TCC 3151 Morais Lima
TCC 3151 Morais Lima
TCC 3151 Morais Lima
Resende
2016
1
Resende
2016
2
COMISSÃO AVALIADORA
______________________________
Rodrigo Eugenio de Paiva – Maj Inf
Orientador
______________________________
______________________________
3
À minha família, base do meu caráter, que me proporcionou o melhor ensino que eu
poderia ter e é grande responsável pelas minhas conquistas.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar presente na minha vida e me auxiliar nos momentos de provação e
de dificuldade.
À minha família, que me fornece todo o apoio e amor para que eu continue firme em
minhas escolhas.
RESUMO
LIMA, Rômulo Morais. As artes marciais e as técnicas de combate corpo a corpo como
ferramentas para o cumprimento das missões do oficial combatente de carreira do
Exército Brasileiro no cenário moderno. Resende: AMAN, 2016. Monografia.
A evolução tecnológica torna o campo de batalha cada vez mais complexo. As guerras
continuam sendo um conflito de vontades, onde a vitória não é decidida somente pelas armas
empregadas, mas pelo valor do soldado. O soldado moderno deve estar preparado para atuar
em um contexto de amplo espectro, em conflitos de alta e baixa intensidade, empregando a
alta tecnologia em conjunto com táticas de combate aproximado. Esta pesquisa tem como
objetivo verificar a importância do treinamento de artes marciais e de técnicas de combate
corpo a corpo para os oficiais combatentes e a contribuição desse conhecimento para a
operacionalidade do Exército Brasileiro. As verificações foram feitas por meio da análise
histórica das artes marciais no mundo, abordando origens, transformações e emprego no
contexto atual dos conflitos armados; da comparação da doutrina de combate corpo a corpo
aplicada por Forças Armadas de outros países com a doutrina do Exército Brasileiro; e da
identificação dos atributos da área afetiva que podem ser desenvolvidos pelo oficial
combatente por meio do aprendizado das técnicas de combate corpo a corpo. As análises de
dados foram feitas a partir de questionários para verificação da relevância e da opinião de
militares sobre o assunto.
ABSTRACT
LIMA, RômuloMorais. The martial arts and the hand to hand combat tecniches as tools
for the accomplishment of the missions of career combatant officers of the Brazilian
Army on modern scenario. Resende: AMAN, 2016. Monografia.
Technological change makes the battlefield increasingly complex. The wars continue
to be a conflict of wills, where victory is not decided only by the weapons used, but by the
soldier's value. The modern soldier must be prepared to act in a wide range context, in high
and low intensity conflicts, employing high technology in combination with closed combat
tactics. This research aims to determine the importance of martial arts training and hand to
hand combat techniques to the combatant officers and the contribution of this knowledge to
the operability of Brazilian army. The checks were made through historical analysis of martial
arts in the world, addressing origins, transformations, and employment in the current context
of armed conflicts; comparing the hand to hand combat doctrine applied by the armed forces
of other countries with the doctrine of the Brazilian Army; and identifying the attributes of the
affective area that can be developed by the combatant officer through learning of hand to hand
combat techniques. Data analyzes were performed through a questionnaire to verify the
relevance and military men opinion on the matter.
LISTA DE ILUSTRAÇÃO
Figura 1Camponês combatendo guerreiro nobre...................................................................... 17
Figura 2 Jigoro Kano, “pai do Judô moderno” ......................................................................... 18
Figura 3 Pintura no teto do túmulo de Muyong-Chong, homens de frente em postura de
Taekyon, datada do período entre o ano 3 a.C. e o ano 427 d.C. ............................................. 18
Figura 4 Fuzileiros navais treinando técnicas de imobilização e fuzileiros utilizando técnicas
de imobilização durante operações em Baghdad (inserida) ..................................................... 21
Figura 5 Fuzileiros treinam o combate aproximado ................................................................. 22
Figura 6 Ilustração do atordoamento braquial e corte de garganta, técnicas de eliminação
silenciosa de sentinelas. ............................................................................................................ 24
Figura 7 Mike Palladino (lutador profissional) instrui cadetes de West Point. ........................ 25
Figura 8 Demonstração de técnicas de estrangulamento .......................................................... 31
Figura 9 Demonstração de defesa contra faca (esquerda) e fuzil (direita) ............................... 32
Figura 10 Demonstração da técnica de corte da jugular e da carótica (esquerda) e de garrote
(direita) ..................................................................................................................................... 32
Gráfico 11 Resultado da pergunta: “Você pratica ou já praticou alguma arte marcial?” ......... 38
Gráfico 12 Resultado da pergunta: “Em caso de resposta positiva na pergunta anterior, qual
arte marcial?”............................................................................................................................ 39
Gráfico 13 Resultado da pergunta: "Você possui conhecimentos acerca de técnicas de
combate corpo a corpo?" .......................................................................................................... 39
Gráfico 14 Resultado da pergunta: "Você acredita que as artes marciais e as técnicas de
combate corpo a corpo podem ser ferramentas úteis para o cumprimento das missões do
oficial combatente?" ................................................................................................................. 40
Gráfico 15 Resultado da pergunta: “Em caso de resposta positiva no item anterior, em qual(is)
missão(ões) você acredita que elas podem ser empregadas?” .................................................. 40
Gráfico 16 Resultado da pergunta: “Que atributo(s) da área afetiva você acredita que as artes
marciais e as técnicas de combate corpo a corpo podem aprimorar no praticante?” ............... 41
Gráfico 17 Resultado da pergunta: “Você acredita que a doutrina de combate corpo a corpo do
Exército Brasileiro, prevista no manual C 20-50, está sendo difundida e empregada de
maneira efetiva?”. ..................................................................................................................... 41
Gráfico 18 Resultado da pergunta: “Levando em consideração que as forças armadas de
países com forte tradição bélica, como Estados Unidos e Israel, têm programas de treinamento
de combate corpo a corpo bem estruturados e organizados, como você classifica a doutrina?”
.................................................................................................................................................. 42
Gráfico 19 Resultado da pergunta: “Você acredita que a maior difusão e o emprego mais
efetivo da doutrina de combate corpo a corpo colaborariam com o adestramento do oficial
combatente e por consequência aperfeiçoariam a operacionalidade do Exército Brasileiro?” 42
8
LISTA DE ABREVIATURAS
AM Artes Marciais
EB Exército Brasileiro
FA Forças Armadas
OM Organização Militar
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
8. CONCLUSÃO..................................................................................................................... 44
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 50
10
1. INTRODUÇÃO
O foco do trabalho foi delimitado nas seguintes áreas: o histórico da utilização das
artes marciais; a relevância atribuída atualmente a esse assunto por forças armadas de países
com forte tradição bélica; uma comparação da doutrina empregadas por esses países com a
doutrina empregada pelo Exército Brasileiro; uma análise dos benefícios para a área afetiva
dos oficiais combatentes e para a operacionalidade da Força que esses conhecimentos podem
desenvolver e uma pesquisa de opinião sobre a aplicação da doutrina de lutas do EB.
A pesquisa realizada foi predominantemente exploratória e, para fundamentar as ideias
expostas, foi adotado o seguinte procedimento: revisão da literatura básica, por meio de
consultas a livros, manuais e artigos de autores nacionais e estrangeiros; e coleta de dados, por
11
2. REFERENCIAL METODOLÓGICO
O tema da pesquisa “As artes marciais e as técnicas de combate corpo a corpo como
ferramentas para o cumprimento das missões do oficial combatente de carreira do Exército
Brasileiro no cenário moderno” insere-se na linha de pesquisa de Preparo e Emprego do
Exército Brasileiro, na área de Doutrina militar, conforme definido na Portaria nº 734, de 19 de
Agosto de 2010, do Comando do Exército Brasileiro.
Isso porque, embora atualmente tropas utilizem armamentos cada vez mais precisos e
equipamentos cada vez mais sofisticados, o combatente continua sujeito a situações em que
necessitará empregar técnicas de combate corpo a corpo para neutralizar ameaças.
Essa necessidade é doutrinariamente percebida pelo Exército Americano no seu
Manual de Campanha FM 21-150 Combatives (1992) apud PESSOA (2001, p.22):
Atualmente, as características do campo de batalha exigem a eliminação silenciosa
do inimigo. O treinamento para o combate corpo a corpo e o uso de armas de
oportunidade não pode ser exclusividade das unidades de primeira linha. Com a
1
Ethos indica, de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o
diferencia de outros.
14
As artes marciais têm suas origens nos primeiros combates travados pelo homem para
a preservação de sua sobrevivência, seja contra animais, seja contra outros indivíduos da sua
própria espécie, como é observado no artigo História do Taekwondo, produzido pela
Federação Gaúcha de Taekwondo, que diz:
Nos tempos primitivos, não importa onde vivessem, os homens tinham que
desenvolver técnicas pessoais de luta para que obtivessem o alimento e para se
defenderem contra os inimigos, inclusive animais selvagens. (HISTÓRIA do
Taekwondo)
.
Natali, apud Braga (2015, p. 11), afirma:
É difícil apurar a origem das lutas na história, pois seu surgimento advém da
necessidade humana, havendo relatos de que remetem a 5000 a.C. na Índia, em
épocas que os monges budistas, realizavam a prática intensa de meditações e de
treinamentos do corpo, com o objetivo de defenderem-se de assaltantes e ladrões que
atacavam os viajantes durante suas jornadas para espalhar sua filosofia.
Esse mesmo estilo de luta budista é relatado por Pessôa, em sua monografia, como
sendo “um sistematizado método de combate denominado Vajramushti (punho real)”.
Também percebemos a antiguidade dessas manifestações de combate corpo a corpo
na citação presente no trabalho de Braga (2015): “Há aproximadamente quatro mil anos
apareceram na história dos povos orientais diversos tipos de lutas sem armas, sobretudo na
Índia, Irã, China, Egito, Mesopotâmia e Japão” (PLANETA, 1983, p. 8).
Assim sendo, percebe-se que as origens das artes marciais acompanham lado a lado as
origens da própria humanidade.
Dentre as diversas artes marciais existentes, pode-se elencar algumas que, por sua
história de influência e difusão ao redor do mundo, mostram-se como principais. Esse é o caso
do Karatê, do Judô e do Taekwondo.
3.1.1 O Karatê
O Karate-dô (caminho das mãos vazias) como é conhecido hoje, foi uma reformulação
realizada por Gichin Funakoshi, considerado o pai do Karatê moderno, do Okinawa-tê
praticado nas ilhas de Okinawa, Japão, durante a unificação e as seguidas invasões que
ocorreram no Séc. XV.
17
Esses acontecimentos criaram uma série de proibições aos camponeses, dentre elas a
proibição da posse de qualquer tipo de arma, com o objetivo de dissuadir quaisquer tentativas
de rebelião.
Porém, os camponeses, para atender à necessidade básica de sobrevivência, passaram
a praticar clandestinamente técnicas de combate corpo a corpo que pudessem fazer frente aos
grupos armados que dominavam a região.
Quando Funakoshi teve seus primeiros contatos com o Karatê, a situação de Okinawa
já não era tão crítica, o que o levou a desenvolver sua própria filosofia de Karate-dô,
eliminando as técnicas mais traumáticas e incorporando uma forte filosofia de vida.
Essa reformulação permitiu que o Karate-dô encontrasse espaço nas sociedades do
mundo todo e alcançasse o reconhecimento e o prestígio atual, tanto no sentido desportivo
quanto na riqueza dos ensinamentos.
3.1.2 O Judô
Esse estilo de luta é baseado em uma arte ainda mais antiga, o Jiu-jitsu, que era
praticado pelos camponeses no Japão como forma de defesa contra os samurais, como afirma
Júnior, et. al (1999), apud Braga (2015, p.12):
Num contexto histórico feudal, marcado pela tirania dos latifúndios, a luta entre
camponeses e samurais ou entre estes (quando defendiam senhores de terras
diferentes) envolvia golpes de morte. Os camponeses, por exemplo, necessitavam
defender-se de um samurai armado de espada; logo, foi preciso que eles
desenvolvessem uma prática corporal – no caso o jiu-jítsu – coletiva (já que eles
atacavam os samurais em grupo) que lhes permitisse abordá-los (com apreensão de
braços e/ou de pernas) e rapidamente derrubá-los, e então aplicar nele chaves,
torções etc. com a intenção de matá-lo com golpes contundentes.
18
Com a evolução da sociedade japonesa, a prática de uma arte marcial tão letal já não
se mostrava necessária. Isso abriu caminho para a reformulação dessa arte marcial japonesa,
idealizada por Jigoro Kano. Para ele, a preservação da cultura e o desenvolvimento da
disciplina, do condicionamento físico, da ética e da moral são mais importantes do que
exclusivamente o combate.
3.1.3 O Taekwondo
É evidente que a história das artes marciais está intrinsecamente ligada à história da
própria humanidade desde os primeiros combates aproximados, quando a única arma do
homem era o seu próprio corpo, até a atualidade, onde o preparo físico e o conhecimento das
técnicas de combate corpo a corpo podem decidir quem vive ou morre no campo de batalha.
Pode-se concluir também que o instinto básico de sobrevivência foi e continua sendo
um fator preponderante para a criação e constante aperfeiçoamento das artes marciais. Isso é
bem caracterizado quando se analisa a origem dessas técnicas, quando eram utilizadas para a
defesa dos praticantes contra o jugo de forças mais fortes ou melhor equipadas.
Isso mostra que as artes marciais, além de serem ferramentas de combate, são
excelentes instrumentos de desenvolvimento de atributos e atitudes extremamente caras aos
combatentes, como a agressividade e a rusticidade, imprescindíveis para a vitória em combate
aproximado.
20
O combate passou por drásticas evoluções através dos séculos, mas nenhuma delas foi
capaz de apagar a importância do combatente estar plenamente capacitado para vencer o
inimigo no combate aproximado, como afirma Lichtenstein apud Braga (2015, p. 17):
A análise da estratégia de guerra, de ontem e de hoje, não mudou. O primeiro dos
recursos empregados são as armas aéreas de longo alcance. No passado, eram as
flechas e catapultas da antiguidade, depois mísseis de pouca precisão, e atualmente
os mísseis de alta precisão. Todos tinham como objetivo atingir alvos a uma
distância superior ao alcance dos olhos. O segundo recurso utilizado é a cavalaria, a
montada na antiguidade e os seus sucessores modernos, os carros blindados,
participando do confronto em uma distância menor. Até que finalmente aparecem os
soldados no teatro de guerra, para finalizar a missão a curta distância, trilhando o
caminho aberto pelos outros recursos, para erguer a bandeira da vitória.
Porém, para alcançar seus objetivos, os Estados Unidos não investem somente em
tecnologia. O principal investimento está na formação de seus soldados, os quais devem ser
capazes de atuar de forma eficiente em praticamente todas as regiões do mundo.
Ainda segundo Yi (2004), o MCMAP foi introduzido pelo General Comandante James
L. Jones, após seu contato com os fuzileiros da República da Coréia, durante a Guerra do
22
Vietnã, e teve como modelo sistemas de artes marciais que são a essência do treinamento
físico de muitas das FA do leste asiático.
O treinamento de combate desafiador e um sistema nacional de artes marciais
militares unificaram esses habilidosos e temidos fuzileiros em torno de um ethos de
guerreiro compartilhado. Amigos e inimigos sabiam que os fuzileiros da República
da Coreia eram mestres treinados individualmente no combate aproximado – faixas
pretas em Taekwondo – habilitados a lidar pessoalmente e cruelmente com qualquer
inimigo. (Yi, 2004, p. 19)
A intenção dele era “treinar todos os fuzileiros navais para serem guerreiros um-a-um –
mestres do combate no ambiente moderno de alta tecnologia bem como mestres da baixa
tecnologia, do corpo a corpo, do combate aproximado”.
A riqueza e a profundidade do MCMAP se devem, não somente ao treinamento físico
propriamente dito, mas na junção desse treinamento com o desenvolvimento de atributos e
atitudes, de valores morais e de liderança no combatente.
“O MCMAP continuamente desafia os fuzileiros física e mentalmente, enquanto testa e
constrói seu caráter ético e moral, estimulando a tomada de decisões sob circunstâncias de
pressão e estresse, fazendo a escolha das opções de uso da força apropriado para a situação”.
(Yi, 2004, p. 20)
na criação de uma força armada disciplinada, capaz e profissional. (Yi, 2004 apud
Braga, 2015, p. 21)
Dentro da concepção de uso progressivo da força, o MCMAP enquadra a aplicação das
artes marciais de acordo com o nível de necessidade. “O programa ensina técnicas letais e não
letais, bem como técnicas de imobilização e indução de dor, para prover máxima flexibilidade
para adaptar-se a qualquer nível de ameaça.” (Yi, 2004, p. 21)
Por tudo isso, o MCMAP mostra-se muito completo e bem estruturado, pois abrange
com amplitude os aspectos concernentes ao combatente no contexto moderno, desde o físico
até o psicológico.
4.1.2 O Exército
Esse manual, por ser relativamente recente, apresenta grande adequação do combate
aproximado ao ambiente operacional moderno, caracterizado pela predominância do combate
em ambiente urbano, como afirma Nascimento (2008, p. 33):
É interessante ressaltar que o exército dos EUA iniciou uma reformulação de seu
treinamento de combate corpo-a-corpo. Passando de um enfoque em luta em campo
aberto para um em ambiente urbano, onde militares tem a necessidade de lutar ou
matar a curta distância.
25
O Tzahal, serviço militar israelense, bem como a polícia e o serviço secreto, empregam
o KravMagá, que, segundo a Federação Sul Americana de KravMagá, é a única luta
reconhecida mundialmente como arte de defesa pessoal e não como arte marcial:
Sua técnica visa à legítima defesa em situações de perigo real, com respostas simples,
rápidas e objetivas para situações de violência. Com origem militar, sua aplicação nas
forças de segurança já foi adotada por corporações do mundo inteiro por sua eficiência
em combate. (FEDERAÇÃO SUL AMERICANA DE KRAV MAGÁ...,
[20-?])
Para entender o significado dessa luta para as FA israelenses é preciso fazer uma breve
análise histórica, abordando as origens do KravMagá.
26
O seu criador, o húngaro Imi Lichtenfeld, viu-se em meio à guerra que começava a
assombrar o mundo na década de 30:
Por volta de 1930, grupos fascistas e antissemitas invadiram as ruas de Bratislava.
Imi tornou-se líder de um forte grupo de resistência. Porém, naquela época, o
nazismo ganhava cada vez mais força e Imi teve que deixar seu país. (FRANÇA,
[20-?])
Dessa maneira fica evidente que as FDI utilizam o KravMagá como ferramenta de
guerra, empregada e difundida com elevada eficiência por seus soldados. Fica evidente assim
o entendimento de que o combate corpo a corpo continua sendo uma realidade para a qual o
soldado israelense deve estar sempre preparado.
27
Essa arte marcial, desenvolvida pelas forças russas especificamente para o combate, é
conhecida como Systema. Ela é exaustivamente treinada e empregada principalmente pelas
unidades de operações especiais russas, o Spetsnaz.
Esse nome deve-se à amplitude de aspectos que o Systema tenta desenvolver no
praticante. Segundo Vasiliev, “no Systema, a sinergia de três componentes criam o
VERDADEIRO GUERREIRO – habilidade de combate, espírito forte e corpo saudável”, o
que significa que “adquirir as habilidades dessa arte marcial é uma maneira de melhorar a
função dos sete sistemas fisiológicos do corpo e os três níveis de habilidades humanas, a
física, a psicológica e a espiritual.”
O corpo deve estar livre de tensão, cheio de endurance, flexibilidade, movimentos
suaves e potencial explosivo. O espírito ou estado psicológico deve ser calmo, livre
de raiva, irritação, medo, autopiedade, desilusão e orgulho. As habilidades de
combate incluem movimentos poderosos e precisos, instantâneos e econômicos,
espontâneos, sutis e diversificados, a assinatura de um verdadeiro profissional.
(VASILIEV, [20-?])
À semelhança do KravMagá israelense, o Systema foi criado com o intuito de ser uma
ferramenta empregada na guerra pelos soldados russos.
No Systema não há competições, nem faixas e a única distinção que se faz é para
com os instrutores certificados. O treino é realizado em pé ou no solo e inclui armas
(facas, armas de fogo, bastões, correntes, entre outros) e objetos comuns, como
cadeiras, mesas e bancos. [...] O seu objetivo principal passa por “ensinar o corpo a
pensar” e obrigar os seus praticantes a desenvolverem uma série de movimentos
naturais que lhes permitam libertar-se de qualquer situação real de perigo. (A
ARTE..., [20-?])
Após a análise das FA dos Estados Unidos da América, de Israel e da Rússia, todos
com tradição bélica e poder militar reconhecidos mundialmente, fica evidente a importância
dada por esses países às artes marciais.
Os três países compartilham o pensamento de que esse conhecimento é imprescindível
para a formação de seus soldados. Apesar de empregarem estilos diferentes, possuem um
objetivo comum: criar combatentes completos, capazes de atuar tanto no combate de alta
tecnologia quanto no combate aproximado.
Para isso, empregam as artes marciais como ferramentas para desenvolver e colocar
em prática uma série de atributos e valores característicos do guerreiro. As próprias filosofias
de cada um desses estilos enfatizam o preparo físico, psicológico e moral do combatente.
Por tudo isso, conclui-se que as artes marciais permanecem como ferramenta
fundamental para o cumprimento das missões do combatente no cenário moderno. Num
contexto de conflito de amplo espectro, as técnicas de combate corpo a corpo capacitam o
soldado a atuar com flexibilidade, empregando força compatível com o nível de ameaça.
29
Outra expressão de combate corpo a corpo nas FA brasileiras, em especial o EB, foi a
criação do URU-CAN DO BRASIL, estilo de luta que, segundo reportagem da emissora de
televisão Manchete, combina técnicas de diversas artes marciais consagradas e técnicas de
defesa pessoal. A referida reportagem também mostra a disseminação desse estilo nos quartéis
do EB do Rio de Janeiro.
Apesar da vaga literatura sobre o URU-CAN DO BRASIL, percebe-se que foi uma
das primeiras iniciativas de introdução desses conhecimentos na doutrina militar.
O Karate e o Judô, artes marciais consagradas mundialmente, também se fazem
presentes na formação da doutrina de lutas do EB.
Oliveira (2007) apud Catanhede et al. (2010) faz referência ao estudo do Judô na
EsEFEx:
A referida escola foi o primeiro estabelecimento a tratar o Judô de maneira científica
e continua nos dias de hoje como pólo de disseminação das artes marciais dentro da
força terrestre, em virtude do retorno dos oficiais que se formam na EsEFEx aos
corpos de tropa que a difundem em inúmeros quartéis pelo Brasil.
A formulação do manual em questão teve como base as técnicas empregadas por artes
marciais já consagradas, como afirma o próprio manual:
O presente método de ataque e defesa corpo a corpo utiliza técnicas de diferentes
modalidades de luta, tais como o Judô, o Karatê, o Boxe e o Aikidô, atendendo ao
grau normal de capacidade física do nosso homem. (BRASIL, 2002, p. 1-2)
No nono capítulo o manual passa então a abordar técnicas de defesa contra ataques a
mão armada, seja com faca, porretes ou armas de fogo (fuzis e pistolas). Quanto à defesa
contra armas apontadas para o corpo o manual faz a seguinte consideração:
O combatente deve estar bem instruído quanto ao momento exato para dar início à
reação, como posicionar seu corpo para que facilite as ações, bem como estar
consciente de que deve passar de um estado de total passividade para o de extrema
agressividade, não podendo haver qualquer tipo de vacilação quando perceber o
momento exato para a tomada de iniciativa. (BRASIL, 2002, p. 9-21)
32
O “Projeto Lutas” foi uma iniciativa de Oficiais da AMAN. Segundo Pessôa (2001),
“o objetivo do Projeto era, aproveitando o processo de modernização do ensino, inserir uma
carga horária específica para o treinamento do combate aproximado no novo currículo do
cadete”.
Em 1995, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) foi encaminhada uma
parte ao Comandante do Corpo de Cadetes (Cmt CC) na qual o Comandante da 3ª
Companhia do Curso Avançado (Cmt 3ª Cia C Avçd) solicitava a autorização para a
prática de lutas nos tempos extra-classe e à disposição do comandante de
subunidade. Uma vez tendo sido concedida permissão em caráter experimental, foi
montada uma equipe de monitores constituída por cadetes da Equipe de Karatê da
AMAN.[...] No final daquele ano foi realizada uma demonstração, incluindo
técnicas de defesa pessoal, condução de prisioneiros, combate a baioneta e combate
com facas. A impressão altamente positiva causada no Cmt CC permitiu que fosse
oficializado no ano seguinte o “Projeto Lutas”. (PESSÔA, 2001, p. 26)
Desde então as instruções de combate corpo a corpo perderam espaço tanto nas
escolas de formação quanto no corpo de tropa do EB. A AMAN, antes irradiadora da
inovadora doutrina de lutas, atualmente oferece estágios de luta apenas como matéria eletiva
para os cadetes do quarto ano.
O sucesso na guerra exige o preparo físico e psicológico dos soldados, os quais devem
ser capazes de atuar com eficiência em ambientes hostis, sob pressão e com risco de perder a
própria vida em combate. Isso exige que atributos ou atitudes como combatividade, equilíbrio
emocional, autoconfiança e disciplina estejam enraizados e sejam constantemente colocados
em prática. Tais atitudes são reguladas pelas Normas Internas para o Desenvolvimento e
Avaliação dos Conteúdos Atitudinais (NIDACA) da AMAN e são essenciais na formação do
oficial combatente do EB.
39% SIM
61% NÃO
A pergunta “Em caso de resposta positiva na pergunta anterior, qual arte marcial?”
teve o objetivo de verificar quais artes marciais se fazem mais presentes no universo em
questão. A resposta, expressa no gráfico abaixo, mostra que o Karatê, o Jiu-Jitsu, o Judô e a
Capoeira se destacam pela quantidade de praticantes.
39
OUTRAS KARATÊ
13%
KRAV-MAGA 11%
5%
JIU-JITSU
CAPOEIRA 19%
15%
BOXE
JUDÔ DEFESA PESSOAL
5%
21% 3%
TAEKWONDO
8%
SIM
51% 49% NÃO
3%
SIM
97% NÃO
CURSOS COMBATE
OPERACIONAIS CONVENCIONAL
19% 12%
COMBATE EM
AMBIENTE
URBANO
COMBATE A 21%
FORÇAS
IRREGULARES
21%
OPERAÇÕES GLO
27%
A pergunta “Que atributo(s) da área afetiva você acredita que as artes marciais e as
técnicas de combate corpo a corpo podem aprimorar no praticante?” objetivou captar a
opinião dos militares questionados sobre a influência das artes marciais e das técnicas de
combate corpo a corpo na construção do caráter dos praticantes. O resultado, expresso no
gráfico seguinte, evidencia que para o universo questionado a coragem, a autoconfiança e a
combatividade são os principais AAA desenvolvidos.
41
RESISTÊNCIA CORAGEM
10% 19%
DEDICAÇÃO
7%
DISCIPLINA INICIATIVA
14% 10%
AUTOCONFIANÇA
COMBATIVIDADE 21%
19%
3%
SIM
97% NÃO
1%
12% INSUFICIENTE
RUIM
31% BOM
56%
MUITO BOM
A pergunta ”Você acredita que a maior difusão e o emprego mais efetivo da doutrina
de combate corpo a corpo colaborariam com o adestramento do oficial combatente e, por
consequência aperfeiçoariam a operacionalidade do Exército Brasileiro?” tentou captar a
opinião dos militares questionados sobre as consequências da melhoria da doutrina de lutas do
EB para a operacionalidade de suas tropas. O resultado, expresso no gráfico abaixo, evidencia
que a maioria dos militares questionados compartilha a ideia de que a correção dessas
deficiências seria benéfica para o EB.
2%
SIM NÃO
98%
A última pergunta “Você tem alguma opinião, experiência ou sugestão que possa
contribuir para o desenvolvimento doutrinário de combate corpo a corpo ou o trabalho em
questão” teve o objetivo de permitir aos militares questionados expressarem suas ideias sobre
o assunto. Como resultado, obteve-se a confirmação de aspectos já levantados no trabalho.
Dentre esses aspectos confirmados, pode-se citar: o contato com técnicas de combate
corpo a corpo apenas em cursos operacionais do EB, a deficiência do assunto durante o
período de formação dos oficiais de carreira da linha bélica do EB, a importância dessas
43
8. CONCLUSÃO
2. Em caso de resposta positiva na pergunta anterior, qual arte marcial? (Podem ser marcadas mais
de uma alternativa).
KARATÊ JUDÔ CAPOEIRA
JIU JITSU TAEKWONDO KRAV-MAGA
DEFESA PESSOAL BOXE OUTRAS
4. Você acredita que as artes marciais e as técnicas de combate corpo a corpo podem ser
ferramentas úteis para o cumprimento das missões do oficial combatente?
SIM NÃO
5. Em caso de resposta positiva no item anterior, em qual(is) missão(ões) você acredita que elas
podem ser empregadas? (Podem ser marcadas mais de uma alternativa).
Combate convencional Operações GLO Combate a forças irregulares
Combate em ambiente urbano Cursos operacionais
6. Que atributo(s) da área afetiva você acredita que as artes marciais e as técnicas de combate corpo
a corpo podem aprimorar no praticante? (Podem ser marcadas mais de uma alternativa).
CORAGEM (Capacidade de agir de forma firme e destemida, diante de situações difíceis e
perigosas, seguindo as normas de segurança);
INICIATIVA (Agir de forma adequada e oportuna, em conformidade com as demandas da
missão, sem depender de ordem ou decisão superior);
AUTOCONFIANÇA (Agir com segurança e convicção nas próprias capacidades e habilidades,
em diferentes circunstâncias);
COMBATIVIDADE (Agir, lutando sem esmorecer, pelas ideias e causas em que acredita ou por
aquelas sob sua responsabilidade);
DISCIPLINA (Agir em conformidade com as normas, leis e regulamentos);
47
7. Você acredita que a doutrina de combate corpo a corpo do Exército Brasileiro, prevista no manual
C 20-50, está sendo difundida e empregada de maneira efetiva?
SIM NÃO
8. Levando em consideração que as forças armadas de países com forte tradição bélica, como
Estados Unidos e Israel, têm programas de treinamento de combate corpo a corpo bem
estruturados e organizados, como você classifica a doutrina empregada pelo Exército Brasileiro?
(Marcar apenas uma alternativa).
INSUFICIENTE RUIM BOM MUITO BOM EXCELENTE
9. Você acredita que a maior difusão e o emprego mais efetivo da doutrina de combate corpo a
corpo colaborariam com o adestramento do oficial combatente e por consequência
aperfeiçoariam a operacionalidade do Exército Brasileiro?
SIM NÃO
10. Você tem alguma opinião, experiência ou sugestão que possa contribuir para o
desenvolvimento doutrinário de combate corpo a corpo ou o trabalho em questão?
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14.Em caso de resposta positiva na pergunta anterior, qual(is) arte(s) marcial(is)? (Podem ser
marcadas mais de uma alternativa).
KARATÊ JUDÔ CAPOEIRA
JIU JITSU TAEKWONDO KRAV-MAGA
DEFESA PESSOAL BOXE OUTRAS
17.O Sr(a) acredita que as artes marciais e as técnicas de combate corpo a corpo podem ser
ferramentas úteis para o cumprimento das missões do oficial combatente?
SIM NÃO
18.Em caso de resposta positiva no item anterior, em qual(is) missão(ões) o Sr(a) acredita que elas
podem ser empregadas?(Podem ser marcadas mais de uma alternativa)
Combate convencional Combate a forças irregulares
Combate em ambiente urbano Cursos operacionais
Operações GLO
49
19.Que atributos da área afetiva o Sr(a) acredita que as artes marciais e as técnicas de combate
corpo a corpo podem aprimorar no praticante? (Podem ser marcadas mais de uma alternativa).
CORAGEM (Capacidade de agir de forma firme e destemida, diante de situações
difíceis e perigosas, seguindo as normas de segurança);
INICIATIVA (Agir de forma adequada e oportuna, em conformidade com as
demandas da missão, sem depender de ordem ou decisão superior);
AUTOCONFIANÇA (Agir com segurança e convicção nas próprias capacidades e
habilidades, em diferentes circunstâncias);
COMBATIVIDADE (Agir, lutando sem esmorecer, pelas ideias e causas em que
acredita ou por aquelas sob sua responsabilidade);
DISCIPLINA (Agir em conformidade com as normas, leis e regulamentos);
DEDICAÇÃO (Agir, realizando espontaneamente, com empenho e entusiasmo, as
atividades necessárias ao cumprimento da missão);
RESISTÊNCIA (Capacidade de suportar, pelo maior tempo possível, a fadiga
resultante de esforços físicos e/ou mentais, mantendo a eficiência).
20.O Sr(a) acredita que a doutrina de combate corpo a corpo do Exército Brasileiro, prevista no
manual C 20-50, está sendo difundida e empregada de maneira efetiva?
SIM NÃO
21.Levando em consideração que as forças armadas de países com forte tradição bélica, como
Estados Unidos e Israel, têm programas de treinamento de combate corpo a corpo bem
estruturados e organizados, como o Sr(a) classifica a doutrina empregada pelo Exército Brasileiro?
INSUFICIENTE RUIM BOM MUITO BOM EXCELENTE
22.O Sr(a) acredita que a maior difusão e o emprego mais efetivo da doutrina de combate corpo a
corpo colaborariam com o adestramento do oficial combatente e por consequência
aperfeiçoariam a operacionalidade do Exército Brasileiro?
SIM NÃO
23.O Sr(a) tem alguma opinião, experiência ou sugestão que possa contribuir para o
desenvolvimento doutrinário de combate corpo a corpo ou o trabalho em questão?
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REFERÊNCIAS
_______. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. C 20-50: treinamento físico militar lutas.
Brasília: EGGCF, 2002.
_______. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Portaria nº 012 - DEP. Brasília: 1998.
BRAGA, João Lucas Fernandes. Instrução de lutas: Uma análise doutrinária. AMAN: 2015.
DUARTE, Érico E.; JÚNIOR, Domício Proença. Projeção de poder e intervenção militar
pelos Estados Unidos da América.Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília,
Vol. 46, n. 1, jan/ jun 2003. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292003000100007>
Acesso em: 31 maio. 2016.
FRANÇA, Ana. A história do krav maga. Como tudo funciona. Revista digital. Disponível
em: <http://esporte.hsw.uol.com.br/krav-maga1.htm> Acesso em: 31 maio. 2016.
HERNADES, Luís Fernando Campos. A inclusão das artes marciais no currículo do oficial
da AMAN:Uma proposta para cadetes do 2º/3º/4º anos. AMAN: 2015.
USA. Department of the Army.US Army.FM 21-150: Combatives. Washington, DC, 1992.
USA. Department of the Navy.US Marine Corps.MCRP 3-02: Marine Corps Martial
ArtsProgram (MCMAP). 2011.