Seringueira

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Resposta Técnica

Assunto

Agricultura e pecuária

Palavras-chave

Cultivo da seringueira; Seringueira.

Identificação da demanda

O plantio de seringueira é considerado um reflorestamento? Como poderia iniciar o cultivo de


uma floresta de seringueira? Qual é a viabilidade econômico-financeira da atividade? Em Minas
existem cooperativas ou associação de classe dos produtores de borracha?

Solução apresentada

1 INTRODUÇÃO

A cultura da seringueira é apropriada para pequenos agricultores, por não ter custos fixos
elevados e nem encargos sociais. O cultivo da seringueira é considerado uma atividade leve -
uma única pessoa pode cuidar de cinco a dez hectares de seringais - e o trabalho podem ser
realizados por toda a família. Além dos aspectos sociais e econômicos, a seringueira pode ser
utilizada no reflorestamento, ajudando na conservação do solo e da água e no seqüestro de gás
carbônico da atmosfera, amenizando o efeito estufa.

Uma das grandes vantagens do cultivo é sua exploração econômica durante o longo ciclo de vida
da planta, sem a necessidade de desnudamentos periódicos do solo.

2 SERINGUEIRA – PLANTA

Seringueira é o nome vulgar de uma planta do gênero Hevea, família Euphorbiaceae, que foi
introduzida na Bahia por volta de 1906. A sua dispersão natural está circunscrita aos limites da
região Amazônica Brasileira, porém mostrando grande adaptabilidade aos mais variados
ambientes. A espécie Hevea Brasileira (Wild. Ex. A. Juss.) Muell. Arg é a mais explorada
economicamente, por produzir látex de melhor qualidade e com elevado teor de borracha.

Do seu tronco extrai-se o látex que, por coagulação espontânea ou por processos químico-
industriais, se transforma no produto comercial denominado de borracha. A matéria-prima
borracha é largamente utilizada na produção de bens industrializados, sendo a indústria de
pneumáticos a sua maior consumidora.

As grandes áreas de produção comercial concentram-se no sudeste asiático, destacando-se a


Malásia, Indonésia e Tailândia como maiores produtores. A produção brasileira, ainda que tenha
apresentado acréscimos nos últimos anos, só responde por 18% das suas necessidades, sendo o
restante importado de outros centros produtores, com reflexos negativos na nossa balança
comercial.
No Brasil, na área tradicional, a heveicultura tem abrangência na Amazônia Tropical Úmida,
Mato Grosso e Bahia. Em áreas não tradicionais, é cultivada nos estados de Goiás, Mato Grosso
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do Sul, Pernambuco, Maranhão, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo e Minas
Gerais. No Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba estão concentradas as maiores plantações do
Estado de Minas Gerais, alcançando produtividade de, aproximadamente, 1.500 kg de borracha
seca/ha/ano. Do ponto de vista social, a heveicultura é muito importante principalmente, na
fixação do homem no campo, pois produz o ano todo.

2.1 Escolha e localização da área

As áreas planas são mais fáceis e econômicas para a implantação e exploração de seringais de
cultivo. Em áreas de relevo ondulado, promover o plantio da média encosta para cima, e em
curvas de nível. Sempre que possível, locar as linhas de plantio no sentido norte/sul, a fim de
receberem intensa insolação e evitar o auto-sombreamento. Em áreas sujeitas a ventos fortes,
dispor o plantio no sentido dos ventos dominantes e usar tutores, assim que as plantas
começarem a dar sinal de inclinação de seu caule.

2.2 Propagação

A propagação vegetativa, através da enxertia, é o processo convencional para a produção de


mudas de seringueira, tanto na Bahia quanto em qualquer outra região produtora. Para a
produção de mudas de seringueira, necessário se faz a instalação de infra-estruturas básicas, ou
seja: jardins clonais e viveiros. Os viveiros a pleno sol são os mais comuns. As mudas podem
também ser preparadas em sacolas plásticas, tubetes ou até mesmo enxertadas no local definitivo
de plantio.

As sementes de seringueira apresentam grande variabilidade vegetativa e produtiva, sendo


usadas somente para a formação de porta-enxertos em viveiros, e não para plantios a campo. A
propagação preferencial é, portanto, por enxertia, utilizando-se clones vigorosos e como
potencial produtivo no Paraná, como o PB 235, RRIM 600 e GT 1. O material para plantio
consiste de tocos enxertados e parafinados (com indução de raízes), transplantados em sacos
plásticos. Ao apresentarem 1 a 2 "verticilos" foliares maduras, as mudas são levadas ao campo.

2.3 Plantio e manejo

O plantio definitivo é feito após o preparo de covas de 40 x 40 x 40 cm, em espaçamento de 8,0


x 2,5 m (500 árvores / ha). O manejo do plantio inclui a desbrota de ramos ladrões do
portaenxerto e poda das ramificações laterais da haste do enxerto até a altura desejada de
formação de copa. Efetuar duas adubações e até quatro capinas anuais e tratamento fitossanitário,
se necessário.

2.4 Calagem e adubação

As áreas potencialmente indicadas para novos plantios são geralmente de solos ácidos e pobres
em nutrientes. Assim, recomenda-se a análise prévia do solo para orientar de forma adequada a
calagem e a adubação. Em seringais jovens, a mistura NPK deve ser aplicada em círculos
crescentes, em função do desenvolvimento da planta, até o terceiro ano. Após este período, a
adubação será feita em faixas laterais às plantas. O cronograma de adubação estende-se de
outubro a março. Em seringais adultos, a adubação dever ser em função de uma nova análise de
solo e, em casos especiais, também de folhas. Nessa fase, a mistura NPK dever ser aplicada, de
uma só vez e por planta, no período de hibernação, por ocasião da queda de folhas que
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geralmente ocorre ente junho e julho. Após três ou quatro meses, sugere-se uma adubação
complementar nitrogenada.

2.5 Sistemas agroflorestais

Pode ser obtido um melhor uso dos recursos produtivos na área na propriedade rural através da
diversificação de cultivos. O aproveitamento do espaço intercalar em um arranjo de linhas duplas
de seringueira, no espaçamento 16 x 4,0 x 2,5 m (400 árvores /ha), permite a composição de
sistemas agroflorestais com culturas anuais e semi-perenes (arroz, milho, feijão, abacaxi,
pupunha, café e fruteiras)

3 DOENÇAS E PRAGAS

3.1 O mal-das-folhas

Doença causada pelo fungo Microcylus ulei, é o principal fator limitante à expansão da
heiveicultura no Brasil, notadamente na região Norte do país. O dano maior é a queda prematura
de folhas, podendo levar as plantas à morte. É controlada: plantio em "área de escape"; clones
resistentes ou tolerantes; enxertia de copa; controle químico-Benlate, Bayleton e cycosin
(400g/ha). Em viveiros e jardins cloriais as pulverizações devem ser semanalmente no período
chuvoso e quinzenalmente no período seco. No plantio definitivo fazer seis pulverizações
durante o período de reenfolhamento.

3.2 Mancha areolada

Cansada pelo fungo Thanatephorus cucumeris. Seu controle pode ser feito com pulverizações
semanais à base de cobre de 0,15% p.a., e com Triadimefon, a 0,3g de p.a./litro.

3.3 Doenças causadas pelo fungo Phytophthora spp

Requeima, queda anormal das folhas, podridão dos frutos, cancro estriado do painel e cancro do
tronco. O controle é feito preventivamente, através de práticas culturais pincelamento ou
pulverização com fungicidas eficientes nos períodos favoráveis à disseminação do patógeno e à
infecção. Recomendam-se: Ridomil-Mancozeb de 0,38% p.a., Aliette (Fozetyl) 0,5% p.a., dentre
outros.

3.4 Antracnose causada pelo fungo Colltotrichum gloeosporioides

Manifesta-se em folhas imaturas, ramos, frutos e no painel.

No painel, seu controle é feito com uso do fungicida Daconil 0,25 p.a, cerconil 0,35 p.a. e
Benlate 0,20 p.a. Nas plantas, muito atacadas, usar uma pasta, após raspagem dos tecidos
lesados: 40 g de Benlate + 200ml de óleo vegetal + 400g cal + 600ml de água + 20g de
Agrimicina.

Ao se reiniciar a sangria, aplicá-la a 2cm abaixo da região lesionada com tratamentos


preventivos a cada 7 ou 15 dias conforme as condições climáticas.

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3.5 Pragas

A principal praga da seringueira é o mandarová (Erinny ello e E. alope). Seu controle pode ser
feito com utilização do DIPEL(Bacillus thuringiensis), que atua sobre as lagartas de maneira
geral. Os esporos da bactéria são produzidos em laboratório. Ainda pode ser controlada com
piretróides (formulados com óleo) ou catação manual em seringais jovens.

Outras pragas encontradas, de menor importâncias, são as formigas, vaquinhas, mosca branca,
cachonilhas, cupins, paquinhas, coleobrocas, ácaros e percevejos-de-renda.

4 MELHORAMENTO

O melhoramento genético no Brasil é feito, principalmente, no sentido de criação de clones


tolerantes a doenças e que, ao mesmo tempo, apresentem produção satisfatória de látex.

Dentre as espécies de Hevea, reconhecidas no Brasil, a H. brasiliensis (mais produtiva, maior


variabilidade genética, menor resistência às doenças), H. benthamiana (muito produtiva e possui
variabilidade genética para resistência); H. pauciflora (certa imunidade ao M. ulei, podendo ser
indicada para enxertia de copa), H. camargoana e H. camporum (porte baixo) são as espécies
mais utilizadas no melhoramento genético no país.

A coleta e conservação dos recursos genéticos são importantes como fontes de resistência a
doenças e de maior produção.

4.1 Métodos usados na obtenção de clones

Testes precoces de avaliação da potencialidade de produção:

Teste Cramer ou Testatex

Teste qualitativo, feito em plantas a partir de um ano de idade.

Miniteste de produção ou teste de Mendes ou MTP

Teste quantitativo, feito em plantas a partir de seis meses de idade.

Teste Morris-Mann ou Hammaker-Morris-Mann (HMM)

Teste quantitativo e mais confiável, feito em plantas com circunferência a partir de 21 cm a 1,0
m do solo.

Poliploidização

Leva ao gigantismo de certas partes vegetativas da planta, aumenta o diâmetro dos vasos
laticíferos com um conseqüente aumento de produção, aumenta o número de cromossomas. As
substâncias utilizadas são a colchicina e DMSO.

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5 SANGRIA

A sangria é iniciada quando pelo menos 50% das árvores (cerca de 200 árvores/ha) atingirem
45cm de circunferência do caule, a 1,30cm acima da soldadura do enxerto.

5.1 Fatores que afetam a produção


Comprimento, direção e profundidade do corte; hora da sangria (o escorrimento do látex é
função da diluição e pressão de turgescência); altura da incisão, tipo de corte e sistemas de
exportação (freqüência de sangria, estimulação e método de sangria).

5.1.1 Simbologia de painel

B= painel baixo ou descendente; H= painel alto ou ascendente; O= casca virgem; I = casca de 1ª


regeneração; II = casca de 2ª regeneração; III = casca de 3ª regeneração; n° de painéis (1,2,3,4
etc).

5.1.2 Estimulação

É a aplicação de substâncias químicas para aumentar o período de escorrimento do látex.

5.1.3 Substâncias estimulantes

ANA; 2,4,5 - T; alguns óleos vegetais; Ácido 2 - cloroetilfosfônico (ETHREL) a 2,5 %, 5,0 % e
10 %, dependendo da idade do seringal.

5.1.4 Tipo de aplicação

Ba - 1 a 2g do produto sobre a casca, prévia e superficialmente raspada;


La - 0,5 a 1g do produto sobre toda a extensão do sulco de corte, sem a retirada do cernambi fita;
Ga - 0,5 a 1g do produto sobre toda a extensão do sulco de corte, com a prévia retirada do
cernambi fita;
Pa - 0,5 a 1g do produto em faixa paralela e acima ao sulco de corte.

5.1.5 Condições para a estimulação

Clones responsivos; sistema de sangria menos intensivo (mínimo de ½ S d/3); fazer adubação de
reposição; Não sangrar em condições ambientais adversas; corte bem feito.

5.1.6 Secamento do painel "Brown bast"

É o cessamento do escorrimento de látex no ato da sangria.


Os sintomas são: trincamento da casca no estágio avançado; secamento parcial ou total dos
painéis; aumento da viscosidade do látex e aparecimento de estrias marrons.
Para prevenir o "Brown bast", isolar a região seca; fazer os sulcos de divisão dos painéis bem
profundos e deixar descansar por 6 meses.

5.2 Sistemas de sangria

5.2.1 Meia-Espiral
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-Perímetro do ronco ³ 45 cm a 1,30 m da soldadura do enxerto;
-Perímetro do tronco ³ 50 cm a 1,00 m do solo;
-Inclinação do corte de 30°;
-Simbologia: ½ S.

5.2.2 Espiral Completa

-Perímetro do tronco ³ 70 cm a 1,30 m da soldadura do enxerto;


-Inclinação do corte de 45°;
-Freqüência mínima: d/4;
-Simbologia: S.

5.2.3 Sangria por punctura (SPP)

-Perímetro do tronco ³ 35 cm a 1,30 m da soldadura do enxerto;


-Sangria precoce;
-Precisa ser estimulado mensalmente ETHREL 5% = 2 g/planta.

5.2.4 Sangria ascendente

-Seringal velho com o painel baixo muito usado;


-Painel baixo com recamento.

5.2.5 Sangria mista ou micro-x

-Perímetro do tronco ³ 45 cm a 1,30 m da soldadura do enxerto;


-Fazem-se 12 cortes, sendo 9 cortes por punctura e 3 cortes convencionais.

6 PUBLICAÇÕES

“Pesquisas realizadas sobre o mercado da borracha projetam na virada do século, uma elevação
nos preços, em virtude do aumento do consumo e do menor crescimento da oferta, no Brasil e no
mundo, o que se constituirá em ótima oportunidade para o incremento da produção nacional.

Neste videocurso, filme e manual, você aprenderá as técnicas do cultivo da seringueira para a
produção de borracha natural, mostrando, passo a passo, todas as etapas do processo produtivo
desta cultura, começando pelos aspectos gerais da produção, passando pelos tratos culturais e
doenças que atacam a seringueira e terminando no processo de sangria, colheita e processamento
do látex”.

Disponível em: http://www.cpt.com.br/produtos/016_167.php

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A coordenação técnica ficou a cargo do pesquisador da CEPLAC-BA, Adonias de Castro
Virgens Filho,engenheiro agrônomo, doutor em fitotecnia, experiente conhecedor do cultivo de
seringueira

Conclusão e recomendações

Recomendações técnicas sobre o preparo de mudas enxertadas estão disponíveis e divulgadas em


inúmeras publicações. Algumas estão citadas nas referências abaixo, estas deverão ser
consultadas para melhor orientação sobre a obtenção, qualidade e utilização adequadas às
diversas situações determinadas pelo relevo, características do solo, infra-estrutura do imóvel,
disponibilidade de mão-de-obra etc, objetivando sempre a formação de seringais uniformes e
estandes completos, a custos mais baixos e com maior retorno econômico.

Não foi possível localizar nenhuma Associação de produtores de Seringueira em Minas Gerais,
porém existe uma Associação (segue contato abaixo) localizada no Acre que inclusive emite
certificado de qualidade da Seringueira.

Economicamente a literatura consultada aponta a viabilidade do cultivo da seringueira sob


diversos aspectos, conforme descritos nas referências citadas.

Associação Seringueira Porto Dias


Contato:Nívea Jorgia Marcondes
Endereço:Projeto de Assentamento Agroextrativista Porto Dias - Colocação Palhal Acrelândia,
estado do Acre BRAZIL
Tel:+55 68 3223 2727
Fax: +55 68 3223 3260
Email: [email protected]

Referências

Cultura da seringueira. Disponível em: http://www.agridata.mg.gov.br/sering.htm#item7.


Acesso em 17/02/2006.

EMBRAPA. Cerrado: pesquisa leva seringueira para o Centro-Oeste. Disponível em:


http://www21.sede.embrapa.br/linhas_de_acao/ecossistemas/cerrado/cerrado_13/mostra_docume
nto. Acesso em 17/02/2006.

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ. O Cultivo da Seringueira (Hevea spp.).


Disponível em: http://www.iapar.br/zip_pdf/cultsering.pdf. Acesso em: 17/02/2006.

Seringueira. Disponível em: http://www.ceplac.gov.br/radar/seringueira.htm. Acesso em


17/02/2006.

Nome do técnico responsável

Nelma Camêlo de Araujo

Nome da Instituição respondente

Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais – CETEC


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Data de finalização

17/02/2006

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