Artigo - Recuperação Judicial Do Pequeno Produtor Rural - Marcos Antônio Do Carmo

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RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO PEQUENO PRODUTOR RURAL1

JUDICIAL REORGANIZATION OF THE SMALL RURAL PRODUCER

OLIVEIRA,Hiago Sodré2
JUNIOR, Marcos Antonio Do Carmo3

RESUMO

O presente trabalho tem por objeto de estudo o instituto da recuperação judicial para
o produtor rural familiar, pessoa física, que tem o desígnio de viabilizar a superação
da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos
credores, promovendo, deste modo, a preservação da empresa, tem despertado
cada vez mais a atenção dos empresários, em especial o produtor rural. Todavia, há,
atualmente, uma controvérsia na doutrina e na jurisprudência com relação as
formalidades legais relativas ao produtor rural pessoa física, em especial, no que
tange, se esse deve ou não estar registrado no órgão de empresas mercantis no
tempo da impetração do requerimento da recuperação judicial, e consequentemente
de qual forma se dará a comprovação da atividade regular obrigatória há mais de
dois anos, conforme a exigência estabelecida no caput do artigo 48 da Lei no 11.101
de 2005 e se o mesmo, realmente tem a possibilidade ser alcançado por esta lei.

Palavras-chave: Produtor rural; Recuperação judicial; Direitos fundamentais;


Agronegócio.

ABSTRACT

The present work has as object of study the institute of judicial recovery for the rural
family producer, individual, which has the purpose of enabling the overcoming of the
debtor's situation of economic and financial crisis, in order to allow the maintenance
of the production source, the employment of workers and the interests of creditors,
thus promoting the preservation of the company, has increasingly attracted the
attention of businessmen, especially rural producers. However, there is currently a
controversy in the doctrine and jurisprudence regarding the legal formalities related
to the individual rural producer, in particular, with regard to whether or not he should
be registered with the mercantile companies body at the time of filing the application
of the judicial reorganization, and consequently in what way will the proof of the
mandatory regular activity for more than two years be given, according to the
requirement established in the caption of article 48 of Law 11.101 of 2005 and if it
really has the possibility of being achieved by this law.

1
Trabalho de Conclusão de Curso orientado pelo(a) professor(a) Marcos Antonio do Carmo, como
requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito no primeiro semestre de 2023, na
Faculdade de Inhumas FacMais.
2
Acadêmico(a) do Hiago Sodré Oliveira Período do Curso de Direito da FacMais.
E-mail:[email protected].
3
Professor(a)-Orientador(a). Mestre em Direito. Docente da Faculdade de Inhumas. E-
mail: [email protected]
Key Words: Rural producer; Judicial recovery; Fundamental rights; Agribusiness.

1 INTRODUÇÃO

Quando se fala em direito empresarial rural, geralmente há um dilema, pois


no âmbito jurídico, a recuperação judicial voltado para o produtor rural pode propiciar
que este instituto seja um instrumento de acesso à justiça, visto que o agronegócio é
o que move o Brasil, por isso se faz necessário que em momentos de crise o
empresário rural possa recorrer à justiça assim como o empresário não rural,
mantendo sua atividade empresarial e garantindo a estabilidade da economia do
país.
As propriedades rurais brasileiras de pequeno e médio porte são formadas
em grande maioria por agricultores que são trabalhadores rurais. De um modo geral
estes produzem vários tipos de culturas que utilizam mais a mão de obra familiar do
que a tecnologia (BATALHA; SILVA, 2007).
Muitas dessas propriedades são desprovidas de aplicação de técnicas,
tecnologias e conhecimentos, e em razão disso, a produção agropecuária agrícola é
baixa. Tal configuração rural passa por esse tipo de realidade porque ainda existe
um baixo incentivo por parte do governo tais como linha de crédito e facilidades para
pagar, além de auxílio técnico e subsídios (CARVALHO, 2014).
Este artigo objetiva investigar os requisitos exigidos ao produtor rural para
que possa ajuizar pedido de Recuperação Judicial.
A abordagem metodológica que norteará esta pesquisa será a bibliográfica a
qual oferece ao pesquisador um amplo conjunto de fontes impressas ou digitais.
Nesse sentido, serão consultados: periódicos especializados, dicionários, teses,
dissertações, enciclopédias, anais de encontros científicos, documentos eletrônicos
e outros trabalhos já publicados referente ao assunto de pesquisa, além de materiais
disponibilizados pela FacMais para o curso de Direito.
Essa pesquisa parte da seguinte situação problema, o Código Civil, garante
em seu art. 970, tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário
rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes.
Nesses termos, pode o produtor rural ser dispensado de inscrição na Junta
Comercial para que possa requerer a recuperação judicial?
Para responder tal indagação, este trabalho está dividido em 4 partes, na
primeira foi apresentado o conceito de produtor rural. Em seguida a recuperação
judicial do produtor rural e o acesso à justiça, e por fim a Lei 11.101/2005.

2 DO PRODUTOR RURAL

O produtor rural é conceituado como a pessoa que sendo proprietário ou


não, desenvolve atividade agropecuária em área urbana ou rural. Em caráter
temporário ou permanente de maneira direta ou por meio de prepostos. A
importância do mesmo se dá em razão de prestar serviços em uma gama de
atividades que envolvem: agricultura, hortifruti, granja, pesca, silvicultura, extração
de produtos vegetais ou animais sendo essas áreas as responsáveis por abastecer
o país de alimentos (CONTINI, et. al., 2006).
O agronegócio envolve a cadeia produtiva desde o momento em que o
insumo é fabricado, seguindo pela produção nos estabelecimentos agropecuários e
pela modificação, até o produto final que irá para o consumo. Ao se formar então
numa cadeia produtiva, o agronegócio envolve serviços que envolvem: pesquisa e
assistência técnica, processamento, transporte, comercialização, crédito,
exportação, serviços portuários, distribuidores (dealers), bolsas, e o consumidor
final. O valor associado ao conjunto agroindustrial obrigatoriamente passa pelos
seguintes tipos de mercados: suprimentos, produção propriamente, processamento,
distribuição e finalmente o consumidor (CONTINI, et. al., 2006).
O termo agronegócio surgiu com o nome de agribusiness a partir dos
estudos de John Davis e Ray Goldberg, ambos norte-americanos. No ano de 1957
eles apresentaram o termo de maneira sistemática e integrada e não isoladamente
tendo sido essa a maneira como a agricultura e a pecuária eram vistos. No Brasil, o
agronegócio tem apresentado ao longo dos anos sua vocação agrícola e em razão
disso passou a sofrer influência da abertura econômica que se apresentou no país
na década de 1980 (BATALHA; SILVA, 2007).
Heredia, Palmeira e Leite (2010) relatam que o agronegócio recebeu maior
impulso no final do século XX quando se deu a expansão da fronteira agrícola no
Brasil, sobretudo depois da Revolução Industrial que trouxe o desenvolvimento de
técnicas mais modernas e avançadas. Depois disso, o nível de produtividade do país
aumentou muito e alguns produtos como açúcar, soja e café adentraram o mercado
internacional ampliando-se a capacidade de exportação, assim como se
desenvolveu a pecuária. Ao adentrar o século XXI houve o crescimento da produção
de biocombustíveis derivados de bens agrícolas, inclusive a própria cana-de-açúcar.
Dados do PIB e do saldo da balança comercial de 2018 revelam que o
agronegócio é reconhecido como uma das principais atividades econômicas do
Brasil e pela sua relevância tem contribuído para o crescimento da economia do país
em nível mundial fazendo com que o Brasil tenha se tornado um dos maiores
produtores e exportadores do mundo, principalmente em relação à produção
exportação de alimentos (LIMA et. al., 2016).
Tal reconhecimento impulsiona o setor a buscar formas de superar a cada
dia os obstáculos existentes e assim contribuir para o desenvolvimento econômico,
social e sustentável do país. Entre esses obstáculos está a incipiência dos serviços
públicos relacionados à infraestrutura que faz com que ocorra a redução da
eficiência operacional e aumento de custos. Outra dificuldade é com o modal
rodoviário matriz dos transportes agrícolas (BATALHA; SILVA, 2007).
Martins et. al. (2005) reforça que o Brasil está diante de um problema
relacionado à logística que é considerado o limite para a expansão do agronegócio,
o qual chega a superar a disponibilidade de terras apropriadas para esse tipo de
produção.
Apesar de todos esses problemas, o setor agropecuário brasileiro é um dos
que mais se desenvolveu nos últimos anos. Tal avanço se deu em razão dos
mecanismos tecnológicos de última geração utilizados na produção de matéria prima
de alimentos que respeitam as diretrizes de produção. Tais processos viabilizam
meios para que do ponto de vista mecânico e químico as condições produtivas
ficassem mais viáveis e ao mesmo tempo auxiliou em respostas positivas aos
estímulos do mercado mundial de maneira competitiva (NASCIMENTO;
FIGUEIREDO; MIRANDA, 2018).
Texto publicado pelo Ministério da Agricultura (2006) demonstra que o
agronegócio é moderno, eficiente e competitivo, sendo, portanto, próspero. Muitos
são os fatores que contribuem para essa boa visibilidade do agronegócio tais como:
clima diversificado, chuvas regulares, energia solar abundante e quase 13% de toda
a água doce disponível no planeta. O país contava com 388 milhões de hectares de
terras apropriadas para a agricultura sendo que deste total 90 milhões ainda não
tinham sido explorados. Essas qualidades fazem com que o Brasil seja um lugar de
vocação natural para a cultura de produtos pertencentes ao agronegócio e de sua
cadeia produtiva.
Nesse sentido, essa atividade é hoje a mais importante da economia
brasileira e em cifras representa um em cada três reais gerados. Além de ser
responsável por 33% do PIB, 72% das exportações, assim como da geração de
empregos com um percentual de 37% (FIGUEIREDO; SANTOS; LIMA, 2012).
Assim, o agronegócio é compreendido como algo que está para além do
crescimento agrícola e aumento de produtividade, uma vez que sua expansão
supera discussões sociais que estão compreendidas em seu contexto. Isso porque
muitos estudos e até o próprio mercado ainda não conseguiram vislumbrar o campo
como espaço dotado de competências e que está cada vez mais industrializado, o
que também tem superado a ideia de atraso, obstáculo e de experiências obsoletas.
Tal realidade implica em acirrar os debates para situar o agronegócio como chave
mestra das mudanças agrárias que estão em curso (HEREDIA; PALMEIRA; LEITE,
2010).
As riquezas oriundas do agronegócio impulsionam a economia de um modo
geral e viabilizam condições para que melhorias contínuas para garantir a qualidade
de vida sejam garantidas, particularmente nas pequenas e médias cidades do país
sendo que grande parte dos pequenos municípios têm como alicerce de sua
economia o agronegócio. Embora este setor seja revestido de importância, nem
todos os produtores conseguiram recuperar seu negócio em meio a recuperação
depois de um período de crise econômica nos últimos dois anos.
O Art. 971 do Código Civil assim considera o produtor rural: “empresário,
cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as
formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no
Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois
de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro”
(SENA, 2020, p. 12) e como tal tem por direito ajuizar Recuperação Judicial.
Pigatto et al. (2017) cita o art. 48, § 1º, da Lei n. 11.101/05, o qual prevê,
como regra, que a recuperação judicial somente poderá ser requerida pelo devedor
empresário ou à sociedade empresária (art. 1º), assim como pelo cônjuge
sobrevivente, pelos herdeiros do devedor, pelo inventariante ou pelo sócio
remanescente. Do mesmo modo o art. 122, parágrafo único, da Lei n. 6.404, de 15
de dezembro de 1976, que versa sobre as sociedades por ações, prevê que em
caso de urgência, a confissão de falência ou o pedido de concordata poderá ser
formulado pelos administradores, com a concordância do acionista controlador, se
houver, convocando-se imediatamente a assembleia-geral para manifestar-se sobre
a matéria.

2.1 Produtor rural pessoa física

Pessoa física é todo ser humano enquanto indivíduo, desde o seu nascimento
até a morte. Essa designação é um conceito jurídico e se refere especificamente ao
indivíduo enquanto sujeito detentor de direitos e de deveres.
No caso do produtor rural, pessoa física, residente no imóvel rural ou em
aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de
economia familiar, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou
meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário que explora atividade agropecuária,
em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; ou quando em área igual ou inferior a 4
(quatro) módulos fiscais ou atividade seringueira ou pesqueira artesanal, sem auxílio
de empregados permanentes.
Poderá utilizar-se de empregados contratados por prazo, em épocas de safra,
à razão de no máximo 120 (cento e vinte) pessoas/dia no ano civil, em períodos
corridos ou intercalados ou, ainda, por tempo equivalente em horas de trabalho.
Contribuinte Individual é aquele proprietário ou não que desenvolve, em área
urbana ou rural, a atividade agropecuária (agrícola, pastoril ou hortifrutigranjeira), a
qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4 (quatro)
módulos fiscais; ou quando em área igual ou inferior a 4 (quatro) módulos fiscais ou
atividade pesqueira, com auxílio de empregados permanentes ou por intermédio de
prepostos.
A discussão e a realidade atual é que atualmente produtores rurais, operam
como pessoas jurídicas na informalidade, pois possuem créditos rurais junto às
organizações financeiras, possuem um número representativo de empregados,
participam de uma comercialização de produto primário para o mercado, sendo
assim semelhante às funções de uma empresa, porém operando como um cidadão
não qualificado juridicamente como empresário.
Com essa realidade ainda nítida nos dias de hoje, muitos teoricamente
perdem alguns benefícios, como créditos mais vantajosos e até mesmo o benefício
de recuperação judicial, isso por falta de informação ou até despreparo empresarial.
Pois basta esse produtor pessoa física buscar a junta comercial de seu estado, e se
regularizar junto a esse órgão estatal.

2.2 Produtor rural pessoa jurídica

Já o produtor rural pessoa Jurídica é aquele, constituído sob a forma de firma


individual ou de empresário individual, bem como, sociedade empresária que tenha
como fim apenas a atividade rural, veja o artigo 165, Inciso I, alínea “b”, itens 1 e 2
da Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil nº 971/2009:

1. O empregador rural que, constituído sob a forma de firma individual ou de


empresário individual, assim considerado pelo art. 931 da Lei nº 10.406, de
2002 (Código Civil), ou sociedade empresária, tem como fim apenas a
atividade de produção rural, observado o disposto no inciso III do § 2º do
art. 175; 2. A agroindústria que desenvolve as atividades de produção rural
e de industrialização da produção rural própria ou da produção rural própria
e da adquirida de terceiros, observado o disposto no inciso IV do § 2º do art.
175 e no § 3º deste artigo;

Portanto, ficam conceituadas e caracterizadas as duas espécies de


produtores rurais admitidas no ordenamento jurídico brasileiro.

3 RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO PRODUTOR RURAL E O ACESSO À JUSTIÇA

O produtor rural é definido como pessoa física ou jurídica que explora a terra
com fins econômicos ou de subsistência, ou seja, é quem beneficia-se dos recursos
que a terra oferece e da força de trabalho para lograr êxito na produção de
mercadoria para consumo próprio ou para comercialização (MAMEDE, 2020, p.15).
O acelerado desenvolvimento econômico da atividade agrícola e
agroindustrial no Brasil foi o que motivou a criação dos dispositivos encontrados no
Código Civil acerca do conceito de empresário rural, dando ao ruralista o tratamento
de empresário, com apenas uma diferença existente entre este e os demais
empresários: a facultatividade do requerimento da inscrição no Registro Público de
Empresas Mercantis (Junta Comercial). O legislador conferiu ao produtor rural a
opção pela empresarialidade, fornecendo uma alternativa de diferenciação do
produtor rural que subsiste da agricultura predominantemente familiar, daquele
produtor rural que atua de forma organizada, de modo empresarial no setor do
agronegócio, visando o lucro (BURANELLO, 2020, p.181).
A atividade do produtor rural está prevista nos artigos 970 e 971 do Código
Civil brasileiro, podendo, por opção, ser equiparado ao empresário desde que realize
o registro na Junta Comercial.
O instituto da Recuperação Judicial é muito recente para o setor agropecuário
e poucos produtores possuem conhecimento desta ferramenta jurídica que
possibilita a Recuperação Judicial ao empresário rural que exerce a atividade de
forma regular incluindo as dívidas existentes antes do registro na junta comercial.
Segundo Cristiano Imhof (2014, p.208):

Recuperação judicial é o instituto jurídico, fundado na ética da solidariedade,


que visa sanear o estado de crise econômico financeira do empresário e da
sociedade empresária, com a finalidade de preservar os negócios sociais,
estimular a atividade empresarial, garantir a continuidade do emprego,
fomentar o trabalho humano e assegurar a satisfação, ainda que parcial e
em diferentes condições, dos direitos e interesses dos credores e
impulsionar a economia creditícia, mediante a apresentação, nos autos da
ação de recuperação judicial, de um plano de reestruturação e
reerguimento, o qual, aprovado pelos credores, expressa ou tacitamente, e
homologado pelo juízo, implica na novação dos créditos anteriores ao
ajuizamento da demanda e obriga a todos os credores a ela sujeitos,
inclusive os ausentes, os dissidentes e os que abstiveram de participar das
deliberações da assembleia geral.

A recuperação judicial, em síntese, ocorre quando uma empresa não


consegue honrar seus compromissos e pede judicialmente a permissão para
renegociar suas dívidas com os credores. Essa renegociação é feita prevendo
descontos e prazos mais longos para pagamento para que possibilite ao credor a
superação da crise. A recuperação judicial precisa ser aprovada em assembleia de
credores e seu principal objetivo é evitar que a empresa decrete falência. Caso essa
situação ocorra, os credores terão prejuízos ainda maiores.
Atualmente, o produtor rural pessoa física possui carga tributária diferenciada
que não se aplica às pessoas jurídicas. Com o acesso do produtor pessoa física ao
instituto da recuperação judicial previsto na Lei 11.101, analistas do governo se
preocupam com os possíveis reflexos negativos que o mau uso do instituto possa
causar às instituições fornecedoras de crédito. Existem produtores utilizando o
crédito como pessoa física e pedindo a recuperação judicial logo após pedir o
registro na Junta Comercial (AMORIM, 2019).
Neste ponto, o entendimento é reforçado por Luiz Roberto Ayoub e Cássio
Cavalli (2016, p.38):

Ademais, a atividade deve estar regularmente exercida há pelo menos dois


anos. Em caso de ausência de comprovação do exercício regular da
atividade 19 há pelo menos dois anos, o processamento da recuperação
judicial deve ser indeferido [...] a prova do exercício regular da atividade
econômica por mais de dois anos é realizada mediante a apresentação de
certidão extraída pela Junta Comercial e de documentos contábeis que
demonstrem que o postulante está efetivamente a exercer sua atividade
empresarial.

Caso o produtor rural seja devidamente inscrito como empresário na Junta


Comercial há um tempo superior a dois anos, não há dúvidas quanto a sua
legitimidade para o pleito da recuperação judicial e aos efeitos jurídicos que possam
ser causados caso seja decretada sua falência.
Contudo, não são poucos os casos em que a inscrição do produtor rural no
órgão de registro de empresa ocorre pouco antes do pedido de recuperação judicial,
sem que o devedor demonstre o cumprimento do exercício da atividade empresarial,
bem como seu devido registro há pelo menos dois anos, o que descumpre o descrito
no caput do artigo 48 da lei falimentar.
Ao compreender como desnecessário o cumprimento do biênio descrito no
artigo supracitado, em função do produtor rural exercer atividade empresarial
mesmo sem o devido registro, os órgãos julgadores proporcionam uma insegurança
jurídica às instituições fornecedoras de crédito rural pois, quando do decreto da
recuperação judicial, para o produtor rural, seus efeitos se estendem aos seus atos
praticados antes do devido registro na Junta Comercial.
A interpretação que se pode ter, com base no disposto no artigo 971 do
Código Civil, é que a devida inscrição do produtor rural no órgão de registro de
empresas é facultativo, pelo fato de o produtor rural ser constituído como empresário
por equiparação, em função do exercício de sua atividade ser encarada como
empresarial.
O entendimento jurisprudencial é no sentido de que o prazo de inscrição do
registro não necessita ser comprovado em seu tempo integral, conforme alude o
artigo 48 da lei falimentar, bastando, para estar apto para dar entrada no pedido de
recuperação judicial, que o produtor comprove estar exercendo a atividade
empresarial (frise-se a não necessidade de empresa constituída) há mais de dois
anos e que já tenha providenciado seu registro no órgão de registro de empresas no
ato do pleito (NEGRÃO, 2020, p.75).
O entendimento do Superior Tribunal de Justiça acerca do assunto é:

ESPECIAL. CIVIL E EMPRESARIAL. EMPRESÁRIO RURAL E


RECUPERAÇÃO JUDICIAL. REGULARIDADE DO EXERCÍCIO DA
ATIVIDADE RURAL ANTERIOR AO REGISTRO DO EMPREENDEDOR
(CÓDIGO CIVIL, ARTS. 966, 967, 968, 970 E 971). EFEITOS EX TUNC DA
INSCRIÇÃO DO PRODUTOR RURAL. PEDIDO DE RECUPERAÇÃO
JUDICIAL (LEI 11.101/2005, ART. 48). CÔMPUTO DO PERÍODO DE
EXERCÍCIO DA ATIVIDADE RURAL ANTERIOR AO REGISTRO.
POSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

1. O produtor rural, por não ser empresário sujeito a registro, está em


situação regular, mesmo ao exercer atividade econômica agrícola antes de
sua inscrição, por ser esta para ele facultativa.

2. Conforme os arts. 966, 967, 968, 970 e 971 do Código Civil, com a
inscrição, fica o produtor rural equiparado ao empresário comum, mas com
direito a "tratamento favorecido, diferenciado e simplificado (...), quanto à
inscrição e aos efeitos daí decorrentes".

3. Assim, os efeitos decorrentes da inscrição são distintos para as duas


espécies de empresário: o sujeito a registro e o não sujeito a registro. Para
o empreendedor rural, o registro, por ser facultativo, apenas o transfere do
regime do Código Civil para o regime empresarial, com o efeito constitutivo
de "equipará-lo, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro",
sendo tal efeito constitutivo apto a retroagir (ex tunc), pois a condição
regular de empresário já existia antes mesmo do registro. Já para o
empresário comum, o registro, por ser obrigatório, somente pode operar
efeitos prospectivos, ex nunc, pois apenas com o registro é que ingressa na
regularidade e se constitui efetivamente, validamente, empresário.

4. Após obter o registro e passar ao regime empresarial, fazendo jus a


tratamento diferenciado, simplificado e favorecido quanto à inscrição e aos
efeitos desta decorrentes (CC, arts. 970 e 971), adquire o produtor rural a
condição de procedibilidade para requerer recuperação judicial, com base
no art. 48 da Lei 11.101/2005 (LRF), bastando que comprove, no momento
do pedido, que explora regularmente a atividade rural há mais de 2 (dois)
anos. Pode, portanto, perfazer o tempo exigido por lei, computar aquele
período anterior ao registro, pois tratava-se, mesmo então, de exercício
regular da atividade empresarial.

5. Pelas mesmas razões, não se pode distinguir o regime jurídico aplicável


às obrigações anteriores ou posteriores à inscrição do empresário rural que
vem a pedir recuperação judicial, ficando também abrangidas na
recuperação aquelas obrigações e dívidas anteriormente contraídas e ainda
não adimplidas.

6. Recurso especial provido, com deferimento do processamento da


recuperação judicial dos recorrentes.

(STJ - REsp: 1800032 MT 2019/0050498-5, Relator: Ministro MARCO


BUZZI, Data de Julgamento: 05/11/2019, T4 - QUARTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 10/02/2020).

Neste sentido, também:


RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
EFETUADO POR EMPRESÁRIO INDIVIDUAL RURAL QUE EXERCE
PROFISSIONALMENTE A ATIVIDADE AGRÍCOLA ORGANIZADA HÁ
MAIS DE DOIS ANOS, ENCONTRANDO-SE, PORÉM, INSCRITO HÁ
MENOS DE DOIS ANOS NA JUNTA COMERCIAL. DEFERIMENTO.
INTELIGÊNCIA DO ART. 48 DA LRF. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

1. Controverte-se no presente recurso especial acerca da aplicabilidade do


requisito temporal de 2 (dois) anos de exercício regular da atividade
empresarial, estabelecido no art. 48 da Lei n. 11.101/2005, para fins de
deferimento do processamento da recuperação judicial requerido por
empresário individual rural que exerce profissionalmente a atividade agrícola
organizada há mais de 2 (dois) anos, encontrando-se, porém, inscrito há
menos de 2 (dois) anos na Junta Comercial.

2. Com esteio na Teoria da Empresa, em tese, qualquer atividade


econômica organizada profissionalmente submete-se às regras e princípios
do Direito Empresarial, salvo previsão legal específica, como são os casos
dos profissionais intelectuais, das sociedades simples, das cooperativas e
do exercente de atividade econômica rural, cada qual com tratamento legal
próprio. Insere-se na ressalva legal, portanto, o exercício de atividade
econômica rural, o qual possui a faculdade, o direito subjetivo de se
submeter, ou não, ao regime jurídico empresarial.

3. A constituição do empresário rural dá-se a partir do exercício profissional


da atividade econômica rural organizada para a produção e circulação de
bens ou de serviços, sendo irrelevante, à sua caracterização, a efetivação
de sua inscrição na Junta Comercial. Todavia, sua submissão ao regime
empresarial apresenta-se como faculdade, que será exercida, caso assim
repute conveniente, por meio da inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis. 3.1 Tal como se dá com o empresário comum, a inscrição do
produtor rural na Junta Comercial não o transforma em empresário.
Perfilhamos o entendimento de que, também no caso do empresário rural, a
inscrição assume natureza meramente declaratória, a autorizar,
tecnicamente, a produção de efeitos retroativos (ex tunc). 3.2 A própria
redação do art. 971 do Código Civil traz, em si, a assertiva de que o
empresário rural poderá proceder à inscrição. Ou seja, antes mesmo do ato
registral, a qualificação jurídica de empresário - que decorre do modo
profissional pelo qual a atividade econômica é exercida - já se faz presente.
Desse modo, a inscrição do empresário rural na Junta Comercial apenas
declara, formaliza a qualificação jurídica de empresário, presente em
momento anterior ao registro. Exercida a faculdade de inscrição no Registro
Público de Empresas Mercantis, o empresário rural, por deliberação própria
e voluntária, passa a se submeter ao regime jurídico empresarial.

4. A finalidade do registro para o empresário rural, difere, claramente,


daquela emanada da inscrição para o empresário comum. Para o
empresário comum, a inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis,
que tem o condão de declarar a qualidade jurídica de empresário,
apresenta-se obrigatória e se destina a conferir-lhe status de regularidade.
De modo diverso, para o empresário rural, a inscrição, que também se
reveste de natureza declaratória, constitui mera faculdade e tem por escopo
precípuo submeter o empresário, segundo a sua vontade, ao regime jurídico
empresarial. 4.1 O empresário rural que objetiva se valer dos benefícios do
processo recuperacional, instituto próprio do regime jurídico empresarial, há
de proceder à inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, não
porque o registro o transforma em empresário, mas sim porque, ao assim
proceder, passou a voluntariamente se submeter ao aludido regime jurídico.
A inscrição, sob esta perspectiva, assume a condição de procedibilidade ao
pedido de recuperação judicial, como bem reconheceu esta Terceira Turma,
por ocasião do julgamento do REsp 1.193.115/MT, e agora, mais
recentemente, a Quarta Turma do STJ (no REsp 1.800.032/MT) assim
compreendeu. 4.2 A inscrição, 2 por ser meramente opcional, não se
destina a conferir ao empresário rural o status de regularidade,
simplesmente porque este já se encontra em situação absolutamente
regular, mostrando-se, por isso, descabida qualquer interpretação tendente
a finalizá-lo por, eventualmente, não proceder ao registro, possibilidade que
a própria lei lhe franqueou. Portanto, a situação jurídica do empresário rural,
mesmo antes de optar por se inscrever na Junta Comercial, já ostenta
status de regularidade.

5. Especificamente quanto à inscrição no Registro Público das Empresas


Mercantis, para o empresário comum, o art. 967 do Código Civil determina a
obrigatoriedade da inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, antes do início de sua atividade. Será irregular, assim, o
exercício profissional da atividade econômica, sem a observância de
exigência legal afeta à inscrição. Por consequência, para o empresário
comum, o prazo mínimo de 2 (dois) anos deve ser contado,
necessariamente, da consecução do registro. Diversamente, o empresário
rural exerce profissional e regularmente sua atividade econômica
independentemente de sua inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis. Mesmo antes de proceder ao registro, atuava em absoluta
conformidade com a lei, na medida em que a inscrição, ao empresário rural,
apresenta-se como faculdade - de se submeter ao regime jurídico
empresarial.

6. Ainda que relevante para viabilizar o pedido de recuperação judicial,


como instituto próprio do regime empresarial, o registro é absolutamente
desnecessário para que o empresário rural demonstre a regularidade (em
conformidade com a lei) do exercício profissional de sua atividade
agropecuária pelo biênio mínimo, podendo ser comprovado por outras
formas admitidas em direito e, principalmente, levando-se em conta período
anterior à inscrição.

7. Recurso especial provido.

(STJ - REsp: 1876697 MT 2020/0125828-4, Relator: Ministro RICARDO


VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 06/10/2020, T3 - TERCEIRA
TURMA, Data de Publicação: DJe 22/10/2020).

Desse modo, caso o devedor seja empresário rural a falência somente poderá
ser decretada contra devedores produtores rurais devidamente inscritos no Registro
de Empresas (NEGRÃO, 2020, p. 78).

4 A LEI 11.101/05

Apesar da extrema relevância econômica e social da atividade rural, existe


um grande debate no que diz respeito ao enfrentamento das situações de crise
vivenciadas pelo setor. Essa controvérsia reside na possibilidade de o produtor rural
ter acesso à recuperação judicial no intuito de superar a crise econômico-financeira
e de renegociar seus débitos perante os credores, buscando no procedimento
concursal uma maior proteção e condições mais vantajosas do que teria por meio de
uma negociação individual.
A Lei 11.101/2005 delimita seu âmbito de vigência ao empresário e à
sociedade empresária, afastando do seu limite de abrangência os sujeitos que não
se enquadram como tal. O Código Civil, por sua vez, determina que o empresário é
aquele que desenvolve atividade econômica organizada para a produção ou para a
circulação de bens ou de serviços, estando obrigado ao registro na Junta Comercial
antes do início de suas atividades.
A legislação estabeleceu um tratamento diferenciado ao produtor rural, que,
em regra, tem sua atuação regida pelo regramento civil. Tal benefício consiste na
opção pela sujeição ao regime empresarial mediante inscrição voluntária no Registro
Público de Empresas, caso em que, depois de inscrito, estará equiparado ao
empresário sujeito a registro.
Nesse sentido, é pacífico o entendimento de que, para ter acesso ao
benefício da recuperação judicial, o produtor rural deve estar inscrito no registro
competente antes do ajuizamento da ação, uma vez que a LREF prevê a
necessidade da inscrição como requisito para o ajuizamento da ação. Contudo, há
grande divergência quanto à natureza jurídica da inscrição do produtor rural e
também no que diz respeito ao requisito legal do exercício regular da atividade há
mais de dois anos.
Quanto à natureza da inscrição, ela pode ser entendida como constitutiva ou
como declaratória da atividade empresarial. Segundo os defensores da primeira
corrente, o produtor rural somente pode ser considerado empresário se assim optar,
ou seja, caso proceda à inscrição no Registro Público de Empresas. Por outro lado,
a inscrição pode ser considerada uma mera formalidade, que somente confere
publicidade a uma qualidade jurídica previamente consolidada, consubstanciada no
exercício da atividade rural pelo produtor rural enquanto pessoa natural, que por si
só, já teria características de atividade empresária. Essa discussão tem implicações
diretas na comprovação dos outros requisitos de legitimidade para o ajuizamento da
ação, especialmente quanto à comprovação do período de mais de dois anos de
exercício regular da atividade.
Segundo parte da doutrina e da jurisprudência, o registro é um marco
característico de regularidade da atividade. De acordo com esse entendimento, o
produtor inscrito há pelo menos dois anos cumpre o requisito de exercício regular, de
modo que pode se valer do benefício da recuperação judicial. Por outro lado, a
regularidade da atividade pode ser entendida como o exercício da atividade na
forma empresária por tal período, ainda que seja exercida pelo produtor rural
enquanto pessoa natural e que o registro tenha ocorrido em período inferior a dois
anos do ajuizamento da ação.
Com relação à sujeição dos créditos ao concurso de credores, existe um
acirrado debate entre credores, que defendem a limitação à data da inscrição no
Registro Público de Empresas e devedores, que entendem pela necessidade de
sujeição de todos os créditos, mesmo aqueles datados de antes do registro, de
forma a viabilizar a superação da crise.
A jurisprudência acompanha essas divergências. O TJSP possui
posicionamento favorável ao produtor rural, deferindo o processamento do pedido de
recuperação a produtores inscritos por período inferior a dois anos, além de decidir
pela sujeição ao integral dos débitos contraídos antes do registro.
Por outro lado, o TJMT possui posição firme em contrário, indeferindo o pleito
recuperacional aos produtores inscritos há menos de dois anos e delimitando a
sujeição dos créditos ao período posterior à inscrição.
O STJ não assentou entendimento quanto às principais controvérsias
atinentes à recuperação judicial do produtor rural. Alguns poucos julgados que
analisaram uma ou outra matéria demonstram que o tema está longe de encontrar
uma solução pacífica. Em 5 novembro de 2019 o STJ julgou um caso cujo desfecho
há muito era aguardado pelos produtores rurais, pelas instituições bancárias e pelas
tradings. O REsp 1.800.32/MT discute justamente a sujeição dos créditos contraídos
por produtores rurais enquanto pessoas físicas que, posteriormente, efetuaram
inscrição no Registro Público de Empresas e requereram recuperação judicial. Com
três votos a favor e dois votos contra, prevaleceu o entendimento favorável aos
produtores rurais, deferindo a sujeição de todos os créditos contraídos tanto pelas
pessoas naturais, quanto pelos empresários registrados.
As divergências doutrinárias e jurisprudenciais aqui apresentadas, bem como
os projetos de lei avaliados, demonstram que a crise do agronegócio está longe de
encontrar um remédio na lei falimentar. Esse cenário é prejudicial tanto para os
exercentes de atividade rural não sujeitos ao regime concursal, quanto para a
economia nacional como um todo, uma vez que grande parte do Produto Interno
Bruto do país deriva diretamente das atividades relacionadas ao agronegócio.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na medida em que a atividade econômica do Brasil foi sendo impulsionada


pelo agronegócio, é cada vez mais frequente, que os produtores rurais pessoa física,
inseridos nesse contexto de constantes transformações, clamem por amparos legais
que regulamentem a preservação e reorganização de todas as suas atividades
empresariais, visto que, também estão submetidos aos riscos econômicos e os
decorrentes das próprias atividades rurais.
Assim, o presente trabalho buscou analisar a possibilidade dos produtores
rurais pessoa física poderem recorrer ao Instituto da Recuperação Judicial,
instrumento pelo qual poderiam solucionar os problemas resultantes das
adversidades ocasionadas pela crise vivenciada e assim, mesmo na condição de
devedor, poderem se recuperar, contribuindo para o desenvolvimento da economia e
o cumprimento do princípio da função social da empresa.
Verificou-se ainda, que existem grandes embates jurisprudenciais e
doutrinários acerca da possibilidade de o produtor rural pessoa física poder obter a
tutela recuperacional. Nesse sentido, foi importante discutirmos acerca dos
requisitos do registro e a comprovação do tempo de exercício da atividade pelo
prazo de dois anos, aspectos primordiais do instituto, que uma vez preenchidos,
possibilitam que o produtor rural até então equiparado pelo Código Civil, seja
considerado empresário e se beneficie dos mesmos direitos, inclusive o da
recuperação judicial.
Sendo assim observou-se que os próprios tribunais não vêm se manifestando
de forma definitiva sobre o tema, ficando em aberto a controvérsia a respeito da
natureza do registro ser declaratório ou constitutivo e os seus efeitos, o que gera
insegurança jurídica para credores e os devedores, uma vez que, sendo analisando
sob perspectivas diferentes, poderá gerar riscos de deferimento, assim como, de
anulação de todas as ações praticados até o momento do pedido de recuperação
judicial.
Tendo em vista que, nosso país é abastecido pelo setor agrário e o produtor
rural pessoa física é um dos responsáveis pela manutenção da atividade rural, é
possível ao menos sugerir que se prevaleça a natureza declaratória do registro, ou
seja significa dizer que a inscrição é mera formalidade e não condição constitutiva
para se tornar empresário de direito. Assim o produtor rural terá maior segurança
jurídica, celeridade processual e oportunidade de renegociação das dívidas no
mercado.

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