Avaliação Psicológica para Cirurgia Bariátrica - Prtáticas Atuais

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ABCD.

Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo)


Print version ISSN 0102-6720

ABCD, arq. bras. cir. dig. vol.27 supl.1 São Paulo 2014

https://doi.org/10.1590/s0102-6720201400s100015

ARTIGO DE REVISÃO

Avaliação psicológica para cirurgia bariátrica: práticas atuais


Carolina Aita FLORES

2
Trabalho realizado no programa de Pós-Graduação em Psicologia e Reeducação do Comportamento
Alimentar, do Instituto de Pesquisa e Gestão em Saúde, Porto Alegre, RS, Brasil

RESUMO

INTRODUÇÃO:

A prevalência da obesidade em nível mundial tem alarmado as instituições de saúde, a população e os


profissionais envolvidos no seu tratamento. A cirurgia bariátrica aparece como alternativa efetiva e
duradoura para a redução do peso e melhora geral da saúde. Nesse contexto, o psicólogo apresenta-se
como parte da equipe multiprofissional, responsável pela avaliação psicológica pré-operatória do candidato a
procedimento bariátrico.

OBJETIVO:

Verificar como são realizadas as avaliações psicológicas dos pacientes bariátricos, incluindo a identificação
dos recursos utilizados, fatores avaliados, duração do processo, protocolos existentes, bem como verificar a
importância dessa prática.

MÉTODO:

Revisão da literatura nacional e internacional, nos bancos de dados do PubMed e Scielo, com os descritores
"psychological assessment", "obesity", "surgery".

CONCLUSÕES:

Há consenso sobre os principais fatores psicológicos a serem investigados durante a avaliação pré-
operatória, e sobre a maior parte das contraindicações para o procedimento cirúrgico. A importância da
avaliação psicológica está bem estabelecida no campo da cirurgia bariátrica. Contudo, esta área necessita de
protocolo-padrão para nortear a conduta dos profissionais de saúde mental que trabalham com o paciente
bariátrico.

Palavras-Chave: Cirurgia bariátrica; Obesidade; Psicologia; Avaliação

ABSTRACT

INTRODUCTION:

The prevalence of obesity on a global scale has alarmed health institutions, the general population and
professionals involved in its treatment. Bariatric surgery has emerged as an effective and lasting alternative
for weight reduction and improved general health. In this context and as part of a multidisciplinary team,
psychologists are responsible for the preoperative psychological assessment of bariatric candidates.

AIM:
To investigate how psychological assessments are occurring, including the identification of utilized
resources; factors that are addressed; the duration of the process; existing protocols; and to evaluate the
importance of this practice.

METHOD:

A systematic review of national and international literature, through PubMed and Scielo's databases, using
"psychological assessment", "obesity" and "surgery", as keywords.

CONCLUSION:

There is an agreement about the main factors that should be investigated during the preoperative
assessment, as well as the main contraindications for the surgical procedure. The importance of the
psychological assessment is well established in the field of bariatric surgery. However, this area needs a
standard protocol to guide the mental health professionals that deal with bariatric patients.

Key words: Bariatric surgery; Obesity; Psychology; Evaluation

INTRODUÇÃO

A obesidade, nos últimos anos, tornou-se epidemia mundial e passou a ser o foco de atenção de
inúmeros estudos. Dados alarmantes da Organização Mundial de Saúde divulgados recentemente
revelaram que, em 2008, mais de 200 milhões de homens e 300 milhões de mulheres estavam obesos.
Além disso, 65% da população vivia em países em que o sobrepeso e a obesidade matavam mais do
que o baixo peso e a desnutrição26.

A elevada prevalência da obesidade, em nível mundial, tem alarmado as autoridades e exigido


esforços, por parte dos profissionais envolvidos em seu tratamento, incluindo médicos e demais
profissionais da área de saúde, no sentido de encontrar alternativas para o manejo adequado dessa
doença13. Nesse cenário, a cirurgia bariátrica vem sendo considerada a única alternativa efetiva no
manejo da obesidade, visto que oferece benefícios que vão além de perda de peso significativa e
prolongada, e inclui redução das comorbidades associadas, remissão de sintomas de depressão e
ansiedade, melhora no funcionamento sexual, aumento do nível de atividade e melhora geral da
qualidade de vida associada à saúde1,12.

No Brasil, o número de cirurgias bariátricas praticamente quadriplicou, aumentando de 16.000 em


2003, para 60.000 em 2010. Para que uma pessoa possa ser considerada candidata à cirurgia
bariátrica, é necessário que seu índice de massa corporal (IMC) seja maior do que 40 kg/m², ou esteja
acima de 35 kg/m² com comorbidades associadas à obesidade (diabete tipo II, apneia do sono,
hipertensão arterial, dislipidemia, doença coronariana, osteoartrites e outras). Além disso, é necessário
ter havido tratamento clínico prévio insatisfatório, por pelo menos dois anos 4.

Em complemento aos requisitos referentes ao peso e às comorbidades, em 1991 o Instituto Nacional


em Saúde dos Estados Unidos passou a encorajar abordagem multidisciplinar do candidato no período
pré-operatório, incluindo a avaliação psicológica anterior à operação, como parte essencial do
processo17. Do mesmo modo, o Consenso Bariátrico Brasileiro e o Conselho Federal de Medicina
endossaram essa prática, visto que reivindicam a presença de um psicólogo ou psiquiatra na equipe
multidisciplinar4.

De acordo com o Conselho Federal de Medicina, o psicólogo e/ou o psiquiatra que integram a equipe
responsável pela avaliação multidisciplinar pré-operatória, devem estar atentos para a ausência de uso
de substâncias, bem como de quadros psicóticos ou demenciais. Também são esses profissionais os
responsáveis em certificar de que o paciente possui nível intelectual e cognitivo de compreensão
acerca dos riscos da operação e cuidados inerentes a esse procedimento no período do pós-operatório
imediato e em longo prazo4.

Como visto anteriormente, a elevada prevalência da obesidade no Brasil impulsionou o crescimento no


número de procedimentos bariátricos, o que representa ampliação da atuação do psicólogo, no campo
da avaliação pré-operatória.
Destarte, esse trabalho por meio de uma descrição narrativa foi pensado com o propósito de efetuar
revisão da literatura centrada em como vem sendo realizada a avaliação psicológica do paciente
bariátrico, considerando estudos realizados sobre o assunto.

MÉTODO

Foi realizada ampla pesquisa no banco de publicações do Pubmed e Scielo, sem delimitação de período.
Os descritores utilizados de forma cruzada foram: "psychological assessment", "obesity", "surgery" e
"avaliação psicológica", "obesidade", "cirurgia". Selecionaram-se, principalmente, artigos com o texto
completo disponível para a leitura, artigos reconhecidos como "clássicos" da área e publicações
diretamente relacionadas ao estudo da avaliação psicológica para cirurgia bariátrica.

Fatores relevantes à avaliação psicológica

Para determinar a aptidão de um candidato à cirurgia bariátrica, diferentes aspectos da vida do


paciente são avaliados pelos psicólogos. Dentre os fatores psicossociais merecedores de atenção, os
mais citados nas publicações foram: compreensão do paciente quanto à operação e as mudanças de
estilo de vida necessárias; expectativas quando aos resultados; habilidade de aderir às recomendações
operatórias; comportamento alimentar (histórico de peso, dietas, exercício físico); comorbidades
psiquiátricas (atuais e prévias); motivos para realizar o procedimento cirúrgico; suporte social; uso de
substâncias; status socioeconômico; satisfação conjugal; funcionamento cognitivo; autoestima;
histórico de trauma/abuso; qualidade de vida e ideação suicida 1,2,5,18,20,23,24.

Contudo, nem todos os candidatos são considerados psicologicamente aptos, existindo alguns
impedimentos para esta operação18. Um estudo realizado com 194 profissionais de saúde mental nos
Estados Unidos listou "problemas psiquiátricos" como sendo a principal contraindicação para a
operação, apontada por 91.2% dos respondentes. Dentre os principais problemas desta categoria
estavam: uso/abuso/dependência de substâncias, transtornos alimentares, transtornos psicóticos,
depressão e suicídio5.

Além das contraindicações mencionadas anteriormente, outros fatores que podem adiar ou indeferir a
operação envolvem: falta de compreensão quanto aos riscos, benefícios e resultados do procedimento
cirúrgico; resistência em aderir às recomendações pós-operatórias; retardo mental severo; múltiplas
tentativas de suicídio ou tentativa de suicídio recente; sintomas ativos de transtorno obsessivo-
compulsivo e de transtorno bipolar; estressores de vida severos; uso de nicotina 1,2,20,21.

Um aspecto polêmico quanto à cirurgia bariátrica é a compulsão alimentar ou binge eating, visto que
as opiniões dos autores encontram-se divididas quanto a este quesito. Alguns defendem que a
compulsão alimentar pode sofrer remissão após o procedimento e, portanto, não deve ser
compreendida como contraindicação, mas como fator a ser avaliado com atenção 1,11. Outros apontam
que apenas uma parte dos pacientes com compulsão alimentar anterior à operação retorna a esse
comportamento e que, novamente, a compulsão não deve ser vista como contraindicação, mas como
um tópico a ser abordado antes da operação9.

Por outro lado, pesquisa realizada por Bauchowitz et al. 2 demonstrou que sintomas ativos de
compulsão alimentar foram considerados por, aproximadamente, 90% dos respondentes como
contraindicação "definitiva" ou "provável" para a operação. Em consonância com essa ideia, Hout et
al.10 ressaltam que pacientes com compulsão alimentar não devem ser tratados cirurgicamente até que
o comportamento alimentar seja normalizado através de terapia. Já Snyder 24 cita apenas a bulimia
nervosa como clara contraindicação cirúrgica, mas não a compulsão alimentar.

Devido à discordância dos autores quanto ao manejo da compulsão alimentar e, devido às evidências
que indicam que ela clinicamente significativa esteja relacionada aos resultados cirúrgicos deficitários,
alguns autores sugerem que pesquisadores e clínicos entrem em um acordo sobre como melhor definir
e avaliar a compulsão alimentar e sua relação com a operação bariátrica 21.

Recursos utilizados durante a avaliação psicológica

O psicólogo, durante o processo de avaliação deve estar preparado para investigar aspectos
emocionais, psiquiátricos e cognitivos que podem influenciar o resultado da operação. Para tal
finalidade, a entrevista clínica e a testagem psicológica aparecem como recursos valiosos para a
obtenção de informações sobre o funcionamento psicológico do paciente 1,5,21,24.

O comportamento, a presença de sintomas psiquiátricos, a compreensão quanto ao procedimento


cirúrgico, o comportamento alimentar, o nível de estresse, a presença de ambiente estável e apoiador,
as expectativas e os motivos que levaram à decisão quanto à operação são aspectos geralmente
investigados durante a entrevista psicológica, conferindo caráter único à avaliação psicológica pré-
cirúrgica, diferenciando-a das avaliações psicológicas tradicionais 2,24.

A testagem psicológica visa obter medida objetiva do ajustamento psicológico do paciente e de seu
preparo para o procedimento, sendo considerada ferramenta imprescindível de coleta de informações,
para complementar os dados subjetivos coletados durante a entrevista clínica 24.

Para a testagem psicológica formal, os instrumentos de avaliação mais citados foram os inventários de
sintomas e os testes de personalidade; o Inventário de Depressão de Beck e o Inventário Multifásico
Minnesota de Personalidade representaram os recursos mais utilizados em suas respectivas
categorias2,5,14,21,24. Cabe ressaltar que, atualmente, o este último encontra-se desfavorável para
utilização no Brasil4.

Averiguações sobre o comportamento alimentar, especialmente no que concerne o transtorno da


compulsão alimentar periódica e a síndrome do comer noturno também são realizadas, mas com
menor frequência e com grande variabilidade de recursos utilizados para tal finalidade. A Escala de
Compulsão Alimentar Periódica, o Questionário sobre Padrões de Alimentação e Peso, o Eating Disorder
Inventory, o Eating Disorder Examination - Questionnaire Version e o MOVE! Questionnaire aparecem
como ferramentas utilizadas para a investigação sobre os transtornos alimentares 2,5,6,21,22.

Contudo, da mesma forma que o principal teste de personalidade utilizado internacionalmente,


nenhum dos instrumentos descritos no parágrafo anterior está aprovado pelo Conselho Federal de
Psicologia, inviabilizando, portanto, sua utilização pelos psicólogos 3. Ademais, vale destacar que esses
instrumentos não foram elaborados com foco na avaliação do paciente bariátrico e suas peculiaridades.
Por esta razão e devido à variabilidade no entendimento do funcionamento psicológico do paciente
bariátrico, alguns instrumentos foram criados, como a Boston Interview 25 e o PsyBari14. Porém, esses
recursos ainda não foram traduzidos para o português ou adaptados para a cultura brasileira.

O primeiro recurso, desenvolvido pelo Serviço Médico Psicológico do VA Boston Healthcare System,
trata de uma entrevista semiestruturada utilizada como parte do protocolo de avaliação para o by-pass
gástrico, composta por sete grandes áreas a serem avaliadas: 1) peso, dieta e histórico nutricional; 2)
comportamentos alimentares atuais; 3) histórico médico; 4) entendimento dos procedimentos
cirúrgicos, riscos e regime pós-operatório; 5) motivação e expectativas quanto ao resultado cirúrgico;
6) relacionamentos e sistema de apoio; 7) funcionamento psiquiátrico 25.

O segundo instrumento, conhecido como PsyBari, refere-se a um teste psicológico elaborado


especificamente para as avaliações psicológicas pré-cirúrgicas. O PsyBari é composto por 115 itens,
avaliados de acordo com sua frequência, em escala Likert (de 1 a 5). Ele é dividido em 11 subescalas:
1) "fingir" estar bem/minimização/negação; 2) motivação cirúrgica; 3) alimentação emocional; 4)
raiva; 5) compulsão alimentar; 6) depressão relacionada à obesidade; 7) prejuízo relacionado ao peso;
8) prejuízo social relacionado ao peso; 9) conhecimento quanto ao comportamento alimentar pós-
cirúrgico; 10) abuso de substâncias/álcool; 11) ansiedade cirúrgica. A maioria dos itens incluídos nas
escalas foi baseada em entrevistas com pacientes bariátricos 14.

Não foram encontradas ferramentas para a avaliação psicológica do paciente bariátrico, desenvolvidas
no Brasil.

Tempo de duração da avaliação psicológica

Apesar da variedade de informações disponíveis quanto à condução da avaliação psicológica, incluindo


os aspectos importantes a serem avaliados e os recursos mais utilizados, não foram encontradas
delimitações de tempo em relação à duração do processo de avaliação pré-operatória, nas publicações
internacionais. Essa falta de clareza quanto à duração da avaliação psicológica gera incerteza em
relação ao número de sessões destinado a tal finalidade. Contudo, devido aos resultados encontrados
indicando a necessidade da aplicação de testes psicológicos e da realização de entrevista clínica,
infere-se que o processo exija mais do que uma sessão.

Nas publicações brasileiras, foram encontradas menções em relação ao tempo de duração da avaliação
pré-operatória, indicando grande variabilidade quanto ao número de sessões, com alguns
pesquisadores citando, inclusive, que a avaliação psicológica vem sendo realizada em apenas uma
sessão, ou conforme o "bom senso" de cada profissional 13,15,19. Outra alusão ao tempo de avaliação foi
encontrada em pesquisa realizada com operados bariátricos, que indicou que 67,4% deles gostariam
de ter se preparado melhor psicologicamente, com mais do que uma sessão de avaliação psicológica 15.

Importância da avaliação psicológica

A grande maioria das publicações pesquisadas discorre sobre a importância da avaliação psicológica,
citando diferentes razões para justificar esse processo. Defende-se que o sucesso da operação
depende de mudança de comportamento e que uma das metas da avaliação psicológica pré-operatória
é a preparação do paciente para o período pós-operatório, visando otimizar os resultados da
operação1,2,8,9,18,20,21,24.

Uma das publicações encontradas apontou que, apesar da resistência de alguns pacientes em consultar
com um psicólogo antes do procedimento, as informações discutidas durante a avaliação não servem
apenas para avaliar o preparo do candidato, mas também para aumentar as chances de sucesso no
ajustamento após a operação24. Além disso, o autor citou que muitos pacientes, após a fase de
avaliação psicológica, relatam o quanto foi valiosa a experiência de avaliação e a discussão dos itens
levantados durante esse processo e que experiência positiva durante a avaliação psicológica "prepara o
terreno" para que o paciente procure ajuda futuramente, caso encontre-se em dificuldade após a
operação24.

A publicação citada anteriormente também se reportou ao fato de que a avaliação psicológica é etapa
crítica não apenas para identificar possíveis contraindicações mas, acima de tudo, para entender
melhor a motivação do paciente, seu preparo e os fatores emocionais que podem impactar em sua
adaptação à vida após a operação e às mudanças de estilo de vida associadas 24.

Corroborando a importância da avaliação psicológica para o sucesso da cirurgia bariátrica, Bauchowitz


et al.2 demonstraram que cerca de 80% dos programas de cirurgia, participantes do estudo,
consideram a avaliação psicológica como "muito valiosa" ou "valiosa".

A avaliação psicológica também é considerada como oportunidade única de realizar a psicoeducação do


paciente sobre as mudanças implicadas à cirurgia bariátrica, oferecer apoio psicológico e preparar o
candidato para as mudanças comportamentais exigidas na fase pós-operatória 8,20. Sendo assim, o
psicólogo assume diferentes papéis no momento da avaliação: é um pesquisador, coletando dados; um
educador, provendo informações; e, ainda, um terapeuta, aumentando a motivação e gerenciando as
emoções emergentes durante a avaliação1,24.

Em contrapartida, cabe ressaltar que Pull21 em um de seus estudos, citou revisão de literatura
elaborada por Ashton et al., em 2008, em que os autores descrevem a avaliação psicológica como uma
forma de preconceito e discriminação contra candidatos e afirmam que não há evidências que
comprovem sua validade clínica. Contudo, ele contestou essa hipótese, apresentando quatro premissas
para justificar a importância da avaliação psicológica e concluiu seu artigo sugerindo que esse
procedimento continue a fazer parte das avaliações que antecedem a cirurgia bariátrica 21. Vale
salientar que o trabalho de Ashton et al. foi o único encontrado na literatura, atribuindo conotação
negativa à avaliação psicológica.

Em adição às alusões sobre a importância da avaliação psicológica para o sucesso da operação e o


bem-estar do paciente, também foi encontrada menção sobre a importância do preparo do psicólogo
responsável por esse processo. Nesse sentido, devido à população bariátrica possuir particularidades
que diferem do restante da população, pesquisadores sugerem que o profissional de saúde mental, que
irá realizar as avaliações psicológicas possua expertise na área da psicologia médica. Assim, ele poderá
detectar relações problemáticas do paciente com a comida e trabalhar com possíveis distorções
cognitivasmem relação à perda de peso e ao impacto psicossocial da operação 2.

Inexistência de protocolos de avaliação psicológica


Um tópico recorrente, encontrado na maioria das publicações consultadas, refere-se ao fato de que
não existem guidelines ou protocolos norteadores da avaliação psicológica para cirurgia
bariátrica2,5,8,14,21,24. A falta de um protocolo-padrão dificulta a identificação, por parte dos psicólogos, de
quais domínios merecem atenção e quais procedimentos avaliativos devem ser utilizados 5. Além disso,
sem uniformização das práticas, o valor e o propósito da avaliação psicológica variam de acordo com
cada profissional ou equipe bariátrica21. Como consequência, produz-se grande variabilidade nas
abordagens utilizadas durante a avaliação psicológica e pouco consenso sobre como deve ser efetuada
a triagem e quais critérios devem ser observados durante a seleção de pacientes 2.

Nas publicações brasileiras, foram encontradas duas referências a protocolos para a cirurgia bariátrica.
A primeira delas trata da criação de um software chamado "Protocolo Eletrônico Multiprofissional",
desenvolvido na Universidade Federal do Paraná. Através do programa, é possível registrar
informações coletadas sobre os candidatos bariátricos, durante as avaliações realizadas pelas áreas da
Medicina, Nutrição, Psicologia e Fisioterapia16.

A segunda menção a um protocolo para cirurgia bariátrica refere-se a uma pesquisa realizada por Felix
et al.7, na Paraíba. De acordo com esse estudo, após a realização de revisão da literatura, a equipe
desenvolveu um "Protocolo de orientação para a assistência de enfermagem ao paciente em pré e pós-
operatório de cirurgia bariátrica". Ele consiste de planejamento de assistência em enfermagem ao
paciente bariátrico, dividido em 11 requisitos, e tem como objetivo orientar os profissionais de
enfermagem na realização de suas funções7.

No entanto, apesar da identificação de dois protocolos associados à cirurgia bariátrica, nenhum deles
está diretamente vinculado à condução da avaliação psicológica, visto que foram criados para o
registro de informações da equipe multiprofissional e para orientar a atuação de profissionais de
enfermagem, no atendimento ao paciente bariátrico, respectivamente.

É fundamental que haja continuidade das pesquisas sobre essa temática para que se possa construir
um modelo de avaliação psicológica que englobe o universo rico e peculiar da cirurgia bariátrica.

CONCLUSÕES

É imprescindível que todos os candidatos à operação passem por avaliação clínica criteriosa e por uma
avaliação psicológica mais aprofundada, com o intuito de reduzir as complicações que podem aparecer
após o procedimento, diminuindo o risco assumido pelos pacientes e pela equipe, envolvidos nesse
processo.

É papel do psicólogo que realiza avaliação para cirurgia bariátrica investigar os mais diversos aspectos
da vida do paciente, não apenas para determinar sua prontidão para a operação, mas também para
educá-lo quanto às mudanças implicadas através dela. Os recursos utilizados para este fim encontram-
se amplamente divulgados na literatura. Contudo, a grande maioria dos instrumentos utilizados no
exterior não está aprovada para o uso no Brasil.

Quanto às contraindicações para a operação, há consenso entre a maioria dos critérios empregados,
restando dúvida apenas no que diz respeito à compulsão alimentar, tópico que divide as opiniões dos
pesquisadores da área. Já a duração da avaliação psicológica precisa ser mais bem esclarecida nos
estudos publicados, visto que não foram encontradas referências explícitas sobre a duração média
desse processo.

É importante destacar o exemplo do protocolo criado na Paraíba, para os profissionais de


enfermagem7, pois do mesmo modo, a psicologia necessita elaborar um protocolo para nortear a
atuação de seus profissionais, na atenção ao paciente.

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Fonte de financiamento: não há

Recebido: 16 de Janeiro de 2014; Aceito: 13 de Junho de 2014

Correspondência: Carolina Aita Flores e-mail: [email protected]

Conflito de interesses: não há

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