Aula 13 - Fraà à Es Contà Nuas
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α0 = x, an = ⌊αn ⌋
1
e, se αn ∈
/ Z, αn+1 = para todo n ∈ N.
αn − a n
Se, para algum n, αn = an temos
def 1
x = α0 = [a0 ; a1 , a2 , . . . , an ] = a0 + .
1
a1 +
a2 + . .
. 1
+
an
Se não denotamos
def 1
x = [a0 ; a1 , a2 , . . . ] = a0 + .
1
a1 +
a2 + . .
.
O sentido dessa última notação ficará claro mais tarde. A representação acima
se chama representação por frações contı́nuas de x.
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POT 2012 - Teoria dos Números - Nı́vel 3 - Aula 3 - Carlos Gustavo Moreira
Temos então
1 1
x = p/q = a0 + r1 /q = a0 + = a0 +
a1 + r2 /r1 1
a1 +
a2 + r3 /r2
1
= · · · = a0 + = [a0 ; a1 , a2 , . . . , an ].
1
a1 +
a2 + . .
. 1
+
an
Isso já é uma vantagem da representação por frações contı́nuas (além de não
depender de escolhas artificiais de base), pois o reconhecimento de racionais é
mais simples que na representação decimal.
Seja x = [a0 ; a1 , a2 , . . . ]. Sejam pn ∈ Z, qn ∈ N>0 primos entre si tais que
pn
qn = [a0 ; a1 , a2 , . . . , an ], n ≥ 0. Esta fração pqnn é chamada de n-ésima reduzida
ou convergente da fração contı́nua de x. O seguinte resultado será fundamental
no que seguirá.
Proposição 1. Dada uma sequência (finita ou infinita) t0 , t1 , t2 , · · · ∈ R tal que
tk > 0, para todo k ≥ 1, definimos sequências (xm ) e (ym ) por
x0 = t0 , y0 = 1, x1 = t0 t1 + 1, y1 = t1 , xm+2 = tm+2 xm+1 + xm , ym+2 =
tm+2 ym+1 + ym , para todo m ≥ 0. Temos então
1 xn
[t0 ; t1 , t2 , . . . , tn ] = t0 + = , ∀n ≥ 0.
1 yn
t1 +
t2 + . .
. 1
+
tn
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t2 (t0 t1 + 1) + t0 t2 x 1 + x 0 x2
= = = .
t2 t1 + 1 t 2 y1 + y 0 y2
Suponha que a afirmação seja válida para n. Para n + 1 em lugar de n temos
1
[t0 ; t1 , t2 , . . . , tn , tn+1 ] = [t0 ; t1 , t2 , . . . , tn + ]
tn+1
1
tn + tn+1 xn−1 + xn−2
= 1
tn + tn+1 yn−1 + yn−2
tn+1 (tn xn−1 + xn−2 ) + xn−1
=
tn+1 (tn yn−1 + yn−2 ) + yn−1
tn+1 xn + xn−1 xn+1
= = ·
tn+1 yn + yn−1 yn+1
x1 y0 − x0 y1 = (t0 t1 + 1) − t0 t1 = 1 = (−1)0
xn+2 yn+1 − xn+1 yn+2 = (tn+2 xn+1 + xn )yn+1 − (tn+2 yn+1 + yn )xn+1
= −(xn+1 yn − xn yn+1 ) = −(−1)n = (−1)n+1 .
para todo n ≥ 0.
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Proposição 4. Temos
pn (−1)n
x− =
qn (αn+1 + βn+1 )qn2
onde
qn−1
βn+1 = = [0; an , an−1 , an−2 , . . . , a1 ].
qn
Em particular,
1 pn 1 1
2
< x− = 2
< .
(an+1 + 2)qn qn (αn+1 + βn+1 )qn an+1 qn2
Demonstração. Pelo corolário anterior temos
pn αn+1 pn + pn−1 pn pn−1 qn − pn qn−1
x− = − =
qn αn+1 qn + qn−1 qn (αn+1 qn + qn−1 )qn
−(pn qn−1 − pn−1 qn ) −(−1)n−1
= =
(αn+1 qn + qn−1 )qn (αn+1 qn + qn−1 )qn
(−1)n (−1)n (−1)n
= = = .
(αn+1 qn + qn−1 )qn (αn+1 + qn−1 /qn )qn2 (αn+1 + βn+1 )qn2
Em particular,
pn 1
x− = ,
qn (αn+1 + βn+1 )qn2
e, como ⌊αn+1 ⌋ = an+1 e 0 < βn+1 < 1, segue que an+1 < αn+1 + βn+1 <
an+1 + 2, o que implica a última afirmação.
A expansão de βn+1 como fração contı́nua segue de
qn−1 qn−1 qn−1 1
= =⇒ =
qn an qn−1 + qn−2 qn an + qqn−2
n−1
aplicado recursivamente.
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Exemplo 8. Temos
• e = [2; 1, 2, 1, 1, 4, 1, 1, 6, 1, 1, 8, . . . , 1, 1, 2n, . . . ]
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- Aula 3 - Carlos APROXIMA ÇÕES
Moreira
√
• 2 = [1; 2, 2, 2, . . . ] pois
√ 1 1 1
2=1+ √ =1+ =1+ = ···
2+1 1 1
2+ √ 2+
2+1 1
2+ √
2+1
√
1+ 5
• 2 = [1; 1, 1, 1, . . . ] pois
√
1+ 5 1 1
=1+ √ =1+ = ···
2 1+ 5 1
2 1+ √
1+ 5
2
√ √
1+ 5
Isto prova em particular que 2e são irracionais, pois suas frações con-
2 √ √
tı́nuas são infinitas. Daı́ segue também que 2 − 1 = [0; 2, 2, 2 . . . ] e 5−1 2 =
[0; 1, 1, 1, . . . ] são pontos fixos da transformação de Gauss g.
pn+1 pn (−1)n 1 pn 1 1
− = = =⇒ x − ≤ < 2·
qn+1 qn qn qn+1 qn qn+1 qn qn qn+1 qn
Além disso, se
pn 1 pn+1 1
x− ≥ 2 e x− ≥ 2 ,
qn 2qn qn+1 2qn+1
então
1 pn pn+1 1 1
= x− + x− ≥ 2 + 2 =⇒ qn+1 = qn ,
qn qn+1 qn qn+1 2qn 2qn+1
absurdo.
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POT 2012 - Teoria dos Números - Nı́vel REDUZIDAS E BOASGustavo
- Aula 3 - Carlos APROXIMA ÇÕES
Moreira
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2 BOAS
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3 - Aula ÇÕESGustavo
3 - Carlos SÃO REDUZIDAS
Moreira
ou seja,
√
1+ 5 p √ √
2 2
|p − pq − q | < − − 5 ( 5 + ε).
2 q
√
1+ 5 p
Se q é grande, 1/q 2 é pequeno, e 2 − q é muito próximo de 0, donde o lado
√
5
direito da desigualdade é muito próximo de √5+ε < 1, absurdo, pois |p2 − pq −
q 2 | ≥ 1, de fato se p2 − pq − q 2 = 0 terı́amos
2 √ √
p p p 1+ 5 1− 5
− − 1 = 0 =⇒ ∈ , ,
q q q 2 2
p
o que é absurdo, pois q ∈ Q.
√
1+ 5 p √ 1
Outra maneira de ver que, para todo ε > 0, 2 − q < ( 5+ε)q 2
tem ape-
p
nas um número finito de soluções q ∈ Q é observar que as melhores aproxima-
√
1+ 5 pn
ções racionais de 2 são as reduzidas qn de sua fração contı́nua [1; 1, 1, 1, . . . ]
√
(ver próxima seção), para as quais temos 1+2 5 − pqnn = (αn+1 +β 1
2 , com
n+1 )qn
αn+1 + βn+1 se aproximando cada vez mais de
√ √
1+ 5 5−1 √
[1; 1, 1, 1, . . . ] + [0; 1, 1, 1, . . . ] = + = 5.
2 2
p pn 1 1
− ≥ >
q qn qqn qn qn+1
pn+1
já que q < qn+1 . Assim, pq está fora do intervalo de extremos pn
qn e qn+1 e
portanto
p p pn p pn+1 1
x− ≥ min − , − ≥
q q qn q qn+1 qqn+1
o que implica
1
|qx − p| ≥ ≥ |qn x − pn |.
qn+1
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2 BOAS
POT 2012 - Teoria dos Números - Nı́vel APROXIMA
3 - Aula ÇÕESGustavo
3 - Carlos SÃO REDUZIDAS
Moreira
p p pn pn+1 pn
x− ≥ − − −
q q qn qn+1 qn
1 1 qn+1 − q 1
≥ − = >
qqn qn qn+1 qqn qn+1 qqn+1
o que implica
1
|qx − p| > ≥ |qn x − pn |.
qn+1
pn p
x− < x−
qn q
p p′
Corolário 15. Se |qx − p| < |q ′ x − p′ |, para todo p′ e q ′ ≤ q tais que q 6= q′ ,
então p/q é uma reduzida da fração contı́nua de x.
Demonstração. Seja n tal que qn ≤ q < qn+1 . Suponha que pq 6= pqnn . Como
na demonstração do teorema anterior, x − pq ≥ qqn+1 1
e assim pq está fora do
intervalo de extremos pqnn e pqn+1
n+1
. Temos duas possibilidades:
qn+1 p 1 1
(a) Se q ≥ 2 então x − q ≥ qqn+1 ≥ 2q 2
, absurdo.
qn+1
(b) Se q < 2 ,
p pn p pn+1 pn
x− ≥ − − −
q qn q qn+1 qn
1 1 qn+1 − q
≥ − =
qqn qn qn+1 qqn qn+1
1 1
> ≥ 2
2qqn 2q
o que também é um absurdo.
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POT 2012 - Teoria dos Números - Nı́vel3 3 FRAÇÕES
- Aula 3 - CONT
CarlosÍNUAS PERI
Gustavo ÓDICAS
Moreira
ax2 + bx + c = 0
pn−1 αn + pn−2 2
pn−1 αn + pn−2
=⇒ a +b +c=0
qn−1 αn + qn−2 qn−1 αn + qn−2
=⇒ An αn2 + Bn αn + Cn = 0,
onde
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POT 2012 - Teoria dos Números - Nı́vel3 3 FRAÇÕES
- Aula 3 - CONT
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Gustavo ÓDICAS
Moreira
Note que Cn = An−1 . Vamos provar que existe M > 0 tal que 0 < |An | ≤ M
para todo n ∈ N, e portanto 0 < |Cn | ≤ M , ∀n ∈ N:
2 2 2 pn−1 pn−1
An = apn−1 + bpn−1 qn−1 + cqn−1 = aqn−1 x − x̄ − ,
qn−1 qn−1
Portanto
Problemas Propostos
√
Problema 17. Determine a fração contı́nua de 7. Mostre que ela é periódica
a partir de um certo ponto, e determine o perı́odo.
√
Problema 18. Escreva na forma r ± s, com r, s ∈ Q, s ≥ 0, os números reais
cujas representações em frações contı́nuas são as seguintes:
(a) [0; 3, 6, 3, 6, 3, 6, . . . ].
(c) [0; 1, 1, 2, 2, 1, 1, 2, 2, 1, 1, 2, 2, . . . ].
Problema 19. (a) Sabendo que 3, 14 < x < 3, 15, determine o maior natural n
e inteiros a0 , a1 , . . . , an para os quais é possı́vel garantir que a representação
em frações contı́nuas de x começa por [a0 ; a1 , . . . , an ].
(b) Sabendo que 3, 141592 < x < 3, 141593, determine o maior natural n e
inteiros a0 , a1 , . . . , an para os quais é possı́vel garantir que a representação
em frações contı́nuas de x começa por [a0 ; a1 , . . . , an ].
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POT 2012 - Teoria dos Números - Nı́vel3 3 FRAÇÕES
- Aula 3 - CONT
CarlosÍNUAS PERI
Gustavo ÓDICAS
Moreira
(c) Sabendo que 3, 1415926 < x < 3, 1415927, determine o maior natural n e
inteiros a0 , a1 , . . . , an para os quais é possı́vel garantir que a representação
em frações contı́nuas de x começa por [a0 ; a1 , . . . , an ].
Problema
√ 20. (a) Determine as primeiros 6 reduzidas da fração continua de
5.
√ √
(b) Definimos a sequência an = n 5 − ⌊n 5⌋. Determine os valores de n ≤
2011 tais que an seja respectivamente máximo e mı́nimo.
Problema 21. Demonstre que, para todo inteiro positivo a, temos as seguintes
expansões em frações contı́nuas periódicas:
√
(a) a2 + 1 = [a, 2a].
√
(b) a2 − 1 = [a − 1, 1, 2a − 2].
√
(c) a2 − 2 = [a − 1, 1, a − 2, 1, 2a − 2].
√
(d) a2 − a = [a − 1, 2, 2a − 2].
√ √
Problema 22. Encontre as frações contı́nuas de a2 + 4 e a2 − 4.
Problema 23. Sejam a0 , a1 , . . . , an inteiros com ak > 0, ∀k ≥ 1,
e seja (pk /qk )k≥0 a sequência de reduzidas da fração contı́nua
[a0 ; a1 , a2 , . . . , an ].
(a) Prove que o conjunto dos números reais cuja representação por frações con-
tı́nuas começa com a0 , a1 , . . . , an é o intervalo
pn
I(a0 , a1 , . . . , an ) = ∪ {[a0 , a1 , . . . , an , α], α > 1}
q
hn
pn , pn +pn−1 se n é par
q q +q
= pn +pn n−1 p
i
n n−1
qn +qn−1 , qn se n é ı́mpar.
n
(b) Prove que a função G : (1, +∞) → I(a0 , a1 , . . . , an ) dada por G(α) =
[a0 ; a1 , a2 , . . . , an , α] é monótona, sendo crescente para n ı́mpar e decres-
cente para n par.
Problema 24. Seja α=[a0 ; a1 , a2 , . . . ]∈R. Prove que, se qn ≤q<qn+1 , mdc(p, q)=1
e p/q 6= pn /qn então |α − p/q| ≤ |α − pn /qn | se, e somente se, pq = pqn+1 −rpn
n+1 −rqn
,
onde r ∈ N é tal que 0 < r < an+1 /2 ou (r = an+1 /2 e αn+2 βn+1 ≥ 1).
Problema 25. Seja α=[a0 ; a1 , a2 , . . . ]∈R. Prove que, se qn ≤q<qn+1 , mdc(p, q)=1
p
e p/q 6= pn /qn então |α − p/q| < 1/q 2 se, e somente se, (an+1 ≥ 2, =
q
pn+1 − pn +pn−1
e an+1 − 2 + βn+1 < αn+2 ) ou ( pq = pqnn +q e (αn+1 − 2)βn+1 < 1).
qn+1 − qn n−1
Problema 26. Prove que, para quaisquer inteiros p, q com q > 0, temos
√ p 1
2− > 2 . Determine todos os pares de inteiros (p, q) com q > 0 tais que
q 3q
√ p 1
2− < 3.
q q
13
Problema 27. Prove que, para qualquer α ∈ R \ Q, e quaisquer s, t ∈ R com
s < t, existem inteiros m, n com n > 0 tais que s < nα + m < t.
Dicas e Soluções
Em breve.
Referências
[1] F. E. Brochero Martinez, C. G. Moreira, N. C. Saldanha, E. Tengan -
Teoria dos Números - um passeio com primos e outros números familiares
pelo mundo inteiro, Projeto Euclides, IMPA, 2010.