Academia Militar Das Agulhas Negras Academia Real Militar (1811) Curso de Ciências Militares

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ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS

ACADEMIA REAL MILITAR (1811)


CURSO DE CIÊNCIAS MILITARES

Matheus Cardoso Mayrink Lima Barizon

O DISCURSO DO COMANDANTE DE PELOTÃO COMO FATOR DE


LIDERANÇA SOBRE SEUS SUBORDINADOS

Resende
2019
APÊNDICE III (TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE
DIREITOS AUTORAIS DE NATUREZA PROFISSIONAL) AO AMAN
ANEXO B (NITCC) ÀS DIRETRIZES PARA A GOVERNANÇA 2019
DA PESQUISA ACADÊMICA E DA DOUTRINA NA AMAN

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE DIREITOS AUTORAIS DE NATUREZA


PROFISSIONAL

TÍTULO DO TRABALHO: O Discurso do Comandante de Pelotão como Fator de


Liderança sobre seus Subordinados
AUTOR: Matheus Cardoso Mayrink Lima Barizon

Este trabalho, nos termos da legislação que resguarda os direitos autorais, é


considerado de minha propriedade.

Autorizo a AMAN a utilizar meu trabalho para uso específico no


aperfeiçoamento e evolução da Força Terrestre, bem como a divulgá-lo por publicação
em revista técnica da Escola ou outro veículo de comunicação do Exército.

A AMAN poderá fornecer cópia do trabalho mediante ressarcimento das despesas


de postagem e reprodução. Caso seja de natureza sigilosa, a cópia somente será fornecida se
o pedido for encaminhado por meio de uma organização militar, fazendo-se a necessária
anotação do destino no Livro de Registro existente na Biblioteca.

É permitida a transcrição parcial de trechos do trabalho para comentários e


citações desde que sejam transcritos os dados bibliográficos dos mesmos, de acordo
com a legislação sobre direitos autorais.

A divulgação do trabalho, em outros meios não pertencentes ao Exército,


somente pode ser feita com a autorização do autor ou da Direção de Ensino da AMAN.

Resende, 19 de Junho de 2019

Cad Matheus Cardoso Mayrink Lima Barizon


MATHEUS CARDOSO MAYRINK LIMA BARIZON

O DISCURSO DO COMANDANTE DE PELOTÃO COMO FATOR DE LIDERANÇA


SOBRE SEUS SUBORDINADOS

Monografia apresentada ao Curso de Graduação


em Ciências Militares, da Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN, RJ), como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Ciências Militares.

Orientador: Geraldo Gomes de Mattos Neto

Resende
2019
MATHEUS CARDOSO MAYRINK LIMA BARIZON

O DISCURSO DO COMANDANTE DE PELOTÃO COMO FATOR DE LIDERANÇA


SOBRE SEUS SUBORDINADOS

Monografia apresentada ao Curso de Graduação


em Ciências Militares, da Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN, RJ), como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Ciências Militares.

Aprovado em _____ de ____________________ de 2019:

Banca examinadora:
___________________________________

Geraldo Gomes de Mattos Neto – Cap


(Presidente/Orientador)

___________________________________

Alisson Nunes da Silva Lorenzoni – Cap


___________________________________

Thainan de Assis Marinho – Cap

Resende
2019
Dedico este trabalho à todos que me apoiaram e acreditaram na realização deste sonho
e, aos oficiais formados na Academia Militar das Agulhas Negras, que hoje nos mais diversos
rincões do Brasil, conseguem atingir o coração e a mente de cada um de seus homens,
liderando-os e guiando-lhes para o cumprimento do dever através do uso das palavras certas.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e a Nossa Senhora pela vocação na área militar, sempre me dando
saúde e força, permitindo que eu chegasse até o final da formação e conquistasse o sonho de
me tornar oficial do Exército Brasileiro.

A meus companheiros de Turma, verdadeiros irmãos que ombrearam comigo todas as


dificuldades, derrotas, alegrias e vitórias nesta espetacular fase de minha vida. A meus
instrutores por toda aprendizagem fornecida para meu crescimento profissional e a meu
orientador, Capitão Gomes de Mattos, por todo o tempo dedicado a me instruir e auxiliar na
confecção deste trabalho.

Aos meus familiares, em especial a minha mãe Andréia, que me deu a vida, me educou
e forjou o homem que sou hoje e ao meu pai Melquior, meu maior exemplo de força e
resiliência, que me apresentou à carreira e sempre me apoiou em todas as minhas decisões. À
minha irmã Marianna, motivação e razão de tudo o que faço. À minha tia Andressa, amiga e
conselheira. A meus avós, Sônia e Walter, os dois pilares da minha formação, pelo apoio
imensurável e incondicional nestes cinco árduos anos.

À família da minha namorada pelo carinho e à Raquel por dividir essa carga comigo,
compreender a distância, chorar e vibrar junto, não chegaria aqui sem todo o seu amor. Por
fim, não poderia esquecer de minha bisavó Melita, vó Bárbara e tia Letícia, que do céu
iluminam e abençoam meu caminho. A todos vocês: muito obrigado!
RESUMO

O DISCURSO DO COMANDANTE DE PELOTÃO COMO FATOR DE LIDERANÇA


SOBRE SEUS SUBORDINADOS

AUTOR: Matheus Cardoso Mayrink Lima Barizon


ORIENTADOR: Geraldo Gomes de Mattos Neto

A oratória pode se tornar uma ferramenta essencial para a liderança de um comandante sobre
seus homens. Através do discurso, pelo uso das palavras certas, o líder pode conquistar a
confiança de seus liderados, ao mesmo tempo em que consegue transmitir uma mensagem
pela correta comunicação e ainda motivá-los a cumprirem suas atribuições. No ambiente
militar, o comandante de pelotão muitas vezes utiliza deste discurso para exercer sua liderança
em diferentes situações, podendo ser na rotina dentro do quartel ou nas situações adversas
como em uma operação militar real e durante o combate. A fim de incentivar o oficial
formado na AMAN a estudar oratória e praticá-la, este trabalho teve como objetivo analisar o
discurso do comandante de pelotão como fator de liderança sobre seus subordinados, tendo
como base para nosso estudo o Manual de Campanha C 20-10 – Liderança Militar, Caderno
de Instrução do Projeto Liderança da AMAN e uma pesquisa de campo realizada com oficiais
de infantaria formados nos anos de 2015, 2016, 2017 e 2018, hoje servindo nos diversos
quartéis pelo país. Inicialmente foram introduzidos os conceitos de oratória, retórica e
liderança; passando por uma análise da pesquisa do psicólogo estadounidense Howard
Gardner no estudo das inteligências interpessoal, intrapessoal e linguísticas aplicadas na
oratória e na liderança militar; uma abordagem dos princípios e fatores da liderança, em
específico os relacionados à comunicação correta e eficiente e; por fim, a aplicação do
discurso de liderança do comandante de pelotão nas fases antes, durante e após uma operação
militar real. Ao mesmo tempo, foram dados exemplos de discursos históricos de comandantes
militares em situações de crise ou de guerra. Ao final do trabalho foi apresentada a pesquisa
de campo, bem como seus resultados e análise para a conclusão. Os percentuais obtidos na
pesquisa ratificaram a importância da comunicação eficiente, a prática da oratória como fator
de liderança e necessidade do discurso de liderança do comandante de pelotão nas fases de
uma operação militar real, atingindo proveitosamente o objetivo do trabalho.

Palavras-chave: Oratória. Liderança. Comandante de pelotão. Howard Gardner. Operações


militares reais.
ABSTRACT

THE PLATOON COMMANDER´S SPEECH AS A LEADERSHIP FACTOR OVER HIS


SUBORDINATES
AUTHOR: Matheus Cardoso Mayrink Lima Barizon
ADVISOR: Geraldo Gomes de Mattos Neto

Oratory can become an essential tool for a commander's leadership over his men. Through
speech, through the use of the right words, the leader can gain the confidence of his or her
subordinates while at the same time being able to convey a message for the correct
communication and motivate them to fulfill their duties. In the military environment, the
platoon commander often uses this speech to exercise his leadership in different situations,
and may be in the routine inside the barracks or in adverse situations as in a real military
operation and during combat. In order to encourage the officer graduated in AMAN to study
and practice oratory, this work aimed to analyze the platoon commander's discourse as a
leader in his subordinates, based on our study of the Manual de Campanha C 20- 10 –
Liderança Militar, Caderno de Intrução do Projeto Liderança da AMAN and a field survey
conducted with infantry officers graduated in the years 2015, 2016, 2017 and 2018, now
serving in several units throughout the country. Initially the concepts of oratory, rhetoric and
leadership were introduced; through an analysis of the research of the American psychologist
Howard Gardner in the study of interpersonal, intrapersonal and linguistic intelligences
applied in oratory and military leadership; an approach to leadership principles and factors,
specifically those related to correct and efficient communication; and finally the application of
the platoon commander's leadership speech in the phases before, during and after a real
military operation, at the same time were given examples of historical speeches of military
commanders in crisis or war situations. At the end of the study the field research was
presented, as well as its results and analysis for the conclusion. The percentage obtained in the
research ratified the importance of efficient communication, the practice of oratory as a
leadership factor and the need for leadership of the platoon commander in the phases of a real
military operation, fruitfully reaching the objective of the work.

Keywords: Oratory. Leadership. Platoon commander`s. Howard Gardner. Real military


operations.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Pilares da Liderança Militar ................................................................................................ 15


Figura 2 – Howard Gardner..................................................................................................................... 16
Figura 3 – Coronel Hal Moore ................................................................................................................ 22
Figura 4 – George S.Patton ..................................................................................................................... 23
Figura 5 – Alexandre, O Grande ............................................................................................................ 24
Figura 6 – Francisco Mega ....................................................................................................................... 25

Figura 7 – Napoleão Bonaparte .............................................................................................................. 26


Figura 8 – Winston Churchill .................................................................................................................. 27
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Percentual dos oficiais e o grau de importância da oratória para a comunicação


eficiente ........................................................................................................................................................ 30
Gráfico 2 – Percentual dos oficiais e o grau de importância da oratória para o exercício da
liderança ....................................................................................................................................................... 31
Gráfico 3 – Capacidade que mais se relaciona com a construção do discurso
eficaz ............................................................................................................................................................. 32
Gráfico 4 – Percepção em porcentagem dos oficiais sobre a influência positiva do discurso de
motivação do comandante de pelotão sobre o moral da tropa e seu espírito de cumprimento de
missão ............................................................................................................................................................ 34

Gráfico 5 – Fases da operação com maior necessidade do discurso de liderança do


comandante de pelotão sobre seus homens.......................................................................................... 35
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMAN Academia Militar das Agulhas Negras


EB Exército Brasileiro
GLO Garantia da Lei e da Ordem
APOP Agente Perturbador da Ordem Pública
% Percentual
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 11
1.1 OBJETIVO...................................................................................................................... 12

2 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................... 13
2.1 ORATÓRIA E RETÓRICA............................................................................................. 13
2.2 LIDERANÇA MILITAR................................................................................................. 14
2.3 AS INTELIGÊNCIAS DE HOWARD GARDNER NO PROCESSO DA
LIDERANÇA.................................................................................................................... ........ 15

2.3.1 A inteligência linguística e sua aplicação na oratória................................................. 17


2.3.2 As inteligências pessoais e sua aplicação na liderança militar................................... 17
2.4 PRINCIPIOS DA LIDERANÇA: COMUNIQUE-SE COM CORREÇÃO E
EFICIÊNCIA................................................................................................................... .........18
2.5 FATORES DA LIDERANÇA: A COMUNICAÇÃO..................................................... 19

2.6 LIDERANÇA E COMUNICAÇÃO APLICADAS AO DISCURSO DO COMANDANTE


DE PELOTÃO NAS FASES DE UMA OPERAÇÃO MILITAR REAL................................ 20

2.6.1 Antes da operação.......................................................................................................... 21


2.6.2 Durante a operação........................................................................................................ 23
2.6.3 Depois da operação........................................................................................................ 25
3 REFERENCIAL METODOLÓGICO......................................................................... 28
3.1 TIPO DE PESQUISA................................................................................... ...................28
3.2 MÉTODOS...................................................................................................................... 29
3.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA.............................................................................................. 29

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................... 30

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 36

REFERÊNCIAS............................................................................................................. 37
11

1 INTRODUÇÃO

O uso da oratória, basicamente a arte de falar em público, é marca registrada de


grandes influenciadores de opinião e uma ferramenta para a conquista da liderança por
grandes comandantes militares ao longo da história. Um discurso brilhante pode marcar
gerações e se infiltrar nos corações e mentes daqueles que estão diante de um dominador das
palavras.

Segundo o autor do livro Discursos que Mudaram a História:

Há ocasiões em que as pessoas estão tomadas por sentimentos intensos, mas não
sabem como expressá-los. Então, o discurso certo pode transformar esse bloqueio
em uma ação certeira e positiva (...) em outras situações, um discurso pode mudar o
estado de espírito de uma população, dando-lhe mais coragem ou determinação.
(ADDIS, 2012, p. 7)

Dentro do Exército Brasileiro (EB), a oratória tem significativa importância na relação


comandante/comandado, em específico, um comandante de pelotão formado pela Academia
Militar das Agulhas Negras (AMAN) com os instruendos, subtenentes, sargentos, cabos e
soldados a ele subordinados. Seja em tempos de paz ou de guerra, o oficial que sabe utilizar o
discurso a seu favor terá sempre consigo uma ferramenta única de liderança sobre seus
homens. Quanto ao emprego da oratória, cresce ainda mais sua importância nas operações
reais. Diante de homens que precisam de uma palavra de conforto ou motivação para
cumprirem suas missões, o comandante de pelotão deve demonstrar sua liderança através de
suas palavras.

A Portaria nº 517, de 26 de Set 00, publicada no Boletim do Exército Nº 40/2000, que


define Ciências Militares, fixa sua abrangência e estabelece a finalidade de seu estudo
(BRASIL, 2000) afirma que as Ciências Militares (conjunto de conhecimentos relativos à
esfera militar) têm, dentro de suas áreas de estudo, a liderança. A pesquisa realizada neste
trabalho relaciona a prática da oratória com o exercício da liderança existente no ambiente
militar.

Dessa forma, é oportuno problematizar a seguinte questão: na relação existente entre o


comandante de pelotão e seus subordinados, quanto o domínio da oratória pelo oficial pode
interferir positivamente em seu exercício de liderança? Ainda, outra questão a ser levantada,
12

analisando a relação oratória e liderança, é: como o discurso do comandante de pelotão pode


refletir no moral e espírito de cumprimento de missão de seus homens nas fases antes, durante
e após uma operação real?

Dessa maneira, baseando-se nos questionamentos supracitados e buscando alcançar a


resposta dos mesmos, o escopo deste trabalho consiste em: uma pesquisa de campo com
oficiais oriundos da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) atualmente distribuídos
nos corpos de tropa; uma análise do Caderno de Instrução do Projeto Liderança da AMAN,
comparando a comunicação como fator e como princípio da liderança, à teoria das
inteligência múltiplas presentes na obra do psicólogo estadounidense Howard Gardner, o qual
na década de 80, através de pesquisas e estudos, descobriu existirem aptidões além do simples
raciocínio lógico-matemático humano. Dentre as aptidões alvo de nossa análise, estão: as
Inteligências linguística, interpessoal e a intrapessoal presentes no Manual de Campanha C
20-10 – Liderança Militar, como objeto de estudo na caracterização do líder militar.

Decidimos assim, delimitar nosso estudo na compreensão da influência que exerce o


discurso do comandante de pelotão em sua capacidade de liderança sobre seus subordinados.

Esta pesquisa justifica-se para ampliar o interesse do futuro oficial do Exército


Brasileiro (EB) em estudar oratória, promover a reflexão sobre a importância da mesma para a
comunicação eficiente, bem como estimular a prática do discurso no cotidiano e futuramente
dentro dos pelotões comandados nos corpos de tropa e nas operações militares reais, visando
o exercício efetivo da liderança. Portanto, o domínio das palavras pode se tornar uma
ferramenta única para um comandante de pelotão líder, são pelas palavras que seus liderados
irão interpretar sua mensagem de forma correta, motivarem-se perante as adversidades do
combate, adquirirem a confiança necessária no que o mesmo tem para transmitir e executarem
com prontidão as suas ordens.

1.1 OBJETIVO

Analisar o discurso do comandante de pelotão como fator de liderança sobre seus


subordinados. Secundariamente comparar as inteligências de Howard Gardner com o
exercício da liderança; analisar a comunicação e sua eficiência nas fases de uma missão real.
13

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ORATÓRIA E RETÓRICA

Com relação à história da oratória, o autor Dale Carnegie, líder mundial em programas
de treinamento em oratória, em seu livro Como Falar em Público e Influenciar Pessoas afirma
que:

Desde o início da civilização, literalmente, falar bem na frente dos outros tem sido
um desafio constante. Isso teve uma importância especial nas civilizações clássicas
de Grécia e Roma, mas a habilidade para falar em público também foi muito
apreciada nos tempos bíblicos, pelas tribos nativas das Américas e pelas culturas de
Índia e China. (CARNEGIE, 2012, p.7)

O Professor Sidnei Barbosa de Miranda define oratória como a arte de falar bem para
o público, podendo a mesma ser utilizada no sentido estrito de convencer, atuando como a
retórica. Oratória e Retórica se harmonizam, uma vez que as duas usam a comunicação. A
oratória se refere a um tipo específico de comunicação, aquela feita diante de algum público.
Se há público e alguém para falar diante dele, é uma oratória. Um texto escrito pode ser
retórico, mas só poderá ser oratória quando for feito ao vivo diante de um público. Aquele que
usa de retórica, ainda que não se dirija a algum público ao vivo, em pé diante dele, falando,
pode demonstrar uma grande habilidade com as palavras. (DE MIRANDA, 2012)

Para o polímata brasileiro José Blota Jr:

O orador é a expressão mais completa e rutilante do comunicador. A ele compete


enfrentar os auditórios, sejam pequenos comitês, sejam farfalhantes multidões na
imensa praça pública. A ele cabe transmitir a ideia, a mensagem e a luz. Ali está a
sua plateia, ou fria, ou indiferente, ou inamistosa, ou expectante, ou fanatizada, ou
enlouquecida. A partir do instante em que desfecha a palavra inicial, não mais se
pertence ou protege. Cabe-lhe enfrentar a incontrolável maré e vencê-la. Por sua voz,
e apenas pelo que fala, ou domina ou se perde. Ou convence, ou se frustra. Pela
simples força de sua expressão, terá de conquistar uma vontade esquiva e dispersa.
Necessita persuadir, comover, abalar, conduzir a força estranha na direção que
deseja. (ROCHA, 2002, p.89)

Segundo o livro de retórica de Aristóteles, essa constitui o uso persuasivo da


linguagem humana. Existem três meios de persuasão: os derivados do caráter do orador
14

(ethos), os derivados da emoção despertada nos ouvintes (pathos) e os derivados de


argumentos verdadeiros ou prováveis (logos). (JÚNIOR, 2005)

Com relação ao processo de comunicação e a utilização da oratória, o Caderno de


Instrução do Projeto Liderança da AMAN afirma que para dar ênfase as palavras, deve
também ser praticada pelo orador a linguagem corporal:

Não são importantes apenas as palavras, referentes às ideias que se quer comunicar,
mas o tom da voz, a emoção, a sinceridade, o entusiasmo e a decisão que o indivíduo
consegue transmitir em um discurso. Portanto, vê-se que as palavras proferidas nem
sempre são a parte mais importante da mensagem. Elas são, apenas, um de seus
aspectos; os outros são os diversos elementos da “linguagem corporal”, termo que
identifica as demais expressões nela introduzidas pelo emissor (gesticulação,
postura, expressão facial, tom da voz, entusiasmo, etc). (HECKSHER; MACHADO,
2011,p.8)

2.2 LIDERANÇA MILITAR

De acordo com o Dicionário Online de Português, líder (termo oriundo de um


anglicismo da palavra americana leader) é o “Chefe; pessoa que possui autoridade e poder
para comandar os demais. Indivíduo que exerce influência no comportamento ou no modo de
pensar de alguém.” (DICIO, 2018).

Inserida no ambiente militar, a liderança ganha papel fundamental nas relações


cotidianas, exercícios, atividades e adversidades enfrentadas no combate. Segundo o Manual
de Campanha C 20-10 – Liderança Militar, tal termo “consiste em um processo de influência
interpessoal do líder militar sobre seus liderados, na medida em que implica o estabelecimento
de vínculos afetivos entre os indivíduos, de modo a favorecer o logro dos objetivos da
organização militar em uma dada situação.” (BRASIL, 2011)
Com relação à definição supracitada, o Caderno de Instrução do Projeto Liderança da
AMAN acrescenta o seguinte comentário:

Nesta definição, os vínculos afetivos mencionados se referem principalmente ao


respeito, à confiança e à credibilidade que o comandante precisa obter junto aos seus
comandados, enquanto o logro dos objetivos, diz respeito ao cumprimento das
missões da organização militar. Tanto em situações de normalidade como nas crises,
o líder militar deverá atuar, preponderantemente, por intermédio de sua capacidade
de persuasão e de bons exemplos, convencendo os subordinados a agirem de forma
útil à instituição à qual pertencem. (HECKSHER; MACHADO, 2011, p.15)
15

O Manual de Campanha C 20-10 – Liderança Militar (2011), atribui à Liderança três


aspectos básicos, são eles: a proficiência profissional, o senso moral e os traços de
personalidade característicos do líder e as atitudes adequadas.
A proficiência profissional conta com um conjunto de capacidades, conhecimentos e
culturas. Abarcando, em especial com relação a nosso estudo da oratória, a habilidade em se
comunicar de maneira eficaz com o grupo, conhecendo seus homens e respeitando suas
limitações e deficiências: o saber. O senso moral distingue aqueles que usam seu poder para
fazer o bem coletivo dos que o usam para obterem vantagens próprias, basicamente o caráter e
os valores do indivíduo: o ser. A atitude adequada é a maneira como o indivíduo emprega
seus conhecimentos junto a seus valores, tendo como maior motivação ser um líder: o fazer. A
capacidade de liderar provém da harmonia entre o ser e o saber, e posteriormente o fazer.
(BRASIL, 2011)

Figura 1 – Pilares da Liderança Militar

Fonte: BRASIL (2011, p.3-3)

2.3 AS INTELIGÊNCIAS DE HOWARD GARDNER NO PROCESSO DA LIDERANÇA

No contexto da liderança, no início da década de 1980, o premiado psicólogo


estadounidense da área cognitiva e educacional, Howard Gardner criou a teoria das
inteligências múltiplas, presente em sua obra intitulada originalmente The frames of mind: the
theory of multiple intelligences, traduzida como Estruturas da mente: a teoria das inteligências
16

múltiplas. Gardner dividiu sua teoria em sete inteligências humanas compostas por um
conjunto de diferentes capacidades. (GARDNER, 1994)

Figura 2 – Howard Gardner

Fonte: Reprodução do site Sternspeakers (2019)

Gardner afirma no início de seu livro que:

(. . .) existem evidências persuasivas para a existência de diversas competências


intelectuais humanas relativamente autônomas abreviadas daqui em diante como
'inteligências humanas'. Estas são as 'estruturas da mente' do meu título. A exata
natureza e extensão de cada 'estrutura' individual não é até o momento
satisfatoriamente determinada, nem o número preciso de inteligências foi
estabelecido. Parece-me, porém estar cada vez mais difícil negar a convicção de que
há pelo menos algumas inteligências, que estas são relativamente independentes
umas das outras e que podem ser modeladas e combinadas numa multiplicidade de
maneiras adaptativas por indivíduos e culturas. (GARDNER, 1994, p. 7):

Dentre as sete inteligências, selecionamos as três que mais se relacionam com o


exercício da liderança e o emprego da oratória. São elas: a Inteligência Linguística, a
Inteligência Interpessoal e a Inteligência Intrapessoal. Segundo a Teoria das Inteligências
Múltiplas, o Manual de Campanha C 20-10 – Liderança Militar agrupa tais inteligências como
um todo existente na composição da inteligência emocional do líder e as define da seguinte
forma:

(...) (2) a linguística, que está associada à habilidade de se expressar por


meio da linguagem verbal, escrita e oral; (...)
(6) a interpessoal, que está associada à habilidade de notar e interpretar
17

o humor, o temperamento, as motivações e as intenções das pessoas, relacionando-se


bem com elas; e
(7) a intrapessoal, que está associada à capacidade de estar bem consigo mesmo, de
conseguir controlar os próprios sentimentos, de conhecer-se e de usar as informações
pessoais para alcançar os seus próprios objetivos. (BRASIL, 2011, p.5-9)

2.3.1 A inteligência linguística e sua aplicação na oratória

A Inteligência Linguística, por definição, é a que mais se relaciona com a temática


oratória em estudo no presente trabalho, se caracterizando pela capacidade que o indivíduo
possui em manipular a linguagem. O domínio desta inteligência é característica de um bom
orador visto que dentro dessa capacidade, por parte de quem realiza o discurso, acontece o uso
prático da linguagem, simultaneamente a sensibilidade aos sons e interpretação das palavras
por parte do público ouvinte. (GARDNER, 1994)
Inserido nesse processo de comunicação, Gardner destaca alguns requisitos
fundamentais de conhecimento para o discursador: o uso adequado da linguagem como
facilitador do processo de ensino e aprendizagem pelos ouvintes (explicação) e o uso da
linguagem para convencer o público (retórica). (GARDNER, 1994)

2.3.2 As inteligências pessoais e sua aplicação na liderança militar

As inteligências intrapessoal e interpessoal, conjunto de inteligências pessoais, se


aplicam no processo de liderança militar uma vez que juntas compõe o perfil de um líder.
(BRASIL, 2011)
A inteligência intrapessoal, basicamente o potencial interno de um indivíduo em
distinguir desde suas sensações mais primitivas até seus sentimentos mais complexos, pode
ser útil como ferramenta de autoconhecimento do líder militar para a tomada de decisões em
situações adversas com seu pelotão. (BRASIL, 2011)
Uma definição e possível aplicação da inteligência intrapessoal, dentro do meio militar
por parte de um comandante de pelotão em uma situação de combate, conforme o Manual de
Campanha C 20-10 – Liderança Militar:

Portanto, o autoconhecimento constitui-se em um fator fundamental no controle das


emoções. Para adquiri-lo é preciso fazer um trabalho de treinamento que permita à
pessoa regular suas ações, mesmo durante experiências emocionais complexas e
18

causadoras de desequilíbrios, como o combate, por exemplo. (...) Essas respostas


instintivas são fatores importantes para a sobrevivência do indivíduo em situações de
perigo. Em consequência, é possível utilizar tais conceitos para o treinamento dos
militares que enfrentarão riscos, por exemplo, no campo de batalha. Por outro lado,
essas reações poderão produzir agressividade em excesso, nociva à inteligência
emocional, porque poderá exacerbar o uso da autoridade e inibir a paciência, a
empatia e o tato, impedindo que o comandante atue com rigor. (BRASIL, 2011, p.5-
10)

Já a inteligência interpessoal, é a capacidade do indivíduo em se voltar para os outros,


sendo capaz de distinguir suas diversas emoções, temperamentos, intenções e motivações,
atuando como uma empatia do líder sobre seus homens. Tal habilidade se torna fundamental
nas relações cotidianas entre o comandante de pelotão e seus homens, visto que o líder deve
conhecer seus subordinados e atuar sobre seus problemas, visando reintegrar aquele militar à
rotina do pelotão ao mesmo tempo em que deve contar com a plena sanidade física e mental
do mesmo para o combate. (BRASIL, 2011)
Quanto à inteligência interpessoal, o Manual de Campanha C 20-10 – Liderança
Militar dá o seguinte exemplo:

(...) quando um comandante pergunta “se está tudo bem” a um subordinado que
caminha cabisbaixo, ele tenderá a dizer que “sim”, pois evita apresentar sinais de
fraqueza. Dificilmente confessará o motivo real de seu desânimo. Portanto, será
preciso pesquisar e observar melhor. Tal trabalho só pode ser feito por alguém que
tenha boa inteligência emocional e, consequentemente, boa dose de empatia.
(BRASIL, 2011, p.5-10)

2.4 PRINCIPIOS DA LIDERANÇA: COMUNIQUE-SE COM CORREÇÃO E EFICIÊNCIA

O Caderno de Instrução do Projeto Liderança da AMAN facilita a construção da


liderança dividindo a mesma em doze princípios compostos por ações essenciais a serem
seguidas pelo líder. Dentre os princípios que mais se relacionam com o uso do discurso e das
palavras corretas para o exercício da liderança, iremos analisar o segundo princípio:
Comunique-se com correção e eficiência. (HECKSHER; MACHADO, 2011)
Segundo o referido princípio, para que um líder consiga convencer seus comandados
através de suas palavras, o mesmo deve conseguir se comunicar de modo correto. Para isso,
não se deve, em princípio, proferir palavras de baixo calão ou desconhecidas pelo público
ouvinte, ambas podem, respectivamente, diminuir a importância da mensagem e impedirem a
compreensão da mesma pelo interlocutor. Tais situações não devem ser rotineiras, porém
podem ocorrer em raros momentos que a permitam, como por exemplo, no combate em um
19

momento de estresse na qual o orador não consegue assimilar da maneira mais adequada, seu
raciocínio com o uso das palavras apropriadas. (HECKSHER; MACHADO, 2011)
O Caderno de Instrução do Projeto Liderança da AMAN afirma que:

Deve-se falar de modo claro e sincero, transmitindo as ideias de maneira simples e


direta, sem abusar de neologismos que, geralmente, têm significado vago e,
tampouco, de termos estrangeiros peculiares a determinadas áreas do conhecimento.
O orador que fala difícil não deixará os ouvintes impressionados e sim
desinteressados. Na verdade, apenas dificultará o entendimento da mensagem
proferida. (HECKSHER; MACHADO, 2011, p.62)

O Caderno ainda complementa afirmando que a comunicação vai além das palavras,
ela deve ser marcada pelos bons exemplos do orador, fazendo com que o mesmo obtenha
crédito com seus liderados, uma vez que ele pratica aquilo que fala, não se passando por
hipócrita ou incoerente. Iniciativas corretas, defesa dos interesses dos subordinados e bons
exemplos de cooperação e dedicação, demonstram aos ouvintes que aquele orador possui
credibilidade e consegue transmitir segurança. (HECKSHER; MACHADO, 2011)

2.5 FATORES DA LIDERANÇA: A COMUNICAÇÃO

O Caderno de Instrução do Projeto Liderança da AMAN divide a liderança em quatro


fatores: a situação, o líder, os liderados e a comunicação. Para nosso estudo, iremos analisar o
fator comunicação, cuja definição pelo Caderno de Instrução é a seguinte:

A comunicação é o processo pelo qual informações, ideias, pensamentos,


sentimentos e emoções, são transmitidos e recebidos entre as pessoas, permitindo
que ocorra a interação social entre os membros de um determinado grupo. A
comunicação é a interação que deve ser estabelecida entre o líder e os liderados.
Deste modo, a comunicação é que operacionaliza a relação de uma pessoa, o
emissor, com outros indivíduos (os receptores) para que se possa atingir determinado
objetivo. Os objetivos da comunicação – convencer, modificar opiniões, informar,
fazer agir, fazer calar, instruir, educar, expressar sentimentos, atuar sobre o
equilíbrio emocional e induzir sentimentos – irão influenciar, decisivamente, no
conteúdo e no estilo da mensagem que se quer transmitir. (HECKSHER;
MACHADO, 2011, p.7-8)

Sobre o fator da liderança comunicação, o Caderno de Instrução exemplifica em


diversas situações cotidianas como o tom da voz, o entusiasmo, a sinceridade e a emoção do
orador, contribuem na construção do discurso, muitas vezes não sendo as palavras a parte
mais importante da mensagem transmitida. A comunicação está sujeita a distorções, e por isso
cresce de importância o papel da “linguagem corporal” e do exemplo do líder, uma vez que
quando age, tende a ser um modelo imitado por seus liderados. (HECKSHER; MACHADO,
2011)
20

Ainda dentro do fator comunicação, existem três principais canais de interação entre o
indivíduo e o mundo externo, são eles: o canal auditivo, cuja pessoa interpreta
consideravelmente aquilo que ouve; o canal visual, na qual a prioridade é aquilo que se vê e; o
canal tátil, no qual se entende melhor aquilo que o indivíduo consegue sentir, tocar, provar ou
cheirar. Cada ser humano tende mais a um dos três canais, fato esse que pode prejudicar o
fator de persuasão do orador. Cabe a ele saber administrar seu objetivo alcançado com aquilo
que convém a seu subordinado compreender, sendo fundamental neste momento a
comunicação eficaz. (HECKSHER; MACHADO, 2011)

2.6 LIDERANÇA E COMUNICAÇÃO APLICADAS AO DISCURSO DO


COMANDANTE DE PELOTÃO NAS FASES DE UMA OPERAÇÃO MILITAR REAL

O discurso de líderes militares em situações críticas ou durante o combate, sempre foi


ao longo da história da humanidade, ferramenta marcante para se atingir corações e mentes de
uma considerável massa de pessoas. Até os dias de hoje, o discurso de um comandante militar
pode transmitir para seus homens a confiança e a coragem necessárias para, não só
sobreviverem no campo de batalha, mas também vencer a guerra. (ADDIS, 2012)
Quanto ao uso da liderança militar em situações adversas no decorrer da história, o
Manual de Campanha C 20-10 – Liderança Militar contribui com a seguinte afirmação:

A História Militar mostra que a liderança sempre foi o alicerce das tropas coesas,
motivadas e aguerridas. Mostra, também, as dificuldades encontradas pelos
comandantes na condução de seus soldados em combate. Nas situações de
normalidade, quando o grupo militar e as pessoas que o integram não estão sob
pressão, geralmente as ordens dos comandantes são cumpridas, sem vacilações. Já
nos momentos de crise e, sobretudo, nas ações em combate, havendo risco de vida e
penúrias de toda ordem, os indivíduos só obedecerão voluntariamente às ordens
recebidas afiançados por seus comandantes (...) Portanto, quando a hierarquia e a
disciplina estão inseridas em um quadro no qual os comandantes estabeleceram
sólidos laços de liderança com os subordinados, mesmo havendo pressões, riscos e
dificuldades extremas, a missão será cumprida de forma adequada. (BRASIL, 2011,
p.1-3)

Dessa forma, a seguir analisaremos o papel que o discurso do comandante de pelotão


adquire nas fases antes, durante e depois de uma operação militar real, bem como citar
exemplos de discursos históricos realizados nas respectivas fases.
21

2.6.1 Antes da operação

Na fase anterior à missão, a incerteza da vitória, o medo de errar e a inexperiência em


combate real devem ser superados pela firmeza e a autoconfiança do líder, exemplo da
inteligência intrapessoal, que está relacionada à capacidade de estar bem consigo mesmo e
conseguir controlar seus próprios sentimentos. Ainda nesse momento, se destaca a
inteligência interpessoal, na qual o comandante deve conhecer muito bem as características e
intenções de seus subordinados, utilizando as palavras corretas, visando motivá-los e incutir-
lhes o espírito de cumprimento de missão a qualquer custo. (GARDNER, 1994)
Durante uma crise ou uma guerra, os militares irão passar por inúmeras situações de
risco, estando a todo instante sob pressão, passando por dificuldades de todos os tipos e
cumprindo ordens que, muitas vezes, os colocam entre a vida e a morte. Nesse momento, a
confiança passada anteriormente pelas palavras do líder se transformarão na coragem
necessária para seus homens cumprirem a missão, mantendo-se firmes no combate. (BRASIL,
2011)
Um exemplo de discurso histórico na fase anterior a uma operação militar ocorreu em
1965, durante a Batalha de La Drang na Guerra do Vietnã, pelo Coronel Hal More para o 1º
Batalhão do 7º Regimento de Cavalaria americana. Diante de jovens inexperientes e de
veteranos de guerra por ele liderados, More motivou seus homens através de palavras que
transpareceram a situação em que iriam se deparar, ao mesmo tempo em que transmitiu
confiança sobre sua capacidade de liderança. Seu discurso precedeu o primeiro enfrentamento
entre os soldados dos Estados Unidos e do Vietnã do Norte, onde Hal Moore e seus 400
homens ficaram cercados por cerca de 2000 soldados norte-vietnamitas em uma das batalhas
mais selvagens vividas pelos norte americanos. (LIÇÃO... 2010)
A coragem e a bravura do Coronel Hal Moore foram precedidas pelo seguinte
discurso:

"Estamos seguindo para o Vale da Sombra da Morte, onde vocês protegerão o


homem ao seu lado como ele o protegerá, e você não se importará com a sua cor ou
como ele chama a Deus. Lutaremos contra um inimigo difícil e determinado. Não
posso prometer que levarei todos de volta para casa, mas uma coisa eu prometo...
quando entrarmos em batalha, serei o primeiro a entrar no campo e o último a sair.
Não deixarei ninguém para trás... vivo ou morto. Voltaremos para casa juntos."
(LIÇÃO...2010)
22

Figura 3 – Coronel Hal Moore

Fonte: Reprodução do site Oficina de Gerência (2010)

Outro exemplo de discurso de liderança foi ministrado pelo general americano George
S. Patton em 1944, diante de homens pertencentes ao Terceiro Exército dos Estados Unidos
prestes a entrarem em combate na França, durante a Segunda Guerra Mundial. As palavras de
motivação de Patton compunham sua marcante habilidade de inspirar soldados através de
discursos carismáticos. (BRIGHTON, 2009)
O trecho traduzido abaixo, retirado do livro do historiador americano Terry Brighton,
demonstra tamanho carisma do discurso do General:

“Um exército é uma equipe. Ele vive, come, dorme e luta como uma equipe. Esta
coisa de heroi individual é besteira.(...)E nós temos a melhor equipe; temos a melhor
comida e equipamentos, o melhor espírito e os melhores homens do mundo. Porque,
por Deus, eu realmente tenho pena dos pobres bastardos que iremos enfrentar. Todos
os herois não são lutadores de livros de história de combates. Cada homem em um
exército desempenha um papel vital. Então nunca desistam. (...) Os homens mais
corajosos vão procriar mais homens corajosos. Matem todos os malditos covardes e
teremos uma nação de homens corajosos.” (BRIGHTON, 2009)
23

Figura 4 – George S. Patton

Fonte: Reprodução do site Wikipédia (2019)

2.6.2 Durante a operação

Já na fase durante a operação, sob ameaça de um confronto iminente ou até mesmo


durante o desenrolar do combate, quando o moral da tropa cair seja em virtude da saudade de
casa, do cansaço em que se encontram, das privações de suas vontades ou pela perda de um
homem durante a operação, o líder deve fazer um estudo da situação e planejar um discurso
rápido e eficiente. Ele deve mostrar para sua tropa pelo que e por quem estão lutando,
reerguendo seu moral e transmitindo confiança para as ações em combate de cada militar.
(BRASIL, 2011)
No momento que entra em combate, o soldado já sabe que seus camaradas e seu
comandante estão contando com ele, desse modo acredita que, se não cumprir a missão que
lhe foi atribuída, será chamado de covarde por seus companheiros e sabe também que seu
comandante tem competência para tomar a melhor decisão naquele momento, tudo isso em
virtude da confiança e da motivação que foram estabelecidos no discurso feito no momento
do combate. Dessa forma, seriam minimizados os casos de deserção, omissão ou
desobediência, prevalecendo a coragem do soldado e o espirito de corpo da tropa. (BRASIL,
2011)
24

Um exemplo de discurso histórico durante o combate foi ministrado por Alexandre, O


Grande que em 335 a.C, que utilizando de técnicas de oratória aprendidas através de
Aristóteles, conseguiu motivar seus soldados a continuarem conquistando novas terras mesmo
após 10 anos em combate. (ADDIS, 2012)

Figura 5 – Alexandre, O Grande

Fonte: Reprodução do site Superinteressante (2011)

Outro exemplo de discurso histórico realizado durante uma operação, em específico na


Segunda Guerra Mundial durante a tomada de Montese na Itália em 1944, pelo Aspirante a
oficial Francisco Mega. Mega liderava seu pelotão na tomada, quando foi ferido por uma
rajada de metralhadora, levando o brasileiro ao chão. Neste momento, seus homens o cercam
desolados, porém o aspirante encontra forças para motivá-los com um rápido discurso de
liderança, culminando posteriormente no reestabelecimento do moral de seus comandados e a
conquista do objetivo. (BENTO, 2019)
O artigo Aspirante Francisco Mega o Patrono da Turma da AMAN de 15 fevereiro de
1955, de autoria do Coronel Cláudio Moreira Bento, afirma que em seu discurso de liderança,
Francisco Mega proferiu as seguintes palavras:

“Por que estão parados em torno de mim? A guerra é lá na frente. Quem está no fogo
é para se queimar! Estou aqui porque quis, se vocês estão sentidos com o que me
aconteceu, vinguem-se acertando o comandante deles! De nada valerá o meu
sacrifício se não conquistarem o objetivo. A minha vida nada vale, a minha morte
nada significa diante do que vocês ainda têm pra fazer, prossigam na luta.” (BENTO,
2019)
25

Figura 6 – Francisco Mega

Fonte: BENTO (2019)

2.6.3 Depois da operação

Na última fase, o discurso toma dois rumos diferentes: o retorno positivo ou negativo
(feedback) e a motivação. Uma vez que a confiança já foi estabelecida, o comandante deve
agora repassar a situação atual para seus subordinados, sendo claro dentro dos limites quanto
aos danos, perdas e baixas, ao mesmo tempo em que explana os pontos negativos e positivos
que foram observados no combate, devendo ocorrer o retorno para seus homens através de
críticas ou elogios. (HECKSHER; MACHADO, 2011)
A outra face do discurso possui significante relevância para a tropa, a motivação para
não esmorecerem diante da situação em que se encontram. Fatigados e em condições
desfavoráveis, devem entender que o combate acabou, mesmo que temporariamente. Nessa
parte do discurso, a postura e a linguagem do líder devem se manter condizentes com seu
posto, independente da situação em que este se encontra, deve buscar ser exemplo e passar
para seus homens uma imagem de força e resiliência, visando reintegrar os soldados a
normalidade fora do combate. (BRASIL, 2011)
A motivação de voltarem para suas casas e reverem seus familiares deve ser passada
aos subordinados como forma de abrandar os traumas gerados em suas mentes e evitar futuros
distúrbios psicológicos, lembrando a eles que o que aconteceu de ruim não deve ser levado
26

adiante. Por último, a motivação pessoal de dever cumprido e reconhecimento por parte do
comandante de que seus homens deram seu máximo a todo instante, sendo esse
reconhecimento algumas vezes materializado em forma de recompensas, medalhas, distintivos
ou diplomas. (FERRAZ, 2003)
Dentre alguns exemplos de discursos realizados na fase posterior ao combate, está o do
Imperador Napoleão Bonaparte em 1807, no Palácio Bourbon diante do Corpo Legislativo,
Tribunal e o Conselho de Estado. Recém regresso das campanhas militares contra a Prússia e
a Rússia, na Alemanha e Polônia, Bonaparte percebeu que sua prolongada ausência na capital
da França precisava ser compensada de alguma forma. Então, o Imperador decidiu realizar um
discurso de motivação para o público que o cercava e como consequência, todos ali presentes
se emocionaram e aplaudiram intensamente Napoleão. (PICARD, 2012)
A obra do francês Louis Picard, Guerres d‘Espagne. Le prologue: 1807, expédition
du Portugal, traz o referido discurso de Napoleão. Dentre algumas de suas palavras está o
seguinte trecho:

Franceses, o vosso comportamento nestes últimos tempos, enquanto o vosso


Imperador esteve afastado mais de 500 léguas, aumentou a minha estima e a opinião
que tinha sobre o vosso carácter. Senti-me honrado em ser o primeiro de entre vós.
Se, durante estes dez meses de ausência e perigos, estive presente no vosso
pensamento as marcas de amor que vós me destes provocaram-me constantemente as
mais vivas emoções. Todas as preocupações, tudo o que podia ter a ver com a
conservação da minha pessoa, não me tocavam senão pelo interesse que vós
mostrastes e pela importância que ela podia ter para o vosso destino futuro. Sois um
bom e grande povo. (PICARD, 2012)

Figura 7 – Napoleão Bonaparte

Fonte: PICARD (2012)


27

Outro exemplo de discurso ministrado após uma operação militar partiu do primeiro-
ministro do Reino Unido Winston Churchill, durante a Segunda Guerra Mundial. Antes de
entrar no meio político, Churchill foi oficial do Exército britânico na Frente Ocidental,
combatendo na Primeira Guerra Mundial como comandante do 6º Batalhão dos Fuzileiros
Reais Escoceses. (WINSTON... 2019)
Já na Segunda Guerra Mundial em 1940, uma série de batalhas aéreas pelo controle do
Canal da Mancha entre a Luftwaffe (Força Aérea Alemã) e a RAF (Força Aérea Britânica)
iniciaram a Batalha da Inglaterra. Os alemães pretendiam controlar o espaço aéreo para
invadirem posteriormente pelo mar. Em agosto do mesmo ano, a RAF resistiu a um violento
ataque dos alemães, impedindo que estes obtivessem êxito em seu objetivo.
(CONSERVADORISMO DO BRASIL, 2017)
Após findado o violento combate, Winston Churchill, na Câmara dos Comuns, proferiu o
seguinte discurso para os militares da RAF que venceram naquela operação militar:
“A gratidão de todos os lares em nossa ilha, em nosso Império e certamente no
mundo inteiro, exceto nas casas dos culpados, vai para os aviadores britânicos que,
sem se intimidarem com as probabilidades, incansáveis em seu desafio constante e
perigo mortal, estão virando a maré da Guerra Mundial com sua bravura e devoção.
Nunca antes no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos.
Todos os corações estão com os pilotos de caça, cujas brilhantes ações que vemos
com nossos próprios olhos dia após dia, nunca deveremos esquecer, noite após noite,
mês após mês, nossos esquadrões de bombardeiros viajam para a longínqua
Alemanha, encontrando seus alvos na escuridão por sua grandes habilidades de
navegação, apontando seus ataques, muitas vezes sob fogo pesado, muitas vezes
com perdas graves, com deliberada e cuidadosa discriminação, infligem golpes
devastadores sobre toda a estrutura técnica e bélica do poder nazista….”
(CONSERVADORISMO DO BRASIL, 2017)

Figura 8 – Winston Churchill

Fonte: Reprodução do site Conservadorismo do Brasil (2017)


28

3 REFERENCIAL METODOLÓGICO

3.1 TIPOS DE PESQUISA

A prioridade da pesquisa bibliográfica foi realizar estudos baseados na leitura, por via
digital, do Manual de Campanha C 20-10 – Liderança Militar e do Caderno de Instrução do
Projeto Liderança da AMAN. Para os resultados e conclusão, foram analisados dentro das
fontes bibliográficas, os assuntos referentes as inteligências de Howard Gardner, os princípios
da liderança e os fatores da liderança. Cabe ainda ressaltar, que em toda a pesquisa
bibliográfica, foram lidos artigos, páginas de sites e livros, visando a referenciação e
sedimentação das teorias e argumentos defendidos no Trabalho.
Por fim, foi realizada uma pesquisa de campo com coleta de dados estatísticos para
levantar a opinião de oficiais da arma de infantaria oriundos da Academia Militar das Agulhas
Negras, a despeito das questões levantadas no presente Trabalho de Conclusão de Curso.
Esta pesquisa foi desenvolvida através do aplicativo de levantamento de dados Google
Forms, pelo preenchimento online de questões de múltipla escolha em dispositivos
eletrônicos móveis ou computadores pessoais. Participaram da pesquisa 50 oficiais da arma
de infantaria, formados na Academia Militar das Agulhas Negras nos anos de 2015, 2016,
2017 e 2018, hoje distribuídos nos corpos de tropa em todo o país.
Foi escolhido o universo de oficiais das Turmas da AMAN supracitadas pelo fato de
possuírem entre um e três anos completos de tropa. Esse espaço temporal permite delimitar o
público alvo da pesquisa à militares com um pensamento semelhante devido ao período
próximo de formação, ao mesmo tempo em que acrescenta aos mesmos, a experiência
necessária para responderem ao questionário, visto que ao menos uma vez cada um dos
participantes já comandou um pelotão de soldados e dentre os oficiais, existem aqueles que já
participaram de operações reais, como as de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), algumas
vezes até entrando em combate direto com agentes perturbadores da ordem pública (APOP).
Dessa forma, todos os militares atingiam os requisitos necessários para suprirem os dados
estatísticos da pesquisa de campo.
O formulário esteve disponível para preenchimento durante o período do mês de
fevereiro e março, no qual foi distribuído ao público alvo da pesquisa. As variáveis da
pesquisa foram as opiniões dos oficiais dividas em porcentagem dentro de cada
questionamento.
29

3.2 MÉTODOS

Primeiramente, os oficiais da arma de infantaria oriundos da Academia Militar das


Agulhas Negras (público alvo da pesquisa) receberam o formulário de preenchimento online
através de um link de acesso rápido ao aplicativo Google Forms com 5 questões de múltipla
escolha. A partir do acesso à página, iniciaram o preenchimento, sendo-lhes permitido
escolher apenas uma opção de resposta em cada uma das questões.
Após atingido o número de 50 preenchimentos, a pesquisa foi encerrada. Por fim,
iniciou-se a análise das informações obtidas na pesquisa de campo.

3.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA

As respostas obtidas nos questionamentos do formulário foram analisadas na forma de


gráficos e, o número de oficiais que responderam a cada opção de resposta das questões, foi
dividido em porcentagem dentro do gráfico, visando facilitar a interpretação dos resultados e
posterior discussão.
30

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A primeira questão do formulário preenchido perguntava: em uma escala de 1 a 5,


qual o grau de importância do domínio da oratória pelo comandante de pelotão, para a
comunicação eficiente com seus subordinados?
Dentro das possibilidades, poderia ser escolhido apenas uma opção de resposta indo de
1 a 5, na qual 1 seria o grau de menor importância, crescendo a importância nos graus 2, 3 , 4
até chegar ao grau 5, de maior importância.
Vemos a seguir, no gráfico 1, o resultado da primeira questão do formulário.

Gráfico 1 – Percentual dos oficiais e o grau de importância da oratória para a comunicação


eficiente

Fonte: AUTOR (2019)

Analisando o gráfico, percebe-se que dentre os 50 oficiais que responderam à questão,


38 (76%) atribuem o grau máximo de importância ao domínio da oratória pelo comandante de
pelotão para a comunicação eficiente com seus subordinados. 10 oficiais (20%) atribuíram o
segundo maior grau. Vale ressaltar que não ouve votos no grau mínimo ou inferior ao
intermediário.

Nota-se que a grande maioria dos oficiais dão significativa relevância ao domínio da
oratória, compreendendo a necessidade da mesma para que consigam se comunicar com seus
31

homens da maneira mais eficiente possível, conseguindo transmitir ideias, conhecimentos e


informações de forma clara e compreensível por todos.

A segunda questão do formulário preenchido perguntava: em uma escala de 1 a 5, qual


o grau de importância do domínio da oratória pelo comandante de pelotão, para o exercício da
liderança sobre seus subordinados?
Assim como na primeira questão, dentro das possibilidade poderia ser escolhido
apenas uma opção de resposta indo de 1 a 5, na qual 1 seria o grau de menor importância,
crescendo a importância nos graus 2, 3 , 4 até chegar ao grau 5, de maior importância. Vemos
a seguir, no gráfico 2, o resultado da segunda questão do formulário.

Gráfico 2 – Percentual dos oficiais e o grau de importância da oratória para o exercício


da liderança

Fonte: AUTOR (2019)

Analisando o gráfico, percebe-se que dentre os 50 oficiais que responderam à questão,


30 (60%) atribuem o grau máximo de importância ao domínio da oratória pelo comandante de
pelotão como fator de liderança sobre seus subordinados. 17 oficiais (34%) atribuíram o
segundo maior grau. Assim como na primeira questão, não houve votos no grau mínimo ou
inferior ao intermediário.

Nesta questão a maioria dos oficiais compreendem que é necessário dominar a oratória
para atingirem a liderança. Porém diferente da primeira questão, ocorreu uma disparidade
maior entre os percentuais, mostrando que parte dos oficiais dão prioridade ao uso da oratória
para se comunicarem com eficiência e, colocam em segundo plano o uso da mesma para o
32

exercício da liderança. Tal fato revela que ainda existem deficiências na capacidade do
comandante de pelotão, em usar de forma integral, toda a capacidade que seu discurso pode
oferecer para que se obtenha a confiança e a liderança sobre seus subordinados pelo uso da
palavra.

De maneira geral, comparando os resultados obtidos na primeira e segunda questões,


conclui-se que se comunicar com correção e eficiência (princípio da liderança) e a
comunicação (fator da liderança), sob a ótica do oficial de infantaria oriundo da AMAN hoje
nos corpos de tropa, são conhecimentos essenciais para a liderança do comandante de pelotão.

A terceira questão do formulário perguntava: Qual a capacidade que mais se relaciona


com a construção do discurso eficaz?
Dentro das possibilidades, estavam as três inteligências (capacidades) de Howard
Gardner contextualizadas, sendo: a capacidade de usar a palavra de forma efetiva, a
linguagem oral prática e persuasiva, o domínio da fala (inteligência linguística), como a
primeira opção; a capacidade de perceber e distinguir intenções, motivações e sentimentos de
outras pessoas, a empatia (inteligência interpessoal) e; a capacidade de agir adaptativamente
com base nas suas características próprias, o autoconhecimento (inteligência intrapessoal).
Vemos a seguir, no gráfico 3, o resultado da terceira questão do formulário.

Gráfico 3 – Capacidade que mais se relaciona com a construção do discurso eficaz

Fonte: AUTOR (2019)


33

O gráfico acima mostra que das três opções, a Inteligência Linguística e a Inteligência
Interpessoal são as que mais foram selecionadas como principal capacidade, sendo escolhidas
por 43 oficiais (86%). A Inteligência Intrapessoal foi a menos escolhida, sendo preferência de
apenas 7 oficiais (14%).

Dos resultados obtidos, pode-se concluir que a maioria dos oficiais dão preferência ao
uso da Inteligência Linguística e da Inteligência Interpessoal para a construção do discurso
eficaz. Em um primeiro momento, a maior porcentagem dos oficiais (44%) relacionou o
processo de comunicação com o domínio da linguagem oral e persuasiva, logo, a oratória
exerce considerável influência para o discurso eficaz do comandante de pelotão.

A segunda maior parcela dos oficiais (42%) entende que a empatia do comandante de
pelotão é o principal fator necessário para a construção da comunicação eficaz, sendo assim,
conhecer o subordinado antes de iniciar o discurso e saber escolher as palavras certas para
motivá-lo, é mais interessante do que ser simplesmente ser um exímio orador.

O menor percentual (14%) entende que o autoconhecimento e a adaptabilidade


presentes na Inteligência Intrapessoal, são as características mais importantes na construção
da comunicação eficaz, devendo vir à frente das demais capacidades.

Por fim, a quinta e sexta questões se relacionavam basicamente ao discurso do


comandante com o cumprimento da missão, bem como seu papel nas fases de uma operação
real.
A quinta questão do formulário preenchido perguntava: o senhor acredita que o moral
da tropa e seu espírito de cumprimento da missão podem se alterar positivamente após um
discurso de motivação do comandante de pelotão?
Dentro das possibilidade, poderia ser escolhido apenas uma opção de resposta, sendo
as opções: discordo, discordo parcialmente, indiferente, concordo parcialmente e concordo.
Vemos a seguir, no gráfico 4, o resultado da quarta questão do formulário.
34

Gráfico 4 – Percepção em porcentagem dos oficiais sobre a influência positiva do discurso de


motivação do comandante de pelotão sobre o moral da tropa e seu espírito de cumprimento de
missão

Fonte: AUTOR (2019)

Analisando os resultados obtidos na quinta questão, nota-se que como um todo, 41


oficiais (82%) concordam integralmente e os outros 9 oficiais (18%) concordam em parte.
Porém nenhum oficial (0%) optou pela indiferença do discurso ou não concordou com sua
influência positiva. Dessa forma, conclui-se que todos os oficiais acreditam no discurso de
motivação do comandante de pelotão como uma ferramenta de incentivo sobre o moral de
seus subordinados e o espírito de cumprimento de missão da tropa.

Tal percentual nos leva a sexta questão, que analisa mais a fundo esse mesmo discurso
aplicado às fases de uma operação militar real.

A sexta e última questão perguntava: considerando as peculiaridades das operações


militares reais, o senhor acredita que o discurso de liderança do comandante de pelotão sobre
seus homens é mais necessário em qual fase da operação?
Dentro das possibilidades, poderia ser escolhida apenas uma opção de resposta, sendo
as opções: antes da operação, durante a operação ou após a operação.
Vemos a seguir, no gráfico 5, o resultado da quinta questão do formulário.
35

Gráfico 5 – Fases da operação com maior necessidade do discurso de liderança do


comandante de pelotão sobre seus homens

Fonte: AUTOR (2019)

Na sexta questão, 28 oficiais (56%) acreditam na maior necessidade do discurso para a


fase anterior da operação, visto que nessa fase o líder deve transmitir confiança para seus
homens e incutir-lhes a coragem necessária para seguirem firmes no combate.
Já 17 oficiais (34%) escolheram a fase durante a operação. Esse percentual reflete a
importância do discurso nos momentos de crise, medo e incerteza, devendo o comandante de
pelotão motivar seus homens, reerguendo sua moral e reiterando a confiança em suas
decisões.
Por fim, apenas 5 oficiais (10%) decidiram pela fase posterior a operação. Analisando
esse resultado, a maioria dos oficiais entende que, pelo fato da missão ter acabado, o discurso
não se torna mais tão necessário. Porém, como abordado anteriormente, é nessa fase que o
comandante deve reforçar os pontos positivos e aprendizados, ao mesmo tempo em que
reintegra seus homens à normalidade da vida fora da operação ou do combate.
36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os percentuais obtidos na pesquisa de campo demonstraram que, de uma forma geral,


a maioria dos oficiais reconhecem a importância da oratória para a comunicação eficiente e o
exercício da liderança, bem como entendem que um discurso de motivação pode influenciar
positivamente o moral da tropa e seu espírito de cumprimento de missão.
Das inteligências de Howard Gardner, a interpessoal e a linguística tiveram maior
percentual de utilização pelos oficiais na construção da comunicação eficaz, demonstrando a
maior afinidade dos mesmos com estas duas capacidades.
Por fim, a maioria dos oficiais respondeu que o discurso de liderança do comandante
de pelotão é mais necessário na fase anterior de uma operação militar real, demonstrando que
o comandante possui papel fundamental no momento da preparação de sua tropa, no que se
refere à preparação psicológica antes de partir para a operação .
Após obtidos e analisados todos os dados provenientes da pesquisa, concluiu-se que a
oratória possui considerável relevância na construção do discurso do comandante de pelotão
como fator de liderança sobre seus subordinados e como ferramenta para a comunicação
eficiente entre eles, devendo o líder estar apto a realizar o discurso sempre que necessário,
seja no cotidiano do quartel, seja nas fases de uma operação militar real ou durante o combate
propriamente dito.
Para finalizar, cabe salientar a necessidade de uma continuidade à presente pesquisa
buscando sempre resposta para novos questionamentos. Bem como a importância do estudo
da oratória pelo oficial formado na AMAN, com a prática do discurso desde o período de
formação até o momento em que o oficial se torna comandante de pelotão, buscando sempre o
aprimoramento pessoal do mesmo e o exercício da liderança dentro de sua fração.
37

REFERÊNCIAS

ROCHA, Fausto. Comunicação Cristã: Como Falar de Jesus, no evangelismo, rádio, TV,
escola dominical. Santa Bárbara d´Oeste: SOCEP, 2002.

MANUAL DE CAMPANHA C 20-10 - Liderança Militar. Estado-Maior do Exército. 2ª Ed,


2011.

ADDIS, Ferdie & SEVCENKO, Nicolau. Discursos que Mudaram a História. Primeira
edição. PRUMO, 2012.

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FONTENELLE, André. Metodologia científica: Como definir os tipos de pesquisa do seu
TCC?. 2017. Disponível em: <https://www.andrefontenelle.com.br/tipos-de-pesquisa/>.
Acesso em: 29 set. 2018.

GARDNER, Howard. Estruturas da mente: A Teoria das Múltiplas Inteligências. 1.ed.


Porto Alegre: Artmed, 1994. 340 p.

FERRAZ, Francisco César Alves. A guerra que não acabou: a reintegração social dos
veteranos da Força Expedicionária Brasileira (1945-2000). São Paulo: Eduel, 2003.

DE MIRANDA, Sidnei Barbosa. Oratória ou retórica?. 2012. Disponível em:


https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/conteudo/oratoria/18897. Acesso em: 29
set. 2018.

CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM HOMILÉTICA STBSB, 2004, Rio de Janeiro. Retórica e


Oratória... [S.l.: s.n.], 2004. 4 p. Disponível em:
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