Tres Vidas de Militancia
Tres Vidas de Militancia
Tres Vidas de Militancia
Realização:
Apresentação 5
Apolônio de Carvalho 7
Ronaldo Frati 17
Maurício Grabois 25
Apolônio de Carvalho
Por Maria Carolina Bissoto
Rolando Frati
go foi o de lixador em uma marcenaria, depois fui
tecelão na Kovarick, depois office boy na mansão
do inglês Charles Murray, representante da Maison
Rothschild no Estado de São Paulo, muito tempo
depois é que entendi o porquê da incessante roma-
ria de deputados, governadores e tantos outros à
mansão..., depois na Rhodia Química, lá fui demitido
com cerca de outros 200 trabalhadores por conta de
uma greve. Desempregado, um amigo me levou para
trabalhar em uma pequena fábrica de ladrilhos onde
conheci tipos muito interessantes como o comunis-
ta Chiquinho Corsa que me deu um livro que me
influenciou muito: Cuestiones del Leninismo, edição
feita em Buenos Aires. Eu não entendia espanhol mas
sabia ler bem o português, meu avó, o anarquista
Pietro Frati, havia me ensinado”1.
Em 08 de março de 1969, aos 57 anos, sofre sua 12ª Chega ao Chile em 1971, onde vive até o golpe de
prisão política, sendo que em setembro é trocado estado militar que derrubou o governo democratica-
com 14 outros prisioneiros políticos pelo embai- mente eleito de Salvador Allende a 11 de setembro de
xador norte-americano no Brasil, Charles Burke 1973 e, assim como milhares e milhares de chilenos e
Elbrick, que havia sido sequestrado por um coman- de latino-americanos (ali já exilados das ditaduras de
do da Dissidência da Guanabara (DI-GB) e da Ação seus países), busca refúgio na Embaixada da Itália.
Libertadora Nacional (ALN). Banidos do território
nacional são levados por um avião da Força Aérea Na Itália, vive entre Roma e Reggio Emilia (a chamada
Brasileira, o Hércules 56, rumo ao México. cidade vermelha, ex-bastião do Partido Comunista
Italiano) e “mantém relações estreitas com o PCI e
se aproxima das teses do euro-comunismo, princi-
palmente no que toca à defesa da autonomia dos
povos na formulação e busca de caminhos próprios
ao socialismo, dos movimentos cooperativos como
alternativa ao capitalismo selvagem. Durante o exílio
italiano, trabalha em uma Central de Cooperativas;
percorre não só a Itália, mas a Europa participando de
conferências, seminários e debates sobre a ditadura
Rolando Frati entre treze presos brasileira a convite de centrais sindicais, partidos e
políticos libertados no sequestro universidades; e articula a criação do Núcleo Europeu
do embaixador americano. Frati é o de Apoio à Oposição Sindical no Brasil, que, com o
primeiro em pé à direita da foto. apoio político-financeiro de confederações sindicais
europeias, promove a vinda de delegações do Novo
Do México, Rolando Frati segue para Cuba, onde Sindicalismo a diversos países da Europa” 5. É também
começa a organizar, com Carlos Zarattini, a Tendência com este espírito que participa como uma das teste-
Marxista Leninista da ALN, que fazia a crítica ao milita- munhas no Tribunal Bertrand Russell II, iniciativa do
rismo da organização, propunha o término das ações senador socialista italiano Lelio Basso, com a intenção
de julgar os crimes das ditaduras latino-americanas.
5 Anotações de Sílvio da Rin
sobre Rolando Frati, baseada em “De volta ao Brasil com a Anistia em 1979, volta a
pesquisas e depoimentos de Rui e atuar junto a sindicatos e oposições sindicais, por
Ludmila Frati (acervo da família), meio de conferências, cursos de formação, publica-
para o livro “Hércules 56 - ção de artigos/ensaios em jornais e revistas sindicais,
O sequestro do embaixador ame- palestras e cursos de formação, contribuindo nas
ricano em 1969”, de Sílvio Da Rin, formulações que dão base ao novo sindicalismo,
Frati e os outros presos políticos publicado pela Jorge Zahar Editora principalmente no que diz respeito à concepção
libertados conversam com Fidel de autonomia sindical. Participa da CONCLAT e
Castro 6 idem da criação da CUT” 6.
Maurício Grabois
de um combatente vem carregada de pesos significa-
tivos, entre eles, a preservação da memória.
A União Soviética era um das principais influências do A atuação de Maurício Grabois na Assembleia
Partido Comunista do Brasil (PCB). Diversas forças e Constituinte rendeu importantes debates em torno
experiências precisariam ser unidas para enfrentar o da defesa dos interesses do povo. Os parlamentares
regime político em que vivia o Brasil, com destaque do PCB apresentaram emendas em defesa da demo-
para os anos sob o comando de Getúlio Vargas. cracia, direitos trabalhistas e sociais, liberdades políti-
cas, entre outros.
Maurício Grabois atuou incisivamente para manter
ativa a imprensa do Partido Comunista do Brasil, além
de escrever, também era responsável por cursos de
formação política. Isso esteve em suas prioridades.
Com a deposição de Vargas, o PCB conseguiu registrar- Em 1947, o PCB tem novamente o seu registro cassa-
se novamente e participou das eleições. Nesse momen- do pelos membros do Superior Tribunal Eleitoral.
to, Luiz Carlos Prestes elegeu-se senador e o partido Os parlamentares foram perseguidos e Grabois usou