I Caro Dos Santos Dasilva
I Caro Dos Santos Dasilva
I Caro Dos Santos Dasilva
RESUMO
A construção civil é hoje uma das atividades mais importantes do país, sendo
responsável por grande movimento de renda e geradora de empregos. Em contra
partida, o Brasil possui um dos maiores consumos de cimentos do mundo, e um dos
métodos construtivos mais conservadores e com baixos índices de racionalização,
no quesito logística e aproveitamento. No mundo inteiro a indústria da construção
civil, é uma das maiores produtoras de resíduos sólidos, o qual quando não dado o
devido destino acabam em depósitos clandestinos, gerando diversos problemas
ambientais. Este estudo tem como objetivo central, abrir uma nova janela de
possibilidades para re-utilização destes resíduos, que outrora já se provaram ser
eficientes em estudos passados. Porém para um material se firmar como alternativa
na substituição de outro, se faz necessário o estudo de diversas situações, entre
elas seu comportamento térmico. Nesse contexto, foram produzidos três traços, um
com 100 % de agregado natural, e outros dois com substituições parciais de 30 e 60
% por agregado reciclado, em uma proporção de 1:4 em massa. Os corpos-de-prova
ficaram sob cura submersa durante um período de 28 dias, para após serem
estocadas ate atingirem a idade de 60 dias, quando então foram expostos a altas
temperaturas. As amostras foram ensaiadas nos quesitos Compressão Axial, Tração
por Compressão Diametral e Módulo de Elasticidade. Resultados foram
apresentados em gráficos e tabelas, mostrando que além do quesito mecânico,
quando se trata de exposição a altas temperaturas o concreto com substituição
parcial de agregado natural por agregado reciclado, também se torna uma
alternativa viável na construção civil do século XXI.
1. INTRODUÇÃO
O concreto é o material mais disseminado e utilizado no mundo, sendo o alicerce
base da construção civil (PEDROSO, 2009). No Brasil o mesmo possui hegemonia
sendo o principal material em mais de 90 % das obras. Contudo a construção civil é
ao mesmo tempo uma das maiores produtoras de resíduos sólidos, que causam
grandes impactos ambientais.
A quantidade de resíduos produzidos pela construção civil chegam entre 0,23 a 0,66
ton/hab/ano (PINTO, 1999).
2
Artigo submetido ao Curso de Engenharia Civil da UNESC -
como requisito parcial para obtenção do Título de Engenheiro Civil
Quando não é dada uma destinação final adequada a estes resíduos eles acabam
sendo depositados clandestinamente em terrenos baldios, áreas de preservação
permanente, margens de rios e córregos, vias e logradouros públicos. O descarte
indevido contribui para problemas ambientais, como assoreamento e entupimento de
cursos d’agua, que geram enchentes entre outros problemas ambientais. (Portal
resíduos sólidos, 2015).
O uso dos resíduos da construção civil, como opção para substituir agregados do
concreto, busca dar um destino usual a boa parte destes resíduos, preservando a
qualidade do produto final e do meio que o cerca. De acordo com a Resolução do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 2002) nº 307, Art. 2° Inciso I:
“Resíduos Sólidos da Construção Civil são os provenientes de construções,
reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da
preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos,
concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e
compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros,
plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de
obras, caliça ou metralha”.
Entre os fatores que mais diferenciam os agregados comuns dos reciclados, é a
porosidade, que também é o principal fator responsável pelos diferenciais de
resistência mecânica entre corpos-de-prova de concreto comum e de concreto com
presença de agregado reciclado. Ao utilizar resíduos mistos observa-se que a
resistência à compressão passa a diminuir quando há uma substituição de mais de
50 % dos agregados naturais pelos agregados graúdos reciclados, devido à
necessidade do aumento da relação agua/cimento, que advém da porosidade
(VIEIRA, 2003).
Figueiredo (2008) acrescenta: agregados reciclados são mais porosos que os
agregados de rochas britadas e areias naturais. Assim, a resistência e durabilidade
deste outro tipo de concreto são controladas, não apenas pela porosidade da pasta
de cimento, mas também pela porosidade do agregado, que facilmente ultrapassa
os 10 %. Assim, a diferença essencial entre um concreto convencional e um
concreto com agregado reciclado é a porosidade.
O concreto tem um comportamento bem favorável quando exposto ao fogo, pois ele
não é combustível, e continua tendo um desempenho satisfatório mesmo em um
período longo de exposição, não expelindo gases tóxicos (NEVILLE, 1997).
Contudo, o concreto sofre modificações macro e micro estruturais quando o mesmo
é submetido em altas temperaturas. Estas modificações podem ser: mudança na
coloração, redução da resistência mecânica, módulo de elasticidade, assim como
modificações cristalinas nas propriedades químicas, com o derretimento de alguns
componentes constituintes (NEVILLE, 1997; LIMA, SILVA FILHO & CASONATO
2003).
A ação térmica produz grande aumento da temperatura nos elementos estruturais e
variações térmicas que modificam o comportamento atômico das moléculas do
material. No concreto endurecido sobre altas temperaturas há alterações físico-
químicas que alteram as suas propriedades mecânicas, tais como, módulo de
elasticidade e resistência à compressão e tração. Há pressões nos poros devido à
evaporação da umidade, as quais produzem formação de tensões térmicas na
microestrutura do concreto endurecido, há alongamentos excessivos e o
aparecimento de esforços solicitantes adicionais (COSTA & SILVA, 2004).
O concreto sofre mudanças gradativas na sua coloração quando o mesmo é exposto
ao calor. As mudanças nas propriedades mecânicas podem estar relacionadas a
esse fator. Portanto após um incêndio em uma estrutura de concreto, é importante
avaliar a coloração da mesma para verificar se há possíveis relações com as
reduções de resistência e módulo de elasticidade (SILVA, 2009).
O concreto sofre poucas alterações na resistência quando expostos a temperaturas
de até 300 ºC e que acima dos 800 ºC ocorrem perdas significativas da resistência.
(RODRIGUES, 1994).
De acordo com Hansen (2001) e confirmado nos estudos de Viana (2015) a
presença de agregado reciclado em substituição do agregado graúdo no concreto,
gera uma perda de 15 % a 40 % no quesito modulo de elasticidade. Uma variação
de até 10 % no quesito Tração. Porém no quesito compressão axial, pode haver
aumento na resistência a compressão axial, como visto no estudo realizado por
Viana (2015), onde na mistura com presença de 30 % de agregado reciclado, houve
um aumento de 5,61 % em sua resistência a compressão. Contudo como
confirmado nos estudos de ambos os pesquisadores, as resistências em geral
2. MATERIAIS E MÉTODOS.
𝑝𝑚 = 𝑚1 − 𝑚2
Equação 1 – Perda de Massa.
Onde:
pm = perda de massa do corpo de prova (g);
m1 = massa do corpo de prova de referência (g), antes do aquecimento;
m2 = massa do corpo de prova (g) 24 horas após ser exposto à altas temperaturas;
Para este ensaio foi utilizado uma Prensa Hidráulica da marca EMIC modelo PC 200
com capacidade máxima de 2000KN.
Segundo a NBR 5739:2007, o cálculo da resistência a compressão axial é dado pela
Equação 2.
4𝐹
𝑓𝑐 =
𝜋𝐷 2
Equação 2 – Compressão Axial.
Onde:
𝑓𝑐 é a resistência a compressão, em megapascals (Mpa).
Para este ensaio é utilizado a mesma prensa PC200 da marca EMIC utilizada no
ensaio de compressão axial (Figura 10).
Onde:
𝑓𝑐𝑡, 𝑠𝑝 é a resistência à tração por compressão diametral, expressa com três
algarismos significativos, em megapascals (Mpa).
𝐹 é a força máxima obtida no ensaio, expressa em Newtons (N).
𝛥𝜎 −3 𝜎𝑏 − 𝜎𝑎 −3
𝐸𝑐𝑖 = 10 = 10
𝛥𝜀 𝜀𝑏 − 𝜀𝑎
Equação 4 – Módulo de Elasticidade.
Onde:
𝜎𝑏 é a tensão maior, em megapascals (𝜎𝑏 = 0,3𝑓𝑐);
𝜎𝑎 é a tensão menor, em megapascals (𝜎𝑎 = 0,5 𝑀𝑝𝑎);
𝜀𝑏 é a deformação específica média dos corpos ensaiados na tensão de 0,3 Fc;
𝜀𝑎 é a deformação específica média dos corpos ensaiados na tensão de 0,5 Mpa;
Para este ensaio foi utilizado uma prensa da marca EMIC PC200 CS com
capacidade máxima de 2000 KN, com computador externo com software TESC –
Test Script, conforme figura 12.
Figura 12 – Prensa Hidráulica EMIC PC200 CS.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste capítulo serão expostos os resultados obtidos dos ensaios mecânicos
solicitados, nas diferentes exposições a temperaturas. Os resultados estão
expressos em gráficos e tabelas.
Perda de Massa
4000
3900
3800
3700
Massa (g)
3600
Referência
3500
3400 30% AR
3300 60% AR
3200
3100
23 100 400 800
Temperatura (ºC)
Resistência à Compressão
60
50
Resistência (MPA)
40
30 Referência
20 30% AR
60% AR
10
0
23 100 400 800
Temperatura (ºC)
É possível observar neste gráfico, o comportamento dos três traços com o decorrer
do aumento da temperatura. Na temperatura ambiente os traços de 30 % AR e 60 %
AR, apresentaram respectivamente valores de resistência a compressão de 22,81 %
e 38,60 % menores do que o traço referencia.
Analisando especificamente o comportamento do traço referencia com o decorrer do
aumento da temperatura, é possível observar uma queda de 8,77 % na temperatura
de 100 ºC, resistência ao qual retorna a ser a mesma da temperatura ambiente
quando exposto a temperatura de 400 ºC. Ao expor os corpos de prova do traço
referencia a 800 ºC, houve uma queda drástica na sua tensão ultima chegando uma
queda de 78,95 % de sua resistência inicial.
Diferente do traço referencia o traço de 30 % AR, começa com uma resistência
inicial mais baixa, e quando exposto a temperatura de 100 ºC recebe um ganho de
20,45 %, se tornando maior do que a do traço referencia para essa mesma faixa de
temperatura. Tal aumento se torna ainda mais significativo quando a temperatura
chega a 400 ºC, representando um aumento de 29,54 %, esse mesmo efeito
também foi observado por (SILVA e CIMOLIN, 2015). Da mesma maneira que o
traço referencia, o traço de 30% AR perde grande parte do seu desempenho ao ser
exposto a temperatura de 800ºC, perdendo cerca de 52,27% do seu potencial a
compressão, porém esse valor ainda é duas vezes maior que a resistência residual
do concreto referencia para esta mesma faixa de temperatura.
O traço 60 % AR, mostra valores mais baixos que os demais traços em todas as
faixas de temperatura, mostrando uma variação desprezível a sua exposição a
temperatura de 100 ºC, e recebendo um acréscimo de resistência de 34,28 % a 400
ºC. A temperatura de 800 ºC também afeta drasticamente o traço de 60 % AR,
minimizando sua resistência em 71,43 %.
Segundo Ferreira (2010), materiais mais porosos tem maior facilidade e menos
prejuízos em suas resistências com exposição a altas temperaturas. Devido ao fato
de terem maior quantidade e amplitude em seus poros, facilitando assim o processo
de expulsão das águas internas, se tornando menos sujeitas a lascamentos
explosivos, e aumentos de tensões internas.
A evaporação total da água capilar ocorre dentre 200 °C e 300 °C, e o processo de
desidratação do gel C-S-H termina próximo aos 400 °C (LIMA, 2004).
Isso explica o ganho de resistência de estruturas com agregado reciclado, que por
serem mais porosas, não recebem o ganho de tensão do efeito de poropressão.
Em temperaturas de 800 ºC, o concreto perde sua água de ligação se tornando cada
vez mais sujeito a destruição. Gerando assim quedas drásticas em sua resistência
(CASTRO, PANDOLFELLI, 2011).
Ao analisar os dados pelo método ANOVA, temos inicialmente a influencia direta do
fator Agregado Reciclado na resistência a compressão dos concretos, tendo alta
significância no quesito resistência inicial. Com o decorrer do aumento da
temperatura, tanto o traço 30% AR quanto o traço 60% AR obtiveram ganhos
significativos em suas resistência até a temperatura de 400 ºC, enquanto o traço
Referencia permaneceu sem alterações significativas. Na altura dos 400 ºC todos os
traços apresentaram valores de resistência semelhantes, sem variações
expressivas. Tais valores voltam a ser significativos quando expostos a temperatura
de 800ºC, onde o traço 30% AR apresentou resistência significativamente maior que
os demais traços.
5
4
Referência
3
30% AR
2
60% AR
1
0
23 100 400 800
Temperatura ºC
Módulo de Elasticidade
45
Módulo de Elasticidade (GPA)
40
35
30
25
Referência
20
15 30% AR
10 60% AR
5
0
23 100 400 800
Temperatura (ºC)
4. CONCLUSÕES.
Os concretos com presença de agregado reciclado apresentaram massas
menores como esperado, e sua perda com o avanço da temperatura foram
bem semelhantes ao do concreto tradicional.
Quando solicitados a compressão, os traços com presença de agregado
reciclado apresentaram inicialmente ganhos de resistência com o aumento da
temperatura, enquanto o concreto referencia mantia ou perdia resistência.
Isso pode advir da maior compactação do concreto convencional, que torna-o
mais suscetível, ao fenômeno de poropressão, diminuindo sua resistência
com a perda de água.
O quesito tração por compressão diametral obteve perdas significativas com o
decorrer do aumento da temperatura, contudo o traço de 30 % de AR
apresentou melhores resultados em todas as faixas estudadas.
Quanto ao módulo de elasticidade, as misturas de agregados reciclados
apresentaram maior deformação, principalmente quando seu teor de
substituição era mais elevado, como no traço de 60 % AR. Contudo o traço de
30 % AR apresentou um comportamento bem semelhante ao traço referencia,
obtendo variações mínimas, e estatisticamente insignificantes.
De forma geral a substituição parcial de 30 % AR apresentou ótimos
resultados, mostrando alta viabilidade, muitas vezes superiores, ou então
semelhantes ao do concreto referencia. Contudo substituições acima de 30%
UNESC- Universidade do Extremo Sul Catarinense – 2016/02
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Artigo submetido ao Curso de Engenharia Civil da UNESC -
como requisito parcial para obtenção do Título de Engenheiro Civil
6. REFERÊNCIAS
NEVILLE, Adam Matthew. Propriedades do Concreto. 2.ed. São Paulo: Pini, 1997.
p.391.
SILVA, Daiane dos Santos da. Propriedades Mecânicas Residuais Após Incêndio
de Concretos Usados na Construção Civil na Grande Florianópolis. 2009. 102p.
Curso de Pós-Gradução em Engenharia Civil, Univ. Fed. de Santa Catarina,
Florianópolis.
SILVA, Kelen Cristina Luiz dos Santos. Estudo do Efeito da fibra de polipropileno
no Concreto Quando Submetido à altas temperaturas (2015) 24p.