente artigo em estudo comporta a definição de
objectivos geral e específicos, como ilustrado nos parágrafos posteriores.

Objectivo geral

Compreender as operacionalidades da desvalorização da moeda e o seu impacto nas


empresas nacionais.

Objectivos específicos

(1) Expressar as razões que tornam a moeda nacional numa das mais vulneráveis á
desvalorização;
(2) Identificar os desafios da política de desvalorização cambial no país;
(3) Explicar o impacto da desvalorização da moeda á balança de pagamento.

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

O estudo da desvalorização da moeda é de extrema importância para comunidade


académica e não só, pois facilitará a percepção da maior parte da sociedade que conhecia
apenas a desvalorização da moeda como um elemento exclusivamente negativo para a nossa
economia.
15
O elemento em estudo tem um impacto crucial na sociedade académica, porque aborda
de forma simples e clara, um conjunto de conhecimentos indispensáveis para a compreensão
relativa a desvalorização e para futuras avaliações da desvalorização da moeda, ou seja, este
projecto foi elaborado na perspectiva de auxiliar a percepção dos estudantes de economia em
específico, clarificar a ideia da população em geral visto que o tema em estudo é um
fenómeno socioeconómico e até mesmo poderá servir de suporte aos especialistas que de um
modo ou de outro, deparam-se com algumas dificuldades relativas ao tema em estudo.

Em função destes factos, achamos ser importante o estudo do presente tema, quer seja
num âmbito teórico, bem como num âmbito prático, pois, com o estudo deste tema, teremos a
facilidade em perceber as funcionalidades de uma desvalorização, suas vantagens bem como
as suas desvantagens e percebermos o seu impacto nas empresas nacionais.

DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

O estudo do presente tema é assegurado pela área das ciências sociais, economia,
concretamente a sua parte mais ampla, a macroeconomia. Sendo assim, o presente tema, no
que se refere a sua delimitação do estudo em um horizonte temporal e espacial, focamo-nos
na avaliação da desvalorização da moeda e o seu impacto nas empresas nacionais, tendo como
caso concreto a empresa NOSSA Seguros. Podendo assim, colectar dados referentes aos anos
de 2017-2018.

DEFINIÇÃO DE CONCEITOS

Para melhor detalhar o estudo, resolvemos conceituar alguns termos que de algum
modo encontram-se relacionados com o tema:

Inflação

Segundo Travithick (1981, p. 163), a inflação «é o resultado de frouxidão passada ou


presente na condução da política manetária pelas autoridades responsaveis».

16
Reservas internacionais

Segundo o Sandroni (1999, p. 527), as reservas internacionais «são os meios de


pagamentos de que dispõem as autoridades monetárias de um país ou o montante de moeda
estrangeira de que se dispõe o país».

Produto Interno Bruto

Segundo Nordhaus e Samuelson (2005, p. 429)

Produto Interno Bruto é o nome que damos ao valor de mercado de todos os bens e
serviços finais produzidos num país durante um determinado ano. É o valor a que se
chega quando se aplica a medida monetária aos diversos bens e serviços – desde abacates
ao zarcão – que um país produz com os seus recursos de terra, trabalho e capital.

17
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA

1.1. POLÍTICAS MACROECONÓMICA

Já há muitos anos que o Estado para além de agente económico, assume o papel de
regulador da economia ou seja, detecta falhas no mercado e intervém de modo a corrigi-las.
Para isto o estado necessita de um conjunto de mecanismos de interferência para responder
problemas como, o desemprego, a inflação elevada, o lento crescimento económico, entre
outros problemas.

Tabela 1: O governo pode remediar as deficiências do mercado

Falha da economia de mercado Intervenção do governo Exemplos comuns de intervenção


governamental
Ineficiência:

 Monopólio Encorajar concorrência Leis anti-trust, desregulação

 Externalidade Intervenção nos mercados Leis anti-poluição; imposições anti-


tabagismo.

Construir faróis, subsidiar a investigação


 Bens públicos Redistribuição de científica
rendimento
Desigualdade:

Desigualdades inaceitáveis de Redistribuição do Impostos progressivos sobre o rendimento


rendimento e riqueza Rendimento e riqueza

Programa de apoio ao rendimento (p. ex,


senhas de alimentação)
Problemas macroeconómicos:

Ciclos económicos (inflação Estabilizar através de Políticas monetárias (p. ex mudança na


elevada e desemprego) políticas macroeconómicas oferta de moeda e nas taxas de juro)

Políticas orçamentais (impostos e


programa de despesa)

Crescimento económico lento Estimular o crescimento


Investir em educação aumentar a taxa de
poupança nacional reduzindo o défice
orçamental

Fonte: Nordhaus e Samuelson (2005, p. 39)

18
Para Keynes cit. por Nordhaus e Samuelson (2005, p. 25), «o importante, para o
governo, não é fazer coisas que os indivíduos já estejam a fazer e realizá-las um pouco
melhor, ou um pouco pior; mas fazer coisas que presentemente não sejam efectuadas.».

De acordo com as legendas da tabela 1, percebe-se que o estado, como regulador da


economia, olha para as potenciais falhas e ameaças que a economia de mercado enfrenta e
procura possíveis soluções aplicando assim, as suas políticas de correcção (intervenção na
economia com políticas macroeconómicas e outras decisões de competência do estado).

Na perspectiva de equilibrar a economia nacional, o estado utiliza um conjunto de


políticas que lhe possibilitam realizar estas tarefas. Sendo assim, temos a destacar: A política
fiscal, referente a cobrança de imposto; a política monetária, referente a oferta da moeda e
taxa de juros; a política da renda, esta que actua sobre os preços e os salários; e a política
cambial, de referência a relação financeira com o exterior; etc.

Na abordagem teórica sobre a desvalorização da moeda nota-se que é uma decisão


macroeconómica intrinsecamente ligada a política cambial, esta que é caracterizada pelas
acções e orientações ao dispor do estado e destinadas a equilibrar a operacionalidade da
economia através de alterações das taxas de câmbio.

1.2. POLÍTICA CAMBIAL

Na literatura, nos relatórios e discursos dos bancos centrais responsáveis pela direcção
da política cambial, não existe um consenso sobre a definição apropriada desta política.
Normalmente não é habitual o uso do termo política cambial na literatura, no decorrer das
nossas investigações deparamo-nos mais com o termo política monetária, visto que alguns
economistas ainda consideram a gestão da taxa de câmbio como uma responsabilidade da
política monetária e colocam fora de questão a existência de uma política que trate
exclusivamente da gestão das taxas de câmbio e operações cambiais. Apesar da pouca atenção
dada a questão do conceito, podemos ainda localizar três definições na literatura.

Moreno (2005, s.p) considera como política cambial, «as transacções do banco
central no mercado de câmbio que são esterilizados».

Esta definição é muito restrita, pois trata apenas das transacções do banco central que
são esterilizados, ou seja, foca-se simplesmente na influência que o banco tem sobre as taxas
de câmbio.
19
Segundo Archer (2005, s.p), a política cambial é «Qualquer transacção que altera a
posição líquida em moeda estrangeira do sector público».

Diferente da anterior definição, esta demonstra que os bancos centrais focam-se não
apenas nas suas influências sobre as taxas de câmbio, mas também no seu principal objectivo,
a gestão das reservas internacionais. Isto é, considera-se a política cambial como toda e
qualquer transacção que altera o volume das reservas internacionais.

Para Adam e Henderson cit. por Abouchedid (2018, p. 27), as políticas cambiais são
«operações de compra/venda de moeda estrangeira fora do mercado de câmbio, realizadas
pelo banco central junto a entidades públicas ou privadas».

Porém, a política cambial é designada como o conjunto de acções e orientações do


estado, direccionadas a regular o funcionamento da economia através de alterações das taxas
de câmbio e do supervisionamento das operações cambiais, ou seja, é um instrumento
macroeconómico de relações comerciais e financeiras entre uma nação e as demais, com os
objectivos descritos desde a acumulação de reservas internacionais, a estabilidade financeira e
a redução da vulnerabilidade externa.

1.3. REGIMES CAMBIAIS

Ao longo destes anos de estudo, algumas questões adaptaram-se ao debate acerca dos
regimes cambias implementados pelas diversas economias, Emergentes e em
desenvolvimento. Quando selecciona-se um regime, é no crédito de que este venha contribuir
efectivamente para o equilíbrio económico, estimule o investimento estrangeiro e o comércio,
dê autonomia para a gestão governamental das políticas monetárias e ficais, além disso
proteger a economia local de turbulências proveniente de finanças internacionais. Apesar do
desejado no momento da escolha do regime. Todavia torna-se ainda difícil encontrar um
regime capaz de tudo isso.

De acordo com Canuto e Holland (2002, p. 2)

Parece haver uma tendência de diversas economias em adotar regimes cambiais


semelhantes, em certos momentos, principalmente entre economias com maiores fluxos
de comércio e de investimento, ou em economias similares em termos de necessidade de
ajustamento macroeconómico externo.

20
Com excepção ao exemplo dos países da Zona do Euro, existe o exemplo dos países
que passaram recentemente por alguma crise cambial e sofreram alguma mudança nos seus
regimes de câmbio, como é o caso do Brasil, da Tailândia, ou da Rússia entre outros.

De acordo com Canuto e Holland (2002, p. 3)

Há ainda dois casos extremos, como o de grandes economias, EUA e Japão, com o
regime de flutuação independente, e de economias muito pequenas e frágeis, que sob o
mesmo regime apresentam algum programa monitorizado por uma instituição
internacional (FMI), como o caso de peru, e a Albânia.

Quando a economia de um país encontra-se em situação hiperinflacionária, por vezes


crónica e com tendência a adopção do regime de câmbio fixo como instrumento de combate a
inflação, a restauração do padrão monetário implicará um certo vínculo com outra moeda, seja
este mais brando ou mais rígido, como por exemplo a substituição da moeda por uma outra.
Na adopção do câmbio fixo, há o problema associado aos desequilíbrios macroeconómicos.
Isto é, a utilização do regime de câmbio fixo, equivaleria a uma turbulência de inconsistência
temporal após o êxito inicial da adopção do regime. O que obriga o estado a mudar-se para
um regime mais flexível. Há ainda, o problema resultante desta alteração de regime no que
toca a baixa reversibilidade de regimes fixos, reversibilidade esta directamente associada a
temporalidade na utilização das taxas de câmbio fixas e a intensidade da rigidez do regime.
Sendo assim, decidimos enquadrar a figura abaixo que relata os diferentes tipos de regimes de
câmbio que puderam ser adoptadas.

21
Figura 1: Alternativas de regimes cambiais

Regimes cambias

Flutuante
Fixo
(Inflation
Targeting)

Puro Ajustavel
Administrativo Puro
Padrão-ouro
Padrão moeda- Soft pegs
ouro

Hard pegs
Âncoras cambias
Banda de futução
Full Crawing pegs
dolarizazation Moving target zone
Currency board

Fonte: Canuto & Holland (2002, p.8)

Observando a figura 1, pode-se resumir os regimes em dois grupos, que são: Regimes
de câmbio fixo (puro e ajustável) e regimes de câmbio flutuante (livre e administrativo):

Ainda de acordo com Canuto e Holland (2002, p.7)

Um dos principais problemas que a taxa de câmbio fixa introduz na economia é a rigidez
no ajustamento dos preços relativos em caso de choques de oferta. Se, por um lado, um
regime de câmbio fixo permite que a taxa de câmbio não sofra excessiva volatilidade,
característica delegada aos regimes de taxas de câmbio flutuantes, por outro, obriga a
mudança dos preços domésticos, quando ocorrem choques de oferta. Em presença destes
choques, as variações da taxa de câmbio nominal sinalizam em direção aos setores para
os quais devem se reorientar os recursos na economia. Ao se fixar a taxa de câmbio,
impede-se que ela exerça este papel sinalizador.

No regime de câmbio fixo, as taxas são estáveis e porém ajustáveis, seguras e com um
mínimo ajustamento, assim, casuais desequilíbrios da balança de pagamento são ajustados
pelas oscilações das reservas internacionais, o que insere um certo limite á sua administração,
basicamente pelo próprio volume de reservas e pelo acesso ao crédito externo.

22
Canuto e Holland (2002, p. 7) também sustentam que:

As âncoras nominais, uma das formas assumidas pelos regimes de câmbio fixo, são parte
fundamental de qualquer processo de estabilização de preços em economia de inflação
alta e crónica, pois garante a credibilidade da moeda nacional. Este ganho de
credibilidade do governo é fruto da disciplina monetária e fiscal que tem de ser obedecida
para manutenção da paridade cambial.

No caso do regime flutuante, o banco central selecciona a sua política monetária e o


mercado fixa a taxa de câmbio. Ou seja, é assim chamado, «quando a taxa de câmbio é
resultado da oferta e demanda por moeda estrangeira». Marques et al. (2018, p. 47).

O regime de câmbio flutuante é o regime em que as operações cambiais (compra e


venda de moeda) funcionam sem o total controlo do banco central, como em qualquer outro
tipo de mercado, o preço da moeda estrangeira vária de acordo com a oferta e procura no
mercado.

Observou-se que a maior parte dos países vigoram o regime de câmbio flutuante nas
suas economias. Mas é de salientar que a adopção do regime flutuante não significa que o
governo, representado pelo banco central, deixará de actuar no mercado de câmbio,
comprando e vendendo moedas estrangeiras sempre que for necessário, motivo pelo qual o
regime de câmbio flutuante subdivide-se em puro e administrativo. Flutuações na taxa de
câmbio resultariam em incertezas sobre a situação cambial e sobre o valor futuro da moeda
nacional, o que estimularia os agentes económicos a definirem alguma direcção inflacionária
na formação de seus preços; por outro lado, dadas as elasticidades de oferta e demanda das
exportações e importações de uma economia qualquer, movimentos de desvalorização da
moeda nacional elevariam os preços das importações, entre eles, insumos industriais e outros
equipamentos, o que seriam, em alguma medida, repassados para os preços internos. Por outro
lado, sob alguma direcção inflacionária, a correcção do câmbio rumo à taxa de câmbio real
estável realimentaria o processo inflacionário.

1.4. TEORIA DA DESVALORIZAÇÃO

Foi necessário relatar um pouco sobre a política cambial, pois a compreensão sobre
ela, facilitará a compreensão sobre o actual tema em estudo. A desvalorização é um fenómeno
que está intrinsecamente ligado aos termos política cambial, taxa de câmbio, e reservas
internacionais. A desvalorização ocorre tecnicamente quando uma determinada moeda reduz
o seu valor face a uma outra moeda estrangeira e quando existe um desequilíbrio nas
23
operações cambiais, isto é, flutuação negativa na oferta de divisas, ou quando se trata de um
processo administrativo.

Segundo Roque (2015, p. 17), «a desvalorização cambial é um fenómeno que gera


carestia generalizada em praticamente todos bens e serviços do mercado interno».

Uma moeda desvalorizada não terá apenas impacto sobre os produtos importados, pois
ela também impacta negativamente os produtos internos, por via das importações de insumos
necessários para a sua constituição.

Roque (2015, p. 29) afirma que a «moeda desvalorizada não apenas não traz pujança
a um país, como ainda é sinal de debilidade económica e de empobrecimento».

A desvalorização da moeda espelha uma ausência de produtos competitivos no país e


esta situação representa instabilidade económica.

Discorre ainda Roque (2015, p. 29), que «ninguém fica rico utilizando uma moeda que
compra cada vez menos».

A ideia do autor acima referido apoia a teoria segundo o qual se a moeda representa
uma boa parte de toda e qualquer transacção económica, então a situação da moeda é um dos
principais factores determinantes da situação de toda economia. Ou seja se a moeda não é
estável, a economia também torna-se instável.

Diferente desta linhagem, surge então um outro grupo de autores com outra linha de
pensamento. Assim sendo, Araújo cit. por Padinha (2014, p. 9) concluiu que «existe uma
relação positiva e significativa entre o crescimento económico e taxas de câmbio
competitivas (desvalorizadas) nos países em desenvolvimento».

É necessário que o governo, representado pelo banco central, pratique uma taxa de
câmbio competitiva, ou seja, que o governo permita a desvalorização da moeda local de modo
a tornar os seus produtos mais competitivos a nível internacional.

Hall et al cit. por Padinha (2014, p. 9) afirmam que, «para os 11 países em


desenvolvimento, a volatilidade da taxa de câmbio provoca efeitos negativos no comércio e
nas exportações, contudo não se encontra um efeito negativo nos 10 países emergentes».

24
Tendo em conta o elevado índice de dependência externa que os países em
desenvolvimento têm para a produção dos seus produtos, faz com que a desvalorização
provoca mais efeitos negativos nas sua exportações em relação as exportações de produtos
dos países emergentes.

«Uma depreciação da taxa de câmbio aumenta a probabilidade de uma consolidação


fiscal bem sucedida, com efeitos positivos no crescimento, nas exportações líquidas e no
controlo da dívida». (Mati & Thornton cit. por Padinha, 2014, p. 9).

O segundo grupo de autores, não refutam as teorias dos anteriores autores, mas
salientam que o êxito da desvalorização depende muito do estado económico da nação, ou
seja, os resultados da política de desvalorização adoptadas por uma nação com a economia
emergente, diferem muito dos resultados de um país com a economia em desenvolvimento.
Ou seja dependentemente do estado da nação (emergente, ou em desenvolvimento) os efeitos
da política de desvalorização, podem ser simplesmente negativos como descreve Roque ou
serem bem sucedidas como descreve os outros autores.

Um país com dificuldades em crescer porque não consegue vender no mercado interno
nem no externo, com desemprego e défice externo, reduz os preços de produção. Esta
redução faz com que a produção aumente, o desemprego diminua, logo o rendimento
disponível aumenta e consequentemente a despesa aumenta. (Padinha, 2014, p. 10)

Outras abordagens reforçam que caso um país queira observar um crescimento mais
acelerado na sua economia, a desvalorização da moeda seria uma medida necessária. Mas ao
contrário desta teoria ainda existe grupos de autores que olham para a política de
desvalorização numa perspectiva muito negativa, sendo assim, destacam-se os elementos que
segundo os autores são resultante da política da desvalorização.

1.4.1. Aumento dos preços

Os preços e a desvalorização assumem efeitos directamente proporcionais. Sendo


assim, Johnson (1987, p. 24) afirma que:

A desvalorização da moeda dá apoio a outras políticas administrativas por elevar o nível


absoluto de preços. Em consequência, baixam os valores reais de variáveis nominais que
afetam os gastos, como o estoque monetário, as rendas nominais, os salários e os
patrimónios materiais.

25
A desvalorização da moeda impacta os preços do sector das indústrias por dois canais,
segundo Pereira e Carvalho (2000, p. 10), «por um lado, no contexto de uma economia aberta,
ela se materializa em uma pressão sobre os custos industriais».

A desvalorização não impacta apenas os preços dos produtos importados, é necessário realçar
também que enquanto alguns bens produzidos internamente dependerem de alguns factores de
produção internacionais no que concerne a importação de matérias-primas, equipamentos básicos e
administrativos e até mesmo importação de serviços, este produtos também estarão sujeitos a um
ligeiro aumento dos preços.

Pereira e Carvalho (2000, p. 10) ainda sutentam o seguinte:

O outro canal de ligação da desvalorização aos preços depende do comportamento dos


mark ups industriais no contexto da mudança cambial. A mudança de patamar da taxa de
câmbio nominal descomprime a pressão concorrencial exercida, nos marcos de uma
economia aberta, sobre as decisões de determinação dos mark ups praticados pelas
empresas lideres no setor transavel.

Por outro lado a desvalorização vai impactar os preços indústrias tendo em conta a
diferença entre custo de produção e o seu preço de venda, e o preço de venda praticado pelas
demais empresas a nível internacional.

Os produtores da nação cuja sua moeda está desvalorizada passaram a vender os seus
produtos em maior quantidade para o exterior, causando assim, uma diminuição da oferta
interna.

1.4.2. Desestímulo aos investimentos

Marques et al (2018, p. 48) dizem que «a desvalorização e a expectativa de sua


continuidade desestimula a entrada de capitais externos, pois a desvalorização acarreta
perdas com relação ao capital investido, estimulam as exportações e prejudica as
importações».

A desvalorização produz efeitos sobre outras variáveis, principalmente o investimento.


Para que os investidores aplicam o seu capital em actividades produtivas, eles precisão de um
credito mínimo de que o investimento aplicado neste país lhes será viável e que terão uma
taxa de rendibilidade que valha apenas. Ou seja, se deparar-se com uma queda constante do
seu poder de compra em relação a moeda estrangeira, não há incentivo para se fazer
investimento.
26
Como resultado das grandes teorias, nota-se que a desvalorização resulta em pressão
inflacionária, pois os bens importados, e precisos para a produção, têm seus preços elevados e
de lembrar que a concorrência é restringida.

1.5. BALANÇA DE PAGAMENTO

Sendo a balança de pagamento o registo de todos os factos que ocorrem com o resto
do mundo, as relações que se estabelece entre as economias, envolvem a importação e a
exportação de mercadoria de diversas tipologias, o envio ou o recebimento de remessas, de
lucros e dividendos de mercadorias, e a saída e entradas de investimento de capitais
destinados a aplicações de bolsas, entre outros.

Para Marques et al (2018, p. 44), a balança de pagamento é considerado como


«documento contábil que registra as transações de um país com o resto do mundo durante
um período».

A balança de pagamento é a representação de forma contabil/estatística de todas


transacções feitas entre residentes e não residentes em um determinado período. No caso de
Angola os seus dados são publicados pelo banco nacional, a mesma é dividida em três partes,
a citar: Transacções correntes; conta capital e financeira; e erros e omissões. Como ilustrado
na figura 2:

A Balança de Pagamentos pode ser superavitária, deficitária ou equilibrada. Quando


superavitária, representa que a quantidade de moedas estrangeiras que entraram durante o ano
foi superior em relação a quantidade que saíram, para esta situação regista-se um aumento nas
reservas internacionais do país. Quando deficitário ocorre o inverso, ou seja as significa que
entradas foram inferiores as saída, situação esta que enfraquece as reservas internacionais e
quando equilibrado a quantidade de divisas que saíram é igual as que entraram, mantendo o
nível de reservas do país estável.

O saldo da Balança de Pagamentos em transacções correntes indica se o país


maioritariamente exporta ou se ele importa capitais. O saldo positivo indica mais exportação,
o negativo indica mais importação.

27
Figura 2: Estrutura da balança de pagamento

Importação
Balança
comercial
Exportação

Transporte

Seguros

Balança de
Balança de
transacções Viagens
serviços
correntes

Rendas de
investimento

Outros

Balança de Publicas
transferencias

Privadas
Investimento
directo

Investimento de
carteira
Balança de
pagamento
Balança de conta credito a longo
capital e prazo
financeira

capital a curto
prazo autónomo

tranferência de
capital

Erros e omissões variação de


reservas liquidas

Fonte: Quintana, 2013, p. 7

28
1.6. A DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA E O EQUILIBRIO DA
BALANÇA DE PAGAMENTO

Teoricamente, a balança de pagamento pode ser superavitária ou deficitária. Focando-


se no elemento deficitário, por ser o mais desconfortante à economia de uma nação, quando
prevalece por muito tempo e por ser uma situação que deixa a moeda vulneravel a
desvalorização, Bernstein (2001, p. 5) afirma que «normalmente quando o banco central
decide desvalorizar a moeda local, é porque está enfrentando um desequilíbrio na balança de
pagamentos, o que torna insustentável um determinado tipo de câmbio, visto que as reservas
reduziram a um nível inaceitável».

Quando ocorre um déficit na balança, significa que o país está perdendo as suas
reservas internacionais. Situações do genêro obrigam o país a tomar decisões de ajuste para
evitar interropções nas transações de capitais vindas do exterior. Uma destas decisões varias
vezes tomadas pelas nações, muitas por imposição do FMI como é caso de Angola, é a
desvalorização da moeda local.

Luporine e Sousa (2016, p. 16) afirmam o seguinte:

Uma desvalorização tem o objectivo de mudar o nível de preços relativos da economia,


transformando em mais caros os produtos importados e melhorando a competitividade
relativa dos preços nacionais por uma diminuição do valor da moeda estrangeira dos bens
e serviços nacionais vis-a-vis dos importados no mercado e nos mercados externos.

Teoricamente falando, devemos identificar uma melhoria significativa na balança de


conta corrente, causado pela diminuição dos ganhos e dividendos remetidos ao estrangeiro e
na conta capital, incentivando a entrada de investimento proveniente do exterior de modo a
aproveitar a actual situação de competitividade. Restabelecendo assim, o equilíbrio na balança
de pagamento.

Embora a desvalorização da moeda costume ser um elemento de impacto crucial na


expansão das exportações e no estímulo dos investimentos estrangeiros, é necessário salientar
que a desvalorização não torna-se um factor suficiente para determinação do sucesso destes
objectivos.

Polak (1948, s.p) demonstrou que «a desvalorização não pode ser um remédio efectivo
para corrigir uma situação de super-investimento».
29
Se parte fundamental destes lucros for poupada, o nível de investimento deixará de ser
excessivo por um certo período de tempo, isto é, poderá se registar um desaparecimento do
deficit na balança de pagamento, seguido de uma redução correspondente ao consumo. Não
obstante, se os salários são bem sucedidos no restabelecimento do seu antigo linear de renda
real, os investimentos tornar-se-ão excessivos novamente, dando assim origem a um novo
“deficit” da balança. A verdade é que diversas tentativas de eliminar o deficit por meio da
desvalorização reduzem simplesmente o valor externo da moeda nacional, sem resolver o
essencial, problema básico de pagamento.

Segundo Johnson (1987, p. 26)

A desvalorização da moeda dá apoio a outras políticas administrativas por elevar o nível


absoluto de preços. Em consequência, baixam os valores reais de variáveis nominais que
afectam os gastos. Como o estoque monetário, as rendas nominais, os salários e os
patrimónios matérias, enquanto os valores nominais dessas variáveis não se ajustarem
para cima no mesmo percentual da desvalorização».

Neste contexto, as políticas de desvalorização são calculadas na perspectiva de auxiliar


as políticas tanto da demanda agregada real relativa a produção quanto das políticas de oferta
concebidas para manter ou alavancar o crescimento.

Johnson (1987, p. 26), também sustenta que «A desvalorização monetária pode ser de
grande importância como componente de um pacote de medidas com vista a reduzir o deficit
externo da balança de pagamento. Para atingir esse objectivo, o pacote tem de fazer baixar a
taxa de câmbio real».

Existem evidências de que a elasticidade do valor da oferta em alguns países em


desenvolvimento costumam a ser positivas, mas as elasticidades a curto prazo poderão ser
bastante baixas em comparação às de longo prazo. Nesta senda, uma desvalorização cambial,
uma vez implementada, deve ser mantida, a não ser que mudem as circunstâncias subjacentes
a esta.

Apesar de a desvalorização ser um fenómeno de variação de câmbio, é ainda


importante implementar outras restrições para evolução das exportações. As políticas que
causam alterações na produção interna, nas exportações e nas receitas de exportações podem
ser menos acentuados se tiverem sido previstas apenas com base nas elasticidades de preço.
Mas a menos que esses outros factores mudem necessariamente com a desvalorização, seus

30
efeitos sobre a evolução das exportações devem ser separados dos efeitos da desvalorização.
Neste contexto, observa-se que a abertura de mercados ao exterior é crucial, caso país queira
expandir as receitas de exportações a favor do desenvolvimento das suas vantagens
comparativas. A redução das barreiras proteccionistas é um dos principais objectivos de todos
os países que participam do Gatt ou que são membros do FMI e do Banco Mundial.

Ao redor das teorias sobre a desvalorização da moeda local, estas abordagens avaliam
o quanto o fenómeno pode ser usado como variável determinante para o equilíbrio e o
crescimento económico.

31
CAPÍTULO 2 – OPÇÕES METODOLÓGICAS DO ESTUDO

2.1. MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO

Dada a investigação de um determinado fenómeno como ocupação, o investigador


deve ter em conta os instrumentos de recolha de dados que melhor se enquadram para
realização dos seus objectivos. Sendo assim, pode-se obter os melhores resultados na pesquisa
se o investigador seleccionar os instrumentos adequados para resolução do problema.

Para a realização desta investigação e na perspectiva de garantir que os problemas


sejam resolvidos e esclarecidos com maior rigor, usou-se a pesquisa exploratória, documental,
bibliográfica, descritiva e quantitativa.

No presente trabalho usou-se a pesquisa descritiva, visto que o tema em estudo é um


fenómeno pouco conhecido na sociedade angolana, houve também a necessidade de
implementar este método para identificar as principais variáveis do objecto de estudo, tendo
como base uma observação cuidada sobre as teorias da desvalorização.

Para percebermos o impacto da desvalorização da moeda nas empresas nacionais


tivemos que recorrer à análise comparativa dos dados numéricos, com o auxílio de métodos
matemáticos podendo assim, medir os resultados, com maior precisão e objectividade.

Relativamente à natureza do objecto de estudo e da questão científica formulada para o


desenvolvimento deste projecto, incorporou-se o método de pesquisa consistente no
levantamento de materiais bibliográficos e a avaliação dos mesmos. Ou seja, fez-se uma
pesquisa bibliográfica de questões referente a política cambial, balança de pagamento e a
desvalorização cambial. Nesta senda seleccionou-se as principais fontes bibliográficas
incluindo sites da internet e motores de pesquisas para fins de análise e conclusão.

2.2. HIPÓTESES

Segundo Freixo (2012, p. 192), «as hipóteses constituem um elemento útil para
justificar o estudo e garantir-lhe uma orientação».

32
Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 45), hipótese “é uma antecipação do resultado,
esperando como se pode conseguir ou obter resultados quanto a afirmação da investigação
que lhe é formulado”.

Desta feita, para dar respostas ao problema anteriormente levantado, estabelecemos as


seguintes hipóteses científica:
H1: A desvalorização da moeda nacional estimula as exportações aumentando assim,
o fundo de reservas internacionais.
H2: A desvalorização da moeda nacional reduz o fluxo das importações e o volume da
saída de reservas internacionais. Para aumentar as reservas internacionais e estimular as
exportações é necessário que o estado prolongue e adopte outras políticas que complementam
a desvalorização na sua missão.

2.3. VARIÁVEIS

As variáveis, podemos entende-las como aquilo que refere-se ao fenómeno a ser


pesquisado ou estudado, ou seja, o campo de variação de cada tipo de dado a ser pesquisado.

De acordo com Freixo (2012, p. 202), variável pode ser entendida como «qualquer
característica da realidade que pode tomar dois ou mais valores mutuamente exclusivos».

Sendo assim, para o presente artigo decidiu-se identificar as seguintes variáveis:

2.3.1. Variável Independente

Freixo (2012, p. 204) define variável independente como «variável que numa
experiência é especificamente manipulada pelo experimentador de modo a que os seus efeitos
possam ser observados na variável dependente».

Sendo assim, para análise das hipóteses levantadas, usou-se o conceito


“desvalorização da moeda nacional” como variável independente.

2.3.2. Variável Dependente

Freixo (2012, p. 204) define variável dependente como «a variável cujos valores são
em princípios o resultado da variação de uma ou mais variáveis independentes e respectivas
condições, ou seja, resposta que reflecte os efeitos da variável independente manipulada».
33
Ao longo das pesquisas constatou-se que, os elementos que constituem as variáveis
dependentes são: Exportações, importações e reservas internacionais.

2.4. OBJECTO DE ESTUDO

O nosso actual projecto tem como objecto de estudo as contas da balança de


pagamento de Angola e a empresa nacional NOSSA Seguros. É de frisar que este é um
conceito que alberga características e fenómenos macroeconómicos e traz consigo situações
que afectam as empresas na sua íntegra.

2.5. INSTRUMENTO DE INVESTIGAÇÃO

Freixo (2012, p. 309) define investigação como sendo o «processo sistemático de


colheita e análise de dados empíricos visando resolver um problema de investigação
particular».

Nesta senda o nosso processo sistemático de colheita de dados contou com varias
fontes de pesquisas, tais como: consultas bibliográficas em livros físicos e virtuais obtidos por
intermédio de sites de internet, relatórios dos bancos, central e comerciais, jornais, físicos,
áudio e audiovisuais. Por tanto no presente trabalho recorreu-se também a entrevistas para
identificar o real impacto da desvalorização nas empresas nacionais.

2.6. PROCESSAMENTO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO

O desenvolvimento do presente artigo, dependeu da utilização de dados e informações


recolhidas e tratadas de forma qualitativa e descritas em forma de gráficos e tabelas com
suporte de um computador. Os resultados foram analisados com base o material bibliográfico
colectado referente a desvalorização cambial, assunto este que constitui o objecto de estudo.

Apesar de toda atenção e concentração na fase de processamento e tratamento da


informação, assumo a possibilidade de alguns fenómenos escaparem do meu controlo,
deixando assim, algumas lacunas involuntárias na fase da elaboração do meu TFC, pelo que
peço a todos e em específico ao CONSELHO CIENTÍFICO, clemência científica na aceitação
dos resultados que não podem ser completamente considerados como produto acabado, mas
que poderá servir de base para pesquisas futuras.

34
CAPÍTULO 3 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE CRÍTICA DOS
RESULTADOS

3.1. A SITUAÇÃO DA DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA ANGOLANA

Para a análise do tema em estudo, observou-se os dados referentes a dois períodos


completamente distintos, refiro-me propriamente os anos de 2017 e 2018.

No primeiro período, isto é, 2017, o regime de câmbio fixo (administrativo), em vigor


implementado pelo Banco Nacional de Angola, diferente do esperado no momento da
implementação, não resultou em uma redução generalizada do índice dos preços dos produtos,
visto que este índice ainda cifrava-se acima dos 23%, o que contribuiu para uma acentuada
queda das reservas internacionais líquidas.

Em resultado desta política cambial e segundo o relatório e contas apresentado pelo


Banco Nacional de Angola no período de 2017, a conta das reservas internacionais líquidas
registou uma queda de 33% e corria-se o risco de elevar esta queda para a ordem dos 50% no
período homólogo 2018 segundo estimativas de especialistas, caso o banco nacional
continuasse a vigorar o mesmo regime. Daí a necessidade de implementar o regime de câmbio
flutuante.

A princípio, Este regime implementou-se com a perspectiva de por fim á


sobrevalorização do Kwanza, tornando assim a economia de Angola competitiva
relativamente ao exterior. Ou seja, implementou-se este regime tendo em conta a
incapacidade por parte do país de suster a política cambial ancorada na moeda
estrangeira quando esta depende em cerca de 95% de um único produto de
exportação e cujo não depende da nossa influência nos mercados em que é
transaccionado. Banco Nacional de Angola (2018, s.p)

Além disso, já se tornava praticamente impossível continuar com o quadro que


degradava de forma veloz as Reservas Internacionais. Focando-se na estabilidade dos preços,
crescimento económico ou a normalidade das transacções comerciais com o exterior, houve a
necessidade de incorporar o regime de câmbio flutuante no plano de estabilidade
macroeconómica. Este que procura por fim as distorções que condicionam a reparação de uma
base estável e viável para o andamento da economia nacional.

35
A política de desvalorização da moeda é um elemento afecto ao conjunto de reformas
estruturais e, é importante, por sermos uma nação cujo sistema de economia é aberta ao
exterior e ainda muito dependente de factores externos.

Visto que o actual regime surge na perspectiva de reformar a realidade económica de


Angola, houve então a necessidade de demonstrar a evolução dos principais indicadores
económico do país antes e depois da adopção da política que tornou a moeda nacional
desvalorizada.

Tabela 2: Evolução dos principais indicadores 2017 - 2018

DESCRIÇÃO 2015 2016 2017 2018


(Em Percentagem Do PIB)
Conta Corrente -8,8 -3,1 -0,5 7,6
Investimento Directo Estrangeiro (líq) 9,3 -0,4 -7,2 -5,8
Dívida Externa Pública (stock) 31,2 43,9 35,5 47,5
Dívida Externa Total (stock) 45,3 59,7 49,0 63,9
Reservas Brutas (stock) 21,0 24,1 14,9 16,4
ITENS DO MEMORANDO (EM MILHÕES de US$)
PIB 116.164,3 101.134,1 122.123,8 98.811,9
Exportações de Bens e Serviços 34.437,3 28.299,8 35.598,0 41.388,9
Importações de Bens e Serviços 37.968,8 25.657,0 28.256,5 25.884,4
Conta de Serviços -16.020,1 -11.905,6 -12.808,7 -9.455,4
Erros e Omissões -1.209,6 -1.804,6 -118,4 -1.788,1
Reservas Brutas 24.419,5 24.352,5 18.227,8 16.170,2
Reservas Internacionais (Líquidas) 24.265,8 20.806,6 13.587,4 10.646,1
Stock da Dívida 36.278,7 44.400,8 43.390,6 46.981,7
Taxa de Câmbio Média 120,1 163,6 165,9 252,8

Fonte: Departamento de estatística/Banco Nacional de Angola

De acordo com os itens mencionados na tabela 2,verificou-se que para o ano de 2017,
período que ainda vigorava o regime de câmbio fixo, a taxa de câmbio em média era
transaccionada a 165.9 Kwanzas por Dólar, já no ano subsequente, com adopção do Regime
de câmbio flutuante a taxa de câmbio média passou a ser transaccionada a 252,8 Kwanzas por
dólar o que representou uma desvalorização média em termos percentuais de 52,3 % em
relação ao ano anterior.

O rácio das reservas internacionais líquidas 1 , demonstrou que estas continuaram a


decair, visto que no ano de 2017 elas estavam estimadas em 13.587,4 milhões de dólar,
registando-se assim, uma queda no ano subsequente onde as reservas líquidas estimavam-se
em 10.646,1 milhões de dólar, o que representa uma queda de 21,6% face ao ano anterior.

1 RILn
Rácio das reservas internacionais = ( RLIn−1 − 1) 100
36
Se olharmos para a situação económica a mais três anos antes da desvalorização de
2018, vamos perceber que houve uma queda de 14,26% na passagem do ano de 2015 para
2016 e registou-se também uma queda de 34.69%2. De facto, percebe-se que neste intervalo
de tempo apesar de registar-se uma queda contínua nas reservas internacionais líquidas, houve
uma desaceleração da queda propriamente nos anos de 2015, 2016 e 2018, períodos em que a
moeda nacional estava a ser transaccionada em um regime de câmbio flutuante o que levou
moeda nacional a uma situação de desvalorização cambial. Ao passo que no ano de 2017
registou-se a aceleração na queda das reservas internacionais líquidas, causado pela alteração
do regime de câmbio flutuante para o regime de câmbio fixo.

O produto interno bruto (PIB) cifrou-se em 98.811,9 milhões de dólar para o ano de
2018 o que representa uma redução de 19,1% se comparado ao ano de 2017 que registou um
valor de 122.123,8. Esta redução foi causada pela desvalorização da moeda nacional, pois se
comparado o PIB em referência a moeda nacional percebe-se que o seu valor cifrou-se em KZ
20.262,3 mil milhões para 2017 e KZ 24.976,2 mil milhões para o ano subsequente o que
representa para o ano de 2018 um aumento de 23,26%, se comparados.

Como mencionado no primeiro capítulo, uma vez implementada a desvalorização


cambial, é necessário que ela seja mantida, pois os seus principais objectivos são apenas
alcançados a médio ou longo prazo. Assim, verificou-se que no primeiro ano da sua
implementação, não houve um aumento das Reservas Internacionais, o que houve foi uma
desaceleração das contínuas quedas que registavam-se nos anos anteriores.

2 Xn
A fórmula ∆𝑥% = (Xn−1 − 1) 100 esteve na base da determinação das variações percentuais dos indicadores
económicos.
37
3.2. O IMPACTO DA DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA NA
EMPRESA NOSSA SEGUROS

3.2.1. Caracterização da NOSSA Seguros

A empresa NOSSA Seguros (Nova Sociedade de Seguros de Angola) é uma empresa


angolana de sociedade anónima, de capital privado e especializada na concessão de seguros.
Ela foi criada em 17 de Agosto de 2004, resultante da parceria entre o Banco de Investimento
Angolano, a seguradora Real Seguros, A International Finance Corporation e um pequeno
grupo de investidores angolanos.

Iniciou oficialmente as suas actividades em Novembro de 2005, focada nas


necessidades do seu publico alvo, ela actua nos segmentos Vida e Não Vida. No segmento
vida a NOSSA Seguros Oferece os pacotes vida grupo ou vida individual, a par disto
começou uma nova actividade denominada “Gestão De Fundos De Pensão”; E no segmento
Não Vida destacando-se os seguros de acidente de trabalho tanto por conta própria ou por
conta de outrem, nos multirriscos habitacional, industrial ou empresarial, acidentes pessoais,
para cobertura individual ou colectiva, responsabilidade civil, nos ramos automóvel, aéreo,
marítimo, mercadoria transportada, roubo entre outros.

Ao longo da sua existência, a empresa tem marcado a sua trajectória por crescimento e
pleno sucesso. Expandindo o seu negócio por todo território nacional, oferecendo aos seus 40
mil clientes uma rede de 20 agências instaladas em 12 províncias e 37 correctores activos,
alem de contar com a rede de agências do Banco BAI.

3.2.2. O impacto da desvalorização nas contas da NOSSA Seguros

A actual situação económica do país tem desequilibrado as contas das empresas


seguradoras; o que não é uma excepção ao momento que vive a NOSSA Seguros. De acordo
ao seu relatório e contas de 2018, a inflação e a forte desvalorização do Kwanza têm colocado
grandes desafios às operações normais da seguradora.

38
3.2.2.1. Impacto em Prémios Brutos

Tabela 3: Prémios Brutos

DESCRIÇÃO (montante expresso em milhares de 2017 2018 Variação


Kwanza)
Doenças 4.030.130 3 036 195 33%
Automóvel 2.369.135 2 751 189 -14%
Acidentes de trabalho 1 080 283 1 494 032 -28%
Outros danos em coisas 1 995 113 1 469 275 36%
Petroquímica 594 585 662 120 -10%
R.c.geral 447 908 169 041 165%
Outros acidentes e viagens 139 276 110 490 26%
Transportes 637 193 63 811 899%
Incêndio e elementos da natureza 24 614 15 704 57%
Diversos 10 991 332 3 210%
Vida 527 550 -51 224 -1 130%
TOTAL DAS RECEITAS 11 856 778 9 720 965 22%

Fonte: Relatórios e contas 2018 /NOSSA Seguros.

Os prémios brutos 3 registaram um crescimento no ano de 2018 face ao período


homólogo, em geral observou-se crescimento em todos os ramos de seguros, com excepção
aos mais antigos ramos de seguros, designadamente: Acidentes de trabalho e o seguro
automóvel, que foram os mais exposto ao ambiente económico.

A NOSSA Seguros, registou uma grande diminuição de distribuição ou concessão de


seguros relativos ao segmento de particulares e de pequenas e medias empresas. Com isso,
verifica-se que os particulares e as pequenas e médias empresas foram os mais afectados pela
situação económica verificada nos últimos anos. Em contrapartida a empresa registou um
aumento significativo no segmento associado ao negócio de grandes empresas e
institucionais.

3
O prémio de seguro é caracterizado pelo valor de receitas arrecadadas com a concessão de seguros. Os
prémios brutos são calculados com base o somatório de todas as receitas arrecadadas com a concessão de
seguros sem a redução dos prémios de resseguros cedidos à seguradora pela resseguradora.

39
Tabela 4: Custo com sinistros

DESCRIÇÃO (montante expresso em milhares de Kwanza) 2017 2018 Variação


Automóvel 985.533 1.098.776 -10%
Outros danos em coisas 1.811.423 1.050.408 72%
Doenças 1.873.841 889.195 111%
Acidentes de trabalho 526.103 537.037 -2%
R.c.geral 14.757 18.019 -18%
Incêndio e elementos da natureza 3.666 7.228 -49%
Vida 48.394 3.724 1. 200%
Outros acidentes e viagens 13.645 815 1.574%
Diversos 0 0 0&
Petroquímica 0 0 0%
Transportes 19.047 0 0%
TOTAL DOS CUSTOS COM SINISTROS 5.296.409 3.605.201 47%

Fonte: Relatórios e contas 2018 /NOSSA Seguros

Para a NOSSA Seguros o período de 2018 foi marcado por um custo com sinistros de
alta dimensão no ramo de Outros Danos e Coisa, especificamente de multirriscos indústria. O
alto nível de desvalorização do Kwanza elevou os custos com sinistros, Causando um
aumento acentuado no Custo com Sinistros dos ramos de Doenças e Outros Danos em Coisas,
elementos estes que representaram 70% do total dos custos com os sinistros.

3.2.2.2. Impacto nas despesas

Tabela 5: Despesas por tipologia

Descrição (montante expresso em milhares de Kwanza) 2017 2018 Variação


Custo com o pessoal 1 307 173 1 700 068 30%
Fornecimento de serviço externo 1 365 896 2 743 548 101%
Amortizações 175 986 162 232 -8%
Impostos e Taxa 233 660 252 558 8%
Despesas totais 3 082 715 4 858 406 58%

Fonte: Relatórios e contas 2018 /NOSSA Seguros

40
Para além do impacto nos custos com os sinistros, a desvalorização do Kwanza
também impactou negativamente as outras despesas designadamente, os Custos Com o
Pessoal e o Fornecimento De Serviços Externos.

Segundo a empresa, este aumento do Custo com o Pessoal deveu-se ao ajuste salarial,
ao forte investimento em formação, e a diferença de câmbio desfavorável à empresa no acto
da remuneração dos seus colaboradores não-residentes, esta diferença de câmbio desfavorável
é resultante da desvalorização do Kwanza. Por outro lado o aumento das despesas com
Fornecimento De Serviços Externos deveu-se principalmente ao facto de uma das partes
relevantes das despesas estar relacionada com o crescimento do negócio, para a
implementação dos seus planos estratégicos a nível do lançamento de novos produtos, canais
de distribuição, custos com licenças de informáticas e com a desvalorização do Kwanza.

Gráfico 1: Impacto da desvalorização nas demonstrações de resultados 2017-2018

14000000

12000000

10000000

8000000
2017
6000000
2018
4000000

2000000

0
Receita com Premio Bruto Despesas globais

Fonte: Relatórios e contas 2018 /NOSSA Seguros – Adaptado pelo autor

O periodo de 2018 foi um ano difícil para a NOSSA Seguros. Como ilustrado no
gráfico 1, verificamos que como se não bastasse a diminuição das suas receitas em 2018, a
desvalorização da moeda, ainda no mesmo periodo, aumentou as sua despesas, Reduzindo a
possibilidade da empresa obter grandes lucros com a sua actividade.

41
3.2.2.3. Impacto nos Investimentos

O investimento é mais um dos muitos elementos da empresa NOSSA Seguros


impactados pela desvalorização, só que diferentes dos anteriormente mencionados, os
investimentos foram impactados positivamente pela desvalorização do Kwanza.

Tabela 6: Provisões técnicas do seguro directo

DESCRIÇÃO (montante expresso em milhares de Kwanza) 2017 2018 Variação


Provisões matemáticas 1 265 203 1 986 831 721 628
Provisão incapacidade temporária 373 508 279 290 -94 218
Provisão para risco em curso 3 274 634 4 742 871 1 468 237
Provisão para sinistro 2 440 305 3 253 615 813 310
Total das provisões brutas 7 353 650 10 262 608 2 908 958
Provisões técnicas resseguro cedido -1 947 382 -2 590 136 -642 754
Total das provisões líquidas 5 406 268 7 672 471 2 266 203
Investimentos afectos às provisões técnicas --------------- ---------------- ----------------
Obrigações do tesouro (ottxc) 2 848 645 6 385 594 3 536 949
Bilhetes do tesouro 2 864 275 1 119 601 -1 744 674
Obrigações empresas 663 680 - -663 680
Obrigações do tesouro (otnr) - 180 000 180 000
Obrigações do tesouro (eurobonds) - 1 235 906 1 235 906
Imóveis 884 478 884 478 0
Depósitos a prazo 1 505 389 1 612 643 107 254
Caixa e dos 781 909 2 181 216 1 399 307
Total activo de representação 9 548 376 13 599 438 4 051 062
Taxa de cobertura bruta 130% 133% 3%
Taxa de cobertura líquida 177% 177% 0%

Fonte: Relatórios e contas 2018 /NOSSA Seguros

Os activos financeiros encontrados a representar as provisões técnicas constituídas


pela NOSSA Seguros registaram um aumento significativo na ordem dos 42% suportados
principalmente pela desvalorização do Kwanza 4, o que influenciou positivamente os títulos da
empresa em obrigações de tesouro indexadas ao dólar, e ao fluxo de caixas gerados tanto pelo
investimento quanto pelo negócio.

4
A desvalorização do Kwanza tornou consequentemente valorizado o dólar, o que traduziu-se em lucros para
as provisões constituídas pela empresa em obrigações de tesouro indexadas ao dólar.
42
Aproveitando-se da desvalorização do Kwanza a NOSSA Seguros aumentou a
exposição do seu capital em obrigações do tesouro indexados ao dólar e ao eurobonds,
reduzindo a exposição do seu capital em bilhetes de tesouros.

Ao redor de toda esta análise percebe-se que a desvalorização da moeda teve grande
impacto sobre a empresa tanto de forma directa quanto de forma indirecta. De forma directa
esteve ligado as dificuldades que a empresa teve em honrar os seus compromissos com os
terceiros. Desde a cobertura de sinistros, principalmente quando tem que se importar o bem
necessário para reparação de um bem danificado e segurado, até a concessão de prémios de
resseguros para resseguradoras internacionais visto que é necessário divisa para o seu
cumprimento.

O impacto indirecto esteve ligado as dificuldades que o seu público-alvo tem


enfrentado com a desvalorização da moeda nacional. Como vimos, a desvalorização da moeda
retirou o poder de compra das famílias e das empresas, em especifico as pequenas e medias
empresas, o que traduziu-se em uma redução do pessoal capacitado financeiramente para
adquirir os serviços prestados pela empresa. O que consequentemente traduz-se em redução
das receitas arrecadadas pela empresa.

Estes e outros resultados apresentados por empresas do mesmo ramo de actividade,


tiveram influência sobre a balança de pagamento nacional como será reportado no próximo
subtema.

43
3.3. O IMPACTO DA DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA NAS CONTAS
DA BALANÇA DE PAGAMENTO

A desvalorização da moeda é uma técnica aplicada pelo banco central para fortalecer
as reservas bancárias. Por outro lado, face a desvalorização, elaborou-se a tabela que ilustra os
principais itens impactados pela desvalorização e valorização cambial.

Tabela 7: Avaliação da flutuação cambial

Valorização Cambial Desvalorização cambial


Aumenta as importações Reduz as importações
Reduz as exportações Aumenta as exportações
Reduz a produção interna Aumenta a produção interna
Eleva a taxa de desemprego Reduz a taxa de desemprego
Reduz o índice de inflação Deixa o mercado cada vez mais inflacionado
Aumenta a possibilidade de deficit na balança Reduz a possibilidade de deficit na balança corrente.
corrente.

Fonte: elaborado pelo autor

A valorização cambial incentiva as importações, prejudica as exportações e a produção


interna, eleva a taxa de desemprego, reduz o índice de preços e afecta negativamente o saldo
da balança corrente. Ao passo que a desvalorização provoca um comportamento oposto.

Nesta senda, a nossa missão neste capítulo passará a ser a de prova se realmente a
desvalorização provoca os efeitos acima referidos. Sendo assim, passamos a verificar a
apresentação estatística ou contabilística de todas as transacções feitas entre residentes e não
residentes em Angola em dois períodos distintos, ano de 2017 e 2018 ou seja antes e depois
da desvalorização, para verificar o real impacto desta política na balança nacional.

44
Tabela 8: Apresentação analítica da balança de pagamento 2016-2018

DESCRIÇÃO (em milhões de U S Dólares) 2016 2017 2018


Conta Corrente -3.085,2 -632,9 7.502,0
Bens 14.548,4 20.150,2 24.959,9
Exportações f.o.b. 27.588,9 34.613,5 40.757,8
Sector Petrolífero 26.366,0 33.312,5 39.408,7
Sector não Petrolífero 1.222,8 1.301,0 1.349,1
Importações f.o.b. -13.040,5 -14.463,2 -15.797,8
Serviços (Liq) -11.905,6 -12.808,7 -9.455,4
Total Crédito 710,9 984,6 631,1
Total Débito -12.616,5 -13.793,3 -10.086,5
Serviços de manufacturação de insumos físicos detidos a terceiros -0,7 -6,1 -0,4
Serviços de manutenção e reparação n.i.e. -89,2 -88,8 -94,0
Transportes -3.109,7 -3.108,5 -3.320,0
Viagens -593,9 -976,5 -554,1
Comunicações -99,7 -71,4 -46,8
Construção -2.079,9 -2.103,0 -1.890,2
Seguros -425,4 -524,6 -394,3
Serviços financeiros -210,5 -241,0 -382,7
Serviços de informática e informação -107,2 -35,6 -55,5
Royalties, marcas e licenças -212,2 -221,7 -246,6
Outros serviços de negócios -5.060,6 -5.323,4 -2.678,8
Dos quais: Sector Petrolífero -4.607,3 -4.461,1 -2.027,0
Serviços Culturais e Recreativos -134,0 -202,7 -105,1
Governo, n.i.e. -493,6 -889,9 -317,8
Rendimentos (Liq) -5.273,7 -7.505,6 -7.733,1
Total Crédito 340,8 239,4 447,7
Total Débito -5.614,5 -7.745,0 -8.180,8
Juros -1.823,3 -2.351,2 -2.698,5
Lucros e Dividendos -3.027,8 -4.883,3 -4.999,9
Rendimentos de trabalho -763,4 -510,5 -482,4
Rendimentos Secundários (Liq) -454,2 -468,7 -269,4
Total Crédito 26,3 35,4 13,8
Total Débito -480,5 -504,2 -283,2
Conta de Capital e Financeira 5.293,4 -4.151,4 -6.233,4
Conta de Capital 0,6 2,6 2,9
Transferências de Capital (líq.) 0,6 2,6 2,9
Conta Financeira 5.292,8 -4.154,1 -6.236,4
Investimento Directo (líq.) -452,5 -8.749,3 -5.735,8
Entradas 11.062,3 6.208,1 7.650,0
Saídas -11.514,8 -14.957,4 -13.385,8
Capitais do Médio e Longo Prazo (Líq.) 7.997,4 -1.105,6 3.530,7
Desembolsos 14.391,9 7.330,1 10.298,9
Dos quais: Sector Petrolífero 0,0 500,0 1.000,0
Amortizações -6.394,4 -8.435,7 -6.768,2
Dos quais: Sector Petrolífero -3.578,2 -4.961,2 -1.430,9
Outros Capitais (Liq) -2.252,1 5.700,8 -4.031,3
Erros e Omissões -1.804,6 -118,4 -1.788,1
Balança Global 403,7 -4.902,7 -519,6
Financiamento -403,7 4.902,7 519,6
Reservas Internacionais (aumento -) -372,4 5.007,1 942,3
Acumulação Líquida de Atrasados -31,3 -104,4 -422,7
Médio e Longo Prazo -31,3 -104,4 -422,7
Em mora -31,6 -104,4 -422,7

Fonte: Departamento de estatística/ Banco Nacional de Angola

45
3.3.1. Conta corrente

Gráfico 2: Conta corrente

Fonte: Departamento de estatística/ Banco Nacional de Angola

A balança de conta corrente em termos acumulativos registou uma melhoria


significativa de 7.502,0 milhões de dólar em 2018, o que representa uma melhoria de
1085.3% para o período se comparado ao período homologo 2017 que registou um deficit na
balança corrente no valor de 632,9 milhões. Avaliando assim a conta corrente verifica-se que
ela demonstrou um comportamento positivo nas subcontas de bens e um desagravamento das
subcontas de serviços e rendimentos secundários no ano de 2018.

46
3.3.1.1. Conta de bens

Gráfico 3: Conta de bens

Fonte: Administração Geral Tributaria e Banco Nacional de Angola

A melhoria significativa observada na balança de transacções correntes no ano de


2018 foi influenciada pelo desempenho da conta de bens. Como ilustra a tabela 4, a conta de
bens registou um aumento no valor de 24.959,9 milhões de Dólar contra 20.150,2 milhões de
dólar observado no período anterior.

Exportações

Foi possível identificarmos dois eventos que estiveram na base do comportamento


positivo apresentado pelas contas de exportação.

O primeiro evento esteve intrinsecamente ligado as receitas de exportações. Este


evento foi caracterizado pelo aumento das receitas petrolíferas, impulsionado principalmente,
pela subida do preço do barril de petróleo nos mercados em que são transaccionados,
causando assim, um grande impacto nas exportações.

O segundo evento foi caracterizado pelo impacto da desvalorização nas contas de bens
e serviços. Apesar da desvalorização da moeda não impactar as receitas de exportações
petrolíferas 5, verificou-se um ligeiro impacto relativamente as receitas de exportações não

5
A desvalorização não impactou as receitas de exportações petrolíferas, pois o petróleo é uma commoditie e
como tal, Angola não tem influência sobre o seu preço nos mercados em que são transaccionados.
47
petrolíferas, especificamente as receitas da categoria de outras exportações que representou
aumento de 3,69% em relação ao período anterior, como ilustrado na tabela a seguir:

Tabela 9: Composição das exportações 2017-2018

DESCRIÇÃO 2017 2018


Petróleo Bruto (US$ milhões) 31.064,9 36.539,4
Volume (milhões de Barris) 575,5 517,6
Preço (US$/barril) 54,0 70,6
Refinados de Petróleo (US$ milhões) 477,2 433,3
Volume (mil ton metricas) 1.304,0 914,3
Preço (US$/ton metrica) 365,9 473,9
Gás (US$ milhões) 1.770,4 2.435,9
Volume (mil barris) 45.411,9 48.766,8
Preço (US$/barril) 39,0 50,0
Diamantes (US$ milhões) 1.130,1 1.151,9
Volume (mil quilates) 9.752,6 7.993,4
Preço (US$/quilates) 115,9 144,1
Outras exportações (US$ milhões) 170,9 197,2
Café 1,1 1,3
Cimento 7,2 3,0
Granito 9,5 6,9
Mármore 0,1 0,0
Madeira 36,0 31,5
Pescado 49,6 85,3
Marinha e Aviação 67,5 48,1
Sal n.d 0,0
Bebidas n.d 21,0
Total exportações 34.613,5 40.757,8
Sector Petrolífero 33.312,5 39.408,7
Sector Não-petrolífero 1.301,0 1.349,1

Fonte: Departamento de estatística/ Banco Nacional de Angola

Com a política da desvalorização da moeda verificou-se um aumento nas exportações


de pescado com uma receita de 85,3 milhões de dólar para o ano de 2018 o que representa um
aumento de 71,97% em comparação aos 49,6 milhões de dólar do ano de 2017.

Como ilustra o gráfico a seguir, conseguimos ainda verificar que as bebidas nacionais
passaram a fazer parte do grupo dos produtos exportados de Angola. As bebidas produzidas a
nível nacional, um ano depois da sua comercialização no mercado exterior, arrecadou uma
receita 21,0 milhões de dólar. O que representa uma melhoria visto que foi a primeira
aparição nas contas da balança como produto exportado.

48
Gráfico 4: Evolução nas exportações de outros produtos não-petrolifero

90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Café Cimento Granito Mármore Madeira Pescado Marinha Sal Bebidas
e Aviação

2017 2018

Fonte: Departamento de estatística/ Banco Nacional de Angola

É bem verdade que a exportação destes produtos não representou uma grande
influência no resultado das exportações globais, mas o certo é que estes elementos
conseguiram atingir um linear nunca antes verificado em todo histórico da balança de
pagamento angolana, o que demonstra uma pequena tendência de exportação de outros
produtos não derivados do petróleo. O que nos leva a acordar com as teorias estudadas e em
comparação afirmar que realmente a política de desvalorização surtiu algum efeito positivo
nas exportações

Importações

Para as importações, apesar de não houver redução generalizada nesta conta, como
ilustra a tabela 4, ainda verificou-se uma redução na aquisição dos bens mais necessitados
pelas famílias em Angola.

É importante ressaltar que as importações de bens de consumo corrente representaram


para as importações totais um peso de 67,0%, ao passo que o peso de bens de capitais e bens
de consumo intermédio estimou-se em 21,7% e 11,3%, respectivamente. Registando uma
queda de 2,4% para os bens de capital ao passo que nos bens de consumo intermediário e
corrente registou-se um aumento de 16,7% e 4,9%, respectivamente.

49
Tabela 10: Importações por categoria de produtos

DESCRIÇÃO 2017 2018


MÁQUINAS, APARELHOS MECÂNICOS E ELÉCTRICOS 3.273,5 3.103,7
COMBUSTÍVEL 1.809,1 2.365,4
BENS ALIMENTARES 3.257,6 3.143,0
MATERIAL DE CONSTRUÇÃO 929,0 959,4
VEÍCULOS 906,8 659,1
PRODUTOS QUÍMICOS 1.076,2 1.174,7
OBRAS DIVERSAS 597,1 599,8
PLÁSTICOS, BORRACHAS, PELE E COUROS 543,2 641,6
TEXTEIS E VESTUÁRIO 483,5 374,2
BEBIDAS E VINAGRE 150,5 151,9
AERONAVES E EMBARCAÇÕES 90,0 1.768,5
PAPEL OU CARTÃO E SUAS OBRAS 188,9 286,8
PRODUTOS MINERAIS 43,5 31,2
MADEIRA, CORTIÇA 33,6 35,9
OUTROS PRODUTOS 1.080,8 502,7
TOTAL 14.463,2 15.797,8

Fonte: Departamento de estatística/ Banco Nacional de Angola

Com a desvalorização da moeda as famílias tiveram dificuldades em adquirir alguns


produtos, visto que estes tornavam-se mais caro, o que traduziu-se em uma redução nas
importações dos principais produtos de consumo corrente, designadamente: As importações
de máquinas, aparelhos mecânicos e eléctricos, As importações dos bens alimentares,
veículos, têxteis e vestuários, minerais e outros.

3.2.1.2. Conta de Serviços

Quanto a conta de serviços, observou-se que com o impacto da desvalorização da


moeda tornou-se necessário reduzir as despesas com o exterior, o que resultou em uma
melhoria do seu défice. Em específico, a desvalorização limitou os seguintes serviços:
Manutenção de insumos físicos detidos de terceiros, serviços de comunicações, serviços de
viagens e as despesas do governo relativamente a manutenção de consulados.

Com a implementação da desvalorização da moeda, a habitual quantidade de moeda


nacional para aquisição dos serviços de viagens passou a ser insuficiente para a sua
realização, o que torna-se um desafio enorme para as famílias que necessitam deslocar-se para
o exterior.

50
Gráfico 5: Importação de serviços

Fonte: Departamento de estatística/ Banco Nacional de Angola

Em consequência destes eventos, a conta de serviços apresentou em 2018, uma


despesa de 9.455,4 milhões de dólar contra 12.808,7 milhões de dólar em 2017 o que
representa uma redução de 26,17% no ano de 2018.

No que toca as receitas, verificou-se uma queda em cerca de 53,9% visto que no
último trimestre de 2017 as receitas estimavam-se em 374,5 milhões de dólar e em 2018 as
receitas passaram para 172,5 milhões de dólar, queda causada pela redução observada das
receitas de viagens.

3.2.1.3. Rendimento primário

Esta conta demonstrou um saldo deficitário no ano de 2018 avaliado em 2.127,7


milhões de dólar ao passo que em 2017 esta conta registou um défice na ordem dos 2.015,0
milhões de dólar. O saldo de 2018 representou um agravamento de na ordem dos 5,59% em
relação a 2017, o que foi originado pelo aumento da taxa de juros aplicada a não residentes.

3.2.1.4. Rendimentos secundários

A conta em referência demonstrou um desagravamento do seu saldo deficitário na


ordem dos 42,5%, visto que em 2018 teve um défice de 269,4 milhões de dólar e 468,7
51
milhões de Dólar no período de 2017. Este resultado deveu-se a redução observada nas
despesas referentes as remessas para o exterior, causada pela desvalorização cambial.

3.2.2. Conta capital e financeira

3.2.2.1. Conta capital

Em 2018, a conta capital não apresentou alterações significativas em relação ao


período homólogo. Visto que apenas a concessão de licenças de explorações pesqueiras
influenciaram esta conta com um incremento de 11,6% em 2018.

3.2.2.2. Conta financeira

Em 2018, esta conta continuou deficitária, registando um agravamento na conta com


um saldo deficitário de 6.236,4 milhões de dólar contra um deficit de 4.154,1 milhões de
dólar em 2017. O presente resultado foi influenciado pelo aumento dos depósitos no exterior,
a diminuição das saídas de investimento do sector petrolífero para o exterior e agravamento
dos empréstimos, visto que os desembolsos situaram-se em níveis acima das amortizações no
último trimestre de 2018.

3.2.3. Erros e omissões

A balança nacional fechou o período de 2018 com um valor negativo mensurado em


1.788,1 milhões de dólar relativamente aos erros e omissões, o que representa uma ligeira
falha na concessão de informações por parte das fontes. Visto que esta é uma rubrica de
análise da consistência das fontes de informação e discrepância estatística, o BNA decide
mensura-la em função da percentagem do PIB. Sendo assim, para o período de 2018 esta
conta representou 7,7% do Produto Interno Bruto.

Em suma, verificou-se que em pleno período de crise, a balança de pagamento foi


menos deficitária na época em que o BNA vigorou a taxa de câmbio flutuante. Reflectindo, a
tendência de redução de despesas com serviços prestados por não-residentes. Contribuiu e vai
continuar a contribuir para o resultado da balança de conta corrente.

52
CONCLUSÃO

Ao longo desta pesquisa, procuramos responder à seguinte questão: quais são os


motivos que levam um país a desvalorizar a sua moeda face a moeda estrangeira? Para
obtermos esta resposta, recorremos primeiramente ao processo de revisão literária, onde
percebemos que algumas economias, implementavam esta política para equilibrar as
operações cambiais, expandir as exportações e consequentemente equilibrar a balança de
pagamento, e alavancar as reservas internacionais. Para verificarmos estas teorias, recorremos
a um estudo da desvalorização da moeda no contexto angolano, contudo, para o contexto
angolano, implementou-se esta política para combater o deficit na balança corrente, para
eliminar a enorme variação existente entre a taxa de câmbio praticada pelo BNA e taxa de
câmbio praticada no mercado informal e consequentemente combater o financiamento ao
terrorismo.

Com os dados obtidos, identificamos o constante deficit na balança de pagamento de


Angola como a principal razão que torna a moeda nacional numa das mais vulneráveis a
desvalorização. Para explicarmos o impacto da desvalorização da moeda na balança de
pagamento, foi necessário fazer um breve estudo da balança de pagamento de Angola
correspondente aos anos de 2017 e 2018. E com este mesmo estudo conseguimos confirmar
as hipóteses levantadas, afirmando assim que a desvalorização estimula as exportações, reduz
o fluxo das importações e o volume da saída de reservas internacionais.

Os estudos e análises relativas à desvalorização da moeda na economia angolana são


raras e complexas, o que faz do actual projecto um grande contributo para o conhecimento do
fenómeno, que tende a desestrutura o sector empresarial.

Desta forma, tendo em conta tudo que foi avaliado e discutido neste trabalho,
concluímos que a maior parte das vezes a desvalorização da moeda nacional impacta as
empresas negativamente, espelhando assim, saldos negativos nas demonstrações financeiras
da empresa. Mas que existe caso específicos em que ela impacta positivamente as
demonstrações financeiras da empresa, designadamente, quando a empresa investe em títulos
de obrigações de tesouros indexados a moedas estrangeiras ou quando trata-se de uma
empresa transformadora partindo do pressuposto de que a desvalorização da moeda incentiva

53
o consumo do produto interno tanto no interior quanto no exterior o que leva a impactar
positivamente a economia.

54
RECOMENDAÇÕES

Sendo a desvalorização da moeda, um eventos que ocorre em função do tempo, esta


exige técnicas para não descarrilar os objectivos macroeconómicos.

De acordo com os estudos feito na balança de pagamento percebemos que realmente a


desvalorização estimula as exportações, no que concerne o mesmo estudo verificou-se que só
não se alcançou os resultados esperados por causa do baixo nível de produção interna, motivo
pelo qual recomendamos ao estado angolano que para além das medidas de estímulos as
exportações é necessário também que cria-se mecanismos para estimular a produção interna.

Dentre estes mecanismos recomendamos a aplicação de taxas especiais de câmbio para


as empresas transformadoras, que esta medida seja exclusivamente destinadas a aquisição dos
seus insumos e que se faça a respectiva fiscalização destas aquisições.

Para que se possa tornar a balança de pagamento cada vez mais superavitária
recomendamos ao estado que crie políticas que estimule o turismo e invista em propagandas
dos diferentes pontos turísticos do país.

Recomendamos também aos estudantes especificamente das áreas de economia e


gestão que dêem continuidade do fenómeno em estudo. Deste modo considero a possibilidade
do uso do actual projecto como base de pesquisas futuras, desde que conserva-se os direitos
do autor.

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