Eletricidade Lei de Kirchhoff
Eletricidade Lei de Kirchhoff
Eletricidade Lei de Kirchhoff
LEIS DE KIRCHHOFF
4.1 Definio de N, Ramo e Malha
Quando em um circuito eltrico existe mais do que uma fonte de tenso e mais do que um
resistor, geralmente so necessrias outras leis, alm da lei de Ohm, para sua resoluo. Estas leis
adicionais so as leis de Kirchhoff, as quais propiciam uma maneira geral e sistemtica de anlise de
circuitos. Elas so duas, a saber:
- Primeira lei de Kirchhoff ou lei das Correntes
- Segunda lei de Kirchhoff ou lei das Tenses
Para o uso destas leis so necessrias algumas definies:
N: um ponto do circuito onde se conectam no mnimo trs elementos.
Ramo: um trecho de um circuito compreendido entre dois ns consecutivos.
Malha: um trecho de circuito que forma uma trajetria eletricamente fechada.
Na figura 4.1, por exemplo, identifica-se:
a) dois ns: B e F
b) trs ramos: BAEF, BDF e BCGF
c) trs malhas: ABDFEA, BCGFDB e ABCGFEA
E
1
R
3
R
1
R
4
R
2
E
4
E
3
E
2
A B C
G F E
D
Figura 4.1 Circuito eltrico com dois ns.
80 Anlise de Circuitos I
4.2 Primeira Lei de Kirchhoff ou Lei das Correntes de Kirchhoff (LCK)
Enunciado:
"A soma algbrica das correntes em um n sempre igual a zero."
1
0
n
i
i
I
=
=
(4.1)
Por conveno, consideram-se as correntes que entram em um n como positivas e as que
saem como negativas. Desta forma, a lei das correntes de Kirchhoff pode ser interpretada da seguin-
te forma:
"A soma das correntes que chegam em um n sempre igual soma das correntes
que saem deste n."
1 1
chegam saem
n m
i j
i j
I I
= =
=
(4.2)
Por exemplo, no circuito mostrado na figura 4.2, ao se aplicar a lei das correntes de Kirc-
hhoff aos ns B e F, obtm-se:
N B:
1 2 3
I I I + =
N F:
3 1 2
I I I = +
E
1
R
3
R
1
R
4
R
2
E
4
E
3
E
2
A B C
G F E
D
I
1
I
2
I
3
Figura 4.2 Circuito para a aplicao da lei das correntes de Kirchhoff.
Captulo 4 Leis de Kirchhoff 81
Observa-se que as equaes dos ns B e F so na realidade as mesmas, ou seja, a aplicao
da lei das correntes de Kirchhoff ao n F no aumenta a informao sobre o circuito. Assim, o n-
mero de equaes independentes que se pode obter com a aplicao da lei das correntes de Kirc-
hhoff em um circuito eltrico igual ao nmero de ns menos um.
1 NE n = (4.3)
onde,
NE o nmero de equaes independentes obtidas com a aplicao da lei das correntes de
Kirchhoff em um circuito eltrico;
n o nmero de ns do circuito.
4.3 Segunda Lei de Kirchhoff ou Lei das Tenses de Kirchhoff (LTK)
A lei das tenses de Kirchhoff aplicada nas malhas. Ela j foi aplicada no estudo dos cir-
cuitos de resistores em srie, onde a soma das quedas de tenso nos resistores igual tenso (fem)
da fonte.
Enunciado:
"A soma algbrica das tenses (fem e quedas de tenso) ao longo de uma malha e-
ltrica igual a zero."
1
0
n
i
i
V
=
=
(4.4)
Observao: entende-se por queda de tenso a tenso sobre um resistor, uma fonte de tenso que
absorve energia,...
Para a aplicao da lei das tenses de Kirchhoff, faz-se necessrio adotar algumas regras.
So elas:
1. Arbitrar (convencionar) sentidos para as correntes em todos os ramos;
2. Polarizar as quedas de tenso nos resistores de acordo com a conveno de elemento passivo e
sentido convencional de corrente eltrica. Isto equivale a colocar a polaridade positiva da queda de
tenso no resistor no terminal por onde a corrente entra nele, isto ,
82 Anlise de Circuitos I
R
I
+
V
3. Para as fontes de fem, sabe-se que
+
E
4. Para montar a equao, percorre-se a malha somando algebricamente as tenses. O sinal da ten-
so corresponde ao sinal da polaridade pela qual se ingressa no componente, independentemente do
sentido da corrente eltrica.
De acordo com o circuito apresentado na figura 4.3, ao se aplicar a lei das tenses de Kirc-
hhoff s malhas ABDFEA e BCGFDB, no sentido horrio, obtm-se:
Malha ABDFEA:
1 1 2 2 2 4 1 1
0 R I E R I R I E + + + =
Malha BCGFDB:
3 3 3 4 2 2 2
0 E R I E R I E + + + =
Figura 4.3 Circuito para a aplicao da lei das tenses de Kirchhoff.
No circuito da figura 4.3, existe ainda mais uma malha (a malha externa ABCGFEA). Nes-
ta malha poderia ser aplicada tambm a lei das tenses de Kirchhoff. Entretanto, como no caso da
lei das correntes, a equao resultante seria dependente das duas j obtidas. Portanto, esta equao
seria intil.
Supondo-se que, no circuito da figura 4.3, fossem conhecidos os valores de todas as fem
das fontes de tenso e todas as resistncias, restariam como incgnitas as trs correntes. Para resol-
ver um sistema de equaes lineares com trs incgnitas so necessrias trs equaes. Uma equa-
o j foi obtida com a aplicao da lei da correntes de Kirchhoff. Portanto, so necessrias mais
duas, que podem ser obtidas pela aplicao da lei das tenses de Kirchhoff.
Em sntese, pode-se concluir que, em um circuito eltrico com r ramos e n ns, tem-se r
correntes, uma em cada ramo. A lei das correntes de Kirchhoff fornece (n 1) equaes e, portanto,
a lei das tenses de Kirchhoff deve fornecer (r n + 1) equaes para que o problema possa ser re-
solvido. Por exemplo, no circuito da figura 4.3, tem-se r = 3, n = 2. Se r = 3, o nmero de correntes
E
1
R
3
R
1
R
4
R
2
E
4
E
3
E
2
A B C
G F E
D
I
1
I
2
I
3
+
+
+
+
Captulo 4 Leis de Kirchhoff 83
3. O nmero de equaes fornecidas pela lei das correntes (2 1) = 1 e o nmero de equaes
fornecidas pela lei das tenses (3 2 + 1) = 2, conforme discutido anteriormente.
A seguir, apresenta-se um resumo para aplicao da LCK e LTK.
Regras para Aplicao das Leis de Kirchhoff
1
o
) Identificar os ns, ramos e malhas do circuito eltrico;
2
o
) Atribuir para cada ramo do circuito um sentido para a corrente eltrica;
3
o
) Polarizar as quedas de tenso nos resistores de acordo com o sentido adotado para a corrente
eltrica;
4
o
) Polarizar as fontes de tenso;
5
o
) Havendo ns, aplicar a 1
a
Lei de Kirchhoff, obtendo-se 1 NE n = ;
6
o
) Se o nmero de equaes ainda no for suficiente para resolver o circuito, aplicar a 2
a
Lei de
Kirchhoff, onde o nmero de equaes (NE) dado por NE = (r n + 1) ;
7
o
) Escolher um ponto de partida e adotar um sentido de percurso para analisar a(s) malha (s).
Exemplo 4.1: Calcule o sentido e o mdulo da corrente eltrica no circuito da figura 4.4.
1 O 4,7 O 3,3 O
6 V 15 V
Figura 4.4 Circuito eltrico para o Exemplo 4.1.
Resoluo:
a) Arbitra-se (escolhe-se) um sentido para a corrente eltrica no circuito. Por exemplo, no
sentido indicado na figura 4.5.
b) Polarizam-se as quedas de tenso nos resistores (polaridade positiva no terminal por on-
de a corrente entra) e as fem das fontes (o terminal maior o positivo).
c) Percorre-se a malha, somando algebricamente as tenses (o sinal da tenso corresponde
ao sinal da polaridade da tenso encontrada no componente).
Estas etapas esto mostradas na figura 4.5 e na equao abaixo.
84 Anlise de Circuitos I
I
1 O 4,7 O 3,3 O
6 V 15 V
+ + +
+ +
Figura 4.5 Esquema de soluo para o Exemplo 4.4.1.
1 4, 7 3,3 15 6 0 I I I + + + = 9 9 I = 1 A I =
O sinal negativo que aparece para o valor da corrente I significa que o sentido escolhido
para ela est invertido. Neste exemplo, o sentido correto da corrente eltrica I para baixo na figura
4.5 e no para cima como foi arbitrado no incio da resoluo.
Exemplo 4.2: Calcule os valores da E
2
e da resistncia eltrica do resistor R
2
no circuito da figura
4.6. Sabe-se que as correntes que percorrem R
1
e R
2
valem, respectivamente, I
1
= 8 A e I
2
= 5 A.
60 V
1 O
I
1
4 O
I
2
2 O
E
2
R
2
Figura 4.6 Circuito eltrico para o Exemplo 4.2.
Resoluo:
a) Aplicando-se a lei das tenses de Kirchhoff, tem-se duas equaes obtidas pelas malhas,
pois [NE = (r n + 1) = 3-2+1 = 2]
1) Malha ACDEA:
2 2 1 1
4 1 60 0 R I I I + + = , como I
1
= 8 A e I
2
= 5 A, tem-se:
2
5 4 8 1 8 60 0 R + + =
2
5 20 R =
2
4 R = O
Captulo 4 Leis de Kirchhoff 85
b) Aplicando-se a lei das correntes de Kirchhoff tem-se apenas uma equao obtida em re-
lao aos ns, pois (NE = n-1)
N A:
1 2 3
I I I = + , como I
1
= 8 A e I
2
= 5 A, tem-se:
3
8 5 I = +
3
3 A I =
c)
2) Malha ABCA:
2 3 2 2
2 0 E I R I + =
2
2 3 4 5 0 E + =
2
14 V E =
60 V
1 O
I
1
4 O
I
2
2 O
E
2
R
2
A
B
C D
E
I
3
+
+
+
+
Figura 4.7 Esquema de soluo para o Exemplo 4.2.
Exemplo 4.3: Calcule o valor e o sentido correto das correntes em cada ramo do circuito da figura
4.8.
12 O 51 V
3 O
20 V
2 O
50 V
40 V
3 O
Figura 4.8. Circuito eltrico para o Exemplo 4.3.
12 O 51 V
3 O
20 V
2 O
50 V
40 V
3 O
I
1
I
2
I
3
+
+
+
A B F
G D
C
E
Figura 4.9. Esquema de soluo para o Exemplo 4.3.
Arbitrando-se os sentidos das correntes nos ramos como mostrado na figura 4.9, aplicando-
se a lei das correntes de Kirchhoff ao n B e a lei das tenses de Kirchhoff s malhas ABCDEA e
BFGDCB, obtm-se:
86 Anlise de Circuitos I
1 2 3
2 1
3 3 2
0 Lei das correntes de Kirchhoff no n
40 3 20 50 12 0 Lei das tenses de Kirchhoff na malha
3 51 2 20 3 0 Lei das tenses de Kirchhoff na malha
I I I B
I I ABCDEA
I I I BFGDCB
+ + =
+ =
+ + =
Substituindo-se os valores numricos dos resistores e das fontes de tenso e rearranjando-
se as correntes (incgnitas), obtm-se o seguinte sistema de equaes lineares:
1 2 3
1 2
2 3
0
12 3 30
3 5 31
I I I
I I
I I
+ + =
Este sistema pode ser resolvido pelo mtodo de Cramer, como mostrado a seguir.
- Clculo do determinante principal:
1 1 1 1 1
12 3 0 12 3
0 3 5 0 3
A =
[1 ( 3) ( 5) 1 0 0 1 12 3] [1 ( 3) 0 1 0 3 1 12 ( 5)] A = + + + +
15 0 36 [0 0 60] 111 A = + + + =
- Clculo do determinante para a corrente I
1
:
1
0 1 1 0 1
30 3 0 30 3
31 3 5 31 3
I A =
1
[0 ( 3) ( 5) 1 0 31 1 30 3] [1 ( 3) 31 0 0 3 1 30 ( 5)] I A = + + + +
1
0 0 90 [ 93 0 150] 333 I A = + + + =
- Clculo do determinante para a corrente I
2
:
2
1 0 1 1 0
12 30 0 12 30
0 31 5 0 31
I A =
2
[1 30 ( 5) 0 0 0 1 12 31] [1 30 0 1 0 31 0 12 ( 5)] I A = + + + +
2
150 0 372 [0 0 0] 222 I A = + + + =
Captulo 4 Leis de Kirchhoff 87
- Clculo da corrente I
1
:
1
1
333
111
I
I
A
= =
A
1
3 A I =
- Clculo da corrente I
2
:
2
2
222
111
I
I
A
= =
A
2
2 A I =
- Clculo da corrente I
3
:
1 2 3
0 I I I + + =
3 1 2
3 2 I I I = =
3
5 A I =
12 O 51 V
3 O
20 V
2 O
50 V
40 V
3 O
3 A
2 A
5 A
Figura 4.10. Sentidos corretos para as correntes nos ramos no circuito do Exemplo 4.3.
4.4 Exerccios
1. Determine os valores das correntes desconhecidas no circuito da figura 4.11.
R
ta.
: I
1
=1A; I
2
=18A; I
3
=9A.
X
1
X
2
X
3
X
4
X
5
X
6
10 A
8 A
9 A
I
1
I
2
I
3
Figura 4.11
X
2
X
3
X
4
X
5
X
6
X
1
+
+ +
+
+ +
10 V V
2
8 V
9 V V
3
V
1
Figura 4.12
88 Anlise de Circuitos I
2. Determine os valores das tenses desconhecidas no circuito da figura 4.12.
R
ta.
: V
1
=11V; V
2
=2V; V
3
= -1V.
3. Calcule o valor da corrente I no circuito da figura 4.13. R
ta.
: I=0,3A.
10 O 15 O
8 O
8 V
12 V
11 O
5 V
6 O
I
Figura 4.13
30 V
0,5 O
40 V
R
3
1 O
4 A
Figura 4.14
4. Calcule o valor da resistncia do resistor R
3
no circuito da figura 4.14. R
ta.
: R
3
=1.
5. Sabendo que a corrente atravs do resistor R
3
no circuito da figura 4.15 vale 4 A, calcule os valo-
res e os sentidos corretos das outras correntes e o valor do resistor R
3
.
R
ta.
: I
1
=4A; I
2
=0; R
3
= 1,5.
Figura 4.15 Figura 4.16
6. Calcule os valores das correntes I
2
e I
3
e do resistor R
2
, no circuito da figura 4.16, sabendo que a
intensidade da corrente I
1
vale 0,2 A. R
ta.
: I
2
=0,8A; I
3
=0,6A; R
2
= 2,5.
R
3
1 O
0,3 O
0,5 O
12 V
10 V
4 A
3 V 5 V
5 O
5 O
I
1 R
2
I
2
I
3
Captulo 4 Leis de Kirchhoff 89
7. Calcule o valor e o sentido correto das correntes nos ramos no circuito da figura 4.17. (ver pg. 85
exemplo 4.3.).
R
ta.
: I
1
=3A; I
2
=2A; I
3
= 5A.
Figura 4.17 Figura 4.18
8. Calcule os valores das correntes I
1
e I
2
no circuito da figura 4.18. R
ta.
: I
1
=9A; I
2
=1,5A.
9. No circuito da figura 4.19, calcule o valor da corrente I. R
ta.
: I=3A para cima.
Figura 4.19 Figura 4.20
10. No circuito da figura 4.20, calcule os valores da tenso Vs e da resistncia R.
R
ta.
: Vs=14V; R=4.
11. Determine a potncia dissipada em R
1
e R
2
do circuito da figura 4.21.
R
ta.
: P
1
=20mW; P
2
=22,5mW.
12 O 51 V
2 O
3 O
3 O
20 V
40 V
50 V
30 V 90 V
25 O
10 O
15 O
I
1
I
2
100 V 200 V
20 O 25 O
I
60 V
V
s
4
2
5A
1
O
O
O
8A
R
90 Anlise de Circuitos I
Figura 4.21 Figura 4.22
12. Qual deve ser o valor do resistor R para que a corrente no ramo AB da figura 4.22 seja nula?
R
ta.
: R=26k.
20 kO
10 kO
R
1
R
2
25 V
20 V
5 V
3V
12V
3V
A
B
3 kO 1 k O
6 kO
5 k O
R