Projeto Mestrado Crestuma - Raquel Santos-2016

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

ISCET – INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS


EMPRESARIAIS E TURISMO

Crestuma, património e turismo industrial

Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Porto

2015/2016

Dissertação para obtenção de Grau de Mestre em Turismo e Desenvolvimento de Negócios.

Orientador: Professor Doutor Jorge Ricardo Pinto

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“Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória

não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir.”

José Saramago

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Agradecimentos

A paixão pela Terra que me viu nascer e pela sua história e identidade tornaram a

realização deste projeto num sonho realizado. No entanto, não posso deixar de referir as

pessoas que acreditaram e contribuíram para este trabalho.

Honras maiores vão para os meus pais que sempre fizeram de tudo para que hoje eu

chegasse à fase final deste mestrado, pelo incansável e incondicional apoio e

encorajamento desde sempre. À minha família e amigos.

Ao Professor Jorge Ricardo Pinto pela excelente orientação que, incondicionalmente,

me amparou durante o desenvolvimento desta investigação, por toda a sua dedicação,

confiança e sobretudo pela amizade que construímos ao longo destes anos. Ao ISCET em

geral, aos meus colegas do CHIP, ao Dr. Mário Bruno Pastor pela partilha de

conhecimentos e pela cedência de bibliografia.

Ao Senhor Alberto Moura, pelo apoio, partilha de saber e vivências e pela amizade

que construímos. À Associação Crastumia pela amizade e incentivo para este trabalho.

Aos Crestumenses, pelo apoio, carinho e informação disponibilizada.

Ao Solar Condes de Resende na pessoa da Dr.ª Fátima Teixeira e a todas as

instituições onde dediquei a minha pesquisa.

E porque os últimos são os primeiros, agradeço a alguém muito especial que muito

me ajudou ao longo destes anos. Daniel o meu muito obrigado pelo carinho, atenção,

companhia e pela paciência. Obrigada também à Ritinha e ao Guilherme que são a minha

força e a minha alegria.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Crestuma

Só sei o dia em que vim,

Não sei porque foi aqui

Porque vim sem endereço.

E eu, que não era de mim,

Tão depressa me nasci

Fui logo teu desde o berço!

Fui logo teu… nem me lembro

Ter sido, por terras mil,

Doutro rio, doutras casas!

Onde ao longe houver dezembro,

Há sempre um ninho de abril

Debaixo das tuas asas!

Terra amada, onde nasci

Onde brotei a cantar

Para a sede doutras bocas:

-Tu és minha, e eu sou de ti!

Voamos os dois a par,

Minha terra de asas loucas!

Minha terra!... Minha terra!...

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Um dia sei que te falto

E tu sabes que me perdes:

- Quem depois, do rio à serra,

Voará contigo ao alto

- Minha terra de asas verdes!?

Eugénio Paiva Freixo

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Resumo

O património de Crestuma, o caso de estudo abordado neste projecto de

investigação que procura identificar e caracterizar o legado industrial de um conjunto de

fábricas e estruturas de carácter produtivo no território junto à foz do Uíma. Este projeto

tem como objetivo fundamental alertar para os riscos que esse património corre e sublinhar

a necessidade urgente da sua preservação, tendo em conta que poderá constituir uma

oportunidade para o desenvolvimento local, através do turismo. Assim, foi realizado um

levantamento desses recursos, com fichas de caracterização e contexto geográfico. Por

fim, foi ainda elaborada uma rota de Turismo Industrial, combinando o património material

com o imaterial e oferecendo uma possibilidade de descoberta de um território ainda por

explorar e com escassos trabalhos monográficos realizados.

Palavras-chave: Crestuma, Indústria, Património Industrial e Turismo Industrial,

preservação.

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Índice

Agradecimentos ....................................................................................................... 3

Crestuma ................................................................................................................. 4

Resumo ................................................................................................................... 6

Índice de figuras .....................................................................................................10

Índice de tabelas .................................................................................................... 11

Lista de siglas e acrónimos.....................................................................................12

Capítulo I ................................................................................................................13

1.1 - Introdução ......................................................................................................14

1.2 - Enquadramento ..............................................................................................16

1.3 - Metodologia ....................................................................................................18

Capítulo II ...............................................................................................................22

2.1 - Arqueologia e Património Industrial ................................................................ 23

2.2 - Património e Turismo Industrial (casos de estudo) .........................................40

2.2.1 - Espaços Convertidos ...................................................................................42

2.2.2 – Rotas ..........................................................................................................44

Capítulo III ..............................................................................................................46

3.1- Estudo de caso de Património Industrial: "Crestuma" ......................................47

3.1.1 - Crestuma: evolução histórica e industrial .....................................................47

3.1.2 – Localização .................................................................................................51

3. 1. 3 - Crestuma evolução Industrial.....................................................................54

3.1.4 - As Fábricas ..................................................................................................55

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3.2. Património Industrial Perdido de Crestuma ......................................................65

3.3 Turismo em Crestuma.......................................................................................67

Capítulo IV ..............................................................................................................70

4.1 - Proposta de desenvolvimento – Rota .............................................................71

4.1.1 - Missão e objectivos .....................................................................................71

4.1.2 – Contextualização ........................................................................................71

4.2 – Mapa da Rota ................................................................................................72

4.2.1 – Pontos ........................................................................................................72

4.3 - Fichas de Património ......................................................................................73

a) Parque Botânico do Castelo ...............................................................................73

b) Fábrica de Fundição de Rufino José dos Santos ................................................75

c) Sociedade de Fundição e Metalurgia, Lda ..........................................................77

d) Fábrica de fitas e fiação d´algodão AC Cunha Morais ........................................79

e) Manuel Tavares & Irmão (fábrica do Tavares) .....................................................83

f) Barbosa & Irmãos ................................................................................................85

g) M. Guedes da Silva, Lda ....................................................................................87

h) Companhia de Fiação de Crestuma ...................................................................89

Notas conclusivas ...................................................................................................93

Bibliografia ..............................................................................................................95

Livros e artigos .......................................................................................................95

Webgrafia ...............................................................................................................98

Inquéritos, jornais e anuários ..................................................................................99

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Anexos .................................................................................................................101

Anexo I .................................................................................................................102

Anexo II ................................................................................................................107

Anexo III ............................................................................................................... 112

Anexo IV ............................................................................................................... 113

Anexo V ................................................................................................................ 115

Anexo VI ............................................................................................................... 118

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Índice de figuras

Ilustração 1 - Aqueduto e torre de fundição de Nova Oeiras, anos 1960 ........ .25

Ilustração 2 - Mina de Sal de Wieliczka, Polónia ............................................. 31

Ilustração 3 – Museu da Água......................................................................... 42

Ilustração 4 – Vista exterior do Ecomuseu do Seixal ....................................... 43

Ilustração 5 – imagem de marca da Rota de Turismo industrial de S. João da

Madeira ........................................................................................................... 44

Ilustração 6 – edifício do “Bairro operário” de Poblenou .................................. 45

Ilustração 7 – interior do edifício ..................................................................... 45

Ilustração 8 – barcos rabelos no Rio Douro, em Crestuma, por volta de 1895 -

1900................................................................................................................ 48

Ilustração 9 – mapa com localização geográfica de Crestuma ........................ 51

Ilustração 10 – gradeamento em ferro fabricado na antiga fundição de

Crestuma ........................................................................................................ 57

Ilustração 11 – cartão de identidade de sócio do sindicato, 1957 .................... 61

Ilustração 12 – Crestuma, ano 1943 ............................................................... 62

Ilustração 13 – uma das últimas feiras realizadas no lugar do Torrão, Crestuma,

s/d ................................................................................................................... 63

Ilustração 14 – anúncio publicitário da fábrica de Augusto Guedes Barbosa ... 66

Ilustração 15 – anúncio publicitário da fábrica de fundição de metais, Crestuma

....................................................................................................................... 66

Ilustração 16 – anúncio publicitário de fábrica de panelas de ferro em Crestuma

....................................................................................................................... 67

Ilustração 17 – mapa da Rota ......................................................................... 72

Ilustração 18 – Parque Botânico do Castelo, Crestuma – casa da Eira ........... 73

Ilustração 19 – foto centenária da fábrica do Rufino, ano exato desconhecido 75

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Ilustração 20 – edifício da antiga fábrica em obras ......................................... 76

Ilustração 21 – vista do edifício na atualidade ................................................. 76

Ilustração 22 – Sociedade de Fundição e Metalurgia, SOFUME em ruínas .... 77

Ilustração 23 – anúncio publicitário da SOFUME ............................................ 78

Ilustração 24 – Fim das construções da fábrica, 1890..................................... 79

Ilustração 25 – Anúncio publicitário A.C. da Cunha Morais, Crestuma ............ 80

Ilustração 26 – Interior da fábrica do Tavares, 2015 ........................................ 83

Ilustração 27 – anúncio publicitário da fábrica de papel e cartão .................... 84

Ilustração 28 – exterior da fábrica, 2015 ......................................................... 85

Ilustração 29 – anúncio publicitário da fábrica Barbosa & Irmãos ................... 86

Ilustração 30 – interior da fábrica, ano de 1975............................................... 86

Ilustração 31 – fábrica M. Guedes da Silva em ruínas .................................... 87

Ilustração 32 – anúncio publicitário da fábrica M. Guedes da Silva, Lda ......... 88

Ilustração 33 – vista da Companhia de Fiação de Crestuma........................... 89

Ilustração 34 – Inauguração do Busto do Comendador Pimenta da Fonseca no

exterior da CFC, 1917 ..................................................................................... 92

Índice de tabelas

Tabela 1 – fontes para o estudo do Património Industrial……………………....21

Tabela 2 – classificação do Património Industrial……………………………..…34

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Lista de siglas e acrónimos

AAIRL – Associação de Arqueologia Industrial da Região de Lisboa

APAI – Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial

APPI – Associação Portuguesa para o Património Industrial

DGPC - Direção Geral do Património Cultural

HPIP – Património de influência Portuguesa

ICOM – International Council of Museums

ICOMOS – Comissão Nacioal Portuguesa do Conselho Internacional de Monumentos

e Sítios

ISCET – Instituto Superior de Ciências Empresariais e Turismo

PDM – Plano director Municipal

SIPA – Sistema de informação para o Património Arquitetónico

TICCIH – The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage

UNESCO – organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura

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Capítulo I

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1.1 - Introdução

Pretende-se, numa primeira fase, a realização de uma abordagem teórica

relacionada com o Património e o Turismo Industrial que servirá como base orientadora do

estudo de um caso específico.

O surto industrial da primeira metade do século passado, embora localizado junto

das grandes cidades, deixou, ao longo das décadas mais recentes e de forma vincada,

marcas profundas no território e nas pessoas. São estruturas diversas que determinaram

em tempos alterações profundas, muitas vezes ainda hoje visíveis, na organização

territorial dos lugares com a fixação de agregados populacionais, com a criação e

exploração de vias de comunicação, com o aproveitamento exaustivo dos recursos

naturais, sem esquecer, para o bem e para o mal, a alteração, por vezes determinante, da

condição ambiental. Para além da alteração económica da vida quotidiana, o surto

industrial determinou uma profunda alteração sócio cultural tanto em termos individuais

como coletivos.

Este projeto visa, cima de qualquer outro objectivo chamar a atenção para a

necessidade de se preservar, valorizar e partilhar o muito património industrial ainda

existente em Crestuma, que é marca pedagógica e cultural de uma época que terá iniciado

com a revolução industrial dos finais do século XVIII e que foi determinante na mais

profunda alteração no progresso social e cultural dos portugueses.

A estrutura deste projecto de mestrado está organizada em quatro capítulos.

O primeiro circunscreve-se à introdução e inclui o enquadramento, a justificação da

investigação, bem como a metodologia.

O capítulo dois explora as questões teóricas em torno do património e do turismo

industrial.

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No capítulo três é abordado o estudo de caso da investigação, Crestuma. Neste

ponto será realizado o enquadramento histórico e territorial e seguidamente uma

caracterização em relação ao passado industrial e ao legado por ele deixado.

Por fim, o capítulo número quatro abarca a proposta de desenvolvimento deste

projecto com a elaboração de uma rota para o local.

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1.2 - Enquadramento

“Curiosidade, criatividade, disciplina especialmente, paixão são algumas das

exigências para o desenvolvimento de um trabalho baseado no confronto permanente

entre o desejo e a realidade.” Mirian Goldenberg

Se a curiosidade leva à descoberta e esta ao conhecimento bastará aliar uma grande

vontade e alguma habilidade para se produzir, minimamente, um trabalho credível e

objetivo. Se a tais pressupostos se juntar uma forte determinação fruto da grande paixão

que se nutre pelo seu rincão natal, pela sua dedicada gente e pela riqueza da sua

ancestral história, a motivação para executar a tarefa será, inevitavelmente, mais fácil e

mais rica nos seus resultados.

Assim, Crestuma, terra milenária com condições turísticas de eleição no que

concerne à sua beleza paisagística, será o objeto desta investigação e sobretudo

focalizada na sua vertente industrial. A diferentes escalas, Crestuma, teve, no seu

passado, uma posição marcante no que à indústria diz respeito. Vila Nova de Gaia foi

mesmo considerada um dos mais diversificados centros industriais portugueses no período

Fontista1 e Crestuma para isso contribuiu de forma determinante. Como Gonçalves

Guimarães afirma “ainda existem muitas estruturas, vestígios e peças das suas fábricas e

oficinas. Mas tal ambiente fabril não tem sido objeto de muitos trabalhos de Arqueologia

Industrial, restando pois grande parte deste espólio por estudar”. (Guimarães, 1995:225)

Os documentos históricos e muitas das estruturas construídas que ainda perduram,

embora a sua degradação permaneça incontrolável, são demasiado valiosos para serem

desprezados. Aos proprietários, herdeiros, aos responsáveis das instituições públicas e

1
Fontismo – partido político e doutrina económica de Fontes Pereira de Melo. O período em que
Fontes Pereira de Melo foi ministro das obras públicas, comércio e industria, a Regeneração (1871-1887), e que
marcou o país com várias acções de modernização do país, ao nível de obras públicas e infra estruturas e no
desenvolvimento dos transportes. In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira – volume XI – editorial
enciclopédia, Limitada. Lisboa – Rio de Janeiro (1833-1983).

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mesmo à população torna-se necessário alertar para a necessidade de preservação de tão

precioso espólio histórico. Desde imóveis, alguns de significativa imponência, a produtos

fabricados, de maquinaria da época, a estruturas de apoio industrial, passando pelo fabrico

e transporte de mercadorias, como caminhos e cais fluviais de embarque e, ainda, escritos

e imagens que são testemunhos históricos de grande valor, muito ainda resiste, embora

em frágil estado de conservação.

Para além do objetivo de despertar consciências para a riqueza cultural e histórica

deste património industrial, presidiu à escolha do tema deste projecto a perspetiva futura de

um aproveitamento pelo Turismo Industrial e a sua inclusão em roteiros turísticos por parte

de operadores nacionais e internacionais.

O facto de recentemente ter sido confirmada por uma equipa de arqueólogos a

existência de um cais fluvial tardo-romano (séc. IV) e terem sido recolhidas inúmeras peças

em cerâmica da mesma época, na antiga zona industrial de Crestuma, é revelador da

vocação histórica desta localidade secular no que à indústria diz respeito.

Num tempo de tantas dificuldades, quando tanto se fala de sustentabilidade,

reutilização e de memória, talvez seja altura de utilizarmos o passado enquanto chave para

futuro, tanto mais que Crestuma é um território periférico de uma área metropolitana com

uma elevada taxa de desemprego, mas com uma crescente procura turística. Abundam

recursos de arqueologia industrial e paisagens extraordinárias. Falta lapidar o diamante e

preservar o bom que o concelho de Vila Nova de Gaia tem para oferecer com óbvias valias

económicas e identitárias para o futuro.

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1.3 - Metodologia

Toda e qualquer pesquisa necessita de uma estrutura básica antes do seu início.

Esta estrutura é o desenho da pesquisa. (Vasconcelos, 2002)

Após a esquematização da investigação, foi realizada a revisão literária

relativamente ao Turismo e Património Industrial em Portugal e uma retrospetiva desde os

primórdios desta temática que, em alguns aspectos, se encontra ainda numa fase inicial.

Em termos conceptuais, a revisão literária foi efetuada de uma forma mais genérica e

abrangendo diferentes países (nomeadamente na Inglaterra e Espanha) e autores, uma

vez que, em Portugal, o desenvolvimento deste tipo de turismo é ainda uma realidade

muito recente e a produção cientifica ainda escassa. Em termos temporais foi aprofundado

o século XIX e início do XX, altura que a indústria teve um papel preponderante, no caso

concreto de Vila Nova de Gaia e Crestuma.

O critério utilizado para a identificação do Património de Crestuma arrancou com um

levantamento das entradas na DGPC - Direção Geral do Património Cultural (disponível

em http://www.patrimoniocultural.pt), uma vez que é a entidade responsável pela gestão do

património cultural em Portugal. Todavia, não foram encontrados registos para Crestuma.

Seguidamente, foi consultado também o SIPA (disponível em www.monumentos.pt). Nesta

ferramenta, foram encontrados os seguintes resultados:

- Capela do Aral – arquitetura religiosa;

- Casa da Quinta da Estrela – arquitetura residencial;

- Igreja Paroquial de Crestuma/Igreja de Santa Marinha – arquitetura religiosa.

Para além destas bases de dados, foi utilizado o Plano Diretor Municipal de Gaia

(PDM) disponível em www.gaiurb.pt, que assinala o património edificado como sendo de

interesse ao nível do Património Arquitectónico, onde constam os seguintes elementos:

- Fábrica de Fiação a Juvenil de Alves & Barbosa;

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- Complexo Fabril Fiação e Tecelagem A.C. de Cunha Moraes

- Casa na Rua da Fontinha;

- Casa na Calçada de Igreja;

- Companhia de Fiação de Crestuma

- Quinta das Hortas

- Fábrica Barbosa & Irmãos

- Quinta da Estrela

O Inventário do PDM encontra-se sintetizado em fichas Individuais de classificação

que contêm informação sobre o imóvel, conjunto ou sítio. Cada ficha individual, além das

fotografias necessárias à identificação do Património aborda dois temas: a caracterização e

o ponto de situação atual. Através destas informações conseguimos obter um conjunto de

dados que nos possibilitaram um conhecimento abrangente de cada elemento inventariado.

Uma vez que a recolha de elementos identificados como recursos turísticos era

escassa, foi realizada uma pesquisa ao nível de edificado com interesse histórico e industrial

em Crestuma, utilizando dados e fontes primárias e secundárias. A recolha de dados foi

executada no projeto de investigação denominado CHIP - Culture, Heritage and Identity in

Porto, que procede ao estudo pormenorizado de todo o património identificado no Plano

Diretor Municipal da área metropolitana do Porto. Neste caso concreto, foi abordado o

património de Vila Nova de Gaia, do qual faz parte a herança industrial de Crestuma.

As fontes para o estudo do património industrial são diversas e complementares,

permitindo, em muitas situações, a constituição de uma pesquisa mais coesa e vasta em

termos de conhecimento. De acordo com Pardo Abad (2008), os tipos de fontes para o

estudo do património industrial compreendem tanto as fontes tradicionais (documentais

e/ou escritas) como as orais.

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Tabela 1 – Fontes para o estudo do património industrial

Tipo Elementos
Arquivos históricos
Tradicionais
Livros
Revistas
Arquivos de empresa
Catálogos industriais
Complementares
Anúncios publicitários
Guias comerciais
Folhetos
Fotografias antigas e atuais
Iconográficas
Planos de construção e renovação de projectos
Memória colectiva
Orais
Memórias e testemunhos dos trabalhadores e
empresários
(Elaboração própria - Fonte: Pardo Abad, 2008: 31)

Nesta investigação concreta foram utilizados todos os tipos de fontes mencionadas

por Pardo Abad (2008), embora se tenham destacado as fontes tradicionais, tais como os

Anuários Industriais, Comerciais, os Inquéritos industriais, os Almanaques, os jornais e

documentos institucionais, uma vez que a informação é escassa e encontra-se

fragmentada em diversos acervos, arquivos e bibliotecas, como será referido

seguidamente. Neste sentido, consultamos o Arquivo Distrital do Porto, o Arquivo Histórico

de Gaia e do Porto, a Biblioteca Pública Municipal do Porto, a Biblioteca Municipal Almeida

Garrett, a Biblioteca de Gaia, a GAIURB, a Biblioteca do Solar Condes de Resende e a

Biblioteca do ISCET, bem como a Junta da União de Freguesias de Sandim, Olival, Lever e

Crestuma.

Ao longo da investigação deparei-me com algumas dificuldades, sobretudo no que

concerne ao acesso à informação, maioritariamente no que às fontes fidedignas diz

respeito. Para além desta, o acesso a informação e documentos deparou-se com

obstáculos que, em muitos casos, tornaram impossível o acesso. Por outro lado, o

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processo burocrático dificultou muito a pesquisa, tornando complexo aquilo que poderia ser

simples e organizado.

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Capítulo II

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2.1 - Arqueologia e Património Industrial

O dicionário de Língua Portuguesa define a indústria como sendo “uma actividade

económica que se baseia numa técnica, dominada, em geral, pela presença de máquinas

ou maquinismos, para transformar matérias primas em bens de produção e de consumo”.

(Porto Editora, 2015). À atividade industrial está associado um espaço físico para a

produção, a fábrica, à qual se associam técnicas e métodos de produção específicos, bem

como todos os pormenores ligados aos horários de laboração e às atividades inerentes.

Neste contexto acrescentamos uma outra definição que consta no novo dicionário Lello da

Língua Portuguesa que define a indústria como uma “arte, manha ou destreza para

agenciar ou ganhar a vida. Engenho ou habilidade para fazer obras úteis, manuais,

mecanismos, etc, e para deles se servir. Profissão mecânica, fabril ou mercantil.” (Novo

dicionário Lello da Língua Portuguesa1996:1042)

A materialidade técnica é um dos vestígios identitários mais importantes da História

da Humanidade. Desde sempre andou associada à própria evolução, da cultura, no seu

sentido lato, e das mentalidades e contextos sociais ao longo do tempo. (Folgado:

2001:65). Ainda neste contexto, Choay refere que as noções de “monumento e cidade

histórica, património cultural e urbano, e as suas figuras sucessivas fornecem um

esclarecimento privilegiado sobre o modo como as sociedades ocidentais assumiram a sua

relação com a temporalidade e construíram a sua identidade”. (Choay, 2000:181).

Por forma a compreender melhor a relação destes conceitos, inicialmente será feita

uma caracterização relativa à evolução do conceito de Arqueologia Industrial. Esta advém

do conceito de Património industrial, isto é, da patrimonialização de estruturas relacionadas

com a indústria, que começaram a ter importância após a II Guerra Mundial. O termo foi

cunhado por Michael Rix em 1955, na obra “The Amateur Historian”, uma publicação

inglesa do pós guerra que inicia a discussão sobre a herança industrial. O autor utiliza a

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

expressão Industrial Archeology para se referir ao estudo, e preservação, de estruturas

fabris do início da Revolução Industrial, mas também para estruturas relacionadas com os

transportes (estações de comboio; transportes urbanos, etc) e com a produção energética

(centrais termo elétricas ou de produção de vapor).

É importante notar, todavia, que, em Portugal, em 1896, numa publicação de

Francisco Sousa Viterbo intitulada “Archeologo Portuguez”, é referida de forma pioneira a

necessidade de estudar e preservar os moinhos de vento em Portugal, que começavam a

ficar obsoletos. O termo usado por Sousa Viterbo (archeologia industrial), acabou por cair no

esquecimento e só na década de 50 do século XX voltou a ser utilizado por Rix: Industrial

Archeology.

Nesse texto de 1896, Viterbo faz o reparo relativamente à degradação constante de

que os moinhos estariam a sofrer: “é com profunda saudade que vejo desapparecer pouco a

pouco os vestigios da nossa antiga atividade, da nossa industria caseira. A machina vae

triturando tudo no seu movimento vertiginoso, sem que mão piedosa se lembre de apanhar

esses restos, humildes mas gloriosos, depositando-os depois em sitio, onde possam ser

cuidadosamente estudados e onde a curiosidade lhes preste o merecido culto.” (Viterbo,

1896: 193). A abordagem de Sousa Viterbo parece coincidir com as premissas da

arqueologia industrial, lançadas efectivamente mais de meio século depois. Neste mesmo

trabalho, Sousa Viterbo refere ainda que “antes que tudo se perca irremediavelmente,

salvemos pela descripçao e pela estampa o que ainda nos resta, dilacerado e partido, dos

antigos documentos da laboriosidade portuguesa.” (Viterbo, 1896: 194)

Ainda em relação ao estudo da arqueologia industrial em Portugal, há outra

curiosidade histórica digna de referência. A primeira fábrica classificada como imóvel de

interesse histórico foi a fundição de Nova Oeiras2, em Angola, no ano de 1925 (a fábrica é

2
Real fábrica do Ferro, Nova Oeiras, Kwanza – Angola. Dois séculos passados, apenas subsistem ruínas,
ainda impressionantes: “dois troços da represa das águas do Luínha, o aqueduto de 22 arcos de cerca de 118

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de 1767). Este exemplo é o primeiro de patrimonialização de uma infra estrutura industrial

no mundo, (publicado no Diário do Governo de 28 de Maio de 1925), embora de forma

isolada.

Ilustração 1 - Aqueduto e torre de fundição de Nova Oeiras, anos 1960

Fonte: página institucional do HPIP

José Lopes Cordeiro, no I encontro Nacional sobre o Património Industrial definiu a

arqueologia industrial como sendo uma disciplina de implementação recente e, por isso,

tem-se verificado nos últimos anos, consideráveis desenvolvimentos nos estudos nesta

área do conhecimento histórico, de onde se destacam trabalhos de natureza monográfica.

Cordeiro, investigador de referência nesta área de pesquisa, refere ainda que, no que

respeita ao inventário de monumentos e sítios de natureza industrial, tal incremento não

tem sido tão significativo, excetuando, obviamente, casos isolados. “Esta situação

contrasta com o facto de a evolução tecnológica e o próprio crescimento económico

(desenvolvimento industrial, crescimento urbano, expansão da rede viária) adquirem

atualmente uma velocidade que cresce em progressão geométrica, de tal modo que cada

metros de comprimento, condutor da água para mover os engenhos, um grande compartimento para as rodas
hidráulicas, um forno de fundição, uma grande ferraria com três armazéns e um canal para escoar a água”.
Retirado da página institucional do HPIP – Património de Influencia Portuguesa.
(http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=2061)

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dia ficam mais desfasadas indústrias que até há bem pouco tempo representavam os

setores mais avançados da atividade económica. Consequentemente, ficam também mais

ameaçadas de destruição, correndo-se por vezes o risco de perder testemunhos

insubstituíveis de uma determinada época, se não se atuar com a brevidade que a

situação requer. De salientar portanto, a necessidade de inventariar este tipo de

património, a fim de que ainda seja possível registar os elementos mais significativos do

nosso passado industrial”. (Cordeiro: 1990:265)

Sobretudo na Inglaterra e na Alemanha, foram patrimonializadas estruturas

industriais a partir da II Guerra Mundial, todavia Portugal não seguiu essa tendência. Seria

necessário esperar pela Revolução dos Cravos, em 1974, para que o património industrial

tivesse os seus pioneiros estudos universitários em Portugal. Conforme Cordeiro sublinha,

“em Portugal, o interesse pela arqueologia industrial despontou pouco tempo após o 25 de

abril de 1974, vindo no entanto a adquirir uma expressão organizada algum tempo mais

tarde, no âmbito do movimento de salvaguarda do património cultural surgido a partir de

1976. Apesar de nos últimos anos ter aumentado o interesse pela arqueologia industrial,

esta encontra-se ainda numa fase embrionária”. Devido a este atraso significativo na

atenção prestada à herança industrial verifica-se, ainda hoje, uma escassez de trabalhos

científicos e de investigação nestas áreas. (Cordeiro 2000: 118).

Mas em regra geral, a partir da década de 70 do século XX, o património e a

arqueologia industriais passam a ser alvo de maior preocupação e atenção por parte de

vários países europeus com o surgimento de várias associações que tomam a defesa deste

legado, como o TICCIH, a UNESCO ou a ICOMOS.

Tendo por linha de base a UNESCO, o Património Cultural é definido como

“monumento, conjunto de edifícios ou sítio de valor histórico, estético, arqueológico,

cientifico, etnológico e antropológico” (retirado da página oficial do instituto cultural de

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

macau). Segundo este organismo, nos monumentos estão englobadas as “obras

arquitectónicas, trabalhos de escultura e pintura monumentais, elementos ou estruturas de

natureza arqueológica, inscrições, habitações rupestres e combinações de estilos que

sejam de valor universal incalculável do ponto de vista histórico, artístico e científico”;

(idem) já nos conjuntos de edifícios reúnem-se os “grupos de edifícios, separados ou

contíguos, que devido à sua arquitectura, homogeneidade e situação na paisagem sejam

de um valor universal incalculável do ponto de vista histórico, artístico ou científico”. Por

ultimo, os sítios “obras efectuados pela mão do Homem ou obras combinadas do Homem e

da Natureza e zonas, incluindo sítios arqueológicos, que sejam de valor universal

incalculável do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico”. (idem)

Segundo a lei de bases do património português (lei nº 107/2001 de 8 de Setembro),

nomeadamente os artigos 1,3 e 4, o Património Cultural, inclui:

1. Para os efeitos da presente lei integram o património cultural todos os

bens que, sendo testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de

interesse cultural relevante, devam ser objecto de especial protecção e valorização.

3. O interesse cultural relevante, designadamente histórico, paleontológico,

arqueológico, arquitectónico, linguístico, documental, artístico, etnográfico, científico,

social, industrial ou técnico, dos bens que integram o património cultural refletirá valores de

memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou

exemplaridade.

4. Integram, igualmente, o património cultural aqueles bens imateriais que constituam

parcelas estruturantes da identidade e da memória colectiva portuguesas.

No que refere à legislação portuguesa que trata do património cultural imóvel,

sublinhe-se também a importância do decreto-lei nº 309/2009 de 23 de outubro que

estabelece o procedimento de classificação dos bens imóveis de interesse cultural, bem

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

como o regime das zonas de protecção e do plano de pormenor de salvaguarda. O

diploma entrou em vigor em janeiro de 2010, e teve várias actualizações sendo a mais

recente o Decreto Lei nº 265/2012, de 28 de dezembro.

O conceito de património cultural português implica a existência de um conjunto de

bens materiais e imateriais, cujo valor seja reconhecido como imprescindível para a

permanência da identidade da cultura portuguesa. Por estes bens, José Amado Mendes,

entende todos os vestígios de índole política, militar, diplomática, artística e religiosa.

Contudo, o autor defende que, dentro do conceito de património cultural, devem ser

incluídas outras vertentes atuais ou ancestrais relativas às atividades do homem, desde

artísticas, científicas, tecnológicas ou que mencionem fatos de trabalho, costumes ou lazer.

O mesmo autor faz referência à Lei nº 13/85 de 6 de julho, dedicada ao património cultural

português, onde consta no artº 1º do referido documento que “o património cultural

português é constituído por todos os bens materiais e imateriais que, pelo seu reconhecido

valor próprio, devam ser considerados como de interesse relevante para a permanência e

identidade da cultura portuguesa através do tempo”. (Mendes: 1990: 112).

Em termos concetuais, e de acordo com o mesmo autor, tem-se verificado nas

últimas décadas, uma profunda transformação no conceito tradicional de património

cultural. Atualmente, o património cultural é mais abrangente, e é essencialmente um

reflexo da ideologia e mentalidade predominantes. Assim, não surpreende que, com a

evolução histórica, o conceito de património, especialmente no que concerne à sua

vertente cultural, também tenha vindo a sofrer profundas alterações. Consequentemente,

urge estudar, preservar e reutilizar numerosas estruturas industriais, já desativadas, mas

que apresentam potencialidades para entrarem num novo “ciclo de vida”, continuando ao

serviço da comunidade. (Mendes 2000:197-198)

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

O mesmo autor refere que, por finais do século XIX, com uma certa valorização das

artes tradicionais, alguns autores começaram também a perspectivá-las em termos de

património cultural. A esse respeito, e no seguimento do que atrás foi afirmado, não deixa

de ser interessante que tenha sido, precisamente a propósito de uma actividade artesanal

– os moinhos –, que Francisco de Sousa Viterbo sugeriu que se criasse um novo ramo do

saber – a arqueologia industrial. (Mendes 2000:199)

Património Industrial

Segundo Cordeiro, “as destruições massivas provocadas pela II Guerra Mundial –

uma vez que as instalações industriais eram um dos alvos que os bombardeamentos de

aviação procuravam atingir-, e a reconversão industrial e urbanística que se lhe seguiram,

constituíram dois dos aspetos fundamentais que estiveram na base do processo de

formulação de um novo conceito, o do património industrial”. (Cordeiro, 2000:117)

A expressão Património industrial surge em Inglaterra, já na década de 60 com a

introdução do termo industrial heritage, por Aubrey Wilson, em 1967 num livro da sua

autoria com o título “London´s Industrial Heritage”. A sua abordagem vai para além da

história e arqueologia, juntando também a questão do património e da sua importância

para o conhecimento.

As preocupações relativas ao património industrial, em Portugal, como já referido,

desenvolveram-se por influência internacional, na década de 70, de onde resultam

algumas iniciativas culturais direccionadas para este tipo de matéria, nomeadamente, em

exposições e outras iniciativas. Destaca-se em 1985 a realização da exposição A

Arqueologia Industrial: um Mundo a Descobrir, um Mundo a Defender, organizada pela

AAIRL em Lisboa. Um ano após, dada a afluência à anterior, em Coimbra, Guimarães e

Porto concretizou-se o I Encontro Nacional sobre o Património Industrial. Em 1988 foi

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

composta a APAI que sucedeu à AAIRL, primeiro organismo criado no âmbito do

Património Industrial em Portugal, (1980-1986). Anos mais tarde, em 1997 surge, no Porto

a APPI que e o organismo representativo do TICCIH em Portugal.

Ainda relacionado com o estudo de todos estes conceitos, é fundamental referir a

carta de Nizhny Tagil sobre o Património industrial, elaborada pelo organismo The

International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH)3, em 2003

onde constam os principais conceitos sobre o tema que permitem o conhecimento da

história local, regional e nacional. Segundo este documento, o património industrial

compreende “os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico,

social, arquitectónico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas,

fábricas, minas e locais de processamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros

de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas

estruturas e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram actividades

sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação”.

(TICCIH: 2003:3). Ainda neste documento, é abordado ainda o conceito de arqueologia

industrial, que se define como “um método interdisciplinar que estuda todos os vestígios,

materiais e imateriais, os documentos, os artefactos, a estratigrafia e as estruturas, as

implantações humanas e as paisagens naturais e urbanas criadas para ou por processos

industriais. A arqueologia industrial utiliza os métodos de investigação mais adequados para

aumentar a compreensão do passado e do presente industrial.” (idem)

3
TICCIH é uma organização internacional direcionada para a preservação do património industrial. Foi
criada oficialmente em 1978 na Suécia através de um congresso de especialistas neste tipo de turismo.
Publicaram em 2003 a Carta de Nizhny sobre o Património Industrial onde os delegados deliberaram aquando
da conferência do TICCIH no mesmo ano, que os edifícios e as estruturas construídas para as atividades
industriais, os processos e os utensílios utilizados, as localidades e as paisagens nas quais se localizavam,
assim como todas as outras manifestações, tangíveis e intangíveis, são de uma importância fundamental.
Todos eles devem ser estudados, a sua história deve ser ensinada, a sua finalidade e o seu significado devem
ser explorados e clarificados a fim de serem dados a conhecer ao grande público. Para além disso, os
exemplos mais significativos e característicos devem ser inventariados, protegidos e conservados, de acordo
com o espírito da carta de Veneza, para uso e benefício do presente e futuro.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Para além do TICCIH, a UNESCO tem também tratado deste tema, elencando uma

lista de Património Mundial. (ver anexo I). Em 1978 foi incluído o primeiro exemplar

industrial: As Minas de Sal de Wieliczka na Polónia.

Ilustração 2 - Mina de Sal de Wieliczka, Polónia

Fonte: cracovia.net

São inúmeros os casos de velhas estruturas com valor cultural indiscutível a

necessitarem de intervenções de restauro e dinamização dos espaços, visando uma oferta

turística de eleição, diversificada e única.

O DGPC (Direção Geral do Património Cultural), a APPI (Associação Portuguesa

para o Património Industrial) e o TICCIH (The International Committee for the conservation

of the Industrial Heritage), já referenciado, são exemplos de organismos orientados para a

investigação e preservação dos muitos vestígios e testemunhos industriais.

Em termos de legislação nacional, a propósito do Património Industrial, verificamos

uma carência de regulamentação clara no atual quadro normativo e legislativo. A única

referência a esta tipologia existente na actual legislação, encontra-se na lei de bases do

património, artigo 2º, no “conceito e âmbito do património cultural” e no ponto 3 do mesmo

artigo, já transcrito acima. Em lado algum é, todavia, esclarecido o que é o património

industrial nem qual é o seu significado.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Carlos Abad refere que a herança da Revolução Industrial é ampla nas sociedades

desenvolvidas. A generalização do processo de produção industrial dos últimos dois

séculos, embora com diferenças cronológicas importantes segundo regiões e países,

criaram um conjunto abrangente de estruturas, tanto edifícios e maquinarias como

territórios associados a este sistema de produção. O mesmo autor refere ainda que o

abandono e o encerramento de fábricas tem sido um aspeto marcante da modernização da

produção, onde muitos espaços vazios existentes, estão repletos de elementos profundos

da memória colectiva das gerações passadas. E tenta ainda demonstrar que estes

espaços poderiam ser recuperados e reutilizados em termos funcionais, com uma

finalidade distinta daquela inicial. (Carlos Abad, 2008: 11).

A tomada de consciência da verdadeira dimensão patrimonial e da riqueza dos seus

vestígios tem sido, atualmente, mais vincada, dado que as sociedades e as culturas

começam a preocupar-se com a herança patrimonial que as rodeia, embora, em grande

parte dos casos, o estado de degradação e vandalismo é tal que pouco resta em termos

materiais do passado, perdendo-se desta forma a essência de todos estes conceitos. Há

que voltar a referir que este conceito de património industrial é o mais “jovem” de todos os

tipos de património dado que abarca um conjunto de estruturas, peças e máquinas que

foram utilizadas, em muitos casos, recentemente. Também se caracteriza por ser muito

abrangente devido aos inúmeros exemplares disponíveis nos países mais desenvolvidos

(Carlos Abad, 2008: 12). De acordo com o mesmo autor, o quadro abaixo mostra a

classificação do património industrial, onde é possível verificar a diversidade existente, pelo

que o autor não considera apenas o espaço físico (arquitectónico), mas sim tudo o que o

complementa: o espaço de fabricação, o lugar, o processo produtivo e a ocupação do

território. (Carlos Abad, 2008: 15).

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Tabela 2 - Classificação do Património Industrial

Tipo Caraterização

Refere-se a todos os bens materiais herdados da


Material industrialização

 Imóvel – fábricas; oficinas; minas; colónias…

 Outros materiais - Arquivos documentais; fotografias,


máquinas, ferramentas, etc…

Refere-se a todos os bens não materiais que rodeiam a cultura


industrial.
Imaterial
Conhecimento do mundo laboral; tradições; costumes; formas
de vida; saber fazer; memória do trabalho…

Elaboração própria - (Fonte: Pardo Abad, 2008: 14)

No 1º volume das atas do I encontro Nacional sobre o Património Industrial, José

Amado Mendes definiu a arqueologia industrial como uma disciplina multidisciplinar por

excelência, que apresenta uma vasta gama de potencialidades, residindo precisamente aí

um dos seus principais aliciantes. (Mendes, 1989: 31). Provavelmente, o vetor mais vezes

sublinhado é o que se refere ao contributo que a arqueologia industrial dá à história,

nomeadamente à história da indústria, da tecnologia, do operariado, dos técnicos, dos

empresários. Através do recurso às fontes materiais, isto é, aos monumentos industriais –

minas, fábricas, hangares, entrepostos ou pontes, uma velha máquina a vapor, um barco

ou um avião – é possível minimizar os perigos da utilização exclusiva dos documentos

escritos. Dianne Newell escreve, a este propósito: “os documentos escritos, que durante

muito tempo foram os instrumentos privilegiados dos estudos históricos, são em si mesmos

particularmente delicados, já que representam sobretudo as opiniões da minoria que num

dado contexto cultural…” (Dianne Newell citada in Mendes, 1989: 32)

Nas últimas décadas o turismo tem vindo a adquirir uma importância significativa no

que concerne à sua dimensão, com impactos cada vez mais substanciais na economia

mundial. Esta realidade tem aumentado a aposta na dinamização de áreas

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

descentralizadas, para permitir o seu desenvolvimento ao nível local e regional. E, neste

sentido, o património industrial tem-se revelado um importante recurso turístico, como faz

notar Cordeiro.

“Na Europa e noutros continentes, como a América do Norte e do Sul ou na Ásia, e

nos quais têm sido apresentadas diversas rotas e itinerários de turismo industrial.

Actualmente, o turismo industrial regista uma rápida evolução, passando de simples projetos

com carater exploratório a formas profissionais de oferta turística, com a entrada em cena

de empresas procurando explorar um sector que se apresenta promissor do ponto de vista

económico”. (Cordeiro, 2012: 9)

O mesmo autor refere ainda que, apesar de ser um tipo de turismo em

desenvolvimento acelerado, na actualidade, “não é, contudo, uma tarefa fácil promover

actividades turísticas com base no património industrial, principalmente quando se pretende

que as mesmas contribuam efectivamente para a salvaguarda do património e também para

o desenvolvimento económico e social das regiões onde se desenvolvem. São conhecidos

múltiplos casos de projectos fracassados, precisamente porque não foram levadas em

consideração as especificidades que a utilização turística deste património requer”

(Cordeiro, 2012: 12). Na mesma linha de raciocínio o mesmo autor refere que as rotas ou

itinerários têm constituído as soluções preferenciais para a atracção de visitantes a sítios

industriais. As rotas podem estar organizadas de acordo com dois critérios: - o temático, que

se cinge a um determinado sector de atividade industrial e o geográfico que liga os vários

elementos do património industrial existente numa determinada cidade ou região. (idem)

Para Folgado (2001), a transformação da paisagem industrial é perceptível em três

períodos históricos: a pré-industrialização, a manufactura e a industrialização.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Tendo por linha orientadora a obra “História da Indústria Portuguesa”, faremos uma

caracterização geral acerca da evolução da indústria para melhor compreendermos onde

se enquadra o caso de estudo em desenvolvimento neste trabalho de investigação.

Os autores da referida obra (Rodrigues e Mendes, 1999) afirmam que, na verdade, a

história da indústria ainda está por fazer. No início da década de 60 – período em que é

publicada cerca de uma dezena de estudos sobre a indústria em Portugal -, A.H. de

Oliveira Marques afirmava num lamento: «a enumeração das principais “indústrias” tem

sido feita por vários autores: a olaria e utensilagem de madeira, curtumes, têxteis de

inferior qualidade e confecções de vestuário, moagem, ourivesaria, metalurgia, construção

naval, marcenaria, saboaria e outras menores (sericultura, tinturaria, armamento, etc.)».

Neste contexto o autor chama a atenção para a escassez de trabalhos monográficos e de

investigação para cada uma destas “artes” e refere o trabalho pioneiro de alguns autores,

nomeadamente Francisco Sousa Viterbo (1845-1910), H. da Gama Barros (1833-1925),

Alberto Sampaio (1841-1908), João M. Esteves Pereira (1872-1944) e J. de Oliveira

Simões (1875-1944). (Rodrigues, 1999: 16).

O trabalho de investigação é por si só um trabalho árduo, o que em alguns

momentos, poderá servir de justificação para a desistência ou o desinteresse no trabalho,

tendo em conta dificuldade em encontrar documentação e bibliografia específica para a

temática em estudo. Todavia, Oliveira Marques acrescenta que não sendo os documentos

muito numerosos, o que tem falhado é sobretudo a paciência dos investigadores e o

interesse pelo problema, e que a escassez de fontes não desculpa as omissões de

trabalhos, pois «quando se investiga, os resultados colhidos na documentação avulsa

mostram-se compensadores do tempo despedido». (Oliveira Marques citada in Rodrigues,

1999: 17).

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Só nos últimos anos é que se começaram a verificar alguns estudos aprofundados

sobre a indústria na Idade Média em Portugal. Em termos concretos, a exploração mineira

e a metalurgia, foram actividades económicas importantes neste período. (Rodrigues,

1999: 49). Mas a herança territorial pode ser ainda mais longínqua temporalmente. A serra

de Valongo é um exemplo das marcas deixadas pelos Romanos aquando da sua

passagem pela Península Ibérica. Nesta região há vestígios de castros onde foram

encontradas mós para a moagem do minério. As explorações mineiras datam do séc. I e

estenderam-se até ao séc. III d.c, das quais ficaram alguns vestígios, os fojos, as galerias

e os poços. Como exemplo destacamos o fojo da Valéria, em Valongo.

No período da reconquista, a necessidade de ferro e outros metais era muito sentida,

mais a sul do que a norte, nomeadamente espadas, escudos, lanças, mas também como

utensílios para o dia a dia: pregos, arados, enxadas, sachos, gadanhas, foices, portões e

grades entre outros. (Rodrigues, 1999: 50).

Na verdade, a evolução tecnológica até à Revolução Industrial caracterizou-se

sempre por pequenos passos de muitas experiências menores. (Rodrigues, 1999: 71).

De acordo com a mesma obra, mas num texto da autoria de José Amado Mendes

que aborda a indústria durante o liberalismo, na transição do século XVIII para o século

XIX, a economia portuguesa apresentava uma situação relativamente desafogada e, por

isso, estariam desta forma reunidas todas as condições para o arranque da Revolução

Industrial. Obviamente, este contexto não se verifica em todos os países, dadas as

condições de desenvolvimento díspares. Essa diferença geográfica criou um padrão

territorial em que, “os países centrais tornaram-se democracias industrializadas; aos

países da periferia, contudo, com um passado histórico muito diferente, faltou o ímpeto

interno para procederem a tal transformação”. A invenção e posterior aplicação da máquina

a vapor veio permitir a criação de novas indústrias, a sua libertação geográfica das

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

margens dos rios, e uma fabricação mais sofisticada e em números finais imensamente

superiores aos verificados anteriormente. Contudo, as limitações organizativas e de

investimento eram notórias, e no caso Português, por falta de capital para investimento,

eram propriedade e de gestão familiar. (Mendes, 1999: 79 -80)

O desenvolvimento da indústria, mesmo ultrapassadas as contingências de natureza

militar – guerra das laranjas (1801) e Guerra Peninsular (1807-1811) -, continuava a

deparar-se com diversos obstáculos, no que concerne às limitações do mercado interno e

à escassez de grandes aglomerados populacionais, eventualmente com a exceção de

cidades como Lisboa e Porto, assim como na impreparação de técnicos e empresários

portugueses da época. “A despeito dos entraves apresentados, o ambiente industrial

português foi-se alterando na segunda década de oitocentos, uma vez que a estrutura

produtiva, composta por unidades de pequena dimensão, assegurava o essencial da

produção de artigos de consumo corrente, desde têxteis aos vestuários e calçado, da

cerâmica e do vidro aos utensílios metálicos, da habitação e mobiliário” (Mendes, 1999:

182)

Em termos de espaços criados, destacam-se fábricas de papel na região de Lisboa,

bem como em Tomar, Coimbra e Santa Maria da Feira, destacando-se nas últimas três

áreas, a indústria papeleira que adquiriu importância nos últimos dois séculos. Acrescente-

se que também noutros ramos industriais se verificou um certo desenvolvimento. Assim,

em 1809 foi criada a Fábrica Nacional de Fundição de Ferro e Bronze de José Pedro

Collares & Filhos, em Lisboa. Manteve-se com pequenas dimensões até 1843, altura em

que viria a transformar-se num grande estabelecimento.

No Porto e em Vila Nova de Gaia, situava-se outro pólo da indústria de fundição,

tendo ali sido criadas, entre 1816 e 1829, trinta e oito oficinas, grandes e pequenas, com

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

um total de 473 operários, numa média de 12.4 operários por estabelecimento. (Mendes,

1999: 183).

A modernização tecnológica fez-se notar mais no domínio têxtil, com o exemplo

vindo de Inglaterra, desde finais do século XVIII e inícios do XIX, nos restantes ramos de

atividades, os reflexos da revolução industrial fizeram-se notar de forma lenta e desfasada.

A máquina a vapor, considerada como o símbolo da 1ª Revolução Industrial,

desempenhou um papel fundamental na industrialização. Acerca da referida máquina, a

que já se chamou «escravo mecânico», “a invenção da máquina a vapor, fonte universal da

energia motriz aplicável a todos os trabalhos industriais, marca uma fase decisiva na

história das técnicas. A facilidade de adaptação deste novo produtor de forças, a sua

regularidade, a sua independência de circunstâncias naturais, tais como a corrente de um

rio ou a regularidade do vento, fizeram dele um escravo mecânico, por excelência. A mão e

as forças do homem só tinham, em relação a ele que exercer um controlo inteligente». Em

Portugal a máquina a vapor foi introduzida no Porto de Lisboa em 1820. (Pierre Ducassé

cit. in Mendes, 1999: 185).

Devido à Revolução Liberal (1820) e a instauração do liberalismo (1834), que

causaram instabilidade política, verificou-se uma quebra no ritmo da industrialização, e

numa primeira fase, anos 1820 e inícios de 1830, a política económica privilegiou a

agricultura e o comércio, e secundarizou a indústria (Mendes, 1999: 187). No quadro

legislativo, na década de 1830 foram tomadas algumas medidas que, embora de sinal

contraditório, visavam fomentar o desenvolvimento da indústria. E no que concerne à

formação técnica específica esta ficaria para mais tarde, entre os anos 50 e 80, com a

criação de escolas industriais, dado que apenas se comtemplava a formação dos gestores

industriais.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

A escassez de dados estatísticos específicos por empresa, ramo de actividade ou

área e região torna complexa a abordagem sobre o assunto. Contudo, relativamente aos

tipos de estabelecimentos industriais, podemos falar de oficinas, manufacturas e fábricas.

As primeiras, características do sistema artesanal, são geralmente de pequenas

dimensões – ocupando, por vezes, uma dependência da própria habitação -, concentram um

reduzido número de trabalhadores (mestres, companheiros, aprendizes, auxiliares, em

muitos casos membros da própria família do mestre) e utilizam formas de energia

tradicionais. O trabalho é essencialmente manual, feito peça a peça, estabelecendo-se uma

certa «cumplicidade» entre o produto e o produtor, ou seja, entre a peça e o artesão

propriamente dito. A designação fábrica, refere-se ao estabelecimento produtivo

característico das economias industriais, resultantes de processos de Revolução Industrial

ou de industrialização, que se consideram um local de produção que utiliza a produção em

série, aliada ao recurso a técnicas cada vez mais desenvolvidas a fim de melhorarem os

níveis de produtividade. (Mendes, 1999: 193 e 194).

Os dados estatísticos como já referido, não nos permitem ficar a conhecer ao

pormenor o período em foco, nem tão pouco caracterizar o sistema produtivo utilizado em

Portugal, tendo como exemplo o inquérito industrial de 1852. Contudo, referir que a indústria

ao domicílio e de carácter familiar era muito representativa sobretudo fora dos centros

urbanos de Lisboa e Porto. Todavia, é de realçar que a cidade do Porto se encontrava numa

situação de avanço, em termos de industrialização, conforme obra cita na obra “até 1830,

pelo menos (…), o Porto encontra-se à frente do esforço de industrialização portuguesa”.

Entre as características mais salientes da estrutura industrial portuense, o autor menciona

que o número médio de operários por fábrica era baixo, cerca de 11 operários por fábrica, o

que prova a laboração artesanal, e que em fábricas de maiores dimensões os operários

eram sobretudo de sexo masculino, uma vez que a mulher se dedicava ao trabalho

doméstico. (Mendes, 1999: 198)

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

O período da regeneração marcou indelevelmente a política portuguesa, entre

meados de oitocentos (1851) e a instauração da República (1910), ao nível da aposta na

aprendizagem industrial, ministrado no Instituto Industrial de Lisboa e na Escola Industrial

do Porto, bem como na revolução dos transportes, no melhoramento das redes de

estradas existentes e na concepção de outras alternativas à navegação fluvial e marítima

até então, única alternativa. O aparecimento do caminho de ferro veio, a transformação foi

radical, sobretudo pelo desenvolvimento ao nível industrial, bem como ao nível do

quotidiano dos portugueses, trazendo mais comodidade e segurança.

A chegada do primeiro comboio vindo de Lisboa ao Porto, em 5 de Novembro de

1877, só foi possível após a construção da Ponte Maria Pia, pela empresa Gustave Eiffel,

entre 1875 e 1877. De referir que esta ponte, é um dos monumentos da arquitectura do

ferro mais notáveis do nosso país. (Mendes, 1999: 210).

2.2 - Património e Turismo Industrial (casos de estudo)

De acordo com a DGPC, ao que à salvaguarda do património industrial diz respeito,

o património industrial é uma área inter e multidisciplinar, e que trata não só os vestígios

industriais, como os equipamentos, os edifícios, os produtos, os documentos de arquivo e

a própria organização industrial. A listagem apresentada a seguir, mostra em detalhe os

edifícios industriais considerados como património industrial em Portugal e a sua área de

actividade.

Património Industrial

Manufactura

Séc. XVIII - Fábrica de Tecidos de Seda, Lisboa

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Séc. XVIII - Fábrica Nacional de Cordoaria, Lisboa

Séc. XVIII - Real Fábrica de Panos da Covilhã, Castelo Branco

Séc. XVIII - Real Fábrica de Gelo de Montejunto, Lisboa

Séc. XVIII - Real Fábrica de Vidros de Coina, Setúbal

Indústria

Séc. XIX (2ª metade) - Fábrica da Romeira, Lisboa

Séc. XIX (1865) - Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego, Lisboa

Séc. XIX (1861-1868) - Fábrica de Papel do Boque, Coimbra

Séc. XIX-XX - Edifício Panificação Mecânica, Lisboa

Séc. XX (1909) - A Napolitana, Lisboa

Séc. XX (1914) - Central Tejo, Lisboa

Séc. XX (1968) - A Kodak, Lisboa

Estruturas Sociais associadas

Séc. XVIII - Residência de Guilherme e Diogo Stephens, Leiria

Séc. XIX (1886) - Edifício da Escola Industrial Marquês de Pombal, Lisboa

Séc. XX (C.1913) - Palácio da Fiação de Fafe, Fafe

Séc. XX (1905-57) - Bairro Grandella, Lisboa

Séc. XX - Villa Berta, Lisboa

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Obras Públicas / Infraestruturas

Séc. XVIII - (1732-1799) - Aqueduto das Águas Livres, Lisboa

Séc. XIX (1834-inauguração) - Pilares da Ponte Pênsil, Porto

Séc. XIX (1876) - Ponte D. Maria Pia, Porto

Séc. XIX (1886-87) - Edifício da Estação de Caminho de Ferro do Rossio, Lisboa

Séc. XIX (finais) - Ponte D. Luís, Porto

Séc. XIX-XX - Estação Caminho de Ferro de S. Bento, Porto

2.2.1 - Espaços Convertidos

 Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras

Ilustração 3 – Museu da Água

Fonte: site institucional

Com dois séculos de história, o reservatório Mãe d´Água das Amoreiras localiza-se

nas Amoreiras, em Lisboa. O reservatório foi projectado em 1745 e foi alvo de várias

intervenções ao longo dos tempos, tendo sido finalizada a sua cobertura por volta de 1834

no Reinado de D. Maria II, e apresenta-se como um espaço amplo e bem conseguido. O

reservatório tinha como objetivo receber e distribuir a água fornecida pelo Aqueduto das

Águas Livres. Atualmente está integrado no Museu da Água da EPAL (Empresa Portuguesa

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

das Águas Livres, SA) e o seu espaço é utilizado para a realização de eventos,

nomeadamente, exposições de arte e desfiles de moda.

 Ecomuseu do Seixal

Ilustração 4 – Vista exterior do Ecomuseu do Seixal

Fonte: site institucional

O Ecomuseu do Seixal é pertença da Câmara Municipal do Seixal e foi aberto ao

público em 1982 com a denominação que conserva hoje. O município definiu como linhas

estruturantes a conservação do património juntamente com a intereção e participação da

população na vida municipal.

O ecomuseu Municipal do Seixal tem por linhas orientadoras a investigação,

conservação, documentação, interpretação, valorização e divulgação de testemunhos com o

objectivo de contribuir para a transmissão das memórias vivas ainda existentes. O acervo do

ecomuseu engloba colecções arqueológicas, técnicas e industriais, artísticas e etnográficas

bem como fundos documentais.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

A responsabilidade técnica é assegurada pela Divisão de Património Histórico e

Museus da Câmara Municipal do Seixal.

2.2.2 – Rotas

- Turismo industrial de s. João da Madeira

Ilustração 5 – imagem de marca da Rota de Turismo industrial de S. João da Madeira

Fonte: site institucional

A rota de S. João da Madeira é uma rota muito completa que envolve vários circuitos em

volta de distintas indústrias que no passado, foram o pulsar da industrialização do concelho,

desde o calçado, chapelaria, lacticínios e passamanarias. Esta rota é hoje uma referência

nacional e internacional ao que ao património e turismo industrial diz respeito.

- No Mundo – o exemplo de Barcelona

A rota do património industrial de Barcelona mostra a herança industrial do século

XIX e foca a indústria predominante, a têxtil. Poblenou, bairro histórico, é um exemplo claro

do trabalho executado na recuperação e reestruturação de espaços fabris, e que nos finais

do século XIX, foi a área com maior concentração industrial da Catalunha. Apelidada como a

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

“Brooklyn of Barcelona”, Poblenou é conhecida pelos seus impressionantes contrastes, do

moderno com o antigo. Prédios em ruínas tornaram-se espaços para estúdios de design,

exposições de arte e escritórios.

Ilustração 6 – edifício do “Bairro operário” de Poblenou

Ilustração 7 – interior do edifício

A cidade de Barcelona oferece uma panóplia de soluções ao nível do património e

turismo industrial, desde minas a espaços fabris reconvertidos em museus, e que já contam

com cerca de uma centena de espaços com roteiros temáticos específicos e diversificados.

Fonte: site do bairro.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Capítulo III

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

3.1- Estudo de caso de Património Industrial: "Crestuma"

3.1.1 - Crestuma: evolução histórica e industrial

Povoação muitíssimo antiga, mas ignora-se por quem foi fundada (Pinho Leal,1874:447)

A toponímia é um instrumento importante na caracterização do local no que concerne

à sua designação e à forma como surgiu, embora a diminuta documentação existente, e,

por vezes, um pouca difusa, dificulte a chegada a claras conclusões. Na procura da

identificação do topónimo de Crestuma é consensual que a sua designação advém da

junção de Castrum e Uíma. Castrum dada a existência passada de um crasto em

Crestuma com vestígios da civilização greco-romana4, marcadas também pelas

características do solo e a caracterização do lugar. Uíma que é o nome do curso de água

que ali desagua no Rio Douro. A este propósito, escreveu Pinho Leal: “parece que foi

antigamente fortificada a povoação de Crestuma, e ainda há vestígios de uma torre ou

Castello. D´este castello (crasto) e de Uíma se formou o nome da villa”. (Pinho Leal, 1874:

447)

Ainda neste contexto, há que referir também Arlindo Sousa, que define o topónimo

Crestuma “Talvez do ant. crasto e Umia (hoje Uima), nome de rio que por ali passa.

Crastumia em 922. Lugar cuja designação que se liga à arqueologia e resulta da

aglutinação ou fusão de crasto por crasto com metátese do r e alteração da vogal a para e

mais o elemento ibérico uma, forma antiga de Uima que se vê também em Fintuma ou

Fontuma, Guma, Quintuma e Tresuma. (Cit in Costa, 2000:22)

4
As escavações arqueológicas, no morro do Castelo de Crestuma e na Praia de Favaios, iniciaram em
agosto de 2010. A iniciativa foi levada a cabo por uma equipa de profissionais organizada pelo Gabinete de
História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana. Segundo notícia publicada no Jornal de Notícias
de dia 25 de agosto de 2010: “já é possível confirmar que, de facto, existiu uma construção (uma espécie de
fortificação romana) no alto do castelo que teria como função o controlo das travessias do Douro…”. Ao longo
dos trabalhos são recolhidos milhares de objectos, com destaque para pedaços de cerâmica oriunda da Fócia
(actual Turquia), vidro romano e bocados de telhas. As intervenções arqueológicas, continuam na actualidade.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Outros topónimos eram associados ao nome de Crestuma, nomeadamente

Castrumire, Crastumia, Castrumie5 e São Miguel de Crastello.

Crestuma será provavelmente o aglomerado urbano da bacia hidrográfica umense

que melhor conserva a herança do seu passado. Crestuma aparece referenciada como

povoação autónoma já em 922. No documento n.º XXV, datado desse ano e intitulado

Portugaliae Monumenta Historica, vol. I Diplomata et Chartae, pode-se ler que “o Rei

Ordonho II e a Rainha Elvira foram, em 922, visitar o ermita D. Gomado, bispo resignatário

da Sé Conimbricense, ao mosteiro de Crastumia, onde se encontrava recolhido 6”. (Américo

Costa citado in Ribeiro, 1984: 14).

Ilustração 8 – barcos rabelos no Rio Douro, em Crestuma, por volta de 1895 - 1900

Fonte: Foto Foco, 2015

Este Mosteiro de Crastumia deixou poucos registos documentais conhecidos, pelo

que muito do que sobre ele se escreve não passam de suposições e até antíteses em

5
“Crestuma chamava-se no século X Castrumie (de Castro e Umia, hoje Uíma, rio que por aqui passa”, in
Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (ELBC), Lisboa, 1971.
6
Em latim donatio amplissima regis Ordonii episcopo Gomado et Monasterio de Crestuma facta. Ex codice,
qui titulum Livro Preto da Sé de Coimbra prae se fert, descripsimus. Portugaliae Monumenta Historica, vol.
IDiplomata et Chartae, Lisboa, Tipografia da Academia, 1867, p. 16 e 17, documento n.º XXV – Arquivo
Nacional Torre do Tombo (ANTT).

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

muitos casos. Durante as escavações que tiveram lugar em Crestuma no passado, foi

possível identificar ”vestígios do vetustíssimo Mosteiro de Crestuma, cujas raízes se

fundam em eras antiquíssimas e de que atualmente não aparecem restos de igreja ou

fundações do Convento local para confirmar com realeza positiva o que relatam estes

literários e históricos depoimentos” (Sardinha,1990: 9-10)

É referida por vezes (e inclusivamente na citação acima), a possibilidade de também

ter existido em Crestuma um Convento. Barbosa Ribeiro faz, aliás, a mesma alusão: “teve

um convento de frades bentos, fundado segundo alguns no século VII. Ou este convento

deixou de existir ou então não se conhece a sua continuidade, apenas que quando D.

Thereza coutou Crestuma, foi para dar o couto aos frades d´aqui, mediante certa

reconhecença aos bispos do Porto”, e que se terá extinguido no século XV. (Ribeiro, 1984:

14)

O convento de Crestuma estará relacionado com o aparecimento recente de

sepulturas cavadas na rocha, que surgiram no decurso das pesquisas efetuadas

recentemente. A pesquisa arqueológica em curso provavelmente o confirmará.

Ainda relacionado com doações, é de partilhar também a existência de uma ermida

que fora destruída em 1102, sendo que o que dela restou foi doado por D. Teresa ao

mesmo bispo, D. Gomado: “em abril de 1113, a mesma rainha doou um testamento ao

bispo de Coimbra, a ermida de Crestuma, com todas as suas pertenças e uma azenha”.

(cit. In Costa, 2000: 37)

A história de Crestuma pré-industrial tem vários hiatos e lacunas documentais que

não nos permitem perceber em concreto a sua evolução. Na verdade, Ribeiro afirma

mesmo que, após 1113, só voltamos a encontrar referências a Crestuma em 1453, altura

em que passa a ser designada por Couto: “Era vastíssimo o couto de Crestuma, e segundo

as demarcações feitas em 922, estendia-se pelas duas margens do Douro, entrando pela

margem direita, pela terra do Sousa, até ao monte Zevrario” (Cit. In Ribeiro, 1984: 7). O

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

couto de Crestuma teria desaparecido em 1567 com a morte do seu último comendatário7.

(Ribeiro, 1984:7)

A vida administrativa de Crestuma ficou marcada pela sua elevação à categoria de

município, em 12 de maio de 1834, juntamente com Vila Nova de Gaia. Contudo, a vida do

município terá sido curta, uma vez que manteve este estatuto apenas até 19 de outubro de

1835, tal como refere Peixoto: “Crestuma terá sido o primeiro concelho a instituir-se a 12

de maio de 1834 mas não o primeiro a perder autonomia. A sua vida municipal é breve.

Neste período apenas aparece referido concelho uma única vez, sendo a citação mais

usual – na freguesia e Couto de Crestuma”. (Peixoto, 1985: 25-26)

Anos depois, em 1911, era uma freguesia de 2ª classe, pertencente ao primeiro

Distrito Eclesiástico de Gaia8.

7
Que frui benefício de comenda. O que administra uma comenda. Uma comenda é um benefício que se dava
a eclesiásticos ou a cavaleiros de ordens militares terras com que se recompensavam certos serviços. In novo
dicionário Lello de Língua Portuguesa, 1996:441.
8
Atas das Jornadas sobre o Município na Península Ibérica, capítulo: Os municípios efémeros de Vila Nova
de Gaia, no período liberal por Maria de Graça Peixoto.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

3.1.2 – Localização

Ilustração 9 – mapa com localização geográfica de Crestuma

Fonte: Google earth

Pinho Leal, autor da conhecida obra Portugal Antigo e moderno – dicionário,

descrevia Crestuma, em 1874, desta forma: “Atravessa a freguezia o rio Huyma ou Uima,

que aqui mesmo desagua no Douro, tendo próximo da sua foz uma ponte de cantaria, de

um só arco, construida em 1870, da qual logo cahiu metade em 1872”. (Pinho Leal,

1874:447)

A vila de Crestuma, antiga freguesia de Santa Marinha de Crestuma, está situada na

margem esquerda do rio Douro, na zona sudeste do concelho de Vila Nova de Gaia,

distando da sede concelhia 14 Km. A confrontação territorial é feita com as vilas de Lever,

Sandim e Olival do mesmo concelho, sendo que, em 2014, a elas se uniu aquando da

reorganização administrativa que criou a União das freguesias de Sandim, Olival, Lever e

Crestuma. Na outra margem do Douro, encontra-se o concelho de Gondomar. Os limites

da freguesia já vinham citados nas Memórias Paroquias de Crestuma de 1758, conforme

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

transcreve Ribeiro: “Este terá de comprido hum coarto de legoa nesta freguezia principia

no sítio chamado de Lagoa e finaliza em o sitio chamado de Fiozo e de largura está a

mesma distancia. Naum há serra de nome nesta freguezia so sim consta de alguns Montes

inda que pequenos pella pouca extençam della e vem a ser parte do Monte de Simalhe

que devide pelo alto delle com a freguezia de olival”. (Cit. In Ribeiro, 1984:7)

Estes limites, que tinham uma relação com a estrutura natural da região, foram

sendo alterados paulatinamente ao longo do tempo pela administração. Essas alterações

foram produzindo, aqui e ali, rivalidades e animosidades entre vizinhos no mesmo território.

Dada a sua localização privilegiada, Crestuma, ainda hoje, mantém características

rurais, das quais se destacam as condições paisagísticas de excelência que a presença do

rio Douro reforça de modo significativo. Essencialmente agrícola nos primórdios da sua

existência, Crestuma “é terra muito fértil e de muito comércio com a cidade do Porto, com a

qual está em contínua communicação fluvial”, como explanava Pinho Leal na segunda

metade de XIX (Pinho Leal, 1874:447). Crestuma foi desenvolvendo, de forma

determinada, a sua vocação industrial que atingiu grande expressão na primeira metade do

século XX, daí resultou um decréscimo muito acentuado no que ao setor agrícola diz

respeito.

As pessoas, então, viviam ao sabor das necessidades alimentares mínimas. As

hortas familiares e os quintais, na maioria dos casos adjacentes às habitações, eram o

recurso tradicional obrigatório. No que respeita à habitação, Crestuma divide-se em três

grandes zonas: a baixa ou ribeirinha, a média e a alta. A primeira delas “onde se localizam

a maior parte das construções antigas tão típicas e características, a testemunharem

muitíssimo bem a face ancestral desta localidade. A zona média que compreende toda a

zona situada entre a área da Igreja e a área próxima do Parque de Jogos, a qual

classificaria de zona de transição com um tipo de arquitetura um pouco mais moderna. A

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

alta é caracterizada por um tipo de habitações modernas e completamente distintas das

outras duas áreas”. (Ribeiro, 1984: 20-21).

A lavoura e a criação de gado eram as formas de subsistência do povo de

Crestuma. A este propósito, Ribeiro refere “os frutos que produz ezta freguezia sam milho

grosso ou milham senteio vinho verde, e algum azeite porem tudo em tam pouco quantidade

que não chega para sustento dos moradores della”. (Barbosa da Costa citado in Ribeiro,

1984: 23)

A alimentação era, em larga escala, sustentada na produção familiar. O cultivo de

cereais, nomeadamente milho, centeio e algum trigo, despoletou grande desenvolvimento

da indústria de moagem. A existência, ainda hoje, de muitas ruínas de moinhos e respetivas

condutas de água, força motriz indispensável, são testemunhos históricos indesmentíveis

desse passado de moagens, facto que é sublinhado por Ribeiro: “tem esta freguezia neste

mesmo Rio quatorze muinhos e nam tem lagares de azeite pisoins noras nem outro algum

ingenho”, sendo curioso que “os moleiros de Crestuma levavam tabaco e moíam-no nos

mesmos moinhos em que metiam o pão …” (Ribeiro, 1984: 23)

O contacto com o rio foi sempre decisivo na produção cultural e fundamental na sua

vida económica. A atividade piscatória foi sempre uma atividade estrutural, apesar de ser

praticada domesticamente. Pescava-se o sável, barbos, lampreias, solhas e enguias, como

é referido nas Memórias Paroquiais (1758: 64): “cria peixes, barbos e estes só no fim deste

rio por se comunicarem do Douro para sima consta mais de bogas escallos e truttas, e

algumas enguias”. A confecção do Sável é uma tradição que perdura ao longo do tempo.

Esta espécie animal está hoje em extinção, o que colocará provavelmente esta tradição

gastronómica na mesma situação.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

3. 1. 3 - Crestuma evolução Industrial

Terra ribeirinha e periférica do concelho de Vila Nova de Gaia, parte integrante da

Área Metropolitana do Porto foi, no século passado, um território onde a indústria local

representou, em grande escala, a economia não só de Crestuma como de toda a área do

interior do concelho, ombreando com as maiores fábricas do Porto, então conhecida como

a “Manchester portuguesa”.

“A azáfama que se vivia neste local do Uíma pertinho do Douro era tão intenso que

aqui pulsava o coração de Crestuma. Não havia hora do dia ou da noite que o local não

fosse uma roda”. (Ribeiro, 1997: 28).

A indústria foi muito importante para o desenvolvimento económico no concelho e

surpreende a escassez de pesquisa nesse âmbito. Guimarães alerta para essa realidade:

“Vila Nova de Gaia pode ser considerada como um dos mais diversificados centros

industriais do início da industrialização portuguesa. Dessa época ainda existem muitas

estruturas, vestígios e peças das suas fábricas e oficinas. Mas tal ambiente fabril não tem

sido objeto de muitos trabalhos de Arqueologia Industrial, restando pois grande parte deste

espólio por estudar”. (Guimarães, 1995: 225).

Banhada pelos rios Douro e Uíma, com uma riqueza paisagística assinalável, a sua

laboriosa e determinada população mantém um conjunto de práticas ancestrais, lado a

lado com o inevitável progresso e inovação contemporâneos. Ribeiro refere que acostavam

em Crestuma barcos rabelos que do Alto Douro traziam a castanha, a batata, o melão e

toda a qualidade de fruta. Mal ancoravam, logo saía um homem que pela freguesia acima

apregoava a mercadoria e anunciava o seu valor. (Ribeiro,1997:10)

A localização privilegiada resultou na sua força motriz, nos primórdios do

desenvolvimento industrial, beneficiando do Douro que se tornou na via de comunicação

por excelência, num tempo em que os meios de transporte e a estrutura das estradas eram

tremendamente ineficientes e perigosos: “Crestuma era uma zona de paragem obrigatória

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

dos barcos rabelos. Era visitada por excursões de barcaças e lanchas vindas do Porto, aos

domingos. Se bem que a principal atividade fosse a indústria têxtil e a metalúrgica” (Costa,

2000:27).

O desenvolvimento industrial de Crestuma alonga-se sobretudo entre 1834, ano em

que Crestuma foi elevada a concelho, e o início da década de 1970. Sobressaíam então as

fábricas de fundição e tecelagem onde trabalhavam alguns milhares de operários.

3.1.4 - As Fábricas

Não pode deixar de ser referenciada, uma vez que constituiu uma ideia pioneira na

indústria do ferro, a Fábrica de Verguinha e Arcos de ferro de Crestuma, cuja fundação

remonta ao longínquo ano de 1790 estando sob a alçada da Companhia Geral da

Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Esta fábrica marca um período importante na história

industrial do Porto, e eventualmente ajuda a justificar o porquê de posteriormente

Crestuma ter adquirido importância industrial, apesar da sua pequenez e ruralidade.

Francisco Queiroz (2006: 131) refere que “a fábrica chegou ao ano de 1830 dotada de

casa nobre para habitação e arrecadação, quatro moinhos, uma casa de azenha, uma

casa de lavoura e suas casas da eira, para além de vários edifícios destinados

exclusivamente à atividade industrial, com uma importante secção de fundição, tudo

movido por várias rodas hidráulicas montadas sobre um canal do Rio Uíma!” (Queiroz,

2006: 131). Apesar de empregar cerca de quarenta operários, a Fábrica de Verguinha e

Arcos de ferro de Crestuma adquiriu um papel importante ao que a novas técnicas e

mecanismos diz respeito, uma vez que terá sido nesta fábrica que foi produzido

armamento no período miguelista, durante o período do Cerco do Porto. Aliás, actualmente

ainda é visível um canhão nas imediações da fábrica que provavelmente fora produzido

nessa altura, uma vez que o mesmo autor referiu que para além da produção de arcos de

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

ferro para pipas e tóneis, produziu também balas, e pequenos objectos utilitários em ferro

mas não se sabe se de forma regular ou apenas esporádica.

O mesmo autor refere que a “Primeira Associação de Indústria Fabril Portuense” foi

constituída para aproveitar não só o edifício da Fábrica de Verguinha e Arcos de ferro de

Crestuma como todo o equipamento que esta continha, e apesar da tentativa de fazer

renascer a actividade por volta de 1843, mas esta não teve continuidade. É relevante

mencionar também que a companhia de Artefactos de metais do Porto integrou pelo

menos um operário que tinha laborado na Fábrica de Arcos de Crestuma de seu nome

Jerónimo Pinto Paiva Freixo9 que, após a companhia de Artefactos de metais do Porto

terminar a sua atividade, encetou em Crestuma uma fábrica de fundição tendo-a apelidado

por Antiga Fundição de Crestuma. Esta, de carácter mais familiar, reuniu várias pessoas

“da terra” especialistas no trabalho em fundições. No inquérito industrial de 1881 há uma

referência a esta unidade: “Existe há 50 annos e vai vivendo ao abandono, porque o

proprietário, Jeronymo Pinto de Paiva Freixo, não faz d´esta industria o seu principal modo

de vida. Produz anualmente 100 toneladas de panellas de ferro…” (AAVV, 1881: 44).

Era diversificada e de grande qualidade e quantidade a produção em ferro fundido.

Eram produzidos artigos indispensáveis nos lares portugueses, de então: panelas e tachos

normais dos mais diversos tamanhos, panelas de três pés, ferros de engomar,

salamandras para aquecimento, fogões de lenha, esmagadores de uvas, prensas de

variadas dimensões, arados agrícolas, varandins e gradeamentos, tampas de saneamento,

grelhas, pórticos e outras peças utilizadas na construção civil, mormente portões de grande

porte que ainda hoje perduram nas antigas “quintas” do país. Na Calçada da Fonte da

Igreja ainda pode ver-se um portão, em ferro fundido, da antiga casa da família Paiva

9
Jerónimo Pinto de Paiva Freixo, natural de Crestuma, onde ainda é recordado com respeito e saudade, foi
um trabalhador incansável, espírito de iniciativa, exemplo de dignidade e de lisura. Tomou a gerência da fábrica
de seu Pai aos 18 anos e faleceu com 78, deixando viúva a D. Guiomar Lopes dos Santos. O seu fabrico de
fundição de ferro era dos mais perfeitos que se faziam em Portugal, tais como: panelas à Portuguesa,
Espanhola, Inglesa e Açoreana – Ferros de engomar, lisos, boleados e americanos, entre outras. Retirado de
Anuário Industrial, comercial e turístico de Gaia, 1985.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Freixo com o nome da proprietária e empresária incorporado, no topo, onde pode ler-se

Antiga Fundição de Crestuma Constança da Silva Paiva e freixo, 1890.

Ilustração 10 – gradeamento em ferro fabricado na antiga fundição de Crestuma

Fonte: foto da autora, 2015

Crestuma chegou a ter pelo menos quatro fundições no fim do século XIX, e

assumiu-se assim como o maior núcleo fabril português de fundição de ferro situado fora

dos limites de Lisboa e Porto10 (Francisco Queiroz, 2006: 136). Em 1890, o Jornal dos

Carvalhos afirmava que “existem em Crestuma nada menos que quatro fundições de ferro,

onde se faz toda a qualidade d´obra, especialmente panellas de ferro. Se os seus

possuidores organisassem uma companhia, podiam ter um importante estabelecimento,

talvez o único no paiz no género. A pericia dos seus operários e as relações commerciaes

dos actuaes possuidores são uma prova de que a companhia daria lucro”.

Mas não só de fundições era composta a paisagem industrial de Crestuma ao longo

do século XIX. A tecelagem assumia-se também como muito importante, com várias

unidades de dimensão considerável. Já no inquérito industrial de 1881 faz referência à

fábrica de fundição de Jerónymo Pinto Paiva Freixo, enquanto que no inquérito industrial

10
“Não vão longe os tempos que pelo rio subiam dezenas de lanchas, caíques, guigas, barcos valboeiros e
todo o tipo de embarcações, com velas e sem velas, que ancoravam por todos os cais ribeirinhos. Crestuma
possuía dois magníficos cais de acostagem privados, - o cais da Companhia de fiação de Crestuma e o cais do
A.C.Cunha Morais-, que ainda hoje existem”. (Ribeiro, 1997: 10)

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

de 1890 já consta a fábrica de balões venezianos de Augusto Cesar Cunha Moraes e a

Antiga Fundição de Crestuma de Constança da Silva Paiva Freixo.

Elaboramos uma listagem por área de actividade, a partir do anuário Industrial,

Comercial e Turístico de Gaia, de 1950, do esboço monográfico de Santa Marinha de

Crestuma de 1984, que nos permite analisar as indústrias existentes bem como a

diversidade existente e o tipo de indústria a que cada uma delas se dedicava. De referir

ainda que muitas delas eram empresas fabris de média dimensão e familiares, mas de

referência significativa no panorama industrial de Crestuma e do Concelho de Vila Nova de

Gaia, representando, no seu todo, uma produção assinalável e sendo responsáveis pelo

elevado número de operários que extravasava a capacidade do seu recrutamento na

própria freguesia.

Balões

Fábrica de Balões Venezianos de Augusto César da Cunha Moraes

Candeeiros

Joaquim Vidal de Oliveira

Carpintaria

Joaquim Alves Costa

José Ferreira Gomes

Joaquim Ferreira da Silva

Joaquim Machado Ribeiro

Fiação e Tecidos

A.C da Cunha Morais, Lda.

Comp.ª de Fiação e Tecidos de Crestuma (escritório no Porto)

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Fitas de Nastro

A.C da Cunha Morais, Lda

Barbosa & Irmãos

M. Guedes da Silva, Lda

Manuel Tavares & Irmão

Fundições de ferro

Jerónimo Pinto Paiva Freixo

Fábrica de Murça de Constança Paiva Freixo

Fundição de Joaquim Francisco da Silva

Fundição de Lopes e Irmão

Fundição de Ferro de Crestuma

Manoel Francisco Pereira e Comp.ª

Fundição de Gracinda Francisca de Moura

Fábrica de Panelas de ferro de Joaquim Francisco da Silva

A.F Ramalho (António Francisco Ramalho)

Barbosa & Irmãos

Francisco Cardoso de Sousa

Moura & Irmãos, Lda

Sociedade de Fundição e Metalurgia, Lda – SOFUME

Fundição do Rufino (Rufino José dos Santos)

José Ferreira da Costa

Alberto Ferreira dos Santos Evaristo

Fundição da “Buraca”

Manuel Fernandes Moreira

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Fundições de Metais

A.F Ramalho (António Francisco Ramalho)

Francisco Cardoso de Sousa

Papel e Cartão

Fábrica de Manuel Guedes da Silva

Barbosa & Irmãos

Fábrica de Manuel Tavares & Irmão

Pereiras & Barbosa

Eugénio Guedes Barbosa

Noémio Fernandes Lopes

Ferreira & Pedrosas

Serração

Augusto Guedes Barbosa

Serralharias

A.F Ramalho (António Francisco Ramalho)

Barbosa & Irmãos

Francisco Cardoso de Sousa

Jerónimo Pinto Paiva Freixo

Joaquim Cardoso de Sousa

Moura & Irmãos, Lda

Sociedade de Fundição Metalúrgica, Lda

Têxteis

Companhia de Fiação de Crestuma

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

A.C da Cunha Morais

“A Juvenil” de Alves e Barbosa

Cunha & Cunha

Barbosa & Irmãos

Os depósitos e escritórios das fábricas de maior dimensão ficavam localizados na

cidade do Porto nomeadamente na zona da ribeira, Infante D. Henrique, Rua de S. João,

Rua Mouzinho da Silveira, a maior parte perto do Rio Douro por onde, na altura, era feito o

transporte.

De realçar o facto de o Sindicato dos Metalúrgicos do Norte ter sido instalado na

freguesia de Crestuma uma secção. Crestuma era sobejamente reconhecida como um

baluarte da metalurgia nacional.

Ilustração 11 – cartão de identidade de sócio do sindicato, 1957

Fonte: arquivo da autora

O grande desenvolvimento industrial determinou um extraordinário fluxo de operários

oriundos de todo o concelho, com predominância natural das freguesias vizinhas. Daí

resultou um desenvolvimento do comércio local a todos os níveis. Eram inúmeras as

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

mercearias nos inícios do século XX, eram autênticos mini mercados onde tudo se

comercializava. Havia, também, estabelecimentos especializados como farmácia,

drogarias, padaria, talho, e outros.

Ilustração 12 – Crestuma, ano 1943

Fonte: Anuário Comercial do Porto para a cidade do Porto, Gaia e demais concelhos do distrito, 1943

A venda ambulante, porta a porta, era outra atividade permanente no que concerne a

grande variedade de produtos agrícolas transacionados pelos lavradores locais e espécies

piscícolas como sável, lampreia, barbo, taínha e outras espécies pescadas no rio Douro

pelos pescadores locais.

Na área alimentar, de igual modo, proliferavam os estabelecimentos de restauração.

As próprias mercearias tinham áreas definidas para os “comes e bebes” tradicionais. O

número de tasquinhas e adegas era substancial com incidência nas áreas do centro e

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

beira rio da freguesia, onde a maior parte das indústrias se localizavam. Praticamente, em

todos os lugares da freguesia existia, pelo menos, uma mercearia. De realçar o facto de,

na última terça-feira de cada mês, em local estratégico porque de acesso fácil e mesmo

obrigatório a várias unidades industriais, se realizar, durante anos, uma feira com alguma

dimensão regional.

Ilustração 13 – uma das últimas feiras realizadas no lugar do Torrão, Crestuma, s/d

A partir de informações recolhidas na freguesia era comum dizer-se que os

habitantes de Crestuma triplicavam durante as horas de trabalho tantos eram os operários

que vinham de fora. De realçar, ainda, que as grandes empresas trabalhavam em

permanência utilizando o sistema de turnos.

A partir de entrevistas realizadas a habitantes locais, podemos afirmar que não havia

desempregados e, em contraste com o que se verificava com outras áreas rurais em

declínio, Crestuma pontificava na formação técnica da sua juventude elevando,

sobremaneira, o nível escolar e a apetência formativa a todos os níveis. Assim, em áreas

como o teatro, a música e as letras, despontaram alguns talentos que através de

publicações locais e regionais deram conta dos seus trabalhos. Daí perdurarem inúmeros

escritos em brochuras e livros de muito interesse no testemunho histórico de Crestuma. De

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

distinguir a existência de vários poemas musicados que se mantêm atuais e são entoados

em todas as manifestações culturais e festivas a nível familiar e coletivo. Em muitos

desses poemas há referências às atividades locais onde a indústria tem lugar

predominante. À dupla Eugénio Paiva Freixo, nos poemas e António Ferreira Alves, na

música, se deve o êxito desses documentos de alto valor cultural e que, ao longo dos

tempos perpetuarão a história desta localidade orgulhosa dos seus antepassados.

Reproduzimos alguns versos de dois dos muitos poemas que aquele poeta nos deixou

onde são referidas as indústrias de fundição e tecelagem e que retratam a época na

perfeição. (Freixo, 2000: 12)

De “Fitas de Crestuma”:

Ó Crestuma tecedeira

Das fitas que nos enlaçam,

Dos apitos a vibrar,

Dos operários que passam.

Enquanto nós trabalharmos

Nos teares dos nossos pais,

Enquanto houver destas fitas,

Crestuma não morre mais”.

A partir da análise ao panorama industrial de Crestuma, á que referir ainda o

funcionamento de indústrias em Crestuma.

 AF Ramalho (fundição) – cerca de 5 funcionários

 Joaquim Ferreira da Silva (Carpintaria) cerca de 10 funcionários

 Jorge Ribeiro (carpintaria) cerca de 2 a 3 funcionários

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

 Manuel Fernandes Moreira (fundição) – 2 a 3 funcionários

 Cunha & Cunha (passamanarias e sirgarias) - iniciou actividade em 1981 - e

funcionamento actualmente e com um número considerável de funcionários – cerca de 23

3.2. Património Industrial Perdido de Crestuma

Algumas referências ao Património industrial desaparecido, bem como anúncios

publicitários.

“1840 – Levantouse em crestuma a fábrica de fundição, pertencente a Jeronymo

Pinto de Paiva Freixo” – Jornal dos Carvalhos 1-11-1891

“1874 – Fundase em Crestuma a segunda fábrica de fundição pertencente a Joaquim

Francisco da Silva, um dos actuaes vereadores da Camara municipal de Gaya.” Jornal dos

Carvalhos 1-11-1891

“Mais outra fabrica d´este género (fundição) se funda em Crestuma, pertencente à

firma Lopes & Irmão”. Jornal dos Carvalhos 1-11-1891

“1882 Estabelece-se a primeira fabrica de balões venezianos, pertencente a Augusto

César da Cunha Moraes, nome muito conhecido no mundo industrial”. (Jornal dos

Carvalhos 1-11-1891)

“1891 construe-se e começa a trabalhar, á margem do Ima, uma nova fabrica de

fundição propriedade de Jacintho Fernandes da Costa, abastado capitalista e um dos

actuaes membros de junta da parochia d´esta freguesia”. Jornal dos Carvalhos 1-11-1891

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Ilustração 14 – anúncio publicitário da fábrica de Augusto Guedes Barbosa

Fonte: Anuário do Porto, comercial, industrial e burocrático, 1950: para a cidade do Porto, Gaia e Matosinhos e

restantes concelhos do distrito.

Ilustração 15 – anúncio publicitário da fábrica de fundição de metais, Crestuma

Fonte: Anuário do Porto, comercial, industrial e burocrático, 1950: para a cidade do Porto, Gaia e Matosinhos e

restantes concelhos do distrito.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Ilustração 16 – anúncio publicitário de fábrica de panelas de ferro em Crestuma

Fonte: jornal “O Grillo de Gaya”, de maio de 1891

Dada a escassez de informação fidedigna relativa às fábricas, seu funcionamento,

história e dados estatísticos concretos não foi possível elaborar uma ficha completa com a

caracterização de cada uma delas. Irão ser desenvolvidas as que fazem parte da rota do

património industrial de Crestuma no capítulo IV.

3.3 Turismo em Crestuma

Numa perspectiva de desenvolvimento turístico na Vila de Crestuma não será

descabido dar uma valorização prioritária à componente histórica industrial que

entendemos de grande valor documental pela dimensão atingida, em qualidade e

quantidade, com suporte na existência de vasto património ancestral, já documentado, de

inegável interesse histórico.

Acresce, por outro lado, que em zonas de turismo global, actualmente, a conjugação

de perspectivas colaterais, também elas apelativas e de inquestionável interesse em áreas,

as mais diversas, como a arqueologia, o desporto, o lazer, a fauna e a flora, a riqueza

paisagística, os recursos fluviais, as artes, o folclore e ainda outras mais, passou a ser

excelente factor de motivação turística!

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

No que à Vila de Crestuma diz respeito várias são as áreas de interesse turístico

que, nos últimos anos são visitadas, em tempo de primavera e verão, mesmo sem a

existência de uma programação cuidadosa e a criação de veículos de informação por parte

dos responsáveis locais e de outros apoios indispensáveis aos que a visitam.

A inauguração do Parque Botânico do Castelo, um espaço idílico e bem tratado onde

a vegetação autóctone é predominante em grande escala e do Sítio Arqueológico,

equipamentos localizados na orla fluvial, permitiu dar um passo definitivo na caminhada

para um turismo cultural de eleição. A presença de uma praia fluvial minimamente

equipada para veranear com razoável comodidade e com equipamento de apoio no Clube

Náutico de Crestuma é, sem dúvida, outra mais valia no que concerne às potencialidades

do local para um turismo de continuidade, no futuro.

O aproveitamento turístico fluvial intenso que já se verifica durante vários meses do

ano no rio Douro com o melhoramento estrutural dos dois antigos cais que serviram

durante muitas décadas as empresas Companhia Fiação de Crestuma e A. C. da Cunha

Morais potencia, de igual modo, aliado à restruturação, já em curso, da Quinta da Estrela

situada na orla fluvial, maior capacidade para recepção de visitantes utilizando a aprazível

“estrada” fluvial que é o Douro.

De referir, ainda, a existência, no que a acessos rodoviários a Crestuma diz respeito,

de uma rotunda muito próxima dos limites da Vila de Crestuma com acesso, via auto-

estrada a todos os destinos nacionais com este tipo de ligação terrestre. A proximidade ao

Porto é outra vantagem a considerar.

Utilizando a estrada da Barragem de Crestuma, outro ponto de considerada projeção

turística, o trajecto até ao Porto (Freixo) de uma dúzia de quilómetros ao longo da marginal

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

direita (EN108) do rio é, simplesmente, deslumbrante e tem continuidade até à Foz do rio

Douro pela marginal do Porto.

Como pontos de atração suscetíveis de, também eles, potenciarem o turismo local

de forma determinante poderemos referir a existência de conceituadas Associações e

Agrupamentos que se revelaram, desde sempre, óptimos veículos de propaganda turística

local, regional e mesmo nacional. Serão os Ranchos Folclóricos, a Filarmónica de

Crestuma, os vários Corais do mais variado cancioneiro local e regional, os Clubes

Desportivos em várias modalidades com destaque para o Clube Náutico de Crestuma, um

dos baluartes da canoagem nacional.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Capítulo IV

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

4.1 - Proposta de desenvolvimento – Rota

A partir do trabalho realizado e das ideias apresentadas até aqui, propomos uma

Rota do Património Industrial de Crestuma.

4.1.1 - Missão e objectivos

Contribuir para o desenvolvimento sustentado do território do Vale do Uíma, através

da valorização do património industrial existente, da criação de uma produto turístico e

cultural de referência no concelho, que possa gerar riqueza, emprego e qualificação dos

recursos humanos da população de Crestuma.

4.1.2 – Contextualização

Um dos objetivos principais desta rota, e pré requisito fundamental para a sua

implementação, é o envolvimento da comunidade de Crestuma. Esse envolvimento

permitirá reviver o quotidiano de outras épocas de forma mais fiel, valorizando os recursos

humanos locais e a sua existência.

Local: antiga zona industrial de Crestuma, entre o lugar do Esteiro e a Rua da

Fontinha.

Público-alvo: turistas culturais e população local.

Ações e atividades a desenvolver: visita ao exterior do edificado e ao interior,

sempre que possível. A rota tem a duração de 2 horas e o terreno é plano. O percurso é

realizado junto ao Rio Douro e Uíma e serão percorridos 2.35km.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

4.2 – Mapa da Rota

Ilustração 17 – mapa da Rota

4.2.1 – Pontos

a) Parque Botânico do Castelo

b) Fábrica de Fundição de Rufino José dos Santos

c) Sociedade de Fundição e Metalurgia, Lda (SOFUME)

d) Fábrica de fitas e fiação d´algodão AC Cunha Morais

e) Manuel Tavares e Irmãos (fábrica do Tavares)

f) Barbosa & Irmãos (“Vitória”)

g) M. Guedes da Silva, Lda

h) Companhia de Fiação de Crestuma

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

4.3 - Fichas de Património

a) Parque Botânico do Castelo

A rota inicia no Parque Botânico do Castelo, que se situa junto ao Clube Náutico de

Crestuma, no lugar do Esteiro. De acordo com a página institucional do parque Biológico

de Gaia, este parque foi inaugurado a 13 de Setembro do ano 2009 e pertença das Águas

e Parque Biológico de Gaia EEM, os terrenos do parque foram adquiridos e recuperados

pelo município de Vila Nova de Gaia como uma quinta que se encontrava em ruínas.

Desde essa altura foi intervencionada ao nível de escavações arqueológicas de modo a

ficarem esclarecidos e estudados alguns mitos existentes na história de Crestuma.

Conforme notícia publicada no jornal público, datada do dia 14 de Setembro de 2009,

o administrador do Parque, Dr. Nuno de Oliveira explicou o objectivo destes trabalhos, que

é "perceber a história do sítio, a sua flora e como se formou o maciço [onde o parque está

implantado] do ponto de vista geológico". "Para isso, vamos pedir à Faculdade de Ciências

da Universidade do Porto que nos faça um estudo mais detalhado".

Ilustração 18 – Parque Botânico do Castelo, Crestuma – casa da Eira

Foto da autora,2015

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Caracterizou o espaço como sendo “uma antiga quinta, de particulares, abandonada

há décadas, mas nos tempos históricos terá tido um castelo e um mosteiro medievais",

afirmou Nuno Gomes Oliveira. Antes disso, na época romana, a zona terá sido "um

entreposto que recebia barcos de Roma e da Grécia, trazendo cerâmica".

Os trabalhos das escavações estão a cargo da Confraria Queirosiana sob orientação

dos Arqueólogos Prof. Dr. Gonçalves Guimarães e Prof. Dr. António ManuelSilva.

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“Crestuma, património e turismo industrial” – Daniela Raquel Ferreira dos Santos

b) Fábrica de Fundição de Rufino José dos Santos

O edifício da fábrica do Rufino é o segundo ponto da rota e encontra-se do lado

esquerdo da saída do Parque Botânico do Castelo, junto ao Rio Douro.

Ilustração 19 – foto centenária da fábrica do Rufino, ano exato desconhecido

Fonte: Foto Foco, 2015

Através do “Mappa do Movimento dos processos sobre fábricas ou

estabelecimentos para indústrias entre 1912 e 1922”, esta fábrica consta como

sendo pertença de Rufino José dos Santos, “fábrica de fundição de ferro no lugar do

Castelo, na freguesia de Crestuma”.

A partir de um testemunho recolhido em Crestuma11, um antigo trabalhador da

fábrica refere a antiguidade da mesma, que teria hoje, cerca de 130 anos e que

laborava apenas num turno, das 8h-17h, diariamente. Ali trabalhavam só homens,

cerca de dezoito, e maioritariamente ligados por laços familiares. Dedicavam-se ao

fabrico de utensílios em ferro fundido com destaque para panelas, salamandras,

fogões de ferro e ferros de engomar para venda apenas nacional.

11
Vitorino Moura, antigo trabalhador da fábrica de Rufino José dos Santos em entrevista realizada a 9
de janeiro de 2016. Bisneto do proprietário da fábrica, laborou 37 anos.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

O edifício da “fábrica do Rufino”, como era denominada e conhecida

localmente, tinha dois pisos, sendo no primeiro a fundição e o segundo o

embalamento da obra, acabamentos e a tinturaria.

Com a morte do proprietário Rufino José dos Santos, a fábrica continuou em

laboração adquirindo legalmente o nome da esposa, contudo ficou sempre conhecida

por “fábrica do Rufino”. Num pedido de licença de obras, em 1944, a fábrica de

fundição já era denominada por Gracinda Francisca de Moura, esposa do

proprietário inicial.

Esta fábrica encerrou em 1988 dado que deixou de possuir condições ao nível

das acessibilidades para transportar a mercadoria. O edifício foi reabilitado e

convertido no centro náutico do clube náutico de Crestuma e o mesmo foi inaugurado

em 2007.

Ilustração 20 – edifício da antiga fábrica em obras

Fonte: foto de José Silva, 2005


Ilustração 21 – vista do edifício na atualidade

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

c) Sociedade de Fundição e Metalurgia, Lda

Passamos agora para a retaguarda do parque e do edificado do Centro Náutico

em direção ao próximo ponto da rota. Para lá chegar, vamos passar por um pinhal e

pela Praia de Favoios, local intervencionado nas escavações arqueológicas que se

têm vindo a realizar. A Sociedade de Fundição e Metalurgia fica uns metros acima.

Ilustração 22 – Sociedade de Fundição e Metalurgia, SOFUME em ruínas

Foto da autora, 2013

Esta fábrica era conhecida como a SOFUME, bem como a “fábrica do

Almeida”, pelo seu proprietário ter sido Abílio Pinto de Almeida.

Conforme testemunho de um macheiro12 que lá trabalhou, esta fábrica

empregava mais de uma centena de pessoas e foi fundada já no século XX. Não

trabalhavam mulheres, uma vez que o trabalho era muito duro e pesado. Fabricavam

panelas e tachos de ferro, de três pernas e sem pernas que denominavam panelas

inglesas dos quais faziam exportação para França. Faziam obra para esmagadores

de vinho e, as prensas de vinho e tinham uma quantidade de serviço diário a cumprir,

12
Francisco Vieira, antigo trabalhador da fábrica em entrevista realizada a 7 de novembro de 2015.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

senão eram penalizados no salário. Para além destes produtos a SOFUME fazia

também fogareiros, ferros de engomar, moinhos e máquinas para outras fundições.

Ilustração 23 – anúncio publicitário da SOFUME

Fonte: Anuário do Porto, comercial, industrial e burocrático, 1950: para a cidade do Porto, Gaia e

Matosinhos e restantes concelhos do distrito.

Trabalhavam pessoas das redondezas nomeadamente de Lever, Sandim,

Arnelas e Gondomar, de segunda a sábado.

A fábrica tinha o escritório no Porto, na Rua de S. João, conforme consta numa

licença de ampliação da fábrica datada de 1964, bem como no anúncio publicitário

acima.

A SOFUME entrou em decadência por volta dos anos 80 do século XX, por não

ter acompanhado a modernidade e pelas frágeis acessibilidades existentes para o

transporte de matérias primas e mercadorias.

O que ainda resta são algumas paredes que constituem o edificado, mas em

grande parte num estado deteriorado que nem é possível perceber as várias secções

existentes nem tão pouco onde se localizaria a maquinaria.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

d) Fábrica de fitas e fiação d´algodão AC Cunha Morais

Seguimos pela rua do Esteiro em direcção à ponte nova, que dará a ligação à

Rua da Fontinha. Aí, surge o edifício da fábrica de fitas e fiação e, no cimo do monte,

a Quinta da Estrela com a casa da família Morais.

Ilustração 24 – Fim das construções da fábrica, 1890

Fonte: Foto Foco, 2015

Com origem no século XIX, a Fábrica de Fitas e fiação de Algodão AC Cunha

Moraes, foi fundada em 1890, e representa uma das maiores indústrias de Crestuma.

Em notícia do Jornal dos Carvalhos, de 22 de junho desse ano, podemos ler “Mais

um estabelecimento industrial vae funccionar em Crestuma. É a fábrica do Sr.

Augusto César da Cunha Moraes. Desejamos a este illustre cavalheiro muita

felicidade, e felicitamos o povo de Crestuma que tem mais um templo de trabalho à

sua disposição”. O mesmo periódico, um ano depois, indica que a fábrica “edifica-se

e principia a trabalhar com teares systema moraes, systema este premiado na

Exposição Universal de Paris de 89…” (Jornal dos Carvalhos, 1-11-1891)

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Esta fábrica foi erguida pela família Morais, que era natural de Coimbra. A

ligação a Crestuma concretizou-se através de Augusto César da Cunha Morais,

homem empreendedor a quem se devem uma série de inovações na organização do

trabalho, em formas novas de laboração na tecelagem.

Unidade fabril de enorme importância na indústria do concelho e até do país,

uma vez que laborava com teares e maquinaria muito sofisticada para a época, a

Fábrica de Fitas e Fiação de Algodão AC Cunha Morais participou em diversas

exposições nacionais e internacionais e foi premiada com medalha de ouro na

“Exposição Agrícola-Industrial de Gaya”, em 1894, com um tear movido a gás.

(Guimarães, 1995: 229).

Para além deste louvor, a mesma fábrica foi premiada na Exposição de Paris

realizada em 1889, bem como noutras que se podem ver no anúncio publicitário da

fábrica.

Ilustração 25 – Anúncio publicitário A.C. da Cunha Morais, Crestuma

Fonte: Anuário Comercial do Porto para a cidade do Porto, Gaia e demais concelhos do distrito,

1943

Foi recolhido um testemunho de uma antiga funcionária13, que era fiandeira,

trabalhava no algodão, que contou que a matéria prima vinha nos barcos rabelos

13
Margarida Reis, antiga funcionária da fábrica em entrevista realizada a 5 de novembro de 2015.
Laborou 22 anos.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

pelo Rio Douro para ser transformada na fábrica. A fábrica tinha várias secções: a

esfarrapadeira, a tinturaria, a serralharia, a carpintaria, a tecelagem e o armazém. Os

produtos finais eram importados e exportados para Angola na sua maioria, onde a

família Moraes tinha interesses económicos. Os operários trabalhavam por turnos, de

segunda feira a sábado e nessa altura “picavam o ponto”. Se não o fizessem era

descontado no salário. Segundo a D. Margarida, a empresa era dirigida de forma

familiar, por um conjunto de pessoas de nível superior, inteligente e dedicado ao

povo de Crestuma, dada a percentagem de empregados oriundos da freguesia. A

fábrica empregava cerca de 300 funcionários e tinha um guarda porteiro diariamente

e 24h por dia.

Segundo os censos de 1900, Crestuma tinha 1032 residentes e 1/5 destes

trabalhavam nesta fábrica, o que vem demonstrar a importância sócio-económica da

empresa na dinâmica local e desvendar a azáfama que ali se viveria. A Fábrica de

Fitas e fiação de Algodão AC Cunha Morais abriu falência em 2007. Actualmente o

edificado foi comprado e encontra-se numa fase de recuperação. (ver anexo II)

A importância da fábrica pode ser aferida a partir do que sobrou em termo de

cultura popular de Crestuma, como o poema “Olá Morais”, da autoria da D. Margarida

Reis. (ver anexo VI).

Apontamentos biográficos de Augusto César da Cunha Moraes

Augusto César da Cunha Morais estudou no Instituto industrial do Porto, onde

se distinguiu pela sua inteligência e audácia, nomeadamente na atividade industrial.

No seguimento do seu progresso académico, Cunha Morais criará uma empresa em

Crestuma na década de 80 no século XIX que se dedicava à produção de balões

venezianos. Há poucas informações para este período, embora se saiba da

existência de exemplares publicitários desta atividade. A localização foi o principal

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

fator que levou Cunha Morais a erguer ali uma fábrica, uma vez que a ligação mais

fácil e rápida até ao Porto era feita pelo Rio Douro, e neste caso concreto, a distância

estava cifrada em apenas cerca de 1km14. Talvez pelo facto de ter feito parte da

direção da Companhia de Fiação de Crestuma em 1878, Cunha Morais voltou a

escolher Crestuma para a instalação da fábrica, o que viria a motivar o

estabelecimento da residência da família também em Crestuma, na denominada

Quinta da Estrela. Esta quinta (que, em tempos, era o ex-libris de Crestuma),

reconhecida pela sua beleza e pelas variedades de floricultura, e “pode dizer-se que

lhe cabe a honra de ter sido fundadora do intercâmbio social, chamado turismo, face

às incontáveis pessoas que a visitaram, nacionais e estrangeiras, a justificar o

enorme prestígio alcançado, que ultrapassou fronteiras”15, afirmou colunista

desconhecido no Jornal local “o Náutico” (s.d).

No início do século XX, Augusto Morais elaborou um plano para uma linha de

caminho de ferro com tração elétrica entre Vila Nova de Gaia e Castelo de Paiva,

mas que, todavia, não se concretizou. Augusto Morais propôs também um plano de

melhoramentos da cidade do Porto em 1916.16 Em 1923, Cunha Morais chega a

ocupar, por um curto espaço de tempo, o cargo de presidente da Câmara Municipal

Vila Nova de Gaia, tendo sido também presidente da Secção Algodoeira da

Associação Industrial Portuense entre 1930/44.

14
A título de curiosidade, a empresa possuía as lanchas Carolina e Maria Rosa, que faziam a ligação
com o Porto, cujas denominações eram nomes de membros da família Morais.
15
De realçar a visita do almirante Gago Coutinho, amigo pessoal de Augusto Morais visitou Crestuma
e a Quinta da Estrela em 1922. (ver anexo III)
16
Para mais informações, consultar o blogue “do porto e não só”, publicação de 25 de agosto de 2010.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

e) Manuel Tavares & Irmão (fábrica do Tavares)

O percurso da rota continua pela rua da Fontinha, passando pelo casario até

ao próximo ponto de paragem, a Fábrica do Tavares, como é denominado

localmente.

Ilustração 26 – Interior da fábrica do Tavares, 2015

Fonte: foto da autora, 2015

Devido a uma alteração de proprietário, a fábrica de Manuel Tavares & Irmão,

passou a designar-se como Fábrica do Tavares de Joaquim Fernandes Lopes.

Após recolha de testemunhos de antigos funcionários17, foi possível aferir que a

“fábrica do Tavares” tinha um horário laboral fixo diurno, das 8h às 18h, e folgava ao

fim de semana.

Era uma fábrica que se dedicava mais ao papel e cartão, embora tivesse

também tecelagem. As máquinas trabalhavam com a força do rio Uíma, sendo que

17
Testemunhos da Srª Libânia, antiga funcionária da fábrica em entrevista realizada a 20 de outubro
de 2015, laborou 23 anos. E da Srª Celeste Amorim em entrevista realizada a 27 de outubro de 2015
que laborou na fábrica 16 anos.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

no verão tinham que ser ligados uns motores suplementares para as máquinas

trabalharem devido à escassez de caudal. No inverno, a tecelagem parava, devido

às cheias, pois as turbinas ficavam cobertas com água e não funcionavam.

Em termos de maquinaria, os testemunhos referem a existência de teares,

torcedores, máquinas de cordão, amassadeiras, calandras. O produto final que mais

fabricavam eram caixas de cartão de vários tamanhos para sapatos e camisas.

Na parte da fábrica dedicada à produção de papel e cartão só trabalhavam

mulheres e apenas um homem operava na máquina. Era uma fábrica de pequena a

média dimensão. Os trabalhadores recebiam o salário à semana.

Ilustração 27 – anúncio publicitário da fábrica de papel e cartão

Fonte: Anuário do Porto, Comercial, Industrial e burocrático, 1950: para a cidade do Porto, Gaia e

Matosinhos e restantes concelhos do distrito, 1950.

O exterior da fábrica ainda está em bom estado de conservação, ao contrário

do interior onde não se vê nenhum tipo de maquinaria nem mobiliário e o mesmo se

encontra destruído.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

f) Barbosa & Irmãos

A 50m da fábrica anterior, e do lado esquerdo da “fábrica do Tavares”,

encontramos no mesmo percurso outra fábrica de papel, tecelagem e fundição

apelidada localmente como a fábrica dos “Vitórias”, actualmente pertença da

empresa Kayaks Elio.

Ilustração 28 – exterior da fábrica, 2015

Fonte: foto da autora, 2015

A partir dos testemunhos levantados com antigos funcionários18 da fábrica, os

operários trabalhavam 48h semanais em horários diurnos das 8h às 18h, de segunda

a sexta, e aos sábados das 8h às 11h. A fábrica tinha dois pisos, com tecelagem,

fundição, serralharia, carpintaria e tinturaria e trabalhava com teares suíços. Só na

fundição trabalhavam mais de 150 pessoas, cerca de 50 na tecelagem e umas 20 na

serralharia. A fábrica exportava banda e fitas de nastro para Angola. O salário era

pago ao mês e o rio não tinha qualquer influência na laboração. Em termos de

maquinaria laboravam com torcedores, encartadeiras, dobadeiras e embraçadeiras.

(ver anexo IV).

18
Testemunhos da Srª Vítória, antiga funcionária da fábrica em entrevista realizada a 12 de novembro
de 2015. Laborou 30 anos; Srº Hermenigildo Cancela antiga funcionário da fábrica em entrevista
realizada a 20 de novembro de 2015. Laborou 20 anos.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Ilustração 29 – anúncio publicitário da fábrica Barbosa & Irmãos

Fonte: Anuário Comercial do Porto, 1934

No seu interior pode ainda ver-se os fornos pertencentes à tinturaria, e as

paredes em ruínas e em mau estado de conservação. A maquinaria terá sido furtada

e destruída aquando do fim da actividade da fábrica.

Ilustração 30 – interior da fábrica, ano de 1975

Fonte: foto Foco, 2015

A falta de acompanhamento da tecnologia ditou o fim desta fábrica, segundo os

testemunhos, a mesma não mudou a maquinaria e a produção foi entrando em

decadência, contou a senhora Fernanda Castro, tecedeira na fábrica que a mesma

fechou para férias e quando voltaram para iniciar e a mesma já estava em falência.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

g) M. Guedes da Silva, Lda

Caminhando um pouco mais, e do lado direito, avistamos uma rampa que nos

dá acesso ao rio Uíma e à parte traseira da próxima fábrica. O edificado quase

inexistente não passa despercebido.

Ilustração 31 – fábrica M. Guedes da Silva em ruínas

Fonte: foto da autora, 2015

A fábrica era dirigida por Manuel Guedes da Silva e outros sócios parentes e

hoje teria mais de cem anos.

Quando a mesma já estava em fase de partilhas, foi comprada pela família dos

Cantinhos e laborou alguns anos no nome da firma Pereiras e Barbosas, Lda.

Inicialmente era composta por um andar e exerciam o mesmo ramo de actividade

que a fábrica anterior, contudo elevou para três os andares existentes. Não tinham

escritório físico, mas uma vez por semana um contabilista fazia a organização da

contabilidade. Aproveitavam a força da água, do Rio Uima para as turbinas e

empregava entre 25 a 30 pessoas.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Ilustração 32 – anúncio publicitário da fábrica M. Guedes da Silva, Lda

Fonte: s/d – desconhecida

Em frente desta fábrica avistamos um edifício, também em ruínas, que outrora

foi a fábrica F. Guedes da Silva, da qual não existem testemunhos para a sua

caracterização.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

h) Companhia de Fiação de Crestuma

Após a fábrica de Manuel Guedes da Silva, em frente avistamos a Companhia

de Fiação de Crestuma e o fim da rua.

Ilustração 33 – vista da Companhia de Fiação de Crestuma

Fonte: foto da autora, 2012

A fábrica da Companhia de fiação de Crestuma, inicialmente denominada

Companhia da Fábrica de Crestuma, foi fundada em 1854, embora tenha sido

oficializada apenas em 1857, por um grupo de industriais e capitalistas da cidade do

Porto: Visconde de Castro Silva, Manuel Gualberto Soares, António Ferreira Baltar e

António Ferreira Braga, conforme a autora Fátima Teixeira mostra no Boletim Cultural

da Associação Amigos de Gaia. (Teixeira, 2014: 16)

A fábrica da Companhia de fiação de Crestuma ficou sediada no preciso local

onde outrora havia sido edificada a Fábrica de Verguinha e Arcos de Ferro. Esta

havia sido vendida após decadência económica. O inquérito industrial de 1881 faz

alusão a esta unidade e à sua privilegiada localização: “Passemos agora à fiação de

Crestuma… O Rio Ima, confluente da margem esquerda do Douro, corre n´uma

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

fenda abrupta no fundo da qual, está a fábrica. A de Crestuma é tocada por motores

hydraulicos”. (AAVV, 1881: 172).

A Companhia de fiação de Crestuma diferenciou-se pelo fato de estar equipada

com a melhor maquinaria para o efeito, o que fez com que enaltecesse a atividade no

local e lhe atribuísse rapidamente desenvolvimento e posição no mercado, muito por

mérito do Comendador José Moreira Pimenta da Fonseca19, principal diretor e

capitalista da referida Companhia de Fiação de Crestuma. Numa notícia publicada a

12 de Agosto de 1928, no jornal A Luz do Operário, podemos ler: “E´ali director, o

nosso amigo sr. António Pimenta da Fonseca, e o maior accionista. Dedica êle à

fábrica de Crestuma o melhor dos seus esforços. Seu pai, o falecido Comendador

Pimenta da Fonseca, foi a alma daquele colosso fabril. O filho herdou também as

qualidades de trabalho do autor dos seus dias, e por isso podendo viver alheiado a

canceiras, êle enfarinhou-se na rotina da fábrica e ela é uma grande parte da sua

vida”. (A Luz do Operário, 12 de agosto de 1928: 1)

A Companhia participou em várias exposições industriais com realce para a do

Porto realizada em 1865, que afirmou Vila Nova de Gaia como grande centro

Industrial20. Esta fábrica dispunha, aproximadamente, de vinte mil fusos e de trezentos

e cinquenta teares desde o início da atividade, onde se ocupavam centenas de

operários. Guimarães sublinha que “o rio era fundamental para a laboração nesta

unidade, e no verão a Companhia de Fiação de Crestuma parava 3 dias por semana

por falta de água”. Guimarães (1997: 99)

Por seu turno, Ribeiro aponta que a “pujança e a grandeza industrial da

Companhia de Fiação de Crestuma era de tal forma vincada que em 1890 já se

descarregavam, no seu cais da praia, junto ao Douro, mil toneladas de pó de carvão

19
José Moreira Pimenta da Fonseca, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, foi condecorado como
Comendador da Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, em 1897, pelo rei D.
Carlos. Foi membro da direção do Hospital Geral de Santo António. Faleceu, no Porto, na rua de Santo
Ildefonso onde residia, a 8 de setembro de 1920, tendo deixado testamento
20
“A companhia de Fiação de Crestuma, uma das maiores empresas têxteis do Norte do País,
possuía um vapor chamado “Crestuma” que fazia o transporte de pessoas e bens de Crestuma ao Porto
e vice-versa”. (Ribeiro, 1997: 15)

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

que ocupavam cerca de 40 carros de bois, e largas dezenas de trabalhadores no seu

transporte para a fábrica”. (Ribeiro, 1997: 26). O mesmo autor refere ainda também

que “no cais da Companhia de Fiação de Crestuma havia a casa da guarda, local por

onde obrigatoriamente teriam que passar todas as mercadorias para serem pesadas

e taxadas com o imposto de contribuição, a cargo de um fiscal, de seu nome João,

funcionário da Câmara de Gaia, que fardava a rigor”. (Ribeiro, 1997: 10).

O jornal “A luz do operário”, em 1893, visitou a fábrica e deixou uma pequena

descrição nas suas páginas: “Vimos todas as dependências da grande fábrica.

Observamos com grande admiração a enfermaria, consultório médico, estação de

bombeiros, que são recrutados no pessoal da fábrica, com dormitórios decentes,

casa de banho e sala de leitura… tudo muito cuidadosamente tratado, cantina e

bairro operário”.

Era uma fábrica que tinha todo o processo dentro do seu núcleo: tecelagem,

serralharia, tinturaria, fundição e ainda todo o trabalho na quinta agrícola. No “Jornal

dos Carvalhos” do dia 1 de Novembro de 1891 é referido que no ano de 1854

“começa definitivamente a trabalhar na vizinha freguesia de lever a fabrica da

Companhia Fiação de Crestuma, em que actualmente trabalham 300 operários”.

Pelos testemunhos que pudemos apurar, esta fábrica trabalhava em três turnos

de oito horas cada: “Lembro-me de a fiação ter três turnos, muita gente trabalhava lá,

Crestuma, Lever, Seixo-alvo, Sandim, Mosteirô e até de Canedo vinha gente. Fui

para lá trabalhar com 12 anos para o segundo turno, cozer umas fitas que partiam

dos contínuos e torcedores. Na primeira fazíamos do algodão fio e os torcedores

torciam o fio para ficar mais forte. Os batedores eram uma secção onde o algodão

em pasta era transformado em algodão fofo, e posto em vários rolos e levados para

a secção das cardas, onde era transformado em fio. O fio produzido pela fiação era

de grande qualidade, basta dizer que a Inglaterra era um dos fregueses de

excelência, já naquele tempo tínhamos de pesar o fio que ia para os ingleses em

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

libras. O salário era pago à sexta feira em dinheiro, eu ganhava uns cento e tal

escudos”21.

No seu testemunho, a Senhora Dores22 referiu que “havia muito rigor no

trabalho, que de oito em oito dias iam ao armazém, verificar à zona dos defeitos, se

tinha lá algum rolo de pano seu com defeito, porque se tivesse pagava uma multa

pelo trabalho estar mal feito”, bem como que “o algodão vinha em rama em camiões

muito grandes e o pano saía da Companhia já pronto. Tinha tudo lá. No final do dia

tinham que mostrar o rendimento do trabalho, no início colocavam uma marca e no

fim mediam para ver o que rendeu. Se não correspondesse ao estipulado retiravam

uma percentagem do salário, diziam que “era por conta do funcionário”. Actualmente

o edificado foi adquirido e encontra-se numa fase de recuperação para

implementação de outras empresas. (ver anexo V).

Ilustração 34 – Inauguração do Busto do Comendador Pimenta da Fonseca no exterior da

CFC, 1917

Fonte: foto Foco, 2015

21
Testemunho do Sr. Elísio Castro, antigo funcionário da fábrica em entrevista realizada a 1 de
novembro de 2015. Laborou 13 anos.
22
Testemunho da Srª Dores, antiga funcionária da fábrica em entrevista realizada a 17 de outubro de
2015. Laborou 26 anos.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Notas conclusivas

Reconhecendo a importância dos recursos existentes no território e do turismo

enquanto estratégia de preservação do património e desenvolvimento local, esta

investigação teve como objetivo primeiro o contributo para o estudo do património

industrial de Crestuma, que se afigura com evidente interesse histórico em qualquer

escala: local, regional, nacional.

Todo o levantamento realizado, desde o estudo da revisão bibliográfica, ao

estudo aprofundado do território a partir de fontes primárias e secundárias, permitiu

compreender a importância de Crestuma e da urgência na preservação e

recuperação do seu património, bem como o contributo que poderá ter para o

desenvolvimento turístico.

Apesar das dificuldades foi possível, com evidente certeza, concluir da

importância da pesquisa como base sólida para a tomada de consciência da

necessidade de preservação de um património, que, talvez pela novidade do objecto

temático ou, ainda, pelas dificuldades na pesquisa, não tem tido a atenção e o

cuidado que merecem.

As dificuldades na demorada pesquisa e na procura de fontes fidedignas

visando uma mais valia informativa foram, de certo modo, um entrave à execução de

um trabalho mais coeso, mais alargado e completo, ao nível de pormenores

históricos e culturais.

Foi prevalente o generoso e determinante contributo da população residente na

partilha das suas memórias o que nos permitiu dissipar dúvidas e garantir uma maior

veracidade dos depoimentos recolhidos. O testemunho de muitos familiares de

antigos responsáveis entre patrões, chefias e operários das várias empresas

referenciadas permitiu fidelizar resultados dando também garantias valorativas, aos

mais diversos níveis.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Há consciência de que haverá muito mais trabalho a desenvolver visando

projetar Crestuma como área privilegiada no que ao turismo industrial diz respeito. A

competição nesta área, no contexto económico, exige investigação contínua para

fundamentar as potencialidades deste território.

Existindo um projecto municipal em Vila Nova de Gaia designado de “Encostas

do Douro”, já em execução, e que irá transformar toda a área fluvial do concelho,

sobretudo na sua zona interior, mais se justifica a consciencialização de todos os

responsáveis locais e regionais que se mobilizem para que não se perca esta

oportunidade.

É, por isso, um trabalho ainda inacabado, uma vez que ainda há muita

investigação a fazer. Num tempo de tantas dificuldades, quando tanto se fala de

sustentabilidade, reutilização e de memória, talvez seja altura de utilizarmos o

passado enquanto chave para futuro, tanto mais que Crestuma é um território

periférico de uma área metropolitana com uma elevada taxa de desemprego, mas

com uma crescente procura turística. Abundam recursos de arqueologia industrial e

paisagens extraordinárias. Na nossa opinião, falta lapidar o diamante e preservar o

bom que o concelho tem para oferecer com óbvias valias económicas e identitárias

para o futuro.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Bibliografia

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o Site institucional do ICOMOS Portugal - http://www.icomos.pt/ (consultado em

07-03-2015)

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do Porto… pela Sub-Comissão encarregada das visitas aos estabelecimentos

industriaes, Porto, Typ. de António José da Silva Teixeira.

o Anuário Comercial do Porto para a cidade do Porto, Gaia e demais concelhos

do distrito, 1943

o Anuário Comercial do Porto para a cidade do Porto, Gaia e demais concelhos

do distrito, 1943

o Anuário Comercial do Porto, 1934

o Anuário do Porto, comercial, industrial e burocrático, 1950: para a cidade do

Porto, Gaia e Matosinhos e restantes concelhos do distrito.

o Anuário Industrial, comercial e turístico de Gaia, 1985.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

o Anuário Industrial, Comercial e Turístico de Gaia, de 1950

o Carta de Nizhny Tagil sobre o Património industrial, elaborada pelo organismo

The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage

(TICCIH, 2003)

o Diário do Governo de 28 de Maio de 1925

o Jornal “A luz do operário” de 1893

o Jornal “A Luz do Operário”, 12 de agosto de 1928

o Jornal “O Grillo de Gaya”, Maio de 1891

o Jornal dos Carvalhos 1-11-1891

o Jornal local “o Náutico” (s.d).

o Jornal público, datado do dia 14 de Setembro de 2009

o Lei de bases do património português (lei nº 107/2001 de 8 de Setembro)

o Portugaliae Monumenta Historica, vol. IDiplomata et Chartae, Lisboa,

Tipografia da Academia, 1867, pp. 16 e 17, documento n.º XXV – Arquivo

Nacional Torre do Tombo (ANTT)

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100
“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Anexos

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Anexo I

Listagem do Património Industrial na Lista do Património Mundial da

Humanidade da UNESCO, elaborada sob orientação das listagens oficiais dos

organismos ICOMOS e APPI organizada por ano de admissão.

1978

 Mina de Sal de Wieliczka, Polónia

1980

 Cidade Histórica de Ouro Preto, Brasil

 Cidade Mineira de Roros, Noruega

1982

 Centro Histórico da Cidade de Olinda, Brasil

 Da grande Salina de Salins-les-Bains à Salina Real de Arc-et-Senans, França

1985

 Ponte de Gard (aqueduto Romano), França

 Velha Cidade e Aqueduto de Segóvia, Espanha

1986

 Garganta Ironbridge, Reino Unido

1987

 Cidade de Potosi, Bolívia

1988

 Cidade Histórica de Guanajuato e minas adjacentes, México

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

 Trinidad e Vale dos Engenhos, Cuba

1992

 Minas de Rammelsberg e Cidade Histórica de Goslar, Alemanha

1993

 Centro Histórico de Zacatecas, México

 Cidade Histórica de Banska Stiavnica e seus monumentos técnicos,


Eslováquia

 Indústrias de Fundição de Engelsberg, Suécia

1994

 Fábrica de Metalurgia de Volklingen, Alemanha

1995

 Centro Histórico da Cidade de Kutná Hora, Igreja de Santa Bárbara e

Catedral de Nossa Senhora de Sedlec, República Checa

 Complexo têxtil e operário de Crespi d´Adda, Itália

1996

 Fábrica de tratamento de madeira e cartão de Verla, Finlândia

 Canal de Midi, França

 Bauhaus e seus sítios em Weimar e Dessa, Alemanha

 Centro Histórico do Porto, Portugal

1997

 Paisagem Cultural Dachstein Salzkammergut – Hallstatt, Áustria

 Rede de moinhos de Kinderdijk-Elshout, Holanda

 Las Médulas, Espanha

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

1998

 Linha Ferroviária de Semmering , Áustria

 Os quartos elevadores no Canal du Centre e seus arredores - La Louvière


and Le Roeulx (Hainault), Bélgica

 Estação de bombeamento a vapor D. F. Woudagemaal, Holanda

1999

 Centro Histórico de Diamantina, Brasil

 Caminhos de Ferro de Montanha Índios, Índia

2000

 Paisagem Industrial de Blaenavon, Reino Unido

 Minas Neolíticas de Spiennes (Mons), Bélgica

 Monte de Qingcheng e Sistema de Irrigação Dujiangyan, China

 Paisagem Arqueológica das Primeiras plantações de Café no Sudeste de

Cuba, Cuba

 Complexo Industrial da Mina de Carvão de Zollverein em Essen, Alemanha

2001

 Complexo Industrial da Mina de Carvão de Zollverein, Alemanha

 Fábricas do Vale de Derwent, Reino Unido

 Aldeia de New Lanark, Reino Unido

 Cidade Industrial de Saltaire, Reino Unido

 Área Mineira da Grande Montanha de Cobre de Falun, Suécia

 Centro Histórico da Cidade de Góias, Brasil

 Região Vitivinícola do Alto Douro, Portugal

2004

 Royal Exhibition Building and Carlton Gardens, Austrália

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

 Estação Ferroviária de Chhatrapi Shivaji (antiga Victoria Terminus), Índia

 Estação de Rádio de Varberg, Suécia

 Porto Marítimo de Liverpool, Reino Unido

2005

 Casa, oficinas e museu Plantin- Moretus, Bélgica

 Oficinas de Sal de Humberstone e Santa Laura, Chile

 Le Havre, a cidade reconstruída por Auguste Perret, França

2006

 Paisagem Mineira de Cornwall e de Devon ocidental, Reino Unido

 Fábricas de Nitrato do Chile de Humberstone e Santa Laura, Chile

 Ponte suspensa de Vizcaya, Espanha

 Paisagem de Agave e Antigas instalações industriais de Tequila, México

 Salão do Centenário em Wroclaw, Polónia

2007

 Cidade Mineira de Sewell, Chile

 Canal Rideau, França

2008

 Caminho de Ferro de montanha de Albula/Bernina, Suíça

2009

 Aqueduto e Canal de Pontcysyllte, Reino Unido

2011

 Minas de Rammelsberg, Alemanha

 Cidade Mineira de Roros, Noruega

2012

 Sítios Mineiros da Wallonia, Bélgica

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

2014

 Fábrica de Van Nelle, Holanda

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Anexo II
Livro cedido pela Srª. Odília – família Morais, 1909

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Espaço no interior da casa da família morais utilizado para reuniões com os

funcionários, 1900 – cedida por foto foco, 2015

Torno manual utilizado na AC Cunha Morais, 1910-1920 – cedida por foto foco,2015

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Publicidade à fábrica dos Morais no jornal “O comércio de Gaia” de 1965 – cedido por

D. Arminda Castro, antiga funcionária.

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Anexo III
Visita do Almirante Gago Coutinho a Crestuma em 1922 – cedida por foto foco, 2015

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Anexo IV
Barbosa & Irmãos

Documento cedido por antiga funcionária da Barbosa & Irmãos, D. Fernanda Castro

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Foto cedida por foto foco, 2015 – interior da fábrica num dia de trabalho, 1906-1910

Foto cedida por foto foco, 2015 - Esmagador de papel, servia para esmagar o papel velho para

fazer novo, 1916-1920

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Anexo V

Foto cedida por foto foco, 2015 – Companhia de Fiação de Crestuma em 1887

Foto cedida por foto foco, 2015 –Companhia fiação de Crestuma entre 1969-1975

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Foto foco – 1960 – mini barragem da CFC

Instrumento inventado na CFC para retirar agua para regar as quintas e os

campos, 1918 – foto foco

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Servia para correr a luz – inventado na CFC – 1918 – foto foco

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“Crestuma, património e turismo industrial” - Daniela Raquel Ferreira dos Santos

Anexo VI
Poema “Olá Morais”, de Margarida Reis:

Ó fábrica do morais Por cima desta os batedores


Que tantas saudades deixaste Mesmo de frente à caldeira
Empregavas tanta gente Ainda a carpintaria
E fechas-te de repente A seguir a serralharia
E nunca mais trabalhaste Que ficava ali à beira

Davas o pão a ganhar E logo ao lado desta


No tempo dos nossos pais Tinha uma escadaria
De todas as freguesias Que tinha menos movimento
Pareciam romarias Mas que a qualquer momento
Para vir para o Morais Se ia à tinturaria

Desde a segunda ao sábado Com a guaripa à entrada


Trabalhavas com três turnos Com o porteiro noite e dia
Mas havia secções Agora estás abandonado
Que em todas as ocasiões É silvas por todo o lado
Só trabalhavam diurnos Em todo canto e escadaria

Tu que tinhas os três pisos Tinhas trolhas e pedreiros


Todos a funcionar E terrenos à maneira
Mais a parte da tecelagem E tinhas tuas biquinhas
E a boa camaradagem E as ruas sempre limpinhas
Que agora é para recordar Desde a entrada à palmeira

E agora se passarmos Agora morais só falta


À parte do escritório Falar da coisa mais bela
E depois para a cozinha Relembrar os teus jardineiros
Que era do lado da fontinha Que passavam os dias inteiros
Onde tinha o refeitório. A cuidar da tua Estrela

Também o pronto-socorro Toda a gente a admirava


Era mesmo ali à beira Pela beleza que ela tinha
Com a cabine ao lado Muito povo a visitava
E mais abaixo um bocado Pois no sítio que ela estava
Era a esfarrapadeira. Era lá na Mouratinha

Em frente era o armazém E agora para terminar


Onde guardavam os fardos Digo-te adeus ó Morais
Que os camiões traziam Tantos anos trabalhei
E dali se repartiam Que um dia te deixei
Dali eram transportados. E foi para nunca mais.

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