Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina

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Enriquecimento

Ambiental em
Aves de Rapina
Diurnas
Francisco Gomes Pedra Moreira Ramos
Mestrado em Ecologia e Ambiente
Departamento de Biologia
2022

Orientador
Nuno Monteiro, Professor Auxiliar Convidado,
FCUP e CIBIO/InBIO

Coorientador
Hugo Oliveira, Engenheiro Zootécnico,
Parque Biológico de Gaia
Todas as correções determinadas pelo
júri, e só essas, foram efetuadas.

O Presidente do Júri,

Porto, ________/________/________
ii

“It’s surely our responsibility to do everything within our power to create a planet that
provides a home not just for us, but for all life on Earth”.
Sir David Attenborough
iii

Declaração de Honra
Eu, Francisco Gomes Pedra Moreira Ramos, inscrito no Mestrado em Ecologia e
Ambiente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto declaro, nos termos do
disposto na alínea a) do artigo 14.º do Código Ético de Conduta Académica da
U.Porto, que o conteúdo do presente relatório de estágio reflete as perspetivas, o
trabalho de investigação e as minhas interpretações no momento da sua entrega.
Ao entregar este relatório de estágio, declaro, ainda, que o mesmo é resultado do meu
próprio trabalho de investigação e contém contributos que não foram utilizados
previamente noutros trabalhos apresentados a esta ou outra instituição.
Mais declaro que todas as referências a outros autores respeitam escrupulosamente
as regras da atribuição, encontrando-se devidamente citadas no corpo do texto e
identificadas na secção de referências bibliográficas. Não são divulgados no presente
relatório de estágio quaisquer conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de
autor.
Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito
académico.

Francisco Ramos,

Vila Nova de Gaia, 20 de setembro de 2022


iv

Agradecimentos
A conclusão deste trabalho deve-se ao apoio de diversas pessoas que ao
longo de todo este período de realização do mesmo, foram ajudando de diferentes
maneiras, daí o meu tão grande obrigado a todas elas.
Assim, em primeiro lugar agradeço ao meu orientador e professor Doutor Nuno
Monteiro e ao meu coorientador Eng. Hugo Oliveira por toda a orientação,
acompanhamento, disponibilidade, apoio, motivação e ensinamentos que foram
essenciais para me guiar e concluir este trabalho. O meu obrigado também a todos os
meus professores que ao longo destes dois anos de estudo na Faculdade de Ciências
da Universidade do Porto (FCUP), contribuíram, de uma forma direta ou indireta, para
a realização deste trabalho.
Um agradecimento aos funcionários do Parque Biológico de Gaia e em
especial a toda a equipa do Setor Veterinário e Zootécnico, por se mostrarem sempre
disponíveis em ajudar-me, pelos seus conselhos, pela informação disponibilizada e
pela simpatia. A experiência de estágio não teria sido a mesma sem o acolhimento
fantástico que me proporcionaram. Foi um prazer trabalhar e aprender convosco.
Agradeço aos meus pais e à minha irmã, por ouvirem todas as minhas dúvidas
e questões em torno do estudo, por me terem apoiado incondicionalmente e por me
tentarem ajudar e dar o seu contributo em tudo o que podiam.
À Luana, por acreditar e confiar em mim, por me dar ânimo, pela presença
constante, em todos os momentos, ao longo de toda esta jornada, por toda a paciência
e por sempre ter-me apoiado, obrigado amor.
Em quinto lugar, uma palavra amiga aos meus colegas de curso, pois foram
importantes nos momentos de partilha de conhecimento, de troca de ideias e de
colaboração. Também destaco e agradeço aos meus colegas estagiários do Parque,
nomeadamente ao João e à Joana, pela entreajuda ao longo desses meses. Essa foi
fundamental no decorrer de todo o processo de desenvolvimento do estudo.
Por fim, agradeço também a toda a minha família e amigos que, de diferentes
formas, ajudaram durante todo este percurso.
v

Resumo
Atualmente, são ainda diversas as causas que ameaçam a manutenção da
biodiversidade, obrigando, não raras vezes, e com o objetivo da sua conservação, à
necessidade de manutenção de espécies longe do seu habitat natural. A manutenção
de animais em cativeiro implica, no entanto, a provisão de condições que assegurem o
seu bem-estar. O bem-estar animal é, muitas vezes, garantido com recurso a um
conjunto de processos denominado “Enriquecimento Ambiental” (EA). Curiosamente,
tendo simultaneamente em conta a sua relevância no funcionamento dos
ecossistemas e a sua notoriedade junto da sociedade, existe ainda um défice de
informação sobre as melhores práticas de EA para aves de rapina diurnas.
Neste estágio, realizado no Parque Biológico de Gaia, foram estudadas, em
condições de cativeiro, quatro espécies de rapinas diurnas: águia-cobreira (Circaetus
gallicus), grifo (Gyps fulvus), búteo (Buteo buteo) e águia-calçada (Hieraaetus
pennatus). Para as mesmas, foram elaborados etogramas e desenvolvidas diferentes
técnicas de EA, distribuídas por três categorias: EA físico, alimentar e sensorial. O
principal objetivo com a aplicação do EA foi a diminuição do tempo de inatividade das
espécies estudadas. O trabalho dividiu-se em três fases principais: 1) construção dos
etogramas e reconhecimento dos comportamentos apresentados pelos indivíduos; 2)
observação e registo dos comportamentos dos indivíduos sem qualquer tipo de
intervenção (período de ausência de enriquecimento), durante 2 semanas, seguido da
aplicação das diversas técnicas de enriquecimento, durante outras 2 semanas; 3)
análise de dados.
Após o estudo, os reportórios comportamentais das quatro espécies
aumentaram. Em todas elas, houve uma diminuição do tempo de descanso com a
presença de EA, ainda que diferenças significativas apenas tenham sido obtidas nas
águias-cobreiras. Em geral, as técnicas de enriquecimento alimentar foram mais
eficazes do que as técnicas de enriquecimento sensorial. Contudo, apenas 2 técnicas
se apresentaram como potencialmente mais eficazes para o propósito pretendido.
Tendo em conta os resultados obtidos, e com vista à generalização dos resultados a
outros animais em cativeiro, a aplicação de 8 técnicas de enriquecimento é
desaconselhada (devido à sua pouca eficácia) enquanto que as restantes técnicas
testadas (aquelas que se mostraram mais promissoras), devem ser testadas,
futuramente, preferencialmente em grupos maiores de aves que, ao contrário daquelas
presentes no Parque, não apresentem historiais clínicos capazes de potencialmente
influenciar a diversidade das respostas comportamentais.
vi

Palavras-chave: enriquecimento ambiental, aves de rapina diurnas, águia-cobreira,


grifo, búteo, águia-calçada, etograma, inatividade
vii

Abstract
Currently, there are still several causes that threaten the maintenance of
biodiversity, forcing, not infrequently, and with the objective of its conservation, the
need to maintain species far from their natural habitat. Keeping animals in captivity
implies, however, the provision of conditions that ensure their welfare. Animal welfare
is often guaranteed using a set of processes called “Environmental Enrichment” (EE).
Interestingly, considering their relevance in the functioning of ecosystems and broad
recognition in our societies, there is still a lack of information on best EE practices for
diurnal birds of prey.
In this internship, carried out in Parque Biológico de Gaia, four species of
diurnal birds of prey were studied under captive conditions: short-toed eagle (Circaetus
gallicus), griffon vulture (Gyps fulvus), buzzard (Buteo buteo) and booted eagle
(Hieraaetus pennatus). For them, ethograms were elaborated and different EE
techniques were developed, distributed by three categories: physical, food and
sensorial EE. The main objective with the application of EE was to decrease the
downtime of the species studied. The work was divided into three main phases: 1)
construction of ethograms and recognition of behaviours presented by individuals; 2)
observation and recording of the behaviour of individuals without any type of
intervention (no enrichment period), for 2 weeks, followed by the application of the
different enrichment techniques, for another 2 weeks; 3) data analysis.
After the study, the behavioural repertoires of the four species increased. All
species decreased the resting time with the presence of EE, although significant
differences were only obtained in short-toed eagles. In general, food enrichment
techniques were more effective than sensory enrichment techniques. However, only 2
techniques were potentially more effective for the initially proposed goal. Taking our
results into account, aiming at generalizing our results to other animals in captivity, the
application of 8 enrichment techniques is not recommended (due to their low
effectiveness) while the remaining techniques tested (those that proved to be more
promising), should be tested in the future, preferably in larger groups of birds that,
unlike those present in the Parque Biológico de Gaia, do not have clinical histories
capable of potentially influencing the diversity of behavioural responses.

Keywords: environmental enrichment, diurnal birds of prey, short-toed eagle, griffon


vulture, buzzard, booted eagle, ethogram, inactivity
viii

Índice
1. Enquadramento ..................................................................................................... 1

2. Introdução.............................................................................................................. 2

3. Metodologia ........................................................................................................... 9

3.1. Local de estudo: Parque Biológico de Gaia .................................................... 9

3.2. Espécies em estudo ..................................................................................... 10

3.2.1. Águia-cobreira (Circaetus gallicus) ........................................................ 10

3.2.2. Grifo (Gyps fulvus) ................................................................................. 13

3.2.3. Búteo (Buteo buteo)............................................................................... 16

3.2.4. Águia-calçada (Hieraaetus pennatus) .................................................... 19

3.3. Sessões de observação................................................................................ 22

3.3.1. Etogramas ............................................................................................. 22

3.3.2. Observações sem e com enriquecimento .............................................. 28

3.4. Enriquecimentos ambientes aplicados .......................................................... 29

3.4.1. Enriquecimentos ambientais para as águias-cobreiras (Circaetus gallicus)


31

3.4.2. Enriquecimentos ambientais para os grifos (Gyps fulvus) ...................... 37

3.4.3. Enriquecimentos ambientais para búteo (Buteo buteo).......................... 43

3.4.4. Enriquecimentos ambientais para as águias-calçadas (Hieraaetus


pennatus)............................................................................................................. 48

3.5. Análise estatística ......................................................................................... 51

4. Resultados e discussão ....................................................................................... 52

4.1. Águia-cobreira (Circaetus gallicus) ................................................................... 52

4.2. Grifo (Gyps fulvus) ........................................................................................... 55

4.3. Búteo (Buteo buteo) ......................................................................................... 59

4.4. Águia-calçada (Hieraaetus pennatus) ............................................................... 62

5. Outras funções desempenhadas ......................................................................... 66

6. Conclusão............................................................................................................ 72

7. Referências bibliográficas ................................................................................... 74


ix

8. Anexos ................................................................................................................ 83
x

Índice de figuras
Figura 1 – Exemplar de águia-cobreira (Circaetus gallicus). ....................................... 10
Figura 2 - População de grifos (Gyps fulvus) do PBG. ................................................ 13
Figura 3 - Exemplar de búteo (Buteo buteo) ............................................................... 17
Figura 4 - Exemplar de águia-calçada (Hieraaetus pennatus)..................................... 20
Figura 5 - Cepo ........................................................................................................... 32
Figura 6 – Indivíduo a interagir com o monte de pedras ............................................. 32
Figura 7 - Pintos escondidos em ramos de pinheiro-bravo ......................................... 33
Figura 8 - Carne picada dentro de casca de banana .................................................. 34
Figura 9 - Alimento embrulhado em folhas de couve .................................................. 35
Figura 10 - Fardo de feno no habitat das águias-cobreiras ......................................... 36
Figura 11 - Blocos de sangue congelado .................................................................... 36
Figura 12 - Cepos e troncos agrupados ...................................................................... 38
Figura 13 - Alimento em blocos de gelo ...................................................................... 39
Figura 14 - Carne de gamo dentro de abóboras ......................................................... 39
Figura 15 - Pernas de cabra-anã ................................................................................ 40
Figura 16 – Perna de cabra-anã pendurada por corda de sisal................................... 41
Figura 17 - Couves num cepo do habitat dos grifos .................................................... 42
Figura 18 - Ramos de árvores que funcionam como poleiros naturais ........................ 43
Figura 19 - Búteo em contacto com o tronco concavo ................................................ 44
Figura 20 - Búteo a interagir com o espécime de ligustro (à esquerda) e exemplar de
ligustro (à direita) ........................................................................................................ 44
Figura 21 - Rocha ....................................................................................................... 45
Figura 22 - Laranja com pintos no interior ................................................................... 45
Figura 23 - Carne picada em pinha ............................................................................. 46
Figura 24 - Espelho junto ao cercado do búteo ........................................................... 47
Figura 25 - Couves com penas espetadas .................................................................. 47
Figura 26 - Espécimes de sabugueiro (à esquerda) e ligustro (no centro e à direita) no
recinto das águias-calçadas........................................................................................ 48
Figura 27 - Árvore no recinto das águias-calçadas ..................................................... 49
Figura 28 - Blocos de sangue congelado no habitat das águias-calçadas .................. 50
Figura 29 - Frequência média de ocorrência de comportamentos da população de C.
gallicus nas fases Sem enriquecimento e Com enriquecimento.................................. 52
Figura 30 - Frequência média de ocorrência de comportamentos da população de G.
fulvus nas fases Sem enriquecimento e Com enriquecimento .................................... 56
Figura 31 - Frequência média de ocorrência de comportamentos de B. buteo nas fases
xi

Sem enriquecimento e Com enriquecimento .............................................................. 59


Figura 32 - Frequência média de ocorrência de comportamentos do grupo de H.
pennatus nas fases Sem enriquecimento e Com enriquecimento ............................... 63
Figura 33 - Ninho de chapim-real (Parus major) com 7 ovos e 1 cria (à esquerda);
caixa-ninho na árvore (à direita) ................................................................................. 67
Figura 34 - Gansos-de-faces-brancas e gansos-comuns no lago do habitat ............... 68
Figura 35 - Lago do habitat das águias-cobreiras (à esquerda) e P. clarkii que foram
capturados no balde (à direita) ................................................................................... 69
Figura 36 - Sessão de Educação Ambiental na atividade "Encontro com o Cientista" 71
Figura 37 - Toca (à esquerda) e tronco suspenso (à direita) ....................................... 71
xii

Índice de tabelas
Tabela 1 – Águias-cobreiras: Caraterísticas dos indivíduos. ....................................... 12
Tabela 2 - Grifos: Caraterísticas dos indivíduos. ......................................................... 16
Tabela 3 - Búteo: Caraterísticas do indivíduo ............................................................. 19
Tabela 4 – Águias-calçadas: Caraterísticas dos indivíduos......................................... 22
Tabela 5 - Etograma Circaetus gallicus (Águia-cobreira) ............................................ 24
Tabela 6 - Etograma Buteo buteo (Búteo)................................................................... 25
Tabela 7 - Etograma Hieraaetus pennatus (Águia-calçada) ........................................ 26
Tabela 8 - Etograma Gyps fulvus (Grifo) ..................................................................... 27
Tabela 9 - Calendarização de aplicação dos enriquecimentos nas águias-cobreiras. . 37
Tabela 10 - Calendarização de aplicação dos enriquecimentos nos grifos. ............... 42
Tabela 11 - Calendarização de aplicação dos enriquecimentos no búteo. .................. 48
Tabela 12 - Calendarização de aplicação dos enriquecimentos nas águias-calçadas. 50
Tabela 13 - Valores de descanso da população de águias-cobreiras. ........................ 53
Tabela 14 - Resumo dos resultados dos enriquecimentos para C. gallicus................. 55
Tabela 15 - Valores de descanso da população dos grifos. ........................................ 56
Tabela 16 - Resumo dos resultados dos enriquecimentos para G. fulvus ................... 58
Tabela 17 - Valores de descanso do búteo. ................................................................ 60
Tabela 18 - Resumo dos resultados dos enriquecimentos para B. buteo .................... 62
Tabela 19 - Valores de descanso da população de águias-calçadas. ......................... 64
Tabela 20 - Resumo dos resultados dos enriquecimentos para H. pennatus .............. 65
xiii

Lista de abreviaturas
AZA Association of Zoos and Aquariums
CERAS Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens
DENR Department of Environment and Natural Resources
EA Enriquecimento Ambiental
EAA Enriquecimento Ambiental Alimentar
EAS Enriquecimento Ambiental Sensorial
EAZA European Association of Zoos and Aquariums
IUCN International Union for Conservation of Nature
LPN Liga para a Proteção da Natureza
LC Least Concern
MVBIO Museu Virtual da Biodiversidade
NT Near Threatened
PBG Parque Biológico de Gaia
PNP Gerês Parque Nacional Peneda-Gerês
RIAS Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens
WAZA World Association of Zoos and Aquariums
WWF World Wildlife Fund
FCUP 1
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

1. Enquadramento
O presente documento consiste no relatório de estágio elaborado para a
obtenção do grau de Mestre em Ecologia e Ambiente, pela Faculdade de Ciências da
Universidade do Porto. A proposta de estágio, disponibilizada pela Câmara Municipal
de Gaia, consoante o pedido do Engenheiro Hugo Oliveira, responsável técnico pelo
Setor Veterinário e Zootécnico do Parque Biológico de Gaia (PBG), consistiu no
“Desenvolvimento de Enriquecimento Ambiental para Aves de Rapina Diurnas”. O
estágio decorreu, por isso, no PBG, entre outubro de 2021 e maio de 2022, sob a
supervisão/orientação do Eng. Hugo Oliveira e orientação científica do Professor Nuno
Monteiro.
Consoante o acordado e pré-estabelecido pela empresa acolhedora do estágio,
ficaram definidos os seguintes objetivos principais, a serem cumpridos ao longo do
período do mesmo:
• Criação de um etograma para cada uma das quatro espécies: águia-calçada
(Hieraaetus pennatus), águia-cobreira (Circaetus gallicus), búteo (Buteo buteo)
e grifo (Gyps fulvus).
• Desenvolvimento de técnicas de enriquecimento ambiental para cada uma das
espécies, de forma a reduzir o tempo de inatividade.
• Verificação e avaliação do efeito de cada uma dessas técnicas, em cada
espécie.
Este relatório teve como principal objetivo a apresentação de todo o trabalho
desenvolvido no Parque, onde foi possível aplicar, de forma prática, em várias
atividades desempenhadas, conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Desde a
criação de técnicas de enriquecimento ambiental para aves de rapina diurnas em
cativeiro, avaliando posteriormente a eficácia de cada técnica de enriquecimento
consoante o objetivo do mesmo (diminuição do tempo de descanso), ao desempenho
de outras tarefas no Parque Biológico, a “Ecologia” esteve sempre presente.
FCUP 2
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

2. Introdução
Atualmente, inúmeras causas, como desflorestação, poluição, caça, tráfico de
animais, aquecimento global ou incêndios, destabilizam e prejudicam os ecossistemas,
pondo em risco a manutenção da biodiversidade. Segundo Barnosky et al. (2011),
devido a estas ameaças ambientais, causadas maioritariamente por ações antrópicas,
a extinção de espécies ocorre a uma velocidade extrema. Muitas vezes as populações
de certas espécies animais são fortemente reduzidas, comprometendo a sua
sustentabilidade e resultando em extinções, não sendo suficientes os esforços de
conservação in situ (conservação no local de origem da espécie (EAZA, 2013)). Assim,
surgiu a necessidade da conservação ex situ, que, segundo a EAZA (2013), consiste
na manutenção e gestão de populações saudáveis de animais em cativeiro, fora do
seu habitat natural, por um longo período. A conservação ex situ ajuda a garantir a
viabilidade da existência da espécie, contribuindo para a manutenção da variabilidade
genética da mesma, acabando por funcionar como um stock biológico (WAZA, 2005;
EAZA, 2013). Este tipo de estratégia pode complementar, ou mesmo substituir,
estratégias de conservação in situ (WAZA, 2005; Primack, 2006).
No entanto, a manutenção de animais em cativeiro implica a provisão de
necessidades específicas. Mellor et al. (2015), referem que o fornecimento de
necessidades fisiológicas (abrigo, água-potável e condições sanitárias), de cuidados
veterinários e de segurança representam apenas uma parte dos requisitos
fundamentais para a sobrevivência do animal. Para além do cumprimento das
necessidades “básicas” e obrigatórias, no dever ético, todas as instituições que
mantêm animais em condições de cativeiro, como parques zoológicos, quintas de
produção animal ou órgãos ambientais, têm de suprir as necessidades sociais, a
estimulação mental e oferecer a possibilidade de escolha, tendo sempre como foco o
bem-estar animal (Mellor et al., 2015; Garcia, 2021; Azevedo, 2022).
O bem-estar animal traduz-se no estado físico e mental, que se modifica a
partir de experiências positivas e negativas em relação ao seu ambiente, nutrição,
saúde, comportamento e interações inter e intraespecíficas (Mellor, 2016). O conceito
de bem-estar também é conhecido como modelo dos cinco domínios, desenvolvido
por Mellor (2016), que se divide em quatro domínios físicos/funcionais (nutrição,
ambiente, saúde e comportamento) e um domínio mental, em que quantas mais
experiências positivas o animal contar em cada um desses domínios, maior será o
nível de bem-estar (Azevedo, 2022).
Em estado selvagem, os animais deparam-se com desafios constantes como a
procura de alimento, a busca e competição por parceiros sexuais, a fuga a predadores
FCUP 3
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

e a interação com um ambiente em constante mudança. Porém, quando os animais se


encontram em condições de cativeiro, a alimentação é fornecida segundo regimes
alimentares previsíveis, existe proteção de muitas das potenciais interações
competitivas, os parceiros sexuais são escolhidos e o ambiente, seguro, não muda de
forma dramática. Estas condições controladas podem provocar uma falta de desafios
que despoletam apatia no animal, inibição dos comportamentos naturais e aumento da
expressão de comportamentos anormais (Hosey et al. 2013), comprometendo o bem-
estar (Cirpeste et al., 2021).
Esses comportamentos anormais, por vezes são expressos através de
estereotipias. As estereotipias traduzem-se através de comportamentos repetitivos,
relativamente invariáveis, que parecem não ter um motivo aparente e, por isso, não
podem ser considerados como parte de um dos sistemas funcionais normais do animal
(Broom, 1983; Mason, 1991). Qualquer que seja a função dos comportamentos
estereotipados, a sua ocorrência é indesejável, sobretudo se esta ocupar mais de 10%
do orçamento temporal (time budget) do animal. Nesse caso, é necessária uma
intervenção urgente pois as condições podem não se coadunar com o bem-estar
animal (Broom, 1983; Azevedo, 2022). Existe, então, a necessidade do uso de uma
ferramenta que aumente o bem-estar animal, ajudando a combater os aspetos
negativos da manutenção de um animal em cativeiro, que se denomina genericamente
de enriquecimento ambiental (EA) (Hoy, et al., 2010; Cirpeste et al., 2021).
O EA é um processo dinâmico usado para criar ambientes interativos e
complexos para os animais, consoante a biologia comportamental e a história natural
da espécie (AZA Behavior Scientific Advisory Group, 1999). As alterações no ambiente
são feitas com o objetivo de aumentar as escolhas comportamentais do animal e
estimular os comportamentos naturais e apropriados da espécie, aumentando assim o
bem-estar (AZA Behavior Scientific Advisory Group, 1999; Hoy, et al., 2010). Essas
alterações no ambiente devem consistir numa adição de estímulos (para além dos
habituais), através do fornecimento do alimento de forma variada e inesperada, da
modificação regular do ambiente tornando-o mais dinâmico, da introdução de desafios
cognitivos, do aumento de interações sociais, com indivíduos da mesma ou de outras
espécies, e da estimulação dos sentidos (Mellor et al., 2015).
O desenvolvimento de técnicas de EA pretende, pois, compensar a falta de
estímulos existentes em cativeiro, comparativamente àqueles que os animais
experimentariam no seu meio natural. Este deve ser feito através da introdução de
elementos que tragam benefícios para a saúde animal e da construção de recintos que
simulem o habitat natural da espécie (Swaisgood & Shepherdson, 2008), apesar da
dificuldade que o processo de replicação do meio selvagem acarreta (WAZA, 2005;
FCUP 4
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Garcia, 2021). Para além da importância da estimulação dos comportamentos naturais


da espécie, que se pretende que aconteça através do enriquecimento (Powell, 1995),
a provisão de escolha também é crucial. Fornecer a possibilidade de escolha de
abrigo, tipo de solo (Riber et al., 2018) ou “ocupação de tempo” são alguns dos
aspetos que estão incluídos no EA (Näslund & Johnsson, 2014).
O EA tem também como objetivo reduzir o stress e diminuir comportamentos
anormais, estereotipados e autodestrutivos (Powell, 1995). Por exemplo, ao aliviar os
efeitos do stress na fisiologia sexual, a reprodução é facilitada. Quando esta ocorre,
em cativeiro, estamos perante um sinal potencial do estado de saúde e bem-estar do
animal (Silva & Macêdo, 2013). No caso de uma possível reintrodução de um indivíduo
no seu meio natural, o habitual uso de EA tende a facilitar o processo de reintrodução,
uma vez que os animais estão mais bem preparados para interagir com um ambiente
mais complexo, inesperado, e com mais variedade de estímulos (Shepherdson, 1994).
Para além das práticas de EA trazerem várias vantagens para os animais que
se encontram em cativeiro, o EA tem uma forte ligação à educação ambiental (Powell,
1995; Young, 2003). O EA permite aos visitantes observarem um animal mais ativo e
que apresenta os seus comportamentos naturais, enquanto o associam ao seu habitat
natural (Young, 2003). Desta forma, o público poderá aumentar o seu interesse pela
espécie que observa, contribuindo-se, paralelamente, para uma maior sensibilização
para as práticas conservacionistas das espécies na natureza (Loureiro, 2013;
Cirpestre et al., 2021).
É importante salientar que a prática de EA não deve ser implementada de
forma indiscriminada. Certas técnicas de EA podem ser inadequadas para a espécie
alvo, ou à situação específica em que esta se encontra, podendo resultar em efeitos
negativos. Por exemplo, a introdução de um novo elemento no recinto ao qual os
indivíduos não estejam habituados pode aumentar o stress (Mason et al., 2007).
Então, para que o EA seja eficaz, e se evite um impacto negativo no animal, deve-se
compreender quais os motivos para a ocorrência de um determinado comportamento
que se pretende anular, definindo o objetivo de aplicação do EA e entendendo de que
forma o comportamento é influenciado por diferentes técnicas de enriquecimento
aplicadas (Mason et al., 2007).
Existem diferentes tipos de enriquecimento que estimulam os animais de
diferentes formas. Esses tipos de enriquecimento dividem-se em cinco categorias que
não são mutualmente exclusivas: enriquecimento alimentar, enriquecimento cognitivo,
enriquecimento físico, enriquecimento sensorial e enriquecimento social (Hoy et al.,
2010; Hosey, 2013).
Em cativeiro, os animais despendem menos tempo para obter o alimento e,
FCUP 5
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

muitas das vezes, este é fornecido sempre nos mesmos locais e pronto a ingerir,
criando-se uma rotina. Isto leva a que por vezes surja a “antecipação pré-
alimentação”, uma das principais causas para o desenvolvimento de comportamentos
estereotipados (Hosey et al, 2013; Loureiro, 2013). O enriquecimento alimentar
procura combater essa rotina e facilidade de acesso ao alimento, baseando-se na
alteração dos períodos de alimentação e na introdução de algum grau de dificuldade
de obtenção dos itens alimentares, promovendo a caça e a procura de alimento
(Hosey et al, 2013). Isto faz com que os animais invistam um maior período na procura
do alimento e na alimentação, mantendo-os ocupados mais tempo do seu dia (EAZA,
2013). Recorrendo ao enriquecimento alimentar, há uma diminuição da frequência de
comportamentos estereotipados, com consequente aumento de comportamentos
naturais para obtenção de alimento, tal como se verificaria em estado selvagem
(Wagman, 2015). Quando o animal assume um comportamento de procura e
exploração do habitat em busca de recursos alimentares, estamos perante um dos
indicadores de bem-estar do mesmo (Garcia, 2021). Este tipo de enriquecimento é
considerado o mais importante e o mais frequentemente utilizado, devido à sua fácil
aplicação e à sua eficácia quase imediata (Hoy et al., 2010; Hosey et al, 2013).
O enriquecimento cognitivo é um enriquecimento que desafia o animal a
resolver um problema para obter algum tipo de alimento ou outra recompensa (Young,
2003; Clark, 2017). A maior parte das técnicas de enriquecimento que se enquadram
nesta categoria necessitam de ser reforçadas com alimento ou treino, pois como há
um grande investimento de tempo para resolver o enriquecimento cognitivo, é
necessário algo para motivar o animal a fazê-lo (Clark, 2017).
O enriquecimento físico está relacionado com a estrutura física do recinto e
com os elementos que pretendem recriar o habitat natural da espécie. Mais importante
do que o espaço disponível, é a qualidade e os componentes do espaço. Diferentes
tipos de substratos, locais de descanso e de refúgio, vegetação, estruturas para
escalar (como troncos, rochas, cordas ou plataformas) e outro tipo de materiais que
permaneçam no recinto a longo-prazo fazem parte do enriquecimento físico, tornando
o habitat mais complexo (Cirpeste et al. 2021).
Com enriquecimento sensorial procura-se estimular os cinco sentidos dos
animais (Young, 2003). O olfato, a audição e a visão são bastante utilizados e
importantes no mundo animal para a comunicação intra e interespecífica, para a
identificação de outros animais, para encontrarem alimento ou para detetarem
ameaças (como o fogo ou o humano, por exemplo) (Wells, 2009; EAZA, 2015). Em
estado selvagem, os animais deparam-se constantemente com novos estímulos para
os sentidos. Como, em cativeiro, os animais encontram-se num ambiente controlado, o
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

número de novos estímulos é mais reduzido, tornando-se necessário o uso deste tipo
de enriquecimento para responder à falta dos mesmos. Assim, é possível fornecer:
estímulos olfativos (odores de alimentos, de presas ou predadores ou de indivíduos da
mesma espécie através de fezes ou pelo e de plantas), estímulos auditivos (música,
sons ou vocalizações de animais da mesma ou de outras espécies), estímulos visuais
(espelho, imagens ou objetos móveis), estímulos táteis (itens diferentes para o animal
manipular) e estímulos gustativos (sabores diferentes daqueles a que o animal está
acostumado) (Wells, 2009; Cirpeste, 2021).
O enriquecimento social consiste na promoção de interações intra ou
interespecíficas que podem ser fomentadas dentro de um habitat, juntando elementos
da mesma ou de outras espécies que, em estado selvagem, possam estar
naturalmente associados (Hosey et al., 2013). Este tipo de enriquecimento ambiental é
particularmente importante para espécies que vivem em grupos, podendo também ser
benéfico para espécies que são naturalmente solitárias, desde que tomadas as
necessárias precauções, (“apresentando-os” adequadamente, de forma a garantir o
futuro sucesso da junção de vários indivíduos, no mesmo espaço) (Garcia, 2021).
Nos últimos 50 anos, o uso de diferentes tipos de EA tem vindo a aumentar e a
tornar-se numa prática padrão, devido aos potenciais benefícios. Assim, começou-se a
investigar, empiricamente e cientificamente, a eficácia das práticas de enriquecimento
em prol do aumento do conhecimento relacionado com a ciência do bem-estar animal
(Young, 2003; Slater & Hauber, 2017). Para a avaliação da eficácia dessas práticas,
os estudos requerem o recurso à análise do comportamento animal (etologia), obtendo
dados sobre a eficácia de cada enriquecimento aplicado. Nos últimos anos, houve um
aumento exponencial de publicações de artigos sobre enriquecimento, o que indica
que é um campo de estudo em crescimento (de Azevedo et al., 2007).
Em inúmeras espécies de animais frequentemente encontrados em cativeiro, o
uso de EA (de diferentes categorias, consoante os trabalhos) foi capaz de aumentar os
niveis de atividade [e.g., leões (Panthera leo) (Powell, 1995), jaguares (Panthera onca)
(Boccacino, et al., 2018), pinguins-de-Humboldt (Spheniscus humboldti) (Fernandez et
al., 2021; Razal & Miller, 2021), araras-azuis-e-amarelas (Ara ararauna) (James et al.,
2021) e pecaris-de-colar (Dicotyles tajacu) (de Faria et al., 2022)], aumentar o tempo
despendido em comportamentos exploratórios [e.g., lobos-guará (Chrysocyon
brachyurus) (Cummings, et al, 2007), jaguares (Boccacino, et al., 2018) e pecaris-de-
colar (de Faria et al., 2022)], aumentar o tempo despendido em comportamentos
relacionados com a alimentação [e.g., lobos-ibéricos (Canis lupus signatus) (Loureiro,
2013), jaguares (Boccacino, et al., 2018), leões-asiáticos (Panthera leo persica) (Finch
et al., 2020), araras-azuis-e-amarelas (James et al., 2021)], aumentar o reportório
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

comportamental [e.g., pecaris-de-colar (de Faria et al., 2022) e tartarugas-marinhas


(Cheloniidae) (Escobedo-Bonilla et al., 2022)] e reduzir comportamentos
estereotipados [e.g., jaguares (Boccacino, et al., 2018) e leões-asiáticos (Finch et al.,
2020)]. Este aumento de estudos tem vindo a demostrar os benefícios do EA junto de
diferentes espécies, dando cada vez mais suporte à eficácia do seu uso em animais
em situações de cativeiro.
No entanto, apesar do recente crescimento de investigação nesta área de
estudo, as pesquisas realizadas incidem de forma bastante desproporcional sobre
grupos de animais. A maioria dos estudos relacionados com enriquecimento ambiental
são realizados em mamíferos. Aqueles que são feitos em parques zoológicos
concentram-se quase unicamente em primatas, carnívoros e roedores, existindo
pouquíssimos estudos sobre aves e os que existem focam-se quase sempre no
mesmo grupo: os psitaciformes (de Azevedo et al., 2007; Rodriguez-Lopez, 2016).
A bibliografia disponível sobre técnicas de EA destinadas a aves de rapina é
escassa se tivermos em conta que, para estas aves, as condições de cativeiro podem
ser extremamente stressantes (Csermely & Gaibani, 1998). A fim de promover o bem-
estar de uma ave de rapina que se encontra em cativeiro, é necessário compreender o
grupo em geral e entender a ecologia de cada espécie (e.g., a dieta, habitat, local de
nidificação e comportamentos associados a essas preferências) (Csermely & Gaibani,
1998).
Aves de rapina diurnas é o termo utilizado para classificar e categorizar um
grupo de aves pertencente a três Ordens: Falconiformes, Cathartiformes e
Accipitriformes (Ferguson-Lees & Christie, 2001; Mindell et al., 2018). Em todo o
mundo, existem cerca de 300 espécies de aves de rapina diurnas, divididas entre
estas três ordens. Na Europa estão presentes 47 dessas espécies, existindo, em
Portugal, apenas 24 (Martins et al., 2016). Este grupo de aves é especializado na
caça, efetuando-a através de técnicas variadas, dependendo essencialmente dos seus
sentidos bastante desenvolvidos, especialmente a audição e a visão, usados para
localizar e capturar as suas presas (DENR, 2010). Para além da audição e visão
bastante apurada, apresentam outras caraterísticas comuns entre elas, como olhos
voltados para a frente, resultando numa visão binocular, olfato bastante limitado, bico
forte, curvo e afiado que é útil para rasgar a carne, garras fortes e afiadas, sendo na
maior parte dos casos, a principal arma para capturar as presas e manipular o
alimento e tarsos revestidos de penas (Ferguson-Lees & Christie, 2001; Mosto &
Tambussi, 2013). Além disso, na maior parte das espécies de aves de rapina ocorre
dimorfismo sexual de tamanho reverso, onde a fêmea é maior do que o macho
(Ferguson-Lees & Christie, 2001). Em termos migratórios, cerca de 60% das espécies
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

realizam algum tipo de migração anual sazonal motivada principalmente pela variação
na oferta de alimento (Ferguson-Lees & Christie, 2001; Bildstein, 2006).
Geralmente, as rapinas diurnas posicionam-se nos níveis tróficos mais
elevados das cadeias alimentares, sendo consideradas predadores de topo. Todas as
espécies são carnívoras, predando desde mamíferos, aves, peixes e também alguns
invertebrados (White et al., 1994).
Para que o EA seja eficaz junto das aves de rapina, é necessário o
desenvolvimento de estudos dedicados a este grupo, pois o estabelecimento de
diretrizes de implementação de EA com base em trabalhos realizados com outros
grupos animais poderá levar a resultados subótimos. Então, o propósito do presente
trabalho no Parque Biológico de Gaia foi o desenvolvimento de um estudo preliminar
que pretendeu responder à falta de informação sobre EA com aves de rapina diurnas,
testando técnicas que, não interferindo negativamente com o bem-estar, possam ser
eficazes para a redução do tempo de descanso.
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

3. Metodologia
3.1. Local de estudo: Parque Biológico de Gaia
Criado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia em 1983, o Parque
Biológico de Gaia é considerado o primeiro centro permanente de Educação Ambiental
do país. Tendo aberto inicialmente com apenas 2 hectares, atualmente este abrange
uma área agroflorestal de 35 hectares e situa-se no Vale do Rio Febros, um afluente
da margem esquerda do Rio Douro (Município de Gaia, 2018).
Reconhecido como uma pequena reserva natural de fauna e flora ibérica, o
Parque Biológico de Gaia acolhe cerca de 700 espécies de fauna (dados de dezembro
de 2009), encontradas em cativeiro e estado selvagem, sendo algumas delas
endémicas da região como o ruivaco (Achondrostoma oligolepis) e a salamandra-
lusitânica (Chioglossa lusitanica). Quase todos os animais que se encontram em
cativeiro são irrecuperáveis, não podendo ser devolvidos à natureza, sendo que os
restantes foram adquiridos de outros parques, onde já nasceram em cativeiro. Ainda,
cerca de 40 espécies de aves selvagens nidificam no Parque e outras apenas o usam
como local de paragem durante as migrações (Município de Gaia, 2018).
Estas espécies animais distribuem-se pelos quatro grandes habitats presentes
no PBG: florestas de folhosas, campos agrícolas, vegetação ripícola e matos. No
entanto, a vegetação atual do Parque é dominada por bosques de carvalho-alvarinho
(Quercus robur). Este tem um viveiro que produz anualmente milhares de plantas, de
mais de 300 espécies, destinadas ao próprio Parque e aos espaços verdes públicos
distribuídos pelo concelho de Vila Nova de Gaia.
Ao longo de um percurso de, aproximadamente, três quilómetros (Anexo 1),
que atravessa o Parque, são integrados os habitats com os animais em cativeiro,
exposições, casas rurais, moinhos e lagos, sempre acompanhados de informações
sobre variados temas, tendo como objetivo principal a educação ambiental. Estas
informações pretendem fazer com que os visitantes compreendam a paisagem da
região, incluindo todos os seus componentes (flora, fauna, clima, arquitetura rural,
usos e costumes, hidrografia, etc.) e o contraste entre essa paisagem agroflorestal,
que se preserva no Parque, e a envolvente urbana (Turismo de Portugal, 2013).
No Parque, existe ainda um Centro de Recuperação Animal, que tem como
objetivo recuperar animais que são encontrados feridos na natureza. A ele também
são entregues animais que se encontram ilegalmente em cativeiro ou em apreensões
de tráfico animal. Outras infraestruturas que compõem o PBG são um centro de
acolhimento de visitantes, uma hospedaria, um parque de autocaravanas, um
auditório, salas de formação, um bar/restaurante e um parque de merendas (C. M.
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Gaia, 2022).

3.2. Espécies em estudo


No Parque Biológico de Gaia encontram-se, em cativeiro, seis espécies de
aves de rapina diurnas que ocorrem em Portugal. Dessas, quatro espécies diferentes
foram sujeitas ao estudo. Algumas espécies são representadas por alguns indivíduos
com várias limitações físicas, que entraram no Parque pelo Centro de Recuperação
Animal e por não poderem ser devolvidos à Natureza, permanecem em cativeiro até
hoje.

3.2.1. Águia-cobreira (Circaetus gallicus)


Circaetus gallicus (Gmelin 1788), de nome comum águia-cobreira (Figura 1), é
uma espécie de águia de tamanho médio, com asas largas e compridas, envergadura
que pode chegar aos 178 centímetros e um comprimento de corpo entre 62 e 69
centímetros (Sacchi et al., 2004; Martins et al., 2016; Svensson, 2017; Elias, 2020).
Apresenta uma plumagem branca na zona peitoral e na parte inferior das asas
(o que a distingue das outras rapinas) e o dorso castanho. Tem um pescoço curto e
uma cabeça larga, com olhos amarelos e a sua cauda apresenta uma forma
quadrangular (Sacchi et al., 2004; Martins et al., 2016). Quando são crias e juvenis,
não apresentam dimorfismo sexual, mas em estado adulto as fêmeas são maiores que
os machos (Sacchi et al., 2004; MVBIO, 2022).

Figura 1 – Exemplar de águia-cobreira (Circaetus gallicus). Fonte: PBG, 2018


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Existem entre 50 mil a 100 mil indivíduos adultos no mundo (BirdLife


International, 2021b). Segundo a IUCN (2022d), é, portanto, classificada como Pouco
Preocupante (LC), embora em Portugal a espécie tenha o estatuto de Quase
Ameaçada (NT), estimando-se a existência de menos de 1000 indivíduos maturos
(Cabral et al, 2005).

Distribuição:
Com distribuição predominante Paleártica, C. gallicus ocorre desde o Sudoeste
e Centro da Europa, Noroeste de África, Médio-Oriente e India (del Hoyo et al., 1994;
Sacchi et al., 2004). Em Portugal, distribui-se de Norte a Sul do país, embora, de uma
forma geral, seja mais comum na zona do Alentejo e em regiões interiores. É uma
espécie estival, que permanece no país entre os meses de março a outubro (Martins
et al., 2016; Elias, 2020; MVBIO, 2022).

Habitat:
C. gallicus habita numa grande variedade de biomas, preferencialmente com
temperaturas quentes e ocorre maioritariamente em florestas, campos e matagais
arborizados (Martins et al., 2016; IUCN, 2022d). Mesmo habitando em zonas bastante
florestadas, necessitam de áreas abertas onde praticam a caça (Cabral et al., 2005).

Alimentação:
As principais fontes de alimento são répteis, nomeadamente cobras, que
podem compor 95% da sua dieta (Gil & Pleguezuelos, 2001). Procuram alimento em
áreas de campo aberto e quando o fazem, costumam voar ou pairar entre 15 e 30
metros acima do solo ou usam poleiros. Quando localizam a presa, mergulham em
direção ao solo verificando a posição exata da presa e, em seguida, agarram-na (del
Hoyo et al., 1994; Martin & Katzir, 1999; Martins et al., 2016).

Reprodução:
A águia-cobreira nidifica na Europa, Norte de África, Ásia Central e India
(Martin & Katzir, 1999). Reproduz-se maioritariamente em campos aberto e áridos ou
em áreas arborizadas dispersas (Svensson, 2017) e constroem os ninhos em zonas
baixas das árvores (del Hoyo et al., 1994; Martins et al., 2016).

O PBG acolhe 5 indivíduos adultos de C. gallicus, todos provenientes de outros


locais (Tabela 1). Dois dos indivíduos têm amputações nas asas, o que os
impossibilita de voar, fazendo com que passem todo o dia no solo. Um dos indivíduos,
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

proveniente de uma apreensão de cativeiro ilegal, apresenta imprinting, enquanto os


restantes inibem-se com a presença do ser humano.

Tabela 1 – Águias-cobreiras: Caraterísticas dos indivíduos. Legenda: ♂ - Macho; ♀ - Fêmea; ? - Indeterminado; X -


Não há informação

Peso Data de
Local de
Sexo Idade (última chegada Lesões
origem
pesagem) ao PBG

Águia-
cobreira 1, 65 kg
♂ Adulto 31/07/2009 X - Anisocoria
(Circaetus (2009)
gallicus) 1

Águia-
- Amputação
cobreira 1,75 kg Castelo
♀ Adulto 18/10/2010 da asa
(Circaetus (2017) Branco
esquerda
gallicus) 2

Águia- RIAS
cobreira 2,05 kg (proveniente
♀ Adulto 18/11/2010 Nenhuma
(Circaetus (2010) de cativeiro
gallicus) 3 ilegal)

Águia- - Amputação
cobreira 1,55 kg da asa direita
? Adulto 29/07/2013 X
(Circaetus (2013) ao nível do
gallicus) 4 úmero

Águia-
cobreira 1,65 kg
? Adulto 20/09/2016 X Nenhuma
(Circaetus (2017)
gallicus) 5
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3.2.2. Grifo (Gyps fulvus)


Gyps fulvus (Hablizl, 1783), de nome comum “grifo”, é uma das maiores aves
de rapina da Europa, com uma envergadura de asas de 230 a 265cm, comprimento de
95 a 110cm e peso compreendido entre 6 a 11kg (Figura 2) (Martins, et al., 2016;
Svensson, 2017). Apresentam as penas de voo e da cauda escuras, a cobertura das
asas é castanha, um tufo de penas brancas na base do pescoço e o restante pescoço
e cabeça apenas com uma penugem esbranquiçada. No estado juvenil apresenta um
bico cinzento, enquanto no estado adulto o bico tem uma cor amarelada. Esta espécie
tem uma longevidade de 25 anos, podendo chegar aos 40 anos quando se encontra
em cativeiro (Martins, et al., 2016; Svensson, 2017; Badoca, 2022; Blasco-Zumeta &
Heinze, 2022a; Vulture Conservation Foundation, 2022).
Tendo um faro muito pouco apurado, guiam-se exclusivamente pela visão na
procura de alimento (National Geographic, 2019). É uma espécie de abutre que
vocaliza mais do que os outros, emitindo, por norma, uma variedade de sons quando
estão à volta das carcaças (Svensson, 2017).

Figura 2 - População de grifos (Gyps fulvus) do PBG.

O grifo, embora muito suscetível a parâmetros ambientais, possui a zona


termoneutra mais elevada de todas as aves (Bahat & Kaplan, 1995) sendo a sua
postura muito importante na estratégia de manutenção de temperatura. Quando se
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encontram em descanso, assumem uma postura em que reduzem a área exposta sem
penas (pescoço e pernas) de 32% para 7%, conseguindo economizar energia e
manter a temperatura corporal (Bahat & Kaplan, 1995). Procuram alimento em
conjunto e reproduzem-se em colónias, de 10 a 20 casais, junto de penhascos
(Svensson, 2017), sendo uma espécie bastante mais social em comparação a outras
espécies de abutres e de aves de rapina diurnas (Vulture Conservation Foundation,
2022).
Tal como outros abutres, os grifos desempenham um papel fundamental na
manutenção e funcionamento de um ecossistema, prevenindo a transmissão de
doenças infeciosas ao consumir as carcaças em pouco tempo, regulando o número de
carcaças e dispersando nutrientes pelo solo. Estes serviços de ecossistema mantêm
os ecossistemas estáveis e protegem a saúde humana e os meios de subsistência
(Markes, 2017; Pirastru, et al., 2021).
Segundo o BirdLife International (2021c), a nível global, é uma espécie com um
estatuto de conservação Pouco Preocupante (LC) e que tem vindo a aumentar a sua
população nos últimos anos (IUCN, 2022c). Estima-se que, no mundo, existam entre
69 mil e 89 mil indivíduos (BirdLife International, 2021c). A nível nacional, G. fulvus
tem um estatuto de Quase Ameaçado (NT) (Cabral et al, 2005).

Distribuição:
Esta espécie é residente na Europa, incluindo Portugal, embora tenha algumas
pequenas populações que migram para África, Península Arábica e India, após o
período reprodutor (del Hoyo et al., 1994). Preferem zonas de elevada altitude, já
tendo sido avistados a mais de 10 mil metros de altura (Cabral et al., 2005; Orta, et al.,
2015; IUCN, 2022c).

Habitat:
O grifo habita uma grande variedade de habitats, incluindo matagais,
pastagens e zonas rochosas e montanhosas. Normalmente, descansam em falésias
em elevadas altitudes, onde encontram correntes de ar quente que usam para ajudar a
levantar o seu corpo pesado e planarem sobre terrenos abertos, minimizando os
gastos de energia durante o voo ((del Hoyo, et al., 1994).

Alimentação:
O grifo é uma ave necrófaga, alimentando-se principalmente dos tecidos mais
macios das carcaças de animais mortos, como os músculos e as vísceras. O seu
longo e depenado pescoço permite-lhe entrar dentro das carcaças para obter alimento,
sem sujar as suas penas e sem ficar preso dentro do esqueleto.
FCUP 15
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Em Portugal, a sua dieta consiste maioritariamente em gado. No entanto, com


a evolução dos cuidados veterinários, proibição do abandono de gado morto (sendo
obrigatório enterrá-lo por questões sanitárias) e declínio do número de animais de
trabalho no campo, os grifos começaram a ter dificuldade em obter alimento. Por isso,
criaram-se os “campos de alimentação para aves necrófagas”, áreas completamente
vedadas onde é regularmente depositado o alimento (Sequeira, 2019).

Reprodução:
Gyps fulvus é uma espécie geralmente monogâmica que atinge a maturidade
sexual aos cinco anos de idade. Apresenta uma área de nidificação alargada na
Europa (Cabral et al., 2005). Fazem ninho em regiões montanhosas e saliências de
escarpas, sendo raro nidificarem em árvores (Svensson, 2017). As posturas são de 1
a 2 ovos, sendo eles incubados durante 56 dias (Global Raptor Information Network,
2016). Após o nascimento das crias, os progenitores alimentam-nas por regurgitação e
elas efetuam o primeiro voo aos 4 meses de vida (Badoca, 2022).

Os grifos presentes no PBG formam uma grupo de 7 indivíduos, composta por


1 macho e 6 fêmeas (Tabela 2). Grande parte do grupo já se encontra no Parque há
bastantes anos, tendo este já sido formado por 8 indivíduos. Desde que a espécie G.
fulvus habita no PBG (primeiro espécime desde 1997), só em 2019 é que foi
introduzido um macho no grupo, esperando-se um possível acasalamento com alguma
fêmea, embora, até 2022, nunca tenha havido sucesso reprodutivo. Em relação a
limitações físicas, dois indivíduos não conseguiram voltar a voar após a sua
recuperação.
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Tabela 2 - Grifos: Caraterísticas dos indivíduos. Legenda: ♂ - Macho; ♀ - Fêmea; X - Não há informação

Peso Data de
Local de
Sexo Idade (última chegada Lesões
origem
pesagem) ao PBG
Grifo
9,5 kg
(Gyps ♀ Adulto 07/07/2002 X Nenhuma
(2016)
fulvus) 1

Grifo
8,5 kg
(Gyps ♀ Adulto 19/11/1997 X Nenhuma
(2016)
fulvus) 2

Grifo
9,5 kg
(Gyps ♀ Adulto 18/07/1998 X Nenhuma
(2016)
fulvus) 3
- Asa
Grifo esquerda com
8,6 kg
(Gyps ♀ Adulto 09/12/2008 X alteração da
(2016)
fulvus) 4 articulação
úmero/cubital

Grifo - Fratura no
8,45 kg
(Gyps ♀ Adulto 09/12/2008 X ombro
(2016)
fulvus) 5 esquerdo

Grifo - Fratura no
7,36 kg PNP
(Gyps ♀ Adulto 11/09/2015 rádio/cúbito
(2016) Gerês
fulvus) 6 direito

Grifo - Luxação da
6,99 kg
(Gyps ♂ 6 anos 25/07/2019 CERAS articulação do
(2019)
fulvus) 7 cotovelo direito

3.2.3. Búteo (Buteo buteo)


O búteo (Figura 3), também conhecido por águia-de-asa-redonda e de nome
científico Buteo buteo (Linnaeus, 1758), pertence à ordem Accipitriformes e à família
Accipitridae (IUCN, 2022b). Apresenta uma cabeça curta, asas arredondadas, uma
cauda de tamanho médio, plumagem que pode variar entre diferentes tonalidades de
castanho e olhos de iris castanha que vai escurecendo ao longo da vida do indivíduo
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

(castanho-claro quando juvenil e castanho-escuro na fase adulta). Possui uma


envergadura de asas de 110 a 132 cm e um comprimento entre 46 e 58 cm,
apresentando dimorfismo sexual em que a fêmea é maior que o macho (Martins, et al.,
2016; Blasco-Zumeta & Heinze, 2022b). Para uma ave de rapina, é uma espécie que
vocaliza bastante, sobretudo na primavera, a época de reprodução (Svensson, 2017).

Figura 3 - Exemplar de búteo (Buteo buteo)

É uma ave solitária que apenas é encontrada em grupos durante a migração.


Segundo o IUCN (2022b), Buteo buteo encontra-se num estado de conservação
Pouco Preocupante (LC), estimando-se que existem entre 2 milhões a 3,5 milhões de
indivíduos adultos no mundo (BirdLife International, 2021a).

Distribuição:
O búteo tem uma área de distribuição bastante alargada, sendo a rapina mais
numerosa da Europa (Svensson, 2017). É possível encontrar, em abundância,
populações residentes na Europa e na Ásia, e populações migratórias em certos
países do continente africano (BirdLife International, 2021a). É uma das aves de
rapina mais comuns em Portugal e apesar de se distribuir praticamente por todo o
país, é particularmente abundante no Alto Alentejo e no Ribatejo (Catry, et al., 2010).

Habitat:
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De acordo com a sua vasta área de distribuição, o búteo ocupa uma grande
variedade de habitats, desde montanhas, planícies e áreas urbanas, embora necessite
de condições específicas para nidificar (Pinheiro, 2013). Prefere habitats de borda das
florestas onde encontra cobertura vegetal e poleiros para nidificar, e áreas abertas
para caçar, satisfazendo assim as necessidades de nidificação e alimentação (del
Hoyo et al., 1994; Nemcek, 2013).

Alimentação:
Esta espécie é classificada como carnívora, com uma dieta à base de
pequenos mamíferos. No entanto, esta pode ser complementada com répteis, aves e
invertebrados (Nemcek, 2013; Svensson, 2017). Tal como H. pennatus, B. buteo é
considerado um predador generalista pois apresenta uma dieta bastante variada e
não-especializada que reflete as variações sazonais e locais das populações de
presas (Zuberogoitia et al., 2006).

Reprodução:
B. buteo alcança a maturidade sexual entre os 2 e os 3 anos de idade. Inicia a
sua época de reprodução entre março e abril, nidificando em terrenos arborizados ou
povoamentos florestais mistos, construindo ninho nas bifurcações de ramos em
grandes árvores. A sua época de reprodução pode-se estender até julho. As posturas
são de 3 a 4 ovos, sendo que o período de incubação dura cerca de 40 dias. Os
cuidados parentais são partilhados entre o macho e a fêmea e o macho também
participa na incubação dos ovos (apesar que por menor período). Após a eclosão dos
ovos, as crias demoram, aproximadamente, cerca de 1 mês e meio a realizar o
primeiro voo (del Hoyo et al., 1994; Catry, et al., 2010).

No Parque habitam vários búteos em estado selvagem. No entanto, encontra-


se um espécime em cativeiro, que já nasceu em cativeiro e nunca esteve em estado
selvagem (Tabela 3). É um indivíduo que nunca teve nenhuma lesão e que está 100%
apto fisicamente, mas por este ter sido criado pelo Homem e estar bastante habituado
à sua presença, torna-se impossível a sua introdução no seu habitat em estado
selvagem. Este não teme o Homem e, sendo bastante curioso, por vezes até incentiva
o contacto e interação com o mesmo.
FCUP 19
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Tabela 3 - Búteo: Caraterísticas do indivíduo. Legenda: ? - Indeterminado; X - Não há informação

Peso Data de
Local de
Sexo Idade (última chegada Lesões
origem
pesagem) ao PBG

Búteo
14
(Buteo ? X ? Cativeiro Nenhuma
anos
buteo) 1

3.2.4. Águia-calçada (Hieraaetus pennatus)


A águia-calçada, Hieraaetus pennatus (Gmelin, 1788), (Figura 4), é uma ave de
rapina diurna pertencente à ordem Accipitriformes e à Família Accipitridae, tal como o
búteo. Com uma envergadura de asas de 110 a 135 cm e um comprimento entre 42 e
51 cm, é a águia mais pequena que ocorre em Portugal e uma das mais pequenas da
Europa (Pinheiro, 2013; Martins, et al., 2016). O seu nome comum deriva do facto de
apresentar as pernas cobertas por uma plumagem densa. H. pennatus apresenta dois
tipos de plumagem: uma fase “clara” com partes inferiores brancas, costas ocre e
penas de voo escuras e uma fase “escura” em que a plumagem é uniformemente
castanha (Svensson, 2017; Blasco-Zumeta & Heinze, 2022c). Segundo Blasco-Zumeta
& Heinze (2022c), a plumagem de ambos os sexos é similar, tendo apenas como
dimorfismo sexual o tamanho (as fêmeas são maiores que os machos).
Em relação ao estado de conservação, a águia-calçada foi classificada pelo
BirdLife International (2021d), como Pouco Preocupante (LC), estimando-se que
existem entre 46 mil e 60 mil indivíduos no mundo (IUCN, 2022a). No entanto, em
Portugal, é classificada como Quase Ameaçada (NT) por ter uma população bastante
reduzida, entre 500 e 1000 indivíduos maturos (Cabral et al., 2005).
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Figura 4 - Exemplar de águia-calçada (Hieraaetus pennatus). Fonte: PBG, 2018

Distribuição:
A águia-calçada é, principalmente, migratória. Esta ave de rapina passa o
inverno na África Austral e regressa aos seus locais de nidificação (a Península
Ibérica, o sul da Europa e o este da Ásia) entre março e abril (Orta & Boesman, 2013).
Em Portugal, é uma espécie nidificante estival e ocorre maioritariamente nas regiões
de Trás-os-Montes, Beira interior e Alentejo (Martins, et al., 2016).

Habitat:
Apesar de ser encontrada em charnecas e estuários, habita principalmente em
zonas florestais de mata aberta onde repousa, dorme e nidifica. Embora seja uma
espécie tipicamente florestal, é encontrada também em terrenos de cobertura vegetal
escassa onde caça habitualmente (Iribarren & Rodríguez-Arbeloa, 1988; Cabral et al.,
2005; Martínez, et al., 2007). Na Península Ibérica ocorre desde os povoamentos de
resinosas das zonas montanhosas, a galerias ribeirinhas, e montados de sobro e
azinho que são o seu habitat preferencial nesta região (Rufino, 1989).

Alimentação:
H. pennatus é considerada uma espécie carnívora, como todas as aves de
rapina diurnas, e que caça sozinha ou em pares (Cramp, 1980). A componente mais
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

importante da sua dieta são as aves de pequeno e médio porte, embora também se
alimente de pequenos mamíferos e répteis (Cramp, 1980; Martínez, et al., 2007).

Reprodução:
Quando regressa aos locais de nidificação, H. pennatus inicia as primeiras
posturas no mês de abril, que se podem prolongar até junho. Os ninhos são
construídos em árvores e são feitos de galhos e folhas secas, costumando ser
reutilizados a cada ano (Cramp, 1980; Orta & Boesman, 2013). É realizada apenas
uma postura anual, composta por 2 ovos, em que estes são incubados durante 30 a
40 dias. Após a eclosão dos ovos, as crias realizam o primeiro voo a partir dos 50 dias
de vida. A águia-calçada é uma espécie monogâmica, de duração sazonal, e ambos
os progenitores cuidam das crias (Iribarren & Rodríguez-Arbeloa, 1988).

No Parque Biológico de Gaia existe um grupo desta espécie composto por 2


indivíduos (Tabela 4). Ambos são provenientes de estado selvagem e foram entregues
ao Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Parque Biológico de Gaia.
Apesar do tratamento, estas são irrecuperáveis e não podem ser devolvidas à
natureza por não estarem totalmente aptas para atividades fundamentais para a sua
sobrevivência, como a caça. Estas duas águias são bastante desconfiadas e tímidas,
e são bastante afetadas com a aproximação do ser humano, incluindo o tratador, pois
quando há a presença deste, ambas tendem a fugir.
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Tabela 4 – Águias-calçadas: Caraterísticas dos indivíduos. Legenda: ♀ - Fêmea; X - Não há informação

Peso Data de
Local de
Sexo Idade (última chegada Lesões
origem
pesagem) ao PBG
- Fratura no
cúbito direito
ao nível
Águia- articular;
calçada Quiaios - Luxação no
950 g
(Hieraaetus ♀ Adulto 08/11/2010 (Figueira cotovelo
(2010)
pennatus) da Foz) direito;
1 - Presença de
chumbos nas
asas e no
abdómen.

- Hifema
bilateral mais
pronunciado
no olho
Águia-
esquerdo;
calçada
720 g - Fratura distal
(Hieraaetus ♀ Adulto 18/07/2018 X
(2018) do rádio
pennatus)
esquerdo;
2
- Chumbo ao
nível do
tibiotarso
direito.

3.3. Sessões de observação


3.3.1. Etogramas
Um dos objetivos propostos pelo Parque Biológico de Gaia foi a construção de
etogramas para as quatro espécies com as quais realizei o estudo, pois estes não
estavam ainda disponíveis. Um etograma é um catálogo/inventário de
comportamentos ou ações exibidas por um animal e é usado como base de apoio ao
estudo do comportamento animal (Rees, 2015).
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Criar o reportório comportamental de cada uma das quatro espécies permitiu


conhecer os indivíduos e perceber qual a proximidade e semelhança entre os
comportamentos apresentados em cativeiro com os que apresentariam se estivessem
em estado selvagem. Quanto mais próxima for esta relação, mais garantias teremos
do bem-estar dos indivíduos que se encontram no PBG. A existência de um etograma
também é fundamental para ser possível avaliar a eficácia e o impacto do
enriquecimento junto das diferentes espécies, logo a criação deste para cada uma das
espécies serviu como base para o estudo que se iria realizar.
Para a realização dos etogramas, recorri ao método de amostragem ad libitum
(Altmann, 1974). Este método consiste no registo livre de tudo o que se observa,
anotando todos os comportamentos que foram visíveis ao longo do período de
observação (Altmann, 1974; Silva, 2014). Foi elaborado um etograma para cada
espécie (Tabelas 5 a 8), com base num período de observação de 10 horas junto de
cada uma. As observações foram realizadas entre o dia 25 de outubro de 2021 e o dia
8 de novembro de 2021, durante dias de alimentação e de jejum, dias de sol e de
chuva e os períodos da manhã e da tarde. Estas foram feitas em diferentes pontos de
observação e, em alguns deles, recorri ao uso de um binóculo Fielmann 10 x 25
(101M/1000).
No total, foram registados comportamentos de várias categorias diferentes,
nomeadamente comportamentos de descanso, vigia, locomoção, manutenção,
alimentação, vocalização, interação social, fuga, exploração, reprodução e “outros”
(que não se enquadravam em nenhuma das categorias anteriores).
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Tabela 5 - Etograma Circaetus gallicus (Águia-cobreira)

Etograma Circaetus gallicus (Águia-cobreira)


Categoria Atividade Descrição Padrão
Animal com movimentos de
Descansar cabeça lentos e parado no Estado
local.
Animal relaxado, com a
Dormir cabeça encostada ao corpo e Estado
com os olhos fechados.
Descanso
Animal abre e fecha o bico
Bocejar lentamente, durante 1/2 Evento
segundos, sem emitir som.
Animal estica, em simultâneo,
Espreguiçar a perna e a asa do mesmo Evento
lado.
Animal com movimentos de
Vigia Vigiar parado cabeça rápidos e parado no Estado
local.
Voar Animal desloca-se em voo. Evento
Animal desloca-se a passo de
Caminhar Evento
Locomoção cabeça erguida.
Animal salta para alguma
Saltar Evento
superfície.
Animal faz a
Preening manutenção/limpeza das Estado
penas com recurso do bico.
Animal raspa/roça o bico
Limpar o bico Evento
numa superfície.
Animal excreta fezes,
Defecar Evento
levantando a zona cloacal.
Manutenção Animal coça a cabeça com as
Coçar a cabeça Evento
garras.
Animal agita o corpo ou a
Sacudir Evento
cauda, sem sair do local.
Animal com as asas
parcialmente ou totalmente
Apanhar sol Estado
abertas para receber calor ou
secar as penas.
Alimentação Comer Animal ingere o alimento. Evento
Vocalização Vocalizar Animal emite sons. Evento
Animal desloca-se pelo
habitat com a cabeça baixa, a
Exploração Explorar Evento
olhar para o chão. Bica ou
arranha a terra.
Animal em fuga (a correr ou a
Fuga Fugir voar) devido ao aparecimento Evento
de alguma pessoa.
Animal bate as asas sem sair
Outro Bater as asas Evento
do local.
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Tabela 6 - Etograma Buteo buteo (Búteo)

Etograma Buteo buteo (Búteo)


Categoria Atividade Descrição Padrão
Animal com movimentos de
Descansar cabeça lentos e parado no Estado
local.
Animal relaxado, com a
Descanso Dormir cabeça encostada ao corpo e Estado
com os olhos fechados.
Animal estica, em simultâneo,
Espreguiçar a perna e a asa do mesmo Evento
lado.
Animal com movimentos de
Vigia Vigiar parado cabeça rápidos e parado no Estado
local.
Voar Animal desloca-se em voo. Evento
Animal salta para uma
Saltar Evento
Locomoção superfície.
Animal desloca-se a passo,
Caminhar Evento
de cabeça erguida.
Animal faz a
Preening manutenção/limpeza das Estado
penas com recurso do bico.
Animal excreta fezes,
Defecar Evento
levantando a zona cloacal.
Animal coça a cabeça com as
Coçar a cabeça Evento
Manutenção garras.
Animal agita o corpo ou a
Sacudir Evento
cauda, sem sair do local.
Animal raspa/roça o bico
Limpar o bico Evento
numa superfície.
Animal a expelir líquido pela
Vomitar Evento
boca.
Alimentação Comer Animal ingere o alimento. Evento
Vocalização Vocalizar Animal emite sons. Evento
Animal desloca-se pelo
habitat a olhar para o chão,
Exploração Explorar bicando e agarrando folhas, Evento
ramos e bolotas (entre
outros).
Animal bate as asas sem sair
Outro Bater as asas Evento
do local.
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Tabela 7 - Etograma Hieraaetus pennatus (Águia-calçada)

Etograma Hieraaetus pennatus (Águia-calçada)


Categoria Atividade Descrição Padrão
Animal com movimentos de
Descansar cabeça lentos e parado no Estado
local.
Animal estica, em simultâneo,
Descanso Espreguiçar a perna e a asa do mesmo Evento
lado.
Animal relaxado, parado no
Dormir local e com os olhos Estado
fechados.
Animal com movimentos de
Vigiar parado cabeça rápidos e parado no Estado
local.
Animal desperto e alerta, com
Vigia
movimentos da cabeça
Vigiar em
rápidos e movendo-se de Evento
movimento
lugar tentando localizar um
som ou movimento.
Voar Animal desloca-se em voo. Evento
Animal desloca-se a passo,
Caminhar com as asas recolhidas e Evento
cabeça erguida.
Locomoção Animal salta para uma
Saltar Evento
superfície.
Animal sobe pela vedação do
Trepar habitat, agarrando-se pelas Evento
garras e batendo as asas.
Animal faz a
Preening manutenção/limpeza das Estado
penas com recurso do bico.
Animal excreta fezes,
Defecar Evento
levantando a zona cloacal.
Animal agita o corpo ou a
Sacudir Evento
Manutenção cauda, sem sair do local.
Animal coça a cabeça com as
Coçar a cabeça Evento
garras.
Animal com as asas
parcialmente ou totalmente
Apanhar sol Estado
abertas para receber calor ou
secar as penas.
Alimentação Comer Animal ingere o alimento. Evento
Animal em fuga (a correr ou a
Fuga Fugir voar) devido ao aparecimento Evento
de alguma pessoa.
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Tabela 8 - Etograma Gyps fulvus (Grifo)

Etograma Gyps fulvus (Grifo)


Categoria Atividade Descrição Padrão
Animal com movimentos de
Descansar cabeça lentos e parado no Estado
local (de pé ou deitado).
Animal estica, em simultâneo,
Descanso Espreguiçar a perna e a asa do mesmo Evento
lado.
Animal relaxado, com a
Dormir cabeça recolhida junto ao Estado
corpo.
Animal com movimentos de
Vigiar parado cabeça rápidos e parado no Estado
local.
Vigia Animal desperto e alerta,
Vigiar em desloca-se pelo habitat com o
Evento
movimento olhar sempre fixo num
ponto/local.
Voar Animal desloca-se em voo. Evento
Animal desloca-se a passo,
Caminhar com as asas recolhidas e Evento
cabeça erguida.
Locomoção
Animal desloca-se em
Correr Evento
corrida.
Animal salta para uma
Saltar Evento
superfície.
Animal faz a
Preening manutenção/limpeza das Estado
penas com recurso do bico.
Defecar Animal excreta fezes. Evento
Animal coça a cabeça com as
Coçar a cabeça Evento
garras.
Manutenção Animal deitado ou na vertical,
Apanhar sol com as asas parcialmente ou Estado
totalmente abertas.
Animal raspa/roça o bico
Limpar o bico Evento
numa superfície.
Animal agita o corpo ou a
Sacudir Evento
cauda, sem sair do local.
Comer Animal ingere o alimento. Evento
Beber Animal ingere água. Evento
Alimentação Animal faz movimentos
Regurgitar contínuos do pescoço para
expulsar
Vocalização Vocalizar Animal emite sons. Evento
Animal persegue um
Perseguir indivíduo da mesma ou de Evento
outra espécie.
Interação
Animal afasta outro indivíduo
social
da mesma espécie do local
Disputar espaço Evento
em que ele se encontra, para
este ocupar o seu lugar.
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Animal bica indivíduo da


Bicar Evento
mesma espécie.
Animal disputa/rouba
alimento a indivíduo da
Disputar alimento Evento
mesma espécie, lutando com
o uso do bico e das garras.
Animal em fuga (a correr ou a
Fuga Fugir voar) devido ao aparecimento Evento
de alguma pessoa.
Animal desloca-se pelo
habitat com comportamento
Exploração Explorar exploratório (olhando para o Evento
chão de cabeça baixa e
bicando diferentes coisas).
Animal bate as asas sem sair
Outro Bater as asas Evento
do local.

3.3.2. Observações sem e com enriquecimento


Após a realização dos etogramas, procedi à construção do desenho
experimental para a realização das observações com e sem enriquecimento. Para
avaliar o impacto do enriquecimento nas diferentes espécies e avaliar a sua eficácia,
tive de comparar os comportamentos normalmente apresentados pelos animais
quando não havia nenhum enriquecimento, com os comportamentos expressos
quando o enriquecimento era acrescentado. Estas observações do comportamento
animal também servem como uma ferramenta para determinar o bem-estar animal
(Melfi et al, 2004; Dawkins, 2004).
Para isso, nas observações, foi utilizado o método de amostragem scan
(Altmann, 1994), que permite registar o comportamento de cada indivíduo, em
intervalos de tempo regulares (Silva, 2014). Cada sessão de observação teve duração
de 1 hora e foram realizadas duas sessões por dia (1 hora de manhã e 1 hora de
tarde). Nessas sessões, foram registados os comportamentos de todos os indivíduos
da espécie, a cada minuto, ao longo de 1 hora ((incluindo o minuto 0 (comportamento
ao início da sessão de observação)).
O material utilizado para a recolha de dados e gravação de imagens foi uma
câmera de um telemóvel Samsung Galaxy A10 e uma câmera fotográfica Dragon
Touch 4K Action Camera, conectada ao telemóvel através da aplicação Live DV, que
permite ver imagens em tempo real. Os comportamentos foram registados numa folha
de registo Excel (Anexo 2), baseada no etograma previamente construído, juntamente
com a data e a hora de observação, as condições meteorológicas, o tipo de
enriquecimento aplicado e outras observações pertinentes.
Primeiro, decidiu-se aplicar os enriquecimentos e realizar o estudo junto das
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

espécies Circaetus gallicus e Gyps fulvus. Foi definido um desenho experimental, com
base em Plowman & Park (2009), de 1 semana de observação sem enriquecimento, 2
semanas com enriquecimento e mais 1 semana sem enriquecimento, ficando com um
total de registos de 10 dias sem enriquecimento e 10 dias com enriquecimento, para
cada uma das espécies.
As observações foram feitas entre o dia 17 de janeiro de 2022 e o dia 11 de
fevereiro de 2022, de segunda a sexta-feira. Para Circaetus gallicus, as observações
da manhã tiveram início entre as 9h45min e as 10h15min e as da tarde entre as
14h15min e as 14h30min. Em G. fulvus, as observações tiveram lugar após as
observações junto de C. gallicus, começando da parte da manhã entre as 11h e as
12h e da parte da tarde entre as 15h30min e as 15h45min. A realização das
observações nestes períodos permitiu avaliar dois momentos diferentes do dia: a
alimentação e o descanso. Os enriquecimentos foram aplicados sempre no período da
manhã, começando a observação após a introdução dos mesmos no recinto e foram
recolhidos no final do período da observação da tarde.
Um mês depois do término das observações das águias-cobreiras e dos grifos,
a experiência foi repetida, entre o dia 7 de março de 2022 e o dia 1 de abril de 2022,
para as espécies Buteo buteo e Hieraaetus pennatus. A única alteração ao protocolo
experimental foi a realização de duas semanas seguidas sem enriquecimento e duas
semanas com enriquecimento.

3.4. Enriquecimentos ambientes aplicados


Foram testadas, junto de cada espécie, diferentes técnicas de EA, escolhidas
consoante a ecologia de cada uma. Como há muita pouca informação, e houve a
possibilidade de trabalhar com quatro grupos de rapinas diurnas, foram pensadas
alternativas de enriquecimentos com possibilidade de maior probabilidade de sucesso.
No entanto, como o estudo funcionou também como uma abordagem preliminar, foram
testadas também técnicas que, a priori, poderiam não ter tanto sucesso. Ainda assim
foram testadas, verificando se poderiam ser uma alternativa viável.
Sendo que há estudos que mostram que os animais podem desenvolver
habituação e/ou perda de interesse pelo EA (Loureiro, 2013), este deve ser repetido
após um determinado intervalo de tempo (Hosey et al., 2013). Por isso, cada técnica
de enriquecimento foi aplicada apenas 1 vez por semana, para evitar a habituação e
para funcionar como elemento surpresa. Quando possível, alterou-se também o dia
em que este era aplicado para evitar ao máximo a habituação dos indivíduos ao
enriquecimento.
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Com a falta de conhecimento sobre comportamentos estereotipados em aves


de rapina, e com a resultante dificuldade de identificação dos mesmos, os
enriquecimentos aplicados tiveram como objetivo a diminuição do tempo de inatividade
das aves de rapina diurnas do PBG. Tendo o PBG preferência por usar
enriquecimentos feitos com materiais biológicos, foi-me pedido que respeitasse essa
regra. Para além disso, havia a orientação do PBG de que todas as técnicas de EA
fossem feitas com recursos existentes no mesmo. Assim, as técnicas que fossem
eficazes poderiam ser replicadas e aplicadas futuramente pelos tratadores. Apesar
disso, a dependência dos recursos existentes no PBG fez com que, por vezes, ficasse
condicionado devido à ausência de certos materiais.
Definiu-se a aplicação de enriquecimentos de três categorias: físico, alimentar
e sensorial. Antes da aplicação dos enriquecimentos e após as observações para a
realização dos etogramas, procedi à limpeza e manutenção geral dos quatro habitats
(anexo 3), onde se encontravam cada uma das quatro espécies. Esta limpeza foi feita
com o objetivo de manter os espaços mais limpos, para em seguida renová-los com os
enriquecimentos físicos, os primeiros a serem aplicados. Realizei as mudanças que
achei necessárias, adicionando novos elementos, de forma a naturalizar o cercado,
pois estas mudanças podem conduzir ao aumento do bem-estar animal e do nível de
atividade (Little & Sommer, 2002). Para além disso, a disposição de novos poleiros,
cepos ou rochas faz aumentar as opções de escolha de um lugar para descansar ou
comer, por exemplo, sendo outra caraterística fundamental do EA (Mellor, et al., 2015).
O efeito dos enriquecimentos ambientais desta categoria não foi avaliado e foram os
únicos enriquecimentos que permaneceram nos habitats durante todo o estudo.
Foi escolhido o uso de enriquecimentos alimentares, nos dias de alimentação,
porque o alimento é motivador para os animais e enriquecimentos desta categoria
apresentam, geralmente, maiores benefícios e taxa de sucesso (Shyne, 2006; Hosey
et al., 2013; de Faria et al., 2022). Em cativeiro, o tempo despendido na procura de
alimento e na alimentação é muito reduzido pois este é, geralmente, fornecido de
forma constante e o animal não tem necessidade de se esforçar para obtê-lo. Na
natureza, em comparação à situação de cativeiro, grande parte da atividade diária dos
animais está relacionada com atividades ligadas à alimentação, desde caminhar,
cavar, nadar ou voar à procura de alimento (consoante a espécie animal), pastar,
caçar individualmente ou coletivamente ou pescar (Maple & Perdue, 2013; Wild
Welfare, 2021). Então, oferecer uma dieta variada e apresentada de diferentes formas
pode satisfazer os comportamentos alimentares naturais específicos de cada espécie
e promover a estimulação física e mental (Wild Welfare, 2021). A atribuição dos
enriquecimentos alimentares foi feita às segundas, quartas e sextas-feiras de modo a
FCUP 31
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

respeitar o plano alimentar de cada uma das espécies (Anexo 4).


Por fim, o enriquecimento sensorial foi escolhido para ser aplicado nos dias de
jejum (terças-feiras e quintas-feiras). Nesses dias, introduziram-se novos elementos,
típicos ou não do habitat natural dessas espécies, que possibilitassem aos indivíduos
estar em contacto com novos materiais, experienciando e sentindo novas sensações.
Com os enriquecimentos aplicados, pretendeu-se estimular principalmente os sentidos
da visão e do tato. Não se explorou muito a estimulação do sentido olfativo pois a
maior parte das aves de rapina diurnas têm um olfato muito pouco apurado (à exceção
do urubu-de-cabeça-vermelha, Cathartes aura) (Brooke & Birkhead, 1991).
A pedido do Parque, foi realizada uma ficha técnica para cada enriquecimento
alimentar e sensorial (Anexo 5), com o material necessário e o processo de criação
das mesmas. Estas ficaram em arquivo no PBG para consulta da equipa do
Departamento Veterinário e Zootécnico, para que as que se concluíssem eficazes,
neste estudo, continuassem a ser aplicadas futuramente e para o caso de serem
testadas junto de outras espécies.

3.4.1. Enriquecimentos ambientais para as águias-cobreiras


(Circaetus gallicus)

No grupo de águias-cobreiras, aplicou-se inicialmente o enriquecimento físico,


após uma análise do estado do habitat e dos elementos que o compunham, de forma
a melhorar o recinto. Esta metodologia foi utilizada para as quatro espécies. Desta
forma, aplicaram-se os seguintes enriquecimentos físicos no habitat das águias-
cobreiras:
• Cepos (Figura 5) – em todos os recintos das aves de rapina havia cepos de
árvores, que serviam principalmente como local para dispor o alimento. No
habitat das águias-cobreiras, alguns deles encontravam-se num adiantado
estado de degradação devido aos anos em que ali já tinham sido colocados, e
o diâmetro dos mesmos era inadequado para a espécie destinada, pois era
reduzido e não deixava espaço suficiente para o animal trabalhar o alimento.
Por estas razões, os cepos foram substituídos por cepos novos, com um maior
diâmetro.
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Figura 5 – Cepo

• Monte de pedras (Figura 6) – foi construído um pequeno monte de pedras


perto do lago, criando-se mais um local rochoso dentro do recinto e dando
como opção mais um local de descanso para os indivíduos.

Figura 6 – Indivíduo a interagir com o monte de pedras


FCUP 33
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Depois da aplicação do enriquecimento físico, desenvolveram-se


enriquecimentos para C. gallicus do tipo alimentar e sensorial para serem testados e
verificar o seu impacto junto da espécie. Foram desenvolvidas três técnicas de
enriquecimento alimentar:
• Alimento escondido em ramos de pinheiro-bravo (Pinus pinaster) (Figura 7) –
as cobras, as principais presas das águias-cobreiras, são muitas vezes
encontradas no solo debaixo de folhas e ramos (Zuffi et al., 1999). Por esta
razão, um dos enriquecimentos consistiu em esconder o alimento por entre
ramos de pinheiro-bravo, nos locais onde habitualmente é disposta a comida.

Figura 7 - Pintos escondidos em ramos de pinheiro-bravo

• Alimento em casca de banana (Figura 8) – esta técnica foi escolhida para ser
utilizada para os dias de alimentação com carne picada. Como as águias
caçam com as garras, quando a carne picada é colocada nos cepos, elas
tentam agarrá-la, mas com pouco sucesso pois esta passa-lhes entre os dedos
e não conseguem transportá-la sem que esta se vá perdendo pelo recinto.
Para combater isso, de forma a facilitar o maneio, o transporte da carne e
evitar o desperdício da carne que fica dispersada pelo habitat, insere-se a
carne picada dentro de uma casca de banana. Baseando-me no seu principal
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

alimento em estado selvagem, a escolha da banana deve-se à sua forma


longitudinal, superficialmente similar à dos ofídios. Desta forma, o alimento é
disposto com semelhanças ao qual elas encontrariam em estado selvagem e
conseguem transportar a casca de banana, com a carne no seu interior, sem
que esta se perca.

Figura 8 - Carne picada dentro de casca de banana

• Alimento embrulhado em folhas de couve (Figura 9) – alimento embrulhado em


folhas de couve, obrigando os indivíduos a abrirem o embrulho ou rasgarem as
folhas de couve para acederem à carne.
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Figura 9 - Alimento embrulhado em folhas de couve

Na categoria de enriquecimento sensorial desenvolveram-se duas técnicas


para aplicarem-se aos dias de jejum. Estas foram:
• Fardo de feno (Figura 10) – baseado no estudo “Enrichment preferences of
raptors at Elmwood Park Zoo”, desenvolvido por Tyler (2017), decidiu-se
introduzir um fardo de feno dentro do habitat, com o objetivo de fornecer mais
um local onde pudessem estar, com uma nova textura e algo que pudessem
destruir e manipular.
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Figura 10 - Fardo de feno no habitat das águias-cobreiras

• Sangue congelado (Figura 11) - bloco de sangue congelado, colocado dentro


do recinto, permitindo a perceção da sensação de frio, do cheiro e da cor, com
o objetivo da manipulação e destruição do bloco.

Figura 11 - Blocos de sangue congelado

Os enriquecimentos alimentares e sensoriais foram analisados de forma a


perceber o impacto que estes têm junto do grupo e se a aplicação futura dos mesmos
FCUP 37
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

é pertinente para a espécie ou não. Assim, estes foram introduzidos no habitat


segundo a seguinte calendarização (Tabela 9):

Tabela 9 - Calendarização de aplicação dos enriquecimentos nas águias-cobreiras. Legenda: EA - Enriquecimento


Ambiental; EAA - Enriquecimento Ambiental Alimentar; EAS - Enriquecimento Ambiental Sensorial

3.4.2. Enriquecimentos ambientais para os grifos (Gyps


fulvus)

Para o grupo da espécie Gyps fulvus apenas foi feita uma alteração dentro do
habitat. Por se tratar de uma espécie de maiores dimensões e, consequentemente,
com um habitat com uma área bem superior comparativamente à das outras rapinas, o
enriquecimento físico para esta não foi tão fácil de colocar. Com a ideia de se formar
um novo monte rochoso (para além do já existente no espaço), mas sem meios para o
fazer, decidiu-se juntar alguns troncos para tentar criar algo semelhante (Figura 12).
Tive como objetivo criar mais um local de repouso, porque no monte rochoso apenas
foram vistos, no máximo, 4 grifos em simultâneo, pois este não oferecia espaço
suficiente para mais. Daí, a criação de um novo local semelhante iria permitir a
distribuição dos 7 indivíduos de G. fulvus entre esses dois pontos.
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Figura 12 - Cepos e troncos agrupados

Posteriormente, foram definidos os enriquecimentos alimentares e sensoriais.


Em relação ao EA do tipo alimentar foram definidos quatro enriquecimentos para
introduzir junto dos grifos, sendo eles:
• Alimento em bloco de gelo (Figura 13) – destinado principalmente para dias de
maior calor, este enriquecimento incita a ave a manipular e destruir o bloco de
gelo para aceder ao alimento.
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Figura 13 - Alimento em blocos de gelo

• Alimento dentro de abóbora (Figura 14) – o alimento é colocado dentro de uma


abóbora, melancia ou cabaça cheia de orifícios que deem acesso ao mesmo.
Esses orifícios devem ser grandes o suficiente para um grifo adulto ter a
capacidade de colocar o bico ou parte da cabeça dentro da fruta para aceder à
comida.

Figura 14 - Carne de gamo dentro de abóboras


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• Grande pedaço de carne com pelo ou penas (Figura 15) – fornecer um animal
morto ou uma parte do mesmo é uma boa forma de manter os grifos ocupados
a trabalhar o seu alimento, extraindo os órgãos e os tecidos mais macios dos
ossos e da pele, tal como fariam em estado selvagem (Potaufeu, 2014). Para
além disso, o alimento com penas ou pelos também representa uma importante
fonte de proteína e ajuda à limpeza do papo (Soni, 2017).

Figura 15 - Pernas de cabra-anã

• Alimento pendurado (Figura 16) – este enriquecimento consiste numa peça de


alimento presa por uma corda de sisal a um tronco ou ramo de uma árvore.
Este vai exigir uma força extra exercida pelo animal através do pescoço para a
extração do alimento.
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Figura 16 – Perna de cabra-anã pendurada por corda de sisal

Excecionalmente, para esta espécie aplicaram-se quatro técnicas de


enriquecimento alimentar, em vez de três. Isto deveu-se à ausência de corda de sisal
para a construção da técnica “Alimento pendurado” na primeira semana de aplicação
de enriquecimento, tendo sido substituído por outro enriquecimento. O enriquecimento
“Grande pedaço de carne com pelo ou penas” já era aplicado anteriormente, sempre
que morria naturalmente um animal de cativeiro do Parque. Esse, depois de morto, era
introduzido no plano alimentar dos grifos, criando o ciclo natural que aconteceria se
estes estivessem em estado selvagem. Manteve-se a escolha deste enriquecimento,
para ser testado o seu impacto.
Na categoria dos enriquecimentos sensoriais, foram desenvolvidas duas
técnicas. Uma delas foram os blocos de sangue congelado (também aplicados às
águias-cobreiras) e a outra consistiu na introdução de couves dentro do habitat (Figura
17), para verificar se existiria reação e interesse pelas mesmas e, caso existisse,
possibilitando a manipulação por um elemento vegetal diferente.
FCUP 42
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Figura 17 - Couves num cepo do habitat dos grifos

Após a definição de todas estas técnicas a aplicar, as mesmas foram


introduzidas junto da população de grifos segundo o seguinte calendário (Tabela 10):

Tabela 10 - Calendarização de aplicação dos enriquecimentos nos grifos. Legenda: EA - Enriquecimento Ambiental;
EAA - Enriquecimento Ambiental Alimentar; EAS - Enriquecimento Ambiental Sensorial
FCUP 43
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3.4.3. Enriquecimentos ambientais para búteo (Buteo buteo)


No caso do desenvolvimento de EA para a espécie B. buteo, este foi
direcionada e desenvolvido especificamente para o indivíduo, sendo que era o único
no recinto. Tal como para as outras espécies, inicialmente aplicou-se o enriquecimento
físico, com o objetivo de completar algumas lacunas na composição do habitat. Assim,
os seguintes enriquecimentos físicos aplicados foram:
• Poleiros naturais (Figura 18) – perante a carência de lugares de pouso a uma
altura elevada, foram colocados ramos de árvores a cerca de 4,5 metros de
altura, funcionando como poleiros naturais, aumentando assim as
possibilidades de escolha onde praticar comportamentos como descanso, vigia
ou preening.

Figura 18 - Ramos de árvores que funcionam como poleiros naturais

• Tronco côncavo (Figura 19) - colocado com o objetivo de esconder o alimento


dentro da sua concavidade. Para além disso, serviu também como mais um
local onde é possível dispor o alimento (dentro ou em cima do tronco).
FCUP 44
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Figura 19 - Búteo em contacto com o tronco concavo

• Espécimes de ligustro (Ligustrum vulgare) (Figura 20) - introdução de árvore


nativa de Portugal, para dar alguma cobertura vegetal dentro do recinto.

Figura 20 - Búteo a interagir com o espécime de ligustro (à esquerda) e exemplar de ligustro (à direita)
FCUP 45
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• Rocha (Figura 21) – útil para a limpeza do bico e o desgaste das garras.

Figura 21 – Rocha

Já com essas alterações no habitat, desenvolveram-se três enriquecimentos


alimentares e dois enriquecimentos sensoriais:
• Alimento dentro de laranja (Figura 22) – alimento escondido dentro de uma
fruta, de forma a dificultar a obtenção do mesmo. Este exige que o animal
manipule a fruta para tentar extrair o alimento do seu interior.

Figura 22 - Laranja com pintos no interior


FCUP 46
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• Alimento em pinha (Figura 23) – enriquecimento específico para os dias de


alimentação de carne picada. Esta técnica permite que as águias consigam
manipular a pinha que contém a carne picada e a transportem (se assim o
quiserem) sem deixarem a carne espalhada pelo habitat.

Figura 23 - Carne picada em pinha

• Alimento embrulhado em folhas de couve – carne embrulhada/escondida em


folhas de couve, idêntico à técnica aplicada nas águias-cobreiras.
• Espelho (Figura 24) – por habitar apenas um indivíduo no recinto, e devido ao
seu histórico de agressividade perante outros indivíduos, colocou-se um
espelho encostado ao cercado, para ver a interação da ave ao ver o seu
reflexo no mesmo, verificando se assumia de novo uma postura agressiva e
mais ativa ou se lhe era indiferente a presença de “outro” espécime no seu
espaço.
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Figura 24 - Espelho junto ao cercado do búteo

• Couve com penas (Figura 25) – foi colocada uma couve com penas de várias
aves (ex.: grifo, pavão ou galinha doméstica) espetadas nela. Este
enriquecimento envolve os sentidos dos carnívoros ligados à caça e permite-
lhes despertar os comportamentos de investigação, exploração e destruição
(WildThink, 2022).

Figura 25 - Couves com penas espetadas

Após a escolha dos enriquecimentos a desenvolver para esta espécie, estes


foram aplicados junto do animal segundo a seguinte calendarização (Tabela 11):
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Tabela 11 - Calendarização de aplicação dos enriquecimentos no búteo. Legenda: EA - Enriquecimento Ambiental;


EAA - Enriquecimento Ambiental Alimentar; EAS - Enriquecimento Ambiental Sensorial

3.4.4. Enriquecimentos ambientais para as águias-calçadas


(Hieraaetus pennatus)
No grupo de Hieraaetus pennatus, os enriquecimentos físicos aplicados no habitat
foram:
• Espécimes de sabugueiro (Sambucus nigra) e ligustro (Ligustrum vulgare)
(Figura 26) – introdução de alguns exemplares de duas espécies nativas de
Portugal, de forma a dar alguma cobertura vegetal dentro do recinto e,
futuramente, oferecerão novos lugares de pouso.

Figura 26 - Espécimes de sabugueiro (à esquerda) e ligustro (no centro e à direita) no recinto das águias-calçadas
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• Tronco côncavo – colocado para ser um local onde é possível dispor o alimento
em cima ou esconder o alimento dentro da concavidade, semelhante ao do
búteo.
• Rochas – úteis para a limpeza do bico.
• Poleiros naturais (Figura 27) – mudança de posição de árvore que já se
encontrava no recinto (no chão), colocando-a de pé, retirando os ramos frágeis
e deixando apenas os que seriam úteis como poleiros.

Figura 27 - Árvore no recinto das águias-calçadas

Em relação aos enriquecimentos alimentares, foram aplicadas as mesmas 3


técnicas que se desenvolveram para o búteo. No caso dos enriquecimentos
sensoriais, apenas a couve com penas foi testada em H. pennatus pois, junto desta
espécie, já não existia a necessidade da aplicação de um espelho para elas
interagirem com outro indivíduo (tendo em conta que coabitavam dois espécimes),
nem apresentavam um historial comportamental agressivo. Portanto, essa técnica foi
substituída por outra, aplicando-se um bloco de sangue congelado, tal como se tinha
aplicado nas águias-cobreiras.
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• Sangue congelado (Figura 28) – bloco de sangue congelado, colocado no


dentro do recinto, permitindo a perceção da sensação de frio, do cheiro e da
cor, com o objetivo da manipulação e destruição do bloco.

Figura 28 - Blocos de sangue congelado no habitat das águias-calçadas

Os enriquecimentos foram aplicados segundo o seguinte calendário do estudo


(Tabela 12):

Tabela 12 - Calendarização de aplicação dos enriquecimentos nas águias-calçadas. Legenda: EA - Enriquecimento


Ambiental; EAA - Enriquecimento Ambiental Alimentar; EAS - Enriquecimento Ambiental Sensorial
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

3.5. Análise estatística


Após a conclusão da aplicação dos EA, junto das diferentes espécies, e das
recolhas de dados através das observações, procedeu-se à análise dos dados.
Inicialmente, analisou-se a diferença da frequência média, em percentagem, de todos
os comportamentos entre os tratamentos sem e com EA. Estes foram agrupados nas
suas respetivas categorias de comportamentos, conforme apresentado nos etogramas
presentes no tópico “3.3.1. Etogramas”. Em seguida, com recurso ao programa R,
analisou-se, com uma ANOVA de amostras repetidas, se existiram diferenças no
período de descanso/inatividade entre manhãs e tardes e os tratamentos com e sem
EA, independentemente do tipo de enriquecimento. Quando se obteve um valor de
P≤0,05 considerou-se que houve diferenças significativas.
Por fim, indo ao encontro do objetivo principal do trabalho, recorreu-se ao
programa estatístico ACTUS2 (Analysis of Contingency Tables Using Simulation;
Estabrook et al., 2002). Inicialmente, verificou-se se existiram diferenças entre as duas
semanas sem enriquecimento e as duas semanas com enriquecimento, assumindo-se
que existiria diferença quando o valor de P≤0,05. Depois, fez-se a média do número
de registos do comportamento “descansar”, recolhidos através do método scan
(Altmann, 1974), entre os valores das manhãs e das tardes das duas semanas sem
EA. Repetiu-se o mesmo processo para os valores recolhidos nas semanas de EA,
associando os dados respetivos à mesma técnica de enriquecimento, mesmo que
aplicados em dias diferentes nas duas semanas.
Construiu-se uma tabela para cada uma das quatro espécies com os dados
brutos recolhidos, em que em cada célula é apresentada a média do número total de
registos do comportamento “descanso” ao longo de 1 hora de observação, no mesmo
período do dia, com o mesmo tratamento. Na célula de cada valor, também é
apresentada a significância do respetivo dado, em que as contagens altas
significativas (i.e., acima do esperado) e as contagens baixas significativas (i.e., abaixo
do esperado) são indicadas pelos valores <100. Através desta análise, é revelado
quando o nível de descanso é especialmente baixo ou alto. Desta forma, foi possível
verificar quais as técnicas de EA com maior potencial para diminuir o tempo de
inatividade das espécies amostradas.
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4. Resultados e discussão
4.1. Águia-cobreira (Circaetus gallicus)
No decorrer do presente estudo, houve um aumento da descrição do reportório
comportamental do grupo de águias-cobreiras. A partir do período de aplicação dos
enriquecimentos, o reportório comportamental aumentou em três comportamentos:
“correr”, “vigiar em movimento” e “tomar banho”.
De um ponto de vista geral, a aplicação de diferentes técnicas de
enriquecimento alimentar e sensorial junto de C. gallicus teve um impacto positivo.
Estas fizeram diminuir comportamentos associados ao descanso, em 5%, e à vigia,
em 2% (Figura 29). Em sentido contrário, a frequência da locomoção duplicou durante
as duas semanas de aplicação de EA, passando de 3%, sem enriquecimento, para
6%, com enriquecimento (Figura 29).

Comportamentos da população de Circaetus


gallicus
70% 63%
58%
60%
Frequência média (%)

50%
40%
30% 22% 20%
20%
10% 6% 6% 6%
3% 3% 3%
2% 2% 1% 1% 0% 0% 0% 2% 0% 0%
0%

Categoria de comportamentos

Sem enriquecimento Com enriquecimento

Figura 29 - Frequência média de ocorrência de comportamentos da população de C. gallicus nas fases Sem
enriquecimento e Com enriquecimento

Independentemente do tipo de enriquecimento (considerando apenas o período


de inatividade/descanso), a interação entre os dois fatores (presença/ausência de
enriquecimento e período do dia) não foi significativa (F(1,32)=0,291, P=0,594). Em
relação às semanas sem e com enriquecimento, verificou-se que existiram diferenças
significativas (F(1,32)=4,728, P<0,05). A aplicação do enriquecimento contribuiu, nas
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águias-cobreiras, para a redução do tempo de inatividade da população. Entre os


períodos da manhã e da tarde também se verificaram diferenças significativas em
relação ao período de descanso (F(1,32)=6,234, P<0,05), sendo que o descanso foi
inferior no período das manhãs.
Apesar de existirem diferenças entre os tratamentos, é importante saber quais
as técnicas potencialmente mais eficazes na redução do período de descanso da
espécie. Com auxílio do programa ACTUS2, compararam-se os valores de descanso
obtidos entre as 2 semanas de controlo (sem EA) e não se observou diferença entre
as mesmas (χ2=2,139, P=0,711). Isto significa que não houve diferenças nos períodos
de descanso entre a primeira e a segunda semana, na ausência de enriquecimento. O
mesmo aconteceu quando se compararam os valores de descanso recolhidos entre as
duas semanas onde ocorreu enriquecimento (χ2=4,544, P=0,334). A ausência de
diferenças entre a primeira e a segunda semana de EA sugere que esta análise não
permitiu destacar nenhum dos tratamentos como especialmente eficaz
comparativamente aos restantes métodos de EA aplicados.
A média dos registos de descanso sem EA (aqui designado por controlo), no
período da manhã e da tarde, e com a aplicação das diferentes técnicas de EA na
junto das águias-cobreiras é apresentada na Tabela 13, com as respetivas
significâncias.
Tabela 13 - Valores de descanso da população de águias-cobreiras. Em cada célula é apresentada a média do registo
do descanso no respetivo período. Em baixo desse valor, são indicadas as contagens altas significativas (à esquerda)
e as contagens baixas significativas (à direita). As contagens significativas são indicadas a vermelho, por números
<100. Legenda: Ctrl - Ausência de enriquecimento; EA – Enriquecimento Ambiental; M – Período da manhã; T –
Período da tarde

Dia da
semana 2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira

Ctrl M 180 162 178 201 156


(443 | 586) (739 | 292) (419 | 615) (58 | 951) (940 | 73)

Ctrl T 201 193 214 199 208


(640 | 391) (605 | 424) (209 | 810) (753 | 272) (356 | 671)

Alimento
Alimento Alimento Bloco de
Fardo embrulhado
EA escondido
de feno
no interior sangue
em folhas de
em ramos de banana congelado
couve

EA M 166 166 151 173 163


(511 | 523) (275 | 749) (845 | 174) (348 | 680) (527 | 507)

EA T 190 182 182 172 199


(441 | 589) (420 | 613) (585 | 444) (912 | 101) (148 | 869)
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Na testagem de vários enriquecimentos junto de C. gallicus, o χ2 da tabela


acima foi de 10,700 (n=3636, Df=12) e com um valor de P=0,558, em 10 mil
simulações. Não foram observadas diferenças significativas nos níveis de descanso,
entre as diferentes técnicas de enriquecimento, nos períodos da manhã e da tarde.
Embora a ANOVA nos indique, simultaneamente, que existem diferenças entre
os períodos da manhã e da tarde (animais mais ativos de manhã) e diferenças entre a
presença ou ausência de enriquecimento (animais mais ativos na presença de EA), a
análise das tabelas de contingência não foi capaz de detetar diferenças entre os
diversos tipos de EA.
Apesar de não terem sido detetadas diferenças estatisticamente significativas
entre os EA, na aplicação das técnicas “Alimento escondido em ramos”, “Alimento no
interior da banana” e “Bloco de sangue congelado” obtiveram-se sempre valores de
descanso inferiores, quer de manhã quer de tarde, em comparação com o período de
controlo. Ao invés disso, no período da manhã de EA, a aplicação do “Fardo de feno” e
do “Alimento embrulhado em folhas de couve”, a frequência do comportamento
“descansar” tendeu a ser mais alta, ainda que não significativa.
Portanto, apesar de nenhuma das técnicas ter tido maior eficácia na redução
do tempo de descanso do que as outras, a futura aplicação das técnicas de EA
“Alimento escondido em ramos”, “Alimento no interior da banana” e “Bloco de sangue
congelado” deve ser testada novamente (Tabela 14), para verificar se a sua aplicação
pode, de facto, contribuir para a redução do tempo de descanso. Para as outras duas
técnicas, “Fardo de feno” e “Alimento embrulhado em folhas de couve”, a relação
custo-benefício parece ser contraproducente pois, num dos momentos do dia, o
período de descanso chega a ser superior ao período homólogo sem enriquecimento.
FCUP 55
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Tabela 14 - Resumo dos resultados dos enriquecimentos para C. gallicus

4.2. Grifo (Gyps fulvus)


Relativamente aos grifos, após a introdução do EA, foram observados pela
primeira vez os comportamentos “tomar banho”, “allopreening”, “espirrar” e “postura”.
Também se registaram três comportamentos reprodutivos não avistados aquando da
realização do etograma inicial, pois a espécie não se encontrava ainda na época de
acasalamento.
Quando analisada a Figura 30, onde se apresenta a alteração comportamental
da população dos grifos do PBG após a introdução do EA sensorial e alimentar,
verifica-se que houve uma diminuição dos comportamentos de descanso (3%), de
vigia (1%), e reprodutivos (2%). Em todas as restantes categorias de comportamentos
houve um aumento na frequência média, à exceção dos comportamentos explorativos,
que mantiveram o valor.
FCUP 56
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Comportamentos da população de Gyps fulvus


60% 55%
52%
50%
Frequência média (%)

40%

30%

20% 17%
16% 12% 14%
10% 4% 6% 6%
3% 5% 4%
0% 0% 0% 1% 0% 0% 1% 1% 0% 1% 0% 0%
0%

Categoria de comportamentos

Sem enriquecimento Com enriquecimento

Figura 30 - Frequência média de ocorrência de comportamentos da população de G. fulvus nas fases Sem
enriquecimento e Com enriquecimento

Focando nos períodos de descanso da população de grifos, a ANOVA mostrou


que a interação entre os dois fatores (presença/ausência de enriquecimento e período
da manhã e da tarde) não foi significativa (F(1,32)=0, P=0,984). Relativamente ao fator
ausência/presença de enriquecimento, não existiram diferenças significativas
(F(1,32)=0,285, P=0,597). Entre o período da manhã e o período da tarde, as diferenças
voltaram a não ser significativas (F(1,32)=0,375, P=0,545). Com recurso ao ACTUS2,
quando comparadas as semanas sem enriquecimento, entre si, verificou-se uma
diferença significativa (χ2=14,555, P<0,01) nos níveis de descanso. Existiu também
uma diferença significativa entre as duas semanas de aplicação de EA (χ2=17,494,
P<0,005), ou seja, os valores de inatividade foram heterogéneos. Ao contrário do
esperado, com ou sem EA, o tempo de inatividade entre as duas semanas do mesmo
tratamento não foi exatamente similar.
Apesar de não existirem diferenças significativas aquando da aplicação do EA
(de acordo com a ANOVA), era importante analisar se alguma das técnicas
introduzidas no habitat poderia ter tido um impacto na diminuição do período de
descanso. Com o apoio do programa ACTUS2, obteve-se a Tabela 14.

Tabela 15 - Valores de descanso da população dos grifos. Em cada célula é apresentada a média do registo do
descanso no respetivo período. Em baixo desse valor, são indicadas as contagens altas significativas (à esquerda) e as
FCUP 57
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

contagens baixas significativas (à direita). As contagens significativas são indicadas a vermelho, por números <100.
Legenda: Ctrl - Ausência de enriquecimento; EA – Enriquecimento Ambiental; M – Período da manhã; T – Período da
tarde

Dia da
semana
2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira

Ctrl M 218 247 182 254 185


(429 | 597) (80 | 930) (989 | 13) (254 | 768) (613 | 415)

Ctrl T 238 239 275 258 248


(767 | 251) (929 | 80) (36 | 969) (933 | 75) (27 | 977)

Alimento
Alimento Bloco de Alimento
em gelo /
EA Alimento
Couves dentro de sangue com pelos
abóbora congelado ou penas
pendurado

EA M 208 224 188 251 142


(298 | 728) (176 | 842) (788 | 232) (58 | 950) (997 | 4)

EA T 236 236 249 257 215


(514 | 514) (793 | 227) (173 | 845) (757 | 262) (293 | 728)

No caso da população de G. fulvus, o χ2 foi de 31,774 (n=4550, Df=12) e teve


um valor de P<0,005, em 10 mil simulações. Isto diz-nos que houve diferenças
significativas nos níveis de descanso da espécie, entre a aplicação das diferentes
técnicas de enriquecimento.
A Tabela 15 mostra que contagens acima do esperado ocorreram nas manhãs
de terça-feira nas semanas de controlo, nas tardes de quarta-feira e sexta-feira do
período de controlo e no período das manhãs da aplicação do enriquecimento “Bloco
de sangue congelado”. A mesma tabela mostra que os valores de descanso abaixo do
esperado aconteceram no período de controlo nas manhãs de terça-feira e nas tardes
de terça-feira e quinta-feira, e no período da manhã quando aplicado o enriquecimento
“Alimento com pelos ou penas”. É também possível verificar que, independentemente
do uso da prática de EA, o período de descanso foi sempre mais baixo nas manhãs de
dias de alimentação (segunda, quarta e sexta-feira), do que nas manhãs de dias de
jejum (terça e quinta).
No dia de aplicação do alimento pendurado, não houve qualquer interação ou
interesse demonstrado pelo alimento, mesmo depois de no final do dia, ter sido
recolhido e fornecido da forma habitual, em cima dos cepos. Em conjunto com o
coorientador Eng. Hugo Oliveira, chegou-se à conclusão de que uma anomalia na
alimentação dos grifos do fim de semana anterior, provocou este desinteresse pelo
alimento, pois os animais já estavam saciados. Por esse motivo, não se conseguiu
FCUP 58
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

avaliar da melhor forma o impacto da técnica junto desta espécie. Apesar da


população ter ficado indiferente com a colocação desta técnica no recinto, pelo motivo
anteriormente aplicado, esta deve ser testada novamente, verificando se a reação se
mantém.
Conclui-se, então, que a diminuição do tempo de descanso da população de
grifos ocorreu apenas quando se fez uso da técnica de enriquecimento do
fornecimento do alimento com pelo ou penas, passando este a integrar o plano de EA
da espécie, criado após a conclusão deste estudo (Tabela 16). Quando aplicado o
bloco de sangue congelado, o nível de descanso da população foi acima do esperado,
tendo o efeito contrário ao que se pretendia. Portanto, este enriquecimento deve ser
descartado para esta população e a sua aplicação futura parece não ser adequada
para os grifos. Em relação aos enriquecimentos “Alimento dentro de abóbora”,
“Alimento em blocos de gelo” e “Alimento pendurado”, estes devem ser testados
novamente, sendo os dois últimos devem ser analisados separadamente e
introduzidos mais do que uma vez. Quanto à introdução das couves, estas não
impactaram significativamente a redução do período de descanso na população, tendo
sido considerada indiferente a sua aplicação. Como não existiu nenhuma interação
nem interesse de nenhum indivíduo em relação a este enriquecimento, a sua
aplicação futura não é pertinente.
Tabela 16 - Resumo dos resultados dos enriquecimentos para G. fulvus
FCUP 59
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

4.3. Búteo (Buteo buteo)


No caso do búteo, as alterações comportamentais provocadas pelo EA,
apresentadas neste subcapítulo, referem-se apenas a um único indivíduo, ao contrário
do que acontece com as outras espécies do estudo. Neste, com a introdução dos
enriquecimentos, o etograma aumentou em cinco novos comportamentos: “recolher
matéria para o ninho” e “construir ninho”, relacionados com a época reprodutiva, e
“correr”, “vigiar em movimento” e “bocejar”.
Conforme o apresentado na Figura 31, são notáveis as alterações no
comportamento do indivíduo, durante a fase de aplicação de enriquecimentos
alimentares e sensoriais. Tal como nas duas espécies anteriores, também a
frequência de comportamentos de descanso diminuiu (4%). Por outro lado, durante a
aplicação dos enriquecimentos, a frequência média dos comportamentos de vigia
aumentou 1%. O maior decréscimo entre as fases “sem enriquecimento” e “com
enriquecimento” ocorreu ao nível dos comportamentos reprodutivos. A frequência
média destes diminuiu cerca de 8%, tendo sido o comportamento “construir ninho” que
representou a maior parte desta categoria. Na fase “com enriquecimento”, a interação
com os enriquecimentos passou a representar cerca de 6% da sua atividade.

Comportamentos de Buteo buteo


30%
27%
26% 26%
25%
22% 21%
Frequência média (%)

20%

15% 13%
9% 9%
10% 8%
7% 6% 6%
5%
4% 4% 3% 4%
5%
0% 0% 0%
0%

Categoria de comportamentos

Sem enriquecimento Com enriquecimento

Figura 31 - Frequência média de ocorrência de comportamentos de B. buteo nas fases Sem enriquecimento e Com
enriquecimento
FCUP 60
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Numa análise ANOVA, relativamente ao tempo de descanso do indivíduo, não


existiu uma interação significativa entre os fatores presença/ausência de
enriquecimento e período do dia (F(1,32)=2,183, P=0,149). Entre as semanas sem e
com enriquecimento, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas
(F(1,32)=0,609, P=0,441), mostrando que as alterações dos valores de descanso do
indivíduo entre os dois tratamentos não foram relevantes. Entre o período da manhã e
o período da tarde também não se verificaram diferenças relevantes (F(1,32)=0,296,
P=0,590).
Com recurso ao ACTUS2, a análise comparativa entre as duas semanas de
controlo, mostra que estas não foram significativamente diferentes (χ2=4,075,
P=0,397), no que diz respeito à frequência do comportamento “descansar”. Já no caso
das semanas com a presença de EA, houve uma diferença significativa entre a
primeira e a segunda semana (χ2=9,679, P<0,05), relativamente à frequência do
mesmo comportamento.
Assim, foi necessário verificar quais as técnicas que tiverem resultados
positivos. Os valores de descanso, do espécime de B. buteo, nos diferentes momentos
do estudo e com os diferentes tratamentos, são apresentados na Tabela 15.

Tabela 17 - Valores de descanso do búteo. Em cada célula é apresentada a média do registo do descanso no respetivo
período. Em baixo desse valor, são indicadas as contagens altas significativas (à esquerda) e as contagens baixas
significativas (à direita). As contagens significativas são indicadas a vermelho, por números <100. Legenda: Ctrl -
Ausência de enriquecimento; EA – Enriquecimento Ambiental; M – Período da manhã; T – Período da tarde

Dia da
semana
2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira

Ctrl M 10 16 9 17 8
(551 | 576) (446 | 654) (891 | 174) (75 | 954) (840 | 257)

Ctrl T 11 21 32 11 23
(936 | 107) (816 |249) (10 | 995) (983 | 36) (110 | 925)

Alimento
Couve
Alimento Alimento embrulhado
EA em laranja
Espelho
em pinha
com
em folhas de
penas
couve

EA M 15 17 11 7 7
(59 | 968) (270 | 810) (664 | 451) (919 | 149) (878 | 203)

EA T 13 20 10 21 14
(539 | 575) (511 | 582) (969 | 58) (75 | 954) (522 | 591)

Em relação à tabela acima apresentada, o χ2=29,019 (n=293, Df=12) e, em 10


mil simulações, teve um valor de P<0,005, mostrando que há diferenças significativas
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

na eficácia dos diferentes enriquecimentos aplicados para a diminuição do período de


inatividade.
O búteo apresentou um nível de descanso maior do que o esperado na manhã
de quinta-feira e na tarde de quarta-feira, na fase de controlo. Já no tratamento com
EA, o nível de descanso manteve-se elevado nas manhãs de aplicação do
enriquecimento “Alimento em laranja”. Na primeira vez que esta técnica foi introduzida,
durante a 1º hora de observação, não se registou comportamentos de alimentação e
interação com o enriquecimento. A par disso, houve também um movimento maior em
relação ao habitual pois na 1ª hora vários grupos de alunos passaram pelo
observatório e um elemento da manutenção/jardinagem estava a cortar ervas junto ao
cercado, o que pode ter interferido com os comportamentos apresentados pelo
indivíduo, sendo que este passou a maior parte do tempo em descanso ou vigia. Para
além disso, o búteo não conseguiu comer nenhum pinto completo, pois teve
dificuldade em retirá-los de dentro da laranja e desistia facilmente ao não conseguir.
Apesar de tudo isto, na segunda vez que se aplicou este enriquecimento, o interesse
pelo mesmo foi quase imediato e já houve maior registo/observações da interação do
indivíduo com a fruta e o alimento.
Também nas tardes com a presença do enriquecimento “Couve com penas” no
recinto, registou-se um valor de descanso acima do esperado. Isto porque, durante a
observação da tarde da primeira semana de EA, o búteo passou grande parte do
tempo no poleiro alto, em vigia, e, por vezes, a olhar diretamente para o
enriquecimento.
Ainda sobre a Tabela 17, podemos verificar que as contagens baixas
significativas (valores mais baixos que o esperado) ocorreram nas tardes de quinta-
feira do período de controlo e nas tardes dos dias de aplicação do enriquecimento
“Alimento em pinha”. Tendo em conta que a única diminuição significativa do tempo de
descanso do indivíduo apenas ocorre com a aplicação de um dos enriquecimentos,
podemos afirmar que a técnica do “Alimento em pinha” poderá ser a mais eficaz para
este propósito.
Em suma (Tabela 18), conclui-se que a aplicação futura dos enriquecimentos
“Alimento em laranja” e “Couve com penas” pode, se necessário, ser descartada pois,
num dos períodos do dia, a inatividade acabou por ser maior do que o esperado. Em
relação aos enriquecimentos “Espelho” e “Alimento embrulhado em folhas de couve”,
estes não causaram diferenças significativas no tempo de descanso do búteo,
podendo ser testados novamente em trabalhos futuros, explorando melhor o seu
impacto no indivíduo. O “Alimento em pinha” aparentou ser o enriquecimento mais
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

eficaz na redução do tempo de descanso, mostrando potencial suficiente para adoção


num futuro plano de EA da espécie.

Tabela 18 - Resumo dos resultados dos enriquecimentos para B. buteo

4.4. Águia-calçada (Hieraaetus pennatus)


Durante as observações das duas águias-calçadas, foi percetível que o
enriquecimento junto dos indivíduos pouco alterou o seu comportamento. Após a
finalização do tratamento de dados, obtive essa confirmação. Ao longo do estudo, as
águias-calçadas apresentaram dois novos comportamentos (“limpar o bico” e “bater as
asas”), antes não observados.
Na Figura 32, verifica-se que, em ambas as fases do estudo houve uma clara
dominância de comportamentos de descanso e vigia, com a combinação da
percentagem de ocorrência destes comportamentos a ser superior a 93%, antes do
enriquecimento, e de 90%, durante o enriquecimento. À exceção do decréscimo da
frequência média, a rondar os 3%, em comportamentos de descanso entre as duas
fases de tratamento, não existiu uma alteração na percentagem média de cada grupo
de comportamentos, acima de 1%.
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Comportamentos do grupo de Hieraaetus


pennatus
80%
69% 66%
70%
Frequência média (%)

60%
50%
40%
30% 24% 24%
20%
10% 2% 3% 4% 4%
1% 2% 0% 0% 0% 1% 0% 0%
0%

Categoria de comportamentos

Sem enriquecimento Com enriquecimento

Figura 32 - Frequência média de ocorrência de comportamentos do grupo de H. pennatus nas fases Sem
enriquecimento e Com enriquecimento

Direcionando a análise unicamente ao período de descanso das águias-


calçadas, através da análise de variância, verificou-se que a interação entre os dois
fatores (presença/ausência de enriquecimento e período do dia) não foi significativa
(F(1,32)=0,823, P=0,371). As alterações nos níveis de descanso não diferiram quando
os dois indivíduos tinham ou não contacto com o enriquecimento (F(1,32)=0,322,
P=0,574). Portanto, no conjunto da aplicação dos enriquecimentos, estes não
diminuíram representativamente o descanso. De igual forma, a diferença entre as
manhãs e as tardes também não foi significativa (F(1,32)=1,026, P=0,319).
Constatada a homogeneidade dos dados relativos à inatividade, entre os
diferentes fatores de análise, foi necessário verificar se, no entanto, as técnicas de EA
impactaram de diferentes formas nos indivíduos na redução do período de descanso.
Quando comparados os níveis de descanso entre as duas semanas de controlo,
constatou-se que não existiram diferenças entre as semanas (χ2=3,838, P=0,418). As
diferenças também foram praticamente inexistentes entre as duas semanas de
presença de EA (χ2=1,114, P=0,887).
Na tabela 19 é apresentada a média dos registos de descanso nos diferentes
momentos do estudo.
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Tabela 19 - Valores de descanso do grupo de águias-calçadas. Em cada célula é apresentada a média do registo do
descanso no respetivo período. Em baixo desse valor, são indicadas as contagens altas significativas (à esquerda) e as
contagens baixas significativas (à direita). As contagens significativas são indicadas a vermelho, por números <100.
Legenda: Ctrl - Ausência de enriquecimento; EA – Enriquecimento Ambiental; M – Período da manhã; T – Período da
tarde

Dia da
semana
2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira

Ctrl M 80 86 82 80 74
(465 | 578) (246 | 788) (488 | 556) (574 | 472) (799 | 236)

Ctrl T 88 76 93 88 85
(360 | 679) (860 | 168) (268 | 767) (465 | 583) (585 | 461)

Alimento
Bloco de Couve
Alimento Alimento embrulhado
EA em laranja
sangue
em pinha
com
em folhas de
congelado penas
couve

EA M 71 80 77 89 75
(768 | 270) (402 | 641) (621 | 419) (135 | 888) (689 | 353)

EA T 83 83 80 74 96
(449 | 596) (497 | 553) (701 | 342) (881 | 145) (98 | 920)

Relativamente à análise da média do número de registos de descanso,


recolhidos ao longo do estudo junto de H. pennatus, o χ2 foi de 7,974 (n=1640, Df=12)
e teve um valor de P=0,797, em 10 mil simulações. Desta forma, é possível concluir
que não houve diferenças significativas na diminuição da inatividade, entre os
diferentes EA aplicados, nos diferentes momentos de observação.
A análise da Tabela 19 mostra que a única alteração relevante ocorreu nas
tardes dos dias de aplicação do alimento embrulhado em folhas de couve. Esta
diferença, por sinal, foi acima do esperado, traduzindo-se numa contagem alta
significativa (valor acima do esperado). Isto indica-nos que a introdução deste
enriquecimento no habitat não contribuiu para a diminuição do período de descanso do
grupo. Em relação às outras quatro técnicas de enriquecimento, verificou-se que
nenhuma alterou, com relevância, os níveis de descanso. No entanto, quando
introduzidos os blocos de sangue congelado, a reação das águias-calçadas, das duas
vezes aplicado, foi de total indiferença para com o enriquecimento. Por isso, o
desenvolvimento desta técnica para estes indivíduos não é adequado. Assim, a Tabela
20 apresenta o resumo dos resultados dos enriquecimentos desenvolvidos para as
águias-calçadas.
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Tabela 20 - Resumo dos resultados dos enriquecimentos para H. pennatus


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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

5. Outras funções desempenhadas


Para além da realização de desenvolvimento de EA para aves de rapina
diurnas e do seu respetivo estudo, desempenhei outras tarefas ao longo do período de
estágio que complementaram a sua duração. Por vezes, houve a necessidade da
realização de outras funções para além da qual eu fui para a empresa, tendo de
organizar o meu trabalho de forma a conseguir realizar as várias tarefas que me eram
pedidas. Algumas delas foram realizadas várias vezes por questões de apoio à equipa
de tratadores, enquanto outras foram eventos únicos, realizadas apenas uma vez
durante todo o estágio.
Todas as atividades extra realizadas estavam ligadas, de alguma forma, à área
da Ecologia, relacionando-se com certos temas abordados ao longo do primeiro ano
de mestrado. Dessa forma, o estágio tornou-se mais enriquecedor pois ao
desempenhar outras funções consegui aprender mais sobre mais áreas e ganhar mais
experiência em determinados campos.
Assim, não apresentando por ordem cronológica, as outras tarefas realizadas
para além da minha função principal foram:

• Apoio à alimentação de animais noturnos, aves aquáticas e herbívoros do


Parque.
Inicialmente, foi necessário acompanhar o tratador para conhecer o trabalho e
a rotina que se realizava junto das aves de rapina diurnas, levando-me a percorrer
todo o setor com a pessoa responsável nesse dia. Como o grupo de animais noturnos
em cativeiro no Parque integra o mesmo setor do qual fazem parte as aves de rapina
diurnas, ajudei na alimentação de ginetas (Genetta genetta), saca-rabos (Herpestes
ichneumon), bufos-pequenos (Asio otus), bufos-reais (Bubo bubo), corujas-do-mato
(Strix aluco) e corujas-das-torres (Tyto alba) durante o primeiro mês de estágio. Pela
mesma razão, no início do estágio, ajudei na alimentação de negrinhas (Aythya
fuligula), piadeiras (Anas penelope), patos-de-bico-vermelho (Netta rufina), arrábios
(Anas acuta), patos-brancos (Tadorna tadorna), patos-reais (Anas platyrhynchos) e
garças-reais (Ardea cinerea), que se encontram num cercado, que integra o setor,
dedicado a aves aquáticas.
Também, ocasionalmente, e por diversas situações, foi necessário o apoio à
equipa de tratadores no cumprimento de outras funções. Nesses casos, realizei, junto
de um tratador, a volta ao Parque, distribuindo a alimentação pelos herbívoros. Deste
grupo fazem parte bisontes-europeus (Bison bonasus), cavalos (Equus caballus),
vacas (Bos taurus), burros (Equus asinus), cabras-monteses (Capra ibex), gamos
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

(Dama dama), corços (Capreolus capreolus) e javalis (Sus scrofa) (que apesar de
serem omnívoros, estavam incluídos na mesma rota).

• Apoio ao projeto “Monitorização de ninhos de aves cavernícolas”.


Em dezembro iniciou-se na área do PBG um projeto de monitorização de
ninhos de aves cavernícolas (Figura 33). Este foi desenvolvido por uma estagiária da
Licenciatura de Biologia da Universidade de Aveiro com a qual tinha o orientador em
comum (Eng. Hugo Oliveira). No arranque do projeto, após uma reunião entre os três,
ficou definido que iria ajudar a minha colega no arranque do seu projeto de estágio,
identificando, limpando e desinfetando as caixas-ninho já existentes no Parque. Este
apoio decorreu durante 2 meses (dezembro de 2021 e janeiro de 2022), sendo que
depois, até ao final do meu estágio, fui acompanhando os resultados que ela estava a
obter acerca da distribuição e colocação de novas caixas-ninho, espécies nidificantes
e taxas de ocupação.

Figura 33 - Ninho de chapim-real (Parus major) com 7 ovos e 1 cria (à esquerda); caixa-ninho na árvore (à direita)

• Captura de ginetas (Genetta genetta) e bufo-real (Bubo bubo).


Com a necessidade de fazer um check-up veterinário à população de ginetas
em cativeiro do Parque, foi-me pedida ajuda na sua captura para posterior transporte
para a clínica veterinária. Assim, auxiliando a tratadora Susana, capturamos os 5
indivíduos existentes num habitat da Casa do Chasco. O mesmo aconteceu em
relação ao bufo-real, que apresentava uma doença ocular, sendo necessária a sua
captura para um diagnóstico veterinário.
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

• Maneio e alimentação de gansos-comuns (Anser anser) e gansos-de-


faces-brancas (Branta leucopsis).
Os gansos-comuns e os gansos-de-faces-brancas (Figura 34) são os únicos
animais do Parque soltos de manhã e recolhidos no final do dia. Como estas aves
habitam num espaço onde, alguns, outros animais conseguem ter acesso, é feito este
maneio para evitar a predação por raposas (Vulpes vulpes) e lontras (Lutra lutra) que
se encontram em estado selvagem no Parque. Por uma questão logística, tendo em
conta que este habitat se localiza perto dos cercados das aves de rapina diurnas, e
todos os dias de estágio passava por ele, fiquei responsável por soltar, monitorizar e
alimentar as duas espécies de gansos.

Figura 34 - Gansos-de-faces-brancas e gansos-comuns no lago do habitat

• Controlo e captura dos espécimes de Procambarus clarkii (espécie


exótica invasora).
Procambarus clarkii (Girard, 1852) é um crustáceo decápode de água doce,
nativo da América do Norte, nomeadamente centro-sul dos Estados Unidos da
América e nordeste do México. Foi datada a sua primeira presença em Portugal em
1979, após dispersarem de stocks em aquacultura, em Badajoz, Espanha, por volta de
1973 (Ramos & Pereira, 1981). Atualmente, a espécie encontra-se em todo o território
nacional e ocorre principalmente em rios de baixa altitude, onde o fluxo é mais lento e
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

a vegetação aquática é mais abundante (Filipe et al., 2017). P. clarkii tem associado à
sua presença em Portugal vários impactos ecológicos com efeitos negativos
relacionados com algas, invertebrados, anfíbios, qualidade da água e interrupção das
taxas de decomposição (Pereira, 2019). Considerado uma praga nos arrozais
portugueses, estima-se que P. clarkii represente perdas de 1 milhão de euros por ano,
interferindo ao destruir as mudas de arroz, fazendo escavações e atrair predadores
que podem pisotear os arrozais (Anastácio et al., 2019).
No Parque Biológico de Gaia, há registada a presença P. clarkii no lago que se
encontra dentro do cercado das águias-cobreiras, onde já habitava há alguns anos
uma população desta espécie exótica invasora. Em fevereiro, procedi ao controlo e à
captura dos espécimes aí existentes (Figura 35). Com o recurso a duas armadilhas de
captura de crustáceos colocadas nos dois pontos de saída de água do lago para o
exterior, o lago foi esvaziado de forma à maioria dos indivíduos se deslocarem em
direção às armadilhas pelo movimento da água. Os restantes indivíduos que não
foram capturados pelas armadilhas, ficaram no fundo do lago, junto com alguns
sedimentos, e foram capturados com uma pá e um camaroeiro. Mais tarde, todos eles
foram utilizados nos planos alimentares de animais do Parque. Desta forma,
contribuiu-se para o controlo de uma população e o impedimento da proliferação de
uma espécie exótica invasora presente no PBG.

Figura 35 - Lago do habitat das águias-cobreiras (à esquerda) e P. clarkii que foram capturados no balde (à direita)

• Sessão de Educação Ambiental na Escola Ciência Viva.


Segundo a UNESCO (2005), a educação ambiental “é uma disciplina bem
estabelecida que enfatiza a relação dos homens com o ambiente natural, as formas de
conservá-lo, preservá-lo e de administrar os seus recursos adequadamente". Esta tem
cada vez mais importância na sociedade e a sua aprendizagem é fulcral para o
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

desenvolvimento do ser humano pois esta “(…) deve ajudar a desenvolver uma
consciência ética sobre todas as formas de vida com as quais o ser humano
compartilha este planeta, respeitando os seus ciclos vitais e impondo limites à
exploração dessas formas de vida pelos seres humanos” (WWF, 2000).
Nos dias de hoje, a educação ambiental tornou-se uma ferramenta fundamental
no combate à destruição do ambiente no qual todos os seres vivos estão inseridos e é
cada vez mais utilizada no ambiente escolar, dando a conhecer às crianças e aos
jovens toda a vida existente neste planeta e todas as questões relacionadas com o
meio ambiente, ajudando-os a desenvolver uma visão crítica em torno do tema e
sensibilizando-os para uma convivência saudável com a natureza (Lima, 2004;
Loureiro, 2019).
No dia 4 de março de 2022 tive a oportunidade de dinamizar a atividade
“Encontro com o Cientista”, na Escola Ciência Viva, com o tema “Enriquecimento
Ambiental em Aves de Rapina Diurnas” (Figura 36). Após o convite feito pela
professora Rita Peixoto desafiando-me a orientar a atividade com duração de 2 horas,
tinha como objetivo dar uma palestra para uma turma do 4º ano (1º ciclo), sobre
enriquecimento ambiental e apresentar o trabalho que estava a desenvolver ao longo
do estágio.
Assim, o plano da atividade consistiu numa apresentação sobre “O que é o
enriquecimento ambiental e para o que este serve”, sendo tema introdutório para
depois as crianças entenderem melhor em que consistia o meu estudo e qual o
conceito de “Enriquecimento Ambiental”. Adequando o discurso à faixa-etária do
público e ligando o conteúdo do tema a questões do quotidiano para facilitar a
aprendizagem, fui intercalando a apresentação com perguntas e jogos para tornar a
palestra mais dinâmica e interessante. Após a apresentação teórica, inquiri-os se
queriam experimentar a construção de uma técnica de enriquecimento, havendo um
unânime interesse. Após desenvolverem uma técnica de enriquecimento ambiental, os
alunos acompanharam-me para dentro do Parque e até ao habitat das águias-
cobreiras e dos grifos e testemunharam a introdução nos habitats dessa técnica
construída por eles e a reação dos indivíduos à mesma. O interesse demonstrado pelo
grupo de alunos foi constante ao longo de toda a sessão e as respostas dadas pelos
alunos quando estes eram inquiridos ao longo da atividade foram acertadas, obtendo
um feedback positivo em relação à partilha da mensagem, aquisição de novos
conhecimentos e à atenção do grupo. Desta forma, dei o meu contributo para a
educação ambiental daquelas crianças sobre um tema relacionado à conservação de
espécies (nomeadamente, o enriquecimento ambiental).
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Figura 36 - Sessão de Educação Ambiental na atividade "Encontro com o Cientista"

• Desenvolvimento de enriquecimento físico para raposas (Vulpes vulpes).


Em março, a equipa de manutenção do Parque fez uma intervenção no
cercado das raposas (Vulpes vulpes). Substitui-se parte da cerca, removeram-se
árvores que estavam podres e taparam-se as tocas escavadas pelas duas raposas lá
cativas. Para estas mudanças, as raposas tiveram de ser retiradas do habitat
tornando-se uma boa oportunidade para a aplicação de enriquecimento físico.
Juntamente com outro estagiário, que se encontra a concluir a licenciatura de Biologia
da Universidade de Aveiro, reestruturou-se todo o enriquecimento físico no habitat das
raposas. Criou-se uma toca à superfície, colocaram-se novos trocos e mudou-se a
disposição de alguns já existentes, fez-se uma ponte que permite aos indivíduos
atravessarem de um cepo para uma árvore (dando-lhes a possibilidade de poderem
escalá-la) e plantaram-se algumas espécies arbustivas: gilbardeira (Ruscus aculeatus)
e urze-roxa (Erica cinerea), de forma a dar alguma cobertura vegetal (Figura 37).

Figura 37 - Toca (à esquerda) e tronco suspenso (à direita)


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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

6. Conclusão
No estudo desenvolvido no Parque Biológico de Gaia, no contexto de estágio
curricular, pretendeu-se desenvolver diferentes técnicas de enriquecimento ambiental
para aves de rapina diurnas em cativeiro, devido à falta de bibliografia sobre este tema
neste grupo específico de aves. No entanto, sobretudo devido às particularidades dos
grupos (e.g., grupos muito pequenos, por vezes formados por um ou dois indivíduos;
historial clínico relevante), os resultados obtidos devem ser interpretados com o
cuidado necessário antes de qualquer esforço de aplicação das técnicas testadas em
grupos mais alargados de aves em distintas condições físicas.
Em relação aos etogramas das quatro espécies, todos estes aumentaram
comparativamente aos etogramas inicialmente obtidos, tendo sido atualizados após o
estudo (Anexos 6 a 9). O grupo dos grifos foi o que apresentou um reportório
comportamental mais extenso, em claro contraponto com o das águias-calçadas.
Ao longo dos oito meses de estágio, não foram avistados quaisquer
comportamentos estereotipados nas aves. Apesar dos animais do estudo se
encontrarem em cativeiro, estes estão inseridos num meio que se quis aproximado
aquele que serve de habitat natural das espécies (com limitações, obviamente), e são
continuamente estimulados por outros animais selvagens presentes no Parque,
nomeadamente passeriformes, micromamíferos, répteis e invertebrados que
conseguem entrar nos cercados. Todos estes fatores ajudam a fomentar um meio de
cativeiro mais estimulante, o que poderá justificar a aparente ausência de
estereotipias. Ainda assim, quando iniciei o meu trabalho no Parque, apenas o búteo
assumia um comportamento claro de antecipação à hora de alimentação. No entanto,
com treino e paciência, este comportamento desapareceu em fevereiro, conseguindo
iniciar as observações para o estudo, em março, sem a ocorrência deste.
Em geral, ainda que de forma subtil, houve uma diminuição do tempo de
inatividade das quatro espécies com a presença do EA. Apesar disso, só apenas
alguns dos enriquecimentos é que parecem ter contribuído de forma mais clara para
esta diminuição. Após a avaliação, verificou-se que as técnicas de enriquecimento
alimentar foram mais eficazes do que as técnicas de enriquecimento sensorial.
Contudo, com a aplicação dos enriquecimentos, não houve nenhuma reação de fuga
por parte dos indivíduos. Estes, apenas demonstraram indiferença, interesse ou
alguma interação com o EA colocado no recinto. Isto significa que, aparentemente,
nenhum dos enriquecimentos, mesmo aqueles que não foram eficazes para o fim
pedido pelo Parque, interferiram negativamente no bem-estar animal. Em relação às
técnicas de enriquecimento cujos resultados foram inconclusivos, estes devem ser
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

testados num maior número de indivíduos, que estejam em melhores condições, de


modo a generalizar para a espécie (em cativeiro).
Uma vez terminado, num esforço de autocrítica, considero que o trabalho
apresentou algumas limitações, sendo a dependência dos materiais disponíveis no
Parque uma delas. O pedido de desenvolvimento de enriquecimentos com materiais
biológicos ou biodegradáveis, para além de desafiante, também acabou por ser uma
limitação, pois impossibilitou a testagem de algumas técnicas que poderiam ser mais
eficazes do que algumas das aplicadas.
Ocorreram ainda vários acontecimentos que condicionaram o comportamento
dos indivíduos em estudo, como a época reprodutiva e a alimentação inadequada dos
grifos num dos períodos da minha ausência (fins-de-semana). A minha presença perto
dos habitats, durante as observações, também fez com que a avaliação da eficácia do
enriquecimento fosse potencialmente menos precisa, como no caso das águias-
calçadas, que se inibiam com a presença de humanos junto do recinto.
O estudo realizou-se, ainda, com muitas variáveis carecendo de controlo,
como o clima, a frequência e a quantidade de visitantes junto aos observatórios, as
deslocações dos funcionários pelo Parque e o trabalho exercido por parte de membros
da equipa de jardinagem e manutenção perto dos habitats. Por fim, o número de
exemplares de cada uma das espécies de rapinas diurnas presentes no Parque (e os
diversos historiais clínicos) influenciaram os resultados, o que me faz salientar,
novamente, a necessidade de cuidado na generalização dos mesmos.
Mesmo com todas as limitações acima referidas, os enriquecimentos que mais
impactaram a diminuição do tempo de inatividade das várias espécies foram
adicionados aos planos de EA da espécie em questão. Sugeri que a sua aplicação
deva ser feita apenas uma vez por semana, de forma a evitar a habituação dos
indivíduos ao enriquecimento. Os enriquecimentos cuja eficácia foi questionável,
devem ser novamente estudados, mas com maior número de aplicações e,
consequentemente, com maior tempo de observação, de forma a aumentar a certeza
sobre a sua eficácia. Nesta abordagem preliminar, os enriquecimentos cujo custo-
benefício foi menos óbvio podem ser descartados para as espécies em questão.
Para além do cumprimento dos principais objetivos propostos pelo Parque,
todas as restantes tarefas que foram surgindo ao longo do período de estágio, foram
realizadas com sucesso. Estas enriqueceram o meu estágio e a minha formação, pois
permitiram-me adquirir conhecimentos teóricos e práticos sobre outros temas da área
da Zoologia e da Ecologia, para além do tema principal: o Enriquecimento Ambiental.
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Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

7. Referências bibliográficas
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8. Anexos
Anexo 1 – Mapa do Parque Biológico de Gaia
FCUP 84
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Anexo 2 – Exemplo de folha de registo das observações


Espécie – Águias-cobreiras (Circaetus gallicus)

Dia e hora: __/__/__ às __h__min Condições atmosféricas:

Enriquecimento aplicado:

Comportamento/Tempo (min) 0 1 2 3 4 5 6 7 … 58 59 60
Descansar
Dormir
Bocejar
Espreguiçar
Vigiar parado
Voar
Caminhar
Saltar
Preening
Limpar o bico
Defecar
Coçar a cabeça
Sacudir
Apanhar sol
Comer
Vocalizar
Explorar
Fugir
Bater as asas
Interação com enriquecimento
Novo comportamento ( )

Observações:
FCUP 85
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Anexo 3 – Habitats antes e depois da sua limpeza e


manutenção
Habitat das águias-cobreiras (C. gallicus):

Habitat dos grifos (G. fulvus):

Habitat do búteo (B. buteo):


FCUP 86
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Habitat das águias-calçadas (H. pennatus):


FCUP 87
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Anexo 4 – Planos alimentares das 4 espécies


FCUP 88
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Anexo 5 – Exemplo de ficha técnica de um enriquecimento


FCUP 89
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Anexo 6 – Etograma das águias-cobreiras, atualizado após o


estudo

Etograma Circaetus gallicus (Águia-cobreira)


Categoria Atividade Descrição Padrão
Animal com movimentos de
Descansar cabeça lentos e parado no Estado
local.
Animal relaxado, com a
Dormir cabeça encostada ao corpo e Estado
com os olhos fechados.
Descanso
Animal abre e fecha o bico
Bocejar lentamente, durante 1/2 Evento
segundos, sem emitir som.
Animal estica, em simultâneo,
Espreguiçar a perna e a asa do mesmo Evento
lado.
Animal com movimentos de
Vigiar parado cabeça rápidos e parado no Estado
local.

Vigia Animal desperto e alerta, com


movimentos da cabeça
Vigiar em
rápidos e movendo-se de Evento
movimento
lugar tentando localizar um
som ou movimento.
Voar Animal desloca-se em voo. Evento
Animal desloca-se a passo
Caminhar Evento
de cabeça erguida.
Locomoção Animal salta para alguma
Saltar Evento
superfície.
Animal desloca-se em
Correr Evento
corrida.
Animal faz a
Preening manutenção/limpeza das Estado
penas com recurso do bico.
Animal raspa/roça o bico
Limpar o bico Evento
numa superfície.
Animal excreta fezes,
Defecar Evento
levantando a zona cloacal.
Animal coça a cabeça com as
Manutenção Coçar a cabeça Evento
garras.
Animal agita o corpo ou a
Sacudir Evento
cauda, sem sair do local.
Animal com as asas
parcialmente ou totalmente
Apanhar sol Estado
abertas para receber calor ou
secar as penas.
Tomar banho Animal dentro do lago agita o Evento
FCUP 90
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

corpo e a mergulha a cabeça


na água.
Alimentação Comer Animal ingere o alimento. Evento
Vocalização Vocalizar Animal emite sons. Evento
Animal desloca-se pelo
habitat com a cabeça baixa, a
Exploração Explorar Evento
olhar para o chão. Bica ou
arranha a terra.
Animal em fuga (a correr ou a
Fuga Fugir voar) devido ao aparecimento Evento
de alguma pessoa.
Animal interage com o item
Interação com Interagir com o de enriquecimento dentro do
o enriquecimento seu habitat. O item de Evento
enriquecimento ambiental enriquecimento pode conter
ou não conter alimento.
Animal bate as asas sem sair
Outro Bater as asas Evento
do local.

Tempo de observação = 50 horas


FCUP 91
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Anexo 7 – Etograma dos grifos, atualizado após o estudo

Etograma Gyps fulvus (Grifo)


Categoria Atividade Descrição Padrão
Animal com movimentos de
Descansar cabeça lentos e parado no Estado
local (de pé ou deitado).
Animal estica, em simultâneo,
Descanso Espreguiçar a perna e a asa do mesmo Evento
lado.
Animal relaxado, com a
Dormir cabeça recolhida junto ao Estado
corpo.
Animal com movimentos de
Vigiar parado cabeça rápidos e parado no Estado
local.
Vigia Animal desperto e alerta,
Vigiar em desloca-se pelo habitat com o
Evento
movimento olhar sempre fixo num
ponto/local.
Voar Animal desloca-se em voo. Evento
Animal desloca-se a passo,
Caminhar com as asas recolhidas e Evento
Locomoção cabeça erguida.
Animal desloca-se em
Correr Evento
corrida.
Animal salta para uma
Saltar Evento
superfície.
Animal faz a
Preening manutenção/limpeza das Estado
penas com recurso do bico.
Defecar Animal excreta fezes. Evento
Animal coça a cabeça com as
Coçar a cabeça Evento
garras.
Animal deitado ou na vertical,
Apanhar sol com as asas parcialmente ou Estado
Manutenção totalmente abertas.
Animal raspa/roça o bico
Limpar o bico Evento
numa superfície.
Animal agita o corpo ou a
Sacudir Evento
cauda, sem sair do local.
Animal dentro do lago agita o
Tomar banho corpo e a mergulha a cabeça Evento
na água.

Comer Animal ingere o alimento. Evento


Alimentação
Beber Animal ingere água. Evento
FCUP 92
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Animal faz movimentos


Regurgitar contínuos do pescoço para
expulsar.
Vocalização Vocalizar Animal emite sons. Evento
Animal persegue um
Perseguir indivíduo da mesma ou de Evento
outra espécie.
Animal afasta outro indivíduo
da mesma espécie do local
Disputar espaço Evento
em que ele se encontra, para
este ocupar o seu lugar.
Interação Animal bica indivíduo da
Bicar Evento
social mesma espécie.
Animal disputa/rouba
alimento a indivíduo da
Disputar alimento Evento
mesma espécie, lutando com
o uso do bico e das garras.
Animal executa a
Allopreening limpeza/manutenção das Evento
penas de outro indivíduo.
Animal em fuga (a correr ou a
Fuga Fugir voar) devido ao aparecimento Evento
de alguma pessoa.
Animal desloca-se pelo
habitat com comportamento
Exploração Explorar exploratório (olhando para o Evento
chão de cabeça baixa e
bicando diferentes coisas).
Um indivíduo em cima de
outro. A fêmea, que se
encontra em baixo, está
Acasalar Evento
deitada enquanto o macho
está de pé em cima dela
bicando-lhe o pescoço.
Animal a recolher galhos
Recolher matéria
Reprodução raízes ou folhas para Evento
para o ninho
transportar para o ninho.
Animal a dispor os galhos e
raízes num determinado
Construir ninho Evento
local, amontoando-os,
construindo um ninho.
Animal deitado em cima do
Postura Evento
ninho, colocando um ovo.
Animal interage com o item
Interação com Interagir com o de enriquecimento dentro do
o enriquecimento seu habitat. O item de Evento
enriquecimento ambiental enriquecimento pode conter
ou não conter alimento.
FCUP 93
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Animal bate as asas sem sair


Bater as asas Evento
Outro do local.
Espirrar Animal espirra. Evento

Tempo de observação = 50 horas


FCUP 94
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Anexo 8 – Etograma do búteo, atualizado após o estudo

Etograma Buteo buteo (Búteo)


Categoria Atividade Descrição Padrão
Animal com movimentos de
Descansar cabeça lentos e parado no Estado
local.
Animal relaxado, com a
Dormir cabeça encostada ao corpo Estado
e com os olhos fechados.
Descanso
Animal estica, em
Espreguiçar simultâneo, a perna e a asa Evento
do mesmo lado.
Animal abre e fecha o bico
Bocejar lentamente, durante 1/2 Evento
segundos, sem emitir som.
Animal com movimentos de
Vigiar parado cabeça rápidos e parado no Estado
local.

Vigia Animal desperto e alerta,


com movimentos da cabeça
Vigia em
rápidos e movendo-se de Evento
movimento
lugar tentando localizar um
som ou movimento.
Voar Animal desloca-se em voo. Evento
Animal salta para uma
Saltar Evento
superfície.
Locomoção Animal desloca-se a passo,
Caminhar Evento
de cabeça erguida.
Animal desloca-se em
Correr Evento
corrida.
Animal faz a
Preening manutenção/limpeza das Estado
penas com recurso do bico.
Animal excreta fezes,
Defecar Evento
levantando a zona cloacal.
Animal coça a cabeça com
Coçar a cabeça Evento
as garras.
Animal agita o corpo ou a
Manutenção Sacudir Evento
cauda, sem sair do local.
Animal raspa/roça o bico
Limpar o bico Evento
numa superfície.
Animal a expelir líquido pela
Vomitar Evento
boca.
Animal dentro do lago agita
Tomar banho o corpo e a mergulha a Evento
cabeça na água.
FCUP 95
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Alimentação Comer Animal ingere o alimento. Evento


Vocalização Vocalizar Animal emite sons. Evento
Animal desloca-se pelo
habitat com comportamento
Exploração Explorar exploratório, bicando e Evento
agarrando folhas, ramos e
bolotas (entre outros).
Animal a recolher galhos
Recolher matéria
raízes ou folhas para Evento
para o ninho
transportar para o ninho.

Reprodução Animal a dispor os galhos,


folhas e raízes num
Construir ninho determinado local, Evento
amontoando-os, construindo
um ninho.
Animal interage com o item
Interação com Interagir com o de enriquecimento dentro do
o enriquecimento seu habitat. O item de Evento
enriquecimento ambiental enriquecimento pode conter
ou não conter alimento.
Animal bate as asas sem
Bater as asas Evento
sair do local.
Animal voa em direção do
Outro vidro do observatório,
Aproximação do
quando há presença de Evento
observatório
algum ser humano nesse
local.

Tempo de observação = 50 horas


FCUP 96
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Anexo 9 – Etograma das águias-calçadas, atualizado após o


estudo

Etograma Hieraaetus pennatus (Águia-calçada)


Categoria Atividade Descrição Padrão
Animal com movimentos de
Descansar cabeça lentos e parado no Estado
local.
Animal estica, em simultâneo,
Descanso Espreguiçar a perna e a asa do mesmo Evento
lado.
Animal relaxado, parado no
Dormir local e com os olhos Estado
fechados.
Animal com movimentos de
Vigiar parado cabeça rápidos e parado no Estado
local.

Vigia Animal desperto e alerta, com


movimentos da cabeça
Vigiar em
rápidos e movendo-se de Evento
movimento
lugar tentando localizar um
som ou movimento.
Voar Animal desloca-se em voo. Evento
Animal desloca-se a passo,
Caminhar com as asas recolhidas e Evento
cabeça erguida.
Locomoção Animal salta para uma
Saltar Evento
superfície.
Animal sobe pela vedação do
Trepar habitat, agarrando-se pelas Evento
garras e batendo as asas.
Animal faz a
Preening manutenção/limpeza das Estado
penas com recurso do bico.
Animal excreta fezes,
Defecar Evento
levantando a zona cloacal.
Animal agita o corpo ou a
Sacudir Evento
cauda, sem sair do local.
Manutenção Animal coça a cabeça com as
Coçar a cabeça Evento
garras.
Animal com as asas
parcialmente ou totalmente
Apanhar sol Estado
abertas para receber calor ou
secar as penas.
Animal raspa/roça o bico
Limpar o bico Evento
numa superfície.
Alimentação Comer Animal ingere o alimento. Evento
FCUP 97
Enriquecimento Ambiental em Aves de Rapina Diurnas

Animal em fuga (a correr ou a


Fuga Fugir voar) devido ao aparecimento Evento
de alguma pessoa.
Animal interage com o item
Interação com Interagir com o de enriquecimento dentro do
o enriquecimento seu habitat. O item de Evento
enriquecimento ambiental enriquecimento pode conter
ou não conter alimento.
Animal bate as asas sem sair
Outro Bater as asas Evento
do local.

Tempo de observação = 50 horas

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