Manual Formação Laboratório

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Luanda - 2013

2 | MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA

INDÍCE
EQUIPA TÉCNICA ............................................................................................................ 4
PREÂMBULO.................................................................................................................... 5
1. CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO...................................................................................... 7
1.1. Considerações Gerais sobre Malária............................................................................. 7
1.2. Manifestações clínicas........................................................................................................ 8
2. UNIDADE 2 CICLO BIOLÓGICO DO PARASITA........................................................ 11
2.1. Ciclo Esquizogonico............................................................................................................ 12
2.2. Ciclo esporogonico ............................................................................................................ 12
3. CAPÍTULO 3 BIOSSEGURANÇA................................................................................. 15
3.1 Normas do laboratório ...................................................................................................... 15
3.2 Organização da área de trabalho.................................................................................... 16
3.3 Desinfecção com lixívia (hipoclorito de sódio).......................................................... 17
3.4 Descarte do material usado em lugares apropriados.............................................. 18
4. CAPÍTULO 4 LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE LÂMINAS DE MICROSCÓPIO....... 22
4.1 Lavagem e preparação de lâminas de microscópio................................................. 22
4.2 Conservação de lâminas de microscópio..................................................................... 23
5. CAPÍTULO 5 PREPARAÇÃO DAS LÂMINAS DE SANGUE....................................... 26
5.1 Gota Espessa........................................................................................................................... 26
5.2 Esfregaço.................................................................................................................................. 26
5.3 Preparação de gota espessa e esfregaço de sangue................................................ 27
5.4 Falhas comuns na preparação de esfregaços de sangue....................................... 30
5.4.1 Esfregaços de sangue mal posicionados.................................................................. 30
5.4.2 Muito sangue...................................................................................................................... 31
5.4.3 Pouco sangue..................................................................................................................... 31
5.4.4 Lâminas gordurosas......................................................................................................... 32
5.4.5 Extremidade da lâmina espalhador lascada............................................................ 32
5.4.6 Outros problemas: na preparação, recolha ou armazenamento .................... 33
6. CAPÍTULO 6 COLORAÇÃO DAS LÂMINA DE SANGUE.......................................... 36
6.1 Água tamponada.................................................................................................................. 36
6.2 Coloração por Giemsa......................................................................................................... 36
6.2.1 Diluição a 10%.................................................................................................................... 37
6.2.2 Diluição a 3%....................................................................................................................... 37
6.2.3 Descrição método coloração por Giemsa................................................................ 37
6.2.4. Cuidados a ter com Solução Stock Giemsa concentrada................................... 37
7. CAPÍTULO 7 O MICROSCÓPIO.................................................................................. 40
7.1 Componentes do microscópio binocular composto............................................... 40
7.2 Uso da objectiva de imersão em óleo........................................................................... 43
7.3 Cuidados com microscópio............................................................................................... 44
7.3.1 Remoção de pó e gordura.............................................................................................. 44
7.3.2 Prevenção de crescimento de fungo.......................................................................... 45
7.4 Transporte do microscópio............................................................................................... 45
8. CAPÍTULO 8 ELEMENTOS FIGURADOS NORMAIS DO SANGUE.......................... 48
8.1 Eritrócito, Glóbulos Vermelhos ou Hemácias.............................................................. 48
8.2 Leucócito ou Glóbulo Branco........................................................................................... 49
8.2.1 Leucócitos polimorfo nucleares................................................................................... 49
8.2.2 Leucócitos mononucleares............................................................................................ 50
8. 3 Plaquetas................................................................................................................................ 50
8.4 Sangue em gota espessa corada com Giemsa........................................................... 51
9. CAPÍTULO 9 PARASITAS DA MALÁRIA.................................................................... 54
9.1 Características do parasita da malária........................................................................... 54
9.2 Estadio Trofozoíto................................................................................................................. 55
9.3 Estadio Esquizonte............................................................................................................... 56
9.4 Estadio Gametócito.............................................................................................................. 57
9.5 Espécies que causam malária humana......................................................................... 57
9.6 Aparência De Espécies De Parasitas No Esfregaço................................................... 58
9.7 Aparência de espécies de parasitas na Gota Espessa.............................................. 59
10. CAPÍTULO 10 CONTAMINANTES E ARTEFACTOS................................................ 64
10.1 Artefactos e Contaminações Frequentes................................................................... 64
11. CAPÍTULO 11 MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO DE PARASITAS........................ 68
11.1 Determinação densidade parasitaria gota espessa............................................... 68
12. CAPÍTULO 12 REGISTOS.......................................................................................... 72
12.1 Registo do Paciente no Livro.......................................................................................... 72
12.2 Modelo De Registo Dos Resultados Dos Exames................................................... 73
12.2.1 Resultados positivos por microspopia.................................................................... 73
12.2.2 Resultados negativos por microspopia.................................................................. 73
12.2.3 Resultados por TDR........................................................................................................ 74
13. CAPÍTULO 13 TESTE RÁPIDO DE DIAGNÓSTICO................................................. 77
13.1 Fundamento . ...................................................................................................................... 77
13.2 Onde e Quando Utilizar .................................................................................................. 78
14. CAPÍTULO 14 OUTROS MÉTODOS DIAGNÓSTICO DA MALÁRIA..................... 81
14.1 Diagnóstico Reacção Em Cadeia Da Polimerase (PCR)......................................... 81
14.2 Detecção De Antigénios Do Plasmodium ................................................................ 81
ou Detecção de Anticorpos Por Provas Serológicas.............................................
14.3 Radioimunoensaio............................................................................................................. 81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................... 84
ANEXOS............................................................................................................................ 85
1. Plasmodium spp- Estadios dos parasitas no sangue em Esfregaço .................... 86
2. Plasmodium spp- Estadios dos parasitas no sangue em Gota Espessa............... 90
4 | MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA

EQUIPA
TÉCNICA
Filomeno Fortes
*DNSP/PNCM

Rafael Dimbu
DNSP/PNCM

Carolina Miguel
DNSP/PNCM

Joana Martinho do Rosário


Eye Kutuloka Project, World Learning

Garcia Nazaré Pembele


Hospital Neves Bendinha

Maria Florinda Victor


Hospital Geral Kilamba Kiaxi

*DNSP/PNCM – (Direcção Nacional de Saúde Pública/Programa Nacional de Controlo da Malária)


Preâmbulo
A formação do pessoal do laboratório é uma componente essencial para a
aquisição de aptidões e competências técnicas para o diagnóstico laboratorial
da malária e melhoria da gestão de casos.
Este Manual pretende ser um instrumento de referência de uso obrigatório
para os técnicos de laboratório e às instituições direccionadas à formação
de recursos humanos na área da malária. Tem como objectivo padronizar
e uniformizar as técnicas de diagnóstico laboratorial da Malária no país
baseando-se nas normas estabelecidas internacionalmente pela Organização
Mundial de Saúde.
É complementado por outras duas publicações produzidas pelo PNCM:
• Auxiliar de Bancada de Diagnóstico Laboratorial da Malária (2013).
• Garantia de Qualidade em Microscopia da Malária:
Estratégia Operacional de Implementação a nível Municipal (2013).
A abordagem escolhida utiliza uma linguagem simples e objectiva tendo por
base várias publicações oficiais entre as quais o manual de microscopia básica-
Guia do aluno da OMS1 adaptado ao contexto local. O conteúdo encontra-
se dividido em 14 capítulos que devem ser utilizados para formações de
capacitação de técnicos de laboratório num total de 10 dias de formação.
Os capítulos constituem unidades de aprendizagem que após a formação
básica inicial podem ser usadas igualmente em sessões de recapitulação de
conteúdos consoante as fraquezas verificadas nas actividades de rotina e
supervisão.
A formação inclui CD-ROM desenvolvido pelo Centro de Controlo e Prevenção
de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention-CDC) - de Atlanta
EUA que possui um arquivo de mais de 800 imagens de esfregaços e gotas
espessas obtidas de pacientes da Asia Africa, Médio Oriente e Caraíbas e
informações técnicas transmitidas em apresentações de PowerPoint.
Todos os participantes devem ser avaliados no primeiro dia de formação
por intermédio de um pré-teste prático e teórico. No final da formação
uma reavaliação ou pos-teste deve ser admnistrado para a verificação do
desempenho e progresso adquiridos durante o processo da formação.
O conteúdo deste manual é destinado a fins exclusivamente didácticos de
laboratórios e instituições de ensino e não se destina á comercialização. Não
substitui as publicações oficiais sobre a matéria e estará sujeito a avaliações
e revisões regulares para sua actualização em tempo útil.
Espera-se que a sua utilização contribua para uma melhoraria da capacidade
de diagnóstico laboratorial, reduzindo a morbi-mortalidade diminuindo
assim o impacto socio-económico da malária em Angola.

Pela Equipa Técnica


Prof. Dr.Filomeno Fortes

1 - WHO (2010); Basic Malaria Microscopy: Part 1. Learner’s guide, second Edition. 2010
6 | MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 7

CAPITULO 1
INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE MALÁRIA

A malária é um importante problema de saúde pública em muitas partes do mundo


afectando maioritariamente pessoas que habitam os países em desenvolvimento com
climas tropicias e subtropicais com é o caso de Angola. A malária é causada por um
microorganismo eucarioto que pertence ao ramo PROTOZOA, filo APICOMPLEXA,
ordem HAEMOPORIDIA, família dos PLASMODIIDAE e ao género PLASMODIUM que
infecta os glóbulos vermelhos do sangue.
É transmitido de pessoa a pessoa pela picada da fêmea do mosquito do género
Anopheles (vector). O Plasmodium passa por um ciclo complexo, tanto no mosquito
como no homem, antes de a transmissão poder ocorrer. No vector mosquito, o ciclo
dura 1 a 3 semanas, dependendo de um certo número de factores, tais como a espécie
de parasitas da malária, a temperatura ambiente e a humidade relativa e no homem
cerca de 1 a 4 semanas consoante a espécie.
A OMS determina que diagnóstico precoce e tratamento rápido da malária devem
ser os primeiros elementos básicos estabelecidos em qualquer programa de controlo
de qualidade desta doença.
O chamado Gold Standard ou método de referência padrão do diagnóstico é a
visualização microscópica do plasmódio em exame de gota espessa e do esfregaço
sanguíneo.
Em Angola, a estratégia nacional para o controlo da malária depende de uma rede de
laboratórios que fornecem microscopia de malária por microscopia óptica coadjuvada
com utilização dos testes rápidos de diagnósticos nos postos de saúde periféricos e
bancos de urgência. Existem várias vantagens no diagnóstico por microscopia tais
como o seu baixo custo, possibilidade de diferenciação entre espécies, quantificação
8 | CAPITULO 1 - INTRODUÇÃO

de densidade parasitária e possibilidade de diagnosticar co-infecções. Os serviços de


microscopia de malária necessitam proporcionar um diagnóstico precoce, preciso que
possibilite um tratamento imediato e correcto. A microscopia de malária é um exercício
qualificado, que exige cuidado em cada passo dos procedimentos operacionais padrão,
e competências visuais e diferenciais precisas que exige a constante actualização de
conhecimentos dos técnicos.
Outros métodos de diagnóstico biológico como Reacção em Cadeia da Polimerase
(PCR) e Imunofluorescência (não recomendado em áreas endémicas) são igualmente
utilizados para trabalhos de Investigação operacional e respectivo controlo
qualidade.

1.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

A infecção por malária pode manifestar-se através de um variado número de


sintomas, variando entre fracas ou nenhumas manifestação clínica a doença severa e
morte. Pode ser categorizada em malária simples ou severa. É em geral uma doença
curável quando diagnosticada correcta e precocemente.
Classicamente consiste em três fases: fase fria (sensação de frio, arrepios), fase
quente (febre, dores de cabeça, dores musculares, vómitos, convulsões nas crianças) e
fase de sudorese (suores, retorno da temperatura normal corporal, cansaço). Contudo,
este quadro clássico pode ser alterado com a utilização de fármacos ou aquisição de
imunidade, e vários dos sintomas descritos podem estar ausentes.
O diagnóstico requer a demonstração de parasitas no sangue. Adicionalmente
podem ser verificados: anemia, trombocitopenia, elevação da bilirrubina e
aminotransaminases.
A doença pode evoluir para malária grave ou complicada provocando uma
disfunção multiorgânica afectando sistema nervoso central, hematopoético, aparelho
respiratório, fígado, sistema circulatório, rins e coagulação sanguínea.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 9

CAPITULO 2
CICLO BIOLÓGICO DO PARASITA

O plasmódio apresenta dois ciclos biológicos: um no homem denominado de ciclo


esquizogónico e outro no mosquito, ciclo esporogónico conforme se ilustra na Figura 1.

i = Fase Infecciosa
Fases no Fígado Humano
d = Fase Diagnosticante
Hepatócito
Hepatócito
Infectado
Fases no Mosquito
2
12 Lise 1 i A
Refeição sanguínea
(injecção de esporozoítos)
Ciclo exo-eritrocítico
11 Oocisto
Libertação
i de Esq. Lisado
esporozoitos 4 3
Esquizonte

C
Fases no Sangue Humano
Ciclo Esporogónico Trofozoíto imaturo
5 (fase de anel)
10 Oocinete 8
Refeição sanguínea d
(injecção de gametócitos)
Macrogametócito
B
Ciclo Eritrocítico d
Trofozoíto
Entrada do 9 maduro
P. falciparum
microgâmeta 6
no macrogâmeta Microgametócito
Lise
exflagelado
d
7
Gametócito d Esquizonte 7
P . vivax Gametócitos
P . ovale
P . malariae

Figura 1: Ciclo Biológico do Plasmódio Spp.


(FONTE: DPDx: CDC´s Web site for parasitology identification http://www.dpd.cdc.gov/dpdx/)
10 | CAPITULO 2 - CICLO BIOLÓGICO DO PARASITA

2.1 CICLO ESQUIZOGÓNICO

A reprodução do parasita faz-se por divisão assexuada e desenvolve-se em duas


fases: fase eritrocítica e fase exo-eritrocítica. O parasita é inoculado no sangue pela
picada da fêmea do mosquito Anopheles infectada, sob a forma de esporozoítos, os
quais ficam pouco tempo em circulação (cerca de meia hora) e penetram nas células
parenquimatosas do fígado (hepatócitos), nas quais se multiplicam para formarem
os esquizontes exo-eritrocíticos. Estes, em alguns dias (7 a 21 dias, de acordo com o
tipo de plasmódio) dão origem a milhares de merozoítos, constituindo o período de
incubação (pré-eritrócito) rompendo os esquizontes. Estes merozoítos invadem os
eritrócitos na corrente sanguínea e transformam-se em trofozoítos jovens iniciando-
se assim o ciclo eritrocítico. No caso dos P. vivax e P. ovale alguns esporozoítos não se
transformam de imediato em esquizontes, ficando no interior das células hepáticas
(hepatócitos) como formas latentes (hipnozoítos), sendo responsáveis pelas recaídas.
No ciclo eritrocítico, os trofozoítos já em fase adulta multiplicam-se, dando origem
aos esquizontes eritrocíticos, que uma vez maduros fazem romper os esquizontes
no interior dos eritrócitos, libertando os merozoítos para a circulação, os quais têm
capacidade de invadir novos eritrócitos. Os trofozoítos jovens adoptam formas anelares.
Cada esquizonte maduro contém entre 6 a 24 merozóitos dependendo da espécie de
plasmódio. A repetição deste ciclo conduz a um aumento progressivo da parasitémia
e a uma destruição gradativa dos eritrócitos circulantes.
Alguns merozóitos na circulação sanguínea transformam-se em gametócitos. Estas
formas sexuadas (macro e micro gametócitos) são ingeridas pelo mosquito quando o
mesmo pica uma pessoa infectada e dão continuidade ao ciclo de vida do parasita no
vector. Na realidade, as formas sexuadas são as formas responsáveis pela continuidade
da transmissão da malária.

2.2 CICLO ESPOROGÓNICO OU GAMETOGÓNICO

A reprodução do parasita faz-se por divisão sexuada. O ciclo processa-se no mosquito


fêemea que se infecta durante a sua refeição sanguínea picando o individuo infectado
e ingerindo sangue contendo gametócitos. Os microgametócitos (masculinos) e os
macrogametócitos (femininos) transformam-se em gâmetas no intestino médio do
mosquito. O gameta masculino fertiliza o gameta feminino dando origem ao oocineto
ou zigoto. O Occineto é móvel e penetra na parede do intestino médio do mosquito
onde se transforma em oocisto jovem, por sua vez, por divisão assexuada, dá origem
ao esporozoítos de forma fusiforme e alargada. O oocisto rompe-se espalhando os
esporozoítos por todo o tubo digestivo que vão na sua maioria alojar-se nas glândulas
salivares do mosquito. Com a picada do mosquito no homem, os esporozoítos são
inoculados continuando o seu ciclo no homem.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 11

CAPÍTULO 3
BIOSSEGURANÇA

A actividade do diagnóstico laboratorial por ser um procedimento que envolve


sangue e outros produtos e materiais biológicos passíveis de contaminar homens,
animais e o meio ambiente, requer uma atenção especial às regras de biossegurança.
Biossegurança é o conjunto de acções de prevenção que minimizam ou
eliminam:
• Os riscos das actividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento
tecnológico e prestação de serviços.
• Os riscos que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio
ambiente ou da qualidade dos trabalhos desenvolvidos.

3.1 NORMAS BÁSICAS DO LABORATÓRIO

• É obrigatório o uso de bata no laboratório.


• As bancadas devem ser mantidas limpas e arrumadas e todas as passagens
devem estar permanentemente desobstruídas.
• Não toque, não abra ou cheire garrafas, frascos e recipientes com produtos
químicos, a menos que tenha sido instruído a fazê-lo.
• Não fume, nem coma ou beba no laboratório, deverá fazê-lo nas áreas
designadas fora do laboratorio.
• Use as regras de biossegurança correctas quando manusear amostras biológicas,
produtos químicos e objectos cortantes, tais como agulhas e bisturis.
• Use luvas de protecção quando manusear materiais contaminados ou contendo
sangue.
• Descarte materiais contaminados nos recipientes designados.
• Lave as mãos com água e sabão antes e ao final do trabalho.
• Evite picar-se acidentalmente quando manusear instrumentos cortantes. O uso e
descarte apropriado de instrumentos cortantes irá evitar acidentes com os mesmo
no laboratórios. Para isso o descarte de instrumentos cortantes deve ser feito em
recipientes especialmente manufacturados para tais fins.
• Cobrir cortes ou arranhões nas mãos com um penso estanque.
• Se ficar com sangue na pele, limpar rapidamente com um cotonete levemente
12 | CAPÍTULO 3 - BIOSSEGURANÇA

humedecido com álcool, e em seguida, lavar o mais rápido possível a área


afectada com água e sabão;
• Os reagentes e o equipamento devem ser devolvidos aos seus lugares após
terminada a sua utilização.
• Nunca deixe que se acumule material sujo nas bacias de lavagem, pois estas
podem ser necessárias em caso de emergência.
• Se se detectar qualquer falha no funcionamento de equipamento do laboratório
deve comunicar-se imediatamente o facto ao técnico responsável, para que se faça
uma reparação tão rápida quanto possível.

Certos indivíduos transportam doenças no sangue. As doenças


no sangue não são facilmente detectadas, e os testes para as
demonstrar são, por vezes, complexos e de alto custo. A hepatite,
VIH/SIDA, malária e sífilis são as mais comuns, mas outras como a
leptospirose, dengue, chicungunia, rotavírus podem ser sazonais e
comuns em determinadas áreas.

Assegure-se, que ao manusear sangue pratica as medidas de


prevenção correctas.

Prática universal de prevenção em laboratórios clínicos: «toda a


amostra biológica deve ser tratada como sendo infecciosa».

3.2 ORGANIZAÇÃO DA ÁREA DE TRABALHO

• O trabalho de laboratório é um trabalho de equipa e rotativo. Por isso, a organização


da área de trabalho é importante para se evitar riscos individuais e colectivos.
• A área de serviço deve estar bem organizada
• Obedecer a ordem de colocação do material e dos reagentes na bancada de
trabalho, onde só devem existir os materiais necessários para a actividade que vai
executar.
• Dividir os espacos de bancada em função do tipo de trabalho (colheitas, secagem,
coloração e observação).
• Não havendo espaço de bancada suficiente para divisão em áreas, analisar as
diferentes amostras numa sequência que priorize as actividades imediatas.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 13

Figura 2 e 3: Organização da área de trabalho


FONTE: CDC´s Atlanta

3.3 DESINFECÇÃO COM LIXÍVIA (hipoclorito de sódio)

Porque é que a lixívia é um desinfectante?


• Mata todos os microorganismos
• Esteriliza as superfícies
• Previne a contaminação cruzada
• Reduz os riscos de infecção

Preparações:
• 1% (Para 100ml: 1 ml de lixívia concentrada + 99 ml de água)

• 10% (Para 100ml: 10 ml de lixívia concentrada + 90 ml de água)

Instruções:
• Lavar as mãos antes de calçar as luvas e depois de as retirar;
• Lavar a luva com lixívia 1% entre a colheita de sangue de um paciente para outro;
• Enxaguar as luvas com água limpa, e secar a luva com papel antes de atender
outro paciente;
• Nunca colocar as mãos ou canetas no rosto, boca, e nariz com luvas ou mãos
sujas;
• Limpar sempre as superfíces das bancadas com lixívia a 10%, assim como na
desinfestação de outros materiais sólidos ou líquidos para descarte;
• Desinfectar com lixívia concentrada as superfícies com salpicos e derrames de
materiais biológicos.
14 | CAPÍTULO 3 - BIOSSEGURANÇA

Figura 4: Lavagem das mãos.


FONTE: CDC´s Atlanta

3.4 DESCARTE DO MATERIAL USADO EM LUGARES APROPRIADOS

• Deite fora seringa e todo material que perfura em recipientes DUROS e FECHADOS.
Usar sacos apropriados para o lixo sanitário.

Figura 5 e 6: Lado Esquerdo mostra recipientes para decarte de material perfurocortante.


Figura Direita exemplo de recipientes para descarte de material líquido e sólido.
FONTE: CDC´s Atlanta
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 15

• Nunca reutilizar agulhas e lancetas

• Nunca agitar recipientes de lixo de agulhas para criar espaço

• Deitar fora o lixo quando o recipiente estiver ¾ cheio

• É sempre útil um contentor para residuos sólidos na bancada

• Nunca deitar fora agulhas em sacos de lixo.

Figura 7 e 8: Exemplo de práticas incorrectas e perigosas.


FONTE: CDC´s Atlanta
16 | CAPITULO 4 - LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE LÂMINAS DE MICROSCÓPIO

CAPÍTULO 4
LIMPEZA E CONSERVAÇÃO
DE LÂMINAS DE MICROSCÓPIO

4.1 LAVAGEM E PREPARAÇÃO DE LÂMINAS DE MICROSCÓPIO

As lâminas destinadas à preparação de amostras sanguíneas devem ser de


vidro neutro para não ficarem tingidas com os corantes utilizados na coloração. É
indispensável que as lâminas estejam isentas de gordura e de humidade porque além
de não se obterem bons esfregaços e dificultar o processo de coloração facilitam a
fixação de artefactos.
Todas as lâminas (novas e usadas) devem ser lavadas, secas e embrulhadas ou
armazenadas em frascos com álcool antes de serem utilizadas.

O método de lavagem lâminas usadas:


1. Prepare uma solução com água e detergente.
2. Separe as lâminas entre si e mergulhe na solução de detergente durante 4-8 h,
preferencialmente durante a noite.
3. Após a imersão, limpe cada lâmina de ambos os lados, esfregando as duas
superfícies no pano de lavagem ou esponja, entre o indicador e o polegar.
4. Lave as lâminas individualmente em água limpa para retirar o detergente.
5. Escorra o excesso de água das lâminas antes de as colocar no frasco com álcool,
com a tampa firmemente enroscada. Mantenha fora da luz solar directa.
6. Quando necessário, remova uma lâmina e seque-a minuciosamente com um
pano de algodão limpo, sem fiapos. Manuseie sempre as lâminas pelas arestas.
7. A lâmina está pronta para uso.

O método de lavagem lâminas novas:


1. Preparar uma solução muito diluída com água e detergente de preferência
líquido
2. Mergulhas lâminas na solução durante 1 hora
3. Escorrer a solução e passar lâminas por água corrente (torneira) ou mergulhar
sucessivamente em 3 bacias com água limpa.
4. Limpar lâminas uma a uma com pano seco macio para não riscar
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 17

5. Segurar as lâminas pelos bordos para evitar manchar com a gordura dos dedos
e guardar em caixas limpas com tampa.
6. Para razões de controlo de qualidade, em cada rótulo deverá ser escrito o nome
da pessoa responsável pela limpeza e data.

Lâminas mal limpas resultam em esfregaços de sangue abaixo do


padrão, má qualidade de coloração, microscopia e diagnósticos final
impreciso, colocando os pacientes em risco.

Para evitar isso, garanta que as lâminas são bem seleccionadas e


devidamente limpas, embrulhadas e armazenadas

As lâminas riscadas e consideradas inadequadas para os esfregaços de sangue, podem


ser entregues a outras secções do serviço de laboratório para uso rotineiro.

4.2 CONSERVAÇÃO DE LÂMINAS DE MICROSCÓPIO

É aconselhável guardar as lâminas em grupos de 10 unidades, envolvidas com papel


fino (papel higiénico) seguro com fita adesiva.
Os grupos de lâminas são depois guardadas em caixas de madeira ou cartão com
tampa até serem utilizadas.
18 | CAPITULO 5 - PREPARAÇÃO DAS LÂMINAS DE SANGUE

CAPÍTULO 5
PREPARAÇÃO DAS LÂMINAS DE SANGUE

Na microscopia de malária são usados dois tipos de preparações de amostras de


sangue na lâmina para a pesquisa do plasmódio: gota espessa e o esfregaço de sangue.
Dependendo do objectivo do trabalho cada um desses recursos oferece vantagens e
desvantagens que serão descritas abaixo.

5.1 GOTA ESPESSA

Efectua-se uma Gota Espessa para a detecção e identificação de parasitas de


Plasmodium sp.
A Gota é constituída por várias camadas de eritrócitos e leucócitos sobrepostos por
isso se denomina Gota espessa. Durante a coloração, a hemoglobina nos eritrócitos
dissolve-se (deshemoglobinização), permitindo a análise de uma certa quantidade de
sangue, de forma rápida e fácil. Os parasitas da malária, quando presentes, estão mais
concentrados na gota que no esfregaço e são mais fáceis de ver e contabilizar.
Em contrapartida a gota espessa requer experiência para a identificação de espécies,
uma vez que não se pode verificar de forma específica os aspectos morfológicos do
parasita. Requer um cuidado específico com o processamento depois de colhida a
amostra, para evitar a fixação da hemoglobina, a super coloração e a descoloração.

5.2 ESFREGAÇO

O esfregaço é usado para confirmar a espécie do parasita da malária, quando


isto não pode ser feito na gota espessa em situações excepcionais. Um esfregaço
bem preparado, consiste numa única camada de eritrócitos e leucócitos espalhados
sobre menos de metade da lâmina.
Por fixar os eritrócitos, permite um melhor estudo da morfologia do parasita e das
alterações características do eritrócito parasitado, viabilizando o diagnóstico da gota
espessa em situações de dúvida.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 19

Contudo, por requer menos quantidade de sangue espalhada numa única camada
o esfregaço de sangue ocupa maior área da lâmina, dificultando o encontro dos
eritrócitos parasitados. Assim, não é o indicado para o diagnóstico inicial principalmente
em pacientes com parasitémias baixas tão mais concentrados na gota que no esfregaço
e são mais fáceis de ver e contabilizar.

5.3 PREPARAÇÃO DE GOTA ESPESSA E ESFREGAÇO DE SANGUE

A preparação de gota espessa e esfregaço de sangue deve ser realizada na


mesma lâmina.

Tabela 1. MATERIAL NECESSÁRIO:


• Luvas de látex de qualidade
• Lâminas limpas e embrulhadas ou armazenadas em frascos com álcool
• Lancetas estéreis
• Etanol a 70%
• Metanol Absoluto
• Algodão absorvente
• Recipiente para objectos cortantes
• Caixa de lâminas ou bandeja para secar as lâminas horizontalmente,
e protegê-las das moscas e pó
• Panos de algodão livres de fiapos
• Livro de registo
• Um lápis de carvão para escrever no esfregaço
20 | CAPITULO 5 - PREPARAÇÃO DAS LÂMINAS DE SANGUE

O MÉTODO2

• Após registar os dados do paciente no formulário


ou livro registo, usando luvas de protecção de
látex, segurar na mão esquerda do paciente,
com a palma para cima, e seleccione o terceiro
ou quarto dedo a partir do polegar, chamado
“dedo anelar” ou “dedo maior”. Em crianças pode
ser usado o dedo grande do pé, não o calcanhar.
Nunca usar o polegar, tanto para crianças como
para adultos.

Figura 9 • Faça massagem do dedo seleccionado com


Fonte: PNCM Angola movimentos firmes para estimular a circulação
sanguínea.

• Limpe o dedo com algodão humedecido em


álcool. Fazer movimentos firmes para remover a
sujidade e óleos da superfície do dedo.

• Seque o dedo com um algodão limpo. Não


sopre com a boca para secar o álcool do dedo.

• Utilizando um lanceta estéril e numa acção


rápida de rotação, pique a superfície do dedo da
mão ou do calcanhar (criança).
Figura 10
Fonte: PNCM Angola
• Aplique uma ligeira pressão no dedo da mão
ou do pé e exprima a primeira gota de sangue.
Limpá-la com algodão seco, certificando-se que
não permanecem fios de algodão que podem
mais tarde ser misturados com o sangue.

• Trabalhando rápido e manuseando as lâminas


somente pelas arestas, recolher o sangue como
se segue:

• Aplicar uma ligeira pressão no dedo, e recolha


uma pequena gota de sangue mais ou menos
Figura 11 deste tamanho no meio da lâmina. Isto será
Fonte: PNCM Angola
para o esfregaço.

• Aplicar mais pressão suave para espremer mais


sangue, e recolher na lâmina duas ou três gotas
maiores, a cerca de 1 cm de distância da gota
destinada ao esfregaço. Limpar o restante sangue
do dedo com algodão.
Figura 12
Fonte: PNCM Angola

2 - ( WHO (2009). Bench aids for malaria microscopy. Geneva, World Health Organization
3 - WHO (2010); Basic Malaria Microscopy: Part 1. Learner’s guide, second Edition. 2010
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 21

• ESFREGAÇO: Utilizando outra lamina, limpe com


espalhador, e com a lamina com as gotas de san-
gue assente sobre uma superficie plana e firme, to-
car a pequena gota de sangue com a extremidade
do espalhador, permitindo que o sangue deslize
ao longo da extremidade” por “ Com a lâmina que
contém as gotas de sangue assente sobre a super-
fície plana e firme, toque a pequena gota de san-
gue com a extremidade do espalhador, permitindo
que o sangue deslize ao longo da extremidade.
• Empurrar firmemente o espalhador ao longo da
Figura 13
lâmina, mantendo-o a um ângulo de 45o. A extre- Fonte: PNCM Angola
midade do espalhador deve permanecer em con-
tacto uniforme com a superfície da outra lâmina,
enquanto o sangue estiver a ser espalhado.
• A GOTA ESPESSA: Manuseando as lâminas pe-
las arestas ou um canto, fazer a gota espessa usan-
do o canto do espalhador para juntar as gotas de
sangue, e espalhá-las para formar um esfregaço
uniforme e espesso. Não agitar o sangue. Pode
ser feita uma gota espessa circular ou rectangular,
com três a seis movimentos rápidos com o canto
do espalhador.
• A gota espessa circular deve ter de cerca de 1 cm
de diâmetro. Deixar secar na horizontal e proteger
do pó, insetos, luz solar e calor extremo.
• Em condições normais, o esfregaço seca rapida-
mente.
• Fixar com algumas gotas de álcool metílico de
modo a cobrir todo o esfregaço durante 1 minuto
tendo o cuidado do álcool não cobrir o esfregaço.
Figura 14
Entretanto, deve-se tomar muito cuidado para que Fonte: PNCM Angola
a gota espessa não seja fixada. A fixação da gota
espessa impozilizará o rompimento dos eritrócitos
durante o processo de coloração.
• Devem ser usadas de preferência lâminas com
uma extremidade baça, e a extremidade baça deve
ser usada para identificação. Evitar tocar com ins-
trumentos de escrita no esfregaço de sangue. Não
usar uma esferográfica ou uma caneta de gel para
rotular as lâminas, uma vez que a tinta se espalhará
quando o esfregaço for fixado. A identificação pode
ser feita sobre o esfregaço com um lápis de carvão
macio. Aviso: Não lamber a extremidade do lápis
durante o uso.
• As lâminas que não são para ser processadas ime-
diatamente, podem ser armazenadas num exsica-
dor antes da coloração.
• As lâminas que são preparadas correctamente Figura 15
deixam pouco sangue no espalhador. Fonte: PNCM Angola
22 | CAPITULO 5 - PREPARAÇÃO DAS LÂMINAS DE SANGUE

NOTA 1: A gota espessa de sangue deve estar completamente seca


antes de ser corada. Pode ser rapidamente seca com ar quente de um
pequeno secador de cabelo, ou por aquecimento cuidadoso sobre
um candeeiro ou uma lâmpada. Evitar sobreaquecer as lâminas, uma
vez que podem “fixar-se com calor” e em seguida corar mal.

NOTA 2: O metanol (álcool metílico) é altamente tóxico e inflamável,


pode causar cegueira e até morte, se ingerido em qualquer
quantidade. Quando não está em uso, deve ser armazenado num
armário fechado a prova de fogo.

5.4 FALHAS COMUNS NA PREPARAÇÃO DE LÂMINAS DE SANGUE

Falhas normalmente observadas em lâminas de sangue podem afectar a rotulagem,


a coloração ou o exame em si, e portanto, o resultado para o paciente.

5.4.1 Esfregaços de sangue mal posicionados


Se os esfregaços não estão correctamente localizados na lâmina, podem ser
impossíveis de examinar.
Partes da gota espessa podem ser raspadas pelas extremidades através do
suporte de secagem ou a moldura da lâmina. Este esfregaço está erroneamente
posicionado devendo ficar mais centrado. A gota espessa deveria ser forma circular
ou quadrada e estar pelo menos a 1 cm do bordo da lâmina.

Figura 16
Fonte: PNCM Angola
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 23

5.4.2 Muito sangue


As Gotas Espessas coradas feitas com muito sangue, terão um fundo muito azul.
Haverá muitos glóbulos brancos por campo, o que pode camuflar quaisquer
parasitas que se encontrem presentes. Em esfregaços que sejam demasiado
grossos, os glóbulos vermelhos estarão em cima uns dos outros tornando-se
impossível ver claramente os parasitas.

Figura 17
Fonte: PNCM Angola

5.4.3 Pouco sangue


Quando há muito pouco sangue na lâmina, não há glóbulos brancos suficientes
no esfregaço, ou sangue suficiente, para um exame padrão. O esfregaço será
geralmente inútil para o diagnóstico de espécies.

Figura 18
Fonte: PNCM Angola
24 | CAPITULO 5 - PREPARAÇÃO DAS LÂMINAS DE SANGUE

5.4.4 Lâminas gordurosas


Esfregaços de sangue feitos numa lâmina gordurosa vão-se espalhar de
uma forma desigual, e partes da gota espessa irão flutuar durante a coloração. O
exame de lâmina tanto da gota espessa como do esfregaço será difícil devido à
distribuição desigual do sangue.

Figura 19
Fonte: PNCM Angola

5.4.5 Extremidade da lâmina espalhador lascada


Quando a extremidade da lâmina espalhador está lascada, os esfregaços
distribuem-se de forma desigual, são raiados, e têm muitas “caudas”. Espalhadores
lascados podem também afectar a forma como a gota espessa se espalha.

Figura 20
Fonte: PNCM Angola
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 25

5.4.6. Outros problemas com a preparação, recolha ou armazena-


mento das lâminas.
O não cumprimento de determinadas normas sobre a preparação, recolha
ou armazenamento das lâminas pode afetar a qualidade do resultado
final. Assim é preciso evitar que:
• As lâminas com sangue fresco ou a secar estejam expostas ao alcance
de insectos podendo ser tapadas durante a secagem, e em seguida,
armazenadas em lugar adequado.
• As lâminas riscadas sejam utilizadas para a preparação de esfregaços
sangue ou como espalhadores devem ser descartadas.
• As lâminas sequem numa superfície inclinada. Deve-se secar as lâminas
após a preparação da gota e esfregaços numa superfície plana. Seca-las
numa superfície inclinada pode levar ao deslocamento da gota e dificultar
a secagem uniforme e a qualidade do exame microscópio.
• Se guardem as lâminas por corar por muito tempo para que não
haja auto-fixação de gota espessa. As lâminas auto-fixadas coram mal.
Contudo a auto-fixação pode ser atrasada mantendo as lâminas num
exsicador carregado com sílica gel.
• as lâminas recém-colhidas estejam sob luz solar directa.
• As lâminas sejam armazenadas antes da gota espessa estar
completamente seca para que não haja aderência de umas com as
outras.
26 | CAPITULO 6 - COLORAÇÃO DAS LÂMINA DE SANGUE

CAPÍTULO 6
COLORAÇÃO DAS LÂMINA DE SANGUE

A coloração das lâminas de sangue é importante pois permite visualizar facilmente


os parasitas e os elementos figurados do sangue evidenciando as suas características
morfológicas que têm afinidades específicas para com os corantes. Isso permitirá a
diferenciação dos parasitas e a sua identificação a nível de espécie.
Existem vários métodos de coloração das lâminas de sangue, tais como o método
de Giemsa, método de Wright e método Romanowsky modificado, Walker, etc.
O método de Coloração por Giemsa é dos mais usados nos laboratórios de
diagnóstico da malária pela qualidade de coloração que se obtém tanto dos elementos
sanguíneos como dos parasitas.
Geralmente o corante de Giemsa é produzido de forma concentrada o que requer
determinadas diluições com água tamponada.

6.1 ÁGUA TAMPONADA

Antes de fazer a coloração dos esfregaços de sangue, deve preparar-se a água


tamponada para diluir o corante.
Estão comercialmente disponíveis comprimidos formulados (comprimidos
tampão), que permitem um pH específico quando misturados numa quantidade fixa
de água (geralmente 1 comprimido por cada litro de água). Contudo, os comprimidos
devem ser mantidos num tubo estanque sob condições secas, caso contrário, absorvem
rapidamente a humidade e devem então ser descartados.

6.2 COLORAÇÃO POR GIEMSA

O Programa Nacional de Controlo da Malária (PCNM) recomenda a utilização de


diluições para preparação da solução de Giemsa: diluição rápida a 10% e diluição
a 3%. A diluição rápida ou 10% é utilizada em ambulatório e laboratórios clínicos,
onde se requer resultados de diagnóstico em urgência. O método de diluição lenta
ou a 3% é utilizada para a coloração de rotina e durante pesquisas transversais ou
epidemiológicas e investigação operacional.

6.2.1 Diluição a 10%


O método é eficaz, mas é usado mais corante. A diluição é feita utilizando um stock
de Giemsa concentrado com água tamponada ou destilada com um pH entre 7,0 a
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 27

7,2. Para cada volume de 100 ml, preparar uma solução corante de Giemsa de 10%,
adicionando 10ml de solução stock de Giemsa a 90ml de água tamponada.

6.2.2 Diluição a 3%
O método é económico porque se usa muito menos corante. A diluição é feita
utilizando um stock de Giemsa concentrado com água tamponada ou destilada
com um pH entre 7,0 a 7,2. Para cada volume de 100 ml, preparar uma solução
corante de Giemsa de 3%, adicionando 3ml de solução stock de Giemsa a 97ml de
água tamponada.

6.2.3 Descrição método coloração por Giemsa:


1. Colocar as lâminas a corar na tina (placa) de coloração com as faces viradas
para cima e despeje o corante até que cada lâmina esteja coberta ou mergulhe
as lâminas de forma vertical num tanque com a solução de Giemsa.
2. Deixar corar durante 8-10 minutos para diluição a 10% e 45 a 60 minutos para
a diluição a 3%.
3. Retirar as lâminas e lavar cuidadosamente para retirar o corante, mergulhando-
as 3 a 4 vezes num recipiente com água limpa.
NOTA: Não lave a lâmina com o fluxo de água corrente de baixo da torneira.
4. Quando o corante tiver sido retirado, colocar as lâminas no suporte de
secagem com o lado do esfregaço para baixo, para escorrer e secar. Certificar
que as gotas espessas não se raspem na extremidade do suporte.
5. Colocar cuidadosamente as lâminas, uma por uma, colocando-as com o lado
do esfregaço para virado para baixo no suporte de secagem em posição vertical
Certificar que as gotas espessas não tocam na extremidade do suporte.
No final de cada dia de trabalho as soluções diluídas que sobraram deverão ser
descartadas.

6.2.4. Cuidados a ter com Solução Stock Giemsa concentrada


Algumas aspectos importantes a lembrar no que diz respeito à solução stock do
corante de Giemsa são:
• Manter o frasco hermeticamente fechado, para evitar a evaporação e
oxidação do corante por humidade elevada.
• Guardar num frasco de vidro escuro num local fresco, seco, à sombra,
longe da luz solar directa.
• Para as necessidades diárias, medir pequenas quantidades de corante
para um frasco hermeticamente fechado (cerca de 25 ml), de forma que
a solução stock tenha poucas possibilidades de ser contaminada.
• Não adicionar água à solução stock, mesmo uma pequena quantidade
pode procurar que o corante se deteriore, tornando a coloração
progressivamente ineficaz.
• Não agitar o frasco do corante antes do uso. A agitação ressuspende
precipitados, que assentam nos esfregaços durante a coloração, e
obscurecem detalhes importantes durante a microscopia.
• Não adicionar corante diluído no frasco de stock, ou no frasco utilizado
para a sua rotina diária. Uma vez que o corante já preparado (diluído),
deve ser usado rapidamente ou descartado.
28 | CAPITULO 7 - O MICROSCÓPIO

CAPÍTULO 7
O MICROSCÓPIO

Existem inúmeros tipos de microscópio que atingem o mesmo objectivo, ampliar,


embora em graus diferentes e por diversos método. Os mais utilizados para diagnóstico
da malária de rotina são os microscópios binoculares (com duas oculares) com sistema
de iluminação eléctrica incorporado.

7.1 COMPONENTES DO MICROSCÓPIO BINOCULAR COMPOSTO

As principais componentes de um microscópio binocular composto típico são


mostradas na figura 21.
8. Oculares de
campo amplo

1.Tubo principal e
tubo do corpo

2. Revólver
ou porta
objectivas
9. Coluna ou Braço
3.Objectivas

10. Parafuso
4. Platina macrométrico
mecânica

5. Condensador, 11. Parafuso


diafragma e micrométrico
porta-filtro

6. Fonte de
Iluminação

7. Base ou pé

Figura 21: Componentes do microscópio binocular composto.


MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 29

1. Tubo principal e tubo do corpo


Colectivamente chamada de cabeça do microscópio, o tubo principal e o tubo do
corpo estão desenhados para a inclinação em direcção ao microscopista. Possuem no
seu interior prismas de vidro polido que curvam a luz, para que a imagem atinja os
olhos do microscopista através do par de oculares.

2. Revólver ou porta objectivas


É um disco onde enrascam as objectivas de diferentes ampliações. Por movimentos
de rotação é possível trocar rápida e comodamente de objectiva que alinhada com as
oculares, o que aumenta ou diminui a ampliação da amostra.

3. Objectivas
Ampliam a imagem do objecto a ser observado, através do sistema de lentes que
a compõem. Cada microscópio tem geralmente uma objectiva x10, x40 e x100. A
objectiva de x100 é chamada de “objectiva de imersão em óleo”.
Os solventes tais como álcool, xilol e acetona não devem ser usados para limpar as
objectivas sob risco de dissolver a cola que mantém a lente no lugar.

4. Platina mecânica
A platina mecânica que segura a lâmina a observar ao mesmo tempo permite
que a lâmina seja movida. Contém uma escala - escala Vernier que deve ser usada
para registar partes do esfregaço que devem ser reexaminadas, ou mostradas a outros
laboratoristas durante o exame microcópico.

5. Condensador, diafragma e porta-filtro


O condensador é constituído por uma série de lentes que concentram a luz no
campo visual do microscópio. Sobe e desce aumentando ou diminuindo a quantidade
de luz.
O Diafragma está inserido no condensador. Regula a intensidade da luz no campo
visual do microscópio.
O porta-filtro sustenta o filtro de cor azul que filtra a luz tornando-o branca
melhorando a distinção da imagem. Normalmente está inserido no condensador.

6. Fonte de Iluminação
Existem dois tipos de fontes luminosas: uma lâmpada (iluminação artificial), ou
um espelho que reflecte a luz solar (iluminação natural). Destinam-se à iluminação da
preparação, possibilitando a sua visualização.

7. Base ou pé
Suporta o microscópio, assegurando a sua estabilidade .
30 | CAPITULO 7 - O MICROSCÓPIO

8. Oculares
A ocular encaixa dentro da extremidade superior do tubo principal e o microscopista
olha através dela quando utiliza o microscópio. Capta a imagem ampliada pela objectiva,
ampliando-a, através do seu sistema de lentes e permitindo a sua observação pelo
olho humano. As oculares mais usadas são as de ampliação 10X.
A ampliação total dada pelo microscópio é igual ao produto do valor da ampliação
da objectiva pelo valor da ampliação da ocular. No exemplo de se ter oculares de
x10 e uma objectiva de x100, o aumento total da amostra seria de 10 x 100 = 1000
micrometros. As oculares estão disponíveis numa gama de poderes, a partir de x5 a
x25 ou mesmo x30. Na microscopia de malária, é usada rotineiramente uma gama de
x7 a x10. O mais comummente usado hoje em dia é x10.

9. Coluna ou Braço
Peça fixa à base que forma um suporte rígido na qual estão aplicadas todas as
outras partes constituintes do microscópio.

10/11. Parafuso macrométrico e micrométrico


Parafuso macrométrico e micrométrico são usados para focar a amostra que está a
ser examinada. O parafuso macrométrico é responsável por movimentos verticais
da platina de focagem rápida de grande amplitude aproximando a lâmina à
objectiva. O parafuso micrométrico é responsável por movimentos verticais
da platina de focagem lenta de amplitude reduzida melhorando a focagem em
precisão. Por norma inicia-se a focagem da amostra com parafuso macrométrico e
de seguida em detalhe com o micrométrico.

7.2 USO DA OBJECTIVA DE ÓLEO DE IMERSÃO

O óleo de imersão é usado entre a lâmina do microscópio e a lente da objectiva,


para reduzir a dispersão da luz transmitida. Deverá ter um índice de refracção de 1,515,
que é aproximadamente 1,5 vezes o índice de refracção da água.
1. Baixe a platina usando o parafuso macrométrico e coloque a lâmina longe da
objectiva.
2. Coloque uma ou duas gotas de óleo de imersão sobre a amostra de sangue
a ser examinada e foque a imagem com a objectiva de 10 utilizando o parafuso
macrométrico.
3. Gire o revólver até a objectiva de x100 (a objectiva estará em contacto com o
óleo de imersão).
4. Observando pelas oculares, foque a amostra com o parafuso micrométrico até
o surgimento nítido da imagem.
5. Corrija a iluminação, ajustando o diafragma.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 31

7.3 CUIDADOS COM O MICROSCÓPIO

A durabilidade do microscópio depende dos cuidados diários no seu manuseamento.

7.3.1 Remoção de pó e gordura


As objectivas de imersão devem ser limpas imediatamente após o uso para,
evitar que óleo endureça as lentes da objectiva ao longo do tempo. Para evitar
transferências de óleos, nunca utilize panos contaminados para limpar outras
objectivas, oculares ou o espelho.
Após o uso o microscópio deverá ser coberto com um pano limpo ou cobertura
de plástico de forma a proteger as lentes do pó. Alinhe a objectiva de x10 com a
ocular de forma a proteger as lentes das outras objectivas.
Se o microscópio não for utilizado por muito tempo, deve ser guardado dentro da
respectiva caixa com a porta bem fechada.

7.3.2 Prevenção de crescimento de fungos


É importante manter o microscópio em condições atmosféricas secas para evitar o
crescimento de fungos nas superfícies de vidro.
Quando está armazenado no interior do armário a temperatura deve ser constante
entre 30-35 °C e com humidade baixa. Para isso deverá manter-se guardado num
armário aquecido com duas ou mais lâmpadas de 25 watts constantemente
acesas.
Todas as lentes e prismas deverão ser mantidos numa caixa hermética.
Idealmente, o Microscópio em uso deve permanecer numa sala com ar condicionado
contínuo e com humidade relativa do ar baixa. Isso ajudará a minimizar o
crescimento de microorganimos como fungos, nos componentes óticos.

7.4 TRANSPORTE DO MICROSCÓPIO

Quando movimentar o microscópio fora da caixa deverá segurá-lo com as duas mãos,
uma apoiada na coluna e a outra mão na base do microscópio.
O transporte de microscópio para fora do laboratório deve ser feito devidamente
aparafusado no interior da sua caixa.
32 | CAPITULO 8 - ELEMENTOS FIGURADOS NORMAIS DO SANGUE

CAPÍTULO 8
ELEMENTOS FIGURADOS NORMAIS DO SANGUE

8.1 ERITRÓCITO, GLÓBULOS VERMELHOS OU HEMÁCIAS

Os eritrócitos, também designados como hemácias ou glóbulos vermelhos são


discos bicôncavos sem núcleo que contêm um pigmento vermelho denominado
hemoglobina e que dá a cor vermelha característica do sangue. São produzidos na
medula óssea e estão presentes no sangue em muito maior quantidade que as outras
células, incolores e daí todo o sangue parecer ser vermelho.
Existem cerca de 5.000.000 de eritrócitos por cada microlitro (μl) de sangue. Com
a coloração Giemsa, o glóbulo vermelho aparece como um disco acinzentado pálido a
rosa claro, medindo cerca de 7,5 μm.

Figura 22: Eritrócitos Normais


FONTE: DPDx: CDC´s Web site for parasitology identification
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 33

8.2 LEUCÓCITO OU GLÓBULO BRANCO

Os leucócitos ou glóbulos brancos, são células presentes no sangue e produzidas


na medula óssea e no tecido linfático. São chamados de glóbulos brancos, pois, ao
contrário dos eritrócitos não possuem hemoglobina.
O número de glóbulos brancos, ou leucócitos, é muito menor que o dos eritrócitos.
Podem variar entre 4000-8000 leucócitos por microlitro de sangue num individuo
adulto e são. O número pode variar amplamente em determinadas condições e em
alguns indivíduos.
Existem cinco tipos de leucócitos. Como cada um cora de forma diferente, são
fáceis de distinguir com a prática.
As partes de um glóbulo branco típico são ilustradas na Figura 5.

Citoplasma e grânulos

Membrana celular Núcleo

Figura 23: Representação esquemática de um glóbulo branco

Os leucócitos podem ser classificados de acordo com o formato do núcleo. Cada


leucócito tem um núcleo rodeado por citoplasma que por vezes é granular. Alguns
leucócitos possuem um núcleo multilobular. Os leucócitos são divididos em dois grupos,
leucócitos polimorfonucleares (granulócitos) e mononucleares (agranulócitos).

8.2.1 Leucócitos polimorfonucleares:


Neutrófilos
Os neutrófilos são os de maior quantidade no sangue humano (de 50 a
70% da contagem de glóbulos brancos totais numa pessoa saudável). Possuem
grânulos bem definidos no citoplasma, e os seus núcleos coram de cor púrpura
profunda. Quando um parasita da malária é fagocitado os neutrófilos podem
conter o pigmento de malária – Hemozoína. A hemozoína é um subproduto do
metabolismo do parasita que pode ser castanho dourado até quase preto e não
incorpora corante Giemsa.

Eosinófilos
Os Eosinófilos perfazem 1-4% da contagem de glóbulos brancos totais numa
pessoa saudável. Os grânulos apresentam uma cor rosada viva ou alaranjada
(eosina) sendo um bom indicador da qualidade da coloração. O número de
eosinófilos pode aumentar drasticamente em doenças como a asma, helmintíase,
34 | CAPITULO 8 - ELEMENTOS FIGURADOS NORMAIS DO SANGUE

e outras infecções e alergias.


Não se recomenda informar a percentagem de eosinófilos a partir da gota
espessa mas sim a partir da contagem da fórmula leucocitária.

Basófilos
São células raras, perfazendo menos de 1% do total de leucócitos. Após
coloração Giemsa os seus grânulos no citoplasma são azuis ou malva.

8.2.2 Leucócitos mononucleares:


Monócitos
Os monócitos perfazem 2-10% da contagem de glóbulos brancos totais, e tal
como os neutrófilos, fagocitam activamente os parasitas da malária. Os monócitos
são os maiores dos glóbulos brancos, medindo 12-18 μm de diâmetro. O núcleo é
grande e em forma de rim ou feijão, o citoplasma pode conter alguns grânulos que
coram rosados ou vermelhos.

Linfócitos
Perfazem 20-45% da contagem de glóbulos brancos totais. Podem ser
de dois tipos linfócitos grandes e linfócitos pequenos. Os seus núcleos de cor
malva profundo são grandes e cobrem quase toda a superfície do citoplasma.
O citoplasma cora de azul-água claro e pode conter alguns grânulos corados
de malva. Os linfócitos pequenos são ligeiramente maiores do que um glóbulo
vermelho normal.

8. 3.PLAQUETAS

As plaquetas, também produzidas na medula óssea são produtos da fragmentação


dos megacariócitos. São corpos pequenos irregulares, sem núcleo, com grânulos finos
vermelhos em fundo azulado importantes na coagulação sanguínea. À semelhança
dos eosinófilos, as plaquetas podem ser utilizadas como indicadores sensíveis da
qualidade da coloração. Existem cerca de 100.000 por microlitro de sangue, podem
encontra-se dispersas no esfregaço ou agregadas em grupos de 5-10.
Os microscopistas inexperientes podem confundi-las com os parasitas da malária.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 35

8.4 SANGUE EM GOTA ESPESSA CORADA COM GIEMSA

Examinando uma gota espessa de sangue com a objectiva de imersão


encontrar-se-ão restos de glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e
plaquetas.
Uma gota espessa é formada por uma sobreposição de camadas de
sangue. Com a coloração é desemoglobinizada devido ao efeito da água do
corante nos eritrócitos que provoca a sua lise. Este processo é chamado de
deshemoglobinização.
No final da coloração tudo o que resta são os núcleos de leucócitos corados
(as vezes contendo membranas), plaquetas e ocasionalmente os restos de
eritrócitos (fantasmas).

Plaquetas

a) Hemácias ou Eritrócitos b) Neutrófilo segmentados c) Basófilo

d) Linfócito e) Monócito f ) Eosinófilo

Figura 24 (a-f): Elementos figurados normais de sangue


FONTE: “DPDx:CDC´s Web site for parasitology identification
36 | CAPITULO 9 - PARASITAS DA MALÁRIA

CAPÍTULO 9
PARASITAS DA MALÁRIA

9.1 CARACTERÍSTICAS DO PARASITA DA MALÁRIA

É fácil distinguir os componentes de um parasita quando a lâmina é bem corada


conforme se apresentada no diagrama em baixo.

Núcleo ou Cromatina Citoplasma


(vermelha) (azul)

Vacúolo Pigmento
(transparente) (castanho dourado até preto)

Glóbulo vermelho Granualações ou pontuações


do hospedeiro (cor de rosa)

Figura 25: Esquema representativo do parasita da malária num Eritrócito

• Núcleo ou Cromatina: componente do núcleo do parasita, geralmente redonda,


cora de vermelho vivo ou rosa alaranjado.

• Citoplasma: de cor azul ou cinzento e pode variar entre espécies.

• Pigmento malárico ou hemozoína: é um subproduto granular do crescimento


do parasita. Não incorpora corante, mas varia em cor de castanho dourado até
preto.

• Pontilhado ou granulação: são resultados do efeito que o parasita tem na célula


hospedeira, que são enfatizadas por uma boa coloração. As mais conhecidas e mais
fácil de demonstrar são as “Granulações de Schuffner”, uma massa de pontos rosa
que parece preencher alguns glóbulos vermelhos parasitados por P. vivax e P Ovale.
Outros pontos, tais como “Granulações de Maurer”, são vistas em algumas células
parasitadas em esfregaços de P. falciparum mas são menos fáceis de demonstrar e
dependem da qualidade da coloração.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 37

Na coloração das lâminas é importante utilizar água tamponada a pH 7.2 neutro,


para a obtenção de uma boa coloração dos parasitas e dos elementos sanguíneos.
Sem um pH estável, a coloração poderá variar amplamente conforme se descreve no
diagrama abaixo

pH 6,4 pH 6,8 pH 7,2 pH 7,6

Figura 26: Esquema representativo do efeito do pH na morfologia do parasita.


FONTE: WHO (2010); Basic Malaria Microscopy: Part 1. Learner’s guide, second Edition. 2010

9.2 ESTADIO TROFOZOÍTO

Este é o estádio mais comummente observado. Muitas vezes chamado de estádio


do anel, o “anel” pode parecer incompleto em gota espessa. O trofozoíto pode variar de
pequeno até bastante grande no interior da célula hospedeira. Geralmente, existe um
ponto de cromatina, dois são comuns em P. falciparum. O citoplasma adopta formas
diferentes, de um anel bem definido para formas que são irregulares ou bizarras, às
vezes chamadas de amebóide. À medida que o parasita cresce, o pigmento aparece. Não
cora, mas varia em cor de castanho dourado a castanho-escuro, ou mesmo preto.

Figura 27: Esquema de trofozoítos. Na fila superior estão representados parasitas


num esfregaço de sangue e na fila inferior parasitas numa gota espessa.
FONTE: WHO (2010); Basic Malaria Microscopy: Part 1. Learner’s guide, second Edition. 2010
38 | CAPITULO 9 - PARASITAS DA MALÁRIA

9.3 ESTÁDIO ESQUIZONTE

Este estádio é facilmente reconhecido. Começa quando o trofozoíto atinge a


sua capacidade máxima de reprodução onde a cromatina se multiplica. O parasita
reproduzem-se assexuadamente, ou seja, a célula dividem-se em “células filhas”
(merozoítos) por divisão simples. Seguem-se muitas divisões da cromatina, o que
marca o crescimento do esquizonte, até que existam muitos corpos de cromatina, cada
um com o seu citoplasma. O número de divisões de cromatina e merozoítos ajuda a
identificar a espécie. Estes novos parasitas claramente delineados, estão agora prontos
para abandonar a célula hospedeira para invadirem novos eritrócitos.

Figura 28: Esquema de esquizontes. Na fila superior estão representados esquizontes em


esfregaço e na fila inferior estão esquizontes em gota espessa.
FONTE: WHO (2010); Basic Malaria Microscopy: Part 1. Learner’s guide, second Edition. 2010

Nota: A formação de esquizontes em para-


sitas da malária (reprodução assexuada)
ocorre tanto no estádio exo-eritrocítico (no
fígado) como no estádio eritrocítico (nos
glóbulos vermelhos). Em ambos os está-
dios, isto é referido como “esquizogonia”.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 39

9.4 ESTÁDIO GAMETÓCITO

O parasita transforma-se num gametócito macho ou fêmea, em preparação para


a fase sexual no vector mosquito fêmea Anopheles. Os gametócitos são redondos ou
em forma de banana, dependendo da espécie. A forma como o parasita incorpora
o corante, ajuda a identificar o sexo do parasita nos esfregaços de sangue: macho
(microgametócito) ou fêmea (macrogametócito). A diferenciação entre gametócitos
machos e fêmeas em gotas espessas por vezes é difícil.

Figura 29: Esquema de gametócitos. Na fila superior estão representados gametócitos


masculinos e femininos num esfregaço de sangue. Fila inferior: gametócitos numa gota espessa.
FONTE: WHO (2010); Basic Malaria Microscopy: Part 1. Learner’s guide, second Edition. 2010

9.5 ESPÉCIES QUE CAUSAM MALÁRIA HUMANA

A malária é causada por cinco espécies de parasitas do género Plasmodio que infectam
o homem:
• Plasmodium falciparum é a espécie mais predominante em Africa. É responsável
pela maioria dos casos graves de malária e de morte.
• Plasmodium vivax é menos perigoso mas mais disperso.
• Plasmodium malariae é raro, encontrado em algumas partes do mundo
tropical.
• Plasmodium ovale é raro.
• Plasmodium knowlesi recentemente tem sido reportado no sudoeste asiático
infectando humanos, geralmente parasita macacos o que está dando espaço que
a malária pode ser considerada uma entidade zoonótica.
40 | CAPITULO 9 - PARASITAS DA MALÁRIA

9.6. APARÊNCIA DE ESPÉCIES DE PARASITAS NO ESFREGAÇO

9.6.1 Diferenciação de espécies de malária em esfregaço

Glóbulo vermelho do hospedeiro

Não aumentado Aumentado

Margem às vezes Não distorcido e sem Marcadamente Ligeiramente


distorcida com alteração na cor alargado, aumentado,
crenação, rosada, redondo ou angular às vezes distorcido
azulada e escura com extremidades
fímbrias ou em
forma oval.

Granulações com Sem pontilhado, Pontilhado como Pontilhado como


pontos grosseiros excepto com Granulações de granulações de
Maurer ou fenda (às coloração intensa Schüffner finos Schüffner mais
vezes ausente) proeminentes ao
longo da margem da
célula

P. falciparum P. malariae P. vivax P. ovale

Figura 30: Diferenciação das espécies de plasmódio em esfregaços de sangue usando


alterações nas células hospedeiras e presença de granulações (coloração de Giemsa).
FONTE: WHO (2010); Basic Malaria Microscopy: Part 1. Learner’s guide, 2nd Edition

Em anexo 1 apresentam-se imagens dos vários estadios das 4 espécies de Plasmodio


em Esfregaço.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 41

9.7 APARÊNCIA DE ESPÉCIES DE PARASITAS NA GOTA ESPESSA

9.7.1 Diferenciação das espécies de Plasmódio na Gota Espessa

Trofozoíto

Citoplasma regular Citoplasma irregular

Uniforme Compacto Marcadamente Ligeiramente


fragmentado fragmentado

(pigmento abundante, com coloração


amarela em formas adultas)

P. falciparum P. malariae P. vivax P. ovale

Figura 31: Diferenciação de espécies de Plasmódio em gota espessa com base nos padrões do
citoplasma e pontilhado nos trofozoítos (coloração de Giemsa).
FONTE: WHO (2010); Basic Malaria Microscopy: Part 1. Learner’s guide, 2nd Edition

Em anexo 2 apresentam-se imagens dos vários estadios das 4 espécies de Plasmodio


em Gota Espessa.

Lembre-se:
Identificar uma lâmina positiva como “negativa” é um diagnóstico
erróneo. Significar que o diagnóstico da malária foi mal feito, e
pode ser dado ao paciente um tratamento errado. Se a malária foi
devida a P. falciparum, o estado do paciente pode piorar e morrer.
42 | CAPITULO 9 - PARASITAS DA MALÁRIA

Trofozoítos de P. falciparum (Pf) Gametócitos de Pf

Esquizonte e trofozoítos de Pf Esquizonte e trofozoítos de Pf

Gametócitos, esquizontes e trofozoítos Pf Trofozoítos e esquizonte de Pf

Trofozoítos de Plasmodium vivax (Pv) Trofozoitos de Pv


MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 43

Trofozoítos de Pv Esquizontes de Pv

Infecção mista: trofozoítos de Pf e Pv Trofozoítos de Pf e Pv

Trofozoítos Pv e Pf, Gametócitos Pf Trofozoítos Pv e Pf, Gametócitos Pf

Figura 32: Espécies de Plasmodium na Gota Espessa em diferentes estádios.


FONTE: DPDx:CDC´s Web site for parasitology identification
44 | CAPITULO 10 - CONTAMINANTES E ARTEFACTOS

CAPÍTULO 10
CONTAMINANTES E ARTEFACTOS

A má qualidade das lâminas, o seu mau manuseamento, a má preparação das


amostras e as condições inapropriadas do laboratório conduzem frequentemente à
contaminação das amostras e/ ou surgimento de artefactos que erroneamente podem
ser confundidos com parasitas da malária.

10.1 ARTEFACTOS E CONTAMINAÇÕES FREQUENTES3

Em abaixo apresentam-se exemplos de artefatos que aparecem regularmente em


preparações de sangue.

3 - in Basic Malaria Microscopy: Part 1. Learner’s guide, second Edition. WHO 2010
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 45

VÁRIAS ORIGENS

Fragmentos derivados de eritrócitos Grupos isoladas de Comparação entre


imaturos na anemia severa granulos de eosinófilos tamanho de plaquetas
e linfócito
ELEMENTOS DE SANGUE

BACTÉRIAS

ESPOROS

CÉLULAS VEGETAIS FUNGOS

Restos de particulas Cristais de corante de Arranhões na lâmina de Lâminas com devidricação


Giemsa vidro (espinha de peixe) formando depressões
cristalinas

Figura 33: Artefactos aparecem regularmente em preparações de sangue e podem confundir


diagnóstico da Malária. FONTE: “DPDx:CDC´s Web site for parasitology identification.
46 | CAPITULO 11 - MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO DE PARASITAS

CAPÍTULO 11
MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO DE PARASITAS

Existem várias métodos para determinar a densidade parasitária da malária tais


como a determinação por cruzes, campos microscópicos, o método de 500, o método
de 8000 leucócitos, etc. O seguinte método de determinação da densidade parasitária
é um dos métodos recomendado pela OMS pela sua precisão e simplicidade. Foi
escolhido pelo PNCM para uso em Angola.
Deve ser efectuado apenas após uma análise completa da gota espessa com os
estadios e espécies do parasita definidos.

11.1 DETERMINAÇÃO DENSIDADE PARASITÁRIA GOTA ESPESSA

É Importante determinar a da densidade parasitária de uma lâmina positiva:


• Especialmente nas infecções por P. falciparum consideradas potencialmente
perigosas.
• Permite ao clínico conhecer a gravidade da infecção.
• Permite ao clínico monitorar como a infecção está respondendo ao tratamento.
• Pode ser necessária em estudos epidemiológicos transversais ou em estudos
específicos, tal como a monitorização da eficácia terapêutica dos antimaláricos.

O número de parasitas é contado em relação a um número padrão (8000) de leucócitos


na gota espessa. Esse número é arbitrário, com grandes variações entre indivíduos,
mas é aceite como razoavelmente preciso.
Para a determinação da densidade irá necessitar adicionalmente de:
Além dos materiais já em uso necessitará:
• 2 Contadores de Tally (um para contar parasitas e outro para contar leucócitos).
• 1 Calculadora.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 47

Método:

1. Conte campo por campo o número de parasitas observados na gota espessa num
contador e o número de leucócitos noutro contador

2. O número de parasitas e leucócitos contadas depende de quão numeroso são os


parasitas e do tempo disponível para fazer essa contagem. Quanto menor o número de
parasitas contados, maior o número de leucócitos que devem ser contados, isto é:
• Se após 200 leucócitos contar 100 ou mais parasitas, os resultados devem ser
calculados em termos de número de parasitas por 200 leucócitos.
• Se após 200 leucócitos contar um número de parasitas igual ou inferior a 99, a
contagem deve continuar até 500 leucócitos.
• Em altas parasitémias deve contar-se até 100 leucócitos ou contar o número de
leucócitos e parasitas em 5 campos (assumindo cerca de 15 leucócitos por gota
espessa) e aplicar a fórmula.

3. Quando a contagem está completa, o número de parasitas será relativo ao número


de leucócitos calculado e expresso como “parasita por microlitro (µL) de sangue” da
fórmula matemática abaixo:

Observação: Terminar sempre a contagem do último campo mesmo que já tenha


atingido 200 ou 500 leucócitos.

FÓRMULA:
Nº de Parasitas/µL de sangue = Nº de parasitas contados x 8000
Nº leucócitos contados
48 | CAPITULO 12 - REGISTOS

CAPÍTULO 12
REGISTOS

12.1 REGISTO DO PACIENTE NO LIVRO LABORATÓRIO

Todas as informações referentes ao paciente devem ser registadas para que possam
facilitar o rastreio das mesmas.
As informações são armazenada no livro de registo (ou banco de dados
no computador), e necessitam de formulários especialmente concebidos, que
normalmente incluem dados como:
• Número do paciente que deve ser o número da lâmina;
• Nome, género e idade do paciente;
• Morada onde o paciente pode ser contactado;
• Resultados do exame.

Os dados essenciais devem ser registados num computador ou livro de registo diário.

Os detalhes do paciente são confidenciais. Não é ético discutir


informação dos registos do paciente com pessoas não
autorizadas. Os registos dos pacientes devem ser armazenados
em segurança, a salvo de acesso não autorizado.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 49

12.2 MODELO DE REGISTO DOS RESULTADOS DOS EXAMES

12.2.1 Resultados positivos por microspopia

Tabela 2. Exemplo de divulgação de um resultado positivo microscopia

Hospital Municipal do Cubal


Laboratório de Análises Clínicas
Nome: João Kafukafuka
Enfermaria: Ortopedia Homens cama:3
Pesquisa plasmódio (PP): Positivo 2000p/mm3 de sangue
Observou-se trofozoíto (anéis) de P. Vivax
Data: 11.4.2013
O técnico: XP

Note que:
• É obrigatório determinar a densidade parasitária e reportar o
estadio de desenvolvimento e a espécie do parasita da malária
no resultado para o médico.
• As formas sexuadas dos plasmódios (Gametócitos) são
contabilizadas separadamente das formas assexuadas,
usando a mesma metodologia (Ver. Capitulo 11) e devem ser
reportadas
• As infecções mistas (presença de mais de que uma espécie de
plasmódio no sangue) devem igualmente ser reportadas.

12.2.2 Resultados negativos por microspopia

Como em qualquer exame microscópico, um resultado negativo deve ser


emitido somente após minucioso exame da lâmina. No caso da gota espessa, para
não deixar de detectar baixas parasitémias, bem como para garantir o diagnóstico
das infecções mistas, torna-se necessário examinar mais de 100 campos
microscópicos (500 campos seria o ideal), sobretudo se existir forte suspeita de
malária (clínica e epidemiologia favoráveis).

Num exame de uma gota espessa normalmente 10 minutos é suficiente para


se observar no mínimo 100 campos, possibilitando o registo de um resultado
negativo com maior segurança.
50 | CAPITULO 12 - REGISTOS

A conclusão diagnóstica pelo encontro de um único parasita na preparação


deve ser feita com cautela. Recomenda-se concluir o diagnóstico somente após
o encontro de dois ou três parasitas, bem como repetir o exame em diferentes
horários, para aumentar sua sensibilidade.

Tabela 3. Exemplo de divulgação de um resultado negativo

Hospital Municipal de Cacuso


Laboratório de Análises Clínicas
Nome: Jorge Kafala
Pesquisa de plasmódio (PP): Não se observou plasmódio
Data: 1.1.2001
O técnico: XP

12.2.3 Resultados por TDR

Tabela 4. Exemplo de divulgação de um resultado Positivo Pf

Hospital Municipal de Cacuso


Laboratório de Análises Clínicas
Nome: Rafael Martinho Pembele
TDR malária: Positivo (Pf ) e Negativo (Pv)
Data: 11.04.2013
O técnico: XP

Tabela 5. Exemplo de divulgação de um resultado negativo

Hospital Municipal de Cacuso


Laboratório de Análises Clínicas
Nome: Rafael Martinho Pembele
TDR malária: Negativo (Pf e Pv)
Data: 11.04.2013
O técnico: XP
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 51

CAPÍTULO 13
TESTE RÁPIDO DE DIAGNÓSTICO

Os Testes Rápidos de Diagnostico, são técnicas rápidas práticas e sensíveis que


estão a ser desenvolvidas para o diagnóstico da malária com base na detecção de
antigénios do parasita.
São especialmente úteis como provas de confirmação, especialmente quando há
dificuldade em confirmar microscopicamente a presença de raras formas de anéis.
Apesar das vantagens do exame microscópio descritas ao longo deste manual
uma sério de factores podem interferir nos resultados obtidos. Entre eles habilidade
técnica no preparo da lâmina, seu manuseamento e coloração, qualidade óptica e
iluminação do microscópio, competência e cuidado por parte do microscopistas e
grau de parasitémia.
Considerando-se esses factores, realizar o diagnóstico específico de malária torna-
se difícil em muitos locais, quer pela precariedade dos serviços de saúde, ou pela
dificuldade de acesso da população aos centros de diagnóstico.

13.1 FUNDAMENTO DO TESTES RÁPIDOS DE DIAGNÓSTICO

Foi em 1986, que uma proteína rica em histidina, denominada Pf-HRP2, foi
identificada no Plasmodium falciparum e posteriormente, foi verificada a sua presença
no plasma de pacientes agudamente infectados com Plasmodium falciparum. A partir
de 1993, houve grande desenvolvimento de testes imunocromatográficos baseados
na captura qualitativa da Pf-HRP2. A desvantagem do método baseado na captura
qualitativa da Pf-HRP2, é a permanência da proteína circulante por tempo prolongado
(2 ou mais semanas após a morte dos parasitas), dando resultado positivo em indivíduos
já tratados da doença.
Mais recentemente, métodos de diagnóstico rápido da malária foram desenvolvidos
utilizando anticorpos mono e poli clonais dirigidos contra a proteína Pf-HRP2 e contra a
enzima lactacto desidrogenase (pDHL) presente nas quatro espécies de plasmódio.
O princípio da Imunocromatografia: a amostra de sangue, flui pela membrana
localizada no interior da placa, depois de adicionar a solução tampão (solução anti-Pf-
HRP2, ou pDHL adicionada a um conjugado). Deste complexo, atinge a região do teste,
onde e imobilizado pela proteína, formando uma banda colorida cor-de-rosa quando
o resultado é positivo.
Se não existir a banda colorida na região do teste, a imigração do fluido e continua,
indicando o resultado negativo, e imobiliza-se na região do controlo, formando outra
banda cor-de-rosa confirmando a validade do teste.
52 | CAPITULO 13 - TESTE RÁPIDO DE DIAGNÓSTICO

Recentemente, têm sido produzidos uma série de testes Rápidos para o Diagnóstico
da Malária. Entre estes incluem-se: Paracheck, ICT, OptiMal, SD- Bioline com diferentes
sensibilidades e especificidades para com os parasitas.
O teste rápido de eleição em Angola, é o SD BIOLINE Malaria AgP.f/P.v. É
um teste de detecção diferencial de HRP-2 específica de Pf e pLDH específica
de Pv em sangue total.
A sensibilidade 4 do teste e de 99.7% e 95.5% (Pv) A especificidade 5 e de
99.5% para ambos

Ver no anexo 3 os procedimentos detalhados da realização do teste-


rápido SD-Bioline.

13.2 Onde e quando utilizar os Testes Rápidos de Diagnóstico

O uso racional dos testes rápidos é muito importante para o bom manuseamento
dos mesmos, tendo em conta o seu alto custo financeiro e o grande défice de cobertura
por microscopia na maioria dos laboratórios do país.
Assim o Programa Nacional de Controlo da Malária, orienta sob a forma mais rentável
da utilização dos testes rápidos:
• Os TDR devem ser utilizados nas unidades sanitárias que não dispõem de
equipamento para diagnóstico microscópico, como postos de saúde e centros de
saúde sem laboratório, e quando se pretende medir o nível de endemicidade de
uma determinada região ou em situações de epidemia
• Nos locais em que há condições para diagnóstico microscópico, os TRD deverão
ser usados apenas em casos de urgência ou de confirmação do diagnóstico.

4 - Sensibilidade: capacidade de um teste para originar um resultado positivo quando utilizado numa população
infectada. É a proporção de resultados positivos correctamente identificados pelo método.
5 - Especificidade: capacidade de um teste para produzir um resultado verdadeiramente negativo quando utilizado em
uma população não infectada. É a proporção de resultados negativos correctamente identificados pelo método. Em
oposição a sensibilidade, a especificidade é uma medida do quão bem os negativos são detectados.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 53

CAPÍTULO 14
OUTROS MÉTODOS DIAGNÓSTICO DA MALÁRIA

O diagnóstico biológico da Malária, não é apenas feito com o uso da microscopia e dos
testes rápidos, outros métodos também foram desenvolvidos e estão sendo largamente
utilizados principalmente em pesquisa científicas tendo em conta o seu alto custo.

14.1 DIAGNÓSTICO REACÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE (PCR)

Com o desenvolvimento da tecnologia de amplificação do DNA dos plasmódios


usando a reacção em cadeia da polimerase (PCR), o diagnóstico da malária baseado na
detecção de ácido nucleico mostrou grande progresso em termos de eficácia. Além disso,
com a extensa utilização da PCR para o diagnóstico de outras doenças, as técnicas de
extracção e purificação de DNA foram aprimoradas e simplificadas.
O diagnóstico de malária através da PCR é ainda restrito aos grandes laboratórios em
virtude do custo elevado, reagentes necessários e alta complexidade técnica. A vantagem
principal da técnica do PCR é a capacidade de detectar e identificar as infecções de baixo
grau com exactidão e fiabilidade.

14.2 DETECÇÃO DE ANTIGÉNIOS DO PLASMODIUM OU DETECÇÃO


DE ANTICORPOS POR PROVAS SEROLÓGICAS

Alguns exemplos: testes de precipitação, testes de imunofluorescência, provas imune


enzimáticas (técnicas Elisa).
As provas serológicas são úteis quando se pretende medir o grau de endemicidade
de malaria, delinear as zonas maláricas, avaliar o impacto de intervenções, seleccionar
dadores de sangue, diagnosticar casos positivos com exame parasitológico negativo,
detectar indivíduos com formas latentes da doença (principalmente os infectados com
Pl vivax e PI Ovale).
De realçar que alguns destes testes como os de imunofluorescência não devem ser
usados em áreas endémicas porque sua taxa de positividade não é apenas associada
a infecções activas e igualmente porque poderão não detectar infecção recentes em
pacientes com malária pela primeira vez (Janela Imunológica).

14.3 RADIOIMUNOENSAIO

Este método utiliza sondas de DNA do Parasita. Trata-se duma prova de grande
complexidade e de elevado custo operativo.
Estes testes têm a vantagem de diferenciado Plasmodium falciparum das demais
espécies, as quais são identificadas como não Plasmodium falciparum.
54 | CAPITULO 14 - NOTAS

NOTAS
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 55

NOTAS
56 | Referências Bibliográficas

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
A informação contida neste documento foi extraída de cinco fontes principais :

• Ministério de Saúde; Programa Nacional de Controlo da Malária Angola(2002).


Guia de Diagnóstico Parasitológico da Malária, Ministério de Saúde, Angola.
• WHO (2004) Laboratory Biosafety, 3rd Edition.
Geneva, World Health Organization.
• WHO (2009). Bench aids for malaria microscopy.
Geneva, World Health Organization.
• WHO (2009). Malaria Microscopy Quality Assurance Manual.
Geneva, World Health Organization.
• WHO (2010); Basic Malaria Microscopy: Part 1. Learner’s guide,
second Edition. 2010
ANEXOS
58 | ANEXOS - Plasmodium spp- Estadios dos parasitas no sangue em Esfregaço

PLASMODIUM FALCIPARUM
Estádios dos parasitas no sangue, Esfregaço

Fig. 1: Eritrócito normal


Figs. 2 - 18: Trofozoítos (entre estes, as Figs. 2-10 correspondem ao estádio em anel)
Figs. 19 - 26: Esquizontes (Fig. 26 é um esquizonte que se rompeu)
Figs. 27- 28: Macrogametócitos (feminino) maduros
Figs. 29 - 30: Microgametócitos (masculino) maduros
Ilustração: Coatney GR, Collins WE,Warren M, Contacos PG. The Primate Malarias. U.S. Department of Health, Education and Welfare, Bethesda, 1971.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 59

PLASMODIUM MALARIAE
Estádios dos parasitas no sangue, Esfregaço

Fig. 1: Eritrócito normal Figs. 23: Gametócito em desenvolvimento


Figs. 2-5: Trofozoítos jovens (anéis) Fig. 24: Macrogametócitos (feminino)
Figs. 6-13: Trofozoítos Fig. 25: Microgametócitos (masculino)
Figs. 14-22: Esquizontes

Ilustração: Coatney GR, Collins WE,Warren M, Contacos PG. The Primate Malarias. U.S. Department of Health, Education and Welfare, Bethesda, 1971.
60 | ANEXOS - Plasmodium spp- Estadios dos parasitas no sangue em Esfregaço

PLASMODIUM OVALE
Estádios dos parasitas no sangue,

Fig. 1: Eritrócito normal Figs. 16-23: Esquizonte


Figs. 2-5: Trofozoítos jovens (anéis) Fig. 24: Macrogametócitos (feminino)
Figs. 6-15: Trofozoítos Fig. 25: Microgametócitos (masculino

Ilustração: Coatney GR, Collins WE,Warren M, Contacos PG. The Primate Malarias. U.S. Department of Health, Education and Welfare, Bethesda, 1971.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 61

PLASMODIUM VIVAX
Estádios dos parasitas no sangue, Esfregaço

Fig. 1: Eritrócito normal Figs. 19-27: Esquizontes


Figs. 2-6: Trofozoítos jovens Figs. 28-29: Macrogametócitos (feminino)
(parasita no estádio de anel) Fig. 30: Microgametócitos (masculino)
Figs. 7-18: Trofozoítos

Ilustração: Coatney GR, Collins WE,Warren M, Contacos PG. The Primate Malarias. U.S. Department of Health, Education and Welfare, Bethesda, 1971.
62 | ANEXOS - Plasmodium spp- Estadios dos parasitas no sangue em Gota Espessa

PLASMODIUM FALCIPARUM
Estádios do Parasita no Sangue, Gota Espessa

1: Trofozoítos Pequenos
2: Gametócito - Normal
3: Gametócito - Ligeiramente
anómalo
4: Gametócito arredondado.
5: Gametócito destruído.
6: Núcleo do Leucócito
7: Plaquetas
8: Restos celulares de um
eritrócito joven

iilustraçao de: Wilcox A. Manual for the


Microscopical Diagnosis of Malaria in Man.
U.S. Department of Health, Education and
Welfare,Washington, 1960.

PLASMODIUM MALARIAE
Estádios do Parasita no Sangue, Gota Espessa

1: Trofozoítos pequenos
2: Trofozoítos em crescimento.
3: Trofozoítos maduros.
4, 5, 6: Esquizontes imaturos
com vários graus de divisão da
cromatina.
7: Esquizontes Maduros.
8: Núcleo do Leucócito .
9: Plaquetas.
10: Restos celulares de eritrócitos
jovens.

ilustraçao de: Wilcox A. Manual for the


Microscopical Diagnosis of Malaria in Man.
U.S. Department of Health, Education and
Welfare,Washington, 1960.
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 63

PLASMODIUM OVALE
Estádios do Parasita no Sangue, Gota Espessa

1: Trofozoíto pequeno.
2: Trofozoíto em crescimento.
3: Trofozoíto maduro.
4: Esquizontes.
5: Gametócitos.
6: Núcleo de Leucócito.
7: Plaquetas.

PLASMODIUM VIVAX
Estádios do Parasita no Sangue, Gota Espessa

1: Trofozoítos ameboides.
2: Esquizonte - 2 divisões de
cromatina
3: Esquizonte Maduro
4: Microgametócito
5: Plaquetas
6: Núcleo do Neutrófilo
7: Eosinofilo
8: Plaqueta associada com restos
celulares de eritrócitos jovens.

iilustraçao de: Wilcox A. Manual for the


Microscopical Diagnosis of Malaria in Man.
U.S. Department of Health, Education and
Welfare,Washington, 1960.
64 | MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA

SD BIOLINE MALÁRIA - TESTE RÁPIDO


para uso com sangue total
MANUAL DE FORMAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA MALÁRIA EM ANGOLA | 65

SD BIOLINE MALÁRIA - TESTE RÁPIDO


para uso com sangue total
DISPOSITIVO DE TESTE

Nome ou Número de
Identificação do Paciente

Data
Hora

Linha
de Controlo
Janela de
Linha
NOTE BEM Resultados
de Teste
Durante os 15 minutos entre a adição do tampão
de ensaio e a leitura dos resultados, a janela de
resultados poderá transparecer uma tonalidade
avermelhada ou aparente vermelho vinho. Isto é Poço de
absolutamente normal: Amostragem

Poço de
Tampão

POSITIVO
LINHA DE CONTROLO – PRESENTE
LINHA DE TESTE – PRESENTE EM QUALQUER GRAU DE INTENSIDADE

POSITIVO para
P. falciparum

IN VÁ LIDO
LINHA DE CONTROLO – AUSENTE FRACO POSITIVO
LINHA DE TESTE – AUSENTE OU PRESENTE para
Não reporte ou considere resultados inválidos. P. falciparum
Repita o teste com um novo dispositivo de teste.

INVÁLIDO POSITIVO para


Linha de Teste P. vivax
- Ausente

INVÁLIDO POSITIVO para


Linha de Teste P. falciparum
- Presente e P. vivax

N EGA TIVO
LINHA DE CONTROLO – PRESENTE NEGATIVO
LINHA DE TESTE – AUSENTE Somente
a Linha de Controlo

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