Projeto Mestrado Crestuma - Raquel Santos-2016
Projeto Mestrado Crestuma - Raquel Santos-2016
Projeto Mestrado Crestuma - Raquel Santos-2016
Porto
2015/2016
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
José Saramago
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Agradecimentos
A paixão pela Terra que me viu nascer e pela sua história e identidade tornaram a
realização deste projeto num sonho realizado. No entanto, não posso deixar de referir as
Honras maiores vão para os meus pais que sempre fizeram de tudo para que hoje eu
confiança e sobretudo pela amizade que construímos ao longo destes anos. Ao ISCET em
geral, aos meus colegas do CHIP, ao Dr. Mário Bruno Pastor pela partilha de
Ao Senhor Alberto Moura, pelo apoio, partilha de saber e vivências e pela amizade
que construímos. À Associação Crastumia pela amizade e incentivo para este trabalho.
E porque os últimos são os primeiros, agradeço a alguém muito especial que muito
me ajudou ao longo destes anos. Daniel o meu muito obrigado pelo carinho, atenção,
companhia e pela paciência. Obrigada também à Ritinha e ao Guilherme que são a minha
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Crestuma
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Resumo
fábricas e estruturas de carácter produtivo no território junto à foz do Uíma. Este projeto
tem como objetivo fundamental alertar para os riscos que esse património corre e sublinhar
a necessidade urgente da sua preservação, tendo em conta que poderá constituir uma
fim, foi ainda elaborada uma rota de Turismo Industrial, combinando o património material
preservação.
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Índice
Agradecimentos ....................................................................................................... 3
Crestuma ................................................................................................................. 4
Resumo ................................................................................................................... 6
Capítulo I ................................................................................................................13
Capítulo II ...............................................................................................................22
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Capítulo IV ..............................................................................................................70
Bibliografia ..............................................................................................................95
Webgrafia ...............................................................................................................98
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Anexos .................................................................................................................101
Anexo I .................................................................................................................102
Anexo II ................................................................................................................107
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Índice de figuras
Ilustração 1 - Aqueduto e torre de fundição de Nova Oeiras, anos 1960 ........ .25
Madeira ........................................................................................................... 44
1900................................................................................................................ 48
Crestuma ........................................................................................................ 57
s/d ................................................................................................................... 63
....................................................................................................................... 66
....................................................................................................................... 67
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Índice de tabelas
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e Sítios
TICCIH – The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage
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Capítulo I
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1.1 - Introdução
relacionada com o Património e o Turismo Industrial que servirá como base orientadora do
das grandes cidades, deixou, ao longo das décadas mais recentes e de forma vincada,
marcas profundas no território e nas pessoas. São estruturas diversas que determinaram
naturais, sem esquecer, para o bem e para o mal, a alteração, por vezes determinante, da
industrial determinou uma profunda alteração sócio cultural tanto em termos individuais
como coletivos.
Este projeto visa, cima de qualquer outro objectivo chamar a atenção para a
existente em Crestuma, que é marca pedagógica e cultural de uma época que terá iniciado
com a revolução industrial dos finais do século XVIII e que foi determinante na mais
industrial.
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1.2 - Enquadramento
objetivo. Se a tais pressupostos se juntar uma forte determinação fruto da grande paixão
que se nutre pelo seu rincão natal, pela sua dedicada gente e pela riqueza da sua
ancestral história, a motivação para executar a tarefa será, inevitavelmente, mais fácil e
passado, uma posição marcante no que à indústria diz respeito. Vila Nova de Gaia foi
Guimarães afirma “ainda existem muitas estruturas, vestígios e peças das suas fábricas e
oficinas. Mas tal ambiente fabril não tem sido objeto de muitos trabalhos de Arqueologia
Industrial, restando pois grande parte deste espólio por estudar”. (Guimarães, 1995:225)
embora a sua degradação permaneça incontrolável, são demasiado valiosos para serem
1
Fontismo – partido político e doutrina económica de Fontes Pereira de Melo. O período em que
Fontes Pereira de Melo foi ministro das obras públicas, comércio e industria, a Regeneração (1871-1887), e que
marcou o país com várias acções de modernização do país, ao nível de obras públicas e infra estruturas e no
desenvolvimento dos transportes. In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira – volume XI – editorial
enciclopédia, Limitada. Lisboa – Rio de Janeiro (1833-1983).
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e imagens que são testemunhos históricos de grande valor, muito ainda resiste, embora
deste património industrial, presidiu à escolha do tema deste projecto a perspetiva futura de
um aproveitamento pelo Turismo Industrial e a sua inclusão em roteiros turísticos por parte
existência de um cais fluvial tardo-romano (séc. IV) e terem sido recolhidas inúmeras peças
reutilização e de memória, talvez seja altura de utilizarmos o passado enquanto chave para
futuro, tanto mais que Crestuma é um território periférico de uma área metropolitana com
uma elevada taxa de desemprego, mas com uma crescente procura turística. Abundam
preservar o bom que o concelho de Vila Nova de Gaia tem para oferecer com óbvias valias
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1.3 - Metodologia
Toda e qualquer pesquisa necessita de uma estrutura básica antes do seu início.
primórdios desta temática que, em alguns aspectos, se encontra ainda numa fase inicial.
Em termos conceptuais, a revisão literária foi efetuada de uma forma mais genérica e
vez que, em Portugal, o desenvolvimento deste tipo de turismo é ainda uma realidade
muito recente e a produção cientifica ainda escassa. Em termos temporais foi aprofundado
o século XIX e início do XX, altura que a indústria teve um papel preponderante, no caso
património cultural em Portugal. Todavia, não foram encontrados registos para Crestuma.
Para além destas bases de dados, foi utilizado o Plano Diretor Municipal de Gaia
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- Quinta da Estrela
que contêm informação sobre o imóvel, conjunto ou sítio. Cada ficha individual, além das
Uma vez que a recolha de elementos identificados como recursos turísticos era
escassa, foi realizada uma pesquisa ao nível de edificado com interesse histórico e industrial
Diretor Municipal da área metropolitana do Porto. Neste caso concreto, foi abordado o
património de Vila Nova de Gaia, do qual faz parte a herança industrial de Crestuma.
termos de conhecimento. De acordo com Pardo Abad (2008), os tipos de fontes para o
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Tipo Elementos
Arquivos históricos
Tradicionais
Livros
Revistas
Arquivos de empresa
Catálogos industriais
Complementares
Anúncios publicitários
Guias comerciais
Folhetos
Fotografias antigas e atuais
Iconográficas
Planos de construção e renovação de projectos
Memória colectiva
Orais
Memórias e testemunhos dos trabalhadores e
empresários
(Elaboração própria - Fonte: Pardo Abad, 2008: 31)
por Pardo Abad (2008), embora se tenham destacado as fontes tradicionais, tais como os
Biblioteca do ISCET, bem como a Junta da União de Freguesias de Sandim, Olival, Lever e
Crestuma.
obstáculos que, em muitos casos, tornaram impossível o acesso. Por outro lado, o
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processo burocrático dificultou muito a pesquisa, tornando complexo aquilo que poderia ser
simples e organizado.
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Capítulo II
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económica que se baseia numa técnica, dominada, em geral, pela presença de máquinas
(Porto Editora, 2015). À atividade industrial está associado um espaço físico para a
Neste contexto acrescentamos uma outra definição que consta no novo dicionário Lello da
Língua Portuguesa que define a indústria como uma “arte, manha ou destreza para
agenciar ou ganhar a vida. Engenho ou habilidade para fazer obras úteis, manuais,
mecanismos, etc, e para deles se servir. Profissão mecânica, fabril ou mercantil.” (Novo
2001:65). Ainda neste contexto, Choay refere que as noções de “monumento e cidade
Por forma a compreender melhor a relação destes conceitos, inicialmente será feita
com a indústria, que começaram a ter importância após a II Guerra Mundial. O termo foi
cunhado por Michael Rix em 1955, na obra “The Amateur Historian”, uma publicação
inglesa do pós guerra que inicia a discussão sobre a herança industrial. O autor utiliza a
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
fabris do início da Revolução Industrial, mas também para estruturas relacionadas com os
ficar obsoletos. O termo usado por Sousa Viterbo (archeologia industrial), acabou por cair no
Archeology.
que os moinhos estariam a sofrer: “é com profunda saudade que vejo desapparecer pouco a
pouco os vestigios da nossa antiga atividade, da nossa industria caseira. A machina vae
triturando tudo no seu movimento vertiginoso, sem que mão piedosa se lembre de apanhar
esses restos, humildes mas gloriosos, depositando-os depois em sitio, onde possam ser
arqueologia industrial, lançadas efectivamente mais de meio século depois. Neste mesmo
trabalho, Sousa Viterbo refere ainda que “antes que tudo se perca irremediavelmente,
salvemos pela descripçao e pela estampa o que ainda nos resta, dilacerado e partido, dos
interesse histórico foi a fundição de Nova Oeiras2, em Angola, no ano de 1925 (a fábrica é
2
Real fábrica do Ferro, Nova Oeiras, Kwanza – Angola. Dois séculos passados, apenas subsistem ruínas,
ainda impressionantes: “dois troços da represa das águas do Luínha, o aqueduto de 22 arcos de cerca de 118
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isolada.
arqueologia industrial como sendo uma disciplina de implementação recente e, por isso,
tem-se verificado nos últimos anos, consideráveis desenvolvimentos nos estudos nesta
Cordeiro, investigador de referência nesta área de pesquisa, refere ainda que, no que
tem sido tão significativo, excetuando, obviamente, casos isolados. “Esta situação
atualmente uma velocidade que cresce em progressão geométrica, de tal modo que cada
metros de comprimento, condutor da água para mover os engenhos, um grande compartimento para as rodas
hidráulicas, um forno de fundição, uma grande ferraria com três armazéns e um canal para escoar a água”.
Retirado da página institucional do HPIP – Património de Influencia Portuguesa.
(http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=2061)
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dia ficam mais desfasadas indústrias que até há bem pouco tempo representavam os
património, a fim de que ainda seja possível registar os elementos mais significativos do
industriais a partir da II Guerra Mundial, todavia Portugal não seguiu essa tendência. Seria
necessário esperar pela Revolução dos Cravos, em 1974, para que o património industrial
“em Portugal, o interesse pela arqueologia industrial despontou pouco tempo após o 25 de
abril de 1974, vindo no entanto a adquirir uma expressão organizada algum tempo mais
1976. Apesar de nos últimos anos ter aumentado o interesse pela arqueologia industrial,
esta encontra-se ainda numa fase embrionária”. Devido a este atraso significativo na
atenção prestada à herança industrial verifica-se, ainda hoje, uma escassez de trabalhos
arqueologia industriais passam a ser alvo de maior preocupação e atenção por parte de
vários países europeus com o surgimento de várias associações que tomam a defesa deste
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ultimo, os sítios “obras efectuados pela mão do Homem ou obras combinadas do Homem e
social, industrial ou técnico, dos bens que integram o património cultural refletirá valores de
exemplaridade.
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
diploma entrou em vigor em janeiro de 2010, e teve várias actualizações sendo a mais
bens materiais e imateriais, cujo valor seja reconhecido como imprescindível para a
permanência da identidade da cultura portuguesa. Por estes bens, José Amado Mendes,
Contudo, o autor defende que, dentro do conceito de património cultural, devem ser
O mesmo autor faz referência à Lei nº 13/85 de 6 de julho, dedicada ao património cultural
português é constituído por todos os bens materiais e imateriais que, pelo seu reconhecido
valor próprio, devam ser considerados como de interesse relevante para a permanência e
que apresentam potencialidades para entrarem num novo “ciclo de vida”, continuando ao
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
O mesmo autor refere que, por finais do século XIX, com uma certa valorização das
património cultural. A esse respeito, e no seguimento do que atrás foi afirmado, não deixa
de ser interessante que tenha sido, precisamente a propósito de uma actividade artesanal
– os moinhos –, que Francisco de Sousa Viterbo sugeriu que se criasse um novo ramo do
Património Industrial
uma vez que as instalações industriais eram um dos alvos que os bombardeamentos de
introdução do termo industrial heritage, por Aubrey Wilson, em 1967 num livro da sua
autoria com o título “London´s Industrial Heritage”. A sua abordagem vai para além da
para o conhecimento.
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Património Industrial em Portugal, (1980-1986). Anos mais tarde, em 1997 surge, no Porto
carta de Nizhny Tagil sobre o Património industrial, elaborada pelo organismo The
International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH)3, em 2003
compreende “os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico,
sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação”.
industrial, que se define como “um método interdisciplinar que estuda todos os vestígios,
3
TICCIH é uma organização internacional direcionada para a preservação do património industrial. Foi
criada oficialmente em 1978 na Suécia através de um congresso de especialistas neste tipo de turismo.
Publicaram em 2003 a Carta de Nizhny sobre o Património Industrial onde os delegados deliberaram aquando
da conferência do TICCIH no mesmo ano, que os edifícios e as estruturas construídas para as atividades
industriais, os processos e os utensílios utilizados, as localidades e as paisagens nas quais se localizavam,
assim como todas as outras manifestações, tangíveis e intangíveis, são de uma importância fundamental.
Todos eles devem ser estudados, a sua história deve ser ensinada, a sua finalidade e o seu significado devem
ser explorados e clarificados a fim de serem dados a conhecer ao grande público. Para além disso, os
exemplos mais significativos e característicos devem ser inventariados, protegidos e conservados, de acordo
com o espírito da carta de Veneza, para uso e benefício do presente e futuro.
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Para além do TICCIH, a UNESCO tem também tratado deste tema, elencando uma
lista de Património Mundial. (ver anexo I). Em 1978 foi incluído o primeiro exemplar
Fonte: cracovia.net
para o Património Industrial) e o TICCIH (The International Committee for the conservation
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Carlos Abad refere que a herança da Revolução Industrial é ampla nas sociedades
territórios associados a este sistema de produção. O mesmo autor refere ainda que o
produção, onde muitos espaços vazios existentes, estão repletos de elementos profundos
da memória colectiva das gerações passadas. E tenta ainda demonstrar que estes
vestígios tem sido, atualmente, mais vincada, dado que as sociedades e as culturas
parte dos casos, o estado de degradação e vandalismo é tal que pouco resta em termos
que voltar a referir que este conceito de património industrial é o mais “jovem” de todos os
tipos de património dado que abarca um conjunto de estruturas, peças e máquinas que
foram utilizadas, em muitos casos, recentemente. Também se caracteriza por ser muito
abrangente devido aos inúmeros exemplares disponíveis nos países mais desenvolvidos
(Carlos Abad, 2008: 12). De acordo com o mesmo autor, o quadro abaixo mostra a
que o autor não considera apenas o espaço físico (arquitectónico), mas sim tudo o que o
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Tipo Caraterização
Amado Mendes definiu a arqueologia industrial como uma disciplina multidisciplinar por
um dos seus principais aliciantes. (Mendes, 1989: 31). Provavelmente, o vetor mais vezes
minas, fábricas, hangares, entrepostos ou pontes, uma velha máquina a vapor, um barco
escritos. Dianne Newell escreve, a este propósito: “os documentos escritos, que durante
muito tempo foram os instrumentos privilegiados dos estudos históricos, são em si mesmos
Nas últimas décadas o turismo tem vindo a adquirir uma importância significativa no
que concerne à sua dimensão, com impactos cada vez mais substanciais na economia
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
sentido, o património industrial tem-se revelado um importante recurso turístico, como faz
notar Cordeiro.
nos quais têm sido apresentadas diversas rotas e itinerários de turismo industrial.
Actualmente, o turismo industrial regista uma rápida evolução, passando de simples projetos
com carater exploratório a formas profissionais de oferta turística, com a entrada em cena
(Cordeiro, 2012: 12). Na mesma linha de raciocínio o mesmo autor refere que as rotas ou
industriais. As rotas podem estar organizadas de acordo com dois critérios: - o temático, que
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Tendo por linha orientadora a obra “História da Indústria Portuguesa”, faremos uma
história da indústria ainda está por fazer. No início da década de 60 – período em que é
Oliveira Marques afirmava num lamento: «a enumeração das principais “indústrias” tem
sido feita por vários autores: a olaria e utensilagem de madeira, curtumes, têxteis de
investigação para cada uma destas “artes” e refere o trabalho pioneiro de alguns autores,
temática em estudo. Todavia, Oliveira Marques acrescenta que não sendo os documentos
1999: 17).
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1999: 49). Mas a herança territorial pode ser ainda mais longínqua temporalmente. A serra
passagem pela Península Ibérica. Nesta região há vestígios de castros onde foram
estenderam-se até ao séc. III d.c, das quais ficaram alguns vestígios, os fojos, as galerias
mais a sul do que a norte, nomeadamente espadas, escudos, lanças, mas também como
utensílios para o dia a dia: pregos, arados, enxadas, sachos, gadanhas, foices, portões e
sempre por pequenos passos de muitas experiências menores. (Rodrigues, 1999: 71).
De acordo com a mesma obra, mas num texto da autoria de José Amado Mendes
que aborda a indústria durante o liberalismo, na transição do século XVIII para o século
isso, estariam desta forma reunidas todas as condições para o arranque da Revolução
países da periferia, contudo, com um passado histórico muito diferente, faltou o ímpeto
a vapor veio permitir a criação de novas indústrias, a sua libertação geográfica das
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
margens dos rios, e uma fabricação mais sofisticada e em números finais imensamente
investimento eram notórias, e no caso Português, por falta de capital para investimento,
português foi-se alterando na segunda década de oitocentos, uma vez que a estrutura
182)
bem como em Tomar, Coimbra e Santa Maria da Feira, destacando-se nas últimas três
áreas, a indústria papeleira que adquiriu importância nos últimos dois séculos. Acrescente-
em 1809 foi criada a Fábrica Nacional de Fundição de Ferro e Bronze de José Pedro
Collares & Filhos, em Lisboa. Manteve-se com pequenas dimensões até 1843, altura em
tendo ali sido criadas, entre 1816 e 1829, trinta e oito oficinas, grandes e pequenas, com
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um total de 473 operários, numa média de 12.4 operários por estabelecimento. (Mendes,
1999: 183).
vindo de Inglaterra, desde finais do século XVIII e inícios do XIX, nos restantes ramos de
energia motriz aplicável a todos os trabalhos industriais, marca uma fase decisiva na
história das técnicas. A facilidade de adaptação deste novo produtor de forças, a sua
rio ou a regularidade do vento, fizeram dele um escravo mecânico, por excelência. A mão e
Portugal a máquina a vapor foi introduzida no Porto de Lisboa em 1820. (Pierre Ducassé
numa primeira fase, anos 1820 e inícios de 1830, a política económica privilegiou a
legislativo, na década de 1830 foram tomadas algumas medidas que, embora de sinal
formação técnica específica esta ficaria para mais tarde, entre os anos 50 e 80, com a
criação de escolas industriais, dado que apenas se comtemplava a formação dos gestores
industriais.
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
área e região torna complexa a abordagem sobre o assunto. Contudo, relativamente aos
série, aliada ao recurso a técnicas cada vez mais desenvolvidas a fim de melhorarem os
pormenor o período em foco, nem tão pouco caracterizar o sistema produtivo utilizado em
Portugal, tendo como exemplo o inquérito industrial de 1852. Contudo, referir que a indústria
ao domicílio e de carácter familiar era muito representativa sobretudo fora dos centros
urbanos de Lisboa e Porto. Todavia, é de realçar que a cidade do Porto se encontrava numa
situação de avanço, em termos de industrialização, conforme obra cita na obra “até 1830,
que o número médio de operários por fábrica era baixo, cerca de 11 operários por fábrica, o
eram sobretudo de sexo masculino, uma vez que a mulher se dedicava ao trabalho
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até então, única alternativa. O aparecimento do caminho de ferro veio, a transformação foi
1877, só foi possível após a construção da Ponte Maria Pia, pela empresa Gustave Eiffel,
entre 1875 e 1877. De referir que esta ponte, é um dos monumentos da arquitectura do
o património industrial é uma área inter e multidisciplinar, e que trata não só os vestígios
actividade.
Património Industrial
Manufactura
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Indústria
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Com dois séculos de história, o reservatório Mãe d´Água das Amoreiras localiza-se
nas Amoreiras, em Lisboa. O reservatório foi projectado em 1745 e foi alvo de várias
intervenções ao longo dos tempos, tendo sido finalizada a sua cobertura por volta de 1834
reservatório tinha como objetivo receber e distribuir a água fornecida pelo Aqueduto das
Águas Livres. Atualmente está integrado no Museu da Água da EPAL (Empresa Portuguesa
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
das Águas Livres, SA) e o seu espaço é utilizado para a realização de eventos,
Ecomuseu do Seixal
público em 1982 com a denominação que conserva hoje. O município definiu como linhas
objectivo de contribuir para a transmissão das memórias vivas ainda existentes. O acervo do
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2.2.2 – Rotas
A rota de S. João da Madeira é uma rota muito completa que envolve vários circuitos em
desde o calçado, chapelaria, lacticínios e passamanarias. Esta rota é hoje uma referência
XIX e foca a indústria predominante, a têxtil. Poblenou, bairro histórico, é um exemplo claro
do século XIX, foi a área com maior concentração industrial da Catalunha. Apelidada como a
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moderno com o antigo. Prédios em ruínas tornaram-se espaços para estúdios de design,
turismo industrial, desde minas a espaços fabris reconvertidos em museus, e que já contam
com cerca de uma centena de espaços com roteiros temáticos específicos e diversificados.
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Capítulo III
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Povoação muitíssimo antiga, mas ignora-se por quem foi fundada (Pinho Leal,1874:447)
que ali desagua no Rio Douro. A este propósito, escreveu Pinho Leal: “parece que foi
Castello. D´este castello (crasto) e de Uíma se formou o nome da villa”. (Pinho Leal, 1874:
447)
Ainda neste contexto, há que referir também Arlindo Sousa, que define o topónimo
Crestuma “Talvez do ant. crasto e Umia (hoje Uima), nome de rio que por ali passa.
aglutinação ou fusão de crasto por crasto com metátese do r e alteração da vogal a para e
mais o elemento ibérico uma, forma antiga de Uima que se vê também em Fintuma ou
4
As escavações arqueológicas, no morro do Castelo de Crestuma e na Praia de Favaios, iniciaram em
agosto de 2010. A iniciativa foi levada a cabo por uma equipa de profissionais organizada pelo Gabinete de
História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana. Segundo notícia publicada no Jornal de Notícias
de dia 25 de agosto de 2010: “já é possível confirmar que, de facto, existiu uma construção (uma espécie de
fortificação romana) no alto do castelo que teria como função o controlo das travessias do Douro…”. Ao longo
dos trabalhos são recolhidos milhares de objectos, com destaque para pedaços de cerâmica oriunda da Fócia
(actual Turquia), vidro romano e bocados de telhas. As intervenções arqueológicas, continuam na actualidade.
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que melhor conserva a herança do seu passado. Crestuma aparece referenciada como
povoação autónoma já em 922. No documento n.º XXV, datado desse ano e intitulado
Portugaliae Monumenta Historica, vol. I Diplomata et Chartae, pode-se ler que “o Rei
Ordonho II e a Rainha Elvira foram, em 922, visitar o ermita D. Gomado, bispo resignatário
Ilustração 8 – barcos rabelos no Rio Douro, em Crestuma, por volta de 1895 - 1900
que muito do que sobre ele se escreve não passam de suposições e até antíteses em
5
“Crestuma chamava-se no século X Castrumie (de Castro e Umia, hoje Uíma, rio que por aqui passa”, in
Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (ELBC), Lisboa, 1971.
6
Em latim donatio amplissima regis Ordonii episcopo Gomado et Monasterio de Crestuma facta. Ex codice,
qui titulum Livro Preto da Sé de Coimbra prae se fert, descripsimus. Portugaliae Monumenta Historica, vol.
IDiplomata et Chartae, Lisboa, Tipografia da Academia, 1867, p. 16 e 17, documento n.º XXV – Arquivo
Nacional Torre do Tombo (ANTT).
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
muitos casos. Durante as escavações que tiveram lugar em Crestuma no passado, foi
fundações do Convento local para confirmar com realeza positiva o que relatam estes
ter existido em Crestuma um Convento. Barbosa Ribeiro faz, aliás, a mesma alusão: “teve
um convento de frades bentos, fundado segundo alguns no século VII. Ou este convento
deixou de existir ou então não se conhece a sua continuidade, apenas que quando D.
Thereza coutou Crestuma, foi para dar o couto aos frades d´aqui, mediante certa
reconhecença aos bispos do Porto”, e que se terá extinguido no século XV. (Ribeiro, 1984:
14)
que fora destruída em 1102, sendo que o que dela restou foi doado por D. Teresa ao
mesmo bispo, D. Gomado: “em abril de 1113, a mesma rainha doou um testamento ao
bispo de Coimbra, a ermida de Crestuma, com todas as suas pertenças e uma azenha”.
não nos permitem perceber em concreto a sua evolução. Na verdade, Ribeiro afirma
mesmo que, após 1113, só voltamos a encontrar referências a Crestuma em 1453, altura
em que passa a ser designada por Couto: “Era vastíssimo o couto de Crestuma, e segundo
as demarcações feitas em 922, estendia-se pelas duas margens do Douro, entrando pela
margem direita, pela terra do Sousa, até ao monte Zevrario” (Cit. In Ribeiro, 1984: 7). O
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
couto de Crestuma teria desaparecido em 1567 com a morte do seu último comendatário7.
(Ribeiro, 1984:7)
município, em 12 de maio de 1834, juntamente com Vila Nova de Gaia. Contudo, a vida do
município terá sido curta, uma vez que manteve este estatuto apenas até 19 de outubro de
1835, tal como refere Peixoto: “Crestuma terá sido o primeiro concelho a instituir-se a 12
de maio de 1834 mas não o primeiro a perder autonomia. A sua vida municipal é breve.
Neste período apenas aparece referido concelho uma única vez, sendo a citação mais
7
Que frui benefício de comenda. O que administra uma comenda. Uma comenda é um benefício que se dava
a eclesiásticos ou a cavaleiros de ordens militares terras com que se recompensavam certos serviços. In novo
dicionário Lello de Língua Portuguesa, 1996:441.
8
Atas das Jornadas sobre o Município na Península Ibérica, capítulo: Os municípios efémeros de Vila Nova
de Gaia, no período liberal por Maria de Graça Peixoto.
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
3.1.2 – Localização
descrevia Crestuma, em 1874, desta forma: “Atravessa a freguezia o rio Huyma ou Uima,
que aqui mesmo desagua no Douro, tendo próximo da sua foz uma ponte de cantaria, de
um só arco, construida em 1870, da qual logo cahiu metade em 1872”. (Pinho Leal,
1874:447)
margem esquerda do rio Douro, na zona sudeste do concelho de Vila Nova de Gaia,
distando da sede concelhia 14 Km. A confrontação territorial é feita com as vilas de Lever,
Sandim e Olival do mesmo concelho, sendo que, em 2014, a elas se uniu aquando da
reorganização administrativa que criou a União das freguesias de Sandim, Olival, Lever e
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
transcreve Ribeiro: “Este terá de comprido hum coarto de legoa nesta freguezia principia
mesma distancia. Naum há serra de nome nesta freguezia so sim consta de alguns Montes
inda que pequenos pella pouca extençam della e vem a ser parte do Monte de Simalhe
que devide pelo alto delle com a freguezia de olival”. (Cit. In Ribeiro, 1984:7)
Estes limites, que tinham uma relação com a estrutura natural da região, foram
foram produzindo, aqui e ali, rivalidades e animosidades entre vizinhos no mesmo território.
rio Douro reforça de modo significativo. Essencialmente agrícola nos primórdios da sua
existência, Crestuma “é terra muito fértil e de muito comércio com a cidade do Porto, com a
qual está em contínua communicação fluvial”, como explanava Pinho Leal na segunda
determinada, a sua vocação industrial que atingiu grande expressão na primeira metade do
século XX, daí resultou um decréscimo muito acentuado no que ao setor agrícola diz
respeito.
grandes zonas: a baixa ou ribeirinha, a média e a alta. A primeira delas “onde se localizam
muitíssimo bem a face ancestral desta localidade. A zona média que compreende toda a
zona situada entre a área da Igreja e a área próxima do Parque de Jogos, a qual
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Crestuma. A este propósito, Ribeiro refere “os frutos que produz ezta freguezia sam milho
grosso ou milham senteio vinho verde, e algum azeite porem tudo em tam pouco quantidade
que não chega para sustento dos moradores della”. (Barbosa da Costa citado in Ribeiro,
1984: 23)
desse passado de moagens, facto que é sublinhado por Ribeiro: “tem esta freguezia neste
mesmo Rio quatorze muinhos e nam tem lagares de azeite pisoins noras nem outro algum
ingenho”, sendo curioso que “os moleiros de Crestuma levavam tabaco e moíam-no nos
O contacto com o rio foi sempre decisivo na produção cultural e fundamental na sua
vida económica. A atividade piscatória foi sempre uma atividade estrutural, apesar de ser
é referido nas Memórias Paroquiais (1758: 64): “cria peixes, barbos e estes só no fim deste
rio por se comunicarem do Douro para sima consta mais de bogas escallos e truttas, e
algumas enguias”. A confecção do Sável é uma tradição que perdura ao longo do tempo.
Esta espécie animal está hoje em extinção, o que colocará provavelmente esta tradição
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Área Metropolitana do Porto foi, no século passado, um território onde a indústria local
interior do concelho, ombreando com as maiores fábricas do Porto, então conhecida como
a “Manchester portuguesa”.
“A azáfama que se vivia neste local do Uíma pertinho do Douro era tão intenso que
aqui pulsava o coração de Crestuma. Não havia hora do dia ou da noite que o local não
surpreende a escassez de pesquisa nesse âmbito. Guimarães alerta para essa realidade:
“Vila Nova de Gaia pode ser considerada como um dos mais diversificados centros
estruturas, vestígios e peças das suas fábricas e oficinas. Mas tal ambiente fabril não tem
sido objeto de muitos trabalhos de Arqueologia Industrial, restando pois grande parte deste
Banhada pelos rios Douro e Uíma, com uma riqueza paisagística assinalável, a sua
lado com o inevitável progresso e inovação contemporâneos. Ribeiro refere que acostavam
em Crestuma barcos rabelos que do Alto Douro traziam a castanha, a batata, o melão e
toda a qualidade de fruta. Mal ancoravam, logo saía um homem que pela freguesia acima
por excelência, num tempo em que os meios de transporte e a estrutura das estradas eram
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
dos barcos rabelos. Era visitada por excursões de barcaças e lanchas vindas do Porto, aos
domingos. Se bem que a principal atividade fosse a indústria têxtil e a metalúrgica” (Costa,
2000:27).
que Crestuma foi elevada a concelho, e o início da década de 1970. Sobressaíam então as
3.1.4 - As Fábricas
Não pode deixar de ser referenciada, uma vez que constituiu uma ideia pioneira na
Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Esta fábrica marca um período importante na história
Francisco Queiroz (2006: 131) refere que “a fábrica chegou ao ano de 1830 dotada de
casa nobre para habitação e arrecadação, quatro moinhos, uma casa de azenha, uma
casa de lavoura e suas casas da eira, para além de vários edifícios destinados
movido por várias rodas hidráulicas montadas sobre um canal do Rio Uíma!” (Queiroz,
mecanismos diz respeito, uma vez que terá sido nesta fábrica que foi produzido
ainda é visível um canhão nas imediações da fábrica que provavelmente fora produzido
nessa altura, uma vez que o mesmo autor referiu que para além da produção de arcos de
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
ferro para pipas e tóneis, produziu também balas, e pequenos objectos utilitários em ferro
O mesmo autor refere que a “Primeira Associação de Indústria Fabril Portuense” foi
Crestuma como todo o equipamento que esta continha, e apesar da tentativa de fazer
renascer a actividade por volta de 1843, mas esta não teve continuidade. É relevante
menos um operário que tinha laborado na Fábrica de Arcos de Crestuma de seu nome
Jerónimo Pinto Paiva Freixo9 que, após a companhia de Artefactos de metais do Porto
terminar a sua atividade, encetou em Crestuma uma fábrica de fundição tendo-a apelidado
por Antiga Fundição de Crestuma. Esta, de carácter mais familiar, reuniu várias pessoas
proprietário, Jeronymo Pinto de Paiva Freixo, não faz d´esta industria o seu principal modo
de vida. Produz anualmente 100 toneladas de panellas de ferro…” (AAVV, 1881: 44).
Eram produzidos artigos indispensáveis nos lares portugueses, de então: panelas e tachos
normais dos mais diversos tamanhos, panelas de três pés, ferros de engomar,
grelhas, pórticos e outras peças utilizadas na construção civil, mormente portões de grande
porte que ainda hoje perduram nas antigas “quintas” do país. Na Calçada da Fonte da
Igreja ainda pode ver-se um portão, em ferro fundido, da antiga casa da família Paiva
9
Jerónimo Pinto de Paiva Freixo, natural de Crestuma, onde ainda é recordado com respeito e saudade, foi
um trabalhador incansável, espírito de iniciativa, exemplo de dignidade e de lisura. Tomou a gerência da fábrica
de seu Pai aos 18 anos e faleceu com 78, deixando viúva a D. Guiomar Lopes dos Santos. O seu fabrico de
fundição de ferro era dos mais perfeitos que se faziam em Portugal, tais como: panelas à Portuguesa,
Espanhola, Inglesa e Açoreana – Ferros de engomar, lisos, boleados e americanos, entre outras. Retirado de
Anuário Industrial, comercial e turístico de Gaia, 1985.
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Freixo com o nome da proprietária e empresária incorporado, no topo, onde pode ler-se
Crestuma chegou a ter pelo menos quatro fundições no fim do século XIX, e
assumiu-se assim como o maior núcleo fabril português de fundição de ferro situado fora
dos limites de Lisboa e Porto10 (Francisco Queiroz, 2006: 136). Em 1890, o Jornal dos
Carvalhos afirmava que “existem em Crestuma nada menos que quatro fundições de ferro,
talvez o único no paiz no género. A pericia dos seus operários e as relações commerciaes
dos actuaes possuidores são uma prova de que a companhia daria lucro”.
do século XIX. A tecelagem assumia-se também como muito importante, com várias
fábrica de fundição de Jerónymo Pinto Paiva Freixo, enquanto que no inquérito industrial
10
“Não vão longe os tempos que pelo rio subiam dezenas de lanchas, caíques, guigas, barcos valboeiros e
todo o tipo de embarcações, com velas e sem velas, que ancoravam por todos os cais ribeirinhos. Crestuma
possuía dois magníficos cais de acostagem privados, - o cais da Companhia de fiação de Crestuma e o cais do
A.C.Cunha Morais-, que ainda hoje existem”. (Ribeiro, 1997: 10)
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Crestuma de 1984, que nos permite analisar as indústrias existentes bem como a
diversidade existente e o tipo de indústria a que cada uma delas se dedicava. De referir
ainda que muitas delas eram empresas fabris de média dimensão e familiares, mas de
Gaia, representando, no seu todo, uma produção assinalável e sendo responsáveis pelo
própria freguesia.
Balões
Candeeiros
Carpintaria
Fiação e Tecidos
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Fitas de Nastro
Fundições de ferro
Fundição da “Buraca”
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Fundições de Metais
Papel e Cartão
Serração
Serralharias
Têxteis
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Rua Mouzinho da Silveira, a maior parte perto do Rio Douro por onde, na altura, era feito o
transporte.
oriundos de todo o concelho, com predominância natural das freguesias vizinhas. Daí
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
mercearias nos inícios do século XX, eram autênticos mini mercados onde tudo se
Fonte: Anuário Comercial do Porto para a cidade do Porto, Gaia e demais concelhos do distrito, 1943
A venda ambulante, porta a porta, era outra atividade permanente no que concerne a
piscícolas como sável, lampreia, barbo, taínha e outras espécies pescadas no rio Douro
número de tasquinhas e adegas era substancial com incidência nas áreas do centro e
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
beira rio da freguesia, onde a maior parte das indústrias se localizavam. Praticamente, em
todos os lugares da freguesia existia, pelo menos, uma mercearia. De realçar o facto de,
na última terça-feira de cada mês, em local estratégico porque de acesso fácil e mesmo
obrigatório a várias unidades industriais, se realizar, durante anos, uma feira com alguma
dimensão regional.
Ilustração 13 – uma das últimas feiras realizadas no lugar do Torrão, Crestuma, s/d
A partir de entrevistas realizadas a habitantes locais, podemos afirmar que não havia
publicações locais e regionais deram conta dos seus trabalhos. Daí perdurarem inúmeros
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
distinguir a existência de vários poemas musicados que se mantêm atuais e são entoados
predominante. À dupla Eugénio Paiva Freixo, nos poemas e António Ferreira Alves, na
música, se deve o êxito desses documentos de alto valor cultural e que, ao longo dos
Reproduzimos alguns versos de dois dos muitos poemas que aquele poeta nos deixou
De “Fitas de Crestuma”:
Ó Crestuma tecedeira
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
publicitários.
Francisco da Silva, um dos actuaes vereadores da Camara municipal de Gaya.” Jornal dos
Carvalhos 1-11-1891
César da Cunha Moraes, nome muito conhecido no mundo industrial”. (Jornal dos
Carvalhos 1-11-1891)
actuaes membros de junta da parochia d´esta freguesia”. Jornal dos Carvalhos 1-11-1891
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Fonte: Anuário do Porto, comercial, industrial e burocrático, 1950: para a cidade do Porto, Gaia e Matosinhos e
Fonte: Anuário do Porto, comercial, industrial e burocrático, 1950: para a cidade do Porto, Gaia e Matosinhos e
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
história e dados estatísticos concretos não foi possível elaborar uma ficha completa com a
caracterização de cada uma delas. Irão ser desenvolvidas as que fazem parte da rota do
Acresce, por outro lado, que em zonas de turismo global, actualmente, a conjugação
paisagística, os recursos fluviais, as artes, o folclore e ainda outras mais, passou a ser
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
No que à Vila de Crestuma diz respeito várias são as áreas de interesse turístico
que, nos últimos anos são visitadas, em tempo de primavera e verão, mesmo sem a
equipada para veranear com razoável comodidade e com equipamento de apoio no Clube
Náutico de Crestuma é, sem dúvida, outra mais valia no que concerne às potencialidades
ano no rio Douro com o melhoramento estrutural dos dois antigos cais que serviram
situada na orla fluvial, maior capacidade para recepção de visitantes utilizando a aprazível
de uma rotunda muito próxima dos limites da Vila de Crestuma com acesso, via auto-
estrada a todos os destinos nacionais com este tipo de ligação terrestre. A proximidade ao
turística, o trajecto até ao Porto (Freixo) de uma dúzia de quilómetros ao longo da marginal
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
direita (EN108) do rio é, simplesmente, deslumbrante e tem continuidade até à Foz do rio
Como pontos de atração suscetíveis de, também eles, potenciarem o turismo local
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Capítulo IV
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
A partir do trabalho realizado e das ideias apresentadas até aqui, propomos uma
cultural de referência no concelho, que possa gerar riqueza, emprego e qualificação dos
4.1.2 – Contextualização
Um dos objetivos principais desta rota, e pré requisito fundamental para a sua
permitirá reviver o quotidiano de outras épocas de forma mais fiel, valorizando os recursos
Fontinha.
sempre que possível. A rota tem a duração de 2 horas e o terreno é plano. O percurso é
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
4.2.1 – Pontos
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
A rota inicia no Parque Botânico do Castelo, que se situa junto ao Clube Náutico de
de Gaia, este parque foi inaugurado a 13 de Setembro do ano 2009 e pertença das Águas
pelo município de Vila Nova de Gaia como uma quinta que se encontrava em ruínas.
o administrador do Parque, Dr. Nuno de Oliveira explicou o objectivo destes trabalhos, que
é "perceber a história do sítio, a sua flora e como se formou o maciço [onde o parque está
implantado] do ponto de vista geológico". "Para isso, vamos pedir à Faculdade de Ciências
Foto da autora,2015
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
há décadas, mas nos tempos históricos terá tido um castelo e um mosteiro medievais",
afirmou Nuno Gomes Oliveira. Antes disso, na época romana, a zona terá sido "um
dos Arqueólogos Prof. Dr. Gonçalves Guimarães e Prof. Dr. António ManuelSilva.
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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos
estabelecimentos para indústrias entre 1912 e 1922”, esta fábrica consta como
sendo pertença de Rufino José dos Santos, “fábrica de fundição de ferro no lugar do
fábrica refere a antiguidade da mesma, que teria hoje, cerca de 130 anos e que
laborava apenas num turno, das 8h-17h, diariamente. Ali trabalhavam só homens,
11
Vitorino Moura, antigo trabalhador da fábrica de Rufino José dos Santos em entrevista realizada a 9
de janeiro de 2016. Bisneto do proprietário da fábrica, laborou 37 anos.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
proprietário inicial.
Esta fábrica encerrou em 1988 dado que deixou de possuir condições ao nível
em 2007.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
em direção ao próximo ponto da rota. Para lá chegar, vamos passar por um pinhal e
têm vindo a realizar. A Sociedade de Fundição e Metalurgia fica uns metros acima.
empregava mais de uma centena de pessoas e foi fundada já no século XX. Não
trabalhavam mulheres, uma vez que o trabalho era muito duro e pesado. Fabricavam
panelas e tachos de ferro, de três pernas e sem pernas que denominavam panelas
inglesas dos quais faziam exportação para França. Faziam obra para esmagadores
12
Francisco Vieira, antigo trabalhador da fábrica em entrevista realizada a 7 de novembro de 2015.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
senão eram penalizados no salário. Para além destes produtos a SOFUME fazia
Fonte: Anuário do Porto, comercial, industrial e burocrático, 1950: para a cidade do Porto, Gaia e
acima.
A SOFUME entrou em decadência por volta dos anos 80 do século XX, por não
O que ainda resta são algumas paredes que constituem o edificado, mas em
grande parte num estado deteriorado que nem é possível perceber as várias secções
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Seguimos pela rua do Esteiro em direcção à ponte nova, que dará a ligação à
Rua da Fontinha. Aí, surge o edifício da fábrica de fitas e fiação e, no cimo do monte,
Moraes, foi fundada em 1890, e representa uma das maiores indústrias de Crestuma.
Em notícia do Jornal dos Carvalhos, de 22 de junho desse ano, podemos ler “Mais
sua disposição”. O mesmo periódico, um ano depois, indica que a fábrica “edifica-se
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Esta fábrica foi erguida pela família Morais, que era natural de Coimbra. A
uma vez que laborava com teares e maquinaria muito sofisticada para a época, a
Para além deste louvor, a mesma fábrica foi premiada na Exposição de Paris
realizada em 1889, bem como noutras que se podem ver no anúncio publicitário da
fábrica.
Fonte: Anuário Comercial do Porto para a cidade do Porto, Gaia e demais concelhos do distrito,
1943
trabalhava no algodão, que contou que a matéria prima vinha nos barcos rabelos
13
Margarida Reis, antiga funcionária da fábrica em entrevista realizada a 5 de novembro de 2015.
Laborou 22 anos.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
pelo Rio Douro para ser transformada na fábrica. A fábrica tinha várias secções: a
produtos finais eram importados e exportados para Angola na sua maioria, onde a
segunda feira a sábado e nessa altura “picavam o ponto”. Se não o fizessem era
edificado foi comprado e encontra-se numa fase de recuperação. (ver anexo II)
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
fator que levou Cunha Morais a erguer ali uma fábrica, uma vez que a ligação mais
fácil e rápida até ao Porto era feita pelo Rio Douro, e neste caso concreto, a distância
estava cifrada em apenas cerca de 1km14. Talvez pelo facto de ter feito parte da
reconhecida pela sua beleza e pelas variedades de floricultura, e “pode dizer-se que
lhe cabe a honra de ter sido fundadora do intercâmbio social, chamado turismo, face
No início do século XX, Augusto Morais elaborou um plano para uma linha de
caminho de ferro com tração elétrica entre Vila Nova de Gaia e Castelo de Paiva,
mas que, todavia, não se concretizou. Augusto Morais propôs também um plano de
14
A título de curiosidade, a empresa possuía as lanchas Carolina e Maria Rosa, que faziam a ligação
com o Porto, cujas denominações eram nomes de membros da família Morais.
15
De realçar a visita do almirante Gago Coutinho, amigo pessoal de Augusto Morais visitou Crestuma
e a Quinta da Estrela em 1922. (ver anexo III)
16
Para mais informações, consultar o blogue “do porto e não só”, publicação de 25 de agosto de 2010.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
O percurso da rota continua pela rua da Fontinha, passando pelo casario até
localmente.
“fábrica do Tavares” tinha um horário laboral fixo diurno, das 8h às 18h, e folgava ao
fim de semana.
Era uma fábrica que se dedicava mais ao papel e cartão, embora tivesse
também tecelagem. As máquinas trabalhavam com a força do rio Uíma, sendo que
17
Testemunhos da Srª Libânia, antiga funcionária da fábrica em entrevista realizada a 20 de outubro
de 2015, laborou 23 anos. E da Srª Celeste Amorim em entrevista realizada a 27 de outubro de 2015
que laborou na fábrica 16 anos.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
no verão tinham que ser ligados uns motores suplementares para as máquinas
Fonte: Anuário do Porto, Comercial, Industrial e burocrático, 1950: para a cidade do Porto, Gaia e
encontra destruído.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
a sexta, e aos sábados das 8h às 11h. A fábrica tinha dois pisos, com tecelagem,
serralharia. A fábrica exportava banda e fitas de nastro para Angola. O salário era
18
Testemunhos da Srª Vítória, antiga funcionária da fábrica em entrevista realizada a 12 de novembro
de 2015. Laborou 30 anos; Srº Hermenigildo Cancela antiga funcionário da fábrica em entrevista
realizada a 20 de novembro de 2015. Laborou 20 anos.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
fechou para férias e quando voltaram para iniciar e a mesma já estava em falência.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Caminhando um pouco mais, e do lado direito, avistamos uma rampa que nos
A fábrica era dirigida por Manuel Guedes da Silva e outros sócios parentes e
Quando a mesma já estava em fase de partilhas, foi comprada pela família dos
que a fábrica anterior, contudo elevou para três os andares existentes. Não tinham
escritório físico, mas uma vez por semana um contabilista fazia a organização da
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
foi a fábrica F. Guedes da Silva, da qual não existem testemunhos para a sua
caracterização.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Porto: Visconde de Castro Silva, Manuel Gualberto Soares, António Ferreira Baltar e
António Ferreira Braga, conforme a autora Fátima Teixeira mostra no Boletim Cultural
onde outrora havia sido edificada a Fábrica de Verguinha e Arcos de Ferro. Esta
havia sido vendida após decadência económica. O inquérito industrial de 1881 faz
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
fenda abrupta no fundo da qual, está a fábrica. A de Crestuma é tocada por motores
com a melhor maquinaria para o efeito, o que fez com que enaltecesse a atividade no
nosso amigo sr. António Pimenta da Fonseca, e o maior accionista. Dedica êle à
fábrica de Crestuma o melhor dos seus esforços. Seu pai, o falecido Comendador
Pimenta da Fonseca, foi a alma daquele colosso fabril. O filho herdou também as
qualidades de trabalho do autor dos seus dias, e por isso podendo viver alheiado a
canceiras, êle enfarinhou-se na rotina da fábrica e ela é uma grande parte da sua
Porto realizada em 1865, que afirmou Vila Nova de Gaia como grande centro
operários. Guimarães sublinha que “o rio era fundamental para a laboração nesta
19
José Moreira Pimenta da Fonseca, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, foi condecorado como
Comendador da Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, em 1897, pelo rei D.
Carlos. Foi membro da direção do Hospital Geral de Santo António. Faleceu, no Porto, na rua de Santo
Ildefonso onde residia, a 8 de setembro de 1920, tendo deixado testamento
20
“A companhia de Fiação de Crestuma, uma das maiores empresas têxteis do Norte do País,
possuía um vapor chamado “Crestuma” que fazia o transporte de pessoas e bens de Crestuma ao Porto
e vice-versa”. (Ribeiro, 1997: 15)
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
transporte para a fábrica”. (Ribeiro, 1997: 26). O mesmo autor refere ainda também
que “no cais da Companhia de Fiação de Crestuma havia a casa da guarda, local por
onde obrigatoriamente teriam que passar todas as mercadorias para serem pesadas
bairro operário”.
Era uma fábrica que tinha todo o processo dentro do seu núcleo: tecelagem,
Pelos testemunhos que pudemos apurar, esta fábrica trabalhava em três turnos
de oito horas cada: “Lembro-me de a fiação ter três turnos, muita gente trabalhava lá,
Crestuma, Lever, Seixo-alvo, Sandim, Mosteirô e até de Canedo vinha gente. Fui
para lá trabalhar com 12 anos para o segundo turno, cozer umas fitas que partiam
torciam o fio para ficar mais forte. Os batedores eram uma secção onde o algodão
em pasta era transformado em algodão fofo, e posto em vários rolos e levados para
a secção das cardas, onde era transformado em fio. O fio produzido pela fiação era
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
libras. O salário era pago à sexta feira em dinheiro, eu ganhava uns cento e tal
escudos”21.
trabalho, que de oito em oito dias iam ao armazém, verificar à zona dos defeitos, se
tinha lá algum rolo de pano seu com defeito, porque se tivesse pagava uma multa
pelo trabalho estar mal feito”, bem como que “o algodão vinha em rama em camiões
muito grandes e o pano saía da Companhia já pronto. Tinha tudo lá. No final do dia
fim mediam para ver o que rendeu. Se não correspondesse ao estipulado retiravam
uma percentagem do salário, diziam que “era por conta do funcionário”. Actualmente
CFC, 1917
21
Testemunho do Sr. Elísio Castro, antigo funcionário da fábrica em entrevista realizada a 1 de
novembro de 2015. Laborou 13 anos.
22
Testemunho da Srª Dores, antiga funcionária da fábrica em entrevista realizada a 17 de outubro de
2015. Laborou 26 anos.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Notas conclusivas
recuperação do seu património, bem como o contributo que poderá ter para o
desenvolvimento turístico.
temático ou, ainda, pelas dificuldades na pesquisa, não tem tido a atenção e o
visando uma mais valia informativa foram, de certo modo, um entrave à execução de
históricos e culturais.
partilha das suas memórias o que nos permitiu dissipar dúvidas e garantir uma maior
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
projetar Crestuma como área privilegiada no que ao turismo industrial diz respeito. A
responsáveis locais e regionais que se mobilizem para que não se perca esta
oportunidade.
É, por isso, um trabalho ainda inacabado, uma vez que ainda há muita
passado enquanto chave para futuro, tanto mais que Crestuma é um território
periférico de uma área metropolitana com uma elevada taxa de desemprego, mas
bom que o concelho tem para oferecer com óbvias valias económicas e identitárias
para o futuro.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Bibliografia
Livros e artigos
Coimbra Editora.
Edições 70.
na segunda metade do século XIX. Análise Social- Vol. XXX. Celta Editora.
COSTA, Francisco Barbosa da, (1945); FONSECA, António Coutinho da, pref.
Crestuma.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Porto, Guimarães.
FREIXO, Eugénio Paiva (2000). Minha Terra de asas verdes. Câmara Municipal
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(1894-1994).
desenvolvimento (9).
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
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Portuense. História da Indústria Portuguesa, da Idade Média aos nossos dias, Mem-
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(das Donas ?). Boletim da Associação Cultural os amigos de Gaia, volume IV.
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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos
Webgrafia
o Os planos para o Porto – dos Almadas aos nossos dias – o Plano de Cunha
(consultado em 12-10-2015)
2015)
%C3%A1gua/exposi%C3%A7%C3%A3o-permanente-patrim%C3%B3nio-
associado/reservat%C3%B3rio-da-m%C3%A3e-d-%C3%A1gua-das-amoreiras
(consultado em 12-11-2015)
2015)
2015)
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http://www.turismoindustrial.cm-sjm.pt/contents/view/historia (consultado em
12-11-2015)
(consultado em 05-01-2015)
07-03-2015)
do distrito, 1943
do distrito, 1943
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(TICCIH, 2003)
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Anexos
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Anexo I
1978
1980
1982
1985
1986
1987
1988
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1992
1993
1994
1995
1996
1997
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1998
1999
2000
Cuba, Cuba
2001
2004
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2005
2006
2007
2008
2009
2011
2012
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2014
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Anexo II
Livro cedido pela Srª. Odília – família Morais, 1909
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Torno manual utilizado na AC Cunha Morais, 1910-1920 – cedida por foto foco,2015
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Publicidade à fábrica dos Morais no jornal “O comércio de Gaia” de 1965 – cedido por
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Anexo III
Visita do Almirante Gago Coutinho a Crestuma em 1922 – cedida por foto foco, 2015
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Anexo IV
Barbosa & Irmãos
Documento cedido por antiga funcionária da Barbosa & Irmãos, D. Fernanda Castro
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Foto cedida por foto foco, 2015 – interior da fábrica num dia de trabalho, 1906-1910
Foto cedida por foto foco, 2015 - Esmagador de papel, servia para esmagar o papel velho para
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Anexo V
Foto cedida por foto foco, 2015 – Companhia de Fiação de Crestuma em 1887
Foto cedida por foto foco, 2015 –Companhia fiação de Crestuma entre 1969-1975
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Anexo VI
Poema “Olá Morais”, de Margarida Reis:
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