Bruno Goncalves Dissertacao
Bruno Goncalves Dissertacao
Bruno Goncalves Dissertacao
4
Mestrado Integrado em Arquitetura e Urbanismo
Arquitetura de emergência:
O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Orientador Académico:
Prof. Doutor Gilberto Duarte Carlos
Aos meus pais e irmãos,
Por todo o Amor, Carinho e Compreensão.
Sem vocês nada disto seria possível.
1
Resumo
1
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Abstract
The following study, based on three representative contexts of post-disaster, approaches the
thematic of architecture of emergency. Once they belong to a relatively recent past, it was decided to
support the study in the cases of Indonesia, 2004 earthquake, Pakistan's 2005 earthquake and
Haiti's 2010 earthquake.
Disasters can strike anywhere on the planet and are often devastating, causing very serious
damages at different levels and violently shaking the whole social system. The affected territories
are faced with unexpected scenarios of destruction of their infrastructure. Entire cities can, in a few
minutes, be reduced to rubble, causing thousands of deaths and leaving many others injured and
homeless.
After the disaster occurred, it is imperative to suggest structural solutions, in particular to provide
care to victims and offer support to displaced people, ensuring, return to normality. Camping’s are
built, shelters are multiplied, as well as other temporary structures in an attempt to respond to
immediate needs.
Towards such a fragile context, it is necessary to act quickly to implement measures capable of
responding effectively and which can minimize the consequences suffered, i.e., it is essential having
a response optimization. It is precisely in this context that the present study fits. It Intends to
contribute, although very limitedly, for the improvement of man's ability to respond to future possible
situations of natural disaster.
This study was based on three main chapters, properly interconnected, analyzing several topics that
are understood to be fundamental to this research.
The method that supports this study was mainly elaborated with documental analysis, namely the
ones which helped to identify and characterize the types of natural disasters; ascertain the material,
physical and psychological conditions in which they are displaced populations; recognize the
structures, materials and most used techniques; outline intervention strategies; reflect on the
importance of the architect's role in the reconstruction of affected areas. The last two are arguably
the ones which more importance gives the work done. It is particularly important to understand what
contribution the architect can have in solving the problems that take place in the context of natural
disaster and action strategies to adopt before specific cases
Conclusions seem to indicate a strong link between natural catastrophe scenarios and the
emergence of architecture processes. Concerning the technical solutions adopted, there is a
predominance of simple and economic structures, built with affordable materials, easy to transport
and rapid assembly.
It is also concluded that it is the form of intervention that determines the success of the measures
implemented in terms of emergency architecture. Therefore, it is essential to define and elaborate
planning of the displaced camps and a new urban planning, to prevent new buildings from spreading
randomly.
It is crucial to be more careful in terms of construction techniques, especially because site covers
are still vulnerable to any new natural disasters. It is imperative to enable the formation of the
population in this field. The emergence of architecture is a process that requires quick response, but
cannot be a product that is built without discretion, anywhere and anyhow.
6
Índice de conteúdos
1. Introdução............................................................................................................................ 9
1.1. Contextualização da investigação ................................................................................. 11
1.2. Justificação da problemática......................................................................................... 12
1.3. Objetivos da investigação ............................................................................................. 14
1.4. Estado da arte .............................................................................................................. 15
1.5. Delimitação do tema .................................................................................................... 16
1.6. Metodologias de investigação ...................................................................................... 17
1.7. Estrutura da investigação ............................................................................................. 19
2.Enquadramento teórico do tema em estudo...................................................................... 21
2.1. Desastres ..................................................................................................................... 23
2.1.2. Classificação ........................................................................................................ 28
2.1.3. Desastres provocados pelo homem .................................................................... 30
2.1.4. Desastres naturais .............................................................................................. 32
2.2. Implicações arquitetónicas em situações pós-catástrofe............................................... 37
2.2.1. Habitat e transitoriedade..................................................................................... 37
2.2.2. Condicionantes socioculturais e socioeconómicas ............................................. 42
2.2.3. Condicionantes climatéricas, geográficas e populacionais................................. 48
2.2.4. Pensar a emergência - Estratégias de intervenção em situação de desastre
natural ............................................................................................................................ 51
2.2.5. O papel do arquiteto/arquitetura ........................................................................ 56
2.3. Arquitetura de emergência........................................................................................... 58
2.3.1. Origem e evolução cronológica............................................................................ 58
2.3.2. Os primeiros passos técnicos .............................................................................. 62
2.3.3. Novas propostas .................................................................................................. 62
2.3.4. Processo de Alojamento ...................................................................................... 64
2.3.5. Classificação de estruturas dos abrigos.............................................................. 73
2.3.6. Materiais e técnicas ............................................................................................ 78
3. Estudos de Caso ................................................................................................................ 79
3.1. Intervenção no terramoto de 2004, Indonésia .............................................................. 83
3.1.1. Arquitetura como resposta .................................................................................. 86
3.1.2. Abrigos transitórios analisados ........................................................................... 90
3.2. Intervenção no terramoto de 2005, Paquistão .......................................................... 96
3.2.1. Arquitetura como resposta .................................................................................. 99
3.2.2. Abrigos transitórios analisados ......................................................................... 107
3.3. Intervenção no terramoto de 2010, Haiti .................................................................... 112
3.3.1. - Arquitetura como resposta .............................................................................. 116
3.3.2.- Abrigos transitórios analisados ........................................................................ 120
3.4. Correlações ................................................................................................................ 129
Considerações finais............................................................................................................ 139
Conclusões gerais.............................................................................................................. 140
Conclusões específicas ...................................................................................................... 143
Bibliografia ........................................................................................................................... 149
Índice de figuras .................................................................................................................. 169
Índice de tabelas ................................................................................................................. 175
Fonte de figuras ................................................................................................................... 177
Fonte de tabelas .................................................................................................................. 185
Lista de abreviaturas ........................................................................................................... 187
Anexos.................................................................................................................................. 191
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
1. Introdução
9
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Ao longo dos anos, contabilizam-se diversos acontecimentos que levam, por vezes, as populações a
limites extremos de sobrevivência. As provações são frequentemente resultado de catástrofes
naturais com um poder devastador.
Perante situações desastrosas, urge intervir nas consequências provocadas, a vários níveis,
nomeadamente em termos arquitetónicos, já que é sabido que a arquitetura assume um importante
papel no ressurgimento e desenvolvimento das comunidades implicadas.
Quando se fala de catástrofes naturais, é importante referir que está-se nas mãos da natureza, ou
seja, perante o fator surpresa, podem mitigar-se os riscos mas é impossível prever quando, onde e
com que magnitude poderão ocorrer esses desastres. Uma das mais fortes características destas
ocorrências devastadoras prende-se de facto com a sua imprevisibilidade, implicando por isso,
obrigatoriamente, que haja uma resposta rápida, de forma a poder minimizar as consequências de
uma nova ocorrência que possa surgir e responder às necessidades imediatas das populações.
O impacto de uma ocorrência deste género faz-se sentir, como já referido, de forma avassaladora
sobre populações, cidades, zonas habitacionais, podendo resultar, inclusivamente, no
desaparecimento das mesmas ou, em menor escala, na necessidade de reconstrução dos
escombros, no caso de estes serem passíveis de recuperação.
Sabe-se que, infelizmente, perante tais acontecimentos, o sistema organizacional estagna, fica
suspenso, revela-se incapaz de apresentar soluções para resolver determinadas questões,
nomeadamente de foro económico. Ora, o período de resposta deve ser o mais rápido possível, pelo
que há que procurar minimizar custos.
Nestes casos de atuação de emergência, a arquitetura deve ser entendida como transitória,
contrariamente à arquitetura permanente, que é aquela que se prolonga ao longo do tempo, se
mantem e permanece no mesmo lugar, devido à durabilidade da construção.
Ambas as arquiteturas podem ser comparadas, em termos de tempo de planeamento e projeto, mas
também de custos. É evidente que, na arquitetura de emergência, que se caracteriza, como já se
referiu, por implicar, obrigatoriamente, soluções rápidas, deve-se considerar um sistema de baixo
custo e de construção fácil, apostando portanto num transporte de materiais acessíveis.
Preferencialmente, a opção por materiais prefabricados é uma constatação, minimizando os custos
de transporte e possibilitando uma montagem por partes e rápida instalação. No entanto, verifica-se
que esta solução nem sempre corresponde, de forma eficaz, às necessidades dos utilizadores em
termos de conforto, dado que o espaço de tempo para atuar é reduzido, sendo necessário uma
execução rápida.
10
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Devido à periodicidade com que os desastres ocorrem deixaram de se tomar atitudes tão passivas e
têm-se realizado esforços na adoção de medidas de prevenção com o objetivo de diminuir os efeitos
nocivos deste tipo de ocorrências (Faculdad de Arquitectura y Diseño de la Universidad Católica de
Santiago de Guayaquil, 2011). A gestão na assistência de emergência e no âmbito da medicina,
saúde e nutrição, já tinham melhorado substancialmente nas últimas décadas, contudo, na área da
habitação pós-catástrofe, os progressos eram escassos ou quase nulos (Morgado, 2006).
É crucial que os profissionais qualificados, como arquitetos, engenheiros, entre outros se unam na
procura de novas soluções mais eficientes e simultaneamente mais económicas que impulsionam o
aperfeiçoamento de novas técnicas, o uso de novos materiais e abrem caminho para outras
experiencias. Importa perceber a utilidade destas ações coletivas, para sensibilizar as populações e
despertar o interesse sobre o tema, promovendo investigações conclusivas e aumentando o espólio
bibliográfico sobre este tema. Importa acima de tudo garantir com estas construções uma coesão e
equilíbrio social, a par de assegurar a habitabilidade contra as agressões externas (condições
climáticas), o armazenamento e proteção de bens materiais e o equilíbrio emocional e satisfatório
da necessidade de intimidade das famílias.
Um dos insucessos mais flagrantes é o exemplo de Banda Aceh na Indonésia, após o tsunami de
2004, em que a construção de abrigos foi realizada muito distante dos locais de trabalho da
população, sem a sua consulta nos processos de reconstrução e sem ter atenção às questões
culturais, assim, todos as “resettlement houses” foram abandonados, as pessoas voltaram para as
suas antigas moradas, tornando inútil o esforço das equipas de ajuda e o investimento
desperdiçado (Aquilino, 2011).
Tal como é mencionado este exemplo na Indonésia, muitos outros casos, existiram espalhados pelo
mundo, esta dissertação procura explorar este tema de forma a responder a essa lacuna de
conhecimento, fazendo a sua verificação assente em três casos de estudo.
11
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
A problemática essencial das situações de emergência é a criação de condições, num curto espaço
de tempo, da habitabilidade para as populações locais que confiram o mínimo de dignidade, de
identificação e de estímulos perante uma situação tão negativa. Estas situações requerem uma
resposta que não se esgota na disponibilização imediata de abrigo temporário, como tendas, mas
numa solução ponderada e com perspetivas futuras de integração de toda uma comunidade
afetada pelo impacto social, económico e de habitat provocados pelas catástrofes, podendo estas
ser causadas por fenómenos naturais imprevisíveis ou por conflitos políticos.
Que necessidade deverá satisfazer este habitat específico, enquanto unidade e conjunto? Esta
questão coloca o arquiteto numa posição crítica, uma vez que terá que ser capaz de responder às
contingências que uma intervenção deste tipo coloca, como conseguir manter o fito de alcançar
soluções mais humanas e adequadas à situação frágil das vítimas (Davis, 1980).
Partindo dos pressupostos e questões específicas desta temática mostra-se relevante a construção
de um trabalho que proporcione o encontro com os arquétipos da Arquitetura, onde se possa
discutir novamente os princípios básicos das necessidades humanas, em que a arquitetura se
revela uma “ferramenta” importante, num cenário de reconstrução, realojamento e de planeamento
urbano.
O que motiva esta investigação é a necessidade de encontrar soluções atuais e operativas dirigidas
às soluções de projeto para esses cenários pós-catástrofe, agilizando o processo de assistência às
vítimas, integrando as políticas mundiais de ajuda aos problemas pós-catástrofe.
Hoje verifica-se que as respostas mais adequadas são aquelas que vão ao encontro das técnicas e
materiais mais comuns no meio onde se inserem estas comunidades. A arquitetura de emergência
não deverá ser encarada através do desenho de intervenções sofisticadas, a experiência
demonstrou a dificuldade de implementação destes projetos (Bedoya, 2004).
A finalidade do refúgio de emergência “(…) é prestar proteção a uma família vulnerável. Pode tomar
a forma de um produto, ou pode ser um processo. Pode começar por uma lâmina de ferro ondulada,
que eventualmente pode converter-se na cobertura de uma casa” (Davis, 1980, p. 144).
Esta situação é ainda agravada pela falta de infraestruturas, pela má qualidade das construções e
pela ausência de políticas de planeamento que ajudem na resposta a este tipo de desastres.
12
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
A construção de um novo Habitat fruto de uma catástrofe deve estar integrada por novos
componentes, derivados de reações psicológicas face a aos eventos, que têm a ver com processos
de pensamento, emocionalidade, com atividade psicomotora dos indivíduos e com os diversos
comportamentos coletivos (Bedoya, 2004).
Bedoya (2004) citando vários autores defende que durante o tempo de permanência num habitat
transitório, constatam-se normalmente três características: a Aglomeração, o Desenraizamento e a
Incerteza.
Esta investigação pretende ser também uma reflexão para agilizar a produção, geralmente
indiscriminada, sem atenção às condições mínimas de urbanidade, sem aportar as questões
culturais, construtivas e ambientais, com deficientes condições de construção e com sistemas de
serviços incompletos. A Arquitetura de Emergência traduz-se na resposta rápida, e não
necessariamente imediata, à necessidade de abrigo ou habitação provisória. Questões como a
sobrevivência; a satisfação temporária de certas necessidades; e a proteção das agressões externas
– através da eficácia de algumas funções primordiais que tem a ver com o clima, os bens materiais,
as emoções e até mesmo a intimidade –, são alcançáveis quando se cria um espaço que possa
compor tecidos sociais alternativos mas estruturados.
A par do clima, existem outros fatores que determinam a forma da arquitetura, tais como: a cultura,
a tradição, o material e ainda as condições económicas. Neste equilíbrio entre as condicionantes
climáticas e as influências culturais podem-se encontrar, por um lado técnicas construtivas
idênticas em regiões distantes, e por outro lado, métodos construtivos diferentes em regiões de
iguais condições climáticas.
13
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Importa encontrar-se meios que possam agilizar as respostas aos fenómenos naturais que assolam
o planeta, a arquitetura tem um papel fundamental antes e após a ocorrência dos mesmos, sejam
eles um terramoto, uma guerra, ou um vulcão, é fundamental encontrar meios que ajudem a
sistematizar as intervenções aquando da ocorrência de um qualquer desastre, minimizando assim o
seu impacto. Desta forma pode-se responder mais rapidamente na ajuda a ultrapassar as
dificuldades encontradas pelas ONGs nas zonas de catástrofe, aquando da necessidade de instalar
abrigos para os desalojados.
A construção desses abrigos pode não representar só a estrutura, mas também a maneira como as
pessoas interagem socialmente, a forma como eles percebem o seu mundo. O desafio de uma boa
solução arquitetónica de abrigo reside em encontrar uma estratégia que englobe cultura e tradição,
abraçando as infinitas possibilidades de criação arquitetónica, sem descurar as condições locais.
Assim, no amplo espectro desta investigação foram definidos dois objetivos específicos:
14
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Esta mesma ideia está subjacente no livro “Habitat transitório y vivenda para emergências”, de
Bedoya, F. (2004) no qual o autor faz uma reflexão teórica sobe a transitoriedade afirmando que
“(…)para compreender los fatores que determinam la necessidad de refúgio provisional de los
indivíduos, nacidas de la sostenibilidad, accesibilidad y calidad de vida” (Bedoya, 2004, p. 145).
Neste sentido, muitos foram os arquitetos que se revêm nesta realidade e propõem soluções
arquitetónicas que consiste no desenvolvimento de vilas construídas por estruturas habitacionais de
emergência como é o caso do projeto intitulado por “Make it Right” e realizado por treze ateliers,
entre os quais MVRDV, Morphosis, e KieranTimberlake Associates, com o objetivo de dar abrigo às
vítimas do furacão Katrina na região de Orleães - Estados Unidos da América.
Nem sempre as opções tomadas neste campo da arquitetura são as mais adequadas, mas denota-
se uma tendência crescente para o aproveitamento das habitações pré-fabricadas e temporárias
para permanentes, apesar da frequente rejeição por razões socioculturais como defende
Saldarriaga (2002). Esta alteração do contexto em que se erguem os abrigos temporários de
emergência acelera com frequência o desejo de uma vivenda moderna permanente, situada muito
acima das expectativas possíveis; realidades desajustadas e que geram uma descontextualização
do acontecimento e das possibilidades dos próprios indivíduos.
O caminho passa pela elaboração de planos e projetos coerentes dos quais advêm o contributo da
investigação teórica sobre o tema e na concretização de soluções que respondem à necessidade de
mobilidade, de qualidade de vida e de sustentabilidade. Para tal contribuiu Fred Cuny (1944-1995),
engenheiro civil norte-americano, desaparecido na Chechnya em 1995 durante uma negociação de
cessar-fogo, formado na área de planeamento urbano, desenvolveu grande parte do seu trabalho no
âmbito da intervenção pós desastre e na construção e desenvolvimento de comunidades
sustentáveis (Cuny, 1983).
15
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Na limitada escala de tempo de uma tese de mestrado é necessário focar mais determinadamente
um tema de pesquisa, assim, nos estudos de caso optou-se, também por “força” do segundo
objetivo, por dirigir a investigação aos abrigos transitórios. Focam-se também a resposta imediata
ao desastre (abrigos de emergência) e o processo de (re)construção permanente , mas no âmbito da
contextualização da abordagem arquitetónica aos desastres.
16
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
A seleção dos estudos de casos obedeceu aos seguintes critérios: período cronológico - são
catástrofes recentes, no presente século com um hiato temporal de 10 anos entre elas; a natureza
da catástrofe; o poder destrutivo - milhares de vítimas, colossais danos nas edificações e avultados
prejuízos económicos.
Numa segunda fase relativamente aos estudos de caso, foram consultados artigos e relatórios das
agências governamentais responsáveis pela resposta aos desastres, como agência UNDRO, a IFRC
(International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies) e Habitat for Humanity;
artigos, relatórios e páginas da internet das organizações internacionais intervenientes, tanto na
ajuda humanitária como no fornecimento de abrigos; livros específicos sobre o tema em estudo,
como o Beyond Shelter, entre outros; no caso concreto do Haiti, a página Web oficial do Haiti shelter
cluster , onde as agências intervenientes descarregavam toda a informação, desde relatórios até
desenhos técnicos dos abrigos fornecidos, foi particularmente útil ao desenvolvimento desta
investigação.
Os documentos oficiais:
As fontes estatísticas:
Para aplicar as entrevistas foi elaborado um guião, presente nos anexos desta investigação.
17
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Por dificuldades e obstáculos de impossibilidade dos possíveis entrevistados (uma vez que
normalmente são pessoas que percorrem o mundo com as organizações de ajuda humanitária, para
além de estarem ligadas ao ensino universitário), foram realizadas entrevistas informais, através de
mail (arquiteto Luís Almeida e arquiteta Clara do Vale) e mail e skype (professor David Sanderson).
Dessa informação foram retiradas dados, que nos encaminharam para um artigo escrito de Ian
davis, David Sanderson, IFRC, World Bank, de uma entrevista que deram através de meios de
comunicação, nomeadamente, boundaries, design Like you give a dawn, Asian Journal of
Environment and Disaster Management,IDS discussion paper, ALNAP Lessons Paper, para uma
página de internet (http://www.eshelter-cccmhaiti.info/2013/pages/150-members.php) que se
mostrou relevante para a investigação.
O método de análise e tratamento de informação desta dissertação foi realizado por uma análise
qualitativa, resultante dos dados recolhidos, segundo as orientações específicas deste método de
análise (Bogdan & Biklen, 1994; Garcia, & Matos, 2014).
18
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Capitulo1 – introdução
Neste capítulo são apresentadas as bases da investigação, o trabalho a realizar. Primeiro faz-se a
contextualização da investigação e a justificação da problemática, lançam-se os objetivos da
investigação, desenvolve-se a uma breve revisão da literatura e, antes de avançar para a metodologia,
explica-se a delimitação do tema e os critérios de seleção.
O primeiro aborda o fenómeno dos desastres, com um breve enquadramento histórico, ressalvando
alguns dos mais importantes desastres naturais ocorridos, a sua classificação quanto à categoria,
evolução, origem e intensidade. Numa fase posterior analisa-se particularmente a categoria dos
desastres naturais.
Individualmente, para cada estudo de caso, numa primeira parte, começa-se por fazer uma pequena
introdução, que incorpora dados referentes ao clima, relevo, condições socioeconómicas, políticas,
culturais e vulnerabilidade das populações. Seguidamente, aferem-se dados do desastre, tais como o
tipo, a magnitude, o grau de destruição habitacional, a quantidade de mortos e afetados, entre outros.
Finaliza-se, descrevendo-se em que moldes a arquitetura atuou para fornecer abrigo aos deslocados,
terminando com a análise de várias propostas de abrigos transitórios utilizados pelo
governo/organizações intervenientes.
19
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
20
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
21
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
O presente capítulo, aborda todas as questões relacionadas com as catástrofes que são explicadas
e definidas em termos de conceitos associados e classificação (intensidade, evolução, origem e
tipologia), incluindo-se uma pequena amostra de alguns acontecimentos históricos mais marcantes.
Seguidamente analisam-se as questões psicológicas associadas ao desastre, são debatidos temas
de habitat e transitoriedade, vulnerabilidade e risco. Analisam-se as condicionantes socioculturais,
socioeconómicas, climatéricas, populacionais, entre outras, e as implicações que poderão ter na
altura de intervir, assim com abordar estratégias de intervenção nas situações de pós-catástrofe.
Antes de entrar na temática dos abrigos de emergência, faz-se uma abordagem ao papel do
arquiteto e da arquitetura, a sua vertente social, hoje, no tempo dos “star architects”, um pouco
esquecida.
22
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
2.1. Desastres
Então Deus disse a Noé: (…) constrói uma arca de madeiras resinosas. Dividi-la-
ás em compartimentos e calafetá-la-ás com betume por fora e por dentro. Hás-
de fazê-la desta maneira: o comprimento será de trezentos côvados, a largura
de cinquenta côvados; e a altura, de trinta côvados. Ao alto, farás nela uma
janela à qual darás a dimensão de um côvado. Colocarás a porta da arca a um
lado, construirás nela um andar inferior, um segundo e um terceiro andar, pois
vou lançar um dilúvio, que tudo inundando, eliminará debaixo do céu todo o ser
animal, com sopro de vida. (Bíblia Sagrada, 1993, p. 23)
A construção da arca de Noé é um dos exemplos mais primitivos da provisão de refúgio contra as
catástrofes, neste caso, uma “vontade de Deus”, no sentido literal da palavra.
Gomes (2012) cita que as catástrofes naturais fazem parte da dimensão trágica da história da
civilização humana. A sensação de proximidade, temporal e espacial, que os múltiplos meios de
comunicação existentes introduziram transformam eventos dramáticos e longinquamente isolados
em realidades emocionalmente refletidas por todo o Mundo, gerando comoção e solidariedade.
Uma das mundialmente mais conhecidas catástrofes naturais da história é a erupção do Monte
Vesúvio, que deu origem à destruição de Pompeia. Pompeia foi uma cidade pertencente ao Império
Romano, localizada na região italiana de Campãnia, destruída em 79 d.C., quando o vulcão Vesúvio
entrou em erupção, destruindo-a por completo e matando todos os seus habitantes. Pompeia foi
sepultada pelas cinzas e pela lava, desaparecendo do mapa até 1748, quando escavações
arqueológicas encontraram o que sobrou da cidade, incluindo os corpos dos moradores,
engessados e na posição em que morreram. Hoje, Pompeia é considerada patrimônio mundial pela
UNESCO (Gomes & Saraiva, 2012).
Em 1755 ocorreu o famoso terremoto de Portugal, que atingiu 8,6 graus na escala Richter,
vitimando cerca de 50.000 pessoas, por decorrência dos tremores de terra, do tsunami e dos
incêndios que devastaram Lisboa. O maremoto varreu o Terreiro do Paço, e um gigantesco incêndio,
que durou 6 dias, completou o cenário de destruição de toda a Baixa de Lisboa. Ruíram importantes
edifícios, como o Teatro da Ópera, o palácio do duque de Cadaval, o palácio real e o Arquivo da Torre
do Tombo. Ao todo, terão sido destruídos cerca de 10 000 edifícios e terão morrido entre 12 000 a
15 000 pessoas, ou talvez muito mais (estudos modernos indicam que numa cidade com 275.000
habitantes tenham morrido entre 70 a 90.000 pessoas) (Anjos, 2013).
A cidade de Calcutá, Índia, também foi seriamente afetada por um ciclone em 1864 que, além do
rastro de destruição e do enorme prejuízo, causou 80.000 vítimas fatais.
Em 1906, o terremoto de San Francisco, considerado o maior desastre natural da história dos EUA,
devastou a cidade, não só devido à magnitude do desastre mas também decorrente do fogo que
demorou três dias para ser extinto. Os dados oficiais indicam cerca de 3.000 mortes e 225.000
pessoas desalojadas (quase 50% da população da cidade) (EM-DAT, 2009).
Mais recentemente outros desastres tem afetada diversas regiões do planeta, em 2003 um atingiu
aquela que era(é) o exemplo mais representativo de uma cidade medieval fortificada construída em
técnica vernacular usando camadas de lama (Chineh) combinados com tijolos de barro (Khesht),
23
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Outro exemplo de catástrofe natural, o tufão Hagupit, que varreu as Filipinas em 2014, no qual
milhares de casas foram destruídas contando-se com enumeras vítimas mortais e com milhares de
desalojados.
Na sociedade atual, as grandes catástrofes, confirmadas pelas estatísticas da EM-DAT (2009), estão
associadas maioritariamente a países não industrializados, principalmente no que concerne a
numero de mortes e desalojados, no entanto, como verificado no tabela 1 ,não completamente
afastadas, nem do contexto ocidental, nem dos países mais industrializados. Reportando-se assim
uma das maiores características destes fenómenos, a sua imprevisibilidade.
24
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Segundo Özden (2007), Um desastre é um evento de emergência, com origem natural ou provocado
pelo homem, de proporção catastrófica que resulta em graves perturbações do funcionamento
normal de uma sociedade, comprometendo as suas estruturas e funções sociais, económicas,
culturais e políticas devido às perdas humanas, materiais ou ambientais generalizadas que
excedem a capacidade da sociedade afetada para controlar ou recuperar destas consequências
usando apenas os seus recursos.
A International Strategy for Disaster Reduction (ISDR, 2004) afirma que “um desastre é uma grave
perturbação do funcionamento de uma sociedade, que provoca prejuízos humanos, materiais ou
ambientais em grau tão elevado que a sociedade afetada fica incapacitada de lhe dar resposta por
meios próprios.”
Fig. 1 - Consequências dos desastres de causa natural Fig. 2 - Consequências dos desastres de causa natural
Gilbert (1997, citado por Valencio, Siena, Marchezini & Gonçalves, 2009, p. 49) considera
(…) diferentes abordagens sobre o conceito de desastre que poderiam ser agrupadas
em três principais paradigmas: o desastre como um agente externo ameaçador; o
desastre como expressão social da vulnerabilidade; e, por fim, o desastre como um
estado de incertezas geradas pelas próprias instituições.
A United Nations International Strategy for Disaster Reduction (UNISDR, 2009, p. 9) define o
desastre como:
25
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Tobin e Montz (1997, p. 5) afirmam que os desastres naturais são “… o resultado de eventos
adversos que causam impactos na sociedade, sendo distinguidos principalmente em função de sua
origem, isto é, da natureza do fenómeno que o desencadeia…".
Como se pode verificar, para muitos autores, o conceito de desastre natural é relativamente
análogo.
Através das pesquisas efetuadas, quer a nível nacional, quer a nível internacional, verifica-se uma
relação entre a ocorrência de um facto e a mudança ou perturbação no quotidiano de qualquer
sociedade, ou seja, a importância de um desastre natural está relacionada aos seus efeitos numa
determinada sociedade e são essas sequelas que por vezes levam a um maior entendimento pela
noção de risco a que estão sujeitas.
Fig. 3 Inundação em Iowa, 2008 Fig. 4 - devastação de Porto Príncipe, terramoto do Haiti,2010 (1)
Uma sociedade define-se pelo seu contexto geográfico, por isso o território contribui para
materializar as relações sociais hierarquizadas.
Exemplificando, um furacão que trespasse vários territórios, com a mesma força, provoca um
número diferente de vítimas em cada um deles. Os estragos do impacto e pós-impacto estarão
ligados à pobreza e ao funcionamento da rede de relações para aliviar o sofrimento social, o que
tem implicâncias diretas na esfera política, sendo algo que antecede ao acontecimento trágico
(Quarantelli , 1981).
Por último, pode-se considerar que a própria existência do desastre, como fenómeno inevitável e
imprevisível, assume um caráter quase que exclusivamente social ao interferir nas distintas
territorialidades.
26
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
un suceso que causa alteraciones intensas en las personas, los bienes, los servicios y
el medio ambiente, excediendo la capacidad de respuesta de la Comunidad Afectada.
En pocas palabras es el producto, tanto de un fenómeno natural extremo, como de una
inadecuada relación del hombre con su medio.
O conceito de catástrofe está relacionado com o conceito “desastre”. São fenómenos que afetam
negativamente a vida e que, por vezes, causam mudanças permanentes na sociedade ou no
ambiente.
Fenómenos naturais ou humanos que por terem uma dimensão ínfima ou por não afetarem uma
população, por exemplo, algo que acontece num deserto, não são denominados catástrofes mas
sim “ameaças”, sendo ameaça um evento físico, fenómeno ou atividade humana que pode causar
danos sociais, económicos e ambientais, à vida e à propriedade (Leoni, 2012).
Esta, por sua vez, pode ser agravada pela ação humana através de “Comportamentos
inconsequentes e negligentes, como, por exemplo, a impermeabilização dos solos, as construções
em leitos de cheias, entre tantos outros” (Infopédia, 2013).
A junção de uma “ameaça” com outra circunstância vulnerável resulta num “desastre”.
“Vulnerabilidade” é entendida como a incapacidade de uma população ou comunidade de lidar com
os recursos e competências disponíveis. Por isso, a vulnerabilidade determina o risco de uma
população face a um desastre.
Em suma, a junção entre “ameaça”, “vulnerabilidade” e “risco” de uma população tem como
consequência a «catástrofe».
Resumindo, os conceitos de desastre e catástrofe, de facto, assumem por vezes e segundo alguns
autores, significados análogos.
27
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
2.1.2. Classificação
Os fenómenos imprevistos no nosso planeta são recorrentes. Estes têm um impacto devastador
com consequências maioritariamente nefastas. Para além de gerarem um grande número de
mortes destroem também o meio físico envolvente, em particular as habitações.
Os desastres naturais (causados por riscos naturais), os com origem na ação do Homem designados
por “tecnológicos”, que podem ter origem industrial, transporte ou mix; e ainda as referidas como
“emergências complexas”, onde há a combinação dos dois grupos. Também (Castro & Calheiros,
2007) os classifica como, naturais, provocados por fenómenos naturais extremos, que não
dependem da ação humana; humanos, aqueles causados pela ação ou omissão humana, e os
mistos, que combinam os dois anteriores.
Outros autores, como Tobim e Montz (1997), definem também três categorias, embora com
diferente abordagem, os desastres naturais, os industriais e os de ação humana, classificando-os
em cinco subgrupos que denominam de terra, ar, fogo, água e pessoas.
28
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Outra classificação comum utilizada por alguns autores é a intensidade do desastre, que segundo
Castro e Calheiros (2007), UNISDR (2014) pode atingir quatro níveis. O nível 1 é quando o desastre
é de pequeno porte, os impactos causados são pouco importantes e os prejuízos pouco avultados;
no nível 2, o desastre é de média intensidade, os impactos são de alguma importância e os
prejuízos são significativos, embora não muito avultados; quando atinge o nível 3 já é considerado
de grande intensidade, os danos já são importantes e os prejuízos avultados; o nível máximo, o 4, é
um desastre de grandes proporções, com impactos muito significativos e prejuízos muito avultados,
já não são superáveis e suportáveis pelas comunidades, a menos que recebam ajuda de fora da
área afetada.
29
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Embora sejam catástrofes de índole não natural, porquanto fora da temática desta investigação,
opta-se por fazer um breve apontamento de catástrofes provocadas pelo homem, até porque,
fundamentalmente no caso das guerras/terrorismo, as intervenções de ajuda humanitária no
âmbito da arquitetura de emergência (por exemplo, o levantamento de campos de refugiados)
podem ser bastante similares.
Tomando como exemplo: imediatamente antes do dia D, o sul de Inglaterra converteu-se num vasto
acampamento em que 1 400 000 soldados tiveram que ser alojados em tendas de campanha
(Davis, 1980).
- Guerra/terrorismo
De todas as catástrofes que podem ter mão humana é a que mais se aproxima- em termos de
destruição de habitação, de destruição de ecossistemas, de mortes e deslocados- às grandes
catástrofes de índole natural. Podem ter origem em várias causas, como por exemplo: a religião, a
raça, a disputa de territórios, de petróleo, etc. (Smith, 2013).
Duas das maiores catástrofes originadas pelo homem são as chamadas guerras mundiais, onde se
encontram vastos exemplos de refúgios provisórios, principalmente as casas pré-fabricadas que
tinham de ser construídas num período de tempo relativamente curto, pois urgia dar teto às famílias
cujas casas tinham sido bombardeadas (Davis, 1980).
Atualmente, os conflitos políticos (síria, Uganda, entre outros) são responsáveis pelo deslocamento
das populações, originando a construção de enormes campos de refugiados, onde o fornecimento
e/ou a construção de abrigos é prioritária para a albergar os, por vezes, milhares de deslocados. No
caso da guerra civil no Ruanda (figs. 5,6) foi necessário construir abrigo para os mais de 2 milhões
de refugiados (Vale, 2013).
Fig. 6 - Acampamento para refugiados do Ruanda. Fig. 7 - Refugiados fugindo da guerra civil que assola
o país.
- Desflorestação
A destruição de vastas áreas florestais para dar lugar à ocupação agrícolas, para a extração da
madeira usada no fabrico do papel e do mobiliário, para utilização como fonte de energia, para a
construção de estradas e edifícios, provoca a desflorestação, que ainda pode ter como causa as
chuvas ácidas e os incêndios. Como consequências deste fenómeno, podem enumerar-se a erosão
dos solos mais acelerada, as mudanças climatéricas, a destruição de habitats, a extinção de
espécies e a diminuição das capacidades de renovação do ar (Smith, 2013).
30
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Poluição
Podem existir três tipos de poluição: a do solo que tem como causas principais a agricultura
intensiva e as lixeiras, provocando a desertificação, a destruição dos ecossistemas, a contaminação
da água, etc.; a da água que tem como causas principais os derrames de petróleo e os efluentes
industriais e pesticidas que tem o seu destino final no mar. Provoca a extinção de espécies, a
bioacumulação, a eutrofização, etc.; e a atmosférica que pode ser de causa natural, a atividade
vulcânica e os incêndios naturais, ou humana, como o tráfego automóvel, as indústrias e a
agricultura intensiva.
Um dos mais visíveis efeitos da poluição mundial, neste caso atmosférica, é o aumento do efeito de
estufa, fomentado pelo aumento, principalmente, de dióxido de carbono e metano na atmosfera,
que provocam a destruição da camada de ozono, responsável pela filtragem dos raios ultravioleta
emitidos pelo sol.
Com a diminuição dessa camada de ozono os raios ultravioleta deixam de ser filtrados, provocando
aquecimento global, fusão do gelo existente no Pólo Norte e no Pólo Sul e alterações climáticas, tais
como chuvas ácidas (Smith, 2013).
Fig. 8 - Derrame de petróleo no Golfo do México (1) Fig. 9 - Derrame de petróleo no Golfo do México (2)
31
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Com o passar dos séculos, o homem foi aprendendo a ultrapassar alguns dos efeitos catastróficos
da natureza. O efeito destas catástrofes na paisagem são importantes para o planeamento de
outras áreas que estão sujeitas aos mesmos riscos.
A fatalidade ocorrida no Japão em Março de 2011, não foi apenas devida ao terramoto, mas
também ao enorme tsunami desencadeado, que devastou parte da costa Leste e originou o mais
grave incidente, a explosão das centrais nucleares, cujos impactos ambientais e sociais far-se-ão
sentir durante muitos anos. A contaminação dos solos bem como a libertação da energia radioativa
marcaram negativamente a humanidade. Não obstante, mesmo não sendo uma área densamente
povoada, a forma como os Japoneses lidaram com o fenómeno e as respostas que encontraram,
constituem já lições de planeamento da paisagem.
Segundo dados da “Emergency Events Database” (EM-DAT, 2009), que os identifica como os mais
significativos e recorrentes, as calamidades com origem natural são divididas em 5 subgrupos, (os
de origem Geofísica, Meteorológica, Hidrológica, Climatológica e Biológica),que se subdividem em
tipos e subtipos (ver tabela 1). A Organização Mundial de Saúde (OMS) engloba os de origem
Meteorológica e Hidrológica num só, chamando-lhe hidrometeorológica, afirmando que os que
surgem com maior assiduidade são os relacionados com condições meteorológicas, situações
hidrológicas ou características climáticas.
Analisando os dados da EM-DAT (2009) verifica-se que os desastres mais devastadores são os
hidrológicos, meteorológicos e geofísicos estando os terramotos, as tempestades e as inundações
na linha da frente nas estatísticas de perdas humanas e económicas.
32
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Priónia
Infestação de insectos Lagostas
Lombrigas
Debandada de animais
Tabela 2 - Tipologia de Desastre
33
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 11 – Consequências do deslizamento de terras Fig. 12 - Reatores nucleares de Fukushima 11/3/2011 após o
Terramoto de magnitude 8,9 seguido de tsunami no Japão
São pois diversos os tipos de desastres naturais, dos quais se enumeram alguns dos mais
recorrentes:
- Terramotos
A energia que se liberta e se espalha na superfície advém através das ondas sísmicas. Dentro dos
terramotos estes podem ser distinguidos em três classes: os tectónicos, que são provocados pelos
movimentos das placas tectónicas; os vulcânicos, que são provocados pela ascensão do magma às
camadas interiores dos vulcões, provocando a rutura das rochas, causando a sua erupção e os
artificiais, que são causadas pelo homem (García et al., n.d.).
Nestes desastres naturais integram-se os três exemplos a serem analisados ao longo deste
trabalho.
- Tufões ou furacões
Consistem em ventos muito fortes e rápidos que se movem em forma circular em volta da cratera de
um vulcão que é o centro de baixa pressão. Acontecem quando a massa de ar quento
chocam com massa de ar frio podendo ser superiores a 250kms.
Fig. 13 – Devastação originada pelo tsunami do Japão 2011 Fig. 14 - Habitações completamente destruídas pelo terramoto do peru
2007.
34
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Vulcões
Consiste na abertura da camada terrestre pela qual é expelida a lava conferindo a esse espaço uma
forma de cone de matéria vulcânica. No seu cume encontra-se a cratera.
Alguns incidentes de origem vulcânica derivam de grandes explosões que destroem o vulcão, como
é o exemplo de Krakatoa (1883), na Indonésia. Esta ilha com 47km2 sofreu várias explosões, após
uma erupção, destruindo a maior parte dela. Concludentemente, causou um maremoto, provocando
a morte de 36 mil pessoas (García et al., n.d.).
Fig. 15 – Destruição causada pela erupção do vulcão da ilha do fogo Fig. 16 – Uma cidade prestes a ser “engolida” por uma tempestade
de areia
- Tsunami
Um Tsunami é uma onda originada no oceano, por um sismo, cujo epicentro se localiza no mar
(ANPC, 2009).
García et al. (n.d.) e Carmo (2005) referem que os tsunamis podem ainda resultar da consequência
de deslizamentos de taludes submersos, de erupções vulcânicas, de fenómenos de interação e
rápida descompressão de placas tectónicas, de explosões ou ainda de embates de corpos
cósmicos, como meteoritos.
O mesmo é referido por Corsellis e Vital (2008, p. 83), que afirmam “Tsunamis são grandes ondas
causadas pelo deslocamento de água por terremotos, erupções vulcânicas e deslizamentos de
taludes costeiros.”
-Tornado
Rotação de vento forte que gira sobre si mesmo e estende-se desde a superfície da terra até as
nuvens. Originam-se a partir de uma massa de ar quente e húmido com outra de ar frio e seco.
-Ciclone tropical
Ocorrência de variações de circulação de ventos centrado num centro de baixa pressão. Podem
induzir a tornados, chuvas torrenciais, ventos fortes. Apenas se formam no oceano atlântico norte,
zona este, oeste e sul de oceano pacífico e no sudoeste, norte e sudeste do oceano indico. São
recorrentes no fim do verão quando as temperaturas da água são mais quentes. As águas quentes
da superfície do oceano constituem a sua principal fonte de energia.
“As tempestades resultam da rápida circulação das massas de ar entre áreas de pressão de ar
diferentes. Ciclones são particularmente grandes tempestades em que o ar circula num centro de
baixa pressão.“ (Corsellis & Vital, 2008, p. 72).
35
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
-Inundação
“Inundações desenvolvem-se a partir de uma série de eventos, de início lento ou rápido, que podem
ocorrer em bacias hidrográficas, ao longo das costas, ou em áreas urbanas, muitas vezes como
resultado de chuvas torrenciais, tempestades e marés altas.” (Corsellis & Vital, 2008, p. 69).
São consequência de chuvas intensas, pela passagem ao estado líquido de gelo e neves, por
transbordo de águas de rios, etc. O maior problema prende-se com as construções embora a
legislação já condicione a construção em zonas dadas a inundações (García et al., n.d.).
Menos devastadores mas inseridos na classificação dos desastres naturais existem ainda secas,
vagas de frio e calor, avalanches, pandemias e erosões (Alexander, 1999).
Fig. 17 - A impressionante força de um Tornado Fig. 18 – Devastação causada pelo furacão katrina
Fig. 19 - Inundação de Rajanpur, Paquistão, 2010 Fig. 20 – formação de um ciclone duplo, Islândia, 2006
36
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Tal uso generalizou-se também à arquitetura que opera em contexto pós-catástrofe e por isso
mesmo de exceção, sendo a emergência um fenómeno temporal – com estádios ou fases mais ou
menos definidos – um ciclo de passagem no curso de um processo de transição. É neste sentido
que a expressão «arquitetura de emergência» vem sendo concebida e difundida.
A arquitetura de emergência imiscui-se numa lógica diferente da convencional na medida em que a
satisfação das necessidades básicas dos desalojados em matéria de habitat, aqui entendido como
abrigo temporário, deve prevalecer durante a fase transitória até à conclusão da (re)construção
permanente.
Como já foi referido, as situações de catástrofe para além do impacto direto que têm sob as vítimas,
mexem também com um dos pilares da condição Humana, o seu habitat.
Primeiramente conclui que a definição de temporário indica um caráter específico, algo não
duradouro ou permanente, uma qualidade de algo que apenas subsiste por um determinado
período e que termina.
Em segundo lugar, a transitoriedade apresenta-se como algo passageiro, não conclusivo, que está
destinado apenas a durar algum tempo não se prolongando, porque o seu acontecimento surge do
momentâneo, do temporal e do efémero.
Nesta perspetiva, a transitoriedade inclui o que é temporário e desenvolve-se como cenário deste
(Bedoya, 2004).
37
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
No mesmo texto Bodoya (2004) cita Eoin O’Cofaigh (n.d.) , o qual afirma que a Pós Modernidade
relaciona a condição do temporário com a globalização do comércio e das comunicações, na
medida em que estas permitem a uma maioria acompanhar sucessivamente o que acontece no
domínio pessoal e universal.
É neste prisma que a noção do espaço no habitat do transitório se pode interpretar como
mobilidade. Transitório é um período, é passar de uma vida para a outra, é estar de passagem
(Bedoya, 2004).
Fig. 22 - Tempo de permanência nos transportes Yokohama Fig. 23 - Tempo de permanência no local de trabalho
38
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Segundo Bodoya a transitoriedade não ocorre apenas quando existe uma situação de risco ou
emergência e por isso, podes julgar que viver na transitoriedade, pode-se converter num estímulo e
em algo positivo em determinada circunstância (Bodoya, 2004).
Citando Martin Heidegger na análise que este faz sobre a experiência de transitoriedade dos
trabalhadores, uma vez que os mesmos permanecem a maior parte do seu tempo no local onde
desempenham a sua atividade profissional, contudo não o habitam.
Assim habitar implica ter somente um alojamento. O que coloca a possível diferenciação entre
alojamento e habitar, do ponto de vista que o primeiro influi sobre as condutas sociais, a saúde
física e mental dos moradores e por seu lado habitar, o fim a que preside todo o construir. Assim os
indivíduos e os grupos sociais constroem o seu habitat na medida em que os habitam, ao ter que
ocupar este locais transitórios, dão sentido a esses lugares, construindo-os (Heidegger, 2009).
Deste ponto de vista, o habitat transitório seria um ambiente determinado no qual se faz uma
paragem, se mude momentaneamente para poder ir para outro ambiente.
Bollnow, por sua vez, sugere que a transitoriedade não é possível no habitat, uma vez que “O
Homem tem que se fixar neste ponto, sujeita-se a ele, para poder resistir ao ataque do mundo, que
o quer desenraizar novamente […] Habitar significa, pois: ter um local fixo no espaço, permanecer
nesse lugar e estar enraizado nele.” (Bollnow, 1969).
Com a mudança para um novo local, este converte-se numa nova referência sobre a sua origem e
identifica-o segundo a distância que o separa do mesmo. Existe assim, simultaneamente, o tempo
passado e o espaço conhecido, as pessoas interrelacionam-se com o novo habitat e tornam-se em
princípio mais solidárias.
A sua estrutura, o novo local, modifica transitoriamente alterando os seus costumes e estabilidade.
Acontece uma alteração em relação ao desconhecido e um novo sentimento de incerteza. Inicia-se a
exploração de novos sentimentos, mudanças relativas aos afetos, ansiedade, depressões e o
instinto de agir somente face ao que é conhecido, o receio do desconhecido (Grimberg, 1980).
39
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
A construção de um novo habitat fruto de uma catástrofe deve estar integrada por novos
componentes, derivados de reações psicológicas face a aos mesmos, que têm a ver com processos
de pensamento, situações emocionais, com atividade psicomotora dos indivíduos e com os diversos
comportamentos coletivos de grupo em sociedade (Bedoya, 2004).
Todas as catástrofes tendem a deixar um rasto de destruição na região onde ocorrem.
Para além das perdas materiais, é preciso ter em conta as consequências que tal tipo de ocorrência
pode ter na vida e na mente das pessoas afetadas.
Segundo Bedoya, vários autores referem que durante o tempo de permanência num habitat
transitório, constatam-se normalmente três características:
Fatores psicológicos
-Aglomeração:
-Desenraizamento:
40
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 27 – As ruas do Haiti após o Terremoto de 2010 Fig. 28 – População desalojada, Terremoto do Haiti, 2010
Segundo Trindade, “é pois um problema que diz respeito a todo o género humano, que envolve a
totalidade dos direitos humanos, e sobretudo tem uma dimensão espiritual que não podes ser
esquecida, ainda mais no mundo desumanizado de nossos dias.” (Trindade, 2001, p. 35).
-Incerteza:
Segundo Puy e Cortés (1998) é inerente à definição de Risco e é uma componente fundamental do
mesmo que desencadeia interrogações sobre as probabilidades e estimativas das lesões físicas e
materiais que os indivíduos sofrem. Este sentimento adquire um especial significado no momento
em que se percebe a magnitude ou gravidade de uma perda, à qual se vão somando outras,
eventualmente.
Crê-se que num habitat transitório ocorre a substituição da segurança pela Incerteza, entendida
como risco, quanto maior é esta maior certamente será o risco.
A perplexidade desenvolve-se face às ruturas psicológicas, morais e materiais, face ao grau de
confiança no presente e no futuro e face à acumulação de toda esta informação (Bedoya, 2004).
É por isso importante um conhecimento profundo dos seus hábitos, de forma a antever o que
poderá acontecer no caso de catástrofe, tornando-se premente o conhecimento das próprias
relações que os indivíduos estabelecem entre si no seu meio tornando mais acessível a intervenção
e resposta numa situação de emergência. O contrário irá colocar as equipas em situação
desfavorável uma vez que para cada desastre é necessário respostas adequadas e singulares.
A habitação e a cidade são realidades que surgem como resposta a diferentes necessidades
humanas e individuais. Surgem para albergar diferentes usos ou providenciar utilizações que
proporcionam uma vivência humana mais segura e mais equilibrada quando que o não
conhecimento dessas apresenta-se como um constrangimento e limitação na ação pretendida de
resposta.
Bedoya (2004) cita Amos Rapoport, sobre a importância de considerar a relação entre as
expressões espaciais, formais, sociais e simbólicas, porque segundo a sua tese, quem habita um
espaço, constrói-o, e dá-lhe significado, usa-o e não o usa.
A habitação e as cidades são então a manifestação do quotidiano das pessoas que habitam estes
espaços (Tapada, 2003). Significa portanto que quando se (re)constrói ou proporciona um novo
local de emergência deverá ter-se em conta, tanto quanto possível, esta rede de relações, por forma
a não fragilizar ainda mais as pessoas envolvidas e permitir-lhes o mais rapidamente alcançar uma
estabilidade e maior equilíbrio.
41
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Como se faz referência atrás, a devastação causada pelos desastres naturais é arrebatadora tanto
para a população local, como para as construções existentes. Os impactos devido à ocorrência
desses desastres não são um fenómeno recente. No passado eles também existiram e alguns estão
bem documentados (o terramoto de Lisboa, em 1755, as inundações na China em 1887, o
terramoto de São Francisco em 1906, entre muitos outros).
Embora não seja consensual, tudo indica que os desastres naturais se tenham tornado mais
frequentes e de maior intensidade. Ao longo dos anos, a demanda dos desastres naturais não dá
tréguas às povoações, acumulando números devastadores quanto à destruição da edificação e ao
significativo número de baixas humanas.
Certo é que, que a aplicação de um conhecimento específico e especializado, nas últimas décadas
veio não só prever estas catástrofes, como minimizar o seu impacto.
Com base nos dados da EM-DAT (2009) (fig. 29), o número de desastres naturais, em todo o
mundo, sofreu um acréscimo significativo desde o ano 1900.
Através da leitura da figura 29, verifica-se que o número de desastres aumentou, assim como o
número de pessoas desalojadas. No entanto, regista-se um decréscimo no número de mortes,
seguramente devido ao progresso da arquitetura, entre outros fatores.
Analisando a figura acima, é possível verificar que até aos anos setenta ocorreram menos de cem
catástrofes por ano. Na década de noventa houve aproximadamente trezentas ocorrências por ano
e, na última década, o número aumentou progressivamente, como é possível visualizar na figura 29.
Pode-se concluir que as catástrofes naturais se apresentam como uma realidade da época
contemporânea. Não obstante, a periocidade das mesmas faz com que o conhecimento sobre as
catástrofes seja maior, tendo possibilitado uma mudança na atitude de resposta. Atualmente têm-se
reunido esforços no que concerne às medidas de prevenção para que os efeitos nocivos diminuam.
A economia moderna frisa o crescimento e progresso relativos à natureza urbana, isto para dizer
que se está perante um reforço do êxodo das populações para as zonas urbanas, em grande força.
42
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
A intensidade e impacto dos desastres naturais é elevada, tanto em meio urbano, como em meio
rural. Refletindo, quanto aos municípios, estes são, habitualmente, aqueles que acusam maior risco,
uma vez que cada vez mais se apresentam como mais vulneráveis ao aumento populacional,
excesso de ocupação, falta de cuidado e de organização urbanística.
A necessidade, cada vez maior, de expansão e sobrelotação das áreas urbanas e territoriais,
provocam um crescimento demográfico e populacional que corroboram os interesses e especulação
imobiliário que se apresentam, muitas vezes, como contrárias ou em situações de inexistência
quanto às políticas públicas de ordenamento de território. Tal situação válida e propícia a que o
crescimento desorganizado das zonas urbanas, o seu processo de urbanização e implementação de
edificações cada vez mais voraz e intensa, provoquem e potenciem mudanças no meio ambiente,
designadamente contribuindo para o aumento de problemas graves de natureza física, social e
económica (Nunes, 2007).
Esta destaca-se como uma causa para que, segundo Rodrigues e Filho, “A busca pela
sustentabilidade nos municípios é cada vez maior, e para isto criam-se instrumentos de
planeamento e gestão de políticas públicas” (Rodrigues & Filho, 2009, p. 2).
O avanço e aglomeração de população em zonas não capazes, que não conseguem saciar a
necessidade das populações, fazem com que as mesmas se instalem em zonas de perigo, elevando
o risco em qualquer situação de desastre natural para uma catástrofe de devastação que implique,
para além da destruição do edificado, a eliminação de vidas humanas.
No sentido de eliminar ou diminuir o impacto dos desastres naturais, deve ser criado e desenvolvido
um plano de controlo e contenção de emergências. Desta forma, deve haver a criação de um plano
urbano de forma a ser possível avaliar as necessidades, permitindo melhorar a qualidade de vida da
população e a capacitar, criando orientações que reforcem a intervenção de forma a melhorarem a
implementação das ações de intervenção. Para tal, alguns autores, consideram necessário que se
estabeleça limite quanto a questões que organizem e limitem a ocupação de terrenos inadequado e
em áreas de risco, para que seja possível fazer-se uma ocupação mais consciente, potenciando a
sustentabilidade ambiental, como forma de minimizar os resultados causados (Cardoso & Feltrin,
2011).
Como exemplo do que se acabou de referir, constata-se que as cidades nos países desenvolvidos,
acabam por estar menos expostas a certos riscos, pois possuem uma estrutura socioeconómica
mais capaz de responder e lidar com este tipo de situações.
43
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
De acordo com Kanh (2003), há uma relação estrita entre o número de vítimas e o nível de
desenvolvimento socioeconómico. Quanto mais pobre uma nação, maior o impacto de um desastre
natural. Se juntarmos um número avultado de pessoas a habitarem em áreas de risco a uma
economia débil e estagnada tem-se fatores mais do que suficientes para que haja um elevado
número de mortes e feridos.
Esta situação é ainda agravada pela falta de infraestruturas, pela má qualidade das construções e
pela ausência de políticas de planeamento que ajudem na prevenção de desastres.
Isto talvez explique porque o terremoto do Haiti matou mais de 200.000 pessoas enquanto o
terramoto no chile, muito mais forte, sentido algumas semanas mais tarde, fez menos de 500
vítimas.
Os seres humanos transformaram aquilo que era a dinâmica natural terra, por exemplo sismos,
tsunamis, erupções vulcânicas, ciclones tropicais, ondas de Frio/calor, secas e inundações, em
fenómenos que provocam catástrofes naturais. O risco natural, traduzido nestes fenómenos,
quando ocorre em sincronia, no tempo e no espaço, com as vulnerabilidades do sistema humano,
origina frequentemente catástrofes naturais (Ayala, 2002).
As catástrofes naturais ocorrem em todo o mundo e, são diversos os fatores que contribuem para
agravar o cenário aglomerando ameaças e vulnerabilidades, dentre os quais:
Esta última, segundo Carlos Bateiro, presidente da Associação Portuguesa de Geomorfólogos, está
ainda por provar cientificamente (jornal de noticias, 2014).
As catástrofes naturais são consequência dos eventos provocados pelos riscos naturais que
superam a capacidade de resposta local e afetam seriamente o desenvolvimento social e
económico de uma região. Contudo, é importante não esquecer que a magnitude da catástrofe está
diretamente relacionada com a forma como os indivíduos e as sociedades se relacionam com as
ameaças. Isto significa que a magnitude da catástrofe é, assim, determinada pela ação humana, ou
a falta dela (Inter-Agency Standing Committee [IASC], 2011).
Assim torna-se possível aferir que o impacto e gravidade das consequências é proporcional à
vulnerabilidade das comunidades e dos territórios, dos seus hábitos e tradições, estando muitas
vezes associada a condições de pobreza que obrigam as populações a migrarem para áreas de alto
risco, com recursos escassos e à construção de habitações vulneráveis. Desta forma reforça-se a
existência de uma relação direta entre vulnerabilidade e pobreza.
O processo de urbanização manifesta-se como uma contingência grave quanto a prevenção ou
mitigação dos efeitos quando se fala em desastres, de qualquer tipo incluindo os desastres
naturais.
O impacto evolutivo da modernização industrial permitiu na Europa que as cidades e aglomerados
urbanos se desenvolvessem, criando também vários postos de emprego ligados à indústria.
Paralelamente, e contrastando significativamente os países em desenvolvimento/subdesenvolvidos,
a organização urbanística pautou-se pelo ritmo descontrolado provocando um crescimento urbano e
sua implementação de forma desordenada.
44
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Os fatores referidos apresentam-se como agravantes da situação das populações quanto às suas
habitações e edificação de serviços propagando as inúmeras ocorrências problemáticas
subjacentes à excessiva ocupação urbana, acrescendo a predisposição para desastres naturais,
consequência das edificações irregulares e em locais sem condições e infraestrutura (Araújo, 2012).
Assim é possível referir que, segundo Araújo, nos países subdesenvolvidos, ou em desenvolvimento,
e nas cidades com grande densidade populacional, a população com menos recursos financeiros e
socialmente desfavorecida, que é colocada em zonas de periferia, com reduzidas condições
habitacionais, de infraestrutura e carência de serviços básicos, em situações de pobreza, ficam
mais vulneráveis aos desastres, uma vez que se encontram a viver em locais de risco, potenciando
assim a probabilidade de aumentar as consequências. Nestes casos, a probabilidade de maior
impacto de um desastre é maior podendo conduzir a um elevado número de perdas de vidas e
consequências de destruição material no sector edificado (Araújo, 2012).
Nos países com mais recursos tecnológicos é possível controlar alguns dos fenómenos naturais.
Contudo, nos países não industrializados, a população atua particularmente para amenizar as
sequelas dos fenómenos. Para Davis (1980), a má escolha na fixação das habitações e a qualidade
construtiva deficiente deixam grande parte da população vulnerável à catástrofe. Estas optam por
edificar habitações mais resistentes ou deslocam-se para locais mais seguros.
45
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
circulação possível, o numero de população, entre outras informações, torna-se mais acessível a
possibilidade de melhorar e eficiência na resposta que se deseja a mais eficaz nestas ocorrências.
O uso da imagem seguinte serve-nos para analisar um exemplo de procedimento, que, segundo
Nunes, devem ser adotados em caso de desastres naturais, neste exemplo os tornados. Estes
procedimentos foram divididos em três etapas:
Fig. 31 - Plano prático para mitigação de danos causados por desastre natural
Por exemplo, na cultura islâmica, há espaços das habitações onde a mulher não pode entrar, são
áreas destinadas apenas ao homem. Esses espaços e tradições existem, culturas onde a mulher
46
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
não é vista como igual. Portanto, quando se desenha um abrigo, seja ele permanente ou não, é
preciso considerar todas estas questões.
A estrutura deve ser projetada para acomodar as preferências sociais, culturais e religiosas dos
sobreviventes (Sinha, 2012).
Como afirma Davis (1980), todos os estudos sobre o fornecimento de habitação ou de refúgios a
uma comunidade afetada devem partir em primeiro lugar do estudo dessa comunidade, as
construções a fornecer devem ter uma relação estreita com os modelos culturais locais.
Este conhecimento deve ser mais específico do que geral, tanto para o projeto como
para a execução, e não deve conhecer limites. Devem estudar-se as formas nativas, já
que nos mostram muito claramente as relações entre os estilos de vida, os valores e a
forma física, a relação entre a estrutura social e a vivenda, a vivenda e o meio
ambiente, e por ai adiante. As formas das vivendas tradicionais, os seus modelos
sociais e culturais, deveriam ser considerados o ponto de partida em vez de serem
ignorados. (Davis cit. Rapoport, 1980, p. 37)
Na figura acima é possível analisar o impacto dos acidentes e das perdas económicas por anos,
neste caso consequentemente a desastres causados por ciclones. É apresentada uma comparação
entre sociedades de baixo, médio e alto estrato capital. O índice mais elevado representa perdas
humanas e as colunas mais escuras as perdas e baixas económicas. Quanto aos países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, a taxa de perdas humanas é bastante superior quando
comparada com os países desenvolvidos. Por sua vez, nos países desenvolvidos o impacto é mais
47
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
significativo quanto ao enquadramento económico. Com esta análise pode reforçar-se a ideia de
que quanto mais desenvolvidos os países, mais segurança apresentam, sendo menos propícias ao
forte impacto dos desastres naturais. Estes países mostram estar menos expostos a alguns riscos
possuindo uma estrutura socioeconómica que consegue responder a estas situações.
Estas situações apresentam ainda mais contingências e dificuldades agravadas pela falta de
infraestruturas, pelas debilitadas características das construções e pela parca ou inexistente política
de planeamento que auxilie e oriente na prevenção e resposta em caso de catástrofes naturais.
Quanto maior for o défice social e económico de um país ou localidade, maior é o impacto de um
desastre natural, sendo que as contingências de um local subdesenvolvido implicam seriamente a
prevenção de riscos, bem como na possibilidade de resposta e de ação célere e capaz. Assim, as
consequências agravam-se em proporção à vulnerabilidade de uma sociedade, comunidade ou
território, que está muitas das vezes intrinsecamente ligado a condições de pobreza, que implicam a
necessidade de as populações migrarem para áreas de maior risco, sem recursos ou com recursos
escassos, que possibilitem a construção de habitações mais seguras e menos vulneráveis.
A realidade de um local quanto à sua situação económica e social traduz-se em reflexos que tornam
difícil a mitigação dos riscos de desastres ou de uma ação de resposta. Estas limitações
apresentam contingências que proporcionam uma difícil intervenção.
A disparidade do impacto entre dois diferentes casos poderá estar separada por diferenças
existentes na preparação do desastre, a qualidade das habitações, infra estruturas e mesmo os
serviços existentes.
Estas são contingências que se colocam muitas vezes e em que a redução de vulnerabilidade se
torna numa das medidas mais eficazes de prevenção. Para tal, impõe-se determinado grupo de
ações como:
- Redução do grau de exposição;
- Realização de ações de proteção;
- Melhoria da capacidade de reação imediata através de mecanismos de alerta e formação
comunitária;
- Certificação da recuperação básica a um nível global;
- Garantia de reconstrução da zona afetada, fomentando a recuperação definitiva do mesma,
assegurando a sua continuidade, entre outros.
Como referido anteriormente, durante os últimos anos a ocorrência de desastres naturais tem sido
mais frequente. Estes fenómenos e desastres naturais podem fazer a sua aparição e prejuízo em
qualquer parte do planeta embora exista a perceção dos locais onde existe maior probabilidade de
incidência, sendo assim considerados como zonas de maior risco. É implicativo desta forma o
enorme aumento de densidade populacional. Cada país é possível de ser distinguido pela sua
probabilidade afeta a uma determinada catástrofe, como nos dá Allianz o exemplo afirmando que
“comparada com os Estados Unidos, a Ásia é 590 vezes mais vulnerável a terramotos, 62 vezes
mais vulnerável a inundações, e 40 vezes mais vulnerável a ciclones tropicais” (Allianz, 2011, p. 4).
Esta questão geográfica é agregada a questões que se apresentam como dificuldades acrescidas
face à resposta ou mitigação de riscos pretendidas num determinado país, uma vez que os
desastres não apresentam o mesmo impacto nem afetam todos os locais por igual. Contingências
existentes nos países de debilidade no sistema social apresentam implicações no local bastante
mais vulnerável e exposto.
Para Sálas (2006), a vulnerabilidade pode ser dividida em dois aspetos: a humana e a estrutural ou
física, apresentando-se a primeira como a falta de capacidade de um individuo ou grupo social
prever o impacto de uma ocorrência de catástrofe, a forma como lhe vai reagir e posteriormente
como se vai refazer das condições posteriores ao desastre. A vulnerabilidade estrutural ou física
descreve o grau até ao qual uma construção ou um serviço é suscetível de ser danificado ou
alterado numa situação de perigo.
48
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Ian Davis afirma que o mesmo fenómeno natural, ao afetar regiões geográficas distintas, produz
diferentes consequências para cada situação, determinado pela condição social, cultural, política e,
sobretudo, económica do local (Davis,1980). Estes factos influenciam diretamente a vulnerabilidade
de uma comunidade.
Outra demanda que possui um carácter deficitário e com implicações tão negativas quanto as
catástrofes naturais é a rápida urbanização e o aumento exacerbado da densidade populacional,
representando novos desafios para o planeta. Atualmente, considera-se que cerca de mais de
metade da população mundial vive em cidades, em grandes aglomerados populacionais, sendo que
aproximadamente um bilião de pessoas vive em condições precárias, na pobreza. É possível
seguindo a tabela seguinte observar a evolução desse mesmo crescimento comparativamente em
zonas rurais e urbanas.
49
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
ainda, o clima. As características físico-climáticas condicionam os riscos, pois as regiões são sujeitas
a diferentes processos geofísicos e hidrometeorológicos.
Grandes cidades são construídas em bacias sedimentares onde a infiltração das águas pluviais é
mais dificultada, ou avançam em direção às encostas, locais naturalmente instáveis, outras há,
construídas em várzeas de inundação. Tudo isso ajuda, não só a aumentar o número de episódios
catastróficos, mas também a dimensão das suas nefastas consequências (Nunes, n.d.).
Reforça-se ainda pelas alterações climáticas, que agudizam ainda mais as condicionantes, tornando
mais vulnerável grande parte da população mundial que vive principalmente nos países menos
desenvolvidos, que se caracterizam por estarem menos preparados para enfrentar estas mudanças
e para lidar com as suas consequências de forma a responder de forma capaz.
Os mecanismos usados para diminuir, ou tentar eliminar os efeitos dos desastres, são diferentes,
assim como as medidas de controlo e prevenção. Ian Davis, afirma que os países desenvolvidos
adotam “soluções materiais”, enquanto os subdesenvolvidos optam por “mecanismos sociais”. Nos
países desenvolvidos efetuam o controlo dos fenómenos, fazendo, por exemplo, construção de
diques, no caso da prevenção de inundações. Nos países subdesenvolvidos, tentam reduzir as
implicações do desastre e suas consequências, tentando reforçar as habitações ou optando por
migrar para locais mais seguros (Davis, 1980).
Foi feito um percurso positivo quanto ao entendimento dos desastres naturais ao longo das últimas
décadas, apurando a forma de resposta às suas consequências. Sendo a periodicidade dos
desastres naturais cada vez mais assídua, foi necessário tomar decisões mais concertadas para
uma resposta, adotando-se medidas de prevenção de forma a diminuir os efeitos negativos.
A junção de diferentes condicionantes, como é o aumento populacional, a rápida e descontrolada
urbanização, a degradação do meio ambiente, características geográficas e a existência de um
planeamento de desenvolvimento territorial débil, aumenta e promove a segregação socio espacial,
a aglomeração de capital em áreas de risco, tornando as práticas de um crescimento e
desenvolvimento insustentável onde a resposta é difícil, reforçando a vulnerabilidade das
sociedades e do território geográfico onde estão implantadas.
As limitações causadas por estas contingências tornam cada vez mais reforçadas as desigualdades,
sendo inegável imputar grande responsabilidade das ações ao indivíduo, assumindo-se como o
principal interveniente e responsável pela situação de risco em que milhares de populações vivem.
No sentido mais positivo, pode-se pensar a urbanização como um fenómeno de expansão e de
crescimento e desenvolvimento, onde se estabelecem as grandes potencias por serem locais
predominantemente urbanos, ao contrário das nações mais pobres e predominantemente rurais.
Por outro lado, numa perspetiva mais otimista, o rápido crescimento urbano pode revelar-se
benéfico, considerando que as grandes potências mundiais são predominantemente urbanas, em
oposição às nações mais pobres, predominantemente rurais. O fenómeno de “urbanização” é
geralmente associado a “desenvolvimento” e vulgarmente sinónimo de maior índice de
desenvolvimento humano, melhores serviços e infraestruturas públicas, maior capacidade de
responder a crises (económicas, políticas, sociais e ambientais), etc.
Referimo-nos até este momento a questões que representam dificuldades, constrangimentos
representativos de fatores urgentes que afrontam as sociedades e que urge uma atenção em forma
de prevenção e ação de resposta mais eficaz. Todas estas questões apresentam para a arquitetura
um grande e constante desafio social e a necessidade de um trabalho concertado a nível global, de
forma a conseguir-se tirar partido e usar os recursos que existem e que estão disponíveis.
Embora a arquitetura se tenha desenvolvido e descoberto novas soluções, tem estado menos
preocupada com os grandes desafios da sociedade atual, uma vez que a sobrevalorização da
arquitetura provoca uma mudança nas prioridades dos arquitetos, desviando por vezes o seu
propósito de intervenção social.
Este paradigma pode estar associado à concentração de conhecimento e de técnicos na área onde
se centram os sectores mais desenvolvidos e economicamente mais avançados.
Não se deve esquecer que a arquitetura e os arquitetos, projetam em si a necessidade de se verem
e atuarem como “(…)artistas, assim como ativistas culturais, construtores da democracia, criadores
da comunidade ou construtores de paz”( Lobos, 2001, p. 17), para que se atinjam o maior número
50
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Ian Davis considera que as estratégias de intervenção devem seguir determinados parâmetros de
resposta, tais como:
51
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- A rápida reconstrução;
- A construção de edifícios de transição, garantindo a integridade das populações vitimizadas,
com o auxilio e participação da população afetada e disponível, acrescido de atribuição de
incentivos económicos e assegurar que durante o período de reabilitação na passagem entre
o abrigo imediato e a habitação definitiva haja estabilidade e segurança dos indivíduos. É
desejável que esta intervenção prossiga no prazo de seis meses (Davis, 1980).
a) Famílias de acolhimento;
b) Utilização do edifício existentes;
c) Políticas de evacuação levadas a cabo pelos governos;
d) Tendas de campanha;
e) Abrigos de emergência;
f) Autoconstrução em terrenos públicos;
g) Vivendas permanentes;
h) Migração para zonas menos vulneráveis.
52
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
O documento que elaborou, “Shelter after Disaster”, constitui a base metodológica da intervenção
contemporânea para situações de emergência.
Dá especial atenção à responsabilidade dos grupos de assistência especializados e à necessidade
de elaborar diretrizes locais
As práticas relacionadas com as operações de ajuda humanitária, baseiam-se numa experiência
acumulada de intervenção fundamentalmente mecânica e sistemática, que muitas vezes, face às
dimensões do núcleo a gerir e planear, geram descontrolo e consequente corrupção.
Com vista a evitar o desvirtuamento da ação humanitário e o sucesso da mesma, o documento
define quatro etapas específicas de intervenção e catorze princípios básicos de intervenção.
As fases, ainda que se reconheça que variam segundo as condições locais e o tipo de desastre são:
Desta forma, criam-se algumas orientações que consistem nos catorze princípios base de
intervenção:
53
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
6- Estratégias de alojamento
Entre a facilidade de alojamento de emergência e a construção permanente há toda uma serie de
opções intermédias. Contudo, quanto mais cedo começar o processo de reconstrução, tanto
menores serão os custos sociais, económicos e de capital do desastre.
9- Reimplantação de acampamentos
Apesar das intenções de transladar aldeias, cidades e capitais que corram risco para localidades
seguras sejam frequentes, esses planos raramente são viáveis. Contudo, a nível local, um desastre
irá revelar as situações mais perigosas (falhas sísmicas, zonas expostas a inundações contínuas,
etc.). Uma reimplantação parcial dentro da mesma cidade pode mostrar-se possível e, ao mesmo
tempo, essencial.
54
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Em 2010 este documento foi revisto, com o titulo de “Shelter after disaster strategies for
transitional settlement and reconstruction” sob a alçada das nações unidas, da Shelter centre e da
DFID (department for international developement), Ian Davis foi consultado como “External
contributions”.
Sob o lema de que cada projeto de reconstrução é único, dependendo da natureza e magnitude do
desastre, do país e do contexto institucional, do grau de urbanização e dos valores culturais, os
princípios de Ian Davis foram revistos e reduzidos a 10.
Em várias situações, movidos alguns anos da catástrofe avaliam-se algumas intervenções como
desastrosas, as responsabilidades são atribuídas às políticas governamentais e às ONG’s que
estiveram envolvidas e que não conseguiram com a intervenção aplicada quebrar com a extensão e
prolongamento de tempo em que as populações se mantêm a viver, mesmo passados vários anos,
em situações precárias, vivendo ainda em abrigos ou mesmo sem infraestruturas de apoio. Ian
Davis, envolvido no estudo destas questões, na tentativa de descobrir onde falha a intervenção,
estabeleceu que existe um mínimo de exigências para a recuperação eficaz de um local de
catástrofe, que passam por:
- Boa liderança de equipa e planeamento,
- Colaboração e participação ativa dos sobreviventes,
- Recursos materiais,
- Acompanhamento técnico.
Os desafios da arquitetura de emergência, segundo Ian Davis, são cada vez maiores, sendo que o
conhecimento, a capacidade e a atitude pro ativa devem ser as características a prevalecer. No
entanto, a maior força permanece junto da força que tem uma boa liderança, um processo de
intervenção baseado na formação de sociedades e comunidades fortes, na criação de postos de
trabalho, criação de condições de segurança e na aprendizagem partilhada.
A maioria dos arquitetos estão habituados e treinados para trabalhar em construções onde existe
apoio financeiro e que economicamente sejam viáveis. No entanto, como estas situações são o
oposto comparado com um cenário de desastre natural, é imperativo que para esta intervenção
sejam selecionados arquitetos ágeis, criativos e competentes. A realidade do pós desastre
habitualmente impõe uma intervenção de compromisso social, de forma a incutir mudanças reais e
bem-sucedidas (Davis, 2014).
55
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Segundo Ian Davis, a população deve, o mais possível, envolver-se na reconstrução para que esta
seja bem sucedida. Este envolvimento poderá ter também um poder curativo dada a forma como os
indivíduos se têm de envolver no processo de recuperação das suas próprias vidas. Estes indivíduos
podem e devem ser envolvidos, reforçados, podendo assumir a responsabilidade de fazer algumas
ações como o levantamento das necessidades da comunidade, intervir no processo de
planeamento, dando opinião sobre as opções a tomar, reformarem a comunidade de forma coesa,
gerir o apoio económico existente, contribuírem como força de trabalho, adquirindo competências
de carpinteiros, trabalho de trolha, etc.
Para Ian Davis, vários fatores positivos atuam atualmente auxiliando a aplicabilidade das
estratégias de intervenção em contraposição aos vários fatores negativos que se referiu
anteriormente. De entre os mais importantes, destaca as redes de comunicação, telecomunicações
e internet, melhoria das condições de saúde de países da Ásia, América Latina e Índia, melhorias e
desenvolvimento de técnicas da agricultura, facilidade nas comunicações globais, aumento de
equipas voluntarias e humanitárias, grande impacto e envolvimento da medicina, alterações
climáticas e vários anos sem uma guerra mundial (Davis, 2011).
56
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
muitos arquitetos, um pouco por todo o lado, a darem solução gratuita, inteligente e excelente a
vítimas de catástrofes, estando assim a serem levadas em conta, pela arquitetura, questões sociais
como a satisfação pessoal da vítima ou seu estado de saúde. Aqui, o que interessa é dar uma
solução quando há poucas soluções disponíveis (viabilizando as soluções locais, veiculando know
how), não sendo dada primazia a fatores como contemporaneidade de conceitos de construção,
estética arquitetónica ou qualidade dos materiais empregues. Em vez disso, criam a partir dos
costumes locais, chegando a fazer algo de muito bem conseguido.
O arquiteto pode, assim, ‘operar milagres’ no contexto e cenário sociais. Um simples exemplo é o de
como uma escola bem concebida e traçada pode originar um melhor ensino e aprendizagem,
gerando-se dessa forma (e a prazo) uma mudança comunitária. Outro exemplo, numa dimensão
maior, é o daquilo que um urbanismo que transcenda o plano do estritamente necessário pode
conseguir, em termos de satisfação dos cidadãos e, logo, de crescimento económico.
Os arquitetos têm obrigação de responder às exigências das vítimas da catástrofe, que mais do que
perder o “Lugar”, perderam os seus afetos e raízes.
As primeiras coisas que aqueles que ficaram sem casa e abrigo precisam são: comida,
medicamentos e primeiros auxílios mas, também, os arquitetos estão seguramente em
importante posição de poder para aconselhar com autoridade e fazer pressão para
que a ONU (Organização das Nações Unidas) ou [...] a UNRRA (United Nations Relief
and Rehabilitation Administration) [...] proporcionem casas imediatas que cheguem, o
quanto antes, às zonas de catástrofe. (Davis, 1980, p. 63)
57
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
58
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Já no século XX, focando a atenção sobre a Segunda Guerra Mundial, a noção de abrigo alterou-se
por completo, pois a situação de guerra emergente, a população com as cidades destruídas
procurava refúgio em qualquer parte; neste contexto desenvolveram-se estruturas pré-fabricadas
num curto espaço de tempo e pensadas para albergar um grande número de indivíduos e
fornecidas em grande escala.
Estas preocupações de transitoriedade e mobilidade das estruturas começaram a preocupar os
arquitetos que até à data projetavam essencialmente estruturas fixas e duráveis. O exemplo mais
conhecido que remonta ao século XX, é Alvar Aalto, que desenvolveu duas propostas tipológicas de
abrigo para habitação de emergência: o Refúgio Primitivo Transportável (solução móvel, constituída
por quatro módulos separados e que se agrupavam em torno de um sistema de aquecimento
comum) e o Refúgio Primitivo Móvel (pretendia alojar quatro famílias, sendo os módulos mais
pesados que o anterior e tinha a possibilidade de se reorganizar numa única casa unifamiliar.
59
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Apesar de muitas contribuições nesta época de nomes sonantes do campo da arquitetura, muitas
delas não passaram de futuros projetos na área da emergência, pois não era acessível a todos. Já
na década de 70’ muitas das inquietações produziram avanços específicos nessa área. Como
afirma Neto e Marum (n.d.), “Apesar das várias tentativas em contribuir e investigar para melhorar a
habitação pós-catástrofe, continua a ser a tenda de campanha, o abrigo de emergência mais
utilizado (…)”.
Constatou-se que as soluções eficazes passam acima de tudo pela rápida execução, pela
portabilidade e deslocação dos materiais e pela eficiência do espaço enquanto abrigo, capaz de se
adaptar a diversas situações emergentes. A aplicação dos diferentes matérias foram sendo
alterados com as experiencias in loco, passando de estruturas rígidas e estruturas tencionadas
como pneumáticas, sendo as mais frequentes e mais económicas mas nem sempre as mais
eficientes. Existe maioritariamente uma conjugação de materiais aplicados de madeiras ou
aglomerados, a plásticos, cartão, telhas de zinco, esteiras ou tecidos, aposta-se em materiais
disponíveis no local devido ao seu baixo custo e à fácil construção através de processos nómadas
ou primitivos adquiridos pelas populações locais.
Grande destaque é dado ao arquiteto que dedicou parte da sua carreia a este tipo de arquitetura, o
japonês Shigeru Ban, entre os seu trabalhos mais conhecidos destacam-se os realizados em África,
no Japão, no Vietname, na Turquia e no Seri Lanka; nos quais utilizava apenas os materiais mais
abundantes em cada região, como bambu, plástico, madeira e materiais de baixo custo, simples,
flexíveis e de fácil transporte, causando um impacto minimizado no meio ambiente.
(…)o mundo é um lugar muito melhor por conta da contribuição de Shigeru Ban -
primeiro arquiteto de renome a empenhar-se seriamente na construção pós-desastre,
expressando um compromisso social profundo - proporcionando assim um exemplo
vital para todos os arquitetos do uso de habilidades criativas ao serviço dos mais
necessitados.(Davis, 2011, p. 73)
Fig. 39 - Paper Log House, de Shigeru Ban, 1995, Japão Fig. 40 – Chengdu Hualin Elementary School - escola provisória China
Ian Davis considera mesmo que o arquiteto japonês é um dos grandes responsáveis pela evolução
da arquitetura de emergência nos últimos anos, Ban ajudou em situações pós catástrofes recentes,
Taiwan, Sudão, nova Zelândia, filipinas, entre outras.
“Há um imenso significado na atribuição do pritzker (prémio de arquitetura de maior prestígio no
mundo) a este arquiteto japonês, tanto pela inovação arquitetónica, como pela recuperação pós-
catástrofe " (Davis, 2011, p. 71).
Com o progresso tecnológico do século XXI e só seu crescente social, promoveram um fácil acesso à
informação, criando uma sociedade globalizada e informada, onde as deslocações são rápidas e
cómodas, o que em termos de deslocação dos elementos necessários para o abrigo facilita o
processo. A mobilidade física e evolução dos meios de transporte encurtaram a distância entre as
comunidades e auxiliou na obtenção de ajuda humanitária em qualquer parte do globo, através de
uso de meios de transporte coletivos e individuais.
60
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
A distância poderá ser vista de dois prismas, do ponto de vista do utilizador, que têm ao seu dispor
uma rede eficaz dentro do espaço urbano, e do ponto de vista do objeto arquitetónico, que também
constitui uma forma de mobilidade e deverá para tal contemplar as premissas de portabilidade,
desmontagem, reutilização e acoplagem.
O desenvolvimento de estruturas de resposta humanitária ao longo dos tempos tem vindo a ser
constantemente modificada e aperfeiçoada, inserindo uma grande variedade de abordagens
projetuais que compõem a arquitetura efémera, pois a resposta nem sempre é linear num meio
ambiente e social em permanente mutação, sendo traduzido de forma esquematizada no quadro
seguinte, através da visão de Rui Duarte:
Arquitetura
Emergência Neo-nómada Nómada Futurista Utópica
Efémera
Abrigo Comportamentalismo Expedição Astronáutica Contra-cultura
Contingência Contra-cultura Habitabilidade Experimentalismo Habitat natural Vs
Emergência Efemeridade Investigação Habitat alternativo habitat humano
Guerra Experimentalismo Nomadismo Idealismo Idealismo
progressista progressista
Contextos Habitabilidade Mobilidade Sazonabilidade imagética Ludicismo
Participacionismo Sociedade Sustentabilidade Mega-estrutura Sentido
ético/poético
Sustentabilidade Sustentabilidade Temperatura Sensacionalismo Sustentabilidade
extrema
Transitoriedade Versatilidade Transitoriedade Sustentabilidade Utopia tecnológica
Cabe dizer que à arquitetura portátil recaem incumbências mais severas que na
arquitetura sedentária. Pois ninguém pode negar que o desgaste do material é maior
com o seu contínuo movimento. E que essa construção, ainda assim, não pode
descurar daquelas qualidades elementares que buscamos no ambiente construído,
perene ou temporário. (Paz, 2008, n.p.)
61
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Vivem-se tempos de grandes transformações e o campo da arquitetura não foge à regra, mas as
situações pós-catástrofe mantêm-se e esta dissertação pretende mostrar a importância de
estabelecer uma arquitetura específica para a habitação de emergência, não esquecendo o seu
vinculo original, mas atendendo a outras necessidades e limitações impostas pela sua
particularidade, sendo a questão da transitoriedade algo complexo e aberto a novas descobertas.
Em 1971, pelas Nações Unidas surge a UNDRO - United Nations Disaster Relief Organization-; com a
missão de abordar a problemática dos desastres naturais de uma forma mais sistematizada.
Encontrava-se no período da Guerra Fria e os aparelhos das Nações Unidas estavam paralisados em
contextos de conflito. Do outro lado da Cortina de Ferro apenas algumas ONGs e três agências das
Nações Unidas estavam presentes: ACNUR, UNICEF e PAM.
Apesar dos poucos recursos a UNDRO foi a responsável pela resposta e intervenção aos grandes
terremotos na Armênia (1988) e na Turquia.
Dentro desde organismo em 1975,o britânico Ian Davis, conjuntamente com norte-americano Fred
Cuny, publicam em 1982 “Shelter After Disaster – Guidelines for Assistance”.
Este documento constitui a base metodológica da intervenção contemporânea para situações de
emergência.
Dá especial atenção, à responsabilidade dos grupos de assistência especializados e à necessidade
de elaborar diretrizes locais.
62
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
design para as crises globais, sociais e humanitárias. Através da criação de projetos, concursos,
workshops, fóruns educacionais, parcerias com organizações de ajuda humanitária, estas
organizações oferecem aos arquitetos e designers de todo o mundo, oportunidades para ajudar as
comunidades carentes. Este tipo de iniciativas tem motivado alguns arquitetos a desenvolverem
projetos orientados para essa finalidade.
Atualmente, existe já uma forte consciencialização, reconhecendo a importância do papel que a
arquitetura possui no desempenho e auxílio da melhoria de vida nas comunidades devastadas pela
guerra, pelas catástrofes naturais ou pela pobreza extrema. Ou seja, no seguimento de uma
catástrofe, é o governo do pais em causa a prestar a primeira assistência às vítimas. Existem várias
agências internacionais de prestação de auxílio humanitário (cada qual com diferentes atribuições),
que atuam numa segunda leva de ajuda. Por isso, é imprescindível a correta atribuição de funções a
cada interveniente (para não haver sobreposição de incumbências).
Em 2005, as agências das Nações Unidas, a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho, em parceria
com outras ONGs, manifestaram interesse na melhoria do tipo de resposta a dar, mediante uma
inequívoca distribuição de incumbências e atividades. Acordaram em liderar sectores bem definidos
ou clusters de tarefas e em gerir as parcerias com outras agências no auxílio às autoridades dos
países atingidos por calamidades naturais. Cada cluster abrange agências de incumbências
complementares, no âmbito daquilo que o cluster deve executar. Na prestação de auxílio relativo a
abrigos/alojamento em regime de emergência, encontram-se: a UNHCR (“United Nations High
Commissioner of Refugees”), gestora da ajuda prestada a refugiados e a IDPs (pessoas forçadas a
deslocação intrafronteiriça por conflitos armados, violação de direitos, catástrofes naturais, etc.) e
resolução dos seus problemas; e a IFRC (“International Federation of Red Cross and Red
Crescent Societies”). De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre os Estatuto dos
Refugiados de 1951, são refugiados as “Pessoas obrigadas a deixar o seu país devido a conflitos
armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos” (Agência da ONU para os
refugiados, 2015).
Em 2006, outra agência (com imensa experiência em situações de calamidade natural) passou a
integrar o cluster dos abrigos de emergência (a IFRC). Ou seja, a UNHCR continua a gerir as
deslocações internas provocadas por confrontos armados, sendo que a IFRC se encarrega das
calamidades naturais.
A título de exemplo, refira-se outras organizações que têm desenvolvido um trabalho no mesmo
âmbito que a Architecture for Humanity, tais como: “Architects Without Frontiers” (em português
“Arquitectos Sem Fronteiras”), “Architectes de l’Urgence”, “Shelter Projects”, “The Volunteer
Architects’ Network”, “World Shelters”, “Make it Right”, “Article 25”, “Un-Habitat” ,housing for health
e “Uplink”.
Existem ainda publicações inteiramente dedicadas às questões relacionadas com a arquitetura de
emergência, a shelter projects (disponíveis online através do endereço:
www.ShelterCaseStudies.org) editadas pela UNHCR, IFRC e UN-HABITAT, totalmente dedicado às
questões de design dos abrigos; o programa Disaster Management ( editado pela Red Cross and
Red Crescent National Societies); O “The Sphere Project”, resultante de uma iniciativa lançada
em 1997 por um grupo de organizações não-governamentais dedicadas à assistência
humanitária, e pelo Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. O
Projeto Esfera concentra-se em melhorar a qualidade das ações das agências humanitárias na
resposta a um eventual desastre, considerando que todas as pessoas afetadas têm o direito a viver
com dignidade, e por conseguinte, a receber auxílio. No ano de 2000, foi publicado o primeiro
manual do projeto Esfera, intitulado “Humanitarian Charter and Minimum Standards in
Humanitarian Response”, revisto pela última vez entre 2009 e 2010; o manual editado pela
Shelter centre para as questões urbanas intitulado “Urban Shelter Guidelines”; o “ IASC operational
guidelines on the protection of persons in situations of natural disasters” editado pela Inter-Agency
StandIng commIttee; o já referido acima “Shelter After Disaster – Guidelines for Assistance”, entre
outros.
63
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Estas publicações relatam diversos programas levados a cabo pelas organizações humanitárias e
ajudam a compreender quais os pontos fortes e as fraquezas das estratégias de alojamento
implementadas. Fornecem lições práticas para que se possam analisar e discutir boas estratégias a
implementar.
O alojamento deve ser encarado como um processo, em vez de um produto, muitos programas de
alojamento ficam aquém das expectativas, especialmente nos países em desenvolvimento. Os
abrigos emergenciais, o alojamento provisório, semipermanente, temporário, tendem a tornar-se
habitação permanente com o consequente estigma social e custo futuro a todos os níveis. Esta
situação é agravada pela escassez de habitação e a população toma-os como permanentes.
Nas intervenções é regra comum dar-se grande prioridade à necessidade de alojamento temporário,
mas entre essa ideia e a reconstrução permanente há opções intermédias. Começar rapidamente o
processo de reconstrução ou construção permanente irá minimizar os custos sociais e económicos.
Neste contexto, a disponibilidade de sistemas, ferramentas, critérios de coordenação e intervenção
são considerados essenciais para atender a reconstrução no menor tempo possível.
Os Desastres oferecem oportunidade para reduzir o risco de futuro, através de um planeamento
urbano, uso do solo e métodos de construção de habitação e equipamentos mais estável.
Um desastre, por vezes, revela a vulnerabilidade de um local (inundações, falhas), podendo nestes
casos ser essencial a deslocalização da comunidade.
As Políticas de reconstrução e ajuda devem responder às necessidades dos habitantes, com a sua
participação e dos atores locais, deve ser responsabilidade dos doadores a adequação e
sustentabilidade a longo prazo do processo criado. Entende-se por "desenvolvimento sustentável",
aquele que permite satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das
64
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
gerações futuras de suprir as suas. A propriedade não significa só a casa, mas também a terra e as
infraestruturas (água, eletricidade, estradas, transporte).
Há ainda muitos exemplos de reconstrução que se limitam a restabelecer o mesmo pré-desastre ou
pior, esforços incompletos que privam muitas das necessidades básicas necessárias para manter os
meios de subsistência ou condições de saúde física e psicológica.
Os períodos de reconstrução após uma catástrofe são uma excelente oportunidade para integrar a
redução do risco no planeamento do desenvolvimento.
A Reconstrução pós-desastre oferece uma oportunidade para reduzir a vulnerabilidade a eventos
futuros. Isso requer uma compreensão de que perigos naturais são susceptíveis de ocorrer, o seu
impacto potencial e adequação das diferentes estratégias de redução do risco. Vulcões e tsunami
são eventos extremos, pouco frequentes, que são mais facilmente mitigados através de sistemas de
alerta e planos de evacuação. Em contraste, o risco mais imediato colocado por inundações,
tempestades e terremotos podem ser substancialmente mitigados através de um melhor
ordenamento do território, das práticas de conceção, dos métodos e regulamentos de construção. A
redução do risco de desastres em planeamentos futuros deve ser parte integrante do processo de
reconstrução (Silva, 2010).
O erro mais comum na criação de abrigos tem a ver com a ausência de critérios na
escolha da localização. Limitam-se a construir-se construir protótipos de casas que se
encaixam nas "necessidades genéricas". O sítio é o critério mais importante, muito
antes de pensar-se na tipologia, na escolha de materiais, na estrutura, pré-fabricado
ou não, deve ser cuidadosamente estudada a implantação, o sítio. (D'Urzo, 2002, p.
24)
Isto requer uma estratégia que capitaliza sobre a disponibilidade de fundos e de vontade política, e
inclui medidas sociais e financeiras relativas às acções de sensibilização e preparação. A
oportunidade de racionalizar planos urbanísticos, incluir rotas de evacuação e prestação de
serviços e a correta localização de infraestruturas críticas devem ser considerados, em vez de, na
reconstrução das comunidades urbanas, repetir o padrão de crescimento orgânico e situar edifícios
públicos como antes (Silva, 2010).
Durante muito tempo foram cometidos excessivos erros no que concerne à provisão de abrigos
de emergência, principalmente porque as entidades exteriores a este processo abordavam o
abrigo de emergência como um produto industrial ao invés de um processo social e económico
(Davis, 2014).
Os acampamentos são uma criação artificial para um período de tempo específico, considerado curto,
mas normalmente desconhecido. Necessitam permanentemente de aprovisionamento de comida,
serviços, saúde e uma direção permanente.
Quando a extensão dos danos sobre a comunidade é de tal dimensão que aniquila moradias e
edifícios, torna-se imperativo levantar os acampamentos temporários, por vezes funcionam por alguns
anos, construídos em áreas afastadas de risco.
Começam a aparecer algum tempo após o desastre, a urgência na procura de solução para abrigar os
desalojados determina a localização de implantação destes acampamentos, locais sem relações, sem
identidade, sem história. As NGO´s procuram soluções que resolvam o problema a curto prazo, que
no futuro podem produzir efeitos nefastos, pois o que era suposto ser temporário pode passar a
permanente, com a gravidade de não obedecer a qualquer tipo de planeamento. Poucas organizações
têm pessoal qualificado no campo da arquitetura e urbanismo, recorrem a outro tipo de profissionais.
neste tipo de procedimentos é indispensável que o processo de construção dos assentamentos não
seja apenas garantir o abrigo dos desalojados, é preciso uma ordem de pensamento que garanta o
conforto de uma solução permanente. O que no momento inicial é tomado como um conceito
provisório, pode na realidade significar permanente (Davis, 1980).
Anders (2007), afirma que as comunidades não se caracterizam apenas por construções e ruas, mas
também pelos laços sociais. Quando as pessoas partilham e tem necessidades comuns, é
65
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
O abrigo usado, por excelência, nos acampamentos pós-catástrofe é a chamada tenda de campanha,
considerada a forma mais básica de abrigo, é fabricada em série, leve e compacta, pode facilmente
ser armazenada até que se recorra à sua utilização. Tem ainda a vantagem de ter um período de vida
relativamente curto, não correndo o risco de transformar-se em habitação permanente.
O problema mais recorrente dos acampamentos é que normalmente estão situados longe dos
pertences (a propriedade, os animais, etc) da população e em lugares pouco idóneos. Fora da cidade,
longe das necessidades dos desalojados.
Como soluções alternativas que são, deve evitar-se que se percecionem como permanentes, evitando
que se forme o mesmo problema, pessoas mal alojadas.
- Os abrigos
66
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Modos de abrigo
Ian Davis no livro arquitetura de emergência (1982), assim como Ashmore e Treherne (2011) e
Davis (2014) identificam algumas preferências dos sobreviventes, que devem permanecer tão
próximos quanto possível dos lugares afetados ou destruídos e dos seus meios de subsistência, em
matéria de alojamento imediatamente a seguir a um desastre. Segundo eles os sobreviventes
podem mudar-se temporariamente para casas de familiares ou amigos; Improvisar alojamentos
temporários tão perto quanto possível da localização dos lugares destruídos (esses
alojamentos transformam-se com frequência em habitações reconstruídas); Ocupar edifícios
temporariamente requisitados; Ocupar tendas levantadas nos seus lugares destruídos ou próximas
a eles; Ocupar alojamentos de emergência facilitados por organismos externos; Ocupar tendas de
acampamentos; Ser evacuado para localidades distantes (evacuação obrigatória).
Há mitos criados que afirmam que as pessoas se sentem incapazes de reagir após uma
catástrofe. Tal não é verdade, passando a fase de choque estão prontas a agir rapidamente, mais
até que as próprias autoridades, para salvar vidas e propriedades (Davis, 1980).
Grande parte dos autores e ONG’s ligados à arquitetura de emergência (Davis, Sanderson,
Colombel, UNDRO, IFCR, Inhabitat) defendem que a melhor estratégia relativamente ao
67
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Ashmore e Treherne (2013), desdobram os três modos de abrigo em seis, criando zonas de
interseção, os abrigos temporários, os progressivos e os core houses. Este último passa pela
construção de um núcleo básico da habitação, que pode ser utilizado como abrigo de emergência
ou como estrutura temporal. Está desenhado para que, mais tarde, havendo melhores
possibilidades financeiras, seja melhorado a fim de se converter em alojamento permanente.
Regra geral, na bibliografia sobre a arquitetura de emergência, são considerados três tipos de
alojamento que requerem intervenções na área de arquitetura, os abrigos de emergência, os
abrigos de transição e a reconstrução/construção permanente.
68
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
69
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Na fase imediatamente após a catástrofe, a resposta comum dada pelos governos e pela
comunidade humanitária internacional é essencialmente a distribuição de tendas, lonas de
plástico, ou kits de materiais e ferramentas para as vítimas construírem abrigos ou repararem as
suas habitações. No entanto, este tipo de respostas apenas oferece soluções a muito curto
prazo, representando um grande problema, quando o apoio oferecido não é suficiente. Uma vez que
o período de tempo que decorre entre a ocorrência do desastre e a construção de alojamentos
permanentes não pode ser previsto, tornou-se necessário a criação de estruturas que
colmatem a carência de alojamento durante esta fase de transição.
Segundo Davis (1980), a única vantagem destes sistemas reside no facto de ser pouco provável que
os acampamentos, ou construções resultantes deste tipo de resposta, se convertam em
permanentes.
70
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 51 – exemplo de um folheto distribuído às populações, neste caso, o IFRC shelter kit flyer instruction.
71
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Recentemente três arquitetas portuguesas, Ângela Pinto, Joana Lacerda e Carla Pereira, ganharam
um prémio internacional com abrigo para refugiados. O objetivo do concurso, promovido pela Open
Online Academy, dedicado a abrigos em locais de emergência, era projetar abrigos para vítimas de
guerras ou desastres naturais, e as três amigas, que tiraram o curso de Arquitetura na Universidade
Lusíada do Porto, decidiram-se pela criação de um abrigo para refugiados na Síria.
O projeto está em exposição na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, desde Dezembro de
2014 (Espaco de arquitectura, 2015).
Fig. 52 - As Global village Shelters implantados no terreno (Haiti, Fig. 53 - Abrigo de emergência para a Síria, projeto vencedor das
2010) arquitetas Ângela Pinto, Joana Lacerda e Carla Pereira, do concurso
promovido pela Open Online Academy.
72
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Construção permanente
73
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 55 – implantação do sistema de divisórias de Shigeru Ban num Fig. 56 – Exemplo de uma unidade movél, a Leafhouse.
pavilhão desportivo.
Incorpora o meio de transporte na sua estrutura base (como a caravana), não tendo necessidade de
se conjugar com outro volume semelhante.
Em suma, mais vocacionado para assistência a deslocados intrafronteiriços, a sua natureza
permanente obsta a que seja empregue como abrigo (em casos de emergência). Servindo para
transportar, é viável na prestação de cuidados de saúde.
-A Modular
São módulos (passíveis de serem interligados) prontos a usar, sem precisarem de ser montados e
com a particularidade de poderem ter ligação elétrica, sanitária ou à rede de abastecimento de
água.
Fig. 57 - Exemplo de combinação de módulos - a Ecobitat prefab Fig. 58 - Exemplo de combinação de módulos - a Ecobitat prefab
modular system (acoplagem vertical, torre) modular system ( dois módulos acoplados)
-A Tênsil
Estrutura de corpo rígido que serve de sustentáculo a uma camada de revestimento, dispondo de
um seguro dispositivo articulado de resistência à tração. Apresentam elevada flexibilidade na
utilização e são de fácil transporte e armazenamento, já que são montados de forma simples, pouco
pesados e compactáveis.
Constituem, no geral, um tipo de edificação em tudo equivalente à típica tenda, tendo por base uma
armação rígida, que é revestida por uma lona pouco espessa.
Hoje em dia existem modelos muito sofisticados destas estruturas, são as mais utilizadas
imediatamente a seguir as catástrofes, pois são leves, de fácil transporte e baixo custo.
74
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
-O Sistemas de divisórias
Este tipo de abrigo é sempre uma solução de recurso, provisória e barata (componentes
posteriormente reutilizáveis em solução permanente), em que a própria população afetada por
calamidades da natureza se socorre daquilo que está à mão (equipamento e infra-estruturas pré-
existentes) para edificar, ela própria, uma forma de alojamento.
É uma solução economicamente acessível e facilmente integrável junto de populações rurais, que a
elas se adaptam com naturalidade, pois acabam por ser edificações de carácter típico, ao
empregarem materiais locais.
Seja por iniciativa própria, por ação governamental ou por assistência internacional, este tipo de
material resulta, quase sempre, rápida e pouco dispendiosamente disponível à população afetada
(as grandes vantagens deste tipo de construção), sendo que essa população normalmente já detém
domínio das técnicas de edificação necessárias.
Este recurso a um conceito nómada de rápida edificação de um abrigo de cariz arcaico (fruto duma
aculturação de processos ou do puro instinto de sobrevivência) resulta numa alternativa eficiente
aquele tipo de resposta tardia a calamidades geralmente dada na forma de abrigos temporários
disponibilizados pelas agências de prestação internacional de auxílio.
Fig. 59 – Exemplo de estrutura tênsil, o shelter frame kit. Fig. 60 - Abrigos construídos com o sistema do superadobe de Nader
Khalili.
Fig. 61 – Construção permanente segundo técnicas tradicionais, a hopi nation elder home.
75
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
-A Pneumática
Fig. 62 – Esquema de montagem e resultado final de uma estrutura pneumática, o low-tech balloon system.
Ainda que disponibilizadas em peças separadas (conceito mais eficaz em termos de transporte),
têm - ainda assim - pontos em comum com as modulares.
Esta estrutura (incluindo peças de montagem) aplica-se em determinadas superfícies planas. Tem
aspeto compacto, dada a configuração geométrica imediatamente assumida aquando da aplicação
dos respetivos painéis. Posteriores configurações (externas ou internas) podem ser obtidas
mediante o emprego de painéis alternativos.
76
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
77
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Tal como é vital compreender as necessidades de uma comunidade antes de desenhar um edifício,
é também importante compreender que materiais e técnicas são viáveis para um determinado local.
A opção pelas potencialidades da região em causa decorre de uma consciencialização a nível
sociomoral, pretendendo-se com isso dinamizar a economia da área em causa (Lepik, 2010).
O processo extração/produção/eliminação está na origem de resíduos geradores de considerável
pegada ecológica. Por isso se torna necessária uma análise deste ciclo de vida. Por serem
reutilizáveis ou elimináveis em partes separadas, os materiais pré-fabricados revelam-se viáveis, no
sentido de parar ou deter a produção destes resíduos. Por outro lado - e sem que tal possa revelar-
se ecologicamente impactante ou motivo de inflação de preços – recorrer a matéria-prima da área
em questão é uma solução recorrente (o exemplo de Shigeru Ban), que pode reduzir custos de
produção e gerar um produto com elevada aceitação junto do consumidor. Entre os materiais
renováveis mais inovadores, contam-se: o bioplástico, derivado de produtos da natureza; as
madeiras oriundas de demolições, o bambu com reduzido impacto ambiental e as tintas naturais.
Há, para além disso, o lixo reciclável, reutilizável ou reaproveitável: papeis, vidros, pneus, etc. A
racionalização da gestão das matérias-primas constitui fator decisivo nos orçamentos de estado,
permitindo torná-las funcionais, por assim dizer (Rêgo, 2013).
Dependendo das soluções energéticas disponíveis e da diversidade existente a nível dos materiais
(que uma época crítica pode fazer decrescer), sujeita-se a construção erigida a parametrizações
volumétricas e morfológicas para se decidir os materiais a empregar. Numa crise, selecionar-se-á o
material de extração mais próxima e os métodos de transformação mais resistentes a todo o tipo de
cataclismos e mais facilmente disponíveis, optando-se, nesse caso, por soluções de regeneração
(bambu, palha ou madeira), de reciclagem (betão, cerâmica), de reutilização (pneus, plástico) ou de
existência infinita (terra e argila).
Uma outra perspetiva de abordagem é a de perceber que um possível cenário de reconstrução é
tanto mais complicado quanto mais difícil for o empreendimento construtivo. Daí que haja
viabilidade na atribuição das tarefas a homens ou mulheres segundo critérios de dificuldade física
de execução.
No período pós-catástrofe, podem consumir-se vastas quantidades de materiais locais (tais como
madeira, tijolos, entre outros), que podem constituir um sério contributo no esgotamento do
ambiente natural (Davis, 2011). Por exemplo, em Banda Aceh (Indonésia) após o tsunami de
2004,“A procura pela madeira colocou uma pressão terrível sobre a floresta de Aceh, podendo
causar um segundo desastre ambiental. A argila, areia, cascalho e pedra foram colhidos em
quantidades tais, que serão precisas duas gerações para as substituírem” (Fitrianto, 2011, p. 35).
78
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
3. Estudos de Caso
79
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
A seleção dos estudos de casos obedece aos seguintes critérios: período cronológico, são
catástrofes recentes, no presente século com um hiato temporal de 10 anos entre elas; a natureza
da catástrofe, investigação assente em três terramotos, com a diversidade de um deles, o da
indonésia, ter originado um tsunami, que afetou outra zonas do planeta, no entanto, a investigação,
nesse especifico caso de estudo, foi direcionada para o local de origem do terramoto, a Indonésia,
que, embora também tenha sido atingida pelo tsunami, numa primeira instância, foi-o também pelo
terramoto; o seu poder destrutivo, causando milhares de vítimas, colossais danos nas edificações e
avultados prejuízos económicos; acessibilidade à informação, são catástrofes conhecidas e
bastante documentadas.
A elegibilidade dos abrigos transitórios em análise nos estudos de caso, obedeceu aos seguintes
fatores:
Foram construídos em número significativo, implantados em grande quantidade, obedecendo a uma
resposta coletiva, num contexto de ajuda a uma comunidade afetada. Como resposta coletiva e
urgente (a comunidade afetada necessita rapidamente da proteção oferecida pela construção de
paredes e um teto) torna-se importante que os abrigos implantados obedeçam a critérios, como a
rapidez de montagem e construção;
No decorrer da investigação apareceu um projecto (presente nos anexos desta investigação), muito
interessante, com dois pisos, que talvez funcione bastante bem em contextos urbanos, mas, sendo
um projeto-piloto, implantado em pequenas quantidades, e ainda sem resultados práticos de
implementação, foi retirado da estrutura da investigação. No entanto, talvez seja interessante
direcionar-se no futuro, alguma investigação para as soluções de projeto piloto.
Como resultado das circunstâncias, consequência dos danos causados pelos desastres, os
governos acabam por socorrer-se das agências de ajuda (NGO’s), até porque também eles acabam
por sofrer perdas materiais e humanas, desprovendo-os de recursos, comprometendo as
possibilidades de ajuda, assim, para além da maior facilidade de acesso aos dados técnicos dos
abrigos, um dos fatores da sua seleção, foi o facto de serem fornecidos por agências de ajuda
humanitária.
Tendo em conta que havia mais soluções disponíveis, uma vez que a implantação de abrigos
transitórios no Haiti foi massiva (Aaronson, 2012), optou-se por fazer uma amostragem maior do
que nos outros casos de estudo.
80
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Cada vez mais recorrentes, fruto das alterações climáticas globais, tendo um grande impacto na
sociedade, os desastres naturais infligem danos humanos e materiais cada vez mais graves.
Esta tipologia de desastres, os terramotos de dominância de desastres naturais, remontam-nos para
a proveniência de causas que nos indicam a sua imprevisibilidade.
Terramotos são abanões repentinos da superfície da terra causados pela libertação repentina da
energia acumulada durante longos períodos de tempo em que as placas tectónicas fazem esforços
para se movimentar. Essa energia é libertada sob a forma de ondas sísmicas.
Podem ter intensidade, duração e frequência variáveis, podendo resultar em grandes modificações
na superfície, não só pela destruição que causam, mas por estarem associados aos movimentos
das placas tectónicas (García et al., n.d).
A grande maioria dos terramotos tem origem tectónica, estando associados a falhas geológicas,
ocasionalmente podem ocorrer por ação humana (são exemplo os sismos provocados por explosões
nucleares) ou através de atividade vulcânica.
Fenómenos de ordem natural sempre foram recorrentes, como os sismos, furacões, erupções
vulcânicas, maremotos, cheias, derrocadas de terras, secas, etc. Cada um com maior ou menor
incidência efetiva na população, com implicações nas suas condições de vida e sobrevivência. Essa
incidência nas populações pode ser agravada quando não há prevenção adequada de forma a
diminuir os possíveis riscos.
Atualmente a comunidade internacional reconhece o impacto que as catástrofes podem representar
a nível humano, e que as mesmas têm aumentado.
Sapir define que anualmente há uma média de 250 milhões de pessoas afetadas por catástrofes,
com mais de 58.000 vítimas mortais e custos de intervenção que ultrapassam os 68 bilhões de
dólares. Entre 1990 e 2003, 3.4 bilhões de pessoas foram afetadas pelas consequências de
catástrofes (Sapir, Gunha & Hargitt, 2004).
81
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Perdas económicas reportadas aos desastres naturais, no presente, excedem regularmente 100
biliões de dólares anuais, com projeções de que esse numero duplique até 2030 (OCHA, n.d.).
Alguns desastres naturais são já possíveis de ser previstos de forma a minimizar os danos, no
entanto no caso dos terramotos não é concretizável. Os sismos apresentam-se como o desastre
natural com maior implicação em termos de taxa de mortalidade e com grande impacto de
destruição de infraestruturas (Alexander, 1999).
Nas intervenções mais recentes tem sido perentório a adaptabilidade de uma resposta no âmbito
da logística humanitária uma vez que o uso de conceitos logísticos pode resultar de forma
significativa e positiva no sucesso de uma operação.
Desta forma torna-se desafiante a implementação de processos sistematizados onde se destacam
as infraestruturas, a localização de centrais de assistência e coordenação de processos (pessoas,
suprimentos, informações, materiais).
“Desastres naturais que afetam povoamentos humanos, contribuem como lições regulares ao
ajuste da Humanidade com a Natureza.” (Castel-Branco, 2013, p. 1).
82
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 66 - Vista aérea da destruição da costa da Indonésia causada pelo tsunami de 26 de dezembro de 2004. Foto: ONU/Evan Schneider.
O Sismo ocorreu a 26 de Dezembro de 2004, por volta das oito da manhã na hora local da região do
seu epicentro, em pleno oceano, a oeste da ilha de Sumatra, na Indonésia. O terramoto é conhecido
pela comunidade científica como terremoto de Sumatra-Andaman.
O terremoto foi causado por uma subducção que desencadeou uma série de tsunamis devastadores
ao longo das costas da maioria dos continentes banhados pelo Oceano Índico. Até julho de 2005, os
números oficiais colocam o número de mortos, desaparecidos e desalojados no oceano Índico em
mais de 175 mil, cerca de 50.000 e mais de 1,7 milhões, respetivamente.
Este fenómeno, foi um dos mais mortais desastres naturais da história. Em número de vítimas, a
Indonésia foi o país mais atingido, seguida por Sri Lanka, Índia e Tailândia.
“A deslocação tectónica massiva no fundo do Oceano Índico formou um corpo de água que viajou à
velocidade de um avião a jato para as costas da Tailândia, Bangladesh, Índia, Sri Lanka, Somália e
outros locais, no leste da África.” (Fitrianto, 2011, p. 28).
Com uma magnitude de entre 9,0, foi o terceiro maior terramoto já registrado por um sismógrafo.
Este sismo teve a maior duração de falha já observada, entre 8,3 e 10 minutos. Isso fez com que o
planeta inteiro vibrasse em um centímetro e deu origem a outros terramotos em pontos muito
distantes do epicentro, como o Alasca, nos Estados Unidos
Ao tremor de terra seguiu-se um tsunami que atravessou o Oceano Índico e provocou destruição nas
zonas costeiras da África oriental, nomeadamente na Tanzânia, Somália e Quénia.
A origem do terramoto está relacionada com as placas tectónicas, aconteceu na sequência de uma
subducção que desencadeou vários tsunamis, maioritariamente ao largo do oceano indico.
“A placa indu-australiana colide com a placa da Eurásia, no Sunda Trench, para o sul, ao largo da
costa de Sumatra. A energia acumulada, ocasionalmente entra em erupção, em forma de
terremoto.” (Fitrianto, 2011, p. 39).
83
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
O terramoto foi causado por rutura na zona de subducção onde a placa tectónica da Índia mergulha
por baixo da placa da Birmânia. A área de rutura está calculada em cerca de 1200 km de
comprimento e a deslocação relativa das placas em cerca de 15 m. Este deslocamento pode
parecer pouco, mas em condições normais as placas oceânicas movimentam-se com velocidade da
ordem do milímetro por ano. A energia libertada provocou o terremoto de magnitude elevada,
enquanto que a deslocação do fundo do oceano, quer das placas tectônicas quer de sedimentos
remobiliados pelo abalo, deram origem ao tsunami e alteração na rotação da Terra.
Fig. 67 - Deteção via satélite das ondas do tsunami duas horas Fig. 68 - Mapa movimentação placas tectónicas Indonésia
após o sismo.
Abaixo das profundezas das águas do Oceano Índico, um pedaço maciço de crosta da
Terra soltou-se, deslocou-se e dobrou-se. Ao longo de uma falha com centenas de
quilómetros de comprimento, moveu-se, libertando uma energia latente equivalente à
potência de mais de 1.000 bombas atômicas. As águas empinaram-se e voltaram a
descer , criando uma onda que agora estava percorrendo o oceano a 500 mph.
(Watson, Demick & Fausset, 2005)
Os seus danos foram vastos, elevando o número de mortes a mais de 230 mil óbitos em
14 diferentes países, devido às ondas que atingiram os 30 metros de altura. O número de vítimas,
que era de aproximadamente 150 000, elevou-se para 220 000 quando o governo da Indonésia
suspendeu as buscas a 70 000 desaparecidos incluindo-os no saldo de mortos no desastre.
Este foi considerado um dos mais mortais desastres naturais da história tendo sido a indonésia o
pais mais afetado e com mais elevado número de vítimas seguido de Sri Lanka, Índia e Tailândia.
O seu hipocentro ocorreu a 30 km de profundidade e o epicentro localizou-se
entre Simeulue e Samatra.
84
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
A situação e resultado foram de tal forma devastadora, para tantos povos e países, que de imediato
provocou uma resposta humanitária extensível também a vários pontos do globo num total de
doações na ordem de mais de 14 bilhões de dólares, em ajuda humanitária.
Para além de ser um dos países mais propensos a catástrofes naturais do mundo, somam-se vários
fatores que contribuem para a vulnerabilidade da população tais como: a pobreza, a rápida
urbanização, a degradação ambiental, o conflito político e as atitudes culturais (Badan Perencanaan
Pembangunan Nasional [BAPPENAS] & International Partners, 2006).
Em 2002, 18% da população (cerca de 38 milhões de pessoas) viviam em extrema pobreza,
estimando-se que cerca de um terço a metade da população, podem, a qualquer momento cair
abaixo da linha de pobreza nacional (Mishra, 2004).
Desde 1950, a população da Indonésia cresceu de 77 para 232 milhões de habitantes, estimando-
se que esses números atinjam os 288 milhões até 2050. Nesse mesmo período a população a viver
em zonas urbanas aumentou de 9,5 para 94 milhões (passando de 13% para 44%, de toda a
população) ( United Nations Department of Economic and Social Affairs [UNDESA], 2010).
A Província de Aceh, na Indonésia, a mais próxima do epicentro do terremoto, foi atingida de forma
excecionalmente devastadora . De acordo com a Agência de Coordenação de desastres do governo
indonésio, BAKORNAS, até o final de março de 2005, 128.645 pessoas em Aceh tinha perdido a
vidas, 37.063 estão ainda dadas como desaparecidas e 532.898 foram deslocadas (Rofi, Doocy &
Robinson, 2006, cit. United States Agency for International Development [USAID], 2005).
Durante mais de 30 anos que existem conflitos em Aceh entre o Governo da Indonésia (Goi) e o
Movimento Aceh Livre (GAM). Em maio 2003 o governo declarou estado de emergência e,
posteriormente, mais de 40.000 soldados estavam estacionados na província. Por esse motivo
muitas organizações tiveram dificuldades em operar neste ambiente, sofrendo pressões de ambos
os lados. Isso dificultava a liberdade de movimentos e comprometida sua imparcialidade,
particularmente em áreas remotas. A situação melhorou quando foi assinado o memorando de
entendimento entre o GOI e o GAM, em 15 de agosto de 2005 (Silva, 2010).
A cidade de Banda Aceh, a cerca de 10 km do epicentro, foi violentamente atingida, primeiro pelo
terramoto e posteriormente arrastada por uma onda gigantesca, uma parede de água com cerca de
20m de altura. Não sobrou nada da costa existente numa extensão de 5 km para o interior. O
tsunami devastou um terço da cidade, tirou 128 000 vidas, e deixou desalojadas cerca de meio
milhão de pessoas, cerca de 250000 habitações parcial ou totalmente destruídas (Fitrianto, 2011).
85
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Mais de 800 km de costa foram afetados e em várias zonas não restaram edifícios, estradas ou
árvores ficaram em pé. Grandes áreas de terra foram perdidos para sempre e estima-se que mais
de 10.000 famílias precisaram de se mudar, porque as suas terras tinham sido destruídas. Mais de
1.500 km quadrados de terras agrícolas tornaram-se impróprias para a agricultura, cerca de 75% da
frota de pesca de pequena escala foi destruída, e a taxa de desemprego subiu de 6,8% para,
aproximadamente 30%. Um quarto da população perdeu os empregos (Oxfam International, 2006).
Devido à sua proximidade com o epicentro e porque a maioria da população vive em baixas áreas
costeiras, a província de Aceh foi a mais atingida, o terramoto e posteriormente o tsunami, destrui
ou danificou a grande maioria dos edifícios com estrutura de betão armado ali existentes (Ashmore,
2008).
Várias foram as réplicas que aconteceram posteriormente tendo chegado a ser debatido, junto da
comunidade científica, se o sismo de 2005 em Sumatra deveria ser considerado ou não réplica do
anterior ocorrido em Dezembro 2004, uma vez que a sua dimensão terá sido superior às das
habituais réplicas.
Quem se preocupa com as questões da segurança não pretende instaurar o “estado de sítio” ou de
emergência de forma permanente nas nossas cidades, nas nossas povoações, nem tão pouco criar
uma paranoia coletiva que nos leve a viver aterrorizados à espera que, de um momento para o
outro, tudo nos caia em cima, mas a verdade, sabe-se, é que tudo pode desaparecer de um
momento para o outro (Lopes, 2005).
Os diferentes desastres naturais, se por um lado estão de forma premente na vida quotidiana do
nosso planeta, por outro, elevam a importância a ter-se em relação ao efeito que possuem, dadas
as suas consequências devastadoras que implicam com a sua destruição levando mesmo à
destruição de sociedades inteiras, tornando o ser humano vulnerável e frágil. A preocupação
crescente remonta-nos para a hipótese do quadro que tende a agravar-se, segundo as Nações
Unidas (NU) que indicam que até o ano de 2050 estas catástrofes provocarão, numa média anual, a
perda de 100.000 vidas e custos de 250.000 milhões de euros (Carrillo, 2006).
As catástrofes constituem uma preocupação do ponto de vista dos impactos Sociais, Económicos,
Ambientais e de Saúde Pública. Impera a necessidade de reflexão no sentido de aplicar medidas de
preparação, minimização face as consequências que umas dessas ocorrências possam provocar.
Para além das atuais projeções sobre as alterações climáticas nos remeteram para a tendência de
aumento de catástrofes naturais mais frequentes existe também a preocupação com a
vulnerabilidade de alguns países que se encontram em situação desfavorecida devido a questões
de ordenamento de territórios em desenvolvimento onde a edificação existe em terrenos limitativos,
em solos instáveis, em terrenos de cheias bem como a aglomeração de pessoas em zonas propicias
desastres naturais. Nas sociedades modernas e mesmo nas mais desenvolvidas a preocupação
prende-se com os riscos crescentes devido ao acelerado desenvolvimento tecnológico e com o
exacerbado urbanismo (United Nations [UN], 2008).
Nas primeiras semanas Após o tsunami, a maioria das necessidades de abrigo foram atendidas,
pelas organizações militares indonésios, por organizações indonésias e pelos próprios beneficiários.
Isto devido aos desafios logísticos e pelo facto de os acessos do exterior serem limitados pelas
fracas e danificadas infraestruturas e também pelas restrições de circulação impostas pelo conflito
político existente. O abrigo foi fornecido em tendas coletivas, edifícios existentes, tendas individuais
por família. Algumas famílias deslocaram-se para o interior onde os danos foram menores (Ashmore,
2008).
86
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Mais tarde, o governo indonésio chamou equipas de militares para construírem 190 barracas
temporárias (edifícios longos, de um só piso, com estrutura de madeira e painéis sobre palafitas,
com placas de madeira compensada a separar as famílias.) para substituir as tendas provisorias
fornecidas nas primeiras semanas a seguir ao desastre (Fitrianto, 2011).
A implantação escolhida para a construção das barracas, com base no medo de novos terramotos
ou tsunamis, centrou-se em locais longe da costa, obrigando a população a deslocar-se para
trabalhar e reconstruir as suas casas.
Fig. 71 - Acampamento de emergência em tendas de campanha. Fig. 72 – imagem dos Barracks construídos pelos militares.
87
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
ferro e madeira. O consumo de madeira colocou sob enorme pressão as florestas de Aceh,
potenciando um segundo desastre ambiental. Argila, areia, gravilha e pedra foram recolhidas em
quantidades tão elevadas que vão ser necessárias duas gerações para as repor.
No âmbito do alojamento transitória, além das barracas construídas pelo exercito indonésio,
algumas organizações humanitárias tentaram fornecer abrigos provisórios nos estados iniciais da
resposta, no entanto esta não foi apoiada pelo governo, que pretendia alojar todos os desalojados
nas barracas .
O reconhecimento da complexidade da reconstrução e do tempo necessário para a construção de
habitação permanente levou a uma mudança politica em setembro de 2005. Como resultado
algumas NGO’s, como a IFRC e a IOM, começaram a importar abrigos provisórios.
Devido a atrasos no fornecimento, o primeiro abrigo fornecido pela IFRC, foi erguido em dezembro
de 2005. Demorou até dezembro de 2007 para que todos os cerca de 20 000 abrigos fossem
implementados (Van Dijk, 2009).
A importação desses abrigos transitórios eram não só demasiado caros e culturalmente
inapropriados, como impediam que a ajuda se focalizasse na economia local. O futuro ditou que
fossem abandonados, sendo comum verem-se espalhados pela região (Fitrianto, 2011).
O sector da habitação sofreu cerca de um terço da totalidade dos danos estimados causados pelo
tsunami. Na província de Aceh, Inicialmente, provavelmente, mais de 500 mil pessoas ficaram
desabrigadas pelo desastre.
O programa de abrigo teve um único objetivo: fazer com que as pessoas, tão rapidamente quanto
possível, estivessem melhor acomodadas. Nos primeiros dias, isso significava montar tendas para
que a população pudesse sair dos equipamentos públicos sobrelotados e das ruas.
Nas semanas seguintes, através de uma dupla abordagem, incentivaram-se as pessoas a abrigar
famílias deslocadas e começaram a planear-se e construir as Barracks, uma espécie de centro de
vida temporário ao estilo do exército.
Em termos de fornecimento de abrigos transitórios, os primeiros programas de escala significativa
foram o abrigo transitório da IOM e outras organizações. A construção dessas habitações pré-
fabricadas era edificada em terrenos alugados ou fornecidos por governo local (mais de 6.000 deles
estão em vigor até à data).
Ao mesmo tempo que se alojavam as pessoas nos abrigos transitórios, os doadores e as ONGs
começaram a planear a (re)construção de habitação permanente, nos locais de origem das pessoas
ou em parcelas identificadas pelas comunidades. Começava assim a surgir as estratégias de
alojamento permanente.
88
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
89
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
O abrigo consiste numa estrutura de aço galvanizado com um telhado de duas águas, em chapa de
ferro ondulada. O piso funciona sobre-elevado do terreno, tipo plataforma, com área de 26m2,
incluindo as varandas.
A estabilidade lateral é fornecida pelo revestimento de paredes feitas de tábuas de madeira fixadas
a vigas de madeira, que são por sua vez aparafusadas à armação de aço.
O tempo previsto de montagem é de um dia para a estrutura e aproximadamente três para a
colocação da madeira.
Análise tipológica:
90
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Aspetos construtivos:
Estrutura steel frame em aço galvanizado, concebida para funcionar 0.45 m acima do terreno (tipo
plataforma) com os 6 perfis verticais principais da estrutura soldados a uma chapa de ferro que
pode pousar sobre o chão ou pode ser aparafusada a uma fundação pontual executada em betão
armado. O pavimento é composto por tábuas de madeira fixas nas vigas de aço. As de paredes são
acabadas com tábuas de madeira sobrepostas, fixadas a vigas de madeira, que por sua vez são
aparafusadas à estrutura de aço.
As aberturas são efetuadas em estrutura de madeira, podendo, por vezes ter janelas de madeira e
vidro. A cobertura, inclinada de duas águas, com 24.3 º de inclinação, é extensível à área de
varandas, com 0.925m para cada lado. Retangular (5.55 x 5.85 m, incluindo varandas), é composta
por chapas de ferro onduladas assentes sobre estrutura de aço.
As uniões da estrutura são executadas com porcas e parafusos. As tábuas de madeira são fixadas
com pregos.
Projetado para ser desmontável e fácil de alterar.
Estrutura desmontável, montada no local de destino. Rígida, desenvolvida em superfícies planas, de
fixação rápida (Ashmore & Treherne, 2011).
Fig. 77 - Resultado final do abrigo da IFRC, já habitado. Fig. 78 - vários abrigos da IFRC espalhados por Aceh
91
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 79 - Desenho técnico (planta e corte) da estrutura do abrigo construído no Indonésia em 2005
92
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
IOM, na altura, Provisional Intergovernmental Committee for the Movement of Migrants from Europe
(PICMME), nasceu em 1951, a partir do caos e desmembramento da Europa Ocidental após a
Segunda Guerra Mundial.
Correntemente a IOM dedica-se a promover a migração humana ordenada para o benefício de
todos. Fá-lo, através da prestação de serviços e assessoria, a governos e migrantes.
trabalha para ajudar a garantir a gestão ordenada e humana das migrações, promover a cooperação
internacional em matéria de migração, ajudar na busca de soluções práticas para problemas
migrações e para prestar assistência humanitária aos migrantes em necessidade, sejam eles
refugiados, deslocados ou outros pessoas desenraizadas. A Constituição da OIM reconhece
explicitamente a relação entre migração e desenvolvimento económico, social e cultural, bem como
ao direito à liberdade de circulação de pessoas.
Presta assistência em operações de emergência e pós-emergência em quatro fases de
intervenção: mitigação, preparação, resposta e recuperação. As actividades do programa cobrem a
ajuda de emergência, retorno, reintegração, capacitação e proteção dos direitos das populações
atingidas.
No final de março, as chaves para os primeiros nove abrigos provisórios executados pela IOM foram
entregues aos sobreviventes do tsunami que viviam num acampamento fora de Banda Aceh.
As raízes do projeto encontram-se num acordo consumado em de meados de janeiro com o governo
indonésio para a IOM fornecer abrigos transitórias para a população afetada pelo tsunami da
província de Aceh.
Os abrigos destinam-se a funcionar como solução de curto prazo, proporcionando um lugar seguro
para as famílias viverem até a reconstrução de grande escala avançar.
Com a ajuda Trabalhadores treinados mas não qualificados fabricavam-se vigas de betão armado
pré-esforçadas e montava-se a estrutura dos abrigos, que era revestida com painéis de cálcio
pressionado nas paredes. O telhado era de chapa de ferro ondulada, assente em estrutura de
madeira.
O facto de as vigas da estrutura serem aparafusadas permita o seu desmantelamento e posterior
montagem noutros locais.
O modelo foi mais tarde reconfigurado para uso em estruturas permanentes, tanto para habitação,
como para equipamentos, clinas de saúde, escolas, entre outros.
Após o tsunami, que deixou mais de meio milhão de desabrigados na província de Aceh, as
autoridades indonésias pediram ajuda à IOM para fornecer alojamento provisório. A IOM concordou,
dependendo do financiamento disponível, fornecer até 11 mil abrigos (International Organization for
Migration [IOM], 2015).
Todos os componentes necessários eram fabricados por empreiteiros de Aceh que empregaram
cerca de 700 homens locais. Em muitos casos, os trabalhadores empregues na montagem do
abrigo, são os seus futuros ocupantes.
A produção das primeiras 1.000 unidades começou em Bandung, em Java Ocidental, em março.
Mais tarde, novos contratos foram executados com fabricantes para a construção dos restantes
abrigos (International Organization for Migration [IOM], 2005).
93
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Análise tipológica:
Funcionando em módulos de 3x3, o abrigo base tem uma superfície quadrada de 36 m2 ( 6.00 X
6.00m), uma altura máxima de 4.20 m e o beiral de 3.00 m. Sistema construtivo em vigas pré-
fabricadas, pré-tensionadas, de betão armado. Paredes em painéis de cálcio pressionado. Tem 4
ambientes interiores, três quartos e um espaço comum, podendo, em variações posteriores, existir
uma instalação sanitária e mais quartos. A cobertura é inclinada de duas águas, em chapa de ferro
ondulada assente sobre estrutura de madeira.
Aspetos construtivos:
As fundações são pontuais (6) construídas em betão armado, onde assentam, na vertical, as vigas
pré-fabricadas.
A estrutura é construída em módulos de 3x3, as vigas (fig. 82), com duas variantes, tem dimensões
de 1.20 X 0.30 X 0.10 m ou de 1.20 X 0.20 X 0.10 (usadas nos vértices). As ligações entre vigas são
efetuadas no sistema de porca/parafuso. Os L’s de ligação tem medidas de 0.30 x 0.30 x 0.10m.
94
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 84 – finalizando a cobertura Fig. 85 – Construção do abrigo da IOM, através de mão-de-obra local.
95
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Localizado no Sul da Ásia, na fronteira com o Mar da Arábia, situado entre a Índia no leste, o Irão e
Afeganistão, a oeste, e China, no norte. Tem uma superfície de 796,095 km quadrados.
Maioritariamente quente no deserto húmido, temperado nas zonas de noroeste e ártico nas zonas
do norte.
O relevo e constituído pela planície Indus a leste, montanhas no norte e noroeste e pelo planalto do
Baluchistão, a oeste( Library of Congress, n.d.).
Este país muçulmano tem vivido nos últimos anos uma grande instabilidade tanto ao nível político
como económico, refletindo-se nas condições de vida dos seus habitantes. Esta situação foi
agravada pelo sismo ocorrido em Outubro de 2005.
O desastre teve uma dimensão sem precedentes, tendo sido o mais destrutivo na história do
Paquistão, provocando 73.338 mortos, 128.304 feridos graves e cerca de 600 mil casas destruídas
ou seriamente danificadas, deixando 3,5 milhões de pessoas desalojadas que, com a chegada do
rigoroso Inverno, agravaram significativamente as já de si muito delicadas condições da população
desta zona do Paquistão. Agudizando-se consequentemente a instabilidade social (Hanif, n.d.).
A atividade sísmica da Ásia resulta do choque entre as placas euro-asiática e Índica onde se verifica
um movimento de 4/5cm por ano da placa Indica para noroeste. Este choque causa compressão
resultando na forma que ganham os Himalaias.
96
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 90 – Himalaias
97
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Embora o abalo tenha sido de grande escala, considera-se que a magnitude da destruição da
edificação foi devido ao tipo de construção adotada na região. Os edifícios e habitações
caracterizam-se por serem de um ou dois andares de pedra não reforçada, tijolo ou blocos de
cimento.
A priorização de um planeamento urbanístico e a aplicação de construções antissísmicas não foram
considerados, nesta que é uma zona de elevado risco sísmico.
Figura 92
Fig. 93 - Tariqabad, distrito pertencente a Muzaffarabad - local sem qualquer tipo de planeamento urbanistico, muito vulneravel a multiplos
riscos, incluindo deslizamentos, erosão e terramotos.
Fig. 94 - The shelterbox Fig. 95 - Áreas afectadas em que apenas meios de transportes rudimentares poderiam
chegar
98
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 96 – Destruição das Margalla Towers - 8th Oct 2005 , Islamabad Fig. 97 - Imagem de Balakot, Paquistão, após o terramoto de 2005.
Quando a magnitude do desastre atinge proporções impensáveis ou inimagináveis, como foi o caso
do terramoto deste caso de estudo, antes da implementação dos processos de apoio à
reconstrução, é necessário numa medida de apoio imediata, proporcionar um abrigo às pessoas.
Assim, no momento imediato ao desastre, e ainda antes de as ONGs começarem a distribuir tendas
de campanha, kits de abrigo, lonas de plástico, ferramentas e outros materiais para reparar as
habitações as populações montaram acampamentos de emergência informais feitos para responder
às primeiras necessidades de sobrevivência, usando reciclagem de publicidades na tentativa de se
abrigaram para se protegerem do frio (Architecture for Humanity, 2006).
Mais tarde, cerca de 80 000 pessoas foram alojadas em acampamentos de emergência construídos
pelas ONG´s (Ashmore, 2008).
Os abrigos transitórios, na sua grande maioria, foram construídos combinando os materiais
disponíveis, como a madeira e a terra (enchimento de sacos), com os materiais distribuídos, as
chapas galvanizadas, as e as lonas de plástico, uns através de autoconstrução, outros com a ajuda
do pessoal qualificado das NGO´s, seguindo as suas especificações.
Numa escala menor, nas zonas urbanas de Muzaffarabad e Balakot, foram distribuídos cerca de 10
000 abrigos pré-fabricados, fornecidos pela SIDA-IOM, Saudi Government, Turkish Red Cross e
Samaritan’s Purse. De realçar que estes 4 abrigos pré-fabricados eram construídos com isolamento
térmico incorporado (Shelter centre, 2014).
99
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 99 – abrigo pré-fabricado da SIDA-IOM Fig. 100 - abrigo pré-fabricado da Samaritan’s Purse
Fig. 101 - Abrigos construídos dos com os kits de materiais, sob supervisão das organizações humanitárias
Fig. 102 - winterization" of tents and Fig. 103 - Distribuição de chapas e material de isolamento termico para fazer face ao
structures: this foam is used as insulation in inverno que se aproximava.
structures that are otherwise virtually useless.
100
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 104 – abrigos construídos sob supervisão da ACTED, um com Fig. 105 - Acted shelter
materiais locais, outro com lonas da USAID.
Em Balakot, uma população 100 Km a norte de Islamabad, com cerca 30000 habitantes 80% das
casas foram destruídas. O governo declarou-a “red zone” devido a estar localizada sob duas falhas
extremamente ativas e decidiu relocalizar a população para uma cidade, Bakrial, a 25 km de
distância. Contudo em 2008 muitos dos habitantes, que por ali viverem há diversas gerações
recusaram-se a mudar, continuando em situação precária de habitabilidade, “sobrevivendo” em
abrigos de emergência (Saudi Public Assistance for Pakistan Earthquake Victims, 2010 [SPAPEV],
2010).
O meu pai e o seu pai antes dele estão enterrados aqui. Como podemos simplesmente
abandonar um lugar onde temos raízes ao longo dos séculos? ", Perguntou
Muhammad Waheed, 40 anos. Waheed, assim como outros moradores, está irritado
com os planos do governo em deslocar a cidade de Balakot para outo local. (SPAPEV,
2010, n.p.)
Estando-se perante um país que se debate de forma frágil a vários níveis, na intervenção pós sismo
e a sua reconstrução não se pode descurar do que anteriormente sedimentava a sociedade em
questão, as regras, politicas, estratégias, costumes tem uma forte influência (Schilderman, 2010).
Após a fase de apoio imediato prestado por estas organizações à situação de emergência em que se
encontravam estas populações, procedeu-se a um plano de atuação direcionado para uma
abordagem pós-catástrofe, uma estratégia de intervenção centrada nas pessoas, canalizando
esforços para a sensibilização das populações e governos locais para uma reconstrução das
infraestruturas.
Na fase pós-desastre foram implementadas políticas de reconstrução, destacando-se o Rural
Housing Reconstruction Programme (RHRP) que foi implementado pelo governo do Paquistão e pela
101
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 108 – folheto informativo da ERRA, explicando a politica de funcioamento do programa de reconstrução.
102
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
O apoio técnico indicado pela ERRA juntamente com as demais organizações parceiras incitavam à
aplicação de regras de reconstrução antissísmicas tendo em conta sempre a utilização de recursos
e materiais familiares e locais.
Todas as orientações dirigidas à intervenção reconstrutiva implicavam um programa que incidia nas
necessidades e hábitos locais, mantendo as referências culturais, como o uso de tijolo, a pedra e a
alvenaria de blocos (Hanif, n.d.).
A reconstrução das habitações ganharam um estatuto de “fazer você mesmo”, ou seja, a ERRA
estabeleceu que aos proprietários e demais cidadãos orientados tecnicamente, foram a mão-de-
obra aplicada em todo o processo, maximizado pelo uso de materiais e recursos locais. Esta
organização assegurava e auxiliava na aplicação e orientação dos métodos e técnicas.
Fig. 110 - estrutura antissismica. Fig. 111 - Reconstrução antissismica com tecnicas tradicionais
103
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
O apoio financeiro aprovado pelo governo para proprietários de habitações destruídas foi de 2,800
US$ e atribuído em quatro parcelas, tendo sido formulado com base no valor de reconstrução de
uma habitação com uma área entre 23 a 37m2. Os proprietários com habitações apenas
danificadas receberam o valor de 1,250 US$ em duas parcelas (Hanif, n.d.).
O facto do apoio a este tipo de reconstrução centrada nas pessoas irá encontrar a sua
sustentabilidade na entrega desse apoio económico que é feito parcelarmente, dependendo da boa
execução da mesma e sempre dessa garantia para que recebam a próxima.
A reconstrução centrada nos cidadãos apresenta-se como positiva e um meio de obter o fim com
sucesso essencialmente devido à forma como o apoio financeiro é entregue, como se viu atrás. Este
método garante que as instruções e processo metodológico seja seguido assim como garante que o
apoio é realmente canalizado para o seu objetivo de construção habitacional.
Foram reconstruídas mais de 460.000 habitações (World Bank, 2010). Foram identificados
parâmetros e definidas orientações no programa para o uso de materiais.
Socialmente os indivíduos são capacitados e reforçados levando a que se reproduzam diferentes
hábitos através do seu envolvimento e aprendizagem da seguinte forma:
- Os cidadãos afetos, são mobilizadas tendo um papel ativo na reconstrução;
- Contribui para a recuperação de traumas psicológicos;
- Permite correspondência das expectativas através de processos participativos;
- Envolvimento das comunidades;
- É preservada a identidade cultural:
-São perpetuadas as tradições e a construção local.
Fig. 112 - Edifícios construídos com materiais Fig. 113 - Formação em técnicas de alvenaria/construção tradicional
locais e técnicas tradicionais.
104
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Em julho de 2008, enquanto a reconstrução, supervisionada pela ERRA, ainda se efetuava, existiam
ainda pessoas a viver em abrigos de emergência, principalmente por questões de propriedade.
Estima-se que cerca de 1800 famílias perderam o seu terreno devido aos deslizamentos de terra
(Ashmore, 2008).
Passado 4 anos, em 2009, mais de 90% das 463,000 habitações novas e 170,000 das habitações
reconstruídas foram concluídas. Foi passível de aferir que os resultados da reconstrução nas áreas
rurais foram mais positivos do que nas zonas urbanas às quais acresciam constrangimentos criados
pela competitividade que existe quanto aos próprios terrenos e entre a população que provoca
situações de competitividade atrasando o processo. O interesse privado sobressai quanto ao bem
comum (Aquilino, 2011).
Fig. 114 – os abrigos transitórios da SPAPEV foram apropriados pela população para residência permanente, encontrando-se espalhados por
Balakot.
Em algumas situações, nas zonas urbanas, os abrigos transitórios de um só piso, ocuparam áreas
que outrora eram de edifícios de 3 pisos, não deixando espaço para a reconstrução.
“O uso de abrigos transitórios por demasiado tempo pode ter impacto negativo, a população
apropria-se deles, passando a ser usados como construção permanente, sem as condições
desejáveis de habitabilidade” (Stephenson & Ahmed, 2011, p. 105).
O processo de reconstrução funciona diferente nas zonas urbanas, onde é muito mais dispendiosa e
muito mais complexa que nas zonas rurais.
Nas cidades, os empregos estão muito ligados aos edifícios, os comerciantes perdem as suas lojas
mas também os seus stocks. As cidades podem paralisar por meses até que se removam os
escombros. Os serviços e infraestruturas colapsam, mesmo os que não perderam as suas lojas,
estão impossibilitados de as abrir.
Prolongar esta precaridade habitacional pode provocar nas populações uma adaptação a condições
que não são as desejáveis.
Em 2010 mais de 35,000 pessoas continuavam a viver em abrigos. Esta situação prolonga a
fragilidade económica e social do país, considerando-se que serão necessários mais dez anos para
que toda a população esteja realojada definitivamente (Stephenson & Ahmed, 2011).
105
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
No Paquistão predomina uma visão fatalista dos terramotos, considerados como uma forma divina
de punição. Este posicionamento Reconstrução Pós-Desastre de Habitação — Uma Abordagem ao
modelo de Reconstrução Centrada nas Pessoas interfere na forma como as pessoas encaram as
causas do desastre bem como as possíveis opções de mitigação (Mumtaz, Mughal, & Stephenson,
2008).
A redução da vulnerabilidade é, portanto, uma das medidas mais eficazes de prevenção
contra os desastres naturais, conseguida através de acções como: a redução do grau de
exposição; a realização de acções de protecção; a melhoria da capacidade de reacção imediata
através de mecanismos de alerta e formação comunitária; a certificação da recuperação
básica a um nível global; a garantia de reconstrução do ambiente afectado, fomentando a
recuperação definitiva do mesmo e assegurar a sua continuidade; entre outros.
106
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 117 - planta e corte esquemáticos dos abrigos transitórios da Turkish Red Crescent e da Habitat for Humanity
107
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
abrigo às famílias desalojadas (The International Federation of Red Cross and Red Crescent
Societies [IFRC], 2014)
Unidade de abrigo de 10,5 metros quadrados (2.10 X 5.00 m). Cada casa pode acomodar quatro
pessoas. São adequados para condições de inverno, devido ao seu isolamento térmico em
poliuretano. Possui infraestrutura de eletricidade pré-instalada, podendo concluir-se a instalação em
5m.
Constituído por painéis prefabricados de aço, em conformidade com as normas internacionais,
montagem com encaixes, braçadeiras e parafusos, sem soldas, para que possa ser modificado e
facilmente desmontado. A face dos painéis, em aço galvanizado, funciona como revestimento
interior e exterior. Os painéis são preenchidos no interior com poliuretano para isolamento térmico.
A cobertura, inclinada, de duas águas, pode ser em tela ou em painéis iguais aos das paredes.
Análise tipológica:
O abrigo tem uma superfície retangular de 10.50 m2 ( 2.10 X 5.00m), uma altura máxima de 3.00
m e um beiral de 2.00m. Sistema construtivo em steel frame de aço galvanizado. Só tem um
ambiente interior, não existindo qualquer compartimentação. A cobertura pode ser em tela ou no
mesmo material das paredes.
Aspetos construtivos:
Podem não existir fundações, o abrigo é assente em apoios pontuais de PVC, com o pavimento
elevado do chão para ventilar e proteger das águas. Neste caso o acabamento do pavimento é em
madeira, assente nas estruturas steel frame e painel sandwich. Outra das soluções passa pela
simples colocação do abrigo sobre uma laje contínua de betão armado, que funciona como
acabamento final do pavimento.
As paredes são portantes de steel frame, com o painel sandwich, com isolamento térmico, como
revestimento exterior e interior. As aberturas são incorporadas nas paredes de painel sandwich, a
porta no mesmo material da estrutura e as janelas em alumínio e vidro.
A cobertura é inclinada de duas águas, em tela ou no mesmo material das paredes.
A estrutura é desmontável, montada no local de destino. Rígida, tipo “flat pack’, desenvolvida em
superfícies planas, de fixação rápida.
As instalações são externas ao sistema, funcionando à vista (IFRC, 2014).
108
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 119 - Os dois tipos de material cobertura, em tela e com os painéis sandwich.
Habitat for Humanity é uma organização sem fins lucrativos, empenhada em criar boas condições
de alojamento para todos. Fomentando ações de consciencialização, para as questões de abrigo,
pelo mundo fora.
Habitat construiu ou renovou mais de 800.000 casas pelo mundo todo, assegurando que mais de 4
milhões de pessoas tivessem uma moradia decente.
Habitat foi fundada em 1976 por Millard Fuller, juntamente com sua esposa, Linda.
Funciona através do trabalho voluntário e doações de dinheiro e materiais, Habitat constrói e
reabilita casas simples, com a ajuda da família do proprietário.
As “Casas Habitat” são depois vendidas às famílias parceiras, sem fins lucrativos e financiadas com
empréstimos acessíveis. Os pagamentos de hipoteca mensal dos proprietários dos imóveis vão para
um fundo de maneio que é usado para construir ou reformar ainda mais “casas Habitat”. A Habitat
não funciona como um programa de doação.
Além de um adiantamento e os pagamentos de hipoteca mensal, os proprietários investem
centenas de horas de seu próprio suor trabalhando na construção da sua casa e das casas dos
outros.
A Habitat for Humanity atua em quase 80 países por todo o mundo. Afiliados locais ou grupos
comunitários são suportadas por centros regionais e nacionais que proporcionam formação,
recursos de informação e fiscalização. Está presente na Europa e na Ásia Central, trabalhando em
23 países, construindo e reparando casas, oferecendo microcréditos para aperfeiçoamento das
casas, melhorando as questões de abastecimento de agua e saneamento. Trabalha na resposta a
desastres, ajudando a construir habitação a preços acessíveis, para famílias carentes. Nesta região
a Habitat já atendeu a mais de 24 mil famílias.
A Sede regional na Europa e na Ásia Central é baseada em Bratislava, Eslováquia (habitat for
humanity, 2015a)
Habitat for Humanity iniciou uma intervenção multi-componente para ajudar as famílias no noroeste
do Paquistão, com a distribuição de suprimentos de emergência e construção de abrigos
provisórios. Criou Centros de Recursos para apoiar a reconstrução e reparação das casas afetadas,
ajudando na recuperação e reprocessamento de materiais de construção, assim como na formação
de trabalhadores qualificados na área da construção. Trabalhando com parceiros e com a ERRA, o
projeto atendeu a mais de dez mil famílias.
Imediatamente após o terremoto, a Habitat for Humanity no Paquistão utilizou 480 abrigos
provisórios para abrigar famílias afetadas. O Abrigo transitório foi apresentado como uma alternativa
aos acampamentos, que exigiam a separação de famílias e relocação das famílias longe dos seus
meios de subsistência. O modelo de abrigo transitório em forma de cúpula foi fácil de montar e
menos vulnerável a eventuais danos causados pelas réplicas que se seguem aos terramotos.
Oferecia proteção contra o inverno rigoroso que se aproximava, tinha um custo irrisório e a matéria-
prima utilizada, incluindo chapas e tubos de ferro galvanizado e material de isolamento, poderia ser
reutilizada para a futura construção de habitação permanente (habitat for humanity, 2015b).
109
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
-Rápida solução – uma equipa treinada e capaz efetua a montagem do abrigo em cerca de 30
minutos.
-Custo efetivo – o custo de construção do abrigo rondava os US$200, aproximadamente o mesmo
valor de uma tenda de campanha. Com a vantagem de ter uma duração mais prolongada, ser mais
seguro e oferecer maior proteção nas condições difíceis do inverno que se aproximava.
-Reutilizáveis – todos os materiais utilizados na construção do abrigo podiam facilmente ser
reutilizáveis aquando das futuras construções permanentes.
-Flexibilidade - se a construção permanente demorasse mais do que o previsto, os membros da
família e os seus bens podiam permanecer seguros no abrigo.
-Expansíveis – se o abrigo precisar de ser usado por mais tempo, podem ser adicionadas portas e
janelas.
-O abrigo é mais seguro do que uma tenda em caso de fogo. Fácil de transportar até às zonas de
difícil acesso da alta montanha.
-O design é forte e é menos provável que colapse durante os meses em que as réplicas, que se
seguem a um grande terremoto, se fazem sentir.
Análise tipológica:
O abrigo tem uma superfície quadrada de 9.30 m2 ( 3.05 X 3.05m), com uma altura máxima de
1.80 m aproximadamente.
Sistema construtivo em tubulares de aço, semicilíndricos, cobertos com chapas de zinco. Só tem um
ambiente interior, não existindo qualquer compartimentação. As paredes laterais, semicilíndricas,
podem ser construídas em tela, madeira, entre outros materiais locais. A madeira dos escombros
era o material mais usado.
110
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 121 - Um aldeão paquistanês segurando os tubos de Fig. 122 - Madeira das casas destruídas foram usadas para a construção das
ferro usados para levantar os abrigos fornecidos pela paredes laterais
Habitat
Aspetos construtivos:
Estrutura feito de tubos de aço e chapas galvanizadas para as paredes e material de cobertura.
Acolchoamento das paredes com mantas de espuma, colocadas entre ao tubos e as chapas, para
isolamento face ao inverno rigoroso.
Os 6 tubulares de aço semicirculares, com 4.80 m de comprimento e 2.54 cm de espessura,
aproximadamente, são sustentados por 12 Espigões em aço com 0.91 m de comprimento e 0.03 m
de espessura, aproximadamente.
Amaradas aos tubulares de aço através de fita de aço, encontram-se 8 chapas de zinco
galvanizadas, onduladas, calibre 26, com dimensões de 3.35 m X 0.90 m, aproximadamente.
Não é constituído de pavimento, é montado diretamente no terreno.
É desprovido de qualquer tipo de instalações.
Estrutura desmontável, montada no local de destino. Rígida, semicilíndrica, de fixação rápida (Flores
& Witton, 2008).
Fig. 123 - Mantas para isolamento térmico / transporte dos materiais até às zonas de mais difícil acesso.
111
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
O Haiti é um pequeno país, de apenas cerca de 28.000 quilómetros quadrados. Ocupa um terço da
parte ocidental da ilha caribenha de Hispaniola (La Isla Española).
Haiti tem um clima tropical, geralmente quente e húmido. O vento norte traz neblina e nevoeiro,
interrompendo a estação seca que decorre de novembro a janeiro. De fevereiro a maio, o clima é
muito húmido. Ventos alísios de nordeste, trazem as chuvas durante a estação chuvosa.
A precipitação média anual é de 140-200 centímetros, mas é distribuída de forma desigual. Chuvas
mais fortes ocorrem na península do sul e nas planícies e montanhas do norte. A precipitação
diminui de leste a oeste através da península do norte. A região centro-leste recebe uma quantidade
moderada de precipitação, enquanto a costa ocidental desde a península do norte até Port-au-
Prince, a capital, é relativamente seca. As temperaturas são quase sempre altas nas áreas baixas,
variando de 15 ° C a 25 ° C no inverno e de 25 ° C a 35 ° C durante o verão (library of congresso,
n.d.).
Imagine um cenário urbano num dos países mais pobres do mundo, adicione um par
de milhões de pessoas num espaço lotado, junte habitações mal construídas em locais
perigosos íngremes ou não, sonegue códigos de construção, inspeções de qualidade
de construção, planeamento urbano adequado, sistemas de esgotos, gestão de
resíduos sólidos e sacuda. Fortemente. (IFRC, 2011, p. 9)
-Haiti ocupava a posição 145 de 169 no Índice da Organização das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Humano, sendo o mais baixo no Hemisfério Ocidental;
-mais de 70 % da população vivia com menos de 2 US$ por dia;
- 86% das pessoas em Porto Príncipe viviam em condições marginais, principalmente em
zonas sobrelotadas e em edifícios de betão de má qualidade de construção;
-A maioria das famílias não tinha instalações sanitárias. Metade da população não tinha
acesso a retretes, e apenas um terço tinha acesso a água potável;
-A Taxa de mortalidade infantil (memores de 1 ano) foi de 57%, no resto do continente era de
14,8%;
112
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
-a mortalidade infantil (menores de 5 anos) foi de 76%, n o resto do continente foi de 19%;
-Estima-se que 2-3 milhões de haitianos sofrem de má nutrição, com 22% da população a
sofrer de desnutrição crónica, e 9,1% de aguda;
Pode-se acrescentar a todos estes dados o ambiente de insegurança social, resultante da violência
e das condições políticas incertas em que o país se encontrava na última década.
“The disaster of Haiti is not the earthquake. What we are seeing here is what happens when an
extreme natural event occurs in the lives of people who are already frighteningly vulnerable.”(IFRC,
2010, p. 5)
Devido a todas as características enumeradas anteriormente, desde 1999, foi implementado o
Système National de Gestion des Risques et des Désastres (SNGRD) ainda antes do terramoto de
2010 várias foram as entidades que trabalhavam na zona de forma a minimizar qualquer catástrofe
natural, destaca-se o Banco Mundial, mantendo um trabalho junto do Governo do Haiti para
implementar uma gestão de riscos e de catástrofes na estratégia de desenvolvimento (Grunewald &
Renaudin, 2010).
Em 2001 foi criado um Plano Nacional de Gestão de Riscos e Catástrofes, no entanto os esforços
estavam, na altura do terramoto, direcionadas para outro tipo de fenómenos mais comuns no
território da catástrofe, os furacões (Margesson & Taft-Morales, 2010; UN, 2010).
O sismo no Haiti ocorreu no dia 12 de Janeiro de 2010, pelas 16h53 horas locais (21h53 UTC),
atingindo a magnitude 7.0., teve o seu hipocentro a 13 km de profundidade (USGS, 2010) e o
epicentro a sensivelmente a 25 km a sudoeste de Porto Príncipe, sobre a falha de Enriquillo Plantain
Garden. Após o abalo inicial seguiram-se réplicas em 20 minutos, com magnitudes 6.0 e 5.7, e oito
dias depois por uma réplica de magnitude 5.9 (Desroches, Comerio, Eberhard, Mooney & Rix, 2011).
Estas réplicas foram durante vários meses uma preocupação tendo sido emitido um comunicado de
imprensa em Janeiro de 2010, pela U.S. Geological Survey (USGS) alertando para o facto das
réplicas poderem continuar durante meses ou mesmo anos (USGS, 2010).
Embora se tenham registados varias replicas, 22 terramotos com magnitude a ultrapassar 7.0 em
2010, o maior impacto relativamente `fatalidades foram devidas ao terramoto de 12 de Janeiro no
Haiti uma vez que o mesmo foi responsável por mais de 98% das mortes derivadas de terramotos
nesse ano (Goyet, Sarmiento & Grünewald, 2011; USGS, 2011).
Fig. 124 - Falhas geológicas do sismo Haiti Fig. 125 - Epicentro Haiti.
113
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Príncipe ficou inoperacional e o aeroporto foi severamente afetado. O setor das telecomunicações
sofreu danos limitados (GRH, 2010).
Segundo a Disasters Emergency Committee (2014) os principais danos do impacto do desastre
foram os seguintes :
No momento de maior crise, mais de 1 500 000 pessoas foram alojadas em acampamentos,
planificados ou informais, em condições de sobrelotação, alta vulnerabilidade e risco de inundação.
Em resultado de estas condições, deu-se um surto de cólera, em outubro de 2010, que dizimou
mais 5889 pessoas e infetou cerca de 220 000.
114
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Como é habitual nas localidades onde ocorre a catástrofe natural as autoridades locais são as
responsáveis por coordenar a resposta, o que se apresentou um problema, uma vez que o próprio
governo se encontrava numa situação extremamente frágil (Grunewald & Renaudin, 2010).
115
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Um relatório escrito em 2009 pela UN-HABITAT dava conta das fragilidades, observando nas colinas
circundantes da capital uma total ausência de ordenamento do território, sem códigos de
construção.
Covered with dwellings of different quality, many of them situated precariously on steep
slopes and in danger of being washed away by the next torrent or hurricane. Other slum
dwellers, in the centre of the city, risk flooding due to their location in the bottom of the
basin of Port-au-Prince. (Forsman, 2010, p. 19)
De acordo com este relatório, uma "combinação de insegurança política, líderes corruptos,
desastres naturais, migração de académicos e trabalhadores qualificados, acordos comerciais
desfavoráveis e má administração, juntos, ajudam a compreender como é a situação no Haiti
(Forsman, 2010).
No âmbito social, a arquitetura insere-se na perspetiva de emergência, um tema que surge face às
exigências de uma nova realidade, que abarca situações que não são mais uma exceção, mas sim
consequência da ocorrência de desastres naturais. O seu aumento e consequente número de
pessoas afetadas têm estimulado o interesse pelo desenvolvimento de projetos que respondam às
necessidades de alojamento dos afetados e que, de um momento para o outro, perderam todos os
seus bens e referências. O alojamento de emergência assume desta forma grande relevo, uma vez
que se apresenta como a alternativa e solução à ausência abrupta ao bem-estar, segurança,
dignidade e conforto, proteção.
Após a catástrofe, durante os primeiros meses, as famílias afetadas moveram-se para zonas
disponíveis, criando campos de refugiados e os seus próprios abrigos espontâneos e rudimentares.
Estes espaços foram posteriormente formalizados, havendo intervenção e apoio de várias agências
humanitárias.
Logo no momento posterior ao desastre na primeira etapa da intervenção foram distribuídas mais
de 630 mil lonas plásticas, para que os habitantes se pudessem proteger do sol e da chuva. Perante
esta realidade iniciou-se o movimento dos habitantes criando muitos assentamentos espontâneos
formando favela difíceis de serem desmanteladas. No final de 2011 existiam ainda mais de 500 mil
pessoas em abrigos e acampamentos incluindo nesse numero tanto pessoas afetadas diretamente
pelo terramoto como também nas habitações pré existentes causadas pelo deficit de condições
habitacionais e na realidade de pobreza urbana instituída no país.
Fig. 128 – Centenas de tendas instaladas nas zonas contiguas aos edifícios destruídos pelo terramoto, formando acampamentos espontâneos.
116
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Nesse primeiro momento após o desastre é aos governos que é incutida a responsabilidade de
oferecer a primeira ajuda às vítimas. Quando os diversos setores governamentais de apoio não tem
meios suficientes, entra em campo, se solicitada, a ajuda humanitária a nível internacional. Esta é
efetuada por várias agências que possuem obrigações e competências diferentes.
Com o intuito de se agilizar procedimentos, dividindo tarefas de forma a maximizar os recursos de
cada organização, foram criados, em 2005, pelas organizações humanitárias líderes (agências
das Nações Unidas e Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho)
conjuntamente com outras organizações não-governamentais (ONGs), diversos clusters para
ações de emergência. A criação dos diversos clusters funciona através da atribuição de tarefas e
responsabilidades, como um método de coordenação para reforçar a eficácia das operações de
resposta a desastres em apoio do governo do país de acolhimento. Assim a coordenação de
trabalhos no apoio às autoridades locais, torna-se bastante mais explicita e direcionada.
É uma parte do processo de reforma do sistema humanitário internacional que foi desenvolvido a
partir de 2005 pelo grupo de trabalho IASC (Inter-Agency Comité Permanente), órgão composto por
importantes agentes humanitários, incluindo o Movimento da Cruz Vermelha e do Crescente
Vermelho , organizações não-governamentais e organizações da ONU. . Cada “cluster” é composto
por agências cujas competências são complementares. No caso dos abrigos a sua designação é
Shelter cluster.
Fig. 129 - Exemplo de apropriação da via pública, qualquer espaço serve para se construir um abrigo.
A nível mundial o cluster de alojamento é dirigido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Refugiados(UNHCR) em situações de conflito e pela Federação Internacional da Cruz Vermelha e
do crescente vermelho (IFRC) em situações de desastre natural.
A nível nacional é composta por membros Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente
vermelho, organizações não governamentais, organizações das nações unidas, do governo de
acolhimento e dos doadores (IFRC, n.d.).
Para a resposta no Haiti, o cluster foi dirigido pela IFRC e pela da Cruz Vermelha do Haiti, que
começaram a tarefa de coordenação a 10 de fevereiro de 2010. Com uma equipa de 15 pessoas
formaram o SCT - Shelter Cluster team.
No momento inicial mais de 80 agências humanitárias formaram parte do SCT, adotando uma
estratégia de trabalho de subdivisão por centros de atividade. Criou-se, Em cada uma das zonas
117
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Foram vários os desafios com que se depararam os habitantes do Haiti e elementos das
organizações de ajuda humanitária, entre os quais a necessidade de importação de materiais, a
dificuldade de apropriação de terras, que levou a que fossem necessários dois anos para construir
100 mil abrigos, dificultado ainda pela falta de planeamento inicial, bem como a aproximação da
época de furacões de 2011. Embora tenha sido difícil o arranque da reconstrução das casas
danificadas, no final de 2010 foi possível constatar um avanço significativo sendo que os próprios
habitantes fizeram muitas alterações sem qualquer apoio e de forma espontânea.
Logo no momento posterior ao desastre, na primeira etapa da intervenção, foram distribuídas mais
de 630 mil lonas plásticas, para que os habitantes se pudessem proteger do sol e da chuva. Perante
esta realidade iniciou-se o movimento dos habitantes criando muitos assentamentos espontâneos
formando favela difíceis de serem desmanteladas. No final de 2011, existiam ainda mais de 500
mil pessoas em acampamentos, incluindo nesse número, tanto pessoas afetadas diretamente pelo
terramoto como também das habitações pré existentes causadas pelo deficit de condições
habitacionais e da realidade de pobreza urbana instituída no país.
118
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Uma das principais tarefas executadas pelo Cluster foi a criação de um manual de parâmetros e
padrões mínimos a observar na conceção de alojamento temporário. uma compilação de normas
aprovadas pelos organismos internacional, adaptada ao contexto haitiano.
A seguir apresentam-se alguns desses parâmetros/normas:
Fig. 131 - 4 anos após o terramoto, milhares de desalojados ainda vivem em acampamentos.
Em setembro de 2013, de 306 locais abertos (acampamentos), 166 campos (54%) têm serviços
sanitários, 105 campos (35%) têm serviços de drenagem; 26 campos (isto é,8%) são abastecidas
com água; 11 campos (4%) têm serviços gestão de resíduos.
Existia uma média de 114 pessoas/latrina (74 em 2012); 118 acampamentos com defecação a céu
aberto; 40 acampamentos exigem apoio urgente, para reduzir a vulnerabilidade sanitária (Haiti
Shelter Cluster [HSC], n.d.).
119
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 132 - planta e corte esquemáticos dos abrigos transitórios da Spanish Red Cross, da Concern Worldwide, da IFRC e da ACTED.
120
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
A Cruz Vermelha espanhola desenvolveu este módulo baseado no sistema construtivo steel Frame.
Em conformidade com a norma de superfície mínima de 18m2, com dimensões de 6,00 metros de
comprimento por 3,00 metros de largura. A fundação é pontual, de betão armado, na qual são
deixados pernos de aço para receber os postes galvanizados da estrutura de aço principal. A
estrutura de aço galvanizado é modulada a cada 75 cm; foi importada da Espanha, o que fez com
que se retardasse a sua implementação. O piso é construído em placas de contraplacado, assente
sobre uma subestrutura de aço galvanizado, elevada do chão, permitindo a ventilação.
É um sistema progressivo, possibilitando a acoplagem de outros módulos e alteração dos materiais
originais. Por exemplo, a cobertura que no início era de tela, foi em alguns casos, alterada para
chapa de metal ondulada.
Análise tipológica:
O abrigo tem uma superfície retangular de 18 m2 ( 6.00 X 3.00m), uma altura máxima de 3.00 m e
um beiral de 2.55m.Sistema construtivo em steel frame, sendo o material principal o aço
galvanizado e como material secundário, aparece a tela. Só tem um ambiente interior, não existindo
qualquer compartimentação. A cobertura e a pele exterior podem ser substituídas por outro
material.
Aspetos construtivos:
As fundações são pontuais (6) construídas em betão armado. De onde nascem, na vertical , os
perfis principais de estrutura , com uma secção retangular de 300 mm/300mm, com uma
espessura de 6mm. A pavimentação é em tábuas de madeira assentes sobre estrutura de aço
galvanizado. As paredes são em tela. As abertura são efectadas em estrutura de aço galvanizado,
podendo adicionalmente ser de madeira. A cobertura é inclinada de uma só água, com 8.5 º de
inclinação, em tela assente sobre estrutura de aço.
Estrutura desmontável, montada no local de destino. Rígida, desenvolvida em superfícies planas, de
fixação rápida.
As instalações são externas ao sistema, funcionando à vista.
Foram construídas 5100 unidades (Ashmore & Treherne, 2011).
121
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
122
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 136 - Implantação em local definitivo Fig. 137 - Pormenor da estrutura de Madeira
O alojamento temporário proposto pela Concern Worldwide cumpre com o padrão definido pelo
cluster ( superfície mínima de 18m2), mas na sua totalidade. Na verdade, o interior do abrigo é de
12m2. em anexo à habitação Inclui um espaço sanitário de 3m2 e um alpendre de 3m2.
A fundação é uma espécie de sapata única de betão armado, moldada in-situ, em toda a superfície
do abrigo, que serve como pavimento interior. Na fundação são incorporados algumas barras
metálicas que servem para manter a estrutura de madeira ancorada ao solo, protegendo-o assim
dos ventos fortes a que estes estão expostos.
A estrutura é em painéis de madeira tipo treliça (feitos na oficina). Estes painéis vêm como uma
peça só (da dimensão das paredes) com aberturas para os vãos já incluídas. Além disso, algumas
treliças (asnas) servem para atingir a inclinação do telhado. funcionam como elemento estrutural
de reforço de todo o sistema. As articulações são feitas por meio de parafusos e são fixados com
barras de aço. O invólucro, a pele, (placa de contraplacado) é colocado in situ.
Na laje de fundação deixa-se um buraco para a passagem dos tubos para as instalações sanitárias.
Outras instalações (não incluídas como parte do sistema) são colocadas posteriormente e deixadas
à vista.
Análise tipológica:
123
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Aspetos construtivos:
A fundação é uma laje de betão armado com chapas de aço embebidas. A laje serve como
pavimento. A estrutura é em painéis treliçados de madeira ancorados por pregos e parafusos. as
aberturas estão incluídas na estrutura. O revestimento das paredes é feito em painéis de madeira
contraplacada. A cobertura é inclinada, de duas águas, em chapa de zinco ondulada. Altura máxima
de 3.63 m e de 2.47 m ao beiral.
As instalações são externas ao sistema, funcionando à vista, exceto a das aguas residuais que
funciona embebida na laje.
Estrutura desmontável, montada no local de destino. Rígida, desenvolvida em superfícies planas, de
fixação rápida (HSC, 2011).
124
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 140 - Implantação em local definitivo Fig. 141 – Abrigo já habitado por uma família.
O alojamento temporário proposto pela IFRC, denominado “core wooden frame sheter, apesar de ter
sido dos mais utilizados no Haiti , não cumpre com o padrão definido pelo cluster ( superfície
mínima de 18m2), pois, na sua totalidade, tem apenas 17.70 m2 (dimensões gerais de 3.65 X 4.85
m) de superfície interior. É um abrigo de um só ambiente, sem instalação sanitária.
A fundação é pontual, de betão, derramado após a montagem da habitação. A estrutura de madeira
é incorporada na fundação de betão.
A Estrutura (painéis de suporte em madeira) é realizada in situ. Os painéis são feitos com as
dimensões da fachada, limitada a apenas 2 variações de painéis. As aberturas estão incluídas
dentro do painel.
O telhado é de chapa de metal corrugado, e é colocado sobre uma estrutura de madeira feita in-situ.
Altura máxima de 3.60 m e de 2.35 m ao beiral.
Não comtempla qualquer tipo de infraestruturas.
Análise tipológica:
Aspetos construtivos:
125
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
126
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Concebido e promovido pela ACTED este abrigo tem uma superfície coberta de 18m2 (área mínima
fixada pelo Cluster de Habitação), e foi projetado para ser progressivo (a pele exterior concebida
para ser de tela pode ser substituída por placas de contraplacado de madeira)
A fundação é pontual (em cada apoio dos “pilares” estruturais de madeira verticais) e é realizada
após a colocação do abrigo. Isso evita problemas de coordenação com a estrutura.
Estrutura de painéis de madeira portantes (pré-montados em oficina), com dimensões aproximadas
de 2,30m (altura) e 1.92m (largura). Painéis especiais para aberturas (portas e janelas) e inclinação
do telhado. Treliça (pré-montada) funciona como vigas para receber a cobertura e estabiliza o
sistema estrutural.
O pavimento é de cimento polido sobre uma camada de cascalho e terra compactada.
Previamente, constrói-se um perímetro em blocos de cimento que servem como limite do pavimento
e de base para o abrigo.
O pavimento acabado trabalha 20 centímetros acima do nível do terreno.
Análise tipológica:
127
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Aspetos construtivos:
A fundação é pontual, em betão armado, com chapas de aço embebidas, que fazem ancoragem à
estrutura principal. O pavimento é de cimento polido assente sobre uma camada de cascalho e terra
compactada.
A estrutura é em painéis treliçados de madeira, ancorados por pregos e parafusos.
As aberturas são construídas com painéis especiais, extra estrutura principal, de madeira. As
paredes (pele) são executadas com tela ou em substituição, painéis de madeira contraplacada. A
cobertura é inclinada, de uma água, em chapa de zinco ondulada, assente em estrutura de madeira.
As instalações são externas ao sistema, funcionando à vista.
Estrutura desmontável, montada no local de destino. Rígida, desenvolvida em superfícies planas, de
fixação rápida (HSC, 2011).
128
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
3.4. Correlações
Os três estudos de caso refletem situações de desastre natural, os três são terramotos, no caso da
Indonésia, acrescido do tsunami, provocado pelo abalo sísmico.
Com base na pesquisa teórica efetuada, procede-se de seguida à identificação de correlações
existentes entre os três estudos de caso.
A análise da intervenção arquitetónica dos casos de estudo, fundamentar-se-á no capítulo dois
desta investigação, o enquadramento teórico, dele retirando categorias e indicadores que ajudam a
examinar e interpretar, o mais objetivamente possível, conexões ou não, entre eles.
No período pós-desastre há uma resposta análoga aos três estudos de caso, no que a este indicador
diz respeito. No imediato ao desastre, as populações afetadas procuraram abrigo junto dos
familiares ou de famílias que ofereceram hospitalidade, construíram abrigos com lonas das
publicidade, materiais dos destroços e kits de emergência, procuraram reparar as casas com os kits
fornecidos pelas organizações ou refugiaram-se em edifícios públicos e outros que não ficaram
afetados pelo desastre. Aos que não restava outra solução, ficavam em acampamentos de tendas
de campanha espontâneos ou construídos pelo governo e organizações de ajuda.
Socorro imediato
Nesta fase de intervenção, as várias organizações responsáveis pelo fornecimento de abrigos
distribuíram tendas de campanha, montaram acampamentos, distribuíram kits de materiais e
ajudaram na construção de abrigos, oferecendo ajuda tanto na construção, como na formação na
área das técnicas de construção.
Período de reabilitação
Quando as tendas, de vida útil bastante reduzida, os acampamentos e os edifícios existentes
deixam de oferecer condições de habitabilidade digna e a (re)construção permanente se torna um
processo mais demorado, para evitar danos psicológicos ainda maiores às vitimas, começam a
pensar-se em outras formas de abrigo, nomeadamente através dos designados de transitórios.
Nos três estudos de caso houve necessidade de recorrer a este modo de alojamento, embora com
abordagens significativamente diferentes.
Na intervenção da Indonésia, numa primeira fase o governo procurou assumir esse papel.
Recorrendo a mão-de-obra militar, começaram a construir edifícios longos, onde albergavam
diversas famílias de desalojados. Era nestes edifícios de um só piso, em estrutura de madeira,
chamados de Barracks, que o governo pretendia albergar a maioria dos desalojados. Mais tarde,
reconhecendo a complexidade inerente à reconstrução e à construção de habitação permanente,
pediram ajuda externa para o fornecimento de abrigos transitórios. Começaram então a aparecer na
paisagem os abrigos transitórios, alguns importados, da IFRC e da IOM.
129
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 147 - Fotografia área de Balakot, Paquistão. Os abrigos da SPAPEV, com as suas coberturas azuladas, supostamente transitórios,
tornaram-se permanentes, dominando e descaracterizando a paisagem.
Período de reconstrução
A reconstrução/ construção permanente assume-se como um processo difícil com bastantes
condicionantes, entre elas, as questões de propriedade, pois algumas pessoas ficam sem o seu
pedaço de terra, quando acontecem deslizamentos. Tanto na Indonésia, com o mar a apoderar-se
deles, como no Paquistão e Haiti, por deslizamentos de terra, perderam-se para sempre quilómetros
quadrados de terra.
No Paquistão, na cidade de Balakot, e em Aceh, na Indonésia, por estarem implantadas em zonas
de risco iminente, o governo dos dois países decidiu relocalizar as cidades. Em ambos os casos,
esta estratégica desmoronou visto que a população, residente e trabalhando nessas localidades há
gerações, recusou-se a mudar.
Nos três estudos de caso a reconstrução/construção permanente planeia-se ao mesmo tempo que
se fornecem os outros tipos de ajuda de alojamento. As organizações de ajuda começaram a dar
130
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
– Condicionantes de intervenção
131
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fig. 149 - Fotografias do jornal the Guardian, tiradas do mesmo angulo, mostram Aceh após o desastre e 10 depois
Fig. 150 - Fotografias do jornal The Guardian, tiradas do mesmo angulo, mostram Aceh após o desastre e dez anos depois
132
Sistema construtivo sem qualquer com as Custo facilidade e rapidez de montagem, Sistema construtivo sem qualquer com as Sistema construtivo sem qualquer com as Sistema construtivo sem qualquer com as de materiais e sistemas construtivo de materiais e sistemas construtivo de materiais e sistemas construtivo
tradicional local. tradicional local. tradicional local.
ao contexto Boa ao clima, com isolamento Cobertura adaptada Cobertura inclinada e piso sobrelevado, Cobertura inclinada e piso sobrelevado, Cobertura inclinada e piso sobrelevado, adaptam-se Cobertura inclinada e piso sobrelevado, Cobertura inclinada e piso sobrelevado, Cobertura inclinada e piso sobrelevado,
do desastre incorporado. adaptam-se locais, adaptam-se locais, locais, chuvas copiosas com adaptam-se locais, adaptam-se locais, adaptam-se locais,
chuvas copiosas com risco de alagamentos. chuvas copiosas com risco de alagamentos. risco de alagamentos. chuvas copiosas com risco de alagamentos. chuvas copiosas com risco de alagamentos. chuvas copiosas com risco de alagamentos.
Custo de elevado, quando comparado O isolamento era colocado
com outros abrigos. posteriormente, por si adequado a suficientes, para cruzada, suficientes, para cruzada, suficientes, para cruzada, importante suficientes, para cruzada, suficientes, para cruzada, suficientes, para cruzada,
importante nos climas tropicais. importante nos climas tropicais. nos climas tropicais. importante nos climas tropicais. importante nos climas tropicais. importante nos climas tropicais.
Dificuldade de acesso aos locais mais
Adequado para as de mais acesso, Varandas incorporadas, com o telhado a A sua elevada flexibilidade revelou-se para a Boa ao solo, importante para fazer face aos Boa ao solo, importante para fazer face Boa ao solo, importante para fazer face Boa ao solo, importante para fazer face
dada a sua facilidade de transporte. sobrepor-se, ao encontro das casas de equipamentos, como clinicas e ventos fortes que se fazem sentir. aos ventos fortes que se fazem sentir. aos ventos fortes que se fazem sentir. aos ventos fortes que se fazem sentir.
Cobertura inclinada, adaptada
tradicionais locais. escolas.
Inclui varanda indo de encontro
implantado como produto final, contempla a Modelo de abrigo progressivo, encarado como Encarado como processo, contempla a Modelo progressivo, contempla a possibilidade de Modelo progressivo, contempla a possibilidade de Encarado como processo, contempla Encarado como processo, os materiais usados na Modelo progressivo, contempla a possibilidade de
possibilidade de se transformar de para processo, pode ser ampliado na sua as possibilidade de de a madeira de e de Funciona de o revestimento inicial das e varanda. Os materiais usados na estrutura, revestimento de paredes e cobertura de o revestimento inicial das
permanente. Embora aja a possibilidade de paredes laterais podem sofrer os de revestimento e do piso e as chapas de com 3X3 o que lhe possibilita bastantes paredes e cobertura, em tela, pode ser estrutura, revestimento de paredes e cobertura podem ser facilmente ser reutilizados na paredes, em tela, pode ser por outro
desmontar e montar noutro local, pode materiais usados podem ser por cobertura podem ser reutilizada para a o incremento de quase por outros. As suas podem aumentar com podem ser facilmente ser reutilizados na material. Os materiais da estrutura, revestimento
aumentar a e os materiais outros e podem ser reutilizados para permanente. ilimitado. Pode facilmente converter-se em de paredes e cobertura podem ser reutilizados na
permanente.
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
4
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Tipologia
Dimensões/superfície
No caso do Haiti os abrigos analisados apresentam os 18 m2 de espaço coberto habitável mínimo
exigido pelo cluster. Apenas um não cumpre esse requisito, apresentando 30 cm menos.
Os abrigos do Paquistão andam próximos dos 10m2 de superfície, enquanto os da Indonésia
apresentam valores de 26 e 36 m2.
Distribuição
Regra geral, os abrigos de transição apresentam um só espaço, que poderá posteriormente ser
subdividido para oferecer privacidade aos ocupantes. Qualquer tipo de instalação é um “luxo”, que
raramente se pode oferecer, aumentam os custos e atrasando a execução do projeto.
Tempo e dinheiro são, normalmente, duas precaridades em situações de emergência. Os três casos
de estudo desta investigação confirmam-no.
Apenas um dos abrigos apresentados contempla instalação sanitária e somente um apresenta mais
do que um ambiente interior.
Um aspeto particularmente importante, tradicional nas vivendas do Haiti e Indonésia, são os
espaços exteriores (varandas/alpendres), no entanto, apenas um abrigo, em cada um deles, o
contempla.
Morfologia
A forma dos abrigos transitórios pós-desastre (como é de esperar, pela precariedade económica que
a acompanha) é dada pelos materiais, sistemas de construção utilizados e pelo clima da região
afetada.
constata-se que, comum a todos os estudos de caso, os abrigos apresentam planta quadrada ou
retangular e tetos inclinados, adaptando-se ao clima, principalmente às fortes chuvas dos climas
das zonas afetadas.
É também necessário que esse tipo de alojamento, não se afaste muito da tipologia da habitação
existente no local do desastre, para evitar a rejeição da população.
Adequação ao clima
Nos abrigos analisados, pode ver-se como todas as casas (exceto o semicircular dome shelter)
seguem um design ortogonal e optam por tetos inclinados, adaptando-se às condições climatéricas
(fortes chuvas que ocorrem durante todo o ano, no caso do Haiti, mais ainda, devido à temporada
de furacões que ocorre no Atlântico, de junho a novembro de cada ano).
No desastre do Paquistão, os abrigos pré-fabricados em painéis sandwich, estavam preparados com
isolamento térmico e, consequentemente, eficientes no combate às condições rigorosas do inverno
da região norte do Paquistão. Os outros abrigos tiveram que ser adaptados a essas condições,
usando as mantas térmicas distribuídas pelas NGO’s.
No que diz respeito à ventilação, os abrigos incluem vãos suficientes para se conseguir ventilação
cruzada (importante nos climas do Haiti e Indonésia).
135
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Aspetos construtivos
136
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
O caso dos abrigos pré-fabricados da Turkish Red Crescent, é relativamente diferente, a parede
portante funciona como revestimento final, interior e exterior. É também o único caso que traz
isolamento térmico incorporado.
Coberturas
Os telhados são todos inclinados (excetuando o dome shelter, que é semicilíndrico) e como regra,
usam o metal corrugado (zinco). Quando no início é usada a tela, em alguma etapa posterior, é
substituída pela chapa corrugada.
Apenas um protótipo estava fora deste padrão, usando a tela numa primeira fase.
Excetuando o abrigo pré-fabricado em painel sandwich do Paquistão, todos os abrigos usam a
madeira ou o aço galvanizado como estrutura do telhado.
Instalações
As instalações não são incluídas como parte dos sistemas analisados.
As instalações sanitárias são apenas incluídos no protótipo da Concern Worldwide, onde é deixado
um buraco na laje de fundação para, posteriormente, se incluírem as instalações necessárias.
137
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
138
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Considerações finais
139
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Conclusões gerais
Nos estados iniciais desta investigação, aquando da elaboração da proposta e durante os primeiros
tempos da pesquisa, não conseguia alcançar a dimensão e complexidade que afeta a abordagem
arquitetónica em contexto de pós-catástrofe.
Os desastres, e os naturais em particular, mais em foco nesta investigação, começaram por ser um
evento de emergência, com origem em fenómenos naturais ou provocados pelo homem, de
proporção catastrófica que resulta em graves perturbações do funcionamento das sociedades, que
compromete as suas estruturas, funções sociais, económicas, culturais e políticas devido às perdas
humanas, materiais ou ambientais generalizadas que excedem a capacidade da sociedade afetada
para controlar ou recuperar destas consequências usando apenas os seus recursos.
É um facto que esta definição aborda todas as questões implícitas a esses eventos. No entanto,
para que o desastre afete o dito funcionamento normal da sociedade, é preciso entender as
responsabilidades humanas nas suas consequências, que são inequívocas. É uma realidade que se
um terramoto acontecer numa determinada localidade perto do seu epicentro, com uma elevada
magnitude, é inevitável que os danos possam ser elevados. Contudo, e já provado em sociedades
com uma elevada preparação e conhecimento na área, as consequências podem ser reduzidas se
formos capazes de olhar para além do desastre, procurando compreender o funcionamento da
natureza, adaptando-nos a esses fenómenos, uma vez que eles vão sempre acontecer, e segundo
diversos autores, são cada vez mais recorrentes.
É no contexto em que ocorrem os desastres que se deve focalizar, como se pode verificar na análise
dos três estudos de caso presentes nesta investigação, é aí que reside o problema. A precaridade
em que vivem as populações, o nível de vida, a urbanização crescente e desorganizada, a má
construção e em terrenos impróprios, entre outros fatores, elevam a vulnerabilidade de
determinadas sociedades e, consequentemente, o risco a que estão expostas face a eventos
catastróficos como são os desastres, naturais ou não.
Segundo diversos autores, é nas cidades dos países não industrializados, facto também constatado
como conclusão desta investigação, que as consequências mais graves destes desastres se fazem
sentir, principalmente na perda de vidas e destruição de habitação.
Todas as zonas afetadas dos três países, Paquistão, Indonésia e Haiti, estavam assinaladas como
zonas de elevado risco para a ocorrência de desastres. Não só pela sua localização geográfica de
elevado risco para a ocorrência de desastres naturais, mas porque, mais grave ainda, apresentam
um nível de urbanização crescente e desmedida, com construção de má qualidade, situada muitas
vezes em encostas propícias a deslizamentos de terras. Hoje fala-se muito do planeamento
urbanístico, de planos diretores municipais, de leis de zonamento, etc. No entanto, e nestes países
em particular, a implementação desses planos e leis não resolve o principal problema, que é o nível
de pobreza das populações. Muito provavelmente, as pessoas não constroem as casas num local de
risco associado por opção, mas sim pela falta dela.
No caso particular da província de Aceh, pelo facto de a comunidade viver muito da pesca, a
habitação focalizava-se nas zonas costeiras, perto dos locais de trabalho. Assim, para além de ser
140
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
uma zona de elevada propensão sísmica, também a tornava mais vulnerável em situações em que o
terramoto provoca tsunamis associados.
Considerando todos estes fatores, é importante prepararmo-nos, ainda antes da ocorrência dos
desastres, para a eventual chegada desses fenómenos, procurando incrementar nas comunidades
a questão da mitigação de riscos e preparar ações de resposta rápida e eficiente para a
eventualidade dos desastres ocorrerem.
No hiato temporal que decorre entre o primeiro e o último caso de estudo verificaram-se algumas
mudanças de atitudes. A evidência do aumento do número de desastre e vítimas parecem ter
mudado mentalidades. No Haiti os diversos intervenientes na ajuda humanitária organizaram-se
segundo as suas competências e raio de ação, procurando encontrar soluções rápidas e eficientes
no apoio às vítimas.
Na eventualidade do desastre ocorrer, a arquitetura, no seu implícito caráter social, e ainda que
nessas situações de emergência a multidisciplinaridade de áreas e competências, não esteja
sozinha, deve ajudar no apoio às vítimas, tanto nas questões físicas, como nas psicológicas.
Reconhece-se que na primeira resposta a um evento desta natureza, as organizações e entidades
intervenientes optam por socorrer as vítimas, nas suas necessidades de abrigo, através das tendas
de campanha e de kits de materiais. Constata-se que, para suprir a quantidade de desalojados na
fase imediata, são ideais, pois aliam a facilidade de transporte, ocupam pouco espaço aquando da
sua distribuição, ao baixo custo, mostrando-se as soluções mais económicas.
Com um período de duração relativamente curto, poderá durar mais ou menos tempo consoante as
condições climáticas, as tendas tornam-se ineficazes para um alojamento mais duradouro. Por
vezes, o restabelecimento total das comunidades afetadas, prolonga-se por alguns anos,
dependendo de múltiplos fatores, entre eles o direito à terra, que poderá demorar mais de dez anos.
É no sentido de devolver a dignidade aos desalojados e reduzir alguns fatores psicológicos
associados ao desastre, que vem sendo implementada a solução transitória de abrigo de
emergência.
Esta tem uma duração média de seis meses, dependendo da força do sol, do vento e da mãe
natureza, enquanto o abrigo transitório poderá ser utilizado durante alguns anos e proporcionar,
nesse período, o conforto de um lar.
É neste campo que se vem desenvolvendo, vasta e diversificadamente, a arquitetura de
emergência. Escolas e ateliers de arquitetura, agências humanitárias através de lançamento de
concursos internacionais, fundações, arquitetos premiados (o exemplo de Shigeru Ban), entre
outros, ajudaram a dar visibilidade ao tema.
Do verificado, através dos estudos de caso desta investigação, é que muitos, senão a maior parte
dos projetos desses concursos, não passam do papel, talvez por serem demasiado utópicos e
tecnológicos. O que se constata é que os abrigos transitórios que são implementados nas situações
de pós-catástrofe são estruturas bastante simples, desprovidos de qualquer conforto e sem
infraestruturas incorporadas, na maioria dos casos.
O seu desenho é condicionado pelos custos, logística de transporte (por vezes são importados),
rapidez de construção e montagem, adequação ambiental e cultural, entre alguns outros fatores.
141
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Um dos fatores mais negligenciados nos diversos desenhos é a adequação cultural. Embora a
experiencia dite que quando não obedecem a esse critério os abrigos são rejeitados pelos usuários,
é comum verificar-se que as organizações continuam a usar abrigos de solução universal, que não
se adaptam nem ao contexto cultural, nem ao clima do local afetado pelo desastre.
Resumindo, há muitas e diferentes formas de oferecer abrigo às vítimas de desastres. A seleção de
um método adequado de assistência depende das necessidades das comunidades afetadas e do
tipo de assistência que determinada organização pode fornecer.
Diferentes métodos de assistência devem ser combinados para criar programas específicos,
adaptados às necessidades das comunidades afetadas e às famílias.
Os arquitetos devem estar preparados para responder de forma célere, enérgica e eficaz às
necessidades básicas e urgentes de uma determinada comunidade, respeitando tradições e cultura
das populações afetadas.
Em muitos países, povoações vizinhas podem ter diferentes tradições, assim, tornam-se
fundamental compreender de que forma vivem os povos, pois o desenho das estruturas
implantadas em situações de catástrofe, deve ser pensado para acomodar as preferências das
vítimas, sejam elas de carácter social, cultural ou religioso.
É impossível pensar as intervenções de emergência, pré e pós-catástrofe, sem o desempenho
fundamental oferecido pela ajuda humanitária. No entanto, é imperativo que o arquiteto esteja
incluído nesse desempenho. Se existe disciplina qualificada para considerar soluções de abrigo e
reconstrução a longo prazo, esta é a arquitetura. É com certeza um desafio para os arquitetos
preparar, inovar, antecipar e “arranjar” soluções técnicas e construtivas que se provem eficazes em
situações de emergência.
Finalizando, não podem esquecer-se nunca a obrigação moral que a disciplina arquitetura acarreta!
142
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Conclusões específicas
No seguimento dos resultados obtidos nesta investigação, verifica-se que grande parte das soluções
de abrigo são fornecidas por organismos externos às regiões afetadas, organizações internacionais
de ajuda responsáveis pela prestação de socorro pós-desastre. Mesmo no caso do desastre da
Indonésia, que num momento inicial o governo procurou resolver por si só, ficou demonstrado, que
quando o desastre atinge proporções catastróficas, parece imperativo a necessidade de ajuda
externa.
Parece evidente que existe uma necessidade de hierarquização e designação de funções entre os
diversos organismos de ajuda, nos cenários estudados existiu um organismo responsável por
coordenar toda a operação de ajuda. Importa salientar o aparecimento a partir de 2005 do cluster
de abrigo (www.sheltercluster.org), uma espécie de mecanismo global que coordena a assistência
humanitária e resposta em casos de emergência, que ficou encarregue de toda a operação no Haiti.
Em todos os cenários estudados parece haver a preocupação de identificar zonas de risco, que em
alguns casos estavam amplamente estudadas e identificadas, mas provavelmente “esquecidas”
pelas organizações governamentais locais.
Parece evidente a procura de soluções que minimizem os problemas psicológicos afetos às
questões de transitoriedade, procurando que os sobreviventes sejam consultados nos diversos
processos de recuperação das zonas afetadas, sejam eles, culturais, políticos ou económicos.
De uma forma generalizada, quer quando se proporcionou um local de emergência (acampamentos,
abrigos de emergência ou transitórios) ou aquando da (re)construção, se teve em conta, tanto
quanto possível, as relações (culturais, sociais, religiosas, entre outras) das comunidades, por forma
a não fragilizar ainda mais as pessoas envolvidas e permitir-lhes o mais rapidamente possível,
alcançar uma estabilidade e um maior equilíbrio.
A procura de recursos, materiais e mão-de-obra, das zonas afetadas, parece funcionar como
catalisador da economia local. Para além disso, manter as pessoas ocupadas, ajuda na
minimização dos problemas psicológicos afetos ao desastre, “distraindo-as”.
Em dois dos casos de estudo tentou-se trasladar cidades ou aldeias, que se verificou estarem
implantadas em zonas de risco (em falhas sísmicas, em zonas costeiras expostas a inundações e
tsunamis e em zonas de risco de deslizamento de terras). Esses planos foram abortados porque a
população negou-se a essa mudança, confirmando o que a maioria dos autores assume quando
afirmam que a recolocação das comunidades é raramente bem-sucedida, devendo ser minimizada
ou evitada.
Nos estudos de caso abordados nesta investigação parece existir uma clara aceitação dos três
mecanismos de emergência, com percentagens maiores ou menores, mais tradicionais ou mais
industrializados, pré-fabricados ou em autoconstrução, seguindo esta ou aquela técnica, em todos
143
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
144
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Nota-se que são frequentemente soluções desmontáveis, que poderão ser reutilizáveis em vários
pontos do globo, em outras situações de emergência. Devido à facilidade de
montagem/desmontagem, de armazenamento e transporte e ao tipo de tecnologia e desenho
utilizado, parecem ser planificadas tendo em consideração a participação da comunidade afetada
pelo desastre.
O conhecimento dos materiais, características de montagem, manobrabilidade e adequação ao
clima parecem ser questões fundamentais para perceber como a mão-de-obra local poderá
participar na execução do projeto.
Parece existir, e tendo em conta a eficácia que deve ser exigida na construção de abrigos
transitórios, uma utilização de soluções técnicas em que se possa contemplar uma rápida
manipulação dos produtos existentes nos locais do desastre (madeira dos escombros, lonas de
publicidade, até mesmo, o papel). Mesmo nas soluções importadas, em que aço galvanizado é
utilizado na estrutura do abrigo, parece haver espaço para o uso de materiais que contemplem a
reutilização de materiais provenientes dos destroços do desastre, assim como a aceitabilidade
cultural.
Na analise feita aos diversos abrigos pode verificar-se que os abrigos: raramente têm mais que um
compartimento; o espaço interior é exíguo, de pequena dimensão; são alojamentos de um só piso;
as aberturas são normalmente no mesmo material de construção do abrigo, raramente se usa o
vidro; a cobertura é inclinada, procurando adaptar-se ao clima dos locais afetados; parece existir a
preocupação de reaproveitamento de materiais para a futura construção permanente; verifica-se
que não é dada importância às agregações entre abrigos, quase sempre funcionam isolados;
As soluções técnicas presentes são quase sempre painéis pré-montados, leves e fáceis de
transportar, que se acoplam in situ, através de ligações rápidas, sejam elas utilizando
porca/parafuso, pregos ou encaixes. A ligação ao solo, utilizando maioritariamente betão armado
nas fundações, e feita embebendo a estrutura diretamente na fundação ou utilizando encaixes.
Os projetos estudados parecem assim cumprir com os requisitos da habitação transitória referidos
pela maior parte dos autores de referência tais como: a curta durabilidade, o baixo custo, a rapidez
de montagem e a facilidade de transporte. Os casos estudados não parecem acrescer nenhuma
mais valia ao que anteriormente existia. Os abrigos transitórios utilizadas, apesar de minimizarem o
risco num possível novo desastre, principalmente pela leveza dos materiais utilizados, não são
projetados com esse desígnio, apenas pretendem oferecer um espaço coberto, para satisfazer
necessidades de abrigo e intimidade às vítimas dos desastres.
A Habitabilidade é assegurada pela proteção contra as agressões externas (condicionantes
climáticas); o armazenamento e proteção dos bens materiais, a segurança dos bens e pertences
das pessoas contra os roubos e pilhagens; e o equilíbrio emocional e satisfação da necessidade de
intimidade.
No entanto verifica-se que, provavelmente consequência das limitações de ordem financeira, ainda
existem lacunas nas soluções de abrigo transitório fornecidas às vítimas, nomeadamente no que
concerne às infraestruturas, pois, dentro dos abrigos analisados, raramente são contempladas, por
exemplo, soluções de higiene básicas. Situação que pode tornar-se problemática, quando existe o
risco do abrigo transitório passar a solução definitiva.
145
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Os abrigos transitórios são uma abordagem de projeto, que assenta numa lógica de intervenção pós
catástrofe, de fornecimento de alojamento às populações vítimas, tanto de catástrofes naturais,
como de conflitos sociais e políticos. A viabilidade de execução, a mobilidade, as técnicas e os
recursos, são assim, questões fundamentais no desenvolvimento de soluções de abrigos
transitórios, cujas condições de habitabilidade proporcionem a participação, a rápida aceitação e o
mínimo de dignidade aos deslocados.
Daí a importância de se procurarem soluções de baixo custo, rápidas e fáceis de construir ou erguer,
que sejam capazes de fazer a ponte entre as duas fases: a de emergência e a de reconstrução. A
sua atuação mediante circunstâncias improváveis e “massivas”, como os casos em estudo, apela à
flexibilidade, como ferramenta essencial para que diversos tipos de necessidades sejam
combatidas, e ao fator económico, que determina a extensão da sua aplicação e a da sua
construção. Em termos globais deve atender a questões como a economia, funcionalidade, rapidez,
mobilidade, racionalização de custos e espaços, e eficiência.
A adoção de soluções técnicas inovadores (sejam elas de caracter modular, pré-fabricado, flexível,
tradicional, etc), podem reportar em vantagens para o desenho de um abrigo transitório, como a
rapidez de construção e montagem de estruturas e a facilidade de aquisição de materiais a preços
acessíveis. Para que esses modelos sejam amplamente acessíveis e exequíveis, parece ser
essencial a capacidade criativa do arquiteto em criar novas e melhores soluções técnicas
adequadas a este tipo de arquitetura. Segundo o professor David Sanderson, os abrigos transitórios
de momento, continuam a ser basicanente “(…)- four posts and a roof - which is not bad, and is
helpful in rural areas where there is a lot of need”. E também “Still pretty basic though”.
Contudo, essa pesquisa de soluções inovadoras deve alicerçar-se num entendimento preciso das
condicionantes reais. As propostas utópicas podem em cenários pós-catástrofe corresponder a um
desperdício desnecessário de esforços e recursos. Esse equilíbrio é difícil de encontrar, não são
muitas as propostas verdadeiramente adequadas e inovadoras, por isso os modelos de estrutura
feita de tubos de papel, desenvolvidos pelo arquiteto Shigeru Ban (ver figuras 39 e 40), se tornaram
uma referência internacional. Em 2008, construiu a Chengdu Hualin Elementary School, escola
provisória, na província de Sichuan, em Chengdu, na China, depois de esta região ter sido devastada
por um terramoto combinando a estrutura feita de tubos de papel com juntas de madeira e tirantes
de aço. A reinvenção dos materiais que proporcionou com os seus projetos permitiu alterações e
novas questões quanto a durabilidade, resistência e uso.
Como refere o professor Sanderson, as propostas que se veem nos concursos internacionais, nas
escolas, entre outras, são normalmente muito utópicas, inúteis quando realmente fazem falta, mas
agradáveis para os olhos, “that’s fashion for you.(…) but are pretty useless when it comes to true
need!”
Consequência das alterações atuais das sociedades, bem como as suas necessidades emergentes,
a arquitetura e os seus profissionais necessitaram de se adaptar e alterar os seus deveres,
corrigindo as suas obrigações, de forma a responder aos estímulos da sociedade que também se
alteram.
Ter a competência e capacidade, talvez até destreza, para fazer uma arquitetura para o individuo,
tendo em cuidado as suas necessidades físicas e psicológicos, as suas expectativas, direcionando o
146
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
seu trabalho para as necessidades e esperanças destes não é reservado a todos aqueles que fazem
arquitetura para situações de emergência ou para comunidades em subdesenvolvimento.
É neste pormenor que se distinguem os profissionais de arquitetura porque tal competência abriga
apenas naqueles que possuem uma atitude que não dá como prioridade o objeto mas, sim o efeito
que produz, a destreza de premiar com carácter e imagem a intervenção em causa.
Neste seguimento é possível constatar que o número de arquitetos envolvidos nesta área da
arquitetura é reduzido, e sendo também considerável a inadequação de algumas propostas, o que
vem ilustrar a citação de Ian Davis, presente no seu livro, arquitetura de emergência:
“Tendo visitado várias agências de socorro em genebra e em Washington, dei conta que era muito
corrente que quando se falava de habitações de emergência os funcionários se dirigiam a um
arquivo que ao abri-lo quase transbordava, com as gavetas repletas de 57 variedades de tipos de
refúgio. Por sorte, a maior parte destes projetos nunca saíram do papel” (Davis, 1980, p. 84).
Após concluída a presente investigação, é importante sugerir algumas linhas de investigação, que
devem ser aportadas no futuro:
Uma vez que, não raramente, o abrigo transitório acaba por ser utilizado por mais anos que o
previsto, parece importante estudar a possibilidade de na sua génese eles trazerem um carácter
progressivo mais aportado, especialmente no que concerne às capacidades de incremento de área,
possibilidades de compartimentação e aumento do conforto.
Uma outra investigação poderá ancorar na importância de se investigar a inclusão de instalações
nos abrigos de emergência.
Por último, a investigação, mais relacionada com questões de urbanismo, da implantação e forma
dos acampamentos, que, não raras vezes, se transformam em povoações, sem serem pré-
concebidos para tal.
147
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
148
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Bibliografia
149
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Aaronson, D. (2012). Design like you give a damn [2]: building change from the ground
up. New York: Abrams.
- Agency for Technical Cooperation and Development [ACTED] (2014). About us.
Recuperado de: http://www.acted.org/en/about-us
- Allianz SE. (2011). Allianz Risk Pulse, Focus: Natural Catastrophes, Allianz SE
Reinsurance, Munique. Recuperado de:
https://www.allianz.com/v_1381916370000/en/sustainability/world_of_information/
climate_change/2011_allianz_risk_pulse_focus_natural_catastrophes.pdf
- Aquilino, M. J. (2011). Beyond shelter architecture for crisis. New York: Thames &
Hudson.
- Aquilino, M. J. (2011). Beyond Shelter: Architecture and Human Dignity. Paris: Metroplis
Books.
150
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
http://www.antp.org.br/_System/download/dcmDocument/2013/09/16/E6607E23-
B9FA-4EE2-855E-3E004471883C.pdf
- Architecture for Humanity (2006). Design like you give a damn: architectural responses
to humanitarian crises. London: Thames & Hudson.
- Ashmore, J., & Treherne, C. (2011). Transitional shelters: Eight designs. Geneva:
International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies. Recuperado de:
http://www.ifrc.org/PageFiles/95186/900300-Transitional%20Shelters-
Eight%20designs-EN-LR.pdf
- Ashmore, J., & Treherne, C. (2013). Post–disaster shelter: Ten designs. Geneva:
International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies. Recuperado de:
http://sheltercasestudies.org/files/tshelter-8designs/10designs2013/2013-10-28-
Post-disaster-shelter-ten-designs-IFRC-lores.pdf
- Auroville Earth Institute [AEI] (n.d.). Bam and Arg-e-Bam, Iran. Unesco Chair earthen
architecture. Recuperado de: http://www.earth-
auroville.com/bam_and_arg_e_bam_en.php
- Bappenas and International Partners (2006). Preliminary damage and loss assessment:
Yogyakarta and Central Java natural disaster. A Joint Report from Bappenas, the
Provincial and Local Governments of D. I. Yogyakarta, the Provincial and Local
151
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Bíblia Sagrada: Genesis 6 (1993) (pp. 24-25). São Paulo: Edição pastoral.
152
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Concern Worldwide [CW] (2015). About Concern, Concern Worldwide works with the
world's poorest people to transform their lives. Recuperado de:
https://www.concern.net/about
- Corsellis, T., & Vitale, A. (2008). Transitional settlement and planning reconstruction
after natural disasters. Recuperado de:
http://www.ifrc.org/PageFiles/95884/D.01.07.%20Transitional%20Settlement%20Rec
onstruction%20After%20Natural%20Disasters_Ocha%20and%20Shelter%20Centre.pdf
153
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Davis, I. (2011). Shelters and reconstruction, culture and society. Interview with Ian
Davis/entrevistador: Luca Sampò. Boundaries, (2), 67-74. Roma.
- Desroches, R., Comerio, M., Eberhard, M., Mooney, W., & Rix, G. J. (2011). Overview of
the 2010 Haiti Earthquake. Recuperado de:
http://escweb.wr.usgs.gov/share/mooney/142.pdf
- DIFD (2010). Shelter Centre, Shelter after disaster: Strategies for transitional
settlement and reconstruction. Recuperado de:
http://www.sheltercentre.org/meeting/material/shelter-after-disaster-strategies-
transitional-settlement-and-reconstruction-0
- Doocy, S., Cherewick, M., & Kirsch, T. (2013). Mortality Following the Haitian
Earthquake of 2010: A Stratified Cluster Survey. Population Health Metrics. Recuperado
de: http://www.pophealthmetrics.com/content/11/1/5
- Durrani, J. A., Elnashai, A. S., Hashash, Y. M. A., Kim, S. J., & Masud, A. (2006). The
Kashmir earthquake of October 8, 2005: A quick report, mid-America earthquake
center. Recuperado de:
https://www.ideals.illinois.edu/bitstream/handle/2142/8937/Report05-
04.pdf?sequence=2
154
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Fengler, W., Clark, J., Cibulskis, R., & Clifford, K. (2005). Aceh and nias one year after
the tsunami: The Recovery Effort and Way Forward. BRR and International Partners.
Recuperado de:
http://siteresources.worldbank.org/INTEASTASIAPACIFIC/Resources/1YR_tsunami_adv
ance_release.pdf
- Figueiredo, E., Valente, S., Coelho, C., & Pinho, L. (2004). Conviver com o Risco: A
importância da incorporação da percepção social nos mecanismos de gestão do risco
de cheia no concelho de Águeda. VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências
Sociais: A questão social no novo milénio, Coimbra, Portugal. Recuperado de:
http://www.ces.uc.pt/lab2004/pdfs/ElisabeteFigueiredo_Valente_coelho_LuisaPinheir
o.pdf
- Flores, M., & Witton, P. (2008). Pakistan Earthquake Challenges & Innovations after the
2005 Earthquake. Thailand,Bangkok: Asia-Pacific office. Recuperado de:
http://www.habitat.org/sites/default/files/ap_Pakistan_Earthquake.pdf
155
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Gillespie, B. (2005). Indonesia: Red Cross, Red Crescent shelters take shape in Aceh:
American Red Cross press release. Recuperado de:
http://m.reliefweb.int/report/194151/indonesia/indonesia-red-cross-red-crescent-
shelters-take-shape-in-aceh
- Gomes, C. A., & Saraiva, R. G. (2012). Prevenção do risco de catástrofe natural: como
resistir ao irresistível? Actas do colóquio catástrofes naturais: uma realidade
multidimensional, Lisboa, Instituto de Ciências Jurídico-Políticas.
- Government of the Republic of Haiti [GRH] (2010). Action Plan for National Recovery
and Development of Haiti. Recuperado de:
https://www.google.pt/?gfe_rd=cr&ei=xGDvVP6aHOer8weGm4EQ&gws_rd=ssl#
- Goyet, C. V., Sarmiento, J.P., & Grünewald, F. (2011). Health Response to the
Earthquake in Haiti: January 2010. Lessons to be learned for the next massive sudden-
onset disaster. Pan American Health Organization, Washington D.C. Recuperado de:
http://new.paho.org/disasters/dmdocuments/HealthResponseHaitiEarthq.pdf
- Grunewald, F., & Renaudin, B. (2010). Real-Time Evaluation of the Response to the
Haiti Earthquake of 12 January 2010. Groupe URD. Recuperado de:
http://www.alnap.org/resource/5822.aspx
156
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Guha-Sapir, D., Vos, F., Below, R., & Ponserre, S. (2011). Annual Disaster Statistical
Review 2011: The numbers and trends. Centre for Research on the Epidemiology of
Disasters (CRED). Recuperado de: https://www.google.pt/?gfe_rd=cr&ei=liziVMuLF-
Kr8we1uIK4Dg&gws_rd=ssl#
- Haiti Shelter Cluster [HSC] (n.d.). Transitional Shelter Parameters. Recuperado de:
https://sites.google.com/site/shelterhaiti2010/files/100421_Transitional-Shelter-
parameters-REVISED.pdf?attredirects=0
- Haiti Shelter Cluster [HSC] (2011). Transitional Shelter Designs. Recuperado de:
https://sites.google.com/site/shelterhaiti2010/technical-info/tshelter/t-shelter-designs
- Hanif, M. (n.d.). Principles, Themes and Lessons Learnt: Design and Implementation of
ERRA’s Rural Housing Programme. Recuperado de:
http://www.recoveryplatform.org/assets/publication/Pakistan%20Earthquake%20Reco
very/ERRA%20Rural%20Housing.pdf
157
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies [IFRC] (n.d.a).
Case Study: Coordinating shelter in Haiti: IFRC and the Shelter Cluster. Recuperado de:
https://www.sheltercluster.org/References/Documents/Shelter%20Cluster-
case%20study%20(Haiti).pdf
- International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies [IFRC] (n.d.b).
Case Study: Shelter Cluster Coordination at the Sub-Hub Level. Recuperado de:
https://www.sheltercluster.org/References/Documents/Shelter%20Sub%20Hubcase%
20study.pdf
- International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies [IFRC] (2011).
Transitional Shelters, Eight Designs. Recuperado de:
http://www.ifrc.org/PageFiles/95186/900300-Transitional%20Shelters-
Eight%20designs-EN-LR.pdf
- International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies [IFRC] (2010). Haiti
from tragedy to opportunity. Recuperado de:
http://www.ifrc.org/Global/Publications/disasters/192600-Haiti-report-EN.pdf
- International Organization for Migration (2005). Indonesia - IOM and UNICEF sign $2.3
million Aceh school construction deal. Recuperado de:
http://reliefweb.int/report/indonesia/indonesia-iom-and-unicef-sign-23-million-aceh-
school-construction-deal
- International Organization for Migration [IOM] (2015). About IOM. Recuperado de:
http://www.iom.int/cms/about-iom
- International Strategy for Disaster Reduction [ISDR] (2002). Living with risk: a global
review of disaster reduction initiatives. Recuperado de:
http://www.adrc.asia/publications/LWR/LWR_pdf/index.pdf>
- International Strategy for Disaster Reduction [ISDR] (2004). Living with risk: a global
review of disaster reduction initiatives. Recuperado de:
http://www.unisdr.org/files/657_lwr1.pdf
158
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Khan, M. E. (2003). The Death Toll From Natural Disasters: The Role of Income,
Geography, and Institutions. Recuperado de:
http://elsa.berkeley.edu/users/webfac/quigley/e231_f03/kahn.pdf
- Kobiyama, M., Mendonça, M., Moreno, D. A., Marcelino, I.P., Marcelino, E.V., Gonçalves,
E. F., … Rudorff, F.M. (2006). Prevenção de desastres naturais: conceitos básicos.
Recuperado de:
http://www.ambiente.sp.gov.br/proclima/files/2014/05/prevencaodedesastresnaturai
sconceitosbasicos1.pdf
- Langenbach, R. (2004). Soil dynamics and the earthquake destruction of the earthen
architecture of the arg-e bam. Iranian Journal of Seismology and Earthquake
Engineering. Recuperado de: http://www.archidev.org/IMG/pdf/BAM_conservationtech-
2.pdf
- Leoni, B. (2012). Disaster through a different lens, behind every effect, there is a cause.
Recuperado de: http://www.preventionweb.net/files/20108_mediabook.pdf
- Lobb, A., Mock, N., & Hutchinson, P.L. (2012). Traditional and Social Media Coverage
and Charitable Giving Following the 2010 Earthquake in Haiti. Prehospital and Disaster
Medicine, 27(4), 319–324.
159
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Margesson, R., & Taft-Morales, M. (2010). Haiti Earthquake: Crisis and Response.
Recuperado de : http://fas.org/sgp/crs/row/R41023.pdf
- Mattedi, M. A., & Butzke, I. C. (2001). A relação entre o social e o natural nas
abordagens de hazards e desastres. Recuperado de:
zzhttp://www.scielo.br/pdf/asoc/n9/16877.pdf
- Neto, M. C., & Marum, J.H. (n.d.). Habitação Sustentável em contexto pós catástrofe: A
arquitectura como medição em intervenções de emergência. Conferência construção e
reabilitação sustentável de edifícios no espaço lusófono, Covilhã, Portugal.
160
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Office for the Coordination of Humanitarian Affairs [OCHA] (n.d.). World humanitarian
data and trends 2014: Global challenges and risks. Recuperado de:
http://www.unocha.org/data-and-trends-2014/downloads/global-risks.pdf
- Oxfam International (2006). The Tsunami Two Years On: Land Rights in Aceh, Oxfam
Briefing Note. Recuperado de:
http://www.oxfam.org.nz/sites/default/files/reports/061207%20Tsunami%202years%
20land%20rights%20Aceh%20final.pdf
161
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Proshansky, H., Ittelson, W., & Rivlin, L. (1976). Environmental psychology: people and
their physical settings. New York: Holt, Rinehart and Winston.
- Proshansky, H., Ittelson, W., & Rivlin, L. (1978). Psicología Ambiental: El Hombre y su
Entorno Físico. México: Trillas.
- Puy, A., & Cortés, B. (1998). Percepción social de los riesgos y comportamientos en los
desastres. In J. I. Aragonés & M. Amérigo (Eds), Psicología Ambiental (pp. 353-374).
Madrid: Pirámide.
- Rencoret, T., Stoddard, A., Haver, K., Taylor, G., & Harvey, P. (2010). Haiti Earthquake
Response: Context Analysis. Recuperado de:
http://hhi.harvard.edu/sites/default/files/In%20Line%20Images/programs%20-
%20hum%20effectiveness%20-%20earthquake%20-%20response.pdf
162
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Rodrigues, V. L., & Filho, O. A. (2009). Mapeamento geotécnico como base para o
planejamento urbano e ambiental. Recuperado de:
http://www.sbgeo.org.br/pub_sbg/rbg/vol39_down/3901/10127.pdf>.
- Rofi, A., Doocy, S., & Robinson, C. (2006). Tsunami mortality and displacement in Aceh
province, Indonesia. Recuperado de: http://www.jhsph.edu/research/centers-and-
institutes/center-for-refugee-and-disaster-
response/publications_tools/publications/_pdf/TsunamiRofi.pdf
- Sanderson, D. (2011). Good design in urban shelter after disaster: lessons from
development. Boundaries, (2), pp 65-70.Roma.
163
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Sapir, D., Gunha, D., & Hargitt, P. (2004). Thirty Years of Natural Disasters 1974-2003:
The numbers. Recuperado de:
http://www.emdat.net/documents/Publication/publication_2004_emdat.pdf
- Saudi Public Assistance for Pakistan Earthquake Victims [SPAPEV] (2010). Home.
Recuperado de: http://www.spapev.org/index.html
- Schilderman, T., & Lyons, M. (2013). Resilient dwellings or resilient people?: Towards
people centred reconstruction. In D. Sanderson & J. Burnell (Eds), Beyond Shelter After
Disaster: Practice, Process and Possibilities (pp 44-57). London: Routledge.
- Sinha, S. (2012). Architecture for rapid change and scarce resources. NY: Routledge.
164
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Stephenson, M., & Ahmed, S. A. (2011). What about our cities?: Rebuilding
Muzaffarabad. In M. J. Aquilino (Ed.), Beyond shelter architecture for crisis (pp. 94-110)
New York: Thames & Hudson.
- The Economist (2015). The earthquake's survivors face imminent winter. Recuperado
de: http://www.economist.com/node/5139020
- The International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies [IFRC] (2014). A
new era in emergency shelter: steel disaster houses. Recuperado de:
https://www.ifrc.org/fr/nouvelles/nouvelles/europe/turkey/turkey-a-new-era-in-
emergency-shelter-steel-disaster-houses/
- The Library of Congress Country Studies (n.d.). CIA World Factbook. Recuperado de:
https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/ha.html
- Tobim, G. A., & Montz, B. E. (1997). Natural hazard: Explanation and integration. New
York: The Guilford press. recuperado de:
https://books.google.pt/books?id=RUGSoNvbMSEC&printsec=frontcover&dq=Natural+
hazard:+Explanation+and+integration&hl=en&sa=X&ei=LwjVVPqmGsz6UrDeguAF&ved
=0CCIQ6AEwAA#v=onepage&q=Natural%20hazard%3A%20Explanation%20and%20int
egration&f=false)
- United Nations [UN] (2008). Disaster preparedness for effective response: guidance
and indicator package for implementing priority five of the Hyogo Framework.
Recuperado de:
http://www.humanitarianinfo.org/iasc/downloaddoc.aspx?docID=4501&type=pdf
165
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- United Nations [UN] (2010). Revised UN Humanitarian Appeal Global Health Cluster
Plan. Recuperado de:
http://www.who.int/hac/crises/hti/appeal/revised_un_appeal/en/
- United Nations Department of Economic and Social Affairs [UNDESA] (2010). World
Urbanization Prospects: The 2009 Revision: Highlights. New York: United Nations,
Department of Economic and Social Affairs. Recuperado de: http://www.ctc-
health.org.cn/file/2011061610.pdf
- United Nations Disaster Relief Organization [UNDRO] (1980). Natural Disasters and
Vulnerability Analysis. Recuperado de:
https://archive.org/details/naturaldisasters00offi
- United Nations Disaster Relief Organization [UNDRO] (1982). Shelter after Disaster,
Guidelines for Assistance. Recuperado de:
http://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/resources/E4FE896AFFF16709C1256CB1
0056558E-undro-shelter1-jul82.pdf
- United Nations International Strategy for Disaster Reduction [UNISDR] (2009). UNISDR
terminology on disaster risk reduction. Recuperado de:
http://www.unisdr.org/files/7817_UNISDRTerminologyEnglish.pdf
- Valencio, N., Siena, M., Marchezini, V., & Gonçalves, J. C. (2009). Sociologia dos
desastres: construção, interfaces e perspectivas no Brasil. Recuperado de:
http://www.ufscar.br/neped/pdfs/livros/livro-sociologia-dos-desastres-versao-
eletronica.pdf
- Van Dijk, S., & Van Leersum, A. (2009). Measuring the socio-economic impact of post-
disaster shelter: experiences from two Red Cross programmes. Humanitarian Exchange
Magazine, (44). Recuperado de: www.odihpn.org/report.asp?id=3026
166
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
- Van Hoving D. J, Wallis L. A, Docrat, F., & De Vries, S. (2010). Haiti Disaster Tourism: a
Medical Shame. Prehospital and Disaster Medicine, 25(3), 201–202. Recuperado de:
https://www.google.pt/?gfe_rd=cr&ei=xGDvVP6aHOer8weGm4EQ&gws_rd=ssl#
- Van Westen, C. J. (2002). Remote sensing and geographic information systems for
natural disaster management. In A. Skidmore (Ed.), Environmental modelling with GIS
and remote sensing (pp. 200-226). London: Taylor & Francis.
- Watson, P., Demick, B., & Fausset, R. (2005, January 2). A tremor, then a sigh of relief,
before the cataclysm rushed in. Los Angeles Times. Recuperado de:
http://www.tsunami2004.net/tsunami-2004-facts/
- World Bank [WB] (2010). Safer Homes, Stronger Communities: A Handbook for
Reconstructing after Natural Disasters. Recuperado de:
http://documents.worldbank.org/curated/en/2010/01/11702495/safe-homes-
stronger-communities-handbook-reconstruction-after-natural-disaster
- World Health Organization [WHO] (2010). Public Health Risk Assessment and
Interventions: Earthquake: Haiti. Recuperado de:
http://www.who.int/diseasecontrol_emergencies/publications/haiti_earthquake_2010
0118.pdf
167
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
168
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Índice de figuras
169
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
170
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
171
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
172
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
173
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Figura 150 - Fotografias do jornal The Guardian, tiradas do mesmo angulo, mostram Aceh
após o desastre e dez anos depois........................................................................................ 132
174
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Índice de tabelas
175
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
176
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fonte de figuras
177
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Figura 3, 4 - http://www.mdig.com.br/?itemid=16030)
Figura 6 –http://www.constelar.com.br/blog/index.php/fernando/cat24/cop-15-quanto-mais-
quente-melhor
Figura 7 – http://webester.blog.uol.com.br/
Figura 8, 9 - http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/367-vazamento-de-oleo-no-golfo-do-mexico
Figura 11 - http://www.onortao.com.br/noticias/deslizamento-de-terra-no-afeganistao-deixa-mortos-
e-desaparecidos,15651.php
Figura 14 - http://carlosdeuraba.blogspot.pt/2012/11/terremoto-del-peru-2007-el-negocio-de.html
Figura 15 - http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=4283720
Figura 16 - http://www.sinaldafenix.com.br/site/universo-paralelo/7-fatos-sobre-tempestades-de-
areia/
Figura 17 - http://mypages.valdosta.edu/jcbarcol/U3A2.html
Figura 18 - http://aoutrafacedanatureza.blogspot.pt/2011/10/v-behaviorurldefaultvmlo.html
Figura 21 - http://www.infotoday.com/it/dec08/Meyers.shtml
Figura 22 - http://www.unmissablejapan.com/sleeping/
Figura 23 - http://bahua.com/?a=Cubicle_Justice
Figura 24 - http://www.flickr.com/photos/p_villerius/3497657969/
Figura 25 - http://www.vocerealmentesabia.com/2013/04/a-casa-construida
178
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Figura 32 - Satterthwaite,2010
Figura 34 -
https://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0C
AYQjB0&url=https%3A%2F%2Ffanyv88.com%3A443%2Fhttp%2Fdeniseludwig.blogspot.com%2F2013%2F09%2Fpinturas-da-arca-de-
noe-e-o-
diluvio.html&ei=6RbuVOLxGoe7Uf3lgOAN&bvm=bv.86956481,d.d24&psig=AFQjCNHgWz0ymThuvC
CchM2o-SsySQ1a1w&ust=1424975961512283
Figura 35 -
https://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0C
AYQjB0&url=https%3A%2F%2Ffanyv88.com%3A443%2Fhttp%2Fwww.vitruvius.com.br%2Frevistas%2Fread%2Farquitextos%2F03.029
%2F746&ei=ExfuVPrEBcn4UKLbgJgC&bvm=bv.86956481,d.d24&psig=AFQjCNHaV6EK5gW_kvpez
Q_Pxhmi-EjJTw&ust=1424976011963292
Figura 38 -
https://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0C
AYQjB0&url=https%3A%2F%2Ffanyv88.com%3A443%2Fhttp%2Fen.wikipedia.org%2Fwiki%2FModern_architecture&ei=nhfuVL6uCIP_U
NCwgegL&bvm=bv.86956481,d.d24&psig=AFQjCNFs6HT6as42FI1zJfobtNIaWuD0nw&ust=142497
6117613998
Figura 39 -
https://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0C
AYQjB0&url=https%3A%2F%2Ffanyv88.com%3A443%2Fhttps%2Farquiteteblog.wordpress.com%2F2014%2F03%2F25%2Fpremio-
pritzker-2014-shigeru-ban%2F&ei=_hfuVK-
ILMP2UpjOgOAC&bvm=bv.86956481,d.d24&psig=AFQjCNGTSbySiyoB2I_roiCCGWNbTK48ig&ust=1
424976247843201
Figura 40 - www.architectureexposed.com
Figura 41 - www.ifrc.org
Figura 43 –http://josephashmore.org/publications/171800-IFRC-shelter-kit-EN-LR.pdf
Figura 44 - https://www.sheltercluster.org
179
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Figura 50 - www.unhcr.org
Figura 51 - www.sheltercluster.org
Figura 53 - www.espacodearquitectura.com
Figura 55 – www.inhabitat.com
Figura 56 -
http://www.ciclovivo.com.br/noticia/arquitetos_desenvolvem_superconstrucoes_a_prova_de_desas
tres_climaticos
Figura 64 - weburbanist.com
Figura 65 - www.eco4u.wordpress.com
Figura 66 - http://nacoesunidas.org/
Figura 68 - http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Neic_slav_fig72narrow.jpg
Figura 69 - http://pt.wikipedia.org
Figura 70 - http://www.shelterbox.org.br
Figura 71 - www.dw.de
Figura 72 - http://www.familycare.org/disaster-relief/more-on-waste-involved-with-tsunami-
rebuilding/
180
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Figura 73 - http://www.dw.de/mundo-relembra-v%C3%ADtimas-do-tsunami-de-2004-no-sudeste-
asi%C3%A1tico/a-5059255
Figura 74 - http://www.worldbank.org/en/news/video/2012/11/12/indonesia-rebuilding-after-the-
disasters-in-aceh-and-nias
Figura 75 - autor
Figura 77 - http://www.tribunnews.com/regional/2011/12/26/bertahan-di-hunian-sementara-
selama-7-tahun-usai-tsunami
Figura 78 - http://mystateofequilibrium.blogspot.pt/2011_02_01_archive.html
Figura 81 – http://www.recoveryplatform.org/assets/publication/Housing-
Reconstruction%20lessons%20Steinberg%20ADB-Aceh.pdf
Figura 82 – https://sofimahfudz113.files.wordpress.com/2013/11/fix-lagi.jpg
Figura 83 – http://dimensimaket.blogspot.pt/2013_01_01_archive.html
Figura 85 –.http://www.chinadaily.com.cn/english/doc/2005-12/28/content_507393.htm
Figura 87 - http://neic.usgs.gov/neis/eq_depot/2005/eq_051008_dyae/neic_dyae_l.html)
Figura 90 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Himalaia)
Figura 92 - w3.ualg.pt
Figura 96 - islamabad.metblogs.com
Figura 97 - www.globalsecurity.org
Figura 98 - http://www.disasterassessment.org/
181
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Figura 129 -
https://www.google.pt/search?q=Photo:+Shaun+Scales+/+NRC)&biw=1536&bih=749&source=lnm
s&tbm=isch&sa=X&ei=6ZPvVOeOC4T2UJeQgOAP&ved=0CAYQ_AUoAQ#tbm=isch&q=Photo:+Shaun
+Scales+%2F+NRC)+haiti&imgdii=_&imgrc=cjss-
182
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
8RYr2w09M%253A%3BsTkrYvzDBsxhVM%3Bhttp%253A%252F%252Fgraphics8.nytimes.com%252
Fimages%252F2010%252F07%252F11%252Fworld%252F11haiti-span%252F11haiti-span-
articleLarge.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.nytimes.com%252F2010%252F07%252F11%25
2Fworld%252Famericas%252F11haiti.html%253Fpagewanted%253Dall%3B600%3B361
183
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Figura 145 -
https://www.google.pt/search?q=abri+acted+haiti&biw=1536&bih=749&source=lnms&sa=X&ei=g
gHuVIDfNcfvUILxgZgM&ved=0CAUQ_AUoAA&dpr=1.25#
Figura 147-
https://www.google.pt/search?tbm=isch&tbs=rimg%3ACQrVKpoYMGbeIjicrwD3Sqr5dresxeXJdNEdx
9KTFInxXavHE6TYoAz3dSkV0SNmYChMT0EGXsEMLE1wb3XswV8jRCoSCZyvAPdKqvl2EXS-
DKTu2DgdKhIJt6zF5cl00R0RFfKaV8BwKJsqEgnH0pMUifFdqxHye6XDMKMJ1yoSCccTpNigDPd1EV9v
TgCGbY0GKhIJKRXRI2ZgKEwREOeTdBwpux4qEglPQQZewQwsTRH-aJmO-
fQvpCoSCXBvdezBXyNEEXpyETqIWLDz&q=ten%20years%20after%20the%20earthquake%20muzaff
arabad&ei=NfLyVNCuG8P0UsjKgrAK&ved=0CAkQ9C8wAA#tbm=isch&q=balakot&imgdii=_&imgrc=8
orjbNmJ_DE1XM%253A%3BMUymM0x_830pfM%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.travelspot.pw%2
52Fwp-
content%252Fuploads%252F2013%252F01%252FBalakot1.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.t
ravelspot.pw%252Fabbottabad%252F%3B1024%3B768
184
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Fonte de tabelas
185
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Tabela 4 - Tabela adaptada do artigo: “Imaginários de Futuros Efémeros”, de Rui Duarte, p.23-25
186
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Lista de abreviaturas
187
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
PICMME - Provisional Intergovernmental Committee for the Movement of Migrants from Europe
UN – United Nations
188
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
WB - World Bank
189
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
190
Arquitetura de Emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe
Anexos
191
Conteúdo do email enviado a diversas entidades intervenientes nos casos de estudo
I am student of the Gallaecia upper school no. 585-09, a Portuguese Faculty of Architecture, and I
am writing a master thesis on Architecture of Emergency.
The title of my thesis is: "Architecture of Emergency: the role of Architecture in solving the post-
disaster problems".
My study is about three case studies:
I wrote this email in order to ask for your willingness to provide material that will help me To develop
my study. For example, mission reports, sketches, drawings of SHELTERS used in the intervention
(plans, elevations, sections, etc.), reference articles, pictures ,intervenient architects , etc..,
I would also ask if it is possible for you to advice me available literature (whether on the internet or
for purchase), as well as to know if you are available to answer me on an interview via email.
Kindest regards
Bruno Gonçalves
INTERVIEW GUIDE
1- Do you Have field experience in post-disaster situations? In which countries? What was the
disaster? In what area have you worked?
Rerering to my three case studies, Pakistan 2005, indonesia 2004 and Haiti in 2010, were you
present in any of them?
If so, and generally speaking, what do you think it went better and what went worse?
2- You said "Architects are often the last people needed in desaster reconstruction ", what did you
mean on that statement? It's a matter of ego and Inexperience of those who were involved?
3– the construction of the document principles "Shelter after disaster strategies for transitional
settlement and reconstruction" is structured under the motto that every reconstruction project is
unique? Do you think it´s possible to distinguish the architectural approach of emergency response
according to the essence of the disaster? For example, we can consider that, in terms of shelter, an
intervention after an earthquake is different from a intervention after a flood? Or a landslide? Is
possible to make a systematization by disaster type?
4-Are There any pre-determined strategies to adopt when post-disaster emergency situations
happen? Can you identify them?
5 – Is there an entity that coordinates all the intervention process? How does the providing shelters
process works?
6- Is it often people to leave transitional shelters which were designated for them? If so, in your
opinion, what are the main causes for this neglect?
8 – Is it common for architects to be consulted in the post-disaster interventions? Are they placed on
the "field"? What is their role? Are they architects with experience in these area?
9 – Why do you think that despite the past show us that the transitional shelter universal solutions
do not adapt to the cultural context and climate, are still the most used?
10 - How do the affected people try to attend the need for shelter, after the disaster?
11- Right after a post-disaster phase, shelters are almost exclusively tents? Do you agree with this?
Are they beginning to provide transitional shelters in the immediate phase?
12-Through a research I've carried out, the provision of shelter is almost exclusively for housing?
How do schools, hospitals, etc, work? Do They use existing buildings for this purpose?
13 - How transitional shelter solutions should seek to reflect the local construction technology,
building materials, housing projects and preferences and cultural influences?
14 - How important is the reallocation, reuse and maintenance of these shelters and how are they
provided?
15- I have not found a shelter design used in my 3 study cases that included any type of insulation.
in Pakistan, at first it was provided the shelter only later adapted isolation.
The same applies to daily infraestruras, including sanitary facilities, there is some justification for
this?
16 – Is there flexibility in the design of the shelters to a possible introduction of new elements in the
inside? New compartmentalisation?
17 – Regarding construction materials, is there any concern about the environment impact?
18- Do you think there is a certain type of structures that are most used in the construction of
temporary shelters? Which are them?
19- Do you think too much attention is given to transitional shelters over reconstruction? Do you
Think that it is possible in a major disaster?
20- the majority of projects that are in the books are never actually used, do you think that they are
too utopian?
21 – At last, which issues do you think it is relevant to investigate in the area of transitional shelters?
GUIÃO DE ENTREVISTA
2 – Na pesquisa que efetuei a definição da palavra desastre “confunde-se” a maioria das vezes com
a de catástrofe? Na sua opinião existem diferenças? Podemos considerar a mesma definição para
as duas?
3– a construção dos princípios de documento “Shelter after disaster strategies for transitional
settlement and reconstruction” é estruturada sob o lema de que cada projeto de reconstrução é
único? Acha possível distinguir a abordagem arquitetónica de intervenção de emergência de acordo
com a essência da respectiva catástrofe? Por exemplo: podemos considerar que, em termos de
fornecimento de abrigos, uma intervenção após um terramoto é diferente de uma inundação?
4- é muito comum as pessoas abandonarem os abrigos transitórios (t-shelters) que lhes foram
destinados? Se sim, qual acha que são as causas para esse abandono?
7 – quais as consequências psicológicas mais frequentes nas pessoas afetadas pelos desastres?
10- na fase imediatamente posterior ao desastre, os tipo de abrigo de emergência fornecidos são
quase exclusivamente as chamadas tendas de campanha? é de essa opinião?
14-não encontrei nenhum projeto de abrigo utilizado nos meus 3 casos de estudo que considerasse
qualquer tipo de isolamento térmico. No Paquistão primeiro foi fornecido o abrigo e mais tarde
adaptaram isolamento ao abrigo.
16 – quanto aos materiais, existe alguma preocupação com o impacto para o meio ambiente?
17- acha que existe um determinado tipo de estruturas e tipologias que são mais utilizados na
construção de abrigos transitórios? Quais são?
18- Na sua opinião a construção permanente efetuada após os desastres pode ser considerada
arquitetura de emergência?
19- a grande maioria dos projetos que se encontram nos livros nunca são utilizados na realidade,
acha que são demasiado utópicos?
20- Em quase toda a bibliografia consultada há referencias a Ian Davis, será ele a referência
máxima na área de arquitetura de emergência? Quais são as referências mundiais nessa área?
Entrevista ao arquiteto Luís Almeida
2 – Na pesquisa que efetuei a definição da palavra desastre “confunde-se” a maioria das vezes com
a de catástrofe? Na sua opinião existem diferenças? Podemos considerar a mesma definição para
as duas?
3– a construção dos princípios de documento “Shelter after disaster strategies for transitional
settlement and reconstruction” é estruturada sob o lema de que cada projeto de reconstrução é
único? Acha possível distinguir a abordagem arquitetónica de intervenção de emergência de acordo
com a essência da respectiva catástrofe? Por exemplo: podemos considerar que, em termos de
fornecimento de abrigos, uma intervenção após um terramoto é diferente de uma inundação?
A escolha de abrigos diferentes, tem a ver mais com condições climatéricas do sitio onde se
instalam, do numero de pessoas a alojar, do espaço disponível e do tempo que se prevê que as
pessoas aí permaneçam. Mais importante de tudo isso é a escolha do lugar onde instalar esses
abrigos.
4- é muito comum as pessoas abandonarem os abrigos transitórios (t-shelters) que lhes foram
destinados? Se sim, qual acha que são as causas para esse abandono?
Acho exactamente o contrário. Existem muitos exemplos onde estruturas de abrigo provisórias
passam a definitivas, o que faz com que em certos casos, se planeie previamente tendo em conta
essa possibilidade.
Para o abandono, surgem duas opiniões, a falta de condições para desenvolverem uma actividade
onde possam ter rendimento e factores relacionados com a segurança.
Não sei se entendi bem. Existem várias organizações a actuar e depende do sítio de quantas são,
compromissos com governos, etc…. No exemplo do Haiti, após o terramoto foi criado um cluster, que
permite que as organizações actuem de forma coordenada, não dispersando energias, ao contrário
do que aconteceu no Tsunami no sudoeste asiático.
http://www.eshelter-cccmhaiti.info/2013/pages/150-members.php
Possivelmente devem existir metodologias base, mas depende do caso. Porém não as conheço.
7 – quais as consequências psicológicas mais frequentes nas pessoas afetadas pelos desastres?
É comum solicitar o apoio de Organizações que prestam apoio técnico em arquitectura e que têm
arquitectos nos seus quadros.
Se estamos a falar de intervenção pós-catástrofe no âmbito do desenvolvimento, o papel do
arquitecto pode ser muito vasto, como o planeamento urbano e construtivo, no fundo na
implementação de soluções que melhorem as condições de vida das pessoas, e das suas
habitações. Isto faz-se através da cooperação e da troca de saberes, pelo que a experiencia é
fundamental.
10- na fase imediatamente posterior ao desastre, os tipo de abrigo de emergência fornecidos são
quase exclusivamente as chamadas tendas de campanha? é de essa opinião?
Sim mas não só. As estruturas devem ser montadas rapidamente para responderem a uma
necessidade. Porém existem outros exemplos relacionados com as condições morfológicas dos
terrenos e climáticas.
Nenhuma. São estruturas provisórias que pretende responder a uma situação que deve ser
possíveis de montar numa questão de dias. Devem conseguir responder com a técnica construtiva a
adaptação às diversidades climatéricas e morfológicas dos lugares que ocupam
É importante que possam ser reutilizados, duráveis e de construção simples. Mais tarde, depois de
resolvido o problema da casa, esses elementos podem ser utilizados pelas pessoas para construir
outras cosias, como pequenas oficinas, tendas para venda de produtos etc…
14-não encontrei nenhum projecto de abrigo utilizado nos meus 3 casos de estudo que
considerasse qualquer tipo de isolamento térmico. No Paquistão primeiro foi fornecido o abrigo e
mais tarde adaptaram isolamento ao abrigo.
As infra-estruturas são a parte que demora mais a implementar e a mais complexa, sobretudo o
saneamento. Colocar latrinas para um grande numero de pessoas não é fácil. E não estamos a falar
de infra-estruturas que são caras de implementar. Em Portugal infra-estruturas de saneamento
chegaram a bairros mais ou menos consolidados à bem pouco. Imagine em países em vias de
desenvolvimento.
Só têm uma compartimentação pelas mesmas razões e facilidade e implementação. Quando passa
um furacão e desaloja uma população temos de encontrar forma de as tratar e abrigar para que não
morram, apanhem doenças etc…as outras necessidades têm de esperar.
Penso que não é importante. No entanto há situações onde populações são deslocadas e que se
prevê terão de aí permanecer mais tempo do que o desejado. Assim, existem estratégias onde o
abrigo no futuro possa passar a ser a sua habitação definitiva. Muitas vezes a ocupação é feita em
“lotes” maiores para que possa progredir no futuro.
16 – quanto aos materiais, existe alguma preocupação com o impacto para o meio ambiente?
Sim. É importante que sejam resistentes, que possam ser reciclados para outras funções.
17- acha que existe um determinado tipo de estruturas e tipologias que são mais utilizados na
construção de abrigos transitórios? Quais são?
18- Na sua opinião a construção permanente efetuada após os desastres pode ser considerada
arquitetura de emergência?
Depende do espaço temporal de que estamos a falar…a construção de emergência terá de ser
sempre provisória.
19- a grande maioria dos projetos que se encontram nos livros nunca são utilizados na realidade,
acha que são demasiado utópicos?
20- Em quase toda a bibliografia consultada há referencias a Ian Davis, será ele a referência
máxima na área de arquitetura de emergência? Quais são as referências mundiais nessa área?
Não sei. Mas há várias organizações com experiência nessa área, Cruz Vermelha, Oxfam, Un-
Habitat.
SPAPEV SHELTER PAQUISTÃO
é uma organização de ajuda humanitária baseada na Arábia saudita, em Riyadh, criada para
garantir a melhor utilização das doações públicas sauditas recolhidos aquando do terramoto do
Paquistão em 2005.
Desde o terramoto do dia 08 de outubro de 2005 que a SPAPEV está empenhada no trabalho de
reconstrução e reabilitação nas áreas afectadas pelo terremoto que afetou o Paquistão.
Até 2010 a organização distribuiu milhares de camiões com bens de ajuda humanitária, incluindo:
230.000 cobertores, mais de 10.000 tendas comuns, 2.500 tendas à prova de água e milhares de
folhas de polipropileno (lonas), mais fogões, alimentos, medicamentos, entre outros.
Para além disto, a SPAPEV também forneceu uma enorme quantidade de bens de ajuda
humanitária, avaliados em milhões de riyals, a diferentes organizações, incluindo: International
Islamic Relief Organization, Al-Hubaib Foundation, Al-Khidmat Foundation, Read Foundation, ERRA,
National Volunteer Movement (NVM), Government of AJ&K and NWFP, Ministério da Saúde e muitas
outras organizações locais e internacionais que trabalham na ajuda humanitária às vítimas do
Paquistão.
Doou dois milhões de dólares para a UNICEF construir oito unidades de saúde e outros dois milhões
de dólares para distribuição de trigo, livros, uniformes, artigos de papelaria, entre outros, para uso
escolar.
Fonte (http://www.spapev.org/aboutus.html)
Forneceu 8.000 destes abrigos pré-fabricados no valor de $41 milhoes de dolares
Quando os ocupantes forem colocados em habitações permanentes por parte do governo, as
estruturas serão desmantelados e trasladadas para outros locais, conforme as necessidades.
Estes abrigos pré fabricados oferecem uma melhor alternativa para aquelas pessoas que, residindo
em Balakot durante gerações, se recusaram a trasladar para Bakrial e ainda viviam em tendas.
(http://www.spapev.org/)
(http://www.spapev.org/)
Prefab t-shelter from Saudi Public Assistance for Pakistan Earthquake Victims (SPAPEV) (Fonte: http://www.spapev.org/)
http://article.wn.com/view/2010/05/13/PAKISTAN_Critiques_of_the_2005_quake_reconstruction/
Em agosto de 2011 a SPAPEV ainda abria 8 Unidades Básicas de Saúde no Paquistão, melhorando
os serviços de saúde para dezenas de milhares de crianças e suas famílias que vivem em áreas
afetadas pelo terremoto. Edifícios modernos, amigos do ambiente, com estruturas sismo-resistente
e com instalação de água e eletricidade.
(http://www.spapev.org/pressrelease/PR110823_BHU.html)
BARRACKS CONSTRUIDOS PELOS MILITARES – INDONÉSIA
http://www.smh.com.au/world/a-decade-since-boxing-day-tsunami-aceh-still-suffers-20141225-12co4q.html
http://www.smh.com.au/world/a-decade-since-boxing-day-tsunami-aceh-still-suffers-20141225-12co4q.html
Em 2010 foi criado e introduzido no Haiti o projeto, de Rafael Smith. Esta resposta com uma área de
18m2 apresenta-se como uma alternativa para situações de cheias possuindo dois andares. A
importância que se prende com o espaço de ocupação dos terrenos é também uma preocupação
nas situações de emergência tornando o Über Shelter uma mais-valia nesse sentido. Para além
disso as suas características mutáveis são interessantes, uma vez que o projeto numa fase de
resposta imediata se apresenta-se como uma cabana e com o decorrer do tempo e das
necessidades pode virar transformar-se numa habitação permanente. As placas que formam a
habitação são feitas de polipropileno, funcionam para protecçaõ raios UV e possui a capacidade de
retardar a ação do fogo.
Por ser modular, pode recrear-se e aumentar a sua forma possibilitando a junção de mais do que
um módulo. No entanto o seu custo é dos mais elevados, cerca de 1500 dólares. foi utilizado pela
primeira vez no Haiti, em 2011.
(Fonte: http://www.habitationfortheplanet.org/)
Alçado Uber Shelter
ShelterBox é uma organização internacional, fundada por Tom Henderson, um Rotariano inglês e
antigo mergulhador de busca e resgate da marinha britânica. Esta estrutura preenche o vazio que
existia na resposta para os primeiros dias de forma possibilitando resistirem tanto ao nível de um
abrigo adequado para a primeira fase, dias, semanas, meses.
Em Abril de 2000, quando a ShelterBox foi lançada, durante os três anos seguintes, o projeto
cresceu tendo atingido até o final de 2004 cerca de 2.600 caixas expedidas para responder a 16
grandes catástrofes. Foi utilizada nos três casos em estudo.
A sua resposta é imediata a catástrofes como terremotos, erupções vulcânicas, enchentes,
furacões, ciclones, tsunamis ou conflitos, através da entrega de caixas de auxílio.
Cada caixa destina-se a uma família fornecendo equipamentos de salvamento para usar
enquanto estão desalojadas ou desabrigadas, o seu conteúdo é adaptado as circunstancia e local
da catástrofe apresentando bastante durabilidade e resistência podendo cada caixa ser doada por
um particular para o seu fim. O trabalho de distribuição é feito pela equipa de profissionais
treinados que colaboram com as organizações locais e as agências de ajuda internacional. Tem
como objetivo conseguir fazer chegar o primeiro carregamento de caixas para uma área do desastre
de 2 a 3 dias, onde um ShelterBox Response Team (SRT) irá encontrá-las e distribui-las. É uma das
primeiras respostas a chegar em cenário de catástrofe.
(Fonte: http://www.shelterbox.org.br.)
Dependendo do local para onde será enviado o seu conteúdo poderá ter algumas variações no
entanto a sua base integra como base um abrigo, tenda de socorro para uma família até 10
pessoas, projetado para suportar temperaturas extremas, fortes ventos e chuvas fortes, uma vasta
gama de equipamentos de sobrevivência, cobertores térmicos e isolamento impermeável de solo,
um kit básico contendo um martelo, machado, serra, pá de escavação, cabeça da enxada, alicates e
cortadores de fio permite que a população possa melhorar seu ambiente imediatamente, além de
poder cortar lenha ou a cavar uma latrina, ou mesmo reiniciar a reparação ou reconstrução de suas
casas, que eles foram forçados deixar. Integra ainda uma embalagem com livros infantis de
desenho, lápis e canetas.
Para além de tudo isto, agrega ainda fogões de queima de madeira ou o fogão multi-combustível
proporcionando a possibilidade de ter água fervida para beberem e para preparação das refeições,
existem ainda panelas, talheres, taças, canecas e reservatórios de água.
(http://www.shelterbox.org.br.)
FAMILY TENT - TENDA IFRC HAITI
Na prática fornecem tendas, como podemos ver na imagem inferior, ferramentas e materiais, apoio
financeiro e assistência técnica, para que as populações afetadas possam construir ou reparar as
suas habitações, acompanhando todo o processo de reabilitação das habitações no local da
catástrofe.
(Fonte:www.ShelterCaseStudies.org )
o projeto de Shaun Halberta consiste num kit de construção com armação em bambu que se ergue
de forma quase instantânea.
Este projeto é bastante mais económico do que uma tenda podendo ser customizavel e
fácil de construir. Uma família pode ter um abrigo, em apenas 20 minutos. (Franco, 2014)
"Foi no Haiti, onde eu realmente vi que este projeto era necessário … a estrutura do
núcleo é um quadro de reciprocidade com quatro suportes, onde cada um apoia o outro. Uma das
extremidades é colocado no chão e de seguida, sobe em 30 graus, fixando-o com um quadro de três
polos. " (www.plataformaarquitectura.cl)
Não estamos perante uma solução atraente ou de um projeto duradouro, no entanto esta
estrutura, segundo Halbert tem a simplicidade que é a sua força. Pode atingir rapidamente o dobro
do tamanho da caixa através de uma segunda armação de quatro pólos alcançando até 18 metros
quadrados caso seja necessário.
(Fonte: www.plataformaarquitectura.cl)
(Fonte: http://www.plataformaarquitectura.cl
GLOBAL VILLAGE SHELTERS
Outro projeto, o “Global Village Shelters” foi implementado no Haiti sendo um abrigos de emergência
criados por Daniel e Mia Ferrara, em colaboração com a Architecture for Humanity. Estas estruturas
tinham já sido usadas em catástrofes na ilha de Granada, no Caribe, no Afeganistão, no Paquistão e
mais recentemente no Haiti
A sua estrutura possui um habitáculo quadrangular, é composto por uma estrutura desdobrável,
dividida em placas feitas em cartão ondulado laminado, formada por três elementos independentes:
a cobertura, as paredes exteriores e o chão Devido a sua leveza a sua montagem pode ser efetuada
por apenas duas pessoas e num curto espaço de tempo, sensivelmente 1 hora seguindo os
esquemas explicativos e uso de ferramentas comuns.
(Fonte: Ferrara Design, Inc., Global Village Shelters.)
O seu tamanho de área interior é de 6.25 m2 prevendo responder as necessidades de uma família
de quatro elementos membros. A sua durabilidade estima-se ser de aproximadamente 5 anos uma
vez que foram projetadas para serem uma resposta de alojamento transitório. O seu interior livre,
não havendo divisões o que poderá em parte comprometer a privacidade individual.
O custo do transporte da estrutura supero o valor real da estrutura o que torna mais elevado o seu
preço relativamente às tendas de campanha às quais se pretendia assemelhar relativamente ao
valor de custo.
“É muito difícil combater o facto de que num contentor marítimo possam ser transportadas entre
500 a 1000 tendas, e apenas 88 Village Shelters”. Architecture for Humanity, op.cit., p.74.
As suas mais-valias relacionam-se com o uso de materiais como o cartão na sua construção,
constitui uma mais-valia facilitando a montagem das unidades, para alem do seu reduzido peso e
facilidade de montagem da estrutura, transporte e manuseio dos elementos que compõe as
mesmas. Esta resposta pode ser instalada pela própria população uma vez que não requer
conhecimentos técnicos para a sua montagem.
Desastre : terramot Paquistão 2005
Descrição:
Analise tipológica:
Aspetos construtivos:
Descrição:
Analise tipológica:
Aspetos construtivos:
Descrição:
Análise tipológica:
Aspetos construtivos:
Descrição:
Análise tipológica:
Aspetos construtivos:
Descrição:
Análise tipológica:
Aspetos construtivos:
Descrição:
Analise tipológica:
Aspetos construtivos:
Descrição:
Analise tipológica:
Aspetos construtivos:
Descrição:
Analise tipológica:
Aspetos construtivos: