1599-Texto Do Artigo-4481-1-10-20211215

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 9

PLANEJAMENTO DE ENSINO UMA AÇÃO

NECESSÁRIA
Carmesina Ribeiro Gurgel1

RESUMO ABSTRACT
Estetrabalhoapresentaumavisãoabrangentesobreumdosinstrumentosimportante Theplanningofteaching,afundamentalcomponenttoorganizationandmanagement
parasubsidiaraaçãodocente,apartirdepesquisasbibliográficasedaprópria
ofpedagogicword,becauseforeseesneeds,rationalizesways,human,resourcesand
experiênciadocotidianodasaladeaulanaqualidadedeprofessora.Oplanejamento
deensinoéumcomponentefundamentalparaaorganizaçãoegestãodotrabalho materials,estimatesreachofobjectivesondefinedternsandproportionstheevaluaction
pedagógico,porqueprevênecessidades,racionalizameios,recursoshumanose ofteachingsituations.Tratingofclass-room,wehavetheplaneofdisciplineorprogram
materiais,estimaoalcancedosobjetivosemprazosdefinidos,alémdepropiciara oflearning,thatmustbeelaborated accordingtoorientingprinciplesofpedagogic
avaliaçãodassituaçõesdeensino.Emsetratandodasaladeaula,tem-seoplanode projectofthecourseandmustbeKnowthefollowingitens:ement,objectives
disciplinaouprogramadeaprendizagem,quedeveserelaboradoconformeosprincípios
(competencesandskills),methodology,programaciecontent,criterions,mechanisms,
orientadoresdoprojetopedagógicodocurso,devendoconstarosseguintesitens:ementa,
objetivos(competênciasehabilidades),metodologia,conteúdoprogramático,critérios, evaluationinstrumentsandbibliograpry(basicandcomplementar).Onlearning
mecanismoseinstrumentosdeavaliação,ebibliografia(básicaecomplementar).No program,theobjectivesarenotonlyinordertotheteachingbutalsotothetargetsthat
programadeaprendizagem,osobjetivosnãosãosomenteosfinsemrelaçãoaoensino, proportiondetaledespecificationtotheconstructionanduseofevaluactiontechniques.
mastambémosalvosqueproporcionamespecificaçãodetalhadaparaaconstruçãoe Therearesituationsnotconsideredteachingobjectivesand,sometimes,arecontemplated
usodetécnicasdeavaliação.Hásituaçõesquenãosãoconsideradasobjetivosdeensino
aswell:itensofprogrammaticcontent;declarationofeducativeintentionsofteachers
eque,àsvezes,sãocontempladascomotal:itensdeconteúdoprogramático;declaração
dasintençõeseducativasdosprofessores;açõesouatividadesdosprofessores;descrição actionsorativictiesofteachers,deseriptionofteachersactions;teachingactivities;
dasaçõesdosprofessores;atividadesdeensino;conteúdostranscritosemformade transcriptedcontentsinformofaction.Dependiungoftheworkingproposeofeach
ação.Portanto,dependendodapropostadetrabalhodecadaprofessor,oensinopode teacher,theteachingcanbeindividualizedorsocialized.
serdecaráterindividualizadoeousocializado.
Keywords:Planning,Teaching,LearningandEvaluation.
Palavras-chave:Planejamento,Ensino,AprendizagemeAvaliação.

Quando há uma necessidade, emerge um plano,


Quando há uma finalidade, surge um planejar,
Quando existem metas a cumprir, exige um planejamento.

Carmesina Ribeiro Gurgel

O ato de planejar é uma preocupação que en- se um elemento constituinte do verdadeiro ato de
volve toda ação ou qualquer empreendimento pes- planejar. Nesta perspectiva, a necessidade de plane-
soal e profissional. Menegolla(1999), ao falar de pla- jar é a sua própria evidência e justificativa.
nejamento, faz uma oportuna descrição acerca da Planejar o ensino é muito importante, tendo
discussão que este texto propõe. Para este autor, em vista a necessidade de um balanço permanente
em nosso cotidiano, estamos sempre pensando so- entre objetivos delineados e o ritmo dos alunos,
bre o que fizemos ou não; sobre o que estamos fa- mesclando aulas expositivas, discussões, tarefas
zendo ou que pretendemos. Neste sentido, planejar coletivas e individuais, visto que os conteúdos ne-
passa a ser uma exigência do ser humano, que se cessitam ser analisados criticamente em sua essên-
justifica por si só, na medida em que o pensar torna- cia e significância para a formação proposta. O plane-

* Recebido: setembro de 2003


* Aceito: novembro de 2003
1
Licenciada em Pedagogia. Especialista em Planejamento Educacional. Mestra em Avaliação Educacional pela Universidade Federal do Ceará.
Doutora em Educação com área de concentração em Avaliação Educacional pela Universidade Federal do Ceará. Professora Adjunta da Universidade
Federal do Piauí e do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira. Presidente da Comissão de Avaliação Institucional da Universidade
Federal do Piauí. Consultora da Faculdade Santo Agostinho.

Linguagens, Educação e Sociedade Teresina Nº 9 59 - 67 Jan./Dez./2003


jamento de ensino revela múltiplos direciona-mentos, • É a determinação das mais eficazes técnicas e ins-
principalmente os vinculados ao processo avaliativo trumentos de avaliação para verificar o alcance dos
das aprendizagens. objetivos em relação a aprendizagem.
Por isso, o professor é inserido no proces-
so de avaliar, mesmo antes de iniciar o ano letivo, 1.2 Importância
porque, ao elaborar o plano de disciplina ou o
programa de aprendizagem, ele define o tipo de A importância do planejamento de ensino se jus-
prática que orientará sua ação com base nos ins- tifica pela sua própria necessidade e propicia:
trumentos avaliativos que irá definir para avaliar
as aprendizagens. Sobre este aspecto, é essencial • Evitar a improvisação, repetição e rotina;
a formação em avaliar aprendizagens, posto que • Melhorar a integração com as mais diversas
os entendimentos históricos, sociológicos e experiências de aprendizagem;
epistemológicos da avaliação conduzem à refle-
xão sobre o trabalho pedagógico, redefinindo o • Dar continuidade ao ensino com maior
interação;
cenário educativo e as relações entre professores
e alunos. (Gurgel, 2002). • Ter uma visão global da ação docente;
• Definir objetivos que atendam os reais inte-
1 Programa de disciplina ou de aprendizagem
resses do aluno;
O momento da elaboração do plano de ensi- • Possibilitar seleção e organização dos con-
no ou do programa de aprendizagem é a fase mais teúdos;
importante da organização do trabalho pedagógi- • Organizar os conteúdos de forma lógica;
co, pois é no planejamento pedagógico que o pro-
fessor terá maiores condição de prever as necessi- • Selecionar os melhores procedimentos;
dades de racionalização dos meios, dos recursos • Agir com segurança na sala de aula;
humanos e materiais, que visem alcançar de objeti-
vos em prazos e etapas definidas, mas também, • Ajudar professores e alunos a tomarem de-
porque é o momento que propicia a discussão e cisões de forma cooperativa e
definição das práticas avaliativas condizentes com participativa.
as especificidades de cada programa de disciplina.
1.2 Características
No planejamento da disciplina, faz-se necessário
prever o alcance de atitudes comportamentais, a
O Programa de disciplina deve apresentar as
partir do perfil do aluno, estabelecido no projeto
seguintes características:
curricular. Neste sentido, o planejamento passa a
ser um instrumento básico de todo o processo
educativo, que nos permite indicar as direções a • Objetividade: expressar com objetividade
seguir. o que quer atingir, a partir da realidade objetiva dos
alunos, professores e Instituição.
1.1 Conceitos • Funcionalidade: tendo em vista que o pla-
no é um instrumento orientador para o professor
O conceito de planejamento de ensino pode e para o aluno, ele deve ser mais funcional, para
ser representado nas seguintes considerações: que possa ser executado com facilidade e objeti-
vidade.
• É um instrumento para sistematizar a ação
concreta do professor, a fim de que os objetivos da • Flexibilidade: tornar o plano mais realista
disciplina sejam atingidos; e possível de ser adaptado às novas situações não
previsíveis.
• É a previsão dos conhecimentos e conteú- • Simplicidade: o plano é o meio para simpli-
dos que serão desenvolvidos na sala de aula; ficar o agir, tornando-o mais lógico e coerente.

Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, nº 9, Jan./Dez./2003


• Utilidade: dependerá da possibilidade de te, conhecer a realidade do aluno para o qual se des-
transformação no aluno. O plano só será válido se tina o plano, as condições reais da instituição para
for importante e útil ao aluno. propor as competências e habilidades a serem
construídas a partir dos conteúdos propostos, bem
como as metodologias de ensino e a sistemática de
1.3 Elementos constituintes do plano de ensino/
avaliação.
aprendizagem
1.5 Objetivos de aprendizagem ou construção de
Um programa de aprendizagem ou de discipli-
na deve ser elaborado com base nos princípios competências profissionais
orientadores do projeto pedagógico. Nesta perspec-
tiva, deverá ser elaborado pelos professores que Estabelecer em uma linguagem clara e objeti-
ministrarão o programa, aprovado em conselhos e va o que se quer alcançar, pois não são os conteú-
colegiados e com validade até que seja necessário dos os determinantes dos objetivos, mas os objeti-
proceder a reformulações e, conseqüentemente, à vos dos alunos que determinam os conteúdos. Os
nova aprovação dos seguintes elementos: conteúdos são meios e não fins. Estabelecer com-
petências a serem construídas ao longo da discipli-
Ementa: súmula dos desempenhos que constitu- na é definir linhas, caminhos e meios para toda a
em os objetivos do programa de aprendizagem, es- ação docente. Em razão disso, devem ser conside-
tabelecendo um elo entre competências e habilida- radas as seguintes características:
des a serem desenvolvidas no curso, bem como um
elo entre as ementas dos demais programas, princi-
palmente se a matriz curricular for estruturada em Clareza: descrever e comunicar claramente.
blocos ou unidades curriculares. Simplicidade: realidade concreta expressa de for-
Metodologia de ensino: descrever como são ma simples e clara;
construídas as condições de aprendizagem; Validade: manifesta consistência e profundidade
Conteúdos programáticos: são objetos do pro- no seu contexto e conteúdo;
cesso de ensino aprendizagem, agrupados em: Operacionalidade: alcançar através de um agir
conceituais, atitudinais e procedimentais; deverão possível; ser concreto e viável;
estar explicitados, conforme as diretrizes
curriculares, as competências e habilidades para as Observável: que possa ser observado ou avalia-
quais converge a disciplina, isto é, os desempenhos do para que se possa comprovar o alcance das
correspondentes aos desdobramentos das habilida- intenções.
des para a profissionalização que o curso propõe.
1.5.1 O que não deve ser considerado objetivo
Critérios, mecanismos e instrumentos de ava- de ensino
liação: os parâmetros pelos quais o aluno será ava-
liado, a forma como será acompanhada a evolução Para que os alunos possam adquirir as com-
das aprendizagens do aluno, bem como os instru- petências propostas no plano, é preciso que haja
mentos que possibilitam em verificar um grau ex- um trabalho pedagógico com os objetivos de en-
pressivo de fidedignidade essas aquisições. sino bem definidos. Algumas situações são con-
Bibliografia básica e complementar: bibliogra- fundidas com esses objetivos:
fia essencial e complementar ao desenvolvimento do itens de conteúdos programáticos de uma disci-
projeto-disciplina. plina ou curso;

Sob este aspecto, não existe uma forma rígida declaração das intenções educativas dos profes-
a ser seguida na elaboração de planos. Todo plano, sores ou do curso;
entretanto, deve conter, em sua estrutura, os ele- ações ou atividades dos professores;
mentos que garantam uma seqüência coerente nas
situações de aprendizagem. Por outro lado, ao ela- descrição das ações dos professores;
borar um plano de disciplina, deve-se, primeiramen- atividades de ensino;

Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, nº 9, Jan./Dez./2003


conteúdos transcritos em forma de ação. b) as declarações de intenções dos professores

Essas situações não são consideradas objeti- As intenções dos professores podem referir-
vos de ensino, são atividades-meio e não ativida- se aos resultados de aprendizagem que se espera
des-fim. obter, aos conteúdos sobre os quais a aprendiza-
gem versa ou às próprias atividades da aprendiza-
a) O item de conteúdo: não é fim ou resultado que
gem. (COLL, 1996). O efeito dessas declarações
se quer alcançar com o ensino, são apenas instru-
sobre os alunos parece ter uma função de atrair, tor-
mentos para auxiliar o aluno a ser capaz de adquirir
nar-se mais relevante ou significativa. As intenções
determinada competência. O conteúdo de uma dis-
do professor não dizem o que o aluno vai aprender
ciplina é a matéria-prima; é o que está contido em
ou desenvolver enquanto aquisição de novas com-
um campo do conhecimento. Este conteúdo deve
petências para lidar com a realidade do seu meio,
envolver informações, fatos, conceitos, princípios e
mas o que o professor pretende fazer para atingir
generalizações acumuladas. Enfim, devem emanar
seus objetivos de ensino. Vejamos alguns exemplos
naturalmente das competências fixadas nas diretri-
clássicos:
zes curriculares e concorrem para descrição das ha-
bilidades intelectuais esperadas. Vejamos um exem-
plo de itens de conteúdo programático da disciplina Capacitar os alunos para atuar como profissional
Avaliação Educacional do Curso de Pedagogia da crítico frente aos desafios do mercado de traba-
Universidade Federal do Piauí-UFPI no ano 2000. lho contemporâneo;
Conscientizar os alunos de seus direitos e deve-
Avaliação Educacional: conceito, tipos, pressu- res na instituição;
postos básicos e importância.
Aprofundar os conhecimentos dos alunos em ela-
Modelos de avaliação: qualitativos e quantitativos. boração de projetos.
Planejamento de projetos de avaliação: conside-
Essa forma de apresentar objetivos de ensino
rações gerais e tipos de projetos avaliativos.
talvez sirva mais para tranqüilizar quem os propõe
Análise de custos em avaliação: conceitos, crité- do que para visualizar o que vai ser ensinado. O
rios e medida dos custos. professor, ao trabalhar com o aluno sem conseguir
êxito não deverá sentir-se culpado, tendo em vista
Convém assinalar que estes itens de conteúdos da as boas intenções ou bons objetivos. Não se pode
forma em que são apresentados não explicitam as com- afirmar que os objetivos descritos na forma de in-
petências que o aluno deve demonstrar ao término da tenções sejam ruins ou não sejam válidos, ou pou-
disciplina. Portanto, é essencial que o professor defina co importantes, mas uma coisa é certa, dizem muito
o que o aluno deve aprender, considerando as necessi- pouco a respeito do que o aluno poderá aprender
dades sociais com as quais eles irão conviver em seu pelas ações do professor.
meio, isto é, ser capaz de saber fazer:
c) ações ou atividades dos professores

Comparar as diferentes concepções de avaliação As ações ou atividades dos professores são


no campo educacional; consideradas como objetivos de ensino, visto que
são meios para atingir os fins do ensino. Analisare-
Identificar os diferentes modelos de avaliação,
mos alguns exemplos de objetivos de ensino apre-
buscando compreendê-los a partir de
sentados sob a forma de ações ou atividades do
embasamentos teóricos;
professor.
Exemplificar as diversas práticas de planejamen-
to e de avaliação de sistema de ensino, bem como Possibilitar que o aluno conheça os princípios que
os instrumentos e técnicas de avaliação; fundamentam as teorias da aprendizagem;
Caracterizar os mecanismos essenciais para ela- Dar condições para que o aluno possa atuar ati-
boração de projetos avaliativos. vamente no mercado de trabalho;

Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, nº 9, Jan./Dez./2003


Informar ao aluno a respeito do seu desempenho h) Definir durante o relatório de pesquisa as fases
na disciplina X. do método científico;
i) Dar exemplos de formas e sistemas de governo;
Ensinar é a produção de um resultado em re-
lação às ações ou à capacidade de agir do aluno, e j) Identificar os princípios norteadores das diferen-
este aprenderá a partir da definição de onde se quer tes tendências filosóficas da Pedagogia.
chegar (objetivos de ensino) através do que os pro-
k) Executar o exercício em laboratório identificando
fessores irão fazer no decorrer do trabalho pedagó-
os reagentes do composto químico em estudo;
gico. Essa forma de apresentar objetivos traduz que
o professor é o centro do processo educacional e os
Todos os exemplos supramencionados ex-
alunos serão apenas uma platéia passiva, o que con-
pressam atividades para o aluno realizar em situ-
tradiz um ensino para desenvolver competências vale
ação de ensino, mas não o define como apto a
lembrar que a descrição de ações dos alunos como
apresentar estas atividades quando tiver concluí-
objetivo de ensino são as seguintes:
do sua aprendizagem e agir como profissional.
Analisar um programa de rádio e de televisão de Portanto, essas expressões revelam mais ativida-
forma crítica, fazendo as conexões com as teori- des-meio (habilidades/ações) que atividades-fim
as estudadas. (competências).
Aplicar, na prática jornalística, as teorias estudadas.
c) conteúdo descrito sob forma de ação
Apontar os aspectos mais importantes das teori-
as que fundamentam a prática jornalística. Outra situação comum durante o trabalho pedagó-
gico de uma disciplina é o conteúdo descrito sob a
No dois primeiros exemplos, caracterizam-se forma de ação do aluno, e considerado como com-
as competências a serem construídas pelo aluno, por- petência a ser construída. Neste contexto, os exem-
que os verbos usados revelam mais atividade-fim, plos são pseudo-objetivos de ensino, porque são
isto é, que o aluno ao concluir sua aprendizagem apenas transformações de itens de conteúdos para a
esteja apto a analisar e aplicar os conhecimentos no forma de desempenhos observáveis dos alunos, tais
meio jornalístico. O terceiro exemplo se refere a ati- como:
vidade-meio, já “apontar ou identificar” são expres-
sões que referem atividades do aluno em situações
a) Mostrar como Piaget desenvolveu seu método
de ensino do ensino, ou seja, um fazer. Vamos ana-
clínico;
lisar os seguintes exemplos:
b) Examinar de acordo com as teorias econômicas
sua aplicabilidade no mercado financeiro;
a) Estudar as diferentes teorias da aprendizagem;
c) Caracterizar um fluxo de caixa.
b) Pesquisar qual a concepção de avaliação dos pro-
fessores de ensino fundamental e médio;
1.6 O que realmente pode ser considerado como
c) Adquirir informações sobre os efeitos do experi- objetivo de ensino?
mento de Skinner para aquisição da aprendiza-
gem humana; Há diversidade de estudos e concepções sobre
maneiras de entender e de utilizar objetivos de ensi-
d) Discutir os critérios de avaliação adotado sem
no, Coll (op. cit.) diz que os verdadeiros e relevan-
um trabalho de grupo;
tes objetivos de ensino são os que explicitam ações
e) Tentar estabelecer parâmetros entre os modelos que o aluno vai realizar durante o processo de apren-
clássicos de avaliação e os contemporâneos; dizagem, fora da escola e depois do período de ins-
trução. Descrever os comportamentos-objetivos é
f) Fazer um quadro relacionando à ética com ou-
de grande importância porque eles norteiam tanto
tras ciências;
as estratégias de ensino quanto de avaliação. Na
g) Realizar exercícios práticos de acordo com as opinião de Haydt (1998) definir objetivos de ensino
instruções estabelecidas; proporciona ao professor:

Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, nº 9, Jan./Dez./2003


Escolher atividades e experiências de ensino- to crítico, pensamento reflexivo ou solução de pro-
aprendizagem que sejam adequadas e relevantes; blemas. Sob este aspecto, um aluno adquire habili-
dades intelectuais quando for capaz de identificar
Selecionar e elaborar os instrumentos de avalia-
em sua experiência prévia, informações e tendênci-
ção mais condizentes com as competências
as apropriadas à análise e soluções ou problemas
estabelecidas;
novos, conforme explica Bordenave (2002). O qua-
Estabelecer padrões de desempenho aceitáveis dro a seguir resume as formas de associar as habili-
para avaliar o progresso do aluno. dades intelectuais necessárias para a construção das
competências profissionais de forma ampla. De acor-
(Fixar padrões e critérios para avaliar o próprio tra-
do com as diretrizes curriculares de cada curso e o
balho docente; perfil esperado, competências e habilidades deve-
(Comunicar com mais precisão sua intenção rão abranger um campo mais especializado.
instrucional aos alunos, pais e outros educadores. Nessa discussão, é preciso estabelecer a dife-
rença entre os objetivos da disciplina, competências
1.7 A formulação dos objetivos de ensino que o professor deve desenvolver durante o traba-
lho pedagógico e as competências e habilidades que
Na literatura clássica, há registro de sistema os alunos terão que adquirir durante o processo de
de classificação dos objetivos definidos por um sis- ensino-aprendizagem:
tema taxionômico, que envolve desde a simples
memorização até os altos níveis de capacidades e Ensinar aos alunos os conteúdos que compõem a
aptidões intelectuais (compreensão, aplicação, aná- Unidade I do programa de aprendizagem de No-
lise, síntese e avaliação). Em uma linguagem atual, ções de Direito Público e Privado.
esses objetivos são mobilizados de forma
contextualizada, centrados na ação, no saber fazer Conhecer os conteúdos que serão tratados no pro-
denominado de habilidades intelectuais: pensamen- grama de aprendizagem de Psicologia Geral

Quadro 1
Habilidades que contribuem para a construção das seguintes competências

Açõesquedefinema Competênciasaseremconstruídasduranteocurso
HabilidadesIntelectuais aprendizagem

Conhecer–recordaroaprendidopreviamente definir,descrever,identificar,rotular,nomear,listar,igua- recordar umalongasériedeassuntosquevãodesdeosfatos


lar,esboçar,reproduzir,selecionaredeclarar específicosateoriasmaiscomplexas.

Compreender-aprenderosignificadodealgo. converter,justificar,distinguir,estimar,explicar,extrapolar, transformarumproblemamatemáticonumaexpressãonu-


generalizar,sumariar,exemplificar,interferir,parafrasear, méricaouumaexpressãonuméricaempalavras.
predizer,reescrever.
interpretarummaterialexplicadoouresumido.

Aplicar-usarmaterialaprendidoemsituaçõesno- converter,modificar,calcular,demonstrar,descobrir,mani- aplicarregras,métodos,conceitos,princípios,leiseteorias


vaseconcretas. pular,operar,predizer,preparar,produzir,relacionar,mos-
trar,resolver,usar

Analisar-dividirummaterialemsuaspartescom- decompor,diagramar,diferenciar,discriminar,distinguir, identificarpartesereconhecerprincípiosorganizacionaisen-


ponentes de tal forma que sua estrutura identificar,ilustrar,inferir,esboçar,assimilar,relacionar,se- volvidos (apreensãodoconteúdoedaformaestruturaldo
organizacionalpossaserentendida lecionar,separaresubdividir material)

Sintetizar-combinarpartesparaformarumnovo categorizar,combinar,compilar,compor,criar,imaginar,pla- produzirumaformaúnicadecomunicação:umapalestra,um


todo.Osresultadosdeaprendizagemnestacate- nejar,explicar,produzir,modificar,organizar,projetar, texto,umprojetodepesquisa,umlivro,entreoutros
goriaacentuamcomportamentoscriativos,comên- recombinar,reconstruir,relacionar,reorganizar,revisar,re-
faseprincipalnaformulaçãodenovospadrõesou escrever,sumarizar,narrar,escrever.
estruturas

Avaliar–julgarovalordeummaterialcomdeter- apreciar,comparar,concluir,contrastar,descrever,criticar,ex- emitirumjuízodevalor combaseemcritériosdefinidos


minadopropósito plicarjustificar,interpretar,relacionar,resumiresustentar

Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, nº 9, Jan./Dez./2003


O primeiro exemplo não se relaciona com o não define normas de atuação mínima aceitável;
comportamento ou com a aprendizagem do aluno,
pois é uma competência do professor. O segundo o aluno tem que adivinhar a extensão e profundi-
indica o que o aluno deve poder fazer depois de dade que o professor deseja que se dê ao tema
freqüentar as aulas. Portanto, é uma competência
do aluno “conhecer que precisa se manifestar atra- Essa habilidade ficaria bem mais compreendi-
vés de algum comportamento. Para proceder a ava- da se fosse definida da seguinte forma:
liação do desempenho dos alunos com consistência
deve ser considerados os seguintes aspectos ao de- (Indicar os estudos realizados pelos teóricos sobre os pres-
finir as habilidades: supostos, princípios, importância e contribuições da teo-
ria sócioconstrutivista para a psicologia educacional).
a) Especificar comportamentos que sejam
observáveis e medíveis Observemos o exemplo seguinte:

(Digitar 60 palavras por minutos. Essa habilidade será


Analisar o estilo de Jorge Amado melhor explicitada se acrescentarmos critérios de desem-
Descrever as características das obras literárias penho).
de Jorge Amado quanto a:
temática (Digitar um texto com 60 palavras por minutos, durante
período cinco minutos, com uma tolerância de 20 erros).
personalidade dos personagens.
d) Fixar as condições com que o aluno deve atuar
b) Explicitá-los de tal forma que sejam
observáveis de forma clara, sem ambigüidades ( Usando qualquer dicionário que o aluno escolher, tra-
duzir por escrito, em espanhol, um dos capítulos, esco-
lhidos ao acaso, do livro Harry Potter e a pedra filosofal
Aplicar princípios de avaliação educacional a si- de J.K. Rowling; tempo máximo de 2 horas, mantendo
tuações novas. fielmente o sentido de, pelo menos, 85% das frases origi-
nais).
Provavelmente, o aluno teria dificuldades em
( Apresentada uma lista de conceitos sobre aprendiza-
desenvolver essa habilidade, visto que essa formu- gem, dar o nome da escola psicológica que expressou cada
lação apresenta um alto grau de generalização do um deles).
assunto. Vejamos os exemplos:
A novidade consiste na formulação completa
Preparar a lâmina para realizar um hemograma. da ação, na qual são os especificados elementos que
o aluno pode dispor e ainda indicam quais seriam as
Preparar a lâmina para realizar um hemograma suas limitações para mostrar o domínio do assunto.
com contagem de plaquetas. Pode ser observado um exemplo que parece com-
Praticar o trabalho de hematologia. pleto, mas faltariam algumas condições de desem-
penho:
O segundo exemplo é o melhor quanto à sua (Executar a segunda prova sobre a diferença de medidas
exatidão. O primeiro está melhor redigido, mas apre- de tendências centrais e as medidas de dispersão em gru-
senta ambigüidade, porque não especifica que ele- po de 4 alunos).
mentos devem ser extraídos no hemograma. E o ter-
ceiro é bastante generalizado. Seria, por exemplo, o tempo de duração da
prova e os instrumentos que poderia usar: livros,
c) Especificar o critério de verificação do saber apostilas, textos, máquina calculadora etc. Com es-
fazer da ação: sas informações, a formulação mais completa fica-
ria assim: executar, no prazo de duas horas, uma
Escreva resumidamente a teoria sócioconstru- prova sobre a diferença de medidas de tendências
tivista. centrais e as medidas de dispersão, em grupos de 4
Neste exemplo, apontamos as seguintes falhas: alunos, usando uma máquina calculadora de escri-
Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, nº 9, Jan./Dez./2003
tório, a podendo pesquisar as fórmulas matemáti- do dois grandes estilos: o ensino individualizado e o
cas a serem utilizadas na solução dos problemas. ensino socializado.

2 Seleção dos conteúdos programáticos 3.1 Ensino Individualizado: ênfase às diferenças in-
dividuais, podendo ser presencial, semipresencial ou
O plano de disciplina deve expressar, em termos a distância.
gerais, quais os conteúdos básicos a serem trabalha-
dos na sala de aula, No entanto, esses conteúdos de- 3.1.1 Técnicas: estudo dirigido, ensino programa-
vem ser significativos e realistas. Para tanto, faz-se do, o ensino através de projetos, pesquisas, estudos
necessário que sejam estabelecidos critérios e princípi- através de fichas didáticas, módulos, estudo de pro-
os para a seleção dos melhores conteúdos, tais como: blemas, exercícios individuais, entre outros.

(Significação: considerar o conteúdo que atenda as ne- 3.2 Ensino Socializado:


cessidades, as aspirações e aos verdadeiros objetivos do (Centrado no grupo).
aluno, esperando que este aluno atinja a uma aprendiza-
gem consistente).
Participação ativa.
(Adequação às necessidades culturais e sociais: os con-
teúdos devem refletir as necessidades sociais e individu- Descentraliza poderes e responsabilidades.
ais da pessoa, considerando que o aluno está inserido
numa sociedade que lhe faz exigências de toda a ordem e Aceitação e desenvolvimento de sentimentos po-
lhe impõe obrigações e responsabilidades. Por outro lado, sitivos e cooperação interpessoal.
esse mesmo aluno é um indivíduo com necessidades pes-
soais e objetivos particulares).
Promove a coesão, a conscientização do grupo
(Validade: é necessário selecionar conteúdos que possam
para o trabalho coletivo.
servir para toda a vida do indivíduo. Conteúdos que per-
mitam novas perspectivas, novas visões, novas possibili- 3.2.1 Técnicas: discussão em grupos, painéis,
dades. Conteúdos que o estudante possa trabalhá-los, isto simpósios, seminários, dramatização, mesa-redon-
é, ocupá-los. Enfim, conteúdos que respondam aos anseios da, entre outras.
do aluno).
4 Seleção dos procedimentos avaliativos da
(Possibilidade de reelaboração: os conteúdos seleciona-
aprendizagem
dos devem possibilitar ao aluno realizar elaborações e
aplicações pessoais a partir daquilo que aprendeu. Nes-
te sentido, os conteúdos devem ser trabalhados de for- As metodologias de avaliação deverão ser defi-
ma pessoal e criativa). nidas conforme as características de cada disciplina,
dependendo do estilo metodológico de ensino de cada
(Flexibilidade: possibilidade de alterar ou reestruturar, professor. Contudo, o ato avaliativo deve envolver o
sempre que for necessário de acordo com as novas situa- uso de critérios e padrões, para determinar em que
ções do dia-a-dia).
medida o desempenho está sendo avaliado, é preciso e
(Interesse: refletir profundamente os interesses dos
satisfatório. Lembrando, ainda, que avaliar é emitir um
alunos). juízo de valor. Esse pode ser quantitativo e/ou qualita-
tivo, e os critérios para julgar podem ser negociados
3 Seleção dos procedimentos metodológicos de com os alunos ou fornecidos a eles.
ensino
REFLEXÕES CONCLUSIVAS
Os procedimentos ou metodologias de ensi-
no são atividades, métodos, técnicas, modalidades O programa de disciplina ou de aprendizagem
de ensino, selecionados com o propósito de facilitar é um documento de execução, de síntese e integração
a aprendizagem do aluno. Expressam, em linhas ge- de diversos elementos necessários à realização do
rais e específicas, a ação docente e discente para trabalho pedagógico. Por isso, deve ser realizado
alcançar os objetivos propostos. Os procedimentos com finalidade, para que, durante sua execução, ati-
ou metodologias podem ser caracterizados segun- vidades e conteúdos preestabelecidos possam ser
Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, nº 9, Jan./Dez./2003
adaptados aos interesses, capacidades e necessida- (2002), o melhor remédio contra esses dois gran-
des dos alunos, sem que os princípios gerais da dis- des males é o planejamento. É por meio do plane-
ciplina sejam comprometidos. jamento da disciplina que o professor pode alme-
Afinal, planejar o ensino é imprescindível ao jar a qualidade do ensino, mediante a formulação
processo de ensino-aprendizagem, haja vista que clara e precisa dos objetivos da disciplina, que se-
os dois grandes males que debilitam o ensino e res- rão trabalhados a partir da definição das compe-
tringem seu rendimento são: a rotina, sem inspira- tências e habilidades que o aluno deverá construir
ção nem objetivos; a improvisação dispersiva, con- com base no perfil do egresso, estabelecido no pro-
fusa e sem ordem, conforme afirma Bordenave jeto pedagógico do curso.

Bibliografia
BLOOM, Benjamim. Taxionomia de objetivos educacionais: domínio cognitivo. Tradução de Flávia Maria
Sant’anna. Porto Alegre: Globo, 1983.

BORDENAVE, Juan Díaz; PEREIRA, Adair Martins. 23. ed. Estratégias de ensino-aprendizagem.
Petrópolis: Vozes, 2002.

COLL, César. Psicologia e currículo: uma aproximação psicopedagógica à elaboração do currículo escolar.
Tradução de Cláudia Schilling. São Paulo: Ática, 1996.

GORING, Paul A. Manual de medições e avaliação do rendimento escolar. Coimbra: Almedina, 1981.

GURGEL, Carmesina R. Referências para avaliação da aprendizagem: perspectiva de formação docente.


2002. 168p. Tese (Doutorado em Educação com área de concentração em Avaliação Educacional). Fortaleza/
Universidade Federal do Ceará.

HAYDT, Regina Célia Cazaux. Avaliação do processo ensino – aprendizagem. São Paulo: Ática, 1988.

JONNAERT, Philippe. Criar condições para aprender: o socioconstrutivismo na formação de professores.


Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002.

TURRA, M. Godoy et. al. Planejamento de ensino e avaliação. 11. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto,
1998. 304p. Ilustrações. 23cm.

MACHADO, Nilson José. Epistemologia e didática: as concepções do conhecimento e inteligência e a


prática docente. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1996.

MENEGOLLA, Maximiliano; SANT’ANNA, Ilza Martins. Por que Planejar? Como Planejar?: currículo,
área, aula. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

Linguagens, Educação e Sociedade – Teresina, nº 9, Jan./Dez./2003

Você também pode gostar