Artigo 1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 13

Convenit Internacional 31 (Convenit Internacional coepta 2) set-dez 2019

Cemoroc-Feusp / IJI - Univ. do Porto / Colégio Luterano São Paulo

Doação de Sangue
Isabelle Bezerra Capecce1
Adriana de Assis Delgado Nascimento2

Resumo: Este artigo é sobre a doação de sangue, que sofre um declínio assustador em todo o mundo. A
doação é um ato simples e voluntário que ainda é cercada por mitos e dilemas, que muitas vezes
bloqueiam a ação de um possível doador. Por conta disso, muitas pessoas desconhecem a facilidade e a
importância da doação sanguínea. O objetivo do artigo é explorar questões que envolvem a doação, com o
método de pesquisa indireta.
Palavras-Chave: Doação de Sangue; Doador de Sangue; Sangue.
Abstract: This article is on blood donation, in frightening decline throughout the world. Donation is a
simple and voluntary act that is still surrounded by myths and dilemmas, which often block the action of a
possible donor. And so, many people are unaware of the ease and the importance of blood donation. The
article presents a brief overview of these issues.
Keywords: Blood Donation; Blood Donor; Blood.

A doação de sangue é um tema muito pouco abordado nos dias atuais. Doar é
um ato voluntário no qual o sangue é utilizado para inúmeros fins, como ajudar algum
paciente acidentado ou outro que esteja passando por uma quimioterapia. A doação
pode ir ainda para aqueles que possuem algum tipo de deficiência na produção de
sangue, nos glóbulos vermelhos ou até mesmo na coagulação sanguínea, como a
hemofilia, anemia falciforme, talassemia ou leucemia. Vale destacar que o receptor
pode necessitar apenas de uma parte do sangue. Ele é realizado por uma pessoa
especializada para o melhor resultado e bem-estar do doador.
Contudo, apesar das facilidades e dos bons resultados a partir dessa ação,
ainda são muito baixos os índices de sangue nos hemocentros e hospitais pelo Brasil e
também pelo mundo. Vários hospitais fazem campanhas emergenciais pedindo à
sociedade a doação de sangue. Porém ainda assim sofremos da falta e escassez desse
elemento mais do que necessário para o ser humano.
No Brasil e ao redor do mundo esse ato ainda é cercado de desconhecimento,
mitos e tabus, o que leva a sociedade a falhar nesse quesito. Muitas pessoas desconhe-
cem a importância e a facilidade na doação de sangue e por isso acabam não disponi-
bilizando tempo para ir a um dos postos de doação. Contudo se esse pequeno, simples
e humano ato for praticado por mais pessoas pode salvar milhares e milhares de vidas.
Com o objetivo de tentar compreender alguns dos problemas que rodeiam a
doação de sangue e por qual motivo existem poucos doadores, esta pesquisa também
especifica todos os procedimentos e componentes que envolvem o sangue em si, desde
seu doador até o seu receptor. Além de ver algumas soluções plausíveis e eficazes para
resolver o problema, que podem ser utilizadas tanto pelos hemocentros, hospitais e
pontos de coleta no Brasil e também ao redor do mundo.
Como metodologia de pesquisa, este trabalho está baseado na investigação
bibliográfica: o exame de estudos sobre o tema abordado: doação sanguínea.

1 Aluna do Colégio Luterano São Paulo.


2 Professora de Biologia do Colégio Luterano São Paulo, orientadora.

101
História da Hemoterapia e Transfusão de Sangue no Brasil
A doação de sangue, além de um ato de solidariedade e humanidade, também
é cercada de estratégias e marketings. Todavia podemos observar que existe uma falta
expressiva de bolsas de sangue nos hemocentros em todo o mundo. Essa ainda é uma
prática cercada de mitos, crenças e rodeada por muitos preconceitos.
Primordialmente, para compreender todos os problemas e soluções que
envolvem a doação deve estar claro que todos esses métodos não desabrocharam da
noite para o dia. Muitos demoraram anos e até séculos para se tornarem seguros,
estáveis e acessíveis à toda população. Os processos mais expressivos atualmente são
a hemoterapia, ou seja, a transfusão sanguínea e a doação de sangue.
Segundo o Ministério da Saúde, a hemoterapia, por exemplo, surgiu por volta
de 1930, porém se concretizou somente nos anos 40. Entretanto em 1980, com o surgi-
mento da AIDS e doenças transmissíveis por conta da transfusão de sangue, surgiram
inúmeros dilemas decorrentes desse ato (BRASIL, 2015, apud MOREIRA, 2016).
Durante esses anos o governo brasileiro criou incontáveis medidas para uma
maior qualidade em todos os procedimentos que envolvem a coleta de sangue, visando
garantir a preservação e a segurança do doador e do receptor. O governo também
contribuiu para essa causa com a criação de projetos e medidas para um maior
arrecadamento voluntário de sangue. De acordo com Junqueira (2005), seguindo os
modelos franceses, foi criado o Programa Nacional do Sangue.

O Programa Nacional de Sangue estabelecia uma ordenação do Sistema


Hemoterápico no Brasil, criando hemocentros nas principais cidades do
País, tendo como diretrizes a doação voluntária não remunerada de
sangue e medidas para segurança de doadores e receptores. Foi
coordenado inicialmente por Luiz Gonzaga dos Santos, que, com sua
determinação e dinamismo, obteve um avanço considerável.

Assim, durante esses anos, houve um crescimento significativo da prática da


doação e transfusão de sangue. Já que a população, num ato de solidariedade, foi
impulsionada pelas crescentes ações do governo e dos hemocentros espalhados ao
redor do Brasil.

Componentes Sanguíneos e o Ciclo do Sangue


Preliminarmente devemos entender a constituição sanguínea para assimilar
corretamente os passos da doação, que é denominada como o Ciclo do Sangue.
De acordo com a Fundação Hemominas, o sangue fabricado na medula óssea
é considerado um tecido vivo. Ele é constituído por uma parte líquida amarelada,
denominada plasma, que representa aproximadamente 55% do sangue total. Nele
podemos constatar a presença de fatores de coagulação, que são as plaquetas, os
leucócitos e as hemácias (FUNDAÇÃO HEMONINAS, 2014).
Ainda de acordo com a Fundação Hemominas (2014), as plaquetas são
consideradas células essenciais para que ocorra o processo de coagulação no
indivíduo. Uma de suas principais funções é bloquear e impedir a hemorragia. Já as
hemácias e os leucócitos são considerados os glóbulos vermelhos e brancos,
respectivamente. Os glóbulos vermelhos possuem como principal função transportar o
oxigênio para o corpo e a condução do gás carbônico para os pulmões, com o objetivo
de que ele seja eliminado do corpo humano. Por outro lado, os glóbulos brancos
possuem como objetivo e função a defesa do organismo de agentes estranhos.

102
Outro ponto a ser considerado é o tipo sanguíneo:

Os grupos sanguíneos são determinados geneticamente e denominados


de acordo com os sistemas antígeno/anticorpo analisados, sendo os
sistemas ABO e RH os mais importantes para a avaliação de compati-
bilidade dos grupos sanguíneos nas transfusões (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2000).
No sistema ABO estão os quatro grupos: A, B, AB e O.

A expressão de seus antígenos na membrana eritrocitária é controlada


pelo lócus ABO do cromossoma 9 onde existem 3 genes alelos (A,B,O),
que expressam os antígenos correspondentes (exceto o O que não
expressa antígenos específicos). Outra característica do grupo ABO é a
presença de anticorpos naturais (anti-A ou anti-B) que são produzidos re-
gularmente a partir dos 6 meses de vida. O indivíduo do grupo A produz
anticorpos anti-B; os do grupo B produzem anticorpos anti-A; os do
grupo O produzem anti-A e B e os do grupo AB não produzem anti-
corpos contra o sistema ABO, pois possuem a expressão dos 2 antígenos
(A e B) na superfície eritrocitária (FUNDAÇÃO HEMOMINAS, 2014).
Já o fator RH regula se o individuo possui sangue de fator negativo ou
positivo.
O sistema Rh (ou fator Rh) é composto por antígenos denominados
D,d,C,c,E,e presentes na superfície eritrocitária. O mais imunogênico é
o antígeno D. Os indivíduos que expressam o antígeno D são chamados
de Rh positivo e os que não expressam (são do tipo d) são chamados de
Rh negativos. Aproximadamente 15% da população não apresenta o
antígeno D (FUNDAÇÃO HEMOMINAS, 2014).
O sistema ABO e o fator RH são primordiais para a doação. Devemos deixar
claro que cada grupo sanguíneo possui seu devido receptor, o que está relacionado
totalmente ao fator RH e ao sistema ABO.

A seleção do hemocomponente deve ser ABO compatível. Nos


pacientes Rh(D) negativos também deve haver a compatibilização do
sistema Rh. O teste de compatibilidade transfusional visa a
identificação da compatibilidade/ incompatibilidade entre antígenos das
hemácias do doador com os anticorpos presentes no soro/ plasma do
receptor (FUNDAÇÃO HEMONINAS, 2014)
Isso se explícita na tabela a seguir.

TIPO SANGUINEO PARA QUEM DOA RECEBE DE QUEM


A+ A+, AB+ A+, A-, O+, O-
B+ B+, AB+ B+, B-, O+, O-
O+ A+, B+, AB+, O+ O+, O-
AB+ AB+ TODOS
A- A+, A-, AB+, AB- A-, O-
B- B+, B-, AB+, AB- B-, O-

103
( O- TODOS O-
Fonte:
AB- AB+, AB- A-, B-, AB-, O-
Arquivo
Pessoal)
Vista a composição sanguínea, passemos ao Ciclo do Sangue, que engloba
todos os procedimentos do sangue.
O sangue é um tecido especial, que difere dos demais utilizados em
transplantes, porque pode ser coletado e separado em seus componentes. Cada
componente constituirá um dos vários produtos hemoterápicos, os quais serão
preservados in vitro, de modo que cada um deles possa ser selecionado e transfundido
no momento oportuno (JUNQUEIRA, 1979, apud FLAUSINO, 2015). Logo depois da
doação sanguínea, o hemocentro acaba oferecendo para os setores que manejam o
sangue e também para as indústrias esses tais componentes. A bolsa pode ser separada
de forma total ou com apenas um certo componente.

Segundo a Portaria MS Nº 158, de 04 de fevereiro de 2016, art. 82, a


bolsa de sangue total coletada, tecnicamente satisfatória, poderá ser
processada para a obtenção de um ou mais componentes. Os
hemocomponentes utilizados atualmente na prática clínica são:
concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas, plasma fresco
congelado, crioprecipitado e concentrado de granulócitos (FLAUSINO
et al., 2015 apud MOREIRA, 2016).
Dessa forma o sangue, depois de todos esses procedimentos, pode ser
finalmente disponibilizado, como se destaca a seguir na Figura 1: O Ciclo do Sangue:

(Fonte: http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/1784>)

De acordo com Flaustino, existe uma sucessão de procedimentos para que o


sangue seja disponibilizado corretamente para a população. Esse processo compreende
várias etapas, sendo elas: captação de doadores, seleção de doadores, coleta de sangue
ou componentes, processamento, preparo de hemocomponentes, controle e rotulagem,
armazenamento, seleção pré-transfusional, transfusão, fornecimento e serviços de
transfusão de sangue. Isso se mostra a seguir na Figura 2 (FLAUSINO, et al, 2015).

104
(Fonte: http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/1784>)
Doação de Sangue
Não é apenas um problema brasileiro a falta de bolsas de sangue nos estoques
de hemocentros. Se olharmos ao redor do mundo podemos enxergar também a falta
desse ato.
De acordo com Silva (2017), a situação mais grave nos dias atuais é a da
Índia, “no qual a relação coleta/demografia não atinge nem 0,8% de doações anuais
(são 9 milhões de doações anuais para uma população de 1 bilhão e 200 milhões de
habitantes)”.

Lá não há uma agência central de coleta, a fiscalização das condições


de funcionamento e realização de exames sorológicos é deficiente - a
National Thalassemia Welfare Society estima que de 6% a 8% dos
pacientes contraem doenças, inclusive HIV, por meio de transfusões. A
escassez se acentua no verão e a consequência maior é que o mercado
clandestino de doações remuneradas aparece como alternativa,
sobretudo, para aqueles cujo poder aquisitivo supre tais despesas
(SILVA, 2017).

Já no Brasil temos um índice também insatisfatório para atender de maneira


conveniente à população. Assim acabamos por verr hemocentros e hospitais
constantemente clamando por bolsas de sangue.
De acordo com o Ministério da Saúde (2018), “dados de 2016 indicam que
1,6% da população brasileira – 16 a cada mil habitantes – doa sangue”. Lembrando
que os “índices recomendados pela OMS que apontam a necessidade de se poder
contar com 3% a 5% de doações por ano” (SILVA, 2017). Cabe destacar que,

A cada ano, 46% do sangue coletado no mundo são provenientes de


doações regulares, dentre os quais, 87% dessas doações são realizadas
em países desenvolvidos, conforme relatório da OMS, em maio de
2005. No Brasil, dados da produção hemoterápica apontam que apenas
43% das doações efetuadas no país são de doadores regulares. Diante
disso, percebesse a necessidade de melhorar o estudo, o planejamento, a
organização, a execução e a avaliação das estratégias utilizadas pelo
Setor de Captação de Doadores dos Hemocentros do Brasil, na busca de
doadores habituais regulares, responsáveis, conscientes e saudáveis
(LINO, 2011).

105
Existem ao redor do país vários postos de coletas para os doadores.
Lembrando que,
No Brasil, os serviços de natureza hemoterápica podem ser realizados
por três distintas classes de prestadores, a saber: (I) Públicos, que
correspondem aos prestadores de serviços públicos federal, estaduais e
municipais, incluindo os serviços universitários públicos; (II) Privados
contratados, que abrangem os serviços filantrópicos e privados
contratados pelo SUS. Estes são utilizados no sentido de complementar
os serviços públicos que não possuem capilaridade suficiente para
atenderem a demanda estabelecida; e (III) Serviços privados, que são os
de natureza privada sem contratação pelo SUS e assumem a demanda
da rede assistencial privada e suplementar do país (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2014 apud PEREIRA, 2015).
De acordo com Pereira (2015), deve-se levar em conta a região do país. No
ano de 2013, o índice de doação era de 1,78% uma média entre as regiões
brasileiras. Sendo a região Centro-Oeste, com 2,55%, a que mais contribuía para
essa relação, como mostra a Tabela 2.

Tabela 2 – Taxa de doação de sangue por região brasileira (2013)


Região Coleta População/IBGE Taxa %
Região Centro-Oeste 382.939 14.993.191 2,55
Região Nordeste 869.439 55.794.707 1,56
Região Norte 245.782 16.983.484 1,45
Região Sudeste 1.431.673 84.465.570 1,69
Região Sul 656.690 28.795.762 2,28
Total 3.586.523 201.032.714 1,78
(Fonte:<http://www.unihorizontes.br/mestrado2/wp-content/uploads
/2016/05/JEFFERSON-RODRIGUES-PEREIRA.pdf>)

De acordo com o Ministério da Saúde (2018), são feitas aproximadamente


3,4 milhões de doações de sangue em um ano. “Atualmente, o Brasil possui 32
hemocentros coordenadores e 2.033 serviços de hemoterapia.” Levando ainda em
conta que no ano de 2017 o próprio investiu R$1,2 bilhão na Hemorrede.
De acordo com Pereira, o Ministério da Saúde classifica o doador pelo motivo
e o tipo. A motivação da doação é divida em três, sendo: a doação espontânea, a
doação de reposição e a doação autóloga ou autotransfusão. Já o tipo de doador é
separado em quatro grupos distintos: doadores de repetição, doadores de primeira vez,
doadores esporádicos e doadores de retorno (BRASIL, 2014c, apud PEREIRA, 2015).

Critérios para a Doação de Sangue


Existem diversos critérios e cuidados para a realização da doação de sangue.
De acordo com Pereira, “o processo de doação de sangue possui uma série de
exigências legais para que ele se concretize” (BRASIL, 2014c, apud PEREIRA,
2015).
O Ministério da Saúde (2018) ainda salienta que os intervalos para uma
doação se diferenciem dependendo dos sexos. Uma mulher pode doar em um período
de 3 em 3 meses e fazer até 3 doações durante um ano. Contudo o homem tem a

106
possibilidade de doar de 2 em 2 meses, fazendo assim até 4 doações anuais. Já a
quantidade de sangue retirada é no máximo 450 ml.
Para a segurança e para uma melhor qualidade do sangue existem pré-
requisitos para que o doador esteja apto a tal ato, como mostra a tabela 3:

Tabela 3 – Requisitos para a Doação de Sangue


Ter idade entre 16 e 69 anos, desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 anos
(menores de 18 anos devem possuir consentimento formal do responsável legal);
Pesar no mínimo 50 kg;
Estar alimentado. Evite alimentos gordurosos nas 3 horas que antecedem a doação.
Caso seja após o almoço, aguardar 2 horas;
Ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas;
Apresentar documento de identificação com fotografia, emitido por órgão oficial.
(Carteira de Identidade, Carteira Nacional de Habilitação, Carteira de Trabalho,
Passaporte, Registro Nacional de Estrangeiro, Certificado de Reservista ou Carteira
Profissional emitida por classe);
Para os menores de 18 anos, é necessário o consentimento dos responsáveis e, entre 60
e 69 anos, a pessoa só poderá doar se já o tiver feito antes dos 60 anos;
Fonte: <http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/doacao-de-sangue#quem-pode-doar>

De acordo com o Ministério da Saúde (2018), ”há situações temporárias e


impeditivas para a doação de sangue”. Como mostram as tabelas 4 e 5:

Tabela 4 – Impedimentos Temporários

Gripe, resfriado e febre: aguardar 7 dias após o desaparecimento dos sintomas;

Período gestacional;

Período pós-gravidez: 90 dias para parto normal e 180 dias para cesariana;

Amamentação: até 12 meses após o parto;

Ingestão de bebida alcoólica nas 12 horas que antecedem a doação;

Tatuagem e/ou piercing nos últimos 6 meses (piercing em cavidade oral ou região
genital impedem a doação);

Extração dentária: 72 horas;

107
Apendicite, hérnia, amigdalectomia, varizes: 3 meses;

Colecistectomia, histerectomia, nefrectomia, redução de fraturas, politraumatismos


sem sequelas graves, tireoidectomia, colectomia: 6 meses;

Transfusão de sangue: 1 ano;

Vacinação: o tempo de impedimento varia de acordo com o tipo de vacina.

Exames/procedimentos com utilização de endoscópio nos últimos 6 meses;

Ter sido exposto a situações de risco acrescido para infecções sexualmente


transmissíveis (aguardar 12 meses após a exposição);
Fonte: <http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/doacao-de-sangue#quem-pode-doar>

Tabela 5 – Impedimentos Definitivos

Ter passado por um quadro de hepatite após os 11 anos de idade;

Evidência clínica ou laboratorial das seguintes doenças transmissíveis pelo


sangue: Hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II
e Doença de Chagas;

Uso de drogas ilícitas injetáveis

Malária
Fonte: <http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/doacao-de-sangue#quem-pode-doar>

Segundo o Ministério da Saúde (2018), quem possui diabetes também possui


algumas restrições. “Poderá doar se a pessoa com diabetes estiver controlando apenas
com alimentação ou hipoglicemiantes orais e não apresentar alterações vasculares.
Caso tenha utilizado insulina uma única vez, não poderá doar”. Quem já teve doenças
como sífilis, meningite bacteriana ou papiloma vírus só poderá doar se o doador tiver
feito o tratamento completo ou a cura total da doença, respeitando os períodos antes da
doação. Em relação aos hipertensos cabe algumas restrições,

Os hipertensos poderão doar sangue se estiverem em uso de


medicamento que não contraindique por si só a doação. Será necessário
que o candidato à doação apresente relatório do seu médico assistente,
comprovando o controle clinico adequado. No dia da doação, a pressão
arterial e a doação apenas serão realizadas se a máxima estiver abaixo
de 140mmHg e a mínima abaixo de 90mmHg (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2018).

108
Em relação aos anêmicos,

Pode doar a pessoa que apresentar hematócrito maior que 39% (ou
hemoglobina maior que 13g/dL) no homem e 38% (ou hemoglobina
maior que 12,5 g/dL) na mulher. Esse limite é necessário para não
causar prejuízos à saúde do doador e permitir a coleta da quantidade de
sangue estipulada como uma unidade (dose) para um adulto
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

Fatores Críticos na Doação de Sangue


Agora, o que leva a essa deficiência nos hemocentros? De acordo com Sousa
et al. “uma série de fatores críticos relacionados à doação de sangue, que impedem,
desmotivam e/ou afastam os doadores potenciais e não doadores de efetivarem a
doação do sangue e permanecerem ativos para doações futuras” (SOUSA et al, 2016).
Um desses fatores é a falta de informações.

A ausência e a assimetria de informações relativas às diversas etapas do


processo de doação de sangue se mostram como os fatores mais críticos
do processo. Se por um lado não são tratadas as informações que
motivariam as pessoas, de forma mais efetiva, para a doação de sangue,
como a importância e o valor social relacionado ao ato da doação, por
outro, complementando e evidenciando a criticidade deste fator, não
são veiculadas informações suficientes e de maneira ampla sobre os
critérios que habilitam um doador. (SOUSA et al, 2016).

A ausência de informações acaba fazendo muitos doadores desistirem e até


mesmo não doarem, por medo de todo o processo que envolve o ato. Outro ponto pode
ser todo o procedimento de triagem.

Se, inicialmente, faltam no processo de divulgação propagandas e


informações relativas à capacitação do doador, quando no processo de
triagem este doador é barrado, sedimenta-se um comportamento
negativo para a não doação. De forma complementar, este mesmo
sujeito tende a descredenciar o processo, multiplicando esta opinião em
relação ao grupo. Consequentemente, a avaliação final do processo
torna-se negativa. Somando-se a estes fatos, a ausência de valorização
social do doador, o que ocorre somente pelo grupo social beneficiado
pela doação, os amigos e os familiares que a requisitaram, faz com que
o doador tenda a se distanciar do processo, não desenvolvendo uma
consciência e um comportamento comprometido com causas sociais
(SOUSA et al, 2016).

Outro fator é a questão da segurança em todos os processos de transfusão.


Muitos doadores não sabem se o procedimento é 100% seguro.

Notavelmente, a questão de segurança se faz importante na intenção de


doar ou não doar sangue de um indivíduo, podendo ser vista como um
fator motivador (quando ela é percebida como satisfatória) ou como

109
uma variável de desmotivação, dado que sua baixa percepção reduz a
intenção de doar (PEREIRA, 2015).

De acordo com Sousa et al (2016), a não doação também pode ser


impulsionada, além do medo, por questões particulares e até mesmo questão religiosa;
ela pode ser afetada por fatores socioculturais.

A recusa às transfusões de sangue por motivos religiosos representa


convicções de uma cultura forte e singular, atualmente respeitada e
alicerçada nos termos jurídicos que declaram serem invioláveis os
direitos à personalidade, à liberdade, à manifestação do pensamento
(SILVA, 2017).

Um grande fator pode ser considerado o preconceito que ainda cerca todo o
processo de hemoterapia.

Ainda nos dias de hoje, encontramos grupos que reverberam os riscos


de se contrair doenças infectocontagiosas através dos serviços de coleta
e doação de sangue, o que se deve (em boa medida) àquele período de
políticas equivocadas que negligenciaram medidas de segurança e
contribuíram (de certa forma provocaram) para o sofrimento e morte de
maneira indiscriminada (SILVA, 2017).

Lino (2011) salienta que “a doação de sangue não faz parte do cotidiano da
maioria da população brasileira e, por isso, a inserção da doação é um processo lento
que necessita de estratégias educativas de captação”. Portanto deve ser criada uma
serie de estratégias para uma melhor e maior captação de sangue no país.

Fatores que Influenciam na Doação


De acordo com Moreira (2016) também existem grandes e prestigiados fatores
que influenciam a sociedade para participarem da doação.
Um dos expressivos pode ser considerado os interesses pessoais e altruístas do
doador. “Os motivos para começar e continuar a doar sangue refletem tanto interesses
pessoais quanto humanitários. Além disso, colocam o efeito na própria saúde do
doador.” (GIACOMINI; LUNARDI FILHO, 2010 apud MOREIRA, 2016).

Em geral, o altruísmo emerge como umas das características centrais


dos doadores de sangue.O comportamento altruísta é próprio do ato de
doar sangue, uma vez que esta ação presume impessoalidade, pois na
maioria das vezes sedes conhece quem é o doador e o receptor
17,18.Outros motivadores para a doação de sangue são recorrentemente
citados, como a consciência da necessidade de sangue dos familiares e
amigos,proporcionada pela distribuição eficaz e pelo acesso à
informação sobre o assunto (BARBOZA; COSTA, 2014).

Outro ponto que deve ser muito bem observado é a questão de a doação ser
influenciada pelas pessoas que estão ao seu redor, como amigos e familiares.

110
“Barboza e Costa (2014) verificaram que parte da motivação do
indivíduo para doar sangue vem da influência de familiares e amigos,
que ajudam na superação das barreiras que influenciam negativamente
o comportamento do doador”.
Ainda, conforme Barboza e Costa (2014), as ações de marketing social
podem contribuir na construção de peças de comunicação focadas no
incentivo entre amigos e familiares e no desenvolvimento de ações de
integração entre amigos e familiares de doadores em eventos que
podem ser oportunos para a captação de novos doadores. (BARBOZA;
COSTA, 2014 apud MOREIRA, 2016).

Marketing Social
Como uma forma de clamar pela atenção da população é necessária uma
imensa e eficaz operação de marketing social, para que assim o problema que envolve
o sangue possa começar a ser resolvido e receber a atenção fundamental.
Assim, o marketing social se apresenta como tecnologia para mudança
de comportamento voluntária, na busca por compreender quais os
estímulos que as pessoas precisam para superar as barreiras
comportamentais que as impedem de aderir a dado comportamento.
Conceitualmente, o marketing social consiste na adaptação das
tecnologias do marketing convencional para constituição de programas
que objetivam incentivar o comportamento voluntário de um público,
com vistas ao bem-estar dos indivíduos adotantes de tal
comportamento. (ADREASEN, 2006 apud BARBOZA; COSTA, 2016)

Contudo para que toda essa promoção faça efeito é necessário uma maior
demanda e maior uso do marketing, um fator tão utilizado atualmente em todos os
âmbitos.
Pelo que observaram os vários autores da área, a maioria dos programas
de marketing social voltados para a saúde pública que explora uma
mudança de comportamento para o benefício de terceiros, como é o
caso da doação de sangue, gera campanhas que não são direcionadas ao
usuário final, já que nem sempre seu comportamento é alterado por
meio do marketing social. Portanto, para que o marketing social
promova mudanças substanciais no bem-estar social é preciso que suas
fronteiras sejam ampliadas, buscando mais do que atingir públicos alvo
com mensagens, posto que isto não parece ser suficiente para afastar
influências negativas e comportamentos indesejados. (BARBOZA;
COSTA, 2016)

Considerações finais
A partir desta pesquisa conseguimos observar que apesar da doação sanguínea
ser um ato tão seguro e necessário para a população, ele ainda é rodeado por
obstáculos, mitos ou preconceitos que devem ser levados em conta: a religião, a falta
de informações, de tempo e de acessibilidade.
A falta expressiva de hemocomponentes e do sangue em sua forma total nos
hemocentros, clínicas e hospitais, mostra como, mesmo depois de muitos avanços no
decorrer do tempo, ainda precisamos de muito empenho para conquistar a atenção da
população e também para assegurar a agilidade da transfusão.

111
Mesmo que seja, ainda, uma pequena contribuição de sangue para todos os
hemocentros, podemos notar que aos poucos são criadas campanhas e ações para
incentivar a população. Vale ressaltar que não depende apenas do marketing para
conquistar o indivíduo e convencê-lo a realizar a doação. Outros fatores fazem o
cidadão aspirar a participar desse ato humanitário, como o altruísmo, as influências de
pessoas de seu convívio e até mesmo questões pessoais. Dessa forma, aos poucos, a
doação de sangue faz parte da rotina do cidadão brasileiro e esse ato humanitário vai
crescendo e salvando muitas vidas.

Referências bibliográficas
BARBOZA, Stephanie Ingrid Souza; COSTA, Francisco José. Marketing Social
para Doação de Sangue: Análise da Predisposição de Novos Doadores. Rio de
Janeiro, 2014. Disponível em: <https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0102-
311X2014000801463&script=sci_abstract&tlng=pt#>. Acesso em: 07 mar. de 2018.
FLAUSINO, Gustavo de Freitas et al. O Ciclo de Produção do Sangue e a Trans-
fusão: O que o Médico Deve Saber. Revista Médica de Minas Gerais, 2015. Dispo-
nível em: <http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/1784>. Acesso em: 1 jun. de 2018.
FUNDAÇÃO HEMOMINAS. Saiba mais sobre o Sangue. 2014. Disponível em:
<http://www.hemominas.mg.gov.br/doacao-e-atendimento-
ambulatorial/hemoterapia/o-sangue>. Acesso em: 1 de jun. de 2018.
FUNDAÇÃO HEMOMINAS. Componentes e Tipos Sanguíneos. 2014. Disponível
em: <http://www.hemominas.mg.gov.br/doacao-e-atendimento-ambulatorial/hemo
terapia/componentes-e-tipos-sanguineos>. Acesso em: 1 de jun. de 2018.
JUNQUEIRA, Pedro C.; ROSENBLIT, Jacob; HAMERSCHLAK, Nelson. História
da Hemoterapia no Brasil. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, São
José do Rio Preto, v. 27, n. 3, p. 201-207, jul./set. 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbhh/v27n3/v27n3a13.pdf>. Acesso em: 07 maio de 2018.
LINO, Monica Motta; RODRIGUES, Rosane Suely May; REIBNITZ, Keyna
Schmidt. Estratégias de captação de doadores de sangue no Brasil: um processo
educativo convencional ou libertador? Florianópolis, v.1, n.3, p.166-173, 2011.
Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/277820810_
Estrategias_de_captacao_de_doadores_de_sangue_no_Brasil_um_processo_educativo
_convencional_ou_libertador_The_strategy_for_blood_donors_in_Brazil_a_conventio
nal_educative_process_or_liberating>. Acesso em: 26 de jun. de 2018.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doação de Sangue: Saiba como e quem pode doar.
Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/doacao-de-
sangue#quem-pode-doar>. Acesso em: 23 de jun. de 2018.
MINISTÉRIO DA SAUDE. Ministério da Saúde Convoca a População para Doar
Sangue. 2018. Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-
saude/42673-ministerio-da-saude-convoca-populacao-para-doar-sangue>. Acesso em:
1 de jun. de 2018.
MOREIRA, Nathália Leal. Estratégias para Promoção da Doação de Sangue no
Brasil: Uma Revisão Sistemática da Literatura. Rio Grande do Sul, 2016.
Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/159167>. Acesso em: 07 de
mar. de 2018.

112
PEREIRA, Jefferson Rodrigues. Histórias de Vidas Salvando Vidas: Aspectos
Relacionados à Doação de Sangue e Proposição de Um Modelo Sob a Perspectiva
do Marketing Social. Belo Horizonte, 2015. Disponível em:
<http://www.unihorizontes.br/mestrado2/wp-content/uploads/2016/05/JEFFERSON-
RODRIGUES-PEREIRA.pdf>. Acesso em: 07 de mar. de 2018.
SILVA, Marcia da Oliveira da. RITOS E MITOS: as representações sobre o
sangue e sua doação. Rio de Janeiro, 2017. Disponível em:
<https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/22899/2/Marcia_Silva_EPSJV_Mestrado
_2017.pdf>. Acesso em: 23 de jun. de 2018.
SOUSA, Caissa Veloso et al. Doar Ou Não Doar, Eis a Questão: Uma Análise dos
Fatores Críticos da Doação de Sangue. Rio de Janeiro, 2016. Vol. 21, nº8.
Disponível em: <http://www.redalyc.org/html/630/63046744017/>. Acesso em: 07 de
mar. de 2018.
Recebido para publicação em 06-09-18; aceito em 08-10-18

113

Você também pode gostar