Teoria e Crítica Literária
Teoria e Crítica Literária
Teoria e Crítica Literária
AULA 1
1. Teoria;
2. Crítica;
3. Literatura;
4. Texto literário;
5. Estudos literários hoje.
Boa leitura!
TEMA 1 – TEORIA
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A Teoria da Literatura não é um manual de instruções de como se deve
produzir uma obra literária, e sim uma proposta de interpretação do fenômeno
literário.
Mas, será que alguma teoria conseguiria dar conta sozinha da
complexidade de um determinado fenômeno? Parece-nos evidente que não. Em
se tratando de teorias, não existe uma mais adequada que a outra. O que ocorre
é que cada abordagem teórica analisa o fenômeno de estudo sob uma
determinada perspectiva.
Cada teoria enfatiza um aspecto de seu objeto de estudo. Ao pensarmos
na Literatura, poderíamos dar como exemplo a abordagem feita pelos formalistas
russos, a quem interessava apenas o aspecto material do texto literário,
ignorando completamente o papel do leitor. Sendo assim, nunca se pode afirmar
que uma teoria é superior à outra, pois todas são questionáveis de acordo com
os critérios que se estabeleçam.
Falar em Teoria da Literatura implica falarmos também sobre a crítica
literária, uma vez que as duas áreas se alimentam mutuamente. A teoria literária,
que se configura como uma proposta de interpretação do fenômeno literário, é
uma construção discursiva da qual participam muitos agentes, inclusive os
autores e os leitores.
A teoria que embasa os estudos sobre a Literatura, muitas vezes, precisa
também considerar as questões linguísticas envolvidas na construção dos
discursos literários, de modo que não se pode pensar que linguística e literatura
são conhecimentos dicotômicos, embora em nossos cursos de Letras seja
comum eles serem vistos como áreas específicas.
Existem diferentes correntes teóricas da Literatura, as quais serão
abordadas em nossos estudos, a saber: Formalismo, Estruturalismo,
Hermenêutica, Teoria da Recepção, Teoria Marxista, dentre outras.
Basicamente, podemos afirmar que cada uma das correntes teóricas enfatiza e
debruça-se sobre um dos aspectos de uma obra literária, ou seja: a forma, o
autor, o mundo, o leitor, o estilo, a história ou o valor.
Atualmente, entende-se que os estudos literários precisam caminhar junto
com outras disciplinas e áreas do conhecimento, em uma abordagem
transdisciplinar.
A Literatura relaciona-se diretamente com a História, ajudando-nos a
perceber as mudanças nas épocas literárias; com a Sociologia, abordando a
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função social da obra de arte e seus vínculos com a sociedade onde foi
produzida: com a Psicanálise, explorando a função psíquica do autor e dos
elementos narrativos; e com a Filosofia, aperfeiçoando e atualizando os
conceitos de arte.
TEMA 2 – CRÍTICA
TEMA 3 – LITERATURA
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Em um ensaio bastante popular chamado “A arte como procedimento”, o
formalista russo Viktor Schklovski afirma que aquilo que define o que é ou não
literatura está relacionado com a sua própria função, ou seja, a elaboração da
linguagem de modo e ressignificá-la e torná-la “estranha” ao leitor.
Para Compagnon (1999), toda definição do que seria ou não literatura
está sempre ligada a uma avaliação, valor ou norma, portanto alterna-se ao
longo dos tempos. “Todo julgamento de valor repousa num estado de exclusão”
(Compagnon, 1999, p.33). O que o crítico afirma é que intelectuais,
universidades e críticos, ao longo do tempo, definem o que é ou não literatura.
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as camadas profundas da nossa personalidade podem sofrer um
bombardeio poderoso das obras que lemos e que atuam de maneira
que não podemos avaliar. Talvez os contos populares, as historietas
ilustradas, os romances policiais ou de capa-e-espada, as fitas de
cinema, atuem tanto quanto a escola e a família na formação de uma
criança e de um adolescente. (Cândido, 1982, p. 84)
Em nossos estudos, muito iremos falar sobre o cânone literário. Mas, qual
o real sentido dessa expressão?
O cânone refere-se a uma espécie de conjunto de obras que representam
o que de melhor existe em termos de literatura. Pode-se dizer que o cânone
demanda um processo de elitização entre os autores e as obras, definindo
algumas como “obras-primas” ou “clássicos” e atribuindo a outras o papel de
literatura de menor qualidade.
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Falarmos em formação do cânone implica nos questionarmos sobre os
critérios de seleção e legitimação de algumas obras e exclusão de outras. Quem
determina tais critérios? Que jogos de interesse e poder estão implícitos nesse
rol de “melhores obras”?
O cânone brasileiro foi muito influenciado pelas artes europeias, uma vez
que, por sermos colônia de um país europeu, ficamos muitos séculos
subordinados cultural e economicamente à Portugal, que por sua vez, consumia
modelos literários ingleses e franceses.
Os autores e obras legitimados pelo cânone têm destaque, servindo de
referência para muitos estudos e pesquisas e também para a organização de
propostas curriculares para a educação básica.
Nesse processo de valorização do cânone, alguns grupos foram
praticamente eliminados da tradição dos estudos literários, como, por exemplo,
os negros e as mulheres.
Jobim (1992) problematiza essa questão da “elitização” associada à
formação do cânone:
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de 1902 a 1987, tendo produzido uma obra grandiosa e valorizada pelo cânone
literário.
Saiba mais
Para ler o poema “No meio do caminho” (que, aliás, você já deve
conhecer), acesse <https://www.culturagenial.com/poema-no-meio-do-caminho-
de-carlos-drummond-de-andrade/>.
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TEMA 5 – ESTUDOS LITERÁRIOS HOJE
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incapacidade humana de explicar o mundo, levando a uma representação por
meio da linguagem.
A literatura comparada é um profícuo terreno para a construção de uma
abordagem literária que estabelece diálogo interculturais, promovendo a
aceitação do outro, do diferente.
Vale destacarmos ainda a relevância dos estudos ecocríticos no cenário
atual. Os estudos ecocríticos analisam textos que trazem questões ambientais e
as diversas maneiras pelas quais a Literatura aborda o tema da natureza.
Outro aspecto considerado pelos estudos literários hoje é a relação
intrínseca entre a Literatura e a educação, na medida em que se considera o
papel formador da Literatura e sua contribuição para a formação integral dos
indivíduos e emancipação dos sujeitos. Significa tratar a Literatura como um
valioso legado cultural que precisa ser conhecido e acessado através da
educação formal ofertada na escola.
Não se pode deixar de comentar também que, desde os anos de 1960,
vivemos uma reformulação na cultura do país, com a chegada dos meios de
comunicação de massa e a paulatina desvalorização da Literatura entre alguns
setores da sociedade. Uma prova disso é a perda de espaço do texto literário
nos jornais. Sendo assim, a crítica literária, inegavelmente, transforma-se e
passa a produzir conteúdos voltados a atender aos interesses do mercado.
É inegável também que, na atualidade, existem diferentes concepções
que podem ser adotadas diante de uma obra literária. Por isso, a disciplina de
teoria e crítica literária é plural, flexível e, de certa forma, polêmica, a fim de dar
conta de todas essas abordagens possíveis para o texto literário.
NA PRÁTICA
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abr. 2022). No texto em questão, o crítico analisa dois romances de Milton
Hatoum: Relato de um certo oriente e Dois irmãos.
Após uma leitura atenta da crítica que você escolheu, reflita sobre as
seguintes questões:
FINALIZANDO
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É importante também frisarmos que nenhuma teoria ou crítica é capaz de
dar conta de todos os aspectos do texto e que elas sempre são fruto de
interesses e de seleções feitas por quem detém o poder no momento.
Entender os meandros da crítica e da teoria literária é essencial para a
formação do profissional de Letras, seja ele voltado para a Licenciatura na
Educação Básica e no Ensino Superior, bem como para as atividades de
pesquisa.
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REFERÊNCIAS
MELO, H. F. de. Romance é mais seco e mantém jogos duplos. Folha de São
Paulo, 13 ago. 2005.
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