Artigo 1
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Doação de Sangue
Isabelle Bezerra Capecce1
Adriana de Assis Delgado Nascimento2
Resumo: Este artigo é sobre a doação de sangue, que sofre um declínio assustador em todo o mundo. A
doação é um ato simples e voluntário que ainda é cercada por mitos e dilemas, que muitas vezes
bloqueiam a ação de um possível doador. Por conta disso, muitas pessoas desconhecem a facilidade e a
importância da doação sanguínea. O objetivo do artigo é explorar questões que envolvem a doação, com o
método de pesquisa indireta.
Palavras-Chave: Doação de Sangue; Doador de Sangue; Sangue.
Abstract: This article is on blood donation, in frightening decline throughout the world. Donation is a
simple and voluntary act that is still surrounded by myths and dilemmas, which often block the action of a
possible donor. And so, many people are unaware of the ease and the importance of blood donation. The
article presents a brief overview of these issues.
Keywords: Blood Donation; Blood Donor; Blood.
A doação de sangue é um tema muito pouco abordado nos dias atuais. Doar é
um ato voluntário no qual o sangue é utilizado para inúmeros fins, como ajudar algum
paciente acidentado ou outro que esteja passando por uma quimioterapia. A doação
pode ir ainda para aqueles que possuem algum tipo de deficiência na produção de
sangue, nos glóbulos vermelhos ou até mesmo na coagulação sanguínea, como a
hemofilia, anemia falciforme, talassemia ou leucemia. Vale destacar que o receptor
pode necessitar apenas de uma parte do sangue. Ele é realizado por uma pessoa
especializada para o melhor resultado e bem-estar do doador.
Contudo, apesar das facilidades e dos bons resultados a partir dessa ação,
ainda são muito baixos os índices de sangue nos hemocentros e hospitais pelo Brasil e
também pelo mundo. Vários hospitais fazem campanhas emergenciais pedindo à
sociedade a doação de sangue. Porém ainda assim sofremos da falta e escassez desse
elemento mais do que necessário para o ser humano.
No Brasil e ao redor do mundo esse ato ainda é cercado de desconhecimento,
mitos e tabus, o que leva a sociedade a falhar nesse quesito. Muitas pessoas desconhe-
cem a importância e a facilidade na doação de sangue e por isso acabam não disponi-
bilizando tempo para ir a um dos postos de doação. Contudo se esse pequeno, simples
e humano ato for praticado por mais pessoas pode salvar milhares e milhares de vidas.
Com o objetivo de tentar compreender alguns dos problemas que rodeiam a
doação de sangue e por qual motivo existem poucos doadores, esta pesquisa também
especifica todos os procedimentos e componentes que envolvem o sangue em si, desde
seu doador até o seu receptor. Além de ver algumas soluções plausíveis e eficazes para
resolver o problema, que podem ser utilizadas tanto pelos hemocentros, hospitais e
pontos de coleta no Brasil e também ao redor do mundo.
Como metodologia de pesquisa, este trabalho está baseado na investigação
bibliográfica: o exame de estudos sobre o tema abordado: doação sanguínea.
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História da Hemoterapia e Transfusão de Sangue no Brasil
A doação de sangue, além de um ato de solidariedade e humanidade, também
é cercada de estratégias e marketings. Todavia podemos observar que existe uma falta
expressiva de bolsas de sangue nos hemocentros em todo o mundo. Essa ainda é uma
prática cercada de mitos, crenças e rodeada por muitos preconceitos.
Primordialmente, para compreender todos os problemas e soluções que
envolvem a doação deve estar claro que todos esses métodos não desabrocharam da
noite para o dia. Muitos demoraram anos e até séculos para se tornarem seguros,
estáveis e acessíveis à toda população. Os processos mais expressivos atualmente são
a hemoterapia, ou seja, a transfusão sanguínea e a doação de sangue.
Segundo o Ministério da Saúde, a hemoterapia, por exemplo, surgiu por volta
de 1930, porém se concretizou somente nos anos 40. Entretanto em 1980, com o surgi-
mento da AIDS e doenças transmissíveis por conta da transfusão de sangue, surgiram
inúmeros dilemas decorrentes desse ato (BRASIL, 2015, apud MOREIRA, 2016).
Durante esses anos o governo brasileiro criou incontáveis medidas para uma
maior qualidade em todos os procedimentos que envolvem a coleta de sangue, visando
garantir a preservação e a segurança do doador e do receptor. O governo também
contribuiu para essa causa com a criação de projetos e medidas para um maior
arrecadamento voluntário de sangue. De acordo com Junqueira (2005), seguindo os
modelos franceses, foi criado o Programa Nacional do Sangue.
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Outro ponto a ser considerado é o tipo sanguíneo:
103
( O- TODOS O-
Fonte:
AB- AB+, AB- A-, B-, AB-, O-
Arquivo
Pessoal)
Vista a composição sanguínea, passemos ao Ciclo do Sangue, que engloba
todos os procedimentos do sangue.
O sangue é um tecido especial, que difere dos demais utilizados em
transplantes, porque pode ser coletado e separado em seus componentes. Cada
componente constituirá um dos vários produtos hemoterápicos, os quais serão
preservados in vitro, de modo que cada um deles possa ser selecionado e transfundido
no momento oportuno (JUNQUEIRA, 1979, apud FLAUSINO, 2015). Logo depois da
doação sanguínea, o hemocentro acaba oferecendo para os setores que manejam o
sangue e também para as indústrias esses tais componentes. A bolsa pode ser separada
de forma total ou com apenas um certo componente.
(Fonte: http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/1784>)
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(Fonte: http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/1784>)
Doação de Sangue
Não é apenas um problema brasileiro a falta de bolsas de sangue nos estoques
de hemocentros. Se olharmos ao redor do mundo podemos enxergar também a falta
desse ato.
De acordo com Silva (2017), a situação mais grave nos dias atuais é a da
Índia, “no qual a relação coleta/demografia não atinge nem 0,8% de doações anuais
(são 9 milhões de doações anuais para uma população de 1 bilhão e 200 milhões de
habitantes)”.
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Existem ao redor do país vários postos de coletas para os doadores.
Lembrando que,
No Brasil, os serviços de natureza hemoterápica podem ser realizados
por três distintas classes de prestadores, a saber: (I) Públicos, que
correspondem aos prestadores de serviços públicos federal, estaduais e
municipais, incluindo os serviços universitários públicos; (II) Privados
contratados, que abrangem os serviços filantrópicos e privados
contratados pelo SUS. Estes são utilizados no sentido de complementar
os serviços públicos que não possuem capilaridade suficiente para
atenderem a demanda estabelecida; e (III) Serviços privados, que são os
de natureza privada sem contratação pelo SUS e assumem a demanda
da rede assistencial privada e suplementar do país (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2014 apud PEREIRA, 2015).
De acordo com Pereira (2015), deve-se levar em conta a região do país. No
ano de 2013, o índice de doação era de 1,78% uma média entre as regiões
brasileiras. Sendo a região Centro-Oeste, com 2,55%, a que mais contribuía para
essa relação, como mostra a Tabela 2.
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possibilidade de doar de 2 em 2 meses, fazendo assim até 4 doações anuais. Já a
quantidade de sangue retirada é no máximo 450 ml.
Para a segurança e para uma melhor qualidade do sangue existem pré-
requisitos para que o doador esteja apto a tal ato, como mostra a tabela 3:
Período gestacional;
Período pós-gravidez: 90 dias para parto normal e 180 dias para cesariana;
Tatuagem e/ou piercing nos últimos 6 meses (piercing em cavidade oral ou região
genital impedem a doação);
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Apendicite, hérnia, amigdalectomia, varizes: 3 meses;
Malária
Fonte: <http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/doacao-de-sangue#quem-pode-doar>
108
Em relação aos anêmicos,
Pode doar a pessoa que apresentar hematócrito maior que 39% (ou
hemoglobina maior que 13g/dL) no homem e 38% (ou hemoglobina
maior que 12,5 g/dL) na mulher. Esse limite é necessário para não
causar prejuízos à saúde do doador e permitir a coleta da quantidade de
sangue estipulada como uma unidade (dose) para um adulto
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
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uma variável de desmotivação, dado que sua baixa percepção reduz a
intenção de doar (PEREIRA, 2015).
Um grande fator pode ser considerado o preconceito que ainda cerca todo o
processo de hemoterapia.
Lino (2011) salienta que “a doação de sangue não faz parte do cotidiano da
maioria da população brasileira e, por isso, a inserção da doação é um processo lento
que necessita de estratégias educativas de captação”. Portanto deve ser criada uma
serie de estratégias para uma melhor e maior captação de sangue no país.
Outro ponto que deve ser muito bem observado é a questão de a doação ser
influenciada pelas pessoas que estão ao seu redor, como amigos e familiares.
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“Barboza e Costa (2014) verificaram que parte da motivação do
indivíduo para doar sangue vem da influência de familiares e amigos,
que ajudam na superação das barreiras que influenciam negativamente
o comportamento do doador”.
Ainda, conforme Barboza e Costa (2014), as ações de marketing social
podem contribuir na construção de peças de comunicação focadas no
incentivo entre amigos e familiares e no desenvolvimento de ações de
integração entre amigos e familiares de doadores em eventos que
podem ser oportunos para a captação de novos doadores. (BARBOZA;
COSTA, 2014 apud MOREIRA, 2016).
Marketing Social
Como uma forma de clamar pela atenção da população é necessária uma
imensa e eficaz operação de marketing social, para que assim o problema que envolve
o sangue possa começar a ser resolvido e receber a atenção fundamental.
Assim, o marketing social se apresenta como tecnologia para mudança
de comportamento voluntária, na busca por compreender quais os
estímulos que as pessoas precisam para superar as barreiras
comportamentais que as impedem de aderir a dado comportamento.
Conceitualmente, o marketing social consiste na adaptação das
tecnologias do marketing convencional para constituição de programas
que objetivam incentivar o comportamento voluntário de um público,
com vistas ao bem-estar dos indivíduos adotantes de tal
comportamento. (ADREASEN, 2006 apud BARBOZA; COSTA, 2016)
Contudo para que toda essa promoção faça efeito é necessário uma maior
demanda e maior uso do marketing, um fator tão utilizado atualmente em todos os
âmbitos.
Pelo que observaram os vários autores da área, a maioria dos programas
de marketing social voltados para a saúde pública que explora uma
mudança de comportamento para o benefício de terceiros, como é o
caso da doação de sangue, gera campanhas que não são direcionadas ao
usuário final, já que nem sempre seu comportamento é alterado por
meio do marketing social. Portanto, para que o marketing social
promova mudanças substanciais no bem-estar social é preciso que suas
fronteiras sejam ampliadas, buscando mais do que atingir públicos alvo
com mensagens, posto que isto não parece ser suficiente para afastar
influências negativas e comportamentos indesejados. (BARBOZA;
COSTA, 2016)
Considerações finais
A partir desta pesquisa conseguimos observar que apesar da doação sanguínea
ser um ato tão seguro e necessário para a população, ele ainda é rodeado por
obstáculos, mitos ou preconceitos que devem ser levados em conta: a religião, a falta
de informações, de tempo e de acessibilidade.
A falta expressiva de hemocomponentes e do sangue em sua forma total nos
hemocentros, clínicas e hospitais, mostra como, mesmo depois de muitos avanços no
decorrer do tempo, ainda precisamos de muito empenho para conquistar a atenção da
população e também para assegurar a agilidade da transfusão.
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Mesmo que seja, ainda, uma pequena contribuição de sangue para todos os
hemocentros, podemos notar que aos poucos são criadas campanhas e ações para
incentivar a população. Vale ressaltar que não depende apenas do marketing para
conquistar o indivíduo e convencê-lo a realizar a doação. Outros fatores fazem o
cidadão aspirar a participar desse ato humanitário, como o altruísmo, as influências de
pessoas de seu convívio e até mesmo questões pessoais. Dessa forma, aos poucos, a
doação de sangue faz parte da rotina do cidadão brasileiro e esse ato humanitário vai
crescendo e salvando muitas vidas.
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Recebido para publicação em 06-09-18; aceito em 08-10-18
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