Tres Vidas de Militancia

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Três vidas de militância

Apolônio, Frati e Grabois


100 anos
projeto gráfico e diagramação
Marcos Cartum e Débora Oelsner Lopes Núcleo de Preservação
setembro 2012 da Memória Política
Para saber mais

Núcleo de Preservação da Memória Política – São Paulo www.nucleomemoria.org.br


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e entender que somente conhecendo o passado compreenderemos http://pt.wikipedia.org/wiki/Mauricio_grabois
o presente e construiremos o futuro. http://pt.wikipedia.org/wiki/Apol%C3%B4nio_de_Carvalho
http://www.fmauriciograbois.org.br/portal/
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O Núcleo Memória atua em parceria


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Largo General Osório ,66 - Luz - São Paulo


Aberto de terça-feira a domingo . Entrada gratuita
Três vidas de militância: Apolônio, Frati e Grabois. 2
100 anos
Sumário

Apresentação 5

Apolônio de Carvalho 7

Ronaldo Frati 17

Maurício Grabois 25

Três vidas de militância: Apolônio, Frati e Grabois. 4


3 100 anos
Apresentação Portanto, é com orgulho que colocamos em mãos de
todos aqueles que se interessam por conhecer melhor
a história dos que, mesmo sem estarem nos panteões
oficias como símbolos de convicções políticas, leal-
dade, luta e coragem, são os verdadeiros Heróis do
Povo Brasileiro, agradecendo às duas autoras pelos
belos textos.
Esta é mais uma cartilha (a quinta) preparada pelo
Núcleo de Preservação da Memória Política de São Boa Leitura a todos!
Paulo, que tem o objetivo, como todas as demais já
editadas, de ser um estímulo para os jovens a conhe- Maurice Politi
cerem melhor nossa História. Principalmente os capí- Diretor
tulos desta História que quiseram, por muitos anos, Núcleo de Preservação da Memória Política
que se esquecesse, mas que insistem em fazer-se pre- Setembro 2012
sente toda vez que, na busca incansável pela Verdade,
Memória e Justiça, militantes dos Direitos Humanos
questionam-se sobre o nosso passado recente.

Desta vez, a motivação para editarmos o presente tra-


balho é o centenário de nascimento de três patriotas
que com seu exemplo militante, continuam a nos ins-
pirar na luta pela Democracia e pelo Socialismo.
Estes três companheiros, Apolônio de Carvalho,
Rolando Frati e Mauricio Grabois, cada um à sua
maneira, ousaram levantar-se contra regimes opres-
sivos e de falta de liberdade. Os três foram militantes
valorosos que não se deixaram abater em nenhum
momento pelas adversidades, prisões e torturas não
só durante o regime do Estado Novo de Getulio
Vargas como nos sombrios anos da ditadura civil-mili-
tar que tomou conta do Brasil mais recentemente.

Esta cartilha, sintética por convicção, tem três capítu-


los, cada um contando a biografia essencial dos três
revolucionários que, se vivos, cumpririam 100 anos
de idade em 2012. Os capítulos, escritos por nossas
companheiras Maria Carolina Bissoto e Thais Barreto,
em linguagem clara, simples e didática, realçam os
momentos mais importantes da vida agitada e com-
prometida que tiveram.

Três vidas de militância: Apolônio, Frati e Grabois. 6


5 100 anos
Apolônio de Carvalho:
um lutador constante

Apolônio de Carvalho
Por Maria Carolina Bissoto

“Quem passa pela vida e não tem um


horizonte definido, não tem um ideal
pelo qual possa lutar e queira lutar, está
sujeito a pecha de mediocridade, por-
que não vive, passa apenas pela vida”.
Apolônio de Carvalho (1912-2005)

Apolônio de Carvalho nasceu em 09 de fevereiro de


1912 na cidade de Corumbá (Mato Grosso do Sul),
filho de Candido Pinto de Carvalho Junior e Inês
Andrade Neves. Apolônio cresce em uma casa na qual
há grande liberalidade e valores democráticos. Caçula
de seis filhos, e tendo somente um irmão, Deusdédit,
dezesseis anos mais velho que ele, Apolônio é muito
paparicado por sua mãe e irmãs.

Em 1926, aos 14 anos, transfere-se para Campo Grande


para terminar os estudos. Inicialmente, é aluno inter-
no, mas depois passa ao externato e mora com o seu
irmão, que residia naquela cidade com a família.

Apesar de crescer em uma família com forte vocação


política, ele não encerra a juventude com a política na
alma. Apolônio queria ser médico, mas sua mãe aler-
ta-o que a família não teria condições de arcar com os
seus estudos. Assim, sobra-lhe a carreira militar.

Em 1930, entra para a Escola Militar de Realengo, dois


meses antes de Luis Carlos Prestes lançar o manifesto
de repúdio à Aliança Liberal e sete meses antes de
Getúlio Vargas encabeçar o movimento da Revolução
de 1930. É um momento de crise republicana e
Apolônio fica chocado com os contrastes sociais,

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100 anos
os desmandos políticos e os descaminhos éticos que de 1935), a ANL, é posta na ilegalidade por meio de
existem no país. decreto do governo.

Na Escola Militar o anticapitalismo vai se instalando


em sua mente, mas como ele próprio escreve ainda é
um crítico isolado, pertencente ao Partido do Contra
(pc). O passo seguinte se dá com a ajuda de um dos
professores da Escola, um argentino chamado José
Ingenieros, que ensina ao aluno que não basta perce-
ber os males da sociedade, é necessário também pro-
por mudanças, sem ideal a vida banaliza-se. O aluno
aprende a lição, mas ainda não tem bagagem para
implementá-la. É um busca de um ideal que irá orien-
tá-lo dali em diante. Aliancistas presos. Rio de Janeiro,
1936.
No início de 1934, Apolônio forma-se na Escola de
Realengo e transfere-se para Bagé (Rio Grande do Sul) Em novembro de 1935 o levante contra o governo
como aspirante a oficial. Comandante de bateria no de Getúlio estoura nos quarteis. Primeiro, em Natal,
3º Grupo de Artilharia a Cavalo, é muito respeitado depois em Recife e em seguida no Rio de Janeiro.
pelos seus superiores, mas mantém uma grande con- Os quarteis de Bagé entram em regime de prontidão.
vivência com os seus subalternos. Naquele momen- Apolônio pergunta ao seu comandante, Costa Leite,
to, havia uma relativa liberdade política nas Forças um dos vice-presidentes nacionais da ANL, se não
Armadas, e Apolônio, morando numa república, tem deve fugir, pelo fato de ser um dos fundadores da
contato com uma ampla literatura, que vai lhe cons- ANL em Bagé e um conhecido ativista. Costa Leite
cientizando (Marx, Engels, Bakhunin, entre outros). lhe responde que não, mas alguns meses depois,
Apolônio é preso em seu quartel e logo é transferido
Mas em 1935, ele deixa de ser um mero espectador para outro Regimento em Bagé. Em abril de 1936,
da cena política nacional. Em suas primeiras férias, é cassada a sua patente e em maio, ele é transferido
viaja para Pelotas, onde fica noivo de Corina, uma para a Casa de Detenção no Rio de Janeiro.
vendedora. Em Pelotas conhece Moésia Rolim, capi-
tão do exército, ligado a Aliança Nacional Libertadora Apolônio fica preso até junho de 1937. Esse um ano
(ANL), e logo os dois estreitam ampla camaradagem. e meio de prisão, o conscientiza da importância da
Moésia fala-lhe muito da nova entidade, apresentan- mudança na sociedade, por meio das leituras e da
do o programa e tentando convencê-lo a ingressar convivência com os outros presos políticos, quando
nela. Apolônio achava a entidade demasiadamente saí da cadeia já tem um ideal revolucionário constru-
cor-de-rosa, pois as leituras já tinham o conscientiza- ído e só não se integrara ainda ao Partido Comunista
do sobre a ideia de uma sociedade mais justa e fra- (PC), em razão de uma diretiva do próprio partido
terna, mas ele ainda não compreendia os meios para que proibia recrutar alguém na cadeia.
alcançá-la. Apesar disso, Apolônio acaba ingressando
na ANL. Mas é surpreendido, quando com apenas Junho de 1937 traz mudanças na esfera política.
cem dias de existência (de 30 de março a 11 de julho O governador de São Paulo, Armando de Oliveira,

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9 100 anos
se candidata para presidente da República. Outra datilógrafo no Consulado brasileiro. Aos poucos,
importante mudança é a negação da Câmara do Apolônio se engaja em uma nova luta: a resistência
Deputados da prorrogação do estado de sítio. É o fim francesa. Em 1942, deixa o trabalho no Consulado e
do Estado Novo e assim, centenas de presos políticos começa a participar de ações armadas na Resistência.
são libertados e anistiados. Neste mesmo ano, conhece Renée, também envolvida
na resistência e os dois logo se apaixonam.
Ao sair da prisão, Apolônio é contactado por um mem-
bro do PC que lhe propõe sua ida a Espanha para lutar Em 1944, alguns meses depois da liberação de Paris,
na Guerra Civil Espanhola como brigadista. Apolônio nasce o primeiro filho do casal, René-Louis. Em dezem-
aceita. Em suas palavras, o que lhe levou a tomar esta bro de 1946, Apolônio e Renée desembarcam no Rio.
atitude “foi a solidariedade com um povo agredido e
traído pelos seus generais e a violação do direito inter- Em 1947, Apolônio é indicado como presidente provi-
nacional. Me atraiu a visão de um país governado por sório da União da Juventude Comunista (UJC).
uma frente ampla de forças políticas, mas com grande A UJC não chega a completar um mês de vida e tem
predomínio dos trabalhadores, operários e campone- sua licença cassada pelo Presidente Dutra. O mesmo
ses. A Frente Popular, que defendia uma democracia, ocorre com o Partido Comunista, que tem o seu regis-
apoiada no povo, trabalhava nas reformas que de ver- tro cassado em maio de 1947. A legalidade do Partido
dade importam: os camponeses recebiam terras, havia sido muito breve.
os operários geriam as empresas. Era um país de traba-
lhadores governado por trabalhadores”. Apolônio, Renée e os dois filhos, pois Raul havia nas-
cido em março daquele ano, vivem como clandestinos
Apolônio parte em julho de 1937 do porto do Rio de entre o Rio de Janeiro e São Paulo. A função era pro-
Janeiro em direção a Bahia, onde pegará o navio Bagé, curar apartamentos e casas para a reunião dos diri-
que lhe levará a Europa. Na Espanha é voluntário da gentes do partido. Para Renée, a vida era muito limi-
Brigada Internacional, e a luta é dura. Ao final da guer- tada, já que ela mal falava o português e não conhecia
ra, é promovido, assim como todos outros voluntários ninguém. Apolônio sempre evitou confrontos inter-
brasileiros (que não eram muitos), ao posto de capitão. nos com o partido, nunca reclamando das tarefas a
que era designado, mas naquele momento não era
Em fevereiro de 1939, Apolônio cruza os Pirineus na necessário a clandestinidade, já que não respondia a
fronteira com a França, juntamente com outros refu- processos e nem era perseguido, mas como militante
giados e são presos e encaminhados a um campo de disciplinado, acatou as ordens do partido.
concentração. Durante um tempo ele permanece em
Argelès-sur-Mer, um campo de concentração impro- Em 1953, Apolônio viaja para a União Soviética
visado, no qual lhe é oferecido uma manta e a única para fazer um curso de formação política. Em 1955,
proteção ao frio é cavar buracos na areia e se enfiar Renée e os filhos também viajam para lá. Na União
neles durante a noite. Depois é transferido para outro Soviética acompanham toda a repercussão causada
campo de concentração, do qual foge em direção a pelo Relatório Kruchtchev, que denuncia os crimes de
Marselha, em maio de 1940. Stalin, durante o XXI Congresso do Partido Comunista
da União Soviética (PCUS).
Em Marselha, como forma de sobrevivência, passa a
dar aulas de português, e também a trabalhar como A denúncia dos crimes de Stalin vai trazer grande

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11 100 anos
repercussão ao Partido Comunista no Brasil, fazendo Allende em setembro de 1973, sendo libertado em
com que haja um racha político, e em consequência, novembro do mesmo ano, quando viaja para Paris.
a divisão do PC em Partido Comunista Brasileiro
(PCB) e Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Em 1972, Apolônio se instala em Paris, após conse-
guir visto para a França. Em setembro de 1972, Raul e
Em 1964 ocorre um golpe militar que instaura um sua companheira, Isabel, saem da cadeia, após terem
período de repressão. Apolônio vai viver clandestino no cumprido suas penas, e também vão para Paris. É só
Estado do Rio de Janeiro, longe de sua família. Em 1967, depois da libertação do filho mais novo, que Renée
Apolônio deixa o PCB, formando em abril de 1968 viaja para Paris ao encontro do marido, já que duran-
o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), te vários anos só ia para lá nos períodos de férias.
crítico a posição adotada pelo PCB após o golpe militar, Apolônio desejava voltar ao Brasil para debater com
do qual Apolônio se torna secretário-geral. Seus dois a direção do PCBR alternativas sobre os métodos da
filhos, René-Louis e Raul, também integram o PCBR. guerrilha, mas sua companheira não concordava com
Renée, naquele momento, era contra a luta armada, o regresso, pois achava que era uma missão suicida.
pois achava que não havia condições dela prosperar.
Durante o período de exílio pariense, Renée traba-
Em 1970 ocorrem várias prisões de militantes. Mário lha em uma biblioteca e com traduções, enquanto
Alves e Apolônio são presos em janeiro de 1970 no Apolônio se dedica às ações de solidariedade a exila-
Rio de Janeiro, Mário é assassinado sob torturas e dos das ditaduras da América do Sul.
Apolônio é violentamente torturado. Os seus dois
filhos também são presos no mesmo ano. Em junho, Eles permanecem em Paris até outubro de 1979, só
juntamente com mais trinta e nove prisioneiros é tro- retornando ao Brasil após a decretação da Lei de Anistia.
cado no sequestro do embaixador alemão, Ehrenfried
von Holleben, e embarca para a Argélia. Ao retornar ao país, ele conhece uma nova esquerda
que está se formando e participa da formação do
Em 1971, seu filho, René-Louis, é um dos presos polí- Partido dos Trabalhadores (PT), sendo seu primeiro
ticos trocados no sequestro do embaixador suíço, afiliado. Em fevereiro de 1980 é nomeado vice-presi-
Giovanni Bucher, embarcando para o Chile, onde será dente do PT, só se afastando da direção do partido
preso novamente após o golpe que destituiu Salvador em 1987, por recomendação médica.

Apesar das limitações de saúde e da idade, Apolônio


prossegue como militante.

Faleceu em 23 de setembro de 2005, aos 93 anos.


Deixou um legado de um herói de três pátrias:
Espanha, França e Brasil. Uma constante luta pelo
Entre os presos políticos trocados ideal de um mundo melhor e mais justo. Ele não pas-
no sequestro do embaixador sou somente pela vida. Ele viveu, pois um ideal sem-
alemão pre o moveu.

Três vidas de militância: Apolônio, Frati e Grabois. 14


13 100 anos
REFERÊNCIAS

BLOG AMIGOS DO APOLÔNIO – Comemorando os


100 anos do nascimento de Apolônio de Carvalho.
Disponível em:< http://amigosdoapolonio.blogspot.
com.br/>

CARVALHO, Apolonio de. Vale a Pena Sonhar. Rio de


Janeiro: Rocco, 1997.

GOYZUETA, Verônica. Apolônio de Carvalho. Jornal


Apolônio assinando a ficha nº1 ABC. Sevilla. 21 de agosto de 2005.
do PT. São Paulo, 1980
OTAVIO, Chico. Viúva lança livro com histórias de
Apolônio, lendário comunista. Jornal O Globo. 04 de
fevereiro de 2012. Disponível em: < http://oglobo.
globo.com/pais/viuva-lanca-livro-com-historias-
de-apolonio-lendario-comunista-3882728>.

Maria Carolina Bissoto é advogada, Especialista em


Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, membro do Núcleo de
Preservação da Memória Política.

Apolônio e Renée. Rio de Janeiro,


2002

Três vidas de militância: Apolônio, Frati e Grabois. 16


15 100 anos
A vida política
de Rolando Frati
Por Maria Carolina Bissoto

Filho de uma família de anarquistas de origem italiana,


Rolando Frati, o mais velho de 06 irmãos, nasce na cida-
de de São Paulo no dia 21 de janeiro de 1912, começa
sua militância no movimento operário muito cedo.

Em 1918, a família se transfere para a cidade de Pilar


(hoje Mauá) e em 1922 para Santo André. “Comecei
a trabalhar aos 10 de idade, meu primeiro empre-

Rolando Frati
go foi o de lixador em uma marcenaria, depois fui
tecelão na Kovarick, depois office boy na mansão
do inglês Charles Murray, representante da Maison
Rothschild no Estado de São Paulo, muito tempo
depois é que entendi o porquê da incessante roma-
ria de deputados, governadores e tantos outros à
mansão..., depois na Rhodia Química, lá fui demitido
com cerca de outros 200 trabalhadores por conta de
uma greve. Desempregado, um amigo me levou para
trabalhar em uma pequena fábrica de ladrilhos onde
conheci tipos muito interessantes como o comunis-
ta Chiquinho Corsa que me deu um livro que me
influenciou muito: Cuestiones del Leninismo, edição
feita em Buenos Aires. Eu não entendia espanhol mas
sabia ler bem o português, meu avó, o anarquista
Pietro Frati, havia me ensinado”1.

Em 1937 é eleito presidente do Sindicato dos


Trabalhadores na Construção Civil de São Paulo e
tem seu pedido de ingresso no Partido Comunista
Brasileiro (PCB) aceito, o partido estava na ilegalida-
de. Pouco depois, passa a integrar o “Bureau Sindical
1 Anotações para o livro do Comitê Regional” do PCB, também clandestino e
“Memórias de um sindicalista dos sediado em São Paulo, assumindo a responsabilidade
anos trinta”, de Rolando Frati, acer- pela política sindical do partido na região. Em 1940
vo da família. é eleito presidente da Federação dos Sindicatos de

Três vidas de militância: Apolônio, Frati e Grabois. 18


100 anos
Trabalhadores na Construção Civil do Estado de São Em 1967 é um dos expulsos do PCB durante o
Paulo, cargo que ocupa por pouco tempo, pois, devido VI Congresso. Neste mesmo ano, “na companhia de
a greves em várias cidades, o Ministério do Trabalho líderes sindicais e operários como Agonalto Pacheco,
destitui a diretoria e nomeia um interventor. Osvaldo Lourenço e Raphael Martinelli funda, com
Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira e cente-
Em 1941, atendendo ao pedido do partido, deixa o nas de outros companheiros desiludidos e desconten-
Sindicato da Construção para transferir-se a Santo tes com a linha política imposta pelo grupo dirigente,
André para exercer o cargo de Secretário Político até e seus meios antidemocráticos, a Ação Libertadora
1945, ano em que o PCB conquista a legalidade, quan- Nacional (ALN)”4.
do volta novamente para São Paulo para integrar a
“Seção de Organização do Comitê Estadual” do PCB. Martinelli afirma que “eles foram expulsos do Partido
Com o início da Guerra Fria reassume a direção do porque tinham uma posição crítica ao Comitê Central,
partido em Santo André. Em 1950 é mais uma vez pois não concordavam com o fato do partido não ter
transferido pelo Partido, desta vez para Santos, “cida- resistido ao golpe de 1964, sendo que não teria havido
de com grande tradição revolucionária, cujo porto uma resistência porque o partido não educou os qua-
concentrava 30 mil operários. Nesta cidade, junto dros revolucionariamente para enfrentar a ditadura.
com Capistrano da Costa e Luiz Ghigliardini, ambos Essa crítica foi se acumulando nacionalmente, foi tenta-
assassinados pela ditadura em 1974, reorganizo o par- do derrubar o Comitê Estadual do Partido de São Paulo
tido que havia sido seriamente golpeado pela onda e o Frati sempre participou dessa luta”.
reacionária desencadeada pela Guerra Fria”2.
Luiz Henrique de Castro Silva, referindo-se ao
Já como membro do Comitê Central, em 1953 vai a Agrupamento Comunista de São Paulo afirma no
União Soviética para participar de cursos de formação livro O Revolucionário da Convicção: vida e ação de
na Escola de Quadros do PCUS, de onde retorna deci- Joaquim Câmara Ferreira, “(...) que essa dissidência
didamente anti-estalinista e com posições bastante não era ainda a ALN, e se verificarmos os nomes dos
críticas ao processo soviético, criando atritos com a que faziam parte do grupo, veremos que se tratava
linha política oficial. Em 1957 volta a dirigir o partido de um núcleo clássico de comunistas: Rolando Fratti
em Santo André, “que já é uma região com um milhão (sic) (líder sindical de Santos, operário), Rafael (sic)
e duzentos mil habitantes e das mais vermelhas do Martinelli (ferroviário e líder sindical), João Adolfo da
país, basta dizer que nas eleições municipais de 9 de Costa Pinto (jornalista e dirigente estadual do PCB, foi
novembro de 1947, elegemos prefeito um operário o pai da ideia de tomar o partido em São Paulo e der-
marceneiro, Armando Mazzo, e 13 vereadores dos 17 rubar a direção prestista para poder assentar as bases
que compunham a Câmara! 3. para a adoção da luta armada contra a ditadura mili-
tar), Câmara Ferreira, Farid Helou (arquiteto e secretá-
Com o mesmo espírito crítico que sempre orientou rio-geral do PCB em Goiás), Osvaldo Lourenço (líder
sua trajetória política na esquerda brasileira, com sindical), Argonauto (sic) Pacheco da Silva (dirigente
Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira e muitos municipal do PCB)”.
outros participa ativamente da luta interna no PCB
que resultaria na criação do Agrupamento Comunista 2 idem Martinelli afirma que mesmo na ALN, Frati tinha uma
de São Paulo. posição crítica sobre o papel da organização. Ele era
3 idem 4 idem contra a luta armada, não fazia parte de ações.

Três vidas de militância: Apolônio, Frati e Grabois. 20


19 100 anos
Ele tinha uma ideologia, uma formação, o que não armadas e a retomada do trabalho de massas, uma das
ocorria com os quadros mais jovens. tarefas às quais se dedicou durante o exílio no Chile.

Em 08 de março de 1969, aos 57 anos, sofre sua 12ª Chega ao Chile em 1971, onde vive até o golpe de
prisão política, sendo que em setembro é trocado estado militar que derrubou o governo democratica-
com 14 outros prisioneiros políticos pelo embai- mente eleito de Salvador Allende a 11 de setembro de
xador norte-americano no Brasil, Charles Burke 1973 e, assim como milhares e milhares de chilenos e
Elbrick, que havia sido sequestrado por um coman- de latino-americanos (ali já exilados das ditaduras de
do da Dissidência da Guanabara (DI-GB) e da Ação seus países), busca refúgio na Embaixada da Itália.
Libertadora Nacional (ALN). Banidos do território
nacional são levados por um avião da Força Aérea Na Itália, vive entre Roma e Reggio Emilia (a chamada
Brasileira, o Hércules 56, rumo ao México. cidade vermelha, ex-bastião do Partido Comunista
Italiano) e “mantém relações estreitas com o PCI e
se aproxima das teses do euro-comunismo, princi-
palmente no que toca à defesa da autonomia dos
povos na formulação e busca de caminhos próprios
ao socialismo, dos movimentos cooperativos como
alternativa ao capitalismo selvagem. Durante o exílio
italiano, trabalha em uma Central de Cooperativas;
percorre não só a Itália, mas a Europa participando de
conferências, seminários e debates sobre a ditadura
Rolando Frati entre treze presos brasileira a convite de centrais sindicais, partidos e
políticos libertados no sequestro universidades; e articula a criação do Núcleo Europeu
do embaixador americano. Frati é o de Apoio à Oposição Sindical no Brasil, que, com o
primeiro em pé à direita da foto. apoio político-financeiro de confederações sindicais
europeias, promove a vinda de delegações do Novo
Do México, Rolando Frati segue para Cuba, onde Sindicalismo a diversos países da Europa” 5. É também
começa a organizar, com Carlos Zarattini, a Tendência com este espírito que participa como uma das teste-
Marxista Leninista da ALN, que fazia a crítica ao milita- munhas no Tribunal Bertrand Russell II, iniciativa do
rismo da organização, propunha o término das ações senador socialista italiano Lelio Basso, com a intenção
de julgar os crimes das ditaduras latino-americanas.
5 Anotações de Sílvio da Rin
sobre Rolando Frati, baseada em “De volta ao Brasil com a Anistia em 1979, volta a
pesquisas e depoimentos de Rui e atuar junto a sindicatos e oposições sindicais, por
Ludmila Frati (acervo da família), meio de conferências, cursos de formação, publica-
para o livro “Hércules 56 - ção de artigos/ensaios em jornais e revistas sindicais,
O sequestro do embaixador ame- palestras e cursos de formação, contribuindo nas
ricano em 1969”, de Sílvio Da Rin, formulações que dão base ao novo sindicalismo,
Frati e os outros presos políticos publicado pela Jorge Zahar Editora principalmente no que diz respeito à concepção
libertados conversam com Fidel de autonomia sindical. Participa da CONCLAT e
Castro 6 idem da criação da CUT” 6.

Três vidas de militância: Apolônio, Frati e Grabois. 22


21 100 anos
Rolando Frati foi casado duas vezes: a primeira com REFERÊNCIAS
Carmen Savietto7, com quem teve dois filhos, Rui e
Regis, depois com Wanda Gerbi, com quem teve uma CASTRO, Luiz Henrique de Castro. O Revolucionário
filha, Ludmila. Por caminhos e períodos diferentes, da Convicção: vida e ação de Joaquim Câmara Ferreira.
foram para o exílio voltando a se reencontrar, todos, Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2010.
somente em 1974 8.
GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas. 6ª edição.
“Viveu intensamente e sem sofrimento o exílio, tiran- 2ª impressão. São Paulo: Editora Ática, 2003.
do proveito de todas as ocasiões para continuar uma MARTINELLI, Raphael. Entrevista concedida à autora
trajetória de pesquisa intelectual e humana, sempre em 09 de julho de 2012.
leu e escreveu muito, e, sobretudo nunca deixou de
acreditar que retornaria ao Brasil para participar da MEDICI, Ademir. Rolando Frati. Diário Grande ABC.
reconstrução da democracia. Pai exigente e brinca- 30 de abril de 1991. Disponível em: < http://virtijo.
lhão, afetuoso e profundamente ético; um avô profun- blogspot.com.br/2010/06/rolando-frati.html>.
damente encantado com os dois netos que conheceu,
Leonardo e Julia. Passou aos três filhos a paixão pela ROLLEMBERG, Denise. Exílio: entre raízes e radares.
boa briga e o espírito crítico. Um certo ideal anárqui- Rio de Janeiro: Record, 1999.
co, herança das lutas e dos ideais vindos das gerações
anteriores. Faleceu em 17 de abril de 1991, na cidade Maria Carolina Bissoto é advogada, Especialista em
de Santos, aos 79 anos 9. Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, membro do Núcleo de
Preservação da Memória Política.

7 Carmen Savietto foi a primeira


mulher eleita vereadora em Santo
André, junto com outros 12 verea-
dores e o prefeito no ano de 1947.
Nunca tomaram posse, foram
todos cassados pelo Congresso em
janeiro de 1948. Carmen faleceu
em julho de 1956.

8 Informações concedidas por Mila


Frati em julho de 2012.

9 Informações concedidas por Rui


Frati em e-mail datado de 11 de
julho de 2012.

Três vidas de militância: Apolônio, Frati e Grabois. 24


23 100 anos
A trajetória de
Maurício Grabois
Por Thaís Barreto

Regimes ditatoriais costumam reunir os mais perver-


sos atos contra a humanidade. Há uma característica
inegável, a ordem para matar quem resiste. A morte

Maurício Grabois
de um combatente vem carregada de pesos significa-
tivos, entre eles, a preservação da memória.

Este é o caso de Maurício Grabois. Sua história cru-


zou caminhos importantes da resistência à ditadura
militar e quanto à luta pela democracia. Vale conhecê
-lo desde o início.

O nascimento, no seio da sua família, já se mostra que


a luta começou cedo na vida de Maurício Grabois.
Era filho de uma família pobre de imigrantes judeus
que fugiram da Europa Oriental por conta da defla-
gração de uma violenta onda de anti-semitismo.

Decidiram morar no Brasil e Maurício nasce em


Salvador, na Bahia, no dia 02 de outubro de 1912.
Chegou a estudar com Carlos Marighella no Colégio
da Bahia, formou-se em 1929 e no início de 1930
mudou-se para o Rio de Janeiro.

Fez curso preparatório para ingressar na Escola


Militar do Realengo (hoje sede da 5ª Brigada de
Cavalaria Blindada), conseguiu entrar em 1931.
Ali conheceu a rigidez, mesmo dedicado, acabou não
conseguindo passar em uma prova e foi rebaixado
como soldado raso.

Mas daí que começou seu ingresso na política,


na tropa em que fora designado conheceu militantes
do Partido Comunista do Brasil, cuja sigla era (PCB).
Em 1933, ao tornar-se ativo organizador do Partido,

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acabou expulso das Forças Armadas. consegue também eleger 14 deputados federais, entre
eles, Maurício Grabois, o segundo mais votado.
Começou uma dedicação ainda mais intensa e em
1934 destacou-se como responsável pela agitação e Há muitas pessoas que conviveram com Grabois e
propaganda da Juventude Comunista. Viveu a cons- destacaram sua atuação. Jorge Amado, que foi seu
trução ideológica do partido que passava por diversas colega na bancada Constituinte de 1947, escreveu
influências, desde lideranças do comunismo pelo sobre o amigo e o destacou como o de maior vocação
mundo ou referências literárias. parlamentar, um "brilhante deputado", frisou.

A União Soviética era um das principais influências do A atuação de Maurício Grabois na Assembleia
Partido Comunista do Brasil (PCB). Diversas forças e Constituinte rendeu importantes debates em torno
experiências precisariam ser unidas para enfrentar o da defesa dos interesses do povo. Os parlamentares
regime político em que vivia o Brasil, com destaque do PCB apresentaram emendas em defesa da demo-
para os anos sob o comando de Getúlio Vargas. cracia, direitos trabalhistas e sociais, liberdades políti-
cas, entre outros.
Maurício Grabois atuou incisivamente para manter
ativa a imprensa do Partido Comunista do Brasil, além
de escrever, também era responsável por cursos de
formação política. Isso esteve em suas prioridades.

Destaca-se, por exemplo, o jornal A Classe Operária,


que, durante muito tempo, serviu de porta-voz para
as ideias do partido e amplamente conhecido pela
classe operária. O jornal foi perseguido várias vezes
durante todo o tempo.

Da mesma forma, Maurício Grabois foi perseguido e


preso diversas vezes. Nunca recuou, trabalhava clan-
destinamente para manter o PCB em funcionamento.
A Era Vargas foi impiedosa com o partido.

Mas o desafio movia os militantes do PCB, houve


um tempo em que criaram a Comissão Nacional
de Organização Provisória (CNOP), Maurício
Grabois era um dos dirigentes, ao lado de Amarílio
Vasconcelos, João Amazonas, Pedro Pomar, Diógenes
Arruda, entre outros. Maurício Grabois e Pedro Pomar

Com a deposição de Vargas, o PCB conseguiu registrar- Em 1947, o PCB tem novamente o seu registro cassa-
se novamente e participou das eleições. Nesse momen- do pelos membros do Superior Tribunal Eleitoral.
to, Luiz Carlos Prestes elegeu-se senador e o partido Os parlamentares foram perseguidos e Grabois usou

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a palavra da tribuna da Câmara dos Deputados para do Comitê Cantral do PCdoB – ao lado de João
criticar os que articularam a cassação dos mandatos Amazonas, Arroyo e Elza Monerat. Passou a viver
da bancada comunista. Todos os deputados tiveram clandestinamente e após deflagração do Golpe de 64,
o mandato cassado em 1948. o PCdoB começou a articulação da Guerrilha
do Araguaia.
Criticou também a forte presença do imperialismo
americano nas decisões políticas do país e o favore- Grabois tornou-se comandante desde o início. Lutar ao
cimento aos latifundiários. Em paralelo, continuou lado dos oprimidos foi a decisão do partido e diversos
escrevendo diversos artigos que mostravam seus estu- membros migraram para a mata fechada da floresta.
dos e suas firmes posições. Ficou durante um ano na
União Soviética, retornando ao país em 1953. A vida na capital foi ficando cada vez mais perigosa e
no interior do Brasil os militares atuavam feito cães fare-
A partir de 1956 começou a surgir uma séria diver- jadores para exterminar quem ousou resistir. As campa-
gência no interior do PCB sobre os caminhos da revo- nhas do Araguaia mostram a covardia da força militar.
lução brasileira. A maioria passou a apostar na linha
pacífica e a minoria na via revolucionária. Grabois se
encontrava no segundo grupo. Por isso, em 1958 é reti-
rado da Comissão Executiva do PCB e no 5º Congresso
(em 1960) não é mais reconduzido ao Comitê Central.

Apesar disso, continuou atuante e protagonizou sérias


discussões sobre os rumos do Partido, até o momento
que os membros da nova direção partidária decidi-
ram mudar o programa, os estatutos e o nome do
Partido, que passou a se chamar Partido Comunista
Brasileiro. Daí há o rompimento.

A conclusão de Grabois e quem o acompanhou foi


de reorganizar o Partido Comunista do Brasil, que
ganhou nova sigla (PCdoB). Na época foram convida-
dos por Fidel Castro para ir a Cuba e participar do Dia
Internacional dos Trabalhadores.
Maurício Grabois e Barão de Itararé
Os desafios nunca acabavam, há cortes de início e
fim do período do regime ditatorial. Todavia, obser- Em um relatório do exército, Maurício Grabois ficou
vando a trajetória de Maurício Grabois mostra-se que conhecido como principal liderança da Guerrilha do
a interdição nunca findou. A trajetória dele marca a Araguaia. O exército não descansou, mobilizando
importância do período de apuração definido pela cerca de 3 mil pessoas, entre soldados e policiais, para
Comissão Nacional da Verdade. caçar um por um dos combatentes. Ele soube da
morte do seu filho, André Grabois, que também esta-
Um período explica o outro. Grabois era membro va em combate.

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REFERÊNCIAS:
Acabou assassinado em 25 de dezembro de 1973,
aos 61 anos, e seu corpo está desaparecido. Morreu ao BERTOLINO, Osvaldo. Maurício Grabois - Uma vida
lado de companheiros durante a Operação Sucuri. de combates: da batalha de ideias ao comando da
A articulação foi liderada pelo major Sebastião Guerrilha do Araguaia. Anita Garibaldi: Instituto
Rodrigues de Moura, o Curió, que está vivo. O Brasil Maurício Grabois, 2004.
agora luta para que seja feita a Justiça de Transição e
Curió já foi denunciado pelo Ministério Público Federal. BARRETO, Thaís. Guerrilha do Araguaia é debatida
no Memorial da Resistência em SP. Disponível em:
Pelo visto, a história não acabou. http://carosamigos.terra.com.br/index/index.php/
cotidiano/995-guerrilha-do-araguaia-e-debatida-no-
memorial-da-resistencia-em-sp

BICALHO, Luiz de Carvalho. PCB: Processo de


Cassação do registro (1947). Ed. Aldeia Global, Belo
horizonte, 1980.

AMADO, Jorge. Memória de Maurício Grabois.


Artigo disponível em: http://grabois.org.br/portal/
institucional/institucional.php?id_sessao=20&id_
texto=18 (visita: 10/7/2012)

Thaís Barreto é jornalista, membro do Núcleo de


Preservação da Memória Política e do Instituto
Zequinha Barreto.
Autora do Blog: http://thaisbarreto.com/

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