Análise de Evidências - Revisão02
Análise de Evidências - Revisão02
Análise de Evidências - Revisão02
OSASCO
2014
IOLANDA VALOIS GALVÃO DE MENEZES
OSASCO
2014
MENEZES, Iolanda Valois Galvão de.
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________
Prof. Dr. Daniel Bartholomeu (orientador)
Centro Universitário FIEO
____________________________________________
____________________________________________
DEDICATÓRIA
This study aimed to analyze the evidence of validity and internal consistency for the
Questionnaire about Eating and Weight Patterns - Revised (QEWP-R). Seventy seven adults
participated with an average age of 42.08 years, mostly women (96.1%) who answer to
QEWP-R. The results question the one-dimensional internal structure, indicating that certain
summations of the diagnosis items in the setting could be redesigned considering the clusters
suggested from the two contrasts analyzed. The cutoffs studied could also be considered in the
separation of intensity levels in the table of symptoms, revealing measurement of severity of
symptoms, distinct from differentiation between clinical and control groups. Thus, the cutoff
could be better explored aiming a system of interpretation of scores QEWP-R centered on
criterion, which can impact the course of treatment and prognosis. The analysis also suggested
a number of mismatches and items that are affected by other factors and should be analyzed
with caution when considered in diagnosis because they are not too connected to the main
frame. It concludes the need for new studies that consider larger and more heterogeneous
samples.
Keywords: Eating Disorders; Statistical validity; Rasch model.
LISTA DE FIGURAS
Tabela 3 - Resultados da análise de funcionamento diferencial dos itens para o contraste 1 por
diagnóstico ................................................................................................................................ 38
Tabela 4 - Estatísticas do modelo de Rasch dos itens e das pessoas no segundo contraste ..... 41
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13
2. MÉTODO......................................................................................................................... 26
5. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 46
13
1. INTRODUÇÃO
frequentes que as síndromes completas (Borges & Jorge, 2000; Appolinário & Claudino,
2000; Claudino & Borges, 2002; Galvão et al, 2006).
bulímicos, não apresentava BN. Esses achados levaram Spitzer e colegas a propor uma
hipótese de que tais indivíduos evidenciavam uma forma particular de transtorno do
comportamento alimentar distinta da BN (Appolinário, 1998).
Desde a sua descrição, na literatura, até hoje, ocorreram transformações na
caracterização do comportamento da CA, uma vez que, é definida por duas características:
consumo de grandes quantidades de alimento mais sentimento de perda de controle sobre o
episódio. Quando os episódios de compulsão alimentar ocorrerem em pelo menos dois dias
por semana, nos últimos seis meses, associados a algumas características de perda de controle
e não acompanhados de comportamentos compensatórios inadequados para evitar ganho de
peso, é então caracterizado o diagnóstico de transtorno da compulsão alimentar periódica
(TCAP). Neste transtorno os episódios de compulsão alimentar são acompanhados por
sentimentos de angústia subjetiva, incluindo vergonha, nojo e/ou culpa (Appolinário, 1998;
Stunkard, 2003).
IV. Foram rastreados 8.123 artigos e apenas 30 preencheram os critérios de inclusão. Dos 30
estudos, 27 foram conduzidos no Brasil, enquanto que na Argentina (1), Colômbia (1) e
Venezuela (1). Foi encontrada uma prevalência de TCAP estimada em 16% e 51%, em
obesos em programas para perda de peso e na população jovem prevalência de 0,66% a 1,8%.
Encontraram, ainda, tendência de peso mais alto, oscilação ponderal, preocupação com peso
corporal, associação com comorbidades psiquiátricas. Identificaram que o TCAP apresenta
características clínicas semelhantes (flutuações de peso, tendência de peso mais alto, maior
preocupação com peso e forma corporal, associados com comorbidades psiquiátrica nos
sujeitos com TCAP).
Matos et al (2002) avaliaram a frequência de TCAP, ansiedade, depressão e
distúrbio de imagem corporal em pacientes gravemente obesos que procuram tratamento para
obesidade. As frequências encontradas de TCAP foram de 36% e de CAP (54%). Sintomas
depressivos se mostraram presentes em 100% dos sujeitos, sendo 84% com sintomas graves.
Traços de ansiedade foram de 70%, preocupação com imagem corporal presente em 76% dos
pacientes, e a frequência de TCAP foi maior nos sujeitos com alto grau de ansiedade como
traço de personalidade.
Borges et al (2005) avaliaram a frequência do TCAP e sua associação com
depressão e alexitimia, em uma amostra de obesos participantes de um programa para perda
de peso. Os resultados revelaram a existência de grupo de obesos com comportamentos de
CAP sendo que 16% da amostra apresentou o diagnóstico de TCAP. As mulheres com CAP
apresentavam índice de massa corporal significativamente mais alto, numerosas tentativas de
perda de peso, oscilação do peso e sintomatologia depressiva mais grave do que os sujeitos
sem TA (Vitolo, 2006).
Smith et al (1998) analisaram a prevalência de TCAP, obesidade e sintomas
depressivo em um estudo longitudinal, com indivíduos de ambos os sexos, negros e brancos,
com risco cardiovascular. A prevalência de TCAP foi de 1,5% no coorte total, com taxas
semelhantes entre mulheres negras, mulheres brancas e homens brancos. Os homens negros
tinham taxas de TCAP significativamente mais baixas. Os sintomas depressivos foram
marcantes nos indivíduos com TCAP. Entre os participantes com excesso de peso, a
prevalência de TCAP foi de 2,9%. Concluíram que, a obesidade foi associada com maior
prevalência de TCAP. Identificaram que o TCAP é comum na população em geral, com taxas
comparáveis entre mulheres negras ou brancas e homens brancos, mas baixa em homens
negros.
20
constituindo-se uma ferramenta adequada de fácil acesso para que se possa pesquisar esse tipo
de transtorno (Urzúa et al, 2009; Aguilar et al,2011).
Dentre os instrumentos mais utilizados para avaliar a compulsão alimentar
periódica, encontram-se (Urzúa et al, 2009; Aguilar et al,2011):
a) Bulimic Investigatory (BITE) – Teste de Avaliação Bulímica de
Edimburgo, traduzido e adaptado para o português por Cordás e Hochgraf (1993);
avalia predominantemente comportamentos bulímicos, como ingestão excessiva de
alimentos e os métodos purgativos utilizados para compensar estes episódios
exagerados de alimentação, tais como provocação de vômitos, realização de jejum,
uso de laxantes, diuréticos, anorexígenos e dieta;
b) Escala de Compulsão Alimentar Periódica (ECAP) desenvolvido
por Gormally et al (1982) adequado para discriminar indivíduos obesos de acordo
com a gravidade do CAP, com versão em português e estudos de validação (França,
2010);
c) Eating Attitudes Test (EAT-26) originalmente construído para
avaliar comportamentos anoréxicos, gravidade da preocupação com o peso, dieta, e
outros sintomas característicos dos TAs, muito utilizado em pesquisas e nas clínicas.
Elaborado por Garner e Garfinkel (1979) foi traduzido para o português (Nunes et
al, 1994; Oliveira 2009);
d) Eating Disorder Inventory (EDI), avalia características
cognitivas e comportamentais da AN e BN e imagem corporal em adultos e
adolescentes;
e) Eating Disorder Examination (EDE-Q), avalia restrição
alimentar, preocupação com alimentação, peso e forma corporal em adultos e
adolescentes;
f) Binge Eating Scale (BES), avalia a gravidade da CAP em
indivíduos obesos;
g) Questionnaire of Eating and Weight Patterns - Revised (QEWP-
R) criado para o diagnóstico do transtorno da compulsão alimentar periódica
(TCAP) e de quadros subclínicos de compulsão alimentar (Spitzer et al.,1993).
Atualmente existem três versões: adultos (QEWP-R), adolescentes (QEWP-A) e
pais (QEWP-P). Nas versões em inglês, português e espanhol (Nangle, 1994,
Rocha, 2010; Aguilar et al, 2011). Suas propriedades psicométricas têm mostrado
valores de consistência interna (alpha de 0,75 nas amostras de programas de
22
que o desempenho de BES e QEWP-R satisfazem os critérios de BED, porém foram pouco
precisos para identificar sujeitos sem BED e a frequência de BE. Enquanto que o EDE-Q-I
demonstrou precisão na avaliação da frequência do BE.
Elder et al (2006) compararam dois questionários QEWP-R e EDE-Q para avaliar
a CA em candidatos a cirurgia gástrica by-pass em uma amostra de 249 sujeitos. Foram
avaliados para identificar a presença da CA no dois testes. O grau de concordância foi
analisado, bem como a relação entre CA e medidas de validade convergente. Os dois testes
identificaram números semelhantes de participantes com CA recorrente de pelo menos um CA
por semana, no entanto a sobreposição foi moderada (Kappa=0,26). A frequência de CA duas
vezes por semana foi fraca (Kappa=0,05). Concluíram que tanto o QEWP-R e EDE-Q
identificam grupos clínicos significativos de CA. Muito embora o EDE-Q demostrasse a
vantagem de identificar CA com peso e forma mais elevada.
Estudos mais recentes comparam dois questionários (EDE-Q) e (QEWP-R) para
identificar e avaliar pacientes com TCA nos primeiros cuidados. Os resultados demonstraram
que EDE foi significantemente correlato com EDE-Q (compulsão alimentar, 4 subescalas,
escore global) e QEWP-R (compulsão alimentar, angústia imagem corporal). O EDE-Q teve
baixa estimativa de CA, alto escore nas subescalas EDE, enquanto que o QEWP-R teve
significantemente alto escores nos comportamentos e angústia, comer compulsivo e imagem
corporal (Barnes et al, 2011).
Pesquisa realizada por Aguilar et al (2011) sobre as propriedades psicométricas do
QEWP-R comparando com o instrumento BULIT encontraram um adequado nível de
associação entre os dois instrumentos QEWP-R. Também encontraram três fatores no BULIT
com evidências de validade na população mexicana associados com alguns indicadores do
QEWP-R (comer compulsivamente, sentir se que não pode parar de comer e comportamentos
compensatórios) além de comer compulsivamente estar associado com IMC. O questionário
classificou corretamente a 83,3% da amostra com TCAP (n=39) e 72,5% sem TCAP, obtendo
uma correlação positiva (Kappa=60), indicando que QEWP-R é um adequado instrumento
para população mexicana para identificar sintomas de TCAP e BN. Também demonstrou
indicação para ser utilizado em sujeitos com sobrepeso e obesidade.
Díaz et al (2012), investigaram a concordância do teste EDE-Q e QEWP-R para o
diagnóstico de TCAP e psicopatologia, na população espanhola com obesidade mórbida
operados (gastroplastia) para perda de peso. Nesse estudo transversal, a amostra foi de 27
sujeitos recém-operados, sujeitos com ou sem TCAP como também foram avaliadas possíveis
diferenças entre os grupos com itens que mediam a concordância em ambos os questionários.
25
O QEWP-R permitiu diagnosticar 25% de TCAP e EDE-Q 18%. Os sujeitos com TCAP
tiveram pontuações mais altas nos itens relacionados ao peso e forma do corpo
autovalorizada, interferência na capacidade de concentração e sentimento de culpa, depois de
comer. Em ambos os questionários a concordância diagnóstica foi escassa por se encontrar
uma forte associação entre os itens com interesse psicométricos. Concluíram que o TCAP é
frequente em obesos mórbidos e forma um subgrupo de sujeitos com mais alterações
psicopatológicas.
Apesar da ampla gama de estudos sobre QEWP-R, a maior parte preocupou-se
em comparar o referido instrumento com outros que avaliam transtornos semelhantes ou
relacionados ou, ainda, comparar medidas deste teste entre grupos patológico e controle.
Pesquisas sobre a análise da estrutura interna deste instrumento são escassas, o que
justifica a execução de pesquisas sobre esta temática. O refinamento dos itens, a validez
interna a sensibilidade, a especificidade entre outras características, possibilitará
confiabilidade e consistência do instrumento, otimizando o diagnóstico, favorecendo
intervenção, prevenção e prognóstico trazendo benefícios para a população em geral.
Dessa forma, o presente estudo teve como propósito geral a análise de evidências
de validade e consistência interna para o Questionário sobre Padrões de Alimentação e Peso –
revisado (QEWP-R) com base em uma amostra de adultos, por meio da Teoria da Resposta ao
Item (TRI), mais especificamente pelo modelo de Rasch (1 parâmetro). A avaliação dos itens
de modo individual permite que a sua adequação seja determinada e que o instrumento no
caso, o QEWP-R, seja refinado com formatos mais adequados, de acordo com as
modificações sugeridas pelas análises de Rasch.
26
2. MÉTODO
A amostra foi composta por 77 participantes com idade entre 25 e 67 anos (M=
42,08 anos). Destes, 3 (3,9%) eram do sexo masculino e 74 (96,1%) do sexo feminino. Com
relação à raça, 10 (12,9%) declararam ser da raça negra, 53 (68,8%) da raça branca, 1 (1,29%)
da raça amarela e 13 (16,8%) da raça parda. Quanto ao nível de escolaridade 2 (2,59%)
declararam possuir primeiro grau incompleto, 7 (9,09%) primeiro grau completo, 2 (2,59%)
segundo grau incompleto, 36 (46,75%) segundo grau completo, 8 (10,38%) nível superior
incompleto, e 18 (23,37%) nível superior completo.
Em relação ao peso, a média foi de 84,14 kg e quanto ao diagnóstico de
obesidade, calculada através do IMC, 19 (24,67%) apresentaram obesidade Grau I, 13
(16,8%) apresentaram obesidade Grau II, 7 (9,09%) apresentaram obesidade Grau III, 32
(41,55%) apresentaram sobrepeso e 6 (7,79%) não apresentavam obesidade. Na classificação
da obesidade, constatou-se que os sujeitos da amostra apresentaram vários graus de
obesidade, percentual alto de sobrepeso e apenas 7 (79%) de participantes com peso saudável,
dado semelhante encontrado por Spitzer et al (1992; 1993). Azevedo et al.(2004) e Duchesne
et al (2007). Melo & Odorizzi (2009) afirmam que indivíduos com diagnóstico sugestivo de
TCAP apresentam maior percentual de sobrepeso em comparação ao grupo sem esse
diagnóstico. No entanto, em estudos recentes Dingemans & Furt (2012) relatam que de fato,
TCAP não é comum em indivíduos não obesos.
27
2.2. INSTRUMENTOS
2.3. PROCEDIMENTOS
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
são comuns com este instrumento, e apesar de não terem sido tão baixos como neste caso, já
tem revelado instabilidade sobretudo em razão das amostras clínicas e controle. De fato,
aparentemente a precisão em cada um destes grupos parece ser melhor que ao se tomar ambos
estes grupos conjuntamente (Barnes & cols, 2011; Spitzer, et al 2008; Aguilar, 2011). Há que
se considerar ainda que o presente estudo empregou um método de análise distinto dos
demais, e a precisão implica na replicabilidade de um padrão evidenciado nas respostas dos
indivíduos aos itens e implicam em padrões de concordância distintos em razão da amostra
(Bond & Fox, 2001). Neste sentido, é recomendável cautela ao se analisar os dados deste
instrumento quanto à sua estabilidade e minimização de erros de medida.
PESSOAS
ESCORE MEDIDA ERRO DO INFIT MNSQ INFITZSTD OUTFIT OUTFITZSTD
TOTAL RASCH MODELO MNSQ
(1989) consideram valores entre 0,6 e 1,4 como indicativos de bom ajuste para escalas
politômicas de autorrelato. Ressaltam, todavia, que esses valores podem variar em razão do
propósito para o qual a escala foi construída. Entretanto, há autores que consideram como
bom ajuste, estimativas dentro do intervalo de 0,70-1,30 (Sisto, Rueda & Bartholomeu, 2006),
parâmetro esse adotado na presente pesquisa com vistas a restringir mais o critério de ajuste,
obtendo-se um padrão mais conciso. Também Linacre (2002) esclarece que medidas até 1,50
seriam consideradas o limite máximo para aceitação de um item.
Os itens forneceram média de infit de 0,96 (DP=0,20), indicando um bom ajuste.
Analisando mais detidamente esses dados, observa-se que a variação de infit esteve dentro do
intervalo de 1,28-0,65, sugerindo que todos os itens estiveram ajustados ao modelo. Quanto
ao outfit, a média foi 0,70 (DP=0,35), indicando que a maioria dos itens esteve dentro dos
parâmetros esperados. O intervalo de variação nessa medida foi de 1,28-0,12, indicativo de
que houve itens com desajustes. De fato, um terço dos itens evidenciaram problemas com
patamares abaixo de 0,70. Este patamar não é tão preocupante por se tratar de um padrão
próximo ao de Guttman. Houve uma maior quantidade de discrepâncias importantes na
medida de outfit que de infit e esses itens devem ser analisados quanto à sua compreensão ou
pertinência à escala, já que ocorreram altas concordâncias a itens inesperadas em razão do
traço latente (conduta purgativa) dos sujeitos. Talvez, a análise da redação destes itens, já que
se trata de uma adaptação para a realidade brasileira, seja útil, eliminando-se problemas de
compreensão e de adequação da língua. Tal fato convida a novas pesquisas.
Em relação ao ajuste das pessoas ao modelo de Rasch, em termos de infit e outfit,
de forma geral, esteve em níveis esperados, já que suas médias foram 0,99 (DP=0,83) e 0,68
(DP=0,96), respectivamente. Analisando mais detidamente esse aspecto, evidenciou-se um
intervalo de variação para o infit de 4,07-0,19 e de outfit de 5,80-0,10 sendo que, 10 pessoas
apresentaram índices de infit e outfit acima de 1,50 e outras 21 abaixo de 0,70. Nesse sentido,
quase metade da amostra apresentou algum tipo de desajuste de concordância inesperada,
revelando uma mistura de padrões de controle de peso com combinações diferentes de
condutas purgativas por parte destes sujeitos, o que é uma possibilidade para a explicação dos
dados em questão, valendo-se questionar a alta variabilidade de condutas de controle de peso
por parte dos sujeitos em questão.
As condutas purgativas das pessoas tiveram uma média de 1,20 (DP=0,18), com
um intervalo de variação de theta de -1,59 a -3,81. Por sua vez, a média de dificuldade dos
itens (nível de ansiedade avaliado pelos itens) em logit, foi 0,00 (DP=2,28) e teve seu
intervalo de -2,51 até 3,54. Esse dado indica que houve itens que não tiveram pessoas com
37
Fica evidente a separação de dois grupos de itens que avaliam condutas em uma
ou outra extremidade, com condutas purgativas mais difíceis de serem concordadas e outras
muito fáceis, mais frequentemente evidenciadas. Tal fato, além de explicar em parte alguns
dos desajustes evidenciados sobretudos em outfit das pessoas, facilita a interpretação da
concepção taxonômica para estes transtornos alimentares como defendida por Williamson e
colaboradores (2002), Williamson e colaboradores (2004), Williamson, Gleaves e Stewart
(2005) e levanta a questão sobre se o viés destes estudos não se refere ao tipo de instrumento
empregado em sua avaliação que já supõe, em sua construção a noção classificatória, voltando
os indicadores como checklist para sintomas e não para uma compreensão da dinâmica de
funcionamento destes pacientes.
Tabela 3 - Resultados da análise de funcionamento diferencial dos itens para o contraste 1 por diagnóstico
A precisão fornecida por esse modelo para os itens apontou um índice de 0,96
para os itens e 0,07 para as pessoas, indicativo de uma alta precisão para os itens e baixa para
as pessoas. Isso é de se esperar dada a quantidade reduzida de pessoas, como também a
variabilidade de diagnóstico na amostra em questão, sendo que as pessoas, por terem níveis
distintos na variável medida, tenderam a não dar respostas homogêneas ao teste. Tal fato
revela que o instrumento pode não fornecer resultados semelhantes em grupos de pessoas
semelhantes e é indicativo de problemas de medida que merecem maior atenção. Talvez um
maior cuidado com o diagnóstico por este instrumento seja necessário e isso convida a novas
investigações. Estes resultados indicam aspectos semelhantes aos já discutidos no primeiro
contraste e contrastam com os resultados obtidos por Barnes e colaboradores (2011), Spitzer,
e colaboradores (2008) e Aguilar (2011).
O erro médio de medida foi de 0,59 (DP=0,05) para os itens e de 1,97 (DP=1,14)
para as pessoas. A precisão das pessoas indica a estabilidade das respostas das pessoas que
poderíamos esperar se essa amostra fosse submetida a outro grupo de itens semelhantes que
avaliam o mesmo construto. A precisão é melhorada por um erro pequeno nas estimativas das
habilidades das pessoas, como não foi o caso (Bond & Fox, 2001). Essas informações
constam da Tabela 4.
41
Tabela 4 - Estatísticas do modelo de Rasch dos itens e das pessoas no segundo contraste
PESSOAS
ESCORE MEDIDA ERRO DO INFIT INFITZST OUTFIT OUTFITZST
TOTAL RASCH MODELO MNSQ D MNSQ D
MEDIA 7,4 -0,53 1,97 0,74 -.2 0,75 - 0,1
DP 1,8 2,37 1,14 1,51 1,7 2,07 1,5
MAX. 10,0 3,25 6,00 9,90 7,6 9,90 7,1
MIN 3,0 -4,49 1,14 0,01 -1,2 0,01 -1,1
SEPARAÇÃO 0,28 PRECISÃO 0,07
ITENS
ESCORE MEDIDA ERRO DO INFIT INFITZS OUTFIT OUTFITZST
TOTAL RASCH MODELO MNSQ TD MNSQ D
MEDIA 78,2 0,00 0,59 0,89 -0,5 1,94 0,5
DP 37,9 3,33 0,05 0,35 1,2 2,36 1,2
MAX. 147,0 3,97 0,67 1, 51 1,3 6,91 2,8
MIN 43,0 -4,52 0,52 0,39 -2,7 0,16 -1,0
SEPARAÇÃO 5,52 PRECISÃO 0,97
Nesse sentido, seriam necessários itens que caracterizassem níveis mais elevados
de compulsão alimentar, bem como outras pesquisas com pessoas com maiores níveis nesta
variável que alguns destes itens fossem capazes de captar. Essa variabilidade foi grande e a
maior parte dos itens não estiveram no intervalo de -1 e 1 avaliando a compulsão das pessoas
com pouca precisão (uma vez que não ocorreu maior variabilidade de informação nesse
intervalo).
A grande variabilidade da amostra quanto aos sintomas e padrões de compulsão
alimentar afetou às grandes discrepâncias observadas em outfit sobretudo pelas pessoas.
Considerando que a amostra em questão apresenta sujeitos controle, pode-se sugerir
que mesmo estes apresentaram algumas condutas de compulsão alimentar ou mesmo de
condutas purgativas que não seriam esperadas por estarem fortemente presentes em sujeitos
com transtorno de compulsão alimentar. Assim, novos estudos que incluam maior
variabilidade de transtornos alimentares são necessários para se obter uma estimativa mais
43
fiável das habilidades das pessoas, bem como procurar solucionar os problemas de outfit
evidenciados nas pessoas.
Em relação ao funcionamento diferencial dos itens, identificou-se que nenhum
dos itens deste fator apresentou este viés de medida. A análise de Standard Setting feita
sugeriu que os itens 10 e 11 são os que representam níveis elevados de conduta purgativa,
pontuação acima de 8 nesta medida. Pontuações entre 6 e 8 estimam níveis médios e
concordâncias com os itens 13e e 13c e abaixo destes escores, concordância com itens 13d e
21a.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise sugeriu, ainda, uma quantidade de desajustes e itens que são afetados
por outros fatores e que devem ser analisados com cautela quando considerados no
diagnóstico por não estarem tão relacionados ao quadro principal. Assim, convida a novas
investigações.
Não obstante, assim como todo e qualquer empreendimento científico, este estudo
não está isento de limitações potenciais. No caso, destaca-se o fato de a amostra ter sido
específica e não-probabilística, composta por profissionais de um determinado hospital
municipal localizado na região oeste do Estado de São Paulo que sugere, assim como outras
validações (Dell`Aglio, 2000; Giacomoni 1998; Golfeto & cols., 2002; Gouveia & cols.,
1995; Silva, 2001) que os resultados não podem ser generalizados, nem mesmo para o
45
universo que fazem parte os participantes da amostra. Resta, entretanto, ponderar que esta não
era a pretensão da autora. Além disso, empregam-se aqui estatísticas estritamente
exploratórias, nessa direção poder-se-ia utilizar análises mais sofisticadas e de caráter mais
confirmatório.
Em termos de estudos futuros, é preciso que se teste esta versão considerando
participantes de cidades e grupos diversos, como os presentes na população geral. Seria
igualmente satisfatório considerar amostras maiores. Assim, sabe-se que estes dados não
responderam às inúmeras questões que surgiram ao longo do exercício de pesquisar, como é
habitual em qualquer trabalho científico, mas, em contrapartida, acredita-se que pode vir a
colaborar para o contexto da avaliação psicológica, como também para a formação dos
futuros pesquisadores.
46
5. REFERÊNCIAS
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