Direito Público Intern
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Rodrigues
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Direito Público Internacional | Raul L. Rodrigues
O tratado, antes de sua assinatura é voluntarista, mas, após sua adesão, o ente é obrigado
a cumpri-lo.
O país que cria uma ordem jurídica interna pode se relacionar internacionalmente,
participando também da ordem jurídica internacional.
Desse modo, surgem dúvidas em relação à quantidade de ordens jurídicas existentes, de
modo a existir duas correntes:
● Teoria dualista: Entende a ordem jurídica interna e externa como duas entidades
diferentes. Tal entendimento subdivide-se em:
○ Radical: Pressupõe a adoção ou transformação do DI em norma interna
do país - efetividade da lei interna e não do tratado internacional;
○ Moderada: Convalidação do DI e tratados externos por um procedimento
complexo. Desse modo, a assinatura do tratado é o aceite do executivo,
devendo ser submetido para o poder legislativo para sua posterior
convalidação. O Brasil, segundo entendimento do STF, adota essa teoria.
● Teoria monista: Entende que o direito internacional é mais abrangente e engloba
a ordem jurídica interna, de modo a não existir diferenciação entre essas. Dentro
da ordem monista, o entendimento subdivide-se em (pirâmide de Kelsen):
○ Prevalência do direito internacional. Para essa corrente o direito
internacional o direito interno de um país é mero fato;
○ Prevalência do direito interno.
Fontes do Direito Internacional
A Carta das Nações Unidas criou, em 1945, a Organização das Nações Unidas,
estabelecendo também o estatuto de atuação dessa, o qual, em seu art. 38, estabelece as
fontes clássicas do direito internacional:
● Tratados: Fonte mais importante do DI e, por isso, serão estudados de maneira
detalhada separadamente;
● Costumes internacionais: O costume é uma prática geral aceita como sendo
direito. Não há necessidade de unanimidade do costume aplicado, mas sim,
maioria. Existem diferenças entre práticas gerais globais e regionais (ex. corte
interamericana - costumes próprios diferentes de outros países). Em resumo, os
costumes se desdobram em duas necessidades: o elemento objetivo/material, ou
seja a prática generalizada e o elemento subjetivo/espiritual, a aceitação do
costume como direito. Não há hierarquia entre tratados e costumes
internacionais. Objetor resistente - caso o Estado prove que se opôs a costume,
este não poderá ser condenado por sua inobservância;
● Princípios Gerais do Direito: Princípios reconhecidos pela maioria do globo;
Princípios adotados pela maioria dos países. Além dos princípios reconhecidos
pela ordem jurídica interna dos países, com a evolução do direito internacional,
este passou a ter os seus próprios princípios;
São considerados meios auxiliares de aplicação do direito internacional:
● Doutrina Internacional;
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● Jurisprudência Internacional: Atualmente há uma forte corrente que entende a
jurisprudência como fonte do direito internacional - São consideradas
jurisprudência, das cortes dos tribunais de justiça internacional, tribunal penal
internacional, tratado internacional do direito do mar, cortes de Direitos
Humanos: Europeias, Africana e Interamericana e opiniões consultivas dos
tribunais.
O julgamento pode também se utilizar do vocabulário ex aequo et bono, ou seja,
conforme o justo, de maneira equânime - baseada na experiência dos juízes sobre aquilo
que é bom, correto e justo. Segundo a CNJ, tal vocábulo pode ser invocado quando da
ausência, insuficiência ou obscuridade da lei, sendo imprescindível a anuência dos
estados para tanto.
As medidas preventivas emitidas pela corte internacional de justiça são
vinculantes, por força do julgado de “le grand” em 2001.
São as novas fontes do direito internacional:
● Os atos unilaterais dos Estados: São atos criados por um único Estado,
visando produzir efeitos jurídicos em relação a outros e que são notórios
(amplamente conhecidos por outros Estados), os quais: leis que regulamentam
territórios marítimos, um protesto, a denúncia a um tratado e o reconhecimento
de um Estado ou Governo;
● As decisões das organizações internacionais: São decisões proferidas por
organizações internacionais, em sua condição de instituição internacional e não
como representante dos Estados, visando produzir efeitos jurídicos e que são
conhecidas por vários nomes, tais com: Diretrizes, resoluções, diretivas,
declarações etc.;
● As normas de soft law: São normas programáticas, dotadas de um menor poder
de constrição, que fixam compromissos políticos futuros, não havendo para elas
uma sanção jurídica, diante de um eventual descumprimento, no entanto, poderá
haver uma sanção moral.
Por fim, há de se destacar também a existência do jus cogens, que é uma norma
imperativa de direito internacional geral, por meio da qual os Estados estão obrigados a
observar o seu conteúdo, independentemente da sua vontade.
Referida norma é marcada por duas características importantes: I)
Imperatividade: É uma espécie de ordem pública internacional, cujo descumprimento
não é possível. Se é imperativo, logo, não é facultativo; e II) Inderrogabilidade: Não
pode ser derrogada pela vontade das partes.
A definição do conteúdo do jus cogens decorre da aceitação da comunidade
internacional comum um todo. Não é preciso unanimidade, basta a concordância da
grande maioria dos Estados.
O conteúdo do jus cogens não foi definido pela CVDT, isso tem sido uma tarefa
dos tribunais e cortes internacionais, que têm entendido como jus cogens as seguintes
questões:
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● Proibição da escravidão;
● Proibição do genocídio;
● Proibição do tráfico internacional em qualquer de suas modalidades;
● Proibição da propaganda de guerra;
● Proibição da autodeterminação dos povos, dentre outros.
Embora uma parte minoritária da doutrina veja a jus cogens como uma fonte do
direito internacional, o entendimento mais correto tecnicamente é de que se trata de uma
qualidade que determinadas fontes do direito assumem de se tornarem imperativas.
É considerada nula qualquer norma internacional que conflitar com aquilo que é
considerado jus cogens, independentemente se esta norma veio antes ou depois.
Tratados internacionais
Os tratados internacionais possuem fonte nas seguintes legislações: I) CVDT de
1969 para tratados entre Estados; II) CVDT de 1986 para convenções entre Estados e
Organizações (não atingiu o número mínimo de conversões); III) Convenção de Havana
de 1928 (embora anterior, não está revogada, pelo menos no que tange aos temas não
tratados na CVDT); e IV) Outras considerações.
Desse modo, os tratados internacionais, nos termos do art. 29 do CVDT, se
conceituam como acordos internacionais, celebrados por escrito, entre sujeitos do
Direito Internacional, sob as regras do direito internacional, que visa produzir efeitos
jurídicos, independente de designação específica (fungibilidade do nome).
Os tratados celebrados pela Santa Sé (“Estado” do Vaticano, composto pelo papa
e a cúria romana) chamam-se concordatas. Os beligerantes/insurgentes (grupos
separatistas ou destitutivos com base legítima) também são reconhecidos como sujeitos
temporários do direito internacional, de modo que a eles também são aplicadas as
demais regras do DI.
Ressalta-se que o tratado que não está em vigor pode ter força, caso exprima um
costume de direito internacional.
São as classificações dos tratados:
● NÚMERO DE PARTES:
○ Bilateral: A bilateralidade não compreende o número de integrantes,
mas sim, as “partes”, exemplo, um tratado com as seguintes partes: bloco
de países sul-americano e bloco de países norte-americanos;
○ Multilateral;
● PROCEDIMENTO DE ELABORAÇÃO:
○ Unifásico: Contra apenas com a participação do executivo. Também
conhecido como acordo em forma simplificada;
○ Bifásico: Conta com a participação do legislativo e do executivo,
iniciada pelo executivo e ratificada pelo legislativo;
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● POSSIBILIDADE DE ADESÃO:
○ Aberto: Admite adesão posterior de outros Estados e organizações. O
tratado aberto pode ser feito de duas maneiras, a limitada e a ilimitada.
Na maneira ilimitada, o tratado permitirá a entrada de qualquer Estados
ou Organização, já, o tratado limitado, limita o ingresso somente a alguns
sujeitos internacionais, podendo ter critérios geográficos, políticos,
econômicos, ideológicos etc.;
○ Fechado: Não admite adesão posterior;
● NATUREZA JURÍDICA:
○ Contrato: São os tratados cujas normas são concretas e objetivas
definindo desde logo os direitos e obrigações das partes, geralmente
elaborados de maneira multilateral;
○ Normativo: São os tratados que contém cláusulas genéricas e abstratas
aplicáveis a todas as partes e que podem, inclusive, ser complementadas
em outros tratados;
● EXECUÇÃO NO TEMPO:
○ Transitório: Tratados que produzem situação jurídica estática para as
partes e têm execução instantânea, ou seja, uma única situação jurídica
que continua no tempo (ex. fronteira - uma vez assinado a fronteira se
transformou e assim ficará);
○ Permanente: É aquele que se prolonga no tempo, razão pela qual a
situação jurídica que dele resulta não é estética, mas sim, dinâmica (ex.
tratado de proteção às pessoas - cada ação que invoca o tratado é uma
execução diferente).
● EXECUÇÃO NO ESPAÇO:
○ Total: Executado no território de todo os países;
○ Parcial: Tratados executados em apenas uma parte do território do país -
Cláusula colonial - CVDT, art. 29.
A reserva é um ato unilateral do Estado pelo qual ele afasta ou modifica os
efeitos jurídicos de certas disposições de um tratado em relação a si próprio.
Ratificação é o ato unilateral do Estado que vai colocar o tratado em vigor no
plano internacional junto aos outros Estados.
Ritos processuais dos tratados
O processo de elaboração dos tratados é dividido em duas fases: a internacional
e a interna. Durante essas duas fases, haverá quatro etapas distintas:
Negociação e assinatura
O tratado inicia-se com uma ou várias rodadas de negociações. Ao final delas,
chega-se a um texto final único e, com eles, os Estados assinam o Tratado Internacional.
De acordo com o art. 10, da CVDT, esse texto torna-se autêntico com a
assinatura, sendo impossível um Estado modificá-lo unilateralmente. Vale destacar que
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a assinatura não põe o tratado em vigor, mas o torna autêntico e imutável de forma
unilateral.
No Brasil, cabe ao Presidente da República celebrar tratados, conforme o art. 84,
III, da CF. Trata-se de uma competência privativa, sendo possível a sua delegação para
o Ministério das Relações Exteriores. Em regra, quem celebra os tratados é o Ministro
das Relações Exteriores, e não o Presidente da República.
Os sujeitos que têm poder de celebrar tratados são chamadas de
plenipotenciários. Pelo Direito Internacional, são pessoas que têm plenos poderes para
celebrar tratados, que têm o treaty making power. A constituição de cada país define
quem tem capacidade para celebrar.
Aprovação parlamentar
Com a celebração do texto autêntico, dá-se início a segunda fase. Nesse
momento, o gabinete do Presidente da República anexa o texto único a uma mensagem
presidencial e a encaminha ao Congresso Nacional.
Ex vi art. 49, I, da CF, compete exclusivamente ao Congresso Nacional resolver
definitivamente as questões relacionadas aos tratados. Ou seja, somente o congresso
decide sobre tratados em última análise.
Remetida a mensagem presidencial ao Congresso Nacional, inicia-se o processo
legislativo, primeiramente, na Câmara dos Deputados, e, posteriormente, no Senado.
Em regra, é vedada a alteração unilateral por parte do Congresso Nacional, vez
que se trata de um texto autêntico. No entanto, existe a figura da reserva, prevista nos
art. 19 a 23, da CVDT, que nada mais é que um ato unilateral do Estado pelo qual ele
afasta ou modifica os efeitos jurídicos de certas disposições de um Tratado
Internacional, em relação a si próprio. O tratado, nesse caso, é aprovado com reserva.
O documento que materializa a aprovação por parte do Congresso Nacional, seja
com ou sem reserva, é o Decreto Legislativo, o qual é editado e publicado pelo
Presidente do Senado Federal. Com a publicação do decreto, o PR toma conhecimento
da aprovação do tratado. Se o Congresso Nacional não aprovar o texto autêntico,
consequentemente, não haverá Decreto Legislativo e contra essa decisão não cabe
recurso.
Ratificação
Com a aprovação do texto, procede-se à terceira fase: a ratificação – ato
unilateral do Estado que vai colocar o tratado em vigor no plano internacional junto aos
outros Estados.
Realiza-se de duas formas:
● Nos tratados bilaterais, ocorre por meio da troca de instrumentos; e
● Nos tratados multilaterais, ocorre por meio do depósito do tratado.
Obs.: A ratificação não põe em vigor o tratado no plano interno.
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Promulgação e publicação
A promulgação e publicação, mediante Decreto Executivo, é o ato que coloca o
tratado em vigor no Brasil, sendo esse um costume decorrente do Brasil Império e o
entendimento do Supremo, não havendo qualquer previsão para isso.
O Decreto Legislativo, que aprova o Tratado Internacional, não impõe ao PR o
dever de promulgar e publicar, mediante o Decreto Executivo.
Obrigatoriedade de registro perante a ONU
Se o tratado não for registrado e houver eventual problema decorrente do próprio
tratado, há uma única consequência: as partes não vão poder utilizar nenhum órgão da
ONU para executar o Tratado Internacional. Em outras palavras, o tratado torna-se em
letra morta e não poderá ser discuto e aplicado em nenhum dos órgãos da ONU.
REQUISITOS DE VALIDADE DOS TRATADOS
Capacidade dos agentes signatários (art. 6º, da CVDT)
A ONU reconhece que todos os Estados têm capacidade para celebrar tratados.
A simples condição de ser um Estado dá a ele capacidade de celebração. Além
dos Estados, as Organizações Internacionais, a Santa Sé, os Beligerantes e os
Insurgentes têm, também, capacidade de celebração.
Obs.: O indivíduo é sujeito de direito internacional, mas não tem capacidade
para celebrar tratados.
Habilitação dos agentes signatários (art. 7º, da CVDT)
Os agentes signatários são denominados de plenipotenciários.
Em regra, é necessária uma carta de plenos poderes, a qual é assinada por quem
tem poderes, no caso do Brasil, ex vi a Constituição Federal, o Presidente da República.
Nessa carta, nomeia-se os representantes do Brasil que irão comparecer na conferência
em que é celebrados os Tratados Internacionais. Esses são considerados representantes
oficiais.
No entanto, há pessoas que, pelo cargo que ocupam, não precisam apresentar
essa carta, ou seja, que são consideradas representantes do Estado, independentemente
da carta de plenos poderes:
● Chefe de Estado (Presidente da República ou Primeiro-Ministro): Podem
praticar todos os atos necessários a elaboração dos tratados;
● Chefes de Missões Diplomáticas: Podem praticar os atos necessários para a
conclusão de um tratado entre um Estado acreditante e o Estado acreditado:
○ Acreditante: Representa o Estado;
○ Acreditado: Representa as embaixadas, consequentemente, os
diplomatas;
● Representantes acreditados por um Estado para uma conferência ou
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● Organização internacional: Podem praticar os atos necessários a conclusão do
tratado, naquela conferência ou organização.
DENÚNCIA DO TRATADO
É o ato unilateral do Estado pelo qual ele se retira de um tratado do qual
anteriormente era parte. Em regra, qualquer tratado pode ser denunciado, exceto se ele
contiver cláusula de indenunciabilidade.
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