Capitalismo 3

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DESENVOLVIMENTO

CAPITALISTA E SERVIÇO
SOCIAL
AULA 3

Profª Valdirene da Rocha Pires


CONVERSA INICIAL

Olá, seja bem-vindo à nossa aula. Procuraremos abordar os principais


aspectos que marcam a história, a origem e o desenvolvimento do capitalismo
no Brasil.
O conhecimento sobre o processo de formação do capitalismo brasileiro
é fundamental para entender de onde vem toda a desigualdade social presente
em nosso país e, assim, compreender também por que uma profissão
interventiva como o Serviço Social é tão importante.
Os temas abordados nesta aula são:

 as origens do capitalismo brasileiro;


 as funções do Estado no contexto dos monopólios;
 políticas socias e crise capitalista;
 aspectos históricos da revolução democrático-burguesa no Brasil;
 industrialização retardatária no Brasil.

TEMA 1 – CAPITALISMO MONOPOLISTA PÓS-SEGUNDA GUERRA


MUNDIAL

Em termos econômicos, o período pós-Segunda Guerra favoreceu o


desenvolvimento capitalista – os Estados Unidos lideraram a economia mundial.
A produção bélica impulsionou a acumulação de capital e também favoreceu os
avanços na área tecnológica, que, por sua vez, impulsionou o consumo, exigindo
uma produção em maior quantidade e mais acelerada.
No aspecto socioeconômico, pelo menos nos países desenvolvidos,
“houve maior intervenção do Estado nas decisões políticas e econômicas com o
objetivo de regular a economia.” (Souza; Meirelles; Lima, 2016, p. 37). No
entanto, o projeto intervencionista de Keynes (que seria uma alternativa para
superar a crise de 1929) acaba ficando em segundo plano.
Como o período pós-Segunda Guerra Mundial vinha com a possibilidade
de uma crise, a saída foi, nesse cenário, retomar a teoria keynesiana, a qual
defende a intervenção e a articulação do Estado na sociedade como principal
responsável pelos investimentos para movimentar a economia. Essa estratégia
deveria ocorrer de forma que o Estado direcionasse recursos públicos aos
setores mais estratégicos da economia de mercado, por exemplo, em obras de
infraestrutura e alguns direitos sociais. Ou seja,

articulação entre o fordismo e as teorias Keynesianas, segundo as


quais o Estado deveria operar como um regulador dos investimentos
privados “por meio do direcionamento dos seus próprios gastos – numa
palavra, Keynes atribuía papel central ao investimento público como
indutor do investimento”. (Netto; Braz, 2006, p. 195, citados por Souza;
Meirelles; Lima, 2016, p. 37)

Da articulação entre o fordismo e o keynesianismo decorreu a intervenção


estatal chamada Welfare State (Estado de bem-estar social), cuja principal
característica é promover o crescimento econômico e os direitos socias, por meio
da criação de empregos e do estímulo ao consumo. Importa destacar ainda que,
nesse período, o modelo fordista de produção se expande para as indústrias de
todo o mundo, configurando-se, assim, como o modelo mundial de produção de
bens.
Outro fator importante: com a emergência do Welfare State, algumas
políticas de proteção social foram difundidas por diversos países
industrializados, a exemplo da consolidação do salário mínimo, da regulação das
leis trabalhistas e até mesmo da ampliação do acesso da população à educação,
à saúde e à assistência social, o que também promoveu certa estabilidade
econômica.
Contudo, “isso só se concretizou nos países imperialistas, pois os países
dependentes não contavam com condições objetivas para consolidar o Estado
de Bem-Estar Social nos moldes dos países imperialistas [...].” (Souza; Meirelles;
Lima, 2016, p. 37). Certamente, esse é o caso brasileiro, que só vai ter um
Estado timidamente intervencionista com Getúlio Vargas, período em que os
direitos trabalhistas são regulamentados.

TEMA 2 – AS FUNÇÕES DO ESTADO NO CONTEXTO DOS MONOPÓLIOS

Na era dos monopólios, o Estado deixa de ser “mero” regulador da


propriedade privada e mediador da ordem burguesa para atuar como
instrumento a favor dos interesses do capital. No aspecto socioeconômico, o
Estado passou a intervir mais na sociedade e na economia, tendo em vista que
“as conquistas de direitos sociais adquiridos no início do séc. XX certamente
também atenderam às necessidades do capital, uma vez que garantem as

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vitalidades de força de trabalho e os índices de produtividades, que promovem
a reprodução ampliada do capital.” (Souza; Meirelles; Lima, 2016, p. 54).
No contexto da intervenção do Estado, o projeto intervencionista de
Keynes ganha visibilidade. Esse projeto propôs o direcionamento dos
investimentos públicos para movimentar a economia. Os estudos de Souza,
Meirelles e Lima (2016, p. 30) apontam que as formas de intervenção do Estado
serviam para que se “estimulasse a produção e a demanda efetiva (gasto público
para aumentar o consumo)”. Ou seja, investir recursos estatais no mercado, em
salários e empregos, em obras de infraestrutura e em políticas sociais como
forma de movimentar a economia.
Outro fator, não menos importante do que os já tratados aqui, diz respeito
às inovações tecnológicas, as quais “revolucionaram todo o processo de
produção e organização do trabalho, assim como as necessidades de consumo,
as quais imprimem velocidade ao processo de reprodução do capital. Tudo isso
exige maior participação do Estado no âmbito do planejamento econômico,
político e social [...].” (Souza; Meirelles; Lima, 2016, p. 54).
Nesse sentido, um dos papéis assumidos pelo Estado na era dos
monopólios é o de administrar crises econômicas produzidas pelo próprio
sistema capitalista, o qual é regulamentado pelo Estado. Assume ainda funções
políticas, sociais e econômicas que anteriormente não faziam parte de suas
intervenções (países europeus), funções estas que têm como premissa algumas
conquistas da classe trabalhadora.
O sufrágio universal despertou para a necessidade de reconhecimento de
direitos sociais, políticos e trabalhistas. O reconhecimento de direitos para a
classe trabalhadora exigiu a ampliação das funções do Estado, que passa a
mediar a “ordem social” (luta de classes) por meio de suas funções políticas e
econômicas.

Isso significa que conquista de direitos não deve ser entendida como
concessões gratuitas por parte da burguesia. Podemos sustentar que,
por um lado, foram direitos conquistados pela crescente luta da classe
trabalhadora, e, por outro lado, ao mesmo tempo foram concessões
feitas pela burguesia, que na correlação de forças garantia a
salvaguarda do capital diante do crescimento da organização dos
trabalhadores, o qual intimidava os capitalistas. (Souza; Meirelles;
Lima, 2016, p. 54)

Assim, podemos verificar o quão importante é a classe trabalhadora para


a reprodução do capitalismo, e que, uma vez que esta não concorde com as leis

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impostas por esse sistema, as negociações sempre tentam apaziguar as
expressões da luta de classes.

Saiba mais
No vídeo indicado a seguir, o professor José Paulo Netto faz uma
importantíssima discussão sobre as marcas que crises capitalistas deixam na
sociedade.
NETTO, J. P. Crise do capital e suas consequências societárias. Cortez Editora,
11 jun. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9ZRlfA5QyIk>.
Acesso em: 29 nov. 2018.

TEMA 3 – AS ORIGENS DO CAPITALISMO BRASILEIRO

Para fazer uma abordagem inicial sobre as origens do capitalismo


brasileiro, recorremos aos estudos de Souza, Meirelles e Lima (2016). As autoras
apontam três principais características para a compreensão dos pilares do
capitalismo brasileiro.
A primeira característica diz respeito ao projeto de colonização, o qual
esteve voltado exclusivamente para atender ao mercado externo (de outros
países), em detrimento do desenvolvimento do mercado interno. Essa forma de
produção ou tipo de atividade econômica ocorre desde o período da colonização
até a primeira república.
As matérias-primas extraídas e os bens produzidos no Brasil eram
utilizados para a economia de países europeus. A circulação interna de
mercadoria ficava em segundo plano, apenas para a subsistência da população
local. Inicialmente, os principais bens aqui produzidos e exportados eram o
açúcar e o tabaco, depois passamos a fornecer ouro, algodão, diamante e café.
Todas essas riquezas extraídas do solo brasileiro serviram para abastecer os
países europeus, deixando o mercado interno em segundo plano (Souza;
Meirelles; Lima, 2016).
A segunda característica está relacionada à questão da grande
concentração de terras no Brasil1, devido à grande disponibilidade de terra
fértil. Isso significa que grandes latifúndios estavam sob controle de algumas

1 Para se aprofundar mais no assunto, você pode pesquisar sobre as Capitanias Hereditárias,
acordo que, em meados de 1530, dividiu o território brasileiro em grandes porções de terra para
destiná-las a algumas famílias portuguesas instaladas no Brasil.
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famílias portuguesas instaladas no Brasil, e um exemplo disso são as Capitanias
Hereditárias de 1534.
Esse processo se caracteriza pelo monopólio da terra. Mesmo com a
extinção das Capitanias, a cultura do monopólio de terras passa a ser marcada
pelo que chamamos de coronelismo. “Este processo de concentração e
centralização caracteriza o monopólio da terra por parte de um único proprietário,
diferentemente de qualquer outro sistema que permita a ocupação e a produção
de vários pequenos proprietários.” (Souza; Meirelles; Lima, 2016, p. 54).
Assim, podemos afirmar que a questão fundiária, que existe desde o
Período Colonial, determinou a divisão social de classes na formação sócio-
histórica brasileira, pois não conseguimos superar a cultura dos monopólios. Em
vista desse fato, o processo de modernização vai ocorrer de forma conservadora,
ou seja, com vistas a atender aos interesses da classe dominante, o país vai se
desenvolver economicamente, mas não socialmente.
A terceira característica está relacionada ao regime de escravidão: a
produção de bens/mercadorias no Brasil por muito tempo ocorreu por meio da
exploração do trabalho escravo (até o final do regime imperial). A origem da força
de trabalho na colonização brasileira ocorreu com base na transferência da
população africana, que era tratada como parte dos meios de produção nas
grandes fazendas.

Nas relações de produção escravistas ou no regime de escravidão no


modo de produção capitalista, o escravo é uma mercadoria vinculada
à produção e redução do capital em um contexto da superexploração
da força de trabalho, na medida em que se trata de um trabalho não
remunerado, no qual a expropriação da mais-valia é total. (Souza;
Meirelles; Lima, 2016, p. 54)

Dessa forma, a análise das autoras aponta que a população negra era
mera força de trabalho nas grandes plantações, e que, com a abolição da
escravatura da forma como foi realizada, sem nenhuma garantia de
sobrevivência à população negra, a divisão social de classes e a desigualdade
social só se acentuaram.

TEMA 4 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICO-


BURGUESA NO BRASIL

A consolidação do capitalismo brasileiro só pode ser compreendida


quando levamos em consideração os fatores históricos, sociais e políticos que

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foram determinantes para a nossa formação sócio-histórica. Segundo Souza,
Meirelles e Lima (2016), a revolução democrático-burguesa no Brasil representa
uma mudança estrutural nas relações sociais e de produção.
No entanto, os marcos históricos da construção da sociedade brasileira
resultam de ações de “cima para baixo”, ou seja, sem a participação popular.

Entre os elementos sócio-históricos mais significativos no processo


capitalista brasileiro e suas conformações políticas, sobressai o debate
sobre qual seria o momento determinante em que ocorreu a revolução
burguesa (ou revolução democrático-burguesa) no país, como
expressão de uma mudança estrutural que tenha promovido,
simultaneamente, a hegemonia de relações sociais de produção
propriamente capitalista e as ampliações de direitos sócio-políticos-e-
econômicos a uma força de trabalho “livre” (assalariada), liberta de
relações pautadas no servilismo ou pela escravidão. (Souza; Meirelles;
Lima, 2016, p. 54)

As decisões vindas da classe dominante não favoreceram o


desenvolvimento do país de modo que atendesse aos interesses da população
em geral, mas, sim, de alguns grupos que estavam no poder, e, mais grave
ainda, colocaram o Brasil numa situação de dependência econômica do
capitalismo internacional e subalternidade frente aos países imperialistas (como
os Estado Unidos). São exemplos desses marcos históricos a Independência, a
Abolição da Escravatura, a Proclamação da República e o Golpe Militar de 1964.

TEMA 5 – INDUSTRIALIZAÇÃO RETARDATÁRIA NO BRASIL

O processo de industrialização no Brasil tem início no período republicano


(1889-1930), quando se inicia também a constituição de uma classe
trabalhadora assalariada, tendo em vista que, na ocasião, também ocorreu a
abolição da escravidão e a implantação do trabalho “livre”.
“Historicamente, o período republicano representa a consolidação do
regime de assalariamento e o ‘verdadeiro’ início do processo de industrialização
no Brasil, que até então era bastante precário.” (Souza; Meirelles; Lima, 2016, p.
79). Esse processo ocorreu sob dependência do capital estrangeiro:

O processo de industrialização no Brasil ocorreu quase que


exclusivamente com capital internacional, os empréstimos eram
solicitados não somente pelo governo federal, mas também por
estados e municípios. Aqui é preciso lembrar que os períodos de
Guerra configuraram um capítulo excepcional na economia dos países,
especialmente em função do deslocamento de investimentos internos
para produtos bélicos. (Souza; Meirelles; Lima, 2016, p. 79)

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Após a Primeira Guerra Mundial, o Brasil apresenta crescimento
econômico, principalmente em função da exportação de armas para os países
envolvidos na guerra. Nesse período, ampliam-se também as técnicas utilizadas
na agropecuária, o que possibilitou ao Brasil atender aos países em guerra com
seus produtos.
O período pós-Primeira Guerra Mundial se caracterizou pela crise
econômica mundial (Crise de 1929), e o Brasil, assim como os outros países,
também sofreu as consequências. É nesse cenário que se instalam as primeiras
multinacionais no país, “com objetivo de acumulação capitalista, utilizando força
de trabalho mais barata, fugindo das tarifas alfandegárias e eliminando os custos
com transporte.” (Souza; Meirelles; Lima, 2016, p. 79).
Em termos de industrialização retardatária, Souza, Meirelles e Lima
pontuam que, até a década de 1950, a economia brasileira se baseava na
exportação de produtos primários, ao passo que outros países já estavam com
suas indústrias a “todo vapor”.

NA PRÁTICA

Vimos que uma das características da origem do capitalismo no Brasil foi


o monopólio de terras, principal meio de produção nesse período, o que
determinou a divisão de classes no país.
O desafio aqui é que você descubra em seu estado quem são as famílias
tradicionais proprietárias de terras. Esse exercício deve ajudar a compreender
como aconteceu a concentração de riquezas no seu estado.

FINALIZANDO

Nesta aula, aprendemos que a origem do capitalismo brasileiro tem


marcas que estão “vivas” até os dias de hoje, como, por exemplo, a concentração
de terras. Outra característica importante é que o capitalismo industrial no Brasil
chega de forma tardia em relação a outros países, e isso nos coloca numa
posição de dependência.

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REFERÊNCIAS

FERNANDES, F. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação


sociológica. 5. ed. São Paulo: Globo, 2006.

NETTO, J. P.; BRAZ, M. Economia política: uma introdução crítica. São Paulo:
Cortez, 2016.

SOUZA, D. G.; MEIRELLES, G. A. L.; LIMA, S. M. A. Produção capitalista e


fundamentos do Serviço Social (1951-1970). Curitiba: Editora InterSaberes,
2016.

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