Os 30 Anos de Desastres No Brasil 1991 - 2020
Os 30 Anos de Desastres No Brasil 1991 - 2020
Os 30 Anos de Desastres No Brasil 1991 - 2020
30 anos
de desastres
no Brasil
(1991 – 2020)
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
SECRETARIA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL (SEDEC)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC)
CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ENGENHARIA E DEFESA CIVIL (CEPED)
A p&dc e os
30 anos
de desastres
no Brasil
(1991 – 2020)
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Presidente da República
Jair Messias Bolsonaro
Coordenadora do Projeto
Profa. Ana Maria Bencciveni Franzoni, Dra.
Coordenador Técnico
Rafael Schadeck
MAH (Hyogo Framework for Action – HFA, em inglês) Marco de Ação de Hyogo 2005-2015
10
08
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
Proteção e defesa civil no
Brasil e a construção da
Introdução política nacional
CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4
Panorama dos 30 anos de Desafios e o futuro da P&DC
57
desastres no Brasil
26
Introdução
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Introdução
1979
1967 Criação da Secretaria Especial de Defesa
Civil (Sedec)
Criação do Ministério do Interior
Criado após as cheias do Sudeste para
assistência da população atingida por
calamidade pública no país 1988
Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec)
Decreto nº 97.274: criação do SINDEC com
1969 marcante atuação em ações de resposta
Regulamentação do Fundo Especial para
Calamidades Públicas (Funcap)
1989
1942 Resolução 44/236
Brasil cria a Defesa Passiva Antiaérea em
função da 2ª Guerra Mundial
1970 Elaboração da Política Nacional de Defesa
Civil (PNDC)
Grupo Especial para Assuntos de
Calamidades Públicas (Geacap)
1980
1940
1988
1960
1946
1950
1970
1989
1979
1942
1971
1967
1969
2005
2020
2012
2015
2010
1990
2013
1999
1997
1994
2005
1997 Marco de Hyogo
Protocolo de Quioto Marco de Ação de Hyogo 2005-2015
2015
Marco de Sendai
Marco de Sendai para Redução de Risco de
Desastres 2015 – 2030
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Proteção e defesa civil no Brasil e a construção da política nacional
A criação e publicação do MAH levou à popularização dos processos e conceitos que envol-
vem a Redução de Risco de Desastres, envolvendo tanto organizações internacionais como os
estados, a sociedade civil, a academia e as organizações privadas no papel de redução dos riscos.
“...antecipar, planejar e reduzir o risco de desastres para proteger de forma mais efetiva
as pessoas, comunidades e países, seus meios de subsistência, saúde, cultura, ativos
socioeconômicos e ecossistemas, e assim fortalecer sua resiliência”.
UNISDR (2015)
Nesse contexto, foram definidas quatro áreas prioritárias de ação, com o objetivo de
focar a atuação do Estados em relação à Redução de Risco de Desastres, sendo elas:
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Proteção e defesa civil no Brasil e a construção da política nacional
Além das quatro ações prioritárias, de forma mais específica e com o objetivo de apoiar a
avaliação do progresso global da implementação do Marco de Sendai, foram estabelecidas
as Sete Metas Globais relacionadas com ações de RRD, listadas a seguir:
f) Melhorar substancialmente a
[21]
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 36, DE 4 DE DEZEMBRO DE 2020
Define procedimentos a serem adotados pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil para
as transferências de recursos da União aos órgãos e entidades dos estados, Distrito Federal e
municípios para a execução de ações de prevenção em áreas de risco de desastres e de recuperação
em áreas atingidas por desastres.
Estabelece procedimentos para análise técnica da prestação de contas final, pela Secretaria Nacional
de Proteção e Defesa Civil, dos recursos transferidos pela União aos órgãos e entidades dos estados,
Distrito Federal e municípios para a execução de ações de resposta em áreas atingidas por desastres,
disciplinadas pela Lei nº 12.340, de 1º de dezembro de 2010, e respectiva regulamentação.
Aspectos de destaque
na evolução histórica
Como se observou na linha do tempo da gestão em P&DC, o Brasil tem passado por inten-
sas mudanças de paradigmas de forma semelhante e alinhada ao contexto internacional. É
válido, portanto, discutir mais profundamente alguns dos principais aspectos sobre o atual
estágio do Brasil. Uma análise dos contextos e desafios nos permite trabalhar também algu-
mas perspectivas de futuro da proteção e defesa civil no Brasil.
Abordagem climática
Conforme identificado pelo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáti-
cas (Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC, em inglês), as mudanças climáticas [22]
estão aumentando a frequência de eventos extremos, como chuvas intensas, ciclones tropi-
cais, ondas de calor e secas severas. Dessa forma, destaca-se a necessidade do desenvolvi-
mento de ações correlacionando a manutenção do clima e a redução do risco de desastres.
Nesse sentido, o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, instituído por meio
da Portaria nº 150, de 10 de maio de 2016, tem como objetivo:
“Promover a gestão e redução do risco climático no País frente aos efeitos adversos associados
à mudança do clima, de forma a aproveitar as oportunidades emergentes, evitar perdas e
danos e construir instrumentos que permitam a adaptação dos sistemas naturais, humanos,
produtivos e de infraestrutura”. 3. Adaptação à mudança do
Portaria nº 150 clima relaciona-se ao processo
de ajuste de sistemas naturais
e humanos ao comportamento
Essas e outras medidas, como a adoção à campanha mundial Construindo Cidades Resilien- do clima no presente e no
tes, mostram a existência da movimentação do Brasil em relação ao tema. Entretanto, muitos futuro (IPCC, 2014).
desafios setoriais ainda precisam ser vencidos para, de fato, existir a implementação de ações
que configurem resultados efetivos relacionados com a adaptação à mudança climática³.
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Proteção e defesa civil no Brasil e a construção da política nacional
Comunicação de risco
A abordagem da comunicação de risco é algo Como marco histórico, podemos citar o
relativamente recente, tendo surgido na Regulamento Sanitário Internacional (RSI)
área de saúde pública. Chegou, portanto, à da Organização Mundial da Saúde (OMS)
área da gestão de risco de desastres com en- de 2005 que destaca comunicação dos ris-
foques de políticas de saúde em situações de cos como intervenção sanitária e indica aos
emergências sanitárias, e tem ampliado sua Estados-Membros da OMS que a desenvol-
área de atuação para situações de prepara- vam como capacidade essencial.
ção e redução de riscos de desastres.
Perspectivas futuras
Por tudo que se viu do movimento histórico acordos internacionais e tendências concei-
da proteção e defesa civil, quer no contexto tuais para redução de riscos de desastres e
internacional, quer pelas especificidades fortalecimento da resiliência.
brasileiras, presenciamos nos últimos 30 Sobretudo, a compreensão das questões
anos muitas mudanças de paradigmas que climáticas como intrínsecas à gestão de risco
paulatinamente vão sendo incorporados às e articuladas aos desafios de compreensão
práticas de proteção e defesa civil. Ilusório do risco como construção social tem o poder
seria imaginar que as mudanças conceituais de deslocar a gestão de risco e de desastres
fossem imediatamente aderidas às políticas para um espaço de domínio técnico mais am-
públicas e às práticas locais de gestão de plo, fortalecendo a atuação sistêmica e de
risco. Trata-se de um processo de constru- integração setorial. Faz das perspectivas fu-
ção histórica, cujos resultados vão sendo turas para a proteção e defesa civil brasileira,
colhidos ao longo do tempo. portanto, um alinhamento prático aos acor- [25]
Vislumbramos, portanto, grandes pers- dos internacionais, uma ampliação da visão
pectivas futuras que implementem no coti- climática e da construção social do risco, e o
diano da prática de proteção e defesa civil fortalecimento das abordagens participati-
as discussões técnicas que hoje embasam vas por meio da comunicação de risco.
Panorama dos 30
anos de desastres
no Brasil
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Change – IPCC, em inglês) e o consequente Além disso, os danos materiais e prejuízos Estiagem e Seca
agravamento dos eventos extremos, como resultaram em uma média de R$ 18,26 bi- Enxurradas
secas e inundações, é necessário que as ações lhões por ano. Inundações
de Redução de Risco de Desastres sejam apli- A seguir, apresenta-se a linha do tempo Chuvas Intensas
cadas de forma eficaz, para evitar o aumento dos principais desastres registrados no Bra- Alagamentos
dos impactos decorrentes de desastres. sil no período de 1991 a 2020. Posterior- Movimento de Massa
Nesse contexto, torna-se imprescin- mente, para considerar as especificidades Vendavais e Ciclones
dível o conhecimento sobre o risco de de- de cada evento, foram definidos doze gru- Granizo
sastres e seus fatores desencadeantes. A pos de desastres* para avaliação dos resul- Incêndio Florestal
Prioridade de ação 1 do Marco de Sendai: tados obtidos com o tratamento dos dados. Erosão
Compreendendo o risco de desastres (ver Por fim, são expostos os principais impac- Onda de Frio
capítulo anterior) determina que: tos decorrentes da Pandemia da Covid-19. Tornado
Deslizamento na
Região Serrana (RJ)
Inundações no Vale do Municípios afetados: 16
Pessoas afetadas: 319.696
Itajaí (SC) Desabrigados e desalojados:
Municípios afetados: 37 300.000
Pessoas afetadas: 559.959 Número de óbitos: 1.192
Desabrigados e desalojados: 107.455 Danos e prejuízos:
Número de óbitos: 135 R$ 4,78 bilhões
Danos e prejuízos: R$ 4 bilhões
2000
2004
2008
2005
2009
2012
2010
2010
2011
2011
Estiagem na Seca no Semiárido
região Sul Inundações em Alagoas Municípios afetados: 1.181
Municípios afetados: 739 Municípios afetados: 35 Pessoas afetadas: 5.084.138
Pessoas afetadas: Pessoas afetadas: 76.485 Danos e prejuízos: R$ 2,6 bilhões
21.000.000 Desabrigados e desalojados: 69.379
Danos e prejuízos: R$ Número de óbitos: 25
4,23 bilhões Danos e prejuízos:
R$ 441 milhões
Rompimento da
barragem de Mariana
Municípios afetados: 38
Pessoas afetadas: 1.000.000
Desabrigados e desalojados: 1.360
Número de óbitos: 25
Danos e prejuízos: R$ 333 milhões
2020
2012
2015
2021
2013
2013
2017
2014
2019
2019
Inundações no
Espírito Santo
Municípios afetados: 78
Pessoas afetadas: 3.000.000
Desabrigados e Rompimento da barragem
desalojados: 60.000 de Brumadinho
Número de óbitos: 24 Municípios afetados: 17
Danos e prejuízos: Pessoas afetadas: 33.529
R$ 635 milhões Desabrigados e desalojados: 198
Número de óbitos: 270
Danos e prejuízos: R$ 560 milhões
Pandemia de COVID-19
Municípios afetados: 4411
Casos confirmados: 21.909.298
Número de óbitos: 610.036
Registros de SE/ECP: 22.522
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Estiagem e Seca
Segundo a Cobrade (2012), a estiagem, iden- de forma que mais de uma ocorrência é re-
tificada pelo código 1.4.1.1.0, é um período gistrada por evento.
de “baixa ou nenhuma pluviosidade, em que a Também é possível observar recorrên-
perda de umidade do solo é superior à sua repo- cia significativa na região Sul (16%), princi-
sição”, enquanto a seca (1.4.1.2.0) “é uma es- palmente nos estados de Santa Catarina e
tiagem prolongada, durante o período de tempo Rio Grande do Sul. Para essa região, nor-
suficiente para que a falta de precipitação pro- malmente os eventos ocorrem em períodos
voque grave desequilíbrio hidrológico”. mais curtos, não sendo comum mais de um
No Brasil, segundo a Instrução Norma- registro por evento.
tiva nº 01, de 24 de agosto de 2012, Os principais impactos decorrentes da
estiagem e seca estão relacionados com os
“O prazo de validade do Decreto que prejuízos privados nos setores de agricultu-
declara a situação anormal decorrente ra e pecuária, assim como os prejuízos pú- [30]
do desastre é de 180 dias a contar de sua blicos nos setores de água, saúde e esgoto.
publicação em veículo oficial do município
ou do estado”.
[31]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Enxurradas
Conforme determinado pela Cobrade O Brasil registrou 9.015 ocorrências
(2012), as enxurradas são definidas como durante o período de 1991 a 2020. Per-
o “escoamento superficial de alta velocidade e cebe-se número mais significativo de ca-
energia, provocado por chuvas intensas e con- sos na região Sul, que acumula 43% de
centradas, normalmente em pequenas bacias todas as ocorrências do período. Dentre
de relevo acidentado”, e recebem o código de os principais impactos decorrentes do
identificação 1.2.2.0.0. desastre, pode-se citar o elevado número
De forma complementar, o Cemaden de pessoas afetadas de modo geral, com
(2016) ressalta que esse tipo de evento grande quantidade de óbitos, desabri-
pode durar minutos ou horas. Ainda, a força gados e desalojados registrados. Além
das águas, além de arrastar veículos, pesso- disso, tem-se grande valor de danos ma-
as ou animais, pode provocar o rolamento teriais relacionados aos setores de habi-
de blocos de pedras, arrancar árvores, des- tações e infraestrutura. [32]
truir edificações e causar corrida de massa.
Nesse sentido, observa-se diferentes
entendimentos sobre a identificação das
enxurradas entre as regiões do
país. Em muitos casos, even-
tos de corrida de massa são
registrados como enxurra-
das, intensificando os impac-
tos contabilizados para esse
desastre. Ainda, não são
raros os eventos de inunda-
ção que, por apresentarem
rápido fluxo em função do
escoamento natural do rio,
também são classificados
como enxurradas.
Ocorrências
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
[33]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Inundações
De acordo com a Cobrade (2012), as inun- A região Sudeste (35%) é a que apre-
dações (1.2.1.0.0) são a “submersão de áreas senta maior incidência desse tipo de
fora dos limites normais de um curso de água evento, seguida pela Nordeste (22%). Em
em zonas que normalmente não se encontram relação aos impactos, percebe-se elevado
submersas”. De modo geral, pode-se dizer valor de desabrigados e desalojados. Para
que uma inundação ocorre quando há o as perdas, os principais valores estão rela-
transbordamento de um curso d’água, seja cionados aos danos materiais nos setores
ele um rio, um lago, uma lagoa ou o mar. de infraestrutura e habitações, e nos pre-
Durante o período de 1991 a 2020, o Bra- juízos privados para o setor de agricultura.
sil registrou 5.462 ocorrências de inundações.
[34]
Ocorrências
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
[35]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Vendavais e Ciclones
Esse conjunto de tipologias caracteriza-se O Brasil registrou 3.458 ocorrências
por dois grandes grupos: os ciclones e as de vendavais e ciclones durante o perío-
tempestades locais/convectivas. O primeiro do de 1991 a 2020. A região Sul (68%) é
engloba a ocorrência de ventos costeiros ou a que apresenta maior recorrência desse
mobilidade de dunas (1.3.1.1.1) e de marés de tipo de evento, seguida pela região Su-
tempestade ou ressaca (1.3.1.1.2). Esses dois deste (20%). Os principais impactos de-
eventos são resultado da ocorrência de um correntes estão relacionados aos danos
ciclone, caracterizado como um fenômeno at- materiais nos setores de habitações e
mosférico em que os ventos giram em sentido infraestrutura e nos prejuízos privados
circular, tendo no seu centro uma área de bai- no setor de agricultura. Entretanto, é um
xa pressão. Para o segundo grupo, as tempes- dos desastres que mais causa prejuízos
tades, englobam-se as tempestades de raios relacionados à geração e distribuição de
(1.3.2.1.2) e de vendavais (1.3.2.1.5). energia elétrica no Brasil. [36]
Ocorrências
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
[37]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Chuvas intensas
As chuvas intensas, identificadas pelo có- siderando o FIDE e a codificação da Cobrade.
digo 1.3.2.1.4, são definidas pela Cobrade O Brasil registrou 2.697 ocorrências
(2012) como “chuvas que ocorrem com acu- de chuvas intensas durante o período de
mulados significativos, causando múltiplos 2012 a 2020.
desastres”. Esses desastres representam As regiões Sul (35%) e Sudeste (22%)
inundações, alagamentos, enxurradas, mo- são as que apresentam maior recorrência
vimentos de massa, entre outros que são desse tipo de evento. Os principais impac-
desencadeados pelo excesso de chuvas. tos decorrentes estão relacionados aos pre-
A tipologia de chuvas intensas teve o início juízos privados, com destaque para o setor
de seu registro ao longo do ano de 2012, com de agricultura, e para os danos materiais,
a publicação da Portaria MI nº 526, de 06 de com infraestrutura. Destaca-se, ainda, a
setembro de 2012 e a Instrução Normativa quantidade total de afetados diretamente
nº 01, de 24 de agosto de 2012, quando os re- pelo desastre, que é elevada considerando [38]
gistros de desastres passaram a ser feitos con- o menor período de registro da tipologia.
Ocorrências
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
[39]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Granizo
Segundo a Cobrade (2012), o granizo carac- Brasil registrou 1.644 eventos de granizo.
teriza-se por “precipitação de pedaços irre- Sua ocorrência é predominante na re-
gulares de gelo” e é identificado pelo código gião Sul do país, que acumula 85% dos re-
1.3.2.1.3. Ainda, conforme especificado pelo gistros. As regiões Norte, Nordeste e Cen-
Inmet (2022), apenas pedaços maiores de tro-Oeste contabilizaram menos de 3% das
cinco milímetros são considerados granizo. ocorrências. Os principais impactos decor-
Pedaços menores são classificados como rentes do desastre estão relacionados aos
bolas de gelo, bolas de neve, ou granizo mole. danos materiais no setor de habitações e
Durante o período de 1991 a 2020, o aos prejuízos privados na agricultura.
[40]
Ocorrências
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
[41]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Alagamentos
Conforme determinado pela Cobrade (2012), No Brasil, foram registradas 1.351 ocor-
os alagamentos são a “extrapolação da capaci- rências de alagamentos durante o período
dade de escoamento de sistemas de drenagem de 1991 a 2020. A região Sudeste (40%) é a
urbana e consequente acúmulo de água em ruas, que apresenta maior recorrência desse tipo
calçadas ou outras infraestruturas urbanas, em de evento, principalmente na região litorâ-
decorrência de precipitações intensas”. nea. Apesar de representar um baixo valor de
Dessa forma, ao contrário do estabele- registros, os desastres de alagamentos estão
cido para as inundações, que estão relacio- tornando-se mais recorrentes, com 73% das
nadas com o transbordamento de corpos ocorrências registradas na última década. Os
d’água, os alagamentos dependem da efi- principais impactos decorrentes do evento
ciência dos sistemas de drenagem urbanos. estão relacionados aos danos materiais, com
Nesse sentido, ações relacionadas ao pla- os setores de habitações e infraestrutura.
nejamento urbano das cidades influenciam Ainda, pode-se destacar a quantidade eleva- [42]
diretamente na ocorrência desse desastre. da de desabrigados e desalojados.
Ocorrências
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
[43]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Incêndio florestal
O incêndio florestal, conforme determina 1991 a 2020. Os últimos dois anos apresen-
a Cobrade (2012), é qualquer “propagação tam elevado crescimento de registros, que
de fogo sem controle, em qualquer tipo de ve- acumula mais de 74% das ocorrências. A
getação”. Aqueles que ocorrem em áreas le- região que apresenta predominância des-
galmente protegidas recebem a codificação se evento é a Centro-Oeste (52%), seguida
1.4.1.3.1. Já os que ocorrem fora dessas áreas, pela região Sudeste (21%). Os principais im-
a Cobrade os identifica com o código 1.4.1.3.2. pactos decorrentes do desastre estão rela-
O Brasil registrou 1.298 ocorrências cionados aos prejuízos privados, que englo-
de incêndio florestal durante o período de bam os setores de agricultura e pecuária.
[44]
Ocorrências
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
[45]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Movimento de massa
O conjunto de tipologias denominado rências, concentradas na região Sudeste,
Movimento de Massa engloba fenôme- que apresenta 69% desse total. Os princi-
nos naturais de origem geológica que pais impactos decorrentes desse desastre
podem ocasionar: corridas de massa estão relacionados com os danos mate-
(1.1.3.3.1/1.1.3.3.2); subsidências e colap- riais nos setores de habitações e infra-
sos (1.1.3.4.0); deslizamentos (1.1.3.2.1); e estrutura, além de ser o segundo evento
quedas, tombamentos e rolamentos (1.1.3 com maior número de óbitos registrados
.1.1/1.1.3.1.2/1.1.3.1.3/1.1.3.1.4). no Brasil. Ainda, é possível perceber uma
Os registros realizados no Brasil du- intensificação das perdas nos últimos dois
rante o período de 1991 a 2020 para esse anos, que representa 48% de todo valor
tipo de evento acumularam 1.146 ocor- contabilizado no período.
[46]
Ocorrências
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
[47]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Erosão
A erosão é o desgaste da superfície terres- a 2019. Ao analisar a distribuição anual, é
tre que, segundo a Cobrade (2012), pode ser possível perceber um aumento gradual no
dividido entre as erosões costeira/marinha número de registros a partir do ano de 2007,
(1.1.4.1.0), de margem fluvial (1.1.4.2.0) e com a última década representando 64% do
continental (1.1.4.3.3/1.1.4.3.1/1.1.4.3.2). total de ocorrências. O setor de habitações,
Para esse evento, o Brasil registrou 561 com danos materiais, representa o principal
ocorrências ao longo do período de 1991 impacto decorrente desse desastre.
[48]
Ocorrências
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
[49]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Onda de frio
O desastre de onda de frio é composto pe- última década. As regiões Norte e Nordes-
las tipologias de friagem (1.3.3.2.1), geada te não apresentaram nenhum registro do
(1.3.3.2.2) e frente fria/zona de conver- evento. Entre as outras regiões, a Sul (54%)
gência (1.3.1.2.0). acumula o maior número de ocorrências. O
Durante o período de 1991 a 2020, o principal impacto decorrente da onda de
Brasil registrou 113 ocorrências de onda frio está relacionado ao prejuízo privado no
de frio. Desses, mais de 75% ocorreram na setor da agricultura.
[50]
Ocorrências
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
[51]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Tornado
De acordo com a Cobrade (2012), o torna- nado no Brasil, sendo 75 delas na região
do (1.3.2.1.1) é uma “coluna de ar que gira de Sul (86%). Isso ocorre devido à localização
forma violenta e muito perigosa, estando em geográfica dessa região, que está inserida
contato com a terra e a base de uma nuvem de na segunda maior área em incidência de
grande desenvolvimento vertical”. tornados no mundo. A ocorrência desse
Durante o período de 1991 a 2020, desastre impacta principalmente nos seto-
foram registradas 87 ocorrências de tor- res de habitações e agricultura.
[52]
Ocorrências
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
[53]
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
Pandemia covid-19
31 de dezembro
Aumento de casos de pneumonia na cidade
de Wuhan (República Popular da China)
11 de março
A COVID-19 é caracterizada pela
OMS como uma pandemia
17 de março
Confirmada a primeira morte no Brasil
em decorrência de COVID-19, no
estado de São Paulo
[54]
7 de janeiro 31 de dezembro
Autoridades chinesas confirmaram Brasil encerra o ano com 194.949
a identificação de um novo óbitos registrados
coronavírus (SARS-CoV-2)
2019
2020
2020
2020
2020
2020
2021
2021
26 de fevereiro 17 de janeiro
Ministério da Saúde confirma o primeiro Início da campanha de vacinação
caso do novo coronavírus no Brasil
31 de dezembro
Brasil encerra o ano com mais
de 616 mil óbitos registrados
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Panorama dos 30 anos de desastres no Brasil
A Situação de Emergência indica um cenário em que o município está com a sua capacidade
de resposta parcialmente comprometida, enquanto o Estado de Calamidade Pública indica
o cenário em que o município está com a sua capacidade de resposta substancialmente
comprometida.
[56]
Decretos de Situação de Emergência e Estado de Calamidade Pública por ano de ocorrência (2019 – 2021).
Essa mudança foi marcada pela Déca- possível a aplicação dos indicadores rela-
da Internacional para Redução dos Desas- cionados ao Marco de Sendai.
tres Naturais (DIRDN), em 1990, que tinha Em todo o caso, quando se observam os
como uma de suas metas: acordos internacionais e as tendências atu-
ais, percebe-se o quanto a atuação de for-
“Melhorar a capacidade de cada país para ma planejada e com visão de longo prazo é
mitigar os efeitos dos desastres naturais importante para estabelecer processos de
de forma rápida e eficaz, prestando gestão sólidos e duradouros.
atenção especial à assistência aos países A formulação de políticas públicas é,
em desenvolvimento na avaliação do nesse sentido, um dos principais desafios a
potencial de danos causados por desastres ser vencido no Brasil. É preciso investir em 3. Desastres graduais:
e no estabelecimento de sistemas de planejamentos integrativos e com visão sis- caracterizam-se por evoluírem
por meio de etapas de
alerta precoce e estruturas resistentes aos têmica que, independentemente da gestão agravamento progressivo.
desastres quando e onde necessário”. de governo, estabeleçam metas e critérios (Ex. seca, estiagem, erosão,
UN. General Assembly (1989) de atuação permanentes. entre outros).
identificar os setores com maior necessida- nal de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec), que
de de investimentos, bem como compreen- apresenta desafios em sua implementação.
der os fatores desencadeantes dos diversos As especificidades existentes para os dife-
desastres que ocorrem no país. rentes tipos de desastres e regiões do país
Nesse contexto, o Marco de Sendai, dificulta a criação de mecanismos de aten-
apoiado pelas Sete Metas Globais, tem dimento unificado, tanto para as ações de
como principal objetivo prevenir a instala-
ção de novos riscos e reduzir os existentes.
Em conjunto, têm-se os indicadores desen- Em todo o caso, quando se observam os
volvidos de cada meta, que permitem a me- acordos internacionais e as tendências
dição do progresso de aplicação do Marco
de Sendai. No entanto, para a realidade bra-
atuais, percebe-se o quanto a atuação de
sileira, é necessário atentar-se à existência forma planejada e com visão de longo prazo
de desastres graduais³ e desastres súbi- é importante para estabelecer processos de
tos4, ambos recorrentes no país. gestão sólidos e duradouros.
As especificidades de evolução de
cada um desses tipos de desastres fazem
com que os impactos registrados não resposta, como para as demais fases do ciclo.
sejam comparáveis entre si. Com isso, Há ainda os desafios que novas aborda-
torna-se necessária a construção de um gens integrativas propõem, como a constru-
tratamento padronizado dos dados de re- ção social do risco que orienta a atuação a
gistros de desastres no país, para que seja partir de uma perspectiva mais ampla que
HISTÓRICO DE 30 ANOS DE DESASTRES NO BRASIL
Desafios e o futuro da P&DC