Sharon Kendrick - Secretos Ocultos-Bianca Ibérica 2567

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Editado por Harlequin Ibérica.
Una divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid

© 2017 Sharon Kendrick


© 2017 Harlequin Ibérica, una divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Secretos ocultos, n.º 2567 - setembro 2017
Título original: Secrets of a Billionaire’s Mistress
Publicada originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Todos os direitos estão reservados incluídos os de reprodução, total ou parcial. Esta


edição é publicada com autorização de Harlequin Books S.A. Esta é uma obra de
ficção. Nomes, caracteres, lugares, e situações são produtos da imaginação do autor
ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou
mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), fatos ou situações são pura
coincidência.
® Harlequin, Bianca e logotipo Harlequin são marcas registradas por Harlequin
Enterprises Limited.
® y ™ são marcas registradas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais,
utilizadas com licença. As marcas que levam ® estão registradas no Escritório
Espanhol de Patentes e Marcas e em outros países.
Imagem de capa utilizada com permissão de Harlequin Enterprises Limited.
Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-9170-033-3 Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L

Garçonete… amante… esposa?

Darcy Denton não era mais que uma jovem e ingênua garçonete. Sabia que não
era o tipo do poderoso magnata Renzo Sabatini, porque não era alta, nem graciosa,
nem sofisticada, mas cativara-a e viciara-se nas noites de paixão que
compartilhavam.
Enquanto disfrutava como convidada em sua Villa da Toscana, Darcy vislumbrou o
agitado passado de Renzo e a desolação que atormentava sua alma. Pensou em
terminar sua relação antes de envolver-se demais, mas um dia descobriu que...
estava grávida.
Não se atrevia a contar a Renzo os segredos de sua infância, mas ia ser a mãe de
seu filho, e era apenas questão de tempo que ele descobrisse e reclamasse o que
era seu...

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Capítulo 1

Renzo Sabatini estava desabotoando a camisa quando a campainha tocou. Tinha


que ser Darcy. Uma imagem dela beijando-o enquanto passava as mãos pelo torso
dele veio à sua mente, e ele sentiu um súbito calor entre as pernas. Ninguém além
dela poderia ajudá-lo a esquecer o que o esperava.
Pensou na Toscana, em como seria encerrar um capítulo de sua vida. Era
estranho que algumas lembranças, depois de tantos anos, ainda doessem tanto.
Talvez seja por isso continuasse pensando naquelas coisas, porque continuavam a
doer.
Mas por que deixar-se levar pela escuridão quando Darcy, sua amante, estava
batendo na porta e era toda luz? Já fazia quatro meses que se conheciam e ainda
estava tão enfeitiçado por ela como no primeiro dia. E a verdade é que não deixava
de o surpreender que a relação deles durasse tanto tempo, tendo em conta que
pertenciam a mundos muito diferentes.
Descalço, ele caminhou pelo corredor, pelos cômodos espaçosos de seu
apartamento no bairro londrino de Belgravia e, quando abriu a porta, encontrou Darcy
como esperado, com o cabelo e as roupas molhados pela chuva.
Embora não fosse muito alta, Darcy Denton impressionava por sua beleza; era
impossível não a notar. Seu cabelo ruivo encaracolado estava preso em um rabo de
cavalo, e seu uniforme de garçonete aparecia por baixo de seu sobretudo, cujo cinto
acentuava sua cintura estreita.
Darcy morava do outro lado de Londres e haviam constatado que perdiam pelo
menos uma hora juntos se ela fosse para casa se trocar depois do trabalho, mesmo
que ele mandasse seu motorista buscá-la.
Ele era um homem muito ocupado, dirigindo um escritório de arquitetura com
projetos em vários continentes, e seu tempo era valioso demais para ser
desperdiçado. Então, quando ele saía do trabalho, Darcy ia direto para lá com sua
mala de dormir... e podia ficar sem a pouca roupa que tinha dentro dela, porque a
maior parte do tempo que passavam juntos estava nua.
Ele olhou em seus olhos verdes, que brilhavam como esmeraldas em seu rosto de
porcelana, e um formigamento de antecipação e desejo o percorreu.
-Você chegou cedo, -observou. -Não será porque você queria me pegar me
despindo?
Darcy forçou um sorriso em resposta, enquanto Renzo se afastava para deixá-la
entrar. Estava encharcada, com frio e havia tido um dia horrível. Um cliente havia
derramado chá em cima dela, uma criança havia vomitado e, quando foi sair, havia
começado a chover e havia descoberto que alguém havia levado seu guarda-chuva.
E agora Renzo estava parado ali, em seu apartamento palaciano com aquecimento
central, sugerindo que não tinha nada melhor para fazer do que cronometrar sua
chegada e pegá-la se despindo. Duvidava que houvesse um homem mais arrogante
do que ele na face da Terra.
Claro, não podia dizer que não sabia no que estava se metendo o tempo todo,
porque todos sabiam que um homem rico e poderoso que flertava com uma
garçonete só poderia querer uma coisa.

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Havia perdido aquela batalha e acabado na cama de Renzo. Não pôde evitar
deixar-se seduzir por ele. Apenas por beijá-la, havia caído sob seu feitiço. Nunca
havia imaginado que um beijo pudesse fazê-la se sentir assim, como se estivesse
flutuando. Havia lhe entregado sua virgindade e, após o espanto de descobrir que
nunca havia dormido com um homem, Renzo aos poucos lhe revelara os segredos
do sexo, abrindo-lhe os olhos para todo um mundo de prazer.
Por um tempo, as coisas entre eles haviam corrido bem; melhor do que bem
Sempre que Renzo estava em Londres e tinha uma folga em sua agenda lotada, ela
passava a noite com ele. E às vezes no dia seguinte também, se fosse fim de
semana. Renzo preparava-lhe ovos mexidos e colocava um CD de música clássica
que nunca tinha ouvido antes, daquelas que convidavam a sonhar, com muitos
violinos, enquanto revia os intrincados planos de um daqueles arranha-céus que
desenhava e pelos que havia se tornado mundialmente famoso.
No entanto, ultimamente algo havia começado a corroê-la por dentro. Seria sua
consciência, seria a sensação de que Renzo a escondia ali, como um segredo do
qual se envergonhava, que estivesse começando a abalar sua autoestima, já
precária?
Não tinha certeza. Tudo o que sabia era que havia começado a analisar o que
havia se tornado e não havia gostado da resposta. Era o brinquedo de um homem
rico, uma mulher disposta a abrir as pernas apenas com o estalar de dedos.
E, no entanto, agora que estava ali com ele, lhe parecia que seria tolice deixar
suas dúvidas estragarem as horas que tinham para passaram juntos, então ela sorriu,
tentando parecer despreocupada, deixou cair sua bolsa no chão e soltou o cabelo.
Enquanto agitava seu molhado cabelo cacheados, não pôde deixar de sentir uma
pontada de satisfação ao ver os olhos de Renzo escurecerem de desejo.
Claro que nunca havia duvidado que ele se sentia atraído por ela. De fato, parecia
apaixonado por ela, e suspeitava que soubesse por quê: porque ela era diferente.
Era uma garota da classe trabalhadora que não tinha feito faculdade e era uma ruiva
curvilínea, muito diferente das morenas magras com as quais Renzo costumava sair
em fotos dos jornais. Pareciam incompatíveis em todos os níveis... exceto na cama.
Sim, o sexo com Renzo era incrível, mas não podia se deixar levar por esse
caminho que não levava a lugar nenhum. Sabia o que tinha que fazer; havia
percebido que Renzo estava começando a dar como certo que sempre estaria lá para
quando lhe apetecesse e sabia que, se deixasse as coisas continuarem assim, a
magia entre eles iria desaparecer lentamente. E não queria que isso acontecesse.
Lembranças ruins podiam se tornar um fardo pesado, e estava decidida a conservar
algumas boas para aliviar esse fardo. Tinha que criar coragem e afastar-se dele antes
que ele se cansasse dela e a largasse, destroçando seu coração.
-Cheguei cedo porque mandei seu motorista ir e vim de metrô, -explicou, alisando
os cabelos úmidos com a mão.
– O que lhe disse para ele ir embora? -ele repetiu com o cenho franzido, enquanto
a ajudava a tirar o casaco. -E por que fez isso?
Darcy suspirou, imaginando como seria levar a vida de alguém como Renzo, com
motorista e jatinho particular a seu serviço, com empregados que faziam suas
compras e recolhiam as roupas que havia deixado atiradas pelo chão na noite
anterior, e sem as preocupações das pessoas normais.

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-Porque o trânsito é infernal a essa hora, e podes passar meia hora em um
engarrafamento", respondeu ele, pegando o sobretudo da mão dela para pendurá-lo
no cabideiro, ao lado da porta. -E agora, em vez de ficar falando dessas minucias,
que tal me oferecer uma xícara de chá quente? Estou encharcada, caso não tenha
notado... e estou congelando.
Porém, ao invés de ir para a cozinha, Renzo a pegou nos braços e a beijou
enquanto a pegava pelas nádegas para segurá-la contra ele. Sentindo sua ereção e
o calor de seu peito nu, Darcy fechou os olhos e retribuiu o beijo, entrelaçando sua
língua com a dele. Renzo abriu as pernas dela com a coxa e imediatamente
esqueceu tudo, mas quando ela levou as mãos até o torso esculpido e esfregou as
palmas contra ele, Renzo se encolheu.
-Está tentando esquentar as mãos em meu peito?
-Já havia lhe dito que estava gelada. E como você não quer ter pena de mim e me
fazer uma mísera xícara de chá...
-Existem outras maneiras de se aquecer, -ele murmurou. -Eu poderia te ensinar -
ele pegou a mão dela e a levou até sua virilha.- O que me diz? Quer vir tomar banho
comigo?
Darcy não poderia ter dito "não" embora tivesse querido. Uma carícia de Renzo era
como atear fogo a um pavio, e só de estar em seus braços por alguns segundos
explodia em chamas.
Já no banheiro, os lábios de Renzo sussurravam palavras em italiano enquanto ele
abria o zíper de seu uniforme, revelando seus seios. Ter seios grandes sempre foi
um pesadelo para ela porque eram como um ímã para os homens e, embora não
pudesse pagar com o que ganhava de garçonete, mais de uma vez havia pensado
em fazer uma operação para reduzi-los.
Na verdade, passou muito tempo escondendo-os com sutiãs especiais, mas tudo
havia mudado quando Renzo havia dito a ela que nunca tinha visto seios tão bonitos
e a ensinou a amar seu corpo. Adorava quando ele os chupava e mordiscava
delicadamente até ela gemer de prazer. Até havia começado a lhe comprar lingerie.
Era a única coisa que lhe deixava comprar. Renzo lhe dizia que não entendia sua
relutância em deixar que gastassem dinheiro com ela, mas não ia explicar. Suas
razões eram muito dolorosas e pessoais. Se deixava que lhe comprasse sua lingerie
bonita e sexy, como sutiãs e calcinhas combinando, era apenas porque dizia que o
excitava vê-la colocar e tirar, e porque dizia que realçavam sua figura.
Também porque a fazia se sentir sexy quando estava no trabalho, sabendo que
estava usando aquela lingerie fina, feita da melhor seda e renda, sob seu feio
uniforme de garçonete.
Renzo havia lhe dito que queria que pensasse nele quando estava longe, que
quando estava longe gostava de imaginá-la se masturbando enquanto pensava nele.
E embora ela nunca tivesse feito isso, a ideia a excitava.
Claro, tudo que tinha a ver com Renzo a excitava: sua altura, sua figura atlética,
seus cabelos negros, seus olhos castanhos e até os óculos que usava para revisar
os planos de um de seus projetos. Assim como a excitava como ele estava olhando
para ela naquele momento enquanto a acariciava.
Logo todas as suas roupas estavam no chão, e quando seu amante italiano
também estava nu, Darcy engoliu em seco com sua tremenda ereção.
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-Impressionante, não é? -Ele brincou com um sorriso zombeteiro. -Quer me tocar?
-Não até que estejamos no chuveiro sob os jatos de água quente. Como minhas
mãos estão frias, se eu te tocasse, você pularia com tanta força que bateria com a
cabeça no teto.
Renzo riu e a levou para o chuveiro. Com água quente pingando sobre ambos,
Renzo a beijou com avidez enquanto massageava seus seios e provocava seus
mamilos. O vapor que os envolveu fez sua imaginação transportá-la para uma selva
tropical, e ela fechou os olhos por um momento para desfrutar das carícias de Renzo
e da sensação relaxante da água quente em sua pele.
Ela deslizou as mãos pelo torso de Renzo, deliciando-se com o toque de seus
músculos, perfeitamente definidos sob sua pele morena. Ela estendeu a mão
corajosamente para agarrar sua ereção, esfregando o dedo e o polegar sobre ela
como ela sabia que gostava. Renzo grunhiu de prazer, e Darcy fechou os olhos
enquanto a mão dele desceu por sua barriga para se enredar nos cachos molhados
entre suas coxas. Ele deslizou um dedo entre suas dobras inchadas e, quando
começou a movê-lo para dentro e para fora dela, seu polegar acariciando seu clitóris,
Darcy se viu arqueando os quadris em direção a ele entre gemidos, ansiosa por
alcançar o clímax.
-O que esperas, Renzo? -Censurou-o ofegante. – Faz-me tua já...
-Estás um pouco impaciente, não?
Pois claro que estava impaciente. Havia passado quase um mês desde a última
vez que haviam se visto. Renzo tinha ido para o Japão a trabalho e depois para a
América do Sul. Havia recebido e-mails ocasionais dele, embora breves e
impessoais, e um dia, quando o seu voo atrasou, ele ligou para ela do aeroporto do
Rio de Janeiro, mas provavelmente só para matar o tempo.
Várias vezes havia tentado se convencer de que não era afetada pela total falta de
interesse de Renzo. Ele nunca a havia enganado; Desde o início havia deixado claro
o que não deveria esperar do relacionamento deles, como amor ou qualquer tipo de
compromisso de sua parte.
No dia em que tiveram aquela conversa, ela se virou para Renzo enquanto ele
falava e se surpreendeu com a desolação que havia visto em seus olhos. Queria
perguntar a ele o que havia de errado, mas não o fez; ela tinha certeza de que ele
não responderia e se fecharia ainda mais em si mesmo.
Além disso, tinha o hábito de não se intrometer na vida alheia. Quando se fazia
muitas perguntas pessoais a alguém, corria-se o risco de que lhe perguntassem
também, e isso era a última coisa que queria. Não queria ninguém investigando sua
vida nem seu passado.
É verdade que havia aceitado as frias condições que Renzo havia imposto a sua
relação, mas já haviam passado vários meses desde aquela conversa, e o tempo
mudava tudo. Fazia com que os sentimentos ficassem mais profundos e que se
começasse a sonhar com o impossível, como imaginar que poderia ter um futuro com
um arquiteto bilionário com casas em meio mundo e um estilo de vida completamente
diferente do seu. Como poderia um homem querer se casar com uma simples
garçonete?
Apertou os lábios contra o ombro de Renzo, enquanto pensava em como responder
a sua pergunta para lhe demonstrar que ainda tinha algum controle sobre a situação,
embora estivesse perdendo a cada segundo.
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-Impaciente? -Murmurou contra sua pele molhada. - Se estou indo rápido demais
para ti, podemos deixar para depois. E assim eu bebo aquela xícara de chá que não
queria me fazer. É isso que você quer?
A resposta de Renzo foi imediata e inequívoca. Ele a empurrou contra a parede de
ladrilhos, abriu suas pernas e a penetrou, arrancando um gemido estrangulado de
sua garganta. Quando começou a mexer os quadris, Darcy gritou de prazer. Renzo
lhe ensinou tudo sobre sexo e ela foi uma aluna aplicada. Em seus braços sentia-se
viva.
-Renzo...-ofegou enquanto ele entrava e saía dela.
-Sentiu minha falta, querida?
Darcy fechou os olhos.
-Senti falta...disto.
-E nada mais?
Darcy gostaria de deixar escapar que não havia nada no relacionamento deles além
de sexo, mas por que estragar aquele momento erótico? Além disso, nenhum homem
gostaria de ouvir algo assim no calor da relação sexual, mesmo que fosse verdade.
Muito menos um homem com um ego como o de Renzo.
- Claro que senti sua falta.- Respondeu quando ficou quieto esperando sua
resposta.
Talvez Renzo tenha percebido a falta de convicção em suas palavras, porque,
embora ele voltasse a mexer os quadris, o ritmo era bem mais lento, quase
insuportável, como se estivesse lhe infringindo um atormento em vez de lhe fazendo
amor.
-Renzo...-Protestou.
- O que está acontecendo? -Respondeu como se nada tivesse acontecido.
Como podia parecer tão calmo, quando ela não podia mais aguentava? Ela
precisava dele, precisava daquele orgasmo... Claro, que manter o controle em
qualquer situação era o que Renzo fazia de melhor.
-Não brinques comigo. -Disse-lhe.
- Pensei que você gostasse de brincar,-ele murmurou. -Talvez...- Sussurrou-lhe ao
ouvido. – Eu deveria fazer você suplicar.
-Ah, não. nada disso! Darcy exclamou, agarrando-o pelas nádegas para segurá-lo
contra si.
Renzo riu e finalmente lhe deu o que queria e começou a mover seus quadris tão
rápido e com tanta força que uma escalada de prazer sacudiu Darcy até que, entre
intensos gemidos, lhe sobreveio o tão ansiado orgasmo. A Renzo lhe chegou logo
depois, e ele deixou escapar um longo grunhido de satisfação.
Ele a segurou entre seus braços até que parou de tremer, e então a ensaboou com
tanta ternura que parecia que estava tentando compensá-la por aquela sessão de
sexo quase selvagem. Então ele pegou uma toalha e a secou com delicadeza antes
de carregá-la para o enorme quarto.
Ele a depositou na cama, deitou-se ao seu lado e, depois de cobrir a ambos com o
lençol e a colcha, lhe rodeou a cintura com os braços. Darcy notava-se sonolenta, e
supôs que ele também estaria, mas deveriam conversar um pouco, e não apenas
acasalar como animais e depois adormecer. Mas isso não era a única coisa em seu
relacionamento, sexo?
-Que tal a tua viajem?-Obrigou-se a lhe perguntar.
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-Duvido que lhe interesse.
-Sim, estou interessada.
-O que você diga, -ele murmurou, antes de bocejar. O hotel está quase pronto e fui
contratado para projetar uma nova galeria de arte em Tóquio. Tudo correu bem e foi
uma viajem proveitosa, embora exaustiva.
- Alguma vez já pensou em desacelerar um pouco o ritmo? Em ficar em segundo
plano e apenas aproveitar o seu sucesso?
-A verdade é que não. -Respondeu ele com outro bocejo.
-Por que não? -Insistiu ela, embora notasse que o estava irritando com suas
perguntas.
-Porque alguém que chegou tão alto quanto eu cheguei não pode se permitir
desacelerar. Há centenas de arquitetos que vem pisando forte e que adorariam estar
onde estou. Se tirar os olhos da bola, mesmo que por um momento, está perdido, -
explicou Renzo. Por que não me conta como foi sua semana?- murmurou lhe
acariciando em mamilo.
-Bah, não tenho nada de interessante para contar! Tudo o que faço é servir mesas.
-Respondeu ela.
Ela fechou os olhos, presumindo que fossem dormir, mas se enganou, porque
Renzo começou a massagear seus seios e esfregar sua crescente ereção contra seu
traseiro até que ela o instou com um gemido a que a possuísse, e ele a penetrou por
trás, encontrando-a molhada e pronta para ele.
Enquanto ele se movia para dentro e para fora dela, a beijava no pescoço e
brincava com seus mamilos, e logo Darcy estava chegando ao clímax, tremula e
ofegante. Tiveram dois orgasmos em menos de uma hora, e depois de um tempo,
sem conseguir continuar lutando contra o cansaço e a sonolência que a dominavam,
ela adormeceu profundamente.
Quando acordou, notou que Renzo se levantava da cama e o ouviu sair do quarto.
Ao abrir os olhos e olhar pela janela, viu que estava escurecendo. Os últimos raios
de sol manchavam as folhas das árvores e, ao longe, ouvia-se o canto de um melro.
As árvores frondosas em Eaton Square Gardens, para as quais as janelas dos
quartos davam, faziam parecer que estavam no campo, e não em Londres. Mas era
apenas uma ilusão; além dessa área residencial exclusiva, erguiam-se prédios de
apartamentos e lojas de descontos, e ruas se estendiam com calçadas não tão
limpas, com dezenas de carros e motoristas furiosos buzinando. E a algumas
estações de metrô de distância, mesmo que parecessem estar a milhões de
quilômetros de distância, em uma galáxia diferente, estava o minúsculo apartamento
que para ela era seu lar.
Às vezes parecia algo saído de um romance, a típica história do bilionário e sua
amante, a garçonete, porque essas coisas não aconteciam com garotas como ela.
Mas Renzo nunca se aproveitara dela; ele nunca pediu nada que ela não estivesse
disposta a lhe dar. Além disso, também não era culpa de Renzo que o que ele
certamente pretendia ser um caso de uma noite se arrastasse para o estranho
relacionamento que tinham. Uma relação que só existia entre as paredes do seu
apartamento porque, como se tivessem chegado a um acordo tácito, nunca saíam
para jantar, nem para beber, nem para dançar, nem a tinha apresentado aos amigos...
Claro, os amigos de Renzo eram pessoas ricas e influentes, como ele, que não

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tinham nada em comum com ela. Sem falar que seria estranho se começassem a
aparecer juntos em eventos públicos quando nem eram um casal de verdade.
Não, Darcy tinha os pés no chão. E bastante bom senso também para saber que
Renzo Sabatini era como aquela casquinha de sorvete que se tomava em um dia
ensolarado. Por mais delicioso que fosse, e mesmo que fosse o melhor sorvete já
provado, se sabia que não duraria muito.
Ao ouvir passos, ergueu os olhos e viu Renzo entrando no quarto com um copo em
cada mão.
-Tens fome? -Perguntou-lhe, parando junto à cama.
-Não muita, mas sede sim.
-Eu imaginava, -ele respondeu, inclinando-se para colocar um beijo em seus lábios.
-Por isso que lhe trouxe isso.
Darcy esboçou um meio sorriso e pegou a xícara de chá que lhe estendia, e Renzo
foi até a escrivaninha, onde deixou sua xícara para vestir uma calça jeans. Depois se
sentou, colocou os óculos e ligou o computador, que havia deixado suspenso, e logo
estava tão absorto no que via que Darcy se sentiu completamente ignorada. Com
Renzo sentado de costas para ela, se sentia como uma peça insignificante na
complexa engrenagem de sua vida.
- Acontece algo? -ele perguntou, como se estivesse surpreso com o silêncio dela,
embora sem se virar.
Havia deixado transparecer sua irritação? Pelo tom da pergunta, deu-lhe a
impressão de que esperava que se apressasse em negar, quase até que se
desculpasse. Havia lhe dado a deixa para que dissesse que não, que não havia nada
de errado. Para que lhe sorrisse docilmente, como costumava fazer, e desse umas
palmadinhas no colchão para que ele fosse até ela. Mas não estava com humor para
manter as aparências, fingir-se dócil e submissa. Antes de sair do trabalho, havia
ouvido uma canção no rádio que havia lhe trazido lembranças dolorosas do passado
e de sua mãe, a quem tentava esquecer durante toda a sua vida.
Era estranho como os acordes podiam lhe tocar uma fibra sensível e fazer que
tivesse vontade de chorar, pensou. E como podia continuar a amar alguém, mesmo
que o decepcionasse repetidamente?
Esperava que, indo para lá, Renzo fizesse amor com ela e lavasse a inquietação
agonizante que a dominava, mas aconteceu exatamente o contrário. Sua inquietação
aumentara porque percebera que viver à sombra de um homem rico não a fazia feliz,
e que quanto mais tempo ficasse com ele, mais difícil seria para ela voltar ao mundo
real, ao seu mundo.
Tomou o chá e colocou a xícara de volta no criado-mudo. Chegara a hora de acabar
com isso e, embora fosse sentir muita falta de Renzo, não tinha escolha a não ser
fazê-lo.
-Estava pensando que não poderei vê-lo por um tempo. -Disse-lhe em um tom o
mais neutro e despreocupado possível.
Essas palavras conseguiram finalmente que lhe prestasse atenção, porque ele se
virou e colocou o óculos sobre a mesa e, franzindo a testa, deixou escapar:
-Mas, de que está falando?
-Eles me deram uma semana de férias e vou para Norfolk.

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Em seu rosto, ficou claro que sua resposta o pegou de surpresa. Normalmente suas
coisas não o interessavam, embora de vez em quando perguntasse por cortesia
como ela estava, mas agora sim parecia interessado.
-E que vais fazer em Norfolk?
Ela encolheu os ombros.
-Procurar um apartamento de aluguel. Estou pensando em me mudar para lá.
-Em Norfolk?
-Pois sim, não sei por que te surpreendes tanto. Não é como se eu tivesse dito que
vou para Marte...
-Não sei, é que...-Renzo franziu o cenho. – O que há em Norfolk?
Darcy havia pensado lhe dizer que queria uma mudança em sua vida, o que era
certo, e não entrar nos verdadeiros motivos, mas sua total falta de compreensão a
irritou e sua voz tremeu de raiva quando ela respondeu.
-Porque ali ao menos tenho a possibilidade de alugar um apartamento com vista para
outra coisa que não seja uma parede de tijolos. E de encontrar um trabalho que não
tenha que servir pessoas que estão tão estressadas que nem sequer dizem bom dia,
e que são incapazes de dizer "por favor" e "obrigado" -ela disparou-. E a oportunidade
de respirar um ar menos poluído, para desfrutar de custo de vida um menor.
Renzo franziu o cenho novamente.
-Então...é porque você não gosta do lugar onde vive?
-Se ajusta às minhas necessidades, mas me parece que não é nada extraordinário
aspirar algo melhor.
-Por isso que você nunca me convidou para o seu apartamento?
-Suponho que sim.
Nunca o havia convidado porque lhe dava vergonha. Custava-lhe imaginá-lo
sentado em seu velho sofá, com uma bandeja sobre os joelhos e comendo comida
chinesa, entrando em seu minúsculo banheiro ou, pior ainda, dividindo a cama
estreita com ela. Os dois teriam se sentido incomodados, e o fosso social que os
separava teria ficado ainda mais evidente.
- Você gostaria que eu tivesse feito isso? -Perguntou-lhe.
Renzo considerou a pergunta de Darcy. A verdade era que não. Sabia como era
diferente sua vida da dela e, se o tivesse levado para seu apartamento,
provavelmente teria sentido uma obrigação moral de lhe fazer um cheque para
comprar uma geladeira nova ou reformar o banheiro. E como Darcy era a mulher
mais orgulhosa que conhecia, teria recusado categoricamente todas as vezes.
Exceto pela lingerie que comprou para ela, havia recusado todos os presentes que
queria dar a ela, e não entendia. Gostava de dar presentes caros às mulheres porque
assim não se sentia em dívida com elas. Esses presentes reduziram seus
relacionamentos ao que realmente eram: transações.
-Não é como se eu esperasse que você me convidasse, -disse calmamente, -mas
esperava que falasse comigo sobre seus planos de férias ao invés de tomar uma
decisão sem me dizer nada.
-Mas se você nunca fala de seus planos comigo! -Exclamou ela. -Fazes sempre o
pensas.
-Está me dizendo que quer que repasse minha agenda contigo antes de tomar
decisões? -Inquiriu ele com incredulidade.

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-Claro que não. Deixaste bem claro desde o princípio que não gostas que se
intrometam em seus negócios, e sempre respeitei isso. Acho que não é pedir demais
que faças o mesmo.
-Mas disse que está indo para Norfolk procurar um apartamento, -Repetiu ele.
-Sim, talvez.
-Então, pode que seja a última vez que nos vemos.
Ela encolheu os ombros.
-Poderia ser.
- E é isso? É assim que isso vai acabar?
-O que esperavas? Antes ou depois teria que acabar.
Com os olhos estreitados Renzo a escutou. Sabia que nada durava eternamente,
sim. E que dentro de um mês, ou talvez menos, teria encontrado outra mulher para
substituí-la. Provavelmente uma mulher que se encaixasse melhor com ele. Mas era
ela quem estava falando em deixá-lo, e isso não o agradava.
Era um homem orgulhoso; talvez fosse ainda mais orgulhoso do que Darcy. Não
estava acostumado com as mulheres deixando-o. Era ele quem as deixava, e era ele
quem decidia quando o relacionamento acabava. Ainda desejava Darcy; ainda não
havia chegado com ela naquele estado de tédio que o fazia encaminhar as ligações
de uma mulher diretamente para seu correio de voz, ou deixar passar uma
quantidade excessiva de tempo antes de responder às suas mensagens de texto.
-E se vieres de férias comigo, em vez de ires sozinha a Norfolk?
Por como se dilataram suas pupilas, supôs que sua sugestão a havia surpreendido.
Olhou-o com receio e lhe perguntou:
-Fala sério?
-Claro, por que não?
Renzo se levantou da cadeira, e foi sentar-se na borda da cama, ao lado dela.
- Parece tão estranho para você?
Darcy encolheu os ombros.
-Não é o que costumamos fazer. Nós sempre ficamos aqui; nós nunca saímos.
-É verdade, mas a vida seria muito chata se fizéssemos sempre a mesma coisa,
certo? -ele murmurou, estendendo a mão para acariciar seu seio. -Está me dizendo
que não gosta da ideia de passar alguns dias comigo? -ele perguntou, esfregando o
mamilo com o polegar.
Darcy engoliu em seco e mordeu o lábio inferior.
- Renzo… eu… eu acho difícil pensar com clareza quando me tocas dessa
maneira...
-O que é que tem para pensar?- Ele a repreendeu, beliscando suavemente seu
mamilo. -Fiz-lhe uma proposta muito simples. Você poderia vir comigo. Tenho que ir
para a Toscana neste fim de semana. E ainda lhe sobraria tempo de ir para Norfolk.
Darcy recostou-se nas almofadas e fechou os olhos enquanto ele massageava seu
seio com toda a mão.
Você tem uma casa lá, não é? -perguntou em um sussurro. -Na Toscana.
-Não por muito tempo. Esse é o motivo da minha viagem; Vou vendê-la -
respondeu ele com a voz rouca. -Antes tenho que ir a Paris a negócios, mas podemos
viajar separadamente -ele ficou em silêncio por um momento-. A ideia não a tenta?
As palavras de Renzo se infiltraram na mente distraída de Darcy enquanto ele
continuava a provocá-la com deliciosas carícias. Ela abriu os olhos e lambeu os
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lábios, fazendo um esforço para se concentrar em qual deveria ser sua resposta. E
se dissesse sim? Ela poderia ir para a Toscana com ele e imaginar que era sua
namorada, alguém com quem ele se importava e não apenas uma mulher que ele
queria arrancar a roupa toda vez que estivessem juntos.
-Sim, a verdade é que me tenta, -murmurou; -um pouco.
-Não foi uma resposta muito entusiástica, -observou ele. - Posso tomar isso como
um sim?
Ela assentiu e fechou os olhos novamente, suspirando de prazer quando ele
começou a acariciar seu outro seio.
-Bom. -Renzo ficou em silêncio e sua mão parou. -Mas primeiro terá que deixar que
lhe compre algumas roupas.
Os olhos de Darcy se arregalaram e ela se sentou como uma mola, afastando sua
mão.
-Quando meterás nessa cabeça teimosa que tem que eu não quero seu dinheiro,
Renzo?
- Está ficando muito claro para mim, -respondeu ele, -mas, embora eu ache
admirável que você seja uma mulher independente, acho que está errada na forma
de abordar isso. Não pode aceitar de bom grado um simples presente? A maioria das
mulheres gosta de receber presentes.
-Pois eu não os quero. -Ela retrucou asperamente.
-Nesse caso, não é uma questão de você querer ou não essas roupas, mas sim de
precisar delas, então receio ter que insistir, -respondeu ele. Eu tenho um status a
manter. Como minha acompanhante, as pessoas vão notar você, e eu detestaria se
você se sentisse julgada negativamente por não estar vestida adequadamente.
-Como você está me julgando agora mesmo, quer dizer? -Ela o repreendeu.
Renzo balançou a cabeça e um sorriso brincou em seus lábios.
-Pois se caso não tenha notado, pessoalmente prefiro quando você não está
usando nada, mas não acho que seria muito apropriado para você andar nua pelo
interior da Toscana. Quero apenas que fique confortável enquanto estivermos lá,
Darcy, compre algumas coisas legais para você, como um par de vestidos de noite,
caso tenhamos que comparecer a um evento. Não é para tanto.
Abriu a boca para responder que para ela era, mas Renzo, que havia se levantado,
estava desabotoando a calça jeans.
-O que você está fazendo? -Perguntou a ele.
Ele deu um sorriso malicioso.
-Vamos lá, use sua imaginação, -ele respondeu enquanto abaixava as calças.
Então, apoiando-se com as duas mãos no colchão, ele se inclinou para ela e
sussurrou contra seus lábios: -Vou convencê-la a aceitar meu dinheiro para comprar
esses vestidos e você não poderá me dizer não.

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Capítulo 2

Sentado em uma poltrona da sala VIP do aeroporto de Florença, Renzo olhou para
o relógio e estalou a língua com impaciência. Onde diabos estava Darcy? Ele sabia
que detestava que chegasse atrasada, assim como sabia que seu dia a dia era regido
pela mesma pontualidade de um relógio suíço.
O voo que havia dito para ela pegar havia chegado vinte minutos atrás, mas ela
não estava entre os passageiros que estavam saindo do avião. Havia descontado
sua irritação no recepcionista, que estava revisando a lista de passageiros no
computador enquanto ele era forçado a considerar o inimaginável: que Darcy havia
mudado de ideia e o tivesse deixado plantado.
Franziu o cenho contrariado. Embora relutasse em aceitar o dinheiro que ele lhe dera
para reservar a passagem de primeira classe e comprar as roupas de que precisava,
ela acabou aceitando. Claro que pode ser que ela tenha feito isso apenas porque ele
havia insistido. Podia ser que ele a tivesse ofendido sugerindo que ela precisava
comprar roupas decentes, ou talvez tivesse apenas pegado o dinheiro e ido para
Norfolk.
Renzo apertou os lábios quando quase se encontrou desejando que assim fosse.
Assim ao menos teria um motivo para desprezá-la, para esquecê-la, ao invés do
gosto amargo que tinha na garganta naquele momento ao pensar que talvez tivesse
decidido pôr fim à sua relação.
Lembrou da noite em que a havia conhecido. Ele havia saído com três amigos
banqueiros da Argentina que estavam de passagem e queriam conhecer a noite de
Londres. Foram ao Starlight Room, uma boate, e pediram uísque enquanto decidiam
qual das mulheres do bar, bebendo coquetéis, convidariam para dançar. Algumas
delas sorriram para ele de forma sedutora, mas sua atenção estava voltada para uma
das garçonetes, a criatura mais explosiva que ele já vira. Seu uniforme, um vestido
de cetim preto, destacava seus quadris, mas havia sido o estonteante decote que o
havia deixado sem fôlego. Santa Madona, que lindos! Que peitos! Tão voluptuosos,
tão bem formados...
Ao contrário de seus amigos, não tinha dançado com ninguém, mas havia ficado
sentado ali, observando-a em transe e com uma tremenda ereção. Ele a havia
chamado várias vezes com a desculpa de pedir outro drinque, e todas as vezes que
estivera perto dela sentira faíscas voarem entre eles. Nunca havia experimentado
uma atração tão forte por uma completa desconhecida e, embora tivesse certeza de
que ela sentia o mesmo, não havia demonstrado isso em nenhum momento. Na
verdade, pela maneira como seus grandes olhos verdes repetidamente evitavam os
dele, e os olhares furtivos que havia lhe lançado, havia concluído que ela estava
brincando de gato e rato com ele.
Se soubesse que ela era virgem, ainda assim teria dormido com ela naquela noite?
Perguntou-se. E imediatamente a resposta foi sim. Teria sido incapaz de lutar contra
o desejo que se apoderou dele assim que a viu, porque desde aquele momento ele
havia sabido que não poderia tirá-la de sua mente até que a tornasse sua.
Após o fechamento do clube, se despediu dos amigos na porta do local, que
pegaram um táxi. Seu motorista veio buscá-lo e aguardava no meio-fio com um
guarda-chuva, pois estava começando a chover. Renzo, que queria esperar Darcy
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sair, pegou o guarda-chuva de sua mão e lhe pediu que se sentasse ao volante e
esperasse alguns minutos.
Ela saiu do local depois de um tempo e, quando parou para abrir o guarda-chuva e
o viu se aproximando, olhou para ele com desconfiança. Ele a cumprimentou com
um sorriso e, apontando para o carro, com seu motorista esperando ao volante,
ofereceu-se para a levar.
-Não, obrigada. -Respondeu ela, num tom veemente que o surpreendeu.
-Por quê? Não confia em mim?
-Sei o que quer. -Retrucou. -E de mim não o vai obter. -E depois de dizer isso
começou a andar rua abaixo. Renzo entrou no carro e a observou enquanto se
afastava, com uma mistura de frustração e admiração.
Voltou outras noites ao clube, e conversando com ela descobriu que só trabalhava
lá nos finais de semana e que ia sair porque havia conseguido um emprego diurno
em uma lanchonete. E não havia sido fácil lhe arrancar essa informação. Ela era a
mulher mais reservada que havia conhecido, e isso, juntamente com a forma como
ela resistia a ele, o fazia persistir fervorosamente em sua tentativa de conquistá-la. E
um dia, justo quando estava começando a perguntar-se se não estaria perdendo
tempo, ela concordou em deixá-lo levá-la do trabalho para casa.
-Madona mia! -exclamou sardonicamente. -Isso significa que você decidiu que
pode confiar em mim?
Ela encolheu os ombros, e com esse movimento seus seios saltaram, fazendo que
uma onda de desejo aflorasse em sua virilha.
-Suponho que sim. O resto da equipe já deve ter pegado seu rosto, e você foi
imortalizado para sempre nas imagens das câmeras de segurança toda vez que veio,
então se for um assassino, será pego em breve.
-Pareço um assassino?
Ouvindo-o dizer aquilo, Darcy sorriu, e foi como se, em um céu nublado, o sol de
repente tivesse espreitado por entre as nuvens.
-Não, mas um pouco perigoso você parece sim.
As mulheres sempre me dizem que isso é parte da minha atratividade.
-Não duvido, embora não saiba se estou de acordo. Mas, se achas que porque lhe
deixei que me leves para casa vou dormir contigo, você está errado,- alertou Darcy
Mas acabou que era ela quem estava errada. Dirigindo pelas ruas de Londres
naquela noite chuvosa, perguntou-lhe, certo de que ela diria não, se gostaria de ir até
sua casa para tomar um café. Para sua surpresa, Darcy concordou.
Quando chegaram ao seu apartamento, Darcy confessou que a verdade era que
não gostava muito de café, então lhe preparou um chá e, percebendo que se fosse
rápido demais com ela, iria perdê-la, decidiu comportar-se como um cavalheiro e não
a pressionar. Não sabia se era por causa de sua contenção, mas o fato é que Darcy
começou a relaxar, e quando em um dado momento, estavam os dois sentados no
sofá, ele se inclinou para beijá-la, ela não fez sequer um movimento para afastá-lo.
Também não o impediu quando ele deslizou a língua em sua boca, ou quando
começou a acariciá-la e tirar sua roupa. Acabou fazendo amor com ela ali mesmo,
temendo que mudasse de ideia durante a curta caminhada entre a sala e o quarto.
Foi então que descobriu que ela era virgem, e nesse momento algo mudou. Nunca
tinha feito amor com uma virgem antes, e não esperava a satisfação que sentiu ao
saber que era o primeiro a possuí-la. Um pouco depois, quando estavam deitados
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juntos, lutando para recuperar o fôlego, ele afastou uma mecha úmida de sua
bochecha e perguntou por que não havia contado a ele.
-Por quê? Você teria parado se o tivesse feito? -ela respondeu.
-Bom...não o sei-Admitiu ele. -Mas... se eu soubesse que era sua primeira vez, teria
levado você para a cama e teria sido mais cuidadoso.
-Não sou de porcelana. -Respondeu ela num tom mal-humorado.
Sua resposta confundiu Renzo, que havia pensado que ela se mostraria
constrangida, ou pelo menos tímida, mas também aumentou sua atração por ela.
E embora pensasse que seria apenas um caso de uma noite, ele também se
enganou, porque Darcy havia despertado sua curiosidade. Por exemplo, lia tantos
livros quanto uma professora com quem ele havia saído durante algum tempo,
embora fossem romances, não ensaios de filosofia ou tratados de biologia molecular.
Além disso, não era tão previsível quanto as outras mulheres com quem estivera.
Ela não o aborrecia com histórias de seu passado, nem o importunava com perguntas
sobre o dele.
Seus encontros raros, mas apaixonados, atendiam às necessidades de ambos, e
Darcy parecia entender e aceitar que ele não estava interessado em um
relacionamento sério.
Às vezes, porém, uma pergunta incômoda assombrava sua mente: por que uma
mulher tão bonita teria entregado sem hesitar sua virgindade a um completo
desconhecido? E repetidamente se encontrava abordando a mesma resposta: será
que ela havia estado esperando pelo lance mais alto, um milionário como ele?
-Renzo!
A voz de Darcy chamando-o o devolveu ao presente, e quando levantou o olhar, a
viu. Não o havia deixado plantado, estava ali, vindo em sua direção, puxando uma
mala surrada. Renzo, acostumado com o uniforme monótono de garçonete que ela
usava diariamente, ficou boquiaberto ao vê-la. Usava um vestido de verão
estampado em uma cor amarela brilhante com pequenas flores azuis. Era um vestido
simples de algodão, mas lhe ficara espetacular. E não foram nem o corte ou desenho
que fizeram que todos os homens na sala ficassem olhando-a, mas sua beleza
natural e frescor.
Porém, quando ela o alcançou, a irritação voltou a dominá-lo, e pensou que deveria
lembrá-la de que ninguém, ninguém, fazia Renzo Sabatini esperar. Ele jogou o jornal
no assento ao lado dele e se levantou.
-Chegaste atrasada.
A irritação de Renzo não diminuiu a satisfação que Darcy sentira com a maneira
como ele a olhara ao chegar. Havia decidido desafiá-lo com aquele vestido de
liquidação para mostrar que não precisava de roupas caras para se vestir com estilo,
e parecia que tinha conseguido.
Mas se queria manter uma boa lembrança daquela viagem, não podiam começar
com o pé esquerdo, e isso significava pedir desculpas pelo atraso. A verdade é que
houve um momento em que esteve a ponto de cancelar sua passagem, porque no
início da semana havia adoecido com uma virose estomacal que a fazia vomitar sem
parar.
-Eu sei; perdão.
Renzo agarrou a alça telescópica de sua mala de rodinhas e franziu a testa
enquanto pegava sua bagagem de mão.
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-O que levas aquí? Tijolo?
-Coloquei alguns livros,- ela respondeu enquanto se dirigiam para a saída. -Embora
não soubesse se teria muito tempo para ler.
Quando Renzo ficou calado com expressão taciturna, em vez de responder com
um comentário provocador como costumava fazer, deduziu que não iria perdoá-la tão
facilmente por fazê-lo esperar.
-Não acredito que estou na Itália, -murmurou Darcy minutos depois, admirando o
céu azul brilhante enquanto dirigiam do aeroporto para Chiusi.
Renzo que havia permanecido calado ao volante até aquele momento, lhe lançou
um olhar enfurecido.
- Estou há mais de uma hora te esperando nesse condenado aeroporto. - ele a
repreendeu–. Por que não pegou o voo que eu disse?
Darcy vacilou. Ela poderia inventar alguma desculpa para acalmá-lo, mas já havia
envolto em segredos e evasivas muitos aspectos de sua vida, com medo de que
alguém possa julgá-la. Por que não lhe contar a verdade?
Além disso, isso era diferente, não era algo do que tivesse que se envergonhar.
Deveria ser franca com ele a respeito da decisão que havia tomado quando havia
enfiou aquele grosso maço de notas em sua mão, deixando-a terrivelmente
desconfortável.
-Porque o bilhete era caro demais.
-Darcy, dei-lhe o dinheiro para reservar um lugar naquele voo.
- Eu sei, e isso foi muito generoso da sua parte, -respondeu ela, parando para
respirar fundo, -mas quando vi quanto custava viajar de primeira classe, não
consegui.
-O que quer dizer?
-Bem, parecia obsceno gastar tanto dinheiro em um voo de duas horas, então
consegui uma passagem para uma empresa de baixo custo.
-Você fez o que?
- Você deveria tentar fazer isso algum dia. É verdade que não se vai muito
confortável, mas a diferença de preço é brutal. O mesmo que nas roupas.
-Nas roupas? -Repetiu ele sem compreender.
-Sim. Fui àquela loja que você me recomendou na Bond Street, mas o preço que
eles estavam pedindo até mesmo por uma blusa simples era ridículo, então fui ao
centro e encontrei outras coisas tão bonitas, mas mais baratas, como este vestido. -
Ela alisou a saia com a mão e acrescentou com uma leve incerteza: -O que creio
está bom, não?
Renzo a olhou e franziu o cenho.
-Sim, está bem.-Disse asperamente.
- E então, qual é o problema?
Renzo bufou e, batendo no volante com a palma da mão, deixou escapar:
- O problema é que não gosto de ser desobedecido.
Darcy riu.
- Meu Deus, Renzo! Você está me lembrando uma professora rabugenta que eu
tive. Só que você não é meu professor, nem eu sou sua aluna.
- Ah não? -Renzo ergueu as sobrancelhas. -Bem, eu pensei que tinha lhe ensinado
algumas coisas...

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As bochechas de Darcy coraram com a insinuação, e o olhou de soslaio e pensou,
com um suspiro interior, como ele era bonito. Às vezes, quando olhava para ele, seu
coração batia forte e quase achava difícil respirar. Quando isso acabasse, sentiria
por alguém de novo o que sentia por Renzo? Perguntou-se. Provavelmente não;
nunca havia sentido uma atração tão forte por nenhum outro homem.
Como descrevia Renzo o que havia acontecido no dia em que se conheceram? Ah
sim! Colpo di fulmine; algo como ser atingido por um raio, uma atração imediata.
Sem que ele percebesse, ela lhe lançou outro olhar. Seu cabelo estava
desgrenhado, o colarinho da camisa aberto, e o sol da Toscana fazia sua pele morena
parecer dourada. Os músculos de suas coxas eram perceptíveis sob as pernas de
suas calças cinza carvão, e Darcy sentiu seu pulso acelerar quando seu olhar passou
por elas.
-Então, que faremos estes dias? -Perguntou-lhe.
-Fora fazer amor, queres dizer?
-Fora isso. -Assentiu ela, sentindo uma pontada no peito.
Mesmo que o sexo com ele fosse incrível, desejava que ele não tocasse no assunto
o tempo todo. Era necessário lembrá-la constantemente da única razão pela qual ele
estava com ela? Lembrou-se das botas que havia guardado na mala, para o caso de
terem caminhadas, e se perguntou se não havia entendido mal aquela viagem. Fazia
parte dos planos de Renzo levá-la para ver alguma coisa, ou iriam fazer mais do
mesmo, embora em um ambiente mais pitoresco?
-O homem que vai comprar a casa vai vir jantar. -Disse-lhe, sem responder a sua
pergunta, saindo da autoestrada para uma estrada rural.
-Oh. Isso é habitual?
-A verdade é que não, mas... bem, ele é meu advogado, e quero convencê-lo a ficar
com o serviço que cuida da vila. Eles trabalham para minha família há tantos anos…
Vai trazer a sua namorada, então é bom que você esteja aqui para que não sejamos
ímpares.
Darcy apertou os lábios. Ou seja, seria a acompanhante ornamentada, que sua
missão seria ocupar uma cadeira que de outra forma ficaria vazia e aquecer sua
cama à noite. Não havia nada mais.
Embora aquele comentário a magoasse, não o expressou. Era algo em que ela era
mestre. Em sua mais tenra infância, as privações e o medo a haviam marcado, lhe
haviam ensinado a ocultar seus sentimentos atrás de uma máscara, iria mostrar
sempre ao mundo sua melhor face para parecer a classe de menina que um casal
quereria adotar e levar à sua Casa. E embora às vezes se perguntasse o que
revelaria se aquela máscara caísse um dia, tentou não pensar nesse medo, dizendo
a si mesma que nunca deixaria isso acontecer.
-Quando foi a última vez que estiveste no exterior? -Renzo perguntou enquanto
passavam por uma bonita Villa localizada no topo de uma colina.
- Ugh, eu nem me lembro, -ela simplesmente respondeu.
-Tanto assim?
Fora aos quinze anos, numa viagem de ônibus pela Espanha com outros meninos
do orfanato. Havia se queimado com o sol abrasador do verão, e dormir em um trailer
havia sido como dormir em uma estufa, mas deveriam estar agradecidos à paróquia
por arrecadar o dinheiro para pagar a viagem.

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E ela estava, mas além do calor e do desconforto, houve outras coisas que a
amargaram a estadia, como o dia em que alguém abriu um buraco na parede do
chuveiro das meninas para espioná-las, e houve uma grande confusão, ou o dia em
que uma calcinha lhe foi roubada enquanto ela tomava banho na piscina.
-Foi uma viajem que fiz com a escola.-Respondeu sem dar mais detalhes. – Foi a
única vez que estive fora...até agora.
Renzo franziu o cenho.
-Ou seja, você não é muito de viajar.
-Suponho que não.
De repente, Darcy percebeu o quão perigosa essa jornada poderia ser para ela.
Passar mais tempo com Renzo significava que a qualquer momento ela poderia
desabafar e contar algo que não queria contar, algo que o repugnaria.
Não queria lhe mentir, mas jamais poderia lhe contar a verdade. Não tinha sentido
fazê-lo quando o que havia entre eles não tinha futuro. Para que ia lhe falar de sua
mãe viciada? Não suportaria que a olhasse com o desprezo e o horror com que
outras pessoas a olharam quando descobriram.
No entanto, a lembrança de sua mãe fez sua consciência a incomodar, e decidiu
que precisavam conversar sobre algo que ela havia pensado durante o voo.
-Renzo...-Começou. – Sobre o dinheiro que que economizei com a passagem de
avião e as roupas...
-Sim, eu sei, -ele a interrompeu com um sorriso mordaz, -Tinhas que soltar sua
alegação de “garota pobre ensina uma lição ao milionário que vai por aí jogando
dinheiro fora.” Eu captei.
-Não precisa ser sarcástico,-Darcy retrucou.- Quero devolvê-lo. Carrego-o na
bolsa, dentro de um envelope; Só falta o dinheiro que gastei na passagem e no
vestido.
-Quando vai entender que não quero que você o devolva? Eu tenho muito dinheiro.
E se te faz sentir melhor, eu te admiro por ser uma mulher de recursos e por negar-
se a se deixar seduzir pelo meu dinheiro. Não se encontra pessoas como você todos
os dias.
Darcy ficou calada por um momento.
-Creio que nós dois sabemos que não foi o teu dinheiro o que me atraiu para ti,
Renzo.
Não, não havia sido seu dinheiro, nem o fato de ele ser um arquiteto importante;
simplesmente gostava dele como pessoa. Ele era o homem mais carismático e
interessante que ela havia conhecido.
Renzo virou um momento a cabeça para a olhar.
- Madonna mia... - ele murmurou. Sei o que está tentando; está me provocando
para que encoste na parada de descanso mais próxima e faça amor com você aqui
mesmo no carro.
-Renzo, estou falando sério. Esse dinheiro...
-Não quero esse condenado dinheiro!-Replicou ele irritado. -O que quero é que
você coloque a mão na minha virilha para ver como você me deixa...
-Não penso tocar em você enquanto estiver dirigindo, -retrucou, decepcionada que
tivesse voltado outra vez ao sexo.
Estava lhe contando sobre suas emoções, mas parecia que ele só conseguia
pensar nisso. Talvez devessem parar e fazê-lo ali, no carro. Ao menos por alguns
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momentos, o sexo a faria esquecer o que desejava e não podia ter, coisas que outras
mulheres davam como certas, como um homem que se apaixona por elas e jura amá-
las e protegê-las pelo resto de suas vidas. Fazendo um esforço para tirar aqueles
pensamentos amargos da mente, ela disse a Renzo para mudar de assunto:
-Em vez disso, fale-me do lugar aonde vamos.
-Acredita que falar disso vai me fazer parar de pensar no que você está vestindo
sob esse lindo vestido?
-Creio que deverias se concentrar na estrada.
- Darcy, Darcy, Darcy...- ele murmurou, rindo baixinho. -Já te disse que uma das
coisas que admiro em você é sua capacidade de sempre dar uma resposta
inteligente?
-A Villa, Renzo, quero que me fales de tua Villa.
-Muito bem, falaremos da Villa. A casa é muito antiga, e há um pomar de árvores
frutíferas, vinhedos e um olival… De fato, produzimos excelentes vinhos da uva
Sangiovese e vendemos nosso azeite para alguns dos restaurantes mais exclusivos
de Paris e Londres.
As poucas informações que ele acabara de dar a ela poderiam ter sido retiradas de
um site imobiliário e, sem saber bem por que, Darcy ficou desapontada.
-Parece um lugar maravilhoso. Murmurou sem o menor entusiasmo.
-O é.
-E então, por que vai vender a Villa?
Renzo encolheu os ombros.
-É o momento.
-Por quê?
Quando o rosto de Quando o rosto de Renzo escureceu e ela viu sua mandíbula
cerrar, Darcy percebeu que eram perguntas demais.
-Um dos motivos pelos que estamos bem juntos é que até agora nunca me havias
crivado de perguntas. -Disse-lhe.
-Eu apenas perguntava por perguntar...
-Pois não o faças.-Cortou-lhe com brusquidão. -Não mexa em meus assuntos. Por
que mudar o que funcionou para nós até agora? Além disso, já chegamos, -anunciou
ele, apontando para a frente deles com a cabeça.
Mas sua expressão não se suavizou nem um pouco enquanto caminhavam pela
estrada de terra arborizada em direção a um imponente portão de ferro forjado no
qual estava inscrito o nome da Villa: Vallombrosa.

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Capítulo 3

-E se supõe que vou entender-me com alguém? -Perguntou Darcy quando


desceram do carro no ensolarado jardim da frente. -Eu só sei algumas palavras de
italiano.
- Todo o pessoal do serviço é bilíngue, -disse Renzo, já parecendo ter passado o
acesso de mau humor.- Poderás abordá-los em sua língua materna.
Darcy respirou aliviada, e quando entraram na casa, sorriu calorosamente para
Gisella, a velha governanta, e seu marido, Pasquale, um dos jardineiros da Villa,
quando Renzo os apresentou e apertou as mãos. Ele também a apresentou a
Stefania, uma jovem empregada que ajudava Gisella nas tarefas domésticas, e a
Donato, o cozinheiro.
-Serviremos o almoço dentro de uma hora. -Donato lhes disse. -Ou antes, se
estiverem com fome.
-Não se preocupe, podemos esperar, -respondeu Renzo. Então, virando-se para
ela, disse: -Que tal darmos uma volta e eu lhe mostrar a Villa? Pasquale levará
nossas malas para cima.
Darcy assentiu. Parecia-lhe estranho que Renzo de repente a tratasse com tanta
deferência, e que acabasse de apresentá-la ao serviço como se fosse sua namorada,
mas lembrou-se de não ter ilusões, que isso não significava nada. Ela o seguiu para
fora e, assim que começaram a andar, ficou encantada com a beleza de Vallombrosa.
Abelhas zumbiam entre a lavanda e borboletas de cores brilhantes esvoaçavam em
suas perfumadas varinhas roxas. Em uma das paredes de pedra da casa,
parcialmente coberta por uma roseira cheia de rosas, um pequeno lagarto tomava
sol.
Darcy se perguntou como seria crescer em um lugar assim, em vez de em um
orfanato monótono do norte da Inglaterra como ela, o único lar que havia conhecido.
- Você gosta? -perguntou Renzo, parando e virando-se para ela.
-Como poderia não gostar? É lindo.
- Você que é linda,- ele murmurou, virando-se para olhá-la.
Depois de como havia saltado do carro, deveria resistir a ele, pensou Darcy, mas
quando lhe pôs as mãos nos quadris e a beijou, ela não resistiu. Entre beijos, Renzo
sugeriu em seu ouvido que entrassem e, quando chegaram ao quarto, Darcy tremia
de desejo. Assim que ela fechou a porta, Renzo a puxou para perto e devorou seus
lábios enquanto enfiava os dedos em seus cabelos ruivos.
-Renzo...-Murmurou quando começou a beijá-la no pescoço.
-O que?
Darcy umedeceu os lábios.
-Já sabes o que...
-Creio que sim. -Murmurou ele, e Darcy o sentiu sorrir contra sua pele. – É isso que
você quer?
Renzo abriu o zíper de seu vestido e a ajudou a despi-lo.
- Sim, sim, é isso que eu quero...- ela disse com um fio de voz.
-Sabe que desde a última vez que nos vimos não consigo parar de pensar em
você? -Renzo murmurou, abrindo o sutiã dela para deixá-lo cair no chão também.
-Acontece a mesma coisa comigo...-ela respondeu, pegando o seu cinto.

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Logo os dois estavam nus. Renzo a empurrou delicadamente, fazendo-a cair na
cama, e se deitou sobre ela, beijando-a novamente.
Darcy agarrou-se a seus ombros fortes quando ele começou a esfregar o polegar
contra o clitóris dela e, em segundos, teve um orgasmo. Foi tão rápido que quase se
sentiu envergonhada. Renzo riu baixinho, e depois de inserir sua ereção em seu calor
úmido, ele ficou parado por um momento.
-Você tem ideia do quanto eu gosto de estar dentro de você? - ele murmurou
quando começou a se mover.
Darcy engoliu saliva.
-Acho... acho que tenho uma ideia...
-Adoro poder sentir você assim... -Renzo murmurou, fechando os olhos. -Só você.
Não havia nada de romântico em suas palavras. Darcy sabia exatamente o que ele
queria dizer. Ela foi a primeira e única mulher com quem ele decidiu ficar sem
preservativo. Ao descobrir que ela era virgem a havia elevado a um status especial
dentro da mulheres com quem havia estado. Ele mesmo havia lhe dito. Assegurou-
lhe que ela era pura; ficara fascinado ao conhecer uma mulher que, aos vinte e quatro
anos, ainda não havia tido relações íntimas.
Pouco depois lhe havia sugerido de um modo casual que poderia tomar a pílula
para que não tivessem que usar preservativo, e ela havia concordado. Ainda
recordava a primeira vez que haviam feito amor sem preservativo, e o incrível que
havia sido senti-lo dentro de si sem aquela “Ditosa borracha”, como o chamava ele,
entre os dois.
Sim, sem o preservativo era muitíssimo mais s gostoso, como naquele momento,
com o membro de Renzo entrando e saindo dela enquanto ele a beijava
sensualmente. De repente, ele a rolou com ele, fazendo-a ficar por cima, e olhando-
a nos olhos, sussurrou:
-Cavalga sobre mim, cara; cavalga até voltar a ter outro orgasmo.
Ela assentiu e apertou as coxas contra os quadris dele. Gostou dessa posição;
isso a fazia sentir que era ela quem estava no controle. Encantava-lhe ver Renzo
esparramado embaixo dela, seus olhos se estreitando e seus lábios entreabertos
enquanto ela balançava para frente e para trás.
Quando o ouviu gemer de prazer, inclinou a cabeça para silenciá-lo com os lábios,
embora tivesse certeza de que as paredes daquela velha casa eram grossas o
suficiente para abafar os sons de duas pessoas fazendo sexo.
Logo sentiu que estava chegando ao seu limite, e seu orgasmo, intenso e
requintado, veio apenas um instante antes dele, e um gemido estrangulado escapou
de sua garganta quando ele agarrou seus quadris e, murmurando algo ininteligível
em italiano, se arqueou uma última vez para ela.
Ofegante, Darcy descansou a testa no travesseiro próximo ao seu pescoço e,
quando finalmente recuperou o fôlego, rolou de cima dele e se jogou ao seu lado.
Ficou um tempo olhando para o teto de vigas e o lustre de vidro chumbado, que
parecia tão antigo quanto a casa.
- Que boas-vindas… - disse finalmente para romper o silêncio.-Não teria hesitado
nem por um momento quando você me convidou para vir...
Renzo manteve os olhos fechados e não respondeu. Não queria falar; não naquele
momento. Os pensamentos ferviam em sua cabeça. Havia sentido uma mistura de
sentimentos confusos quando chegou à casa, sabendo que logo passaria para outras
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mãos. Aquela casa estava na família de sua mãe há gerações, mas estava cheia de
memórias dolorosas. Não poderia viver no passado; tinha que deixá-lo ir, dizer adeus
àquele último fragmento de ontem ao qual havia estado se apegando todos esses
anos.
Virou a cabeça para Darcy, que estava deitada ao seu lado com os olhos fechados,
seu cabelo ruivo espalhado sobre o travesseiro branco. Pensou em como ela iria para
Norfolk quando eles voltassem para a Inglaterra e como seria estranho não a ver
novamente.
-Então... gostou? A recepção, quero dizer –respondeu finalmente.
-Sabes que sim. -respondeu sonolenta, -mas eu deveria pegar meu vestido no chão
para que não fique amassado, embora eu ache que precisa ser lavado.
-Entregue para Gisella; ela vai cuidar disso.
-De jeito nenhum. -Replicou ela abrindo os olhos e sentando-se num impulso. -Não
vou incomodá-la só para lavar um vestido quando posso fazê-lo eu.
-E se eu dissesse que preferia que você não o fizesse?
-Eu não me importaria.
Ele riu e balançou a cabeça.
-Por que você é tão teimosa?
-Pensei que era algo que você gostava em mim.
-Apenas quando procede.
-Ou seja, quando te convém.
- Exatamente , ele respondeu com um sorriso zombeteiro.
Darcy deitou-se e olhou para o teto. Só porque era sua convidada, não ia
comportar-se com ares de grandeza; não lhe cairiam os anéis por lavar suas roupas.
Não tentaria ser alguém que não era, porque logo estaria de volta à Inglaterra, o
mundo humilde de onde viera, e seu amante milionário acabaria se tornando uma
lembrança distante.
Mas não deveria descontar em Renzo, que, afinal, não fazia nada além de se
comportar tal e como era. Além disso, nunca havia posto objeções à arrogância dele.
De fato, era uma característica de seu caráter que ela achava sexy, e que havia
servido como uma barreira para evitar que caísse por completo sob seu feitiço, que
a havia obrigado a ser realista a respeito do que havia entre eles, em vez de se deixar
levar por um sonho inatingível.
Virou-se para ele e o beijou nos lábios.
-Bem, diga-me que planos você tem para esses dias,- disse-lhe.
A mão de Renzo deslizou para a união entre suas coxas.
-Planos? Que planos? Quando te tenho nua a meu lado sou incapaz de pensar em
nada que não seja...
Darcy deteve sua mão antes que pudesse ir mais longe.
-Conta-me algo mais da Villa; e não quero dizer sobre a produção de azeite ou
vinho. Você morou aqui quando criança?
A expressão de Renzo se tornou receosa.
-O que há com esse interesse repentino?
-Você me disse que vamos jantar com o homem que está comprando a Villa, e acho
que vai parecer um pouco estranho não ter me contado nada sobre sua ligação com
ela. Você cresceu aqui?
-Não, eu cresci em Roma. Este era o nosso local de veraneio.
23
-E? -ela insistiu para que lhe contasse algo mais.
-A Villa pertence à família de minha mãe há gerações. Víamos aqui para escapar
do calor da cidade. Minha mãe e eu passávamos aqui todo o verão, e meu pai vinha
nos finais de semana.
Era a primeira vez que contava algo sobre si mesmo; até aquele momento tudo que
tinha sabido dele era que era filho único, como ela, e seus pais já haviam falecido.
Darcy estendeu a mão e lentamente traçou um círculo em seu estômago com o
dedo indicador.
-E o que fazia quando estava aqui?
-Meu pai me ensinou a caçar e pescar", explicou Renzo. Às vezes, amigos vinham
passar alguns dias conosco. Éramos felizes… ou assim pensei, -concluiu, em tom
áspero.
Darcy engoliu em seco.
-Mas não o eram?
-Não, não éramos. -ele respondeu abruptamente.- Muito pouca gente o é.
Suponho que você esteja certo,- Darcy murmurou.
Mas ela sempre acreditara... o quê? disparou para si mesma, que alguém com
dinheiro e sucesso como Renzo não podia ser infeliz? Talvez não estivesse passado
fome ou frio, mas podia ter sofrido por outros motivos, talvez do tipo emocional e não
físico. Seria por isso que às vezes ele parecia tão distante, tão frio?
-O que aconteceu? -Atreveu-se a perguntar. -Ocorreu algo?
-Meus pais se divorciaram quando eu tinha sete anos.
-Foi um divórcio muito amargo?
Ele lhe lançou um olhar r inescrutável.
-Não são todos os divórcios?
Darcy encolheu os ombros.
-Suponho que sim.
-Pois, sim, especialmente quando descobres que a melhor “amiga” de sua mãe tem
um caso com seu pai há anos, -acrescentou ele em tom amargo.
Darcy mordeu o lábio inferior.
-E o que aconteceu?
-Depois do divórcio, meu pai se casou com sua amante, mas minha mãe nunca se
recuperou dessa dupla traição, -explicou. Ela fez todo o possível para manter meu
pai longe de mim e caiu em depressão.- Sua mandíbula apertou. -Era apenas uma
criança e não sabia o que fazer para ajudá-la. Eu me senti... impotente. Costumava
me sentar em um canto da sala, brincando silenciosamente com meus blocos de
construção enquanto ela chorava amargamente.
-Deve ter sido terrível para você, -ela murmurou.
Renzo ergueu a mão para acariciar seu peito.
–Isso é outra coisa que eu amo em você, tão compassiva e doce.
Darcy teve a impressão de que Renzo era um daqueles homens que dividem as
mulheres em duas categorias: santas ou putas, e parecia que ele a colocara na
primeira, provavelmente porque ela era virgem até conhecê-lo. No entanto, ele ficaria
desconcertado se soubesse o motivo pelo qual ela não tinha dormido com ninguém
até então.

24
Embora ainda fosse traumático para um homem casado ser infiel à esposa como o
pai dele havia sido, ela podia contar a ele coisas sobre sua vida que fariam sua
própria história parecer uma história infantil.
-E o que o fez decidir vender a Villa? -Perguntou, mudando de assunto.
Renzo ficou calado por um momento.
-Minha madrasta morreu no ano passado. Ela sempre quis esta casa, e durante
todos esses anos me recusei a vendê-la, mas agora que ela morreu, é como se
tivesse morrido com ela o meu desejo de mantê-la. Além disso, quase nunca venho
aqui, e é para uma família, não para um solteiro.
-E não gostaria de formar uma família?
-Com tudo o que passei com o divórcio de meus pais não me restou muita vontade.-
Respondeu ele em tom frio. -Imagino que me entendes, não?
Darcy assentiu. Sim, o entendia perfeitamente, entendia que estava lhe dando um
aviso, uma advertência de que não deveria ter ilusões, de que embora a tivesse
levado ali para passar o fim de semana com ele como se fosse sua namorada, nada
havia mudado. Ela esboçou um sorriso forçado para fingir que não lhe importava.
-Não deveríamos ir nos preparando para o almoço?- Inqueriu, e a voz lhe tremeu
um pouco quando a mão de Renzo deixou seu peito para deslizar para seu ventre.
-Não...Donato não disse que o teria pronto dentro de uma hora?
O toque da pele de Darcy afastou todos os pensamentos da mente de Renzo e um
desejo irresistível tomou conta dele, o tipo de desejo que anulava tudo exceto a busca
pelo prazer para satisfazê-lo.
Ela havia contado a ela coisas que normalmente não contaria a ninguém, mas o
fez porque Darcy não lhe fazia muitas perguntas, porque ele sabia, como ela havia
dito a ele, que ela não queria se intrometer em sua vida.
No entanto, queria que ficasse claro, que não haveria mais confidências, que havia
apenas uma razão para a ter trazido ali, e o brilho de expectativa nos olhos de Darcy,
que refletiam seu próprio desejo, lhe disse que estava começando a captar a
mensagem.
Ao olhar para a linda garçonete que parecia entendê-lo melhor do que qualquer
outra mulher, sentiu seu membro endurecer.
-Donato é meu empregado, e ele trabalha no meu horário, não eu no dele, - disse-
lhe, inclinando-se para pegar um de seus mamilos na boca.
-Renzo...-Ofegou ela fechando os olhos.
-Sim? -A provocou.
-Não me faça suplicar...
-Mas eu gosto de ver você suplicar, -ele murmurou, desenhando arabescos no
joelho de Darcy com o dedo indicador.
-Eu sei.
-E então? -ele insistiu, deslizando a mão para o púbis dela.
Darcy gemeu, erguendo os quadris na direção dele.
-Por favor...
-Assim é melhor, -Renzo riu triunfante. -A comida pode esperar — acrescentou ele,
separando as coxas dela e se posicionando entre elas mais uma vez —, mas acho
que isso não.

25
Capítulo 4

-Esse? -Darcy perguntou, segurando um vestido justo preto brilhante. Então ergueu
outro turquesa com babados. -Ou este?
-O preto. -Disse Renzo, antes de seguir abotoando a camisa.
Darcy enfiou o vestido pela cabeça e suspirou, pensando em quanto gostaria de
poder parar o tempo e que aquele final de semana não estivesse acabando, pois
estavam sendo os melhores dias de sua vida.
Haviam percorrido o vasto terreno que compreendia a Villa, subindo por caminhos
de terra das colinas, afinal fizera bem em levar as botas, e presentearam os olhos
com a imagem espetacular das montanhas ao longe. Renzo a havia levado também
a uma bela cidade chamada Panicale, e haviam tomado café em uma pequena praça
de pavimentada enquanto os sinos da igreja tocavam.
E embora Renzo tivesse lhe assegurado que em maio fazia muito frio para nadar,
Darcy lhe disse que não iria embora sem tomar banho na piscina de Vallombrosa.
Ela nunca teve uma piscina só para ela. A princípio teve um pouco de vergonha de
sair para o pátio e colocar um biquíni, mas para sua surpresa, Renzo finalmente se
juntou a ela.
Após algumas voltas, Darcy havia desistido de nadar, e havia se sentado na grama,
enrolada em uma toalha, admirando as braçadas fortes de Renzo até que ele também
saísse da piscina. Estava muito sexy em sua roupa de banho, uma boxer preta que
amarrada a seus quadris, e ficou sem ar quando se parou a sacudir a água do cabelo,
com o sol brilhando sobre sua pele acetinada, antes de ir sentar-se a seu lado.
Conversaram um pouco, mas depois de um tempo Renzo começou a beijá-la e
sussurrar coisas em seu ouvido, e entre beijos ele conseguiu convencê-la e eles
acabaram voltando para casa, para o quarto, onde tinham feito amor, e tinha sido
ainda mais incrível que de costume.
Aquela era a última noite deles lá e estavam esperando o advogado de Renzo e
sua namorada para jantar.
-Sobes o meu zíper? -Pediu a Renzo.
-Certo.
-Então, vamos ver se eu guardei os nomes, -disse Darcy enquanto lhe fechava o
zíper, -o nome do seu advogado é Cristiano Branzi e a namorada dele... a namorada
dele Nicoletta...
-Ramelli, Nicoletta Ramelli. -Recordou-lhe Renzo, e vacilou um momento antes de
acrescentar: - E creio que deverias saber que houve algo entre nós alguns anos atrás.
Darcy, que estava colocando os brincos, parou e olhou para ele no espelho.
-Tiveste algo com ela?
-Não me olhe assim, cara. - Renzo protestou. -Tenho trinta e cinco anos e em
Roma, como em todas as cidades, os círculos sociais são menores do que se pode
imaginar. Além disso, não era nada; durou apenas alguns meses.
Não era nada... Assim como ela não era nada para ele, pensou Darcy. Era esse o
seu padrão habitual, encontrar uma garota para se divertir, apenas para terminar com
ela depois de alguns meses, quando se cansava dela? Perguntou-se.

26
Minutos depois, porém, desceu as escadas com Renzo, decidida a não deixar que
tais pensamentos estragassem sua noite, e ao entrarem na sala para receber os
convidados, se esforçou para apresentar a imagem de uma mulher confiante.
Christiano era um homem grande com penetrantes olhos azuis, e Nicoletta a mulher
mais bonita que Darcy já tinha visto. Ela estava usando o que parecia ser um vestido
preto de grife e um relógio de diamantes em seu pulso fino.
Darcy a observou enquanto Renzo a cumprimentava com alguns beijos no rosto, e
ela se arrependeu de não ter colocado o vestido turquesa, pois pelo jeito que ambas
estavam de preto, era impossível para Renzo e seu advogado não as comparar. Que
barato devia parecer seu vestido ao lado do dela! Que selvagem era seu ruivo cabelo
encaracolado, em comparação com o liso cabelo preto dela, preso em um elegante
coque! Que vulgares eram seus seios grandes em comparação com o gracioso busto
dela!
Tomaram um drinque e foram para a sala de jantar, onde Stefania começou a lhes
servir cada prato do cardápio que Donato havia preparado para eles, cada um mais
requintado, flores de abobrinha recheadas, caranguejos macios recheados com
fettucine e crepes com cream cheese e cerejas, acompanhados de excelentes vinhos
da vinícola Vallombrosa.
-Bem, diga-nos, Darcy, -insistiu Nicoletta enquanto começavam a jantar, -é a
primeira vez que visitas a Itália?
-Bem, sim, -ela respondeu, esboçando um sorriso.
-Ah, mas confio que voltarás outra vez com Renzo, não? Um fim de semana é um
muito pouco tempo e aqui há tanto para ver…
Darcy olhou para Renzo, e pensou que não ficaria muito bem se anunciasse de
repente sua intenção de deixar de vê-lo.
-Viajar não combina com Darcy, -ele respondeu por ela.
-Ah, não?-Murmurou Nicoletta.
-Não é que eu não goste de viajar- Esclareceu Darcy com um sorriso forçado. -É
que não posso me permitir; sou garçonete.
Não sabia o que lhe havia feito dizer aquilo, e não sabia dizer se tinha sido um ato
de bravura ou uma estupidez. O que tinha claro era que não se envergonhava de ser
quem era, e sabia que não podia competir com aquela gente sofisticada com Villas
na Toscana e relógios de diamantes que deviam custar uma fortuna.
-Garçonete? -Nicoletta deixou cair ruidosamente o garfo no prato. -Isso sim eu não
esperava. E como se conheceram? -Perguntou a Renzo.
Não lhe restava outra opção que inventar que havia tropeçado com em uma livraria,
ou que um amigo de um amigo a havia apresentado a ele em uma festa, pensou
Darcy. Mas ele sempre disse que não gostava de mentiras, não?
-Quando conheci Darcy ela trabalhava em uma boate em Londres, -disse Renzo,
para sua surpresa. -Eu tinha ido lá com alguns amigos que estavam de passagem, e
ela estava servindo coquetéis na mesa ao lado. Quando ela se virou, nossos olhos
se encontraram e minha respiração ficou presa.
-Não é de admirar, -murmurou Cristiano. -És uma daquelas mulheres de parar o
trânsito.
Darcy olhou para Renzo, temendo que as palavras do amigo o tivessem irritado,
mas ele parecia ter gostado do elogio. E ela? Como deveria responder a isso? Então
lembrou o tempo que havia estado trabalhando em um restaurante muito chique e
27
frequentado por gente famosa. Quando se aproximava de uma das mesas para levar
ou retirar um prato, ouvia sem querer parte da conversa e, em mais de uma ocasião,
havia ouvido um deles minimizar o que estava sendo dito, como se isso não os
afetasse em nada. Por que não os imitar?
-Vamos parar de falar de mim, -disse ele em um tom indiferente.-Preferiria que
falássemos da Toscana.
-Você está gostando? -perguntou Nicoletta.
-Quem poderia não gostar??- Respondeu ela. -Duvido que haja um lugar tão lindo
quanto este em todo o mundo.
-E Vallombrosa?- Inquiriu Nicoletta.
- É como uma Villa de sonho. Os jardins, as vistas... Se tivesse dinheiro para o
comprar, fazia-o sem pensar duas vezes. Você é um homem de sorte, Cristiano.
-Eu sei.-Respondeu ele com um sorriso. -Ninguém pode acreditar que Renzo
decidiu colocá-la à venda, depois de anos e anos recebendo ofertas generosas por
ela. Mas ele se recusa a dizer o que o fez mudar de ideia.
O fato de ele ter contado a ela, embora não tivesse contado muito, ainda a
surpreendia. Mas tinha visto a dor em seus olhos quando contou a ela sobre o
divórcio de seus pais, e ela entendeu que queria deixar todas essas memórias para
trás.
Nicoletta seguiu interrogando-a, mas por sorte parecia gostar mais de falar sobre
si mesma: sua infância idílica, o caro internato suíço para o qual seus pais a
enviaram, as quatro línguas que falava, as quatro butiques de roupas que possuía
em Roma.
-Se vier outra hora, tem que dizer ao Renzo para levá-la a uma delas e comprar
algo legal para você, -disse a ela.
Darcy se perguntou se era um sutil desdém a seu vestido barato, mas tentou não
pensar nisso, assim como tentava não pensar no pouco tempo que lhe restava com
Renzo.
Enquanto ele os acompanhava até o carro para se despedir, subiu para o quarto e,
quando ele entrou alguns minutos depois, já estava nua na cama, esperando por ele.
-Você foi muito bem no jantar, -comentou ele, fechando a porta atrás dele.
-Você acha?
-Você lidou com a situação muito bem, -ele respondeu enquanto desafivelava o
cinto, -embora fosse impróprio deixar escapar seu trabalho desafiadoramente, -
observou ele, abaixando as calças. -Não me olhe assim, sabe que é verdade; você
fez isso para me irritar. Mas Cristiano gostou do que você disse sobre a Villa, dando
a entender que ele havia feito uma boa compra.-Acrescentou. - A propósito, ele disse
que vai ficar com Gisella, Pasquale, Donato e Stefania. Ficarão aliviados quando eu
contar a eles amanhã. Estavam preocupados em perder o emprego depois de tantos
anos.
-Bem, como dizem, tudo está bem quando acaba bem, certo?
- E quem disse que acabou? –Renzo subiu na cama e a puxou para si para que ela
sentisse sua ereção–. Eu diria que a noite apenas começou,- ele murmurou.
Eles dormiram apenas algumas horas. Era como se Renzo estivesse determinado
a deixá-la com uma lembrança vívida de como ele era incrível na cama, levando-a
de um orgasmo a outro. E, quando a tímida claridade da madrugada começou a
invadir o quarto, encontrou-a estremecendo de prazer e gemendo de êxtase, com a
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cabeça de Renzo entre as pernas, enquanto lambia e lambia suas dobras com a
língua.

Algumas horas depois, quando ela entrou na sala de jantar, Renzo já havia feito o
café da manhã e estava sentado à mesa, lendo o jornal.
-Por que não me acordou?-Queixou-se Darcy. -Tenho que ir ao aeroporto.
-Voltaremos juntos em me jato.-Respondeu ele, servindo-lhe de uma xícara de café.
Darcy sentou-se e estendeu a mão para pegar o açucareiro.
-Não preciso que me leve. Tenho uma passagem de avião para regressar como
vim, na classe econômica. Ele a olhou longamente e arqueou uma sobrancelha.
-Não vou deixar você voltar para Londres na classe econômica. Você vem comigo
– disse a ela em um tom que não permitia discussão.

Quando chegaram a Londres, tinham um carro esperando por eles. Darcy hesitou
e virou-se para Renzo.
–Poderia dizer ao motorista para me deixar na entrada do metrô mais próxima? –
perguntou-lhe.
Renzo franziu a testa e franziu os lábios.
-Não diga bobagens, Darcy; vamos deixar você em casa.
-Mas não é necessário.
-Eu sei que não é, -ele a cortou, e ficou em silêncio por um momento antes de dar
um meio sorriso. -Além disso, você poderia me convidar para subir e me oferecer um
café.
-Um café?
-Lá vamos nós de novo...- ele murmurou, balançando a cabeça.- Por que está tão
surpresa que eu quero tomar um café com você e conversar um pouco?
- Porque nunca fizemos isso. Além disso, de que vamos conversar? Você nunca se
interessou pela minha vida ou pelas minhas coisas.
- Bem, talvez agora elas me interessem, -ele insistiu.
Agora é tarde demais, pensou Darcy. Por que ele não fez isso desde o início,
quando poderia significar algo para ela? Ele estava se comportando exatamente
como um homem rico que consegue tudo o que deseja; Só queria que o levasse para
seu apartamento porque era a única coisa que lhe havia negado até aquele momento
e ele estava curioso.
- Já lhe disse que meu apartamento é muito pequeno; se sentiria tão desconfortável
que não gostaria de ficar lá nem por cinco minutos.
-Por que não me deixa ver e julgar por mim mesmo? A menos que isso a
envergonhe, é claro.
Ela o olhou com raiva.
-Não me envergonho.
-Bem, então… onde está o problema?- ele perguntou, encolhendo os ombros.
O problema estava, pensou Darcy, em que para alguém como ela, que teve que
dividir um quarto com outras meninas do orfanato durante a infância e adolescência,
que nunca havia tido intimidade, ter um lugar próprio, mesmo que fosse um

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apartamento minúsculo como aquele, era algo de um valor incalculável, como um
santuário.
Mas Renzo a estava olhando, esperando uma resposta, e não podia lhe dizer a
verdade.
- Tudo bem, -cedeu e entrou no carro sem dizer mais nada.

-Entre, -disse Darcy a Renzo sem a menor cortesia.


Assim que entrou, viu que o que ela chamava de "apartamento" era na verdade um
estúdio. A sala de estar, a sala de jantar e a cozinha eram o mesmo espaço. E... era
ali também que ela dormia? Perguntou-se, apertando os olhos para a estreita cama
que havia no canto.
No entanto, apesar da falta de espaço, não parecia apertado. Tudo limpo e
arrumado, e ele, que como arquiteto optou pelo minimalismo, aplaudiu por não ter
tanto lixo, como as outras pessoas.
Não havia fotos de família, nem adornos baratos. Os únicos elementos decorativos
eram um cacto no peitoril da janela e um espelho. Também havia livros na estante,
muitos livros.
Ele se virou para olhar para Darcy. Ela era tão bonita... não se sentia pronto para
deixá-la ir. Pensou em como se sentia confortável com ela, o quanto gostava de
dormir com ela em seus braços... Por que pôr fim a algo em vez de deixar que
continuasse até que se apagasse a chama por si só? Principalmente quando era algo
que ainda lhe dava prazer, do qual ele não havia se cansado.
Lançou um olhar à cozinha.
- Bom… não vai me oferecer um café?
-Eu só tomo café instantâneo.
Renzo se conteve para não contrair o rosto.
-Então melhor um copo de água.
Darcy foi até a pia encher um copo, não conseguia se lembrar quando havia sido a
última vez que bebeu água da torneira, e então adicionou alguns cubos de gelo.
Quando o entregou, Renzo tomou um gole e o colocou sobre a mesa.
-Eu me diverti muito neste fim de semana, -ele disse a ela.
-Eu também, -ela murmurou. -Na verdade, mais do que nunca.- acrescentou com
um sorriso. -Obrigado.
Eles ficaram em silêncio por um momento.
-Ouça, Darcy, mudar para Norfolk... não sei, parece um pouco... apressado para
mim. Por que não fica em Londres um pouco mais?
- Já lhe disse por que, e agora que viu onde moro, imagino que concordará que
posso aspirar a algo melhor. Eu quero começar uma vida diferente.
- Sim, eu entendo. Mas… e se eu te disser que tenho um apartamento que pode
usar, bem maior e mais confortável que este?
-Como? Assim tão fácil? Deixe-me adivinhar” — os olhos de esmeralda de Darcy
se fixaram nele -Se você não tivesse um apartamento vazio, seria capaz de encontrar
um para mim magicamente. Bastaria pedir a um de seus empregados que
discretamente encontrasse um para que você pagasse o aluguel e eu morasse nele.
Obrigado, mas não. Não quero ser mantida e me tornar o estereótipo da amante de
um homem rico.
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A teimosia dela o enfureceu, mas também reforçou sua admiração por ela. Como
uma mulher que tinha tão pouco podia ser tão orgulhosa e inflexível e recusar uma
oferta que qualquer outra pessoa aceitaria sem hesitar? Bufando e balançando a
cabeça, foi até a janela e olhou para a parede de tijolos que dava para ela. Perguntou-
se como seria acordar com aquela visão deprimente todas as manhãs antes de vestir
um uniforme feio e passar o resto do dia servindo mesas. Ele se virou para Darcy.
-E se eu simplesmente pedisse para atrasar um pouco a sua partida para Norfolk?
Ela ergueu as sobrancelhas.
-Para que?
- Vamos, Darcy! Não é mais a garota ingênua que conheci meses atrás. Acho que
te ensinei algumas coisas desde então...
- Sim, claro, como poderia esquecer? Deveria nomeá-lo a melhor professor de
sexo, se elogios é o que você busca.
Renzo riu baixinho, excitado com aquela insolência que ninguém mais ousara exibir
diante dele. Viu a cautela em sua expressão quando ele deu um passo em sua
direção, mas também viu como se escureciam seus olhos, e como ficou tensa de
repente, como se estivesse fazendo um enorme esforço por não ceder à atração que
sentia por ele. E conhecia as mulheres bem o suficiente para saber que o que havia
entre eles ainda não havia acabado; ainda não.
-Não quero elogios. - murmurou. -Você é a única coisa que eu quero, e não estou
pronto para deixar você ir. -Ele agarrou seus cachos indisciplinados, sentindo o
desejo crescer através dele enquanto a puxava para perto. -E se eu dissesse que
gosto da sua companhia tanto na cama quanto fora dela, e que gostaria de fazer
mais coisas com você, como neste fim de semana? Poderíamos ir ao teatro ou a uma
ou duas festas. Talvez eu tenha sido um pouco egoísta guardando você para mim e
agora quero mostrar você para o mundo.
- Diz isso como se tivesse passado em um teste,- ela apontou irritada.
-Pode ser que sim. -Limitou-se ele em responder.
Darcy estava indecisa. As palavras de Renzo continham tanto perigo... Não tinha
certeza se queria acompanhá-lo a eventos públicos. E se alguém se lembrasse dela?
E se alguém soubesse quem ela realmente era? E, no entanto, a verdade é que
Renzo estava apenas dando voz ao que ela vinha pensando, algo que não podia
negar, por mais que tentasse; que também não se sentia pronta para se afastar dele.
-E se eu te desse a chave do meu apartamento? - Renzo propôs, interrompendo
seus pensamentos.
-Uma chave? -Repetiu ela.
-Por que não? E só para você saber, eu não saio por aí dando uma chave para
ninguém. Tenho muito ciúme da minha privacidade.
- E por que eu? A que devo esta grande honra?
-Porque você nunca me pediu nada. -Ele respondeu em tom baixo. -E isso é algo
que ninguém havia feito antes.
Darcy tentou dizer a si mesma que essa deferência para com ela era apenas devido
a uma explosão de curiosidade, que, como outros homens ricos, ele ficava intrigado
com qualquer coisa que fosse fora do comum, qualquer coisa que fosse nova.
Não, não pode ser só isso. O fato de ele estar disposto a dar a ela a chave de seu
apartamento, mesmo que temporariamente, não era um sinal de que confiava nela?
A confiança era o que havia de mais precioso, e o mais frágil também, que se podia
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receber de outra pessoa, ainda mais no caso de Renzo, pela desconfiança que
demonstrava em relação ao sexo feminino em geral.
Umedeceu os lábios, tentada de um modo irracional. O que a impedia de dizer sim?
Havia fugido de sua vida no norte, deixado seu sombrio passado para trás o do qual
não queria se lembrar e havia se tornado outra pessoa. Havia se inscrito em aulas
noturnas para compensar a educação incompleta que havia recebido e, graças ao
seu temperamento alegre, conseguiu um emprego como garçonete. Não tinha
certeza do que queria fazer da vida, mas sabia que estava a caminho.
Além disso, havia deixado Manchester aos dezesseis anos. Como alguém iria se
lembrar dela depois de tanto tempo? E não merecia um pouco de diversão quando a
oportunidade se apresentava?
Renzo estava a observá-la com olhos semicerrados, sem dúvida excitado por sua
indecisão, mas não estava brincando com ele. Era verdade que não sabia o que
fazer. Estava convencida de que tinha que pôr fim naquilo, mas desistir dele não era
tão simples quanto havia pensado que seria.
Naquele momento, entre braços fortes de Renzo, parecia impossível afastar-se
dele.
- Diga sim, Darcy, -ele insistiu, roçando seus lábios nos dela. -Fique um pouco mais
comigo.
Estava acariciando seu peito, e quando seus joelhos cederam, Darcy sabia que
resistir a ele era impossível.
-Tudo bem, - murmurou, fechando os olhos enquanto Renzo estava começando a
levantar o vestido dela, -Eu vou ficar... mais um pouco.

Capítulo 5

A Limusine parou em frente ao Granchester Hotel. Darcy nunca estivera tão bonita
quanto naquela noite, pensou Renzo, devorando-a com os olhos.
Durante todos aqueles meses havia tentado persuadi-la de que as coisas seriam
mais fáceis se lhe permitisse cuidar dela e largasse seu miserável emprego de
garçonete, mas se recusava teimosamente a ouvir.
Mas pela primeira vez havia conseguido uma pequena vitória, embora lhe houvesse
custado a sua; havia conseguido convencê-la a ir a uma modista e fazer um vestido
para ela para o baile que ele havia organizado naquela noite para arrecadar fundos
para um projeto para sua fundação de caridade.
O vestido, verde esmeralda, como seus olhos, lhe caia como uma luva, mas ela
parecia tensa. Era óbvio que ainda estava chateada porque ele a pressionou a

32
concordar em mandar fazer aquele vestido. A perpétua teimosia dela, que
inicialmente achara divertida e interessante, estava começando a exasperá-lo.
-Pareces uma princesa de conto de fadas. Mas poderias sorrir um pouco; qualquer
um diria que vais a caminho da forca em vez de há um baile. -Observou.
-Não sou uma princesa.-Respondeu. -Sou uma garçonete com um vestido que
custou o que ganho em três meses. E já que mencionaste os contos de fadas, se
quer saber, me sinto como a Cinderela.
-Ah, mas a diferença é que seu vestido não vai virar farrapos à meia-noite, querida.
E ao meio-dia não estaremos mais aqui, mas sozinhos, em um lugar muito mais
íntimo, fazendo amor. Então apague essa cara de preocupação e sorria, vamos lá.
Darcy esboçou um sorriso, sentindo-se como um marionete.
Um dos funcionários do hotel veio lhe abrir a porta e ela desceu do carro, tomando
cuidado para não pisar na saia do vestido.
Respirou fundo enquanto esperava por Renzo. Estava uma pilha de nervos;
começava a perceber que estava presa em algum tipo de limbo. Era como se
estivesse vivendo em um estranho mundo paralelo que não era real, e como se
estivesse trancada lá por causa de sua incapacidade de se livrar de um homem que
não lhe convinha.
O problema era que as coisas estavam mudando. Não sabia como não havia
percebido que aceitar a chave do apartamento que ele lhe havia dado fortaleceria a
conexão entre eles e tornaria ainda mais difícil para ela romper seus laços com ele.
Além disso, estava praticamente morando com ele. Passava mais tempo no
apartamento de Renzo do que no dela.
Ouviu Renzo dizer ao seu motorista para tirar o resto da noite de folga, que iriam
pegar um táxi para casa, e Darcy desejou que ele não fosse tão legal com seus
funcionários, com razão todos o admiravam, porque não precisava mais razão para
se sentir atraída por ele. Tinha sido um erro concordar em ficar mais tempo, e se
sentia estranha com todas aquelas idas à ópera, ao teatro, às festas...
Renzo a pegou pelo braço e a conduziu pelos degraus de mármore acarpetados
de vermelho, com fotógrafos agrupados de cada lado. Ela sabia que não havia como
evitá-los, mas tinha certeza de que eles não a notariam, que ficariam mais atentos a
outros convidados que, ao contrário dela, eram famosos e importantes.
No entanto, de repente, os flashes começaram a aparecer em seu caminho e uma
câmera de televisão se concentrou nela. Ela se sentiu como uma raposa sendo
caçada por cães de caça, e um profundo alívio a invadiu quando eles entraram no
prédio.
O imenso salão de baile do hotel foi decorado com vasos de ramos de cerejeira
com flores brancas e rosa, simbolizando a esperança que a fundação de Renzo
trouxe para as crianças que vivem em partes do mundo devastadas pela guerra. Em
um estrado, um quarteto de cordas tocava enquanto os convidados elegantemente
vestidos conversavam em pequenos grupos enquanto esperavam, com bebidas e
aperitivos dos garçons, o início do jantar, preparado por renomados chefs.
Mas quando o primeiro prato foi colocado à sua frente, Darcy, enjoado, apenas
empurrou a comida pelo prato com o garfo. Renzo não parecia notar, ou pelo menos
não a repreendia por sua falta de apetite, como costumava fazer quando via que ela
não comia muito. Ele estava muito ocupado conversando com os outros convidados
em sua mesa.
33
Darcy pediu licença por um momento para ir ao banheiro e, depois de jogar um
pouco de água fria no rosto, decidiu que tentaria parar de se preocupar e aproveitar
a festa. Voltando para a mesa, se esforçou para participar da conversa, e quando
Renzo perguntou se gostaria de dançar, ela assentiu imediatamente com um sorriso.
Ela se sentiu no paraíso girando em seus braços. Então, grudados um no outro,
eram como aqueles conjuntos de saleiros e pimenteiros que se encaixam, como se
fossem feitos para ficarem juntos. Mas não era assim, e sabia que isso não poderia
continuar.
Ele a convencera a ficar um pouco mais, mas quanto mais ficasse, mais se sentiria
compelida a lhe contar a verdade, a lhe contar sobre seu passado, a confessar que
era filha de uma drogada e tudo mais.
Renzo provavelmente terminaria o relacionamento imediatamente e nunca mais iria
querer vê-la. Ficaria arrasada, mas superaria porque o tempo curava todas as
feridas. E sempre seria melhor do que se forçar a se afastar dele e se atormentar
com a esperança de que talvez o relacionamento deles pudesse ter funcionado.
- Bem, como está a mulher mais bonita da festa? -Renzo perguntou, e abaixou a
cabeça para sussurrar em seu ouvido: -Você está passando bem?
Ela fechou os olhos e respirou fundo, inalando o perfume de sua colônia.
-sim.
-Então, não está sendo tão horrível quanto pensaste que seria?
-Não, estou me divertindo.
- E acha que gostaria de vir comigo em outros eventos como este?
-Se me convencer, talvez.
Renzo sorriu.
-Tenho certeza de que vou conseguir, - murmurou. Venha, vamos nos sentar; o
leilão está prestes a começar.
Foi o ato principal do evento, um leilão de vários lotes que tinham sido doados para
angariar fundos para o projeto de caridade da Fundação Sabatini: umas férias nas
Maurícias, um camarote na Royal Opera House de Londres... todos foram
arrematados por somas exorbitantes.
Darcy, que estava perdido em pensamentos enquanto se desenrolava o do leilão,
ela mal notou que Renzo levantava a mão de vez em quando para dar um lance, mas
de repente todos começaram a bater palmas e se virar para encará-los, e foi quando
ela percebeu que Renzo havia oferecido o lance mais alto do leilão por um incrível
colar de diamantes que eles estavam leiloando naquele momento.
O ajudante do leiloeiro aproximou-se para que ele assinasse um cheque e entregou
o colar sob novos aplausos. Com as pessoas olhando para ela e as bochechas
coradas de rubor, Darcy esperou em silêncio enquanto Renzo o prendia em seu
pescoço.
-Deveriam ser esmeraldas para que combinassem com teus olhos-murmurou ele.
-Mas é bonito, não? Gosta, cara?-Perguntou-lhe, inclinando-se para trás para
contemplar melhor o resultado.
Darcy não podia sentir-se mais incômoda. Em vez de um colar parecia um nó de
forca, mas dificilmente poderia ter protestado, com os fotógrafos disparando seus
flashes e todos assistindo. Sua testa estava coberta de suor, se sentia tonta, e só
pôde voltar a respirar normalmente quando finalmente o leilão recomeçou.

34
-Sabes que não posso aceitar isto? -Sibilou para Renzo, tocando as pedras do colar
com as pontas dos dedos.
-E você sabe que eu não vou deixar você me devolver? -Respondeu-lhe. Então,
em um tom suave como uma carícia, ela acrescentou em voz baixa. -É um presente
por todo o prazer que você me dá, e eu quero que você fique com ele.
Normalmente, aquele tom a teria feito derreter por dentro, mas parecia que o colar
era o pagamento por seus serviços. Sentiu uma pontada no peito. Era assim que ele
a via, como se ela fosse algum tipo de prostituta de luxo?
E, no entanto, não estava reagindo como uma hipócrita? Afinal, não lhe havia dito
que não quando ele lhe havia dado a chave do apartamento. E tampouco quando a
havia levado a uma modista para fazer o vestido que ela usava. Aquele vestido e os
sapatos também foram pagos com o seu dinheiro.
Uma espécie de medo tomou conta dela, e naquele instante soube que não poderia
continuar deixando as coisas correrem. Tinha que contar a ele sobre sua mãe, sobre
o orfanato e tudo mais. Tinha que explicar sua aversão a aceitar presentes e cortar
aquele relacionamento porque assim ao menos poria fim a incerteza que a agitava.
Mas, quando saíram da festa e entraram em um táxi, Renzo a beijou como se
estivessem sozinhos, e quando chegaram ao apartamento dela ele a beijou
novamente e entre beijos tirou o colar dela, jogou-o na mesa onde estava o abajur ,
e começou a despi-la. Ele fez amor com ela ali mesmo no sofá, depois a levou para
o quarto e fizeram de novo. Darcy sabia que deveria falar com ele, que não deveria
ficar adiando, mas quem iria querer falar sobre o passado em um momento assim?
Como havia tirado o dia de folga do trabalho, Darcy ficou se revirando na cama e,
quando se levantou, já era meio-dia e Renzo tinha ido para o escritório. E ainda não
tinha contado a ele.
Tomou banho e se vestiu, mas voltou a ter o estômago revolto, e só tomou uma
infusão de poejo no café da manhã. Renzo havia deixado o jornal na mesa da
cozinha, e ela o folheou nervosa até chegar às páginas da sociedade. Seu coração
disparou quando viu uma foto sua, com o vestido esmeralda e colar de diamantes, e
Renzo de pé atrás dela, com as mãos possessivamente em seus ombros, um sorriso
de lobo nos lábios.
Fechou o jornal e se levantou alterada. Estava reagindo como uma paranoica, disse
a si mesma, tentando se acalmar. Quem iria olhar aquela foto? E ainda mais: quem
se importaria se saísse no jornal?
Havia saído para dar um passeio, comprou laranjas para fazer suco e estava
comendo torradas quando a campainha tocou.
Franziu a testa. Quem poderia ser àquela hora, em um dia de semana?
Foi até a porta e apertou o botão do interfone.
-Sim?
-É Darcy Denton? -perguntou uma voz masculina com sotaque de Manchester.
-Quem é? -Inquiriu asperamente.
-Um velho amigo seu; Drake Bradley.
Por um momento, Darcy pensou que fosse desmaiar. Drake Bradley? Como sabia
que ela estava lá? E como conseguiu o endereço? Pensou em se passar por outra
pessoa, a empregada doméstica talvez, ou não respondesse, mas Drake Bradley, o
valentão do orfanato em que ela cresceu, não desistiria. Se ela se recusasse a falar
com ele, seria capaz de ficar esperando até que Renzo voltasse, e não seria difícil
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imaginar o que contaria sobre ela. Trêmula, se inclinou para o painel de interfone e
perguntou:
-O que quer?
- Apenas alguns minutos do seu tempo. Vamos, Darcy, será apena um momento.
Dizendo a si mesma que seria melhor enfrentá-lo, ela respirou fundo e abriu a porta.
Um arrepio percorreu sua espinha assim que viu o homem diante dela. Embora dez
anos tivessem se passado e ele tivesse cabelos ralos, seu rosto marcado por varíolas
e o sorriso cruel de seus lábios teriam feito que o reconhecesse de imediato.
-O que quer? -Voltou a perguntar-lhe.
-Que recepção! E aí, Darcy, você não vai me convidar a entrar? Será que tem
vergonha de mim?
Ele seguia tão franzino, e as roupas que usava lhe ficava grande. Tinha as unhas
sujas e o ÓDIO estava tatuado nas juntas de sua mão esquerda em letras
maiúsculas. Seu aspecto não inspirava precisamente confiança, mas quem era ela
para julgá-lo? Ele era apenas mais um sobrevivente de um lar desfeito, como ela.
Pelo menos ele merecia um mínimo de hospitalidade.
Ela deu um passo para o lado para deixá-lo passar, e Drake entrou, deixando atrás
de si um cheiro de tabaco e suor. Ele a seguiu até a enorme sala e olhou ao redor
com um longo assobio.
-Nossa... Quem a boa árvore se achega, boa sombra o abriga, né Darcy?
-Vai me dizer por que veio?
Drake a olhou com os olhos semicerrados.
- Não vai me oferecer algo para beber? Está muito quente lá fora, e eu mataria por
uma bebida.
Darcy umedeceu os lábios. Melhor não o provocar, pensou. Só teria que aturar
isso por alguns minutos e então iria embora.
-Que quer tomar?
-Uma cerveja?
Darcy foi à cozinha e voltou com uma garrafa de cerveja e um copo, mas ele rejeitou
o copo e bebeu no gargalo da garrafa.
- Como você me achou? – ela perguntou, com o copo vazio entre as mãos.
Drake se jogou no sofá e apoiou o braço nas costas, como se fosse o dono da casa.
- Eu vi você no noticiário ontem à noite, entrando naquele hotel, com todas aquelas
pessoas ricas e famosas, -explicou ele. -A princípio, não pude acreditar no que via e
pensei: Não, não pode ser Darcy. Darcy Denton, filha de uma prostituta de
Manchester, nos braços de um homem rico como Sabatini? Mas percebi que era você
e decidi ir para lá. Estava esperando do lado de fora até você sair. Sou bom em me
agachar nas sombras, -acrescentou com um sorriso diabólico. -Fiquei sabendo do
endereço que Sabatini deu ao taxista, e resolvi vir te fazer uma visita para juntos
relembrar os velhos tempos.
Embora parecesse que seu coração estava na garganta, Darcy tentou fazer sua
voz soar despreocupada.
- Ainda não me disse o que você quer.
O sorriso de Drake tornou-se calculista.
-Você pegou um bom espécime; Tenho certeza de que não seria muito sacrifício
para você ajudar um velho amigo.
- Está me pedindo dinheiro?
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Drake zombou.
-O que acha?
Desde que havia começado a trabalhar, Darcy havia economizado como um esquilo
o dinheiro que podia, mas o que tinha no banco não era grande coisa, e sabia que
quando se cedia à chantagem uma vez, era como abrir as comportas de uma represa.
Além disso, já que havia decidido contar a Renzo sobre seu passado, por que teria
que se deixar chantagear? Na verdade, esse podia ser o empurrão que precisava
para fazê-la averiguar se, quando descobrisse quem realmente era, ainda a quereria
ao seu lado. De repente, sua boca ficou seca. Será que se atrevia a correr o risco?
Não lhe restava escolha.
Jogou os ombros para trás, e olhando o astuto Drake nos olhos, disse-lhe:
-Não receberá nenhum dinheiro de mim. Quero que você saia, e não volte aqui.
Os lábios de Drake curvaram-se em um sorriso desagradável.
-Você mesma, -disse ele com um encolher de ombros, antes de se levantar.
Darcy o seguiu até a porta e, quando ele saiu a fechou, trancando e acorrentando,
finalmente conseguiu respirar novamente. No entanto, se não estivesse tão ansiosa
por perdê-lo de vista, poderia ter se perguntado por que Drake desistiu tão
rapidamente...

Renzo estreitou os olhos ao passar por um homem mal-humorado com o rosto


cheio de marcas de varíola no corredor e franziu a testa. Seria um entregador que
veio entregar um pacote ou um certificado?
Com seu aspecto, certamente não parecia. Ficou por um momento, olhando-o com
desconfiança enquanto se afastava. Havia algo nele que lhe dava um mau
pressentimento e, embora não soubesse o que era, bastou para ofuscar o bom humor
que havia feito que fosse mais cedo do escritório, para espanto de sua secretária. A
verdade era que ele também havia se surpreendido. Raramente tirava metade do
dia de folga, mas queria passar o resto da tarde com Darcy, rastejar para a cama
com ela, enredar os dedos em seu cabelo sedoso e encaracolado, afundar-se nela
enquanto devorava seus seios...
Além disso, havia recebido uma mensagem urgente de seu advogado, lembrando-
o de que precisava assegurar o colar pelo qual havia pagado uma fortuna na noite
anterior.
Quando entrou no apartamento, Darcy, que estava sentada na sala, levantou-se
dando um salto. Havia fantasiado encontrá-la vestida apenas com o body de cetim
preto e meias de seda combinando que comprara recentemente, mas usava jeans e
uma camiseta folgada, estava pálida e olhava para ele com os olhos arregalados,
como se se sentisse culpada por algo.
-Renzo! - exclamou, esboçando um sorriso forçado. Não o esperava tão cedo.
-Entendo, -ele murmurou, colocando sua pasta no chão. - Quem era aquele tipo?
-Que tipo? - ela perguntou com a voz trêmula.
Ali havia algo estranho...
-O tipo com quem cruzei no corredor. Seu rosto estava esburacado e ele cheirava
mal. Quem era aquele homem, Darcy?
Ao ver que Renzo a olhava de modo acusador, Darcy supôs que as coisas não
podiam seguir assim; tinha que contar-lhe a verdade.
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-Há algo que tenho que lhe contar. -Engoliu saliva; não sabia por onde começar.
-Fala. – Instou-a Renzo.
Darcy se sentia como se a tivessem colocado diante de um auditório lotado de
pessoas. Em todos aqueles anos não tinha falado sobre isso, não tinha contado a
ninguém. Ela o havia enterrado no fundo de sua alma, mas precisava tirá-lo antes
que Renzo perdesse a paciência.
-Aquele homem...é alguém de meu passado.
-Que queres dizer?
-Durante parte de minha infância e até que fui maior de idade estive vivendo em
um orfanato em Manchester.
Renzo estreitou os olhos.
– O que aconteceu com seus pais?
As palmas das mãos de Darcy começaram a suar de repente. Aquela era a
pergunta que tanto temia. E era irônico porque o fato de Renzo não ter feito essa
pergunta até agora apenas confirmava o quão superficial era o relacionamento deles.
Quando se conheceram, ela lhe disse que não tinha pais, e ele nunca se preocupou
em perguntar mais nada, nem se interessou em saber mais sobre ela, nem sobre seu
passado.
-Sou filha ilegítima. -Disse sem rodeios. -Não sei quem era meu pai, e minha mãe
também não. E quanto a ela... os serviços sociais consideraram que não era
adequada para cuidar de mim e tiraram-me dela.
-Por quê?
-Tinha...- Darcy hesitou por um momento antes de terminar a frase.- Ela tinha
problemas com drogas. Era uma viciada.
Renzo soltou um longo suspiro, e Darcy procurou seu rosto, esperando encontrar
alguma simpatia, mas sua expressão permaneceu impassível, e seus olhos negros
a percorreram como se fosse a primeira vez que a via e não gostasse do que estava
vendo.
-Por que não me contaste antes?
-Porque você não me perguntou. E não o fizeste porque não queria saber! -ela
exclamou. -Desde o início, me deixaste bem claro que não teríamos o tipo de
relacionamento em que questões pessoais têm lugar. Tudo o que queria era... sexo.
Esperou que ele negasse, que dissesse que havia mais do que sexo, mas ele não
o fez. De repente, Renzo virou a cabeça e olhou para algo com a testa franzida.
Darcy virou a cabeça também, mas não viu nada incomum, apenas a mesinha com
o abajur.
-E o colar? -Renzo perguntou.
Os pensamentos correram pela mente de Darcy. Havia esquecido completamente
do colar. Não lembrava de tê-lo levado de lá naquela manhã, quando foi pegar suas
roupas no chão da sala. Será que ela estava tão perdida em seus pensamentos que
o levou para o quarto e não se lembrava? Não, tinha certeza que não... De repente,
seu coração disparou... Drake! Sua garganta ficou seca quando se lembrou de como
ela o deixou sozinho na sala quando foi para a cozinha para pegar uma cerveja... e
quão rápido ele saiu depois que ela se recusou a ceder a sua chantagem. Ele havia
roubado o colar? Bem, claro que era ele...
- Eu não... - começou a balbuciar.
-Foi seu amigo? - Renzo interrompeu duramente.
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-Não é meu...
-O que houve, Darcy? -Ele a cortou novamente, olhando para ela com desdém-.
Eu estraguei seu plano voltando mais cedo?
-Plano? Que plano?
-Vamos! Não se faça de boba agora... Acha que vou engolir que não tem nada a
ver com isso? Que vocês não planejaram juntos?
Darcy o olhou atordoada.
-Você realmente não acredita que eu seja capaz de algo assim?
-Por que não? Seus olhos e seu corpo me assombravam, mas agora vejo tudo
claramente, -Renzo murmurou, e balançou a cabeça. -E estou começando a me
perguntar se isso não era o que você tinha em mente o tempo todo.
Um arrepio percorreu Darcy.
-De que estas falando?- Inquiriu num sussurro.
- Mais de uma vez me perguntei, -resmungou Renzo, -O que se pode dar a um
homem que tem tudo. Outra casa ou um carro mais rápido? -Ele balançou sua
cabeça. -Não, o material não tem nenhum valor quando se tem em abundância. Mas
inocência... isso é uma coisa muito diferente.
-Não entendo onde está querendo chegar.
- Pense, -disse Renzo. -Qual é o bem mais precioso de uma mulher, cara mia? -ele
perguntou, e essas duas palavras em italiano soaram afiadas, carregadas de veneno.
-Sim, vejo que está começando a entender. A virgindade é o bem mais precioso; tem
sido desde os tempos antigos.
- Você está delirando, -ela murmurou, magoada com o que ele estava sugerindo.
- Às vezes me pergunto, -continuou Renzo no mesmo tom desumanizado, -por que
uma mulher tão linda e sensual como você, sem dinheiro e com um trabalho sem
futuro, não havia aproveitado seu corpo para tirar dinheiro de qualquer homem com
dinheiro...
O desespero de Darcy se transformou em indignação.
-Você quer dizer... sexo em troca de me manter?
-Por que me olhas assim? Não é isso que certas mulheres fazem, vivem à custa de
um homem, como sanguessugas?- Ele a olhou de cima a baixo. -Mas você foi mais
inteligente. Acho que decidiu negar a si mesma os prazeres do sexo porque tinha um
prêmio maior em mente. Esperava que caísse em sua armadilha o homem mais rico
que pudesse encontrar, alguém que se impressionasse com sua beleza
extraordinária e sua inocência, algo muito raro hoje em dia. -Ele sorriu cinicamente.
-Sim, você tem sido muito inteligente. Acho que sentiu que suas fortes exibições de
orgulho me enganariam e, por isso, recusou meus presentes. Você comprou roupas
baratas e uma passagem barata de ida e volta com aquele dinheiro que eu lhe dei e
se ofereceu, em um gesto quase heroico, para me devolver o que sobrou. Quão
comovente! A pobre garçonete oferecendo ao insensível milionário um punhado de
notas. E eu, idiota, fui e mordi a isca.
-Não foi assim. -Defendeu-se ela ferozmente.
-Você deve ter pensado que ganhou na loteria quando lhe dei a chave do meu
apartamento e comprei aquele colar de diamantes.- Ele retrucou sem ouvir. -Assim
como aconteceu comigo quando se entregou a mim e eu descobri que você era
virgem. Me subiu cabeça ter sido o primeiro a te possuir e fechei os olhos para a
realidade. Como pude ser tão cego?
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A cabeça de Darcy estava girando, e voltou a sentir seu estômago revirar e
nauseou.
-Não...nada disso é...
-Guarde suas mentiras, -ele a cortou. -Não quero ouvi-las. Sei que seu tudo o que
lamentas é eu ter chegado cedo e descoberto você. Como explicaria a ausência do
colar, Darcy? Ia fingir que alguém arrombou para roubar aproveitando que você saiu
para comprar alguma coisa? Ou iria culpar a faxineira?
-Acredita que sou capaz disso?
-Não sei do que é capaz, mas agora vai ouvir o que vou te dizer: vou sair, e quando
eu voltar quero você fora daqui . Não quero que deixe nada seu, nem mesmo uma
meia, e não quero ver você de novo. Entendido? E no que me diz respeito, pode ficar
com o maldito colar.
- Você não vai à polícia?
- E deixar o mundo inteiro saber com que tipo de mulher eu estive todos esses
meses, e com que tipo de companhia ela está? -ele disparou. -Isso faria muito bem
à minha reputação, eu acho. Venda o colar e faça o que pensava fazer com o
dinheiro.- Ele ficou em silêncio por um momento e a olhou de cima a baixo com
desgosto.- Considere como pagamento por serviços prestados.
Foi a última gota. Estava tonta, com os joelhos a fraquejar e lhe zumbiam os
ouvidos. Estendeu a mão para uma cadeira para agarrar ao respaldo, mas lhe
escapou e ela caiu de joelhos no tapete.
A voz de Renzo parecia vir de longe.
- E salve-me de todo esse teatro, -ele retrucou; -Não vai me fazer mudar de ideia.
Ela ouviu seus passos se afastando, o som da porta abrindo e fechando, e quando
a escuridão a engolfou, ela sabia que estava perdendo a consciência.

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Capítulo 6

Não podes seguir assim, Darcy.


O tom da matrona, gentil ,mas severo, fez os lábios de Darcy tremerem. As pessoas
que haviam passado por sua vida não a haviam tratado muito bem, e quando alguém
era gentil com ela, tinha vontade de chorar. Mas não podia desmoronar, não podia...
Levou a mão ao volumoso abdômen.
- Tem certeza de que o bebê está bem?- perguntou pela quarta vez.
-O bebê está perfeitamente bem, olhe a ecografia. -Assegurou-lhe a matrona. -
Talvez um pouco pequeno, mas está bem, não como você. Estás extenuada.
Continuou a gorducha mulher, franzindo o cenho. -Trabalhas muito e sei que não
estas comendo bem. Anda suba a manga para que possa medir sua pressão.
-Tentarei cuidar-me melhor.- Prometeu-lhe Darcy enquanto fazia o que lhe pedia. -
Trabalharei menos horas e começarei a comer mais vegetais.
Ela o faria, faria qualquer coisa para garantir que a gravidez fosse concretizada.
Estava bem... seu bebê estava bem... Sentia-se tão aliviada, depois do medo que
havia passado no caminho até lá na ambulância.
-Então...posso ir para casa?-Perguntou enquanto a matrona lhe colocava a
braçadeira.
- É sobre isso que eu queria falar com você. Não tenho certeza se é uma boa ideia,
-disse a mulher, -a menos que tenha alguém que possa cuidar de ti.
Darcy franziu o rosto. Poderia mentir e dizer que ela tinha alguém, uma irmã ou
uma tia, mas isso seria uma irresponsabilidade dela porque não era sobre ela, era
sobre o bebê que carregava, pensou com um nó na garganta, o bebê de Renzo.
Ele a deixou deitada no chão de seu apartamento, acusando-a de atuar, mas não
estava atuando. Não havia desmaiado de um ataque de ansiedade, embora tivesse
levado algumas semanas para perceber que o motivo era outro.
Foi quando começou a vomitar todas as manhãs que percebeu o que havia de
errado com ela e se perguntou como poderia ter sido tão tola a ponto de não ter
percebido até então. Tudo se enquadrava: as náuseas, o estômago revolto, a falta
de apetite... e a menstruação atrasada.
Havia pedido a Deus para que estivesse errada, mas por dentro sabia que não
estava. Havia comprado um teste de gravidez e o resultado foi o que esperava. Com
o coração palpitando, havia se sentado no banheiro de seu pequeno apartamento
alugado em Norfolk, olhando com admiração para a linha azul no dispositivo.
Lágrimas de desamparo encheram seus olhos ao pensar em ter que ligar para
Renzo para dizer que estava grávida.
A Renzo, que a considerava uma ladra e uma vigarista, que a olhara com um
desprezo infinito..., Mas isso era irrelevante, disse a si mesma, não importava sua
opinião sobre ela. Ele tinha o direito de saber que seria pai.
O problema era que não fora capaz de contar a ele. Todas as vezes que ligou para
o celular dele, caiu na caixa postal, e não parecia a coisa certa a fazer deixar uma
mensagem para dar-lhe tal notícia. Também ligou para ele no escritório e foi uma
experiência muito humilhante. Sua secretária havia lhe dito, muito educadamente,
isso sim, como se estivesse lendo um roteiro, que o Sr. Sabatini não poderia atendê-
la e que não saberia dizer quando estaria disponível porque ele era um homem muito

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ocupado. Ela lhe havia pedido que lhe dissesse que ligasse para ela quando
pudesse, e ela não havia se surpreendido que a ligação não tivesse acontecido.
-Posso arranjar-me sozinha. -Disse à matrona quando acabou de medir a pressão.
A mulher sacudiu a cabeça enquanto lhe retirava a braçadeira.
- Você está de vinte e oito semanas, é um momento crítico na gravidez e precisa
de alguém para cuidar de ti. Deve haver alguém a quem possa recorrer. Quem é o
pai? Se não quiser ligar para ele, eu o farei.
Darcy fechou os olhos. Durante os últimos meses havia feito todo o possível para
esquecer Renzo, para não pensar nele e concentrar-se em sua nova vida em Norfolk
e em seu novo trabalho em uma pequena cafeteria da cidade, mas não tinha escolha.
Teria que engolir seu orgulho e pedir ajuda a ele. Faria qualquer coisa para proteger
a vida de seu filho. Abriu os olhos e levantou o olhar para a matrona, que a olhava
com expectativa.
-Chama-se Renzo. -Murmurou. -Renzo Sabatini

Sentindo-se mais impotente do que nunca, Renzo andava de um lado para o outro
no corredor do hospital, alheio aos olhares furtivos que recebia das enfermeiras que
passavam.
Desacostumado como estava de que o fizessem esperar, não podia acreditar que
tinha sido forçado a ficar ali até que fosse a hora de visita da ala de maternidade, e
duvidava que fosse servir de alguma coisa insistir com a feroz matrona com a qual
havia falado antes.
Quando disse a ela quem ele era, ela o olhou de cima a baixo, zombando de seu
terno sob medida, gravata de seda e sapatos italianos, fazendo-o saber, com seu
cenho franzido, que Darcy esgotada por trabalhar em excesso, e que não estava
comendo bem. Sem dúvida, havia pensado que ele estava se esquivando de sua
responsabilidade como pai, e não havia nada que tanto quanto que o julgassem sem
saber nada dele.
Mas, apesar da irritação, sentia uma emoção que não conseguia entender, que o
confundia. Ainda não conseguia acreditar que isso estava acontecendo. Darcy ia ter
um filho... um filho seu...
A hora da visita finalmente chegou e ele foi levado ao quarto onde Darcy estava
deitada em uma cama de hospital. Seu brilhante cabelo avermelhado era a única
nota de cor no quarto branco. Seu rosto estava pálido como os lençóis e, ao vê-lo
entrar, lançou-lhe um olhar meio desconfiado e meio hostil. Seu coração encolheu;
ela parecia tão frágil naquele avental de hospital, apoiada nos travesseiros que
haviam sido colocadas atrás dela...
-Olá, Darcy.
Ela o encarou e disse em tom amargo:
-Você veio.
- Eu não tive escolha.
- Não minta,-ela o repreendeu. -Claro que tinha! Você poderia ter ignorado a ligação
do hospital, assim como ignorou todas as minhas ligações até agora.
- É verdade, -admitiu. -Poderia tê-lo feito.
- Você fez de propósito, certo?- Acusou-o Darcy. -Você desviou minhas ligações
com seu celular para que toda vez que eu ligasse fosse para caixa de correio voz.
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Renzo suspirou e assentiu. Então lhe havia parecido que era o melhor que podia
fazer para manter a sanidade. Não queria arriscar falar com ela porque tinha medo
que simplesmente ceder e pedir que voltasse para ele. Depois que ela se foi, não
conseguiu parar de pensar nela, embora tivesse traído sua confiança nela. Não havia
conseguido tirá-la da cabeça, nem ao pensar no colar roubado, nem que ela tivesse
deixado aquele homem imundo entrar em sua casa.
-Sim, não vou negar; é verdade. -Assentiu.
-E disseste a sua secretária que não lhe passasse minhas chamadas.
-Mas não teria feito se soubesse por que ligavas, Por que Diabos não disse?
-Falta-lhe um parafuso ou algo assim? -ela estalou. -O que queria que eu fizesse?
Que implorasse, que me humilhasse? Talvez esperasse que eu lhe dissesse: "Sim,
eu sei que ele não quer falar comigo, mas poderia lhe dizer que eu engravidei e é
dele?"
Renzo ficou calado. Não podia negar que tinha razão. Talvez devesse tentar
acalmá-la um pouco.
-Está bem, é verdade. E olha, Darcy... -disse em tom amigável. -Sinto ter lhe
acusado de roubar o colar.
Ela ergueu queixo e cuspiu desafiadoramente:
-Pois, não deve estar muito arrependido se até agora não tentou falar comigo para
me dizer isso.
Renzo suspirou.
-–Isso não nos leva a lugar nenhum, e no seu estado não deveria ficar chateada;
está grávida.
Há muito tempo que não ouvia aquela palavra de seus próprios lábios, e sem saber
por que voltou a sentir aquela pontada de emoção que não conseguia compreender.
Darcy parecia tão vulnerável naquela cama que o que ele queria fazer era abraçá-la
e embalá-la, mas seus olhos verdes soltavam chispas e pareciam adverti-lo que não
se atrevesse sequer a tentar.
-A matrona disse que necessitas que alguém se preocupe por ti.
Darcy mordeu o lábio inferior, com medo de que as lágrimas em seus olhos
começassem a rolar por suas bochechas. Odiava que, por causa da gravidez, seus
hormônios estivessem revolucionando e alterando daquela maneira suas emoções.
As palavras de Renzo a fizeram ansiar por algo que nunca teria, nem esperava ter.
Queria estender a mão para ele e pedir que a abraçasse, mas tinha que acabar com
aquelas absurdas fantasias, tinha que lembrar que Renzo nem sequer estaria ali se
não fosse porque estava grávida.
-É com o bebê que deve se preocupar. -Respondeu asperamente. -Não comigo.
Os olhos de Renzo pousaram sobre a ecografia que havia sobre a mesinha.
-Posso?
-Faça o que quiser, - respondeu ela com um encolher de ombros.
Mas quando Renzo pegou o ultrassom e olhou para ele, um nó de emoção subiu
em sua garganta. E quando finalmente levantou a cabeça para a olhar, viu em seu
rosto uma expressão que jamais havia visto antes, não sabia dizer se de alegria ou
admiração.
-É um menino...-Murmurou. Meu filho...-Acrescentou em um sussurro, baixando
novamente o olhar para a ecografia.

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O tom possessivo com que ele disse aquelas duas palavras encheu Darcy de pavor.
A levou de volta no tempo, quando os serviços sociais tentaram encontrar um lar
adotivo estável para ela antes de mandá-la para o orfanato. Cada tentativa havia sido
inútil porque havia durado apenas o tempo que sua mãe levava para descobrir o
endereço da família para a qual havia sido enviada, e se apresentava lá à meia-noite,
chapada e exigindo dinheiro "em pagamento" por sua filha.
-Também é meu filho. - retrucou. -Eu sou a mãe dele e vou cria-lo; não deixarei que
o afaste de mim!
A mão de Renzo tremia quando deixou a ecografia o de estava e, quando a olhou,
seus olhos relampejavam.
Você realmente acha que eu seria capaz de separar um bebê de sua mãe?
-Como vou saber do que você é ou não capaz? -Retrucou para ele com uma voz
trêmula. -Você se tornou um estranho para mim, Renzo, predisposto a pensar mal de
mim, a me culpar sem saber a verdade.
–E que conclusão teria tirado –ele quis saber– se você se deparasse com um tipo
suspeito saindo de sua casa, e descobrisse que havia desaparecido um colar muito
caro?
-Teria pedido uma explicação, em vez de começar a lançar acusações.
-Muito bem, então me dê essa explicação agora; O que ele estava fazendo lá?
-Apareceu do nada, -respondeu Darcy, afastando uma mecha de cabelo do rosto.
-Tinha me visto no noticiário e foi para o hotel e esperou que eu saísse. Ouviu o
endereço que você deu ao taxista e foi assim que ele soube onde me encontrar. Era
a última pessoa que esperava ou queria ver naquele dia.
-E ainda assim lhe ofereceu uma cerveja.
-Não ofereci; dei a ele porque me pediu e eu estava com medo dele. Temia que me
ameaçasse em contar a você sobre minha mãe... -ela murmurou. -Só que agora você
conhece todos os meus segredos.
-Todos? -Repetiu ele friamente.
Seus olhos negros a estavam sondando, mas Darcy não se deixou intimidar.
Manteve uma expressão neutra e seus lábios selados. Renzo sabia que sua mãe
tinha sido uma drogada, e isso já era ruim, mas não queria imaginar o que
aconteceria se soubesse como ela pagou por aquele vício. Havia coisas que as
pessoas de sua condição achavam intoleráveis, e a "profissão" de sua mãe estava
entre elas. E quem sabe se ele não tentaria usar isso contra ela no tribunal para tirar
seu filho dela?
De repente, percebeu que o via perfeitamente capaz de algo assim. Afinal, ele a
acusara de todo tipo de coisa, inclusive de usar sua virgindade para conseguir que
um homem rico a sustentasse. O que haveria de errado em não lhe contar toda a
verdade quando ele tinha uma opinião tão terrível sobre ela?
-Todos. -Mentiu. -Sou a filha ilegítima de uma drogada; Pode pensar em algo pior
do que isso? -Ela respirou fundo e, esforçando-se para manter a calma, acrescentou:
-Olha, Renzo, tenho certeza de que podemos chegar a um entendimento. Estou
segura de que você preferiria não ter mais nada a ver comigo, mas vamos ter um
filho juntos, e você tem minha palavra de que jamais tentarei impedir que tenhas
contato com ele de forma regular. Na verdade, farei todo o possível para facilitar as
coisas para que possa vê-lo com a maior frequência possível. -Forçou um sorriso. -
Todos os bebês merecem ter um pai.
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- O que você diz é muito bom, -ele murmurou, antes de arcar as sobrancelhas e
perguntar-lhe: - E o que propõe que façamos? Se estiver tudo bem para você, posso
cuidar do seu aluguel e outras despesas até o bebê nascer para que você possa
parar de trabalhar e não ter que se preocupar com dinheiro.
Darcy, que não podia acreditar que estivesse se mostrando tão compreensivo,
sentou-se um pouco e alisou nervosamente o lençol com a mão.
-É uma oferta muito generosa. -Respondeu com cautela.
-E enquanto isso você pode encontrar um lugar melhor para morar quando nosso
filho chegar, -acrescentou Renzo. -Dinheiro não seria problema, claro, e onde você
escolher, naturalmente.
Darcy sorriu vacilante.
-Isso...isso é incrivelmente amável da sua parte, Renzo.
-E talvez, de resto, poderia encher um armário com barras de ouro para que vá
vendendo-as quando precisar de dinheiro e assim não tenha que me pedir, -
acrescentou com um sorriso cruel.
Darcy corou. Não sabia como não tinha percebido antes que ele estava sendo
sarcástico e tirando sarro dela.
-Você acha que sou um idiota? -Renzo disparou. -O que achou, que eu assinaria
um cheque em branco para que fizesse o que lhe desse vontade e criar meu filho
como quisesse? Era esse o seu plano, engravidar de um homem rico e viver uma
vida luxuosa às custas dele, criando a criança sozinha?
-Sim, claro! -Exclamou ela furiosa, cravando as unhas no lençol. - Se quisesse
apenas o esperma de um homem rico para armar uma armadilha para ele, garanto-
lhe que teria escolhido alguém com coração, não alguém como você!
Renzo apertou a mandíbula e ficou olhando-a.
- Estou disposto a ajudá-la, -disse ele finalmente, -mas com uma condição.
-Deixe-me adivinhar; quer a custódia exclusiva, suponho, e me deixará visitar nosso
filho ocasionalmente, sem dúvida sob o olhar atento de alguma horrível babá de sua
escolha.
Renzo disse:
-Espero que não chegue a isso, mas não permitirei que meu filho, meu herdeiro,
cresça como um filho ilegítimo.
Ele foi até a janela, e ficou olhando para a rua por um longo tempo antes de se virar
novamente para ela.
-Esse menino herdará tudo o que tenho, mas só se tiver meu sobrenome. Assim
que a ajudarei, Darcy, mas serei eu quem definirá os termos. E a primeira, que não
é negociável, é que você se case comigo.
Darcy ficou olhando-o aturdida.
-Decididamente, perdeste o juízo. -Murmurou.
-Se você se recusar e insistir em continuar como antes, incapaz de cuidar de si
mesma e colocando em risco a vida de nosso filho, farei com que meus advogados
a processem e ordenarei que façam todo o possível para provar que você não é
adequada para atuar como mãe.
A determinação em sua voz fez Darcy estremecer. Isso seria tão fácil para ele se
seus advogados investigassem seu passado... Ter uma mãe drogada já era um ponto
contra ela, mas nenhum juiz consideraria uma pessoa como ela, sem estudos, com
um emprego precário, adequada como mãe, aquela que tiveram que fora internada
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por exaustão, e que era filha de uma prostituta. Especialmente quando o homem que
enfrentava era um arquiteto mundialmente famoso que nadava em abundância.
Umedeceu os lábios e o olhando suplicante, perguntou-lhe:
-E se nosso casamento se tornar insuportável para mim, se em algum momento eu
quiser o divórcio...não o daria?
Renzo sacudiu a cabeça.
Não tenho intenção de lhe converter em minha prisioneira, Darcy, disso tens minha
palavra,- ele a assegurou. -E talvez consigamos nos entender e negociar uma
relação que funcione para nós dois. Mas não precisamos falar sobre isso hoje. A
prioridade agora é tirá-la daqui e levá-la para um ambiente mais adequado, se você
concordar com minhas condições – fixou o olhar nela, e perguntou-lhe –: Você
concorda? Casará comigo?
Uma centena de razões para rejeitá-lo inundaram a mente de Darcy, mas naquele
momento o bebê a chutou, e a sensação daquele pezinho batendo em seu ventre
por dentro fez que uma profunda emoção a invadisse. Só queria o melhor para seu
filho; deveria pensar nele e não em si mesma. Assentiu silenciosamente.
-Sim, me casarei contigo.

Capítulo 7

Darcy quase riu ao ver ao ver a pálida estranha que a olhava do espelho, e se
perguntou o que pensaria a garota que um dia havia sido da mulher refletida nele,
uma mulher em um vestido de noiva que ainda a fazia se sentir culpada pelo que
havia custado.
O vestido, de uma das butiques de Nicoletta em Roma, tinha sido habilmente
arrumado para esconder sua gravidez, mas ela ainda parecia enorme, e a
cabeleireira que chegou naquela manhã conseguiu domar seu cabelo e prendê-lo em
um coque.
Teria preferido casar-se com roupa normal para enfatizar o fato de que estava
fazendo isso contra sua vontade, mas Renzo havia teimado em que ao menos
deveria parecer uma noiva de verdade.
-E que diferença faz eu usar vestido branco ou não? Havia gritado com ele de mau
humor.
- A diferença é que vai parecer mais real se estiver vestida de noiva. Você é uma
mulher muito bonita, querida, e será uma linda noiva.
Mas para Darcy, ao descer as escadas da casa que Renzo havia alugado na
Toscana, já que Vallombrosa já era propriedade de Cristiano, não parecia que fosse
real, embora não pudesse negar que o olhar ardente de Renzo, que a esperava lá
embaixo, sim, a havia feito sentir-se linda.

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Havia insistido que se casassem na Itália, provavelmente aconselhado por seus
advogados, mas para ela estava tudo bem porque, ao se casar lá, o casamento deles
não havia tido a cobertura da mídia que teria tido na Inglaterra e havia evitado o
perigo de que alguém de seu passado, visse uma foto sua nos jornais.
Com toda a papelada feita, foram ao cartório de registro civil na bonita cidade
medieval de Barga, e lá formalizaram sua união com Gisella e Pasquale como
testemunhas. Gisella havia comentado que era uma lástima não fossem ter uma
cerimônia religiosa, mas Darcy preferia assim. Já era ruim o suficiente ter que fazer
algo que estava fadado ao fracasso, sem mencionar ver-se obrigada a fazê-lo em
uma igreja diante dos olhos de Deus.
No entanto, houve um momento em que seu coração havia disparado e havia
desejado que aquilo fosse real, o momento em que o funcionário os havia declarado
marido e mulher e Renzo olhou para ela e sorriu. Não poderia estar mais bonito em
seu elegante fraque cinza, e quando lhe havia sorrido daquele modo, como se
sentisse algo por ela, havia tido que recordar a si mesma de que era apenas uma
pantomima, que ele só estava se casando com ela porque ia ter um filho seu.
A parte mais difícil veio depois, quando ele se preparou para beijá-la, por causa dos
sentimentos confusos que a simples ideia provocava nela. Como poderia deixá-lo
beijá-la depois de todas as coisas cruéis que lhe havia dito?
Havia ficado paralisada quando lhe havia posto as mãos na cintura, e lhe havia
suplicado:
-Renzo, por favor, não...
Ele havia ignorado por completo seu protesto.
-Você está vestida para interpretar o papel de noiva, e é isso que vai fazer, -ele
sussurrou para ela em inglês. -Vamos mostrar ao mundo que me casei com uma
mulher de carne e osso e não com uma boneca de porcelana.
Foi o momento mais estranho de sua vida. Quando Renzo inclinou a cabeça e a
beijou, embora a princípio tivesse feito questão de não retribuir o beijo, a sensação
de seus lábios nos dela logo a fez derreter por dentro e se viu respondendo com um
ardor que não teria como esconder.
-Em que está pensando? Parece que sua mente está a quilômetros daqui.
A voz de Renzo a tirou de seus pensamentos, e viu no espelho que estava saindo
do banheiro coberto apenas com uma toalha enrolada na cintura. Pequenas gotas
de água salpicavam seu torso, e mesmo sabendo que deveria desviar o olhar, era
como se não conseguisse desgrudar os olhos do reflexo de Renzo.
Era a primeira vez que o via seminu desde a noite do baile, quando voltaram para
o apartamento dele e fizeram amor apaixonadamente, na noite anterior à de Drake
aparecer lá, pegar o colar e todo o seu mundo desmoronado.
Renzo parou atrás dela e, enquanto enredava em seu dedo uma mecha de cabelo
ruivo que se desprendera de seu penteado, perguntou-lhe em tom sensual:
-Por que deixou que prendessem seu cabelo?
Darcy engoliu em seco.
-O cabeleireiro disse que ficaria melhor assim.
-É, mas talvez seu marido não goste assim, preso. -murmurou Renzo, tirando-lhe
um grampo de cabelo após o outro.- Gosto de vê-lo livre, selvagem.
-O que é irônico, quando sempre quer ter tudo em ordem e sob controle. E não me
lembro de ter lhe dado permissão para fazer isso, - ela protestou.
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Mas as mãos de Renzo não paravam.
-Sou seu marido agora, Darcy. Eu não acho que tenho que te pedir permissão para
lhe soltar o cabelo, não?
Agradecendo que seus cachos ocultavam agora o rubor de suas bochechas, Darcy
baixou o olhar e murmurou:
-Você é meu marido apenas no papel.
-Talvez, mas como vamos dividir o quarto e a cama...
-É sobre isso que queria falar com você, -ela o cortou, olhando-o pelo espelho. Por
que temos que dormir juntos?
-Para que eu possa ficar de olho em você; Prometi à enfermeira e ao médico,
respondeu ele com um brilho travesso nos olhos.-Mas já que falamos nisso —
murmurou, deixando o último grampo de cabelo sobre a cômoda —, queria perguntar
quanto tempo acha que vai resistir antes de me deixar fazer amor com você de novo,
porque , mesmo que me rejeite, toda vez que eu me aproximo de ti, que te toco, cora
e treme de desejo.
-Não acho que é muito correto chamar o que fazemos de “fazer amor'", -ela rebateu.
Suspirou cansada. -Gostaria que não estivéssemos dando essa festa esta noite.
-Eu sei, sei que preferiria que estivéssemos sozinhos.
-Eu não disse isso.
Os olhos escuros de Renzo a olharam questionadores.
-Um casamento é um casamento, e tem que comemorar ocasiões importantes com
os amigos. Não queremos que pensem que nossa união é falsa, verdade?
-Mesmo que seja?
--Mesmo que seja. Assim que...que tal se tentasse interpretar teu papel de esposa
com um pouco mais de entusiasmo? Quem sabe, você se acostuma e gosta de ser
casada comigo – murmurou Renzo, acariciando-lhe os cabelos. -E não precisa se
preocupar com nada; Já está tudo preparado: a comida, as bebidas, a música... –
completou, passando todo o cabelo dela para a frente, por cima do ombro esquerdo.
-Sim, só tenho que deixar que me leves lá embaixo e me exibas com este vestido
branco como se fosse uma vaca em uma feira de gado.
Renzo riu suavemente.
-Uma vaca? Olhe-se no espelho. Disse-lhe pondo as mãos em seus ombros. -isso
é a última coisa que ocorreria a alguém pensar ao lhe ver. -Murmurou inclinando-se
para frente.
Sua boca estava tão próxima que podia sentir seu hálito sobre o cabelo da nuca.
-Escuta-me, Darcy- Disse-lhe em voz rouca- Nenhum de nós dois queria isto, mas
a situação é o que é. Eu não queria me casar e, claro, não estava nos meus planos
ter um filho, e acho que também não estava nos seus.
Darcy franziu os lábios.
-Não.
Seus olhos se encontraram no espelho, e Renzo não pôde deixar de se perguntar
por que, em meio a todo aquele drama, a química entre eles estava mais forte do
que nunca. Ela sentia isso também? Tinha certeza que sim.
Seus mamilos se destacavam sob a seda do vestido, e seus olhos esmeralda
haviam escurecido de desejo, mas seus ombros tensos e seus lábios, que não
sorriam estavam claramente lhe dizendo que se mantivesse longe dela.

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Seu corpo, que tantas vezes havia possuído, que tão bem conhecia, havia mudado
com a gravidez, assim como havia mudado seu caráter. Agora se mostrava
desconfiada e sensível. Era difícil para ele estar perto dela sem poder tocá-la e...
Deus, como estava morrendo de vontade de tocá-la novamente! Isso não havia
mudado, apesar de tudo o que havia acontecido.
Sua pele parecia luminosa, seus olhos brilhantes e seus cacheados cabelos ruivos
mais lustrosos do que nunca. Não se dizia que quando uma mulher engravidava
adquiria uma beleza especial, como se brilhasse por dentro? Talvez fosse verdade.
Seguia sem acreditar que seria pai, que eles haviam criado uma nova vida juntos
e que ele seria o responsável por essa criança. É verdade que nunca quis constituir
família, e não só por causa de todos os problemas que o casamento e a paternidade
traziam, mas também porque estava satisfeito com a vida que levava. Conseguira
chegar aos trinta e cinco anos fazendo o que queria o tempo todo, e sem nenhuma
mulher obrigando-o a se estabelecer e se comprometer.
E agora, de repente, tudo havia mudado. Poderia ser que Darcy tivesse
engravidado de propósito? Mesmo que fosse esse o caso, ele certamente era
parcialmente culpado. Ficou surpreso ao descobrir que ela era virgem, e havia
sugerido que ela tomasse a pílula. Ainda se lembrava da primeira vez que fizeram
amor sem camisinha, do prazer indescritível que havia experimentado. Havia sido
avassalador, inacreditável, e havia se deixado cegar pelo desejo, havia deixado a
responsabilidade nas mãos de Darcy e não havia se preocupado.
-Você ficou grávida de propósito?- Perguntou-lhe.
Darcy deu um pulo e esperou um momento antes de responder.
-Não. -Sua voz soou muito apagada. – Tive um vírus estomacal justo antes daquele
fim de semana em Vallombrosa. Estive vomitando, mas não pensei que...
-Que isso poderia impedir que a pílula fizesse efeito?
Ala assentiu.
-E o médico não te advertiu de que podia acontecer? -Inqueriu ele arcando as
sobrancelhas.
-Se o fez não me lembro, e não me passou pela cabeça, na verdade. Não fiquei
grávida de propósito. -Reintegrou Darcy. -Nenhuma mulher em seu juízo perfeito
queria ver-se atada a um homem com um coração de gelo, por mais dinheiro que
tenha.
Renzo apertou a mandíbula.
- Bem, eu sei que você não quer ver ninguém, mas temos duas opções. -disse ele.
-Podemos fazer isso da maneira boa: comportar-se como pessoas civilizadas, descer
e se divertir com nossos convidados, ou podemos fazer da maneira mais difícil: Eu
posso te pegar, mesmo que você grite e chute, e te levar lá para baixo.
-Eu não vou envergonhá-lo na frente de seus amigos, se é com isso que está
preocupada. Não tenho a menor vontade de tornar isso mais difícil do que já é.
-Bom.
Renzo virou-se e caminhou em direção ao armário, deixando cair a toalha. Olhando
para ele no espelho, Darcy não pôde evitar que seus olhos percorressem suas costas
nuas, seu traseiro firme e suas coxas fortes, e se odiou ao sentir uma onda de calor
subir contra sua vontade. Por quê? Por que não conseguia reprimir a atração que
sentia por ele?

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As bochechas de Darcy ainda estavam coradas quando entraram na enorme sala
de estar, que Gisella havia decorado para a ocasião com a ajuda de algumas
mulheres do povoado. Como era inverno não podiam fazer a festa no pátio, mas um
fogo aconchegante ardia na lareira, decorada com uma guirlanda de pinhas e ramos
de abeto, assim como o corrimão da escada.
Havia também vasos de flores brancas e pirâmides de bombons cobertos com
açúcar de confeiteiro em pequenos pratos de vidro. No centro da sala, ocupando um
lugar de destaque, estava o bolo de casamento de várias camadas, e em uma mesa
no outro extremo havia uma pilha de presentes lindamente embrulhados, embora
tivessem dito expressamente que nenhum presente era desejado.
Os convidados explodiram em aplausos ao vê-los entrar entre exclamações como
"Parabéns!" e "Ben fatto, Renzo”!
Eram todos amigos de Renzo. Ele perguntou se ela queria convidar alguém, e se
ofereceu para pagar a passagem de quem quisesse vir, mas não tinha ninguém a
quem convidar. Levava uma vida solitária; não se atrevia a estabelecer vínculos
afetivos com ninguém por causa de seu passado e por medo de ser rejeitada.
Mas se alegrou de ver ali a Nicoletta, e não apenas porque a havia ajudado com o
vestido de noiva, mas também porque percebeu que ela já não sentia mais nada por
Renzo, e que ela realmente era uma pessoa muito gentil.
-Nunca havia visto Renzo assim. -Disse a Darcy confidencialmente, enquanto bebia
limonada com um canudo; -ele mal tira os olhos de ti, e é tão atencioso com contigo...
Darcy deixou seu copo sobre uma mesinha que tinha próxima. Não estava
cuidando dela porque se importava, como pensava Nicoletta. Renzo estava
acostumado a triunfar e certamente não gostaria que seu casamento fracassasse,
como o de seus pais. Por isso, de repente, pelo menos na frente de seus amigos,
estava sendo tão amável com ela, e isso a assustava.
Sentia que tinha que lutar contra a atração que sentia por ele, se afastar dele. Não
queria se deixar levar por uma falsa sensação de segurança que só iria quebrar seu
coração quando seu casamento desmoronasse. E seria isso que aconteceria, claro
que aconteceria. Renzo acabaria se cansando dela quando a realidade chegasse.
Provavelmente não teria parado para pensar em como uma esposa grávida com seus
hormônios à flor da pele perturbaria sua vida pacífica e organizada, muito menos as
mudanças que o nascimento do bebê traria.
Ainda assim, a noite foi melhor do que poderia imaginar. A atitude de Renzo em
relação a ela, fingida ou não, fez com que seus amigos a recebessem calorosamente.
Eles a intimidavam um pouco, eram banqueiros, advogados, um eminente cirurgião
cardíaco..., mas todos eram muito simpáticos com ela.
E embora todos falassem inglês, ela prometeu a si mesma que iria aprender italiano
porque de repente teve um vislumbre do que poderia acontecer no futuro se ela se
descuidasse; que Renzo e o filho falassem uma língua que ela não entendia, e que,
inevitavelmente, acabasse deixando-a de fora do jogo.
E isso poderia ser perigoso. Renzo tinha sido razoável antes de se casarem, mas
agora que eram marido e mulher ante a lei as coisas poderiam mudar, poderia acabar
encontrando-se em uma posição desfavorável no caso de um dos sois querer o
divórcio.

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No entanto, continuou conversando e bebendo limonada, como se tudo estivesse
bem. Quando o último dos convidados saiu, seguiu Renzo de volta para o quarto,
com o coração martelando contra as costelas.
Ela se despiu no banheiro e saiu com uma bonita camisola marfim que Nicoletta
insistiu em lhe dar quando ela visitou sua butique. Apesar de sua barriga inchada, a
roupa, uma mistura de seda e cetim, tinha um lindo caimento, e o decote rendado
emoldurava seus seios de forma tão sensual que, quando pousaram nela, os olhos
de Renzo escureceram de desejo.
Ela mesma sentiu uma onda de desejo que a fez reconsiderar sua decisão de se
distanciar dele. Pelo menos o sexo aliviaria a tensão que havia surgido entre eles.
Mas também poderia representar um perigo, especialmente na situação em que se
encontravam. Uma nova vida se formava dentro dela, algo lindo e extraordinário
estava acontecendo, e parecia-lhe que o sexo, que não passava de uma rota de fuga,
uma busca de prazer, o degradaria.
Sentou-se na cama com um suspiro pesado que a fez Renzo girar a cabeça para
ela.
-Deves estar cansada.
Ela assentiu. Sentia-se emocionalmente esgotada.
-Estou, mas preciso conversar.
-De que?
-De coisas.
Ele esboçou um sorriso zombeteiro.
-Poderias ser um pouco mais explicita. Que tipo de coisas?
Ela encolheu os ombros.
-De questões práticas; por exemplo, onde vamos morar. E temos que decidir logo
porque não vão me deixar voar depois de trinta e seis semanas.
Ele balançou a cabeça com a arrogância que o caracterizava.
-Tenho meu próprio avião, Darcy. Podemos voar quando quisermos só será
necessário que levemos um médico conosco.
Darcy jogou o edredom para trás, esticou-se o máximo que pôde na beirada da
cama e se cobriu.
- Tudo o que diga, mas temos que conversar sobre.
- Mas não hoje noite, -ele respondeu, indo para a cama também. -Está cansada;
conversaremos pela manhã. E por falar nisso, deve vir um pouco mais para o centro
do colchão. Não só você pode cair no meio da noite, o que seria perigoso para o
bebê, mas também pode me acordar com o solavanco - ele acrescentou
sarcasticamente. -Não se preocupe, não vou tentar convencê-la a fazer amor quando
é óbvio que não quer que eu te toque.
- E não sei por que tenho a sensação de que é algo que nunca aconteceu com
você, certo? – ela disse maliciosamente.
-Bem, a verdade é que não, -ele respondeu antes de desligar a luz. -Normalmente,
eu tenho que tirar as mulheres das minhas costas.
Darcy sentiu suas bochechas queimarem. Era melhor não perguntar se não estava
preparada para a resposta dolorosa que poderia receber.
Logo Renzo adormeceu e ela, ainda de olhos arregalados, teve a impressão de
que passaria a noite acordada, atormentada por suas preocupações. A cama era

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confortável, no entanto, e o calor do edredom a deixou agradavelmente sonolenta e,
pela primeira vez em muito tempo, ela dormiu profundamente a noite toda.

Capítulo 8

Apesar dos protestos de Darcy quando, na manhã seguinte, desceu e o encontrou


planejando, Renzo insistiu que tinham que ir a algum lugar em sua lua de mel.
Enquanto olhava o mapa que havia aberto sobre a mesa da sala de jantar, lhe disse
que seria hipócrita, mas ele lhe respondeu que não se importava.
-Sabe de uma coisa? Acho que está fazendo isso para que nosso casamento
pareça real. -Repreendeu-o, pegando uma fatia de pão, -porque não o consumamos.
-Talvez. -Assentiu ele sem alterar-se. – Ou talvez porque quero te mostrar um
pouco mais sobre meu país e te ajudar a relaxar. Você dormiu bem ontem à noite,
não foi? -Ele a cutucou, e seus olhos negros brilharam com humor.
Essa foi a única referência que fez à sua casta noite de núpcias, mas Darcy sentiu
a cor aumentar em seu rosto quando ele olhou para os seios e os encarou por um
momento.
E podemos consumar quando você quiser, -acrescentou com um sorriso sugestivo.
Darcy preferiu não responder. A certa altura da noite quando havia despertado e,
ao mover-se, quando seu pé colidiu com a perna dele, ela teve que resistir ao impulso
de esfregá-lo contra ela e o empurrou tão rapidamente como se o toque tivesse
escaldado sua pele.
Nessa situação maluca ela precisava ficar alerta, e se acabasse fazendo sexo com
ele, estaria perdida. Temia que a gravidez a tivesse deixado mais vulnerável, do dano
que Renzo poderia lhe causar se percebesse essa vulnerabilidade.
Obviamente não podia dizer não para esta lua de mel que estava planejando, mas
talvez não fosse uma má ideia. Pelo menos a impediria de ficar sozinha com ele
naquela Villa, como dois tigres trancados na mesma jaula, ainda mais considerando
que quase não ousava olhá-lo nos olhos com medo de que ele lesse nos dela o
desejo que mal poderia dissimular.
Partiram algumas horas depois no carro esporte de Renzo. O ar da manhã estava
fresco enquanto se dirigiam para a capital, com as colinas verdes e o céu azul ao
fundo. Pararam ao meio-dia numa pequena aldeia, onde almoçaram tortellini de
trufas e torta della nonna, e depois passearam um pouco pelas suas estreitas ruas
empedradas e subiram ao miradouro, que oferecia uma vista espetacular da
paisagem.
Darcy apoiou-se na balaústra com um suspiro.
-Você gosta? -Renzo perguntou, virando-se para olhá-la.
-É lindo. É tão bonito que quase parece irreal.
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-Mas também há muitas regiões igualmente bonitas.
Darcy encolheu os ombros.
-Não onde eu cresci. Bem, sim existem, mas o pessoal do orfanato geralmente não
nos levava muito em excursões.
-Foi muito difícil, crescer ali?
-sim. -Murmurou finalmente.
Renzo ouviu a tristeza em sua voz, e viu que estava mordendo o lábio inferior. Ficou
calado um momento, olhando-a pensativo.
-Venha, vamos. -Disse-lhe pondo a mão em seu ombro. -Se não nos pormos já a
caminho vai escurecer antes de chegarmos a Roma.
Ela adormeceu pouco depois de entrarem no carro e, enquanto esperavam na fila
do pedágio, Renzo se viu estudando seu rosto pálido. Ela havia prendido o cabelo
em uma trança solta que caía sobre um ombro naquele dia e, com as roupas casuais
que usava, jeans e um suéter cinza, parecia ainda mais jovem do que era.
Poderiam fazer seu casamento funcionar? – perguntou-se. Ele, é claro, estava
determinado a fazer tudo ao seu alcance para que desse certo. Não queria que seu
filho tivesse uma infância como ele havia tido.
De repente, pensou em quão pouco Darcy havia contado sobre a dela, e se lembrou
de como ela estava triste no caramanchão. “Não onde eu cresci. Bem, existem, mas
o pessoal do orfanato geralmente não nos levava muito em excursões”. Não gostava
de vê-la triste, mas quando surgisse a oportunidade perguntava a ela sobre isso
novamente.
Afinal, sendo seu marido, deveria tentar conhecê-la o melhor possível. E ele
também deveria contar a ela algo mais sobre si mesmo, porque a comunicação tinha
que ser algo recíproco.
Darcy despertou quando estavam entrando em Roma, e Renzo gostou de ouvir
suas exclamações de admiração ao passarem pelo Campidoglio, o Coliseu e outros
monumentos famosos.
Quando entraram no pátio de um Palazzo renascentista na Via Condotti, a apenas
alguns minutos da Escadaria Espanhola, e estacionaram, Darcy ficou boquiaberta.
-Não me diga que esse prédio é seu... - ela murmurou atônita.
-Comprei há alguns anos, -respondeu ele, desafivelando o cinto de segurança.
Um casal de criados saiu para cumprimentá-los e os deixou para cuidar de suas
malas, enquanto Renzo a conduzia para dentro para mostrar a ela o interior da
mansão.
-É um lugar com muita história; Napoleão III viveu aqui em 1830. – Comentou ele
quando entraram no salão principal.
-Aqui? Não posso acreditar...-Murmurou ela, olhando maravilhada os afrescos e
móveis elegantes. -É lindo. É como... bem, como algo saído de um livro. Como você
não mora aqui? Por que mora em Londres?
-Porque meu trabalho abrange vários países e queria estabelecer minha sede lá.
Realmente não passo tanto tempo aqui quanto gostaria, mas... bem, talvez um dia.
-Renzo...
-Eu sei, -ele a interrompeu, -eu sei que você quer falar sobre o futuro, mas acho
que deveria desfazer sua mala primeiro, ficar confortável... E eu tenho que fazer
algumas ligações de trabalho antes do jantar.
-Claro. -Ela murmurou.
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Renzo a conduziu até o quarto principal, que era tão impressionante quanto os
outros cômodos que lhe haviam mostrado.
Darcy se virou, olhando ao redor enquanto tirava o cachecol do pescoço. O que
estou fazendo aqui? ela se perguntou, piscando. As pinturas, o lindo tapete, os
móveis de madeira... Ali se sentia deslocada.
Enquanto Renzo tirava o celular do bolso para fazer aquelas ligações que havia
mencionado, ela foi ao banheiro tomar um banho. Quando desceu para a sala,
vestida com uma camiseta e leggings, encontrou Renzo sentado em uma mesa com
seu laptop de costas para ela. Embora ela estivesse usando sapatilhas que faziam
pouco ruído, deve tê-la ouvido chegar, porque se virou e lhe deu um daqueles olhares
que a faziam se derreter por dentro. E ainda por cima tinha colocado os óculos, o
que lhe dava aquele ar intelectual e sexy que a enlouquecia.
-Está tudo a seu gosto? -Perguntou-lhe.
-A verdade é que o banheiro é pequeno. -Disse ela com ironia.
Nunca em sua vida tinha visto um banheiro tão grande.
Ele esboçou um sorriso.
-Eu sei; É meio claustrofóbico, né? -Ele respondeu, seguindo a piada. -Tens fome?
-Depois de tudo o que comemos no almoço?-Darcy enrugou o nariz. -Pois
curiosamente, sim.
- Fico feliz em ouvir isso, porque você tem que colocar um pouco de carne nesses
ossos, -respondeu ele, e olhou-a de cima a baixo por um longo tempo, fazendo-a
sentir calor novamente.
Darcy não respondeu. Não ia dizer-lhe que se sentia como se não fosse mais do
que barriga e peitos. Na verdade, preferia que ele não olhasse para ela mais do que
o absolutamente necessário, porque lhe dava vergonha, mas gostava de como se
sentia quando ele a olhava.
-É tarde e o cozinheiro já saiu, mas podemos sair para jantar, -continuou Renzo. -
Eu poderia levá-la a Trastevere para provar a verdadeira culinária italiana e não
aquelas imitações baratas que servem em Londres. Ou…
Darcy arqueou as sobrancelhas.
-Ou o que?
-Ou poderíamos pedir uma pizza para comermos aqui se estás cansada.
-Aqui?
-Por que não?
Darcy deu de ombros e olhou para a mesa da sala de jantar através da porta aberta,
uma reluzente mesa de mogno com castiçais de prata.
-Não sei, parece uma mesa elegante demais para comer pizza.
- Uma mesa é uma mesa, Darcy, o que quer que você coma nela.
Renzo podia falar o que quisesse, pensou Darcy enquanto se sentavam à mesa
uma hora depois, comendo pizza com as mãos, mas aquilo era extravagante. Era
como se tivessem entrado sorrateiramente em um museu para passar a noite ali.
-Você gosta? Renzo perguntou.
Darcy, que estava terminando a última porção, lambeu os dedos e respondeu:
-Está divina.
Mas ainda parecia um sonho irreal mesmo quando voltaram para a sala e Renzo
perguntou se gostaria de um chá um poejo de menta, uma camomila com erva-doce
ou algo assim. Sem saber ao certo por que, Darcy perguntou se poderia ser um
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chocolate quente. Deve ter sido um capricho. Renzo disse a ela que não tinha certeza
se havia, e a surpreendeu quando voltou alguns minutos depois com uma xícara de
chocolate espesso e fumegante. Uma lembrança veio à sua memória ao tomá-lo nas
mãos, talvez reavivado pelo cheiro de chocolate, e sentiu uma pontada no peito.
-Nossa… eu não tomo chocolate quente desde…
Essas palavras lhe escaparam e, embora tenha se calado e não tenha terminado
a frase, já era tarde demais.
- Desde quando? Renzo perguntou.
-Não tem importância. -Respondeu agitando a mão. -Não creio que lhe interesse.
- Estou interessado, -ele insistiu.
Darcy deixou a xícara na mesinha de centro, perguntando-se se o tremor em suas
mãos traía o nervosismo que de repente a atingira.
-Pois até agora nunca havia mostrado interesse por minhas coisas.
-É verdade. -Assentiu com alguma aspereza, -mas agora você é minha esposa e
vamos ter um bebê, e acho que devo conhecer melhor a mãe do meu filho.
Darcy sabia que não podia mais evitar o assunto, assim como sabia que isso só o
intrigaria ainda mais. Ou, pior ainda, poderia fazê-lo desconfiar dela e levá-lo a
contratar um detetive particular para investigá-la. Seu coração disparou só de pensar
nisso, porque se isso acontecesse, ele descobriria os segredos obscuros que tanto
a envergonhavam. Olhou para o colo, lamentando não poder voltar no tempo e
apagar as palavras que lhe haviam escapado.
-É apenas um bobagem...-ela murmurou.
-Darcy, eu quero ouvir, -ele insistiu, em um tom mais gentil.
Ela encolheu os ombros.
-O cheiro de chocolate me lembrou de uma época em que, quando criança, fui
levada a uma lanchonete para conhecer possíveis pais adotivos.
As imagens daquele dia vieram à sua mente, dolorosamente claras. Lembrava-se
perfeitamente dos bolos no balcão e das garçonetes com seus aventais engomados.
Havia se sentido desconfortável, mas esperançosa enquanto a assistente social
observava a interação entre os dois adultos e ela, uma garotinha que precisava
desesperadamente de um lar.
Eles pediram um chocolate quente, servido em uma caneca de cristal, com chantili
por cima e uma brilhante cereja no alto. Ela ficou olhando para ele por um longo
tempo, com medo de tocá-lo porque era tão perfeito, e quando finalmente o bebeu,
o creme deixou um bigode branco em seus lábios que fez o casal rir. Aquele riso
caloroso era o que ela mais lembrava.
-Pais adotivos? Renzo repetiu.
Sua voz profunda dissipou aquelas imagens do passado.
-Eu não tive uma infância muito... estável. Minha mãe ficou órfã aos dezessete
anos. As estradas estavam muito escorregadias com gelo e seu pai fez uma curva
muito rápido. Disseram que ele tinha... que tinha bebido. Era véspera de Natal, e ela
estava em casa, esperando que ele e a mãe voltassem, quando bateram à porta.
Eram dois policiais, que pediram que ela se sentasse antes de dar a notícia. Minha
mãe me disse que, quando eles saíram, olhou aturdida para a árvore de Natal com
os presentes debaixo dela, presentes que ninguém abriria... Ela engoliu em seco. E...
bem, ela foi tomada pelo pânico.
-Não me surpreende. Ela tinha parentes?
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Darcy balançou a cabeça.
-A casa guardava demasiadas memórias, acabou por vendê-la e com o dinheiro
que havia conseguido e o que tinha herdado dos pais, foi para Manchester sem uma
ideia clara do que queria fazer.
Ele se parecia com você? -ele perguntou de repente.
-Sim. Bem, no começo, -Darcy respondeu calmamente, -antes que as drogas
levassem a melhor sobre ela. O serviço social cuidou de mim quando eu tinha dois
anos, e quando eu tinha oito anos minha mãe entrou na justiça para tentar recuperar
minha guarda.
-E ela conseguiu?
Darcy assentiu.
-Quando ela estava limpa, ela conseguia fingir muito bem.
-E como foi... morar com ela de novo?
Darcy engoliu em seco. Não tinha certeza do quanto poderia dizer a ele antes que
a olhasse com nojo e começasse a se perguntar se ela havia herdado as tendências
viciantes de sua mãe por meio de seus genes, ou se era capaz, como ela, de se
degradar para conseguir o que queria.
-Você pode imaginar, -murmurou. -Ela me usava como escudo para lidar com seu
traficante, ou para abrir a porta quando alguém a quem devia dinheiro chegava.
-Alguma vez lhe feriram ou...?
-Tive sorte, -ela simplesmente respondeu, -sorte que uma assistente social
realmente se importou comigo e me tirou de lá. Eles me levaram de volta ao orfanato
e, sinceramente, foi um alívio.
Ela também não se sentia segura lá, nunca soube o que era se sentir segura, mas
pelo menos mais segura do que com a mãe.
–E o que você fez quando saiu do orfanato?
-Eu fui para Londres. Matriculei-me no colégio noturno para completar meus
estudos e ao mesmo tempo comecei a trabalhar como garçonete. É um dos poucos
empregos em que ninguém se importa que você não tenha um diploma, desde que
possa carregar uma bandeja de bebidas sem derramar.
Ela ficou em silêncio, e por um longo tempo não se ouviu nenhum som exceto o
tique-taque do relógio antigo, que Darcy suspeitava que poderia estar lá desde a
época de Napoleão III.
-Então, -começou Renzo em tom pensativo, -já que durante toda a sua infância
outros tomaram todas as decisões por você, onde você gostaria de morar quando o
bebê nascer?
Não só não foi a reação que ela esperava dele, mas também foi a pergunta mais
ponderada que já lhe fizeram, e Darcy temeu pôr-se sensível como havia acontecido
com a matrona quando lhe havia mostrado um pouco de gentileza, e que lhe saltaram
lágrimas, ou se engasgaria com as palavras. Não, tinha que manter a calma e não
devia ter ilusões. Esperanças falsas suficientes haviam sido dadas em sua vida para
engrandecer as palavras de Renzo e acabar fantasiando sobre algo que ele não
havia dito.
-Eu preferiria viver na Inglaterra, - respondeu lentamente. -A Itália é muito bonita e
eu adoro estar aqui, mas me sinto um estrangeira. Bem, provavelmente porque eu
sou, - acrescentou com uma risada forçada.
-Então... no meu apartamento em Londres?
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Ela balançou a cabeça.
-Não, não quero voltar lá.
Ele pareceu surpreso, como se lhe parecesse inacreditável que ela tivesse
recusado um apartamento de luxo no valor de milhões de libras.
-Por quê?
Porque se sentia como se tivesse vivido ali outra vida, uma vida que não queria
viver. Naquele apartamento havia se comportado como alguém que já não se
reconhecia mais, aquela Darcy que vestia a lingerie sexy que ele lhe dava. Não havia
sido nada mais que seu brinquedo, aquela que sempre aparecia quando ele
chamava, aquela que ele nunca mais teria visto se não tivesse engravidado.
Como poderia conciliar essa Darcy com quem ela era agora, a que se preparava
para ser mãe? Como, quando ele nunca pensou em torná-la parte de sua vida?
-Não é um lugar para um bebê.
Renzo arcou as sobrancelhas.
-Espero que não esteja propondo irmos para aquela casinha de brinquedo em que
você morava de aluguel em Norfolk.
-Claro que não. Mas eu gostaria que fosse em algum lugar tranquilo, uma casa com
jardim ou com um parque perto.
Ele assentiu e esboçou um sorriso.
-Creio que poderei encontrar algo que se ajuste a essas características.
-Obrigada Renzo.
- E agora para a cama, anda, -Disse-lhe. -Você parece exausta.
- Sim, estou, -ela murmurou, levantando-se.
Ao subir para o quarto, ela ficou surpresa ao ver que, apesar de sua relutância
inicial em contar a ele sobre seu passado, o peso em seu coração havia diminuído.
E ficou grata, até mesmo aliviada, por ele não ter demonstrado seu choque e
desgosto. A maioria das pessoas não era tão diplomática.
Agora tudo o que queria era subir na cama, tê-lo em seus braços e sussurrar em
seu ouvido que tudo ficaria bem, pensou ao entrar no quarto. Não, a verdade é que
queria mais do que isso. Poderiam fazer amor? Em um livro que leu sobre gravidez,
dizia que sexo nos últimos meses de gravidez não era problema, desde que não
exagerasse ou tentasse posições muito arriscadas, lembrou ela enquanto escovava
os dentes.
Pela primeira vez em muito tempo, sentiu uma pequena chama de esperança em
seu coração, mas quando pegou a camisola que usara na noite de núpcias, hesitou.
Era sexy demais.
Não seria melhor usar algo mais discreto? Queria que se conhecessem melhor,
não um ter um sexo casual, e para isso tinham que ir devagar.
Pegou uma camiseta do Renzo no armário e vestiu. Cobria-a até o meio da coxa.
Deitou-se para o esperar, mas os minutos passaram e Renzo não apareceu. Ela
tentou bloquear seus pensamentos, que zumbiam em sua mente como um mosquito
em um quarto escuro, mas alguns deles se recusavam a ir embora.
Olhou para o relógio na mesa de cabeceira, vendo os minutos passarem
lentamente, onze... doze... e finalmente o cansaço venceu e não sabia que horas
Renzo foi para a cama, porque adormeceu e não o ouviu chegar.

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Capítulo 9

- Bem, o que você diz? Tem a sua aprovação?


Os olhos de Renzo não se apartavam do perfil de Darcy enquanto olhava a
imponente mansão de East Sussex. A brisa, que trazia o cheiro do mar, agitava seus
cachos acobreados, e uma gaivota que se dirigia para a costa grasnou sobre eles.
Enquanto admirava os belos traços de Darcy, que permanecia distante dele,
pensou como era irônico que aquela mulher, com quem passara mais tempo do que
qualquer outra, ainda fosse a mais enigmática.
-Não mudou de ideia sobre morar aqui agora que é sua? -Insistiu, vendo que ela
não respondia.
Ela girou a cabeça para ele e o olhou confusa.
-Você quer dizer “nossa”, não é?-Disse-lhe. -Você disse que a comprou e que
vamos morar aqui.
Renzo sacudiu a cabeça.
-Sim, mas a casa é sua. Uma casa na Inglaterra, como querias. Quando viemos
vê-la há uma semana, você me disse que a encantava, que ela era perfeita. Arranjei
tudo com meus advogados para que fique em seu nome. É sua, Darcy.
Ela ficou calada por um momento antes de piscar e responder com uma careta.
- Mas não entendo isso. Se vamos viver nela como uma família, por que...?
Renzo se perguntou se ela estava sendo ingênua ou se realmente não entendia.
Sabia até que ponto o deixava louco e que não tinha ideia de como deveria lidar com
a situação? Porque estava começando a perceber que mesmo tendo ficado com
muitas mulheres, não sabia como agir em um relacionamento sério. Nunca tinha
estado em um relacionamento sério antes. Até então simplesmente passava de uma
mulher para outra porque acabava ficando entediado ou porque suas exigências,
cada vez mais numerosas, o fartavam.
Mas Darcy era sua esposa e não podia fazer isso com ela. Não queria fazer isso.
Nunca quis filhos, mas agora que era ia ser pai isso havia mudado por completo.
Estava tão ansioso para segurar esse bebê nos braços, para ensinar tudo o que
sabia, para vê-lo crescer, que quase sentia medo.
Mas Darcy era um mistério que ele não conseguia resolver. Ela se fechara em si
mesma desde aquela noite em Roma, quando lhe contara sobre seu passado. Nunca
teria imaginado que sua infância poderia ter sido tão difícil. Naquela noite, quando
ela foi para a cama, ele se sentou na sala, bebendo uísque e pensando em tudo o
que ela lhe contara. As emoções eram difíceis para absorver, e acabou fazendo o
que sempre fazia: compartimentando as informações e arquivando-as em seu
cérebro com a intenção de resolvê-las em outro momento, mesmo que nunca tenha
feito isso depois.
Quando entrou no quarto e se deitou com ela, Darcy já estava dormindo. De manhã,
saíram para tomar café e nenhum deles disse uma palavra sobre o que ela lhe havia
revelado na noite anterior. Darcy havia se fechado em si mesma, e ele tinha a
sensação de que, se não a deixasse seguir seu próprio ritmo, isso apenas a afastaria
ainda mais dele.
Mas não estava funcionando. De dia ela olhava para ele com desconfiança, e à
noite, quando iam para a cama, ficava muito quieta, prendendo a respiração, como
se o desafiasse a ousar se aproximar dela. Se fosse outra mulher, a teria puxado
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para perto e a beijado até que estivesse molhada e pronta, ansiosa para que ele a
possuísse.
Mas Darcy não era qualquer mulher; era sua esposa. E em seu estado parecia tão
frágil... De fato, nas últimas semanas havia cancelado uma viagem a Nova York e
outra a Paris, temeroso de que pudesse entrar em trabalho de parto antes do tempo,
embora ainda faltassem três semanas para o parto.
-Vamos entrar. Disse-lhe abruptamente.
Pegou a chave e abriu a porta, afastando-se para que Darcy entrasse primeiro.
Seus passos ecoavam pela casa, que estava vazia exceto pelos poucos móveis que
já haviam chegado. A porta se fechou atrás deles, e ao se virar viu que Darcy seguia
olhando-o confusa.
-Por que pôs a casa em meu nome? Não o entendo.
-Porque era importante que tivesse algo que lhe desse segurança. Um lugar que
pudesse considerar teu lar se...
-Se nosso casamento não funcionar?
-Isso mesmo.
-Mas você disse que...
-Sei o que eu disse.- Interrompeu-lhe. -Mas não contei com que as coisas fossem
ser mais difíceis do que havia previsto.
-Tão insuportável lhe parece minha companhia?
-Eu não disse isso, -ele respondeu impacientemente, e de repente as palavras
saíram de sua garganta. -O que quero dizer é que estou morrendo de vontade de te
fazer minha de novo, mas parece que você já não me quer mais.
Darcy ficou o olhando, atordoada. Não tinha imaginado, ele a queria também. Mas
então... por que em todas essas semanas ele não a havia tocado? Por que ele
sempre ia dormir tarde?
Como não a tocava desde aquela noite em Roma, quando lhe contara mais sobre
sua mãe, pensara que ele sentia repulsa e por isso se distanciava dela.
Mas, mesmo que tivesse interpretado mal o comportamento dele, o que havia de
errado com ela? Por que havia assumido um papel passivo na relação? Por que
esperava sempre que Renzo desse o primeiro passo?
Poderia ser que simplesmente estivesse sendo cauteloso porque tinha medo de
machucar o bebê. Talvez ele não soubesse que, se fossem cuidadosos, não haveria
com o que se preocupar. Renzo havia lhe ensinado tudo o que sabia sobre sexo; Não
era uma oportunidade para lhe ensinar algo que não sabia?
Foi até ele e, ficando na ponta dos pés, pressionou os lábios contra os dele. Renzo
se encolheu, mas passou os braços em volta da cintura dela e aprofundou o beijo.
Darcy, que logo sentiu que estava derretendo por dentro, afastou seus lábios para
dizer a ele:
-Vamos para cima.
-Para cima?
-Você não disse que já trouxeram a cama e o colchão?
-Sim, mas...
Darcy agarrou sua mão antes que ele pudesse dizer qualquer coisa mais e puxou-
o para as escadas.
-Tire a roupa, -disse a Renzo quando entraram no quarto, tirando o casaco e
deixando-o cair no chão.
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Os olhos dele não se apartaram dela enquanto tirava sua jaqueta, suéter e calça.
Logo todas as roupas estavam espalhadas ao seu redor. Darcy se sentia um pouco
desconfortável nua na frente dele com sua grande barriga de grávida.
-Me sinto...como uma bola de praia. -Murmurou.
-Bobagem, -ele respondeu com a voz rouca. -Está linda. Como uma maçã apetitosa
e perfeita prestes a cair da árvore.
Quando a atraiu para si, ela estremeceu entre seus braços.
-Está com frio?
-Ela sacudiu a cabeça.
-Não, é que te quero tanto...
-E eu a ti também. E vou festejar contigo, mia bella –Renzo murmurou, mas de
repente pareceu hesitar. -Eu me sinto como um peixe fora d'água, -ele confessou
com um grunhido frustrado. -Nunca fiz amor com uma mulher grávida e tenho medo
de a machucar. Me diga o que quer que faça.
-Beije-me, - respondeu em um sussurro, levando-o para a cama. - E então veremos
enquanto avançamos.
Deitaram-se um ao lado do outro e Renzo seguiu seu conselho. Começou com
pequenos beijos hesitantes, mas beijos mais sensuais logo se seguiram, e então
começou a acariciá-la como ela havia por noites sonhado que o faria. A princípio ele
apenas deslizou as mãos pelo corpo dela, como se redescobrisse cada curva, cada
contorno. Nem um centímetro escapou do toque suave de seus dedos. Darcy sentiu
como se todas as terminações nervosas de sua pele tivessem subitamente se
tornado mais sensíveis.
Renzo circulou seus polegares ao redor de cada mamilo e se inclinou para lamber
e chupar. Darcy não queria que o delicioso tormento acabasse, mas depois de um
tempo estava se contorcendo de impaciência.
Seus olhos se encontraram quando a mão de Renzo deslizou por seu volumoso
ventre.
-Você quer que…? -ele perguntou em um sussurro.
-Sim, eu quero. -Ela ofegou.
Os dedos de Renzo se aventuraram além do triângulo de sedosos pelos,
deslizando em suas dobras úmidas. Darcy gemeu em êxtase. O prazer que sentia
era tão intenso que não conseguia pensar com clareza.
Enquanto ele continuava a explorá-la, seus lábios se encontraram em um novo
beijo, e ela passou os dedos por seus curtos cabelos negros antes de deixar suas
mãos percorrerem seu corpo: os ombros largos, os músculos de seus peitorais, que
pareciam de ferro...
Deslizando as palmas das mãos contra o cabelo que os cobria, deslizou as pontas
dos dedos por seu estômago, sentindo o contorno acentuado de seu abdômen.
Quando fechou a mão em torno de seu duro membro, Renzo balançou a cabeça e
ela o soltou.
-Não creio que posso aguentar, -ele disse-lhe com a voz rouca, -Faz muito tempo
que nós não o fazemos.
-Você nem tem que me dizer.
-Se eu esperar mais um segundo, acho que vou explodir. A única questão é como o
fazemos.

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Em resposta, Darcy rolou para o lado, dando-lhe as costas, e ela mexeu o traseiro
em convite.
-Pois assim, eu acho.
-Mas assim não posso te ver.
-Isso não importa. E outras vezes não se importou. Venha - insistiu, balançando o
traseiro novamente. Renzo deslizou seu membro ereto entre as coxas dela, e Darcy
sentiu um formigamento delicioso quando a ponta mergulhou em seu calor úmido.
Você vai olhar para mim mais tarde.
Renzo riu suavemente e murmurou algo em italiano enquanto a penetrava com
cuidado. Quando estava totalmente imerso nela, soltou um longo gemido de prazer.
-Está bem? Perguntou-lhe, ficando parado.
-Mais do que bem, -ela suspirou.
-Não te machuquei?
- Não, Renzo, mas se continuar aí parado eu vou querer te matar.
Ele riu novamente e começou a se mover lentamente, cuidadosamente entrando e
saindo dela, segurando seus seios em suas mãos e beijando seu pescoço. Darcy
fechou os olhos, entregando-se às sensações deliciosas que a dominavam. Logo
percebeu que o orgasmo estava chegando, tão inevitável quanto um trem correndo
pelos trilhos. Uma parte dela queria atrasá-lo, para aproveitar ao máximo aquela doce
tortura, mas Renzo também estava no limite, o sentia, e finalmente se soltou, deixou
o prazer tomar conta dela, onda após onda, enquanto ele se movia mais rápido, até
que afundou uma última vez em seu corpo e descarregou sua semente nela.
Minutos depois, ainda estavam deitados na mesma posição, pele contra pele.
Estavam suados e pegajosos, mas Darcy só queria saborear o momento e a
felicidade que sentia enquanto esperava que Renzo dissesse alguma coisa. Esperou
impacientemente que ele quebrasse o silêncio, mas quando ele falou, foi como se
alguém tivesse varrido a delicada névoa que a envolvia.
–Então... essa foi a minha recompensa, cara mia? -ele perguntou suavemente.
Irritada, Darcy se virou para encará-lo, mas se obrigou a se conter. Será que havia
interpretado mal suas palavras?
-Acho não que estou lhe acompanhando,- disse-lhe, tentando manter sua voz
neutra.
Renzo rolou de costas e bocejou.
-Achei que era sua forma de me agradecer por ter comprado esta casa para ti,
porque finalmente terá a independência que sempre desejou.
Darcy ficou paralisada. Como podia... como podia estar lhe dizendo algo assim?
Com as lágrimas brotando em sua garganta, estendeu a mão para o chão e
conseguiu agarrar seu casaco para se cobrir com ele.
-Vamos ver se entendi direito, -disse a ela, sua voz tremendo de raiva. -Acha que
eu dormi contigo porque me comprou uma casa que eu não lhe havia pedido?
-Não sei, Darcy. - O tom de Renzo havia mudado. Tornou-se duro, como o som de
um martelo batendo em um prego. E quando virou a cabeça, o olhar em seus olhos
era gelado. -Eu simplesmente não entendo você. Às vezes acho que te conheço, e
outras que não te conheço. Em muitas ocasiões, não sei o que está pensando.
-E não são assim todas as relações? -Respondeu ela, engolindo seu medo. - Você
fala tudo o que sente e pensa?
Ele a estudou com os olhos estreitados.
61
-Se eu prometer que não vou julgá-la ou ficar chateado, você me diria o que está
pensando agora?
Darcy franziu os lábios. Ele realmente esperava que se abrisse com ele? Quando
acabou de insultá-la sugerindo que dormiu com ele porque ele lhe comprou aquela
casa?
Parecia-lhe que qualquer interação entre um homem e uma mulher nada mais era
do que uma pura transação de interesse baseada no sexo.
-Quer saber o que estou pensando? - Disparou para ela tristemente. -Estava me
perguntando por que você parece tão empenhado em estragar até mesmo a menor
chance que temos de felicidade. Temos uma linda casa e um bebê a caminho. Nós
dois somos saudáveis e gostamos um do outro. E acabamos de fazer amor e foi
incrível. Não podemos aproveitar? Não podemos apenas aproveitar o momento?
Os olhos negros de Renzo permaneceram fixos nela por um longo momento antes
de ele finalmente assentir. Ele colocou um braço em volta da cintura dela e a puxou
para perto.
-Está bem.-Disse acariciando-lhe o cabelo. - vamos fazer isso. E me perdoe, eu
não deveria ter dito isso. É que tudo isso é muito novo para mim e acho difícil confiar
nos outros.
Ela assentiu em silêncio e conteve as lágrimas. Tudo o que queria era levar uma
vida normal com seu marido e seu filho. Queria o que nunca havia tido. Era demais
pedir isso?

Capítulo 10

Já na manhã de segunda-feira, Darcy teve a sensação de que algo estava errado,


embora a princípio não lhe deu importância, como quando lhe parece que caiu uma
gota e olha para o céu nublado, mas acha que imaginou, quando é o arauto que
anuncia a tempestade.
Renzo estava em Londres, apresentando em coletiva de imprensa seu projeto para
a galeria de arte que iria construir em Tóquio. Ele havia saído de casa de madrugada.
Havia perguntado se ela queria ir com ele, mas preferiu ficar e estava no jardim
pendurando as roupas quando o telefone tocou. Era a secretária de Renzo, que disse
que estava ligando porque o marido queria saber se estaria em casa à hora do
almoço.
Darcy estranhou aquela pergunta. a. Mesmo que não fosse para casa, Renzo sabia
que, se saísse, o mais longe que ia era ao povoado.
-Sim, vou estar em casa, por quê?
-O senhor Sabatini só queria ter certeza.
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Darcy franziu o cenho.
-Aconteceu alguma coisa? Meu marido está aí? Pode pôr-me em contato com ele?
-Receio que não seja possível, -respondeu a secretária em tom amigável, mas
firme. -Ele está em reunião. Mas me pediu para lhe dizer que estará em casa por
volta do meio-dia.
Darcy desligou o telefone e tentou dissipar a súbita apreensão que se apoderou
dela, dizendo a si mesma para parar de imaginar problemas quando não existiam.
No entanto, por mais que tentasse pensar positivamente, não conseguia afastar o
sentimento ruim que havia germinado dentro dela. Voltou para dentro e foi colocar a
cesto no lugar. Renzo havia dito a que não precisava lidar com essas coisas, mas as
fazia porque tinha vontade de fazê-las. Sabia que Renzo queria contratar uma
empregada e um motorista também para a levar e trazê-la ao invés de deixá-la dirigir,
mas não queria ficar sentada o dia todo.
Não queria viver berço de ouro, queria uma vida de verdade porque a realidade era
a única coisa que poderia manter seus pés no chão. Embora Renzo tivesse milhões,
ela queria que fossem uma família o mais normal possível. E, embora no início
tivesse sido contra esse casamento, a verdade é que ela queria que desse certo. E
não apenas pelo bebê, nem por dar a ele uma infância mais feliz do que a que
tiveram. Queria que funcionasse porque estava apaixonada por Renzo.
Havia tido aquela revelação uma manhã quando acordou, com ele ainda dormindo
ao seu lado. Quando dormia, era menos intimidador e mais atraente também porque
suas feições relaxavam. Seu cabelo estava bagunçado porque na noite anterior,
quando fizeram amor, ela o despenteara com os dedos.
E enquanto o observava, um sentimento profundo tomou conta dela, um sentimento
caloroso, e se perguntou como não havia notado isso antes. Ela o amava, sim, o
amava. Ele havia roubado seu coração no mesmo dia em que se conheceram na
boate, quando virou a cabeça para encontrá-lo olhando-a como se só tivesse olhos
para ela.
E se o destino, ou simplesmente uma gravidez não planejada, lhe dera a chance
de explorar seus sentimentos, tinha que aproveitar ao máximo. Ele podia não sentir
o mesmo por ela, mas tinha se convencido de que com o tempo a paixão que ela
despertava nele poderia pelo menos se transformar em afeto. Estava determinada a
ser a melhor companheira; Ofereceria sua amizade, seu respeito e manteria viva a
chama da paixão. E se em algum momento ela se visse desejando algo mais... bem,
talvez tivesse que aprender a apreciar o que tinha e parar de fantasiar sobre contos
de fadas com finais felizes.
Foi para a cozinha e começou a fazer comida; macarrão com molho pesto caseiro.
Quando a massa estava cozida e escorrida e o molho pronto, preparou um chá e
tinha acabado de se sentar para descansar quando ouviu a porta da frente abrir e
fechar.
-Estou na cozinha.-Disse.
Ouviu os passos de Renzo se aproximando e levantou a cabeça com um sorriso
para recebê-lo, mas o sorriso desapareceu de seus lábios quando viu sua expressão
sombria. Ela colocou o copo sobre a mesa com as mãos trêmulas.
- Aconteceu alguma coisa?

63
Ele não respondeu, e seu medo só aumentou. Seus punhos e mandíbula estavam
cerrados, e todo o seu corpo estava tenso, como se estivesse a apenas um passo
de perder a paciência.
-Renzo, o que foi?
Ele a queimou com o olhar.
-Não sei, diga-me você.
-Está me assustando. O que houve? Não entendo nada.
-Eu também não entendia, -ele respondeu com uma risada áspera e amarga. -Mas
agora começo a entender tudo.
Tirou do bolso um envelope que plantou sobre a mesa. Estava todo amassado,
como se o tivesse amassado na mão para jogá-lo na cesta de lixo e depois mudasse
de ideia e o alisasse o melhor que pudesse. Nele se lia o nome de Renzo rabiscado
em letras maiúsculas. Quem quer que tenha escrito, havia escrito errado seu
sobrenome.
Os lábios de Renzo se curvaram em um desagradável sorriso de escárnio.
- É um bilhete do seu amigo.
-Que amigo?
-Não deveria ser difícil para ti descobrir qual. Porque não é como se você tivesse
muitos amigos, certo? -ele disparou para ela cruelmente. - Até agora eu não entendia
o porquê, mas agora sim.
Foi então que Darcy soube o que estava acontecendo. Tinha visto o olhar de
desprezo nos olhos de Renzo muitas vezes. Sentiu uma pontada no peito e uma
certeza aterradora a assaltou de que poderia dizer adeus às suas esperanças de ter
uma vida normal e feliz com ele.
-O que diz?
- O que você acha que diz?
Darcy engoliu em seco.
-Leia para mim, -pediu. -Por favor.
Renzo lançou-lhe outro olhar de desprezo antes de tirar do envelope a folha
manuscrita dobrada e começar a ler em voz alta, embora algo lhe dissesse que Darcy
já sabia o que ele dizia:

“Você sabia que Pammie Denton era uma prostituta? A maior prostituta de
Manchester. Pergunte a sua esposa quem era a mãe dela.”

Jogou a folha e o envelope sobre a mesa. -Não adianta perguntar se você reconhece
a caligrafia, porque está toda em maiúsculas, mas estou supondo pelos erros
ortográficos e pela péssima caligrafia, que é esse tal de Drake Bradley que escreveu
isso, e que é o começo de uma tentativa desajeitada de chantagem, não acha?
Se fosse outra pessoa, Darcy teria dito que não queria falar sobre isso, mas Renzo
era seu marido, o pai do bebê que crescia em seu ventre. Não podia varrer o que a
envergonhava para debaixo do tapete e esperar que fosse embora.
Talvez tivesse chegado a hora de parar de fugir da verdade, de ter coragem de ser
quem era, em vez da pessoa forjada pelos pecados de ontem. Seu coração batia
forte e sua boca estava seca, mas ela respirou fundo e disse:
-Se me deixar, quero lhe explicar.
Ele a olhou com uma expressão intransigente.
64
-Adiante, explique-se.
Teria sido mais fácil de certa forma se ele estivesse furioso com ela, pensou Darcy,
se tivesse lançado acusações contra ela às quais pudesse responder, poderia ter
pedido a ele para se colocar no seu lugar. Mas não era fácil assim, não quando a
estava olhando daquela maneira. Era como tentar manter uma conversa com uma
parede de pedra.
-Minha mãe era prostituta. -Começou a dizer.
- Acho que isso já estava bem claro para mim. -ele a cortou.- O que ia me explicar?
Era pior do que havia pensado; havia raiva nele, mas era uma raiva contida, uma
raiva concentrada que a assustava porque não reconhecia naquele homem que
estava à sua frente o Renzo que conhecia. Era como um vulcão prestes a entrar em
erupção.
–Ela era viciada em drogas... bem, isso você já sabe, mas... enfim, as drogas são
caras...
-E para ganhar dinheiro fácil, uma mulher só tem que vender o corpo? -Ele a cortou
incisivamente.
Ela assentiu, sabendo que não havia como voltar atrás agora. Tinha que lhe contar
toda a verdade, a versão cruel e sem censura que ela nunca foi capaz de aceitar.
–No começo foi fácil para ela, até que sua aparência começou a se deteriorar.
Minha mãe era uma mulher muito bonita, mas as drogas a transformaram em pó. O...
o cabelo dele começou a cair e... -Ela corou de vergonha ao se lembrar de como as
crianças da escola a provocavam, zombavam dela e diziam que sua mãe estava
ficando careca. Não queria falar com Renzo sobre isso, mas precisava. Além disso,
por que estava protegendo a memória de sua mãe, quando ela não se importava em
destruir suas vidas apenas para poder se picar? -Então foram os dentes, - murmurou,
olhando para baixo. -E isso foi o começo do fim dela, porque no começo quando ela
se drogava ela ficou com cárie, mas depois também foi perdendo-os. Ela ainda
estava conseguindo clientes, só que cada vez eles tinham menos… “categoria” e,
como você pode imaginar, cada vez se via obrigada a cobrar menos.
E então a situação havia ficado perigosa e havia começado a sentir medo. Não
queria voltar para casa depois da escola, onde não conseguia me concentrar por
estar tão angustiada. Nunca sabia o que encontraria quando chegasse, que tipo de
escória encontraria ali, olhando de soslaio para sua mãe, ou pior, para ela. Foi então
quando havia começado a desconfiar dos homens, e se não fosse aquela assistente
social que a havia tirado de lá, não sabia o que poderia ter acontecido. Qualquer um
pensaria que voltar para o orfanato seria o pior, mas para ela havia sido sua salvação.
-Deve ter sido um pesadelo para você, -Renzo murmurou.
Ouvindo uma nuance diferente em sua voz, Darcy ergueu os olhos esperançosos,
mas suas esperanças foram frustradas quando viu que sua expressão, fria e dura,
não havia mudado.
-Foi. Mas eu só quero que você entenda que...
-Não, -ele a cortou de repente. -Não tenho o menor interesse em entender você,
Darcy. Já não. Quero que saiba que algo foi destruído quando recebi aquele bilhete.
-Eu entendo o quão chocante...
Renzo sacudiu a cabeça.
-Não. Você ainda não entende. Não estou falando disso. Refiro-me a confiança.
-Confiança?
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-Sim, posso ver a confusão em seu rosto. Esse conceito é tão estranho para você?
-Sua boca se contorceu em um sorriso cruel. -Sim, acho que deve ser, porque quando
perguntei se não estava escondendo mais nada de mim, você disse que não. Achei
que estávamos nos abrindo, que queríamos criar nosso filho em um ambiente livre
de mentiras.
Nervosa, Darcy umedeceu os lábios.
–Mas… você tem que entender por que eu não te contei.
-Não, -ele respondeu secamente. -Não consigo entender isso. Eu já sabia que sua
mãe era viciada em drogas. Pensou que eu iria julgá-la quando descobrisse como as
drogas eram pagas?
-Sim. -Respondeu desesperada. – Claro que sim. Porque todos que descobriram
de uma forma ou de outra me julgaram por isso. Ser filha da prostituta mais notória
de Manchester acaba por lhe conferir a mesma reputação. As pessoas me olhavam
e zombavam de mim. Ouvia-os rindo à minhas costas. A assistente social dizia que
se aproveitavam da minha vulnerabilidade para implicar comigo porque eu era bonita
e tinham inveja de mim, mas isso não me fez sentir nem um pouco melhor. Foi por
isso que fui para Londres, e é por isso que não tive intimidade com ninguém antes
de te conhecer.
-E é por isso que você nunca aceitou meus presentes, -disse ele lentamente.
-Sim. -Exclamou ela, ansiosa por encontrar um ponto fraco em sua impenetrável
armadura.
Procurou seu olhos em busca de compreensão, mas não encontrou nenhuma.
-Percebe que não podemos viver com segredos entre nós?
-Mas não há mais segredos...não há nenhum mais. Já sabes tudo sobre mim. – O
coração martelava em seu peito enquanto ela implorava como uma ré no banco dos
réus. -E não lhe mentirei nunca mais.
Renzo sacudiu a cabeça.
-Você não entendeu direito, não é? -ele disse com uma voz cansada. Você sabia
que minha infância foi repleta de segredos e mentiras, os danos que eles me
causaram. Eu lhe disse como é difícil para mim confiar em alguém. Eu te dei uma
chance, Darcy, confiei em você... Como diabos espera agora que eu confie em ti de
novo? A verdade é que não posso – soltou uma risada amarga. -E a verdade é que
não quero.
Darcy estava prestes a devolver-lhe a acusação, de lhe dizer que nunca havia
confiado nela de verdade. Bastava ver como havia reagido ao saber que estava
grávida, crivando-a de perguntas como se fosse uma suspeita de algum delito.
Mas ficou quieta e não disse nada. De que serviria? Por seu olhar vazio era
evidente que não importava o que dissesse ou fizesse, pois havia fechado sua mente
e seu coração.
-E então o que...? começou a perguntar hesitante.
-Vou voltar para Londres, -respondeu ele; -Agora não consigo nem ficar na mesma
sala que você.
-Renzo...
-Não por favor. Mantenhamos pelo menos nossa dignidade. É preferível que
nenhum de nós diga nada de que depois possa se arrepender, porque vamos
compartilhar a guarda do nosso filho. Obviamente, teremos que chegar a algum tipo

66
de acordo formal, mas não precisamos falar sobre isso agora. E acho que me
conhece bem o suficiente para saber que serei razoável.
Darcy quase desmaiou, principalmente porque a voz de Renzo falhou nas últimas
palavras, como se ele se sentisse tão mal quanto ela. Mas era impossível, era
impossível para ele se sentir tão mal quanto ela. Seu coração doía tanto que era
como se tivesse se partido em mil pedaços.
-Contratei uma parteira para ficar de olho em você até o parto, -continuou Renzo. -
Falei com ela e me disse que não tem nenhuma objeção em passar as noites aqui
se isso te deixar mais tranquila.
-Não, isso não vai me deixar mais tranquila -Darcy explodiu.- Não quero uma
estranha morando aqui.
Ele deixou escapar um riso sarcástico.
-Não, suponho que não. Viver com um estranho é algo que não lhe recomendaria.
Dizendo isso, ele se virou e saiu. Darcy, que conseguira se levantar apesar de suas
pernas tremerem, foi até a janela e o viu se afastando pelo jardim. Pensou em correr
atrás dele, agarrá-lo pela manga de seu casaco italiano e implorar para que lhe desse
outra chance, para ficar, mas tudo o que lhe restava era sua dignidade. Então ficou
lá, seguindo-o com o olhar até que ele entrou no carro e desapareceu rua abaixo. Ele
não se virou nem um momento, nem virou a cabeça para a olhar uma última vez.

Capítulo 11

Depois que ele se foi, uma profunda desolação tomou conta de Darcy. Se sentia
como se estivesse em pé à beira-mar em um dia frio de inverno com um vento gelado
batendo em seu rosto. Tinha que manter a cabeça fria. O que importava era seu
bebê, era tudo o que importava.
Fechou os olhos pensando no que Renzo acabara de descobrir, a vergonhosa
verdade sobre sua mãe, que havia sido uma prostituta. Seria forçada algum dia a
dizer ao filho que tipo de mulher tinha sido sua avó? O mero pensamento fez seu
coração apertar. Mas se houvesse amor e confiança, disse a si mesma, poderia
contar ao seu filho quando ele tivesse idade suficiente, e ele compreenderia.
Engoliu a saliva. Entendia a raiva de Renzo, mas doía não ter conseguido fazê-lo ver
que estava errado. Havia tido a reação esperada, dadas as circunstâncias, mas algo
a confundia. Não havia ameaçado com tirar-lhe a custódia, como faria qualquer outro
homem tão rico quanto ele.
Havia falado com ela em tom amargo, como se estivesse profundamente magoado,
e isso foi algo que a surpreendeu porque até então Renzo nunca havia expressado
suas emoções.

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Tinha certeza de que ele entendia por que lhe havia escondido aquele horrível
segredo, por que a vergonha que sentia havia feito que já não fosse capaz de confiar
em ninguém, assim como ele.
Mas ele havia lhe dito que havia confiado nela. Realmente o havia feito? Bem, havia
confiou nela para tomar a pílula e, quando ela engravidou, ele confiou na explicação
que havia lhe dado.
Também havia confiado nela quando, em sua primeira visita à Toscana, lhe havia
contado coisas sobre sua infância que não teria por que ter contado. E quando
haviam voltado para a Inglaterra, ele deu a ela a chave de seu apartamento.
Nunca havia dito com palavras que confiava nela, mas muitas vezes as palavras
não eram mais que isso, palavras. Ele a havia demonstrado com fatos. Talvez não
estivesse apaixonado por ela, mas lhe teria dado sua confiança, e ainda mais que
ele custava a confiar em alguém, era algo muito importante para ele...e o havia
botado tudo a perder.
Seus olhos se encheram de lágrimas. Sim, havia estragado tudo porque não
confiava nele. Renzo não a julgara quando descobriu que sua mãe era viciada em
drogas, e tinha certeza de que não a julgaria se contasse que ela havia sido
prostituta. O que o havia feito sair com tanta raiva contida foi que lhe havia mentido,
que lhe havia escondido seus segredos todo esse tempo.
O que iria fazer agora? -Perguntou-se, olhando para o céu azul brilhante, que
parecia estar zombando dela. Iria ficar ali com aquela parteira que o Renzo contratou,
esperando o bebê chegar?
Iria passar dia após dia atormentada por arrependimentos e pela sensação de ter
estragado a melhor coisa que já lhe acontecera? Ou deveria se preparar e ir ver
Renzo? Não para lhe implorar ou suplicar, mas para arriscar seus sentimentos e dizer
o que deveria ter dito há muito tempo. Talvez fosse tarde para que voltar para ela,
mas talvez ele tivesse compaixão e a perdoasse.
Pegou as chaves do carro, foi a garagem e sentou-se ao volante. Inspirou
profundamente várias vezes para acalmar-se, como havia aprendido nas aulas de
parto. Levava um pequeno passageiro a bordo cuja segurança era a coisa mais
importante para ela, e não iria dirigir para Londres com os nervos em frangalhos.
Quando se acalmou, ligou o motor, soltou o freio de mão e partiu. Era curioso
porque deveria estar com medo, mas nunca havia se sentido tão forte nem tão
centrada como naquele momento. Manteve sua mente na estrada até chegar à
cidade e entrar nas movimentadas ruas de Londres, agradecida de poder ir seguindo
as indicações do GPS.
No entanto, suas mãos tremiam quando parou ao lado do arranha-céu onde
ficavam os escritórios da Sabatini Internacional. Respirando fundo, saiu do carro e
foi até a entrada, onde um segurança a abordou.
-Receio que não possa deixar o carro aí, senhorita.
-Eu creio que posso. E é “senhora”, não “senhorita”. Meu marido é o dono deste
edifício.- Meu marido é o dono deste edifício.- Respondeu-lhe, sorrindo ao ver a cara
de susto do segurança. -E se puder cuidar do carro... - disse, entregando-lhe as
chaves do carro. -Você não quer coloquem uma multa para o Sr. Sabatini, certo?
Enquanto atravessava o corredor até o elevador da cobertura, sentiu que as
pessoas a olhavam, mas as ignorou. O elevador a levou diretamente ao trigésimo

68
segundo andar, onde Renzo tinha seu escritório. A secretária de Renzo devia ter
recebido um aviso de segurança, porque levantou-se como uma mola para detê-la.
-Senhora Sabatini, receio que seu marido não possa vê-la agora. Não pode ser
perturbado; Ele está em reunião, -explicou, apontando para uma porta fechada com
um gesto.
Alguns meses atrás, essas palavras a teriam desencorajado imediatamente. Teria
pedido timidamente à secretária que lhe dissesse para ligar quando pudesse e teria
ido embora. Mas já não era assim. Havia passado por tanta coisa em sua vida... Em
sua infância, havia visto coisas que nenhuma criança deveria ver, e havia sobrevivido
a uma adolescência difícil, mas não deixaria que essas experiências a definissem.
Até então, em vez de fechar a porta do passado e olhar para frente, havia deixado
que aquelas coisas continuassem influenciando sua vida. Mas não deixaria isso
acontecer novamente.
-Não pode? Agora verá se não pode... -ela disparou, e foi direto para a porta
fechada, ignorando os protestos da secretária.
Quando a abriu, Renzo, que estava sentado à cabeceira da longa mesa, falando
enquanto outras seis pessoas o ouviam, calou-se ao vê-la. Todos os outros viraram
a cabeça para ela em uníssono, o que foi bastante cômico, mas Darcy, cujos olhos
estavam fixos em Renzo, nem percebeu, e se negou a se deixar levar por sua
expressão gelada. Tinha que ser forte.
-Darcy, agora não…-Começou dizer Renzo com os olhos semicerrados.
-Sei que não é um bom momento. -Cortou-lhe, - Mas preciso falar contigo. Assim
que, se essas pessoas não se importarem de nos dar cinco minutos, gostaria que
nos deixassem a sós.
Como se fossem marionetes cujos fios fossem movidos por uma mão invisível, os
seis funcionários viraram a cabeça para Renzo.
-Está bem, faremos uma pausa. -Disse-lhes.
O coração de Darcy batia forte enquanto os funcionários de Renzo saíam da sala
de reuniões, olhando-a com curiosidade ao passar. Renzo não se moveu, e sua
expressão permaneceu impassível.
-Por que veio? -Perguntou-lhe friamente quando o último empregado saiu,
fechando a porta atrás de si. -Achei que tínhamos dito tudo o que tínhamos a dizer
um ao outro.
Darcy balançou a cabeça.
-Eu não. Foi você quem falou. Eu estava muito atordoada para responder.
-Então não se preocupe em fazer isso agora, -respondeu ele, em tom cansado. -
Não quero mais ouvir suas mentiras. Quer manter seus segredos para si mesma?
Então faça! Ou encontre um homem em quem confie o suficiente para lhe contar a
verdade.
Darcy engoliu em seco.
-Confio em você, Renzo. Levei todo esse tempo para ousar fazê-lo, mas quero que
saiba que foi porque tive medo... e porque fui estúpida. Não podia acreditar que
alguém tão maravilhoso como você gostaria de fazer parte da minha vida, e eu
pensei...- As palavras sumiram e lágrimas vieram aos olhos dela. -Pensei que a única
maneira de o manter ao meu lado era ser quem você pensava que eu era. Estava
com medo de que descobrisse quem eu realmente era, que você me afastasse de ti,
mesmo antes de eu engravidar e...
69
-Olha, Darcy, você não pode vir aqui e...
-Não. -O interrompeu. Algumas lágrimas rolaram por suas bochechas, mas ela as
enxugou furiosamente com as costas da mão. -Deixe-me terminar. Deveria me sentir
bem comigo mesmo por deixar para trás a terrível infância e adolescência que tive.
Deveria ter me alegrado por ter encontrado um homem que estava disposto a cuidar
de mim e de nosso filho. Deveria ter percebido que para ti foi um grande esforço me
contar sobre o seu passado e me dar a chave do seu apartamento. Deveria ter
pensado no significado desses gestos, mas o medo me cegava e me impedia de me
atrevera confiar em ti. E sim, em vez de manter meus sentimentos a sete chaves, eu
deveria ter me aberto para ti, e é por isso que vim, para lhe contar o maior dos meus
segredo.
Ele ficou imóvel.
-Mais outro?
-Sim.-Murmurou ela. -O último. E se vou compartilhar contigo não é porque queira
nem espere nada em troca. Mas quero que o saibas. - sua voz tremeu, mas não se
importou. Tinha a oportunidade de acertar as coisas, e o que ia lhe dizer era a
verdade e não se importava com as consequências. -Te amo Renzo. Eu te amei
desde o primeiro momento em que te vi. Foi como ser atingida por um raio, e aquela
sensação não foi embora, só aumentou. A primeira vez que fizemos amor foi tão
intenso que me dominou, e sei que se me afastar de ti eu nunca vou encontrar alguém
que me faça sentir como você me faz sentir. -Concluiu baixando o olhar.
Por um longo tempo permaneceram em silêncio. As batidas de seu coração
ressoavam em seus ouvidos, e ela não ousava olhar para Renzo, com medo de ver
a rejeição em seu rosto, mas tinha que fazê-lo, tinha que olhar para ele. Se ela
aprendeu alguma coisa com tudo isso, foi que tinha que enfrentar a realidade, por
mais dolorosa que pudesse ser.
-Como você veio? -ele perguntou de repente.
Ela piscou aturdida.
-Em... de carro. Deixei as chaves com o segurança para estacionar.
-Então pensou, -começou Renzo, -que poderia aparecer aqui, interromper a
reunião em que eu estava, dizer algumas palavras bonitas e com isso tudo ficaria
bem.
- Eu só... eu só fiz o que achei melhor.
-Melhor para ti, você quer dizer.
-Renzo, eu...
-Não! -Ele a interrompeu sem cerimônia. Seus olhos negros relampejavam. -O que
eu te disse é sério, Darcy. Não quero viver assim, me perguntando o que vou
descobrir sobre ti a seguir, sem saber o que está me escondendo.
Darcy sabia que não podia culpá-lo por duvidar dela. Havia traído a confiança dele,
e a esperança que ela nutria de que ele pudesse perdoá-la murchou em um instante
e morreu. Ela franziu os lábios, tentando conter as lágrimas. Não ia chorar, não ia
chorar.
-Então acho que não há mais nada a dizer. -ela murmurou. -Vou sair para que você
possa continuar com sua reunião. -Engoliu em seco. -Tenho certeza de que podemos
chegar a um acordo amigável pelo bem de nosso filho. -Ela se dirigiu para a porta,
parando por um momento para olhar para ele uma última vez. -Adeus Renzo. Cuide-
se.
70
Renzo a encarou até ela sair e fechar a porta. Logo a porta se abriu novamente e
sua secretária entrou.
-Sinto muito, Renzo, -ela se desculpou gaguejando. -Eu não…
Mas ele a dispensou com um aceno impaciente, e a mulher o deixou sozinho
novamente. Ele andava de um lado para o outro na sala de reuniões, irritado,
lembrando-se das palavras de Darcy e de seus olhos cheios de lágrimas. Estava
sendo injusto com ela? Pensou na vida que ela viveu, como deve ter sido
insuportável, todas as coisas sórdidas que deve ter testemunhado... e como
sobreviveu.
Também pensou em como havia conseguido. Ela conseguiu um emprego decente,
mesmo que humilde, e pagou aulas para melhorar sua educação. Era uma mulher
independente, com orgulho, que se recusou a aceitar presentes dele, e não o fez
para desempenhar um papel diante dele; tinha feito isso porque se sentia assim.
Havia tido medo de se abrir com ele por medo de que a rejeitasse, como sem dúvida
o fez algumas vezes. E era o que havia feito, a havia rejeitado e a deixado ir, logo
depois que ela declarou seu amor por ele. "Seu amor…". E ele o havia desdenhado
como se fosse nada.
Um espantoso medo o invadiu. Saiu da sala de reuniões e dirigiu-se ao elevador
sem dizer uma palavra à secretária, que lhe lançou um olhar aborrecido ao vê-lo
passar. O segurança teria levado o carro para o estacionamento do subsolo, mas
enquanto descia as escadas os segundos se arrastavam e ele olhou para o relógio
angustiado, certo de que Darcy já teria ido embora.
Quando entrou no estacionamento, um sentimento horrível de culpa tomou conta
dele enquanto examinava os carros estacionados, tentando encontrar o de Darcy. E
quando estava prestes a perder as esperanças, ouviu o som de uma porta de carro
se fechando e, olhando naquela direção, a viu sentada ao volante e afivelando o cinto
de segurança. Correu em direção a ele, e Darcy pulou quando ele apareceu ao lado
dela e plantou as mãos na janela do passageiro.
-Darcy, me desculpe, -ele disse a ela, mas ela balançou a cabeça com um olhar
triste. -Deixe-me entrar, -ele pediu, mas ela balançou a cabeça novamente e enfiou
a chave na ignição com a mão trêmula. Darcy, abra a porta ou quebrarei o maldito
vidro, - disse levantando a voz.
Ela deve ter pensado que ele era capaz, porque depois de um segundo ele ouviu
o "clique" do trinco. Abriu a porta e entrou no carro antes que ela pudesse mudar de
ideia.
-Darcy...-Começou.
-Não quero falar. -O cortou ferozmente. -Agora não.
Seus olhos estavam vermelhos; estivera chorando. Queria abraçá-la, apagar de
beijos o rastro que as lágrimas haviam deixado em suas bochechas, mas tinha que
falar com ela, havia algo que tinha que lhe dizer. Como ela poderia realmente confiar
nele quando ele não havia se aberto totalmente para ela?
-Ouça-me, por favor, - implorou, - deixe-me dizer o que deveria ter dito há muito
tempo. Você transformou minha vida completamente. Você me fez sentir coisas que
nunca pensei que sentiria, coisas que não queria sentir porque tinha medo do que
poderiam fazer comigo, porque tinha visto em meus pais o dano que duas pessoas
podem fazer uma à outra. Mas eu percebi que...

71
Ele respirou fundo, e talvez Darcy pensou que ele não iria continuar, pois estreitou
os olhos e perguntou desconfiada:
-O que?
-Que o maior mal, a pior coisa que pode me acontecer é não ter você ao meu lado.
Há pouco tempo, quando partiu, de repente me vi pensando em como seria minha
vida sem você e senti como se enormes nuvens negras tivessem coberto
completamente o sol.
-Muito poético, -ela disse sarcasticamente. -talvez seu próximo caso gostaria de
ouvir isso antes que fosse tarde demais.
Ela não parecia disposta a ceder nem um pouco, mas isso só o fez sentir ainda
mais respeito por ela. Mas estava lutando por algo que nunca havia pensado em
termos concretos antes: seu futuro.
-E há algo mais que você precisa saber, -ele adicionou suavemente. - Todas as
coisas que fiz por você, aquelas coisas que nunca fiz por ninguém antes... por que
você acha que as fiz? Porque o que sinto por você é mais forte que meus medos,
porque quero você ao meu lado, porque quero que criemos nosso filho juntos. Quero
acordar ao seu lado todas as manhãs e te dar um beijo de boa noite todos os dias.
Porque eu te amo. Eu te amo tanto Darcy... tem que acreditar em mim.
Enquanto o ouvia, Darcy começou a chorar. A princípio foi apenas uma lágrima que
rolou por sua bochecha, deslizando para o canto de seus lábios. Enxugou aquela
lágrima salgada com a língua, mas depois outras se seguiram, e logo se tornaram
uma verdadeira torrente, mas ela não se preocupou mais em detê-las.
Olhou para Renzo com a visão embaçada como uma aquarela, e quando voltou a
enxergar com clareza notou que sua expressão havia mudado. Não era mais como
estar diante de uma parede intransponível, era como se essa parede tivesse
desabado e agora nada os separava. Era o que sempre havia sonhado em ver seus
olhos, mas jamais havia acreditado que pudesse chegar a ver.
Seus olhos pretos brilhavam como um farol na noite mais escura, guiando aos
barcos que navegavam próximo.
-Te amo. -Murmurou. -Mas agora preciso que me abraces com força, para poder
me convencer de que não estou sonhando.
Ele riu, exultante, e a atraiu para si, e afastou o cabelo cacheado de seu rosto antes
de se inclinar e beijar suas bochechas encharcadas de lágrimas. Quando seus lábios
se encontraram, beijaram-se quase com desespero, como se nunca tivessem se
beijado antes. Foi um beijo apaixonado e tão carregado de emoção que Darcy sentiu
como se seu coração fosse explodir de alegria. Teria continuado a beijá-lo até ficar
sem fôlego, mas uma pontada aguda em sua barriga a fez arrancar os lábios dos
dele e cravar os dedos em seus braços.
-Te amo tanto, cara mia…-Renzo murmurou, inclinando-se de novo para a beijar.
-E eu a você, -disse ela apressadamente, -mas temos que ir.
Renzo franziu a testa.
-Para onde? Quer que voltemos para Sussex?
Uma nova pontada fez o rosto de Darcy franzir. Ela balançou sua cabeça.
-Me parece que não vamos chegar tão longe. Sei que ainda faltam duas semanas,
mas creio que estou tendo contrações e vou entrar em trabalho de parto.

72
Foi um parto rápido e fácil, ou pelo menos foi o que o médico e as enfermeiras lhe
disseram, embora Darcy não o descrevesse exatamente assim. Mas teve Renzo ao
seu lado o tempo todo, segurando sua mão, enxugando sua testa e sussurrando-lhe
coisas em italiano que, embora ela não entendesse, também não precisavam ser
traduzidas porque o amor era uma língua universal.
Foi um momento de muita emoção quando o pequeno Luca Lorenzo Sabatini foi
trazido para perto de seu peito e o pequeno começou a chupar olhando para ela com
olhos iguais aos de seu pai.
Quando ficaram sozinhos, ela olhou para Renzo e viu um brilho incomum em seus
olhos. Assustada, estendeu a mão para o rosto dele, coberto por uma sombra de
barba. Será que ele ia chorar?
-Scusi. -Murmurou Renzo, inclinando-se para beijar a cabecinha de seu filho, antes
de beijar também os lábios dela. - Acho que não vou ajudar muito se começar a ficar
sentimental, não é?
Darcy sorriu e sacudiu a cabeça.
-Adoro ver um homem feito se emocionar com o filho recém-nascido.
-Parece exercer tanto poder sobre mim como sua mãe. -Respondeu Renzo
devolvendo-lhe o sorriso enquanto acariciava seus cachos ruivos. -Quer que eu vá
para você descansar um pouco?
-De jeito nenhum, -ela respondeu com firmeza, movendo-se um pouco para dar
espaço para ele.
O coração lhe palpitou com força quando Renzo se sentou a seu lado e colocou
um braço em volta de seus ombros, atraindo ao pequeno Luca e ela para perto de si.
Sentia como se toda a sua vida tivesse caminhado por uma estrada estreita e sombria
e, de repente, tivesse chegado a uma clareira em uma floresta banhada pela luz do
sol.

Epílogo

Depois de tirar os sapatos e se jogar no sofá com um suspiro de satisfação ao final


de um longo dia, Darcy franziu a testa quando Renzo lhe entregou uma caixa plana
e de forma quadrada recoberta de couro.
-O que é isso?-Perguntou-lhe.
Renzo ergueu uma sobrancelha.
-Os presentes não deveriam ser uma surpresa?
-Mas não é meu aniversário.
-Não, mas é do Luca.

73
Darcy ergueu os olhos da caixa e sorriu para ele. Era difícil acreditar que seu
filhinho tinha acabado de completar um ano. Um ano em que cativou todos os que o
conheceram com a sua doçura e curiosidade.
Haviam organizado uma festinha com balões, flâmulas coloridas e um bolo, e
convidaram vários amigos e vizinhos com seus filhos.
Agora que sabia que tinha o amor do marido e estava livre da vergonha que a
arrastou durante todos aqueles anos, Darcy começou a se abrir com as pessoas e a
fazer amizades no bairro e na Toscana também, onde iam sempre que podiam.
passar alguns dias. Ter amigos de verdade, mesmo sabendo que seu melhor amigo
sempre seria seu marido, era algo que a deixava muito feliz.
-Abra, -reitero Renzo.
Quando abriu a Caixa, encontrou um deslumbrante colar de esmeraldas. Confusa,
olhou para Renzo. Logo após o nascimento do filho, Renzo foi ver Drake Bradley e o
convenceu a dizer onde havia penhorado o colar de diamantes roubado. Havia
conseguido gravar sua confissão secretamente com seu celular e lhe deu a opção
de levá-lo ante um juiz que o enviaria direto para a prisão ou que se comprometesse
a reformar-se e mudar sua vida. Ofereceu-lhe um emprego de operário de remoção,
e Drake não só aceitou como o surpreendeu ao mostrar que era capaz de trabalhar
bem e ganhar um salário. Desde então vinha tratando Renzo com a mesma lealdade
que um cachorro espancado mostraria ao homem que o pegara das ruas.
Ao recuperar o colar de diamantes, Renzo o havia levado para a casa, e depois de
lhe relatar o ocorrido, lhe havia dito:
-Acho que você não quer usar este colar de novo, não é?
Ela havia sacudido a cabeça.
-Não, muitas lembranças ruins, -ela respondeu.
No dia seguinte, Renzo havia doado para uma instituição de caridade para ser
leiloado novamente. E desde então Darcy não pensou nisso novamente.
-Mas, Renzo... -Murmurou. Por que por que me comprou isso? É demais para mim.
-Não, não é. -Replicou ele com firmeza. - Mesmo que eu lhe tivesse comprado tudo
o que eles tinham na joalheria, não teria sido demais para ti. Eu te amo, Darcy, te
amo por tudo que me ensinou e por toda felicidade que me deu. Você me fez o
homem que sou, um homem muito melhor do que era antes de te conhecer – disse
ele. Então ele sorriu e acrescentou: -Além disso, as esmeraldas combinam muito
bem com seus olhos.
Ela sorriu emocionada e escaparam algumas lágrimas, mas ele as enxugou com o
polegar. Darcy deixou sobre a mesinha a caixa com o colar de esmeraldas, que para
ela não passavam de pedras. O que era inestimável para ela era o amor de seu
marido e de seu filho.
-Venha aqui, mio caro, - sussurrou, lhe envolvendo o pescoço com os braços para
fazê-lo se deitar com ela no sofá.
-Tens algo em mente? – perguntou ele com um sorriso de lobo.
Ela sorriu também e deslizou as gemas dos dedos por sua bochecha até chegar
aos sensuais lábios.
-Vou lhe demonstrar o quanto eu te amo.

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