Direitos Fundiarios

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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DO ZANGO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


COORDENAÇÃO DO CURSO DE GESTÃO EMPRESARIAL

OS DIREITOS FUNDIARIOS EM ANGOLA E O SEU IMPACTO NA


VIDA DOS MUNÍCIPES

LUANDA
2024
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DO ZANGO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
COORDENAÇÃO DO CURSO DE GESTÃO EMPRESARIAL

OS DIREITOS FUNDIARIOS EM ANGOLA E O SEU IMPACTO NA


VIDA DOS MUNÍCIPES

Nº DO GRUPO: 4
ANO ACADÉMICO: 2º ano
SALA: 2
PERIODO: Noite
DISCIPLINA: Direito

Docente
_____________________________
Dr. António Olim

LUANDA

2024
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DO ZANGO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
COORDENAÇÃO DO CURSO DE GESTÃO EMPRESARIAL

INTEGRANTES DO GRUPO

ANTÓNIO CUCU
ARGENTINA DE CARVALHO
CELESTINO KISSUPA
JÉSSICA DE SOUSA

LUANDA

2024
AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus pela oportunidade e força de nos fazer acreditar e vencer


alguns obstáculos que encontramos a cada dia durante essa caminhada, e o nosso
muito obrigado por nos ter concedido força para que esse trabalho fosse elaborado.

Agradecemos ao nosso professor, Dr. António Olim por orientar este


trabalho, pelo contributo na base dos objectivos, na investigação e elaboração do
trabalho, pela paciência, dedicação e conhecimento, com a qual nos conduziu na
elaboração, e pelo sentido crítico na orientação.

As nossas famílias pelo apoio, motivação, e compreensão que sempre se


manifestaram para com a nossa formação.

A todos o nosso muito obrigado.


Índice
INTRODUÇÃO.............................................................................................................1
1. OS DIREITOS FUNDIARIOS EM ANGOLA E O SEU IMPACTO NA VIDA
DOS MUNÍCIPES.........................................................................................................2
2. DIREITOS FUNDIARIOS........................................................................................4
3. TIPOS E REGIME DOS DIREITOS FUNDIÁRIOS................................................5
3.1. Direito de Propriedade.....................................................................................5
3.2. Domínio Útil Consetudinário..........................................................................5
3.3. Domínio Útil Cívil..........................................................................................6
3.4. Direito de Superfície.......................................................................................7
3.5. Direito de Ocupação Precária..........................................................................7
4. COMPETÊNCIA DAS ADMINISTRAÇÕES MUNICIPAIS EM MATÉRIA DE
CONCESSÃO DE DIREITO DE SUPERFÍCIE...........................................................8
4.1. Limite para a concessão de direito de superfície pelas Administrações Municipais
........................................................................................................................................8
5. CLASSIFICAÇÃO DOS TERRENOS....................................................................10
5.1. TERRENOS CONCENDÍVEIS......................................................................10
5.1.1. Terros Urbanos...............................................................................................12
5.1.2. Terrenos Rurais..............................................................................................12
5.2. TERRENOS NÃO CONCEDÍVEIS...............................................................12
5.2.1. Terreno do domínio público do estado...........................................................13
5.2.2. Terras rurais comunitárias..............................................................................13
5.2.3. Terrenos de propriedade privada....................................................................13
5.2.4. Terrenos reservados........................................................................................13
CONCLUSÃO.............................................................................................................15
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................16
INTRODUÇÃO

Direitos fundiários são direitos que recaem sobre os terrenos integrados no


domínio privado do Estado e de que sejam titulares quer as pessoas singulares, quer as
pessoas colectivas. Terreno é a parte delimitada do solo, incluindo o subsolo e as
construções nele existentes que não tenham autonomia económica, a que corresponde
ou possa corresponder a um artigo na matriz predial respectiva e número no registo
predial.

A nossa Constituição atribui ao Estado a propriedade originária sobre a terra,


facultando-lhe o poder de a transmitir a pessoas singulares e colectivas que
demonstrem capacidade de a usar de modo racional, artigo 15.º, nº1, da Constituição
da República de Angola.

Angola tem legislação específica sobre terras e direitos sobre as terras. Embora
a actual legislação careça de aperfeiçoamento para torná-la mais condizente com a
realidade presente e a previsível do país, é um avanço considerável,
comparativamente há duas décadas. Mas ainda assim, está longe de satisfazer por se
considerar desfasada da realidade. O Estado, proprietário originário da terra, o
primeiro gestor e autoridade que concede direitos sobre ela, não a conhece
devidamente, não tem capacidade de resposta à demanda dos solicitantes de direitos e,
quando responde, raramente fá-lo cumprindo adequadamente a lei.

Alguns cidadãos tomam indevidamente os direitos de outros. Muitos cidadãos


sentem-se marginalizados pelo Estado e vêem usurpados os seus direitos ou os
terrenos que pretendiam por outros cidadãos mais fortes política e financeiramente.
Muitos cidadãos queixam-se da quase impossibilidade de obtenção de direitos
fundiários.

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1. OS DIREITOS FUNDIARIOS EM ANGOLA E O SEU IMPACTO NA
VIDA DOS MUNÍCIPES

A terra, como recurso natural é o meio por excelência, e universalmente


entendido e aceite, da criação da riqueza e do bem-estar social. É também o meio
natural da vida humana e de outras espécies. Ricos ou pobres, soberanos ou súbditos,
generais ou soldados, brancos ou negros, enfim, todos precisam de um pedaço de
terra, quanto mais não seja para serem enterrados quando deste mundo partirem para a
eternidade.

Geraldo da Cruz Almeida (In Código da Terra, Livraria Saber, Lda, Edição
2002), acha mesmo que a terra deve ser encarada como um bem público e, como tal,
pertença de todos, em geral, mas não peertença de ninguém em particular. Neste
sentido, diz ele, somos todos enfiteutas da terra. Dela só temos o domínio útil; o
domínio directo pertence a todas as gerações presentes e futuras.

Mas, enquanto recurso de múltiplas aplicações face às suas variadas aptidões,


a terra também sofre os efeitos da degradação em consequência do uso irracional
pelos homens ou por causas naturais. Ora, os recursos são sempre insuficientes para
responder as necessidades sempre crescentes. A teoria económica inserta na lei da
escassez aplica-se igualmente a este recurso que se chama terra.

Face à escassez de qualquer recurso, os homens, por via das superiores formas
de organização social nas quais se incluem os Estados, sempre buscaram as melhores
e mais adequadas soluções, mormente por via da regulação jurídica de acesso e uso
aos recursos naturais, em busca da sua optimização.

Por seu turno, o crescimento acelerado das cidades induziu a busca de


soluções integradas, globais e coordenadas para os problemas que se colocavam à
gestão das urbes. É, na verdade, um fenómeno que se verificou em todo o mundo e
Angola não é excepção. A urbanologia aponta várias causas do fenómeno partindo da
procura de melhores condições de vida que as vilas e aldeias não propiciavam, até a
busca de refúgio (segurança), face às guerras que preferencialmente devastam o

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campo, por este oferecer melhores condições para as guerrilhas e outros movimentos,
mesmo terroristas.

Mas as tensões vividas nas urbes levaram a que se pensasse também no


hinterland criando soluções semelhantes, no sentido, não só de evitar as migrações
para as cidades, como também de articular o desenvolvimento rural com o respectivo
ordenamento.

O ordenamento territorial, entendido como política, mas também como ciência


e função técnica administrativa e tem o território como protagonista da planificação
racionalizadora das várias políticas públicas, com efectivação macro-finalística da
coordenação dos factores físicos com os económicos e sociais, é constituído de certos
princípios e regras universais aplicáveis a qualquer realidade física, ambiental,
histórica ou cultural, cuja acção é transversal a toda a existência humana. Trata-se dos
princípios fins que não mudam com a alteração do espaço geofísico ou geopolítico.

Em Angola o fenómeno da deslocação de massas populacionais para os


centros urbanos não é novidade. Embora se tenha acentuado no período pós-
independência em virtude da guerra, já na fase pré independência tais movimentos de
massas se verificaram, com particular realce para as cidades de Luanda, Benguela,
Huambo, Lobito e Lubango.

Para fazer face a tal situação, o poder colonizador não ficou indiferente. É
claro que mesmo em Portugal ainda se desconheciam referências do planeamento
territorial. Todavia, em 21 de Novembro de 1970, o Governo Português aprovou o
Decreto-Lei nº 576/70 que se tornou extensivo às Províncias Ultramarinas (colónias)
através da Portaria nº 421/72 de 1 de Agosto.

O processo do ordenamemento territorial em Angola no que a intervenção dos


Municípios diz respeito, precisa urgentemente de uma revisão no plano legislativo,
devendo uniformizar-se o conteúdo das seguintes normas, compatibilizando-as com o
artigo 219º da Constituição e com o artigo 67º da LOTU: i) O nº 2 do artigo 45º da
Lei nº 17/10 de 29 de Julho sobre a orgânica e funcionamento da Administração Local

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do Estado (elaboração de projecto de Planos municipais), ii) o nº 1 do artigo 57º e
o artigo 59º ambos da Lei nº 3/04 de 25 de Junho, Lei do Ordenamento do Território e
do Urbanismo ( Elaboração de planos municipais pelos Municípios e aprovação do
Governador Provincial e ractificação pelo Governo Central), iii) o nº 2 do artigo 88º
do REPTUR (os planos municipais são elaborados ... pelos órgãos técnicos
municipais que prestarão os serviços relativos a caracterização dos elementos
relativos ao município e perspectivas evolutivas da ocupação dos solos municipais,
sob coordenação do órgão técnico provincial) e iv) o artigo 19º do Decreto
Presidencial nº 6/10 de 17 de Agosto (... compete a Administração Municipal... a
elaboração e aprovação dos planos municipais de ordenamento do território...).
Como se vê a interpretação conjugada destes diplomas no que a elaboração e
aprovação dos planos territoriais municipais diz respeito, cria dificuldades na sua
aplicação.

2. DIREITOS FUNDIARIOS

São os direitos que recaem sobre os terrenos integrados no domínio privado do


Estado e de que sejam titulares quer as pessoas singulares, quer as pessoas colectivas
de direito público e de direito privado.

José Guerra define os direitos fundiários como “todos que incidem sobre os
terrenos, sem contudo se referir se o proprietário do mesmo é uma pessoa colectiva ou
um particular”.

O artigo 34.º da Lei nº 9/04 da LT enumera (taxativamente) os tipos e regime


dos direitos fundiários que o Estado pode transmitir em benefício das pessoas
singulares ou colectivas, quais sejam:

a) direito de propriedade;
b) domínio útil consuetudinário;
c) domínio útil civil;
d) direito de superfície;
e) direito de ocupação precária.

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Se seguirmos o conceito amplo, também, serão direitos fundiários o direito de
propriedade privada, o direito de superfície e o direito do domínio útil civil, todos
estes regulados no código civil quando incidem sobre terrenos que não sejam
propriedade originária do Estado.

3. TIPOS E REGIME DOS DIREITOS FUNDIÁRIOS

3.1. Direito de Propriedade

Por definição do Código Civil a propriedade dos imóveis abrange o espaço


aéreo correspondente à superfície, bem como o subsolo, com tudo o que neles se
contém e não esteja desintegrado do domínio por lei ou negócio jurídico (Artigo
1344º). Além disso, O proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de
uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem (Artigo 1305º, CC). Qualquer
pessoa pode ser dono de um terreno do domínio privado do Estado para este trabalhar
sobre ela, isto é: cultivar, construir casas, criar animais e vender os produtos que nela
retirar para o bem da sua família (Artigo 35º da Lei nº 9/04). Cabe destacar:

I. Este direito não se pode aplicar nos terrenos das comunidades rurais mas
sim nos terrenos urbanos onde existe plano urbanístico

II. Só cidadãos angolanos têm o direito de propriedade

3.2. Domínio Útil Consetudinário

A consagração de um domínio útil consuetudinário é, nos dizeres do Prof.


CARLOS FEIJÓ, “uma sequência do princípio do respeito pelos direitos fundiários
das comunidades rurais. Nessas comunidades, o direito que exercem as famílias
sobre as terras que usam e fruem, não é um verdadeiro direito de propriedade, mas
de um domínio útil que integra vários poderes de posse ou ocupação, de uso e
fruição, de recolecção de frutos naturais, de disposição e alteração da terra, enfim,
de aproveitamento tão forte quanto tem a aparência e se comporta como se de
propriedade se tratasse”.

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O objecto do domínio útil consuetudinário são os terrenos rurais comunitários
ocupados pelas comunidades rurais (Artigo 37.º, nº1 da Lei nº 9/04).

O Estado reconhece os direitos sobre a terra de todas as famílias ou


comunidades rurais que ocupam essas terras há vários anos. Este direito protege os
hábitos e costumes das comunidades de aproveitamento da terra. (Artigo 37º da Lei nº
9/04).

Os terrenos rurais comunitários são terrenos utilizados por uma comunidade


rural segundo o costume relativo ao uso da terra, abrangendo, conforme o caso, as
áreas complementares para a agricultura itinerante, os corredores para o acesso do
gado às fontes de água e as pastagens e os atravessadouros, sujeitos ou não ao regime
de servidão, utilizados para aceder à água ou às estradas ou caminhos de acesso aos
aglomerados urbanos (Artigo 23.º, nº1 da Lei nº 9/04).

Por conseguinte, o único facto constitutivo do domínio útil consuetudinário é o


costume.

3.3. Domínio Útil Cívil

O domínio útil civil é integrado pelo conjunto de poderes que o Código Civil
reconhece ao enfiteuta. O emprazamento, aforamento ou enfiteuse consiste no
desmembramento do direito de propriedade em dois domínios, denominados directo e
útil. O titular do domínio directo é designado por senhorio; o do domínio útil: foreiro
ou enfiteuta. O prédio sujeito a enfiteuse diz-se prazo e pode ser rústico ou urbano.

Pode-se constatar que o direito de enfiteuse envolve os poderes de usar e fruir


o prédio como coisa sua, constituir ou extinguir servidões ou o direito de superfície,
alienar ou onerar o seu domínio por acto entre vivos ou por morte, preferir na venda
ou na dação em cumprimento do domínio directo, obter a redução do foro ou
encampar o prédio, remir o foro.

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O Estado aceita os direitos sobre terra do domínio privado do Estado a
qualquer pessoa quer na zona rural quer na zona urbana. (Artigo 38º da Lei nº 9/04).

A Lei de Terras prevê no nº 4 do Artigo 38.º como único facto constitutivo do


domínio útil civil o contrato de concessão, também designado por contrato de
aforamento, entre o Estado ou as autarquias locais e o concessionário.

3.4. Direito de Superfície

Segundo o Código Civil, o direito de superfície “consiste na faculdade de


construir ou manter, perpétua ou temporariamente, uma obra em terreno alheio, ou
de nele fazer ou manter plantações”, ou como escreve Oliveira Ascensão, direito de
superfície “é o direito real de ter coisa própria incorporada em terreno alheio”.

É o direito sobre terrenos urbanos e rurais do domínio privado do Estado de


aproveitar apenas a superfície da terra com plantações ou habitações durante um
determinado período de tempo. É no caso de terrenos em que se encontram riquezas
naturais por baixo da terra. Esta pessoa não pode vender nem dar a outra pessoa
porque é do Estado. (Artigo 39º da Lei nº 9/04).

3.5. Direito de Ocupação Precária

É o direito de ocupar um terreno urbano ou rural integrado no domínio privado


do Estado por um tempo máximo de um ano para instalações não definitivas. Assim
sendo, o ocupante tem o dever retirar tudo que colocou e deixar o terreno livre e
limpo no final do prazo de ocupação ou quando o Estado precisar por interesse
público. (Artigo 40º da Lei nº 9/04).

Merece destaque dizer que a Lei de Terras reconhece os direitos das


comunidades rurais sobre as terras que ocupam, maioritariamente herdadas dos seus
antepassados, e defende o respeito pelos costumes das famílias e os seus modos de
vida na gestão destas terras. Assim sendo, todos devem respeitar as comunidades
rurais como tendo direitos próprios sobre as suas terras. Estas terras não podem ser

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dadas a ninguém, ao menos que por vontade própria as comunidades que as ocupavam
venham a abandoná-las.

4. COMPETÊNCIA DAS ADMINISTRAÇÕES MUNICIPAIS EM


MATÉRIA DE CONCESSÃO DE DIREITO DE SUPERFÍCIE

A Lei nº 17/10, de 29 de Julho – Da Organização e Funcionamento dos Órgãos


da Administração Local do Estado, postulava no seu artigo 45.º nº 1, al. g) que as
Administrações Municipais tinham competência para autorizar a concessão de
terrenos com a dimensão de até mil metros quadrados. Porém, com a entrada em vigor
da Lei 15/16, de 12 de Setembro – Lei da Administração Local, que revogou
expressamente o diploma atrás referido, as Administrações Municipais continuaram a
ter no seu rol de atribuições, a faculdade de autorizar a concessão de direito de
superfície, não obstante o actual texto do artigo 55.º, nº 3, al. g), do Decreto
Presidencial nº 202/19 – Regulamento da Lei da Administração Local do Estado, não
mencionar de forma expressa qual é o limite (em termos de dimensão da área do
terreno), para a concessão de direitos fundiários a nível municipal, remetendo a
resposta desta questão a LT e ao RGCT.

4.1. Limite para a concessão de direito de superfície pelas Administrações Municipais

Do ponto de vista legal, dúvidas não restam de que as Administrações


Municipais a nível de todo o território nacional, têm a faculdade de conceder direito
de superfície por via do contrato especial de concessão. Mas qual é o limite para estas
concessões?

A resposta a esta pergunta impelenos a realização de um exercício


hermenêutico sobre as mais diversas disposições legislativas que abordam esta
matéria, desde logo o artigo 43.º da LT, que define os limites das áreas urbanas,
suburbanas e rurais objecto de contrato de concessão de direito de superfície. Nas
áreas urbanas o limite é de dois hectares, nas áreas suburbanas o limite é de cinco
hectares e nas áreas rurais os terrenos objectos destes contratos não podem ser
inferiores a dois hectares nem superiores a dez mil hectares.

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O Conselho de Ministros pode, porém, autorizar a transmissão ou a
constituição de direitos fundiários sobre terrenos de áreas superiores ao limite
máximo indicado no número anterior.

O artigo 68.º da LT, dispõem sobre a competência dos Governos Províncias


em matéria de concessão de direitos de superfície sobre os terrenos integrados na sua
circunscrição territorial, referindo igualmente que as competências dos
administradores municipais e comunais neste domínio, são previstas em regulamento
próprio.

Entendemos que o já mencionado Regulamento da Lei da Administração


Local do Estado, seria o instrumento próprio para definir os limites das áreas a serem
concedidas pelas Administrações Municipais em matéria de direito de superfície, pelo
que, não tendo clarificado a questão, gerou um vazio que na prática tem dificultado a
materialização desta faculdade, criando um campo fértil para o surgimento de
conflitos positivos de competência entre os Governos Províncias e as Administrações
Municipais. Administrações Municipais têm adoptado como solução, conceder
direitos de superfície sobre os terrenos integrados na sua circunscrição, mas estes
terrenos simultaneamente encontram-se integrados na circunscrição territorial dos
respectivos Governos Províncias.

5. CLASSIFICAÇÃO DOS TERRENOS

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Os terrenos de que o Estado e proprietário classificam-se em concedíveis e
ocupáveis e não-concedíveis (Artigo 19º da Lei nº 9/04 - Lei de Terras).

Figura 1: Classificação dos terrenos

5.1. TERRENOS CONCENDÍVEIS

São terrenos do domínio privado do Estado que podem ser transmitidos os


seus direitos de propriedade ou constituídos sobre estes os direitos fundiários
previstos na lei para o seu uso e aproveitamento, respeitando a sua protecção, as
questões de natureza ambiental e a sua exploração sustentável. Pode ser qualquer
terreno que ainda não tem outro dono. Uma vez entregue às pessoas, o Estado tem a
obrigação de defender para que estas pessoas possam gozar desse terreno (Artigo 20º
da Lei nº 9/04 - Lei de Terras).

O Estado e as autarquias locais podem conceder direitos fundiários sobre


terrenos concedíveis integrados no seu domínio privado a pessoas particulares,
famílias e entidades desde que demonstrem capacidade do seu aproveitamento útil e
efectivo.

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De acordo com o Artigo 42.º da Lei de Terras podem adquirir direitos
fundiários sobre terrenos concedíveis integrados no domínio privado do Estado ou das
autarquias locais:

 Qualquer cidadão angolano adulto, seja mulher ou homem, ex-


combatente, pessoa deficiente físico, pessoa repatriada ou deslocada,
órfãos etc.;
 Administrações Municipais, as autarquias locais, as universidades e
institutos públicos;
 Associações, fundações e ordens profissionais;
 Empresas públicas (por exemplo Sonangol, Endiama etc.) e as
sociedades comerciais com
escritório central e representação em Angola;
 Pessoas estrangeiras singulares ou colectivas que tenham sede no
estrangeiro mas
representadas em Angola;
 Igrejas, Agências das Nações Unidas, organizações internacionais
permitidas por lei; e
 Comunidades rurais reconhecidas como tal, com ou sem título de
reconhecimento.

Reforçando o direito da mulher à terra, está fixado na Lei Constitucional a


igualdade da mulher e do homem em todos os domínios da vida pública, económica,
social e cultural. Assim sendo, a mulher tem o mesmo direito como o homem de
receber terreno (Alínea “k”, Artigo 27º e nº 3, Artigo 35º da Constituição da
República de Angola).

Isto é de alta relevância para a mulher em questões de posse e acesso a terra.


Significa mais concretamente que as pessoas do sexo feminino sejam elas solteiras,
mães solteiras, casadas (em comunhão ou separação de bens) podem solicitar e ser-
lhes concedido terreno em próprio.

Os terrenos concedíveis são divididos em terrenos urbanos e rurais:

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5.1.1. Terros Urbanos

Subdivididos em terrenos urbanizados, de construção e urbanizáveis, são os


situados dentro dos forais ou das áreas delimitadas dos aglomerados urbanos e
destinam-se aos fins de ocupação e edificação urbana. O limite máximo das áreas de
terrenos urbanos a serem concedidas é de 2 hectares nas áreas urbanas e 5 hectares
nas áreas suburbanas.

Fazem parte da zona urbana os terrenos periféricos situados em redor das


zonas urbanas sem redes de serviços públicos colectivos mas informalmente ocupados
fora do plano de urbanização.

A ocupação informal já existente é uma realidade há muito tempo que obriga


uma menção oficial no sentido de possibilitar os ocupantes irem consolidando os
direitos sobre os seus terrenos de uma forma gradual e intermédia.

5.1.2. Terrenos Rurais

Subdivididos em terrenos comunitários, agrários, florestais, de instalação e de


viários) são os situados fora dos aglomerados urbanos e destinam-se a fins de
exploração agrícola, pecuária, silvícola e mineira. No caso de terrenos rurais, o Estado
pode conceder parcelas de 2 hectares mínimo e máximo de 10.000 hectares.

5.2. TERRENOS NÃO CONCEDÍVEIS

São não-concedíveis os terrenos do domínio público do Estado, terrenos rurais


comunitários e terrenos de propriedade privada.

5.2.1. Terreno do domínio público do estado

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São terrenos que o Estado não pode transmitir a um particular para fazer uso
próprio, porque são de interesse público para a construção de estradas, aeroportos,
caminho-de-ferro, pontes, escolas, hospitais etc.

Também fazem parte do domínio público os solos e subsolos daqueles terrenos


que tem recursos naturais como diamantes, petróleo, ouro e outros recursos minerais.
Neste caso o Estado é responsável pela exploração de tais recursos em benefício de
todos os cidadãos angolanos.

5.2.2. Terras rurais comunitárias

Terrenos rurais comunitários são os terrenos ocupados por famílias das


comunidades rurais locais para sua habitação, sua actividade agrícola ou por outros
fins segundo o uso e costume abrangendo as áreas de agricultura, zonas para pastagem
e acesso do gado às fontes de água, às estradas ou caminhos de acesso aos centros
urbanos.

5.2.3. Terrenos de propriedade privada

São considerados terrenos de propriedade privada sobre os quais tenha


constituído definitivamente um direito de propriedade por outrem a não serem pessoas
colectivas de direito público. São por exemplo terrenos da Igreja Católica já na posse
desde do tempo colonial, instalações de empresas privadas etc.

5.2.4. Terrenos reservados

Para a realização de interesses colectivos o Estado pode determinar a qualquer


momento que alguns terrenos não podem ser ocupados nem concedidos para fins
particulares, na sua totalidade ou em parte. Isto é uma RESERVA.

Na constituição de reserva podem ser afectados terrenos de domínio privado


ou do domínio público do Estado ou das autarquias locais, ou ainda, terrenos que já
tenham sido vendidos a particulares, desde que haja justa indemnização. As reservas
são subdivididas em terrenos totalmente e parcialmente reservados.

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Terrenos Totalmente Reservados: Nesta classe estão incluídos os terrenos do
domínio público do Estado que são reservados para fins de interesse público, tendo
em conta:

 protecção do meio ambiente;


 defesa da segurança nacional;
 preservação de monumentos ou de locais históricos;
 melhoria do povoamento ou do repovoamento; e

Nos terrenos totalmente reservados não é permitida qualquer forma de


ocupação ou uso particular. Terrenos Parcialmente Reservados: são terrenos que, em
regra, só são permitidas as formas de ocupação que são de natureza temporária e não
definitiva desde que estas não choquem com os objectivos definidos para estas
reservas. São maioritariamente as faixas definidas e enumeradas na Lei de Terras, tais
como:

 faixas de terrenos até 30 m depois das margens das estradas principais;


 faixas de terrenos até 2 km ao longo das fronteiras terrestres;
 faixas de terrenos até 100m depois das zonas militares e outras zonas de
defesa e segurança; e
 os terrenos ocupados por aeroportos e aeródromos com uma faixa
fronteira de 100m.

CONCLUSÃO

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Pelo debitado nos parágrafos supra, apraz-nos concluir nos seguintes termos:

A boa governação não se basta com a criação de leis. Os obstáculos criados às


administrações municipais na província de Luanda em particular, e, em geral, às
demais províncias do país onde se verifica o mesmo cenário, no âmbito do processo
de concessão de direitos de superfície, são uma amostra clara de que é preciso apostar
na fiscalização sucessiva dos actos do poder público, pois esta prática representa uma
clara violação da lei, protagonizada pelos próprios órgãos do Estado. Em muitos casos
esta violação da lei tem lugar por conta da sobreposição do ego em detrimento da
observância do princípio da legalidade e por interesses e razões muitas vezes de difícil
compreensão.

Por formas a evitar o surgimento de conflitos positivos de competência na


matéria em abordagem, sugerimos que o legislador fixe em termos precisos as áreas
cuja concessão é da alçada dos Governos Províncias e das Administrações
Municipais. Não basta dizer que tanto um como outro têm competência para conceder
direito de superfície, sendo necessário aclarar os limites de um e outro órgão no
exercício desta competência, sobretudo pelo facto das administrações encontrarem-se
sediadas dentro da circunscrição territorial dos Governos Províncias.

No caso de Luanda, quer o Governo Provincial quer o IPGUL devem cessar de


obstaculizar a materialização duma faculdade que é atribuída por lei às
Administrações Municipais, fornecendo as condições necessárias para que estas
passem a assegurar aos particulares a emissão, dentro dos limites legais, do direito de
superfície.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

15
1. CHALHUB, Melhim Namem, Curso de Direito Civil – Direitos Reais, Saraiva
Editora, ano de 2003.

2. DO AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, Vol. I, 4ª Edição


Almedina Editora, Novembro de 2015.

3. FEIJÓ, Maria Carlos e PACA, Cremildo, Direito Administrativo, Mayamba


Editora, ano de 2013.

4. FEIJÓ, Maria Carlos, Apresentação sobre a ocupação de Terrenos, debate


organizado pela DW Urban, Publicado em 4 de Março de 2015, disponível em
http://dw.angonet.org/forumitem/seminarionacional-sobre-ocupacao-de-terrenos
parte2.

5. MOREIRA, Álvaro e FRAGA, Carlos, Direitos Reais, Reimpressão da edição de


1971, Almedina Editora.

6. JUSTO, A. Justos, Direitos Reais 4º Edição, Coimbra Editora, Julho de 2012.

16

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