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Caderno da Cidade

Saberes e Aprendizagens

HISTÓRIA


ANO
L
EN

SI
TA

NO EN
FUNDAM

SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO
Prefeitura da Cidade de São Paulo
Ricardo Nunes
Prefeito

Secretaria Municipal de Educação – SME


Fernando Padula
Secretário Municipal de Educação

Malde Maria Vilas Bôas


Secretária Executiva Municipal

Bruno Lopes Correia


Secretário Adjunto Municipal de Educação

Omar Cassim Neto


Chefe de Gabinete

Sueli Mondini
Chefe da Assessoria de Articulação
das Diretorias Regionais de Educação – DREs
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo

Caderno da Cidade
Saberes e Aprendizagens
HISTÓRIA

5 o
ANO
ENSINO FUNDAMENTAL

São Paulo | 2024


COORDENADORIA PEDAGÓGICA – COPED EQUIPE TÉCNICA SME – HISTÓRIA
Simone Aparecida Machado - Coordenadora Allan Cavalcanti de Moura

DIVISÃO DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO – DIEFEM ASSESSORA TÉCNICA


Tatiane Aparecida Dian Hermanek - Diretora Lilian de Cassia Miranda de Gioia

EQUIPE TÉCNICA – DIEFEM ELABORAÇÃO


Allan Cavalcanti de Moura Allan Cavalcanti de Moura
Andreia Fernandes de Souza Antônio Reis Júnior
Bruna Acioli Silva Machado David Capistrano da Costa
Bruno Carvalho da Silva Barros Gilson dos Santos
Daniela Lívia da Costa Esposito Larissa de Gouveia Fraga
Dilean Marques Lopes Lilian de Cassia Miranda de Gioia
Eliana Sousa Santana Rosângela Ferreira de Souza Queiroz
Felipe Zuculin da Fonseca
Francieli Araújo Guerra REVISÃO DE CONTEÚDO
Giulia Donatelli Baena - Estagiária Allan Cavalcanti de Moura, André Freitas Dutra, Andreia
Humberto Luis de Jesus Fernandes de Souza, Antônio Reis Júnior, Clodoaldo Gomes
Keli Cristina Correia Alencar Junior, David Capistrano da Costa, Douglas Maris
Larissa de Gouveia Fraga Antunes Coelho, Gilson dos Santos, Larissa de Gouveia Fraga,
Leonardo Franco dos Santos Mendes - Estagiário Lilian de Cassia Miranda de Gioia, Rafael Fernando da Silva
Lisandra Paes Santos Fitipaldi, Rosângela Ferreira de Souza Queiroz.
Lívia Ledier Felix Vieira
Mariana Paulino Soares LEITURA CRÍTICA
Michele Ortega Gomes Allan Cavalcanti de Moura, Aracele Florencio Bezerra, Darlan
Nelsi Maria de Jesus da Conceição Neves, Davi Silvestre Fernandes Martins,
Paula Costa Vieira da Silva Douglas Rocha Constâncio, Evelise Zablonski Ferreira de
Samira Novo Lopes Barros, Ewerton Talpo, Flávio Toshiki Imai Nishimori, Gabriela
Sandra Salavandro Rodrigues Freitas Saquelli, Izilda de Albuquerque Pinto, Luiz Carlos
Shirlei Nadaluti Monteiro Pissamiglio Dias Barreiras, Marcia Regina Galvão, Mauro
Tiemi Okimura Kerr Soares da Rocha, Rafael Fernando da Silva Santos Fitipaldi,
Sandra Zilda Santana Marques, Silvana Albadejo Garvi.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação.


Coordenadoria Pedagógica. Qualquer parte desta publicação poderá ser compartilhada (cópia e redis-
Caderno da cidade : saberes e aprendizagens : tribuição do material em qualquer suporte ou formato) e adaptada (remixe,
História – 5º ano. – São Paulo : SME / COPED, 2024. transformação e criação a partir do material para fins não comerciais), des-
de que seja atribuído crédito apropriadamente, indicando quais mudanças
foram feitas na obra. Direitos de imagem, de privacidade ou direitos morais
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uso pretendido.
1. Ensino Fundamental. 2. Aprendizagem. 3. História. A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo recorre a diversos
I. Título. meios para localizar os detentores de direitos autorais a fim de solicitar
autorização para publicação de conteúdo intelectual de terceiros, de
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ou inadequação na atribuição de autoria de alguma obra citada neste
documento, a SME se compromete a publicar as devidas alterações tão
logo seja possível.
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Elaborado por Patrícia Martins da Silva Rede – CRB-8/5877 Consulte: educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br
OLÁ, ESTUDANTE!

Ao receber os Cadernos da Cidade: Saberes e Aprendizagens, saiba que estamos junto com
você, dando continuidade a um processo que se iniciou no ano de 2017, com a publicação do Cur-
rículo da Cidade. Como você, provavelmente, já deve saber, trata-se de um trabalho colaborativo
que, ao longo desse tempo, contou com a participação de professores da Rede Municipal de Ensino
de São Paulo e de especialistas de cada uma das áreas que compõe esta coleção: Ciências Naturais,
Geografia, História, Língua Inglesa, Língua Portuguesa e Matemática.
O Ensino Fundamental, etapa da Educação Básica da qual você faz parte, é um período
de intensas aprendizagens. Em virtude disso, a proposta dos Cadernos da Cidade é ser mais um
instrumento à disposição de seus/suas professores(as) e tem por objetivo potencializar conhe-
cimentos importantes para sua vida em sociedade.
Assim como nos anos anteriores, este é um material consumível, ou seja, você poderá
utilizá-lo para escrever, grifar, sublinhar, responder, anotar e destacar informações importantes
durante as aulas em que os Cadernos da Cidade forem utilizados. Com isso, consideramos im-
portante lembrar sobre a necessidade de conservação e de utilização consciente deste material,
que pode servir como mais uma ponte entre os conhecimentos e saberes da sua escola, da sua
cidade, do seu estado, do seu país e do mundo.
Os Cadernos da Cidade sempre farão mais sentido sob a orientação do(a) professor(a).
Portanto, é importante que você, na condição de estudante, seja também um corresponsável
pelas suas aprendizagens. Escola é lugar de aprender. Aproveite tudo o que esse ambiente pode
lhe oferecer ao longo deste ano!
Por fim, desejamos que as sequências de atividades dos Cadernos da Cidade permitam que
você aprenda, discuta, reflita, troque ideias, leia, resolva problemas, investigue, analise e, a partir
de todas essas ações, produza outros conhecimentos indispensáveis à nossa vida em sociedade.

Bons estudos!

Fernando Padula
Secretário Municipal de Educação
SUMÁRIO
UNIDADE 1
A Cidade de São Paulo e os modos de vida:
passado e presente........................................................................ 6
ATIVIDADE 1 – A Cidade de São Paulo no século XXI.............................................................8
ATIVIDADE 2 – Modos de vida na Cidade de São Paulo colonial..........................................13
ATIVIDADE 3 – Modos de vida na São Paulo do século XIX..................................................19

ATIVIDADE 4 – Modos de vida na Cidade de São Paulo no século XX...................................27

UNIDADE 2
A Cidade de São Paulo e outras cidades brasileiras
e do mundo................................................................................. 34
ATIVIDADE 1 – A capital federal do Brasil............................................................................36
ATIVIDADE 2 – A primeira capital do Brasil.........................................................................43
ATIVIDADE 3 – A segunda capital do Brasil.........................................................................50
ATIVIDADE 4 – A cidade do México.....................................................................................60
ATIVIDADE 5 – A cidade de Luanda.....................................................................................66
UNIDADE 3
Modos de vida indígena e quilombola............................................ 74
ATIVIDADE 1 – História dos povos indígenas no Território Indígena do Xingu.......................76
ATIVIDADE 2 – O modo de vida dos povos indígenas no Território Indígena do Xingu..........84

ATIVIDADE 3 – Modos de vida quilombola no Brasil atual...................................................90

UNIDADE 4
Culturas, grupos e modo de viver ................................................. 94
ATIVIDADE 1 – Modos de vida: diferentes povos e culturas..................................................96
ATIVIDADE 2 – A Cidade de São Paulo e a circulação de seus habitantes............................101
ATIVIDADE 3 – Diferentes grupos e culturas na cidade.......................................................106
ATIVIDADE 4 – O cotidiano na cidade e as mudanças históricas........................................112
LÍNGUA PORTUGUESA
HISTÓRIA

UNIDADE 1

A Cidade de
São Paulo e os
modos de vida:
passado
e presente
PRIMEIRAS PALAVRAS

As cidades estão entre as mais importantes


https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/02/Webysther_20190306131041_-_Edif%C3%ADcio_Altino_Arantes.jpg

criações humanas. Surgidas há mais de milê-


nios, elas continuam a se transformar através
dos tempos. Atualmente uma das maiores ci-
dades do mundo, a Cidade de São Paulo, co-
meçou sua história há quase 500 anos, bem
pequenininha, e, apenas mais recentemente,
se transformou no lar de mais de 12 milhões de
pessoas. Nessa unidade, vamos conhecer um
pouco dessa história e do modo de vida de seus
habitantes em diferentes períodos históricos.
5º ANO PORTUGUESA
LÍNGUA
7
HISTÓRIA
8

ATIVIDADE 1 – A Cidade de São Paulo no século XXI

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Parque_Ibirapue-
ra_(vista_a%C3%A9rea).jpg
Foto aérea da Cidade de São Paulo em torno do Parque do Ibirapuera.

Avistar a Cidade de São Paulo do alto é bem impressionante, não é? Essa foto aérea mos-
tra um enorme conglomerado de edifícios, casas e construções, cortados por ruas e avenidas
que se estendem por uma área total de 1.522 km2. Vivem nesse espaço, mais de 12 milhões
de pessoas. Muitas delas nasceram e aqui vivem, outras vieram de diversas partes do Brasil,
enquanto outras são provenientes de diferentes lugares do mundo.
A região que chamamos de Grande São Paulo é o quarto maior conglomerado urbano
do mundo, sendo superada apenas por Tóquio, no Japão, Delhi, na Índia e Shangai, na Chi-
na. Viver na Cidade de São Paulo significa dividir o espaço com milhões de pessoas que se
deslocam de um lado para outro da cidade e para os municípios vizinhos, diariamente, para
trabalhar, estudar e ter acesso a serviços, como hospitais e atendimento médico, escolas e
universidades etc.
5º ANO
9

https://pt.wikipedia.org/wiki/Metr%C3%B4_de_S%C3%A3o_Paulo#/media/Ficheiro:S%-
C3%A3o_Paulo_metro,_Palmeiras_Barrafunda_station.jpg

Estimativas apontam que circulam nos trens do metrô da Cidade de São Paulo mais
de cinco milhões de pessoas por dia. Foto tirada na estação Palmeiras-Barra Funda do metrô.

Muitas atividades econômicas são realizadas na cidade, que concentra uma grande quan-
tidade de empresas do setor industrial, da construção civil, setor responsável pela edificação
de prédios, casas, grandes obras públicas e privadas e do setor terciário, que se ocupa de
atividades associadas ao comércio e à prestação de serviços, como segurança, limpeza, admi-
nistração, educação, finanças, turismo, lazer, diversão, entretenimento e outros. Justamente
por concentrar atividades de várias áreas, a cidade atrai pessoas que aqui podem estudar e
encontrar trabalho em diferentes campos.

1 Responda às questões a seguir:

a) A região da Grande São Paulo ocupa que lugar entre as maiores cidades do mundo?

b) Quantos são os moradores da cidade?

c) O que a foto presente nessa página nos mostra?


HISTÓRIA
10

d) Como a sua família se desloca na Cidade de São Paulo?

Em função das gran-


des dimensões territoriais

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ab/Congestionamento_no_Vale_do_Anhagaba%
da cidade, a maioria das
pessoas que vivem em São
Paulo precisam fazer longos
trajetos para se deslocar,
usando diferentes meios de
transporte, como o metrô,
trens, ônibus, automóveis,
bicicletas e a pé. O trânsito
de automóveis e os enormes
congestionamentos nas ruas
e avenidas se tornaram uma
espécie de marca do modo

C3%BA.JPG
de vida das pessoas, que
precisam sair de casa, por Foto noturna de trânsito intenso no vale do Anhangabaú, região central da cidade.
vezes, muitas horas antes,
para poder chegar em seus compromissos a tempo. Outra marca no modo de vida na cidade
refere-se à agitação constante nos locais mais movimentados dos bairros e da zona central, em
que pessoas, apressadas e atarefadas, vão de um lugar para outro.
No modo de viver dos habitantes da cidade, o deslocamento urbano e as horas perdidas
no trânsito são alguns dos grandes problemas que a maioria dos moradores enfrentam. O
transporte público de massa, como o metrô, os trens e os ônibus, é insuficiente para servir ao
número de pessoas e, sobretudo, nas zonas periféricas, áreas mais longes do centro, as pesso-
as precisam se aglomerar e despender muitas horas apenas para chegar ao trabalho.
O modo de vida das pessoas também é impactado pela poluição do ar, especialmente,
nas épocas do ano em que chove pouco e os poluentes se concentram no ar. Este problema
afeta, sobretudo, os moradores das zonas periféricas, que contam com um menor número de
áreas arborizadas na cidade. A falta de áreas verdes agrava os problemas da poluição do ar e
sonora e contribui para que o bem-estar físico e mental de todos seja prejudicado.
5º ANO
11

Bairro da Mooca e
os bairros vizinhos,
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d9/FABRICAS.jpg

na Zona Leste da
cidade, contam
com baixos índices
de áreas verdes,
o que impacta
a saúde física
e mental dos
moradores
dessas regiões.

A existência de grandes desigualdades sociais e econômicas é outra característica da


Cidade de São Paulo que afeta o modo de viver de seus habitantes. Alguns moradores de
bairros mais privilegiados da cidade têm boa qualidade de vida, maior escolaridade e salá-
rios, enquanto os moradores das zonas mais pobres vivem menos, têm menor escolaridade e
menores salários.
C3%A3o_Paulo)#/media/Ficheiro:Parais%C3%B3polis_I.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Parais%C3%B3polis_(S%-

No primeiro plano da fotografia, temos casas simples em área pobre, em Paraisópolis, região que sofre com a falta
de opção de lazer, falta de saneamento básico, dentre outros problemas. Ao fundo, prédios de luxo, moradias de
pessoas de alto poder aquisitivo, no bairro do Morumbi, na Cidade de São Paulo.
HISTÓRIA
12

RODA DE CONVERSA
São Paulo é uma cidade de grandes contrastes. Se, por um lado, existem bairros arborizados,
com presença de espaços de lazer, acesso a bons serviços e riqueza, por outro lado, milhões de
pessoas vivem em áreas precárias com baixos salários, sem saneamento básico, sem serviços
públicos de saúde de qualidade, sem acesso à educação e ao lazer.
y Converse com seus colegas sobre as contradições existentes na Cidade de São Paulo. Como
é o local em que você vive? Que características você nota em seu bairro de moradia? Há
falta de lugares de lazer? Ou falta de bibliotecas ou escolas? Há ruas esburacadas? Ou você
considera que seu bairro está bem cuidado, oferecendo boas oportunidades de moradia,
acesso a transportes e ao lazer? Depois, produza um texto tratando dos eventuais proble-
mas e qualidades do local em que vive.

Outro importante traço do modo de viver da cidade está ligado à grande diversidade
cultural existente entre seus moradores. Pessoas vindas de todas as partes do Brasil vivem em
São Paulo, trazendo seus costumes, suas festas e hábitos alimentares para a cidade. Restau-
rantes paraenses, baianos, capixabas, mineiros se encontram nos vários bairros da cidade
hoje em dia, assim como lojas de alimentos que vendem produtos típicos dessas culinárias e
regiões. Hábitos alimentares de outros países se difundiram na cidade e foram incorporados
pelos moradores de São Paulo, como os pratos da culinária italiana, japonesa, árabe ou co-
reana. Pizza, esfiha, sushi e outros tantos pratos estrangeiros se encontram aos milhares em
vários restaurantes existentes, nos diversos bairros, a ponto de transformar São Paulo em um
destino gastronômico para os visitantes e seus moradores.

Foto que mostra o interior da Pinacoteca do Estado


de São Paulo, museu de arte e de exposições,
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/3c/Pinacoteca_di_

que faz parte parte da riqueza cultural da Cidade de


São Paulo.

PARA SABER MAIS


sao_paulo%2C_01.JPG

Que tal conhecer melhor a Pinacoteca do Esta-


do de São Paulo?

Link: https://drive.google.com/drive/
folders/10eBLL0Mp6A6sJbuKaOBtwoVxximiPbjw?usp=drive_link
5º ANO
13

São Paulo oferece muitas opções de espaços cultu-


rais e de lazer, como cinemas, teatros, museus, centros

https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgio_Vaz#/media/
culturais, restaurantes, bares, áreas verdes e parques,
embora muitas dessas atividades não sejam acessíveis
para os que possuem baixa renda e moram nas zonas
mais distantes do centro. Feiras de povos latino-ame-

Ficheiro:SergioVaz.jpg
ricanos, de povos do leste europeu, festas como a do
Bumba meu Boi e a do Samba da Vela fazem parte do
calendário cultural da cidade, juntamente com tantas
outras manifestações culturais que integram o modo O idealizador da Cooperifa, o poeta Sérgio
de viver e o cotidiano da Cidade de São Paulo. Vaz, criou em 2001 a entidade, que já fez
mais de 800 encontros. Neles, escritores,
poetas e artistas declamam textos que são
y Você acha que o modo de viver dos habitan- acompanhados por um grande número de
tes da Cidade de São Paulo se relaciona ape- pessoas. Eventos como esse compõem a
riqueza cultural da Cidade de São Paulo.
nas com o trabalho?

ATIVIDADE 2 – M
Modos
odos de vida na
Cidade de São Paulo colonial

A Cidade de São Paulo, diferente-


mente da maioria das cidades funda-
das pelos portugueses quando vieram
para a América no século XVI, não foi

http://mttvirtual.org/files/uploads/ckfinder/images/M01/
estabelecida à beira-mar. Ao contrá-
rio, foi criada serra acima, no planal-
to, numa área plana após o término
da Serra do Mar. Na região onde o

m01-Aldeia-de-Tibiri-1532.jpg
Pátio do Colégio foi construído, vi-
viam os tupiniquins que coexistiam
e que, muitas vezes, guerreavam com
os guaianases e outros grupos indíge- Desenho de como teria sido a Aldeia de Tibiriçá no planalto de
nas. O líder dos tupiniquins na região Piratininga, feito por Vallandro Keating, no século XX, com base
era o guerreiro Tibiriçá, que chefiava em documentos históricos. [Vallandro Keating in Caminhos da
conquista - a formação do espaço brasileiro, Terceiro Nome,
a aldeia de Inhapuambuçu. Além des- 2008 e presente também no livro 450 São Paulo: metrópole em
sa existiam outras aldeias, como a de trânsito, publicação em parceria com Prefeitura.]

Uraraí, que formaria, mais tarde, a


base da aldeia de São Miguel, a de Mairanhaia e a de Ibirapuera. Os membros dessas aldeias
tinham relações de parentesco entre si e os contatos entre eles eram constantes.
HISTÓRIA
14

1 Que diferença São Paulo apresentou em relação às outras cidades que foram fundadas no
período colonial?

2 O local onde o Pátio do Colégio foi fundado era habitado? Explique.

3 Quantas aldeias existiam na região?

4 As aldeias travavam relações entre elas?

5 O que você observa no desenho feito por Vallandro Keating sobre a aldeia de Tibiriçá?
5º ANO
15

Os jesuítas se instalaram no planalto, após firmar aliança com os tupiniquins. O núcleo


original onde foi construído o Pátio do Colégio se expandiu, a população cresceu e passou a
se dedicar à produção de cereais, como o trigo, o milho e a gêneros como o feijão e a man-
dioca. Além disso, passaram a cultivar marmelo, uva, algodão e árvores frutíferas. O trigo
produzido na cidade era destinado à produção de pão e ao comércio com o Rio de Janeiro,
os cestos contendo o trigo eram transportados pela Serra do Mar nas costas dos indígenas e
de lá mandados de navio.
Outra atividade econômica que os habitantes da cidade passaram a se dedicar foi o
aprisionamento de indígenas para a escravização e a comercialização, uma vez que o preço
dos escravizados africanos era muito alto. Para conseguir capturar os indígenas, expedições
foram montadas, usando o rio Tietê para adentrar no interior do território, longe das zonas
litorâneas para onde os indígenas se dirigiram para escapar da escravidão. Além de capturar
indígenas, as expedições, chamadas bandeiras, procuravam ouro. Os escravizados eram usa-
dos nas tarefas diárias, no carregamento de mercadorias na Serra do Mar, nas plantações, na
criação de animais e muitas outras atividades.

6 Como os jesuítas conseguiram se instalar na região da aldeia de Inhapuambuçu?

7 Que atividades econômicas eram desempenhadas pelos habitantes da Cidade de São Paulo?
HISTÓRIA
16

8 Descreva o que você vê na gravura de Jean-Baptiste Debret. Depois, comente a importância


da escravização dos indígenas para a elite, os homens mais importantes e poderosos de
São Paulo.

A vida na Cidade de São Paulo era simples e o núcleo permaneceu pequeno até a metade
do século XIX. As casas eram construídas de taipa, processo de construção que usava barro
e madeiras e eram cobertas de palha. Os móveis eram feitos de materiais como barro e ma-
deira e alguns poucos objetos eram de estanho. Os mais ricos tinham um ou outro objeto de
prata e aqueles utensílios vindos da Europa eram passados de geração em geração, já que
eram raros, difíceis de serem obtidos e caros. Diferentemente do que acontece atualmente, os
objetos do dia a dia podiam valer mais do que terras e casas.
Bem menos importante do que outras cidades coloniais como Salvador, Recife e Olin-
da, que viviam da riqueza da produção de açúcar, São Paulo voltou-se para o comércio in-
terno, isto é, para a produção de alimentos e não se dedicou ao cultivo da cana-de-açúcar
e produção de açúcar, artigo de maior valor, em razão do clima desfavorável e da maior
distância de Portugal.
5º ANO
17

9 Hoje em dia, a Cidade de São Paulo movimenta muita riqueza e há muitas atividades eco-
nômicas sendo desenvolvidas. E, no período colonial, a cidade também era rica e dinâmica?

10 De que materiais eram construídas as casas?

11 Por que São Paulo não se dedicou a plantar cana-de-açúcar e a produzir açúcar?

12 Observe a aquarela de Thomas Ender e descreva o que você nota acerca da representação
da Cidade de São Paulo.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Thomas_Ender_-_Pal%-
C3%A1cio_do_Governo_em_S%C3%A3o_Paulo,_1817.jpg

Thomas Ender. Palácio do Governo em São Paulo, de 1817. Aquarela. 1817,


HISTÓRIA
18

Outra característica do modo de vida da Cidade de São Paulo no período colonial é que
ela estava mais isolada do que outras cidades litorâneas, pois a barreira da Serra do Mar
dificultava os contatos com outros lugares. A população da cidade foi sendo composta de
indígenas, de portugueses e dos filhos e filhas de portugueses com as indígenas, chamados
à época de mamelucos ou caboclos. Justamente porque os contatos externos eram mais ra-
ros, o modo de viver em São Paulo foi, até o final do século XVIII, profundamente marcado
pelos hábitos, objetos de uso diário e pelos conhecimentos indígenas sobre as plantas, os
animais, os recursos da terra, a geografia, os alimentos. Até a língua que se falava na cidade
era uma mistura de tupi-guarani com português. Muitos habitantes da cidade, inclusive, não
sabiam falar português. Documentos históricos revelam que, muitas vezes, havia necessidade
de intérpretes para que as pessoas pudessem ser compreendidas por aqueles que vinham de
outros lugares. Em comparação com outras cidades do período colonial, São Paulo foi uma
das cidades mais influenciadas pela cultura indígena.

13 Assinale as alternativas corretas e corrija as incorretas:

a) ( ) A Cidade de São Paulo se manteve mais isolada no período colonial do que outras
graças à sua localização no litoral.

b) ( ) A população da Cidade de São Paulo no período colonial era composta fundamental-


mente de portugueses.

c) ( ) A forte presença indígena na Cidade de São Paulo influenciou as formas de se falar, a


alimentação e os conhecimentos sobre a fauna, flora e objetos de uso cotidiano.

d) ( ) Na Cidade de São Paulo, até meados do séculos XVIII, falava-se uma mistura de tupi
com português.
5º ANO
19

ATIVIDADE 3 – Modos de vida na São Paulo


do século XIX

VAMOS PESQUISAR!
A toponímia é um campo de saber que estuda a formação dos nomes próprios de lugares. Na
Cidade de São Paulo, muitos nomes têm origem indígena, o que comprova a presença e sua
importância para a história da cidade.

Vamos pesquisar o nome de lugares como os rios e lugares de São Paulo. Busque o significado
desses nomes em mapas da cidade. Selecione, no mínimo, cinco nomes e seus respectivos signi-
ficados. Depois, produza um cartaz virtual com seus colegas de turma para mostrar a influência
indígena nas denominações dos nomes próprios que batizaram lugares da cidade.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/ce/Planta_da_Ci-
dade_de_S._Paulo_%281810%29.jpg

Planta da Cidade de São Paulo, em 1810.


HISTÓRIA
20

A planta na página anterior refere-se à representação da área demarcada da Cidade de


São Paulo em 1810. Nessa planta, 25 lugares estão marcados por letras. Esses lugares são
os mais importantes e destacados da cidade, como a catedral, o colégio jesuítico, conventos
como o de São Francisco, Igrejas como a do Rosário, a Casa da Câmara e a Cadeia, pontes de
pedras sobre rios, dois hospitais e algumas chácaras. Além disso, estão marcados o Caminho
da Luz, de Nossa Senhora do Ó e de Pinheiros.
A partir dos anos de 1760, o cultivo de cana-de-açúcar na região próxima a Itu começou
a gerar mais riqueza e a Cidade de São Paulo se tornou um pouco mais próspera. Aqueles que
começaram a enriquecer com o açúcar se estabeleciam na cidade. Mesmo assim, só existiam
dois bairros, da Sé e de Santa Efigênia, e a população não chegava aos 10.000 habitantes.
O ritmo de crescimento e o modo de vida da cidade não se modificou muito nos primei-
ros cinquenta anos do século XIX. A influência indígena, tão evidente anteriormente, dimi-
nuiu. Os indígenas foram reunidos em aldeamentos, em regiões como a de Pinheiros e de São
Miguel e, pouco a pouco, seu número diminuiu.

1 Assinale as alternativas corretas e reescreva as incorretas:

a) ( ) Os primeiros cinquenta anos do século XIX na Cidade de São Paulo transformaram
por completo a antiga cidade colonial.

b) ( ) Tebas foi um ex-escravizado e arquiteto que transformou a fachada de muitos prédios


públicos na Cidade de São Paulo no final do século XVIII.

c) ( ) Em São Paulo, por volta de 1810, já existiam muitos bairros porque a população havia
crescido.

d) ( ) Os indígenas que viviam na Cidade de São Paulo foram agrupados em aldeamentos.

No século XIX, com o desenvolvimento da cultura do café na região do Vale do Paraíba e


depois na região de Campinas e Ribeirão Preto, a Cidade de São Paulo começou a se benefi-
ciar da prosperidade que o novo cultivo gerou. De 1860 ao início do século seguinte, a lavou-
ra cafeeira mudaria totalmente a história da Cidade de São Paulo, que começou a crescer e se
modernizar em vários sentidos.
5º ANO
21

PARA SABER MAIS


O bairro da Casa Verde recebeu esse nome porque naquela área havia uma chácara na margem direita
do Tietê, onde o militar José Arouche de Toledo Rendon plantou as primeiras mudas de café trazidas
para a Cidade de São Paulo.

Os chamados barões do café, grandes proprietários de fazendas produtoras de café,


escolherem morar na Cidade de São Paulo e, com isso, obras arquitetônicas, urbanísticas
e de transportes passaram a ser feitas para modernizar a cidade, que ainda tinha uma apa-
rência colonial. O traçado das estradas de ferro criadas nesse período permitiu que o café
produzido fosse transportado de forma ágil e barata do interior até o Porto de Santos. Os
trens vinham do interior, paravam em São Paulo e continuavam a viagem até o litoral. Com
o trem, a cidade, que tinha ficado mais isolada ao longo de séculos, passou a se comuni-
car muito mais facilmente com outras capitais. A partir daí, mais negócios e investimentos
passaram a ser feitos.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_Paulista_de_Estradas_de_Ferro#/media/Ficheiro:Esta%-
C3%A7%C3%A3o_ferroviaria_de_S%C3%A3o_Carlos.jpg

A Estação de São Carlos, uma das mais importantes da Companhia Paulista.

2 Quem eram os barões do café?


HISTÓRIA
22

3 Como podemos relacionar o café com o crescimento e o desenvolvimento da Cidade


de São Paulo?

4 Que setores da cidade receberam investimentos?

Ao mesmo tempo em que essas mudanças aconteciam em São Paulo, a escravização


dos africanos entrava em sua fase final no Brasil. A necessidade crescente de trabalhadores
nas fazendas de café exigia mais trabalhadores, mas naqueles anos de 1870-80 estava cada
vez mais caro e difícil conseguir escravizados para trabalhar nos campos. Foi nesse momento
que se passou a incentivar a vinda de migrantes, vindos de outros países, para trabalhar nas
fazendas de café.
Muitos migrantes vieram ao Brasil sem saber exatamente o que encontrariam aqui. Mui-
tos não eram agricultores e, em sua terra natal, trabalhavam como artesãos, marceneiros,
pedreiros, sapateiros, dentre outros
ofícios. Assim, uma parte expres-
siva deles não se adaptou à nova
realidade nas fazendas e decidiu se
transferir para São Paulo, em um
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e5/Italians_
Sao_Paulo_-_original.jpg/1280px-Italians_Sao_Paulo_-_original.jpg
momento em que a cidade crescia e
prosperava. Entre 1885 e 1939, en-
traram no Estado de São Paulo mais
de dois milhões de migrantes. Cerca
de 65% deles chegou entre 1885 e
1914, transformando a capital em
uma cidade formada por pessoas
provenientes de muitos lugares do
mundo, como Itália, Portugal, Es-
panha e Japão. Foto que mostra migrantes no pátio central da Hospedaria dos
Migrantes, na Cidade de São Paulo, por volta de 1890.
5º ANO
23

5 Por que foi necessário incentivar a vinda de migrantes ao Brasil?

6 Os migrantes que vieram para São Paulo tinham clareza do que encontrariam por aqui?

7 Que ofícios uma parte dos migrantes realizava em sua terra natal?

8 O que eles fizeram quando não se adaptaram às condições de vida nas fazendas de café?

Os novos moradores forneceram a força de trabalho de que a cidade precisava. Suas ex-
periências profissionais anteriores melhoraram a qualidade dos serviços. Além disso, eles for-
maram um mercado consumidor para as indústrias criadas. O primeiro Censo, realizado em
1872, mostrou um crescimento populacional com os números atingindo 31.375 habitantes.
Apesar do processo de industrialização não ter se iniciado em São Paulo, foi aqui que as
indústrias encontraram as condições ideais para prosperar. A primeira indústria da cidade foi
uma fábrica de tecidos, fundada em 1872, pelo major Diogo Antônio de Barros. Alguns anos
depois, em 1895, um levantamento registrava a existência de 52 fábricas, sendo a maioria têx-
teis, serrarias e fundições, fábricas de cerveja, de chapéus e de fósforos. A maior parte dessas
empresas, inclusive a fábrica do major Diogo, estava localizada no bairro do Brás, próximo à
estrada de ferro Santos-Jundiaí.
Em 1872, a Companhia Viação Paulista instalou na cidade os primeiros bondes. Estes
eram veículos leves, puxados por burros, com capacidade máxima de 15 passageiros. Eram
HISTÓRIA
24

os chamados bondes “a bur-

https://pt.wikipedia.org/wiki/El%C3%A9trico#/media/Ficheiro:Esta%C3%A7%C3%A3o_Paulista.jpg
ro”. Era o início de uma série
de transformações no modo
de viver das pessoas na Cidade
de São Paulo, ligados às mu-
danças arquitetônicas, como
a inauguração do Viaduto do
Chá em 1892, o que permitiu a
travessia do Vale do Anhanga-
baú. A avenida Paulista tam-
bém foi inaugurada nessa épo-
ca, em 1891, em um momento
de expansão da cidade, para
além da região central no en-
torno da Praça da República,
Vista da Estação Ferroviária de São Carlos e do bonde em 1918.
dos Campos Elísios e do cen-
tro histórico.
A cidade conheceu outras melhorias, como o abastecimento de água encanada, a ins-
talação da iluminação pública nas zonas mais centrais e nos novos bairros que surgiam
em torno ao centro. Todas essas transformações modificaram a forma de viver das pesso-
as. Em 1900, a eletri-
cidade, que havia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Viaduto_do_Ch%C3%A1#/media/Ficheiro:Palacetes_Prates_e_Vale_do_Anhanga-

chegado no ano an-


terior, mudou ain-
da mais o cotidiano
na cidade. Com ela,
os bondes deixaram
de ser movidos pela
força dos animais.
Os bondes elétricos,
aos poucos, foram
sendo usados nos
vários bairros e se
tornaram, naquele
momento, um sím-
ba%C3%BA.jpg

bolo de modernida-
de e progresso.
Palacetes Prates e Vale do Anhangabaú, década de 1920.
5º ANO
25

LEITURA DE DOCUMENTOS HISTÓRICOS

9 O escritor Oswald de Andrade assistiu à chegada dos bondes elétricos na Cidade de São
Paulo em 1900. Vejamos o que ele contou sobre esse acontecimento. O texto a seguir traz
trechos de suas lembranças daquele tempo. Leia o texto com atenção, consulte no glossá-
rio as palavras desconhecidas e depois responda às questões:

“Anunciou-se que São Paulo ia ter bondes elétricos. Os tímidos veículos puxados a burros,
que cortavam a morna cidade provinciana, iam desaparecer para sempre. Não mais veríamos, na
descida da ladeira de Santo Antônio, frente à nossa casa o bonde descer sozinho equilibrado pelo
breque do condutor. E o par de burros seguindo depois.
Uma febre de curiosidade tomou as famílias, as casas, os grupos. Como seriam os novos bon-
des que andavam magicamente, sem impulso exterior? Eu tinha notícia [...], filho da cozinheira
de minha tia, vinda do Rio, que era muito perigoso esse negócio de eletricidade. Quem pusesse os
pés nos trilhos ficava ali grudado e seria esmagado facilmente pelo bonde. Precisava pular. (...)
O projeto aprovado, começaram logo os trabalhos da execução. E anunciaram que numa ma-
nhã apareceria o primeiro bonde elétrico. Indicaram-me a atual Avenida de São João como o local
por onde transitaria o veículo espantoso.
Um mistério esse negócio de eletricidade. Ninguém sabia como era. Caso é que funcionava.
Para isso, as ruas da pequena São Paulo de 1900 enchiam-se de fios e de postes. (...)
Um amigo de casa informava: - o bonde pode andar até a velocidade de nove pontos. Mas,
aí é uma disparada dos diabos. Ninguém aguenta. É capaz de saltar dos trilhos. E matar todo o
mundo...
A cidade tomou um aspecto de revolução. Todos se locomoviam, procuravam ver. E os mais
afoitos queriam ir até a temeridade de entrar no bonde, andar de bonde elétrico!
Naquele dia de estreia ninguém pagava passagem, era de graça. A afluência tornou-se, portan-
to, enorme (...)
Um murmúrio tomou conta dos ajuntamentos. Lá vinha o bicho! O veículo amarelo e grande
ocupou os trilhos do centro da via pública. Um homem de farda azul e boné o conduzia, tendo ao
lado um fiscal. Uma alavanca de ferro prendia-o ao fio esticado, no alto. Uma campainha forte
tilintava abrindo as alas convergentes do povo. Desceu devagar. (...)
E ficou pelo ar, ante o povo boquiaberto que rumava para as casas, a atmosfera dos grandes
acontecimentos.
O Bonde e a Cidade, In: Um Homem sem Profissão (Sob as Ordens de Mamãe). 3. ed. Rio de Janeiro: Edito-
ra Civilização Brasileira, 1976, pp. 34-37.
• Glossário
Cidade provinciana – atrasada; superada; antiga.
Disparada – corrida em alta velocidade
Afoito – apressado; valente
Temeridade – ousadia excessiva; imprudência
Afluência – grande quantidade de pessoas
Murmúrio - barulho; ruído constante
Tilintar – som produzido campainha ou objetos de metal
Boquiaberto – com a boca aberta; espantado
HISTÓRIA
26

https://pt.wikipedia.org/wiki/El%C3%A9trico#/media/Ficheiro:Es-
Vista da Estação Ferroviária
de São Carlos e do bonde,
em 1918.

ta%C3%A7%C3%A3o_Paulista.jpg
a) Que tipo de bonde, o movido a eletricidade iria substituir?

b) Por que as pessoas achavam que a eletricidade era perigosa?

c) O que aconteceu com as ruas da Cidade de São Paulo, com a implantação da infraestrutu-
ra necessária para o bonde funcionar?

d) O que acontecia, segundo o escritor, se o bonde andasse à velocidade de nove pontos?

e) Quando o bonde foi inaugurado, como ficou o clima na cidade?


5º ANO
27

ATIVIDADE 4 – M
Modos
odos de vida na cidade
de São Paulo no século XX

O século XX trouxe muitas novidades para a Cidade de São Paulo, que viu o ritmo do
crescimento da população e da cidade aumentar de forma impressionante. Logo nos primeiros
anos, a iluminação elétrica chegou em 1905, as primeiras lâmpadas elétricas foram instaladas
na rua Barão de Itapetininga. Dois anos depois, as ruas do triângulo formado pelas Ruas Direi-
ta, 15 de Novembro e São Bento foram iluminadas com 50 lâmpadas de arco fechado.
Nesse início de século, o impulso industrial na cidade se acelerou, principalmente no
setor das fábricas têxteis, que produziam os tecidos que a população mais pobre, os traba-
lhadores urbanos e migrantes, consumiam. Alguns migrantes, aproveitando a experiência
anterior de trabalho, montaram pequenas fábricas, que foram crescendo com o tempo. Em
1933, 45% das fábricas paulistas pertenciam a migrantes internacionais e uma parte dessas
fábricas se instalou na Cidade de São Paulo e nos municípios vizinhos.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5e/
Matarazzo_Building.jpg

Edifício que foi a sede das Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo até 1972, que chegou a ser o
maior complexo industrial da América Latina. Hoje em dia, o edifício, localizado no Viaduto do Chá,
é a sede da Prefeitura da Cidade de São Paulo.

No início dos anos 1930, uma severa crise internacional provocou a queda brusca dos
preços do café, o que levou os barões do café a investir a riqueza que haviam construído
nas fazendas, na nascente atividade industrial e na construção civil. Nas décadas seguintes,
a produção industrial se diversificou com indústrias do setor têxtil, vestuário, calçados,
HISTÓRIA
28

produtos alimentares, bebidas, fumo e mobiliário. A partir dos anos 1940, a cidade passou
a contar com indústrias do setor da metalurgia, mecânica, material elétrico, material de
transporte e química.

1 Coloque Falso (F) ou Verdadeiro (V) nas afirmações abaixo, corrigindo as frases incorretas:

( ) No início do século XX, na Cidade de São Paulo, a população cresceu muito e mais
lampiões à gás precisaram ser instalados na cidade.

( ) Quando a eletricidade chegou às ruas de São Paulo, os bairros pobres foram os pri-
meiros a receber os postes de luz.

( ) Foi no setor industrial têxtil que a Cidade de São Paulo, no início do século XX, con-
tou com maior número de fábricas.

( ) Muitos migrantes, vindos de outros países, lançaram-se em atividades industriais em


São Paulo, usando sua experiência anterior.

( ) A crise econômica ocorrida fora do Brasil levou fazendeiros de café a investir seus
recursos, em indústrias na Cidade de São Paulo.

Conforme crescia o número de habitantes da cidade, mais moradia, locais de comércio


e de serviços se faziam necessários para atender a todos. Nessa época, além dos migrantes
vindos de outros países, a Cidade de São Paulo passou a receber pessoas vindas de outros
estados do Brasil, como do interior de Minas Gerais e de vários estados do Nordeste, em
busca de trabalho e de melhores condições de vida. Para se ter uma ideia de como São Paulo
cresceu nesse período, dados mostram que entre 1900 e 1950, a cidade aumentou o número
de habitantes em nove vezes, ou seja, de 1900 a 1950, a população passou de cerca de 240
mil habitantes para 2,2 milhões.
5º ANO
29

População e taxa anual de crescimento, 1920 - 2021


https://img.r7.com/images/grafico-populacao-
-sp-21012021143230923

Gráfico mostra o crescimento da Cidade de São Paulo a partir de 1920 até o ano de 2021, década após década. Gráfico
elaborado com base nos dados da Fundação SEADE - https://informa.seade.gov.br/crescimento-populacao-ultimos-100-anos/

2 Por que a Cidade de São Paulo cresceu tanto?

3 Observe o gráfico e responda:

a) Em 1920, quantos habitantes a Cidade de São Paulo possuía?

b) Em 1960, esse número chegou a quanto?

c) Em 2021, o número saltou para quantos? Por qual motivo você acha que esse número
aumentou?
HISTÓRIA
30

A concentração de atividades industriais na cidade permitiu a expansão da atividade co-


mercial, que, além de se ampliar, especializou-se com a criação de ruas e regiões da cidade
voltadas para a venda de produtos específicos, como roupas, calçados, móveis etc. O mesmo
aconteceu com o estabelecimento de bancos e financeiras, e a Cidade de São Paulo se tornou
um importante centro financeiro do país. Centros de pesquisa, escolas e universidades, cria-
das na primeira década do século XX, foram fatores importantes para explicar a importância
que São Paulo assumiu no país. Nos anos 1960, o censo nacional mostrou que São Paulo
havia se tornado a maior e mais rica cidade do país. A economia se diversificou, com mais de
60% da população trabalhando no setor do comércio e na prestação de serviços.
Conforme o número de habitantes aumentou, o modo de vida da população se mo-
dificou, com a vinda de muitos trabalhadores nordestinos que construíram, literalmente, a
cidade, já que muitos se empregaram no setor da construção civil e no setor dos serviços. No-
vas áreas da cidade começaram a ser urbanizadas para receber a população que crescia, e o
sistema de transporte, o de distribuição de água e de energia elétrica também precisaram ser
expandidos. Os automóveis se tornaram mais comuns e avenidas mais largas foram abertas,
para permitir a circulação de automóveis.

4 Na década de 1960, além de um centro comercial e industrial, a Cidade de São Paulo tor-
nou-se economicamente importante em que setor?

5 Na primeira metade do século, em que outro campo a Cidade de São Paulo se destacou?

6 O que o censo dos anos 1960 demonstrou em relação à Cidade de São Paulo?

7 No que se refere ao modo de vida, o que mudou nesse momento?


5º ANO
31

Na década de 1960, os bondes elétricos que haviam sido sinônimo de progresso passa-
ram a ser vistos pelas autoridades, como o prefeito Prestes Maia, o prefeito Faria Lima e pela
elite da época, como ultrapassados, lentos e ineficientes e, em março de 1968, os bondes dei-
xaram de circular na capital. A locomoção dos moradores da cidade ficou a cargo de carros
particulares, andar a pé e utilizar os ônibus. O metrô só entrou em funcionamento na capital
em 1974. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f4/Bonde_da_linha_
do_Largo_de_S%C3%A3o_Francisco_%28001AM012002%29.jpg

Bonde da linha do Largo de São Francisco.

VAMOS PESQUISAR!
Com seu(sua) colega, faça uma pesquisa sobre a história dos meios de transporte
na Cidade de São Paulo, a partir dos anos 1960. Será preciso pesquisar na internet os
seguintes pontos:
a) o que aconteceu com os bondes que existiam na cidade a partir de 1960;
b) qual foi a última linha de bondes desativada;
c) que meios de transporte se tornaram mais comuns a partir daí;
d) quando o metrô foi criado e em que lugar do mundo;
e) quando o metrô foi inaugurado na Cidade de São Paulo;
f) caso encontre pessoas de seu convívio, que tenham vivenciado essa mudança, coloque
o depoimento delas em sua pesquisa.
Depois de finalizada a pesquisa, use o tablet para elaborar slides a fim de contar para
seus colegas sobre as transformações que o transporte público passou na cidade na-
quele período.
HISTÓRIA
32

Nas décadas seguintes, São Paulo con-


tinuou a receber mais pessoas, ainda que em
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ocupa%C3%A7%C3%A3o_perif%C3%A9rica_

ritmo menor. Novos bairros, mais distantes


do centro da cidade, foram surgindo e as
famílias de baixa renda se instalaram nes-
ses locais. Os problemas nessas áreas eram
muitos, como as deficiências de infraestrutu-
irregular_em_S%C3%A3o_Paulo,_SP,_Brasil.jpg

ra fundamentais de água encanada, rede de


esgotos, energia elétrica, transporte público
insuficiente, além de terrenos impróprios
para a construção de casas por estarem em
zonas instáveis, nas baixadas dos rios ou na
encosta de morros. O aumento populacio-
Moradores de zonas periféricas construíram suas
nal passou a causar problemas de superlota-
casas em zonas de risco como na encosta dos morros. ção nos transportes públicos, com os ônibus
sempre lotados e enormes congestionamen-
tos nas principais ruas e avenidas da cidade. A parcela mais pobre da população sofria de
forma muito mais acentuada os efeitos do crescimento desordenado.
Os bairros residenciais das elites se afastaram do centro na primeira metade do século.
Conforme isso aconteceu, as atividades de comércio e serviço também se deslocaram no
sentido de atender a esses moradores. Na década de 1960, o centro da cidade, com eixo
na Rua Barão de Itapetininga e em torno da Catedral da Sé, passou a ser considerado “o
centro velho” e ocupado por atividades voltadas a população de baixa renda. A região da
Avenida Paulista tornou-se o novo centro com presença de estabelecimentos comerciais,
financeiros e de serviços ao lado de áreas residenciais. Essas áreas contam com serviços
de infraestrutura de água encanada, rede de esgotos, energia elétrica, disponibilidade de
transporte público, áreas verdes e de lazer, assistência médica e hospitalar e maior seguran-
ça pública.
O crescimento econômico
da Cidade de São Paulo, alia-
do ao aumento da população,
tornou a cidade o mais impor-
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/com-

tante centro cultural do Brasil,


mons/d/d4/Jardim_Am%C3%A9rica.JPG

com grande concentração de


museus, casas de cultura, gale-
rias de arte, casas de espetácu-
lo, teatros, cinemas e ativida-
des culturais populares, como
Bairro de elite na Cidade de São Paulo.
5º ANO
33

as feiras e eventos de diver-


sos tipos, como os esporti-
vos e os musicais. A maioria

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Centro_Cultural_S%C3%A3o_Paulo_-_panoramio.jpg
desses locais, porém, não
está distribuído por toda a
cidade, enquanto os bairros
mais bem localizados, da eli-
te, têm grandes ofertas de
lazer e de espaços culturais;
o mesmo não acontece nas
áreas periféricas.
Além disso, a cidade
conta também com grande
oferta de bares e restaurantes
e se tornou uma referência no
cenário cultural e gastronô- Pesquisa realizada em 2019 afirma que mais de 2,7 milhões de pessoas
mico do país, devido à forte nunca foram a um centro de cultura. Foto do Centro Cultural São Paulo.
Autoria de Alexandre Possi. 2009.
presença de povos de várias
partes do mundo e do Brasil
que aqui se encontraram e revelam aspectos de sua cultura. A grande desigualdade social,
contudo, impede que todos os moradores da cidade tenham acesso à vida cultural disponível.

ATIVIDADE PRÁTICA
Converse com seus colegas sobre a questão da moradia e das características da Cidade de São
Paulo no século XX. Depois, produza um texto e trate dos seguintes pontos:

y grande concentração de pessoas nas zonas mais periféricas;


y a falta dos serviços básicos de infraestrutura e de transporte;
y compare a situação vivida pelos moradores das zonas mais distantes com os moradores das
áreas de elite;
y acesso à vida cultural;

y termine seu texto com o que você concluiu sobre o que estudou.
LÍNGUA PORTUGUESA
HISTÓRIA

UNIDADE 2
Fotografia de Paul R. Burley.
Fachada, Igreja da Ordem
Terceira de São Francisco,
Salvador, Bahia. 2021.

A Cidade de
São Paulo e
outras cidades
brasileiras
e do mundo
PRIMEIRAS PALAVRAS

As cidades são diferentes entre si. Elas possuem


histórias diferentes que se relacionam com o
local onde surgiram, com a história dos povos,
das populações que lá viveram, com as ativida-
des que seus habitantes desenvolveram no pas-
sado e desenvolvem no presente. Nessa unida-
:https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/3d/Igreja_da_Ordem_Terceira_de_S%-

de, vamos conhecer um pouco da história de


outras cidades do mundo e compará-las com a
Cidade de São Paulo.
C3%A3o_Francisco_Salvador_Fachada_2021-0065.jpg
5º ANO PORTUGUESA
LÍNGUA
35
HISTÓRIA
36

ATIVIDADE 1 – A capital federal do Brasil

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fc/Zona_Central_de_Bras%C3%ADlia_-_Eixo_Monumental.jpg
Vista aérea da zona central de Brasília, atual capital do Brasil. O conjunto arquitetônico da
cidade foi incluído como Patrimônio Mundial, em 1987, pela Unesco.

A foto acima mostra uma vista da capital federal do Brasil, a cidade de Brasília. Atual-
mente, estimativas populacionais apontam que mais de três milhões de pessoas moram na
cidade e mais de quatro milhões vivem na região metropolitana, que integra também os mu-
nicípios vizinhos na região central do Brasil.
Brasília é capital federal do Brasil, isto é, ela é a sede dos três poderes da República, o
poder executivo exercido pelo presidente, assessorado pelos Ministros de Estado; o poder
legislativo exercido pelo Congresso Nacional - composto pela Câmara dos Deputados e pelo
Senado Federal Legislativo e o poder judiciário, exercido pelos juízes existentes em todo o
território nacional. Além disso, na capital federal estão presentes as embaixadas, isto é, as
representações oficiais de governos estrangeiros dentro do território de outra nação.
Brasília foi construída e planejada para ser a capital federal do Brasil. Sua construção
se deu entre os anos de 1957 a 1960, durante o governo do então presidente da república,
Juscelino Kubitschek. A construção da nova capital se tornou um grande símbolo de moder-
nidade, de desenvolvimento do Brasil e integrou o Plano de Metas, idealizado para promover
o crescimento econômico e o desenvolvimento do país.
A execução da construção teve, porém, um custo extremamente elevado do ponto de vista
financeiro e humano, uma vez que os trabalhadores operários executaram o trabalho de cons-
5º ANO
37

trução em condições muito difíceis, em ritmo frenético, e muitos deles, inclusive, morreram
nesse processo em acidentes de trabalho. As más condições de alojamento, de alimentação e
a falta de segurança dos operários que executavam tarefas perigosas na construção de prédios
e avenidas marcou a construção da capital federal. Esses trabalhadores vinham de diferentes
lugares do país, especialmente do Nordeste, atraídos pela ampla oferta de trabalho no grande
canteiro de obras, que construiu Brasília. Eles ficaram conhecidos como candangos.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_de_Bras%C3%ADlia#/media/Ficheiro:Vistas_de_Bras%-
C3%ADlia_-_Candangos_(4).jpg

Operários na construção de Brasília.

1 Quantos habitantes vivem na região metropolitana de Brasília atualmente?

2 O que significa dizer que Brasília é capital federal?

3 Quando Brasília foi construída e o que a sua construção significou?


HISTÓRIA
38

4 Em que sentido podemos afirmar que os custos da construção de Brasília foram muito altos?

A construção de uma nova capital para o país, mais ao centro do território, era uma
ideia que havia surgido no início do século XIX. Depois que o Brasil se tornou uma repúbli-
ca, em 1889, a ideia voltou a ser proposta. A Constituição de 1891, a primeira do período
republicano, determinava que um território no planalto central seria usado para a cons-
trução de uma nova capital para o Brasil. Nos anos seguintes, mais estudos foram feitos
para concretizar essa construção, entretanto somente depois de mais de cinquenta anos o
projeto seria realizado.
Em 1956, o projeto de construção de Brasília e da transferência da capital foi submetido
ao Congresso Nacional e aprovado. Criou-se a Companhia Urbanizadora Nova Capital, a No-
vacap, para a execução do projeto. Nomes importantes da engenharia e da arquitetura no Brasil
participaram do projeto, como Oscar Niemeyer, diretor do Departamento de Arquitetura e o
mais importante arquiteto da história do Brasil. Um concurso foi realizado para determinar como
seria o desenho urbano de Brasí-
lia e o vencedor foi Lúcio Costa,
o urbanista, ou seja, profissional
que organiza e projeta o viver em
cidades, que propôs um projeto

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Congresso_Nacional_Brasil.jpg
moderno e arrojado para a nova
capital.
Em 1987, a Unesco reco-
nheceu o conjunto urbanístico-
-arquitetônico de Brasília, cons-
truído a partir do Plano Piloto
de Lúcio Costa, como Patrimô-
nio Mundial, o que significa di-
zer que esse conjunto foi consi-
derado de valor excepcional do
ponto de vista da história e das Prédio do Congresso Nacional, projetado por Oscar Niemayer.
Brasília deve conservar o traçado do Projeto Piloto e as
criações humanas. Em 1990, o edificações, como a do prédio do Congresso Nacional,
conjunto da arquitetura e do para preservar o conjunto urbanístico e arquitetônico tombado.
5º ANO
39

urbanismo de Brasília foi inscrito no Livro de Tombo Histórico pelo Iphan, Instituto do Pa-
trimônio Histórico e Artístico Nacional, como patrimônio histórico brasileiro. Nesse sentido,
Brasília e seu conjunto urbanístico e arquitetônico devem ser conservados, porque são impor-
tantes para a história, memória e identidade do povo brasileiro.
Durante a execução da construção, o governo do presidente Juscelino Kubitschek foi
muito criticado, especialmente pelos enormes gastos que estiveram envolvidos na obra. Em
21 de abril de 1960, Brasília foi oficialmente inaugurada. A capital federal deixava de ser o Rio
de Janeiro e passava agora para o centro do território nacional.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_de_Bras%C3%ADlia#/media/Ficheiro:0741_
NOV_B_05_Esplanada_dos_Ministerios_Brasilia_DF_03_09_1959.jpg

A construção de Brasília. Na imagem os prédios dos ministérios, 1959. Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal.

PARA SABER MAIS


No Livro de Tombo Histórico são inscritos os bens culturais em razão de seu valor histórico. Os bens cul-
turais são formados pelo conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no Brasil. A conservação desses
bens é de interesse público por sua relação a eventos e acontecimentos memoráveis da história do país.
Os bens culturais se dividem em bens imóveis, como edificações, fazendas, marcos, chafarizes, pontes,
centros históricos, dentre outros, e móveis, como imagens, mobiliário, quadros etc.
HISTÓRIA
40

5 Quando nasceu a ideia de se transferir a capital do Brasil para a região central?

6 Quando se discutiu o projeto no Congresso Nacional?

7 Que nomes importantes da arquitetura e do urbanismo brasileiro participaram da constru-


ção de Brasília?

8 Que título Brasília recebeu da Unesco em 1987?

9 Por que o conjunto urbanístico e arquitetônico de Brasília foi inscrito no Livro de Tombo
histórico?

LEITURA E ANÁLISE DE DOCUMENTO HISTÓRICO

10 Leia o texto abaixo, que trata do cotidiano dos trabalhadores na construção de Brasília e,
depois, observe a fotografia que trata do cotidiano dos candangos.
5º ANO
41

“O cotidiano dos trabalhadores de Brasília era duro. Os operários trabalhavam das 6 horas
da manhã até o meio-dia, faziam um intervalo de uma hora e depois encaravam novo turno até
às 18 horas. Em alguns casos, trabalhavam 14, 15, 16 horas por dia. O salário era pago por ho-
ras trabalhadas, e, para aumentar seus rendimentos, muitos faziam serão. Como testemunhou
um candango:
‘Eu pegava empreitada de 200 horas e com dois dias eu dava ela pronta, dois dias e duas noi-
tes. Trabalhava dois dias e duas noites direto assim. Parava, só parava pra almoçar, e à meia- noite
tomar o café, o lanche. Aí baixava eu, minha pá e minha picareta e não queria saber’.
Disponível em: http://memorialdademocracia.com.br/card/construcao-de-brasilia/5

• Glossário
Serão – trabalho noturno
Empreitada – tarefa; trabalho
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_de_Bras%C3%ADlia#/media/Fichei-
ro:Pal%C3%A1cio_da_Alvorada_durante_constru%C3%A7%C3%A3o.jpg

O Palácio da Alvorada durante a sua construção.

a) Como era a vida dos trabalhadores, na construção de Brasília?


HISTÓRIA
42

b) De que horas a que horas eles trabalhavam?

c) Até quantas horas de trabalho eles chegavam a fazer?

d) Por que os trabalhadores faziam serão?

e) Descreva a foto que foi tirada durante o processo de construção de Brasília.

f) Agora observe a foto anterior que mostra o trabalho na cúpula da Câmara dos Deputados.
Como você acredita que eram as condições de trabalho dos operários?
5º ANO
43

ATIVIDADE 2 – A primeira capital do Brasil

Antes da construção de Brasília, o Brasil teve outras duas capitais. A primeira delas foi a
cidade de Salvador, na Bahia, na região Nordeste, e depois a segunda capital foi a cidade do
Rio de Janeiro, na região Sudeste.
Salvador foi nomeada capital da colônia portuguesa na América em 1549, quando os
portugueses resolveram governar diretamente as terras americanas, criando o governo-geral,
não deixando mais a administração na mão de pessoas que haviam recebido terras do rei
de Portugal para desenvolver economicamente e administrar os novos domínios. A escolha
de Salvador se deu em razão de sua localização geográfica e da baía natural que facilitava o
trânsito de embarcações.
O primeiro governador-geral nomeado pelo rei foi Tomé de Souza. Ele chegou à Bahia
em março de 1549, incumbido de construir o centro político-administrativo da colônia. Uma
das primeiras medidas tomadas, juntamente com os jesuítas encarregados de converter os
indígenas à religião católica, foi a construção das capelas de Nossa Senhora da Conceição da
Praia e Nossa Senhora da Ajuda. A cidade foi construída na parte alta do terreno e o porto
na parte baixa. Como a Coroa portuguesa, isto é, o governo português, concedeu terras aos
portugueses que desejassem viver na cidade, a povoação cresceu em pouco tempo. Quatro
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_de_Salvador#/media/Ficheiro:Salvador-1551.jpg

Mapa esquemático de como seria a Cidade do Salvador, cerca de dois anos após sua
fundação. Era uma cidadela, cidade fortificada, construída de forma planejada por
Tomé de Sousa, seguindo o projeto do arquiteto Luis Dias que integrava a comitiva
do primeiro governador-geral.
HISTÓRIA
44

meses depois de sua fundação, a cidade já tinha uma centena de casas em que seus morado-
res criavam gado e plantavam cana-de-açúcar visando produzir açúcar e aguardente.
A instalação do novo centro tinha como objetivo organizar melhor o território colonial,
incentivando a migração, com certas facilidades de pessoas da ilha dos Açores, no oceano
Atlântico, para Salvador. Salvador tornou-se, no século XVI, uma cidade bem fortificada, reple-
ta de igrejas e muitos navios em seu litoral. No final do século XVI, começaram as tentativas de
invasão de Salvador por outros europeus como os franceses e holandeses.

1 Assinale com um X as alternativas corretas e corrija as sentenças incorretas:

a) ( ) S alvador foi nomeada capital da colônia em 1783.

b) ( ) Salvador cresceu rapidamente em razão da concessão de terras dada aos portugueses


que quisessem morar no local.

c) ( ) Os primeiros moradores de Salvador se dedicaram a criar gado e a plantar cana-de-


-açúcar a fim de produzir açúcar.

d) ( ) O governo português incentivou a migração das Ilhas dos Açores para Salvador.

e) ( ) Salvador foi a segunda capital do Brasil.

2 Ao observar o mapa, disposto na página ao lado, podemos dizer que Salvador contava
com água?

3 Observando o mapa, podemos perceber a presença de sistemas de defesa na cidade?


5º ANO
45

A riqueza de Salvador foi construída em cima das plantações de cana-de-açúcar e dos


engenhos que se instalaram na região. O açúcar, produzido com o trabalho dos escraviza-
dos africanos no Nordeste, fez a fortuna de Portugal durante o período colonial e era trans-
portado por navios para ser vendido na Europa. Por sua vez, de lá, vinham as mercadorias
destinadas para o consumo da elite da cidade. O porto era bem equipado, muito movimen-
tado e frequentado por embarcações europeias, asiáticas e africanas, que traziam pessoas e,
principalmente, mercadorias para serem comercializadas. O intenso comércio e a circulação
de riquezas, graças aos engenhos e à produção do açúcar, despertaram o interesse de várias
nações europeias que tentaram conquistar a cidade.
A reconquista da cidade, em 1625, após a expulsão dos holandeses, transformou Salva-
dor em um local muito protegido por fortificações com vários fortes instalados em diversos
pontos do litoral.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Federa%C3%A7%C3%A3o_do_Guanais#/media/Ficheiro:SMarceloFort-Salvador-CCBY.jpg

O Forte São Marcelo, também conhecido como Forte do Mar, foi finalizado em 1623
e visava defender a cidade de ataques de outros reinos europeus.

No apogeu da cidade, entre o século XVII e XVIII, Salvador tornou-se o centro de uma
rede em que pessoas, produtos e ideias circulavam de forma bastante dinâmica. Muitos artis-
tas se instalaram na cidade e ajudaram a decorar as igrejas, conventos e capelas, bem como
produzir obras de arte de devoção religiosa. Salvador se tornou uma das cidades mais belas
e mais bem fortificadas do mundo, pontilhada de torres de igrejas. É a segunda maior cidade
do império português, atrás apenas de Lisboa.
HISTÓRIA
46

4 Escreva um pequeno texto explicando as atividades econômicas a que os moradores de


Salvador se dedicaram.

5 Explique a razão de Salvador ter sido uma cidade cobiçada.


5º ANO
47

Foto da Igreja de Nossa Senhora do Carmo,


um dos exemplos arquitetônicos dos edifícios
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/3f/Salvador%2C_chiesa_del_monte_do_carmo%2C_ext._02.JPG

construídos em Salvador no período em que


a cidade era capital da América portuguesa.
O patrimônio cultural de Salvador é dos mais
importantes do Brasil e recebeu em 1985 o
título de Patrimônio Cultural da Humanidade.

Em 1763, em razão da descoberta


das minas de ouro na região de Minas
Gerais e em Goiás, a Coroa Portuguesa
mudou a capital da colônia de Salvador
para o Rio de Janeiro. Portugal pretendia,
dessa forma, fiscalizar mais de perto essa
zona da colônia, evitar o contrabando e
os desvios do ouro. Outro forte motivo
que pesou a favor da transferência da ca-
pital foi o declínio dos preços e da impor-
tância do açúcar no cenário internacional. Salvador continuou a ser uma cidade importante e até
hoje em dia é uma das mais importantes cidades brasileiras.

Salvador, São Paulo: semelhanças e diferenças


Salvador foi construída para ser a capital da colônia. Sua localização no litoral foi importante,
para facilitar as comunicações com Portugal e com o resto do território colonial. A riqueza do
açúcar, trabalhado pelas mãos dos escravizados, tornou-a um alvo do interesse de piratas e de
outras nações europeias, que disputavam com Portugal a posse dessas terras. A construção da
primeira capital da colônia exigiu um planejamento na edificação de fortificações e de igrejas,
capelas e conventos, já que a colonização da América caminhou de mãos dadas com o projeto de
conversão das populações indígenas ao catolicismo.
São Paulo, diferentemente de Salvador no período colonial, não foi uma cidade planejada. Len-
tamente, a cidade cresceu e se dedicou às plantações agrícolas, que serviam para alimentar seus
moradores e para ser comercializadas com outras regiões da colônia. São Paulo ficou praticamen-
te isolada, sem ter grandes contatos com outras áreas, em razão da presença da Serra do Mar.
O rio Tietê foi a estrada móvel que permitiu aos seus habitantes alcançar o interior do território.
HISTÓRIA
48

6 Escreva no quadro a seguir as características de Salvador e da Cidade de São Paulo no


período colonial.

Salvador no período colonial São Paulo no período colonial

7 Vamos ler um trecho escrito pelo historiador Francisco Iglésias, em que ele explica os mo-
tivos que teriam levado Portugal a escolher Salvador como sede da capital da colônia por-
tuguesa na América.

“A Bahia é, pois, a primeira capitania real, como Salvador é a primeira cidade brasileira e a
primeira capital da Colônia. O ponto é bem escolhido, não só pela excelência do lugar como por
ser o centro geométrico do longo litoral, do Maranhão a Santa Catarina. Salvador foi constru-
ída na parte alta, para evitar os ataques de corsários ou indígenas. Construiu-se um colégio de
jesuítas, construíram- se várias igrejas, no início da demarcação da fisionomia da cidade – umas
das mais fascinantes, senão a mais, do Brasil português. Ela cresceu rapidamente, pelos morros e
pelas praias. Tomé de Sousa chega no fim de março de 1549 e logo recebe o auxílio dos colonos
aí residentes, entre os quais Diogo Álvares Corrêa, o famoso Caramuru, estabelecido há muitos
anos, vindo em alguma das expedições.”
Iglésias, Francisco. Trajetória política do Brasil: 1500-1964.
São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 27. (Adaptado).

• Glossário
Capitania Real – era aquela governada diretamente por um governador nomeado pela Coroa.
Excelência – qualidade superior
Corsários – piratas
Fisionomia da cidade – forma e aparência da cidade
Colono – indivíduo que morava na colônia
5º ANO
49

a) Que tipo de capitania era a Bahia?

b) Que razões teriam levado à escolha de Salvador para ser a capital da colônia?

c) Por que a cidade foi construída na parte alta?

d) Segundo a opinião do historiador, qual a aparência de Salvador?

e) Como se deu o crescimento da cidade?


HISTÓRIA
50

f) Que grupo auxiliou o governador-geral quando da sua chegada?

ATIVIDADE 3 – A segunda capital do Brasil

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/38/Rio_de_Janeiro_Helicoptero_49_Feb_2006_zoom.jpg
Vista do alto da cidade do Rio de Janeiro, a mais conhecida cidade brasileira no exterior,
com a estátua do Cristo Redentor e o morro do Pão de Açúcar ao fundo.

Na região onde hoje localiza-se a cidade do Rio de Janeiro, viviam os tupinambás, distri-
buídos em diferentes aldeias. Os portugueses chegaram à região em 1º de janeiro de 1502, em
uma expedição comandada por Gaspar de Lemos. A princípio, eles acharam ter chegado na
desembocadura de um grande rio, que batizaram de Rio de Janeiro. Mais tarde, descobriu-se
que, na verdade, tratava-se de uma baía, denominada Baía da Guanabara.
Apesar de os portugueses terem chegado primeiro à região, os franceses se estabeleceram
antes na área e passaram a competir com os primeiros pela exploração do pau-brasil, existente
no litoral. Navios franceses e portugueses navegavam a costa para retirar árvores, que levavam
para a Europa para fazer móveis, usar na construção de casas e outros fins. Os franceses se alia-
ram a grupos indígenas e percorriam o litoral em busca de riquezas. Por problemas religiosos
5º ANO
51

existentes na França, naquele momento, um pequeno grupo de pessoas foi enviado, em 1555,
para o Rio de Janeiro, a fim de estabelecer moradia permanente, explorar as riquezas e fazer
frente à presença portuguesa no local. O chefe da expedição era Villegaignon, que comandou
a fundação do povoado no litoral do Rio de Janeiro, denominado de França Antártica, porque
eles acreditavam não estar distantes do polo antártico. Conflitos internos entre os franceses, di-
ficuldades do cotidiano e os ataques portugueses fizeram com que os franceses fossem expulsos
em definitivo em 1567.
Para garantir a posse da terra para Portugal, no dia 1º de março de 1565, Estácio de Sá,
português que veio ao Brasil na comitiva do terceiro governador-geral do Brasil, fundou a ci-
dade de São Sebastião do Rio de Janeiro. A cidade possuía ruas irregulares e seguia o estilo de
construção das cidades portuguesas. O rio Carioca fornecia água para a população. Nas mar-
gens da Baía de Guanabara, a cidade se desenvolveu, naturalmente, como uma zona de porto e
como área comercial, que comercializava madeira, pescados e cana-de-açúcar.

1 Assinale as alternativas corretas e corrija as incorretas:


a) ( ) Onde, atualmente, situa-se a cidade do Rio de Janeiro vivia o grupo indígena dos tupinambás.

b) ( ) A cidade recebeu o nome de Rio de Janeiro porque os europeus não sabiam que se
tratava de uma baía e não de um rio.

c) ( ) A costa do Brasil, com sua vegetação nativa, não possuía produtos que interessassem
ao comércio europeu.

d) ( ) A árvore do pau-brasil era disputada pelos europeus para a construção de móveis e de casas.

e) ( ) A França Antártica foi uma colônia fundada pelos franceses na região do litoral do
Rio de Janeiro.
HISTÓRIA
52

f) ( ) Com o propósito de garantir a posse da terra, os portugueses fundaram a cidade do


Rio de Janeiro em 1565.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d2/A_Most_Accu-
rate_Picture_of_Brazil_WDL1110.jpg
Hendrik Hondius. "A Mais Precisa Imagem do Brasil". Publicado na década de
1630. Coleção Biblioteca Nacional do Brasil. Imagem referenciada a partir da
Biblioteca do Congresso dos EUA ( Washington, EUA).

PARA SABER MAIS


Os mapas da época dos grandes descobrimentos marí-
timos tinham muitos elementos simbólicos que eram in-
corporados às informações que eram mostradas na repre-
sentação dos lugares. Colocava-se no mapa aquilo que
os cartógrafos julgavam ser mais importante. As escalas e
proporções não eram exatas.
Mapa do estado do Rio de Janeiro com destaque para a
região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro.
5º ANO
53

2 Observe os mapas ao lado e responda às questões:

a) Descreva o que você observa no primeiro mapa.

b) Compare o mapa de 1550 com o mapa atual.

No fim do século XVII e início do século XVIII, ocorreu a descoberta do ouro na atual re-
gião de Minas Gerais. Essa descoberta transformou a vida da cidade, que se tornou um ponto
de ligação entre as minas de ouro e Portugal. O comércio cresceu e a importância estratégica
do Rio de Janeiro também. No final do século XVIII, a desaceleração da produção aurífera e
o aumento da competição de outras áreas da América, em relação ao açúcar produzido no
Brasil, fizeram-se sentir no Rio de Janeiro. Entretanto, em 1763, o marquês de Pombal, pri-
meiro-ministro de Dom José I, ordenou que a capital da colônia fosse transferida de Salvador
para o Rio de Janeiro.
O governo português pretendia, dessa forma, situar a capital mais próxima das áreas
dinâmicas da colônia. Essa mudança de status se refletiu no crescimento da importância da
cidade, em virtude, também, de suas importantíssimas ligações comerciais com Luanda, ca-
pital de Angola, de onde provinha um número expressivo de escravizados para o Brasil.
O início do século XIX trouxe grandes mudanças para o Rio de Janeiro. A vinda da família
real portuguesa para o Brasil em 1808 transformou a cidade em capital do império portu-
guês. Muitas obras foram realizadas para receber os nobres portugueses. Chafarizes públicos,
bicas e tanques foram construídos para o abastecimento de água, pontes e calçadas foram
incorporadas ao traçado das ruas. Estradas mais largas foram abertas e a iluminação pública
instalada. Os mercados e matadouros passaram a ser fiscalizados no que se refere às condi-
ções de higiene e sanitárias e festas públicas foram organizadas para celebrar a presença da
família real, alterando o ritmo de vida da cidade.
HISTÓRIA
54

No final do século XIX,


o Rio de Janeiro contava

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fachada_da_Biblioteca_Nacional,_Rio_de_Janeiro,_1951.jpg
com 800.000 habitantes e
os problemas sociais tor-
naram-se cada vez mais
evidentes. A abolição da es-
cravidão lançou às ruas os
antigos escravizados, que
não contaram com nenhum
amparo do governo. Pesso-
as se viram da noite para o
dia sem ter para onde ir e
sem profissão. Além disso,
os problemas sanitários, a
falta de moradias adequa-
das e as constantes epide-
Fachada da Biblioteca Nacional, centro do Rio de Janeiro, em novembro de 1951.
mias de varíola, tuberculose A Biblioteca é uma das dez maiores do mundo e a maior da América Latina.
e febre amarela tornaram-
-se comuns.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ad/Panorama_do_Rio_de_Janeiro%-
2C_a_partir_do_Morro_da_Concei%C3%A7%C3%A3o_%28001GU001016%29.jpg

Panorama do Rio de Janeiro, a partir do Morro da Conceição, por volta de 1890.


5º ANO
55

3 O que a descoberta do ouro nas Minas Gerais provocou na cidade do Rio de Janeiro?

4 Quando se decidiu mudar a capital da colônia para o Rio de Janeiro, quando isso ocorreu
e por quê?

5 Que problemas sociais foram vivenciados no final do século XVIII na cidade do Rio de Janeiro?
HISTÓRIA
56

6 Escreva um texto, destacando as mudanças que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro com
a vinda da corte portuguesa para o Brasil.
5º ANO
57

7 Você acredita que havia muita diferença entre a forma de viver dos escravizados na cidade do
Rio de Janeiro e da elite da cidade? Justifique sua resposta.

Em 1903, Francisco Pereira Passos tornou-se prefeito da cidade e fez grandes mudanças
urbanísticas na cidade para torná-la mais parecida com cidades europeias, com presença de
largas avenidas, monumentos e parques públicos. Um novo porto foi construído e as casas
em que a população de baixa renda vivia foram demolidas, para dar lugar a essas novas obras
e a modernização. Os mais pobres foram obrigados a se mudar para as áreas das encostas
dos morros, o que deu origem a muitas favelas, locais sem estrutura urbana e desprovidos dos
serviços públicos de saúde, educação e saneamento básico.
Durante os anos de 1920 e 1950, a capital federal conheceu seu maior esplendor quan-
do pessoas do mundo inteiro vinham
atraídas pela sua imagem romântica,

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/61/Constru%C3%A7%C3%A3o_da_
seus cassinos e suas belezas naturais.

Avenida_Central_-_edif%C3%ADcios_em_obra%2C_pistas_pavimentadas_e_rec%-
A cidade deixou de ser capital fede-
ral, quando da criação de Brasília em C3%A9m-abertas_ao_p%C3%BAblico_%28002008OBAC035%29.jpg

1960. A importância cultural do Rio


de Janeiro permaneceu forte e a cida-
de passou a receber muitos turistas

Construção da Avenida Central, no Rio


de Janeiro - edifícios em obra, pistas
pavimentadas e recém-abertas ao público.
HISTÓRIA
58

estrangeiros e a ter no turismo uma parte importante de sua economia. Atualmente, a cidade
conta com quase 7 milhões de habitantes, sendo a segunda capital mais populosa do Brasil,
atrás apenas de São Paulo.

Rio de Janeiro e São Paulo


Os franceses fundaram, em 1555, no local onde hoje está a cidade do Rio de Janeiro, uma co-
lônia cha­mada França Antártica. Como resposta à presença francesa, os portugueses fundaram,
em 1565, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e dois anos depois conseguiram expulsar os
franceses da área definitivamente. A cidade cresceu entre os séculos XVI ao XVIII, beneficiada pelo
fato de estar no litoral, com uma baía, que permitia grande trânsito de navios, o que favoreceu a
atividade comercial. Com a descoberta das minas de ouro na região de Minas Gerais e Goiás, a
cidade passou a fazer a ligação direta com a metrópole portuguesa por via marítima. Em 1763, o
Rio de Janeiro se torna capital da colônia e, em 1822, com a Independência de Portugal, capital
do Império brasileiro. Em 1889, torna-se a capital da República brasileira. A vinda da corte portu-
guesa estimulou a construção de grandes obras e melhorias urbanas, que continuaram a ser feitas
no século XIX. Em princípios do século XX, reformas urbanas transformaram o centro da cidade,
de acordo com o acontecido na Europa, porém, se por um lado houve melhoramentos importan-
tes, por outro lado, a população pobre foi obrigada a buscar nas encostas dos morros espaços de
moradia. Entre os anos 1920 e 1950, a cidade se tornou famosa no mundo todo por sua vibrante
cultura e pela impressionante beleza. Hoje em dia é a segunda maior cidade do Brasil, em termos
populacionais, e ocupa lugar de destaque na cultura brasileira.
São Paulo, ao contrário do Rio de Janeiro, ao se situar no interior do território, não ocupou
uma posição de centro articulador da economia brasileira até o final do século XIX. A industria-
lização e o aumento populacional levaram ao aumento da importância econômica e política da
cidade no cenário brasileiro no século XX e XXI, o que levou ao crescimento da influência cultural
da cidade no cenário nacional.

8 Leia o texto a seguir, que trata das mudanças que as reformas de Pereira Passos provo-
caram na cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil no início do século XX, e depois,
responda às questões:

“Inspirada no plano de remodelação de Paris executado pelo barão Georges-Eugène Hauss-


mann ainda no século XIX, a Reforma Pereira Passos transformou radicalmente a fisionomia do
centro do Rio. Em poucos anos, uma nova metrópole nasceria dos escombros da velha cidade.
Edifícios suntuosos e de arquitetura variada surgiram para ornamentar as novas avenidas; hábitos
considerados incompatíveis com os preceitos da higiene pública foram proibidos; novas redes de
5º ANO
59

esgoto e de abastecimento de água foram construídas, assim como novas linhas de bonde, agora
eletrificadas; a iluminação pública, antes fornecida pelos lampiões a gás, começou a ser subs-
tituída por postes de eletricidade. Com a remodelação do traçado urbano do centro, o tráfego
desafogou; a cidade se expandia em todas as direções.
Mas, apesar de todas essas melhorias, a reforma teve também o seu lado sombrio e excludente.
Centenas de casebres e cortiços foram demolidas, por motivos de higiene ou para dar passagem
às novas artérias que surgiam em ritmo vertiginoso. Com as demolições, a população que tinha
alguma fonte de renda deslocou-se do centro para o subúrbio, enquanto que os mais pobres
foram habitar as encostas dos morros, engrossando o contingente populacional das favelas que
começavam a surgir. O “furor das picaretas regeneradoras” – para usar a expressão de Olavo Bilac
– recebeu da população o apelido de “Bota-Abaixo”.”
Reforma Pereira Passos Disponível em: http://oswaldocruz.fiocruz.br/index.php/biografia/trajetoria-cientifica/
na-diretoria-geral-de-saude-publica/reforma-pereira-passos
• Glossário
Remodelação - refazer algo com modificações expressivas
Escombros – destroços
Suntuoso – grande luxo
Ornamentar – enfeitar Preceitos - normas; regras
Excludente – que exclui
Vertiginoso – que ocorre com muita pressa
Regenerador – que dá nova vida

a) Em que cidade do mundo a reforma do Rio de Janeiro foi inspirada?

b) O que surgiu no lugar da velha cidade?

c) Por que se diz que a reforma foi excludente?


HISTÓRIA
60

ATIVIDADE 4 – A cidade do México

A região metropolitana da ci-


dade do México, capital do país,
é o quinto maior conglomerado
urbano do mundo atualmente.
A cidade foi construída em cima
das ruínas de outra importante

https://content.wdl.org/503/thumbnail/1430159215/616x510.jpg
cidade, a de Tenochtitlán, funda-
da em 1325, pelos astecas, povo
que vivia na América antes da
invasão espanhola. Tenochtitlán
era o centro do importante im-
pério asteca que dominou popu-
lações vizinhas e que tinha cerca
de 200 mil habitantes à época da
chegada do navegador espanhol
Hernan Cortez em 1519, o que a Mapa feito em 1550 da cidade do México construída sob os escombros
de Tenochtitlán, capital do Império asteca. Observe no mapa, as
tornava uma das maiores cidades canoas navegando em torno da ilha. FASH, Barbara W. DAVIS-
de sua época. SALAZAR, Karla. Ideología y Poder en el Arte del Manejo Antiguo
del Agua. Ciências Espaciales, Universidad Nacional Autónoma de
Honduras, Tegucigalpa, v. 9, n. 2, p. 146-159, outono, 2016.
rias_de_la_Triple_Alia nza_%28s._XVI%29.svg/778px- Provincias_tributarias_de_
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e6/Provincias_tributa-

la_Triple_Alianza_%28s._XVI%29.svg.png

Mapa que mostra a localização de Tenochtitlán e demais localidades


que formavam o Império Asteca na Mesoamérica.
5º ANO
61

1 Assinale as alternativas corretas e corrija as incorretas:

a) ( ) A cidade do México foi construída em cima de uma elevação de onde era possível avis-
tar os invasores.

b) ( ) Atualmente, a região metropolitana da cidade do México forma um enorme conglo-


merado populacional.

c) ( ) A cidade do México foi erigida em cima de uma outra cidade construída pelos astecas.

d) ( ) A cidade de Tenochtitlán, fundada em 1325, localizava-se no centro do império asteca


e comunicava-se com outras regiões do império.

e) ( ) Estima-se que havia mais ou menos 200 mil habitantes em Tenochtitlán no momento
da invasão espanhola.

Tenochtitlán era uma cidade muito bem estruturada e muito mais avançada do que as
cidades europeias da mesma época. Foi construída em uma ilha, no lago salgado de Texcoco,
depois se expandiu para as terras mais próximas, áreas pantanosas, com as quais se comuni-
cava por estradas. Estava localizada em meio a mais de 2 mil km² de lagos, onde havia muito
pescado, e nas terras ao seu redor, com o uso de técnicas apropriadas, praticava-se uma
agricultura muito produtiva e intensiva, que permitia alimentar grande quantidade de pesso-
as. Eles produziam milho, principal alimento local e outros gêneros, como abóbora, favas,
tomate, batatas, dentre outros. Situados em uma área onde as chuvas não são constantes,
HISTÓRIA
62

aproveitaram as águas do degelo das montanhas e das bacias naturais. Técnicas eficientes e
avançadas de irrigação permitiram mudar cursos d’água para usá-los na agricultura. O aque-
duto de Chapultepec abastecia a cidade, trazendo água de uma ponta do lago Texcoco e con-
tava com duas canalizações complexas, que se alternavam: uma delas funcionava enquanto
a outra era limpa.

2 Em comparação com as cidades europeias, como era Tenochtitlán?

3 Onde a cidade foi construída?

4 Como os astecas fizeram para produzir alimentos, mesmo com a escassez de chuvas?

5 O que eles produziam?

Os espanhóis, quando

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:First_European_map_of_Tenochtitlan.jpg
chegaram na América, fi-
caram muito impressiona-
dos com o que viram como
as pontes sólidas e largas
sobre os canais que permi-
tiam a passagem de até dez
cavalos juntos. A cidade
contava com quatro entra-
das e calçadas feitas à mão.
Ao contrário das cidades
europeias, que possuíam
ruas curvas e estreitas, as
ruas de Tenochtitlán eram
largas e retas, algo que im- Mapa de Tenochtitlán mostrando as avançadas e complexas
pressionou os espanhóis pro- técnicas de construção da impressionante capital do Império asteca.
5º ANO
63

fundamente. Havia praças, canais, mercados, mais de 30 templos, pirâmides, jardins, palácios,
lojas e casas, sistemas de distribuição de água e banheiros públicos. Como foi construída sobre
uma ilha, a cidade era repleta de canais e seus habitantes locomoviam-se utilizando canoas.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pain-
ting_of_Tenochtitlan_Ceremonial_Center_
(9755420774).jpg

Ilustração de Tenochtitlan - México.

A grande quantidade de mapas e ilustrações feitas de Tenochtitlán demonstra como os


europeus ficaram impressionados com o que viram. Os códices astecas, documentos que re-
latam a história e as realizações dos astecas, por meio de desenhos e símbolos, nos permitem
conhecer como era vida na cidade e aspectos da vida cotidiana. Além disso, hoje em dia, as
pesquisas arqueológicas revelam a grandiosidade das construções, como os templos e as pi-
râmides.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:P%C3%A1gina_13-C%-
C3%B3dice_Azcatitlan_(completa).jpg

Códice asteca revela importantes aspectos do cotidiano da população.

Os espanhóis chegaram à região em 1519 e iniciaram um processo de conquista e de


colonização do Vale do México. À época, os astecas eram governados por Montezuma II e
conseguiram manter seus domínios até 1521, quando Tenochtitlán foi conquistada, graças
a uma aliança que os espanhóis fizeram com outros povos indígenas, inimigos dos astecas.
HISTÓRIA
64

Eles formaram um grande exército, que atacou Tenochtitlán em 1521. Após a conquista, os
espanhóis iniciaram a colonização da região, sob o nome de Vice-Reino da Nova Espanha.
A cidade do México foi construída sobre os escombros de Tenochtitlán. A independên-
cia do México aconteceu em 1821 e a cidade tornou-se a capital do país. Durante os séculos
seguintes, transformou-se em uma das mais importantes cidades do continente americano.
Uma de suas grandes riquezas é sua enorme diversidade cultural. Em termos linguísticos, por
exemplo, fala-se mais de dez línguas na capital, entre elas o náhuatl, o otomí, o mixteca, o
zapoteca e o tlaxtalteca. Todas essas línguas eram faladas pelos povos que viviam na região
antes da chegadas dos espanhóis. Atualmente, a cidade do México é um importante destino
turístico, de negócios e um polo cultural com grande quantidade de monumentos presentes
pelo centro histórico, mais de 100 teatros, museus e galerias de arte.

de_Cholula,_Puebla,_M%C3%A9xico,_2013-10-12,_DD_14.JPG
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gran_Pir%C3%A1mide_

A grande pirâmide de Cholula, maior pirâmide do mundo, localizada


em Puebla, no México, e exemplo da arquitetura asteca.

6 Que semelhanças e diferenças você destacaria entre a história da cidade do México e a his-
tória da Cidade de São Paulo?
5º ANO
65

LEITURA DE DOCUMENTOS HISTÓRICOS

7 O conquistador espanhol Bernal Diaz del Castillo escreveu que o que ele encontrou em Te-
nochtitlán causaria admiração, mesmo entre aqueles que tivessem estado em cidades im-
pressionantes, como Roma, Itália, ou Constantinopla, atual Istambul, na Turquia. Vamos
ler um trecho de um documento, em que ele conta o que encontrou na cidade e, depois,
responda às questões propostas:

“Nesta grande cidade... as casas se erguiam separadas umas das outras, comunicando-se so-
mente por pequenas pontes levadiças e por canoas, e eram construídas com tetos terraceados.
Observamos, ademais, os templos e adoratórios das cidades adjacentes, construídos na forma de
torres e fortalezas e outros nas estradas, todos caiados de branco e magnificamente brilhantes. O
burburinho e o ruído do mercado...podia ser ouvido até quase uma légua de distância...Quando
lá chegamos, ficamos atônitos com a multidão de pessoas e a ordem que prevalecia, assim como
com a vasta quantidade de mercadoria...Cada espécie tinha seu lugar particular, que era distin-
guido por um sinal. Os artigos consistiam em ouro, prata, joias, plumas, mantas, chocolate, peles
curtidas ou não, sandálias [...]
Pinsky, Jaime et alli(Org.) História da América através de textos. 9.ed. São Paulo: Contexto, 2004, p. 21.

• Glossário
Levadiço - que se pode baixar ou levantar com facilidade por meio de cabos
Tetos terraceados - terraços nos tetos
Adoratório – local de cultos
Adjacente – situado ao lado ou em lugar próximo
Caiado – revestido de cal
Burburinho - ruído prolongado de pessoas falando ao mesmo tempo
Atônito – espantado; admirado

a) Como eram as casas em Tenochtitlán, segundo o relato do conquistador Bernal Diaz del
Castillo?
HISTÓRIA
66

b) Como eram os templos e adoratórios próximos de Tenochtitlán?

c) O que o espanhol Bernal Diaz del Castillo achou do mercado?

https://en.wikipedia.org/wiki/Tenochtitlan#/media/File:Conquista-de-Tenochtitlan-Mexico.jpg

Ilustração que mostra como teria sido a praça central e o Templo Maior de Tenochtitlán, no século XVI.

ATIVIDADE 5 – A cidade de Luanda

Luanda é capital da República de Angola e capital da província de mesmo nome e, atual-


mente, a maior cidade do país. Conta com, aproximadamente, cinco milhões de habitantes e é a
terceira maior cidade falante de português no mundo, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro.
5º ANO
67

A região onde foi fundada a cidade de


https://en.wikipedia.org/wiki/Luanda#/media/File:Cidade_de_S%C3%A3o_Paulo_da_Assump%-

Luanda foi lar de diferentes povos durante


milênios, até que os bantos, vindos de por-
ções mais ao norte do continente africano, se
instalaram na região, aí permanecendo du-
rante séculos. Os sistemas de parentesco, as
práticas religiosas e as formas de governo dos
bantos, em toda a África, apresentam grande
diversidade. Os conhecimentos e práticas dos
C3%A7%C3%A3o_de_Loanda.jpg

bantos foram levados para o Brasil pelos po-


vos bantos de Angola.
Em 1484, os portugueses atracaram no
Zaire, sob o comando do navegador Diogo
Vista de Luanda, em 1755.
Cão. A partir daí, eles passam a frequentar
a costa da África central para a compra e
venda de mercadorias. Em 25 de janeiro de
1576, Luanda foi formalmente fundada pelo navegador português Paulo Dias de Novais, que
chegou de Portugal acompanhado por 100 famílias de colonos e dois padres da Companhia
de Jesus, com a missão de evangelizar os povos nativos. O escolhido pelo rei de Portugal para
iniciar o povoamento trouxe consigo construtores e materiais, para construir uma fortaleza
e uma igreja. Trouxe também agricultores e sementes, pastores e animais de criação, 400
soldados e armas de fogo, além de cavalos e os conhecimentos que os portugueses haviam
adquirido em outras partes do mundo, como no Brasil e nas ilhas do Atlântico.
A escolha do local se deu
em virtude de três fatores prin-
cipais. O primeiro deles foi a
existência de um conveniente

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/95/Johannes_Vingboons_-_D_Sta-
porto natural, situado numa
baía aberta ao mar, mas pro-
tegido por uma ilha, o que per-
mitiria o comércio por mar. O
segundo fator foi a presença de
água potável e, por fim, as boas
dt_Loandas_Pauli_%281665%29.jpg

condições de defesa oferecidas


pelo morro de São Paulo.
Planta de Assunção de Loanda, como se
escrevia à época. Observe no mapa os
fortes na costa que serviam para a defesa
da cidade.
HISTÓRIA
68

1 Que língua se fala em Angola?

2 Antes da invasão dos portugueses, a região de Luanda já era habitada? Por que povos?

3 A partir de quando os portugueses passam a frequentar a costa africana? Qual era o seu objetivo?

4 Que características Luanda apresentava para ter sido escolhida como local de construção
da cidade?

5 Que semelhanças é possível estabelecer entre a história de Luanda, Salvador, Rio de Janeiro e
São Paulo?

Durante os primeiros tempos, a economia de Luanda baseou-se, principalmente, no co-


mércio de escravizados. O comércio de pessoas gerava grandes lucros e riquezas para os
mercadores envolvidos nessa atividade. Em 1605, com o aumento da população europeia e
do número de edificações, ergueram-se, na parte alta da cidade, até hoje conhecida como
Cidade Alta, várias igrejas, o palácio do governador e outros edifícios públicos. Para fins de
defesa da localidade, foram construídas a Fortaleza de São Pedro da Barra, a Fortaleza de
São Miguel de Luanda e a Fortaleza do Penedo.
Em 1641, Luanda foi atacada e ocupada por forças holandesas porque eles desejavam
ter controle do comércio de escravizados, garantindo a mão de obra utilizada nas lavouras de
cana-de-açúcar em várias partes da América, inclusive no Brasil. Para assegurar o suprimento
de trabalhadores escravizados nas fazendas e engenhos do Brasil, os portugueses, chefiados
por Salvador Correia de Sá e Benevides, organizaram uma expedição para reconquista do
5º ANO
69

litoral africano e, principalmente, Luanda, do domínio holandês. Em 1648, os portugueses


retomaram o controle da cidade e do tráfico atlântico de escravizados enviados para várias
partes das Américas.

Miguel_de_Luanda#/media/Ficheiro:AspectoAereodaFor-
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fortaleza_de_S%C3%A3o_

talezadeSMiguel.JPG

Aspecto Aéreo da Fortaleza de S. Miguel.


https://live.staticflickr.com/3702/20001640092_2c0002e900_b.jpg

Fortaleza de São Miguel de Luanda, a primeira a ser construída em Luanda para proteger a cidade de ataques
marítimos e garantir as riquezas produzidas pelo comércio de pessoas escravizadas.

O território de Angola permaneceu como colônia de Portugal no século XIX, uma vez
que o comércio da borracha e do marfim e mais os impostos pagos pela população geravam
grandes rendimentos para Lisboa. A partir de 1850, Luanda passou a diversificar sua econo-
mia, com a presença de firmas comerciais que exportavam óleos de palma e amendoim, cera,
madeiras, marfim, algodão, café e cacau, entre outros produtos. A independência de Angola
do domínio português aconteceu em 1975, após anos de lutas realizadas pela população.
Após conflitos internos que ocorreram depois da independência, Luanda voltou a cres-
cer. Investimentos nas áreas da construção civil e das telecomunicações fazem da cidade,
hoje, uma metrópole em crescimento acelerado. Sofisticados edifícios residenciais e de es-
critórios podem ser vistos ao lado de construções da cidade colonial e de áreas pobres, com
pouca oferta de serviços públicos de infraestrutura básica, como fornecimento de água e
saneamento básico. Outros problemas da cidade são a crescente poluição e a falta de áreas
verdes. O porto de Luanda é o principal porto de Angola, por onde entram as mercadorias
HISTÓRIA
70

compradas do exterior e através do qual é exportada, principalmente, a produção de petróleo


e seus derivados.
Há na cidade moradores de origem Banto, principalmente ambundu, ovimbundu e
bakongo. Atualmente, vivem em Luanda portugueses, brasileiros e europeus de outras nacio-
nalidades e, nos últimos anos, tem crescido o número de chineses. A língua mais falada em
Luanda é o português, ao lado de várias línguas do grupo bantu, principalmente o kimbundu.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/98/Porto_de_Luanda_-_Angola_2015.jpg

Vista atual do porto de Luanda. A modernização e transformação da cidade


é evidente pelo grande número de construções.

6 A partir do momento que os portugueses se estabeleceram em Angola, qual foi a principal


atividade econômica a que eles se dedicaram?

7 Por que os holandeses invadiram Luanda?

8 Depois que os portugueses reconquistaram Luanda, até quando eles ficaram no país?
5º ANO
71

9 Atualmente, a economia em Luanda baseia-se em que atividades?

10 Que problemas sociais existem atualmente no país?

11 Compare a situação da população pobre em Luanda com a situação da população pobre


que vive na Cidade de São Paulo atualmente.
HISTÓRIA
72

12 Como a população de Luanda é composta atualmente?


5º ANO
73

ANOTAÇÕES
LÍNGUA PORTUGUESA
HISTÓRIA

UNIDADE 3

Modos de vida
indígena e
quilombola
PRIMEIRAS PALAVRAS

As populações indígenas que vivem no Brasil, atu-

almente, no Território Indígena do Xingu, possuem

seus próprios modos de vida. O mesmo acontece

com as populações remanescentes de quilombos

em diferentes partes do Brasil. Nessa unidade, va-

mos conhecer um pouco mais sobre os modos de


https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/85/Xingu_%284616768472%29.jpg

vida e a história das populações indígenas do Xin-

gu e de um quilombo no Brasil atual.


5º ANO PORTUGUESA
LÍNGUA
75

Fotografia de Ollie Harding. Indígenas Kapalo, Mato Grosso. 2010


HISTÓRIA
76

ATIVIDADE 1 – História dos povos indígenas


no Território Indígena do Xingu

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3e/Parque_Ind%C3%ADge-
na_do_Xingu.jpg/800px-Parque_Ind%C3%ADgena_do_Xingu.jpg
Aldeia Ipatse, no Território Indígena do Xingu.

O Território Indígena do Xingu localiza-se na região nordeste do estado do Mato Grosso,


em uma zona de transição entre a vegetação do cerrado, região de predominância de árvores
baixas, arbustos espalhados pelo terreno e gramíneas e a região da floresta Amazônica. A área
em que o Território está situado é a maior reserva de floresta contínua do estado, com cerca
de 27 mil quilômetros quadrados e é cortado pelo rio Xingu e por seus afluentes. Em seu in-
terior, moram mais de 7000 indígenas de 16 etnias diferentes.

PARA SABER MAIS


As etnias são formadas por um grupo de pessoas que se diferenciam por suas características sociais e
culturais que se refletem na língua, na religião e nas formas de agir.
5º ANO
77

https://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Ind%C3%ADgena_do_Xin-
gu#/media/Ficheiro:Localiza%C3%A7%C3%A3o_PIX,_Par-
https://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Ind%C3%ADge-
na_do_Xingu#/media/Ficheiro:Ift00002vb00.jpg

que_Ind%C3%ADgena_do_Xingu.jpg
Localização do Território Indígena do Xingu no mapa do Brasil

1 Busque observar o mapa acima e escreva o nome do estado e o nome do maior Território
indígena brasileiro.

2 Que rio corta o Território Indígena do Xingu?

Pesquisas arqueológicas revelam que o Território Indígena do Xingu é habitado há mais


de um milênio. Entre os anos 800 e 1400, os ancestrais dos atuais Aruak do Xingu se esta-
beleceram na região. Grandes aldeias fortificadas foram erguidas entre os anos 1400 e 1600
pelos povos Aruak. Havia presença de grandes fossos, de estradas e de praças centrais. Os
ancestrais dos Karib xinguanos, por volta de 1600, também se estabeleceram na margem di-
reita do rio Xingu.
Entre 1600 e 1750, a colonização europeia no território do Brasil começou a ter efeitos
negativos sobre o modo de vida desses povos e os bandeirantes paulistas iniciaram as incur-
sões nos territórios indígenas com o objetivo de escravizá-los. Além disso, a aproximação dos
bandeirantes provocou muitas doenças desconhecidas dos indígenas, muitos conflitos acon-
teceram e eles sofreram com a violência, as doenças e as mortes. Nesse mesmo período, os
Tupi ancestrais dos Kamayurá e Aweti se estabelecem na região.
No século XIX, muitos se fixaram na região do Alto Xingu a fim de escapar do contato
com os brancos, das doenças, da tentativa de transformar suas culturas e da imposição de
um modo de vida não indígena.

3 Desde quando o Território Indígena do Xingu é habitado?


HISTÓRIA
78

4 Que povos se estabeleceram na área do Território entre 800 e 1600?

5 Que consequências a colonização europeia teve para os indígenas na região do atual Terri-
tório entre 1650 e 1750?

Em 1910, o governo brasileiro criou o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e Candido


Mariano da Silva Rondon, militar brasileiro, conhecedor das áreas menos exploradas do país
àquela altura e de muitos povos indígenas, foi escolhido para chefiá-lo. Para ele e sua equipe,
o progresso na área das comunicações e das atividades econômicas deveria ser o objetivo final
das políticas do Estado brasileiro. O entendimento desse órgão era que os indígenas deve-
riam, aos poucos, abandonar seu modo de ser para, dessa forma, se tornarem guardiões da
floresta e do território brasileiro. Promovido a marechal, o mais alto posto do exército brasi-
leiro, Rondon combateu as violências realizadas contra os indígenas e defendeu suas terras.
O projeto do SPI era o de transformar os indígenas em pequenos agricultores de subsistência,
mudando assim, seu modo de vida.

RODA DE CONVERSA
Converse com seus colegas sobre a questão a seguir e depois compartilhe com seus colegas de
sala as conclusões a que vocês chegaram.

y Como você se sentiria se um outro povo invadisse o local onde você vive e passasse a impor
um novo modo de vida a você, seus familiares e amigos? Como você pensa que as popula-
ções indígenas se sentiram com as tentativas de transformação de seu modo de viver?
5º ANO
79

As políticas implementadas pelo SPI não foram bem-sucedidas e muitos indígenas mor-
reram em consequência disso. Foi, nesse momento, que surgiu a ideia da criação de uma área
em que as várias etnias pudessem viver, distanciadas das fronteiras agrícolas, preservando
seus modos de vida e suas culturas.
O projeto do Território Indígena do Xingu nasceu em 1950 e contou com o apoio de
Rondon. Foi idealizado pelos irmãos Villas-Bôas, sertanistas, especialistas na área do sertão,
que lutaram a favor da causa indígena. O Território foi criado em 1961.
O Território nasceu como uma área comum a várias nações indígenas que, pressionadas
pelo avanço da modernização, ampliação das áreas agrícolas e urbanização, acabaram se di-
rigindo para essa região. O Território, contudo, teve sua área cortada pela rodovia BR- 080, e
o povo Txukahamãe, por exemplo, foi muito afetado com a ocorrência de doenças infecciosas
e contagiosas que provocaram grande número de doenças e mortes.

6 Como surgiu a ideia da criação de um Território indígena?

7 Quando nasceu o projeto do Território e quando ele foi criado?

8 Que problemas os povos indígenas viviam que os fizeram buscar o Território para viver?
HISTÓRIA
80

9 Que dificuldades as populações indígenas enfrentaram no Território Indígena do Xingu?

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/17/
Ift00005vb00.jpg/800px- Ift00005vb00.jpg
Indígenas em cerimônia do Kuarup. Foto realizada por Noel Villa Bôas, 1998.

Apesar dos problemas enfrentados pelas diferentes etnias, o Território Indígena do Xingu
foi e continua a ser extremamente importante para os povos indígenas, a fim de impedir a
destruição de suas culturas e tradições. Além disso, o Território é fundamental para a preser-
vação do meio ambiente.

10 Leia o texto abaixo que trata do papel dos povos indígenas na preservação das matas e
florestas. Depois, responda às questões propostas:

“Durante décadas, [os povos indígenas] foram vistos e rotulados como um obstáculo ao “pro-
gresso”.
Recentemente, contudo, muitos passaram a observar que os conhecimentos tradicionais in-
dígenas – longe de serem o símbolo maior do “atraso” – revelam-se como uma referência, uma
ponte, para o que pode haver de mais “moderno”: atividades econômicas que não tenham uma
atitude predatória em relação ao meio ambiente.
Estudos mostram que as terras indígenas demarcadas funcionam como um importante ante-
paro frente ao avanço do desmatamento e da ocorrência de queimadas. A maior parte das terras
indígenas se concentra na chamada Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará,
5º ANO
81

Amapá, Tocantins, Mato Grosso e parte do Maranhão), onde vivem 170 povos indígenas, abran-
gendo cerca de 260 mil pessoas. Essas áreas somam cerca de 21 % dessa região e, portanto, têm
um papel fundamental na conservação da biodiversidade da Amazônia.”
História e cultura dos povos indígenas no Brasil. São Paulo: Barsa Planeta, 2009, pp. 122-123.

• Glossário
Predatório – aquele que destrói
Anteparo – que protege
Demarcado - delimitado

11 O que significa dizer que os indígenas eram vistos como um obstáculo ao progresso?

12 Por que, atualmente, se entende que os conhecimentos tradicionais indígenas não são atra-
sados, mas sim modernos?

13 O que significa dizer que as terras indígenas demarcadas são um anteparo ao desmatamen-
to e às queimadas?
HISTÓRIA
82

14 Você acredita que a demarcação de terras pode auxiliar o desmatamento, a destruição do


meio ambiente e a crise climática?

Agora, vamos ler um trecho de um texto escrito por uma criança indígena sobre o
Território Indígena do Xingu.

“A Terra Indígena para nós é muito importante, porque precisamos dela para caçar,
fazer roça, plantar legumes para podermos comer.
Ela servirá também para nossos filhos e netos que viverão no futuro.
Precisamos da Terra Indígena para poder procurar fruta, mel, que é muito impor-
tante para nossa saúde.
Além das frutas, tem muitas ervas e raízes que são boas para fazer remédio. Por isso,
precisamos da terra indígena reservada somente para nós.
Tudo o que tem na nossa Terra precisamos, como: madeira, palha, embira, para
construção das casas, madeiras para fazer canoas para poder viajar e visitar outras aldeias.
Todos nós, indígenas, do Brasil precisamos de nossa Terra demarcadas, porque,
como todos sabem, nós fomos os primeiros donos desta terra, agora temos direito de
ter nossa terra demarcada. [...] Geografia indígena: Parque Indígena do Xingu/ Instituto
socioambiental. Brasília: MEC/SEF/DPEF, 1988, p. 44.

Depois de realizar a leitura, faça, no espaço a seguir, um desenho representando as dife-


rentes atividades que os indígenas realizam no Território Indígena do Xingu e que são vitais à
sua existência.
5º ANO
83
HISTÓRIA
84

ATIVIDADE 2 – O modo de vida dos povos indígenas


no Território Indígena do Xingu

O Território Indígena do Xingu possui 27 mil quilômetros quadrados em uma região


plana, com matas altas em meio a cerrados e campos. O rio Xingu e seus afluentes cortam a
área do Parque, que tem na grande biodiversidade uma de suas maiores características. Lá
vivem, atualmente, 16 etnias: aweti, ikpeng, kaiabi, kalapalo, kamaiurá, kisêdje, kuikuro, ma-
tipu, mehinako, nahukuá, naruvotu, wauja, tapayuna, trumai, yudja, yawalapiti. As diferentes
etnias têm similaridades, mas também possuem diferenças em relação às línguas e aspectos
da cultura, como os rituais e formas de organização social. Nas escolas das aldeias, as aulas
são dadas na língua da etnia de seus moradores, mas o português é ensinado em todas elas.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4d/Festa_do_Kuarup_dan%C3%A7a_em_frente_ dos_troncos.jpg

Festividade do Kuarup, na dança dos troncos, na aldeia Kamayurá.

O acesso à maior parte das aldeias é realizado por meio de barcos, já que são poucas as
estradas que levam até a área do Território. Da cidade de Canarana, no Mato Grosso, sai uma
estrada de terra, que faz um percurso de 250 km até a aldeia Kalapalo. O deslocamento é difícil
e caro, pois para cada viagem de barco, é preciso ter a quantidade de combustível necessária
para fazer funcionar os motores das embarcações. O combustível é trazido em galões da cidade.
A aldeia Diaurum marca o início do Território. Nessa aldeia, instalou-se o segundo ponto
de apoio para serviços governamentais, como o da escola, de um posto médico existente na
área e com o primeiro centro de formação de professores indígenas.
5º ANO
85

1 Corrija a afirmação: Todas as diferentes etnias dos povos que vivem no Território Indígena do Xingu são
semelhantes e não apresentam diferenças entre si.

2 No que se refere aos deslocamentos, como eles são realizados?

Na região do Alto Xingu, as aldeias são formadas por casas comuns, dispostas em forma
oval, em torno de uma praça. No centro da praça localiza-se a casa dos homens, que é um
ponto de reunião masculino e o local onde ocorrem cerimônias, que somente os homens po-
dem participar. Lá também os mortos são enterrados e acontecem vários rituais. As casas são
cobertas de sapé. Geralmente, cada habitação é composta por um núcleo de irmãos homens
e suas respectivas famílias. O líder desse grupo é o “dono da casa”, responsável pela coorde-
nação das atividades produtivas e outras tarefas do dia a dia, em que todos participam. O
grupo divide as tarefas e todos trabalham.
Na atual aldeia ikpeng, no Médio Xingu, existem casas e um centro cerimonial. Há tam-
bém uma cabana, o mungnie, que é, ao mesmo tempo, uma espécie de oficina de artesanato,
uma sala de ensaios e um local para convívio social, fora do grupo doméstico. Esse local,
diferentemente do que ocorre no Alto Xingu, pode ser frequentado pelas mulheres.

3 Escreva um texto que explique de que forma as moradias são organizadas na região do Alto
e Médio Xingu.
HISTÓRIA
86

Em termos de alimentação, cada família cultiva uma roça de subsistência com vários
tipos de cultivo. Alimentos, como diferentes tipos de mandioca, inhame, batata doce, milho,
banana, abacaxi e amendoim são plantados. Ao sul do Território, os povos se alimentam à
base de peixe, beiju e mingaus, feitos com mandioca e outros alimentos vegetais. As etnias
que vivem nas regiões norte e central comem carne vermelha e possuem uma agricultura mais
variada. De todo modo, para todas as etnias, a pesca e a agricultura são atividades funda-
mentais. Os Yudjá, os Kaiabi, os Kisêdje, os Trumai e os Ikpeng consomem mais carne de
caça, incluindo animais, como o porco e a anta, que não são consumidos pelas etnias que
vivem na região do Alto Xingu.
De forma geral, os homens preparam a terra para as roças e as mulheres cuidam delas,
evitando que ervas daninhas, insetos ou animais prejudiquem as plantações. Quando é a
época de realizar a colheita, elas retiram a mandioca da terra e preparam a raiz, por meio de
variados processos, que dão origem a diversos alimentos consumidos por todo o grupo. Na
coleta de alimentos, como frutos, raízes, mel, lenha nas áreas de mata, as crianças também
participam da atividade junto aos adultos.
5º ANO
87

4 Diferencie aspectos da alimentação dos povos indígenas que vivem ao norte, ao sul do Ter-
ritório e dos Yudjá, os Kaiabi, os Kisêdje, os Trumai e os Ikpeng.

5 Que aspectos alimentares são comuns a todas as etnias?

Entre os povos do Alto Xingu, cada etnia é


especialista em produzir um produto. Dessa for-
https://live.staticflickr.com/4153/4976264676_325f69fc1b_c.jpg

ma, é possível participar de um sistema de trocas


com os demais povos. Os Wauja, por exemplo,
fabricam grandes panelas de cerâmica, de fun-
do chato e bordas espessas. Já os Kamaiurá pro-
duzem arcos de madeira preta. Colares e cintos
de garras de onça e de discos de caramujos são
feitos pelos povos Kalapalo, Kuikuro, Matipu e
Nahukuá. Os Aweti, Mehinako e Trumai extra-
Luta da huka-kuka em sal do aguapé e o armazenam para a per-
muta. As transações de troca desses e de outros
produtos ocorrem num evento denominado moitará. Casas da mesma aldeia ou de aldeias
distintas participam do evento. É comum as trocas envolverem produtos, como cerâmica, co-
HISTÓRIA
88

lares, armas, cintos, adornos de penas, redes de dormir e de pescar, canoas, flautas, cestas,
cabaças, sal, pimenta, alimentos, animais, objetos e utensílios usados fora das aldeias. Antes
da realização das trocas, os homens lutam huka-kuka, uma arte marcial e um estilo de luta
dos povos indígenas do Xingu e dos Bakairi, que vivem no Mato Grosso.

https://www.gov.br/funai/pt-br/arquivos/conteu-
do/ascom/2018/11-nov/mapulu-20-20b.jpg
PARA SABER MAIS
Cacica e pajé Mapulu Kamayurá é uma das lideranças femininas
mais antigas no Xingu. Detentora de conhecimentos ancestrais, ela
recorre à medicina tradicional indígena para cuidar dos moradores.
Em 2018, ela recebeu prêmio de Direitos Humanos por sua luta pe- Cacica, chefe indígena e pajé
los direitos das mulheres indígenas, pela ameaça da perda de terra Mapulu Kamayurá ao receber
e contra o desmatamento. o prêmio de Direitos Humanos
em 2018.

6 Leia o texto a seguir que trata de alguns aspectos do modo de vida de povos indígenas no
Território Indígena do Xingu.

“Os índios do Alto Xingu, embora diferentes entre si,


têm culturas e rituais semelhantes, fazem muitas trocas e
têm bastante contato uns com os outros. As antigas guer-
Antônio Reis Júnior (imagem cedida pelo autor)

ras acabaram; persistem rivalidades e desconfianças, mas


há muito comércio intertribal e casamentos mistos.
Os rituais alto-xinguanos são famosos e belíssimos.
O Kuarup, o ritual dos mortos, talvez o mais importan-
te, é realizado ao longo de um ano inteiro, compreen-
dendo trocas e oferendas complexas baseadas no siste-
ma de parentesco. Outros povos são convidados para
Cerimônia do Kuarup em 2022. o encerramento do Kuarup, que dura vários dias. Há
danças, cantos fúnebres, o grandioso final com troncos,
que representam os mortos e competições entre os povos, como a luta huka huka. É o choro pelos
parentes que se vão e ao mesmo tempo um renascimento, uma cerimônia que evoca, a partir de
troncos de madeira, a criação da humanidade por Mavutsinin.
Em 2002, quando Orlando Villas Bôas faleceu, aos 88 anos, os indígenas fizeram um Kuarup
para ele, uma honraria rara quando se trata de não indígenas. Orlando é para eles o grande herói,
de quem têm infinitas saudades.
Villas Bôas, Cláudio e Orlando. Histórias do Xingu. São Paulo:
Companhia das Letrinhas, 2013, pp. 8-9. (Adaptado).
5º ANO
89

a) Há conexões entre os indígenas do Alto Xingu?

b) Ainda ocorrem guerras entre as diferentes etnias?

c) O que é o Kuarup? No que compreende?

d) Somente os povos do Alto Xingu participam?

e) Que honraria Orlando Villas Bôas recebeu quando de sua morte?


HISTÓRIA
90

ATIVIDADE 3 – Modos de vida quilombola


no Brasil atual

O termo quilombo foi usado durante o período colonial e o século XIX, para designar co-
munidades constituídas, especialmente, por escravizados africanos que resistiram à escravidão.
O quilombo, contudo, não era apenas isso, mas também uma forma de organização social da
população negra. Normalmente, os quilombos se formaram a partir do ajuntamento de escra-
vizados que fugiram de vilas, cidades e fazendas para terras livres, para se organizar de outras
formas, normalmente, em áreas remotas. É importante lembrar que pessoas indígenas também
integravam e integram quilombos. Outros escravizados se dirigiam para os quilombos, para
viver após terem conquistado a alforria. Outros grupos conseguiram comprar terras, tanto du-
rante a vigência do escravismo quanto após seu fim.
Depois do fim da escravidão no Brasil, em 1888, os quilombos continuaram a existir. Atu-
almente, define-se um quilombo contemporâneo como sendo toda a comunidade formada por
descendentes de escravizados, com fortes vínculos culturais com seu passado, como elementos
linguísticos, aspectos religiosos e modo de vida. Esses aspectos os distinguem do restante da
sociedade. Em sua maioria, os quilombos são comunidades rurais, mas há também quilombos
urbanos, como o da Chácara das Rosas, no município de Canoas, no Rio Grande do Sul. Os
quilombos contemporâneos, também, são chamados de comunidades remanescentes de qui-
lombos, e seus direitos às terras são reconhecidas por lei.
Os direitos das comunidades quilombolas estão assegurados na Convenção 169 Sobre Povos
Indígenas e Tribais, da Organização Internacional do Trabalho, ratificada pelo Brasil e por diversos
países da América Latina. No Brasil, foi a Constituição de 1988 que garantiu o direito dessas popu-
lações de continuar a viver nas terras de seus antepassados e, no mesmo ano, foi criada a Fundação
Palmares, responsável por realizar o levantamento dos quilombos existentes no território brasileiro.
Hoje, segundo dados governamentais, existem 3.475 comunidades remanescentes de qui-
lombos distribuídas por todo o
país. Apesar do direito dessas
comunidades ter a posse de
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/86/Quilombolas_amapa.jpg

suas terras e de seu modo de


vida estar garantido desde 1988
pela Constituição, ainda hoje,
a concretização de seus direi-
tos enfrenta muitos obstáculos,
como a lentidão nos trâmites de
reconhecimento territorial e as
ameaças de empresas de mine-
ração e barragens que alteram o
curso de rios.
Comunidade quilombola de Curiaú, no Amapá, em 2008.
5º ANO
91

1 Assinale as alternativas corretas:

a) ( ) O termo quilombo significava, no período colonial e no século XIX, comunidades cons-


tituídas por escravizados africanos que resistiram à escravidão durante sua vigência.

b) ( ) Os quilombos também eram uma forma de organização da população negra.

c) ( ) A única forma de um quilombo ser formado era por meio de doação de terras por
parte de abolicionistas.

d) ( ) Com o fim da escravidão, os quilombos desaparecerem do território brasileiro.

e) ( ) A grande maioria dos quilombos contemporâneos está em áreas rurais, mas também
existem quilombos em cidades.

Em 20 de novembro de 1995, a terra quilombola Boa Vista se tornou o primeiro qui-


lombo regularizado no país. A titulação veio após sete anos do reconhecimento dos direitos
quilombolas pela Constituição Federal. A partir daí, o quilombo Boa Vista tornou-se proprie-
tário de seu território, o que significa que, além da terra, eles podem ter acesso a projetos do
governo federal e outros direitos sociais. O quilombo Boa Vista se localiza no município de
Oriximiná, no Pará. Um dos aspectos mais importantes acerca do modo de vida das comu-
nidades quilombolas no Brasil é a importância da coletividade, isto é, tudo é decidido pelo
grupo e não de forma individual.
Em Oriximiná, no Pará, existem 37 comunidades quilombolas e mais de 10 000 habitantes,
situadas nas margens dos Rios Trombetas, Erepecuru, Cuminã e Acapu. Os quilombolas em
Oriximiná estão ligados por laços de parentesco entre as comunidades ribeirinhas. É comum en-
tre os moradores que haja mudança de uma comunidade para outra, em razão de casamento,
por separações ou desentendimentos com vizinhos ou pela criação de novos núcleos de mora-
dia, sendo difícil encontrar adultos que nunca
tenham vivido em outra comunidade.
Trombetas_Par%C3%A1_-_foto_de_Carolina_de_Melo_Franco.
Comunidade_Quilombola_na_Reserva_Biol%C3%B3gica_do_
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:09_Moradias_da_

O número de habitantes de cada comuni-


dade é bastante variável, há algumas pequenas
com apenas uma dezena de famílias e outras
JPG- Autoria: Carolina de Melo Franco

com centena de integrantes. As comunidades


são formadas pelas casas de moradia e pelo
centro comunitário, onde se localizam a esco-
la municipal, a capela e o prédio comunitário,
local destinado às reuniões e festas.
Comunidade quilombola em Oriximiná, no Pará,
maior quilombo titulado do Brasil.
HISTÓRIA
92

Nas comunidades quilombolas de Oriximiná não existe rede de abastecimento de água


ou esgoto. A água utilizada para as necessidades diárias, como beber, cozinhar, tomar banho
e lavar é retirada diretamente dos rios, igarapés e lagos que circundam as comunidades. Na
maior parte das comunidades, a geração de energia, atualmente, é realizada com um motor
movido a diesel, já que a rede elétrica não consegue fornecer eletricidade para todas as casas.
Para buscar assistência médica, as pessoas recorrem aos médicos na sede do município. O
trajeto pelos rios da região é longo, podendo demorar até 12 horas.
As festas são uma parte importante da vida da comunidade e são resultado da influência
negra, indígena e católica. Na festa de Aiuê de São Benedito, na Comunidade Jauariri, rea-
lizada em 6 de janeiro, o homenageado é o padroeiro da comunidade, São Benedito. Nessa
ocasião, eles agradecem pelas riquezas obtidas durante o ano anterior. As cantigas em latim
são passadas de geração em geração. Danças como o lundum, a valsa e a mazurca também
estão presentes. Além das festas, os momentos de lazer incluem o futebol, praticado por toda
a comunidade, em diversos torneios, em que participam quilombolas e não quilombolas; o
jogo de dominó e de cartas; a roda de conversa; as cantorias e assistir televisão, nas comuni-
dades onde existe gerador.

2 Qual é a principal característica do modo de vida quilombola?

3 Que laços ligam os integrantes das comunidades quilombolas de Oriximiná?

4 Como se dá o acesso à água e energia elétrica?


5º ANO
93

5 As festas têm influências de que culturas?

6 Que esporte é praticado pela comunidade?

7 Que diferenças e semelhanças você consegue perceber entre o modo de vida quilombola em
Boa Vista e o modo de vida urbano?
LÍNGUA PORTUGUESA
HISTÓRIA

UNIDADE 4

Culturas, grupos
e modo de viver
PRIMEIRAS PALAVRAS

Nas sociedades humanas, existem muitos modos


de viver, os diferentes povos do mundo, as diferen-
tes culturas e em diferentes momentos históricos, o
modo de vida se altera. Em uma mesma sociedade,
existem diferentes formas de viver, porque os dife-
rentes grupos possuem diferentes culturas, compor-
tamentos, ideias e valores. Em diferentes momentos
históricos, a acessibilidade das pessoas com defici-
ência não estava regulamentada na Cidade de São
Paulo, com o passar do tempo e das lutas de grupos
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Galeria_do_Rock_na_Virada_Cultural.jpg

organizados, foi ficando claro que o espaço público


deve ser acessível para todos e todas.
5º ANO PORTUGUESA
LÍNGUA
95

Fotografia de Rodrigo.Argenton.
Galeria do Rock. 2012.
HISTÓRIA
96

ATIVIDADE 1 – M
Modos
odos de vida: diferentes
povos e culturas

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d7/Skyline_
of_S%C3%A3o_Paulo_at_dusk_%283 18298%29.jpg
Vista da
Cidade de
São Paulo.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Povos_ind%C3%ADgenas_do_Brasil#/media/
Ficheiro:Parque_Ind%C3%ADgena_do_Xingu.jpg

Aldeia dos Yawalapiti,


povo que vive no Território
Indígena do Xingu.

As duas fotos acima mostram dois locais existentes no Brasil atualmente. A frenética e
agitada Cidade de São Paulo, de um lado, e a aldeia dos yawalapiti, povo indígena que vive
em contato próximo com a natureza no Território Indígena do Xingu, de outro. Apesar de
situados no mesmo tempo histórico, os modos de vida dos dois lugares são muito diferentes.
Em São Paulo, o modo de vida de seus moradores está profundamente ligado ao tra-
balho e às formas de sobrevivência. As pessoas passam boa parte de seu tempo envolvidas
no deslocamento entre o trabalho e o retorno para casa. As relações de trabalho são assa-
5º ANO
97

lariadas, isto é, em troca de um salário em dinheiro, geralmente mensal, os trabalhadores


executam tarefas. Com o que recebem pelo trabalho realizado, pagam pelos produtos e
serviços que têm necessidade em seu cotidiano, como o aluguel de um local para morar, os
transportes públicos e individuais, os alimentos, os medicamentos, as roupas e por todas
as outras coisas que precisam..
Como a Cidade de São Paulo é muito grande, seus milhões de habitantes não se conhe-
cem pessoalmente e nem possuem laços de parentesco ou laços de cooperação para a execu-
ção de tarefas. O modo de vida é organizado, a partir do indivíduo e de suas necessidades e
não das necessidades do grupo. As pessoas e as famílias não produzem o seu próprio alimen-
to, recorrendo às feiras, aos supermercados e a outros estabelecimentos para comprar os ali-
mentos que foram produzidos por outras pessoas, às vezes em lugares bastante distantes. Os
objetos usados no cotidiano também não são produzidos diretamente, mas são comprados
em lojas e em centros de compras.
O contato direto com a natureza, por parte dos moradores, é esporádico e, muitas vezes,
é possível se locomover por quilômetros ao longo da cidade sem que se note sinais de árvores,
rios, animais, colinas, morros, etc. A grande desigualdade econômica e social faz com que os
moradores das áreas mais carentes e periféricas não tenham acesso à vida cultural ou ao lazer
que está disponível para os que têm condições econômicas e sociais.
O modo de vida em São Paulo é marcado pela diversidade de pessoas de diferentes ori-
gens, culturas e experiências. As trocas de conhecimentos e de saberes referentes a hábitos
alimentares, a hábitos e costumes acontecem a todo o tempo, nos diferentes bairros e regiões
da cidade, permitindo o enriquecimento cultural dos seus moradores. As mudanças ocorrem
em grande velocidade e o modo de vida dos moradores se transforma rapidamente. Por outro
lado, cada vez mais as pessoas têm busca-
do viver a cidade de outra forma, com me-

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mundo_de_Entrega-_Gabriella_Capua-
nos pressa, mais lazer e calma, recuperan-
do e lutando pela abertura de mais áreas
no-_Entregador_de_aplicativo_em_S%C3%A3o_Paulo.jpg
verdes, parques, praças e locais de convívio
com os outros.
Entre os povos indígenas do Territó-
rio Indígena do Xingu ou nas comunidades
quilombolas, o modo de vida é bastante
diferente dos habitantes da Cidade de São
Paulo. As pessoas vivem em contato direto
com a natureza, entendendo que elas tam- No modo de vida das pessoas na Cidade de São
Paulo, a bicicleta passou a ser usada para o lazer,
bém são parte do meio ambiente. Da natu- mas também para o transporte diário e como veículo
reza, é retirado aquilo que serve para a so- de trabalho para muitas pessoas.
brevivência sem que, contudo, os recursos
HISTÓRIA
98

naturais sejam tratados de forma predatória. O respeito a todas as formas de vida faz parte
do modo de vida desses povos.
Os laços de parentesco e comunitários são fortes e a vida da comunidade é decidida em
conjunto. Todos opinam e decidem o que é melhor para todos. A criação das crianças não é ta-
refa exclusiva dos pais, mas todo o grupo participa, ensinando os saberes necessários para que
as crianças conheçam as matas, os animais, as plantas e suas propriedades. As crianças apren-
dem no convívio com os adultos a cultivar alimentos, a caçar, a pescar, a conhecer seu território.
O modo de vida indígena e quilombola está fortemente ligado à experiência, que é co-
mum a todos. Por isso, os alimentos são produzidos pelo grupo nas roças, que pertencem a
todos. O trabalho não é realizado em razão do pagamento de um salário, mas sim em função
das necessidades do grupo. A coleta de frutos, de alimentos, a pesca, a colheita das roças são
divididas em conjunto, mulheres, homens e crianças participam das atividades. No Território
Indígena do Xingu, é possível trocar produtos entre as diferentes etnias. Grande parte dos
objetos de uso diário são produzidos pelo grupo e outros são obtidos por outros meios na
relação com as sociedades não indígenas.
As tradições culturais passadas pelos ancestrais são muito importantes, pois elas unem o
grupo e conferem um sentido para a vida diária. As línguas faladas, a religião, as festividades
e celebrações fazem parte do modo de vida a fim de manter vivas as experiências e histórias
daqueles que vieram antes deles.
Muitos elementos das sociedades industriais e tecnológicas foram incorporados ao modo
de viver de populações indígenas e quilom-
bolas, como é o caso dos telefones celu-
lares, computadores, o uso da internet e
de aparelhos eletrônicos no geral. Essas
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/49/Raposa_Serra_do_

comunidades têm acesso às inovações téc-


nicas do mundo industrial tecnológico, ao
mesmo tempo que vivem de acordo com
os tempos da natureza, as estações do ano
e a cultura de seus antepassados.
Sol_-_Julgamento_STF._2008.jpg

A Constituição de 1988, atualmente


em vigor, conferiu aos povos indígenas e
quilombolas direitos sobre suas terras,
educação diferenciada e políticas públi-
Indígenas durante o julgamento no Supremo Tribunal Federal
cas voltadas para a saúde. Além disso,
sobre a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do a Constituição garantiu-lhes o direito de
Sol, em Roraima. Os povos indígenas do Brasil atual têm se
mobilizado para garantir seus direitos, ao mesmo tempo em
existir como são e o de preservar seus mo-
que preservam aspectos de seu modo de vida. dos de ser e de viver.
5º ANO
99

RODA DE CONVERSA
y Converse com seus colegas sobre as semelhanças e diferenças existentes entre o modo de
vida urbano na Cidade de São Paulo e o modo de vida nas comunidades indígenas e qui-
lombolas. Que aspectos mais chamam a sua atenção? Escreva um texto com os pontos
destacados pelo grupo.

1 Explique a afirmação: A grande metrópole urbana de São Paulo e as comunidades indígenas e quilom-
bolas existem no mesmo tempo histórico.

2 Como o modo de vida dos moradores da Cidade de São Paulo é influenciado pelo trabalho?

3 Que tipo de relação os indígenas têm com a natureza?


HISTÓRIA
100

4 Qual o papel das tradições culturais dos antepassados para os povos indígenas e quilombolas?

5 Faça um cartaz virtual sobre as populações indígenas e quilombolas brasileiras e seu contato
com as tecnologias de comunicação atuais e com as tradições dos ancestrais.
5º ANO
101

ATIVIDADE 2 – A Cidade de São Paulo


e a circulação de seus habitantes

Para viver plenamente com os direitos e as


liberdades fundamentais, garantidas pela Cons-
tituição Federal, e poder usufruir das possibi-
lidades que um grande centro urbano como a
Cidade de São Paulo oferece, é necessário se lo-
comover sem obstáculos pela cidade. Esse fato,
porém, não é fácil para muitas pessoas, porta-
doras de algum tipo de deficiência visual, auditi-
va ou motora.
No século XX, a compreensão sobre os
direitos das pessoas com deficiência se trans-
formou. A Declaração Universal dos Direitos

https://librasdiaria.files.wordpress.com/2014/06/cats.jpg
Humanos, em 1948, estabeleceu no artigo 25,
o direito das pessoas com deficiência. A partir
daí, paulatinamente, uma mudança na forma
de tratar a questão se processou. A Declara-
ção impulsionou a implementação de leis e de
outras declarações, em várias partes do mun-
do, além disso, houve a ampliação e o forta-
lecimento de movimentos sociais de pessoas e
Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência
grupos em prol dos direitos das pessoas com procurou garantir que todos os portadores de deficiência
deficiência. Em 2007, na sede da ONU, na ci- tenham seus direitos assegurados.

dade de Nova Iorque, foi assinada a Convenção


sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que teve como resultado o primeiro tratado
sobre os Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência do século XXI para a inclusão social
com autonomia e independência de todos e todas.
Atualmente, o entendimento sobre a violação dos direitos da pessoa com deficiência ocorre
quando há falta de estrutura, bens ou de serviços, apropriados para garantir seu bem-estar. Refle-
te-se sobre a falta de recursos disponíveis na comunidade em que o indivíduo vive e está inserido,
e não em sua condição física em si, isto é, a deficiência é entendida como uma questão social e
não como um problema biológico.
No Brasil, a Constituição prevê a igualdade material entre todas as pessoas, o que signi-
fica que é responsabilidade do governo criar condições para que todos que enfrentam situa-
HISTÓRIA
102

ções desiguais possam ter seus direitos assegurados. Cabe, dessa forma, ao Estado, promover
os direitos individuais e sociais através de políticas públicas para incluir a participação das
pessoas com deficiência que, por limitações motoras ou emocionais, precisam de auxílio.

1 Por que para as pessoas com deficiência o simples ato de sair para a rua pode ser um desafio?

2 O que a Declaração Universal dos Direitos do Homem estabeleceu em relação às pessoas


com deficiência?

3 O que o ano de 2007 trouxe de importante para os direitos das pessoas com deficiência?

4 Quem precisa se adaptar no que se refere à circulação nas cidades, a pessoa com deficiência
ou a sociedade? Justifique sua resposta.
5º ANO
103

PARA SABER MAIS


Denomina-se acessibilidade a condição de possibilidade para a superação de dificuldades que represen-
tam barreiras para a participação efetiva de pessoas com deficiência nas várias esferas da vida social.

Para a população

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/uplo-
com deficiência física

ad/cal%C3%A7adas-investimento_565x235.png
que vive na Cidade de
São Paulo, as calçadas
e as ruas são os prin-
cipais obstáculos que
impedem a mobilidade.
Usuários de cadeiras
de rodas relatam que a
falta de acessibilidade,
os obstáculos e as bar-
O Plano Emergencial de Calçadas da Cidade de São Paulo tem como objetivo reformar as
reiras nas calçadas são calçadas da cidade para torná-las acessíveis para as pessoas com deficiência.
o que mais dificultam
seu deslocamento. Para
contornar todos as dificuldades, eles têm de sair de casa com muitas horas de antecedência,
para não perderem os compromissos. Muitas vezes, hospitais, escolas e universidades têm
acessibilidade, mas o trajeto até esses lugares não. Mesmo em lugares como a avenida Paulis-
ta, local com acessibilidade, para passar de um quarteirão ao outro a pessoa com deficiência
encontra dificuldades e obstáculos porque as rampas são íngremes.
A Cidade de São Paulo conta com uma Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA),
que foi criada em 1996. A comissão é consultada e ajuda a decidir sobre a acessibilidade em
projetos e obras de urbanismo, edificações, comunicação e transporte, entre outros. Criado
em 2019, o Plano Emergencial de Calçadas tenta diminuir os desafios cotidianos de quem se
desloca pelas ruas. O projeto prevê investimentos no calçamento de parte do município onde
HISTÓRIA
104

serão instalados piso tátil para os portadores de deficiência visual e rampas. As calçadas deve-
rão possuir uma faixa livre, exclusiva para a circulação de pessoas e não ter desníveis, obstácu-
los temporários ou permanentes. Além disso, a superfície deverá ser regular, firme, contínua e
antiderrapante, além de possuir largura mínima de 1,20 metro para permitir o uso de cadeiras
de roda.
No que se refere ao transporte público, mais de 50% dos ônibus de transporte coletivo da
capital paulista são adaptados para pessoas com deficiência, segundo a Prefeitura Municipal.
Apesar de avanços nessa área, o número ainda é insuficiente para atender a todas as pessoas
que precisam do serviço.

LEITURA DE DOCUMENTOS

5 Leia a reportagem abaixo feita pela Agência Brasil, que trata das dificuldades cotidianas
que as pessoas com deficiência encontram na Cidade de São Paulo, no que se refere à
acessibilidade. A matéria foi publicada em 2019, e o relato dado é do universitário Paulo
César de Jesus, de 31 anos:

Na parada de ônibus, Paulo precisa aguardar uma condução que seja adaptada para deficien-
tes físicos. “Às vezes, o que passa na hora não é adaptado, aí tenho que esperar o próximo”, frisa.
De acordo com informação disponível no site da prefeitura de São Paulo, mais de 50% dos ônibus
de transporte coletivo da capital paulista são adaptados para pessoas com deficiência.[...]
“O ponto é numa descida, mas eu peço para os motoristas pararem na curva, mais perto da
minha casa. Tem uma lei que permite que o motorista pare fora do ponto, mas eles não conhecem
essa lei, então eu tenho sempre que ficar argumentando e debatendo e eu acho que não deveria
passar por isso, porque é uma necessidade, não é um luxo”, destaca. Essas são as maiores dificul-
dades pelo local onde eu moro: a questão do transporte, chegar até o ponto do ônibus e também
pela rua ser estreita.”
[...]
“Na minha faculdade, é zero acessibilidade, as pessoas me ajudam, mas é isso: se eu preciso
de ajuda é porque não tem acessibilidade, é a necessidade de ajuda que caracteriza a deficiência,
caso contrário eu só teria um impedimento de mobilidade física, mas se eu posso circular sem pre-
cisar de ajuda de ninguém eu não tenho deficiência. O tempo todo eu sou lembrado que eu tenho
essa limitação, pela falta de acesso. Lá não tem elevador, não tem rampa, não tem bebedouro,
não tem espelho, não foi pensado para mim.” [...]
Pessoas com deficiência física criticam falta de acessibilidade em SP. Disponível em: https://agenciabrasil.
ebc.com.br/geral/noticia/2019-09/pessoas-com-deficiencia-fisica-criticam-falta-de-acessibilidade-em-sp
5º ANO
105

a) Que dificuldades Paulo César de Jesus enfrenta logo ao sair de casa?

b) Qual é a porcentagem de ônibus adaptados na capital paulista? Você acha que esse nú-
mero é suficiente?

c) Que desafios Paulo César de Jesus encontra quando deve descer do ônibus?

d) Segundo Paulo César de Jesus, quais são as três maiores dificuldades que ele enfrenta em
seu cotidiano?
HISTÓRIA
106

e) E na faculdade onde estuda? Como é a questão da acessibilidade segundo Paulo César


de Jesus?

f) Você acredita que os direitos de Paulo César de Jesus, enquanto cidadão, estão sendo
respeitados? Justifique sua resposta.

ATIVIDADE 3 – Diferentes
D iferentes grupos e culturas na cidade

No território de uma cidade, muitas culturas diferentes coexistem. Existe a cultura de


pessoas que são originárias de outros lugares do Brasil e do mundo e a cultura produzida
pelos diferentes grupos que vivem na cidade. Em uma cidade como São Paulo, diversificada e
complexa, as pessoas possuem muitas identidades, isto é, ao mesmo tempo que são estudan-
tes, são também filhos, irmãos, trabalhadores, torcedores de um time de futebol, moradores
de um bairro, fãs de um certo estilo musical ou esporte etc. Podemos dizer que as identidades
dos moradores de grandes centros urbanos estão marcadas por essas múltiplas experiências,
porque os locais onde se vive ajudam a formar diferentes identidades e culturas.
Os moradores dos diferentes bairros da cidade constroem identidades que estão rela-
cionadas à história do lugar e às transformações pelas quais o espaço passou. A cultura que
produzem se relaciona com suas vivências sociais, econômicas e culturais. Na Mooca, por
5º ANO
107

exemplo, bairro da zona leste, a identidade dos moradores está fortemente conectada com
a migração italiana. A partir de 1890, muitos trabalhadores migrantes italianos se estabele-
ceram ali, eles buscavam empregos nas fábricas de tecidos e sapatos abertas no bairro e nos
arredores. Com os italianos, vieram suas tradições familiares, seus hábitos e sua gastronomia.
A rua dos Trilhos se tornou um local de referência para os moradores, por ter sido uma an-
tiga parada de trem e um local conhecido por todos. Uma das maiores tradições do bairro é
o interesse pelo time de futebol do Juventus, que conta com uma torcida apaixonada e que
cultiva o amor pelo time de geração a geração. Além disso, a forma de falar dos moradores
da Mooca é bastante típica e reconhecida, mesmo em outros bairros da cidade.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:S%C3%A3o_Paulo_-_casario_na_Mooca.jpg

Rua típica do bairro da Mooca, o modo de viver dos moradores do bairro


e suas identidades se relacionam com a história e os costumes do bairro.

1 Como você definiria as suas múltiplas identidades?


HISTÓRIA
108

2 Que elementos de cultura você observa no local em que reside ou estuda?

Outra população que está


bastante presente na capital
paulista é a dos migrantes boli-
vianos. Eles se estabeleceram na
https://medium.com/@GuilhermeMendes/o-bloco-boliviano-8a0589f698bc.

cidade desde 1950. De lá para


cá, o grupo cresceu de forma
acentuada. Na rua Coimbra,
no bairro do Brás, acontece
uma feira aos finais de semana,
onde alimentos típicos e prepa-
rações culinárias diversas são
Autor: Guilherme Mendes

vendidas, juntamente com rou-


pas, cosméticos e, até mesmo,
DVSs, de filmes e programas de
Carnaval Boliviano em São Paulo. televisão bolivianos.
Em 1963, foi inaugurado
um centro de compras chamado Shopping Center Grandes Galerias. Nesse local havia muitos
salões de beleza, lojas de sapatos, alfaiates e locais que realizavam consertos de diferentes
mercadorias. Em fins dos anos 1970, o lugar passou a abrigar lojas voltadas para o mundo
da música, especialmente do rock. Porém, durante um tempo, a administração do prédio não
quis que os grupos que ouviam rock frequentassem o local, chegando até mesmo a proibir a
abertura de lojas voltadas para esse gênero musical. A partir de 1993, o novo administrador
do centro de compras permitiu a abertura de outros negócios voltados o rock e outros estilos
musicais e os interessados passaram a se encontrar ali para adquirir discos e produtos rela-
cionados, como camisetas, roupas e pôsteres. Nascia a Galeria do Rock, local que se tornou
uma referência para os paulistanos e, até mesmo, turistas de outras cidades do país.
5º ANO
109

O local tornou-se conhecido não apenas pelos produtos que comercializava, mas tam-
bém porque, quando havia muito preconceito em torno dessas manifestações culturais, a
Galeria do Rock ajudou a difundir uma nova forma de entendê-las, incentivando a diversida-
de cultural. Em 2011, o local se tornou um Instituto Cultural que tem, dentre outras incum-
bências, promover cursos profissionalizantes, atividades culturais, eventos sociais, cursos de
música, dança, teatro e outras expressões culturais, além de promover a cultura da paz, a
cidadania, os direitos humanos, a democracia e outros valores universais.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:S%C3%A3o_Paulo_(117463659).
jpeg?uselang=pt-br

Galeria do Rock, ponto de encontro de culturas de ruas, jovens e alternativas no centro da Cidade de São Paulo.

3 Por que podemos afirmar que a Galeria do Rock é um local que congrega culturas urbanas?

4 Por que a Galeria do Rock ajudou a promover a diversidade cultural da Cidade de São Paulo?
HISTÓRIA
110

Nas periferias da Cidade de São Paulo, cada vez mais jovens e adultos têm realizado di-
ferentes atividades culturais, como os saraus, o teatro de rua, a dança, a música, os grupos
musicais de percussão, a poesia, a produção de audiovisuais feitos com celulares, programas
voltados para a internet, dentre tantas outras manifestações. Dessa forma, a identidade desses
jovens se constrói em torno de seus locais de moradia, dos laços construídos com outros mora-
dores do mesmo local e com a própria cidade em que vivem. Assim, podem pensar acerca das
desigualdades sociais, sobre suas identidades étnico-raciais e culturais e sobre o viver urbano.
Por meio das manifestações artísticas, os moradores da cidade estabelecem relações
mais humanas e solidárias, em que as relações construídas são motivadas por atividades que
conferem sentido ao viver em uma grande cidade. As soluções para os problemas que afligem
os moradores das periferias são pensadas em conjunto por meio das diferentes linguagens
artísticas e culturais.

https://www.cultura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2017/10/N%C3%BAcleo- Luz_Okinosm%C3%B3v_Cr%C3%A9di-
to-Amanda-Louzada_media.jpg

Fotografia do grupo de dança na Cidade de São Paulo.


Jovens encontram na arte formas de pensar seu modo de vida e suas identidades.

5 O texto a seguir trata de atividades culturais que grupos de jovens têm realizado em
vários bairros periféricos da zona leste da Cidade de São Paulo. Leia o texto e depois
responda às questões:
5º ANO
111

“Saraus, intervenções artísticas, oficinas de cinema e até programas de televisão para a inter-
net. Essas são apenas algumas
das atividades que seis grupos e
coletivos juvenis – Filhos da Dita,
São Miguel no Ar, Grupo Pala-
vra, Coletivo Cultural Margina-
https://aprendizcomgas.org.br/wp-content/

liaria, Cinemateus e Grupo Usina


uploads/2013/07/filhos-da-dita.jpg

dos Atos – têm promovido por


diversas comunidades na zona
Leste de São Paulo.
A partir da cultura, da comu-
nicação e da educação, os jovens
Grupo teatral Filhos da Dita, criado no bairro Cidade Tiradentes, em
2005. O coletivo realiza projetos de formação artística para jovens,
procuram promover transforma-
adolescentes e crianças e intervenções e espetáculos relacionados ções sociais, discutindo questões
à realidade do bairro em que vivem. que afetam a sociedade, assim
como a realidade, os sonhos e
anseios da juventude. “A partir do contato com o teatro, eu vejo duas Thábatas: uma antes e outra
depois. Depois da ocupação que fizemos de um galpão abandonado, criamos uma história linda
e nos comprometemos com a transformação do bairro por meio da arte”, conta Thábata Letícia
Moraes da Silva, do grupo Filhos da Dita, que atua na Cidade Tiradentes.
Para realizar suas atividades, os grupos correm atrás de apoio. Parte deles teve seus projetos
selecionados pelo Programa de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), da Secretaria Municipal
de Cultura de São Paulo, e realizam atividades em bibliotecas ou outros espaços públicos da ci-
dade. Mas, diversas ações são promovidas de forma independente, tendo seus gastos custeados
pelos integrantes das equipes e pessoas que acreditam nos projetos.”

Disponível em: https://aprendizcomgas.org.br/2013/07/18/grupos-e-coletivos-juvenis-de-sao-paulo-levam-cul-


tura-e-educacao-as-comunidades-da-zona-leste-de-saulo-paulo/

a) Que atividades os grupos e coletivos juvenis têm promovido nas periferias da Cidade de
São Paulo?
HISTÓRIA
112

b) Como os jovens buscam promover transformações sociais?

c) O que Thábata Letícia Moraes da Silva quis dizer quando afirma que vê duas Thábata a
partir do contato com o teatro?

d) Como os grupos fazem para realizar suas atividades?

ATIVIDADE 4 – O cotidiano na cidade


e as mudanças históricas

O cotidiano refere-se a àquilo que é costumeiro e habitual na vida das pessoas. A vivência diária
acontece na esfera do cotidiano, marcado pelas atividades habituais, do dia a dia. Em uma cidade,
em função das transformações históricas, o cotidiano se modifica. Os lugares se alteram, bairros são
transformados, novas construções são realizadas e a vida dos habitantes da cidade muda.
Quando observamos imagens do Centro da Cidade de São Paulo entre as décadas de 1920
e 1930, é possível notar que o cotidiano dos habitantes da cidade era diverso dos dias atuais.
Diversas fachadas de lojas trazem nomes de empresas que não existem mais. Os bondes, que cir-
culava nas ruas transportando passageiros foram substituídos por outros meios de transporte.
As roupas usadas pelas pessoas mudaram, a exemplo do uso de chapéus, muito corriqueiro prin-
cipalmente por parte dos homens.
5º ANO
113

Atualmente, a rua Santa Ifigênia tornou-se conhecida por ser um centro de comércio de ele-
troeletrônicas, setor esse que, no final dos anos 1950, não existia, e por receber pessoas de muitos
lugares da cidade, e até de fora dela, em busca de peças e equipamentos eletroeletrônicos.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Rua_Santa_Ifig%C3%AAnia#/media/
Palacete Helvetia,
na esquina entre a Rua Santa
Ifigênia e a Rua Aurora.

Ficheiro:Palacete_Helvetia_6.jpg
Rua Santa Ifigênia, no centro
da capital onde hoje domina
o comércio no setor de
eletroeletrônicos.
https://visitecentrodesaopaulo.com.br/wp-content/uploads/2017/03/
santaifgenia.jpg

LEITURA DE DOCUMENTO ESCRITO

1 O cotidiano na Cidade de São Paulo se alterou em diferentes períodos históricos. Quando


esteve na Cidade de São Paulo, no princípio do século XIX, o viajante francês Saint-Hilaire
relatou aquilo que viu nas ruas da cidade. Leia um trecho do relato a seguir:
HISTÓRIA
114

“Em S. Paulo, não são encontrados negros a percorrer as ruas, como no Rio de Janeiro, trans-
portando mercadorias sobre a cabeça. Os legumes e as mercadorias de consumo imediato são
vendidos por negras que se mantêm acocoradas na rua, que, por motivo de tal comércio, tomou
o nome de rua da Quitanda. Quanto aos comestíveis indispensáveis, tais como farinha, toucinho,
arroz, milho, carne seca, os mercadores, que os vendem, estão, em sua maior parte, estabelecidos
numa única rua denominada rua das Casinhas, porque, efetivamente, cada venda forma uma
pequena casa isolada. (...) Não há em São Paulo rua mais frequentada do que a das Casinhas.
A gente do campo ali vende suas mercadorias aos comerciantes em cujas mãos os consumidores
vão adquiri-las. Durante o dia nota-se ali acúmulo de negros, de roceiros, de muares, de arrieiros.”

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem à Província de São Paulo. São Paulo:


Livraria Martins Fontes, s/d, p. 180-181.
Disponível em: < https://ia801407.us.archive.org/7/items/viagemprovinci00sainuoft/viagemprovinci00sainuoft.pdf.

• Glossário
Acocoradas - agachadas
Muar – relativo aos burros de carga
Arrieiro – condutor de tropa de animais

a) Que diferença aponta o viajante francês entre a Cidade de São Paulo e a do Rio de Janeiro?

b) Por que a rua da Quitanda recebeu esse nome?


5º ANO
115

c) Onde os outros produtos alimentícios eram comercializados?

d) Qual a origem do nome rua das Casinhas?

e) Quem eram os frequentadores da rua das Casinhas, segundo Saint-Hilaire?


HISTÓRIA
116

nhas_-_em_Dire%C3%A7%C3%A3o_%C3%81_Rua_da_Quitanda_e_Lardo_da_
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6c/Reprodu%C3%A7%-

Miseric%C3%B3rdia_-_1887_-_01%2C_Acervo_do_Museu_Paulista_da_USP.
C3%A3o_de_Fotografia_-_Rua_do_Commercio%2C_Antiga_Rua_das_Casi-

jpg/800px-thumbnail.jpg
Foto da Rua do Commercio, antiga rua das Casinhas, em 1887.

As Casinhas, como local de comércio de alimentos e de outras necessidades, foi criada


em 1773 pela Câmara Municipal e existiu até 1874, quando foram demolidas para dar espa-
ço a um novo mercado municipal. O cotidiano da cidade se transformava, em fins do século
XIX, em razão do crescimento populacional e das primeiras obras de modernização da cidade.
Em 1925, foi projetado o Mercado Municipal Cantareira, pelo engenheiro Felisberto
Ranzini, funcionário do escritório do renomado arquiteto Francisco de Paula Ramos de Aze-
vedo. O processo de construção do mercado ocorreu entre os anos de 1928 e 1933, em um
momento que a cidade se modernizava para responder ao crescimento econômico gerado pelo
café e pela industrialização. A inau-
guração do novo edifício aconteceu

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mercado_Central_-_SP_(3177859988).jpg
em 1933. Atualmente, o cotidiano
dos comerciantes que vendem frutas,
verduras, legumes, peixes e carnes e
dos fregueses modificou-se, porque o
mercado se tornou um ponto turísti-
co e gastronômico para aqueles que
visitam a Cidade de São Paulo. Em
meio a bancas de alimentos, pessoas
fazem fotos para guardar de recorda-
ção e provar pratos que ficaram fa-
mosos, como o sanduíche de morta- Fachada do Mercado Municipal da Cantareira, conhecido pelos
dela, uma das atrações do espaço. habitantes da cidade e turistas como o Mercadão. Hoje em dia, o
lugar é mais do que um mercado de alimentos, tornou-se um ponto
de visitação para os que vem de fora da cidade.
5º ANO
117

PARA SABER MAIS


Que tal conhecer melhor o Mercado Municipal da Cantareira, o Mercadão?
link: https://drive.google.com/drive/folders/1TGJeKOWAwlPHZfRT0vpvqYT15wE746Pw?usp=drive_link

RODA DE CONVERSA
y Converse com seus colegas sobre as mudanças ocorridas no cotidiano dos moradores da
Cidade de São Paulo no que diz respeito à forma de realizar compras, o desaparecimento e
o surgimento de diferentes locais de comércio. Será que a vida das pessoas na cidade é im-
pactada por essas transformações? Que mudanças mais recentes têm atingido o modo de
vida das pessoas no que se refere à forma de fazer suas compras na Cidade de São Paulo?

y Depois de conversarem sobre o tema, vamos produzir um vídeo sobre a nossa cidade. O
vídeo terá duração de três a cinco minutos e poderá ser publicado no Youtube ou em outra
plataforma de vídeos, se toda a turma concordar. Na sequência, é preciso criar o roteiro,
isto é, fazer uma descrição bem detalhada das cenas, imagens e informações que serão usa-
das no vídeo. Outra etapa importante é a montagem de um cronograma, isto é, o tempo
que cada grupo terá para pesquisar, buscar imagens e escrever os textos que serão lidos na
hora da filmagem. Os textos devem ser curtos e bem informativos. É necessário escolher o
narrador ou narradora, o(a) estudante que vai ler os textos usados no vídeo. Agora é só divi-
dir a turma em equipes para a produção. Não esqueçam de escolher um título para o vídeo
e de colocar o nome de todos os componentes da sala! Boa filmagem.
HISTÓRIA
118

ANOTAÇÕES
5º ANO
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ANOTAÇÕES
HISTÓRIA
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ANOTAÇÕES
PROJETO GRÁFICO

Centro de Multimeios
Ana Rita da Costa - Diretora

Núcleo de Criação e Arte


Angélica Dadario
Cassiana Paula Cominato
Fernanda Gomes Pacelli
Simone Porfirio Mascarenhas

Colaboradora
Roberta Cristina Torres da Silva

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