A Pessoa Do Espírito Santo

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AULA 13- LEIGOS

A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO

“Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele


vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O
Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem
o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.
Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (São João 14:15-17)

E, se já é um desafio falar das duas primeiras Pessoas da Trindade


Santa, muito mais o é falar sobre a Pessoa do Espírito Santo!
Com muita reverência, implorando suas mesmas Divinas Luzes,
retiramos as sandálias dos pés e os véus da mente e do coração para nos
aproximar do Rei Celeste...OREMOS ao Espírito Santo!

“Rei Celeste, Consolador, Espírito da Verdade, presente em toda


parte e ocupando todo lugar, Tesouro dos Bens e Dispensador da Vida,
Vinde e habitai em nós, purificai-nos de toda mancha e salvai as nossas
almas, Vós que Sois Bom. Amém”

A Trindade, disse Nicolas Cabasilas, encontra no Cristo e no Espírito


sua plena manifestação! O Espírito Santo, escreveu Santo Irineu, é um
diretor de teatro que dirige secretamente o drama da salvação sobre o
cenário da história do mundo!
O que diremos do Santíssimo Espírito de Deus? Deus está conosco
pelo Seu Espírito! Deus é Espírito, e pelo Seu Espírito, Deus se torna
universal porque o derramamento do Espírito é para todos, para tudo!
Não estamos sozinhos, não fomos deixados abandonados sobre a Terra!
Conosco está o Espírito Santo, “presente em toda parte e ocupando todo
lugar”.
“E nisto conhecemos que Ele está em nós, pelo Espírito que nos
tem dado” (I João 3:24)

O Esplendor da Trindade brilhou progressivamente. Falamos e


meditamos sobre o Pai e o Filho! Agora, nos cabe acolher a revelação a
respeito do Espírito Santo! E, por que precisamos tratar do Espírito Santo?
Simples: O conhecimento de Deus passa necessariamente por Ele: Tudo
começa com o Pai, passa pelo Filho até chegar a nós pelo Espírito Santo!!!
Na Divina Teologia, o tratado sobre o Espírito Santo chamasse
“Pneumatologia”.

→ Pensemos, então, na Pneumatologia Bíblica:

Precisamos dizer que o Nome “Espírito Santo” é o mais apofático de


todos os nomes divinos?
O vocábulo teológico “Espírito Santo” se refere a realidade bíblica
do hebraico ‘Ruah’ e do grego ‘Pneuma’. Estas palavras significam ‘sopro’,
‘respiração’, ‘hálito’, em uma palavra: Vida!
Essa palavra aparece aproximadamente por 378 vezes no hebraico
do Antigo Testamento, e quase 100 vezes é traduzida como “Espírito
Santo” ou “Espírito de Deus”, referindo-se diretamente a Ele!
De modo geral, no Antigo Testamento, se pode falar de 3
significados (físico, antropológico e teológico) e 4 linhas de ação
(carismática, real, profética e messiânica) para o termo RUAH!
Desde suas primeiras páginas, a Sagrada Escritura evoca e invoca O
Espírito de Deus como um Sopro que "se movia sobre a face das águas"
(cf. Gn 1: 2) e especifica que Deus insuflou pelas narinas do homem um
sopro de vida (cf. Gn 2,:7), infundindo-lhe assim a própria vida. Depois do
pecado original, o Espírito Vivificador de Deus manifestar-se-á diversas
vezes na história dos homens, suscitando profetas para incitar o povo
eleito a voltar para Deus e a observar fielmente os seus mandamentos.
Na famosa visão do profeta Ezequiel, Deus faz reviver com o Seu
Espírito o povo de Israel, representado por "ossos secos" (cf. 37: 1-14).
Aqui temos a primeira oração ao Espírito Santo na Sagrada Escritura (cf.
v.9).
Um outro texto muito importante a respeito da ação do Espírito é
sem dúvida o trecho do profeta Joel sobre uma "Efusão do Espírito" sobre
todo o povo, sem excluir absolutamente ninguém. Essa Profecia cumprir-
se-á apenas no dia de Pentecostes: "Depois disto acontecerá que
derramarei o meu Espírito sobre toda a carne... Naqueles dias, derramarei
também o meu Espírito sobre os escravos e as escravas" (3: 1-2).

Pensemos na ação do Espírito Santo no AT e no NT:

No Antigo Testamento, o Espírito Santo se manifestou como Dom e


como Força, não como Pessoa, embora sua ação não fosse estranha ao
povo de Deus. Portanto, na revelação veterotestamentária o Espírito
revela-se através de símbolos impessoais como o vento, o fogo, a água, a
unção com óleo, o perfume e outros símbolos, indicando dinamismo de
vida e força.
De forma bem didática então, vamos pensar assim a teologia do
Espírito Santo no Antigo Testamento: Emergem claramente dois modos de
operar do Espírito de Deus. Há, primeiramente, o modo que podemos
chamar de carismático. Este consiste no fato de que o Espírito de Deus
vem sobre algumas pessoas, em circunstâncias particulares, e lhes confere
dons e capacidades além do alcance humano para desempenhar a tarefa
que Deus espera delas. Fala-se do Espírito de Deus que vem sobre
algumas pessoas e lhes confere dons artísticos para a construção do
templo. A característica deste modo de operar do Espírito de Deus é que
Ele é dado a uma pessoa, mas não para a própria pessoa; mas, antes, pelo
bem da comunidade, para o serviço do povo de Deus.
Apenas em um tempo mais tardio, em um segundo momento,
praticamente após o exílio, inicia-se a falar de um modo diverso de operar
do Espírito de Deus, um modo que, em seguida, chamar-se-á ação
santificadora do Espírito. Pela primeira vez, no Salmo 51, o Espírito é
definido “santo”: “não retireis de mim o vosso Santo Espírito”.
O testemunho mais claro é a profecia de Ezequiel 36: 26-27: “Eu vos
darei um coração novo e porei um espírito novo dentro de vós. Arrancarei
do vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne; porei
o meu espírito dentro de vós e farei com que sigais a minha lei e cuideis de
observar os meus mandamentos”. A novidade deste modo de agir do
Espírito é que ele vem sobre uma pessoa e permanece nela, e a
transforma desde dentro, dando-lhe um coração novo e uma nova
mentalidade.
No entanto, de forma geral, podemos dizer que o Espírito Santo não
era concedido à todas as pessoas na Antiga Aliança, o que se cumprirá
apenas na Nova Aliança com o derramamento pleno e universal...

Vamos fazer a passagem ao Novo Testamento.


Nele, no Novo Testamento, o termo grego “PNEUMA” é encontrado
379 vezes, uma vez a mais que no Antigo!
Da Promessa do Espírito do Antigo Testamento passamos à plena
Realização no Novo! São Paulo escrevendo aos gálatas fala da "plenitude
dos tempos" (cf. Gl 4: 4), o que aconteceu justamente quando o Espírito
Santo, "poder do Altíssimo", desceu sobre a Theotókos (cf. Lc 1: 35s).
Segundo a expressão do profeta Isaías, o Messias será Aquele sobre o qual
se repousará o Espírito do Senhor (cf. 11: 1-2; 42: 1).
O Antigo Testamento havia intuído que o Messias seria
revestido do Espírito do Senhor e que este mesmo Espírito repousaria
definitivamente sobre o “rebento do tronco de Jessé” (cf. Is 11: 1ss).
Aquele Espírito que revestia os carismáticos do Antigo Testamento e os
capacitava para missões precisas, deveria, nos “últimos tempos”, ser
infundido plenamente no Filho de Deus, o Messias, o descendente de
Davi, plenitude e centro de toda a revelação bíblica.
O próprio Jesus, na Sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,16ss), aplica a si o
trecho profético de Isaías acerca da unção do Espírito do Senhor (cf. Is
61,1ss), dizendo: “O Espírito do Senhor está sobre mim”. Como outrora o
profeta era um sinal do Senhor e agia sob a ação da potência da sua Ruah,
ao longo de seu ministério púbico Jesus é a presença do kairós divino; na
qualidade de “ungido pelo Espírito”, Ele é, no grau mais alto, o
“sacramento” da presença de Deus em meio a seu povo pelo Espírito que
o guiou em cada momento de sua vida terrena!
Uma cena que não podo ser esquecida é o Batismo de Jesus (Cf. Mt
3: 13-17 e Mc 1: 9-11). O Espírito desce sobre Cristo! Jesus é o “Cristo”, o
“Messias”, justamente porque foi ungido pelo Espírito Santo. Sobre isso
Santo Irineu escreveu: “O Espírito de Deus desceu sobre Jesus e o ungiu,
como prometera nos profetas, para que pudéssemos participar da
plenitude de sua unção e, assim, ser salvos” (Adversus Haeresis III,9,3).
De forma geral, podemos dizer que nos Evangelhos Sinóticos
(Mateus, Marcos e Lucas) há 5 momentos importantes sobre a Revelação
do Santo Espírito:
1) João Batista anuncia o ‘Batismo no Espírito’: Mt 3: 11; Mc 1:8 e
Lc 3:16;
2) O Espírito desce no Jordão: Mt 3:16; Mc 1:10 e Lc 3: 21-22;
3) O Espírito Santo conduz Jesus ao deserto: Mt 4: 1; Mc 1:12 e Lc
4: 13;
4) Jesus promete o Espírito para sermos testemunhas: Mt 10: 20;
Mc 3: 28-29; Lc 12:10 e
5) O pecado contra o Espírito Santo: Mt 12:31-32; Mc 3: 28-29 e Lc
12:10.

Ainda nos Sinóticos, há episódios isolados que só aparecem em um


dos evangelistas:
Lc 1: 18-20; 35: O nascimento de Jesus por obra do Espírito!
Lc 10: 21: Jesus exulta no Espírito!
Mt 28: 20: O mandato missionário e o santo batismo.

Quando pensamos no Novo Testamento e o Espírito Santo, creio


que nosso coração se volta imediatamente para o mistério da descida do
Espírito em Pentecostes! Não há dúvida de que a ação do Espírito Santo
no Novo Testamento encontra maior abundância e riqueza de detalhes na
obra Lucana! Para São Lucas, o Espírito Santo É O Grande Protagonista da
história de Jesus e da Igreja! Só no Livro dos Santos Atos dos Apóstolos,
temos mais de 50 menções ao Espírito Santo! Ele também faz questão de
individualizar a ação do Espírito, em todos os personagens que circundam
o mistério da Encarnação: De Maria (1:35) à João (1:15); em Isabel (1:42),
Simeão (2:25), Zacarias (1:67), etc.

Vamos ao texto de Pentecostes:


“E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos
concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como
de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que
estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que
de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do
Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito
Santo lhes concedia que falassem” (Atos 2: 1-4)

A plenitude da Páscoa de Cristo completou-se com a Efusão do


Espírito Santo que Se manifestou, Se deu e Se comunicou como Pessoa
divina a todos: Da sua plenitude, Cristo Senhor derrama em profusão o
Espírito Manifestando a Trindade! O acontecimento do Pentecostes,
constitui o coroamento da Páscoa, e, portanto, a manifestação da
economia salvífica da Trindade na história humana. A partir, de então,
nada mais pode ser pensado sem a assistência do Espírito!

“E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está


derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”
(Rm 5:5)

A Igreja, é fundada, simultaneamente na Instituição da Santíssima


Eucaristia e em Pentecostes, dizem nossos teólogos!
Em Pentecostes, e partir, dele, O Espírito Santo, passa a ser o Dom
mais excelso de Deus ao homem, e nós, pneumatóforos, somos os frutos
desta missão da Igreja, por obra do Espírito Santo. Trazemos dentro de
nós aquele Selo do amor do Pai em Jesus Cristo, que é o próprio Espírito
Santo derramado!
A Igreja, que já existia em estado embrionário, havendo recebido a
existência do lado aberto do segundo Adão, como que dormindo no lenho
da cruz, nasceu maravilhosamente para a luz do mundo no tão celebrado
dia de Pentecostes. Nesse mesmo dia começou o Espírito Santo a repartir
seus benefícios no Corpo Místico de Cristo, com aquela admirável efusão
que o profeta Joel previra há tempos (cf. 2: 28-29); pois o Paráclito 'pairou
sobre os apóstolos, para que fossem coroados de novos diademas
espirituais, formados por línguas de fogo sobre suas cabeças'. Então,
escreve nosso pai São João Crisóstomo, os apóstolos desceram do monte,
não trazendo nas mãos as tábuas de pedra, como o fez Moisés, mas
carregando na alma o Espírito Santo e comunicando-o com profusão aos
outros como um grande tesouro e um rio de verdades e de graças.
Em São João, por exemplo, temos um pneumatologia mais
personalista! O Espírito é visto como Pessoa-Dom! E, como toda pessoa,
também o Espírito Santo possui ‘funções’: Ensinar, recordar, dar
testemunho, guiar à verdade e convencer o mundo do pecado!
Importantíssimo recordar ainda no contexto joanino que o apóstolo usa o
pronome masculino ‘Ekeinos’= ‘Ele’; o que caracteriza a dimensão pessoal
do Espírito! A menção ao Espírito Santo aparece 17 vezes! O vértice da
Pessoa e da Missão do Espírito estará no Cenáculo, no discurso de
despedida, e Ele será o continuador da Obra de Cristo na Terra!
Quem desejar aprofundar a Pneumatologia joanina, pode
aprofundar as 8 afirmações do próprio Cristo, a respeito do Espírito Santo:
João 14: 16, 17, 18 e 26. João 16: 7, 8, 13 e 14!
Jesus mesmo no Evangelho de João, irá anunciar e prometer a vinda
do Espírito Santo, chamando-O de «Paráclito», que, à letra, quer dizer:
«aquele que é chamado para junto», advogado (Jo 14: 16. 26; 15:26; 16:
7), habitualmente traduz-se por «Consolador», entendendo que seja Jesus
O primeiro consolador. Faz sentido?
O Espírito ainda aparece também como Dom escatológico: Antes da
sua morte na cruz, ainda anunciará várias vezes aos discípulos a vinda do
Espírito Santo, o "Consolador", cuja missão consistirá em dar-lhe
testemunho e assistir os fiéis, ensinando-os e orientando-os para a
Verdade integral (cf. Jo 14: 16-17.25-26; 15: 26; 16: 13).
À noite, no Domingo da sua Páscoa, Jesus apareceu aos discípulos,
"Soprou sobre eles e disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20: 22).
Alguns teólogos chamam este episódio de “Pentecostes joanino”. Este
Pentecostes joanino acontece no próprio dia de Páscoa, no mesmo
Cenáculo, após a Ressurreição; antecipa, assim, o Pentecostes relatado
por S. Lucas nos Atos, ocorrido cinquenta dias depois, no dia de
Pentecostes judeu. Podemos ainda explicar de outra forma: O Dom do
Espírito Santo, no dia do Domingo da Páscoa, foi como que uma primícias,
um dom parcial e pessoal concedido apenas aos Apóstolos; enquanto no
Domingo de Pentecostes, O Dom mais completo e universal teria sido
concedido a todos que estavam reunidos e esperavam a Promessa (Cf. At
1: 8). O primeiro, joanino, visando à vida nova conferida pela Páscoa de
Cristo: renovação espiritual, renascimento, vivificação. De fato, no
Evangelho segundo S. João, o Espírito é apresentado e prometido
insistentemente como o Espírito de vida, de renovação, de renascimento,
de santificação. Por sua vez, a descrição de S. Lucas nos Atos acentua a
dimensão carismática do batismo do Espírito: voltada para a missão,
acentuando o poder do Espírito.
Passemos aos Santos Atos e a São Paulo:
O Espírito Santo é chamado ‘Deus’ em Atos 5:3-4, 9; I Coríntios 3:16;
Efésios 2:22 e II Coríntios 3:17. Nas 70 vezes que o Espírito Santo é
mencionado no livro dos Santos Atos dos Apóstolos, temos o claro
referencial da importância que a Igreja primitiva atribuía a Pneumatologia
como experiência de fé e vida. Os cristãos primitivos tinham uma aguda
consciência da presença, permanência e eficácia do Espírito Santo em suas
histórias de vida!
A celebração litúrgica é um momento privilegiado para a
experiência com o Espírito, quer em âmbito pessoal, quer em âmbito
comunitário. Era a fonte da espiritualidade da Igreja nascente! Na Liturgia
eles falavam ao Espírito e falavam com o Espírito!
Segundo os Padres da Igreja, nos Sacramentos de Iniciação Cristã,
acontecia uma experiência atualizada do Dom de Pentecostes, na vida de
cada neófito, em forma de um verdadeiro ‘batismo no Espírito Santo’. Em
sua gênese, portanto, o ‘batismo no Espírito Santo’ compreende a
participação ativa do fiel nos sacramentos na forma de uma experiência
eclesial, litúrgica e carismática. O Espírito e a Igreja, em forma de sinergia,
operam através dos Santos Sacramentos!
Poderíamos ainda pensar a Pneumatologia paulina...
O Apóstolo Paulo menciona 146 vezes o Espírito Santo! Ele aparece
em sua vida pessoal e no seu testemunho de vida (At 13:4). O Espírito em
Paulo está sempre relacionado à Cristo e a Igreja. Podemos falar aqui de
uma ‘pneumatologia cristológica’ e uma ‘pneumatologia eclesiológica’.
Vejamos:

"A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do


Espírito Santo sejam com todos vós" (2 Cor 13: 13)

“E agora, eis que, ligado eu pelo Espírito, vou para Jerusalém, não
sabendo o que lá me há de acontecer,
Senão o que o Espírito Santo de cidade em cidade me revela,
dizendo que me esperam prisões e tribulações” (Atos 20: 22-23)

"Não entristeçais o Espírito Santo de Deus, com o qual fostes


selados para o dia da salvação" (Ef 4: 30).

"Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também segundo o Espírito"


(Gál 5: 25).

Deus se auto comunica pelo Espírito, que é Pessoa, e nos chama a


viver Nele, com Ele! Viver de maneira cristã é viver com o Espírito Santo,
no Espírito Santo, o que significa Tê-Lo como Companheiro de Jornada e
Amigo do Coração!
Percebemos a relação de Pessoa que Paulo atribui ao Espírito Santo!
O ‘Pneuma’ não é algo, é ‘Alguém’!
Para Paulo, não há vida cristã, comunitária sem o Espírito Santo! O
capítulo 8 da Carta aos Romanos é sua joia pneumatológica! Leiamos e
meditemos!
Além do adjetivo “Santo” unido ao seu Nome, encontramos em São
Paulo as seguintes formas de se dirigir a Ele: Espírito da promessa (Gl 3:
14; Ef 1: 13), Espírito de adopção (Rm 8: 15 e Gl 4, 6), Espírito de Cristo
(Rm 8: 9), Espírito do Senhor (2 Cor 3: 17). Espírito de Deus (Rm 8: 9. 14;
15: 19; I Cor 6: 11; 7: 40), e também em São Pedro, o apelativo ‘Espírito de
glória’ (I Pe 4: 14).

Podemos ainda falar também de alguns atributos divinos que o


Espírito recebe nas Sagradas Escrituras

*É onipotente (Zc 4:6; Rm 15:19);


• É onipresente (SI 139:7,8);
• É onisciente (I Cor 2:10,11);
• É eterno (Hb 9:14);
• É c riador (Jó 26: 13; 33: 4; SI 104:30);
• E a verdade (I Jo 5:6);
• É o Senhor da Igreja (At 20:28);
• É chamado de Yahweh (Jz 15:14; 16: 20; Êx 17:7;
Hb 3:7-9);
• Concede a vida eterna (Gl 6: 8);
• E o santificador dos fiéis (Rm 15: 16; l Pe 1:2);

As obras de Deus são dadas ao Espírito Santo:


1. A Criação - Jó 33:4.
2. A Encarnação - Mateus 1:18
3. A Regeneração - (João 3:8; I João 4:7).
4. A Ressurreição - Romanos 8:11
5. A inspiração da Palavra de Deus - (II Pedro 1:21; II Reis 21:10).

Duas outras características importantes em relação à


pneumatologia neotestamentária, são as seguintes:
1- O Espírito Santo está sempre ligado à Comunidade
(Pneumatologia eclesiológica) e
2- O Espírito Santo está sempre ligado ao Culto (Pneumatologia
litúrgica)

Do Espírito Santo também se poderia dizer: cada um tem d'Ele a sua


parte, e todos o têm bem completo, tão inesgotável é a sua generosidade.
Na experiência das Igrejas, Ele é o fermento invisível, reconhecido pelos
seus frutos, que São Paulo nos ajuda a discernir na vida espiritual dos
cristãos: na oração que encontra-o seu sentido de louvor e de gratidão, ao
mesmo tempo que a sua audácia confiante; nas comunidades vivas, cheias
de alegria e de caridade, que o Espírito Santo desperta e transfigura; no
espírito de sacrifício; no apostolado corajoso e na ação fraternal ao serviço
da justiça e da paz. Em tudo, o Espírito Santo estimula a busca do sentido
da vida, a procura obstinada do belo e do bem para além do mal;
reconhecemo-lo através da esperança da vida que brota mais forte que a
morte, e através desta água jorrante que murmura já em nós: "Vem para
o Pai".
Sintetizaríamos, portanto, essa rápida passagem na pneumatologia
bíblica, com a visão do Frei Raniero Cantalamessa ao afirmar que nos dois
testamentos, de forma geral, podemos falar de duas dimensões da ação
do Espírito Santo: Carismática e Santificante!

→Meditemos agora na Pneumatologia, a partir dos nossos Santos


Padres:

No Evangelho de São João, o Senhor diz: "Quando ele vier, ele, o


Espírito de Verdade, vos conduzirá à verdade plena" (16: 13). É à luz do
Espírito de Verdade que os Padres constroem a teologia desta "verdade
plena" e que é justamente a da Trindade divina. O Espírito Santo a revela.
Ainda mais, o ofício do domingo canta: "O Espírito Santo vivifica as
almas... ele faz resplandecer misteriosamente nelas a natureza una da
Trindade". Ele revela o ser humano criado à imagem de Deus, como um
ícone vivo da Trindade.
Na tradição patrística, teologia significa antes de tudo contemplação
do Mistério trinitário. É o que pode ser chamado de "triadocentrismo"
ortodoxo. O método dos Padres é sempre integral, ele afasta qualquer
monismo centrado exclusivamente sobre o Verbo ou sobre o Espírito
Santo e aspira a uma teologia equilibrada e articulada sobre as Três
Pessoas divinas. Ela vê a Trindade das Pessoas antes da essência una da
Deidade; ela parte das Hipóstases e depois precisa as processões para
afirmar a unidade da natureza considerada como o conteúdo das Pessoas.
Assim, São Gregório Nazianzeno fala das "Três Santidades reunindo-se
numa só Dominação ou Divindade”.
O mesmo São Gregório de Nazianzeno, assim se expressa
explicando ação do Espírito e sua progressiva Revelação na história da
salvação:
«O Antigo Testamento proclamava manifestamente o Pai e mais
obscuramente o Filho. O Novo manifestou o Filho e fez entrever a
divindade do Espírito. Agora, porém, o próprio Espírito vive conosco e
manifesta-se a nós mais abertamente. Com efeito, quando ainda não se
confessava a divindade do Pai, não era prudente proclamar abertamente
o Filho: e quando a divindade do Filho ainda não era admitida, não era
prudente acrescentar o Espírito Santo como um fardo suplementar, para
empregar uma expressão um tanto ousada [...] É por avanços e
progressões "de glória em glória " que a luz da Trindade brilhará em mais
esplendorosas claridades»

Escutemos também a Santo Hilário (c. 315-367):


«Deus é espírito» diz o Senhor à Samaritana [...]; sendo Deus
invisível, incompreensível e infinito, não será num monte nem num templo
que Deus deverá ser adorado (Jo 4, 21-24). «Deus é espírito» e um espírito
não pode ser circunscrito, nem contido; pela força da sua natureza, está
em todo o lado e de local algum está ausente; está em todo o lado e em
tudo superabunda. Por isso, é preciso adorar a Deus, que é espírito, no
Espírito Santo [...].
Qual é ação do Espírito em nós? Escutemos as palavras do próprio
Senhor: «Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de
as compreender por agora. É melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não
for, o Paráclito não virá a vós; mas, se Eu for, Eu vo-lo enviarei. Quando
Ele vier, o Espírito da Verdade, há de guiar-vos para a Verdade completa»
(Jo 16, 7-13) [...]. São-nos reveladas, nestas palavras, a vontade do
doador, assim como a natureza e o papel daquele que Ele nos dá. Porque a
nossa fragilidade não nos permite conhecer o Pai nem o Filho; o mistério
da encarnação de Deus é difícil de compreender. O dom do Espírito Santo,
que se faz nosso aliado por sua intercessão, ilumina-nos [...].
Ora, este dom único que está em Cristo é oferecido a todos em
plenitude. Está presente em toda a parte e é dado a cada um de nós, tanto
quanto O queiramos receber. O Espírito Santo permanecerá conosco até
ao fim dos tempos. Ele é a nossa consolação na espera, é o penhor dos
bens da esperança que há de vir, é a luz do nosso espírito e o esplendor da
nossa alma”.
O Espírito, disse Santo Irineu, foi dado ao primeiro homem,
juntamente com a vida. Ele chamará o Pai de “Unctor”, o Filho de
“Unctus” e o Espírito Santo de “Unctio”. Não podemos chamar Deus de
“Abbá” sem o Espírito! Não podemos chamar Jesus de “Kyrios” sem o
Espírito!
Irineu ainda diz que “O Espírito Santo foi enviado a toda terra, e a
todo gênero humano, pois desde que desceu sobre Jesus, acostumou-se a
habitar no gênero humano”.

Dificilmente encontraremos outro teólogo que tenha elaborado no


início uma teologia do Espírito Santo como São Basílio, um dos
capadócios. Ele foi e continua sendo de fundamental importância para o
estudo da Pneumatologia Oriental. Sua Obra “Ao Espírito Santo” (375-
376), é um tratado histórico que guarda a ortodoxia trinitária, e portanto,
pneumatológica, abrindo também o caminho para o que seria a futura
definição dogmática sobre o Espírito Santo no Concílio de Constantinopla
em 381.
Conta-se que no dia 7 de Setembro de 374, ao presidir a Divina
Liturgia, concelebrada com seus corepiscopos, Basílio, rompendo o
silêncio do povo, levantou a voz e glorificou a Trindade com uma fórmula:
“Glória ao Pai, juntamente com o Filho, com o Espírito Santo”.

Sobre a divindade do Espírito Santo, Basílio não fala nem a primeira


e nem a última palavra, ou seja, não é aquele que abre o debate e nem
sequer aquele que o conclui, mas certamente o aprofunda. Quem abriu a
discussão sobre o estatuto ontológico do Espírito foi Santo Atanásio. Até
ele, a doutrina sobre o Paráclito permaneceu na sombra, e entendemos o
motivo: não era possível definir a posição do Espírito Santo na divindade,
antes de ter definido aquela do Filho. Somente se limitava a dizer no
símbolo de fé: “Creio no Espírito Santo”, sem outros acréscimos.
Santo Atanásio (296-373), nas Cartas a Serapião, inicia o debate que
levará à definição da divindade do Espírito Santo no Concílio de
Constantinopla em 381. Ensina que o Espírito é plenamente divino,
consubstancial com o Pai e com o Filho, que não pertence ao mundo das
criaturas, mas ao do criador e a prova, também aqui, é que o seu contato
nos santifica, nos diviniza, coisa que não poderia fazer se não fosse ele
mesmo Deus.

Leiamos um trecho pequeno da carta de Atanásio:


“Funesta a respeito do Espírito Santo, sua doutrina também não é
boa a respeito do Filho, pois se aqui fosse correta, sê-la-ia igualmente a
respeito do Espírito, que procede do Pai e que, sendo próprio do Filho, vem
dado por este a seus discípulos e a todos os que creem nele. Desta forma
desgarrados, não poderão enfim ter uma fé sadia a respeito do Pai,
porque os que resistem ao Espírito como dizia o grande mártir Estevão [9]
- negam o Filho, e negando o Filho já não têm o Pai.
Por que todo esse desvario? Em que lugar das Escrituras acharam a
designação de anjo dada ao Espírito? Não é preciso que repita agora o que
já disse alhures. Ele foi chamado Consolador, Espírito de filiação, Espírito
de Deus, Espírito do Cristo. Em parte alguma, anjo, arcanjo, espírito
ministrante - como o são os anjos; ao contrário, é ele mesmo ministrado
por Gabriel, que disse a Maria: "o Espírito Santo virá sobre ti e a força do
Altíssimo te cobrirá com sua sombra". Se as Escrituras não chamam o
Espírito um anjo, que excusa invocam aqueles tais para dizerem tal
temeridade? Mesmo Valentim, que lhes inspirou a nefasta ideia, dava
distintamente a um o nome de Paráclito e a outros o de anjos, ainda se
atribuindo a todos a mesma" idade"” (...)
É também por meio do Espírito que nós participamos de Deus. Por
isto diz São Paulo: "não sabeis que sóis o templo de Deus e que o Espírito
de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo' de Deus, Deus o
destruirá; pois o templo' de Deus, que sais vós, é santo. Se o Espírito fosse
criatura, nós não teríamos, por meio dele, participação de Deus,
estaríamos sempre associados à criatura, sempre estranhos à natureza
divina, não participando dela em nada. Mas, se somos ditos participantes
do Cristo e participantes de Deus, tem-se que a unção, o sigilo, que está
em nós, não é de natureza criada, é da natureza do Filho, o qual, por meio
do Espírito que nele está, nos une ao Pai. Foi o que João ensinou, já o
dissemos, ao escrever: "Sabemos que permanecemos em Deus e ele
permanece em nós, pois nos deu de seu Espírito". Ora, se pela participação
do Espírito nós nos tornamos participantes da natureza divina, insensato
será dizer que o Espírito pertence à natureza criada e não à de Deus”.

Retornemos à Basílio. Assim falará sobre o Espírito:


“Substância inteligente, de poder infinito, grandeza ilimitada, fora
do tempo e dos séculos, em nada ciosa de seus próprios bens. Para ele
[Espírito Santo] voltam-se todos os que anseiam pela santificação, para
ele se dirigem os anelos dos que vivem segundo a virtude, quantos
recebem o refrigério de seu sopro, e são amparados para alcançar o fim
adequado a sua natureza. Aperfeiçoa os outros, enquanto Ele mesmo de
nada carece. Não é um ser vivo que precise se refazer; ao contrário é
provedor de vida. Não aumenta progressivamente, mas logo possui a
plenitude; é consistente por si mesmo, está em toda parte. Origem da
santificação, luz inteligível, concede por si mesmo certa iluminação a toda
faculdade racional, a fim de que descubra a verdade. Inacessível por sua
natureza, faz-se, contudo, acessível, por Sua Bondade.”

Vamos direto ao ponto que faz a doutrina de Basílio especialmente


atual, que está justamente na sua capacidade de destacar a ação do
Espírito em cada momento da história da salvação e em cada setor da vida
da Igreja. Começa da obra do Espírito na Criação:
“Na criação dos seres a causa primeira de tudo o que existe é o Pai,
a causa instrumental o Filho, a causa aperfeiçoadora é o Espírito. É pela
vontade do Pai que os espíritos criados subsistem; é pela força operativa
do Filho que são conduzidos ao ser e pela presença do Espírito que chegam
à perfeição. Se tentas tirar o Espírito da criação, todas as coisas se
misturarão e a vida delas aparece sem lei, sem ordem, sem qualquer
determinação” (Basílio, Sobre o Espírito Santo, XVI, 38 (PG 32, 137B).

Da criação ele passa a ilustrar a presença do Espírito na obra da


Redenção:
“No que diz respeito ao plano de salvação (oikonomia) para o
homem por obra do nosso grande Deus e salvador Jesus Cristo,
estabelecido segundo a vontade de Deus, quem poderia negar que se
realiza por meio da graça do Espírito?” (Basílio, Sobre o Espírito Santo,
XVI, 39).
Sobre a vida pública de Jesus, São Basílio escreveu: “[o Espírito
Santo] sempre esteve presente na vida do Senhor, tornando-se sua unção
e seu companheiro inseparável. Toda a atividade de Jesus se deu na
presença do Espírito” (De Spiritu Sancto, 16).

Da Vida de Jesus, São Basílio passa a ilustrar a presença do Espírito


na vida da Santa Igreja:
“E a organização da Igreja, não é claro e indiscutível que é obra do
Espírito? Ele próprio deu à Igreja, diz Paulo, ‘em primeiro lugar os
apóstolos, depois os profetas, depois os mestres. Esta ordem está
organizada de acordo com a diversidade dos dons do Espírito” (Basilio,
Sobre o Espírito Santo, XVI, 39).

São Basílio ainda resume admiravelmente a sua ação universal:


"Vinda do Cristo: o Espírito Santo vem na frente. Encarnação: o Espírito lá
está. Operações milagrosas, graças e curas, pelo Espírito Santo. Os
demônios expulsos, o diabo subjugado pelo Espírito Santo. Remissão dos
pecados, conjunção com Deus: pelo Espírito. Ressurreição dos mortos: pela
virtude do Espírito. Na verdade, a Criação não possui nenhum dom que
não lhe venha do Espírito".

A última imagem retrata a presença do Paráclito na Escatologia:


“Também no momento do evento da esperada manifestação do Senhor
aos céus – escreve Basílio – não está ausente o Espírito Santo”. Neste
momento haverá, para os salvos, a passagem das “primícias” para a posse
plena do Espírito” e para os réprobos a separação definitiva, o corte claro,
entre a alma e o Espírito (Ib. XVI, 40.).

Ainda nesta mesma Obra, ele escreverá no Capítulo XXVI:


‘’E assim como a arte naquele que a adquiriu, a graça do Espírito
está sempre presente no destinatário, embora não continuamente em
operação. Pois assim como a arte está potencialmente no artista, mas
apenas em operação quando ele trabalha de acordo com ela, assim
também o Espírito está sempre presente com aqueles que são dignos, mas
trabalha, conforme a necessidade exige, em profecias ou em curas, ou em
alguma outra realização real de Sua ação potencial... E como a razão na
alma, que é ao mesmo tempo o pensamento no coração, e em outro
discurso proferido pela língua, assim é o Espírito Santo, como quando Ele “
dá testemunho com o nosso espírito”, e quando Ele “clama em nossos
corações, Aba, Pai”, ou quando Ele fala em nosso nome, como é dito: “Não
sois vós quem fala, mas o Espírito de nosso Pai é quem fala em vós”...
Segue-se que o Espírito é verdadeiramente o lugar dos santos e o santo é o
lugar apropriado para o Espírito, oferecendo-se como ele faz para a
habitação de Deus, e chamado de Templo de Deus... Pela graça que flui
Dele quando Ele habita naqueles que são dignos e realiza Suas próprias
operações, é bem descrito como existindo naqueles que são capazes de
recebê-Lo.’’

No Capítulo 9, ele falará de forma sublime sobre a ação do Espírito


Santo:
“O Espírito Santo é fonte da santidade e luz da inteligência; é ele
que dá, de si mesmo, uma certa iluminação à nossa razão natural para
que encontre a verdade.
Inacessível por sua natureza, torna-se acessível por sua bondade.
Enche tudo com o seu poder, mas comunica-se apenas aos que são dignos;
não a todos na mesma medida, mas distribuindo os seus dons em
proporção da fé. Simples na essência, múltiplo nas manifestações do seu
poder, está presente por inteiro em cada um, sem deixar de estar todo em
todo lugar. Reparte-se e não sofre diminuição. Todos dele participam e
permanece íntegro, à semelhança dos raios do sol que fazem sentir a cada
um à sua luz benéfica como se fosse para ele só, e, contudo, iluminam a
terra e o mar e se difundem pelo espaço.
Assim é também o Espírito Santo: está presente em cada um dos
que são capazes de recebê-lo, como se estivesse nele só, e, não obstante,
dá a todos a totalidade da graça de que necessitam. Os que participam do
Espírito recebem os seus dons na medida em que o permite a disposição
de cada um, mas não na medida do poder do mesmo Espírito.
Por ele, os corações são elevados ao alto, os fracos são conduzidos
pela mão, os que progridem na virtude chegam à perfeição. Ele ilumina os
que foram purificados de toda a mancha e torna-os espirituais pela
comunhão consigo.
E como os corpos límpidos e transparentes, sob a ação da luz, se
tornam também extraordinariamente brilhantes e irradiam um novo
fulgor, da mesma forma também as almas que recebem o Espírito e são
por ele iluminadas tornam-se espirituais e irradiam sobre os outros a
graça que lhes foi dada.
Dele procede a previsão do futuro, a inteligência dos mistérios, a
compreensão das coisas ocultas, a distribuição dos carismas, a
participação na vida do céu, a companhia dos coros dos anjos. Dele nos
vem a alegria sem fim, a união constante e a semelhança com Deus; dele
procede, enfim, o bem mais sublime que se pode desejar: o homem é
divinizado”.

São Basílio explicou também que o Espírito Santo está presente


(essência) e gerencia a distribuição dos dons espirituais (energias), que
são, como afirmamos anteriormente, manifestação de Sua presença.
“Em cada atividade o Espírito está intimamente unido e inseparável
do Pai e do Filho: enquanto as atividades de Deus afetam a diversidade de
ações, e as do Senhor as diferenças de administrações, é o Espírito Santo
quem está presente, por sua própria autoridade, administrando a
distribuição dos dons espirituais de acordo com o valor de cada
destinatário.” (De Sp. S. 21.52, PG 32)

Temos ainda outras colaborações pneumatológicas de São Basílio


em sua obra “Contra Eunômio” (Adversus Eunomium). Abaixo, traduzo
alguns pequenos trechos desta obra:
“Não obstante a diferença de ordem e dignidade, o Espírito Santo
participa da mesma natureza do Pai e do Filho”.
“Os termos de ‘Santo’, ‘Espírito’, e ‘Paráclito’ constituem a prova da
divindade do Espírito Santo”.
“As operações do Espírito Santo nos fornecem as provas de sua
divindade (...) Veja que as operações do Espírito são conjuntas a do Pai e
do Filho. O texto seguinte, nos mostra ainda mais o caráter divino da
natureza do Espírito Santo: ‘Em todas estas coisas, é o único e mesmo
Espírito que as opera, distribuindo a cada um como Ele quer’ (I Cor 12, 11).
Ora, estas palavras são testemunhas do poder do Espírito, da sua
autoridade, do seu senhorio. Por isso, no Novo Testamento, alguns
profetas gritaram: ‘Isto diz o Espírito’ (At 21,11)”.
“Se o Espírito habita no homem, isso significa que a divindade
colocou no homem a sua casa”.
“Mesmo não tendo sido gerado, o Espírito Santo pertence a
Trindade (...) Os testemunhos da Escritura nos demonstram
suficientemente que o Espírito está acima de toda criatura, já que é
impossível que tenhamos a mesma natureza daquele que santifica (...)
Como podemos chama-Lo? Espírito Santo, Espírito de Deus, Espírito da
Verdade, Santo, Bom, Generoso (cf. Salm 50, 14), Espírito Vivificante (Cf.
Jo 6, 63), Espírito de Adoção (Rm 8, 15), que conhece todas as coisas de
Deus (Cf. I Cor 2, 10-11). Deste modo, certamente, será salvaguardada a
razão da unidade na Trindade, se confessarmos um só Pai, um só Filho e
um só Espírito Santo”.
Em uma outra obra chamada “Do juízo divino”, Basílio afirma que
“O Espírito Santo foi abundantemente derramado sobre toda a Igreja”.
E ainda, na mesma obra:
“Os cristãos precisam do Espírito Santo para caminharem no
caminho da verdade. Precisamos da guia do Espírito que é Santo e Bom”.
“Até que não observemos todos os mandamentos do Senhor (Cf. Jo
14, 15-17), os cristãos não são dignos do Espírito Santo”.
O Reino de Deus é “salvação em ato”, graças ao impacto que o
Espírito Santo exerce na história. Quem nega esta verdade, como faziam
os fariseus, incorre na “blasfêmia contra o Espírito” (cf. Mt 12,31-32; Mc
3,28-29; Lc 12,10), pecado imperdoável de cegueira, com o qual se refuta
a luz da evidência messiânica (cf. Jo 11, 4-5.11-12; Jo 9, 5.39.41). Os
Padres identificam o Reino com o próprio Espírito Santo!
O que queremos afirmar, portanto? O Espírito Santo, antes de ser
pensado à nível teológico, foi acolhido, crido e experimentado
pessoalmente pelos cristãos e pelos padres da Igreja como uma Pessoa
Viva!
Quero terminar esse ponto com a prece mística de São Simeão, o
novo teólogo:

“Vem, luz verdadeira. Vem, vida eterna. Vem, mistério escondido.


Vem, tesouro sem nome. Vem, realidade inefável. Vem, felicidade sem fim.
Vem, luz sem poente. Vem, despertar dos que dormem. Vem, ressurreição
dos mortos. Vem, ó Poderoso, que incansavelmente fazes e refazes e a
tudo transformas por tua simples vontade. Vem, tu que permaneces
sempre imóvel e que a cada instante te moves inteiro e vens a nós,
deitados nos infernos, tu que estás acima dos céus. Vem, alegria eterna.
Vem, tu que desejastes e que desejas minha alma miserável. Vem, tu o
Único, àquele que está só, pois, como vês, estou só. Vem, tu que me
separastes de tudo e me tornastes solitário nesse mundo. Vem, tu que te
tornastes em mim desejo, que me fizestes desejar-te, a ti que é
absolutamente inacessível. Vem, meu sopro e minha vida. Vem, consolo de
minha pobre alma. Vem, meinha alegria, minha glória, minhas delícias
sem fim”.

→O Concílio de Constantinopla (381) e o Credo sobre o Espírito


Santo: A Fé da Igreja no Espírito!

Crer no Espírito é, portanto, professar que o Espírito Santo é uma


das Pessoas da Santíssima Trindade, consubstancial ao Pai e ao Filho,
“adorado e glorificado com o Pai e o Filho”.
Antes de termos uma fé pensada, refletida e elaborada sobre a
Pessoa do espírito Santo, a Igreja viveu a fé no Espírito! As pessoas
conheciam o Espírito Santo como Pessoa, experimentaram Sua ação,
unção e condução!
A Igreja, instruída pelas palavras de Cristo, indo beber à experiência
do Pentecostes e da sua própria história apostólica, proclama desde o
início a sua fé no Espírito Santo, como n'Aquele que dá a vida, Aquele no
qual o imperscrutável Deus uno e trino se comunica aos homens,
constituindo neles a nascente da vida eterna.
Recordemos o que professamos semanalmente: “Creio no Espírito
Santo, Senhor que dá a Vida, que procede do Pai, e com o Pai e o Filho é
adorado e glorificado. Ele que falou pelos profetas”.
Esta parte da nossa profissão de fé é oriunda do Concílio de
Constantinopla do ano de 381, quando foi definida a divindade do Espírito
Santo, dogmaticamente. Este Concílio combateu uma heresia conhecida
como macedonianismo (porque seus defensores eram da Macedônia),
que negava a divindade do Espírito Santo.
Devemos a Santa Igreja a graça desta fé tão límpida que recebemos
em relação à Pessoa do Espírito Santo, embora, tantas vezes, em nossas
catequeses familiares e paroquiais, nem sempre Ele tenha sido nos
apresentada de forma mais madura e pessoal...
No entanto, cremos que a Santa Igreja, continua sendo o local
predileto do Espírito continuar sua ação e atuação, Templo Dele, é o lugar,
por excelência, do nosso conhecimento do Espírito Santo. Isso continua
acontecendo através:
— Das Escrituras, que Ele inspirou:
— Da Tradição, de que os Padres da Igreja são testemunhas sempre
atuais e vivas;
— Do Ensinamento da Igreja, que Ele assiste;
— Da liturgia e da graça sacramental, através das suas palavras e
dos seus símbolos e sua ação eficaz e santificadora que nos põe em
comunhão com a própria Trindade;
— Da oração, seu respiro, através da qual Ele intercede por nós;
— Dos dons, carismas e ministérios, pelos quais a Igreja é edificada;
— Dos sinais de vida hierárquica e missionária;
— Do testemunho vivos dos santos, deificados por Ele, nos quais Ele
mesmo manifesta a Sua santidade e continua a obra da salvação no
espaço e no tempo até a Segunda Vinda do Senhor!

→Pneumatologia hoje...

De forma breve e geral, quando pensamos na Teologia do Espírito


Santo (Pneumatologia), fazemos uma distinção em dois níveis de
conhecimento: A nível da Trindade (O que Ele é em si, desde toda
eternidade, ou seja, Quem Ele É) e a nível da História (Quem se apresenta
para nós ao longo da história da salvação, ou seja, O que Ele faz).
Atualmente, quando se fala aqui no Ocidente da redescoberta desta
teologia (não é o nosso caso), também se fala em dois outros níveis: A
nível de experiência (novos movimentos) e a nível de uma elaboração
teológica (novas produções).
Claro que a ação do Espírito foi sentida muito mais forte após o
Pentecostes. Fato é que Ele foi enviado num momento determinado ao
mundo para nele entrar e estar presente definitivamente não apenas por
sua ação, comum com toda Trindade, mas também enquanto Pessoa!
Lembremo-nos o que prometeu Nosso Senhor antes de sua
Ascenção: “Ele (o Espírito) estará convosco e em vós (...) Ele vos ensinará
todas as coisas”. (João 14:17).
A Ascensão de Cristo, disse um teólogo ortodoxo, é a Epíclese divina
por excelência porque o Filho suplica ao Pai que dê o Espírito Santo. E,
como resposta divina, o Pai envia o Espírito e faz acontecer Pentecostes!
O Evento histórico-salvífico-sacramental do Pentecostes, restitui ao
mundo a Presença Real e interiorizada de Cristo (Cf. Rm 5: 5). Nas suas
manifestações, diz Evdokimov, Ele É um movimento ‘para Jesus’, a fim de
O tornar visível e manifesto!
Não ignoramos que o Ocidente esteve muitos anos distante desta
teologia viva do Espírito Santo. O mesmo Evdokimov, em sua obra sobre o
conhecimento de Deus e a tradição oriental, afirmará que: “A ausência da
economia do Espírito Santo dos últimos séculos, como também seu
‘cristonomismo’, determinam que a liberdade profética, a divinização da
humanidade, a dignidade adulta, o governo do laicato e o renascimento
da nova criatura sejam substituídos pela instituição hierárquica da Igreja
proposta em termos de obediência e submissão”.
Em geral, costumamos dizer, que aqui no Ocidente, nestes últimos
séculos havia uma sede e fome pelo conhecimento do Espírito Santo!
Em contrapartida, a Teologia sobre o Espírito Santo no Oriente,
entre nós ortodoxos, sempre ocupou um lugar de destaque. Ioannis D.
Zizioulas (1931-2023) escreveu que: “A pneumatologia não tem a ver com
o bem-estar da Igreja, mas com seu próprio ser. Não se trata de um
dinamismo acrescentando à essência da Igreja. É a essência mesma da
Igreja. A Igreja é constituída em e através da escatologia e da comunhão.
A pneumatologia é uma categoria ontológica em eclesiologia”.
Entendamos, desde o início, o que diz a teologia ortodoxa: Não há
conhecimento de Deus sem a graça do Santo Espírito! São Gregório de
Nissa escreveu: "Se tirarmos de Deus o Espírito Santo, o que resta não é
mais o Deus vivo, mas o seu cadáver". É o próprio Jesus quem explica a
razão disso. "O Espírito é que vivifica, a carne de nada serve" (Cf. Jo 6: 63).
Aplicado ao nosso caso, isso significa: é o Espírito que dá a vida à ideia de
Deus e à busca por ele. A razão humana, marcada como está pelo pecado,
sozinha, não é suficiente. O homem que está prestes a falar de Deus, sob
qualquer título, se é um crente, deve lembrar que "as coisas de Deus
ninguém as conhece, a não ser o Espírito de Deus" (I Cor 2: 11). Em uma
palavra: Não há vida espiritual sem o Espírito Santo!
Recordemos São Silvano do Monte Athos: "As coisas desta terra
podemos aprender com a mente, mas o conhecimento de Deus e de todos
os assuntos celestiais vem apenas através do Espírito Santo, e não pode
ser aprendido meramente com a mente" (Sakharov, 1991, p.290). São
Silvano é ainda mais claro em outro momento ao escrever: "Podemos
dizer que podemos falar de Deus somente na medida em que conhecemos
a graça do Espírito Santo" (Sakharov, 1991, p.358). E outra vez ele diz: "O
Senhor é conhecido no Espírito Santo, e o Espírito Santo permeia todo o
homem - alma, mente e corpo" (Sakharov, 1991, p.353).
Consequentemente, segundo o ensinamento de São Silvano, não pode
haver epistemologia teológica (conhecimento de Deus!) fora da revelação
pelo Espírito Santo!
Georges Florovsky ao falar do trabalho do Espírito Santo na
Revelação, afirma que: “Deus fala ao homem através do Seu Espírito; e
somente na medida em que o homem habita no Espírito ele ouve e
reconhece esta voz: “O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não
sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido
do Espírito” (Jo. 3:8). Não existem caminhos isolados de vida espiritual.
Desde o Dia do Pentecostes o Espírito habita na Igreja, onde Deus ordenou
“a ação do Espírito” (“Omnem Operationem Spiritus,” como Santo Irineu
de Lion disse). Aqui, nesta vida, pelo poder do Espírito toda alma é
vivificada. Aqui o Verbo de Deus toca e é ouvido — todas as palavras
desde o início. Está aqui a plenitude e o caminho do conhecimento. O
esforço pelo Espírito, a oração pela concessão do Espírito, é o caminho no
qual podemos glorificar Deus. Através do Sopro do Espírito a Revelação de
Deus será eternamente vivificada, e construirá o organismo vivo da
Verdade una e indivisa”.
Paul Evdokimov escreveu uma frase que ficou gravada em nossa
teologia ortodoxa: “A Igreja está fundada sobre a Eucaristia e Pentecostes,
conjuntamente”. O que significa dizer isto senão que a Igreja existe
somente e, a partir, do evento de Pentecostes!
Vemos também aqui, na dupla economia (Cf. Lossky), a do Filho e
do Espírito, uma reciprocidade e o mútuo serviço no Amor. Duas Kenósis,
em Nome do Pai, para nós e para nossa salvação e theosis!
Apesar da distinção das Pessoa, a ação do Espírito está sempre
ligada ao Filho. São as “duas mãos” do Pai, no dizer de Irineu, doutor do
Oriente e do Ocidente!
Estando presente na Criação, na Encarnação e na Redenção, o
Espírito “que falou pelos profetas”, jamais foi estranho à economia divina
no mundo e, consequentemente na história. É O Espírito Santo que realiza
tudo em todos!
Precisamos pedir a Graça do Espírito Santo para buscarmos Ele
próprio. A este respeito, São Cirilo de Jerusalém escreve: “A Graça do
Espírito Santo é verdadeiramente necessária se quisermos tratar sobre o
Espírito Santo; não porque podemos tratar adequadamente sobre Ele, o
que seria impossível, mas para que possamos passar por esta matéria sem
causarmos danos”.
Vladimir Lossky, em sua obra “A Teologia mística da Igreja do
Oriente”, afirma que “Podemos dizer, num certo sentido, que a Obra de
Cristo preparou a do Espírito Santo (Cf. Lc 12: 49). O Pentecostes aparece
assim como o objetivo, como o fim último da economia divina sobre a
terra. Cristo retorna ao Pai para que o Espírito venha. Entretanto, em seu
advento pessoal o Espírito Santo não manifesta a Sua Pessoa. Ele não vem
em seu próprio Nome, mas no Nome do Filho, para dar testemunho do
Filho, assim como o Filho veio em Nome do Pai, para dar a conhecer o Pai.
Não pensamos no Pai sem o Filho, diz São Gregório de Nissa, e não
concebemos o Filho sem o Espírito Santo”.
Santo Atanásio dirá que “O Verbo assumiu a carne para que nós
pudéssemos receber o Espírito Santo. Deus se fez sarcóforo para que o
homem pudesse se tornar pneumatóforo”.
São Gregório Nazianzeno em sua Oração Teológica, escreveu:
‘’Ele é chamado de “o Espírito de Deus”, Cristo”, “a mente de
Cristo”, “o Espírito do Senhor” e “o Senhor” por direito próprio, “o Espírito
de adoção”, “da verdade”, "da liberdade;" “o Espírito de sabedoria, “de
entendimento”, “de conselho”, “de poder”, “de conhecimento”, “de
piedade”, “do temor de Deus”. Pois Ele é o Criador de todas essas
qualidades, preenchendo tudo com Sua essência, contendo todas as
coisas, preenchendo o mundo em Sua essência, mas incapaz de ser
compreendido em Seu poder pelo mundo...’’
Nicolau Cabasilas pergunta e responde: “Qual é o efeito e o
resultado dos atos de Cristo? Não é nada mais que a descida do Espírito
Santo sobre a Igreja”.
Para São Simeão, o Novo Teólogo: “Tais eram a finalidade e o
objetivo de toda Obra da nossa salvação pelo Cristo, que os crentes
recebam o Espírito Santo”.

Já conseguem perceber como a Teologia do Espírito Santo no


Oriente é vital, profunda, contínua e rica?

O Ofício do Espírito Santo é muito mais central e decisivo na


espiritualidade das Igrejas do Oriente do que na das Igrejas do Ocidente!
No Concílio de 381, em Constantinopla, um grupo de bispos não
queria reconhecer a consubstancialidade do Espírito Santo com o Pai, e
com isso a sua divindade. Foi um trabalho teológico longo e árduo. As
definições parcimoniosas dos Padres sublinham que a intenção não era
dar uma explicação pormenorizada da natureza do Espírito Santo – que é
impossível, humanamente falando-, mas somente assinalar os erros
doutrinais.
Muitos diziam que Ele era “um Deus desconhecido”, ou ainda “um
Deus estranho, segundo a Escritura”. Foi de Santo Atanásio, o mérito de
ter sido o primeiro, a escrever e chamar claramente o Espírito Santo de
Deus!
A corrente hesicasta foi também de fundamental importância para
o desenvolvimento da pneumatologia ortodoxa.
Além de São Gregório de Nazianzo, o Teólogo, São Cirilo de
Alexandria, São João Crisóstomo e São Máximo Confessor, desenvolveram
também a Teologia do Espírito Santo.
A herança espiritual de São Simeão, o Novo Teólogo, recolhida e
completada na renovação mística ortodoxa dos séculos XVIII e XIX
(pensemos em São Serafim de Sarov e o diálogo com Motovilov) constitui
a essência do ensinamento místico ortodoxo sobre o Espírito Santo,
reinterpretado em experiência espiritual direta, e portanto, de certa
forma empiricamente.
A Ortodoxia, não pretende ter um modo especial de compreender o
Espírito Santo. Nossa doutrina ortodoxa neste assunto está ligada à
definição do símbolo da fé, aos testemunhos dos Padres à época da
cristandade indivisa, a corrente mística e a liturgia.
Vladimir Lossky fala de um ‘ciclo pneumatológico’, que vai do
“triunfo da Ortodoxia” (842), ou seja, durou todo o período dos sete
concílios, até os nossos dias! Se nosso primeiro ciclo (que foi
eminentemente cristológico) a preocupação era a busca da Verdade sobre
Cristo; aqui, neste ciclo do Espírito, é a busca da autêntica assimilação
destas verdades em nossas vidas, por assistência e graça do Espírito
Santo!
Como falarmos da Santa Igreja sem o Santo Espírito? A dimensão
cristocêntrica da Igreja não pode estar separada da dimensão
pneumatológica, ou seja, a Igreja constituída, guiada e conduzida pelo
Espírito Santo. A Igreja é Sacramento do Espírito, Lugar onde Ele habita,
Sua Casa Predileta, eu gosto de pensar...
O tempo da Igreja é o tempo do Espírito Santo, com cuja Efusão ela
nasce, se alimenta e se expande, desde o dia de Pentecostes. É o Divino
Espírito quem faz a Igreja acontecer na história quando os apóstolos
reunidos em Pentecostes recebem os dons do alto. Para o evangelista São
Lucas o tempo da Igreja é o tempo da manifestação e da ação do Espirito
Santo (Cf. At 1: 2.5.8.16;2: 4.18).
Na Teologia Ortodoxa contemporânea, a primeira tentativa de
apresentar o conjunto da teologia pneumatológica foi de Sérgio Boulgakov
em sua obra “O Paráclito”. Nela, ele ousou chamar a Ortodoxia de
“Religião do Espírito Santo”.
Os nossos teólogos são unanimes ao afirmarem que A teologia do
Espírito Santo deve ser como que “O Coração da Teologia Cristã” (N.
Nissiotis), porque a criação não possuí nenhum dom que não provenha do
Espírito Santo!
A experiência com o Espírito Santo é uma realidade para a
Ortodoxia! Ela é como o “selo” da Presença de Deus, da sua
autenticidade!
O Padre Paulo Florensky e Olivier Clément, são outros teólogos
recentes que trabalharam muito para o desenvolvimento da
pneumatologia ortodoxa.
A Teologia Ortodoxa, fiel à Tradição patrística, identifica o Espírito
Santo com o Reino de Deus e com a Ressurreição. Após os ensinamentos
de São Serafim, em sua demonstração visível, o estado de aquisição do
Espírito Santo (objetivo da vida cristã) se manifestou na Luz, na
Transfiguração. Com isso, o santo russo aviva a tradição do hesicasmo
grego.
Evdokimov, seguindo os Padres, diz que o Espírito Santo É A
Santidade hipostática por Sua Natureza. Por isso Ele É chamado de
“Panhagion”, Todo-Santo, porque Ele É a Essência da Santidade divina!
Todos nós precisamos do Espírito Santo para nossa divinização! Até
a Igreja, porque enquanto peregrina neste mundo, ela comporta, além dos
elementos sobrenaturais, elementos de temporalidade que precisam da
ação santificadora e avivadora do Espírito!
A teologia bizantina põe em realce de modo surpreendente o
mistério fulgurante da Transfiguração do Senhor e revela o Espírito Santo
repousando no Cristo. Jesus, cheio do Espírito Santo, envia-os aos
homens, mas, numa relação inversa, o Espírito age sobre o Cristo,
transfigura-o, ressuscita-o e manifesta-o plenamente no momento da
Parusia. A epíclese situa-se no seio da vida litúrgica e sacramental. A
antropologia da deificação está centrada sobre a pneumatização do ser
humano e a sua penetração pelas energias deificantes do Espírito Santo. É
o estilo pneumatóforo da santidade, do qual o testemunho mais brilhante
é São Serafim de Sarov ensinando a aquisição do Espírito Santo como a
finalidade da vida cristã.
Por isso também, o rosto humano totalmente espiritual que já
existiu foi o da Mãe de Deus, a Theotókos! Quem mais cheia Dele do que
ela? O mistério dessa concepção virginal pode ser visto como uma nova e
radical criação, cujo protagonista é o mesmo Espírito que outrora
fecundou e tornou possível a primeira criação. Maria diz “sim” e o Espírito
se manifesta, Espírito que une o Verbo ao sim, a energia divina e a energia
humana, o dom e o acolhimento.
Concebendo por obra do Espírito Santo, Maria apresenta-se como a
nova arca da Aliança inaugurada na plenitude dos tempos, sobre a qual
está a glória de Deus na sua potência fecundante; de fato essa glória nos
lembra a nuvem luminosa que, no Antigo Testamento, era o sinal da
presença de Deus em meio ao seu povo (cf. Ex 13,22; 19,16).
Em todo o seu ser, é ela a pneumatófora (portadora do Espírito) por
excelência no plano das criaturas e instrumento dócil à intervenção
santificadora do Espírito no plano da Salvação.
O Espírito, como nos sugere o Ofício de Pentecostes, na Liturgia
bizantina, é “O Reino do Pai” e a “Unção do Filho”.
‘Venha nós o Seu Reino’, significa para os Padres, venha a nós o Seu
Espírito. Na Economia da Salvação, sendo o Espírito A Fonte, O Doador das
Energias trinitárias deificantes, a salvação é atualizada em nós! Para
Olivier Clément, a Igreja é no mundo a Grande Sarça Ardente, cujo Fogo
infinito nada mais é senão O Espírito Santo.
A concretização da Promessa do Espírito em nós nos assegura a vida
plena! Agora temos um meio infalível para tomar sempre o Caminho da
vida e da luz: A assistência e presença viva do Espírito Santo! É a certeza
que Jesus deu aos apóstolos antes de deixá-los: “E eu pedirei ao Pai, e ele
vos dará um Paráclito, para que permaneça sempre convosco” (Jo 14:16).
E ainda: “O Espírito da Verdade, então ele vos guiará a toda a Verdade” (Jo
16: 13). Não fará tudo de uma vez, ou de uma vez por todas, mas à
medida que as situações se apresentarem. Antes de deixá-los
definitivamente, no momento da Ascensão, o Ressuscitado assegura
novamente aos seus discípulos a assistência do Paráclito para a vida e a
missão: “Recebereis – diz – a força do Espírito Santo que virá sobre vós e
sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria,
até os confins da terra” (At 1:8).

“Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são


filhos de Deus. De fato, vós não recebestes um espírito de escravos, para
recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no
qual todos nós clamamos: Abá – ó Pai! O próprio Espírito se une ao
nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus” (Rm 8:14-16).

Esta é uma ideia central da mensagem de Jesus e de todo o Novo


Testamento! Graças ao batismo que nos enxertou em Cristo, nós nos
tornamos filhos no Filho. De direito, nós somos filhos pelo batismo, mas,
de fato, nós nos tornamos graças a uma ação do Espírito Santo que
continua na vida!
E, assim como os Evangelhos começam com o nascimento de Jesus
pela Obra do Espírito; assim também começará o nascimento da Igreja nos
Atos dos Apóstolos! ‘O Evangelho do Espírito Santo’ (assim alguns
chamam os Santos Atos) nos mostram uma Igreja que é, passo a passo,
“conduzida pelo Espírito”. A sua guia se exerce não apenas nas grandes
decisões, mas também nas coisas de menor importância. Paulo e Timóteo
querem pregar o evangelho na província da Ásia, mas “o Espírito Santo os
havia impedido”; tentam ir rumo à Bitínia, mas, está escrito, “o Espírito de
Jesus os impediu” (At 16: 6ss.). A Igreja, que nasce em Pentecostes,
experimenta a Presença e a condução viva do Espírito diariamente, em
tudo!
Um pequeno acréscimo antes de encerrarmos: Também o termo
“espiritualidade” significa “Vida no Espírito”. O homem respira,
espiritualmente, pelo Espírito! O que é a Oração senão a Linfa e o
Oxigênio do Espírito em nós e para nós? A Liturgia é uma Epifania da
Eternidade Bela e Perfeita realizada e atualizada pelo Espírito em nós e
para nós! A Liturgia é Obra do Espírito! Os Sacramentos são os toques
vivos, a carne de Deus em nós, a alma de Deus em nós. Eles nos
comunicam a Vida de Deus, Rei Celeste, Consolador. Presente em toda
Parte e ocupando todo Lugar!
O Espírito Santo, definido no Concílio de 381, como Senhor que dá a
Vida, continua soprando Vida até nossa Ressurreição da Carne, da qual,
Ele também É Artífice e Protagonista: Deus habitará eternamente em nós
como espírito e com o Espírito! Seremos semelhantes a Ele graças ao
Espírito que como Templo habitou nossos corpos e nos santificou nesta
jornada da vida.
Ó Maravilha Indescritível, Ó Estranho Mistério! Por que nos
incomodamos em vão? Por que todos nós devíamos? Se pergunta Simeão,
o Novo Teólogo...Porque o Espírito Santo, continua ele, está presente do
mesmo modo em cada momento da história da Igreja, como estava
presente nos tempos apostólicos. Em cada geração, podemos e devemos
ser movidos pelo Espírito divino e sentirmos Sua Presença de maneira
perceptível à consciência como os apóstolos sentiam de Cristo, concluiu.
Tudo que Deus faz, diz São Gregório Nazianzo, É Ele que o faz! Não
existe, diz São Basílio, dom concedido à criatura sem que o Espírito Santo
esteja presente!
O mesmo São Gregório fala do cristão como de um 'instrumento
musical tocado pelo Espírito Santo'. O alvo do ascetismo é manter esse
instrumento afinado. A mortificação não é simples controle progressivo do
instinto pelo amortecer dos apetites do coração. Essa visão é por demais
primária. É um pouco como se retesássemos as cordas de um violão.
Nesse caso, não vamos torcendo até que se rompam. Isso não seria
santidade, mas insanidade. O que devemos fazer é levar as cordas desse
delicado instrumento - que é todo o nosso ser - à nota exata que o Espírito
Santo deseja para nós, de maneira que possa Ele produzir em nós a
inefável melodia do amor divino, amor ao qual fomos criados para cantar
diante da face de nosso Pai celestial!
Não poderia terminar de tentar falar um pouco do Espírito Santo
sem tocar no nome de sua apóstola: Elena Guerra (1835-1914). Para nossa
jurisdição, Santa Elena do Espírito Santo, glorificada no Santo Sínodo Geral
de 2024 em São Paulo. Ela viveu toda experiência cristã buscando fazer o
Espírito Santo mais conhecido, amado e invocado. Foi a pessoa que mais
escreveu sobre Ele na história. Graças a Ela o século XX foi consagrado ao
Espírito Santo por Leão XIII. Entre tantas outras coisas, Santa Elena
bradava: “Retornemos ao Espírito Santo para que Ele retorne a nós”. Sua
memória é celebrada por nós dia 11 de Abril.
Vamos findando com duas citações sublimes:

Primeiro com São Basílio:


“Através do Espírito Santo vem nossa restauração ao paraíso, nossa
ascensão ao reino dos céus, nosso retorno à adoção de filhos, nossa
liberdade de chamar Deus nosso Pai, sermos feitos participantes da graça
de Cristo, sermos chamados filhos de luz, nossa participação na glória
eterna e, em uma palavra, sermos levados a um estado de toda “plenitude
de bênçãos”, tanto neste mundo como no mundo vindouro, de todas as
boas dádivas que estão reservadas para nós , pela promessa deste, por
meio da fé, contemplando o reflexo de sua graça como se já estivessem
presentes, aguardamos o pleno gozo”.

E, agora com Mons. Ignatios Hazim, metropolita ortodoxo de


Latakia (Síria), em uma inspiração que ficou imortalizada até nossos dias:

“Sem o Espírito Santo:


Deus está longe,
Cristo fica no passado,
o Evangelho é letra morta,
a Igreja não passa de mera organização,
a autoridade, uma dominação,
a missão, uma propaganda,
o culto uma evocação,
o agir cristão uma moral de escravos.
Mas, com o Espírito Santo:
o cosmos é elevado e geme as dores de parto do Reino,
Cristo ressuscitado está presente,
o Evangelho é força que dá vida,
a Igreja é sinal de comunhão trinitária,
a autoridade é serviço libertador,
a missão é Pentecostes,
a liturgia é memorial e antecipação,
o agir humano é deificado”.

Pelo Patriarcal Ateneu São Marcos


Padre Simeão do Espírito Santo
AULA 13 LEIGOS- A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO
Maio de 2024

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